Habeas Corpus
Habeas Corpus
Habeas Corpus
João José Pereira da Silva, advogado, regularmente inscrito na OAB sob o número
35586, com endereço profissional no Núcleo de Prática Jurídica da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, vem a presença de Vossa Excelência, impetrar, com
fundamento no art. 5°, inciso LXVIII, da Constituição Federal, e nos artigos 647 e 648
do Código de Processo Penal
HABEAS CORPUS
No dia 28 de janeiro de 2016, as 19:30, na Rua 03, Lote 13, Parque Buritizais, nesta
urbe. Policiais militares realizavam patrulhamento de rotina na área e avistaram o
denunciado Wanderson na porta de sua residência, em atitude, que declararam como
suspeita. Ao efetuarem a abordagem os policiais encontraram duas munições de arma de
fogo, calibre 38, de uso permitido, no interior de sua residência, sem autorização e em
desacordo com determinação legal. Indagado, o denunciado relatou que as munições são
de sua propriedade. O Ministério Público ofereceu a denúncia no dia 19 de fevereiro de
2016, pela suposta prática da conduta delitiva descrita no artigo 12, da Lei n°
10.826/2003. A denúncia logo foi recebida pelo Magistrado, no dia 24 de fevereiro de
2016. Wanderson foi devidamente citado para comparecer na audiência no dia 01 de
Março de 2016. Obteve o benefício do sursis processual, fez o acordo com o Ministério
Público em audiência no dia 31/03/2016 de suspensão condicional do processo em que
foi deferido pelo Juiz o benefício, porém em virtude do descumprimento de algumas
condições teve o benefício revogado em 01/09/2021. No dia 28/09/2021 foi nomeado
defensor dativo, o impetrante, que esta subscreve, apresentou resposta à acusação no dia
26/10/2021, todavia, o magistrado aqui apontado como autoridade coatora, entendeu por
bem dar seguimento ao processo e designou a audiência de instrução e julgamento
virtual para o dia 29/08/2023.
DOS FUNDAMENTOS
Os dois policiais militares relataram que, no dia 28/01/2016, às 19:30, estavam fazendo
patrulhamento de rotina em Bela Vista de Goiás quando, ao passar pela Rua 03, Qd. 03,
Lt. 13, Parque Buritizais, visualizaram dois indivíduos na porta da casa, sendo que um
deles correu para o interior da residência (Lucas), e o outro ficou na porta da residência
(Wanderson - ora acusado), o qual lhes informou que nenhum deles residiam naquele
local. Os milicianos afirmaram no Inquérito Policial que, ainda em via pública,
“Durante busca pessoal, nada suspeito foi encontrado com Wanderson”, e, ato
contínuo, resolveram adentrar a residência no encalço de Lucas, que fugiu.
Não havia notícia (mesmo que uma denúncia anônima) de que havia a prática de crime
naquele local, seja naquele imóvel, ou mesmo naquela região. Assim, os agentes
policiais agiram sem fundadas razões (justa causa) que justificasse a mitigação do
direito fundamental à inviolabilidade domiciliar.
Por este motivo, requer a concessão da ordem para trancamento da ação penal.
II PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Cezar Roberto Bitencourt (2003, p. 19) afirma que a tipicidade penal exige que a ofensa
aos bens jurídicos protegidos tenha alguma gravidade, pois nem toda ofensa a bens ou
interesses é suficiente para configurar o injusto típico. Assim, pelo princípio da
insignificância, também chamado de princípio da bagatela por autores como Klaus
Tiedemann, deve haver uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade da conduta a
ser punida e a intervenção estatal. Nesse diapasão, há condutas que se ajustam ao tipo
penal formalmente, mas não apresentam relevância material, razão pela qual se deve
afastar prontamente a tipicidade penal, porque não houve lesão ao bem jurídico
protegido.
Ainda que se considere lícita a entrada dos policiais militares em residência alheia e por
consequência, a licitude das provas obtidas. Foram encontrados apenas DUAS
MUNIÇÕES de revólver em cima de uma cômoda na casa, não sendo encontrado o
revólver correspondente as munições. Não tendo a arma de fogo, não é possível com
apenas duas munições sozinhas lesarem o bem jurídico. Não tem tipicidade material e a
incolumidade pública não corre riscos.
Nesse sentido, vale ler o seguinte julgado:
DOS PEDIDOS
A concessão da ordem para trancamento da ação penal, pela falta de justa causa para a
invasão ao domicílio do acusado. Subsidiariamente, caso não seja concedido a
nulidade das provas obtidas, requer que seja aplicado o princípio da insignificância,
pela inexpressividade da lesão produzida ao bem jurídico pela posse de apenas duas
munições de uso permitido.