Inquérito Policial
Inquérito Policial
Inquérito Policial
PENAL
INQUÉRITO POLICIAL
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ATUALIZADO EM 24/11/2017
INQUÉRITO POLICIALi
1. Considerações iniciais
1.1. Objeto do direito processual penal
É a persecução penal, que é a persecução do crime, dividido em: inquérito policial e
processo.
1.2. Polícia: art. 144 da CF e Lei nº 12.830/13 (entrou em vigor em 20/06/2013).
a) polícia administrativa ou ostensiva, que tem o papel preventivo. Figuram como polícia
administrativa: polícia rodoviária, ferroviária, marítima, militar.
b) polícia judiciária ou civil, seja ela na esfera estadual ou federal. Polícia civil é o
gênero, cujas espécies são as polícias federais e estaduais. O papel da polícia judiciária é
repressivo.
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias
civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
Obs: Estrutura. Com o advento da CF 88, a polícia judiciária passou a ser gerida por
Delegados de carreira, leia-se concursados e, necessariamente, bachareis em direito, sendo
que o tratamento protocolar é o mesmo dispensado aos juízes, promotores, defensores e
advogados - art. 3º da Lei 12.830/13: O cargo de delegado de polícia é privativo de bacharel
em Direito, devendo-lhe ser dispensado o mesmo tratamento protocolar que recebem os
magistrados, os membros da Defensoria Pública e do Ministério Público e os advogados.
Obs: Papel funcional. Qual o papel funcional da polícia judiciária? Cabe à polícia civil
auxiliar o poder Judiciário e confeccionar o inquérito policial ou outros procedimentos
investigativos (art. 2º, §1º, da lei 12.830/13).§ 1o Ao delegado de polícia, na qualidade de
autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou
outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da
materialidade e da autoria das infrações penais.
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http://www.dizerodireito.com.br/2017/04/lei-134322017-detetive-particular-e.html.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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A investigação de crimes no Brasil é uma atividade exclusiva dos órgãos públicos
(polícia, Ministério Público, Tribunais de Contas etc.)?
NÃO. Não existe uma determinação de que somente o Poder Público possa apurar crimes.
A imprensa, os órgãos sindicais, a OAB, as organizações não governamentais e até mesmo a
defesa do investigado também podem investigar infrações penais.
Qualquer pessoa (física ou jurídica) pode investigar delitos, até mesmo porque a segurança
pública é “responsabilidade de todos” (art. 144, caput, da CF/88).
Obviamente que a investigação realizada por particulares não goza dos atributos inerentes aos
atos estatais, como a imperatividade, nem da mesma força probante, devendo ser analisada
com extremo critério, não sendo suficiente, por si só, para a edição de um decreto condenatório
(art. 155 do CPP). Contudo, isso não permite concluir que tais elementos colhidos em uma
investigação particular sejam ilícitos ou ilegítimos, salvo se violarem a lei ou a Constituição.
Apesar de ser mais comum durante a fase do inquérito policial, nada impede que a
investigação criminal defensiva ocorra também na fase judicial e mesmo após a sentença penal
condenatória considerando a possibilidade de revisão criminal.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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Lei nº 13.432/2017
A Lei nº 13.432/2017 dispõe sobre o exercício da profissão de detetive particular.
Considera-se detetive particular "o profissional que, habitualmente, por conta própria ou na
forma de sociedade civil ou empresarial, planeje e execute coleta de dados e informações de
natureza não criminal, com conhecimento técnico e utilizando recursos e meios tecnológicos
permitidos, visando ao esclarecimento de assuntos de interesse privado do contratante." (art.
2º).
Vale ressaltar, no entanto, que esta participação somente ocorrerá se a autoridade policial
expressamente concordar:
Art. 5º (...)
Parágrafo único. O aceite da colaboração ficará a critério do delegado de polícia, que poderá
admiti-la ou rejeitá-la a qualquer tempo.
Assim, como o responsável pelo inquérito policial é o Delegado de Polícia (art. 2º, § 1º, da Lei
nº 12.830/2013), ele tem o poder de rejeitar a participação formal do detetive particular no
inquérito.
Uma última pergunta mais polêmica: vimos acima que, pelo texto da Lei, "o detetive
particular pode colaborar com investigação policial em curso, desde que expressamente
autorizado pelo contratante." (art. 5º). Se o Delegado não autorizar a colaboração do
detetive, mesmo assim este poderá realizar, fora do inquérito policial, diligências
investigativas a pedido da defesa?
Penso que sim. O art. 5º da Lei nº 13.432/2017 refere-se à autorização do Delegado de Polícia
para que o detetive particular colabore formalmente com o inquérito policial. No entanto, ainda
que o Delegado rejeite esta participação por entendê-la desnecessária ou impertinente, ele não
pode impedir que o investigado realize investigação criminal defensiva utilizando-se dos
serviços de um detetive particular.
A investigação criminal defensiva, desde que respeitado o ordenamento jurídico, é possível
independentemente de autorização do Delegado, do Ministério Público, do Poder Judiciário ou
de quem quer seja. Isso porque essa atividade é uma consequência da ampla defesa e do
contraditório, garantias constitucionais asseguradas a todo e qualquer investigado. Em outras
palavras, pelo fato de o investigado poder se defender amplamente, ele tem o direito de buscar
"provas" de sua inocência.
Para fins de concurso público, contudo, importante conhecer e assinalar, na prova, a redação
literal do art. 5º da Lei nº 13.432/2017.
Obs2. Atuação do advogado: exercício exógeno é aquele realizado fora dos autos da
investigação. Exs: impetração de habeas corpus, requerimentos ao MP. Exercício endógeno é
aquele efetivado nos autos ou nos atos da investigação. Ex.: oitiva do suspeito acompanhado
por advogado.
- Escrito
Por mais rasteiro que possa parecer, prepondera a forma documental. Art 9º CPP:
Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.
- Discricionariedade
Ela se caracteriza por uma margem de conveniência e oportunidade na condução da
investigação, de forma que o delegado organiza o inquérito dentro da sua estratégia
investigativa.
- Sigiloso
O inquérito não se submete à publicidade ordinária, cabendo ao delegado velar pelo
sigilo da investigação, em prol da eficiência. Art. 20 CPP - A autoridade assegurará no inquérito
o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
b) sigilo interno é o aplicado aos interessados. O sigilo interno é frágil, pois não atinge o
acesso aos autos. Conclusão: o MP, o “juiz” (sistema acusatório. Cuidado em chamar de
interessado), e até mesmo o advogado e o defensor, poderão acessar os autos da
investigação, tendo contato com as diligências já realizadas e documentadas. Esse é o
chamado direito retrospectivo, direito de ter acesso ao que já foi produzido e está
documentado. ATENÇÃO! O direito do advogado está substanciado no *art. 7º, XIV, do
Estatuto da OAB - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação,
mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou
em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar
apontamentos, em meio físico ou digital; e na súmula vinculante 14 do STF. É direito do
defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. 2
Não viola o entendimento da SV 14-STF a decisão do juiz que nega a réu denunciado
com base em um acordo de colaboração premiada o acesso a outros termos de declarações
que não digam respeito aos fatos pelos quais ele está sendo acusado, especialmente se tais
declarações ainda estão sendo investigadas, situação na qual existe previsão de sigilo, nos
termos do art. 7º da Lei nº 12.850/2013. STF. 2ª Turma. Rcl 22009 AgR/PR, rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 16/2/2016 (Info 814).
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*CAIU NA SEGUNDA FASE DA DPE ALAGOAS (2017) #CESPE.
- Unidirecionalidade
Segundo Paulo Rangel, não deve o delegado emitir opinião quanto à culpa ou não do
suspeito ao relatar o inquérito, já que o juízo crítico opinativo é do titular da ação. O inquérito é
direcionado ao titular da ação e não possui caráter sancionatório, o que ratifica a
inquisitoriedade. “O inquérito é descritivo, e não valorativo.”
- Temporário
Existem prazos no CPP e na legislação extravagante, sendo a regra geral consolidada
no art. 10 do CPP - O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido
preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir
do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto,
mediante fiança ou sem ela. O delegado pode pedir ao juiz a extensão desse prazo quando o
caso for de difícil elucidação e o indiciado estiver solto. Aplica-se ao inquérito a duração
razoável do “processo” (Aury Lopes Jr.)
- Indisponível
Em nenhuma circunstância o delegado poderá arquivar o inquérito, já que toda
investigação iniciada deve ser concluída e encaminhada à autoridade competente (art. 17 do
CPP). Ou seja, ainda que o fato não exista, for atípico, ou o crime estiver prescrito não há
disponibilidade sobre o inquérito.
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- Oficioso
Obrigatoriedade de instauração do inquérito quando a autoridade policial toma
conhecimento de crime de ação penal pública incondicionada. A discricionariedade está
relacionada apenas à forma de gerenciamento das investigações.
- Oficial
Incumbe ao Delegado a presidência do inquérito. O procedimento fica a cargo de órgão
oficial do Estado.
- Dispensável
Para que o processo comece não é necessária a prévia elaboração de inquérito policial
e o titular da ação poderá prospectar lastro indiciário de outras fontes autônomas.
Obs.: Inquéritos não policiais. São aqueles presididos por autoridades distintas da polícia
judiciária. Hipóteses:
a) Inquérito Parlamentar: presidido pelos membros da CPI. Votado o relatório pela casa
parlamentar, havendo indícios da ocorrência de crime, haverá a remessa ao MP que deverá
analisar o inquérito parlamentar em caráter de urgência. (lei 10.001/00)
b) Inquérito Militar: tem por objeto as infrações militares e será conduzido por um oficial
da respectiva instituição militar.
c) Inquérito judicial da lei de falências: ele tinha por objetivo a apuração das infrações
falimentares e comportava, por disposição normativa, contraditório e ampla defesa. O instituto
se encontra revogado, pois a nova Lei de Falência não disciplina a matéria. ATENÇÃO!
Havendo desejo político, o legislador poderá autorizar a aplicação de contraditório e ampla
defesa em procedimento investigativo, como ocorre no Inquérito para expulsão de estrangeiro
(Lei nº 6815/80 – estatuto do estrangeiro e Decreto 86715/81).
Obs.: Inquéritos não policiais. Havendo indícios de que um magistrado contribuiu para o delito,
os autos da investigação ou a notícia do fato serão remetidos ao tribunal a que o magistrado
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está vinculado (art. 33, parágrafo único, da Lei Complementar 35/79). As autoridades que
usufruem de foro por prerrogativa funcional podem ser indiciadas pelo delegado? Não! O
indiciamento pressupõe autorização do tribunal – RELATOR - a que a autoridade está
vinculada. Havendo prévia autorização quem deverá realizar a investigação? Segundo o STF,
no inquérito 2411 o indiciamento da autoridade pressupõe autorização do tribunal em que ela
usufrui da prerrogativa funcional. Uma vez promovida a autorização de indiciamento, subsistem
três posições quanto à condução da investigação:
A condução caberia ao próprio tribunal onde a autoridade usufrui o foro por prerrogativa de
função (gestão intelectual do procedimento): a investigação seria conferida a um
desembargador ou ministro e a polícia judiciária seria provocada para implementar
eventuais diligências. Há precedentes jurisprudenciais. Essa posição poderia violar o
sistema acusatório;
Os dados bancários entregues à autoridade fiscal pela sociedade empresária fiscalizada, após
regular intimação e independentemente de prévia autorização judicial, podem ser utilizados
para subsidiar a instauração de inquérito policial para apurar suposta prática de crime contra a
ordem tributária. STJ. 5ª Turma. RHC 66.520-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 2/2/2016
(Info 577).
Segundo Fernando Tourinho Filho, o inquérito tem valor probatório relativo, pois serve de base
para oferta da inicial acusatória, mas não se presta sozinho a sustentar uma condenação, já
que seus elementos foram colhidos de maneira inquisitiva. Essa é a ideologia extraída do art.
155, CPP - O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.
Provas irrepetíveis: são aquelas provas de iminente perecimento que não tem como ser
refeitas na fase processual (a evidência do fato desaparece depois), Exemplo: constatação
de embriaguez ao volante; ATENÇÃO! O delegado, em regra, autorizará a confecção da
prova irrepetível.
5. Vícios na Investigação
Para Ada Pellegrini Grinover, o sistema de nulidade é idealizado para a fase processual (é
uma sanção), e no inquérito teríamos meras irregularidades ou vícios.
6. Incomunicabilidade
Era a possibilidade do preso, durante o inquérito, não ter contato com terceiros por decisão
judicial motivada, pelo prazo máximo de três dias e sem prejuízo do acesso do advogado.
- Filtro Constitucional: Como o art. 136, §3º, IV, da CF - § 3º - Na vigência do estado de defesa:
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso- não tolera incomunicabilidade, nem mesmo no
Estado de Defesa, resta concluir que o art. 21, CPP, não foi recepcionado (a exegese
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A suspeição de autoridade policial não é motivo de nulidade do processo, pois o inquérito é mera peça informativa, de que se
serve o Ministério Público para o início da ação penal. Assim, é inviável a anulação do processo penal por alegada
irregularidade no inquérito, pois, segundo jurisprudência firmada no STF, as nulidades processuais estão relacionadas apenas a
defeitos de ordem jurídica pelos quais são afetados os atos praticados ao longo da ação penal condenatória. STF. 2ª Turma.
RHC 131450/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/5/2016 (Info 824).
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constitucional leva à conclusão de que a incomunicabilidade foi revogada tacitamente).
Contudo, há posição minoritária capitaneada por Vicente Greco que sustenta que o art. 21,
CPP continuaria em vigor. Assim, para o doutrinador, a incomunicabilidade ainda persiste, já
que a Constituição no art. 136 está restrita à lógica do Estado de Defesa.
Obs.: Pelo critério material teremos a bifurcação da polícia judiciária em estadual e federal, já
que materialmente esta última, de regra, investiga os crimes federais. Disciplinando o art. 144,
da CF, a Lei nº 10.446/2002, autoriza que a Polícia Federal investigue, excepcionalmente,
crimes estaduais que exigem retaliação uniforme por sua repercussão no plano interestadual
ou internacional. Nesse caso, porém, a intervenção da policia federal não afasta a atuação da
polícia dos Estados, determinando a remessa do procedimento para o Ministério Público
Estadual e não federal;
No entanto, a Polícia Federal investiga também outros delitos que não são de competência da
Justiça Federal.
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços
e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;
Se você observar a redação do inciso I do § 1º do art. 144 acima transcrita verá que ela é bem
ampla, especialmente na sua parte final. Veja novamente:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços
e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;
LEI 10.446/2002
No caso dos delitos previstos neste artigo 1º não importa se eles serão ou não julgados pela
Justiça Federal. A atribuição para investigá-los será da Polícia Federal.
I – sequestro e cárcere privado (art. 148 do CP) e extorsão mediante sequestro (art. 159), se o
crime foi praticado por motivação política ou quando praticado em razão da função pública
exercida pela vítima;
III – crimes em que haja violação a direitos humanos que o Brasil se comprometeu a reprimir
em tratados internacionais; e
Obs: a Polícia Federal irá investigá-los sem prejuízo da responsabilidade das Polícias Militares
e Civis dos Estados, ou seja, tais órgãos de segurança pública também poderão contribuir com
as investigações.
Essa autorização mais genérica está prevista no parágrafo único do art. 1º da Lei n.
10.446/2002.
(...)
Desse modo, a partir de agora existe previsão expressa de que a Polícia Federal poderá
investigar:
• Furto, roubo ou dano
• contra instituições financeiras (incluindo agências ou caixas eletrônicos)
• quando houver indícios de que se trata de uma associação criminosa que atua em mais
de um Estado da Federação.
Obs.: tais crimes acima listados continuam sendo, em regra, de competência da Justiça
Estadual. Apenas a INVESTIGAÇÃO de tais delitos é que passou para a esfera federal. Assim,
a Polícia Federal realiza o inquérito policial e depois o remete para o juiz de Direito e o
Promotor de Justiça que irão dar início e prosseguimento no processo penal.
Pessoal: defendido por Luiz Flávio Gomes, define que a figura da vítima poderá ser usada
como exponencial para delimitação da atribuição da polícia. Contudo, esse critério é
ocioso, pois integra o critério material. Exemplo: Delegacia da Mulher.
Obs.: – Avocatória: O chefe de polícia poderá avocar o inquérito e redistribuir a outro delegado
por despacho fundamentado desde que exista interesse público ou quando as regras
procedimentais na condução da investigação sejam violadas (§4º e §5º, do art. 2º, da Lei nº
12.830/2013).
8. Prazo
a) Delegado Estadual: Se o suspeito estiver preso, o inquérito deve ser concluído em 10
dias(improrrogáveis); Se o suspeito estiver solto, o inquérito deve ser concluído em 30 dias
c) Inquérito Policial no âmbito dos crimes contra economia popular: o prazo é de 10 dias,
pouco importa se o indiciado está preso ou solto. Como não há previsão legal, presume-se
que o prazo é improrrogável.
(1) Doutrina majoritária: o prazo é de natureza processual, sendo regido pelas regras do art.
798 do CPP, o que nos permite excluir o primeiro dia e incluir o de vencimento.
(Mirabete e Denilson Feitosa Pacheco).
(2) Aury Lopes, Nucci: se o sujeito está preso, o prazo deve ser contado de acordo com o
artigo 10 do Código Penal, incluindo-se o primeiro dia e sendo descartado o do
vencimento. DPU
9. Indiciamento
O CPP não define o indiciamento, mas a recente lei 12.830 /13 regula a matéria.
- Conceito: O Aury Lopes Jr. tem a melhor obra sobre a matéria. Ele diz que indiciar significa
direcionar o inquérito, as investigações à determinada pessoa. Agora não é mais possível que
ela seja a responsável, mas sim provável. Segundo o autor, indiciar nada mais é do que atribuir
a alguém a prática de um fato delituoso, saindo-se de um juízo de possibilidade para um juízo
de probabilidade, mais robusto. É (a probabilidade) o que o Jacinto Coutinho chama de
verossimilhança.
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- LEGITIMIDADE PARA O INDICIAMENTO: Caberá ao Delegado, privativamente, promover o
indiciamento durante o inquérito policial, não se submetendo a requisições emanadas de juiz
ou do MP, nesse sentido. (art. 2o, parágrafo 6o, da Lei 12.830/13).
- Pressupostos:
(1) adequada fundamentação: essa fundamentação é exigida no §6º do art. 2º da Lei 12.830/13
- O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante
análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas
circunstâncias. - e na instrução normativa nº11/2011 da Polícia Federal.
Obs.: havendo prisão cautelar na fase investigativa, presume-se que o indivíduo esteja
indiciado.
Obs.: MP/SP: durante o processo, justifica-se o indiciamento daquele que já é réu? Assim
como o inquérito policial, o indiciamento é dispensável. Havendo a deflagração do processo,
não há razão para que se realize o indiciamento retroativo do fato objeto da denúncia, afinal
assim como o inquérito, o indiciamento é dispensável. Todavia, se durante o processo é
descoberto um novo fato criminoso, nada impede a instauração incidental de inquérito, com o
respectivo indiciamento.
Obs.: Desindiciamento.
(1) Conceito: é a retirada do status de indiciado atribuído ao agente, o que não caracteriza
desistência do inquérito.
(2) Modalidades: I.Voluntário – é aquele realizado por iniciativa do próprio delegado.
II.Coacto – é aquele designado pela procedência do HC impetrado ( ou MS caso não
haja pena privativa de liberdade) para trancar o inquérito, em virtude de patente
ilegalidade. Hipóteses de trancamento fl. 138
Obs.: sujeitos do indiciamento: a regra geral é de qualquer pessoa pode ser indiciada.
Exceções:
(1) Membros do MP: não podem ser indiciados pelo Delegado. Art. 41, II, da Lei 8625/93 (lei
orgânica do MP). Os autos devem ser enviados ao Procurador Geral.
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(2) Membros da Magistratura: os juízes não poderão ser indiciados pela polícia judiciária.
Art. 33, parágrafo único, da LC 35/79 - Quando, no curso de investigação, houver indício
da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar,
remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o
julgamento, a fim de que prossiga na investigação.
(3) Autoridades com foro por prerrogativa de função não poderão ser investigadas ou
indiciadas pela polícia judiciária, sem prévia análise do Tribunal onde usufrui da
prerrogativa funcional. Decisão do STF - Inquérito 2411. Para instaurar inquérito precisa
de autorização do Min Relator.
*ATENÇÃO: Essa decisão do STJ não foi divulgada em informativo. O acórdão se refere a
desnecessidade de autorização judicial para a instauração de inquérito policial de autoridades
com foro por prerrogativa de função. Não se pode afirmar que houve mudança de
entendimento. Basta saber a posição mais atualizada da Quinta Turma do STJ, especialmente
em provas discursivas e orais:
Substituição: a portaria pode ser substituída por outras peças. Eventualmente o auto de
prisão em flagrante ou até mesmo a requisição emanada do juiz ou do MP funcionam como
portaria, dispensando que o Delegado baixe uma nova. ATENÇÃO! : eventualmente, na
esfera militar, o auto de flagrante pode se constituir no próprio inquérito, desde que não
sejam necessárias outras diligências para evidenciar a autoria e a materialidade. Art. 27 do
CPPM. Brasileiro entende ser possível aplicar essa previsão subsidiariamente ao direito
processual penal comum.
(2) Notícia crime: é a comunicação da ocorrência do delito à autoridade que possui atribuição
para agir. Não falar em queixa.
2.1. Legitimidade passiva da notícia crime. Quem são os destinatários da notícia crime?
Observa-se a tríade da persecução penal: o Delegado, o MP e o Juiz.
MP: O promotor pode requisitar ao Delegado a instauração do inquérito ou, desde que já
haja lastro probatório, oferecer a denúncia. Em que prazo? 15 dias para oferecer a
denúncia, contados da provocação do MP. Se ele não o fizer caberá ação peal subsidiária
da pública. Se o promotor chega à conclusão, a partir da noticia crime, que não há crime a
Juiz: pode requisitar a instauração do inquérito policial. Para Paulo Rangel e Renato
Brasileiro, em homenagem ao sistema acusatório, é mais adequado que o juiz remeta a
notícia ao MP, para que o Promotor delibere quanto a que deve ser feito.
Notícia crime direta ou de cognição imediata: é aquela atribuída às forças policiais ou papel
desempenhado pela imprensa.
Notícia crime indireta ou notícia crime de cognição mediata: é aquela prestada por pessoa
estranha à polícia, mas devidamente identificada. O seu conteúdo é a exposição do fato
criminoso e suas circunstâncias; a indicação do suposto autor do crime, com os sinais
existentes para detectá-lo; e o apontamento das testemunhas.
(3) autoridades públicas, sob pena de responder por prevaricação. Para Brasileiro a delatio
pode ser tato noticia criminis direta como indireta.
Obs.: notícia crime com força coercitiva. É aquela da prisão em flagrante, podendo ser direta
ou indireta, nesta última quando o flagrante for determinado por qualquer do povo. art 301
CPP.
Obs.: delatio criminis com força postulatória: é a representação típica dos crimes de ação penal
pública condicionada. São expressões sinônimas.
- Evolução da investigação
O inquérito ganha densidade com o cumprimento de diligências que podem ou devem ser
cumpridas pela autoridade policial para melhor aparelhar o inquérito. Cumpre ao Delegado na
evolução do inquérito realizar as diligências que entender pertinentes, tendo por parâmetro
discricionário os artigos 6º e 7º do CPP. Os citados artigos não exauriram a matéria, pois
funcionam como mínimo contingencial, afinal são meramente exemplificativos.
Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das
coisas, até a chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)
(Vide Lei nº 5.970, de 1973)
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*CAIU NA SEGUNDA FASE DA DPE ALAGOAS (2017) #CESPE.
“Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei no8.069,
de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público
ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de
empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.
Obs.: destaca-se como inovação o inciso IV, autorizando a identificação criminal por despacho
do juiz, se for essencial à investigação. Caberá MS para a acusação e HC para a defesa.
Obs.: Brasileiro – cabe condução coercitiva.
Obs.: perfil genético – a coleta de amostras de sangue, urina no local do crime não viola o
princípio da nemo tenetur se detegere.
Obs.: não se faz necessária a intimação do investigado ou de seu advogado para participar da
reconstituição, por ser procedimento inquisitorial. Fica à cargo da autoridade policial.
- Encerramento
a) Relatório. O relatório não é uma peça opinativa, e sim essencialmente descritiva, que aponta
as diligências realizadas e eventualmente justifica as que não foram feitas, por algum motivo
relevante, ratificando a unidirecionalidade do inquérito (Art. 1º, §1º, CPP: A autoridade fará
minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente ). Não
confundir descritividade com neutralidade, pois esta última se caracteriza pela absoluta
ausência de axiologia, valor, o que não ocorre no relatório, tanto que Delegado pode apontar
artigos de lei pelos quais indiciou o sujeito, o que não vincula o MP.
Obs.: Lei de tóxicos – para Luiz Flávio Gomes, o relatório da lei de tóxicos tem certo caráter
opinativo, já que o Delegado deve indicar porque enquadrou o agente como traficante e não
como mero usuário. Art. 52, I, da Lei 11343/06Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta
Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo: I - relatará
sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação
do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e
as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta,
a qualificação e os antecedentes do agente;
b) Remessa dos autos do inquérito
Os autos são remetidos ao Juiz. Nada impede que a remessa do inquérito seja feita
diretamente ao MP, através das Centrais de Inquérito (órgão do MP), criadas em alguns
estados da federação, homenageando-se assim o sistema acusatório e retirando do Juiz esse
papel de interlocutor. ADVERTÊCIA! Na esfera federal, o inquérito é encaminhado pelo
Delegado Federal à Vara Federal Criminal, que alimenta o sistema, seguindo para o MPF sem
a necessidade de qualquer despacho do Juiz, ressalvadas as hipóteses em que a intervenção
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judicial se faz necessária. Ex. quando o Delegado faz a representação por alguma medida
cautelar. Resolução 63, artigos 1º, 2º e 5º do Conselho da JF. Brasileiro: sistema acusatório,
celeridade, imparcialidade – direto pro MP. Não foi recepcionado pela CF.
Art. 1º Os autos de inquérito policial somente serão admitidos para registro, inserção no
sistema processual informatizado e distribuição às Varas Federais com competência criminal
quando houver: a) comunicação de prisão em flagrante efetuada ou qualquer outra forma de
constrangimento aos direitos fundamentais previstos na Constituição da República; b)
representação ou requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público Federal para a
decretação de prisões de natureza cautelar; c) requerimento da autoridade policial ou do
Ministério Público Federal de medidas constritivas ou de natureza acautelatória; d) oferta de
denúncia pelo Ministério Público Federal ou apresentação de queixa crime pelo ofendido ou
seu representante legal; e) pedido de arquivamento deduzido pelo Ministério Público Federal; f)
requerimento de extinção da punibilidade com fulcro em qualquer das hipóteses previstas no
art. 107 do Código Penal ou na legislação penal extravagante.
Art. 2º Os autos de inquérito policial, concluídos ou com requerimento de prorrogação de prazo
para o seu encerramento, quando da primeira remessa ao Ministério Público Federal, serão
previamente levados ao Poder Judiciário tão-somente para o seu registro, (sem distribuição às
varas federais) que será efetuado respeitando-se a numeração de origem atribuída na Polícia
Federal.
Art. 5º Os advogados e os estagiários de Direito regularmente inscritos na Ordem dos
Advogados do Brasil terão direito de examinar os autos do inquérito, devendo, no caso de
extração de cópias, apresentar o seu requerimento por escrito à autoridade competente.
Obs.: deve o Delegado oficiar o órgão de identificação e estatística, não só para que se
promova o acompanhamento dos índices de criminalidade, como também para alimentar o
boletim individual, que nada mais é do que o registro de acesso restrito que aglutina o histórico
de investigações do agente. O NUCCI chega a dizer que não existe mais o boletim individual,
pois hoje se concentra tudo num sistema único de certidão. Dependendo do estado ainda tem.
(2) Não existem até o momento indícios da autoria ou da materialidade: há esperança de que
eles sejam imediatamente colhidos. Deve então, requisitar novas diligências que sejam
imprescindíveis ao início do processo art. 16 CPP - O Ministério Público não poderá
requerer a devolução do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências,
imprescindíveis ao oferecimento da denúncia. Obs.: esta requisição pode ser feita
diretamente ao Delegado, passando pelo Juiz nas estritas hipóteses de cláusula de reserva
jurisdicional. Segundo Tourinho Filho, o Juiz não pode indeferir a remessa ao Delegado e
se ele o fizer estará tumultuando a evolução do procedimento, o que enseja correição
parcial. Obs.: Situação prisional. A requisição diligencial é incompatível com eventual
subsistência de prisão cautelar, que deve ser relaxada.
5
A respeito do arquivamento do Inquérito Policial, a prova do TRF4/2016 considerou corretas as seguintes assertivas: I. Se o
pedido de arquivamento do inquérito formulado pelo Ministério Público se funda na extinção da punibilidade, o juiz há de
proferir decisão a respeito, para declará-la ou para denegá-la, caso em que o julgado vinculará a acusação: há, então,
julgamento definitivo. II. Se o pedido de arquivamento traduz, na verdade, recusa de promover a ação penal, por entender que
o fato, embora apurado, não constitui crime, o juiz há de decidir a respeito e, se acolher o fundamento do pedido, a decisão terá
a mesma eficácia de coisa julgada da rejeição da denúncia por motivo idêntico, impedindo denúncia posterior com base na
imputação que se reputou não criminosa. III. Se o arquivamento é requerido por falta de base empírica para o
oferecimento da denúncia, de cuja suficiência é o Ministério Público árbitro exclusivo, o juiz, conforme o art. 28 do Código de
Processo Penal, pode submeter o caso ao chefe da instituição, o procurador-geral, que, no entanto, se insistir nele, fará o
arquivamento irrecusável. IV. Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não
pode a ação penal ser iniciada sem novas provas.”
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denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no
pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. Aqui o juiz
desempenha uma função anômala, atuando como fiscal do princípio da obrigatoriedade do
exercício da ação pública, que deve ser observado pelo MP, quando presentes os
requisitos legais de autoria e materialidade. A aplicação do art. 28 do CPP caracteriza o
princípio da devolução, afinal a controvérsia é devolvida para solução dentro do próprio
MP. (também é utilizado quando o Promotor deixa de oferecer transação penal, suspensão
condicional do processo ou não promove o aditamento da mutatio libelli). Obs.: O
procurador geral pode:
Oferecer a denúncia
Requisitar diligências
(4) O promotor chega à conclusão que não possui atribuição para agir: declina do feito,
requerendo a remessa à outra esfera jurisdicional. Esse requerimento será apresentado ao
juiz, que terá duas alternativas: a) juiz concorda – vai deferir a remessa. Obs.: se o juiz
para onde os autos foram remetidos não concordar com a remissão, deverá suscitar um
conflito negativo de competência, que se for estabelecido ente um juiz estadual e um
federal será resolvido pelo STJ; b) juiz não concorda – por analogia, deverá invocar o art.
28 do CPP, remetendo os autos ao Procurador Geral em fenômeno jurídico apelidado pelo
STF de arquivamento indireto.
Obs.: Esfera federal: a JF, a Justiça comum do DF e Justiça Militar da União: na esfera federal,
teremos a Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, art. 62, IV da Lei Complementar 75/93,
e, neste caso, a Câmara poderá atuar de maneira opinativa ou imprimir a solução final nas
diretrizes do art. 28 do CPP, conforme a delegação do PGR. Só tem a palavra final se assim for
delegado pelo PGR. Do contrário, é meramente opinativo.
Art. 62. Compete às Câmaras de Coordenação e Revisão:
I - promover a integração e a coordenação dos órgãos institucionais que atuem em ofícios
ligados ao setor de sua competência, observado o princípio da independência funcional;
II - manter intercâmbio com órgãos ou entidades que atuem em áreas afins;
III - encaminhar informações técnico-jurídicas aos órgãos institucionais que atuem em seu
setor;
IV - manifestar-se sobre o arquivamento de inquérito policial, inquérito parlamentar ou
peças de informação, exceto nos casos de competência originária do Procurador-Geral;
V - resolver sobre a distribuição especial de feitos que, por sua contínua reiteração,
devam receber tratamento uniforme;
VI - resolver sobre a distribuição especial de inquéritos, feitos e procedimentos, quando a
matéria, por sua natureza ou relevância, assim o exigir;
VII - decidir os conflitos de atribuições entre os órgãos do Ministério Público Federal.
Obs.: Esfera eleitoral. Prevalece o entendimento de que o §1º do art. 357 do Código Eleitoral
está revogado pela Lei Complementar 75/93, de forma que os autos também devem ser
remetidos para a Câmara de Coordenação e Revisão.
Obs.: Súmula 524 STF - Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do
Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas. X art. 18 do CPP
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- Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base
para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas
tiver notícia. Segundo entendimento sumulado pelo STF, o arquivamento não é apto a gerar a
coisa julgada material, tanto é verdade eu se surgirem novas provas enquanto o crime não
estiver prescrito, o Promotor poderá oferecer denúncia. CONCLUSÕES: (1) o arquivamento é
decisão administrativa judicial. (2) o arquivamento segue a cláusula rebus sic stantibus (como
as coisas estão).
- Novas provas
1. Conceito
As novas provas surgiriam de que maneira? O Promotor conta com a ajuda da polícia que está
autorizada a realizar diligências para colher novas provas. Se o Promotor estiver convencido
que se trata de prova nova, ele oferecerá denúncia. Segundo Paulo Rangel, o
desarquivamento compete ao Ministério Público por ato simples (ato unilateral), concentrado no
titular da ação, quando tem notícia do surgimento de provas novas. A partir daí a polícia pode
realizar diligências na esperança de prospectar eventual prova nova que viabilize a futura
deflagração do processo. A figura do Ministério Público que vai deliberar sobre o
desarquivamento está previsto na lei de organização do Ministério Público. Em alguns Estados,
a competência é do membro que originariamente atuava no inquérito policial, em outros
Estados é o Procurador Geral de Justiça.
2. Classificação
Prova substancialmente nova: é a prova inédita que até então não se tinha conhecimento.
Prova formalmente nova: é aquela já conhecida, mas que ganhou uma nova versão dentro
de um contexto lógico (exemplo: alteração do teor do depoimento da testemunha).
Conclusão: As duas modalidades probatórias poderão eventualmente lastrear a denúncia para
a deflagração do processo após o arquivamento do inquérito.
3. Natureza Jurídica:
O surgimento de prova nova consubstancia uma condição de procedibilidade para deflagração
do processo.
Causa extintiva da punibilidade (art. 107 do CP): o arquivamento faz coisa julgada
material, ressalvando-se apenas, segundo o STF, o pedido embasado em certidão de
óbito falsa, considerando que a decisão com esse lastro é inexistente (STF HC 84525).
STJ: NÃO. Para o STJ, o arquivamento do inquérito policial com base na existência
de causa excludente da ilicitude faz coisa julgada material e impede a rediscussão do
caso penal. O mencionado art. 18 do CPP e a Súmula 524 do STF realmente permitem
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o desarquivamento do inquérito caso surjam provas novas. No entanto, essa
possibilidade só existe na hipótese em que o arquivamento ocorreu por falta de provas,
ou seja, por falta de suporte probatório mínimo (inexistência de indícios de autoria e
certeza de materialidade). STJ. 6ª Turma. REsp 791.471/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 25/11/2014 (Info 554). 7
STF: SIM. Para o STF, o arquivamento de inquérito policial em razão do
reconhecimento de excludente de ilicitude não faz coisa julgada material. (Info 796).
OBS: Para a doutrina majoritária, a coisa julgada material não se altera mesmo que o
arquivamento se efetive por decisão de juiz absolutamente incompetente.
*#TEXTOCOMPLEMENTAR #MUDANÇADEENTENDIMENTODOSTF 8:
7
Se o inquérito policial foi arquivado por ter sido reconhecido que o investigado agiu em legítima defesa, essa
decisão de arquivamento faz coisa julgada material. Assim, não é possível a rediscussão do caso penal
(desarquivamento), mesmo que, em tese, surjam novas provas. A permissão legal contida no art. 18 do CPP, e
pertinente Súmula 524/STF, de desarquivamento do inquérito pelo surgimento de provas novas, somente
tem incidência quando o fundamento daquele arquivamento foi a insuficiência probatória. A decisão que
faz juízo de mérito do caso penal, reconhecendo atípica, extinção da punibilidade (por morte do agente,
prescrição etc.) ou excludentes da ilicitude, exige certeza jurídica que, por tal, possui efeitos de coisa
julgada material. Assim, promovido o arquivamento do inquérito policial pelo reconhecimento de legítima defesa,
a coisa julgada material impede rediscussão do caso penal em qualquer novo feito criminal, descabendo perquirir
a existência de novas provas. STJ. 6ª Turma. REsp 791.471-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 25/11/2014
(Info 554).
8
Mais informações em: https://blog.ebeji.com.br/arquivamento-de-inquerito-policial-com-fundamento-na-
excludente-de-ilicitude-ha-formacao-de-coisa-julgada-material-ou-nao-2/
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Tradicionalmente, a maior parte da doutrina processual penal (não é unanimidade) afirma que
há casos em que devemos reconhecer que a decisão homologatória do arquivamento do
inquérito policial tona-se imutável e impede, definitivamente, tanto o desarquivamento do
inquérito, quanto à propositura de ação penal.
Existe, em casos tais, a coisa julgada material, ou seja, um grau de imutabilidade da decisão
de arquivamento que impede nova persecução penal pelo mesmo fato. Isso se verifica,
conforme ensina o professor da USP Gustavo Henrique Badaró, nas hipóteses em que o
arquivamento se opera não em razão de uma mera constatação de insuficiência de elementos
de informação sobre a existência material do fato ou de sua autoria, já que nesses casos há
apenas a coisa julgada formal (rebus sic stantibus). A coisa julgada material seria formada
quando, a partir de reconstrução fática segura, houver o reconhecimento de (i) atipicidade dos
fatos investigados, (ii) extinção da punibilidade ou ainda (iii) EXCLUDENTE DA ILICITUDE.
Nesses casos apontados como exceção, há indubitavelmente uma manifestação do juízo
acerca de matéria meritória, razão pela qual se estaria diante de juízo de convencimento
quanto à inexistência de conduta criminosa, ao contrário de um mero juízo de insuficiência
probatória. Apesar de ser essa a minha opinião, compartilhada (repita-se) por grande parte da
doutrina especializada, em relação especificamente à formação da coisa julgada material
quando o arquivamento do inquérito policial se pautar em CAUSA EXCLUDENTE DA
ILICITUDE, há intensa e severa divergência jurisprudencial.
No Superior Tribunal de Justiça, essa matéria é mais tranquila e, acompanhando a doutrina, a
Corte recentemente ratificou o entendimento de que “promovido o arquivamento do inquérito
policial pelo reconhecimento de legítima defesa (leia-se qualquer causa excludente da ilicitude),
a coisa julgada material impede rediscussão do caso penal em qualquer novo feito criminal,
descabendo perquirir a existência de novas provas” (vide REsp 791.471/RJ) .
Já na Suprema Corte (STF), o tema sempre foi objeto de intensa controvérsia. Em nossas
aulas de processo penal na EBEJI mencionávamos um julgado (até então) ISOLADO da 1ª
Turma, no HC 95.211/ES, em que se concluiu que “decisão que determina o arquivamento de
inquérito policial, a pedido do Ministério Público e determinada por juiz competente, que
reconhece que o fato apurado está coberto por excludente de ilicitude, não afasta a ocorrência
de crime quando surgirem novas provas, suficientes para justificar o desarquivamento do
inquérito, como autoriza a Súmula 524 deste Supremo Tribunal Federal”.
Poderíamos dizer que a posição do Supremo ESTAVA consolidada? Não! Isso porque a
formação da Corte sofreu uma série de modificações e não tínhamos uma posição do Plenário!
Restava pendente no Pleno o julgamento da tese no HC 87.395/PR, cujo andamento FICOU
SUSPENSO ATÉ O FINAL DO MÊS DE MARÇO DE 2017! Havia 3 votos favoráveis à tese de
que a partir do momento em que uma excludente de ilicitude é invocada para justificar o
arquivamento, há produção da coisa julgada formal e também material!!!
*O arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude realizado com base em provas
fraudadas não faz coisa julgada material. STF. Plenário. HC 87395/PR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 23/3/2017 (Info 858). Obs1: o STF entende que o inquérito policial
arquivado por excludente de ilicitude pode ser reaberto mesmo que não tenha sido baseado
em provas fraudadas. Se for com provas fraudadas, como no caso acima, com maior razão
pode ser feito o desarquivamento. Obs2: ao contrário do STF, o STJ entende que o
arquivamento do inquérito policial baseado em excludente de ilicitude produz coisa julgada
material e, portanto, não pode ser reaberto. Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. RHC 46.666/MS,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/02/2015.
- Arquivamento originário: é aquele que vai ser proposto pelo próprio Procurador Geral do
Ministério Público nas hipóteses de sua atribuição originária. Nesse caso, para o TJ não há
possibilidade de aplicação do artigo 28, do CPP, restando para o caso a seguinte solução
procedimental. Segundo Rômulo Moreira, deve o Procurador Geral realizar o arquivamento na
própria Procuradoria Geral (interna corporis). Alguns entendem que não há necessidade de
pedir o arquivamento para o Tribunal, salvo nas hipóteses em que se admite coisa julgada
material, quando então o arquivamento deve ser submetido à análise do Tribunal Renato B.
(STF Inq. 1443 e 2431). Diante do arquivamento do Procurado Geral, o legítimo interessado
que se sentir prejudicado, pode provocar o Colégio de Procuradores no âmbito estadual para
que ele analise a pertinência do arquivamento proposto (Art. 12, XI, da Lei nº 8.625/93).
Art. 12. O Colégio de Procuradores de Justiça é composto por todos os Procuradores de
Justiça, competindo-lhe: XI - rever, mediante requerimento de legítimo interessado, nos termos
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da Lei Orgânica, decisão de arquivamento de inquérito policial ou peças de informações
determinada pelo Procurador-Geral de Justiça, nos casos de sua atribuição originária;
*Existe alguma providência processual que a vítima possa adotar para evitar o arquivamento
do IP? Ela pode, por exemplo, impetrar um mandado de segurança com o objetivo de impedir
que isso ocorra? NÃO n. A vítima de crime de ação penal pública ão tem direito líquido e
certo de impedir o arquivamento do inquérito ou das peças de informação. Considerando
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que o processo penal rege-se pelo princípio da obrigatoriedade, a propositura da ação penal
pública constitui um dever, e não uma faculdade, não sendo reservado ao Parquet um juízo
discricionário sobre a conveniência e oportunidade de seu ajuizamento. Por outro lado, não
verificando o Ministério Público que haja justa causa para a propositura da ação penal, ele
deverá requerer o arquivamento do IP. Esse pedido de arquivamento passará pelo controle do
Poder Judiciário, que poderá discordar, remetendo o caso para o PGJ (no caso do MPE) ou
para a CCR (se for MPF). Existe, desse modo, um sistema de controle de legalidade muito
técnico e rigoroso em relação ao arquivamento de inquérito policial, inerente ao próprio sistema
acusatório. Nesse sistema, contudo, a vítima não tem o poder de, por si só, impedir o
arquivamento. Cumpre salientar, por oportuno, que, se a vítima ou qualquer outra pessoa
trouxer novas informações que justifiquem a reabertura do inquérito, pode a autoridade policial
proceder a novas investigações, nos termos do citado art. 18 do CPP. STJ. Corte Especial. MS
21.081-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 17/6/2015 (Info 565).
Formas de controle:
DIFUSO CONCENTRADO
É aquele exercido por Promotores com É aquele exercido pelos membros do
atuação criminal; Ministério Público com atuação
específica para o controle externo;
Controle das ocorrências policiais, Propositura de ações de improbidade
verificação do respeito aos prazos do administrativa, propositura de ação civil
inquérito, verificação da qualidade da pública na proteção de interesses
investigação, verificação de bens difusos, procedimentos investigatórios
apreendidos, propositura de medidas criminais (PIC – com finalidade de
cautelares (contemplando a suspensão investigar membros da polícia),
das funções públicas da autoridade requisições ou recomendações, termo
policial). de ajustamento de conduta, visita as
unidades prisionais, comunicação do
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão
em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar,
como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
vítima.
Legitimidade: Se o TCO faz as vezes do inquérito policial, é instintivo dizer que caberia ao
próprio Delegado a confecção do TCO. Contudo, por resolução do TJSP e TJAL e, por
reconhecimento de Tourinho Filho, o TCO poderá ser confeccionado pela autoridade policial
militar e pela própria secretaria do Juizado Especial Criminal. Doutrina majoritária entende que
só o Delegado.