Inquérito Policial

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DIREITO PROCESSUAL

PENAL
INQUÉRITO POLICIAL
2
ATUALIZADO EM 24/11/2017

INQUÉRITO POLICIALi

1. Considerações iniciais
1.1. Objeto do direito processual penal
É a persecução penal, que é a persecução do crime, dividido em: inquérito policial e
processo.
1.2. Polícia: art. 144 da CF e Lei nº 12.830/13 (entrou em vigor em 20/06/2013).
a) polícia administrativa ou ostensiva, que tem o papel preventivo. Figuram como polícia
administrativa: polícia rodoviária, ferroviária, marítima, militar.
b) polícia judiciária ou civil, seja ela na esfera estadual ou federal. Polícia civil é o
gênero, cujas espécies são as polícias federais e estaduais. O papel da polícia judiciária é
repressivo.
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias
civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Obs: Estrutura. Com o advento da CF 88, a polícia judiciária passou a ser gerida por
Delegados de carreira, leia-se concursados e, necessariamente, bachareis em direito, sendo
que o tratamento protocolar é o mesmo dispensado aos juízes, promotores, defensores e
advogados - art. 3º da Lei 12.830/13: O cargo de delegado de polícia é privativo de bacharel
em Direito, devendo-lhe ser dispensado o mesmo tratamento protocolar que recebem os
magistrados, os membros da Defensoria Pública e do Ministério Público e os advogados.

Obs: Papel funcional. Qual o papel funcional da polícia judiciária? Cabe à polícia civil
auxiliar o poder Judiciário e confeccionar o inquérito policial ou outros procedimentos
investigativos (art. 2º, §1º, da lei 12.830/13).§ 1o  Ao delegado de polícia, na qualidade de
autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou
outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da
materialidade e da autoria das infrações penais.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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2. Conceito/finalidade (Aury Lopes Jr.)


- É o procedimento administrativo preliminar
- de caráter informativo
- presidido pela autoridade policial (delegado: art. 144 CF c/c art. 3º da Lei 12830/13)
- que tem por objetivo apurar a autoria, a materialidade, as circunstâncias do fato e
eventuais fontes de prova (art 2º, §1º, da Lei 12.830/13)
- e que tem por finalidade contribuir na formação da opinião delitiva do titular da ação

Conclusão: percebe-se que o inquérito servirá para CONVENCER o titular da ação,


quanto ao início ou não do processo.
Obs.: Finalidade acidental. O inquérito serve ainda para fornecer lastro indiciário, isto é,
a justa causa que viabiliza a decretação de medidas cautelares no transcorrer da persecução
penal.
Obs.: ATENÇÃO! Natureza jurídica. É a essência do instituto. A posição topográfica
daquele instituto, o enquadramento no ordenamento. É a classificação. No caso do inquérito
ele se enquadra no conceito de mero procedimento administrativo informativo. As regras do ato
administrativo lhes são aplicadas.

3. Características do Inquérito Policial.


- Inquisitivo
Forma de gestão/administração do inquérito. Causa: concentração de poder em
autoridade única. E a consequência? Inaplicabilidade do contraditório e da ampla defesa.

Obs1.Processualização do procedimento: existe uma corrente no Brasil minoritária


(Miguel Calmon) que define que o princípio do devido processo legal e sua carga axiológica
sejam adotados nos procedimentos administrativos, o que permite a tolerância do contraditório
e da ampla defesa na dosagem adequada para a preservação dos direitos e garantias
fundamentais. No mesmo sentido, Fredie Didier Jr. ao tratar do Inquérito Civil Público e Aury
Lopes Jr. ao tratar do Inquérito Policial. Obs. Investigação Criminal Defensiva

*#NOVIDADELEGISLATIVA #DIZERODIREITO #AJUDAMARCINHO1:


Lei 13.432/2017, detetive particular e investigação criminal defensiva.

1
http://www.dizerodireito.com.br/2017/04/lei-134322017-detetive-particular-e.html.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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A investigação de crimes no Brasil é uma atividade exclusiva dos órgãos públicos
(polícia, Ministério Público, Tribunais de Contas etc.)?
NÃO. Não existe uma determinação de que somente o Poder Público possa apurar crimes.
A imprensa, os órgãos sindicais, a OAB, as organizações não governamentais e até mesmo a
defesa do investigado também podem investigar infrações penais.
Qualquer pessoa (física ou jurídica) pode investigar delitos, até mesmo porque a segurança
pública é “responsabilidade de todos” (art. 144, caput, da CF/88).
Obviamente que a investigação realizada por particulares não goza dos atributos inerentes aos
atos estatais, como a imperatividade, nem da mesma força probante, devendo ser analisada
com extremo critério, não sendo suficiente, por si só, para a edição de um decreto condenatório
(art. 155 do CPP). Contudo, isso não permite concluir que tais elementos colhidos em uma
investigação particular sejam ilícitos ou ilegítimos, salvo se violarem a lei ou a Constituição.

Investigação criminal defensiva


Com base no que foi explicado acima, a doutrina defende que é plenamente possível que
ocorra a chamada "investigação criminal defensiva".
A investigação criminal defensiva pode ser conceituada como a possibilidade de o investigado,
acusado ou mesmo condenado realizar diligências a fim de conseguir elementos informativos
("provas") de que não houve  crime ou de que ele não foi o seu autor.

Renato Brasileiro aponta alguns objetivos da investigação criminal defensiva:


"a) comprovação do álibi ou de ouras razões demonstrativas da inocência do imputado;
b) desresponsabilização do imputado em virtude da ação de terceiros;
c) exploração de fatos que revelam a ocorrência de causas excludentes de ilicitude ou de
culpabilidade;
d) eliminação de possíveis erros de raciocínio a quem possam induzir determinados fatos;
e) revelação da vulnerabilidade técnica ou material de determinadas diligências realizadas na
investigação pública;
f) exame do local e a reconstituição do crime para demonstrar a impropriedade das teses
acusatórias;
g) identificação e localização de possíveis peritos e testemunhas." (Manual de Processo
Penal. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 188).

Apesar de ser mais comum durante a fase do inquérito policial, nada impede que a
investigação criminal defensiva ocorra também na fase judicial e mesmo após a sentença penal
condenatória considerando a possibilidade de revisão criminal.
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Obviamente, a investigação criminal defensiva deverá respeitar a lei e a Constituição, não


podendo ser adotadas diligências que violem a ordem jurídica ou direitos fundamentais. Ex:
não é possível a realização de uma interceptação telefônica.

O projeto do novo Código de Processo Penal (Projeto de Lei nº 156/2009) prevê,


expressamente, o instituto da “investigação criminal defensiva”.

Lei nº 13.432/2017
A Lei nº 13.432/2017 dispõe sobre o exercício da profissão de detetive particular.
Considera-se detetive particular "o profissional que, habitualmente, por conta própria ou na
forma de sociedade civil ou empresarial, planeje e execute coleta de dados e informações de
natureza não criminal, com conhecimento técnico e utilizando recursos e meios tecnológicos
permitidos, visando ao esclarecimento de assuntos de interesse privado do contratante." (art.
2º).

O detetive particular pode colaborar formalmente com a investigação conduzida pelo


Delegado no inquérito policial?
SIM. Essa possibilidade foi expressamente prevista no art. 5º da Lei nº 13.432/2017:
Art. 5º  O detetive particular pode colaborar com investigação policial em curso, desde que
expressamente autorizado pelo contratante.

Vale ressaltar, no entanto, que esta participação somente ocorrerá se a autoridade policial
expressamente concordar:
Art. 5º (...)
Parágrafo único. O aceite da colaboração ficará a critério do delegado de polícia, que poderá
admiti-la ou rejeitá-la a qualquer tempo.

Assim, como o responsável pelo inquérito policial é o Delegado de Polícia (art. 2º, § 1º, da Lei
nº 12.830/2013), ele tem o poder de rejeitar a participação formal do detetive particular no
inquérito.

O detetive particular pode acompanhar o Delegado ou investigadores nas diligências


realizadas? Ex: participar de uma busca e apreensão?

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NÃO. A Lei nº 13.432/2017 afirma que, mesmo quando for admitida a colaboração do detetive
particular na investigação policial, ainda assim ele não poderá participar das diligências
policiais:
Art. 10.  É vedado ao detetive particular:
(...)
IV - participar diretamente de diligências policiais;

Uma última pergunta mais polêmica: vimos acima que, pelo texto da Lei, "o detetive
particular pode colaborar com investigação policial em curso, desde que expressamente
autorizado pelo contratante." (art. 5º). Se o Delegado não autorizar a colaboração do
detetive, mesmo assim este poderá realizar, fora do inquérito policial, diligências
investigativas a pedido da defesa?
Penso que sim. O art. 5º da Lei nº 13.432/2017 refere-se à autorização do Delegado de Polícia
para que o detetive particular colabore formalmente com o inquérito policial. No entanto, ainda
que o Delegado rejeite esta participação por entendê-la desnecessária ou impertinente, ele não
pode impedir que o investigado realize investigação criminal defensiva utilizando-se dos
serviços de um detetive particular.
A investigação criminal defensiva, desde que respeitado o ordenamento jurídico, é possível
independentemente de autorização do Delegado, do Ministério Público, do Poder Judiciário ou
de quem quer seja. Isso porque essa atividade é uma consequência da ampla defesa e do
contraditório, garantias constitucionais asseguradas a todo e qualquer investigado. Em outras
palavras, pelo fato de o investigado poder se defender amplamente, ele tem o direito de buscar
"provas" de sua inocência.
Para fins de concurso público, contudo, importante conhecer e assinalar, na prova, a redação
literal do art. 5º da Lei nº 13.432/2017.

Obs2. Atuação do advogado: exercício exógeno é aquele realizado fora dos autos da
investigação. Exs: impetração de habeas corpus, requerimentos ao MP. Exercício endógeno é
aquele efetivado nos autos ou nos atos da investigação. Ex.: oitiva do suspeito acompanhado
por advogado.

- Escrito
Por mais rasteiro que possa parecer, prepondera a forma documental. Art 9º CPP:
Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

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Obs.: Inovação. Pode o delegado, havendo estrutura, utilizar as novas ferramentas
tecnológicas para documentar o inquérito, como captação de som e imagem e até mesmo a
estenotipia, que nada mais é do que uma técnica de redução de palavras por símbolos. (Lei
11.719/08).

- Discricionariedade
Ela se caracteriza por uma margem de conveniência e oportunidade na condução da
investigação, de forma que o delegado organiza o inquérito dentro da sua estratégia
investigativa.

Obs.: Os artigos 6º e 7º do CPP apresentam um rol de diligências para melhor aparelhar


a investigação. Esse é o mínimo contingencial das diligências. ADVETÊNCIA! O artigo 2º da lei
12830, de forma não exaustiva, também nos apresenta um rol de diligências que poderão ser
adotadas.

Obs.2: os requerimentos apresentados pela vítima ou pelo suspeito poderão ser


indeferidos se o delegado reputá-los impertinentes (art. 14 CPP: O ofendido, ou seu
representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou
não, a juízo da autoridade), ressalve-se, contudo, o exame de corpo de delito quando o crime
apresentar vestígios (art. 158 CPP: Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.).
Em que pese à omissão da lei, por analogia para combater o indeferimento caberá recurso
administrativo endereçado ao chefe de polícia. Nada impede que o MP seja acionado para
requisitar a diligência. Art. 184. Ou até mesmo o juiz, como já decidiu o STJ.

Obs.3: as requisições emanadas do MP ou do Juiz serão obrigatoriamente cumpridas,


por imposição normativa, salvo se forem manifestamente ilegais (* art. 13, II do CPP). Há uma
corrente minoritária que afirma que, por filtragem constitucional, ele não estaria obrigado.
Obs.4: o IP não possui rito.

- Sigiloso
O inquérito não se submete à publicidade ordinária, cabendo ao delegado velar pelo
sigilo da investigação, em prol da eficiência. Art. 20 CPP - A autoridade assegurará no inquérito
o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.

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Obs.: Classificação do sigilo (Luigi Ferrajoli):
a) sigilo externo é o aplicado aos terceiros desinteressados, como a imprensa,
preservando-se a imagem do sujeito, em razão do seu estado de inocência. Publicidade restrita
ou interna.

*#OUSESABER #OLHAOGANCHO: A veiculação de matéria jornalística informando a


investigação de determinada pessoa gera direito à indenização? Segundo o STJ, em
regra, o jornal não tem o dever de indenizar a pessoa noticiada como investigada, ainda que
ela venha a ser absolvida no processo criminal. Nos termos do REsp 1297567-RJ, para que
haja a responsabilização da imprensa pelos fatos por ela noticiados é necessário que exista
prova de que o agente divulgador conhecia ou poderia conhecer a falsidade da informação
divulgada. A mera divulgação de informação não se mostra apta a ensejar o abuso do direito
de informação.

b) sigilo interno é o aplicado aos interessados. O sigilo interno é frágil, pois não atinge o
acesso aos autos. Conclusão: o MP, o “juiz” (sistema acusatório. Cuidado em chamar de
interessado), e até mesmo o advogado e o defensor, poderão acessar os autos da
investigação, tendo contato com as diligências já realizadas e documentadas. Esse é o
chamado direito retrospectivo, direito de ter acesso ao que já foi produzido e está
documentado. ATENÇÃO! O direito do advogado está substanciado no *art. 7º, XIV, do
Estatuto da OAB - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação,
mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou
em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar
apontamentos, em meio físico ou digital; e na súmula vinculante 14 do STF. É direito do
defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. 2
Não viola o entendimento da SV 14-STF a decisão do juiz que nega a réu denunciado
com base em um acordo de colaboração premiada o acesso a outros termos de declarações
que não digam respeito aos fatos pelos quais ele está sendo acusado, especialmente se tais
declarações ainda estão sendo investigadas, situação na qual existe previsão de sigilo, nos
termos do art. 7º da Lei nº 12.850/2013. STF. 2ª Turma. Rcl 22009 AgR/PR, rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 16/2/2016 (Info 814).

2
*CAIU NA SEGUNDA FASE DA DPE ALAGOAS (2017) #CESPE.

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Obs.: havendo denegação de acesso aos autos do Inquérito, caberá Mandado de
Segurança, Reclamação Constitucional – o cabimento de Reclamação não impede o
ajuizamento do MS (art. 103-A, §3º, da CF) e, segundo o STJ, até mesmo Habeas Corpus, já
que existe risco indireto à liberdade. Esse HC é denominado de HC profilático. ATENÇÃO! Se
o objeto da investigação tiver pena de multa como a única cominada (art. 51 do CP) ou for
pessoa jurídica, por exemplo, não caberá HC. Súmula 693 do STF.  Não cabe habeas corpus
contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração
penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.
Obs.: Foco na vítima. (Movimento de tutela e resgate do ofendido- Ada Pellegrini). Pode
o Juiz, de ofício ou por provocação, decretar segredo de Justiça da persecução de forma que
informações não mais poderão ser partilhadas com a imprensa, preservando-se a vítima. Art.
201, §6º, do CPP O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida
privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em
relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito
para evitar sua exposição aos meios de comunicação.

- Unidirecionalidade
Segundo Paulo Rangel, não deve o delegado emitir opinião quanto à culpa ou não do
suspeito ao relatar o inquérito, já que o juízo crítico opinativo é do titular da ação. O inquérito é
direcionado ao titular da ação e não possui caráter sancionatório, o que ratifica a
inquisitoriedade. “O inquérito é descritivo, e não valorativo.”

- Temporário
Existem prazos no CPP e na legislação extravagante, sendo a regra geral consolidada
no art. 10 do CPP - O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido
preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir
do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto,
mediante fiança ou sem ela. O delegado pode pedir ao juiz a extensão desse prazo quando o
caso for de difícil elucidação e o indiciado estiver solto. Aplica-se ao inquérito a duração
razoável do “processo” (Aury Lopes Jr.)

- Indisponível
Em nenhuma circunstância o delegado poderá arquivar o inquérito, já que toda
investigação iniciada deve ser concluída e encaminhada à autoridade competente (art. 17 do
CPP). Ou seja, ainda que o fato não exista, for atípico, ou o crime estiver prescrito não há
disponibilidade sobre o inquérito.
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- Oficioso
Obrigatoriedade de instauração do inquérito quando a autoridade policial toma
conhecimento de crime de ação penal pública incondicionada. A discricionariedade está
relacionada apenas à forma de gerenciamento das investigações.
- Oficial
Incumbe ao Delegado a presidência do inquérito. O procedimento fica a cargo de órgão
oficial do Estado.

- Dispensável
Para que o processo comece não é necessária a prévia elaboração de inquérito policial
e o titular da ação poderá prospectar lastro indiciário de outras fontes autônomas.

Obs.: Inquéritos não policiais. São aqueles presididos por autoridades distintas da polícia
judiciária. Hipóteses:

a) Inquérito Parlamentar: presidido pelos membros da CPI. Votado o relatório pela casa
parlamentar, havendo indícios da ocorrência de crime, haverá a remessa ao MP que deverá
analisar o inquérito parlamentar em caráter de urgência. (lei 10.001/00)

b) Inquérito Militar: tem por objeto as infrações militares e será conduzido por um oficial
da respectiva instituição militar.

c) Inquérito judicial da lei de falências: ele tinha por objetivo a apuração das infrações
falimentares e comportava, por disposição normativa, contraditório e ampla defesa. O instituto
se encontra revogado, pois a nova Lei de Falência não disciplina a matéria. ATENÇÃO!
Havendo desejo político, o legislador poderá autorizar a aplicação de contraditório e ampla
defesa em procedimento investigativo, como ocorre no Inquérito para expulsão de estrangeiro
(Lei nº 6815/80 – estatuto do estrangeiro e Decreto 86715/81).

d) Inquérito em face de membro de MP: Havendo indícios de envolvimento de membro


do MP em infração penal, o Procurador Geral deve ser provocado, já que o delegado não tem
atribuição para indiciar os membros do MP. Lei Orgânica Nacional do MP. LONMP.

Obs.: Inquéritos não policiais. Havendo indícios de que um magistrado contribuiu para o delito,
os autos da investigação ou a notícia do fato serão remetidos ao tribunal a que o magistrado
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está vinculado (art. 33, parágrafo único, da Lei Complementar 35/79). As autoridades que
usufruem de foro por prerrogativa funcional podem ser indiciadas pelo delegado? Não! O
indiciamento pressupõe autorização do tribunal – RELATOR - a que a autoridade está
vinculada. Havendo prévia autorização quem deverá realizar a investigação? Segundo o STF,
no inquérito 2411 o indiciamento da autoridade pressupõe autorização do tribunal em que ela
usufrui da prerrogativa funcional. Uma vez promovida a autorização de indiciamento, subsistem
três posições quanto à condução da investigação:

 A condução caberia ao próprio delegado de polícia: o delegado só provocaria o tribunal nas


hipóteses submetidas à cláusula de reserva jurisdicional;

 A condução caberia ao próprio tribunal onde a autoridade usufrui o foro por prerrogativa de
função (gestão intelectual do procedimento): a investigação seria conferida a um
desembargador ou ministro e a polícia judiciária seria provocada para implementar
eventuais diligências. Há precedentes jurisprudenciais. Essa posição poderia violar o
sistema acusatório;

 Para Paulo Rangel, em homenagem ao sistema acusatório, deve o tribunal encaminhar a


condução da investigação para cúpula do Ministério Publico Estadual ou Federal, conforme
o caso.

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Em regra, a autoridade com foro por prerrogativa de função pode ser indiciada. Existem duas
exceções previstas em lei de autoridades que não podem ser indiciadas: a) Magistrados (art.
33, parágrafo único, da LC 35/79); b) Membros do Ministério Público (art. 18, parágrafo único,
da LC 75/73 e art. 40, parágrafo único, da Lei nº 8.625/93). Excetuadas as hipóteses legais, é
plenamente possível o indiciamento de autoridades com foro por prerrogativa de função. No
entanto, para isso, é indispensável que a autoridade policial obtenha uma autorização do
Tribunal competente para julgar esta autoridade. Ex: em um inquérito criminal que tramita no
STJ para apurar crime praticado por Governador de Estado, o Delegado de Polícia constata
que já existem elementos suficientes para realizar o indiciamento do investigado. Diante disso,
a autoridade policial deverá requerer ao Ministro Relator do inquérito no STJ autorização para
realizar o indiciamento do referido Governador. Chamo atenção para o fato de que não é o
Ministro Relator quem irá fazer o indiciamento. Este ato é privativo da autoridade policial. O
Ministro Relator irá apenas autorizar que o Delegado realize o indiciamento. STF. Decisão
monocrática. HC 133835 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/04/2016 (Info 825)

Os dados bancários entregues à autoridade fiscal pela sociedade empresária fiscalizada, após
regular intimação e independentemente de prévia autorização judicial, podem ser utilizados
para subsidiar a instauração de inquérito policial para apurar suposta prática de crime contra a
ordem tributária. STJ. 5ª Turma. RHC 66.520-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 2/2/2016
(Info 577).

Obs.: Inquérito Ministerial – PIC (Procedimento Investigativo Criminal).

 Segundo o STF, o STJ e a doutrina amplamente majoritária, o Ministério Público poderá


conduzir investigação criminal que conviverá harmonicamente com o inquérito policial, sem
que exista usurpação de função. Promotor que investiga não é suspeito ou impedido de
atuar na fase processual (Súmula 234 STJ - A participação de membro do Ministério
Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o
oferecimento da denúncia.). O embasamento normativo desse entendimento: a Ministra
Ellen Gracie utilizou a teoria dos poderes implícitos, pois a Constituição Federal atribui ao
Ministério Público expressamente o poder-dever de processar (art. 129, I, da CF), e quem
pode o mais, implicitamente poderá o menos, que é investigar. Isto é, o Ministério Público
pode se aparelhar de todos os meios para exercer o macropoder (HC 91.661). ATENÇÃO!
A teoria dos poderes implícitos tem origem na Corte Americana no caso do Mc Culloch x
Maryland de 1819.

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 Posição contrária - Luiz Flávio Borges D’urso: O Ministério não pode presidir investigação
criminal no Brasil, porquanto ofenderia o sistema acusatório (acúmulo ou aglutinação de
funções não tolerada); não há lei federal disciplinando a matéria e o membro do Ministério
Público estaria comprometido subjetivamente para atuar no processo, não sendo razoável
a sua atuação. Essa posição é minoritária.

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O STF reconheceu a legitimidade do Ministério Público


para promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal, mas ressaltou que
essa investigação deverá respeitar alguns parâmetros que podem ser a seguir listados:
1) Devem ser respeitados os direitos e garantias fundamentais dos investigados;
2) Os atos investigatórios devem ser necessariamente documentados e praticados por
membros do MP;
3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, ou seja,
determinadas diligências somente podem ser autorizadas pelo Poder Judiciário nos casos em
que a CF/88 assim exigir (ex: interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário etc);
4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais asseguradas por lei aos advogados;
5) Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculante 14 do STF (“É direito do
defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”);
6) A investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável;
7) Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao permanente controle do
Poder Judiciário.
A tese fixada em repercussão geral foi a seguinte: “O Ministério Público dispõe de competência
para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal,
desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer
pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de
reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham
investidos, em nosso País, os advogados (Lei 8.906/1994, art. 7º, notadamente os incisos I, II,
III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático
de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados
(Enunciado 14 da Súmula Vinculante), praticados pelos membros dessa Instituição.”
STF. Plenário. RE 593727/MG, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Gilmar
Mendes, julgado em 14/5/2015 (repercussão geral) (Info 785).

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*O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por
prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias
que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado. A
controvérsia sobre a legitimidade constitucional do poder de investigação do Ministério Público
foi pacificada pelo STF com o julgamento do RE 593.727/MG (Info 785). STF. 1ª Turma. HC
85011/RS, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 26/5/2015 (Info 787).

4. Valor probatório do Inquérito Policial


Tecnicamente, o inquérito policial não produz provas, e sim elementos indiciários ou de
informação.

Enquadramento classificatório: Por Fauzi Hassan e Rômulo Moreira


Elementos indiciários ou de Elementos de prova
informação
São produzidos na fase do inquérito; Em regra, são produzidos na fase
processual e, excepcionalmente, de
maneira extraprocessual;
São produzidos de maneira inquisitiva; São produzidos de maneira dialética,
com respeito ao contraditório e a ampla
defesa, real (imediato) ou diferido;
O juiz é provocado nas hipóteses de As provas serão produzidas na presença
cláusula de reserva jurisdicional e do magistrado(princípio da imediatidade
funciona como órgão de controle do ou judicialização da prova) e, além disso,
procedimento, preservando as regras do o CPP adotou expressamente o princípio
jogo; da identidade física do juiz (art. 399, §2º,
do CPP), de forma que o juiz que
preside a instrução deverá, em regra,
proferir a sentença; ATENÇÃO!
Presença do julgador direta (presença
física do juiz na audiência) ou remota
(quando se utiliza a videoconferência,
Lei nº 11.900/09);
Finalidade (teleologia): fomentar a Finalidade (teologia): objetiva contribuir
formação da opinião delitiva do titular da no convencimento do juiz para prolação
ação penal e contribuir na adoção de do provimento jurisdicional adequado;

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medidas cautelares no transcorrer da
persecução;

Segundo Fernando Tourinho Filho, o inquérito tem valor probatório relativo, pois serve de base
para oferta da inicial acusatória, mas não se presta sozinho a sustentar uma condenação, já
que seus elementos foram colhidos de maneira inquisitiva. Essa é a ideologia extraída do art.
155, CPP - O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas. 

Elementos migratórios: são extraídos do inquérito e levados ao processo, podendo ser


validamente valorado em eventual sentença condenatória. Quais são os elementos
migratórios?

 Provas irrepetíveis: são aquelas provas de iminente perecimento que não tem como ser
refeitas na fase processual (a evidência do fato desaparece depois), Exemplo: constatação
de embriaguez ao volante; ATENÇÃO! O delegado, em regra, autorizará a confecção da
prova irrepetível.

 Provas cautelares: a cautelaridade é justificada pela necessidade e urgência e,


normalmente, contam com a intervenção judicial. Exemplo: interceptação telefônica.
Detalhe: quem conduz toda a prova é a polícia e de forma inquisitiva.

As provas cautelares e irrepetíveis são colhidas de maneira inquisitiva e, quando levadas ao


processo, se submetem ao contraditório e a ampla defesa de forma diferida ou postergada.

 Incidente de produção antecipada de prova: instaurado perante o magistrado e respeitado


o contraditório e ampla defesa e o fruto do incidente poderá ser usado validamente na fase
processual. Conta com a intervenção das futuras partes do processo. Art. 225, CPP - Se
qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar
receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a
requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.

5. Vícios na Investigação

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


16
São irregularidades existentes na ação penal ocasionados no inquérito pelo desrespeito da
legislação processual ou principiologia penal. Existe nulidade na fase do inquérito policial? A
doutrina se divide quanto à existência ou não de nulidades na fase do inquérito policial,
subsistindo as seguintes posições:

 Para Ada Pellegrini Grinover, o sistema de nulidade é idealizado para a fase processual (é
uma sanção), e no inquérito teríamos meras irregularidades ou vícios.

 Para Paulo Rangel, o sistema de nulidade é também aplicável ao inquérito, já que os


requisitos do ato jurídico perfeito são também aplicáveis na fase investigativa (é comum o
uso da expressão “nulidades” nas decisões do STF e do STJ – consolidação
jurisprudencial).

Consequências: o entendimento prevalente é de que os vícios do inquérito policial ficam


adstritos ao procedimento e não tem o condão de contaminar o futuro processo, 3já que é
procedimento meramente dispensável (jurisprudência utilitarista do STF e STJ). Os vícios do
inquérito são endoprocedimentais. Para Amilton Bueno de Carvalho (Desembargador do RS),
os vícios do inquérito atingem e contaminam o processo, pois o juiz, ao ter contato com a
investigação viciada, está impedido de proferir sentença (posição minoritária). Há, porém, uma
posição intermediária encampada por Gustavo Henrique Badaró, os vícios do inquérito
comprometem o processo quando atingem os elementos migratórios, já que a inicial acusatória
assim lastreada está desprovida de justa causa (base única de sustentação da denúncia) e a
sentença que eventualmente valora elemento migratório está contaminada por nulidade
absoluta.

6. Incomunicabilidade
Era a possibilidade do preso, durante o inquérito, não ter contato com terceiros por decisão
judicial motivada, pelo prazo máximo de três dias e sem prejuízo do acesso do advogado.

- Filtro Constitucional: Como o art. 136, §3º, IV, da CF - § 3º - Na vigência do estado de defesa:
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso- não tolera incomunicabilidade, nem mesmo no
Estado de Defesa, resta concluir que o art. 21, CPP, não foi recepcionado (a exegese
3
A suspeição de autoridade policial não é motivo de nulidade do processo, pois o inquérito é mera peça informativa, de que se
serve o Ministério Público para o início da ação penal. Assim, é inviável a anulação do processo penal por alegada
irregularidade no inquérito, pois, segundo jurisprudência firmada no STF, as nulidades processuais estão relacionadas apenas a
defeitos de ordem jurídica pelos quais são afetados os atos praticados ao longo da ação penal condenatória. STF. 2ª Turma.
RHC 131450/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/5/2016 (Info 824).
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
17
constitucional leva à conclusão de que a incomunicabilidade foi revogada tacitamente).
Contudo, há posição minoritária capitaneada por Vicente Greco que sustenta que o art. 21,
CPP continuaria em vigor. Assim, para o doutrinador, a incomunicabilidade ainda persiste, já
que a Constituição no art. 136 está restrita à lógica do Estado de Defesa.

- Legislação Especial: A lei nº 10.792/2003 inseriu o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD)


nos arts. 52 e ss, LEP e mesmo nele NÃO há previsão de incomunicabilidade, subsistindo
apenas a necessidade do agendamento de visitas.

7. Atribuição da Polícia ou “Competência” Policial


É a quantidade de poder prefixada em lei e que vai delimitar a margem de atividade de
determinada autoridade.

Critérios definidores da atribuição:

 Territorial: a circunscrição em que o crime se consumou figura como linha mestra na


definição da atribuição. Observação: nas comarcas com mais de uma circunscrição estão
dispensadas as precatórias entre delegados. Apenas nas circunscrições localizadas em
outras comarcas é preciso usar precatórias;

 Material: permite especializar a atuação da polícia para determinado conjunto de infrações


penais. Teremos delegados especializados no combate a um determinado tipo de delito.
Exemplo: Delegacia de Homicídios.

Obs.: Pelo critério material teremos a bifurcação da polícia judiciária em estadual e federal, já
que materialmente esta última, de regra, investiga os crimes federais. Disciplinando o art. 144,
da CF, a Lei nº 10.446/2002, autoriza que a Polícia Federal investigue, excepcionalmente,
crimes estaduais que exigem retaliação uniforme por sua repercussão no plano interestadual
ou internacional. Nesse caso, porém, a intervenção da policia federal não afasta a atuação da
polícia dos Estados, determinando a remessa do procedimento para o Ministério Público
Estadual e não federal;

#ALTERAÇÃOLEGISLATIVA #PF #MPF #TRF #DPU


ATRIBUIÇÕES DA POLÍCIA FEDERAL

A Polícia Federal investiga apenas crimes de competência da Justiça Federal?

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


18
NÃO. Em regra, a Polícia Federal é responsável pela investigação dos crimes que são de
competência da Justiça Federal. Isso porque uma das principais funções da PF é exercer, com
exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

No entanto, a Polícia Federal investiga também outros delitos que não são de competência da
Justiça Federal.

As atribuições da Polícia Federal estão previstas inicialmente no art. 144 da CF/88:

Art. 144 (...)

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se a:

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços
e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;

II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o


descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas
áreas de competência;

III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

INCISO I DO § 1º DO ART. 144 DA CF/88

Se você observar a redação do inciso I do § 1º do art. 144 acima transcrita verá que ela é bem
ampla, especialmente na sua parte final. Veja novamente:

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços
e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como
outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;

Crimes que tenham repercussão interestadual ou internacional


Desse modo, a Polícia Federal tem atribuição para investigar crimes que tenham repercussão
interestadual ou internacional e exijam repressão uniforme.

Que crimes são esses?


A CF/88 afirma que a relação desses crimes deverá ser prevista em lei.

Que lei é esta?


A Lei n. 10.446/2002, cuja ementa é a seguinte:
Dispõe sobre infrações penais de repercussão interestadual ou internacional que exigem
repressão uniforme, para os fins do disposto no inciso I do § 1º do art. 144 da Constituição.

LEI 10.446/2002

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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A Lei n. 10.446/2002, em seu art. 1º, traz uma lista de crimes que foram escolhidos pelo
legislador e que podem ser investigados pela Polícia Federal.

No caso dos delitos previstos neste artigo 1º não importa se eles serão ou não julgados pela
Justiça Federal. A atribuição para investigá-los será da Polícia Federal.

Assim, quando houver repercussão interestadual ou internacional que exija repressão


uniforme, a Polícia Federal poderá investigar as seguintes infrações penais:

I – sequestro e cárcere privado (art. 148 do CP) e extorsão mediante sequestro (art. 159), se o
crime foi praticado por motivação política ou quando praticado em razão da função pública
exercida pela vítima;

II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º da Lei nº 8.137/90);

III – crimes em que haja violação a direitos humanos que o Brasil se comprometeu a reprimir
em tratados internacionais; e

IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operação


interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em
mais de um Estado da Federação;

V – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos


ou medicinais e venda, inclusive pela internet, depósito ou distribuição do produto falsificado,
corrompido, adulterado ou alterado (art. 273 do CP);

Obs: a Polícia Federal irá investigá-los sem prejuízo da responsabilidade das Polícias Militares
e Civis dos Estados, ou seja, tais órgãos de segurança pública também poderão contribuir com
as investigações.

Fora essa lista, a Polícia Federal poderá investigar outros crimes?


SIM. A lista do art. 1º da Lei n. 10.446/2002 é exemplificativa.
Assim, o Departamento de Polícia Federal poderá investigar outras infrações penais que não
estejam nesta lista, desde que:
• Tal providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justiça;
• A infração tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme.

Essa autorização mais genérica está prevista no parágrafo único do art. 1º da Lei n.
10.446/2002.

O que fez a Lei n. 13.124/2015?


Acrescentou mais um inciso ao art. 1º da Lei n. 10.446/2002 prevendo um novo rol de crimes
que poderão ser investigados pela Polícia Federal. Confira:

Art. 1º Na forma do inciso I do § 1º do art. 144 da Constituição, quando houver repercussão


interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia
Federal do Ministério da Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança
pública arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias Militares e Civis
dos Estados, proceder à investigação, dentre outras, das seguintes infrações penais:

(...)

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VI – furto, roubo ou dano contra instituições financeiras, incluindo agências bancárias
ou caixas eletrônicos, quando houver indícios da atuação de associação criminosa em
mais de um Estado da Federação.

Desse modo, a partir de agora existe previsão expressa de que a Polícia Federal poderá
investigar:
• Furto, roubo ou dano
• contra instituições financeiras (incluindo agências ou caixas eletrônicos)
• quando houver indícios de que se trata de uma associação criminosa que atua em mais
de um Estado da Federação.

Obs.: tais crimes acima listados continuam sendo, em regra, de competência da Justiça
Estadual. Apenas a INVESTIGAÇÃO de tais delitos é que passou para a esfera federal. Assim,
a Polícia Federal realiza o inquérito policial e depois o remete para o juiz de Direito e o
Promotor de Justiça que irão dar início e prosseguimento no processo penal.

*#OUSESABER: É verdade que, em razão de o Banco do Brasil ser uma sociedade de


economia mista, a Justiça Federal, como regra, não tem competência para julgar os crimes
ocorridos contra a Instituição financeira (art. 109, IV, da CF). Por consequência, a Polícia
Federal não investiga, também como regra, tais crimes. Porém, a Lei 10.446/02 autoriza a
investigação pela PF de crimes que não são tipicamente da competência da Justiça Federal
(vale a pena a leitura do texto legal), inclusive "furto, roubo ou dano contra instituições
financeiras, incluindo agências bancárias ou caixas eletrônicos, quando houver indícios da
atuação de associação criminosa em mais de um Estado da Federação", situação na qual se
pode incluir o Banco do Brasil. Assim, cuidado com alguma questão que afirme que em
nenhum caso poderá a PF investigar crimes contra sociedade de economia mista.

 Pessoal: defendido por Luiz Flávio Gomes, define que a figura da vítima poderá ser usada
como exponencial para delimitação da atribuição da polícia. Contudo, esse critério é
ocioso, pois integra o critério material. Exemplo: Delegacia da Mulher.

- E se o cumprimento de quaisquer desses critérios for desrespeitado? Não é relevante, pois os


vícios do inquérito, em regra, não contaminam o processo.

Obs.: – Avocatória: O chefe de polícia poderá avocar o inquérito e redistribuir a outro delegado
por despacho fundamentado desde que exista interesse público ou quando as regras
procedimentais na condução da investigação sejam violadas (§4º e §5º, do art. 2º, da Lei nº
12.830/2013).

8. Prazo
a) Delegado Estadual: Se o suspeito estiver preso, o inquérito deve ser concluído em 10
dias(improrrogáveis); Se o suspeito estiver solto, o inquérito deve ser concluído em 30 dias

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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(prorrogáveis por deliberação do juiz, pelo tempo e pelas vezes que ele autorizar, desde
que exista provocação. A doutrina prevalente recomenda que o Ministério Público seja
ouvido, mas o CPP não faz essa previsão);

b) Delegado Federal: Se o suspeito estiver preso, o inquérito deve ser concluído em 15


dias(prorrogáveis, uma vez por 15 dias). Se o suspeito estiver solto, o inquérito deve ser
concluído em 30 dias (prorrogáveis por deliberação do juiz, pelo tempo e pelas vezes que
ele autorizar, desde que exista provocação. A doutrina prevalente recomenda que o
Ministério Público seja ouvido, mas o CPP não faz essa previsão);

c) Inquérito Policial no âmbito dos crimes contra economia popular: o prazo é de 10 dias,
pouco importa se o indiciado está preso ou solto. Como não há previsão legal, presume-se
que o prazo é improrrogável.

d) Inquérito no tráfico de drogas e condutas comparadas é de 30 dias se o indiciado estiver


preso (prorrogáveis, uma vez por mais 30 dias – duplicáveis). Se o indiciado estiver solto o
prazo é de 90 dias (prorrogáveis, uma vez por mais 90 dias – duplicáveis).

ATENÇÃO – no âmbito da lei de tóxicos a deliberação do juiz pressupõe, por imposição


normativa, a prévia oitiva do MP. O CPP, no entanto, não traz essa previsão, mas a
doutrina recomenda que se faça em homenagem ao sistema acusatório.

e) Inquérito Militar: se preso, 20 dias (improrrogáveis). Se solto, 40 dias (prorrogáveis, por


mais 20 dias). Art. 20, caput e §1º CPPM.

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Obs.: Forma de contagem do prazo:

(1) Doutrina majoritária: o prazo é de natureza processual, sendo regido pelas regras do art.
798 do CPP, o que nos permite excluir o primeiro dia e incluir o de vencimento.
(Mirabete e Denilson Feitosa Pacheco).
(2) Aury Lopes, Nucci: se o sujeito está preso, o prazo deve ser contado de acordo com o
artigo 10 do Código Penal, incluindo-se o primeiro dia e sendo descartado o do
vencimento. DPU

Obs.: Compensação de prazos: Possível. Entende-se atualmente que se o delegado exceder o


prazo para conclusão do inquérito com o suspeito preso, nada impede que o promotor ao
denunciar promova o equilíbrio, antecipando o oferecimento da denúncia e evitando assim
eventual alegação de ilegalidade prisional por excesso de prazo. Delegado 12 dias + promotor
3 dias = 15 dias. Obedeceu ao prazo legal de 10 +5. Pode haver, por exemplo, excesso de
prazo na instrução, compensado por um processo mais célere. Nestor Távora é totalmente
contra. Compensação de prazo é forma de burlar a lei.
Obs.: Preso: excesso abusivo – relaxamento. Excesso brando – nada, pois pode haver a
compensação.
Obs.: Prisão temporária: uma vez decretada a prisão temporária, o seu prazo passa a reger o
tempo de conclusão do inquérito. Ex: crime hediondo – 30 + 30. O prazo para conclusão do
inquérito passa a ser esse.
Obs: a regra do art. 798, §3º - O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á
prorrogado até o dia útil imediato - não é aplicada para concluir inquérito, pois as polícias
funcionam de domingo a domingo.

9. Indiciamento
O CPP não define o indiciamento, mas a recente lei 12.830 /13 regula a matéria.
- Conceito: O Aury Lopes Jr. tem a melhor obra sobre a matéria. Ele diz que indiciar significa
direcionar o inquérito, as investigações à determinada pessoa. Agora não é mais possível que
ela seja a responsável, mas sim provável. Segundo o autor, indiciar nada mais é do que atribuir
a alguém a prática de um fato delituoso, saindo-se de um juízo de possibilidade para um juízo
de probabilidade, mais robusto. É (a probabilidade) o que o Jacinto Coutinho chama de
verossimilhança.
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- LEGITIMIDADE PARA O INDICIAMENTO: Caberá ao Delegado, privativamente, promover o
indiciamento durante o inquérito policial, não se submetendo a requisições emanadas de juiz
ou do MP, nesse sentido. (art. 2o, parágrafo 6o, da Lei 12.830/13).

- Pressupostos:
(1) adequada fundamentação: essa fundamentação é exigida no §6º do art. 2º da Lei 12.830/13
- O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante
análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas
circunstâncias. - e na instrução normativa nº11/2011 da Polícia Federal.

(2) apontar os indícios da autoria, materialidade e as circunstâncias do delito.


- Momento do indiciamento: Em que pese à omissão da lei, a doutrina recomenda que o
indiciamento se realize assim que possível, o que normalmente ocorre após a oitiva do sujeito,
para que ele tenha desde logo conhecimento. Segundo Eugênio Pacceli, na prática o
indiciamento vem ocorrendo no final do inquérito, quando da apresentação do relatório.

Obs.: havendo prisão cautelar na fase investigativa, presume-se que o indivíduo esteja
indiciado.

Obs.: MP/SP: durante o processo, justifica-se o indiciamento daquele que já é réu? Assim
como o inquérito policial, o indiciamento é dispensável. Havendo a deflagração do processo,
não há razão para que se realize o indiciamento retroativo do fato objeto da denúncia, afinal
assim como o inquérito, o indiciamento é dispensável. Todavia, se durante o processo é
descoberto um novo fato criminoso, nada impede a instauração incidental de inquérito, com o
respectivo indiciamento.

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*#OUSESABER: O indiciamento consiste na atribuição da autoria ou participação de um delito
a uma pessoa específica. Com ele, as investigações serão direcionadas a pessoas
determinadas. Vale lembrar que, segundo o art. 2º, parágrafo 6º, da Lei 12.830/13, o
indiciamento é ato PRIVATIVO do Delegado de Polícia, de modo que o Ministério Público e
o juiz não poderão requisitá-lo.Como se percebe, o indiciamento é típico das investigações,
não tendo qualquer utilidade após o início da ação penal. Por isso, o STJ tem entendido
que, se ocorrer durante a ação penal, configura constrangimento ilegal (HC 182.455/SP).
Assim, após o início da ação penal, o indiciamento é vedado.

Obs.: “menor”. O CPP considerava os suspeitos entre 18 e 21 anos como relativamente


capazes, exigindo-se a nomeação de curador. Atualmente, resta concluir que o art. 15 do CPP
está tacitamente revogado pelo artigo 5º do CC/2002, afinal ou os maiores de 18 anos são
absolutamente capazes. O CPP foi moldado na égide do CC 16, que considerava as pessoas
entre 18 e 21 anos como menores. E essas pessoas quando indiciadas deveriam ter um
curador. ATENÇÃO! A figura do curador acabou? NÃO! Continua existindo para os doentes
mentais, se num processo incidental de insanidade mental se chegar a essa conclusão, e para
os índios não adaptados ao convívio social. O representante legal do enfermo ou retardado
mental é o curador civil (representante legal), mas se ele não tiver ou os interesses forem
conflitantes, o juiz criminal lhe nomeará um. Permanecem as normas de direito material que
lhes são favoráveis. Art. 115 CP - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o
criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença,
maior de 70 (setenta) anos

Obs.: Desindiciamento.

(1) Conceito: é a retirada do status de indiciado atribuído ao agente, o que não caracteriza
desistência do inquérito.
(2) Modalidades: I.Voluntário – é aquele realizado por iniciativa do próprio delegado.
II.Coacto – é aquele designado pela procedência do HC impetrado ( ou MS caso não
haja pena privativa de liberdade) para trancar o inquérito, em virtude de patente
ilegalidade. Hipóteses de trancamento fl. 138

Obs.: sujeitos do indiciamento: a regra geral é de qualquer pessoa pode ser indiciada.
Exceções:

(1) Membros do MP: não podem ser indiciados pelo Delegado. Art. 41, II, da Lei 8625/93 (lei
orgânica do MP). Os autos devem ser enviados ao Procurador Geral.
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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(2) Membros da Magistratura: os juízes não poderão ser indiciados pela polícia judiciária.
Art. 33, parágrafo único, da LC 35/79 - Quando, no curso de investigação, houver indício
da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar,
remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o
julgamento, a fim de que prossiga na investigação.
(3) Autoridades com foro por prerrogativa de função não poderão ser investigadas ou
indiciadas pela polícia judiciária, sem prévia análise do Tribunal onde usufrui da
prerrogativa funcional. Decisão do STF - Inquérito 2411. Para instaurar inquérito precisa
de autorização do Min Relator.

*ATENÇÃO: Essa decisão do STJ não foi divulgada em informativo. O acórdão se refere a
desnecessidade de autorização judicial para a instauração de inquérito policial de autoridades
com foro por prerrogativa de função. Não se pode afirmar que houve mudança de
entendimento. Basta saber a posição mais atualizada da Quinta Turma do STJ, especialmente
em provas discursivas e orais:

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL. 1. VIOLAÇÃO AO ART. 5º, II, DO


CPP. PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO CRIMINAL. PODERES DE INVESTIGAÇÃO
DO MP. RE 593.727/MG. 2. INVESTIGADO COM FORO POR PRERROGATIVA DE
FUNÇÃO. PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO JUDICIÁRIO. AUSÊNCIA DE NORMA
CONSTITUCIONAL OU INFRACONSTITUCIONAL. PRECEDENTES. 3. CONTROLE
PRÉVIO DAS INVESTIGAÇÕES. VIOLAÇÃO AO SISTEMA ACUSATÓRIO. PRECEDENTE
DO STF. 4. PREVISÃO DE CONTROLE JUDICIAL DE PRAZOS. ART. 10, § 3º, DO CPP.
JUÍZO COMPETENTE PARA O PROCESSO. 5. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. O
Pleno do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário n.
593.727/MG, assentou que "os artigos 5º, incisos LIV e LV, 129, incisos III e VIII, e 144,
inciso IV, § 4º, da Constituição Federal, não tornam a investigação criminal
exclusividade da polícia, nem afastam os poderes de investigação do Ministério Público".
Dessarte, não há dúvidas sobre a constitucionalidade do procedimento investigatório
criminal, que tem previsão no art. 8º da Lei Complementar n. 75/1993 e no art. 26 da Lei n.
8.625/1993, sendo disciplinado pela Resolução n. 13/2006 do Conselho Nacional do Ministério
Público. 2. No que concerne às investigações relativas a pessoas com foro por prerrogativa de
função, tem-se que, embora possuam a prerrogativa de serem processados perante o
Tribunal, a lei não excepciona a forma como se procederá à investigação, devendo ser
aplicada, assim, a regra geral trazida no art. 5º, inciso II, do Código de Processo Penal, a
qual não requer prévia autorização do Judiciário. "A prerrogativa de foro do autor do fato
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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delituoso é critério atinente, de modo exclusivo, à determinação da competência
jurisdicional originária do tribunal respectivo, quando do oferecimento da denúncia ou,
eventualmente, antes dela, se se fizer necessária diligência sujeita à prévia autorização
judicial". (Pet 3825 QO, Relator p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, Pleno, julgado em
10/10/2007). Precedentes do STF e do STJ. 3. A ausência de norma condicionando a
instauração de inquérito policial à prévia autorização do Judiciário revela a observância ao
sistema acusatório, adotado pelo Brasil, o qual prima pela distribuição das funções de
acusar, defender e julgar a órgãos distintos. Conforme orientação do Supremo Tribunal
Federal no julgamento de MC na ADI n. 5.104/DF, condicionar a instauração de inquérito
policial a uma autorização do Poder Judiciário, "institui modalidade de controle judicial
prévio sobre a condução das investigações, em aparente violação ao núcleo essencial do
princípio acusatório". 4. Não há razão jurídica para condicionar a investigação de
autoridade com foro por prerrogativa de função a prévia autorização judicial. Note-se
que a remessa dos autos ao órgão competente para o julgamento do processo não tem
relação com a necessidade de prévia autorização para investigar, mas antes diz
respeito ao controle judicial exercido nos termos do art. 10, § 3º, do Código de Processo
Penal. De fato, o Código de Ritos prevê prazos para que a investigação se encerre,
sendo possível sua prorrogação pelo Magistrado. Contudo, não se pode confundir referida
formalidade com a autorização para se investigar, ainda que se cuide de pessoa com foro por
prerrogativa de função. Com efeito, na hipótese, a única particularidade se deve ao fato de
que o controle dos prazos do inquérito será exercido pelo foro por prerrogativa de função e
não pelo Magistrado a quo. 5. Recurso especial provido, para reconhecer violação ao art. 5º,
inciso II, do Código de Processo Penal, haja vista a desnecessidade de prévia autorização do
Judiciário para investigar autoridade com foro por prerrogativa de função. (REsp 1563962/RN,
Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 08/11/2016,
DJe 16/11/2016)

Obs.: classificação do indiciamento

(1) Direto: quando o suspeito está presente (regra)


(2) Indireto: quando o suspeito está ausente, foragido.

Obs.: consolidando o entendimento doutrinário prevalente, o §6º do art. 2º da Lei 12.830/13,


assevera que o ato de indiciar é privativo do delegado, não se submetendo a requisições do
MP ou do Juiz ou CPI.

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Obs.: Funcionário público. Por previsão do inciso VI, do art. 319 do CPP São medidas
cautelares diversas da prisão: VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática
de infrações penais., o afastamento do servidor pressupõe deliberação do juiz, sendo
necessário pertinência temática. Leia-se vínculo funcional na atividade delituosa. (art. 17-D da
Lei 9613/98- Lavagem- com redação da Lei 12.683/2012). -Em caso de indiciamento de
servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos
em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. Alguns
doutrinadores – Badaró, Brasileiro – entendem que é inconstitucional por viola a presunção de
inocência e o princípio da jurisdicionalidade, por uma autoridade policial tomar a decisão.

10. Procedimento do Inquérito Policial


- Início:
(1) Portaria: é a peça escrita que demarca o início da investigação policial. A Portaria contém o
fato a ser investigado, os eventuais envolvidos, possíveis testemunhas, diligências
imediatamente cumpridas e o desfecho onde o delegado determina que o escrivão a reduza a
termo, instaurando-se assim o inquérito

 Substituição: a portaria pode ser substituída por outras peças. Eventualmente o auto de
prisão em flagrante ou até mesmo a requisição emanada do juiz ou do MP funcionam como
portaria, dispensando que o Delegado baixe uma nova. ATENÇÃO! : eventualmente, na
esfera militar, o auto de flagrante pode se constituir no próprio inquérito, desde que não
sejam necessárias outras diligências para evidenciar a autoria e a materialidade. Art. 27 do
CPPM. Brasileiro entende ser possível aplicar essa previsão subsidiariamente ao direito
processual penal comum.

(2) Notícia crime: é a comunicação da ocorrência do delito à autoridade que possui atribuição
para agir. Não falar em queixa.
2.1. Legitimidade passiva da notícia crime. Quem são os destinatários da notícia crime?
Observa-se a tríade da persecução penal: o Delegado, o MP e o Juiz.

 MP: O promotor pode requisitar ao Delegado a instauração do inquérito ou, desde que já
haja lastro probatório, oferecer a denúncia. Em que prazo? 15 dias para oferecer a
denúncia, contados da provocação do MP. Se ele não o fizer caberá ação peal subsidiária
da pública. Se o promotor chega à conclusão, a partir da noticia crime, que não há crime a

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28
apurar, requer ao juiz que a arquive. ATENÇÃO! : há arquivamento de qualquer peça de
informação, não só de inquérito.

 Juiz: pode requisitar a instauração do inquérito policial. Para Paulo Rangel e Renato
Brasileiro, em homenagem ao sistema acusatório, é mais adequado que o juiz remeta a
notícia ao MP, para que o Promotor delibere quanto a que deve ser feito.

2.2. Legitimidade ativa da notícia crime.

Classificação da notícia crime

 Notícia crime direta ou de cognição imediata: é aquela atribuída às forças policiais ou papel
desempenhado pela imprensa.

 Notícia crime indireta ou notícia crime de cognição mediata: é aquela prestada por pessoa
estranha à polícia, mas devidamente identificada. O seu conteúdo é a exposição do fato
criminoso e suas circunstâncias; a indicação do suposto autor do crime, com os sinais
existentes para detectá-lo; e o apontamento das testemunhas.

A legitimidade ativa seria:


- Vítima ou representante legal (vítima menor de 18 anos), através de requerimento.
ATENÇÃO: havendo denegação de instauração do inquérito, caberá recurso
administrativo ou recurso inominado ou recurso interna corporis. Na prática, se o crime é de
ação pública, o ofendido poderá provocar diretamente o MP para que requisite a
instauração do inquérito. Não cabe MS.
ATENÇÃO! : nos crimes de ação privada e de ação pública condicionada, a instauração do
inquérito pressupõe manifestação de vontade do legítimo interessado. Delatio criminis
postularória
- MP ou Juiz, através de requisição. E o delegado, segundo entendimento doutrinário
prevalente (Levy Magno), estará obrigado a instaurar o inquérito, mesmo não havendo
vínculo hierárquico, em razão do princípio da obrigatoriedade. Art. 5º, II, do CPP. De
maneira minoritária, entende-se que o delegado não está obrigado a cumprir a requisição,
já que não existe vínculo hierárquico. Art. 144, CF. (CESPE- Delegado/BA 2013).

- Qualquer do povo: é denominado de delação. Só é possível nos crimes de ação pública


incondicionada. Art. 5º, §3º, CPP. Tem o dever de informar a existência de crime: (1)
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
29
aquele que estiver no exercício de função pública e (2) no exercício da medicina ou outra
profissão sanitária, salvo nos casos em que exponha o seu paciente a processo criminal.

(3) autoridades públicas, sob pena de responder por prevaricação. Para Brasileiro a delatio
pode ser tato noticia criminis direta como indireta.

ATENÇÃO: Notícia crime apócrifa ou inqualificada é a conhecida denúncia anônima.


Scarance Fernandes diz que diante dessa notícia deve o delegado aferir plausibilidade e
verossimilhança por meio da Verificação de Existência Prévia (VEP), para só então
instaurar o inquérito. Não é outro o entendimento do STF, que entende que a notícia crime
apócrifa, por si só, não autoriza a instauração de inquérito policial, afastando a notícia
anônima como elemento único para deflagrar a investigação. STF HC 95244 4*.

Obs.: notícia crime com força coercitiva. É aquela da prisão em flagrante, podendo ser direta
ou indireta, nesta última quando o flagrante for determinado por qualquer do povo. art 301
CPP.

Obs.: delatio criminis com força postulatória: é a representação típica dos crimes de ação penal
pública condicionada. São expressões sinônimas.

Perguntas: Art. 41, II, da Lei nº 8.625

- Evolução da investigação
O inquérito ganha densidade com o cumprimento de diligências que podem ou devem ser
cumpridas pela autoridade policial para melhor aparelhar o inquérito. Cumpre ao Delegado na
evolução do inquérito realizar as diligências que entender pertinentes, tendo por parâmetro
discricionário os artigos 6º e 7º do CPP. Os citados artigos não exauriram a matéria, pois
funcionam como mínimo contingencial, afinal são meramente exemplificativos.

 Art. 6o  Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:
        I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das
coisas, até a chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)
(Vide Lei nº 5.970, de 1973)

4
*CAIU NA SEGUNDA FASE DA DPE ALAGOAS (2017) #CESPE.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


30
        II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos
criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)
        III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;
        IV - ouvir o ofendido;
        V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do
Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe
tenham ouvido a leitura;
        VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
        VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer
outras perícias;
        VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer
juntar aos autos sua folha de antecedentes;
        IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e
social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e
durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu
temperamento e caráter.
   X – colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma
deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado
pela pessoa presa.           (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
 Art. 7o  Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo,
a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não
contrarie a moralidade ou a ordem pública.

*#NOVIDADELEGISLATIVA: Lei 13.344/2016: Em 06 de outubro de 2016, foi editada a Lei


13.344/2016, que dispõe sobre prevenção e repressão ao tráfico interno e internacional de
pessoas e sobre medidas de atenção às vítimas; altera a Lei no 6.815, de 19 de agosto de
1980 (Estatuto do Estrangeiro), o Decreto-Lei n o 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de
Processo Penal), e o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); e
revoga art. 231 e art. 231-A do Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal).

 As principais mudanças no CPP (âmbito do Inquérito Policial) foram:

“Art. 13-A.  Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei no8.069,
de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público
ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de
empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


31
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas,
conterá: 
I - o nome da autoridade requisitante;
II - o número do inquérito policial; e
III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação.” 
“Art. 13-B.  Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de
pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante
autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática
que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e
outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso. 
§ 1o  Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de cobertura,
setorização e intensidade de radiofrequência. 
§ 2o  Na hipótese de que trata o caput, o sinal: 
I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que dependerá de
autorização judicial, conforme disposto em lei; 
II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não superior a
30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período; 
III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a apresentação de
ordem judicial. 
§ 3o  Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado no prazo
máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial. 
§ 4o  Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade competente
requisitará às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que
disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e
outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com
imediata comunicação ao juiz.”

Obs.: não há a restituição de coisas quando:


Art. 118.  Antes de transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não poderão
ser restituídas enquanto interessarem ao processo.  Art. 119.  As coisas a que se referem os
arts. 74 e 100 (instrumentos e produtos do crime) do Código Penal não poderão ser restituídas,
mesmo depois de transitar em julgado a sentença final, salvo se pertencerem ao lesado ou a
terceiro de boa-fé. Art. 120.  A restituição, quando cabível, poderá ser ordenada pela
autoridade policial ou juiz, mediante termo nos autos, desde que não exista dúvida quanto ao
direito do reclamante.
Obs.: apreensão de coisas através de busca pessoal
 Art. 244 A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver
fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis
que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca
domiciliar.

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32
 Principais diligências
a) Identificação criminal: ela se caracteriza pela colheita de elementos que nos permitem
diferenciar o indivíduo das demais pessoas, como fotografia, impressão digital- datiloscópica- e
colheita material biológico para realização de DNA. (art 5º-A da lei 12.654/12: Os dados
relacionados à coleta do perfil genético deverão ser armazenados em banco de dados de perfis
genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal.  § 1o  As informações genéticas
contidas nos bancos de dados de perfis genéticos não poderão revelar traços somáticos ou
comportamentais das pessoas, exceto determinação genética de gênero, consoante as normas
constitucionais e internacionais sobre direitos humanos, genoma humano e dados genéticos.  §
2o  Os dados constantes dos bancos de dados de perfis genéticos terão caráter sigiloso,
respondendo civil, penal e administrativamente aquele que permitir ou promover sua utilização
para fins diversos dos previstos nesta Lei ou em decisão judicial.  § 3o  As informações obtidas
a partir da coincidência de perfis genéticos deverão ser consignadas em laudo pericial firmado
por perito oficial devidamente habilitado.”) Em outros países se faz a leitura da íris, que não é
permitida no Brasil.

Tratamento normativo da matéria:


 Antes da CF/88 a matéria era regida pela súmula 568 do STF (A identificação criminal não
constitui constrangimento ilegal, ainda que o indiciado já tenha sido identificado civilmente.
(Superada pelo Art. 5º, LVIII, CF - RHC 66881-RTJ 127/588)e a identificação criminal era
praxe, mesmo para os identificados civilmente, não havendo constrangimento ilegal. A
regra era, portanto, a realização de identificação criminal.
 Com a CF/88 a matéria foi tratada no art. 5º, LVIII- o civilmente identificado não será
submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei, de modo que
aquele que é identificado civilmente não terá que se submeter à identificação criminal.
Atualmente a súmula 568 do STF não tem aplicação e do dispositivo constitucional teremos
duas regras de hermenêutica: quem não está identificado civilmente se enquadra na
hipótese de identificação criminal; quem está identificado civilmente, excepcionalmente
será identificado criminalmente, nas hipóteses legalmente disciplinadas.

Obs.: Legislação sobre o tema:


 Art. 109 ECA – para casos de confrontação. Art. 109. O adolescente civilmente identificado
não será submetido à identificação compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e
judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida fundada.
 Art. 5º da Lei 9.034/95 – compulsoriedade da identificação criminal dos envolvidos em
organizações criminosas.  Art. 5º A identificação criminal de pessoas envolvidas com a
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
33
ação praticada por organizações criminosas será realizada independentemente da
identificação civil.
 Art. 3º da Lei 10.054/2000. ATENÇÃO: segundo o STJ (ROC 12.695), a lei 10.054 teria
revogado o art. 5º da lei de crime organizado, tratando especificamente da identificação
criminal. Trouxe um rol de crimes que autorizariam a identificação criminal e não trato do
crime de organização criminosa.
 Atualmente a matéria está disciplinada na lei 12.037/09 que expressamente revogou a lei
10.054/00, e no seu art. 3º apresenta as atuais hipóteses de identificação criminal,
concentrando o tratamento legal sobre o tema. Pode ser cópia autenticada.
Art. 3º  Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal
quando:
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;
II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre
si;
IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da
autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da
autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa; NOVO! Aqui cabe identificação por
material genético.
V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do
documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.
Parágrafo único.  As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do
inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar
o indiciado.

Obs.: destaca-se como inovação o inciso IV, autorizando a identificação criminal por despacho
do juiz, se for essencial à investigação. Caberá MS para a acusação e HC para a defesa.
Obs.: Brasileiro – cabe condução coercitiva.
Obs.: perfil genético – a coleta de amostras de sangue, urina no local do crime não viola o
princípio da nemo tenetur se detegere.

b) Reconstituição do crime/reprodução simulada do fato: é a diligência para esclarecer o modus


operandi do crime e as circunstâncias do fato delituoso. Obs.: Restrições. Não haverá
reprodução simulada que ofenda a moralidade (ex. de reproduzir o coito no estupro) ou a
ordem pública, a exegese de ordem pública, segundo o STJ, é a de paz social (ex. reproduzir
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
34
incêndio). Como entendimento pacificado o agente não é obrigado a participar, já que não
poderá ser compelido a se autoincriminar (Pacto De São José Da Costa Rica) – STF já se
manifestou no sentido de que configura constrangimento ilegal prisão preventiva de indiciados
diante da recusa em comparecer. A polêmica se estabelece quanto à necessidade de
comparecer, existindo duas posições: (1) Prevalece o entendimento que o agente deve
comparecer ao local, sob pena de condução coercitiva.CRITICAR (2) Para Aury Lopes Jr., o
próprio comparecimento não é exigível, em razão do respeito ao princípio da ampla defesa.
(Nestór e Brasileiro).

Obs.: não se faz necessária a intimação do investigado ou de seu advogado para participar da
reconstituição, por ser procedimento inquisitorial. Fica à cargo da autoridade policial.

- Encerramento
a) Relatório. O relatório não é uma peça opinativa, e sim essencialmente descritiva, que aponta
as diligências realizadas e eventualmente justifica as que não foram feitas, por algum motivo
relevante, ratificando a unidirecionalidade do inquérito (Art. 1º, §1º, CPP: A autoridade fará
minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente ). Não
confundir descritividade com neutralidade, pois esta última se caracteriza pela absoluta
ausência de axiologia, valor, o que não ocorre no relatório, tanto que Delegado pode apontar
artigos de lei pelos quais indiciou o sujeito, o que não vincula o MP.

Obs.: Lei de tóxicos – para Luiz Flávio Gomes, o relatório da lei de tóxicos tem certo caráter
opinativo, já que o Delegado deve indicar porque enquadrou o agente como traficante e não
como mero usuário. Art. 52, I, da Lei 11343/06Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta
Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo: I - relatará
sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação
do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e
as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta,
a qualificação e os antecedentes do agente;
b) Remessa dos autos do inquérito
Os autos são remetidos ao Juiz. Nada impede que a remessa do inquérito seja feita
diretamente ao MP, através das Centrais de Inquérito (órgão do MP), criadas em alguns
estados da federação, homenageando-se assim o sistema acusatório e retirando do Juiz esse
papel de interlocutor. ADVERTÊCIA! Na esfera federal, o inquérito é encaminhado pelo
Delegado Federal à Vara Federal Criminal, que alimenta o sistema, seguindo para o MPF sem
a necessidade de qualquer despacho do Juiz, ressalvadas as hipóteses em que a intervenção
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
35
judicial se faz necessária. Ex. quando o Delegado faz a representação por alguma medida
cautelar. Resolução 63, artigos 1º, 2º e 5º do Conselho da JF. Brasileiro: sistema acusatório,
celeridade, imparcialidade – direto pro MP. Não foi recepcionado pela CF.
Art. 1º Os autos de inquérito policial somente serão admitidos para registro, inserção no
sistema processual informatizado e distribuição às Varas Federais com competência criminal
quando houver: a) comunicação de prisão em flagrante efetuada ou qualquer outra forma de
constrangimento aos direitos fundamentais previstos na Constituição da República; b)
representação ou requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público Federal para a
decretação de prisões de natureza cautelar; c) requerimento da autoridade policial ou do
Ministério Público Federal de medidas constritivas ou de natureza acautelatória; d) oferta de
denúncia pelo Ministério Público Federal ou apresentação de queixa crime pelo ofendido ou
seu representante legal; e) pedido de arquivamento deduzido pelo Ministério Público Federal; f)
requerimento de extinção da punibilidade com fulcro em qualquer das hipóteses previstas no
art. 107 do Código Penal ou na legislação penal extravagante.
Art. 2º Os autos de inquérito policial, concluídos ou com requerimento de prorrogação de prazo
para o seu encerramento, quando da primeira remessa ao Ministério Público Federal, serão
previamente levados ao Poder Judiciário tão-somente para o seu registro, (sem distribuição às
varas federais) que será efetuado respeitando-se a numeração de origem atribuída na Polícia
Federal.
Art. 5º Os advogados e os estagiários de Direito regularmente inscritos na Ordem dos
Advogados do Brasil terão direito de examinar os autos do inquérito, devendo, no caso de
extração de cópias, apresentar o seu requerimento por escrito à autoridade competente.
Obs.: deve o Delegado oficiar o órgão de identificação e estatística, não só para que se
promova o acompanhamento dos índices de criminalidade, como também para alimentar o
boletim individual, que nada mais é do que o registro de acesso restrito que aglutina o histórico
de investigações do agente. O NUCCI chega a dizer que não existe mais o boletim individual,
pois hoje se concentra tudo num sistema único de certidão. Dependendo do estado ainda tem.

c) Cabe a juiz abrir vista ao MP.

 Se o crime é de ação privada, o Promotor vai se manifestar pela permanência do inquérito


na vara criminal. A expectativa é que o advogado da vítima fotocopie o processo e se a
vítima desejar ajuíza a ação. Nada impede que o advogado da vítima já tenha obtido
traslado do inquérito com o próprio delegado, art. 19 do CPP - Nos crimes em que não
couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao
requerente, se o pedir, mediante traslado.

 Se o crime é de iniciativa pública:

(1) Há indícios de autoria e indícios de materialidade: oferta da denúncia para iniciar o


processo.

(2) Não existem até o momento indícios da autoria ou da materialidade: há esperança de que
eles sejam imediatamente colhidos. Deve então, requisitar novas diligências que sejam
imprescindíveis ao início do processo art. 16 CPP - O Ministério Público não poderá
requerer a devolução do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências,
imprescindíveis ao oferecimento da denúncia. Obs.: esta requisição pode ser feita
diretamente ao Delegado, passando pelo Juiz nas estritas hipóteses de cláusula de reserva
jurisdicional. Segundo Tourinho Filho, o Juiz não pode indeferir a remessa ao Delegado e
se ele o fizer estará tumultuando a evolução do procedimento, o que enseja correição
parcial. Obs.: Situação prisional. A requisição diligencial é incompatível com eventual
subsistência de prisão cautelar, que deve ser relaxada.

(3) Não há viabilidade para o início do processo: requisição do arquivamento ao Juiz 5. A) Se o


juiz concordar ele homologa. O arquivamento é ato complexo, resultante de um somatório
de vontade. (juiz não pode de ofício). Percebe-se que o arquivamento é feito por ato do
juiz, pressupondo requerimento do MP, o que o caracteriza como ato complexo. B) Se o
Juiz discordar do MP, ele deve invocar o art. 28 do CPP, remetendo os autos ao
Procurador Geral. Não pode simplesmente determinar a realização de diligências, cabendo
correição parcial.  Art. 28.  Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a
denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de
informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará
remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a

5
A respeito do arquivamento do Inquérito Policial, a prova do TRF4/2016 considerou corretas as seguintes assertivas: I. Se o
pedido de arquivamento do inquérito formulado pelo Ministério Público se funda na extinção da punibilidade, o juiz há de
proferir decisão a respeito, para declará-la ou para denegá-la, caso em que o julgado vinculará a acusação: há, então,
julgamento definitivo. II. Se o pedido de arquivamento traduz, na verdade, recusa de promover a ação penal, por entender que
o fato, embora apurado, não constitui crime, o juiz há de decidir a respeito e, se acolher o fundamento do pedido, a decisão terá
a mesma eficácia de coisa julgada da rejeição da denúncia por motivo idêntico, impedindo denúncia posterior com base na
imputação que se reputou não criminosa. III. Se o arquivamento é requerido por falta de base empírica para o
oferecimento da denúncia, de cuja suficiência é o Ministério Público árbitro exclusivo, o juiz, conforme o art. 28 do Código de
Processo Penal, pode submeter o caso ao chefe da instituição, o procurador-geral, que, no entanto, se insistir nele, fará o
arquivamento irrecusável. IV. Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não
pode a ação penal ser iniciada sem novas provas.”
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denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no
pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. Aqui o juiz
desempenha uma função anômala, atuando como fiscal do princípio da obrigatoriedade do
exercício da ação pública, que deve ser observado pelo MP, quando presentes os
requisitos legais de autoria e materialidade. A aplicação do art. 28 do CPP caracteriza o
princípio da devolução, afinal a controvérsia é devolvida para solução dentro do próprio
MP. (também é utilizado quando o Promotor deixa de oferecer transação penal, suspensão
condicional do processo ou não promove o aditamento da mutatio libelli). Obs.: O
procurador geral pode:

*#DEOLHONAJUSTIÇAMILITAR #DPU: É ilegal Portaria expedida por Juiz-Auditor Militar na


qual ele afirma que os pedidos de arquivamento de procedimento investigatório criminal
instaurados pela Procuradoria de Justiça Militar não devem ser recebidos ou distribuídos pela
Justiça Militar. A referida Portaria é ilegal porque existe um procedimento previsto
expressamente no art. 397 do CPPM para os casos de pedido de arquivamento do
inquérito policial ou procedimento investigatório criminal. Diante de um pedido de
arquivamento, compete ao Juiz-Auditor a adoção de duas possíveis condutas: a) anuir
(concordar) com o arquivamento proposto; ou b) discordando da fundamentação apresentada,
remeter o processo ao Procurador-Geral. A recusa em dar andamento ao pleito de trancamento
configura inaceitável abandono do controle jurisdicional a ser exercido no tocante ao princípio
da obrigatoriedade da ação penal. TRATA-SE DE UMA FUNÇÃO ATÍPICA DO JUIZ DE
“FISCAL DA OBRIGATORIEDADE DA AÇÃO PENAL”! STF. 1ª Turma. RMS 28428/SP, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 8/9/2015 (Info 798).

 Oferecer a denúncia

 Designar outro membro do MP para oferecer a denúncia. De acordo com a posição


majoritária encampada por Tourinho Filho, o membro designado está obrigado a denunciar,
pois atua por delegação, como longa manus do Procurador Geral. No transcorrer do
processo, no entanto, ele poderia pedir a absolvição (Polastri Lima). Para Rômulo Moreira
– examinador MP/BA (minoritária), o membro designado pode se negar a denunciar, em
respeito à independência funcional.

 Requisitar diligências

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


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 Insistir no arquivamento. Aqui o juiz estaria obrigado a arquivar.

(4) O promotor chega à conclusão que não possui atribuição para agir: declina do feito,
requerendo a remessa à outra esfera jurisdicional. Esse requerimento será apresentado ao
juiz, que terá duas alternativas: a) juiz concorda – vai deferir a remessa. Obs.: se o juiz
para onde os autos foram remetidos não concordar com a remissão, deverá suscitar um
conflito negativo de competência, que se for estabelecido ente um juiz estadual e um
federal será resolvido pelo STJ; b) juiz não concorda – por analogia, deverá invocar o art.
28 do CPP, remetendo os autos ao Procurador Geral em fenômeno jurídico apelidado pelo
STF de arquivamento indireto.

Obs.: Esfera federal: a JF, a Justiça comum do DF e Justiça Militar da União: na esfera federal,
teremos a Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, art. 62, IV da Lei Complementar 75/93,
e, neste caso, a Câmara poderá atuar de maneira opinativa ou imprimir a solução final nas
diretrizes do art. 28 do CPP, conforme a delegação do PGR. Só tem a palavra final se assim for
delegado pelo PGR. Do contrário, é meramente opinativo.
  Art. 62. Compete às Câmaras de Coordenação e Revisão:
        I - promover a integração e a coordenação dos órgãos institucionais que atuem em ofícios
ligados ao setor de sua competência, observado o princípio da independência funcional;
        II - manter intercâmbio com órgãos ou entidades que atuem em áreas afins;
        III - encaminhar informações técnico-jurídicas aos órgãos institucionais que atuem em seu
setor;
        IV - manifestar-se sobre o arquivamento de inquérito policial, inquérito parlamentar ou
peças de informação, exceto nos casos de competência originária do Procurador-Geral;
        V - resolver sobre a distribuição especial de feitos que, por sua contínua reiteração,
devam receber tratamento uniforme;
        VI - resolver sobre a distribuição especial de inquéritos, feitos e procedimentos, quando a
matéria, por sua natureza ou relevância, assim o exigir;
        VII - decidir os conflitos de atribuições entre os órgãos do Ministério Público Federal.

Obs.: Esfera eleitoral. Prevalece o entendimento de que o §1º do art. 357 do Código Eleitoral
está revogado pela Lei Complementar 75/93, de forma que os autos também devem ser
remetidos para a Câmara de Coordenação e Revisão.

Obs.: Súmula 524 STF - Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do
Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas. X art. 18 do CPP
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
39
- Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base
para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas
tiver notícia. Segundo entendimento sumulado pelo STF, o arquivamento não é apto a gerar a
coisa julgada material, tanto é verdade eu se surgirem novas provas enquanto o crime não
estiver prescrito, o Promotor poderá oferecer denúncia. CONCLUSÕES: (1) o arquivamento é
decisão administrativa judicial. (2) o arquivamento segue a cláusula rebus sic stantibus (como
as coisas estão).

- Novas provas

1. Conceito
As novas provas surgiriam de que maneira? O Promotor conta com a ajuda da polícia que está
autorizada a realizar diligências para colher novas provas. Se o Promotor estiver convencido
que se trata de prova nova, ele oferecerá denúncia. Segundo Paulo Rangel, o
desarquivamento compete ao Ministério Público por ato simples (ato unilateral), concentrado no
titular da ação, quando tem notícia do surgimento de provas novas. A partir daí a polícia pode
realizar diligências na esperança de prospectar eventual prova nova que viabilize a futura
deflagração do processo. A figura do Ministério Público que vai deliberar sobre o
desarquivamento está previsto na lei de organização do Ministério Público. Em alguns Estados,
a competência é do membro que originariamente atuava no inquérito policial, em outros
Estados é o Procurador Geral de Justiça.

2. Classificação

 Prova substancialmente nova: é a prova inédita que até então não se tinha conhecimento.
 Prova formalmente nova: é aquela já conhecida, mas que ganhou uma nova versão dentro
de um contexto lógico (exemplo: alteração do teor do depoimento da testemunha).
Conclusão: As duas modalidades probatórias poderão eventualmente lastrear a denúncia para
a deflagração do processo após o arquivamento do inquérito.

3. Natureza Jurídica:
O surgimento de prova nova consubstancia uma condição de procedibilidade para deflagração
do processo.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


40
- Fundamentos para o arquivamento e coisa julgada : 6

 Por ausência de condição da ação ou de pressuposto processual: esse arquivamento não


faz coisa julgada material, e sim mera coisa julgada formal (exemplo: um crime de ação
penal condicionada que não conta com a representação da vítima);
 Por ausência de lastro probatório mínimo (justa causa): esse arquivamento não faz coisa
julgada material, pois se surgirem novas provas, poderá ser oferecida denúncia. Nesse
caso, tem-se apenas coisa julgada formal;
 Atipicidade do fato: a atipicidade pode ser formal ou material. Quando a conduta não
corresponde a um tipo penal. Para o STF, a homologação do juiz para o arquivamento é
apta a gerar coisa julgada material, não sendo possível denunciar mesmo diante do
surgimento de novas provas (o investigado tem status de absolvido - O STF chama de
sentença fora do processo). Da mesma forma, acontece para o caso de atipicidade
material pautada no princípio da insignificância. Em resumo, segundo o STF, se o Promotor
pede o arquivamento em razão da certeza da atipicidade formal, eventual homologação faz
coisa julgada material, de forma que não cabe denúncia nem mesmo pelo surgimento de
novas provas. O mesmo se diga se o arquivamento é pautado no princípio da
insignificância, o que revela uma atipicidade material da conduta (STF HC 84156);

INQUÉRITO POLICIAL - ARQUIVAMENTO ORDENADO POR


MAGISTRADO COMPETENTE, A PEDIDO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO, POR AUSÊNCIA DE TIPICIDADE PENAL DO FATO SOB
APURAÇÃO - REABERTURA DA INVESTIGAÇÃO POLICIAL -
IMPOSSIBILIDADE EM TAL HIPÓTESE - EFICÁCIA PRECLUSIVA DA
DECISÃO JUDICIAL QUE DETERMINA O ARQUIVAMENTO DO
INQUÉRITO POLICIAL, POR ATIPICIDADE DO FATO - PEDIDO DE
"HABEAS CORPUS" DEFERIDO. - Não se revela cabível a reabertura
das investigações penais, quando o arquivamento do respectivo
inquérito policial tenha sido determinado por magistrado competente, a
pedido do Ministério Público, em virtude da atipicidade penal do fato
sob apuração, hipótese em que a decisão judicial - porque definitiva -
6
Enquadramento jurídico – a coisa julgada formal é a imutabilidade da decisão dentro do
procedimento em que foi proferida (não tem repercussão extraprocedimental). Já na coisa
julgada material, a imutabilidade da decisão projeta-se para fora do processo e o seu objeto
não poderá ser rediscutido em um novo procedimento. Para ocorrência da coisa julgada
material, pressupomos a existência de coisa julgada formal.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


41
revestir-se-á de eficácia preclusiva e obstativa de ulterior instauração
da "persecutio criminis", mesmo que a peça acusatória busque apoiar-
se em novos elementos probatórios. Inaplicabilidade, em tal situação,
do art. 18 do CPP e da Súmula 524/STF. Doutrina. Precedentes. (STF -
HC: 84156 MT , Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento:
26/10/2004, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 11-02-2005 PP-
00017 EMENT VOL-02179-02 PP-00172 RTJ VOL-00193-02 PP-00648
REVJMG v. 56, n. 172, 2005, p. 437-450)

 Excludente de culpabilidade: se o motivo determinante do arquivamento dos autos do


inquérito policial tiver sido a presença de causa exculpante (v.g., coação moral irresistível),
tal decisão fará coisa julgada formal e material, já que houve pronunciamento de mérito
sobre a conduta do agente;

 Causa extintiva da punibilidade (art. 107 do CP): o arquivamento faz coisa julgada
material, ressalvando-se apenas, segundo o STF, o pedido embasado em certidão de
óbito falsa, considerando que a decisão com esse lastro é inexistente (STF HC 84525).

PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE


AMPARADA EM CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA. DECRETO QUE DETERMINA O
DESARQUIVAMENTO DA AÇÃO PENAL. INOCORRÊNCIA DE REVISÃO PRO SOCIETATE
E DE OFENSA À COISA JULGADA. FUNDAMENTAÇÃO. ART. 93, IX, DA CF. I. - A decisão
que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser
revogada, dado que não gera coisa julgada em sentido estrito. II. - Nos colegiados, os votos
que acompanham o posicionamento do relator, sem tecer novas considerações, entendem-se
terem adotado a mesma fundamentação. III. - Acórdão devidamente fundamentado. IV. - H.C.
indeferido. (STF - HC: 84525 MG , Relator: CARLOS VELLOSO, Data de Julgamento:
15/11/2004, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 03-12-2004 PP-00050 EMENT VOL-
02175-02 PP-00285 LEXSTF v. 27, n. 315, 2005, p. 405-409)
 Excludente de ilicitude: divergência
É possível a reabertura da investigação e o oferecimento de denúncia se o inquérito
policial havia sido arquivado com base em excludente de ilicitude?

 STJ: NÃO. Para o STJ, o arquivamento do inquérito policial com base na existência
de causa excludente da ilicitude faz coisa julgada material e impede a rediscussão do
caso penal. O mencionado art. 18 do CPP e a Súmula 524 do STF realmente permitem
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
42
o desarquivamento do inquérito caso surjam provas novas. No entanto, essa
possibilidade só existe na hipótese em que o arquivamento ocorreu por falta de provas,
ou seja, por falta de suporte probatório mínimo (inexistência de indícios de autoria e
certeza de materialidade). STJ. 6ª Turma. REsp 791.471/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 25/11/2014 (Info 554). 7
 STF: SIM. Para o STF, o arquivamento de inquérito policial em razão do
reconhecimento de excludente de ilicitude não faz coisa julgada material. (Info 796).

*RESUMO DIZER O DIREITO ATUALIZADO:

OBS: Para a doutrina majoritária, a coisa julgada material não se altera mesmo que o
arquivamento se efetive por decisão de juiz absolutamente incompetente.

*#TEXTOCOMPLEMENTAR #MUDANÇADEENTENDIMENTODOSTF 8:

7
Se o inquérito policial foi arquivado por ter sido reconhecido que o investigado agiu em legítima defesa, essa
decisão de arquivamento faz coisa julgada material. Assim, não é possível a rediscussão do caso penal
(desarquivamento), mesmo que, em tese, surjam novas provas. A permissão legal contida no art. 18 do CPP, e
pertinente Súmula 524/STF, de desarquivamento do inquérito pelo surgimento de provas novas, somente
tem incidência quando o fundamento daquele arquivamento foi a insuficiência probatória. A decisão que
faz juízo de mérito do caso penal, reconhecendo atípica, extinção da punibilidade (por morte do agente,
prescrição etc.) ou excludentes da ilicitude, exige certeza jurídica que, por tal, possui efeitos de coisa
julgada material. Assim, promovido o arquivamento do inquérito policial pelo reconhecimento de legítima defesa,
a coisa julgada material impede rediscussão do caso penal em qualquer novo feito criminal, descabendo perquirir
a existência de novas provas. STJ. 6ª Turma. REsp 791.471-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 25/11/2014
(Info 554).
8
Mais informações em: https://blog.ebeji.com.br/arquivamento-de-inquerito-policial-com-fundamento-na-
excludente-de-ilicitude-ha-formacao-de-coisa-julgada-material-ou-nao-2/
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
43

HÁ ALGUMA POSSIBILIDADE DE A DECISÃO DE ARQUIVAMENTO PRODUZIR COISA


JULGADA MATERIAL?

Tradicionalmente, a maior parte da doutrina processual penal (não é unanimidade) afirma que
há casos em que devemos reconhecer que a decisão homologatória do arquivamento do
inquérito policial tona-se imutável e impede, definitivamente, tanto o desarquivamento do
inquérito, quanto à propositura de ação penal.
Existe, em casos tais, a coisa julgada material, ou seja, um grau de imutabilidade da decisão
de arquivamento que impede nova persecução penal pelo mesmo fato. Isso se verifica,
conforme ensina o professor da USP Gustavo Henrique Badaró, nas hipóteses em que o
arquivamento se opera não em razão de uma mera constatação de insuficiência de elementos
de informação sobre a existência material do fato ou de sua autoria, já que nesses casos há
apenas a coisa julgada formal (rebus sic stantibus). A coisa julgada material seria formada
quando, a partir de reconstrução fática segura, houver o reconhecimento de (i) atipicidade dos
fatos investigados, (ii) extinção da punibilidade ou ainda (iii) EXCLUDENTE DA ILICITUDE.
Nesses casos apontados como exceção, há indubitavelmente uma manifestação do juízo
acerca de matéria meritória, razão pela qual se estaria diante de juízo de convencimento
quanto à inexistência de conduta criminosa, ao contrário de um mero juízo de insuficiência
probatória. Apesar de ser essa a minha opinião, compartilhada (repita-se) por grande parte da
doutrina especializada, em relação especificamente à formação da coisa julgada material
quando o arquivamento do inquérito policial se pautar em CAUSA EXCLUDENTE DA
ILICITUDE, há intensa e severa divergência jurisprudencial.
No Superior Tribunal de Justiça, essa matéria é mais tranquila e, acompanhando a doutrina, a
Corte recentemente ratificou o entendimento de que “promovido o arquivamento do inquérito
policial pelo reconhecimento de legítima defesa (leia-se qualquer causa excludente da ilicitude),
a coisa julgada material impede rediscussão do caso penal em qualquer novo feito criminal,
descabendo perquirir a existência de novas provas” (vide REsp 791.471/RJ) .
Já na Suprema Corte (STF), o tema sempre foi objeto de intensa controvérsia. Em nossas
aulas de processo penal na EBEJI mencionávamos um julgado (até então) ISOLADO da 1ª
Turma, no HC 95.211/ES, em que se concluiu que “decisão que determina o arquivamento de
inquérito policial, a pedido do Ministério Público e determinada por juiz competente, que
reconhece que o fato apurado está coberto por excludente de ilicitude, não afasta a ocorrência
de crime quando surgirem novas provas, suficientes para justificar o desarquivamento do
inquérito, como autoriza a Súmula 524 deste Supremo Tribunal Federal”.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


44
Como salientado, inicialmente tal posicionamento parecia aplicado apenas em relação a um
caso concreto, isolado! Todavia, no ano de 2015, houve um “novo capítulo” dessa polêmica,
publicada no Informativo 796, indicando que o “arquivamento de inquérito, a pedido do
Ministério Público, em virtude da prática de conduta acobertada pela excludente de ilicitude do
estrito cumprimento do dever legal (CPM, art. 42, inciso III), NÃO OBSTA SEU
DESARQUIVAMENTO NO SURGIMENTO DE NOVAS PROVAS (Súmula nº 5241/STF)”. (HC
125101, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI,
Segunda Turma, julgado em 25/08/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-180 DIVULG 10-09-
2015 PUBLIC 11-09-2015).

Assim, em relação à formação da coisa julgada material quando o fundamento do


arquivamento de IP for uma causa excludente da ilicitude, passamos a ter entendimentos tanto
da 1ª Turma, como também da 2ª Turma, a partir de 2015.

Poderíamos dizer que a posição do Supremo ESTAVA consolidada? Não! Isso porque a
formação da Corte sofreu uma série de modificações e não tínhamos uma posição do Plenário!
Restava pendente no Pleno o julgamento da tese no HC 87.395/PR, cujo andamento FICOU
SUSPENSO ATÉ O FINAL DO MÊS DE MARÇO DE 2017! Havia 3 votos favoráveis à tese de
que a partir do momento em que uma excludente de ilicitude é invocada para justificar o
arquivamento, há produção da coisa julgada formal e também material!!!

Bacana, mas e o que prevaleceu?

O entendimento do STF, AGORA PACIFICADO, após os votos favoráveis dos Ministros


Lewandowiski, Rosa Weber, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Celso de Mello, Carmen Lúcia e
Barroso foi no sentido de apontar que a jurisprudência do STF é no sentido de que O
ARQUIVAMENTO PRODUZ COISA JULGADA MATERIAL NO CASO DE PRESCRIÇÃO OU
ATIPICIDADE DA CONDUTA, MAS NÃO EM CASOS DE EXCLUDENTE DA ILICITUDE!
Conforme noticiado no Informativo dessa semana do STF (858), a conclusão do Plenário foi no
sentido de que “o arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude realizado com
base em provas fraudadas não faz coisa julgada material. (...) Asseverou que o arquivamento
do inquérito não faz coisa julgada, desde que não tenha sido por atipicidade do fato ou por
prescrição”.

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


45
Conclusão 1: O STJ entende, de maneira tranquila, que há nessas situações a formação da
coisa julgada formal e também material, razão pela qual a rediscussão dos mesmos fatos é
impossível. Da mesma forma, assim se posiciona a doutrina especializada majoritariamente.

Conclusão 2: O STF, através do recentíssimo posicionamento de seu órgão Plenário, entende


em sentido diverso ao STJ, apontando que, ao contrário da atipicidade e extinção da
punibilidade, o arquivamento com base em excludente de ilicitude somente faria coisa julgada
formal e, com o surgimento de novas provas, seria possível o desarquivamento das
investigações.

Conclusão 3: Teremos que aguardar como se comportará a jurisprudência do STJ, pois é


possível que venha a aderir ao entendimento do Supremo Tribunal Federal, que por sua vez
(por ora) não é vinculante!

*O arquivamento de inquérito policial por excludente de ilicitude realizado com base em provas
fraudadas não faz coisa julgada material. STF. Plenário. HC 87395/PR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 23/3/2017 (Info 858). Obs1: o STF entende que o inquérito policial
arquivado por excludente de ilicitude pode ser reaberto mesmo que não tenha sido baseado
em provas fraudadas. Se for com provas fraudadas, como no caso acima, com maior razão
pode ser feito o desarquivamento. Obs2: ao contrário do STF, o STJ entende que o
arquivamento do inquérito policial baseado em excludente de ilicitude produz coisa julgada
material e, portanto, não pode ser reaberto. Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. RHC 46.666/MS,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/02/2015.

- Arquivamento originário: é aquele que vai ser proposto pelo próprio Procurador Geral do
Ministério Público nas hipóteses de sua atribuição originária. Nesse caso, para o TJ não há
possibilidade de aplicação do artigo 28, do CPP, restando para o caso a seguinte solução
procedimental. Segundo Rômulo Moreira, deve o Procurador Geral realizar o arquivamento na
própria Procuradoria Geral (interna corporis). Alguns entendem que não há necessidade de
pedir o arquivamento para o Tribunal, salvo nas hipóteses em que se admite coisa julgada
material, quando então o arquivamento deve ser submetido à análise do Tribunal Renato B.
(STF Inq. 1443 e 2431). Diante do arquivamento do Procurado Geral, o legítimo interessado
que se sentir prejudicado, pode provocar o Colégio de Procuradores no âmbito estadual para
que ele analise a pertinência do arquivamento proposto (Art. 12, XI, da Lei nº 8.625/93).
Art. 12. O Colégio de Procuradores de Justiça é composto por todos os Procuradores de
Justiça, competindo-lhe: XI - rever, mediante requerimento de legítimo interessado, nos termos
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
46
da Lei Orgânica, decisão de arquivamento de inquérito policial ou peças de informações
determinada pelo Procurador-Geral de Justiça, nos casos de sua atribuição originária;

*Imagine que um Subprocurador-Geral da República, após autorização do STJ, instaurou


procedimento de investigação contra um Governador do Estado (art. 105, I, “a”, da CF/88). Ao
final das diligências, o membro do MPF concluiu que não havia elementos para oferecer a
denúncia e requereu ao STJ o arquivamento do procedimento. O STJ poderá discordar do
pedido? NÃO. Se o membro do MPF que atua no STJ requerer o arquivamento do inquérito
policial ou de quaisquer peças de informação que tramitem originariamente perante o STJ,
este, mesmo que não concorde com as razões invocadas pelo MP, deverá determinar o
arquivamento solicitado. Como o pedido foi feito por um Subprocurador-Geral da República, se
o STJ discordar, ele não poderá remeter os autos para análise do Procurador-Geral da
República, aplicando, por analogia, o art. 28 do CPP? NÃO. Não existe esta possibilidade de
remessa para o PGR. Não se aplica o art. 28 do CPP neste caso. Isso porque os
membros do MPF que funcionam no STJ atuam por delegação do Procurador-Geral da
República. Assim, em decorrência do sistema acusatório, nos casos em que o titular da ação
penal se manifesta pelo arquivamento de inquérito policial ou de peças de informação, não há
alternativa, senão acolher o pedido e determinar o arquivamento. Em suma, não há que se
falar em aplicação do art. 28 do CPP nos procedimentos de competência originária do STJ. O
MPF pediu o arquivamento, este terá que ser homologado pela Corte. STJ. Corte Especial. Inq
967-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/3/2015 (Info 558).

- Arquivamento implícito: Surgiu na discussão doutrinária dentro do MP/RJ (Hélio Bastos


Tornaghi e Afrânio Silva Jardim). Ele se caracteriza pela omissão do Promotor em se
manifestar expressamente sobre todos os crimes (arquivamento implícito objetivo) ou sobre
todos os infratores (arquivamento implícito subjetivo) trazidos pelo inquérito policial. Propõe as
regras do arquivamento expresso para reger as omissões do Ministério Público. O STF e o STJ
não adotam o instituto, é uma projeção doutrinária apenas, não acolhida pela jurisprudência por
ausência de disciplina legal, recomendando, quando muito, que o juiz, ao perceber a omissão,
devolva os autos ao Promotor para que ele se manifeste expressamente, sob pena de
aplicação do art. 28, do CPP (STF HC 95141).

*Existe alguma providência processual que a vítima possa adotar para evitar o arquivamento
do IP? Ela pode, por exemplo, impetrar um mandado de segurança com o objetivo de impedir
que isso ocorra? NÃO n. A vítima de crime de ação penal pública ão tem direito líquido e
certo de impedir o arquivamento do inquérito ou das peças de informação. Considerando
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
47
que o processo penal rege-se pelo princípio da obrigatoriedade, a propositura da ação penal
pública constitui um dever, e não uma faculdade, não sendo reservado ao Parquet um juízo
discricionário sobre a conveniência e oportunidade de seu ajuizamento. Por outro lado, não
verificando o Ministério Público que haja justa causa para a propositura da ação penal, ele
deverá requerer o arquivamento do IP. Esse pedido de arquivamento passará pelo controle do
Poder Judiciário, que poderá discordar, remetendo o caso para o PGJ (no caso do MPE) ou
para a CCR (se for MPF). Existe, desse modo, um sistema de controle de legalidade muito
técnico e rigoroso em relação ao arquivamento de inquérito policial, inerente ao próprio sistema
acusatório. Nesse sistema, contudo, a vítima não tem o poder de, por si só, impedir o
arquivamento. Cumpre salientar, por oportuno, que, se a vítima ou qualquer outra pessoa
trouxer novas informações que justifiquem a reabertura do inquérito, pode a autoridade policial
proceder a novas investigações, nos termos do citado art. 18 do CPP. STJ. Corte Especial. MS
21.081-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 17/6/2015 (Info 565).

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. COMETIMENTO DE


DOIS CRIMES DE ROUBO SEQUENCIAIS. CONEXÃO RECONHECIDA RELATIVAMENTE
AOS RESPECTIVOS INQUÉRITOS POLICIAIS PELO MP. DENÚNCIA OFERECIDA APENAS
QUANTO A UM DELES. ALEGAÇÃO DE ARQUIVAMENTE IMPLÍCITO QUANTO AO OUTRO.
INOCORRÊNCIA. PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE. INEXISTÊNCIA. AÇÃO PENAL
PÚBLICA. PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. I - Praticados
dois roubos em sequência e oferecida a denúncia apenas quanto a um deles, nada
impede que o MP ajuíze nova ação penal quanto delito remanescente. II - Incidência do
postulado da indisponibilidade da ação penal pública que decorre do elevado valor dos
bens jurídicos que ela tutela. III - Inexiste dispositivo legal que preveja o arquivamento
implícito do inquérito policial, devendo ser o pedido formulado expressamente, a teor do
disposto no art. 28 do Código Processual Penal. IV - Inaplicabilidade do princípio da
indivisibilidade à ação penal pública. Precedentes. V - Recurso desprovido. (STF - RHC:
95141 RJ, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, Data de Publicação:
DJe-200 DIVULG 22-10-2009 PUBLIC 23-10-2009 EMENT VOL-02379-05 PP-00915)

- Controle externo da atividade policial: a Constituição Federal propõe ao MP o controle


externo da atividade policial, mas sem subsunção hierárquica. É um reflexo direto do sistema
de freios e contrapesos, de fiscalização múltipla entre os órgãos. O controle consiste no
conjunto de normas que regulam a fiscalização da atuação da polícia pelo Ministério Público,
almejando as seguintes finalidades: preservação dos direitos fundamentais dos presos em
custódia policial, fiscalização do cumprimento das deliberações judiciais, fiscalização da própria
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
48
atuação investigativa na apuração de fatos criminosos (art. 129, VII, da CF; Resolução nº 20 do
CNMP - está sendo impugnada na ADI 4220 pela OAB; art. 9º e 10 da Lei Complementar nº
75/93).

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada
no artigo anterior;
 Art. 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial por meio
de medidas judiciais e extrajudiciais podendo:
I - ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais;
II - ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial;
III - representar à autoridade competente pela adoção de providências para sanar a omissão
indevida, ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder;
IV - requisitar à autoridade competente para instauração de inquérito policial sobre a omissão
ou fato ilícito ocorrido no exercício da atividade policial;
V - promover a ação penal por abuso de poder.
Art. 10. A prisão de qualquer pessoa, por parte de autoridade federal ou do Distrito Federal e
Territórios, deverá ser comunicada imediatamente ao Ministério Público competente, com
indicação do lugar onde se encontra o preso e cópia dos documentos comprobatórios da
legalidade da prisão.

Formas de controle:
DIFUSO CONCENTRADO
É aquele exercido por Promotores com É aquele exercido pelos membros do
atuação criminal; Ministério Público com atuação
específica para o controle externo;
Controle das ocorrências policiais, Propositura de ações de improbidade
verificação do respeito aos prazos do administrativa, propositura de ação civil
inquérito, verificação da qualidade da pública na proteção de interesses
investigação, verificação de bens difusos, procedimentos investigatórios
apreendidos, propositura de medidas criminais (PIC – com finalidade de
cautelares (contemplando a suspensão investigar membros da polícia),
das funções públicas da autoridade requisições ou recomendações, termo
policial). de ajustamento de conduta, visita as
unidades prisionais, comunicação do

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


49
flagrante.

*#INFORMATIVO #IMPORTANTE #MP #STJ: O controle externo da atividade policial


exercido pelo Ministério Público Federal não lhe garante o acesso irrestrito a todos os
relatórios de inteligência produzidos pela Diretoria de Inteligência do Departamento de
Polícia Federal, mas somente aos de natureza persecutório-penal. O controle externo da
atividade policial exercido pelo Parquet deve circunscrever-se à atividade de polícia judiciária,
conforme a dicção do art. 9º da LC n. 75/93, cabendo-lhe, por essa razão, o acesso aos
relatórios de inteligência policial de natureza persecutório-penal, ou seja, relacionados com a
atividade de investigação criminal. O poder fiscalizador atribuído ao Ministério Público não lhe
confere o acesso irrestrito a "todos os relatórios de inteligência" produzidos pelo Departamento
de Polícia Federal, incluindo aqueles não destinados a aparelhar procedimentos investigatórios
criminais formalizados. STJ. 1ª Turma. REsp 1.439.193-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado
em 14/6/2016 (Info 587).

Termo circunstanciado de ocorrência: Caracteriza-se pelo primo na celeridade dos atos e


pela investigação simplificada na apuração das infrações de menor potencial ofensivo, quais
sejam, os crimes com pena de até dois anos e as contravenções penais (art. 69, da Lei nº
9.099/95). Vedações: O TCO não será aplicado na esfera militar e nas hipóteses de violência
doméstica.

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,
providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão
em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar,
como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
vítima.

Legitimidade: Se o TCO faz as vezes do inquérito policial, é instintivo dizer que caberia ao
próprio Delegado a confecção do TCO. Contudo, por resolução do TJSP e TJAL e, por
reconhecimento de Tourinho Filho, o TCO poderá ser confeccionado pela autoridade policial
militar e pela própria secretaria do Juizado Especial Criminal. Doutrina majoritária entende que
só o Delegado.

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As alterações provocadas pela lei 13.245/2016 no inquérito policial:
A lei nº 13.245/2016: da relativização do sigilo e do caráter inquisitivo nas investigações
criminais.
1. Da sigilosidade relativa do inquérito policial
O inquérito policial e as investigações criminais são sigilosas, qualidade necessária quando
houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências.
Como já se afirmou, o sigilo no inquérito policial, necessário à elucidação do fato ou exigido
pelo interesse da sociedade, tem ação benéfica, profilática e preventiva, tudo em benefício do
Estado e do cidadão.[1]
Preconiza o artigo 20, parágrafo único, do Código de Processo Penal, in verbis:
A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo
interesse da sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial
não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os
requerentes, salvo no caso de existir condenação anterior.
O sigilo é relativo porque não se aplica:
a) ao juiz;
b) o sigilo também não se estende ao Ministério Público, que pode acompanhar os atos
investigatórios (art. 15, III, da LOMP – Lei Orgânica do MP).
Insta acentuar que não será qualquer juiz ou promotor que terá acesso aos autos, e sim o juiz e
o promotor de justiça natural, é dizer, aquele que futuramente terá competência e atribuição
para o processamento da ação penal.
c) Ao advogado constituído – Estatuto da Advocacia, lei n. 8.906/1994, art. 7o, XIV, (alterado
pela lei 13.245/2016) in verbis:
São direitos do advogado:
“Examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem
procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos,
em meio físico ou digital”.
Embora o artigo supracitado permita ao advogado “mesmo sem procuração, autos de flagrante
e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento”, é evidente que a norma
não pode ser generalizada para todo e qualquer advogado, portanto, leia-se o “advogado do
investigado” pode mesmo, sem procuração, analisar os autos do inquérito policial.
1.2. O direito de acesso amplo aos elementos de prova como súmula vinculante
Diz o texto da 14a Súmula Vinculante:

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É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova
que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Após a alteração promovida pela lei nº 13.245/2016, a interpretação do enunciado deve ser
ampliada para abranger “qualquer procedimento investigatório realizado por qualquer
instituição”, inclusive o inquérito civil conduzido pelo Ministério Público.
O STF já tinha decidido que o Ministério Público tem poder investigatório e deve respeitar as
prerrogativas dos advogados previstas no art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e
XIX. (Conferir: (STF. Plenário. RE 593727/MG, red. P/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado
em 14/5/2015. Repercussão geral. Info 785), portanto, a Súmula tem a seguinte leitura “É
direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova
que, já documentados em procedimento investigatório realizado por qualquer órgão (polícia,
Ministério Público, CPIs, investigações realizadas pelo COAFI e CVM, entre outros), digam
respeito ao exercício do direito de defesa”.
No caso da Defensoria Pública, prerrogativa semelhante ao inciso XIV do art. 7º encontra-se
prevista na LC 80/94:
Art. 44. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública da União:
(...)
VIII – examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e processos,
assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;
1.3. As consequências da negativa do fornecimento incompleto de autos ou o
fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno
investigativo
A negativa do fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a
retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização criminal e
funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o
intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de
requerer acesso aos autos ao juiz competente.
Em caso de negativa de acesso aos autos da investigação criminal, 5 (cinco) situações
hipotéticas se abrem a favor do interessado:
Requerimento do advogado ao juiz competente para que os autos sejam disponibilizados;
Mandado de Segurança: em face do direito líquido e certo à publicidade dos atos (publicidade
no tocante às provas já documentadas);
Reclamação ao STF: já que temos uma súmula de caráter vinculante (acima exposta e
transcrita);

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Habeas Corpus: em benefício do indiciado preso alegando ilegalidade na produção dos
elementos informativos.
É possível apresentação de notitia criminis para apurar o crime de abuso de autoridade, nos
termos do art. 3º, j, da Lei nº 4.898/65:
Art. 3º Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.
Segundo o § 12 do art. 7º da Lei nº 13.245/2016:
“A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento incompleto de autos
ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno
investigativo implicará responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do
responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o exercício da
defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz
competente”.
1.4. Quando o sigilo pode ser decretado
O sigilo da investigação criminal pode ser decretado com o fito de delimitar o acesso do
advogado aos elementos de prova relacionados às diligências em andamento e ainda não
documentados nos autos, em três casos:
Pela autoridade presidente da investigação quando houver risco de comprometimento da
eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências, como é o caso da busca e apreensão e
interceptações telefônicas.
Pela autoridade presidente da investigação quando necessário à elucidação do fato ou exigido
pelo interesse da sociedade.(Vide artigo 20, parágrafo único, do Código de Processo Penal).
Pela autoridade judiciária com escopo de proteger a vítima, é o que dispõe o novo § 6o do art.
201, in verbis:
O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e
imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos
dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua
exposição aos meios de comunicação.
Nas investigações em que for decretado o sigilo, deve o defensor apresentar procuração para,
quando for possível, ter acesso aos autos, vide art. 7o, § 10, da lei no 8.906, de 4 de julho de
1994 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, alterado pela Lei 13.245/2016), in verbis:
“Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos
direitos de que trata o inciso XIV”.
1.5. Inquisitividade versus ampla defesa e contraditório

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O inquérito policial é expediente administrativo e inquisitorial, nele não existe defesa, pois não
há lide, não há partes, portanto, os princípios do contraditório e da ampla defesa são
observados exclusivamente na persecução penal judicial.
Destaco a lição sempre atual de José Frederico Marques:
“Logo também é desaconselhável uma investigação contraditória processada no inquérito...
Sob pena de fracassarem as investigações policiais, sempre que surja um caso de difícil
elucidação”. (Elementos, vol. I, 1997, p. 183)
A lei 13.245/2016 não estabeleceu que o inquérito policial deve ser regido pelo princípio do
contraditório e ampla defesa, mas apenas garantiu assistência de advogados para os
investigados.
A Constituição Federal é imperativa ao preconizar que os princípios supracitados somente
serão aplicados nos processos judiciais, administrativos e são direcionados aos acusados em
geral, tecnicamente, as investigações criminais não são processos judiciais e, por não existir
contraditório, não existe também acusados na persecução penal extrajudicial.
Posição dominante do STF:
“Inexistência do contraditório no inquérito policial – A inaplicabilidade da garantia do
contraditório ao procedimento de investigação policial tem sido reconhecida tanto pela doutrina
quanto pela jurisprudência dos Tribunais, [2] cujo magistério tem acentuado que a garantia da
ampla defesa traduz elemento essencial e exclusivo da persecução penal em juízo”.[3]
Posição dominante do STJ:
“O atentado ao princípio constitucional da plenitude de defesa inexiste na fase investigatória,
somente dizendo respeito à fase judicial. (STJ – RHC 1.223/SP; Sexta Turma; p. 13.498)”.
Afrânio Silva Jardim[4], combatendo os argumentos da doutrina que defende na lei
13.245/2016 inseriu o contraditório no inquérito policial, afirma:
“Discordo deste entendimento e julgo que ele decorre justamente da falta de visão sistemática
de como opera o nosso processo penal, consoante advertimos no início desta breve reflexão.
Inicialmente, como já deixei escrito em texto anterior, entendo que a nova regra não tenha
trazido o contraditório para o inquérito policial, o que o transformaria em uma primeira fase do
processo: juizado de instrução sem juiz! O que a nova lei assegura é a assistência jurídica do
advogado ao seu cliente, quando convocado a participar de algum ato no procedimento
investigatório, com sua presença e aconselhamento, tendo tomado conhecimento do que já foi
realizado. Por outro lado, se há nulidade em algum ato probatório em qualquer procedimento
investigatório inquisitivo o que cabe fazer é reconhecer a sua “eficácia” natural, vale dizer,
retirar-lhe o seu valor probatório. Acho até que a documentação deste ato probatório deveria
ser desentranhada do procedimento investigatório, preclusa a decisão que reconheceu tal
nulidade”.
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Portanto, podemos afirmar que mesmo com as alterações promovidas pela lei 13.245/2016 as
investigações criminais continuam inquisitivas, pois embora seja possível o indiciado ser
assistido por advogados, todas atividades desenvolvidas na persecução penal extrajudicial,
continuam concentradas nas mãos de uma de uma única autoridade.
Neste sentido o novo inciso XXI do art. 7º, da lei n. 8.906/1994, art. 7o, XIV, (alterado pela lei
13.245/2016) não tornou obrigatória a presença do advogado durante a investigação criminal, o
inciso supracitado estabeleceu uma nova garantia para os defensores, qual seja, a presença
no interrogatório do investigado, se assim o defensor ou o próprio investigado desejarem.
Neste caso, será necessário para evitar nulidades, que a autoridade que preside a
investigação, sempre pergunte se o interrogado pretende prestar depoimento na presença de
um defensor, devendo ser registrado no ato do interrogatório, além do direito de silêncio, que
foi facultado ao investigado ser entrevistado de forma reservada com seu defensor e, se for o
caso, que o mesmo o acompanhe durante o interrogatório.
Impende ainda registrar, que a opção do investigado em prestar seu depoimento na ausência
de um defensor, não pode causar nulidade, aplicando-se o princípio da tipicidade das formas.
O código de processo penal prevê quais os atos que devem ser praticados e como devem ser
praticados, devendo esse modelo ser respeitado, mas não é razoável declarar uma nulidade
que, mesmo preterindo a forma legal, não haja resultado prejuízo para uma das partes,
ademais, uma vez dispensada a presença do defensor, não poderá o indiciado alegar a sua
própria torpeza.
1.6. O direito do defensor requerer diligências
A Lei nº 13.245/2016 previa na alínea b do inciso XXI do art. 7º do Estatuto da OAB que seria
direito do advogado, no interesse do seu cliente, "requisitar diligências". Tal alínea foi vetada,
pois segundo a justificativa:
“Da forma como redigido, o dispositivo poderia levar à interpretação equivocada de que a
requisição a que faz referência seria mandatória, resultando em embaraços no âmbito de
investigações e consequentes prejuízos à administração da justiça. Interpretação semelhante
já foi afastada pelo Supremo Tribunal Federal - STF, em sede de Ação Direita de
Inconstitucionalidade de dispositivos da própria Lei no 8.906, de 4 de julho de 1994 - Estatuto
da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (ADI 1127/DF). Além disso, resta, de
qualquer forma, assegurado o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou
contra ilegalidade ou abuso de poder, nos termos da alínea ‘a’, do inciso XXXIV, do art. 5º, da
Constituição.”
O artigo 14 do Código de Processo Penal faculta aos interessados fazer requerimentos no
curso de uma investigação criminal. Sendo assim, muito embora o deferimento ou não das
providências requeridas fique a critério da autoridade que preside a investigação, isto “não
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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haverá de constituir empeço a que se garantam direitos sensíveis do ofendido, do indiciado
etc.” (STJ, HC 69.405/SP, 6. A Turma, DJ 25.02.2008), alcançando-se, então, por meio do
Poder Judiciário, a determinação para que o delegado de polícia ou membro do Ministério
Público realize a medida pretendida em face de sua pertinência com a situação investigada.
Além disso, é oportuno referir que, mesmo em termos de legislação processual, a faculdade
indeferitória da autoridade não é absoluta, pois não atinge o requerimento de perícia destinada
a comprovar a materialidade do vestígio deixado pela infração penal, conforme se extrai do art.
184 do CPP.
1.7. O momento para apresentação de razões
O novo inciso XXI do art. 7º do Estatuto da OAB prevê que no curso da investigação é possível
o defensor apresentar razões e até quesitos.
As razões é uma peça que tem como principal escopo a apresentação facultativa de um álibi
por parte do investigado. A lei não especifica em qual momento é possível a apresentação das
razões, penso que a apresentação da mesma só será possível após o indiciamento formal do
indiciado.
O Código de Processo Penal não define em qual momento o investigado passará para
condição de indiciado. Pensamos que a melhor solução é a prevista no futuro Código de
Processo Penal, vide art. 31, § 1o, in verbis:
Art. 2. Reunidos elementos suficientes que apontem para a autoria da infração penal, a
autoridade policial cientificará o investigado, atribuindo-lhe, fundamentadamente, a condição
jurídica de “indiciado”, respeitadas todas as garantias constitucionais e legais.
§ 1o. A condição de indiciado poderá ser atribuída já no auto de prisão em flagrante ou até o
relatório final da autoridade policial.
1.8. A nulidade dos elementos informativos
O inciso XXI do artigo 7º do Estatuto da OAB, preconiza que é direito do advogado
“assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade
absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os
elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou
indiretamente...”
A princípio, o inquérito policial apenas fornece elementos informativos, que se prestam para a
formação da opinio delicti do órgão acusador. (STJ - HABEAS CORPUS HC 242686 SP
2012/0100690-5 (STJ).
Em uma investigação criminal, com exceção das provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas, só serão são colhidos os elementos informativos, que não são tecnicamente
provas, pois não são colhidos em instrução presidida por um magistrado e sob a égide dos
princípios do contraditório e da ampla defesa, assim qualquer irregularidade da colheita de
CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO
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elementos informativos, não podem causar nulidade, pois como já decidiu reiteradamente o
STJ e o STF “A prova para ser considerada idônea, de modo a conduzir a uma sentença
condenatória não pode encontrar-se fundada exclusivamente nos elementos informativos do
inquérito policial; antes, deverá ser produzida ou confirmada em juízo, sob pena de sua
desconsideração, sobretudo quando estas se baseiam em provas orais, não ratificadas na
instrução criminal, por terem sido desmentidas. Precedentes do STF e STJ". Ordem concedida
para que outra sentença seja proferida”. (STJ - HABEAS CORPUS HC 16079 RJ
2001/0022499-7 (STJ)).
A solução para produção de elementos informativos de forma irregular será a sua
desconsideração ou a determinação da repetição da produção dos elementos investigatórios
de forma regular, nunca a decretação da nulidade e nem a contaminação da ação penal
subsequente.
Segundo Afrânio Jardim[5]
“A nulidade de algum ato do procedimento investigatório prévio jamais pode levar à nulidade do
processo penal. Pode sim, se for a única prova a legitimar o exercício da ação penal, levar à
extinção desta relação processual sem resolução do mérito, por falta de suporte probatório
mínimo que legitime a acusação penal (condição da ação que chamávamos de “justa causa”)”.
Podemos concluir que a desobediência às formalidades legais na produção dos elementos
informativos pode acarretar a ineficácia do ato em si (prisão em flagrante, por exemplo), mas
entendo que, em regra, os vícios no inquérito não se projetam para ação penal que origina,
exceto se tais vícios ocorrerem:
1. Nas provas que não podem ser mais repetidas. Exemplo: exame pericial.
2. Nas provas cautelares. Exemplo: busca e apreensão e interceptação telefônicas.
3. Nas provas antecipadas. Exemplo: provas ad perpetuam rei memoriam previstas no
artigo225 do CPP: “Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou
por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá,
de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento”.
José Frederico Marques lecionava que:
“A nulidade, porém, só atingirá os efeitos coercitivos da medida cautelar, e nunca o valor
informativo dos elementos colhidos no auto de flagrante. O Juiz pode “relaxar” a prisão do
indiciado, em virtude da nulidade do respectivo auto de flagrante delito; todavia o Ministério
Público, com base nesse flagrante, que foi anulado para efeito de restaurar a liberdade do
indiciado, também poderá oferecer denúncia contra este. (Elementos, vol. I, 1997, p. 154)”.
O STF e o STJ ainda não enfrentaram o tema em consonância com a alteração promovida pela
lei 13.245/2016, mas sempre defenderam que:

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(STF) “É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que, sendo o inquérito policial peça
de natureza informativa, os vícios nele porventura encontrados não repercutem na ação penal
(assim, nos HC no 62.745 e no 69.895, bem como no RHC no 66.428)”.[6]
(STJ) “Eventual nulidade ocorrida no inquérito policial não tem o condão de nulificar o
processo, vez que aquele é peça meramente informativa, estabelecida sem o crivo do
contraditório.”[7]

CICLOS R3 – G8 – MATERIAL JURÍDICO


Este material foi produzido pelos coaches com base em anotações pessoais de aulas,
i

referências e trechos de doutrina, informativos de jurisprudência, enunciados de súmulas,


artigos de lei, anotações oriundas de questões, entre outros, além de estar em constante
processo de atualização legislativa e jurisprudencial pela equipe do Ciclos R3.

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