Noções de Direito Penal
Noções de Direito Penal
Noções de Direito Penal
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A título enunciativo são princípios relativos a promoção ou iniciativa processual, os
princípios da oficialidade, da legalidade e da acusação. Trata-se de princípios que
respeitam ao desencadeamento do processo penal.
Para além dos princípios acima aludidos de forma agrupada, outros existem que também
serão sumariamente abordados, designadamente: Princípio da vinculação temática,
princípio do juiz natural, princípio da igualdade de oportunidades, princípio da
proibição de reformatio in pejus e princípio da recorribilidade
Princípio da oficialidade
O princípio da oficialidade do processo significa que a iniciativa e a prossecução
processuais pertencem ao Estado, através do MP, que tem o direito e o dever de
perseguir criminalmente os criminosos com vista a responsabilização criminal
dos responsáveis sem consideração pela vontade dos ofendidos. Portanto, o
Estado, através do MP, deve intervir oficiosamente em todos os factos da
natureza criminal.
Cabendo ao MP o exercício da acção penal ou a promoção processual oficiosa,
compete-lhe também dirigir o conjunto de diligências tendentes a provar a culpa
ou inocência dos arguidos, é a direcção da instrução preparatória pelo MP, sem
prejuízo de delegá-la na PIC.
Aliás, casos há em que a realização da instrução preparatória é especialmente
atribuída à PIC ou a PRM. Em qualquer destes casos temos entidades de
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natureza pública ou oficial às quais cabe a realização da instrução preparatória e,
consequentemente, o impulso ou iniciativa do processo penal.
Com efeito, face a um crime semi-público o MP só terá legalidade e promoverá
o processo criminal depois de apresentação de denúncia (participação ou queixa)
por parte do ofendido ou por quem tem legitimidade, e nos crimes particulares
apenas o MP promoverá o processo penal para esclarecimento do crime e
punição do infractor desde que, fora a participação, haja lugar a dedução de
acusação particular por parte de pessoa com legitimidade para se constituir em
assistente e tenha se constituído como tal.
Nestes termos, é de concluir que o princípio da oficialidade vale em pleno
quando se trata de crimes públicos, que são ``…aqueles em que o MP promove
oficiosamente e por sua própria iniciativa o processo penal e decide com plena
autonomia…da sua submissão ou não submissão de uma infracção a julgamento.
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MP no que diz respeito a promoção processual está vinculada à lei e não a
considerações de qualquer natureza (políticas, financeiras e outras) não há
espaço para juízos de oportunidade.
Princípio da acusação
O processo penal evolui de um tipo inquisitório para um tipo acusatório.
No processo do tipo inquisitório, em que a entidade julgadora tinha também
funções de investigação preliminar, no processo penal do tipo acusatório à dita
entidade julgadora compete somente “investigar e julgar dentro dos limites que
lhe são postos por uma acusação fundamentada e deduzida por um órgão
diferenciado...”
O princípio da acusação como um dos princípios relativos a iniciativa ou
promoção processual consiste, ou seja, a atribuição processo penal da função de
investigar e deduzir acusação por infracções a entidade diferente (MP) a quem
compete julgar tais infracções (tribunal).
Neste sentido, a consequência do princípio da acusação ou princípio do
acusatório é que não pode o tribunal, a quem compete proceder ao julgamento
“…por sua iniciativa, começar uma investigação tendente ao esclarecimento de
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uma infracção e à determinação dos seus agentes; isto tem lugar numa fase
processual ou pré-processual, tanto importa.)
Aluz da legislação processual penal moçambicana o juiz somente pode julgar e
decidir sobre uma infracção, caso a mesma lhe tenha sido previamente acusada
por entidade diferente, mormente o MO, visto este ser o titular da acção penal
por força do art.5 do CPP e art.1, do Dl. nº35.007.
Princípios referentes à prossecução ou decurso processual
Princípio da investigação
Este princípio, é elemento integrante da estrutura basicamente acusatória do
processo penal, que traduz o poder-dever que recai o tribunal de ele próprio
esclarecer e instruir, de forma autónoma, o facto que através da acusação foi
levado ao seu conhecimento e decisão ou julgamento, de modo a criar as suas
próprias bases necessárias à decisão, sem dependência das contribuições da
acusação e da defesa que aliás poe até ir para além delas.
É um princípio que pode se considerar como se manifestando, em grande
medida, na fase de julgamento do processo penal, durante a produção de prova,
comi se constata das disposições do 3º do art.425.
A finalidade deste princípio é permitir a obtenção, pelo tribunal, das bases da
decisão, pode também ser designado por princípio da verdade material, visto que
a descoberta da verdade material é sua razão de ser, para que se alcance o fim da
justiça penal, a condenação dos culpados e só dos culpados.
Princípio da contraditoriedade
Consiste o princípio do contraditório ou da contraditoriedade, isto é, a audição
pelo juiz quer da acusação quer da defesa sobre o objecto do processo penal
sem, no entanto, e por força do princípio da investigação,
permanecer passivo ouvindo o debate das partes.
Através deste princípio no decurso do processo faz-se ressaltar não somente as
razões da acusação como também as da defesa, para permitir uma justa decisão,
o que se passa por aceitar também a própria iniciativa daqueles sujeitos
processuais.
Por via do princípio do contraditório assegura-se que, no decurso do processo,
que se tome qualquer decisão que atinja o estatuto jurídico de determinada
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pessoa sem que a mesma tenha tido a oportunidade de se fazer previamente
ouvir, permitindo a exposição em particular pelo arguido das suas razões.
No direito moçambicano, tendo consagração constitucional no art 65 da CRM, o
princípio do contraditório encontra, em sede da legislação processual penal,
consagração nos arts 415 e 423, referentes à fase de julgamento, transparecendo
ainda nos arts 379 e seguintes; 390 e 398, relativos à contestação. Na instrução
contraditória o princípio da contraditoriedade transparece nos arts 326 e ss, em
especial no art. 327, corpo, e art.328.
Princípio da audiência
Consiste na oportunidade que é conferida a todos participantes ou intervenientes
no processo de influir, mediante sua audição pelo tribunal, no decurso ou
desenrolar do processo.
Princípio da suficiência
Este princípio encontra-se consagrado no art2, do qual decorre a auto-suficiência
do processo penal, isto é, que o exercício e o julgamento da acção penal não
depende de qualquer outra acção, e para o feito no processo penal resolvem-se
todas as questões que interessam à decisão da causa ou cuja resolução
condiciona o ulterior desenrolar do processo penal, sejam elas de que a natureza
for (penal, civil, administrativa, etc), que sejam suscepctíveis de cognição
autónoma pelo tribunal.
Este princípio tem vista a interrupção da marcha ou decurso do processo penal e
seu consequente exercício, devido ao surgimento de uma questão susceptível de
ser conhecida pelo tribunal autonomamente, pois, tal a suceder levantar-se-iam,
indirectamente, obstáculos ao exercício do processo penal, ou pelo menos
comprometer-se ia as exigências de concentração e de continuidade do processo
penal, frustrado eventualmente o fim da verdade material no processo.
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Princípio da concentração
O princípio da concentração funda-se na necessidade de evitar obstáculos ao
exercício do processo penal, formando deste modo o decurso do processo penal
Assim resulta deste princípio (concentração) a necessidade da prossecução e
desenvolvimento unitário, na medida do possível concentradamente, do
complexo de todos os termos e actos processuais, no tempo (o ideal) é que
iniciada a audiência, a mesma decorra sem quebra de continuidade até o (ao fim)
e no espaço (desenvolvimento da audiência num mesmo local).
Princípio da investigação
Este princípio é muito importante no processo penal. Em processo é
fundamental atingir a verdade sem subordinação a qualquer forma privilegiando-
se a descoberta da verdade, independentemente do meio usado, havendo total
investigação.
Consiste ao conteúdo do princípio da investigação, o dever do tribunal de
investigar e esclarecer a título oficioso, independentemente das contribuições
das partes, ou da acusação e defesa, o facto submetido a julgamento
(conhecimento e decisão). Encontra-se patente o princípio em alusão nos arts 9;
330,333; ss 1º e 2º;404, ss 1º,425, ss3º;435, corpo e ss 1º,443, corpo e ss 1º; e
465, ss único.
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terá cometido a infracção, é culpado e que deve ser condenado inocente e deve
ser absolvido
Princípio da publicidade
A publicidade das audiências dos tribunais em processo penal encontra a sua
razão de ser no facto de, desempenhando o processo penal e função comunitária,
o esclarecimento dos crimes, que é assunto que interessa a toda comunidade
jurídica, a publicidade permite afastar eventuais desconfianças que possam
surgir relativamente a independência e a imparcialidade com que é exercida a
justiça penal e tomadas as decisões.
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