Diaconia Da Caridade
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Diaconia Da Caridade
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FRANCISCO, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, nº 178.
SEMINÁRIO MAIOR DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DO PORTO 2
Padre Larguezas - Pe. Joaquim Alves Correia
1. Biografia
faziam parte algumas figuras notáveis da República. Durante este período escreve
diversos artigos, publicados em diversos jornais «Era Nova» – fundado por ele –,
«Novidades», «Jornal do Comércio» e «Comércio do Porto» onde condena a
perseguição, violência e a intolerância face à opinião dos eleitores. Tal como se pode
ler, como exemplo, num artigo intitulado «O Mal e a Caramunha» condena os
assassinatos de Carlos da Maia, Machado Santos e António Granja ocorridos a 19 de
Outubro de 1921, conhecido por “Noite Sangrenta”. Neste denuncia «uma polícia de
vigilânda que não deve satisfações a ninguém» e que «era incómodo, mas muito pouco
corajoso, atirar à cara deste povo irrequieto com a responsabilidade da desordem
pública, quando o pobre povo nem responder podia»; ao mesmo tempo, aproveitou para
combater a atitude do Governo, uma vez que «não é justo, nem ordeiro, nem
moralmente elegante, continuar a atirar com o horror daquele tenebroso dia aos amigos
de então. Não é sincero nem decente». Face ao seu empenho pela liberdade, pagou com
o exílio, em 1946, nos Estados Unidos, onde viria a morrer a 1 de Junho de 1951, com
um cancro no pulmão, em Pittsburg.
Nos Estados Unidos, para além de ser capelão da comunidade portuguesa de
San Diego e, mais tarde, professor de sociologia na Duquesne University de Pittsburg,
Pe. Alves Correia não ficou calado mas continuou a condenar todas as represálias face
ao direito de expressão, publicando diversos artigos nos seguintes jornais:
«CatholicWorker», «Diário de Notícias», que era publicado em New Bedford.
O Pe. Francisco Lopes, espiritano e biógrafo da vida deste homem, escreve ao
referir-se à sua morte: «Extingue-se o homem, mas não o eco evangélico das palavras
com que vergastava os que desafiavam a justiça da humanidade, sorvendo o sangue dos
irmãos para matar a sede infrene que lhes devorava as entranhas desumanas». O Doutor
Braga da Cruz, no prefácio do livro «Pe. Joaquim Alves Correia», escreve: «O P.
Joaquim Alves Correia foi uma figura paradigmática do seu tempo e precursora do
nosso, porque viveu na fronteira dos dois, fiel à tradição, aberto ao futuro. Como
sacerdote católico e missionário, foi homem de Deus e um homem do povo. Pertence
por isso ao património eclesial português como também ao património democrático
nacional. Nessa dupla qualidade… deve ser lembrado e louvado».
Após a Revolução de Abril de 1974, houve várias homenagens aos homens que
combateram pela liberdade do povo. Pe. Alves Correia foi homenageado pelo D.
António Ferreira Gomes, após o seu regresso à diocese do Porto, numa secção solene na
Aula Magna da Faculdade de Letra do Porto; inaugurou-se, a 6 de Maio de 1978, na sua
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Padre Larguezas - Pe. Joaquim Alves Correia
dos Leprosos, para o Dia Mundial das Missões…) encontra-se uma imagem de pessoas
neste estado de pobreza miserável do que propriamente das outras necessidades que, de
certa forma, oprimem o homem. Na verdade, as pessoas até são capazes de contribuir
para estas causas, mas será que isto, é de verdade caridade para com o próximo? Será
que se sente que os problemas sociais, políticos e económicos também nos dizem
respeito? De facto, para a nossa mentalidade os problemas dos outros tornam-se nossos
problemas quando batem à nossa porta. Basta, por exemplo recordar, os casos da
epidemia da Ébola: enquanto morria milhares de africanos, raramente aparecia nos
meios de comunicação; mas foi suficiente que, pessoas do nosso continente, ficassem
contagiados para que começasse a haver reacções e combate à epidemia. Mas, acabando
a epidemia na Europa, ainda existe milhares de homens, mulheres e crianças
contagiadas por esta doença.
De facto, a realidade que está à nossa volta obriga a sair do nosso comodismo,
individualismo europeu para reconhecer que todo o ser humano é nosso irmão. O
combate pela pobreza e pelos direitos humanos não pode ser encarado como uma
utopia. É uma realidade bem concreta que bate à nossa porta diariamente e que necessita
de homens e de mulheres audazes para impor que se respeite a vida humana. Para nós,
cristãos, o sentimento de pena face ao outro não deve existir. O nosso sentimento deve
ser de compaixão (sofrer com) que é a postura proposta pelo Evangelho: «Dai vós
mesmo de comer» (Lc 9, 13). Encarando desta forma, percebe-se que a caridade cristã
não é, simplesmente, um acto caridoso que se tem com alguém, resumindo-a a um acto
de dar uma esmola a um pobre; mas baseia-se em reconhecer que cada ser humano,
criado à imagem e semelhança de Deus, necessita de ser amado enquanto homem. Amar
o outro é a melhor forma de combater e de respeitar a dignidade da pessoa humana.
Através do testemunho do Pe. Alves Correia incentiva para que a Igreja esteja
sempre atenta à realidade do mundo e procure sempre novas formas de responder aos
anseios da humanidade. É na medida em que se está atento às necessidades dos que
mais sofrem as sequelas da injustiça, que se pode criar laços fraternos entre todos os
homens, semeando o Reino de Deus.