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Brazilian Journal of Development


Enriquecimento proteico de barra de cereal com Chlorella vulgaris

Protein enrichment of cereal bar with Chlorella vulgaris

DOI:10.34117/bjdv6n6-164

Recebimento dos originais:08/05/2020


Aceitação para publicação:07/06/2020

Ana Paula Costa Câmara


Doutora em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Instituição: Professora na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Escola Agrícola
de Jundiaí
Endereço: RN 160 – Km 03 – Distrito de Jundiaí – Macaíba-RN, Brasil
E-mail: anapaulacceq@gmail.com

Vitória Regina Lima do Nascimento


Técnica em Aquicultura pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Escola Agrícola de Jundiaí
Endereço: RN 160 – Km 03 – Distrito de Jundiaí – Macaíba-RN, Brasil
E-mail :vitoriaregina287@gmail.com

Fabiana Rodrigues de Arruda Câmara


Doutora em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos
Instituição: Professora na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Escola Agrícola
de Jundiaí
Endereço: RN 160 - Km 03 - Distrito de Jundiaí – Macaíba-RN, Brasil
E-mail :fabirac@gmail.com

Túlio de Araújo Nascimento


Técnico em Agroindústria pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Escola Agrícola de Jundiaí
Endereço: RN 160 – Km 03 – Distrito de Jundiaí – Macaíba-RN, Brasil
E-mail :tulioaraujo2011@gmail.com

Robson Rogério Pessoa Coelho


Doutor em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba
Instituição: Professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Escola Agrícola de
Jundiaí
Endereço: RN 160 - Km 03 - Distrito de Jundiaí – Macaíba-RN, Brasil
E-mail: robcoe@bol.com.br

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Alexandra Simão do Nascimento
Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Potiguar
Graduanda em Ciências Biológicas licenciatura pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte.
Instituição: Técnica na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Escola Agrícola de
Jundiaí
Endereço: RN 160 - Km 03 - Distrito de Jundiaí – Macaíba-RN, Brasil
E-mail: sandrasimiao22@gmail.com

Leila Laise Souza Santos


Doutora em Ciências biológicas pela Universidade Federal de Pernambuco
Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Escola Agrícola de Jundiaí
Endereço: RN 160 - Km 03 - Distrito de Jundiaí – Macaíba-RN, Brasil
E-mail :leilalaise@hotmail.com

Lupercio Luizines Cavalcanti Filho


Mestre em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal de Pernambuco
Instituição: Universidade Federal de Pernambuco
Endereço: Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife - PE, 50670-901
E-mail: lluizinescf@gmail.com

RESUMO
A microalga do gênero Chlorella é rica em micronutrientes, possui elevado teor de clorofila,
proteínas, vitaminas, sais minerais e ácidos graxos, sendo considerada GRAS pelo FDA,
podendo, portanto, ser utilizada como alimento sem causar risco à saúde humana. As barras
de cereal são produtos que podem ser elaborados com uma diversidade de ingredientes
nutricionais e funcionais capazes de atender consumidores preocupados com uma vida
saudável. Neste estudo, a Chlorella vulgaris foi utilizada em diferentes concentrações no
desenvolvimento de uma barra de cereal, trazendo inovação na utilização das microalgas no
mercado. A C. vulgaris foi cultivada em meio orgânico e floculada sem adição de reagente
químico, o perfil proteico da biomassa liofilizada foi obtido para estabelecer a quantidade de
biomassa a ser adicionada nas barras, que foram submetidas à análise de composição
centesimal e avaliação sensorial, incluindo atributos de aparência, sabor, textura e impressão
global. O resultado do teor de proteínas da biomassa algal foi de 36,61 %. As barras de cereal
enriquecidas com a Chlorella vulgaris apresentaram valores médios de proteína acima do
encontrado em barra de cereal comercial (4 %), sendo 10,93 % no tratamento com adição de
8 g (T1) e 9,89 % com adição de 2,5 g de biomassa (T2). A formulação em T2 obteve
resultados satisfatórios em todos os aspectos sensoriais avaliados, com índices de
aceitabilidade superiores a 77,78 %, enquanto o T1 apresentou resultados insatisfatórios na
análise sensorial. Deste modo, a adição da microalga C. vulgaris como fonte de proteína, se
apresenta uma alternativa promissora e com caráter inovador na biotecnologia de alimentos.

Palavras–chave: Microalga; Biotecnologia; Análise sensorial; Inovação.

ABSTRACT
The microalgae of the Chlorella genus is rich in micronutrients, has a high content of
chlorophyll, proteins, vitamins, minerals and fatty acids, being considered GRAS by the FDA,
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and can therefore be used as food without causing risk to human health. Cereal bars are
products that can be made with a variety of nutritional and functional ingredients capable of
serving consumers concerned with a healthy life. In this study, Chlorella vulgaris was used in
different concentrations in the development of a cereal bar, bringing innovation in the use of
microalgae on the market. C. vulgaris was grown in an organic medium and flocculated
without the addition of a chemical reagent, the protein profile of the freeze-dried biomass was
obtained to establish the amount of biomass to be added to the bars, which were subjected to
analysis of chemical composition and sensory evaluation, including attributes of appearance,
taste, texture and overall impression. The result of the protein content of the algal biomass was
36.61%. Cereal bars enriched with Chlorella vulgaris showed average protein values above
that found in commercial cereal bars (4%), 10.93% in the treatment with the addition of 8g
(T1) and 9.89% with the addition of 2.5g of biomass (T2). The formulation in T2 obtained
satisfactory results in all the sensory aspects evaluated, with acceptability indexes above
77.78%, while T1 presented unsatisfactory results in the sensorial analysis. Thus, the addition
of microalgae C. vulgaris as a source of protein, presents a promising alternative with an
innovative character in food biotechnology.

Keywords: Microalgae; Biotechnology; Sensory analysis; Innovation.

1 INTRODUÇÃO
As demandas geradas pelo modo de vida urbano têm exigido alternativas para este
estilo de vida por meio do desenvolvimento de novos alimentos com qualidade sensorial e
nutricional que tragam benefícios à saúde (GARCIA et al., 2003; SILVA et al., 2008).
As barras de cereais atendem a necessidade dos consumidores que optam por uma
alimentação prática e saudável, pois são fontes energéticas, que contém vitaminas, minerais e
fibras (COSTA et al., 2016). As barras alimentícias podem ser fontes de proteína quando
enriquecidas com produtos de origem animal ou vegetal com elevado teor proteico, tais como
soro de leite (whey protein), proteína texturizada de soja e albumina (BAÚ et al., 2010;
FREITAS e MORETTI, 2006).
Uma outra fonte promissora de proteína são as microalgas que podem ser cultivadas
em condições controladas para obter a sua máxima capacidade fotossintética, e agregar valor
nutricional quando adicionada em alimentos (PULZ e GROSS, 2004).
Algumas espécies de microalgas, tais como a Chlorella vulgaris é considerada GRAS
(Generally Recognized As Safe) pelo FDA (Food and Drug Administration), podendo ser
utilizada como alimento sem causar risco à saúde humana. Sendo portanto, uma espécie de
uso atraente na formulação de produtos alimentícios devido seu rico teor de micronutrientes,
clorofila, proteínas, vitaminas, sais minerais e ácidos graxos, além de apresentar efeito
terapêutico em diversas enfermidades (BICUDO e MENEZES, 2010).
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As barras alimentícias são um produto obtido a partir da compactação de flocos de
cereais como arroz, aveia, milho e cevada, xarope de glicose, açúcar, edulcorante natural ou
artificial, gordura ou óleo vegetal, frutas secas, sementes oleaginosas, sal e estabilizantes,
podendo ocorrer variação nos ingredientes de acordo com o sabor (SAMPAIO et al., 2004).
Desta forma, essa pesquisa buscou analisar os teores proteicos da Chlorella vulgaris
adicionada em uma barra de cereal, visando criar um produto inovador para o mercado da
agroindústria.

2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 PREPARO DO MEIO DE CULTIVO
Para o preparo do meio de cultivo foi utilizado o fertilizante orgânico da marca
BIOBIZZ® composto por três fertilizantes, na concentração de 1mL/L. Portanto, para cada
litro de água foi adicionado 0,33 mL do fertilizante 1 (à base de melaço de cana de açúcar),
0,33 mL do fertilizante 2 (extrato de beterraba, aminoácidos e fosforo natural) e 0,33 ml do
fertilizante 3 (extrato de algas).
A eficiência desta concentração foi determinada a partir de teste preliminar realizado
em erlenmeyers de 250 mL. O controle foi mantido com meio de cultivo convencional
sintético (CHU) e no tratamento como meio orgânico foi inserido 225 mL de meio orgânico.
Foi inoculado 25 mL da cepa de microalga C. vulgaris e os frascos foram distribuídos de
maneira casualizada, em tréplica.
O ensaio experimental ocorreu em sala de cultivo com temperatura controlada em 22
± 2 ºC, iluminação de aproximadamente 2.000 LUX e aeração constante realizada por
compressor de ar. A curva de crescimento algal foi determinada a partir da contagem de células
a cada 48 horas, utilizando câmara de Neubauer, microscópio e contador unitário manual,
durante 12 dias.

2.2 CULTIVO DA Chlorella. vulgaris


As cepas de C. vulgaris foram cedidas pelo Laboratório de Alimentos Vivos da UFPB,
e foram repicadas com o meio de cultivo orgânico BIOBIZZ®. O repique ocorreu até atingir
volume máximo de 8 L em baldes de plástico, o que durou um tempo médio de 10 dias.
O manejo da cultura ocorreu em ambiente controlado com luz artificial de lâmpadas
fluorescentes 2000 LUX, sob temperatura de 24 ºC e aeração constante a partir de 2 L.

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Foi utilizado bico de Bunsen para flambar as bocas dos frascos durante a repicagem,
as vidrarias e a água para o meio de cultivo foram autoclavados e todo material de plástico
lavado com cloro. Esse procedimento evitou a ocorrência de contaminação no cultivo que
permaneceu axênico.

2.3 FLOCULAÇÃO
A floculação ocorreu com uso de sementes de Moringa fornecidas pelo Laboratório de
Nutrição Animal da Escola Agrícola de Jundiaí. As sementes foram secadas ao sol, maceradas
e trituradas em liquidificador, até obter um pó. A Moringa foi utilizada em concentração de 1
g/L e adicionada aos frascos de 8 L contendo microalga no início da fase estacionária e
mantido pH entre 7,0 e 9,0. Um Jar test foi utilizado para manter a agitação constante da
solução durante 1 minuto em uma frequência de 120 rpm e 13 minutos em uma frequência de
30 rpm (TEXEIRA, 2012). Após esta etapa, os baldes ficaram em repouso durante 24 horas
para que ocorresse a sedimentação dos flocos formados e retirada do sobrenadante, com
auxílio de uma mangueira através do processo de flotação. A biomassa concentrada de
microalga foi armazenada em sacos plásticos e congelada (Figura 1).

Figura 1 – Biomassa algal floculada pronta para liofilizar.

Fonte: Autores, 2018.

A eficiência da floculação foi avaliada através de análises de clorofila-a do cultivo


antes e depois do processo. As análises de clorofila a seguiram o método descrito por
Littlepage et al (1998) e os valores obtidos foram adicionados na seguinte fórmula:
Eficiência da floculação (%) = 1 − 𝐴 𝐵 × 100 onde,
A - Concentração de clorofila-a depois da floculação;
B- Concentração de clorofila-a antes da floculação.

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2.4 LIOFILIZAÇÃO
O processo de secagem por liofilização foi realizado no Laboratório de Processamento
de Frutas e Hortaliças do setor de Agroindústria da EAJ. As amostras permaneceram em um
liofilizador de marca Terroni, série Enterprise, durante em média 72 horas, variando de acordo
com a quantidade de água nas amostras (Figura 2).

Figura 2 – Microalga seca após o processo de liofilização.

Fonte: Autores, 2018.

2.5 PROCESSAMENTO DA BARRA DE CEREAL


Para elaboração da barra de cereal, utilizou-se como cereal a aveia em flocos, os
ingredientes secos foram: gergelim, castanha de caju e coco ralado. Os aglutinadores foram
açúcar demerara, mel e purê de banana. A formulação utilizada para a preparação da barra de
cereal está expressa na Tabela 1.

Tabela 1 – Formulação da barra de cereal.


PRODUTO PESO (g)
Aveia em flocos 185
Gergelim 29
Castanha de caju 40
Coco ralado 26
Açúcar demerara 41
Mel 74
Purê de banana 147
Fonte: Dados do trabalho.

A microalga seca foi adicionada na formulação da barra de cereal em duas diferentes


concentrações. Para determinação da quantidade máxima de biomassa a ser adicionada foi
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utilizado como parâmetro a porcentagem de proteína encontrada em uma barra proteica
comercial que corresponde em média a 25 %. E a quantidade mínima foi calculada de forma
a permanecer acima da porcentagem de proteína encontrada em barras de cereais comerciais
que corresponde em média a 4 %, caracterizando uma barra de cereal com enriquecimento
proteico (Tabela 2).

Tabela 2 – Concentração da microalga nas barras de cereal.

TRATAMENTO ADIÇÃO (g) CONCENTRAÇÃO


PROTEICA (%)
C 0 0
T1 8 22,0
T2 2,5 7,0

Fonte: Dados do trabalho.

Os ingredientes foram todos misturados até atingir a homogeneidade e utilizou-se a


máquina de barra de cereal (Nutritive Cereal Maker) da marca Mallory para assar as barras de
cereal por 30 minutos (Figura 3).

Figura 3 – Barras de cereal na máquina elétrica.

Fonte: Autores, 2018.

2.6 ANÁLISES SENSORIAIS


A análise sensorial foi realizada após atestada a segurança microbiológica com os
padrões da RDC nº 12, que determina os padrões microbiológicos para alimentos (cereais
compactados, em barra ou outras formas, com ou sem adições), sendo os seguintes micro-
organismos investigados: Bacillos cereus/g, Coliformes a 45°C e Salmonella sp./25 g.
(BRASIL 2001).

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Utilizou-se o teste afetivo com os atributos: aparência, sabor, textura e impressão
global. Os julgadores não treinados foram orientados a provar uma amostra de cada vez e
avaliar por meio de escala hedônica de nove pontos, segundo a metodologia de Faria e
Yotsuyanagi (2002), no qual o ponto 1 refere-se a "desgostei muitíssimo" e o ponto 9 "gostei
muitíssimo". E para o teste de intenção de compra adotou-se uma segunda escala hedônica
estruturada em cinco pontos, nos quais os pontos extremos são: “Certamente não compraria”
(1) e “Certamente compraria” (5).
Calculou-se o Índice de Aceitabilidade (IA):
𝐼𝐴 (%) = (𝐴/B) x 100
Sendo A = nota média obtida e B = nota máxima obtida. Para interpretação dos dados
da intenção de compra, foram realizados cálculos de percentual.
A análise foi realizada entre os tratamentos C (0g), T1 (8g) e T2 (2,5g). As amostras
de um quarto da barra de cereal, pesando 9 g cada, foram apresentadas aos provadores à
temperatura ambiente em prato branco, com os códigos BC, BC1 e BC2.
Foi distribuída uma bolacha salgada tipo cracker e um copo com água para que os
provadores limpassem o palato entre uma amostra e outra. Os 41 voluntários receberam os
devidos esclarecimentos sobre a pesquisa e, cientes do seu objetivo, forneceram a autorização
de participação, com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 CRESCIMENTO CELULAR EM MEIO BIOBIZZ®
A curva de crescimento algal demonstrou vantagem do uso do meio orgânico
BIOBIZZ® em relação ao meio convencional CHU. Vera et al. (2004) reporta que o meio
CHU ocasionou uma baixa biomassa e coloração pálida da Chlorella vulgaris CHU devido à
insuficiente concentração de fósforo, nitrogênio e magnésio necessários na formação de
clorofila a. Estudos têm demonstrado que o uso de meios orgânicos gera densidades celulares
altas (Granados-Machuca e BuckleRamÌrez, 1984; Faria et al., 2001).

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Figura 4 – Crescimento celular nos diferentes meios.

Fonte: Dados do trabalho.

3.2 ANÁLISE CENTESIMAL


O processo de floculação com moringa apresentou 93,4 % de eficiência, sendo possível
a obtenção de biomassa seca após liofilização suficiente para a realização das análises
centesimais.
Segundo Muñoz-Peñuela et al (2011), meios de cultivo orgânico fornecem alto teor de
proteína bruta para o cultivo de C. vulgaris, os autores atestaram uma maior porcentagem de
proteína em cultivo com húmus de minhoca (56,8 %), seguido de esterco de equino (32,5 %)
e fertilizante NPK (16,8 %) e não obtiveram valor de conteúdo proteico para C. vulgaris em
meio CHU, devido à baixa densidade celular obtida. No presente estudo, a Chlorella vulgaris
seca e pura apresentou 36,61 % de proteína bruta, obtendo com o fertilizante comercial
BIOBIZZ proporção similar ao uso de meio orgânico à base de esterco equino.
As barras de cereal submetidas a análises de Umidade, Matéria seca, Matéria mineral
(Cinzas), Matéria Orgânica e Proteína Bruta, apresentaram os resultados expressos na Tabela
3.
Tabela 3 – resultados das análises centesimais.
PARÂMETROS (%) C T1 T2
0g 8g 2,5g

Umidade 2,45 3,14 3,45


Matéria seca 97,5 96,87 96,51
Matéria mineral 1,41 1,61 1,54
Matéria orgânica 98,59 98,39 98,46
Proteína bruta 8,83 10,93 9,89
Fonte: Laboratório de Nutrição Animal – EAJ, 2018.

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As barras de cereal elaboradas, e principalmente as com a biomassa algal, apresentaram
valores médios de proteína acima do encontrado em barras de cereal vendidas comercialmente
(4 %). Observou-se, a ocorrência de um acréscimo de proteínas, principalmente comparando
a amostra sem microalga (C) e a amostra com 22 % de microalga (T1), de aproximadamente
24 %.
Resultados mais significativos já foram encontrados por outros autores. Damasceno
(2016) apresenta barra de cereal com 6 % de biomassa de microalga Arthospira platensis com
15,3 % de proteína.
Diferença significativa ocorreu também na matéria mineral, cujo acréscimo,
comparando-se C e T1 (maior quantidade de biomassa algal), foi de 9 %. Entre os tratamentos
que receberam a microalga, o T2 (7 % PB) obteve menor quantidade de Umidade, outro valor
muito importante visto que a quantidade de água reflete no tempo de conservação da barra de
cereal. Segundo a Resolução RDC nº 263, de 22 de setembro de 2005 (BRASIL, 2005), a
umidade de barras de cereais deve ser inferior a 15,0 %.

3.3 ANÁLISES SENSORIAIS


De acordo com a Figura 5, o perfil dos provadores que participaram da análise sensorial
mostrou um número superior de pessoas abaixo dos 20 anos (73 %), o que é explicado pelo
fato das análises terem sido realizadas durante a Feira de Ciências da Escola Agrícola de
Jundiaí, onde a maioria dos visitantes era de ensino médio.

Figura 5 – Perfil dos provadores em relação à idade.

Fonte: Autores, 2018.

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A Tabela 4 apresenta os índices de aceitabilidades das barras de cereal elaboradas, a
formulação controle C (sem adição de biomassa), a formulação T1 (valor máximo de
biomassa ) e a formulação T2 o menor valor de biomassa adicionado.

Tabela 4 – Índices de aceitabilidade das amostras.


FORMUÇÃOES APARÊNCIA TEXTURA SABOR IMPRESSÃO
GLOGAL
C 88,89 % ± 1,34 77,78 % ± 1,76 77,78 % ± 1,77 77,78 % ± 1,50
T1 (22% PB) 66,67 % ± 2,22 77,78 % ± 2,18 55,56 % ± 2,38 66,67 % ± 2,12
T2 (7% PB) 77,78 % ± 2,05 77,78 % ± 1,95 77,78 % ± 2,20 77,78 % ± 2,05
Fonte: Dados do trabalho.

Atualmente, um IA considerado bom é aquele igual ou superior a 70 % (TEIXEIRA;


MEINERT; BARBETTA, 1987). Com isso, percebe-se que a barra de cereal com 22 % de
microalga (T1), não foi bem aceita para as características sensoriais aparência, sabor e
impressão global. Estes resultados indicaram que a quantidade elevada de microalga levou a
uma rejeição dos consumidores, principalmente nas características visuais.
Enquanto que as barras controle e a T2 (menor teor de biomassa algal), alcançaram
resultados satisfatórios em todos os aspectos sensoriais avaliados, com índices de
aceitabilidade superiores a 77 %.
De acordo com GRIZOTTO e MENEZES (2003), considera-se que o teste de aceitação
por escala hedônica pode medir, com certo nível de segurança, o grau de gostar e a aceitação
de um produto, é possível indicar através dos resultados desses testes, se o produto tem
potencial para se tornar sucesso comercial. Desse modo, os resultados alcançados pela barra
de cereal T2, com adição de 6 % de C. vulgaris, sugerem o seu potencial mercadológico.
As Figuras 6, 7 e 8, ilustram as intenções de compra das barras de cereal elaboradas.

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Figura 6 – Intenção de compra para a barra controle.

Fonte: Dados do trabalho.

Os resultados mostraram que 39 % dos avaliadores “certamente comprariam” e apenas


5 % “certamente não comprariam”, a amostra Controle. A maioria dos julgadores, optaram
pela opção de compra.

Figura 7 – Intenção de compra para a formulação T1.

Fonte: Dados do trabalho.

Para a barra de cereal com 22 % de biomassa, 12 % dos provadores disseram que


“certamente comprariam”, enquanto que a maioria ficaram na dúvida e não aprovaram , com
29 % a opção “talvez comprasse/ talvez não comprasse” e 20 % “certamente não comprariam”.

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Figura 8 – Intenção de compra para a formulação T2.

T2

Certamente não compraria

Provavelmente não
compraria
Talvez comprasse/ não
comprasse
Provavelmente compraria

Certamente compraria

Fonte: Dados do trabalho.

Para a formulação com menor adição de microalga, o tratamento 3, obteve os melhores


resultados de intenção de compra, visto que 39 % dos que provaram disseram que “certamente
comprariam” a barra de cereal e 17 % “provavelmente comprariam”. Ademais, apenas 3 %
afirmaram que “certamente não comprariam”.
Dessa forma, pode-se afirmar que a amostra T2 obteve o melhor desempenho, tanto
em relação às características sensoriais, quanto à intenção de compra, o que mostra que as
pessoas ainda possuem resistência a produtos enriquecidos com microalga, mas que aos
poucos esses produtos podem ganhar espaço no mercado.

4 CONCLUSÕES
A adição da biomassa liofilizada de Chlorella proporcionou enriquecimento proteico
das barras produzidas e a barra com 2,5 g de biomassa (Formulação T2) obteve 9,89 % de
proteína bruta, teor superior aos produtos encontrados no mercado (apresentam em média 4 %
de proteína), apresentou boa aceitação sensorial e os avaliadores indicaram interesse em
adquirir o produto, caso a barra de cereal estivesse à venda. Porém, o maior teor adicionado
da microalga (22 %), apresentou menor preferência sensorial nas características visuais.
Assim, o enriquecimento proteico em barras de cereal por meio da adição da microalga
C. vulgaris como fonte de proteína, se apresenta como promissora e com caráter inovador na
biotecnologia de alimentos.

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Essa conclusão é importante, pois permite a substituição de algumas fontes de proteína
pela biomassa algal, a fim de incrementar a utilização das microalgas na biotecnologia de
alimentos e possibilitar o crescimento do setor de aquicultura no espaço mundial.

AGRADECIMENTOS

Programa de Iniciação Científica do CNPQ – PIBIC/EM


Unidade de Processamento de Frutas e Hortaliças da Escola Agrícola de Jundiaí
Laboratório de Produção de Alimentos Vivos da Escola Agrícola de Jundiaí

REFERÊNCIAS

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alternativas de nutrientes. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 32, n.5,p. 1551-1556, 2008.

BAÚ, T.R.; CUNHA, M.A.A.; CELLA, S.M.; OLIVEIRA, A.L.J.; ANDRADE, J.T. Barra
alimentícia com elevado valor proteico: formulação, caracterização e avaliação
sensorial. Revista Brasileira de Tecnologia Agroindustrial, Paraná, v. 4, n. 1, p. 42-51,
2010.

BICUDO, C.E.M., & MENEZES, M. Introdução: As algas do Brasil. In: FORZZA, R.C.(Org).
Catálogo de plantas e fungos do Brasil. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de
Janeiro. Andrea Jakobsson Estúdio: Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro,
2010. Vol. 1.
BRASIL, Resolução RDC nº 263, de 22 de setembro de 2005, Agência Nacional De Vigilância
Sanitária - Anvisa; Aprova O "Regulamento Técnico Para Produtos De Cereais, Amidos,
Farinhas E Farelos", Diário Oficial da União, Brasília (DF), de 23 de setembro de 2005.
BRASIL. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Resolução RDC nº12, de 02
de janeiro de 2001. Aprova o Regulamento Técnico sobre Padrões microbiológicos para
alimentos. Diário Oficial da união, Brasilia –DF.

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