Producaomusicaltrompete Ferreira 2021
Producaomusicaltrompete Ferreira 2021
Producaomusicaltrompete Ferreira 2021
ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
NATAL-RN
2019
JOÃO MARIA SIMPLICIO FERREIRA
NATAL-RN
2019
Catalogação de Publicação na Fonte
Biblioteca Setorial Pe. Jaime Diniz - Escola de Música da UFRN
_________________________________________________________
PROF. DR. RANILSON BEZERRA DE FARIAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)
ORIENTADOR
_________________________________________________________
DR. MARCOS ARAGÃO FONTOURA
POLÍCIA MILITAR DO RN (PMRN)
MEMBRO DA BANCA
_________________________________________________________
Dr. RADEGUNDIS ARANHA TAVARES FEITOSA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN)
MEMBRO DA BANCA
Dedico este trabalho ao Maestro Wilson de Souza
que com sua paciência e afinco me mostrou o
mundo maravilhoso da música, assim como aos
meus queridos e inesquecíveis professores da Es-
cola de Música da UFRN, Maviael Celestino (in
memoriam), Ranilson Farias, Prentice Bulhões,
Glênio Maciel, Fidja Siqueira, Marcos e Ronaldo
Lima, Isméria Maria e Danilo Guanais.
AGRADECIMENTOS
A meu querido e amado Deus, pela realização desse trabalho e pela minha vida.
Às minhas Mães Maria de Lourdes e Josefa Ferreira e ao meu Pai e meu Grande Amigo
Assis Rocha (in memória) pela paciência, apoio e amor com o qual me trataram durante toda a
vida a partir do momento da minha concepção até os dias atuais.
Aos meus irmãos, Grace Kelly, Patrícia Cristina e Paulo Eduardo pelo apoio de sempre
pela minha escolha na música.
Ao amigo, irmão e maestro Alcione Gualberto, por ter me mostrado o real significado
de uma amizade verdadeira, me apresentado a Escola de Música da UFRN e ter me inserido
neste recinto de sonhos melodiosos, hora melancólicos, hora felizes, porém com todo amor e
sinceridade que só a música nos proporciona.
Ao meu eterno professor Ranilson Farias pelos sábios ensinamentos e conselhos na mi-
nha vida pessoal e profissional, pela sua paciência inigualável e quase inesgotável, além das
formidáveis orientações dadas durante a realização deste trabalho.
A minha esposa amada, Amanda Souza pela paciência durante os dias que ficou a minha
espera enquanto eu desenvolvia este trabalho além dos momentos de lazer abdicados durante
as aulas e orientações no decorrer desta pesquisa.
Aos amigos trompetistas pela torcida e incentivo durante este trabalho.
A todos que torceram por mim durante a minha vida musical desde o início até os dias
atuais.
"Determinação, coragem e autoconfiança são fa-
tores decisivos para o sucesso. Não importam
quais sejam os obstáculos e as dificuldades. Se es-
tamos possuídos de uma inabalável determinação,
conseguiremos superá-los. Independentemente
das circunstâncias, devemos ser sempre humildes,
recatados e despidos de orgulho
(Dalai-Lama)
RESUMO
It has been observed that not disclosing composers in an adequate way, especially the national
ones and the lack of an appropriate organization of their works, can cause the loss of the musical
material produced by them, besides consigning them to oblivion. Thus, in order to preserve the
material collected during our research, we organized it in the form of a catalog. In the present
dissertation, we present the results of a study whose general goal was to produce a thematic
catalog, which took shape from a total of twelve works collected during the research and that
were provided by the authors themselves. Of these, we chose three for a deeper study, and
proceeding with our investigative procedures, we studied them structurally and made from them
interpretive suggestions aiming to bring to the readers of this work biographical details about
the composers and especially the compositional particularities contained in their works. We
emphasize here that the works were selected according to the personal and professional charac-
teristics of the composers, and represent significantly all the compositional material surveyed
in this dissertation, giving us a dimension of all the works gathered here. This set of pieces
written specifically for trumpet showed us an important clipping of our musical history related
to this instrument in the state of Rio Grande do Norte, showing us important data that will be
preserved here and can be a starting point for future research.
1. INTRODUÇÃO
A ideia para a realização deste trabalho surgiu, a partir de um questionamento feito du-
rante uma reunião de um grupo formado por pesquisadores envolvendo professores e alunos da
Graduação e Pós, da Escola de Música da UFRN, cujos fundadores e organizadores eram os
docentes Dr. Ranilson Bezerra de Farias e Dra. Germana França da Cunha.
Na ocasião, o grupo trabalhava diversos assuntos ligados à área de metais e percussão,
e a referida discussão evoluiu para uma pergunta que motivou diretamente a escolha do tema
deste trabalho. “Quais e quantos compositores Potiguares dedicaram suas obras ao trompete”,
uma vez que no estado do Rio Grande do Norte temos vários músicos que se destacaram e se
destacam na área da composição?
Para responder a essa questão, inicialmente um levantamento bibliográfico foi feito e a
partir desta ação, resolvemos também incluir na pesquisa autores que são aqui radicados e que
desenvolvem há bastante tempo trabalhos como compositores e instrumentistas. Dessa forma,
conseguimos aumentar substancialmente o número de compositores e naturalmente de obras
para a nossa catalogação, ideia que nasceu logo após o início de nossas ações.
Assim sendo, observamos que a inserção desses compositores em nosso meio possibili-
tou uma gama de experiências musicais advindas de outras culturas, fato que contribuiu de
forma significativa para o desenvolvimento do repertório para trompete criado no Estado do
Rio Grande do Norte. A partir daí, sentimos a necessidade de organizar o material recolhido em
uma espécie de catalogação, sendo o modelo escolhido para a dissertação, a catalogação temá-
tica.
Sabemos a partir de nossa história musical que o nosso estado nos deu importantes com-
positores, cujas obras são bastante significativas e conhecidas nacionalmente e até internacio-
nalmente. Destes, podemos citar: Tonheca Dantas e suas valsas Delírio e Royal Cinema com
solos de clarineta e saxofone alto, respectivamente; Felinto Lucio Dantas com seus dobrados
Mobral e Estreia, e sua obra de música sacra; K-ximbinho saxofonista, músico de formação
popular excelente compositor, dentre suas obras podemos destacar Ternura e Penumbra escritas
respectivamente para clarinete e Saxofone alto.
Entretanto, não encontramos em catalogações publicadas, ou mesmo através de infor-
mações em arquivos de instituições públicas ou particulares, obras escritas especificamente
para o trompete pelos citados compositores, ou mesmo por outros, seus contemporâneos. Em
2
um primeiro momento, a partir de um levantamento preliminar feito para esta pesquisa, cons-
tatamos que obras escritas para o trompete por compositores Norte-rio-grandenses ou àqueles
aqui radicados, considerados por esta pesquisa, foram elaboradas a partir do ano de 1999.
A produção musical de obras brasileiras escritas especificamente para o trompete pode
ser considerada recente, se levarmos em conta a catalogação publicada pelo trompetista Luiz
Engelke no ITG Journal1 (2007), que coloca Andante Bolero (1900) de Santana Gomes como
a primeira obra escrita durante o século XX.
No decorrer desse século alguns compositores de notada relevância escreveram peças
dedicadas ao trompete, dentre estes podemos citar: Camargo Guarnieri: Estudo para Trompete
em Dó (1965), Claudio Santoro: Sonata para Trompete e Piano (1946), José Siqueira: Três
Estudos para Trompete e Piano (1963), Concertino para Trompete e Orquestra de Câmara
(1976), Estudo para Trompete Solo (1981). Observando estes dados podemos constatar que a
produção musical específica para trompete produzida no estado do Rio Grande do Norte é bas-
tante recente.
Ressaltamos mais uma vez, que levamos em consideração para este trabalho, obras es-
critas por compositores potiguares e também aqueles nascidos em outros estados, mas que aqui
se radicaram e contribuíram com importantes trabalhos na área musical. Inicialmente para esta
pesquisa foram catalogados 9 (nove) compositores e 11(onze) peças, porém, com o decorrer
das atividades exigidas pelo trabalho, surgiu a última obra que incluímos na nossa catalogação,
antes de fecharmos o nosso levantamento.
Trata-se de uma peça para trompete e piano do compositor Wilson de Souza, que a es-
creveu no ano de 2020 e a dedicou para o autor desta dissertação. Durante a organização da
catalogação, conseguimos identificar compositores que atuavam ou atuam em áreas distintas da
música tanto no Estado quanto fora dele. Assim, identificamos inicialmente três áreas onde
esses compositores atuam, as quais destacamos: 1. Bandas de música e grupos afins, 2. Espaços
destinados à música popular, seja tocando na noite em grupos populares, acompanhados ou
como solistas. 3. Espaços destinados ao ensino em escolas de música particulares, ou de Uni-
versidades.
É possível notar também o crescente interesse de jovens compositores que demonstram
cada vez mais suas habilidades composicionais desenvolvendo obras ainda mais arrojadas, uti-
1
Intenational Journal Trumpet Guild - Jornal publicado pela associação internacional de trompetistas.
3
lizando recursos que extrapolam a escrita tradicional, como por exemplo, as possibilidades ofe-
recidas pela técnica expandida. Este recurso apesar de ser bastante usado na atualidade, não
foram explorados nas obras que organizamos.
Neste trabalho, apresentamos resultados de um estudo cujo objetivo geral foi catalogar
a produção musical para trompete no estado do Rio Grande do Norte, elaborando, também a
partir de três obras selecionadas uma análise estrutural com sugestões técnico interpretativas
voltadas para trompetistas solistas, bem como professores do instrumento que tenham interesse
em trabalhar com esse repertório.
Em relação à natureza desta pesquisa, podemos classificá-la como sendo aplicada, uma
vez que gera conhecimentos para serem utilizados na resolução de problemas. Quanto a sua
abordagem esta pesquisa configurou-se inicialmente como quantitativa, uma vez que trabalha-
mos selecionando um número quantificável de partituras, contudo, recorremos neste trabalho a
procedimentos e técnicas de coleta e organização de dados condizentes com a abordagem qua-
litativa, quais sejam: levantamento documental e bibliográfico, realização de entrevistas com
os compositores, além de análise e revisão das partituras, dessa forma podemos concluir que se
trata de uma abordagem quali-quantitativo, por termos utilizado os dois procedimentos.
Realizamos também uma revisão de métodos para trompete e livros de teoria musical,
como forma de realizar um trabalho mais detalhado a respeito das obras, que será apresentado
no quarto capítulo, cujo título será: Sugestões interpretativas de obras escolhidas.
O presente trabalho está inicialmente organizado em cinco capítulos que foram distri-
buídos da seguinte forma: no primeiro, elaboramos a introdução, no segundo capítulo tratamos
de considerações e embasamento teórico a respeito da catalogação, destacando principalmente
a forma utilizada para a realização deste trabalho, que é a catalogação temática, também abor-
damos questões relativas à metodologia e os referenciais teóricos utilizados.
No terceiro capítulo, trabalhamos os aspectos relacionados aos compositores e suas
obras, onde usamos informações fornecidas por eles acerca de sua trajetória musical, seus prin-
cipais campos de atuação, bem como informações detalhadas sobre seus trabalhos composici-
onais.
No quarto capítulo, tratamos de considerações a respeito de interpretação e performance
musical e no quinto capítulo apresentamos três obras que foram trabalhadas estruturalmente,
onde evidenciaremos aspectos relacionados à técnica instrumental da qual fazem parte: articu-
lações, digitações, flexibilidades, dificuldades intervalares, bem como, sugestões técnico-inter-
4
pretativas e suas principais dificuldades técnicas e possíveis resoluções. Para esta parte, seleci-
onamos as seguintes obras: “A Caçada” de Ewerton Luiz “Promenade” do compositor Fernando
Deddos e a “Sonata para Trompete e Cello” de Antônio de Pádua.
As obras foram escolhidas por área conforme atuam seus compositores sejam elas nos
meios, acadêmico (Fernando Deddos), popular (Antônio de Pádua) bandas de música e filar-
mônicas (Everton Luiz). Neste capítulo foram realizadas análises de cada obra onde apresenta-
mos para cada peça em questão, sugestões técnico-interpretativas.
As peças catalogadas foram digitalizadas e colocadas em anexo neste trabalho, e estão
à disposição de professores de trompete, alunos, professores, músicos, pesquisadores e estudi-
osos que possam vir a se interessar pelo trabalho aqui desenvolvido.
No quinto capítulo procedemos com as considerações finais, fechando assim o presente traba-
lho.
Para a fundamentação teórica do presente trabalho nos utilizamos de autores como: Au-
lete (1881) que define catálogo como uma “lista ordenada de nomes, produtos, etc.” ou ainda,
como uma “relação de livros, revistas e documentos de uma biblioteca, Ferreira (1999) diz que
catalogação é uma ‘lista descritiva; relação circunstanciada’ (...) “no seu sentido mais amplo, é
uma relação de livros correspondente a uma coleção pública ou privada"; Mey (1995) corrobora
que catalogação é: “um canal de comunicação estruturado, que veicula mensagens contidas nos
itens, e sobre os itens, de um ou vários acervos, apresentando-as sob forma codificada e orga-
nizada, agrupadas por semelhanças, aos usuários desse(s) acervo(s); Costa (2013) afirma que
[...] Tal processo torna possível que o usuário localize a informação certa em menos tempo,
pois a catalogação é o elo de comunicação entre o item e seu usuário, tais autores nos apresen-
tam valiosas definições em relação à catalogação.
Em relação ao catálogo temático o Dicionário Grove de Música (1994) afirma que é um
índice para um grupo de composições musicais, que incorpora citações de suas notas iniciais,
seus principais aspectos melódicos, ou ambos; Brook (2001) diz que Catálogo temático é um
índice para um grupo de composições musicais que incorpora citações de suas notas de abertura
(incipits) ou principais características melódicas (temas), ou ambas; Silva (2002) nos mostra
5
que o incipit musical possibilita que uma composição seja identificada da forma mais rápida e
eficiente possível.
Para nos falar acerca de interpretação musical, Dourado (2004) comenta que a etimolo-
gia do termo interpretação remonta à Antiguidade greco-romana; KUEHN (2012) “Interpreta-
ção” designa, em música, a leitura singular de uma composição com base em seu registro que,
representado por um conjunto de sinais gráficos, forma a imagem de texto ou partitura apresen-
tam o termo interpretação designando-o como uma mediação, ou seja, um acontecimento entre
a obra e o sujeito, além de considerarem a partitura musical uma espécie de “roteiro” ou “mapa”;
Laboissiére (2004), afirma que a interpretação musical é mediação, é acontecimento entre a
obra e o sujeito que, como ser cultural, sensível e consciente, percebe a matéria significante e
lhe dá uma forma; Winter; Silveira (2006) diz que embora a partitura contenha elementos es-
senciais a partir dos quais o intérprete vai iniciar seu trabalho interpretativo, esta não tem a
capacidade de fornecer a totalidade de informações que estão presentes em uma execução mu-
sical; Abdo (2000) esclarece que a execução musical é “reevocar” fielmente o significado ori-
ginal, recomendando-se, para tanto, uma execução tão impessoal e objetiva quanto possível,
respaldada no exame da partitura e na investigação histórico-estilística; Gentile (2000) diz que
longe de ser uma fiel “reevocação” da intenção autoral, a execução/interpretação é, mais exa-
tamente, uma livre “tradução”, uma operação subjetiva, da qual resultam “criações” sempre
novas e diversas;
Em relação à performance, Houaiss (2001) diz que performance é definida como um
conjunto de itens auferidos experimentalmente que define, o alcance ideal de algo, ou, em ter-
mos mais diretos, um desempenho ótimo; Albano (2006) comenta que poderíamos pensar a
performance musical como um processo de execução, que não dispensa nem os aspectos técni-
cos presentes nessa prática, nem os processos interpretativos que contribuem para esta ação.
Buscamos ainda nossas corroborações em Santiago (2001) relacionado a importância da
preparação e entendimento que o performer deve ter em relação a obra que será interpretada
onde o mesmo afirma que é importante para o músico ter uma concepção clara da obra que irá
intermediar na presença dos ouvintes; Zumthor (2007) ensina que Performance é o ato presente
e imediato de comunicação e materialização de um enunciado poético, ato que requer, além do
texto – e portanto de seu(s) autor(es), intérprete e ouvinte; Almeida (2011) que nos mostra que
Enquanto interpretação envolve todo o processo – estudo, reflexões, práticas e decisões do in-
térprete – que concorre para a construção de uma concepção interpretativa particular de deter-
minada obra, performance é o momento instantâneo e efêmero de enunciação da obra, direcio-
nado em algum grau pela concepção interpretativa mas repleto de imprevisíveis variáveis.
6
Em relação à Med (1996) o mesmo traz observação acerca do acento brando enquanto
Norton (1988) destaca que Dinâmica é o aspecto musical resultante da expressão causada pela
variação do volume do som, eles nos trazem importantes considerações acerca de teoria musical
exemplificando dentre os termos utilizados, outros presentes neste trabalho.
2.2. METODOLOGIA
dizentes com essa abordagem, quais sejam: levantamento documental e bibliográfico, realiza-
ção de entrevistas com os compositores, além de análise das partituras subsidiárias para proce-
dermos com as sugestões interpretativas.
Quanto aos procedimentos técnicos, a nossa pesquisa se configura como sendo de cunho
documental, que como sugere esta terminologia, se baseia em documentos que ainda não foram
devidamente trabalhados, no nosso caso específico as partituras aqui catalogadas. Em relação a
essa fase da nossa pesquisa, um dos primeiros passos, foi procedermos com o levantamento das
obras, que se transformou em um “verdadeiro garimpo, pois localizar as peças aqui colocadas
demandou bastante tempo, uma vez que as mesmas se encontravam dispersas e quase todas em
poder apenas dos seus autores. Desta forma, ter acesso a essas obras, estudá-las, classificá-las
e selecioná-las para esta pesquisa exigiu muito esforço e dedicação.
Para Benetti,
Dessa forma, lançamos mão desse método para colocarmos no presente trabalho a nossa
visão a respeito dos aspectos interpretativos que foram selecionados a partir das obras escolhi-
das, oferecendo aos futuros performers possibilidades interpretativas oriundas de nossas expe-
riências. Evidenciamos ainda, que as nossas sugestões não se configuram como uma proposta
única, pois outros intérpretes podem discordar do nosso ponto de vista e propor outros tipos de
abordagens. Entretanto, essas propostas devem estar baseadas em estudos aprofundados das
obras, reflexões e experiências artístico profissionais, que sejam consistentes para que possam
servir também como suporte interpretativo para outros performers.
Esclarecemos ainda, que também sugerimos o estudo de alguns métodos de autores con-
sagrados para que o intérprete que for executar as obras possa praticar as dificuldades técnicas
fora das partituras. Aconselhamos que ele insira em seus estudos diários a prática de fundamen-
tos inerentes às peças, que devem ser aperfeiçoados para que consiga de forma satisfatória ven-
cer as dificuldades que as obras impõem. Para esse fim, utilizamos como bibliografia comple-
mentar os métodos de: Joseph Jean-Baptist Laurent Arban - Complete Conservatory Method
for trumpet or cornet; Henri Tomasi - Six Etudes pour Trompette; Anthony Plog - Method for
trumpet; Giuseppe Concone - Lyrical Studies for Trumpet; Fisher Tull - Eight Profiles (for solo
trumpet), além do método de James Stamp – Warm-Ups + Studies.
O procedimento metodológico inicial utilizado foi o levantamento do repertório a res-
peito dessas peças, que se iniciou no ano de 2017, a partir do nosso interesse em conhecer
melhor a produção musical local para esse instrumento. Iniciamos o mapeamento a partir de
acervos existentes nas Bibliotecas Central da UFRN (Zila Mamede), da Escola de Música da
UFRN (Padre Jaime Diniz); e acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Norte, bem como arquivos particulares dos compositores e performers atuantes no Estado.
No decorrer do levantamento, identificamos o nome de sete compositores: Antônio de
Pádua, Fernando Deddos, Ivo Sousa, Normando Carneiro, Ewerton Luiz, Daniel Escudeiro e
Marcio Dantas. Foi possível, depois do levantamento, chegar aos nomes de outros compositores
como Helder Oliveira, e Danilo Guanais. O último compositor que incluímos em nosso trabalho
foi Wilson de Sousa, que gentilmente ofereceu sua obra Mais perto da Lua ao autor desta dis-
sertação.
A coleta do material se deu, a partir do momento em que houve a aceitação para parti-
cipação desta pesquisa por parte de todos os compositores identificados. Passando a serem co-
laboradores deste trabalho, eles nos forneceram dados técnicos e contextuais de cada obra,
como: local e data da composição; quem estreou a peça; data e local da estreia; minutagem
aproximada; entre outras informações relevantes. Posteriormente buscamos outras informações
9
Em passado recente, a catalogação era vista como uma técnica que listava itens, ou
seja, um trabalho simples e limitado, porém com o passar do tempo, a arte de catalogar
conquistou status e importância para a Biblioteconomia. Tal processo torna possível
que o usuário localize a informação certa em menos tempo, pois a catalogação é o elo
de comunicação entre o item e seu usuário. (COSTA, 2013, p. 2).
Dessa forma, entendemos que o processo de catalogação de um modo geral, é uma tarefa
de fundamental importância para todas as áreas devido ao seu caráter preservacionista. Para a
música não é diferente, em uma partitura musical podemos encontrar vários elementos extra-
musicais grafados, que servem como informações importantes para uma catalogação.
Entretanto, o manuseio de informações por parte do pesquisador deve ser feito com ha-
bilidade e responsabilidade para que as informações cheguem ao leitor de forma clara e obje-
tiva.
Ressaltamos também trabalhos catalográficos, que se destacam por seus conteúdos em
relação a música brasileira como, por exemplo, os catálogos editados pelo pesquisador Régis
Duprat acerca da música mineira e os trabalhos da pesquisadora Lenita Waldige sobre a obra
do compositor Carlos Gomes.
Nesse sentido, encontramos também, vários trabalhos acadêmicos que se destacam no
nosso meio musical, e que se mostram relevantes devido ao conteúdo catalogado, dentre estes
podemos citar as seguintes dissertações: "Maestro Duda: A Vida e a Obra de um Compositor
11
da Terra do Frevo" (FARIAS, 2002)”; “De Bom Jardim à Paris: A Vida e a Obra do Compositor
Dimas Sedícias” (CUNHA, 2002); "Musica Brasileira do Século XX" (SILVA, 2002); Aspec-
tos e Sugestões Interpretativas em Três Obras para Trombone Solista do Maestro Duda (LIMA,
2017).
Além dos trabalhos mencionados, podemos citar os livros “O plantador de sons: vida e
obra de Felinto Lucio” (GUANAIS, 2001) e “A cidade e o Artista” A vida e Obra de Samuel
Sandoval da Fonsêca (GUANAIS, 2015). Estas são contribuições que enriquecem a área de
pesquisa em música em nosso país, trazendo à luz do conhecimento, compositores e obras, que
poderiam cair no esquecimento e que agora, preservados podem se tornar objetos de outras
pesquisas. Dessa forma, o presente trabalho configura-se como uma contribuição aos composi-
tores Norteriograndenses, que dedicaram suas obras ao trompete.
Consideramos catálogo temático, aquele que traz em sua estrutura exemplos musicais
que servem para ilustrar e identificar musicalmente a obra que está sendo organizada. Essas
informações musicais geralmente são dadas em forma de citações de trechos iniciais da obra,
na forma de notas ou compassos tirados do início da música. De acordo com Brook 2, "Catálogo
temático é um índice para um grupo de composições musicais que incorpora citações de suas
notas de abertura (incipts) ou principais características melódicas (temas), ou ambas".
Desse modo, entendemos que o incipit, permite que uma obra seja identificada com mais
precisão, assim sendo, esse recurso pode aclarar para os leitores informações em alguns aspec-
tos particulares como: tonalidade, textura, intervalos constantes, ritmo, alguma indicação ou
indicações de andamentos que possam nela conter. Esse recurso permitirá ao pesquisador mú-
sico encontrar informações valiosas sem que seja necessário em um primeiro momento ir em
busca da partitura completa. Através do incipt musical e de outros elementos contidos na cata-
logação ele terá informações valiosas que poderão ser suficientes para o seu propósito.
O incipit musical possibilita que uma composição seja identificada da forma mais
rápida e eficiente possível, disponibilizando subsídios o músico tem, numa primeira
consulta o acesso direto aos elementos composicionais da obra. (SILVA, 2002, p. 7).
O mesmo autor em sua dissertação de mestrado nos diz que: “os catálogos mais antigos
são os “Guias de Memória”, muito utilizados nos séculos X e XI e que tinham como objetivo
trazer a lembrança dos inícios, tonalidades e fórmulas melódicas das obras (SILVA, 2002).
Realçamos aqui mais uma vez a importância do catálogo musical, pois essa é uma
grande contribuição para que as obras não se percam. Ressaltamos ainda, que durante a nossa
fase de procura pelas peças, pudemos notar que a falta de ações como essa, poderá nos trazer
prejuízos sérios. Pois, perdendo-se as obras, estamos tirando das gerações futuras a oportuni-
dade de conhecerem a produção musical da nossa época, privando-as de usufruírem de parte
importante da nossa história que não seria contada.
13
3
Lourival Oliveira nasceu em 20/06/1918 em Patos/PB, vindo a falecer em 25/06/2000, também na sua cidade de
origem. Iniciou como clarinetista na Banda da Polícia Militar de Pernambuco, por volta de 1938. Em 1945, depois
de pedir licença àquela instituição, passou a integrar a Orquestra da Rádio Clube de Pernambuco, onde ficou por
11 anos atuando como clarinetista, saxofonista e arranjador. No ano de 1946, em breve estadia no Rio de Janeiro,
integrou a Orquestra do Cassino Copacabana, dirigida por Simon Bountman. Compôs o primeiro frevo, "Frevo a
jato", gravado por Peruzzi e sua orquestra pela Elite Special em 1952. No mesmo ano, o frevo "O galo ciscando"
foi gravado pela Orquestra Tabajara de Severino Araújo, pelo selo Continental. Nessa época, passou a integrar, a
convite do maestro Vicente Fittipaldi, a Orquestra Sinfônica de Recife como primeiro clarinetista. https://diciona-
riompb.com.br/lourival-oliveira/dados-artisticos/acesso em maio de 2021.
15
orquestração de frevos na cidade de Recife, chegando a ter seu nome nivelado representativa-
mente a personagens como: Nelson Ferreira, Ademir Araújo, Levino Ferreira, Zumba, Edson
Rodrigues, Duda, dentre outros.
A partir do estudo da música inicialmente no colégio Salesiano, Banda Sinfônica Mu-
nicipal do Recife, aulas de composição, aprimoramento da técnica de escrita dentre outras mo-
dalidades, o compositor Normando Carneiro começa a se descobrir e atuar como compositor
no ano de 1966, escrevendo assim, obras para vários instrumentos e formações musicais. Foi
nesse período que o referido compositor teve o privilégio de usar a Banda Sinfônica Municipal
do Recife como laboratório.
Nessa época, o grupo era regido por Luiz Caetano, conhecido por Timochenco que se-
gundo o citado compositor, foi um dos mais talentosos maestros da Banda Sinfônica da cidade
do Recife, se destacando também como compositor.
Nos anos seguintes, Normando Carneiro começa a desenvolver trabalhos como regente,
iniciando em 1967 um trabalho como regente auxiliar da banda do colégio Ferreira Viana, que
se prolongou até 1969. Foi nesta instituição que ele começa a praticar e trabalhar seus arranjos.
No ano de 1969 teve a oportunidade de reger a orquestra da TV Tupí no Rio de Janeiro, onde
nesta cidade entre os anos de 1972 e 1976, também atuou como saxofonista da banda Portugal.
Iniciando sua carreira acadêmica em 1976 se forma em licenciatura em música pela
UNIRIO. A partir de 1977 inicia sua carreira como docente a partir do Conservatório Estadual
de Música. Foi nesta instituição de ensino que formou a Camerata local, grupo que segundo o
compositor, existe até os dias atuais.
O compositor Normando Carneiro escreveu duas obras para o trompete, são elas: Suíte
Mandacaru e Tributo ao maestro Duda. Esta última foi estreada em João Pessoa pelo trompetista
Dr. Ranilson Bezerra de Farias e a Banda Sinfônica José Siqueira no Hall da Reitoria da Uni-
versidade Federal da Paraíba. Esta obra que leva o nome do maestro Duda, foi, segundo o com-
positor, estruturada em oito movimentos (partes), onde observamos diversas características da
cultura e da música nordestina.
A obra Tributo ao Maestro Duda, escrita originalmente para trompete e acompanha-
mento de Banda Sinfônica, inicia-se com um movimento VIVO, seguido pelo segundo movi-
mento intitulado de VALSINHA (dolente) onde o compositor coloca o termo "DOLENTE"
escrito entre parênteses, como forma de dar destaque ao caráter desse movimento. Segue uma
CIRANDA, e uma transição para um novo material em forma de SERENATA. Seguindo as
mesmas características românticas, entra um novo gênero, a VALSA (dolente) seguindo com
um XOTE, que torna a obra mais movimentada. Dando continuidade, é apresentado a seguir,
16
um movimento baseado nas tradicionais canções nordestinas executadas pelos deficientes vi-
suais pedintes que ele intitulou de CANTIGA DE CEGO 4.
Caminhando para o final, é apresentada uma PEQUENA CADÊNCIA (livre interpreta-
ção), que é sequenciada por um BAIÃO e a peça é finalizada com um FREVO, típico da região
nordeste, nascido precisamente em Recife no estado de Pernambuco.
Além desta obra em homenagem ao Maestro Duda, o professor Normando Carneiro
também compôs outra peça para trompete. Desta vez, escrita para trompete em Dó e Orquestra
Sinfônica, intitulada “Suíte Mandacaru”. A referida obra se inicia com um BAILADO (MM =
90), seguida por um ANDANTE (MM = 60) Marcha Fúnebre. Dando sequência surge um AL-
LEGRO (MM = 130) Xaxado, que é seguido por um andamento MODERATO (MM = 60), um
DOBRADO (MM = 110) e uma VALSA TRISTE (MM = 55). A obra é finalizada com um
movimento ALLEGRETTO (MM = 100) Jornada Pastoril.
Ambas as obras do professor Normando possuem um caráter técnico bastante peculiar,
pois segundo ele, foram compostas com a utilização de elementos característicos que nos re-
metem a cultura nordestina.
4
Poucos sabem, mas existe no Brasil um estilo musical sem antecedente algum! Ao contrário do que se diz, o
chorinho não é o mais brasileiro dos gêneros musicais. Quem pôs abaixo esse conceito equivocado foi o maestro
José Siqueira, que, em 1950, divulgou em seu sistema "Trimodal Brasileiro" que a música folclórica do Rio Grande
do Norte apresentava "características próprias que a tornam a mais pura e bela do país". Como os pregões e aboios,
as cantigas e cego são manifestações legítimas do povo, geralmente catalogadas como cantigas de trabalho. É
assim que Oneyda Alvarenga as considera em seu livro Música Popular Brasileira (1945), pela sua "destinação
utilitária definida". http://apologo11.blogspot.com/2008/06/cantiga-de-cego-um-estilo-musical.html acesso em
27/03/2019.
17
Tabela 1 - Características musicais da peça: tributo ao maestro Duda – autor: Normando Car-
neiro.
Xote
Cantiga de Cego
Baião MM = 90
Frevo MM = 130
Andante MM = 60
RELAÇÃO TROMPETE/DEMAIS INS- O trompete é solista. A banda tem a função de
RUMENTOS acompanhamento, mas dobra trechos melódi-
cos com o trompete.
CADÊNCIA MELÓDICA PARA O SO- Possui uma cadência compreendida entre a
LISTA anacruse do compasso 108 e primeiro tempo
do compasso 121.
Fonte: Silva (2002) adaptado pelo autor, 2020.
19
SUÍTE MANDACARU
Compositor: _______________________________________Normando Carneiro
Duração: ________________________________________Aproximadamente 8' 30"
Movimentos: ____________________________________possui 7 partes com ritmos e anda-
mentos distintos característicos do nordeste do Brasil.
Data e local da composição: ___________________________Natal RN - 2007
Instrumentação: ____________________________________Trompete e Orquestra Sinfônica
Dedicatória: _____________________________________ não foi informado
Classificação: ____________________________________ erudita
Característica: ____________________________________ Estilo nordestino (modalismo)
Localização: ______________________________________ Arquivo particular do compositor
Gravação: _______________________________________ não houve gravação
Estreia: _________________________________________ não informado
20
Allegro (Xaxado)
Moderato
Dobrado
Valsa Triste
Allegreto (Jornada Pastoril)
RELAÇÃO TROMPETE/DEMAIS INS- O trompete é solista, porém a orquestra
RUMENTOS exerce além da função de acompanhamento,
solos em algumas partes, reforçando a linha
do trompete.
CADÊNCIA MELÓDICA PARA O SO- Não apresenta cadência
LISTA
Fonte: Silva (2002) adaptado pelo autor, 2020.
21
5
Instituto Educacional Olivia Alves.
22
Esta peça, intitulada “Só se for no dugue!”, possui um caráter notavelmente popular,
com a inserção inicialmente de um Frevo, seguido de um trecho de caráter jazzístico e finalizado
com um Xaxado, dança típica da região Nordeste do Brasil. Em meio a referida obra, ainda foi
acrescido um trecho para improvisação composto de 24 compassos, o qual pode ser comparti-
lhado entre o trompete e instrumentos acompanhadores.
A segunda peça com a qual nos deparamos, foi uma obra composta para uma formação
pouco usual em meio às composições para trompete. A ‘Sonata para Trompete e Cello’, com-
posta em 1999. A peça possui três movimentos: I Allegreto - II Andante - III Allegro Vivo. Ela
possui uma precisão rítmica notável, porém, no primeiro movimento, apresenta em seu corpo,
elementos populares com o surgimento de um trecho para improvisação com acordes híbridos.
A peça Sonata para Trompete e Cello do compositor Antônio de Pádua, retoma o caráter
mais erudito no segundo movimento, pois é mais lento e possui características que nos lembra
vocalizes. Já no terceiro movimento, a peça volta a apresentar elementos com padrões rítmicos
que se repetem no decorrer do movimento apresentando pequenas modificações rítmicas nos
finais das frases no decorrer deste trecho na obra.
A peça em questão será trabalhada com maior detalhamento no terceiro capítulo, onde
serão trabalhadas sugestões interpretativas relevantes objetivando um melhor entendimento e
execução da obra.
24
Tabela 4 - Características musicais da peça: sonata para Trompete e Cello – autor: Antônio de
Pádua.
Em 1997 ingressa na Polícia Militar do Rio Grande do Norte e no ano seguinte se des-
loca do interior para a capital, onde começa sua trajetória como músico da banda de música
daquela instituição, onde ingressando neste ambiente teve contato com os primeiros grupos de
câmara. Segundo relato do próprio Ewerton, “não era comum o contato com outros grupos
externos a banda, mas que vez por outra em apresentação da banda da PM encontravam gru-
pos da UFRN”. Com o passar do tempo, Ewerton teve que voltar para o interior devido a pro-
blemas de saúde de seus pais. Assim, já devidamente reinstalado no interior, o compositor relata
que “muitos festivais e muitos cursos se passaram, mas a vivência e a curiosidade foram meus
melhores aliados". Segundo o compositor, foi nos seminários de música promovido pela fun-
dação José Augusto onde participou do seu primeiro curso de Harmonia.
Apesar do compositor possuir várias obras, foi na peça, catalogada e intitulada: “A ca-
çada”, escrita para trompete e piano que nos deparamos com fatos curiosos a respeito dela, os
quais serão revelados no terceiro capítulo deste trabalho, pois segundo o próprio compositor:
“A peça retrata fatos típicos do interior, onde busco maior parte de minha inspiração
para as composições. Relato nesta obra, uma perseguição de caçadores a uma presa
e a escolha do trompete não tenho uma explicação lógica, pois minhas composições
já vêm prontas na mente, é como uma mensagem recebida. Apenas sento a frente do
computador e escrevo o que já tenho em mente. Fiz ela em uma noite, isso posterior
ao que vi, quando fui com colegas a caça do tatu peba e vi tamanha covardia”.
Segundo relato parcial sobre a peça, ele descreve: Esse concertino foi inspirado em uma
noite de caça, onde pude ver a crueldade e a covardia que o homem faz para capturar os animais
silvestres. O 1º Tema “a madrugada”, começa com um local imaginário onde os caçadores
preparam o lugar para deixar os mantimentos, fazer o café e algumas vezes repousar um pouco.
Já o 2º Tema “uma linda melodia” nos remete ao local onde o animal anda sem preocupação
pela selva, seu habitat natural a procura de alimento apreciando o céu estrelado e enluarado.
Na sequência o animal vindo a desconfiar que exista algo errado, nesse momento se-
gundo o compositor, o mesmo escreve em compassos compostos simulando a fuga do animal.
O 3º Tema “a perseguição e o cerco”, surge o momento em que o animal consegue fugir atra-
vessando o rio. No 4º Tema “a sensação” de que o animal escapou novamente, mostra uma
linda melodia dando sensação de alívio. No 5º e último tema “os caçadores” não desistem e
agora com a ajuda de cachorros cercam e capturam o animal, que sem chances cai na armadilha
dos caçadores. Assim, temos segundo o próprio compositor, uma visão geral desta obra. Se-
gundo Ewerton Luiz, afirma que "suas composições são trilhas sonoras de sua vida!"
30
Dando sequência às nossas buscas por obras escritas para trompete, tivemos
a informação que haveria uma peça composta por um ex-aluno de piano da
EMUFRN. Adentrando nas buscas, descobrimos que se tratava do compo-
sitor Helder Oliveira, nascido em Campina Grande – PB, filho de cantores
autodidatas de música gospel. Havia iniciado formalmente seus estudos aos
nove anos de idade ao participar de aulas de trompete no instituto educacional do SESI-Cam-
pina Grande. Aos treze anos, teve aulas particulares de piano erudito e popular com Márcio
Santos, e aos quatorze, aulas de flauta doce barroca no CEFET-RN sob orientação de Roderick
Fonseca.
Na sua trajetória participou da Camerata de Flautas do CEFET- RN, onde com esse
grupo se apresentou em diversos estados e gravou um CD, contendo músicas do repertório
erudito. Em 2005, ingressou no curso de Licenciatura em Música da UFRN onde teve a opor-
tunidade de estudar piano e canto erudito, além de análise, harmonia funcional e composição
musical, terminando o curso com a Medalha de Mérito Estudantil. Como pianista e co-repetidor
participou de vários recitais interpretando também suas próprias composições.
Como professor, Helder Oliveira ministrou aulas na EMUFRN de percepção musical,
teoria, análise musical e piano complementar. Com o professor Manoel Nascimento (Instituto
Waldemar de Almeida) estudou harmonia, contraponto, composição e trilha sonora, mas foi em
2012 que decidiu se dedicar academicamente à composição contemporânea ao ingressar no
mestrado em música da UFPB, sob orientação do professor Liduino Pitombeira. Durante os
dois anos no mestrado, foi monitor de Contraponto Tonal, na classe de José Orlando Alves, e
em 2016, ingressou no Doutorado em Composição da UFRJ, também sob a orientação de Li-
duino Pitombeira, onde recebeu aulas de composição com o professor Rodrigo Cicchelli.
Em concursos de composição, obteve dois prêmios da FUNARTE (2012 e 2016), além
do 3º lugar no Concurso Nacional de Composição Camargo Guarnieri (2013), 2º lugar no Con-
curso Nacional Guerra-Peixe (2014), 1º lugar no Concurso Nacional da EMUFRJ, recebeu tam-
bém o prêmio de compositor bolsista no Seminário em Música Contemporânea do MAB (Mú-
sica de Agora na Bahia, 2014), além de vários outros. Por fim, é autor de diversos artigos sobre
a relação entre música e as teorias da Gestalt, intertextualidade e modelagem sistêmica.
Enquanto professor substituto da EMUFRN fez parte do coro da ópera Orfeu e Eurídice,
de Gluck, com o grupo de ópera Canto dell'arte. Já atuando como compositor profissional teve
suas obras para Orquestra Sinfônica interpretadas pela Orquestra Sinfônica da UFRJ, Filarmô-
nica de Goiás, Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, Orquestra Sinfônica
36
MINI-SUITE TREVO
Compositor: Helder Oliveira
Duração: ______________________________Aproximadamente: 11'
Movimentos___________________________Nao possui movimentos, mas apresenta in-
dicações de andamentos
Data e local da composição: ______________2013 - Natal
Instrumentação: _______________________Trompete e Piano
Dedicatória: __________________________Não foi informado
Classificação: _________________________Erudita
Característica: ________________________Baseada em ritmos nordestinos (Maracatu e o
Frevo) e em padrões típicos do gênero rock.
Localização: _________________________Arquivo particular do compositor
Gravação: ___________________________Não foi gravada
Estreia: _____________________________Na formação Trompete/Piano, foi executado ape-
nas o 1° Movimento em João Pessoa/PB.
38
PROMENADE
Compositor: _________________________Fernando Deddos (1983 -)
Duração: ____________________________Aproximadamente: 9' 23"
Movimentos__________________________Possui Andante, Allegro Vivo
e termos como: Pomposo, modesto e altaneiro, Fragmentos de uma Milonga-Bolero, Dança
Data e local da composição: _____________2017 - Natal/RN
Instrumentação: ______________________Trompete e Violão
Dedicatória: _________________________Composta por encomenda do "Duo Novo"
Classificação: ________________________Erudita
Característica: ________________________Instrumental
Localização: _________________________Arquivo particular do compositor
Gravação: ___________________________DUO NOVO - 2017 - Estúdio Trilhas Urbanas
Estreia Mundial: ______________________8 de dezembro. Teatro Positivo jardim Ambiental
42
momento de crescimento, reflexão e contemplação, pela verdade pessoal que isso expressa:
"Meu trabalho representa muito do que sou".
A respeito de seu ingresso e primeiros contatos com a Escola de Música da UFRN, ele
relata:
Meu ingresso como aluno da Escola de Música da UFRN se deu no início de 1978,
aos 12 anos de idade. No deslumbre dos primeiros momentos, dediquei-me a tentar
absorver e conhecer tudo o que estava ao meu alcance, e a escola tornou-se meu
espaço maior de diversão e vida, e nela eu passava a maior parte de meu tempo, entre
salas de aula, biblioteca e corredores.
Por essa época pôde entrar em contato com seus primeiros mestres, cujo cuidado per-
manente recorda com bastante clareza: Padre Jaime Diniz (1924-1989), Clóvis Pereira (1932 -
), Inês Bigois, Fidja Siqueira, Prentice Bulhões, Dolores Portela, Elizabeth Bulhões e Salete
Gouveia. Em ocasiões especiais, a presença pontual de visitantes como Lindembergue Cardoso
(1939-1989), Helder Parente (- 2017) e Orlando Leite (datas) ajudaram a compor o rico panteão
de professores nesse início de percurso formativo.
Num segundo momento, a transferência e ampliação da Escola de Música da UFRN
para a Rua Mipibu coincidiram com o início de sua prática docente como bolsista, enquanto
ainda era aluno regular da prática extensionista que marcou os primeiros trinta anos da escola.
O ano de 1987 marca a consolidação de sua presença no quadro de professores da instituição,
com a efetivação do seu contrato de trabalho junto ao Departamento de Pessoal da UFRN.
Por essa época, atuava em outras frentes de trabalho. No Solar Bela Vista (SESI/RN) e
no Instituto de Música Waldemar de Almeida (Fundação José Augusto/RN), como professor
de matérias teóricas; no Coral Canto do Povo (como tenor chefe de naipe) e na Orquestra Sin-
fônica do RN (como timpanista). Abriu mão de algumas dessas atividades para ajustar-se à
nova realidade de sua inclusão ao quadro efetivo de professores da EMUFRN, o compositor
Danilo Guanais considera este momento o início efetivo de sua carreira como professor, artista
e pesquisador.
Segundo o compositor, a peça Quatro Sonetos em Língua Portuguesa para canto, trom-
pete piano foram compostos entre os anos de 2017 e 2018. Há uma versão anterior do primeiro
soneto (Camões), para canto e violão, de 2010, época de seu doutoramento em composição no
Rio de Janeiro. À recriação do soneto de Camões para canto e piano seguiram-se os demais,
sendo o conjunto completo uma espécie de aproximação geográfica que busca seu próprio ter-
ritório. Desta maneira, o primeiro soneto tem em Luís Vaz de Camões um referencial que re-
45
presenta todo o território onde a língua portuguesa é vigente, diminuindo esta abrangência ter-
ritorial ao Brasil com Augusto dos Anjos, à Região Nordeste, com Ariano Suassuna e ao Rio
Grande do Norte, ou mais precisamente Natal, capital do estado, com Alex Nascimento, poeta
local e amigo pessoal.
Incipt 9 - Quatro Sonetos em Língua Portuguesa (Trompete, Tenor "Voz Masculina" e Piano)
O que me motivou a compor foi o desejo que move um artista, de produzir uma obra
para dar margem às suas intuições, seus desejos e de deixar para a posteridade uma
herança cultural e artística". Assim como disse Câmara Cascudo a respeito de To-
nheca Dantas "pela mesma razão que os pássaros voam e os peixes nadam.
A peça, segundo Marcio, está planejada em três movimentos, ainda é uma peça inédita
e sua formação orquestral é baseada na estrutura da Filarmônica Onze de Dezembro, com flauta
transversal, 3 clarinetes, 1 sax-soprano, 2 sax-altos, 1 sax-tenor, 1 sax-barítono, 3 trompas, 3
trompetes (sendo o primeiro solista), 3 trombones, 1 bombardino, 1 tuba e a percussão (caixa,
pratos e bombo).
48
tabela 10 - Características musicais da peça: Concerto para Trompete e Banda – autor: Mar-
cio Dantas
AZUL TURQUEZA
Compositor: Daniel Escudeiro
Duração: ____________________________Aproximadamente 7'
Movimentos:_________________________ Não possui movimentos
Data e local da composição: _____________2000 - Natal/RN.
Instrumentação: ______________________Trompete e Violão
Dedicatória: _________________________Dedicada ao autor desta dissertação
Classificação: ________________________Erudito
Característica: ________________________Instrumental
Localização: _________________________Arquivo particular do Autor deste trabalho
Gravação: ___________________________Gravação em áudio e vídeo em recital de conclu-
são do curso técnico do autor desta dissertação.
Estreia: _____________________________Estreada em 2001 - Auditório Onofre Lopes
(EMUFRN).
51
49 compassos sem contar os ritornelos, foi escrita no tom real de Si bemol Maior e foi classifi-
cada pelo mesmo como sendo uma melodia semierudita com traços populares, romântica e ge-
nérica.
O compositor Wilson de Souza não autorizou a utilização de sua imagem no presente
trabalho, assim como foram utilizadas imagens dos demais compositores aqui citados e catalo-
gados.
Tabela 12 - Características musicais da peça: Mais perto da Lua para trompete e piano – au-
tor: Wilson de Souza
ANDAMENTO
A peça possui uma indicação de no iní-
cio da peça e a indicação de Rit, no último
compasso da peça.
RELAÇÃO TROMPETE/DEMAIS INS- O Trompete é solista em relação ao piano
RUMENTOS
CADÊNCIA MELÓDICA PARA O SO- Não possui cadência.
LISTA
Fonte: Silva (2002) adaptado pelo autor, 2020.
54
Nosso objetivo neste capítulo é fazer uma distinção entre interpretação e performance
musical de forma a aclarar as principais características e desafios que foram enfrentados e de-
monstrados no desenvolvimento deste trabalho. Para chegarmos a um consenso a respeito prin-
cipalmente em relação à forma conceitual de como se apresenta cada uma delas, tanto a perfor-
mance quanto a interpretação buscamos aclarar principalmente suas principais distinções. Pois
desta forma, acreditamos que uma boa interpretação está diretamente ligada e envolvida a uma
boa performance musical do executante.
Assim, demonstramos aqui de forma sucinta, que apesar de todas as nuances, simbolo-
gias, articulações, andamentos e ritmos que o compositor coloca em sua obra, sempre haverá
ao final da mesma uma pitada subjetiva do intérprete em relação a sua performance, bem como
ao produto final da peça que será apresentada ao público, seja em um recital acadêmico, con-
curso, apresentação popular ou outros meios que o instrumentista deseje mostrar sua arte.
4.1 INTERPRETAÇÃO
Quando nos deparamos com o desafio de interpretar algo relacionado à música estamos
lidando com circunstâncias bastante subjetivas, entretanto, cabe ao músico, debruçar-se sobre
a partitura e tentar decodificar os sinais musicais nela existente. Devemos estar cientes, que a
interpretação nos reporta para além do que está grafado, e devemos levar em consideração, que
a experiência e o nível técnico do intérprete são fatores determinantes que influenciam de ma-
neira bastante significativa no resultado da performance. Mas, o termo interpretar é bastante
amplo, e é necessário que o músico reflita bastante sobre o seu significado, para que o conceito
fique claro em sua mente. Em relação ao seu sentido etimológico Dourado esclarece que:
Partindo para uma visão mais aprofundada do termo, podemos dizer que, quando obser-
vamos um texto, uma imagem, uma música (partitura), um vídeo ou qualquer outro componente
55
de leitura, estamos apreciando-os como um quebra-cabeça onde suas peças precisam ser junta-
das para se chegar ao objetivo final que é a real imagem revelada a partir da junção daquelas
peças.
Interpretar seria então, uma forma de esclarecer ao ouvinte, através da visão do intér-
prete, de que maneira o tal jogo foi montado. Seria como demonstrar de forma subjetiva sua
intenção em relação ao objeto partitura, enquanto um jogo de montar peças, utilizando-se dos
elementos pré-textuais e simbolismos escritos pelo compositor, como forma de demonstrar sua
real imagem interpretativa ao final da obra. Para Kuehn:
[...] “interpretar” está diretamente ligado à compreensão dos elementos que estrutu-
ram uma obra, como: altura, melodia, ritmo, harmonia, tonalidade e tempo musical.
Outros elementos caracterizam a música como linguagem. Entre eles, estão a articu-
lação, a pontuação, a forma e o sentido. Também o fraseado e a coesão ou coerência
fazem parte desta categoria. Tudo isso demanda, de um lado, uma postura introver-
tida, voltada para a análise e a reflexão teórica (em sentido aristotélico de contempla-
ção mais do que de ação), ao passo que, de outro lado, demanda a prática instrumental
(ou seja, a prática interpretativa propriamente dita) (KUEHN, 2012, p. 16).
Quando um intérprete se depara com uma partitura que pretende executar, é natural
como primeiro passo que ele observe atentamente as indicações sugeridas pelo compositor,
indicações que revelam inicialmente uma ideia concebida primariamente. Entretanto, quando
durante o processo composicional não existe uma interação direta entre os dois é possível que
o intérprete tome algumas decisões que não estejam anotadas na partitura, cuja intenção é faci-
litar a sua execução, adequar um determinado trecho musical às características idiomáticas do
instrumento, ou ainda, modificar elementos que não alterem a estrutura da obra.
56
Assim, ele passa a transmitir através da peça algumas de suas características interpreta-
tivas se tornando parte fundamental na execução e no resultado da obra, no que consiste a parte
auditiva. Dessa forma ele pode trazer para a partitura, alguns detalhes musicais que não foram
apresentados pelo compositor. É importante ressaltar neste caso, que a intenção do intérprete
não pode divergir muito das ideias apresentadas inicialmente, pois ele corre o risco também de
descaracterizar a linguagem musical utilizada pelo compositor. Desse modo, ele seria um agente
participativo, que através de suas sugestões complementaria as ideias primárias do compositor,
como observam Winter e Silveira:
Embora a partitura contenha elementos essenciais a partir dos quais o intérprete vai
iniciar seu trabalho interpretativo, esta não tem a capacidade de fornecer a totalidade
de informações que estão presentes em uma execução musical. Ao intérprete é reser-
vado o papel de “complementar” as informações fornecidas pelo compositor com ele-
mentos vinculados às práticas interpretativas. (WINTER; SILVEIRA, 2006, p. 64).
Por mais cuidadoso que seja o compositor em relação as suas obras, se preocupando em
inserir da melhor forma o caminho para um bom desenvolvimento de sua composição, colo-
cando detalhes e elementos que ele almeja que sejam executados, ele sabe que a partitura nem
sempre será detentora de todas as informações possíveis. Assim, o compositor deverá aclarar
ao máximo possível suas ideias por meio de sinais e indicações no decorrer da partitura tal qual
57
um roteiro que possibilite ao intérprete uma melhor forma de transmitir ao ouvinte suas inten-
ções composicionais.
Segundo Kuehn:
Concordamos com Kuehn, quando ele se refere à partitura como um guia, um caminho
a ser percorrido pelo intérprete. Entretanto, lembramos que devemos levar em consideração o
conhecimento e experiência do intérprete, pois entendemos aqui como “verdade” ou “tesouro”,
o resultado de um trabalho árduo que busca coerência na interpretação e ousa ir além daquilo
que está escrito.
Dessa forma, consideramos que a verdade se configura de acordo com a visão do per-
former podendo o ouvinte concordar ou não com suas escolhas interpretativas. Assim, podemos
entender as divergências entre interpretações da mesma peça lembrando ainda, que o amadure-
cimento do intérprete e da obra são fatores determinantes em relação a qualidade final da per-
formance.
Em seu artigo, Execução/ interpretação musical: uma abordagem filosófica, Sandra Ne-
ves Abdo, traz uma questão bastante conhecida e que se apresenta como uma grande polêmica
em relação à interpretação musical. A autora discute dois pontos de vista que se colocam em
oposição: o primeiro "defende uma estrita fidelidade à intenção do compositor", e a segunda, é
aquela “que concede total licença aos executantes”. Quando o performer se depara com a par-
titura e reflete sobre questões interpretativas, é natural que várias dúvidas lhe venham à mente,
e estas com certeza devem ser tratadas com muita seriedade.
Durante o século XX a tese da reevocação foi bastante difundida e defendida por vários
autores, seguindo as ideias do “espiritualismo estético” de Benedetto Croce que defende uma
interpretação de forma estrita, ou seja, ao intérprete caberia simplesmente retransmitir a peça
de forma impessoal, objetiva, seguindo simplesmente os padrões descritos graficamente na par-
titura. De acordo com esse pensamento, Abdo esclarece que a execução musical segundo Croce
é:
Há outros compositores que defendem que a interpretação de uma peça é uma recriação
dela em tempos diferentes, tendo em vista a subjetividade colocada pelo intérprete durante a
sua execução. Desta forma, seria como dar novas atualizações a peça de forma que esta seria
readequada ao tempo presente durante sua execução, transformando assim, aquele intérprete
que age com fidelidade à forma original da peça, em um intérprete com uma nova visão da obra.
De forma que esta atualiza performaticamente a peça segundo sua subjetividade, seguindo os
sinais musicais escritos pelo compositor, trazendo para este momento além da real intenção do
autor a sua própria intenção interpretativa.
Entretanto, contrariando o ponto de vista de Croce, a “Filosofia dell’arte de Giovanni
Gentile:
Devemos observar que aquilo que compreendemos no presente como interpretação, po-
derá não estar diretamente ligada ao que foi vivenciado ou apresentado no passado por algum
compositor em relação a sua obra, bem como a interpretação utilizada nesta. Assim, mesmo
que o compositor busque transmitir o maior número de informações simbólicas e ideias à obra,
este criador poderá não conseguir inserir todas as informações que a peça necessita devido a
fatores alheios a sua vontade, como por exemplo, a visão que o intérprete terá.
A primeira leitura de uma partitura poderá produzir uma visão inicial desatenta, onde
será demandado apenas o que o cérebro conseguir identificar naquele momento. Ou seja, a
junção de vários sinais musicais nesse momento será transformada em códigos que juntos pro-
duzirão uma sonoridade. Desta forma, caberá ao intérprete nesse momento, utilizando sua ex-
periência como mecanismo decodificador transformar essas informações iniciais no som espe-
rado, tomando como base informações de elementos contidos na partitura como sinais de dinâ-
mica, andamentos, articulações, transformando essas informações em parâmetros sonoros que
lhes ajudarão a discorrer a peça musicalmente.
59
A execução e a interpretação de uma obra musical funcionam como uma união envol-
vendo horizontes distintos, tal como presente e passado, intérprete e compositor, que constroem,
ou buscam construir juntos, mesmo que inconscientemente novos rumos na música, construindo
uma nova definição acerca de interpretação e execução performática da peça.
Nesta junção compositor intérprete, caberá ao executante, mesmo que siga lealmente as
ideias e elementos composicionais do autor, utilizar-se de sua subjetividade interpretativa em
relação à peça como forma de expor sua criatividade em relação ao produto final de sua perfor-
mance, mas mantendo-se sempre atento as intenções do autor.
Desta forma, caberá ao intérprete colocar na peça sua emoção, subjetividade e execução
técnica enquanto performer, observando, sempre os elementos previamente contidos na obra
segundo a vontade do seu criador. Desse modo, ele transmite aos ouvintes os elementos perten-
centes à mesma, mas sem descaracterizar seus pontos principais, não deixando de observar as-
sim, o período em que ela foi composta, e nem se esquecendo de enfatizar sua interpretação
subjetiva.
4.2 PERFORMANCE
sical uma abrangência cognitiva bem mais ampla e uma perspectiva de ação mais in-
terdisciplinar, em que outras áreas do conhecimento interagem na ação executória sob
condições múltiplas. (ALBANO e col. 2006, p. 13).
É importante para o músico ter uma concepção clara da obra que irá intermediar na
presença dos ouvintes. Esta concepção é elaborada durante inumeráveis horas de es-
tudo em que mecanismos musculares, afetivos e mentais se conjugam para fazer soar
música. Fazer soar música, entretanto, requer um intenso preparo anterior (SANTI-
AGO, 2001, p. 164).
Como em momento anteriormente aclarado, esta parte do trabalho foi direcionada para
uma divisão que culminou em três vertentes tais quais: 1. Compositores que atuam e são advin-
dos das formações de bandas de música; (Marcio Dantas, Normando Carneiro e Ewerton Luiz);
2. Compositores que atuam na área popular seja esta, na noite sozinho ou acompanhado, em
bandas ou grupos distintos (Antônio de Pádua e Ivo Souza); 3. Compositores que atuam na
academia como professor, músico ou atuante na área de ensino da música e de instrumento
(Fernando Deddos, Danilo Guanais, Helder Oliveira e Daniel Escudeiro).
Dentre estas distinções, foram escolhidas três peças na ordem apresentada para traba-
lharmos a partir delas, questões relacionadas às nossas sugestões interpretação. (A caçada –
Ewerton Luiz. Promenade – Fernando Deddos. Sonata para trompete e Cello – Antônio de Pá-
dua) onde indicaremos relevantes observações em trechos a serem trabalhados.
A peça "A caçada" não possui movimentos separados e são tratados pelo autor como
temas. Assim, como em outras composições de sua autoria, essa também foi baseada em mo-
mentos de sua vida, relatando emoções e vivências pessoais. A obra "A caçada" tomou como
base de inspiração, sua experiência enquanto caçador em uma aventura com colegas. Onde ela
foi dividida e estruturada em cinco temas, onde cada qual representa um momento particular de
sua experiência em meio ao mato durante a caçada.
Segundo o compositor a peça foi inspirada numa noite de caça, onde ele pôde observar
a covardia com que o homem age para capturar animais silvestres. No primeiro tema intitulado
“A madrugada” o compositor relata que o escreveu vivenciando a chegada dos caçadores no
local de encontro escolhido, antes de saírem para a caçada. Neste ponto os caçadores preparam
um café e por algum tempo descansam antes de sair em busca do animal, que neste caso é o
tatupeba.
A peça escrita para trompete em dó e piano inicia-se com uma melodia misteriosa nas
notas graves do piano com intervalos de terças menores dobrados por oitavas na mesma frase
(comp. 1 ao 3). A melodia que é seguida pelo trompete a partir da anacruse do compasso 3
inicia-se com a nota fá 2, que por sinal encontra-se fora da extensão normal do trompete. Para
corrigirmos este problema, sugerimos que o fá 2 seja tocado uma oitava acima, fá 3 seguindo o
restante da frase em Legato com uma ligadura fraseológica, tal qual um vocalize.
Apesar de sugerirmos no compasso 2 uma transferência de oitava superior da nota fá2
para a nota fá 3, na parte do trompete, como demonstrada na figura 1, ressaltamos que já é
possível a execução da nota citada em alguns trompetes que possuem um quarto pistom adici-
onal a sua estrutura. Além dessa observação sugerida, a nota em questão poderá ser executada
abrindo-se ao máximo as bombas referentes aos pistons 1, 2 e 3. Dessa forma o fá # que é
executado nessa sétima posição será abaixado em meio tom, atingindo assim a nota fá 2. Aler-
tamos, porém, que o trompetista deverá estar bastante atento a afinação, pois este é um recurso
de difícil execução.
64
Consideramos que a região grave do instrumento é de difícil domínio e deve ser estu-
dada com bastante atenção por parte do trompetista. Para conseguirmos uma sonoridade limpa,
clara, nesse registro, são necessários estudos específicos, fora da partitura, desse modo aconse-
lhamos que o instrumentista adicione aos seus estudos diários os métodos de nota longa de
Claude Gordon, e o book 6 de Anthony Plog, que trabalha a região grave.
O tema inicial “A madrugada” encontra-se entre os compassos 1 ao 19 e segundo o
compositor é o momento em que os caçadores chegam para o rito inicial e preparatório da ca-
çada.
Figura 2 - Primeiro tema: A madrugada: Ewerton Luiz, movimento lento, cadenciado – parte
introdutória – sugestão de articulação entre semicolcheias nos compassos 11 e 12.
Figura 3 - Primeiro tema: A madrugada: Ewerton Luiz, movimento lento, cadenciado – parte
introdutória – sugestão de mudança de articulação entre semicolcheias parte II. Compassos 17
a 19.
Figura 4 - Primeiro tema: A madrugada: Ewerton Luiz, movimento lento, cadenciado – parte
introdutória – sugestão de articulação entre os compassos 20 e 21.
Neste trecho, foi adicionada uma ligadura de frase entre os compassos 20 e 21 como
forma de manter a mesma ideia da frase presente entre os compassos 22 ao 24. Como o trecho
representa a calmaria do animal andando durante a noite, esse trecho poderá ser interpretado
como um vocalize lento e cantabile, como se representasse a calmaria da noite enluarada des-
crita pelo autor.
66
Figura 5 - Continuação tema 1: linda melodia “A madrugada”: Ewerton Luiz, movimento lento
– segunda parte – sugestão mudança de articulação compreendida entre os compassos 36 a 40.
Seguindo o desenvolvimento do primeiro tema, notamos que para melhor aclarar os tre-
chos compreendidos entre os compassos 36 a 40. Seria tecnicamente melhor executado se fosse
adicionado algumas articulações a começar por adicionar uma ligadura de expressão nas fusas
que antecedem o compasso 37 como forma de dar a esse grupo de notas, mais expressividade.
Já na anacruse do compasso 38, o compositor escreveu todas as colcheias e semicol-
cheias do trecho sem nenhuma articulação. Porém, sugerimos que ao grupo de semicolcheias
fossem adicionadas ligaduras entre as duas primeiras notas. Na sequência, nos grupos de col-
cheias, as ligaduras devem permanecer da mesma forma, dando assim, uma ideia de comple-
mento coerente da frase seguinte à frase anterior. Tais articulações devem seguir os mesmos
padrões na sequência da melodia dos compassos 39 e 40, pois esses compassos apresentam na
composição, escritas semelhantes.
Na anacruse do compasso 39 para o 40, foram adicionadas modificações de articulações
no grupo de semicolcheias da anacruse do compasso 39, bem como a adição de ligaduras nas
colcheias do compasso 40, como forma de dar ênfase ao complemento da frase.
67
Figura 6 - seguindo o tema 1: linda melodia “A madrugada”: Ewerton Luiz, movimento lento
– segunda parte – sugestão de mudança de articulação nos compassos 42 e 43, 46 e 47.
Figura 7 - Segundo tema: linda melodia “A desconfiança”: Ewerton Luiz, movimento lento –
primeira parte – Tema, uma linda melodia onde o animal anda sem preocupação pela selva a
procura de alimento apreciando o céu estrelado e enluarado.
O segundo tema que se inicia no compasso 55, traz novos elementos para caracterizar a
mudança de um tema para outro, como por exemplo, a adição do compasso ternário (3/4) logo
no início da melodia principal.
O tema “A desconfiança” é apresentado por saltos intervalares compreendidos entre oi-
tavas na maior parte da composição da melodia. Tais intervalos dão uma ideia à melodia de que
o animal realmente anda desconfiado, como se ele estivesse tentando fugir aos poucos e à me-
dida que sua desconfiança aumenta o animal vai se afastando do local perigoso.
Os saltos intervalares funcionam como as pegadas do animal em fuga, que começam a
variar entre intervalos de terças maiores e menores, quartas e quintas justas e se encaminham
nesse padrão até iniciarem as oitavas justas. Esse desenho nos dá uma ideia de fuga e apreensão.
Como sugestão interpretativa para esse trecho compreendido entre os compassos 55 ao
64, sugerimos a mudança de articulação das notas no início do tema entre o grupo de colcheia
e mínima e na sequência, também a mudança de articulação nas semicolcheias da anacruse do
compasso 60, onde a partir dele, adicionamos uma ligadura fraseológica no trecho dos compas-
sos 60 ao 67. Acreditamos que a mudança de articulação sugerida, traga para a obra uma sen-
sação de leveza, sugerindo a fuga rápida e discreta do animal.
69
Figura 9 - Excerto do tema 3: Perseguição, cerco e fuga. Ewerton Luiz - Movimento mais
agitado – primeira parte – sugestão de mudanças de articulações nos compassos 88 e 89.
No início do terceiro tema que se inicia na anacruse do compasso 86, notamos que a
ligadura sugerida pelo compositor dificultava tecnicamente a execução dos trechos compreen-
didos entre os compassos 88 e 89. Assim sendo, sugerimos a retirada dessa ligadura e em seu
lugar optamos por colocar uma articulação que daria mais fluidez na execução do trecho. Nossa
sugestão foi então realizar a articulação das semicolcheias com a adição de ligaduras de duas
70
em duas notas. Dessa maneira, a execução técnica do trecho se torna mais ágil e mais bem
articulada, dando clareza ao grupo das semicolcheias e consequentemente ao trecho em questão.
Figura 10 - Excerto do tema 3 (continuação): Perseguição, cerco e fuga. Ewerton Luiz. Movi-
mento mais agitado – primeira parte – sugestão de mudanças de articulações nos compassos 96
e 97.
Figura 11 - Excerto do tema 3 (continuação): Perseguição, cerco e fuga. Ewerton Luiz - Mo-
vimento mais agitado – final do terceiro tema – sugestão de mudanças de articulações no com-
passo 122 e 123.
Nos compassos 120 e 121, o compositor optou por colocar uma ligadura de fraseado,
como forma de dar maior expressividade e suavidade ao trecho escrito sob uma escala cromá-
tica descendente, no entanto, sugerimos nos compassos seguintes 122 e 123 respectivamente,
71
que seja adicionado às semicolcheias dos compassos citados, ligaduras nas duas primeiras se-
micolcheias da frase, como forma de dar contraste a frase anterior. Finalizando assim, o terceiro
tema da música.
Figura 12 - Excerto do tema 4: Alívio do animal durante a fuga. Ewerton Luiz - Movimento
menos agitado – primeira parte – sugestão de adição de articulações nos compassos 136, 137 e
140.
ligação entre ambos. Acrescentamos nesta parte um tempo de rubato, como forma de tornar o
trecho mais expressivo.
Neste ponto chamamos atenção para o compasso 186, onde os largos saltos apresentam
certo grau de dificuldade devido à extensão que foi escrito. Dessa forma, sugerimos aqui, que
o instrumentista acentue um pouco as notas de baixo, para que as notas de cima possam soar
bem e afinadas. Recomendamos ainda que ele, ao estudar essa obra, mantenha o foco nos estu-
dos intervalares do método de J.B. Arban, como forma de fortalecer sua embocadura e ganhar
segurança na execução dos intervalos.
Figura 14 - Excerto do tema 5. Parte inicial: Cerco e Captura do animal. Ewerton Luiz, trecho
inicial. Sugestão interpretativa de mudança de articulações nos compassos 197 a 202.
Nos compassos 197 a 201, optamos por contrastar o trecho colocando a alternância entre
os compassos 197 e 199 com notas em "Staccato" e nos compassos 198 e 200 com colcheias
ligadas precedidas de um acento "marcato". Na sequência, mantivemos o mesmo padrão no
compasso 202, presente nos compassos 198 e 200.
Assim sendo, com essas observações e sugestões interpretativas contidas na peça "A
Caçada" Concertino para trompete e piano do compositor Ewerton Luiz, finalizamos nossas
sugestões interpretativas na obra aqui apresentada. Pudemos notar ao trabalhar esta obra, que
ela tem um grau de dificuldades considerável, exigindo bastante da resistência muscular do
músico devido à extensão na qual foi escrita.
Desse modo, aconselhamos que ao trabalhar esta peça, o trompetista deve proceder com
bastante atenção em seus estudos de base, de forma a ganhar uma boa resistência e assim, obter
um resultado satisfatório em sua interpretação.
73
Segundo o compositor, como descrito no título, a temática e estrutura da peça foi inspi-
rada na obra de Mussorgsky - Quadros de uma Exposição. A proposta é a de um passeio (Pro-
menade) por influências sonoras tanto dos intérpretes como do compositor. Em meio a momen-
tos de passeio que introduzem e conectam distintas sessões, definidos por conjuntos de frases
temáticas centrais em geral diatônicas ou pentatônicas, foram desenvolvidos três temas ou mini
peças, cada qual representando uma xilogravura de um Cordel imaginário: I. O Voo; II. Frag-
mentos de uma Milonga-Bolero; e III. O Cactos.
De acordo com o compositor, a instrumentação abrangente permite grande ilusão de
dinâmicas, elementos e timbres distintos, ritmos e poli-ritmos mais pontilistas (ritmo é o canal
da obra), e até melodias líricas mais densas ou contemplativas. Tem de tudo um pouco no con-
teúdo sonoro, e uma vertente sempre voltada à música popular e típica Brasileira.
A peça foi escrita sob encomenda do DUO NOVO, formado pelos músicos paranaenses
Audryn de Souza (Trompete) e Kiko Luz (Violão), através de projeto de gravação e lançamento
de disco aprovado pela Fundação Cultural de Curitiba. Foi escrita originalmente para esta for-
mação.
Trata-se de uma obra de câmara pensada como música de concerto, ou seja, para ser
executada em sala de concerto, até mesmo pela sutileza da instrumentação. A obra em si traz
muitas influências da música popular, inseridas pelos próprios intérpretes e, é claro, vindas da
influência e seleção do próprio compositor.
Figura 15 - Excerto do tema 1 (pomposo, modesto e altaneiro). Parte inicial. Promenade. Su-
gestão interpretativa de mudança de articulações nos compassos 4, 5, 6, 7 e 8.
Nossas sugestões como forma de acentuar melhor a passagem das notas em tempo ru-
bato presente no compasso 27. Foi que fosse adicionado ao quinto tempo do compasso 27 e
segundo tempo do compasso 28, ligaduras nos grupos semelhantes de colcheias. Desta forma
acreditamos que a frase presente nesses compassos tenha melhor fluência devido as mudanças
de articulações aqui sugeridas.
O mesmo tipo de articulação segue nos grupos de semicolcheias do compasso 51. Po-
rém, no quarto tempo do compasso 48, sugerimos a escrita de uma ligadura no grupo de semi-
colcheias como forma de manter o mesmo padrão de frase ocorrido anteriormente, assim como,
a adição da mesma articulação no grupo de figuras presentes no quarto tempo do compasso 52.
Notamos ainda, que o autor da peça manteve um padrão de articulações ligando duas
semicolcheias, trecho que compreende os compassos 146 ao 152, porém, observa-se que no
primeiro tempo do compasso 148 e 153 o grupo de semicolcheias se manteve sem as ligaduras.
Assim, para que fosse mantido o mesmo padrão de articulações descritas anteriormente, suge-
rimos a adição de ligaduras nos grupos de semicolcheias nos tempos e compassos referidos.
77
Segundo Pádua, a ideia para compor a peça para Trompete e Cello, veio depois que ele
assistiu a um recital, onde na ocasião presenciou a execução da obra Sonate Pour Trompette in
Ré et Cello do compositor Ives Chardon, durante o encontro nordestino de Metais na cidade de
Recife, tocada pelo trompetista Charles Schluetter e o cellista Nelson.
Após a finalização do recital, ele resolveu compor uma obra, não com as mesmas carac-
terísticas, mas que tivesse a mesma formação que tanto lhe chamou a atenção. Desta forma,
nasceu a peça Sonata para Trompete e Cello composta em três movimentos.
Tendo em vista inicialmente que a peça não possui articulações e nem sinais de acentu-
ação, sugerimos a adição de ligaduras e acentos de marcação compreendidos entre os compas-
sos 5 ao12, destacando os tempos que julgamos importantes para uma melhor execução do
trecho. Levamos em consideração que a referida parte ao ser tocada sem nenhuma indicação ou
destaque nas notas musicais, soará de forma não satisfatória tornando-se difícil sua execução.
Acreditamos que as modificações feitas aqui, além de facilitarem a interpretação do trecho pos-
sibilitam uma maior fluidez às frases.
Na sequência, optamos por sugerir a colocação de ligaduras de frase nos grupos de se-
micolcheias compreendidos entre os compassos 13 e 16, pois o trecho em questão poderá ser
mais bem executado com a adição das ligaduras, como forma de deixar mais flexível a sua
digitação, acompanhando também a sugestão de dinâmica descrita pelo compositor.
Figura 21 - Excerto do 2° Movimento da peça Sonata para Trompete e Cello. Sugestão inter-
pretativa de mudança de articulações nos compassos 20 e 22, e entre os compassos 33 a 36.
32. No trecho dos compassos 33 a 36 sugerimos a adição de ligaduras nos grupos de semicol-
cheias, pois acreditamos que desta forma o trecho em questão será executado de forma mais
leve.
Notamos que os compassos que antecedem o trecho entre os compassos 43 e 50 foram
grafados pelo compositor todos com ligaduras. Porém, o mesmo optou por escrever o trecho do
compasso 43 a 50 sem ligadura e sem indicação de articulação. Com isso, como uma forma de
continuar a frase seguindo as mesmas características das frases anteriores, sugerimos a adição
de uma ligadura de frase entre os compassos 43 e 50, seguindo assim o mesmo padrão de escrita
previamente inserido pelo compositor.
Figura 22- Excerto do 2° Movimento da peça Sonata para Trompete e Cello (continuação).
Sugestão de adição de ligadura de frase entre os compassos 43 e terceiro tempo do compasso
50.
Observamos que apesar do compositor ter escrito o trecho entre os compassos 76 e início
do compasso 81 com ligaduras, o mesmo colocou a indicação de articulação em tenuto a partir
do segundo tempo do compasso 81, sinal que não foi escrito no compasso seguinte. Assim, para
manter o mesmo padrão da escrita e dar continuidade a frase, colocamos as tratinas no compasso
seguinte 82, bem como a adição de ligaduras nos grupos de colcheias, como forma de manter a
mesma característica presente nos compassos 76 a 81. Adicionamos ainda as articulações nas
semicolcheias do compasso 83 no terceiro e quarto tempos.
Figura 25 - Excerto do 3° Movimento da peça Sonata para Trompete e Cello. Sugestão inter-
pretativa de mudança de articulações nos compassos 1, 4, 7 e 8.
que não é um movimento de fácil execução, pois essa parte exige que o músico já tenha alguma
experiência com esse tipo de escrita. Assim sugerimos os estudos dos métodos Eight Profiles,
Henri Tomasi, William Vacchiano, como forma de estudo prático para que o músico possa
desenvolver uma certa habilidade prática com essa alternância de compassos escritos tanto na
peça quanto nos estudos dos métodos sugeridos aqui.
Sugerimos para o trecho compreendido entre os compassos 1 e 9, caso o músico apre-
sente dificuldades na divisão dos compassos alternados, que ele utilize a figura da colcheia
como referência de tempo, tendo em vista que tal figura é comum aos compassos presentes
neste movimento. Assim, como forma de facilitar a execução, principalmente nos compassos
1, 4, 7 e 8 em relação aos saltos intervalares, bem como na fluidez dos trechos, sugerimos a
adição de ligaduras nos grupos de semicolcheias escritas nos compassos mencionados.
Ainda sugerimos caso o músico apresente dificuldades na execução dos trechos menci-
onados com as alterações apresentadas, que o mesmo busque os estudos de arpejos do método
J.B. Arban - Complete Method for Trumpet. Além dos estudos Chordal and interval do Method
for Trumpet de Anthony Plog (Book 7).
lhor mobilidade na execução desses grupos que se dirigem para o compasso 23 onde adiciona-
mos também sinais de marcato nas colcheias como forma de seguir o mesmo padrão de acen-
tuação presente nas frases anteriores.
de acentuar a colcheia presente no segundo tempo, bem como adicionamos o mesmo acento nas
colcheias do compasso seguinte destacando assim as sincopes presentes no compasso 46.
Adicionamos as semicolcheias do compasso 47 ligaduras como forma de dar uma maior
fluidez e facilidade da execução do grupo para que o trecho não soasse tão duro em relação ao
compasso 48, onde adicionamos sinais de staccatos às colcheias finalizando com o staccato
menos curto na última nota do compasso citado como forma de finalizar a frase com mais le-
veza.
Para finalizar nossas sugestões interpretativas na obra do compositor Antônio de Pádua,
observamos que no terceiro movimento de sua sonata, existem várias repetições rítmicas e me-
lódicas, dessa forma, o leitor intérprete deverá adotar o mesmo padrão sugerido pelo autor deste
trabalho, como forma de manter a coerência de sua interpretação.
85
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Iniciamos nossos estudos para esta pesquisa, tendo em mente as seguintes indagações:
“existem obras escritas para o trompete no Rio Grande do Norte”? “Quantos e quais composi-
tores escreveram para esse instrumento”? À medida que nos aprofundávamos em nosso trabalho
fomos descobrindo um rico material composicional que representa um recorte que se situa entre
os séculos XX e XXI, precisamente entre os anos de 1999 e 2020.
Partindo dessa observação, notamos que a produção musical em relação ao trompete em
nosso Estado ainda se encontra em uma fase embrionária, se a compararmos com a realidade
de algumas regiões do nosso país ou ainda com a produção musical existente em outros países.
Consideramos então que esse recorte que trouxemos através da nossa pesquisa é de
grande importância, por nos mostrar uma ideia da nossa realidade dentro da faixa de tempo que
detectamos a partir das datas de composição das obras.
O número de doze composições é significativo, e ao nos debruçarmos com mais acui-
dade sobre o material recolhido, notamos que a diversidade de linguagens e propostas apresen-
tadas são bastante expressivas, nos revelando um repertório de qualidade que se configura como
uma grande contribuição para a área do trompete.
Esperamos que o repertório para o nosso instrumento possa crescer e se desenvolver
através das novas gerações que vêm surgindo, mediante o crescimento dos cursos de composi-
ção que estão sendo criados em nossas instituições de ensino, que podem nos assegurar um
futuro promissor em relação ao repertório do trompete, assim como de outros instrumentos.
É inegável ainda o problema em relação à carência de obras nacionais para diversos
instrumentos musicais e em relação ao trompete essa realidade não é diferente, mesmo com a
ampliação dos repertórios que se deu a partir do século XXI, com o surgimento de obras com
características contemporâneas.
Nesse sentido, as contribuições dos compositores aqui presentes através de suas obras
foram de grande importância para esta pesquisa, pois desta forma, através dos trabalhos aqui
catalogados esperamos diversificar e renovar o repertório brasileiro de composições para o
trompete assim como oferecer à nossa comunidade, variados tipos de formações instrumentais
envolvendo o citado instrumento.
Ponderamos também que uma catalogação seria muito importante em nosso trabalho,
pois além de trazer para o público artístico musical e acadêmico as mais diversificadas infor-
mações, estaríamos também preservando esses trabalhos, que até pouco tempo estavam, de
certa forma esquecidos nos arquivos dos citados compositores. Por isso, resolvemos inserir essa
86
catalogação como uma forma de enriquecer a nossa dissertação, sabendo que esse não é o foco
do nosso trabalho, mas uma consequência da nossa pesquisa, que surgiu como resultado do
levantamento realizado.
Entretanto, sabemos que por si só, este trabalho não tem o poder de promover uma di-
vulgação ampla que possa levar a todas as plateias as informações aqui contidas, dessa forma,
trabalhamos com a ideia de organizarmos concertos educativos envolvendo essas obras, que
serão destinados aos mais variados públicos. Julgamos ainda, que a divulgação das peças e
informações aqui contidas, se configuram como uma amostra de valor inestimável para a nossa
área de metais.
Objetivamos também, que essas peças possam fazer parte do repertório trompetístico
sugerido em nossos cursos Técnico e de Graduação que possui as ênfases popular e erudita,
proporcionando aos nossos alunos um conhecimento maior sobre essa coleção de obras produ-
zidas no Estado do Rio Grande do Norte.
Como este trabalho é voltado para as práticas interpretativas, no capítulo quarto, não
poderíamos deixar de abordar o tema sobre interpretação e performance. Nosso objetivo aqui
não foi buscar discussões ou aprofundarmos o assunto, mas, mostrar ao leitor um ponto de vista
que defendemos que é a participação ativa do performer, que de certa forma, deixa sua marca e
a sua contribuição a partir da execução da obra.
Ressaltamos ainda, que o intérprete, transmite de certa forma para o público ouvinte,
aquilo que ele aprendeu em sua vida, é a bagagem de conhecimentos que adquiriu a partir de
suas experiências, e que durante a performance ocupa o seu lugar entre as ideias do compositor,
que se configuram através da partitura e do público ouvinte, para quem a performance é desti-
nada.
Por fim, a partir do estudo das obras selecionadas no quinto capítulo objetivamos ofe-
recer aos futuros performers dos trabalhos aqui reunidos, possibilidades interpretativas que se
constituem, não como uma verdade absoluta, mas como sugestões que foram trabalhadas exa-
ustivamente pelo autor dessa dissertação.
Acreditamos que as modificações apresentadas nessa parte do trabalho enriquecerão de
modo bastante significativo as questões interpretativas. Porém, os intérpretes têm toda a liber-
dade de não concordarem com elas, desde que apresentem subsídios conscientes e coerentes
para uma nova interpretação dos trechos aqui trabalhados, atentando cuidadosamente para que
não sejam descaracterizadas as ideias do compositor.
Dessa forma, observamos que uma mesma composição pode trazer diversos pontos de
vista em relação à sua interpretação, no caso aqui exposto, ficam registradas as ideias do autor
87
deste trabalho que tem como objetivo contribuir para o crescimento e consolidação das práticas
interpretativas em nosso país.
88
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Alexandre Zamith. Por uma visão de música como performance. Opus,
Porto Alegre, v. 17, n. 2, p. 63-76, dez. 2011.
BAS, Júlio. Tratado de la forma musical. Traducción: Nicolás Lamuralgia. 1° Ed. – Bu-
enos Aires: Melos, 2010.
BEN'NET, Roy. Forma e estrutura na música. 3° edição. Rio de Janeiro: Jorge Zaha
Ed., 1988.
BRAGA, Breno. Introdução a análise musical. São Paulo/SP. Musicalia S/A – Cultura
Musical. 1° Edição, 1975.
CHEDIAK, Almir. Dicionário de acordes cifrados. São Paulo/SP, Irmãos Vitale, 2010.
CONCONE, Giuseppe - Lyrical studies for trumpet. Arranged by John F. Sawyer. For
trumpet. Etude book with CD. Editora: Brass Press
DIAS, Antônio Caetano. Elementos de catalogação. Rio de Janeiro: Ed. Associação Bra-
sileira de Bibliotecários, 1967.
89
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas,
2002.
GUANAIS, Danilo. O plantador de sons: vida e obra de Felinto Lucio. Natal/RN, FJA,
2001 Local de publicação: Editora, 2001.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Ed. Ob-
jetiva, 2001.
INCIPT. In: Termos e expressões musicais. [2003]. Disponível em: http://www.melo-
teca.com/dicionario-musica.htm>. Acesso em: 5 out. 2011.
MED, Bohumil. Teoria da música – 4. ed. rev. e ampl. – Brasília, DF: Musimed, 1996.
MEY, Eliane Serrão Alves. Introdução à catalogação. Brasília: Briquet de Lemos, 1995.
PEÇANHA, Luiz Carlos. Catálogo temático da obra para coro a cappella de Gazzi de
Sá. 2009. Dissertação (Mestrado em Música) – Programa de Pós-Graduação em Música,
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
PLOG, Anthony - Method for trumpet. @copyright 2006 by Balquhidder Music. Exclusi-
vely Distributed by Carl Fisher
SADIE, Stanley. Dicionário Grove de música: edição concisa. Editado por Stanley Sa-
die; editora- assistente Alison Latham. Tradução Eduardo Francisco Alves. Rio de Ja-
neiro: Jorge Zahar Ed., 1994.
90
SILVA, Edna Lúcia da. MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e elabo-
ração de dissertação – 3. ed. rev. atual. – Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distân-
cia da UFSC, 2001.
SILVA, Lélio Eduardo Alves da. Música Brasileira do Século XX: catálogo temático e
caracterização do repertório para trombone. 2002. Dissertação (Mestrado em Música) –
Programa de Pós-Graduação em Música, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
STAMP, James. Warm - Ups + Studies. 1978 + 1981 by EDITIONS BIM (Jean Pierre
Mathez). Thomas Stevens.
THURMOND, James M. Note Grouping: a method for achieving expression and style in
musical performance. 4ª ed. Lauderdale: Meredith Music Publications, 1991.
TOMASI, Henri - Six Etudes pour Trompette. Paris, 1955. Alphonse Leduc.
TULL, Fisher - Eight Profiles (for Solo trumpet). @copyright 1980 by Boosey & Hawkes,
Inc.
ANEXOS
92
MINI-SUÍTE TREVO
136
137
138
139
140
141
142
143
PROMENADE
145
146
147
148
149
150
151
152
153
154
AZUL TURQUESA
155
156
157
158
159
SÓ SE FOR NO DUGUE!
186
187