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CAPACITAÇÃO EM ADAPTAÇÃO

ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
NA BAIXADA SANTISTA

Governo do Estado de São Paulo


Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
CAPACITAÇÃO EM ADAPTAÇÃO
ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA
BAIXADA SANTISTA

Governo do Estado de São Paulo


Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
São Paulo, 2019
2
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Governador
João Doria

Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado


Secretário - Marcos Penido

CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo


Diretora Presidente Patrícia Iglecias

Diretoria de Gestão Corporativa Clayton Paganotto

Diretoria de Controle Zuleica Maria de Lisboa Perez


e Licenciamento Ambiental

Diretoria de Avaliação Domenico Tremaroli


de Impacto Ambiental

Diretoria de Engenharia Carlos Roberto dos Santos


e Qualidade Ambiental

CETESB • COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MISSÃO
Promover e acompanhar a execução das políticas públicas ambientais e de desenvolvimento sustentável,
assegurando a melhoria contínua da qualidade do meio ambiente de forma a atender às expectativas da
sociedade no Estado de São Paulo.

Visão
Aprimorar os padrões de excelência de gestão ambiental e os serviços prestados aos usuários e à população em
geral, assegurando a superação da atuação da CETESB como centro de referência nacional e internacional, no
campo ambiental e na proteção da saúde pública.

Valores
Os valores, princípios e normas que pautam a atuação da CETESB, estão estabelecidos no seu Código de Ética
e Conduta Profissional.

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Departamento de Desenvolvimento Estratégico e Institucional
Jorge Luiz Nobre Gouveia

Divisão de Mudanças Climáticas


Maria Fernanda Pelizzon Garcia

Ficha técnica

Autores
Melina Amoni Silveira Alves (WAYCARBON Soluções Ambientais)
Natalia Torres D’Alessandro (WAYCARBON Soluções Ambientais)
Igor Reis de Albuquerque (ICLEI América do Sul)
Marina Pinto Lazzarini Silveira (WAYCARBON Soluções Ambientais)
Vitor Magno Moreira Barbosa (WAYCARBON Soluções Ambientais)

Coordenação do Curso CETESB


PD – Departamento de Desenvolvimento Estratégico e Institucional
Jorge Luiz Nobre Gouveia
PDM – Divisão de Mudanças Climáticas
Maria Fernanda Pelizzon Garcia
Marta Emerich
Daniel Soler Huet

Revisão e Colaboração CETESB


PDM – Divisão de Mudanças Climáticas
Maria Fernanda Pelizzon Garcia
Marta Emerich
Daniel Soler Huet
Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer
Carlos Alberto Sequeira Paiva
Neuza Maria Maciel
PDG - Divisão de Gestão de Conhecimento
Tânia Mara Tavares Gasi
PDGF - Setor de Capacitação e Formação Continuada
Lina Maria Aché
PDGB - Setor de Biblioteca e Memória Institucional
Margarida Maria Kioko Terada

Projeto Gráfico e Diagramação CETESB


Wilson Issao Shiguemoto

Foto da capa
Fausto Pires Campos (Instituto Florestal)

CETESB, 2019
Este material destina-se ao uso exclusivo dos participantes da “Capacitação em Adaptação
às Mudanças Climáticas sobre Recursos Hídricos”, sendo proibida a sua reprodução total
ou parcial por quaisquer meios sem a autorização da CETESB – Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo.

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Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS


AbE Adaptação baseada em Ecossistemas FISRWG Federal Interagency Stream Restoration
AF Adaptation Fund Working Group

AGEM Agência Metropolitana da Baixada FNMC Fundo Nacional sobre Mudança do Clima
Santista GCF Green Climate Fund
AMC Adaptação à Mudança do Clima GCCI Global Climate Change Initiative
ANA Agência Nacional das Águas GCMs General Circulation Models
AOGCMs coupled atmosphere-ocean global climate GCPF Global Climate Partnership Fund
models GEE Gases de Efeito Estufa
AR Assesment Reports GFDRR Global Facility for Disaster Reduction and
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento Recovery
CCCP Canada Climate Change Program GIIF Global Index Insurance Facility
CDB Convenção da Diversidade Biológica GIZ Deutsche Gesellschaft für Internationale
CDKN Climate and Development Knowledge Zusammenarbeit
Network GT Grupo de Trabalho
CEDEP/RS Centro Universitário de Estudos e IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e
Pesquisas sobre Desastres do Rio Grande Estatística
do Sul ICF International Climate Fund
CETESB Companhia Ambiental do Estado de São ICI Internacional Climate Iniciative
Paulo
INCT Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
CIF Climate Insurance Fund
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
CQNUMC Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre a Mudança do Clima INDCs Intended Nationally Determined
Contributions
CBH BS Comitê da Bacia Hidrográfica da
Baixada Santista IPCC Internacional Panel on Climate Change

CCST Ciência do Sistema Terrestre IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas do


Estado de São Paulo
CFCs Clorofluorcarbetos
IUCN International Union for Conservation of
COP Confêrencia das Partes Nature
CRH Conselho Estadual de Recursos Hídricos JFSF Japan’s Fast Start Finance – JFSF
DAEE Departamento de Águas e Energia Elétrica KGGTF Korea Green Growth Trust Fund
DDR Disaster Risk Reduction MAX Máximo
ECLAC Economic Commission for Latin America MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
and the Caribbean
MIF Multilateral Investment Fund
EIRD Estratégia Internacional de Redução de
Desastres MIN Mínimo

EMPLASA Empresa Paulista de Planejamento MMA Ministério do Meio Ambiente


Metropolitano NAMAS Nationally Appropriate Mitigation Actions
EUA Estados Unidos da América NAP National Adaptation Plan
FCTH Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica NbS Nature-base Solutions
FEHIDRO Fundo Estadual de Recursos Hídricos NMM Nível Médio do Mar

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PBMC Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas RMBS Região Metropolitana da Baixada Santista
PIB Produto Interno Bruto RSF Risk Sharing Facility
PEMC Política Estadual de Mudanças Climáticas SABESP Saneamento Básico do Estado de São
PER Pressão-Estado-Resposta Paulo

PMMC Plano Municipal de Adaptação à Mudança SEDUR Secretaria de Desenvolvimento Urbano e


do Clima Manutenção Viária

PMSB Plano Municipal de Saneamento Básico SEOSP Secretaria de Obras, Urbanismo e Serviços
Públicos
PNA Plano Nacional de Adaptação à Mudança
do Clima SIG Sistema de Informações Geográficas

PNMC Política Nacional sobre Mudança do Clima SP São Paulo

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio SRES Special Report on Emissions Scnearios
Ambiente SSRH Secretaria de Saneamento e Recursos
PPCR Pilot Program for Climate Resilience Hídricos

PPIAF Public-Private Infrastructure Advisory UGRH Unidade de Gerenciamento de Recursos


Facility Hídricos

ppm parte por milhão UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

ppb parte por bilhão UNFCC United Nations Framework Convention on


Climate Change
OCDE Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico UNISDR United Internacional Strategy for Disaster
Reduction
OMM Organização Meteorológica Mundial
WBCFF World Bank Carbon Funds and Facilities
ONG Organizações Não Governamentais
WG Working Group
RCMs Regional Climate Models
RCPs Representative Concentration Pathways

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Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

GLOSSÁRIO
Aqui estão listados os principais termos as condições climáticas num horizonte de
e conceitos adotados nesta apostila para tempo futuro. Nas projeções, são incluídas
descrever e comentar as abordagens suposições no futuro e os modelos são
metodológicas de análise de risco das utilizados para representar o clima
mudanças do clima, adaptação e seus indi- nestes cenários supostos, por exemplo,
cadores. Ressalta-se que todos os conceitos de diferentes taxas de emissão dos gases
apresentados a seguir foram retirados do de efeito estufa ou diferentes forçantes
glossário apresentado no Quinto Relatório radiativas (ex. RCP8.5W/m²).
de Avaliação (AR5) do Painel Intergo- EXPOSIÇÃO: Presença de pessoas,
vernamental sobre Mudanças Climáticas meios de subsistência, espécies ou
(IPCC, 2014). ecossistemas, funções ecossistêmicas,
ADAPTAÇÃO: Processo de adaptação serviços e recursos, infraestrutura ou
ao clima e seus efeitos reais ou esperados. recursos econômicos, sociais ou culturais
Em sistemas humanos, a adaptação em locais e configurações que podem ser
procura diminuir ou evitar danos, ou afetadas adversamente.
mesmo explorar oportunidades benéficas. IMPACTOS: Efeitos sobre os sistemas
Em alguns sistemas naturais, a intervenção naturais e humanos. Neste relatório, o
humana pode facilitar a adaptação ao termo impacto é utilizado principalmente
clima esperado e seus efeitos. para se referir aos efeitos sobre os sistemas
AMEAÇA: Ocorrência potencial de um naturais e humanos dos eventos climáticos
evento natural ou fisicamente induzido e meteorológicos extremos e das mudanças
pelo ser humano, impacto físico ou climáticas. Impactos geralmente são os
tendência a este que pode causar perda efeitos sobre a vida, meios de vida, saúde,
de vidas, ferimentos ou outros impactos ecossistemas, economias, sociedades,
na saúde, bem como perdas e danos culturas, serviços e infraestrutura,
à propriedade, infraestrutura, meios resultantes da interação entre os eventos
de subsistência, prestação de serviços, climáticos perigosos ou ameaças que
ecossistemas e recursos ambientais. Neste ocorrem dentro de um período de tempo
relatório, o termo “ameaça” geralmente específico e a vulnerabilidade de uma
se refere a eventos relacionados ao clima, sociedade ou um sistema exposto a certo
impactos físicos ou tendência a estes. perigo. Impactos também são referidos
como consequências e resultados.
CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO:
Capacidade de pessoas, instituições, INDICADOR: Parâmetro utilizado para
organizações e sistemas de tratar, geren- quantificar informações sobre um sistema/
ciar e superar condições adversas no curto processo e monitorar a sua evolução
ou médio prazo, utilizando habilidades e no tempo relativo a uma linha de base
recursos disponíveis no momento em que (baseline). Os indicadores são também
ocorre o evento. utilizados para comparar performances
de diferentes áreas de estudo (estados,
CENÁRIO: Nas previsões, a partir de
comunidades, etc.). Os indicadores podem
uma dada condição inicial, os modelos
ser simples, quando descrevem somente
matemáticos são utilizados para prever
uma variável, como a temperatura, ou

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compostos (chamados também de índices) como UNFCCC (do original em inglês
quando resumem múltiplas informações, United Nations Framework Convention on
como o PIB, o índice de desenvolvimento Climate Change) em seu artigo 1° (1992, p.
tecnológico ou o índice de vulnerabilidade. 3), define a mudança do clima como “uma
MITIGAÇÃO: Ações que visam mudança do clima que é atribuída direta
reduzir, retardar ou eliminar os efeitos ou indiretamente à atividade humana, que
e consequências das mudanças do clima. altera a composição da atmosfera terrestre
A mitigação em geral é incorporada e que vai além da variabilidade climática
na estratégia de desenvolvimento dos natural observada ao longo de períodos
governos se refletindo em ações que comparáveis”. A UNFCCC faz, assim, uma
passam por políticas governamentais. distinção entre as mudanças climáticas
Essas políticas podem ser baseadas em atribuídas às atividades humanas que
instrumentos econômicos (subsídios, alteram a composição atmosférica e a
taxas, isenção de taxas e crédito), variabilidade do clima atribuída a causas
instrumentos regulatórios (padrões de naturais.
desempenho mínimo, controle de emissão RESILIÊNCIA: Capacidade dos sistemas
veicular) e processos políticos (acordos sociais, econômicos e ambientais de lidar
voluntários, disseminação da informação com um evento, tendência ou distúrbio
e planejamento estratégico). A redução perigoso, responder ou se reorganizar de
de emissões requer uma ação conjunta modo a manter a sua função essencial,
envolvendo o governo, a sociedade identidade e estrutura e, ao mesmo tempo,
civil e o capital privado, e no contexto manter a capacidade de adaptação,
de emissões de gases de efeito estufa, aprendizado e transformação.
reduzir as emissões por fontes e fortalecer RISCO: Consequência potencial em
as remoções por sumidouros de carbono, uma situação em que algo de valor está
tais como florestas e oceanos. As ações em jogo e que o resultado é incerto,
de mitigação diferentemente das de reconhecendo a diversidade de valores. O
adaptação têm alcance global e de longo risco é muitas vezes representado como a
prazo. probabilidade de ocorrência de eventos
MUDANÇA DO CLIMA: As alterações perigosos ou tendências multiplicadas
climáticas referem-se a uma mudança no pelos impactos destes eventos ou
estado do clima que pode ser identificada tendências ocorrerem. O risco resulta da
– por meio de testes estatísticos – por interação entre vulnerabilidade, exposição
alterações na média e/ou na variação e ameaças. Neste documento, o termo risco
das suas propriedades e que persistem é usado principalmente para referir-se aos
durante um longo período de tempo. A riscos oriundos dos impactos relacionados
mudança climática pode ocorrer tanto às mudanças climáticas.
por meio de processos internos naturais VULNERABILIDADE: Propensão
ou forças externas, como modulações ou pré-disposição a ser adversamente
dos ciclos solares, erupções vulcânicas e afetado. Vulnerabilidade engloba uma
as mudanças antropogênicas persistentes variedade de conceitos e elementos,
na composição da atmosfera ou no uso da incluindo sensibilidade ou susceptibilidade
terra. Nota-se que a Convenção-Quadro a danos e falta de capacidade para lidar e
das Nações Unidas sobre Mudança do se adaptar.
Clima (CQNUMC), também conhecida

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Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

FIGURAS
Figura 1. Limite da UGRHI-7 destacando a rede hidrográfica, os pontos de monitoramento
e os municípios. Elaborado pela CRHi/SSRH (2018) .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Figura 2. Esquema ilustrativo da camada de gases e o efeito estufa .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Figura 3. Tendência de aumento de temperatura e precipitação para o período 2081-2100
de acordo com a RCP 2.6 e RCP 8.5. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 4. Projeções regionalizadas de mudanças na temperatura (°C) entre o presente e
diferentes períodos futuros. Os limiares inferiores (MIN) e limiares superiores (MÁX) das
mudanças extraídas das quatro simulações do modelo Eta aninhado ao HadGEM2-ES
e MIROC5, nos dois cenários RCP 4.5 e RCP 8.5, para Dezembro-Janeiro-Fevereiro (DJF) e
Junho-Julho-Agosto (JJA). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 5. Projeções regionalizadas de mudancas na precipitacao (mm/dia) para diferentes
períodos. Os limiares inferiores (MÍN) e limiares superiores (MÁX) das mudanças extraídas
das quatro simulações do modelo Eta aninhado ao HadGEM2-ES e MI. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 6. Principais impactos futuros da mudança do clima nos biomas brasileiros . . . . . . . 33
Figura 7. Esquema do Ciclo Hidrológico.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Figura 8. Variação média anual do ciclo da água de acordo com o cenário RCP 4.5 para os
anos de 2016-2035.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Figura 9. Efeitos da mudança de temperatura no ciclo hidrológico e principais impactos .. 52
Figura 10. Representação esquemática de enchente e inundação. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Figura 11. Impactos em áreas costeiras observados e projetados na América Central e América
do Sul .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

Figura 12. Classificação de risco à erosão costeira das cidades do litoral paulista .. . . . . . . . . . . . 61
Figura 13. Manguezal, Santos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 14. Diagrama de definição do desastre natural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Figura 15. Codificação brasileira de desastres naturais e tecnológicos.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Figura 16. Mudança de Paradigma da Defesa Civil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Figura 17. Esquema da gestão de riscos de desastres .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Figura 18. Etapas para uma estratégia de adaptação.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Figura 19. Planejamento para a adaptação climática e responsabilidades das esferas de
governo .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
Figura 20. Componentes para a determinação das estratégias de adaptação.. . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Figura 21. Representação simples da vulnerabilidade climática.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
Figura 22. Metodologia de análise de risco frente a mudança do clima.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
Figura 23. Modelo PER aplicado à adaptação climática para cidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Figura 24. infraestrutura verde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
Figura 25. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no

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município de Bertioga.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
Figura 26. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no
município de Cubatão.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
Figura 27. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no
município de Guarujá.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
Figura 28. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no
município de São Vicente.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
Figura 29. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no
município de Santos.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
Figura 30. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no
município de Praia Grande.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Figura 31. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no
município de Mongaguá.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
Figura 32. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no
município de Itanhaém.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
Figura 33. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no
município de Peruíbe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
Figura 34. Mapa com os municípios da Baixada Santista .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
Figura 35. Mapa de ocupação urbana do Município de Bertioga. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
Figura 36. Áreas suscetíveis a enchentes e alagamentos nos bairros da Zona Noroeste de
Santos .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132

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Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

QUADROS
Quadro 1. Mudança projetada na temperatura média global do ar próxima a superfície em
relação aos cenários de emissão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Quadro 2. Avaliação qualitativa de impactos econômicos sobre atividades antrópicas na
zona costeira do Estado de São Paulo, gerados por processos e problemas geoambientias já
instalado .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Quadro 3. Classificação dos desastres em relação a intensidade.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Quadro 4. Áreas de intervenção e exemplos de medidas de adaptação.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
Quadro 5. Abordagens do NbS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
Quadro 6. Ações que o poder público pode tomar para aumentar o investimento em
adaptação climática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

GRÁFICOS
Gráfico 1.  Precipitações médias mensais na RMBS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Gráfico 2.  Emissões globais de gases de efeito estufa (gigatonelada de CO2 equivalente
por ano, GtCO2-eq/ano) em cenários de linha de base e mitigação para diferentes níveis
de concentração de longo prazo e requisitos de aumento de escala de energia de baixo
carbono. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Gráfico 3.  Anomalias de precipitação e Extremos de precipitação entre os anos de 1979 e
2018, para o Estado de São Paulo .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Gráfico 4.  Variação do NMM entre 1945 e 1990 na região de Santos.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

TABELAS
Tabela 1. Áreas totais e áreas urbanas com alta suscetibilidade a deslizamentos e
inundações.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Tabela 2. Distribuição de renda no município de Mongaguá.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136

11
SUMÁRIO

MÓDULO 1 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS, EVENTOS EXTREMOS E RISCOS. . . . . . . 15

1. INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2. O TEMPO E O CLIMA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3. OS GASES DE EFEITO ESTUFA E A MUDANÇA DO CLIMA.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

4. O PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE A MUDANÇA DO CLIMA (IPCC). . . . . . 24

5. TENDÊNCIAS E PROJEÇÕES CLIMÁTICAS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

6. OS COMPROMISSOS E POLÍ-TICAS INTERNACINAIS E NACIONAIS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . 34


6.1 A Política Nacional sobre Mudança do Clima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
6.2 A Política Estadual de Mudanças Climáticas .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

7. REFERÊNCIAS INDICADAS PARA APROFUNDAMENTO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

REFERÊNCIAS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

MÓDULO 2 - COMO A MUDANÇA DO CLIMA INFLUENCIA O CICLO HIDROLÓGICO


E AFETA A SOCIEDADE, A ECONOMIA E O MEIO AMBIENTE.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

1. CICLO HIDROLÓGICO E AS MUDANÇAS DO CLIMA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47


1.1 EFEITOS NO CICLO HIDROLÓGICO.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
1.2. EVENTOS HIDROLÓGICOS EXTREMOS: TEMPESTADES, ENCHENTES,
INUNDAÇÕES, SECAS, ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR, DESLIZAMENTOS DE
ENCOSTAS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

2. CORRELAÇÃO DOS PROBLEMAS E SEUS FATORES DE OCORRÊNCIA.. . . . . . . . . . . . . . . 56


2.1 ÁGUA SUPERFICIAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.2 ÁGUA SUBTERRÂNEA .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
2.3 ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.4 EFEITOS DE CHUVAS INTENSAS EM ÁREAS RURAIS E URBANAS. . . . . . . . . . . . . 59
2.5 SECAS PROLONGADAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.6 QUALIDADE DE ÁGUA E SAÚDE .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
2.7 MEIO AMBIENTE E ECOSSISTEMAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

3. PREVISÕES DAS CONSEQUÊNCIAS E IMPACTOS NA BAIXADA SANTISTA .. . . . . . . 66

REFERÊNCIAS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

12
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

MÓDULO 3 - COMO OS MUNICÍPIOS PODEM ENFRENTAR AS ALTERAÇÕES


CLIMÁTICAS EM SUAS VÁRIAS DIMENSÕES.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

1. COMPREENSÃO DOS RISCOS DE DESASTRES.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79


1.1 MARCO DE HYOGO.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
1.2 MARCO DE SENDAI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
1.3 FORTALECIMENTO DA GOVER-NANÇA DO RISCO DE DESASTRES PARA O
SEU GERENCIAMENTO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
1.4 INVESTIMENTO NA REDUÇÃO DE RISCO DE DESASTRES PARA A
RESILIÊNCIA.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
1.5 MELHORIA NA PREPARAÇÃO DA GESTÃO DO RISCO DE DESASTRES . . . . . 86

2. COMO OS MUNICÍPIOS PODEM SE MOBILIZAR PARA ENFRENTAR AS ALTERAÇÕES


CLIMÁTICAS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
2.1 BASE LEGAL: INSTRUMENTOS LEGAIS NECESSÁRIOS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
2.2 ESTRUTURA INSTITUCIONAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
2.3 POLÍTICAS PÚBLICAS RELACIONADAS: NECESSIDADE DE INTEGRAÇÃO DOS
VÁRIOS SETORES DA PREFEITURA .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
2.4 ENVOLVIMENTO E COMUNICAÇÃO COM O PÚBLICO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

MÓDULO 4 - DIAGNÓSTICO DAS AÇÕES EM CURSO, ELABORAÇÃO DOS


PLANOS DE AÇÕES E FONTES DE FINANCIAMENTO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

1 IDENTIFICAÇÃO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL, SOCIAL E ECONÔMICA. . 97

2 AS MEDIDAS ADAPTATIVAS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101


2.1 NECESSIDADE DE REPENSAR A INFRAESTRUTURA URBANA.. . . . . . . . . . . . . . . . . 103
2.2 SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
2.2.1 ADAPTAÇÃO BASEADA EM ECOSSISTEMAS (ABE). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
2.2.1.1 BENEFÍCIOS E CO-BENEFÍCIOS DA UTILIZAÇÃO DA ABE.. . . . . . . . . . . 107
2.2.1.2 EXPERIÊNCIAS DE ABE NO MUNDO E NO BRASIL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
2.2.1.3 INSERÇÃO DA ABE EM POLÍTICAS PÚBLICAS .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
2.3. OUTRAS MEDIDAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

3 ESTUDOS E INSTRUMENTOS PRÉ-EXISTENTES NOS MUNICÍPIOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114


3.1 BERTIOGA.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
3.2 CUBATÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
3.3 GUARUJÁ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129

13
3.4 SANTOS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
3.5 SÃO VICENTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
3.6 PRAIA GRANDE.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
3.7 MONGAGUÁ.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
3.8 ITANHAÉM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
3.9 PERUÍBE.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

4 APRESENTAÇÃO DE FONTES DE FINANCIAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139

REFERÊNCIAS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142

14
CAPACITAÇÃO EM ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS NA BAIXADA SANTISTA

MÓDULO 1
MUDANÇAS CLIMÁTICAS,
EVENTOS EXTREMOS E RISCOS
MÓDULO 1

Crédito:
Foto Ressaca, Santos.
Deise Mateus, Defesa Civil, Prefeitura Municipal de Santos

16
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

1. INTRODUÇÃO climáticas de todo o mundo, define


que as alterações climáticas referem-se
Desde a Revolução Industrial, a uma mudança no estado do clima
iniciada na Inglaterra no século XVIII (há que pode ser identificada, por meio
pelo menos 150 anos), quando houve de testes estatísticos, por alterações
a transição da produção artesanal para na média e/ou na variação das suas
a industrial, vem ocorrendo alterações propriedades e que persistem durante
nas condições do clima da Terra, pelo um longo período de tempo. A mudança
acúmulo de gases na atmosfera (como o climática pode ocorrer tanto por meio
dióxido de carbono e o metano). É a esse de processos internos naturais ou
conjunto de alterações nas condições do forças externas, como modulações dos
clima, por meio da interferência humana, ciclos solares, erupções vulcânicas e as
que damos o nome de ‘mudanças mudanças antropogênicas persistentes
do clima’. Esses gases são liberados na composição da atmosfera ou no uso
na atmosfera através da queima de da terra. Nota-se que a Convenção-
combustíveis fósseis (como o petróleo e Quadro das Nações Unidas sobre
o carvão); do uso inadequado da terra, Mudança do Clima (CQNUMC), também
com a transformação das florestas e conhecida como UNFCCC (do original
da vegetação natural em pastagens; em inglês United Nations Framework
da decomposição do lixo orgânico nos Convention on Climate Change), em seu
aterros; dos reservatórios de água das artigo 1° de 1992, define a mudança do
usinas hidrelétricas; entre outros. clima como “uma mudança do clima
Estes gases, também chamados gases que é atribuída direta ou indiretamente
de efeito estufa (GEE) – formam uma à atividade humana, que altera a
espécie de cobertor na atmosfera, que composição da atmosfera terrestre e
impede que os raios solares que chegam que vai além da variabilidade climática
à Terra sejam emitidos de volta ao natural observada ao longo de períodos
espaço, acumulando calor e provocando comparáveis”. A UNFCCC faz, assim, uma
o aumento da temperatura na superfície distinção entre as mudanças climáticas
do planeta, assim como ocorre em uma atribuídas às atividades humanas que
estufa de plantas. São gases que sempre alteram a composição atmosférica e a
estiveram presentes na composição variabilidade do clima atribuída a causas
da atmosfera, mas estima-se que haja naturais (UNFCCC, 1992).
atualmente um acúmulo de cerca de Calcula-se que a temperatura média
30% a mais do que havia antes da da Terra tenha aumentado aproxi-
Revolução Industrial e a sua emissão madamente 1ºC no último século
continua crescendo, o que altera as (em relação aos valores do período
condições climáticas naturais anteriores. pré-industrial) e que os últimos dez
Nesse sentido, o Painel Intergo- anos foram os mais quentes da história.
venamental sobre Mudanças Climáticas Parece pouco, mas 1°C já é o suficiente
(do original em inglês Intergovernmental para promover transformações brutas
Panel on Climate Change, IPCC), organi- nos sistemas naturais: apenas 1ºC separa
zação internacional que reúne e divulga a água líquida do gelo e 1°C a mais na
publicações científicas sobre mudanças temperatura do corpo já o torna febril.

17
MÓDULO 1

Segundo o IPCC, a temperatura são sentidas de maneiras diferentes pela


média do planeta continuará subindo população e podem chegar a perpetuar
a uma taxa de 0,2°C por década se as o aumento das desigualdades sociais.
emissões de GEE continuarem no ritmo Um exemplo são as comunidades que
atual. Esse processo está provocando o vivem da pesca em regiões litorâneas,
derretimento de geleiras nos polos e em que sofrerão com o aumento do nível
outras regiões geladas do planeta, o que do mar, a alteração das correntes e a
causa um aumento da quantidade de mudança na quantidade de peixes e
água nos oceanos e, consequentemente, frutos do mar disponíveis.
do nível do mar. Em conjunto com o Nesse contexto, a Baixada Santista,
aumento da temperatura, isso afetará os formada por 9 municípios e localizada
ecossistemas marinhos, as correntes, as no litoral do Estado de São Paulo
ilhas oceânicas, as praias, os mangues e (Brasil), também reúne condições
as áreas urbanas mais baixas das cidades de alta fragilidade e exposição aos
litorâneas (IPCC, 2013). efeitos da mudança do clima em
A intensificação do efeito estufa, seu território. Com quase 2 milhões
e a consequente mudança do clima, já de habitantes, a região é um polo
vem afetando o regime de chuvas em industrial, portuário e de turismo de
várias partes do mundo, provocando relevância nacional, que sofreu processo
secas e enchentes mais intensas, com de urbanização acelerado e possui ainda
sérias consequências para diversos muitos problemas de infraestrutura
setores econômicos. Muito disso se deve relacionados a ocupações irregulares em
a mudanças no ciclo hidrológico, ou encostas ou nas margens dos corpos de
seja, no equilíbrio da circulação da água água, falta de saneamento básico para
na terra, corpos hídricos e atmosfera. toda população, entre outros. Esses
Com o aumento da temperatura, mais problemas, se associados com eventos
água é evaporada para a atmosfera, extremos causados pelas mudanças
o que pode levar à intensificação climáticas, poderão afetar de maneira
de condições naturais, como secas ainda mais intensa diversas áreas e
ou tempestades. Essa mudança na populações nas cidades e metrópoles
temperatura e umidade também está brasileiras (ALVES et al., 2010).
associada ao aumento na quantidade e Essa apostila tem como objetivo
intensidade da ocorrência de desastres apresentar os principais conceitos sobre
naturais, como deslizamentos de mudança do clima e adaptação, o que se
terra, tempestades tropicais, ciclones torna fundamental para a identificação
e furacões. O aumento da ocorrência de vulnerabilidades locais e proposição
de incêndios florestais e temperaturas de medidas de adaptação para
extremas, como ondas de calor, também prevenção dos efeitos das mudanças
são impactos já observados. Como as climáticas sobre os recursos hídricos no
comunidades mais pobres e isoladas contexto da Baixada Santista.
possuem menor capacidade de se
adaptarem a essas mudanças, se tornam
mais vulneráveis e são mais severamente
afetadas. Assim, as mudanças do clima

18
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

2. O TEMPO E O CLIMA embora o tempo e o clima encontrem-se


interrelacionados, a maior diferença
A superfície da Terra se diferencia entre eles reside na escala temporal.
significativamente de um lugar para A característica climática de
outro. A formação e a existência dessas determinada região é controlada
paisagens singularizadas e diferenciadas pelos elementos e fatores climáticos.
se devem, em grande parte, à combi- Os elementos do clima são os seus
nação resultante da atuação conjunta componentes principais, ou seja, são
de múltiplos agentes naturais, tais como aqueles que se conjugam para formar
a estrutura geológica, o relevo, o clima, o tempo atmosférico e o clima propria-
o solo, os rios, a vegetação, a fauna, etc. mente dito. São eles: temperatura,
Dentre esses vários agentes naturais, umidade, pressão atmosférica, preci-
destaca-se o clima por influenciar e ser pitação, nebulosidade, vento e radiação
influenciado por outros elementos como solar. O Gráfico 1 a seguir, por exemplo,
a vegetação, o solo e o relevo (SOUZA; apresenta o regime de precipitação
MIRANDA, 2013). para a Região Metropolitana da
O tempo, por sua vez, é um estado Baixada Santista (RMBS), que é também
momentâneo da atmosfera num uma Bacia Hidrográfica e Unidade de
determinado lugar e que varia muito Gerenciamento de Recursos Hidricos
sobre o globo terrestre. Por isso, UGRHI 7, (Figura 1).
viajantes e escritores, desde épocas O clima da RMBS é influenciado
remotas, têm descrito as inúmeras por massa de ar tropical atlântica,
oscilações dos estados do tempo, de com características quente e úmida, e
lugar para lugar e, também, de tempo de massa de ar polar atlântica, fria e
para tempo, num mesmo local. O úmida. O confronto destas duas massas
tempo meteorológico é, portanto, um de ar na estação do verão, junto com
conjunto de condições prevalecentes da os fatores climáticos da Serra do Mar,
atmosfera (representadas por pressão, produz grande instabilidade, traduzida
temperatura, umidade, vento, etc.) sobre em elevados índices pluviométricos
um determinado local ou região, durante colocando a região entre as áreas onde
um período cronológico (minuto, hora, mais chove no Brasil (SANTOS, 2010).
dia, mês e ano). Representa o estado A grande variação espacial e
momentâneo da atmosfera de um local temporal dos elementos climáticos
ou região. deve-se à influência dos fatores
O clima é uma sucessão dos estados climáticos, que produzem alterações
de tempo. É definido como sendo o significativas e interferências diretas
estado do tempo que prevalece, em um e/ou indiretas no clima. Os principais
dado ponto da superfície terrestre, para fatores climáticos são descritos a seguir,
um determinado período. Refere-se às retirados de Souza e Miranda (2013):
condições atmosféricas que são típicas
de um determinado local ou região
(durante um período de um mínimo
de 30 anos de monitoramento regular
de dados normal climatológica). Muito

19
MÓDULO 1

Gráfico 1.  Precipitações médias mensais na RMBS

Fonte: FCTH/DAEE - SP. apud SANTOS (2010)

Figura 1. Limite da UGRHI-7 destacando a rede hidrográfica, os pontos de monitoramento


e os municípios. Elaborado pela CRHi/SSRH (2018)

Fonte: DAEE – Projeto GISAT (2008) apud CBH-BS (2018, p. 9)

20
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Latitude: quanto maior a latitude, Maritimidade e Continentalidade:


isto é, quanto mais se afasta do a maior ou menor proximidade
Equador, menor a incidência solar e de grandes quantidades de água
por conseguinte, menores as médias exerce forte influência não só no
térmicas locais. Isto ocorre em função comportamento da umidade, mas
dos raios solares não conseguirem também na variação da temperatura.
atingir de forma perpendicular as Correntes Marítimas: verdadeiros
regiões extra trópicos. “rios” que circulam nos oceanos são
Altitude: quanto maior a altitude importantes fatores de influência
menor a temperatura, ou seja, climática.
mesmo estando na mesma latitude, Vegetação: a cobertura de flora
uma cidade localizada a 900 metros auxilia no aumento da umidade do
do nível do mar terá 5ºC a menos ar, pois os vegetais retiram umidade
que uma localizada ao nível do mar. do solo através das raízes e liberam
A temperatura diminui 1ºC a cada para a troposfera, por meio da
180 metros de altitude (gradiente evapotranspiração. Esse processo
térmico). auxilia na umidade do ar e, por
Massas de ar: porções gasosas com conseguinte, no índice pluviométrico
temperatura e pressão definidas local.
que circulam na troposfera. No Relevo: além de associado à altitude,
conceito da climatologia moderna que já é um fator climático, o relevo
é considerado o principal fator do influencia na organização climática, a
clima. De acordo com esse conceito os partir do momento em que interfere
climas se organizam em decorrência na circulação das massas de ar.
dos movimentos das massas de ar.
Ação antrópica: emissões de gases
de efeito estufa e mudança do uso
do solo.

21
MÓDULO 1

3. OS GASES DE EFEITO ESTUFA temperatura entre o Sol e a Terra, para


o espaço. Outra parte é novamente
E A MUDANÇA DO CLIMA
absorvida por gases atmosféricos e
O desenvolvimento da humanidade irradiada para a superfície. O vapor
sempre esteve relacionado às variações d’água (H2O), dióxido de carbono (CO2),
climáticas ao longo do tempo. O clima o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O),
apresenta uma variabilidade temporal os chamados gases de efeito estufa (GEE),
e espacial decorrentes de processos na são os principais gases responsáveis
atmosfera, na superfície terrestre, nos por essa troca (passagem) de energia,
oceanos e devido à radiação solar. A permitindo o funcionamento natural
oscilação dos padrões normais, como do efeito estufa. Sem a presença do
variação sazonal, interanual, decenal, efeito estufa natural, a temperatura
centenária, entre outras, envolve média na superfície da Terra, que é
processos não lineares e fortemente de aproximadamente 14˚C, chegaria
interligados, o que dificulta a sua a níveis negativos, por volta de -17˚C,
estimativa. No entanto, a velocidade tornando-a inabitável para os seres
e a intensidade em que a temperatura humanos.
média da Terra vem aumentando nas A comunidade científica, através de
últimas décadas são incompatíveis artigos e simulações refinadas sobre o
com o tempo necessário para que a comportamento climático no passado
biodiversidade e os ecossistemas possam e tendências para o futuro, evidencia
se adaptar de forma natural à mudança cada vez mais a influência das atividades
do clima. antrópicas como a principal fonte
É importante reforçar que o efeito causadora das mudanças climáticas
estufa é um fenômeno natural do (COOK et al., 2013).
mecanismo da atmosfera responsável Embora o interesse em relação às
por manter a temperatura média global mudanças do clima pareça recente, as
próxima à superfície terrestre em níveis primeiras indagações sobre um possível
que viabilizem a vida no planeta. Uma aquecimento global apareceram há
parte da energia solar que chega a Terra quase 200 anos, quando o matemático
em ondas de comprimento curto (visível e físico francês Jean-Baptiste Joseph
ou próximo do visível no espectro, como Fuorier, em 1824, apresentou a hipótese
a radiação ultravioleta) é refletida do que hoje conhecemos como efeito
diretamente para o espaço ao atingir estufa. Fourier defendeu a ideia de
as camadas mais altas da atmosfera. que a Terra acumularia cada vez mais
Outra parte é absorvida pelos oceanos, energia graças a um painel de moléculas
superfície terrestre e determinados de gases e vapor d’água, responsável
gases presentes na atmosfera (Figura 2) por capturar a radiação emitida pela
Por conta do equilíbrio energético, parte Terra para novamente irradiá-la sobre
dessa energia absorvida é reemitida pela a sua superfície, sugerindo ainda que
Terra em ondas de comprimento longo esse processo poderia ser modificado
(por exemplo, radiação infravermelha pela ação humana (RUDDIMAN, 2003;
do espectro), devido à diferença de LEROUX, 2005). Em 1896, Arrhenius
constatou que atividades humanas

22
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Figura 2. Esquema ilustrativo da camada de gases e o efeito estufa

Fonte: Gewandsznaider, 2004 apud FERRAZ, et al., 2012, p. 227

emitiam CO2, que por sua vez seria o para proteção do meio ambiente. Até
responsável por causar o aumento da o momento, ainda não existia um
temperatura na atmosfera terrestre consenso de como o homem poderia
(LEROUX, 2005). interferir na variabilidade do sistema
Paralelamente aos avanços climático. Contudo, a ideia de que as
científicos sobre o clima, iniciaram-se os condições de vida da civilização haviam
movimentos ambientalistas. Em 1970, acelerado o crescimento demográfico,
iniciou-se o debate sobre os efeitos dos causando pressão significativa sobre
clorofluorcarbonos (CFCs) na camada a demanda de recursos naturais e
de ozônio e os eventuais problemas alterando as condições ambientais,
para a saúde humana (LEROUX, 2005). como a própria intensificação do efeito
Em 1972, na Conferência de Estocolmo, estufa, resultando em um aumento da
primeira conferência de iniciativa do temperatura de forma diferenciada em
Programa das Nações Unidas para o Meio regiões do planeta, passava a ser mais
Ambiente (PNUMA), estabeleceu-se difundida (JONES, 1997; LEROUX, 2005).
o plano de ação internacional para o
controle da poluição e recomendações

23
MÓDULO 1

4. O PAINEL INTERGOVER- atmosfera (GT III). Desde sua fundação


já foram publicados cinco Relatórios
NAMENTAL SOBRE A
de Avaliação (AR, do inglês Assessment
MUDANÇA DO CLIMA (IPCC) Reports) nos anos de 1990, 1995, 2001,
2007 e o último, publicado em 2014, que
Na década de 1980, o tema da
inclui a análise de risco no contexto das
mudança do clima passou a receber mais
mudanças do clima.
atenção pela comunidade científica,
De acordo com o Quinto Relatório
quando as publicações começavam
de Avaliação do IPCC AR5 (IPCC, 2014),
a indicar possíveis relações entre as
o aquecimento é inequívoco: a
emissões de gases de efeito estufa
temperatura média global apresentou
procedentes de atividades antrópicas
uma taxa média de crescimento de
e o aumento da temperatura média
0,85°C entre 1880 e 2012. Segundo
da Terra. Neste contexto, e diante das
o relatório, as concentrações de CO2
preocupações em relação aos possíveis
na atmosfera aumentaram cerca de
impactos e riscos para a humanidade e
20% desde 1958, quando medições
meio ambiente, associados à mudança
sistemáticas começaram a ser feitas,
climática causada por atividades
e aproximadamente 40% desde
antrópicas, criou-se, no ano de 1988,
1750. Para os cientistas, existe uma
o Painel Intergovernamental sobre a
possibilidade muito alta (nove chances
Mudança do Clima (IPCC, sigla em inglês
em dez) de que as taxas médias de CO2,
para Intergovernmental Panel on Climate
CH4 e N2O na atmosfera observadas no
Change) no âmbito da Organização das
último século sejam as mais altas dos
Nações Unidas (ONU) pela iniciativa da
últimos 22 mil anos. Ainda segundo o
PNUMA e da Organização Meteorológica
AR5, mesmo que as emissões antrópicas
Mundial (OMM). A missão do IPCC é
de GEE cessem por completo, os gases
avaliar a informação científica, técnica e
de vida longa continuariam a provocar
socioeconômica relevante para entender
um aquecimento adicional, devido
os riscos induzidos pela mudança
à lentidão de algumas reações e
climática na população humana (IPCC,
efeitos cumulativos. Caso as emissões
1990).
permaneçam crescendo às taxas atuais,
O IPCC é responsável por reunir
o aumento da temperatura média do
pesquisas de alto nível de conhecimento,
planeta poderá chegar a 4,8°C até 2100
envolvendo cientistas de vários países,
(IPCC, 2014).
divididos em três Grupos de Trabalho
De forma generalizada, dentre
temáticos (GT ou WG sigla em inglês
algumas das principais conclusões
para Working Group) que avaliam o
retiradas do AR5 (IPCC, 2014), levando-se
sistema climático e suas alterações (GT I),
em consideração as incertezas ainda
a vulnerabilidade dos sistemas naturais e
existentes, destacam-se:
socioeconômicos às mudanças climáticas,
seus impactos, opções de adaptação e ƒƒ As mudanças climáticas são
desenvolvimento sustentável (GT II) e causadas principalmente por
a mitigação das mudanças climáticas atividades antrópicas, com 95% de
por meio da redução das emissões de confiança;
gases de efeito estufa e sua retirada da

24
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

ƒƒ Derretimento glacial e a úmidas, da contaminação ou da


elevação do nível do mar têm queda de qualidade da nutrição,
ocorrido mais rápido do que além de doenças cardíacas e
previsto anteriormente, estando respiratórias associadas às ondas de
o intervalo das estimativas entre calor extremo;
60 centímetros e 1,8 metros ƒƒ É possível que algumas espécies
dependendo do cenário, excluídos terrestres e de água doce possam
os efeitos das grandes camadas de se extinguir em consequência do
gelo; fim de seus hábitats. As espécies
ƒƒ Aumento na frequência e na no Ártico e nos recifes de corais
intensidade de alguns tipos de passam a correr grave risco se a
eventos climáticos extremos, como temperatura se elevar a um nível
secas, furacões, precipitações acima de 2ºC; e
intensas, e etc.; ƒƒ Se as emissões de GEE
ƒƒ Em todos os continentes, continuarem aumentando no ritmo
há sistemas ou comunidades atual, projeta-se uma temperatura
vulneráveis as condições de média global entre 2,6ºC e 4,8ºC
eventos extremos climáticos e mais alta até o final do século
que poderão ser impactados de XXI, dependendo do cenário
alguma forma. Porém, os países considerado.
menos desenvolvidos necessitam
de maiores medidas de adaptação Em 2018, o IPCC lançou um relatório
para atenuar os impactos; especial onde compara as consequências
ƒƒ As mudanças climáticas já de um aquecimento em 1,5ºC, com o de
têm prejudicado a produção 2ºC, em relação aos níveis pré-industriais,
agrícola, processo que tende a ressaltando a necessidade de uma ação
piorar em função das mudanças na climática urgente (IPCC, 2018).
disponibilidade hídrica, segurança Os relatórios tornaram-se a principal
alimentar e rendimento agrícola, base para definição de políticas
com impactos sobre o bem-estar climáticas mundiais e nacionais de
das pessoas que habitam as áreas mitigação e adaptação. Para tal, o IPCC
rurais; sumariza o conhecimento científico
ƒƒ Em relação aos impactos na mais atual disponível sobre projeções
saúde, as mudanças climáticas das mudanças do clima no futuro para
podem afetar a população por tomadores de decisão, por meio do
meio do aumento de doenças “Summary for Policy Makers”, no qual
transmitidas por mosquitos (vetores são apontadas as principais conclusões
de doenças) ou típicas de zonas de cada um dos grupos de trabalhos
(IPCC, 2018).

25
MÓDULO 1

5. TENDÊNCIAS E PROJEÇÕES plausíveis com base em um conjunto de


pressupostos de forças motrizes como
CLIMÁTICAS
pressão demográfica, desenvolvimento
A mudança no estado do clima pode socioeconômico, mudança tecnológica
ser identificada por meio de testes e da matriz energética e alterações no
estatísticos e mudanças na variação do uso do solo. Esses cenários exploram a
clima num longo período de tempo. viabilidade, os custos e benefícios de se
Podem ocorrer por meio de processos alcançar um nível de emissões de GEE,
internos naturais, forças externas, como em comparação a cenários de referência
erupções vulcânicas e modulações dos (linha de base ou de não intervenção).
ciclos solares e mudanças antropogê- No entanto, devem-se considerar as
nicas persistentes na composição da incertezas e complexidades inerentes
atmosfera ou no uso da terra. ao futuro. Como uma elevada
As consequências desastrosas da quantidade de fatores pode influenciar
mudança do clima incluem, em geral, os forçamentos do clima, torna-se
um clima mais quente e mais úmido com necessária a utilização de cenários e
mais enchentes em algumas áreas e secas projeções para se explorar as potenciais
crônicas em outras. O aquecimento dos consequências de diferentes opções
mares provocará um aumento do nível de resposta às alterações do sistema
dos oceanos e a consequente inundação climático. Os cenários têm como objetivo
de certas áreas litorâneas e a redução de indicar e sistematizar a imprevisibili-
geleiras. A umidade e o calor provocarão dade, além de reduzir a variabilidade de
um aumento do número de insetos com o possibilidades. Assim, visam a constituir
correlato aumento de algumas doenças futuros possíveis a fim de auxiliar a
por eles transmitidas, como: malária, percepção e o planejamento de decisões
dengue e leptospirose. Como se isto não que possam ser tomadas no presente e
bastasse, haveria um decréscimo da água na posteridade.
disponível e, por outro lado, maior risco Em 2001, o IPCC publicou seu
de enchentes em determinados locais. Relatório Especial sobre Cenários de
Como resultado, as partes mais pobres Emissão (SRES, na sigla em inglês para
do globo serão as mais vulneráveis pela Special Report on Emissions Scenarios),
sua escassa capacidade de adaptação apresentando os cenários SRES. Em seu
(SOUZA; MIRANDA, 2013). Quinto Relatório de Avaliação (AR5),
Os principais cenários utilizados o IPCC (2014) mudou de abordagem e
na pesquisa sobre a mudança do clima passou de uma representação com base
são os cenários de emissões de GEE, os em cenários de emissões (SRES), para
cenários de concentração e os cenários os cenários dos forçamentos radiativos
climáticos, que fornecem a base para a aos quais se atribui a nomenclatura,
análise de vulnerabilidade e impactos Representative Concentration Pathways
futuros. O IPCC apresenta, em seus (RCPs)1. Estes novos cenários, RCPs,
relatórios, cenários de emissões futuras foram desenvolvidos usando Modelos de

1. Representative Concentration Pathways (RCPs), traduzida para o português como “Caminhos Representativos
de Concentrações”.

26
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Avaliação Integrados, que normalmente, simulados quatro cenários de diferentes


incluem demografia, economia, concentrações representativas, em
energia, fatores climáticos, além de termos de forçamento radiativo,
incluírem as emissões e concentrações possíveis de acontecer até 2100. O
atmosféricas de toda a gama de GEE, Quadro 1 apresenta de forma resumida
aerossóis e gases quimicamente ativos os principais cenários elaborados pelo
ao longo do tempo. Assim, foram IPCC (2014):

Quadro 1. Mudança projetada na temperatura média global do ar próxima a superfície em


relação aos cenários de emissão.

AUMENTO ESPERADO
NA TEMPERATURA (°C)
CENÁRIO DESCRIÇÃO
2046–2065 2081 - 2100

Prevê a maior redução de emissões de GEE em contexto


de forte mitigação, em que o forçamento radiativo
permanece em torno de 3W/m-2. É uma trajetória com
concentração atmosférica de aproximadamente 430 ppm
RCP2.6 a 480 ppm de CO2 equivalente (CO2-eq) 2, até 2100. 0.4 a 1.6 0.3 a 1.7
É o mais otimista entre os cenários de emissões de GEE.
Porém, este cenário implica uma redução de 40% a 70%
das emissões antropogênicas globais de GEE até 2050 em
relação a 2010, e emissões quase nulas em 2100.

O forçamento radiativo é de aproximadamente 4.5W/m-2.


RCP4.5 É uma trajetória com concentração atmosférica de entre 0.9 a 2.0 1.1 a 2.6
580 a 720 ppm de CO2-eq, até 2100.
É um cenário intermediário de emissões de GEE. O
forçamento radiativo é de aproximadamente 6W/m-2. É
RCP6.0 0.8 a 1.8. 1.4 a 3.1
uma trajetória com concentração atmosférica entre 720
a 1.000 ppm de CO2-eq, até 2100.
É o cenário mais pessimista (com elevada confiança). O
forçamento radiativo é de aproximadamente 8.5W/m-2.
É uma trajetória com concentração atmosférica com
valores superiores a 1.000 ppm de CO2-eq, até 2100.
RCP8.5 1.4 a 2.6 2.6 a 4.8
Os riscos associados a este cenário incluem extinção
substancial de espécies, insegurança alimentar regional
e global, restrições massivas em atividades humanas e
potencial limitado de adaptação em alguns casos.

Fonte: IPCC (2013, p. 90, tradução e elaboração próprias).

2. A concentração de equivalente de dióxido de carbono (CO2-eq) é uma medida para comparar forçamentos
do clima de uma mistura de diferentes agentes, num determinado período de tempo. Corresponde à
concentração de dióxido de carbono (CO2) que causaria o mesmo forçamento que uma dada mistura de
agentes com efeito de estufa. Essa mistura pode incluir CO2, outros gases com efeito de estufa (por exemplo,
metano e óxido nitroso), aerossóis e mudanças superficiais no albedo. Pode ser expressa em toneladas (t),
partes por milhão (ppm) ou partes por bilhão (ppb). O equivalente de CO2 é normalmente representado pelo
símbolo “CO2-eq” (IPCC, 2014).

27
MÓDULO 1

O sistema climático pode ser Porém, para estudos locais de


representado por modelos como vulnerabilidade e adaptação, torna-se
os Modelos Globais Atmosféricos necessário empregar o detalhamento
(GCMs) ou Modelos Globais Acoplados a partir do modelo global utilizando
Oceano-Atmosfera (AOGCMs), sendo técnicas de downscaling3, obtendo os
possível assim, a partir dos cenários modelos regionais (Regional Climate
de concentração (RCPs), reproduzir Models – RCMs), com aumento da
a evolução do comportamento das resolução espacial para um determinado
variáveis climáticas e projetar cenários período de tempo e para uma
futuros de mudanças do clima. Os determinada região (NOBRE; SAMPAIO;
modelos climáticos globais apresentam SALAZAR, 2008; CHOU et al., 2014).
uma resolução espacial baixa, geral- No Brasil, o Instituto Nacional de
mente de centenas de quilómetros. A Pesquisas Espaciais (INPE) realizou a
Figura 3 a seguir representa alguns dos regionalização através do método de
resultados alcançados pelos cenários. downscaling dinâmico, por meio do

Figura 3. Tendência de aumento de temperatura e precipitação para o período 2081-2100


de acordo com a RCP 2.6 e RCP 8.5.

Fonte: IPCC (2014, p. 12)

3. Downscaling, traduzindo do inglês como “regionalização”.

28
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

modelo regional Eta. Os resultados são negativas nos três períodos de 30


da regionalização geraram dados anos (BRASIL, 2015).
simulados na resolução espacial de 20 Considerando a dimensão e a
km de latitude e longitude para toda diversidade física e climatológica
a América do Sul, tanto para o clima do Brasil, as mudanças climáticas
presente quanto projeções para o futuro, terão diferentes impactos em suas
(até 2100). Como referência foram regiões, no aumento da temperatura
usados os cenários de emissão RCP4.5 e e na intensidade e frequência da
RCP8.5. A avaliação das simulações do precipitação. Os modelos climáticos
modelo Eta-HadGEM2-ES e Eta-MIROC5, regionais indicam que as mudanças no
foi apresentada por Chou et al. (2014), clima poderão afetar diversos setores
envolvendo uma análise detalhada do no Brasil. Em relação aos recursos
comportamento climático médio sazonal hídricos, os impactos são relacionados a
(DJF, MAM, JJA, SON) sobre a América do mudanças no regime de chuvas, tanto no
Sul apresentados em períodos de tempo comprimento da estação chuvosa, como
de 30 anos: 1961-1991 (baseline), 2011- em deslocamentos das regiões de chuvas
2040, 2041-2070 e 2071-2100 para as abundantes, e até mesmo no aumento
variáveis climatológicas de temperatura e intensificação de frequência de
e precipitação. eventos extremos de chuva e de seca. Os
A Figura 4 e a Figura 5 a seguir impactos serão percebidos em diferentes
apresentam os resultados das projeções setores, uma vez que influenciam a
desses modelos regionais para os casos disponibilidade da água para consumo
de temperatura e precipitação. É possível humano, para agropecuária, geração de
observar que a previsão para os três energia e para processos industriais. A
períodos é de aquecimento para todo o qualidade dos recursos hídricos também
território nacional. As previsões indicam poderá ser comprometida. Entre os
o centro-oeste do Brasil com anomalias de problemas a serem enfrentados, está o
temperatura maiores do que as demais risco de colapso no abastecimento de
regiões do país, e no período de 2011- água em várias regiões urbanas, devido
2040, é possível identificar um acréscimo a estiagens mais prolongadas; maior
de temperatura de 2,5°C estimado pelo risco de inundações; elevação do nível
ETA/HadGEM2-ES (RCP8.5). Quanto do mar e entrada de água salina nos
às previsões de precipitação, para os lençóis subterrâneos que abastecem
três períodos, as simulações mostram grande parte das cidades litorâneas e
o extremo sul do Brasil com anomalias intensificação dos efeitos da poluição
positivas e as demais regiões do país nos corpos hídricos, reduzindo ainda
com anomalias negativas. Nas regiões mais a disponibilidade e a qualidade
litorâneas, as anomalias de precipitação hídrica (ASSAD; MAGALHÃES, 2014).

29
MÓDULO 1

Figura 4. Projeções regionalizadas de mudanças na temperatura (°C) entre o presente


e diferentes períodos futuros. Os limiares inferiores (MIN) e limiares superiores (MÁX)
das mudanças extraídas das quatro simulações do modelo Eta aninhado ao HadGEM2-ES
e MIROC5, nos dois cenários RCP 4.5 e RCP 8.5, para Dezembro-Janeiro-Fevereiro (DJF) e
Junho-Julho-Agosto (JJA).

Fonte: Brasil (2016-2017).

30
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Figura 5. Projeções regionalizadas de mudancas na precipitacao (mm/dia) para diferentes


períodos. Os limiares inferiores (MÍN) e limiares superiores (MÁX) das mudanças extraídas
das quatro simulações do modelo Eta aninhado ao HadGEM2-ES e MI.

Fonte: Brasil (2016-2017).

31
MÓDULO 1

Diversos estudos estão sendo


Algumas evidências dos impactos desenvolvidos para melhor entender os
da mudança do clima no Brasil: impactos futuros das mudanças do clima
ƒƒ O Brasil vivenciou o no Brasil. A Figura 6 a seguir contém
primeiro furacão já observado um resumo dos principais impactos
no Atlântico Sul, o furacão levantados por bioma.
Catarina, ocorrido em março de O litoral paulista é uma região
2004; de alta vulnerabilidade às mudanças
climáticas, uma vez que concentra
ƒƒ Sudeste registrou no ano
ecossistemas e populações com grande
de 2016 temperaturas de 1°C a
exposição e suscetibilidade a riscos
2°C superiores à média entre os
ambientais. Efeitos como deslizamentos,
anos 1961 e 1990;
enchentes e tempestades são agravados
ƒƒ O aquecimento foi detectado por variações no padrão de chuva e
em toda a América do Sul cerca por outros fatores ligados à mudança
de 0,7ºC até 1°C, desde meados do clima. Estudos realizados para o
dos anos 1970; contexto da cidade de Santos, como
ƒƒ Os desastres naturais vêm o próprio relatório de 2014 do Painel
crescendo nas últimas décadas, Brasileiro de Mudanças Climáticas
os números de afetados e o (PBMC), indicam a possibilidade de
volume dos danos materiais agravamento nas inundações costeiras
vem crescendo rapidamente; causadas por um aumento anormal
do nível do mar, e ressacas na costa
ƒƒ 56% dos desastres naturais
geradas por tempestades oceânicas. As
brasileiros estão associados
projeções de aumento da temperatura
a chuvas, enchentes e
para a cidade mostram valores que
desmoronamentos, resultados
atingem entre cerca de 2ºC a 4,5ºC no
de um crescimento urbano não
final do século XXI, com aumento da
planejado; e
amplitude da variação da temperatura.
ƒƒ Necessidade de incluir nos As noites quentes aumentam a
planos diretores municipais frequência de ocorrência entre cerca
ações que minimizem os de 40% a 80% dos dias do ano no final
impactos causados pelos do século. Por abrigar o maior porto
desastres climáticos. marítimo do país, complexos industriais,
usinas de geração de energia térmica,
entre outros, além da alta densidade
demográfica, a vulnerabilidade da
região é mais significativa. As projeções
também apontam, num primeiro
momento, redução das chuvas, seguido
por uma neutralidade, e aumento da
temperatura do ar, com intensificação
no interior (MARENGO et al., 2016).

32
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Figura 6. Principais impactos futuros da mudança do clima nos biomas brasileiros

Fonte: ICLEI (2016, p. 16).

33
MÓDULO 1

6. OS COMPROMISSOS E POLÍ- Alguns princípios são considerados


para uma aplicação prática e eficaz
TICAS INTERNACINAIS E
da Convenção. O princípio das
NACIONAIS. responsabilidades comuns, porém
diferenciadas, determina compromissos
A UNFCCC foi criada durante a
específicos para cada país, nos níveis
Conferência das Nações Unidas para o
globais, regionais e locais, em função
Meio Ambiente e o Desenvolvimento
da sua contribuição histórica (e
(Cúpula da Terra / Rio 92), realizada no
futura) de emissões de GEE e da sua
Rio de Janeiro, Brasil, em 1992, é um
capacidade para prevenir, reduzir e
tratado ambiental internacional que
controlar a ameaça. As Partes devem se
tem como principal objetivo:
comprometer a elaborar uma estratégia
global para proteger o sistema climático
Estabilizar as concentrações dos gases
para gerações presentes e futuras com
de efeito estufa na atmosfera em um nível
base na equidade entre os países e
que impeça uma interferência antrópica
dentro dos países (Artigo 3.1, UNFCCC,
perigosa no sistema climático. Esse nível
2007).
deverá ser alcançado em um prazo
Os países signatários se reúnem
suficiente que permita aos ecossistemas
anualmente na Conferência das Partes
adaptarem-se naturalmente à mudança
(COP), no intuito de promover e
do clima, assegurando que a produção
monitorar as obrigações das Partes e os
de alimentos não seja ameaçada
mecanismos estabelecidos pela UNFCCC
e permitindo ao desenvolvimento
para enfrentar a mudança do clima e
econômico prosseguir de maneira
seus efeitos. A primeira Conferência
sustentável (UNFCCC, 2004).
das Partes (COP-1) foi realizada em
Berlim, Alemanha, em 1995, quando os
Para alcançar o objetivo de redução
países mais desenvolvidos assumiram
de emissão de GEE, desde que entrou
compromissos maiores com os objetivos
em vigor, em 21 de março de 1994,
da Convenção. Em 1996, por meio da
foram estabelecidos compromissos e
Declaração de Genebra, estabelecida
obrigações para as Partes da Convenção
durante a Segunda Conferência das
– assim chamados os países que
Partes (COP-2), realizada na Suíça, as
ratificaram, aderiram ou aceitaram o
Partes decidiram por obrigações legais
tratado (também chamados de países
de metas de redução de emissões de GEE
signatários). Atualmente a Convenção
e que os países do não Anexo I poderiam
conta com a participação de cento e
solicitar ajuda financeira por meio do
noventa e seis (196) países signatários,
Fundo Global para o Meio Ambiente
que estão divididos em dois grupos, de
para criação de projetos de mitigação
acordo com o seu nível de industria-
(UNFCCC, 2007).
lização. O Anexo I reúne os países
Em 1997, a terceira Conferência das
desenvolvidos e em transição para o
Partes (COP-3), realizada na cidade de
capitalismo e o não Anexo I compreende
Kyoto, Japão, aprovou o Protocolo de
os países em desenvolvimento, incluindo
Kyoto, que se tornou um marco nas
o Brasil (UNFCC, 2007).
negociações climáticas no contexto

34
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

ambiental internacional, definiu metas Também foi criada durante a COP-20 a


mais rígidas e propôs um calendário Rede Global para Planos Nacionais de
no qual as Partes (do Anexo I) teriam Adaptação (NAP Global Network), um
a obrigação de reduzir a emissão de grupo que tem por objetivo o apoio
gases de efeito estufa no período entre bilateral entre as Partes desenvolvidas
2008 e 2012, em, pelo menos, 5,0% em e em desenvolvimento no processo de
relação aos níveis de 1990, tornando a elaboração dos planos nacionais de
meta ambiciosa e bastante progressista. adaptação e integração das políticas
A meta foi estabelecida a partir de de adaptação. O Brasil é um dos países
uma média no âmbito global, já que participantes, junto com outros 74
os países signatários do Anexo I teriam países, como a Alemanha, Austrália,
suas metas individuais estabelecidas Índia, China, Chile, Peru, Filipinas, Reino
de acordo com suas contribuições Unido e Japão.
históricas para o aquecimento global. Em 2015, o mais importante acordo
No entanto, os Estados Unidos, não internacional da história sobre o clima
ratificaram o documento, retirando-se foi apresentado durante a Vigésima
do Protocolo de Kyoto em 2001, Primeira Conferência das Partes (COP-21),
apesar de continuarem com obrigações realizada em Paris, França. O Acordo
definidas pela Convenção. Somente em de Paris determina metas de redução
2005, o Protocolo entrou em vigor ao ser de emissões de gases de efeito estufa
ratificado pela Rússia e atingido, assim, aplicáveis a todos os países, definidas
o número mínimo de 55 países e que conforme as prioridades e possibilidades
fossem responsáveis por, no mínimo, nacionais de cada Parte. As pretensões
55% do total das emissões dos países do do acordo buscam limitar o aumento da
Anexo I até 1990. Durante o primeiro temperatura média global em até 2ºC,
período de compromisso (2008-2012), com uma meta ambiciosa de 1,5ºC até o
trinta e sete (37) países industrializados final do século XXI (Parágrafo 1, Artigo
e a União Europeia comprometeram-se 2). O Artigo 3 do documento trata
a reduzir suas emissões de GEE. Outros das metas coletivas de longo prazo,
países do não Anexo I ratificaram o referindo-se ao termo “emissões de
Protocolo voluntariamente, a exemplo gases de efeito estufa líquidas iguais a
do Brasil, em 20024 (UNFCCC, 2007). zero” (no inglês, “net zero greenhouse
Na Vigésima Conferência das Partes gas emission”). O termo fundamenta-se
(COP-20), em 2014, no Peru, Lima, foi em pareceres científicos que estabelecem
apresentado o “Chamamento de Lima o orçamento de carbono5, apontando
para a Ação sobre o Clima” ou “Rascunho que um caminho para emissões nulas
Zero”, um acordo para redução de é importante para manter o aumento
GEE e que aborda elementos básicos da temperatura média global em até
para o novo acordo global de clima. 2ºC. O estabelecimento de uma meta

4. O Brasil, por não fazer parte do Anexo I dos países signatários, estabeleceu a meta voluntária em 2009 de
reduzir entre 36,1% e 38,9% de suas emissões projetadas até 2020 (BRASIL, 2016-2017).
5. O orçamento de carbono refere-se à quantidade de emissões globais de gases do efeito estufa toleráveis ao
longo de um período de tempo.

35
MÓDULO 1

coletiva de longo prazo permite que os Outra questão relevante do Acordo


países criem esforços para mitigação de foi a criação do Global Stocktake6,
GEE ao longo do tempo (UNFCCC, 2015). uma proposta de avaliação quinquenal
Para o alcance do objetivo final do impacto das ações de mudanças
do Acordo, os governos mundiais se climáticas nos países, avaliação dos
envolveram na construção de seus esforços e financiamentos às medidas de
próprios compromissos, a partir das adaptação e mitigação. Trata-se de uma
chamadas Pretendidas Contribuições importante determinação, uma vez que
Nacionalmente Determinadas (iNDC, as intenções de reduções de emissões
na sigla em inglês). Por meio das iNDCs, iNDCs ainda não são suficientes para
cada nação apresentou sua contribuição limitar o aquecimento em 2°C (UNFCCC,
de redução de emissões dos gases de 2015).
efeito estufa, seguindo o que cada
governo considera viável a partir do 6.1 A Política Nacional sobre Mudança
cenário social e econômico local. do Clima
No Brasil, o processo de ratificação
do Acordo de Paris foi aprovado Instituída em 2009, pela Lei nº
pelo Congresso Nacional em 12 de 12.187/2009 (BRASIL, 2009), a Política
setembro de 2016, e no dia 21 de Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC)
setembro, o instrumento foi entregue busca garantir que o desenvolvimento
às Nações Unidas. Com isso, as metas econômico e social do país contribua
brasileiras deixaram de ser pretendidas para a proteção do sistema climático
e tornaram-se compromissos oficiais. global. Para possibilitar o alcance desses
Agora, portanto, a sigla perdeu a letra objetivos, o texto da PNMC estabelece
“i” (do inglês, intended) e passou a ser algumas diretrizes, como fomento a
chamada apenas de NDC. O mesmo práticas que efetivamente reduzam
aconteceu com os outros países do emissões de GEE e o estímulo e apoio
mundo após assumirem seus próprios dos governos, federal, estadual, distrital
compromissos. e municipal, à adoção de atividades e
A NDC do Brasil comprometeu-se a tecnologias de baixas emissões desses
reduzir em 2025 as emissões de GEE em gases, além de padrões sustentáveis
37% abaixo dos níveis de 2005, e em de produção e consumo. Devem-se
2030 reduzir em 43%. Para isso, o país se considerar, ainda, as diretrizes voltadas
comprometeu a aumentar a participação para a redução nas incertezas das
de bioenergia sustentável na sua matriz projeções nacionais e regionais futuras
energética para aproximadamente da mudança do clima, identificação das
18% até 2030, restaurar e reflorestar vulnerabilidades e adoção de medidas
12 milhões de hectares de florestas, de adaptação adequadas para reduzir
bem como alcançar uma participação os efeitos adversos da mudança do clima
estimada de 45% de energias renováveis (BRASIL, 2009).
na composição da matriz energética em
2030.

6. A primeira avaliação deverá ocorrer em 2024. Parte da negociação busca antecipar esta primeira avaliação
para 2018 ou 2019.

36
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Os instrumentos institucionais para Apropriadas (NAMAS) (BRASIL, 2010).


execução da PNMC são, entre outros: A formulação dos planos setoriais
o Plano Nacional sobre Mudança do embasou a revisão do Plano Nacional
Clima, o Fundo Nacional sobre Mudança de Mudanças Climáticas e deu início
do Clima e a Comunicação do Brasil à à construção do Plano Nacional de
UNFCCC, de acordo com as COPs, as Adaptação à Mudança do Clima (PNA). O
resoluções da Comissão Interministerial PNA propõe ações, estratégias e diretrizes
de Mudança Global do Clima, as dotações que visam a gestão e diminuição do risco
específicas para ações em mudança climático no longo prazo frente aos
do clima no orçamento da União, e as efeitos adversos da mudança do clima
medidas existentes – ou a serem criadas em suas dimensões social, econômica e
– que estimulem o desenvolvimento de ambiental (BRASIL, 2008). Estruturado
processos e tecnologias que contribuam em dois volumes, o Plano detalha as bases
para a mitigação e a adaptação. O legais, objetivos, metas e governança,
Comitê Interministerial sobre Mudança além de uma proposta de inserir a gestão
do Clima, a Comissão Interministerial do risco e incrementar a resiliência em 11
de Mudança Global do Clima, o Fórum setores e temas, sendo eles: Agricultura,
Brasileiro de Mudança do Clima, a Rede Biodiversidade e Ecossistemas, Cidades,
Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Desastres Naturais, Indústria e Mineração,
Climáticas Globais – Rede Clima – e a Infraestrutura (Energia, Transportes e
Comissão de Coordenação das Atividades Mobilidade Urbana), Povos e Populações
de Meteorologia, Climatologia e Vulneráveis, Recursos Hídricos, Saúde,
Hidrologia, também são instrumentos Segurança Alimentar e Nutricional e
institucionais da PNMC (BRASIL, 2008). Zonas Costeiras (BRASIL, 2016-2017).
Seguindo as diretrizes da PNMC,
o Poder Executivo determinou, em 6.2 A Política Estadual de Mudanças
2010, através do Decreto n° 7.390/2010 Climáticas
(BRASIL, 2010), a elaboração dos Planos
Setoriais de Mitigação e Adaptação à A Política Estadual de Mudanças
Mudança do Clima, com a inclusão de Climáticas (PEMC) do estado de São Paulo
ações, indicadores e metas específicas foi criada com o objetivo de estabelecer
de redução de emissões e mecanismos seu compromisso no combate às
para a verificação do seu cumprimento. mudanças do clima, tratando sobre as
Os Planos deveriam contemplar diversos condições necessárias para a adaptação
setores, como geração e distribuição aos impactos. Além disso, também há
de energia elétrica, transporte público um foco em reduzir as emissões de gases
urbano, indústria, serviços de saúde de efeito estufa (SÃO PAULO, 2019).
e agropecuária, considerando as A política foi instituída pela Lei
especificidades de cada um. As ações de Estadual nº 13.798, de 9 de novembro
redução de emissões e os mecanismos de 2009, que define seus princípios,
de verificação considerados deveriam objetivos e instrumentos de aplicação.
incluir, também, o Mecanismo de A lei cumpre o papel de definir
Desenvolvimento Limpo (MDL) e as diversos conceitos, como adaptação
Ações de Mitigação Nacionalmente e emissões, além de ponderar sobre

37
MÓDULO 1

as funções do Estado, incluindo ações produtos definidos no âmbito da PEMC


como a coordenação da elaboração são documentos dinâmicos, ou seja,
da Comunicação Estadual, o fomento que demandam atualização constante.
de medidas que privilegiem padrões Dentre eles há a Avaliação Ambiental
sustentáveis de produção, comércio Estratégica, o Zoneamento Ecológico-
e consumo, entre outros (SÃO Econômico o Plano Participativo de
PAULO, 2009). Por sua vez, esta lei é Adaptação aos Efeitos das Mudanças
regulamentada pelo Decreto Estadual Climáticas, o Plano de Transportes,
nº 55.947, de 24 de junho de 2010 (SÃO dentre outros documentos ligados à
PAULO, 2019). emissão de gases de efeito estufa, vulne-
Um Comitê Gestor é responsável rabilidade, estratégia e uso de recursos
por dividir as atribuições entre as (SÃO PAULO, 2019).
entidades vinculadas. Grande parte dos

38
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

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43
CAPACITAÇÃO EM ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS NA BAIXADA SANTISTA

MÓDULO 2
COMO A MUDANÇA DO CLIMA INFLUENCIA O
CICLO HIDROLÓGICO E AFETA A SOCIEDADE,
A ECONOMIA E O MEIO AMBIENTE
MÓDULO 2

Crédito:
Foto Manguezal, Santos.
Claudia Condé Lamparelli, CETESB

46
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

1. CICLO HIDROLÓGICO E AS O segundo remete à adaptação à


mudança climática, visando minimizar
MUDANÇAS DO CLIMA
seus impactos futuros na sociedade
Como já mencionado no Módulo (ANA, 2010).
1, um dos grandes desafios atuais da Quanto à adaptação, para o
humanidade é lidar com as mudanças do desenvolvimento de estratégias em
clima causadas pelo acúmulo de gases âmbito local, é preciso entender os
de efeito estufa (GEE) na atmosfera, efeitos da mudança do clima, que
notadamente o dióxido de carbono não são homogêneos pelo planeta. O
(CO2), óxido nitroso (N2O) e o metano estudo do avanço deste fenômeno e
(CH4). Eles intensificam a retenção de suas possíveis consequências futuras de
calor na Terra por meio da atmosfera, modo a viabilizar políticas, programas
ocasionando diversas consequências, e planos de ação, é realizado com
como o aumento da temperatura média base em modelos e cenários globais de
do planeta. concentração de gases de efeito estufa,
Os efeitos de mudanças mínimas nas conforme ilustrado no Gráfico 2 a seguir
condições naturais, provocados pelo (IPCC, 2014).
aquecimento global, podem ocasionar Os modelos globais indicam, a
diversas situações extremas que devem partir das trajetórias de emissões de
ser monitoradas. Uma elevação média gases de efeito estufa, quais serão
do nível do mar de 50 cm a 1 metro, um as possíveis alterações climáticas
aquecimento da temperatura média de futuras. Ainda que o aumento da
2°C a 3°C, entre outros acontecimentos temperatura à superfície apresente
previstos podem levar ao surgimento maior homogeneidade globalmente, o
de milhões de refugiados climáticos mesmo não é observado a respeito das
e inviabilizar nosso funcionamento variáveis do ciclo hidrológico. Esse ciclo,
como sociedade. Pesquisas apontam também denominado ciclo da água, é o
que os valores de concentração de CO2 movimento contínuo da água presente
observados atualmente foram notados nos oceanos, continentes (superfície,
pela última vez milhões de anos atrás, o solo e rocha) e na atmosfera que é
que serve de indício para a intensidade alimentado pelas forças da gravidade,
do problema (MARQUES, 2019). pelos gases presentes na atmosfera e
Governos, entidades de pesquisa e pela energia do sol7. A água está em
a comunidade internacional se aliam contínuo movimento entre a superfície,
com o objetivo de propor caminhos o subterrâneo e a atmosfera e, portanto,
para a solução do problema, adotando, qualquer alteração climática implica em
comumente, dois principais vieses. desequilíbrios do ciclo e consequências
O primeiro é focado na redução das na disponibilidade de água em cada
emissões, com a transição para uma um desses sistemas. A Figura 7 ilustra a
economia de baixo carbono como representação dos processos envolvidos
medida combativa ao atual padrão, no ciclo hidrológico, de forma conceitual
comprovadamente danoso ao planeta. e generalizada.

7. https://www.mma.gov.br/agua/recursos-hidricos/aguas-subterraneas/ciclo-hidrologico.html

47
MÓDULO 2

Gráfico 2.  Emissões globais de gases de efeito estufa (gigatonelada de CO2 equivalente
por ano, GtCO2-eq/ano) em cenários de linha de base e mitigação para diferentes níveis
de concentração de longo prazo e requisitos de aumento de escala de energia de baixo
carbono.

Fonte: IPCC (2014)

Figura 7. Esquema do Ciclo Hidrológico

Fonte: FISRWG (1998, p. 84)

48
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Mudanças no balanço de radiação reservatórios. Isso causa aumento da


afetam diretamente o ciclo hidrológico. frequência de enchentes e inundações,
Com o aumento da temperatura que, por sua vez, são acompanhadas
média global, esperam-se, entre outras de uma série de outros problemas. Em
consequências, alteração nos padrões da contrapartida, enquanto em algumas
precipitação (aumento ou diminuição regiões existe a possibilidade de um
da intensidade e da variabilidade), o cenário com aumento das precipitações,
que poderá afetar significativamente a simultaneamente é possível se observar
disponibilidade e a distribuição temporal risco maior de secas em outras localidades
na vazão dos rios. Ou seja, além de ou épocas (NOBRE, 2011).
alterações nas disponibilidades médias, Em um aspecto mais local, na costa
os eventos hidrológicos críticos, como brasileira, há o bioma da Mata Atlântica,
secas e enchentes, poderão tornar-se composto por diversos ecossistemas
mais frequentes (ANA, 2016). (fitofisionomias), como manguezais,
Há ainda a intensificação do restingas e formações florestais. Esses
derretimento das geleiras continentais sistemas são diretamente ligados ao ciclo
e da diminuição da cobertura do gelo hidrológico, pois a vegetação contribui
marinho, ocasionando uma redução do para que a água retorne para sua fase
albedo planetário, ou seja, uma fração vapor por meio da evapotranspiração,
menor da radiação solar incidente será afetando, portanto, sua disponibilidade.
refletida. A radiação absorvida leva Além disso, há uma relação indireta pois,
ao aumento da temperatura do ar, a Mata Atlântica atua como sumidouro
aquecendo a atmosfera, o que favorece de carbono, auxiliando na mitigação da
o processo de evaporação. Com isso, há mudança do clima e, consequentemente,
maior quantidade de água na forma de dos eventos extremos – fora o próprio
vapor, que é um dos gases com maior papel da vegetação na prevenção de
poder de aquecimento. Esse aumento deslizamentos e inundações (MMA,
retroalimenta o processo, fazendo a 2018).
manutenção de um ciclo que leva a
concentrações cada vez maiores de 1.1 EFEITOS NO CICLO HIDROLÓGICO
vapor d’água na atmosfera, além de
provocar um feedback positivo, ou seja, A análise do impacto da mudança
uma intensificação do aquecimento do clima no ciclo hidrológico é
da atmosfera. Ademais, o aumento da extremamente complexa e inclui
temperatura também leva à redução diferentes elementos, que envolvem a
da umidade do solo por meio da integração entre os efeitos decorrentes
evaporação direta e pelo aumento da destas mudanças e os de diversas
evapotranspiração das plantas. Por atividades humanas, como a poluição,
outro lado, a atmosfera mais úmida agricultura e retirada de águas. Apesar
leva a uma intensificação do regime de disso, diversos padrões ligados ao
precipitações em certas regiões, o que ciclo hídrico já foram observados em
causa maior escoamento superficial, diferentes partes do mundo.
levando à consequente erosão do solo A Figura 8 abaixo, divulgada pelo
e assoreamento das calhas dos rios e relatório do AR5 do IPCC (2013), ilustra

49
MÓDULO 2

projeções para evaporação, diferença umidade do solo e de escoamento são


entre evaporação e precipitação, muito incertas devido ao funcionamento
escoamento, umidade do solo, umidade dos modelos hidrológicos. Apesar
relativa e umidade específica para disso, é possível prever a ocorrência de
o período 2016-2035, considerando mudanças no ciclo hidrológico devido ao
o cenário RCP 4.5. As projeções de aumento da intensidade e variabilidade

Figura 8. Variação média anual do ciclo da água de acordo com o cenário RCP 4.5 para os
anos de 2016-2035

Fonte: IPCC (2013; cap. 14)

50
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

dos padrões de precipitação, o que variando entre −15% e +25%, por


provavelmente afetará a vazão e exemplo, o que levanta diversas
distribuição temporal dos rios e bacias preocupações. O país é altamente
hidrográficas (ANA, 2016). dependente da energia provinda das
Em especial para as zonas costeiras, as usinas hidrelétricas, portanto, uma vez
mudanças nos padrões de temperatura que se estima que a maioria dos rios
da superfície do mar influenciam o associados às usinas sofrerão reduções
regime de ventos, atuando também em seus níveis, há um cenário alarmante
sobre o padrão de formação das ondas (NOBREGA, et al., 2011).
sobre o nível do mar. Alterações na O Brasil conta com uma
intensidade, distribuição ou no clima disponibilidade de recursos hídricos
dos ventos geram diferentes impactos, privilegiada em relação aos demais
contudo os mais significativos são sobre países do mundo. A vazão média anual
os corpos de água costeiros e os oceanos. dos rios em território brasileiro equivale
Dentre esses, estão incluídas variações no a cerca de 12% da disponibilidade
padrão de geração de ondas, a indução de mundial de recursos hídricos. Esse valor,
circulação de massas d’água e alterações porém, depende muito do clima, uma
no Nível Médio do Mar (NMM). Como vez que eventos naturais, como o El Niño,
a circulação hidrodinâmica em corpos e as próprias dimensões continentais
hídricos costeiros é muito dependente do país afetam o regime de chuvas
da ação dos ventos, a mudança no clima sazonalmente. Contudo, é possível
de ventos pode alterar o transporte de observar como a mudança do clima tem
substâncias passivas (NEVES e MUEHE, alterado estes padrões naturais e afetado
2008). Além disso, a energia cinética é a variabilidade e a disponibilidade
transferida para o mar na forma de ondas na qualidade e quantidade da água.
ou marés meteorológicas, o que causará Variações no padrão de chuva podem
alteração no padrão dos processos ser observadas por todo o país, sendo
sedimentares e, consequentemente, no a Amazônia e o Nordeste as áreas
balanço sedimentar costeiro. Uma maior mais vulneráveis (MARENGO, 2008). Os
tendência na evaporação, causada pelo eventos que afetam a oferta de água
aumento da temperatura, também são extremamente críticos em escala
podem levar a maior incidência de nacional, pois, apesar da abundância,
tempestades, além de ventos, furacões e os recursos hídricos brasileiros não são
ciclones. (MARENGO et al., 2016). inesgotáveis e seu acesso não é igual
O diagrama a seguir, Figura 9, ilustra para todos (ANA, 2016).
de maneira simplificada os principais Além disso, a disponibilidade de
efeitos da mudança de temperatura água também é afetada por fatores
no ciclo hidrológico e os problemas antrópicos. Com a urbanização, o ciclo
consequentes dessas alterações. hidrológico e as características naturais
A análise dos impactos sofridos no da drenagem são alterados, o que
manejo de recursos devido à mudança pode contribuir para eventos como
na vazão de rios é uma importante área inundações, assoreamento e erosão. Nos
de pesquisa. Para o Brasil, projetam-se espaços urbanos, a impermeabilização
flutuações na Bacia do Rio Uruguai do solo devida à remoção da vegetação,

51
MÓDULO 2

Figura 9. Efeitos da mudança de temperatura no ciclo hidrológico e principais impactos

Fonte: Elaboração própria (2019)

obras e pavimentação impede a impermeabilização também faz com que


infiltração da água no solo, processo a maior parte da água escoe em direção
extremamente importante para a aos canais fluviais, que normalmente
recarga dos reservatórios superficiais. já são canalizados nas áreas urbanas, o
Essa fonte de água é responsável por que favorece as inundações e erosão. A
abastecer a flora e os canais abertos deposição irregular de resíduos contribui
em período de estiagem e atender às também para a drenagem inadequada
demandas domésticas e industriais. A (FRITZEN e BINDA, 2011).

52
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

1.2. EVENTOS HIDROLÓGICOS sucessão de eventos extremos de tempo


EXTREMOS: TEMPESTADES, que podem ser chuvosos, secos, de
ENCHENTES, INUNDAÇÕES, SECAS, temperaturas elevadas (ondas de calor)
ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR, e de temperaturas mais baixas (ondas de
DESLIZAMENTOS DE ENCOSTAS frio) (JACOBI et al., 2015).
Dentre os eventos extremos
No desenvolvimento e expansão consequentes das mudanças do clima,
de cidades, o ecossistema previamente os de maior ocorrência no Brasil são
existente é modificado em grande os eventos extremos chuvosos e os
extensão, o que afeta o equilíbrio secos. Os primeiros são causados
ambiental previamente estabelecido. por fenômenos atmosféricos como
Essa alteração, somada à mudança do tornados, ciclones extratropicais, frentes
clima, leva a diversos eventos extremos, frias, tempestades severas, entre outros
que são agravados pela vulnerabilidade (JACOBI et al., 2015). As chuvas intensas
dos sistemas humanos e naturais. Em provocam a elevação do nível da água
Meteorologia, os extremos estão dos rios, que pode sair da situação
associados a fenômenos que ocorrem normal, e passar pelo nível de enchente,
com pouca frequência, mas que, quando o nível do rio não ultrapassa
geralmente, causam impactos negativos a cota máxima, e chegar ao nível de
à sociedade (JACOBI et al., 2015). inundação, quando a água excede o
O incremento nas temperaturas e nível do rio (AMARAL e GUTJAHR, 2012)
precipitações, positivo ou negativo, como demonstrado na Figura 10.
poderá resultar na
intensificação de Figura 10. Representação esquemática de enchente e inundação.
eventos extremos
locais e regionais em
curto ou longo prazo
(MMA, 2017). Esses
eventos podem ser
classificados como
eventos extremos de
clima ou de tempo.
Os eventos extremos
de tempo são aqueles
que ocorrem com
pouca frequência Fonte: Jacobi et al., 2015 baseado em AMARAL e GUTJAHR (2012)
e que excedem um No estado de São Paulo há destaque
limiar que delimita a ocorrência de para os eventos de enxurradas e
extremos, que é definido dependendo inundações, que, de acordo com o Atlas
da localidade. Por exemplo, uma chuva Brasileiro de Desastres Naturais, são
de 60 mm no período de um dia é um aqueles que causam os maiores danos
evento extremo em muitos locais do à população da região. Além disso, em
Brasil, por exemplo. Um evento extremo regiões com grandes adensamentos
de clima, por sua vez, ocorre devido à populacionais, um aumento dos extremos

53
MÓDULO 2

de chuva provocou o crescimento do impactos, cenários de desertificação


risco de enchentes e deslizamentos de (ou aceleração da desertificação)
terra. Finalmente, também há estudos são possíveis, tornando marginal a
apontando o aumento do nível do mar agricultura de terras áridas (forma atual
e variações nos ciclones tropicais, o da subsistência de mais de 10 milhões
que afeta as zonas costeiras do estado de habitantes) (MMA, 2017). Um evento
(AMBRIZZI, CARVALHO e GARCIA, 2019). extremo de grande destaque foi a seca
A Gráfico 3 a seguir demonstra que, de 2014-2015 que afetou o Sudeste do
para o Estado de São Paulo, apesar das Brasil, onde as consequências de uma
chuvas estarem abaixo do esperado, estação chuvosa de verão deficiente
a ocorrência de eventos extremos (choveu menos de 50% do normal em
continuou alta, principalmente nos 2014) geraram uma crise hídrica sem
meses de inverno. No gráfico superior, há precedentes na história climática de São
o registro de anomalias de precipitação Paulo (NOBRE e MARENGO, 2017).
(valores acima ou abaixo da média) por No Brasil há um elevado número
certo período de tempo. Por sua vez, no de pessoas em situação de alta
gráfico inferior há registro dos extremos vulnerabilidade, principalmente em
de precipitação sobre o Estado de São comunidades localizadas nas periferias
Paulo durante certo período; as barras das cidades e em áreas de risco, que
indicam o número de dias do ano em que carecem de infraestrutura adequada.
os acumulados diários de precipitação Este número tende a aumentar com
estiveram acima do percentil de 95%8. o crescimento da exposição a eventos
Alterações no sistema climático extremos, já havendo inúmeros registros
global também podem intensificar apontando a intensificação da magni-
as secas meteorológicas, definidas tude dos desastres naturais. Inundações,
como períodos com déficits anormais deslizamentos e tempestades figuram
de precipitação, podendo ter entre os incidentes com maior ocorrência
consequências para atividades agrícolas nas regiões Sudeste e Sul, enquanto
ou para o ciclo hidrológico (JACOBI et estiagens predominam no Nordeste,
al., 2015). Situações de estresse hídrico sendo todos relacionados às variações
já foram detectadas durante anos de do ciclo hidrológico. A menos que sejam
ocorrência de secas, causando desastres tomadas providências para conter esta
socioeconômicos, os quais poderiam situação, a habitabilidade de certos
se tornar mais frequentes em um locais se reduzirá significativamente
clima mais quente e seco no futuro (NOBRE e MARENGO, 2017).
(MARENGO et al., 2009). Entre outros

8. O IPCC (2013) sugere o uso do percentil de 95% da série temporal de dados para identificação de eventos
extremos.

54
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Gráfico 3.  Anomalias de precipitação e Extremos de precipitação entre os anos de 1979 e


2018, para o Estado de São Paulo

Fonte: AMBRIZZI, CARVALHO e GARCIA (2019)

55
MÓDULO 2

2. CORRELAÇÃO DOS PROBLE- possível criar medidas que aumentem


a resiliência das cidades e de suas
MAS E SEUS FATORES DE
populações, preparando-as para lidar
OCORRÊNCIA tanto com a ocorrência de eventos
extremos, como com as alterações nos
Como já apresentado nas seções
ciclos naturais. É importante salientar
anteriores, as previsões de mudança
que muitos dos problemas e impactos
no clima se traduzem em alterações
são conectados e inter-relacionados,
nos padrões de temperatura e
possuindo implicações e consequências
precipitação, assim como no aumento
em um ou mais fenômenos. Os impactos
da variabilidade dos fenômenos
na saúde humana, por exemplo, podem
hidrológicos extremos, como as secas
ser decorrentes do próprio aumento
e inundações. Essas mudanças serão
de temperatura, das consequências
sentidas significativamente, porém de
das alterações dos ciclos biológicos de
forma diversa, nas diferentes regiões
vetores de doenças de veiculação hídrica,
brasileiras e a água deverá ser o principal
da alteração da qualidade da água
meio pelo qual as populações e os
proveniente do aumento de eventos de
setores usuários serão impactados pelos
inundação e até mesmo indiretamente
efeitos da mudança do clima (BRASIL,
através de conflitos decorrentes de
2016; MMA, 2017).
disputas por uso da água, alimentos,
Além do aumento do NMM, que
migrações, etc.
afeta atividades econômicas impor-
tantes como a operação de portos e o
2.1 ÁGUA SUPERFICIAL
turismo, efeitos sobre os ecossistemas
marinhos podem provocar grandes Estudos já desenvolvidos para
perdas, principalmente em termos de aplicação dos modelos de previsão de
serviços ecossistêmicos e nas atividades vazões das bacias hidrográficas brasi-
de comunidades pesqueiras. O aumento leiras diante dos cenários de mudança do
da temperatura e a ocorrência de ondas clima apresentam resultados bastante
de calor pode provocar sérios danos divergentes entre si. Entretanto, todos
em infraestruturas e na saúde humana, apontam na direção da ocorrência de
afetando populações mais vulneráveis. alterações no regime de escoamento,
Uma onda de calor que atingiu o litoral mas é difícil determinar a taxa e a
de São Paulo em fevereiro de 2010, magnitude desses efeitos (ANA, 2016).
provocou a morte de pelo menos 32 As principais simulações aplicadas
pessoas com idades entre 60 e 97 anos em âmbito nacional indicam que, em
na cidade de Santos, em apenas dois geral, as mudanças do clima poderão
dias9. acarretar redução da vazão em até 20%
Portanto, entender os principais nos rios do leste da Amazônia. A bacia do
impactos e as dinâmicas associadas aos Tocantins pode ter sua vazão reduzida
mesmos é fundamental para que seja em até 30%. Alguns modelos sugerem

9. Reportagem disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/onda-de-calor-provocou-morte-de-32-idosos-


em-santos-em-sp-diz-prefeitura-3054640

56
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

que a vazão do rio Paraguaçu, na Bahia, 2.2 ÁGUA SUBTERRÂNEA


pode reduzir-se em até 40%. Na região
do semiárido brasileiro, os modelos Os fatores da mudança do clima
indicam que poderá haver redução na apresentam grande sinergia entre si,
vazão do rio Jaguaribe e do rio Várzea o que faz com que diversos eventos
do Boi, ambos no Ceará. Estudos indicam sejam causados uns pelos outros. Em
aumentos entre 2% e 30% na bacia do Rio geral, além dos efeitos sobre as águas
Paraná e nas regiões vizinhas no Sudeste superficiais, a mudança climática deverá
da América do Sul, consistentemente afetar as taxas de recarga de águas
com as análises de tendência de chuva subterrâneas, ou seja, os recursos de
na região (MARENGO, 2008). A redução águas subterrâneas renováveis e os
das vazões dos rios, junto ao aumento níveis dos aquíferos (ANA, 2016). No
da evapotranspiração, prejudicará a Nordeste, por exemplo, a diminuição
eficiência de armazenamento de água das chuvas resulta em menos água
nos lagos e açudes (ANA, 2016). penetrando no solo, podendo haver
Algumas mudanças na circulação uma redução de até 70% na recarga dos
costeira e estuarina já foram observadas aquíferos dessa região, com potencial
nas últimas décadas. No sul do Brasil, de prejudicar o abastecimento de cerca
observou-se aumentos nas taxas de de 20 milhões de pessoas que ali vivem
descarga fluvial e no nível das águas (CEDEPLAR e FIOCRUZ, 2008). No Sistema
em lagoas costeiras, relacionados com Aquífero Guarani, quase 70% dos
aumentos nas taxas de precipitação cenários climáticos geraram variações
para a região, que afetam a qualidade dos níveis freáticos abaixo daqueles
da água, comunidades biológicas e medidos no monitoramento entre 2004
a atividade socioeconômica local, e 2011 (MELO e WENDLAND, 2013).
particularmente a produção pesqueira Na Região Metropolitana de São
(NOBRE e MARENGO, 2017). Paulo, durante a grande estiagem de
Essas alterações de vazão dos 2013 a 2015, com redução da oferta
rios podem causar diversos impactos. de água superficial, muitos poços,
A qualidade das águas pode ficar inclusive irregulares, foram perfurados,
comprometida, uma vez que ocorre a aumentando o consumo de águas
diminuição da capacidade de diluição de subterrâneas da região. Apesar disso,
cargas poluentes. O aumento da duração a maior parte dos aquíferos da região
e intensidade das chuvas, por sua vez, ainda conta com capacidade de maior
pode acarretar em maior transporte de extração, o que indica uma possível
sedimentos, nutrientes e agrotóxicos. solução auxiliar às medidas de combate
A operação de infraestruturas, como as aos efeitos da mudança do clima
hidrelétricas, os sistemas de irrigação e a (ARANTES, 2016).
gestão da água como um todo também Outro fator que afeta as águas
é afetada (BRASIL, 2016). subterrâneas é o aumento do nível do
mar, que pode levar à salinização de
aquíferos. A água salgada se infiltra
no solo, levando ao comprometimento
de recursos hídricos subterrâneos, o

57
MÓDULO 2

que afeta a disponibilidade de água Estima-se que cerca de 8 milhões de


potável e as redes de esgoto; isso, por pessoas sejam atingidas na América do
sua vez, traz outros impactos, afetando Sul até o ano de 2100 para um aumento
a agropecuária, o turismo e danificando de 2 metros do NMM (NICHOLLS et al.,
tubulações subterrâneas (atingindo 2011). Outras consequências seriam o
indústrias de petróleo e gás) por exemplo. aumento da salinidade no estuário de
Além disso, há as diversas consequências rios e da intrusão salina em aquíferos
ambientais, como alteração da litorâneos, prejudicando a biodiversi-
fertilidade dos solos e do ciclo de vida dade e fontes de abastecimento de água
de plantas e animais, eutrofização de doce (LOZAN, 2007).
corpos d’água, entre outros (MARENGO As estimativas apresentadas no AR5
et al., 2016). A intrusão salina é do IPCC (2013) para a elevação do NMM
estimulada por atividades humanas global variam entre 26 e 98 centímetros
também; a perfuração extensiva de até 2100. Com uma elevação média
poços somada à superexploração torna de 0,5 metros, a população em risco
as regiões costeiras mais vulneráveis a poderia mais do que triplicar enquanto a
este problema (TUCCI e CABRAL, 2003). exposição de ativos aumentaria mais de
10 vezes (BARBIER, 2015). As projeções
2.3 ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR de aumento do nível do mar para a costa
brasileira apontam valores relativos de
Dentre as alterações no ciclo 0,4m até 0,57m (NOBRE e MARENGO,
hidrológico provocadas pelo aumento 2017).
de temperatura estão a intensificação Nas cidades costeiras brasileiras,
do derretimento das geleiras e de a elevação do NMM tem como efeitos
eventos extremos de precipitação, principais as inundações costeiras e a
além do aquecimento direto da água erosão. No contexto das inundações
do mar, tanto na superfície quanto em costeiras, como a evolução do evento
camadas mais profundas. Esses fatores está associada à atuação de ciclones
promovem a expansão do volume da extratropicais e sistemas frontais (baixa
água, causando o aumento do nível do pressão atmosférica) que geram elevada
mar em âmbito global. precipitação, é comum a conjunção com
Embora as zonas costeiras repre- eventos de enchentes/alagamentos,
sentem apenas 2% da superfície que amplificam os efeitos nas cidades
terrestre do planeta, elas abrigam 13% costeiras, em especial quando ocorrem
da população mundial. Portanto, a em fase de maré de sizígia (MARENGO
exposição humana ao aumento do nível et al., 2016).
médio do mar (NMM) sem nenhuma A região da Baixada Santista foi
estratégia de adaptação, se traduzirá classificada como altamente vulnerável
em impactos catastróficos, com dezenas ao aumento do nível médio do mar, já
de milhões de pessoas se tornando sofrendo inundações durante as marés
refugiadas ambientais, com o risco real de sizígia. A costa noroeste, a porção
do deslocamento forçado de até 187 sudoeste e a costa sul poderão sofrer
milhões de pessoas ao longo deste século um aumento de inundação costeira
- cerca de 2,4% da população mundial. devido ao maior número de ocorrências

58
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

de tempestades, o que contribui para a 2.4 EFEITOS DE CHUVAS INTENSAS EM


ampliação do risco ao qual as populações ÁREAS RURAIS E URBANAS
litorâneas estão expostas. Além destas
situações, há também vulnerabilidade A ocorrência de chuvas intensas
dos ecossistemas. No município de pode provocar o extravasamento de rios
São Vicente, por exemplo, os cenários e a ocorrência de inundações, o que é
projetam impacto nos mangues, que agravado pela alta impermeabilização
desapareceriam da região (MARENGO, do solo das cidades e efeitos como
et al, 2016). A Figura 11 a seguir o das ilhas de calor, que aceleram a
apresenta os impactos em áreas costeiras evaporação e a formação de eventos de
observados e projetados para a América precipitação imprevisíveis (por exemplo,
Central e América do Sul. chuvas convectivas). As ilhas de calor
são definidas como a diferença na
temperatura de uma área urbana em
relação a seu entorno ou a uma área

Figura 11. Impactos em áreas costeiras observados e projetados na


América Central e América do Sul

Fonte: ECLAC (2011); MAGRIN et al., (2014)

59
MÓDULO 2

rural e é consequência, dentre diversos costeira no litoral do estado de São


fatores, do aumento da rugosidade da Paulo. É possível notar que a maioria
superfície e da redução das trocas de das praias da Baixada Santista apresenta
calor no meio urbano (MONZONI, 2013). risco alto ou muito alto à erosão costeira
Nas cidades das zonas costeiras, (INSTITUTO GEOLÓGICO, 2017).
as inundações bruscas podem causar
a destruição de edificações, de obras Os principais impactos dos eventos
de infraestrutura urbana (barragens, de chuvas intensas no ambiente rural
reservatórios), colocando em risco estão associados com a produção
a integridade física das pessoas agrícola. Estudos do Instituto Nacional
residentes em áreas ribeirinhas de Ciência e Tecnologia (INCT) com
(MARENGO et al., 2016). Além disso, o a Embrapa indicaram que, no setor
aumento da velocidade do escoamento agrícola brasileiro, 95% das perdas
pode provocar aumento da erosão ocorrem em razão de inundações ou
e assoreamento dos rios, o que é secas e projeta-se que tais eventos
particularmente crítico em regiões ocorram com mais frequência (perdas
portuárias, causando paralisações e de 5 a 6 bilhões de reais ao ano até
prejuízos sociais e econômicos. Em 2025) (NOBRE e MARENGO, 2017). Essas
Santos, por exemplo, o código de perdas podem causar migrações de
habitações ainda permite construções populações para as cidades e problemas
insulares que são muito vulneráveis, no abastecimento de produtos, o que
como os estacionamentos em subsolo. compromete a segurança alimentar de
Eles já sofrem com inundações e isso diversas regiões.
tende a ser exacerbado com a mudança
climática. O zoneamento urbano e os 2.5 SECAS PROLONGADAS
planos de mobilidade têm de levar
isso em conta (MARENGO et al., 2016). O menor tempo de residência
A erosão costeira é, basicamente, da umidade no solo, o aumento
um produto do balanço sedimentar da frequência e da intensidade das
negativo causado por uma mistura secas, e períodos de precipitação com
de fatores antrópicos e naturais. O eventos de chuva mais concentrados
aumento do nível médio do mar e a e intensos, provavelmente diminuirão
maior ocorrência de eventos extremos, a disponibilidade de água no solo
como ciclones, somados à retirada de (MMA, 2017), afetando a qualidade
areia da praia e urbanização da orla e quantidade de água potável. Isso
pela atividade humana, por exemplo, acontece porque a reposição hídrica
contribuem seriamente para o aumento dos aquíferos e bacias sofre influência
da erosão. Isso configura um grave direta deste fenômeno. Desta forma,
problema, pois pode levar à danificação diversos outros sistemas, como
de ecossistemas e prejudicar atividades agricultura, energia, turismo e comércio
econômicas. A Figura 12 apresenta também são atingidos, intensificando a
o resultado de estudos realizados e vulnerabilidade das regiões (ANA, 2016).
revistos pelo Instituto Geológico a Há convergência entre vários
cada 2 anos que classificaram a erosão cenários de mudanças climáticas futuras

60
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Figura 12. Classificação de risco à erosão costeira das cidades do litoral paulista

Fonte: Instituto Geológico (2017)

61
MÓDULO 2

de que haverá menor disponibilidade Os baixos índices pluviométricos


hídrica em grande parte do Nordeste, nos anos de 2013 a 2015, somados ao
uma das regiões mais vulneráveis do país crescimento da demanda e à ausência
com respeito à produção de alimentos e de planejamento adequado para o
ao abastecimento humano e de animais. gerenciamento dos recursos hídricos
A seca de 2014 e 2015 na região Sudeste contribuíram para que a região sudeste
demonstrou que essa região úmida pode do brasil enfrentasse uma “crise hídrica”
ser tão vulnerável aos extremos climáticos (MARENGO, et al., 2015). Como a
como o semiárido do Nordeste, devido disponibilidade dos recursos hídricos é
à numerosa e concentrada população complexa e incerta, a gestão possui um
em críticas bacias hidrográficas como papel imprescindível na atenuação dos
aquelas da Região Metropolitana de impactos da variabilidade nos sistemas
São Paulo (NOBRE e MARENGO, 2017). hídricos, devendo definir medidas de
Os efeitos da seca afetam as adaptação e ajustes dos instrumentos e
atividades agrícolas e a geração práticas de controle (MMA, 2015).
hidrelétrica em áreas povoadas. Com
uma matriz energética dependente da 2.6 QUALIDADE DE ÁGUA E SAÚDE
geração hidrelétrica, o Brasil se torna
um país particularmente vulnerável Como discutido anteriormente, o
à ocorrência de eventos de seca. Por aumento da temperatura das águas
exemplo, o déficit de chuva durante o é o impacto mais imediato esperado
verão e outono de 2001 resultou em uma em função das mudanças climáticas.
redução significativa das vazões dos rios, Esse aumento da temperatura provoca
reduzindo a capacidade para produzir uma alteração do ritmo dos processos
energia hidrelétrica, instalando uma químicos e biológicos que afetam a
crise energética que forçou o governo qualidade das águas. Um dos principais
a impor medidas de racionamento de impactos causados pelo aumento
energia para evitar a interrupção total da temperatura é a redução nas
no seu fornecimento durante parte do concentrações de oxigênio dissolvido,
período 2001-2002 (MMA, 2017). o que afeta de maneira adversa a
É importante ressaltar que a seca capacidade de autodepuração dos
é um termo relativo e depende do corpos d’água e sua capacidade de
contexto no qual a análise está inserida. manter as comunidades aquáticas. O
Portanto, qualquer discussão em termos aquecimento das águas superficiais de
de déficit de precipitação deve se referir lagos e reservatórios também aumenta
às condições particulares relacionadas a estratificação vertical desses corpos
à quantidade de precipitação que está d’água, reduzindo a mistura das águas
sobre análise em uma determinada superficiais com as águas mais profundas
região (CASTRO et al., 2003). Numa (ANA, 2016).
visão socioeconômica dos desastres, a Em relação à saúde humana, os
seca depende mais das vulnerabilidades impactos das alterações climáticas
dos grupos sociais afetados do que das são complexos e, muitas vezes,
próprias condições climáticas (MMA, multifatoriais e não lineares, podendo
2017). ser diretos, indiretos e aqueles gerados

62
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

socialmente em resposta às alterações subsistência, devido às geadas, ciclones,


climáticas. Os impactos indiretos são, de vendavais, secas e cheias e outros
maneira geral, mediados por mudanças eventos climáticos extremos. Do ponto
no ambiente, como a alteração de de vista social, os impactos do aumento
ecossistemas e de ciclos biogeoquímicos, da temperatura na saúde humana serão
que pode modificar a distribuição de distribuídos de maneira assimétrica entre
doenças vetoriais, de veiculação hídrica as regiões do país, com as populações
e as associadas ao aumento da poluição menos favorecidas sofrendo os maiores
do ar. Os diretos estão relacionados impactos (NOBRE e MARENGO, 2017).
com eventos como ondas de calor ou Em específico para as cidades
mortes causadas por eventos extremos costeiras, uma dificuldade encontrada
como furacões e inundações (NOBRE e é em relação ao esgoto que é coletado,
MARENGO, 2017). transportado e lançado ao mar por
Os eventos extremos hidrometeoro- meio de emissários submarinos, sem
lógicos e climáticos afetam a dinâmica tratamento prévio. A vazão projetada
das doenças de veiculação hídrica, como para o lançamento desse efluente
a leptospirose, as hepatites virais e as considera certos valores de nível médio
doenças diarreicas, como a gastroen- do mar e, com o aumento do mesmo
terite. Essas doenças podem se agravar apontado pelas projeções futuras,
com alterações na temperatura, na corre-se o risco de refluxo desse
umidade e no regime de chuvas com as material para a cidade, o que agravaria a
enchentes ou secas, e alterar o trans- poluição das praias e aumentaria o risco
porte de microrganismos, a emissão de de ocorrência de doenças na população
poluentes e, consequentemente, afetar (RIBEIRO, 2008).
a saúde humana. Para inundações,
além dos impactos diretos, o aumento 2.7 MEIO AMBIENTE E ECOSSISTEMAS
da temperatura e precipitação, em
conjunto com variáveis socioeconô- A mudança do clima pode resultar
micas e demográficas, provavelmente em alterações na distribuição de
potencializará o aumento de doenças espécies, bem como em extinções
transmitidas por veiculação hídrica, locais, principalmente em ecossistemas
como diarreia e leptospirose (NOBRE vulneráveis e fragmentados. Tempe-
e MARENGO, 2017). O Centro de Vigi- ratura e precipitação desempenham
lância Epidemiológica do Estado de São papéis majoritários e determinam onde
Paulo apresentou dados de registro de espécies de plantas e animais podem
315 mil casos de diarreia causados por viver, crescer e se reproduzir. A alteração
doenças de veiculação hídrica ligadas a dos padrões de temperatura e a distri-
relatos de intermitência e baixa pressão buição temporal e espacial de chuva
nos sistemas de distribuição de água no planeta modificam a ordenação
durante o período de estiagem do ano e o funcionamento de ecossistemas,
de 2014 (FAJERSZTAJN e SALDIVA, 2018). consequentemente afetando os ciclos
Além disso, situações de desnutrição biogeoquímicos, que são os ciclos que
podem ser ocasionadas por perdas interligam a atmosfera à biota, aos
na agricultura, principalmente a de solos, às águas subterrâneas e superfi-

63
MÓDULO 2

ciais e, finalmente, aos oceanos (NOBRE verificaria em 2030 e se agravaria


e MARENGO, 2017). até à extinção, em 2050-2080;
O maior aporte de nutrientes devido ƒƒ Em 2100, o Brasil poderia
ao aumento da duração e intensidade perder até 200 dias por ano para o
das chuvas promove o crescimento crescimento de plantas, devido ao
de algas, as quais podem alterar aumento da temperatura e alteração
significativamente os ecossistemas no regime de precipitação, causando
aquáticos causando mortandade de impactos de grande magnitude tanto
peixes e alterações na cadeia alimentar. para a biodiversidade como para a
As cianobactérias, que podem produzir produtividade de ecossistemas e a
toxinas, geralmente têm um maior economia; e
crescimento em temperaturas mais
altas (acima de 25ºC), o que faz com ƒƒ Em 2100, a perda de
que tenham vantagem competitiva em biodiversidade nas costas tropicais,
relação a outras espécies (ANA, 2016). inclusive brasileira, será significativa,
Uma revisão de literatura gerando impactos sobre a
apresentada pelo IPCC (2014) e Nobre et alimentação e a economia.
al. (2015) sugere os seguintes impactos Estudos sobre os ecossistemas
relacionados a mudança do clima na bentônicos costeiros brasileiros e
biodiversidade com ênfase no Brasil: sua biodiversidade apontam ainda
ƒƒ Para o cenário de emissões mais mudanças na abundância e distribuição
altas, há risco de savanização10 e de espécies-chave, aumento na
empobrecimento de florestas nas incidência e abundância de algas
décadas finais do século; oportunistas, aumento na frequência
ƒƒ Aumento no percentual de risco de eventos de branqueamento e
de extinção de espécies de até 15,7%, mortalidade de corais, perda de bancos
sendo a América do Sul o continente de gramas marinhas e reduções de áreas
mais suscetível à extinção; de manguezais (NOBRE e MARENGO,
2017). Essas mudanças implicam em
ƒƒ Extinção e mudanças no padrão impactos na dinâmica socioeconômica
de distribuição de espécies nativas local, com consequências de perdas
de valor comestível e cultural no econômicas para as populações costeiras
Cerrado causariam problemas socio- e principalmente para as comunidades
econômicos em 2080; que dependem das atividades
ƒƒ Impactos socioeconômicos pesqueiras.
também ocorreriam, por exemplo: A Baixada Santista é composta por
a redução nas populações de um ecossistema diverso e complexo
espécie de abelhas nativas da Mata que conta com características de alguns
Atlântica, essenciais à polinização, ambientes estuarinos e com sistema
tanto de espécies agrícolas como de hídrico abundante. Há a formação de
espécies nativas. Esse impacto já se manguezais nas regiões mais lodosas,

10. Savanização refere-se ao processo no qual uma floresta se torna um ecossistema de vegetação mais esparsa,
do tipo savana, devido a fatores como mudança do regime de chuvas (CANDIDO, 2007).

64
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

com espécies adaptadas à variação no fitofisionomias são dependentes das


regime das águas salgadas e doces, características do solo, logo sua alteração
enquanto nos terrenos mais secos há devido a eventos de aumento do nível do
vegetação de restinga, igualmente mar e da taxa de erosão, tempestades,
diverso, que faz a transição da praia deslizamentos, entre outros, é uma
até a Floresta Atlântica de encosta na ameaça direta à diversidade local
Serra do Mar. O dinamismo da paisagem (SOUZA, 2018).
da Baixada permitiu que seu território O mangue é um ecossistema de
fosse ocupado de diversas maneiras e extrema importância, pois contribui na
ainda mantendo alta biodiversidade. retenção de sedimentos e proteção da
Apesar da interferência humana na linha de costa, além de abrigar diversas
região, provinda da urbanização e espécies. Os manguezais se adaptam
atividades comerciais, industriais e a cada variação no nível do mar, mas
portuárias, grandes extensões da Mata o ritmo constante causado pelas
Atlântica permanecem preservadas, mudanças climáticas gera elevação da
mesmo havendo algumas formações em intrusão salina em zonas estuarinas e
situação crítica. Entretanto, a mudança diminuição dos manguezais devido à
climática pode ser um fator agravante disponibilidade de áreas de expansão
nesta situação de risco. Muitas das (PBMC, 2016) Figura 13.

Figura 13. Manguezal, Santos.

Fonte: Claudia Condé Lamparelli, CETESB

65
MÓDULO 2

3. PREVISÕES DAS CONSE- de lazer por um longo prazo. Cidades


costeiras geralmente têm no turismo
QUÊNCIAS E IMPACTOS NA
uma importante atividade econômica
BAIXADA SANTISTA e, portanto, sua vulnerabilidade aos
desastres naturais pode trazer sérios
As zonas costeiras brasileiras são
impactos (MARENGO et al., 2016).
regiões de extrema importância nos mais
Um dos maiores impactos que as
diversos aspectos. A menos de 100 km da
zonas costeiras enfrentarão com a
costa há diversas cidades populosas loca-
mudança do clima é em relação ao
lizadas em áreas de baixa altitude, com
aumento do nível do mar. Os estados de
a estimativa de que esse número dobre
São Paulo e Rio de Janeiro registraram
até 2080. Além disso, há todo um fluxo
taxas de aumento do NMM de 1,8mm/
econômico dependente da região, tanto
ano a 4,2mm/ano desde a década de
de bens e serviços provenientes dos
1950 (HARARI et al., 2007).
ecossistemas costeiros, quanto das estru-
A Baixada Santista, formada por
turas portuárias existentes. No aspecto
nove municípios - Bertioga, Cubatão,
ambiental, estes locais são berços de
Guarujá, Itanhaém, Peruíbe, Praia
muitas espécies extremamente depen-
Grande, Mongaguá, Santos e São
dentes das características meteoroló-
Vicente também enfrentará desafios
gicas e oceanográficas de cada região, o
relacionados aos impactos da mudança
que os torna mais vulneráveis (NOBRE e
do clima. A bacia hidrográfica da
MARENGO, 2017).
Baixada Santista caracteriza-se por alta
Paralelamente, as zonas costeiras
pluviosidade, com uma precipitação
também sofrem mais intensamente com
média anual de 2.670mm, que não se
as mudanças do clima, pois são afetadas
distribui linearmente na região, nem
diretamente por eventos como aumento
tampouco entre os doze meses do
do nível médio do mar, elevação da
ano (CBH-BS, 2009). É bastante alta
temperatura superficial, alterações nos
de novembro a janeiro, diminuindo
regimes de precipitação e descarga
consideravelmente de junho a agosto.
continental e eventos extremos de
As áreas urbanas dos nove municípios
ondas, tempestade e ressacas. Esses
são altamente vulneráveis a enchentes,
acontecimentos contribuem para o
devido a chuvas convectivas e orográficas
aumento das ocorrências de inundações,
persistentes e chuvas de intensidade
erosão e danificação dos ecossistemas.
moderada com duração prolongada,
Com o crescimento da urbanização,
combinadas com o efeito das marés
os sistemas naturais se tornarão
(CARMO et al, 2012).
progressivamente menos resilientes à
Tais características indicam que a
mudança do clima (NOBRE e MARENGO,
região apresenta alta vulnerabilidade
2017).
aos efeitos esperados da mudança
As cidades costeiras que dependem
climática global sobre as águas,
do turismo podem ter dificuldades em
como o agravamento de inundações,
se recuperar de um desastre natural, e
processos erosivos e deslizamentos
isso pode diminuir o fluxo de turistas
de terra, associados às previsões de
e afetar a infraestrutura hoteleira e
maior frequência e intensidade dos

66
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

eventos hidrometeorológicos extremos, de calor ou dificuldades mais amplas de


bem como à elevação do nível do planejamento e adaptação dos sistemas
mar, dificultando o escoamento das face às incertezas da maior variabili-
águas pluviais nas áreas mais baixas. dade climática esperada, com possíveis
Os efeitos das mudanças do clima são mudanças no regime hidrológico dos
maximizados pela urbanização; ilhas rios (CARMO et al., 2012).
de calor potencializam a ocorrência de A cidade de Santos, a maior cidade
chuvas torrenciais, a impermeabilização da Região Metropolitana da Baixada
do solo agrava eventos de inundação, Santista e detentora do maior porto da
entre outros. Porém, a questão da América Latina, tem visto o aumento do
drenagem urbana vem sendo tratada nível do mar em uma média de 1,2 mm/
como solução em pontos isolados, não ano desde a década de 1940 (HARARI e
havendo a integração metropolitana CAMARGO, 1995). Santos é vulnerável
necessária; segundo um dos Planos de à elevação do NMM e a inundações,
Bacia da Baixada Santista, que cobre o sendo crítica a vulnerabilidade
período 2008-2011, dos nove municípios infraestrutural (ZANETTI et al., 2016).
da região, somente três tinham planos A resposta a desastres naturais nessa
de macrodrenagem em curso, com situação se torna um grande desafio.
financiamento do FEHIDRO, enquanto O crescimento da cidade tem sido
dois tinham projetos em fase de avaliação, associado basicamente a interesses
por exemplo (CARMO et al., 2012). econômicos, sem considerar o risco e
O aumento da impermeabilização do exposição aos impactos da elevação do
solo aumenta o escoamento superficial NMM e dos extremos meteorológicos, a
captado pela rede de drenagem exemplo da maioria das cidades costeiras
urbana. Este fato soma-se às chuvas do Brasil. Alfredini et al. (2014) mostram
intensas e prolongadas, eventos de aumentos significantes na altura das
maré alta, obstrução de elementos de ondas de 1,0m em 1957 a 1,3m em 2002,
captação superficial ou de tubulações e na frequência de ressacas durante
subterrâneas, muito desatualizados, e as últimas décadas (1957-2002) em
ao assoreamento de canais, provocando Santos. O Gráfico 4 a seguir demonstra
uma intensificação das inundações a variação do nível do mar na região de
em áreas urbanas (SANTOS, 2016). As Santos ao longo dos anos, indicando um
consequências dessa situação já vêm aumento no valor médio.
sendo observadas; em maio de 2019, por Registros de efeitos da erosão em
exemplo, moradores de Peruíbe ficaram Santos datam da década de 40, ligados
isolados e desabrigados devido a um tanto a interferências humanas quanto
deslizamento causado pelo excesso de à ocorrência de tempestades e ondas.
chuvas na região (G1 SANTOS, 2019). Estes eventos extremos são os principais
Acrescenta-se, ainda, o provável responsáveis por regular o processo
aumento nos episódios de interrupção morfodinâmico do litoral no curto e
temporária ou duradoura no abaste- médio prazo. A associação dos diversos
cimento de água, na coleta e no trata- processos antrópicos e naturais provoca
mento de esgotos, devidos a enchentes a destruição de parte da infraestrutura
urbanas, estiagem prolongada, ondas da região, principalmente por meio

67
MÓDULO 2

Gráfico 4.  Variação do NMM entre 1945 e 1990 na muretas de contenção da orla da
região de Santos praia de Santos, que são marco
turístico (MARENGO et al., 2016).
Além do porto abrigado
na região, também há usinas
de geração de energia térmica
complexos químicos, e terminais
de petróleo e gás, estruturas de
extrema importância econômica
para o país e vulneráveis aos
eventos extremos. Marengo et
al. (2016), investigaram o custo
das perdas no setor imobiliário
na Ponta da Praia em Santos com
Fonte: HARARI, 2019 e sem medidas de adaptação.
Sem adaptação, foi estimado
de enchentes e inundações, o que um prejuízo de entre R$ 870.093.165
implica em gastos para restauração e R$ 1.043.498.249, considerando
e manutenção constantes. Dentre baixa e alta elevação do nível do mar,
as diversas consequências, também respectivamente. A degradação na
é possível destacar os prejuízos aos infraestrutura do espaço costeiro
portos, afetando suas operações e acarreta perdas de áreas de turismo
o funcionamento das comunidades e lazer, a depreciação imobiliária e o
costeiras (SOUZA, 2019). aumento da sensação de insegurança.
No litoral paulista, estima-se que pelo Tais fatores redundam em perdas
menos 20 praias possam desaparecer econômicas e na desvalorização dos
no futuro com a subida do nível do espaços costeiros (IPCC, 2014). O Quadro 2
mar, o que afeta significativamente a seguir contêm a avaliação qualitativa
o patrimônio público e privado, o dos impactos econômicos sobre as
transporte, comércio e o turismo. Em atividades na zona costeira do Estado
2016, casos de ressacas que atingiram de São Paulo, gerado por processos e
cidades da Baixada Santista levaram problemas geoambientais já instalados,
ao fechamento do porto de Santos levantados por Souza (2009).
por alguns dias e destruíram parte das

68
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Quadro 2. Avaliação qualitativa de impactos econômicos sobre atividades antrópicas na


zona costeira do Estado de São Paulo, gerados por processos e problemas geoambientias já
instalado

PROBLEMAS AMBIENTAIS INSTALADOS


ATIVIDADES
ANTRÓPICAS Assoreamento Poluição Elevação Atual
Erosão Movimentos Inundações e Intrusão da
IMPACTADAS de Cursos (Balneabilidade do Nível do Mar,
Costeira de Massa Enchentes Cunha Salina
d’Água e Eutrozação) Mudanças Climáticas

Turismo e Lazer $$ $-$$ $$ N$ $$ $$ $$-N$

Suprimento de Água
N $$ $ $-N$ $$ $$ N$
Doce

Pesca e Aquicultura $-$$ $-$$ $$ $$ $$ $$ $$-N$

Comércio, Serviços,
$$ $$ $$ N$ $$ $$ $$-N$
Porto e Indústrias

Agricultura e Pecuária $-N$ $ $$ $$ $$ $$ $$

Saúde Pública N$-$$ $ $$ $ N$ $$ N$

Conservação de
Ecossistemas $$ $$ $$ $$ $$-N$ $$ $$-N$
Costeiros

Fonte: Souza (2009)


Legenda: $$ = maiores impactos; $ = menores impactos; N$ = impactos de dfícil avaliação; N
= sem impacto direto.

69
MÓDULO 2

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75
CAPACITAÇÃO EM ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS NA BAIXADA SANTISTA

MÓDULO 3
COMO OS MUNICÍPIOS PODEM ENFRENTAR
AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS EM SUAS
VÁRIAS DIMENSÕES
Crédito:
Foto flickr - Boca da Barra
Prefeitura Municipal de Itanhaém
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

1. COMPREENSÃO DOS RISCOS desastres não dependem somente da


magnitude dos eventos adversos, mas
DE DESASTRES
também do grau de vulnerabilidade da
Segundo o Escritório das Nações área em que aconteceu um desastre e
Unidas para Redução de Riscos de dos indivíduos afetados, como ilustrado
Desastres (do original em inglês, United na figura a seguir (PARIZZI, 2014).
Nations International Strategy for Destaca-se que, as ações para a
Disaster Reduction – UNISDR), o desastre redução do risco devem ocorrer sobre
pode ser entendido como uma séria as condições de vulnerabilidade aos
interrupção do funcionamento de uma desastres de acordo com as ameaças, isto
comunidade ou sociedade que causa é, é necessário que haja uma intervenção
perdas humanas e/ou importantes sobre a vulnerabilidade do local, já que
perdas materiais, econômicas ou intervir na magnitude das ameaças é
ambientais que excedem a capacidade complicado, uma vez que envolveria a
da comunidade ou sociedade afetada interferência em fenômenos naturais
de lidar com a situação utilizando seus (FURTADO et al., 2012) Figura 14.
próprios recursos. O desastre resulta da Figura 14. Diagrama de definição do
combinação de ameaças, condições de desastre natural
vulnerabilidade e medidas insuficientes
para reduzir possíveis consequências
negativas. O impacto disso pode incluir
mortes, ferimentos, doenças e outros
efeitos negativos no bem-estar físico,
mental e social humano, juntamente Fonte: Elaboração própria
com danos materiais, destruição de
propriedades, perda de serviços, De acordo com Política Nacional de
distúrbios sociais e econômicos e Defesa Civil (BRASIL, 2000), os desastres
degradação ambiental (UNISDR, 2009). são classificados segundo os seguintes
De acordo com a Política Nacional de critérios: (i) quanto à evolução; (ii)
Defesa Civil (BRASIL, 2000), os desastres quanto à intensidade; e (iii) quanto
são definidos como: “resultado à origem. Quanto à evolução o
de eventos adversos, naturais ou desastre pode ser classificado como
provocados pelo homem, sobre um súbito, gradual ou a soma de eventos
ecossistema vulnerável, causando parciais. Os súbitos são aqueles que
danos humanos, materiais e ambientais se constituem pela rápida velocidade
e consequentes prejuízos econômicos com que o processo evolui, como por
e sociais”. Destaca-se que os desastres exemplo, os tornados e as inundações
ocorrem na concretização de uma situação bruscas. Diferentemente dos súbitos,
de ameaça, associada a uma condição os graduais evoluem em etapas de
de vulnerabilidade, entendendo essa agravamento progressivo, como
como a incapacidade da sociedade de as secas e inundações graduais. Os
assimilar ou controlar as consequências desastres por soma de eventos parciais
provenientes da ameaça concretizada. se caracterizam pela ocorrência de
Isto é, a ocorrência e a intensidade dos numerosos acidentes parecidos, cujos

79
MÓDULO 3

danos, se somados, estabelecem um da Baixada Santista. A região enfrenta


desastre de grande proporcionalidade uma série de prejuízos e danos advindos
(CASTRO, 1999). desses desastres, sendo importante,
Segundo o Ministério da Integração entender melhor como gerir os riscos
Nacional (2016), em relação à de desastres, além de, como realizar o
intensidade, os desastres podem ser gerenciamento dos desastres.
divididos em três níveis (Quadro 3). Destaca-se que o gerenciamento de
Ademais, os desastres podem ser desastres e a gestão de risco de desastre
classificados quanto à origem, isto é, a são diferentes, possuem focos distintos.
causa primária do agente causador. Nesse A gestão de risco de desastre envolve um
sentido, os desastres podem ser mistos, conjunto de decisões administrativas,
naturais, humanos ou antropogênicos de organização e de conhecimentos
(BRASIL, 2000). operacionais apresentados pelas comu-
Os desastres naturais são aqueles nidades e sociedades para determinar
gerados por fenômenos e desequilíbrios políticas, estratégias e fortalecer suas
da natureza, ou seja, são provocados por capacidades de resiliência visando
fatores de origem externa e que atuam reduzir os impactos de ameaças, e,
independentemente da ação humana portanto, a ocorrência de possíveis
(POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA desastres. Isto é, a gestão de riscos de
CIVIL, 2000). Segundo o Ministério da desastres foca nas medidas e ações
Integração Nacional (2016) os desastres anteriores a ocorrência do desastre. Já
naturais podem ser classificados quanto o gerenciamento de desastres entra em
à sua natureza (Figura 15). ação após a ocorrência do desastre. Esse
No caso deste material, iremos focar gerenciamento envolve a organização e
nos desastres naturais climatológicos, gestão dos recursos e responsabilidades
hidrológicos e meteorológicos, também para o manejo de emergências quando o
chamados de hidro-metereológicos, desastre se concretiza, incluindo planos,
indo ao encontro da realidade da Região estruturas e acordos que permitem

Quadro 3. Classificação dos desastres em relação a intensidade

Nível Descrição
Desastres de pequeno porte, ou pequena intensidade. São caracterizados como desastres de
pequeno porte aqueles em que há a ocorrência de “apenas” danos humanos consideráveis
I
e a situação de normalidade é restabelecida com os recursos mobilizados em nível local, e
em alguns casos, complementados com o aporte de recursos estaduais e federais.
Desastres de médio porte, ou média intensidade. Definidos quando os danos causados
são suportáveis e superáveis pelos governos locais e o restabelecimento da normalidade
II
acontece com os recursos mobilizados em nível local, e em alguns casos, complementados
com o aporte de recursos federais e estaduais.
Desastres de grande intensidade. Esses desastres geram danos e prejuízos que não são
superáveis e suportáveis pelos governos locais e para que haja o restabelecimento da
III situação de normalidade é necessária a mobilização da ação coordenada das três esferas
de atuação do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC), e em alguns eventos,
há a necessidade de ajuda internacional.

Fonte: Adaptado de Ministério da Integração Nacional (2016).

80
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Figura 15. Codificação brasileira de desastres naturais e tecnológicos

Fonte: Ministério da Integração Nacional (2016). Adaptado.

coordenar os esforços do governo, de etapas de resposta e recuperação de


entidades voluntárias e privadas para locais atingidos por desastres. Contudo,
responder as necessidades associadas às o investimento na gestão de risco é
emergências (EIRD/ONU, 2009). fundamental para reduzir os danos e
Segundo Bertone e Marinho (2013), prejuízos. Em vista disso, atualmente o
durante muitas décadas, a prioridade foco das ações de Proteção e Defesa Civil
de investimentos dos governos foi no no Brasil é na gestão integral do risco de
gerenciamento dos desastres, isto é, nas desastres (Figura 16).

Figura 16. Mudança de Paradigma da Defesa Civil

Fonte: CEPED/RS-UFRGS, 2016

81
MÓDULO 3

1.1 MARCO DE HYOGO no contexto do desenvolvimento susten-


tável: (i) fazer com que a redução dos
Diante da relevância de se considerar riscos de desastres seja uma prioridade
a redução do risco de desastres e a cons- nacional e local, com forte base institu-
trução de resiliência em políticas, planos, cional; (ii) identificar, avaliar e monitorar
programas e orçamentos, durante a os riscos de desastres e melhorar os
Conferência Mundial sobre Redução de sistemas de alerta; (iii) utilizar o conhe-
Desastres, realizada em 2005, em Kobe, cimento, a inovação e a educação para
Hyogo, no Japão, os Estados-Membros criar uma cultura de segurança e resili-
da ONU – Organização das Nações ência em todos os níveis; (iv) reduzir os
Unidas aderiram o Marco de Ação de fatores de risco subjacentes; e (v) forta-
Hyogo 2005-2015: Construindo Nações lecer a preparação em caso de desastre,
e Cidades Resilientes a Desastres. O a fim de assegurar uma resposta eficaz
Marco de Ação de Hyogo, instrumento em todos os níveis.
antecessor ao Marco de Sendai, foi Em 2012, o UNISDR, elaborou um
idealizado para a implementação guia para gestores públicos locais e
da redução de riscos de desastres no administradores visando auxiliar as
período de 2005 a 2015, tendo como políticas públicas, os processos decisórios
objetivo geral o aumento da resiliência e a organização para instituição de
das nações e das comunidades frente aos atividades de redução de riscos de
desastres visando alcançar, para o ano desastres e de resiliência. O guia possui
de 2015, uma redução considerável das dez passos essenciais para construir
perdas geradas pelos desastres, tanto cidades resilientes, sendo esses passos,
em termos de vidas humanas quanto aos advindos das cinco prioridades do Marco
bens sociais, econômicos e ambientais de Ação de Hyogo: (i) Organização e
(UNISDR, 2005). coordenação de ações; (ii) Recursos para
O Marco de Ação de Hyogo foi a redução dos riscos de desastres; (iii)
concebido para ser um instrumento Avaliação de Risco (iv) Infraestrutura
amplo, abordando os papéis das para a redução de risco; (v) Segurança
organizações regionais e internacionais, de todas as escolas, hospitais e serviços
dos estados, envolvendo a participação de saúde; (vi) Planejamento do uso e
e a reunião de esforços da sociedade ocupação do solo com destaque para as
civil, da academia, das organizações áreas carentes; (vii) Programas educativos
voluntárias e da iniciativa privada. Para e de capacitação; (viii) Proteção dos
ocasionar a redução de riscos e desastres ecossistemas e das zonas naturais; (ix)
em âmbito local, o mesmo indicava a Implantar sistemas de alerta prévio para
descentralização da autoridade e dos gestão de emergências; e (x) Atuação
recursos (UNISDR, 2012). pós-desastre.
De acordo com UNISDR (2005), o No período do Marco de Hyogo
Marco de Ação de Hyogo, oferece cinco foram gerados alguns progressos no
áreas prioritárias para a tomada de aumento da resiliência e na redução das
decisões, em iguais desafios e meios perdas de danos, mas ainda assim, existia
práticos para aumentar a resiliência das uma lacuna na redução considerável no
comunidades vulneráveis aos desastres, risco de desastres. Esse novo foco foi

82
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

introduzido, como objetivo, no Marco 2030, em comparação com 2005 -


de Sendai, apontando a diferença 2015;
entre os dois marcos, que se centraliza 3. Reduzir as perdas econômicas
na redução dos riscos de desastres diretas por desastres em relação ao
(MAGNONI et al., 2017). produto interno bruto (PIB) global
até 2030;
1.2 MARCO DE SENDAI
4. Reduzir substancialmente os
Em março de 2015, durante a 3ª danos causados por desastres em
Conferência Mundial para a Redução infraestrutura básica e a interrupção
do Risco de Desastres, realizada em de serviços básicos, como unidades
Sendai, Miyagi, no Japão, foi firmado de saúde e educação, inclusive por
pelos 187 Estados-Membros das Nações meio do aumento de sua resiliência
Unidas (ONU) o Marco de Sendai até 2030;
para a Redução do Risco de Desastres 5. Aumentar substancialmente o
2015-2030 (UNISDR, 2015). O acordo número de países com estratégias
busca construir resiliência para as nacionais e locais de redução do
comunidades afetadas por eventos risco de desastres até 2020;
climáticos extremos e estabelece
6. Intensificar substancialmente a
metas para a redução da mortalidade
cooperação internacional com os
relacionada a desastres. De acordo com
países em desenvolvimento por meio
o Marco de Sendai, para reduzir o risco
de apoio adequado e sustentável
de desastre, existe uma necessidade de
para complementar suas ações
se preparar para os desafios futuros,
nacionais para a implementação
concentrando esforços na gestão e
deste quadro até 2030.
monitoramento de riscos e melhorando
sistemas de alerta (SILVA et al., 2017). 7. Aumentar substancialmente a
Dessa forma, o Marco de Sendai disponibilidade e o acesso a sistemas
estabelece sete metas globais, que de alerta precoce para vários perigos
deverão ser implementadas até 2030, e as informações e avaliações sobre
voltadas para a redução do risco sendo o risco de desastres para o povo até
elas (UNISDR, 2015): 2030.
1. Reduzir substancialmente a O Marco de Sendai 2015-2030 aponta
mortalidade global por desastres que embora tenham sido realizados
até 2030, com objetivo de reduzir alguns progressos em aumentar a
a média de mortalidade global por resiliência e reduzir perdas e danos, uma
100.000 habitantes entre 2020 - redução substancial do risco de desastres
2030, em comparação ao período exige perseverança e persistência, com
entre 2005 - 2015; foco mais explícito nas pessoas, em sua
2. Reduzir substancialmente o saúde e seus meios de subsistência, com
número de pessoas afetadas em acompanhamento regular (MAGNONI
todo o mundo até 2030, com o et al., 2016).
objetivo de reduzir a média global
por 100.000 habitantes entre 2020-

83
MÓDULO 3

Neste sentido, as políticas e práticas na criação de um ambiente propício


de gerenciamento de riscos de desastres adequado (MAGNONI et al. 2016). Esse
devem se basear no entendimento do modelo encontra respaldo no processo
Marco de Sendai 2015 - 2030 em todas de governança do risco, termo que
as suas dimensões de vulnerabilidade, descreve um novo arranjo institucional
capacidade, exposição de pessoas e no qual o processo decisório é coletivo,
ativos, características de perigos e meio envolvendo atores governamentais e
ambiente. Esse conhecimento pode não governamentais (DI GIULIO, 2013).
ser aproveitado para fins de avaliação Uma percepção sistêmica das
de risco pré-desastre, prevenção e causas e consequências de desastres
mitigação e uma resposta eficaz aos aponta diretamente para os desafios
desastres (UNISDR, 2015) (Figura 17). que estão colocados em termos da
governança para a redução de riscos,
1.3 FORTALECIMENTO DA GOVER- a qual envolve desde políticas e ações
NANÇA DO RISCO DE DESASTRES PARA de prevenção até as de preparação
O SEU GERENCIAMENTO e respostas, como integrantes dos
processos de recuperação, reabilitação e
O alcance dos resultados do Marco reconstrução após eventos que resultem
de Sendai 2015 – 2030, exige forte em desastres. A governança envolve
empenho e envolvimento de lideranças tanto a organização e integração dos
políticas em todos os países e em todos setores de governo nos diferentes
os níveis de implementação, além níveis (minas e energia, meio ambiente,
de acompanhamento deste quadro

Figura 17. Esquema da gestão de riscos de desastres

Fonte: Viana, 2016

84
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

defesa civil e saúde, para citar alguns), diferentes setores industriais; agências
quanto a transparência dos mesmos e a de regulação; organizações não
participação da sociedade (FREITAS et governamentais; a mídia e o público
al., 2016). em geral. Em síntese, entender quem
Segundo Di Giulio (2016) a adoção são os atores no nível da governança é
do modelo da governança de riscos é relevante para caracterizar o risco, avaliá-
particularmente útil a nível local, uma lo, julgar a aceitabilidade e tolerância,
vez que quanto mais envolvida estiver comunicá-lo e tomar as decisões sobre
uma comunidade no processo decisório, como gerenciá-lo (DI GIULIO, 2016).
maior será a possibilidade de induzir o
público geral a agir individualmente/ 1.4 INVESTIMENTO NA REDUÇÃO
coletivamente para reduzir o risco e DE RISCO DE DESASTRES PARA A
de envolvê-lo nas ações de mitigação/ RESILIÊNCIA
adaptação. Para a autora, a proposta
inclui questões de suma importância, De acordo com a UNISDR (2015),
como por exemplo: “Quem fala pela investimentos públicos e privados na
comunidade? Que grupos podem redução de riscos de desastres por meio
contribuir para o processo decisório? de medidas estruturais e não estruturais,
Que mecanismos e estratégias devem são essenciais para melhorar a resiliência
ser usados para incluir a participação dos econômica, social, de saúde e cultural
stakeholders e do público no processo de pessoas, comunidades, países e seus
de tomada de decisão? e Quais fatores ativos, bem como do meio ambiente.
são necessários para garantir uma As medidas estruturais, envolvem obras
participação pública de sucesso?”. de engenharia para correção e/ou
O debate acerca da governança prevenção dos desastres. Já as medidas
considera que o enfrentamento de não estruturais, visam reduzir o desastre
situações de riscos envolve relações de por meio de normas, regulamentações
causas e efeitos bastante complexas ou programas, por exemplo.
e difíceis de serem identificadas e Os investimentos podem se dar de
mensuradas, necessitando a prática diversas maneiras, como por exemplo
de um processo decisório aberto e em ciência, tecnologia e inovação no
participativo. Neste contexto, o diálogo monitoramento e caracterização das
sobre a qualidade e a formulação de susceptibilidades, logística de resposta
políticas para enfrentamento de riscos a desastres, e investimentos constantes
e desastres é considerado de extrema em obras de prevenção. Tais medidas
importância e deve ser levado a todos são econômicas e instrumentais para
os expostos a situação de risco e/ou que salvar vidas, prevenir e reduzir perdas
serão impactados por suas possíveis e garantir recuperação e reabilitação
consequências (DI GIULIO, 2016). efetivas. Além disso, podem ser motores
Dessa forma, devem ser envolvidos de inovação, crescimento e criação de
governos locais, regionais e nacionais; emprego (SHADEK et al., 2013; UNISDR,
2015).

85
MÓDULO 3

1.5 MELHORIA NA PREPARAÇÃO DA De acordo com Dickel (2016), em


GESTÃO DO RISCO DE DESASTRES relação a gestão do risco de desastre,
pode-se considerar a Defesa Civil como
O crescimento constante do risco instituição responsável pela elaboração
de desastres, incluindo o aumento de estratégias pré-evento, auxílio em
da exposição de pessoas e ativos, casos de desastres, e na reconstrução e
combinado com as lições aprendidas de retomada das condições normais. Porém,
desastres passados, indica a necessidade muitas vezes observa-se um contexto
de fortalecer medidas de antecipação de desenvolvimento sem planejamento
de eventos, integrar a redução de riscos adequado, tornando a estrutura da
de desastres na preparação de respostas Defesa Civil, na forma como se constitui,
e garantir que existam capacidades para deficitária na efetividade de atuação
resposta e recuperação eficazes em que buscam reverter este cenário.
todos os níveis. Dessa forma, é importante que
Os desastres demonstraram que ocorram treinamentos aos funcionários
a fase de recuperação, reabilitação existentes em resposta a desastres e
e reconstrução, é uma oportunidade fortalecer as capacidades técnicas e
crítica para “melhorar a recuperação”, logísticas para garantir uma melhor
inclusive através da integração da resposta em caso de emergências, além
redução do risco de desastre nas medidas do desenvolvimento de diretrizes para
de desenvolvimento, com o intuito de reconstrução em caso de desastres,
tornar cidades e comunidades resilientes como no planejamento do uso da terra
a desastres (UNISDR, 2015). e na melhoria dos padrões estruturais
(UNISDR, 2015).

86
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

2. COMO OS MUNICÍPIOS sobre mudanças do clima é um papel


essencial para o avanço da agenda
PODEM SE MOBILIZAR
internacional do clima de maneira
PARA ENFRENTAR AS ALTE- efetiva (ROMEIRO e PARENTE, 2011).
RAÇÕES CLIMÁTICAS Dessa forma, é de suma importância que
as políticas municipais estejam alinhadas
Em face a mudança do clima, torna-se às políticas estaduais e nacionais, que
evidente a necessidade da redução de por sua vez auxiliarão no alcance das
riscos de desastres, na construção e no metas globais. Em outras palavras,
fortalecimento da resiliência, por meio pode-se dizer que as cidades são os
da ampliação da proteção de pessoas atores que atuam na ponta da cadeia
e comunidades. Os municípios, por e que sem elas as políticas nacionais e
serem sistemas dinâmicos, enfrentam regionais não conseguiriam ter a mesma
problemas únicos e as ações de permeabilidade no território. Posto que,
adaptação devem considerar o contexto muitas vezes governos nacionais não
local. Dessa forma, o ponto de partida conseguem ter uma atuação direta com a
para uma gestão de risco assertiva e unidade municipal, o comprometimento
a construção da resiliência climática do governo local passa a ser um aliado
a longo prazo deve estar baseada no para a esfera federal e global, pelo qual
entendimento de um conjunto de os prefeitos podem exercer o papel
ameaças climáticas, além dos elementos de influenciadores mais próximos a
de exposição e vulnerabilidade dos população e na dinâmica de suas cidades.
diferentes sistemas que compõem um Neste contexto, merece destaque
ambiente urbano, para que possam a Política Nacional sobre Mudança
subsidiar o desenvolvimento de políticas do Clima (PNMC), instituída pela Lei
públicas responsivas e investimentos nº 12.187/2009, que além de apoiar
que minimizem o risco (Figura 18). as posições brasileiras nos debates
multilaterais e internacionais sobre
2.1 BASE LEGAL: INSTRUMENTOS mudança do clima é, em sua essência, um
LEGAIS NECESSÁRIOS marco legal para a regulação das ações
tanto de mitigação como de adaptação
O amadurecimento de políticas
no país (BRASIL, 2009). A PBMC dita
públicas nacionais, estaduais e municipais

Figura 18. Etapas para uma estratégia de adaptação

Fonte: Elaboração própria

87
MÓDULO 3

princípios, diretrizes e instrumentos que deve se ter um esforço incessante para


apoiam o desenvolvimento de políticas proporcionar condições, aos municípios,
locais, incentivando ações de mitigação estados e ao país de inserir-se no
e adaptação (BRASIL, 2009). empenho internacional, colaborando
O Estado de São Paulo instituiu o com a necessária articulação global
Decreto nº 49.369, de 11 de fevereiro de sobre as questões do clima (Figura 19).
2005, que determina a implementação
Figura 19. Planejamento para a adaptação
do Fórum Paulista de Mudanças
climática e responsabilidades das esferas de
Climáticas Globais e de Biodiversidade
governo
e dá providências correlatas. Em 9 de
novembro de 2009 foi instituída a Lei
nº 13.798, que determina a Política
Estadual de Mudanças Climáticas –
PEMC. O Decreto nº 55.947, de 24 de
junho de 2010, regulamentou a Lei nº
13.798.
Entre os municípios da Baixada
Santista, Santos é o único que possui
instrumento legal que estabelece
ações direcionadas para a Mudança do
Clima, por meio da Comissão Municipal
de Adaptação à Mudança do Clima,
criada pelo Decreto nº 7.293, de 30 de
novembro de 2015.
Segundo Romeiro e Parente (2011)
as normativas de estados e cidades, no
sentido de incentivar ações que reduzam
os impactos associados à mudança do
clima, são de extrema importância
e demandam esforços para engajar Fonte: OCDE (2009)
os diferentes setores da economia e
mesmo a sociedade. A efetividade e 2.2 ESTRUTURA INSTITUCIONAL
o cumprimento dos objetivos de tais
políticas dependerão da maneira como De acordo com Barbi (2018), em
os governos estaduais e municipais relação às alternativas para implantação
conduzirão a implementação das ativi- de entidades / áreas responsáveis nas
dades previstas nas suas respectivas leis prefeituras, tem-se a necessidade de
e, particularmente, da maneira como se obter arranjos institucionais que
irão mensurar e verificar o cumprimento permitam a participação de diferentes
das mesmas. atores de diversos segmentos da
Por outro lado, ao considerar as sociedade. Para isso, uma alternativa
realidades regionais e locais, as leis é a criação de Comitês e/ou Fóruns
devem ser amplamente assistidas. Assim, Municipais de Mudanças Climáticas.
no desenvolvimento de políticas públicas

88
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Os comitês e fóruns são grupos de 2.3 POLÍTICAS PÚBLICAS


atores locais e regionais relevantes RELACIONADAS: NECESSIDADE DE
para o projeto e que poderão ser INTEGRAÇÃO DOS VÁRIOS SETORES DA
formalizados e mantidos após o final PREFEITURA
das atividades para continuidade e
monitoramento do trabalho em cada As políticas públicas, teoricamente,
município. Esses grupos são formados viabilizam a criação de mecanismos
por diferentes agentes de governo, e econômico-financeiros, além de
são responsáveis por deliberar e apontar possibilitar investimentos em tecnologia,
soluções, atividades, políticas e planos com o intuito de buscar soluções para
a serem adotados pelas cidades, bem os efeitos das mudanças do clima,
como facilitar a integração do tema que devem ser tratados de maneira
da mudança do clima com a política de transversal (ROMEIRO e PARENTE, 2011).
governo, garantindo a implementação Neste sentido, verifica-se a crescente
e monitoramento dessas estratégias e importância da integração de diferentes
simultânea co-geração de benefícios setores da prefeitura, obtendo-se assim,
econômicos, sociais e ambientais locais a troca de informações, transparência e
(BACK, 2012; BARBI, 2018; ICLEI, 2018). gestão de conflitos políticos, trabalho
Este comitê é uma importante em conjunto, sinergias entre políticas e
estrutura para auxiliar na governança o uso de objetivos comuns na etapa de
da mudança do clima na cidade. Podem formulação de políticas públicas (STEAD,
fazer parte deste comitê autoridades 2008). Tal integração abre espaço para
municipais envolvidas nos processos de uma nova gestão pública com estruturas
tomada de decisão sobre as diretrizes de governança, na qual é fundamental
de implementação do projeto e outros para que os governos alcancem
atores relevantes para a cidade na maior efetividade no enfrentamento
questão da gestão da mudança do clima. de problemas complexos, como por
Além dos governos locais, o comitê deve exemplo, os relacionados às mudanças
contar com autoridades responsáveis do clima (VEIGA e BRONZO, 2014).
pelas secretarias envolvidas no tema No entanto, de acordo com Barbi
(meio ambiente, infraestrutura e obras, (2018), grande parte das cidades
fazenda, mobilidade e transportes, brasileiras ainda não associam a
habitação, gestão, etc), sociedade civil, conexão entre os problemas na gestão
representantes de Organizações Não do planejamento urbano e as respostas
Governamentais (ONGs), representantes aos impactos da mudança do clima, por
acadêmicos e instituições empresariais exemplo. Dessa forma, a assimilação dos
setoriais (ICLEI, 2018). diferentes setores da prefeitura pode
vir a ser uma solução ao enfrentamento
de diversas problemáticas relacionadas
a formulação e/ou implementação
de políticas públicas voltadas as
questões climáticas, como por exemplo,
abastecimento de água, infraestrutura,
habitação e energia, apenas citando

89
MÓDULO 3

alguns, é uma ferramenta capaz de atividades em que consideram inviáveis,


alcançar resultados eficazes na resolução no que tange aos efeitos da mudança do
de problemas. clima e como as políticas públicas devem
ser pensadas (ABERS, 2016).
2.4 ENVOLVIMENTO E COMUNICAÇÃO Os comitês de bacias são um dos
COM O PÚBLICO exemplos em que há a interação da
sociedade no processo de gestão.
Observa-se que inúmeras inovações Segundo a Agência Nacional das Águas
no campo democrático surgem das (ANA), os comitês de bacias são grupos
práticas geradas pela sociedade civil, na de gestão compostos por representantes
qual alteram a relação estado-sociedade dos três níveis do poder público (Fede-
ao longo do tempo e constroem novas ral, estadual e municipal), usuários da
formas políticas de agir, especialmente água e sociedade civil. Esses avaliam
na esfera pública não estatal. De os diversos interesses sobre os usos das
fato, são inúmeras as novas práticas águas das bacias hidrográficas mediante
sociais expressas em novos formatos discussões e negociações democráticas.
institucionais da participação, tais como Ressalta-se que a audiência pública,
os conselhos, os fóruns, as assembleias é uma importante estratégia para sensi-
populares e as parcerias (GOHN, 2006). bilização da população, sendo ela uma
Como já citado nas seções anteriores maneira adequada de garantir que as
(2.1 e 2.2), o diálogo mais próximo a preocupações e os interesses de comuni-
sociedade, é fundamental. A sociedade dades afetadas sejam contemplados no
civil, especialmente as comunidades processo decisório sobre diversos temas,
vulneráveis, devem se organizar para entre eles os impactos de grandes obras
conhecer, avaliar e apoiar ou contestar de infraestrutura (ABERS, 2016).

90
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

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94
CAPACITAÇÃO EM ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS NA BAIXADA SANTISTA

MÓDULO 4
DIAGNÓSTICO DAS AÇÕES EM CURSO,
ELABORAÇÃO DOS PLANOS DE AÇÕES E
FONTES DE FINANCIAMENTO
Crédito:
Foto Parque Estadual Xixova Japui
Fausto Pires Campos (Instituto Florestal)

96
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

1 IDENTIFICAÇÃO DA VULNE- ecossistemas e setores econômicos, ou


seja, sua capacidade de lidar com isso
RABILIDADE AMBIENTAL,
(MARGULIS, 2017).
SOCIAL E ECONÔMICA O esquema a seguir ilustra os itens
para a definição dos impactos e estra-
A Segunda Comunicação Nacional
tégias de adaptação para os diferentes
do Brasil à Convenção-Quadro das
setores (Figura 20). Os cenários climáticos
Nações Unidas Sobre Mudança do
futuros são de extrema importância
Clima (do original em inglês, United
para a avaliação local dos riscos, sendo
Nations Framework Convention on
essencial obtê-los a partir de dados com
Climate Change, UNFCCC) destaca que
resolução espacial que possa ser usada
todas as regiões e agentes econômicos
para cidades. O Instituto Nacional de
e sociais apresentam algum tipo de
Pesquisas Espaciais (INPE) possui uma
vulnerabilidade à mudança global do
base de dados11 regionalizados para a
clima e a eventos climáticos extremos.
América do Sul, incluindo o Brasil, que
A vulnerabilidade pode ser definida
podem ser aplicados para esse tipo de
como função da magnitude, qualidade,
estudo e estão disponíveis por meio de
e índice da variação climática a qual um
cadastro do portal do Centro de Ciência
sistema está exposto, como, também,
do Sistema Terrestre (CCST).
sua sensibilidade e capacidade
de adaptação (SANTOS et al., Figura 20. Componentes para a determinação das estra-
2015). tégias de adaptação.
O primeiro passo para a
definição de uma estratégia
de adaptação às mudanças
do clima, portanto, é buscar
as melhores informações
disponíveis e específicas sobre
o local para entender seu grau
de vulnerabilidade. Como
visto no módulo I, projeções de
modelos climáticos em escala
intraurbana são usadas para
a identificação dos riscos, que
resultam da multiplicação da
probabilidade de ocorrência
da mudança do clima por
impacto esperado. Essas
Fonte: Brasil, 2015
consequências dependem da
intensidade do evento (ou
de sua variação em relação ao clima
usual) e da vulnerabilidade de pessoas,

11. http://dadosclima.ccst.inpe.br/

97
MÓDULO 4

A seguir são apresentados os danificadas, etc.), como resultado de


principais conceitos relacionados com interações entre um perigo natural e as
a identificação de vulnerabilidades no condições de vulnerabilidade local.
contexto de mudança do clima, segundo No geral, a análise trata de medir os
Margulis, 2017: riscos de ocorrerem impactos negativos
Exposição: a presença de pessoas, por causa de eventos climáticos, dadas
meios de subsistência, espécies ou as condições físicas e socioeconômicas
ecossistemas, funções ambientais, locais prevalecentes. Quanto mais
serviços e recursos, infraestrutura ou intenso for o evento, o risco será maior,
bens econômicos, sociais e culturais em ao passo que será menor quando as
lugares e cenários que poderiam ser condições de renda, infraestrutura,
afetados adversamente. qualidade ambiental etc. forem boas
Vulnerabilidade: a propensão ou (MARGULIS, 2017). Um esquema
predisposição a ser afetado adversa- do conceito de vulnerabilidade é
mente. apresentado na Figura 21.
Impacto: efeito nos sistemas naturais São vários os fatores que
e humanos. Nesta publicação, o termo potencializam a vulnerabilidade, sendo
é usado principalmente para designar os principais os aspectos socioeconômicos
os efeitos da mudança do clima e de (densidade populacional, distribuição
eventos extremos nos sistemas naturais de renda, educação), os aspectos
e humanos. estruturais (tipologias das edificações,
Risco: é a probabilidade ou falta de planejamento, uso e ocupação
possibilidade de ocorrer consequências do solo) e a percepção do risco. Apesar
danosas ou perdas esperadas (mortos, da pobreza e da vulnerabilidade serem
feridos, edificações destruídas e condições sociais que se reforçam

Figura 21. Representação simples da vulnerabilidade climática

Fonte: Margulis, 2017

98
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

mutuamente, vulnerabilidade não é conceito de risco, o IPCC reconhece


sinônimo de pobreza. Uma parcela que (1) uma ampla fração dos impactos
significativa da população pode ser são originados por ameaças climáticas;
considerada vulnerável, apesar de não (2) encoraja esforços para determinar
ser considerada pobre de acordo com as probabilidades de uma potencial
os critérios estabelecidos pela linha da consequência se materializar como parte
pobreza (MARGULIS, 2017). da análise de risco; e (3) contribui para a
É importante ressaltar que o Quinto integração de pesquisas e profissionais da
Relatório de Avaliação do IPCC (AR5, Adaptação à Mudança do Clima (AMC) e
2014) traz uma diferença metodológica da Redução de Risco de Desastres (DRR).
em relação ao Quarto Relatório de Assim, o risco é resultado da interação
Avaliação do IPCC (AR4, 2007), que trata entre vulnerabilidade, exposição e
o conceito de Vulnerabilidade como um ameaças climáticas, como apresentado
resultado da interação entre a exposição, no esquema a seguir (Figura 22).
compreendida como a variável climática, Deste modo, uma metodologia
e a sensibilidade, que geram o impacto possível para a identificação da
potencial e que pode ser reduzido pela vulnerabilidade consiste no ajuste
capacidade de adaptação. Em outras da terminologia de Índice de
palavras a vulnerabilidade é uma função Vulnerabilidade, para Índice de
da característica, magnitude e dimensão Risco (como definido pelo IPCC), que
da mudança do clima e das variações envolve a relação entre as ameaças
as quais um sistema está exposto, (perigos relacionados aos eventos/riscos
sua sensibilidade, e suas capacidades climáticos), as infraestruturas expostas
adaptativas. (localização) e suas vulnerabilidades
O AR5, substitui o conceito de (entendida como uma função entre
vulnerabilidade pela aproximação do a sensibilidade ou suscetibilidade e a
conceito de risco. Ao migrar para o capacidade de adaptar) às ameaças.

Figura 22. Metodologia de análise de risco frente a mudança do clima

Fonte: Adaptado de IPCC, 2014

99
MÓDULO 4

Desta forma, entende-se que o índice Para a análise da vulnerabilidade, é


de risco atual e futuro é resultado da importante que os dados obtidos sejam
interação entre os elementos de ameaça espacializados em ambiente de Sistema
climática, vulnerabilidade e exposição. de Informações Geográficas (SIG) para
Onde: que as vulnerabilidades e os riscos sejam
R: Índice de Risco Climático visualizados em nível intraurbano. Uma
E: Exposição boa fonte de dados para a análise são
A: Ameaça Climática os provenientes do setor censitário
V: Vulnerabilidade do IBGE, que possui informações
socioeconômicas e de ocupação da
A vulnerabilidade é obtida como uma população em diferentes regiões dentro
função da sensibilidade e a capacidade de uma cidade.
de adaptação.
V = f (S, CA)
Onde:
V: Vulnerabilidade
S: Sensibilidade
CA: Capacidade de Adaptação

A variação entre o índice de risco


atual e o índice futuro é estabelecida de
forma relativa, considerando:
vR = IRa / IRf
Onde:
vR = Variação do Índice de Risco
IRf = Índice de Risco calculado para o
período futuro
IRa = Índice de Risco calculado para o
período atual

100
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

2 AS MEDIDAS ADAPTATIVAS às metas nacionais de desenvolvimento


socioeconômico e redução das
Segundo o Ministério do Meio desigualdades regionais por intermédio
Ambiente (2018) a adaptação pode da coordenação de políticas públicas em
ocorrer de forma espontânea, isto é, âmbito federal, estadual e municipal
uma resposta automática dos sistemas (MARGULIS, 2017). No âmbito local, das
humanos ou naturais à mudança do cidades e regiões, o conhecimento das
clima, como também pode se dar vulnerabilidades sociais, econômicas e
de forma deliberada, ou seja, com o ambientais é de grande importância
planejamento e a adoção de medidas para melhorar a qualidade das políticas
por entes públicos e privados. A de adaptação da sociedade e do governo
adaptação tem como objetivo principal (SANTOS et al., 2015).
a redução do impacto dos efeitos O diagrama a seguir (Figura 23),
adversos da mudança do clima, de elaborado por Margulis et al. (2016),
maneira a salvaguardar as populações, o apresenta um arcabouço geral para
meio ambiente e as estruturas existentes entender a adaptação à mudança do
(SANTOS et al., 2015). clima seguindo a abordagem Pressão-
No Brasil, o Plano Nacional de Estado-Resposta (PER) no contexto das
Adaptação (PNA) instituído em 10 de cidades. O esquema distingue as fontes
maio de 2016 por meio da Portaria dos problemas, como a pressão causada
n°150 foi elaborado pelo governo pelo choque climático, as condições que
federal em conjunto com a sociedade permitem ou propiciam a ocorrência
civil, o setor privado e governos de impactos, os impactos propriamente
estaduais. O documento prevê que as ditos que alteram o Estado, e a Resposta
medidas de adaptação devem se alinhar como medidas de adaptação e aumento
de resiliência.

Figura 23. Modelo PER aplicado à adaptação climática para cidades

Fonte: Margulis et al., (2016)

101
MÓDULO 4

As medidas de adaptação podem ser institucional, envolvendo incentivos


classificadas de diferentes maneiras, de a cidadãos e agentes econômicos
acordo com os agentes que a iniciam, para a adoção de determinados
com o nível de planejamento adotado, comportamentos;
o tipo de intervenção realizada, entre ƒƒ Medidas públicas ou privadas: a
outros. São descritos a seguir alguns inciativa de propor e implementar
tipos de classificação de medidas de medidas pode ser proveniente de
adaptação existentes (MARGULIS, 2017): indivíduos e empresas ou pelas
ƒƒ Medidas proativas e reativas: diferentes esferas de governo;
com as incertezas inerentes à ƒƒ Adaptação baseada em
mudança do clima futuro, é difícil ecossistemas e em bacia hidrográfica:
propor medidas de adaptação um caso particular da adaptação
precisas. Portanto, espera-se que as baseada em ecossistemas é a gestão/
medidas reativas sejam mais comuns adaptação por bacias hidrográficas,
no começo. Porém, é possível usar que é a unidade de análise. Apesar
experiências com a antecipação e de fazer mais sentido do ponto de
preparação contra desastres naturais vista ecológico e físico, os limites
para adotar medidas de proteção político-administrativos podem
e defesa contra eventos extremos. gerar dificuldades na gestão de
Com os anos, o aprendizado em medidas.
torno desse tema se acumula e os
custos das medidas diminuem;
Ademais, as medidas de adaptação
ƒƒ Medidas “físicas” e de política: podem ser classificadas em quatro
algumas medidas envolvem grandes áreas de intervenção:
intervenções físicas no território, soluções técnicas, desenvolvimento de
principalmente as relacionadas com capacidades, ações políticas e pesquisa e
a melhoria de infraestruturas. Outras divulgação (Quadro 4).
medidas são de caráter político-

Quadro 4. Áreas de intervenção e exemplos de medidas de adaptação

SOLUÇÕES TÉCNICAS DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES

•• Implantar sistemas de drenagem pluvial nas •• Investir na formação de especialistas em


cidades monitoramento de dados climáticos

•• Fazer reflorestamento •• Aperfeiçoar habilidades de gestão


PESQUISA E DIVULGAÇÃO
AÇÕES POLÍTICAS
•• Monitorar a mudança do clima e seus impactos •• Desenvolver sistemas de incentivo à
adaptação
•• Pesquisar formas de cultivos resilientes ao clima
•• Comunicar riscos e medidas preventivas junto à •• Promover a participação de comunidades
afetadas
população

Fonte: MMA, 2018

102
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Independentemente do tipo, as costeiras para um dado aumento do nível


medidas de adaptação sempre se do mar. Uma abordagem preventiva e
traduzem em atividades setoriais, sejam uma política de ordenamento territorial
elas na engenharia, na adequação faz-se necessária quando da seleção
de infraestrutura, no gerenciamento de locais para a expansão urbana e
dos transportes, no planejamento das localização de indústrias, levando em
cidades, nas intervenções de saúde, consideração as possíveis consequências
na assistência social, na conservação da mudança do clima.
ambiental etc. Portanto, devem ser
consideradas de maneira sistêmica e 2.1 NECESSIDADE DE REPENSAR A
coordenada, o que pode se traduzir INFRAESTRUTURA URBANA
em importantes desafios para a gestão
municipal. O processo de ocupação da grande
Apesar do desafio de coordenação maioria das cidades brasileiras surgiu às
de várias medidas, há, no contexto margens dos rios ou em zonas costeiras,
brasileiro, uma sobreposição nas estra- o que demostra relevante papel histórico
tégias de desenvolvimento e adaptação. dos recursos hídricos. Com o tempo os
Em alguns casos, as atividades de desen- rios urbanos foram sendo ofuscados por
volvimento podem levar, automatica- intervenções sem critério e hoje têm a
mente, a benefícios de adaptação. Em sua identidade escondida, cancelando
princípio, uma série de ações orientadas os traços deixados pelo tempo passado
para a redução da pobreza e melhoria e perdendo sua forma e morfologia
da nutrição, educação, infraestrutura e original (MORSCH et al., 2010).
saúde seriam sinergéticas à adaptação De acordo com Garcias e Afonso
(MARGULIS, 2017). (2013) no Brasil, praticamente todos
Deste modo, uma maneira de os rios das cidades estão poluídos,
introduzir a agenda de adaptação no e essa problemática é intensificada
contexto das cidades, considerando pelo descontrole da ocupação de suas
as incertezas, os riscos e dificuldades margens, muitas vezes dada de forma
operacionais é implantar as chamadas irregular e sem nenhuma proteção
medidas “no regrets12” (sem arrepen- sanitária. Em algumas cidades, o que se
dimento). São medidas que, com vê são diversos tipos de usos ocupando
baixo investimento, aumentam a irregularmente as margens dos rios,
resiliência e causam benefícios mesmo suprimindo as faixas de proteção e
desconsiderando a mudança do clima. também a mata ciliar, que são essenciais
Em específico para as zonas costeiras, para evitar que impurezas cheguem
uma avaliação das possíveis medidas de aos corpos d’água. Ao mesmo tempo,
adaptação será importante para evitar protegem as margens contra a erosão,
os altos custos de proteção de áreas evitando o assoreamento dos rios e o
desenvolvidas ou de melhorar estruturas agravamento das enchentes (TUNDISI et
al., 2008).

12. “No regrets” (‘sem arrependimentos’ em tradução livre) é um termo da literatura especializada utilizada para
se referir a medidas de redução de GEE cujos benefícios são iguais ou excedem os custos para a sociedade,
fora os ganhos na questão das mudanças climáticas evitadas) (IPCC, 2016).

103
MÓDULO 4

Neste sentido, os sistemas de Podem-se citar como exemplos


infraestrutura urbana, bem como de ações de adaptação as paredes
a ocupação do espaço, devem ser marítimas e estruturas de proteção
dimensionados considerando a proteção costeiras, diques de inundação,
contra inundações, deslizamentos, secas armazenamento de água, melhor
e outros desastres naturais. No entanto, drenagem, engordamento de praias,
grande parte das infraestruturas que abrigos contra inundações e ciclones,
estão construídas hoje, foram planejadas códigos de construção, adaptação das
a partir de dados climáticos históricos. infraestruturas viárias e rodoviárias
Porém, atualmente, é possível observar e ajuste de usinas e redes elétricas,
que tais infraestruturas não estão sendo irrigação eficiente, armazenamento da
suficientes para suportar e enfrentar água da chuva, entre outros.
os desafios das mudanças do clima. Ao Exemplos de medidas de adaptação
mesmo tempo em que as infraestruturas na infraestrutura da cidade de Santos
urbanas devam ser vistas como foram levantados para lidar com os
prioridade, como, por exemplo, as vias de desafios da mudança do clima. Segundo
mobilidade e instalações de tratamento Santos (2015), o regime de chuvas e
de água, essas são particularmente as ressacas na região de Santos (SP)
vulneráveis às mudanças do clima, tenderão a ser mais intensos e mais
pois muitas vezes ocupam ambientes frequentes nas próximas décadas,
naturalmente susceptíveis aos impactos. em consequência do aumento da
Alguns aspectos são centrais temperatura global e da consequente
para um projeto urbano de elevação do nível do mar, além da
infraestrutura: agilidade, flexibilidade possibilidade de eventos extremos. A
e multifuncionalidade. É imprescindível partir disso, as sugestões para diminuir as
que os gestores urbanos e ambientais, vulnerabilidades costeiras, apresentadas
dentro de uma visão sistêmica, busquem após avaliação de diferentes formas de
a conservação e o uso racional das áreas adaptação, incluem também obras de
que compõem as planícies de inundação, infraestrutura. Além da preservação
preservando as matas ciliares, uma vez e recuperação de manguezais, foram
que estas são também essenciais para sugeridas a implantação de comportas
a contenção das cheias e diminuição para controle de marés em rios, a
das secas dos rios (GARCIAS e AFONSO, construção de canais de drenagem, o
2013; NASCIMENTO, et al., 2018). Ainda, aumento da faixa de areia na Ponta da
considerando-se que os impactos da Praia e a construção de quebra-mar na
mudança do clima serão locais e que orla leste do município13.
certas regiões, até mesmo no contexto Para a zona noroeste do município,
interurbano, são mais vulneráveis que que conta com urbanização consolidada,
outras, há urgência em repensar o as propostas de medidas adaptativas
planejamento urbano das cidades na incluem a dragagem de canais, a criação
definição e implementação de ações de de um sistema de comportas e estações
adaptação efetivas. de bombeamento e a recuperação de

13. http://agencia.fapesp.br/medidas-de-adaptacao-as-mudancas-climaticas-sao-anunciadas-em-santos/22357/

104
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

mangues. Na região da Ponta da Praia, urbanas, serviços ecossistêmicos,


no sudeste santista, a recomendação infraestrutura verde, ecossistemas
é que sejam adotadas medidas para baseados na natureza. Quando
engordamento/alimentação artificial comparado NbS com os demais conceitos,
da praia, a construção de um muro o autor aponta que a NbS funciona
de proteção e de um sistema de como um “guarda-chuva”, uma vez que
bombeamento e de melhoria de ela engloba todas as outras definições.
comporta de canais. Além disso, a NbS possui uma grande
abordagem, possuindo uma gama
2.2 SOLUÇÕES BASEADAS NA de ações em variados campos, como
NATUREZA restauração, infraestrutura, gestão e
proteção para enfrentar desafios sociais,
Segundo a resolução (WCC-2016- como por exemplo, o acesso a água
Res-069-EN), adotada pelos membros da limpa, alimentos, equilíbrio climático
IUCN no Congresso Mundial de Conser- e geração de renda. Todas essas ações
vação da Natureza de 2016, as soluções têm como objetivo alcançar o bem-estar
baseadas na natureza (do inglês, Nature humano, ao mesmo tempo em que
based Solutions, NbS) são “ações para origina benefícios para a conservação.
proteger, gerenciar e restaurar de Segundo a IUCN (2016), é útil pensar,
maneira sustentável os ecossistemas ao estruturar as soluções baseadas na
naturais ou modificados que abordam natureza e considerar suas aplicações,
os desafios sociais de maneira efetiva e como um conceito abrangente que
adaptativa, proporcionando simultane- envolve toda uma gama de abordagens
amente o bem-estar humano e os bene- relacionadas aos ecossistemas, todas as
fícios da biodiversidade” (IUCN, 2016). quais abordam os desafios da sociedade.
Stöberl et al. (2019) aponta que o Todas essas abordagens podem ser
conceito de NbS é novo se comparado separadas em cinco categorias principais
com outros conceitos, como florestas (Quadro 5).

Quadro 5. Abordagens do NbS

Categorias de Abordagens NbS Exemplos

Abordagens de restauração de Restauração ecológica; Engenharia Ecológica;


ecossistemas Restauração da paisagem florestal.
Adaptação baseada em ecossistemas; Mitigação baseada
Abordagens relacionadas aos
em ecossistemas; Serviços de adaptação climática;
problemas específicos do ecossistema
Redução de risco de desastre com base no ecossistema
Abordagens relacionadas à
Infraestrutura natural; Infraestrutura verde.
infraestrutura
Abordagens de gerenciamento Gestão integrada da zona costeira; Gestão integrada de
baseadas em ecossistemas recursos hídricos.
Abordagens de conservação baseadas em áreas,
Abordagens de proteção do ecossistema
incluindo gerenciamento de áreas protegidas.
Fonte: IUCN, 2016. Traduzido.

105
MÓDULO 4

Percebe-se que as abordagens ƒƒ Integração a uma estratégia


apontadas compartilham muitas geral de adaptação;
semelhanças, como por exemplo, em ƒƒ Utilização de dados sobre a
relação aos serviços ecossistêmicos que mudança do clima ou cenários
abordam e dos tipos de intervenções que climáticos;
envolvem. Sendo assim, essas abordagens
podem não apenas ser agrupadas no NbS ƒƒ Análise de vulnerabilidade,
como o conceito abrangente (guarda- impacto e risco;
chuva), como também contribuir para ƒƒ Perspectiva territorial e
o desenvolvimento de uma estrutura participação intersetorial;
operacional para o NbS.
Respeito aos 12 princípios do
2.2.1 ADAPTAÇÃO BASEADA EM enfoque ecossistêmico. MMA (2018)
ECOSSISTEMAS (ABE) e o Portal da Reserva da Biosfera
da Mata Atlântica aponta que esses
A Adaptação baseada em Ecossis- princípios foram determinados
temas (AbE), conceito formalizado pela no contexto da Convenção da
Convenção da Diversidade Biológica em Diversidade Biológica (CDB) e os
2009, é uma estratégia de adaptação que resume da seguinte maneira:
integra o uso dos serviços ecossistêmicos
1. Os objetivos de gestão dos
e da biodiversidade de forma a auxiliar
recursos naturais devem ser de
as pessoas e as comunidades a se
decisão da comunidade;
adaptarem aos impactos adversos
2. A gestão deve ser
oriundos das mudanças climáticas em
descentralizada para o nível mais
nível local, nacional, regional e global
baixo apropriado ao caso;
(FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO, 2015).
3. Os gestores de ecossistemas
Segundo MMA (2018), o uso
devem considerar os efeitos
da biodiversidade e dos serviços
(existentes ou possíveis) de suas
ecossistêmicos não faz com que a
atividades sobre outros ecossistemas.
medida seja considerada uma AbE.
4. Assentindo os ganhos
Para que a medida de adaptação seja
potenciais da gestão dos
caracterizada como tal é necessário
ecossistemas, é necessário que se
que ela possua alguns elementos
entenda e maneje o ecossistema
obrigatórios, diferenciando-a assim, de
em um contexto econômico.
outras abordagens de adaptação. São
Nesse sentindo, deve-se: reduzir
elas:
distorções de mercado que afetam
ƒƒ Alinhamento estratégico
negativamente a diversidade
claro: soluções verdes para reduzir biológica; adotar incentivos para
vulnerabilidade à mudança do clima; promover o uso sustentável e a
ƒƒ Foco antropocêntrico: adaptação conservação da biodiversidade; e
das pessoas/sociedade como ponto internalizar custos e benefícios no
central; ecossistema sob análise.

106
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

ela deve envolver “soluções verdes”


5. A conservação da estrutura para a redução da vulnerabilidade às
e do funcionamento do ecossistema, mudanças climáticas, possuindo como
no sentido de manter os seus serviços, foco os indivíduos em risco (MMA, 2018)
deve ser um objetivo prioritário do Em suma, a AbE tem como propósito
enfoque ecossistêmico. o aproveitamento de oportunidades
6. Os ecossistemas devem ser de conservação, recuperação e uso
geridos dentro dos limites de seu sustentável dos ecossistemas para a
funcionamento. geração de serviços que ajudam os
7. O enfoque ecossistêmico indivíduos a se adaptarem à mudança
deve ser realizado nas escalas do clima (MMA,2018). Ressalta-se que
espaciais e temporais apropriadas. ecossistemas bem geridos tem maior
8. Levando em consideração potencial de adaptação, resistindo e
as demais escalas temporais e recuperando-se de forma mais simples
tempo de reposta que caracterizam dos impactos de eventos climáticos
os processos ecossistêmicos, os extremos, além de fornecer um conjunto
objetivos de gestão dos ecossistemas maior de benefícios, dos quais as pessoas
devem ser definidos para o longo necessitam (IUCN, 2009).
prazo.
9. A gestão deve assentir que a
2.2.1.1 BENEFÍCIOS E CO-BENEFÍCIOS
mudança é inevitável.
DA UTILIZAÇÃO DA ABE
10. No enfoque ecossistêmico
deve-se buscar o equilíbrio Os ecossistemas naturais protegidos
adequado e a integração entre são essenciais para tornar a sociedade
estratégias de conservação e uso da e a biodiversidade mais resilientes
biodiversidade. aos impactos das mudanças do clima,
11. O enfoque ecossistêmico uma vez que eles possuem uma maior
deve considerar todas as formas de capacidade de resistência e recuperação
informação relevantes, incluindo quando afetados por eventos climáticos
conhecimentos, inovações e extremos. Além disso, os ecossistemas
práticas das comunidades científica, fornecem uma série de benefícios
indígenas e locais. que as pessoas dependem, sendo eles
12. O enfoque ecossistêmico conhecidos por serviços ecossistêmicos
deve abranger todos os setores ambientais (FUNDAÇÃO GRUPO
relevantes da sociedade e todas as BOTICÁRIO, 2015). Segundo a IUCN
disciplinas científicas pertinentes. (2009), a utilização da AbE, como uma
medida de adaptação, além de reduzir a
De acordo com a Fundação Grupo vulnerabilidade e aumentar a resiliência
Boticário (2015), os critérios para às mudanças climáticas, provê diversos
classificar ações, projetos ou programas co-benefícios econômicos, sociais,
em AbE podem variar conforme o autor ambientais e culturais, para sociedade e
e instituição que trata o assunto. De meio ambiente.
maneira geral, para que uma medida A Agência Alemã de Cooperação
de adaptação seja considerada de AbE, Internacional (do original em alemão

107
MÓDULO 4

Deutsche Gesellschaft für Internationale adaptação ao clima inserida em uma


Zusammenarbeit, GIZ) aponta que dimensão cultural e uma contribuição
as medidas de AbE podem ser mais ao desenvolvimento de políticas públicas
custo-eficientes do que medidas de em múltiplos níveis de gestão.
adaptação que envolve infraestrutura
pesada (“infraestruturas cinzas”). São 2.2.1.2 EXPERIÊNCIAS DE ABE NO
também, medidas, muitas vezes, de MUNDO E NO BRASIL
não arrependimento, uma vez que a
implementação dessa medida gera Segundo a União Europeia, a maioria
benefícios ainda que nenhum impacto das experiências em AbE ocorrem na
da mudança do clima ocorra, e permitem Europa. As mesmas tem acontecido
a mobilização de financiamentos, isto desde 2009 no continente europeu,
é, fundos para AbE estão disponíveis sendo a maior parte, financiadas pela
e podem ser usados para medidas Comissão Europeia. A mesma ainda
de adaptação. Além disso, a agência aponta que o fato dos outros continentes
apresenta uma série de co-benefícios terem uma proporção menor de
oriundos da utilização de estratégias de experiências em AbE, justifica-se pelo
AbE: fato de haver recomendações para tais
ƒƒ Sequestro de Carbono; medidas no White Paper on Adapting
to Climate Change no continente
ƒƒ Conservação da Biodiversidade;
europeu. Ademais, essas medidas
ƒƒ Estabilização do clima local/ estão endossadas por documento de
regional; trabalho em estratégias de adaptação
ƒƒ Proteção d’água e do solo; à mudança clima, o que pode ter
inspirado positivamente no número
ƒƒ Contribuição para a geração de de experiências existentes (UNIÃO
renda e sustento de vida; EUROPEIA, 2013).
ƒƒ Prevenção de desastres; O continente africano também
ƒƒ Mitigação de ameaças e; possui um expressivo número de projetos
de AbE sendo executados atualmente.
ƒƒ Adaptação às Mudanças Climá- Segundo Rizvi (2014), isso se deve aos
ticas. esforços da IUCN, uma vez que essa está
vigorosamente envolvida no apoio a
Pérez et al. (2010) aponta outras projetos de adaptação à mudança clima,
vantagens em relação à adoção de com foco específico em AbE.
medidas de AbE, como o desenvolvimento O Brasil, apesar da grande riqueza
de uma visão integrada do território, e diversidade biológica, possui
estabelecida em processos ecológicos poucos exemplos de projetos em AbE.
e que ultrapassa os limites político- Entretanto, as poucas experiências
administrativos, a conservação da mostram o potencial existente,
integridade ecológica dos ecossistemas podendo este ser reflexo da diversidade
em termos de serviços ecossistêmicos, ecossistêmica, das previsões de impactos
o aprimoramento da governança, o realizadas pelo IPCC e Painel Brasileiro de
desenvolvimento de uma visão de Mudanças Climáticas para os próximos

108
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

anos, e da tradição de envolver as mostram o uso da infraestrutura verde


comunidades nos projetos. Ressalta-se conforme Figura 24 a seguir.
que o fato do conceito de AbE ser Ressalta-se que o Projeto de Apoio
relativamente novo pode interferir na ao Brasil na Implementação da Agenda
quantidade “reduzida” de experiências Nacional de Adaptação à Mudança do
encontradas no Brasil, uma vez que Clima (ProAdapta), financiado pelo
muitos projetos possuem claramente o governo alemão e com objetivo de
escopo para serem denominados como estimular a resiliência climática em
AbE (FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO, todo o país, selecionou a cidade de
2015). Santos em 2018 para a primeira etapa
Para planejar projetos AbE que do projeto, visto que o município é
possam ser aplicados na região da afetado, anualmente, por eventos
Baixada Santista, é possível se basear extremos como enchentes e aumento
em outros existentes em contextos do nível do mar (MMA, 2018). Essa é
semelhantes. Como exemplo, tem-se: uma nova oportunidade para serem
ƒƒ Utilização de infraestrutura aplicadas medidas de AbE visando
verde para redução de alagamentos reduzir os efeitos dos eventos extremos
e contenção de encostas em Salvador que recaem sobre o munícipio.
(GIZ, 2019);
2.2.1.3 INSERÇÃO DA ABE EM
ƒƒ Criação de uma barreira natural POLÍTICAS PÚBLICAS
na costa norte da ilha de Java, na
Indonésia, a fim de estancar o severo A Convenção da Diversidade
processo de erosão (FUNDAÇÃO Biológica (CDB) vem discutindo desde
GRUPO BOTICÁRIO, 2015); 2000 a relação entre a biodiversidade
ƒƒ Desenho, construção e e a mudança do clima. O primeiro
discussão dos futuros cenários compromisso da convenção em
alternativos para o aumento do atividades de adaptação se refere
nível do mar, tempestades extremas, ao reconhecimento do impacto das
vulnerabilidades sociais e ecológicas, mudanças climáticas em vários
e prioridades de conservação, nos ecossistemas como recifes de coral e
Estados Unidos da América (EUA) inclusão de adaptação no Programa de
(FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO, Trabalho nas montanhas, florestas, ilhas
2015); e áreas protegidas (PÉREZ et al., 2010).
A CDB promove pesquisas sobre
ƒƒ Criação de uma grande rede
atividades de resposta às mudanças do
de áreas protegidas marinhas para
clima relacionadas à biodiversidade,
garantir a resiliência dos recifes de
avaliações de impacto ambiental,
coral frente às alterações climáticas,
e princípios de uso sustentável.
na Papua, Nova Guiné (FUNDAÇÃO
Ela ainda, solicita a integração, na
GRUPO BOTICÁRIO, 2015);
medida do possível, de considerações
da biodiversidade no projeto,
Para fins de elucidação, seguem implementação e monitoramento
quatro ilustrações de projetos que das atividades de adaptação. Nesse

109
MÓDULO 4

Figura 24. infraestrutura verde

Esquema de um jardim de chuva

Esquema de um canteiro pluvial

Esquema de uma biovaleta

Esquema de uma lagoa pluvial

Crédito: CORMIER, Nathaniel S.; PELLEGRINO, Paulo Renato Mesquita (2008)

110
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

contexto, é importante destacar que de manter sua vitalidade e torná-los


especialmente as pessoas em situação resilientes às mudanças climáticas. Essas
de pobreza dependem muito dos recomendações estabeleceram as bases
serviços ecossistêmicos. Estima-se que e princípios para a internalização da
três quartos das pessoas do mundo adaptação nas políticas públicas da
que vivem com menos de US$2 por dia União Europeia, como por exemplo,
dependem diretamente do bem-estar na adoção, em 2013, da Estratégia
do meio ambiente. Dessa forma, Europeia de Adaptação às Mudanças
estratégias de AbE que promovem Climáticas. Diversos países replicaram
a resiliência, dos ecossistemas e das essas recomendações da UE, sugerindo
comunidades, às mudanças climáticas, medidas de adaptação focadas no
garantindo o fornecimento contínuo gerenciamento e na conservação dos
de bens e serviços são de particular ecossistemas (FUNDAÇÃO GRUPO
importância para os indivíduos mais BOTICÁRIO, 2015).
pobres e vulneráveis (PÉREZ et al., 2010). O Brasil, em 2016, lançou
O Reino Unido foi o país pioneiro oficialmente o Plano Nacional de
na inclusão de medidas de adaptação Adaptação à Mudança Clima (PNA),
baseadas em ecossistemas nas políticas com o objetivo de estimular iniciativas
públicas, partindo de informações da para gestão e redução dos riscos
Avaliação Ecossistêmica do Milênio. Essa provenientes dos efeitos adversos das
avaliação demonstrou a importância dos mudanças climáticas no médio e no
serviços ecossistêmicos para o bem-estar longo prazo, nas dimensões social,
dos indivíduos, e até mesmo, apontou, econômica e ambiental. A criação desse
em escala global, que muitos desses plano pode servir como um estímulo
serviços estavam sendo degradados para que estados e municípios atentem
e perdidos. Diante desse cenário, o para a necessidade de investir esforços
governo do Reino Unido elaborou, e recursos em medidas de adaptação às
em 2007, um estudo para permitir a mudanças climáticas e assim aumentar
identificação e desenvolvimento de a sua resiliência (DI GIULIO; MARTINS;
políticas públicas efetivas como resposta LEMOS, 2016).
à degradação dos serviços ambientais, A inserção da AbE em políticas
levando em consideração as mudanças públicas do Brasil pode ser encontrada
climáticas (UK NEA, 2015). nos seguintes planos setoriais
A Comunidade Europeia, por brasileiros: Plano Setorial de Mitigação
meio do White Paper on Adapting to e Adaptação à Mudança do Clima na
Climate Change recomenda ações para Mineração (Plano de Mineração de
uma estratégia global de adaptação Baixa Emissão de Carbono - Plano MBC)
na União Europeia, e insere o papel e o Plano Setorial de Mitigação e de
desempenhado pelos ecossistemas no Adaptação às Mudanças Climáticas para
controle da regulação do clima e de seus a Consolidação de uma Economia de
impactos, aconselhando medidas de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura
adaptação focadas no gerenciamento (Plano de Agricultura de Baixa Emissão
e conservação dos recursos hídricos, do de Carbono - Plano ABC). Nesse contexto,
solo e dos recursos biológicos como forma podem ser citadas atividades como:

111
MÓDULO 4

desenvolvimento de culturas resistentes de adaptação para zonas costeiras e


a períodos de seca, construção de urbanas (SANTOS et al., 2015), separadas
defesas contra inundações, recuperação por categoria:
de pastagens, estudos e mapeamentos
de vulnerabilidade, definição de
Institucional
indicadores de resiliência, entre outras
(FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO, 2015). ƒƒ Mapear e identificar as regiões
Ressalta-se que, alguns obstáculos mais suscetíveis de ocupação,
referentes à implementação de medidas considerando os estudos de risco
AbE são devidos à escassez de recursos, para zonas costeiras, contemplando
isso porque, em alguns projetos é aspectos ambientais, técnicos, de
necessária a desapropriação de terras, engenharia e socioeconômicos com
ou realocação de infraestruturas, e o intuito de normatizar a ocupação
que muitas vezes a oportunidade de litorânea, diminuindo os riscos
financiamento não permite esse tipo que poderão ser causados pela
de ação. As medidas de adaptação elevação do nível do mar e falta de
baseada em ecossistemas necessitam ordenamento territorial;
de um financiamento específico por um ƒƒ Elaborar diretrizes e normas
determinado tempo após a implantação técnicas para obras costeiras e
do projeto para a realização do marítimas, que incorporem os
monitoramento. Além disso, outros dois possíveis impactos da mudança
obstáculos encontrados são referentes global do clima sobre obras e
à priorização de medidas urgentes ou construções;
com maior visibilidade em curto prazo, e
ƒƒ Avaliar e mapear a vulnerabilidade
a percepção negativa da sociedade e de
das áreas de risco de alagamentos e
investidores em relação à efetividade dos
de deslizamentos de encostas nas
projetos de AbE em comparação a outros
cidades;
projetos de engenharia convencionais
(infraestruturas cinzas) (FUNDAÇÃO ƒƒ Realizar um levantamento dos
GRUPO BOTICÁRIO, 2015). A Fundação impactos econômicos, sociais e
Grupo Boticário (2015) ainda aponta o ambientais em relação a eventos
Plano Nacional de Adaptação como uma de natureza climática, como
ferramenta estratégica para atravessar inundações e deslizamentos;
esses obstáculos. ƒƒ Criar incentivos financeiros,
incluindo impostos e subsídios;
2.3. OUTRAS MEDIDAS seguros, como regimes de seguro
climático com base em índices;
Além das medidas citadas nos tópicos títulos de catástrofes; fundos
anteriores, uma série de ações podem rotativos; pagamento por serviços
ser adotadas no âmbito das cidades ambientais; tarifas de água;
costeiras e urbanas que incluem não só microfinanciamento; fundos de
estruturas físicas, mas também iniciativas contingência para desastres; e
institucionais e sociais. A seguir, serão transferências de dinheiro vivo.
listados exemplos de outras medidas

112
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

ƒƒ Estrutura física ƒƒ Social


ƒƒ Promover construções que se ƒƒ Sensibilizar e integrar o tema
adaptem às temperaturas mais na educação; serviços de extensão;
elevadas, tais como telhados compartilhamento de conhecimento
ecológicos, prédios com iluminação local e tradicional, incluindo a
e ventilação naturais, etc., levando integração no planejamento da
em consideração as opções de uso e adaptação; e comunicação por meio
reuso da água; da mídia;
ƒƒ Instalar conjuntos habitacionais ƒƒ Disponibilizar alojamentos;
levando em consideração o uso e preparação de domicílios e
reuso da água e preservação de planejamento para evacuação;
áreas verdes; diversificação dos meios de
ƒƒ Construir paredes marítimas subsistência; alteração nas práticas
e estruturas de proteção de criação de gado e de aquicultura;
costeiras; diques de inundação; mudanças nas culturas agrícolas;
armazenamento de água; melhor mudanças em práticas de cultivo,
drenagem; engordamento de praias; padrões e datas de plantio; e
abrigos contra inundações e ciclones; alternativas de silvicultura;
utilizar códigos de construção com ƒƒ Promover a restauração ecológica
preocupação climática; adaptação por meio de práticas ligadas ao
das infraestruturas viárias e social, como, por exemplo, gestão da
rodoviárias; e ajuste de usinas e pesca e gestão de recursos naturais
redes elétricas; baseada na comunidade.
ƒƒ Criar um sistema de alerta precoce
em casos de enchentes;
ƒƒ Instalar dispositivos de
armazenamento da água da chuva;
instalações de armazenamento e
preservação de alimentos;
ƒƒ Promover a restauração ecológica,
incluindo zonas úmidas e de várzeas;
aumento da biodiversidade;
reflorestamento; conservação e
replantio de manguezais; árvores de
sombra, telhados verdes; migração
assistida ou controlada; corredores
ecológicos; e gestão adaptativa do
uso do solo.

113
MÓDULO 4

3 ESTUDOS E INSTRUMENTOS chuvas intensas (PRAIA GRANDE, 2017).


Há programas estaduais que visam
PRÉ-EXISTENTES NOS MUNI-
o campo do saneamento básico. Um
CÍPIOS deles é o programa Se Liga na Rede,
que executa obras dentro dos imóveis
A Região Metropolitana da Baixada
das famílias de baixa renda para que
Santista (RMBS) abrange os municípios
as casas sejam ligadas à rede coletora
de Bertioga, Cubatão, Guarujá,
de esgoto instalada na rua, evitando,
Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia
assim, seu despejo nos corpos d’água.
Grande, Santos e São Vicente. Foi a
Outro programa é o Caça Esgoto, feito
primeira região metropolitana criada no
em parceria com a Companhia de
Brasil, sem a participação de capital de
Saneamento Básico do Estado de São
Estado. A Baixada Santista cresceu com o
Paulo (SABESP), que tem como objetivo
desenvolvimento econômico, ofertando
eliminar os esgotos clandestinos
serviços portuários, de energia, turismo
para evitar riscos de contaminação à
e lazer e, posteriormente, bens da
comunidade e melhorar a balneabilidade
indústria de base. Atualmente, ela vem
das praias (PRAIA GRANDE, 2017).
apresentando taxas de crescimento
Todos os municípios da Baixada
populacional e taxas anuais de migração
Santista possuem uma carta de
superiores às do Estado, em especial os
suscetibilidade a movimentos
municípios de Bertioga, Praia Grande,
gravitacionais de massa e inundações
Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe (PRAIA
revisada em 2015. Elas foram elaboradas
GRANDE, 2017).
pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas
Na Baixada Santista há dois sistemas
do Estado de São Paulo (IPT) dentro do
de águas subterrâneas, os aquíferos
Programa de Gestão de Riscos e Resposta
cristalino e sedimentar litorâneo. O
a Desastres Naturais, incluído no Plano
elevado desenvolvimento urbano na
Plurianual 2012-2015 do Ministério do
Baixada Santista resultou em grandes
Planejamento, Orçamento e Gestão.
alterações na qualidade das águas. Isso
A carta tem caráter informativo e é
se intensifica no sistema sedimentar,
elaborada para uso em atividades de
devido à baixa profundidade dos
planejamento e gestão do território,
lençóis subterrâneos e à permeabilidade
apontando-se áreas quanto ao
dos leitos arenosos. A balneabilidade
desenvolvimento de processos do meio
das praias de São Paulo é ligada às
físico que podem ocasionar desastres
condições sanitárias dos municípios
naturais (IPT, 2015).
que, por sua vez, são determinadas pela
Em geral, cerca de 20% a 40%
infraestrutura de saneamento básico,
da área dos municípios da Baixada
pela população residente e flutuante,
está localizada em áreas classificadas
pelas condições climáticas e pelas
como de alta suscetibilidade a
interferências decorrentes da existência
movimentos gravitacionais de massa,
de ocupações irregulares. Todos os
ou seja, deslizamentos. Nestes locais há
municípios são assolados pela alta
predominância de relevo de escarpas e
vulnerabilidade de enchentes causadas
morros altos, com declividade superior
por deficiências na rede coletora e por
a 25°, além de solos rasos. Porém, essas

114
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

regiões compõem menos de 3% da área Santista, a partir do levantamento


urbanizada, somente, o que reduz, em das cartas anteriormente citadas. É
parte, a vulnerabilidade acarretada importante ressaltar que essas cartas
por estes riscos. Simultaneamente, foram elaboradas utilizando-se dados
aponta-se que porcentagens superiores, históricos de precipitação. Com as
chegando a mais de 50% em alguns mudanças do clima, o regime de
casos, da área urbanizada se encontram precipitação se modificará no futuro,
sob alta suscetibilidade à inundação, podendo agravar as áreas de exposição
alagamento e assoreamento, com base a inundações e alagamentos dos
no nível de precipitações. Essas regiões municípios.
se encontram em planícies aluviais com É possível observar que as áreas
solos hidromórficos, e é importante urbanas de Bertioga são as menos
ressaltar que, com as mudanças do suscetíveis aos eventos extremos,
clima, é provável que o risco aumente enquanto Santos e São Vicente são
consideravelmente, agravando a as mais expostas à deslizamentos e
vulnerabilidade da região (IPT, 2015). inundações, respectivamente. A seguir,
A Tabela 1 a seguir apresenta as as Figuras de 25 a 33 apresentam os
porcentagens de áreas e áreas urbanas dados sobre declividade e precipitações
com alta suscetibilidade a deslizamentos médias para cada um dos municípios.
e inundações nos municípios da Baixada
Tabela 1. Áreas totais e áreas urbanas com alta suscetibilidade a deslizamentos e inunda-
ções

Área altamente Área urbana Área urbana


Município suscetível a altamente suscetível altamente suscetível
deslizamentos (%) a deslizamentos (%) a inundações (%)

Bertioga 24,44 0,14 9,71


Cubatão 39 1,5 54
Guarujá 19,9 2,4 51,2
Itanhaém 36,82 0,48 25,9
Mongaguá 25,51 0,32 12,68
Peruíbe 28,2 0,9 27
Praia Grande 23 0,1 18
Santos 35,7 3,7 42
São Vicente 37,3 1,4 53,8

Fonte: IPT, 2015

115
MÓDULO 4

Figura 25. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no


município de Bertioga

Fonte: IPT, 2015

116
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Figura 26. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no


município de Cubatão

Fonte: IPT, 2015

117
MÓDULO 4

Figura 27. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no


município de Guarujá

Fonte: IPT, 2015

118
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Figura 28. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no


município de São Vicente

Fonte: IPT, 2015

119
MÓDULO 4

Figura 29. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no


município de Santos

Fonte: IPT, 2015

120
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Figura 30. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no


município de Praia Grande

Fonte: IPT, 2015

121
MÓDULO 4

Figura 31. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no


município de Mongaguá

Fonte: IPT, 2015

122
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

Figura 32. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no


município de Itanhaém

Fonte: IPT, 2015

123
MÓDULO 4

Figura 33. Informações sobre declividade e precipitações médias anuais e mensais no


município de Peruíbe

Fonte: IPT, 2015

124
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

No levantamento de informações muni- Por sua vez, o segundo exercício


cipais realizado com representantes da consistia em identificar as vulnera-
Baixada Santista na Agência Metropo- bilidades às quais os municípios estão
litana da Baixada Santista (AGEM), em submetidos, se eles possuem algum
agosto de 2019, foram feitas algumas mecanismo de resposta a ela e alguma
atividades com o objetivo de identi- base de dados ou estudos, o que precisa
ficar aspectos ligados à vulnerabilidade ser desenvolvido para tratar dessa
das cidades. O primeiro exercício foi vulnerabilidade, e quais são as pessoas
composto por duas perguntas a serem que podem auxiliar no entendimento
respondidas pelos participantes: da situação por meio do fornecimento
ƒƒ Como o gestor público, qual a de informações.
maior vulnerabilidade hídrica que Com essas informações foi
você enxerga em seu município? possível identificar os riscos e ações já
ƒƒ Quais as principais vulnera- avaliados pelos municípios, bem como
bilidades hídricas já identificadas instrumentos já existentes, que serão
em seu município e como ele vem se apresentados separadamente a seguir
preparando para resolver possíveis por município da RMBS. Abaixo, a Figura
impactos? 34 apresenta um mapa da Baixada
Santista, para melhor visualização.

Figura 34. Mapa com os municípios da Baixada Santista

Fonte: EMPLASA, 2019

125
MÓDULO 4

3.1 BERTIOGA foram constatadas mais de 8 mil


moradias que abrigam 28 mil moradores
O Município de Bertioga possui em assentamentos, o que representa
uma extensão territorial de 491 km² 62,5% dos domicílios ocupados e
e faz divisa com os municípios de 62,3% da população do município.
Salesópolis, Biritiba Mirim, Mogi das Estes assentamentos estão localizados
Cruzes, Santos, Guarujá e São Sebastião. predominantemente ao longo da
O Município possui cerca de 99% da Rodovia SP-055 e próximos a loteamentos
população vivendo em áreas urbanas e e condomínios de alto padrão, em função
é o segundo menos populoso da região, de melhores condições de mobilidade e
com 58.595 habitantes (SEADE, 2017). proximidade ao mercado de trabalho.
Entre 2016 e 2017 foi o que mais teve Os assentamentos são classificados em
aumento populacional dos municípios 18 favelas e 68 loteamentos clandestinos
da Baixada Santista, estimado em 3,06% e irregulares (GOVERNO DO ESTADO DE
ao ano (PREFEITURA DE BERTIOGA, SÃO PAULO, 2018).
2017). Devido ao caráter turístico do Bertioga apresenta a menor
município, Bertioga possui a maioria de densidade demográfica (116,51 hab/km²)
suas residências com ocupação de uso dentre todos os municípios da Baixada
ocasional, que chegam a 62% segundo Santista, fato que pode ser explicado
dados de 2010 do IBGE (GOVERNO DO pelas extensas áreas abrangidas
ESTADO DE SÃO PAULO, 2018). A Figura por Unidades de Conservação, que
35 contém um mapa com a ocupação representam mais de 90% da sua área
urbana do município. total. Como as áreas urbanas junto à orla
Das moradias permanentemente marítima contam com melhor oferta de
ocupadas, uma parte se localiza em infraestrutura de saneamento básico em
áreas irregulares. De acordo com o comparação com as localizadas entre
Plano Local de Habitação de Interesse a Rodovia e a Serra do Mar, a pressão
Social de Bertioga de 2010, no município de ocupação sobre as áreas ambientais

Figura 35. Mapa de ocupação urbana do Município de Bertioga

Fonte: Prefeitura de Bertioga, 2017

126
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

protegidas se torna intensificada. Os econômica, porém com grande nível de


altos preços alcançados pelos imóveis e informalidade, fundada na produção
terrenos nessas áreas mais valorizadas de caráter familiar com embarcações de
acabam por “empurrar” as populações pequeno porte (GOVERNO DO ESTADO
de menor renda para áreas com maior DE SÃO PAULO, 2018) também sofrerá
vulnerabilidade ambiental (GOVERNO os impactos das mudanças nos sistemas
DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2018). naturais com o aumento de temperatura
Em exercício realizado com os e regime de chuvas. Portanto, os
municípios da Baixada Santista, membros residentes permanentes do município
da Prefeitura de Bertioga apontaram que já se encontram em situação de
como principais vulnerabilidades a vulnerabilidade serão os mais afetados,
drenagem, a presença de ocupações agravando as desigualdades sociais e
irregulares e o assoreamento dos corpos econômicas, além de aumentar a pressão
d´agua. Foram apontados também a sobre os sistemas naturais de extrema
incidência de alagamentos e inundações relevância local.
causadas por chuvas acima da média,
combinadas com o aumento da maré. 3.2 CUBATÃO
Em relação à drenagem urbana,
foi apontado que a prefeitura vem Cubatão é um município localizado
investindo em obras de drenagem e na entre Santos e São Vicente, que conta
manutenção do sistema. com uma área aproximada de 142 km2
Apesar de uma parte do relevo ser e população de 129 mil habitantes
montanhoso e da presença de diversos (EMPLASA, 2019). É um dos dois
cursos d’água em seu território, o que únicos municípios da RMBS, além da
aumenta o risco de deslizamentos de Praia Grande, a ter atingido 100% de
massa e inundações, a grande maioria urbanização. Porém, possui o índice
da população do município habita a mais baixo de abastecimento de água
região plana costeira. Sendo assim, cerca da região, atendendo somente 87%
de 99% da população habita regiões de da população, e um dos menores de
baixo risco a deslizamentos, 66% regiões atendimento de saneamento de esgoto,
de baixa suscetibilidade a inundações e com 54% de cobertura (PRAIA GRANDE,
22% regiões de média suscetibilidade 2017).
a inundações. Porém, com a presença A Lei Complementar Nº 2512,
de assentamentos inadequados, a de 10/09/1998 institui o Novo Plano
população exposta se torna cada vez Diretor do Município de Cubatão,
mais vulnerável na medida em que há que tem o propósito de orientar os
aumento da frequência e intensidade processos de transformação da Cidade
desses eventos devido à mudança do e de melhorar a qualidade de vida dos
clima. habitantes. Para promover o pleno
Outro fator de impacto relevante desenvolvimento das funções sociais
na região é a dependência econômica da cidade, ele fixa objetivos e diretrizes
do turismo e da pesca. A atividade políticos, estratégicos, sociais e físico-
da pesca, por exemplo, que tem territoriais, instituindo normas sobre o
grande importância social, cultural e parcelamento, uso e ocupação do solo

127
MÓDULO 4

no município (CUBATÃO, 1998-a). Dentre que já foi devidamente identificado.


os objetivos, há alguns relacionados a Primeiramente foi apontado que a falta
ocorrências de eventos extremos, como: de limpeza nos bairros, tratamento de
ƒƒ Promover estudos com o fim de esgoto e manutenção dos rios provoca
eliminar as áreas de enchentes, bem o assoreamento. Isso, somado às
como impedir a ocupação das áreas chuvas torrenciais, aumento do nível
sujeitas a inundações; do mar e falta de sistemas de micro e
macrodrenagem, provoca alagamento
ƒƒ Preservar os recursos naturais
de diversos bairros. As inundações, por
da Cidade, evitando a erosão
sua vez, auxiliam na poluição dos corpos
do solo; impedir a ocupação
hídricos como os manguezais, que já
máxima dos terrenos, de forma
são suprimidos pela expansão urbana,
a evitar a impermeabilização dos
e perturbam as comunidades litorâneas,
lotes urbanos, melhorando, em
como os moradores de palafitas.
consequência, a drenagem natural
A respeito dos riscos de alagamentos,
de fundos de vale, córregos, canais
enchentes e assoreamento de rios e
e lagos, protegendo, racional e
manguezais, Cubatão já possui um
eficazmente, os mananciais hídricos.
plano diretor municipal, um plano de
Uma importante resolução da lei é macro e microdrenagem e diversas leis
o veto do parcelamento do solo, para sobre o assunto. A aplicação das ações
fins urbanos, em terrenos alagadiços depende, porém, de infraestrutura,
e sujeitos a inundações, antes de projetos, recursos humanos e financeiros
tomadas as providências para assegurar e convênios com órgãos estaduais,
o escoamento das águas, e em terrenos como o Departamento de Águas e
com declividade igual ou superior a 30%, Energia Elétrica (DAEE) para estudos e
salvo se atendidas exigências específicas execução do desassoreamento. Além
das autoridades competentes. Ela disso, há o Plano Diretor do Conselho de
também determina que em casos Saneamento Ambiental, mas que ainda
de loteamento lindeiro às áreas de não atinge todos os bairros e ocupações
mangues, deverão ser reservadas pelo permanentes. Desta forma, como
loteador faixas de proteção e que, no apontado, há um déficit nos planos
caso de cursos d´água atravessarem de execução da limpeza dos canais e
o loteamento, nenhum poderá ser bairros e de manutenção dos sistemas
retificado, aterrado ou tubulado. Essas de drenagem. Por fim, o Decreto da
são medidas que contribuem para que Invasão Zero busca evitar as ocupações
as ações antrópicas não agravem os irregulares que levam ao aterramento
efeitos da mudança do clima (CUBATÃO, dos corpos hídricos, dependendo
1998 -b). somente da agilidade na fiscalização
Representantes de Cubatão puderam por meio dos órgãos governamentais.
apontar as principais vulnerabilidades Entretanto, faltam estudos mais
hídricas do município durante o levan- detalhados e planos de execução
tamento de informações municipais. para abordar as vulnerabilidades
Na atividade, uma visão individual dos que integram a população local de
participantes foi comparada com o áreas degradadas e atingidas e um
planejamento para ações pontuais.

128
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

3.3 GUARUJÁ inundações (GUARUJÁ, 2018).


Uma determinação importante para
Guarujá possui 318.107 habitantes a preservação dos recursos hídricos na
e uma área de, aproximadamente, 143 região foi o Decreto nº 9948, de 28 de
km2, além de localizar-se ao lado de junho de 2012 que definiu a criação da
Santos, no litoral paulista (EMPLASA, área de proteção ambiental da Serra
2019). Em 2010, cerca de um terço da do Guaraú, com objetivo de proteger
sua população era flutuante, sendo que a diversidade biológica, disciplinar o
projeções para 2050 estimam que este processo de ocupação e assegurar a
número caia para aproximadamente sustentabilidade do uso dos recursos
36% da taxa atual. Apesar de 93% da naturais. Essa região é considerada como
sua população possuir abastecimento área de recarga dos aquíferos, o que
de água, somente 78% conta com torna sua rede hídrica densa e de boa
atendimento de coleta de esgoto (PRAIA qualidade. Atualmente, entretanto, as
GRANDE, 2017). comunidades não dispõem de qualquer
Guarujá possui um relatório de infraestrutura de coleta de esgoto, e a
Atualização do Plano Municipal de captação de água é invariavelmente
Redução de Riscos – PMRR que contempla obtida a partir de soluções particulares,
áreas suscetíveis a processos de sejam individuais como captações
deslizamentos, que por sua vez atingem em cursos e nascentes e abertura de
preferencialmente moradias localizadas poços artesianos ou coletivas como a
em relevos desfavoráveis à ocupação, construção de pequenos barramentos
seja em morros de altas declividades ou para atender a números variáveis de
em fundos de vale. O documento serve residências. Isso constitui uma situação
como referência para a determinação de vulnerabilidade hídrica que pode
de parâmetros fundamentais para a acarretar diversas consequências sérias
implantação e desenvolvimento de uma (AMBIENTAL CONSULTING, 2017).
política pública municipal de gestão Durante o levantamento de
destes riscos em locais de ocupação informações municipais, representantes
precária. Foram identificados, no do Guarujá apontaram as principais
mapeamento realizado em 2007, 109 vulnerabilidades hídricas do município.
setores de risco de deslizamentos, sendo Os principais pontos identificados
16 em risco muito alto, com 291 moradias consistiam em eventos de alagamentos
nesses setores (IPT, 2016). devido à drenagem insuficiente, erosão
A lei complementar nº 228/2018 às margens do canal, provocando
aprovou o Plano Municipal de mudanças morfodinâmicas nas praias,
Saneamento Básico, que estabelece a quedas de árvores e ocupações
política e as diretrizes do saneamento irregulares. Estas últimas referem-se
básico no município. Abrange atividades principalmente à construção de
ligadas à coleta e disposição final palafitas às margens de cursos d’água,
adequadas dos esgotos, ao manejo de mangues e áreas de morro, suscetíveis a
resíduos sólidos e a drenagem e manejo deslizamentos.
das águas pluviais urbanas, sendo, Os representantes apontaram que o
portanto, um recurso no combate às município não possui controle das fontes

129
MÓDULO 4

alternativas de água, o que constitui elaboração do Plano Municipal de


um ponto de atenção, já que parte da Adaptação à Mudança do Clima – PMMC,
cidade é constituída por ocupações movimento que antecedeu o Plano
irregulares abastecidas por bicas, Nacional de Adaptação às Mudanças
havendo necessidade da criação de um do Clima, de maio de 2016. O processo
Plano Municipal de Recursos Hídricos. de elaboração do plano contou com a
Um instrumento já existente para a participação de especialistas de vários
prevenção de alagamentos é o Plano setores, como pesquisadores, cientistas,
Municipal de Macrodrenagem, que deve universidades e população, para
ser bem integrado em todo o município recebimento de subsídios, efetivada por
para que seja eficiente. A respeito da meio de reuniões mensais. Uma primeira
queda de árvores decorrente de eventos versão foi publicada em 2016, com o
climáticos extremos há a Lei Municipal objetivo de nos próximos 2 anos buscar
161/2014 e a equipe de manejo arbóreo. um maior envolvimento da sociedade
Por fim, para a disposição irregular de civil, universidades, ONG’s e demais
resíduos da construção civil, há o estudo interessados em coproduzir a versão
de viabilidade do centro municipal de definitiva com horizonte inicial de 5
gestão de resíduos. anos (PREFEITURA DE SANTOS, 2016).
Em 2018 foi instituído o Plano
3.4 SANTOS Diretor de Desenvolvimento e Expansão
Urbana do Município, instrumento
Segundo o IBGE, 2010, a cidade de básico da política de desenvolvimento
Santos tem aproximadamente 281 km², e expansão urbana, a partir da Lei
com distinção física clara entre duas Complementar N° 1005 de 18 de Julho
áreas, uma insular e outra continental. de 2018. O Plano diretor coloca como
Na área insular habita cerca de 99% diretriz o alinhamento dos diferentes
da população, tendo uma densidade sistemas e ações com os planos e políticas
demográfica de 1.495 habitantes/km². Já existentes de Mudança do Clima, além
a área continental é habitada por 1% da de prever no Artigo 158 do Capítulo VII
população e possui aproximadamente a elaboração e implementação do Plano
70% de sua área dentro do Parque Municipal de Mudanças Climáticas.
Estadual da Serra do Mar. Santos é Segundo a legislação, o Plano conteria
a maior cidade da Baixada Santista, indicadores e metas à adaptação às
possuindo uma população estimada mudanças do clima e mitigação dos
de 400 mil pessoas e sediando o mais gases de efeito estufa, com objetivo
importante porto da América do Sul. de ampliar seu nível de resiliência e
Devido à sua importância regional melhorar a qualidade ambiental do
e aos grandes riscos existentes, o território. A primeira parte do plano
município possui diversos instrumentos consiste na realização de um diagnóstico
que já consideram os riscos da mudança climático do Município: situação atual,
do clima. A partir do Decreto no 7.293 tendências, análise das vulnerabilidades
de 30 de novembro de 2015 foi criada socioambientais e do arcabouço
a Comissão Municipal de Adaptação institucional, visando melhorar a
à Mudança do Clima, com vistas à capacidade de adaptação às mudanças

130
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

climáticas e a prevenção, preparação Em Santos o contingente da


e respostas a eventos extremos. Outro população residente nos chamados
fator que é colocado como integrante aglomerados subnormais sofre mais
do plano é o monitoramento em tempo diretamente o impacto, tanto das
real dos indicadores de previsão e mudanças gradativas do clima, como
acompanhamento de eventos oceânico das ocorrências climáticas extremas que
– meteorológicos extremos, incluindo decorrem das primeiras. A localização
a elaboração e implementação de destes aglomerados coincide muitas
Plano de Contingência para ressacas e vezes com áreas de risco geológico alto
inundações. e muito alto. São mais de 38 mil pessoas
O Município de Santos já possui um morando em tais áreas, o que representa
Plano Municipal de Contingência para 9% da população total (PREFEITURA DE
ressacas e inundações, a partir do Decreto SANTOS, 2016).
n° 7.804 de 06 de julho de 2017. O Plano Diversos estudos acadêmicos
é específico para eventos oceânicos também foram realizados no âmbito
meteorológicos extremos como erosão de compreender e propor medidas de
costeira, inundações costeiras, enchentes adaptação para a cidade de Santos. O
e alagamentos, ressacas e marés altas principal deles foi denominado Projeto
anômalas na costa de Santos. É operado Metrópole e contou com a participação
pelo Departamento de Defesa Civil, por de cientistas brasileiros, dos Estados
meio de monitoramento de previsão Unidos e do Reino Unido. O Projeto
meteorológica, acompanhamento Metrópole teve por base avaliar como
de índices e de análise das condições a vulnerabilidade costeira poderia
meteorológicas, visando ações ser ampliada a partir das mudanças
preventivas através de alertas à climáticas e como articular os resultados
população, bem como remoção e abrigo dos cenários criados sobre essas
de pessoas que se encontrem ameaçadas modificações e as decisões políticas, que
pelos eventos meteorológicos. O Plano até o momento se resumem, quase em
já considera o aumento do número, da sua totalidade, a aspectos técnicos ou
frequência, e da magnitude de eventos administrativos da questão, e para esse
oceânico-meteorológicos extremos nos fim foram selecionadas três localidades:
últimos anos. Em específico, cita a área Selsey, no Reino Unido, Broward County,
praial nos Bairros da Aparecida e Ponta da nos EUA e Santos, no Brasil. Além disso,
Praia, que se encontra em intensificação o projeto apresenta quanto seria o custo
do processo de erosão costeira, além da caso não fossem feitas as medidas de
elevada suscetibilidade a alagamentos adaptação, fazendo disso um argumento
e inundações de vários bairros, favorável a elas (MOREIRA et al., 2017).
particularmente daqueles localizados na
Zona da Orla e Zona Noroeste. A Figura
36 possui o mapa das áreas suscetíveis a
enchentes e alagamentos nos bairros da
zona Noroeste.

131
132
Figura 36. Áreas suscetíveis a enchentes e alagamentos nos bairros da Zona Noroeste de Santos
MÓDULO 4

Fonte: Prefeitura de Santos, 2018


Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

3.5 SÃO VICENTE O documento também aborda


planos de emergência e contingência.
São Vicente possui 363.173 habitantes São planejadas métricas para o
e uma área de, aproximadamente, 147 controle dos fluxos de funcionamento
km2, sendo o município da Baixada dos serviços de tratamento de água
Santista com a maior densidade e esgoto, de modo a ser possível
demográfica em 2018 (EMPLASA, 2019). manter seu uso adequado. As medidas
Em 2010, São Vicente possuía a menor emergenciais consideram situações
relação entre população flutuante e em que eventos como deslizamentos
fixa da Baixada, com 11,5%, e estima-se e enchentes possam danificar as
que esse valor caia para 6,5% em estruturas necessárias para a prestação
2050. São Vicente possui alguns dos destes serviços. A Secretaria de Obras,
melhores índices de abastecimento de Urbanismo e Serviços Públicos (SEOSP) e
água, coleta de lixo e atendimento de a Secretaria de Desenvolvimento Urbano
saneamento de esgoto, com 99%, 99% e Manutenção Viária (SEDUR) realizam
e 87%, respectivamente. Somente uma a gestão do sistema de drenagem em
das sub-bacias da Unidade Hidrográfica São Vicente, muitas vezes em conjunto
de Gerenciamento de Recursos Hídricos com o município de Santos. Essas ações
da Baixada Santista (UGRHI 7) está conjuntas são de grande importância
localizada lá (PRAIA GRANDE, 2017). devido à interface entre as bacias da
São Vicente possui um Programa região (SÃO VICENTE, 2018).
de Fortalecimento dos Instrumentos de
Planejamento do Setor de Saneamento 3.6 PRAIA GRANDE
revisado em 2018. Um dos objetivos
definidos no documento técnico é definir O município de Praia Grande possui
as ações para o manejo sustentável das cerca de 320 mil habitantes e uma
águas pluviais urbanas, conforme as área aproximada de 147 km2, sendo
normas de ocupação do solo incluindo um dos municípios da Baixada Santista
a minimização de áreas impermeáveis, com a maior densidade demográfica
o controle do desmatamento e dos (EMPLASA, 2019). Em 2010, a população
processos de erosão e assoreamento, flutuante do município era 32%
a criação de alternativas de infiltração maior do que a fixa, porém, projeções
das águas no solo, a recomposição para 2050 apontam que a situação se
da vegetação ciliar de rios urbanos e inverterá, com a flutuante se tornando
a captação de águas de chuva para 81% da fixa (PRAIA GRANDE, 2017).
detenção e/ou reaproveitamento. De acordo com o último censo
Atualmente, avalia-se que os sistemas demográfico, realizado em 2010,
de água e esgoto de São Vicente são 98,81% e 99,69% da população,
satisfatórios e atingem mais de 80% respectivamente, têm acesso à serviços
do município, sendo a universalização de abastecimento de água e coleta de
do serviço e o controle dos despejos lixo. Em Praia Grande, as inundações
de resíduos os maiores desafios. Foram ocorrem principalmente nos bairros
traçadas metas para a extensão da Trevo e Melvi, provocadas pelos rios
cobertura dos serviços até 2047 (SÃO Preto e Branco (ou Boturoca), devido
VICENTE, 2018). aos efeitos de marés e as precipitações

133
MÓDULO 4

intensas, associadas ao crescimento de áreas sujeitas a inundações, contenção


populacional desordenado. Há também dos picos de cheias (reservatórios), entre
danos no sistema de esgotamento outras. Há também medidas chamadas
sanitário, ligações clandestinas à rede não estruturais, como por exemplo
coletora de esgotos, despejo irregular, serviços de limpeza e manutenção
influência do sistema de drenagem, dos canais e galerias de escoamento
entre outros (PRAIA GRANDE, 2017). de águas pluviais, revegetação ciliar,
A Lei Municipal 1.697 de 2013, adoção de padrões de pavimentação
dispõe sobre a Política Municipal de dos espaços públicos que garantam
Saneamento Básico, considerando o elevados índices de permeabilidade do
Plano Municipal de Saneamento Básico solo, programas de contingência para
(PMSB), o Plano Municipal de Macro e eventos críticos de cheias, controle da
Microdrenagem, o Plano Municipal de erosão e assoreamento, resguardando
Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, a capacidade de escoamento dos canais
entre outros instrumentos. Para suprir de drenagem (PRAIA GRANDE, 2016-a).
demandas do município, foi concluído Por sua vez, a lei complementar
em 1999, por exemplo, o projeto nº 727 de 16 de dezembro de 2016
FEHIDRO chamado “Plano Diretor aprova a revisão do Plano Diretor da
de Macrodrenagem”, que resultou Estância Balneária de Praia Grande
em outros 11 projetos de drenagem para o período de 2017 a 2026, que
também financiados pelo FEHIDRO é o instrumento básico da política
entre 2001 a 2009. Há também desde de desenvolvimento urbano. Dentre
2002 uma parceria entre a Prefeitura e seus objetivos há a implantação da
a SABESP através do Programa “Esgoto infraestrutura de saneamento básico, a
Certo” para identificação e correção de melhora da balneabilidade das praias e
ligações clandestinas de esgotos (PRAIA a diminuição do assoreamento dos rios.
GRANDE, 2017). Ele também aborda questões de áreas
A lei nº 1823, de 16 de dezembro definidas como de especial interesse
de 2016 aprova o Plano Diretor de ecológico, Serra do Mar, manguezais,
Drenagem e Manejo de Águas Pluviais restingas e várzeas de rios. Outro
de Praia Grande, que tem por objetivo aspecto definido é que o saneamento
estabelecer diretrizes que orientem a básico deverá priorizar a universalização
ação do Poder Público e da iniciativa do atendimento à população residente
privada na elaboração de projetos e na e flutuante, de forma eficiente e
execução de obras de drenagem, bem economicamente sustentável (PRAIA
como na promoção de ações preventivas GRANDE, 2016-b).
e corretivas sobre as causas e os efeitos As atividades realizadas no
das inundações, visando proteger a levantamento de informações
população e as atividades econômicas municipais identificaram as principais
sediadas no município. O plano define vulnerabilidades hídricas de Praia
diversas medidas, como implantação Grande. Foram apontadas as chuvas
de obras de adequação de canais de irregulares, principalmente em
escoamento de águas pluviais, remoção períodos de estiagem, que estão
das interferências existentes, proteção ocasionando a perda de energia dos

134
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

rios e consequentemente os impedindo importantes do ponto de vista de


de atingir o mar, as falhas na drenagem abrangência e relevância municipal,
urbana, com pontos de alagamento, sendo eles os Rios Bichoró, Rio Aguapeú
principalmente em áreas ocupadas por e o Rio Mongaguá. Devido à proximidade
mangues e margens de rios, erosão nas com a Serra do Mar, o município sofre
praias e a ocorrência de episódios de os efeitos dos fenômenos orográficos
chuvas torrenciais que impossibilitam que são potencializados pelas oscilações
temporariamente o deslocamento da periódicas da maré e o remanso do
população. Um último ponto remete à Rio Mongaguá, que deságua próximo
ocupação irregular, principalmente em à sua área central (PREFEITURA DE
áreas de APP. MONGAGUÁ, 2018). Assim como
O governo da cidade já levantou os outros municípios da Baixada
alguns planos de ação. Para os Santista, Mongaguá possui mapas de
alagamentos, há o Plano de Drenagem, suscetibilidade a deslizamento de massa
com definições de infraestrutura e e inundações, com cerca de um quarto
limpeza, mapeamento e classificação do seu território apresentando alta
de pontos de alagamentos e leis de suscetibilidade. Porém, a maior parte de
cisternas/reuso, havendo necessidade sua população vive em áreas de baixa
de redimensionamento da rede. Sobre declividade.
ação dos ventos, está em andamento A Tabela 2 apresenta a distribuição
a compra de anemômetro portátil e de renda no município de Mongaguá,
estação meteorológica, mas é preciso indicando que a grande maioria (cerca
que haja a realização de estudos técnicos de 92%) possui rendimento de até
e registro de ocorrências. 3 salários mínimos, um valor baixo
quando comparado com o restante da
3.7 MONGAGUÁ região. Apesar da alta suscetibilidade a
deslizamentos e inundações e da baixa
Com uma área territorial de renda da população local, os meios
aproximadamente 143 km² e uma urbanos não estão concentrados nas
população estimada de 54 mil habitantes zonas de risco, o que torna a população
em 2017, Mongaguá registra cerca de menos vulnerável considerando os
17 mil domicílios dispostos ao longo da padrões atuais de precipitação, que se
orla, na região central e ao longo da modificarão no futuro com as mudanças
Rodovia SP-55, que totalizam menos de do clima.
20% de sua área total (24 km²). Com a
atividade turística, o município sofre 3.8 ITANHAÉM
influência significativa da sazonalidade,
possuindo apenas um terço de domicílios A cidade de Itanhaém, localizada
permanentes. Os limites naturais do entre os municípios de Mongaguá e
Oceano Atlântico, Serra do Mar e limites Peruíbe, possui cerca de 95 mil habitantes,
políticos, restringem o crescimento segundo o IBGE (2017). Assim como os
urbano às áreas atualmente ocupadas outros municípios da Baixada Santista,
(PREFEITURA DE MONGAGUÁ, 2018). Itanhaém possui uma quantidade alta de
Mongaguá possui três rios população flutuante, que chegou a 116

135
MÓDULO 4

Tabela 2. Distribuição de renda no município de Mongaguá

Município de Mongaguá – Distribuição de Renda – 2016

Faixas Salariais (SM) População com Rendimentos Participação (%)

Sem Rendimento 2.723 5,02


Ate ¼ de s.m. 3.559 6,56
Mais de ¼ a ½ s.m. 8.914 16,43
Mais de ½ a 3 s.m. 34.724 64,06
Mais de 3 s.m. 4.302 7,93
Soma 50.663 41%
População Total 54.257

Fonte: Prefeitura de Mongaguá, 2018

mil pessoas em 2010. Segundo a carta de observar que as precipitações são mais
suscetibilidade a movimentos de massa concentradas próximo ao litoral, onde se
e inundações, o Município possui cerca concentra a maior parte da população.
de 37% de sua área classificada como Essa exposição a eventos de enchentes
de alta suscetibilidade a movimentos e inundações foi também levantada
gravitacionais de massa, devido a pelos representantes do município em
presença de relevos com alta declividade, exercício realizado no levantamento de
como ilustrado na Figura 32. Porém, informações municipais. Foi identificado
essa área corresponde a apenas 0,48% que o maior volume de chuvas vem
da área urbanizada do município, já que causando um fator de ondas nos rios
a maioria da população vive próximo ao que agrava o processo de erosão das
litoral, que possui um relevo mais plano. margens e o assoreamento dos fundos.
Quanto à suscetibilidade a Isso afeta os manguezais e a drenagem
inundações, a área urbanizada é dos rios periféricos menores, que passam
mais distribuída entre as classes de a ter velocidade menor de escoamento,
suscetibilidade alta, média e baixa. Cerca levando a inundações nos bairros centrais
de 26% das edificações ficam localizadas e em parte das regiões com atividade
em áreas de alta suscetibilidade a agrícola. Outro ponto levantado foi a
inundações, locais formados por erosão dos morros que afeta as nascentes
planícies aluviais/marinhas atuais, com e a captação das águas, comprometendo
amplitudes e declividades muito baixas. o abastecimento da região.
São áreas que sofrem de inundação, Itanhaém também possui uma
alagamento e assoreamento. O restante atividade agrícola e pesqueira relevantes.
das áreas urbanizadas está dividido entre Dos seus quase 600 km² de área, 140 km²
as áreas de suscetibilidade média (38%) são considerados agrícolas – 40 km² deles
e baixa (32%). Outro fator agravante a com agricultura familiar14. Portanto,
isso é a distribuição das precipitações além dos impactos relacionados com
médias anuais e mensais, onde é possível

14. https://www.atribuna.com.br/cidades/litoralsul/itanha%C3%A9m-aposta-em-agricultura-ap%C3%B3s-
conquista-entre-melhores-do-estado-na-%C3%A1rea-1.62184

136
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

enchentes e inundações nas atividades urbanas que promovem aterramentos


turísticas, o município também poderá responsáveis pela desestruturação da
enfrentar impactos significativos na sua funcionalidade (PERUÍBE, 2018).
produção agrícola, principalmente na A lei complementar nº 100 de 2007
população que depende dessa atividade institui o Plano Diretor do município
para sua subsistência. de Peruíbe e tem como um de seus
objetivos a garantia de abastecimento
3.9 PERUÍBE de água, coleta e tratamento de esgoto,
drenagem (PERUÍBE, 2007). Por sua
Peruíbe conta com uma área de 324 vez, a lei nº 3679, de 07 de dezembro
2
km , cerca de 68 mil habitantes e fica de 2018 institui o Plano Municipal de
localizado no extremo oeste da Baixada Saneamento Básico como instrumento
Santista, sendo o último município a da política que trata do assunto. Ela tem
constituir a RMBS (EMPLASA, 2019). o objetivo de garantir a universalidade,
O município possui mais de 90% da qualidade e regularidade dos serviços,
população abrangida por sistemas além de definir critérios de priorização
de coleta de lixo e abastecimento de e metas baseadas nas características
água, mas somente 38% da população locais. Mais especificamente, um dos
era contemplada pelo saneamento focos é definir as ações para o manejo
de esgoto em 2010. Sua população sustentável das águas pluviais urbanas
era praticamente dividida de maneira conforme as normas de ocupação do
igual entre fixa e flutuante em 2010; solo incluindo (PERUÍBE, 2018):
espera-se que em 2050, a flutuante seja 1) a minimização de áreas
70% (PRAIA GRANDE, 2017). impermeáveis;
Na região há importantes Unidades 2) o controle do desmatamento e
de Conservação de valor regional, dos processos de erosão e assoreamento;
como por exemplo o Mosaico Juréia- 3) a criação de alternativas de
Itatins. A região, além de possuir infiltração das águas no solo;
importância histórica, também é um dos 4) a recomposição da vegetação
remanescentes mais bem preservados ciliar de rios urbanos;
da Mata Atlântica, possuindo uma 5) a captação de águas de chuva
diversidade de ecossistemas associados, para detenção e/ou reaproveitamento.
como a planície fluvio-marinha por onde Até 2016, 80% do município era
atravessa o rio Una do Prelado (São coberto pelos serviços de água e
Paulo, 2009). Atualmente, as ocupações esgoto, considerados satisfatórios em
irregulares e outras obras inadequadas questão de qualidade. Assegurar a
desencadeiam movimentos de massa universalização dos sistemas, porém,
potencialmente críticos nas áreas permanece um desafio, principalmente
de relevo mais acidentado (morros, pelo fator limitante da existência
montanhas e escarpas). Além disso, os de ocupações irregulares. Há um
mangues vêm sofrendo degradação plano de abastecimento de água e
causada por atividades poluidoras esgotamento sanitário para os anos
industriais e pelo crescimento das áreas 2019-2048, que visa dar seguimento aos

137
MÓDULO 4

estudos e metas propostos. Também


há definição de planos de emergência
e contingenciamentos, junto ao
planejamento de metas, que tratam das
questões de drenagem, inundações e
deslizamentos (PERUÍBE, 2018).

138
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

4 APRESENTAÇÃO DE FONTES ƒƒ Etapa 4: definir os objetivos do


rastreamento e selecionar fundos
DE FINANCIAMENTO
para o rastreamento nacional
O aumento e a expansão de medidas detalhado;
de adaptação dependem da alocação e ƒƒ Etapa 5: criar ferramentas
obtenção de novos fundos que viabilizem personalizadas para rastreamento
projetos. Atualmente, a maioria dos local.
recursos de projetos relacionados com a
Além disso, o guia descreve como
mudança do clima no Brasil é proveniente
usar as informações sobre o fluxo de
de bancos de desenvolvimento, agências
financiamento da adaptação para
de fomento, organismos multilaterais e
projetar estratégias de advocacy
acordos bilaterais. Desde 2003, o Brasil
baseadas em evidências e influenciar
recebeu US$ 721 milhões por fundos
a governança do financiamento da
multilaterais, porém, segundo análise do
adaptação (CARVALHO e TERPSTRA,
Climate Funds Update, o total foi voltado
2015).
a projetos de mitigação, enquanto
Para se ter um entendimento
nenhum recurso foi identificado como
completo, e como referência para todos
sendo para adaptação. Se comparado a
os stakeholders, do que conta como
países do continente africano e asiático,
adaptação em cada país, é útil descrever
por exemplo, o Brasil não tem extrema
o contexto nacional especificamente
vulnerabilidade ao aquecimento além de
no que se refere ao financiamento da
ter renda mediana, o que muitas vezes o
adaptação. Em seguida, identifica-se
torna não elegível para financiamentos
possíveis fontes de financiamento
de adaptação (ADAPTACLIMA, 2018).
internacional, reunindo informações
Um guia elaborado pelo World
sobre elas. A maioria dos dados está
Resources Institute (WRI) visa ajudar
prontamente disponível, mas coletá-los
as organizações da sociedade civil a
de diferentes fontes traz uma visão
rastrearem os fluxos de financiamento
geral dos recursos que chegam ao país.
para a adaptação às mudanças
Visões gerais que mostrem o montante
climáticas. Ele fornece informações
total de financiamento que flui para
básicas essenciais e descreve um
o país, os principais beneficiários do
processo de cinco etapas para rastrear o
financiamento da adaptação e os
financiamento da adaptação:
principais setores-alvo são boas formas
ƒƒ Etapa 1: analisar o contexto de análise (CARVALHO e TERPSTRA,
nacional de adaptação às mudanças 2015).
climáticas; Depois de identificar o fluxo
ƒƒ Etapa 2: compilar e analisar fluxos de fundos internacionais, deve-se
internacionais de financiamento de acompanhar o fluxo de fundos do
adaptação; nível nacional até as comunidades, o
que pode envolver muitos atores. Criar
ƒƒ Etapa 3: mapear fluxos de desenhos de redes de financiamento
financiamento; visuais ajuda a entender a complexidade
desses relacionamentos e a identificar

139
MÓDULO 4

possíveis gargalos. O objetivo das redes ƒƒ Climate Insurance Fund - CIF


de financiamento é mostrar quem ƒƒ Danish Climate Investment Fund
controla o fluxo de recurso financeiro e - KIF
quem decide como ele deve ser gasto, ƒƒ GEF Small Grants Programme -
podendo ser utilizada para mostrar GEF SGP
quanto recurso é recebido em vários
ƒƒ GEF Trust Fund - Climate
níveis para adaptação. É importante
Change focal area (GEF 6)
considerar um grupo principal de
opções de financiamento; após definir ƒƒ Germany’s International Climate
um objetivo, pode-se seguir fluxos Initiative - IKI
específicos da rede a serem seguidos ƒƒ Global Climate Partnership Fund
(CARVALHO e TERPSTRA, 2015). - GCPF
Com o objetivo de facilitar o acesso ƒƒ Global Facility for Disaster
das partes interessadas em propor Reduction and Recovery - GFDRR
projetos na área de enfretamento ƒƒ Global Index Insurance Facility -
à mudança do clima a fontes de GIIF
financiamento, o Ministério do Meio
ƒƒ Fundos do Banco
Ambiente (MMA) produziu em 2018
Interamericano de
um quadro resumo com fundos e
Desenvolvimento (BID) – InfraFund,
instituições financeiras de todo o
SECCI
mundo, com opções de financiamento
ƒƒ Fundo Estadual de Recursos
em temas como mitigação e adaptação à
Hídricos - FEHIDRO
mudança do clima. Além de informações
sobre elegibilidade de projetos e o ƒƒ International Climate Fund (UK)
funcionamento dos fundos, a lista conta - ICF
com os trâmites para o acesso a recursos ƒƒ Fundação de Amparo à Pesquisa
e a existência, ou não, de contrapartida. do Estado de São Paulo - FAPESP
O Anexo 1 apresenta uma seleção dessas ƒƒ KfW Development & Climate
fontes de financiamento com foco em Finance
adaptação. ƒƒ Multilateral Investment Fund
Dos mecanismos ofertados, (MIF) of the IDB Group
estão listados a seguir os principais
ƒƒ Pilot Program for Climate
relacionados às medidas de adaptação:
Resilience - PPCR
ƒƒ Fundo Nacional sobre Mudança ƒƒ Public-Private Infrastructure
do Clima - FNMC Advisory Facility - PPIAF
ƒƒ Programa de Adaptação para o ƒƒ UNFCCC Adaptation Fund - AF
Pequeno Produtor - ASAP
ƒƒ US Global Climate Change
ƒƒ Fundo Canada para o setor Initiative - GCCI
privado nas Américas - C2F
ƒƒ World Bank Carbon Funds and
ƒƒ Green Climate Fund - GCF/ Facilities - WBCFF
Fundo Verde para o Clima
ƒƒ World Bank Group Catastrophic
ƒƒ Climate and Development Risk Management - CRM.
Knowledge Network - CDKN

140
Capacitação em Adaptação às Mudanças Climáticas na Baixada Santista

É importante que os agentes locais embora a grande maioria desses fundos


busquem fontes alternativas para a atualmente vá para a infraestrutura
implementação de projetos de menor convencional. É preciso, portanto,
escala, como parcerias com o setor diversificar as fontes de recursos e criar
privado e a academia. Mecanismos estratégias para tanto otimizar os gastos
municipais como taxas dedicadas, públicos quanto alcançar grandes fontes
impostos e cobranças, por exemplo o caso de financiamento a partir da elaboração
do Termo de Compensação Ambiental de projetos mais estruturantes,
ou fundos de recursos hídricos ou de considerando possibilidades de parcerias
meio ambiente, também podem ser com outros municípios ou entes
utilizados. Os gastos públicos federais federativos.
ou locais em infraestrutura, bem como Algumas ações que governos e outras
os programas de mitigação de riscos instituições públicas podem tomar para
de desastres podem ser direcionados apoiar investimentos adicionais para
para estratégias de infraestrutura adaptação são resumidas no Quadro 6 a
verde que ajudam a atender aos seguir.
padrões de controle de inundações,

Quadro 6. Ações que o poder público pode tomar para aumentar o investimento em
adaptação climática
Aumentar a demanda por Incentivar fornecedores
Diminuir o risco de
produtos e serviços de adaptação de tecnologias, produtos e
investimento na adaptação
climática serviços de adaptação climática
Coletar e publicar dados de
Instituir requisitos voluntários ou Apoiar as concessionárias
bens públicos usados por
obrigatórios de divulgação de locais a emitir títulos de
muitas empresas do setor
riscos climáticos para empresas infraestrutura resilientes com
privado, como dados de
públicas e outros, incluindo bancos financiamento ou garantias
tempo e clima, dados de
nacionais de desenvolvimento e concessionais, além de
vulnerabilidade e dados de
empresas estatais assistência técnica;
exposição;
Melhorar a colaboração
Incorporar requisitos de avaliação Adotar o pagamento por
entre empresas, governos e
e gerenciamento de riscos instrumentos de sucesso para
especialistas em adaptação
climáticos no desenvolvimento de compartilhar o risco de novas
para preencher lacunas de
infraestrutura pública e de PPP tecnologias de adaptação
conhecimento.
- Direcionar os provedores de
serviços governamentais para
fornecer informações, tecnologia
Melhorar a disponibilidade e o
e treinamento sobre riscos
acesso a avaliações de risco.
climáticos a cidadãos vulneráveis.
Por exemplo, unidades de extensão
agrícola, postos de saúde, etc.

Fonte: Adaptado de MICALE et al, 2018.

141
MÓDULO 4

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