Revista Eleitoral 35-1 - Versão Fechada
Revista Eleitoral 35-1 - Versão Fechada
Revista Eleitoral 35-1 - Versão Fechada
Eleitoral
Revista de informação eleitoral
Volume 35 – Ano 2021
Tribunal Regional Eleitoral
Rio Grande do Norte
Revista
Eleitoral
Revista de informação eleitoral
Volume 35 – Ano 2021
ISSN 1982-2855
Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte
Composição
Presidente
Desembargador Cornélio Alves de Azevedo Neto
Vice-Presidente e Corregedor
Desembargador Expedito Ferreira de Souza
Juiz Federal
José Carlos Dantas Teixeira de Souza
Juízas
Érika de Paiva Duarte Tinôco
Maria Neíze de Andrade Fernandes
Juristas
Adriana Cavalcanti Magalhães Faustino Ferreira
Fernando de Araújo Jales Costa
© 2022 Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte
Seção de Jurisprudência e Legislação (SJL).
Av. Rui Barbosa, 215 – Tirol – CEP: 59.015-290 Natal-RN
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A Revista Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte é uma publicação anual de estudo, pesquisa e
difusão da cultura científica jurídica, propiciando o intercâmbio entre o TRE e os profissionais que atuam no campo do
Direito Eleitoral, Constitucional e Administrativo.
Diretoria-Geral
Ana Esmera Pimentel da Fonseca
Secretaria Judiciária
João Paulo de Araújo
Preparação de conteúdo
Janaína Helena Ataíde Targino
Joana D’arc Crispim dos Santos
Seleção de acórdãos
Membros(as) da Corte Eleitoral
Revisão geral
Janaína Helena Ataíde Targino
Joana D’arc Crispim dos Santos
Sumário 4
6 Apresentação
7 Editorial
Artigos
Jurisprudência
1
Liberdade de expressão eleitoral em
épocas de fake news: uma análise da
atuação do Tribunal Superior Eleitoral
na eleição presidencial de 20181
Resumo: O presente artigo tem como objetivo principal fazer uma análise da
atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) frente às fake news na eleição
presidencial de 2018 no Brasil, a partir da coleta de ações eleitorais ajuizadas
perante esse órgão judicial, destacando os aspectos jurídicos da liberdade de
expressão e informação que embasaram as decisões proferidas. Faz-se neces-
sário ressaltar o panorama jurídico-constitucional da liberdade de expressão
no Estado Democrático de Direito e sua relação com o fenômeno das fake
news ou notícias falsas, em tradução literal, especialmente no bojo do pro-
cesso eleitoral, já que a livre expressão do indivíduo é usada como justifica-
tiva para enfraquecer adversários políticos a partir da proliferação da falsa
informação, que ganha cada vez mais projeção nas redes sociais. Assim, esta
pesquisa possui grande relevância político-social, vez que analisa a atuação
da Corte Eleitoral na apreciação de ações eleitorais que tematizam fake news
durante o pleito presidencial de 2018, a qual elegeu Jair Messias Bolsonaro
à presidência da República, apresentando resultados que certamente serão
importantes para toda a comunidade jurídica e política. Analisando a amostra
das três principais ações eleitorais coletadas – sem desprezar o entendimen-
to das demais demandas –, percebe-se que a Justiça Eleitoral privilegiou o
exercício da liberdade de expressão eleitoral quase que ilimitadamente, res-
tringindo-o apenas em casos excepcionalíssimos, não conseguindo assegurar
uma tutela eficiente aos direitos fundamentais do candidato prejudicado. Em
termos metodológicos, utilizou-se como método de procedimento o método
indutivo e como técnica de pesquisa a consulta às jurisprudências do TSE em
seu endereço eletrônico.
Palavras-chave: Fake news. Liberdade de Expressão. Tribunal Superior Eleito-
ral. Eleição presidencial de 2018.
1 Artigo baseado no Trabalho de Conclusão de Curso apresentado originalmente no ano de 2021 à Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte (UERN), como requisito para a obtenção do título de bacharel em Direito, sob orientação da
professora Veruska Sayonara de Góis, da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN),
mestra em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e especialista em Direito e Cidadania também
pela UFRN. E-mail: veruskasayonara@uern.br.
5. Conclusão
Consoante revelam os dados que embasam o presente estudo,
percebe-se que o Tribunal Superior Eleitoral – responsável por
julgar ações eleitorais cujo demandante ou demandado é candidato
Presidência da República ou coligação nacional – privilegiou a ampla
liberdade de expressão do indivíduo no âmbito da internet, deferindo
liminares de restrição de conteúdo falso divulgado somente em
situações excepcionais. Além disso, a exposição e notoriedade dos
candidatos à Presidência (pessoas públicas) foram justificativas para
negar a limitação da manifestação dos usuários na rede, como ocorreu
na Representação nº 0601764-36.2018.
Desse modo, o referido órgão judicial permitiu que as fake news
fossem interpretadas como críticas ou pensamentos ideológicos
divergentes em diversas decisões, eximindo-se de interferir em
conteúdos divulgados na internet – com base nos fundamentos de
suas próprias resoluções – e contribuindo para que o Poder Judiciário
Eleitoral não solidificasse precedentes sobre a temática fake news no
arcabouço jurídico brasileiro.
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da
República. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/cons-
tituicaocompilado.htm>. Acesso em: 11 abr. 2022.
BRASIL. Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965. Institui o Código Eleitoral. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4737compilado.htm>. Acesso em: 11
abr. 2022.
BRASIL. Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as elei-
ções. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm>. Acesso
em: 11 abr. 2022.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4815/
DF. Relator: Cármem Lúcia. Brasília, 10 de junho de 2015. Disponível em:<https://
redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10162709>. Acesso
em: 12 abr. 2022.
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. AIJE nº 0601771-28/DF. Relator: Luis Felipe Sa-
lomão. Brasília, 28 de outubro de 2021. Disponível em: <https://consultaunifica-
dapje.tse.jus.br/consulta-publica-unificada/documento?extensaoArquivo=text/
html&path=tse/2021/10/28/14/43/29/f9cdae68d0f817894be5287493fb0f19da8a-
9382c3406869f28f60b78b5ed721>. Acesso em: 12 abr. 2022.
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Especial Eleitoral nº 0602691-28/PE. Re-
lator: Edson Fachin. Brasília, 3 de outubro de 2018. Disponível em: <https://consul-
taunificadapje.tse.jus.br/consulta-publica-unificada/documento?extensaoArquivo=-
text/html&path=tse/2018/11/01/20/2f31c6213183ee80a405181e2a19c42feb975109>.
Acesso em: 12 abr. 2022.
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Ordinário Eleitoral 0603975-98/PR. Re-
lator: Luis Felipe Salomão. Brasília, 28 de outubro de 2021. Disponível em: <https://
consultaunificadapje.tse.jus.br/#/public/resultado/0603975-98.2018.6.16.0000>.
Acesso em: 12 abr. 2022.
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Representação nº 0601538-31/DF. Relator: Sérgio
Silveira Banhos. Brasília, 9 de outubro de 2018. Disponível em: < https://consultauni-
ficadapje.tse.jus.br/consulta-publica-unificada/documento?extensaoArquivo=text/
html&path=tse/2018/10/10/12/a7306104f6b2959583bc0455f66285a5bb4a004a>.
Acesso em: 13 abr. 2022.
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Representação nº 0601732-31/DF. Relator: Luis
Felipe Salomão. Brasília, 20 de novembro de 2018. Disponível em: <https://consul-
taunificadapje.tse.jus.br/consulta-publica-unificada/documento?extensaoArquivo=-
text/html&path=tse/2018/11/21/15/33c2a4ddef25d20ca161df60737a1d768f134e7e>.
Acesso em: 13 abr. 2022.
Artigo
Liberdade de expressão eleitoral em épocas de fake news: uma análise da atuação do Tribunal
Superior Eleitoral na eleição presidencial de 2018
Recebimento
19/4/2022
Aprovação
4/10/2022
1. Introdução
Malgrado inexorável prevalência da independência dos Poderes,
a Constituição brasileira trouxe alguns institutos que permitem ao
Poder Judiciário analisar o DNA constitucional de algumas normas
elaboradas pelo Poder Legislativo, podendo, inclusive, de forma
fundamentada e em determinadas situações, deixar de aplicá-las.
5. Considerações finais
As explanações trazidas à baila pela doutrina, seja quanto à
jurisdição constitucional, sobre a Teoria da Decisão ou quanto à
importância da Justiça Eleitoral no hodierno cenário, conferiram
clareza solar à característica negativa do ativismo judicial, eis que este
prejudica as bases do Estado Democrático de Direito.
É praticamente unânime a noção de essencialidade para a
manutenção de qualquer democracia, do respeito à Constituição por
ela adotada, sem que se deixe sucumbir por fatores como o ativismo
judicial e pela errônea desobediência em relação à lei legitimamente
editada. Esta premissa deve reverberar ainda que a polarização
política atinja cegamente as mais variadas parcelas da sociedade.
Assim, sob a chancela do ideário de uma pretensa e frágil
justiça, não pode o julgador atuar de forma diametralmente
contrária à aplicação daquilo que foi democraticamente definido pela
Constituição da República Federativa do Brasil, mormente porque a
jurisdição eleitoral tem por missão resguardar a aplicabilidade das
“regras do jogo democrático”.
Assim, o referido ideário de justiça é, muitas vezes, deturpado
por anseios pessoais (postura subjetiva típica do solipsismo,
voluntarismo e realismo jurídico), com fundamento eminentemente
moral, político, ideológico ou simplesmente pamprincipiológico,
pautado em supostas “vozes das ruas” e nos tantos predadores do
Direito.
Em arremate, depreende-se que a salvaguarda da lei escrita,
tida como elemento fundante, deve ser levada a sério. O ativismo
judicial, que tem tomado força, precisa ser analisado e compreendido
com maior afinco pelos acadêmicos e juristas, seja qual for a seara
jurisdicional, na busca incessante de proteger o Estado Democrático
de Direito contra a insegurança jurídica e o caos institucional.
Referências
ABBOUD, George. Submissão e Juristocracia. Revista dos Tribunais
(on-line), v. 258, p. 258-519, ago, 2016. Disponível em: <https://www.
academia.edu/29398349/SUBMISS%C3%83O_E_JURISTOCRACIA>.
Acesso em: 19 abr. 2022.
BARROSO, Luís Roberto. Contramajoritário, representativo e
iluminista: os papéis das supremas cortes e tribunais constitucionais
nas democracias contemporâneas. Revista Interdisciplinar de Direito,
[S.l.], v. 16, n. 1, p. 217-266, jun. 2018. ISSN 2447-4290. Disponível em:
<http://revistas.faa.edu.br/index.php/FDV/article/view/494>. Acesso
em: 19 abr. 2022.
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Tradução: Marco Aurélio
Nogueira. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1986.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília-DF, promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm>. Acesso em: 25 abr. 2022.
CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo
Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz. Comentários à Constituição do Brasil
São Paulo : Saraiva, 2013.
COSTA, Eduardo José da Fonseca. O Poder Judiciário diante da
soberania popular: o impasse entre a democracia e a aristocracia.
Empório do Direito, 13 fev. 2019. Acesso em: 22 abr. 2022.
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Trad. Nelson Boeira.
São Paulo : Martins Fontes, 2002.
Artigo
Jurisdição, teoria da decisão e ativismo judicial: a importância constitucional da Justiça Eleitoral no
âmago democrático
Recebimento
30/4/2022
Aprovação
4/10/2022
Introdução
A promulgação da Constituição da República de 1988, em
paralelo com a realidade institucional enfrentada no Brasil no
período da ditadura militar, foi responsável pela consolidação de
valores essenciais para o progresso da sociedade. Após os eventos
catastróficos ocorridos no Globo no século XX, em especial a Segunda
3 Ao comentar os crimes eleitorais, Pontes (2008, s. p. apud Neisser 2014, p. 122) afirma que essas tipificações têm o
intento de “assegurar a lisura do processo eleitoral e alguns fundamentos da República, como a cidadania, na sua forma
mais ampla; a dignidade da pessoa humana, princípio maior da nossa Carta Constitucional, e o pluralismo político”.
4 A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) e a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) são exemplos de
instrumentos que podem ser utilizados para a responsabilização do agente que comete irregularidades nas eleições.
5 “Prática de conduta vedada pela lei eleitoral por agente público pode configurar improbidade administrativa”.
Disponível em: <https://mpsc.mp.br/noticias/pratica-de-conduta-vedada-pela-lei-eleitoral-por-agente-publico-pode-
configurar-improbidade-administrativa> Acesso em: 28 ago. 2022.
6 Di Pietro (2021, p. 988), ao destacar a independência das esferas civil, criminal e administrativa, comenta: “[...] nada
impede a instauração de processos nas três instâncias, administrativa, civil e criminal. A primeira vai apurar o ilícito
administrativo segundo as normas estabelecidas no Estatuto funcional; a segunda vai apurar a improbidade administrativa
e aplicar as sanções previstas na Lei 8.429/1992; e a terceira vai apurar o ilícito penal segundo as normas do Código de
Processo Penal”.
[...]
§ 7º As condutas enumeradas no caput caracterizam, ainda, atos de
improbidade administrativa, a que se refere o art. 11, inciso I, da Lei
7 Qual seja: “Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública
qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e
notadamente: [...]”.
3. Considerações finais
Diante do exposto, é imperioso concluir que as alterações na Lei
nº 8.429/1992 vieram em desfavor da garantia de lisura do processo
eleitoral. A Lei nº 14.230/2021 trouxe inovações que dificultam a
fiscalização da atividade do agente público, abrandam as sanções
previstas para a prática de atos ímprobos e facilitam a prática de
condutas desidiosas no serviço público.
A Constituição da República de 1988, ao assumir o caráter
principiológico levantado pelo neoconstitucionalismo, objetiva que
as variáveis presentes no cotidiano sejam levadas em consideração
durante o exame do caso concreto. Valores como cidadania,
democracia e transparência consubstanciam-se como elementos
fundamentais a uma sociedade avançada, verdadeiramente
preocupada com as expectativas dos cidadãos.
Some-se a isso o impacto das eleições no contexto social. Ora,
de acordo com o já relatado neste trabalho, o processo eleitoral
é essencial para o desenvolvimento da sociedade, quer seja pela
8 (§ 9º) As sanções previstas neste artigo somente poderão ser executadas após o trânsito em julgado da sentença
condenatória.
Abstract: This research aims to analyze the legal effects arising from the chan-
ges introduced by Law 14.230/2021 in Law 8.429/1992 (Administrative Improbi-
ty Law) and how this affects the scope of Electoral Law, as a way of conside-
ring the symbiotic relationship between Administrative Law and the fairness of
elections. That said, notes will be made on some of the main changes resulting
from the “New Law of Administrative Improbity”, namely, the extinction of
the culpable modality of art. 10 of Law 8.429/1992, the new taxation rule adop-
ted in art. 11 and the removal of the suspension of political rights from the list
of penalties of this same provision. Next, we intend to correlate these events
with possible harm in the electoral process, especially taking into account the
primacy of the principles of morality, transparency, democracy and citizenship.
Keywords: Administrative Improbity Law; Elections; Principles; democracy;
morality.
Referências
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1994.
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 15. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2004.
BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasí-
lia, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
Artigo
A nova Lei de Improbidade Administrativa e o contexto eleitoral: uma análise da Lei nº 14.230/2021 e
seus efeitos jurídicos
Recebimento
1º/9/2022
Aprovação
4/10/2022
2
Ação de Investigação Judicial Eleitoral nº 0601552-
57.2018.6.20.0000 – Ceará-Mirim – Rio Grande do Norte
Relator: Desembargador Claudio Santos
Investigante: Procuradoria Regional Eleitoral/RN
Investigado: Abidene Salustiano da Silva
Advogado: Fabio Luiz Monte de Hollanda - RN12555-b
Investigado: Erasmo Juvencio da Silva
Investigado: Gabriella Dantas da Silva
Natal,18/5/2021
VOTO
Versam os autos acerca de suposta prática de captação ilícita
de sufrágio e de abuso de poder econômico nas Eleições 2018, cujas
disciplinas legais se encontram encartadas, respectivamente, no art.
41-A da Lei nº 9.504/97 e no art. 22 da Lei Complementar nº 64/90.
Inicio por analisar a matéria pertinente à legitimidade dos
investigados que não figuraram como candidatos nas Eleições.
1 Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei,
o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem
pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da
eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinqüenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma, observado
o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990.
2 Art. 22. [...] XIV – julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal
declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-
lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em que
se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferência do
poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicação, determinando a
remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação
penal, ordenando quaisquer outras providências que a espécie comportar [...] (negrito acrescido).
2 – Mérito
A imputação está assentada em suposta compra de votos de
eleitores, respaldada em gravação ambiental referente à conversa
mantida entre Cristiane de Góis Silva e Gabriella Dantas da Silva,
registrada pela própria Cristiane em seu aparelho celular, sem o
conhecimento da outra interlocutora.
Em sua contestação, o investigado Abidene Salustiano da Silva
defendeu a ilegalidade da mencionada gravação, assim como dos
elementos probatórios que dela derivam.
Acerca dessa temática, urge salientar que a gravação ambiental
se distingue da interceptação telefônica, dependendo esta,
sempre, de prévia decisão judicial (Lei n° 9.296/96); difere também
da interceptação ambiental, em que a conversa é captada por um
terceiro sem o prévio conhecimento de qualquer dos interlocutores,
e que também precisa de prévia autorização de um juiz.
A conversa aqui tratada, e fruto de gravação ambiental, foi
captada por um dos interlocutores.
No RE nº 583.937/RJ, julgado com repercussão geral, o Supremo
Tribunal Federal definiu que é lícita a prova consistente em gravação
ambiental realizada por um dos interlocutores sem o conhecimento
do outro.
Em virtude das peculiaridades do processo eleitoral, o Supremo
reconheceu a repercussão da matéria no RE nº 1.040.515/SE, cujo
mérito, porém, ainda não foi julgado.
No âmbito da Justiça Eleitoral, em julgados recentes, o Tribunal
Superior Eleitoral manifestou firme posicionamento de ser lícita,
como regra, a partir das Eleições 2016, a gravação ambiental realizada
por um dos interlocutores sem conhecimento dos demais e sem
autorização judicial, em ambiente público ou privado:
eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinqüenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma, observado
o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar no 64, de 18 de maio de 1990.
4 https://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais
5 Art. 215. Os candidatos eleitos, assim como os suplentes, receberão diploma assinado pelo presidente do Tribunal
Regional ou da Junta Eleitoral, conforme o caso.
6 Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato
doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer
natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena
de multa de mil a cinqüenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma, observado o procedimento previsto no art. 22
da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990.
7 TSE. RESPE – Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 105717 – PUGMIL – TO. Acórdão de 22/10/2019.
Relator(a) Min. Jorge Mussi. DJE – Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 240, Data 13/12/2019, Página 41-42
8 https://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais
9 Art. 175. Serão nulas as cédulas:
§ 3º Serão nulos, para todos os efeitos, os votos dados a candidatos inelegíveis ou não registrados.
§ 4º O disposto no parágrafo anterior não se aplica quando a decisão de inelegibilidade ou de cancelamento de registro for
proferida após a realização da eleição a que concorreu o candidato alcançado pela sentença, caso em que os votos serão
contados para o partido pelo qual tiver sido feito o seu registro.
10 Art. 218. Serão contados para a legenda os votos dados a candidato:
II – cujo registro esteja deferido na data do pleito, porém tenha sido posteriormente cassado por decisão em ação
autônoma, caso a decisão condenatória seja publicada depois das eleições;
VOTO
I – Relatório
1. Trata-se de Recurso Eleitoral interposto por Edson Ferreira
de Lima, candidato ao cargo de vereador no Município de Pureza/RN
nas Eleições 2020, contra sentença proferida pelo Juízo da 46ª Zona
Eleitoral, que julgou desaprovada a sua prestação de contas, em razão
da omissão de gastos com serviços de contabilidade prestados a sua
campanha eleitoral.
2. Em suas razões (id 6440171), o recorrente relata que: a)
instruiu sua prestação de contas com nota explicativa, por meio da qual
informou que os serviços contábeis destinados a sua campanha foram
contratados e quitados pelo candidato ao cargo de prefeito Ricardo
Santos de Brito, conforme documentação juntada com o apelo; b) os
documentos comprobatórios relativos ao mencionado dispêndio não
foram anexados na prestação de contas do responsável pela despesa
por mero esquecimento do profissional responsável pela elaboração
de suas contas; e c) a documentação acostada com o recurso comprova
a inexistência de omissão de gastos eleitorais e a regularidade de sua
prestação de contas. Ao final, pugna pelo conhecimento e provimento
do recurso para reformar a sentença proferida pelo juízo de primeiro
grau e aprovar suas contas de campanha alusivas ao pleito 2020.
3. Com vistas dos autos, a Procuradoria Regional Eleitoral
opinou pelo conhecimento e desprovimento do recurso (ID 7034271).
4. Em face da juntada de documentos por ocasião da
interposição do presente recurso e do possível reconhecimento de
II – Fundamentação
Preliminarmente
II.1 – Da juntada de documentos novos na fase recursal
[...]
4. No caso, segundo o TRE/AM, declarações subscritas por empresa
contratada para produção de vídeos, informando que quatro
passageiros prestam serviços como autônomos, "não são suficientes
Mérito
II.3 – Dos gastos eleitorais com serviço de contabilidade
19. Estipula o art. 45, § 4º, da Resolução TSE nº 23.607/2019 que "A
arrecadação de recursos e a realização de gastos eleitorais devem ser
acompanhadas por profissional habilitado em contabilidade desde o
início da campanha, o qual realizará os registros contábeis pertinentes
e auxiliará o candidato e o partido na elaboração da prestação de
contas, observando as normas estabelecidas pelo Conselho Federal
de Contabilidade e as regras estabelecidas nesta Resolução". (grifos
acrescidos)
20. Em princípio, as despesas relativas à prestação de serviços
contábeis às campanhas devem ser registradas na respectiva
prestação de contas, por se referirem a gastos eleitorais, nos termos
do art. 26, § 4º, da Lei nº 9.504/1997 (regulamentado pelo art. 35, § 3º,
da Resolução TSE nº 23.607/2019):
III. Dispositivo
I – Relatório
1. Trata-se de agravo interno interposto pelo órgão estadual do
Partido Liberal no Rio Grande do Norte (ID 10605294), contra decisão
monocrática de ID 10601768, que, em sede de cumprimento de
sentença, reconsiderou decisum anterior agravado pela União, "para
autorizar a incidência de penhora sobre as verbas do fundo partidário
de que dispõe a agremiação executada, afastando a impenhorabilidade
prevista no art. 833, XI, do CPC, com base na ressalva prevista no
§ 1º do citado dispositivo legal, limitada ao percentual de até 50%
(cinquenta por cento) do valor mensal do fundo partidário percebido
pelo partido, em aplicação analógica da regra prevista no § 3º do art.
37 da Lei nº 9.096/95, e determinando, em consequência, a realização
de novos bloqueios, via sistema Sisbajud, de contas e aplicações
financeiras eventualmente existentes em nome do órgão estadual
do Partido Liberal, com observância ao teto mensal anteriormente
fixado, até que seja garantido o valor integral do débito exequendo
II – Fundamentação
II.1 – Do direito ao recebimento do fundo partidário e da fiscalização
exercida pela Justiça Eleitoral
9. O direito dos partidos políticos ao recebimento do fundo
partidário encontra-se assegurado no art. 17, § 3º, da CRFB/88, com a
redação dada pela Emenda Constitucional nº 97/2017, que estipula os
1 https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2021/Agosto/adiada-analise-sobre-impenhorabilidade-do-fundo-partidario-
no-caso-de-devolucao-de-recursos-publicos
III – Dispositivo
RELATÓRIO
Cuida-se, na origem, de representação por propaganda eleitoral
antecipada negativa, proposta pela COLIGAÇÃO A FORÇA DA
OPOSIÇÃO, em São José de Mipibu/RN, em desfavor de GIORDANO
BRUNO DE LIMA, apontado como administrador do perfil "Maicon
Silva" na rede social Facebook.
O Juízo de primeiro grau, considerando que as medidas previstas
para afastar os excessos à livre manifestação do pensamento, como a
ofensa à honra e à imagem de candidato, são a remoção do conteúdo
irregular e a concessão do direito de resposta, não sendo possível a
aplicação da multa prevista no art. 30, § 1º, da Resolução nº 23.610/2019
do TSE (art. 57-D, § 2º, da Lei nº 9.504/1997), dada a ausência de previsão
legal, acompanhando o parecer ministerial, julgou improcedente o
pedido formulado na exordial.
A COLIGAÇÃO A FORÇA DA OPOSIÇÃO interpôs recurso da
sentença. Alegou, em síntese, que o recorrido valia-se do perfil
"Maicon Silva" no Facebook para fazer escárnio público da então
candidata Norma Ferreira Caldas, ocultando seu rosto por trás de tal
"máscara", tanto que a recorrente teve de manejar ação judicial para
descobrir que Maicon Silva era, na verdade, GIORDANO BRUNO DE
LIMA.
Em seu dizer, configura-se, neste caso, nítida ocorrência de
falseamento de identidade, e não apenas de uso de pseudônimo,
o que torna impositiva a aplicação da multa prevista no art. 57-D, §
2º, da Lei das Eleições. Aduziu, outrossim, que o recorrido agiu de
má-fé, buscando se esquivar e ocultar a identidade das publicações
impugnadas.
O recorrido apresentou contrarrazões ao recurso, afirmando
que restou demonstrada a inexistência de anonimato real, bem
como se encontrariam as condutas praticadas ancoradas dentro da
VOTO
Conforme relatado, a COLIGAÇÃO A FORÇA DA OPOSIÇÃO
interpôs recurso eleitoral em face da sentença proferida pelo Juízo da
7ª Zona Eleitoral, São José de Mipibu/RN, que julgou improcedente a
representação por propaganda eleitoral antecipada negativa ajuizada
em desfavor de GIORDANO BRUNO DE LIMA, por entender que as
medidas previstas para afastar os excessos à livre manifestação do
pensamento, como a ofensa à honra e à imagem de candidato, são a
remoção do conteúdo irregular e a concessão do direito de resposta,
não sendo possível a aplicação da multa prevista no art. 30, § 1º, da
Resolução nº 23.610/2019 do TSE (art. 57-D, § 2º, da Lei nº 9.504/1997),
dada a ausência de previsão legal.
No entender da coligação recorrente, entretanto, subsiste a
propaganda eleitoral antecipada negativa, especialmente em razão
da mensagem propagada por quem se utiliza de escudo do anonimato
para disseminação de propaganda com conteúdo negativo na rede
social Facebook.
Antes de avançar na análise da matéria posta sob discussão nos
presentes autos, revela-se imperioso fazer alguns esclarecimentos
acerca dos fatos retratados na inicial e da fundamentação jurídica
utilizada com embasamento para o pedido de condenação do
representado.
Na inicial da representação eleitoral por propaganda negativa, a
coligação autora narrou a realização de uma postagem, no dia 16 de
agosto de 2020, pelo representado GIORDANO BRUNO DE LIMA, por
meio de um perfil fake, na rede social Facebook, de nome Maicon Silva,
com o seguinte conteúdo: "Ficha suja no TCE... caloteira, condenada
por desviar dinheiro público... Esse é o currículo da ex-prefeita. A
ex que nada fez". A partir desse fato, a parte representante pediu a
condenação do representado por propaganda negativa e difamatória,
1 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial. 11 ed. Salvador: JusPodivm, 2019. p. 194/195.
RELATÓRIO
Trata-se de Recurso Eleitoral interposto por WELLINGTON SILVA
ARAÚJO contra a r. sentença proferida pelo MM. Juízo da 24ª Zona
Eleitoral de Parelhas/RN (ID nº 5994771), que julgou procedente a
representação interposta pela COLIGAÇÃO "DEIXE EU CUIDAR DE
VOCÊ" para reconhecer a prática da conduta vedada prescrita no
artigo 73, inciso I, da Lei nº 9.504/97 (art. 83, inciso I, da Res. TSE n.º
23.610/19) e condenou o representado, ora recorrente, ao pagamento
de multa no patamar mínimo legal, qual seja, R$5.320,50 (cinco mil
trezentos e vinte reais e cinquenta centavos), com base no artigo 83,
§ 4º, da Resolução TSE n.º 23.610/19.
Em suas razões (ID nº 5995071), alega o recorrente, em
síntese, que a imunidade parlamentar e a ausência de transmissão
do discurso por Rádio, TV ou canais oficiais da Câmara Municipal
VOTO
De início, vale destacar que o objeto da representação ora
discutida é a eventual prática de conduta vedada e não de abuso de
poder, como tenta defender o recorrente em suas razões.
RELATÓRIO
Trata-se de Recurso Contra Expedição de Diploma interposto
pelo órgão municipal do PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA
(PDT), do município de Canguaretama/RN, em face de WELLINSON
CARLOS DANTAS RIBEIRO e MARIA DE FÁTIMA MOREIRA, candidatos
eleitos aos cargos de prefeito e vice-prefeito, respectivamente, do
município de Canguaretama/RN, nas eleições de 2020.
O recorrente afirmou que ao recorrido Wellinson Carlos Dantas
Ribeiro falta condição de elegibilidade para o exercício de mandato,
em virtude de condenação criminal pela prática de crime contra a fé
pública (supressão de documento) e por crime de responsabilidade
(deixar de prestar contas quando prefeito), estando incurso nas
sanções do art. 305 do Código Penal e do art. 1º, VII, do Decreto-Lei nº
201/67.
Aduziu, ainda, que a aludida condenação ocorreu no bojo do
processo nº 0812214-38.2017.4.05.8400, perante o Tribunal Regional
Federal da 5ª Região, cujo trânsito em julgado da decisão condenatória
teria ocorrido em 25/11/2020.
Ao fim, requereu a cassação dos diplomas de prefeito e vice-
prefeita concedidos aos recorridos.
Devidamente citados, os recorridos apresentaram defesa
(ID 6718721), alegaram, preliminarmente, a extinção do feito
sem julgamento do mérito por não preencher os pressupostos
consignados no art. 262 do Código Eleitoral. No mérito, sustentaram
que o julgamento do Processo nº 0812214-38.2017.4.05.8400, ora
em trâmite perante o TRF-5, sequer restou concluído, não tendo
se operado o trânsito em julgado do édito condenatório, "vez que
a Corte Regional ainda não se debruçou em face dos fundamentos
aviados pelo apelante em sede de Agravo Interno".
Em arremate, acrescentou que "ainda que futuramente venha
a ser reconhecido e lavrado o trânsito em julgado nos autos, tal
circunstância não se prestaria a desfigurar o acórdão prolatado pelo
VOTO
Pedido de reunião para julgamento em conjunto
(REl 0600209-22 e RCED 0601080-52)
VOTO
Cinge-se a discussão à suposta ausência de uma das condições
de elegibilidade do candidato eleito ao cargo de prefeito no município
de Canguaretama/RN, a saber, o pleno exercício dos direitos políticos,
prevista no art. 14, § 3º, II, da Constituição da República.
Na espécie, o órgão municipal do Partido Democrático Trabalhista
(PDT) de Canguaretama/RN alega que o recorrido Wellinson Carlos
Dantas Ribeiro sofreu condenação criminal transitada em julgado
pela prática de crime contra a fé pública (supressão de documento)
e por crime de responsabilidade (deixar de prestar contas quando
prefeito), encontrando-se incurso nas penas do art. 305 do Código
Penal e do art. 1º, VII, do Decreto-Lei nº 201/67.
EMENTA
ELEIÇÕES 2020. RECURSO ELEITORAL. REPRESENTAÇÃO POR
CAPTAÇÃO E GASTOS ILÍCITOS DE RECURSOS (ART. 30-A DA LEI
Nº 9.504/1997). CARGO DE VEREADOR. NÃO CONTABILIZAÇÃO DE
GASTOS EM FAVOR DE CANDIDATURA. SERVIÇOS CONTÁBEIS E
MATERIAL PUBLICITÁRIO. PROCEDÊNCIA EM PRIMEIRA INSTÂNCIA.
CASSAÇÃO DO DIPLOMA. TESE RECURSAL: INEXPRESSIVIDADE DOS
VALORES DAS OPERAÇÕES TIDAS POR OMITIDAS. ACOLHIMENTO.
AUSÊNCIA DE RELEVÂNCIA JURÍDICA DA CONDUTA. INCIDÊNCIA
DO POSTULADO DA PROPORCIONALIDADE. PRECEDENTES.
AFASTAMENTO DA CONDENAÇÃO. MANUTENÇÃO DO MANDATO
CONSAGRADO PELAS URNAS. PROVIMENTO.
1- Recurso manejado por vereadora eleita no último pleito contra
sentença que, julgando procedente representação fundada em
captação e gastos ilícitos de recursos de campanha, cassou-lhe
o diploma, nos termos do art. 30-A, § 2º, da Lei nº 9.504/1997 (Lei
das Eleições), ao fundamento de que foram utilizados recursos de
campanha não contabilizados.
2- Na linha de jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, "o postulado
da proporcionalidade, notadamente em sua dimensão de vedação ao
excesso (Übermaßverbot), é o parâmetro normativo adequado para
aferir a gravidade ou a relevância jurídica (ou a ilegalidade qualificada)
dos ilícitos em processos em que se apuram a prática de abuso de
poder econômico ou político, em AIJE, AIME e RCED, e de captação ou
gasto ilícito de recursos em campanhas eleitorais, em Representações
do art. 30-A da Lei das Eleições" (TSE, REspe nº 11-75/RN, j. 25.5.2017,
rel. Min. Luiz Fux, DJE 30.6.2017).
3- "A configuração do preconizado no art. 30-A da Lei nº 9.504/97,
e a consequente aplicação da sanção, reclama afronta material, e
não meramente formal, dos bens jurídicos tutelados pela norma.
Precedentes." (TSE, RO nº 5371-85/MG, j. 6.12.2018, rel. Min. Edson
Fachin, DJE 20.2.2019).
PROCLAMAÇÃO DO JULGAMENTO
ACORDAM os juízes do egrégio Tribunal Regional Eleitoral
do Estado do Rio Grande do Norte, por unanimidade de votos, em
dissonância com o parecer da Procuradoria Regional Eleitoral, em
conhecer e dar provimento ao recurso, para julgar improcedente
a representação eleitoral de que cuidam os autos, nos termos do
voto do relator, parte integrante da presente decisão. Anotações e
comunicações.
Natal, 11 de novembro de 2021.
RELATÓRIO
Trata-se de Recurso Eleitoral (ID 10601626) interposto por IARA
DO NASCIMENTO SILVA, eleita no pleito de 2020, pelo PROGRESSISTAS
Da responsabilidade do candidato
No sistema de financiamento eleitoral vigente, cumpre ao
próprio candidato, diretamente ou por intermédio de pessoa por ele
designada, fazer a administração contábil de sua candidatura (arts.
20 e 21 da Lei das Eleições). "Incumbe-lhe, pois, gerir e aplicar em sua
campanha os recursos que lhe forem destinados, sejam os repassados
pelo partido (inclusive os relativos à cota do fundo partidário), sejam
os recursos próprios ou as doações que receber." (GOMES, José Jairo.
Direito Eleitoral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 421).
É dizer assim: "o candidato é sempre o protagonista das
atividades financeiras da campanha, figurando o administrador como
mero coadjuvante ou, no limite, como copartícipe daquele exercício,
sem que sua presença atenue, de qualquer forma, o papel de liderança
do sujeito principal." (TSE, RO nº 0002234-74/AP, j. 4.2.2021, rel. Min.
Edson Fachin, DJE 28.4.2021).
Do juízo de proporcionalidade
Em atenção aos postulados da razoabilidade e da
proporcionalidade, que informam todo o ordenamento jurídico,
preconizando que a sanção deve ser proporcional à gravidade da
conduta e à lesão perpetrada ao bem jurídico protegido, a procedência
da representação fundada no art. 30–A da Lei das Eleições, mercê
da grave consequência jurídica implicada, reclama que a conduta
reputada ilegal seja caracteriza por circunstâncias reveladoras de
"gravidade/relevância jurídica suficientemente densa para ultrajar
os bens jurídicos por ele tutelados" (ED-RO nº 1220-86/TO, j. 17.4.2018,
rel. Min. Luiz Fux, DJE 19.4.2018).
Nessa linha, confiram-se: AI nº 2-52/SP, j. 16.10.2018, rel. Min.
Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, DJE 8.11.2018; RO nº 2234-74/AP, j.
4.2.2021, rel. Min. Edson Fachin, DJE 28.4.2021.
Por pertinentes, colacionam-se os seguintes excertos
doutrinários, in verbis (com acréscimo de grifos):
Caso concreto
No caso sub examine, restou comprovado que, na prestação de
contas da campanha da candidata ora recorrente, em sede da qual
[...]
De fato, a prova documental é inconteste apontando para a realização
das despesas acima indicadas, e que não foram inseridas na prestação
de contas. E a prova oral somente veio a corroborar a utilização de
adesivos que constam das fotos acostadas.
Observo que a parte demandada sequer arguiu possível erro na
apresentação de prestação de contas. Houve no mínimo negligência
da responsável pela campanha quanto aos valores não lançados na
prestação de contas, omitindo-se valores de serviços que deveriam
constar na prestação, restando configurado que houve clara intenção
em burlar as regras quanto à arrecadação de recursos eleitorais.
Dessa forma, este juízo não pode deixar de acolher a representação pois
evidenciado o conhecido "caixa dois" na campanha da representada,
com a omissão de gastos realizados durante o processo eleitoral.
Ainda que a representada queira invocar a proporcionalidade das
sanções aplicadas, é importante verificar que a representada não
apresentou provas que indiquem o valor dos adesivos feitos, o que
poderia permitir a este juízo analisar a potencialidade desse fato na
eleição.
[...]
1 FONTE: https://www.tse.jus.br/eleitor/estatisticas-de-eleitorado/consulta-por-municipio-zona
Conclusão
De sorte que, à vista de tais circunstâncias, a insurgência mostra-
se suscetível de acolhimento, sendo de rigor a reforma integral da
sentença que acolheu a pretensão condenatória prevista no § 2º do
art. 30-A da Lei nº 9.504/1997.
Por fim, a título de obiter dictum, cumpre rememorar – já tendo
em mira certa tendência ao uso irrefletido de embargos declaratórios
– a relevante diretriz interpretativa do § 3º do art. 489 do CPC, de
acordo com o qual "A decisão judicial deve ser interpretada a partir
DISPOSITIVO
Ante o exposto, em dissonância com o parecer da Procuradoria
Regional Eleitoral, VOTO pelo conhecimento e provimento do recurso
em tela, para julgar improcedente a representação eleitoral de que
cuidam os autos.
É como voto.
Natal/RN, 11 de novembro de 2021.
PARECER
–I–
1. Trata-se de Requerimento de Registro de Candidatura
Individual (RRCI) ao cargo de DEPUTADO FEDERAL, referente às
eleições de 2018, formulado por KERICLIS ALVES RIBEIRO (nome de
urna: "KERINHO"), qualificado nos autos, o qual restou indeferido por
essa e. Corte Regional, sob o fundamento da ausência de juntada de
documentos essenciais, assim como pendência de multa eleitoral (cf.
IDs 26300 e 80798).
2. Inconformado com essa r. decisão, o então candidato interpôs
recurso especial, que restou acolhido pelo Tribunal Superior Eleitoral,
resultando na anulação do v. acórdão que indeferiu seu pedido de
registro de candidatura, e na determinação do retorno dos autos para
análise da documentação comprobatória não identificada por erro
técnico ocorrido na intimidade da Justiça Eleitoral (ID 3330871).
3. Após infrutíferos recursos, com o trânsito em julgado do
decisum do TSE no dia 5/8/2020 (ID 3333421), foram os autos remetidos
a essa e. Corte Regional, vindo, logo em sequência, com vista a esta
Procuradoria Regional Eleitoral.
4. Ocorre que, pouco antes dessa remessa, a COLIGAÇÃO DO
LADO CERTO (composta pelo PARTIDO DOS TRABALHADORES,
PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL e PARTIDO HUMANISTA DA
SOLIDARIEDADE, para o pleito proporcional de 2018 no âmbito do
Estado do Rio Grande do Norte) veio aos autos noticiar a inexistência
da comprovação de condição de elegibilidade de KERICLIS ALVES
RIBEIRO, referente às eleições de 2018, relacionada com a ausência
de quitação eleitoral, nos termos do art. 11, § 1º, VI, da Lei nº 9.504/97
(ID 3507621).
5. Posteriormente, e antes mesmo do decurso do prazo
conferido a esta Procuradoria Regional Eleitoral para se manifestar,
BERNA IGNUS BARROS BATISTA DE AZEVEDO e OUTROS, qualificados
no petitório de ID 3562671, noticiaram, por outro lado, a suposta
ocorrência de inelegibilidade do requerente, agora sob o argumento
de que este não teria se desincompatibilizado do cargo comissionado
– II –
Dos embargos declaratórios opostos pelo candidado
Kericlis Alves Ribeiro. Arguição de falsidade ideológica
21. O candidato KERICLIS ALVES RIBEIRO opôs embargos de
declaração em face da r. decisão de ID 5743971, que não conheceu
sua arguição de incidente de falsidade, aduzindo, para tanto, a
necessidade de observância dos princípios do contraditório e da
ampla defesa, assim como reiterando a alegada falsidade na certidão
expedida pelo Setor de Recursos Humanos da Prefeitura Municipal de
Monte Alegre/RN, que informa o exercício de cargo comissionado por
ele naquele órgão, cuja validade, segundo sustenta, não poderia ser
corroborada pelas diligências determinadas por essa em. relatoria,
mas somente pela apresentação do termo de posse e juntada da folha
de frequência.
22. Firme nessa convicção, o embargante pretende sejam
conhecidos e providos os embargos para integralizar a decisão, de
forma a ser conhecido e processado o incidente de falsidade que ora
suscita.
23. Contudo, verifica-se, de plano, inexistir omissão, obscuridade
ou contradição apta a amparar a sua oposição.
– III –
Da preliminar de preclusão/intempestividade da
impugnação e das notícias de inelegibilidade.
Acolhimento. Não conhecimento. Possibilidade de
conhecimento de ofício das arguições, por se tratar de
matéria de ordem pública.
34. KERICLIS ALVES RIBEIRO e a COLIGAÇÃO 100% RN apontam
a intempestividade/preclusão da impugnação ao registro de
candidatura, bem como das notícias de inelegibilidade, apresentadas
nos presentes autos após a anulação do v. acórdão dessa e. Corte
Regional pelo TSE.
35. De fato, no que diz respeito ao prazo para ajuizamento da Ação
de Impugnação ao Registro de Candidatura (AIRC) e apresentação
da notícia de inelegibilidade, a Resolução TSE nº 23.548/17 assim
estabeleceu, verbis:
– IV –
67. Ante o exposto, esta Procuradoria Regional Eleitoral opina:
i) pela rejeição dos embargos de declaração opostos por KERICLIS
ALVES RIBEIRO, de forma a ser mantida a r. decisão de ID 5743971, em
sua integralidade; ii) não conhecimento da impugnação e das notícias
de inelegibilidade apresentadas pela COLIGAÇÃO DO LADO CERTO,
por FERNANDO WANDERLEY VARGAS DA SILVA e por BERNA IGNUS
BARROS BATISTA DE AZEVEDO e OUTROS, dada sua intempestividade;
iii) pelo indeferimento do registro de candidatura de KERICLIS ALVES
RIBEIRO, com os consectários legais daí decorrentes.
É o parecer.
(assinado digitalmente)
Ronaldo Sérgio Chaves Fernandes
Procurador Regional Eleitoral
PARECER
EMENTA: ELEITORAL. ELEIÇÕES 2020. RECURSO. AÇÃO DE
INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO. LEGITIMIDADE DE PARTIDO POLÍTICO
COLIGADO PARA, ISOLADAMENTE, AJUIZAR AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO
JUDICIAL ELEITORAL APÓS REALIZADAS AS ELEIÇÕES. PRECEDENTES
DO TSE. PARECER PELO CONHECIMENTO E PROVIMENTO DO
RECURSO.
–I–
1. O PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PCdoB), por seu Diretório
Municipal em Pendências/RN, bem como por intermédio de advogados
habilitados (ID 10615774), ingressou com ação de investigação judicial
eleitoral (AIJE) em face de PAULO EDUARDO CAMPIELO BARRETO
RAMOS, WALTER DA SILVEIRA SILVA e IEDILBERTO QUEIROZ DE
BRITO, os dois primeiros candidatos não eleitos aos cargos de prefeito
e de vice-prefeito nas eleições municipais de 2020 em Pendências/RN,
junto ao juízo da 47ª Zona Eleitoral – Pendências/RN, imputando-lhes
a prática de captação ilícita de sufrágio e abuso de poder econômico.
2. O juiz a quo proferiu sentença (ID 10615825), extinguindo o
feito sem resolução de mérito, nos termos do art. 6º, § 4º, da Lei n.º
9.504/97, combinado com o art. 330, II, do Código de Processo Civil,
sob o fundamento da ilegitimidade do partido para propor a demanda.
3. Inconformado com esse resultado, o Diretório Municipal do
PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PCdoB) recorre (ID 10615830),
sustentando, em síntese, sua legitimidade, porquanto, conforme
entendimento pacificado no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral,
o partido coligado tem legitimidade para propor, isoladamente,
representações que envolvam a cassação de diplomas ou a imposição
de inelegibilidade, após transcorrida a eleição.
– II –
7. Conforme visto, o juiz a quo extinguiu o feito sem resolução
de mérito, nos termos do art. 6º, § 4º, da Lei nº 9.504/97, combinado
com o art. 330, II, do Código de Processo Civil, sob o fundamento da
ilegitimidade do partido para propor a demanda.
8. Com efeito, embora o PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL
(PCdoB) tenha formado com o PARTIDO CIDADANIA a denominada
COLIGAÇÃO QUEM SEMPRE FEZ, VAI FAZER MUITO MAIS para as
eleições majoritárias municipais, a presente ação de investigação
judicial eleitoral (AIJE) foi ajuizada unicamente pela primeira
agremiação partidária.
9. Como cediço, uma vez coligado, o partido político não
mais detém legitimidade para, isoladamente, ajuizar demandas
perante a Justiça Eleitoral, considerando-se que a coligação passa
a, temporariamente, representar todos os partidos que a integram,
atuando no processo eleitoral com legitimidade própria, nos termos
do art. 6º, § 1º, § 3º, incisos III e IV, e § 4º, da Lei nº 9.504/1997.
10. A propósito, o § 4º do art. 6º da Lei nº 9.504/1997, inclusive,
é bem claro ao dispor que "o partido político coligado somente
possui legitimidade para atuar de forma isolada no processo eleitoral
quando questionar a validade da própria coligação durante o período
compreendido entre a data da convenção e o termo final do prazo
para a impugnação do registro de candidatos".
11. Esse óbice à atuação isolada do partido político coligado, no
entanto, perdura durante o processo eleitoral, ou seja, no período
compreendido entre as convenções e a realização das eleições. De
fato, farta jurisprudência eleitoral entende que, após transcorridas as
eleições, os partidos políticos coligados readquirem sua capacidade
processual, podendo, desse modo, propor ações eleitorais, mesmo
que isoladamente.
12. Para que não paire qualquer dúvida, vejam-se os seguintes
arestos do Tribunal Superior Eleitoral sobre o tema:
– III –
15. Assim, esta Procuradoria Regional Eleitoral manifesta-se pelo
conhecimento e provimento do recurso sob exame.
(assinado digitalmente)
Rodrigo Telles de Souza
Procurador Regional Eleitoral