Selecao, Adequacao CAA
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SUPLEMENTARES DE COMUNICAÇÃO
Débora DELIBERATO1
Resumo: Uma escola inclusiva é aquela onde todos os alunos recebem oportunidades
adequadas às suas habilidades e necessidades. O princípio orientador da
declaração de Salamanca de 1994 é de que todas as escolas devam receber
todas as crianças independentemente das suas condições físicas, sociais,
emocionais ou intelectuais. Sabemos que grande parte dos alunos com
necessidades educacionais especiais apresenta severos distúrbios de
comunicação oral dificultando a interação professor-aluno e o processo de ensino
e aprendizagem. Nesse sentido, pesquisadores estão preocupados em buscar e
analisar outros recursos que possam ser alternativos e/ou suplementares à fala
com objetivo de possibilitar aos alunos com severos distúrbios na comunicação
oral a inclusão social e escolar. Os objetivos deste trabalho foram favorecer e
ampliar o processo comunicativo dos alunos com necessidades educacionais
especiais nas situações de ensino e aprendizagem, selecionando, implementando
e adequando os diferentes recursos comunicativos. As atividades foram realizadas
com 13 alunos das classes especiais e um aluno incluído no ensino regular. Além
das atividades com os alunos, foram feitas orientações aos professores e demais
profissionais da escola.
BREVE HISTÓRICO
1
Docente do Departamento de Educação Especial (Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP – Campus de Marília). Grupo de
Pesquisa de Deficiências Físicas e Sensoriais.
505
Por meio de projetos, iniciamos atendimento aos alunos, famílias a respeito das
possibilidades comunicativas e aos procedimentos necessários para os alunos participantes.
Além disso, iniciou-se, também, um trabalho com os professores das classes especiais para
discutir os procedimentos que facilitariam a participação destes alunos nas atividades propostas
e em outras situações sociais.
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
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responsáveis pela manifestação motora da linguagem (área de Broca) e pela compreensão da
linguagem (área de Wernicke). Destes estudos, surgiram os clássicos casos de afasia de Broca
e Afasia de Wernicke (KANDEL et al., 1995).
Por um lado, alguns estudos indicaram que lesões cerebrais, na mesma área,
podem ou não determinar o mesmo comportamento verbal manifesto. Por outro, a manifestação
de os mesmos comportamentos verbais poderem apresentar diferentes localizações cerebrais.
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Em se tratando da comunicação oral é importante lembrar que são necessárias a
seqüência ordenada e a coordenação de três processos fundamentais: 1) a organização dos
conceitos, sua formulação simbólica e sua expressão; 2) a exteriorização do pensamento pela
fala, com a intervenção de coordenar funções motoras como respiração, fonação, articulação e
prosódia e 3) a programação destas habilidades motoras na produção voluntária dos sons
individuais da fala e sua combinação para formar as palavras (BROWN, 1978). Alteração de
qualquer um destes processos pode acarretar alterações na comunicação oral.
Quanto aos aspectos da comunicação não verbal, alguns dos mais notáveis
estudiosos sobre o assunto recusam-se a separar palavras de gestos; daí trabalharem com
expressões mais amplas como comunicação ou interação face a face (KNAPP & HALL, 1999).
Ekman & Friesen (1969) mostraram que os signos verbais e não-verbais podem
ser codificados de muitas maneiras diferentes. Sua conceituação segue um continuum como:
codificação intrínseca – codificação icônica – codificação arbitrária. É importante deixar
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esclarecido que a conceituação é um processo continuum, ou seja, não de categorias distintas,
portanto é possível identificar comportamentos que pareçam estar entre dois desses pontos. O
traço distintivo primário entre os três tipos de codificação é a proximidade do código ao seu
referente, ou seja, aquilo a que se refere.
Ruesch e Kess (1956 apud Knapp & Hall, 1999) descrevem algumas categorias
importantes no momento do uso de comunicação não-verbal, são elas: ambiente aparência
física, movimento corporal.
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É possível que o mesmo comportamento tenha significado diverso, dependendo
do contexto em que ocorre. Portanto, como as palavras, os signos não-verbais têm múltiplos
usos e significados; como as palavras, muitos signos não-verbais têm significados denotativos e
conotativos. Somente pelo exame do contexto da interação somos capazes de avaliar com alto
grau de confiança o modo como comportamentos específicos funcionam. Às vezes, os
comportamentos parecem servir a uma única função, mas a compreensão das
multifuncionalidades de um comportamento e da importância do contexto na determinação da
função constitui pré-requisito necessário a discussão das funções do comportamento não-verbal
(KNAPP & HALL, 1999).
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Sintetizando essas definições podemos, então, afirmar que comunicação
alternativa e/ou suplementar é um recurso utilizado por um grupo de pessoas acometidas por
algum tipo de alteração que impede o uso da fala nas situações cotidianas de vida, ou seja,
independente da patologia é necessário explorar as possibilidades comunicativas (MANZINI,
2000).
A literatura que trata desse tema coloca como meta à utilização da comunicação
alternativa em situações de vida e não só em situações escolares. Dentre os instrumentos para
comunicação alternativa pode-se citar a Semantografia “Bliss” (HEHNER, 1980
MCNAUGHTON, 1985), “Picture Exchange Communication System” – PECS (FROST &
BONDY, 1996), “Picture Communication Symbols - PCS (JOHNSON, 1992), Pictogram
Ideogram Communication - PIC (MAHARAJ, 1980) e o sistema computadorizado ImagoAnaVox
(CAPOVILLA et al., 1996).
511
Figuras retiradas de MANZINI, 2000 e do programa Boardmaker (CLIK, 1994)
512
Material confeccionado a partir das figuras do Boardmarker – CLIK, 1994.
513
realiza atividades específicas com alunos com necessidades educacionais especiais de quatro
classes especiais da cidade de Marília.
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Outro exemplo de atividade realizada com um aluno não-
falante que está sendo alfabetizado. Neste sentido, as
figuras são substituídas pela escrita, colaborando para o
processo de ensino e aprendizagem do aluno não-falante.
Peixe Pixote
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Prancha temática com figuras selecionadas Prancha na carteira do aluno. As figuras
para serem utilizadas durante as atividades selecionadas são geradoras de temas
desenvolvidas propostos pela professora.
Painel coletivo para a sala de aula. Neste Painel utilizado para seqüencializar as
painel estão as palavras selecionadas para ações nas atividades realizadas na classe
serem trabalhadas nas atividades ou em outros ambientes, como no caso da
desenvolvidas pelo professor com os demais biblioteca, cozinha.
alunos.
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recursos para serem utilizados e adequados a cada aluno. Além dos alunos selecionados das
classes especiais, um aluno incluído no ensino regular foi acompanhado e suas atividades
adaptadas ao currículo escolar.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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