O Mimetismo Publicitário: Productplacement, Arte e Consumo
O Mimetismo Publicitário: Productplacement, Arte e Consumo
O Mimetismo Publicitário: Productplacement, Arte e Consumo
M662
Livro em PDF
ISBN 978-65-5939-555-2
DOI 10.31560/pimentacultural/2022.95552
CDD 659.1
PIMENTA CULTURAL
São Paulo . SP
Telefone: +55 (11) 96766 2200
livro@pimentacultural.com
www.pimentacultural.com 2 0 2 2
CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO
Doutores e Doutoras
Apresentação
Capítulo 1
É sobre product
placement e tá tudo bem............................................................... 12
Andrea Mello
Capítulo 2
A apoteose mascarada
das marcas no carnaval:
uma reflexão a partir dos desfiles
das escolas de samba do Rio de Janeiro......................................... 26
Bruno Pompeu
Capítulo 3
Capítulo 4
Product placement:
marcas comerciais num
trecho de rizoma literário.................................................................. 83
João Anzanello Carrascoza
Capítulo 6
Publicidade
e o product placement:
início, alguns meios e fins............................................................... 114
Maria Cristina Dias Alves
Marcelo Eduardo Ribaric
Capítulo 7
#AvonTáOn:
o desafio do brand placement
e o branded content da Avon no BBB21......................................... 136
Roberta Scórcio Maia Tafner
Rosilene Moraes Alves Marcelino
Capítulo 8
sumário 10
e demais expressões artísticas mensagens comerciais, quando não
reproduz e copia as divisas que caracterizam as suas artes-matrizes.
REFERÊNCIAS
CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos culturais da
globalização. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.
CAMPOS, Álvaro de. Livro de versos, Fernando Pessoa. Edição crítica.
Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes), Lisboa:
Estampa, 1993.
sumário 11
1
Andrea Mello
É sobre product
placement e tá tudo bem1
1 O título desse capítulo e de todas as sessões que o compõem foram escritos inspirados
em memes que fizeram grande sucesso nas redes sociais durante o ano de 2021, como
uma forma de aproximar a escrita acadêmica da linguagem utilizada na Internet.
DOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95552.1
BEIJINHOS CIENTÍFICOS
sumário 13
profissionais cuidadosamente camuflam e escondem: a dúvida. Afinal
de contas, muitas vezes não tenho as respostas para as perguntas que
faço. O conhecimento que tenho é apenas um pequeno fragmento em
um rio enorme de saberes, e é justamente isso que me move adiante.
Buscar novas respostas, novos caminhos. Buscar respostas melhores.
Devido a esta proposta, focada mais em compartilhar dúvidas, pensa-
mentos e inquietações, do que em trazer verdades, é bem capaz que
a quantidade de pontos de interrogação ao longo desse capítulo seja
maior do que a lista de referências bibliográficas ao final dele.
sumário 14
CRINGE É FAZER PRODUCT
PLACEMENT SÓ EM FILME
sumário 15
Figura 1 - Réplica da pintura Un bar aux Folies-Bergère feita
para o curtametragem de mesmo nome dirigido por Gabrielle
Lissot. A alta resolução da imagem possibilita a visualização
da logomarca da cerveja Bass, no canto inferior direito.
Fonte: https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/
um-bar-no-folies-bergere-manet/em 27/11/2021.
sumário 16
cinema conquistou grande visibilidade para uma marca através desse
recurso. No filme E.T. – O Extraterrestre, dirigido por Steven Spielberg,
o personagem Elliot usa os chocolates Reese’s Pieces para atrair o
simpático alienígena. Segundo Jack Dowd, o então Diretor de Novos
Produtos da companhia e responsável por fechar negócio com o Uni-
versal Studios, tal estratégia foi “the biggest marketing coup in history.
We got immediate recognition for our product, the kind of recognition we
would normally have to pay fifteen or twenty million bucks for. It ended up
as a cheap ride” (NEWELL; SALMON; CHANG, 2006, p. 590).
Seu uso começou a ser tão intenso nesses meios, que o concei-
to passou a ser associado exclusivamente a tais mídias. Em seu artigo,
sumário 17
Marcelo Eduardo Ribaric (2019) compila em uma tabela 14 diferentes
definições do conceito de product placement, formuladas por teóricos
e pesquisadores entre os anos de 1987 e 2011. Ou seja, todas foram
elaboradas após a invenção e disseminação do cinema e da televi-
são. Nesse apanhado, sete conceitos delimitam a definição de pro-
duct placement à mídia usada para sua veiculação, sendo televisão e
cinema os meios de comunicação mais citados, porém a lista também
inclui livros e o rádio. Outros dois conceitos deixam a definição do ca-
nal de veiculação em aberto, mas utilizam mídias audiovisuais como
exemplos para tangibilizar a estratégia criativa. Um outro conceito de-
lineia a definição de product placement não a partir da mídia em que
é veiculado, mas através da linguagem utilizada por ele, restringindo
a produções de áudio ou audiovisuais. Por fim, apenas quatro con-
ceitos definem o que é product placement a partir do ponto de vista
estratégico e criativo, em que a mensagem publicitária é inserida em
um novo contexto, que não precisa ser obrigatoriamente uma mídia
audiovisual. Esses conceitos usam termos mais amplos para definir o
novo ambiente em que a publicidade é inserida, evitando restringi-lo a
um meio de comunicação específico. As expressões utilizadas foram:
“mídia de massa”, “conteúdo editorial”, “ambiente cultural ou de entre-
tenimento” e “ambiente não comercial”. O que todas essas definições
e os exemplos aqui citados possuem em comum é o deslocamento da
mensagem publicitária e da presença de marca para um contexto de
entretenimento, seja ele audiovisual ou uma pintura.
sumário 18
maioria das vezes o ponto de atração e conexão está exatamente na
fuga da realidade. Mesmo em filmes biográficos e novelas cujos perso-
nagens e tramas retratam cenas do cotidiano, por atuarem no território
do entretenimento e não da informação, tais conteúdos possuem sem-
pre a licença poética que a ficção confere à imaginação.
sumário 19
grande vantagem quando comparada com a televisão. Enquanto a TV
se caracteriza como um meio de comunicação informativo e de lazer por
natureza, a Internet funciona como casa digital de diferentes meios de
comunicação, cujo foco nem sempre está no entretenimento. Nela é pos-
sível não apenas assistir filmes e ouvir músicas em plataformas digitais,
e ler revistas e jornais; mas também trocar mensagens em em tempo
real com seus contatos, compartilhar fotos do seu dia a dia, fazer trans-
ferências bancárias e compras. Muito mais do que apenas permitir que
diferentes mídias disponibilizem seu conteúdo em um ambiente on-line,
hospedado na nuvem e que pode ser acessado por pessoas do mundo
todo a qualquer hora do dia e da noite, a Internet possibilitou o surgimen-
to de outros espaços midiáticos digitais, como as redes sociais.
sumário 20
incorporar seus produtos ao conteúdo produzido por eles da forma
mais integrada possível, os consumidores foram exaltando sua desa-
provação em níveis cada vez mais extremos. O público se sentiu enga-
nado, por não conseguir identificar quando a presença de uma marca
no conteúdo publicado estava associada a uma estratégia publicitária
ou não, e reagiu exigindo que ações desse tipo fossem sinalizadas.
sumário 21
As discussões sobre o assunto têm se tornado cada vez mais
calorosas, tanto que o CONAR em 2020 decidiu publicar um “Guia
de Publicidade por Influenciadores Digitais”, com orientações e boas
práticas a serem seguidas, entre elas a identificação de conteúdos
patrocinados por marcas com indicadores como “publipost” ou “publi-
cidade”. Logo abaixo o leitor pode conferir o print de um fragmento de
vídeo publicado pela influenciadora digital Giovanna Ferrarezi em que
o produto aparece integrado à narrativa do seu perfil e, por se tratar
de um product placement, a influencer precisou indicar no post que o
conteúdo foi patrocinado por uma marca.
sumário 22
FICA, VAI TER #PUBLIPOST
sumário 23
Embora muitos produtores de conteúdo esclareçam que seus
perfis nas redes sociais não retratam de forma fidedigna seu cotidiano
e a realidade de suas vidas, e também já existam perfis virtuais como
@lilmiquela e @eva.stories no Instagram, tais espaços virtuais mes-
clam narrativas reais com fictícias, borrando a linha tênue que separa
conteúdos tão diferentes. Presa nesse cruzamento de múltiplas nar-
rativas, a audiência parte em busca da verdade. E se não consegue
definir a veracidade das histórias, ela luta para desvendar pelo menos
a verdade mercadológica por trás dos conteúdos que consome.
REFERÊNCIAS
CANALTECH. Internet alcança 74% dos brasileiros e 58% utilizam a rede
apenas pelo celular. Disponível em: https://canaltech.com.br/internet/
internet-alcanca-74-dos-brasileiros-e-58-utilizam-a-rede-apenas-pelo-
celular-165851/. Acesso em 20 nov. 2021.
GOVERNO FEDERAL. Pesquisa mostra que 82,7% dos domicílios
brasileiros têm acesso à internet. Disponível em: https://www.gov.br/mcom/
pt-br/noticias/2021/abril/pesquisa-mostra-que-82-7-dos-domicilios-brasileiros-
tem-acesso-a-internet. Acesso em: 15 nov. 2021.
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educa.ibge.gov.br/jovens/materias-especiais/20787-uso-de-internet-televisao-
e-celular-no-brasil.html. Acesso em: 02 dez. 2021.
sumário 24
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Do Tradicional ao digital. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.
NEWELL, Jay; SALMON, Charles T.; CHANG, Susan. The Hidden History
of Product Placement. Journal of Broadcasting & Electronic Media.
50(4). p. 575-594. 2006. Disponível em: https://www.researchgate.net/
publication/250309858_The_Hidden_History_of_Product_Placement.
Acesso em: 2 dez. 2021.
RIBARIC, Marcelo Eduardo. A evolução dos conceitos de product
placement nas produções audiovisuais. Comunicação & Inovação,
PPGCOM/USCS, v. 20, n. 42, p. 22-35, jan./abr. 2019. Disponível em:
https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_comunicacao_inovacao/article/
view/5370 . Acesso em 02 dez. 2021.
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North Mankato: Capstone, 2017.
VIANA, Pablo Moreno Fernandes. Do Product Placement ao Branded
Content: uma revisão bibliográfica a partir da base de dados Scopus. In:
CongressoBrasileiro de Ciências da Comunicação XXXIX, 2016, São Paulo.
Anais. São Paulo. p. 1-14.
sumário 25
2
Capítulo 2
Bruno Pompeu
Bruno Pompeu
A apoteose mascarada
das marcas no carnaval:
uma reflexão a partir
dos desfiles das escolas
de samba do Rio de Janeiro
DOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95552.2
INTRODUÇÃO
Quando se diz que marcas estão por toda parte, quase sempre
fazendo alusão à sua crescente e inegável importância nas sociedades
contemporâneas assinaladas pela transversalidade do consumo, está
se fazendo um raciocínio metonímico. Tomam-se por marca, a rigor,
suas expressividades identitárias – logo, nome, cores, símbolos etc.,
como ensina Perez (2004) –, os seus produtos – o que pode existir nes-
te mundo de hoje que não seja fabricado e vendido por uma empresa e
que não tenha uma marca? – e, mais do que tudo, a publicidade. Mar-
cas são entidades de natureza simbólica, existem, portanto, na cultura,
no imaginário, na memória, nessa dimensão abstrata maior em que re-
sidem todos os significados, sentidos e valores que parametrizam nos-
sa vida e nos definem como seres humanos. No cotidiano, na concre-
tude da vida, na dimensão matérica da existência, estão as fachadas
das lojas com seus letreiros chamativos, as vitrines repletas de roupas
e sapatos, os supermercados, as lojinhas, os shoppings, os armários e
sumário 27
as estantes cheios de latas de sardinha, garrafas de refrigerante, fras-
cos de xampu, eletroeletrônicos e livros. E está também a publicidade.
Sendo o discurso predominante na sociedade contemporânea, por ser
o discurso por excelência do consumo, a publicidade, sim, está por
toda parte. Não somente como placas de outdoors, banners inseridos
em sites e apps ou anúncios interrompendo filmes, séries e novelas,
mas principalmente como lógica estruturante (POMPEU, 2021) – como
visão de mundo que define padrões estéticos, comportamentos, práti-
cas, atitudes, relações e valores.
sumário 28
de samba – assim como os eventos esportivos, os festivais musicais e
outras festas populares – já faz tempo que são transmitidos midiatica-
mente ao mundo inteiro.
sumário 29
Do batuque às escolas de samba, de J. Muniz Jr. (1976), As escolas de
samba do Rio de Janeiro, de Sérgio Cabral (1996) e Pra tudo começar
na quinta-feira, de Luiz Antonio Simas e Fábio Fabato (2015), são al-
guns dos livros que podem guiar esse percurso de entendimento do
que são as escolas de samba e do que representam os desfiles carna-
valescos. Isso sem falar em Malandros, carnavais e heróis, de Roberto
DaMatta (1997), que dá ao desfile das escolas de samba a abordagem
sociológica densa e profunda que ele merece.
Por ora, para nossos objetivos restritos deste texto, vamos nos
ater à história da presença das marcas nesses desfiles.
sumário 30
Mas pode ter marca no desfile? Não. Assim como também não
pode ter “genitália desnuda”. O regulamento dos desfiles das escolas
de samba do Rio de Janeiro é um documento dinâmico, que muda de
ano para ano – incorporando inovações, promovendo ajustes etc. –, mas
que se sustenta em regras geralmente estáveis. Uma delas, talvez a
mais famosa, diz que as escolas de samba têm a obrigação de “impedir
a apresentação de pessoas que estejam com a genitália à mostra, de-
corada e/ou pintada” (LIESA, 2020). Foi criada como punição e antídoto,
depois que esparadrapos mal colados e espíritos mais libertos resulta-
ram em nudez total em plena avenida. E está no mesmo rol de obriga-
ções e proibições em que se lê: “não utilizar, distribuir ou apresentar-se
com qualquer tipo de ‘merchandising’ (implícito ou explícito) em Enredo,
Alegorias, Adereços, Alas, Destaques, Samba-Enredo ou quaisquer ou-
tros meios” (idem). O aspecto moral que assemelha nudez e publicidade
fica para outro texto, por mais irresistível que seja pensar no quanto a
presença de marcas em dado ensejo possa ser comparada à mácula
provocada pelos corpos expostos na sua totalidade. De qualquer forma,
o uso das palavras “merchandising” e “meio” no citado regulamento
não deixa dúvida: está-se falando da presença de marcas e de esforços
publicitários nos elementos constitutivos dos desfiles.
sumário 31
análogas, tendo por trás marcas igualmente competidoras, ambas
com as mesmas intenções: alcançar visibilidade por meio do desfile
das escolas de samba. Mas o que poderia ter sido feito para que essas
marcas pudessem aparecer nos desfiles das suas respectivas escolas
sem infringir o regulamento?
5 Autores do samba-enredo: Wilsinho Paz, Elcy, Gil das Flores, Alexandre Moraes, Tamir,
Tom-Tom e Igor Leal
6 Autores do samba-enredo: Leonel, Luizinho Professor, Serginho 20, Sidney Sã, Claudinho
e Nêgo.
7 “Academia do Samba” é como a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro também é
conhecida.
sumário 32
próprio nome da empresa, na palavra “tamanho”, através das suas
três primeiras letras.
sumário 33
CONSUMO, MARCAS E CARNAVAL
sumário 34
Todavia, com esse tipo de proibição – que mistura aspectos téc-
nicos (regulamento), comerciais (patrocínio) e morais (a presença de
marcas macularia a originalidade ou a pureza do desfile, comprome-
teria sua essência popular, algo nessa linha) –, uma série de questões
pode ser aventada. Primeiro, se faz sentido conceber uma manifesta-
ção como os desfiles das escolas de samba, especialmente no que
diz respeito aos conteúdos que promove, expressa e veicula, comple-
tamente apartada do universo do consumo e das marcas. Se, por um
lado, marcas são entidades alicerçadas no tecido econômico e, por
isso, sua aparição nos desfiles possa ou deva ser limitada; por outro,
sua natureza simbólica as insere diretamente no tecido cultural, sendo
a rigor potentes núcleos de sentidos e valores, portanto com plenas
potências de conexão com o universo carnavalesco. Sendo os desfiles
uma clara expressão da cultura de um povo – sem que seja possível
aqui abrir discussão sobre cultura popular ou cultura de massa (MO-
RIN, 2018; EAGLETON, 2011; SANTAELLA, 2003, entre tantos outros)
–, as marcas talvez pudessem, sim, estar presentes no panorama dos
conteúdos dos enredos dos desfiles das escolas de samba.
sumário 35
A publicidade é uma narrativa que dá forma e concretiza diver-
sas linguagens, valores e imagens, elaborando representações
coletivas e identidades, papéis sociais e estilos de vida, desejos
e subjetividades, através de um incansável universo simbólico
que sustenta nossa cultura material transformada em bens de
consumo (ROCHA; PEREIRA, 2013, p. 42).
sumário 36
mais variados – cidades do mundo inteiro, espaços públicos ou pri-
vados, cenas do cotidiano – sem marcas? Mais do que isso: se todas
essas situações que acabam servindo de base de ideias e imaginários
também para os desfiles carnavalescos já estão há décadas impreg-
nadas pelo consumo – ruas com fachadas de lojas, casas cheias de
aparelhos, cidades recobertas de anúncios, pessoas vestidas com
roupas de grife –, pode fazer sentido pensar que as marcas devam
estar apartadas de tudo isso?
sumário 37
publicidade – a não ser o conteúdo dos enredos e a plástica dos des-
files propriamente, que seguem ingênua ou cinicamente apartados
disso tudo. É como se, na passarela do samba, passistas, ritmistas,
destaques, mestres-salas e porta-bandeiras, desfilantes em geral,
devidamente fantasiados, ou seja, investidos dos sentidos carnava-
lescos e carnavalizados, não pudessem se contaminar com o mundo
das marcas e do consumo. Cria-se um simulacro de cultura imune
aos poderes do capital, uma utopia festiva ilusoriamente livre dos
tentáculos do mercado, mas que não faz uma coisa nem outra. Não
se tem, de fato, uma produção cultural ou uma expressão artística ge-
nuinamente desprendidas da lógica capitalista – até porque isso é da
ordem do impossível em nosso contexto atual, mas também porque
todo o espetáculo se sustenta, como se sabe, em questões econômi-
cas e comerciais –; tampouco se permite que a presença efetiva das
marcas possa contribuir de forma mais direta no espetáculo – não
somente no que diz respeito a aportes financeiros (isso já se tem),
mas principalmente na sua dimensão simbólica, na produção, na im-
plicação e na transformação dos sentidos associados às escolas de
samba e às suas comunidades.
sumário 38
REFERÊNCIAS
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Gryphus, 2003.
AUGRAS, Monique. O Brasil do samba-enredo. Rio de Janeiro: FGV, 1998.
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Rio de Janeiro: FGV, 2006.
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BATEY, Mark. O significado da marca: como as marcas ganham vida na
mente dos consumidores. Rio de Janeiro: Best Business, 2010.
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Lumiar, 1996.
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DINIZ, Alan; MEDEIROS, Alexandre; FABATO, Fábio. As três irmãs. Rio de
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Paulo: CBPC, 2008.
IASBECK, Luiz Carlos. A arte dos slogans. São Paulo: Annablume, 2002.
sumário 39
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LINDSTROM, Martin. Brandsense. Porto Alegre: Bookman, 2012.
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MELLO, Marcelo de. O enredo do meu samba. Rio de Janeiro: Record, 2015.
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POMPEU, Bruno. De onde vem, onde está e para onde vai a publicidade?.
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sumário 40
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SIMAS, Luiz Antonio; FABATO, Fábio. Pra tudo começar na quinta-feira: o
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Palhoça: Unisul, 2012.
SPINOLA, Marly. Tijuca!!!: não é segredo eu amar você. Rio de Janeiro:
Spinola, 2012.
TRINDADE, Eneus; FERNANDES, Mario L.; LACERDA, Juciano S. (orgs.).
Entre comunicação e mediações. São Paulo: ECA-USP, 2019.
sumário 41
3
Capítulo 3
DOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95552.3
INTRODUÇÃO
sumário 43
PUBLICIDADE E BRANDED CONTENT
sumário 44
apresentando visando sua permanência midiática. A publicidade, um
dos diversos fluxos comunicacionais presentes no sistema midiático,
se torna onipresente e, conforme o autor analisa, não há como o indi-
víduo contemporâneo evitar.
sumário 45
contemporâneos. A publicidade não é mais simplesmente um
anúncio inserido no intervalo comercial. Além disso, quando as
marcas se inserem nos conteúdos de mídia, é demandado de-
las, por parte das audiências, uma inserção cada vez mais sutil,
contextualizada, de conteúdo e que não interrompa sua expe-
riência. (VIANA, 2016, p. 13).
9 https://www.potterybarn.com/shop/new/friends-tv-pottery-barn/?cm_re=hpbanner12-_-
-default-_-friends&isx=0.0.868
sumário 46
Figura 1 - Marca Pottery Barn em episódio da série Friends.
sumário 47
Assim, aprofundar o branded content dentro de estratégias
mais amplas das marcas foi o que motivou a escolha de analisar o
embate da Coca-Cola e Pepsi. Mas, antes de trazer o caso estudado,
é necessário o contexto mais amplo sobre o marketing dessas duas
grandes organizações.
sumário 48
Um dos locais em que essa disputa se destaca é no evento es-
portivo Super Bowl. O primeiro episódio aconteceu em 1995 com o co-
mercial da Pepsi no qual dois motoristas de caminhão – um da própria
marca e um da Coca-Cola – estão sentados lado a lado em uma lancho-
nete (figura 2). E os dois passam a trocar as latas de refrigerante até de-
terminado momento que o motorista da Cola-Cola não devolve a Pepsi.
sumário 49
Figura 3 - Comercial Pepsi de 2020.
COCA-COLA E PEPSI
NO FILME YESTERDAY
sumário 50
Figura 4 - Cartaz de estreia do filme Yesterday.
sumário 51
Antes do enfoque na guerra das colas no filme, importante con-
textualizar que, no total, aproximadamente 32 marcas aparecem ao
longo a história. Tais como: Corn flakes, Mentos, Avis, Hertz, Red Label,
Universal, entre outras. A grande maioria, 28 delas aparecem na trama
após o “apagão” que faz os Beatles desaparecerem.
- Mãe entra com uma Pepsi na Mão: Esses papéis não vão mar-
car a parede?
- Mãe: O que?
- Protagonista: “Coca-cola”
- Mãe: Não sei do que está falando. Desça se estiver com fome.
sumário 52
Figura 5 - Coca-Cola na cena do filme Yesterday.
sumário 53
Em 32 segundos as duas marcas aparecem com grande ênfase.
A Pepsi como vencedora de uma batalha, pois não desapareceu. E sua
imagem é a que é mostrada no filme. Já a Coca-Cola como a marca
que desparece. Embora tenha acontecido o mesmo com o Beatles. Vi-
sualmente o refrigerante não aparece, mas seu nome é focado em uma
das cenas com grande destaque ao se buscar no Google (figura 7).
-Aeromoça: Como?
sumário 54
Figura 8 - Coca-Cola na cena do filme Yesterday.
sumário 55
Figura 9 - Pepsi na cena do filme Yesterday.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
sumário 56
A Pepsi também se vale do branded content visual. Já a Co-
ca-Cola não. Assim, podemos remeter a essa marca se valendo do
não dito. Orlandi (2001) deixou claro que a condição da linguagem é
a incompletude. Nem sujeitos, nem sentidos estão completos. Essa
incompletude atesta a abertura do simbólico, pois a falta também é
o lugar do possível (ORLANDI, 2001, p. 52). Dessa forma, na análise
realizada nesse artigo podemos visualizar o “não dito” operando de
forma estratégia acoplado ao branded content.
sumário 57
REFERÊNCIAS
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da publicidade. Galáxia (São Paulo, online), n. 45, set-dez, 207-222, 2020a.
CARRASCOZA, João. A publicidade sem caráter e a estética do velamento.
Rumores. n. 27, v. 14, jan- jun, 169-188, 2020b.
FRANÇA, Vera. Crítica e metacrítica: contribuição e responsabilidade das
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HORRIGAN, David. Branded Content: A new Model fordriving Tourism via
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sumário 58
4
Capítulo 4
Gisele Jordão
Gisele Jordão
Vera da Cunha Pasqualin
DOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95552.4
INTRODUÇÃO
sumário 60
A nós, o que mobiliza nosso interesse, é partir da observação
do consumo da arte na rua da cidade de São Paulo em contraponto (e
contraposição) ao consumo digital. Assim, optamos por analisar neste
artigo a experiência dos blocos de carnaval de rua da cidade de São
Paulo e as estratégias utilizadas pela plataforma de streaming10 Netflix.
sumário 61
com produções originais e e diferentes estratégias, cativa seu público que
fica mais e mais horas diante das telas, em múltiplos dispositivos.
sumário 62
Em uma sociedade estruturada pelas novas tecnologias com
uso e produção intensos de informações (características da contem-
poraneidade), a cultura, mais do que nunca, é um forte sistema simbó-
lico a permear as interações na sociedade global. Estamos, portanto,
quando observamos a cultura e seus produtos e serviços, examinando
bens simbólicos, carregados de imaterialidade e significados.
sumário 63
meios de comunicação como matéria-prima assim como as artes são,
também, uma forma de comunicação –, pode-se inferir que a apropria-
ção social das artes e seu consumo dependem diretamente de sua
mediação (JORDÃO, 2018).
sumário 64
A PLURALIDADE PAULISTANA
E O CARNAVAL DE RUA
sumário 65
Centro cultural da América Latina, São Paulo possui 101 mu-
seus, 282 salas de cinema, 146 bibliotecas e cerca de 40 cen-
tros culturais, além das inúmeras festas populares e feiras que
acontecem em suas ruas. Além disso, a cidade possui 182
teatros. São espaços para a montagem de espetáculos de
todas as linhas artísticas, que vão das superproduções dos
musicais da Broadway ao teatro de vanguarda (SÃO PAULO
TURISMO S/A, 2020).
sumário 66
parte, ao potencial de negócios gerado por um evento deste porte.
Além das empresas ligadas ao setor do turismo e da prefeitura da
cidade (que percebeu o incremento na arrecadação de impostos), as
marcas comerciais também viram no carnaval um ambiente favorável
para desenvolver suas estratégias de comunicação e marketing, como
veremos mais adiante neste artigo.
A TURMA DO SOFÁ
sumário 67
inclusive, do que está acontecendo do lado de fora de suas janelas, de
maneira síncrona com a realidade.
sumário 68
Mas foi nas redes sociais que a contraposição entre “ser folião
ou ser usuário de streaming” se evidenciou, revelando um perfil paulis-
tano que opta por aproveitar o feriado de carnaval em casa, no mesmo
momento em que as ruas da cidade estão tomadas por foliões. As
hashtags13#BlocoDoSofa e#BlocoNetflix desvelaram que uma prefe-
rência ou escolha está realmente em oposição à outra. Ao invés de
simplesmente postarem que não gostam de carnaval, alguns públicos-
-usuários de redes sociais optam por declarar sua preferência por estar
em casa e somam a isso a exposição de sua relação com a marca
Netflix. Por trás desta shashtags verificamos um posicionamento, uma
preferência, um gosto, uma marca de consumo.
sumário 69
O SOFÁ INVADE AS RUAS
Não raros são os casos daqueles que optam por brincar o car-
naval com a icônica máscara de Dalí e o macacão vermelho do “La
Casa de Papel”15. Ao escolher este personagem, o público-usuário da
Netflix vai brincar o carnaval expondo sua própria narrativa e identidade
e, por que não, marcando um posicionamento político, uma ideologia
presente, uma maneira de interagir com o mundo. É então possível
inferir que, sentado no sofá de casa, assistindo a uma série na Netflix,
14 Cosplay, contração de costume play, chega ao Japão a partir de 1980, tornando-se uma
prática expressiva entre os jovens urbanos. (NUNES, 2012, p. 82).
15 “La Casa de Papel” é um seriado produzido pela Netflix.
sumário 70
o folião identifica-se com a trama presente na sua tela ou com um
personagem específico da narrativa e revela seu posicionamento nos
blocos de rua. Mais que isso, o folião público-usuário transforma-se,
também, em peça publicitária a serviço de uma marca. Neste sentido,
García Canclini (2021, p. 153-154) sugere que:
Os benefícios crescentes obtidos por empresas de comunica-
ção (...) são alcançados, em grande parte, pela transação entre
o roubo de nossos dados quando usamos Netflix, Facebook e
outras plataformas de grande porte, e o que nos vendem em
troca: diferentemente do marketing cultural e das pesquisas pú-
blicas do final do século passado, essa massa de informações e
seu tratamento algorítmico conferem às plataformas privilégios
para capturar subgrupos de públicos, assim como sua promis-
cuidade ou versatilidade, aumentando a dependência do nosso
consumo de ofertas transnacionais (GARCÍA CANCLINI, 2021,
p. 153-154).
sumário 71
Neste panorama, podemos sugerir que em São Paulo cabe
tudo, inclusive o público que, embora aprecie o conforto de seu sofá,
também pode consumir a cidade durante o período festivo e afirmar
que as lógicas de consumo cultural não são estáticas e se retroali-
mentam constantemente, provocando hibridizações e convergências,
a supracitada promiscuidade do consumo entre os públicos-usuários.
sumário 72
Os perfis da Netflix no Twitter, Facebook, Instagram e TikTok uti-
lizam uma linguagem que imprime proximidade ao seu público, como
se fosse mais um colega a socializar e, desta forma, promove o en-
gajamento de seus seguidores, oferecendo conteúdos relacionados
às produções próprias em seu catálogo. Em seu canal no YouTube, a
Netflix Brasil produz peças publicitárias de suas séries, direcionadas
especificamente para o público brasileiro, utilizando a festa popular
como oportunidade para estas narrativas comerciais.
sumário 73
2. “Maratonei” – Samba enredo Valéria Valenssa e Nação Marato-
nense18
sumário 74
para acolhê-los. Mesmo que o espectador opte por sair de casa para
pular carnaval, a marca evidencia a sua compreensão e oferece o con-
forto psicológico ao reforçar que estará ali, em casa, disponível para
satisfazer seus desejos de consumo de entretenimento doméstico.
sumário 75
Marcelo Eduardo Ribaric (2019) apresenta um histórico do con-
ceito de Product Placement nas últimas duas décadas. Para refletir
sobre as relações entre cultura popular e produções midiáticas, nos
interessa, particularmente, quando Ribaric traz a definição de Gino-
sare Levi-Faur (2010, p. 467), dizendo que “o Product Placement é a
incorporação intencional de conteúdo comercial em ambientes não
comerciais, ou seja, um plug de produto gerado por meio da fusão de
publicidade e entretenimento.” (RIBARIC, 2019, p. 29).
sumário 76
Ribaric (2019, p. 31) afirma que “a principal premissa do pro-
duct placement é retratar a realidade, portanto, sua função-chave é
integrar-se à narrativa da forma mais perfeita possível.” E foi o que
encontramos no episódio analisado, que trabalha com emoção, afeto,
representação e identidade. A Netflix Brasil optou por divulgar o trecho
que nos interessa também em seu canal de YouTube, explorando a per-
formance de Liniker com o bloco Ilú Obá de Mim21 e, mais uma vez, ex-
plorando os vínculos com seu público e despertando o interesse para
a sua série original. A produção da Netflix, ao incluir tal performance na
sua trama do seriado “3%”, não pode ser considerada uma estratégia
puramente publicitária para vender o carnaval ou especificamente esta
manifestação cultural. No entanto, se pensarmos a festa carnavalesca
como um produto da cultura popular e que gera tantos negócios e
bens simbólicos, é possível inferir que a narrativa do produto de entre-
tenimento auxilia o estímulo a outro produto de entretenimento: a expe-
riência do bloco de rua. Ainda, em tempo, em nossa observação, vale
a sugestão de que a associação com signos e significados brasileiros
reitera a produção como brasileira e, portanto, identitária.22
sumário 77
exerce seu poder de escolha com base em seu gosto, em seu humor
momentâneo e, de forma inconsciente, nos algoritmos e nas peças
publicitárias aos quais foi exposto. Da mesma forma, quando chega fe-
vereiro e a cidade pulsa cheia de opções de variados estilos de blocos
carnavalescos, este público-usuário-difusor é novamente convocado
a fazer suas seleções. Agora, em espaço público, não apenas opta
pelo bloco que vai satisfazer seus desejos, mas também como irá se
expor, se identificar, se posicionar e, também, difundir marcas e valores
empresariais.
sumário 78
na trama ficcional para pertencer ao seleto grupo dos três por cento
que alcançarão o Mar alto. Além disso, quem assiste à série “3%” pode
se sentir instigado a participar do carnaval de rua ou, especificamente
do bloco Ilú Obá de Mim, onde se sentirá, mesmo que de maneira
inconsciente, fortalecido pela sua representação. Em contraposição à
isso, este mesmo público-usuário-difusor pode diminuir distâncias afe-
tivas em relação à produção brasileira por, justamente, já ser um folião
que reconhece a importância histórica do Ilú Obá de Mim ou a força de
representação de Liniker.
CONCLUSÕES
sumário 79
comunicação das empresas. Agora, o público-usuário também pode
ser convencido por suas estratégias de Product Placement e Branded
Content a tornar-se uma peça publicitária para a empresa, emergindo
no papel de público-usuário-difusor.
Talvez a Netflix seja como São Paulo; fluida, lisa (HAN, 2019),
onde cabe tudo e todos os tipos de consumo são possíveis. Seja na
escolha de um bloco carnavalesco para brincar ou de uma série para
maratonar, o público-usuário-difusor paulistano encontra lugar nos es-
paços urbanos e domésticos. Porém, a questão agora é compreender
como o incluir (ou permitir que ele mesmo se inclua) nas narrativas co-
merciais telemidiáticas e qual moral precisaremos construir para isso.
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sumário 82
5
Capítulo 5
Product placement :
marcas comerciais
num trecho de rizoma
literário
DOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95552.5
PRODUCT PLACEMENT:HOSPEDEIRO
DA PUBLICIDADE
sumário 84
quanto sincrônico, comprometido apenas como sua configuração ri-
zomática (DELEUZE; GUATTARI, 1995), pela qual apresentamos uma
bricolagem de células de exemplos de product literature colhidos por
pesquisa e de partículas de nossas lembranças – a memória indivi-
dual como um lugar contagiado pelas marcas comerciais com as
quais entramos em contato ao longo da vida. Em estudo anterior
sobre product placement como forma de presença e permanência
da publicidade no sistema midiático cotidiano (CARRASCOZA, 2020),
frisamos que a ação publicitária surgiu apoiada na lógica da inter-
rupção, incorporando-se nos mass media com um padrão discursivo
distinto, a fim de não ser confundida com o conteúdo informacional.
Depois, adotou outros dois estratagemas, o entranhamento – com a
inserção da mensagem persuasiva no interior da própria enunciação
do veículo – e a homocromia – por meio da qual a publicidade mime-
tiza formatos artísticos comunicacionais.
sumário 85
RAMAS DA PUBLICIDADE
NO RELVADO LITERÁRIO
Fonte:https://www.arteeblog.com/2019/08/analise-
da-pintura-de-edouard-manet-bar.html
sumário 86
Estudos nos mostram que as feições de várias esculturas de
Aleijadinho eram de figuras célebres em sua época, não como forma
de homenagem a elas, mas como crítica às suas condutas. O poeta
Tomás Antônio Gonzaga, em Cartas Chilenas, de 1789, ridicularizava o
governador de Vila Rica, Luís da Cunha Meneses, consubstanciando-o
nos traços do personagem Fanfarrão Minésio.
sumário 87
Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra,
Ao luar e ao sonho, na estrada deserta,
Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco
Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça,
Que sigo por outra estrada, por outro sonho, por outro mundo,
Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra a que ir ter,
Que sigo, e que mais haverá em seguir se-
não não parar, mas seguir?
sumário 88
Bandeira, noutro poema, “Balada das três mulheres do sabone-
te Araxá”, faz menção a um famoso sabonete, à época reconhecível
pelo trio de moças em seu rótulo:
As três mulheres do sabonete Araxá me invocam, me boulever-
sam, me hipnotizam.
Oh, as três mulheres do sabonete Araxá às 4 horas da tarde!
O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!
Que outros, não eu, a pedra cortem
Para brutais vos adorarem,
Ó brancaranas azedas,
Mulatas cor da lua vêm saindo cor de prata
Ou celestes africanas:
Que eu vivo, padeço e morro só pelas três mulheres
do sabonete Araxá!
São amigas, são irmãs, são amantes as três mulheres
do sabonete Araxá?
São prostitutas, são declamadoras, são acrobatas?
São as três Marias?
Meu Deus, serão as três Marias?
A mais nua é doirada borboleta.
Se a segunda casasse, eu ficava safado da vida,
dava pra beber e nunca mais telefonava.
Mas se a terceira morresse… Oh, então, nunca
mais a minha vida outrora teria sido um festim!
sumário 89
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia.
sumário 90
O segmento de medicamentos também foi explorado por Pig-
natari (2004, p. 175), ao elaborar um poema explicitando, por meio da
fusão e confusão de palavras, o efeito do remédio, Disenfórmio.
sumário 91
Figura 2 - Poema Gente, Arnaldo Antunes (2011).
sumário 92
presente no clássico longa-metragem dirigido por Ridley Scott, basea-
do no romance distópico de Philip K. Dick, Os andróides sonham com
ovelhas elétricas (2017).
sumário 93
Fuscão preto, você é feito de aço
Fez o meu peito em pedaço
Também aprendeu a matar
sumário 94
Caetano Veloso, em “Baby” (1968), como Álvaro de Campos
(Pessoa) com a tabacaria e João Cabral de Melo Neto com a aspirina,
não especifica a marca do anunciante, mas enuncia o novo produto,
concorrente da manteiga:
Você precisa saber da piscina
da margarina, da Carolina, da gasolina
Já Tom Zé, nos versos da canção “Zé a zero” (2013), não deixa
de zombar, na linhagem de Décio Pignatari, da Coca-Cola:
Mas será revolução?
Pocalipse se pá?
Quando ligo na tv
Caio duro no sofá
Ô rapá, qualé que é?
sumário 95
A copa aqui co qui calé?
É coco colá
Aqui copa coca acolá
Fazendo propaganda do tom zé30
Seu americanizado
Quer bancar Carmen Miranda
Rebentou o botão da calça
Tio Sam baixou em sampa
sumário 96
Traidor, mudou de lado
Corrompido, mentiroso
Seu sorriso engarrafado
31
sumário 97
— Folhas anti-sépticas, inverno com saúde, grande higiene.
Puxa um machado e bate no estômago do eucalipto sem se
importar com nada.
sumário 98
Admira-nos que nenhuma indústria farmacêutica, até o momen-
to, um século depois da publicação de Memórias póstumas de Brás
Cubas, tenha se dignado a produzir, inspirada no romance de Macha-
do de Assis (2014), o Emplastro Brás Cubas – o que seria um marcante
(senão polêmico) reverse placement. Um rival à altura do Emplastro
Sabiá, que canta nas farmácias do Brasil afora, e mesmo do popularís-
simo Emplastro Salompas.
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/123356477263831081/
sumário 99
Figura 5 - Restaurante Bubba Gump
Fonte: https://www.tripadvisor.com.br/Restaurant_Review-g297697-d1473560-
Reviews-Bubba_Gump_Shrimp_Co-Kuta_Kuta_District_Bali.html
Fonte: https://gramho.com/explore-hashtag/chocolateswonka
sumário 100
De volta à Cortázar (2002), em “Auto-estrada do sul”, o escritor
argentino leva para esta rodovia “literária” diversas marcas de auto-
móvel, ao narrar um congestionamento gigante. Os personagens do
conto são reconhecidos pelos seus carros: a moça do Dauphine, o
engenheiro do Peugeot 404, o homem do Caravelle, os dois moços
do Simca, o casal de velhos do ID Citroen, e, assim, todos que estão
confinados na estrada e na história.
sumário 101
Assim, cita, numa única sequência narrativa, o que costuma
acontecer em filmes de longa-metragem, um conjunto de marcas,
não apenas nomeando-as, mas com seus respectivos apelos e slo-
gans: Cerebrino Madri (“se você sofre de enxaquecas e nevralgias”),
Gabardinas Tobías Fabregat (“elegância e conforto a prazo e à vista”),
Luis Griera (“buquês para noivas”), C. Borja (“forra botões na hora”),
Bela Aurora (“juventude, beleza e viço... todo dia”). O narrador não
deixe de partilhar conosco como concebe, com certa razão, a retórica
publicitária e seus pregões (“blá, blá, blá”; “proibidas a blasfêmia e a
linguagem vulgar”), algo que, no entanto, o product placement, com
a artimanha do entranhamento e da homocromia, tenta amenizar es-
pecialmente em episódios de ficção audiovisual seriada, acendendo
apenas a marca dentro da cena.
sumário 102
O auto-product displacement de Ringo, os nove dedos, transfor-
ma-se num inusitado product placement: “DOMINGO KID, O GRANDE
PIANISTA DE 9 DEDOS”.
sumário 103
E não apenas os esforços discursivos publicitários são critica-
dos neste livro, mas também aspectos de seu campo laboral. Em cer-
to momento, Beto “estava tendo que aguentar um publicitário com o
seu palavrório pedante” (TRUEBA, 2017, p. 111). Em outro, conhece
Anabel, a quem ele descreve como “proprietária de um enorme apar-
tamento no Ensanche, comprado sem lucrativos anos dedicados à pu-
blicidade” (TRUEBA, 2017. p. 107).
sumário 104
Pelas dezenas de mini-contos do livro Nem vem, da norte-ame-
ricana Lydia Davis (2017), desfilam uma miscelânea de marcas, como
Band-Aid, Mercedes, o jornal Times (como em Pessoa), Coca-Cola
(certamente a campeã de product literature não poderia faltar), Oxford
(editora) etc. etc.
- Drummond, entre!
sumário 105
Figura 7 - Automóvel Lada Laika
Fonte: http://um.auto.sina.com.cn/news/2014-05-16/06586755.shtml
sumário 106
reproduzido integralmente a seguir, é que desperta, neste nosso estu-
do, a maior atenção:
Lirika® é um remédio contra fibromialgia que a minha mãe toma
todas as noites (antes de dormir) quando está em período de
crise. A fibromialgia é uma espécie de reumatismo – só que
dos músculos, tendões e ligamentos – e causa dor, fadiga, in-
disposição, dentre outros sintomas. Além de tomar o Lirika®
(todas as noites) antes de dormir, a minha mãe faz três sessões
de fisioterapia por semana, o que ajuda a diminuir bastante a
dor, afirma convicta. O Lirika® é fabricado pela Pfizer, empresa
do ramo farmacêutico responsável por arrematar a maior fatia
do mercado de medicamentos para o coração: o Norvasc, por
exemplo, que a minha mãe também toma (todas as noites antes
de dormir), é, sem dúvida, o mais vendido para pressão alta. De
origem norte-americana, a Pfizer tornou-se conhecida em todo
o mundo pela fabricação do Viagra, que, por incompatibilidade
de gênero, claro, a minha mãe não toma.
sumário 107
repertório coletivo, ou mesmo uma marca de medicamento, mesmo sem
a intenção de louvá-lo, apenas por sua aderência ao nosso dizer e útil
ao contexto narrativo, como no caso do poema de Érica Zingano, ainda
assim, queiramos ou não, estamos acendendo na memória social, e
colocando na malha discursiva que entrelaça a cultura, o conteúdo (“em
estado do dicionário”) do enunciado gerador de nossa citação.
Daí porque a poeta diz que a sua intenção era “fazer uma sin-
gela homenagem aos hábitos medicamentosos de sua mãe” e não
a propaganda da indústria farmacêutica Pfizer (que fabrica Lirika®,
Norvasc e Viagra) o que, no entanto, ela o faz, na opinião de quem a
critica. Convém ressaltar que, na nota explicativa pós-poema, a auto-
ra menciona onde obteve as informações sobre os remédios citados
em seus versos, o Google Inc. De igual modo, seja ato voluntário ou
não, uma vez fiel à necessidade de dar crédito à sua fonte, ela põe
inevitavelmente “no ar”, por meio de sua enunciação, o referido site
(reforçando o seu “poder” de apresentar resultados, em detrimento de
outros buscadores).
sumário 108
Se a citação é implícita, portanto, na forma de paródia ou pará-
frase, a potência de seu efeito é diretamente proporcional ao conhe-
cimento que dela tem o enunciatário, que a registra (e a compreende)
como nó no rizoma textual do qual faz parte. Não é por acaso que os
memes se reproduzem aos borbotões nas redes sociais. Mas, vale
lembrar que, mobilizando uma frase ou imagem, por exemplo, de um
político, na elaboração de um meme, a favor ou contra ele, a sua pre-
sença está “viva” no enunciado.
sumário 109
book
só não confunda
com o são pedro
cópia barata
não presta
por isso tenho fresh in vittro
cúpula transparente
já vem com medidor
sem surpresas
ainda esteriliza
alcaliniza
ioniza
e introduz vibrações positivas
na água que a gente bebe
porque tem amor e gratidão
escritos à mão no barro (MOLINERO, 2020, p. 27).
sumário 110
imenso solo literário universal, de cuja grama extraímos, para demons-
trar aqui, uma ramagem minúscula de seu viveiro em permanente ex-
pansão. Nas páginas de obras clássicas e contemporâneas, em espe-
cial por entranhamento, produtos e nomes de empresas se instalam,
fazendo de romances, contos, poemas, entre outros gêneros literários,
seus hospedeiros vitalícios – posto que, uma vez gravados no texto,
na condição latente de um dito, estarão ali, para sempre, à espera de
quem, pela leitura, os faça de fato “dizer”.
sumário 111
Como as bactérias, mas também vírus, os placements vão se
espalhando, e, em meio à cultura midiática, a cultura das marcas se
entranha nas artes, integrando, como um novo órgão, o seu corpo.
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VELOSO Caetano. Superbacana. Rio de Janeiro. Philips Records: 1968. LP
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29 poetas hoje. São Paulo: Cia. das Letras, 2021.
sumário 113
Maria Cristina Dias Alves
Marcelo Eduardo Ribaric
6
Publicidade
e o product placement:
início, alguns meios e fins34
34 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho 7, Consumo, Literatura e Estéticas Midiá-
ticas, do 8º Encontro de GTs de Pós-Graduação - Comunicon, realizado de 13 a 15 de
outubro de 2021.
DOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95552.6
THE BEGINNING
A publicidade assume diferentes formas para se manter próxima
de seus públicos, cada vez mais fragmentados e dispersos na rede, e
em momentos inesperados para que possa continuar a envolver com
imagens e sons, histórias nas quais produtos, serviços e marcas fazem
parte da vida de personagens: na literatura, no cinema, nas séries de
streaming, nos reality, nos games, nas músicas, nas animações, nas
lives e nos shows e clipes (ou a bateria da marca Yamaha pode ser
dissociada do baterista do Pearl Jam?).
sumário 115
OS MODOS DE CRIAR
sumário 116
Os jornais especializados no mercado publicitário também si-
nalizam a cobrança por mudanças nas agências, por parte de anun-
ciantes, alterações que ainda não suplantaram os procedimentos an-
teriores, entretanto, os tornaram mais complexos e produtivos, devido
à fragmentação de públicos e à mediação algorítmica. Movimento
amenizado parcialmente com a nova lei de proteção de dados e as
iniciativas como as da Google e da Apple35, entre outras, para garantir
mais privacidade de usuários e usuárias e que fizeram insurgir uma
crença de que a criatividade, mais do que o controle, será novamente
a alma do negócio das agências de publicidade, trazendo de volta as
boutiques de criação, cujo grande capital não é a tecnologia (tercei-
rizada, muitas vezes), mas a capacidade de ter ideias que mobilizem
multidões em prol da marca.
35 Apple e Google deixam os cookies de privacidade para trás; entenda. Com as mudan-
ças, as empresas estão exercendo um tipo de poder que normalmente apenas governos
possuem. Disponível em: http://einvestidor.estadao.com.br/negocios/apple-google-coo-
kies-publicidade. Acesso em: jan. 2022.
36 Apple e Google deixam os cookies de privacidade para trás; entenda. Com as mudan-
ças, as empresas estão exercendo um tipo de poder que normalmente apenas governos
possuem. Disponível em: http://einvestidor.estadao.com.br/negocios/apple-google-coo-
kies-publicidade. Acesso em: jan. 2022.
sumário 117
ocorria no século passado, ou seja, conteúdo produzido ou patrocina-
do pelas marcas, com o Repórter Esso ou o programa “Um milhão de
melodias”, da Rádio Nacional (figura 1) para a Coca-Cola ou ainda a
rádio novela patrocinada pela Colgate (figura 2).
sumário 118
FONTE: Disponível em: http://memoria.bn.br/
DocReader/348970_04/13450. Acesso em: jan. 2022.
sumário 119
Figura 3 – Conteúdo da Gillette sobre ginástica no jornal A Noite, 1940.
Sport Factor de saúde
Gymnastica
Gillette
sumário 120
Coca-Cola criado pela WMcCann em parceria com a Rede Globo.
Segundo os releases das empresas37 a ação envolveu “branded con-
tent, product placement, naming rights e a cobertura de 10 caravanas
promovidas pela Coca-Cola em todo o país”, ou seja, denominações
várias para ações de entretenimento criadas e produzidas pela marca.
Tanto que o case levou leão de ouro no Festival de Criatividade Cannes
Lions na categoria entretenimento.
OS MEIOS
sumário 121
controle sobre a mensagem e, das relações públicas, a cre-
dibilidade da informação, ao mesmo tempo em que evita as
principais desvantagens destas duas áreas da comunicação
– a falta de credibilidade da fonte de informação, no caso da
publicidade, e a quase ausência de capacidade de influência
sobre o conteúdo, forma e calendarização da mensagem, no
caso das relações públicas (RIBARIC, 2019, p. 23).
sumário 122
Figura 4 - Mosaico romano: publicidade da luta de gladiadores.
sumário 123
Segundo David Carlyon (2001), durante o período de pré-guerra
civil nos Estados Unidos, o artista Dan Rice, ao promover as turnês
de shows, andava pelas cidades cantando a tradicional Sing for your
supper, em que incluía os nomes de patrocinadores em seu número de
abertura. Algo parecido com o que ocorria na Grécia clássica, quando
músicos saiam pelas ruas das cidades cantando e, nas letras, anun-
ciavam leilões e produtos.
sumário 124
Outros fabricantes de cerveja também abordaram o ilustrador
para solicitar a inclusão de suas marcas em desenhos futuros (WICKE,
1988). Jane Austen, por sua vez, citou várias vezes a marca do piano
forte Broadwood, da heroína Emma, no livro de mesmo nome.
sumário 125
Figura 8 -Fotograma do filme Défilé du 8ème Bataillon.
sumário 126
Figura 9 - Fotograma do filme Wings.
sumário 127
De acordo com AMA, American Marketing Association (1995),
trata-se da colocação estratégica de mensagens no ponto de venda,
com o objetivo de atrair e conduzir consumidores em suas jornadas,
desde a entrada (e também na parte externa do ponto de venda),
até à exposição sedutora dos produtos nas gôndolas ou prateleiras,
levando à compra. Definição semelhante feita pela Popai Brasil, se-
gundo Blessa (2003): “Conjunto de atividades desenvolvidas em um
canal de vendas, visando chamar a atenção do consumidor para um
determinado produto impulsioná-lo à compra”. Apesar da diversida-
de de ações que o termo abarca, todas resultam em estratégias de
comunicação relacionadas à presença de produtos no ponto de ven-
da físico (atualmente, também virtuais, devido às ações de e-com-
merce) para promover a venda.
sumário 128
Realizamos uma revisão bibliográfica do uso do termo pro-
duct placement (RIBARIC, 2019) e concluímos que essas ações po-
dem ser classificadas independentemente do tipo de mídia, já que
a principal premissa desse formato publicitário é “retratar a reali-
dade” ou seja incorporar-se às narrativas, fazer parte de histórias,
sejam filmes, seriados, games, música, depoimentos de influencers
entre outras formas de manifestação. Ainda que o objetivo seja a
venda, há contextos comerciais e não comerciais (idem, p. 31) em
que o formato não só aparece como se propaga pelas mãos de
consumidores-mídia (ALVES, 2016).
ALGUNS PROCESSOS
sumário 129
Bráulio Mantovani e, enfim, na cena (descrita aqui) dirigida por Fernan-
do Meirelles.39
No livro:
No roteiro:
BUSCA-PÉ (V.O.)
sumário 130
Podemos observar que, no livro, os personagens dividem uma
Coca-Cola, produto que não aparece no roteiro. Neste, por outro lado,
a caixa presenteia o personagem com um Sonho de Valsa. Entretan-
to, no filme (figuras 11 e 12) não aparecem nem a Coca-Cola, nem o
Sonho de Valsa: os dois personagens ficam à frente de um balcão em
que há um copo com uma bebida preta, que pode ser café ou mesmo
refrigerante. A balconista presenteia o personagem principal com uma
bala embrulhada em papel transparente e sem qualquer marca.
sumário 131
incerto. Outras vezes, se relaciona ao posicionamento estratégico e os
pontos de contato que desejam ter com consumidores e consumido-
ras, como ocorreu nas ações do BBB21, em que marcas se alinharam
às atitudes de participantes, mesmo em caso de “cancelamentos”, a
exemplo da Avon,40 que os transformou em ações estratégicas de re-
forço ao posicionamento inclusivo da marca.
THE END?
sumário 132
A segunda hipótese parecia a mais provável, o que nos motivou
a realizar uma pesquisa exploratória junto às agências, para que pu-
déssemos nos aproximar dos processos criativos envolvendo video-
clipes. A pesquisa não foi adiante, devido aos pouquíssimos retornos
por parte das agências, sendo que a WMcCann (em conjunto com
o anunciante) nos encaminhou as respostas em relação ao clipe da
Agnes Nunes, informando que a ideia foi iniciativa da própria agência:
não estava no briefing a solicitação de product placement. Entretanto,
a cantora é porta-voz da marca e “quando ela citou que seu videocli-
pe teria conexão com cabelo, vimos a oportunidade de incluir a linha
Elsève Longo dos Sonhos contextualizada da filmagem” (EQUIPE DE
CRIAÇÃO WMCCANN E L’OREAL).
sumário 133
Por isso, esse formato tem sido uma das estratégias publicitá-
rias mais comuns desde o século passado, em manifestações diver-
sas e em momentos inesperados, para que a publicidade possa estar
presente em interromper a audiência, cada vez mais fragmentada e
dispersa, envolvendo-a com imagens, comédias e tragédias, cheias
de som, fúria, produtos e marcas.
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sumário 135
7
Capítulo 7
#AvonTáOn:
o desafio do brand placement
e o branded content
da Avon no BBB21
DOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95552.7
De acordo com o discurso autor referencial da Avon43, a empre-
sa de mais de 130 anos e presente em mais de 100 países, tem como
horizonte o empoderamento de mulheres via inspiração, espírito em-
preendedor, independência financeira. A companhia, hoje, com mais
de seis milhões de representantes no mundo, se coloca à frente de
pautas como o envelhecimento, a luta contra o câncer de mama e a
violência de gênero, dando relevo à “autoestima e preservação da vida
de um número cada vez maior de pessoas”. Traduzindo em números,
atualmente, há 125 mil pessoas educadas sobre o câncer de mama,
25 mil sensibilizadas sobre violência doméstica e US$60 milhões inves-
tidos em programas de empoderamento.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=5XLXsndrVP8&t=44s
sumário 137
Na acepção de Domingues e Miranda (2018), ativismo pode ser
compreendido como o desejo pela transformação social. Tal acepção
proposta pelas autoras nos inclina a perceber a Avon como marca
institucional que vem empreendendo esforços no sentido de consoli-
dar-se como ativista. Não podemos nos esquivar do fato de que tais
posturas empresariais e mercadológicas também decorrem de uma
convocação dos consumidores para que as empresas se posicionem
ideologicamente frente às assimetrias econômicas e sociais. Já nos
colocava Canclini (2006, p. 29) que:
Homens e mulheres percebem que muitas das perguntas pró-
prias dos cidadãos – a que lugar pertenço e que direitos isso me
dá, como posso me informar, quem representa meus interesses
– recebem sua resposta mais através do consumo privado de
bens e dos meios de comunicação de massa do que pelas re-
gras abstratas da democracia ou pela participação coletiva em
espaços públicos.
sumário 138
De acordo com Semprini (2006), as marcas são compostas por
três dimensões: a semiótica, a relacional e a evolutiva. A semiótica refe-
re-se à capacidade de construir e de veicular significados via publicida-
de e/ou outros atos discursivos. A relacional diz respeito aos públicos de
interesse internos e externos da organização. Já a evolutiva é a parcela
considerada mais dinâmica e mutável da marca que objetiva deixá-la em
fina sintonia com as convocações da atualidade. A articulação cuidado-
sa entre estas três variáveis podem conferir plasticidade e longevidade
a uma marca; seja de forma institucional ou mercadológica.
sumário 139
A AVON NO BBB21
sumário 140
Os fluxos de produção movidos por estratégias da comunica-
ção publicitária em um reality show como o BBB, evidenciam que:
[...] a publicidade brasileira é reflexo e refração da cultura do
consumo na qual ela está inserida. Assim, ao mesmo tempo em
que a publicidade incorpora os elementos culturais para seus
fins comerciais, ela também é um meio de expressão que revela
o mosaico cultural de um país como o Brasil, onde o erudito e o
popular convergem (CARRASCOZA; SANTARELLI, 2011, p. 57).
45 Valor Econômico: BBB 21, O Laboratório das Marcas. Disponível em: https://valor.globo.
com/empresas/noticia/2021/05/07/bbb-21-o-laboratorio-das-marcas.ghtml. Acesso em:
15 jun. 2021.
sumário 141
Assim, a proposta do plano de ações da AVON foi desenvolvida
seguindo as lógicas de produção e narrativa publicitária a partir da
utilização da técnica de brand placement trabalhadas dialogicamente
com ações de branded content. Na medida em que para cada inserção
e participação das ações de product placement dentro do programa
BBB21 elas integravam outras ações com desdobramentos em múlti-
plas plataformas e meios de comunicação fora da casa. Raul Santah-
elena (2018), esclarece que o branded content, ou seja, conteúdo de
marca, consiste em ações de marketing que envolvem a produção ou
mesmo a distribuição de conteúdos de entretenimento, tendo como
objetivo principal fazer com que o público assimile a mensagem, os
atributos e os conceitos de forma leve e envolvente.
sumário 142
sucesso do BBB21 a estes aspectos e, na prática, experimentou os
bons resultados do borramento de fronteiras entre o físico e o digital.
Pautada por uma estratégia de comunicação 360º, que vai além da
TV, a AVON manteve conversas constantes nas plataformas de redes
sociais, relacionando tudo que acontecia na casa com seus produtos,
propósitos e causas. Pepe (2021) afirma que, para as linhas de pro-
dutos, foram criadas dinâmicas promocionais especiais, lançamento
de kits de produtos Avon BBB, com ativações promocionais no site e
concebidas estratégias direcionadas para a força de vendas.
sumário 143
ESTUDO DE CASO AVON: BRAND
PLACEMENT E BRANDED CONTENT
sumário 144
O diferencial para as marcas inseridas no corpo da história é se
afastar da interrupção provocada pelo intervalo. Pouco importa se a
marca será exibida ou verbalizada na história, ela deve estar inserida
no contexto que permite diferentes conteúdos a serem tratados e incor-
porados. Contudo, para isso, são necessários esforços concentrados
desde audiência, pesquisa, espaços, ambientes, verba para atingir os
resultados pretendidos das estratégias de comunicação e marketing.
47 https://avongroup.vteximg.com.br/arquivos/AVON_BLACK_PAPER2.pdf
sumário 145
Portanto, ao nosso ver, o mais relevante é observar as estraté-
gias dos anunciantes em participar ativamente do contexto de entrete-
nimento que pode ser observado em formatos diferentes que os apro-
xime da audiência, seja ela público-alvo ou público em potencial. Isso
justifica ainda mais o nosso olhar para as ações da Avon no BBB21.
A partir do discorrido neste tópico, notamos como é preciso entender
“investimento” como algo complexo, pois neste estudo de caso fica
evidente a necessidade de várias frentes para administração de recur-
sos (humanos, financeiros e de tempo), cobrindo os âmbitos institu-
cional e mercadológico. Desde pesquisa, passando pela mobilização
de equipes, até a cota Anjo efetivamente. De acordo com Keka Morele,
executiva-chefe da Wunderman, em entrevista ao Valor Econômico48, a
“agência mobilizou 82 pessoas para a campanha da Avon no BBB, 16
acompanhando o programa nas redes sociais 24 horas por dia durante
os últimos três meses”.
sumário 146
uma espécie de performance do resultado da dinâmica; com direito
a desfile e cliques para registrar a ocasião. Contudo, uma tensão foi
gerada pela percepção dos participantes de a performance ter sido
estereotipada. Essa discussão tornou-se pauta dentro e fora da casa,
mostrando que o assunto tinha uma amplitude maior. E a sensibiliza-
ção gerada espreitou o respeito às minorias, mais especificamente ao
universo LGBTQIA+, dando início ao caráter didático e social da AVON
na casa mais vigiada do Brasil. A seguir, na figura 1, partilhamos uma
imagem da ação de ativação.
sumário 147
a dimensão evolutiva da marca AVON a plenos pulmões. No BBB21,
para atualizar a percepção da marca de forma massiva, a AVON inseriu
a sua nova proposta na festa do BBB21, nominando-a mesma Olho no
Olho da Avon. A marca trouxe para a festa a cantora Daniela Mercury,
símbolo também da pauta LGBTQIA+.
sumário 148
executar em três etapas o passo a passo dos cuidados para uma pele
vitaminada a partir de produtos da categoria skincare: Água Micelar
Revitalizante com Vitamina B3 e Ácido Hialurônico, Renew Super Con-
centrado Antioxidante com Vitamina C e o lançamento do Renew Hydra
Pro Vita-D. Além da liderança e do prêmio de R$10 mil, o vencedor da
prova também recebeu R$2 mil em produtos da AVON. Vale observar
que na condição de uma prova exibida no programa ao vivo, realizada
sempre às quintas-feiras e com alto índice de audiência, a marca traça
objetivos que percorrem alavancar não só a imagem de marca. Pro-
cura, ainda, reforçar e promover a linha de produtos de cuidados da
pele com uma dinâmica de prova que favorecia comunicar e educar o
público sobre as características e atributos dos produtos AVON. Esta
ação teve desdobramentos para o público externo, através de ações
de promoção de vendas persuasivas, mobilizados por descontos e
promoções especiais que, através das tecnologias, disponibilizava QR
code na tela apresentado pelo Tiago Leifert para que o público aces-
sasse a promoção durante a execução da prova. Parte da ação pode
ser visualizada na figura 3 a seguir.
sumário 149
O Dia Internacional da Mulher, data que faz parte do calendá-
rio promocional do mercado mundial, muito explorado por diversos
segmentos no mercado brasileiro, também foi comemorado na edição
do BBB21, no dia 8 de março, endossado pela AVON. A celebração
contou com a participação inversa (de fora para dentro da casa) apre-
sentada pela ex-sister e campeã da edição 2020, Thelma Assis. A ação
teve como tema criativo “#OlhaPraEla” e compartilhou histórias de mu-
lheres que inspiravam os participantes, descrevendo mães e esposas
dos confinados, como sendo mulheres importantes na vida de cada
um dos brothers do BBB 21. Na mecânica, a ação é iniciada através
de um telão no jardim da casa (figura 4) em que Thelma explica que a
AVON trouxe uma surpresa: “o Dia Internacional da Mulher é de inte-
resse para todos nós. Então, eu trouxe aqui para vocês um momento
especial. Eu vou ler um trechinho de mulheres fortes que fazem parte
da vida de vocês”, disse ela.
sumário 150
sociais (figura 5), em que reconhece o papel da mulher todos os dias.
Ressaltando que a marca, só no Brasil, conta com mais de l,1 milhão
de revendedoras50, com a maior força de vendas direta do mundo.
Fonte: http://avonbrasil.avon.com/pub/sf/
sumário 151
plataformas digitais. Na rede social Instagram divulgou uma peça publi-
citária de lembrança, desenvolvida por uma execução criativa combina-
da de imagens, demonstração e venda direta. Assim, procura recuperar
todo o percurso da marca o centésimo dia, encerramento do programa.
sumário 152
anunciada como a nova embaixadora da marca de cosméticos Avon,
do grupo Natura & Co. Com esta estratégia de contratação a marca
fecha o seu ciclo endossando a diversidade na força da mulher nordes-
tina, visto que Juliette foi discriminada por um bom período na casa.
Com esta ação, a lógica de produção que envolve toda uma estratégia
de branded content e seus desdobramentos encerra a participação da
AVON no BBB21.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
sumário 153
para muito além de agora –, empenha-se pela relevância e conexão
assentadas cuidadosamente sobre os imperativos de cada época,
sobrepondo-se a estes, boa parte das vezes, ao lançar provocações
e colocar em curso novos embates. A publicidade contemporânea,
visceralmente, a partir de suas lógicas, estratégias e técnicas, põe em
jogo aspectos simbólicos em diferentes ambientes. Tais elementos nos
motivaram a colocar lentes nas técnicas publicitárias da atualidade.
sumário 154
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dez. 2021.
sumário 156
8
Capítulo 8
Rugosidade estética
e o product placement nas artes:
uma reflexão sobre o consumo
artista da reputação de marcas
DOI: 10.31560/pimentacultural/2022.95552.8
INTRODUÇÃO
52 Não inserimos aqui a análise de produções audiovisuais por já terem sido estudadas em
outros trabalhos e nos demais capítulos deste livro. As peças de teatro foram descartadas
porque as várias possibilidades de product placement exigiriam uma pesquisa exclusiva
e mais aprofundada.
sumário 158
campos da arte e como estes objetos empíricos são provenientes de
diferentes domínios de sensíveis (imagens, sons, escritura, instalações),
achamos relevante “retextualizá-los”, ou seja, tratamos de transpor, por
bricolagem, o product placement dos trabalhos artísticos para este texto
científico, para que pudéssemos propor um diálogo intertextual e realizar
a nossa reflexão (BETTETINI, 1996).
sumário 159
Segundo Plaza “cada sentido capta o real de forma diferen-
ciada” (PLAZA, 2003, p. 47). Em cada trabalho artístico, verificamos
como os sentidos do product placement foram captados pelo artista.
Observamos a estetização para percebermos como o consumo-artis-
ta confere forma às marcas ou produtos entranhados nas obras. Em
seguida, checamos quais foram os efeitos de sentido apropriados,
reproduzidos, deslocados e transmutados pelos artistas. Finalizando,
procuramos mostrar como aconteceu o consumo simbólico da reputa-
ção das marcas, expressas nas obras pela potencialização de afetos
e, assim, chegamos à rugosidade estética.
sumário 160
PRODUCT PLACEMENT E O CONSUMO
SIMBÓLICO DA REPUTAÇÃO DE MARCAS
sumário 161
e Peres-Neto (2019), a reputação exprime juízos de valor. A boa repu-
tação é adotada como finalidade pelos atores sociais para obtenção e
preservação de status e para incrementar a sua capacidade de influên-
cia, pela apropriação de crédito social e por meio do acúmulo de pres-
tígio. Daí toda a reputação opera como capital simbólico (BOURDIEU,
2012; 2013; 2017).
sumário 162
ter passado pela prática do julgar, seja de uma ação, uma atitu-
de ou o conjunto de atos e práticas dos variados atores sociais
(OSHIRO, 2016 p. 288).
sumário 163
meio social. A utilização de uma ou outra forma de expressão
depende do tipo de produto, de consumidor e dos objetivos
organizacionais (PEREZ, 2004, p. 47).
sumário 164
autor, o que mais importa na marca é o que o consumidor percebe. Há,
segundo Chetochine (1999), uma exigência do consumidor final sobre
a marca que, segundo a sua notoriedade, caracterizaria seu consumo
em três formas: como marca absoluta, como marca relativa e como
marca transparente (ou automática). Em outras palavras, a notorieda-
de da marca e, portanto, a sua reputação, geraria um diferencial co-
municativo, um valor agregado que representaria a força específica de
cada marca. A marca absoluta é a mais forte porque oferece, por meio
da sua reputação, uma responsividade imediata e absoluta a uma ne-
cessidade de segurança do consumidor no ato da compra. Na marca
relativa, o consumidor não busca por uma referência de marca em
particular, no entanto, precisa de uma resposta tranquilizadora para, no
ato de compra, optar por determinada marca e detrimento de uma con-
corrente. Já no caso do tipo transparente, a marca não interfere no ato
da compra, a escolha do consumidor é automática, mas dependente
das estratégias promocionais ditas de prateleira e presentes no local e
no ato de compra (CHETOCHINE, 1999).
sumário 165
Neste contexto da vida cotidiana, que não delimita fronteiras para
o consumo, é que surge, o fenômeno do product placement. Grosso
modo, product placement seria a prática de inserção, inclusão, ou in-
corporação de marcas, ou de produtos em contextos diversos, para
além dos tradicionais anúncios publicitários. Marcelo Ribaric (2019),
ao realizar uma pesquisa sobre a evolução do conceito de product
placement, afirma que:
Como o próprio nome diz Product ou Brand Placement, é a
colocação de produtos ou marcas dentro de uma ação de al-
gum produto midiático, sejam estas peças de teatro, obras de
literatura ou artes plásticas, músicas, notícias ou audiovisuais.
Seu uso é uma prática muito antiga, tanto no ocidente como no
oriente. Também chamado de embedded marketing, o product
ou brand placement ele se caracteriza por ser uma ação híbrida
entre a publicidade e as relações públicas, o que assegura uma
combinação dos pontos fortes da publicidade, como o controle
sobre a mensagem, e das relações públicas, a credibilidade da
informação, ao mesmo tempo em que evita as principais des-
vantagens destas duas áreas da comunicação - a falta de cre-
dibilidade da fonte de informação, no caso da publicidade, e a
quase ausência de capacidade de influência sobre o conteúdo,
forma e calendarização da mensagem, no caso das relações
públicas (RIBARIC, 2019, p. 23).
sumário 166
criativa de “entranhar” surge o product placement, cuja estraté-
gia, diferente da lógica da interrupção, apoia-se na colocação
de marcas comerciais na trama de filmes de longa-metragem,
capítulos de telenovelas ou episódios de seriados etc., retirando
do público a possibilidade de evitar ou de se desviar da mensa-
gem publicitária, que, nesse caso, impõe-se de forma incontor-
nável (CARRASCOZA, 2020b, p. 212).
sumário 167
Carrascoza (2020a) obedece a esse liso e media um “efeito de arras-
tão”, no qual a publicidade:
Continua envolvendo o consumidor com ênfase discursiva no
vetor dionisíaco, visando o fazer crer com as suas ações vela-
das. O consumidor – incluindo todos nós – vive, então, à mercê
de sua própria atenção, também lisa, tentando escorregar do
caudal de ofertas que não o interessam – ou não são suficien-
temente atrativas no momento (CARRASCOZA, 2020a, p. 186).
sumário 168
em “A hora da estrela”, de Clarice Lispector.Cena retratada no filme de
mesmo título do livro, dirigido por Suzana Amaral, em 1985.56
56 Logotipo da Mercedes Benz no filme “A hora da estrela” dirigido pela cineasta Suzana
Amaral, em 1985, product placementem 1:38:24s. Disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=MBxAMJvSip0 Acesso em: 25 nov. 2021.
sumário 169
na exploração comercial das emoções através de produções
de dimensões estéticas, sensíveis, distrativas. (LIPOVETSKY;
SERROY, 2015, p. 31).
sumário 170
artista, os movimentos de “desidentificação” das formações discursivas
hegemônicas e verificar como acontecem com, mas contra elas.
sumário 171
Ginger Ale, Pullman, Seven Boys, Panco, Wickbold, Etti, Cica, Maggi,
Knorr, Bamba, G. Aronson, Jumbo Eletro, Mappim, Mesbla, Transbrasil,
Varig, Apollo e Omega.
sumário 172
Weiwei, intitulada “Forever: bicycles”. A instalação foi disposta na
entrada da sua exposição realizada em Lisboa, em 2021. “Forever” é
marca de uma tradicional fábrica de bicicletas da China. A bicicleta é
produto do cotidiano de mais de 20 milhões de moradores de Pequim.
“Forever” é uma marca chinesa, mas que representa o movimento
de passagem de interesses capitalistas. É uma marca gigantesca e
global57. O artista traz o nome da marca e do produto para o título da
obra que já foi exposta em várias versões. Algumas delas com mais
de mil bicicletas.
sumário 173
Contudo, percebemos uma explosão espinhosa de bicicletas
nas suas instalações de “Forever: bicycles”. Há um excesso de ar-
cos, de rodas, de traços, de pontas, de linhas e de curvas de metal,
formando teias e emaranhados em suas composições. Ocorre um
agigantamento das formas de bicicletas que as tornam provocativas
e que extrapolam o que está no discurso reputacional da marca. Na
instalação, a composição explosiva molda um portal em forma de um
labirinto visual imóvel, que remete ao movimento intenso e aponta para
a passagem, para o entremeio. Do transporte individual dos chineses,
ela vai para o trânsito e convida para a transição. O visitante atravessa
a instalação de atravessamentos.
sumário 174
O profundo arrebatamento de Ai Weiwei pela expressão de liber-
dade e pela liberdade de expressão oferece, pelo consumo dos sen-
tidos reputacionais da gigantesca marca “Forever”, um trânsito para
outro território estético-político e de “partilha do sensivel” (RANCIÈRE,
2018). Ai Weiwei tem se manifestado publicamente enquanto contrário
ao capitalismo, às instituições e ao controle da liberdade de expressão,
na China e no ocidente. Jacques Rancière (2018, p. 15), afirma que
uma partilha do sensível fixa “ao mesmo tempo, um comum partilhado
e partes exclusivas” e a partir daí é que se pode pensar nas interven-
ções políticas do artista pelo product placement de “Forever” na obra.59
sumário 175
se reproduz na autoria do texto como um artesão-escritor dos afetos.
Assim, o texto de Serguilha (2020).
Percorre um caminho totalmente divergente ao consumo da
palavra curta e igualada, daquela que impera nas lógicas dos
mecanismos de busca das mídias digitais. Os conceitos se de-
senlaçam das proposições tradicionais, libertando o texto do
julgo do sujeito pessoal e psicológico. Os substantivos e ad-
jetivos serguilhianos misturam-se, acontecem e transformam
predicados em singularidades que visam descaracterizar per-
sonalidades e sentimentos (MAGRI, 2020, s/p).
sumário 176
2. As menções ao “fora da desaparição” e aos “números vermelhos”
se referem ao habitar este lugar do negativo dentro do endividamento,
ou seja, de um ente-dividido, que precisa se desvincular da dívida, é
um corpo partido, esquartejado e em aparição na forma do verso, pelo
vermelho-perigo da marca Serasa.
sumário 177
opera na materialidade de seu trabalho: aí se inscrevem as mar-
cas de seu encontro singular com o trágico festim. Marcas des-
ta experiência, elas trazem a possibilidade de sua transmissão:
ampliam-se na subjetividade do receptor as chances de realizar
a seu modo este encontro, aproximar-se de seu corpo-vibrátil e
expor- se às suas exigências de criação (ROLNIK, 2015, p. 105)
sumário 178
às marcas denuncia as relações anteriores, ou que precedem as po-
sições, são, deste modo, preposições ditas em cada “para” musical.
sumário 179
uma diferença, uma granulação, uma duração no tempo, que altera a
compreensão do sentido da reputação de marcas deixadas na música
e cria, pela fricção, outros relevos na sua fruição.
sumário 180
bricolagem da Figura 4, e que fazem uma crítica ao consumo e à socie-
dade no contemporâneo, a partir do product placement.
sumário 181
marca Facebook pelo artista, que considera, inclusive que a empresa
nos alimenta, enquanto animais. Entretanto, ocorre, simultaneamente,
o displacement da marca pelo excesso dos “likes” e pela menção ao
ego, pela sugestão de um estado de domesticação, que exclui todas
as demais funcionalidades propagadas pelo discurso oficial da marca.
Contudo, ainda assim, essa ilustração mostra a força do Facebook, em
alinhamento com a reputação dos discursos oficiais que a posicionam
enquanto uma marca absoluta.
sumário 182
com o discurso oficial dominante. Por isso, estes “entranhamentos”
podem ser considerados como um product displacement. As imagens
das pessoas apresentadas (de alienação ede sofrimento) carregam
consigo uma narrativa na imagem, contrária às bases propostas pelo
storytelling publicitário (de felicidade, de atualização e de sucesso)
e trazem os seguintos efeitos: aumento de intensidade (um excesso
ou exagero do problema retratado e que normalmente é velado no
discurso reputacional das marcas); inequivocidade (ou seja é evidente
para o senso comum que esta marca traz este risco, embora o discurso
oficial o ignore); humor irônico (traduzido em uma imagem de situação
do cotidiano) e relevância social (atinge toda a sociedade).
sumário 183
trinta marcas absolutas são citadas pelo escritor. Trata-se de uma in-
flação, outro excesso no entranhamento de marcas no texto literário.
O consumo simbólico artista da reputação das marcas se dá pelo fato
do escritor partir do pressuposto de que as marcas têm reputação e
que, por isso, são memoráveis. Mas o notável neste consumo-artis-
ta reputacional das marcas, é que Carrascoza (2019) consome das
marcas as dimensões do tempo (presente, passado e futuro) e usa os
marcadores temporais para criar um ritmo no texto pelas significações
primárias alteradas pelas temporalidades, ou fluxos temporais. Assim,
ele articula os jogos duplos de sentidos pelos imaginários relaciona-
dos à reputação das marcas de modo que os produtos inseridos no
cotidiano dos personagens produzam no leitor um efeito totalmente
diverso dos objetivos da retórica publicitária. Todavia, estes sentidos
novos somente se tornam possíveis de se alcançar a partir do reconhe-
cimento original, que foi construído pela estratégia publicitária. Efeito
alquímico e místico do eterno retorno de fins e recomeços.
sumário 184
Figura 5 – Bricolagem - Trecho do livro “Elegia do
Irmão” de João Anzanello Carrascoza.
sumário 185
deste consumo do controle da reputação de marcas para propor um
displacement logo alí, nesta sinestesia que nos faz sentir-sofrer o tempo.
sumário 186
mais pesará sobre a reputação das marcas: sua aparição no descarte,
na descontinuidade. A aparição do descarte de produtos, na forma de
fotografia, é posta em contraposição à desaparição da fidelização e
aderência às marcas absolutas.
sumário 187
Do ponto de vista das formas, há uma combinação da explosão
de cores na aparição dos produtos descartados, em contraste com o
branco, o negro e o marrom rabiscados e manchados na expressão
do desenho da figura feminina, como vemos na bricolagem da figura 6.
A obra faz parte da série passione que significa paixão. Vik Muniz
potencializa nesta obra o afeto do desejo. Sonho e paixão implicam o
desejo-artista. O desejo de fuga desse soterramento de marcas, que so-
mem em produtos descartáveis. Neste sentido, Vik Muniz alerta que, pelo
consumo de marcas e produtos, estamos mergulhados em uma sujidade
de descartes. O desejo-artista está em luta permanente para a imersão do
corpo e do feminino e nele deixa as manchas e as suas marcas.
sumário 188
a rodovia da alma intervalar e mestiçada de sensações. Para Ciro Mar-
condes Filho (2005, p. 6):
A grande contribuição de Michel Serres, no nosso entender, na
construção de uma Nova Teoria da Comunicação, assim como
de um caminho para a investigação de casos de comunicação,
está em sua epistemologia, que, segundo ele, é “menos sólida”
e mais fluida, apostando nos fluxos, sempre em busca do fugaz
e do fugidio (MARCONDES-FILHO, 2005, p. 06)
sumário 189
nos recipientes, todas estas imagens-sensações são usadas nas pe-
ças publicitárias. A liberação do CO2 nas papilas provoca um estímulo
sensorial complexo. O paladar da bebida combina, ao mesmo tempo,
o ácido, o doce e o amargo: sabores de Coca-Cola. Há ainda o impac-
to visual, o da cor da bebida, o seu escuro. Assim, o “entranhamento”
de Coca-Cola em um texto sobre os cinco sentidos se passa dentro
do consumo simbólico de todas estas sensações produzidas e repro-
duzidas em série pela industrialização e pelos discursos da marca,
por meio de uma fórmula voltada para a notoriedade absoluta. Sensa-
ções que habitam uma palavra entranhada no texto de Serres (2005),
a marca absoluta deCoca-Cola. Que foi desta maneira, consumida na
estética de um texto sobre a estética.
sumário 190
Ou seja, a reputação da marca Coca-Cola, seus atributos sen-
soriais, imaginários e os discursos compartilhados quando incrustados
na obra de Serres (2005), eles mesmos não entranham, mas liberam
o afeto potencializado pelo autor neste product placement que é o de
deleite pelo instável, pelo singular, pelo chamalotado, pela formidável
profusão do vinho e os odores confusos das rosas que tocam a estéti-
ca dos cinco sentidos do consumo-estético-artista.
sumário 191
A “estética do rugoso” manifestou nas suas formas e sentidos:
explosões, entremeios e espinhos (Ai Weiwei), avessos e dobras (Luís
Serguilha), rugas na letra e granulados da voz (Nando Reis e Marisa
Monte), deriva, desvios e duração (João Anzanello Carrascoza), atritos
(John Holcroft), sujidade e desaparições (Vik Muniz), chamolatados e
erupções sinistésicas (Michel Serres).
71 Entendemos por rugosidade, como o exposto por Benoit Mandelbrot em sua apresen-
tação no vídeo sobre os fractais e a arte da rugosidade. Disponível em: https://www.
ted.com/talks/benoit_mandelbrot_fractals_the_art_of_roughness/transcript?language=pt
Acesso em: 25 nov. 2021.
sumário 192
Figura 8 – Cartografia da estética do rugoso - Product placement nas artes – quadro de análise do consumo-artista da reputação de marcas.
OBRA/ARTISTA PRODUCT CAPTAÇÃO DAS FORMAS CAPTAÇÃO DA INTERAÇÃO DOS SENTIDOS CAPTAÇÃO DA FORMA COMO
PLACEMENT EFEITO ESTÉTICO –
– MARCAS AFETOS MOBILIZADOS
INSTALAÇÃO: “Forever Forever Instalação gigante em cor metal ao ar livre. Uma pas- Ocorre o consumo-artista do discurso reputacional da Afeto do arrebatamento, da explosão
Bicycles” – Ai Weiwei sagem espinhosa ao centro do chão, entremeios, cuja marca “Forever”. A obra colabora com a notorieda- de toda expressão em movimento in-
composição apresenta excesso de perspectivas e de de global da “Forever”, na medida que a expõe no tenso e de plena liberdade.
visão, marcadas por arcos, rodas, traços e linhas de mercado artista e nas mídias. Contudo, percebemos
metal, formando labirintos infinitos. Forma metálica, na instalação uma explosão de bicicletas e da alma
industrial, virulenta, ora estática, ora movimento in- espinhosa de pedaladores cotidianos. O jogo de du-
tenso, que, pela expressão da explosão de bicicletas, plos sentidos opera na passagem do meio individual
liberta o cotidiano e pedala entre milhões de chineses de partes exclusivas de transporte, e de um comum
das ruas de Pequim para o portal de abertura da expo- partilhado na obra que vai transitar países, fazendo um
sição em Lisboa. convite para a crítica da expressão pela liberdade ma-
nifesta na forma. Os sentidos reputacionais da marca
são consumidos e transitados para outro território de
“partilha do sensivel” (RANCIÈRE).
POESIA: Livro “A Actriz Serasa Única marca citada em mil páginas. Introduz a escas- Ocorre o consumo-artista do discurso reputacional, Afeto do desespero causado pelo en-
A Actriz: o Palco do va- sez no excesso. A marca está inserida em cena final adotado pelo senso comum, da notoriedade da marca dividamento e que intensifica o desejo
zio e do esquecimen- em que o poeta começa a fazer questionamentos aos absoluta Serasa. O entranhamento da marca Serasa no de vida de um corpo esquartejado pe-
to” – Luís Serguilha afetos mutantes. O artista como artesão-escritor dos poema serguilhiano a faz adquirir um sentido negativo las lógicas bancárias.
afetos aciona uma multiplicidade de palavras-signos, perante o discurso oficial da empresa. Mas a notorie-
as recombina, deslocando os seus sentidos e desar- dade da marca no cotidiano da vida das pessoas está
ticulando estruturas rígidas de discursos morais, a associada ao endividamento, da aparição do “ente-di-
partir da combinação criativa de ritmos, conceitos fi- vidido”. O jogo de duplos de sentido no pensamento
losóficos e imagens. Há presença do vermelho, ligado crítico do poeta atinge diretamente o capital e as ló-
a números. A crítica poética opera na forma contorcida gicas representacionais do sistema bancário, a crítica
de uma fita de Moebius. O poeta critica o capital e as da poética de Serguilha positiva o sentido negativo de
lógicas representacionais do sistema bancário, mas Serasa no cotidiano e negativa o sentido positivo e liso
pelo seu avesso vulgar e popular do endividamento do limpa-nome do discurso oficial (ROLNIK, 2015).
(na forma do “ente-dividido”), nas sombras das do-
bras dos sentidos produzidos pelo corpo intensivo
(ROLNIK, 2015, GUATTARI, 2019).
sumário 193
OBRA/ARTISTA PRODUCT CAPTAÇÃO DAS FORMAS CAPTAÇÃO DA INTERAÇÃO DOS SENTIDOS CAPTAÇÃO DA FORMA COMO
PLACEMENT EFEITO ESTÉTICO –
– MARCAS AFETOS MOBILIZADOS
MÚSICA: “Diariamen- Coca-Cola, Avon, A canção entranha e granula as oito marcas relacio- Ocorre o consumo-artista da reputação da notoriedade Afeto do amor que acontece na presen-
te” – Compositor: Verlon, Adidas, Omo, nando-as às situações do cotidiano. Mais uma vez de oito marcas absolutas. A reputação consumida das ça no cotidiano e que é ativado pela
Nando Reis; Intérprete: Conga, Volkswagen e percebemos a presença dos excessos. Pois todas as marcas está associada à utilidade, à capacidade de in- voz que não para de cantar diante do
Marisa Monte Hipofagin. frases iniciam com a preposição “para” e em repeti- formar o nosso cotidiano. Houve o consumo-artista da utilitarismo e da serventia.
ção sonora permanente. E para muitas das situações reputação pregada pelo discurso oficial das marcas.
propostas para, é inserida uma marca absoluta. Esta Contudo, o jogo de duplos nos sentidos e o pensa-
estética de criação verbal, exagera em nos mostrar a mento crítico da autoria e do canto acontecem nas
utilidade diária dos produtos na nossa vida. Mas há rugas da letra e pelo “grão da voz”, na palavra cantada
na música o corpo manifestado pelo ruído, anterior à (BARTHES, 1990). O sentido que se forma pelo ruído,
melodia, quando a forma da voz cria, ela mesma, uma anterior à melodia, na voz mesma, cria granulados,
diferença que transmuta o entendimento da música uma diferençsa que alteram o entendimento da músi-
em granulados de imagens amorosas. ca.O afeto que surge no improviso e não na serventia
dos produtos expressa-se na voz. As marcas que ex-
cedem suas utilidades cotidianas são transmutadas na
música para não cessar o desejo, ao contrário, para
possibilitar um existir enquanto movente, diariamente,
na canção.
ILUSTRAÇÕES Facebook, Apple As ilustrações de John Holcroft têm a forma parecida Nas marcas entranhadas em ilustrações satíricas, há Afeto de angústia-problemática pro-
SATÍRICAS - Pinterest com a de anúncios publicitários produzidos em car- uma crítica ao consumo e à sociedade no contem- vocada pelo medo, pela indignação e
John Holcroft e autor tazes dos anos 50, embora sejam todas veiculadas porâneo a partir do product placement. O consumo pelo sentimento de impotência diante
desconhecido atualmente na forma digital. Se apresentam na forma artista da reputação das marcas, no caso das ilus- da dominação das marcas.
de cenas com narrativas de reconhecimento do dis- trações satíricas, se apresenta na forma de reconhe-
curso reputacional das marcas, mas simultaneamente cimento do discurso reputacional das marcas, mas,
em atrito com ele. As imagens trazem pessoas sem simultaneamente, em atrito com ele, pelo exagero de
rosto ou com rosto encoberto e em estado de alie- suas consequências. Trata-se, portanto de product
nação e de sofrimento. A norma na forma apresenta displacement. Deste modo, o consumo artista, nestes
as seguintes características: aumento de intensidade casos, se dá em um jogo de sentidos de duplo a partir
(um excesso ou exagero do problema retratado e que do atrito, da exposição de conflito e do choque com
normalmente é velado no discurso reputacional das o discurso oficial dominante. Nas duas ilustrações, as
marcas); inequivocidade (evidência de perigo); humor imagens expressam situações cotidianas e perigosas,
irônico (com imagem alarmante de situação do coti- sobre as quais há certeza de cometimento e alienação:
diano) e relevância social (atinge toda a sociedade). um trágico. Essa expressividade se dá por um outro
As cores oficiais usadas nos logotipos das marcas duplo de sentido, o excesso de lucidez que acaba se
são reapropriadas, mas sempre deslocadas e dispos- tornando morbidez. As ilustrações amedrontam por-
tas em choque com outras cores. A profusão de luz e que causam indignação contra o sistema dominante.
sombra faz uma denúncia, por si só. Este jogo de du- Entretanto, elas encarceram a sociedade dentro desta
plos nas cores choca até na qualidade absorvida pelas angústia-problemática na qual ela fica à mercê a partir
cores e tonalidades de exposição de claros e escuros. dos ditames e da notoriedade das marcas absolutas.
sumário 194
OBRA/ARTISTA PRODUCT CAPTAÇÃO DAS FORMAS CAPTAÇÃO DA INTERAÇÃO DOS SENTIDOS CAPTAÇÃO DA FORMA COMO
PLACEMENT EFEITO ESTÉTICO –
– MARCAS AFETOS MOBILIZADOS
LITERATURA: Livro Maizena, Pan, Juqui- Neste capítulo, que é de uma única página, trinta O consumo-artista articula os jogos duplos de senti- Afeto da nostalgia que se expressa em
“Elegia do Irmão”, nha, Sonho de Valsa, marcas absolutas são sacadas pelo escritor. Trata-se dos pelos imaginários relacionados à reputação das duração afetiva e por uma paixão pela
de João Anzanello Dulcora, PingPong, de uma inflação, outro excesso no entranhamento de marcas de modo que os produtos inseridos no coti- dor do tempo.
Carrascoza, capí- Ploc, Nescau, To- marcas no texto literário. Percebemos claramente a diano dos personagens produzam no leitor um efeito
tulo “Marcas”. ddy, Tubaína, Don, forma de brincadeira, o jogo de palavras articulado totalmente diverso dos objetivos da retórica publicitá-
Ginger Ale, Pullman, com o jogo de coloridos imaginados dos logotipos ria. Todavia, estes sentidos novos somente se tornam
Seven Boys, Panco, das marcas e com o jogo de memórias da infância e possíveis de se alcançar a partir do reconhecimento
Wickbold, Etti, Cica, da atualidade. As marcas são jogadas e aparentemente original, que foi construído pela estratégia publicitária.
Maggi, Knorr, Bamba, têm tonalidades cromáticas de sentido idênticas ao O escritor vale-se do consumo do controle da reputa-
Conga, G. Aronson, discurso reputacional delas, mas se libertam da retó- ção de marcas para propor um displacement. Ao pro-
Jumbo Eletro, Ma- rica primordial para, a partir dela, na composição do duzir na escritura esta mescla sinestésica de tempos
ppim, Mesbla, Trans- escritor, pelo excesso de entranhamentos de imagens de presentes, de passados e de futuros, o escritor cria
brasil, Varig, Apollo e sacadas do cotidiano, possam usufruir do afeto que efeitos de sentido de um desvio de rumo. Retirando,
Omega. se expressa no texto em uma duração infinita, uma assim, as marcas do controle original sobre a sua
paixão pelo tempo em sofrimento, por uma nostalgia reputação. Ele vai concedendo-lhes uma autonomia
alegre-triste, doce-azeda: sinestesia profunda na for- para a deriva que se dá também por contaminação
ma textual. afetiva (PARRET, 1997).
ARTES PLÁSICAS: Vários produtos, ne- Há o excesso na exposição de produtos, coletados de Ocorreu um outro tipo de consumo-artista da reputa- Afeto do desejo de fuga do sentimento
“Daydreamer, da nhuma marca lixos e de restos de demolição e há a ausência dos ção de marcas. Houve um entranhamento de produtos de obsolescência do corpo e da imer-
Série Passione, logotipos de marcas. Este consumo-artista, retrata a que nos revela ao entendimento da sua obsolescência são da vida nos produtos descartáveis.
2010 – Vik Muniz cercania dos produtos que se tornaram e que virarão programada. Ou seja, trata-se do consumo simbólico
lixo. A figura humana, ou o corpo aparece na forma de e artista da reputação de marcas no sentido de não
desenho. Mais uma vez o cotidiano fica referenciado admitir a necessidade frequente dos lançamentos de
no product placement artista, na forma de tipos de produtos, mas de afirmar o seu descarte. Trata-se de
produtos de demolição entranhados (pia, relógio, vio- um tensionamento no consumismo exagerado de mar-
lão, armário, cones etc.). O trabalho apresenta, como cas, pelo apagamento delas. O jogo de duplos de sen-
postulou Barthes (1990): rabiscos, manchas e sujida- tido se faz presente no descarte e em contraposição à
de. Os rabiscos na obra de Muniz estão na forma de fidelização às marcas absolutas. Mais uma vez o coti-
confusões de linhas, como por exemplo os cabelos e diano fica referenciado no product placement artista. O
contornos da mulher figurada, as manchas surgem em consumo-artista alerta que pelo consumo de marcas e
um contato, um leve tocar que aparece sobre a ima- produtos, estamos mergulhados em uma sujidade de
gem do corpo branco e a sujidade nos rastros da foto produtos e que o desejo está em luta permanente para
de fundo que querem apagar, mas deixam resíduos, os a submersão do corpo e do feminino.
produtos descartados. Do ponto de vista das formas,
há uma combinação da explosão de cores na aparição
dos produtos descartados em contraste com o branco,
o negro e o marrom rabiscados na expressão do de-
senho que produz a imersão do corpo e do feminino.
sumário 195
OBRA/ARTISTA PRODUCT CAPTAÇÃO DAS FORMAS CAPTAÇÃO DA INTERAÇÃO DOS SENTIDOS CAPTAÇÃO DA FORMA COMO
PLACEMENT EFEITO ESTÉTICO –
– MARCAS AFETOS MOBILIZADOS
FILOSOFIA/ESTÉTICA Coca-Cola A forma se apresenta no movimento da escrita do filó- Ocorreu o consumo da estética da reputação da marca Afeto de deleite pelo instável, pelo sin-
– Os cinco sentidos, sofo, bem como na sua motivação poética-sinestésica pelas sensações, captadas pelos cinco sentidos. O gular, pelo chamalotado, pela formi-
Michel Serres e contra linear. A sua escritura engloba todos os cinco consumo simbólico está atrelado ao consumo de uma dável profusão do vinho e dos odores
sentidos em ritornelos como se a sensibilidade do cosmovisão contemporânea, na qual as tecnologias confusos das rosas.
filósofo, em um flanar errante pelo texto, tocasse os criam programas que fazem com que os cinco sen-
sentidos do leitor. No intermezzo dos caminhos cam- tidos da palavra Coca-Cola transformem-se em da-
biantes, entre o central e o periférico da tecnologia e dos maquínicos, digitais. Então, há também product
do sabor dos sentidos, é que surge este terceiro: a displacement. Surge a proposta de uma comunicação
marca Coca-Cola. Assim, o entranhamento se passa firmada a partir de novo consumo-estético (MAR-
dentro do consumo simbólico de todas estas sensa- CONDES, 2005). A reputação da marca Coca-Cola,
ções produzidas e reproduzidas em série pela indus- seus atributos, imaginários e discursos compartilha-
trialização e pelos discursos da marca, por meio de dos quando entranhados na estética deste texto, eles
uma fórmula voltada para a notoriedade. mesmos não entranham o instável, o individualizado,
o chamalotado, a formidável profusão do vinho e os
odores confusos das rosas. São estes sensíveis que
tocam a estética da obra pelos cinco sentidos apli-
cados ao consumo-estético da reputação da marca.
sumário 196
CONSIDERAÇÕES FINAIS
sumário 197
o desejo de vida de um corpo esquartejado pelas lógicas bancárias; Afe-
to do amor que acontece na presença, no cotidiano e que é ativado pela
voz que não para de cantar diante do utilitarismo e da serventia; Afeto
de angústia-problemática provocada pelo medo, pela indignação e pelo
sentimento de impotência diante da dominação das marcas; Afeto da
nostalgia que se expressa em duração afetiva e por uma paixão pela dor
do tempo; Afeto do desejo de fuga do sentimento de obsolescência do
corpo e da imersão da vida nos produtos descartáveis; Afeto de deleite
pelo instável, pelo singular, pelo chamalotado, pela formidável profusão
do vinho e dos odores confusos das rosas.
sumário 198
Pensamento crítico. O consumo artista da reputação de mar-
cas quando aparece como product displacement revela um pensa-
mento crítico dos artistas, ligado sobretudo a uma rebeldia. Eles as en-
tranham para fazer escapar os sentidos e migrar para um pensamento
crítico. Revelam uma expressividade conhecedora e simultaneamente
libertária do discurso oficial das marcas. Este movimento criativo e críti-
co nas formas gera desconforto, atrito, aspereza, ondulações no tecido
social, granulações nas vozes polifônicas, desvios nas derivas e uma
“estética do rugoso”.
sumário 199
Tudo mestiçado no seu vôo implacável. Eram amadas e temidas. Elas
não passavam despercebidas. Elas invadem como a “chuva de ouro”
da publicidade, que segundo Carrascoza (2020b), nos inunda a todos,
sem quase notarmos mais. Sem quase notarmos mais o valor estético
da distância contemplativa! A reputação de marcas na arte é diferença.
Está fora de alcance das estratégias, mas parte delas. A reputação das
marcas, quando capturada pelo corpo artista, se parece muito com
este terceiro incluído de Michel Serres (MARCONDES, 2005). Essa
captura abraça a estética dos duplos, das ambiguidades, das ener-
gias, das críticas e das violências. A reputação de empresas e produ-
tos no corpo artista endurece, acolhe o doce-liso-amargo do product
placement, se intensifica nas marcas deixadas pela publicidade, viaja
pelo consumo simbólico do cotidiano, detona o excesso de imagens
de produtos e retorna nas pegadas moventes da produção-artista, só
que pela nossa fruição. E os sentidos disputam, transmutam, combi-
nam-se, fogem e nos encontram em sensus communis. Pois nossos
Corpos são vasos comunicantes potentes, preenchidos pela lisura dos
discursos, contudo, seguem contaminados de afetos rugosos.
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sumário 203
SOBRE OS AUTORES
E AS AUTORAS
Andrea de Mello
É graduada em Publicidade e Propaganda pelo Centro de Ensino Unificado
de Teresina (CEUT) (2003) e Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pon-
tifícia Universidade Católica de São Paulo (2007), com bolsa concedida pela
FAPESP. Integrante do Grupo de Pesquisa Comunicação, Consumo e Arte do
PPGCOM-ESPM. Atualmente é Diretora de Planejamento da Agência Accuracy
e professora do curso de Publicidade e Propaganda da Fundação Armando
Álvares Penteado e também do Curso de Extensão em Comunicação e Mídias
Sociais e da Pós-Graduação em Gestão da Comunicação e Marketing Digital
na mesma instituição.
Bruno Pompeu
É publicitário, formado pela Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP)
(2004). Tem doutorado (2013) e mestrado (2009) em Ciências da Comunicação
pela Universidade de São Paulo, com pesquisas desenvolvidas articulando
conceitos e teorias ligados a comunicação publicitária, consumo e semiótica.
É professor do curso de Publicidade e Propaganda da mesma instituição, nas
disciplinas Linguagem Publicitária e Redação Publicitária I. Realizou pesquisa
de pós-doutorado também na ECA-USP, sobre a linguagem da publicidade na
contemporaneidade. Autor dos livros De onde vem, onde está e para onde vai a
publicidade? (2021), Semiopublicidade: inovação no ensino (2019) e Dicionário
técnico e crítico da comunicação publicitária (2012). Representante Sudeste na
Associação Brasileira de Pesquisadores em Publicidade (ABP2), membro do
Grupo de Estudos Semióticos em Comunicação, Cultura e Consumo (GESC3),
um dos sócios-fundadores da Casa Semio.
sumário 204
Gisele Jordão
Doutora em comunicação e práticas de consumo, mestre em Gestão Interna-
cional e bacharel em Comunicação Social (ESPM-SP), Gisele Jordão é profes-
sora da ESPM São Paulo, nos cursos de graduação e pós-graduação, desde
1998. Atualmente, na coordenação do curso de cinema e audiovisual da insti-
tuição, amplia sua discussão sobre formação para gestão e produção cultural
como premissa para o desenvolvimento da cadeia produtiva da cultura. Desde
1993, como sócia da 3D3 Comunicação e Cultura, é responsável pela pesqui-
sa e desenvolvimento de estratégias para a difusão, o fomento e a fruição de
expressões artísticas. Valores como a comunicação consciente e a sustenta-
bilidade tem pautado seus últimos anos de experiência. Realiza pesquisas de
comunicação e artes no intuito de compreender formas para a ampliação da
participação e da relevância da produção cultural. Compreende que a partir
do diálogo entre sociedade civil e agentes da cultura isto é possível. Neste
sentido, desenvolveu o método de escuta afetiva para o trabalho colaborativo
no desenvolvimento de micropolíticas e projetos culturais.
sumário 205
Maria Cristina Dias Alves
Maria Cristina Dias Alves é publicitária, doutora em Ciências da Comunicação
pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (2016),
onde também é professora do curso de Publicidade e Propaganda, além de
ter realizado pesquisa de pós-doutorado (2021). Possui Mestrado em Comu-
nicação e Práticas de Consumo pela ESPM/SP (2009) e graduação em Comu-
nicação Social, com habilitação em Publicidade e Propaganda, pela mesma
instituição. Além da atuação em agências de publicidade, como diretora de
criação e redatora, é poeta, haicaísta, escreve crônicas e contos, gênero no
qual foi finalista do prêmio Off Flip de Literatura em 2015.
sumário 206
Sheila Mihailenko Chaves Magri
É graduada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (1994) e estudou
Filosofia na FFLCH-USP (1998). É doutoranda e mestre (2020) pelo Programa
de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas do Consumo da ESPM-SP,
onde participa do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Consumo e Arte,
coordenado pelo Prof. Dr. João Anzanello Carrascoza. Pesquisou, durante o
seu mestrado, a ética e a reputação de marcas, enquanto fenômeno discursivo
e o consumo de discursos morais por executivos corporativos. É autora do
livro “Porta-vozes do capital”, publicado pela editora Pimenta Cultural (2020).
É sócia-fundadora e consultora sênior na Macob Comunicação. Ministrou um
curso de extensão de análise dialógica do discurso, a partir de Mikhail Ba-
khtin, na Universidade Federal de Viçosa-UFV (2020). Atualmente, pesquisa
em criações artísticas literárias, musicais e visuais as suas relações, diálogos
e interdiscursos com as marcas, com a comunicação digital e com o consumo.
sumário 207
ÍNDICE REMISSIVO
B 39, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 51, 52, 54,
branded content 42, 43, 44, 45, 46, 47, 55, 56, 57, 60, 65, 67, 68, 72, 75, 78,
48, 50, 51, 55, 56, 57, 117, 121, 136, 84, 85, 86, 90, 101, 102, 103, 105, 106,
142, 154 108, 109, 110, 111, 112, 115, 117, 118,
brand placement 121, 127, 128, 136, 141, 120, 121, 125, 126, 127, 128, 129, 131,
142, 144, 154, 166 132, 134, 139, 140, 141, 142, 144, 145,
146, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 163,
C 164, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171,
carnaval 11, 26, 27, 28, 29, 30, 34, 38, 172, 178, 179, 180, 181, 182, 183, 184,
59, 61, 62, 64, 65, 66, 67, 69, 70, 71, 185, 186, 187, 188, 191, 192, 193, 194,
72, 73, 74, 75, 76, 77, 79, 81, 82 195, 197, 198, 199, 200, 201, 202, 207
consumo 10, 11, 14, 27, 28, 29, 35, 36,
P
37, 38, 39, 40, 43, 44, 60, 61, 62, 63,
64, 67, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, plataforma de streaming 61, 71, 74, 77,
77, 80, 81, 94, 109, 115, 129, 138, 141, 79, 140
142, 144, 153, 155, 157, 158, 159, 160, product literature 85, 86, 87, 105, 110,
161, 162, 164, 165, 166, 167, 170, 171, 170
174, 175, 176, 178, 181, 182, 183, 184, product placement 10, 11, 13, 15, 16, 17,
185, 186, 188, 189, 190, 191, 192, 193, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 25, 45, 75, 76,
194, 195, 196, 197, 198, 199, 200, 203, 77, 78, 84, 85, 88, 91, 92, 93, 97, 102,
204, 205, 206, 207 103, 104, 108, 111, 113, 121, 124, 125,
126, 127, 129, 131, 133, 134, 135, 142,
F 157, 158, 159, 160, 166, 167, 168, 169,
filmes 10, 15, 19, 20, 22, 28, 43, 44, 170, 171, 172, 173, 175, 177, 179, 180,
45, 46, 50, 51, 55, 61, 72, 74, 85, 102, 181, 182, 183, 185, 186, 188, 190, 191,
120, 121, 125, 126, 127, 129, 148, 166, 194, 195, 197, 198, 199, 200, 203
167, 168 publicidade 10, 11, 17, 18, 22, 27, 28,
29, 31, 35, 36, 38, 39, 40, 41, 43, 44,
I
45, 46, 50, 58, 64, 76, 84, 85, 86, 95,
imprensa 84, 121, 176 96, 102, 103, 104, 105, 111, 112, 115,
influencers 23, 127, 129 116, 117, 121, 122, 123, 128, 132, 134,
Internet 12, 19, 20, 24, 61 139, 141, 142, 148, 153, 154, 155, 156,
M 160, 165, 166, 167, 168, 170, 171, 176,
200, 201, 204, 205, 206
marcas 11, 17, 18, 20, 22, 26, 27, 28,
públicos 35, 37, 60, 61, 62, 66, 69, 71,
29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38,
72, 75, 76, 81, 115, 117, 138, 139, 154
sumário 208
R sociedade 27, 28, 36, 43, 44, 63, 135,
reality 11, 115, 139, 141, 142, 145, 147, 138, 141, 147, 154, 155, 156, 164, 169,
154, 206 181, 183, 194, 205
redes sociais 11, 12, 13, 20, 21, 22, 24, streaming 20, 61, 68, 69, 71, 74, 77, 79,
69, 71, 72, 79, 109, 142, 143, 146, 150 81, 115, 140
S
samba 11, 26, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34,
35, 36, 37, 38, 39, 40, 67, 74, 96
sites 28
sumário 209