LIVRO Patrimônio e Ensino - Giovani Marcos Bernini
LIVRO Patrimônio e Ensino - Giovani Marcos Bernini
LIVRO Patrimônio e Ensino - Giovani Marcos Bernini
Direção Editorial
Lucas Fontella Margoni
Comitê Científico
Lugares de memórias na rede: educação patrimonial, espaços públicos e linguagens digitais para
o ensino de história [recurso eletrônico] / Giovani Marcos Bernini -- Porto Alegre, RS: Editora Fi,
2022.
194 p.
ISBN: 978-65-5917-554-3
DOI: 10.22350/9786559175543
CDD: 900
Índices para catálogo sistemático:
1. História 900
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
1 15
EDUCAÇÃO, HISTÓRIA E PATRIMÔNIO
1.1 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E ENSINO DE HISTÓRIA ............................................................................. 16
1.2 O PATRIMÔNIO ................................................................................................................................................ 22
1.3 PATRIMÔNIO LOCAL: TOLEDO E SEUS ESPAÇOS DE MEMÓRIAS ..................................................... 29
1.4 ENSINO DE HISTÓRIA E PATRIMÔNIO NOS CURRÍCULOS ................................................................... 38
1.5 PARA QUEM ENSINAMOS? ........................................................................................................................... 54
1.6 HISTÓRIAS NA REDE: A OPÇÃO DIGITAL .................................................................................................. 62
2 67
HISTOORIAS: TOLEDO – ESPAÇOS DE MEMÓRIAS NA REDE
2.1 PROJETO HISTOORIAS: UMA ALTERNATIVA METODOLÓGICA .......................................................... 69
2.2 CONSTRUINDO HISTOORIAS: PRIMEIROS PASSOS ................................................................................ 72
2.3 PLANEJANDO AÇÕES: INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ................................................ 78
2.4 CAMINHANDO POR MEMÓRIAS: A CIDADE FALA ................................................................................. 82
2.5 ALUNO PESQUISADOR: SELECIONANDO O PASSADO ....................................................................... 108
2.6 DIGITALIZANDO HISTÓRIAS: MEMÓRIAS NA REDE ............................................................................. 115
2.7 PARA ALÉM DOS MUROS: DIALOGAR É PRECISO ................................................................................ 126
3 135
COMPARTILHANDO AUTORIDADE: OUTRAS TANTAS MEMÓRIAS
3.1 OUTROS LUGARES DE MEMÓRIAS ........................................................................................................... 140
ANEXO 2 182
FORMULÁRIO: PATRIMÔNIOS E LUGARES DE MEMÓRIAS NA CIDADE DE TOLEDO
ANEXO 3 189
QR-CODES INDIVIDUAIS DOS MONUMENTOS
ANEXO 4 190
ARTE DAS PLAQUETAS ENVIADA PARA IMPRESSÃO
ANEXO 5 191
REQUERIMENTO DE USO DE ESPAÇOS PÚBLICOS PROTOCOLADO JUNTO AO PODER
PÚBLICO LOCAL
ANEXO 6 192
COLABORAÇÃO PARA O USO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS
ANEXO 7 194
POSTAGEM PUBLICADA NA REDE SOCIAL “FACEBOOK”, NA TERCEIRA ETAPA DA
PESQUISA
INTRODUÇÃO
1
Conceito baseado na obra “Les Lieux de Mémóire” (1984) de Pierre Nora, em que o autor debate a
crescente instituição de lugares construídos com a intenção de “fazer lembrar”, frente ao sentimento de
perda da memória espontânea. Esses espaços configuram-se em museus, arquivos, santuários, coleções,
festividades e monumentos.
2
A nomenclatura do projeto pretende deixar claro sua relação com a história local. A grafia “TOO” cor-
responde à abreviação oficial do nome de Toledo – Paraná, sendo usada para a nomeação de diversos
programas municipais como os de mobilidade urbana, reciclagem e educação ambiental, respectiva-
mente: “TOO pedalando”; “TOO reciclando” e “TOO conhecendo a bicharada”.
3
Termo que designa o período pós Terceira Revolução Industrial, marcado por rápidos avanços nas áreas
de tecnologias da comunicação e pelo advento da informática e da internet. Também conhecida como
“Era da Informação”. (MUNDO EDUCAÇÃO, 2020).
Giovani Marcos Bernini • 13
estudo das ações humanas no tempo e no espaço, não podendo ser en-
tendida como um mero instrumento de estudo do passado ou
simplesmente como narrativa ou testemunho. Na concepção de Marc
Bloch (2001), o Homem tende a ser o objeto de estudo da história, de-
vendo o historiador buscar pela problematização do fato histórico e pela
sua significação social dentro do contexto histórico.
Ela “está estritamente ligada às diferentes concepções de tempo
que existem numa sociedade e são um elemento essencial da aparelha-
gem mental dos seus historiadores” (LE GOFF, 2003, p. 52). Sendo assim,
a história é constituída por rupturas e descontinuidades, tendo como
uma de suas funções primordiais a construção de sentidos aos sujeitos
do presente. Importante salientar que “todo trabalho histórico decom-
põe o tempo decorrido, escolhe entre suas realidades cronológicas,
segundo preferências e opções exclusivas mais ou menos conscientes”
(BRAUDEL, 2013, p.44)
Frequentemente percebemos a confusão entre os conceitos de
“história” e “memória”, especialmente fora do campo acadêmico. O mal-
entendido talvez decorra do fato de que a memória seja a matéria-prima
da história. Um reservatório rico e móvel, composto por depoimentos,
arquivos e documentos dos mais variados tipos. A relação entre elas e o
tempo é intrínseca.
(...) as memórias são constituídas por grupos sociais. São os indivíduos que
lembram no sentido literal, físico, mas são os grupos sociais que determi-
nam o que é “memorável”, e também como será lembrado. Os indivíduos se
identificam com os acontecimentos públicos de importância para seu grupo
(apud BURKE 2006, p.70).
1
Termo cunhado por Maurice Halbwachs, em que as memórias individuais estão impregnadas das
memórias dos que nos cercam e são constituídas a partir das interações sociais, remetendo-se em última
instância, à memória de um grupo.
Giovani Marcos Bernini • 19
2
A proposta da Educação Patrimonial decorre das experiências inglesas definidas como Heritage
Education, que propunha a utilização de ambientes históricos como recurso didático para o ensino.
Giovani Marcos Bernini • 21
1.2 O PATRIMÔNIO
Conceito de que é possível aprender com o passado, a partir da observação de seus exemplos e
3
modelos.
28 • Lugares de memórias na rede
4
Utilizaremos o termo “pioneiros” para designar os habitantes que fixaram residência na Vila Toledo,
entre os anos de 1946 e 1952, de acordo com o estabelecido pelo Museu Histórico Willy Barth.
30 • Lugares de memórias na rede
Fonte: https://www.toledo.pr.gov.br/noticia/museu-historico-willy-barth-recebe-visitantes-
na-tarde-do-proximo-sabado-0. Acesso em 02 de fevereiro de 2018.
5
Foi fundador e diretor da Colonizadora Maripá no período de ocupação das terras da região. Tornou-
se, posteriormente, prefeito do município, em 1960. É considerado um dos principais líderes da
colonização.
Giovani Marcos Bernini • 31
6
Até o ano de 1952, a “Vila Toledo” pertencia ao município de Foz doIguaçu.
Giovani Marcos Bernini • 33
Figura 4 – Trecho da rua 7 de setembro, entre a rua Rui Barbosa e Av. São João.
7
O monumento é reconhecido e referenciado pelo poder público através das duas nomenclaturas.
Giovani Marcos Bernini • 37
Figura11 – Foto do interior do Museu Histórico Willy Barth, presente em material didático.
8
Aplicativo gratuito de administração de pesquisas, que disponibiliza ferramentas de colaboração e
compartilhamento de informações. Permite a coleta de dados de usuários por meio de pesquisa ou
questionários personalizáveis.
56 • Lugares de memórias na rede
Figura 15 -Você acha que a escola utiliza uma linguagem ultrapassada para ensinar?
(…) todo o complexo universo de produções e trocas sociais tendo por objeto
o conhecimento histórico, transferido e/ou diretamente gerado e experi-
mentado em ambientação digital (pesquisa, organização, relações, difusão,
uso público e privado, fontes, livros, didática, desempenho e assim por di-
ante (Apud, NOIRET, 2015, p. 33).
9
Apresentação de informações escritas, organizadas de tal modo que dá ao leitor a possibilidade de
escolher diversos caminhos, partindo de sequências associativas, de acordo com o seu interesse, em
lugar de seguir um encadeamento linear único (MICHAELIS, 2020).
Giovani Marcos Bernini • 65
Em seu sentido mais simples, História Pública se refere à atuação dos his-
toriadores e do método histórico fora da academia: no governo, em
corporações privadas, nos meios de comunicação, em sociedades históricas
e museus, até mesmo em espaços privados. Os historiadores públicos estão
atuando em todos os lugares, empregando suas habilidades profissionais,
eles são parte do processo público. 10
10
KELLEY, Robert Apud CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. História Pública: uma breve bibliografia
comentada. In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.
com.br/historia-publica-biblio/.Publicado em 6 nov. 2017. Acesso em 19/10/2019.
66 • Lugares de memórias na rede
novidade, tendo em vista que esse formato já possui linhas bem defini-
das e experiências consolidadas?
Um dos desafios aqui propostos seria a articulação da linguagem
tradicional do patrimônio (estabelecida desde o século XIX) às lingua-
gens digitais contemporâneas.
Considerando, ainda, os dados do questionário diagnóstico respon-
dido pelos alunos que, como vimos, demonstrou o sentimento de que a
escola pouco utiliza as tecnologias e mídias digitais para o ensino, e que
esta utilização poderia colaborar com o processo de aprendizagem his-
tórica.
Sabemos, no entanto, que algumas alterações propostas nas insti-
tuições formais de ensino sofrem limitações legais, especialmente
quando se trata dos currículos e do tempo de permanência dos alunos
na escola. Portanto, era necessário que o projeto se desenvolvesse de
forma complementar ao que já estava posto, a fim de não esbarrar em
obstáculos burocráticos que fugissem do alcance da própria unidade de
ensino.
Sendo assim, o projeto deveria funcionar de forma extracurricular,
preferencialmente em contraturno e ser formado por alunos voluntá-
rios. Estas escolhas se deram devido à consciência da extrema
dificuldade em se fazer alterações curriculares a fim de inserir a Edu-
cação Patrimonial de forma satisfatória. Era necessário, portanto, que
ela ocorresse paralelamente ao que já estava posto.
Este modelo vai ao encontro de uma das proposições do “produto
pedagógico” defendido pelo ProfHistória, no qual ele deve ser passível
de replicagem em outros espaços, situações e temporalidades. O for-
mato aqui proposto pretende atender a esse requisito, viabilizando sua
implementação em outros colégios, cidades e regiões.
Giovani Marcos Bernini • 71
Verificamos que 79% das famílias era composta por duas ou mais
pessoas trabalhadoras, denotando a ausência de um responsável na re-
sidência durante o horário comercial. Estas informações são
importantes na medida em que colocam a instituição escolar como um
espaço seguro para as crianças e adolescentes do bairro durante este
período, criando um elo de corresponsabilidade entre ambos.
Uma dúvida na escolha do colégio para a implementação do projeto
foi: “Por que não aplicá-lo em uma escola em que eu estivesse
74 • Lugares de memórias na rede
Ainda segundo Meneses, ela poderia ser vista sob três dimensões:
artefato; campo de forças; e imagem. Isso porque ela é fabricada pelos
homens, historicamente, obedecendo funções e sentidos específicos. Tal
processo não ocorre de forma inconsciente. Ele responde a jogos de for-
ças e representações sociais. É, contudo, resultado de práticas coletivas
que se expressam por meio das imagens urbanas que, posteriormente,
configuram-se em suportes de memórias e discursos.
Portanto, o desenho e a dinâmica urbana são frutos dos usos e re-
lações na (e com) a cidade e dos significados e reapropriações dos
espaços que decorrem do cotidiano. A cidade é fluxo, é mudança e é tra-
dição.
Ela é portadora de memórias que se fragmentam pelas esquinas,
praças e prédios. Mais que pedra e cal (GONÇALVES, 2015), ela é sentido.
“Podemos dizer que a cidade deve ser estudada como um lugar de acon-
tecimento cultural e como cenário de um efeito imaginário, sendo que
os símbolos construídos pelos habitantes é que acabam por diferenciar
uma cidade da outra” (MAKOWIECKY, 2007, p. 61). Conversar com a ci-
dade, fazê-la falar, contar “seus causos” é sempre instigante. Mas quais
histórias ela contaria? Por quais mecanismos?
Como já abordamos no capítulo anterior, o município de Toledo,
localizado na região oeste do Estado do Paraná, inicia suas narrativas
históricas como marco no século XX, mais precisamente no ano de 1946,
quando, de acordo com relatos de “pioneiros”, os primeiros imigrantes,
um grupo de 40 homens oriundos do Rio Grande do Sul, desembarcaram
88 • Lugares de memórias na rede
Figura 31 - Vista parcial da rua Sete de setembro, antes da remodelação em 2015. Trecho
tombado como Patrimônio Histórico do Município.
Figura 32 - Alunos visitando a rua 7 de setembro, durante pesquisa de campo. Rua Sete de
setembro.
Figura 33: Pesquisa de campo. Rua Sete de setembro. Alunos caminham junto ao trilho que
preserva a pavimentação original.
A percepção, junto aos alunos, foi de frieza. Metade deles não jul-
gou o espaço interessante. Os poucos comentários eram sobre as formas
geométricas. Faltava humanidade ao monumento. Não havia o que con-
templar. Nada de chamativo ao olhar, a não ser fazer a leitura dos
nomes.
Os alunos passavam pelas placas identificando sobrenomes conhe-
cidos, como de amigos, familiares e ex-professores. Tentavam
pronunciar, com sotaque, nomes de origem alemã. Era notório a tenta-
tiva de achar-se em meio àquelas pessoas. Seja no nome de batismo ou
familiar.
Quando alguns comentaram sobre não encontrar seus vínculos fa-
miliares ali, informei-os que o memorial homenageava apenas as
famílias que habitaram a cidade naquele período específico. De
Giovani Marcos Bernini • 105
interessante pois fiquei muito curioso para saber aonde eramos prédios
públicos da época, comparado aos de hoje” (LIMA R,2018).
Interessante notar a importância que todos os participantes atri-
buíram a esses espaços para a história local, mesmo que seus suportes
físicos de “voz” não parecessem tão interessantes individualmente. Um
exemplo foi o “Memorial do Pioneiro Colonizador”, onde, segundo dados
do questionário, 50% considerou pessoalmente interessante, 70% consi-
derou importante para a cidade e 90% manteria esse espaço. Portanto,
os alunos parecem reconhecer a relevância de uma “história coletiva”.
Notamos que o interesse aumentava proporcionalmente ao apelo
visual e informacional dos lugares. Aqueles ornamentados com vestí-
gios físicos das memórias, como o caso da pavimentação poliédrica da
“Rua 7 de setembro” e das turbinas do “Memorial da Usina” foram os
que mais atraíram nossos pesquisadores. Poder “tocar outros tempos”
pareceu fundamental a eles.
Sobre a relação desses monumentos com o cotidiano, uma das es-
tudantes comentou: “as pessoas sempre iam até a cachoeira da usina,
mas ninguém sabia porque tinha esse nome” (LUANA, 2018).
Aquela descoberta, para ela, parecia ter dado outra dimensão a um
espaço de lazer frequentado pelos moradores da região que, cotidiana-
mente se dirigem ao local para contemplar a natureza e banharem-se
em dias quentes. Ou seja, percebeu-se que a visita guiada pela cidade
tem o potencial de reestabelecer ligações entre espaços, memórias e
funções.
Contudo, sem dúvidas, o que permeou toda a discussão foi a ausên-
cia de informações históricas nos lugares visitados. Excetuando a “Rua
7 de setembro”, todos os outros lugares foram criticados nesse ponto,
sendo apontado como uma das principais causas de falta de interesse e
112 • Lugares de memórias na rede
Figura 42 - Opções de interação com o leitor através dos botões “twitter”, “facebook”,
“reblogar” e “curtir”, seguido de sugestões de leituras de outros “Espaços de Memórias”.
Para além das opções sugeridas, o visitante pode ter acesso às in-
formações de outros espaços da cidade navegando pelo menu em
“Outras Memórias”. Após um clique, será direcionado à página inicial do
blog, que apresenta os vários lugares de memórias pesquisados pelos
nossos alunos.
1
Data da última análise do blog antes da edição final desta pesquisa, dada em 18/03/2020.
3
COMPARTILHANDO AUTORIDADE: OUTRAS TANTAS
MEMÓRIAS
escola e os saberes que circundam o meio onde vive este aluno no presente
vivido (CAINELLI; TUMA, 2009, p. 219).
sociais, às suas mudanças e tensões. Num esforço colaborativo, ela pode va-
lorizar o passado para além da academia; pode democratizar a história sem
perder a seriedade ou o poder de análise. Nesse sentido, a história pública
pode ser definida como um ato de “abrir portas e não de construir muros
(ALMEIDA; ROVAI; 2011. p.07).
Para esses grupos o local ganha novos contornos. Ali, mais que pre-
senciar a história dos antepassados, é o espaço onde se altera a própria
história, reescrevendo-a para as próximas gerações.
Portanto, reafirmamos a necessidade do “compartilhamento da
autoridade histórica” 1 (FRISCH, 1990) com os “não historiadores”, a fim
de possibilitar outras interpretações dos discursos e espaços urbanos a
partir das experiências particulares que, inevitavelmente, também
constroem outros significados. A esse respeito Frisch, afirma que:
1
Conceito debatido por Michael Frisch (1990), em que a construção histórica deve se dar com a
colaboração e participação de “não profissionais” da área, trazendo novos pontos de vistas e
experiências, substituindo a hierarquia tradicional das instituições (como arquivos, museus e
associações históricas) pelo diálogo e engajamento popular.
142 • Lugares de memórias na rede
Após sua confecção, o formulário foi repassado via link para os par-
ticipantes do projeto que se encarregaram de reenviá-los para alguns de
seus contatos.
A proposta inicial era que o link permanecesse disponível pelo
prazo de uma semana, o que foi estendido para a melhor organização do
grupo. Findados 15 dias, obtivemos a participação de 25 depoentes que
contaram algumas de suas memórias atreladas a espaços da cidade. As
Giovani Marcos Bernini • 147
Concluí todo o ensino fundamental nesta escola, onde minha mãe foi pro-
fessora por mais de 30 anos, até se aposentar, e o Campus da Unioeste, por
ser uma grande conquista da comunidade toledana. Universidade em que
150 • Lugares de memórias na rede
Estudei da antiga 4ª série até a metade do 3º ano do ensino médio lá. Con-
sequentemente vivi muita coisa e muito da minha formação está
relacionada com este ambiente. Uma das muitas histórias que guardo com
carinho é a caça aos alienígenas que eu e um grupo de amigos fazíamos na
hora do recreio durante o ensino fundamental. Conhecia aquele Colégio tão
bem (ou até melhor) que a minha casa (MORAIS, 2020).
Figura 60 - Visão aérea da Praça da Cultura durante o evento cultural Rockato, em 2016.
Extinta concha acústica, local onde hoje se encontra o inútil aquário muni-
cipal, no lago Diva Paim Barth. Na época da concha, eu dei meus primeiros
passos artísticos na música e teatro. Presenciei várias apresentações dos
artistas da cidade e me diverti bastante (BRÁS, 2020).
Giovani Marcos Bernini • 153
Teatro Municipal, este, além de ser um espaço muito bonito, marcou a mi-
nha pré adolescência em Toledo. Na época, eu fazia parte de um grupo de
teatro e um dos meus sonhos era me apresentar lá. (Não aconteceu). O auge
foi quando, em um concurso de redação que participei pelo Morais Rego,
houve entrega de premiação no Teatro, e eu fui uma das premiadas. Biblio-
teca Municipal também me marcou muito nesta fase, meu refúgio era os
livros, e as vezes passava tardes inteiras lá (MORAIS, 2020).
HB ou Hard Blue.. Também não existe mais na cidade (como boa parte das
minhas melhores lembranças). Lá foi um espaço de grandes encontros com
amigos… Grandes sons e bandas locais se apresentaram lá… E foi lá que des-
cobri verdadeiramente que também gostaria de cantar em público e me
apresentar interpretando grandes clássicos do rock (CÂNDIDO, 2020).
Tenho uma memória afetiva muito grande com o bairro panorama, foi lá
que eu nasci e muito tempo depois tive minha filha. Lembro do Pinheiro que
tinha na frente de casa quando era criança e das várias árvores frutíferas
no quintal, os quintais eram enormes (PASSAROTI, 2020).
Por se tratar do bairro onde cresci, lugar do qual carrego muitas memórias
a maioria felizes, onde conheci pessoas importantes pra minha vida, onde
me fiz, e creio ainda estar me fazendo [sendo] visto [e] ouvido enquanto
negro Lgbt+ e periférico em espaços como o ambiente escolar que carece do
preparo para lidar com diversas situações que se mostram presentes em um
ambiente periférico (OLIVEIRA, 2020).
2
Proposta por Bauman (2003), seria fundamentada na fraternidade, no comprometimento a longo prazo
e nos direitos e obrigações inabaláveis. O conceito se opõe ao de “comunidade estética”, onde as
lideranças seriam efêmeras e os vínculos sem consequências, não gerando responsabilidades mútuas.
156 • Lugares de memórias na rede
Fonte: EUTOOL. A história do Lago Municipal de Toledo contada em 9 imagens aéreas!. Dis-
ponível em: http://eutool.blogspot.com/2014/06/a-historia-do-lago.html. Acesse em: 26 de
fevereiro de 2020.
Antes do D’Graus, pra quem é um pouco mais antigo, Lauri e família toca-
vam o ‘Cantinho do Sorvete’, que ficava anexo ao Posto de Combustível na
frente do antigo Clube do Comércio, hoje Unipar Campus II. Sem dúvida
D’Graus foi o bar mais Rock N’ Roll de Toledo. Tínhamos até uma trilha so-
nora rocker pro Lauri, música do Mutantes (FERREIRA, 2020).
ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira. Introdução à História
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