Fonética E Fonologia Da Língua Portuguesa: Aline Azeredo Bizello
Fonética E Fonologia Da Língua Portuguesa: Aline Azeredo Bizello
Fonética E Fonologia Da Língua Portuguesa: Aline Azeredo Bizello
FONOLOGIA DA
LÍNGUA PORTUGUESA
Introdução
Será que os aspectos fonológicos da língua também seguem al-
guma regra? Que processos estão envolvidos com as pronúncias?
Analisar os processos fonológicos a partir da abordagem histórica é
uma forma interessante de compreender a evolução da língua e seus
desdobramentos.
Neste capítulo, você estudará as contribuições dos estudos sobre a
evolução da língua (sincrônica e diacronicamente), os processos fono-
lógicos, bem como a formulação de uma regra fonológica a partir da
ocorrência de um processo fonológico.
Para Saussure (1970), a sincronia é uma abordagem de um dado momento dos fatos
da língua, já a diacronia se refere à sucessão dos fatos da língua.
O estudo sincrônico foi, pois, o método escolhido por Saussure para lidar com
as relações no sistema, já que determinar o valor assumido pelas “peças” no
jogo somente é possível através da apreensão de um momento específico no
mesmo. Esse método serviu muito bem aos propósitos de Saussure, o que, no
entanto, não o impedia de enxergar a sincronia como uma abstração teórica que,
embora necessária, implica, em certa medida, renunciar a precisão da análise.
gua utilizada pelo escritor português e a utilizada pelos brasileiros nos dias
atuais. Assim, qualquer falante de português pode ter consciência do aspecto
temporal da sua língua. Essa consciência requer que o pesquisador enxergue a
língua como um objeto sistematicamente heterogêneo, pois, assim, ele poderá
analisá-la no tempo aparente e na sua sucessão.
Em uma análise que aborde a língua sob as duas perspectivas (diacrônica e
sincrônica), fica evidente que as modificações ocorrem também com os fonemas.
Essas alterações constituem os processos fonológicos, assunto da próxima seção.
Processos fonológicos
A língua pode sofrer alterações, as quais podem ser percebidas tanto do ponto
de vista sincrônico quanto do diacrônico. Essas alterações ocorrem nos sons
das formas básicas dos morfemas e são explicadas por meio de regras que
caracterizam os processos fonológicos. No português do Brasil, observam-se
variados processos fonológicos segmentais. Cagliari (2002) apresenta e explica
alguns deles em seu livro Análise fonológica.
A assimilação caracteriza-se pelo processo de semelhança pelo qual um
som pode passar quando está próximo a outro. Por exemplo, uma consoante
velar pode se tornar palatal diante de uma vogal fechada. Veja alguns exemplos:
Super amigo: supˈeʁ amˈiɡu Diante de uma vogal, a vibrante vira tepe
uma vogal acentuada é seguida de uma fricativa alveolar surda, como ocorre
com o pronome “nós”. Para o estudioso, essa condição favorece o surgimento
de uma vogal extra: “nóis”. Observe outros exemplos:
três treis
mês meis
rapaz rapaiz
arroz arroiz
digno diguino
advocacia adivocacia
está tá
arrancar rancar
maior mor
Altar-mor; sargento-mor
Por mor de Deus — em vez de amor
chácara chacra
xícara xicra
olhar olha
touca toca
dentro drento
pirulito pilurito
capacete pacacete
lagarto largato
caderneta cardeneta
tia tᶴ ia
dia dᴣia
8 Processos e regras fonológicas
De acordo com Dubois et al. (1999, p. 522), um fonema retroflexo “[...] é aquele cuja
articulação implica à elevação do reverso da ponta da língua em direção ao palato”.
Regras fonológicas
A fonologia de uma língua específica é composta de representações subjacentes
(do nível da competência) que expressam o conhecimento linguístico dos
falantes. Com essas representações, é possível prever regras de uso da língua
por esses falantes, as quais definem como essas representações emergem na
superfície, ou seja, qual sua saída fonética.
Processos e regras fonológicas 9
Figura 1. C, consoante.
Fonte: Cagliari (2002, p. 99).
Figura 2. V, vogal.
Fonte: Cagliari (2002, p. 99).
10 Processos e regras fonológicas
Figura 3. Ø, nada.
Fonte: Cagliari (2002, p. 99).
A regra para eliminação é que o fonema final seja átono e esteja depois de um
som africado palatoalveolar (Figura 4). Analise a palavra pote: o fonema final,
/e/, sofre apagamento, pois antes dele há um fonema africado palatoalveolar, tʃ.
Para ocorrer labialização, a consoante deve estar entre duas vogais arre-
dondadas (Figura 7). Isso é o que ocorre com a palavra osso, por exemplo.
Para que a consoante líquida não lateral se altere para uma retroflexa, é
necessário o acréscimo de uma articulação secundária à primária (Figura 8).
Essa regra se refere ao processo de retroflexão e sustenta o chamado r caipira
brasileiro.