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Aquisição e Aprendizagem Duma Segunda Língua Na Criança e No Adulto

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Njinga & Sepé: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras

São Francisco do Conde (BA) | Vol.2, nº 1 | p.525-536 | jan./jun. 2022 * ISSN: 2764-1244

Aquisição e aprendizagem duma segunda língua na criança e no adulto

David Zefanias Chonane


https://orcid.org/0000-0002-3008-3041

Resumo: O presente trabalho é uma parte de uma pesquisa em linguística aplicada educacional
relacionada com a aquisição e aprendizagem duma língua segunda na criança e adulto em
Moçambique. Tem como objectivos (i) discutir as principais teorias que orientam a aprendizagem
de uma língua no contexto da língua segunda; (ii) a forma como o aprendente interioriza as
estruturas gramaticais da língua para posterior uso em contextos diversificados, e (iii) perceber as
relações e as influencias que as teorias exercem na aprendizagem da língua na criança e no
adulto. Para lograrmos o objectivo deste estudo, adoptamos uma metodologia assente na revisão
bibliográfica sobre as diversas teorias que abordam sobre aquisição e aprendizagem da língua
num contexto em que é aprendida como língua segunda na criança e no adulto. O presente
estudo poderá contribuir para uma nova reflexão sobre as teorias que presidem a aquisição e
aprendizagem da língua portuguesa como língua segunda na criança e no adulto.

Palavras-chave: Aquisição; Aprendizagem; Língua segunda; Criança; Adulto

Acquisition and learning of a second language in children and adults


Abstract: The present paper is part of a research project in applied linguistics related to second
language acquisition and learning in children and adults in Mozambique. Its objectives are (i) to
discuss the main theories that guide language learning in the second language context; (ii) how the
learner internalises the grammatical structures of the language for later use in diversified contexts,
and (iii) to understand the relationships and the influences that theories have on language learning
in children and adults. To achieve the aim of this study, we adopt a methodology based on a
literature review of the various theories that address language acquisition and learning in a context
where it is learnt as a second language by children and adults. The present study may contribute
to a new reflection on the theories that govern the acquisition and learning of Portuguese as a
second language in children and adults.

Keywords: Acquisition; Learning; Second language; Child; Adult.

Ku kuma na ku dyondza ririmi ra vumbirhi eka vana na vanhu lavakulu


Xitlhokovetselo: Ntirho lowu i xiphemu xa ndzavisiso eka dyondzo ya ririmi leri tirhisiwaka leri
fambelanaka na ku kuma na ku dyondza ririmi ra vumbirhi eka vana na vanhu lavakulu
eMozambique. Swikongomelo swa yona i (i) ku burisana hi tithiyorinkulu leti kongomisaka dyondzo
ya ririmi eka xiyimo xa ririmi ra vumbirhi; (ii) a ndlela leyi mudyondzi a nghenisaka endzeni
swivumbeko swa ririmi swa ririmi leswaku swi ta tirhisiwa endzhaku eka swiyimo swo hambana
hambana, na (iii) ku twisisa vuxaka lebyi na minkucetelo leyi tithiyori ti yi endlaka eka dyondzo ya
ririmi eka vana na vanhu lavakulu. Ku kota ku fikelela xikongomelo xa dyondzo leyi, hi amukerile
endlelo leri simekiweke eka nxopaxopo wa matsalwa eka tithiyori to hambana leti tshinelaka ku
kuma ririmi na ku dyondza eka xiyimo lexi ri dyondziwaka tanihi ririmi ra vumbirhi eka vana na
vanhu lavakulu. Dyondzo leyi yi nga hoxa xandla eka ku anakanyisisa lokuntshwa eka tidyondzo
leti lawulaka ku kumiwa na ku dyondza ririmi ra Xiputukezi tanihi ririmi ra vumbirhi eka
vatsongwana na vanhu lavakulu.


Licenciado em Linguística e Literatura, Mestre em Linguística e Doutorando finalista (4º ano)
pela Universidade Eduardo Mondlane - Moçambique.
David Zefanias Chonane, Aquisição e aprendizagem duma segunda língua na criança e no adulto...

Marito ya nkoka: Ku kuma; Ku dyondza; ririmi ra vumbirhi; N'wana; Munhu lonkulu

Introdução

A aprendizagem da língua é uma atividade intelectual em que o aprendente tem a


necessidade de aprender e memorizar as regras e os exemplos, com o propósito de
dominar a morfologia e a sintaxe da língua alvo. Nesta atividade, os alunos recebem e
elaboram listas exaustivas de vocabulário propostos que tratam de exercícios de
aplicação das regras de gramática, ditados, tradução e outros. A relação professor/aluno
é vertical, ou seja, ele representa a autoridade no grupo/classe, pois detêm o saber.
Sob o tema Aquisição e Aprendizagem duma Segunda Língua na criança e no
adulto, pretende-se com este trabalho apresentar e discutir as principais teorias que
presidem a Aquisição e Aprendizagem de uma Segunda Língua, suas relações e
influências que os mesmos exercem nestes dois sistemas de interiorização do
conhecimento da língua. Os dados que constituem o corpus do trabalho resultam duma
revisão de literatura sobre autores conceituados na matéria em questão, tais como,
James (1998), Krashen (1981), Klein (1986), Mclaughin (1987), Lopes (2004), entre
outros.
O objetivo geral deste estudo passa pela discussão das principais teorias que
presidem os processos de aquisição e aprendizagem de uma língua, bem como, perceber
as relações que as teorias estabelecem na aprendizagem de uma língua segunda na
criança e no adulto. Em termos específicos, este estudo pretende, analisar as relações e
as influências que as teorias exercem na aprendizagem da língua na criança e no adulto.
Este estudo pode contribuir nos campos educativo e científico. Ao analisarmos as
teorias em relação aos processos de aquisição e aprendizagem, pretendemos obter
informações que possam contribuir para uma melhor planificação no ensino de uma
língua como L2 na criança e no adulto.
Este estudo pode ainda contribuir para mobilizar uma nova forma de raciocinar por
parte dos professores de línguas, focalizando não somente o papel do professor na
abordagem dos conteúdos, como também, o seu papel na construção, acompanhamento
e apoio cognitivo dos seus educandos na aquisição e aprendizagem de uma língua
segunda. Do ponto de vista científico, consideramos que o estudo pode contribuir para o

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enriquecimento do campo dos estudos linguísticos. Adotamos, neste estudo uma


perspectiva metodológica assente na pesquisa bibliográfica, onde fizemos a leitura de
várias obras de conceituados autores que abordam sobre o tema em estudo.
O trabalho está estruturado em secções, a saber: a I secção define e caracteriza os
conceitos de Aquisição e de Aprendizagem de uma Segunda Língua, na criança e no
adulto, respectivamente. A II secção ocupa-se das principais teorias e dos principais
fatores da Aquisição e Aprendizagem de uma Segunda Língua, suas características,
relações e influência nos processos em estudo. E a III secção a conclusão, como parte
final do trabalho, destaca as relações entre as teorias e fatores da Aquisição e
Aprendizagem de uma Segunda Língua, as lições aprendidas sobre o tema e apresenta o
posicionamento do autor de trabalho acerca das teorias e dos fatores estudados.

1.Breve caracterização da Língua Changana

A língua Changana pertence ao Grupo S.50, Tswa-Ronga, segundo (Ngunga &


Faquir 2011:225; Chambo et al 2020)). Fazem parte também o Xirhonga e Citshwa,
línguas mutuamente inteligíveis, o que pressupõe dizer, que o falante de uma língua,
geralmente compreende as outras pertencentes do mesmo grupo. Para além de
Moçambique, o Changana é falado nos seguintes países: África do Sul, Swazilândia e
Zimbabwe. No nosso país, são reconhecidas as seguintes variantes:

(i) Xihlanganu, falada a sudoeste de Moçambique, nos montes Libombos, abrangendo


parte dos distritos de Namaacha, Moamba e Magude;
(ii) Zidzonga (Xitsonga), falada nos distritos de Magude, Bilene e parte do Massingir;
(iii) (iii) Xin`walungu, falada do distrito de Massingir;
(iv) (iv) Xibila, falada no distrito de Lipompo e parte de Chibuto;
(v) (v) Xihlengwe, falada nos distritos de Xai-Xai, Manjacaze, Chibuto, Guijá,
Chicualacuala, Panda, Morrumbene, Massinga, Vilanculos e Govuro.

Dados do censo populacional de 2017, indicam que o Changana é falado por


1,919.217 habitantes e que a usam como língua primeira. Estes dados numéricos
representam um crescimento na ordem de 236.779 falantes (14%), quando comparados
com o número registado no censo de 2017, que foi de 1,682.438 falantes como L1

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(Chambo et al 2020). Depois deste breve historial, urge a necessidade de explicarmos


que, tal como afirmamos anteriormente, o nosso objetivo passa pela discussão de teorias
que presidem a aprendizagem de uma língua segunda em crianças e adultos que têm a
língua primeira Changana como L1.

2.Conceitos de Aquisição e Aprendizagem da L2

Da apreciação feita, Krashen (1981) aponta que existem dois processos mentais
que operam na aquisição de uma segunda língua. Um que é consciente e outro que é
inconsciente ou subconsciente. O processo consciente é relativo à aprendizagem que tem
a ver com a focalização nas regras gramaticais, na memorização das mesmas e em
exercícios onde o aluno reconhece situações nas quais as regras estão sendo violadas, e
o subconsciente corresponde à aquisição que é um processo de assimilação natural,
intuitivo, subconsciente, fruto de interação em situações reais de convívio humano, em
que o aprendente participa como sujeito ativo. Importa referir que o processo de aquisição
tem semelhanças com o processo de assimilação da língua materna pelas crianças.
Para a criança poder se comunicar deve adquirir um conhecimento prático
funcional sobre a língua falada, através da interação com as pessoas que a cercam e não
um conhecimento rico, pois este ocorre anos mais tarde, quando vai à escola em busca
do conhecimento teórico da sua língua materna. A criança adquire a língua na interação
com a família e comunidade.
Para Krashen (1981) estes dois processos são independentes entre si; ou seja, a
assimilação não existe como resultado do estudo formal ou o contrário (o estudo formal
não se transforma em assimilação). Em relação ao papel da primeira língua na
aprendizagem de uma segunda língua, o autor sugere que a fonte de maior problema no
erro sintático nos alunos adultos, no desempenho de uma segunda língua é o
desempenho deficiente da primeira língua. Quanto mais novo for o aprendente, mais
eficiência terá na aquisição de língua segunda.
Na aquisição e aprendizagem de segunda língua por adultos destaca-se que os
programas de ensino de L2 são, na sua maioria, divididos e baseados em quatro
competências conhecidas como falar, ouvir, ler e escrever. Krashen não concorda com
esta divisão. Em sua teoria chamada de “Monitor Theory”. Nesta teoria pode-se observar
que a parte mais importante de seu programa de ensino é o intake sob a aquisição.

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Concluiu que a aquisição de uma língua se sobrepõe ao aprendizado formal no


desempenho da L2.
O Intake é simplesmente onde origina-se a assimilação da língua; é o input
linguístico que ajuda a assimilar a língua. Diz adiante que a L2 é adquirida por um input
compreensível, através da audição e da leitura. Não se adquire uma L2 praticando a
oralidade, pois a fala é considerada como resultado da aquisição, e não a sua causa. No
caso dos adultos a aprendizagem é orientada para a resolução de problemas e tarefas
com que se confrontam na sua vida quotidiana. Os adultos são sensíveis a estímulos de
natureza externa, mas são os fatores de ordem interna que motivam o adulto para a
aprendizagem.

3.Teorias da Aquisição/Aprendizagem da L2

3.1. Hipótese de Inatismo

A teoria de aquisição da linguagem de Chomsky é baseada na hipótese de que,


conhecimentos inatos, aos quais chamou de Gramática Universal, permitem às crianças,
durante o período crítico, adquirirem a língua do seu meio. Chomsky não faz referências
específicas sobre as consequências da sua teoria para o aprendente de uma língua
estrangeira, mas alguns seguidores da sua teoria argumentam que a Gramática Universal
oferece a melhor perspectiva para a compreensão do processo de Aquisição de Língua
Estrangeira.
Contudo, outros linguistas afirmam que a Gramática Universal não é aplicável ao
estudo de Aquisição de Língua Estrangeira para aprendentes que já passaram pelo
chamado período crítico de aquisição de língua, uma vez que, esta pode explicar o fato de
que os aprendentes, sabem mais da L2 (língua Estrangeira), do que aquilo que poderiam
saber somente a partir dos insumos linguísticos por eles recebidos. A partir desta
observação, os linguistas estrangeiros inferem que a Gramática Universal deve estar
disponível aos aprendentes da Língua Estrangeira.
Importa referir que, para dominar a língua é preciso ter em conta a parte discursiva,
que tem a ver com as regras de comunicação e com o conhecimento do mundo, o
chamado background knowledge. Para Chomsky (1965), todas as crianças nasceriam
biologicamente preparadas para adquirir a língua, dependendo apenas do ambiente físico

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para acionar a língua que será falada, bem como o meio social e cultural onde está
inserida. Este fato refere-se ao período dos 0-11/12 anos que correspondem ao período
crítico que a seguir passaremos a descrever

3.2.Período Crítico

Para Ellis (1997), é necessário investigar e fazer distinções entre o efeito da idade,
no caminho de Aquisição (onde os itens da língua alvo são adquiridos na mesma ordem
por diferentes alunos), agilidade (quão rápido o aluno adquire a língua), e o
desenvolvimento final/ conclusivo (quão proficiente na língua o aluno estará no final do
processo).
A questão da idade na Aquisição de Língua Estrangeira é sustentada com base
nos estudos das Ciências de Neurolinguística, Psicologia Linguística, bem como, uma
série de hipóteses que visam explicar, não só o desempenho cognitivo do ser humano,
mas também as diferenças entre o adulto e a criança. A aprendizagem de língua ocorre
melhor antes da puberdade (dos zero aos onze/doze anos), pois isto torna o aprendente
proficiente, proficiência essa condicionada pela forma (regras gramaticais) e pela função
(regras de uso da gramática).
Neste período, o cérebro tende a perder esta característica. Neste contexto,
observa-se uma grande dificuldade para os aprendentes adolescentes ou aqueles que
ultrapassam este período a aprender a Língua Estrangeira, uma vez que o processo de
Aquisição de Língua Estrangeira é controlado pelo próprio aprendente que constrói seu
conhecimento assim como o modo de consegui-lo. Para tal, o aprendente adulto é
instigado a utilizar suas habilidades bem como ter consciência de suas estratégias
cognitivas.

3.3. Factores da Aprendizagem da L2

Os fatores da aprendizagem da L2 são vários. Dentre eles podemos mencionar os


sociais, econômicos, políticos, culturais e cognitivos, entre outros. Cada pessoa tem suas
próprias características individuais, sendo impossível descrever todas as possibilidades
desse fenômeno.

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Sobre os fatores de origem cultural, vamo-nos socorrer ao exemplo descrito por


Lopes sobre o tema poluição da água. O professor antevia que o aluno associasse a
poluição de água a áreas industriais urbanas, o aluno pensava na poluição da água em
conexão com as zonas rurais. Obviamente cada uma das partes abordava o tópico com
base na sua própria estrutura cognitiva e cultural. Com base no exemplo acima
concluímos que a ausência da partilha do mesmo contexto cultural entre professor/aluno
deveu-se ao fato de que enquanto o professor tinha na sua estrutura cognitiva o conceito
de poluição na zona urbana, o aluno tinha o mesmo conceito em relação à zonas não
urbana.
No seu trabalho, Krashen (1981), aponta que a falta de motivação, a baixa auto-
estima e ansiedade, podem combinar com um aumento do filtro e formar um bloqueio
mental. Klein (1986) afirma que a aprendizagem espontânea se baseia na comunicação
significativa com os falantes da língua alvo. O aluno é orientado não à forma, mas sim, ao
conteúdo e aos efeitos dos seus enunciados ficando inconsciente das regras, estruturas
linguísticas usadas no processo.
Para Krashen, (1984) a aprendizagem da L2 (language learning) é um processo
consciente, controlado – conhecimento das regras gramaticais e suas exceções. Para
este, há duas formas de aprendentes adultos desenvolverem conhecimentos sobre uma
segunda língua: pela aquisição e pela aprendizagem. Tomaremos em consideração a
segunda forma, na qual o autor diz que a aprendizagem dá-se por um processo
consciente de estudo e atenção às formas e regras gramaticais. Portanto, chamaremos a
esta de aprendizagem tutelada.
Este tipo de aprendizagem desenvolve habilidades na L2, através da
aprendizagem consciente da língua e pode ser influenciada positivamente pela correção
de erros e pela apresentação de regras explícitas, as quais de acordo com Widdowson
(1978), implicam o conhecimento de regras gramaticais ligadas à Forma e Função de uso,
(language use e language usage) de uma língua, e podem ser influenciadas
negativamente quando o falante não conhece bem a forma e a função da língua alvo,
apoiando-se então à sua língua materna na produção. E, quanto a este assunto, a teoria
do conhecimento, adverte que para falar uma língua deve haver um casamento entre a
gramática e o conhecimento da língua.
De acordo com Mclaughlin (1987), a aprendizagem tutelada funcionaria como
monitor da aquisição, e as condições para o uso deste exigem que o falante tenha tempo

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para focalizar-se na aprendizagem da forma e da gramática, de modo a ter o


conhecimento geral sobre o mundo, pois apenas um background knowledge histórico-
cultural e social pode permitir que um indivíduo se comunique com o mundo. Este
exercício evita a transferência que muitas das vezes provoca infelicidade a nível do
discurso. Este acto remete-nos à teoria de transferência, assunto que tanto em Krashen
(1984) como em Mclaughlin (1987) é tido como um dos fatores que interferem no sistema
da interlinguagem.

3.4.Transferência

O conceito de transferência é um dos assuntos centrais nas pesquisas em


aprendizagem da segunda língua. Lado (1957) e Selinker (1969) afirmam que a
transferência é um processo cognitivo. É uma estratégia que o aprendente aplica quando
se apercebe que não tem competência linguística sobre algum aspecto da L2, isto é, o
aprendente tende a produzir uma forma errada com origem na L1 (porque não
conhecendo a forma na L2 mas tem uma da L1, portanto usa a mesma). A transferência
pode ocorrer a nível da linguística, das estratégias de aprendizagem de L2, das
estratégias de comunicação na L2, da generalização excessiva das regras e da semântica
da língua estudada. Ela pode ser feita de duas maneiras: pode ser positiva, quando
funciona como facilitadora (+T), a nível macro, ou negativa, quando provoca inferência ou
erro (-T) nível micro. Um exemplo da transferência negativa é a elocução portuguesa
produzida por um falante changana nós fomos nascidos em Moçambique (=nascemos).
Pela sua natureza, o verbo nascer é intransitivo, mas que os falantes de Changana
tendem a transitivar o verbo dando um auxiliar (ser).
Alguns fatores capazes de promover ou inibir a transferência são: a idade, a
personalidade, a motivação e a atitude; o background social, educacional, cultural e o
background de outras línguas aprendidas, o tipo e quantidade de exposição à língua em
estudo; a proficiência na língua em estudo, a distância entre a L1 e a L2; e tipos de
tarefas e áreas de uso da língua. Skinner (1984) defende que a transferência é difícil de
definir, pois ela depende de vários fatores: na linguagem não verbal, não se ensina
respostas, assume-se que o estudante já as tem no seu subconsciente – este apenas tem
que saber associá-las ao estímulo; na L2, as respostas devem ser aprendidas de acordo
com o estímulo a que devem associar-se. Em geral, na aprendizagem não há apelo à

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convenção; isto é, a decisão é arbitrária. E para fundamentar este fato, autores White
(2000) defende que a aprendizagem de uma língua consiste numa cadeia de Estímulo-
Resposta-Reforço.

3.5.Análise Contrastiva

A Hipótese da Análise Contrastiva prevê que, por um lado, onde há semelhanças


entre duas línguas, os aprendentes terão facilidade em adquirir as estruturas da língua em
estudo e, por outro lado, onde há diferenças, o mesmo apresentará dificuldades. Em
termos de definição, a análise contrastiva é preditiva, no sentido de que ela prevê erros
que os aprendentes tendem a cometer na aprendizagem de uma L2, como consequência
da diferencia entre esta e a LM (James 1998). A importância da análise contrastiva para o
ensino de língua reside no fato de poder produzir descrições que possam ser utilizáveis
no processo de ensino-aprendizagem.
Ilustrando, se tomarmos em consideração o aspecto “onde” (é que ocorre o
contraste), o conhecimento de que é comum em LN expressar um significado através da
fonologia ou léxico, enquanto a LA expressa o mesmo significado através da morfologia
ou sintaxe, permite ao professor organizar o processo de ensino-aprendizagem de forma
eficaz. Contudo, alguns autores criticam a hipótese da análise contrastiva dado que, há
erros por ela previstos, mas que não se materializam na interlinguagem dos aprendentes,
havendo em contrapartida erros que os aprendentes cometem, os quais a análise
contrastiva não prevê.

3.6.Interlinguagem

O termo interlinguagem foi cunhado por Selinker (1969), reconhecendo o fato de


que aprendentes de L2 constroem um sistema linguístico intermediário entre a sua
primeira língua e a língua em estudo. Conforme Ellis (1997), a interlinguagem pode ser
entendida como um sistema de transição criado pelo aprendente ao longo do seu
processo de assimilação de uma língua estrangeira, que se caracteriza pela interferência
da língua mãe.
Desse modo, formas da língua materna, tais como aspectos sintáticos, fonológicos,
semânticos e lexicais, influenciam nas novas construções da L2 usadas pelo aluno, pois

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são levadas para a língua em estudo. Ainda segundo Ellis (1997) o conceito de
interlinguagem envolve seis premissas sobre a aquisição da L2, tais como: o aprendente
constrói um sistema de regras linguísticas abstratas que norteiam a compreensão e
produção da L2, o qual é visto como uma gramática mental; (1) a gramática do
aprendente é permeável, o que significa que as regras que constituem o conhecimento de
um aprendente, em qualquer estágio, não estão fixadas, mas sim abertas às influências
externas, através de insumo; (2) e também é transicional, isto é, o aprendente muda a sua
gramática de tempos a tempos, acrescentando regras, eliminando outras e reestruturando
o sistema todo-interlinguagem continuum; há duas hipóteses sobre o sistema da
interlinguagem: a primeira é que o sistema que o aprendente constrói contém regras
variáveis; a segunda é que o sistema de interlinguagem é homogêneo e que a
variabilidade reflete os erros que os aprendentes cometem quando tentam usar seus
conhecimentos para se comunicar, entre outras.

Conclusão

Este estudo tinha como objectivo apresentar e discutir as principais teorias que
presidem a Aquisição e Aprendizagem de uma Segunda Língua, suas relações e
influência que os mesmos exercem nestes dois sistemas de interiorização do
conhecimento da língua.
Através deste estudo, concluímos que a aquisição de uma língua ocorre de forma
inconsciente, a partir do meio social onde a criança está inserida. Ademais, a criança no
seu percurso de aquisição de uma língua vai absorvendo e memorizando sons, palavras e
estruturas frásicas simples e que vai evoluindo no processo comunicativo. Em relação à
aprendizagem de uma língua (L2), concluímos que ela ocorre de forma consciente e
objetiva, na medida em que, ocorre em situações formais de aprendizagem. Por isso, a
aprendizagem é guiada, é tutelada e regida por regras formais que permitem uma
comunicação adequada e correta.
Importa realçar que, geralmente, aprendizagem ocorre em contextos formais de
aprendizagem usando estratégias de promoção regras gramaticais na aprendizagem de
uma língua segunda em contextos formais de aprendizagem. O mais importante é que os
professores se tornem conscientes da necessidade de adotar metodologias que se
adequam à realidade concreta em que o processo de ensino-aprendizagem decorre.

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Krashen, em Grande Debate publicado na revista EFL GAZETTE em Julho de 1984


afirma que “estamos a tornar a escola mais difícil. A vida em si já é muito difícil. Temos
muitas outras coisas por que batalhar. Porque não descobrirmos a forma como o cérebro
funciona e organizarmos a instrução em conformidade com isso?” Esta posição de
Krashen pretende aconselhar os professores de Língua Segunda para a necessidade de
tornar o input o mais compreensível possível.

Referências
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(2021) A Educação Bilingue em Moçambique: Guia Prática. Universidade de Vigo.
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WIDDOWSON, H.G. Teaching Language as Comunication. Oxford: Oxford University
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David Zefanias Chonane, Aquisição e aprendizagem duma segunda língua na criança e no adulto...

Recebido em: 11/02/2022


Aceito em: 25/05/2022

Para citar este texto (ABNT): CHONANE, David Zefanias. Aquisição e aprendizagem
duma segunda língua na criança e no adulto. Njinga & Sepé: Revista Internacional de
Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras. São Francisco do Conde (BA), vol.2, nº 1,
p.525-536, jan./jun.2022.

Para citar este texto (APA): Chonane, David Zefanias. (jan./jun.2022). Aquisição e
aprendizagem duma segunda língua na criança e no adulto. Njinga & Sepé: Revista
Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras. São Francisco do Conde (BA),
2(1): 525-536.

Njinga & Sepé: https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape

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