22-42 Diego Da Hipoteca PDF
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RESUMO
O presente artigo trata da hipoteca, instituto essencialmente civil, muito utilizado na atualidade devido
ao seu dinamismo e à prioridade que dá ao credor quanto ao pagamento do crédito. Na seara dos
direitos reais, a hipoteca encontra-se ao lado do penhor e da anticrese, embora se sobressaia em
demasia em relação a estes, pela sua própria constituição e pelos tipos de bens que podem lhe servir de
objeto. Há três tipos de hipoteca, a convencional, a legal e a processual, sendo a convencional o tipo
mais utilizado na prática e que possui a maior gama de possibilidades, permitindo sua aplicação
corriqueira. Com a hipoteca, o bem dado em garantia fica sequelado, impossibilitando ao devedor
manobras com o intuito de fraudar a dívida. Atualmente, a hipoteca pode gravar vários tipos de bens,
ampliando as possibilidades e a aplicação do instituto. Assim sendo, é necessário analisar suas
principais características e seu desenvolvimento no meio jurídico e social.
ABSTRACT
The present article is about the mortgage, institute essentially civil, very used at the present time due
to its dynamism and to the priority that gives to the creditor with relationship to the payment of the
credit. In the camp of the real rights, the mortgage meets beside the pawn and of the anticrese,
although it stands out behind in relation to these, for its own constitution and for the types of things
that can serve it as object. There are three mortgage types, the conventional, the legal and the
processual, being the conventional the type more used in the practice and that it possesses the largest
range of possibilities, allowing its trivial application. With the mortgage, the thing given in warranty is
sequeled, disabling to the debtor maneuvers with the objective of swindling the debt. Now, the
mortgage can record several types of goods, enlarging the possibilities and the application of the
institute. Cause, it is necessary to analyze its main characteristics and its development in juridical and
social means.
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Bacharel em Direito pela Universidade Norte do Paraná – UNOPAR; Ensaísta; Discente do curso de
especialização em Direito Civil e Processo Civil na Universidade Estadual de Londrina; Atuante em escritório
jurídico na cidade de Tamarana, estado do Paraná.
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1 INTRODUÇÃO
2 CONCEITO E DEFINIÇÃO
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Flávio Pedro Sabácio Justiniano (483-565 a.c). Imperador bizantino responsável pela compilação de leis,
comparada ao Código de Hamurabi em sua importância para o Direito moderno.
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transmissão da posse, tal pacto se desvirtuará como direto real, não sendo inscritível ou
averbável.
Pelo Conseguinte, fica claro a partir dos conceitos que a hipoteca distingue-se
basicamente do penhor pelos tipos de bens dados em garantia e a forma com que se regula a
posse dos mesmos na relação entre credor e devedor, embora tenham as mesmas origens. É
um direito real desde que obedecidas às formalidades de registro, vinculando o bem gravado,
o que assegura ao credor o adimplemento de uma obrigação, dando-lhe o direito de
perseguição do bem, além de possuir natureza jurídica civil. Define-se, portanto, hipoteca
como a garantia real e acessória de um contrato que se perfaz através do registro do gravame,
cujo bem imóvel ou assim considerado fica na posse do devedor, conferindo ao credor
preferencial direito de venda no caso de inadimplemento.
A hipoteca, como se vê, oriunda do Direito Romano, contemplada pelo Código Civil
de 1916 e em vigor graças ao novel Código, rege-se por alguns princípios, os quais são o da
acessoriedade, indivisibilidade, especialização, publicidade e o subprincípio da prioridade.
Por acessoriedade, entende-se que a hipoteca seja dependente de outro contrato para
que exista, não podendo haver a chamada hipoteca abstrata (VENOSA, 2006, p. 556),
oportunidade na qual é necessário volver a atenção para a teoria do excelso Pontes de
Miranda, em sua escada dos negócios jurídico2. Da mesma forma, a hipoteca servirá de
garantia independentemente da natureza e da espécie da obrigação da qual ela nasça
(RUGGIERO, 2005, p. 717).
Sobre a indivisibilidade da hipoteca assevera Lacerda de Almeida (apud DINIZ,
2009, p. 555) que o ônus real grava o bem em sua integralidade, pois enquanto não se liquidar
a obrigação a hipoteca subsistirá por inteira, onerando o bem mesmo com o pagamento parcial
do débito. A indivisibilidade, nesse caso, diz respeito ao vínculo real existente entre o
cumprimento da obrigação e o bem, e não pode ser confundida no que diz respeito ao bem e a
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Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda (1.892-1.979), autor da teoria segundo a qual o negócio jurídico é
dividido em três planos ou, senão, em três degraus. O primeiro degrau dessa escada é o plano da existência, no
qual se encontram os elementos mínimos, sem os quais o negócio jurídico é inexistente. O segundo degrau é o
plano da validade que, em uma contextualização, representa as partes e suas vontades não viciadas, o objeto
lícito determinado ou determinável, além da forma prescrita ou não defesa em lei. Já o terceiro degrau é o plano
da eficácia, do qual advirão as consequências do negócio jurídico, tendo como elementos incidentais a condição,
o termo e o encargo ou modo. No caso da hipoteca que se materializa de forma autônoma, a mesma será
considerada inexistente, carecendo de validade e, por conseguinte, não produzirá nenhum efeito jurídico.
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dívida, que podem muito bem ser fracionados. A indivisibilidade, também, distingue-se da
possibilidade de remir alguns bens hipotecados a partir do pagamento parcial, o que é
convencionalmente possível entre as partes.
A especialização é um princípio que diz respeito à descrição minuciosa e à
individualização do bem que servirá como garantia hipotecária, além dos requisitos da dívida,
não podendo a hipoteca ser instituída com base em bens gerais e ilimitados, devendo o
patrimônio do devedor ser pormenorizadamente gravado, de acordo com o vínculo
obrigacional (VENOSA, 2006, p. 557). Segundo esse princípio, a hipoteca não poderá incidir
sobre bens futuros ou ainda não concretizados, pois escapa à realidade jurídica (MONTEIRO,
2007, p. 409-410)3.
Já o princípio da publicidade faz alusão ao registro do título da hipoteca no cartório
competente, o que garante o conhecimento a terceiros que porventura busquem uma consulta.
Por cartório competente, entende que seja o do lugar onde se encontra o imóvel ou de cada
um deles, caso o título se estenda por mais de uma circunscrição imobiliária, de acordo do
com artigo 1.492 do Código Civil. Desse princípio deriva o subprincípio da prioridade, que
consiste em haver mais de um registro, ser obedecida a ordem cronológica deles,
oportunidade na qual será preterido o registro mais novo em favor do mais velho. O oficial do
registro pode indeferir o pedido de registro de duas hipotecas no mesmo dia se no instrumento
não houver horário que distinga sua cronologia. Ocorrendo o caso em tela, haverá a eleição
para ser registrado do título mais novo (VENOSA, 2.006, p. 556-557).
Ante o exposto, conclui-se que os princípios que regem a hipoteca estão,
principalmente, dispostos no Código Civil de forma implícita e explícita, exercendo papéis
fundamentais no desenvolvimento desse instituto. A doutrina atual não é unânime na
consideração deles, de tal forma que alguns autores arrolam os princípios da especialização e
publicidade essencialmente. Sobre o princípio da publicidade, é notório que dele deriva o
corolário da prioridade, podendo o mesmo ser denominado de subprincípio por sua
importância.
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3
Com esse entendimento, Washington de Barros Monteiro desconsidera a hipoteca sobre bens futuros. Cabe
ressaltar que o artigo 138, do Código Brasileiro de Aeronáutica, Lei 7.565/1.986, dispõe que as aeronaves,
“inclusive aquelas em construção”, poderão ser objeto de hipoteca. Dessa forma, a hipoteca poderá ser
constituída apenas sobre a parte já construída para que esteja de acordo com a realidade material do bem.
4 DA NATUREZA JURÍDICA
Sobre hipoteca, é necessário ressaltar que existem três tipos, os quais são a
convencional, a legal e a judicial.
A hipoteca convencional surge do acordo de vontades entre aquele que pretende
oferecer e aquele que pretende receber a hipoteca. Pode ser convencionada por instrumento
particular assinado por duas testemunhas, mas dependendo do valor do imóvel, a forma deve
ser a prescrita no artigo 108 do Código Civil, ou seja, através de escritura pública (DINIZ,
2009, p. 566). É a forma mais comum de hipoteca.
O direito de sequela na hipoteca significa que o credor perseguirá a coisa onde quer
que se encontre, mesmo que esteja em poder do adquirente, enquanto à preferência diz
respeito ao direito do credor de receber prioritariamente, sem ser necessário se sujeitar a um
possível concurso de credores.
O direito de sequela confere ao credor a garantia mesmo que o bem seja alienado,
pois o instituto da hipoteca apenas grava o bem de ônus, sem retirá-lo do comércio contudo, e
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a hipoteca apenas incidirá sobre esse bem com a sua alienação (VENOSA, 2006, p. 558). O
artigo 1.475 do Código Civil é categórico em dispor contra a cláusula contratual que proíbe o
proprietário de alienar o bem outrora hipotecado. Em seu parágrafo único, há a possibilidade,
no entanto, de as partes ajustarem que o crédito hipotecário vencerá caso ocorra a alienação,
oportunidade na qual o adquirente terá conhecimento de que deverá pagar a dívida.
Nesse mesmo sentido, cabe ressaltar que o devedor não está inibido de alienar o bem
hipotecado, pois não perde o jus disponendi, visto que transferirá o ônus que o grava ao
adquirente, que não poderá se escusar com a alegação de ignorância. Entretanto, se o devedor
alienar o imóvel antes do registro da hipoteca, responderá pelo crime de estelionato, previsto
no artigo 171, § 2º, II do Código Penal (PEREIRA, 2004, p. 386-387)4.
Já o direito de preferência faz alusão ao subprincípio da prioridade, tratando-se da
condição preferencial em que fica o credor que tem o título da hipoteca registrado perante
outros credores que não o tenham ou não registraram seus títulos posteriormente, garantindo
ao credor preambular vantagem sobre os precedentes, podendo excutir o bem antes deles. O
credor da segunda hipoteca e posteriores não poderão executar o imóvel antes do vencimento
da primeira (VENOSA, 2006, p. 557; 571).
Nesse sentido, o parágrafo único do artigo 1.493 do Código Civil dispõe sobre a
prioridade, que por sua vez determina a preferência do credor, recebendo essa prioridade o
nome de prelatícia5 pela doutrina (DINIZ, 2009, p. 568).
Frente ao exposto, extrai-se que o tanto o direito de sequela quanto o de preferência
constituem a essência da hipoteca no que tange à segurança jurídica que ela traz, pois ambos
servem para qualificar a garantia que o credor possui no caso de inadimplemento do devedor.
O direito de sequela, todavia, encontra óbices práticos por não ser confortável ao credor saber
que o devedor pretende alienar o imóvel dado em garantia, podendo gerar algum tipo de
embaraço entre ambos a depender de execução hipotecária. Já o direito de preferência se
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In verbis: Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
[...]
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
[...]
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou
imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas
circunstâncias;
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Prelatício: referente a prelado: título honorífico de alguns dignitários eclesiásticos. Certamente a autora
utilizou o termo no sentido conotativo da palavra, ao passo que ela sugere superioridade entre os demais,
embora sua etimologia faça referência a adiantamento.
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manifesta como um dos fundamentos da hipoteca, por dar predileção ao credor que registrou o
título.
Poderá ser objeto de hipoteca o domínio direto, de forma que o senhorio poderá dar
em garantia hipotecária o domínio eminente do qual é titular, o que consiste na substância da
coisa, sem as suas utilidades. Caso o senhorio adquira o domínio útil a partir da constituição
da hipoteca, a garantia se estenderá a todo o imóvel, completando-se os atributos da
propriedade (MONTEIRO, 2007, p. 414).
O domínio útil, como desmembramento da propriedade, também poderá ser objeto de
hipoteca, oportunidade na qual o adquirente deverá pagar o laudêmio no caso da execução da
mesma (PEREIRA, 2004, p. 374).
As estradas de ferro, um tipo de bem imóvel pouco comum de imaginar que possam
ser dados em garantia, visto à sua condição e constituição de trilhos, estações, entre outros,
além de sua vultuosa importância econômica, social e logística, têm a peculiaridade que
consiste em sua manutenção operacional, devendo o credor da hipoteca obedecer a certos
preceitos de administração. O artigo 1.504, in fine, do Código Civil também traz uma
característica própria desse tipo de garantia, que consiste no direito de oposição do credor
caso exista proposta de venda, das linhas, ramais e parte considerável do material de
exploração, além da possibilidade de fusão empresarial, caso ocorra a instabilidade da
garantia (DINIZ, 2009, p. 559-560).
Os recursos naturais, anteriormente dispostos no Código Civil de 1.916 no seu artigo
810, VI, como “as minas e as pedreiras, independentemente do solo onde se acham”, podem
ser objeto de hipoteca, mas com a ressalva de que deverão ter sua exploração
preferencialmente feita pela União, por força da Constituição Federal de 1988. No caso das
minas, é necessário que exista uma concessão para que possam ser hipotecadas, requisito
dispensado para as pedreiras, por sua natureza (PEREIRA, 2004, p 375). Já Venosa (2006, p.
559), traz a possibilidade de que os monumentos arqueológicos sejam objeto de hipoteca, por
se encontrarem no solo.
Os navios possuem uma particulariedade, pois são bens móveis que o direito os
imobiliza. Diante de seu alto valor econômico, podem ser hipotecados e isso se estende desde
o momento de sua construção às suas partes e acessórios. Por estar vinculado a um porto, ter
nacionalidade e registro que o individualiza, oferece condições para assegurar o pagamento de
uma dívida. Para que a hipoteca de navios seja válida, é necessária a outorga uxória
(MONTEIRO, 2007, p. 461).
As aeronaves, assim como os navios, além de serem submetidas a registro,
imobilizadas pelo direito e ter sua hipoteca constituída desde a sua construção, são submetidas
ao regime da lei especial. O registro da aeronave será público, único e centralizado, inscrito
no Registro Aeronáutico Brasileiro (GONÇALVES, 2009, p. 565; 572).
A lei 11.481/2.007 introduziu os incisos VII, IX e X no artigo 1.473 do Código Civil,
cujos incrementos são o direito de uso especial para fins de moradia, que diz respeito à
aceitação da garantia real pelos agentes do Sistema Financeiro da Habitação, desde que
constatada a posse para fins de moradia e exista registro dela no cartório competente. Da
mesma forma ocorre com o direito real de uso, que ficará limitado à duração de sua
concessão. Por fim, pode ser objeto de hipoteca a propriedade superficiária, que corresponde
às plantações e construções, sem que haja o domínio do solo, constituindo-se em um direito
real de plantar ou construir em terreno alheio (DINIZ, 2009, p. 564).
Maria Helena Diniz traz o exemplo do gasoduto6 como objeto de hipoteca. Tal bem
se adere ao solo abrangendo a área útil que é desapropriada e o espaço aéreo, incluindo seus
bens e pertenças. Não se pode deixar de lado a concepção segundo a qual são bens móveis
que são considerados imóveis. No entanto, o gasoduto se trata de um bem imóvel composto,
visto que o objeto da hipoteca pode recair sobre ele, propriamente dito, ou sobre seus
acessórios. As suas partes integrantes somente serão consideradas hipotecadas se houver uma
hipoteca conjunta (2009, p. 562-563).
Pelo conseguinte, os requisitos objetivos servem ao direito como balizadores da
hipoteca, tratando-se de tipos previstos em lei. Entretanto, cabe ressaltar que outros tipos de
bens não previstos no texto legal poderão ser objeto de hipoteca desde observada a natureza
hipotecária nos mesmos, que se resume à condição ou tratamento de imóveis e o registro
formal que possam apresentar. Há, também, que se destacar a hipoteca que recai sobre bens
móveis quando eles são acessórios ou melhoramentos dos imóveis, pois representam uma
garantia valiosa junto do imóvel em que se encontram, embora sua manutenção e controle não
seja tarefa muito fácil, podendo ocorrer o seu perecimento, desvio ou subtração.
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Canalização à longa distância de gases naturais ou derivados de petróleo.
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constituição (GONÇALVES, 2009, p. 575). Dessa forma, consegue-se destacar ainda mais a
diferença existente entre as referidas determinações e o acordo das partes.
Enfim, o requisito formal contribui para a hipoteca materializando-a no mundo
jurídico e a revestindo das condições estabelecidas pela lei. Outro ponto importante é que a
forma pública será determina de acordo com o valor do imóvel hipotecado, tanto pela
segurança, quanto para evitar a evasão fiscal. Também, é interessante observar a forma
através da qual os outros tipos de hipoteca se constituem, visto que eles são dependentes dessa
configuração, como o caso da hipoteca legal e judicial.
10 DA PLURALIDADE DE HIPOTECAS
11 DA REMIÇÃO DA HIPOTECA
o mesmo efeito (MARINONI; MITIDIEIRO, 2008, p. 735). Caso do credor da hipoteca não
se satisfaça com a execução e posterior remição do bem pela família, o mesmo continuará
titular do direito contra o executado, sem haver, contudo, autorização para penhorar o bem
(PEREIRA, 2004, p. 400).
A massa falida ou os credores em concurso, independentemente da realização de
praça, poderão remir o bem sem poder o credor hipotecário se recusar ao pagamento, visto
que o mesmo fora avaliado oficialmente. Caso o preço seja menor, o restante da dívida entrará
em concurso quirografário. No entanto, se a avaliação for maior que a dívida, o credor apenas
poderá adjudicar o imóvel se repor à massa falida ou aos credores em concurso a diferença
devida (DINIZ, 2009, p. 581).
Enfim, o termo correto a ser utilizado é remição, devido à sua tecnicidade e maior
número de referências. A remição do bem hipotecado será oportunizada ao devedor e demais
interessados em vários momentos distintos, embora notório que ao crédito principal haverá o
acréscimo de custas. A remição do bem pelos familiares do devedor não é pacífica no direito,
principalmente quanto à impossibilidade do direito de penhorar o bem resgatado por quantia
menor que a dívida, o que se revela como um prejuízo ao credor. Os institutos reformados no
Código de Processo Civil foram ampliados, possibilitando a remição de bens móveis e
imóveis com mais versatilidade.
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
Por esse viés, o penhor se difere da hipoteca pelo fato de ser constituído sobre bens
móveis e, esses, ficarem na posse do credor, que não poderá usufruir deles, bastando-se ao seu
depósito e guarda. A sua definição encontra-se no artigo 1.431 do Código Civil, donde se
infere que a transferência da posse da coisa deve ser efetiva. O Código Civil de 1.916
utilizava o termo tradição7, vindo o novel código a utilizar o termo transferência. No entanto,
a transferência do bem não ocorre no penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, ficando
esses bens sob a posse do devedor, assemelhando-se à hipoteca nesse sentido (VENOSA,
2006, p. 526).
A anticrese é um instituto raramente utilizado na prática e surpreendentemente
contemplado pelo Código Civil de 2.002, nos artigos 1.506 a 1.510. Se na hipoteca o credor
não fica na posse do bem, e no penhor ele apenas o detém sem poder usá-lo, a anticrese se
revela como a transição entre os dois pois, nesse instituto, o credor fica na posse do bem
imóvel e pode usufruir dele, revertendo seus frutos para o pagamento da dívida. É bastante
provável que ela deixe de existir como direito real, subsistindo apenas como contrato de
crédito ou um tipo de cláusula nos contratos de hipoteca (PEREIRA, 2004, p. 415-416).
Já sobre a alienação fiduciária, cumpre destacar que pode ser instituída tanto sobre
bens móveis quanto imóveis, encontrando-se disposta nas Leis 10.931/2.004 e 9.514/1.997. É
um instituto bem difundido e utilizado atualmente devido, também, à sua versatilidade. Ela
difere-se dos institutos anteriores por haver a transmissão ao credor, não, da posse, mas da
propriedade dos bens. Porém, essa propriedade transferida não é plena, resumindo-se à sua
forma resolúvel, ou seja, o credor terá a propriedade apenas enquanto durar a dívida. Além do
mais, a alienação fiduciária não é um direito real, posto que se não houver pagamento, o título
gerará apenas direitos obrigacionais entre as partes, mesmo se devidamente registrado
(VENOSA, 2006, p. 392; 399). Vinga, contudo, no direito a opinião de que a alienação
fiduciária, embora seja um negócio jurídico único, desdobra-se em duas relações jurídicas:
uma obrigacional e, outra, real (DINIZ, 2009, 602-603).
Por fim, a hipoteca possui algumas vantagens sobre os institutos comparados que têm
como objetivo dar garantia a uma obrigação como, por exemplo, dispensar a manutenção da
coisa que se encontre na posse do credor, quando esta é empenhada. Nesse mesmo sentido, a
hipoteca se sobressai em relação à anticrese principalmente por não retirar a posse do bem
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Segundo Deocleciano Torrieri Guimarães (2009, p. 535), “modo derivado de adquirir a o domínio de coisa
móvel, pela transferência do alienante para o adquirente”. Todavia, o domínio apenas estará consolidado se não
houver o cumprimento da obrigação. Portanto, os juristas editores do Código Civil de 2.002 acertaram em
utilizar o termo transferência.
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ofertado em garantia, o que no dias atuais não seria em todos os casos conveniente, o que
contribui para o visível desuso desse instituto. Embora a alienação fiduciária se revele como
uma novidade no direito e possua bastante versatilidade, a garantia que ela traz imobiliza em
demasia o bem com a transferência da propriedade resolúvel, retirando sua capacidade plena
de comércio.
12 DA EXTINÇÃO DA HIPOTECA
A extinção da hipoteca dar-se-á por vários fatores, sendo que os mais comuns se
encontram dispostos objetivamente no artigo 1.499 do Código Civil. No referido artigo,
contudo, não estão todas as formas possíveis de extinção, de tal maneira que se entende que
seu rol seja exemplificativo.
Com a extinção ou desaparecimento da obrigação principal, a hipoteca deixará de
existir, posto que ela possui a característica de acessória, bem como os efeitos perante
terceiros, lembrando que isso somente ocorrerá a partir do cancelamento do registro. A
hipoteca se extinguirá com o pagamento da obrigação, que se trata de uma modalidade normal
e prevista nas obrigações, revelando-se essa prática a causa mais comum de extinção, embora
existam outros meios capazes de dar cabo à hipoteca (VENOSA, 2006, p. 581).
A hipoteca será extinta com o perecimento da coisa, pelo fato de que ela ficará sem
objeto. A destruição deverá ser total, pois não serão admitidas uma simples desvalorização ou
perda parcial do bem hipotecado. Caso a desvalorização ou perda parcial ocorra com a
hipoteca constituída, o credor poderá solicitar o reforço da garantia, sob pena de ter a hipoteca
antecipadamente vencida (DINIZ, 2009, p. 591).
A resolução da propriedade extinguirá a hipoteca, pelo vencimento do termo ajustado
ou pelo implemento da condição. Se o credor aceitar, estará correndo o risco da condição se
implementar e os direitos reais sobre o imóvel se resolverem. Há, também, a causa de
resolução de propriedade por motivo superveniente, oportunidade na qual subsistirá o vínculo
hipotecário anterior (GONÇALVES, 2009, p. 606-607).
A hipoteca se extinguirá pela renúncia expressa do credor. Sobre a renúncia tácita, há
manifestações que dizem ela não é compatível com a hipoteca. O Supremo Tribunal Federal,
em julgamento, decidiu não contemplar a renúncia tácita como forma de extinção, por não ser
possível inferir das circunstâncias a plena vontade do credor. Outro ponto importante é que a
renúncia é um ato unilateral, não necessitando, assim, o consentimento do devedor
13 CONCLUSÃO
Ante todo o exposto, conclui-se que a hipoteca é uma garantia muito versátil e muito
tradicional no direito, cuja utilização ao longo dos tempos possibilitou sua boa reputação entre
as garantias à disposição do credor, conferindo-lhe predileção em função da segurança que ela
dá, o que contribuiu para seu desenvolvimento teórico e prático.
Embora a hipoteca e o penhor tenham historicamente a mesma gênese eles são
inconfundíveis devido à especialidade de cada um, principalmente quando diz respeito aos
tipos de bens e a posse deles. Não se pode, contudo, dizer que o emprego dos referidos
institutos seja equivalente, pois o penhor a cada dia é menos usado, ao contrário da hipoteca,
que mantém sua aplicação, e ainda mais pela ampliação do instituto em 2.007.
A doutrina manifesta concordância em definir a hipoteca como garantia real e
acessória que recai sobre um bem imóvel a partir do registro do título, continuando o devedor
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