Ler Ou Não Os Clássicos - Memória Ou Ruptura - TCC

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LER OU NÃO OS CLÁSSICOS - MEMÓRIA OU RUPTURA

RESUMO
A pesquisa aqui apresentada tem como foco a reflexão e análise sobre a importância da
leitura de literatura no ensino médio. A partir da pesquisa bibliográfica e do
conhecimento empírico sobre o tema, surgem algumas questões que se destacam na
orientação desta monografia, tais como: Qual a importância do ensino de literatura no
ensino médio? Como é realizada a leitura de obras literárias nessa etapa de ensino?
Essas leituras são úteis na formação de leitores? Para encontrar uma resposta a esta
questão, traçou-se como objetivo geral enfatizar a importância da leitura de literatura
em sala de aula de forma que a leitura se torne significativa na vida real dos alunos.
Sustentada dentro da visão da leitura como prática social. Assim, trata-se de um estudo
baseado em um referencial teórico de pesquisa que visa compreender a relação entre a
literatura e a leitura de literatura no ensino médio, tendo o aluno/leitor como foco
principal do processo instrucional. Como base teórica para a leitura, foram utilizados os
estudos de Bakhtin (2006); Compagnon (2009); além do DCE (2008) e outras obras,
tanto impressas quanto online. Como resultado do processo de revisão e levantamento
bibliográfico, concluiu-se que a leitura de textos literários é essencial para o
desenvolvimento social e pessoal do ser humano e, portanto, deve ser discutida e
refletida de forma efetiva, pois os textos literários precisam ser entendidos como arte
pelo a escola e a metodologia Consequencial, essa ideia vai ao encontro da pesquisa de
Barthes (2004), que acredita que a leitura é uma espécie de prazer, uma espécie de
resultado, e é esse fator que leva os leitores a desejarem trabalhar. Além disso, as
escolas têm a responsabilidade de garantir que os alunos possam ler e ler literatura.

INTRODUÇÃO
Para discutir a função da literatura nesse período escolar, primeiro precisamos
definir qual é a finalidade da literatura. Se o objetivo é simplesmente se preparar para o
vestibular, talvez as escolas tenham levado isso em consideração e ensinado literatura
lendo fragmentos de obras em livros didáticos. No entanto, se se espera mais da
disciplina, a disciplina de Língua/Literatura Portuguesa deve ter os pressupostos para a
formação de leitores críticos, mesmo tendo em conta as questões sociais da formação do
aluno como cidadão. A crença nessa segunda possibilidade é a base e o
desenvolvimento desta pesquisa. Assim, o objetivo geral deste estudo é enfatizar a
importância da leitura de literatura na sala de aula, numa abordagem que torne a leitura
significativa na vida real dos alunos, nomeadamente a literatura e a leitura como
sociedade de prática.
Em apoio a este trabalho, buscamos um referencial teórico para a compreensão
da relação entre literatura e leitura de literatura no ensino médio, tendo o aluno/leitor
como foco principal do processo instrucional.
Em relação à leitura, a pesquisa de Bakhtin (2006) serve como suporte teórico,
argumentando que a leitura não é apenas a compreensão e a decodificação do sistema da
linguagem, mas a geração de significados. Texto discurso. Assim, de forma ativa, a
leitura torna-se uma prática sociocultural, uma ação interlocutora.
A leitura na escola deve estar sempre em busca de sentido e compreensão. O
importante é que o objetivo da leitura seja sempre saber mais sobre algo, sabendo que
toda vez que você lê um livro novo, aprende algo novo sobre o assunto que já estudou.
Qualquer nova contribuição que o texto possa trazer para o conhecimento do leitor deve
ter atingido o objetivo da leitura em ambiente escolar. A literatura é considerada uma
poderosa aliada da educação estética, pois estudar literatura nas escolas permite que os
alunos compreendam a realidade e gerem conhecimento por meio das artes da
linguagem.
Por sua vez, Compagnon (2009) define a literatura como um conjunto de
elementos em interação que se desenvolvem historicamente, revelando nuances
culturais e reproduzindo aspectos da realidade. Tão importante é a contribuição dessas
experiências, cujos relatos são traduzidos pela literatura em textos escritos e publicados,
tornando-se assim um legado para as gerações futuras. Capacitar os alunos para a
aquisição de bens culturais por meio do estudo de obras literárias, e o processo de
promoção da aceitação dessas obras, deve ser a preocupação dos professores em seu
trabalho de literatura no ensino médio. A escola deve capacitar os alunos para a leitura e
a criação de literatura para que, além de se divertirem, fomentem um espírito criativo
crítico, que contribua para a formação de disciplinas e abra portas para mundos de
sensibilidade e significado que podem não estar acessíveis a eles .na realidade. saiu da
escola.
A relevância do ensino da literatura no ensino secundário aparece também no
Guia Curricular Português (DCE, 2008), que refere que o ensino da literatura deve
permitir ao leitor sentir e expressar os seus sentimentos, dadas as condições nas aulas de
literatura, através leitura A interação que existe na prática, o engajamento que reconhece
a subjetividade expressa pelo trio obra/autor/leitor. Portanto, a escola deve estudar a
literatura do ponto de vista estético (PARANÁ, 2008, p. 58)
O papel do professor nesse processo é fundamental, pois é seu dever despertar
nos alunos o gosto, o gosto pela leitura, e possibilitar que eles ampliem seus horizontes
por conta própria através de diversas obras literárias, não apenas obras carregadas no
exame vestibular. Expressar-se é apenas mais uma etapa do processo de interação
escritor-obra-leitor, onde os alunos ora são leitores, ora são escritores e produtores de
textos literários.
Neste estudo, de natureza bibliográfica, foram consultados livros, anuários
eletrônicos e artigos impressos ou publicados na Internet. Esses materiais permitiram
que o estudo fosse construído. A pesquisa bibliográfica é o primeiro passo em qualquer
pesquisa. Segundo Marconi e Lakatos (1992), esse tipo de levantamento caracteriza-se
por um levantamento da bibliografia publicada sobre o assunto em estudo. Essa
abordagem dá aos pesquisadores acesso ao material existente sobre um tópico,
auxiliando assim na análise e compreensão de sua relevância.
A leitura de textos literários é fundamental para o desenvolvimento social e
pessoal do ser humano e, por isso, deve ser objeto de discussão e reflexão efetivas.
Nesse sentido, o tema deste estudo é relevante e, portanto, justificado em termos de
escolarização e formação social do sujeito.

A IMPORTÂNCIA DE TEXTOS LITERÁRIOS NO ENSINO MÉDIO


A referência à leitura implica que é uma espécie de construção de significado. A
leitura deve ser entendida como uma atividade de compreensão, interpretação e
ressignificação. A interpretação é a intervenção do sujeito autor/leitor no mundo, uma
prática no tempo e no espaço. Orlandi (2001) vê a leitura como um processo discursivo
além da compreensão do texto. Para o autor, o ato de ler significa o processo de
construção de sentido e posicionamento crítico do sujeito. Ler, portanto, não é apenas “o
que o texto quer dizer”, mas como interagir com ele e, a partir daí, o leitor ressignifica o
texto. Para alcançar a interpretação e reconstrução do texto, é necessário passar pelo
processo de compreensão do texto, ou seja, a análise e decodificação do que está escrito
no texto, pois como disse Calvino:
A leitura é uma forma de aprender sobre atenção, consciência e intervenção.
As grandes obras não podem ser lidas de forma alguma, deliciando-se com a
pura subjetividade do leitor, pois nelas estão inscritas aquelas linhas de força
que podem ser reguladas e alongadas, mas não canceladas (Italo Calvino,
2006, p. 109).

Portanto, embora a interpretação requeira a intervenção do leitor, ela ainda


precisa respeitar a compreensão das palavras do autor. Barthes (2004) observou que a
leitura é a decodificação de letras, palavras, sensações e estruturas, porém, por meio da
codificação cumulativa, os leitores sobrecodificam, gerando novos significados para os
códigos.
Porém, como afirmou Lajolo (1982): “Ler não é apenas decifrar, mas partir do
texto, poder dar-lhe sentido, e ligá-lo a todos os outros textos que já foram lidos”. Para
Soares (2001), a leitura é um conjunto de habilidades linguísticas e mentais que se
estende desde a capacidade de reconhecer palavras escritas até a capacidade de
compreender o texto escrito.
Falando em leitura, Paulo Freire (2001) também mostra que a interpretação
textual não se esgota na pura decodificação da palavra escrita, mas no sentido que lhe
atribuímos, na leitura do mundo, ou seja, por meio do leitor no significado que ele
atribui ao texto, fez uma contribuição importante de alguma forma. Martins (1983)
reiterou:
Quando começamos a organizar o conhecimento que adquirimos, a situação
imposta pela realidade e nossa atuação nela; quando começamos a fazer
conexões entre experiências e tentamos resolver os problemas que nos são
apresentados - então estamos lendo, o que basicamente nos possibilita ler
tudo. Esse, por exemplo, é o lado otimista e feliz de aprender a ler. Dá-nos a
impressão de que o mundo está ao nosso alcance, podemos não apenas
compreendê-lo, aceitá-lo, mas até modificá-lo à medida que incorporamos
nossa experiência de leitura (MARTINS, 1983, p. 17).

Dessa forma, o leitor, ao interagir com o texto e com o autor, realiza atividades
dialógicas a fim de perceber o processo de significação (BAKHTIN, 2006), e a cada
nova leitura, o leitor é capaz de lidar com outros textos que tratam com os mesmos
temas, percebendo como eles se relacionam com suas vivências pessoais e sociais. O
diálogo entre experiências culturais, como disse Barthes (2004), ler é deixar um certo
gesto no texto. E, para Markuski:
O efeito de sentido é produzido pelo leitor ou ouvinte à luz do texto, de modo
que a compreensão resultante é resultado de um esforço conjunto entre
produtores e receptores no contexto real de uso da linguagem. O significado
não está no leitor, nem no texto, nem no autor, mas ocorre como resultado da
relação entre eles e as atividades realizadas (MARCUSCHI, 2008, p. 248).
O texto faz parte do exercício discursivo, cuja função deve ser compreendida
pelo aluno leitor. Cabe ao professor o exercício de mediar essa compreensão e interação
aluno/texto. Para Marcuschi (2008), uma atividade de produção de sentido é uma
“atividade de coautoria” se o autor de um determinado texto diz uma parte e assume
outra parte como responsabilidade do leitor, assim, o sentido é produzido em parte pelo
autor, texto e alguns leitores. Dessa forma, não é razoável buscar significado em todo o
texto como se todo o processo de significação estivesse contido nele. Segundo Aguiar e
Bordini (1993, p. 86), "a literatura não se esgota no texto. Ela se realiza no ato da leitura
e a pressupõe, prenuncia-a em si mesma, ao indicar as ações que o leitor fará". Para
Eagleton (2006), o texto nada mais é do que uma série de insinuações ao leitor,
convidando-o a compreender a linguagem, e a própria obra "nada mais é do que uma
cadeia de marcas pretas organizadas em uma página" e sem a participação ativa do
leitor, não há obra literária.
A leitura deve ser encarada como um processo gradativo. Idealmente, a leitura se
tornará mais complexa à medida que os alunos avançam no processo acadêmico, como
os autores conceituam como: pré-leitura que ocorre na pré-escola e na preparação para a
alfabetização; leitura compreensiva, o período que corresponde ao momento da
alfabetização (1ª e 2ª séries) ; leitura interpretativa da 3ª à 5ª série; leitura crítica
começando por volta da 6ª e 7ª séries e terminando com leitura crítica abrangendo a 8ª
série e o ensino médio, então as escolas devem fornecer desde o ensino fundamental até
o ensino médio Materiais de leitura diferentes para permitir que os alunos alcancem
estágios mais altos de compreensão e interpretação para maturidade de leitura. Portanto,
quando você estiver no ensino médio, a leitura de literatura mais complexa não será
uma barreira para o seu progresso acadêmico, nem cobrar por esse trabalho no
vestibular será uma barreira para entrar na faculdade. Com relação a esse processo
gradual e transitório da leitura literária, Compagnon (2009) apontou que a transição
entre a leitura infantil e a leitura juvenil nem sempre ocorre de forma natural, pois esta
última é considerada entediante por exigir atributos de solidão prolongada, portanto, seu
espaço não é mais garantido em comparação com o primeiro.
Para melhor seguir este tema, é necessário distinguir textos não literários de
textos literários. Os textos não literários são caracterizados pelo foco do autor na clareza
e objetividade na transmissão das informações.
Os textos literários são assim definidos por Reis (2013):
Podemos pensar os textos literários como resultado de uma estrutura clara e
coerente de expressão da linguagem literária, como portadores de certas
características, que podem ser assim resumidas: um texto literário configura
um mundo ficcional com dimensões e índices de especialização muito
variáveis; enquanto , apresenta considerável coerência, tanto do ponto de
vista semântico quanto do ponto de vista técnico compositivo; um texto
literário também deve ser entendido como uma entidade multinível, ou seja,
composta por diferentes níveis de expressão; e, finalmente, também Um texto
literário será considerada como tendo de fato uma dimensão intertextual,
desde que tenha o potencial de relacioná-la com outros textos com os quais
dialoga e nele projeta (grifo nosso) (REIS, 2013, p. 123).

Um texto literário difere assim de um texto não literário pelo seu caráter sempre
ficcional, pela sua natureza polifónica, isto é, pelo cruzamento de múltiplas vozes, e
pela sua abertura à intertextualidade. Às vezes, os textos literários dialogam com outros
textos e fatos da vida real. Difere também da linguagem utilizada em textos não
literários porque é essencialmente de apreciação, ou seja, o autor se preocupa com a
estética para além do conteúdo, como diz Barthes (2004), “uma mensagem em sua
forma própria como seu objeto , não o seu conteúdo". São, assim, textos produzidos
com maior grau de liberdade do que outros textos em termos de recursos linguísticos, o
que os torna mais agradáveis de ler. Em suma, os textos literários têm a função de
estética crítica, portanto, a leitura de textos literários precisa ser encarada como uma
possibilidade de questionar, pesquisar, criar e recriar, de modo a cumprir seu papel
social, que precisa ser melhor explorado em prática social. ambiente escolar. No que diz
respeito à literatura, como objeto de ensino, os Parâmetros Curriculares Nacionais para
o Ensino Médio (PCNEM, 2002) alertam para a dicotomia que existe entre o ensino de
língua portuguesa e o de literatura, lembrando que essas duas áreas do conhecimento
devem trabalhar juntas, uma porque nenhum método único pode efetivamente separá-
los sem que um seja mais privilegiado que o outro. Espera-se que os professores,
especialmente os professores de português, saiam da escola com uma escrita razoável
(coerência, coerência, ortografia, etc.) e habilidades de leitura para poder atender às
necessidades da vida cotidiana. Em outras palavras, o ensino de português deve preparar
os alunos para enfrentar a vida social e as necessidades do mercado de trabalho.
No entanto, no caso do ensino de literatura, surge a pergunta: quais são as
necessidades do ensino/aprendizagem de literatura? É sabido que grande parte dos
alunos, principalmente os de escolas públicas, não conseguirá e nem terá interesse em
fazer cursos superiores, então por que gastar o já pouco tempo lendo literatura em sala
de aula? Interpretando Compagnon (2009), Para que serve a literatura?
As Diretrizes Nacionais para o Ensino Secundário (OCNEM, 2006) tentam, no
Capítulo 2, responder a uma pergunta semelhante: "Por que usar a literatura no ensino
médio?" A priori, essa pergunta parece irrespondível porque a literatura é arte, a arte é
inútil e, no entanto, precisamente por ser inútil, a literatura deve servir à escola, não
para servir, mas:
Como forma de ir além dos simples dados, usufruindo da liberdade que só os
resultados estéticos permitem; como forma de adquirir conhecimentos que
não podem ser medidos objetivamente; Alguns papéis são reservados, todos
têm o direito de usá-los.
Poderíamos até dizer que aqueles a quem sistematicamente são negados
tantos direitos (incluindo o direito de pensar de forma independente) por
mecanismos ideologicamente perversos têm mais direitos (BRASIL, 2006,
pp. 52-53).

Porém, além dos prazeres que os textos literários proporcionam, o aluno/leitor,


sob a orientação do professor, deve adquirir conhecimentos que só a literatura pode
proporcionar, distintos daqueles fornecidos pelos meios históricos. Segundo Aguiar e
Bordini (1993), a literatura, como forma de comunicação, participa da cultura mais
ampla, ou seja, de uma produção importante, em relação a outros objetos culturais como
a música, a dança e as artes visuais, a título de exemplo. Eagleton (2006, p. 140)
concretiza 'arquétipos' ou personagens que possuem um significado universal" e,
portanto, fazem parte das representações socioculturais.
O Guia Curricular do Estado do Paraná (DCE, 2008, p. 57) discute o estudo de
Candido (1972) e parece responder também à questão de Compagnon (2009):
A literatura é vista como uma arte para mudar/humanizar as pessoas e a
sociedade. O autor atribui três funções à literatura: psicológica, formativa e
social. Em primeiro lugar, a função psicológica, que permite às pessoas fugir
da realidade e cair num mundo de fantasia, o que lhe permite ter momentos
de reflexão, identificação e catarse. Em segundo lugar, Candido (1972)
argumenta que a própria literatura faz parte da formação do sujeito, servindo
como uma ferramenta educacional ao retratar realidades não reveladas pelas
ideologias dominantes. (…) A função social, por sua vez, é a forma como a
literatura retrata diversos segmentos da sociedade, é a expressão da sociedade
e da humanidade (PARANÁ, 2008, p. 57-58).

A literatura alcança, assim, seu papel emancipatório ao cumprir as três funções


que lhe são atribuídas, a saber, a humanização do homem e da sociedade. Das funções
da literatura, talvez a mais relevante seja a capacidade de um texto literário se
humanizar, pois por sua própria natureza leva os leitores a se identificarem
emocionalmente com o texto. As pessoas que lêem literatura são mais capazes de se
colocar no lugar de outras pessoas, tornando-se mais autocríticas porque são mais
capazes de entender e questionar as perspectivas, crenças e atitudes de outras pessoas.
Devido a essa natureza social, a literatura também foi fortemente criticada.
Compagnon (2009) em sua obra “Literatura para que?” traz uma crítica marxista
relacionando literatura e ideologia. O autor argumenta que, para Marx, a literatura
substituiu a religião e ajudou a gerar consenso social. Eagleton (2006), ao discorrer
sobre a ideologia da Nova Crítica, afirma que para ela a literatura é a nova religião
porque opera principalmente por meio da emoção e da experiência, razão pela qual se
adapta à religião que a realiza Tarefa ideológica abandonada A poesia é o refúgio
nostálgico da alienação do capitalismo industrial. Todorov (2009, p. 18) defende essa
crítica, argumentando que a literatura tem uma função diferente do discurso religioso,
moral ou político, porque não promulga um "sistema de preceitos". Para Compagnon
(2009), a literatura não gera consenso social, pois pode concordar com a sociedade, mas
também pode gerar discordância, pois pode retratar acontecimentos atuais ou predizê-
los, pode atrair empatia, mas também pode tornar as pessoas inquietas , perturbado e
desorientado, e às vezes não é apenas discurso sociofilosófico:
A realidade que a literatura aspira compreender é simplesmente (mas ao
mesmo tempo nada complicada) a experiência humana. Nesse sentido, pode-
se dizer que Dante ou Cervantes nos ensinaram tanto sobre a condição
humana quanto os maiores sociólogos e psicólogos, não havendo diferença
entre o primeiro saber e o segundo saber, sem incompatibilidades
(TODOROV, 2009, p. 76).

Assim, Todorov (2009) corrobora as ideias de Compagnon (2009), que defende


que a literatura é tão capaz de uma reflexão profunda sobre a condição humana quanto a
sociologia e a psicologia.
Para Todorov (2009), a literatura não nasce do nada, mas está sempre no centro
de um conjunto de discursos com muitas características. A literatura é um conjunto de
elementos em interação que se desenvolvem historicamente, revelando nuances
culturais e reproduzindo aspectos da realidade. A contribuição dessas experiências é,
portanto, inquestionável, e seu relato através da literatura se transformou em textos
escritos e publicados, tornando-se assim um legado para as gerações futuras. Por essa
razão, Compagnon (2009) também enfatiza que deve ser lido e estudado, pois é um
meio de preservar e divulgar as experiências de outras pessoas, que estão distantes de
nós no espaço e no tempo ou cujas condições de vida são muito diferentes Nosso Para o
autor, a literatura nos alerta para a grande diversidade de outros cujos valores estão
distantes dos nossos, nos ensina a valorizar a diferença, e ainda reafirma: “A literatura é
um instrumento de justiça e tolerância, ao ler, vivenciar a autonomia , Contribuir para a
liberdade e responsabilidade individual” (COMPAGNON, 2009, p. 41) Essa definição
da literatura está em consonância com as recomendações do Currículo Nacional da
Educação Básica (2013), afirmando que uma vez que os alunos ingressam na vida
escolar, eles também devem começar No processo de construção de uma disciplina com
direitos, o ensino deve estar pautado no cultivo moral, na autonomia intelectual e no
pensamento crítico.
Considerar a formação moral, autônoma e crítica dos alunos revela a
importância do ensino/aprendizagem de literatura no ensino médio, pois, conforme
constam dos documentos citados acima,
O ensino médio, como etapa final do processo formativo responsável pela
educação básica, deve ser organizado para proporcionar aos alunos uma
formação única no sentido de pensar e compreender os determinantes da vida
social e produtiva; elucidando o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura
na perspectiva da emancipação humana (Brasil, 2013, p. 39).

A contribuição da literatura para a emancipação dos alunos como sujeitos na


formação da cultura da sociedade é inegável. Escolas e professores devem, portanto,
estar atentos à forma como os textos literários são lidos em sala de aula, como essas
obras são recebidas ou não pelos alunos e se essa obra contribui satisfatoriamente para a
formação de novos leitores.
Compagnon (2009), baseado no tratado de Aristóteles sobre a função da
literatura, afirma que ela tem uma dupla finalidade: orientar agradando, ou seja, tem a
função de agradar, pois para Compagnon (2009), lemos inclusive que Alfabetização não
é indispensável, mas porque a vida de quem lê é mais confortável, clara e ampla. Mas
não é só funcional ser agradável, proporcionando lazer nas horas vagas, dita. Embora o
objetivo da leitura de textos literários não seja apenas obter resultados, os autores
Zandomenego e Cerutti-Rizatti observam:
Mesmo lendo por prazer, por prazer, em vez de prometer feedback aos outros
sobre nossa leitura (por exemplo, quando lemos ficção como uma forma de
lazer), estamos enriquecendo nosso conhecimento prévio. (...) A partir disso,
defendemos que o ato de ler facilita o ato de escrever. Quanto mais
referências refletirmos, mais chances teremos de abordar diferentes temas
tanto na escrita quanto oralmente (ZANDOMENEGO; CERUTTI-RIZATTI,
2008, p. 99).

Mesmo que seja apenas uma leitura prazerosa e descompromissada, a leitura de


textos literários contribui para a formação do aluno/leitor porque toda leitura, da
imaginação à realidade, é passível de reflexão. Segundo Barthes (2002, p. 32), “Um
texto me dá o maior prazer se ele se deixa ouvir indiretamente; para ouvir outra coisa".
O prazer da leitura não é proporcionado pelo texto em si, mas pelas inúmeras
possibilidades de discussão que ele traz.
Perrone-Moisés (2006) afirma: “A literatura começa com o que quer dizer que é
verdade, não diz, mas quando não diz, revela um mundo que é mais verdadeiro do que
quer dizer”. a literatura nos oferece Abrir a porta para um mundo imaginário de
possibilidades ilimitadas, e limitar o acesso dos alunos a esse mundo é confiná-los a
uma existência materialista onde a subjetividade não encontra espaço. Segundo Aguiar e
Bordini (1993, p.23), “Ao ler o texto, o leitor entra no jogo, sai de sua realidade efêmera
e passa a viver imaginativamente todas as vicissitudes do personagem fictício. aceita o
mundo criado como seu próprio mundo possível". Eagleton (2006) argumenta que a
literatura dramatiza nossa consciência da linguagem e, como tal, renova as respostas
habituais e torna os objetos mais perceptíveis. Para o autor, o discurso literário aliena e
aliena o mandarim, mas ao fazê-lo paradoxalmente nos leva a vivenciar as coisas de
forma mais íntima e intensa.
Para Calvino (2006), a literatura nunca está divorciada do real, e quando é
tratada por meio da linguagem, não é captada pela ficção, mas pela verdade real que não
pode ser vista fora da ordem simbólica . A literatura utiliza, assim, a linguagem como
intermediária entre a realidade e o simbolismo, e assim, pelo contexto sócio-histórico
em que foi produzido, o próprio texto literário sempre traz consigo traços da sociedade
em que viveu o autor, mas, por sua própria personagem fictício, tal texto não pode ser
lido ou interpretado como um documento histórico, pois a fidelidade também é um
recurso estilístico. A esse respeito, Reis (2013) afirma que a relação entre esse mundo
possível e o mundo real é pautada pela categoria do realista, a representação mais
próxima desse mundo imaginado da realidade.
Reis (2013), ao discutir alguns aspectos relevantes da literatura, elenca alguns:
A literatura lida com uma dimensão sociocultural, diretamente atribuível à
sua importância em sociedades ao longo do tempo que a reconheceram (e
reconhecem) como uma prática ilustrativa de uma espécie de consciência
coletiva dessas sociedades.
Também na literatura é possível descobrir uma dimensão histórica, que leva a
uma elevada capacidade de testemunhar o desenvolvimento histórico e
humano e os eventos que orientam esse desenvolvimento.
Também na literatura se incorpora uma dimensão estética, evidentemente
mais evidente, (...) vista fundamentalmente como um fenômeno linguístico,
ou mais propriamente, como uma linguagem literária (grifo nosso) (REIS
2013, p 22).

Reis (2013) ainda reitera que as dimensões sociocultural, histórica e estética não
podem ser dissociadas, pois constituem o chamado fenômeno literário, como diz o DCE
(2008) da língua portuguesa: “A literatura, como produção humana, está conexão
interna da vida social". Para Aguiar e Bordini (1993), todos os livros contribuem para a
descoberta do sentido, mas apenas os livros literários o fazem de forma mais ampla.
Para o autor, os textos literários "fazem uso da imitação genérica composta de símbolos
da linguagem, que sem dúvida alcança o nível de significação e também é universal".
Além disso, a linguagem literária extrai visões típicas da existência humana a partir dos
processos histórico-político-sociais que representa. Assim, são inúmeras as razões para
a importância da presença e persistência da literatura nas escolas, principalmente no
ensino médio.

CONCLUSÃO
As reflexões apresentadas neste estudo permitem compreender que o esforço de
toda a escola para formar leitores de literatura já se constitui em uma tarefa complexa.
Esta pesquisa postula que os textos literários precisam ser considerados arte pelas
escolas e que a metodologia da literatura deve ser frutífera, postura condizente com a
pesquisa de Barth (2002) em seu livro Os Prazeres dos Textos, para este autor, a leitura
pensada para o prazer e recompensa é o que faz com que os leitores anseiam por este
trabalho.
A prática da leitura de textos literários deve fluir naturalmente dentro e fora das
escolas, no entanto, as escolas têm a responsabilidade de garantir que a leitura e a
literatura sejam acessíveis, como visto no decorrer deste trabalho, humanizando e
libertando para os alunos, capacitando-os para um cidadão , como afirma Soares (2001),
“As escolas são instituições às quais a sociedade confia a responsabilidade de promover
às novas gerações competências, conhecimentos, crenças, valores e atitudes que se
consideram essenciais a cada cidadão A formação do cidadão é crucial”. Para cumprir
esta responsabilidade cívica, com o contributo da literatura, as aulas de literatura não
podem ser apenas metaliteratura, não só literatura ou escola de literatura, mas também
proporcionar aos alunos uma vivência pessoal e social. Com ela, ocorre a interação
leitor-autor-obra. Infelizmente, isso não costuma acontecer em sala de aula, e às vezes
apenas a obra e o autor são estudados, ficando a própria obra fora da prática docente.
Diante disso, destaca-se aqui uma citação de Compagnon (2009): “É hora de
voltar a celebrar a literatura, de protegê-la da desvalorização nas escolas e no mundo”. É
urgente que os professores coloquem o letramento literário em primeiro lugar, levando
os alunos a ressignificar a leitura e o estudo da literatura, a ir além dos livros didáticos
que adotam, a buscar referências em sua leitura e a formação acadêmica para orientar a
seleção de materiais com os quais desejam trabalhar.
No processo deste trabalho, vê-se que a tarefa de selecionar materiais didáticos e
obras literárias é tarefa do professor, mas não basta simplesmente selecionar materiais
didáticos com bom conteúdo literário ou selecionar obras de alto valor estético, é
necessário promover o suporte de textos literários O contexto de aprendizagem da
função social da estética.

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