Contato Linguístico
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p69-87
Abstract: This article aims to clarify certain aspects related to the use of
Brazilian Portuguese (PB) L2 employed by the native speaker of French,
adult, bilingual in Oiapoque, as well as some aspects related to the acquisi-
tion process, to the context of learning and use, to the developed strategies
and to the main characterizations of the Portuguese second language (L2)
used by this native French (L1) speaker. It is important to emphasize that in
the globalized scenario in which people are moving, it is fundamental, es-
pecially for the subjects agents of the teaching-learning process of langua-
ges, as foreigners, teachers and students, to have knowledge of the linguis-
1
Texto resultante de Comunicação Oral apresentada na VI Jornada Francesa; parte de um
estudo que culminará em Tese a ser concluída, a qual se desenvolve com o apoio finan-
ceiro da CAPES/PRODOUTORAL/DPG-UNIFAP.
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UNIFAP – Doutoranda em Linguística (UFRJ); Professora de língua portuguesa; celribei-
ro042002@gmail.com
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tic reality of the community, as well as the profile of certain aspects that
structure the grammars of the languages in use in that local, so that these
agents can develop capacities consistent and appropriate to the contextual
linguistic situation. The theoretical-methodological assumptions that are
being used follow the parameters of the variationist sociolinguistic and of
the linguistic contact. The research data is based on the speech of 02
French, speakers of Portuguese L2, totaling around 02 hours of recording.
The analysis of the sample of Portuguese, the target language of the Fren-
ch speaker, allows us to verify that, in general, this language does not differ
much from the variety spoken by the born oiapoquenses, it seems to pre-
sent few interferences of the L1 of the French, especially those who have
more contact with the PB in their daily life, besides that this speaker acqui-
res this variety without great problems, through strategies not always linked
to the school context.
KEYWORDS: sociolinguistic contact; Bilingualism; Portuguese L2.
Introdução
1 Contato Linguístico
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os indivíduos, refletirá usos diversificados de línguas em um mesmo
espaço geográfico. De acordo com Sankoff (2001), o contato linguís-
tico é tido como o produto histórico de forças sociais que, geralmen-
te, surge como resultado de desigualdades sociais que aparecem
em períodos de guerras, colonialismo, escravidão e migrações se-
jam elas forçadas ou não; há ainda o contato proveniente de urbani-
zação ou comércio caracterizando uma forma de contato harmônica.
Sankoff (2001) defende sob uma perspectiva sociolinguística, que
a abordagem relativa ao contato deve explorar também os tipos de
situação sóciohistórica que originaram os diferentes resultados lin-
guísticos, além da natureza desses resultados. De acordo com essa
autora, os dois grandes processos responsáveis pela origem do con-
tato são a conquista e a imigração, sendo que a imposição de uma
língua tem ocorrido ou pelo resultado de conquista, ou pelo estabe-
lecimento da língua padrão como oficial, veiculada na escola, trans-
formando a população local em minoria linguística. Certamente, que,
de uma forma ou de outra, o contato linguístico faz parte do dia-a-dia
das pessoas, ora de maneira intensa e ora de maneira menos fre-
quente, mas, certamente, em espaços geográficos de fronteiras en-
tre cidades ou países, esse contato acentua-se muito mais.
Vale dizer que nesse contexto de contato torna-se muito importan-
te considerar a vitalidade da língua, a qual, conforme Meyerhoff
(2006) corresponde à probabilidade de uso de uma língua para uma
variedade de funções sociais, usada por uma comunidade de falan-
tes. Essa vitalidade seria influenciada por fatores institucionais, soci-
ais e demográficos. Assim, em comunidades multilíngues, línguas
diferentes possuem maior ou menor vitalidade dependendo dos do-
mínios em que circulam: institucional, social ou pessoal. Por exem-
plo, em São Jorge (Guiana Francesa) o crioulo francês apresenta
maior vitalidade nos domínios social ou pessoal, mas no institucional
a língua francesa tem mais vitalidade. Cumpre dizer ainda que a
grande vitalidade ou não de uma variedade linguística costuma ser
avaliada de acordo com seu uso. Assim, uma língua pode apresen-
tar um relativo status social e econômico, ou ainda um suporte insti-
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tucional relativo, mas se o número de falantes de outra língua ultra-
passar a quantidade de usuários dessa língua institucionalizada, en-
tão a manutenção daquela língua está assegurada. É lícito dizer
também que o contexto de contato linguístico tende a desencadear o
processo aquisitivo de uma segunda língua pelo falante, em razão
muitas vezes, da estreita interação entre a língua oficial e as línguas
trazidas pelos imigrantes para o local. Na seção seguinte, elucida-
remos algumas questões sobre o processo de aquisição de L2 na
perspectiva do contato linguístico.
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3 Aquisição de L2 em Situação de Contato Linguístico
a) Bilinguismo
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sistemas linguísticos diferentes utilizados pelos falantes de uma
mesma comunidade, de acordo com o meio e as situações específi-
cas de que participam. Vale ressaltar que a definição de bilinguismo
é muito ampla, a literatura extensa e o assunto quase inesgotável.
Assim, considerando a caracterização dessa prática, podemos dizer
que em Oiapoque ocorre bilinguismo, mas nos termos de Weinreich
(op.cit.), o bilinguismo individual, mas, particularmente, nos falantes
franceses cuja relação ocorre entre sua L1 e o português L2, assim
como nos indígenas entre sua L1 e o português L2.
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contexto de contato linguístico é o indivíduo bilíngue. Ainda segundo
essa autora, no processo de aquisição de L2 é muito importante o
relacionamento entre este falante bilíngue e a comunidade de fala,
visto que as estratégias e as práticas individuais no discurso bilíngue
contribuem significativamente para a mudança no nível da comuni-
dade e essa mudança pressupõe difusão do indivíduo para a comu-
nidade de fala. Por isso, torna-se fundamental o uso linguístico no
processo de aquisição de L2, dada a necessidade de interação entre
os interlocutores da língua fonte e da língua alvo, pois quanto maior
o acesso aos dados da língua alvo, mais aumentam as capacidades
de percepção e produção do falante em relação às formas e aos pa-
drões linguísticos existentes.
Assim, de modo geral, a transferência e a interferência podem ser
vistos como fenômenos favoráveis à aquisição de L2, sendo que
aquela está mais relacionada a fatores externos como contexto soci-
al, os interlocutores, a intenção comunicativa, os papeis sociais dos
interlocutores, entre outros, ao passo que a interferência liga-se mais
a elementos de ordem interna voltados à gramática da L1 do falante.
É nesse contexto de transferência/interferência de elementos da L1
na aquisição de L2 que surge a interlíngua definida como sistema de
transição criado pelo aprendiz, ao longo de seu processo de assimi-
lação de uma L2. De acordo com Crystal (1999) é a linguagem pro-
duzida por um falante não nativo a partir do início do aprendizado,
caracterizada pela interferência da língua materna, até o aprendiz ter
alcançado seu potencial máximo de aprendizado. Conforme Bybee
(2008) no caso de contato linguístico, o primeiro aspecto da língua
que recebe influência é o léxico seguido pelo fonológico. Geralmen-
te, essa influência ocorre a partir da transferência de elementos da
L1 para a L2, porém, vale lembrar que o falante adquire a variedade
a qual está exposto e essa exposição relaciona-se diretamente ao
contexto social responsável pela interação dos falantes, disponibili-
zando-lhes os meios e os modelos adequados para que realizem
suas representações, sejam por meio de percepções ou de produ-
ções.
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c) Code-switching / code mixing
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600 quilômetros da capital, Macapá e liga-se pela rodovia BR-156.
Distribui-se por uma área de cerca de 22.625 km² e segundo dados
do IBGE (2015), a população em 2015 era equivalente a 24.263
habitantes e uma densidade demográfica de 0,91 habitantes/km2
(IBGE, 2015). Conforme estudos de Silva (2013), entre 2000 e 2010,
a população de Oiapoque teve um aumento de mais de 50% de seu
total, superando, em percentual de crescimento os três municípios
mais populosos do estado do Amapá (Macapá, Santana e Laranjal
do Jari), no entanto as políticas públicas voltadas à educação, saú-
de, lazer, cultura, saneamento, habitação, transporte entre outros
não acompanharam este crescimento, uma vez que a cidade ainda
apresenta carência de serviços e infraestrutura em todos esses seto-
res.
O referido município tem suas origens relacionadas às políticas de
povoamento, colonização e defesa do território nacional. De acordo
com Nascimento e Tostes (2008), os primeiros sinais de povoamen-
to do lugar ocorreram, de fato, no século XIX, com a chegada de
cidadãos guianenses e antilhanos, que ocuparam o lugar dos índios
Oyãmpis, que migraram para a Serra do Tumucumaque. Porém, tal
ocupação não conseguiu inibir o avanço de exploradores franceses,
ingleses e holandeses na área às margens do rio Oiapoque. Em fun-
ção disso, em 1900 com a assinatura do Laudo Suíço entre Brasil e
França, aquela região, atual Amapá, tornou-se oficialmente brasilei-
ra. Em 1945, a então Vila do Espírito Santo foi elevada a município
com a denominação atual de Oiapoque. Constitui-se pela sede mu-
nicipal e mais três distritos: Vila velha do Cassiporé, Vila do Tapere-
bá e o distrito militar de Clevelândia do Norte. Vale ressaltar que
grande parte das terras do Município é ocupada por parques nacio-
nais: Montanhas do Tumucumaque e Cabo Orange, além das terras
indígenas, Uaçá, Galibí e Juminã.
Dada sua localização geográfica, o fluxo migratório de brasileiros
para a Guiana Francesa e vice-versa é constante, tendo como cor-
redor obrigatório de passagem a fronteira Oiapoque – Saint Geor-
ges. Este corresponde a uma pequena comunidade francesa, per-
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tencente ao Departamento de ultramar da Guiana Francesa. Locali-
za-se a 60 km da foz do rio Oiapoque em sua margem esquerda e
constitui a fronteira natural com o Brasil. Do outro lado do rio, situa-
se o município brasileiro de Oiapoque. Diante dessa posição geográ-
fica, é evidente que Oiapoque possui influência direta do comporta-
mento econômico, social, político e cultural das cidades da Guiana
Francesa, tais como Camopi, Saint-Georges e Cayenne. Certamente
que inserida nesse comportamento sóciocultural encontra-se a influ-
ência linguística, estabelecida pelo contato intenso que se estabele-
ce entre os povos e etnias que moram e transitam diariamente na
cidade. Porém, é lícito afirmar que, apesar da diversidade étnico-
cultural que se encontra em Oiapoque, o uso linguístico predominan-
te é o português brasileiro, seja pelos falantes nativos, seja pelos
não-nativos, como os indígenas e franceses. Sem dúvidas, a língua
portuguesa é a que possui maior vitalidade entre as demais línguas
da região, tanto como língua materna, como segunda língua, a qual
é empregada, sobretudo, pelos falantes indígenas e franceses habi-
tantes do local. Entretanto, dada a temática deste estudo, focaliza-
remos apenas o PB falado pelos usuários franceses.
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em Oiapoque, pois ela é a principal responsável pela inserção e in-
tegração de todos os seus falantes na sociedade brasileira já que é
a língua oficial do país. E para que o indivíduo que atravessa a fron-
teira franco-brasileira possa participar e transitar ativa e plenamente
das diversas práticas e contextos sociais existentes no município
torna-se imprescindível que ele faça uso da língua portuguesa em
suas interações diárias. No entanto, questionamo-nos, como o falan-
te francês emprega a língua portuguesa como L2? Há interferências
de sua L1? Se sim, quais os tipos mais frequentes? Ele faz uso de
code-switching ou code mixing? Ele sente dificuldades em aprendê-
la?
Com o propósito de responder a tais questionamentos, apresenta-
mos a seguir alguns dos principais aspectos de uso do PB como L2
observados nas produções orais dos falantes franceses que moram
e transitam em Oiapoque.
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Para a presente análise e apresentação, foram feitos recortes dos
trechos, expressões e palavras considerados diferentes da estrutura
da língua portuguesa, no tocante aos aspectos fonético-fonológicos,
morfossintáticos e semântico-lexicais. Essa diferença será evidenci-
ada na seção seguinte, através de exemplos dos dados de fala dos
referidos informantes. Ressaltamos que nesses exemplos, os tre-
chos e palavras que aparecem escritas ortograficamente referem-se
à ocorrência no PB e aqueles que estão transcritos foneticamente
entre colchetes indicam a forma produzida no português L2 pelo fa-
lante francês.
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ferência/transferência de elementos talvez da LM desse falante no
momento de fazer uso do português L2. Embora no campo morfos-
sintático também tenhamos verificado algumas interferências, mas
são bem menores que no nível fônico.
Assim, elucidamos a seguir algumas dessas questões por meio de
exemplos retirados da amostra coletada para a referida pesquisa.
(dados de pesquisa)
- Apagamento, em algumas palavras, da alveolar em coda silábica:
Ex: pois [‘pojØ]; mas depois disso [ majØde’pojØdisso]; mesmo
[‘meØm ].
(dados de pesquisa)
- Apagamento de fonema ou sílabas:
Ex: economia [ekono’miØ]; antigamente [ãtiga’mãØ]; maioria [ma-
jo’iØ]; qualidade [kØali’dad ɪ].
(dados de pesquisa)
- Introdução de fonema:
Ex: rio [‘rive]; américa do sul [a’m ɾikadosudɐ]; mais fácil [maj’fasile];
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(dados de pesquisa)
- Troca de fonema:
Ex: evoluindo [avolu’ãd ]; inglês [ã’gleʃ]; mistura [mik’suɾɐ];
(dados de pesquisa)
(dados de pesquisa)
- Ausência de concordância nominal de número entre termos deter-
minantes e determinados do PB:
Ex: algumas certa diferença [aw’gumaʃsɛhtaØdife’ɾesɐØ]
Cinco língua [si k ’li gwɐØ]
(dados de pesquisa)
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5 Breves discussões
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baixo contato com o PB, refletindo uma certa interferência da LM do
falante francês e apontando casos de code mixing ou code-
switching.
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Considerações Finais
Referências
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