A Dissolução Do Complexo de Edipo - 1924

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~OTA DO EDITOR fNGLES ( 1:3;)~) A DISSOLUc;::Ao· DO COMPLEXO DE EDIPO


(1924)
DER UNTERGANG DES ODIPUSKOMPLEXES Em extensao sempre crescente, ocomplexo de Edipo rcvela sua impor-
tancla cqmo o fenomeno central do periog9 sexu.al da primeira inffincia. Ap6s
isso, se efetua sua 'dissoluc;:iio, ele sucumbe a regressao, como dizemos, e e
(a) EDic;::6ES ALEM.AS: seguido pelo periodo de latencia. Ainda niio se tomou claro; contudo, o que
e que ocasiona sua destruicyao. As analises parecem demonstrar que e a
1924 Int. Z. Psychoana/., 10, (3), 245-52. experiencia de desapontamentos penosos. A menina gosta de considerar-se
1924 G.S., 5, 423-30. como aquilo que seu pai ama acima de tudo 0 mais, porem chega a ocasiao
I 926 Psychoanalyse der Neurosen, I 69-77. em que tern de sofrer parte dele uma dura punicyao e e atirada para fora de seu
I931 . Neurosenlehre und Technik, 19 I -9. paraiso ingenuo. 0 menino encara a mae como sua propriedade, mas um dia
1940 G. W., 13, 395-402. descobre que ela transferiu seu amore sua sol icitude para urn recem-chegado.
· · ... A refiexao cicw• <t!'rnfimdar nosso senso da importancia dessas influcncias,
(b) TRADUCAO INGLESA:
porque ela enfatizani o fato de serem lnevitiv::,;~ e;:.;p~:iencias aflitivas desse
'The Passing of the Oedipus Complex' ·tipo, que agem em bposicyao ao conteudo dQ complexo. Mesmo nao·ocorrendo
1924 Int. J. Psycho-Anals., 5 (4), 419-24. (Trad. de Joan Riviere.) nenhum acontecimento especial tal como os que mencionamos como exem-
1924 C.P.. 2, 269-76. (Reimpressao da traduc;:ao aciml'i.) plcis, a ausencia da satisfac;:ao espcrada, a negacyao c0nt~;·,,i.-.Ja ciu oebe
desejado, devem, ao final, levar o pequeno amante a voltar as costas ao.seu
A presente traduc;:ao inglesa, com o titulo niodificado, baseia-se na de anscio serri. esperanc;:a. Assim, o complcxo de Edipo se encaminharia para a
1924. destruic;:ao por sua falta de sucesso, pelos efeitos de sua impossibilidade
intema.
Este artigo, escrito nos primeiros meses de 1924, foi, em sua~cssencia, . ' Outra visao ea de que 0 complexo de Edipo deve ruir porque chegou ~
elaborac;:ao de uma passagem de 0 Ego e o Jd (pag. 44 c segs,. acima). bora para sua desintegrac;:ao, tal como os dentes de Ieite caem quando os
Reivindica ainda nosso interesse especial por dar enfase, pela primeira vez, permanentes comecyam a crescer. Embora a maioria dos seres humanos passe
ao curso diferente.tomado pclo desenvolvimcnto da scxualidadc em meninos p~lo complexo de:Edipo como uma experiencia individual, ele constitui um
e meninas. Essa no vii lihha' de pensamento foi levada adiante;·cerca de dezoito
fen6m(mo que .edete.nninado e estabelecido pela hereditariedade e que esta
meses mais tarde, J)o trabalho de Freud sobrc 'Algumas Conseqliencias
fadado a findar de acordo com 0 programa, 0 lnstalar-se a fase seguinte
Psiquicas da Distinc;:ao Anatomica entre os Sexos' ·( 1925}). A historia das
opinioes cambiantes de Freud sobre.essc assunto edebatida na Nota do Editor
p~ebrdenada d.e. desenvolvimento. Assim sendo, nao e de grande importfincia
Ingles ao ultimo artigo (pag. 273 c segs., adiante).
(' UntP.:·;;ang'. lnfonna-nos Ernest Jones ( 1957, 114) que Fercnczi, numa can a de 24 de ma~o
~c 1924, contcstou a for~a dcssa palavra e sugeriu que ela fora escolhida como rca<;ao as
idcias de Rank sobrc a importancia do 'trauma de nascimento'. Freud, rcspondendo dois dias
depois, 'admitiu que a palavra no titulo poderia ter sido influenciada por seus sentimentos a
respcito das novas ideias de Rank, mas disse que o · proprio artigo era inteiramente
indepen?ente das ultimas.' (Jones, Joe. cit.). Deve-se indicar, de fa to, que a expressii? ·.,
· ~-Unteigang des Oedipuskomplexes' fora de fa to utilizada duas vezes por Freud em 0 Ego e ; ''·:
old; escrit& antes da 'jlublicat;ab dli hip6tese de Rank. (Ver acima, pags. 44-6.) Na mesma : ';:.
passagem, ele em realidade empregaria tam hem a palavra aind'l mais forte 'Zertriimmerung ; ; :
(demoli<;ao)'.] .. · ., ·,>;..
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quais as ocasioes que pe1mitem tal ocorrencia ou, na verdadc, que ocasioes I · indevidamente interessado em seu penis, 'e provavelmente tern raziio. 1 De

I qualquer modo, a enurese na cama, de longa durac;:ao, deve ser igualada a


1
desse tipo possam ser de algum modo descobertas.
A justi9a dessas opinioes nao pode ser discutida. Ademais, elas sao poluc;:ao dos ·adultos, e e uma expressao da mesma excitac;:ao dos 6rgaos
compativeis. Ha Iugar para a visao ontogenetica, !ado a !ado com a filogene- genitais que imp~l iu a cria!lc;:a a masturbar-se nesse periodo.
tica, de conseqi.iencias bern maiores. Tambem procede ~ue, mesmo no Bern, e minha opiniao ser essa amea<;a de castrayiio o que ocasiona a
nascimento, o individuo csta inteiramente destinado a morrer, e talvez sua i destruic;:a·o da organizac;:ao genital falica da crianc;:a. Nao de imediato, e
disposi9ao orgiinicaja possa conter a indicac;:lio daquilo que'deve morrer.. Nlio I verdade, e naosem que outras influencias sejam tambem aplicadas; pois, para
obstante, continua a ser de interesse acompanhar como esse programa mato comec;:ar, o mimi no nao acredita na ameac;:a ou nao a obedece absolutamente.
1.
e executado e de que mane ira, n?cividades acidentais explor~ sua disposi- A psicanalise recentemente ligou .importa11cia a duas experiencias por que
c;:ao. · . . todas as crianyas pass am e que, segundo se presume, as preparam para a perda
Ultimamente2 nos tomamos mais claramente conscios que antes, de que de partes .altamente valorizadas do corpo. Essas cxperiencias sao a retirada
o desenvolvimento sexual de uma crian9a avan9a ate determinada fase, na do seio maternp ~a principia de modo intermitente, e mais tarde, definiti-
qual o 6rglio genital ja ass'umiu o papel pr!~cipiiL Esse 6rgao genital e apenas e
vamente- e a ~l'igencia cotidiana que lhes feita para so]tarem OS conte)Jdos
0 ~!l:;culino, Ol!, mais corretamente, 0 penis; 0 genital fem!nino permaneceu do intestino. N~Q. existe, porem, prova que demonstre que, ao efetuar-se a
irrevelado. Essa fase falica, que e contemp01inea do complcxo de Edipo, nao ameac;:a de castracr.ao, essas experiencias tepham qualquer efcito. 2 Somente
se desenvolve alern, ate a organizac;:ao genital definitiva, mas e submersa, e quando uma 11X}V~ experiencia !he surge no caminho, que a crianya comec;:a a
suceuida pelo periodo de latencla. Seu tennino, contudo, se realiza de maneira avaliar a possibilidade de ser castrada, fazendo-o apenas de modo hesitante
tipica e em conjun<;ao com acoutecimentos de recorrencia r~gular. e de rna von tad~, nao sem fazcr esforyos para depreciar a significac;:ao de algo
Quando o interesse da cri.an<;a (do sexo masculine) se volta para os seus que ela propria observou: ·
6rgaos genitais, eta revela o fato manipulando-os freqiientcmente, e cntiio A observa<;ao que final mente rompe sua descren9a e a visao dos 6rgaos
descobre que os adultos nao aprovam esse·comportamento. Mais ou menos genitais feminino1. Mais cedo ou mais tarde:a crianya, que tanto orgulho tern
diretamente, mais ou menos brutalmente, pronunc1am •
um_la ameac;:a de que d~ posse de uriipenis, tern uma visao da regiao genital de uma menina e niio
>,, essa parte dele, que tao altamente valoriza, !he sera !irada. Geralmente, e de pode deixar de-·convencer-se da ausencia de urn 'penis numa criatura assim
::~· mulheres que emana a ameac;:a; com muita freqiierieia, ehis buscam reforc;:ar se~elhante·. a :·~Ia propria. Com isso, a perpa de set) .P.r:6prio penis fica
. :~.-· sua autoridade por uma referenda ao pai ou ao medico,'os quais, como dizem, imagim1vel e'~- ameac;:a de castrac;:ao ganha s~u efeito adiado .
. . ievariio a cabo a punic;:ao. Em certo numero de caso~. ;s mulheres, elas Nao devepios ser tao miopes quanto a ;pessoa encarregada da crianc;:a,
~k::-~ pr6prias, mitigam a ameac;:a de mane ira simb6lica, dizendo acrian9a que n~<;> que a ameac;:a coirJ a castra9iio, e nao devemqs desprezar o fa to de que, nessa
i~t~:. 6 o seu 6rg§o genital, que na· realidadc desempenha urn papel passi.vo, que epoca, a masrorbac;:ao .de modo algum repr~senta a totalidade de sua vida
:~; deve senemovido mas sim sua mao, que e o culpado ativo. Acontece com . ~
sexual. Como pod,e ser claramente demonstrado, ela esta na atitude edipiana
:jl especial freqiienci; que o menininho seja amea9ado com a castrac;:ao; ·nao
·i~ porque brinca com o penis com a mao, mas porque molha o leito todas as
[Cf. ocaso clinico de 'Dora' ( J905e), Edi~iioStandard Brasileira, Vol. VII, pag. 71 , IMAGO
:.ft.· noites .e nao pode ser lev ado a ser limpo. Os encarregados dele se comP,o~ Editor:a, 1972, eo ~egundo dos Tres Ensaios ( J905d), ibid., pag. 195.)
'como se essa incontinencia notuma fosse resultado prova de ele -eStar e ·...
2 [Cf. nota de roda¢. acrescentada, aproximadan1cntc;a cpoca em que este artigo foi escrlto,
ao caso clinico do 'Little Hans' (1909), Standard Ed., 10, 8, na qual 's e faz referencia a
~ . ':. .. ! ' .'
~-z: -.,-''-----''--- f • , • , • ' J I • • trabalbos da nutoiia de Andreas-Salome (1916), A. Starcke ( 192 1) e Alexander {I 922). Uma
; :·~ 7 •
't · ·(As idcias contidas nesse par.igrafo c no precedente foram expr~ por Freud em tennos terceira experiencia, de separayao - a do nascimento- e tambem mencionada al, porem,
. .• · muito semelhantcs na Se9ao IV de"' A Child is Being Beaten"' (1919e), Standard Ed.,.l1,
~. 1 . .
tal como na presente passagem, Freud faz objeyOeS aconfusao como complexo de castrayao.
188.) . ' . ' Cf. tambem nota deroda¢ 2 a 'A Organizayao Genitallnfantil da Libido'; ( 1923e), pag. 159,
[Ver 'A Organiza,ao ~enital Infantil da Libido' (1923e), pag. 15(, ac1ma.) acima.) •
,.
'
., 195
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para com os pais; sua masturbar;:ao constitui apenas uma descarga genital da sendo formado. 0 processo que descrevemos e, porem, mais que uma·
excitas:ao sexual pertinente ao complexo, e, durante todos os seus anos repressao. Equivale, se for idealmente levado a cabo, a uma destrui9iio e.
posteriores, deveni sua importancia a esse relacionamento. 0 complexo de aboli9iio do complexo. Plausivelmente podemos supor que chegamos aqui a
Edipo ofereceu acrianr;:a duas possibilidades de .Sl!tisfa,r;:a,o , uma ativa e outra linha fronteirir;:a- nunca bern nitidamente trayada - entre o normal e o
passiva. Ela poderia colocar-se no Iugar de seu pai; amaneira masculina, e pato16gico. Se o ego, na realidade, nao conseguiu muito mais que uma
ter. relar;:oes com a mae, como tinha o pai, caso em que cedo teria sentido o repressao do complexo, este persiste em estado inconsciente no id e mani-
ultimo como urn estorvo, ou poderia querer assumir ·o Iugar da niae e. ser festara mais tarde seu efeito patogenico. /
amada pelo pai, caso em que a mae se tomaria superflua. A crianr;:a pode ter A observa<;:ao analitica capacita-nos a identificar ou adivinhar essas
tido apenas nor;:oes .muito vagas quanto ao que constitui uma relar;:ao erotica vincular;:oes entre a organizar;:ao falica, o complexo de Edipo, a amea<;:a. de
satisfat6ria, mas certamcrg~ open is d_evia desemp.enh~r l]l}1fl .parte nela·, pois castrar;:ao, a fonna<;:ao do superego eo perlodo de latencia. Essas vincula<;:oes
as sensar;:oes em scu pi·o~i1t) ·6rga"6: cram prova 'disso~: Af~ · cntao, nao tivera justificam ~:··afirma<;:a6 de que a destruir;:ao ao ·comptexo de Ectipo e ocasio-
ocasiao de duvidar que as mulheres possufssem penis. Agora, porem, sua nada pela amear;:a de castrar;:ao. Mas isso nao nos livra do problema; ha Iugar
aceitar;:ao da possibi!idade de castrar;:ao, seu reconhecimento de que as para uma especula<;:ao te6rica que pode perturbar os resultados a que chega-
mulheres eram castradas, punha fim as duas maneiras possiveis de obter mos ou coloca-los sob nova luz. Antes de nos fazetmos a esse caminho novo,
satisfar;:uo do comp!exo de E.d ipo, de vez que ambas acarretavam a perda de contudo, devemos voltar-nos para uma questao que surgiu no dccorrer desse
seu penis - a masculina como uma punir;:ao resultante e a feminina como debate e que ate agora foi deixada de !ado. 0 processo descrito refere-se,
precondir;:ao. Sea satisfar;:ao do amor no campo do comp!exo de Edipo deve como foi expressamente dito, somente a crian<;:as do sexo masculine. Como
custar a crianr;:a o penis, esta fadado a surgir um conflito entre seu interesse se realiza o desenvolvimento correspondente nas meninas?
narcisico nessa patie de seu corpo e a catexia libidinal de seus objctos Nesse ponto nosso material, por alguma razao incompreensivel,1 tom~­
parentais. Nesse conflito, triunfa normal mente a prime ira dessas for<;:as: o ego se muito mais obscure e cheio de lacunas. Tarnbcm o sexo fem inine desen-
da crian<;:a volta as costas ao complexo de Edipo. volve urn complexo de Edipo, urn superego e urn periodo de latencia. Sen\.
Descrevi noutra parte como esse afastamento se realiza. 1 As catexias de que tambem podemos atribuir-lhe uma organizar;:ao falica e um complexo de
objeto sao abandonadas e substituidas por identificar;:oes. A autoridade do pai castrac,:ao? A resposta e afinnativa, mas essas coisas nao podem ser as
ou dos paise introjetada no ego e·ai forma 0 nuclco do superego, que assume mesmas como sao nos meninos. Aqui a exigencia feminis ta de direitos iguais
a severidade do pai e perpetua a proibi<;:ao deste contra o incesto, defendendo para os sexos nao nos leva muito Ionge, pais a distinc,:ao morfol6gica esta
assjm o ego do retorno da catexia libidinal. As tendcncias libidinais perten- fadada a encontrar expressao em diferenr;:as de desenvolvimcnto psfquico.2
centes ao coinplexo de Edipo sao em pmie dessexualizadas e sublimadas A anatomiaeo destino',para variar um dito de Napoleao. 0 clitoris na men ina
(coisa que provavelmente acontece com toda transformar;:ao em uma identt- inicialmente comporta-se exatamente .como urn penis, porem quando ela·
ficar;:ao) e em parte sao inibidas em seu objetivo e transformadas em impulsos efetua uma comparac;:ao com urn companheiro de brinquedos do outro sexo,
de· afcir;:ao. Toclo o proccsso, por rm !ado, prcservou o (Jrgao genital - · percebe que 'se saiu mal' 3 e sente isso como uma lnjusti<;:a feita a ela e como
afastou o perigo de sua pcrd<' - · c, por outro, para!isou-o ·- rcn)oveu sua
· funr;:ao. Esse processo introduz o periodo de latencia, que agora interrompe
I [Freud sugeriu dctcrminnda explicayao parn isso na Sec;ao l de seu artigo sobre 'Sexualidade
.o desenvolvimento sexual da crian<;:a. Feminina' (193 1b).]
Nao vejo razao pa~a negar o nome de ' repressao' a.)J. afastamento do ego 2 · [Vero artlgo de Freud, escrito aproximadamcntc dezoito meses mais tarde, sobrc 'Algumas
diante do complexo de l~dipo, embora repre:ssocs po~teriores ocorram pel a Conscqiicncias Psiquiens dn Distinviio Anatornica entre os Scxos' ( 1 92~1). pag. 277, adinntc.
Boa parte do que se segue eali elaborndo. A pan\frase do cp1grama de Napoleiio ja apnrecera
maior parte com a participar;:ao do superego que, nt<~se caso, esta apenas
no segundo artigo sobre a psicologia do am or ( l9!2d), Ed iyiio Standard Brnsileira,Vol. XI,
pag. 172, IMAGO Editora, l970.)
[No ~~p{tulo Ill de 0 Ego eo Jd, pag. 42 c segs. acima.] 3 [Litcrn lmentc, 'saiu-sc pequena demais').]
· i.
',.

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0

fimdmm:nto para inferioridade. Par algum tempo ninda, consola-se com a dcsses processos de desenvolvimcnto em meninas em geral e insatisfat6-
expectativa de que mais tarde, quando t1car mais velha, adquirini um apen- rio, incomplcto c vngo.'
dice tao grande quanto o do mcnino. Aqui, o complexo de mascuUnidade [Cf. Nao tcnho ·d(IVida de que as rclac;:(,es· cronol6gicas e causais, aqui
adiante, pag. 281 en. 2.] dar, mulheres se ramifica. Uma ctia.'1<;:a do sexo descritas, entre o complexo de Edipo, a intimida<;:ao sexual (a amea<;:a de
feminine, contud<>, niio entende sua faltn de penis como sendo urn carater castra9ao), a fonna<;:ao do superego co comc9o do pcriodo de latencia sao de
sexual; explica-a presumindo que, em alguma epoca anterior, possuira um um genero tfpico, por~m nao desejo assevetar que esse tipo seja 0 unico
6rgfio igualmentc grande e depois perdera-o por castrac;ao. Ela parece nno possiveL · Variac;:ocs na ordem cronol6gica e;na vinculac;ao desses eventos
estender essa inferencia de si propria para outras mulheres adultas; e sim, estiio fadadas a ter um sentido muito importante no desenvolvimento do
inteiramc:nle segundo as lin' .a~: da fase falica, encara-lus como po'ssuindo individuo.
grandes e completes· 6rgaos genitais -- isto e;masculinos .. Da-se assim a Desde a publicayao do illl~rcssmite estudo de Otto Rank, The Trauma ol
diferen<;:a essencial de que a nenina aceita a castrac;ao como: urn
fato consu-· Birth [ 1924], a propria conclusao obtida atraves dessa modesta investigacrao,
no sentido de o complexo de l~dipo do rnenino ser destruldrJ relo temor da
mado, ao passo que o menin~) teme a possibilidade de sua oc6rr'en9ia. I :
~astra9ao, nao pode ser aceita sem maior discu:ssao. Nao obstante, parece-me
· · -Estand6 assim excluldo. na mcnina, o temor da castra.<;ao; 'cai tambem
prematuro entrar:.atuahnente 1!m um debate · tal c talvez desaconselhavel
u·rn motivo poderoso para ) egtabelecimento de urn· supet·ego· e. para a
iniciar uma crftiqa o.u urna aprecia9iio da opiniao de Rank nessa conjuntura.2
fnterrup<;iio dn organizar;:fii ~ genital infantil. Nela, 'muito mais q'ue ·no • I

menino,~essas mudan<;as p2 recem ser resultado da cria<;ao e de intimida-


9ao· oriunda do exterior, as quai s a ameavam com uma perqa de ·amor: 0
complexo de Edipo da ·me1:ina e muito mais simples que o do pequeno
portador do penis; em mi ·1ha experiencia, raramente· ele vai alem de
assuinir o Iugar da mae e a iotar uma atitude feminimi para com o pai: A
renuncia ao penis nao e 1:r ,)erada pela men ina 'sem' alguma tentativa de
compensa<;ao. Ela desliza · -- ao Iongo da linha de uma equa~ao simb6lica,
poder-se-ia dizer - do 1•en is· para urn · bebe. Seu ~omplexo de ·Edipo
culmina em urn desejo, rr .antido por muito tempo; de receber do 'pai um f4 •• ~

hebe como presente- car-lhe UIJ} tilho. 1 Tem-se a imprcss~o de qu~ .o


. complexo cte Edipo e en .ao gradativamcrite abandonado de vez qu~ esse
desejo jamais se realiza Os dois d•!Sejos- possuir urn penis· e filho urn
~ permanccem forteme nte catexizados no inc~nsciente. e ajudam.a: pre-
parar a criatma do scxo fcminino para scu papel posterior. A intensidade
comparativamcnte men· 'r da contribui<;ao sadica ao seu instinto sexual,
que fora de duvida por. emos vinc~1lar ao crescimento retardado de seu
•'
penis, torna mais facil no caso <lela, transformarem-se as tendencias
sexuais diretas em tend~ ncias inibidas quanta ao objetivo, de tipo afetuo- [Freud discutiu esse t6pico muito mais plenamcnle em scus artigos sobrc a di st in~tiio
so. Deve-se admitir, c< ntudo, que nossa compreensao intema (insight) anatom:ca entre os 'ser.os (1925;) e sobre a sexu;~lidadc fcminina (!93 lb), e em ambos
fomeccu uma dcscriyao do complexo d.! Edipo da mcnfna, muito diferentc da prcsentc.]
2 [0 as3untcr foi re!omado por Freud !o.~o dc:pois, em jnhihitions. Symptoms and A11xiety,
(Cf. o artigo de Freud sot 'C 'Transformnlion oflnstincl' (1917c), Standard Ed., 17, 128 e ( 1926d). Cf. a Sc~fio .(el da lntroduc;ilo do Editor Ingles ll esse: trnbalho. Standard Ed.. 20, 83
segs.; vcr tambcm adiantc . pag. 284.} e scgs.] ·,. •

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