A Presença Das Parteiras Na SP
A Presença Das Parteiras Na SP
A Presença Das Parteiras Na SP
Rio de Janeiro
2010
2
[1930-1972]
Rio de Janeiro
2010
3
Ficha catalográfica
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
___Prof.ª Drª. Rita de Cássia Marques
Universidade Federal de Minas Gerais
__________________________________________________________
Profª. Drª. Maria Itayra Coelho de Souza Padilha
Universidade Federal de Santa Catarina
_________________________________________________________
Prof.ª Drª. Ana Teresa Venâncio
Casa de Oswaldo Cruz – FIOCRUZ
__________________________________________________________
Profª. Drª. Cristina Maria Oliveira Fonseca
Casa de Oswaldo Cruz – FIOCRUZ
_________________________________________________________
Prof.Dr. Luiz Otávio Ferreira – Orientador-
Casa de Oswaldo Cruz - FIOCRUZ
__________________________________________________________
Profª. Drª. Tânia Salgado Pimenta – 1ª suplente
Casa de Oswaldo Cruz – FIOCRUZ
__________________________________________________________
Profª.Drª. Maria Martha de Luna Freire- 2ª suplente
Universidade Federal Fluminense
Rio de Janeiro
2010
5
AGRADECIMENTOS
Aos leitores, que, como eu, adoram ler essa parte que inicia, e ao mesmo
tempo finaliza todos os trabalhos dessa ordem, vai aqui uma advertência: a lista é
grande. Nesse espaço se reflete um pouco dessa trajetória espaço-temporal que
envolveu tantas pessoas e muitas situações, algumas vezes, bastante
inesperadas.
Agradeço ao meu pai, José, ilustre e letrado pela vida e experiência, o seu
exemplo cotidiano de força, sabedoria, flexibilidade, liberdade e solidariedade foi
sempre uma inspiração e à minha mãe, Avani, pela dedicação em imprimir aos
filhos os valores da cultura e da educação. Ao meu amado filho, Gabriel, sou
grata pelo seu companheirismo e impecabilidade diante de situações que
colocaram à prova, tão precocemente, o seu equilíbio emocional.
À Luiz Otávio Ferreira - atencioso e competente orientador - pelo heroísmo
de partilhar comigo dessa longa e complexa jornada.
À Dona Zezé e Dona Chiquinha (em memória), parteiras muito curiosas
que me inspiraram, anonimamente, a iniciar esse trabalho.
Ás acolhedoras e mágicas amigas “mães do Colégio Ágora” que cuidaram
carinhosamente da minha vida e do meu filho durante todo o tempo em que
estive no limiar da sobrevivência física: Sônia Folly, Mônica Lobo, Vera Aragon,
Márcia Sitônio, Soraia Junger, Camila, Dorotéia Caziuk, Adriana Dias, Marta
Bueno, e Margareth Garcia, amiga de longa trajetória.
Ao Sérgio pela solidariedade nos revezes desse caminho.
Aos meus irmãos de adoção mútua Sheila Carmanhanes e Zé Luiz
Lagares pelo apoio incondicional, carinho, afeto e disponibilidade sempre
Às equipes do Dr. Paulo Marcos Nunes, numa primeira fase, e Dr. André
Braune, na segunda fase, e com muito carinho à Drª Viviane Amaral pelo
profissionalismo ético, competente e afetivo
Agradeço à Juão Tavares, querido amigo, acompanhante atento e ativo,
terapeuta dos psicodramas da nossa existência.
Aos queridos instrutores e “respiradores” da “Arte de Viver”, com quem
muito tenho aprendido.....Jai Gurudev
7
JAI GURUDEV
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 20
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ANEXOS
RESUMO
ABSTRACT
RESUMEN
INTRODUÇÃO
1
Eventos: II Congresso Internacional sobre Ecologia do Parto e Nascimento e I Fórum Regional Popular
sobre parto e nascimento; realizado em maio de 2004 no Rio de Janeiro, VI Reunião da Rede Nacional de
Parteiras Tradicionais e II Encontro Internacional de Parteiras Tradicionais, realizado na Bahia, em setembro
de 2004.
2
Ver Tânia Maria de Almeida Silva (1999)
22
3
Promovido pela Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz em abril de 2006.
23
4
Os primeiros cursos oficiais para a formação de parteiras foram criados em 1832 como cursos anexos às
Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia.
24
5
Especialmente a obra Mitos, emblemas, Sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras;
1990.
25
6
Em seu estudo sobre o nascimento no Chile durante o século XIX.
29
7
Na França, que apresenta uma das mais vastas abordagens historiograficas sobre o tema, citamos a obra
clássica de Jacques Gélis (1988) e também os estudos de Scarlet Beuvalet-Boutouyrie(2002), Richard L.
Petrelli (1971), Olivier Faure(2005), Nathalie Sage-Pranchère (2006), Danièle Carricaburu (1994) ,
FrançoiseThébaud (2002) e Marie France Morel (2007-2008, pp.22-28; 2009). As pesquisas especializadas
na Espanha contam com um vasto trabalho desenvolvido pela pesquisadora Teresa Ortiz-Gómez (1999;
2001;2006) em que o tema das parteiras é parte de uma produção intensa sobre as profissões sanitárias
femininas e conta trabalhos produzidos em parceria de outros autores, como Montserrat Cabré (2001) e
Clara Martinez Padilla (1997) para a Espanha citamos também Carmen González Canalejo (2007). Para o
caso inglês citamos as contribuições de Maxine Rhodes (2001), June Hannam (1997), Kathryn Gleadle
(2001) . A historiografia das parteiras no México tem nos trabalhos de Ana Maria Carrillo(1988; 1999),
Laura Catalyna Díaz Robles y Luciano Oropeza Sandoval (2007), uma importante representação. A
profissionalização das parteiras no Japão, iniciada no século XIX, tem sido tema de pesquisa de Aya Homei
(2002). Anne Hugon (2005) abordou o caso da profissionalização de parteiras em Ghana, no período dos
anos 1930-50. Alessandra Gissi (2005) tem se dedicado á pesquisa sobre as parteiras na Itália e tambem
discute o contexto europeu de profissionalização. Charlotte G. Borst (1995) é umas das autoras
representativas da historiografia norte-americana sobre as parteiras. Hilary Marland e Anne Marie Rafferty
(1997) são pesquisadoras do tema e tambem organizadoras de obra coletiva que a história das parteiras em
diferentes países. Hilary Marland (1995) tem dedicado suas pesquisas especialmente ao caso Holandês.
30
8
Para uma análise da transformação do espaço hospitalar citamos da obra de Michel Foucault: Microfísica
do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1982. Ver também O Nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1994. Sobre os afetos e cuidados relacionados à infância e maternidade, ver os clássicos
estudos de Philippe Ariés: História social da Criança e da Famíla. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981; e
Elisabeth Badinter: Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
31
9
A exemplo do caso brasileiro, cito a pesquisa de Anayansi Correa Brenes (1996) realizada em sua tese de
doutorado, enfocando a criação da “Escola de Parto”, inaugurada em Paris, em 1802 e as repercussões desse
acontecimento no Rio de Janeiro, no século XIX. Na formação de parteiras no Chile também está nítido o
“afrancesamento” nos modos de organização e objetivos do curso (ZÁRATE, op.cit).
32
10
Esse processo aconteceu, por exemplo, na França, ao final do século XIX, quando pelo decreto de 18 de
novembro de 1881 foi instituída a categoria profissional de “parteiros dos hospitais”, destinada aos médicos
concursados, lhes outorgando a direção do Serviço de Partos, anteriormente confiado às parteiras. Elas, a
partir dessa nova regulação da organização hospitalar, foram enquadradas como auxiliares dos médicos
(Beauvalet-Boutouyrie, 2002).
11
Ver Londa Schiebinger (op.cit.,cap. 4). Beauvalet-Boutouyrie (op.cit) cita o incômodo do obstetra francês
Sacombe, opositor do obstetra e professor Baudelocque, que em 1802 manifestava críticas contundentes à
Maternidade de Port-Royal, em Paris, pelo fato desse estabelecimento, de prestígio internacional,
permanecer sendo dirigido por mulheres.
33
12
No decorrer do século XX a parteira profissional passou a dividir o seu espaço de atuação com novas
profissões sanitárias criadas no contexto dos projetos que visavam a melhoria das condições sociais e de
saúde materno-infantil. O trabalho da parteira, se até o século XIX tinha interlocução especialmente com o
cirurgião obstetra, passava a ser partilhado com a enfermeira, a assistente social e depois com o pediatra.
Essa ampliação da profissionalização do cuidado materno-infantil trouxe junto, obviamente, a necessidade
da regulação legal e constantes ajustes nas definições das competências de cada um desses grupos. Sobre a
emergência da saúde pública em perspectiva histórica citamos o trabalho de George Rosen (1994).
13
Conforme discutiremos mais adiante, e de modo mais pormenorizado, o contexto brasileiro, ao abordar o
perfil das parteiras sindicalizadas do Rio de Janeiro.
34
14
Cabe aqui assinalar que pesquisadores franceses contemporâneos especializados nos temas da história
social da saúde têm alertado para a baixa produção historiográfica sobre as parteiras na França,
principalmente relativa aos séculos XIX e XX.. Os autores chamam a atenção para a importância de se
ampliar os estudos históricos através de investigações focadas nas especificidades regionais. De fato, o que
esses pesquisadores sugerem é que as pesquisas sobre a normatização, formação e atuação do trabalho da
parteira desloquem os seus objetos de estudo para além dos “muros” parisienses, cujo interior é representado
pela conhecida e antiga instituição de assistência: a Maternidade do Hôtel-Dieu. Um dos autores mais
citados para os estudos sobre parteiras é Jacques Gélis(op.cit), que concentrou sua pesquisa nos séculos
XVII e XVIII. Scarlet Beauvalet-Boutouyrie (op.cit) é uma das autoras que problematiza a necessidade de
ampliação dos estudos locais sobe a formação e profissionalização de parteiras.
15
Os registros de atendimento hospitalar para parturientes e de espaços especiais de formação de futuras
parteiras, admitidas no Hôtel-Dieu como aprendizes junto à parteiras de reconhecida experiência, remonta
ao século XIV, segundo Scarlet Beauvalet-Boutouyrie (ibid.).
36
16
Scarlet Beauvalet-Boutouyrie (ibid, 2002) chama a atenção para a ausência, na historiografia francesa, de
estudos que abordem a formação e o papel das parteiras no âmbito dos cursos oferecidos nas faculdades de
medicina citadas acima.
17
Formada no Hôtel-Dieu em Paris em 1739, Mme Du Coudray, conceituada parteira de Paris, aceitou a
missão proposta pelos representantes do Reino em promover a formação de parteiras nas províncias através
de cursos itinerantes, que teriam continuidade garantida pelas autoridades dos governos locais (Gélis, op.cit,
p.111-147)
18
Ao final do século XIX a duplicidade de formação começou a desaparecer, num contexto de reformas do
ensino da medicina, determinando o fim da formação profissional de segunda classe e concentrando o ensino
dos profissionais de saúde nas instituições universitárias (Faure,op.cit., p.163; Sage-Pranchère, op.cit, p.1-
15).
40
19
Estabelecimento modernizado que substituíu a maternidade do Hôtel-Dieu de Paris, fundado em 1795,
onde se formava “a elite das parteiras francesas”, segundo a avaliação de Olivier Faure, op.cit).
20
Um tipo de pinça metálica articulada, o fórceps representava um instrumento de distinção por excelência
no meio dos cirurgiões obstetras e das parteiras. A habilidade em manejar esse instrumento tinha
implicações diretas sobre o prestígio profissional das duas categorias. Criação atribuída, pela historiografia
especializada, ao cirurgião obstetra de origem francesa Pierre Chamberlen, nascido na segunda metade do
século XVI, na Inglaterra, o uso do fórceps era uma prerrogativa do cirurgião, entretanto, até o final do
século XIX, as parteiras aprendiam à manejá-lo e o faziam de fato, conforme apontam Beauvalet-
Boutouyrie (op.cit.) e Olivier Faure (ibid).
41
21
Marie-France Morel (2009), esclarece que as parteiras de segunda classe tinham uma formação densa e
primorosa: o aprendizado prático incluía a clínica obstétrica, com atendimento aos partos, a vacinação e a
punção das veias. Do aprendizado teórico fazia parte a escrita, a leitura, o ensino de moral e religião,
história, geografia e botânica. Segundo Morel, não era pelo aprendizado teórico, nem mesmo o prático, nem
tampouco pelo período de formação, que se media a diferença entre os cursos de primeira classe e os de
segunda classe. Essa diferença residia no estatuto jurídico dessas duas modalidades. As alunas formadas nos
cursos da província não podiam exercer o trabalho de parteira por todo o território francês. Isso só era
permitido para o grupo formado nas escolas de primeira classe. Os cursos de primeira classe eram oferecidos
nas Faculdades de Medicina, enquanto os de segunda classe eram ministrados nas maternidades das
províncias. Os cursos de primeira classe funcionavam como um complemento dos cursos provinciais, de
modo que as alunas que almejassem obter um diploma de primeira classe deveria expandir seus estudos com
mais dois anos de formação nas escolas oficiais de parteiras das Faculdades de Medicina. Esse diploma era
muito valorizado e facultava à sage-femme o direito a exercer a função de instrutora de novas parteiras. Ver
Faure (op.cit); Gélis (op.cit), Sage-pranchére (op.cit), Beauvalet-Boutouyrie, (op.cit).
42
classes sociais menos abastadas eram atendidas por eles numa modalidade de
assistência pública oferecida por algumas instituições hospitalares organizadas
segundo as iniciativas filantrópicas e caritativas. Além de oferecer a assistência
hospitalar ao nascimento, por sinal bastante concorrida, segundo demonstra
Gélis, alguns desses hospitais organizaram, inclusive, a assistência domiciliar
gratuita ao parto, como foi o caso da Royal Maternity Charity de Londres, que
atendeu a um número razoável de nascimentos domiciliares no período de 1757
a 1856.24
Se por um lado, as organizações filantrópicas que apoiavam a assistência
médica ao parto contribuíam com parcela importante dos atendimentos voltados
para os segmentos populacionais mais pobres, cabia justamente às parteiras
tradicionais atender a maior parte da clientela sem recursos financeiros
significativos. Embora não tivessem um reconhecimento oficial essas parteiras
eram respeitadas e reconhecidas nas comunidades onde atuavam, contudo, na
moderna e tecnologicamente desenvolvida Inglaterra, esse grupo esperou até o
início do século XX para ter a sua atividade profissionalizada e regulada pelo
Estado. De modo que, no que tange às iniciativas governamentais relativas ao
desenvolvimento da profissionalização das parteiras inglesas no século XIX,
concordamos com Gélis ao considerar o modelo inglês uma antípoda ao modelo
francês.
A historiografia que aborda o caso das parteiras inglesas aponta para a
presença marcante das parteiras comunitárias nos grupos sociais do operariado
urbano e dos trabalhadores rurais. Essas parteiras foram responsáveis por uma
parcela significativa da assistência prestada às mulheres durante a gestação e no
parto, até os primeiros anos do século XX25, ou seja, mesmo após o Estado ter
implementado a profissionalização do grupo.
Um dos primeiros indícios que sinalizam a crescente procupação de parte
da sociedade inglesa com o bem-estar da população, particularmente os grupos
mais vulneráveis, como as mulheres e crianças em situação de pobreza, foi a
criação, ao final do século XIX, em 1881, de uma instituição, a Matron's Aid
24
Levando-se em conta a oferta de leitos hospitalares, em demanda crescente, e a assistência domiciliar
prestada pelas parteiras, uma cifra de 385.000 atendimentos domiciliares organizados por essa instituição
hospitalar em 100 anos é bastante significativa .Gélis (op.cit, p.177).
25
Conforme discute Alessandra Gissi (op.cit) ao abordar o caso das parteiras e do controle da natalidade na
Europa.
46
26
A fundação da Matron's Aid Society é atribuída a um grupo de mulheres organizadas, sendo a iniciativa
creditada à enfermeira e parteira Zepherina Veitch e à Rosalind Paget, parteira, enfermeira e reformadora
social. Ver histórico da instituição no site oficial, disponível em http://www.rcm.org.uk/ . Ver também June
Hannam (op.cit) que abordou a biografia histórica de Rosalind Paget (1855-1945). Enfermeira, parteira e
dama da sociedade inglêsa, atuou no movimento de mulheres e promoveu o reconhecimento social das
parteiras. Segundo a historiografia inglesa especializada, a liderança de Rosalind Paget representou para as
parteiras inglesas o que Florence Nightingale representou para a enfermagem moderna. Ela nasceu na
cidade de Liverpool em família de classe alta inglesa. Entre os membros de sua família haviam políticos e
proprietários com importantes cargos governamentais e representação no Parlamento local, que, como ela,
47
eram sufragistas e ativistas em prol da resolução das questões sociais, especialmente dos direitos das
classes trabalhadoras, principalmente das mulheres.
27
Ver Kathryn Gleadle (2001, p.145-147).
48
28
Maxine Rhodes (op.cit) esclarece que o Conselho Central de Parteiras havia definido esse grupo como “as
profissionais sanitárias responsáveis pelo parto normal”, tendo como norma acionar o médico sempre que
houvesse intercorrências fora do padrão de normalidade estabelecido. Entre esses casos citamos a
gemelaridade, a necessidade de uso do fórceps, ruturas genitais que demandassem suturas, apresentação fetal
não cefálica, etc.
49
Fontes: Maria Rosa Pinheiro. “Formação e controle de parteiras na Inglaterra”. Anais de Enfermagem.
Rev.bras.enferm 7(3): 248-66, 1954; Royal College of Midwives (http://www.rcm.org.uk/) em janeiro de
2010; June Hannan. “Rosalind Paget: the midwife, the women’s movement and reform before 1914”. In:
Marland, Hilary & Rafferty, Anne Marie (ed). Midwives, Society and Childbirth: debates and controversies
in the modern periode. Londres: Routledge, 1997, p.81-101.
29
Ver Maria Rosa Pinheiro, ibid, p. 250.
30
O panorama sobre a situação social das parteiras a partir desse período até o final dos anos 50 está
descrito e muito bem analisado em três trabalhos que consideramos como as principais referências
historiográficas para a nossa abordagem. Um desses estudos é o de Maxine Rhodes(op.cit). A outra
referência é um estudo, baseado em fontes documentais inglesas sobre a formação e o controle de parteiras
na Inglaterra, apresentado por Maria Rosa S. Pinheiro (1954) à Revista Brasileira de Enfermagem . Formada
em Línguas Neo-Latinas pela Universidade de São Paulo e em Enfermagem de Saúde Pública pela
Universidade de Toronto, Canadá, como bolsista da Fundação Rockefeller, Maria Rosa Sousa Pinheiro
(1908-2002) foi, entre outras funções relevantes, diretora da Divisão de Enfermagem do Serviço Especial de
Saúde Pública – SESP entre 1951 e 1955 e consultora da Organização Pan-Americana de Saúde. O terceiro
trabalho da nossa referência foi apresentado por June Hannan (op.cit) .
52
31
Desde a lei de 1902 essa tendência em alterar o exercício liberal da ocupação de parteira estava
materializada pelas iniciativas dos governos municipais ao incluírem nos Planos de Assistência Maternal o
pagamento dos partos executados pelas parteiras, o que antes era feito pelas famílias das parturientes.
32
Quadro elaborado Com base no relatório de Maria Rosa Pinheiro (ibid, 1954). O programa de formação
apresentado foi instituído em 1938.
53
33
O termo significa “ciência de fêmea” e era usado pelos médicos, em alusão aos saberes e práticas das
parteiras. Tinha um sentido um sentido pejotativo, pela sua identificação ao gênero feminino, considerado
inferior. Uma contraposição em relação à “ciência obstétrica”, de origem masculina e por pressuposto, mais
confiável e socialmente superior (ZÁRATE, op.cit., p. 316-324).
56
34
A Licenciatura en Matronería (Obstetricia y Puericultura) outorgante do título universitário de
Matrón/Matrona foi instituído em 1991, segundo Letícia Lorenzetti Silva (2005), ex-presidenta nacional do
Colégio de Matronas do Chile.
58
35
Considerado pela história da medicina chilena como o “pioneiro da obstetrícia no Chile”, o jovem Lorenzo
Sazié, que contava então com 24 anos, era titulado pela Faculdade de Medicina de Paris e assistente do
renomado cirurgião e obstetra Armand Trousseau. Foi levado ao país em 1834 com a missão de docência e
organização do ensino de obstetrícia no Chile, segundo os modernos preceitos da nova ciência dos partos,
pois não havia no país profissionais habilitados para o ensino da obstetrícia para o curso de medicina da
Universidade do Chile. Em sua bem sucedida trajetória profissional, além de docente, ocupou cargos
acadêmicos e de gestão e organização. Ver Zárate, op.cit, p 105-106.
59
36
Local para recolhimento de crianças abandonadas.
37
Conforme informa o texto de Letícia Lorenzetti Silva (op.cit).
60
38
O Tribunal do Protomedicato do Chile manteve atribuições docentes, de inspeção e jurídicas até o ano de
1875. A sua função de vigilância sanitária e polícia médica foi mantida até 1892, quando suas atribuições foram
substituídas no contexto de criação de dois órgãos substitutos: o Conselho superior de Higiene Pública e o
Instituto de Higiene, em setembro de 1892 (LAVAL, 2003).
61
voltados para a formação das Matronas, não se constituíram como único espaço
de qualificação no decorrer do século XIX. Haviam também cursos privados, com
duração em torno de três anos, oferecidos pelos obstetras interessados no
aperfeiçoamento e regularização das parteiras que, em muitos casos, já vinham
atuando informalmente em serviços de atendimento ao parto ou no domicílio da
cliente, algumas vezes numa situação de auxiliar do médico, numa relação que
implicava num certo tipo de cooperação de trabalho. Após a formação teórica e
prática, oferecida nas maternidades públicas pelos obstetras, essas parteiras
eram encaminhadas pelos seus professores de obstetrícia ao Protomedicato,
instituição que concedia a certificação de Matrona mediante exames de avaliação
teórico-prático. Zárate argumenta que se a formação privada de Matronas
interessava ao obstetra, também era interessante para as candidatas, que
podiam contar com uma formação profissional que lhes possibilitaria obter um
diploma reconhecido, o que lhes permitiria atuar com mais autonomia.
No que se refere ao espaço autorizado para o exercício profissional
conforme acontecia com as sages-femmes na França, onde a formação na
escola oficial de Paris permitia o exercício em todo o território nacional, as
Matronas formadas na escola oficial em Santiago podiam exercer o seu trabalho
em todo o território chileno, ao passo que as habilitadas nas maternidades das
províncias somente podiam exercer a profissão em âmbito regional. Do mesmo
modo, cabia às parteiras a prerrogativa do atendimento ao parto normal,
enquanto os obstetras atuavam em situações que exigiam maior complexidade
de intervenção, geralmente procedimentos relacionados ao campo da cirurgia
obstétrica.
Durante o século XIX os cursos para matronas passaram por algumas
descontinuídades, com momentos de interrupção e retorno do processo de
formação. Porém, durante o século XX, mediante a continuidade das iniciativas
particulares associadas ao apoio do Estado, que valorizava a formação de
Matronas e a própria capacidade de organização do grupo, a profissão foi
gradativamente fortalecida e consolidada39. Zaráte pondera que desde o curso
39
Desde o final do século XIX encontram-se registros de organizações que congregaram as Matronas em
associações próprias. Citamos: a União de Matronas do Chile, fundada em 1889; o Sindicato de Matronas do
Chile, criado em 1904; a Sociedade de Matronas do Chile, fundado em 1924; O Sindicato Profissional de
Matronas do Chile, que perdurou de 1946 a 1965 e o Colégiode Matronas do Chile, instituído em 1962. Ver
site oficial do Colégio de Matronas do Chile em http://www.colegiodematronasdechile.cl/ .
62
40
Segundo Letícia Lorenzetti Silva (op.cit), a partir de 1969 as escolas de Matronas incluíram no currículo
da formação básica os conceitos e as práticas relacionadas à assistência ao planejamento familiar.
63
41
O exercício liberal da Matroneria é uma atividade reconhecida por lei desde 1969, mediante a “Lei de
Medicina Curativa na Modalidade de Livre Eleição”. Ver Letícia Lorenzetti Silva (op.cit).
42
Versão eletrônica do documento disponível em htpp://www.colegiodematronasdechile.cl/. Consulta em
19/01/2010.
43
Nos referimos ao Colégio de Matronas do Chile, criado pela Lei n° 14.895 de 31 de agosto de 1962, um
órgão colegiado, sediado em Santiago, com as seguintes atribuições: aperfeiçoamento, proteção econômica
e social e a supervisão e vigilância da profissão de Matrona.(Chile. Ministerio de Salud Publica, Biblioteca
del Congreso Nacional. Lei 14.895, publicado em 11-09-1962. Disponível em
http://www.colegiodematronasdechile.cl/)
64
44
A nossa abordagem sobre o caso de Portugal contou com a referência de dois estudos históricos
especializados, enfocando “parteiras” como tema central. Citamos o trabalho de Isabel Maria M.S.S. Ruano
da Costa (2001) e de Marinha Fernandes Carneiro (2003). A primeira apresentou uma dissertação de
mestrado sobre o tema e a segunda discutiu amplamente a história das parteiras em Portugal em sua tese de
66
doutorado. A nossa pesquisa bibliográfica nos levou a concluir que são poucas as pesquisas na historiografia
portuguesa sobre esse tema. A possibilidade de consulta direta a fontes pouco exploradas pela historiografia
especializada, no caso, os dados estatísticos sobre saúde e profissões de saúde, referentes ao século XX,
possibilitaram uma compreensão mais ampla acerca da profissionalização do grupo e sua participação nas
instituições de saúde. Foram consultadas as publicações disponíveis na Direção Regional do Alentejo do
Instituto Nacional de Estatística, na cidade de Évora, referentes ao periodo de 1940-80.
45
Marinha Carneiro (op.cit, p. 90-91) cita dois atos oficiais importantes: um alvará de 03 de março de 1565
que definia a interdição do ofício, caso a parteira não obtivesse a carta de autorização do Cirurgião-Mor,
adquirida mediante exame; e uma lei datada de 06 outubro desse mesmo ano que exigia, além do exame,
uma aprovação oficial referente a sua “vida e costumes” mediante declaração da Câmara local.
67
46
Tais como regimentos de cursos, legislação profissional, juramentos profissionais, códigos sanitarios.
47
Assim como no Brasil, a denominação”curiosa” para a parteira sem licença oficial é termo de uso
corrente em Portugal.
68
de uma ciência da saúde, tributária da medicina, alicerçada sobre uma nova base
oficial, escolarizada e profissional (CARNEIRO, op.cit, 154-161).
Segundo Marinha Carneiro (ibid) e Isabel Ruano da Costa (op.cit.), a partir
de 1836 foi iniciada uma formação escolarizada para parteiras através dos
“cursos de partos” oferecidos pelas Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e do
Porto e também no “Curso de Arte Obstétrica”, criado pela Faculdade de
Medicina da Universidade de Coimbra. Os “cursos de partos” e o curso de “Arte
Obstétrica”, fizeram parte de um processo de reforma do ensino da medicina e da
cirurgia, através da implementação de um “Plano Geral de Estudos” que
determinou, entre outras ações, algumas mudanças no ensino médico da
Universidade de Coimbra e a transformação das Escolas de Cirurgia de Lisboa e
do Porto em Escolas Médico-Cirúrgicas48.
O “Plano de Organização das Escolas Médico Cirúrgicas de Lisboa e
Porto”, documento publicado em 183649, definiu que o Curso de Parteiras tinha a
duração de dois anos, era gratuito, com componentes de conhecimentos teórico e
prático e destinado especialmente para a formação mulheres na arte de partejar;
que seria ministrado pelo Lente de Partos, em ambiente separado (dos alunos do
curso médico-cirúrgico) e apropriado para as alunas. Ficava a critério do Lente de
Partos delimitar a aprendizagem das estudantes, avaliando, segundo critérios
próprios, o conhecimento teórico e prático a ser ministrado nos cursos de
parteiras. Definia-se que ao final dos dois anos de curso, as alunas deveriam ser
examinadas por uma banca composta pelo Lente do ano, por um Lente de
operações e ainda por um cirurgião nomeado pelo Conselho da Escola, desde
que este tenha prestado serviços no hospital onde se executaram as atividades
práticas. Como pré-requisitos para ingresso exigia-se que a candidata soubesse
ler e escrever, fosse maior de 20 anos e apresentasse uma certidão de “vida e
costumes” assinada pelo administrador do bairro em que residia.
Com base na avaliação dos resultados apresentados nas pesquisa de
Marinha Carneiro (op.cit.) e Isabel Ruano da Costa (op.cit), notamos que durante
todo o período do século XIX, desde que fora criado em 1836 até o ano de 1919,
os cursos para parteiras ministrados pelas Escolas ou Faculdades de Medicina
de Lisboa, Porto e Coimbra sofreram vários ajustes administrativos, curriculares e
48
Estas em 1911 serão transformadas em Faculdades de Medicina. Ver Marinha Carneiro (ibid, p.159)
49
Collecção de Leis e Decretos. Lisboa:1836, p.823-824. Apud Marinha Carneiro ( ibid, p. 162)
69
50
A presença de professoras parteiras era praxe nas bancas de avaliação das novas parteiras na França e na
Inglaterra.
70
localidades onde não houvesse parteiras habilitadas pelos cursos ministrados nas
escolas de medicina (RUANO da COSTA, op.cit, p.129-134).
Essa modalidade de ingresso, ainda que em pequena escala, representou
mais uma contribuição no sentido de ampliar o número de mulheres autorizadas a
exercer legalmente a profissão de parteira, uma vez que os cursos promovidos
pelas escolas de medicina registraram sempre uma baixa frequência de alunas.
51
51
Ver Marinha Carneiro(ibid, p.186-187). A título de exemplo, registramos que entre os anos de 1880-1885
foram matriculadas nos cursos da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa um quantitativo de 70 alunas,
enquanto as que obtivaram certificado mediante o exame foram apenas 28 parteiras. Uma outra tabela,
apresentada por Marinha Carneiro(ibid), contabilizando o registro de diplomas e de matrículas das parteiras
da Escola Médico-Cirúrgica do Porto mostra que entre 1837 e 1907 foram matriculadas 247 alunas e dentre
essas, apenas 176 tiveram os seus diplomas registrados nessa instituição.
52
Irene Flunser Pimentel (2001, pp. 77-81) em pesquisa que aborda a história das organizações femininas
no período do Estado Novo em Portugal, aponta que (ainda) nos anos 30 do século XX quase a metade da
população em idade escolar primária não frequentava estabelecimentos de ensino, e que a escolaridade
feminina era muito inferior à masculina, acrescentando ainda que o o analfabetismo em Portugal era o mais
alto da Europa.
71
53
Em seu estudo sobre as parteiras, Isabel Ruano da Costa (ibid, p.31) registra que “No estudo
clínico(práticas) as alunas estavam sujeitas à supervisão da “parteira superior”(...)”. Marinha Carneiro
(ibid) também assinala, sem nenhum detalhamento especial, que nas maternidades em que havia essa
“parteira superior”, as alunas poderiam ser supervisionadas por elas. Em todo caso, as normas e legislações
não previam nenhuma participação docente das parteiras tituladas nesse período.
72
54
Ver Marinha Carneiro(ibid, 281-310)
73
55
O primeiro ciclo do ensino básico corresponde à atualmente quatro anos de escolaridade.
74
56
Quando se constituiu o chamado “Estado Novo” (1933-1974). Um regime autoritário, conservador, com
inspiração ideológica nazi-fascista. Contava com o apoio da Igreja Católica. Defendia as tradições e
desenvolveu uma política coorporativista, centralizadora e antiliberal, antiparlamentarista, anticomunista, e
colonialista. Vigorou em Portugal sob a chamada Segunda República. O regime criou a sua própria estrutura
de Estado e aparelhos repressivos típicos dos chamados Estados Policiais. Apoiava-se na censura, na
propaganda de governo, nas organizações paramilitares (Legião Portuguesa), nas organizações juvenis
(Mocidade Portuguesa) e no culto populista do "Chefe" de Estado. Ver Irene Flunser Pimentel (op.cit).
75
57
Conforme discutimos anteriormente, a formação de parteiras na França. Inglaterra e Chile recebiam apoio
financeiro do governo para estimular e garantir a presença de alunas, que recebiam bolsas de estudo. Essas
medidas facultavam o acesso às mulheres de baixa renda dotadas da escolaridade mínima exigida para
ingresso nos cursos.
77
Mesmo com a criação de maternidades durante o século XX, não foi nesse
espaço o lugar onde, por excelência, se desenvolveu o exercício profissional das
parteiras, e sim na assistência domiciliar, que, conforme assinalamos
anteriormente, era uma prioridade da política assistencial desenvolvida durante o
Estado Novo, cujos reflexos podemos observar nas tabelas abaixo, no qual o
nascimento em domicílio para o ano de 1969 apresentou cifras três vezes
maiores quando comparado aos dados da década seguinte. Observamos ainda
que entre o final das décadas de 60 e término da década de 80 o nascimento
domiciliar sofreu um declínio considerável. Os nascimentos foram deslocados
para o espaço hospitalar, em grande escala, a partir dos anos 70, período em que
a formação de parteira perdia espaço para a especialização obstétrica das
enfermeiras58
58
Ao avaliar os quadros das “Estatísticas da Saúde” de 1989, que apresenta os dados mais agrupados, não
mantendo os mesmos critérios de classificação encontrado nos períodos anteriores, deparamo-nos com uma
classificação denominada “Pessoal em serviço nos estabelecimentos de Saúde, segundo a profissão e por
79
modalidade de estabelecimento”. As categorias que representavam o grupo das parteiras não aparecem mais
nesse período. Com base no critério estatístico adotado, reflexo inequívoco da finalização da formação do
grupo “Parteiras”, encontramos um total de 21.010 Enfermeiros atuando em hospitais, porém não está
discriminada a especialidade desta categoria.
80
59
Em Porto Alegre a Escola de Farmácia precedeu a criação da escola de medicina. O Curso de Farmácia foi
criado em 1894, o de Partos em 1897 e o de medicina em 1898.(Jorge, op.cit, p.99)
84
60
Diante dessa opção tomada pelos representantes da Faculdade de Medicina, e partindo de uma visão de
totalidade, não podemos deixar de refletir sobre algumas iniciativas que tiveram lugar durante o processo de
institucionalização da saúde pública brasileira, a partir de 1920. Foram iniciativas sanitárias voltadas para a
melhoria da higiene materno-infantil que contaram, em diversos projetos, com o auxílio precioso das
parteiras “curiosas”, num sentido de ministrar a esse grupo [de curandeiras] um treinamento mínimo para
que pudessem atuar como ‘colaboradoras” nas ações sanitárias propostas, tais como, a higiene pré-natal,
vacinações, puericultura e hospitalização do parto. Trataremos desse processo de modo mais detalhado no
capítulo seguinte.
86
61
Essa questão foi discutida de forma mais pormenorizada na minha dissertação de mestrado. Ver Almeida
Silva(1999), ver também Brenes (1991).
87
relata que o projeto não recebeu aprovação, seguindo o parecer contrário do Dr.
Júlio Xavier62, também responsável pela rejeição do projeto do Dr. Le Masson.
A historiografia sobre as parteiras reconhece e tem constantemente
colocado algumas questões a respeito da baixa adesão de mulheres à
profissionalização do atendimento ao parto através do curso de parteiras
oferecidos pelas Faculdades de Medicina.63 A vasta extensão territorial, a baixa
escolarização feminina, a longa permanência do sistema escravista, o
patriarcalismo, a desvalorização social do trabalho de parteira tem sido
frequentemente apontados como os principais fatores do “desinteresse” das
mulheres pela profissionalização nas “artes do parto”.
Mott (op.cit., 1999) pondera que, diversamente do que se passava na
Europa, onde a questão da baixa populacional - ocasionadas por guerras,
epidemias e escassez de alimentos - pressionava os governos pela melhoria da
assistência ao parto e aos recém-nascidos e, nesse contexto, a profissionalização
das parteiras era vista como uma ação importante no meio das políticas
sanitárias; no Brasil a situação não se colocava do mesmo modo. O estímulo à
imigração européia era uma das modalidades de aumento da população do Brasil
e um meio de colonizar o território.
De fato, a procupação com a mortalidade infantil, com a puericultura e com
a maternidade começou a aparecer nos dircursos médicos, como um problema
sanitário de âmbito nacional, ao final do século XIX. E nesse caso, a filantropia
era apontada como um modo eficaz de mobilização de recursos (Martins, 2005).
Renilda Barreto (2008), discutindo o contexto baiano, comenta que por
todo o século XIX a Faculdade de Medicina da Bahia, instituída em 1832,
diplomou duas parteiras e validou os diplomas de duas estrangeiras: uma
portuguesa e uma italiana. Sobre o perfil social desse pequeno grupo, Renilda
Barreto afirma que tanto as parteiras formadas através da Faculdade de Medicina
da Bahia como as estrangeiras que tiveram seus diplomas reconhecidos eram
mulheres brancas, alfabetizadas e que viviam do ofício de parteira. Elas
62
Francisco Júlio Xavier era filho de médico. Foi formado em Paris. Era membro da Academia Imperial de
Medicina e deputado provincialdo Rio de Janeiro. Após a instituição da Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro, era ele o Lente responsável pela Cadeira de Partos (Brenes, ibid)
63
A historiadora Maria Lúcia Mott(1999) abordou essa questão a partir da instigante e provocativa pergunta,
originalmente formulada pela parteira Mme. Durocher ao apresentar um trabalho de admissão à Imperial
Academia de Medicina- “Deve ou não haver parteiras?”- uma questão que acompanharia toda a trajetória de
formação e profissionalização do grupo até o final dos anos 1960, conforme discutiremos mais adiante.
88
64
Com a crise da escravidão negra no Brasil, antes mesmo da Abolição (1888) o governo passou a estimular
a imigração maciça de populações estrangeiras, principalmente europeus. O maior contingente de
imigrantes estava representado por italianos. João Luiz Fragoso (1996) destacou que entre 1887 e 1900
foram recebidos 863 mil imigrantes no território paulista, sendo que destes mais de 60% eram italianos.
65
Eni de Mesquita Samara (1997, p. 23-60) ao analisar o mercado de trabalho feminino no século XIX,
assinalou a presença de 1.021 parteiras elencadas no Recenseamento da População do Império do Brazil de
187, sendo 259 parteiras na província de São Paulo. Os dados porém não especificam o perfil profissional
desse grupo.
92
66
Documento consultado no “Anexo nº 14” da pesquisa de Dilce Rizzo Jorge (op. cit., p. 152).
67
Essa ilustre parteira foi admitida na Academia Imperial de Medicina em 1871. A historiadora Maria Lúcia
Mott pesquisou sua vida e sua obra, publicando diversos artigos e mesmo um romance enfocando a vida de
Mme Durocher..
93
68
Esses cursos foram organizados nos anos 50e tinham a duração de doze meses. A formação em
enfermagem geral era ministrada em 36 meses e exigia para admissão o curso secundário. Para o curso de
parteiras, nesse período, ministrado nas Faculdades de Medicina, a duração média era de 24 meses, com
exigência para admissão do curso primário. Entretanto, com a finalidade de adaptação à Lei 775/49, o
Diretor da Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina de São Paulo ampliou o curso de formação de
parteiras para 36 meses e passou a exigir como requisito prévio a escolaridade ginasial. Ver Jorge,(op.cit., p.
48-51)
69 Fundada e dirigida por freiras franciscanas de origem francesa, sob a orientação do arcebispo paulistano
D. José Gaspar de Affonseca (SILVA e GALLIAN, 2009).
95
Não foi contudo obra da ABEn este resultado. Tinhamo-nos comprometido com
o deputado Lauro Cruz a não mais interferir no andamento daquele projeto em
virtude da apresentação do novo que considerava os direitos de nossas
enfermeiras obstétricas, e mantivemos nossa palavra. A luta foi obra de um
grupo de enfermeiras católicas que atuou junto aos altos prelados da Igreja no
sentido de impedirem a promulgação da lei (“Relatório da Presidente”. Revista
Brasileira de Enfermagem, ano X, nº 4, p. 321, dezembro de 1957).
70
As enfermeiras religiosas faziam parte de comissões e cargos executivos da ABEn. Algumas eram
docentes. Elas escreviam artigos que, com frequencia, eram publicados na Revista Brasileira de
Enfermagem, no qual o teor religioso e os valores da moralidade católica estava sempre mesclado com o
caráter científico da profissão de enfermeira. Dentre as publicações de enfermeiras religiosas desse período
destacamos as seguintes edições: nº 4 de dezembro de 1957; nº 3 de setembro de 1958; nº 4 de agosto de
1961; nº 3 de junho de 1962; nº 2 de 1962, nº 5 de outubro de 1964; n º 4 de outubro de 1965.
96
71
Para uma abordagem detalhada sobre as atividades profissionais e sociais das enfermeiras brasileiras a
partir dos anos 1920, ver a interessante biografia coletiva de um grupo denominado “Pioneiras” ,
apresentado pelas pesquisadoras Vitória Secaf e Hebe Costa(2007). Para os debates em torno da formação
e profissionalização das parteiras e o envolvimento das enfermeiras, ver Jorge (op.cit).
98
Dilce Rizzo Jorge (op. cit., p.25) assinalou que além das divergências em
torno da legislação sobre o ensino, enfermeiras e parteiras também debateram
em torno da legislação sobre o exercício profissional e pelo direito ao uso do
nome “obstetriz”.
Durante a tramitação do projeto de lei nº 3.082, de 1957, no início da
década de 60, foi promulgada uma lei federal que definia as “Diretrizes e Bases
da Educação Nacional”, determinando que era competência do Conselho Federal
de Educação as normativas em relação ao ensino nas escolas superiores. Desse
modo, o referido projeto de lei foi inativado. Por iniciativa do sindicato das
Parteiras do Estado de São Paulo, em consonância com o Departamento de
Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo, foi solicitado ao Conselho Federal de Educação que fixasse um currículo
mínimo para a formação de obstetrizes, como um curso separado da formação
em enfermagem. A solicitação foi atendida pelo Conselho, que criou, mediante o
Parecer 303/63 um curso de graduação em obstetrícia, que a partir de 1964 foi
elevado à curso de nível superior, exigindo para o ingresso a escolaridade
secundária. O parecer tornou possível à enfermeira de saúde pública
complementar sua formação como obstetriz e do mesmo modo, a obstetriz, com
um ano de extensão dos estudos, poderia graduar-se também como enfermeira
(JORGE, ibid.,p. 69-71).
99
72
Ver Dilce Rizzo Jorge, op.cit.
100
74
Compreendendo aqui os processos de institucionalização de acordo com a análise de Castro Santos (2004,
p.249-293) que, ao discutir a política de saúde pública no Brasil, define a institucionalização com base na
compreensão sociológica que entende esse processo como um modo contínuo e regular de execução de
práticas sociais determinadas.
75
Até 1930 a designação das egressas dos cursos de parteiras oferecidos nas Faculdades de Medicina era
“Parteira”. Após esse período elas podiam ser denominadas enfermeira obstétrica; enfermeira parteira;
parteira e enfermeira obstétrica; parteira e enfermeira especializada; obstetriz, enfermeira especializada. Ver
Dilce Rizzo Jorge (op.cit).
104
A partir dos anos 20, muitas questões relacionadas tanto à formação como
ao exercício profissional das parteiras passaram a ser debatidas pelas
autoridades sanitárias, preocupadas com a implementação de reformas da
assistência e da profissionalização da saúde.
No estudo de André Pereira Netto (1995) sobre a profissionalização
médica, destacamos a opinião de. Arnaldo de Morais, médico obstetra, professor
da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, ao se manifestar a respeito da
formação das parteiras. Para o professor, a formação das parteiras não
prescindia de um curso completo nem necessitava estar vinculado à uma
faculdade, podendo ser realizado através de uma cadeira de obstetrícia própria
para as alunas. Porém, ele defendia a instituição de um grupo de parteiras
profissionalizadas. Debatida no contexto dos discursos dos participantes do
Congresso Nacional dos Práticos de 1922, a opinião do médico Arnaldo de
Morais exemplificava a preocupação dos conferencistas com a reafirmação da
chamada ‘soberania da profissão médica’.
No que tange à preparação de parteiras, sob o ponto de vista da
legislação, as proposições com o objetivo de alterar o perfil de formação
profissional do grupo tiveram início nos anos 20, quando foi promulgado o decreto
nº 16.782 de 13 de janeiro de 1925, cujo artigo 133 trazia a seguinte declaração:
105
Fica supprimido o actual curso de parteiras e creado um curso para as enfermeiras das
maternidades annexas às Faculdades de Medicina (Brasil, 1959, p.55. Apud JORGE, p. 219,
anexo 40.)
Entre 1930 e o final dos anos 60, foram promulgadas leis, decretos e
pareceres que contribuíram, em grande medida, para disseminar confusões e
diversidades de interpretação sobre as estratégias e a organização do ensino
voltado para a formação de parteiras, bem como para regular o exercício
profissional da categoria.76.
À medida em que o sistema de saúde pública era estruturado de modo
mais complexo tornava-se necessário viabilizar a inclusão de novos agentes para
o cuidado em saúde, seguindo uma ordem de categorização, hierarquização e
especialização centrada principalmente na liderança profissional do médico,
auxiliado em primeiro plano pela enfermeira diplomada, ou, na falta desta, por
visitadoras de saúde.
Nos anos 30, a questão materno-infantil passou a ocupar lugar de
destaque nos debates em torno da organização da saúde pública no Brasil,
culminando com a criação do Departamento Nacional da Criança em 1940.
(FONSECA, op.cit, p.160-161)
As questões que envolviam a assistência prestada pela parteira, fosse esta
curiosa ou profissional, surgiram no âmbito da preocupação com a mortalidade
infantil, em crianças menores de 1 ano, e com a mortinatalidade, como era
chamado o óbito fetal ocorrido no transcurso da gestação.
Os especialistas apontavam que mortalidade infantil era causada em
grande medida pela tuberculose, diarréias, e doenças infecciosas em geral,
incluindo as chamadas doenças venéreas, no qual se destacava a sífilis
transmitida pela mãe à criança durante a gestação. A vulnerabilidade infantil à
76
A legislação promulgada em 1931 para regular o ensino das parteiras (Lei 20.865/31), recolocava os
cursos anexados aos departamentos de obstetrícia das Faculdades de Medicina, na qualidade de ‘curso de
enfermagem obstétrica’. A vinculação da profissionalização da parteira à enfermagem foi uma diretriz
educacional e de regulação profissional que iria acompanhar o grupo até o início dos anos 1970 (Ver Jorge,
op.cit).
107
77
Parte de um índice crescente; em 1931, primeiro ano do inquérito, o coeficiente de mortalidade infantil
apresentada estava em 254 por mil nascidos vivos, o que representava 594 óbitos de crianças menores de um
ano em meio ao total registrado de 2.337 nascidos vivos. No último ano do inquérito apresentado, em 1937,
esse coeficiente havia subido para 329 por mil nascidos vivos, o que significava, em números absolutos, que
em 2.118 nascimentos vivos do ano de 1937, haviam morrido 697 crianças (Scorzelli junior, 1939). Nem
precisa ser especialista para inferir que esse quantitativo representava cifras muito elevadas.
109
78
O Regulamento sanitário publicado em 1935, na parte referente ao exercício da profissão de parteira, em
seu parágrafo único definiu que: Será inscrita como “enfermeira obstétrica licenciada” quem possuir diploma
expedido por escola ou estabelecimento hospitalar idôneo, a juízo de autoridade sanitária, e que será válido apenas no
Estado onde houver sido expedido.(Regulamento Sanitário. Arquivos de Higiene, ano V, nº 3, p.225, dezembro
de 1935)
110
profissionais não aparecia na maior parte dos projetos sanitários voltados para a
mãe e a criança.
As dificuldades de se consolidar, no âmbito da política educacional, a
ampliação da formação de grupos profissionalizados de parteiras estava, em
grande medida, embasada pelo modelo de saúde pública adotado no Brasil. Sob
a inspiração do modelo norte-americano, a organização da assistência à saúde
estava centrada na ação coordenada do médico, auxiliado pela enfermeira
formada para o trabalho em saúde pública. Ademais, haviam conceitos que
separavam, segundo as técnicas próprias de prestação de cuidados à saúde, as
ações da medicina curativa das atividades da saúde pública. A primeira praticava
intervenções e tratamentos mais individualizados; enquanto a segunda executava
a medicina preventiva, de cunho mais educativo e coletivo. O trabalho da parteira
profissional estava colocado, pela saúde pública, no segmento da medicina
curativa especializada. Tanto é assim, que a presença da ‘parteira diplomada’
aparecia no discurso do Dr. Barros Barreto, conforme podemos verificar mais
adiante, no contexto do planejamento e discussão teórica de uma medicina
curativa que precisava encontrar sua interface com a saúde pública.
Nesse contexto era a enfermeira quem ocupava o lugar de preciosa
coadjuvante nas ações de gestão, educação sanitária e prestação de serviços de
saúde. Nesse sentido, João de Barros Barreto, em discurso proferido durante a
Conferência Americana de Higiene Rural, promovida pela Organização de
Higiene da Liga das Nações, abordou a importância da participação da
enfermeira nos programas de saúde pública nos seguintes termos:
79
Em março de 1942 o médico Mário Olinto , diretor do Instituto Nacional
de Puericultura, em funcionamento no antigo Hospital Arthur Bernardes,
79
Mario Olinto foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Pediatria. Exerceu atividades de gestão e
assistência à criança. Foi professor da Cadeira de Higiene da Criança do Instituto Oswaldo Cruz (1940-
1943). Quando esta disciplina passou para o Departamento Nacional de Saúde, continuou a lecioná-la até
1947. No mesmo período, organizou e ministrou o “Curso Elementar de Puericultura para Moças”, em
parceria com a Legião Brasileira de Assistência. Foi Catedrático de Pediatria e Higiene Infantil da Faculdade
de Ciências Médicas do Rio de Janeiro (1950-1960). Na mesma época, foi professor do Curso de Formação
de Puericultores do Departamento Nacional da Criança. Ver site da Sociedade Brasileira de Pediatria em
http://www.sbp.com.br.
114
80
Instituído pelo Decreto-Lei nº 2.024, de 17 de fevereiro de 1940, o Departamento Nacional da Criança
surgiu a partir da extinção da Divisão de Amparo à Maternidade e à Infância (DAMI). O objetivo do órgão
era padronizar para todo o território nacional a organização dos serviços de proteção à maternidade, à
infânciae à adolescência.
115
81
Tomamos como referência aos seguintes trabalhos da autora: “O atendimento ao parto em São Paulo: o
Serviço Obstétrico Domiciliar” (2004); “Parteiras: o outro lado da profissão”(2005); “Assistência ao parto;
do domicílio ao hospital (1830-1960)” (2002).
116
para o atendimento de uma elite social dotada de poder aquisitivo suficiente para
remunerar o profissional.
O serviço de A.O.D. contava com uma equipe multiprofissional envolvendo
médicos, enfermeiras, visitadoras e parteiras profissionais. Todos com papéis
específicos, em níveis de hierarquia bem definidos.
O trabalho da parteira na A.O.D. era definido de acordo com o cargo que
ocupava. Havia a função de ‘Parteira Chefe’ e a função de ‘Parteira’. A primeira
executava o trabalho administrativo e fazia a organização da equipe de parteiras.
Citemos algumas de suas tarefas: elaborar a escala de serviço do grupo, arquivar
fichas do pré-natal; fiscalizar a ‘bolsa da parteira’; enviar relatórios à Direção, etc.
O segundo grupo de parteiras era o que prestava o atendimento direto à
população. Cabia a esse grupo atender ao parto no domicílio da cliente
matriculada no Serviço; retornar à casa da cliente atendida para examiná-la e ao
récem-nascido, periodicamente, até a queda do coto umbilical do bebê; remover
e acompanhar a gestante até a Maternidade, em caso de acidentes imprevistos
no trabalho de parto ou após nascimento do récem-nascido; obedecer as ordens
do médico de plantão da Maternidade; registrar todo o atendimento em fichas
próprias e entregar à enfermeira-chefe; fazer o menor número possível de
exames internos; não praticar intervenções, salvo em caso de urgência; zelar
pela sua ‘bolsa de parteira”. A parteira recebia pelo seu trabalho o salário de Cr$
500,00 ao mês82.(COSTA, ibid, p.290-296)
Não podemos deixar de lembrar que a execução da assistência ao parto
pela parteira, no contexto institucional do A.O.D., deixava um espaço bem restrito
para uma atuação autônoma. Com excessão do atendimento direto à cliente
durante o processo de nascimento, no qual lhe cabia decidir as condutas
assistenciais adequadas para a situação, todas as suas ações de cuidado eram
meticulosamente delimitados e monitorados. Esse controle do trabalho da
parteira tinha um caráter não apenas de prestação de contas - o que sem dúvida
era um dever inerente ao seu papel de funcionária pública - foi especialmente
significativo da situação de subordinação em que se colocava o seu trabalho,
quando em relação ao papel profissional representado pelo médico da equipe.
82
Nesse período o salário mínimo mensal era de Cr$380,00, ou seja, trezentos e oitenta cruzeiros. Ver
http://www.jfpr.gov.br.
119
Brito Bastos (ibid) acrescentou ainda que fazia parte dos objetivos da
Fundação preparar enfermeiras obstétricas para que elas pudessem prestar
orientação e supervisão ao grupo de auxiliares de enfermagem sobre a
121
83
O chefe da Maternidade do Instituto Nacional de Puericultura, Clóvis Corrêa da Costa(1943, p.157-158),
baseado nos inquéritos estatísticos feitos em 1937, criticava e denunciava os altos índices de partos
operatórios executados em algumas Casas de Saúde, com cifras acima de 65%; bem como avaliava que
havia “falta de cultura obstétrica e certa dose de mercantilismo e displicência no exercício da profissão de
parteiro”.
122
84
Após a criação do Estado da Guanabara, a partir da transferência do Distrito Federal para Brasília, em
1960, o Sindicato das Parteiras do Rio de Janeiro é denominado Sindicato das Parteiras do Estado da
Guanabara, conforme apostilado na “Carta de Registro do Sindicato”, na pág.127.
85
A emergência de uma política governamental voltada para a organização sindical e trabalhista teve lugar
no governo de Getúlio Vargas, no período do Estado Novo(1937-45). No contexto das reformas sociais
implementadas na Era Vargas (1930-54), as estratégias de institucionalização das relações entre o Estado e
os segmentos formalmente profissionalizados da população foram consideradas as medidas mais marcantes e
duradouras da política de Estado varguista (MENDONÇA, 1996, p.282-294).
123
86
A apresentação do perfil socio-profissional desse grupo foi baseado no método prosoprográfico, uma
metodologia de análise histórica com inclusão de métodos quantitativos, para grupos sociais especiais, em
determinado contexto histórico-social. Para uma abordagem de refrência sobre o método prosopográfico
citamos FlávioHeinz (2006). Sobre o conjunto de fichas encontradas, totalizando 119, consideramos válidas
para a formação do banco de dados um total de 116, pois a ilegibilidade e os itens não prenchidos acabaram
por impugnar três desses documentos, considerados incompletos e impróprios para compor a análise.
124
87
As leis de sindicalização promulgadas nos anos 30 e o imposto sindical obrigatório, instituído em 1940,
cobrado de todos os trabalhadores formalmente inseridos no mercado de trabalho, sindicalizados ou não,
criaram uma estrutura sindical hierarquizada, com representação única, segundo a categoria profissional. A
partir de 1931, pelo Decreto nº 19770/31, os sindicatos, para serem reconhecidos pelo governo, e para que os
seus afiliados pudessem receber os benefícios da legislação social, deveriam estar vinculados
obrigatoriamente ao Ministério do Trabalho, permitindo a participação e intervenção de representantes
governamentais nas assembléias e na organização administrativa da entidade. (Mendonça, ibid)
126
Odontologistas 168 135 188 188 216 233 269 267 225 261 334
Médicas 0 0 N.H. 0 0 0 N.H. N.H. N.H. N.H 0
Veterinárias
Farmacêuticas 66 64 100 119 134 150 175 181 170 200 309
Engenheiras 22 23 2 29 34 34 30 30 34 37 57
Químicas 50 45 39 68 126 72 86 76 67 71 26
Parteiras 103 N.H. 121 121 166 171 178 210 616 270 651
Economistas 0 17 18 47 45 66 38 82 86 34 19
Contabilistas 366 464 589 396 573 434 415 578 461 739 794
Fonte:IBGE. Estatísticas do Século XX. Consulta da versão online do Anuário Estatístico do Brasil em
http://www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_pdf
Observações: a sigla N.H significa que a categoria não apareceu no inquérito no ano correspondente e o
número Zero (0) significa que não havia representação feminina registrada na profissão, no ano
correspondente.
88
No inquérito realizado em 1961, publicado em 1963, apareceu na categoria “parteiros” a presença de 387
homens. Não conseguimos desvendar tal mistério. Acreditamos ser erro de catalogação ou inclusão de
médicos obstetras no grupo. Do mesmo modo, no inquérito realizado em 1963 e publicado em 1965
aparecem catalogados 430 “parteiros”. Nesse período não havia a admissão de alunos do sexo masculino
pelas instituições oficiais autorizadas a formar parteiras.
89
No trabalho de Dilce Rizzo Jorge(op.cit, p.27-28 e p.69.), a autora faz menção ao Sindicato das Parteiras
de São Paulo, como uma entidade mobilizadora e aglutinadora de uma parte do grupo das parteiras
profissionais, sem entretanto, apresentar detalhes sobre essa organização. Além do Sindicatos do Rio de
Janeiro e de São Paulo, Dilce Rizzo Jorge (p.27-28) transcreveu um ofício assinado pela parteira Heloísa
Montenegro da Silva, “Presidente do Sindicato das Parteiras do Estado da Guanabara”, encaminhado à
Associação Brasileira de Enfermagem(ABEn), no qual a parteira, no contexto de recusa da inclusão do seu
nome numa comissão instituída pela ABEn, explicava que se expressava também em nome dos Sindicatos
de Parteiras dos Estados da Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul.
90
Conforme consta na“Carta de Registro do Sindicato das Parteiras do Rio de Janeiro” apresentada no anexo
1
128
25
20
15
10
0
1957 1959 1961 1963 1965 1967 1969 1971 1973 1975 1977 1979 1981
Figura 2
Fonte: Ficha de Inscrição do Sindicato das Parteiras do Rio de Janeiro. Arquivo do Sindicato das
Parteiras do Município do Rio de Janeiro. Acervo da Associação de Obstetrizes e Enfermeiros
Obstetras do Rio de Janeiro(ABENFO-RJ).
91
Ver: IBGE, Anuário Estatístico do Brasil. Inquérito sindical de 1967, publicado em 1969. Consulta online
em 17 de agosto de 2009( trabalho1969aeb_149, p.527).
129
92
Em seu trabalho de pesquisa Dilce Rizzo Jorge(op.cit, p.51-70) apresentou documentos preciosos
demonstrando o teor desses debates.
93
Os últimos cursos a encerrarem a formação de parteiras eram ministrados pelas Faculdades de Medicina
de Recife, que diplomou parteiras até 1969, quando transferiu a formação para a Faculdade de Enfermagem;
e o curso da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que tranferiu a formação para a
Faculdade de Enfermagem em 1971. (Jorge, p.98 e 114)
130
Essa tabela mostra que a maior parte das parteiras sindicalizadas concluiu
sua formação nas Faculdades de Medicina da região de abrangência do
132
94
Ver a obra da historiadora Maria Lúcia Mott, autora que em diversos trabalhos publicados abordou as
atividades profissionais das parteiras diplomadas, enfocando o caráter liberal e autônomo do exercício da
profissão.
133
95
O Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública foi criado pelo Decreto 19.402 de 14 de
novembro de 1930 e o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio foi instituído pelo Decreto 19.433 de 26
de novembro de 1930 (Fonseca, 2007) .
134
14
13
57
16
Figura 3
Fonte: Ficha de Inscrição do Sindicato das Parteiras do Rio de Janeiro. Arquivo do Sindicato das Parteiras
do Município do Rio de Janeiro. Acervo da Associação de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras do Rio de
Janeiro(ABENFO-RJ).
60
54
50
40
30
24
20
17
10
6
Figura 4
Fonte: Ficha de Inscrição do Sindicato das Parteiras do Rio de Janeiro. Arquivo do Sindicato das Parteiras
do Município do Rio de Janeiro. Acervo da Associação de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras do Rio de
Janeiro(ABENFO-RJ).
40
37
30
20
13
10
Figura 5
Fonte: Ficha de Inscrição do Sindicato das Parteiras do Rio de Janeiro. Arquivo do Sindicato das Parteiras
do Município do Rio de Janeiro. Acervo da Associação de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras do Rio de
Janeiro(ABENFO-RJ).
96
Segundo o levantamento de Dilce Rizzo Jorge(op.cit., p.147), entre 1932 e 1971 formaram-se 2.332
parteiras nos cursos mantidos pelas faculdades de medicina.
137
Era definido pela sua experiência pessoal com o nascimento dos filhos e no
cuidado com outras mulheres. O aprendizado experiencial começava,
usualmente, após o crescimento dos filhos, a partir da fase em que estes não
dependiam tanto dos cuidados maternos, de modo que a função de parteira era
atribuída a mulheres mais velhas.
40 38
33
30
20
20
10 9
Figura 6
Fonte: Ficha de Inscrição do Sindicato das Parteiras do Rio de Janeiro. Arquivo do Sindicato das Parteiras
do Município do Rio de Janeiro. Acervo da Associação de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras do Rio de
Janeiro(ABENFO-RJ).
97
Para um conhecimento do perfil social das parteiras curiosas, numa perspectiva histórico/antropológica,
citamos as pesquisas de: Maria Luiza Garnelo Pereira (1992); L. F. Raposo Fontenelle (1959); Iraci de
Carvalho Barroso (2001) e Mojgan Sabeti Hooshmand (2004).
138
16
26
52
Figura 7
Fonte: Ficha de Inscrição do Sindicato das Parteiras do Rio de Janeiro. Arquivo do Sindicato das Parteiras
do Município do Rio de Janeiro. Acervo da Associação de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras do Rio de
Janeiro(ABENFO-RJ).
Distribuição das parteiras sindicalizadas segundo a idade (estratificada) em que se filiou e por estado
civil
Figura 8
Fonte: Ficha de Inscrição do Sindicato das Parteiras do Rio de Janeiro. Arquivo do Sindicato das Parteiras
do Município do Rio de Janeiro. Acervo da Associação de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras do Rio de
Janeiro(ABENFO-RJ).
140
98
Para uma das abordagens mais relevantes sobre a questão sanitária no Brasil, citamos Gilberto Hochman
(1998). Nesse trabalho o autor analisa as políticas de saúde pública com base nas interpretações que
dividem o movimento sanitarista em “dois períodos fundamentais. O primeiro período está relacionado ao
trabalho de Oswaldo Cruz como gestor dos serviços federais de saúde entre 1903 e 1909 e o segundo
período, ou segunda fase do movimento sanitarista cinscunscreve-se no período de 1910-20, marcado pela
preocupação com o saneamento rural, num contexto de idéias nacionalistas e eugênicas”.
142
99
Instituição que teve um papel dos mais relevantes na constituição de profissões sanitárias em âmbito
nacional. Executou o treinamento de parteiras “curiosas” tendo como um pressuposto a higienização das
populações pobres através da implementação dos métodos e técnicas da medicina científica.
100
O SESP foi transformado em Fundação, vinculada ao Ministério da Saúde, em abril de 1960 (Bastos,
1996, p-143-144).
143
101
Sob a guarda do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz,-Fiocruz- Rio de
Janeiro.
144
102
Escrevendo a partir do final da primeira metade do século XVIII, Jean-Jacques Rousseau (1995)
elaborou um método de educação em que defendia a participação direta dos pais na educação e cuidados
145
com as crianças. Usualmente nas classes abastadas essa era uma tarefa delegada a amas e preceptores. Ele
mesmo foi um preceptor, um tipo de educador infantil. Rousseau defendia a organização doméstica como
o lugar ideal para as mulheres exercerem um papel social de acordo com a natureza feminina. A mulher, no
seu discurso, aparece valorizada pelo exercício da maternidade como parte da sua “natureza feminina”.
Contudo, a maternidade não estava resumida à gestação e parto. Incluía a amamentação materna, os
cuidados com a infância e, dentre esses, um processo sócio-educativo a ser exercido pelas mulheres, mães,
na esfera do lar.
146
103
Em países como Estados Unidos, Espanha, França e Inglaterra a convocação de mulheres para o exercício
de profissões identificadas como uma maternagem social acontecia desde os primórdios do século XIX,
conforme apontado pela historiografia internacional. Sobre os sistemas de gênero e a profissionalização das
mulheres no Brasil citamos as pesquisas de Nara Azevedo e Luiz Otávio Ferreira(2006).
104
Guacira Lopes Louro e Dagmar Meyer (1993). Destacamos a conclusão das autoras: A escolarização do
doméstico, portanto, vai além da complexidade e racionalização do “fazer”. Envolve o reconhecimento da
escola como instância legítima da formação integral da mulher, na acepção mais ampla do termo. Daí, que
a educação feminina deve compreender a formação da esposa e da mãe das futuras gerações. Portanto, o
exercício da maternidade era também um componente da formação para o lar na ETSED. (Sigla da Escola
Técnica Senador Ernesto Dornelles, escola pública fundada em Porto Alegre, em 1946.)
147
105
As idéias e ações dos reformistas que atuaram filiados à Liga Pró-Saneamento, contribuíram para a
criação em 1920, do Departamento Nacional de Saúde Pública, orgão que depois foi incorporado, em 1930,
ao Ministério da Educação e Saúde Pública, sob a direção de Francisco Campos. Embora o novo Ministério
não tenha centralizado a definição das ações locais no caso da educação pública, exerceu o papel de
legislador, promovendo também a elaboração e divulgação de políticas e modelos de abrangência nacional e
coordenando investimentos em recursos materiais e humanos.
106
No mesmo contexto de emergência do sanitarismo, o campo da educação foi alvo de um movimento
reformista, de inspiração internacional, que viria a se configurar numa linha educacional desenvolvida nos
anos 1920, no Brasil, e que ficou conhecida como Escola Nova. As reformas foram instituídas sob a
influência marcante do chamado “escolanovismo norte-americano”.Ver Jorge Nagle (2001) e também a
pesquisa de Jerry Dávila (2006) sobre as transformações da educação nesse período e sua relação com
outros setores da sociedade brasileira.
148
esse grupo apto para o cumprimento de uma missão primordial voltada para a
regeneração da raça brasileira. Desde 1920, a formação de novos profissionais
de educação incluía estudos especializados de ciências sociais, psicologia,
higiene e puericultura (DÁVILA, op.cit.).
Partilhando de ideais comuns voltados para a modernização e integração
da sociedade brasileira, o movimento sanitarista, associado ao movimento de
reforma da educação, atuou de maneira integrada em projetos políticos e
propostas de ações tendo em vista o investimento em grupos populacionais
prioritários. Nesse sentido, as mulheres apareciam como agentes e alvo das
ações de higiene social. Consideradas como importantes regeneradoras da
sociedade, elas eram escolarizadas e profissionalizadas para atuarem
principalmente em serviços voltados para a atenção aos grupos feminino e
infantil.
Nesse sentido, tanto no âmbito da formação em educação como no da
saúde pública, notamos a influência do pensamento sanitário-higienista no
incremento da educação feminina, divulgado pelos intelectuais, sanitaristas e
reformadores da educação como um modo de trazer autonomia e saber para as
mulheres. As iniciativas colocadas em prática por esse grupo de reformadores
reforçavam uma ideologia que defendia a prioridade da capacitação intelectual e
profissional feminina voltada para o exercício da maternidade científica, tão
defendida nesse período (FERREIRA & FREIRE, 2005).
Os projetos educacionais que defendiam a inclusão de disciplinas
específicas voltadas para o grupo feminino, no processo de educação pública
laica regular, enfatizava o aprimoramento das mulheres nas funções domésticas
e de cuidados com a família. Isso indica o que consideramos ter sido uma
contribuição de base para a instituição das profissões sanitárias femininas.
As autoridades da área de saúde e educação estavam empenhados na
formulação de políticas públicas identificadas com a idéia de criar no Brasil uma
“maternidade social”, como medida auxiliar para o sucesso do aprimoramento
racial brasileiro. Dentre as autoridades que obtiveram um papel de destaque
nesse linha de reformas citamos Gustavo Capanema, que atuou na direção do
Ministério da Educação e Saúde, entre 1937-1945 (SCHWARTZMAN et alli,
2000).
150
107
Em relatório apresentado ao Secretário do Interior do estado de São Paulo, em 1925, em que constava o
regulamento do Curso de Educadoras Sanitárias . Ver (ROCHA, op.cit)
152
108
Convém assinalar que a fundação de uma Escola de Enfermeiras voltada para o ensino da saúde pública
foi em 1923, no Distrito Federal, enquanto em São Paulo a fundação da Escola de Enfermagem aconteceu
em dezembro de 1942. É interessante pontuar como os sanitaristas em geral não identificavam as parteiras
diplomadas como um grupo profissional elegível para a gama de ações sanitárias propostas nesse período. A
excessão ficou exemplificada na criação do Serviço Obstétrico Domiciliar, projeto implementado em
algumas (poucas) cidades brasileiras entre os anos 1920-60, em que se destaca o caso de São Paulo, estudado
por Maria Lúcia Mott (2004). Nesse caso, implementado através do Departamento Estadual da Criança,
entre 1958 e 1969, a ação da parteira diplomada foi muito além da assistência domiciliar ao parto. Incluía a
educação sanitária e também ações de puericultura.
Os relatórios de trabalho publicados, elaborados pelas autoridades sanitárias do SESP também trazem esse
discurso de “falta” de enfermeiras, citamos : Emengarda de Faria Alvim (1959). Ver também: Nilo Chaves
de Brito Bastos (1996).
109
O SESP participou diretamente, através de contribuições financeiras, apoio logístico e cessão de
enfermeiras e outros profissionais dos seus quadros técnicos para planejamento, organização e execução, no
processo de criação das seguintes escolas de enfermagem: Escola de Enfermagem da Universidade de São
Paulo, entre 1943 e 1947; Escola de Enfermagem Rachel Haddock Lobo, da Prefeitura do Distrito Federal, a
partir de 1943; Escola de Enfermagem do Estado do Rio de Janeiro, na cidade de Niterói, entre 1944 e
1955; Escola de Enfermagem de Manaus, a partir de 1951; Escola de Enfermagem de Porto Alegre, entre
153
1950 e 1957; Escola de Enfermagem de Pernambuco, desde 1949 até 1952. Além das escolas de
enfermagem mencionadas o SESP participou, durante os anos 1950, da fundação e manutenção de escolas de
auxiliares de enfermagem nas cidades de Aracajú, Maceió, Natal e Teresina (BASTOS, op. cit, p.452-463).
110
Para um estudo comparativo dos modelos norte-americano e do brasileiro de saúde pública no período
dos anos 1920-40, ver o artigo de Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Rodrigues de Faria (2002).
111
Citamos a pesquisa intitulada “ Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública”,
realizada pelo grupo composto por Júlia Cardoso de Castro, Atiele Azevedo de Lima Lopes, Maria Rachel
Fróes da Fonseca e Verônica Pimenta Velloso para o Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde
no Brasil (1832-1930). Rio de Janeiro, Casa de Oswaldo
Cruz/Fiocruz.(http://www.dchistoriasaude.coc.fiocruz.br). Acesso em 14/05/2007
154
112
Republicação de artigo original publicado no “Annaes de Enfermagem”. Rio de Janeiro, vol.4, abril de
1934, p.14-17. Disponível no Centro de documentação da Escola de Enfermagem Anna Nery da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
155
113
Do mesmo modo que na trajetória histórica das “artes” e dos “ofícios” de curar, conforme evidenciado
por uma historiografia especializada, apontando que até pelo menos o início do século XX, no Brasil, a
medicina esteve nas mãos de uma gama variada de “curadores” autorizados e não autorizados (Pimenta,
2003; Weber, 1999; Figueiredo, 2002), o “ofício de cuidar”, reconhecido sob a denominação de
“enfermagem”, era uma função exercida majoritariamente pelos agentes da caridade cristã - irmãos e irmãs
de caridade - bem como por escravos e/ou ex-escravos (MOREIRA & OGUISSO, 2005).
157
114
Consultado na Biblioteca Central da Universidade Federal Fluminense –Niterói.
159
115
O papel do SESP na política de saúde pública brasileira tem sido objeto de interesse de alguns
pesquisadores brasileiros, dentre os quais citamos: André Campos (2006) e Themis Pinheiro (1992).
116
Themis Pinheiro (ibid) conheceu de perto essa relação, pois além de estudar historicamente o papel da
instituição na política de saúde brasileira, fez parte do corpo de funcionários do SESP, conforme declarou na
apresentação do seu trabalho de pesquisa.
163
117
Muitos edições dos Boletins do SESP, publicados periodicamente, fizeram menção direta e destacada à
posição da enfermagem profissional na saúde publica, dentre essas assinalamos as edições de agosto,
setembro, outubro, novembro e dezembro de 1948; e março de 1953.(Boletim do SESP. Fundo SESP,
Biblioteca da COC-Fiocruz )
164
118
Para o aprofundamento desse tema e as questões que o envolvem citamos os estudos de Ana Paula
Vosnes Martins (2005); Susan K. Besse ( 1999) e Maria Martha de Luna Freire (2006) e Maria Lúcia Mott
(2001)
166
119
Pantoja era o diretor da Divisão de Educação e Treinamento do SESP e Moraes dirigia a Divisão de
Orientação Técnica do mesmo Órgão.
120
Nesse grupo eles incluem todos os agentes não médicos e não somente os profissionais de nível médio e
elementar, elencando neste “grupo auxiliar” as enfermeiras, as obstetrizes, as auxiliares de enfermagem, as
visitadoras e “etc.”.
168
As Visitadoras Sanitárias
Os primeiros cursos organizados pelo SESP, visando a formação de
Visitadoras Sanitárias, tiveram lugar nas cidades de Santarém (Projeto: AM-SAN-
12B, 1944/1947) e Itacoatiara (Projeto: AM-ITA-12B ), com o “Programa da
Amazônia”. As alunas eram selecionadas e preparadas para atuação nas suas
comunidades de origem. No seu processo de formação, elas deveriam receber
treinamentos em condições tais que se assemelhassem a realidade das suas
próprias comunidades. Os cursos eram ministrados em 6 meses, com 5 meses
de atividades teórico-práticas desenvolvidas no Posto de Higiene que sediava os
respectivos projetos. O último mês de curso era dedicado ao estágio prático
desenvolvido nas comunidades de origem das visitadoras.
Figura 10 - Título original em inglês: “This is the class of “VISITADORAS SANITARIAS DO SESP”
in 1945 in Santarém.” Foto 41. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Fundo Fundo SESP I,
Caixa 14, doc 43.
SESP, previa-se o regime de internato das alunas. O Dr. Brito Bastos, defendia
essa estratégia alegando que:
123
Dentre ao Manuais dos cursos de visitadoras desse período citamos: Manual do Curso de Visitadora
Sanitária em Colatina - Espírito Santo (1946-47); Manual do Curso para Visitadoras Sanitárias em
Santarém (1944-47); Manual do Curso para Visitadoras Sanitárias em Pirapora – Minas Gerais (1952-62) .
Documentos disponíveis no Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz.
Fundo SESP I.
174
Figura 12 - Curso de Visitadora Sanitária em Colatina Espírito Santo, Programa do Rio Doce,
1946/47. Relatório final do Projeto RD-COL-12B. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.
Departamento de Arquivo e Documentação. Fundo SESP I, caixa 96, dossiê 28.
124
Sobre a avaliação das visitadoras, destacamos os seguintes documentos: Carolina L. de Moraes.
“Relatório mensal do serviço de enfermagem do mês de março de 1947- Posto de Itacoatiara”, p.1. Fundo
SESP I, Série Administração, Subsérie Cursos, treinamentos e publicações, caixa 11, doc 12. Casa de
Oswaldo Cruz/Fiocruz, Rio de Janeiro. E o relatório mensal do serviço de enfermagem de autoria de
Enedina Azevedo Ferreira. “Relatório mensal do serviço de enfermagem em saúde pública em Santarém mês
de outubro de 1946- p.1 e 2. Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Rio de Janeiro,Fundo SESP I, Série
Administração, Subsérie Cursos, treinamentos e publicações, caixa 14, doc 43.
125
Ao transcrever essa parte do relatório, mantivemos a grafia original, retiramos apenas alguns erros de
digitação presente no documento.
176
também foi reavaliado e a partir dos anos 1960 a instituição passou a fazer a
formação em regime aberto126.
As disciplinas definidas para a formação dos grupos auxiliares
femininos127 foram adquirindo, com o passar dos anos e as necessidades
identificadas através das experiências iniciais de formação, um caráter mais
científico.
A partir dos anos 60 o enfoque curricular passou por uma ampliação
conceitual e se tornou menos marcado pela concepção de domesticidade.
Incluíram-se novas disciplinas teóricas, com o objetivo de cientifizar a prática de
higienização das famílias, sem perder de vista porém que a função primordial da
visitadora era valorizar uma parte da “estrutura feminina”, despertando a vocação
das mulheres para o cuidado higiênico com o lar e com o “outro” de um modo
geral, sob a ótica da medicina científica.
Entretanto, a despeito de mudanças na estrutura curricular, a função de
visitadora sanitária, considerada uma atividade do campo teórico/prático da
“enfermagem de saúde pública”, continuava identificada como um espaço
profissional feminino. Permanecia uma estrutura de formação que considerava
aspectos do temperamento feminino como a docilidade, a obediência, o caráter
submisso, o sentido altruísta e missionário, uma pré-condição que tornava todas
as mulheres capazes para desempenhar as tarefas de uma maternidade social
(MICHELLE PERROT,1991, p. 503-539).
Desse modo, a edição do “Plano de Curso para Formação de Visitadora
Sanitária” dos anos 1960, se constituíu num bom exemplo da proposta
pedagógica que procurava moldar o caráter das alunas segundo determinados
valores de família, tendo em vista que: “(...) a maioria das atividades da Visitadora é
desenvolvida com a família e para isso são necessários maiores conhecimentos sobre esse
grupo.” (Plano de Curso para Formação de Visitadora Sanitária. FSESP, 1964, p.94).
126
Bastos. Ibid, pág.397-398. Infelizmente não encontramos outras referências contendo a exatidão
cronológica da criação dessa “Escola de Visitadoras”, contudo os indícios apontam para os anos 50.
127
Nos referimos às visitadoras sanitárias e também às auxiliares hospitalares, que no processo de formação
partilharam, em algumas oportunidades, o currículo e a residência estudantil.
178
128
Como bem analisaram Nara Azevedo e Luiz Otávio Ferreira, ao discutir o processo de educação e
profissionalização feminina no Brasil durante os anos 1920-40. Os autores afirmaram que a urbanização
afetou as famílias, organização social no qual os valores burgueses se tornaram mais visíveis, expressados
pelos “novos padrões de comportamento familiar e de estilo de vida” (op.cit. p.228).
129
A partir de 1960 o SESP foi transformado em Fundação, passando a ser reconhecido como Fundação
SESP (FSESP). Para uma visão mais detalhada sobre o processo de transformação do Orgão em Fundação
ver Themis Pinheiro(op.cit) e Brito Bastos(op.cit)
180
Figura 13 - Curso para Visitadoras Sanitárias. Santarém.PA. 1944-/47. “Recordações do Projeto. Foto
35”. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Fundo SESP I. Caixa 14, doc 43.
130
Trata-se de um relatório de serviço da enfermeira de unidade sanitária do Programa da Amazônia, sem
identificação de autoria.
183
As Auxiliares Hospitalares
Com a finalidade de resolver a questão do tratamento da população
doente que afluía às suas unidades sanitárias, e ao mesmo tempo, prestar
assistência médica à população de trabalhadores, principalmente migrantes,
oriundos do nordeste do Brasil, assim como às suas famílias, o SESP organizou,
desde 1942, uma rede assistencial que incluía “Postos de Higiene” com função
mista de prevenção, educação sanitária e tratamento de doenças, e hospitais de
pequeno porte, inclusive com leitos de maternidade. Dentre essas primeiras
unidades hospitalares, citamos o Hospital de Breves, o Hospital de Santarém e o
Hospital de Belém (Boletim do SESP, op.cit., mar 1948; Ermengarda F. Alvim,
1959; Themis Pinheiro, op.cit).
184
Figura 16 - Mapa. “Curso para Auxiliares Hospitalares – Belém, PA. Projeto: AM-BEL-13-B-
1943/46”. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Fundo SESP I, Caixa 12, doc 22.
Figura 17 - Curso para Auxiliares Hospitalares – Belém, PA. Projeto: AM-BEL-13-B- 1943/46.
“As alunas vestem o uniforme da escola”. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Fundo SESP
I, Caixa 12, doc 22, p. 56, foto 15.
Regulamento da Residência
Parágrafo 1 – Só poderá dormir fora da residência das alunas aquela que tiver parentes próximos,
residindo na cidade.
Parágrafo 2 – Nestes casos, a entrada da aluna na residência se fará domingo até às 20 horas.
Art.5 – Para casos especiais de saída a aluna terá que obter uma licença especial
Art.6 - As alunas poderão receber suas visitas dentro dos seguinte horário:
Quarta-feira - 17às 20 horas
Sábado - 12 às 22 horas
Domingo – 12 às 22 horas
Parágrafo único – Cada aluna tem o direito de convidar 1 vez por mês, uma pessoa de sua família
ou relações para jantar no internato.
Art.7 - Haverá uma hora de estudo obrigatório das 20 às 21 horas, exceto aos sábados e domingos.
Parágrafo único - Durante a hora de estudo é obrigatório o silêncio na residência.
Art.8 - As alunas deverão estar nos seus quartos às 22 horas e com luz apagada.
Art.9 – O telephone poderá ser usado em qualquer horário que não seja o de aula, refeição ou silêncio.
Art.10 – A aluna, em caso de doença ou alguma indisposição deverá procurar a instrutora
imediatamente
Art.11 – As alunas externas, em caso de ausência por doença, deverá avisar pelo telefone até 7:30 da
manhã.
Art.12 – Toda aluna externa é obrigada a ir à residência às 6:45, de onde partirá para os estágios nos
hospitais.
Art.13 – A aluna é responsável pelos estragos causados na residência.
Curso Para Auxiliares Hospitalares – Belém, PA. Projeto: AM –BEL- 13-B, 1943/46. “Regulamento
da Residencia”. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Fundo SESP I, Caixa 12, doc 22.
Segundo Bastos (ibid, p.394), essa formação foi interrompida pelo SESP,
após a Lei 775 de 06 de outubro de 1949 definir que, somente as Escolas de
Enfermagem e de Auxiliar de Enfermagem poderiam formar esse grupo.
Entretanto essa informação apresenta algumas contradições, pois em relatório
que faz parte do Programa de Minas Gerais, composto pelos documentos que
descrevem os acordos dos projetos e o relatório de encerramento, atestam a
realização de um curso para a formação de auxiliar hospitalar, entre outubro de
1952 e março de 1953, no hospital de Pirapora. Os egressos do curso foram
enviados para trabalhar nos hospitais instalados em Bocaiúva, Januária e São
Francisco ( “Descrição e Acordo do Projeto MG-PIR-33-C” e “Termo de
encerramento e Sumário Final do Projeto nº MG-BHO-33”. Casa de Oswaldo
Cruz-Fiocruz, Fundo SESP I, Caixa 15, Doc 47).
190
131
Para uma abordagem sobre a legislação da enfermagem durante os séculos XIX e XX ver Niversindo. A.
Cherubin (1975).
193
Figura 18 - Curso Para Auxiliares Hospitalares – Belém, PA. Projeto: AM –BEL- 13-B, 1943/46.
“Na maternidade”. Departamento de Arquivo e Documentação. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz-
Fiocruz. Fundo SESP I, Caixa 12, doc 22, pag. 54, foto14.
Figura 19 - Curso Para Auxiliares Hospitalares – Belém, PA. Projeto: AM –BEL- 13-B, 1943/46.
“No Berçário”. Departamento de Arquivo e Documentação. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz-
Fiocruz. Fundo SESP I, Caixa 12, doc 22, pag. 52, foto12.
195
Figura 20 - Curso Para Auxiliares Hospitalares – Belém, PA. Projeto: AM –BEL- 13-B, 1943/46.
“Banhando o récem-nascido”. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Departamento de
Arquivo e Documentação. Fundo SESP I, Caixa 12, doc 22, pag. 54, foto13.
133
Nos referimos aos seguintes documentos: Relatório do mês de junho de 1946 e Relatório do
mês de julho de 1946 do Curso para Visitadoras Sanitárias. Santarém, PA. Projeto: AM-SAN-12B,
1944/1947. Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Departamento de Arquivo e Documentação. Fundo SESP I,
caixa 14, doc 43..
203
O fato relatado pela enfermeira teve lugar quando ela esteve em Rio
Branco, capital do Território do Acre, durante alguns dias do mês de fevereiro de
1946, organizando as atividades sanitárias a serem executadas pelas visitadoras
nessa cidade. Uma outra informação que não podemos deixar passar
despercebida nesse relato é o caso do trabalho de uma das parteiras procuradas,
que apareceu associado ao trabalho dos médicos locais que não tinham
vinculação com o SESP. Uma situação representativa da importância social e das
possibilidades de atuação dessas parteiras comunitárias, no qual a denominação
de “curiosa” proporcionava uma visão restrita e parcial sobre a potencialidade dos
conhecimentos empíricos e dos recursos empregados na prestação dos cuidados
a gestantes, parturientes, recém-nascidos e familiares, bem como das redes
sociais envolvidas na execução do seu ofício.
O comparecimento às capacitações tinha como bônus a aquisição de uma
bolsa com material esterilizado, para os cuidados do parto e do récem-nascido. A
bolsa era oferecida como uma “contrapartida” à parteira que tivesse apresentado
interesse e bom desempenho durante as aulas. Oferta de duplo sentido,
carregada de valor simbólico, a bolsa era fiscalizada periódicamente pelas
enfermeiras ou visitadoras sanitárias do SESP, a fim de verificar a adesão das
parteiras aos princípos de higiene que lhe haviam sido ensinados:
134
Citamos: Carolina L. de Moraes “Relatório mensal do serviço de enfermagem do mês de março de 1947-
Posto de Itacoatiara”. Curso para Visitadoras – Itacoatiara, AM. Projeto: AM-ITA-12B, 1944/48.
Departamento de Arquivo e Documentação. Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Fundo SESP I, caixa 11, doc
208
12, p.1. E relatórios diversos : “S.E.S.P. Mês de março de 1946: AM-SAN-12-B” e “S.E.S.P. Mês de maio de
1946: AM-SAN-12-B”. Curso para Visitadoras Sanitárias. Santarém, PA. Projeto: AM-SAN-12B, 1944/1947.
Departamento de Arquivo e Documentação. Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Fundo SESP I, caixa 14, doc
43.
209
135
Sobre a ameaça da extinção dos serviços do SESP, o Boletim do SESP de nº 67, de janeiro de 1949,
apresentou uma reportagem detalhada sobre esse processo, cujo resultado foi a continuidade e ampliação dos
projetos.
210
Tabela 9 - Quadro do número de curiosas nas áreas dos programas sanitários do SESP em
1951.
Perfil das Programas Sanitários do SESP
parteiras
Amazônia Nordeste Bahia Rio Doce
Fonte: Relatório do Serviço Especial de Saúde Pública: Higiene Materna. Segundo trimestre, 1951. Acervo
da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Departamento de Arquivo e Documentação. Inventário do Fundo SESP ,
doc. 2, caixa 92.
Partos 75 16 8 80
hospitalares
Partos fora do 541 424 204 372
hospital
Sem a 13 12 7 2
assistência
Fonte: Relatório do Serviço Especial de Saúde Pública: Higiene Materna. Segundo trimestre,
1951. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Departamento de Arquivo e Documentação.
Inventário do Fundo SESP , doc. 2, caixa 92.
215
Tabela11 - Quadro dos agentes prestadores de assistência ao nascimento nas áreas dos
programas sanitários do SESP em 1951.
Médico do SESP 18 6 1 26
Médico particular 4 3 7 26
Curiosa registrada 438 315 116 285
no SESP
Curiosa sem 81 100 80 35
registro
Fonte: Relatório do Serviço Especial de Saúde Pública: Higiene Materna. Segundo trimestre,
1951. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Departamento de Arquivo e Documentação.
Inventário do Fundo SESP , doc. 2, caixa 92.
.
217
Fotografia - é o codinome
da mais aguda percepção
que a nós mesmos nos vai mostrando
e da evanescência de tudo,
edifica uma permanência,
cristal do tempo no papel(....)
136
O “Projeto SC-FSP 35: Distritos Sanitários da Fronteira Sudoeste do Paraná”, iniciado em janeiro de
1961, foi parte dos projetos de cooperação firmados nos anos 1960, entre o governo do Estado do Paraná e a
Diretoria Regional do Sul da Fundação Serviço Especial de Saúde Pública (FSESP). Ver: Acervo da Casa de
Oswaldo Cruz-Fiocruz. Departamento de Arquivo e Documentação. Fundo SESP I: seção 2 (documentos
diversos) dossiê 1, caixa 8, pasta 2, doc 71.
222
Figura 32 - Aula Prática para curiosas da U.S Pato Branco. Projeto Nº SL-FSP-35: Distritos
Sanitários da Fronteira Sudoeste do Paraná. Acervo da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz.
Departamento de Arquivo e Documentação. Fundo SESP I: seção 2 (documentos diversos)
dossiê 1, caixa 8, pasta 2, doc 71.
224
CONSIDERAÇÕES FINAIS
assinaturas dos acordos bilaterais que deram origem ao SESP, nos anos 1940,
trouxe ao movimento sanitário brasileiro novas perspectivas de ação, ao
materializar um modo de assistência à saúde idealizado pelos higienistas nos
anos anteriores.
Com a criação do SESP, o movimento sanitário contou com um modo
estratégico próprio de materializar a ocupação sanitária dos “sertões” do Brasil,
resultando no preenchimento de espaços de ausência do poder público,
conforme havia sido propalado nos discursos de higienistas e cientistas sociais
de diferentes vertentes ideológicas137. Espaços estes não apenas geográficos,
mas sobretudo sociais.
O SESP propiciou a criação de um grupo sanitário homogênio, com um
profundo sentimento coorporativo e que se movimentou sem uma plataforma
política típica do movimento sanitário dos anos 1920. Basta ver pelos seus
atores, seus líderes e protagonistas, que se comportavam e agiam como no
sentido de se instituírem como uma elite de gestores, executores e agentes de
políticas da saúde pública.
Com a proposta sanitária implementada pelo SESP foi ampliada à abertura
de uma variedade de profissões femininas no campo institucional da saúde
pública (enfermeira, educadora sanitária, visitadora sanitária, auxiliar de
maternidade, auxiliar de higiene dental, por exemplo). Tais profissões eram
valorizadas pelo Estado e consideradas de grande relevância para construção da
nação brasileira.
As ações do SESP tiveram grande relevância para a inclusão, em grande
escala, desses novos “trabalhos femininos” - criados e realizados sob a tutela do
Estado desde os anos 20 – constituindo-se num processo que podemos definir
como uma “emancipação sob tutela”, em concordância com o conceito utilizado
pela historiadora Rose-Marie Lagrave (1991), ao discutir a situação de trabalho,
educação e direitos sociais das mulheres na Europa no decorrer do século XX.
Esse tipo de emancipação social feminina mediada pelos orgãos de Estado
vinha de encontro ao movimento de saída de mulheres para trabalhos mais
especializados. Representava o local ideal de exercício laboral feminino, pois que
permitia as situações de conciliação da maternidade, do casamento, com as
137
Sobre a chegada do movimento sanitário nos “sertões” do Brasil ver Nísia Trindade Lima e Gilberto
Hochman(2004).
230
138
A exemplo das parteiras práticas que após dois anos de exercício comprovado em estabelecimento
hospitalar, podiam se submeter a exames de habilitação, conforme previa o Decreto nº 8.778 de 22 de janeiro
de 1946 -
232
BIBLIOGRAFIA
FONTES PRIMÁRIAS
Arquivos
Impressos
Datilografados
______. SESP. CANDAU, M.G & SILVA, Orlando J. da. Educação Sanitária e
seu papel na luta contra as grandes endemias: observações colhidas pelo
Serviço Especial de Saúde Pública. Fundo SESP I, caixa 12, doc 14. Acervo da
Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz. Departamento de Arquivo e Documentação.
FONTES SECUNDÁRIAS
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Molde Nacional e Fôrma Cívica: higiene,
moral e trabalho no Projeto da Associação Brasileira de Educação (1924-1931).
Bragança Paulista: EDUSF, 1998.
Diego (orgs.) Cuidar, Controlar, Curar: ensaios históricos sobre saúde e doença
na América Latina e Caribe. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004, pp. 249-294.
CASTRO SANTOS, Luiz Antonio de & FARIA, Lina Rodrigues de. A cooperação
internacional e a enfermagem de saúde pública no Rio de Janeiro e São
Paulo. Bragança Paulista: Horizontes, v. 22, n.2, p. 123-150, jul/dez, 2004.
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e Poder em São Paulo no século
XIX- Ana Gertrudes de Jesus-. São Paulo: Brasiliense, 1984.
FRAGOSO, JOÃO LUÍS. A economia brasileira no século XIX: mais do que uma
plantation escravista-exportadora. In: LINHARES Maria Yedda (org.), História
geral do Brasil. Rio de Janeiro, Campus, 1996, p.145-192.
HEINZ, Flávio M. (org). Por uma outra história das elites. Rio de Janeiro:
Editora FVG, 2006
HANNAN, June. Rosalind Paget: the midwife, the women’s movement and reform
before 1914. In: MARLANd, Hilary & RAFFERTY, Anne Marie(ed.). Midwives,
247
LIMA, Nísia Trindade & HOCHMAN, Gilberto. Pouca saúde e muita saúva:
sanitarismo, interpretação do país e ciências sociais. In: HOCHMAN, Gilberto &
ARMUS, Diego (orgs.). Cuidar, Controlar, Curar: ensaios históricos sobre
saúde e doença na América Latina e Caribe. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz,
2004, p. 493-534.
MARLAND, Hilary & RAFFERTY, Anne Marie (ed). Midwives, Society and
Childbirth: debates and controversies in the modern periode. Londres:
Routledge, 1997.
OGUISSO, Taka. Tributo a grande líder Maria Rosa Souza Pinheiro. Rev.
Paul. Enf., São Paulo, v.21, n.2, maio/ago. 2002, p. 113-114.
ORTIZ, Tereza. Profissões Sanitárias. In: Isabel Morant (Dir.). Historia da las
Mujeres em España y América Latina. Volume III : Del siglo XIX a los Umbrales
del XX. Madri: Ediciones Cátedra, 2006, p. 523-543.
PERROT, Michelle. Sair. In: DUBY, Georges & PERROT, Michelle (orgs).
História das Mulheres no Ocidente. Porto: Edições Afrontamento, 1991, p.503-
539.
251
ROSEN, George. Uma História da Saúde Pública. São Paulo: UNESP, 1994.
SILVA, Luísa Ferreira da; ALVES, Fátima e MATEUS, Pedro(col.) A Saúde das
Mulheres em Portugal. Porto:Edições Afrontamento, 2003.
SILVA, Tânia Maria de Almeida. O saber das parteiras e o saber dos médicos:
um estudo sobre a mudança da concepção sobre o nascimento na sociedade
brasileira. 1999. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Instituto de Ciências
Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro.
ANEXOS
ANEXO 1
Carta de Registro do Sindicato das Parteiras do Rio de Janeiro conferida pelo Ministério
de Estado de Trabalho do Brasil em 1958. Arquivo do Sindicato das Parteiras do
257
ANEXO 2
258
ANEXO 3
ANEXO 4