PUBERDADE
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2016 / 2019
Vice-Presidente
Zuleide Aparecida Felix Cabral
Secretária
Denise Leite Maia Monteiro
Membros
Cláudia Lúcia Barbosa Salomão
Elaine da Silva Pires Araujo
José Alcione Macedo Almeida
Liliane Diefenthaeler Herter
Márcia Sacramento Cunha Machado
Maria Virginia Furquim Werneck Marinho
Ricardo Cristiano Leal da Rocha
Romualda Castro do Rego Barros
Rosana Maria dos Reis
Puberdade normal, precoce e tardia
Descritores
Puberdade normal; Puberdade precoce; Puberdade precoce central; Puberdade precoce periférica;
Puberdade tardia
CID
E30 (transtornos da puberdade); E30.1 (puberdade precoce); E30.0 (puberdade tardia)
Como citar?
Matsuzaki CN, Narde I, Almeida JA. Puberdade normal, precoce e tardia. São Paulo: Federação Brasileira
das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Ginecologia, nº
20/Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Infanto Puberal).
Introdução
A puberdade é o período de transição da infância à idade adulta, em
que as meninas crescem (estirão do crescimento) e adquirem a ca-
pacidade de reprodução. Quando se dá a ativação eixo hipotálamo
-hipófise-ovariano (HHO) com produção hormonal pelos ovários,
levando ao aparecimento dos caracteres sexuais secundários, que
são a telarca (desenvolvimento de mamas) e a pubarca (desenvolvi-
mento dos pelos pubianos).(1)
Essas mudanças que ocorrem na puberdade seguem uma se-
quência de eventos que acontecem em determinado período de
*Este protocolo foi validado pelos membros da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Infanto
Puberal e referendado pela Diretoria Executiva como Documento Oficial da FEBRASGO. Protocolo
FEBRASGO de Ginecologia nº 20, acesse: https://www.febrasgo.org.br/protocolos
Definição
A definição de puberdade precoce é o início da puberdade antes dos
8 anos de idade em meninas.
Classificação
• Puberdade precoce central (PPC) ou verdadeira, gonadotrofi-
na-dependente, é quando ocorre um amadurecimento precoce
do eixo HHO. O padrão de desenvolvimento dos eventos pu-
berais, baseado no período de tempo de evolução, costuma ser
normal.
• Puberdade precoce periférica (PPP) ou gonadotrofina-inde-
pendente, causada pelo excesso de secreção de hormônios pe-
los ovários ou adrenais ou pela presença de hormônios exóge-
nos. Nesses casos, a sequência dos eventos puberais pode não
seguir o habitual, ocorrendo, por exemplo, um sangramento
vaginal que precede o desenvolvimento das mamas.(12)
• Variações consideradas benignas ou não progressivas incluem
a telarca precoce isolada e a pubarca precoce isolada. A telarca
precoce isolada: geralmente, idiopática, autolimitada, não leva
a uma progressão da idade óssea.
Não necessita de tratamento, mas requer seguimento, pois,
em 10% a 20% dos casos, pode evoluir para uma puberdade pre-
coce completa.
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Matsuzaki CN, Narde I, Almeida JA
Etiologia
Puberdade precoce central:
• Idiopática: o diagnóstico de exclusão representa cerca de 80%
a 90% dos casos em meninas.(13)
• Lesão de sistema nervoso central (SNC)
-- Hamartomas: o tipo mais frequente de tumor de SNC e
que leva a quadro de puberdade precoce em crianças mais
jovens.
-- Outros tumores de SNC: astrocitomas, ependimomas, pine-
alomas e gliomas.
-- Irradiação de SNC: nesses casos, estão, comumente, asso-
ciados à deficiência de hormônio do crescimento (GH).
-- Outras lesões de SNC: hidrocefalia, cistos de SNC, trauma,
doenças inflamatórias e deficiências congênitas como a hi-
poplasia do nervo óptico.
• Genéticas: alterações genéticas específicas estão associadas à
PPC, mas são identificadas apenas na minoria dos casos.
-- Mutação do gene que codifica a Kisspeptina 1 (KISS1) e o
seu receptor KISS1R acoplado à proteína G (estes genes es-
timulam o eixo HHO).
-- Mutação do gene MKRN3 (makorin ring finger protein 3)
(este gene inibe o eixo HHO).
-- Mutação do gene DLK1 (Delta-like 1 homolog) (este gene ini-
be o eixo HHO).
• Exposição prévia a hormônios, levando à ativação precoce
do eixo HHO, como, por exemplo, nos casos de Síndrome de
McCune Albright, causa de puberdade precoce periférica que
pode evoluir para uma PPC.
Puberdade precoce periférica:
Diagnóstico
O diagnóstico da puberdade precoce é clínico, início do desenvol-
vimento puberal antes de 8 anos nas meninas. Mas a avaliação e o
acompanhamento em consultas sequenciais são importantes para
definir as pacientes que necessitam de tratamento. Inicialmente,
recomenda-se consultas mensais ou, no máximo, trimestrais. A
anamnese deve avaliar o início e a evolução dos caracteres sexuais e
do estirão de crescimento e correlacionar com a idade da puberda-
de das parentes mais próximas. As presenças de cefaleia, alteração
visual, trauma ou doença prévia de SNC devem ser questionadas. A
possibilidade de exposição a hormônios não deve ser esquecida. No
exame físico, deve ser avaliado o peso, a altura, o cálculo da veloci-
dade de crescimento (cm/ano). O exame dermatológico para afas-
tar manchas na pele e o exame de campo visual também são im-
Palpação da tireóide
Hipotireoidismo
Galactorréia
Mamas
Estágio de Tanner
Massa
Abdome Palpação
tumoral
USG pélvico e
CT ou RM de Cistos foliculares e tumores de ovário e adrenal
abdome
Ressonância
magnética de Lesões do SNC
crânio
Tratamento
O principal objetivo do tratamento é permitir que a criança atinja a
altura mais próxima do seu potencial de estatura geneticamente de-
terminado. Além da estatura final, tem-se como objetivo do tratamen-
to evitar as consequências psicológicas da PP, incluindo riscos para
distúrbios emocionais e problemas de comportamento, bem como a
ansiedade dos pais dessas meninas.(19) Uma avaliação criteriosa deve
ser realizada para definir os casos que necessitam de tratamento. A
decisão de tratar ou não depende da idade da criança, da idade ós-
sea, da velocidade de progressão dos eventos puberais e da previsão
de estatura final. Assim, a progressão do desenvolvimento puberal e
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Matsuzaki CN, Narde I, Almeida JA
Tratamento da PPC
O tratamento da PPC idiopática é realizado com a utilização do análogo
de GnRH, substância que leva à estimulação contínua das células hipo-
fisárias responsáveis pela secreção de gonadotrofinas. Ao contrário da
secreção pulsátil fisiológica do GnRH hipotalâmico, essa estimulação
contínua promove a dessensibilização dos gonadotrofos e a inibição
de secreção do FSH e LH, com o bloqueio do eixo HHO.(24) Apesar das
diferentes vias de administração, dosagem e duração da ação, todos os
Análogo de GnRH
Medicação
- Acetato de Leuprolide de depósito IM (3,75 mg a cada 28 dias ou 11,25 mg a cada 84 dias)
• Desenvolvimento puberal
Monitorização • Níveis hormonais
do tratamento • Velocidade de crescimento (a cada 3-6 meses)
• Idade óssea (anual ou semestral)
Suspensão do
tratamento 12 a 12,5 anos de idade óssea (levar em consideração o aspecto psicológico de cada paciente)
Tratamento da PPP
A PPP não responde ao tratamento com análogo de GnRH. Assim,
é preciso tratar cada uma das alterações de base que levam a esse
quadro removendo ou bloqueando a produção e/ou diminuindo a
resposta ao excesso de esteroides sexuais, dependendo da causa
específica. Nos casos de exposição a hormônios exógenos, a fon-
te deve ser identificada e removida. Após a remoção, os caracte-
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Puberdade normal, precoce e tardia
Tumor
ovariano ou Abordagem multidisciplinar (cirurgia, radioterapia, quimioterapia)
adrenal
Hiperplasia
adrenal Glicocorticóide
congênita
Hipotiroidismo Levotiroxina
Puberdade tardia
Introdução
A puberdade tardia ocorre em meninas quando o aparecimento
do broto mamário não acontece até os 13 anos ou as menstru-
ações não ocorrem após 5 anos do início da puberdade. Nas pa-
cientes que apresentam desenvolvimento de caracteres sexuais
secundários, mas ausência de menstruação, é fundamental afas-
tar a Síndrome de Rokitansky-Kuster-Hauser (ausência de úte-
ro) ou os casos de criptomenorreia (obstrução do trajeto para a
menstruação como os casos de hímen imperfurado ou septo va-
ginal transverso). O distúrbio de diferenciação sexual (DDS) XY
com mutação do receptor androgênico que leva à resistência aos
androgênios em diferentes graus também pode ser confundido
com um quadro de puberdade tardia.
Etiologia
Nas pacientes que não apresentam o desenvolvimento puberal, po-
de-se classificar os casos como:
• Hipogonadismo hipogonadotrófico: deficiência hipotála-
mo-hipofisária com dosagem de FSH e LH baixas, que pode
ocorrer por uma disfunção hipotalâmica, hipopituitarismo,
hipotiroidismo ou hiperprolactinemia. A disfunção hipotalâ-
mica pode ser de origem funcional (como no atraso constitu-
cional da puberdade, presença de doença crônica, exercício
excessivo, desnutrição e estresse) ou relacionada à patologia
associada (como ocorre com tumores hipotalâmicos e pitui-
tários, especialmente o craniofaringioma) ou, ainda, por cau-
sas genéticas: associada à anosmia (Síndrome de Kallmann)
(Figura 5).
Puberdade Tardia
Hipogonadismo Hipogonadotrófico
FSH baixo
Puberdade Tardia
Hipogonadismo Hipogonadotrófico
FSH elevado
Cariótipo
Normal Anormal
Diagnóstico
Na anamnese, é preciso avaliar os hábitos nutricionais, a ativida-
de física e sua intensidade, a presença de doença crônica ou o uso
de medicações.(35) Sintomas neurológicos como cefaleia, distúrbios
visuais, anosmia, convulsões e deficiência mental sugerem um
problema no sistema nervoso central. A história de quimioterapia
pode estar relacionada a uma falência ovariana, enquanto que a
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Puberdade normal, precoce e tardia
Tratamento
A identificação da causa da puberdade tardia permite o tratamento
específico. Porém, muitas vezes, o tratamento do hipogonadismo é re-
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