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INTRODUÇÃO
A territorialização da imigração japonesa para o Brasil tenha se iniciado em 1908,
somente na década de 1930 é que, efetivamente, ocorreu a fixação dos nipônicos no
município de Presidente Prudente/SP. Em 1918, por exemplo, havia duas famílias
localizadas na zona rural (ABREU, 1972). Somente uma década depois é que chegou um
contingente significativo. A territorialização dos imigrantes isseis foi favorecida pela dinâmica
econômica comandada pela produção agrícola, quando eles se inseriam como arrendatários
ou sitiantes, o que foi facilitado pela frente de expansão da cafeicultura. Com isso, o cultivo
do café possibilitou o avanço econômico da região para os pioneiros, atraindo migrantes de
várias nacionalidades e, entre eles, o trabalhador japonês. Porém, a crise internacional de
1929 paralisou a produção da lavoura cafeeira para o mercado internacional (SOUSA,
2007/2010).
Todos eram colonos na agricultura e almejavam acumular uma poupança para voltar
ao lugar de origem, o que não aconteceu. Nessa sua saga por mobilidade-permanência,
procuraram regiões com terras baratas e férteis na “boca do sertão” para comprar lotes
rurais no Brasil, criando raízes e se territorializando efetivamente no estado de São Paulo,
tornando Presidente Prudente como o território de oportunidades. A permanência do
imigrante japonês se deu pelo trabalho, que o mesmo realizou no cultivo do algodão
efetivando sua territorialização pelo habitat e pela plataforma de oportunidade, tendo
centralidade na pequena propriedade privada rural. Foi com esta cultura que alguns nipo-
brasileiros conseguiram ascensão social, alguns deles conseguiram se tornar capitalizados
1
Doutor em Geografia pela FCT/UNESP; Professor da Fatec de Itaquaquecetuba-SP;
adramaro@yahoo.com.br.
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SOUZA, A. A.de. O profissional liberal Nikkei médico: geo-história, mobilidade e técnica. In. Simpósio Nacional de Geografia
da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
Grande: UFCG, 2021. p.11-20. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com/ ISSN 1980-5829
e investiram na educação dos filhos por meio de uma profissão especializada visando a
mudança de status e objetivando ganhar dinheiro em atividades urbanas (SOUSA, 2019).
Segundo Cardoso (1963), os sucessivos êxitos econômicos dos nipônicos trouxeram
novos estímulos e novos objetivos para o grupo: a) não retornar mais ao Japão; b) se
tornarem proprietários rurais; c) educar os filhos; e, d) ter status/prestigio social. Tudo isso,
favoreceu a ascensão social dos “nikkeis” por meio da: “[...] valorização do trabalho
intelectual, que trouxeram do Japão, e o propósito de proporcionar aos jovens uma vida
melhor, fizeram com que esses “issei” incentivassem os “nisseis” o desejo de conseguir uma
profissão urbana e bem categorizada socialmente. A vida rural brasileira é difícil e
desconfortável. A inexistência de comunicações, as grandes distâncias entre os núcleos
povoados, a preponderância da monocultura, entre outras razões, faz(em) do homem do
campo um ser isolado que devem enfrentar sozinho as grandes dificuldades. Essas
condições de vida vieram reforçar o valor atribuído pelos japoneses aos trabalhos
intelectuais, e o empenho que fizeram em ver os filhos diplomados” (CARDOSO, p. 56,
1963). Para a autora, os japoneses e seus descendentes viviam uma dualidade no Brasil
tendo centralidade na colônia: valoriza-se abertamente a vida rural ao mesmo tempo que se
estimula a carreira intelectual para os jovens capazes de abarcar as profissões liberais.
Essa dualidade foi importante para a reterritorialização dos nipo-prudentinos auxiliando nos
novos objetivos destes no país: posse da terra (rural/urbana), diploma e status sociais.
Sendo assim, o objetivo desse artigo é analisar a geo-história/mobilidade/técnica do
profissional liberal nikkei médico na formação territorial do município de Presidente
Prudente/SP. Iremos dividir o artigo em duas partes: a) aspectos teóricos e metodológicos
da pesquisa; b) a geo-história do profissional liberal nikkei pela memória, mobilidade e
técnica. Por fim, o artigo apresenta uma nota de introdução e conclusão.
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SOUZA, A. A.de. O profissional liberal Nikkei médico: geo-história, mobilidade e técnica. In. Simpósio Nacional de Geografia
da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
Grande: UFCG, 2021. p.11-20. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com/ ISSN 1980-5829
que a sociedade produz e só é inteligível por ela mesma. Todavia, a categoria Formação
Econômica Social elaborada pelos economistas e sociólogos não incluía o espaço na
análise da dinâmica social. Por isso, Milton Santos chama atenção para a Formação
Socioespacial, pois não existe sociedade sem espaço. Desse modo, entendemos o território
pelo espaço e pela sociedade. Ele é definido pelas relações de poder articulada pelos
pontos, nós e redes (RAFFESTIN, 1993; HAESBAERT, 2004; SAQUET, 2007). Dominação
e histórias estão embricados no território. Assim, a Formação Territorial pode ser analisada
pela leitura dos processos geo-históricos da abordagem do território tendo centralidade nos
ambientes construídos (paisagens e rugosidades) e nos símbolos-culturais (signos).
Para Santos (2009), existem duas matrizes de redes: a) as redes técnicas são todas
as infraestruturas que permite o transporte de matéria por pontos terminais; b) já a rede
social compreende as pessoas, mensagens e valores. Nesse sentido, a rede é uma mera
abstração criada pelo homem estimulando a produção e circulação, não sendo uniforme em
todos os espaços. "E onde as redes existem, elas não são uniformes. Num mesmo
subespaço há uma superposição de redes, que inclui redes principais e redes afluentes ou
tributárias, constelações de pontos e traçados de linhas. Levando em conta o seu
aproveitamento social, registram-se desigualdades no uso e é diverso o papel dos agentes
no processo de controle e de regulação do seu funcionamento" (SANTOS, p. 2009, 268).
Segundo Vasconcelos (2012), na linguagem jurídica “o profissional liberal, que
originalmente significa o trabalho de um homem livre, hoje designa a atividade do indivíduo
cujo trabalho não depende senão das capacidades técnicas e intelectuais dele mesmo” (p.
30). [...] “o profissional liberal como alguém que adquiriu uma certa preparação cultural,
normalmente através de cursos ou estágios e que, em decorrência da profissão que
abraçou, passa a prestar um serviço de natureza específica, na maioria das vezes
regulamentado pela lei” (p. 30). [...] “podem se enquadrar nessas profissões regulamentadas
ou não por lei; as que exigem formação universitária ou habilitação técnica equivalente e
ainda aquelas reconhecidas no mercado de trabalho e nas relações sociais” (p.30).
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SOUZA, A. A.de. O profissional liberal Nikkei médico: geo-história, mobilidade e técnica. In. Simpósio Nacional de Geografia
da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
Grande: UFCG, 2021. p.11-20. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com/ ISSN 1980-5829
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SOUZA, A. A.de. O profissional liberal Nikkei médico: geo-história, mobilidade e técnica. In. Simpósio Nacional de Geografia
da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
Grande: UFCG, 2021. p.11-20. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com/ ISSN 1980-5829
Desse modo, já formado médico obstetra em 1961 o sr. Sizuvo resolveu vir para o
Oeste Paulista, escolhendo como lugar de trabalho a promissora cidade de Presidente
Venceslau/SP, nela tinha vínculos afetivos familiares que daria inicio a sua rede social e de
negócios no lugar. Eu “vim para Venceslau porque minha irmã residia na cidade e, também,
a princípio era uma região próspera. Apontava-se. Venceslau na época tinha voo direto para
o Rio de Janeiro/RJ” (ENTREVISTA, DR. SIZUVO IAMADA, 14/07/18). Posteriormente, por
volta de 1969, mudou-se para Presidente Prudente/SP com a família (esposa e duas filhas e
um filho), montando seu consultório particular e iniciando a construção do Hospital
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SOUZA, A. A.de. O profissional liberal Nikkei médico: geo-história, mobilidade e técnica. In. Simpósio Nacional de Geografia
da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
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SOUZA, A. A.de. O profissional liberal Nikkei médico: geo-história, mobilidade e técnica. In. Simpósio Nacional de Geografia
da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
Grande: UFCG, 2021. p.11-20. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com/ ISSN 1980-5829
Hoje com a aposentadoria do seu pai, o médico Neiw Iamada mantém a tradição do
hospital atrelado à maternidade, mesmo o hospital tendo diversas especialidades
(cardiologista, dermatologista, neurologista, entre outros) em clínicas, internações e
cirúrgicas. De modo geral, a família Yamada relata sobre o conceito de profissional liberal,
segundo Neiw: “Eu acho que, não sei se é o mesmo conceito que o meu pai tem de ser
profissional liberal. Não sei se a gente expressa esse ser liberal. E eu não entendo mais isso
como autonomia, como acho que era”. O pai médico Sizuvo acrescenta que, o profissional
liberal “acaba não sendo um empregado do convênio. A sensação que eu tenho é que a
liberdade não acontece de jeito nenhum” (2018). Contudo, o que percebemos pela narrativa
é que o médico particular mesmo que liberal trabalha dentro de um contrato “amarrado” e a
tomada de decisão depende da liberação do convênio. Isso de certa forma limita a
autonomia conceitual do profissional liberal na configuração do capitalismo contemporâneo
atual.
Já o sr. Tadashi Uchida também era filho de médico, seu pai o dr. Ritoji Uchida se
formou na Universidade de Nipon Daigaku em Tóquio no Japão, veio sozinho para o Brasil
em 1924, através do Ministério das Relações Exteriores do Japão como médico bolsista do
Gaimusho para cuidar dos imigrantes japoneses. Ficou cerca de três anos no Rio de
Janeiro/RJ estudando o curso de português e de doenças tropicais para revalidar seu
diploma e poder clinicar no país. Em seguida foi mandado para o Estado de São Paulo, por
volta de 1927, para trabalhar como médico no município de Bastos/SP, atendendo as
famílias dos nipônicos na região e, sobretudo, ajudando no combate das doenças locais
(bicho-de-pé, verminoses, malária, tracoma, tuberculose, etc.) para diminuir o número de
enfermos e de mortes entre os nipo-brasileiros. A dura vida dos colonos nas fazendas de
café e dos pequenos sitiantes na “Boca do Sertão” se apresentava para o nipônico como um
traço efetivamente marcante da sua des-territrorialização, sendo o Brasil um território bem
diferente do lugar de origem o Japão, logo tendo dificuldades com a adaptação em terras
tropicais e muitos adoeciam.
Diante desse contexto, o governo do Japão enviou médicos para atuarem nas
regiões que tivessem a colônia japonesa, em especial para Presidente Prudente/SP,
auxiliando os enfermos nipônicos para que não houvesse a migração de retorno para o
Japão. A família do dr. Tadashi Uchida aterrizou no município de Presidente Prudente/SP
em 1932, vindo de Bastos/SP recém casados, o médico. Ritoji Uchida com sua esposa a
enfermeira Yoshiko Suehiro, ambos funcionários do governo japonês. Antes, porém, em
1931 o sr. Ritoji foi enviado para assumir a assistência à saúde dos imigrantes japoneses na
região da Sorocabana que se estendia de Avaré/SP até Presidente Epitácio/SP. No mesmo
ano, o médico Tadashi nos relatou que, [...] minha mãe ficou em Bastos/SP, lá ela ajudava o
meu avô que era do serviço de saúde do exercito japonês, veio para cá como colono, mas
como tinha prática de enfermagem passou a auxiliar os médicos do Gaimusho (2017).
De modo geral, somente em 1932, que o sr. Ritoji retornou em Bastos/SP, para se
casar com a sra. Yoshiko e fixar residência em Presidente Prudente/SP, dando continuidade
ao trabalho de assistência médica aos imigrantes nipônicos. Esse programa de atendimento
junto às famílias dos imigrantes pelo governo do Japão permaneceu no país até o inicio da
Segunda Guerra Mundial, conforme nos conta Shicasho (S/D), que “quando iniciou a guerra,
foi obrigado a deixar as consultas fora do perímetro da cidade de Presidente Prudente/SP”
(p. 334).
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SOUZA, A. A.de. O profissional liberal Nikkei médico: geo-história, mobilidade e técnica. In. Simpósio Nacional de Geografia
da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
Grande: UFCG, 2021. p.11-20. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com/ ISSN 1980-5829
Portanto, o sr. Tadashi se formou no curso de medicina em 1961, no mesmo ano que
a sua irmã concluía a graduação em Nutrição na USP, logo em seguida iniciou a
especialização em cirurgia e gastroenterologia no Hospital das Clínicas - USP.
Posteriormente, estagiou cerca de três meses no Instituto de Gastroenterologia Tokio-
Japão. O sr. Tadashi foi para o Japão fazer um estágio em cirurgia sobre endoscopia em
1968. E, posteriormente acabou importando o equipamento de gastrocâmera da marca
Olympus que tirava fotografia de dentro do estomago. E em 1972, o doutor foi de novo e
trouxe outros equipamentos de endoscopia. O período da ditadura para o doutor foi
importante para a importação porque tinha isenções de impostos para produto médicos
(UCHIDA, 2017).
Em 1964, retornou para Presidente Prudente/SP visando administrar e consultar na
clínica da família. Contudo, seu pai o médico Ritoji faleceu em 1942, sendo que a clínica foi
arrendada e, depois, administrada pelo médico Takaoka em nome da família. Seu pai
montou a clínica trabalhou nela cerca de 10 anos e faleceu, posteriormente, por
complicações de diabetes. Ademais, o médico Tadashi comandou a clínica de 1964 a 1984,
porém resolveu fechar a clínica pelos altos custos e dispêndio de tempo, ficando apenas
com o consultório particular e prestando serviços em hospitais como profissional liberal,
atendeu seus pacientes até 2018 quando ocorrera o seu falecimento. Como profissional
liberal Prestou serviços em diversos lugares no município, como: no Hospital Nossa
Senhora das Graças, na Santa Casa, no São Luiz, entre outros como médico particular.
Assim, o sr. Uchida descreve o processo de prestação de serviços da seguinte
forma, “vou como profissional liberal mesmo, eu vou lá e presto o meu serviço, não sou
chamados por eles, ai eu vou lá e levo o meu cliente para atender lá, de certa forma os
hospitais são como se fossem os instrumentos de trabalho da gente” (ENTREVISTA: DR.
TADASHI UCHIDA, 14/08/17). Ademais, na Santa Casa o doutor também prestou serviço
voluntário quando jovem.
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SOUZA, A. A.de. O profissional liberal Nikkei médico: geo-história, mobilidade e técnica. In. Simpósio Nacional de Geografia
da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
Grande: UFCG, 2021. p.11-20. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com/ ISSN 1980-5829
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos sintetizar que, os três entrevistados médicos acima supracitados, tiveram
múltiplos deslocamentos espaciais no território brasileiro, em especial no Estado de São
Paulo, como estudante e como profissional liberal. Esses deslocamentos fizeram com que
os entrevistados nikkeis alcançassem ascensão social no território prudentino. Nesse
sentido, o médico Sizuvo Iamada de 87 anos era filho de agricultor e fez o ensino rural local,
mas para continuar os estudos entrou em processo de mobilidade espacial realizando
diversos movimentos do ginásio até a universidade, sendo o filho escolhido para se tornar
doutor. Já o médico Tadashi Uchida de 82 anos falecido era filho de médico ligado ao
Ministério de Relações Exteriores do governo japonês, quando jovem urbano realizou a
mobilidade após terminar o ginásio no lugar de origem, indo fazer o colegial/cursinho e a
graduação em São Paulo, por fim fez cursos de especialização no Japão. O médico Neiw
Iamada de 54 anos também era filho de médico, criado no ambiente urbano terminou o
ensino básico (primário, ginásio e colegial) junto aos pais, migrando somente para fazer
cursinho e graduação em medicina no Rio de Janeiro/RJ. Todavia, o médico Sizuvo
juntamente com o pai do médico Tadashi o sr. Ritoji, foram os pioneiros e empreendedores
na medicina prudentina, pois ambos instalaram no município os objetos técnicos como
hospital e como clínicas particulares nos idos da década de 1970. Já o médico Neiw Iamada
e o médico Tadashi Uschida vêm dando prosseguindo as atividades médicas das
respectivas famílias, sendo que o sr. Tadaschi atuava como cirugião e gastroenterologia na
clínica herdada do pai, enquanto o sr. Neiw era obstetra e ginecologista no hospital da
família e dava aula professor universitário na UNOESTE. Contudo, o médico Sizuvo não era
originário de Presidente Prudente/SP, mas escolheu essa cidade para trabalhar,
empreender e morar. Por sua vez, no caso dos médicos o sr. Tadashi e o sr. Neiw ambos
têm Presidente Prudente/SP, como lugar de origem e são filhos da classe média/alta local,
terminaram a faculdade/residência e, paulatinamente, retornaram ao município natal como
médicos para assumir os negócios da família.
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SOUZA, A. A.de. O profissional liberal Nikkei médico: geo-história, mobilidade e técnica. In. Simpósio Nacional de Geografia
da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
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20
LEFRANO-PORTO, B.; GURGEL, H.; CATÃO, R. Oferta de disciplinas sobre Geogrfia e saúde nas Universidades públicas
brasileiras. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X.,
2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.21-32. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com.
ISSN 1980-5829
LOFRANO-PORTO, Bruno1
GURGEL, Helen-orientador2
CATÃO, Rafael-orientador3
RESUMO
Nesse trabalho busca-se demonstrar a importância e a capilaridade do ensino de Geografia da Saúde
no nível superior de ensino, bem como entender a realidade do ensino dessa temática nas
universidades públicas do Brasil. A temática de Geografia da Saúde, ou Geografia Médica, termo que
vai eventualmente cair em desuso por conta da evolução epistemológica da disciplina nos anos mais
recentes, é bastante enriquecedora para a formação de geógrafos porque expande as dimensões da
ciência geográfica para a área da saúde que não costuma ser imediatamente associada à análises
geográficas. A pesquisa bibliográfica realizada para a produção desse artigo demostrou várias
potencialidades que o pensamento geográfico oferece para questões de saúde. Por outro lado, os
dados produzidos indicam uma relativa falta de ensino sobre geografia da saúde no Brasil, visto que a
tendência é de que os cursos de Geografia nas universidades públicas não ofertem disciplinas nessa
temática.
Palavras-chave: Geografia da Saúde, Geografia Médica, Ensino.
ABSTRACT
This article intends to show the importance and capillarity of teaching Health Geography at
college/university level, as well as understanding the reality of the teaching of this thematic at public
universities in Brazil. Health Geography, or Medical Geography, such term should eventually fall into
disuse due to the recent epistemological development of this subject, is extremely enriching for
geographers since it expands the limits of the geographical science to the area of health, which is not
commonly associated with geographical analysis. The research conducted to write this paper
showcased numerous benefits for a geographical approach to health issues. On the other hand, the
data generated in this research highlighted a relative lack of health geography teaching in Brazil, since
it is not common for the public universities to offer a Health Geography-related subject.
Key words: Health Geography, Medical Geography, Teaching
INTRODUÇÃO
Em 1984 o Professor de Geografia e Epidemiologia Jonathan Mayer da University
of Washington em Seattle publicou o artigo “Medical Geography: An Emerging discipline”, no
qual ele argumenta justamente que a, então, Geografia Medica, era uma disciplina emergente,
além de demonstrar várias potencialidades e possíveis temáticas de pesquisa, argumentando
principalmente que a Geografia Médica já era utilizada em pesquisas, especialmente
epidemiológicas, mesmo que isso não se desse de forma explícita.
Como Barcellos et al mostram em seu artigo de 2018 “Geografia e Saúde: O que
está em jogo? Histórias, temas e desafios”, não só o termo mais utilizado para a disciplina
mudou, de Geografia Médica para Geografia da Saúde, como o próprio pensamento científico
da área evoluiu consideravelmente. Dentre alguns dos novos estudos na área destacam-se:
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LEFRANO-PORTO, B.; GURGEL, H.; CATÃO, R. Oferta de disciplinas sobre Geogrfia e saúde nas Universidades públicas
brasileiras. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X.,
2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.21-32. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com.
ISSN 1980-5829
Portanto, A Geografia da Saúde é uma disciplina que já evoluiu muito desde sua
condição de “emergente” e, é hoje amplamente utilizada no âmbito das tomadas de decisões
públicas e nos estudos de atenção e de prevenção de doenças, exemplos claros disso são os
boletins epidemiológicos disponibilizados pelo ministério da saúde que atualmente sempre
possuem mapas, tabelas de distribuição espacial e outros dados amplamente utilizados na
Geografia da Saúde. O volume 52 de janeiro de 2021, por exemplo, apresenta um mapa de
casos confirmados de sarampo por estado brasileiro e uma tabela de casos confirmados e
óbitos distribuídos por cada estado. Porém, no Brasil ainda há, nas universidades públicas,
uma considerável falta de disciplinas na área.
METODOLOGIA
Dado o objetivo do presente artigo de demonstrar a importância do ensino de
Geografia da Saúde e compreender a realidade dessa temática no Brasil, a pesquisa foi
dividida em múltiplas fases.
A primeira foi o levantamento de todos os cursos de Geografia das universidades
públicas brasileiras. Esse levantamento foi feito a partir do portal e-MEC. Então foi elaborado
um mapa com a distribuição estadual de todos esses cursos catalogados.
Posteriormente, foi elaborado um formulário eletrônico sobre a oferta de disciplinas
na temática de Geografia da Saúde que foi enviado para os coordenadores dos cursos de
geografia de universidades públicas brasileiras via e-mail, durante o período de junho e julho
de 2020. O nome dos coordenadores foi obtido através do portal e-MEC, a partir disso buscou-
se o contato destes por duas vias principais, o site da instituição ou publicações encontradas
no currículo Lattes do professor ou da professora. O link para o formulário foi enviado para
mais de 350 coordenadores de cursos de Geografia. O formulário continha dezenove
perguntas, algumas com respostas fechadas outras com respostas abertas e buscava
entender se o curso de Geografia coordenado pelo respondente ofertava ou não alguma
disciplina na temática de Geografia da Saúde e, em casos positivos, quais as características
da oferta e da disciplina em si. A partir dos dados obtidos, foi produzido um mapa com a
distribuição estadual dos cursos com oferta de pelo menos uma disciplina na temática de
Geografia da Saúde, bem como vários gráficos para demonstrar algumas das repostas
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LEFRANO-PORTO, B.; GURGEL, H.; CATÃO, R. Oferta de disciplinas sobre Geogrfia e saúde nas Universidades públicas
brasileiras. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X.,
2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.21-32. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com.
ISSN 1980-5829
obtidas. Todos os mapas foram confeccionados pelo SIG QGIS em sua versão 3.8 Zanzibar
e os gráficos pelo Excel.
Em seguida, foi realizada uma revisão bibliográfica de textos na área de Geografia
da Saúde para ajudar na compreensão dessa área de pesquisa e sua realidade no Brasil. Por
fim, foram elaboradas e enviadas cinco perguntas abertas para professores da área da saúde
com o intuito de compreender um pouco do escopo da Geografia da Saúde no nível de ensino
superior. Essas perguntas foram enviadas para quase todos os professores de disciplinas de
epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB). Essa universidade foi escolhida por
questões de praticidade, já que, por ser aluno dessa universidade o autor desse artigo teve
fácil acesso à oferta de disciplinas e contato dos professores.
RESULTADOS
Foi encontrado um total de 354 cursos de Geografia disponíveis em universidades
públicas brasileiras em junho de 2020, distribuídos espacialmente pelas unidades federativas
brasileiras da seguinte forma (figura 1):
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LEFRANO-PORTO, B.; GURGEL, H.; CATÃO, R. Oferta de disciplinas sobre Geogrfia e saúde nas Universidades públicas
brasileiras. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X.,
2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.21-32. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com.
ISSN 1980-5829
com maior número de cursos ofertados, com 32, seguido de perto pela Bahia, que teve 30
cursos ofertados.
O questionário elaborado foi enviado para mais de 350 coordenadores de cursos
de Geografia de universidades públicas brasileiras e foram obtidas 95 respostas (27%). Os
participantes dessa pesquisa estão distribuídos por praticamente todas as unidades
federativas do Brasil, sendo o Acre o único estado do qual não foi obtida nenhuma resposta
ao questionário on-line. Os resultados detalhados desse levantamento também foram
divulgados publicamente e podem ser acessados no site do Laboratório de Geografia,
Ambiente e Saúde (LAGAS) da Universidade de Brasília (UnB), ou diretamente pela seguinte
URL: lagas.unb.br/index.php/disciplina-geografia-da-saude-no-brasil.
Dentre as 95 respostas, 37 (38.9%) afirmaram que sim, o curso oferta pelo menos
uma disciplina na temática de Geografia da Saúde (figura 2). Apenas um coordenador de
curso informou oferta de mais de uma disciplina de Geografia da Saúde. Pois, o curso, ABI
(área Básica de Ingresso, são cursos que não possuem diferenciação de bacharelado ou
licenciatura no ingresso), da UFSP, que apresentou oferta de duas disciplinas. Assim, entre
95 cursos, tem-se a oferta de 38 disciplinas na temática de Geografia da Saúde. O mapa a
seguir (figura 2) mostra a distribuição estadual dos cursos que ofertam pelo menos uma
disciplina na temática de Geografia da Saúde, de acordo com o levantamento realizado.
Destaca-se o estado do Rio Grande do Norte que tem a oferta em 4 cursos de geografia.
Figura 2. Distribuição dos cursos que ofertam pelo menos uma disciplina
na temática de Geografia da Saúde
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LEFRANO-PORTO, B.; GURGEL, H.; CATÃO, R. Oferta de disciplinas sobre Geogrfia e saúde nas Universidades públicas
brasileiras. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X.,
2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.21-32. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com.
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Com respeito à frequência de oferta (figura 5), observou-se que é comum que a
oferta se dê de forma anual ou a cada dois anos; apenas duas disciplinas são ofertadas de
forma semestral. Outras duas disciplinas são ofertadas esporadicamente, e 4 disciplinas
possuem oferta irregular, baseada na demanda.
Por fim, outras informações para caracterização das disciplinas são as seguintes: 34
disciplinas são ofertadas de forma presencial, apenas 3 são ofertadas na modalidade à
distância; quase metade das disciplinas obrigatórias possuem carga horária abaixo de 34h;
Apenas duas disciplinas, dentre as obrigatórias, possuem oferta semestral, outras duas
possuem oferta baseada na demanda.
Dentre os 10 e-mails enviados para professores de disciplinas de epidemiologia da
Universidade de Brasília, obteve-se apenas duas respostas. Um professor informou que
leciona as disciplinas de “Epidemiologia Aplicada à Educação Física” na graduação e
“Epidemiologia e Atividade Física na Promoção de Saúde” na Pós-Graduação, o outro mestra
as disciplinas “informação e informática em saúde 2” e “epidemiologia analítica”. Os relatos
apresentados por esses professores corroboram a tese de que a Geografia da Saúde é uma
área do conhecimento já muito utilizada, dentro da área da saúde, porém não de forma
institucionalizada, ou “consciente”. Um professor diz
“Em ambas [as disciplinas] eu utilizo mapas com distribuição (normalmente
de prevalências) de doenças ou de características sócio-demográficas, de
condições clínicas ou de fatores de risco para doenças com alta prevalência.
Em particular, são muito comuns mapas que apresentam distribuição do nível
de atividade física na população e também mapas de equalização de
densidade (density-equalizing maps), que começam a ser muito comuns na
apresentação de dados do nível de atividade física da população mundial em
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Além disso, um dos respondentes faz uma conexão entre fatores Geográficos e a
prática de atividade física (saúde preventiva):
“Ao apresentar o conteúdo da disciplina eu usualmente me reporto às três
questões básicas da epidemiologia: quem, quando e onde. Nesta abordagem,
eu apresento desfechos que têm conhecidos determinantes ligados a fatores
geográficos e ambientais. Essas duas questões são bem identificadas no
nível de atividade física da população, que sobre influência de questões
territoriais e climáticas, como áreas e períodos do ano que favorecem mais
ou menos à prática de atividades físicas. Essas relações são bem exploradas
nas disciplinas”
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geografia da saúde no Brasil por meio do levantamento feito pelo laboratório LAGAS-UnB,
que mostrou a criação de pelo menos 21 novos grupos de pesquisa em Geografia da Saúde
desde a publicação desse artigo em 2014. Portanto a Geografia da Saúde no Brasil está em
estágio de franco desenvolvimento e pode-se dizer que é uma temática estabelecida e de
reconhecimento considerável (GURGEL e BELLE, 2020), pelo menos dentro do meio
acadêmico. A figura 6, abaixo, foi produzida com base no artigo de BARCELLOS, et al. 2018
e mostra algumas importantes contribuições em teorias de geografia da saúde ao longo dos
anos.
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bastante significativo já esses dois cursos analisados no estudo representam 66% dos cursos
de geografia do estado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os levantamentos realizados, bem como as entrevistas feitas, sugerem que a
Geografia da Saúde, área de pesquisa dentro da Ciência Geográfica já está francamente
estabelecida no Brasil e tem sua importância evidenciada no âmbito acadêmico e da saúde
pública e coletiva. Entretanto, carece de disciplinas específicas nos cursos de geografia das
universidades públicas brasileiras. Dessa forma, recomenda-se uma maior divulgação da
temática junto aos formadores dos futuros geógrafos e professores de geografia brasileiros, a
fim de institucionalizar a Geografia da Saúde, através da oferta de disciplinas, de modo a
consolida-la como área de pensamento e pesquisa específica da Geografia no Brasil.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq través do financiamento de bolsa
PIBIC; do Laboratório Misto Internacional | LMI-Sentinela em parceria entre o IRD-UnB-
Fiocruz e do Laboratório de Geografia, Ambiente e Saúde (LAGAS) da UnB.
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SIMON, C.R.; BORSOI, B.F.G. Por uma geografia para todas as saúdes: feminismo como direção para a promoção
da saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias.
X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.33-44. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
RESUMO
ABSTRACT
This work is the result of discussions and learning from two researchers and their feminist
geographical analyzes. Our objective was to discuss how geographic science, especially
in the area of health, needs to use feminist methodologies to understand social
inequities, as well as the determinants of health, as it is from the perspective of these
theories, such as the concept of intersectionality, that it will be possible to understand all
forms of oppression-domination existing in societies, since it is the foundation of the
patriarchal-capitalist-racist system that determines inequalities in social subjects.
Understanding that to promote health we need feminisms, such as struggle, social
movement and methodology, so that it is possible to fulfill the objective in the search for
a more egalitarian society. For this, oral reports of interviews and focus groups carried
out by the authors in the monograph and master's dissertation work were used; which
1
Doutoranda em Geografia, Mestra e Licenciada em Geografia, FCT UNESP- Presidente
Prudente, carolina.simon@unesp.br.
2
Mestranda em Geografia, Bacharel em Geografia, FCT UNESP- Presidente Prudente,
bruna.borsoi@unesp.br
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SIMON, C.R.; BORSOI, B.F.G. Por uma geografia para todas as saúdes: feminismo como direção para a promoção
da saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias.
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contributes to the analysis of the intersectionalities existing between the differences and
similarities in academic productions that a Geography for Feminist Health can offer.
INTRODUÇÃO
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SIMON, C.R.; BORSOI, B.F.G. Por uma geografia para todas as saúdes: feminismo como direção para a promoção
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X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.33-44. Disponível em
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saúde pelas classes menos abastadas das sociedades latinas, a classe tem corpos, que
vivenciam as opressões e dominações por avenidas identitárias diversas, como classe,
gênero, raça, sexualidade, idade, religião e etc3. Para superarmos esses determinantes,
devemos ter o olhar a partir de um posicionamento fundamentado em uma Geografia
da Saúde Feminista, pois só assim poderemos lutar efetivamente contra o sistema-
patriarcal-capitalista-racista causador das mazelas atuais, (SAFFIOTI, 1969) o qual vem
negando os diversos sentidos coletivos da saúde.
A geógrafa feminista Doreen Massey (2008, p. 29), ainda pouco conhecida
e pouca utilizada nos estudos que remetem ao campo da geografia da Saúde brasileira,
convida-nos a imaginar o espaço como “simultaneidade de estórias-até-agora”. Sendo
o espaço plural, aberto e relacional, num constante processo de devir: não se encontra
fechado em si mesmo. Assim, a generificação e racialização do espaço refletem no
modo como gênero e raça são construídos e compreendidos na sociedade (MASSEY,
1994, 2008). Desta forma, descortina-se a potencialidade do conceito de
interseccionalidade para compreender como as iniquidades espaciais em saúde
brasileiras como produtos injustos, pautados principalmente na diferença corporal fruto
da formação socioespacial brasileira.
A interseccionalidade é um conceito que vem sendo trabalhado há muitos
anos, principalmente por mulheres feministas negras intelectuais (acadêmicas e
militantes), para demonstrar que não há hierarquia de opressões, a classe não é uma
opressão maior que o sexismo e o racismo. Assim, a partir da experiência de se viver o
espaço com um corpo marcado pela opressão-dominação patriarcal e racista, as
mulheres negras têm produzido potentes teorias que nos mostram que ainda hoje, elas
são as outras das outras. Sendo imprescindível olhar para o corpo delas, pois é quando
“Mulheres, Raça e Classe” se entrecruzam, como trabalhado no livro de Angela Davis
em 1981.
O conceito de interseccionalidade foi cunhado somente em 1989 por
Kimberlé Crenshaw, uma jurista professora da University Columbia, que correlaciona às
consequências estruturais com eixos de subordinação. A interseccionalidade proposta
por Crenshaw nos convida a pensar as avenidas identitárias dos corpos de forma
metafórica, onde eixos de poder se estruturam em grandes avenidas percorridas ao
longo da vida, que estruturam áreas sociais, econômicas e políticas. Segundo a autora,
“ a interseccionalidade trata da forma como ações e políticas específicas geram
opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo aspectos dinâmicos ou ativos
do desempoderamento (CRENSHAW, 2002, p. 117).
Especificamente na Geografia, temos como referência o artigo “Theorizing
and researching intersectionality: a challenge for feminist geography” de Gill Valentine,
que demonstra que o espaço, objeto geográfico, é o elemento fundamental para as
interseccionalidades de opressão, e que, a potência da Geografia em operacionalizar
esse conceito é tão grande que as demais ciências sociais devem considerar a
dimensão espacial da interseccionalidade (SILVA e SILVA, 2011).
A dissertação de mestrado de Simon (2020) demonstrou, a partir dos relatos
orais de 12 mulheres camponesas, no Brasil e na Argentina, como a luta pela terra e
3
O uso do ‘etc.’ reflete a possibilidade de situações interseccionais que são impossíveis de
nomear, como argumenta Platero (2012).
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da saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias.
X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.33-44. Disponível em
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pela água, fomentada pela Via Campesina, abarca bandeiras de lutas interseccionais.
A luta de caráter internacional culminou na produção de contraespaços, a partir das
materializações das práticas de saúde feministas dentro dos movimentos camponeses.
Como se pode ver abaixo, as mulheres entrevistadas trazem nitidamente em suas falas
os reflexos das lutas contra o sistema de opressão que além de capitalista também é
patriarcal:
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X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.33-44. Disponível em
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fala de uma das entrevistadas, que foi possível, enquanto pesquisadora, acompanhar
as sujeitas em um processo de re-conhecimento e de crítica às regras e normas
impostas, e que, de certa forma, as jovens foram absorvendo aquelas questões trazidas,
a partir das críticas feministas do trabalho da autora.
eu acho que é muita utopia [falar] que não sente a pressão, porque
talvez a pressão pra ela vem até indiretamente, mas ela tem, e a
gente tá em uma sociedade que tudo parte da mídia, que nem a
roupa (apontando para a entrevistada) que de certa forma a pessoa
vai no lugar comprar a roupa ela sofre uma certa pressão, lógico
que a pessoa não falou pra você na sua cara direto, foi de uma forma
indireta, foi uma pressão… (Entrevistada Deméter, grupo focal 3, 2018-
grifo das autoras)
“Não há como ter uma reforma agrária real sem enfrentar o patriarcado”
(Entrevistada V. Mendoza-ARG, 2018- tradução da autora)
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A saúde como processo pode ser também uma construção social, política e
cultural, e, por isso, é urgente utilizarmos abordagens que façam jus à “natureza
complexa e múltipla dos processos concretos relativos à vida, aflição, sofrimento, dor,
doença, cuidado, cura e morte- a saúde, que ocorrem em agregados humanos
históricos” (ALMEIDA FILHO, 2011, p.13) socioespacializados desigualmente.
Tendo em vista que o feminismo é ao mesmo tempo movimento social e
filosofia política (GARCIA, 2015), é método de pesquisa e teoria (SILVA, 2013).
Entendemos que existem diversos Feminismos, por ser constantemente construído por
pessoas, pois, “entre o discurso, a reflexão e a prática é no feminismo que ocorre a
busca ética e uma forma de se estar no mundo” (GARCIA, 2015, p.13),
independentemente de qual abordagem se acredita ou utiliza.
Partimos do pressuposto de que o feminismo luta em busca de um mundo
melhor a partir da igualdade entre gêneros, por equidade social e por direitos humanos.
Assim, devemos nos atentar então que o feminismo faz saúdes, diversas e múltiplas.
Afinal:
A luta feita diariamente por militantes feministas é a luta por vidas, por
direitos, pela natureza, pelo corpo e pelo desejo de quebrar as amarras sociais. Taliría
Petrone (2019), no Prefácio ao livro “Feminismo para 99% um manifesto”, já nos adianta
que o feminismo é uma urgência no mundo, na América Latina e no Brasil. Estamos
aqui neste trabalho, tentando trazer luz a essa urgência na Geografia para a Saúde, e
para que isto ocorra “devemos nos unir a outros movimentos anticapitalistas e contrários
ao sistema [...] [pois] apenas dessa forma o feminismo pode se mostrar à altura dos
desafios atuais” (CINZIA ARRUDA, BJATTACHARYA TITHI, NANCY FRASER, 2019,
p.29).
Como Silvia Federici argumenta em o Calibã e a Bruxa (2017), a busca e o
controle incessante do capitalismo aos corpos de mulheres, teve como função
deslegitimar e explorar esse gênero, com intuito de retirar o controle dos nossos
próprios corpos, - reprodução humana - as práticas e saberes populares, acusando-nos
e nos caçando, estigmatizando-nos de bruxas, assim
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SIMON, C.R.; BORSOI, B.F.G. Por uma geografia para todas as saúdes: feminismo como direção para a promoção
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https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Como nos traz Stotz e Araújo (2004, p. 07), é a promoção que “define como
requisitos e condições para a saúde: paz, educação, moradia adequada, alimentação
saudável, renda suficiente, ecossistema estável, justiça social e equidade”. Uma vez
que, “a promoção da saúde é o processo que dá ao sujeito maneiras de garantir maior
controle sobre sua própria saúde” (LIMA; MALACARNE; STRIEDER, 2012, p.195). E,
Em seu livro, bell hooks (2019), nos encaminha para compreensão de que,
a luta feminista precisa de uma teoria libertadora na qual só assim irá produzir um
movimento feminista efetivo e para que isso ocorra precisamos direcionar nosso
conhecimento às massas a partir da educação coletiva visando uma consciência crítica.
Pois é a começar pela alfabetização que poderemos criar estratégias de combate aos
sistemas opressores e dominantes, e mesmo “o que não pode ser lido pode ser falado,
e falar, … é uma maneira efetiva de compartilhar sobre teoria feminista” (p.95) e
promover saúdes.
Assim, escolas são espaços estratégicos de práticas de promoção da saúde
revolucionárias e feministas. Portanto, são a base da construção do contraespaço -
como ação coletiva das excluídas (SIMON, 2020) - é por consequência o lócus da
promoção da saúde (SANTOS e LIMA, 2017). É onde as políticas educacionais
espacializam-se, o que tem implicações diretas sobre o bem-estar individual e coletivo.
Se concretiza como um espaço de socialização de conhecimentos acerca da saúde
coletiva e feministas por produzir elementos chaves para perpetuar as lutas por
equidade social. A escola fomenta atitudes e ideias emancipadoras (FREIRE, 1999),
para o ser, para a família e para comunidade como um todo.
Por isso, a Monografia de Borsoi (2018) partiu das análises de meninas
jovens em uma escola pública na cidade de Presidente Prudente. Já na dissertação de
Simon (2020) foi possível evidenciar que as escolas camponesas, tanto no Brasil quanto
na Argentina são espaços estratégicos para prosperar as práticas revolucionárias de
promoção da saúde feministas, pois é nas escolas que espacializam-se as ideias que
fomentam a contrarracionalidade ao modelo capitalista mas, principalmente, patriarcal,
e assim, são poderosos instrumentos fomentadores do contraespaço, como resistência
das excluídas que promove a suas vidas e de suas comunidades (SIMON, 2020).
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SIMON, C.R.; BORSOI, B.F.G. Por uma geografia para todas as saúdes: feminismo como direção para a promoção
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X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.33-44. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
eu acho que nós estamos numa época que tudo é muito normal, se os
outros não me aceitam é muito mais fácil eu [me] mudar do que eu
mudar o pensamento dos outros, então eu acredito que nós vivemos
muito no senso comum, porque mais que às vezes a gente fala que
não, “mas eu mudei porque eu quis” normalmente, a gente muda pelo
senso comum, eu acho que toda mudança é bem vinda mas […] a
pessoa tem que parar pensar e acho que é muito importante a pessoa
se conhecer, porque ela tá fazendo uma coisa porque ela realmente
quer ou se é pelo o que os outros querem, porque às vezes começa
por uma coisa que os outros querem aí depois porque os outros
querem ela [também] quer, eu acho que é um pouco confuso pra
pessoa, tem que ter muito autoconhecimento (Entrevistada Deméter,
Grupo Focal 3, 2018)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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SIMON, C.R.; BORSOI, B.F.G. Por uma geografia para todas as saúdes: feminismo como direção para a promoção
da saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias.
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X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.33-44. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
44
TORRES, C.F.L.F; PEREIRA, M. P.B. Plataforma digital relacionada à Geografia da saúde: um espaço de comunicação
virtual. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X.,
2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.45-53. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com/
ISSN 1980-5829
ABSTRACT:
The Covid-19 pandemic in 2020 caused several scientific events to be canceled and instigated
professionals from various areas of science to intensify communication in other ways, such as
Facebook groups, Instagram, Youtube channels, etc. already existed, they are occurring more
frequently after the start of this pandemic. However, both these forms of communication, as
well as others, have their information lost in the vast amount of information that circulates on
the internet. In the midst of this situation, this work aimed to develop a digital platform related
to Health Geography as a form of virtual scientific communication. To achieve this objective,
the following procedures were carried out: a) survey of references; b) organization of spaces
for possible forms of virtual scientific communication; c) implantation of information from the
National Symposium on Geography of Health and Regional Exhibition on Geography of Health
(a national and a local event). So far, the main results have been: the organization of the annals
of the aforementioned events; communication through whatsapp groups with the participants
of these events. It was noticed that the consolidation of a closer communication network began
between those who make up the Geography of Health in Brazil.
1
Estudante de graduação em Geografia na UFCG; bolsista PIBITI/UFCG/CNPq; clevertonufcg@gmail.com
2
Docente da Unidade Acadêmica de Geografia/ UFCG; mpbcila@yahoo.com.br
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TORRES, C.F.L.F; PEREIRA, M. P.B. Plataforma digital relacionada à Geografia da saúde: um espaço de comunicação
virtual. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X.,
2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.45-53. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com/
ISSN 1980-5829
INTRODUÇÃO:
As plataformas digitais são ambientes que conectam pessoas por meio da
tecnologia na internet (PATEL, 2020). Quando se trata de eventos científicos, muitas
plataformas são elaboradas em sites gratuitos, que servem para colocar a programação de
um evento e outra anexa para colocar os anais de acordo com as normas do International
Standart Serial Number (ISSN). O código ISSN refere-se ao “número internacional
normalizado para publicações seriadas, é o código aceito internacionalmente para
individualizar o título de uma publicação seriada” (ISSN, 2020, p. 1). Apesar da ótima
qualidade dos trabalhos e dos eventos diversos, devido à falta de manutenção da plataforma,
muitas áreas do conhecimento são perdidas, ficando apenas a possibilidade de resgatar os
trabalhos através do Digital Versatile Disc – DVD (disco digital versátil) ou do famoso pendrive.
Essa realidade ocorre também com cursos on-line e outras atividades que grupos de pesquisa
ou áreas de determinada ciência realizam e se torna inviável o resgate devido estarem
perdidos nas várias redes sociais de maneira desordenada. A partir da constatação dessa
situação, como reunir as atividades de determinada área da ciência em uma plataforma
apenas? Como manter essa plataforma para que seja acessível de forma indefinida de acordo
com a tecnologia disponível? Como fazer isso na área da Geografia da Saúde?
Dessa forma, este trabalho teve como objetivo elaborar uma plataforma digital
relacionada à Geografia da Saúde como forma de comunicação científica virtual.
Este texto está dividido em quatro partes. Na “metodologia” foram apresentados
os procedimentos metodológicos utilizados. Na fundamentação teórica trabalhou-se com a
questão da formação das redes sociais e as personas envolvidas. No item “Organização de
espaços para possíveis formas de comunicação científica” foi realizada uma busca na internet
sobre o tema para entender os perfis das pessoas que estão relacionadas à Geografia da
Saúde e áreas afins. E no item “Organização de informações de eventos” foi mostrada a
organização inicial dos anais dos eventos ‘Simpósio Nacional de Geografia da Saúde’ e
‘Mostra Regional de Geografia da Saúde’
METODOLOGIA
Os procedimentos metodológicos utilizados foram: a) levantamento de
referências; b) organização de espaços para possíveis formas de comunicação científica
virtual; c) implantação das informações do Simpósio Nacional de Geografia da Saúde e Mostra
Regional de Geografia da Saúde.
No que diz respeito ao levantamento de referências destacaram-se Azevedo e
Moutinho (2014), Andrade (2014) e Castro (2006). Em geral esses autores defendem que a
partir da perspectiva da informação e dos impactos da distribuição dela em larga escala pelos
meios digitais, sua influência para o debate científico e criação de um ambiente social de fonte
de informações científicas para o público (acadêmico ou não) convergem com as novas
tecnologias criando redes de informações confiáveis principalmente na distribuição de dados
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TORRES, C.F.L.F; PEREIRA, M. P.B. Plataforma digital relacionada à Geografia da saúde: um espaço de comunicação
virtual. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X.,
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ISSN 1980-5829
para saúde para que se tenha um maior alcance para as pessoas tanto na academia quanto
para o público em geral, e de modo incisivo beneficiando a ciência através da contribuição de
diversos profissionais na construção do conhecimento científico.
Constitui-se do período de pesquisa acerca das informações e trabalhos sobre as
edições dos eventos anteriores bem como da constituição até o mais antigo de modo de se
estabelecer um banco de dados estruturados de dados constando informações do evento,
participantes, isto é, das comissões tanto organizadora quanto científica, em virtude da
natureza de que tais eventos com exceção dos locais eram de localidades e instituições
diversas.
A organização de espaços para possíveis formas de comunicação científica foi
realizada a partir da pesquisa na internet de exemplos semelhantes que foram organizados
na pesquisa de Pereira e Pereira (2020).
A implantação das informações dos referidos eventos na plataforma passou por
algumas etapas. Inicialmente ocorreu a partir da escolha da plataforma em que seriam
colocadas as informações. Depois de pesquisa na internet e treinamento em duas plataformas
foi escolhida a Wix.com (WIX.COM, 2021). Esta empresa oferece um serviço tanto pago
quanto gratuito de fomento a páginas on-line, além de ser simples para alimentação de
informações no futuro por outras pessoas que possam ter ou não um conhecimento mais
aprofundado em desenvolvimento de sites.
Após a escolha de tal plataforma analisou-se os serviços oferecidos sendo feito o
planejamento de qual serviço escolher para a páginas de armazenamento dos dados sobre o
evento no caso os anais, de modo de garantir uma melhor assistência e qualidade de suporte
afim de obter-se seguridade quanto a integridade destes. Ao obter tais recursos se seguiu
continuamente a construção destas plataformas, garantindo-se assim resultados quanto a
questões estéticas quanto a questão funcional.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A discussão sobre redes sempre retorna quando surge uma nova rede a ser
entendida. Na geografia, quando se considera uma rede espacial pode entender que seria um
conjunto de localizações geográficas que são interconectadas entre si por ligações (CORREA,
1997 apud SOUZA, 2015).
Essas redes também podem ser entendidas de maneira semelhante quando se
trata da internet. Apesar dessas redes aproximarem os distantes e distanciarem os próximos
(fragmentando pessoas), as redes, de acordo com Souza (2015): a) ainda buscam alguma
forma de contiguidade; b) apesar de muitos trabalharem em casa (especialmente agora nesse
período da pandemia da Covid-19), sempre haverá os que irão para a rua (a exemplo do
serviço de delivery, os que trabalham na rua); c) ainda que as redes sociais na internet
impulsionem um movimento, ele é apenas um complemento, pois só é efetivado e validado
nas ruas.
Quando se trata as redes como teoria, pode-se trabalhar com a Teoria das Redes
Sociais. Recuero (2005) afirma que as redes sociais no ciberespaço podem ser estudadas
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através de três grandes elementos: sua estrutura, sua organização e sua dinâmica. A estrutura
seria analisada a partir dos laços e capital social, em seu núcleo há laços fortes, enquanto na
periferia esses laços são mais fracos. A organização pode ser cooperativa, competitiva ou
geradora de conflito. Quando a mesma é cooperativa pode gerar “a sedimentação das
relações sociais, proporcionando o surgimento de uma estrutura” (RECUERO, 2005, p. 20).
Corrêa (2018) apresenta um conceito de redes geográficas semelhante às redes
sociais, afirmando que envolvem poder, cooperação e relações sociais de toda ordem e em
várias esferas da vida. Algo parecido com o que ocorre com as redes encontradas na internet.
No caso das plataformas digitais, para que elas formem uma rede cooperativa elas
precisam ter uma sede em uma das redes, porém comunicando-se com outras formas de
difusão desse conhecimento para chegar aos vários tipos de público por faixa etária, renda,
nível de estudo, entre outras possibilidades de diversificação em busca de suas personas.
Personas “são composições de informações realísticas e representativas que incluem
detalhes fictícios para caracterização mais completa do usuário” (COOPER e REIMANN,
2003, apud AQUINO JÚNIOR e FILGUEIRAS, 2008). Essas personas, voltando o olhar para
a cooperação e não exatamente na visão de mercado, poderia ser a busca de pessoas que
tenham perfil semelhante para trocar informações entre si, no sentido da cooperação.
A partir desse olhar os tipos de produtos a serem elaborados seriam os que
possam colaborar para que o aluno, o professor ou técnico da Geografia e/ou áreas afins
possa ter acesso tanto a trabalhos científicos publicados nos eventos quanto ao seu histórico,
as pessoas relacionadas ao evento, os cursos e eventos que esses participantes estão
realizando, o que está sendo publicado, dentre outras possibilidades.
Dentre as ramificações e aplicações do conceito e teoria das redes sociais tem-se
as redes sociais como um objeto que responde à complexidade da Teoria Social (MARTINS
e FONTES, 2004). Esta teoria da rede social possui a necessidade de explicar o fato social a
partir de um coletivo que se impõe às vontades individuais sem eliminar a liberdade dos atores
de participarem de diversos círculos de trocas. Essa situação também ocorre quando as redes
chegam a um nó que comanda uma série de nós que ficam no seu entorno. No caso dos
eventos, através da eleição de temas, conceitos e teorias que passam a ser mais bem
discutidos em detrimento de outros.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Apesar de ter-se definido as personas a partir de levantamento na internet,
especificamente nas redes sociais mais usuais, percebeu-se a necessidade de pesquisa mais
aprofundada sobre o tema, mas como não era o objetivo neste projeto, não foi realizada essa
atividade.
Quanto ao site dos anais, entende-se a necessidade dessa ferramenta devido a
disponibilização para todo o público interessado nessas informações. Todavia, as outras
redes sociais são importantíssimas para a atualização desse conhecimento e de eventos que
possam auxiliar na formação dos envolvidos.
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virtual. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X.,
2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.45-53. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com/
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Comunicação social. Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2014. Disponível em:
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PEREIRA, Emanuel Hiuri Xavier; PEREIRA, Martha Priscila Bezerra. Situação do Grupo de
Pesquisa em Geografia para Promoção da Saúde em relação aos grupos de pesquisa
em Geografia e saúde no Brasil. Campina Grande – PB: 2020. 23p. (relatório PIVIC/
UFCG).
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virtual. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X.,
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desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.54-70. Disponível em
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RESUMO
ABSTRACT
Research group is a group of individuals organized together that develop works that fit the
lines of research previously established by the leader of this group. Among these groups,
there are those that work with Health Geography or similar themes and this category
includes the Research Group on Geography for Health Promotion - PRÓ-SAÚDE GEO.
From this context, this research had as general objective to analyze the position of PRÓ-
SAÚDE GEO in relation to other groups of Health Geography and related areas in the
Brazilian territory. As methodology were carried out: a) survey on the internet; Iconographic
and cartographic, of references and Documentary survey b) spatialization of research groups
in Brazil and Pro-Saúde Geo networks. As a result, a total of 32 research groups registered
1 Graduando do Curso de Geografia, Unidade Acadêmica de Geografia, aluno PIVIC/UFCG, Campina Grande,
PB, hiuri32@gmail.com
2Docente da Unidade Acadêmica de Geografia/ UFCG;mpbcila@yahoo.com.br
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on the platform were obtained, which is why it is noted that this area of Geography is in
constant growth since more than half was founded after the year 2010, with a peak among
years from 2013 to 2018, and that most of these groups are connected with the national
network of health geography research groups.
INTRODUÇÃO
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Fonte: Série histórica dos grupos de pesquisa / Diretórios de Grupos de pesquisa / Plataforma Lattes/
CNPq (BRASIL, 2019). Organizado por PEREIRA, MPB (2019)
Ele surgiu um ano após o início do curso de Geografia ser implantado neste
campus, curso que surgiu como fruto do projeto REUNI, que tem por base o Decreto 6.096
de 24 de abril de 2007 que estabelece o Programa de apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais–REUNI (PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO
DE GEOGRAFIA, 2018). É um grupo composto atualmente por 10 pesquisadores e 22
alunos (PEREIRA, 2019). Este grupo está cadastrado no Diretório de Grupos de Grupos
de Pesquisa do CNPq.
A partir desse contexto esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a
posição do Grupo de Pesquisa em Geografia para Promoção da Saúde em relação a
outros grupos da Geografia da Saúde e áreas afins no território brasileiro. Este documento
está dividido em cinco partes. Na primeira “metodologia” foram apresentados os caminhos
percorridos na pesquisa. No “perfil dos grupos de pesquisa em Geografia da Saúde e/ou
temas afins”, foram mostrados os resultados da pesquisa na internet. No item
“Experiências exitosas dos grupos de pesquisa na área da Geografia da Saúde e afins”
foram buscadas as experiências exitosas e suas redes, como elas se configuram. No item
“O Pró-saúde Geo e suas conexões” foi apresentada a situação deste grupo de pesquisa
nessas redes. E no item “síntese teórica: a estrutura das redes sociais” foi realizada uma
associação das redes sociais encontradas na internet com as redes sociais apresentadas
em textos.
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METODOLOGIA
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QUANTIDADE DE GRUPOS DE
PESQUISA CRIADOS POR ANO
8
6
4
QUANTIDADE DE
2
GRUPOS DE PESQUISA
0
CRIADOS
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QUANTIDADE DE GRUPOS DE
PESQUISA
CENTRO-
OESTE
SUL 16%
25% NORDESTE
SUDESTE NORTE 6%
41% 12%
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Com base no quadro 3, observa-se que dos 32 (trinta e dois) grupos de pesquisa de
Geografia da Saúde apenas 13 (treze) deles possuem um site ou blog específico do grupo,
e apenas 9 (nove) grupos fazem uso, de pelo menos uma das principais mídias sociais
digitais (Facebook, Instagram, Youtube) e os demais grupos de pesquisa possuem apenas o
e-mail de contato do líder do grupo, e os seus dados vinculados ao DGP da plataforma
Lattes.
A partir desse ponto, foi feita uma análise das redes sociais desses grupos de
pesquisa com a finalidade de descobrir qual o tipo de conteúdo eles vinculam em suas redes
sociais. Então, foi notório que todos os canais do Youtube fazem transmissão de lives com
discussões de temas da Geografia e da Saúde, essas lives consistem em mesas redondas,
reuniões do grupo de pesquisa e palestras.
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Com base neste fluxograma 1, nota-se que três grupos de pesquisa constituem
no topo da rede, sendo assim os grupos centrais, são eles: Grupo de Pesquisa
Multidisciplinar em Ciências e Geotecnologias (cor azul), o LAGAS (cor amarelo), e o
BioGEOS (cor vermelho). Cada um desses grupos possuem suas próprias conexões com
outros grupos de pesquisa (representados pelas linhas de suas respectivas cores),
entretanto, alguns grupos periféricos (cor cinza) possuem conexão com dois grupos centrais
simultaneamente, a exemplo temos o caso do Pró-SaúdeGeo, que está conectado tanto
com o BioGEOS quanto com o Grupo de Pesquisa Multidisciplinar em Ciências e
Geotecnologias, e que por sua vez possui a sua própria rede de conexão (fluxograma 2)
com outros grupos de pesquisa.
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*Nota: no quadro só está listado 19 do total de 32 grupos de pesquisa, pois nos demais não foi
observado nenhuma conexão com qualquer outro grupo registrado na internet.
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Enquanto isso, no Brasil este conceito tem seu primeiro registro no trabalho de
Pierre Monbeing que em 1952 escreveu sobre o papel das redes ferroviárias e a
organização espacial da região produtora de café do estado de São Paulo. Ao longo dos
anos este conceito foi evoluindo, sendo aprimorado e aplicado em diversas áreas da Ciência
em especial nas Ciências Humanas, mesmo após um breve período de estagnação de seu
desenvolvimento de cerca de 30 anos (DIAS, 1995) retornando ao centro dos debates
científicos no final do século XX. Com o advento e as complexidades do processo de
globalização, a questão das redes adquiriu novas funções e processos, dentre os quais Dias
(1995) afirma que eles são processos de múltiplas ordens, de integração e de
desintegração, pois as redes atualmente, em sua maioria, objetivam integrar as diversas
localidades do mundo ao mesmo tempo em que fazem a exclusão de outros vários pontos
superfícies do globo.
Como afirmado por Martins e Fontes (2004) que a rede social se sobrepõe às
vontades individuais, entretanto não as elimina dando-lhes espaço para estar presente em
outros tipos de redes. Este conceito explica que o indivíduo possui a tendência de estar
conectado a diferentes círculos de troca, em que esta ação permite a criação de novas
redes a partir das antigas que, por sua vez, se renovam com uma determinada frequência e
assim tanto as antigas redes quanto as novas possuem a capacidade de se expandir e de
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se renovar constantemente, originando uma grande e complexa rede social. Corrêa (2018)
já apresenta o conceito de redes geográficas de forma semelhante às redes sociais, porém
acrescenta que seriam redes sociais especializadas, que envolvem poder, cooperação e
relações sociais de toda ordem e em várias esferas da vida. Algo parecido com o que ocorre
com as redes encontradas, são várias as formas de contribuição entre um grupo e outro e
entre os vários grupos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Com base nos resultados alcançados percebe-se que a criação dos grupos de
pesquisa de Geografia da Saúde no Brasil acompanha a evolução desta área da Geografia,
e que ainda está em uma fase de constante expansão de suas atividades científicas e
acadêmicas por todo o país. Também é notório que existe uma grande rede nacional no
qual a maioria dos grupos de pesquisa, dessa área, estão conectados neste círculo de troca
de experiências em seus trabalhos realizados, e de ideias, temas e novas metodologias que
estão sendo aplicadas nesses trabalhos.
Por fim, é notável que o Pró-SaúdeGeo possui uma boa conexão com os outros
grupos de pesquisa do país, dentre eles estão alguns grupos centrais, como outros grupos
periféricos. Esta rede do Pró-SaúdeGeo também se deve ao fato de que ele possui o seu
próprio círculo de trocas, e por ser um grupo relativamente antigo se comparado a maioria, o
que lhe proporcionou desenvolver uma estrutura mais consolidada e experiência com os
seus trabalhos e atividades já desenvolvidas.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
CORRÊA, Roberto Lobato. A rede urbana. São Paulo – SP: Ática, 1989, 96p.
69
PEREIRA, E.H.X.; PEREIRA, M.P.B. situação do grupo de pesquisa em geografia para promoção da saúde em relação aos grupos de
pesquisa em geografia e saúde no Brasil. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e
desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.54-70. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
PEREIRA, Martha Priscila Bezerra. PRÓ-SAÚDE GEO: estreitando laços entre o espaço e
a saúde. Disponível em: www.prosaudegeo.com.br. Acesso em 07 de junho de 2019.
70
GONZAGA, E.A.R.; LIMA, S. C. Determinação social à luz do realismo crítico e da totalidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande:
UFCG, 2021. p.71-84. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
RESUMO:
A saúde é um tema que vem historicamente sendo tratado a partir de uma perspectiva
hospitalocêntrica, que privilegia os aspectos biológicos em detrimento dos aspectos sociais.
No entanto, como a saúde é resultado do modo de vida das pessoas, sendo esse, por sua
vez, determinado pela realidade social, é necessário considerar essa questão em sua
historicidade. Para isso, propõe-se um método dialético, que considere os contextos em uma
totalidade, e rompa com a lógica funcionalista sob a tutela do modelo biomédico de saúde.
Nele, não se pensa a saúde a partir de influências que afetem exclusivamente o corpo, mas
sim em como o corpo se insere na vida e no contexto de sua existência. Isso pode ser
explicado pela teoria da determinação social da saúde, que aqui apresentamos. A partir deste
ponto de vista, o ensaio científico visa compreender, à luz do realismo crítico, de que forma é
possível propor um novo paradigma não apenas para a epidemiologia, mas para quaisquer
disciplinas, o que é um desafio, porque envolve um embate que além de teórico, também é
político e ideológico.
ABSTRACT:
1
Estudante de pós-graduação em Geografia na UFU; eunir@ufu.br
2
Docente do Instituto de Geografia na UFU; samuel@ufu.br
71
GONZAGA, E.A.R.; LIMA, S. C. Determinação social à luz do realismo crítico e da totalidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande:
UFCG, 2021. p.71-84. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
for epidemiology and other sciences. This is a challenge, not only for theoretical reasons but
also for political and ideological ones.
INTRODUÇÃO
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GONZAGA, E.A.R.; LIMA, S. C. Determinação social à luz do realismo crítico e da totalidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande:
UFCG, 2021. p.71-84. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
à volta do indivíduo o afeta, inclusive o lugar onde ele vive. É preciso transcender a
identificação de causas e buscar novas formas de compreender esta problemática.
3
Em 1946, talvez buscando alívio para o espírito depressivo do pós-guerra, a Organização Mundial
da Saúde (OMS) reinventou o nirvana, chamando-o de ‘saúde’: “estado de completo bem-estar físico,
mental e social” (ALMEIDA FILHO, 2011, p.7).
73
GONZAGA, E.A.R.; LIMA, S. C. Determinação social à luz do realismo crítico e da totalidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande:
UFCG, 2021. p.71-84. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
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GONZAGA, E.A.R.; LIMA, S. C. Determinação social à luz do realismo crítico e da totalidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande:
UFCG, 2021. p.71-84. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
determinação social da saúde, que rompe com o causalismo adotado pelos modelos clássicos
da epidemiologia para pensar além dos fatores, comumente nomeados como variáveis.
Ressalta-se que, por meio de uma concepção lógica funcionalista não se pode
perceber as relações da saúde que a viabilizem no contexto da vida. O conceito de promoção
da saúde é baseado na crítica ao modelo biomédico de atenção à saúde, que interpreta o
processo saúde-doença a partir de relações causais biológicas (LIMA; LIMA, 2020, p.7). Trata-
se, por conseguinte, de romper com esse modelo positivista, que reforça a relação da saúde
com fatores, com variáveis, e não com a vida em sua totalidade.
Para isso, é necessário ter em mente que a forma como a sociedade se organiza
determina de que maneira se vive, adoece e morre. Na atual conjuntura, considerando o
sistema capitalista vigente, há um contexto de vida negligenciado nas propostas
funcionalistas, que é o modo de vida precário das populações em vulnerabilidade social,
porque a epidemiologia clássica atende aos interesses das classes dominantes e funda-se no
comportamento individual e biológico, ou seja, considera que a saúde é atributo do corpo
biológico do indivíduo. Neste ângulo, observa-se que o social surge apenas como uma
influência sobre ele e o seu corpo. Romper com esta lógica funcionalista é o que se busca
neste trabalho, ou seja, não pensar a saúde a partir de influências externas, que afetam o
corpo, mas inserir o corpo e a vida no contexto de sua existência, o que pode ser explicado
pela teoria da determinação social da saúde.
A partir deste ponto de vista, propor um novo paradigma não apenas para a
epidemiologia, mas para quaisquer disciplinas, torna-se um desafio, porque envolve um
embate que além de teórico, também é político e ideológico. O presente estudo corrobora com
o questionamento norteador proposto por Almeida Filho (2011, p.9): “Como avançar em
direção a uma concepção integrada de saúde, contemplando a historicidade do conceito e
sua aplicabilidade como noção capaz de subsidiar processos de transformação das situações
e condições de saúde”?
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Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande:
UFCG, 2021. p.71-84. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Perceber a saúde a partir do realismo crítico vai além da relação linear causal, em
que os elementos são separados e classificados a partir de seus graus de influência.
Transcende o modo de produzir conhecimento empírico, no qual a realidade é dividida em
fatores, ou seja, em elementos relacionáveis que podem influenciar sobre o objeto de estudo,
tendo como causa a saúde.
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Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande:
UFCG, 2021. p.71-84. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
que forma dois elementos mais próximos se afetam, e como sua influência diminui na medida
em que se tornam mais distantes.
Além disso, para compreender as causas de um determinado fenômeno é preciso
considerar a historicidade. Não é apenas o contexto atual que afeta o objeto de estudo, pois
há uma influência histórica, ou seja, um contexto passado que afeta as condições de saúde
agora, em uma comunidade. Em países com elevada desigualdade social, a maioria da
população encontra-se em situação de vulnerabilidade. É preciso conhecer desde os índices
de escolaridade, níveis de violência, desemprego, acesso a água potável, moradia adequada,
serviços públicos disponíveis, o que inclui transporte coletivo, áreas livres para lazer, unidades
básicas de saúde e outros equipamentos públicos, sem esquecer eventuais catástrofes
antrópicas ou naturais, para citar alguns elementos que compõem a historicidade no lugar
estudado.
A epidemiologia é objeto real e pode ser caracterizada por quatro situações, ou
movimentos: gênese e reprodução; a ordem social (condição atual); espacialidade
(localização, conexão); e a temporalidade, que é a história. Dessa forma, é preciso entender
que a totalidade não é apenas o contexto atual. Ela vincula as situações com a gênese, que
não é uma condição imutável, como se fosse uma fotografia. É um movimento, que determina
a reprodução espacial das relações humanas. Devido à espacialidade, é possível localizar as
conexões, ao mesmo tempo que essas são temporais, a partir das suas histórias em seus
contextos.
Porém, o todo, menos uma parte não é o tudo, e enquanto isso subsistir, não
existe o todo, senão duas partes desiguais: donde se deduz que a vontade de uma não é
geral com referência a outra (ROUSSEAU, 2016, p.49). Entende-se então que a saúde a partir
dos contextos se torna um desafio, devido ao fato de os métodos científicos mais utilizados
adotarem um modelo positivista, que separa as partes do objeto de estudo e busca
compreender a relação entre elas. É preciso pensar a complexidade, não elegendo partes
deste objeto como sendo de maior relevância, mas substituindo a procura pelas causas por
um entendimento dos contextos, em busca da totalidade.
Constata-se, nesse ínterim, que a organização da sociedade deve ser analisada,
no que se refere à saúde, juntamente com o contexto em que ela se apresenta. Quando se
analisa fatores isolados, criando relações entre eles em uma perspectiva funcionalista, as
estruturas sociais acabam sendo negligenciadas e o movimento histórico não é considerado
na análise. A sociedade se organiza, por exemplo, a partir do processo de acumulação e da
exclusão social, que produzem todas as situações de desigualdades que devem ser
analisadas em um embate político-ideológico, que para a manutenção do status quo acaba-
se evitando.
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GONZAGA, E.A.R.; LIMA, S. C. Determinação social à luz do realismo crítico e da totalidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande:
UFCG, 2021. p.71-84. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Assim, a estrutura social se impõe sobre cada indivíduo, e faz com que seus
comportamentos sejam determinados por esta imposição. Um arranjo epidemiológico
convencional, que é baseado em fatores (sobretudo fatores individuais), não incorpora os
processos sociais e coletivos. Para isso, é preciso uma proposta de pensamento que
contemple tanto os contextos quanto as realidades, considerando efetivamente a totalidade
epidemiológica, o que inclui o modo de vida e os comportamentos nos mais diversos
contextos. Entender a determinação social a respeito dessa temática é um dos alicerces deste
trabalho.
Nesse entendimento, para superar o modelo da tríade causal (agente etiológico,
ambiente e hospedeiro) e a determinação biológica das doenças, a epidemiologia clássica
acrescentou no estudo os fatores sociais, a partir de um modelo de análise denominado
multicausalidade. Reconhecendo a maior importância dos fatores sociais sobre os biológicos,
surge a ideia de determinantes sociais da saúde. Porém, ainda é mantida uma lógica linear,
que busca fatores isolados, relacionados em uma matriz para identificar a causa das
enfermidades.
Tal compreensão está de acordo com a crítica feita à epidemiologia dos fatores
de risco, que busca reduzir a realidade em fatores preditivos baseados em modelos
estatísticos (LIMA; LIMA, 2020, p.10). Um caminho é renegar esse pensamento e partir para
uma lógica dialética, por meio da qual considera-se o indivíduo dentro de um contexto, vivendo
em coletividade, onde os fatores não são os protagonistas da análise, mas o sistema social,
que inclui a natureza em sua totalidade.
Como dito anteriormente, a teoria da determinação social se apoia em três
categorias centrais, que estão vinculadas: a reprodução social, o protagonismo da sociedade
e da natureza, e a determinação social da saúde. Para compreender este vínculo por meio da
dialética, parte-se da compreensão da realidade além da relação existente apenas entre cada
uma dessas categorias, observando a relação do todo com essas partes. A totalidade afeta
as categorias, mas não somente umas sobre as outras, porque a dialética rompe com a
relação linear, ou seja, constrói e afeta cada uma dessas categorias de análise, o que remete
aos fatores de reprodução social.
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GONZAGA, E.A.R.; LIMA, S. C. Determinação social à luz do realismo crítico e da totalidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande:
UFCG, 2021. p.71-84. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
de vida, ou seja, o indivíduo não escolhe o seu estilo de vida. Não se trata de uma escolha
pessoal: há uma história de vida, hábitos e influência dos grupos sociais aos quais ele
pertence. Os estilos de vida dos indivíduos são determinados pelos modos de vida já
estabelecidos.
A partir do entendimento deste perfil, é possível perceber que o modo como uma
pessoa age e se comporta tem relação com o grupo social do qual ela faz parte. Entende-se
por grupos as pessoas com quem os indivíduos trabalham ou estudam nos mesmos lugares,
ou então os encontros religiosos, as práticas de esportes coletivas, os grupos formados por
seus amigos e familiares, entre outros, que influenciam suas atitudes, ou seja, o seu
comportamento foi determinado por estes grupos sociais.
4
S-N é um acrograma utilizado em diversos trabalhos de James Brailh, ao se referir à relação existente entre o
sujeito (S) e a natureza (N).
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GONZAGA, E.A.R.; LIMA, S. C. Determinação social à luz do realismo crítico e da totalidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande:
UFCG, 2021. p.71-84. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Como se pôde ver, o conflito entre saúde pública e medicina e entre os enfoques
biológico e social do processo saúde-doença estiveram no centro do debate sobre a
configuração desse novo campo de conhecimento, de prática e de educação (BUSS;
PELLEGRINI, 2007, p.79). É preciso desvendar as nuances que existem no ciclo de
reprodução dos sistemas político e econômico vigentes, sendo esse campo uma possível
forma de entendimento da diferença sutil entre os processos socioespaciais que lhe são
inerentes.
Seguindo a ideia do positivismo cartesiano, há um modelo multicausal, no qual
diversos fatores formam um conjunto, que reúne as causas do evento, mas a ideia de
causalidade torna-se um obstáculo para compreender a saúde em sua totalidade, isso porque
a percepção de partes e a relação linear entre os fatores assumem que o todo pode ser
representado por elas.
Uma forma de superar este impedimento, segundo o pensamento dialético, é
perceber que o sistema social não é uma influência, mas é a própria essência na qual a saúde
e o indivíduo estão vinculados. Esse pensamento redimensiona o sujeito na epidemiologia
para além do modelo dos determinantes que inclui fatores sociais como elementos
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GONZAGA, E.A.R.; LIMA, S. C. Determinação social à luz do realismo crítico e da totalidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande:
UFCG, 2021. p.71-84. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
AGRADECIMENTOS
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GONZAGA, E.A.R.; LIMA, S. C. Determinação social à luz do realismo crítico e da totalidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande:
UFCG, 2021. p.71-84. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
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LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
2021. p.85-93 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
GEOGRAFIA E PSICOLOGIA:
A EXISTÊNCIA GEOGRÁFICA NO MEIO AMBIENTE
RESUMO:
Delineou-se este estudo na perspectiva que relaciona a geografia com a psicologia; logo,
entende-se o meio enquanto elemento geográfico que conecta ambas as ciências. Nesse
caminho, teceu-se a relação para com a existência geográfica na abertura ao mundo. Desta
forma, perscrutou-se, além da acurácia para com as bases da psicologia existencial, uma
enfática às relações, na diferencialidade temporal da consciência, aos lugares e sua
capacidade motriz das patologias mentais e corporais. Ainda, pensou-se, com mais
detalhamento, na questão da natureza do meio e o corpo que, por meio dele instaura, na
mentalidade, a náusea, sendo que a abertura do mundo geográfico trama uma relação das
habitações salubres e insalubres. Assim, refletiu-se, sobretudo, sobre a política relacionada
com a configuração do meio e a racionalidade intencional embutida na desigualdade, ainda
que, força-se, que o atento às noções existenciais permita uma melhor perspectiva quanto ao
estímulo organizado e acurado de políticas públicas para a melhoria da saúde pública devido
à relação para com o geográfico. Visou-se, ainda, à relação do meio, tanto enquanto topofílica
quanto topofóbica, pontuando, mais especificamente, a náusea, conceito a acoplar, à
existência, as doenças dos ambientes insalubres e a consciência dos residentes dos lugares
salubres. A percepção da humanidade, como totalidade no mundo, tem a necessidade de
inserir-se nessa coletividade à busca de uma sociedade mais sadia à existência.
ABSTRACT:
This study was outlined in the perspective that relates geography to psychology; therefore, the
medium is understood as a geographical element that connects both sciences. In this way, the
relationship with the geographical existence in the opening to the world was woven, in this
way, it was scrutinized, in addition to the accuracy with the bases of existential psychology, an
emphatic relationship, in the temporal differentiality of consciousness, places and its motor
capacity for mental and bodily pathologies. Still, the question of the nature of the environment
and the body was thought in more detail, which, through it, introduces nausea in the mentality,
with the opening of the geographical world plotting a relationship between healthy and
unhealthy dwellings. Thus, it was thought, above all, about the policy related to the
configuration of the environment and the intentional rationality embedded in inequality,
1
Graduando na licenciatura e bacharelado em Geografia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP);
Jahan_natanael@hotmail.com
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LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
2021. p.85-93 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
although, it is forced, that the attentive to existential notions allows a better perspective
regarding the organized and accurate stimulus of public policies for the improvement of public
health due to the relationship with the geographical. It was also aimed at the relationship of the
environment, both as topophilic and topophobic, pointing out, more specifically, nausea, a
concept that couples the illnesses of unhealthy environments and the awareness of residents
of healthy places to existence. The perception of humanity, as a totality in the world, has the
need to insert itself in this collectivity in the search for a healthier society for existence.
INTRODUÇÃO
A coisa que estava à espera, alertou-se, precipitou-se sobre mim, penetra em
mim, estou pleno dela. – Não é nada: a Coisa sou eu. A existência, liberada,
desprendida, reflui sobre mim. Existo.
Nessa prospecção, tem-se uma breve linha histórica da orientação do fluxo que
percorre as dinâmicas da interação da geografia psicológica na modernidade. Vistos os
ditames já elucidados dessa interação, aproximar-se-á da psicologia de cunho existencial
como vertente possível da geografia que visiona à psique humana em sua logia rumo a uma
concepção contemporânea. Nisso, delineia-se uma posição fenomenológica, ou seja,
captando o fenômeno, no caso, a existência, para inserir, em seu modo de ser, uma tessitura
existencial situada no meio geográfico enquanto constituinte da factualidade do mundo pela
especialidade que acomete o existir. Aponta-se, no horizonte de coesão, o existir em geral
enquanto uma ontologia fenomenológica e no existir mais específico da humanidade – a
existência enquanto existir humano – uma psicologia geográfica sob essa epistemologia do
caso geral. Essa última é o foco deste estudo.
GEOGRAFIA E EXISTÊNCIA
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LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
2021. p.85-93 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
• “Seu ponto de partida é a experiência; ” (SARTRE, 2015, p. 696, grifo nosso). Aqui
entende-se a enfática fenomenológica partindo da experiencialidade cotidiana, quer
seja a aportada nas memórias (passadas), intenções (futuras) ou na totalidade
temporal da corporalidade (presente), atentando-se que a divisão do tempo (ser) não
o fragmenta, apenas serve, como visto nos objetivos, para análise;
• “Seu método é comparativo: uma vez que, com efeito, cada conduta humana
simboliza à sua maneira a escolha fundamental a ser elucidada, e uma vez que, ao
mesmo tempo, cada uma delas disfarça essa escolha sob seus caracteres ocasionais
e sua oportunidade histórica [...]” (SARTRE, 2015, p. 696, grifo nosso). Dito isso,
verifica-se a experiência em sua temporalidade, marcando, com mais ênfase, os
momentos destoantes, cerne para investigação psicoexistencial.
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LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
2021. p.85-93 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
89
LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
2021. p.85-93 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
nada. Ser, para o Para-si, é nadificar o Em-si que ele é. [...] a liberdade não pode ser senão
esta nadificação. [...] a existência precede a essência [...] Para-além dos móbeis e motivos de
meu ato: estou condenado a ser livre”. (SARTRE, 2015, p. 543). Disso, concebe-se que a
liberdade e a angústia assemelham-se, ou melhor, alimentam-se mutuamente; a liberdade
geográfica tanto impulsiona para uma vida melhor quanto também provoca sentimentos em
graus de medo, horror e terror para com o horizonte de possibilidades e de impossibilidades.
90
LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
2021. p.85-93 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Fonte: WHO (World Health Organization (1997); modificado por Jesus (2010).
91
LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
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2021. p.85-93 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Considerações finais
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LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
2021. p.85-93 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Referências
SARTRE, Jean-Paul. O Ser e O Nada: ensaio de Ontologia Fenomenológica. 24a Ed. Trad.
Paulo Perdição, Petrópolis: Vozes, 2015.
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GUIMARÃES. L.B.M.; GUIMARÃES, R.B. Entre limitações e superações: as percepções de sujeitos cegos ao viver a
cidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias.
X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.94-112 Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Resumo
Este artigo tem como objetivo entender como os sentidos do corpo podem se
aperfeiçoar de acordo com as condições impostas a cada sujeito. Nesse caso
específico, nos interessa compreender como pessoas com limitação visual podem
explorar as potencialidades de cada sentido - tato, olfato, paladar, audição para a
construção de uma memória espacial e percepção do lugar. Além disso, aparecem no
texto outros elementos que são externos ao corpo, mas que podem ajudar a descoberta
do mundo pelas pessoas com cegueira, como é o caso dos cães guias, ou de corpos
ciborgues como é o caso do uso da bengala para cegos. Para a realização da pesquisa
utilizamos a abordagem qualitativa, além da construção de figuras geoespaciais para
dar ênfase aos dados.
Palavras Chaves: pessoas cegas, sentidos do corpo, lugar, Presidente Prudente-SP.
Abstract
This article aims to understand how the body's senses can be improved according to the
conditions imposed on each subject. In this specific case, we are interested in
understanding how people with visual limitations can explore the potential of each sense
- touch, smell, taste, hearing for the construction of spatial memory and the perception
of the city. In addition, other elements that appear in the text that are external to the body
can help discover the world by people with blindness, such as guide dogs, or cyborg
1
Doutorando pela Universidade Estadual Paulista, campus de Presidente Prudente
(UNESP/FCT) pelo Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGG).
leandro.buzzo@unesp.br
2
Professor Titular do Departamento de Geografia pela Universidade Estadual Paulista, campus
de Presidente Prudente (UNESP/FCT). raul.guimaraes@unesp.br
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cidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias.
X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.94-112 Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
bodies. To carry out the research we used the qualitative approach, in addition to the
construction of spatial figures to emphasize the paper.
Keywords: Blindness people, senses of the body, place, Presidente Prudente-SP
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cidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias.
X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.94-112 Disponível em
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Para compor a pesquisa utilizamos três sujeitos, dois deles com perda da
visão por algum acometimento durante a vida e um deles que já nasceu cego. De
acordo com o comitê de ética, seus nomes foram alterados e suas características serão
detalhadas a seguir.
Garota Dinamarquesa
O nome Garota Dinamarquesa foi dado a partir do nome de uma obra literária
de David Ebershoff que conta a história do primeiro homem a se submeter a uma
cirurgia de mudança de sexo e suas dificuldades enfrentadas a partir desta escolha. A
garota dinamarquesa nasceu como Einar Mogens Wegener e, posteriormente à
cirurgia, adotou Lili Elbe como nome oficial. História essa, com aspectos semelhantes
vivida pelo sujeito da pesquisa. A entrevistada residiu na cidade de São Paulo duas
vezes, mas hoje se encontra em Presidente Prudente-SP, 43 anos com perda da visão
em 2015.
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cidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias.
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Evangelista
O nome foi dado, principalmente, pelas relações com a igreja evangélica, e pelo
fato de que sua vida tem como premissa seguir os ideários protestantes. O forte papel
da igreja em sua vida o faz ter posicionamentos contrários com referência as relações
entre pessoas do mesmo sexo ou mesmo fazer sexo antes do casamento. Ainda
segundo ele, várias vezes considera-se como O Servo de Deus. O sujeito da pesquisa
já nasceu com cegueira congênita na cidade de São Paulo - SP e se mudou para a
cidade de Santo Anastácio-SP ainda muito pequeno residindo ainda hoje neste local,
contudo, possui uma relação íntima com Presidente Prudente -SP pelos diversos
cursos que realiza, incluindo uma graduação, possui 36 anos, nasceu com ausência
de visão.
Estes sujeitos foram protagonistas da pesquisa realizada na cidade de
Presidente Prudente –SP, a aplicação metodológica foi pensada para cada sujeito
almejando estimular as capacidades desenvolvidas por cada um dos integrantes da
pesquisa. Assim as análises e os procedimentos metodológicos serão abordados
conjuntamente às análises.
A audição e a linguagem
Embora algumas pessoas achem monótono ouvir uma pessoa mais velha
falando da sua vida, outras pessoas se incomodam em ouvir fofocas! A audição é um
elemento essencial em nossas vidas, eu por exemplo, adoro ouvir música, mas poucas
vezes fico prestando atenção nos diferentes instrumentos que compõem a música e
suas diferentes vibrações.
O fato é que ouvir pode nos trazer diversos elementos para entender as
relações sociais e espaciais, suas subjetividades e uma construção mental dos
ambientes. Para entender todo esse processo, diálogo neste tópico com Murray
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Schafer em seu livro “O ouvido pensante”, escrito em 1999, o qual nos traz muitos
pontos relevantes e nos coloca a pensar sobre tudo o que ouvimos, particularmente os
elementos simples, presentes no nosso cotidiano.
É mais interessante ainda que o livro todo está baseado em aula para o
primeiro ano de graduação e apresenta os diálogos dessa interação professor – aluno,
facilitando no processo de raciocínio.
Segundo o autor, devemos saber distinguir alguns elementos quando falamos
sobre ato de ouvir, sendo eles: som, silêncio, ruído, timbre, melodia, amplitude e ritmo.
O mais comumente falado por nós é a palavra som, que significa “cortar o silêncio
através de uma vibração (SCHAFER, 1999 p.59) ”, ou então pode ser entendido como
“uma linha que se movimenta de modo regular (SCHAFER, 1999 p.59) ”. A ausência
de som é chamada, portanto, de silêncio, e o ruído é o som indesejável que pode variar
de acordo com os sujeitos ou cultura que está inserido (SCHAFER, 1999)
O timbre, por sua vez, é um som que distingue um instrumento de outro,
em uma frequência e amplitude. Segundo o autor, o timbre pode ser entendido como
a cor do som. A amplitude é a força que vai do mais fraco ao mais forte, do mais grave
ao mais agudo. A melodia pode ser qualquer combinação de som, é como o ato de
palavras cada letra tem seu som, juntas formam a melodia das palavras. Por fim, o
ritmo divide o todo em partes podendo elas ser regulares, irregulares, longas ou breves,
um exemplo de marcação de ritmo em nosso cotidiano é o tic-tac do relógio
(SCHAFER, 1999).
Todas essas variantes estão presentes de uma forma ou outra em nossas
vidas. É evidente que ao perder algum sentido do corpo, nosso cérebro tenta suprir a
falta encontrando novas formas de perceber e compreender a realidade. Alguns
sujeitos cegos desenvolvem a capacidade distinguir com maior facilidade os sons que
estão presentes por não terem a visão. Enfim, enxergar é uma ação socialmente
construída pelos seres humanos, e a visão é utilizada, principalmente, como meio de
verificação.
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Tato
O tato é um mecanorreceptor3, assim como a audição, mas diferentemente do
ouvido, que está concentrado em apenas dois pontos, o sentido do tato está espalhado
pela maior parte da pele e mucosa. Os receptores destas diferentes sensações são
chamados de corpúsculos sensitivos responsáveis pelas diversas associações como
calor, leveza, frio, frescor, suavidade dentre outros nas quais não estão distribuídos
uniformemente pelo nosso corpo. É importante salientar ainda que a sensibilidade está
intimamente ligada ao contato, portanto objetos extremamente grandes ou distantes
da pele são de difícil distinção (MARTINI, TIMMONS, TALLITSCH, 2009)
Os corpúsculos sensitivos estão subdivididos em quatro categorias explicados
brevemente neste trabalho, a. Corpúsculos de Meissner são responsáveis pelas
impressões do contato se localizam na superfície da pele, principalmente em regiões
como as palmas das mãos, dedos, lábios, margem da pálpebras, mamilos e genitália
externa; b. Corpúsculo de Pacini ficam nas camadas mais profundas da pele e
são responsáveis pelo estímulos de pressão e estão distribuídos em
diferentes regiões do corpo; c. corpúsculos de Krause são responsáveis pelas
sensações térmicas do frio e o d. Corpúsculo de Ruffini pela sensação térmica de
calor, este dois últimos corpúsculos também estão distribuídos pelas diferentes partes
do corpo (MARTINI, TIMMONS, TALLITSCH, 2009).
O tato desenvolvido nas palmas das mãos, associado aos movimentos finos,
são os principais instrumentos utilizados pelos videntes para ter contato com os objetos
e seres vivos, assim como os sujeitos cegos, que conseguem identificar diferentes
características do resto de outras pessoas, diferentes formas da cidade, mesmo que
seja um processo que leve um maior tempo quando comparado com a visão.
A importância dada ao tato o torna importante, principalmente, no sistema de
educação em âmbito mundial com o desenvolvimento do sistema braile e também no
âmbito brasileiro através da inclusão de crianças cegas utilizando maquetes e ou
elementos que permitem uma compreensão da realidade por parte destes sujeitos
sociais.
3
Um receptor sensorial que responde a pressão ou outro estímulo mecânico.
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cidade. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias.
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SILVA, L.P.; SILVA, G.R. Geografia da Saúde: fundamentos, conceitos e discussões na perspectiva da Covid-19. In. Simpósio
Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande.
Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.113-125. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
RESUMO:
Este artigo traz uma análise da geografia da saúde desde a antiga Grécia até os dias atuais, expondo suas
contribuições para a sociedade. A metodologia utilizada parte do princípio da abordagem sistêmica,
possibilitando a análise da totalidade sem dissipar as partes que estão sempre conectadas, interagindo com o
todo. Contribuindo com o tema proposto, trazemos para essa discussão autores que tratam não só da
Geografia da Saúde, mas de toda essa rede que a envolve, como: JR. Zomighani (2012), Capra (1982), Faria
e Bortolozzi (2013), Hasbaert (2007), entre outros. Tornando pertinente pautar a conjuntura política, onde os
Esta- dos e as instituições públicas ou privadas, cada uma com sua peculiaridade, busca elaborar normas e
políticas que precedem a técnica, no que tange atualmente, a pandemia da Co- vid-19. Assim se faz
necessário uma análise do contexto político da pandemia no Brasil, que interfere no enfrentamento da crise
política e sanitária que o país está vivenciando. Assim contribuindo com o Sistema Único de Saúde, que
mesmo com todas dificuldades, demonstra sua importância no enfretamento da pandemia, atuando em
diversos âmbitos na promoção, proteção e prevenção da saúde pública.
ABSTRACT:
Figura 2 – Paisagem tátil – O Evangelista
This article presents an analysis of the geography Elaboração: O autor
of health from ancient(2020)
Greece to the presentday, exposing its
contributions to society.
Olfato e paladar The methodology used is based on the principle of the systemic approach,
enabling the analysis of the totality without dissipating the parts that are always connected, interacting with
the whole. Contributing to the proposed theme,we bring to this discussion authors who deal not only with the
Geography of Health, Asbut
patologias
with the sensoriais maisthat
entire network comumente conhecidas
involves it, such as: JR.estão relacionadas
Zomighani (2012), Capra
(1982), Faria and Bortolozzi (2013), Hasbaert (2007), among others. Making it pertinent to guide the political
aos setores da visão, da audição e da fala. Porém há várias patologias relacionadas
situation, where States and public or private institutions, each with its own peculiarity, seek to elaborate
norms andao policies
paladarthat
e ao olfato,
precede thevariando
technique,entre
in whatníveis de acometimento,
concerns dos parciais
currently the Covid-19 pandemic.aosThus, it is
necessary to analyze
integrais; the political
incluindo context
também of the pandemic
a deficiência táctilinque
Brazil, which
ocorre deinterferes in facing
forma mais the political and
esporádica
health crisis that the country is experiencing. Thus contributing to the Unified Health System, which despite all
(PALHETA NETO, TARGINO, PEIXOTO, et al, 2011)
the difficulties, demonstrates its importance in dealing with the pandemic, acting in different areas in the
promotion, protection Oandolfato não necessita
prevention do toque direto para atender aos seus objetivos,
of public health.
absorve para si através do ar substâncias químicas que dele emanam, o que
Keywords: Health, Geography, Pandemia Covid-19.
ocasiona uma alteração de sua percepção na medida em que os objetos atingem o
olfato e se afastam. Tal como o paladar, o olfato é um sentido químico. O mecanismo
de percepção dos odores começa pelas células olfativas encontradas na região
1 Estudante de pós graduação em Geografia na UFAL; liliane.silva@igdema.ufal.br
2 Professora (orientadora) do IGDema na UFAL; gilsilvaxxi@yahoo.com.br
104
113
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Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
Grande: UFCG, 2021. p.86-94 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
INTRODUÇÃO
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dóceis em relação ao caráter e inaptos para a guerra, diferentemente dos europeus. As estações
do ano são as principais causas, visto que a teoria Hipócrates destaca a interfe-rência do meio
sobre o homem. Para o autor, parte da técnica especulativa e argumentativa por ele empregada,
refletida na literatura médica que chegou até nós, fora aprendida dos filó- sofos pré-socráticos; em
contrapartida, muitos filósofos incorporaram conceitos de fisiologia e medicina aos seus sistemas
filosóficos. No final do século V a.C., porém, os médicos se empenhavam energicamente em
desvincular a medicina da filosofia e em reconhecê-la como uma TÉXU “arte” autônoma (CH, DA
ARTE; IRWIN, 1989).
Para Rebollo (2006), de acordo com a coleção hipocrática, as concepções ser- viram de
pano de fundo da teoria humoral, uma vez que cada humor resulta na interação das dynámeis
(objeto de observação do médico hipocrático, podendo ser: a dynámeis das estações, dos climas e
das regiões) ou das virtudes operativas, pois nos tratados sobre a na- tureza do homem e dos
humores, a doutrina humoral é sistematizada com maior clareza. “Os elementos primários
constituintes do corpo são a água, o fogo, o ar e a terra. Tais elementos geram as qualidades
(quente, frio, seco e úmido) que, organizadas em pares, dão origem aos quatro humores (chymós).”
(REBOLLO,2006.p.56)
Para Junior Zominghani (2012), das contribuições de autores clássicos da geo- grafia
destaca-se o conceito de gênero de vida, desenvolvido por Paul Vidal de La Blache na passagem
do século XIX para o XX, e que poderia ser utilizado para o estudo das questões que envolvem
território e saúde. Na Geografia científica, principalmente com o uso da carto- grafia para
monitoramento da distribuição regional das doenças e orientação das práticas de saneamento
básico, resultou-se um atlas de mapeamento das doenças como forma de com- preensão de seus
mecanismos de difusão e as relações com as fronteiras internas e externas, que são questões
bastante estudadas na Geografia brasileira.
Ainda de acordo com Junior Zominghani, a própria Geografia transformou-se ao longe do
século XX, tanto do ponto de vista do enfoque temático quanto da gama de proce- dimentos
metodológicos que acabaram levando a interações com outros ramos do conheci- mento científico.
Segundo Rodrigues (2015), a relação entre saúde, ambiente e cidade não é umaideia nova.
O paradigma hipocrático, considerado a matriz do pensamento médico do mun- do ocidental, já
compreendia o ambiente das cidades como um foco de agravos à saúde. O médico inglês John
Snow foi o primeiro a comprovar que um organismo vivo era a fonte da disseminação de alguma
doença no meio urbano. Ele estudou a distribuição espacial de óbi- tos por cólera na pandemia que
atingiu Londres em 1854, demonstrando a correspondência entre o número de mortes e o grau de
poluição das fontes de água de cada bairro da cidade. Para Guimarães (2015), Max Sorre foi o que
mais se aproximou da pesquisa geográfica da perspectiva ecológica da saúde. Os problemas
ecológicos trouxeram a necessida- de de considerar o tempo de ocupação humana; o maior ou
menor ajustamento aos gêneros de vida, e as condições específicas de vida em ambientes sociais,
econômicos e políticos. A obra de Sorre inspirou-se em rumos já delineados por La Blache,
115
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Grande: UFCG, 2021. p.86-94 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Demangeon, Jean Brunhes e de De Martonne entre outros, conservando-se fiel aos princípios
gerais da ciência geográ- fica da época, e colocando a Geografia no centro de interesse de muitos
pesquisadores mé
dicos. Sorre permitia a instrumentalização para a apreensão da doença como um fenômeno
localizável e passível de delimitação em termos de área. A maior urgência em sua época era a
valorização da produção cartográfica, considerando as áreas de extensão dos principais problemas
de saúde. Era preciso mapear os lugares onde ocorriam as doenças. Isso co- locava o tamanho
das unidades territoriais em pauta nos estudos como uma das maiores dificuldades para a análise
da distribuição das enfermidades. Desse modo, ele concluiráque as áreas de extensão dessas
enfermidades eram muito diferentes, conforme consta em “Fundamentos biológicos de la
geografia humana” (1955, p.301). Não há dúvidas que Sorre contribuiu para a delimitação clara e
precisa do campo de investigação em Geografia médica, circunscrita à aplicação do método da
Geografia regional ao estudo das doenças, em que a região era o complexo patogênico,
compreendido a partir de análises de dados físicos e humanos, com o objetivo de demonstrar a
individualidade do fenômeno espacial.
Segundo Guimarães (2015), no mundo emergente urbano-industrial, o sane- amento
urbano era o único “remédio” para o controle dos processos de transmissão das doenças
infectocontagiosas, resultando no processo de embelezamento e de melhorias das condições de
vida nas cidades. Durante o chamado “sanitarismo”, período delimitado por Rosen (1994) entre
1830 e 1875, a saúde pública e o planejamento urbano foram conside- rados uma mesma
entidade.
A partir de inúmeras comissões de inquérito formadas por médicos e represen- tantes dos
governos, trazendo a público um quadro completo das condições sanitárias dos bairros de
trabalhadores da Inglaterra, os médicos passaram a controlar o espaço social por meio das
estatísticas de saúde e dos inventários de distribuição das habitações, pessoas e doenças pelo
território. As chamadas topografias médicas transformaram-se em um poder político dos médicos
na realização dessa tarefa.
Mendonça e Fogaça (2014) afirmam que Josué de Castro, ao estudar e pesquisar a
subnutrição e a fome, e os problemas a elas relacionados, desnuda a ideia de sua gênese como
um fenômeno meramente natural. Ao colocar em evidência a Geografia da fome no Brasil e no
mundo, Castro oferece uma grande contribuição para a compreensão geográfica da manifestação
das doenças, observando-se a passagem de uma concepção hegemônica da Geografia médica
para uma perspectiva da Geografia da Saúde.
De acordo com Guimarães (2001, p.11), a origem da Geografia da Saúde deu-se no
Congresso da União Geográfica Internacional (UGI), realizado em Moscou em 1976. A própria
Geografia transformou-se ao longo do século XX, tanto do ponto de vista do enfoque temático,
quanto da gama de procedimentos metodológicos que acabaram levando à discipli- na a interação
com outros ramos do conhecimento científico. Essa evolução, ainda nas pala- vras de Guimarães
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(2000) e Santos (2007), encontrou, no âmbito da geografia brasileira, um ambiente fortemente fértil,
com amplo emprego de novas perspectivas sociológicas críticas, como o marxismo dialético, na
ciência geográfica produzida no Brasil, mudando o perfil desse conhecimento no país. Para Faria e
Bertolozzi (2009), a influência do geógrafo Milton Santos para a saúde pública brasileira pode ser
evidenciada em sua participação em um dos eventos do Centenário da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), em 2000, com a temática intitulada: Saú- de e Ambiente no Processo de Desenvolvimento.
Milton Santos fez uma crítica relacionada ao determinismo que ainda acompanha as pesquisas
acerca do ambiente e saúde, ao mesmo tempo em que destacou o desvirtuamento da teoria e da
prática científica. Ainda segundo os autores, a conferência subsidiada pelo geógrafo tratou de expor
a importância do pensamento livre e da produção intelectual, preocupando-se com as questões
humanitárias, ao mesmo tempo que fez uma dura crítica à privatização do saber e da universidade,
acompanhada tam- bém pela privatização da cidade. Ao compreender o espaço a partir do
desenvolvimento do meio técnico-científico-informacional, o campo da saúde passa a abordar a
doença e não apenas a presença do vírus e/ou bactérias, mas, sim, como resultado pertencente a
uma dinâmica social complexa. Essa talvez tenha sido a grande contribuição de Milton Santos à
saúde pública brasileira, motivando uma grande quantidade de pesquisadores e intelectuais a se
apropriarem da teoria desse geó- grafo e professor baiano nos estudos sobre doença e saúde
(Guimarães, 2015 p.38).
De acordo com Pareja et al (2016), para se compreender o processo saúde-do- ença, sob
a ótica de mundo moderno, é necessário entender o conceito de espaço associado com o tempo
(história) e o contexto (sistemas), e não apenas relacionado com o espaço físi-co, ações, eventos e
processos de forma isolada. Deve-se compreender que o espaço dessa discussão é considerado,
segundo Santos (2014), como uma categoria de análise mediante um conjunto indissociável de
sistemas e ações geográficas, objetos naturais e objetos sociais, acolhendo uma produção socio-
historicamente construída a partir da realidade política, eco- nômica e cultural.
Na análise de Guimarães (2015 p.69), a globalização está acelerando o processo de
exclusão social nas megacidades dos países pobres, onde a miséria e a fome sempre existiram,
mas a falta do mínimo de condições dignas de sobrevivência alcançou uma par- cela jamais vista
pela população urbana. À vista disso, a saúde é causa e consequência da produção da pobreza
urbana: de um lado, a proliferação de atividades de sobrevivência (ca- racterística do que Milton
Santos denominou “circuito inferior”) permite a manutenção da vida dos mais pobres da cidade; de
outro lado, essa situação de saúde é perpetuadora da pobreza urbana. Pessoas que vivem nas
periferias urbanas, carentes de infraestrutura e residindo em habitações precárias, onde as
variações de temperatura ao longo do dia já são enormes, assim como o acesso à água potável é
limitado, estão desenvolvendo capacidades de adap- tação às mudanças globais em curso.
Submetidos aos eventos extremos, essas pessoas vivem, permanentemente, provas de tolerância
produzidas por relações de tempo lento, da ci- dade percorrida a pé, das redes sociais tecidas pelos
laços de vizinhança e de pertencimento à comunidade. Esse novo mundo está em fermentação
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dentro do velho, daquele que não tem sustentabilidade. Para imaginar como será futuro, observe as
periferias urbanas, um espaço de aprendizado feito por pessoas capazes de superar e de aprender
diante das situações mais adversas (Guimarães,2015. p.72).
Conforme Werna (1996), a legitimação do direito de morar em favelas e cortiços, desde
que devidamente urbanizados, e inúmeras experiências de construção da casa própria por meio de
programas de mutirão e autoajuda, organizados e incentivados pelo poder públi- co municipal,
romperam com a ideia de que o planejamento urbano devia concentrar-se em planos de larga
escala, racionais e eficientes. A saúde foi um dos temas que ganharam es- paço cada vez maior na
agenda social de muitos países, com enfoque na integração da rede de serviços, segundo
princípios de hierarquização e regionalização. “Criaram-se condições objetivas de maior ênfase na
atenção primária e no fortalecimento do setor público como umtodo (GUIMARÃES,2000. p.73)”.
Dessa maneira que, para Guimarães (2015), as inovações técnico-científicas acu- mulam a
capacidade de longevidade dos indivíduos, sejam crianças nascidas com malforma- ção congênita,
que passam a ter uma expectativa de vida maior do que teriam há algum tem- po; sejam adultos,
que conseguem o diagnóstico e tratamento de um câncer precocemente, como também
detectarem fatores de risco de doenças cardiovasculares, tornando possível medidas preventivas
jamais imaginadas, ampliando, portanto, o topo da pirâmide etária. Tudo isso gera novas questões a
serem analisadas, demandando mudanças, seja no ordenamento das cidades, no perfil da
alimentação, nas formas de lazer, no convívio social, dentre outras.A primeira tarefa de um geógrafo
da saúde é estabelecer os recortes espaço temporais mais adequados para dar visibilidade a essa
geografia das mudanças, que começa a ganhar corpo nesse novo período denominado “período
demográfico”. Nesse novo período, além das questões populacionais (envelhecimento com
dignidade, banalização da violência, fome e miséria), nos desafiam a demanda crescente pelo uso
da água potável, o esgotamen- to das fontes energéticas e o acúmulo de resíduos sólidos. Para
compreender o conceito de saúde, do ponto de vista geográfico, é preciso relacionar as categorias
que o conformam, como: extensão, ordem e conexão. O termo extensão refere-se à dimensão
do espaço e, ao mesmo tempo, implica a habilidade de localização dos objetos geográficos na
superfície terrestre. O termo ordem é atributo espacial relacionado à distribuição dos elementos
geográ- ficos no espaço, enquanto o termo conexão diz respeito ao elo existente entre os objetos e
as ações humanas num sistema de relações no qual nenhum elemento é isolado dos outros
(SILVEIRA,2006). Atualmente, os estudos em várias áreas do conhecimento, no Brasil e no mundo,
estão voltados para encontrar respostas para a pandemia. Na Geografia não poderia ser diferente,
especificamente na Geografia da Saúde.
Para Oliveira (2020), o compromisso epistêmico do campo da Geografia busca entender o
espaço e suas variantes, os processos e as associações, partindo para a análise dos seguintes
tópicos da Geografia e suas relações com o cenário encontrado a partir da Pandemia da Covid-19:
globalização; espacialização/cartografia; demografia; urbanização; economia e política. Assim
sendo, se buscará compreender a análise espacial mais ampla dofenômeno, uma vez que é a partir
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LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
Grande: UFCG, 2021. p.86-94 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
do entendimento estrutural de cada uma das possibilidades analíticas que se constrói a leitura da
conjuntura momento atual.
A saúde pode ser considerada, para Barcellos, et al (2006), como um estado em que o
nível individual pressupõe a sensação de bem estar. Já no nível coletivo, populacional, a saúde
insere-se na noção mais ampla de condições de vida. A saúde e os problemas refe- rentes à saúde
são processos que possuem fatores gerais que atuam em uma teia: a biologia humana, o ambiente,
os modos de vida e o próprio sistema de serviços de saúde. Conforme for o problema de saúde,
um fator pode ser mais decisivo que o outro, como: nas doenças diretamente associadas a
malformações congênitas, cujo peso da biologia é maior; nas do- enças sexualmente
transmissíveis, em que o modo de vida são mais importantes; nas intoxi- cações por agrotóxicos,
em que os fatores ambientais são mais relevantes, embora todos os fatores interajam e atuem
sobre todos os problemas de saúde de forma integrada.
Para Barcellos, et al (2006), a exposição às situações que afetam a saúde, geral- mente,
não são escolhas de indivíduos nem de famílias, mas o resultado da falta de opções para evitar ou
eliminar as situações de vulnerabilidade. Também participa dessas situações de vulnerabilidade
que afetam a saúde,em geral, não são escolhas de indivíduos nem de famílias, mas o resultado da
falta de opções para evitar ou eliminar as situações de vulne- rabilidade. O que participa também
dessas situações é o desconhecimento sobre a própria vulnerabilidade. É dessa maneira que as
condições de vida de grupos sociais nos territórios definem um conjunto de problemas,
necessidades e insatisfações que dependem da partici- pação de instituições de governo e da
própria população, ou seja, a situação de saúde de um grupo populacional em um território é
definida pelos problemas e necessidades em saúde, assim como pelas respostas sociais a esses
problemas.
De acordo com Guimarães (2015), as melhorias de infraestrutura, a disseminação dos
meios de diagnóstico e todo desenvolvimento dos sistemas técnicos tornaram possível o aumento
da expectativa de vida, avançando nas questões que envolvem o envelhecimento da população,
embora essas transformações sejam desiguais, no que se refere ao acesso, seja entre regiões ou
entre diferentes classes sociais, exigindo explicações geográficas, pois cada lugar é o acúmulo
desigual de tempos. Dos circuitos do tempo rápido, conectados pela gran- de máquina da produção
global, observa-se o risco crescente da disseminação de doenças antes confinadas a algumas
regiões do globo.
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LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
Grande: UFCG, 2021. p.86-94 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
esses os desafios constantes do poder público: a otimização do uso dos leitos hospitalares,
necessitando de uma atualização contínua do mapa de vagas; o estabelecimento de mecanismos
que desobstruam a comunicação, e o intercâmbio de infor- mação entre as unidades de serviços de
saúde.
Do outro lado, há a população e a luta de diversos movimentos sociais que exi- gem
saúde mais conectada às necessidades do dia a dia. Nos dizeres de Bakhtin (1995), o mecanismo
de produção das representações sociais sempre está presente na comunicação social. Segundo
Gesler (1999), o lugar tem papel central na construção desses significados sociais, e as metáforas
geográficas são utilizadas para estabelecer diferentes identidades à vida comunitária (BARNES;
DUNCAN, 1992), mediante um processo que não é harmonioso, mas repleto de conflitos e
residências.
Para Guimarães (2000), a designação sobre saúde e doença pode ser usada tanto para
revelar quanto para encobrir significados das relações sociais e das relações as- simétricas de
poder, o que torna o seu estudo necessário e ainda mais fértil. Na análise de Guimarães (2015), a
Geografia da Saúde no Brasil tem como principal discussão conceitual a relação entre espaço e
território, pois demanda a análise dos desafios operacionais da ter-ritorialização da política nacional
de saúde, desde a implantação do Sistema Único de Saúdee sua expansão físico-territorial (GODIM
et al, 2008).
O conceito de região no planejamento da política nacional de saúde não é de fá- cil
apreensão. Não basta a leitura direta dos documentos oficiais, como Norma Operacional de
Assistência à Saúde (BRASIL,2002) ou Pacto pela Saúde (BRASIL,2006), sem alguns parâmetros
da análise do discurso. O que vem a ser e o que pode vir a ser a regionalização da saúde é algo
em aberto e em disputa por diversos atores políticos, conforme Guimarães (2005) e Pessoto (2010)
puderam mapear a partir das diretrizes estabelecidas pelo Plano Nacional de Saúde em vigor.
De acordo com análise de Barata (2009), a desigualdade social na saúde vem sendo
documentada desde o século XIX, devido às péssimas condições de vida da classe trabalhadora
ou pelo ideário político associado às revoluções burguesas. A contradição entre os valores de
igualdade, fraternidade e liberdade, e a dura realidade de vida da maioria dapopulação nos países
industrializados possibilitou aos chamados reformadores sociais, socia- listas utópicos e comunistas
um farto material para denunciar as injustiças sociais em vários campos, dentre eles a saúde, tendo
em vista a situação de risco, os comportamentos relacio- nados à saúde e o estado de saúde físico e
mental tenderem a variar entre os grupos sociais.
Para a autora, uma das frequentes explicações para a desigualdade social na saúde
costuma ser o acesso aos serviços de saúde, que é diferenciado para os vários gru- pos. Portanto,
os efeitos são decorrentes de problemas na utilização dos recursos disponí- veis, seja por
incapacidade do indivíduo, seja por características da organização dos próprios serviços. Essa
explicação, todavia, é rapidamente derrubada pela seguinte constatação: as desigualdades não
desaparecem naqueles países em que existem sistemas nacionais de saúde que garantem acesso
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LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
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universal para todos os grupos sociais, tal qual ocorre em diver- sos países da Europa, no Canadá,
na Austrália e outros. Nas comparações entre países, as desigualdades tendem a ser atribuídas a
diferentes graus de desenvolvimento da assistência médica. Entretanto essa elucidação, ainda que
possa responder por parte do perfil de morta-lidade observado, não é capaz de justificar o porquê
as desigualdades vêm aumentando com o passar do tempo (BARATA, 2009).
No começo de 2020, entra para a história a pandemia do Covid-19, de modo que, para
Young (2020), houve uma enorme subestimação do número de casos e óbitos no Brasile em outros
países, especialmente os em desenvolvimento. Essa foi uma das falhas mais evidentes dos
governantes brasileiros em lidar com uma pandemia. Tendo a pandemia che- gado no país
relativamente tarde em relação à Europa, não houve preparação técnica para a pandemia. Sem
estratégia, equipamentos, material de teste e coordenação de ações, o Brasil tornou-se presa fácil
para a propagação do Coronavírus (Covid-19), tornando-se o país com maior número diário de
novos casos de contaminação (epicentro), mesmo com grande subnotificação.
Na tentativa de desviar a atenção da incapacidade técnica e falta de propostas concretas
para lidar com a pandemia, criou-se uma falsa divisão entre proteger a saúde ou a economia,
surgindo o jargão: “É preciso salvar vidas, mas também o PIB.”
Contudo o PIB não se salva, apenas se mede, e não é uma medida de desen- volvimento,
bem-estar ou mesmo riqueza. O PIB é simplesmente uma métrica para saber se o conjunto teve
maior ou menor atividade em relação ao período anterior. O governo federal vem insistindo em
negar os preceitos da comunidade científica e acabar com o isolamento social e as medidas de
restrição econômicas, almejando o imediato retorno a uma suposta “normalidade pré-pandemia”.
Segundo Matta, et al 2021, a pandemia da Covid-19 colocou luz sobre as desi- gualdades
sociais que já existiam, talvez esquecidas ou não vistas. As populações já vulnera- bilizadas são,
comprovadamente, afetadas de forma negativa nesse contexto. As diferenças são inúmeras: na
exposição ao vírus; no acesso ao diagnóstico e ao tratamento; no acessoa habitações adequadas;
nas tecnologias; no saneamento e água; na alimentação e nutriçãoapropriadas etc.
Um balanço dos seis meses de pandemia feito pelo observatório Covid-19 da Fiocruz
(FIOCRUZ, 2020), com participação de pesquisadores da Rede Zika, destacou que essas
desigualdades são demonstradas em diversos domínios, com destaque para o étnico racial. Nesse
contexto, os povos indígenas, as populações urbanas que vivem em favelas e territórios
vulnerabilizados, as relações de gênero com o impacto sobre as mulheres e a sig- nificante
presença feminina na força de trabalho em saúde mereceram importante destaque. A minimização
dos direitos e políticas de proteção social geraram uma crise humanitária de proporções
alarmantes.
Para Matta et al 2021, o SUS foi capaz de detectar e responder aos primeiros casos de
Covid-19 no país, colocando em marcha um sistema de vigilância que já havia se mostrado eficaz
em surtos e epidemias passados (HENRIQUE; VASCONCELOS, 2020) e em consonância com as
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LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da
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Ainda na análise de MATTA et al, 2021, a pandemia foi atravessada por disputas políticas e
narrativas importantes, que afetaram a boa condução da resposta nacional. Algu- mas políticas
econômico-sociais acionadas para mitigar os efeitos da pandemia não foram suficientes para
atender às necessidades de populações há muito vulnerabilizadas. O ano de 2020 foi marcado
pela reabertura precoce e por uma influência importante da resposta europeia nas ações locais. Foi
um ano de aprendizado para todos os segmentos, cientistas, governo e sociedade. Entramos em
2021 com a continuação e a exacerbaçãode uma crise que não é apenas sanitária, mas com
elementos sociais e econômicos, tendo a oportunidade de olhar para trás e tirar lições aprendidas e
boas práticas para mudar o rumo da resposta com coordenação nacional, com especial destaque
para comunicação, o acesso a vacina via PNI e um olhar voltado para as pessoas em
vulnerabilidade social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A geografia da saúde vem promovendo análises sobre todos aspectos que envol- ve a saúde
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LOPES, J.N.D. Geografia e psicologia: a existência geográfica no meio ambiente. In. Simpósio Nacional de Geografia da
Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina
Grande: UFCG, 2021. p.86-94 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
humana na perspectiva do ambiente pelo qual ele está inserido e seus desdobra- mentos.
Compreendendo as causas a partir da ocupação dos territórios, buscando mitigar soluções para as
consequências do avanço da urbanização, como aumento demográfico, aspectos econômicos e a
conjuntura política, questões que só fortalecem sua importância. Sem a geografia da saúde não
aprenderíamos a lidar com as pandemias que a humanidade vem enfrentando ao longo dos
tempos. O advento da globalização tornou as pandemias um alcance planetário nunca antes vistos,
dado aos meios de circulação avançados. Embora o Brasil venha passando por um retrocesso no
que se refere aos investimentos em ciência associado a um governo negacionista que diverge do
conhecimento científico, que desvaloriza e ataca todas as medidas de isolamento social como
forma de conter a pandemia que o mundo está enfrentando. É necessário combater denunciando
esse tipo de política desumana que só agrava a situação pandêmica. E isso só pode ser sanado
com políticas públicas efetivas, com o compromisso e a responsabilidade de considerar o uso do
território essencial para uma boa gestão em saúde pública. As condições de excelência dos
serviços de saúde, assim como a universalização, serão dificilmente alcançadas se a saúde pública
continuar sendo tratada como mercadoria, a discussão sobre as demandas sociais no Brasil
precisam ser continuamente pautadas, para garantir que todo cidadão brasileiro sem distinção de
classe social, tenha garantia e acesso a um atendimento de igualitário.
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Grande: UFCG, 2021. p.86-94 Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
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MEDEIROS, M.L.; SANTOS JÚNIOR, J. S.; ANDRADE, M.V. A influência da gripe espanhola e Covid-19 na transformação
do espaço geográfico recifense. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios
das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.126-134. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
ABSTRACT: In the city of Recife, the most recent pandemic of the Coronavirus Virus has
already brought a small socio-spatial transformation through isolations, which has led to an
intention to modify political and economic structures. It is important to highlight that this same
situation has already been repeated in the city, but specific to almost 100 years ago, with one
of the first pandemics of the twentieth century (The Spanish Flu) the impacts were quite similar,
bringing to light the socio-spatial inequalities experienced and accentuated especially within
recife in its neighborhoods and its peripheries. Thus, the present work sought to draw a parallel
of the transformations that occurred in the city of Recife over time by transanding parallels and
divergence exalted especially by the political and media aspects, through the critical method
(Santos,1999) and the documentary historical , which came to show how much pandemic in
the city of Recife always becomes a Sindemia in order to accentuate more existing inequalities
, requiring a differentiated look at the actions within the city itself, which would imply specific
restructurings to each specific locus within the city's urban meander.
1
Mestra em Geografia pela UFPE; marinalou93@gmail.com (orientadora)
2
Estudante de graduação em Geografia na UFPE; jessesantosdesouzajunior@gmail.com
3
Estudante de graduação em Geografia na UFPE: mariavitoria.andrade@ufpe.br
126
MEDEIROS, M.L.; SANTOS JÚNIOR, J. S.; ANDRADE, M.V. A influência da gripe espanhola e Covid-19 na transformação
do espaço geográfico recifense. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios
das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.126-134. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
INTRODUÇÃO:
Ao pensarmos no período histórico social e espacial que vivemos na contemporaneidade é
inevitável falar da doença que vem atingindo a mais de 7 bilhões ou parte de sua maioria no
planeta que é COVID-19. Especialmente em nosso país esta doença, que já matou mais 400
mil brasileiros, vem transformando as realidades existentes em nosso volta, transformando o
espaço, modificando as relações de trabalho, e especialmente colocando a luz a grande
desigualdade social existente em nosso país. No entanto, é primaz, entender que as
pandemia do COVID-19 não foi a primeira, pandemia de grande porte que atingiu e trouxe
modificações em escala global para o mundo, a Gripe Espanhola em 1918-1920 trouxe pela
primeira vez na história este mesmo sentimento: estamos todos vivendo um mesmo mau.
A partir de pontos em congruências e diferenças entre os dois momentos históricos
analisados, o trabalho em questão, trabalho desenvolvido a partir da leituras e interesses em
comum de uma mestranda e os alunos de graduação em tempo pandêmico pertencentes a
DCG da UFPE, vem analisar as questões pertinentes que envolveram as modificações
histórico e espacial do diferentes períodos, a questão midiática e da necropolitica analisando
de maneira critica, e se utilizando das metodologias auxiliares bibliográficas e documentais,
seus impactos e especialmente denotando o como esses aspectos acentuaram, nos
diferentes períodos históricos, essa desigualdade e colocaram a luz a necessidade de
transformar as políticas públicas e valorizar sem anular as ações feitas pela saúde públicas,
valorizando-a, em nosso pais. Dessa maneira, o trabalho vem tentar trazer uma pequena
contribuição para o eixo 6 : Dimensões Históricas, Metodológicas da Geografia da Saúde, a
partir dessa analise espaço temporal feita, entendendo assim que o entendimento do passado
e essencial para desvendarmos o futuro, e aprendermos com ele.
METODOLOGIA
Para atingir o objetivo deste trabalho foi utilizado o metodologia de pesquisa
bibliográfica e documental. Está última metodologia, em especial, foi base para as pesquisas
do aspecto da pandemia espanhola, e considera que os documentos constituem uma fonte
rica e estável de dados, sendo algo com presidência jurídica que perdura tornam-se muito
importante para um estudo de natureza histórica (GIL,2002, p. 46). Com isso, foi realizado um
levantamento de instituições e jornais os quais circulavam em Recife, para compor o
panorama da gripe espanhola 1918, a extração dessas informações fora feita pela plataforma
online da Bliblioteca Nacional (BND). Somado a isto usou-se de base os capítulos do livro da
historiadora Lilian Schwarz (2020) a Bailaria da Morte como fonte base para as reflexões
tecidas ao longo de resultados obtidos. A parte contemporâneas do trabalho sobre a Covid-
19 foram utilizadas as metodologias de base bibliográficas de artigos, e matérias de jornais
atuais online como fonte documental. É importante salientar que a partes do passado e do
futuro das pandemias possuem como fio condutor o método critico de analise defendido por
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MEDEIROS, M.L.; SANTOS JÚNIOR, J. S.; ANDRADE, M.V. A influência da gripe espanhola e Covid-19 na transformação
do espaço geográfico recifense. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios
das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.126-134. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Milton Santos (2000), passando assim a ter uma visão de crítica social dos acontecimentos
de ambas as épocas tratadas . Sendo assim, este método junto as metodologias auxiliares
utilizadas contemplar a diversidade e complexidade do tema com profundidade.
RESULTADO E DISCUSSÃO:
A Espanhola foi descoberta pelo mundo, no final de 1918, quando jornais espanhóis,
noticiaram a doença dentro das trincheiras europeias no decorrer da Grande Guerra. Com o
fim desta, muitos ex-soldados americanos adoecidos já tinham contaminados outros saldados
que de volta a seus lares ou em visita a parentes, passaram transmitir a doença. Um tempo
depois, em meados do ano o navio Demerara aporta nos principais portos do Brasil,
distribuindo a doença aonde chegava e infectando as capitais litorâneas (SWARTZ,2020).
Devido a Espanha ser o primeiro país a noticiar a doença e as pessoas contaminadas estarem
ligadas aos mundos portuário (estivadores, trabalhadores e prostitutas) a gripe ficou com
apelido do primeiro país a se divulgar, sendo apelidada então de espanhola (SWARTZ).
Já a COVID-19, chegou através dos portos e aeroportos no período de festivo
carnavalesco no ano de 2020. Inicialmente ligada a China, em uma província interiorana, mas
de um pais hoje com as relações capitalistas e tecnológicas avançadas, a doença se espalhou
com rapidez atingiu todos os recantos do mundo, através do fluxo de pessoas que circulavam
hoje dentro dessa grande potência mundial (FIOCRUZ,2020).
Ao falar da cidade objeto de análise, Recife observa-se semelhanças e diferença com
relação a doença. Na Espanhola, a cidade estava passando por processo de reestruturação
espacial, muito parecido como de outras capitais, projeto esse que aglomerou os alagados e
criou os principais morros da cidades. A desigualdade que parecia agora se esconder, nos
subúrbios acentuava-se ao longo dos dias, era só dos pontos do abismo sanitários que se
fazia entre áreas ricas e pobres da cidade, somado a inexistência da saúde pública, a
espanhola chegou abarrotando os poucos cemitérios, multiplicando os empregos de coveiro
e colocando em xeque o elitismo da saúde no pais, auxiliando para necessária organização
de uma saúde pública local. Se destacam nesse período a criação do Hospital Pedro II,
Servidores e atuação do secretário da saúde Otávio de Freitas( SILVA,2017).
Já na COVID-19, a cidade vinha de um período pôs eleições e de uma acentuada
precarização de trabalhos, o que fez com a transformação espacial de locais cheios se
transformassem em zonas vazias e desemprego, acentuando a violência a pobreza em toda
a cidade especialmente, nas periferias nascidas entre o início do século XX. Com a COVID-
19, viu-se a necessidade de melhoria dos hospitais públicos, criação de hospitais de
campanha e criação e ampliação de redes de solidariedade para além das ações políticas. As
estruturas trabalhistas já precárias, precarizaram mais ainda, mas a rede de economia criativa
junto as tecnologias de venda e os entregadores a domicilio, atenuassem a já grande
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MEDEIROS, M.L.; SANTOS JÚNIOR, J. S.; ANDRADE, M.V. A influência da gripe espanhola e Covid-19 na transformação
do espaço geográfico recifense. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios
das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.126-134. Disponível em
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disparidade social da cidade, que junto aos auxílios governamentais, fazem com que a
população sobreviva aos tempos difíceis ( BBC,2021).
Ao buscaremos discutir a importante vertente da comunicação nesse trabalho é
necessário qual verdadeiramente é o papel dos meios de comunicação diante um cenários
pandêmicos, nos diferentes tempos com um foco relevante nas mídias sociais. De acordo
com o Site de Pesquisa Educa mais Brasil, os meios de comunicação, são veículos que
propagam informações sobre diversos temas do mundo e apresentam um tipo específico de
linguagem.Logo, percebe-se a grande influência que eles têm sobre a circulação de notícias
sejam verdadeiras como falsas.
De acordo com um estudo relizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts
(MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, publicado na revista Science, "Fake News se
espalham 70% mais rápido que as notícias verdade. Com isso, torna-se importante tanto
discutir a diferença entre fatos e "fake news" quanto compreender seus desdobramentos em
relação ao cenário pandêmico atual
O termo Fake News, do inglês "fake" de "falso" e "news" de notícia. São
informações falsas divulgadas que intencionalmente podem enganar seus leitores. Com isso,
a notícia circula sem precedentes causando graves impactos em vários níveis de acordo com
as situações relacionadas.
Já os fatos, tardiamente chegam à população de forma precisa e eficaz. No
presente século da COVID-19, assim como a cerca de 100 anos atrás com a gripe espanhola,
torna-se cada vez mais difícil em quem confiar a averiguação duma verdadeira notícia. Por
causa disso, principalmente agora com o avanço das mídias sociais e veículos de informação,
é necessário ampliar cuidados no que tange compartilhar notícias. Sendo assim, fica claro e
evidente a importância de verificar as informações antes de divulgar a outros, checar a fonte
a qual foi produzida, atentar-se a data e o horário da publicação.
Ao tratar do aspceto histórico é necessário também não esquecer os a análise os
aspectos políticos junto com as pandemias, especialmente em seus respectivos contextos
históricos e espaços. Ao entrar em contato com o acervo iconográfico aos alardes da gripe
espanhola no Estado, observa-se que não se tinha infraestrutura na época para garantir
serviços de necessidades básicas e muitos territórios ainda estavam em seu primórdios de
desenvolvimento, levando em consideração que a fase de urbanização vinha a se desenvolver
apenas em 1930 com as políticas de Getúlio Vargas. Com isso, para esse contexto de 1919
durante a propagação da gripe, as políticas públicas da época advindas tanto do Governo
Federal quanto Estadual, reconhecendo que não haveria como o Estado oferecer toda uma
infraestrutura, serviços à saúde a maioria da população, recorrem às instituições de cunho
sociais para ajudar com os casos. A parcela da população pobre ia em busca destas
organizações que ofereciam serviços voltados à saúde, um dos destaques é da Santa Casa
de Misericórdia que na época, a instituição divulgou um ofício pedindo ajuda ao Presidente
para manter e oferecer uma estrutura para o combate da gripe espanhola e auxiliar as pessoas
mais pobres da sociedade. A Santa Casa de Misericórdia prestou assistência ao Estado de
Pernambuco com os casos os quais foram transferidos para lá, e o Governo ressaltou a
importância da instituição e de seus serviços voltado aos menos favorecidos da sociedade
Recifense principalmente durante a ocorrência Influenza, foi fundamental suas assistências
para que não ocorresse tantos óbitos ( Jornal do Recife 1919) .
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MEDEIROS, M.L.; SANTOS JÚNIOR, J. S.; ANDRADE, M.V. A influência da gripe espanhola e Covid-19 na transformação
do espaço geográfico recifense. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios
das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.126-134. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Com registros do Jornal do Recife (no final do ano 1919) sobre a Gripe Espanhola na
capital, o contexto apresentado foi de insatisfação da população com a medidas de prevenção
e controle da doença do Prefeito Moraes Rego e Governador Manoel Borba. O fracasso
dessas medidas, levou a uma revolta popular contra a Prefeitura e Estado pois não havia
medicamentos suficientes a estrutura de saúde precária, um ponto interessante é que houve
fechamento das farmácias dos bairros e quando abertas havia aglomerações. No mês de
Outubro, foi divulgado os números de morte, com uma alta mortalidade, divulgada pelo Jornal
do Recife(Figura 1), foi exposto no Jornal como consequência da falha dos planos do
Governo, como também, que os alguns dados tinham sido ocultados e “maquiados”, para
diminuir a revolta é o desgosto da população com os poderes Estaduais e Municipal.
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MEDEIROS, M.L.; SANTOS JÚNIOR, J. S.; ANDRADE, M.V. A influência da gripe espanhola e Covid-19 na transformação
do espaço geográfico recifense. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios
das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.126-134. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
pacientes em casas, porém nem todos os profissionais queriam atender a população mais
distante e pobre em domicílio, levantando o debate da questão da desigualdade socioespacial
que é nítida durante um contexto de pandemia, e como a doença chega de maneiras
diferentes no corpo espacial.
Em paralelo, as atitudes políticas nas esferas sociais no contexto novo vírus o Covid-
19 (2020) . O cenário político brasileiro ficou muito caótico com a chegada do COVID -19,
além do mundo estar impactado com a dimensão de propagação deste vírus, a sociedade se
deparou com novos comportamentos tanto de forma individual como em pró da coletividade.
A Organização Mundial de Saúde (OMS)4 fez recomendações a todos os países seguindo o
percurso de isolamento social, medidas sanitárias e compartilhamento de informações e
pesquisas científicas. Entretanto, o Presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro se manteve
descredibilizando as medidas de isolamento, sanitárias e científicas, e em muitos de seus
pronunciamentos carregavam essa simbologia, não usando máscaras e afirmando o discurso
de que a economia não poderia parar (SANCHES, 2020). Com isso, a maioria população
presenciou a crise da saúde pública e do Sistema Único de Saúde (SUS), em seu pior
momento com a troca de três Ministro da Saúde em menos de quatro meses, durante a subida
de casos de mortes da coronavírus no país ultrapassando a China país de origem da
pandemia, com 5 mil mortos, dados retirados do site G1, e entrevista na porta do Palácio da
Alvorada, a declaração do Presidente foi essa:
E daí? Lamento. Quer que eu faço o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre.
(G1,2020)
4
Ver em: WORLD HEALTH ORGANIZATION (USA). Recomendações sobre o uso de máscaras no
contexto da COVID-19: Orientações provisórias. Conselhos para o uso de máscaras no contexto da
COVID-19: orientações provisórias, p. 1-17, 5 jun. 2020. Disponível em:<
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/332293/WHO-2019-nCov-IPC_Masks-2020.4-por.pdf.
Acesso em: 3 maio 2021.>
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MEDEIROS, M.L.; SANTOS JÚNIOR, J. S.; ANDRADE, M.V. A influência da gripe espanhola e Covid-19 na transformação
do espaço geográfico recifense. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios
das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.126-134. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
5
Ver em: SECRETARIA DE SAÚDE DE PERNAMBUCO. Pernambuco contra Covid-19. Disponível em: <
https://www.pecontracoronavirus.pe.gov.br/>.
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MEDEIROS, M.L.; SANTOS JÚNIOR, J. S.; ANDRADE, M.V. A influência da gripe espanhola e Covid-19 na transformação
do espaço geográfico recifense. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios
das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.126-134. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Foucault sendo " o biopoder é estratégia de técnicas com sua face política que tem o objetivo
de fazer o controle dos corpos e ações dos indivíduos, disseminando assim a regulação do
dominador” (SILVA, 2020, p. 73). Com isso, contextualizando a situação brasileira com o
Covid-19, quem detém o principal poder hierarquizado é o Presidente Jair Messias Bolsonaro,
e analisando seus discurso e atitudes, pode-se afirmar que existe uma necropolítica que se
amplia neste contexto de pandemia. Segundo o boletim de conjuntura:
Além do desrespeito com as entidades de saúde, ele ( O Presidente ) entra em debate
político com os governadores e prefeitos que seguem as recomendações em seus territórios
através de decretos estaduais e municipais. Ele não oferece propostas para desacelerar a
propagação do vírus, a única coisa que faz é explanar suas ideias políticas e econômicas que
nada beneficia na atual conjuntura. . (SILVA, 2020, p. 79)
Para elucidar melhor, o caso da COVID, as dualidades de informação, saneamento
básico, a pouca ajuda do governo, o aumento da taxa de desemprego alcançou mais a
população menos favorecida. Muitos que não perderam seus empregos, mas que não tiveram
a opção de trabalhar em casa, por falta de alternativas tiveram que fazer uso do transporte
público e enfrentar aglomerações para poder trabalhar, e isso também se encaixa no termo
abordado. Desta forma, a conjuntura brasileira nestes acontecimentos de pandemia e crise
na saúde, refletem praticamente o mesmo comportamento mesmo que períodos diferentes,
com um país ainda sem estruturas para fornecer um sistema saúde eficaz e funcional. Como
também, uma ampliação da vulnerabilidade social presente em ambos os momentos, como
grande divisor como a doença chega para todos, mas por serem contextos econômicos e
sociais distintos existe uma grande desigualdade e assistência que se reflete no nível de
mortalidade do vírus. Enteando-se assim que mais do que uma pandememais, estamos diante
de fenômenos, sindêmicos, ou seja, uma doença que massacra especialmente as população
mais empobrecidas no mundo todo, mostrando assim o quanto globalmente e espacialmente
o mundo e dividido entre pobre e ricos até na questão das doenças (SANTOS,2004).
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
As pandemias enquanto processo de espalhamento atingem as mais diversos tipos
de pessoas e transformam os cotidianos, a maneira de trabalhar e maneira de se comunicar
e de pensar no futuro. Especialmente a partir dos pontos aqui analisados fica cada vez mais
evidente o quanto as pandêmicas globais, frente a sociedade capitalista em que vivemos
estas doenças afetam mais profundamente as populações de maior vulnerabilidade do
planeta, as já doentes empobrecidas, evidenciando a questão sindêmica desses casos.
Dessa maneira, e importante tratar das doenças investindo sobretudo na
minimização das desigualdade sociais anteriores a elas garantindo, de maneira mínima o
acesso a saúde publica de qualidade, dando dignidade as vidas humanas em nosso locus e
em nosso planeta.
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MEDEIROS, M.L.; SANTOS JÚNIOR, J. S.; ANDRADE, M.V. A influência da gripe espanhola e Covid-19 na transformação
do espaço geográfico recifense. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios
das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.126-134. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
REFERÊNCIAS:
BBC NEWS. ttps://www.bbc.com/portuguese/geral-54629877. Acessado em : 20 de maio de 2021.
GIL , Antonio. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: EDITORA ATLAS,
2002. 46 p.
SANCHES, Mariana. Ao deixar de recomendar quarentena, Bolsonaro se isola de
líderes globais. BBC NEWS BRASIL, abr. 2020. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52084438> . Acesso em: 3 maio 2021.
G1.Veja frases de Bolsonaro durante a pandemia do novo coronavírus. G1 Política, 30
abr. 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/04/30/veja-frases-de-
bolsonaro-durante-a-pandemia-do-novo-coronavirus.ghtml>. Acesso em: 3 maio 2021.
CAIXA ECONÔMICA BRASILEIRA. Auxílio Emergencial 2020-2021. Disponível
em:<https://www.caixa.gov.br/auxilio/auxilio2021/Paginas/default.aspx>. Acesso em: 3 maio
2021.
G1. Coronavírus: governo de Pernambuco determina fechamento de comércio,
serviços e obras de construção civil. G1 Pernambuco, 20 mai. 2020. Disponível em:
<https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2020/03/20/coronavirus-governo-de-
pernambuco-determina-fechamento-de-comercio-servicos-e-obras-de-construcao-
civil.ghtml>. Acesso em: 3 maio 2021.
G1. Desigualdade social faz com que o Recife tenha um dos maiores índices de
mortes por coronavírus. G1 Pernambuco, 07 jul. 2020. Disponivel em:
<https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2020/07/07/desigualdade-social-faz-com-que-
o-recife-tenha-um-dos-maiores-indices-de-mortes-por-coronavirus-diz-estudo.ghtml> .
Acesso em: 3 maio 2021.
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PEDROSO, M.F.; GUIMARÃES, R.B. Entre o normal e o patrológico existe Geografia: contribuições teóricas da Geografia da
Saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021,
Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.135-144. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN
1980-5829
Abstract
In the present text, we deal with questions that arise from the debate about the standards of
vital norms (normal and pathological) problematized by the French philosopher and physician
Georges Canguilhem (1904-1995). Since this theoretical-methodological construction
emerges as a crucial point for the debate on the Health Geography, our main objective was to
develop and deepen constructions that guide the space and health categories as the center of
understanding of the phenomena that affect people and their bodies, in order to analyze the
whole and propose actions that are directly linked to the health-disease process. This
geographical reasoning opens up the possibility of understanding how vital normativities are
configured, understanding that this process makes the human being a result-result that relates,
produces and transforms the geographic context in which it finds itself.
Keywords: Health Geography; Normal-pathological; Georges Canguilem.
Introdução
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PEDROSO, M.F.; GUIMARÃES, R.B. Entre o normal e o patrológico existe Geografia: contribuições teóricas da Geografia da
Saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021,
Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.135-144. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN
1980-5829
como medida a realidade, o que torna viável propor como objetivo central a compreensão de
um raciocínio geográfico que se debruça sobre as questões de saúde e doença a partir das
contribuições das normatividades vitais.
É preciso expressar que existem diferentes esforços das mais variadas áreas do
conhecimento que dedicaram reflexões acerca do que é a saúde e doença. Tais elaborações
foram pensadas ao longo da história da humanidade e tiveram como prerrogativa inicial o
emparelhamento antagônico entre saúde e doença, isso como tentativa de definir a
concepção de saúde como ausência de doença manifestada (CZERESNIA; MACIEL;
OVIEDO, 2013).
Esse raciocínio primário foi de extrema importância para os desdobramentos
posteriores (LAURELL, 1982), dado que outros elementos passaram a compor o conjunto de
análise, pois já não era mais possível desconsiderar as questões biológicas, sociais e culturais
que recaiam sobre os corpos quando evocadas as questões sobre saúde e doença
(SAFATLE, 2011). Foram estas demandas que fomentaram o olhar crítico sobre o objeto da
medicina, o que reorganizou seu conhecimento elevando o nível reflexivo acerca dos métodos
e dos conceitos construídos até então (FOUCAULT, 1977).
Diante desta complexidade, Almeida Filho (2011) exprime alguns esforços e destaca
quatro vieses possíveis para compreender saúde: 1) saúde como conceitos, sendo estes
respaldados tanto pela filosofia do conhecimento como pela linguagem; 2) saúde por meio do
seu valor empírico, comumente realizada nas ciências biológicas; 3) saúde como elemento
analisável, do ponto de vista lógico, matemático e probabilístico; e 4) saúde perceptível,
apreendida através das condições de vida das pessoas. Essas são algumas das
possibilidades pelas quais se pode conceber a saúde, dado que “[...] percebemos que falar
sobre saúde não equivale a falar sobre não-doença e falar sobre doença não equivale a falar
sobre não-saúde, rastreamos, por meio de um simples exercício de linguagem, um aspecto
prático da maior importância” (AYRES, 2007, p. 45).
No presente texto, trataremos dessas questões a partir do debate acerca dos padrões
de normal e patológico problematizado pelo filósofo e médico francês Georges Canguilhem
(1904-1995). Para ele, é desta forma que a linguagem possibilita a interpretação da plural
dimensionalidade da saúde que não a esvazia enquanto conceito (CANGUILHEM, 1990), pelo
contrário, reforça e demonstra a potência que a saúde tem sobre a vida nas mais diferentes
interfaces, já que “[...] envolve a construção compartilhada de nossas ideias de bem-viver e
de um modo conveniente de buscar realizá-las na nossa vida em comum. Trata-se, assim,
não de construir objetos/objetividades, mas de configurar sujeitos/intersubjetividades”
(AYRES, 2007, p. 50).
Assim, as dimensões da vida carregam seus sentidos biológicos, sociais e existenciais,
que estão em constante interação frente aos acontecimentos presentes na realidade dos
sujeitos (CANGUILHEM, 2012). Isso expressa a relação universal que se constrói por meio
dos conhecimentos humanos, que analisam os diferentes modos de organizar e interpretar a
vida, dado que esta é considerada como uma constante “formação de formas” que não se
encerra em seus próprios resultados, o que a caracteriza como “[...] uma atividade polarizada
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PEDROSO, M.F.; GUIMARÃES, R.B. Entre o normal e o patrológico existe Geografia: contribuições teóricas da Geografia da
Saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021,
Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.135-144. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN
1980-5829
contra tudo que é da ordem da inércia e da indiferença” (NEVES; PORCARO; CURVO, 2017,
p. 630). Em outros termos, a vida é movimento que se ajusta.
Ao entendermos a vida enquanto um fenômeno metabólico, consequentemente,
compreendemos que as pessoas ao longo da vida vivenciam diversos acontecimentos que se
desdobram diretamente sobre a capacidade de desfrute, seja por meio de vivências
prazerosas e/ou dolorosas, que surgem enquanto categorias valorativas pelas quais as
qualificamos antes mesmo de racionalizá-las (GÓMEZ-ARIAS, 2018). Esse movimento da
vida, junto às decorrentes experimentações, é mediado pelos símbolos linguísticos que os
representam e diferenciam, uma vez que estes “[...] são o resultado de processos
particularmente complexos e criativos que produzem conceitos e envolvem a sociedade como
um todo; neste sentido podemos falar do processo social de produção de conhecimento”
(GÓMEZ-ARIAS, 2018, p. 68, tradução nossa)4.
Assim sendo, a produção do conhecimento acerca da vida nos aproxima de diferentes
experiências fundamentais da humanidade que, por vezes, são escamoteadas pelo receio da
possibilidade de dor e sofrimento, como é o caso da doença e da morte em nossa sociedade
ocidental que, culturalmente, nos faz “esquecer” que estas próprias experiências fazem parte
da vida (CZERESNIA, 2012). É por este ângulo que “a racionalidade da vida é idêntica à
racionalidade daquilo que a ameaça. Elas não estão, uma com relação às outras, como a
natureza está com a contra-natureza; mas se ajustam e se superpõem em uma ordem natural
que lhes é comum” (FOUCAULT, 1977, p. 06), fazendo com que seja mantido o esforço pela
valorização da vida por parte do vivente, que insiste em resistir e transformar as intempéries
encontradas durante o processo do viver (KOIDE, 2019).
É nesta acepção que as interfaces aqui destacadas representam uma parcela da
complexidade da vida enquanto categoria, entendido que esta se mantém lastreada no social
em movimento [lê-se espaço e tempo]. Assim, quando pautadas as distintas relações,
sobretudo aquelas relacionadas às questões de saúde e doença, a vida toma o corpo como
ponto de partida, e muitas vezes de chegada (CANGUILHEM, 1998).
São questões como essa que nos desperta pensar os sujeitos sociais - como sugere
Ayres (2001; 2007) -, e ao fazê-lo nos deparamos com a necessidade de compreender o que
e quais são as normas5 que arregimentam a vida dos sujeitos, e como são as relações
4“[...] son el resultado de procesos particularmente complejos y creativos que producen conceptos y
que involucran a la sociedad en su conjunto; en tal sentido podemos hablar del Proceso social de
producción de conocimientos” (GÓMEZ-ARIAS, 2018, p. 67-68).
5 Abbagnano (2007, p. 716-717) define norma a luz do neocriticismo alemão que “[...] formou-se através
da distinção e da contraposição entre o domínio empírico do fato (da necessidade natural) e o domínio
racional do dever ser (da necessidade ideal). Sua validade não deriva do fato de ser ou não aceita ou
aplicada, mas apenas do dever ser que exprime [...]. As normas exprimem, habitualmente, a disciplina
mais conveniente de determinadas atividades, com vistas a conferir-lhes a maior eficiência e precisão
possíveis. Portanto, se elas nem sempre são generalizações daquilo que já está sendo feito ou
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PEDROSO, M.F.; GUIMARÃES, R.B. Entre o normal e o patrológico existe Geografia: contribuições teóricas da Geografia da
Saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021,
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1980-5829
contextuais que se organizam junto à concepção de saúde, visto que, vale memorar que é a
saúde a detentora da capacidade de estabelecer, rearranjar ou mesmo mudar de norma, não
estando à mercê da simples adaptação ou conformação (SAFATLE, 2011; 2015).
É sob este conjunto que se fazem válidas as contribuições de Canguilhem (1990), já
que o autor dedicou grande parte de sua construção teórica sobre a distinção entre saúde e
normalidade, afirmando que “[...] a normalidade enquanto norma de vida é uma categoria mais
ampla, que engloba a saúde e o patológico como distintas subcategorias, numa visão de
conjunto. Nesse sentido, tanto a saúde quanto a doença são normais” (COELHO; ALMEIDA
FILHO, 1999, p. 29), ao ponto que ambas conjunturam a normalidade de vida, na qual a saúde
é considerada uma norma superior e a doença uma norma inferior, em outras palavras, são
graus da normatividade vital (CANGUILHEM, 1990; COELHO; ALMEIDA FILHO, 2002).
Diante do exposto, a relação entre os graus de normatividade está arraigada aos
valores e significados socialmente construídos que perpassam a concepção de vida dos
sujeitos (DONNANGELO, 2014), uma vez que as normatividades vitais podem se atrair, se
alternar, se misturar, competir, complementar e mesmo coexistir, estando a complexidade do
arranjo sob a égide das condições de vida dos sujeitos ou dos grupos a que pertencem
(GOMÉZ-ARIAS, 2018).
Isso faz com que determinadas compreensões passem a ser mais ou menos aceitas
no movimento de busca por uma elaboração conceitual, como acontece com a “saúde
perfeita” que se transforma em um conceito normativo, idealizado e utópico, como propõe
Canguilhem (1990), ao argumentar que a saúde perfeita não existe, já que o “[...] conceito de
saúde não é o de uma existência, mas sim o de uma norma cuja a função e cujo o valor é
relacionar esta norma com a existência a fim de provocar a modificação desta”
(CANGUILHEM, 1990, p. 54).
Destarte, cabe lembrar que esses graus de normatividade vital não o são em si, já que
as normas que os pressupõem estão atreladas e contextualizadas nas relações sociais (e
também espaciais) em que se organizam, fazendo com que não haja “uma continuidade
quantitativa entre normal e patológico, mas [uma] descontinuidade qualitativa” (SAFATLE,
2011, p. 18). É isto o que traz para o centro narrativo a perspectiva dos sujeitos que vivenciam
os graus de normatividade já que tal processo antecede o saber científico por meio da
experiência (PEDROSO; GUIMARÃES, 2015), exigindo assim que a possibilidade de outros
graus normativos (como o patológico) sejam respeitados enquanto novas condições
(COELHO; ALMEIDA FILHO, 2002).
É sob esta perspectiva que a elaboração de Canguilhem (1990) sobre o normal e o
patológico toma como base a interação relacional do ser humano (vida e corpo) com seu
respectivo meio6, visto que ele considera “que a saúde se realiza no genótipo e na relação do
indivíduo com o meio, opondo uma saúde filosófica a uma saúde científica. Enquanto que a
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PEDROSO, M.F.; GUIMARÃES, R.B. Entre o normal e o patrológico existe Geografia: contribuições teóricas da Geografia da
Saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021,
Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.135-144. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN
1980-5829
saúde filosófica é a saúde individual, a saúde científica teria sido a saúde pública, ou seja, a
salubridade e a doença” (COELHO; ALMEIDA FILHO, 1999, p. 25-26).
Deste modo, as considerações de Canguilhem (1990) ampliam a interpretação do
processo de saúde-doença, a partir de como os seres humanos se relacionam, produzem e
transformam o contexto geográfico em que se encontram. Esse feito abriu a possibilidade de
compreensão sobre como se configuram as normatividades vitais, entendendo que tal
processo torna o ser humano um resultado-resultante que está diretamente conectado aos
movimentos da vida (CANGUILHEM, 1998; 2012; CAPONI, 1997).
Este foi um grande marco na ciência da saúde, que seguiu sendo amplamente
difundido e debatido por diferentes autores, clássicos e contemporâneos, que refletiram e
contribuíram com as proposições de Canguilhem (1990), a citar nomes como Foucault (1977);
Coelho e Almeida Filho, 2003; Safatle (2006; 2011; 2015); Czeresnia, 2010; Almeida Filho
(2011) entre outras(os), que no movimento de construção aprofundaram os argumentos
outrora apresentados.
Assim, foram iniciadas reflexões que se debruçaram sobre uma complexidade que se
fazia crescente e acelerada, oriunda dos desdobramentos presentes nestas relações. Não
obstante, se faz necessário destacar que as contribuições das(os) autoras(es) acima
mencionados salientam para além da simples relação do indivíduo-meio, uma vez que
expressam os elementos que medeiam o processo no qual esta relação de estruturação
acontece. Esta interação constante distancia os indivíduos de uma compreensão meramente
mecânica e/ou físico-biológica, ao modo que a dinamicidade da vida passa a ser entendida
enquanto um metabolismo social de produção em que se constitui a organização da história
humana como um todo societário (GÓMEZ-ARIAS, 2018).
É neste decurso que a discussão empregada por Canguilhem (1990) traz uma valiosa
contribuição, que a nosso ver têm importantes lastros com a Geografia, uma vez que o autor
constrói sua teoria sobre o normal e o patológico estabelecendo vínculos geográficos, dado
que emprega o uso do termo ‘meio’ para se referir à produção do espaço geográfico.
No âmbito deste estudo, cabe dizer que a ciência não mimetiza a complexidade da
vida de forma restrita às questões bio-fisiológicas, mas também não descarta o elo existente
entre o material e simbólico, o que torna esta relação paradoxal do ser humano, visto que “na
realização do metabolismo mais básico está presente uma dimensão de ‘escolha’ entre
impulsos de agregação e desagregação; de assimilação e de excreção” (CZERESNIA, 2012,
p. 05), ou seja, uma contínua simbiose do estar vivo, do ser e existir, já que a vida é dimensão
do ser.
Assim sendo, as colocações de Czeresnia (2012) fomentam um debate ontológico que
está ancorado no corpo para além do orgânico, quando pensamos as questões de saúde,
uma vez que ressalta a importância da existência corporificada que capta, produz e consome
os fenômenos experienciados, pois considera que o corpo “não é destituído de pensamento
que o caracteriza, sua condição material e orgânica não é separável da linguagem. A
emergência do humano provém de uma anterioridade, origem da própria vida” (CZERESNIA,
2012, p. 124).
Esta construção teórico-metodológica traz um ponto crucial para o debate da
Geografia que temos empenhado por meio da interpretação do contexto geográfico, uma vez
que tomamos como ponto referencial os cursos de vida das mulheres vivendo com HIV/AIDS
e os decorrentes processos constituídos. Deste modo, o presente assunto nos aproxima da
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PEDROSO, M.F.; GUIMARÃES, R.B. Entre o normal e o patrológico existe Geografia: contribuições teóricas da Geografia da
Saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021,
Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.135-144. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN
1980-5829
Desenvolvimento e discussões
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Saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021,
Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.135-144. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN
1980-5829
Assim sendo, o corpo quando lançado ao mundo enquanto ser-aí se torna veículo para
as interpretações acerca da Geografia, Saúde e Doença intrínsecas a sua existência
(GUIMARÃES, 2019). Por isso é imprescindível que tenhamos a capacidade de olhar para
além do corpo, para que estabeleçamos com fidedignidade o que vem a ser normal e/ou
patológico para esse mesmo corpo (CANGUILHEM, 1990).
Considerar isso, automaticamente implica em relacionar os elementos gregários que
compõem a complexidade da vida dos sujeitos, suas dores, ações, gozo, reprodução; desde
seus aspectos físico-biológicos até os que garantem a corporeidade, gênero, etnia, condições
econômicas e culturais (GOMÉZ-ARIAS, 2018), que se constituem mutuamente de forma
contínua, uma vez que “os espaços de programação genética e de programação cultural
interagem produzindo o espaço da personalidade. O espaço da personalidade, uma vez
produzido, tende a reproduzir-se gerando referências de necessidade, conduta e motivação”
(SILVA, 1986, p. 127).
Tais colocações contribuem enquanto um marco que serve como ponto de partida para
outras reflexões, questionamentos e tensões que propõem distintas formas de pensar a saúde
(SEGRE; FERRAZ, 1997). É neste sentido que são válidos alguns esforços que se debruçam
sobre a saúde e suas conexões, visto que à saúde pode ser compreendida como valor e, por
sua vez configura o poder de decisão na elaboração de normas que interacionam e compõem
a produção do espaço (GUIMARÃES, 2019).
Isso nos direciona a pensar que, tanto as concepções de saúde como a de doença
não se constroem apenas no abstrato, ou seja, sem um lastro espacial e temporal que esteja
calcado no plano vivido (individual ou coletivo), pois “os sentidos da saúde e da doença são,
ainda, configurados social, histórica e culturalmente. Eles não estão isentos de crenças,
hierarquias, juízos de valores, conhecimentos e atitudes compartilhados em grupo”
(CZERESNIA; MACIEL; OVIEDO, 2013, p. 15). Estas interpretações assim colocadas
permanecem ancoradas no acontecer do fenômeno da vida interpretada pela confluência
existente entre a Saúde Coletiva e a Geografia (GUIMARÃES, 2016), que acabam sendo
percebidas pelos sujeitos a partir das posições que ocupam no mundo.
Segundo Guimarães (2015), essa se torna uma questão primordial que reposiciona os
sujeitos no centro do conhecimento geográfico, uma vez que entende que o centro do mundo
é uma construção social não definida e,
portanto, o que é Geografia, o que é Saúde e qual a relação entre esses
termos depende do contexto histórico e geográfico. Os meios são
contextos culturais e técnicos que expressam modos espaciais de existência.
O ente que é o homem tem a saúde como sua objetivação. Tal objetivação
se realiza na produção do meio geográfico (GUIMARÃES, 2015, p. 48, grifo
nosso).
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PEDROSO, M.F.; GUIMARÃES, R.B. Entre o normal e o patrológico existe Geografia: contribuições teóricas da Geografia da
Saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021,
Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.135-144. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN
1980-5829
Essa construção nos apresenta outras perspectivas que trazem consigo inúmeros
significados, o que acaba por reforçar a legitimidade de interpretarmos os contextos
geográficos produzidos e vivenciados pelos sujeitos, ao mesmo tempo em que possibilita
questionarmos de modo mais amplo sobre quais normas estão sendo pautadas? Quais são
as concepções de saúde e doença? E em quais contextos geográficos estão situadas e se
realizam?
Portanto, é partindo destes pressupostos que elaboramos reflexões acerca do normal
e do patológico tendo aporte empírico a interpretação da realidade de mulheres que vivem
com HIV/AIDS, visto que nos debruçamos sobre os problemas reais de saúde enfrentados
pelas pessoas (ALVES; PEDROSO; GUIMARÃES, 2019). Isso porque para nós o que
realmente importa é a contínua luta pela vida, dado que cremos que “[...] os sujeitos produzem
a sua própria geografia. Independentemente de pensarmos sobre as coisas, elas existem.
Aliás, só podemos estruturar nosso pensamento geograficamente porque na vida real há uma
geografia vivida” (GUIMARÃES, 2015, p. 47-48). Assim sendo, priorizamos o entrelaço das
vozes dessas mulheres que quando evocadas constroem diferentes saberes que, por vezes,
transitam e transcendem o científico.
Considerações finais
Por assim ser, a concepção de saúde e doença, sobretudo a de saúde, se torna algo
de difícil generalização, já que não adota um modelo cientificamente fundamentado (BASTOS,
2011), evidenciando assim um alto grau de complexidade no que tange seu entendimento,
pois a concepção de saúde, inerentemente, se mantém refletida pela “[...] conjuntura social,
econômica, política e cultural, ou seja, saúde não representa a mesma coisa para todas as
pessoas. Dependerá da época, do lugar, da classe social. Dependerá de valores individuais,
dependerá de concepções científicas, religiosas, filosóficas” (SCLIAR, 2007, p. 30), que em
constantes e distintas interações proporcionaram diversificados conceitos de saúde. Em
outros termos, saúde se concebe de forma relacional no espaço-tempo, situada no contexto
geográfico.
A proposta desse trabalho foi expressar a possibilidade de se desenvolver e
aprofundar construções que pautem as categorias espaço e saúde como centro da
compreensão dos fenômenos que afetam as pessoas e seus corpos, de modo que analise o
conjunto e proponha ações que estejam diretamente ligadas ao processo de saúde-doença e
a fundamentação das normas que regem as vidas dos sujeitos (GUIMARÃES, 2015; 2016).
Esta perspectiva contribui para compreendermos cada contexto geográfico que as
pessoas vivenciam, dado que a relação entre os corpos e espaços junto aos processos de
saúde-doença configuram o que vem a ser normal e/ou patológico, uma vez que a “[...]
distinção entre normal e patológico está claramente ancorada na reconstrução da experiência
do corpo, constituição de uma tecnologia de normatização do corpo a partir de uma estrutura
valorativa que guia a racionalidade clínica” (SAFATLE, 2011, p. 17-18). Deste modo, tais
reflexões nos fazem evidenciar pontos importantes, pois levantam questões acerca da
construção daquilo que entendemos por saúde no decorrer da vida, e quais são os modos
pelos quais fazemos isso.
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PEDROSO, M.F.; GUIMARÃES, R.B. Entre o normal e o patrológico existe Geografia: contribuições teóricas da Geografia da
Saúde. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021,
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PEREIRA, M.P.B. Metodologia da Pesquisa e Ensino: pesquisas realizadas pelo Pró-saúde Geo entre 2010-2020. In. Simpósio
Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande.
Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.145-155. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
ABSTRACT:
This text is a synthesis of the scientific initiation research work carried out by the Geo Pro-
Health Research Group between 2010 and 2020 and its applicability in undergraduate studies
in Geography at UFCG - Campina Grande campus; In this way, it aims to summarize the
research carried out between 2010 and 2020 related to the “Research Methodology and
Teaching” line by the Geo Pro-Health Research group; To make this synthesis feasible, the
following procedures were chosen: a) survey of references; b) analysis of scientific initiation
research carried out between 2010 and 2020 in the research line “Research and teaching
methodology” and c) documentary survey; As the main results for the research group, it was
noticed that these researches brought a greater dynamic in the use of theories, methodological
options and in relation to the organization of a better planned fieldwork. For the subjects, there
was an improvement in the quality of their theoretical content and enabled greater quality in
the theoretical-practical relationship, mainly in the execution of fieldwork. In summary, it is clear
that these researches, initially basic, have applicability both for teaching and for the research
group itself and potentially serve as a basis for extension projects.
1
Docente no curso de Geografia na UAG/ CH/ UFCG; mpbcila@yahoo.com.br.
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PEREIRA, M.P.B. Metodologia da Pesquisa e Ensino: pesquisas realizadas pelo Pró-saúde Geo entre 2010-2020. In. Simpósio
Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande.
Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.145-155. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
INTRODUÇÃO:
Este texto trata de uma síntese dos trabalhos de pesquisa realizados pelo grupo de
Pesquisa Pró-Saúde Geo na linha de pesquisa “Metodologia da pesquisa e ensino” e a
aplicação desses resultados no ensino da graduação entre 2010 e 2020 no âmbito do curso
de Geografia da UFCG, no campus de Campina Grande – PB. Este trabalho estaria mais
relacionado ao eixo “Dimensões históricas, teóricas e metodológicas da Geografia da Saúde”.
Quanto a classificação geral de pesquisas, estas estariam inseridas nas ciências humanas,
são pesquisas básicas e variam entre exploratórias e descritivas (GIL, 2010).
O Pró-Saúde Geo, ou Grupo de Pesquisa em Geografia para Promoção da Saúde
tem como principal objetivo elaborar projetos em caráter transdisciplinar na área de Políticas
Públicas e Saúde Ambiental aproximando o conhecimento geográfico com a saúde coletiva
(PRÓ-SAUDE GEO, 2021).
Ao longo de sua existência (2020-2021), tem elaborado trabalhos em quatro linhas
de pesquisa: a) arte de cuidar da saúde; b) metodologia da pesquisa e ensino; c) Políticas
Públicas voltadas à saúde e; d) Território, ambiente e saúde.
Este trabalho teve como objetivo fazer uma síntese das pesquisas realizadas entre
2010 e 2020 relacionadas a linha “Metodologia da pesquisa e ensino” pelo grupo de Pesquisa
Pró-Saúde Geo. Foram relacionados apenas os trabalhos dessa linha de pesquisa que foram
aprovados pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e Programa
Institucional de Voluntários de Iniciação Científica (PIVIC).
Este texto está dividido em duas partes, além desta introdução e das considerações
finais. Na primeira parte “Fundamentos teórico-metodológicos” foram apresentados os
procedimentos realizados na pesquisa e apresentados os fundamentos teóricos gerais das
pesquisas. No item “Resultados” foram apresentados os resultados de cada pesquisa, seus
fundamentos teóricos específicos e apresentadas as aplicabilidades destas pesquisas para o
próprio grupo de pesquisa e para algumas disciplinas do curso que tem maior relação com a
área teórico-metodológica ou com a Geografia da Saúde.
FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS:
As pesquisas escolhidas destacaram-se por evidenciarem delineamentos (GIL, 2010)
e métodos de procedimento (MARCONI & LAKATOS, 2010).
Com base em autores como Cervo, Bervian e Silva (2007), Marconi e Lakatos (2010),
Gil (2010) e Chizzotti (2011) os delineamentos e métodos de procedimento variam conforme
a fundamentação teórica, quantidade de locais ou instituições estudadas, quanto ao ambiente
em que são coletados, quanto ao envolvimento dos sujeitos pesquisados e quanto ao grau de
controle de variáveis. Devido a essa variedade de classificações é que se tem a possibilidade
de utilizar vários métodos ao mesmo tempo em uma única pesquisa e utilizar em vários tipos
de pesquisa, assim como não necessariamente se utiliza de todos esses critérios ao mesmo
tempo.
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PEREIRA, M.P.B. Metodologia da Pesquisa e Ensino: pesquisas realizadas pelo Pró-saúde Geo entre 2010-2020. In. Simpósio
Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande.
Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.145-155. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
RESULTADOS:
Os resultados das pesquisas consideradas foram distintos, sendo reunidas em um
quadro para melhor esclarecer o leitor (quadro 1). Dentre esses trabalhos, os que estão menos
relacionados à Geografia da Saúde seriam as pesquisas 1 “Desafios e potencialidades do
trabalho de campo nos cursos de Geografia nas Instituições de Ensino Superior da Paraíba”,
3 “Desafios e potencialidades do trabalho de campo nos cursos de Geografia em Instituições
de Ensino Superior no Brasil” e 7 “Trajetórias epistemológicas da Geografia: uma análise do
conceito de território nos estudos agrários”. Devido estarem mais distantes da proposta do
evento estes não serão considerados neste trabalho.
Desta forma, os trabalhos que estariam mais próximos à Geografia da Saúde seriam:
a) 2 “Conhecimento geográfico aplicado aos roteiros de campo em Geografia da Saúde no
município de Campina Grande – PB e municípios circunvizinhos”; b) 4 “Conhecimento
geográfico aplicado aos roteiros de campo em Geografia da Saúde no município de Campina
Grande – PB”; c) 5 “Teorias aplicáveis à Geografia da Saúde: uma revisão da literatura” e; d)
6 “Situação do Grupo de Pesquisa em Geografia da Saúde para Promoção da Saúde em
relação aos grupos de pesquisa em Geografia e Saúde no Brasil.” Estes trabalhos serão
denominados por números a partir deste momento.
QUADRO 01 – PESQUISAS REALIZADAS ENTRE 2010 E 2020 NO ÂMBITO DO PRÓ-SAÚDE GEO NA
LINHA “METODOLOGIA DA PESQUISA E ENSINO”
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PEREIRA, M.P.B. Metodologia da Pesquisa e Ensino: pesquisas realizadas pelo Pró-saúde Geo entre 2010-2020. In. Simpósio
Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande.
Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.145-155. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
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PEREIRA, M.P.B. Metodologia da Pesquisa e Ensino: pesquisas realizadas pelo Pró-saúde Geo entre 2010-2020. In. Simpósio
Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande.
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PEREIRA, M.P.B. Metodologia da Pesquisa e Ensino: pesquisas realizadas pelo Pró-saúde Geo entre 2010-2020. In. Simpósio
Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande.
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PEREIRA, M.P.B. Metodologia da Pesquisa e Ensino: pesquisas realizadas pelo Pró-saúde Geo entre 2010-2020. In. Simpósio
Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande.
Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.145-155. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
pesquisas sobre trabalho de campo (2 e 6), alguns dos locais incluídos já foram objeto de
Iniciação científica e mesmo de TCC.
Para as disciplinas entendeu-se que essas pesquisas foram fundamentais para a
melhoria da qualidade delas, ainda que não fossem diretamente a Geografia da Saúde. O
aproveitamento da pesquisa sobre teorias (5) foi que os alunos das disciplinas mencionadas
passaram a entender melhor as teorias e a se motivar a procurar teorias aumentando o acervo
de teorias que já eram trabalhadas nas disciplinas. Há discussão sobre sua aplicabilidade por
área de atuação da Geografia, em relação às problemáticas, e especificamente as teorias que
foram trabalhadas na pesquisa mencionada neste trabalho, eles buscam aplicabilidade para
suas pesquisas principalmente na área da Geografia Ambiental. No que diz respeito à
pesquisa sobre grupos de pesquisa (6) houve a possibilidade de mostrar a metodologia de
trabalho e, devido a pandemia, eles entenderam como uma ótima possibilidade de uso
aplicado às suas áreas de atuação como possibilidade de ter resultados consistentes, ainda
que tenha como base informações provenientes da internet. Com relação ao trabalho de
campo (2 e 4) tanto em sala de aula como em campo essas pesquisas trouxeram muitos
resultados positivos, seja por ter alunos que moravam em algumas dessas áreas, por inspirar
possibilidade de TCCs, por passarem a entender que o trabalho de campo deve ter uma base
teórico-metodológica inicial e um bom planejamento para que se aproveite melhor essa
metodologia no ensino (quadro 3).
QUADRO 03 – APLICABILIDADE DAS PESQUISAS ENTRE 2010 E 2020 DO PRÓ-SAÚDE GEO NA LINHA
‘METODOLOGIA DA PESQUISA E ENSINO’
ÁREA DE PESQUISAS
APLICABILIDADE PESQUISA SOBRE TEORIAS PESQUISA SOBRE GRUPOS PESQUISAS SOBRE
(5) DE PESQUISA (6) TRABALHO DE CAMPO (2 E
4)
GRUPO DE Auxílio aos alunos do grupo Identificação dos grupos de Identificação de novos
PESQUISA - PRÓ- de pesquisa a se pesquisa que atuam na área potenciais locais para
aprofundarem em relação às da Geografia e Saúde para realizar pesquisas.
SAÚDE GEO
teorias que se aplicam à buscar formas de conexão
Geografia da Saúde com esses grupos no futuro.
DISCIPLINA – Melhora do conhecimento de Identificação de Grupos de Identificação de locais para
GEOGRAFIA DA teorias e temáticas Pesquisa que estão atuando realização de visitas em
estudadas na disciplina na área da Geografia e da trabalho de campo
SAÚDE
Saúde no Brasil
DISCIPLINA – Aprimoramento sobre as As teorias utilizadas para a Utilização da discussão
TEORIA E MÉTODO características da teoria e pesquisa são apresentadas teórica sobre trabalho de
como diferenciar as teorias também aos alunos da campo na disciplina
EM GEOGRAFIA
mais bem elaboradas de disciplina, buscando novas
teorias incompletas ou sem aplicabilidades
fundamento adequado.
DISCIPLINA – Aproveitamento de algumas A metodologia utilizada na Utilização da discussão
PROJETO DE teorias trabalhadas na pesquisa compõe um dos metodológica do trabalho de
pesquisa para projetos exemplos de pesquisa. campo na disciplina
PESQUISA
específicos.
Fonte: Experiência da autora do trabalho no grupo e nas disciplinas citadas; Organização: a autora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
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PEREIRA, M.P.B. Metodologia da Pesquisa e Ensino: pesquisas realizadas pelo Pró-saúde Geo entre 2010-2020. In. Simpósio
Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande.
Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p.145-155. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
AGRADECIMENTOS:
Agradeço a todos os alunos que participaram destas pesquisas de Iniciação
Científica e contribuíram tanto para a melhoria do Grupo de Pesquisa quanto para o próprio
curso de Geografia no campus I da UFCG – Campina Grande – Paraíba - Brasil.
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155
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2021. p.156-167. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
ABSTRACT:
This article aims to make a theoretical discussion about the Geography of Health from the
understanding of Geography and Health as elements of domination and control throughout
human history. Thus, it was sought to demonstrate the link between Geography and Health
and the colonial influence on the development of the Geography of Health until the presente
day.
INTRODUÇÃO:
Atualmente a busca por uma interpretação geográfica dos fenômenos da saúde tem
se tornado um assunto de maior relevância e de maior interesse pelos estudantes e
profissionais de Geografia. Sobretudo após a eclosão da pandemia de COVID-19 em 2019.
Porém, atrelado a esse crescente interesse também surge um usual questionamento: “a
saúde é um elemento geográfico?”.
A fim de compreender a relação da saúde, enquanto formas de cura, saberes e seu
desenvolvimento social-científico, e a geografia, enquanto ciência ergueu-se o trabalho de
conclusão de curso, submetido ao Curso de Geografia da Universidade Federal Fluminense
ainda nesse ano de 2021. O presente trabalho compõe uma parte da pesquisa realizada e foi
desenvolvido junto ao Eixo de Estudos sobre Geografia da Saúde, Curas e Saberes, do
Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades – LEMTO/UFF, sob a
supervisão do Professor-Doutor Carlos Walter Porto-Gonçalves. Assim, por meio de uma
revisão bibliográfica de obras sobre o desenvolvimento da Geografia enquanto ciência e sobre
o desenvolvimento do pensamento em saúde/da geografia da saúde, pode se afirmar que a
saúde é um elemento geográfico desde os primórdios da ciência geográfica e seu
desenvolvimento caminha em conjunto com o desenvolvimento da Geografia.
1
Estudante de graduação em Geografia na Universidade Federal Fluminense, membro do Laboratório de
Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades – LEMTO/UFF; pehenrique@id.uff.br
156
ROCHA. P.H. A saúde como elemento de uma geografia da dominação. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
2021. p.156-167. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
A CIÊNCIA DA DOMINAÇÃO:
Pensar a Geografia enquanto parte da conformação da estrutura de saber e de poder
é retornar a célebre frase/título do clássico trabalho de Yves Lacoste, A Geografia – isso serve,
em primeiro lugar, para fazer a guerra (2011). Baseado nos ensinamentos de Lacoste,
sobretudo a diferenciação entre uma geografia do Estado-maior e uma geografia universitária,
para entender a real origem da Geografia, vemos que a ciência que nos pariu (e parimos)
existe “desde que existem os aparelhos de Estado” (2011:26). E que colocar a guerra como
ponto de partida das premissas epistemológicas da nossa ciência não implica afirmar que ela
só serve para conduzir operações militares, mas que ela também serve para organizar os
territórios, colocar as coisas em ordem (ordenação espacial). Ou, nas palavras do autor, “não
somente como previsão das batalhas que é preciso mover contra este ou aquele adversário,
mas também para melhor controlar os homens sobre os quais o aparelho de Estado exerce
sua autoridade” (2011:23).
Nesse sentido, entender que a geografia do Estado-maior de Lacoste é a
representação (científica) de uma forma de dominação de cima para baixo pelo poder Estatal
é, também, compreender que a Geografia foi criada num contexto de reorganização das
formas de controle social pelo Estado Territorial (Porto-Gonçalves, s/d). Lopes de Souza
(2007) e Porto-Gonçalves (s/d) nos atentam que o surgimento do geógrafo está vinculado a
uma atribuição criada pelo soberano, o Rei, para a composição das cidades e que o olhar de
sobrevoo, ou numa perspectiva de “voo de pássaro”, constitui uma prática de controle
populacional para uma melhor gestão do espaço geográfico. Espaço esse que carrega em
sua etimologia heranças/referências às relações sociais entre espaço e poder, como em
principado, reinado, régio/região, polis/política, burgo/burguês (Haesbaert, 2010; Porto-
Gonçalves, s/d).
Ainda que caminhando por outros trilhos, Moreira em Para onde vai o pensamento
geográfico (2017) também busca situar o nascimento e a evolução da Geografia, porém com
a atenção mais voltada ao que o mesmo denomina de geografia moderna. Recorrendo a
Tatham, Moreira expõem que a Geografia passa por três fases diferenciadas por fundamentos
filosóficos e paradigmas, a qual as denominou como: (I) o paradigma holista da baixa
modernidade, (II) o paradigma fragmentário da modernidade industrial e (III) o paradigma
holista da hipermodernidade.
157
ROCHA. P.H. A saúde como elemento de uma geografia da dominação. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
2021. p.156-167. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
Por meio desses paradigmas, Moreira apresenta o caminho percorrido pela ciência
geográfica desde a sistematização científica no plano teórico-metodológico por J. R. Foster
(1729-1798) e Immanuel Kant (1724-1804), a qual originou o conceito de espaço geográfico
por meio das diversas informações que haviam sido colhidas em todos os cantos do mundo e
a conversão delas pela noção empírica da superfície terrestre; passando pelo período de crise
do holismo e a fragmentação generalizada da ciência, o que resultou em um número crescente
de geografias sistemáticas (a qual é maior simbolizado pela dicotomia Geografia Humana e
Geografia Física); até chegar na “hominização do homem pelo próprio homem” e todo o
debate em torno da teoria e método que deveria ser empregado na ciência, que resultou na
“Geografia Crítica” como maior exemplo do período (atual).
Entretanto, a nós interessa nesse momento o primeiro paradigma de Moreira (2017),
pois por meio desse caminho também se confirma a tese de Lacoste (2011). Se unirmos isso
com o pensamento de Moraes (2005), compreendemos ainda mais que o paradigma holista
da baixa modernidade (ou, então, o primeiro pressuposto de sistematização e formação da
Geografia, nas palavras de Moraes) significa a reunião das mais variadas informações sobre
os mais variados lugares para a composição de um grande repositório com uma margem de
confiança razoável para a realização de estudos espaciais. Estudos esses, que num segundo
momento, são convertidos em cartas e mapas para auxiliar na formação de táticas, práticas e
estratégias para fazer a guerra e/ou exercer o poder (Lacoste, 2011).
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ROCHA. P.H. A saúde como elemento de uma geografia da dominação. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
2021. p.156-167. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
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Exemplos como o Iluminismo, a Revolução Estadunidense, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial.
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dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
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2021. p.156-167. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
3
A razão metonímica, tal como entendemos como figura de linguagem, corresponde a substituição da parte
pelo todo. Nas palavras de Santos (2002), a razão metonímia é aquela que a partir da cisão da totalidade “se
reivindica como a única forma de racionalidade e, por conseguinte, não se aplica a descobrir outros tipos de
racionalidade ou, se o faz, fá-lo apenas para as tornar em matérias primas”. Ou seja, é o tipo de racionalidade
que é obcecada pela totalidade sob a forma de ordem e que sempre a organiza de forma hierárquica
privilegiando a sua própria racionalidade.
4
A razão indolente, primariamente, é o tipo de razão que não sente dor. Mas além disso, é o tipo de razão que
não sente necessidade de aprender mais, pois se considera sabedor de tudo, uma racionalidade única e
hegemônica, e por isso perpetua sua forma de pensar desconsiderando qualquer alternativa contra
hegemônica, pois “o que está posto não é passível de luta” (SANTOS, 2002).
5
De acordo com Maldonado-Torres (2007), a colonialidade do ser é a forma de dominação e hierarquização
mais subjetiva entre todos os tipos/níveis de colonialidade. Assim, a colonialidade do ser está relacionada às
experiências vividas com a colonização e seus impactos na linguagem, no comportamento social e na visão de
mundo dos povos colonizados.
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ROCHA. P.H. A saúde como elemento de uma geografia da dominação. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
2021. p.156-167. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
constitutivas da modernidade cultural com a criação de uma cultura geral e uma cultura de
especialistas.
Tais separações se apresentam, na autoconsciência europeia, como ponto de partida
na constituição de uma narrativa universal (ou metarrelato) que organiza todas as culturas e
povos sob um entendimento de direitos, propriedade e o próprio papel do homem enquanto
agente no espaço geográfico. O contraste entre o moderno (europeu) e os outros (o restante
dos povos e culturas do planeta) ocorre a partir da negação do direito do colonizado pela
afirmação do direito do colonizador e/ou da negação do direito coletivo por um direito individual
(LANDER, 2005 apud CLAVERO, 1994). Nesse sentido, Lander (2005) afirma que as Ciências
Sociais nascem da derrota de uma resistência a esse direito do colonizador e se relacionam
a uma tentativa de cientificizar as sociedades, ou melhor, identificar quais espaços possuem
direitos.
A Geografia (da Saúde) também possui em sua história características coloniais. O
repositório de dados, referidos anteriormente - e também apontado por Kant como
possibilitador da compreensão do espaço geográfico - constitui as bases para a criação dos
mapas-múndi, a qual cumpre o papel de classificar os povos partindo de seu referencial
espacial (MALDONADO-TORRES, 2008) e indicar as populações/saberes que devem ser
enquadrados pela razão metonímica (LANDER, 2005; SANTOS, 2002).
Enrique Dussel (2005) contribui para o nosso entendimento pois compreende a
modernidade como sinônimo de eurocentrismo e a divide em dois conceitos: um provinciano
e regional - por se tratar de uma emancipação da imaturidade europeia pelo esforço da razão
como processo crítico, e por indicar os fenômenos europeus como pontos de partida –; e o
outro em uma visão de sentido mundial – consistida na determinação dos Estados, exércitos,
economia, filosofia e etc. europeus como centro da “história mundial”. Ambos os conceitos
validam a afirmação da modernidade como responsável pelo ocultamento de culturas e
saberes, seja por uma classificação forjada e/ou pelo uso da violência.
Aos olhos dessa modernidade, compreendida tal qual Mignolo (2005) expõe6,
construiu-se um culto exacerbado ao cientificismo como projeto de emancipação e única
explicação possível do real. “A afirmação da ciência como única forma de conhecimento válido
tem em sua origem não apenas razões de ordem epistemológica, mas também razões de
ordem econômica, social e política” (NOGUEIRA, 2018). Tal origem possibilitou a associação
com o projeto expansivo europeu e concedeu a ciência moderna ocidental, por meio de um
desenvolvimento técnico, o privilégio de definir o que é conhecimento válido e o monopólio da
verdade (OLIVEIRA, 2018; NOGUEIRA, 2018).
É nesse contexto sociocultural de produção do pensamento/ciência moderno(a) que
a saúde passa a se readequar ao contexto de controle/dominação de outrora e, assim,
apresenta a sua forma “moderna”, o modelo biomédico. Tal qual aponta Nogueira (2018), sua
consolidação ocorrer no seio dessa dita racionalidade nos permite apontar a ligação umbilical
que esse saber tem com a colonização e, por isso, a necessidade de resgatarmos as raízes
para entendermos as técnicas e tecnologias que foram construídas e legitimadas
6
“não pode haver modernidade sem colonialidade, a colonialidade é constitutiva da modernidade e não
derivativa” (2005:78)
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dimensões geográficas dos impactos e desafios das pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG,
2021. p.156-167. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Resgatar a trajetória de construção e desenvolvimento da Geografia enquanto
ciência e do pensamento voltado para a saúde se mostra importante pois se há interesse em
analisar a saúde pelos olhares da geografia e utilizar da geografia como uma ciência do e
para o social é mais importante ainda saber de onde partimos. Toda essa trajetória nos mostra
ao menos três períodos históricos-geográficos de utilização da saúde na geografia como uma
forma de dominação: (1) o período colonial e a construção dos repositórios de informações
para o auxílio na construção de táticas e estratégias do outro; (2) o período das revoluções e
da construção da medicina social de Foucault, onde as táticas e estratégias de dominação
passam a ser realizadas para o domínio da própria população e não necessariamente do
outro; e (3) o período de consolidação das tecnologias médicas e a afirmação do modelo
biomédico via colonialidade do poder, do saber, do ser, enfim, da colonialidade e da
modernidade.
Ainda que a narrativa hegemônica priorize e indique a Europa como berço do saber
e, consequentemente, berço do pensamento em saúde, não podemos ignorar o fato que a
afirmação disso só ocorreu em função da dominação da África, da América e da Ásia. Tal qual
Dussel (2005), Mignolo (2005) e Quijano (2005) apontam. Pois sem a dominação desses
continentes (de saber, de pessoas, de riquezas, etc.) a Europa não se consolidaria como
centro do mundo, não teria construído uma “autoconsciência europeia” e não conseguiria se
viabilizar e, assim, invisibilizar/inviabilizar outras formas de ser e de saber. É por meio desse
movimento que propomos esses três cortes espaço-temporais para compreender as formas
de dominação.
7
Em consonância com o pensamento de Porto-Gonçalves sobre a Geografia, a entendemos como verbo. Ou
seja, a Geografia é o ato de grafar (marcar) a Terra/Geo.
8
Exatamente os elementos que Quijano (2005) elege como constituintes da colonialidade do poder: raça,
trabalho e gênero.
163
ROCHA. P.H. A saúde como elemento de uma geografia da dominação. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde:
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2021. p.156-167. Disponível em https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
9
Vide os avanços da chamada 4ª Revolução da Medicina.
10
Baseado no pensamento de Enrique Leff, Porto-Gonçalves expõe que esse paradigma constitui uma
incessante busca pela unidade menor, mais simples, indivisível da matéria/do conhecimento/da vida.
164
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