Contribuiçõs Teóricas
Contribuiçõs Teóricas
Contribuiçõs Teóricas
CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS
E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS
E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
O Programa
na Educação Infantil
(PUFV EI)
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
© Fundação Sicredi, 2019
Edição
Fundação de Desenvolvimento Educacional e Cultural do Sistema de
Crédito Coopera vo – Fundação Sicredi.
Organizadores
Daniela Hae nger
Max Günther Hae nger
Desenvolvimento do Material
Ins tuto Criar Ltda.
Edição de Textos
Daniela Hae nger
Ilustrações
freepik.com
pixabay.com
S565c Sicredi
Contribuições teóricas e prá cas pedagógicas: o Programa A União
Faz a Vida na educação infan l (PUFV EI) / Daniela Hae nger; Max
Günther Hae nger (organizadores).-- 2ª. ed. Porto Alegre: Sicredi, 2019.
108p.
CDU 37-053.2
Caro(a) Leitor(a),
Você está iniciando a sua jornada no Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
(PUFVEI), cujo objetivo é a promoção de vivências, atitudes e valores de cooperação e
cidadania, por meio da aprendizagem baseada em projetos, contribuindo para a educação
integral das novas gerações. Os princípios do Programa – a cooperação e a cidadania –
projetam a nossa visão de mundo e orientam as nossas práticas: acreditamos que podemos
juntos transformar a realidade.
Esperamos que você aproveite ao máximo as nossas contribuições para ampliar o seu
olhar sobre a infância, aprofundar os seus conhecimentos e realizar as ações e práticas
pedagógicas do PUFV EI. Sua atuação nas escolas participantes do Programa fará toda a
diferença para construirmos um futuro melhor por meio da Educação Infantil.
Fundação Sicredi
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
SUMÁRIO
Apresentação
A Metodologia do Programa A União Faz a Vida para a Educação Infantil ................................................................................................. 9
Fundação Sicredi
2. 6 Atuação Docente: um diálogo sobre o processo de formação dos educadores da Educação Infantil .............. 73
Profa. Ms. Jussara Cristina Mayer Ceron
Apresentação
O Programa A União Faz a Vida vem ampliando de modo substancial a sua área de
influência no âmbito da educação básica, em centenas de escolas, localizadas em diversos
estados brasileiros. Sua proposta metodológica está baseada nos princípios das pedagogias
ativas, particularmente, na pedagogia por projetos de trabalho. Esse aporte considera que a
criança aprende mediante sua experiência ativa no mundo social e em interação com outras
crianças e com os adultos.
A pedagogia por projetos valoriza as curiosidades das crianças sobre o mundo que as
cerca, mobilizando os conhecimentos escolares para auxiliar na elucidação de suas
perguntas e de seus interesses de aprendizagem. Nesse sentido, o Programa A União Faz a
Vida propõe uma verdadeira pedagogia da pergunta (Freire, 1985), oportunizando a formação
do espírito científico e do cidadão democrático. Professores (as), familiares e outros atores
sociais fazem parte do esforço coletivo em prol da construção de uma educação de qualidade,
visando favorecer as aprendizagens, o fortalecimento do espírito comunitário e da
democracia.
Um dos grandes inspiradores das pedagogias ativas foi John Dewey. O pensador
compreendia que a criança em idade escolar teria quatro “impulsos naturais” que deveriam
ser desenvolvidos mediante a experiência da criança com o mundo social: o impulso de
comunicar, o de construir, o de indagar e o de expressar-se. Dewey compreendia que o
exercício necessário para o crescimento da criança se dá mediante a experiência ativa que ela
estabelece com aspectos da vida social que são de seu interesse, por meio da resolução de
problemas e do favorecimento da expressão de suas curiosidades (Cf. Westbrook, 2010).
Dewey postulava que uma educação escolar eficaz necessita de um professor atento,
um professor que possa auxiliar as crianças a desenvolverem seus impulsos criativos,
orientando-as rumo às aprendizagens científicas, históricas e artísticas. É importante
considerar que as crianças não são de modo algum passivas nesse processo. À medida que
são inseridas na cultura, elas também a reconstroem mediante suas necessidades e suas
atividades. Dewey concebe o conhecimento como fruto dos esforços humanos e coletivos,
fruto dos esforços para a resolução de situações-problema que a experiência social
apresenta. Considerava a escola uma instituição importante para a formação integral dos
educandos, afirmando que os conhecimentos por ela mediados deveriam estar a serviço da
democracia, do bem-estar da comunidade e de toda a sociedade.
9
O Programa
O Programa
A União
A Faz
União
a Vida
Faz a
naVida
Educação
na Educação
InfantilInfantil
promovidas pelo Programa A União Faz a Vida em todos os segmentos educativos, e são
basilares para a promoção de uma escola ativa, que convida as crianças a explorarem o
mundo que as cercam, a formularem hipóteses e a aprenderem os procedimentos que lhes
permitem responder às suas perguntas e curiosidades. No entanto, são necessárias algumas
adaptações dessa perspectiva pedagógica tendo em vista as diferentes faixas etárias
atendidas pelas redes de educação básica.
Mesmo que todo percurso da Educação Infantil enfatize a vida cotidiana como
currículo, observam-se diferenças nas dimensões e experiências a serem trabalhadas em
cada etapa de aprendizagem, como será apresentado a seguir.
Quais seriam as dimensões que devem ser consideradas para a oferta de experiências
de aprendizagem de qualidade para os Exploradores de si no mundo? Segundo Fochi,
Drechsler, Foestein e Cavalheiro (2017), Emmi Pikler (1902 - 1984), médica e estudiosa da
infância no período pós II Guerra Mundial, considerava que a escola deveria valorizar quatro
dimensões importantes para a constituição de um espaço privilegiado para o(s) bebê(s): a) a
valorização da atividade autônoma e do movimento livre – a exploração dos espaços,
materiais e interações sociais; b) as atividades de atenção pessoal – cuidados com o sono,
com a higiene, com a nutrição; c) o acolhimento – o contato afetivo com o adulto que o
10
Contribuições
Contribuições
Teóricas
Teóricas
e Práticas
e Práticas
Pedagógicas
Pedagógicas
No âmbito do Programa A União Faz a Vida, de modo distinto do que ocorre no Ensino
Fundamental, a pergunta exploratória é elaborada pelo(a) professor(a) a partir da
observação atenta de elementos importantes do currículo emergente: ou seja, as
necessidades e curiosidades dos bebês. No caso específico do trabalho com esse segmento
etário, a formulação da pergunta exploratória expressa as inquietações que os(as)
professores(as) têm com relação à qualidade da oferta das experiências necessárias para o
desenvolvimento integral dos bebês sob sua responsabilidade. Assim, a pergunta
exploratória, elaborada pelo(a) educador(a), nesse caso particular, poderia ser a seguinte: a
organização dos espaços e materiais na sala de aula atende às necessidades dos bebês?
Favorece sua autonomia e a interação com os outros coleguinhas? Nesse caso, o projeto teria
por objetivo a garantia e a melhoria da oferta de materiais e da organização dos espaços,
tendo em vista as necessidades de exploração, de movimentação e as interações sociais dos
bebês.
11
O Programa
O Programa
A União
A Faz
União
a Vida
Faz a
naVida
Educação
na Educação
InfantilInfantil
É preciso considerar que os bebês de zero a 1 ano e 6 meses de idade aprendem sobre si e
sobre o mundo por meio da exploração livre dos materiais, por meio de interações livres em
espaços seguros, organizados por adultos de modo a garantir o pleno desenvolvimento das
capacidades das crianças. Como apontam Fochi e Barbosa (2015, p. 63),
12
Contribuições
Contribuições
Teóricas
Teóricas
e Práticas
e Práticas
Pedagógicas
Pedagógicas
e) a construção dos registros dos elementos que mais chamaram a atenção das
crianças durante a expedição investigativa;
13
O Programa
O Programa
A União
A Faz
União
a Vida
Faz a
naVida
Educação
na Educação
InfantilInfantil
Referências
BRASIL. (2018). Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – Educação é a Base.
Brasília, MEC. Disponível em http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-
content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf
FOCHI, P.; DRESCHSLER, C. F. B.; FOESTEN, P.; CAVALHEIRO, C. (2017). A pedagogia dos detalhes para o
trabalho com bebês na creche a partir dos pressupostos de Lóczy. In: Olhares, Guarulhos, v.5, n.1,
p.35-49, maio 2017.
FOCHI, P.; BARBOSA, M. C. S. (2015). Os bebês no berçário: ideias – base. In: FLORES, M. L.R.,
ALBUQUERQUE, S. S. (Orgs). Implementação do Proinfância no Rio Grande do Sul: perspectivas
políticas e pedagógicas. Porto Alegre, EDIPUCRS.
FREIRE, Madalena. (2011). A paixão de conhecer o mundo. São Paulo, Paz e Terra.
FREIRE, Paulo. (1985). Por uma Pedagogia da Pergunta. Paulo Freire e Antonio Faundez. Coleção
Educação e Comunicação, v. 15. Rio e Janeiro, Paz e Terra.
KATZ, L.; CHARD, S. (1997). A abordagem de projeto na educação da infância. Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkian.
WESTBROOK, R. B.; TEIXEIRA, A.; ROMÃO, J. E.; RODRIGUES, V. L. (Orgs.). (2010). John Dewey. Recife,
Fundação Joaquim Nabuco/Ed. Massangana.
14
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
CONCEITOS
DE BASE NA
EDUCAÇÃO
INFANTIL
Parte 1
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Ellen Key (2015) denominou o século XX como o Século da Criança pelo fato de
elas terem, neste momento da história ocidental, assumido um destacado lugar
como sujeito social. Um dos grandes responsáveis por essa conquista foi Janusz
Korczak (1984), médico e pedagogo polonês, que esboçou o primeiro documento
mostrando aos adultos o quanto as crianças tinham especificidades próprias, não
sendo apenas adultos em miniatura. A tarefa inicial desse movimento foi dar
visibilidade às crianças e comprometer os adultos com a dignidade da vida das
mesmas.
Após a Segunda Guerra Mundial, com toda a sua violência, foi elaborada a
Declaração Universal dos Direitos do Homem pela ONU (1948), porém, alguns
representantes dos países membros consideraram que as crianças necessitavam de
um documento específico, devido às especificidades de sua faixa etária. Assim foi
promulgada, em 1959, a Declaração dos Direitos das Crianças, apontando o papel da
sociedade de proteger as crianças, que devem ter prioridade e atenção privilegiada, e
de assumir a responsabilidade pelo direito à provisão seja de alimentos, segurança,
educação, recreação, dentre outros. Em 1989, foi realizada uma revisão da
Declaração e escrita a Convenção dos Direitos das Crianças, que detalha vários
aspectos dos seus direitos e acrescenta a perspectiva da participação das crianças
nas decisões relativas à sua própria vida. Finalmente, o reconhecimento das
crianças como atores sociais concretos, pessoas capazes de pensar, imaginar, falar,
brincar, discutir, decidir, isto é, a serem vistas como seres humanos integrais,
sujeitos de direitos.
17
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
As crianças são seres humanos que se caracterizam como grupo social. São
pessoas que estão fazendo as suas iniciações no mundo em que vivemos, elas estão
apreendendo o mundo pela primeira vez. Em determinado ponto de seu
desenvolvimento, os meninos e as meninas deixam de ser crianças e se
transformam em jovens ou adultos. A idade em que isso acontece é variável, cada
sociedade define de acordo com sua cultura, em suas normativas e leis. No Brasil,
segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, elas deixam de ser crianças aos 12
anos; em outros países, pode ser aos 18 ou 20 anos.
O historiador Philippe Ariès (1978) foi o primeiro a afirmar que a infância não era
uma realidade natural ou um conceito universal, nem uma categoria generalizável,
mas uma construção social que se modificava no tempo e no espaço. Também a
antropologia reconheceu a presença das crianças mostrando como elas fundam
suas culturas infantis a partir dos modos como participam e interagem com o mundo
natural e simbólico (COHN, 2005; ROGOFF, 2005).
18
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
As belas palavras Aldo Fortunati (2009, p. 8), no poema “Por uma ideia de
Criança”, sintetiza a atual concepção de criança:
19
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
A imagem de criança ilustrada nesse poema, com base nas atuais concepções
de criança e infância, mostra-nos que é possível rever e potencializar toda a
proposta pedagógica de uma escola, desde a organização do dia a dia, da reflexão
sobre currículo, até repensar qual imagem queremos construir para o adulto
educador.
Referências
ARIÈS, Phillipe. (1989). História social da Criança e da família. Rio de Janeiro, Zahar.
GOTTLIEB, Alma. (2009). Para onde foram os bebês? Em busca de uma Antropologia de
bebês (e de seus cuidadores). São Paulo, Revista de Psicologia USP. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/pusp/v20n3/v20n3a02.pdf
GOTTLIEB, Alma. (2012). Tudo começa na outra vida: A cultura dos recém-nascidos no
oeste da África. São Paulo, UNIFESP.
20
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
21
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
22
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
No início do século XX, John Dewey (1967) já criticava as escolas que fixavam
sua atenção mais na importância e na sequência das matérias do programa do que
no conteúdo da experiência da própria da criança. Tais escolas, segundo o autor,
deixavam de lado a vida da criança, as particularidades individuais, as fantasias e as
experiências pessoais da criança, subordinando “a vida e a experiência da criança ao
programa”, transformando “estudo” em fadiga e “lição” em tarefa (DEWEY, 1967, p.
45-46).
Referências
BRASIL. (2009). MEC/ SEB/COEDI. Práticas cotidianas na educação infantil - bases para a
reflexão sobre as orientações curriculares. Consultora Maria Carmen Silveira Barbosa.
Brasília, MEC. Disponível em
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/relat_seb_praticas_cotidianas.pdf
23
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
25
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
John Dewey (1967) criticava a oposição entre ter atenção às experiências e aos
interesses das crianças e a existência de um programa ou estudo sistemático. Para o
autor, não são oposições, mas uma linha contínua. Os conhecimentos científicos
podem apoiar o professor visando à continuidade da experiência, para torná-la mais
rica e complexa. Não há uma oposição entre a experiência da criança e os saberes e
conhecimentos sistematizados pela cultura.
26
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Ser professor/a em uma escola de Educação Infantil significa estar junto com
as crianças procurando estabelecer conexões entre os mundos cotidianos onde elas
vivem, criam experiências, estabelecem relacionamentos, formulam perguntas,
expressam suas dúvidas e inventam modos de ser criança, com as histórias criadas
pela humanidade para conhecer e explicar o mundo, com as brincadeiras
tradicionais e universais que nos ligam, com a observação e preservação da
natureza, com as possibilidades expressivas e comunicativas da arte e da cultura,
com as construções científicas e tecnológicas do mundo e, principalmente,
oferecendo tempo e espaço para a palavra, a conversa, o diálogo – prática
fundamental para a vida em cooperação e em solidariedade.
Referências
FREIRE, Madalena. (1998). A paixão de conhecer o mundo. São Paulo, Paz e Terra.
27
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
20
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
29
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Silva (2012, p. 218) explica que o corpo é um retrato, uma radiografia do social,
portanto, se entendermos a Infância como construção social, sem dúvidas o corpo é
algo que tem uma dimensão cultural, política e histórica, e tem um objeto de
investimento coletivo, marcado por práticas, distinção e discursos – o corpo da
criança como um corpo-objeto.
Arroyo (2011) afirma com propriedade que a relação de poder que envolve os
currículos não pode ser considerada como um território somente de disputas de
concepções teóricas. A disputa atual se constitui pelos sujeitos da ação educativa –
educando e educador – a serem considerados como sujeitos de experiências sociais
e de saberes que requerem estar presentes no currículo.
30
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Relação corpo-espaço
31
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
vivenciar todas essas experiências. A cultura corporal é uma cultura muito forte. O
corpo se manifesta em movimentos criativos e críticos, possuindo um elemento que
contribui para o pensamento da criança. Tudo aquilo que faz a criança trabalhar com
o corpo também trabalha o seu pensamento.
Quem não brincou daquele cabo de ferro, o jogo em que você vai puxando uma
corda, cada um de um lado, e a força que você estabelece representa todo um
movimento de equipe, grupo, intenção, que são construções que a criança está
realizando, não só fisicamente mas mentalmente e relacionalmente. Nesse
momento, a criança é um todo e a gente fala o tempo todo da integralidade do ser. É
impossível falar da integralidade do ser sem trazer os corpos, sem trazer essa
referência.
32
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
33
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Referências
ARROYO, Miguel G. (2011). Currículo, território em disputa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
ARROYO, Miguel G.; SILVA, Maurício R. da (Orgs.). (2012). Corpo Infância – exercícios tensos
de ser criança por outras pedagogias dos corpos. Petrópolis, Vozes.
COUTINHO, Angela Maria Scalabrin. (2012). O corpo dos bebês como lugar do verbo. In:
ARROYO, Miguel G.; SILVA, Maurício R. da (Orgs.). Corpo Infância – exercícios tensos de ser
criança por outras pedagogias dos corpos. Petrópolis, Vozes.
MALAGUZZI, Loris. (2016). In: EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella; FORMAN, George. As Cem
Linguagens da Criança: a abordagem de Reggio Emília na Educação da Primeira Infância.
Vol. 1. Trad. Dayse Batista. Porto Alegre, Artmed.
34
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
APORTES
TEÓRICOS E
METODOLÓGICOS
DO PUFV PARA A
EDUCAÇÃO
INFANTIL
Parte 2
27
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
28
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
37
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
38
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
39
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Katz e Chard (1997) entendem que a inclusão de projeto num currículo para a
Educação Infantil promove o desenvolvimento intelectual das crianças por meio do
envolvimento de suas mentes. O termo mente “engloba não só os conhecimentos e
capacidades, mas também a sensibilidade emocional, moral e estética” (idem, p.6). É
preciso criar situações por meio das quais as crianças possam ter experiências que
as auxiliem a explorar um tema que expresse seus interesses sobre o mundo.
Construir espaços e arranjos materiais para que as crianças possam brincar por
meio dos jogos dramáticos com os temas que lhes interessam é uma das etapas
importantes para o desenvolvimento de aprendizagens por meio dos projetos.
Podem ser construídos espaços peculiares, que constituem a base material para a
exploração dos temas de interesse, o que se dá por meio dos jogos dramáticos. Por
exemplo, em conjunto com o professor podem construir casas, construir um ônibus
escolar, um navio, organizarem lojas de departamentos, pet shop, bancas de feiras
livres, habitats de animais, o funcionamento de um aeroporto e dos aviões,
construírem pequenas fazendas, mimetizarem a rotina de um hospital, etc.
40
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Segundo Katz e Chard (1997), o trabalho de projeto não deve substituir todas as
práticas infantis que se dão na escola, nem constituir a totalidade do tempo vivido na
sala de aula, porém, deve-se entender o projeto como uma parcela significativa do
programa educativo da escola de Educação Infantil. O trabalho de projeto deverá
“complementar e intensificar aquilo que as crianças mais novas aprendem com a
brincadeira espontânea assim como com a instrução sistemática” (idem, p.10). Ou
seja, a origem do tema do projeto se dá por meio das observações do professor sobre
os temas que emergem dos jogos espontâneos das crianças, bem como podem se
originar da intenção do professor de provocar seus interesses para temas que
julguem relevantes e que estejam em íntima relação com os direitos da criança, suas
necessidades e possibilidades de aprender.
41
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
42
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
O sentimento de comunidade
[...] o que tenho observado, sentido nas crianças (e em mim), como reflexo
de nosso trabalho, é um grande entusiasmo, os desafios sendo
enfrentados com alegria e prazer. O que nos dá a certeza de que a busca do
conhecimento não é, para as crianças, preparação para nada, e sim vida
aqui e agora (FREIRE, 2007, p. 50).
43
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Duração e etapas
Por fim, os projetos são concluídos com um rito de fechamento, por meio do
qual são reconhecidas e celebradas as experiências compartilhadas (cf. SILVA e
FERREIRA, s.d.). Assim, se o projeto comumente se origina dos jogos espontâneos da
criança, mas não exclusivamente, o seu desenvolvimento é fruto de um
planejamento conjunto.
44
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Referências
FREIRE, Madalena. (2011). A paixão de conhecer o mundo. São Paulo, Editora Paz e Terra.
OLIVEIRA, Zilma M. Ramos de. (1994). Discutindo uma experiência americana de educação
infantil: a escola Bank Street. In: ROSENBERG, F.; CAMPOS, M. M. Creches e pré-escolas no
Hemisfério Norte. São Paulo, Cortez/Fundação Carlos Chagas.
RINALDI, Carlina. (1999). O currículo emergente e o construtivismo social. In: EDWARDS, C.;
GANDINI, L.; FORMAN, G. As cem linguagens da criança – A abordagem de Reggio Emilia
na educação da primeira infância. Vol. 1. Porto Alegre: Ed. Artmed.
SILVA, Sandra C. V.; FERREIRA, Valéria S. Educação infantil e projetos: uma questão de
currículo ou método? (mímeo, s.d.).
WESTBROOK, Robert B.; TEIXEIRA, Anísio; ROMÃO, José E.; RODRIGUES, Verone L. (Orgs.).
(2010). John Dewey. Recife, Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana.
VIGOTSKY, Lev S. (2007). A formação social da mente. São Paulo, Editora Martins Fontes.
45
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
47
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
objetivos. Elas não aprendem somente por respostas prontas e dadas pelo
professor, mas por meio de experiências que ele lhes proporciona, pela
problematização dos objetos de conhecimentos e ações desencadeadas na busca de
respostas e soluções, por exemplo.
48
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
O portfólio pode ser outro instrumento que nos auxilia, por exemplo, no
registro de: foco (aprendizagem); postura de investigação; intervenção do educador;
pesquisas (biblioteca da escola, em casa em diferentes fontes); socialização de
descobertas; falas dos educandos (síntese das ideias); produções escritas
(individual com interferência, individual sem interferência, em duplas, coletiva);
momentos de leitura (perguntas, respostas, participação ativa).
49
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
É preciso ter clareza de que a criança é uma potência. Se o educador não tiver
essa concepção, a criança termina a atividade ainda querendo fazê-la, com a
sensação de não ter concluído o processo, com a sensação de não ter feito o que foi
proposto. Nesse sentido, o profissional precisa exercitar o desenvolvimento que
Freinet chama de tateamento sensível – tatear as experiências para perceber onde é
que as crianças realmente estão mais atentas, de onde é que vem a pergunta, quais
são os seus sentimentos e as suas observações (FREINET, 1979 apud ELIAS &
SANCHES, 2007), em cada momento, considerando os objetos de conhecimento, a
sua relação com o espaço e com as pessoas.
John Dewey nos traz algumas contribuições, que são os princípios de intenção,
situação-problema, ação, real experiência anterior, investigação científica,
integração e celebração do saber (DEWEY, 1959 apud, PINAZZA, 2007), a serem
aplicados na realização dos nossos projetos com as crianças pequenas.
50
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Nos três modelos PUFV EI, a exploração que a criança faz – de si, do mundo e da
investigação – tem alguns pontos comuns. É nas culturais infantis – brincadeiras e
interações – que se dá o processo de apropriação do conhecimento da criança, e a
vida cotidiana é a grande fonte dessa relação – o currículo da criança e o currículo
51
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
infantil, porque é a sua própria vida que ela vai relacionar a tudo aquilo com que está
interagindo na Escola da Educação Infantil.
Referências
BRASIL. (2018). Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, MEC.
ELIAS, Marisa Del Cioppo; SANCHES, Emília Cipriano. (2007). Freinet e a pedagogia – uma
velha idéia muito atual. In: OLIVEIRA-FORMOSINHO, Júlia; KISHIMOTO, Tizuko Morchida;
PINAZZA, Mônica Appezzato (Orgs.). Pedagogia(s) da Infância: Dialogando com o
Passado: Construindo o Futuro. Porto Alegre, Artmed.
KATZ, Lilian G. (2005). A construção de sólidos fundamentos para as crianças. In: HELM,
Judy Harris; BENEKE, Sallee (Orgs.). O Poder dos Projetos – novas estratégias e soluções
para a educação infantil. Porto Alegre, Artmed.
__________ . (1999). O que podemos aprender com Reggio Emilia? In: EDWARDS, Carolyn;
GANDINI, Lella; FORMAN, George. As Cem Linguagens da Criança – A abordagem de
Reggio Emilia na Educação da Primeira Infância. Vol.1. Porto Alegre, Artmed.
PINAZZA, Mônica Appezzato. (2007). John Dewey: inspirações para uma pedagogia da
infância. In: OLIVEIRA-FORMOSINHO, Júlia; KISHIMOTO, Tizuko Morchida; PINAZZA, Mônica
Appezzato (orgs.). Pedagogia(s) da Infância: Dialogando com o Passado: Construindo o
Futuro. Porto Alegre, Artmed.
52
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
RINALDI, Carla. (2002). Reggio Emília: a Imagem da Criança e o Ambiente em que Ela Vive
como Princípio Fundamental. In: EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella. Bambini: A abordagem
italiana à educação infantil. Porto Alegre, Artmed.
53
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Questões cotidianas
55
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Nos projetos do Programa A União Faz a Vida para a Educação Infantil, temos o
campo cognitivo sendo desenvolvido a partir do olhar atento do professor ao que
56
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
57
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
O adulto deve nominar a emoção que ele próprio sente no decorrer do dia,
e, se possível, ajudar as crianças a fazerem o mesmo. Exemplo: “Puxa, o
capricho e empenho de vocês faz meu coração bater mais forte de alegria
e orgulho!” ou “Quando outro professor da escola me diz que teve
dificuldade de dar aula para vocês, fico muito triste, com vontade de
chorar...”, sempre colocando a mão na parte do corpo onde essa emoção se
manifesta (peito, barriga, cabeça, etc.).
58
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Referências
BOFF, Leonardo. (1997). A Águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis,
Vozes.
CLAXTON, Guy. (2005). O desafio de aprender ao longo da vida. Porto Alegre, Artmed.
NARANJO, Claudio. (2015). Mudar a Educação para Mudar o Mundo: o desafio do milênio.
Brasília, Verbena.
WALLON, Henri. (2007). A Evolução psicológica da criança. São Paulo, Martin Fontes.
59
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
61
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
importante de sua teoria é designada como “culturalismo” (Bruner, 2000, p. 19), que
se refere à “proposta de que a mente é simultaneamente constituída e realizada no
uso da cultura humana” (idem, p. 17). O autor reafirma a cultura como a dimensão de
referência do trabalho pedagógico, e destaca o diálogo do desenvolvimento
cognitivo e relacional com o aparato cultural proposto pela educação escolar. Esta
visão que valoriza a cultura e a sociedade reflete-se na importância da comunidade
de aprendizagem nos projetos realizados pelas crianças no Programa A União Faz a
Vida.
Abordagem conceitual
Principais tópicos
e autores
62
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
63
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
64
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Disponível em https://www.psicologiaexplica.com.br/jerome-bruner/,
pesquisado em 20/02/2018.
65
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
0 ...... 1....... 1.5 ...... 2 ....... 2.5 ..... 3 ...... 3.5 ...... 4 ...... 4.5 ...... 5 ...... 5.5 ...... 6
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
66
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Referências
ALVES, Rubem (2003). A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir.
5ª ed. São Paulo, Papirus.
BLOOM, B. S. et al. (1956). Taxonomy of educational objectives. Vol.1. New York, David
Mckay.
BRASIL. (2018). Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, MEC.
HAETINGER, Max G. (2003). O Universo Criativo da Criança na Educação. Porto Alegre, Inst.
Criar.
67
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
PIAGET, Jean. (1971). A Formação do Símbolo na Criança: imitação, jogo e sonho, imagem e
representação. Rio de Janeiro, Zahar.
68
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Para que a Educação Infantil realmente cumpra com seus objetivos, sabe-se
que é preciso o funcionamento de toda uma estrutura que envolve estado, sistemas
de ensino, escolas, educadores, famílias e sociedade em geral, embora o papel
fundamental seja cumprido pela escola e pelos educadores, uma vez que estão mais
diretamente envolvidos no trabalho diário com as crianças.
69
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
70
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
De acordo com Piaget (1971), "Quando brinca, a criança assimila o mundo à sua
maneira, sem compromisso com a realidade, pois a sua interação com o objeto não
depende da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribui” (idem, p. 67).
A brincadeira tem função importante no desenvolvimento social e intelectual da
criança, pois cria oportunidades para ela produzir comportamentos e,
posteriormente, reproduzi-los em situações diversas do seu dia a dia,
principalmente no que tange às relações com os outros. Por isso, a estimulação do
brincar e das brincadeiras deve ser constante, principalmente, nas instituições de
Educação Infantil, oferecendo-se, por meio do brincar, a oportunidade de a criança
criar mecanismos de relacionamento enquanto sujeito social e cultural.
71
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
estimula e cria condições para que a criança, por si mesma, possa escolher
brinquedos ou parceiros num ritmo próprio, mesmo que diferente de outras, sem
pressões ou expectativas dos adultos a serem cumpridas. “O papel dos professores
é o de ampará-las, de conversar com elas, de dar-lhes todo afeto e orientação
necessários, organizando e propondo ricas oportunidades de aprendizagem”
(HOFFMANN, 2014, p. 73).
Referências
PIAGET, Jean. (1999). A linguagem e o Pensamento da criança. 7ª ed. São Paulo, Martins
Fontes.
72
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
73
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
públicas, e também em uma das ações formativas do Programa a União Faz a Vida. O
compromisso da Educação Infantil é desenvolver uma prática pedagógica que
proporcione a criança estabelecer contato com o mundo de possibilidades
exploratórias. Neste sentido, os fazeres dos educadores devem promover a
ampliação dos conhecimentos sobre natureza, sociedade, cultura e todos os
processos que envolvem a criança, cotidianamente.
74
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Referências
BRASIL. (2017). Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Terceira versão.
Brasília: MEC.
75
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
GARCÍA, Carlos Marcelo. (1999). Formação de professores: para uma mudança educativa.
Porto: Porto Editora.
KISHIMOTO, Tizuka Morchida. (1999). Jogos Infantis: o jogo, a criança e a educação. 6ª ed.
Petrópolis: Vozes.
MALAGUZZI, L. (1999). História, Ideias e Filosofia Básica. In: EDWARDS, C; GANDINI, L.;
FORMANN G. As cem linguagens da criança. Porto Alegre: Artmed.
76
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
PRÁTICAS
pedagógicas para A
escola da infância
Parte 3
69
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
O brinquedo possui muitas das características dos objetos reais, mas, pelo
seu tamanho, pelo fato de que a criança exerce domínio sobre ele, pois o
adulto outorga-lhe a qualidade de algo próprio e permitido, transforma-se
no instrumento para o domínio de situações penosas, difíceis, traumáticas,
que se engendram na relação com os objetos reais. Além disso, o brinquedo
é substituível e permite que a criança repita, à vontade, situações
prazenteiras e dolorosas que, entretanto, ela por si mesma não pode
reproduzir no mundo real (Idem, p. 15).
¹ Donald Woods Winnico (1896 – 1971): Pediatra e Psicanalista que se dedicou ao estudo do desenvolvimento humano, em especial nas
relações familiares com os bebês e as crianças, dando ênfase à relação mãe e bebê e a sequência do seu desenvolvimento. Sua obra consiste em
mais de 10 livros referências para a Psicanálise e a compreensão do Desenvolvimento Infan l. No presente ar go destacamos a obra “O Brincar e
a Realidade”, referenciada algumas vezes ao longo do texto.
79
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
80
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
No brincar há sempre uma história sendo contada que fala das raízes, das
origens e dos movimentos dos seres humanos [...] Ocorre na infância um
processo de produção e reprodução cultural: um sistema simbólico
acionado pelos atores sociais a cada momento, para dar sentido às suas
experiências, o que faz com que as pessoas possam viver em sociedade,
compartilhando sentidos formados a partir de um mesmo sistema
simbólico. A cultura está sempre em transformação e mudança
(FRIEDMANN, 2012, p. 88).
Referências
ABERASTURY, Arminda. (1992). A criança e seus jogos. 2ª ed. Porto Alegre, Artmed.
81
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
83
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
84
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
85
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Referências
HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. (1973). Família. In: Temas básicos da sociologia. São Paulo,
Cultrix.
86
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Era uma vez um menino que sempre ouviu histórias contadas pelos ávidos
leitores e escritores de sua família, e pelas entusiastas professoras que foi
encontrando no caminho. Um menino rodeado por histórias escritas, reescritas e
contadas de improviso. Apesar disso, não gostava de ler. Como pode? Com tantos
exemplos não gostar de ler? Ora, cada um tem seu tempo e sua história... Esse
menino, aos 9 anos de idade, com a ajuda de uma madrinha leitora, compreendeu que
ler era como ver um filme na cabeça e isto mudou tudo para ele.
Desde muito cedo a criança já é capaz de imaginar e brincar com o “jogo do faz
de conta”. Esta brincadeira simbólica é fundamental no desenvolvimento humano
que se dá a partir da interação com outras pessoas, mas também na relação com
livros e histórias que podem nos fazer vivenciar diferentes realidades e situações.
Com base nos pressupostos de Bruner (1997), como uma forma de discurso que
descreve fatos em sequência do passado, real ou imaginário, a narrativa ocorre em
linguagem articulada, oral ou escrita, imagem fixa ou móvel (mito, lenda, fábula,
conto, história, tragédia, drama, comédia, pantomima, pintura, cinema, situações
diversas de conversação). Para o autor, as estruturas binárias (bom/mau,
certo/errado, entre outras) presentes nos contos de fadas e no cotidiano das
crianças facilitam, por parte das mesmas, a percepção da expressão de significados,
por sua ordenação de pertencente ou não pertencente.
87
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
88
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
de aprendizagem.
Zefirelo tem medo da água e não sabe nadar, mas enfrenta seus temores para salvar o
amigo Alfredo que caiu no laguinho. Uma história que nos permite trabalhar o medo, o
valor da amizade, e abertura para a experimentação de novas coisas e situações.
Na hora do seu primeiro voo, o passarinho Norberto está com medo, mas o sapo Zefirelo
vai mostrar que os amigos do bosque viveram situações parecidas quando eram pequenos.
A história nos ajuda a abordar os medos, a coragem e a amizade entre as crianças.
89
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Os lindos cabelos de Dandara têm muitos cachos e caracóis, mas ela preferia que fossem
lisos como os das suas princesas preferidas. Seus cabelos vão contar a história de sua
família, de seus avós e antepassados. Esse livro convida à valorização das histórias
pessoais das crianças e ao respeito às diferenças.
Três amigos ursos convivem e brincam juntos, até o dia em que um deles se machuca e
precisa ficar em casa, olhando pela janela os outros brincando. Essa história valoriza o
olhar sobre a amizade, o ciúme, o diálogo e as consequências de reações impulsivas.
Ana fazia botinhas porque as pessoas precisavam, mas não porque gostasse de fazê-las,
até que o dia em que conhece Guto e o gato dançarino, e resolve transformar a sua vida.
Com essa história podemos abordar a importância que nossos talentos têm em nossas
vidas e a nossa coragem para mudar o mundo ao redor.
Um pai demonstra seu amor pelo filho construindo muitas coisas com caixas de diferentes
formas e tamanhos. Essa história nos oferece a possibilidade de trabalhar as várias
formas de demonstrarmos os sentimentos.
Um elefante que tem medo de bexigas vai um dia numa festa e a mãe do amigo amarra
uma bexiga no pulso dele... A autora nos convida a refletir sobre o medo, a vontade de
vencê-lo, e a possibilidade de revertê-lo em coisa boa.
Guilherme mora ao lado de um asilo e conversa com os idosos. Um dia resolve devolver a
memória perdida de D. Antônia, para isso vai entender o que é memória e fazer um belo
presente à sua amiga. Essa história aborda o conceito de memória e a importância das
histórias e das lembranças de vida.
Uma menina que vive nas savanas africanas, onde os homens lavram a terra e as mulheres
cuidam dos afazeres domésticos, mostra-se diferente das outras crianças e busca viver e
imaginar muitas aventuras. O livro permite trabalhar o imaginário, a criatividade infantil, a
cultura africana e a vida nas savanas.
90
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Um porco muda de casa e os novos vizinhos, acreditando que todo porco é sujo e
bagunceiro, passam a culpá-lo por tudo que acontece de errado no prédio. Uma forma
diferente de abordarmos os preconceitos e as amizades surpreendentes.
A bruxa só quer viver a sua vida sossegada, inclusive com sua rotina de passar batom
vermelho, mas as crianças estão obstinadas em atrapalhar seu ritual. Com essa história
abordamos os temas como preconceito, arrependimento e desenvolvimento de vínculos
afetivos.
O Lobinho convida sua prima para brincar em casa, mas não quer emprestar a ela os seus
brinquedos. A história discute as facilidades e dificuldades de dividirmos o que é nosso
com outras pessoas.
O avô plantou um rabanete, mas na hora de colhê-lo precisará da ajuda de muitas pessoas,
de tão grande que ficou o tubérculo. Uma história divertida sobre o trabalho cooperativo.
Uma lesminha sonhava em conseguir participar de uma festa do início ao fim, o que era
quase impossível devido ao seu ritmo lento, mas ela e seus amigos não desistiram desse
sonho. Esse livro nos convida a valorizar a solidariedade e o trabalho em grupo e
colaborativo.
Depois de discutir com seus colegas de escola, uma menininha pergunta ao seu pai se as
princesas soltam pum. De forma divertida e inusitada, esse livro possibilita a discussão
dos padrões de imagem e comportamento femininos trazidos pelas clássicas histórias de
princesas.
91
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Os cachorrinhos Bife e Bufe, adoram passear no bolso do enorme casaco do seu Totó. Mas
um dia o bolso rasga e eles não sabem se voltarão a serem filhotes de bolso. Essa história
aborda as mudanças inesperadas e a responsabilidade com os pertences.
A velha história dos três porquinhos contada pelo ponto de vista do lobo. Possibilita
trabalharmos a diferença dos pontos de vista e o respeito às opiniões e aos sentimentos.
Max vestiu sua fantasia de lobo, fez muitas travessuras e levou bronca e castigo da mãe.
Sua cabeça não parou de imaginar coisas. Esse livro nos impulsiona à reflexão dos
“monstros imaginários” que as crianças constroem, bem como a relação de respeito com a
mãe e com os adultos em geral.
Uma menina que olhava para o próprio coração e não conseguia entender os pontinhos
que via, que hora lhe deixavam triste, ora com medo, ora esquisita. Com muita
sensibilidade, essa história sublinha a importância das crianças buscarem um adulto para
falar de seus problemas e sentimentos.
Um planeta coberto de água está sendo poluído, e por isto fica doente e precisa de
cuidados e tratamento. Essa história aborda de forma simples e direta os conceitos
básicos de ecologia.
Ela tece manta, roupas e histórias, aprendeu a tecer com a mãe, que aprendeu com a avó,
que aprendeu com a bisavó... Com esse enredo podemos trabalhar o respeito, as
características dos idosos, a história familiar e o pertencimento.
92
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Tem horas que Luiz vai parar em Lillipute e fica bem pequeninho. Isso acontece quando ele
menos espera e quando todo mundo está de olho nele. Um livro que possibilita falarmos
sobre a vergonha e o que fazer em situações embaraçosas.
Era uma vez uma folha que surgiu como um pequeno broto num grande galho, durante a
primavera. Junto com as demais folhas, ela vive as diferentes estações. Essa história
aborda as fases da vida, as estações do ano e o tempo das coisas.
Um livro de imagens, sem história escrita, que aborda lendas ancestrais criadas pelos
índios. Possibilita trabalharmos a cooperação, o trabalho em equipe e as lendas indígenas.
Ele parece ser igual a qualquer outro dragãozinho de Dragz, a milenar aldeia de dragões,
mas só parece e será motivo de riso na escola. Com essa história, o educador pode
salientar a importância da inclusão, do respeito e da valorização das diferenças.
93
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Comunicação e encantamento
Para o Programa A União Faz a Vida, diante das especificidades dos primeiros
anos de vida e da sutileza do olhar para a Educação da Infância, os livros e as
histórias são instrumentos e produtos da vida cotidiana das crianças, permitindo a
elas absorverem e produzirem cultura, explorarem os diferentes contextos a partir
das particularidades da região da escola, da idade e do nível de desenvolvimento dos
alunos.
Referências
BRUNER, Jerome. (1997). Realidade mental, mundos possíveis. São Paulo, Artmed.
CEPPI, Giulio; ZINI, Michele (Org.). (2013). Crianças, espaços, relações: como projetar
ambientes para educação infantil. Porto Alegre, Penso.
CLAXTON, Guy. (2005). O desafio de aprender ao longo da vida. Porto Alegre, Artmed.
KISHIMOTO, Tisuko; SANTOS, Maria e BASÍLIO, Dorli. (2007). Narrativas infantis: um estudo
de caso em uma instituição infantil. In: Educação e Pesquisa, São Paulo, v.33, nº3, p. 427-
444, set./dez. 2007.
94
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Pensar a relação da criança com a cultura implica refletir sobre a presença dos
diferentes espaços, instrumentos e relações cotidianas. Envolve a análise de como
as crianças se relacionam com seus pares e com os adultos, como elas estabelecem
contato com o meio e com os objetos, e também como os educadores se relacionam
com a cultura e com os elementos que a constituem. A partir disso, é possível
reconhecer as mediações propiciadas no cotidiano das práticas escolares, e como os
bebês e as crianças bem pequenas constroem as relações cotidianas e se constituem
como sujeitos sociais e históricos.
95
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Em uma escola que adota uma pedagogia ativa, as crianças não estão sentadas
em cadeiras isoladas, realizando tarefas escritas. Em um ambiente ativo, no qual as
crianças são sujeitos protagonistas e respeitados, muitas atividades ocorrem
simultaneamente, e o interesse delas é potencializado por meio de diferentes
estratégias. Portanto, as práticas cotidianas de cooperação podem ser
desenvolvidas por meio dos jogos de faz de conta e dos jogos em grupo, entre outras
atividades que motivam as crianças a engajarem-se entre elas, a descobrirem juntas
formas de cooperar.
96
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Na escola é importante que a criança seja entendida “[…] como um ser capaz de
construir significados sobre o mundo a partir das suas próprias experiências”
(VASCONCELOS, 2009, p. 39). Por isso, a Educação Infantil deve estar baseada em
atitudes de respeito dos educadores para com os interesses, sentimentos, valores e
ideias das crianças. Os espaços também precisam ser planejados e organizados para
atenderem e satisfazerem as necessidades físicas, emocionais e intelectuais das
crianças, para potencializarem as interações e brincadeiras entre os pequenos com
seus pares, para o exercício da responsabilidade infantil. As atividades precisam
atrair os interesses, a experimentação e a cooperação entre crianças, bem como os
adultos educadores cooperarem com os pequenos, buscando compreender seus
raciocínios e facilitando os seus processos construtivos.
A vida cotidiana dos pequenos precisa ser regida pela ética do respeito à
criança, pela política de compreensão de seu contexto social, pelo reconhecimento
de suas culturas e pela atenção à estética do mundo simbólico infantil. Tal como
afirma Katz (2006), uma intervenção educativa de qualidade junto das crianças
apresenta contributos fundamentais para o resto das suas vidas, pois “os anos
iniciais providenciam as bases para todos os aspectos de crescimento,
desenvolvimento e aprendizagem para o resto da vida” (KATZ, 2006, p. 17). Os atos de
cuidar e de educar só ocorrem quando vivenciados e colocados em escuta a
necessidades, desejos, inquietações e revelações manifestadas pelas crianças.
97
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Como afirma Oliveira (1994, p.118), “educar não é somente educar sujeitos para
esta sociedade, mas sujeitos que a transformem”. Por meio dos princípios de
cooperação e cidadania que orientam o Programa A União Faz a Vida, a serem
vivenciados cotidianamente pelas crianças em seus projetos coletivos, projetam-se
também as possibilidades de transformação da realidade social.
Referências
98
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Histórias musicadas
99
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
recurso no universo da Educação Infantil. Porém, muito mais que sua utilização
tradicional nas escolas, apenas como letra a ser repetida e apresentada em datas
comemorativas, é necessário considerar as possibilidades de posturas criativas e
protagonistas a que as crianças são convidadas a assumirem por meio do uso
adequado deste recurso.
Outro ponto importante para se pensar é que a linguagem musical, a partir dos
princípios da neurociência, colabora significativamente para o desenvolvimento
afetivo da criança e possibilita que a instituição escolar cumpra com seu papel
formativo na educação integral, considerando a cognição e a afetividade por meio de
uma linguagem lúdica que é a música.
100
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
101
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
de educação nesse nível de ensino. A música, por sua vez, vem sendo utilizada nos
projetos educativos com objetivos bastante definidos e claros, dado o investimento
das ciências da educação que se refletem nas formações continuadas dos(as)
educadores(as), reconhecendo e denunciando práticas autoritárias ou mesmo
prejudiciais ao desenvolvimento musical das crianças, como procuramos apresentar
ao longo dessa discussão.
Que do atual cenário, otimista e aberto a um novo pensar sobre o uso desta tão
importante ferramenta que é a música, possamos enfim ressignificar as práticas
pedagógicas, pois é preciso reflexão constante sobre os “aspectos alusivos aos
elementos da linguagem musical: os graves e agudos, a duração curta e longa, a
intensidade fraca e forte e o timbre que distingue cada som devem constar no
planejamento do professor” (MACHADO, 2012, p.83), na intenção de colocar as
crianças em postura de protagonistas, relacionando sempre o seu conhecimento de
mundo ao que a escola propõe como conteúdo de ensino e aprendizagem.
Referências
CRAIDY, Carmem. KAERCHER; Gládis E. (2001). Educação Infantil: pra que te quero? Porto
Alegre, Artmed.
MACHADO, Carmem. (2012). Atividades Criativas e Corporais para a Educação Infantil. Rio
de Janeiro, Wak Editora.
102
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
É preciso reconhecer que, de modo geral, “os sistemas educativos estão ainda
em um mundo pré-informático” (LINDO, 2014, p. 634), e este é um problema com o
qual temos de lidar no cotidiano da escola. A “incongruência entre a cultura escolar
tradicional e a nova realidade é uma das causas do mal-estar nas instituições
educativas” (idem).
103
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
104
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
A mediação pedagógica bem planejada para o uso das TICs tem muito mais
importância que o domínio técnico das mesmas. O sucesso das propostas que
envolvam tecnologia em projetos de aprendizagem com as crianças depende do
olhar do professor e do reconhecimento das características de cada ferramenta –
maior ou menor potencial interativo, por exemplo. O educador elabora previamente
o uso da tecnologia em sua sala de aula, planejando atividades significativas para as
crianças, orientadas pelos princípios da cooperação, da interdependência, da
solidariedade e do apoio mútuo.
105
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Referências
FERREIRA, Nuno. (2014). Novos elementos para uma análise das dinâmicas de sala de aula
do secundário. In: Sociologia, problemas e práticas, nº 75, p. 63-81. Lisboa, Instituto
Universitário de Lisboa.
JESUS, Rafael T.; ARAÚJO, Jane F. E.; SILVA, Zeuman de O. (2015). Uso das TICs em uma
Sociedade Educativa 3.0. Ampliando, Revista Científica da Facerb, v. 2. nº 1. Jan./Jun 2015.
PRENSKY, Marc (2010). Teaching Digital Natives- Partnering for real learning. California,
106
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
Corwin.
SANDHOLTZ, Judith H.; RINGSTAFF, Cathy; DWYER, David C. (1997). Ensinando com
Tecnologia, Criando Salas de Aula Centradas nos Alunos. Porto Alegre, Artmed.
VEEN, Win; VRAKKING, Ben. (2009). Homozappiens: Educando na era digital. Porto Alegre,
Artmed.
107
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
108
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas
O Programa A União Faz a Vida na Educação Infantil
Contribuições Teóricas e Práticas Pedagógicas