Document 63 Dabdda 00625
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Document 63 Dabdda 00625
Palmas – TO
2020
Thalita de Souza Reis Ventura
MANEJO DO PACIENTE BORDERLINE NA ABORDAGEM PSICANALÍTICA
Palmas – TO
2020
Thalita De Souza Reis Ventura
MANEJO DO PACIENTE BORDERLINE NA ABORDAGEM PSICANALÍTICA
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Prof.ª Me. Muriel Corrêa Neves Rodrigues
Orientadora
Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP
____________________________________________________________
Prof.ª Me. Raphaella Pizani Castor
Centro Universitário Luterano de Palmas
____________________________________________________________
Prof. Me. Sonielson Luciano de Sousa
Centro Universitário Luterano de Palmas
Palmas – TO
2020
Dedico esse estudo ao meu esposo Rodrigo
Ventura, que é minha fonte de inspiração tanto
profissional como pessoa. Contei com seu
apoio durante toda graduação. Dedico também
aos meus pacientes da Clínica Escola SEPSI,
que confiaram no meu trabalho, e me
desafiaram a apreender e praticar a clínica
psicanalítica, mas, sobretudo a ser um ser
humano melhor.
AGRADECIMENTOS
A psicanálise contemporânea está desafiada a adaptar e aprimorar seus métodos para abarcar as
psicopatologias graves que emergem neste contexto, como por exemplo, o Transtorno da
Personalidade Borderline. Esta pesquisa teve como objetivo identificar, dentro da abordagem
psicanalítica, como se dá o manejo e quais os resultados obtidos referentes à adesão ao
tratamento e melhora do quadro borderline. Além dos objetivos específicos que foram
investigar quais métodos de manejo psicanalíticos estão presentes na literatura, referente ao
tratamento e manejo do paciente borderline, explorar o que a literatura psicanalítica preconiza,
e o que têm surtido efeito na adesão do paciente Borderline, assim como na melhora do quadro;
descrever em que contextos os pacientes Borderline abandonam o tratamento e, quais práticas
podem ser aplicadas para prevenir esse abandono. De objetivo exploratório, refere-se a uma
pesquisa de natureza qualitativa, tratando-se de uma Revisão Bibliográfica Sistemática. Os
dados foram escolhidos por conveniência, de acordo com os critérios de inclusão: Artigos,
monografias, teses e dissertações publicadas nas plataformas digitais: BDTD, LILACS e
SciElo, na língua portuguesa, cujos autores fossem psicólogos e/ou psiquiatras que atuam na
abordagem psicanalítica no atendimento a pacientes diagnosticados com TPB, dentro do
período de janeiro de 2015 a março de 2020. Constatou-se por meio dos resultados desta
pesquisa que a psicanálise proporciona melhoria do quadro borderline, assim como qualidade
de vida dos pacientes através da redução dos sintomas, melhor adaptação ao meio, relações
objetais mais saudáveis e maduras. No entanto, devido as dificuldades no estabelecimento da
transferência nos moldes tradicionais, exige do terapeuta maior preparo técnico e atitude
empática. Pôde-se dizer que, as formas de manejo que têm sido usados por psicólogos e
psiquiatras na abordagem psicanalítica são: holding e holding corporal, manejo das
transferências e contratransferências, comunicação que extrapolem o campo verbal, vinculação
entre paciente-terapeuta, evitar interpretações, identificar momentos de transferência neurótica
e psicótica, continência, não utilizar associação livre, estabelecer um enquadre interno e
flexibilidade das regras.
Contemporary psychoanalysis is challenged to adapt and improve its methods to encompass the
serious psychopathologies that emerge in this context, such as, for example, Borderline
Personality Disorder. This research aimed to identify, within the psychoanalytical approach,
how the management takes place and what results are obtained regarding adherence to treatment
and improvement of the borderline condition. In addition to the specific objectives that were to
investigate which psychoanalytic management methods are present in the literature, regarding
the treatment and management of the borderline patient, to explore what the psychoanalytic
literature advocates, and what have had an effect on the borderline patient's adherence, as well
as on the improvement from the board; describe in which contexts Borderline patients abandon
treatment and, what practices can be applied to prevent this abandonment. With an exploratory
objective, it refers to a qualitative research, dealing with a systematic bibliographic review. The
data were chosen for convenience, according to the inclusion criteria: Articles, monographs,
theses and dissertations published on digital platforms: BDTD, LILACS and SciElo, in
Portuguese, whose authors were psychologists and / or psychiatrists who work in the
psychoanalytic approach in the care of patients diagnosed with BPD, from January 2015 to
March 2020. It was found through the results of this research that psychoanalysis improves the
borderline condition, as well as quality of life for patients through the reduction of symptoms ,
better adaptation to the environment, healthier and more mature object relations. However, due
to the difficulties in establishing transference in the traditional way, it requires a greater
technical preparation and empathic attitude from the therapist. It could be said that, the forms
of management that have been used by psychologists and psychiatrists in the psychoanalytic
approach are: holding and holding the body, handling of transfers and counter-transfers,
communication that goes beyond the verbal field, bonding between patient-therapist, avoiding
interpretations, identify moments of neurotic and psychotic transference, continence, not using
free association, establishing an internal framework and flexibility of the rules.
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................11
2 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................14
2.1 A PSICANÁLISE E O CAMINHO PARA O BORDER .................................................. 14
2.2 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE PARA A PSIQUIATRIA .... 232
2.3 BORDERLINE E A PSICANÁLISE...................................................................................26
2.4 BORDERLINE E A CONTEMPORANEIDADE ............................................................ 324
2.5 MANEJO DO PACIENTE BORDERLINE ........................................................................ 36
2.5.1 O Manejo da Agressividade e a Ideação Suicida........................................................41
2.5.2 O Manejo do Borderline e as Relações Interpessoais ................................................. 43
2.5.3 Tratamento Medicamentoso ......................................................................................... 44
2.6 ADESÃO AO TRATAMENTO ......................................................................................... 45
3 METODOLOGIA................................................................................................................47
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................................49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................65
REFERÊNCIAS......................................................................................................................67
11
1 INTRODUÇÃO
O conceito dos estados limites ou borderline em psicanálise, inicialmente, se deu pela
difícil compreensão de casos que não se encaixavam em uma estrutura de personalidade, mas
que perpassavam essas estruturas, podendo apresentar traços de neurose, psicose e perversão.
O borderline é descrito na literatura com uma variedade de definições e sintomas como: a
instabilidade emocional, o narcisismo patológico, a reatividade, a baixa tolerância à frustração,
o medo de separação do objeto, medo de desintegração psíquica, agressividade, impulsividade,
sensação de desamparo, entre outros.
Segundo Pereira (1999) a psiquiatria contemporânea classifica o borderline como um
transtorno de personalidade, multifacetado, plástico e semelhante a diversas psicopatologias
clássicas. O tratamento do paciente borderline é na maioria dos casos longo, devido à gravidade
da psicopatologia. Além da grande variabilidade de sintomas e experiências traumáticas, e
consequentemente o nível de desestruturação psíquica faz do paciente borderline um desafio
para psicólogos e psiquiatras.
A construção de adaptação de técnicas que abarquem o sujeito se faz necessária na
prática clínica, pois as associações livres e interpretações da psicanálise clássica não possuem,
nesses pacientes efeitos positivos, muito pelo contrário, tem efeitos danosos ao vínculo
terapêutico. Além do mais, a relação terapêutica e manifestações transferenciais negativas,
exigem do terapeuta maior embasamento científico e um olhar para além do descrito nos
manuais da psicopatologia.
Esse trabalho se justifica pela relevância do tema para questões científicas, através da
possibilidade de melhorar o diagnóstico e o tratamento. Para as questões sociais, um diagnóstico
e tratamento adequado possibilita a redução de internações, de custos, de abandono ao
tratamento, suicídio e agravos à saúde dos pacientes. No que tange a relevância pessoal, o
estudo possibilita a imersão no manejo psicanalítico para transtornos graves, obtendo um
aprofundamento do tema. Ademais, abrindo espaço para diversas publicações e especializações,
visto que é de interesse da pesquisadora atuar na área de psicopatologias graves.
O problema de pesquisa é, dentro da abordagem psicanalítica, quais métodos de manejo
têm sido aplicados por psicólogos e psiquiatras e quais os resultados obtidos referentes à adesão
ao tratamento e melhora do quadro Borderline? O presente estudo buscou identificar dentro da
abordagem psicanalítica, quais métodos de manejo têm sido aplicados por psicólogos e
psiquiatras e quais os resultados obtidos referentes à adesão ao tratamento e melhora do quadro
Borderline.
12
No que se referem à clínica, os profissionais devem refletir sua práxis e olhar para o
paciente como um ser complexo, dotado de infinitas possibilidades e não reduzido a uma
psicopatologia. Podendo assim, levar o paciente a um restabelecimento das funções sociais e
psicológicas, promovendo melhoria na qualidade das relações familiares. Esse trabalho traça
um breve percurso histórico da psicanálise e o TPB, possibilitando uma visão geral e didática
das mudanças terminológicas e metodológicas, o que poderá servir como base para novos
estudos. No entanto, é relevante salientar, que nem todas as escolas da psicanálise possuem um
histórico longo e reconhecido referente ao TPB, portanto, no decorrer do estudo, serão
abordados apenas os autores que mais se destacaram ou mesmo se aprofundaram sobre a
temática.
14
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A PSICANÁLISE E O CAMINHO PARA O BORDER
Esse capítulo tem um breve relato da história da psicanálise e suas escolas, que se faz
necessária para desenvolver um direcionamento das principais técnicas e do percurso da
psicanálise, para então adentrar mais à frente, no tratamento dos pacientes borderline. A
intenção não é esgotar o assunto, mas apenas traçar uma linha do tempo, do desenvolvimento
psicanalítico. O analista deve ter uma visão sobre essas mudanças conceituais, para assim
conseguir fundamentar sua práxis e conhecer as bases do pensamento dos principais autores,
sua linha de raciocínio, partindo da escola psicanalítica ao qual ele mais se reconhece.
Segundo Bursztyn (2008), o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856 – 1939) esteve
em Paris em 1885, para assistir as aulas do médico Charcot no Hospital La Salpêtrière, que foi
referência clínica e de ensino sobre a histeria, sendo o primeiro passo para então, a partir do
trabalho de Charcot e contemporâneos, pudesse construir a psicanálise. Estudavam fenômenos
histéricos assemelhando-se a patologias neurológicas, com paralisias, convulsões, espasmos e
anestesias, sem causa aparente, que nenhum exame possibilitava um diagnostico ou hipótese.
Por consequência disto, alguns médicos acreditavam se tratar de encenações. Os corpos das
histéricas expressam uma linguagem conversiva1, fruto de conflitos psíquicos e não de causas
orgânicas.
Resumidamente a autora menciona que “atento ao método introduzido por Charcot,
Freud começa a formular conceitos embasadores de uma nova metodologia que inaugura o
tratamento psicanalítico” (BURSZTYN, 2008, p.129). Esse método era a sugestão sob hipnose,
indução do sono vigília a fim do paciente acessar memórias passadas e relaxar os músculos
tensionados, no entanto, os sintomas nem sempre diminuíam, pois quando algumas pacientes
acordavam esqueciam novamente o que tinham dito e as paralisias voltavam, além dos
espasmos e anestesias. A autora ainda elenca que Freud, decepcionado, passa usar o método
catártico:
[...] por meio do método catártico, Freud percebeu a possibilidade de reintroduzir no
campo de consciência experiências subjacentes aos sintomas e deu início às suas
investigações psicanalíticas, trazendo à baila o conceito de recalque para fundamentar
os acontecimentos esquecidos pelo sujeito histérico (p.129).
A partir de sua autoanálise e de sua paciente Emmy Von N. que pediu para falar e não
ser hipnotizada cria o método de associações livres, onde abre espaço para os pacientes
associarem livremente os sintomas com suas causas, definindo então o método clínico da
1
No sentido de que sintomas psíquicos convergem em sintomas físicos.
15
2
Recurso utilizado para evitar o desprazer “pelo exercício da função lúdica da linguagem, cujo primeiro estádio
seria a brincadeira infantil e o segundo, o gracejo.” (ROUDINESCO; PLON, 1998, p.113)
3
Termo latino utilizado na retórica para designar um erro cometido por inadvertência, quer na fala (lapsus linguae),
quer na escrita (lapsus calami), e que consiste em colocar outra palavra no lugar da que se pretendia dizer
(ROUDINESCO; PLON, 1998, p.465).
4
Ato pelo qual o sujeito*, a despeito de si mesmo, substitui um projeto ao qual visa deliberadamente por uma ação
ou uma conduta imprevista. (ROUDINESCO; PLON, 1998, p.40)
5
Memória; “processo de estratificação em que os traços mnêmicos são remanejados de tempos em tempos,
conforme as novas circunstâncias”. (ROUDINESCO; PLON, 1998, p.148)
16
O método de Freud não visa promover o resgate do fato em si, mas a forma como foi
inscrito no psiquismo, e como isso constitui o sujeito na sua maneira de ser no mundo. O
recalcamento6 e o deslocamento7 cumprem o papel de conceber uma resistência protetiva a
conteúdos mnêmicos, ou seja, memórias com afetos que o consciente não é capaz de suportar.
“O trabalho psicanalítico, para ele, consistiria em superar tais barreiras ao buscar na mente as
memórias obscurecidas que teriam o poder de levar o sujeito a se ver livre do seu sintoma”
(BRITO; CANAVÊZ, 2016, p.111).
Em suas obras a interpretação do analista opera no sentido de tornar consciente o
inconsciente. Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), o pai da psicanálise fala
sobre autoerotismo da infância, a perversidade polimorfa infantil8, as fases do desenvolvimento
psicossexual gerando um grande “fervor” na sociedade vienense. As fases psicossexuais são
etapas do desenvolvimento humano, que se dá através da libido que percorre partes do corpo
de acordo com a maturação da criança até chegar a fase adulta.
Essas fases são de extrema importância para compreender o funcionamento psíquico,
pois estarão ligadas a traços de personalidade, caso o sujeito se fixe em uma delas, quando
ocorrer traumas. Para esse desenvolvimento temos: a fase oral, a fase anal, a fase fálica, o
período de latência e a fase genital. A fase oral é de aproximadamente 0 a 18 meses,
caracterizada pelo prazer oral da criança, que através da amamentação e introdução de objetos
na boca, obtendo a satisfação. De acordo com Hall e Lindzey (1984), comer é uma atividade
prazerosa, quando crescer os dentes, o bebê sentirá vontade de morder e mastigar, o que poderá
levar a traços orais de personalidade como: personalidade ingênua, que “engole” tudo o que o
outro diz, ou agressividade verbal, há ainda muitas manifestações sintomáticas diferentes ou
inversas a essas.
Segundo os autores supracitados fase anal é aproximadamente dos 18 meses a 3 anos,
quando a criança começa a fazer o controle do esfíncter, sendo o ânus a área de satisfação. O
alívio produzido pela defecação e a experiência produzida pela limpeza que o cuidador realiza
na criança, assim como a reação do mesmo em relação a esse processo, também podem
influenciar nos traços de personalidade como: meticulosidade, organização, teimosia, mania
de limpeza ou descuido, podendo chegar até a avareza e ciúmes.
6
Mecanismo de defesa, “onde a pessoa procura repelir para o inconsciente pensamentos imagens, e recordações
ligados a uma pulsão que, se estivesse sido satisfeita, provocaria efeitos desagradáveis” (CAMPAILLA, 1982,
p.28).
7
“Processo psíquico inconsciente, teorizado por Sigmund Freud sobretudo no contexto da análise do sonho. O
deslocamento, por meio de um deslizamento associativo, transforma elementos primordiais de um conteúdo latente
em detalhes secundários de um conteúdo manifesto.” (ROUDINESCO; PLON, 1998, p.148).
17
Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança sente em relação aos
pais. Sob a sua forma dita positiva, o complexo apresenta-se como na história de
Édipo-Rei: desejo da morte do rival que é a personagem do mesmo sexo e desejo
sexual pela personagem do sexo oposto. Sob a sua forma negativa, apresenta-se de
modo inverso: amor pelo progenitor do mesmo sexo e ódio ciumento ao progenitor
do sexo oposto. Na realidade, essas duas formas encontram-se em graus diversos na
chamada forma completa do complexo de Édipo (p.77).
mãe em prol do falo, recalca seus desejos pela mãe. Portanto, o menino passa a vida procurando
defender o falo, enquanto a menina não tem nada a perder, e busca outras compensações, como
por exemplo, a maternidade.
É importante salientar que o negativo do édipo, que é o caso dos homossexuais, a
dinâmica é a mesma, apenas elencam o objeto do mesmo sexo. A resolução satisfatória do édipo
masculino se dá “no recalcamento dos desejos, fantasias e da angústia; renúncia aos pais como
objeto de desejo”, e por fim, identificação com os pais (NASIO, 2007, p.46).
O período de latência se dá geralmente entre 6 a 9 anos, pode-se dar por completo ou
não, pois existem períodos de interrupções. Nessa fase aparecem as inibições sexuais, as
crianças se voltam para o mundo externos, preparando-a para a puberdade. As crianças se
voltam para as relações sociais, nos esportes e atividades criativas como forma de sublimar. O
superego reprime as pulsões sexuais, que voltarão a emergir na fase genital (JERUSALINKY,
2010). Na fase genital, o sujeito adquire satisfação estimulando o próprio corpo, é na
adolescência que as escolhas objetais são realizadas, a socialização é maior, os interesses
começam a se tornar mais variados, porque o adolescente se permitem olhar para além do seu
lar e das relações com seus pais.
Em Além do princípio do prazer (1920), Freud postula a pulsão de morte e
posteriormente, o conceito ID9, Ego10 e Superego11 formando as instâncias da psique humana.
Apesar dos estudos da metapsicologia não serem sequenciais, Freud formula três características
(topográfico, dinâmico e econômico) observadas na clínica, não enquanto técnica nem tão
pouco filosofia, mas as bases da ciência psicanalítica. Postulou diversos trabalhos sobre o
narcisismo, pulsão de vida e de morte, relações objetais, e as três estruturas de personalidade,
transferência e contratransferência (BRITO; CANAVÊZ, 2016).
A partir do pensamento desenvolvido por Freud, ocorreram algumas transformações,
formando novas escolas, essas divergências e convergências são a continuidade do movimento
psicanalítico. Elas se convergem nos postulados de Freud metapsicológicos, teóricos e técnicos,
e são divididas em sete grandes escolas com seus respectivos autores. Sendo a primeira
Freudiana. S. Freud, no ano de 1885, com outros expoentes como: Karl Abraham, Sandor
9
“constitui polo pulsional da personalidade. Seus conteúdos são inconscientes, em grande parte hereditários,
presentes no nascimento e, em menor parcela, adquiridos e recalcados [...] reservatório da energia pulsional
fornecida também ao Ego” (CAMPAILLA, 1982, p.19)
10
“O Ego mantém relação com o mundo através de atividade dos vários órgãos e aparelhos fisiológicos [...] efetua
a chamada prova de realidade, que consiste na capacidade de executar uma discriminação acuradas dos estímulos
provenientes do mundo externo e dos oriundos do ID.” (CAMPAILLA, 1982, p. 19)
11
“O Superego representa o censor, o juiz que, controlando o Ego e o ID, tende a orientar o comportamento do
indivíduo de modo a harmoniza-lo com os valores da moral tradicional. A criança introjeta o Superego dos pais;
assim transmitido de geração em geração.” (CAMPAILLA, 1982, p.21)
19
Ferenczi, Wilhelm Reich e Anna Freud. As contribuições de Freud, como elencado acima,
trazem “que o conflito psíquico é resultante do embate entre as forças instintivas e as
repressoras, sendo que os sintomas se constituíram como sendo a representação simbólica deste
conflito inconsciente” (PISANDELLI, 2012, p. 11).
Tendo a segunda escola, os Teóricos das Relações Objetais (M. Klein com contribuições
de Joan Rivière, S. Isaacs, Segal, Rosenfeld, Meltzer e Bion), no ano de 1945. Melanie Klein
elabora seu pensamento através da observação de crianças, pautada no processo de
desenvolvimento desde os três ou quatro meses de vida, onde o bebê tem primitivos
mecanismos de defesa, e a pulsão de morte se dá desde o início da vida. Seus estudos circularam
em torno do Superego e Complexo de Édipo experienciado bem antes do período postulado por
Freud. O acompanhamento psicológico do indivíduo passa a ser bem no início da sua infância.
Em relação ao complexo de Édipo, elaborou a posição depressiva e, posteriormente, a posição
esquizoparanóide (PISANDELLI, 2012). De acordo com o mesmo autor, as mudanças no foco
dos psicanalistas passaram:
[...] para relações objetais parciais e as fantasias do inconsciente, com suas respectivas
ansiedades e defesas primitivas [...] Conserva-se a regra de que somente teriam valor
verdadeiramente psicanalítico as interpretações unicamente dirigidas as neuroses de
transferência, porém começa a ganhar um amplo espaço de valorização, a
contratransferência, criando-se desta forma os primórdios da psicanálise baseada na
relação transferencial – contratransferencial (PISANDELLI, 2012, p.09).
Nesse contexto, têm-se a terceira escola, a Psicologia do Ego (Hartmann), fundada por
volta de 1920. O psicanalista austríaco Hartmann, juntamente com Kris e Lowenstein, fundou
a escola da Psicologia do Ego nos EUA. Anna Freud contribuiu muito para a Psicologia do Ego,
além de Erikson, Edith Jacobson, Margareth Mahler e Otto Kernberg (representante da
“contemporânea psicologia do ego”, que estabelece uma ponte com os teóricos das relações
objetais) (ZIMERMAN, 2008).
Os pioneiros, Hartmann e seus seguidores, propuseram uma maior valorização do ego
no trabalho do analista, que até então estava concentrado no id. Partindo, então, do princípio de
que nem tudo era id. Importante salientar os mecanismos de defesa do ego como: formação
reativa, projeção, sublimação, negação entre outros (ZIMERMAN, 2008).
A quarta escola elenca: a Psicologia do Self (Heinz Kohut) fundada por volta de 1959.
Seu fundador, Kohut postulou seu trabalho fora das questões do complexo de édipo, trazendo
o foco para o narcisismo, o qual evidenciou não só a patologia, mas os aspectos positivos
inerentes a todos os indivíduos como a empatia, sabedoria, criatividade entre outros. Em suas
20
castração, ou melhor, ele destorce qualquer coisa que o confrontar com a castração, devido a
renegação da ausência do falo.
Na psicose as subcategorias são: as esquizofrenias e as psicoses. O Nome do Pai é
foracluído, rejeitado, não integrado, não há registro no simbólico, produzindo “no imaginário
uma desordem denotada nos fenômenos psicóticos de rupturas na cadeia significante, onde um
significante ao ficar fora, desconectado do simbólico, retorna no real na forma de alucinações
e delírios” (FIGUEIREDO; MACHADO, 2000, p.72). A castração é a lei e o falo o significante,
impondo a proibição da mãe, que fará com que a criança procure outros recursos, portanto o
significante do pai barra a mãe, e esse processo é chamado pelo psicanalista J. Lacan, como a
Metáfora Paterna. Na psicose essa metáfora não se opera, diferentemente da neurose,
produzindo então uma dificuldade no estabelecimento entre o real e o imaginário, pois não há
constituído o simbólico.
Sobre a perversão, um dos componentes da sexualidade teria sofrido um
desenvolvimento prematuro, isto é, teria passado a frente dos outros. Esse precoce processo é
mantido em sua forma infantil, e não consegue passar por sublimação, recalcamento entre
outros mecanismos. “A perversão herda a carga libidinal que pertencia ao complexo de Édipo,
podendo ainda, como ocorre no caso do masoquismo, onerar-se pela culpa a que está ligada, o
que explica o gozo obtido a partir de fustigações e sofrimento” (FERRAZ, 2010, p.28). O autor
cita que no artigo “A organização genital infantil”, Freud (1980) apresentou, já em sua plena
configuração teórica, o mecanismo da recusa (Verleugnung) da castração, essencial à
formulação ulterior da perversão (FERRAZ, 2010, p. 29).
O perverso deseja ser duas coisas: objeto de gozo e ocupar o lugar do Nome do Pai. O
sujeito perverso sabe o seu desejo, não se interroga, realiza o ato, e não se responsabiliza.
Segundo Muribeca (2009), Lacan retirou a visão que a perversão estaria ligada a uma aberração
sexual, mas uma estrutura em que o mecanismo de defesa é o da renegação, recusa da realidade
em parte, e em parte reconhece a mesma, devido a uma cisão do Ego. Portanto, os tipos de
perversão são: masoquismo, sadismo, fetichismo e parafilias, sendo o mecanismo de defesa o
desmentido (rejeição de admitir algo visto e guardado na memória). A definição dessas
estruturas se faz necessárias para entender o sujeito border, pois este não possui limites bem
estabelecidos, o que mais a frente será discutido.
A sexta escola foi fundada por Donald Woods Winnicott por volta de 1979. O psiquiatra
era ligado a Melanie Klein. No entanto, focou seu trabalho na percepção da mãe real, como
ambiente facilitador ou complicador, e não nas fantasias destrutivas do bebê como Klein
propusera. Deu ênfase no olhar da mãe como espelho para o bebê, criou o termo mãe
22
suficientemente boa, como aquela que provê sustento emocional e físico e ainda permite
frustração para constituir o self separado do bebê (PISANDELLI, 2012).
A mãe é entendida como ambiente, e esse sendo insuficiente é sentido pelo bebê como
uma invasão à qual o psicossoma (o bebê) precisa reagir e esta reação que perturba a
continuidade de sua existência. Essas perturbações provocam falhas no desenvolvimento do
indivíduo adoecendo-o. Tais perturbações criam uma sensação de falta de fronteiras no corpo,
ameaças de despersonalização, angústias impensáveis, ameaças de desintegração e
despedaçamento, de cair para sempre, e falta de coesão psicossomática (PISANDELLI, 2012).
Seguindo esse delineamento, a mãe suficientemente boa tem grande função no setting
terapêutico, pois o terapeuta recria um ambiente íntimo e familiar, evocando o ambiente
familiar primário, entretanto, diferentemente da mãe que gratifica, o terapeuta dá gratificações
psíquicas. Outro conceito é o de Self Falso e Self Verdadeiro, o primeiro diz as formas de se
relacionar aceitos socialmente, onde o sujeito se vê imerso em se adaptar para ser aceito, já o
segundo, diz respeito do sujeito enquanto real, com todas as vicissitudes que o constituem do
Eu real (PISANDELLI, 2012).
A sétima escola nasceu por volta 1962 e seu fundador foi Wilfred Ruprecht Bion. Ele
foi analisando e seguidor de Melanie Klein, onde fez um trabalho clínico com pacientes de
natureza psicótica, o que permitiu conceber aspectos sobre a normalidade e a patologia dos
fenômenos de percepção, pensamento, linguagem, comunicação e ataques aos vínculos de
ligação, todos eles de extraordinária repercussão no manejo técnico com pacientes em geral.
Para Bion, todas as pessoas possuem uma parte neurótica e uma parte psicótica da
personalidade, com importantes técnicas para o manejo da parte psicótica, primário vínculo da
mãe com o filho (equivale ao do analista com o seu paciente) (ZIMERMAN, 2008). Bion
aprofundou a importância da capacidade que o analista deve ter bem desenvolvida, a
continência, ou seja, conter a carga nele projetada, para que também possa decodificar o seu
significado, dar um sentido e devolver para o paciente, devidamente desintoxicada e, sobretudo,
nomeada (ZIMERMAN, 2008).
De modo geral a técnica psicanalítica será por meio da associação livre, a interpretação
dos conteúdos apresentados pelo paciente, bem como dos sonhos quando há a resistência, e
utilizando-se da transferência, conceitos que serão apresentados ao longo desse trabalho.
Entretanto, a seguir serão apresentados conceitos mais clássicos da psiquiatria, para apresentar
a história do Transtorno Borderline.
23
Caponi (2014, p. 32) faz uma crítica “às tentativas do DSM de explicar causas
estritamente biológicas em detrimento de diversos consonantes socioculturais, ambientais,
relações familiares, subjetivos entre outros”. A autora ainda menciona sobre os
Esforços da psiquiatria, por achar a localização cerebral, ou a explicação
neuroquímica para transtornos mentais, onde a resposta parece ser a mesma: ainda
não foi possível atingir os resultados esperados, mas um futuro promissor se anuncia
para a explicação biológica de patologias mentais, que nunca chega (CAPONI, 2014,
p. 32).
O manual não descreve o ambiente do sujeito, nem tão pouco em que circunstâncias os
sintomas aparecem e se mantém. Para Insel, diretor do National Institute of Mental Health
(NIMH), as diferentes versões do DSM, longe de serem consideradas como “a Bíblia da
psiquiatria”, como muitos qualificaram o manual, deveriam ser consideradas um simples
dicionário que pode ser alterado a partir de acordos estabelecidos, neste caso, pela comunidade
de psiquiatras (CAPONI, 2014, p. 746). A “proposta descritiva se alia a uma compreensão
médica da Psicologia, permitindo que a Psiquiatria de hoje se aliene cada vez mais da
Psicopatologia e se contente com uma descrição simplista de sintomas, chegando-se
rapidamente ao diagnóstico e à medicação” (HEGENBERG, 2013, p. 21).
Apesar das duras críticas ao manual, é notável que se tratando do Transtorno de
Personalidade Borderline, a classificação é consistente, com uma linguagem que é fundamental
para as pesquisas. Nos últimos anos tem se falado cada vez mais sobre esse TP e observou-se
24
um aumento nos números de casos e estudos consequentemente. A ideia não implica reduzir o
ser humano a um diagnóstico preestabelecido, mas apenas encontrar descrições de pacientes já
conhecidos (CAPONI, 2014).
O manual categorizou os transtornos de personalidade em três grupos: Grupo A,
referente a pessoas com afetos e personalidades esquisitas, pensamentos mágicos, ideação
paranoide, sua prevalência é de 5,7%; Grupo B, com prevalência 1,5%, apresentando excessiva
emotividade, desrespeito aos direitos alheios e impulsividade, e o grupo C com prevalência de
6%, tange o medo, a insegurança e o perfeccionismo (CAPONI, 2014).
Assim, a tabela 1 apresenta a prevalência estimada para cada tipo de transtorno de
personalidade.
Esquizoide 3,1-4,9%
Esquizotípica 0,6-4,6%
No entanto, Freud abriu espaço para seus contemporâneos, isso não significa que os
casos limites são pós-freudianos necessariamente, mas que devido as mudanças profundas da
sociedade, esses casos têm ganhado destaque. Um caso famoso de Freud, o Homem do Lobos
(1910), onde passou por análise durante quase toda a vida, com diagnóstico de neurose
posteriormente de psicose, diversos autores fazem uma releitura identificando-o como
personalidade borderline (HEGENBERG, 2013).
Anterior a Freud, o termo borderline passou por mudanças ao longo do tempo, a
dificuldade de categorizar distúrbios mentais graves, mas sem sintomas declarados de
“loucura”, em meados de 1835 por Pinel e outros. Assim, Kahlbaum (1884 – 1890) criador do
conceito de catatonia, e junto com seu discípulo Hecker, do conceito de hebefrenia, descrevem
com detalhes uma síndrome comum a adolescentes, que, apesar de aparentada com a hebefrenia,
se assemelharia ao que hoje é concebido como transtorno borderline (DALGALARRONDO et
al., 1999).
Desta forma, a tabela 2 descreve sobre as variações do termo borderline durante a
história, assim como os estudiosos que os abordaram:
Pereira (1999) descreve ainda que para dar conta da fragilidade da organização narcísica
o “manejo”, “holding” e “continência devem ser atualizados. Outro famoso psicanalista foi Jean
Bergeret, durante 40 anos de estudos, dedicou à maioria deles para os casos limites (1974, 1975,
1984, 1996), inspirado nos trabalhos de Abraham da escola Freudiana. Classifica fatores de
personalidade quanto à natureza da angústia, defesas principais e as relações de objeto. O autor
conclui a existência de somente duas grandes “estruturas” de base: a neurose e a psicose.
Segundo Bergeret (1924) tem como ponto de partida os trabalhos de Karl Abraham da Escola
Freudiana:
Este autor postulou em 1924, a partir do estudo da melancolia e da neurose obsessiva,
uma subdivisão da fase anal de desenvolvimento da libido em anal-expulsiva e anal-
retentiva. Entre as duas, estaria situada uma linha divisória (divided line), que
marcaria uma “fronteira entre as fixações e regressões psicóticas, de um lado, e as
fixações e regressões neuróticas, de outro” (BERGERET, 1991, p. 68).
gênese estaria associada a um “trauma desorganizador precoce”, sentido pela criança como
“uma frustração muito viva, um risco de perda do objeto” (BERGERET, 1991, p. 129), ocorrido
entre a divided line e o início do Édipo.
Esse trauma seria relacionado a uma sedução real diferente da fantasia edipiana, ou
seja, um abuso sexual, que seria vivenciado num tempo em que ela não estaria madura. Por
consequência, na adolescência o sujeito vive uma pseudolatência que se prolonga até a fase
adulta impedindo a estruturação do Ego. Segundo Moretto, Kupermann, Hoffmann (2017) o
desenvolvimento libidinal sofre uma fixação devido a um trauma precoce antes do édipo, ou
seja, o desamparo dos pais. É como se o bebê não existisse sem o ambiente, não há continuidade
do ser sem uma continuidade dos aportes do ambiente. Posteriormente, na fase do édipo, a
mãe/ambiente não sustenta o border, em relação aos sentimentos hostis que encaminha ao pai.
Mais a frente a mãe/ambiente será retomada.
O border não consegue finalizar o Édipo com a angústia da castração, por consequência
não estrutura o superego. Sobre as estruturas limítrofes, a instância dominante é a de ideal de
ego; a natureza do conflito seria ideal de ego com id e realidade; a natureza da angústia é a de
perda do objeto; as principais defesas são a clivagem dos objetos; por fim a relação de objeto é
analítica (BERGERET, 1991).
O psicanalista e psiquiatra Winnicott (1975), dedicou-se boa parte dos seus estudos as
crianças, mas também é referência quando se fala em casos limites. O autor descreve que
algumas pessoas adultas não se sentem completos e preenchidos, sem sentido de vida, pois o
self não foi constituído, como acontece no caso do borderline. Esses indivíduos necessitam de
uma experiência com alguém capaz de produzir um ambiente acolhedor e que os acompanhem
na construção do seu self, quase que como outrora, na infância com a mãe suficientemente boa,
a mãe vista como ambiente.
Winnicott, no ano de 1969 lança o artigo “O uso do objeto e o relacionamento através
de identificações”, que envolve a passagem da relação com objeto e o uso do objeto, onde o Eu
e Não-Eu se constitui a partir dos cuidadores capazes de propiciar um ambiente estável e que
abarque as necessidades do bebe, não de forma intrusiva nem tão pouco distante. O uso do
objeto só é possível quando a distinção entre Eu e Não-Eu estiver mais nítido. Para ele existem
dois objetos, o subjetivo (interno) e o real (externo). Segundo Winnicott (1975)
Relacionar-se pode ser com um objeto subjetivo, ao passo que o usar implica que o
objeto faz parte da realidade externa. Pode-se observar a seguinte sequência: 1. O
sujeito se relaciona com o objeto; 2. O objeto está em processo de ser descoberto, em
vez de ser colocado no mundo pelo sujeito; 3. O sujeito destrói o objeto; 4. O objeto
sobrevive à destruição; 5. O sujeito pode usar o objeto (ibid., p. 131).
31
Em outras palavras, o bebê sente fome, chora e recebe o seio da mãe, na onipotência o
bebê acredita que criou o objeto na sua fantasia. Quando o bebê desejar o seio, o cuidado
materno, e acontecer um desencontro, esse sentimento de onipotência vai diminuindo, e ele
começa a distinguir entre o que deseja, o que é, e o que não é. Aos poucos o bebê deixa de ser
um ser isolado e vai se abrindo ao outro, mas nem na fase adulta, chega à totalidade do encontro
com outro, da realidade, ou do verdadeiro self. O início da subjetividade nasce através do
princípio do prazer e posteriormente do princípio da realidade, primeiro gosto do objeto e ele
existe, segundo Freud que converge com Winnicott (1975).
Daí a divisão do que é mera projeção e o que é o objeto real, e o sujeito consegue
delimitar o que é dele e o que é do outro, constituindo as fronteiras do próprio eu. O objeto
permanece independentemente da vontade do bebê, a partir disso a transição da relação para o
uso do objeto, com a ajuda de cuidadores bons (não invasivos, ansiosos ou deprimidos) que
resiste aos ataques do bebê. A destruição do objeto é necessária para o uso, entretanto é
importante definir que, destrutividade não é sinônimo de agressividade, pois não existe
maturidade suficiente para haver intencionalidade do ato destrutivo do bebê, o que há é um
impulso de lançar-se ao objeto (morder o seio, por exemplo).
O autor fala do valor positivo da destrutividade, quando o objeto sobrevive à destruição,
pois “coloca o objeto fora da área dos objetos criados pelos mecanismos mentais projetivos do
sujeito” (WINNICOTT, 1975, p. 131). Sobreviver significa não retalhar ou não se retirar, assim
como continuar criativo e vivo. O objeto é descoberto como dono de desejos e movimentos
além da onipotência do bebê.
A terceira área da experiência humana, descrita por Winnicott (1975) é a
transicionalidade, que amplia o conceito de objeto transacional, onde nasce a criatividade para
a construção da subjetividade, em que há a capacidade de separação do objeto / mãe para se
constituir como Eu separado do mundo. Segundo Winnicott (1975) as crianças, futuras
borderlines, não conseguiram estabelecer objetos transicionais e continuaram buscando
experiências simbióticas com a mãe. Criando-se então, um vazio nesta transição do Eu e não-
Eu, nascendo daí, a inconstância objetal e uma relação de tudo ou nada, o objeto é ora ausente
ora presente demais, ora idealizado ora depreciado.
Após cumprir sua função, o objeto transicional é deixado de lado para que a criança se
relacione com o brincar, o sonhar, as relações com os outros, o desenvolvimento espiritual,
entre outros. Por outro lado, quando a transicionalidade não pode ser suficientemente vivida,
essa impossibilidade se torna raiz de perspectivas de adoecimento emocional, por exemplo do
32
Falso Self, que é justamente uma adaptação ao meio social, que não é vista como negativa a
priori, mas dentro desse contexto, o indivíduo tentando se proteger, cria um processo adoecer.
Culpa e inibições sexuais, estão perdendo terreno para a vivência do prazer sem limites,
estamos no século onde a maioria das pessoas são perversas e não neuróticas como na época de
Freud, pois as psicopatologias mudam com o contexto social, a tecnologia, os costumes e a
moral. A angústia de separação, que se inicia no nascer, no afastamento materno, intensificados
na contemporaneidade, devido ao individualismo, da sensação de descarte, da vulnerabilidade
humana frente a modernidade líquida de Bauman (1999).
A angústia de separação infantil saudável é aquela que a princípio a dor da separação,
congela a criança, posteriormente ela entende que o objeto (mãe) retorna, que sua presença é
constante, e que ela é amada. Nesse caso, a ausência do objeto não causa dano à estrutura
psíquica. Contudo, um indivíduo que mostra sinais de angústia, sente-se ameaçado pela
possibilidade de uma separação, e quando for adulto se sentirá só, com um vazio inerente de
quem não foi amado, Freud chama isso de desamparo (BESSET, 2000).
Na separação do nascimento entre mãe e bebê, trazendo o desamparo como ligado a
uma impossibilidade de acesso ao objeto que garante a satisfação. O objeto amado, nesse caso,
é o da pulsão. Pois o amar se liga a objetos que trazem prazer: “uma pulsão ama o objeto ao
qual aspira para sua satisfação” (BESSET, 2000, p. 208). A mãe era ligada pelo cordão
umbilical ao seu bebê, ocorre a separação, e vai se intensificando à medida que a criança tem
autonomia, e essa separação traz um modelo de “felicidade perdida”, como diz Besset (2000);
que se torna referência para objetos de amor futuros.
Desse modo, “a criança aprende a amar a outras pessoas que remediam seu desamparo
e satisfazem suas necessidades” (BESSET, 2000, p. 208). Essa separação se completaria com a
díade edípica, mas no caso dos bordes, não conseguem obter essa satisfação com outros objetos
substitutos, ocorre uma ruptura que é causada por um trauma que impede a resolução
satisfatória do édipo.
A angústia é o afeto de ficar separado, do desamparo que se inicia logo que o bebê nasce,
e que se prolonga por toda vida. Intensificada pelo sujeito border, que vive a beira de um
colapso, por não conseguir se conectar com os objetos amados, por também não ter tido a
percepção de ser desejado por seus cuidadores, por não ter recebido provisões físicas e psíquicas
o suficiente. Quando isso acontece, a tendência é culpar os pais, no entanto, a criança quando
nasce não tem um lugar na sociedade enquanto cidadão, onde o coletivo deveria apoiar os pais.
Quando os pais falham é porque o coletivo, os familiares desses pais, também falharam
(BESSET, 2000).
35
Retornando a Freud, como já foi dito, ele não se aprofundou na questão borderline, pois
no contexto da época, a histeria e a castração eram gritantes, embora tenha mencionado a
importância do apoio e da relação analítica e de outras questões pertinentes ao borderline.
Como o borderline é imerso na relação com o outro, dependente dele, e assim o analista deve
ser presente, para que essa angústia da separação seja diminuída pelo menos na análise. A
família do border foi deficitária na provisão psíquica da construção do sujeito, portanto, ele não
demanda castração como em Freud “mas precisa de um encontro com um analista que existe
enquanto pessoa, e não apenas enquanto qualidade transferencial, concepção está mais próxima
da de Winnicott do que da de Freud” (HEGENBERG, 2013, p.35).
Diante disso, os profissionais da saúde, devem ter uma visão macro das psicopatologias,
pois o ser humano é complexo e não deve ser reduzida a parte biológica apenas, mas
sistemicamente inserido em diversos contextos, onde a natureza se soma a cultura a política, e
as vivências e percepções introjetadas e projetas que criam e recriam a realidade. A partir desses
determinantes, o manejo do paciente será descrito a seguir.
36
2017). O paciente border não conseguiu constituir sua subjetividade, por não ter tido uma
experiência intersubjetiva satisfatória, e não conseguiu tornar-se sujeito independente do outro.
Portanto, o paciente border exige muito do terapeuta e de outras relações afetivas.
O terapeuta deve ter consciência que o paciente vai tornar-se dependente na medida em
que o vínculo terapêutico se forma, e essa dependência vai fazer com que o paciente retorne a
fase infantil primitiva, de apego com as figuras paternas, para reviver e elaborar as questões
subjacentes desta fase e assim constituir sua subjetividade, o que leva tempo e paciência do
terapeuta e da família (MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017). A psicoterapia Winnicottiana
busca permitir o paciente regredir para então elaborar, a técnica de Holding favorece essa
regressão, não só em pacientes borderlines, mas em qualquer paciente, o setting terapêutico
deve cumprir este papel. No entanto, no caso do paciente border
O analista está constituindo o paciente enquanto pessoa; quando o terapeuta se afasta,
o “border” se sente mais que desamparado, sente-se como que inexistente. A relação
é anaclítica (de apoio), porque o “border” necessita de seu terapeuta para constituir
sua subjetividade, para tornar-se sujeito de si mesmo (HEGENBERG, 2013, p. 45).
Por conta de seu Self não constituído integralmente, o border é sensível a invasões (do
ambiente), produzindo uma sensação de aniquilação eminente. O paciente pode suspeitar que o
terapeuta esteja sufocando-o com suas exigências, mesmo que o terapeuta preparado não tenha
essa intenção, porque qualquer direcionamento e frustração poderão ser vista como uma
invasão, o que pode acarretar a perda da confiança.
Claro que com o passar do tempo, com o vínculo fortalecido, essas frustrações poderão
ser inseridas, na medida em que o terapeuta sinta que o paciente poderá suportar. Uma questão
importante levantada pelo autor é a identidade, onde apesar do superego (não dominante)
constituído do borde; e é isso que o diferencia do perverso e do psicótico; ele é influenciado
por seu ideal de ego, com isso ele se relaciona fusionalmente com figuras idealizadas por ele,
ora valorizando ora desvalorizando, numa dicotomia “bom” e “mal”, “amor” e “ódio”
(HEGENBERG, 2013).
Comparando-se com essas idealizações, fica difícil reconhecer suas qualidades de forma
mais adequada e condizente com a realidade, com um ideal inalcançável, se vê atrapalhado na
sua identidade. Por um longo período, o analista entra nesse lugar idealizado, para ser visto
como alguém protetor, mas com o passar do tempo, deve mostrar para o paciente que ele (o
terapeuta) também tem suas deficiências como qualquer ser humano, fazendo assim o border
ser capaz de lidar com as pessoas reais fora do consultório (HEGENBERG, 2013).
O paciente, no sentido Winnicottiano, tem medo de destruir o objeto (terapeuta), por
isso pode aceitar o que o terapeuta diz, mesmo contrariado, porque sente que não pode “agredir”
38
o outro, porque ele precisa do objeto inteiro (não destruído) para obter apoio, mas também pode
negar tudo que vem do terapeuta se sentir invadido e irá reagir contra o objeto analítico. Por
consequência deste ataque, o indivíduo se sentirá angustiado e culpado, neste ponto também se
diferencia do perverso. A resolução se dá na possibilidade de integrar o objeto bom e mau em
um só, experenciando “poder desagradar o terapeuta e ainda vê-lo inteiro, continuando a atendê-
lo” (HEGENBERG, 2013, p. 51). É importante salientar a postura do terapeuta que deve
analisar seu próprio narcisismo para que não prejudique a terapia:
O terapeuta vaidoso ou autoritário, que não puder ser contrariado, terá inúmeras
dificuldades de lidar com o borderline, e este se angustiará bastante porque para ele é
difícil contrariar seu objeto de apoio. Cabe ao analista saber reconhecer o desejo
incipiente do borderline e auxiliá-lo, vagarosamente, na aproximação cautelosa de
interesses genuínos, quando eles existem. Muitas vezes, o que ele apenas deseja é
permanecer em repouso e sem solicitações, para garantir a continuidade de uma
existência incipiente (HEGENBERG, 2013, p. 51).
O paciente border tem percepções empobrecidas dos outros, o que pode ser visto como
falta de empatia e∕ou comportamento perverso, no entanto como é possível ele perceber o outro,
senão dá conta de sua própria existência? O terapeuta ocupando, por um longo tempo, o espaço
da mãe, que apenas acompanha, que se atêm as necessidades, presente e continente, ou seja,
sem grandes interpretações e intromissões, sendo a base para que o border se constituir e se
perceber separado do outro. A partir daí poderá então separar suas necessidades e desejos das
necessidades e desejos dos outros. É quando então, o terapeuta poderá avançar na terapia
(HEGENBERG, 2013, p. 45). Kernberg (1995), que é da linha da Psicologia do Ego, é mais
cauteloso no que tange a regressão e apresenta outras técnicas, uma vez que indica que
A clarificação, confrontação e interpretação são os principais aspectos da técnica
interpretativa utilizada. Com pacientes com psicopatologias sérias, a clarificação e a
confrontação ocupam um espaço mais amplo do que a interpretação e as interpretações
dos significados inconscientes no “aqui e agora” tem maior espaço do que aquelas no
“lá e então” (KERNBERG, 1995, p. 1502).
O processo se repete até que o trabalho evolui para a análise clássica. Abaixo segue o
manejo de Kernberg mais detalhado. O autor cria uma proposta interventiva baseada na teoria
das relações do objeto chamada psicanálise expressiva, pois devido a estrutura e dinâmica
característica de personalidade, necessitam de adequação técnica. O objetivo do tratamento é
descobrir imagens objetais internalizadas, que tem correlação a imagem de si próprio, ajudando
o paciente a integrar essas imagens como um todo. O autor ainda chama atenção para agressão,
que pode ser um empecilho para tal ato, mas ainda o pior empecilho é o ego frágil que tem
dificuldade no controle das pulsões. Desta forma, as propostas terapêuticas são elencadas por
Bleichmar (1992) encontram-se listadas na tabela 4.
c) Por limites as agressões, desde o início deixar claro que não é permitido
agressões físicas dentro do consultório. Estimular a verbalização e não o ato.
d) A integração dos estados egóicos dissociados, como já foi dito, cabe ao terapeuta
fazer interpretação das defesas primitivas que mantem essa dissociação.
e) A transferência positiva pode ser usada em prol do tratamento.
f) Estimulação de expressões mais adequadas à realidade, procurando liberar a
capacidade de desenvolvimento genital mais maduro.
Fonte: BLEICHMAR, 1992
12
“No que diz respeito às raízes da agressividade e, portanto, aos estágios iniciais, os afetos ainda não estão
envolvidos. A agressividade, nesse momento, nada tem a ver com amor ou ódio. Amar e odiar são conquistas do
amadurecimento que têm pré-requisitos. Se o indivíduo não se constituir como um EU, se ele não puder proceder
à criação da externalidade pela destruição sem raiva, no anger, dos objetos subjetivos e não puder usar objetos que
são independentes e externos ao si-mesmo, ele não poderá usar esses objetos para o amor, na genitalidade, por
exemplo, nem poderá odiá-los” (DIAS, 2006, p.13).
42
2013, p. 202). O paciente, sobre risco de cometer suicídio, pode ser internado após avaliação
da equipe multiprofissional, no entanto, a internação compulsória pode ser vista como uma
intrusão, e a confiança e o vínculo pode ser comprometida, portanto cabe a experiência e uma
criteriosa avaliação de redução de danos.
lugar de objeto a, o analista permite-se ser tomado como Outro pelo analisante, para
desvelar, nesse movimento, o próprio desejo que move o sujeito em análise. Há um
semblante, um “fazer-de-conta ser o objeto capaz de realizar o desejo do paciente”
(ANDRADE, 2007, p. 191).
Quando se estabelece um contrato, as duas partes têm que honrar com sua contribuição
ora acordado, sabe-se exatamente o que está comprando, seja isto produto ou serviço. Isso não
acontece com a análise, pois não se sabe aonde se vai chegar, e a descoberta do que está por
traz do sintoma (aquilo que o paciente consegue lidar) será de extrema importância para a
análise, mas doloroso para o analisando.
De forma geral “aliança terapêutica é um fenômeno complexo e necessita ser
considerada como relacionada à (1) habilidade do terapeuta em formar aliança, (2)
características do paciente, (3) combinação apropriada entre características do paciente e do
terapeuta, e (4) mudanças sintomáticas precoces antes da mensuração da aliança” (WEBB et
al., 2011). Muitas problemáticas são levantadas, pois esse fenômeno é complexo, entretanto é
importante salientar que apesar das dificuldades da aliança terapêutica, é possível sim
desenvolver vínculo de boa qualidade com os pacientes, inclusive os borderlines.
47
3 METODOLOGIA
De objetivo exploratório, esta pesquisa busca investigar a atuação de psicólogos e
psiquiatras psicanalistas no manejo de pacientes borderlines. O presente trabalho refere-se a
uma pesquisa de natureza qualitativa, no qual se utiliza de aspectos reais que não podem ser
como uma representação numérica, uma vez que é voltada para a compreensão e explicação da
dinâmica das relações sociais. Nesta perspectiva, a análise qualitativa depende de diversos
fatores, “tais como a natureza dos dados coletados, a extensão da amostra, os instrumentos de
pesquisa e os pressupostos teóricos que nortearam a investigação” (GIL, 2002, p. 59).
Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica sistemática, definida como um
sumário de evidências provenientes de estudos primários conduzidos para responder uma
questão específica de pesquisa. Utiliza um processo de revisão de literatura amplo, justo e
reproduzível sintetiza, que avalia de forma crítica e interpretativa para obter uma visão geral e
confiável do parecer do efeito da intervenção (BRASIL, 2012).
Os dados foram escolhidos por conveniência, de acordo com os critérios de inclusão:
Artigos, monografias, teses e dissertações publicadas nas plataformas digitais: BDTD, LILACS
e SciElo, na língua portuguesa. Cujos autores fossem psicólogos e/ou psiquiatras que atuam na
abordagem psicanalítica no atendimento a pacientes diagnosticados com TPB, dentro do
período de janeiro de 2015 a março de 2020.
As palavras-chave definidas para a busca dos artigos foram: “Psicanálise”, “Transtorno da
Personalidade Borderline”, “Manejo (Psicologia)” e “adesão ao tratamento”. Entretanto, para
obter resultados na busca nas plataformas foram utilizadas combinações entre as palavras-chave,
tornando-as: “Psicanálise e Borderline”, “Borderline e Manejo (Psicologia)”, “Borderline e
adesão ao tratamento”. E como critérios de exclusão: artigos, monografias, teses e dissertações
não publicadas (literatura cinzenta), que não correspondem com os critérios de inclusão citados
acima e, que não tenham compatibilidade com o tema, bem como trabalhos disponíveis, mas
incompletos.
Por corresponder a um método explícito e sistemático que identifica, seleciona e avalia
a qualidade de evidências, as revisões sistemáticas são tipos de estudos produzidos por uma
metodologia confiável, rigorosa e auditável. Portanto, para a análise dos dados procedeu-se
primeiramente à leitura exploratória do material encontrado, que consistiu na observação
rápida, objetivando verificar se a obra consultada era de interesse para a pesquisa. Em seguida,
procedeu-se à leitura seletiva, que possibilitou a identificação nos artigos das partes importantes
para a realização da análise proposta.
48
Após essa seleção, fez-se a compilação das informações pertinentes, extraídas das
fontes, em uma planilha eletrônica, que contemplou o registro dos dados (autores, ano, método,
resultados e conclusões). Para a conclusão da etapa seletiva procedeu-se à leitura analítica, cuja
finalidade foi elencar, ordenar e sumariar as informações contidas nas fontes bibliográficas para
que possibilitassem a obtenção de respostas aos objetivos propostos.
a. Pré-análise
b. Exploração do
material
c. Tratamento dos
resultados
Fonte: PRÓPRIA AUTORA, 2020.
Visto que, pela Resolução CNS 466/12 (BRASIL, 2012, p.2), entende-se como risco a
“possibilidade de danos à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou
espiritual do ser humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente, agravo imediato
ou tardio, ao indivíduo ou à coletividade, com nexo causal comprovado, direto, ou imediato,
decorrente do estudo específico”.
Apesar da pesquisa não envolver experimentos humanos o estudo esteve atento aos
cuidados necessários para o seu desenvolvimento, de modo que o conteúdo trabalhado não seja
ofensivo aos direitos humanos e busque a promoção da reflexão sobre o tema desenvolvido,
contribuindo com o crescimento da ciência, em observação à resolução 466/12 do Ministério
da Saúde (BRASIL, 2012, p.2).
49
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O quadro a seguir apresenta o resultado geral dos dados encontrados na busca das
combinações das palavras-chaves em cada plataforma. Considerando que estes já respeitam os
critérios de inclusão referentes ao intervalo de ano e o idioma.
Total parcial 23 22 4
Total Geral 49
Fonte: PRÓPRIA AUTORA, 2020.
Na íntegra a coleta obteve um total geral de 49 artigos publicados nas três bases de
dados, contudo, apesar da filtragem já realizada na própria plataforma durante a busca das
palavras-chaves, necessitou-se de uma análise mais aprofundada, a fim de responder todos os
critérios. Desta forma, o quadro 02 apresenta o resultado final, no que diz respeito à coleta de
dados, de forma individual e coletiva e a soma total dos trabalhos selecionados de acordo com
os critérios de inclusão e exclusão definidos para a realização desta pesquisa.
Total parcial 9 9 2
Total Geral 20
Fonte: PRÓPRIA AUTORA, 2020
(*) Possui artigos duplicados
50
ESCOLHIDOS
9 artigos
BDTD
Total Parcial: EXCLUÍDOS
23 artigos 14 artigos
EXCLUÍDOS
LILACS 13 artigos
Total Parcial: Total Final:
Total Geral: 22 artigos ESCOLHIDOS 14 Artigos
49 Artigos 9 artigos
*4 duplicados
EXCLUÍDOS
SciELO 2 artigos
Total Parcial:
4 artigos
ESCOLHIDOS
2 artigos
*2 duplicados
Fonte: PRÓPRIA AUTORA, 2020.
Artigo 1
Título: A contratransferência como dispositivo de trabalho na clínica psicanalítica com
pacientes fronteiriços.
Autor (a): Renata Arouca de Oliveira Morais
Ano de Publicação: 2015
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 2
Título: A problemática do holding corporal na análise do paciente borderline: um estudo de
caso.
Autor (a): Solange Veronez
Ano de Publicação: 2017
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 3
Título: A transferência e a contratransferência na clínica dos estados-limite: o afeto como um
recurso de elaboração do trauma.
Autor (a): Paula França dos Santos
Ano de Publicação: 2016
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 4
Título: Adesão à técnica psicanalítica no processo de psicoterapia com uma paciente borderline.
Autor (a): Paula Von Mengden Campezatto; Fernanda Barcellos Serralta; Luísa Fernanda
Habigzang
Ano de Publicação: 2016
Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 5
Título: Adicção ao outro em pacientes fronteiriços: um estudo psicanalítico.
Autor (a): Marcelo Soares da Cruz
Ano de Publicação: 2016
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 6
Título: Andando na corda bamba: desafios técnicos do atendimento de pacientes borderline.
Autor (a): Milena da Rosa Silva; Denise Steibel; Paula Von Mengden Campezatto; Lívia Fração
Sanchez; Eduarda Duarte de Barcellos; Paula de Paula Fernandes; Regina Pereira Klarmann
Ano de Publicação: 2016
Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
52
Artigo 7
Título: Associação entre a função reflexiva e a funcionalidade global em pacientes
diagnosticadas com Transtorno de Personalidade Borderline.
Autor (a): Glaydcianne Pinheiro Bezerra
Ano de Publicação: 2019
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Borderline e Adesão ao Tratamento
Área de conhecimento: Psiquiatria
Artigo 8
Título: Contribuições da psicanálise winnicottiana à clínica com adolescentes fronteiriços:
estudo de um caso.
Autor (a): Sandra Aparecida Serra Zanetti; Geovanna Moreno Cianca
Ano de Publicação: 2017
Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 9
Título: Histeria e borderline: mo (vi) mentos da clínica psicanalítica.
Autor (a): Eunice Nishikawa; Maria Luiza Fiore; Orlando Hardt
Ano de Publicação: 2017
Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 10
Título: O paciente borderline na literatura psicanalítica, de 1930 a 2016.
Autor (a): Guilherme Geha dos Santos
Ano de Publicação: 2017
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 11
Título: Pacientes, problemas e fronteiras: psicanálise e quadros borderline.
Autor (a): Guilherme Geha dos Santos; Gustavo Adolfo Ramos Mello Neto
Ano de Publicação: 2018
Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 12
Título: Psicoterapia psicanalítica com pacientes borderline: construindo pontes entre
pesquisa e prática clínica.
Autor (a): Aline Alvares Bittencourt
Ano de Publicação: 2015
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Borderline e Manejo (Psicologia)
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 13
Título: Sobre os casos-limite e os limites das práticas de cuidado em psicanálise.
Autor (a): Maria Lívia Tourinho Moretto; Daniel Kupermann; Christian Hoffmann
Ano de Publicação: 2017
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Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 14
Título: Um território sem fronteiras: os casos-limite.
Autor (a): Ligia Todescan Lessa Mattos
Ano de Publicação: 2018
Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Fonte: PRÓPRIA AUTORA, 2020.
Faz-se importante ressaltar aqui, que para fazer a pesquisa bibliográfica que embasou o
referencial deste estudo, foi observado um grande número de teóricos, desde antes de Stern
(1938) que cunhou o termo “borderline”. Os primeiros capítulos tiveram o intuito de resumir o
percurso teórico da psicanalítica para que se tenha um encontro com a Psicanálise Clássica e
sua a evolução até os tempos atuais. Esse desenvolvimento da psicanálise possibilitou o objeto
borderline ser visto e entendido fora das estruturas e técnicas clássicas.
Diante disso e ao fato do problema de pesquisa, que são as formas de manejo, evitou-
se filtrar as buscas, no sentido de afunilar a apreensão do diagnóstico e o tratamento bordeline.
Isso não significa que se pretende esgotar o assunto, mas apenas colher dentro de um número
reduzido de trabalhos encontrados, formas de manejos em comum ou não. Nesta fase dos
resultados notou-se que a teoria Winnicottina foi a que mais apareceu no manejo dos autores
selecionados, seguido dos grandes teóricos Ferenczi, Grenn, Bion e Lacan.
A autora Morais (2015) na tese de doutorado “A Contratransferência como Dispositivo
de Trabalho na Clínica Psicanalítica com Pacientes Fronteiriços”, apresentou dois estudos de
caso sobre pacientes diagnosticados com borderline, como o próprio título diz, na utilização da
contratransferência como fundamental na clínica. A autora propõe o diálogo da teoria pulsional
e das teorias das relações de objeto, para facilitar o enquadre no trabalho analítico.
Devido ao aparecimento de pacientes fronteiriços com características semelhantes ao
quadro psicótico, têm-se a necessidade de uma flexibilidade em relação às regras postuladas
pela psicanálise. Outro ponto abordado foi sobre o clínico ter uma boa experiência com análise,
aprofundamento teórico de referência, supervisão e um trabalho em equipe com outros
profissionais, que em muitos casos se faz necessário. A autora lembra que Freud (1913) chama
as regras de “recomendações”, portanto, as técnicas devem ser vistas em “função das diferentes
constelações psíquicas envolvidas, a plasticidade de todos os processos mentais e a riqueza dos
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fatores determinantes que irão opor-se a qualquer mecanismo da técnica” (MORAIS, 2015, p.
69-70).
Essas ideias também são encontradas em todos os autores elencados neste estudo, e
ainda acrescentam que o analista deve ser criativo, alternando a técnica, mas mantendo a
Psicanálise. Contudo, a psiquiatra Bezerra (2019), em seu trabalho “Associação entre a Função
Reflexiva e a Funcionalidade Global em pacientes diagnosticadas com Transtorno de
Personalidade Borderline” respaldou seu trabalho na Teoria da Mentalização e biofeedback
social, em conjunto com a psicanálise, no estudo transversal com pacientes do sexo feminino
diagnosticadas com borderline, no Hospital Psiquiátrico São Pedro em Porto Alegre.
Os achados desse estudo, evidenciando associação entre a capacidade de mentalização
e a funcionalidade, mesmo controlando para sintomas e estilos defensivos, reforça a
importância do estudo da mentalização/ função reflexiva nesses pacientes.
Intervenções focadas na mentalização podem ser úteis para aparelhar diversos níveis
do sistema de saúde, para atender pacientes com TPB, podendo ser adaptadas a
cenários específicos (BEZERRA, 2019, p.36).
Há um consenso entre os autores do resultado desta pesquisa sobre não se observar uma
atitude clássica analítica, utilizando a associação livre, conteúdos de sonhos e histórias
passadas. Portanto, nota-se um precário nível de simbolização nos fronteiriços, devido à
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dificuldade de associação livre. Mattos (2018) em seu artigo “Um território sem fronteiras: um
caso limite”, sob a perspectiva de Grenn e Bion, comenta brevemente sobre os sonhos dos casos
limites, onde não abrem espaço para associações livres, pois são relatos crus que servem mais
para “erupções” psíquicas, ou seja, para alívio de tensões. Há sim alguma simbolização, porque
há representação de imagens, mas impossibilidade de considerações a esse respeito.
Foram encontradas nas buscas deste presente estudo duas publicações do mesmo autor,
“O paciente borderline na literatura psicanalítica, de 1930 a 2016” Santos (2017) e “Pacientes,
problemas e fronteiras: psicanálise e quadros borderline” Santos e Neto (2018), ambos
decorrem sobre algumas recomendações na literatura, e sobre não utilizar divã ou associação
livre, mas reflete se isso é apenas para evitar o trabalho analítico, pois vê o borderline como
um objeto, “para que este não seja projetado ou vinculado ao analista, restando a psicoterapia
cuidar das partes adjacentes, que estão cindidas” (SANTOS, 2017, p.156).
Morais (2015) traz uma questão importante na clínica borderline, onde o paciente “passa
diretamente do campo motor para o campo verbal, em que o falar é fazer e, assim, o clínico terá
que fazer um trabalho de desenvolvimento do campo visual de metaforização, de modo a ajudá-
lo a nomear seu mundo interno” (MORAIS, 2015, p. 72). Abrindo o caminho para o paciente
ver as coisas por si mesmo, que ele a priori não consegue ver.
Observa-se que a clínica psicanalítica necessita de uma disponibilidade de se estabelecer
uma relação terapêutica, através da vinculação “pré-verbais, sensoriais, nas quais caberá ao
analista a difícil tarefa de transformá-las em representações palavras via um trabalho de
nomeação” (MORAIS, 2015, p. 268). A autora, Santos (2016) na dissertação “A Transferência
e a Contratransferência na Clínica dos Estados-Limite: o afeto como um recurso de elaboração
do trauma”, apresenta o papel do analista diante da contratransferência, onde ele empresta a
elaboração dos seus próprios afetos para ajudar o paciente a identificar os dele, pela via da
simbolização, nomeando então como a clínica dos afetos.
Santos (2017) discorre sobre a interpretação, que deve ser vista no processo da análise
de transferência, portanto, o campo fértil está na relação com o analista, enquanto pessoa real
que oferece um ambiente facilitador para o ego frágil infantil. A respeito das interpretações
transferenciais, “é necessário cuidado ao fazê-las e, até mesmo, excluí-las durante certo tempo,
pois pacientes com configurações mentais distantes dos quadros neuróticos não podem suportá-
las em muitos momentos”, e pode ser vista pelo paciente como forma de instrução (MATTOS,
2018, p. 52).
Os autores supracitados comentam que a transferência se dá por meio da repetição de
um trauma na infância, e o paciente tenta não reviver, portanto precisa repetir, como postulado
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Sobre o sentimento de intrusão dos borderlines, Santos (2016) e Silva et al. (2016)
comentam que para amenizar isso, se faz necessário o afeto e presença ativa do terapeuta. Há
uma ansiedade na paciente quando entra em contato com o outro, inclusive apresentando
sintomas físicos, já em outros momentos de tensão demandam atenção terapêutica. Claro que
com o passar do tempo, com o vínculo fortalecido, frustrações poderão ser inseridas na medida
em que o terapeuta sinta que o paciente poderá suportar.
Bittemcurt (2015) em “A psicoterapia psicanalítica com pacientes borderline:
construindo pontes entre pesquisa e prática clínica”, traz um ensaio clínico e um estudo
empírico, onde discute a necessidade de conjugar a clínica com a investigação empírica para
ampliar o entendimento da desorganização aguda nos TPBs. No caso da paciente atendida na
abordagem psicanalítica, foram aplicados os testes Psychotherapy Process Q-set (PQS),
Shedler-Westen Assessment Procedyre (SWAP-200) e A Symptom Checklist-90- Revised (SCL-
90-R a fim de observar os comportamentos apresentados ao final de quase 01 (um) ano de
tratamento).
Tais resultados apontaram para o bom estabelecimento de vínculo, a regressão; as
atuações da paciente questionadas, buscando significados; pioras, em alguns momentos,
durante o processo terapêutico; melhora progressiva nos sintomas obsessivo-compulsivo,
depressivos, hostilidade e sensibilidade interpessoal. A paciente não abandonou o tratamento
61
contrariando seu histórico. Podemos então concluir a importância de estudos empíricos que
possam nos dar dados mais claros e diretos sobre a melhora do quadro borderline. Já no segundo
estudo, enfatiza a importância de se adotar uma postura de maior controle do processo em meio
a uma crise suicida, recomendando então a internação concomitantemente a psicanálise.
A respeito do holding, os autores Morais (2015), Veronez (2017), Zanetti e Cianca
(2017), Bittemcurt (2015) e Cruz (2016) comentam que a técnica possibilita transformar
experiências construtivas para que o borderline venha reconhecer-se como corpo e Self. Essa
clínica precisa de formas de comunicação que contenha e dê limites as moções, que dê
confiança e também firmeza, para dar a sensação de continuidade, assim como a “mãe
suficientemente boa”. As relações interpessoais do borderline, são muitas vezes abaladas por
sua inconstante personalidade e o desejo de ser amado incondicionalmente, pode sufocar a
família e os amigos. Sob a perspectiva winnicottiana o papel do analista é ser usado
criativamente pelo paciente, no entanto, ele deve aprender a usar o objeto, e isso só é possível
em um ambiente que possibilite o holding.
Cruz (2016) em sua tese de doutorado “Adicção ao outro em pacientes fronteiriços: um
estudo psicanalítico” faz uma revisão bibliográfica e relaciona com três casos borderlines, com
objetivo de descrever a qualidade das relações entre a perda do objeto e as adicções, ou seja, os
relacionamentos adictivos. Esses aspectos são vistos comumente nessa clínica. Em um dos
casos apresentados pelo autor, o paciente liga-se a esposa como uma droga, mantendo
preservada a ligação com o objeto humano e com objeto cocaína. Vemos uma forte relação
anaclítica e sofrimento causado pelas adicções.
Para isso Winnicott (2000) comenta, não tendo um ambiente suficientemente bom, não
sendo capaz de usar o objeto, por consequência não constituindo o self, o que resulta em uma
dependência anaclítica com objetos subjetivos. Em relação aos pacientes borderline que não
conseguiram formar a subjetividade, tão poucos conseguiram usar o objeto, pois não tiveram
ambiente propício para os processos maturacionais, não conseguiram fazer a transacionalidade,
portanto, não conseguiram usar o objeto, daí se vinculam a adicções (álcool, tabaco, pessoa,
etc) como forma de superar a angústia da separação. O tratamento nesses casos consiste em
estabelecer a regressão e um enquadre que possibilite o holding.
Sobre o setting os autores Silva et al. (2016), Santos (2016) e Santos (2017) discutem
sobre a rigidez como prejudicial ao paciente, e deve ser mantido na mente do analista. Claro
que há uma necessidade do estabelecimento de limites para o enquadre, como horários,
honorários etc., mas esses limites serão transgredidos, isso é um fato observado nesta clínica.
É preciso estabelecer regras flexíveis para que os pacientes consigam lidar com isso sem romper
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Então a forma de manejo seria a vinculação com o objeto borderline, o analista deve
viver as turbulências com o paciente, para que apareça o verdadeiro Self. Entender as
características de um objeto como esse, não resumir o manejo “à interpretação dos conteúdos
contra os quais o paciente luta” (SANTOS, 2017, p.162). O trabalho seria o da vinculação
verbal e não verbal. No que tange a adesão ao tratamento, discutido nos capítulos desse presente
estudo: sobre o excesso de interpretações que são vistas como intrusões; o alto custo financeiro
do tratamento, que é multiprofissional e de longo prazo; a falta de rede de apoio; o desgaste do
terapeuta, as relações analíticas que causam dificuldades na aliança terapêutica.
Mas pode-se observar nos resultados que também a inabilidade do terapeuta, no sentido
de acolher as transferências e projeções, a falta de discriminação dos afetos, pode reproduzir o
desejo do abandono do paciente. Santos (2017) comenta que com as partes projetadas no
analista, causando fusão ou simbiose, o analista se tornaria ameaçador, portanto, se faz
necessário proteger o sujeito do medo da desintegração. Para que a vinculação aconteça, o
terapeuta deve viver a turbulência com ele, se o terapeuta não consegue fazer esse movimento
é possível que ele rompa o vínculo.
Os autores Silva et al. (2016) analisaram um atendimento, onde observaram que mesmo
com indicação de sessões semanais, a paciente faltava muito, isso foi visto pela terapeuta como
a baixa aceitação dos problemas por parte da paciente. Em duas sessões utilizando a psicanálise
sugeriu a fragilidade da aliança, pois a terapeuta fazia o esforço de proteger o contrato
terapêutico, tudo isso contribuiu para interrupção do tratamento. Contudo, os resultados não
permitem generalizações, pois se trata apenas de um caso com poucas sessões.
A partir dos dados coletados verifica-se diversas relações entre eles, e a partir dessas
relações podemos observar que a psicoterapia psicanalítica tem efeitos positivos no tratamento
do paciente Borderline, no sentido de diminuir a instabilidade emocional, caracterizada pela
relação anaclítica com o objeto, assim como uma possível adequação da dicotomia idealização
e desvalorização das relações objetais frente à terapia. Entretanto, isso poderá ocorrer se o
manejo for bem executado, o for vínculo estabelecido, e se o paciente conseguir manter uma
frequência razoável às sessões. As possíveis respostas para o problema de pesquisa serão
desenvolvidas a seguir.
Percebe-se que a clínica com os pacientes border exige muita disponibilidade
emocional, pois precisam do contato humano e acaba dependendo muito do terapeuta. Essa
clínica também precisa de formas de comunicação que contenha e dê limites as moções, que dê
confiança, e, também firmeza para dar a sensação de continuidade, assim como a “mãe
suficientemente boa”. Os resultados obtidos junto aos pacientes não são lineares, há momentos
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de crise e regressão. Mas o vínculo estabelecido entre paciente e terapeuta é visto em todos os
autores como meio de integrar o Self dos borderline, e consequentemente ele pode experenciar
relações mais adequadas, ao invés de analíticas ou adictas. Esse é o ponto chave para entender
a instabilidade emocional, pois ela é oriunda dos sentimentos de intrusão e separação dos
objetos, portanto, estabelecendo relações com os objetos mais saudáveis as instabilidades
diminuem.
Não tendo relações analíticas, consequentemente não estará fusionado no Outro, não se
sentirá invadido ou desamparado. Não se pretende reduzir a uma tarefa fácil e rápida, ao
contrário, é preciso dar uma direção ao tratamento, que poderá ser sentida, ou não, junto ao
paciente. Ademais, apesar do manejo não se utilizar necessariamente da psicanálise clássica,
como a associação livre e interpretação, o manejo é feito com análises de transferências e a
simbolização das contratransferências, portanto existe uma continuidade dessa abordagem, ou
seja, ainda é psicanálise. Conclui-se que os autores que apareceram nos resultados das buscas,
ou seja, psiquiatras e psicólogos estão trabalhando em consonância com a literatura
psicanalítica.
Foi perceptível que os acctings são uma forma de comunicação, que o holding e o
holding corporal são ferramentas preciosas se bem empregadas. E pequenas frustrações poderão
ser inseridas conforme a separação paciente-terapeuta se processa. Tudo isso está
concomitantemente ligado a adesão ao tratamento, assim como a flexibilização do enquadre,
sendo necessário o enquadre interno do analista. Portanto para se prevenir o abandono, o
terapeuta deve ter o enquadre interno, ser flexível, continente, evitar interpretações, acolher,
sustentar, suportar as identificações projetivas e as contratransferências.
No entanto, os resultados da pesquisa abordaram apenas os fatores ligados ao setting e
ao terapeuta, e não ampliou para as questões pessoais do paciente, como falta de rede de apoio
e dificuldade financeira. Infere-se que não existe um fator para o abandono, mas um conjunto
de fatores. Como já foram amplamente discutidos neste estudo os problemas que ocorrem na
análise dos borderlines são muitos, contudo é importante salientar a importância do tripé da
psicanálise segundo Freud (1915): análise pessoal, estudo, embasamento e análise teórica, e
supervisão clínica.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tratamento e a diminuição dos sintomas TPB se mostram um desafio para a ciência
de forma geral. Durante o trabalho verificou-se que a hipótese foi confirmada, porque durante
os resultados da pesquisa, identificaram-se alguns exemplos de psicoterapias psicanalíticas com
resultados positivos, e também estudos teóricos que recomendam a psicanálise.
No entanto, cabe ressaltar que o objetivo desse estudo é apenas identificar e descrever
o que foi realizado por outros profissionais e quais resultados eles obtiveram, abrindo assim
caminho para outras pesquisas. No que se refere à diminuição da instabilidade e a relação
analítica, esses estão ligados, pois invasões e separações provocam essa instabilidade emocional
nos TPBs.
O presente estudo pôde identificar dentro da abordagem psicanalítica, quais métodos de
manejo têm sido aplicados por psicólogos e psiquiatras e quais os resultados obtidos referentes
à adesão ao tratamento e melhora do quadro Borderline. Foram investigados os métodos de
manejo psicanalíticos que estão presentes na literatura, referente ao tratamento e manejo do
paciente borderline.
Foram explorados os efeitos na adesão do paciente Borderline, assim como na melhora
do quadro. Sobre a descrição dos contextos que fazem os pacientes Borderline abandonarem o
tratamento, estão diretamente ligados ao manejo adequado e rede de apoio, portanto, práticas
podem ser aplicadas para prevenir esse abandono.
A resposta para o problema de pesquisa está justamente na hipótese confirmada acima,
mais ainda, pôde-se dizer que as formas de manejo que têm sido usados por psicólogos e
psiquiatras na abordagem psicanalítica são: holding e holding corporal, manejo das
transferências e contratransferências, comunicação que extrapolem o campo verbal, vinculação
entre paciente-terapeuta, evitar interpretações, identificar momentos de transferência neurótica
e psicótica, continência, não utilizar associação livre, estabelecer um enquadre interno e
flexibilidade das regras.
As limitações durante este trabalho estiveram relacionadas aos números limitados de
artigos encontrados, assim como as plataformas que foram apenas três e em língua portuguesa,
ou seja, mais trabalhos com essa temática estão publicados em outras plataformas e em outras
línguas, podendo também ser explorados.
Portanto, esse trabalho não os contempla aqui, necessitando de outras pesquisas, estudos
experimentais, pesquisas empíricas, estudos de campo. Uma questão trazida por alguns autores
foi o trabalho em equipe, no que tange a supervisão clínica, mas não citaram a equipe “multi”,
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REFERÊNCIAS
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