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Thalita de Souza Reis Ventura

MANEJO DO PACIENTE BORDERLINE NA ABORDAGEM PSICANALÍTICA

Palmas – TO
2020
Thalita de Souza Reis Ventura
MANEJO DO PACIENTE BORDERLINE NA ABORDAGEM PSICANALÍTICA

Pesquisa elaborada e apresentada como requisito parcial


para aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC) II do curso de bacharelado em Psicologia
do Centro Universitário Luterano de Palmas
(CEULP/ULBRA).

Orientador: Prof.ª. Me. Muriel Corrêa Neves Rodrigues

Palmas – TO
2020
Thalita De Souza Reis Ventura
MANEJO DO PACIENTE BORDERLINE NA ABORDAGEM PSICANALÍTICA

Pesquisa elaborada e apresentada como requisito parcial


para aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC) II do curso de bacharelado em Psicologia
do Centro Universitário Luterano de Palmas
(CEULP/ULBRA).

Orientador: Prof.ª. Me. Muriel Corrêa Neves Rodrigues

Aprovado em: _____/_____/_______

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________
Prof.ª Me. Muriel Corrêa Neves Rodrigues
Orientadora
Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP

____________________________________________________________
Prof.ª Me. Raphaella Pizani Castor
Centro Universitário Luterano de Palmas

____________________________________________________________
Prof. Me. Sonielson Luciano de Sousa
Centro Universitário Luterano de Palmas

Palmas – TO
2020
Dedico esse estudo ao meu esposo Rodrigo
Ventura, que é minha fonte de inspiração tanto
profissional como pessoa. Contei com seu
apoio durante toda graduação. Dedico também
aos meus pacientes da Clínica Escola SEPSI,
que confiaram no meu trabalho, e me
desafiaram a apreender e praticar a clínica
psicanalítica, mas, sobretudo a ser um ser
humano melhor.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço ao Criador que me possibilitou vivenciar essa linda ciência.


Agradeço a minha família, em especial meus pais (Dulce e Ronaldo), esposo (Rodrigo), irmã
(Raissa) e cunhado (Wesley) que sempre me apoiam e incentivaram desde que iniciei a
graduação. Agradeço minha secretária do lar (Maria) e esposo que cuidaram da casa enquanto
eu estava imersa na pesquisa. Agradeço aos meus cãezinhos que tornam meus dias mais
agradáveis. Agradeço minhas amigas (Adriele Bezerra, Nathalia Quintela, Gilcirene Sandoval)
pelo apoio nas fases da pesquisa, me auxiliando nas dúvidas do processo. Agradeço a banca
examinadora, Prof.ª Me. Raphaella Pizani Castor e Prof. Me. Sonielson Luciano de Sousa, pelas
ricas contribuições e empenho para fazer com que esse estudo fosse significativo. Fico muito
honrada em tê-los na minha banca. Agradeço a minha orientadora e supervisora clínica Prof.ª
Me. Muriel Corrêa Neves Rodrigues que apostou no meu trabalho, se mostrando paciente,
atenciosa e colaborativa, dando a estabilidade que eu precisava, além de sua experiência e
sabedoria. Por fim, não menos importante, gostaria de agradecer a todos professores da UNIRP,
onde estudei 1 ano e meio, e ao CEULP ULBRA, especialmente às coordenadoras Irenides
Teixeira e Cristina Filipakis.
“Ao praticar psicanálise, tenho propósito de: me
manter vivo; me manter bem; me manter desperto.
Objetivo ser eu mesmo e me portar bem. Uma vez
iniciada uma análise espero continuar com ela,
sobreviver a ela e terminá-la” (WINNICOTT, Os
objetivos do tratamento psicanalítico
(1962b/1983, p.152).
RESUMO

VENTURA, Thalita de Souza Reis. Manejo do paciente borderline na abordagem


psicanalítica. 2019. 74 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de
Psicologia, Centro Universitário Luterano de Palmas, Palmas/TO, 2010.

A psicanálise contemporânea está desafiada a adaptar e aprimorar seus métodos para abarcar as
psicopatologias graves que emergem neste contexto, como por exemplo, o Transtorno da
Personalidade Borderline. Esta pesquisa teve como objetivo identificar, dentro da abordagem
psicanalítica, como se dá o manejo e quais os resultados obtidos referentes à adesão ao
tratamento e melhora do quadro borderline. Além dos objetivos específicos que foram
investigar quais métodos de manejo psicanalíticos estão presentes na literatura, referente ao
tratamento e manejo do paciente borderline, explorar o que a literatura psicanalítica preconiza,
e o que têm surtido efeito na adesão do paciente Borderline, assim como na melhora do quadro;
descrever em que contextos os pacientes Borderline abandonam o tratamento e, quais práticas
podem ser aplicadas para prevenir esse abandono. De objetivo exploratório, refere-se a uma
pesquisa de natureza qualitativa, tratando-se de uma Revisão Bibliográfica Sistemática. Os
dados foram escolhidos por conveniência, de acordo com os critérios de inclusão: Artigos,
monografias, teses e dissertações publicadas nas plataformas digitais: BDTD, LILACS e
SciElo, na língua portuguesa, cujos autores fossem psicólogos e/ou psiquiatras que atuam na
abordagem psicanalítica no atendimento a pacientes diagnosticados com TPB, dentro do
período de janeiro de 2015 a março de 2020. Constatou-se por meio dos resultados desta
pesquisa que a psicanálise proporciona melhoria do quadro borderline, assim como qualidade
de vida dos pacientes através da redução dos sintomas, melhor adaptação ao meio, relações
objetais mais saudáveis e maduras. No entanto, devido as dificuldades no estabelecimento da
transferência nos moldes tradicionais, exige do terapeuta maior preparo técnico e atitude
empática. Pôde-se dizer que, as formas de manejo que têm sido usados por psicólogos e
psiquiatras na abordagem psicanalítica são: holding e holding corporal, manejo das
transferências e contratransferências, comunicação que extrapolem o campo verbal, vinculação
entre paciente-terapeuta, evitar interpretações, identificar momentos de transferência neurótica
e psicótica, continência, não utilizar associação livre, estabelecer um enquadre interno e
flexibilidade das regras.

Palavras-chave: Psicanálise. Transtorno da Personalidade Borderline. Manejo (Psicologia).


Adesão ao Tratamento.
ABSTRACT

VENTURA, Thalita de Souza Reis. Manejo do paciente borderline na abordagem


psicanalítica. 2019. 74 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de
Psicologia, Centro Universitário Luterano de Palmas, Palmas/TO, 2010.

Contemporary psychoanalysis is challenged to adapt and improve its methods to encompass the
serious psychopathologies that emerge in this context, such as, for example, Borderline
Personality Disorder. This research aimed to identify, within the psychoanalytical approach,
how the management takes place and what results are obtained regarding adherence to treatment
and improvement of the borderline condition. In addition to the specific objectives that were to
investigate which psychoanalytic management methods are present in the literature, regarding
the treatment and management of the borderline patient, to explore what the psychoanalytic
literature advocates, and what have had an effect on the borderline patient's adherence, as well
as on the improvement from the board; describe in which contexts Borderline patients abandon
treatment and, what practices can be applied to prevent this abandonment. With an exploratory
objective, it refers to a qualitative research, dealing with a systematic bibliographic review. The
data were chosen for convenience, according to the inclusion criteria: Articles, monographs,
theses and dissertations published on digital platforms: BDTD, LILACS and SciElo, in
Portuguese, whose authors were psychologists and / or psychiatrists who work in the
psychoanalytic approach in the care of patients diagnosed with BPD, from January 2015 to
March 2020. It was found through the results of this research that psychoanalysis improves the
borderline condition, as well as quality of life for patients through the reduction of symptoms ,
better adaptation to the environment, healthier and more mature object relations. However, due
to the difficulties in establishing transference in the traditional way, it requires a greater
technical preparation and empathic attitude from the therapist. It could be said that, the forms
of management that have been used by psychologists and psychiatrists in the psychoanalytic
approach are: holding and holding the body, handling of transfers and counter-transfers,
communication that goes beyond the verbal field, bonding between patient-therapist, avoiding
interpretations, identify moments of neurotic and psychotic transference, continence, not using
free association, establishing an internal framework and flexibility of the rules.

Keywords: Psychoanalysis. Borderline Personality Disorder. Management (Psychology).


Adherence to Treatment.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Esquema da metodologia...........................................................................................48


Figura 2: Fluxograma da seleção dos artigos............................................................................50

Quadro 1: Resultado geral das buscas nas bases de dados.......................................................49


Quadro 2: Artigos selecionados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão................49
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Prevalência estimada relacionada a cada tipo de transtorno de


personalidade............................................................................................................................24
Tabela 2: Variações do termo borderline durante a história ....................................................26
Tabela 3: Processo de expressão da cólera até o progresso do Eu...........................................40
Tabela 4: Proposta de intervenção de Kernberg.......................................................................40
Tabela 5: Dados dos artigos selecionados................................................................................51
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEULP Centro Universitário Luterano de Palmas


CID Classificação Internacional de Doenças
DSM Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais
TP Transtorno de Personalidade
TPB Transtorno de Personalidade Borderline
ULBRA Universidade Luterana do Brasil
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................11
2 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................14
2.1 A PSICANÁLISE E O CAMINHO PARA O BORDER .................................................. 14
2.2 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE PARA A PSIQUIATRIA .... 232
2.3 BORDERLINE E A PSICANÁLISE...................................................................................26
2.4 BORDERLINE E A CONTEMPORANEIDADE ............................................................ 324
2.5 MANEJO DO PACIENTE BORDERLINE ........................................................................ 36
2.5.1 O Manejo da Agressividade e a Ideação Suicida........................................................41
2.5.2 O Manejo do Borderline e as Relações Interpessoais ................................................. 43
2.5.3 Tratamento Medicamentoso ......................................................................................... 44
2.6 ADESÃO AO TRATAMENTO ......................................................................................... 45
3 METODOLOGIA................................................................................................................47
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................................49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................65
REFERÊNCIAS......................................................................................................................67
11

1 INTRODUÇÃO
O conceito dos estados limites ou borderline em psicanálise, inicialmente, se deu pela
difícil compreensão de casos que não se encaixavam em uma estrutura de personalidade, mas
que perpassavam essas estruturas, podendo apresentar traços de neurose, psicose e perversão.
O borderline é descrito na literatura com uma variedade de definições e sintomas como: a
instabilidade emocional, o narcisismo patológico, a reatividade, a baixa tolerância à frustração,
o medo de separação do objeto, medo de desintegração psíquica, agressividade, impulsividade,
sensação de desamparo, entre outros.
Segundo Pereira (1999) a psiquiatria contemporânea classifica o borderline como um
transtorno de personalidade, multifacetado, plástico e semelhante a diversas psicopatologias
clássicas. O tratamento do paciente borderline é na maioria dos casos longo, devido à gravidade
da psicopatologia. Além da grande variabilidade de sintomas e experiências traumáticas, e
consequentemente o nível de desestruturação psíquica faz do paciente borderline um desafio
para psicólogos e psiquiatras.
A construção de adaptação de técnicas que abarquem o sujeito se faz necessária na
prática clínica, pois as associações livres e interpretações da psicanálise clássica não possuem,
nesses pacientes efeitos positivos, muito pelo contrário, tem efeitos danosos ao vínculo
terapêutico. Além do mais, a relação terapêutica e manifestações transferenciais negativas,
exigem do terapeuta maior embasamento científico e um olhar para além do descrito nos
manuais da psicopatologia.
Esse trabalho se justifica pela relevância do tema para questões científicas, através da
possibilidade de melhorar o diagnóstico e o tratamento. Para as questões sociais, um diagnóstico
e tratamento adequado possibilita a redução de internações, de custos, de abandono ao
tratamento, suicídio e agravos à saúde dos pacientes. No que tange a relevância pessoal, o
estudo possibilita a imersão no manejo psicanalítico para transtornos graves, obtendo um
aprofundamento do tema. Ademais, abrindo espaço para diversas publicações e especializações,
visto que é de interesse da pesquisadora atuar na área de psicopatologias graves.
O problema de pesquisa é, dentro da abordagem psicanalítica, quais métodos de manejo
têm sido aplicados por psicólogos e psiquiatras e quais os resultados obtidos referentes à adesão
ao tratamento e melhora do quadro Borderline? O presente estudo buscou identificar dentro da
abordagem psicanalítica, quais métodos de manejo têm sido aplicados por psicólogos e
psiquiatras e quais os resultados obtidos referentes à adesão ao tratamento e melhora do quadro
Borderline.
12

E os objetivos específicos: investigar quais métodos de manejo psicanalíticos estão


presentes na literatura, referente ao tratamento e manejo do paciente borderline. Explorar o que
a literatura psicanalítica preconiza, e o que têm surtido efeito na adesão do paciente Borderline,
assim como na melhora do quadro. Descrever em que contextos os pacientes Borderline
abandonam o tratamento, e quais práticas podem ser aplicadas para prevenir esse abandono.
O referencial teórico foi composto por micro capítulos, o primeiro capítulo apresenta
um desenho psicanalítico para construção de estruturas, conceitos que traçam um percurso até
o border. O segundo traz o percurso das classificações, nomenclaturas e as características do
transtorno de personalidade borderline na visão da psiquiatria. O terceiro discute como esse
sujeito se inscreve no contexto social, e a relação das psicopatologias na contemporaneidade.
O quarto traz algumas formas de manejo psicanalítico, o manejo das relações familiares e
sociais e os tratamentos medicamentosos. Por fim, o quinto, discute a adesão ao tratamento.
Mesmo que a psicanálise nos tempos de Freud e contemporâneos não tenha abarcado os
casos fronteiriços, a compreensão do border perpassa pela base da estruturação psíquica
delineada por Freud. O presente trabalho traça uma breve linha trazendo alguns teóricos que se
dedicaram a esse transtorno. Exemplo disso, o psiquiatra psicanalista Winnicott (1975, p. 462),
que menciona: “tive que aprender a examinar minha própria técnica sempre que surgiam
dificuldades, e a causa das doze ou mais fases de resistência provou sempre ser um fenômeno
de contratransferência que exigia mais autoanálise por parte do analista”.
O autor empenhou-se para construir seu manejo e seu olhar sob as relações objetais
analíticas do borderline. O paciente TPB (Transtorno de Personalidade Borderline) carece de
um olhar terapêutico qualificado e não rígido em apenas uma linha teórica. Como também, de
apoio terapêutico ético e não de julgamentos negativos, por ser um sujeito biopsicossocial,
capaz de construir relações objetais mais saudáveis e o fortalecimento de seu Self Verdadeiro.
É notável na literatura e até mesmo na práxis dos profissionais da saúde a dificuldade
do manejo do paciente Borderline e a adesão ao tratamento. Estudos mostram que 50% dos
pacientes Borderline desistem do tratamento no primeiro ano. Indivíduos com TPB possuem
dificuldades de manter relações estáveis e duradouras, que se manifestam na psicoterapia
(MURAN et al., 2009). Segundo Gunderson e Phillips (1995), estima-se que aproximadamente
10 a 13% da população geral, quando investigada com instrumentos epidemiológicos,
preenchem os critérios diagnósticos para transtorno de personalidade.
O tratamento e a diminuição dos sintomas TPB se mostram um desafio para a ciência
de forma geral. Diante disso, esse estudo se justifica para contribuir na identificação de formas
de manejo, que tem se mostrado eficazes para melhoria da qualidade de vida dos pacientes TPB.
13

No que se referem à clínica, os profissionais devem refletir sua práxis e olhar para o
paciente como um ser complexo, dotado de infinitas possibilidades e não reduzido a uma
psicopatologia. Podendo assim, levar o paciente a um restabelecimento das funções sociais e
psicológicas, promovendo melhoria na qualidade das relações familiares. Esse trabalho traça
um breve percurso histórico da psicanálise e o TPB, possibilitando uma visão geral e didática
das mudanças terminológicas e metodológicas, o que poderá servir como base para novos
estudos. No entanto, é relevante salientar, que nem todas as escolas da psicanálise possuem um
histórico longo e reconhecido referente ao TPB, portanto, no decorrer do estudo, serão
abordados apenas os autores que mais se destacaram ou mesmo se aprofundaram sobre a
temática.
14

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A PSICANÁLISE E O CAMINHO PARA O BORDER

Esse capítulo tem um breve relato da história da psicanálise e suas escolas, que se faz
necessária para desenvolver um direcionamento das principais técnicas e do percurso da
psicanálise, para então adentrar mais à frente, no tratamento dos pacientes borderline. A
intenção não é esgotar o assunto, mas apenas traçar uma linha do tempo, do desenvolvimento
psicanalítico. O analista deve ter uma visão sobre essas mudanças conceituais, para assim
conseguir fundamentar sua práxis e conhecer as bases do pensamento dos principais autores,
sua linha de raciocínio, partindo da escola psicanalítica ao qual ele mais se reconhece.
Segundo Bursztyn (2008), o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856 – 1939) esteve
em Paris em 1885, para assistir as aulas do médico Charcot no Hospital La Salpêtrière, que foi
referência clínica e de ensino sobre a histeria, sendo o primeiro passo para então, a partir do
trabalho de Charcot e contemporâneos, pudesse construir a psicanálise. Estudavam fenômenos
histéricos assemelhando-se a patologias neurológicas, com paralisias, convulsões, espasmos e
anestesias, sem causa aparente, que nenhum exame possibilitava um diagnostico ou hipótese.
Por consequência disto, alguns médicos acreditavam se tratar de encenações. Os corpos das
histéricas expressam uma linguagem conversiva1, fruto de conflitos psíquicos e não de causas
orgânicas.
Resumidamente a autora menciona que “atento ao método introduzido por Charcot,
Freud começa a formular conceitos embasadores de uma nova metodologia que inaugura o
tratamento psicanalítico” (BURSZTYN, 2008, p.129). Esse método era a sugestão sob hipnose,
indução do sono vigília a fim do paciente acessar memórias passadas e relaxar os músculos
tensionados, no entanto, os sintomas nem sempre diminuíam, pois quando algumas pacientes
acordavam esqueciam novamente o que tinham dito e as paralisias voltavam, além dos
espasmos e anestesias. A autora ainda elenca que Freud, decepcionado, passa usar o método
catártico:
[...] por meio do método catártico, Freud percebeu a possibilidade de reintroduzir no
campo de consciência experiências subjacentes aos sintomas e deu início às suas
investigações psicanalíticas, trazendo à baila o conceito de recalque para fundamentar
os acontecimentos esquecidos pelo sujeito histérico (p.129).

A partir de sua autoanálise e de sua paciente Emmy Von N. que pediu para falar e não
ser hipnotizada cria o método de associações livres, onde abre espaço para os pacientes
associarem livremente os sintomas com suas causas, definindo então o método clínico da

1
No sentido de que sintomas psíquicos convergem em sintomas físicos.
15

psicanálise. Porém, nem todos os pacientes verbalizavam traumas ou episódios da infância de


forma espontânea, e sobre os relatos dos sintomas, chistes2, lapsos3, atos falhos4 e sonhos, Freud
encontrou a via de acesso ao inconsciente e, ao mesmo tempo, a relação que o sujeito do
inconsciente estabelece com a palavra falada (BURSZTYN, 2008).
Fadiman; Frager (1986, p.4) afirmam que “o inconsciente é uma instancia profunda
psíquica onde estão elementos instintivos, que nunca foram conscientes e que não são acessíveis
à consciência”. Existe também material que foi excluído por recalque, censura ou repressão,
pois o consciente não consegue lidar com fortes significados e sentimentos atribuídos a esses
materiais. “Este material não é esquecido ou perdido, mas não lhe é permitido ser lembrado. O
pensamento ou a memória ainda afetam a consciência, mas apenas indiretamente.”
(FADIMAN; FRAGER, 1986, p.4).
A psicanálise teve como marco inaugural o livro A interpretação dos sonhos (1900), no
cenário cultural europeu marcado pela racionalidade científica, uma vez que
Freud foi aquele que apontou para a descentralidade da consciência e do eu em relação
às pulsões e à sexualidade, concebendo o inconsciente como fonte proeminente a
emanar força no psiquismo [...] A memória se caracterizou como um importante
elemento para Freud investigar algumas dentre as respostas que buscava acerca da
subjetividade (CANAVÊZ, 2012, p.103).

Divergindo do pensamento de Descartes, onde a ciência na perspectiva filosófica via o


homem com a subjetividade ligada apenas na consciência, o eu e a razão, Freud lança o
funcionamento psíquico clivado em duas forças opostas, consciente e inconsciente. Ele provoca
uma revolução, pois mexe com a dimensão narcísica do europeu médio.
O inconsciente é uma instância onde existem os traços mnêmicos5 e representações, que
se constrói e se altera nas vivências com o outro. Conforme Canavêz (2016) há, no pensamento
freudiano, em sua dedicação à construção teórica sobre o aparelho psíquico, uma investigação
consistente sobre as memórias. Essa investigação é sobre o passado que não foi esquecido, mas
perdido, recalcado a um lugar profundo e obscuro. Em seu trabalho clínico, observou relatos
dos pacientes sobre sua infância o que lhe chamou a atenção para a memória e os símbolos
atribuídos a partir do momento atual do paciente.

2
Recurso utilizado para evitar o desprazer “pelo exercício da função lúdica da linguagem, cujo primeiro estádio
seria a brincadeira infantil e o segundo, o gracejo.” (ROUDINESCO; PLON, 1998, p.113)
3
Termo latino utilizado na retórica para designar um erro cometido por inadvertência, quer na fala (lapsus linguae),
quer na escrita (lapsus calami), e que consiste em colocar outra palavra no lugar da que se pretendia dizer
(ROUDINESCO; PLON, 1998, p.465).
4
Ato pelo qual o sujeito*, a despeito de si mesmo, substitui um projeto ao qual visa deliberadamente por uma ação
ou uma conduta imprevista. (ROUDINESCO; PLON, 1998, p.40)
5
Memória; “processo de estratificação em que os traços mnêmicos são remanejados de tempos em tempos,
conforme as novas circunstâncias”. (ROUDINESCO; PLON, 1998, p.148)
16

O método de Freud não visa promover o resgate do fato em si, mas a forma como foi
inscrito no psiquismo, e como isso constitui o sujeito na sua maneira de ser no mundo. O
recalcamento6 e o deslocamento7 cumprem o papel de conceber uma resistência protetiva a
conteúdos mnêmicos, ou seja, memórias com afetos que o consciente não é capaz de suportar.
“O trabalho psicanalítico, para ele, consistiria em superar tais barreiras ao buscar na mente as
memórias obscurecidas que teriam o poder de levar o sujeito a se ver livre do seu sintoma”
(BRITO; CANAVÊZ, 2016, p.111).
Em suas obras a interpretação do analista opera no sentido de tornar consciente o
inconsciente. Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), o pai da psicanálise fala
sobre autoerotismo da infância, a perversidade polimorfa infantil8, as fases do desenvolvimento
psicossexual gerando um grande “fervor” na sociedade vienense. As fases psicossexuais são
etapas do desenvolvimento humano, que se dá através da libido que percorre partes do corpo
de acordo com a maturação da criança até chegar a fase adulta.
Essas fases são de extrema importância para compreender o funcionamento psíquico,
pois estarão ligadas a traços de personalidade, caso o sujeito se fixe em uma delas, quando
ocorrer traumas. Para esse desenvolvimento temos: a fase oral, a fase anal, a fase fálica, o
período de latência e a fase genital. A fase oral é de aproximadamente 0 a 18 meses,
caracterizada pelo prazer oral da criança, que através da amamentação e introdução de objetos
na boca, obtendo a satisfação. De acordo com Hall e Lindzey (1984), comer é uma atividade
prazerosa, quando crescer os dentes, o bebê sentirá vontade de morder e mastigar, o que poderá
levar a traços orais de personalidade como: personalidade ingênua, que “engole” tudo o que o
outro diz, ou agressividade verbal, há ainda muitas manifestações sintomáticas diferentes ou
inversas a essas.
Segundo os autores supracitados fase anal é aproximadamente dos 18 meses a 3 anos,
quando a criança começa a fazer o controle do esfíncter, sendo o ânus a área de satisfação. O
alívio produzido pela defecação e a experiência produzida pela limpeza que o cuidador realiza
na criança, assim como a reação do mesmo em relação a esse processo, também podem
influenciar nos traços de personalidade como: meticulosidade, organização, teimosia, mania
de limpeza ou descuido, podendo chegar até a avareza e ciúmes.

6
Mecanismo de defesa, “onde a pessoa procura repelir para o inconsciente pensamentos imagens, e recordações
ligados a uma pulsão que, se estivesse sido satisfeita, provocaria efeitos desagradáveis” (CAMPAILLA, 1982,
p.28).
7
“Processo psíquico inconsciente, teorizado por Sigmund Freud sobretudo no contexto da análise do sonho. O
deslocamento, por meio de um deslizamento associativo, transforma elementos primordiais de um conteúdo latente
em detalhes secundários de um conteúdo manifesto.” (ROUDINESCO; PLON, 1998, p.148).
17

Quando a mãe utiliza métodos rigorosos de higiene e desfralde, pode acontecer da


criança reter as fezes, podendo conter caráter retentivo e de avareza na fase adulta, já se tiver
caráter expulsivo, poderá desenvolver a crueldade. Se a percepção da criança for de uma
cuidadora que incentiva, o processo se tornar tranquilo, a criança pode sentir-se capaz, e se
tornar criativa. A fase fálica, ocorre aproximadamente entre os 3 anos aos 6 anos, é nesse estágio
que começa a masturbação, e o complexo de édipo. Os autores Laplanche e Pontalis (1992)
explicam que o complexo de édipo:

Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança sente em relação aos
pais. Sob a sua forma dita positiva, o complexo apresenta-se como na história de
Édipo-Rei: desejo da morte do rival que é a personagem do mesmo sexo e desejo
sexual pela personagem do sexo oposto. Sob a sua forma negativa, apresenta-se de
modo inverso: amor pelo progenitor do mesmo sexo e ódio ciumento ao progenitor
do sexo oposto. Na realidade, essas duas formas encontram-se em graus diversos na
chamada forma completa do complexo de Édipo (p.77).

Segundo Freud, o declínio do édipo se dá através da intersecção da função Pai, e a


castração que estrutura o Superego, todavia o édipo é revivido na puberdade. O complexo de
Édipo ocorrido no segundo momento da fase fálica, desempenha papel fundamental na
estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano (LAPLANCHE; PONTALIS,
1992, p. 77). O édipo feminino ocorre com momentos diferentes do masculino. No édipo
feminino, quando a menina se percebe sem o pênis, ela inveja quem o possui, culpa a mãe por
não ter o falo, e busca compensar essa falta, voltando-se para o pai, a quem elenca como o novo
objeto de amor.
Segundo Nasio (2007) a resolução do édipo da menina é quando ela se torna o superego
do pai e consegue visualizar o pai real. A identificação com o pai deve ser contrabalanceada
pela identificação com a mãe, se isso não ocorre instala-se a histeria de amor, onde os
relacionamentos amorosos são carregados pelo pai fantasiado. A resolução do édipo é
justamente conseguir adotar traços masculinos e femininos, e transformar seu desejo de ser
possuída pelo pai em desejo de ser possuída pelo homem amado, opera-se assim um lenta
dessexualização da relação edipiana com pai e correlatamente a assunção de sua identidade
feminina.
A menina, em teoria, para de ter uma relação conflituosa com a mãe e de disputar
medidas com o falo, se vendo não mais como inferior, conseguindo obter o gozo. No édipo
masculino, “o menino tem desejo de possuir o corpo da mãe, o desejo de ser possuído pelo pai
e o desejo de suprimir o corpo do pai” [...] (NASIO, 2007, p. 46). O menino sente uma angústia
ligado ao medo de ser castrado pelo pai (angústia de castração), e assim desiste de seduzir a
18

mãe em prol do falo, recalca seus desejos pela mãe. Portanto, o menino passa a vida procurando
defender o falo, enquanto a menina não tem nada a perder, e busca outras compensações, como
por exemplo, a maternidade.
É importante salientar que o negativo do édipo, que é o caso dos homossexuais, a
dinâmica é a mesma, apenas elencam o objeto do mesmo sexo. A resolução satisfatória do édipo
masculino se dá “no recalcamento dos desejos, fantasias e da angústia; renúncia aos pais como
objeto de desejo”, e por fim, identificação com os pais (NASIO, 2007, p.46).
O período de latência se dá geralmente entre 6 a 9 anos, pode-se dar por completo ou
não, pois existem períodos de interrupções. Nessa fase aparecem as inibições sexuais, as
crianças se voltam para o mundo externos, preparando-a para a puberdade. As crianças se
voltam para as relações sociais, nos esportes e atividades criativas como forma de sublimar. O
superego reprime as pulsões sexuais, que voltarão a emergir na fase genital (JERUSALINKY,
2010). Na fase genital, o sujeito adquire satisfação estimulando o próprio corpo, é na
adolescência que as escolhas objetais são realizadas, a socialização é maior, os interesses
começam a se tornar mais variados, porque o adolescente se permitem olhar para além do seu
lar e das relações com seus pais.
Em Além do princípio do prazer (1920), Freud postula a pulsão de morte e
posteriormente, o conceito ID9, Ego10 e Superego11 formando as instâncias da psique humana.
Apesar dos estudos da metapsicologia não serem sequenciais, Freud formula três características
(topográfico, dinâmico e econômico) observadas na clínica, não enquanto técnica nem tão
pouco filosofia, mas as bases da ciência psicanalítica. Postulou diversos trabalhos sobre o
narcisismo, pulsão de vida e de morte, relações objetais, e as três estruturas de personalidade,
transferência e contratransferência (BRITO; CANAVÊZ, 2016).
A partir do pensamento desenvolvido por Freud, ocorreram algumas transformações,
formando novas escolas, essas divergências e convergências são a continuidade do movimento
psicanalítico. Elas se convergem nos postulados de Freud metapsicológicos, teóricos e técnicos,
e são divididas em sete grandes escolas com seus respectivos autores. Sendo a primeira
Freudiana. S. Freud, no ano de 1885, com outros expoentes como: Karl Abraham, Sandor

9
“constitui polo pulsional da personalidade. Seus conteúdos são inconscientes, em grande parte hereditários,
presentes no nascimento e, em menor parcela, adquiridos e recalcados [...] reservatório da energia pulsional
fornecida também ao Ego” (CAMPAILLA, 1982, p.19)
10
“O Ego mantém relação com o mundo através de atividade dos vários órgãos e aparelhos fisiológicos [...] efetua
a chamada prova de realidade, que consiste na capacidade de executar uma discriminação acuradas dos estímulos
provenientes do mundo externo e dos oriundos do ID.” (CAMPAILLA, 1982, p. 19)
11
“O Superego representa o censor, o juiz que, controlando o Ego e o ID, tende a orientar o comportamento do
indivíduo de modo a harmoniza-lo com os valores da moral tradicional. A criança introjeta o Superego dos pais;
assim transmitido de geração em geração.” (CAMPAILLA, 1982, p.21)
19

Ferenczi, Wilhelm Reich e Anna Freud. As contribuições de Freud, como elencado acima,
trazem “que o conflito psíquico é resultante do embate entre as forças instintivas e as
repressoras, sendo que os sintomas se constituíram como sendo a representação simbólica deste
conflito inconsciente” (PISANDELLI, 2012, p. 11).
Tendo a segunda escola, os Teóricos das Relações Objetais (M. Klein com contribuições
de Joan Rivière, S. Isaacs, Segal, Rosenfeld, Meltzer e Bion), no ano de 1945. Melanie Klein
elabora seu pensamento através da observação de crianças, pautada no processo de
desenvolvimento desde os três ou quatro meses de vida, onde o bebê tem primitivos
mecanismos de defesa, e a pulsão de morte se dá desde o início da vida. Seus estudos circularam
em torno do Superego e Complexo de Édipo experienciado bem antes do período postulado por
Freud. O acompanhamento psicológico do indivíduo passa a ser bem no início da sua infância.
Em relação ao complexo de Édipo, elaborou a posição depressiva e, posteriormente, a posição
esquizoparanóide (PISANDELLI, 2012). De acordo com o mesmo autor, as mudanças no foco
dos psicanalistas passaram:
[...] para relações objetais parciais e as fantasias do inconsciente, com suas respectivas
ansiedades e defesas primitivas [...] Conserva-se a regra de que somente teriam valor
verdadeiramente psicanalítico as interpretações unicamente dirigidas as neuroses de
transferência, porém começa a ganhar um amplo espaço de valorização, a
contratransferência, criando-se desta forma os primórdios da psicanálise baseada na
relação transferencial – contratransferencial (PISANDELLI, 2012, p.09).

Nesse contexto, têm-se a terceira escola, a Psicologia do Ego (Hartmann), fundada por
volta de 1920. O psicanalista austríaco Hartmann, juntamente com Kris e Lowenstein, fundou
a escola da Psicologia do Ego nos EUA. Anna Freud contribuiu muito para a Psicologia do Ego,
além de Erikson, Edith Jacobson, Margareth Mahler e Otto Kernberg (representante da
“contemporânea psicologia do ego”, que estabelece uma ponte com os teóricos das relações
objetais) (ZIMERMAN, 2008).
Os pioneiros, Hartmann e seus seguidores, propuseram uma maior valorização do ego
no trabalho do analista, que até então estava concentrado no id. Partindo, então, do princípio de
que nem tudo era id. Importante salientar os mecanismos de defesa do ego como: formação
reativa, projeção, sublimação, negação entre outros (ZIMERMAN, 2008).
A quarta escola elenca: a Psicologia do Self (Heinz Kohut) fundada por volta de 1959.
Seu fundador, Kohut postulou seu trabalho fora das questões do complexo de édipo, trazendo
o foco para o narcisismo, o qual evidenciou não só a patologia, mas os aspectos positivos
inerentes a todos os indivíduos como a empatia, sabedoria, criatividade entre outros. Em suas
20

observações, Kohut formulou, a partir do exercício clínico, o conceito estrutural do self-objeto:


o indivíduo que numa espécie de vivência aglutinada desempenha as funções ainda impossíveis
ao bebê, que não possui um self estruturado, mas apenas um núcleo de self a ser desenvolvido
a partir dessa vinculação com o outro self (PISANDELLI, 2012).
Nesse ínterim, foi enfatizado a relevância das falhas empáticas da mãe como
responsáveis por futuros transtornos narcisistas e neuróticos em geral. Kohut concebeu um tipo
especial de transferência que denominou transferência narcisista, nas suas três graduações:
transferência narcisista fusional, gemelar e especular (ZIMERMAN, 2008).
A quinta escola: Francesa de Psicanálise (Jacques Lacan) fundada em 1964. Lacan, em
contraponto a teoria Kleiniana de valorização do ego, trouxe a noção do inconsciente não como
uma instância do psiquismo, mas como uma combinação de sistemas simbólicos e
socioculturais com o Outro. O inconsciente é constituído pelos desejos e aos discursos dos pais
e educadores. Elucida o desejo da mãe, o filho se torna o “falo”, o significante inscrito no
simbólico, o poder dela. Para Lacan “o inconsciente é o discurso do Outro. Lacan talvez tenha
se inspirado no filósofo Hegel quando este afirma que, não é o indivíduo que cria a linguagem,
mas “a linguagem, no contexto histórico, é que cria o indivíduo” (ZIMERMAN, 2008, p. 38).
Na escuta do discurso aparece os significantes, que é o que o paciente “pensa” dizer,
com os consequentes significados, que são os signos, símbolos dos significantes, portanto em
Lacan, uma análise consiste em decodificar e nomear a rede de significantes. Então a função
do analista é a de identificar o significado patogênico no meio dos significantes (ZIMERMAN,
2008). Diferentemente do DSM IV e 5, Lacan elabora três estruturas diagnósticas baseadas em
Freud e diversos psicanalistas, e essas estruturas dão orientação concreta ao terapeuta de como
conduzir a análise. Segundo Fink (2018), algumas técnicas utilizadas com neuróticos são
inaplicáveis e perigosas aos psicóticos. Portanto, de acordo com cada estrutura (neurose,
psicose e perversão), o terapeuta atua na transferência e na abordagem individual de cada
paciente.
O autor salienta que, não necessariamente a posição do analista é de fazer diagnósticos
precisos e imediatos, mas que preliminarmente esses pacientes poderão se encaixar em uma
dessas três estruturas, para o planejamento da análise. Na neurose existe o mecanismo primário
do recalcamento, as subcategorias, no caso da neurose: histeria, obsessão e fobia, sendo o
conflito entre o Ego e o ID. O sujeito neurótico experimenta uma angústia e sintomas
conversivos, que nem sempre consegue explicar a origem. A angústia é a falta do objeto, que
perdeu na castração. Em Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna (1908), Freud
explica que a neurose é o negativo da perversão, ou vice e versa, pois o perverso nega a
21

castração, ou melhor, ele destorce qualquer coisa que o confrontar com a castração, devido a
renegação da ausência do falo.
Na psicose as subcategorias são: as esquizofrenias e as psicoses. O Nome do Pai é
foracluído, rejeitado, não integrado, não há registro no simbólico, produzindo “no imaginário
uma desordem denotada nos fenômenos psicóticos de rupturas na cadeia significante, onde um
significante ao ficar fora, desconectado do simbólico, retorna no real na forma de alucinações
e delírios” (FIGUEIREDO; MACHADO, 2000, p.72). A castração é a lei e o falo o significante,
impondo a proibição da mãe, que fará com que a criança procure outros recursos, portanto o
significante do pai barra a mãe, e esse processo é chamado pelo psicanalista J. Lacan, como a
Metáfora Paterna. Na psicose essa metáfora não se opera, diferentemente da neurose,
produzindo então uma dificuldade no estabelecimento entre o real e o imaginário, pois não há
constituído o simbólico.
Sobre a perversão, um dos componentes da sexualidade teria sofrido um
desenvolvimento prematuro, isto é, teria passado a frente dos outros. Esse precoce processo é
mantido em sua forma infantil, e não consegue passar por sublimação, recalcamento entre
outros mecanismos. “A perversão herda a carga libidinal que pertencia ao complexo de Édipo,
podendo ainda, como ocorre no caso do masoquismo, onerar-se pela culpa a que está ligada, o
que explica o gozo obtido a partir de fustigações e sofrimento” (FERRAZ, 2010, p.28). O autor
cita que no artigo “A organização genital infantil”, Freud (1980) apresentou, já em sua plena
configuração teórica, o mecanismo da recusa (Verleugnung) da castração, essencial à
formulação ulterior da perversão (FERRAZ, 2010, p. 29).
O perverso deseja ser duas coisas: objeto de gozo e ocupar o lugar do Nome do Pai. O
sujeito perverso sabe o seu desejo, não se interroga, realiza o ato, e não se responsabiliza.
Segundo Muribeca (2009), Lacan retirou a visão que a perversão estaria ligada a uma aberração
sexual, mas uma estrutura em que o mecanismo de defesa é o da renegação, recusa da realidade
em parte, e em parte reconhece a mesma, devido a uma cisão do Ego. Portanto, os tipos de
perversão são: masoquismo, sadismo, fetichismo e parafilias, sendo o mecanismo de defesa o
desmentido (rejeição de admitir algo visto e guardado na memória). A definição dessas
estruturas se faz necessárias para entender o sujeito border, pois este não possui limites bem
estabelecidos, o que mais a frente será discutido.
A sexta escola foi fundada por Donald Woods Winnicott por volta de 1979. O psiquiatra
era ligado a Melanie Klein. No entanto, focou seu trabalho na percepção da mãe real, como
ambiente facilitador ou complicador, e não nas fantasias destrutivas do bebê como Klein
propusera. Deu ênfase no olhar da mãe como espelho para o bebê, criou o termo mãe
22

suficientemente boa, como aquela que provê sustento emocional e físico e ainda permite
frustração para constituir o self separado do bebê (PISANDELLI, 2012).
A mãe é entendida como ambiente, e esse sendo insuficiente é sentido pelo bebê como
uma invasão à qual o psicossoma (o bebê) precisa reagir e esta reação que perturba a
continuidade de sua existência. Essas perturbações provocam falhas no desenvolvimento do
indivíduo adoecendo-o. Tais perturbações criam uma sensação de falta de fronteiras no corpo,
ameaças de despersonalização, angústias impensáveis, ameaças de desintegração e
despedaçamento, de cair para sempre, e falta de coesão psicossomática (PISANDELLI, 2012).
Seguindo esse delineamento, a mãe suficientemente boa tem grande função no setting
terapêutico, pois o terapeuta recria um ambiente íntimo e familiar, evocando o ambiente
familiar primário, entretanto, diferentemente da mãe que gratifica, o terapeuta dá gratificações
psíquicas. Outro conceito é o de Self Falso e Self Verdadeiro, o primeiro diz as formas de se
relacionar aceitos socialmente, onde o sujeito se vê imerso em se adaptar para ser aceito, já o
segundo, diz respeito do sujeito enquanto real, com todas as vicissitudes que o constituem do
Eu real (PISANDELLI, 2012).
A sétima escola nasceu por volta 1962 e seu fundador foi Wilfred Ruprecht Bion. Ele
foi analisando e seguidor de Melanie Klein, onde fez um trabalho clínico com pacientes de
natureza psicótica, o que permitiu conceber aspectos sobre a normalidade e a patologia dos
fenômenos de percepção, pensamento, linguagem, comunicação e ataques aos vínculos de
ligação, todos eles de extraordinária repercussão no manejo técnico com pacientes em geral.
Para Bion, todas as pessoas possuem uma parte neurótica e uma parte psicótica da
personalidade, com importantes técnicas para o manejo da parte psicótica, primário vínculo da
mãe com o filho (equivale ao do analista com o seu paciente) (ZIMERMAN, 2008). Bion
aprofundou a importância da capacidade que o analista deve ter bem desenvolvida, a
continência, ou seja, conter a carga nele projetada, para que também possa decodificar o seu
significado, dar um sentido e devolver para o paciente, devidamente desintoxicada e, sobretudo,
nomeada (ZIMERMAN, 2008).
De modo geral a técnica psicanalítica será por meio da associação livre, a interpretação
dos conteúdos apresentados pelo paciente, bem como dos sonhos quando há a resistência, e
utilizando-se da transferência, conceitos que serão apresentados ao longo desse trabalho.
Entretanto, a seguir serão apresentados conceitos mais clássicos da psiquiatria, para apresentar
a história do Transtorno Borderline.
23

2.2 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE PARA A PSIQUIATRIA


Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM 5) o
borderline se caracteriza por um transtorno de personalidade multifacetado de difícil
diagnóstico e manejo, necessitando de uma visão ampla, não apenas na pré-disposição genética,
mas em consonância a diversos fatores ambientais e psicológicos.
Um Transtorno da Personalidade (TP) pode ser caracterizado como padrão persistente
de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da
cultura do indivíduo, “é difuso e inflexível, começa na adolescência ou início da fase adulta, é
estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízos a si e∕ou aos outros” (MAZER;
MACEDO; JURUENA, 2017, p.86).
Ainda sobre os autores,
O DSM 5 busca apropriar-se do que é utilizado na abordagem da clínica para
estabelecer critérios diagnósticos consistentes para os TP, além de rastrear meios de
influenciar novas abordagens de diagnóstico e tratamento. O manual pretende assim,
encorajar novas pesquisas e auxiliar nas dificuldades dos profissionais da saúde
mental, facilitando a comunicação e o tratamento que dispendem nos casos que
envolvem personalidades (MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017, p.87).

Caponi (2014, p. 32) faz uma crítica “às tentativas do DSM de explicar causas
estritamente biológicas em detrimento de diversos consonantes socioculturais, ambientais,
relações familiares, subjetivos entre outros”. A autora ainda menciona sobre os
Esforços da psiquiatria, por achar a localização cerebral, ou a explicação
neuroquímica para transtornos mentais, onde a resposta parece ser a mesma: ainda
não foi possível atingir os resultados esperados, mas um futuro promissor se anuncia
para a explicação biológica de patologias mentais, que nunca chega (CAPONI, 2014,
p. 32).

O manual não descreve o ambiente do sujeito, nem tão pouco em que circunstâncias os
sintomas aparecem e se mantém. Para Insel, diretor do National Institute of Mental Health
(NIMH), as diferentes versões do DSM, longe de serem consideradas como “a Bíblia da
psiquiatria”, como muitos qualificaram o manual, deveriam ser consideradas um simples
dicionário que pode ser alterado a partir de acordos estabelecidos, neste caso, pela comunidade
de psiquiatras (CAPONI, 2014, p. 746). A “proposta descritiva se alia a uma compreensão
médica da Psicologia, permitindo que a Psiquiatria de hoje se aliene cada vez mais da
Psicopatologia e se contente com uma descrição simplista de sintomas, chegando-se
rapidamente ao diagnóstico e à medicação” (HEGENBERG, 2013, p. 21).
Apesar das duras críticas ao manual, é notável que se tratando do Transtorno de
Personalidade Borderline, a classificação é consistente, com uma linguagem que é fundamental
para as pesquisas. Nos últimos anos tem se falado cada vez mais sobre esse TP e observou-se
24

um aumento nos números de casos e estudos consequentemente. A ideia não implica reduzir o
ser humano a um diagnóstico preestabelecido, mas apenas encontrar descrições de pacientes já
conhecidos (CAPONI, 2014).
O manual categorizou os transtornos de personalidade em três grupos: Grupo A,
referente a pessoas com afetos e personalidades esquisitas, pensamentos mágicos, ideação
paranoide, sua prevalência é de 5,7%; Grupo B, com prevalência 1,5%, apresentando excessiva
emotividade, desrespeito aos direitos alheios e impulsividade, e o grupo C com prevalência de
6%, tange o medo, a insegurança e o perfeccionismo (CAPONI, 2014).
Assim, a tabela 1 apresenta a prevalência estimada para cada tipo de transtorno de
personalidade.

Tabela 1: Prevalência estimada relacionada a cada tipo de transtorno de personalidade


Grupo A - 5,7% Paranoide 2,3-4,4%

Esquizoide 3,1-4,9%

Esquizotípica 0,6-4,6%

Grupo B - 1,5% Narcisista 0-6,2%


Histriônica 1,84%
Borderline 1,6-5,9%
Antissocial 0,2-3,3%,
Grupo C - 6% Obsessivo-compulsiva 2,1-7,9%
Dependente 0,49-0,6%
Evitativa 2,4%
Fonte: MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017.

É comum entre pacientes com TP, principalmente borderline e antissociais, histórico de


estresse precoce, ou seja, na infância, afetando assim a capacidade de resiliência, mas com
interações genéticas e características que se iniciam na idade adulta que está presente em uma
variedade de contextos: 1) esforços frenéticos no sentido de evitar um abandono real ou
imaginário; 2) Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado
pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização; 3) Perturbação da identidade:
instabilidade acentuada e resistente da autoimagem ou do sentimento de self; 4) Impulsividade
em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa; 5) Recorrência de
comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento auto mutilante; 6)
25

Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor; 7) Sentimentos crônicos de


vazio; 8) Raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva; 9) Ideação paranoide
transitória e relacionada ao estresse ou graves sintomas dissociativos (DSM-5).
O Transtorno de Personalidade Borderline – TPB, segundo Kaplan e Sadock (1995),
ocorre em 2% a 3% da população geral e é, de longe, o transtorno da personalidade mais comum
em contextos clínicos. Estima-se que ocorra em 11% das populações não hospitalizadas, 19%
das populações hospitalizadas e 27% a 63% das populações com transtorno da personalidade.
Ele parece ocorrer aproximadamente três vezes mais em mulheres do que em homens.
Sobre a recorrência ser maior em mulheres, tem-se um dado não fidedigno, partindo do
ponto de que os homens procuram menos serviços de saúde, tem maior dificuldade de
demonstrar sentimentos devido a consoantes sociais, suprimindo seus sentimentos através do
abuso de álcool e agressividade, podendo estar em presídios ou em clínicas para usuários de
drogas por exemplo (KAPLAN; SADOCK, 1995).
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10), cita o TPB, mas com a
nomenclatura de transtorno de personalidade com instabilidade emocional (F60.3), que é
caracterizado por tendência nítida a agir de modo imprevisível, sem consideração pelas
consequências; humor imprevisível e caprichoso; tendência a acessos de cólera e uma
incapacidade de controlar os comportamentos impulsivos; tendência a adotar um
comportamento briguento e a entrar em conflito com os outros, particularmente quando os atos
impulsivos são contrariados ou censurados (MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017).
Desta condição, observam-se dois tipos distintos: o tipo impulsivo, caracterizado
principalmente por uma instabilidade emocional e falta de controle dos impulsos; e o tipo
borderline, descrito por perturbações da autoimagem, do estabelecimento de projetos e das
preferências pessoais, por uma sensação crônica de vacuidade, por relações interpessoais
intensas e instáveis e por uma tendência a adotar um comportamento autodestrutivo,
compreendendo tentativas de suicídio e gestos suicidas (MAZER; MACEDO; JURUENA,
2017).
O manual CID-10 e DSM-5 trazem uma orientação dos sintomas, mas é a psicanálise
que explica a formação da estrutura de personalidade borderline, uma saída para esse
sofrimento, o porquê de tudo isso, bem como possibilidade de tratamento. Winnicott (1979, p.
115) refere que “em uma classificação baseada nas áreas de interesse que Freud explorou nos
primeiros anos de seu trabalho, os pacientes ou eram psicóticos ou histéricos”. A escuta da
Psicanálise, na atualidade, se desvia da Angústia de Castração e do Complexo de Édipo para a
Angústia de Separação e para o Ideal do Ego como organizadores da personalidade.
26

No entanto, Freud abriu espaço para seus contemporâneos, isso não significa que os
casos limites são pós-freudianos necessariamente, mas que devido as mudanças profundas da
sociedade, esses casos têm ganhado destaque. Um caso famoso de Freud, o Homem do Lobos
(1910), onde passou por análise durante quase toda a vida, com diagnóstico de neurose
posteriormente de psicose, diversos autores fazem uma releitura identificando-o como
personalidade borderline (HEGENBERG, 2013).
Anterior a Freud, o termo borderline passou por mudanças ao longo do tempo, a
dificuldade de categorizar distúrbios mentais graves, mas sem sintomas declarados de
“loucura”, em meados de 1835 por Pinel e outros. Assim, Kahlbaum (1884 – 1890) criador do
conceito de catatonia, e junto com seu discípulo Hecker, do conceito de hebefrenia, descrevem
com detalhes uma síndrome comum a adolescentes, que, apesar de aparentada com a hebefrenia,
se assemelharia ao que hoje é concebido como transtorno borderline (DALGALARRONDO et
al., 1999).
Desta forma, a tabela 2 descreve sobre as variações do termo borderline durante a
história, assim como os estudiosos que os abordaram:

Tabela 2: Variações do termo borderline durante a história


AUTOR TERMO
Kahlbaum, 1890 Heboidofrenia
Bleuler, 1911 Esquizofrenia latente
Rorschach, 1921 Esquizofrenia latente
Stern, 1938 Neuroses Borderline
Zilborg, 1941 Esquizofrenia ambulatorial
Deutsch, 1942 Personalidade “como se”
Hoch & Polatin, 1949 Esquizofrenia pseudoneurótica
Knight, 1953 Estados borderline
CID-9, 1976 Esquizofrenia latente ou borderline
DSM-III, 1980 Transtorno de personalidade borderline
CID-10, 1 92 Transtorno de personalidade emocionante instável,
tipo borderline
DSM-IV, 1994 Transtorno de personalidade borderline
Fonte: DALGALARRONDO; WOLGRAND; VILELA, 1999.
27

2.3 BORDERLINE E A PSICANÁLISE


Diversos psicanalistas dedicaram-se a esses estudos, influenciando a psiquiatria e a
psicologia até hoje no que se refere a etiologia e tratamento. Ao se deparar com termos como
casos-limite, casos difíceis, borderline, fronteiriços, limítrofes, estados-limite, é preciso saber
qual a referência utilizada pelo autor em questão, para que se saiba exatamente de quem se está
falando. Nomear simplesmente “borderline”, supondo-se falar do mesmo quadro clínico, é
arriscar-se à confusão (HEGENBERG, 2013). Assim, diante da extensa contribuição dos
autores psicanalíticos, nos deteremos de quatro autores e suas contribuições sobre o diagnóstico
do paciente borderline.
O psicanalista Otto Kernberg, um dos teóricos mais importantes nesse campo,
influenciou o CID-10 e o DSM-IV, em seu artigo de 1975, descreveu a estrutura psicopatológica
do borderline, situada na região fronteiriça entre neurose e a psicose, ou seja, uma
personalidade baseada em traços. Essa organização se caracteriza a partir de “uma conformação
específica de operações defensivas do ego, por uma patologia típica das relações de objeto
internalizadas e por achados genético-dinâmicos característicos” (PEREIRA, 1999, p. 155).
Para Kernberg et al. (1991) durante a fase anal e oral, na fase pré-edípica, no paciente borderline
ocorreu
[...] uma fixação em uma fase evolutiva em que a estrutura psíquica tripartida (id-ego
e superego) não está consolidada, sendo que, como um movimento defensivo,
componentes sádicos, agressivos e idealizações são projetados no objeto, em uma
oscilação entre o possuir, controlar e o aniquilar, havendo com isso dificuldade de
diferenciação entre o eu e o não-eu (p. 156).

Kernberg (1967) descreve, ainda, o quadro para diagnóstico:


Ansiedade crônica, difusa, livremente flutuante; sintomas neuróticos múltiplos e
persistentes, tais como múltiplas fobias, obsessões, compulsões, sintomas conversivos
bizarros, reações dissociativas, hipocondria e tendências paranoides; tendências
sexuais perversas polimórficas; componentes paranoides, esquizoides e maníacos de
personalidade; tendência à impulsividade e a diversos tipos de drogadição e um caráter
impulsivo e caótico (p. 156).

Ainda destaca um sentimento crônico de vazio, tendência a serem exibicionistas e


dependência emocional. Segundo Hegenberg (2013, p. 36), “baseia-se em três critérios
estruturais para seu diagnóstico de “organização borderline da personalidade”: difusão da
personalidade, nível de operações defensivas e capacidade de teste da realidade.” A difusão da
personalidade é a falta de integração do self do indivíduo e a percepção do self de outras pessoas,
o que significa que o indivíduo tem dificuldades de experenciar o outro de forma adequada,
pois suas percepções são empobrecidas.
28

No que tange a organização defensiva, o indivíduo border diferente do neurótico, se


baseia na clivagem de objetos totalmente “bons e maus”, outros mecanismos são: “idealização
primitiva, identificação projetiva, denegação, controle onipotente e desvalorização, protegem o
ego dos conflitos, dissociando experiências contraditórias do self e dos outro” (HEGENBERG,
2013, p. 16).
Entretanto, o border possui a capacidade de teste de realidade diferentemente do
psicótico, as alterações ocorrem na interação com a realidade. E, apesar da consciência e
percepção de sentimentos, o border se expressa de forma contraditória esses sentimentos. Em
relação ao objeto, o border introjeta objetos maus e não apenas tem a ausência de objetos bons.
Kernberg (1967) descreve características secundárias, tais como falta de controle dos impulsos,
falta de tolerância à frustração, dificuldade de sublimação, imaturidade, exigências morais
contraditórias, relações objetais caóticas, que variam de acordo com o nível da difusão da
identidade, das operações defensivas e da capacidade de teste da realidade (PEREIRA, 1999).
Segundo Hegenberg (2013), “para Kernberg (1989, p. 191) um comportamento de
automutilação ou tentativas de suicídio surge durante crises de cólera intensa, tende a ser uma
tentativa de restabelecer um controle sobre o meio ambiente, provocando nos outros
sentimentos de culpabilidade”. Nesse sentido, Kernberg (1984) cria o método TFP
(transference-foculsed psychotherapy), que é voltado para transferência: interpretação,
manutenção da neutralidade técnica e análise de transferência, com foco na exposição e
resolução do conflito intrapsíquico.
Pereira (1999, p. 158) indica que o psicanalista americano A. Stern (1938) foi “quem
primeiro utilizou em psicanálise o termo borderline no EUA, ou estado-limítrofe, inaugurando
uma fecunda polêmica que mantém intacta sua atualidade”. Stern deu valiosas contribuições
para a Psicologia do Ego. Em seu artigo relata a impossibilidade de classificar tais pacientes
como neuróticos ou psicóticos ou perversos, apesar de abundantes traços de ambos os três serem
presentes, e que procedimentos psicanalíticos habituais não seriam efetivos para essa
psicopatologia. Mostrando-se assim um desafio para psicanálise. Stern se baseia na Psicologia
do Ego e descreve dez sintomas fundamentais desse quadro.
Eles são: 1) Narcisismo, ao qual o autor dá o estatuto de “base de todo quadro clínico”,
onde indivíduos que passaram por experiências precoces e contínuas de abandono, negligência,
abuso sexual, brutalidade e, mesmo, crueldade por parte dos pais. Essas experiências
impactaram no amor-próprio, segurança e autoconfiança, transformando-se em seres “famintos
de afeto” (affect hunger). 2) Sangramento psíquico, relacionado ao colapso das capacidades de
reação do indivíduo. 3) Hipersensibilidade desordenada. Essas duas se relacionam a capacidade
29

de responder a estressores de forma assertiva, tornando-se supersensíveis a esses estímulos. 4)


Rigidez psíquica. 5) Tendência a reações terapêuticas negativas. 6) Sentimentos de
inferioridade. 7) Masoquismo. Esse último pode ser visto como comportamentos de
autopiedade e autocomiseração, com possível expectativa de receber algo em troca, visto que
não se sentem amados. 8) Insegurança “somática” ou ansiedade, sendo que a insegurança
patológica organizaria todo o funcionamento lógico desses indivíduos. 9) Uso de mecanismos
de projeção como expressão da imaturidade dos processos psíquicos, ou seja, o indivíduo busca
uma explicação de suas dificuldades numa suposta periculosidade dos outros. 10) Dificuldades
para testar a realidade (PEREIRA, 1999).
A precária constituição narcísica para Pereira (1999) é a base para o quadro, pois conduz
o indivíduo a dependência do outro, exigência constante de ser amado, insegurança e
instabilidade com a sua autoimagem:
Stern propõe que é apenas após a transferência – estabelecida sobre essas bases
profundamente imaturas – ter sido trabalhada psicanaliticamente, que a significação
das ligações com os pais no período edípico, do medo da castração e dos impulsos
hostis e sexuais poderá ser adequadamente compreendida. [...] Stern salienta que a
fonte da ansiedade não está primariamente ligada aos impulsos sexuais objetais, como
nas psiconeuroses, mas, antes de mais nada, ao próprio narcisismo debilitado (Pereira,
1999, p.158).

Pereira (1999) descreve ainda que para dar conta da fragilidade da organização narcísica
o “manejo”, “holding” e “continência devem ser atualizados. Outro famoso psicanalista foi Jean
Bergeret, durante 40 anos de estudos, dedicou à maioria deles para os casos limites (1974, 1975,
1984, 1996), inspirado nos trabalhos de Abraham da escola Freudiana. Classifica fatores de
personalidade quanto à natureza da angústia, defesas principais e as relações de objeto. O autor
conclui a existência de somente duas grandes “estruturas” de base: a neurose e a psicose.
Segundo Bergeret (1924) tem como ponto de partida os trabalhos de Karl Abraham da Escola
Freudiana:
Este autor postulou em 1924, a partir do estudo da melancolia e da neurose obsessiva,
uma subdivisão da fase anal de desenvolvimento da libido em anal-expulsiva e anal-
retentiva. Entre as duas, estaria situada uma linha divisória (divided line), que
marcaria uma “fronteira entre as fixações e regressões psicóticas, de um lado, e as
fixações e regressões neuróticas, de outro” (BERGERET, 1991, p. 68).

Dentro da divided line, na “subparte” psicótica, estão classificadas a esquizofrenia, a


melancolia, e a paranoia. Na “subparte” neurótica, estão a neurose obsessiva e as histerias de
angústia e de conversão. Já entre as duas subpartes, situa-se patologias não classificadas,
correspondentes aos estados-limite ou borderline, assim como a perversão entre outras
patologias, também estariam situadas em um “tronco comum”. Para Bergeret os estados-limites
são “organizações” provisórias, mas que podem se prolongar indefinidamente no tempo. Sua
30

gênese estaria associada a um “trauma desorganizador precoce”, sentido pela criança como
“uma frustração muito viva, um risco de perda do objeto” (BERGERET, 1991, p. 129), ocorrido
entre a divided line e o início do Édipo.
Esse trauma seria relacionado a uma sedução real diferente da fantasia edipiana, ou
seja, um abuso sexual, que seria vivenciado num tempo em que ela não estaria madura. Por
consequência, na adolescência o sujeito vive uma pseudolatência que se prolonga até a fase
adulta impedindo a estruturação do Ego. Segundo Moretto, Kupermann, Hoffmann (2017) o
desenvolvimento libidinal sofre uma fixação devido a um trauma precoce antes do édipo, ou
seja, o desamparo dos pais. É como se o bebê não existisse sem o ambiente, não há continuidade
do ser sem uma continuidade dos aportes do ambiente. Posteriormente, na fase do édipo, a
mãe/ambiente não sustenta o border, em relação aos sentimentos hostis que encaminha ao pai.
Mais a frente a mãe/ambiente será retomada.
O border não consegue finalizar o Édipo com a angústia da castração, por consequência
não estrutura o superego. Sobre as estruturas limítrofes, a instância dominante é a de ideal de
ego; a natureza do conflito seria ideal de ego com id e realidade; a natureza da angústia é a de
perda do objeto; as principais defesas são a clivagem dos objetos; por fim a relação de objeto é
analítica (BERGERET, 1991).
O psicanalista e psiquiatra Winnicott (1975), dedicou-se boa parte dos seus estudos as
crianças, mas também é referência quando se fala em casos limites. O autor descreve que
algumas pessoas adultas não se sentem completos e preenchidos, sem sentido de vida, pois o
self não foi constituído, como acontece no caso do borderline. Esses indivíduos necessitam de
uma experiência com alguém capaz de produzir um ambiente acolhedor e que os acompanhem
na construção do seu self, quase que como outrora, na infância com a mãe suficientemente boa,
a mãe vista como ambiente.
Winnicott, no ano de 1969 lança o artigo “O uso do objeto e o relacionamento através
de identificações”, que envolve a passagem da relação com objeto e o uso do objeto, onde o Eu
e Não-Eu se constitui a partir dos cuidadores capazes de propiciar um ambiente estável e que
abarque as necessidades do bebe, não de forma intrusiva nem tão pouco distante. O uso do
objeto só é possível quando a distinção entre Eu e Não-Eu estiver mais nítido. Para ele existem
dois objetos, o subjetivo (interno) e o real (externo). Segundo Winnicott (1975)
Relacionar-se pode ser com um objeto subjetivo, ao passo que o usar implica que o
objeto faz parte da realidade externa. Pode-se observar a seguinte sequência: 1. O
sujeito se relaciona com o objeto; 2. O objeto está em processo de ser descoberto, em
vez de ser colocado no mundo pelo sujeito; 3. O sujeito destrói o objeto; 4. O objeto
sobrevive à destruição; 5. O sujeito pode usar o objeto (ibid., p. 131).
31

Em outras palavras, o bebê sente fome, chora e recebe o seio da mãe, na onipotência o
bebê acredita que criou o objeto na sua fantasia. Quando o bebê desejar o seio, o cuidado
materno, e acontecer um desencontro, esse sentimento de onipotência vai diminuindo, e ele
começa a distinguir entre o que deseja, o que é, e o que não é. Aos poucos o bebê deixa de ser
um ser isolado e vai se abrindo ao outro, mas nem na fase adulta, chega à totalidade do encontro
com outro, da realidade, ou do verdadeiro self. O início da subjetividade nasce através do
princípio do prazer e posteriormente do princípio da realidade, primeiro gosto do objeto e ele
existe, segundo Freud que converge com Winnicott (1975).
Daí a divisão do que é mera projeção e o que é o objeto real, e o sujeito consegue
delimitar o que é dele e o que é do outro, constituindo as fronteiras do próprio eu. O objeto
permanece independentemente da vontade do bebê, a partir disso a transição da relação para o
uso do objeto, com a ajuda de cuidadores bons (não invasivos, ansiosos ou deprimidos) que
resiste aos ataques do bebê. A destruição do objeto é necessária para o uso, entretanto é
importante definir que, destrutividade não é sinônimo de agressividade, pois não existe
maturidade suficiente para haver intencionalidade do ato destrutivo do bebê, o que há é um
impulso de lançar-se ao objeto (morder o seio, por exemplo).
O autor fala do valor positivo da destrutividade, quando o objeto sobrevive à destruição,
pois “coloca o objeto fora da área dos objetos criados pelos mecanismos mentais projetivos do
sujeito” (WINNICOTT, 1975, p. 131). Sobreviver significa não retalhar ou não se retirar, assim
como continuar criativo e vivo. O objeto é descoberto como dono de desejos e movimentos
além da onipotência do bebê.
A terceira área da experiência humana, descrita por Winnicott (1975) é a
transicionalidade, que amplia o conceito de objeto transacional, onde nasce a criatividade para
a construção da subjetividade, em que há a capacidade de separação do objeto / mãe para se
constituir como Eu separado do mundo. Segundo Winnicott (1975) as crianças, futuras
borderlines, não conseguiram estabelecer objetos transicionais e continuaram buscando
experiências simbióticas com a mãe. Criando-se então, um vazio nesta transição do Eu e não-
Eu, nascendo daí, a inconstância objetal e uma relação de tudo ou nada, o objeto é ora ausente
ora presente demais, ora idealizado ora depreciado.
Após cumprir sua função, o objeto transicional é deixado de lado para que a criança se
relacione com o brincar, o sonhar, as relações com os outros, o desenvolvimento espiritual,
entre outros. Por outro lado, quando a transicionalidade não pode ser suficientemente vivida,
essa impossibilidade se torna raiz de perspectivas de adoecimento emocional, por exemplo do
32

fetichismo, da delinquência, da indisponibilidade afetiva, da obsessividade e das adicções


(WINNICOTT, 1975).
Winnicott (2000) denominou “Preocupação Materna Primária” quando a mãe fornece
uma adaptação suficientemente boa à necessidade, a própria linha de vida do bebê é muito
pouco perturbada por reações à invasões, ou seja, quando o ambiente falha diversas vezes, o
bebê pego por um fato real e imprevisível que causa extrema perturbação, o bebê, então rompe
em trauma.
A imprevisibilidade ambiental é traumática porque interrompe a continuidade de ser
e impele o lactente a um estado defensivo de alerta contra a invasão potencial. Ao
invés de fazer experiências, ele vive apenas o sobressalto de uma situação em que
qualquer coisa pode sobrevir e arrastá-lo (DIAS, 2006, p. 5-6).

Segundo Winnicott (2000) um reagir excessivamente a essas invasões não produz


frustração, mas uma ameaça de aniquilação. Não tendo um ambiente suficientemente bom, não
sendo capaz usar o objeto, por consequência não constituindo o self, o que resulta em uma
dependência anaclítica com objetos subjetivos. Em relação aos pacientes borderline que não
conseguiram formar a subjetividade, tão pouco conseguiu usar o objeto, pois não tiveram
ambiente propício para os processos maturacionais.
Para Hegenberg (2013 p. 42) “o tratamento nestes casos consiste em estabelecer uma
condição de regressão, para que o paciente seja acompanhado pelo analista no seu caminho de
constituição de um self verdadeiro. Isto é possível por meio da criação de um enquadre que
possibilite o holding.” O terapeuta funciona como um objeto-subjetivo para o paciente. A
relação de dependência se torna forte e o paciente passa a idealizar o terapeuta, que deve tomar
cuidado para não invadir o paciente. A relação anaclítica paciente-terapeuta se faz necessária
para construção do Eu do “border”. O paciente sem um Eu com limites bem delimitados se
torna extremamente sensíveis a interferência do terapeuta, e experimenta fortes sentimentos
ambíguos de raiva e amor, valorização a desvalorização, levando o paciente a sentir de culpa.

2.4 BORDERLINE E A CONTEMPORANEIDADE


Como dito anteriormente, o difícil consenso e conceituação entre as escolas
psicanalíticas e os autores abrange a etiologia do Borderline, tornando-se um tema controverso
e confuso. É notável que a concepção de homem da psicanálise clássica não comporta o sujeito
border, inserido em um contexto completamente diferente da época de Freud e seus
contemporâneos. Hegenberg (2013) cita que, embora os sintomas mudem de acordo com os
costumes da época, as estruturas adjacentes permanecem as mesmas (neurose, psicose e
perversão). Contudo, esse “novo sujeito” está imerso em novas configurações familiares, a
33

dimensão psíquica que é constituída num contexto capitalista e individualista, o


enfraquecimento das instituições norteadoras da moral (estado, igreja e política), a liberdade
que é dada desloca o ser humano sem rumo e sem direção, em busca de sua identidade.
Quando a estabilidade dos relacionamentos estava garantida por valores morais
reconhecidos, podia-se observar que a solidão, o vazio e o tédio, próprios da existência
humana, estavam escamoteados por um caminho a seguir, definido por convenções
sociais marcadas pela tradição e pelo respeito a normas consagradas. Na sociedade
atual, onde tudo se transforma e novos valores são rapidamente consumidos e
substituídos por outros que serão também logo desmanchados, o nível de angústia
tende a aumentar por causa da insegurança gerada pelas contínuas mudanças
(HEGENBERG, 2013, p.10).

O autor considera ainda o sofrimento causado pelas repressões sexuais ou complexo de


édipo não resolvido, não devem ser vistas mais como centrais na vida do sujeito contemporâneo,
pois a frustração e a castração têm sua intensidade diminuídas, principalmente na nova geração
de crianças. Segundo Bauman (2007), essa nova geração, imersa no contexto de felicidade a
todo custo, permissividade dos pais para suprir a ausência, o consumo exagerado e rápido, à
efemeridade das relações, enfim, dificulta o simbólico da castração.
O “não” que rompe a fantasia primitiva da onipotência, com o narcisismo primário,
perde força, emergindo deste contexto os perversos que não formaram adequadamente o
superego. No entanto, o limite é o estruturante da personalidade, sem esses limites, temos então
apenas traços, que é o caso dos borderlines, que flutuam entre as três estruturas, pois não tem
o ego constituído.
Outra questão é a intensificação do trabalho e a super produtividade capitalista,
amplamente discutida pelo sociólogo Antunes (2004), onde o sujeito fica sem tempo para o
ócio criativo, ou para desenvolve-se em outros aspectos. Os indivíduos não querem “gastar
tempo” elaborando a perda do objeto, no sentido psicanalítico, mas querem substituí-lo o mais
rápido possível por outro, ao invés de experenciar vivências negativas de forma laborativa.
Sobre a perda do objeto para os autores Salles e Ceccarelli (2012) elencam Freud:
Para Freud (1917[1915]), esse trabalho de luto (reação à perda) que obedece ao
imperativo do teste de realidade – o objeto amado não existe mais – consiste num
desligamento gradual da libido do objeto ou dos ideais perdidos, para que no final
desse processo o “eu” possa se ver livre, desinibido e apto para realizar outros
investimentos em novos objetos e situações. Se esse processo de elaboração da perda
não ocorrer satisfatoriamente, teremos a manutenção dos sofrimentos, dos conflitos
e provavelmente a ocorrência de um luto interminável, geralmente patológico, que
governará a vida da pessoa (p.25).

O sofrimento inerente à existência humana é menosprezado e escondido, em prol de


uma busca pela felicidade, que traz a superficialidade em detrimento da espontaneidade, onde
máscaras sociais patológicas nascem neste processo. A esse respeito, Winnicott (1983), fala do
34

Falso Self, que é justamente uma adaptação ao meio social, que não é vista como negativa a
priori, mas dentro desse contexto, o indivíduo tentando se proteger, cria um processo adoecer.
Culpa e inibições sexuais, estão perdendo terreno para a vivência do prazer sem limites,
estamos no século onde a maioria das pessoas são perversas e não neuróticas como na época de
Freud, pois as psicopatologias mudam com o contexto social, a tecnologia, os costumes e a
moral. A angústia de separação, que se inicia no nascer, no afastamento materno, intensificados
na contemporaneidade, devido ao individualismo, da sensação de descarte, da vulnerabilidade
humana frente a modernidade líquida de Bauman (1999).
A angústia de separação infantil saudável é aquela que a princípio a dor da separação,
congela a criança, posteriormente ela entende que o objeto (mãe) retorna, que sua presença é
constante, e que ela é amada. Nesse caso, a ausência do objeto não causa dano à estrutura
psíquica. Contudo, um indivíduo que mostra sinais de angústia, sente-se ameaçado pela
possibilidade de uma separação, e quando for adulto se sentirá só, com um vazio inerente de
quem não foi amado, Freud chama isso de desamparo (BESSET, 2000).
Na separação do nascimento entre mãe e bebê, trazendo o desamparo como ligado a
uma impossibilidade de acesso ao objeto que garante a satisfação. O objeto amado, nesse caso,
é o da pulsão. Pois o amar se liga a objetos que trazem prazer: “uma pulsão ama o objeto ao
qual aspira para sua satisfação” (BESSET, 2000, p. 208). A mãe era ligada pelo cordão
umbilical ao seu bebê, ocorre a separação, e vai se intensificando à medida que a criança tem
autonomia, e essa separação traz um modelo de “felicidade perdida”, como diz Besset (2000);
que se torna referência para objetos de amor futuros.
Desse modo, “a criança aprende a amar a outras pessoas que remediam seu desamparo
e satisfazem suas necessidades” (BESSET, 2000, p. 208). Essa separação se completaria com a
díade edípica, mas no caso dos bordes, não conseguem obter essa satisfação com outros objetos
substitutos, ocorre uma ruptura que é causada por um trauma que impede a resolução
satisfatória do édipo.
A angústia é o afeto de ficar separado, do desamparo que se inicia logo que o bebê nasce,
e que se prolonga por toda vida. Intensificada pelo sujeito border, que vive a beira de um
colapso, por não conseguir se conectar com os objetos amados, por também não ter tido a
percepção de ser desejado por seus cuidadores, por não ter recebido provisões físicas e psíquicas
o suficiente. Quando isso acontece, a tendência é culpar os pais, no entanto, a criança quando
nasce não tem um lugar na sociedade enquanto cidadão, onde o coletivo deveria apoiar os pais.
Quando os pais falham é porque o coletivo, os familiares desses pais, também falharam
(BESSET, 2000).
35

Importante salientar que há um erro de interpretação dos leigos da psicanálise que


acreditam que o termo Mãe significa a genitora literalmente, o que na verdade é um erro. A
Mãe para a psicanálise é um cuidador (a) que provê os cuidados psíquicos e físicos da criança,
ou seja, é uma função. No sentido simbólico, é a figura mágica da força da natureza, em que o
bebê introjeta aspectos do sagrado feminino.
Nesse ínterim, como já foi dito o paciente borderline, que não é nem perverso, nem
neurótico, nem psicótico, mas apresenta traços das três personalidades, e tem sua existência tão
sensível, ainda mais imerso neste contexto (sociedade contemporânea), olhando por essa
perspectiva, faz todo sentido seus sintomas eclodirem. O seu Self não constituído dificulta
defesas saudáveis dessas “agressões sociais”, sem a formação egoística, o sujeito não tem a
percepção de si, dependendo de estruturantes externos de satisfação.
De forma geral, as pessoas estão adoecidas, pois sentem dificuldades para se adaptar
adequadamente as mudanças dos valores sociais e do sentido de suas vidas, e os sintomas é uma
forma adaptação patológica dos recursos do ego que falharam. Sobre a crise no processo de
identidade do sujeito frente as mudanças no contexto social, Zimermam (2008) discorre que:
Esta aludida crise processa-se tanto no âmbito individual quanto em nosso sentimento
de identidade grupal e social. De fato, a acelerada mudança dos valores éticos, morais
e religiosos, somada a todas as formas de violência urbana que regem o modo e a
finalidade de viver, tornou os indivíduos, inseridos em um mundo que, cada vez mais,
exige uma velocidade crescente para uma exitosa adaptação aos padrões vigentes,
ansiosos, confusos e perdidos quanto à sua identidade, isto é, quem eles são, como
devem ser, para o que e para quem eles vivem (p. 2).

Retornando a Freud, como já foi dito, ele não se aprofundou na questão borderline, pois
no contexto da época, a histeria e a castração eram gritantes, embora tenha mencionado a
importância do apoio e da relação analítica e de outras questões pertinentes ao borderline.
Como o borderline é imerso na relação com o outro, dependente dele, e assim o analista deve
ser presente, para que essa angústia da separação seja diminuída pelo menos na análise. A
família do border foi deficitária na provisão psíquica da construção do sujeito, portanto, ele não
demanda castração como em Freud “mas precisa de um encontro com um analista que existe
enquanto pessoa, e não apenas enquanto qualidade transferencial, concepção está mais próxima
da de Winnicott do que da de Freud” (HEGENBERG, 2013, p.35).
Diante disso, os profissionais da saúde, devem ter uma visão macro das psicopatologias,
pois o ser humano é complexo e não deve ser reduzida a parte biológica apenas, mas
sistemicamente inserido em diversos contextos, onde a natureza se soma a cultura a política, e
as vivências e percepções introjetadas e projetas que criam e recriam a realidade. A partir desses
determinantes, o manejo do paciente será descrito a seguir.
36

2.5 MANEJO DO PACIENTE BORDERLINE


Estabelecer um setting terapêutico inicial com o paciente border pode ser uma tarefa
complexa, “a precariedade dos limites dos espaços psíquicos coloca no tratamento dos
borderline uma permanente questão de distância: o manejo da distância nos jogos
transferenciais e contratransferenciais é essencial para a criação dos espaços em que um
psiquismo possa se estruturar” (FIGUEIREDO, 2000, p.67).
Tudo isso dificulta o estabelecimento de regras do setting comuns em outros
atendimentos, além da criação de um vínculo positivo. Cabe ao terapeuta analisar quais os
objetivos que o paciente pretende obter com o tratamento para que possíveis crenças idealistas
sejam identificadas e adequadas a realidade. De acordo com Kernberg et al. (1991), o objetivo
inicial de uma abordagem psicoterápica do paciente borderline é ajudá-lo a construir uma
imagem de si e dos objetos de forma integrada e coerente.
Segundo o autor Hegenberg (2013), o tratamento do transtorno de personalidade
borderline (TPB) inclui o manejo de crises, com controle de reações emocionais intensas,
avaliação do risco de auto ou heteroagressividade e comportamento suicida. Além disso, no
acompanhamento médico, é feita administração farmacológica, que vai possibilitar o
desenvolvimento de habilidades de enfrentamento de estresse, através da identificação de
recursos próprios nas situações estressoras, busca de apoio, expressões emocionais mais
assertivas e menos destrutivas.
O TPB requer conhecimento médico e trabalho em equipe devido sua complexidade.
Faz-se necessário que as dificuldades enfrentadas na relação profissional-paciente, não sejam
erroneamente desqualificadas ou minimizadas, pois os pacientes TPBs tendem a ser reativos e
agressivos com as relações interpessoais, inclusive com a equipe médica, gerando sofrimento
também para os profissionais. Hegenberg (2013) descreve um fator importante no tratamento
de pacientes com esse transtorno, que é a comunicação clara e direta, com objetivos e limites
bem estabelecidos, delineando um plano de atendimento que ofereça estrutura e segurança para
o paciente. É de grande ajuda administrar o sentimento de abandono desses pacientes, utilizando
consultas frequentes, agendamentos, evitando mudanças de profissionais de referência,
mantendo o ambiente estável e seguro, como forma de minimizar a instabilidade e o medo.
A forma ideal de tratamento é especializada e multiprofissional, incluindo assistência
psiquiatra, psicoterapeuta individual e de grupo, além de inserir a família como rede de apoio
integrada. Além disso, o paciente deve ser estimulado a participar de forma colaborativa,
estabelecendo metas de mudança de curto prazo viáveis (MAZER; MACEDO; JURUENA,
37

2017). O paciente border não conseguiu constituir sua subjetividade, por não ter tido uma
experiência intersubjetiva satisfatória, e não conseguiu tornar-se sujeito independente do outro.
Portanto, o paciente border exige muito do terapeuta e de outras relações afetivas.
O terapeuta deve ter consciência que o paciente vai tornar-se dependente na medida em
que o vínculo terapêutico se forma, e essa dependência vai fazer com que o paciente retorne a
fase infantil primitiva, de apego com as figuras paternas, para reviver e elaborar as questões
subjacentes desta fase e assim constituir sua subjetividade, o que leva tempo e paciência do
terapeuta e da família (MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017). A psicoterapia Winnicottiana
busca permitir o paciente regredir para então elaborar, a técnica de Holding favorece essa
regressão, não só em pacientes borderlines, mas em qualquer paciente, o setting terapêutico
deve cumprir este papel. No entanto, no caso do paciente border
O analista está constituindo o paciente enquanto pessoa; quando o terapeuta se afasta,
o “border” se sente mais que desamparado, sente-se como que inexistente. A relação
é anaclítica (de apoio), porque o “border” necessita de seu terapeuta para constituir
sua subjetividade, para tornar-se sujeito de si mesmo (HEGENBERG, 2013, p. 45).

Por conta de seu Self não constituído integralmente, o border é sensível a invasões (do
ambiente), produzindo uma sensação de aniquilação eminente. O paciente pode suspeitar que o
terapeuta esteja sufocando-o com suas exigências, mesmo que o terapeuta preparado não tenha
essa intenção, porque qualquer direcionamento e frustração poderão ser vista como uma
invasão, o que pode acarretar a perda da confiança.
Claro que com o passar do tempo, com o vínculo fortalecido, essas frustrações poderão
ser inseridas, na medida em que o terapeuta sinta que o paciente poderá suportar. Uma questão
importante levantada pelo autor é a identidade, onde apesar do superego (não dominante)
constituído do borde; e é isso que o diferencia do perverso e do psicótico; ele é influenciado
por seu ideal de ego, com isso ele se relaciona fusionalmente com figuras idealizadas por ele,
ora valorizando ora desvalorizando, numa dicotomia “bom” e “mal”, “amor” e “ódio”
(HEGENBERG, 2013).
Comparando-se com essas idealizações, fica difícil reconhecer suas qualidades de forma
mais adequada e condizente com a realidade, com um ideal inalcançável, se vê atrapalhado na
sua identidade. Por um longo período, o analista entra nesse lugar idealizado, para ser visto
como alguém protetor, mas com o passar do tempo, deve mostrar para o paciente que ele (o
terapeuta) também tem suas deficiências como qualquer ser humano, fazendo assim o border
ser capaz de lidar com as pessoas reais fora do consultório (HEGENBERG, 2013).
O paciente, no sentido Winnicottiano, tem medo de destruir o objeto (terapeuta), por
isso pode aceitar o que o terapeuta diz, mesmo contrariado, porque sente que não pode “agredir”
38

o outro, porque ele precisa do objeto inteiro (não destruído) para obter apoio, mas também pode
negar tudo que vem do terapeuta se sentir invadido e irá reagir contra o objeto analítico. Por
consequência deste ataque, o indivíduo se sentirá angustiado e culpado, neste ponto também se
diferencia do perverso. A resolução se dá na possibilidade de integrar o objeto bom e mau em
um só, experenciando “poder desagradar o terapeuta e ainda vê-lo inteiro, continuando a atendê-
lo” (HEGENBERG, 2013, p. 51). É importante salientar a postura do terapeuta que deve
analisar seu próprio narcisismo para que não prejudique a terapia:
O terapeuta vaidoso ou autoritário, que não puder ser contrariado, terá inúmeras
dificuldades de lidar com o borderline, e este se angustiará bastante porque para ele é
difícil contrariar seu objeto de apoio. Cabe ao analista saber reconhecer o desejo
incipiente do borderline e auxiliá-lo, vagarosamente, na aproximação cautelosa de
interesses genuínos, quando eles existem. Muitas vezes, o que ele apenas deseja é
permanecer em repouso e sem solicitações, para garantir a continuidade de uma
existência incipiente (HEGENBERG, 2013, p. 51).

O paciente border tem percepções empobrecidas dos outros, o que pode ser visto como
falta de empatia e∕ou comportamento perverso, no entanto como é possível ele perceber o outro,
senão dá conta de sua própria existência? O terapeuta ocupando, por um longo tempo, o espaço
da mãe, que apenas acompanha, que se atêm as necessidades, presente e continente, ou seja,
sem grandes interpretações e intromissões, sendo a base para que o border se constituir e se
perceber separado do outro. A partir daí poderá então separar suas necessidades e desejos das
necessidades e desejos dos outros. É quando então, o terapeuta poderá avançar na terapia
(HEGENBERG, 2013, p. 45). Kernberg (1995), que é da linha da Psicologia do Ego, é mais
cauteloso no que tange a regressão e apresenta outras técnicas, uma vez que indica que
A clarificação, confrontação e interpretação são os principais aspectos da técnica
interpretativa utilizada. Com pacientes com psicopatologias sérias, a clarificação e a
confrontação ocupam um espaço mais amplo do que a interpretação e as interpretações
dos significados inconscientes no “aqui e agora” tem maior espaço do que aquelas no
“lá e então” (KERNBERG, 1995, p. 1502).

O uso da clarificação como possibilidade de identificar e explorar o discurso do


paciente, apontando as contradições e lacunas. As interpretações são mais eficazes quando
apresentadas a um paciente preparado emocionalmente, portanto deve ser usado com
moderação, sendo indicada a interpretação de negativa, e após a clarificação e a confrontação.
Outra técnica básica da psicanálise é a análise da transferência:
Ela é modificada com pacientes com graves distúrbios de personalidade, ao
considerar qualquer interpretação transferencial no contexto do que está ocorrendo na
vida atual do paciente.” A transferência negativa e positiva desses pacientes deve ser
trabalhada apenas no “aqui e agora” sem que se tente atingir reconstruções genéticas
completas, pois a falta de diferenciação e individualização dos objetos interfere na
capacidade para diferenciar os relacionamentos objetais presentes e passados
(KERNBERG, 1995, p. 1502).
39

Devido à desorganização do paciente, deve-se evitar a associação livre e a tomada de


consciência de lembranças reprimidas, pois enquanto não houver ego que suporte elaboração,
esse processo se torna inviável e danoso como elenca o autor supracitado. Segundo Romaro
(2002), sobre o manejo da contratransferência, este pode dificultar o processo, mas se analisada
de forma empática poderá conter e transformar a angústia do paciente tão maciçamente
projetada sobre ele. O terapeuta então deve proporcionar o aprendizado de comportamentos
mais sadios, mecanismos de defesa mais maduros frente às relações objetais.
No decorrer da psicoterapia, procura-se alcançar o desenvolvimento das funções egoicas
por meio da substituição das identificações patógenas e através do desenvolvimento de defesas
e mecanismos adaptativos mais maduros, bem como pelo ingresso em modos de funcionamento
psíquico mais elaborados, que representam um avanço no desenvolvimento frente às formas
arcaicas de relação objetal, nas quais esse sujeito está fixado (KERNBERG et al., 1991;
TENENBAUM, 2007).
Conforme a literatura, de acordo com a sintomatologia do paciente, o terapeuta deve
modificar suas intervenções. Nesse caso, Goodman et al. (2013) verificaram que terapeutas de
orientação psicanalítica, frente a pacientes gravemente perturbados, requerem uma flexibilidade
temporária da técnica e adotam intervenções mais estruturadas, que servem para a estabilização
do tratamento. Alguns autores têm percebido que por meio de diferentes abordagens, em
diferentes transtornos, tem dado resultados positivos, o que significa que na visão desses
autores, a flexibilização das técnicas psicanalíticas pode ser adotada, e que técnicas mais
estruturadas e direcionadas a situações especificas ajudam no processo terapêutico.
Winnicott (1971) já dizia que a tentativa de enquadre e uma técnica cega e rígida não é
eficaz, pois o processo deve levar em conta a especificidade das necessidades do paciente. Os
princípios norteadores da escuta, prática e flexibilidade clínica, que regem a condução de
consultas terapêuticas advêm da teoria do amadurecimento pessoal, respaldada essencialmente
na comunicação humana e nos vários sentidos de realidades que constituem a existência. Afinal
a técnica é indissociável da prática clínica psicanalítica.
Segundo Nasio (1995) a capacidade do analista de identificação com as necessidades do
paciente que assegura uma função de sustentação psíquica (holding), “liberando processos de
maturação e acarreta um descongelamento da situação primitiva de carência ambiental” (Nasio,
1995, p. 190). O autor ainda comenta que esse descongelamento possibilita o paciente viver
uma cólera e exprimi-la sem risco de aniquilamento. Além disso, em seu trabalho, Nasio (1995)
elenca uma sequência do processo terapêutico, esquematizada pela tabela 3:
40

Tabela 3: Processo de expressão da cólera até o progresso do Eu


1º Da adaptação do analista as necessidades do paciente;
2º Da liberação dos processos de maturação;
3º Da intervenção de uma falta de adaptação;
4º Da cólera sentida e expressa pelo paciente;
5º Do novo progresso de Eu.
Fonte: NASIO, 1995

O processo se repete até que o trabalho evolui para a análise clássica. Abaixo segue o
manejo de Kernberg mais detalhado. O autor cria uma proposta interventiva baseada na teoria
das relações do objeto chamada psicanálise expressiva, pois devido a estrutura e dinâmica
característica de personalidade, necessitam de adequação técnica. O objetivo do tratamento é
descobrir imagens objetais internalizadas, que tem correlação a imagem de si próprio, ajudando
o paciente a integrar essas imagens como um todo. O autor ainda chama atenção para agressão,
que pode ser um empecilho para tal ato, mas ainda o pior empecilho é o ego frágil que tem
dificuldade no controle das pulsões. Desta forma, as propostas terapêuticas são elencadas por
Bleichmar (1992) encontram-se listadas na tabela 4.

Tabela 4: Proposta de intervenção de Kernberg


a) “A elaboração sistemática da transferência negativa manifesta e latente, sem
procurar a completa reconstrução genética de suas motivações, seguida do
desvio da transferência negativa manifesta, para fora da interação terapêutica,
mediante seu exame sistemático nas relações do paciente com os demais” (ibid.,
p.75).
Como já foi dito, interpretações não funcionam, pois o terapeuta é um objeto
primitivo para o paciente border, porém a interpretação transferencial negativa
pode ser utilizada, isso protege a terapia do abandono, pois a figura do terapeuta
não se torna aversiva.
b) “Convém destacar e interpretar as manobras defensivas primitivas: clivagem,
idealização primitiva, identificação projetiva etc. Esta atitude procura ajudar o
paciente a integrar seus objetivos internos, permitindo a construção de um objeto
total” (ibid., p.75).
41

c) Por limites as agressões, desde o início deixar claro que não é permitido
agressões físicas dentro do consultório. Estimular a verbalização e não o ato.
d) A integração dos estados egóicos dissociados, como já foi dito, cabe ao terapeuta
fazer interpretação das defesas primitivas que mantem essa dissociação.
e) A transferência positiva pode ser usada em prol do tratamento.
f) Estimulação de expressões mais adequadas à realidade, procurando liberar a
capacidade de desenvolvimento genital mais maduro.
Fonte: BLEICHMAR, 1992

Devido à excessiva agressividade pré-genital12, fenômenos transferências caóticos, ora a


valorização ora a desvalorização do terapeuta, que acompanham imagens parciais de objetos; o
trabalho terapêutico é posto em risco. Na contratransferência, o terapeuta pode se ver dirigindo
ao paciente agressividade, ou ainda, certa perca de limites do ego, ou ainda, identificação do
paciente como um objeto do passado, então o analista tenta controla-lo. Cabe ao analista a
contratransferência de forma produtiva, discriminando o que é conflito dele e o que é do
paciente. Notavelmente que Kernberg e Winnicott “bebem da mesma fonte”, ambos
construíram suas teorias baseados nas Teoria de Relações Objetais de Klein, entretanto
Winnicott amplia o foco na relação mãe-bebê.

2.5.1 O Manejo da Agressividade e a Ideação Suicida


Sabe-se que pacientes Border tendem a ser instáveis, podendo ter agressividade voltada
para si e para os outros, quando se sentem frustrados ou desvalorizados. A taxa de suicídio é de
10% motivados pela impulsividade e a cólera, com 75% de tentativas de suicídio. Esse
transtorno provoca grande impacto na família e no social desses pacientes, pois seus
comportamentos mal adaptados, sintomas diversificados, assim como os excessivos gastos,
tendências a cometerem delitos e a abusarem de drogas lícitas e ilícitas, tentativas de suicídio,
dificultam o convívio com esses pacientes. Romaro (2002, p. 04) destaca outras características
[...] “instabilidade afetiva; dificuldades no ambiente de trabalho e/ou escolar, com baixa
produtividade; queixas orgânicas recorrentes”.

12
“No que diz respeito às raízes da agressividade e, portanto, aos estágios iniciais, os afetos ainda não estão
envolvidos. A agressividade, nesse momento, nada tem a ver com amor ou ódio. Amar e odiar são conquistas do
amadurecimento que têm pré-requisitos. Se o indivíduo não se constituir como um EU, se ele não puder proceder
à criação da externalidade pela destruição sem raiva, no anger, dos objetos subjetivos e não puder usar objetos que
são independentes e externos ao si-mesmo, ele não poderá usar esses objetos para o amor, na genitalidade, por
exemplo, nem poderá odiá-los” (DIAS, 2006, p.13).
42

O terapeuta deve ter a sensibilidade de extrair o estressor que causou o sentimento de


cólera, validando o direito do paciente em sentir-se assim, pois seu temperamento impulsivo e
explosivo esconde o medo do abandono e rejeição, cabe então acolhê-los e interpretá-los. Ele
precisa de limites para se sentir seguro. Em função do medo de abandono, ele não consegue
opor-se a seus objetos anaclíticos, e precisa aprender a agredi-los para se ver livre de algumas
amarras. Enxerga o objeto anaclítico como grande, idealizado, e isso o domina, são eliciados
sentimentos de raiva, pois não consegue se defender desses objetos grandiosos. Tem dificuldade
de dizer não, mesmo que numa simples situação cotidiana, como por exemplo, uma sugestão
por parte da família para que o border se exercite, passando a concordar quando assim não o
deseja, pois não consegue se opor ao outro e vai até seu limite, explodindo quando não suporta
mais (ROMARO, 2002).
Diante deste conflito, dividido entre o ódio e o amor pelo objeto, se vê frente a uma
grande angústia que pode ser “aliviada” com autoagressão ou o humor deprimido, porque é
mais suportável lidar com isso, do que arriscar-se perder o objeto anaclítico. Muitas vezes,
pacientes borderline são diagnosticados erroneamente com bipolaridade ou depressão, no
entanto, o humor deprimido é um sintoma que esconde a verdadeira dor, a dor de não ser alguém
inteiro, a dor de viver a beira de perder o objeto anaclítico e de se perder por consequência
(ROMARO, 2002).
Bergeret (1998, p. 205) traz a questão da violência, que para os sujeitos depressivos-
limite, “trata-se de uma forma arcaica, intrínseca, instintiva e ainda não objetalmente definida
de forma precisa”, ou seja, o border não é violento por um malcaratismo qualquer, mas por sua
forma instintiva e primitiva, de lidar com situações aversivas. Cabe ao terapeuta mostrar que
ele não quer prejudicar ninguém, apenas quer se defender para sobreviver, que existem formas
mais assertivas para tal, e que não há motivos para temer os “adultos mais fortes”.
Por vezes o manejo se torna difícil e cansativo, causando até certa aversão na equipe
médica e na família, para isso Kernberg (1991) alerta que o terapeuta não deve aceitar situações
em que se exija comportamentos heroicos ou esforços excepcionais com estes pacientes. “A
longo prazo, sempre que o terapeuta seja mais solicitado do que pareça ser razoável numa
atitude terapêutica habitual, o potencial autodestrutivo do paciente pode ser reforçado”
(HEGENBERG, 2013, p. 201). Ou seja, corre o risco do terapeuta, demais profissionais e
familiares, esgotados ou incrédulos da melhora do quadro, podem reproduzir, na
contratransferência, o desejo de morte dos pacientes.
Kernberg (1991) salienta que por vezes “o terapeuta, reconhecendo a impossibilidade
de uma situação terapêutica, deve ter a coragem de terminar o tratamento” (HEGENBERG,
43

2013, p. 202). O paciente, sobre risco de cometer suicídio, pode ser internado após avaliação
da equipe multiprofissional, no entanto, a internação compulsória pode ser vista como uma
intrusão, e a confiança e o vínculo pode ser comprometida, portanto cabe a experiência e uma
criteriosa avaliação de redução de danos.

2.5.2 O Manejo do Borderline e as Relações Interpessoais


As relações interpessoais do border, são muitas vezes abaladas por sua inconstante
personalidade e o desejo de ser amado incondicionalmente, o pode sufocar a família e os
amigos. Tende a afastar as pessoas devido seu exibicionismo, gostando de falar de si mesmo,
relata com frequência seus problemas para os outros, sendo que tais informações podem gerar
angústia nas pessoas, que muitas vezes não sabem lidar com essa situação.
Tendem a relatar os seus desejos de suicídio, com suas críticas agudas em relação ao
mundo e com a medicação psiquiátrica administrada. O psicólogo deve então trabalhar essas
questões, para que o border se exponha com cuidado aprendendo a ler os indícios de que o
outro é confiável e está receptivo para saber tanto sobre o paciente.
A autenticidade é necessária para saúde das relações interpessoais, mas todo excesso
traz prejuízos, como por exemplo, afugentar as pessoas. “Cabe mostrar ao paciente o modo pelo
qual as suas defesas participam das suas percepções fragmentadas, pondo à luz a sua resistência
em se deparar com suas limitações” (HEGENBERG, 2013, p. 138). O terapeuta busca,
primeiro, reconhecer padrões recorrentes de interação com os outros, que são precipitados do
seu mundo representacional interno.
O acompanhamento terapêutico auxilia o paciente a distinguir situações que para
alguém não TPB, parece cotidiana e tranquila. Segundo Hegenberg (2013), trabalhar apenas no
consultório com esses pacientes não trará muitos avanços, já que em casos de transtornos graves
é preciso muitas vezes ajudar a dirigir, a sair para dançar, essa função seria a de acompanhante
terapêutico. O acompanhamento do paciente deve ser em equipe multiprofissional treinada e de
longo tempo, o que gera um ônus financeiro para a família. Manter um tratamento dessa
complexidade durante anos pode levar um esgotamento financeiro e emocional na família, que
também deve ser ouvida pela equipe para que esses vínculos não sejam desfeitos.
A família constitui uma rede de apoio, e sem ela o paciente se torna mais vulnerável
ainda. Em relação ao trabalho e demais aspectos da vida do paciente, o terapeuta deve ter cautela
ao analisar os interesses da vida do border para não ser visto como perseguidor intrusivo, e
saber separar o que o paciente realmente deseja, pois ele facilmente pode seguir um caminho
influenciado pela figura idealizada (HEGENBERG, 2013).
44

O terapeuta deve encorajá-lo, na medida do possível, em sua jornada, no sentido de que


ele descubra o que lhe dá prazer e o que ele realmente tem habilidade. Devido ao seu ideal de
ego o paciente pode avaliar sua capacidade empreendedora de forma que não condiz com a
realidade, o que pode custar prejuízos financeiros e conflitos familiares. A baixa tolerância a
frustração faz com que os “nãos” sejam respondidos com agressividade, o que pode ser visto
pela família como manipulação e violência. Portanto, o terapeuta deve acolher a família e
explicar que na verdade o paciente é uma pessoa frágil e que expressa seu medo de abandono
de forma inadequada movido apenas pelo desespero (HEGENBERG, 2013).
Ainda segundo Hegenberg (2013), muitos conflitos podem ser diminuídos e o desgaste
pode ser evitado nas reações familiares, quando a família consegue olhar para o paciente sobe
outra perspectiva. Desenvolver a paciência e a resiliência nos membros não é tarefa fácil, mais
esse é o objetivo que deve ser buscado na terapia.
São indivíduos sujeitos a acessos de ira e verdadeiros ataques de fúria ou de “mau
gênio”, em completa inadequação ao estímulo desencadeante. Essas crises de fúria e
agressividade acontecem de forma inesperada, intempestivamente e costumam ter por
alvo pessoas do convívio mais íntimo, como por exemplo, os pais, irmãos, familiares,
amigos, namoradas, cônjuges etc. (BALLONE; MOURA, 2008).

Voltando para Winnicott (1958), o bebê destrói continuamente na fantasia o objeto


interno (mãe) para descobrir o objeto externo (mãe), e esta deve ser capaz de suportar a
destruição, o border permanece nesse processo de revivescia dessas experiências primitivas,
tentando agora então, com suas figuras de apoio, a família pelo bem do paciente border, deve
sobreviver a destruição. Sabe-se que os problemas nestas famílias residem e se mantem ao
longo dos anos, pois essa estrutura familiar falhou no passado quando o paciente ainda era bebê.
O quão oneroso psicologicamente falando é esse processo para todos, mas quando se tem o
desejo de mudança e de melhorar a qualidade de vida do paciente e da família, com ajuda
profissional é possível.

2.5.3 Tratamento Medicamentoso


Devido à variabilidade de sintomas, como ideação suicida, comorbidades, uso e abuso
de substâncias ou não, ataques de raiva, enfim, os medicamentos são administrados de acordo
com cada paciente, não tendo até o momento estudos de um único para todos os sintomas. Os
medicamentos são utilizados em conjunto, como antidepressivos inibidores seletivos da
captação da serotonina (ISRS) para diminuição dos sintomas impulsivos e de humor
(HEGENBERG, 2013).
No entanto, nota-se que antidepressivos possuem limitados resultado positivos. Baixas
doses de antipsicóticos de primeira geração podem ajudar a aliviar sintomas psicóticos, como
45

ruminações, dissociações, redução dos comportamentos suicidas e ataques de raiva. A


prescrição deve ser feita com cautela, pois a tendência de o paciente fazer abuso do
medicamento é grande devido aos comportamentos autodestrutivos. Os medicamentos auxiliam
na redução, mas não resolvem por si só a causa sofrimento, quando associados a psicoterapia
os resultados são mais evidentes (HEGENBERG, 2013).

2.6 ADESÃO AO TRATAMENTO


Este capítulo tem com o objetivo apreender os motivos pelos quais os pacientes
borderline abandonam o tratamento, tanto na psiquiatria quanto na psicologia dentro da
abordagem psicanalítica, assim como formas de prevenir esse abandono. No decorrer dos
capítulos foram apresentados alguns motivos: excesso de interpretações; as diretivas do
terapeuta que são vistas como intrusões; o auto custo financeiro do tratamento, que é
multiprofissional e de longo prazo; a falta de rede de apoio; o desgaste do terapeuta que pode
ser percebido pelo paciente como abandono e falta de afeto por parte do terapeuta; a idealizado
e a desvalorização da equipe por parte do paciente; a família que pode não acreditar na melhora
do paciente. Iremos agora dar ênfase em outra questão, a aliança terapêutica.
As rupturas da aliança nas primeiras sessões alertam para três questões fundamentais: a
tarefa, que são as ações psicológicas, temáticas trabalhadas em sessão, o vínculo, que é a relação
de sentir-se seguro e acolhido frente ao terapeuta, o objetivo que é o que se deseja alcançar na
terapia. O teste que avalia a tarefa, o vínculo e o objetivo é o “WAI-O foi elaborado por Horvath
e Greenberg, em 1986, e validado pelos mesmos pesquisadores, em 1989” (GEREMIA et al.,
2016, p. 26).
É um instrumento que avalia a Aliança Terapêutica, independentemente da abordagem
teórica. Esses três requisitos devem estar, na medida do possível, em consonância na visão do
paciente. Em relação a psicanálise, o paciente pode ver, que em algumas situações, seus
objetivos não estão sendo alcançados na análise, pois o seu desejo de mudança diverge da
“proteção” que os sintomas fornecem ao Self. Os objetivos, ou seja, o desejo está no analista e
não no analisando. Em outras palavras, o desejo da mudança, de sessar o sintoma que é o
substituto da ansiedade traumática do passado, não é um desejo legitimo do analisando, e sim
do analista. Esse pensamento se refere à Lacan, em seus seminários em 1975:
É do desdobramento da prática analítica como uma estrutura de relações que permite
a assunção do desejo, que Lacan finalmente instaura o analista no lugar do objeto a,
o objeto causa de desejo. É ao analista, colocado nesta posição, que o analisante dirige
seu desejo: portanto, para Lacan, o lugar do analista é um lugar de vazio, de
abstinência de gozo, semblante de objeto a. Ao tomá-lo como causa de seu desejo, o
analisante deposita, na figura do analista, o desejo que para ele é uma incógnita: deste
46

lugar de objeto a, o analista permite-se ser tomado como Outro pelo analisante, para
desvelar, nesse movimento, o próprio desejo que move o sujeito em análise. Há um
semblante, um “fazer-de-conta ser o objeto capaz de realizar o desejo do paciente”
(ANDRADE, 2007, p. 191).

Quando se estabelece um contrato, as duas partes têm que honrar com sua contribuição
ora acordado, sabe-se exatamente o que está comprando, seja isto produto ou serviço. Isso não
acontece com a análise, pois não se sabe aonde se vai chegar, e a descoberta do que está por
traz do sintoma (aquilo que o paciente consegue lidar) será de extrema importância para a
análise, mas doloroso para o analisando.
De forma geral “aliança terapêutica é um fenômeno complexo e necessita ser
considerada como relacionada à (1) habilidade do terapeuta em formar aliança, (2)
características do paciente, (3) combinação apropriada entre características do paciente e do
terapeuta, e (4) mudanças sintomáticas precoces antes da mensuração da aliança” (WEBB et
al., 2011). Muitas problemáticas são levantadas, pois esse fenômeno é complexo, entretanto é
importante salientar que apesar das dificuldades da aliança terapêutica, é possível sim
desenvolver vínculo de boa qualidade com os pacientes, inclusive os borderlines.
47

3 METODOLOGIA
De objetivo exploratório, esta pesquisa busca investigar a atuação de psicólogos e
psiquiatras psicanalistas no manejo de pacientes borderlines. O presente trabalho refere-se a
uma pesquisa de natureza qualitativa, no qual se utiliza de aspectos reais que não podem ser
como uma representação numérica, uma vez que é voltada para a compreensão e explicação da
dinâmica das relações sociais. Nesta perspectiva, a análise qualitativa depende de diversos
fatores, “tais como a natureza dos dados coletados, a extensão da amostra, os instrumentos de
pesquisa e os pressupostos teóricos que nortearam a investigação” (GIL, 2002, p. 59).
Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica sistemática, definida como um
sumário de evidências provenientes de estudos primários conduzidos para responder uma
questão específica de pesquisa. Utiliza um processo de revisão de literatura amplo, justo e
reproduzível sintetiza, que avalia de forma crítica e interpretativa para obter uma visão geral e
confiável do parecer do efeito da intervenção (BRASIL, 2012).
Os dados foram escolhidos por conveniência, de acordo com os critérios de inclusão:
Artigos, monografias, teses e dissertações publicadas nas plataformas digitais: BDTD, LILACS
e SciElo, na língua portuguesa. Cujos autores fossem psicólogos e/ou psiquiatras que atuam na
abordagem psicanalítica no atendimento a pacientes diagnosticados com TPB, dentro do
período de janeiro de 2015 a março de 2020.
As palavras-chave definidas para a busca dos artigos foram: “Psicanálise”, “Transtorno da
Personalidade Borderline”, “Manejo (Psicologia)” e “adesão ao tratamento”. Entretanto, para
obter resultados na busca nas plataformas foram utilizadas combinações entre as palavras-chave,
tornando-as: “Psicanálise e Borderline”, “Borderline e Manejo (Psicologia)”, “Borderline e
adesão ao tratamento”. E como critérios de exclusão: artigos, monografias, teses e dissertações
não publicadas (literatura cinzenta), que não correspondem com os critérios de inclusão citados
acima e, que não tenham compatibilidade com o tema, bem como trabalhos disponíveis, mas
incompletos.
Por corresponder a um método explícito e sistemático que identifica, seleciona e avalia
a qualidade de evidências, as revisões sistemáticas são tipos de estudos produzidos por uma
metodologia confiável, rigorosa e auditável. Portanto, para a análise dos dados procedeu-se
primeiramente à leitura exploratória do material encontrado, que consistiu na observação
rápida, objetivando verificar se a obra consultada era de interesse para a pesquisa. Em seguida,
procedeu-se à leitura seletiva, que possibilitou a identificação nos artigos das partes importantes
para a realização da análise proposta.
48

Após essa seleção, fez-se a compilação das informações pertinentes, extraídas das
fontes, em uma planilha eletrônica, que contemplou o registro dos dados (autores, ano, método,
resultados e conclusões). Para a conclusão da etapa seletiva procedeu-se à leitura analítica, cuja
finalidade foi elencar, ordenar e sumariar as informações contidas nas fontes bibliográficas para
que possibilitassem a obtenção de respostas aos objetivos propostos.

Figura 1: Esquema da metodologia

Objetivo Exploratório Pesq. Qualitativa Revisão Sistemática Análise dos Conteúdos

a. Pré-análise
b. Exploração do
material
c. Tratamento dos
resultados
Fonte: PRÓPRIA AUTORA, 2020.

Visto que, pela Resolução CNS 466/12 (BRASIL, 2012, p.2), entende-se como risco a
“possibilidade de danos à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou
espiritual do ser humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente, agravo imediato
ou tardio, ao indivíduo ou à coletividade, com nexo causal comprovado, direto, ou imediato,
decorrente do estudo específico”.
Apesar da pesquisa não envolver experimentos humanos o estudo esteve atento aos
cuidados necessários para o seu desenvolvimento, de modo que o conteúdo trabalhado não seja
ofensivo aos direitos humanos e busque a promoção da reflexão sobre o tema desenvolvido,
contribuindo com o crescimento da ciência, em observação à resolução 466/12 do Ministério
da Saúde (BRASIL, 2012, p.2).
49

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O quadro a seguir apresenta o resultado geral dos dados encontrados na busca das
combinações das palavras-chaves em cada plataforma. Considerando que estes já respeitam os
critérios de inclusão referentes ao intervalo de ano e o idioma.

Quadro 1: Resultado geral das buscas nas bases de dados


Palavras-Chave BDTD LILACS SciELO
Psicanálise e Borderline 8 16 3

Borderline e Manejo (Psicologia) 5 5 0

Borderline e adesão ao tratamento 10 1 1

Total parcial 23 22 4
Total Geral 49
Fonte: PRÓPRIA AUTORA, 2020.
Na íntegra a coleta obteve um total geral de 49 artigos publicados nas três bases de
dados, contudo, apesar da filtragem já realizada na própria plataforma durante a busca das
palavras-chaves, necessitou-se de uma análise mais aprofundada, a fim de responder todos os
critérios. Desta forma, o quadro 02 apresenta o resultado final, no que diz respeito à coleta de
dados, de forma individual e coletiva e a soma total dos trabalhos selecionados de acordo com
os critérios de inclusão e exclusão definidos para a realização desta pesquisa.

Quadro 2: Artigos selecionados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão


Palavras-Chave BDTD LILACS SciELO
Psicanálise e Borderline 5 7* 2*

Borderline e Manejo (Psicologia) 3 2* 0

Borderline e adesão ao tratamento 1 0 0

Total parcial 9 9 2
Total Geral 20
Fonte: PRÓPRIA AUTORA, 2020
(*) Possui artigos duplicados
50

Destacou-se a plataforma BDTD devido ao número de artigos relevantes disponíveis na


íntegra e interface da plataforma e, por possuir ampla disponibilização de artigos completos e
gratuitos. Em contraponto, a plataforma SciELO, o maior infortúnio referiu-se à duplicidade
e/ou escassez de material referente ao objeto desta pesquisa. Desta forma, a plataforma BDTD
pode ser considerada como ferramenta única para otimização em outras buscas acadêmica.
Do resultado total, excluiu-se 29 artigos após a filtragem do título, resumo e introdução,
por não atender aos critérios que foram propostos nesta pesquisa e por não apresentar relação
com os manejos do paciente borderline na abordagem psicanalítica.

Figura 2: Fluxograma da seleção dos artigos

ESCOLHIDOS
9 artigos

BDTD
Total Parcial: EXCLUÍDOS
23 artigos 14 artigos

EXCLUÍDOS
LILACS 13 artigos
Total Parcial: Total Final:
Total Geral: 22 artigos ESCOLHIDOS 14 Artigos
49 Artigos 9 artigos
*4 duplicados

EXCLUÍDOS
SciELO 2 artigos
Total Parcial:
4 artigos
ESCOLHIDOS
2 artigos
*2 duplicados
Fonte: PRÓPRIA AUTORA, 2020.

De acordo com a Figura 02 acima apresentada, foram selecionados 09 artigos na BDTD, 09


artigos na LILACS, porém 04 deles estavam duplicados, e 02 apareciam na plataforma SciELO, ou
seja, ambos tratavam de duplicidade. Portanto, no resultado final utilizou-se 14 artigos para a
discussão da pesquisa, estando eles apresentados na tabela abaixo, contendo o título, autor (a), ano
de publicação, a plataforma de onde foram encontradas, a palavra-chave utilizada e a área de
conhecimento, se correspondiam à psicologia ou psiquiatria.
51

Tabela 5: Dados dos artigos selecionados

Artigo 1
Título: A contratransferência como dispositivo de trabalho na clínica psicanalítica com
pacientes fronteiriços.
Autor (a): Renata Arouca de Oliveira Morais
Ano de Publicação: 2015
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 2
Título: A problemática do holding corporal na análise do paciente borderline: um estudo de
caso.
Autor (a): Solange Veronez
Ano de Publicação: 2017
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 3
Título: A transferência e a contratransferência na clínica dos estados-limite: o afeto como um
recurso de elaboração do trauma.
Autor (a): Paula França dos Santos
Ano de Publicação: 2016
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 4
Título: Adesão à técnica psicanalítica no processo de psicoterapia com uma paciente borderline.
Autor (a): Paula Von Mengden Campezatto; Fernanda Barcellos Serralta; Luísa Fernanda
Habigzang
Ano de Publicação: 2016
Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 5
Título: Adicção ao outro em pacientes fronteiriços: um estudo psicanalítico.
Autor (a): Marcelo Soares da Cruz
Ano de Publicação: 2016
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 6
Título: Andando na corda bamba: desafios técnicos do atendimento de pacientes borderline.
Autor (a): Milena da Rosa Silva; Denise Steibel; Paula Von Mengden Campezatto; Lívia Fração
Sanchez; Eduarda Duarte de Barcellos; Paula de Paula Fernandes; Regina Pereira Klarmann
Ano de Publicação: 2016
Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
52

Artigo 7
Título: Associação entre a função reflexiva e a funcionalidade global em pacientes
diagnosticadas com Transtorno de Personalidade Borderline.
Autor (a): Glaydcianne Pinheiro Bezerra
Ano de Publicação: 2019
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Borderline e Adesão ao Tratamento
Área de conhecimento: Psiquiatria
Artigo 8
Título: Contribuições da psicanálise winnicottiana à clínica com adolescentes fronteiriços:
estudo de um caso.
Autor (a): Sandra Aparecida Serra Zanetti; Geovanna Moreno Cianca
Ano de Publicação: 2017
Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 9
Título: Histeria e borderline: mo (vi) mentos da clínica psicanalítica.
Autor (a): Eunice Nishikawa; Maria Luiza Fiore; Orlando Hardt
Ano de Publicação: 2017
Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 10
Título: O paciente borderline na literatura psicanalítica, de 1930 a 2016.
Autor (a): Guilherme Geha dos Santos
Ano de Publicação: 2017
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 11
Título: Pacientes, problemas e fronteiras: psicanálise e quadros borderline.
Autor (a): Guilherme Geha dos Santos; Gustavo Adolfo Ramos Mello Neto
Ano de Publicação: 2018
Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 12
Título: Psicoterapia psicanalítica com pacientes borderline: construindo pontes entre
pesquisa e prática clínica.
Autor (a): Aline Alvares Bittencourt
Ano de Publicação: 2015
Plataforma: BDTD
Palavra-chave: Borderline e Manejo (Psicologia)
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 13
Título: Sobre os casos-limite e os limites das práticas de cuidado em psicanálise.
Autor (a): Maria Lívia Tourinho Moretto; Daniel Kupermann; Christian Hoffmann
Ano de Publicação: 2017
53

Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Artigo 14
Título: Um território sem fronteiras: os casos-limite.
Autor (a): Ligia Todescan Lessa Mattos
Ano de Publicação: 2018
Plataforma: LILACS
Palavra-chave: Psicanálise e Borderline
Área de conhecimento: Psicologia
Fonte: PRÓPRIA AUTORA, 2020.

Faz-se importante ressaltar aqui, que para fazer a pesquisa bibliográfica que embasou o
referencial deste estudo, foi observado um grande número de teóricos, desde antes de Stern
(1938) que cunhou o termo “borderline”. Os primeiros capítulos tiveram o intuito de resumir o
percurso teórico da psicanalítica para que se tenha um encontro com a Psicanálise Clássica e
sua a evolução até os tempos atuais. Esse desenvolvimento da psicanálise possibilitou o objeto
borderline ser visto e entendido fora das estruturas e técnicas clássicas.
Diante disso e ao fato do problema de pesquisa, que são as formas de manejo, evitou-
se filtrar as buscas, no sentido de afunilar a apreensão do diagnóstico e o tratamento bordeline.
Isso não significa que se pretende esgotar o assunto, mas apenas colher dentro de um número
reduzido de trabalhos encontrados, formas de manejos em comum ou não. Nesta fase dos
resultados notou-se que a teoria Winnicottina foi a que mais apareceu no manejo dos autores
selecionados, seguido dos grandes teóricos Ferenczi, Grenn, Bion e Lacan.
A autora Morais (2015) na tese de doutorado “A Contratransferência como Dispositivo
de Trabalho na Clínica Psicanalítica com Pacientes Fronteiriços”, apresentou dois estudos de
caso sobre pacientes diagnosticados com borderline, como o próprio título diz, na utilização da
contratransferência como fundamental na clínica. A autora propõe o diálogo da teoria pulsional
e das teorias das relações de objeto, para facilitar o enquadre no trabalho analítico.
Devido ao aparecimento de pacientes fronteiriços com características semelhantes ao
quadro psicótico, têm-se a necessidade de uma flexibilidade em relação às regras postuladas
pela psicanálise. Outro ponto abordado foi sobre o clínico ter uma boa experiência com análise,
aprofundamento teórico de referência, supervisão e um trabalho em equipe com outros
profissionais, que em muitos casos se faz necessário. A autora lembra que Freud (1913) chama
as regras de “recomendações”, portanto, as técnicas devem ser vistas em “função das diferentes
constelações psíquicas envolvidas, a plasticidade de todos os processos mentais e a riqueza dos
54

fatores determinantes que irão opor-se a qualquer mecanismo da técnica” (MORAIS, 2015, p.
69-70).
Essas ideias também são encontradas em todos os autores elencados neste estudo, e
ainda acrescentam que o analista deve ser criativo, alternando a técnica, mas mantendo a
Psicanálise. Contudo, a psiquiatra Bezerra (2019), em seu trabalho “Associação entre a Função
Reflexiva e a Funcionalidade Global em pacientes diagnosticadas com Transtorno de
Personalidade Borderline” respaldou seu trabalho na Teoria da Mentalização e biofeedback
social, em conjunto com a psicanálise, no estudo transversal com pacientes do sexo feminino
diagnosticadas com borderline, no Hospital Psiquiátrico São Pedro em Porto Alegre.
Os achados desse estudo, evidenciando associação entre a capacidade de mentalização
e a funcionalidade, mesmo controlando para sintomas e estilos defensivos, reforça a
importância do estudo da mentalização/ função reflexiva nesses pacientes.
Intervenções focadas na mentalização podem ser úteis para aparelhar diversos níveis
do sistema de saúde, para atender pacientes com TPB, podendo ser adaptadas a
cenários específicos (BEZERRA, 2019, p.36).

No estudo de caso “Adesão à técnica psicanalítica no processo de estudo de caso


psicoterapia com uma paciente borderline”, Campezatto, Serralta e Habigzang (2016)
comentam que utilizavam a psicanálise nos moldes clássicos quando a paciente estava mais
integrada, e quando se mostrava regredida ou desorganizada assumia uma postura não
psicanalítica. O processo terapêutico se dará junto ao paciente, com os recursos, dispositivos, e
os obstáculos que poderão ser sentidos, “para tanto, o analista deve ter sensibilidade,
espontaneidade, flexibilidade e manejo na condução” (MORAIS, 2015, p.70).
Na contratransferência a reação do terapeuta, seu estado afetivo organizará outros
dispositivos. Nos casos apresentados neste estudo, a analista evidencia os estados de fusão,
discriminação dos conteúdos, afetos em prol de uma realidade psíquica e da relação com os
pacientes. A comunicação dos pacientes é vista como uma finalidade de descarga de tensões, o
que dificulta certa organização das ideias, dificultando a identificação de conteúdos latentes
(MORAIS, 2015). Outra questão sobre a comunicação elenca a regra fundamental da
psicanálise, a associação livre:
Com frequência, não podemos falar em associação livre, pois o paciente se vê
dispersado em dar atenção a inúmeros assuntos cotidianos que lhe demandam todos
em igual urgência. Ou seja, o paciente parece ter medo de perder aquilo que lhe é
bastante frágil e precário: sua capacidade de sentir-se em si mesmo (MORAIS, 2015,
p.206).

Há um consenso entre os autores do resultado desta pesquisa sobre não se observar uma
atitude clássica analítica, utilizando a associação livre, conteúdos de sonhos e histórias
passadas. Portanto, nota-se um precário nível de simbolização nos fronteiriços, devido à
55

dificuldade de associação livre. Mattos (2018) em seu artigo “Um território sem fronteiras: um
caso limite”, sob a perspectiva de Grenn e Bion, comenta brevemente sobre os sonhos dos casos
limites, onde não abrem espaço para associações livres, pois são relatos crus que servem mais
para “erupções” psíquicas, ou seja, para alívio de tensões. Há sim alguma simbolização, porque
há representação de imagens, mas impossibilidade de considerações a esse respeito.
Foram encontradas nas buscas deste presente estudo duas publicações do mesmo autor,
“O paciente borderline na literatura psicanalítica, de 1930 a 2016” Santos (2017) e “Pacientes,
problemas e fronteiras: psicanálise e quadros borderline” Santos e Neto (2018), ambos
decorrem sobre algumas recomendações na literatura, e sobre não utilizar divã ou associação
livre, mas reflete se isso é apenas para evitar o trabalho analítico, pois vê o borderline como
um objeto, “para que este não seja projetado ou vinculado ao analista, restando a psicoterapia
cuidar das partes adjacentes, que estão cindidas” (SANTOS, 2017, p.156).
Morais (2015) traz uma questão importante na clínica borderline, onde o paciente “passa
diretamente do campo motor para o campo verbal, em que o falar é fazer e, assim, o clínico terá
que fazer um trabalho de desenvolvimento do campo visual de metaforização, de modo a ajudá-
lo a nomear seu mundo interno” (MORAIS, 2015, p. 72). Abrindo o caminho para o paciente
ver as coisas por si mesmo, que ele a priori não consegue ver.
Observa-se que a clínica psicanalítica necessita de uma disponibilidade de se estabelecer
uma relação terapêutica, através da vinculação “pré-verbais, sensoriais, nas quais caberá ao
analista a difícil tarefa de transformá-las em representações palavras via um trabalho de
nomeação” (MORAIS, 2015, p. 268). A autora, Santos (2016) na dissertação “A Transferência
e a Contratransferência na Clínica dos Estados-Limite: o afeto como um recurso de elaboração
do trauma”, apresenta o papel do analista diante da contratransferência, onde ele empresta a
elaboração dos seus próprios afetos para ajudar o paciente a identificar os dele, pela via da
simbolização, nomeando então como a clínica dos afetos.
Santos (2017) discorre sobre a interpretação, que deve ser vista no processo da análise
de transferência, portanto, o campo fértil está na relação com o analista, enquanto pessoa real
que oferece um ambiente facilitador para o ego frágil infantil. A respeito das interpretações
transferenciais, “é necessário cuidado ao fazê-las e, até mesmo, excluí-las durante certo tempo,
pois pacientes com configurações mentais distantes dos quadros neuróticos não podem suportá-
las em muitos momentos”, e pode ser vista pelo paciente como forma de instrução (MATTOS,
2018, p. 52).
Os autores supracitados comentam que a transferência se dá por meio da repetição de
um trauma na infância, e o paciente tenta não reviver, portanto precisa repetir, como postulado
56

em Recordar, Repetir e Elaborar de Freud (1914). No setting o paciente é reexperimentado de


uma compulsão a repetição, na tentativa de reviver e elaborar os afetos passados, os sintomas
então, são uma forma de lidar com a realidade, e é o que o paciente dá conta de suportar. O
objetivo da análise é tratar algo intolerável na realidade do paciente, e o processo analítico se
dá em reconhecer a forma de angústia expressa em sintomas.
Santos (2016), demonstra os elementos da figura do analista carregada de fantasia em
paciente neurótico, ou seja, as transferências são pela via da fantasia, no entanto, nos borderline
são feitas como se o terapeuta fosse uma figura de referência. Isso explica o porquê as relações
objetais dos borderline serem tão intensas. Sob o olhar de Lacan, o autor Moretto et al. (2017)
em seu artigo Sobre “Os casos-limite e os limites das práticas de cuidado em psicanálise”,
refletem sobre a clínica com os casos-limite, relativo a angústia de separação, onde há perda do
objeto de gozo, e onde há fusão do sujeito com o objeto, o manejo então seria no sentido da
possibilidade de retificação do Outro por meio da transferência.
Se o sujeito se fusiona com o analista para alienar-se, cabe ao analista pensar no
paciente como Sujeito, então o desejo do analista deve ser usado como diferenciador, mas não
pode ser confundido com indiferença, daí um ponto desafiante para manter a neutralidade e
abstinência. O autor Morais (2015) debate sobre os estados psicóticos ou falsos selfs, em que a
estrutura ainda não está integrada, nesse caso o manejo e o setting, são organizados pelo
holding, sem necessariamente recorrer à interpretação, a regressão à dependência. No estudo
de caso com uma adolescente o manejo teve foco “em clarificar, organizar e transformar os
elementos internos em elementos pensáveis, entrando-se em contato com o verdadeiro self e,
por meio do seu acolhimento, dando suporte a um progresso na adaptação à realidade, ou seja:
por meio do holding terapêutico” (ZANETTI; CIANCA, 2017, p. 301; 302).
O holding aparece nos estudos de base winnicottiana como a principal técnica no sentido
de sustentar, acolher e conter o ego incipiente dos borderlines. O holding significa oferecer um
ambiente de integração, estabelecendo uma relação de confiança, onde o self verdadeiro seja
vivenciado. O resultado obtido no caso da adolescente citada acima, mostrou que a partir do
holding, em que a terapeuta mostrava interesse pelo mundo fantasioso da paciente, ela pôde
“quebrar” as resistências em falar de si.
A partir disso, pôde-se avançar rumo à integração da parte cindida de seu self,
representada pelo mundo fantasioso, segregado e de difícil acesso, ao todo de sua
personalidade, concomitantemente ao trabalho de introdução gradual da paciente à
realidade. Isto porque, uma vez aceito pela terapeuta, esta parte cindida pôde ser
conhecida, aceita e assimilada pela paciente como parte de si, ligada à sua capacidade
criativa da personalidade (ZANETTI; CIANCA, 2017, p. 302).
57

Notou-se então, uma melhora capacidade de relacionar-se com as demandas da


realidade, a terapia então teve um efeito estruturante, podendo então melhor articular a fantasia
da realidade. No caso apresentado por Morais (2015) a paciente J. muitas vezes faltava as
sessões e ligava para a analista para falar sobre seu desejo de morte. Estas questões eram
“fortes” no ponto de vista contratransferêncial. A dificuldade em se estabelecer um setting
terapêutico, provocava muita raiva na terapeuta. Sobre isso, Kernberg (1991) comenta que o
terapeuta não deve aceitar situações em que se exijam comportamentos heroicos ou esforços
excepcionais com estes pacientes, correndo o risco do terapeuta, esgotado ou incrédulo da
melhora do quadro reproduzir, na contratransferência, o desejo de morte dos pacientes.
Contudo, a terapeuta entende que os fortes sentimentos contratransferênciais foram
fundamentais para a terapia, pois percebeu que na clínica isso reorganizou o self da paciente. O
sentimento da terapeuta era de paralisia frente às faltas e as ligações, ela acredita que essa
paralisia vivenciada seja a contratransferência em ato. Então a analista expressa isso na sessão,
para então trabalhar no sentido de discriminar o Eu do outro.
Elencando Grenn, o autor Morais (2015) descreve sobre o enquadre interno, e o analista
se vê frente a impossibilidade de vivenciar o que internalizou sobre um enquadre adequado na
clínica dos neuróticos. Todavia, com pacientes fronteiriços o enquadre não se efetua nos moldes
tradicionais. Devido à dificuldade de simbolização, há uma compulsão pela repetição, então o
paciente atua com o corpo o que não pode dizer em palavras.
Com isso, podemos concluir que a raiva da analista em seus atendimentos dizia algo
da compulsão à repetição da paciente. A raiva sentida pela analista tinha uma função,
pois o que se apresentava no cenário era a fusão e a emergência de dois psiquismos
separados (MORAIS, p. 231).

Sobre os momentos de crise da paciente, onde o desejo de aplacar as ansiedades levava


a ideação suicida, a contratransferência servia para analista guiar-se quanto à natureza dessa
ansiedade, que geralmente eram persecutórias. Santos (2016) e Morais (2015) discutem em
seus trabalhos que a contratransferência surge como impacto da influência do paciente sobre o
inconsciente no analista, e é possível usar isso como instrumento para apreender o inconsciente
do paciente. Os autores pautados nas ideias de Ferenczi (1931-1932) discorrem sobre a
importância desses afetos do analista ser usados em prol do paciente, mas Santos (2016) alerta:
nem todos “são passíveis de serem evocados no tratamento dos analisandos” (p.93).
Nesse ponto, portanto, Ferenczi corroborava com Freud (1912) sobre os perigos da
contratransferência. Ainda que Ferenczi não a entendesse como algo ruim pela sua
existência, concordava com Freud ao afirmar que a contratransferência poderia ser um
terreno fértil para manifestações e atos equivocados, por parte do analista, a partir de
seus conteúdos inconscientes (SANTOS, 2016, p. 94).
58

As contratransferências podem colocar em risco a neutralidade e abstinência do analista,


e é um campo de muita discussão, seguindo a ideia de Freud (1910), que a contratransferência
é como algo prejudicial. Sobre os resultados obtidos nas sessões com J., a autora elencou que
“se num primeiro momento a destrutividade de J. mostrava-se evidente, aos poucos, isso foi
sendo contido e acolhido” (MORAIS, 2015, p.237). E que o papel da supervisão foi essencial
para refletir sobre esses sentimentos transferenciais.
A analista atuou como ego auxiliar, pois confrontou os sentimentos de incapacidade e
inutilidade da paciente, não condizentes com a realidade, portanto, refazendo parte de seu ego
diante de suas “verdades” ou falas, atravessando as resistências. A analista conseguiu formar
um elo através do tom de voz, sua forma afetiva.
Santos (2016), Morais (2015), Veranez (2017), Cruz (2016), Zanetti e Cianca (2017),
concordam que o analista deve experimentar uma benevolência materna, tal qual como nunca
o paciente teve, permitindo que ele regrida a uma condição infantil. O sujeito traumático tende
a repetir a cena de desamparo vivido na infância. A angústia é o afeto de ficar separado, do
desamparo que se inicia logo que o bebê nasce, e que se prolonga por toda vida. Intensificada
pelo sujeito borderline, que vive a beira de um colapso, por não conseguir se conectar com os
objetos amados, por também não ter sido desejado por seus cuidadores, ou por não ter recebido
provisões físicas e psíquicas o suficiente.
Nos estudos de base winiccottiana, os analistas se posicionam de acordo com a mãe ou
ambiente, com o papel de espelho para que o self pudesse se desenvolver. Papel vital na primeira
fase da infância para separar o Eu-outro. “Era isso que L. pedia à analista, que ela funcionasse
para ela como uma mãe/ambiente, onde ela pudesse se olhar e se ver” (MORAIS, 2015, p. 245).
Essa clínica aponta para a sensoridade na relação terapêutica, ora a analista percebia que um
ambiente sem alterações era importante, ora a analista fazia alterações de voz, expressões, risos,
gestos, para ajudar a lidar com mudanças e frustrações.
Notou-se uma imitação da paciente frente à terapeuta, que foi vista como forma de
identificação, uma comunicação entre corpos, uma forma de entrar em contato com o outro.
Isto é possível por meio da criação de um enquadre que possibilite o holding. O terapeuta
funciona como um objeto-subjetivo para o paciente. A relação de dependência se torna forte e
o paciente passa a idealizar o terapeuta, que deve tomar cuidado para não o invadir, e
posteriormente trabalhará na visão mais condizente com a realidade.
Outra questão trazia pelos autores foi a atuação violenta no setting, em que os pacientes
trazem fatos de mazelas e horrores humanos. Portanto, a falta de simbolização gera uma falta
de contenção. Os ataques violentos não são propriamente dirigidos ao objeto, mas uma forma
59

de ligação as necessidades do Ego, no estabelecimento de vínculo entre o Eu e o objeto. Se o


analista entende o accting violento sob esta perspectiva, ele consegue suportar as fortes
contratransferências. O modo de comunicação desses pacientes reflete o trauma sofrido, e sua
posição em relação ao mundo, dá esse clima turbulento no setting.
A comunicação no setting é discutida também por Santos e Neto (2018), que traz o tipos
de posição encontradas na análise com pacientes borderline: um nível neurótico, cuja angustia
é a castração, e consegue se comunicar verbalmente; e um nível borderline, com comunicação
não verbal, com angústia de aniquilação. A autora Mattos (2018) comenta que nos momentos
de violência no setting, o terapeuta deve ser constante no seu setting interno para que não seja
engolfado nesses momentos turbulentos.
A relação analítica e ambivalente de amor e ódio revela-se indicativos de um processo
de divisão marcante no self do paciente. Bergeret (1998, p. 205) traz a questão da violência, que
para os sujeitos depressivos-limite, trata-se de uma forma arcaica, intrínseca, instintiva e ainda
não objetalmente definida de forma precisa. Então, essa é a forma dele se colocar no mundo e
se defender dele, não está ligado à maldade. Segundo Green (1986) o analista deve aceitar que
o seu paciente o ataque e o invada, para que ele perceba que não será abandonado (novamente)
mesmo com esses ataques.
A autora Veranez (2017) no trabalho “A problemática do holding corporal na análise do
paciente borderline: um estudo de caso” trouxe a questão do holding corporal, manejo da
regressão, necessidades egóicas, transferência, contratransferência, abstinência e neutralidade
observadas no atendimento de uma paciente. No que tange o holding corporal, este foi usado
em um momento de arrefecimento parcial das defesas do falso self, em uma organização
defensiva psicótica, portanto apresentava relação transferencial regredida. Assim, o contato
físico (segurar as mãos) foi utilizado para suprir as necessidades egóicas de ser sustentada
corporalmente.
Nesta análise pode-se identificar que, o holding corporal se justifica pelo estado de
regressão da paciente, suprindo a falha ambiental, com manejo da regressão na transferência,
obtendo resultado positivo. No entanto, a autora salienta que não se deve utilizar o holding
corporal indiscriminadamente, pois o terapeuta não está no setting apenas como objeto de
satisfação narcísica, ou seja, em uma situação em que instintos eróticos estejam atuantes não se
deve aplicar o holding corporal. “O tratamento deve ser conduzido de modo que o paciente
encontre o menos possível de satisfação substitutiva para os seus sintomas” (LAPLANCHE,
1986, p. 23).
60

Nishikawa et al. (2017) em “Histeria e borderline Mo(vi)mentos da clínica


psicanalítica”, visita o trabalho de Winnicoot, Bion e Levy entre outros, sobre conceitos
metapsicológicos importantes na clínica border, a regressão, a simbolização e a
intersubjetividade. A regressão diz respeito a umas regressões há tempos imemoriais, um efeito
desorganizador da pulsão de morte. A simbolização que é criada a partir da relação mãe-bebê.
A intersubjetividade seria então além da relação com o objeto, mas sim um campo relacional
entre analista e analisando.
No estudo de caso “Andando na corda bamba: desafios técnicos do atendimento de
pacientes borderline” de SILVA et al. (2016) buscou-se refletir sobre o contrato terapêutico, no
que se refere a frequência das sessões com pacientes borderline. As autoras observam os
sentimentos de vazio vivido pela paciente, uma dificuldade de tolerar os distanciamento e
aproximações com a terapeuta e demais relacionamento. A esse respeito os autores comentam
que,
[...] Carla se aproximasse emocionalmente quando estava fisicamente próxima (na
sessão) e suas fantasias de intrusividade não permitiam que voltasse a se aproximar
quando estava longe, no intervalo entre as sessões. Isso se refletiu em uma dificuldade
intensa em manter uma mínima frequência à psicoterapia (SILVA et al., 2016, p. 16).

Sobre o sentimento de intrusão dos borderlines, Santos (2016) e Silva et al. (2016)
comentam que para amenizar isso, se faz necessário o afeto e presença ativa do terapeuta. Há
uma ansiedade na paciente quando entra em contato com o outro, inclusive apresentando
sintomas físicos, já em outros momentos de tensão demandam atenção terapêutica. Claro que
com o passar do tempo, com o vínculo fortalecido, frustrações poderão ser inseridas na medida
em que o terapeuta sinta que o paciente poderá suportar.
Bittemcurt (2015) em “A psicoterapia psicanalítica com pacientes borderline:
construindo pontes entre pesquisa e prática clínica”, traz um ensaio clínico e um estudo
empírico, onde discute a necessidade de conjugar a clínica com a investigação empírica para
ampliar o entendimento da desorganização aguda nos TPBs. No caso da paciente atendida na
abordagem psicanalítica, foram aplicados os testes Psychotherapy Process Q-set (PQS),
Shedler-Westen Assessment Procedyre (SWAP-200) e A Symptom Checklist-90- Revised (SCL-
90-R a fim de observar os comportamentos apresentados ao final de quase 01 (um) ano de
tratamento).
Tais resultados apontaram para o bom estabelecimento de vínculo, a regressão; as
atuações da paciente questionadas, buscando significados; pioras, em alguns momentos,
durante o processo terapêutico; melhora progressiva nos sintomas obsessivo-compulsivo,
depressivos, hostilidade e sensibilidade interpessoal. A paciente não abandonou o tratamento
61

contrariando seu histórico. Podemos então concluir a importância de estudos empíricos que
possam nos dar dados mais claros e diretos sobre a melhora do quadro borderline. Já no segundo
estudo, enfatiza a importância de se adotar uma postura de maior controle do processo em meio
a uma crise suicida, recomendando então a internação concomitantemente a psicanálise.
A respeito do holding, os autores Morais (2015), Veronez (2017), Zanetti e Cianca
(2017), Bittemcurt (2015) e Cruz (2016) comentam que a técnica possibilita transformar
experiências construtivas para que o borderline venha reconhecer-se como corpo e Self. Essa
clínica precisa de formas de comunicação que contenha e dê limites as moções, que dê
confiança e também firmeza, para dar a sensação de continuidade, assim como a “mãe
suficientemente boa”. As relações interpessoais do borderline, são muitas vezes abaladas por
sua inconstante personalidade e o desejo de ser amado incondicionalmente, pode sufocar a
família e os amigos. Sob a perspectiva winnicottiana o papel do analista é ser usado
criativamente pelo paciente, no entanto, ele deve aprender a usar o objeto, e isso só é possível
em um ambiente que possibilite o holding.
Cruz (2016) em sua tese de doutorado “Adicção ao outro em pacientes fronteiriços: um
estudo psicanalítico” faz uma revisão bibliográfica e relaciona com três casos borderlines, com
objetivo de descrever a qualidade das relações entre a perda do objeto e as adicções, ou seja, os
relacionamentos adictivos. Esses aspectos são vistos comumente nessa clínica. Em um dos
casos apresentados pelo autor, o paciente liga-se a esposa como uma droga, mantendo
preservada a ligação com o objeto humano e com objeto cocaína. Vemos uma forte relação
anaclítica e sofrimento causado pelas adicções.
Para isso Winnicott (2000) comenta, não tendo um ambiente suficientemente bom, não
sendo capaz de usar o objeto, por consequência não constituindo o self, o que resulta em uma
dependência anaclítica com objetos subjetivos. Em relação aos pacientes borderline que não
conseguiram formar a subjetividade, tão poucos conseguiram usar o objeto, pois não tiveram
ambiente propício para os processos maturacionais, não conseguiram fazer a transacionalidade,
portanto, não conseguiram usar o objeto, daí se vinculam a adicções (álcool, tabaco, pessoa,
etc) como forma de superar a angústia da separação. O tratamento nesses casos consiste em
estabelecer a regressão e um enquadre que possibilite o holding.
Sobre o setting os autores Silva et al. (2016), Santos (2016) e Santos (2017) discutem
sobre a rigidez como prejudicial ao paciente, e deve ser mantido na mente do analista. Claro
que há uma necessidade do estabelecimento de limites para o enquadre, como horários,
honorários etc., mas esses limites serão transgredidos, isso é um fato observado nesta clínica.
É preciso estabelecer regras flexíveis para que os pacientes consigam lidar com isso sem romper
62

o vínculo. Os terapeutas enfrentam moções e ataques ao enquadre que oscilam a partir de


relações transferenciais.
A esse respeito, no estudo de caso a terapeuta não conseguia contato por telefone e
passou a enviar mensagens via celular (sms) para a paciente lembrar-se do horário, para que
pudesse assegurar assim, que mesmo com suas faltas, não tinha destruído a terapeuta ou o
setting, portanto, estava disponível para seu retorno. Apesar de pouco discutido na literatura
esses recursos estão cada vez mais sendo usados, neste caso, a mensagem serviu para a paciente
perceber que mesmo com suas faltas ela não tinha destruído o setting e assim a paciente poderia
então retornar (SILVA et al., 2016).
Ao final dos atendimentos as autoras chegaram à conclusão de que devido à grande
ansiedade, desorganização mental, e falta de rede de apoio, o contrato não estava internalizado
na paciente. Assim, a terapeuta assumia não só a responsabilidade de acolher o estado
emocional de C., mas também de ser a guardiã de todos os aspectos do contrato, concreta e
psiquicamente (SILVA et al., 2016, p. 20).
Os autores Santos (2017) e Santos e Neto (2018) destacam os autores Zetzel, Rosenfeld,
Grenn, Adler, dentre outros, e descrevem sobre um formato de tratamento onde a personalidade
narcísica desenvolve a tolerância de ficar sozinho, mas para isso o analista suportaria as
identificações projetivas. As identificações projetivas também são vistas por Kernberg (1991)
como foco de interpretações. As projeções ocorrem via identificação projetiva, gerando uma
sensação de que o analista o persegue, pois projeta partes boas ou más do self nele.
Essa deve ser vista como forma de comunicação, portanto então cabe ao analista traduzir
esses conteúdos em palavras, comungando com as ideias dos autores supracitados sobre a
comunicação não verbal dos borderline. Mais uma vez a contratransferência aparece como
ferramenta fundamental. O autor também traz a ideia da psicose de transferência para ser
analisada e elaborada. Os autores apresentam a transferência em dois níveis: um neurótico e um
psicótico, portanto a psicose de transferência é essencial para o tratamento, pois o borderline
que tem medo de se tornar psicótico, tem medo de desintegrar-se, ou seja a angústia de
aniquilação. Os autores refletem sobre as psicoterapias que evitem esse contato, ficarão
limitadas. Portanto, trazem três técnicas nos seus dois artigos:
1) técnicas que evitam a aparição deste objeto borderline, ou a transferência que
estimule sua aparição; 2) técnicas em que se faz uma psicoterapia de apoio,
inicialmente, para que se possa empregar a psicanálise, posteriormente (aqui
entendemos o apoio como uma preparação da dupla para suportar a comunicação e
vinculação deste objeto borderline durante a análise); 3) psicanálise intensa para que
se chegue ao objeto borderline. Com isso, finalizamos nossos argumentos sobre a
técnica psicanalítica e o objeto borderline (SANTOS, 2017, p.159).
63

Então a forma de manejo seria a vinculação com o objeto borderline, o analista deve
viver as turbulências com o paciente, para que apareça o verdadeiro Self. Entender as
características de um objeto como esse, não resumir o manejo “à interpretação dos conteúdos
contra os quais o paciente luta” (SANTOS, 2017, p.162). O trabalho seria o da vinculação
verbal e não verbal. No que tange a adesão ao tratamento, discutido nos capítulos desse presente
estudo: sobre o excesso de interpretações que são vistas como intrusões; o alto custo financeiro
do tratamento, que é multiprofissional e de longo prazo; a falta de rede de apoio; o desgaste do
terapeuta, as relações analíticas que causam dificuldades na aliança terapêutica.
Mas pode-se observar nos resultados que também a inabilidade do terapeuta, no sentido
de acolher as transferências e projeções, a falta de discriminação dos afetos, pode reproduzir o
desejo do abandono do paciente. Santos (2017) comenta que com as partes projetadas no
analista, causando fusão ou simbiose, o analista se tornaria ameaçador, portanto, se faz
necessário proteger o sujeito do medo da desintegração. Para que a vinculação aconteça, o
terapeuta deve viver a turbulência com ele, se o terapeuta não consegue fazer esse movimento
é possível que ele rompa o vínculo.
Os autores Silva et al. (2016) analisaram um atendimento, onde observaram que mesmo
com indicação de sessões semanais, a paciente faltava muito, isso foi visto pela terapeuta como
a baixa aceitação dos problemas por parte da paciente. Em duas sessões utilizando a psicanálise
sugeriu a fragilidade da aliança, pois a terapeuta fazia o esforço de proteger o contrato
terapêutico, tudo isso contribuiu para interrupção do tratamento. Contudo, os resultados não
permitem generalizações, pois se trata apenas de um caso com poucas sessões.
A partir dos dados coletados verifica-se diversas relações entre eles, e a partir dessas
relações podemos observar que a psicoterapia psicanalítica tem efeitos positivos no tratamento
do paciente Borderline, no sentido de diminuir a instabilidade emocional, caracterizada pela
relação anaclítica com o objeto, assim como uma possível adequação da dicotomia idealização
e desvalorização das relações objetais frente à terapia. Entretanto, isso poderá ocorrer se o
manejo for bem executado, o for vínculo estabelecido, e se o paciente conseguir manter uma
frequência razoável às sessões. As possíveis respostas para o problema de pesquisa serão
desenvolvidas a seguir.
Percebe-se que a clínica com os pacientes border exige muita disponibilidade
emocional, pois precisam do contato humano e acaba dependendo muito do terapeuta. Essa
clínica também precisa de formas de comunicação que contenha e dê limites as moções, que dê
confiança, e, também firmeza para dar a sensação de continuidade, assim como a “mãe
suficientemente boa”. Os resultados obtidos junto aos pacientes não são lineares, há momentos
64

de crise e regressão. Mas o vínculo estabelecido entre paciente e terapeuta é visto em todos os
autores como meio de integrar o Self dos borderline, e consequentemente ele pode experenciar
relações mais adequadas, ao invés de analíticas ou adictas. Esse é o ponto chave para entender
a instabilidade emocional, pois ela é oriunda dos sentimentos de intrusão e separação dos
objetos, portanto, estabelecendo relações com os objetos mais saudáveis as instabilidades
diminuem.
Não tendo relações analíticas, consequentemente não estará fusionado no Outro, não se
sentirá invadido ou desamparado. Não se pretende reduzir a uma tarefa fácil e rápida, ao
contrário, é preciso dar uma direção ao tratamento, que poderá ser sentida, ou não, junto ao
paciente. Ademais, apesar do manejo não se utilizar necessariamente da psicanálise clássica,
como a associação livre e interpretação, o manejo é feito com análises de transferências e a
simbolização das contratransferências, portanto existe uma continuidade dessa abordagem, ou
seja, ainda é psicanálise. Conclui-se que os autores que apareceram nos resultados das buscas,
ou seja, psiquiatras e psicólogos estão trabalhando em consonância com a literatura
psicanalítica.
Foi perceptível que os acctings são uma forma de comunicação, que o holding e o
holding corporal são ferramentas preciosas se bem empregadas. E pequenas frustrações poderão
ser inseridas conforme a separação paciente-terapeuta se processa. Tudo isso está
concomitantemente ligado a adesão ao tratamento, assim como a flexibilização do enquadre,
sendo necessário o enquadre interno do analista. Portanto para se prevenir o abandono, o
terapeuta deve ter o enquadre interno, ser flexível, continente, evitar interpretações, acolher,
sustentar, suportar as identificações projetivas e as contratransferências.
No entanto, os resultados da pesquisa abordaram apenas os fatores ligados ao setting e
ao terapeuta, e não ampliou para as questões pessoais do paciente, como falta de rede de apoio
e dificuldade financeira. Infere-se que não existe um fator para o abandono, mas um conjunto
de fatores. Como já foram amplamente discutidos neste estudo os problemas que ocorrem na
análise dos borderlines são muitos, contudo é importante salientar a importância do tripé da
psicanálise segundo Freud (1915): análise pessoal, estudo, embasamento e análise teórica, e
supervisão clínica.
65

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tratamento e a diminuição dos sintomas TPB se mostram um desafio para a ciência
de forma geral. Durante o trabalho verificou-se que a hipótese foi confirmada, porque durante
os resultados da pesquisa, identificaram-se alguns exemplos de psicoterapias psicanalíticas com
resultados positivos, e também estudos teóricos que recomendam a psicanálise.
No entanto, cabe ressaltar que o objetivo desse estudo é apenas identificar e descrever
o que foi realizado por outros profissionais e quais resultados eles obtiveram, abrindo assim
caminho para outras pesquisas. No que se refere à diminuição da instabilidade e a relação
analítica, esses estão ligados, pois invasões e separações provocam essa instabilidade emocional
nos TPBs.
O presente estudo pôde identificar dentro da abordagem psicanalítica, quais métodos de
manejo têm sido aplicados por psicólogos e psiquiatras e quais os resultados obtidos referentes
à adesão ao tratamento e melhora do quadro Borderline. Foram investigados os métodos de
manejo psicanalíticos que estão presentes na literatura, referente ao tratamento e manejo do
paciente borderline.
Foram explorados os efeitos na adesão do paciente Borderline, assim como na melhora
do quadro. Sobre a descrição dos contextos que fazem os pacientes Borderline abandonarem o
tratamento, estão diretamente ligados ao manejo adequado e rede de apoio, portanto, práticas
podem ser aplicadas para prevenir esse abandono.
A resposta para o problema de pesquisa está justamente na hipótese confirmada acima,
mais ainda, pôde-se dizer que as formas de manejo que têm sido usados por psicólogos e
psiquiatras na abordagem psicanalítica são: holding e holding corporal, manejo das
transferências e contratransferências, comunicação que extrapolem o campo verbal, vinculação
entre paciente-terapeuta, evitar interpretações, identificar momentos de transferência neurótica
e psicótica, continência, não utilizar associação livre, estabelecer um enquadre interno e
flexibilidade das regras.
As limitações durante este trabalho estiveram relacionadas aos números limitados de
artigos encontrados, assim como as plataformas que foram apenas três e em língua portuguesa,
ou seja, mais trabalhos com essa temática estão publicados em outras plataformas e em outras
línguas, podendo também ser explorados.
Portanto, esse trabalho não os contempla aqui, necessitando de outras pesquisas, estudos
experimentais, pesquisas empíricas, estudos de campo. Uma questão trazida por alguns autores
foi o trabalho em equipe, no que tange a supervisão clínica, mas não citaram a equipe “multi”,
66

portanto, estudos que abordam a psicanálise e a interdisciplinaridade no atendimento borderline


se fazem necessários também.
As dificuldades encontradas foram referentes à mudança de metodologia que
inicialmente era pesquisa de campo, e depois se tornou uma pesquisa de revisão sistemática,
devido ao prazo do Comitê de Ética em Pesquisa e o cuidado com as pesquisas práticas, como
também ao fato do distanciamento social desse primeiro semestre de 2020.
Cabem então, no futuro, outras pesquisas com essa temática, em forma de entrevistas
com profissionais psicólogos e psiquiatras psicanalistas. Sugere-se que os profissionais de
psicologia e mesmo da psiquiatria que trabalhem com a psicanálise, bem como acadêmicos
destas mesmas áreas, promovam o aprofundamento da produção científica nessa temática,
trazendo desdobramentos para o âmbito acadêmico, profissional e social.
Para atender pacientes fronteiriços é preciso, por parte do analista, persistência, desejo,
e coragem, para se defrontar com suas próprias limitações. É uma experiência de submersão
em um oceano inexplorável. Os analistas são colocados ao limite das técnicas, oferecendo-se
como ego auxiliar, pois em se tratando de traumas tão arraigados e um self não integrado, há a
dificuldade de simbolização.
A clínica de Winnicott convida os terapeutas a serem para o sujeito borderline a “mãe
suficientemente boa”, aquela que oferece ao bebê possibilidades de desejar, destruir e
sobreviver ao objeto. É a forma mais sublime de empatia. O terapeuta deve reconhecer o
privilégio de vivenciar essa rica clínica, a experiência com esse Outro, que toca e o modifica
profundamente. Não há como ser o mesmo, não há como voltar depois desse mergulho.

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