O Tribunal de Justiça negou provimento ao recurso de agravo de instrumento interposto por banco contra decisão que indeferiu citação de executados por meio eletrônico. A citação eletrônica depende de prévio cadastro no sistema judicial e regulamentação do CNJ, o que não ocorreu no caso. Manteve-se a decisão que entendeu a citação por WhatsApp como descabida.
O Tribunal de Justiça negou provimento ao recurso de agravo de instrumento interposto por banco contra decisão que indeferiu citação de executados por meio eletrônico. A citação eletrônica depende de prévio cadastro no sistema judicial e regulamentação do CNJ, o que não ocorreu no caso. Manteve-se a decisão que entendeu a citação por WhatsApp como descabida.
O Tribunal de Justiça negou provimento ao recurso de agravo de instrumento interposto por banco contra decisão que indeferiu citação de executados por meio eletrônico. A citação eletrônica depende de prévio cadastro no sistema judicial e regulamentação do CNJ, o que não ocorreu no caso. Manteve-se a decisão que entendeu a citação por WhatsApp como descabida.
O Tribunal de Justiça negou provimento ao recurso de agravo de instrumento interposto por banco contra decisão que indeferiu citação de executados por meio eletrônico. A citação eletrônica depende de prévio cadastro no sistema judicial e regulamentação do CNJ, o que não ocorreu no caso. Manteve-se a decisão que entendeu a citação por WhatsApp como descabida.
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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Registro: 2023.0000295817
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de
Instrumento nº 2070425-18.2023.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante BANCO SAFRA S/A, são agravados TRANSPORTADORA E DISTRIBUIDORA DE CARNES e EVANDRO LOPES DE ASEVEDO.
ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 20ª Câmara de
Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores
ROBERTO MAIA (Presidente sem voto), CORREIA LIMA E LUIS CARLOS DE BARROS.
São Paulo, 14 de abril de 2023.
ÁLVARO TORRES JÚNIOR
Relator(a) Assinatura Eletrônica PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
VOTO Nº: 51181
AGRV.Nº: 2070425-18.2023.8.26.0000 COMARCA: São Paulo AGTE. : Banco Safra S/A AGDOS. : Transportadora e Distribuidora de Carnes e Evandro Lopes de Asevedo DECISÃO DO JUIZ: Leila Hassem da Ponte [M]
PROCESSO CIVIL Citação por meio
eletrônico Indeferimento Hipótese em que a modalidade de comunicação eletrônica prevista no art. 246 do CPC depende de prévia inclusão do endereço eletrônico da parte em banco de dados do Poder Judiciário, o que não ocorre na espécie Inexistência, ademais, de regulamentação normativa quanto a sua aplicabilidade à pessoa natural Citação é ato processual cuja observância às formalidades legais é indispensável - Decisão mantida Recurso desprovido.
1. Agravo de instrumento contra a decisão proferida
em ação de execução de título extrajudicial e que indeferiu a citação dos executados por meio eletrônico.
Sustenta o exequente agravante que as tentativas de
citação dos executados foram infrutíferas e que é possível a sua realização por meio eletrônico (aplicativo “WhatsApp”), nos termos da Resolução nº 354/2020 do CNJ e do art. 246 do CPC, com redação alterada pela Lei nº 14.195/21.
Recurso processado sem efeito ativo ou suspensivo e
dispensa de requisição de informações ao juízo da causa e de intimação dos agravados para resposta (ainda não citados).
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2. O exequente agravante pretende que a citação se
realize por meio do aplicativo “WhatsApp” de titularidade dos executados, nos respectivos números indicados nos autos de origem (cf. fls. 63-64).
É cediço que, a partir da vigência da Lei nº
14.195/2021, a citação por meio eletrônico se tornou prioritária no processo civil.
Ocorre que a redação do art. 246 do CPC introduzida
pela nova lei, ressalvou que a citação eletrônica se dá “por meio dos endereços eletrônicos indicados pelo citando no banco de dados do Poder Judiciário, conforme regulamento do Conselho Nacional de Justiça” e, relativamente às pessoas jurídicas, o § 1º do mesmo dispositivo preceitua que “As empresas públicas e privadas são obrigadas a manter cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de citações e intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por esse meio.”
Todavia, não se demonstrou nos autos que tal
regulamento e o banco de dados já estão disponíveis e que os executados estão cadastrados em tal plataforma.
Outrossim, não há por ora previsão legal para que se
promova a citação via aplicativo, pois a regra processual que estabelece o meio eletrônico para citação pressupõe a existência de um banco de dados no Poder Judiciário, conforme regulamentação a ser disciplinada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Segundo a doutrina de Daniel Amorim Assumpção
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Neves:
“[...] não entendo que as novidades ora tratadas
permitam a realização de citação por mídias sociais, tais como o WhatsApp. Nada há na lei que possa minimamente embasar esse entendimento. Endereço eletrônico é e-mail, e não qualquer e-mail, apenas aquele informado pelo citando e devidamente cadastrado junto ao Poder Judiciário. A segurança exigida nesse importante ato processual de comunicação não admite inovações contra legem” (Manual de Direito Processual Civil. 14. ed. São Paulo: Ed. Juspodivm, 2022, p. 639).
O Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução
nº 455 de 27-4-2022 para regulamentar o tema e, segundo o art. 16, é indispensável o prévio cadastramento no Domicílio Judicial Eletrônico para recebimento da citação:
“Art. 16. O cadastro no Domicílio Judicial
Eletrônico é obrigatório para a União, para os Estados, para o Distrito Federal, para os Municípios, para as entidades da administração indireta e para as empresas públicas e privadas, para efeitos de recebimento de citações e intimações, conforme disposto no art. 246, caput e § 1º, do CPC/2015, com a alteração realizada pela Lei nº 14.195/2021.
§ 1º Para os fins deste artigo, haverá
compartilhamento de banco de dados cadastrais de órgãos governamentais com o órgão do Poder Judiciário, nos termos da legislação aplicável ao tratamento de dados pessoais (Lei nº 13.709/2018). § 2º As pessoas físicas, nos termos do artigo 77, VII, do Agravo de Instrumento nº 2070425-18.2023.8.26.0000 -Voto nº 51181 4 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
CPC, poderão realizar cadastro no Domicílio Judicial Eletrônico para
efetuar consultas públicas, bem como para o recebimento de citações e intimações, por meio:
I - do Sistema de Login Único da PDPJ-Br, via
autenticação no serviço “gov.br” do Poder Executivo Federal, com nível de conta prata ou ouro; e
II - de autenticação com uso de certificado digital.”
Assim, a citação por meio eletrônico é permitida
somente quando o citando já houver se cadastrado no Domicílio Judicial Eletrônico, pressuposto não atendido na espécie, sendo descabida, por ora, a aplicação do art. 246 do CPC para a realização de citação por e- mail, como já decidiu esta Corte:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO Ação de
alimentos Decisão que indeferiu citação por WhatsApp Citação por meio eletrônico prevista na Lei nº 14.195/2021, que alterou o art. 246, do CPC, dependente de regulamentação pelo CNJ Citação por WhatsApp obstada pelo Comunicado CG Nº 2265/2017, disponibilizado no DJE de 09/10/2017 Impossibilidade de utilização do whatsapp para o ato processual - Decisão mantida - Recurso desprovido.” (cf. A.I. nº 2268649-67.2021.8.26.0000, rel. Des. Costa Netto, 6ª Câmara de Direito Privado, j. 25-02-2022).
“Processual. Execução de título extrajudicial.
Decisão que indeferiu pretendida citação via "whatsapp". Pretensão à reforma. Citação via "whatsapp". Ausência de amparo legal. Artigo 246, do CPC. Comunicado CG 2.265/2017. Precedentes. RECURSO
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DESPROVIDO.” (Cf. A. I. nº 2135082-03.2022.8.26.0000, rel. Des.
Mourão Neto, 35ª Câmara de Direito Privado, j. 29/07/2022).
“RECURSO AGRAVO DE INSTRUMENTO
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS CORRETAGEM - AÇÃO DE COBRANÇA CITAÇÃO VIA WHATSAPP TUTELA PROVISÓRIA - DESCABIMENTO. Insurgência contra a respeitável decisão que indeferiu o pedido de citação dos requeridos (agravados) via WhatsApp. Agravantes que pretendem a concessão de tutela de urgência para a citação dos agravados por esse meio, com fulcro no artigo 300 do CPC. Probabilidade do direito invocado, risco de dano, ou o risco ao resultado útil do processo, não demonstrados na forma da lei. Citação por meio eletrônico (e-mail ou whatsapp) que depende de prévia regulamentação, conforme determina o inciso V do artigo 246 do CPC. Ausência, ademais, de prévio cadastramento da parte para receber citação/intimação por meio eletrônico, nos termos do § 1º do artigo 246 do CPC. Relevância do ato citatório que enseja a adoção de mecanismos que permitam a confirmação de recebimento da citação, sem a dependência de ato praticado pelo destinatário, o que ainda não é possível fazer pela comunicação via whatsapp, sob pena de manipulação da confirmação de recebimento e a consequente frustração da prática desse ato processual. Pretensão dos agravantes que carece de amparo legal. Exegese do artigo 280 do CPC. Decisão mantida. Recurso de agravo de instrumento não provido.”(Cf. A. I. nº 2197102-64.2021.8.26.0000, rel. Des. Marcondes D'Angelo, 25ª Câmara de Direito Privado, j. 27/08/2021).
Além disso, observa-se que, a teor do mencionado §
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1º do art. 246 do CPC, tal modalidade está reservada, em princípio, a
empresas públicas e privadas, não sendo aplicável à citanda pessoa natural, mesmo depois de implementado o banco de dados previsto pela nova lei.
E, por ser a citação ato formal por excelêncvia, a
observância às normas processuais é inafastável.
Neste sentido:
“CITAÇÃO Pessoa física - Pretensão de que seja
realizada a citação do réu em ação monitória via "'WhatsApp" Inviabilidade Citação por meio eletrônico prevista no CPC dependente do prévio credenciamento do citando perante o Poder Judiciário e do uso de assinatura eletrônica Exegese do disposto no art. 246, caput, CPC; no Provimento CSM n° 1920/2011; no Comunicado CG 2265/2017; e na Resolução CNJ nº 354/2020 Ato formal que não prescinde da observância das formalidades legais, sob pena de nulidade por violação de garantias constitucionais do réu - Precedentes - Indeferimento mantido - Recurso não provido.” (Cf. A. I. 2287149-84.2021.8.26.0000, rel. Des. Maia da Rocha, 21ª Câmara de Direito Privado j. 25-02-2022)
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE
ALIMENTOS. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INTIMAÇÃO POR MEIO DE APLICATIVO DE MENSAGENS (WHATSAPP). INVIABILIDADE. DECISÃO MANTIDA. 1. A possibilidade de citação por meio eletrônico, prevista no art. 247, I, do CPC, é restrita a empresas públicas e privadas cadastradas previamente em banco de dados (art. 246, § 1º, CPC). 2. No que diz respeito às pessoas naturais, apesar de o WhatsApp e outros aplicativos de mensagens serem bem- Agravo de Instrumento nº 2070425-18.2023.8.26.0000 -Voto nº 51181 7 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
vindos como ferramentas para comunicação processual, deve ser levado
em conta que a citação e a intimação para cumprimento de sentença, nas hipóteses em que o devedor não está representado nos autos, são atos dotados de formalidade necessária para proporcionar segurança jurídica mínima na efetividade do contraditório, que pressupõe conhecimento inequívoco do ato pela parte. 3.Recurso improvido.” (cf. A.I. nº 2034426-38.2022.8.26.0000, rel. Des. Ademir Modesto de Souza, 6ª Câmara de Direito Privado, j. 26-02-2022).
É mantida, assim, a decisão recorrida.
3. Posto isso, o meu voto nega provimento ao
recurso.
ÁLVARO TORRES JÚNIOR
Relator
Agravo de Instrumento nº 2070425-18.2023.8.26.0000 -Voto nº 51181 8