Serviço Social e Ação Profissional Crítica
Serviço Social e Ação Profissional Crítica
Serviço Social e Ação Profissional Crítica
Revisão
Vera Fernandes - Bolsista TP
ISBN 978-85-93128-56-1
CDU 361/362
Editora UFJF
Rua Benjamin Constant, 790
Centro - Juiz de Fora - MG - Cep 36015-400
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www.ufjf.br/editora
Filiada à ABEU
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
APRESENTAÇÃO______________________________________________________________________8
INTRODUÇÃO_______________________________________________________________________11
REFERÊNCIAS_______________________________________________________________________85
APÊNDICES_________________________________________________________________________91
ANEXOS____________________________________________________________________________97
O livro “Serviço Social e Ação Profissional Crítica” foi redigido coletivamente pela professora
Dra. Alexandra A. Leite T. S. Eiras, pelas Assistentes Sociais e mestras Érika Alves Martins, Juliana
Aparecida Cobuci Pereira, Luzia Amélia Ferreira e Nicole Alves Espada Pontes e pela, então, discente
de graduação Jeane Angélica da Luz de Pádua Pereira. É um dos produtos da pesquisa realizada,
também, coletivamente, no âmbito da Faculdade de Serviço Social da UFJF intitulada: “Referências
teóricas críticas e o posicionamento ético-político dos Assistentes Sociais na década de 1980”,
coordenada pela referida docente.
Somente essa breve apresentação sobre o processo de elaboração do livro já mostra sua
relevância para a profissão: uma construção coletiva, envolvendo Assistentes Sociais inseridas na
academia (docentes e discentes de graduação e pós-graduação) e na prestação de serviços sociais.
Entretanto, sua relevância vai além das apresentações. Destacamos aqui o tema da pesquisa e, por
consequência, o objeto deste livro: o exercício profissional do Assistente Social.
A professora Dra. Alexandra vem se dedicando ao estudo dos Fundamentos do Serviço
Social desde o início dos anos 2000, já com sua tese de doutoramento, na qual se deteve à pesquisa
das práticas grupais em Serviço Social. Seu acúmulo teórico sobre a profissão – fruto de estudos e
pesquisas que se caracterizam pela seriedade e rigor teórico-metodológico – vem alimentando a
produção e o debate acerca dos Fundamentos do Serviço Social no Brasil. Aqui encontra-se a grande
contribuição deste livro.
Alguns pesquisadores em Serviço Social – podemos exemplificar com Iamamoto (1993) – vêm
indicando que estamos carentes de pesquisas e produções que estudem o Serviço Social propriamente
dito, que tratem não somente de seus fundamentos teóricos, mas, partindo dos seus fundamentos
teórico-metodológicos e ético-políticos, cheguem a pesquisas que estudam como esses fundamentos
se expressam no exercício profissional. E este é o objetivo deste livro: estudar a “ação profissional
crítica” do Serviço Social, situando historicamente o contexto da década de 1980 e indicando as
demandas postas para o Serviço Social no Brasil e sua operacionalização. Nas palavras das autoras: “O
objetivo deste livro é apresentar as referências teóricas, o posicionamento ético-político, as estratégias
e respostas profissionais que, relacionados, caracterizam a ‘ação profissional crítica’”.
Este estudo é bastante inovador. Ele não se conforma com a hegemonia do denominado
Projeto Ético-Político da profissão, expresso apenas na formação profissional. Ele quer ampliar o
estudo para as implicações desse projeto no exercício profissional do Assistente Social. O material
utilizado para coleta de dados foi a pesquisa bibliográfica da década de 1980, cujo autor trabalhava
ou tinha trabalhado como Assistente Social. Nessa direção, as reflexões, problematizações trazidas
pelos/as referidos/as autores/as deveriam ser fruto de sua experiência profissional.
As autoras têm aqui um triplo desafio: estudar os fundamentos teórico, político e técnico
operativo do Serviço Social; deter-se no fazer profissional e, igualmente, deter-se nos fundamentos
que se sustentam em uma interpretação de realidade com base na teoria social de Marx, que
expressam um fazer profissional que elas denominaram de Serviço Social Crítico. Essa não foi e nem
é uma tarefa fácil. Foi preciso um cuidado dobrado: primeiro de tratar os fundamentos do Serviço
Social em uma concepção de totalidade; segundo de não tratar as dimensões da intervenção de
forma estanque. Também foi necessário fortalecer a concepção de unidade na diversidade, e é por
aqui que caminha este livro. As autoras fizeram o esforço de manter uma análise rigorosa sobre o
fazer profissional, sem cair no endogenismo e/ou na suposta separação entre conhecimento teórico
e conhecimento procedimental, ainda, sem separar formação e exercício profissional, teoria e prática.
Com certeza é uma leitura instigante e provocadora, mas, certamente, as autoras estão
abertas ao debate.
Que ele venha!!!!
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A categoria profissional é composta majoritariamente por mulheres. No material analisado, a maioria dos textos foi escrita por
mulheres. De modo semelhante, as mulheres também constituem maioria na utilização dos Serviços Sociais. Contudo, por respeito
à norma da língua portuguesa, utilizaremos o artigo masculino para designar o conjunto de Assistentes Sociais e dos usuários dos
Serviços Sociais.
destacar que a definição do Serviço Social enquanto área de pesquisa acadêmica (1984) e a ênfase
da produção acadêmica sobre o Serviço Social incluiu, majoritariamente, temas articulados com a
ação profissional, conforme indica a pesquisa realizada por Kameyama (1997).
Um aspecto relevante na produção por nós analisada, conforme apresentamos adiante, é
a autoria dos Assistentes Sociais, inclusive, em larga medida, com experiência na área de Serviço
Social, sendo que alguns dos autores migraram para a área de formação acadêmica, na condição
de docentes. Então, tal separação não foi um elemento evidenciado em nossa pesquisa e, nem em
nossa análise.
O segundo risco é sobrevalorizar a dimensão técnico-operativa da profissão, ressaltando-a
em relação aos demais componentes e dimensões a ela articulados, como a dimensão ético-política
e a dimensão teórico-metodológica (GUERRA, 2007; SANTOS et al., 2017). Evitamos esse risco, ao
destacar a relação da ação profissional crítica com o posicionamento ético-político e com a sua
sustentação teórico-metodológica, ou seja, entendemos que só é possível compreender a ação
profissional crítica e sua operacionalidade, explicitando sua relação com essas dimensões.
Para além dos riscos, vislumbramos uma necessidade: dar visibilidade para as alterações
que se processaram no agir profissional, o qual, no decorrer da década de 1980, foi caracterizado
como “novo”, “crítico”, “de ruptura” em relação às ações profissionais tradicional/conservadoras.
Essa ação profissional crítica, empreendida no cotidiano profissional, tem peculiaridade em relação
à produção acadêmica crítica, fundamentada na perspectiva marxista, e também tem peculiaridade
em relação à organização político-profissional, principalmente, considerando o grupo de vanguarda
à frente desse processo.
Nosso esforço está sendo dedicado a essa tarefa, explicitar a peculiaridade da ação
profissional crítica. Por que essa tarefa e esse esforço são relevantes?
Porque a característica de nossa profissão é responder, na ação, no cotidiano profissional,
às requisições postas nos diferentes espaços sócio-ocupacionais. Quanto mais nossa produção
acadêmica puder se aproximar dessa angulação, mais poderemos contribuir para a formação dos
Assistentes Sociais face a essa necessidade. Trata-se, desse modo, de uma angulação que pretende,
ao explicitar essa peculiaridade, aproximar-se dos dilemas próprios da ação profissional, quando
esta se orienta por uma perspectiva crítica, diferenciando-se da ação tradicional/conservadora.
A “ação profissional crítica” é uma denominação adotada no decorrer da pesquisa sobre a
produção bibliográfica do Serviço Social brasileiro na década de 1980. Os livros e os artigos produzidos
nesse período – como explicaremos na introdução – trazem denominações diferentes para o “agir
profissional”: prática, intervenção, atuação, fazer, trabalho, práxis. Nessa bibliografia, há um conteúdo
em comum: a adjetivação dessa ação como “nova” e a busca de referências analíticas críticas, coerentes
com um novo posicionamento ético-político, comprometido com os interesses da população, do
público-alvo dos serviços prestados nos diferentes equipamentos e espaços sócio-ocupacionais, e o
envolvimento nos processos institucionais e sociais que visam à construção e efetivação da cidadania.
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Estamos estudando no período de 2006-2016 essas diferentes denominações. Podemos adiantar que na atualidade também há
a mesma diversidade identificada na década de 1980. Os termos são utilizados na maioria das produções como sinônimos. Ainda
não identificamos produções que tenham aprofundado nesse debate sobre as diferentes denominações e o que elas revelam em
sua particularidade, ainda que haja um consenso na formação acadêmico-profissional do uso da categoria “trabalho”, conforme as
diretrizes curriculares da ABEPSS, e o conjunto CFESS/CRESS adote a concepção “exercício profissional”.
De partida, cabe indicar que o presente livro se origina da pesquisa “Referências teóricas
críticas e o posicionamento ético-político dos Assistentes Sociais na década de 19803”, vinculada ao
grupo de pesquisa Serviço Social, Movimentos Sociais e Políticas Públicas da Faculdade de Serviço
Social da UFJF, mais especificamente, à linha de pesquisa Serviço Social: Fundamentos, Formação
e Exercício Profissional. A referida pesquisa integra vários eixos de investigação e se dedica ao
estudo das referências e do posicionamento crítico dos Assistentes Sociais, desde 20144, e para tal
subdividiu-se por marcos históricos/décadas.
As seis pesquisadoras envolvidas diretamente na pesquisa e na elaboração deste livro
são Assistentes Sociais, sendo uma com atuação na área da educação e outra na saúde, ambas,
mestras em Serviço Social (PPG-SS UFJF); outra era discente de Serviço Social no momento da
pesquisa e atualmente cursa pós-graduação lato-sensu; e as demais são docentes, uma doutora
(ESS-UFRJ) e duas mestras em Serviço Social (PPG-SS UFJF). Ou seja, trata-se de uma equipe
composta por profissionais com formação em Serviço Social, com inserção no campo e na área
acadêmica, sendo que quatro pesquisadoras participaram da comissão de fiscalização do CRESS,
seccional Juiz de Fora, acompanhando as questões concretas que perpassam o cotidiano das
respostas profissionais. E uma dessas questões é a visibilidade da ação profissional crítica, em seu
desenvolvimento propriamente dito.
Explicitar as características dessa ação tornou-se relevante, uma vez que observávamos
uma idealização dela pelos profissionais em seus posicionamentos e escolhas, e o seu compromisso
com essa ação parecia muito evidente e irrefutável. E compreender as ações profissionais, seu
direcionamento e todo o movimento que move essas respostas dos Assistentes Sociais relacionadas
ao seu “Projeto Ético-Político”, com ações que questionam o instituído, têm consistido em um
campo de particular interesse dessas pesquisadoras.
Para refletir sobre a realidade profissional é preciso também debruçar-se sobre os
movimentos históricos que consolidaram os horizontes hegemonicamente legitimados pela
profissão. Nesse sentido, na produção acadêmica do Serviço Social das décadas de 1980 e 1990,
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Registrada na Pró-Reitoria de Pesquisa, em 2015, pela aprovação no Edital BIC-UFJF, com bolsa de Iniciação Científica para discente,
financiada pela UFJF, no período de outubro de 2015 a agosto de 2016.
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Em 2014, nos dedicamos a pesquisar as referências e o posicionamento crítico dos Assistentes Sociais nos anos 1990. Esse estudo
culminou na publicação do artigo “Referências e Posicionamento crítico dos Assistentes Sociais nos anos 1990” na revista Temporalis
Brasília, DF, ano 15, n. 29, jan./jun. p. 173-193, 2015. De 2015 a 2017, nos voltamos para a pesquisa da década de 1980, a qual,
além do presente livro, suscitou os artigos “Prática Profissional: Crítica nos Anos 1980” apresentado no XV Congresso Brasileiro
de Assistentes Sociais (CBAS); e “Fundamentação Teórico-Metodológica e Posicionamento Ético-Político: a Ação Profissional do
Serviço Social na Década de 1980”, apresentado no XV Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social (ENPESS), ambos em
2016. Desde setembro de 2016, até então, estamos realizando um estudo referente ao período de 2006 a 2016, agregando novas
pesquisadoras ao trabalho de investigação.
a ação profissional. De acordo com a autora, no período de 1975-1980, a maioria das dissertações
sobre esses temas foi elaborada por Assistentes Sociais que buscaram, nas suas experiências, objetos
empíricos, transformados em objetos de estudo.
Em relação ao tema “prática profissional”, a autora destaca a característica principal das
abordagens, enquanto estudos exploratório-descritivos. Na década de 1980, os modelos utilizados
são orientados pela proposta de Paulo Freire, resgatando os conceitos de “conscientização” e
“intelectual orgânico”, de Gramsci, e atribuindo ao Assistente Social a função de “organizador”
da cultura. A partir de 1985, resgata-se a prática do Serviço Social nas instituições, que havia sido
negada no período anterior. Ao final da década, sinaliza-se uma reestruturação dos programas
sociais, cujos princípios norteadores são: descentralização, focalização e privatização. Algumas
pesquisas resgatam essas experiências e outras procuram aprofundar os estudos para compreender
o significado da descentralização, municipalização e poder local, temas histórico-conjunturais,
considerando o processo de lutas pela democratização no decorrer dos anos 1980.
O tema “processo de trabalho” foi abordado, inicialmente, na dimensão da “intervenção
profissional”, em especial, a partir das análises no campo da inserção do Serviço Social na empresa.
Na década de 1980 há ênfase nos estudos sobre acidentes de trabalho e implementação das políticas
de recursos humanos e benefícios sociais.
Observamos as diferenças tanto no tratamento dos temas, conforme indicado acima,
como na emergência de novos temas, referentes à “ação profissional”. É o caso da emergência
do tema “processo(s) de trabalho”. A formulação sobre a inserção da profissão em processos de
trabalho, e enquanto trabalho, alterou expressivamente a compreensão da “ação profissional”,
fundamentando sua análise sobre a apreensão das condições objetivas e das determinações que
incidem no trabalho profissional.
Nessa perspectiva, destaca-se a incorporação de referências críticas ao longo da década
de 1980, atestada pelas problematizações também no campo das temáticas “prática profissional”
e “instrumentos e técnicas”, com crítica às referências teórico-metodológicas positivistas e
funcionalistas. No tema “análise institucional”, atentamos para as poucas produções que analisassem
efetivamente uma dada inserção sócio-institucional (KAMEYAMA, 1997).
A análise de Kameyama (1997) indica, na produção sobre esses temas daquele período, uma
busca de aprofundamento no campo teórico-metodológico crítico. Simultaneamente, indica novas
perspectivas na abordagem da “ação profissional” e o afastamento das apreensões pragmáticas, de
apropriação utilitarista da teoria para a “prática profissional”.
Neste livro, assumimos o compromisso de enunciar esse movimento nas concepções das
ações profissionais, a partir das produções teóricas do período. Assim sendo, colocamos como tarefa
entender a reflexão dos profissionais sobre seu próprio “agir”.
Algumas dúvidas nos acompanharam. A análise da ação é sempre posterior a ela, e a
antecipação dos elementos que a condicionam é sempre anterior. No momento da ação, como esses
elementos se conjugam? Que tipo de conhecimento é necessário para potencializar a ação crítica,
para formar habilidades coerentes com a realidade e as mediações postas por ela?
Nesse sentido, um elemento tornou-se mais claro para nós: a necessidade de partir de análises,
descrições e relatos próximos da ação profissional crítica – no período em que ela emergiu, quando
ainda não havia uma elaboração mais sofisticada dos seus fundamentos e intenções – de preferência,
partindo da perspectiva daqueles que a efetivaram, de seus questionamentos e indagações.
Outro ponto se tornou mais explícito: a produção acadêmica, que pretende analisar a ação
profissional, precisa ter como foco o seu desenvolvimento processual e a perspectiva daqueles que
a desenvolvem. Mas, como fazer isso, considerando que a ação profissional crítica emergiu no final
dos anos 1970 e não seria possível atualizar essa pesquisa para o presente, sem perder o frescor de
sua emergência no passado?
Assim, recuperar tais reflexões relacionadas aos espaços sócio-ocupacionais mostrou-se
como possibilidade fecunda de entender como se materializava a prática dos Assistentes Sociais
que buscavam uma nova forma de agir, uma ação crítica em relação às formulações conservadoras
e tradicionais. Notamos, nesse movimento de reflexão, a necessidade de buscar na bibliografia
produzida naquele período, o “frescor dessa emergência”, privilegiando os artigos escritos por
Assistentes Sociais de campo, inseridas em diferentes espaços sócio-ocupacionais.
Dessa forma, o livro que ora se apresenta tem como referência a produção escrita de
Assistentes Sociais brasileiros, publicada no Brasil, que trata dos dilemas postos ao Serviço Social na
década de 1980, cujo conteúdo situa-se na ação profissional.
Nosso objeto de pesquisa buscou apreender, pelo movimento de reflexão dos próprios
Assistentes Sociais sobre sua ação profissional, como se expressa a ruptura com o Serviço Social
tradicional no debate do período. Ou seja, as referências selecionadas para fundamentar a pesquisa
são aquelas que traziam o movimento interpretativo do Assistente Social quanto ao seu próprio
espaço sócio-ocupacional, suas questões e possibilidades de ação. Foi um movimento de buscar a
reflexão na esfera da ação profissional mediada pela reflexão de seus próprios sujeitos.
Motivadas por essas questões, realizamos um levantamento dos livros publicados (Apêndice
A) e dos artigos divulgados na “Revista Serviço Social e Sociedade” na década de 1980 (Apêndice D).
A ênfase nessa revista foi intencional, dada a sua relevância para a veiculação da produção crítica
emergente naquele período, considerando o momento ditatorial ainda vigente.
Após o mapeamento das fontes que constituíram a base desta investigação, identificamos
as referências cujo conteúdo privilegiava a reflexão do Assistente Social sobre sua ação profissional.
Ao selecionar livros e artigos escritos por Assistentes Sociais que estavam no exercício de refletir
sobre a ação profissional, buscamos identificar as características dessa ruptura com o Serviço
Social tradicional. Mais que isso, procuramos estabelecer o vínculo dessa ruptura com o novo
posicionamento ético-político e a recorrência às referências teórico-metodológicas críticas, e ainda,
qual a particularidade dessa ação profissional que denominamos como “crítica”.
Quanto à “Revista Serviço Social e Sociedade”, que teve sua primeira publicação em setembro de 1979
(revista de número 1), foram identificadas 30 (trinta) publicações ao longo dos anos 1980, abarcando
as edições de números 02 a 31, totalizando 56 artigos identificados e analisados (Apêndice D).
Nessa direção, para proceder à apreciação de nosso tema, debruçamo-nos sobre 11 obras,
cujo conteúdo focalizava o Serviço Social com referências diretas à ação profissional, abrangendo,
relativamente, a diversidade temática e o vínculo com os espaços de inserção profissional,
considerando também nosso acesso aos livros publicados naquela década. São eles:
Nos livros de Abramides, Mazzeo e Fingermann (1981), Rico (1985), Freire (1980) e Karsh
(1989), identificamos a utilização de procedimentos metodológicos baseados em “experiências
concretas”, expressas por diferentes pesquisas realizadas a partir de “práticas profissionais” em
determinados espaços sócio-ocupacionais. Já nas obras de Canôas (1982), Serra (1982) e Souza
(1984), as pesquisas se realizam a partir de inserções e/ou análises em espaços coletivos de
organização e debate da categoria. Os demais autores realizam uma análise teórica de desvelamento
dos elementos que perpassam a realidade profissional, como foi possível apreender nas obras de
Leite (1982), Lima (1982), Faleiros (1985), e Falcão e Netto (1987).
As obras selecionadas refletiram uma similaridade na busca em avançar frente à profunda
inquietação que se colocava diante da profissão naquele momento histórico – final dos anos 1970 e
década de 1980. Ainda que sob a influência de pressupostos teóricos e procedimentos metodológicos
distintos, os conteúdos abordados convergem à busca de compreender, justificar, fundamentar e/
ou direcionar a ação profissional dos Assistentes Sociais com vistas a uma perspectiva crítica. Tal
perspectiva tinha como conteúdo comum a aproximação com os “clientes”/“população”/“usuários
dos serviços”, suas “demandas” e “necessidades” vinculadas à condição de inserção de classe
(trabalhadores); o reconhecimento da dimensão política da profissão e da possibilidade/necessidade
de lutas sociais no caminho de construção da cidadania; e o reconhecimento do Assistente Social
enquanto trabalhador assalariado.
As constatações nas leituras dos livros foram um convite ao aprofundamento, para
compreender com mais propriedade as particularidades que envolviam o desenhar dessa “nova
ação profissional” e as indagações da época acerca de novas possibilidades e horizontes. Para tal,
em um segundo movimento, voltamo-nos para a pesquisa na “Revista Serviço Social e Sociedade”
da década de 1980, e buscamos na revista os artigos que tinham como referência as seguintes
características: a) a autoria, se eram escritos por Assistentes Sociais; b) o vínculo institucional:
inserção do profissional em um espaço sócio-ocupacional concreto; c) os títulos que envolviam os
termos: Serviço Social, trabalho profissional, intervenção profissional, prática profissional, práxis
profissional ou Serviço Social em áreas de intervenção como, por exemplo, Serviço Social e empresa,
Serviço Social e educação, dentre outros. Totalizamos 56 artigos com essas características.
Assim, na análise dos artigos, utilizamos um roteiro (Apêndice C) constando de:
a) identificação dos artigos (título, número, ano de publicação e tema da revista, autoria e
vinculação sócio-ocupacional e, quando foi possível, a trajetória dos autores);
b) objetivo do artigo (explícito ou implícito);
c) destaque dos procedimentos metodológicos adotados;
d) destaque das referências teórico-metodológicas (fundamentação teórica) presentes no
texto e na bibliografia;
e) categorias utilizadas no campo da teoria social, tais como, análise da realidade social;
contradição de classe; totalidade social; assim como na concepção de profissão e de ação profissional.
Destacamos ainda, nas referências ético-políticas:
f) o compromisso com as demandas dos usuários (“população” ou “público-alvo” ou
“clientes”);
g) o compromisso com a qualificação dos serviços;
h) a presença das concepções “direitos sociais” e “políticas sociais”, no âmbito público e de
acesso universal;
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Nessa planilha, todos fizeram a inserção dos dados, um de cada vez e repassando ao próximo para edição. Foi realizada a apresentação
dos artigos para o grupo com as informações já inseridas na planilha, passando item por item do roteiro. Nesse momento de
apresentação, o grupo identificou certa dificuldade na compreensão da análise nos itens 1B (apreensão das contradições de classe), 1D
(concepção de profissão: significado social da profissão/compreensão do Serviço Social, inserido na divisão sociotécnica do trabalho),
2A (compromisso com as demandas apresentadas pelos usuários entendidos em sua inserção de classe social) e 2C (posicionamento
em favor do avanço no campo das políticas sociais entendidas como direitos a serem garantidos de modo universal). Desse modo, o
grupo discutiu sobre tais itens e foi encaminhado que cada um realizasse uma revisão em seus correspondentes artigos na planilha.
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Reconhecemos que esse procedimento apresentou como dificuldade a compreensão divergente pelos membros da equipe, em
relação ao roteiro, o que implicou na perda de alguns dados inseridos na planilha, os quais não puderam ser aproveitados no
momento da análise geral. Essa dificuldade não comprometeu o trabalho de análise, por isso, optamos apenas por indicá-la.
Social de Comunidade –, seja enquanto inserção – Serviço Social de Empresa, Serviço Social Rural.
Os termos “intervenção”, “atuação”, “exercício”, “práxis”, aparecem, cada qual, em um título apenas.
Já os adjetivos que qualificam a “ação profissional” revelam a intenção de uma “nova
prática”: “alternativa”, “radical”, “[de] transformação”, “[de] transição”, “libertadora”, “crítica”.
Desse modo, a variedade de denominações explicita a diversidade de compreensões acerca da
“ação profissional”, sendo convergente a indagação dos autores a respeito das possibilidades de
construção de uma “nova ação profissional”.
Há uma convergência nos seguintes conteúdos: a ação técnico-profissional possui um caráter
político, ou seja, não é neutra; a afirmação quanto à relevância de compreender a realidade social
para intervir ou agir nas demandas postas nos espaços sócio-ocupacionais; e o reconhecimento de
que o Assistente Social também é um trabalhador assalariado, que se insere na classe trabalhadora
e de que o Serviço Social é uma profissão, inserida na sociedade capitalista.
Tal convergência abre um novo campo no debate teórico, com novas indagações: qual o
significado do Serviço Social? A quais interesses a profissão se vincula? Qual a possibilidade de agir,
profissionalmente, tendo como referência as demandas postas pelos usuários, pelos trabalhadores,
pelo conjunto da população?
Assim, a partir do percurso analítico sinalizado, com as questões formuladas por nós,
dedicamo-nos ao exame da bibliografia produzida naquele período. Organizamos a apresentação
desses dados em três capítulos.
No Capítulo 1, delineamos as demandas sócio-históricas postas ao Serviço Social na década
de 1980, indicando os vínculos entre a profissão e essas demandas, bem como o posicionamento e
as respostas construídas pelo Serviço Social nesse processo.
No Capítulo 2, apresentamos a investigação propriamente dita, a partir de dois eixos que
orientaram a coleta de dados da pesquisa, na análise dos artigos: o posicionamento ético-político
dos autores e as escolhas profissionais, que destacaram a estratégia democrática e a abordagem
coletiva na dimensão técnico-operativa; e as referências teóricas presentes nos artigos.
No Capítulo 3, caracterizamos a ação profissional crítica. No intuito de dar visibilidade para
a ruptura com a ação profissional tradicional, contrastamos (e diferenciamos) a ação profissional
crítica e a ação profissional tradicional.
Esperamos contribuir para o fortalecimento da ação profissional crítica e para a sua apreensão
no âmbito da produção acadêmica na área de Serviço Social, em diálogo com os fundamentos
históricos e teórico-metodológicos que particularizam a profissão na sociedade capitalista.
constituíram enquanto um campo progressista, não apenas de resistência à ditadura, mas de luta pela
democracia com um viés importante, conforme apresentaremos adiante, de sustentação na garantia
de direitos sociais para o exercício da cidadania. Por outro lado, as “reservas de forças teóricas e práti-
co-sociais” acentuadas desde os anos 1960, inclusive pela organização política e pela produção crítica
no âmbito do Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina, possibilitaram uma
“virada” no conteúdo das respostas profissionais. As respostas na direção crítica foram adensadas pelo
aumento dos cursos de pós-graduação nas universidades públicas no decorrer dos anos 1980 e pelo re-
conhecimento do Serviço Social enquanto área de produção acadêmica em 1984 (KAMEYAMA, 1997).
Neste capítulo apresentaremos as demandas postas ao Serviço Social na década de 1980,
indicando os vínculos entre a profissão e essas demandas, e o posicionamento construído pelo
Serviço Social nesse processo, como resposta a essas demandas.
Optamos, simultaneamente, por uma caracterização e problematização desse período.
Assim, utilizamos textos produzidos na década de 1980, “no calor dos acontecimentos” e análises
realizadas no contexto atual, na segunda década do século XXI, sem a intenção de um “estado da
arte sobre o tema”. De fato, a bibliografia consultada e apresentada neste capítulo possui análises
diferentes, que focalizam perspectivas distintas em relação ao mesmo processo.
Organizamos informações que permitissem visualizar as condições objetivas, postas para o
conjunto dos indivíduos, “não detentores dos meios de produção”, por isso, genericamente vinculados
à classe trabalhadora12. Sugerimos os nexos entre essas condições e o processo de efervescência
social, também perpassado pela repressão instaurada desde o Golpe Civil-Militar de 1964.
Os processos sociais desenvolvidos no Brasil no período de 1975-1988 evidenciaram a
emergência de novos sujeitos coletivos em oposição e luta contra a ditadura civil-militar. Dentre
esses sujeitos, destaca-se o movimento dos trabalhadores expresso em diferentes ações, desde
greves, protestos e paralisações, que envolveram diferentes regiões brasileiras13, até a busca
efetiva de unidade política e organizativa (ANTUNES, 1991), manifesta nas Conferências da Classe
Trabalhadora (CONCLAT’s), na construção das novas centrais sindicais, como a Central Única dos
Trabalhadores (CUT) e Central Geral dos Trabalhadores (CGT)14, e na própria articulação político-
12
Neste livro também usamos essa categoria no plural, quando pertinente, no intuito de “indicar a complexidade presente na
organização dos trabalhadores, principalmente pelo processo de fragmentação e diferenciação que nos afetou, desde a reestruturação
do capitalismo, nos anos 1970. Sem acesso aos meios de produção, precisamos vender a nossa força de trabalho, mas, as formas em
que isso ocorre, nos diferencia, contrapondo ‘trabalhadores qualificados’ a ‘trabalhadores desqualificados’. A inserção subalterna
indica além dessa condição, as marcas desse processo de dominação, envolvendo as práticas culturais, os valores e modos de ação
assimilados pelo conjunto desses indivíduos” (EIRAS, 2017, p. 2).
13
Netto (2014) apresenta dados do NEPP/UNICAMP sobre as greves de trabalhadores por grupo de atividades, no período de 1981-
1983, de abrangência nacional. Em 1981, 41 greves dos trabalhadores na indústria e 189 greves em 1983; 48 de assalariados de
camadas médias (1981) e 85 greves em 1983. Em 1981, 20 de trabalhadores na área de serviços e 47 em 1983. De acordo com
Reis (2014, p. 143), “depois dos grandes movimentos sociais registrados em fins dos anos 1970, desdobraram-se inúmeros outros,
setoriais e parciais, urbanos e rurais, exibindo a disposição de luta dos assalariados – inclusive da classe média”. No entanto, os dois
autores chamam atenção para o movimento declinante desse processo, embora o considerem muito relevante no enfrentamento
entre as classes e no enfrentamento da ditadura.
14
Segundo Duriguetto (2011, p. 241): “É no final dos anos 1970 que as organizações sindicais retomam seus processos massivos de
publicização de suas demandas e de suas lutas. É com a emergência do chamado ‘novo sindicalismo’ que os sindicatos retomarão sua
ação política”.
partidária que originou o Partido dos Trabalhadores (PT) (NETTO, 2009, 2014; FALEIROS, 2009;
ABRAMIDES; CABRAL, 2009).
Importante salientar que as bases de sustentação da ditadura agregavam diferentes setores,
desde o golpe de 1964, e no seu desenvolvimento histórico se “metamorfosearam”, combinando-se
com as forças de resistência e oposição à ditadura de novo modo (NETTO, 2014; REIS, 2014)15. Trata-
se de um processo complexo, que se desenvolve em bases econômico-sociais bem determinadas e
relacionadas ao desenvolvimento capitalista em nível global (CAMPOS, 2017). Assim, a luta social
antiditatorial ou pró-democratização contém uma complexidade de conteúdos e articulações.
Mas, entendemos que a luta de classes foi o conteúdo propulsor e responsável pelas conquistas
democráticas desse período.
Desse modo, neste capítulo, abordaremos a relação entre a década de 1980 e o processo
democrático, indicando as demandas sócio-históricas e apontando algumas das respostas construídas
pelo Serviço Social naquele contexto.
15
De acordo Daniel Aarão Reis (2014), no período da “transição democrática” (1979-1988) “formou-se ampla coligação de interesses e
vontades a favor da ideia de que a ditadura teria se encerrado em 1985. Na base dessa verdadeira frente social, política e acadêmica,
estava uma ideia-força de modo nenhum respaldada pelas evidências – a de que a ditadura fora obra apenas dos militares,
reconstruídos como bodes expiatórios, responsáveis únicos pela noite escura e pelos anos de chumbo. Na gênese, houve a Marcha
da Família com Deus pela Liberdade. A heterogênea frente que respaldou o triunfo do golpe decantou-se de maneira ziguezagueante
e contraditória, o que ensejou sucessivamente os movimentos de 1968 e os anos de ouro – e de chumbo – da ditadura. Mesmo no
apagar das luzes do regime ditatorial, em 1978, a Arena ainda conseguiu ganhar diversas eleições e ter o maior número de sufrágios.
Ao longo do processo, nos ministérios, nas agências e empresas estatais, nas academias e universidades, nas assessorias de imprensa
que se multiplicavam, na Igreja, nos governos e nos parlamentos, nas estruturas sindicais, urbanas e rurais, nos próprios aparelhos
repressivos e até mesmo nas louvadas trincheiras da liberdade – a OAB, a ABI e a CNBB, como já mencionado – estiveram presentes e
atuantes civis que apoiavam o regime ou que a ele se subordinavam por motivação vária. A ditadura no Brasil, até pelo longo período
que durou, foi uma construção histórica. Impossível compreendê-la sem trazer à tona suas bases políticas e sociais – múltiplas e
diferenciadas” (REIS, 2014, p. 127-128).
Ainda nessa direção, o autor considera que a crise brasileira na década de 1980 não pode
ser interpretada e pensada apenas como uma “crise do financiamento da indústria pesada, que
marcaria [...] uma estagnação que perdura até hoje [2017]” (CAMPOS, 2017, p. 259). Trata-se de
uma crise da “própria formação econômica [brasileira]”16. Nessa análise, com a qual temos acordo,
a década de 1980 é o início de um processo regressivo, que se aprofunda na atualidade.
Em relação ao desenvolvimento econômico e social, os dados estatísticos gerais (IBGE)
indicam um crescimento do PIB com taxa média de 7% no período posterior à segunda guerra
mundial até meados de 1970 (FALEIROS, 2009). No período de 1980-1992, essa taxa média foi de
1,2% (IBGE). De acordo com Pochmann (2003, p. 36), “a despeito do significativo avanço econômico,
com taxas médias de variação do PIB de quase 7,5%, nota-se que, durante o período de 1960-1980, a
totalidade da população nacional terminou não tendo acesso aos resultados do progresso material do
capitalismo brasileiro”. Os indicadores sociais evidenciam o empobrecimento da população urbana,
no fenômeno da “urbanização da pobreza”, com “excedente de mão de obra pouco qualificada
e de baixa escolaridade nas cidades mais industrializadas”, “não obstante o acesso ao emprego
formal (com acesso aos direitos sociais e trabalhistas), a ditadura promoveu um ‘arrocho salarial’”
(POCHMANN, 2003, p. 36). A massa de assalariamento em relação à população economicamente
ativa cresceu de 19,6%, em 1960, para 45,4%, em 1980. Por outro lado, o poder de compra do salário
mínimo diminuiu para 38,4% (DIEESE) (OLIVEIRA, 2011).
No ano de 1960, de acordo com índices de atualização do DIEESE (OLIVEIRA, 2011),
o salário mínimo equivaleria – em dados convertidos em 2011 – à R$1.211,98. No ano de 1980,
esta equivalência seria à R$686,08. O trabalhador/operário, mesmo nas grandes empresas, não
conseguia arcar com as despesas básicas de sustentação de sua família. Nesse sentido, a renda
dos 10% mais ricos elevou-se entre 1981 e 1989 de 46,6% para 53,2% em relação à renda total.
Enquanto a participação dos 20% mais pobres baixou de 2,7% para 2,0% da renda total17. Entre as
pessoas pobres vivendo na área urbana houve um aumento de 83,8 milhões em 1981 para 106,7
milhões no ano de 1990 (renda per capta inferior ou igual a 0,5 salário mínimo) (HOFFMANN, 1995).
De acordo com Yazbek (2009, p. 14):
Do ponto de vista econômico para a CEPAL a pobreza vai se converter em tema central da
agenda social, quer por crescente visibilidade, pois a década deixou um aumento considerável
16
Nesse sentido, o autor considera que “ao impor uma nova inserção externa à economia brasileira, não mais determinada pelo
desenvolvimento industrial em um regime centralizado de acumulação [período da ditadura], mas por uma especialização regressiva,
a herança mercantil e a subordinação ao imperialismo se recolocavam em maior intensidade, cujos paralelos só seriam comparáveis
com o período anterior aos anos 1930” (CAMPOS, 2017, p. 259).
17
Em termos comparativos, nos EUA os 10% mais ricos concentravam 25% da renda total em 1985. Dados citados por Antônio Correa
Lacerda (1994).
[Desde 1979] Os operários paulistas [...] estavam mais bem organizados, não apenas nas
fábricas, mas também nos bairros em que moravam, apoiados pelos vizinhos e amigos, pelas
organizações católicas, pela igreja local, sem falar na simpatia que inspiravam nas oposições,
do MDB a mais esquerdista das organizações clandestinas remanescentes. [...] Ao mesmo
tempo, tornou-se tarefa impossível “despolitizar” o processo de lutas [...] A aliança entre
patrões e governo revelara-se de modo insofismável. Aquele governo tinha um lado – os
patrões – e o apoiava com todas as suas forças.
Os políticos da Arena formaram o Partido Democrático Social (PDS, atual PPB, de onde saiu
uma dissidência que formou o PFL); os emedebistas formaram o Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB, onde saiu a dissidência que formou o PSDB). Outros segmentos
políticos, que estiveram fora da cena partidária durante o regime militar, ressurgiram, como
foi o caso de Leonel Brizola, que fundou o Partido Democrático Trabalhista (PDT), e de Ivete
Vargas, que tentou ressuscitar o getulismo fundando o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Mas a grande novidade nacional foi, sem dúvida, a criação de um partido político nascido na
classe operária: o Partido dos Trabalhadores (PT) (PETTA; OJEDA, 1999, p. 273).
De acordo com Reis (2014, p. 144), no âmbito das lutas sociais, enquanto o movimento sindical
“exauria” suas lutas na “defesa de pautas relativas às condições de vida e de trabalho”, o movimento
das “Diretas Já”, de modo relevante no período, “assumiu um caráter político”. Segundo o autor:
[...] nos primeiros meses de 1984, dezenas de comícios de massa ocorreram em todas as
grandes cidades e mesmo em cidades medianas. Na reta final, houve comícios de 300 mil
pessoas em Belo Horizonte (24 de fevereiro), 250 mil em Goiânia (12 de abril), 200 mil em
Porto Alegre (13 de abril). Os maiores reuniram 1 milhão de pessoas, no Rio de Janeiro
(10 de abril) e 1,5 milhão, em São Paulo, no comício de encerramento, em 16 de abril
(REIS, 2014, p. 144-145).
[...] mas se os analistas mais competentes da política, mesmo à época, não se surpreenderam
com a derrota da emenda, esta caiu sobre o país como um balde de água fria: do entusiasmo
com um movimento tão empolgante, as massas que dele participaram retiraram o saldo do
desalento – a esmagadora maioria, dezenas de milhões de brasileiros, amargou aquela noite
de abril.
Num primeiro momento, os dissidentes da ditadura atuaram com discrição e alinhados com
a herança da oposição democrática: em 1985/1986, promessas de restauração democrática
foram cumpridas (p. ex., fim das “eleições” indiretas para as prefeituras de capitais e “áreas
de segurança nacional”, legalização dos partidos comunistas) e foi implementada uma
política econômica – sob a responsabilidade de Dilson Funaro – que colidia imediatamente
com interesses de banqueiros (nacionais e estrangeiros). A partir do processo eleitoral de
1986 – elegeu-se um novo parlamento, com forte representação dos antigos “fisiológicos”
de um PMDB inflado por democratas da undécima hora –, aquela orientação (de que o
“Plano Cruzado” fora emblemático) foi inteiramente revertida. Era um passo claríssimo para
impedir a liquidação do “modelo econômico” herdado da ditadura.
18
“[...] havia ali ambiguidades. Naquele emaranhado de dispositivos (250 artigos e mais parágrafos e incisos, acompanhados de 97
artigos de ‘disposições transitórias’, também com respectivos parágrafos e incisos), concessões entrelaçadas não raros se contradiziam.
[...] Não é que fosse apenas grande a distância entre ‘a teoria e a prática’. Mesmo que o texto constitucional não ganhasse imediata
concretização, dependendo de leis complementares, era sempre melhor tê-lo a favor do que contra as liberdades e os direitos da
cidadania. A questão era saber em que medida a lógica das tradições nacional-estatistas, incorporando notáveis – e inquietantes –
legados do período ditatorial, não se constituiria no futuro – porque já inscrita no texto constitucional – uma ameaça aos direitos e
liberdades formalmente enunciados” (REIS, 2014, p. 166).
Na análise de Netto, o “balanço geral das lutas conduzidas pela vanguarda operária – o
operariado metalúrgico do ABC – nos anos 1978/1980” afetou o processo de abertura conduzido
pelos representantes da ditadura, convertendo-o efetivamente em “processo de democratização”
(2014, p. 232). Contudo, a sequência desse processo, no decorrer das alianças políticas após a
derrota da emenda Dante de Oliveira, evidenciou uma série de posições que se colocaram como
travas à democratização. Na ação política do Centrão19, “o pacto elitista derivou efetivamente uma
condução política que truncou o processo de democratização” (p. 262). Desse modo:
Segundo Marilena Chauí (2007, p. 218)20, “no Brasil, a democracia é sempre resultado
conjuntural de uma correlação de forças e não o resultado de uma práxis social comum; onde
vigora o sentimento de ‘não possuir uma posição reconhecida na comunidade cívica ou de não ter
comunidade cívica de que participar’”. Conforme a autora, na década de 1980, a demanda pela
democracia teve aportes diferentes (CHAUÍ, 2007, p. 226). Resumidamente:
A burguesia luta por representação direta, para expor suas aspirações e expectativas,
e demanda a restauração do Estado de Direito (direitos civis e políticos). [...] Esse grupo
19
“[A Assembleia Nacional Constituinte] (livre, soberana e exclusiva) foi ladeada pela investidura de poderes constituintes ao
parlamento recém-eleito. Nele passaram a operar descaradamente grupos de pressão (lobbies) em defesa dos interesses das classes
dominantes e no seu interior se articulou um bloco parlamentar, com a clara simpatia e o aberto apoio do presidente da República
[...] com o objetivo expresso: impedir que o novo ordenamento constitucional abrigasse dispositivos favoráveis a transformações
econômico-sociais do interesse dos trabalhadores. Esse bloco, que reuniu parlamentares do PDS e do PFL sob o comando do segmento
mais conservador e elitista do PMDB, ficou conhecido como Centrão e garantiu, nos trabalhos constituintes, que as prescrições
constitucionais mais decisivas na área da economia não afetassem os interesses do grande capital” (NETTO, 2001, p. 261).
20
O livro “Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas” conta com capítulos escritos pela autora na década de 1980,
durante o processo de efervescência social, como o capítulo que estamos tratando, “Democracia e socialismo: participando do
debate”, publicado em abril de 1980 (CHAUI, 2007, p. 170, nota da autora).
inclui as frações da burguesia nacional, da classe média urbana (que exige a moralização
dos hábitos políticos) e da pequena burguesia; [...] Os grupos da classe trabalhadora e
da população urbana lutam por direitos sociais e pelas condições efetivas de exercício da
cidadania; [...] As elites [inclusive as frações indicadas acima] temem as demandas populares
e dos trabalhadores, temem não segurar a “abertura das comportas”.
Ao considerar o conjunto das análises expostas até o momento, observamos que a década
de 1980 foi um período em que novas demandas sociais foram pautadas pelos movimentos sociais
e pelos movimentos dos trabalhadores associados ao “novo sindicalismo”. A “abertura” do regime
ditatorial foi afetada por esse conjunto de demandas, e ainda que a reordenação das forças políticas
dos grupos dominantes expresse uma resposta acintosa, tal movimentação deveu-se a esse notável
acúmulo de forças.
Esse processo de efervescência social, com suas práticas sociais, construiu novas referências
e novos modos de lutas no campo progressista. A argumentação de Chauí expressa inclusive
uma incorporação no debate do próprio conteúdo do socialismo, no campo das lutas, enquanto
negatividade na dinâmica contraditória da sociedade capitalista.
Chauí (2007) indica que a discussão sobre a relação entre democracia e socialismo tornou-
se urgente para as esquerdas em toda parte. No caso de Espanha, Portugal e Brasil:
[...] porque a passagem dos regimes autoritários aos democráticos vem sendo realizada sob
a direção da fração governante das classes dominantes, que, forçadas por razões internas –
ascenso dos movimentos sociais [a exemplo do Brasil] [...] ou por razões externas, [...] procu-
ram um caminho político que lhes permita conservar o controle da vida social e política sem
alterar profundamente a forma da acumulação, no plano econômico (CHAUÍ, 2007, p. 170).
Ela considera a ação dos movimentos sociais como um processo relevante para a “construção
histórica”. Segundo Chauí:
Os movimentos sociais, sejam eles diretamente vinculados à classe operária, sejam eles
mais amplos e de cunho popular, sejam, enfim, movimentos de minorias oprimidas,
podem não destruir o sistema capitalista, mas são momentos decisivos na história de seu
Na década de 1980, quando a autora examinava os movimentos sociais populares, “no Brasil
e noutras partes”, avaliou que “eles não agem no sentido de transformar a sociedade imprimindo-
lhe um sentido novo, mas atuam como ‘grupos de pressão’ cujo alvo é o Estado, do qual se espera
resposta” (CHAUÍ, 2007, p. 189). E continua:
21
Para Chauí (2007, 191), a “democracia não se reduz a um regime político e socialismo não se trata de um novo tipo de Estado: trata-se
de uma alternativa histórica na qual a democracia social funda a democracia política e vice-versa”.
22
Tal conteúdo é fundamental para a ruptura ético-política do Serviço Social com suas referências e práticas tradicionais/conservadoras,
como argumentaremos adiante.
e políticas estavam assentadas nesse fundamento, e dele não poderiam ser cindidas. De acordo com
Perruso (2012), “os atributos dos ‘novos’ movimentos sociais urbanos, indicados por intelectuais
brasileiros estudiosos do assunto e atuantes nos anos 1970/80” podem ser assim caracterizados:
Para o autor, também houve ressonância entre esses movimentos e a produção acadêmica,
pois:
De acordo com Brant (1983) e Singer (1983), no processo de efervescência social no final
dos anos 1970, combinam-se formas de resistência coletiva, cuja manifestação inclui a “democracia
de base”, o exercício do compartilhamento do poder e das decisões sobre as ações que serão
desenvolvidas. A construção da concepção de direitos e de cidadania é um conteúdo analisado por
Paul Singer nos movimentos sociais populares nos grandes centros urbanos.
Para Vinícius Brant (1983, p. 13-14) o “bloqueio dos canais institucionais de representação
popular – como os partidos políticos, as câmaras legislativas, os sindicatos e associações de massas
– estimulou o uso dos laços primários de solidariedade na sobrevivência diária da população”. Ele
salienta que as:
Para o autor:
A exigência de democracia de “baixo para cima” não se coloca apenas nas formas alternativas
de organização surgidas do período de resistência. Ela constitui também um projeto de
participação “de base” em organizações propriamente de massas, como os sindicatos e
partidos políticos. A temática das comissões de fábrica proposta por algumas oposições
sindicais é um exemplo. Tratar-se-ia nesse caso de constituir núcleos representativos de
base em cada empresa, que teriam conjuntamente poder de decisão na vida sindical.
Isso poderia propiciar uma participação mais intensa das bases nas discussões, já que as
assembleias por categoria não oferecem a ocasião para que todos possam manifestar-se
(BRANT, 1983, p. 19).
No saldo dos aprendizados construídos no âmbito das lutas sociais na década de 1980,
a alteração nas formas organizativas é um elemento qualitativamente importante. O avanço no
estabelecimento de relações horizontais no debate de ideias e na articulação para as ações também
foi um acúmulo significativo desse processo, tornando-se um fundamento político-institucional a
ser considerado. A perspectiva de controle social e/ou de uma relação de controle face às ações
governamentais também constitui um conteúdo relevante, assim como a desconstrução da ideia
de um Estado neutro, representante dos “interesses comuns” e da coletividade. A perspectiva de
compreender a realidade em seu movimento contínuo e de que ela exige ação, posicionamentos e
enfrentamentos é outro conteúdo a ser ressaltado nesse processo. Nesse sentido, o aprendizado do
“inconformismo” abre a possibilidade de almejar algo novo, diferente e melhor.
O desenvolvimento posterior a esse processo avançou também na institucionalização dessas
lutas e demandas, em organismos sociais que atuaram como um front de resistência às ofensivas
do neoliberalismo, no decorrer da década de 1990. Contudo, as alterações na esfera produtiva e
na reprodução social colocaram conteúdos novos, impactando nas condições objetivas e subjetivas
de expressão dos trabalhadores e de suas formas organizativas. Ainda, a derrocada do socialismo,
e com ele a ausência de alternativa real capaz de confrontar o capitalismo, alterou o horizonte das
lutas sociais progressistas. O comunismo deixou de ser uma ameaça ao capitalismo que, sem limites,
foi “elevado” ao patamar de “ponto final da história”.
Todavia, as ações e o aprendizado realizado na década de 1980, no âmbito das lutas e
movimentos sociais progressistas, e o seu saldo político-organizativo também deixaram suas marcas
e continuam presentes na atualidade.
A década de 1980 constitui-se um período fértil da ação e criação social, que se expressou
na organização e institucionalização de novas práticas no campo sociopolítico, marcadas pela
democratização nas relações entre os sujeitos e nas tomadas de decisão coletivas. Nessa direção é
que a democratização foi um processo complexo e heterogêneo, que envolveu demandas populares
Por outro lado, o Serviço Social vincula-se a esse processo por diferentes vias: pela
identificação dos profissionais enquanto trabalhadores assalariados e inseridos nas classes
trabalhadoras, “sofrendo” com o “arrocho salarial” e com as condições de vida nos grandes centros
urbanos23; pela vinculação aos sindicatos de Assistentes Sociais e/ou aos sindicatos que envolvessem
sua inserção sócio-ocupacional; pelas pressões dos movimentos sociais organizados e dos processos
de greve e ações sindicais endereçados aos setores públicos e às empresas, nos quais os Assistentes
Sociais se inseriam na condição de trabalhadores; pela participação nas ações de recusa ao regime
ditatorial e de defesa da democracia, inclusive nas ações efetivadas pela Igreja Católica na militância
pela efetivação dos direitos humanos (civis, políticos, sociais, econômicos e culturais).
Assim, trabalhamos com a hipótese de que: grande parte dos Assistentes Sociais estava
envolvida, por sua inserção sócio-ocupacional em espaços público-estatais, na intermediação das
demandas postas pelos movimentos (social e sindical) na relação com o Estado24; a grande maioria
estava imbuída dos valores democráticos e contrapunha-se ao autoritarismo e à Ditadura, partilhando
os valores postos pelos movimentos sociais e sindicais progressistas e por seu horizonte de ação;
e parte dos Assistentes Sociais participou desse processo, inserindo-se em organizações sociais e
no movimento sindical dos Assistentes Sociais, em diálogo com o “novo sindicalismo”, atuando na
construção da Central Única dos Trabalhadores (ABRAMIDES; CABRAL, 2009), estando à frente da
organização política da categoria, agindo na condição de “vanguarda” (NETTO, 1999).
No processo de democratização, as tendências críticas, face às demandas postas na
correlação de forças sociais, favorecem a consolidação da vertente “intenção de ruptura” frente
ao Serviço Social tradicional e às posturas conservadoras no Serviço Social. A ruptura ocorre:
1) na organização e na prática político-organizativa do Serviço Social (III Congresso Brasileiro de
Assistentes Sociais, Anhembi, 1979, conhecido como o “Congresso da Virada”, criação da CENEAS/
23
“Pouco mais da metade das Assistentes Sociais que estavam no mercado de trabalho em 1988 iniciaram suas atividades laborais antes
dos 18 anos (56,5%)” (SIMÕES, 2012, p. 76). Evidencia-se a vivência de classe no interior de suas contradições, pelo compartilhamento
de condições sociais próprias da classe trabalhadora (assalariamento, venda da força de trabalho).
24
A esse respeito, a pesquisa da CENEAS, realizada em 1982, apontou a significativa distribuição de vínculos entre o setor público
(62,5%), principal empregador dos Assistentes Sociais, e o setor privado (30,6%), identificando o crescente de contratações no
período entre 1970 e 1980, que coincide com o ascenso das lutas sociais.
25
Comissão Executiva Nacional de Entidades Sindicais de Assistentes Sociais (CENEAS) (1979-1983) e Associação Nacional dos
Assistentes Sociais (ANAS), também no âmbito sindical (1983-1992).
26
Conselho Federal de Assistentes Sociais e Conselho Regional de Assistentes Sociais.
27
Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social.
A legitimidade social da profissão não foi deslocada plenamente para o âmbito de sua
vinculação com a efetivação dos direitos sociais. Não obstante, também não seria mais possível
identificar a profissão unicamente pelos mecanismos de disciplinamento e controle das classes
dominantes sobre as classes dominadas. O caráter contraditório da profissão, posto concretamente,
e analisado teoricamente por Iamamoto (2005), justamente na década de 1980, indicou a
possibilidade de favorecer um ou outro polo das classes fundamentais, desvelando a dimensão
28
28
No campo da seguridade social isso se expressa da seguinte forma:
Saúde – estruturação do SUS: prevenção e promoção da saúde no nível primário, acesso aos serviços de saúde nos níveis especializados
(secundário e terciário); e afirmação da concepção ampliada de saúde, que inclui os determinantes sociais e as condições reais
para que os indivíduos/sujeitos estejam saudáveis, colocando como necessidade a relação intersetorial entre as diferentes políticas:
saneamento, habitação, emprego/condições de trabalho, acesso aos serviços e bens produzidos socialmente (política de assistência
social), cultura e lazer, previdência social.
Previdência Social – extensão da proteção previdenciária aos trabalhadores rurais, manutenção da lógica contributiva, mas
reconhecimento da previdência como política de seguridade social, com participação coletiva na sua manutenção e financiamento.
Assistência Social – dever do Estado e direito do cidadão, que dela necessitar. Responsabilidade pública pelo acesso e exercício da
cidadania, ainda que com níveis mínimos de garantia dessa proteção.
29
No Brasil, a influência das concepções e elaborações do movimento de reconceituação do Serviço Social latino-americano se expressa
na bibliografia publicada e divulgada na década de 1980. Observamos que a reflexão sobre as possibilidades de transformação
social na ação e no posicionamento do Assistente Social foram objeto da análise em diferentes livros escritos por Assistentes Sociais
brasileiros em diálogo com as formulações latino-americanas. Contudo, fora do contexto revolucionário, a consideração do Assistente
Social enquanto “agente de transformação” ou “agente revolucionário” perde o sentido e o significado originário de quando
emergiram enquanto posições concretas (como, por exemplo, no Chile, no período de 1971 a 1973).
Serviço Social; e as indagações sobre como agir a partir desse novo posicionamento, dessa nova opção
ideopolítica. Por conseguinte, são questões emergentes nessas análises: como fortalecer o polo dos
usuários e de suas necessidades no âmbito sócio-organizacional, nos espaços sócio-ocupacionais
nos quais o Serviço Social se insere? Como identificar as necessidades dos usuários e mediá-las
no âmbito sócio-organizacional? Como desenvolver competência técnico-operativa alinhada a essa
perspectiva ético-política de atendimento às demandas/requisições institucionais em sua relação
com as necessidades/demandas dos usuários em uma perspectiva crítica, que ultrapasse a leitura
tradicional/conservadora e o referencial positivo-funcionalista?
Assim, a ruptura com o Serviço Social tradicional tem um campo de convergência ético-
político. Trata-se da construção de um novo posicionamento político-profissional, o qual coloca
a necessidade de novas referências teórico-metodológicas. Esse campo constrói-se de modo
hegemônico, envolvendo os Assistentes Sociais, e expressa-se conjuntamente no âmbito da ação
profissional, no âmbito político-organizativo e no âmbito acadêmico, seja pela inserção simultânea
dos diferentes sujeitos desse processo, seja pela expressão simultânea de posicionamentos ético-
políticos convergentes, os quais ocorreram nessas diferentes esferas.
Dessa forma, as nossas questões podem ser assim formuladas: no debate dos anos 1980,
como se expressa a ruptura com o Serviço Social tradicional no âmbito da ação dos Assistentes
Sociais? Qual o vínculo dessa ruptura com o novo posicionamento ético-político e com as referências
teórico-metodológicas críticas? E qual a particularidade da ação profissional crítica, expressa pelos
Assistentes Sociais naquele contexto?
As questões postas acima nortearam a construção do instrumento de coleta de dados para
sistematização das informações encontradas nos artigos da “Revista Serviço Social e Sociedade”,
fontes da pesquisa, buscando identificar as referências que fundamentaram teoricamente a ação
profissional no contexto dos anos 1980 e os compromissos assumidos por aqueles que manifestaram
em seus textos uma postura crítica. Assim, a pesquisa envolveu dois eixos de levantamento de dados:
o primeiro se refere às referências teórico-metodológicas e o segundo às referências ético-políticas
e técnico operativas. Este capítulo segundo tratará de apresentar precisamente os achados desses
dois eixos da pesquisa.
Contudo, antes disso, vamos trazer algumas características mais gerais dos artigos
pesquisados. A primeira delas se refere à incidência dos artigos de acordo com o ano e o número da
“Revista Serviço Social e Sociedade”, conforme o quadro que segue:
A segunda trata dos temas de discussão da revista. Observamos que naquele período, por
vezes as publicações das revistas traziam temas específicos de discussão, e avaliamos ser importante
essa sistematização a fim de apresentar a incidência de artigos de acordo com os temas das revistas,
conforme o gráfico 1:
Gráfico 2 – Identificação dos artigos por área de inserção profissional e por temas de
discussão
No que se refere à autoria, observamos que os artigos foram produzidos por pelo menos
93 profissionais, sendo 13% homens e 87% mulheres. Dos 56 artigos, 8 ficaram sem informação de
autoria ou não tiveram autoria explicitada. Desse modo, de 48 publicações, 35 foram produzidas
individualmente, 7 foram escritas em dupla e 6 a partir de grupos, com intensa variação na quantidade
de autores, observando-se registros que iam de 3 até 26 membros, conforme o gráfico 3.
30
Para fins da sistematização, não foram descontados autores com mais de uma publicação, considerando que tanto sua formação
como seu vínculo empregatício poderiam sofrer alterações de artigo para artigo – dados que poderiam enriquecer o debate.
A partir de uma pesquisa realizada via internet para atualização das informações,
percebeu-se que 9 seguiram atuando como Assistentes Sociais, 17 passaram a exercer a docência,
3 faleceram31. Esses números demonstram como os Assistentes Sociais de diferentes áreas de
atuação estavam preocupados em compreender e/ou respaldar sua ação profissional, inclusive ao
privilegiar uma produção de conhecimento que girasse em torno da temática. Tal afirmativa se faz
pertinente quando relacionamos o grande número de profissionais que atuavam em instituições e a
intencionalidade das produções, já que objetivavam, centralmente, contribuir efetivamente com a
“prática profissional” dos Assistentes Sociais, conforme é possível visualizar no gráfico 5.
Serviço Social ou mesmo apresentando obras específicas. Esse número corresponde a apenas 11%
do total de publicações objeto da pesquisa. Ainda cabe reconhecer que o item “Outros e SI” totalizou
41% do total, representando uma percentagem significativa de artigos que não apresentaram seus
objetivos e/ou aquelas produções nas quais não foi possível identificá-los.
Por fim, para encerrar essas características mais gerais dos artigos pesquisados, passemos
a algumas considerações sobre os procedimentos metodológicos dos trabalhos. Cabe indicar que
consideramos os procedimentos metodológicos dos artigos como sendo aqueles que o autor adotou
para a construção de seu texto, observando os objetivos definidos, sua orientação para a exposição
das ideias e a descrição das estratégias, dos instrumentos e das técnicas na construção do relato ou
na problematização da sua ação profissional.
Nesse terreno, identificamos preocupações importantes perpassando a construção teórico-
metodológica dos artigos, tais como: a análise da realidade social e a indicação das perspectivas
do profissional; algumas concepções sobre a profissão e a necessidade de afirmar o Serviço Social
vinculado aos movimentos populares; a utilização do referencial marxista; a abordagem sobre a
reconceituação do Serviço Social e as “práticas concretas” nas instituições públicas, privadas e
“populares”; a sistematização de entrevistas feitas com profissionais sobre suas experiências
em determinada área; o debate teórico e a descrição da experiência de profissionais a partir da
investigação-ação; a proximidade com as Ciências Sociais; o relato de experiência de exercício
profissional; o diálogo entre diferentes concepções teóricas; a apresentação conceitual acerca de
diferentes categorias na profissão; o registro de resultado de pesquisa na área do Serviço Social e a
análise de programas e políticas sociais.
Desse modo, passamos agora a apresentar, mais detidamente, os achados da investigação
a partir dos dois grandes eixos que orientaram a coleta de dados da pesquisa, quais sejam: o das
referências teórico-metodológicas e o das referências ético-políticas e técnico operativas. Na verdade,
mais que eixos, essas duas dimensões expressam a busca e a construção de um novo posicionamento
ético-político e de um novo referencial teórico-metodológico. Imbricadas entre si, observamos que
essas dimensões manifestam-se na profissão primeiramente como uma predominância de alteração
do posicionamento ético-político, deflagrando, em seguida, a necessidade ou a busca de um novo
referencial teórico-metodológico.
Assim, nossa hipótese é “por meio da ruptura ético-política com os projetos societários
das classes dominantes, se manifestou a necessidade de ressignificar e recriar a ação profissional”.
Ou seja, a busca por novas referências teórico-metodológicas foi mediada pela necessidade de
fundamentar o novo posicionamento ético-político assumido pelo Serviço Social. Nesse sentido,
“abre-se o caminho” para o recurso ou mesmo a apropriação do referencial teórico-metodológico
advindo da teoria social crítica, justamente pelo seu caráter político-social, alinhado às lutas das
classes trabalhadoras.
32
No capítulo 3, apresentamos a concepção de ação profissional tradicional.
33
Ver Apêndice D, Lista dos artigos, por título e ordem de publicação da revista.
Dentre os artigos nos quais os conteúdos foram identificados, destacamos (grifos nossos):
Por ser um dos profissionais que acompanha mais de perto a contradição entre
necessidades e interesses da população e a instituição que lhe presta serviços, na maioria
das vezes inadequados ou incompletos, e desenvolve todo seu conhecimento a partir dessa
dinâmica, deve mediatizar essa prestação de serviços numa perspectiva de compromisso
com os interesses das camadas populares, com o objetivo de contribuir para a melhoria
das condições de vida dessa população. [Ao mesmo tempo], não negamos, com essa
premissa, o papel do atendimento individual à demanda que necessita de assistência, mas
não o colocamos como valor absoluto, pois não é essa prática que justifica a existência do
profissional (Artigo 24, p. 149).
Análise das demandas e expectativas dos empregados e não apenas dos empregadores/
empresa. [Segundo a autora, os empregados esperam a implantação de um serviço que]:
“ajudará a encontrar soluções para os seus problemas pessoais e coletivos, irá defendê-lo
nos momentos de conflito, atuando como intermediário, repassando reivindicações que ele
não assume por medo de perder o emprego; desenvolverá programas que contribuirão na
recuperação de seu desgaste físico e mental. A postura crítica sobre a intencionalidade da
empresa na implantação de cada programa exposto, o direcionamento dado, o envolvimento
dos trabalhadores na problematização de suas necessidades determinam o compromisso ou
não com o fortalecimento das metas do trabalho (Artigo 43, p. 124;134).
Como profissional nas ações que desempenha nas instituições, em geral públicas, nos
programas governamentais e junto às classes populares, o Assistente Social torna-se um
mediador enquanto trabalha relações contraditórias entre estas instâncias. O Assistente
Social é aí o reelaborador dessas relações contraditórias de forma decodificada e crítica
(Artigo 46, p. 90).
Qual a contribuição do Serviço Social nos grupos comunitários para a formação de uma
consciência de classe nos grupos por ele trabalhado? [...] As lideranças comunitárias
favorecem ou bloqueiam a participação da comunidade para o seu real desenvolvimento?
[...] O desenvolvimento de comunidade exige um compromisso com a população que
a compõe. A partir daí, as práticas mecânicas e repetitivas que são desenvolvidas por
alguns profissionais de Serviço Social são incompatíveis com este processo, uma vez que
representam mais uma negação ao desenvolvimento comunitário (Artigo 48, p. 102; 103).
A intenção dos profissionais de Serviço Social, junto à instituição – campo do nosso trabalho
– é a de que os psiquiatrizados adquiram “consciência para si” e avancem de tal modo na
conquista de seus espaços que se torne politicamente possível a sua participação efetiva na
vida dessa instituição total (Artigo 23, p. 94).
Não devemos apenas dar respostas às demandas, mas propor alternativas, estimular e
contribuir para a organização popular e formulação de um projeto que efetivamente aponte
para a solução dos problemas da população de baixa renda (Artigo 24, p. 149).
Por outro lado, em 21,4% dos artigos não houve indicação desse compromisso na relação
com as demandas dos usuários, embora haja menção à qualificação dos serviços prestados pela
organização/instituição. E em 12,5% dos artigos, o lançamento dos dados na planilha não permitiu
identificar o conteúdo em relação a esse item.
Outro conteúdo que nos permite aprofundar nessa análise do posicionamento ético-
político é o “posicionamento em favor do avanço no campo das políticas sociais entendidas como
direitos a serem garantidos de modo universal”. Para isso, é importante contextualizar o debate
sobre as políticas sociais na década de 1980. Tal debate emerge de modo mais intenso no contexto
de elaboração da nova Constituição Federal brasileira. A Assembleia Nacional Constituinte foi
eleita em 1986. O período do debate compreende um tempo menor em relação à década de 1980,
envolvendo os anos de 1987 e 1988. Isso pode explicar a baixa menção a esse posicionamento nos
artigos analisados.
O Movimento de Loteamentos Clandestinos da Zona Sul de São Paulo aparece como uma
forma de unificar iniciativas isoladas dos moradores, que procuram individualmente,
advogados e políticos para resolver o problema. Sem uma organização maior, essas
iniciativas obtiveram algumas vitórias parciais, não alcançando, entretanto, seu aspecto
conjuntural, além de não instrumentalizar a população para organizar-se em defesa de seus
direitos (Artigo 6, p. 137).
[Na medida em que reconhece sua inerente contradição] [...] desviada dos reais interesses
da população [...] e fortalece a crítica de seu aspecto focalizado e excludente: [...] uma
política social precária de recursos, ambígua nos seus objetivos e centralizadora, alijando
das decisões fundamentais profissionais e população interessada (Artigo 21, p. 105).
Esta camada do Serviço social, por sua vez, maneja recursos desse processo de atribuição
de benefício do sistema de manutenção das políticas públicas. [...] A garantia dos direitos
é um processo constante de enfrentamento e implica a luta pela garantia da comunicação
entre os seres humanos, da organização, da liberdade de palavra, de opinião, de religião. Os
direitos políticos implicam os direitos civis e a defesa de uns envolve a defesa de outros. O
Essa aliança [entre Assistente Social e usuário] permite ao trabalhador social estar em
condições de identificar, de maneira tão concreta quanto possível, as necessidades do
cliente, de ser capaz de impregnar-se delas o suficiente para defender seus direitos ou
reduzir as pressões indevidas que ele sofre, ou ainda fazer nas redes acertos que favoreçam
o mais possível o cliente, que até então ou era utilizado por essas redes ou não as utilizava
para seu desenvolvimento e bem-estar (Artigo 39, p. 133).
Caberá, sim, estabelecer a clara definição dos direitos sociais básicos, assim como as
competências e responsabilidades das três esferas de governo, o que necessariamente
envolve a reformulação da estrutura tributária do país, dispondo sobre receitas estaduais e
municipais compatíveis com as responsabilidades e competências (Artigo 42, p. 103).
Por outro lado, em 44,6% dos artigos não há expressão desse posicionamento pelos autores.
Em 7,1% dos artigos, devido ao tema e aos objetivos, a menção a esse conteúdo não se aplicava. E,
em outros 7,1%, não foi possível identificar essa variável, devido à perda de dados.
“nova” “ação profissional crítica”. Ou seja, é visível a ruptura com a ação profissional tradicional
e, simultaneamente, a caracterização da ação profissional crítica, em oposição ou contraste à ação
profissional tradicional, também se torna expressiva e significativa no âmbito do Serviço Social.
Por outro lado, o campo da ação profissional crítica é clivado por perspectivas e nuances di-
ferenciadas, constituindo-se em um campo heterogêneo. A identificação desses conteúdos torna-se
relevante, na medida em que pretendemos relacionar o novo posicionamento ético-político às novas
formas de ação profissional crítica. O fato de os artigos vincularem-se à inserção dos autores em es-
paços sócio-ocupacionais concretos permitiu essa apreensão. A “utilização de estratégias democráti-
cas” inclui: democratização da informação; respeito às diferenças e ao posicionamento/decisão dos
usuários; e mobilização dos usuários para o acesso aos direitos sociais. É significativo que na maioria
dos artigos (55,4%) os autores apresentem estratégias de ação profissional democráticas, tais como:
O profissional deve responder às reivindicações dos usuários sob o controle das bases
(Artigo 4, p. 36).
Nosso objetivo foi desenvolver uma atuação profissional que deveria levar a população a
assumir a posição de agente da história (Artigo 8, p. 48).
Assessorar a população na relação que ela deve estabelecer com as instituições, facilitando
seu acesso ao cumprimento das exigências, que representam uma dificuldade real (ex.:
redigir um documento, idas coletivas à Prefeitura, obtenção de informações, mapeamento
da área, etc.) significa facilitar sua inclusão nos serviços institucionais a que tem direito e
forçar as instituições a redimensionar suas prioridades (Artigo 9, p. 77).
Para o trabalho Social Crítico, a ação profissional deve orientar-se para que a população
seja capaz de gerar formas próprias para enfrentar sua problemática – produto de uma
compreensão objetiva de sua situação e função dento do sistema produtivo (Artigo 11, p. 95).
[Buscando dar autonomia à população]: nossa preocupação sempre foi com a educação.
Com a forma como a gente lida com a educação e com a população, de maneira a dar
a população um instrumento para ela caminhar por si. [...] Passamos, então, a ouvir e
interpretar as formas como as pessoas sentiam seus problemas de saúde, de moradia, de
vida... e como eles viam isso politicamente. [...] Buscando organizá-los coletivamente. [...] Ao
final de 5 meses, nós começamos a aglutinar as pessoas que possuíam problemas comuns:
era água, era esgoto, era posto de saúde, era coleta de lixo... [...] Foi uma série de carências
que motivaram o grupo a se reunirem e discutirem seus problemas [...] (Artigo 22, p. 36; 41)
Em 30,4% dos artigos não há indicações dos autores sobre as estratégias de ação utilizadas.
Nos demais, 5,3% dos artigos, as respostas foram prejudicadas no lançamento dos dados na planilha.
Em 1,8% a questão não se aplicava à estrutura/objetivo do artigo.
Ao relacionarmos os artigos que explicitaram o compromisso com as demandas postas
pelos usuários e a indicação de utilização de estratégias democráticas, identificamos 28 situações
em que isso ocorreu (50,0% dos artigos). Ao compararmos esse dado com os artigos nos quais
há indicação das estratégias democráticas, anteriormente identificados, visualizamos que 90,3%
fazem a relação com o compromisso profissional assumido junto aos usuários e indicam estratégias
democráticas (ou vice-versa).
A indicação de programas, ações, projetos de intervenção, estratégias profissionais e
instrumentos utilizados na intervenção, também corrobora o novo posicionamento ético-político.
Na maioria dos artigos (53,6%) houve indicação de ações e/ou projetos e/ou programas e/ou
estratégias profissionais. Dentre as estratégias mais mencionadas nesses artigos estão a reunião e o
trabalho com os usuários coletivamente, grupalmente. Exemplificamos:
Não tínhamos programas prontos para apresentar. Fazíamos apenas reuniões com a
população para que esta desse início à sua organização (Artigo 8, p. 46).
Observa-se que uma série de atividades são desenvolvidas com grupos de moradores no
sentido de instrumentalizá-los na utilização dos serviços e benefícios que tem direito e,
através deste mesmo processo, transformar qualitativamente seu espaço de participação e
interferência nas decisões institucionais (Artigo 9, p. 78).
A nossa proposta foi partir da questão da saúde, foi levar um projeto de saúde, que no
começo nós chamamos de Programa Preventivo de Saúde, refletindo a realidade de
Ribeirão Preto, seus recursos médicos. [...] Saúde foi, portanto, o tema gerador de todas as
discussões (Artigo 22, p. 35).
acessível e tem um retorno mais constante da direção que está sendo impressa; a avaliação
é quase diária (Artigo 43; p. 126-127).
Em 21,4% dos artigos não houve menção a esses conteúdos. Em 14,3% dos artigos
entendemos que o tema abordado não implicava em indicação desse tipo, classificamos esses
artigos como NA (não se aplica). Em 10,7% as respostas no lançamento dos dados na planilha não
permitiram identificar o conteúdo.
Observamos nos artigos a menção dos autores aos movimentos sociais e a indicação, na ação
profissional, dessa relação. Em 41,07% dos artigos houve menção aos movimentos sociais ou à neces-
sidade de relação entre a ação profissional e os movimentos/lutas sociais. Vejamos (grifos nossos):
A comunidade adquiriu muita experiência nesta época. Participava não apenas internamente
dos seus problemas, mas em outras favelas e em outros movimentos mantinham
representações (Artigo 8, p. 49).
Embora a equipe tenha se proposto a atuar junto a uma das expressões concretas dos
movimentos sociais – o Movimento de Loteamentos Clandestinos – a prática desenvolvida
até então nos indica o quanto é ilusório e mistificador pensar que se pode dicotomizar as
múltiplas expressões destas práticas sociais desenvolvidas pelas classes populares, isolando-
se uma faceta destas como se fosse uma realidade particular (Artigo 9, p. 77).
O trabalho de educação popular para saúde não pretende esgotar a possibilidade de ação
dos profissionais e grupos de saúde, mas ampliá-la em direção aos movimentos sociais
existentes, que lutam por melhores condições de vida (Artigo 24, p. 148).
Em outros 41,07% dos artigos não houve explicitação de vínculo, relevância ou relação
com o movimento social. Nos demais, 10,71%, o lançamento dos dados na planilha não permitiu
identificar esse conteúdo.
Dos 56 artigos identificados, 28,6% não trabalham com bibliografia, constituindo-se de
relatos, depoimentos e análises sem recurso bibliográfico ou análise bibliográfica ou diálogo com
textos e autores. Nos outros 64,3% há indicação de bibliografia e/ou recurso à bibliografia e diálogo
com textos e autores, sendo que houve perda de informações em 7,1%. Analisaremos esses dados
no próximo item, que trata da fundamentação teórico-metodológica utilizada nesses artigos.
O eixo das “referências teórico-metodológicas” buscou identificar nos artigos a presença dos
seguintes indicadores: o componente da análise da realidade social; a apreensão das contradições
de classe; a relação com a totalidade social; a concepção de profissão, a apropriação do significado
social da profissão e a compreensão do Serviço Social inserido na divisão sociotécnica do trabalho; a
concepção sobre a ação profissional; e, por fim, as referências bibliográficas utilizadas.
Esses indicadores pretendem abarcar a complexidade do tema em estudo, buscando, assim,
cercar todas as possibilidades de dados capazes de identificar os elementos relacionados à nossa
investigação. Partilhamos do ponto de vista que considera que “na investigação, o sujeito tem de
apoderar-se da matéria, em seus pormenores, de analisar suas diferentes formas de desenvolvimento
e de perquirir a conexão que há entre elas” (MARX, apud NETTO, 2011, p. 25). Optar por um número
menor de indicadores prejudicaria a apreensão de toda a riqueza de informações possíveis de serem
exploradas, empobrecendo a futura análise do objeto em questão.
A pesquisa junto aos artigos nos forneceu opulento montante de dados. Percebemos que
seria necessário um modelo de apresentação capaz de garantir não só a exposição dos resultados,
mas também de transmitir a densidade dos elementos identificados. A exposição que o leitor
acompanhará em seguida propõe uma organização didática dos resultados encontrados.
No primeiro momento, nos dedicaremos a apresentar a definição categorial de cada um
dos indicadores utilizados, em seguida realizaremos a descrição e a análise dos dados. Quando
De partida, cabe situar que ao trabalhar os dados encontrados nos 56 artigos observamos a
necessidade de tratamento dos elementos “análise da realidade social” e “relação com a totalidade
social” em conjunto, pela própria imbricação que lhes é característica.
A observação do componente “análise da realidade social” implica em perceber um
nexo estrutural com a “totalidade”, estabelecendo as conexões entre as dimensões econômicas,
ideológicas e políticas. A análise da realidade social necessariamente traz o movimento de busca do
desvendamento do conjunto das relações estabelecidas entre os homens e da compreensão acerca
da totalidade da vida social, e atrela os problemas essenciais da sociedade ao modo de sua produção
e reprodução sociais.
Tonet (2006) situa, didaticamente, que a razão moderna é permeada por duas formas de
apreensão da realidade social: uma razão de caráter ontológico e outra de caráter fenomenológico. A
razão ontológica guarda suas origens no nascimento da filosofia e busca apreender o movimento do
mundo real, colocando-se como uma teoria geral do ser. Mais tarde, Marx empreende modificações
na forma de conceber a razão ontológica aristotélica, imprimindo a dimensão do ser social e o caráter
histórico-social (TONET, 2006).
Na busca por desvendar o movimento do mundo real, o conhecimento da essência da “coisa
em si”, Marx encontra na categoria “trabalho” a raiz do ato que funda o ser social. Assim, chegou-
se a duas ordens de observações: “a relação que os homens estabelecem entre si na produção dos
bens materiais será sempre, em qualquer forma de sociabilidade, [...] a raiz última da inteligibilidade
de qualquer fenômeno social” (TONET, 2006, p. 3); a realidade social constitui-se de uma totalidade
composta “pela unidade e pela multiplicidade, pela permanência e pela mudança, pela continuidade
e pela descontinuidade” (TONET, 2006, p. 4), formando uma totalidade concreta. É justamente essa
concepção de realidade que permite a compreensão de determinado fenômeno em sua dimensão
de totalidade, chegando à unidade entre essência e aparência, a fim de encontrar a coerência interna
da coisa em si.
De outra parte, a razão fenomênica remete à formulação kantiana. A filosofia de Kant
concebe a apreensão da realidade objetiva pela subjetividade, pela formulação lógico-abstrata,
partindo da observação de dados empíricos (COUTINHO, 2016).
A relação entre as categorias aqui descritas assinala que a totalidade prevê que a realidade
social se estabelece a partir de um complexo de causalidades, não possuindo assim uma causa
única. A totalidade permite a verdadeira compreensão dos fenômenos, pois busca superar sua
A perspectiva do trabalho do Campo Piloto, desde o seu surgimento, sempre foi a de atuar
junto aos movimentos reivindicatórios nos bairros periféricos, assumindo como premissa:
1) Que as mudanças sociais se dão a partir das contradições e confrontos entre interesses
antagônicos da população e do Estado, presentes nas situações concretas. 2) Que o
movimento de Loteamentos Clandestinos é consequência das contradições urbanas e do
modo de produção capitalista e expressa a insatisfação da população com o sistema vigente,
que não garante as condições mínimas de reprodução do trabalhador e de sua família. [...]
(Artigo 6, p. 132).
Enquanto a realidade social estampa, de maneira cada vez mais aguda, o problema da
exploração social da força de trabalho da população, o Assistente Social vem cada dia mais
caracterizando-se como mero executor de pautas de ação supostamente independente
desta realidade de exploração (Artigo 10, p. 85).
Os critérios utilizados pelo Serviço Social para elegibilidade dos casos são muitas vezes
questionados e por muitos considerados como altamente elitistas dentro da realidade social
brasileira e dentro deste Hospital-Escola, pois seleciona uma pequena parcela da clientela
para receber os benefícios do tratamento (Artigo 25, p. 157).
Houve ainda um terceiro grupo de 12,5% dos artigos em que não é possível identificar o
exercício de análise da realidade social.
No componente da “relação com a totalidade social”, consideramos a necessidade de
identificar o exercício de conhecimento do objeto a partir da busca da identidade dos elementos
postos na essência do fenômeno e do reconhecimento de que cada elemento é composto por uma
infinidade de coisas que, por sua vez, somente poderão ser apreendidas pela determinação do
significado de uma coisa em relação à outra.
Interessante observar que, reconhecendo a imbricação da “relação com a totalidade social”
com os elementos da “análise da realidade social”, os números aqui encontrados mostram uma
dificuldade maior de expressá-la na construção narrativa dos objetos pesquisados. Vamos aos números.
Identificamos a categoria “totalidade social” em um total de 51,8% dos artigos. Contudo,
as abordagens seguiram a mesma tendência de emprego da categoria anterior, variando no que diz
respeito à densidade de sua apropriação. Nesses termos, pode-se afirmar que 42,9% dos artigos
apresentam uma análise consistente quando relacionam seu objeto de discussão à totalidade da
vida social e outro grupo, perfazendo 8,9%, apresenta maior fragilidade na utilização da categoria
em destaque. O resultado total observado de autores que articulam sua discussão com a totalidade
fica em percentuais mais próximos daqueles que não estabelecem essa relação na sua construção
metodológica, 37,5%.
[...] temos claro que os limites e as possibilidades da participação são dados pelo modo de
produção, pela natureza do processo de desenvolvimento, pela posição que os indivíduos e
classes têm no processo produtivo (Artigo 16, p. 48).
É no bojo dessa crise que novas forças políticas e sociais emergem. A articulação e
reativação da sociedade civil ocorre dentro de um processo generalizado de oposição às
relações autoritárias e repressivas que perpassam a totalidade da vida social. Diversos
segmentos sociais lutam pelo exercício da cidadania, numa conjuntura que desencadeia a
reorganização do movimento sindical para além dos limites especificamente corporativos e
reivindicatórios (Artigo 33, p. 77).
Qualquer proposta que tente delinear o trabalho do Serviço Social, em uma perspectiva
ativa de apreender os interesses dos setores explorados, será incapaz de se tornar
hegemônica enquanto o funcionamento da ordem social atual não for substancialmente
alterado. Esse reconhecimento, além da utilidade explicativa, deverá contribuir para
revigorar a necessidade de fortalecer essa perspectiva de análise e ação para o Serviço
Social, resgatando a contribuição que pode ser fornecida - do trabalho profissional - ao
projeto popular34 (Artigo 52, p. 64).
Antes de mais, esta teoria (teoria social) articula-se sobra a perspectiva da totalidade: a
sociedade é apreendida como uma totalidade concreta, dinâmica e contraditória, que se
constitui de processos que eles mesmos possuem uma estrutura de totalidade – de maior
ou menor complexidade. A categoria da totalidade, nesta angulação, é simultaneamente
a categoria central da realidade histórico-social e a categoria nuclear da sua reprodução
teórica (Artigo 53, p. 92).
34
Tradução livre. Texto original: Toda propuesta que intente perfilar el quehacer del Trabajo Social, en una perspectiva activa de
ensamble real con los intereses de los sectores explotados, estará imposibilitada de convertirse en hegemónica en la medida que no
se altere sustantivamente el funcionamiento del ordem social vigente. Este reconocimiento, además de la utilidad explicativa, tendrá
que contribuir a vigorizar la necesidad de fortalecer esta perspectiva de análisis y acción para el Trabajo Social, rescatando el aporte
que se puede brindar - desde el quehacer profesional - al proyecto popular.
Trata-se de uma proposta que parte das necessidades de vida e de saber da própria
população e que pretende ajudá-la a refletir sobre sua saúde, de sua família e do grupo
social a que pertence. Nesse sentido, isola a perspectiva de enfoque das necessidades
meramente individuais e da análise da doença apenas do ponto de vista curativo. Amplia
a discussão desde o aspecto preventivo da doença, o que pressupõe uma reflexão mais
abrangente, correlacionada com a questão social (Artigo 24, p. 148).
os sujeitos um alvo das ações profissionais inserido na relação oposta entre as classes sociais. Nesses
trabalhos a argumentação se desenvolve no sentido de evidenciar que a situação de pobreza da
classe trabalhadora é resultado da apropriação privada da riqueza social pela burguesia.
O Serviço Social surge como um dos mecanismos utilizados pelas classes dominantes como
meio de exercício de seu poder na sociedade, instrumento esse que deve modificar-se,
constantemente, em função das características diferenciadas da luta de classes e/ou das
formas como são percebidas as sequelas derivadas do aprofundamento do capitalismo
(IAMAMOTO; CARVALHO, 2005, p. 19).
Numa primeira conclusão podemos destacar que o Serviço social possui um papel a
desempenhar independente da estrutura social. É obvio que a situação social e política
pode favorecer ou emperrar sua atuação. Isso porque os objetivos do Serviço Social podem
não ser coesos com os dos regimes políticos reinantes (Artigo 3, p. 59).
[...] o profissional de Serviço Social nas instituições é aquele que está sempre na
intersecção da política implementada pela instituição e os interesses da população usuária
(Artigo 24, p. 149).
Apenas três trabalhos (7,14%) trouxeram a concepção de profissão de forma menos explícita
em textos com o seguinte conteúdo:
[...] a prática do Serviço Social hoje está em transformação, precisando ser revista. Nesta
revisão, o exame e a análise do Serviço Social, enquanto ligado à política social do Estado,
e a do Assistente Social como um agente institucional, é um primeiro passo a ser dado
(Artigo 16, p. 51).
A concepção de ação profissional presente nos textos foi apreendida a partir de exposições,
dentre as quais destacamos os seguintes exemplos:
35
Tradução livre. Texto original: La dinámica contradictoria, en la que opera el Trabajo Social, determinará la función predominante
a cumplir por la profesión, en tanto tienda a respodner a las exigencias del ordem social vigente o bien, por el contrario, a los
requerimientos planteados por aquellos sectores que sufren las consecuencias del tipo de relaciones sociales hegemónicas. En
últimas, el trabajo social, la sociología, las ciencias sociales todas, se mueven siempre en una u otra alternativa: cuestionar o justificar
el orden social.
A análise dessa categoria também demonstrou a variabilidade dos níveis de sua apropriação
pelos Assistentes Sociais. Apesar de destacada na maioria dos textos, essa categoria não foi
problematizada, sendo exposta a partir do entendimento do autor. Vejamos os trechos a seguir,
nos quais identificamos maior fragilidade de apropriação a partir de uma menor exposição dos
fundamentos sobre os quais se assentou a elaboração:
[...]. A prática é a grande emoção do Serviço Social, o ápice das conquistas que esta
profissão divide com as populações e instiga nas políticas sociais e conjunturais. Dúvidas,
indefinições e desafios constituem a essência das práticas revolucionárias porque, uma vez
questionadoras e criadoras, não se submetem com repetição a planos estabelecidos [...]
(Artigo 38, p. 107).
É curioso observar que os artigos 9 e 33 foram escritos pelas mesmas autoras, em períodos
diferentes (1982 e 1985) e que, nesse caso, houve um aprofundamento teórico-metodológico na
elaboração do último artigo em relação ao primeiro. Esse fato ilustra o percurso de fundamentação
teórica trilhado pelos profissionais no decorrer da década de 1980.
Os trechos destacados demonstram, além dos diferentes níveis de apropriação dos Assistentes
Sociais sobre o significado da profissão, o entendimento comum sobre a inserção contraditória do
Serviço Social e também a possibilidade da profissão ter um direcionamento social diverso daquele
hegemonicamente posto pelas forças sociais dominantes. O último excerto ilustra a mudança ético-
política da profissão no momento histórico no qual os textos foram produzidos, tendo, posteriormente,
se tornado base para a construção do projeto de profissão hoje predominante na categoria.
pela demanda que originou sua produção, não se tratando, desse modo, de uma fragilidade dos
textos, mas de uma característica própria do seu modelo original. Importante destacar que 5,35%
dos dados referentes à bibliografia utilizada nos artigos houve prejuízo pela perda de informações
durante sua sistematização.
Em resumo, apresentamos os dados do eixo de análise “referências teórico-metodológicas”
empregado na pesquisa que buscou conhecer as bases teórico-metodológicas adotadas pelos
Assistentes Sociais na década de 1980 para o exercício da profissão a partir dos artigos publicados
na “Revista Serviço Social e Sociedade”. Nesse esforço, um grande volume de dados foi levantado
pela equipe de pesquisadoras, o que justifica sua apresentação através dos referidos eixos.
Apresentamos, além dos dados obtidos, as categorias fundamentais que nortearam o
estudo em questão, a fim de fornecer ao leitor maior clareza sobre os resultados do estudo em
destaque, bem como do processo reflexivo que envolveu a elaboração dos critérios para a análise
dos dados levantados. Buscamos por meio desse modelo de análise nos aproximar do universo
conceitual explorado pelos Assistentes Sociais na produção dos textos relacionados à profissão.
Observamos que os textos produzidos na década de 1980 expressam o esforço dos
Assistentes Sociais em buscar novas referências para o exercício profissional. Percebemos a
aproximação da categoria aos pressupostos da teoria social crítica e aos diversos autores vinculados
àquela tradição. Em muitos textos, as categorias orientadoras da pesquisa não são utilizadas de
forma aprofundada, ou mesmo precisa, como é comum observar nos trabalhos publicados em
revistas especializadas na atualidade. Contudo, o esforço de produzir material sobre a profissão
demonstra o compromisso daqueles profissionais em contribuir para a realização de um trabalho de
qualidade, em uma perspectiva crítica.
Assim, consideramos que os textos expressam o envolvimento dos profissionais no processo
que buscava uma nova forma de atuar, sintonizada com o movimento mais amplo da sociedade.
Refletir sobre a profissão a partir de sua própria realidade profissional não é uma tarefa simples,
ainda mais se pensarmos que, no período considerado, as referências teóricas do Serviço Social se
encontravam em um contexto de disputa por variadas correntes de pensamento, entre as quais se
destacou aquela representada pela teoria social de Marx, a qual ganhou força posteriormente e se
tornou a base teórico-metodológica da produção acadêmica do Serviço Social brasileiro nas décadas
de 1980 e 1990 e na primeira década do século XXI (YAZBEK, 2009).
36
Conforme escreve José Paulo Netto, em um artigo de 1989, “não nos enganemos, o Serviço Social não é marxista”. “O Serviço Social
sempre contemplará tal inclusividade [do marxismo]”. “Existem marxismos no Serviço Social”. O “Serviço Social seguirá diverso e
plural” (NETTO, 1989, p. 101).
Há uma busca por fundamentação, um esforço significativo para elaborar essas novas
referências no âmbito da produção acadêmica. Conforme os dados e as análises expostos no capítulo
2, essa busca dirige-se, significativamente, ao campo da teoria social de Marx.
Neste capítulo, caracterizaremos essa nova ação profissional crítica. No intuito de dar
visibilidade para a ruptura com a ação profissional tradicional, iremos contrastá-las e diferenciá-las
ao longo da argumentação.
A religião católica perde sua ampla hegemonia enquanto concepção de mundo das
classes dominantes – que se reflete, entre outras, no decréscimo de sua importância na
filosofia, no movimento intelectual em geral, no controle dos movimentos sociais – e na
sociedade civil, vendo evadir-se ou sendo expulsa de uma série de setores até então sob
seu domínio quase absoluto. De concepção global do mundo, reduz-se progressivamente
à ideologia de setores subalternos, tornando-se uma casta de intelectuais tradicionais
(CARVALHO; IAMAMOTO, 2005, p. 141).
37
Estimulada pela alta hierarquia católica (Enciclíca Aeterni Patris, Leão XIII), a construção da nova escolástica, o neotomismo,
procurará oferecer um calço mais consistente à Igreja nos seus confrontos, também pela vida da Doutrina Social, com a modernidade.
[Maritain]: [a doutrina social caracteriza-se] pela recusa frontal às propostas do movimento operário revolucionário e do socialismo;
uma programática que não se reduzia ao moralismo: a espiritualidade e a temporalidade, distintas, não são dissociáveis; a convivência
mundana deve desenvolver-se, inspirada pelo cristianismo, nos marcos de uma democracia que ultrapasse o liberalismo, assentando-
se em bases comunitárias” (NETTO, 2001, 125).
38
A vinculação da profissão ao movimento higienista (Higienismo, Europa segunda metade do século XIX) no Brasil, no início do Século
XX, tem sido apontada por alguns pesquisadores, tais como Eduardo Mourão Vasconcelos (2000) e Graziela S. Machado (2015).
39
Utilizamos o termo pioneiras para indicar as mulheres que exerceram um papel importante nos primórdios da organização do Serviço
Social no Brasil.
Contudo, de acordo com Netto (2001), o “Projeto Conservador da Ordem Burguesa”, ao qual
a instituição Católica aderiu no final do século XIX, desistoriciza e despolitiza o debate sobre a questão
social, colocando-se como o projeto final da sociedade, com capacidade de aperfeiçoamento, em
que há a possibilidade de atender a algumas demandas dos trabalhadores. Por isso, a estratégia é,
simultaneamente, reformista e conservadora.
A sociedade é vista pela Igreja como um todo unificado através das conexões orgânicas
existentes entre seus elementos, que se sedimentam através das tradições, dogmas e
princípios morais de que ela é depositária. Família, corporação, nação etc., os grupos
sociais naturais, são organismos autônomos e não apenas mera soma dos indivíduos que
os constituem, pois possuem uma unidade independente. Indivíduos e fenômenos sociais
coexistem, em coesão orgânica com a sociedade em sua totalidade.
Desse modo, a ação das pioneiras pautava-se na doutrina social da Igreja Católica e nas
concepções de sociedade, comunidade, família, nação, etc. divulgadas nesse meio. Na relação
estabelecida entre as pioneiras e os indivíduos e grupos com os quais elas atuavam, prevalece
um posicionamento conservador, pela perspectiva política de adesão às concepções e ao projeto
societário das classes dominantes.
No Serviço Social Tradicional, a consciência moral dos agentes está orientada pelo horizonte
humanista-cristão, pautado, originariamente, pela sua vinculação com a Igreja Católica. Olegna
Souza Guedes (2001, p. 1) destaca:
O Serviço Social apoiava-se em uma “terceira via”, entre o individualismo burguês – dou-
trina liberal – e o coletivismo – perspectiva socialista. O parâmetro da profissão era o aperfeiçoa-
mento da pessoa humana, com vistas ao seu fim supratemporal. Há, ainda, a ênfase no retorno ao
Nessa direção:
40
Netto refere-se às ciências sociais positivistas e funcionalistas como vinculadas ao pensamento conservador. Interessa indicar que
essa relação genética foi progressivamente se metamorfoseando, conforme os contextos sócio-políticos e cultural. Parece claro que a
institucionalização das ciências sociais, sua inserção acadêmica e sua incorporação a circuitos diretamente produtivos condicionaram,
em larga medida, essa metamorfose, gerando um espectro teórico-metodológico cuja diversidade é patente (NETTO, 2001, p. 142).
Desse modo, podemos entender sinteticamente, conforme Netto, que o Serviço Social
Tradicional consiste:
1. Direção da creche:
a) Posição assumida quanto às operárias que continuavam amamentando seus filhos durante
o horário de trabalho, ultrapassando o número de dias regulamentar definido para esse
mister pela legislação trabalhista:
• Encaminhamento ao serviço médico para a obtenção de dietas alimentares para as crianças.
• Encaminhamento à gerência dos nomes das operárias recalcitrantes na infração, e a
consequente ordem dos contramestres para impedir a saída das mesmas durante o horário
de trabalho.
Avaliação da AS: defesa da saúde das operárias e dos interesses legítimos da empresa, que
perdia muitas horas de trabalho.
b) Melhoria dos serviços da creche: encaminhamento das operárias que aleitavam para
controle de saúde pelo serviço médico, e serviço de lanche (banana ou laranja) para essas
operárias.
Avaliação da AS:
• Maior integração das operárias à empresa e aumento da produtividade.
• Queda do absenteísmo e maior estabilidade.
• Considera que o lanche serviria como incentivo a uma política demográfica.
c) Racionalização da assistência médica com integração do serviço de pediatria à creche;
alistamento das crianças para acompanhamento por esse serviço.
Avaliação da AS: melhoria do nível de saúde e diminuição do número de faltas para levar
crianças ao médico.
d) Aproveitamento das horas de aleitamento para aplicação de técnicas de educação popular
(círculos de estudo e palestras sobre assuntos de ordem econômica, moral e higiênica).
Avaliação da AS: melhoria na higiene e formação moral: regularização de casamentos,
abertura de cadernetas de poupança e apreensão de métodos bons e econômicos de
tratamento das crianças.
2. Visitas domiciliares: objetivo de conhecimento dos problemas do meio.
Avaliação da AS: auxílio na resolução de inúmeros problemas familiares; observação do
estado de conservação das casas e padrões de higiene, trabalho doutrinário com as famílias
católicas.
3. Articulação dos serviços anexos da empresa com os da comunidade, sindicato e movimentos
de aperfeiçoamento moral.
Avaliação da AS: articulação inteligente dos serviços existentes – “obter o máximo rendimento
possível com o mínimo dispêndio de tempo e material” e “melhoria do ambiente”.
4. Atuação a partir da campanha de erradicação da malária, mobilização das crianças para:
educação sanitária da criança e da família através da criança e desenvolvimento do “senso
social” das crianças.
• Manutenção da limpeza dos quintais e colaboração na vigilância dos campos e ruas da
localidade para impedir a instalação de focos de mosquitos;
• Organização de clube infantil e organização de equipes;
• Campanha para o plantio de hortas nos quintais.
Através desse resumo, é possível exemplificar a ação profissional tradicional. Há uma relação
vertical entre o Assistente Social e as trabalhadoras da fábrica, expressa na posição da profissional em
definir o que é melhor para as operárias, sem a participação delas. Nessa posição, também está presente
o assumir a requisição da empresa, exclusivamente. Manifesta-se o apoio institucional no trato com
as operárias, posto pela estruturação da creche para as mães operárias, mediante a necessidade da
empresa em relação ao trabalho das operárias – redução do absenteísmo, valorização da assiduidade.
Embora as ações beneficiem as mães operárias, favorecem bem mais o objetivo de
manutenção da produtividade, sem prejuízo para a empresa. Não há referência em nenhum
momento às operárias, às suas concepções e aos seus modos de vida. Noutra direção, abundam
referências à racionalidade empresarial, como um ambiente limpo e ordenado, livre de doenças.
A incorporação dessa racionalidade é condição para a formação e adaptação das trabalhadoras
à fábrica, à lógica empresarial. Ainda que, em certa medida, as ações beneficiem diretamente as
operárias, elas favorecem sua submissão à lógica do trabalho na sociedade capitalista, sem que seja
enfatizada a contrapartida desse processo: a necessidade delas e da sua força de trabalho para a
produção e o desenvolvimento da riqueza nessa sociedade.
Por outro lado, a referência à otimização dos serviços existentes na articulação com a
comunidade, o sindicato e os movimentos de aperfeiçoamento moral, revelam a perspectiva
de conciliação entre capital e trabalho, sem menção às contradições postas nas relações sociais
capitalistas. A dimensão pedagógica da ação profissional é permeada pela relação vertical e pela
ênfase no aprimoramento moral, e na perspectiva de conciliação entre trabalhador e patrão. Os
recursos técnicos seguem essa orientação pedagógica, verticalizada, e promovem a sujeição das
operárias à lógica fabril.
Vejamos, então, o que diferencia a ação profissional crítica e a ação profissional tradicional,
no âmbito de sua operacionalização.
às necessidades sociais do conjunto dos indivíduos é essencial para o consenso e a paz social.
A sociedade capitalista equacionou, de modo relativo, essa tarefa, “garantindo” os mínimos sociais,
mediante o tensionamento, as lutas e as pressões das classes trabalhadoras.
Essa é a requisição posta para o Serviço Social, em sua densidade contraditória. Desse
modo, ainda que os usuários não contratem diretamente o trabalho dos Assistentes Sociais, é para
eles e por causa deles que os equipamentos existem e, por isso, o Assistente Social tornou-se um
profissional necessário.
É nessa concretude que o Serviço Social pode responder a requisições potenciais dos
usuários, pode afirmar ou negar a sua organicidade com as classes dominantes, “nos limites de
uma prática histórica determinada” e nos “limites de uma profissão” (MOTA, 2010, p. 129). Para
Mota (2010, p. 147), é preciso uma postura política que reafirme a profissão, “incorporando na sua
problemática fundamental a defesa dos interesses dos trabalhadores: uma prática não tradicional
subordinada à luta da classe trabalhadora”.
No campo da empresa, para a construção de novas estratégias de ação, a autora indica que
é preciso “superar a relação formal entre empregado, empregador e empresa, situando-a na relação
concreta entre capital e trabalho”; “construir um quadro analítico que considere o trabalhador como
sujeito das relações sociais”; “analisar a organicidade do Serviço Social à empresa, incorporando
a dimensão política em sua prática profissional, reconhecendo-se [o Assistente Social] como
trabalhador qualificado” (MOTA, 2010, p. 150).
Para ela “a consideração do potencial negador do trabalhador como a real e verdadeira
requisição a que o Assistente Social deve responder, constitui a principal, senão a única, determinação
para a construção de uma nova prática do Serviço Social” (MOTA, 2010, p. 150). A autora considera
relevante a apropriação de referências teórico-metodológicas que permitam ao Assistente Social
apreender as contradições presentes nas requisições institucionais. Também ressalta a importância
da autopercepção dos Assistentes Sociais na condição de trabalhadores assalariados.
Conforme vimos no capítulo 2, na ação profissional crítica, ainda que essa clareza teórico-
metodológica não estivesse tão explícita, como no texto de Mota (2010), vários Assistentes Sociais
agiram nessa direção. Nesse sentido, o principal conteúdo teórico-metodológico presente na ação
profissional crítica, foi a análise da realidade social e análise institucional, que incluía a apreensão
da correlação de forças no âmbito sócio-organizacional, e a busca de alianças internas e externas,
considerando as demandas postas pelos usuários. Assim, os Assistentes Sociais deixam de reproduzir
e atender exclusivamente às requisições institucionais postas pelo empregador, passando a
questionar e a problematizar tais requisições, a partir das contradições que as constituem.
Por iniciativa própria, por opção e posicionamento ético-político, os Assistentes Sociais
alteram a sua relação com os usuários dos serviços, modificando suas estratégias político-
profissionais e, em decorrência, o manejo dos instrumentos e técnicas e dos procedimentos postos
pelas organizações/instituições. Ou em outras situações, são “forçados” a fazê-lo por pressão dos
grupos e movimentos sociais que tensionavam as respostas profissionais limitadas às requisições do
A autora Maria Beatriz L. Herkenhoff trabalhou como Assistente Social inserida em empresa
nacional, de economia mista e de grande porte. No artigo, o objetivo foi, em suas palavras:
[...] demonstrar, através da descrição de minha prática, que o fortalecimento das metas
41
Revista Serviço Social e Sociedade, n. 23, abril/1987. A autora, Maria Beatriz L. Herkenhoff, possui graduação em Serviço Social
pela Universidade Federal do Espírito Santo (1978), mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (1994) e
doutorado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004). Professora aposentada do Curso de Serviço
Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Professora do Programa de Pós Graduação em Política Social da UFES. Tem
experiência na área de Serviço Social, com ênfase em Política Social, atuando principalmente nos seguintes temas: movimentos
sociais, ONGs, participação social e política social. Informações coletadas do Lattes em 03/06/2016.
[...] necessariamente polarizada pelos interesses de classes, tendendo a ser cooptada por
aqueles que têm uma posição dominante [...] participa tanto dos mecanismos de dominação
e exploração como, ao mesmo tempo e pela mesma atividade, dá resposta às necessidades
de sobrevivência da classe trabalhadora e da reprodução do antagonismo nesses interesses
sociais [...] reforçando as contradições que constituem o móvel básico da história. [...] A
partir dessa compreensão é que se pode estabelecer uma estratégia profissional e política,
para fortalecer as metas do capital ou do trabalho (HERKENHOFF, 1987, p. 123).
Nesse sentido, houve uma descentralização do Serviço Social com a realização de reuniões
periódicas com os empregados, envolvimento dos empregados nas decisões e participação do
cotidiano dos empregados – aproximação dos locais de trabalho. Segundo ela, “para os empregados
(como um todo), deslocar-se até o Serviço Social é praticamente impossível. Atuando no local de
trabalho, o [Assistente Social] torna-se mais acessível e tem um retorno mais constante da direção
que está sendo imprimida; a avaliação é quase diária” (HERKENHOFF, 1987, p. 126-127).
Assim, a autora também destaca: o acompanhamento de casos alcoólicos (saúde mental),
CIPA, Festas, Comissão esportiva, “Operário-Padrão”, palestras educativas, reuniões sobre
condições/relacionamento de trabalho e moradia (alojamento), treinamento em relações humanas
para os novatos, melhoria da alimentação, transporte coletivo, acompanhamento de programas de
habitação, domingos de lazer, atendimento odontológico, palestras preventivas (SESI), readaptação
funcional, cooperativa de crédito, intervenção em conflitos de relacionamento.
A autora ainda considera que “os empregados devem criar seus próprios instrumentos
de reivindicação, como comissões de fábricas, representações sindicais e outros” (HERKENHOFF,
1987, p. 125). O Assistente Social, como trabalhador, pode lutar por melhores salários, mas, “neste
momento, ele deixa o papel que ocupa na empresa, como intermediário entre as classes, para
desempenhar o seu papel no processo de produção, onde é também um assalariado que vende
sua força de trabalho, quando se engajará junto aos trabalhadores no processo de luta econômica”
(HERKENHOFF, 1987, p. 135).
Na mesma década, como vimos, Elisabeth Melo Rico, em “Teoria do Serviço Social de
empresa: objeto e objetivos”, apresenta a pesquisa realizada com operários metalúrgicos, em 1977,
também em uma empresa de porte médio, situada na grande São Paulo42. Os temas abordados
no livro indicam um diálogo estreito com o Movimento de Reconceituação do Serviço Social na
América Latina. Fazem parte das referências da autora para a ação profissional a experiência chilena
e as proposições de Boris Alexis Lima – “Contribuições à metodologia do Serviço Social” – e Natálio
Kisnerman – “Serviço Social Pueblo”.
A organização dos temas apresenta-nos tal focalização ao expor as diferentes concepções
e propostas de ação/funções para o Serviço Social na empresa elaboradas pelo grupo GESSOT, pelo
grupo Meta, pela Fundación Servicio Social en la empresa e pela experiência do Serviço Social nas
empresas no período da unidade popular no Chile – Monica Casalet, “Trabajo social y participación
obrera: La experiência de Chile”. O posicionamento da autora evidencia sua posição política, sua
intenção de “colocar a profissão a serviço das classes trabalhadoras” (MELO RICO, 1985, p. 12,
prefácio da autora). Para ela, seu tema:
[...] foi se esboçando a partir daquilo que é fundamental no Serviço Social: a prática.
Investigar as necessidades do trabalhador [operário], que surgem no processo de relações
sociais, área que numa primeira aproximação pode ser considerada como objeto genérico
do Serviço Social [sendo o] objeto do Serviço Social: o homem em suas interações com o
meio social (MELO RICO, 1985, p. 13).
Para Melo Rico, “determinar o objeto do Serviço Social é uma questão histórica (variável no
momento histórico)”. “É preciso ter claro que os objetivos do Serviço Social estendem-se por todo o
quadro institucional da empresa, porém, dependendo de como são delimitados, eles poderão servir
mais aos interesses de um grupo do que de outro” (MELO RICO, 1985, p. 15). A autora relata, sobre
o “perfil do operariado” nesse período, que:
Em 1978 ocorre a primeira greve operária desde a instauração do regime militar, apesar dos
anos negros da repressão. De lá para cá tem-se tornado comum expressões de reivindicação
popular e manifestações contra a carestia, o arbítrio, a censura, o autoritarismo. Sindicatos
de trabalhadores até então somente controlados pelo Estado passam a serem assumidos por
autênticas lideranças trabalhistas. Nós mesmas, como Assistentes Sociais e trabalhadores
42
O trabalho de pesquisa foi apresentado em dissertação de mestrado – PUC, defendida em 1980. Nesse ano, Melo Rico foi trabalhar
com professora da PUC-SP.
assalariados, temos constantemente nos revoltado contra um estado de coisas “que não
dá mais”. Não falo pela categoria profissional, nem pela maioria do povo brasileiro, mas
por números cada vez maiores de colegas que percebem que é só através da associação,
da organização que teremos condições de buscar as respostas para alcançar melhores
condições de vida. Enfim, o momento é outro e exigiria começar de novo. E começar, a meu
ver, é um ato constante diante da vida, portanto, recomeçar (MELO RICO, 1985, p. 16).
[...] ao mesmo tempo em que [...] não se coloca contra o capitalismo, muitas vezes tem-se
colocado contra a ordem social e a política global, que lhe é adversa. Não no sentido de crítica
direta, de tomada de posição, de exigências de mudanças que tenham como consequência
um maior bem-estar. Mas, no sentido de que “sente” na própria pele as consequências desta
estrutura socioeconômica e política: o analfabetismo, a mortalidade infantil, a precariedade
habitacional, a falta de uma alimentação adequada, a saúde deficiente, os problemas de
comunicação, enfim, a falta de renda suficiente (MELO RICO, 1985, p. 38).
Devo ressaltar minha dificuldade em relacionar os dados concretos obtidos sobre o cotidiano
da classe operária com as alternativas de ações para o trabalho social em empresas (incluindo
a delimitação de objeto e objetivos). Sem dúvida, este não é um movimento fácil e nem se
esgota com este trabalho. Sou uma profissional, fruto do momento por que passa a profissão;
portanto, a posição assumida quanto à delimitação de objeto e objetivos apresenta alguns
impasses. Um deles é a relação entre trabalho social (profissional) e trabalho político, que
me parece um ponto para a reflexão, em vista desses aspectos estarem juntos no cotidiano
da vida pessoal e profissional. Um outro aspecto é a relação entre o método de análise
utilizado e a dificuldade de operacionalizar uma proposta consequente de teoria/prática, de
conhecer/agir (MELO RICO, 1985, p. 21).
Optamos por ter como ideal os objetivos do Serviço Social, preconizados por Boris A. Lima e
discutidos por nós. É preciso que o Serviço Social de Empresa defina em que níveis cada um
daqueles objetivos pode ser aplicado à prática profissional. A nosso ver, o Serviço Social de
Empresa intervém nas diversas situações que reproduzem a relação homem-trabalho, visando
a organização, a participação, a mobilização de indivíduos e grupos na gestão de recursos
da empresa e da comunidade. Para a prática profissional do Serviço Social de Empresa, é
preciso destacar em que níveis estes objetivos podem ser alcançados. Importante mencionar
que a postura teórica do profissional fornece o conteúdo àqueles objetivos. Ao falarmos de
conscientização, por exemplo, podemos desenvolver um programa na área de saúde sobre
“doenças mais frequentes no inverno”. Vamos supor que as atividades sejam feitas à base
de palestras e orientações sem nos preocuparmos em discutir questões como: ‘por que as
pessoas sofrem mais de gripes e amigdalites, nessa época do ano? É problema de estação
(inverno) ou é problema de falta de resistência orgânica? Por que não temos resistência
orgânica? O que fazer? O que os operários propõem? [...] A consciência, a participação e a
organização do operário devem ser obtidas através do exercício das experiências fornecidas
pelos programas de Serviço Social. O operário deverá saber fazer uso daquelas experiências
conforme seus interesses. O Assistente Social trabalha para o operário, seu objeto específico
de intervenção, na realidade da empresa, seu campo institucional. Não deve ser mediador
[crítica à concepção corrente à época de mediação enquanto equilíbrio entre os objetivos
da empresa e do empregado]. Trabalha na instituição de acordo com os seus objetivos,
porém tem meios de, ao definir claramente os seus, saber usar dos espaços institucionais.
Isto é contraditório, mas não mediador (MELO RICO, 1985, p. 107-108, grifos nossos).
A autora oferece exemplos de ações mais “abertas” à perspectiva [crítica] do Serviço Social
na empresa, que inclui: Programas de prevenção de acidentes (Ministério do Trabalho) como a
CIPA; [Gestão da] alimentação, restaurante, atividades de lazer: envolvimento dos operários na sua
gestão, desenvolvendo as ações através da formação de comissões de operários (MELO RICO,1985,
p. 108). Melo Rico conclui:
Embora nossa intenção neste trabalho não seja discutir programas, verificamos, através
da nossa vivência, a possibilidade de se colocar em prática níveis da proposta com a qual
concordamos. Parece-nos, também, uma questão de ocupar espaços e saber encaminhar os
problemas. De qualquer forma, delimitamos objetivos para a intervenção do Serviço Social
de Empresa que impõem desafios ao profissional. Preferimos, assim, assumir a contradição
do nosso trabalho como Assistente Social de empresa. Não concordamos com o Serviço
Social conformista. A História nos ajudará na criação de um novo Serviço Social de Empresa.
Preferimos o desafio que a prática nos impõe. Vivendo na contradição, descobriremos
alternativas. Isto também a História tem demonstrado (1985, p. 109, grifos nossos).
contradição, tanto para o fortalecimento das lutas empreendidas pelas classes trabalhadoras, quanto
pelas ofensivas das classes dominantes. Trata-se, na ação profissional crítica, de compreender
essas contradições e agir estrategicamente, construindo respostas factíveis em cada contexto.
Nessa direção, pensamos que a dimensão política da ação profissional relaciona-se à funcionalidade
do Serviço Social na sociedade capitalista e à contradição que a fundamenta.
Em contraste com a ação tradicional, a ação crítica carrega uma “autoconsciência” dos
dilemas profissionais e, também, a possibilidade de posicionamento diante deles. A condição
concreta para a efetivação da ação profissional crítica não pode ser ignorada. O Assistente Social
constrói suas respostas profissionais inserido em espaços concretos, com sujeitos reais, e sua
habilidade estratégica, e técnico-operativa, se realiza nessas condições.
Nas reflexões das autoras, essa concretude está presente todo o tempo. Elas analisam as
possibilidades da ação crítica no cotidiano do trabalho profissional na empresa. Também são capazes
de efetivar ações diferenciadas, incluindo nos procedimentos, projetos e programas institucionais
coordenados pelo Serviço Social, propostas que dialogam com os trabalhadores e a construção de
espaços onde a reflexão torna-se possível. Elas rompem com a apreensão unilateral da requisição
institucional e incluem a contradição e a possibilidade de construir algo novo nesse processo.
Ao mesmo tempo, há uma superação do “viés militantista” presente no Movimento de
Reconceituação, como expressa a crítica de Melo Rico à metodologia proposta por Boris A. Lima.
Também é importante atentarmos para a crítica à necessidade de formular o “objeto” e os “objetivos”
do “Serviço Social de empresa” – denominação utilizada na época. A argumentação de Melo Rico
questiona esses conteúdos e conclui por uma compreensão em “aberto” do que seria uma “ação
profissional crítica”. Já no artigo de Herkenhoff, conforme evidenciamos, há uma positividade e
uma segurança da autora na “ação profissional crítica”, assim como uma clareza dos limites e das
possibilidades postas para essa ação.
No decorrer dos capítulos, explicitamos que a ação profissional crítica emerge em oposição
e ruptura com a ação profissional tradicional. Isso quer dizer que a negação da ação profissional
tradicional foi um elemento característico da ação profissional crítica. Diferenciar-se do que faziam
os profissionais até então era parte da ação profissional crítica.
Vimos também que a ação profissional crítica fundamenta-se no posicionamento ético-
político assumido pelos Assistentes Sociais no processo de efervescência social, desde o final dos
anos 1970 e no decorrer dos anos 1980. A emergência da ação profissional crítica é perpassada pela
busca de novas referências teórico-metodológicas. Mas, um dos recursos utilizados em um primeiro
momento também foi a crítica aos fundamentos doutrinários, filosóficos, teórico-metodológicos
que sustentavam a perspectiva tradicional no Serviço Social.
As experiências enfatizam estratégias e operacionalização semelhantes, envolvendo,
inclusive, o trabalho de “base” com os usuários dos serviços, com ênfase na reflexão e na compreensão
da realidade social, em relação às suas demandas e necessidades.
Na empresa, esse viés aparece na proposição de espaços coletivos, considerando a análise
e apreensão do operário sobre as suas condições de vida e de trabalho. É interessante que as autoras
ressaltam, na perspectiva dos trabalhadores, a postura reivindicativa daquele período em relação ao
Estado. Ao mesmo tempo, também indicam, especialmente Melo Rico, a ausência de uma postura e
organizações “revolucionárias”.
Os limites à ação crítica, considerando as contradições que perpassam as requisições para
o Serviço Social, também são postos pela organização política dos trabalhadores e dos projetos
societários empreendidos pelas classes trabalhadoras em cada período histórico. Não cabe ao
Assistente Social reivindicar para si, individualmente, uma liderança em relação aos usuários dos
serviços, em prol das demandas e necessidades deles. Isso seria um equívoco ético-político.
Desse modo, o trabalho de “base” vai ao encontro daquilo que precisa ser construído, e
que no âmbito sócio-organizacional, nos equipamentos disponíveis, há limites para equacionar. Ele
se torna relevante porque as necessidades sociais ultrapassam a capacidade dos serviços ofertados.
Assim, é preciso construir alternativas sociais para atendê-las. O compromisso dos Assistentes Sociais
com os usuários implica em chegar a esse ponto, ainda que nos limites de uma profissão, atentando
para a própria condição de trabalhador assalariado.
A reflexão sobre a realidade social abre a perspectiva de ação dos usuários na condição
de sujeitos, e aos Assistentes Sociais abre a perspectiva de ver as necessidades deles atendidas.
Não obstante, os Assistentes Sociais na condição de trabalhadores, cidadãos e sujeitos históricos,
podem se inserir e participar efetivamente da construção de novas alternativas sociais, assim como
o conjunto dos demais indivíduos sociais.
O conteúdo dos textos examinados neste livro – sustentado nas ações desenvolvidas e
analisadas pelos Assistentes Sociais brasileiros ao longo da década de 1980 – integra a base efetiva
para a formulação do Código de Ética de 1986 e de 1993.
Embora muitas produções na atualidade contribuam para a afirmação da ação profissional
crítica, a partir do referencial teórico crítico, histórico-dialético, inspirado ou apropriado na tradição
marxista, essa busca de fundamentação ainda está em curso.
Hoje, visualizamos um conjunto de processos sociais, que podem corroer essa base. A
ameaça contínua à democratização, com a desconstrução da concepção de direitos sociais, até
mesmo no âmbito das ciências sociais, bem como o ataque sistemático às conquistas alcançadas na
década de 1980, tal como a efetivação da seguridade social, são exemplos explícitos. Assim, também
o recuo no processo político-organizativo das classes trabalhadoras, fragiliza a luta de classes e
favorece os interesses das classes dominantes.
Tais processos dificultam a ação crítica, no âmbito da profissão. Os limites tornam-se
mais evidentes do que as possibilidades. Entretanto, a contradição continua presente, e nela há a
possibilidade de criar panoramas alternativos ao horizonte social hegemônico e de agir, de modo
articulado, para a satisfação das necessidades sociais postas pelo conjunto dos indivíduos. Ainda
que através de mediações mais complexas, o solo histórico continua exigindo e nos desafiando a
construir alternativas melhores para a humanidade em seu conjunto.
Só há alternativa se criarmos alternativas, coletivamente. No processo histórico, ela não
está garantida, mas pela ação coletiva dos sujeitos, ela pode ser construída.
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Apêndice C – Roteiro para análise dos artigos da Revista Serviço Social e Sociedade no
período de 1980 a 1989
Título do artigo:____________________________________________________________
Nome do autor:____________________________________________________________
Vinculação sócio-institucional do autor:_________________________________________
Tema da revista:____________________________________________________________
Número e ano da revista:_____________________________________________________
Objetivo do artigo: __________________________________________________________
Procedimentos metodológicos: _______________________________________________
1. Referências teórico-metodológicas:
Apêndice D – Lista de títulos dos artigos analisados, por ordem numérica referente ao ano
e número da Revista Serviço Social e Sociedade no período de 1980 a 1989
Temas Abordados F %
*Prática Profissional do Serviço Social 30 10,53
Saúde 20 7,02
Participação Social/Participação Popular 17 5,97
Movimentos Sociais Populares/Movimento Operário/Gestão Popular 17 5,97
Política Social 16 5,61
*Formação Profissional/Currículo/Ensino/Estágio 15 5,26
Trabalho Comunitário/Desenvolvimento de Comunidade 12 4,21
Pesquisa/Produção do Conhecimento 11 3,86
Família 9 3,16
Criança e Adolescente 8 2,81
*Organização Política dos Assistentes Sociais 7 2,46
Educação Popular/Organização Popular/Cultura Popular 7 2,46
Modelo Funcional/Teoria Funcionalista/Positivismo 7 2,46
*A Profissão Serviço Social 6 2,11
Política de Assistência Social 6 2,11
Questão agrária/Agrícola/Reforma agrária/Serviço Social Rural 5 1,76
Ideologia/Poder/Hegemonia 5 1,76
Estado de Bem-estar Social 4 1,4
*Serviço Social de Empresa 4 1,4
Pobreza/Exclusão Social 4 1,4
*História do Serviço Social 4 1,4
*Supervisão em Serviço Social 4 1,4
Democracia 4 1,4
*Metodologia do Serviço Social 3 1,05
Classes Populares/Classes Subalternas 3 1,05
Trabalho Social/Prática Social 3 1,05
Trabalho 3 1,05
Estado 3 1,05
Movimento de Mulheres/Feminismo 3 1,05
Planejamento 3 1,05
Política Habitacional 3 1,05
* Reconceituação do Serviço Social 3 1,05
Outros Temas 36 12,63
TOTAL 285 100
Fonte: SILVA, Maria Ozanira da Silva e. Trinta anos da revista Serviço Social & Sociedade: contribuições para a construção
e o desenvolvimento do Serviço Social no Brasil, Serviço Social e Sociedade, n. 100, p. 599-649, 2009 (p. 604).