Barriga de Aluguel Por Acidente
Barriga de Aluguel Por Acidente
Barriga de Aluguel Por Acidente
Barriga de Aluguel
por Acidente
2ª Edição
Este livro contém situações adultas. Não recomendado para menores de 18 anos.
Esta edição inclui como brinde 10 capítulos gratuitos do livro O Amante do Tritão.
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Sumário
Sumário
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Epílogo 01
Epílogo 02
O Amante do Tritão
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Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
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Capítulo 01
Talita
Apenas duas clientes lavando o cabelo nas pias do fundo e mais outra
depilando a virilha nas cabines. A maioria da equipe estava desocupada,
conversando em rodinhas e tentando escapar do mau humor da dona Henrica,
que fazia o controle de caixa atrás do balcão.
Eu gostava de trabalhar no Capilair porque era exatamente o tipo de lugar
perfeito para mim: Nem simplório demais, nem muito chique. Nem muito
pequeno, nem grande como os megassalões que eram a nova moda entre as
dondocas da alta sociedade. Era apenas um salão comum a duas quadras do
Parque Municipal, com atendentes comuns e clientes igualmente comuns.
Mais um entre milhares de pontinhos no Google Maps se você procurasse por
centros estéticos, e o lugar perfeito para uma manicure de trinta anos seguir
sua vidinha simples e sem complicações.
Bárbara cutucou meu braço e me fez voltar ao mundo real. Percebi que o
chiado constante não era o secador de cabelo, mas a conversa incessante da
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minha melhor amiga, que terminava de pintar a unha de uma cliente com
longos cachos platinados, na mesa ao lado da minha.
“Como assim, concorda? Aliás, claro que concorda. Trinta anos e ainda
sem filhos, logo vai dar graças a Deus por existir uma clínica dessas, escuta o
que estou dizendo”, disse ela.
“Em que planeta você está hoje, Talita? Da clínica nova que abriu na
quadra ao lado. Clínica de Fertilidade Divino Fruto. Eles têm todo tipo de
tratamento lá. Bebês em tubos de ensaio, terapia sexual, têm até máquinas no
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banheiro dos homens pra isso aqui ó.” Bárbara subiu e desceu a mão,
dispensando qualquer explicação a mais.
“Como você tem coragem de entregar seu bebê? Você carrega na barriga
por nove meses e depois tchau e já vai para o próximo casal, é isso?”,
perguntou Bárbara, mais curiosa que indignada.
A cliente sorriu com paciência, massageando o ventre com cuidado para
não estragar as unhas frescas.
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“Ah! Encontramos a solução pra você, Talita.” Bárbara riu tanto que
quase borrifou o spray secante nos olhos da cliente. “Minha amiga aqui odeia
homens. Está criando teias lá embaixo.”
“Babi!”, resmunguei, repreendendo-a. “Eu não odeio homens, eu só…
não tenho tempo para eles. Uma mulher não pode ter prioridades além de um
marido e filhos?”
“Já falamos sobre isso, Babi. Não quero filhos e homens só servem pra
incomodar.”
“Eu sei, mas… ah, já terminamos, querida.” Bárbara contornou a mesa e
ajudou a cliente a vestir a bolsa sem estragar as unhas. “Espero te ver
novamente aqui no Capilair.”
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“Pense a respeito. Você não quer bebês, mas muitos casais adorariam ter
essa oportunidade. Beijo, meninas!” Jéssica mandou um beijo e deixou o
salão, rebolando seu corpo de grávida como se fosse um troféu.
Eu mantive o olhar no cartão. Parecia interessante… até Bárbara arrancá-
lo das minhas mãos.
“Não acredito que está pensando sério! Talita, seus óvulos estão pingando
de você como uma torneira quebrada e você quer ter ainda menos?”,
perguntou Bárbara.
Eu dei de ombros e deixei que ela jogasse o cartão no lixo. Doar óvulos
parecia incômodo e eu tinha outras preocupações em mente… como os novos
episódios de Sob a Luz do teu Olhar.
Ignorando o falatório da Bárbara eu conectei meu celular no wi-fi do
salão e abri o aplicativo de filmes. Antes que eu encontrasse meu precioso
seriado, porém, o sino de vento tocou na porta de entrada e todo o salão se
calou. Até Bárbara ficou muda e me deu uma cotovelada para que eu olhasse.
Ah… droga.
O cliente nada habitual da semana passada havia retornado.
Alto, ombros largos, peitoral definido e terno de grife sob medida com
uma gravata de seda. A barba por fazer modelava perfeitamente o queixo
quadrado e o cabelo preto ondulava por cima das orelhas, volumoso e
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Janluque pagou a sessão com uma nota de cem novinha e pediu que dona
Henrica ficasse com o troco, tudo isso enquanto ignorava ser o centro das
atenções. Para ele, atrair olhares devia ser natural como respirar.
Ah, então era Jean-Lucc o nome dele. Hum. Jean-Lucc... era um nome
gostoso de pensar, dava vontade de falar em voz alta pra sentir as sílabas na
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língua.
Que inferno.
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Capítulo 02
Talita
“Gosto do que fez no cabelo. Como chamam isso, megahair?” Ele esticou
a mão e tentou tocar uma mecha sobre o meu peito. Recuei antes que
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conseguisse.
“Oh, pelo contrário, senhorita Talita.” Ele aumentou o sorriso. “Sei fazer
excelente uso das minhas mãos.”
Eu deixei cair o pote de acetona e ele começou a rir.
“Deixa que eu pego.” Ele começou a se abaixar e eu fui mais rápida. Não
queria dever favores a ele, por menores que fossem.
Eu me contorci até alcançar o pote sob a mesa. Meu olhar escapou aos
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seus sapatos. Verniz reluzente sobre o couro preto e uma fivela dourada da
Louboutin. Que exibido.
“Sob a luz do Teu Olhar. Nunca assisti isso. É bom?”, perguntou ele,
enquanto vasculhava meu histórico na Netflix.
“Me devolve isso!” Levantei a voz, quase esquecendo que ele era um
cliente. “Digo… por favor, senhor?”
“Devolvo se me chamar de Charles.” Ele mordiscou o lábio, causando
suspiros nas outras mulheres e uma rosnada frustrada em mim. “E se aceitar
ter um encontro comigo.”
Que sem vergonha. E dessa vez todo mundo ouviu! Com certeza ele falou
alto de propósito e eu já previa a bronca que levaria de todas por rejeitá-lo.
Mas esse tipo de homem não me enganava. Em algum momento o riquinho
mimado me deixaria em paz, aprenderia que não é não.
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“Sou um homem que curte diversão, Talita. Deveria aprender sobre isso.”
Ele deu de ombros, sem se importar minimamente com minha descoberta.
“Um único encontro no seu restaurante favorito. Ou podemos passear à beira
mar, ou assistir essa sua novela estranha e cafona na minha mansão.”
Eu soltei a lixa antes que não sobrasse nada daquelas pontas de dedos e
abri o mesmo esmalte da última vez. Era o único esmalte masculino no meu
estoque, transparente e um pouco brilhante.
“Não diria que gosto ou não de você, Janluque.” Eu mordi a língua, mas
Jean-Lucc apenas riu do apelido. “Mas sei por que está aqui. Apenas porque
eu disse não da última vez.”
Fechei meus lábios num asterisco, sentindo o sangue ferver. Bem, pelo
menos o palhaço era sincero.
“Não vai acontecer, Janluque. Meu não continua sendo não, mas desejo
boa sorte. Não será difícil que alguém como você encontre mulheres mais
fáceis.”
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“Não! Qual é a lógica dentro dessa sua cabeça?” Eu bati a mão em uma
unha recém pintada e precisei passar acetona e recomeçar. “Nós nunca vamos
sair, não sou esse tipo de pessoa.”
“Nem para um cafezinho?” Tentou ele, manso como um gato pedindo
colo.
“Tenha um bom dia.” Eu joguei meus cachos loiros para trás. “E cuidado
com o que faz das mãos. A tinta ainda demora um pouco a secar.”
“Meus dedos serão como uma pluma, Talita.” Ele enfatizou meu nome,
uma última tentativa desesperada de dissolver meu bom senso. “Se mudar de
idéia, encontrará sobre mim na minha página da Wikipédia.”
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“Essa mulher não toma vergonha na cara!” Dona Henrica deu outra volta
pelo salão, exasperada. “O cara é rico, lindo, e ela ainda esnoba o coitado?
Você não assiste televisão, Talita, meu bem? O cara é dono de metade desta
cidade!”
“Por isso mesmo não quero sair com ele. Conheço esses ricaços mimados,
dona Henrica. Estão acostumados a ter tudo e não manter nada. Eu seria
apenas uma diversão de fim de semana”, falei.
“Um fim de semana maravilhoso!”, Dona Henrica me corrigiu, tão
vermelha quanto seu vestidão de chita. “Pretende morrer sozinha, Talita? Se
um homenzão como Charles Jean-Lucc não é bom o bastante, então seu
homem perfeito simplesmente não existe.”
Dona Henrica encheu outra xícara de café e bebeu largos goles. Até para
uma senhora de setenta anos ela parecia velha. Talvez fosse o vício em
cigarros e fritura, mas ela nunca foi exatamente… bem dotada de beleza.
Depois que o marido morreu nunca conseguiu outro homem, então era só
falar de macho que ela subia pelas paredes.
Eu já havia defendido meu ponto de vista muitas vezes, mas busquei
paciência e me repeti pela milésima vez.
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“Prefiro esperar o homem certo. O ricaço metido é bonito, mas quero ser
especial para alguém. Algum dia vai surgir o homem perfeito que assista
filmes comigo, e prepare almoço juntos, e me beije sob as chuvas de verão.”
“Não, você também, Babi? Já entendi, não vou ser jovem, bonita e fértil
para sempre. Mas por que ter família é tão importante? Eu nem quero ter
filhos! Lembra quando te visitei e tentei pegar o Bruno no colo? Ele ainda
tem a cicatriz no braço.”
“Lembro bem, Talita. Mas foi um acidente. Se todo mundo que comete
acidentes escolhesse deixar de se reproduzir, não existiria mais raça humana.”
Ela riu. “E nós duas sabemos que é apenas uma desculpa. Em algum
momento você vai ter que acordar e perceber que aquele menino nunca
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existiu.”
“Você sabe que eu não lembro. Eu era uma criancinha, mas já sabia
reconhecer um homem de verdade, tá bom? Eu não tive a sorte dele em ser
adotada, mas cresci sabendo valorizar trabalho e esforço, e conheço a
sensação de ser especial para alguém. E é por isso que não posso sair com um
metidão mimado que sempre ganhou tudo em uma bandeja de ouro!”
“Tá certo, Talita…” Bárbara balançou a cabeça como se falasse com uma
doida. “Passe a vida esperando o seu homem perfeito, tão perfeito que ele
nunca tentou te procurar.”
Meu peito apertou. Droga, eu não queria ouvir isso. Não da Bárbara.
Bárbara percebeu que eu estava prestes a chorar e veio até mim. Ela me
abraçou.
“Desculpa, estou apenas preocupada, Talita. Você é romântica e esperta,
não quero que gaste a vida procurando o que não existe.” Ela afagou meu
cabelo. “Amanhã mesmo vou falar com as meninas e mandar que esqueçam
essa história.”
“Deixa, logo vão cansar do assunto. Pode voltar pra casa que eu termino
de trancar o salão.”
“Tem certeza?”
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Eca. Aquele realmente não era o meu dia. Frustrada por perder ainda mais
tempo eu busquei a vassoura ao lado da lata de lixo, e por acaso meu olhar
desceu para um papelzinho amassado lá dentro, em meio aos frascos vazios.
Temerosa, eu me abaixei e peguei aquela coisa. Era o cartãozinho da
Clínica Divino Fruto. A logotipo era um bebê dentro de uma maçã dourada, e
logo abaixo havia os números de telefone.
Hum… Eu não queria filhos, mas aquela cliente estava certa, muitos
casais queriam e não podiam ter. Talvez doando meus óvulos eu ganhasse
moral com as meninas. Ou pelo menos elas parariam de me encher o saco
sobre meu relógio biológico. Afinal, tecnicamente eu teria filhos, certo?
Eu comecei a rir da minha própria ideia absurda. Era loucura, mas não
deixava de ser uma boa ação. Não custava nada fazer uma visitinha e
descobrir como funcionava.
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Capítulo 03
Jean-Lucc
“E é por isso que preciso voltar lá, Gegê. Não percebe que minha honra
está em jogo? Um Jean-Lucc sempre consegue o que quer, e neste momento
eu quero Talita Borges.” Eu sorri com o canto da boca e me inclinei para
frente, abanando os dedos diante da cara dele. “E minhas cutículas ficam
ótimas assim, não concorda?”
George estapeou minha mão antes que batesse o carro e seguiu adiante
para a mansão.
“A papelada dos advogados não se preencherá sozinha, e hoje parece o
dia ideal para discutirmos um certo assunto, patrão.”
Meu desejo em ver Talita queimava dentro de mim. Não apenas vê-la, eu
queria desmanchar aquela expressão arrogante com a minha boca, perder meu
rosto em seus cachos macios e conhecer o som de seus gemidos. Mas George
já me aborrecia sobre os advogados há semanas, e sobre certo assunto por
ainda mais tempo. Talvez eu devesse ceder apenas daquela vez.
Afinal, eu também tinha certa ansiedade em revelar minha surpresa para
ele.
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Meu sangue ferveu e minha respiração acelerou. Mas que raiva! Dezoito
empresas em cinco conglomerados, e foram justamente as doações que
aqueles vampiros cortaram! Com certeza foi de propósito, eles alfinetaram
onde sabiam que iria doer.
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“Aquele orfanato não é importante apenas para você, Charles. Você faz o
que estiver ao seu alcance, e eu faço o que estiver ao meu”, falou ele.
Eu murchei os ombros e meu coração apertou em culpa. Não adiantava
descontar no meu mordomo, ainda mais considerando o nosso passado.
“Eu sei. Nunca o agradecerei o suficiente por sua ajuda naquela época. Se
não fosse você, as coisas teriam sido bem diferentes.”
“Ajudar o patrão a recuperar seus bens foi meu dever, mas um dever que
me orgulho de ter realizado. O senhor tornou-se um grande homem, Charles,
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enfrentou muita coisa desde o acidente dos seus pais, e conseguirá enfrentar
este desafio também.”
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Capítulo 04
Jean-Lucc
“Não entendo o que estou lendo, Charles”, ele disse após um tempo.
“Paternidade assistida. Você sabe, ser pai sem precisar que exista uma
mãe. Já fechei o contrato e a clínica está procurando uma barriga de aluguel
neste exato instante.”
“Por que não? Muitos caras se tornam pais com ainda menos
planejamento.” Eu dei risada, mas George não relaxou nem um pouco.
“Pensei que ficaria feliz. Quando houver um herdeiro os nossos problemas
desaparecem. E você adora crianças, vai saber criá-lo bem.”
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“Quer que eu crie seu filho?? Patrão Charles, com todo o respeito, você
não está dando a devida importância a um assunto tão grave. Um bebê é uma
vida, exige muita responsabilidade. Não pode fazer um filho apenas para
preservar seus negócios.”
“Não acredito que está falando sério.” George suspirou. “Está bem, vou
acompanhá-lo. Preciso evitar que tenha ideias ainda mais insensatas.”
interessava. Ele nunca gostava de nenhuma delas e com certeza não gostaria
da Talita, porque não entendia a minha obsessão maior que o normal.
“Como assim, coleta? Não devo esperar que encontrem a mulher certa
para eu engravidá-la?”
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Eu bati meu terno Armani, que felizmente não havia manchado. Mas o
chão estava uma bagunça, coberto de lixo e poças de água. Pelo visto
derrubei até as plaquinhas das portas.
Eu ergui o olhar para ela e para George, que parecia um tomate de tão
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vermelho. O que eu deveria responder? Como ela esperava que meu Jean-
Luquinho fosse ganhar vida em um lugar daqueles?
Não era exatamente o encontro erótico dos meus sonhos, mas um Jean-
Lucc nunca se intimidava perante um desafio.
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Capítulo 05
Talita
Pelo menos foi fácil encontrar o corredor certo. Tudo na clínica era limpo,
elegante e bem sinalizado, até mesmo as portas tinham plaquinhas metálicas,
separando cada ambiente em diferentes funções. Eu entrei na sala de doação
de óvulos e fechei a porta.
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Aquele lugar era tão… frio. Deu até um arrepio na espinha. Tudo branco
e quadrado como uma sala cirúrgica, com suportes de soro, tanques de
oxigênio e uma cama de lençóis verdes no centro, com aqueles apoios para os
pés iguais aos de uma cama de ginecologista.
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Grávida.
Aaah! Eu queria gritar que nem uma louca e me jogar de bicicleta num
rio! O que eu iria fazer?? O diretor falou em leis, e benefícios, e quantidades
imensas de dinheiro, mas quem presta atenção em detalhes depois de ouvir
que foi inseminada enquanto dormia?
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“Alô? Bárbara? Deixa seus trezentos filhos com a sua mãe e aparece lá
em casa. Temos uma emergência.” Eu suspirei em puro desespero. “Vamos
precisar de sorvete.”
Bárbara ficou quieta, o que era absolutamente raro. Ela enfim abocanhou
o sorvete já derretido na colher e se babou toda sem perceber, completamente
desnorteada.
“Cara… que doideira”, ela disse. “Mas vamos pensar com calma. O
engano aconteceu ainda hoje, certo? Então ainda é cedo para se preocupar.”
“Como assim?” Eu levantei minha cara amassada do sofá para olhá-la nos
olhos.
“Credo, Talita, você não entende mesmo de gestação, então aprenda com
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“Pensa que você deu sorte, mulher! Provavelmente o bebê nem vai
vingar, e ainda assim você tá super-rica! Imagina a fortuna que vai tirar
daquela clínica processando-os? Ou pode enriquecer ainda mais fazendo
algum acordo, nunca mais vai precisar pisar naquele salão de beleza!”
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Capítulo 06
Talita
“Talita, minha queridinha, pensei que tivesse tomado juízo quando mexeu
no cabelo. Olha pra essa sua cara, precisa mudar seu hidratante noturno.”
Disse ela.
“Agradeço a preocupação, dona Henrica,” respondi, me jogando na
minha cadeirinha estreita de manicure e soltando o ar em uma bufada. Não
queria aturar minha chefe pelo menos até recuperar o fôlego. Me atrasei tanto
que precisei disparar na minha pobre bicicleta.
“Vou retornar à clínica hoje, para saber o resultado. O diretor disse ter
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“Tudo bem, quem não surtaria com uma novidade dessas?” Eu sorri,
mesmo que não fosse nada engraçado.
“Sou a sua melhor amiga, vou te ajudar em qualquer coisa que você
decida, tá bom? Precisa que eu te acompanhe na clínica?” Perguntou ela.
Eu balancei a cabeça, apreciando o carinho gostoso da escova de cabelo
na minha nuca. Eu precisava acordar. Precisava abrir os olhos e não ser uma
mulher grávida de um casal desconhecido.
Claro que desejar não adiantaria nada. Na verdade, se aquele dia fosse um
sonho, o tilintar do sino de vento acabou por torná-lo um pesadelo.
“Bom dia, dona Henrica. A senhora está um arraso, hoje.” Ele empinou o
corpo no balcão da minha chefe, dando uma reboladinha discreta na minha
direção. “Tem hora para fazer as unhas?”
“Talita, meu amor, você poderia encaixar este cavalheiro entre seus
horários?” Perguntou ela, com um sorriso de diversão em seus lábios secos.
Eu sorri nervosa.
Eu segurei os dedos daquele putão e tentei esfriar a mente, mas era coisa
demais. Um bebê na minha barriga, minhas colegas e chefe fuxicando minha
vida, e agora até o playboy de perfume caro havia retornado quando eu enfim
pensava ter me livrado dele.
“Como vai ser hoje? …Oh.”
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Janluque piscou rápido, me fitando com seu olhar azul que parecia mais
estúpido a cada segundo. Aí ele sorriu contente mais uma vez, mantendo a
mão sobre a minha.
“Eu sou tão desastrado às vezes.” Janluque sorriu a ela, fingindo timidez.
“Ela pediu que eu não brincasse com a acetona, mas acabei causando esse
estrago todo.”
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que parecia ainda mais musculoso agora que ele vestia apenas sua camisa.
“Marcaremos algo para o fim de semana, também tenho compromisso hoje.”
“Você pode ajeitá-las durante nosso encontro.” Ele piscou para mim e
acenou a todas nós. “Até mais, meninas, tenham todas um maravilhoso dia!”
Ele foi embora tão alegre que só faltava saltitar, nem quis recuperar o
paletó, que dona Henrica acabou por jogar no lixo.
“Vai ser divertido, Talita. Você precisa se distrair dos seus problemas, e
olha só que distração deliciosa.”
Eu bufei e comecei a limpar minha mesa.
“É, espero que seja suportável. Pelo menos não precisarei vê-lo nunca
mais.”
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Ah, mas e se o bebê fosse parecido comigo? Ele seria metade meu, né?
Ou será que era totalmente de outro casal? Eram dúvidas demais e o diretor
havia esquivado de todas elas, mas prometeu responder tudo se o resultado
fosse positivo.
“Eu estava certo, essa novela é cafona demais.” Disse Janluque, quase se
jogando em cima de mim.
“Ah!!” Eu guardei meu celular bem rápido, eletrizada com o susto. Me
concentrei tanto naquele episódio que nem notei aquele idiota sentar ao meu
lado. “Por que está me seguindo, Janluque??”
“Não!!” Eu gritei tão alto que todo mundo me olhou. Tratei de baixar a
voz bem rápido. “Não é da sua conta. Também não me interessa porque você
está aqui. Já temos um encontro no fim de semana, até lá estou morta pra
você, ouviu?”
“Quanta gratidão com o cara que salvou seu emprego.” Janluque fez um
biquinho, fingindo estar ofendido, então se levantou sorridente, como se a
vida fosse um eterno poço de açúcar e mel. “Vou esperar do outro lado da
sala antes que você me morda. Poderá guardar suas melhores mordidas para
sábado a noite, porque eu adoro mordidas.”
Eu revirei os olhos, e logo depois a porta do consultório abriu. O próprio
diretor Ignácio apareceu, verificando sua prancheta.
Quê? Eu olhei rápido para Janluque, que parecia tão confuso quanto eu.
Que tipo de médico chamava dois pacientes ao mesmo tempo?
Indisposta a reclamar, eu levantei e entrei na pequena sala. Janluque
entrou logo depois de mim.
Janluque sorriu, mas dessa vez era uma expressão difícil de ler. Era uma
felicidade sincera e nervosa ao mesmo tempo, era quase… fofo.
Espera, foda-se que aquele cara seria pai. Me surpreendia que ele quisesse
um filho, mas eu estava ali pelos meus próprios problemas.
“Poderia dar meus resultados, agora?” Perguntei, tão nervosa que esqueci
de enxotar Janluque dali. O que eu menos precisava era daquele riquinho
dando risada quando eu tivesse um colapso.
Gravidez positiva.
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realmente terrível. Por favor, peço que se acalmem, tenho uma notícia
importante para os dois.”
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Capítulo 07
Jean-Lucc
“Não tem nada a ser resolvido! Eu só posso ser idiota. Doar meus
óvulos…” Ela esfregou a mão no rosto, borrando a pouca maquiagem que se
mantinha no lugar. “Eu devia imaginar algo assim. É típico de gente como
você querer herdeiros sem uma mulher para incomodar. E aposto que fez isso
com algum objetivo financeiro.”
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Minha pergunta a fez parar de chorar. Ela respirou fundo e me fitou com
seus olhos inchados e maquiagem de panda.
“Como assim?”
“Você ouviu o diretor. Geralmente uma barriga de aluguel não tem direito
algum sobre o feto, mas no seu caso poderá escolher o que fazer dele.”
Ai, ai… eu adorava uma mulher com personalidade, mas aquela era
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meio... complicada.
“Mais tarde, Francisca. Viu o George por aí?”, perguntei enquanto abria a
garrafa de whisky.
resultado de anos de academia: peito rígido, ombros largos, mas não a ponto
de eu parecer um ogro, barriga cavada para dentro com oito gominhos bem
salientes. Meus bíceps volumosos ainda podiam ser trabalhados, fiz uma nota
mental para discutir isso com minha personal trainer.
Como resolver uma situação tão estranha? Minha intenção inicial era
processar a clínica, quebrar financeiramente todos os envolvidos até que as
dívidas chegassem aos bisnetos, mas naquele momento, apreciando um banho
quente e massageando óleo de castanhas nos ombros, fechar uma clínica de
fertilidade me parecia exagero. Depois do corte de verbas ao orfanato eu só
recorreria aos meus advogados como último recurso.
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Pela cara que George fez, ele não entendeu coisa nenhuma. O coitado
nem respirava.
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“Outro bebê? Charles, você é louco? Onde mora essa mulher? Não pode
ficar gerando bebês por aí, você será um pai!”
“Pai também é uma palavra muito forte, Gegê. Prefiro me considerar
um… um… um bilionário gostoso e rico que nunca, de forma alguma, passou
sua carga genética adiante de forma estúpida e irresponsável.” Eu balancei os
ombros em desdém. “A garota não quis nada disso, ela vai decidir o que fazer
da criança e, se precisar de qualquer auxílio, o diretor da clínica terá a
obrigação de atendê-la. Não tenho nada a ver com isso.”
“Já é noite, Gegê. Gente pobre também tem vida, sabia? Neste momento
ela está assistindo novelas de gosto duvidoso, ou praticando tiro ao alvo com
minha foto de capa da revista People, ou enchendo a cara, fumando e… oh
meu Deus.” Uma sensação gelada estremeceu meus ossos. “E se aquela louca
encher a cara? Ela não pode fazer isso com o meu filho!”
“Até que enfim a ficha caiu. Vou investigar algum contato que… Ah!!”,
George gritou, tapando o rosto com as mãos quando eu deixei a banheira
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bruscamente.
“Para quê? Para envenenar meu filho com álcool, tabaco, Coca-Cola
chinesa e crack?” Eu vesti um terno limpo, Hugo Boss azul-marinho com
gravata cinza, sapatos Louboutin e abotoadeiras de topázio. Um look básico,
mas a pressa não me permitia combinar acessórios da mesma estação. “Qual
seria essa sua sugestão? Espera, não está pensando em...”
“O código laranja é nossa melhor opção, Charles.”
“Pensei que esta fosse uma conversa séria, George. Não podemos usar o
código laranja em uma garota inocente.”
“Inocente por enquanto, mas será uma luta contra o tempo até que ela
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comece a ter ideias que destruam seu império. Se o patrão deseja encontrá-la
ainda hoje eu posso descobrir o endereço, mas é imperativo que coloque o
plano em ação.”
“Não entendo sua fixação por aquela mulher, Charles, mas ela não
carrega apenas o seu bebê, e sim o futuro do seu orfanato, das suas empresas,
tudo. Aquele bebê não é um simples pedaço da sua carga genética. Ele é o
seu herdeiro. Enquanto estiver em posse do bebê, aquela mulher pode te
destruir.”
Eu suspirei, novamente concordando com ele. Por mais complicada que a
situação fosse, eu não imaginava Talita me destruindo de forma alguma.
Também era improvável que machucasse o bebê de propósito, mas agressiva
e estabanada como ela era, eu precisava intervir o quanto antes.
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Capítulo 08
Talita
Era simplesmente tão assustador. Eu não nasci para ser mãe. Como eu
poderia, se nem mãe eu tive? Minha única experiência com maternidade era
assistindo novela ou esperando a Bárbara amamentar suas trezentas crianças,
para então conseguir que ela assistisse novelas comigo. Ter um bebê nunca
passou pela minha cabeça.
não estava nos planos, mas ele se aproveitaria disso. Bilionários nasciam com
tato para transformar adversidades em vantagem pessoal.
Ainda assim, ele disse que eu poderia escolher o que fazer do bebê. Digo,
óbvio que qualquer escolha seria minha, considerando que havia um bebê
surpresa dentro da minha barriga, mas Janluque cedeu fácil apesar de o bebê
também pertencer a ele. Talvez ele simplesmente não se importasse.
O silêncio mortal no quarto foi entrecortado pela campainha.
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Não era a Bárbara. Definitivamente não era ela, a menos que Bárbara
tivesse mudado de sexo e se tornado um homem gostosão, cheiroso, e
extremamente sem limites de espaço pessoal.
“Não vai me convidar pra entrar na sua… casa?” Ele tentou espiar para
dentro. “Parece bem aconchegante.”
“O que você quer?” Eu apoiei a mão na cintura, indignada. “Aliás, eu sei
o que você quer. Mas o que você quer, que não pode esperar até o nosso
maldito encontro?”
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alguma coisa.
“É bom que tenha perguntado. Seu intelecto pouco treinado talvez não
absorva tudo o que tenho a dizer, então tomei a liberdade de escrever uma
lista no caminho para cá. Seu blog tem seu endereço e até sua conta bancária,
mas por algum motivo absurdo não contém nenhum e-mail. Como posso te
mandar o arquivo?”
Eu revirei os olhos, querendo me livrar dele o mais rápido possível para
me lamuriar em minha noite de sofrência. O único jeito era passar logo o meu
e-mail, que Janluque anotou imediatamente em seu iPhone.
Querendo terminar logo com isso, eu sentei ao seu lado no braço do sofá
e abri o arquivo.
* Dormir pelo menos oito horas por noite, alterando a posição no mínimo
três vezes durante o sono.
“Não vai terminar de ler? Pode pular para a página oito onde listei as
marcas de queijo que você pode…”
Nossa, que horas eram? Eu havia deixado o celular na sala, mas pela
altura do sol já devia ser meio-dia, ou perto disso. E Janluque só deixou
minha casa naquele momento?
“Era o que eu pretendia, mas não posso. Enquanto você dormia pensei em
vários acréscimos importantes para a lista. Já enviei o arquivo atualizado e
desta vez você lerá integralmente.” Ele sorriu docemente e deu um tapinha ao
seu lado, no sofá. “Ou podemos ler juntos, adoro tudo o que envolve papai-e-
mamãe.”
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“Tenho várias ideias, a maioria delas envolve você ler minha lista e
concordar com suas novas obrigações.” Ele balançou meu celular com o
olhar brilhante de um cachorro pidão. “Por favor? Só quero o melhor pelo
nosso bebê.”
Nosso bebê? Só me faltava essa. Mas tudo bem, eu devia um favor por
ele limpar meu apartamento, ainda surpresa porque Janluque não aparentava
ser um homem prendado. Alguém que conseguia esfregar manchas de sorvete
do carpete sem sujar ou amassar o terno merecia pelo menos um prêmio de
consolação.
“Dá isso aqui, vou ler sua maldita lista até o fim.” Eu sentei com ele
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novamente, suspirando em tédio. “Pelo menos me diz que não vou ter que
assinar nada.”
“Claro, Francisca, fique à vontade.” Janluque fez um gesto para que ela
entrasse.
A senhora me cumprimentou, buscou o escovão no banheiro e acenou
para nós, saindo tão rápido quanto chegou.
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Talvez essa coisa de maternidade não fosse algo tão horrível assim.
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Capítulo 09
Jean-Lucc
“Gegê, qual alfinete acha que escolho? Tenho esse de rubi, mas o de
marfim combina tão bem com a fivela do cinto.”
“Qualquer um”, ele respondeu.
“O plano ainda está de pé, Gegê, apenas mudamos o dia para hoje.
Melhore esse seu humor.”
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“Aquela mulher não o trata com o merecido respeito, patrão. Devo insistir
que consiga a guarda do bebê o quanto antes e livre-se dela. Está deixando
poder demais nas mãos de uma manicure qualquer.”
“Não sei o que eu faria sem você, Gegê.” Eu dei um tapinha em suas
costas e deixei o quarto. “Boa sorte para nós dois, vou impressioná-la com o
meu Mercedes.”
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Não podia imaginar meu filho crescendo ali e já havia mencionado isso
no item 762 da lista 5, que Talita certamente já havia lido no tempo em que
não nos falamos. O pequeno Jeremy cresceria em um condomínio fechado e
seguro, longe de bandidos, casas feias e cheiros estranhos. Eu mesmo estaria
apavorado com a possibilidade de roubarem meu lindo Mercedes se não fosse
tão simples comprar outro igual.
“Demorei?”, perguntou.
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Ela revirou os olhos, me lembrando que sim, por trás daquela princesa
elegante ainda morava um chacal assassino.
“Aonde raios você quer me levar?”, perguntou ela.
“Se essa surpresa não envolve uma cova rasa no meio de um pântano,
então acho que tudo bem.” Ela esboçou um raro sorriso. “Belo carro. Mas
sabe o que dizem sobre homens com carros grandes?”
“Que eles têm espaço o suficiente na mala para esconder um corpo?”
Devolvi, provocante.
“Suave como uma arara choca. Esta noite será inesquecível”, falei,
embora por dentro eu tremesse um pouco.
Talvez coubesse mesmo um corpo dentro da mala do carro, e se Talita
descobrisse o plano, esse corpo seria o meu.
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Talita percorria o olhar por cada canto daquele lugar, impressionada com
a cobertura de trepadeiras floridas, e com a vista que alcançava a cidade toda,
incluindo o Central Park e os muitos prédios, todos mais baixos que o
Happerton’s. Os faróis dos carros e letreiros luminosos tingiam a paisagem
com o colorido vívido e intenso que apenas Nova York poderia oferecer.
“Será que peço isso… mas esse parece bom…”, ela sussurrava para si
mesma.
“Ei! Ah, é. O bebê.” Ela bufou, me dando razão uma vez na vida.
“Que por acaso está crescendo aqui dentro e eu posso querer ficar com ele
pra mim.”
“Seria uma pena isso acontecer, mas tenho nove meses para convencê-la
do contrário.”
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“Quer saber? Vamos apenas nos divertir por hoje. Você vai enlouquecer
quando provar o confit de pato”, falei, lhe estendendo minha taça. “Um
brinde ao pequeno Jeremy.”
“Mas aqui estamos nós, nos divertindo à luz da lua no melhor restaurante
ocidental do Guia Michelin.” Eu brindei minha taça e continuei a beber.
“Conhece aquele ditado, se a vida te der limões, plante as sementes e torne-se
um magnata do mercado de cítricos.”
Dessa vez Talita não teve nenhum ímpeto homicida, ela apenas riu de
novo e apoiou o rosto nas mãos, admirando as centenas de prédios que
recortavam o horizonte noturno.
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“Nossa, você entende de crianças ainda menos do que eu”, ela disse,
recuperando o fôlego. “E não estamos nos apressando? O bebê é nosso, mas
não significa que existe um nós. Eu prometi um único encontro, caso tenha
esquecido.”
“E neste momento está se batendo por dentro porque quer tanto, tanto me
conhecer melhor.”
“Você é muito arrogante.”
“Você elogia assim todas as quinhentas mulheres com quem você sai?”
Pela cara da Talita ela buscava muito uma resposta à altura, mas logo um
rangido metálico a fez arregalar os olhos para trás de mim.
Eu me virei para descobrir o que ela tanto olhava.
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Aquele não era meu primeiro encontro, nem sequer meu primeiro
encontro no Happerton’s, mas todas as minhas acompanhantes tinham o
péssimo hábito de pedir apenas uma saladinha de alface sem tempero, e então
passavam o jantar discutindo as calorias do meu filé assado, ou roubando as
batatas do meu prato para vomitar depois. Isso quando a garota não era
vegana e passava o jantar me acusando de assassinato.
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depois partir para os pratos quentes, mas já comecei forrando o prato de carne
como um pedreiro em um buffet livre. Naquela noite eu iria me divertir.
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“Não, nada.” Ela baixou o rosto, tímida. “Eu tinha certeza de que você
inventou a parte do orfanato.”
“Por que eu inventaria algo assim?” Eu ri. “Não preciso desses artifícios
baratos para impressionar uma dama.”
Imaginei que Talita jogaria alguma coisa em mim, mas ela sorriu
docemente, seus olhos verdes brilhando à luz da lua.
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Capítulo 10
Jean-Lucc
Havia um plano a ser seguido, ou pelo menos deveria haver. Sempre que
eu encontrava uma mulher interessante, em dois dias no máximo ela já estaria
na minha cama, nua e sob o meu corpo, implorando por mais. Talita desde o
começo foi diferente, um desafio excitante no meu mundo de mulheres
fáceis. Após tanta espera eu deveria estar em ponto de fogo para dominá-la
em meus braços, mas aquele encontro estava indo além de um simples ritual
de cortejo.
Eu estava… me divertindo.
“Este não é o caminho da minha casa.” Talita olhava para fora, mais
curiosa que desconfiada.
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Talita riu, tão feliz e radiante que nem parecia o animal hostil de sempre.
Ela baixou o olhar para as minhas mãos.
“Por que trouxe essa pasta? Precisa manter aparência até com o shopping
fechado?”
hoje nada pode me abalar.” Talita sorriu a mim e inclinou a mão para o lado,
roçando a ponta dos nossos dedos. “Não se ache demais, ouviu? Estou apenas
curiosa sobre seus planos, mas depois você vai me deixar em casa.”
Talita circulava o olhar empolgada, seu corpinho esguio cada vez mais
próximo ao meu enquanto nossos passos ecoavam no silêncio total. Em
algum momento ela abraçou meu braço e eu notei seu pelos arrepiados.
“Oh, vejam só. A manicure revoltada tem medo de shopping center.” Eu
ri, tentando me descontrair.
“De noite, sim. Admita que é meio assustador esses corredores vazios.
Sabia que existem seis filmes de zumbi que se passam em shoppings
vazios?”, perguntou ela.
“Eu disse que gosto de novelas, não de filmes de zumbi!” Ela fez um
biquinho encabulado. “Mas sim, já assisti todos.”
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“Você é muito grosso!”, ela disse, apressando o passo. “Me mostra logo
sua tal surpresa, esse encontro já durou tempo demais.”
Talita virou-se para mim e cruzou os braços. Ela era péssima em parecer
brava de verdade.
“Boa noite, patrão Charles.” Hector alisou para trás o cabelo meio
grisalho e levantou, endireitando os ombros de seu terno preto.
“Já entendeu o que deve fazer?” Eu abri a maleta sobre a mesa e retirei os
papéis.
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“Fique tranquilo, patrão Charles, alguma vez o código laranja deu errado?
Não comigo, tenho certeza.”
“Mantenha-se no plano, isso realmente não pode falhar.”
Bem, era apenas uma medida de segurança que George insistiu ser de
extrema importância. Eu ainda pretendia convencê-la a desistir da guarda de
maneiras muito mais suaves, então aqueles documentos nunca precisariam
ser utilizados.
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“Sério, o cinema? Vamos ver um filme agora?” Ela soltou minha mão e
saltitou empolgada até os cartazes dos filmes em estreia. “Podemos escolher
qualquer um?”
“Podemos, mas o filme faz parte da surpresa.”
“E você ainda não conhece metade deles.” Eu pisquei para ela, mas minha
pose desapareceu quando um estouro me fez gritar. Eram apenas as pipocas
começando a transbordar no compartimento de acrílico.
Talita ao meu lado. Ela nos servia copos gigantes na máquina de refrigerante.
“Se toda essa comida não me matar, chame a NASA para que estudem o
couro do meu estômago”, ela disse com um megacopo de refrigerante em
cada mão. “E não tente me proibir de beber isso, nosso bebê é apenas uma
bola de células.”
Eu suspirei e espiei as salas adiante, onde o tremular de uma sombra
indicava que não estávamos sozinhos.
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“Mas patrão…”
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Capítulo 11
Jean-Lucc
E óbvio que ela escolheu uma das camas. Elas sempre escolhiam as
camas.
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“Como… como? Apenas como? Esse filme só vai sair no mês que vem!”,
exclamou ela.
“Tudo é possível quando se tem os contatos certos. Pensei que gostaria de
uma surpresinha a mais após nosso jantar.”
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mandou para dentro de seu estômago sem fundo. “ Os fãs do mundo todo
estão alucinados pra assistir. Não é à toa que precisamos de uma
autorização.”
“Shh! Agora começou de verdade”, ela disse, sem tirar o olho da tela.
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“Claro, está dispensado por hoje”, eu disse a ele com o coração mais
apertado que nunca. Quando Hector deu as costas eu estendi a mão quase que
por instinto. “Ah, espera.”
Hector virou-se para mim novamente com uma sobrancelha erguida em
sincera curiosidade. Aquilo não fazia parte do plano.
“Pois não?”
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“Se o patrão sabe o que está fazendo, então posso me retirar”, ele disse e
então nos deixou a sós.
Eu bufei, olhando para aquele papel que mal podia ser lido na penumbra
do cinema. A assinatura de Talita entrecortava a parte de baixo bem ao lado
da minha e abaixo da cláusula que a proibia de ver o filho após seu
nascimento.
“Janluque, não perde essa cena, o puma vai atacar a cunhada do
Adamastor”, ela disse.
Eu subi meu olhar à tela e voltei a olhar aquele maldito papel. Como eu
pude ser tão imbecil?
Talita gritou e eu dei um salto. Ela viu? Ela percebeu o que eu fiz? E se
ela exigisse ver o documento? Mas não, ela apenas se assustou quando cinco
pumas devoraram uma mulher gordinha. Essas novelas mexicanas podiam ser
bem sombrias, às vezes.
Alguma coisa tocou minha mão, que descansava sobre a cama. Os dedos
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suaves de Talita. E ela também parecia bem mais próxima do que antes.
Eu me virei para ela, fitando seus lindos olhos que também observavam
os meus, e então aproximamos nossos rostos.
Talita me beijou com timidez no começo, mas logo a insegurança virou
vontade e ela gemeu macio contra a minha boca, provocando meus lábios
com a língua.
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Capítulo 12
Jean-Lucc
Vários vizinhos olhavam para nós das janelas apesar de ser madrugada.
Carros de alto luxo deviam ser uma visão incomum naquela região, ou talvez
fosse o fato que Talita chegou gritando pela janela do teto, tão empolgada
que eu poderia jurar que aquele refrigerante era tequila.
Talita abraçou por trás do meu pescoço, tão mais baixa que eu que
precisou erguer-se na ponta dos pés, mesmo de salto alto. Nossas línguas
exploraram uma à outra, me instigando a descer a mão e agarrar uma parte
mais interessante de seu corpo.
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“Não me enrola, seu ricaço metido. Você é todo esnobe, mas sei que
aparecia apenas para me irritar.”
“Adoro café.”
“Eu… eu vou deixar claro que não costumo fazer isso, tá?” Ela suspirou e
encolheu os ombros como se fosse flagrada em um momento indecente. “É
isso o que você quer e… eu… acho que eu também.”
Meu corpo ardeu como o sol. Eu abracei Talita e agarrei firme seu
quadril, beijando, apalpando, sentindo aqueles lábios nos meus enquanto
tropeçávamos um no outro até cairmos no sofá.
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Eu poderia comentar que ela ainda vestia uma calcinha, e uma calcinha
bem infantil com estampas de unicórnios, mas não queria cortar o clima
lembrando-a que aquela parte da noite realmente não devia estar em seus
planos. Ao invés disso eu levantei lentamente, deslizando as mãos por seu
corpo ao fazer isso e arrancando outro gemido quando meus polegares
acidentalmente escorregaram por seus mamilos.
Com meu olhar fixo naquela mulher escultural, eu me levantei e terminei
de tirar a gravata. Então abri o paletó do terno e o desci pelos ombros,
tentando não parecer tão experiente quanto eu era em fazer um strip-tease. No
imaginário popular geralmente era a mulher que se despia dessa forma, mas
eu sabia bem o que as mulheres curtiam: admirar meu corpo pouco a pouco,
conforme as peças do meu terno cediam ao chão.
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Capítulo 13
Talita
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Janluque jogou o paletó para trás, deixando-o cair em uma pilha de sutiãs
e camisas que, meu Deus, eu deveria ter devolvido ao armário ou pelo menos
escondido em algum lugar. Quem mandou eu passar a tarde escolhendo o que
vestir? Pelo menos as coisas avançaram tão rápido que ele não teve tempo de
me avacalhar.
Eu queria aquele homem. Mal podia esperar para ver tudo, e pelo sorriso
arrogante do Janluque ele sabia disso.
As calças desceram lentamente, o tecido de alta-costura enrugando-se em
vincos a cada centímetro revelado. A cueca era azul marinho, com o logotipo
da Prada gravado no elástico. Ele desceu um pouco mais e quando pensei que
veria… ahm… o objeto de interesse… Janluque virou de costas. E então a
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“Cala a boca! Eu não pedi nada disso.” Eu afinei os olhos e bufei, morta
de vergonha.
Não tive muitas experiências anteriores para comparar, mas aquilo era
gigante! Minha calcinha molhou ainda mais e com certeza ele viu, porque só
então percebi que eu estava apoiada nos cotovelos e de pernas bem abertas
que nem uma vadia.
“E o que é que estamos prestes a fazer?”, provocou ele enquanto alisava o
lado interno das próprias coxas, às vezes subindo seu toque por cima da
cueca e pinçando o elástico, o descendo uns poucos centímetros e expondo
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Não era ilusão minha. Realmente era enorme, tão grosso quanto
comprido, com poucas veias e pelinhos bem aparados. A cabeça rosa
apontava para cima, já úmida e pronta para mim. E eu queria. Ah, eu já
estava na seca por tanto tempo.
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Eu fui e voltei com a cabeça cada vez mais rápido, meus seios atiçados
balançando a cada movimento e minha calcinha formando uma verdadeira
piscina. O meio das minhas pernas já latejava em um calor intenso suplicando
por atenção.
voltando a fitar seus olhos azuis. Para a minha satisfação, o ricaço metido
estava todo vermelho e suado, plenamente derrotado pelas minhas
habilidades.
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Janluque arfou contra o meu pescoço, entre lambidas e beijos eróticos, tão
extremamente excitado e ainda assim esperando me acostumar com o
tamanho. Ele meteu tão fundo que seus pelinhos da virilha fizeram cócegas
nos meus lábios de baixo.
Eu me entreguei por completo, relaxando o corpo como sinal para que ele
me virasse do avesso.
E Janluque não demorou nada. Ele deu um último beijinho no canto do
meu lábio, ajeitou o corpo e começou a meter. Seus músculos fortes o faziam
bombar com a força de uma máquina, indo e vindo tão rápido que nossas
peles úmidas estalavam.
meu.
“Deveria se acostumar, afinal logo vai ganhar volume e não será pela
comida.” Ele sorriu com a safadeza de um gato. “A menos que o bebê
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“Porque você repara demais na aparência das mulheres. Aposto que vai
me descartar no momento que minha barriga crescer, se não fizer isso ainda
antes.” Meu peito bateu dolorido e eu bufei, lhe dando as costas. “…Tipo
depois dessa noite.”
Janluque riu.
“Ué, não foi você quem insistiu em apenas um único encontro?”
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“Agradeço pelo café, estava uma delícia.” Ele piscou para mim enquanto
abria a porta.
“Espera, você já vai?”, perguntei.
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Eu, grávida de um bilionário arrogante mas que fodia bem pra caramba.
Talvez eu pudesse me acostumar com aquela situação louca. Pelo menos seria
obrigada a me acostumar quando o pequeno monstrinho transformasse minha
silhueta de boneca em um corpo de ogro das cavernas.
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Capítulo 14
Talita
“Sim.”
“E não usaram camisinha porque você já está grávida dele?”
“Sim.”
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“E agora não sei, esperava que você me dissesse. Aquele cara é arrogante
e idiota, e simplesmente sumiu quando conseguiu o que queria. Mas foi um
encontro tão… mágico. Ele me levou em um restaurante incrível, depois
fomos ao cinema e assistimos a um filme maravilhoso, e…”
Bárbara levantou as mãos até eu parar de falar.
“Na, na, na, não. Pode parar. Eu sei onde você vai chegar com isso e não,
Talita. Você teve um simples encontro com jantar, cinema e sexo, só isso.
Pode ter certeza que é a programação normal daquele cara e só foi exagerado
porque Jean-Lucc tem dinheiro brotando do cu. Não começa a pensar que
teve algo de especial, o que você menos precisa é se apaixonar por aquele
homem.”
Meu coração afundou aos pés e meus olhos umedeceram. Eu bebi meu
café sentindo-o ainda mais amargo. Tudo o que Bárbara dizia era verdade,
então por que machucava tanto?
“Tem razão, acho que me empolguei demais. Deve ter sido o sexo, foi o
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melhor da minha vida. “ Eu sorri para ela, ainda remoída por dentro. “Eu
realmente me senti especial.”
“Acha que ele vem visitar o filho às vezes? Digo, não preciso da ajuda
daquele cara, nem nada assim, mas...” Eu baixei a cabeça, sentindo um
amargor por dentro. “Mas eu sei o quanto é difícil crescer sem um pai.”
Bárbara passou o braço atrás dos meus ombros em um abraço amigo.
“Se aquele cara procurou uma barriga de aluguel, pode ter certeza de que
ele quer esse menino. Não se preocupe com isso agora, Talita. Ainda tem
nove meses pela frente.”
“Eu sei, só é tão difícil… Ontem Jean-Lucc mandou comida para algum
orfanato e acabei lembrando do Orfanato Aura. Espero que a dona Isaura
esteja se virando bem após todos esses anos, as coisas lá sempre foram tão
complicadas.”
“Foi difícil, mas os tempos mudam, pelo que vi na TV, as condições
melhoraram muito para os órfãos. Um patrocinador misterioso reformou o
galpão de ferramentas e instalou ar-condicionado em todos os quartos.”
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“Eu deveria instalar um aqui também, mas a vida me fez uma manicure
pobre.”
“Foi uma noite bem louca, isso é certo. Espero que tenha aprendido uma
importante lição.”
“Ahm… permitir que os homens mostrem seu lado interior pode trazer
boas surpresas?”, perguntei.
“Não, que transar de vez em quando é bom pra caralho e você precisa
fazer isso mais vezes.” Bárbara deixou nossas xícaras na pia e foi para a porta
de entrada. “Agora eu preciso buscar o Ivan e o Bruno na creche, e você
precisa incendiar este apartamento e mudar-se para outro que não pareça um
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Ai, ai… os conselhos da Bárbara faziam sentido, mas ela podia ser tão
dura, às vezes. Eu devia saber o que esperar de uma mulher solteira com
quatro filhos de pais diferentes. O lance da Bárbara era curtir a vida, dançar
em festas barulhentas e beber a ponto de esquecer que camisinhas existem.
Apesar de ser minha melhor amiga, ela pensava diferente demais.
Uma parte de mim desejou, bem lá no fundo, ter o telefone daquela tal de
Francisca, mas apesar do caos de calças e sutiãs, o chão permanecia limpo e
encerado, o que era um bom conforto.
Com as costas doendo por ficar tanto tempo abaixada, eu dobrei o último
sutiã da pilha e então umas tiras de papel caíram. Eu franzi a testa ao notar
letras minúsculas no papel rasgado, porque com certeza não estavam nas
minhas roupas quando as joguei ali.
Eu peguei as tirinhas e apertei os olhos, tentando entender aqueles montes
de jargões de advogado, que eram ainda mais incompreensíveis por causa dos
rasgos. Talvez o vento da janela tivesse derrubado aquilo de alguma estante,
mas eu não lembrava de ter documentos assim em casa, e muito menos te tê-
los picotado.
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“Para todos os fins, eu, Talita Borges, abdico tanto desse bebê como de
qualquer direito em considerá-lo meu filho, ou em considerar-me sua mãe.
Em caso de quebra de contrato será aplicada uma multa de…”
Não consegui continuar a leitura, precisei me sentar no sofá ou
desmaiaria, minha pressão despencando aos pés até meu rosto tornar-se gelo.
O choque foi tanto que só percebi minhas lágrimas quando elas borraram
o papel em minhas mãos. A assinatura de Jean-Lucc espalhou-se na página
branca.
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Bárbara, mas logo desisti da ideia. Ela iria apenas mostrar o quanto estava
certa e o quanto eu fui estúpida.
Não. Se algo havia se tornado claro, era que Jean-Lucc precisava muito
ter o bebê que crescia em mim. E se aquele imbecil queria meu filho, eu faria
de tudo, tudo mesmo, para destruir seus planos.
Aquele bilionário arrogante escolheu a mulher errada para tentar enganar.
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Capítulo 15
Jean-Lucc
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“Claro que é.” Dona Isaura deu tapinhas nas costas dele, então deu as
costas, fazendo sinal que a gente a seguisse.
“Peço perdão, dona Isaura, mas receio ter pressa hoje.” Eu abri a maleta
sobre o capô da limusine e dela tirei um gordo maço de notas de cem.
“Viemos apenas lhe entregar isso.”
“Ah, não finja ser bobo comigo, garoto. Aquele bando de vampiros
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querendo quebrar este lugar e você acha que não vão dar falta desse dinheiro
todo? Isso é da sua conta pessoal? Não posso aceitar.”
“Relaxe quanto a isso, dona Isaura, logo o dinheiro das doações retornará
ao caixa do orfanato. Se faltar qualquer coisa às crianças não deixe de me
avisar.”
“Claro, meu amor, é tão bom ver vocês de novo. Façam uma boa
viagem.”
Dona Isaura acenou novamente enquanto eu e George deixávamos o
orfanato. A risada dos meninos foi a última coisa que ouvi quando
retornamos à estrada.
Tudo daria certo em algum momento, mas em uma coisa dona Isaura
tinha razão: os advogados logo perceberiam as doações em dinheiro vivo. Eu
precisava consertar tudo, e rápido. Eu precisava daquele bebê.
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Eu bufei. Minha mansão era grande, mas não a ponto de não ouvirem
meus gritos. Talvez George estivesse cuidando do jardim, porque não havia
outra explicação para ele negligenciar seus serviços.
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contabilidade.
“Tem alguma coisa que você queira me contar, George?”, perguntei. “Por
que havia um mercenário dentro na minha casa?”
George levantou da mesa e revirou os olhos, como se fosse tão óbvio. Ele
tentou passar por mim e eu parei o corpo diante da porta, de braços cruzados.
“O que está havendo?”, insisti.
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momento.
Deve ter sido impressão minha, porque logo sua expressão me pareceu
perfeitamente normal, se um pouco desdenhosa. As outras mulheres, porém,
continuavam me encarando como se fossem um bando de falcões diante de
um rato.
Eu desci o vidro do acompanhante e Talita debruçou-se para dentro do
carro.
segui com ela para os rumos incertos — e com certeza divertidos — daquela
noite.
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Capítulo 16
Talita
Eu não sabia por que aceitei esse maldito encontro. Ali estávamos nós,
atravessando a noite nova-iorquina naquele carro de gente esnobe, enquanto
Janluque sorria como uma besta, feliz por me enganar mais uma vez.
Mas eu não era boba. Ninguém me fazia chorar durante horas sem pagar
caro.
Ok, ok, eu nunca na minha vida me vinguei de ninguém, mas minha vida
de dificuldades me obrigou a ser forte. Nunca deixei ninguém me atropelar e
aquele idiota não seria o primeiro.
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A questão era: como conseguir isso? Minhas ideias fervilhavam sem que
uma resposta surgisse em mente, mas eu sabia que fingindo cair no joguinho
de Janluque eu pensaria em alguma coisa.
“Você não falou nada durante o passeio, então escolhi nosso restaurante
mais uma vez. O Liberté também ganhou várias estrelas Michelin e prêmios
internacionais, sem perder o clima tradicional. É o melhor lugar para saborear
carré de cordeiro enquanto se admira a Estátua da Liberdade.”
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maquiagem no meu rosto e meu desodorante havia perdido efeito umas cinco
horas atrás. E eu não queria nem olhar para o estado do meu cabelo.
“Derramou acetona na língua, hoje? Você está tão quietinha”, disse ele.
Eu deveria fingir melhor, mas era difícil conversar com o homem que me
seduziu e enganou de forma tão fria. Aquele segundo encontro era o
contragolpe, eu destruiria sua alma como Janluque destruiu a minha e
precisava apenas de um tempinho para descobrir como.
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do meu colo até quase rasgar, mas antes que meus ímpetos homicidas
tomassem conta de mim o garçom apareceu.
“Dois pães. Presunto. Queijo. Qualquer bar de esquina tem essas coisas e
vocês não? Quero um sanduíche. E de dois andares, por favor.”
O garçom concordou com um gesto rápido da cabeça e se apresou de
volta à cozinha. Janluque manteve o olhar arregalado em mim.
“Um novo encontro, uma nova surpresa”, disse ele, baixando o olhar para
pegar uma torradinha.
“É uma longa história, um tanto trágica.” Ele sorriu com o canto da boca,
em uma expressão difícil de ler. “Posso lhe contar mais tarde em um lugar
mais privado. Na minha mansão, por exemplo.”
Que completo desgraçado. Eu me perguntei o que ele diria se soubesse
que eu mesma cresci em um orfanato. Que eu fui abandonada ainda bebê e
que dona Isaura foi a única mãe que conheci até meus dezoito anos quando
me expulsaram de lá para viver como uma adulta independente na maior e
mais impetuosa cidade estadunidense. Se não fosse pela ajuda da Bárbara,
Janluque certamente não se interessaria tanto por mim, porque eu seria uma
mendiga morando embaixo da ponte, talvez ironicamente viciada em crack.
Bem, mesmo que soubesse do meu passado, Janluque iria apenas rir e
pensar num jeito de distorcer minhas palavras para me conduzir à sua cama.
Homens de negócios treinavam a arte da manipulação para se manterem no
topo. Enganar uma manicure inexperiente deve ter sido uma brincadeira de
criança para ele.
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“Quer provar um?” Janluque ergueu um dos escargots com uma pinça.
Bem, se aquela noite tinha tudo para ser insuportável, eu com certeza não
estava me esforçando para reverter a situação. Era como viver um pesadelo
que em parte era culpa minha, mas eu estava tentando provar alguma coisa,
seja lá o que fosse.
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“Mas por quê? O que eu fiz de tão errado?” Janluque tentou se levantar e
eu ergui a mão, poupando-lhe do esforço.
“O que você fez, Janluque? Realmente, você não fez nada. Mas quase
fez.” Eu meti a mão na bolsa e joguei o documento remendado sobre a mesa.
“Parece pouco pra você?”
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Mas mesmo em toda a minha fúria e mágoa, parte de mim sabia que eu
nunca seria capaz disso.
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Capítulo 17
Talita
Bárbara afagou meus cachos loiros, que àquela altura mais pareciam uma
bola de feno.
“Você fez a coisa certa, Talita. Aquele cara era um completo desgraçado.
Desculpa ter te empurrado pra ele.”
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E ainda assim meu coração doía por outro motivo. Um motivo que minha
mente se recusava a aceitar.
“Você vai desidratar chorando tanto, amiga. Me deixa levantar e te
preparar um…” Algo de vidro estilhaçou no canto oposto da sala. “Bruno! Eu
já mandei parar de jogar bola aqui dentro seu filhote de cruz-credo! Vem
aqui!”
“Faz o meu bem forte”, pedi, minha voz abafada pelo travesseiro.
Bárbara concordou e foi para a cozinha, me deixando a sós com sua
legião de demônios que não parava de saltar no sofá e esfregar coisas
grudentas no carpete.
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A chaleira demorava a chiar. Meu chá não ficaria pronto tão cedo, embora
o que eu precisasse mesmo era de vodka com bastante gelo e hortelã. Se não
fosse o bebê dentro de mim eu já estaria dormindo em alguma sarjeta de bar,
abraçada em várias garrafas vazias enquanto cães de rua lambiam minha cara.
Tá certo, aquilo era um pouco de exagero, mas caralho, eu queria me
enterrar no chão e nunca mais sair.
Quando reconheci o cenário ao fundo, meu coração quase saltou para fora
da boca. Uma pitoresca casa de dois andares em uma colina, no coração de
uma floresta de pinheiros. A pintura nas janelas foi retocada e havia muitos
brinquedos novos, mas eu tive certeza: aquele era o Orfanato Aura, onde eu
vivi durante toda a minha infância e adolescência.
“São muitas crianças, todo mês chega alguém novo e quase nunca
conseguimos adotantes, especialmente para os mais velhos. A situação é
difícil, mas estamos aceitando doações e interessados em adotar.”
Minha mente dava voltas com tantas informações. Não bastava ter me
enganado, aquele desgraçado egoísta pretendia fechar um orfanato. O meu
orfanato!
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Bárbara retornou com uma xícara de chá em cada mão, mas eu levantei
antes que ela me entregasse.
“Aonde vai?”, perguntou ela, enquanto eu saltava por cima de crianças
em direção à porta de entrada.
“Jean-Lucc quer me atacar atingindo o Orfanato Aura. Ele não sabe com
quem está lidando.” Eu abri a porta e virei-me para Bárbara, jogando meus
cachos loiros para trás. “Durma cedo hoje, Babi. Amanhã vamos cedinho ao
Capilair.”
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“Nem pensa nisso, flor.” Dona Laura voltou para dentro do salão comigo
e com as outras. “Você disse que cada centavo é importante, não disse?
Aquela tal de Isaura vai apreciar seu esforço.”
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“Beba água, minha querida, vai acabar desidratando nesse calorão.” Dona
Henrica me trouxe um copo e me fez sentar. “Você não pode proteger um
bando de crianças estranhas, mas deve proteger a sua.”
“Dona Henrica, isso não foi muito gentil”, Bárbara a repreendeu.
“Não, a dona Henrica está certa. O bebê deveria ser a minha prioridade e
ao invés de pensar nele eu fico tentando me vingar daquele idiota e
conseguindo apenas me envergonhar.”
Lágrimas empoçaram nos meus olhos, mas Bárbara me abraçou antes que
eu começasse a chorar.
“Seu coração está no lugar certo, Talita. Você se preocupa com o orfanato
e os órfãos, e quer apenas impedir que Jean-Lucc roube seu bebê. Não sinta
vergonha em lutar por ele.”
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“Talita, eu…”
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Capítulo 18
Jean-Lucc
Aquilo era tão embaraçoso. Para um Jean-Lucc uma única lágrima já seria
motivo de divórcio, então tudo naquela cena era ridículo.
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Antes, claro, era preciso que Talita não me desejasse morto. Eu ainda
queria me bater por ter derrubado o documento em sua casa, mas era o que eu
merecia por seguir os planos do George. Mesmo que ela acreditasse que
havia sido eu a rasgar o papel, isso não diminuiria a minha culpa. Eu tentei
enganá-la e não acobertaria uma mentira com outra.
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Capítulo 19
Talita
Algo não se encaixava. Janluque nunca quis que eu fosse sua barriga de
aluguel, aliás, nas circunstâncias certas isso seria impossível, a legislação não
permite que mulheres sem filhos aluguem seu ventre. Ele pretendia ter um
bebê pelos meios certos, então suas mentiras comigo não foram simples
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“A única coisa que pode animar essa moça é sexo!” Ela pigarreou. “Há
quanto tempo está na seca, Talita? Desde o encontro com o bunda-mole de
terno?”
“Ahm, sim, e isso faz menos de uma semana”, respondi, indignada com
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aquele atrevimento.
“Estou brincando, Talita, meu bem. Aliás, o que eu disse é verdade, mas
você precisa mesmo é de sorvete e novela. Eu lhe dei férias curtas demais, vá
pra casa e aproveite a semana.”
“Eu agradeço, mas trabalhar mantém minha cabeça ocupada.” Eu peguei
meu celular, soltando um longo suspiro. “Mas os episódios novos de Sob a
Luz do Teu Olhar saíram ontem, então vou aceitar parte da sua gentileza.”
Jéssica pagou algum serviço com dona Henrica, que certamente não era
cabelo, porque aquela cabeleira platinada esbanjava perfeição e requinte.
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“Jéssica, há quanto tempo.” Eu fiz sinal para que ela sentasse comigo.
“Sente-se. Veio fazer as unhas?”
“Ah, vocês nem sabem. Diretor Ignácio pediu demissão, mas ainda assim
sofreu um processo criminal. Ele pagou fiança e sumiu do país com medo de
ser preso. Agora estamos sob nova direção.” Jéssica sorriu e desceu as mãos
apontando para si mesma.
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mal contive o choque. Jéssica era o tipo de loirinha eufórica e enérgica que
parecia completamente oca dos ombros para cima.
“Acho que chega de doações de óvulos pra mim.” Eu dei risada e abri o
esmalte que Jéssica havia escolhido.
“Ah, meu namorado vai pirar nessas unhas. Rawr!” Jéssica deslizou as
unhas no ar como um gato arranhando a mobília. “Obrigada, Talita. Vocês
duas são excelentes… ei, o que é aquilo no balcão?”
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vai fechar por falta de dinheiro, estamos tentando impedir de algum jeito.”
preciso ir. Estou atrasada pra minha sessão de aromaterapia. Tchau, tchau!”
As boas lembranças no Aura aqueciam meu coração, mas eram tão raras.
Dona Isaura fazia o possível para animar nossos dias, servindo pão em pratos
coloridos, e recortando cenouras no formato de bichinhos, tudo para nos
distrair do fato que, novamente, nosso almoço seria pão e meia cenoura.
Nunca tive nada para chamar de meu, o pouco que eu ganhava dos
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visitantes era roubado pelas outras crianças. E a pior parte eram os visitantes
em si. Dezenas de possíveis pais, com suas roupas caras e sorrisos nervosos.
A maioria adorava conversar comigo e alimentar minhas esperanças, e então
eles partiam com um bebê. Eles sempre escolhiam os bebês.
Ah, trocar airbags custava uma fortuna, a Bárbara iria me matar. Quem
era o idiota que resolveu estacionar no meio da pista?
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Capítulo 20
Talita
Duas mãos agarraram meu braço direito e duas o meu braço esquerdo.
Meus sapatos arrastaram pelo chão de terra e depois pelos gravetos entre as
árvores. Tudo estava escuro e eu tremia, assustada e sem ideia de para onde
estavam me carregando.
“Você é o George, filho da dona Isaura.” Eu tentei levantar, mas por trás
de mim a segunda pessoa agarrou meus antebraços e os amarrou, prendendo-
os ao encosto da cadeira de forma que minhas mãos continuassem livres.
“Por que está fazendo isso?”
George deixou escapar uma risada, como se a resposta fosse óbvia. Bem,
não era óbvia para mim. Eu não via George desde os tempos do orfanato. Ele
sumiu pouco depois do meu amigo ser adotado, aparecia apenas às vezes para
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Por que raios eu estava ali? Não havia sido uma caminhada longa. Depois
que George e o outro cara me agarraram e vendaram, andamos por menos de
dez minutos até chegar ali. Não podia ser tão longe do orfanato ou da estrada.
“Ah, Talita, como sempre a pirralha metida não reconhece sua própria
posição no mundo.” Ele fechou a porta, sozinho comigo no galpão meio
escuro. Ele tirou as luvas e jogou no chão. “Lamentável nos reencontrarmos
novamente. As coisas poderiam ter sido diferentes. Tão, tão diferentes.”
“Hggn gnnng!” Eu me debati na cadeira, tentando soltar os braços.
Arrepios de pavor estremeciam meu corpo e molhavam os meus olhos.
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Uma lágrima escorreu até molhar a mordaça em minha boca. O que iria
acontecer comigo? Eu passei as mãos no meu colo procurando a minha bolsa,
mas óbvio que eles não a trariam junto. Eu não podia ligar para ninguém, e
ninguém me procuraria. Bárbara pensaria apenas que escolhi pernoitar no
orfanato.
“Você deve estar se perguntando: O que eu fiz? Por que estou aqui?
Porque bem, convenhamos pequena Talita, astúcia nunca foi o seu ponto
forte.” Ele verificou as próprias unhas casualmente, sem a menor pressa. “A
verdade é que reencontrá-la me desagrada tanto quanto a você, mas foi
inevitável. Você teve sua chance de fazer o certo e meu patrão teve a chance
de resolver de seu próprio jeito, mas como sempre tudo caiu nas minhas
costas. Não estou reclamando, longe disso. Será um prazer enorme resolver
nosso impasse de uma vez por todas.”
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“Patrão Charles já tem tudo o que precisa para ser feliz, eu me garanti
quanto a isso. Não será uma manicure burra que destruirá tudo o que ele
construiu, ou o orfanato que ele tanto ama!” George levantou a voz,
avermelhando de raiva.
Eu franzi a testa, tentando processar tantas informações. Charles…
Charles Jean-Lucc? O ricaço mimado que pretendia me sabotar? Como
assim, salvar o orfanato?
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“Eu poderia dizer que sim, mas neste momento o patrão está de cama,
adoecido de tanto chorar por quem não vale a pena. Tudo o que ele queria,
tudo o que ele precisava, era da guarda desse bebê que você roubou. O
orfanato da mamãe não será salvo de outra forma.”
Quê? Qual a ligação entre ter a guarda de um bebê e salvar um orfanato?
Eu não entendia e precisava de explicações, mas essas explicações não viriam
de um mordomo louco.
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Meu peito acelerou e eu senti revirar minha barriga, como se meu bebê
sentisse meu desespero e se desesperasse comigo. Não fazia sentido, claro.
Ele era apenas uma bolinha de células, mas era uma bolinha de células que
fazia parte de mim e eu não desistiria dele de jeito nenhum.
“Você é louco, George. Pensa que Janluque aprovaria isso? Ele vai
descobrir e ele vai te odiar!”
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“Não sei por que Janluque precisa desse bebê, mas não vou assinar nada e
o Orfanato Aura não será fechado. Eu mesma posso salvá-lo, então me
deixem ir!”
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Capítulo 21
Jean-Lucc
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Após terminar o banho, eu vesti meu terno e chamei George para remover
qualquer fiapo perdido, mas ele não respondeu. Será que ainda estava
dormindo? Eu raramente acordava tão cedo, mas, pelo que ouvi, George
começava o serviço as três ou quatro da manhã.
“Caiu da cama, patrão Charles? É tão bom vê-lo disposto!” Ela sorriu e
começou a ajeitar as coisas na mesa de jantar. “As torradas logo ficarão
prontas e o senhor não venha com frescura! Precisa comer bem e se
recuperar.”
Eu concordei e sentei à mesa para saborear meu desjejum. Estava
sinceramente faminto e dona Francisca havia caprichado.
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“O que você quer aqui?” Ela meteu a mão na bolsa. “Você já feriu a
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“Não sei por que Talita dá tanta importância ao Orfanato Aura, mas eu
não quero destruí-lo, quero salvá-lo!”
A manicure — era Bárbara o nome dela? — afinou os olhos ainda mais, e
num gesto brusco arrancou o chaveiro da bolsa e apontou um tubinho na
minha cara.
“Por que o Orfanato Aura é tão importante para você?”, ela perguntou,
desconfiada.
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“Sim, toquei várias vezes, eu estou à meia hora tentando e ela não
atende.”
Meu incômodo tornou-se preocupação.
“Já tentou ligar pra ela?” Eu mesmo peguei o celular e tentei ligar, mas a
chamada não completou.
“Tentei várias vezes. Eu queria saber como foi no orfanato, mas desde
ontem a Talita não atende.” Bárbara vasculhou a bolsa e pegou o chaveiro
novamente, me fazendo recuar amedrontado. “No começo pensei que não
pegasse celular no orfanato, depois pensei que tivesse pernoitado naquele
lugar, mas ela precisaria voltar para se arrumar antes do trabalho…”
Bárbara separou uma chave e passou na fechadura, fazendo-a clicar. Ela
entrou e eu a segui logo atrás, invadindo a sala ligeiramente bagunçada.
Eu ajudei Bárbara a procurar, mas não havia muito onde uma pessoa se
esconder, e vários detalhes me causavam um péssimo pressentimento. Havia
diversas xícaras de café velho na pia, nenhum que parecesse ter sido bebido
naquela manhã. A cama estava arrumada e o calor abafado indicava que as
janelas não foram abertas há algum tempo.
E então a ficha caiu.
“Nossa, que fascinante, Jean-Lucc. Conte-me mais sobre a rotina dos seus
funcionários”, disse Bárbara, cheia de sarcasmo. “Minha melhor amiga
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“Com quem pensa que está falando?” Eu abri a porta e nós corremos
pelas escadarias, apressados demais para esperar o elevador. “Continue
tentando o celular dela. Você disse que ela tentou chegar no Orfanato Aura?”
Como eu temia, ao ligar para dona Isaura ela me confirmou que ninguém
havia aparecido com doações. Em algum momento no trajeto entre o salão e
o orfanato Talita havia desaparecido, e George não atendia nenhum dos meus
telefonemas.
“Falta muito pra gente chegar?”, Bárbara perguntou pela décima vez.
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“Quando conheci a Talita, ela já tinha saído de lá. Ela pediu comida na
porta da minha mãe e a gente a convidou pra morar conosco um tempo,
depois conseguimos aquele emprego de manicure. Ela diz que chegou bem
longe pra uma órfã.”
“Dãã, pensei que bilionários fossem mais espertos. Vocês estão sempre se
pegando pelo pescoço e nunca conversaram sobre a família de cada um?
Talita viveu no Aura desde bebê, por isso ela quer tanto salvá-lo.”
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“Tá certo.” Bárbara revirou os olhos, sarcástica. “Vou vestir minha coroa
de trouxa e acreditar que você quer salvar as criancinhas órfãs, Jean-Lucc,
mas quer que acredite que você fazia filantropia aos seis anos? Dirige mais e
fala menos.”
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Capítulo 22
Talita
Minha língua grudava no céu da boca, nunca havia sentido tanta sede e
calor. Meu corpo inteiro doía pelo tempo que fiquei sentada, e as cordas
começavam a esfolar doloridamente os meus braços.
Uma lágrima teria descido pelo meu rosto se não fosse a desidratação. Eu
precisava beber qualquer coisa.
“Bom dia, Talita. Como passou a noite?” George brindou sua garrafa no
ar e bebeu outro gole lentamente, deixando gotas escorrerem pelos cantos dos
lábios. “Minha noite foi maravilhosa. Há tanto tempo eu não dormia no
orfanato, no quarto que costumava ser meu e do Charles. Os colchões novos
são muito confortáveis.”
“O que foi? Pensei que nosso retorno a agradaria. Mulheres adoram ter
com quem papear.”
“Você é insano”, falei.
“Uma simples assinatura e tudo acaba aqui. Você terá sua liberdade,
prosseguirá com a gestação da forma que bem entender, e poderá beber essa
água refrescante. Está uma delícia.” Ele riu. “Caso contrário, eu e Hector
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“Caralho, por que tem uma limusine nesse fim de mundo?”, perguntou
uma voz distante de mulher.
“É a minha limusine. Talita não pode estar longe”, respondeu uma voz
masculina que disparou meu coração.
“Janluque! Janluque, eu estou aqui!!”, gritei com toda a força dos meus
pulmões.
“Ah, acho que estraguei meu sapato.” Janluque olhou para os pés,
frustrado.
“A porta nem estava trancada, seu machão exibido”, disse Bárbara,
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“Talita!! Ai, meu Deus, o que fizeram com você?” Bárbara correu até
mim e ajoelhou para desatar as cordas.
“Patrão Charles, tente entender. Tudo o que faço é pelo seu bem”, disse
ele com a voz trêmula e nada da postura arrogante de antes. George parecia
um coelhinho assustado.
Janluque virou-se para Hector com um olhar que arrancaria respostas até
de um mudo.
“George requisitou meus serviços para um novo plano laranja, a fim de
obter a guarda exclusiva do seu filho”, Ele respondeu calmamente e então
virou-se para o George, que empalideceu como papel. “Não me olhe assim,
George. Jean-Lucc é meu patrão e é a ele quem devo satisfações.”
Janluque enraivecia mais a cada instante, seus olhos azuis brilhando como
fogo ardente.
“Se eu sou o patrão você deveria me consultar primeiro!”, ele gritou com
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Janluque era, afinal, o menino das minhas memórias e meu grande herói.
Babi e Janluque também procuraram, tão surpresos quanto eu. Assim que
falamos em polícia, Hector simplesmente desapareceu.
“Talita…” Ele enfim ignorou o George e virou-se para mim. Ele acariciou
meu queixo. “Vocês estão bem?”
“Por isso.” Eu completei a distância entre nós dois e selei nossas bocas.
Janluque apertou nosso abraço e beijou com vontade e urgência, como se
nunca mais fôssemos nos tocar.
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por tanto tempo. Enfim tê-lo ao meu lado me fazia querer chorar.
Bem, não importava o que aconteceria com eles dali em diante. O que
importava era que tudo havia terminado bem e a guarda do bebê continuava
comigo.
Tudo o que eu precisava, após tanto sufoco, era voltar para casa e tomar
um bom banho. Nossa, eu estava suada e fedendo pra caramba.
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Capítulo 23
Talita
5 meses depois
O dia das mães sempre foi uma data em branco para mim, mas naquele
ano a data tornou-se muito especial porque eu comemoraria meu primeiro dia
das mães, e a mamãe era eu!
Com os dedos entrelaçados nos meus, o noivo mais perfeito do mundo me
conduzia em meio à multidão, nossas alianças douradas deslizando uma na
outra com o mover de nossas mãos. Eu perguntei a ele se deveria chamá-lo de
Charles após o noivado, mas ele recusou na hora. Janluque era um apelido
meio idiota e sem sentido, mas foi como o chamei pela primeira vez então ele
acabou se apegando.
Janluque apontou para o lado e insistiu em visitar ainda mais uma loja. É
incrível quantas lojas de artigos para bebês existiam, eu nunca reparei nelas,
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mas de repente pareciam estar por toda parte, provocando nossas carteiras
com seus andadores coloridos e banheirinhas de plástico.
“Assim como os últimos dez carrinhos que nós vimos.” Eu sorri com o
canto da boca, sem encontrar coragem de arrancar Janluque daquela loja.
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Eu sentia que era apenas uma desculpa para Janluque comprar o resto da
loja, mas concordei e fui sentar nas mesas da frente, tentando ignorar o cheiro
de chocolate dos sorvetes porque ultimamente tudo me fazia vomitar.
Afinal, uma rotina pouco desgastante dava tempo de sobra para as minhas
novelinhas, eu podia assistir e reassistir todos os 514 episódios de Sob a Luz
do Teu Olhar e criar resenhas para o meu blog, que passou a ter milhares de
visitas diárias após minha resenha antecipada do filme.
De qualquer forma, logo minhas poucas atividades se encerrariam porque
a gravidez dificultava meus movimentos. Janluque temia que eu batesse a
barriga subindo as escadas ou despencando das janelas. Ele era tão
exagerado, mas pelo menos parou de escrever listas estranhas.
Com isso eu queria dizer que eu também passei a gastar como uma louca.
Só de imaginar minha nova Jaccuzzi personalizada eu estremecia de
ansiedade, esperando que a transportadora italiana a entregasse logo.
“Já podemos ir para casa? Sinto que vamos comemorar trinta dias das
mães ao mesmo tempo.”
“Me parece justo já que é nosso primeiro dia das mães em trinta anos.”
Janluque beijou meu rosto. “E vocês dois merecem ainda mais do que isso.
Eu compraria montanhas, se meus braços permitissem carregar.”
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“A menos que nosso bebê seja um futuro minerador, ele não faria muito
uso de uma montanha”, brinquei, engatando meu braço no dele. “Vamos
logo, se a gente não passar no delivery do KFC eu vou morrer.”
“KFC de novo? Mas meu amor, nós temos uma equipe de culinária e um
chef especializado em nutrição para gestantes, todos eles preparando nosso
jantar agora mesmo.”
George deixava uma loja de roupas com um pacote nas mãos. Assim que
ele nos viu ele também congelou. Encarando Janluque como se fosse um
fantasma.
“Oi, patrão Charles.” Ele sorriu tímido e baixou o rosto para o pacote em
suas mãos. “Digo, creio que devo chamá-lo apenas de Charles, agora.
Obrigado por pagar meus advogados.”
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“Não agradeça a mim, foi sugestão da Talita. Ela acredita que você armou
tudo apenas para salvar o orfanato da sua mãe.” Janluque suspirou. “E
independente dos seus motivos, você me ajudou muito durante toda a minha
vida.”
“Acredito que você é esperto o bastante para não errar uma segunda vez.
Ouvi dizer que reduziram sua sentença.”
“Apenas mais dois anos e em regime semiaberto, como pode perceber.
Seus ex-advogados são péssimos em controle financeiro, mas até que servem
como advogados de defesa.” Ele balançou a sacola em suas mãos.
“Conseguiram aliviar a sentença a tempo do dia das mães. Minha mãe está
nas nuvens.”
“Espero que tenha se desculpado com a dona Isaura. Ela sofreu muito
quando descobriu o que você fez, George”, falei, ainda indignada. Nunca na
minha infância eu havia visto dona Isaura chorando, mas a condenação do
George a devastou completamente. O abrandamento de pena era o alívio que
dona Isaura precisava.
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existência apenas então. “Parabéns por tudo, Talita. Vocês três são uma linda
família.”
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Epílogo 01
Jean-Lucc
4 meses depois
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continuou correndo com a minha cadeira, muito mais ágil após o parto do
centésimo filho, ou sabe-se lá quantos ela já tinha.
“Força, Talita! Falta pouco!”, exclamou ele com as mãos abertas como se
fosse pegar uma bola de beisebol. “Respira, respira, força! Respira, respira,
força!”
Ah, se esse médico falasse mais uma palavra eu chutaria a cara dele!
Quantos falta pouco eu ainda iria ouvir? Malditos médicos, maldito hospital,
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maldita melhor amiga que já havia dormido no sofá e maldito Janluque, que
há quarenta minutos acariciava minha mão a ponto de esfolar minha pele.
“Vocês dois são um fiasco”, Bárbara disse. “Força, Talita! Cospe esse
moleque de uma vez.”
Ainda bem que Janluque não vomitou de novo, talvez porque o choque
não permitia. Em seus braços estava a criaturinha que nos acompanhou
invisível desde o nosso primeiro encontro, e que agora segurava seu dedo e
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apareceu com nosso filho, que era a coisinha mais impossivelmente fofa do
universo.
“Oi, meu Jeremy, eu sou sua mamãe Talita.” Eu cutuquei o nariz dele
com o meu. Era tão pequenininho! “E você é um bebê fofinho e herdeiro de
uma megacorporação e um shopping. E seu pai é gostosíssimo e transa como
um híbrido de leão e robô.”
“Temos aqui um bebê que fará terapia pelos próximos trinta anos”,
brincou Bárbara. “Estou brincando. Quem vai precisar de terapia sou eu.”
Eu e Janluque demos risada, encantados demais com o nosso pequeno
milagrinho.
Após nos ajudar com a primeira troca de fraldas, Bárbara foi embora
cuidar dos próprios filhos antes que sua mãe fugisse para as montanhas.
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Epílogo 02
Talita
3 anos depois
eu bem que precisava aumentar meu próprio círculo social. Janluque sugeriu
o Clube de Canastra ou a Sociedade do Chá Beneficente, e eu ri tanto da cara
dele que quase desloquei uma vértebra.
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“Há quanto tempo você não faz as unhas, rapaz? Olha pra essas cutículas
enormes”, disse dona Henrica.
“Nunca mais frequentei manicure, dona Henrica. Não curto essas coisas.”
Janluque riu.
“Ahm… vou perguntar por aí.” Janluque riu nervoso e olhou para mim.
“Amor, não entre em pânico, mas o Chef Francis montou o bolo na mesa dos
salgados.”
“Ah, eu vou matar aquele velho senil!” Eu limpei a garganta e sorri.
“Meninas, aproveitem a festa. Bárbara, os garçons têm trezentos convidados
para servir, tente não transar com nenhum deles.”
“Prometo aguardar até o fim da festa.” Ela sorriu, e eu não soube dizer se
estava sendo sarcástica ou não.
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Devia haver alguma lei obrigando crianças a terem a fase dos cavalinhos,
porque Jeremy era tão louco por eles que Janluque tentava comprar um pônei
todas as semanas. Até o momento eu havia conseguido evitar todas as
compras, mas sentia que nosso quintal teria cocô de cavalo muito em breve.
Pelo menos Jeremy ficaria feliz, eu acho.
“Vem, filhote, hora de nanar na sua cama.” Ele beijou a testa do Jeremy e
o carregou para o seu quarto.
Janluque entrou na pontinha dos pés, sem notar que eu ainda estava
acordada. Ele vasculhou seu armário enquanto vestia apenas uma toalhinha
na cintura.
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“Aquele era meu terno Armani, não posso simplesmente jogar no cesto da
roupa suja”, disse ele. “Dona Francisca irá entregar na lavanderia amanhã.”
“Oh, entendo”, falei, meu olhar fixo no relevo de suas nádegas,
apertadinhas sob a toalha branca. “Talvez eu devesse separar meu vestido
também.”
“Que mentira. Você adora ter motivos para me comprar vestidos novos.”
Eu me espichei na cama e deixei a camisola subir, esperando que ele notasse.
“E eu tenho excelentes modos, senhor meu marido.”
Eu enfim roubei a atenção do meu marido, que admirou com safadeza as
minhas pernas expostas e perfeitamente depiladas. Ele largou as roupas que
separava e aproximou-se da cama, lambendo os lábios.
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“Cuidado com o que deseja, amor, porque estou doido pra te desmontar.”
Eu chamei Janluque com o dedo para que deitasse comigo, mas ele
levantou-se da cama lentamente, também tendo espasmos de relaxamento.
“O filho da sua amiga derramou ponche nas minhas calças, preciso
demais de um banho.”
“Quanta frieza. Durante nosso namoro você teria pedido que eu lambesse
o ponche dessas suas pernas peludas.”
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“Não são tão peludas assim.” Ele fitou as próprias pernas e sorriu safado,
voltando a me devorar com os olhos. “E realmente, o antigo Jean-Lucc te
faria lamber minhas pernas.”
Eu sorri com o canto dos lábios, mais do que satisfeita com essa resposta.
Janluque me carregou para o banheiro da suíte e trancou a porta. Pelo
resto da noite meus gemidos de êxtase ecoaram pelas paredes de azulejos,
enquanto Janluque me presenteava com toda a sua virilidade.
Fim
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Amostra Gratuita
O Amante do Tritão
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Capítulo 01
Nossa, aquelas pessoas não tinham nada a ver comigo. Mas que
escolha eu tinha? Meu irmão teve a bondade de me aceitar na casa dele
quando nosso pai me expulsou por ser gay. Não queria preocupar o Alisson
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Digo, eu não estava fora de forma nem nada assim, mas aquelas
pessoas eram tão mais bonitas que eu. Todos bronzeados, com músculos
duros e sorrisos radiantes. Surfe devia ser um esporte divertidíssimo, porque
todos riam animados após um domingo pegando ondas.
Todos, menos um. E era justamente aquele o cara que eu não
conseguia tirar os olhos. Dylan, o único que eu decorei o nome de imediato,
era sensacional.
Dylan não parecia ser como os outros, talvez por isso me interessei
desde o primeiro luau. Cabelos cacheados pretos, queixo quadrado, peito
largo e musculoso, e olhos de um verde sobrenatural, quase iridescentes.
Nunca vi alguém com um olhar tão incomum e tão lindo. E ele sempre vestia
apenas uma sunguinha azul, revelando a totalidade de suas coxas grossas e
firmes.
“Do que eles estão falando?” Perguntei, vibrando por ter conseguido
falar com ele.
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maridinho.” Michel riu da própria piada, mas poucos riram junto. Eles
sabiam pelo que passei para estar ali. “Você nem surfa, Dylan. Na verdade,
nunca te vi entrar no mar, e você também não cumpriu o desafio. Por que
raios anda com a gente?”
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pensamentos.
“Já disse que vou jogar.” Eu fechei os dados nas mãos e agitei,
ignorando a repreensão no olhar do Dylan.
Ninguém nem respirava enquanto eu agitava as mãos. Quando lancei
os dados a rodinha jogou-se ao meu redor, ansiosa pelo resultado.
Meu sangue gelou. Não sabia no que me meti, mas sabia que estava
fudido.
“E agora?” Perguntei, enquanto todos brindavam, bebiam e se
chapavam, rindo de se matar.
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Capítulo 02
nada. Eu nunca tive aulas de natação, mas não podia ser tão difícil.
***
Só então percebi algo estranho. Digo, algo mais estranho que ter um
homem delicioso pelado na minha frente.
“Que lugar é esse?” Eu olhei ao redor. Haviam apenas pedras
escuras e molhadas, constantemente castigadas pelas ondas. O oceano se
expandia à minha frente, iluminado pelo céu azul, e um pontilhado minúsculo
indicava uma cidade distante. Atrás de nós haviam apenas mais pedras, que
se apoiavam umas na outras e formavam uma caverna.
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aquele peito gostoso tocasse o meu, virgem como eu era, eu passaria a maior
das vergonhas.
Meu coração saltou, e meu pau saltou, e meu corpo entrou em pane,
parte dele querendo correr, parte dele querendo me despir e gritar vem!.
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Capítulo 03
A caverna era maior do que parecia ser, por dentro. Também haviam
diversas mobílias: um sofá-cama, estantes de livro, e diversos penduricalhos
dourados nas paredes de pedra escura, do tipo que pareciam resgatados de
navios submersos. Havia também uma piscina interna, que iluminava o
interior num tom azul intenso e trêmulo.
Eu não esperaria um lar menos insano para um cara como Dylan.
devagarinho.
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Quando pensei que não melhoraria, Dylan soltou uma das minhas
coxas e me fez outra punhetinha, dessa vez já começando rápido.
Ai, meu Deus. Comecei a gritar como um ator pornô. Então isso que
era transar? Nunca senti nada tão bom.
E Dylan foi adiante. Ele soltou meu pau e tirou a língua de dentro.
Antes que eu reclamasse ele abocanhou meu pau com vontade, arranhando
minhas ancas enquanto chupava com dedicação.
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“Vem me tomar, vem.” Dei uma reboladinha, só pra ver o que ele
faria. “Você vai ser meu primeiro.”
Dylan afagou minhas nádegas, me arrancando um suspiro. Ele se
encaixou entre as minhas pernas e meteu um dedo lá dentro, brincando de me
fazer gemer.
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“Ai!” Eu gritei, mas não de dor. Eu... eu nem sabia o nome daquela
sensação, mas ah, meu Deus, eu queria mais.
E Dylan me deu muito, muito mais. Ele recuava e invadia cada vez
mais rápido, se enterrando dentro de mim quase que com brutalidade.
Eu gritei contra a almofada, alucinado pelas sensações tão intensas
quanto desconhecidas. Era como morrer de dor, e querer sofrer para sempre
mesmo assim. Eu só podia estar enlouquecendo. Queria que não parasse
nunca, que Dylan me arrombasse até não sobrar nada de mim.
“Espero ter satisfeito o meu predestinado.” Ele sorriu pra mim, com
um brilho reluzente e doce no olhar.
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Capítulo 04
Algo que não reparei antes, era o quanto o sofá-cama era novo.
Diferente das velharias, ele parecia nunca ter sido usado. Será que Dylan
havia trocado de cama recentemente? Senão, onde ele dormia? Quando
acordei ele já havia partido.
tenha atravessado o oceano à nado? Orla das Sereias mal podia ser vista,
daquela distância.
Dylan deixou a sacola ao meu lado e inclinou-se sobre mim. Ele deu
um beijinho nos meus lábios e sorriu com a doçura de um pão-de-mel.
Ok, ele era fofo, eu precisava admitir.
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***
Com o olhar nos pés eu lhe entreguei sua preciosa prancha, sem
saber por onde começar. Desde que fui expulso de casa, Alisson tentava ser
pai e irmão ao mesmo tempo. Meu irmão era quinze anos mais velho que eu,
e vivia a vida de lazer e glória dos surfistas profissionais. Eu não queria ser
um fardo para ele.
“Na sua idade eu também tinha meus segredinhos. Fico feliz que
esteja fazendo amigos.” Ele afagou meus cabelos. “Agora vai tomar um
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Capítulo 05
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Ai, socorro.
“Entendi...” Respondeu Alisson, com cara de quem não entendeu
porra nenhuma. “Fico feliz que seja amigo do Gabe. Foi um primeiro mês tão
difícil pra ele, eu começava a me preocupar.” Alisson riu travessamente para
mim, e voltou a conversar com Dylan. “Tendo dito isso, o trabalho do Gabe
começa amanhã, então espero que ele não se distraia.”
“Você sabe que estou bem aqui, não sabe?” Perguntei, indignado.
“Um amigo meu tem uma loja de pranchas, ao fim da praia. Gabe
vai ajudar nas vendas.” Alisson sorriu para mim, e voltou a atenção ao Dylan.
“Pode visitá-lo às vezes. Não aparecem muitos clientes na baixa temporada, e
o Gabe se entedia fácil, né Gabe?”
“Vou voltar pro quarto. Vem Dylan, preciso... devolver aquela coisa
que... você esqueceu comigo.”
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abraçava apertado, deitado sobre mim. Seu corpo esfregava no meu enquanto
ele mordiscava minha boca, e dançava a língua ao redor da minha com tanta
vontade que fiquei totalmente duro. Meu pau espetava sua sunga de natação
através da minha bermuda.
Eu olhei para o meio das pernas dele, onde aquele pauzão gostoso
aguardava prontinho para me desmontar de novo. A sensação daquela manhã
retornou à minha memória, me fazendo estremecer.
Dylan riu. “Claro que sim. Por que usaríamos camisinha para
acasalar?” Ele perguntou, já descendo minha bermuda. “E não, não tenho
doenças. Mesmo que tivesse não seriam contagiosas a humanos.”
Eu torci o lábio. Precisava me acostumar com as palavras estranhas
daquele demente. Pelo menos ele fodia bem demais, ou eu jogaria ele pra
fora.
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Nossa, seria bem difícil não gritar, mas não queria que Alisson me
ouvisse.
“Por que quis fazer de... ah... fazer de quatro, antes? Era tipo, sua
posição favorita?” Eu acariciei seus cachos negros, enquanto ele mordiscava
minha tetinha sem dó. Ai meu Deus, eu já sentia um orgasmo vir.
Dylan falava umas coisas insanas, mas nossa, ele sabia me fazer
derreter. E aquele foi apenas o primeiro orgasmo da noite, parei de contar
depois do quinto.
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Capítulo 06
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“Claro, claro. As coisas tão apertadas, mas pro Alisson sempre dou
um jeito, né? O cara surfa demais. Tinha que ver antes da crise, o cara nos
campeonatos com patrocínio da loja. Rapaz, as vendas costumavam ser
loucas.” O cara me chamou pra sentar nas poltronas, que balançavam do teto
como redes. “Não culpo o cara, por mudar de patrocinador. Alisson tá tipo,
com os grandes agora, né? Fiquei sabendo que vai competir no Havaí, daqui
uns meses. A propósito, meu nome é Jones. Mas pode chamar de Jon,
Jonnie... irmão do Alisson é irmão meu.”
Eu mantive o sorriso, meio atordoado. Nossa aquele cara falava
muito.
“Meu nome é Gabriel, mas me chamam de Gabe. Meu irmão vai pro
Havaí, você disse?”
“Vai. Ou acho, né. O cara é daqueles que sobem dez degraus por
vez, daí os patrocinadores não acompanham, porque né, lá fora o cara né
nada, ainda. Ainda! A inscrição é os olhos da cara, mas o Alis comentou que
o pai de vocês tem grana, né? Ele faz o que da vida?”
“É pastor evangélico.” Eu baixei a cabeça, sentindo o peito doer.
Eu fiquei quieto.
“Enfim, olha só.” Jones jogou fora o sabugo e limpou as mãos no
calção. “O que tu vai fazer é vender prancha. Ou tentar né, porque com a
crise e a concorrência tá foda. Mas tu é mano do Alis só isso deve atrair uns
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Pelo jeito que o senhor Jones olhou pra mim, eu sabia que tinha
falado um monte de besteira.
“Bom... hoje não teremos muitos clientes, posso lhe ensinar como
funciona cada equipamento. Ou pelo menos o nome de cada um.”
“Prometo me dedicar ao máximo!” Eu sorri cheio de empolgação e
explorei os cantos da loja.
Nos fundos da loja, por trás do balcão, havia um enorme pôster que
parecia réplica de uma pintura. Uma praia de areia branca, mar azulado e
pedras negras, que eu reconhecia como a praia em frente à loja. Sobre as
pedras se divertiam e cantavam vários homens e mulheres lindos. Mas não
eram humanos. Do torso para baixo brotava a cauda de um peixe, em um tom
iridescente que chamou minha atenção.
Eu me aproximei como se hipnotizado, observando dois homens-
peixe que brincavam com uma criancinha também caudada. Os olhos verdes
de cada um me atraíam de forma quase magnética. Me lembravam alguma
coisa.
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“Relaxa, rapaz. Lenda tem por tudo, uma mais louca que a outra. Tá
ligado que sereias não existem, né?”
Eu forcei um sorriso. “Sim, claro. Lendas.”
***
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Dylan entrou na loja com um sorriso que disparou meu peito. Seus
cachos negros pingavam e a água no corpo traçava as linhas dos músculos,
como se recém tivesse dado um mergulho. Será que ele possuía alguma roupa
além daquela sunga?
“Mas...” Eu avermelhei.
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“...Jantar?” Perguntei, mas era óbvio que eu não era parte daquela
conversa.
“Eh, coisa mais boa. Divirtam-se, rapazes. Aviso ao Alis que o
irmãozinho voltará tarde.”
Quando Dylan enfim diminuiu o ritmo, ele desceu a mão pelo meu
braço até tocar a minha, mas eu me encolhi, nervoso. Só podia ser alguma
brincadeira. Meu irmão não se enojou por eu ter levado um homem pro
quarto, e não fui demitido por ter abraçado esse mesmo homem na frente da
loja. Eu não entendia o que estava acontecendo, mas a praia era um local
público. Não queria arriscar.
Dylan me respeitou, e andou ao meu lado sem tentar me tocar de
novo. Por algum motivo, sua desistência fez meus olhos marejarem.
“Você está meio pra baixo.” Falou Dylan. “Seu trabalho é ruim?”
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Capítulo 07
“Eu... eu sei que você gosta de peixes, mas eu esperava uma tainha,
ou salmão.”
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“Você não combina com eles, meu predestinado. Você é muito mais
especial.”
Eu sorri com o elogio, e dei um selinho nos lábios do Dylan, mas ele
foi rápido roubou um beijo de língua, me fazendo rir. Não tinha nada a ver
com impressionar meu irmão, ou ser quem eu não era. Se uma pessoa incrível
e bondosa como o Alisson conviveu com pessoas assim, eu queria ser capaz
de fazer o mesmo.
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Eu olhei para aquele mastro, que endurecia aos poucos sob meu
olhar. Meu corpo tremeu de vergonha e de medo. Ai, meu Deus. Eu nunca fiz
algo assim antes, e nem sabia como.
Dylan crescia rápido contra a carícia dos meus lábios. Ele já parecia
prontinho pra me foder, mas antes disso, eu queria provocá-lo mais.
Ao som dos gemidos do Dylan eu engoli a glande e fui descendo, até
o mastro grosso esticar meus lábios. Eu movi a língua por dentro da boca,
buscando o ritmo que o fizesse gemer mais.
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“Você vai mandar foto sua pra outro cara. Eu deveria te deixar
assim, duro e sem gozar.” Dylan agarrou meu pau e me puxou por ele, me
fazendo gritar de dor e de prazer ao mesmo tempo.
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Capítulo 08
“Gabe, oi! Abram o portão, ele está comigo.” Falou Michel, com um
sorriso empolgado e roupas normais que pareciam ser de grife. Era a primeira
vez que eu o via fora dos shorts de surfe, e agradeci internamente ter me
vestido nas minhas melhores calça e camiseta, para visitá-lo.
Assim que entrei Michel me abraçou, todo amigável. Sua voz não-
chapada era difícil de reconhecer, e seu cabelo sempre duro de água salgada
com areia estava bem penteado, preso para trás com um rabo de cavalo, com
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Para um cara de vinte e oito anos, Michel era muito bonito. Agora
que não estavam avermelhados pela maconha os seus olhos brilhavam,
revelando um tom cinza-azulado que me lembrava as nuvens de chuva.
“Por que me chamou?” Perguntei, enquanto contornávamos o
espelho d’água. A mansão parecia ainda mais imensa conforme nos
aproximávamos.
Talvez eu devesse ter avisado o Dylan que eu viria, mas nós nos
encontramos todos os dias daquela semana, sempre para nos divertir e transar
como animais. Eu temia que tanta proximidade acabaria nos enjoando um do
outro.
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casa, com uma cama de docel branco e uma varanda com piscina de onde se
podia avistar o oceano. Mas o que me surpreendia eram as estantes de livro e
mesas de estudo. Haviam cadernos e livros abertos por toda a parte, com
anotações à caneta e papéis rabiscados.
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Michel mexeu no celular e abriu a foto de novo, o que fez meu rosto
arder. Para alguém que recém saiu do armário, eu estava exagerando na
putaria, não estava?
“É você, sim. Eu tenho certeza.” Os olhos de Michel cintilaram de
um jeito estranho, meio melancólico. “Seus lábios são iguais aos dele.”
estudos.”
“Já disse, cara. Relaxa. Tem certeza que é irmão daquele largadão do
Alisson?” Michel tocou uma sineta, e um mordomo apareceu com uma
bandeja. Sobre ela havia uma linda garrafa de líquido âmbar e copos de
cristal. “Aceita whisky?”
vários no grupo ele simplesmente surgiu, não muito antes de mim. E assim
como eu ele nunca entrou na água, não parecia saber surfar.
Fui para a casa com um sorriso animado nos lábios. Cinco semanas
em Orla das Sereias e eu já havia conquistado um ficante bonitão e um
melhor amigo. Meu futuro talvez não fosse tão negro assim.
***
“Você bebeu.”
“Prometa não beber mais.” Pediu ele, com uma voz chorosa. “Você
é meu predestinado, se algo acontecer com o bebê, eu...”
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Meu rosto queimou ao falar essa última parte, mas era o tipo de
coisa que o Dylan diria, e além do mais não era mentira. Mesmo que não
houvesse nada entre nós, não sabotaria nossas chances daquele romance
louco virar algo mais.
Foi a nossa primeira briga, e felizmente a última por todo o mês que
se seguiu.
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Capítulo 09
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Bem, pelo menos ele aquietou sobre eu andar com outras pessoas.
Após uma semana inteira trabalhando e depois tendo encontros com ele, eu
apreciava a companhia do Michel e dos outros, que passaram a me tratar
muito melhor. Claro que após o luau eu não perderia tempo em arrastá-lo pra
o meu quarto e... heheh, eu mal podia esperar.
Michel me chamou ao longe. Eu deitei a barriga na prancha como
ele ensinou, e remei até a rebentação das ondas. Mas havia algo estranho
dessa vez. Uma pontada no ventre fez eu me retorcer, e eu caí da prancha.
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“Só uma cãibra, é melhor eu voltar.” Gemi, todo dobrado. A dor aos
poucos tornava-se suportável, mas meu estômago parecia em chamas.
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“Tem gente demais aqui.” Arfei, cobrindo a mão dele com a minha e
conduzindo à minha parte mais dura. O gemidinho que Dylan soltou me fez
pulsar lá embaixo.
Dylan agarrou na minha excitação por meio segundo e recuou a
mão. Ele virou meu rosto e provou meus lábios.
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***
“Como assim?” Ele riu. “Não sem antes agarrar essa bundinha e...”
Dylan parecia tão confuso. Eu me odiei por fazer isso com ele, e até
esperei ser xingado e agredido. Mas era mais provável que Dylan chorasse de
novo, o que seria ainda pior.
“Só vai.”
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Uma das vozes era a do Alisson, a outra fez meu corpo estremecer e
arder de dor, como se cada chute e cada hematoma retornasse ao meu corpo.
“Não inventa desculpas, pai. O que o senhor fez foi loucura! Nem
reconheci ele, de tão roxo que estava!” Era a primeira vez que ouvia Alisson
tão raivoso.
“Loucura?” Meu pai riu. “Loucura seria manter aquela aberração em
casa. Filho, se eu errei como pai, foi por não prever que ele viria para cá. Um
campeão que me traz tanto orgulho precisando lidar com algo assim é
lastimável.”
“Tem sido solitário morar naquela casa imensa, sem a sua mãe.
Como você está dando um tempo com a Simone, pensei que gostaria de
companhia. Nunca pensei que a aberração...”
“O nome dele é Gabriel.”
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“Deus? Que Deus, pai? Um Deus que manda um pai fazer o que
você fez é tão demoníaco quanto aquela monstra que abortou o meu filho. Eu
e a Simone não estamos dando um tempo, pai. Nós nos divorciamos, o senhor
sabe disso.”
Meu pai deu um longo suspiro.
“Eu sei que é difícil, Alisson, e você quer preencher o vazio. Mas
aquele garoto, sob o seu teto? Você merece uma vida mais digna. Vou me
transferir para a igreja daqui e conseguir uma casa maior, perto da praia. Não
seria ótimo para os seus treinos?”
Eu arrisquei espiar para dentro. Havia uma mala de cada lado do pai.
Ele tentou abraçar Alisson, mas Alisson livrou-se com um empurrão.
“O Gabe pode não ser mais a sua família, mas ele é a minha. Ele não
vai a lugar nenhum.”
“Eu deveria queimar suas coisas, como queimei as dele.” O pai bateu
os pés em direção à porta. “Boa sorte pagando sua maldita inscrição.”
Quando o pai saiu nossos olhares se cruzaram. Os olhos dele nem
pareciam os da pessoa que me criou com tanto carinho, até me flagrar
beijando meu colega. Eram os olhos de um demônio, que preferia me ver
morto a respirando o mesmo ar que ele.
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Aos poucos fui parando de chorar, mas não conseguia que a dor fosse
embora, como se meu corpo tivesse memorizado cada golpe daquele cinto.
“Desculpa não ter estado lá.” Alisson comeu o próprio sorvete, com
um olhar triste. “Não fui um irmão muito presente, né?”
“Você é famosão desde que eu usava fraldas, Alis. Não se sinta mal
por isso.”
Eu ri. “Não tem nada entre eu e o Dylan. Talvez um dia, mas não
agora.”
“Você é maturo demais. Na sua idade eu inventava jogos idiotas, me
drogava, e convencia os amigos a me pagarem boquete.”
“Claro que sim. É como dizem, não é gay se as bolas não tocarem.”
Essa parte me fez cuspir o sorvete, dando risada.
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tornou hostil e agressiva, quando não chorava por aí. Então ela fugiu para a
casa de uma amiga e só voltou na semana seguinte. Não havia mais barriga,
ou bebê. Depois de um tempo encontrei um cartão nas coisas dela. Era de
uma clínica de aborto.”
“Mas...” Meu peito apertou. “O bebê era dos dois, não era? Ela não
podia ter feito isso!”
“Mas fez.” Alisson deu de ombros, com um sorriso forçado nos
lábios. “Eu teria criado o bebê sozinho. Foi burrice minha, eu nunca
considerei o que ela queria.”
“Ela foi uma completa vaca.” Falei. “Você vai encontrar uma mulher
melhor, que te encha de filhos.”
“Vou sim.” Alisson riu, terminando sua segunda taça de sorvete.
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Capítulo 10
Pensei que tanto surfe me deixaria musculoso como o Alisson, mas minha
barriga salientava para frente, quase passando da linha das costelas. Talvez eu
devesse me exercitar mais.
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“Não seja grosso, Michel! Pensei que você fosse legal.” Falei.
“Eu sinto muito por isso.” Eu fui até o senhor Jones, que se escorava
no balcão e olhava baixo, todo devastado.
“Tudo bem. Não dá pra vender prancha pra sempre, né? Mas prefiro
que o banco leve. Aqui é bonito, cheio de areia e mar, não quero que vire
outro shopping center.”
“Se anima, Gabe. Deixa pra fazer essa cara quando for velho.”
Senhor Jones abriu o frigobar sob o balcão e me alcançou uma espiga-na-
manteiga. “Pode ir, deixa que eu fecho a loja. Preciso espairecer e você
precisa de uns amassos do Dylan. Eu te conheço.”
Eu soltei uma risada e abocanhei o milho. Assim que perceberam o
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“Pode deixar.” Eu saí da loja, sem dar atenção. Claro que o senhor
Jones odiaria o Michel e a família dele. Mas apesar de ser grosseiro o Michel
era o meu melhor amigo.
Eu considerei ir aos rochedos negros, meu ponto de encontro com
Dylan, mas dei meia volta. Como fui dispensado no meio da tarde havia
tempo de visitar o Michel. Não que eu considerasse a proposta dele, mas... o
Alisson realmente precisava de dinheiro.
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