Sudam Sudene e Sudeco
Sudam Sudene e Sudeco
Sudam Sudene e Sudeco
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work is to analyze the geographical coverage of the regional
development policies adopted in Brazil. The analysis focuses the superintendences
for regional development, the constitutional financing funds and the special
economic zones such as the Manaus Free-Trade Zone. We analyze not only the
existing policies – based upon the current legal landmark –, but also the legislative
proposals still in process aimed at increasing the geographical coverage of these
initiatives. It is shown that regional development policies in Brazil tend to focus on
the regions that present aggregate indicators below the national average. The
analysis of these proposals indicates that the new initiatives focus on: i) the increase
of the geographical coverage of the superintendence for regional development of the
Northeast (Sudene) towards the Southeastern region of Brazil; and ii) on the creation
of new special economic zones inspired in the Manaus Free-Trade Zone.
1
O autor agradece a Carlos Henrique Rubens Tomé Silva e a Frederico Andrade Tomich pelos
comentários e sugestões. Erros e omissões são de responsabilidade do autor.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1
2 POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL .................................................. 2
3 ABRANGÊNCIA GEOGRÁFICA ............................................................................. 7
3.1
SUPERINTENDÊNCIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL ....................... 7
3.2
FUNDOS CONSTITUCIONAIS DE FINANCIAMENTO E DELIMITAÇÃO DO
SEMIÁRIDO ............................................................................................. 10
3.3 ZONAS ECONÔMICAS ESPECIAIS ............................................................ 15
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 21
5 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 22
6 ANEXO 1: RESUMO DA ABRANGÊNCIA GEOGRÁFICA DAS POLÍTICAS DE .
DESENVOLVIMENTO REGIONAL NO BRASIL ..................................................... 23
1 INTRODUÇÃO
Políticas de desenvolvimento com foco explícito em parcelas definidas do
território nacional são adotadas no Brasil desde meados do século XX. De fato, a
adoção de políticas explícitas de desenvolvimento regional remonta à década de 1950,
quando foram criados o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), a Superintendência do
Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), mais tarde transformada na
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), e a Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Da mesma forma, a Zona Franca de
Manaus (ZFM) remonta à segunda metade da década de 1950, quando foi idealizada
como porto livre, embora sua regulamentação tenha ocorrido somente dez anos depois.2
As iniciativas originais foram sucessivamente modificadas e novos instrumentos –
como fundos constitucionais de financiamento, áreas de livre comércio (ALCs) ou
zonas de processamento de exportações (ZPEs) – foram agregados ao conjunto de
políticas regionais existentes no país.
2
Lei nº 3.173 de 6 de junho de 1957, que criava uma zona franca em Manaus e que foi revogada pelo
Decreto-Lei nº 288, de 28 de fevereiro de 1967, que altera as disposições da Lei nº 3.173 de 6 de
junho de 1957 e regula a Zona Franca de Manaus.
número de dispositivos que regulamentam as políticas de desenvolvimento regional no
país, sua abrangência geográfica pode não ser tão óbvia quanto pode parecer à primeira
vista. Além disso, diversas proposições legislativas dispõem sobre a ampliação da
abrangência de instrumentos específicos, como aqueles que estendem a área de atuação
da Sudene ou que criam novas zonas francas.
3
Trechos desta seção foram extraídos de Cavalcante (2014).
2
Ainda que se adote uma definição precisa de região, o objetivo específico das
políticas regionais pode ser objeto de controvérsia. Motivado pelo trabalho de Pessôa
(2001) e pela polêmica que o seguiu, Monasterio (2009) argumenta que os especialistas
da área não compartilham critérios de identificação do problema central da economia
regional. Assim, os motivos de preocupação podem envolver i) a concentração
da produção em uma região; ii) a desigualdade de renda per capita entre regiões; ou
iii) a perda de vigor econômico de regiões antes caracterizadas como dinâmicas
(Monasterio, 2009). Na prática, porém, documentos oficiais e trabalhos de natureza
acadêmica frequentemente recorrem à excessiva concentração da produção na região
Sudeste, que representa 54% do produto interno bruto (PIB) do país, e ao PIB per capita
proporcionalmente reduzido nas regiões Norte e Nordeste, nas quais a participação no
produto é inferior à participação na população nacional, como argumentos para a
adoção de políticas de desenvolvimento regional.
Tabela 1: PIB, população, PIB per capita e sua relação com o PIB per capita médio do país,
Brasil, macrorregiões e unidades da Federação, 2015
3
PIB per capita em
PIB, R$ milhões Pop. Estimada PIB per capita,
relação à média
2015 em 1º jul. 2015 R$
nacional
Conforme se pode observar, o PIB per capita das regiões Norte e Nordeste é
inferior à média nacional (relações de 0,63 e 0,51, respectivamente), ao passo que o PIB
per capita das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste é superior à média nacional (relações
de 1,29, 1,18 e 1,28, respectivamente). Como o foco das políticas de desenvolvimento
regional no Brasil recai sobre as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, pode-se
afirmar que, de forma geral, as regiões atualmente beneficiadas apresentam indicadores
agregados inferiores à média nacional. A exceção é a região Centro-Oeste que, embora
detenha indicadores superiores à média nacional, conta com uma superintendência de
desenvolvimento regional e com um fundo constitucional. Trata-se de uma
consequência do acelerado crescimento econômico dessa região nas últimas décadas,
que a tornou mais rica do que a média do país.
4
De uma forma geral, a redução das desigualdades regionais poderia ser obtida,
em tese, por meio de uma alocação de recursos favorável às regiões menos
desenvolvidas. Na prática, busca-se atrair investimentos para essas regiões por meio da
concessão de incentivos que compensem a decisão de não se localizarem nas regiões
onde prevalecem maiores economias de aglomeração. Usados por um determinado
período, esses incentivos seriam capazes de criar, nas regiões menos desenvolvidas, as
economias de aglomeração com as quais, a partir de determinado momento, poder-se-ia
prescindir das políticas de desenvolvimento regional. Ainda que predominantemente
associados à expansão da oferta nas regiões menos desenvolvidas, esses recursos podem
também ser alocados na expansão da demanda. Esse seria o caso, por exemplo, de
políticas de transferência de renda especificamente destinadas a determinada região.
Com base nos critérios indicados, as rubricas que compõem os custos das
políticas de desenvolvimento regional adotadas no Brasil podem ser segmentadas em
três grupos: i) incentivos fiscais; ii) incentivos financeiros; e iii) investimentos.
No primeiro caso, incluem-se, por exemplo, os incentivos fiscais concedidos às
empresas instaladas nas áreas de atuação das superintendências de desenvolvimento
regional ou na ZFM. Os incentivos financeiros, por sua vez, envolvem os recursos
orçamentários destinados aos fundos constitucionais de financiamento e aos fundos de
desenvolvimento regional. Trata-se, assim, dos recursos alocados i) no Fundo
Constitucional de Financiamento do Norte (FNO); ii) no Fundo Constitucional
5
de Financiamento do Nordeste (FNE); iii) no Fundo Constitucional de Financiamento
do Centro-Oeste (FCO); iv) no Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA);
v) no Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE); e vi) no Fundo de
Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO). A terceira rubrica envolve, por exemplo,
investimentos diretos feitos pelo governo (investimentos orçamentários) e investimentos
feitos por estatais com o propósito explícito de promover o desenvolvimento regional.
Trata-se de uma rubrica que envolve valores em geral inferiores aos das outras duas e
cuja abrangência regional é, por definição, ad hoc. Por essa razão, a abrangência
regional dessa rubrica não é analisada neste trabalho.
4
A Medida Provisória (MPV) nº 2.199-14, de 24 de agosto de 2001, prevê uma redução de 75% do
imposto de renda para projetos considerados prioritários para o desenvolvimento regional nas áreas de
atuação da Sudam e da Sudene. Nesse sentido, os incentivos não são válidos em Goiás, no Mato
Grosso do Sul e no Distrito Federal, mas o são em Mato Grosso, que está incluído na área de atuação
da Sudam e da Sudeco. Os incentivos são válidos para projetos apresentados até 2018. O PLS nº 656,
de 2015, busca prorrogar esse prazo até 2023.
5
Conforme indicado na seção 3, recursos do FNE alcançam também partes da região Sudeste.
6
3 ABRANGÊNCIA GEOGRÁFICA
Conforme indicado na seção precedente, analisa-se, nesta seção, a abrangência
geográfica das superintendências de desenvolvimento regional, dos fundos
constitucionais de financiamento e das zonas econômicas especiais. Um quadro com um
resumo dos resultados dessa análise está registrado no anexo 1 deste documento.
7
Conforme se pode observar, a área de atuação da Sudam corresponde à
Amazônia Legal, que é formada pelos sete Estados que compõem a região Norte
acrescidos da totalidade do Estado de Mato Grosso e da parte do Maranhão em sua
porção a oeste do meridiano 44º.6 A área de atuação da Sudene corresponde aos nove
estados da região Nordeste e às porções dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo
indicadas na Lei Complementar nº 125, de 2007. Por fim, a área de atuação da Sudeco
compreende as quatro unidades da Federação situadas na região Centro-Oeste.
6
A Amazônia Legal foi inicialmente criada para corresponder à área de atuação da SPVEA, em 1953.
Dos 217 Municípios maranhenses, 181 estão incluídos na Amazônia Legal definida de acordo com o
cadastro publicado no site do IBGE. Assim, mais de 80% dos municípios do estado estão na área de
atuação da Sudam. Dados disponíveis em https://goo.gl/bb6IUM. Acesso em 7 mar. 2018.
8
Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 424, de 2017, que, entre outras
providências, inclui os municípios pantaneiros que estão situados na Bacia do
Rio Paraguai na área de atuação da Sudam e a renomeia para Superintendência
do Desenvolvimento da Amazônia e do Pantanal (SUDAMP).
Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 460, de 2017, que acrescenta alguns
municípios da região norte e noroeste do estado do Rio de Janeiro à área de
atuação da Sudene.
Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 304, de 2016, que inclui o município
de Unaí, em Minas Gerais, na área de atuação da Sudeco e na área de
aplicação de recursos do FCO.
Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 276, de 2014 (complementar), que inclui
todo o Estado do Espírito Santo na área de atuação da Sudene.
Projeto de Lei (PL) nº 4.961, de 2013, que inclui na área de atuação da
Sudene todos os municípios da região norte de Minas Gerais.
Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 287, de 2013, que inclui os
municípios pertencentes à Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito
Federal e Entorno (Ride-DF) na área de atuação da Sudeco. Com isso, os
municípios do estado de Minas Gerais pertencentes à Ride-DF passariam a
fazer parte da área de atuação da Sudeco. A proposição estende a esses
municípios o acesso aos recursos do FCO.
Projeto de Lei (PL) nº 88, de 2011, que inclui municípios de Minas Gerais
que integram a microrregião do médio Rio das Velhas na área de atuação da
antiga Agência de Desenvolvimento do Nordeste (ADENE). Trata-se de
uma proposição idêntica ao Projeto de Lei (PL) nº 2.388, de 2003.
Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 76, de 2007, que inclui municípios
dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo na área de atuação da
Sudene. Essa proposição corresponde ao Projeto de Lei da Câmara (PLC)
nº 148, de 2017, atualmente em tramitação no Senado Federal.
Projeto de Lei (PL) nº 2.388, de 2003, que inclui municípios de Minas
Gerais que integram a microrregião do médio Rio das Velhas na área de
atuação da antiga Adene.
Projeto de Lei (PL) nº 7.368, de 2002, que inclui municípios de Minas
Gerais no Plano de Desenvolvimento do Nordeste da Adene.
9
Em tese, a inclusão na área de atuação das superintendências de
desenvolvimento regional habilita os municípios beneficiados a atraírem mais
investimentos. É razoável supor que parlamentares que mantêm ligações com
determinados municípios busquem, assim, beneficiá-los com a concessão de benefícios
fiscais dessa natureza. Além disso, durante a tramitação de projetos de lei como os
mencionados nesta seção, é frequente a apresentação de emendas visando à inclusão de
novos municípios. Esse movimento é possivelmente explicado pela preocupação, no
caso de municípios contíguos àqueles beneficiados por políticas de desenvolvimento
regional, com a perda de investimentos em decorrência da disponibilidade de condições
(fiscais ou financeiras) mais vantajosas a uma curta distância. Assim, pode-se supor que
parlamentares que mantêm ligações políticas com esses municípios se mobilizem para
também incluí-los na área de atuação das políticas regionais.
O art. 5º da Lei nº 7.827, de 1989, define, para efeito de aplicação dos recursos,
as Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste da seguinte forma:
10
Conforme se pode observar, para efeito de aplicação dos recursos do FNO, a
Região Norte corresponde exatamente à definição usada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) na divisão regional do Brasil em macrorregiões.
Da mesma forma, a área de aplicação dos recursos do FCO coincide com a definição da
Região Centro-Oeste usada pelo IBGE. No caso do FNE, porém, a área de aplicação
envolve os estados que compõem a Região Nordeste acrescidos de parte dos territórios
dos Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo. Contrariamente ao que se observa no
caso das superintendências de desenvolvimento regional, não há sobreposição entre as
áreas de atuação dos fundos constitucionais de financiamento.
11
industrializados para aplicação em programas de financiamento ao setor
produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, assegura ao
semiárido do Nordeste a metade dos recursos destinados à região.
O inciso II do art. 42 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT), conforme redação dada pela Emenda Constitucional nº 89, de 15
de setembro de 2015, estabelece que, durante quarenta anos, a União
aplicará, dos recursos destinados à irrigação, 50% na região Nordeste,
preferencialmente no semiárido.
12
foi a publicação, em janeiro de 2005, do “Relatório Final do Grupo de Trabalho
Interministerial para Redelimitação do Semiárido Nordestino e do Polígono das Secas”
(BRASIL, 2005). Em seguida, a Portaria Interministerial nº 1, de 9 de março de 2005,
aprovou a redelimitação da região semiárida do Nordeste constante no Relatório Final,
observando os seguintes critérios:
8
Na ocasião, o Ministério da Integração Nacional exerceu uma atribuição da Sudene, que somente dois
anos mais tarde seria recriada pela Lei Complementar nº 125, de 2007.
13
Um novo Grupo de Trabalho formado em 2014 (GT-2014) manteve os critérios
mencionados, mas atualizou os dados para o período entre 1981 e 2010. Como
resultado, propôs-se, em julho de 2017, uma nova delimitação do semiárido, que
passaria a incluir 1.189 municípios. Conforme registra a Sudene, o relatório conclusivo
do GT-2014 e uma minuta de resolução dele decorrente foram submetidos à apreciação
do Condel da Sudene, tendo sido permitido aos estados a apresentação de recursos.
Em novembro de 2017, após a análise dos recursos e o recálculo dos indicadores, o
Condel, por meio da Resolução da Sudene nº 115, 2017, redefiniu a região do
semiárido, que passou a contar com 1.262 municípios. Com isso, a região do semiárido
corresponde àquela indicada no mapa 2 a seguir.
14
Foram identificadas três proposições legislativas que, no período recente,
trataram dos critérios de delimitação do semiárido.
9
Os aspectos teóricos que diferenciam as várias espécies de ZEEs transcendem o escopo deste trabalho,
em que simplesmente se admitem as diferenças estabelecidas em lei.
15
Mapa 3: ZEEs formalmente instituídas no Brasil
16
Na Região Amazônica, além dos incentivos destinados à ZFM, há incentivos
destinados à Amazônia Ocidental e às ALCs, inclusive no âmbito da Zona Franca Verde
(ZFV). O Decreto-Lei nº 356, de 15 de agosto de 1968, estendeu os benefícios fiscais
concedidos pelo Decreto-Lei nº 288, de 1967, aos bens e mercadorias recebidos,
oriundos, beneficiados ou fabricados na ZFM para utilização e consumo interno em
“áreas pioneiras, zonas de fronteira e outras localidades da Amazônia Ocidental”.10
Assim, de acordo com a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA),
“as áreas de livre comércio foram criadas para promover o desenvolvimento das cidades
de fronteiras internacionais localizadas na Amazônia Ocidental e em Macapá e Santana,
com o intuito de integrá-las ao restante do país, oferecendo benefícios fiscais
semelhantes aos da Zona Franca de Manaus no aspecto comercial”.11
10
Composta pelos estados do Amazonas, do Acre, de Rondônia e de Roraima, a Amazônia Ocidental
detém 42,97% da extensão territorial da Amazônia Legal e comporta aproximadamente 57% das
florestas da região. Disponível em https://goo.gl/BX7vEM; acesso em 1º nov. 2017.
11
Disponível em https://goo.gl/v5ujPi; acesso em 1º nov. 2017.
12
Informações disponíveis em https://goo.gl/v5ujPi; acesso em 1º nov. 2017. Informações sobre a
legislação aplicada disponíveis em https://goo.gl/GN4iUh; acesso em 1º nov. 2017.
17
Os arts. 26 e 27 da Lei nº 11.898, de 8 de janeiro de 2009 (“Lei do Sacoleiro”)
isentaram de IPI os produtos em cuja composição final haja preponderância de matérias-
primas de origem regional industrializados nas ALCs mencionadas acima, quer se
destinem a seu consumo interno, quer à comercialização em qualquer outro ponto do
território nacional. Na prática, essa isenção ficou conhecida como Zona Franca Verde
(ZFV). O objetivo da ZFV, conforme descrito em documento publicado pela Suframa, é
“estimular, de forma responsável, a industrialização na Amazônia, de modo a garantir a
sua preservação e, ao mesmo tempo, valorizar o aproveitamento de sua biodiversidade,
contribuindo para que a matéria-prima regional se torne a base para o desenvolvimento
sustentável, com produção de alto valor agregado e garantia de geração de emprego e
renda na Amazônia”. Finalmente, o art. 3º da Lei nº 13.023, de 8 de agosto de 2014,
prorrogou até 31 de dezembro de 2050 as isenções e os benefícios das ALCs criadas até
então.
13
Disponível em https://goo.gl/mTBPcq. Acesso em 29 jan. 2018.
14
A balança comercial da ZFM publicada pela Suframa registra, em 2016, exportações de US$ 451
milhões, ao passo que as importações alcançaram, no mesmo ano, US$ 5.360 milhões. Dados
disponíveis em https://goo.gl/UuKxiJ. Acesso em 2 fev. 2018.
18
devem balizar suas ações. Na prática, cabe ao CZPE analisar as propostas de criação de
ZPE, aprovar os projetos industriais correspondentes, traçar a orientação superior da
política das ZPE, decidir sobre os pedidos de prorrogação dos prazos previstos e
declarar a caducidade da ZPE no caso de não cumprimento dos prazos previstos na Lei
nº 11.508, de 2007. Isso quer dizer que a criação de novas ZPEs não depende de
proposições legislativas, uma vez que são decretos do poder executivo que as instituem.
Atualmente, há no país, de acordo com o MDIC, 25 ZPEs autorizadas (das quais das
quais dezenove encontram-se em implantação) distribuídas em dezessete unidades da
Federação.
PLS nº 184, de 2017, que cria área de livre comércio nos municípios de
Assis Brasil, Capixaba, Plácido de Castro e Santa Rosa do Purus, no Estado
do Acre.
PLS nº 143, de 2010, que cria área de livre comércio de importação e
exportação, sob regime fiscal especial, em Santarém (PA);
PLS nº 25, de 2016, que altera o art. 11 da Lei nº 8.387, de 30 de dezembro
de 1991, para incluir na Área de Livre Comércio de Macapá e Santana os
municípios amapaenses fronteiriços;
PLS nº 351, de 2017, que cria Áreas de Livre Comércio nos Municípios de
Pimenteiras do Oeste, Costa Marques e Cabixi, no Estado de Rondônia.
15
Há também proposições que já foram arquivadas, como o PLS nº 107, de 2006 (Senado Federal), que
propunha a criação de uma zona franca em Boa Vista.
19
Conforme se destacou acima, a criação de ZPEs ocorre por decreto do poder
executivo. Ainda assim, há projetos de lei que autorizam o Poder Executivo a criar
novas ZPEs no país. O PL nº 3.978, de 2015 (Câmara dos Deputados), por exemplo,
autoriza o Poder Executivo a criar uma ZPE no município de São João da Barra, no Rio
de Janeiro. Há outros projetos de lei semelhantes. O PL nº 5.883, de 2016, por sua vez,
altera a Lei nº 11.508, de 2007, para facultar a criação de ZPEs por lei (e não somente
por decreto do poder executivo) e cria uma ZPE em Passo Fundo, no Rio Grande do
Sul.
20
Restrições aos chamados “projetos autorizativos”: no caso das ZPEs, cuja
criação é competência privativa do Poder Executivo, os chamados “projetos
autorizativos” têm sido considerados inconstitucionais.16
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, analisou-se a abrangência geográfica das políticas de
desenvolvimento regional adotadas no Brasil com foco nas superintendências de
desenvolvimento regional, nos fundos constitucionais de financiamento e nas zonas
econômicas especiais como a ZFM. Analisaram-se não somente as políticas existentes
no momento – com base no marco legal em vigor –, mas também as proposições
legislativas em tramitação que visam a ampliar a abrangência geográfica dessas
iniciativas.
16
Na Súmula de Jurisprudência nº 1, da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da
Câmara dos Deputados, destaca-se que “projeto de lei, de autoria de Deputado ou Senador, que
autoriza o Poder Executivo a tomar determinada providência, que é de sua competência exclusiva, é
inconstitucional”. Da mesma forma, o Parecer nº 903, de 2015, da Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania (CCJ) do Senado Federal, concluiu que “devem ser declarados inconstitucionais os projetos
de lei de iniciativa parlamentar que visem a conceder autorização para que outro Poder pratique atos
inseridos no âmbito de sua respectiva competência, quando versem sobre matéria de iniciativa
reservada a esse Poder”.
21
as regiões que representam, visando à promoção de seu desenvolvimento econômico e
social. Isso é possivelmente acentuado pelas limitações que tem o Poder Legislativo
para manejar iniciativas cuja competência é do Poder Executivo (como a criação de
universidades, por exemplo). Isso explica, também, eventuais iniciativas caracterizadas
como “projetos autorizativos”.
5 REFERÊNCIAS
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Nacional de Desenvolvimento Regional. Brasília, 2011.
BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria de Políticas de
Desenvolvimento Regional (SDR). Relatório Final do Grupo de Trabalho
Interministerial para Redelimitação do Semiárido Nordestino e do Polígono das Secas.
Brasília (DF), 2005. Disponível em https://goo.gl/aMisNL. Acesso em 8 mar. 2017.
CAVALCANTE, L. R. Políticas de desenvolvimento regional no Brasil: uma
estimativa de custos. Brasília: Núcleo de Estudos e Pesquisa do Senado Federal, set.
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MIRANDA, R. N. Zona Franca de Manaus: desafios e vulnerabilidades. Brasília:
Núcleo de Estudos e Pesquisa do Senado Federal, abr. 2013 (Texto para Discussão
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MONASTERIO, L. M. O que é um problema regional? Uma nota preliminar. Boletim
regional, urbano e ambiental, Brasília, n. 3, pp. 7-13, 2009. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/estruturas/240/_arquivos/boletim_ipea_uc__desenvolvimento_
dez_09_240.pdf.
PESSÔA, S. Existe um problema de desigualdade regional no Brasil? In: ENCONTRO
NACIONAL DE ECONOMIA, 29, 2001, Salvador. Anais..., Salvador: ANPEC, 2001.
22
6 ANEXO 1: RESUMO DA ABRANGÊNCIA GEOGRÁFICA DAS POLÍTICAS DE
DESENVOLVIMENTO REGIONAL NO BRASIL
23
ISSN 1983-0645