Ebk Gestao Escolar SDTP
Ebk Gestao Escolar SDTP
Ebk Gestao Escolar SDTP
EDCJ02
Gestão Escolar e Seus Desafios
nos Tempos Presentes
Rodrigo da Silva Pereira e Catarina Cerqueira de Freitas Santos
Salvador
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Produção de Material Didático Editoração / Ilustração:
Reitor: Paulo César Miguez de Oliveira Coordenação de Tecnologias Educacionais Carla da Silva; Gabriela Cardoso; Norton
CTE-SEAD Cardoso; Sofia Virolli; Tamara Noel
Vice-Reitor: Penildon Silva Filho
Pró-Reitoria de Extensão Universitária
Pró-Reitora: Fabiana Dultra Britto Núcleo de Estudos de Linguagens & Design de Interfaces:
Tecnologias - NELT/UFBA Danilo Barros
Faculdade de Educação
Diretor: Roberto Sidnei Alves Macedo Coordenação Equipe Audiovisual
Prof. Haenz Gutierrez Quintana Direção:
Superintendência de Educação a Distância Haenz Gutierrez Quintana
-SEAD Projeto gráfico
Prof. Haenz Gutierrez Quintana Produção:
Superintendente Rodrigo Araújo dos Santos
Márcia Tereza Rebouças Rangel Diagramação
Norton Cardoso Câmera, teleprompter e edição:
Coordenação de Tecnologias Educacionais Gleydson Públio
CTE-SEAD
Imagem de capa: Sofia Virolli
Haenz Gutierrez Quintana
Edição:
Equipe de Revisão: Thais Vieira; Lucas Machado
Coordenação de Design Educacional
Lanara Souza Julio Neves Pereira
Simone Bueno Borges Animação e videografismos:
Melissa Araujo; David Vieira
Coordenadora Adjunta UAB
Andréa Leitão Equipe Design
Supervisão: Edição de Áudio:
Haenz Gutierrez Quintana Igor Macedo
Especialização em Gestão Escolar
Coordenadora: Profa. Lanara Souza Danilo Barros
Esta obra está sob licença Creative Commons CC BY-NC-SA 4.0: esta
licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do
seu trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam o devido
crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos.
ISBN: 978-65-5631-087-9
1. Escolas - Administração. 2. Políticas - Educação. 3. Escolas Públicas. I. Santos, Catarina
Cerqueira de Freitas. II. Universidade Federal da Bahia. Escola de Educação. III. Universidade
Federal da Bahia. Superintendência de Educação a Distância. IV. Título.
CDU: 37.07
O presente e-book tem como objetivo apresentar os fundamentos teóricos da gestão escolar,
oferecendo subsídios para a reflexão e o trabalho das diretoras e diretores das escolas municipais
de Guanambi, Bahia. É um material de apoio didático que pode - e deve – ser compartilhado
com todos os trabalhadores da educação da sua escola, haja vista que um processo formativo
que ambicione a democracia na escola só pode ocorrer por completo se construído na e para a
coletividade.
O capítulo II discute o modelo da Nova Gestão Pública que tem sido dominante na
gestão das políticas públicas brasileiras, interferindo sobremaneira nas políticas educacionais
e na gestão escolar. Além disso, vamos abordar como o fenômeno da privatização da educação
se apresenta em diferentes dimensões, tais como a oferta da educação, o currículo e a gestão.
O nosso desejo é que esse material possa ajudar na construção de uma escola pública,
gratuita, democrática, diversa e de qualidade.
Atenciosamente,
Os autores.
teriam que executar o que foi determinado pelo “chefe”. As professoras Nelia
Dabrach e Maria Elizabete Mousquer (2009) sinalizam que, em linhas gerais, a
divisão entre aqueles que exercem a função intelectual e aqueles que apenas
executam as tarefas práticas é um dos pressupostos da Abordagem Clássica da
Administração que Carneiro Leão endossou nas suas reflexões sobre administração
escolar.
Fonte: https://anpae.org.br
Embora alguma coisa possa ser aprendida pelo administrador escolar de toda a complexa
ciência do administrador de empresa de bens materiais de consumo, o espírito de uma
e outra administração são de certo modo até opostos. Em educação, o alvo supremo é
o educando a que tudo mais está subordinado; na empresa, o alvo supremo é o produto
material, a que tudo mais está subordinado. Nesta, a humanização do trabalho é a correção
do processo de trabalho, na educação o processo é absolutamente humano e a correção um
certo esforço relativo pela aceitação de condições organizatórias e coletivas aceitáveis. São,
assim, as duas administrações polarmente opostas.
As professoras Neila Drabach e Maria Elizabete Mousquer (2009) consideram que Anísio
Teixeira deu início ao pensamento que problematizava a adoção dos princípios da administração
clássica na educação. Contudo, essa percepção mais tecnocrática permaneceu hegemônica até
os anos de 1980, quando o processo de redemocratização do Brasil suscitou discussões sobre a
necessidade de se pensar uma escola democrática.
https://www.youtube.com/watch?v=ls-FoXhfM_Y
A Pedagogia Tecnicista
A partir do pressuposto da neutralidade científica e inspirada nos princípios
de racionalidade, eficiência e produtividade, a pedagogia tecnicista advogou
a reordenação do processo educativo de maneira a torná-lo objetivo e
operacional. De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril,
pretendeu-se a objetivação do trabalho pedagógico (....).
A administração capitalista teve origem e foi elaborada a partir dos interesses e necessidades
do capital, estando, em decorrência disso, tanto na empresa produtora de bens e serviços,
onde ela foi engendrada, quanto na sociedade em geral, onde ela cada vez mais se dissemina,
comprometida com os objetivos e interesses da classe capitalista, ou seja, da classe que
detém o poder político e econômico em nossa sociedade; não se pode esperar, por isso, que
essa administração não continue, na escola, servindo a estes mesmos propósitos da classe
hegemônica, que são nitidamente a favor da preservação do status quo (PARO, 2000, p.
129).
Ademais, nos anos de 1980, no contexto político brasileiro de luta pela democracia,
era necessário reforçar que para buscar uma educação emancipatória, não cabia formas
autoritárias e centralizadoras de gestão. Estudantes, funcionários, professores, pais e a
comunidade local tem o direito de construir os projetos políticos pedagógicos, participar
dos processos de decisão da escola e escolher os melhores caminhos para possibilitar o
desenvolvimento de uma cidadania plena dos estudantes.
dos sistemas escolares, conforme veremos nos próximos capítulos, a luta pela efetivação
de uma gestão democrática nas escolas ainda permanece. A condução das escolas como
empresas tem sido resignificada e endossada pelo poder público e por organizações de
interesse privado que disputam a concepção de gestão escolar, e o projeto de sociedade
que se vincula a ela.
Reflexão
https://www.youtube.com/watch?v=WhvyRmJatRs&t=400s
O que é Neoliberalismo?
Para David Harvey (2011), neoliberalismo é um projeto de classe, que surgiu
no final dos anos de 1970, promovendo a defesa do livre-mercado e da
privatização como ideário de desenvolvimento capitalista.
Cabe contextualizar que, a partir do final dos anos de 1970 uma crise de acumulação
de Capital em escala mundial se iniciou, e muitos governos que antes adotavam políticas
de bem-estar social - nas quais o Estado garantia políticas sociais aos cidadãos - passaram a
organizar programas de reestruturação e modernização econômica, baseados em controles
fiscais e redução de gastos públicos que tinham como princípio o neoliberalismo. É sob esse
contexto que os padrões da gestão privada passam a orientar a gestão pública, como sugere a
Nova Gestão Pública – NGP.
A professora Dalila Oliveira (2020) aponta que a NGP se instalou como inovação da
administração do setor público, partindo do pressuposto de que o Estado, com a sua máquina
burocrática é caro, mal gerenciado e ineficaz. Nesse sentido, cria-se uma proposta de uma
reestruturação baseada em processos de responsabilização e avaliação contínua dos agentes
públicos e das políticas. Essa nova estratégia de condução das políticas busca “uma mudança
cultural que começa pela transformação do Estado e se estende à toda sociedade, alterando
atitudes e comportamentos dos sujeitos” (NERWAN; CLAKER, 2012, p. 353).
a nova matriz de diretores tenta padronizar e uniformizar processos na gestão das escolas,
além de reduzir a autonomia e limitar o potencial criativo e crítico da gestão escolar. Na
realidade, a organização da matriz coaduna com um projeto de educação sintonizado com
os interesses de mercado ao transferir o sentido uniforme e padronizado, presente no setor
privado, para as escolas públicas
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download
&alias=170531-texto-referencia-matriz-nacional-comum-de-competencias-
do-diretor-escolar&category_slug=fevereiro-2021-pdf&Itemid=30192
https://anpae.org.br/website/noticias/529-matriz-nacional-de-comp
etencias-do-diretor-escolar
https://www.youtube.com/watch?v=duNZTo8uS0g
Fonte: https://expressaopopular.com.br/livraria/reforma-empresarial-da
-educacao-a-nova-direita-velhas-ideias/
Reflexão
Você consegue observar o avanço de alguma dimensão da privatização na sua
escola? Qual?
Para aprofundar:
Assista a live sobre Gestão Escolar e Trabalho do Diretor proferida pelo
Professor Dr. Rodrigo da Silva Pereira da Universidade Federal da Bahia
https://www.youtube.com/watch?v=E3rwRr3qrJk
Por outro lado, a LDB também garantiu o princípio da gestão democrática, já presente
na Constituição de 1988. Em meio a essas ambiguidades, e compreendendo que a educação
é uma prática social constitutiva e constituinte das relações sociais é que devemos pensar os
limites e as possibilidades da democratização dos diferentes espaços educativos. Sobre os
princípios norteadores da gestão democrática, a LDB dispõe, em seus artigos 14 e 15:
Fonte: LDB/1996
Segundo a LDB, a União, com a colaboração dos demais entes federativos, tem
que elaborar, periodicamente, um Plano Nacional de Educação, a fim de estabelecer
diretrizes e metas para a melhoria da educação no Brasil. A Constituição Federal
de 1988 já previa a existência de um Plano Nacional de Educação conforme está
descrito em seu art. 214.
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o
objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir
diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção
e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de
ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a:
I – erradicação do analfabetismo;
I – universalização do atendimento escolar;
III – melhoria da qualidade do ensino;
IV – formação para o trabalho;
V – promoção humanística, científica e tecnológica do País.
VI – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como
proporção do produto interno bruto.
As professoras Sofia Lerche Vieira e Eloisa Maia Vidal (2015) obsesrvam que
o conjunto de estratégias vinculadas à meta 19 registram a preocupação de garantir a
participação de diferentes sujeitos na educação: são estimulados a criação de fóruns
coletivos de discussão e a promoção de formação de conselhos e conselheiros no
fortalecimento da gestão democrática.
Fonte: FNPE
Fonte: http://escolas.educacao.ba.gov.br/gestaoregional
https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/pesquisas-estatisticas
-e-indicadores/censo-escolar
Sobre os diretores escolares, 79,7% são do sexo feminino, mas esse percentual
varia nas redes federal (25,0%), estadual (67,7%), municipal (79,2%) e privada
(87,7%).
Como síntese dos três primeiros anos (2016, 2017, 2018) de acompanhamento
do Plano Estadual de Educação, o FEE produziu um relatório apontando os desafios de
sistematização do monitoramento por conta das dificuldades de obtenção de informações
sobre o andamento das ações. No que se refere a gestão democrática o PEE-BA estabelece
na meta 19:
No seu relatório, o FEE-BA aponta que não existe um indicador apropriado para
verificar o cumprimento desta meta, considerando inclusive o próprio enunciado da
meta do PEE/BA que prevê um estímulo à discussão acerca da gestão democrática. As
informações que o Fórum obteve partiram dos microdados do Sistema de Avaliação da
Educação Básica – SAEB 2015 para o Ensino Fundamental, a partir dos questionários
preenchidos pelo diretor das escolas que participaram dessa avaliação. Por meio desses
foi possível acessar pistas indiretas sobre esta questão, mesmo assim com problemas de
subjetividade. Para o estado da Bahia, o SAEB 2015 aponta sobre a perspectiva de gestão
democrática nas escolas da seguinte forma:
Fonte: IBGE
Ao longo dos anos, algumas atualizações foram realizadas, dispostas nas leis
municipais nº 092/2005 e nº 375/2009, até que em 25 de outubro de 2010 foi sancionada
a lei nº 423, que dispõe sobre a escolha de Diretores e Vice-Diretores das Instituições
Escolares do Município de Guanambi, e estabelece outras providências. A escolha dos
gestores pelas comunidades escolares por meio de eleição livre e direta se manteve e ficou
determinado, no seu artigo 15, que:
IV.O candidato a Diretor de escola com mais de 1.000 alunos, poderá optar pelo regime de
dedicação exclusiva.
§ 1º.Não poderá se candidatar a nenhum dos cargos o profissional do Magistério que esteja
exercendo mandato eletivo ou classista, ou que esteja exercendo cargo comissionado, a não
ser que licencie, produzindo a necessária desimcompatibilização.
Art. 32. A exoneração da função de Diretor e Vice- Diretor, exceto a pedido do interessado,
poderá ocorrer sob os seguintes fundamentos:
Desrespeito à integridade física e ou moral dos membros da comunidade escolar:
Negligência no trato dos assuntos pedagógicos, administrativos e financeiro do
estabelecimento de ensino, que comprometam o funcionamento da unidade de ensino;
Faltas frequentes e não justificadas ao trabalho, que comprometa o funcionamento da
unidade de ensino;
Malversação dos recursos financeiros da escola; (GUANAMBI, 2010)
O plano municipal ainda faz referência ao conselho escolar como uma instância de
participação de todos os segmentos da comunidade escolar – estudantes, responsáveis,
funcionários, direção e professores. O funcionamento do conselho deve ser conduzido
por meio de regimento interno, criado pelo próprio grupo, a fim de estabelecer a
periodicidade das reuniões e as formas de convocação e eleição.
Meta 20: Garantir, anualmente, a começar do primeiro semestre de vigência deste plano,
através de parcerias com os Conselhos Estadual e Federal e com a CGU, política de formação
continuada para conselheiros que atuam nos órgãos colegiados das instituições e sistemas
de ensino, assegurando as condições necessárias para tal.
Reflexão
Gestão
• Forma de planejar, organizar, dirigir, controlar e avaliar um projeto.
Gestão democrática
• Forma de organizar o trabalho pedagógico, que implica visibilidade de
objetivos e metas dentro da instituição escolar;
Vimos que existe o respaldo legal para a democratização da gestão escolar presente
na Constituição Federal, LDB, PNE, PEE e no PME. Mas para ela se efetivar é necessária
uma mobilização constante das comunidades escolares, afinal, como bem nos lembra
Paulo Freire (2006, p 25):
Fonte: https://revistaeducacao.com.br/2021/03/17/paulo-freire-100-anos/
Partindo da sua realidade escolar, como você definiria a gestão democrática. Quais
elementos são indispensáveis e quais são os elementos que dificultam o exercício de uma
gestão democrática?
Registre no quadro abaixo e compartilhe com seus colegas. Será que haverá
semelhanças entre as respostas?
técnicas das diversas funções presentes na escola/sistema, tem como base a participação
efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar/sociedade, o respeito às normas
coletivamente construídas para os processos de tomada de decisões e a garantia de amplo
acesso às informações aos sujeitos (SOUZA, 2009, p. 125-126).
O QUE É POLÍTICA?
A política não pode ser pensada apenas como partidos ou eleições. A política
se faz necessária porque o homem não é um ser isolado. Ele é um ser social,
ou seja, necessariamente plural, pois depende do outro para viver. É, pois,
um sujeito entre outros sujeitos, que precisa conviver com outros. E é aqui
que surge o conceito de política em seu sentido amplo e rigoroso, como a
produção da convivência entre sujeitos sociais. (PARO, 2004)
https://www.youtube.com/watch?v=fs2r6iPtOmo
4.1 Eleição
Como já discutimos anteriormente, não podemos dissociar a gestão escolar dos
seus contextos políticos e históricos. A história da política brasileira é marcada pelo
autoritarismo, centralização de poder, golpes de Estado e poucos momentos nos quais os
brasileiros puderam exercer sua cidadania plenamente.
Para saber mais sobre a história política do Brasil, leia o livro Sobre o
Autoritarismo Brasileiro da professora Lilia Schwarcz.
Fonte: https://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/sobre-o
-autoritarismo-brasileiro-de-lilia-moritz-schwarcz/
Tem sido cada vez mais comum o fato de algumas redes utilizarem o
concurso público de títulos e provas, associados ou não a eleição, como forma de
provimento do cargo de gestor escolar. A argumentação utilizada em favor dessa
modalidade, segundo Vitor Paro (2003), está associada à ideia de se contrapor à
nomeação por apadrinhamento político, partindo para a escolha por critérios
técnicos, de forma mais imparcial. Sobre esse modelo, Paro diverge da ideia
de que o concurso seja a melhor forma de escolher o dirigente de uma escola e
argumenta que:
(...) Se se pretende um diretor com funções mais propriamente políticas, não é a aferição do
conhecimento técnico em administração a que se precisa proceder, mas à escolha, dentre
os educadores escolares, daquele com maior comprometimento político e capacidade de
liderança diante do pessoal escolar, dos alunos e dos pais. E a isso o concurso não se presta
(2003, p. 22).
https://www.youtube.com/watch?v=gSHPLSOSiXQ
https://www.youtube.com/watch?v=mMNpgAYJnj4
Paulo Freire nos lembra que “a organização democrática necessita ser falada,
vivida e afirmada na ação, tal como a democracia em geral” (1996,p. 102). Completa
que, a democracia [...] é uma construção que, jamais terminada, demanda briga por
ela. Demanda engajamento, clareza política, coerência, decisão. Por isso mesmo é que
uma educação democrática não se pode realizar à parte de uma educação da cidadania
e para ela. (FREIRE,1997, p. 119). Por esse fato, além da eleição é necessário afirmar a
importância da colegialidade e da participação.
4.2 Colegialidade
Na gestão escolar democrática, a prática da colegialidade configura-se
como uma estratégia de participação que busca a superação da centralização e
do autoritarismo, através da divisão de poder e de responsabilidades entre seus
pares. A existência de órgãos colegiados compostos por representantes eleitos
dos docentes, dos alunos, dos pais, dos funcionários e da comunidade local é uma
alternativa democrática de grande alcance, permitindo o exercício da autonomia
da escola e construindo uma administração escolar descentralizada.
https://www.youtube.com/watch?v=LK9Ri2prfNw
4.3 Participação
A existência de eleições e de órgãos colegiados na escola não configura o exercício
da gestão democrática se não houver a efetiva participação da comunidade escolar nos
processos decisórios. A democracia “envolve coletivização das decisões e a participação é
Vale ressaltar que não estamos considerando aqui como participação efetiva da família na
escola a frequência em reuniões de pais e mestres ou o auxílio em atividades extraclasse
(lição de casa), mas, sim, a oportunidade de discutir questões de ordem político-pedagógica
que estruturam e fundamentam o projeto político-pedagógico na busca pela qualidade
da educação oferecida e exercício da cidadania por meio da participação nas tomadas de
decisão da instituição, ouvidas todas as partes.
O professor Vitor Paro pontua que não basta que o Estado estabeleça em
sua legislação a participação como um dos princípios democráticos, mas é
importante criar mecanismos para que ela de fato aconteça.
que não condiz com os ritmos próprios da dinâmica escolar. Os professores Perboni e
Oliveira (2021) observam que as práticas democráticas têm convivido com as práticas
patrimonialistas e clientelistas e, com as novas demandas da NGP. Sendo assim, o
exercício da democracia na escola é uma luta constante e de responsabilidade coletiva.
Reflexão
[...]adquire uma dimensão muito maior do que a ideia de comando e qualidade total, presente
no meio empresarial. Gerir democraticamente uma escola pública, uma organização social
dotada de responsabilidades e particularidades, é construí-la coletivamente. Isto significa
contrapor-se à centralização do poder na instituição escolar, bem como primar pela
participação dos estudantes, funcionários, professores, pais e comunidade local na gestão
do estabelecimento, na melhoria da qualidade do ensino e na luta pela superação da forma
como a sociedade está organizada (DOURADO, 2008, p. 30).
Nesse sentido, o fazer democrático não segue um manual pronto e sempre encontra
muitos obstáculos cotidianos. De toda forma, os caminhos só podem ser encontrados
na coletividade, com a comunidade escolar assumindo o compromisso de construir um
projeto político pedagógico que reflita as intencionalidades e expectativas da escola.
A partir dos anos de 1990 o conceito de qualidade posto nas reformas educacionais
vinculou-se à ideia de qualidade total que, segundo Gentili (2007), está baseada em uma
concepção de mundo do universo empresarial, em que se destacam os ideais de eficiência
e produtividade dirigidos aos interesses do mercado. A professora Maria Abádia Silva
(2009) concluiu que a participação ativa e constante dos organismos internacionais na
definição de políticas educacionais possibilitou a transposição do conceito de qualidade
do âmbito da produção econômica para o campo da educação e da escola, provocando
um processo de descaracterização da educação pública como um direito social.
• Os projetos escolares;
• O ambiente saudável;
Qual foi a última vez que ele foi debatido na comunidade escolar?
Fonte: https://www.amazon.com.br/Projeto-Pol%C3%ADtico-pedag%C3%
B3gico-Escola-Constru%C3%A7%C3%A3o-Poss%C3%ADvel/dp/85308
03701
Por fim, temos a Valorização do Trabalho Docente como ponto nodal na discussão
do projeto político-pedagógico. Essa valorização relaciona-se tanto com a garantia de
condições de trabalho quanto com a formação. O processo formativo dos educadores se
se gestar uma nova organização que reduza os efeitos de sua divisão do trabalho,
de sua fragmentação e do controle hierárquico. Nessa perspectiva, a construção do
projeto político-pedagógico é um instrumento de luta, é uma forma de contrapor-se a
fragmentação do trabalho pedagógico e sua rotinização, à dependência e aos efeitos do
poder autoritário e centralizador dos órgãos da administração central (VEIGA, 2013, p.22)
Reflexão
Você já debateu essas questões com a comunidade escolar? Que tal esse ser o
primeiro movimento para retomar e rever o PPP da sua escola?
Se o conhecimento científico tem como fim entender quais as determinações que produzem
os fenômenos da natureza e os sociais, em sociedades cindidas em classes sociais com
interesses conflitantes e antagônicos, as concepções de natureza e sociedade e de ser humano,
os métodos de apreendê-las e os resultados que daí advêm não são neutros e, portanto, são
políticos. Vale dizer, que afirmam ou se contrapõem aos interesses de determinada classe ou
grupos sociais (FRIGOTTO,2017 p.29)
de modo que a ocorrência das agressões sirva para aprofundar reflexões nas comunidades
escolares sobre a necessidade de defender – na perspectiva da educação popular, do direito à
igualdade e às diferenças e da gestão democrática escolar – a liberdade de ensinar e aprender
e o pluralismo de concepções pedagógicas na educação (MANUAL DE DEFESA CONTRA
A CENSURA NAS ESCOLAS, 2018, p.7)
Além da “Escola sem Partido”, tem ganhado força uma outra forma de cercear o
pensamento crítico e a liberdade de aprender e ensinar dos estudantes e professores.
O fenômeno da militarização das escolas tem crescido exponencialmente no Brasil. É
importante diferenciar que, enquanto as escolas militares são aquelas originalmente
criadas para atender os filhos dos militares e que podem eventualmente oferecer vagas
à comunidade em geral, as escolas militarizadas são aquelas civis e públicas que estão
passando o processo de gestão (administrativo, pedagógico ou disciplinar) para o
comando das polícias.
corpos e sujeitos, vai na contramão do que deveria ser o papel da escola, ou seja, o lugar
da diversidade e do respeito à diferença, em torno de relações horizontais.
https://www.youtube.com/watch?v=dJRbqUHUN_E
A escola precisa criar condições para desenvolver uma formação em que as mazelas
da sociedade, como o racismo, machismo e a homofobia, sejam desnaturalizadas.
Quando o debate não ocorrer dentro da escola, estamos formando para a barbárie e
manutenção das lógicas estabelecidas.
uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se
manifesta por meio de práticas conscientes e inconscientes que culminam em desvantagens
ou privilégios para os indivíduos, a depender do grupo racial ao qual pertençam.
(ALMEIDA, 2020, p.32)
A escola, como nos alerta Nilma Lino Gomes (2003, p. 170), é uma instituição
em que “aprendemos e compartilhamos não só conteúdos e saberes escolares, mas
também, valores, crenças e hábitos, assim como preconceitos raciais, de gênero, de classe
e de idade”. Além disso, o discurso da meritocracia, que muitas vezes é difundido na
escola, é sustentado pela negação do racismo, pois parte-se do pressuposto que a culpa
pela situação que as pessoas vivem é delas mesmo. Sob a máxima do “todos somos iguais”,
tantas vezes repetidas em projetos escolares se silencia o profundo impacto do racismo
na vida das crianças e jovens.
https://www.martinsfontespaulista.com.br/historia-preta-das-coisas
-943405/p
Reflexão
Como a sua escola lida com o corpo negro, o cabelo crespo e as culturas
negras? Como as crianças, adolescentes, jovens e adultos negros são vistos e
se veem na escola?
Para saber mais sobre Gênero nas Escolas assista ao vídeo produzido pelo
Centro de Artes da UFF
https://www.youtube.com/watch?v=Wp9A6lTKIgk
Uma das pautas que emergem no contexto escolar e que não pode ser negligenciada
é a violência contra as mulheres. Em que pese a existência da Lei Maria da Penha
(11.340/06) e de outros dispositivos legais de proteção à mulher, o desconhecimento
sobre os direitos das mulheres ainda é muito grande e o índices de feminicídios só
crescem no Brasil.
Fonte: https://geracaoamanha.org.br/abuso-e-exploracao-sexual-de-criancas-e-adolescentes/
http://www.mulheres.ba.gov.br/arquivos/File/saudemenstrualeumdireito1.
pdf
http://www.mulheres.ba.gov.br/arquivos/File/saudemenstrualparaquem
naomenstrua2.pdf
Fonte: Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Secretaria de Educação.
Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil 2015: as experiências de adolescentes e jovens lésbicas,
gays, bissexuais, travestis e transexuais em nossos ambientes educacionais. Curitiba: ABGLT, 2016. Disponível em:
https://educacaointegral.org.br/wp-content/uploads/2018/07/IAE-Brasil-Web-3-1.pdf
É garantido que a pessoa sempre seja chamada oralmente pelo nome social, sem
menção ao nome civil, e que nos documentos de uso interno, tais como diários de classe,
fichas e cadastros, formulários, listas de presença, o nome social seja o único exibido.
No que concerne aos espaços físicos, caso haja separação, eles devem ser utilizados de
acordo com a autoidentificação de gênero de cada um(a).
a escola para a construção de processos colaborativos que perpassem por uma avaliação
que esteja sob controle interno dos seus sujeitos. Ou seja, é possível estabelecer formas
de regulação e prestação de contas alternativas àquelas que são impostas à comunidade
escolar.
Assim, uma avaliação institucional em que a escola seja protagonista pode negociar
patamares de aprimoramento, a partir de problemas concretos que são postos ao longo
das tentativas de efetivar o Projeto Político Pedagógico da Escola. Parte-se do princípio
de que:
Para você, diretor(a) escolar, esse tipo de avaliação é potente para planejar as suas
ações, emitir sinais sobre a sua atuação no projeto da escola, além de diluir formas
autoritárias de gestão, baseadas na verticalização das decisões. Que tal incorporar essa
estratégia junto à sua comunidade escolar?
De que maneira o que foi discutido ao longo do livro pode contribuir para o
exercício de uma gestão democrática na sua escola?
Revistas eletrônicas
https://www.youtube.com/c/GEPPOLEUFBA
https://www.youtube.com/c/Replag
https://www.youtube.com/c/RedEstrado
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Ed. Jandaíra - Coleção
Feminismo Plurais (Selo Sueli Carneiro), 2020.
BRASIL. Lei 9393 de 20 de dezembro de 1996. Aprova das Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Brasília: 1988
BIAZZIO, Solange Cachimiro Ferreira de; LIMA Paulo Gomes. A participação da família
no Projeto Político Pedagógico da Escola.Educare et Educare. Vol. 4, Nº 7, p.373-385,
Jan./jun. 2009,
DARDOT, P.; LAVAL, C.. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal.
São Paulo: Editora Boitempo,2016
FREIRE, Paulo. Sobre educação: diálogos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
LEÃO, A. C. Introdução à administração escolar. 3 ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional,
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LIMA, L. C. Por que é tão difícil democratizar a gestão da Escola Pública? Educar em
Revista, Curitiba, Brasil, v. 34, n. 68, p. 15-28, mar./abr. 2018.
LIMA, L. C.A gestão democrática das escolas: do autogoverno à ascensão de uma pós-
democracia gestionária? Educ. Soc., Campinas, v. 35, nº. 129, p. 1067-1083, out.- dez.,
2014.
PARO, Vitor. Administração Escolar: introdução crítica. 9ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2000.
PARO, Vitor. Gestão Democrática da Escola Pública. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2016.
PARO, Vitor. Por dentro da escola pública. São Paulo: Xamã, 1995.
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