AULA - Lei Maria Da Penha
AULA - Lei Maria Da Penha
AULA - Lei Maria Da Penha
LEI Nº 11340/2006
- Quem pode ser vítima? Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica
e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero. (Vide
art. 5º da Lei) Dispõe o parágrafo único desse artigo: As relações pessoais
enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.
AS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER NA LMP
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre
outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto,
chantagem, violação de sua intimidade*, ridicularização, exploração e limitação do
direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação;
*incluído em 2018
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,
difamação ou injúria.
HÁ PROPOSTAS PARA QUE A LEI MARIA DA
PENHA PREVEJA UMA NOVA ESPÉCIE DE
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: A
VIOLÊNCIA POLÍTICA
UM NOVO TIPO PENAL: O CRIME DE VIOLÊNCIA
PSICOLÓGICA CONTRA MULHER
A Lei Nº 14.188, de 29 de julho de 2021, incluiu no Código Penal brasileiro o
crime de violência psicológica contra mulher. Trata-se do artigo 147-B.
Embora essa forma de violência já fosse prevista na Lei Maria da Penha (LMP),
ainda não havia sido mais especificamente tipificada.
A nova norma teve origem no Projeto de Lei nº 741/2021, sugerido pela
Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e apresentado pela Deputada
Margarete Coelho (PP-PI). No Senado, a relatora da matéria foi a Senadora Rose
de Freitas (MDB-ES). Além da tipificação detalhada da conduta, o texto também
prevê o programa “Sinal Vermelho”, que consiste em um “X” pintado em
vermelho na palma da mão da mulher ameaçada. Esse sinal é uma denúncia de
que aquela pessoa está em perigo e precisa de socorro urgente.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-ago-25/escritos-mulher-tipo-penal-violencia-psicologica-
contraa-mulher Acesso: 12/02/2022
CRIME DE VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONTRA A MULHER
Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu
pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde
psicológica e autodeterminação:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não
constitui crime mais grave.
UMA QUESTÃO PARA DISCUSSÃO: A forma como o artigo foi redigido, a dificuldade de
provar o “dano emocional” e o seu caráter subsidiário, ajudam a reforçar uma
percepção de que talvez venha a cumprir uma mera função simbólica?
TRANSEXUAL FEMININA COMO SUJEITO PASSIVO
“(...) Com efeito, é de se ver que a expressão "mulher" abrange tanto o sexo
feminino, definido naturalmente, como o gênero feminino, que pode ser
escolhido pelo indivíduo ao longo de sua vida, como ocorre com os transexuais e
transgêneros, de modo que seria incongruente acreditar que a lei que garante
maior proteção às "mulheres" se refere somente ao sexo biológico,
especialmente diante das transformações sociais. Ou seja, a lei deve garantir
proteção a todo aquele que se considere do gênero feminino.” (TJDF, Acórdão
1152502, 20181610013827RSE, Relator: SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS,
Segunda Turma Criminal, data de julgamento: 14/2/2019, publicado no DJe:
20/2/2019)
UNIDADE DOMÉSTICA, ÂMBITO FAMILIAR E
RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO
Segundo o art. 5º da lei, a violência deve ocorrer:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive
as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços
naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E A HIPOSSUFICIÊNCIA
Para a incidência da Lei Maria da Penha, é necessária ou não a
constatação concreta de vulnerabilidade (física, financeira ou social) da
vítima ante o agressor?
Está razoavelmente consolidada a ideia de que a fragilidade da mulher,
sua hipossuficiência ou vulnerabilidade são os fundamentos que levaram
o legislador a conferir proteção especial à mulher e, por isso, têm-se
como presumidos.
Prevalece na doutrina e jurisprudência o entendimento de que quando
for um homem o agressor, considera-se que a vulnerabilidade constitui
uma presunção absoluta.
ATENÇÃO!!
Não é sempre que houver uma agressão contra uma mulher que
necessariamente será aplicada a Lei Maria da Penha.
Para tanto, é necessário que:
Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos por esta Lei, o
Juizado:
I - do seu domicílio ou de sua residência;
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
II - do domicílio do agressor.
MEDIDAS QUE PODEM SER TOMADAS PELO MAGISTRADO
Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar
será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes
previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no
Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas
de proteção, e emergencialmente quando for o caso.
§ 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de
violência doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais do
governo federal, estadual e municipal.
§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e
familiar, para preservar sua integridade física e psicológica:
I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante
da administração direta ou indireta;
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o
afastamento do local de trabalho, por até seis meses.
III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso,
inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação judicial, de
divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável
perante o juízo competente.
Mas há outras medidas que podem ser tomadas pelo magistrado ou pela
autoridade policial, como o imediato afastamento do lar do agressor.
Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou
psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o
agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida:
I - pela autoridade judicial;
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado
disponível no momento da denúncia.
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo
máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a
revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público
concomitantemente.
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de
urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso.
A ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
- ASSISTÊNCIA DE DEFENSOR -
Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, a mulher em situação
de violência doméstica e familiar deverá estar acompanhada de advogado,
ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei.
Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e
familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária
Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento
específico e humanizado.
ATENÇÃO! Ao longo de todo o procedimento, a mulher vítima de violência
sendo pobre tem direito a defensor público ou advogado ad hoc.
A EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que vierem a ser
criados poderão contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser integrada
por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde.
Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras atribuições que lhe
forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério
Público e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audiência, e
desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas,
voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e aos
adolescentes.
Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais aprofundada, o juiz poderá
determinar a manifestação de profissional especializado, mediante a indicação da equipe de
atendimento multidisciplinar.
MINISTÉRIO PÚBLICO
Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e criminais
decorrentes da violência doméstica e familiar contra a mulher.
Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras atribuições, nos casos de
violência doméstica e familiar contra a mulher, quando necessário:
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, de educação, de assistência social e
de segurança, entre outros;
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher em
situação de violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas
administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas;
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher.
SÍNTESE DAS MAIS RECENTES ALTERAÇÕES NA LEI
MARIA DA PENHA
Lei nº 13.827/19 - permitiu a aplicação de medida protetiva de urgência, pela
autoridade judicial ou policial, à mulher em situação de violência doméstica e familiar
ou a seus dependentes. O dispositivo também determinou que o registro da medida
protetiva de urgência seja feito em banco de dados mantido pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ).
Lei nº 13.836/19 - tornou obrigatório informar quando a mulher vítima de agressão
doméstica ou familiar é pessoa com deficiência.
Lei nº 13.871/19 - determinou a responsabilidade do agressor pelo ressarcimento dos
serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no atendimento às vítimas de
violência doméstica e familiar e aos dispositivos de segurança por elas utilizados.
Lei nº 13.882/19 - estabeleceu a garantia de matrícula dos dependentes da mulher
vítima de violência doméstica e familiar em instituição de educação básica mais
próxima de seu domicílio.
Lei nº 13.880/19 - previu a apreensão de arma de fogo sob posse de agressor em casos
de violência doméstica.
Lei nº 13.894/19 - fixou a competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher para ação de divórcio, separação, anulação de casamento ou dissolução
de união estável. Também estabeleceu prioridade de tramitação dos procedimentos
judiciais que tenha como parte vítima de violência doméstica e familiar.
Lei nº 13.984/20 - estabeleceu obrigatoriedade referente ao agressor, que deve
frequentar centros de educação e reabilitação e fazer acompanhamento psicossocial.
Lei nº 14.188/21 - definiu o programa de cooperação “ Sinal Vermelho contra a violência
doméstica” como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar
contra a mulher; modificou a modalidade da pena da lesão corporal simples cometida
contra a mulher por razões da condição do sexo feminino; e criou o tipo penal de
violência psicológica contra a mulher.
Lei nº 14.310/22 - determinou o registro imediato, pela autoridade judicial, das medidas
protetivas de urgência em favor da mulher em situação de violência doméstica e
familiar ou de seus dependentes.
OUTRAS MEDIDAS
Em 2021, foram publicadas três normas diretamente relacionadas à Lei Maria
da Penha. Entre elas, a Lei nº 14.132/21, que inclui artigo no Código Penal (CP)
para tipificar os crimes de perseguição (stalking), e a Lei nº 14.149/21, que
institui o Formulário Nacional de Avaliação de Risco, com o intuito de prevenir
feminicídios.
Já a Lei n° 14.164/21 altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
para incluir conteúdo sobre a prevenção à violência contra a mulher nos
currículos da educação básica, além de instituir a Semana Escolar de Combate
à violência contra a Mulher, a ser celebrada todos os anos no mês de março.
“1. Com efeito, esta Corte Superior firmou entendimento no sentido de que: "As
medidas protetivas previstas no art. 22, I, II, III, da Lei n. 11.340/06, possuem nítido
caráter penal, pois visam garantir a incolumidade física e mental da vítima, além de
restringirem o direito de ir e vir do agressor. Por outro lado, as elencadas nos incisos
IV e V possuem natureza eminentemente civil" (AgRg no REsp 1.441.022/MS, Rel.
Ministro GURGEL DE FARIAS, QUINTA TURMA, DJe 2/2/2015). Assim, diante de sua
natureza jurídica penal, para que as medidas protetivas sejam concedidas, deve
haver ao menos indícios de autoria e materialidade de delito praticado com violência
doméstica e familiar contra a mulher (fumus boni juris) e o perigo da demora
(periculum in mora), consubstanciado na urgência da medida, a fim de proteger a
mulher de eventual reiteração criminosa.” (grifamos) (STJ, AgRg no AREsp 1650947 /
MG)
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA QUE OBRIGAM O
AGRESSOR
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos
desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente,
as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão
competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 /12/2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite
mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação;
c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e
psicológica da ofendida
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a
equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e
reeducação;e
VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento
individual e/ou em grupo de apoio.
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras
previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as
circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao
Ministério Público.