A Construção Da Identidade Da América Latina
A Construção Da Identidade Da América Latina
A Construção Da Identidade Da América Latina
AUTORES: Para nosotros no existe primer y segundo autor, pues son estudios
realizados en conjunto, donde la participación es igual.
<Montaña Martínez, Mónica>
< Josélia Elvira Teixeira >
Dirección: <MILA/Universidad Federal de Santa Maria/Rua Floriano Peixoto,
1184/Sala302/CEP:97015-372/Brasil/ awoltmann@gmail.com>
Resumen: <Este artigo tem como objetivo abordar a integração latino-americana
contextualizando os vários aspectos históricos, culturais, sociais e econômicos, visando montar o
mosaico identitário latino-americano. Assim como a história da humanidade, a história latino-
americana, apresenta episódios sangrentos, e nas raízes da colonização se encontra o princípio da
mestiçagem e da formação étnica-cultural de um novo povo que habitaria as “Terras do Novo
Mundo”. No entanto, em pleno século XXI, ainda o dilema da identidade é envolto por um certo
obscurantismo, e tais questões entram em voga com a formação do MERCOSUL. Conclui-se que
as revoluções populares também são de extrema importância na avaliação dos aspectos de
constituição de consciência nacional, assim como a formação de partidos políticos, os
movimentos sociais, o que revela os encontros e desencontros entre a sociedade e o estado dentro
do processo histórico. As elites estão no cerne das lutas e controvérsias sociais e nas implicações
na problemática da questão nacional. O jogo das elites internas e externas freqüentemente
determina episódios recorrentes na história latino-americana. Portanto, nação e nacionalismo
criam e recriam-se constantemente, influência de forças externas ou internas, redimensionando a
conjuntura estrutural e política no ambiente>
Eje Temático: <3 >
Código:<3BRS080 >
País: <Brasil>
Palabras Claves: <Identidade Latino-Americana – Integração Latino-Americana –
América Latina>
Texto Completo: <
>
Bibliografia: <Introdução
O dilema que se apresenta ao pesquisador interessado na investigação da
construção identitária e do pensamento latino-americano sob a perspectiva da integração
latino-americana, freqüentemente contrapõe-se à história contada sob a perspectiva
européia, pois a colonização da América se dá em função da expansão comercial da
Europa, e a abordagem das raízes latino-americanas é, muitas vezes, feita como mera
extensão resultante das economias européias.
1
Ver.: HOBSBAWM, Eric J. Nações e Nacionalismos desde 1780: Programa, mito e realidade. 3. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002, p. 27. O Dicionário da Real Academia Espanhola, cujas várias edições
foram pesquisadas com esse objetivo, não usa a terminologia de Estado, nação e língua no sentido
A nação pode ser vista como uma configuração histórico-social em que se
organizam, sintetizam e desenvolvem forças sociais, atividades econômicas,
arranjos políticos, produções culturais, diversidades regionais, multiplicidades
raciais. Tanto o hino, a bandeira, o idioma, os heróis e os santos, como a
moeda, o mercado, o território e a população adquirem sentido no contexto
das relações e forças que configuram a nação. A nação pode ser uma formação
social em movimento, pode desenvolver-se, transformar-se, romper-se.
No entanto, não é tão simples quanto parece explicar por que certos grupos se
tornaram “nações” e outros não. Os critérios utilizados para definir uma nação
geralmente estão pautados na etnia, ou língua, ou território comum, história comum ou
na idiosincracia cultural. Porém, para Hobsbawm (2002, p.15) “os critérios para definir
nação – língua, etnicidade ou qualquer outro – são em si mesmos ambíguos, mutáveis,
opacos e inúteis, e são excepcionalmente convenientes para propósitos propagandísticos
e não para fins descritivos”.
Compilar a palavra “nação” em termos territoriais, por exemplo, excluiria, desse
conceito por exemplo a nação judia. Também utilizar-se de outros atributos, tais como
definições subjetivas, seja individuais ou coletivas, apelando para a consciência que têm
seus membros, pode levar a extremismos de que para criar ou recriar uma nação basta ter
consciência de sê-la. “Na verdade, também não é possível reduzir nem mesmo a
nacionalidade a uma dimensão única, seja política, cultural ou qualquer outra (a menos,
é certo, que seja obrigado a isso pela force majeure dos Estados)” (Hobsbawm, op.cit, p.
17).
Contemporaneamente, política e administrativamente o que fornece ao indivíduo
uma “nacionalidade” são os Estados Nacionais, no entanto, não caracteriza, por si só
(mesmo contemporaneamente) a identidade nacional.
Para Hobsbawn (2002) a “nação” pertence exclusivamente a um período particular
e historicamente recente. Ela é uma entidade social apenas quando relacionada a uma
certa forma de Estado territorial moderno, o “Estado-nação” , e não faz sentido discutir
moderno antes de sua edição de 1884. A definição era dada como “um Estado ou corpo político que
reconhece um centro supremo de governo comum” e também “o território constituído por esse Estado e
seus habitantes, considerados como um todo e, portanto, o elemento de um Estado comum e supremo é
central a tais definições, pelo menos no mundo ibérico. A nación é o “conjunto de los habitantes de um
país regido por um mismo gobierno”.
nação e nacionalidade fora desta relação. O nacionalismo vem antes das nações. As
nações não formam os Estados e os nacionalismos, mas sim o oposto.
A “construção” do termo “nação” e “nacionalismo” são paradoxais, pois embora
sejam essencialmente perfilados pelo alto, podem ser entendidos de baixo, através dos
indivíduos comuns que redefinem e propagam os termos. A configuração é mutável e
passível de transformações de acordo com as ações dos agentes sociais, e aspectos
históricos múltiplos.
Para compreender a constituição original dos Estados Nacionais é fundamental a
análise da Europa Feudal e as transformações daí decorrentes que vieram a consolidar a
questão de formação dos Estados. Todavia, “o princípio de nacionalidade” fulcrou-se na
política internacional européia depois de 1830, criando, assim vários Estados novos.
A rigorosa segregação racial, tentada inicialmente pela Coroa, não teve êxito e
a difusão da mestiçagem complicou crescentemente o esquema dual República
dos espanhóis – República dos índios, com que sonhava a administração
colonial. O resultado foi que no século XVIII a penetração de forasteiros nas
aldeias indígenas e a imigração de comuneros apresentaram-se como
fenômenos permanentes. Neste lento processo de desagregação, as
comunidades sobreviveram economicamente enquanto dispuseram de terras,
culturalmente, proporcionaram uma identidade ao campesinato dos Andes e da
Meso-América ainda durante longo tempo.
2
A questão indígena é o fator mais importante da adaptação do ideário socialista à realidade latino-
americana, com o aparecimento da “novidade” dos anos 20 que é ligar o índio à economia, à exploração e
outros fatores. Desta forma, diz Valdés, “o socialismo se constitui como indigenismo, que chegou a
inspirar o boliviano Gustavo Navarro a um socialismo com baldrames no padrão de vida incaica, eis que
pensava que o Continente não sairia de seu lugar sem o avanço do comunismo. Aos índios também se
juntam os afro-americanos, mestiços, mulatos, etc, fazendo com que surja o respeito às diferenças e a
vinha para a América Latina aspirava retornar à Europa e melhorar seu status social,
somado ao absentismo de grandes proprietários, sugere o porquê da exploração
predatória e não colonizadora da América Latina. Tais aspirações dificultam a
identificação com as novas terras descobertas. A Coroa portuguesa chegou a proibir
algumas atividades econômicas que competissem com a metrópole para manter vigente
seu monopólio no Brasil. A Espanha também adotou medidas semelhantes e restringia
também o acesso a certos cargos públicos e atividades econômicas aos criollos e
mestiços, contribuindo ironicamente para evidenciar a formação de um novo povo que
se estabelecia no continente americano, fica claro o repudio de Simon Bolívar ao
tratamento espanhol dado ao povo das terras do Novo Mundo na carta de Jamaica , a
qual foi escrita pelo mesmo em 1815 :
Los americanos, en el sistema español que está en vigor, y quizá con mayor
fuerza que nunca, no ocupan otro lugar en la sociedad que el de siervos
propios para el trabajo, y cuando más, el de simples consumidores; y aún esta
parte coartada con restricciones chocantes: tales son las prohibiciones del
cultivo de fruto de Europa, el estanco de las producciones que el Rey
monopoliza, el impedimento de las fábricas que la misma Península no posee,
los privilegios exclusivos del comercio hasta de los objetos de primera
necesidad, las trabas entre provincias y provincias americanas, para que no se
traten, entiendan, ni negocien; en fin, ¿quiere Vd. Saber cuál es nuestro
destino?, los campos para cultivar el añil, la grana, el café, la caña, el cacao y
el algodón, las llanuras solitarias para criar ganados, los desiertos para cazar
las bestias feroces, las entrañas de la tierra para excavar el oro que no puede
saciar a esa nación avarienta (ZEA, 1985, p. 23)3.
possibilidade de respeito entre si e na conseqüente convivência entre estes povos”. Ver. DEVÉS VALDÉS,
Eduardo. El pensamiento latinoamericano en el siglo XX. Buenos Aires: 1999, v. 01.
3
Carta da Jamaica, resposta de Simon Bolívar, revela a insatisfação de povo americano que era
considerado uma classe de indivíduos de segunda, sendo considerados inaptos para assumir os cargos mais
relevantes.
papel y las aspiraciones de Francia hacia la población hispánica del Nuevo
Mundo 4.
4
Tal concepção nasce por questões políticas e estratégicas da França “Uno de los primeros voceros del
programa panlatino fue Michel Chevalier (1806 –1879). Economista político de fama, com reputación en
toda Europa, el interes de Chevalier en el nuevo mundo se había antecipado con mucho con mucho a la
empresa mexicana. Él había viajado extensamente en los Estados Unidos, México y Cuba entre 1834 y
1836. Había impulsado la idea de que Francia construyera un canal interoceánico en Panamá em 1844. El
futuro Napoleón III también estuvo escandilado con el mismo proyecto.
identificação dos comuns, no caso os proprietários. Outro elemento fundamental que
ainda não foi aludido neste trabalho foi a ilustração dos próprios latino-americanos:
5
Ianni (Op. cit, p. 117) aponta alguns autores latino-americanos que buscam entender “as condições,
impasses, inconveniências, etc., da ocidentalidade em marcha na América Latina. Algumas obras são
claras em suas preocupações: Facundo (Civilização e Barbárie) de Domingo F. Sarmiento, Ariel de José
Rodó, Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana de José Carlos Mariátegui, Insularismo de
Antonio S. Pedreira, O Pensamento Latino-Americano de Leopoldo Zea, Raça Cósmica, de José
Vasconcelos, As Correntes Literárias na América Latina de Pedro Henriquez Ureña, Raízes do Brasil de
pensamento latino-americano, na construção e destruição de idéias, na aceitação das
imposições exteriores e na oposição, forças antagônicas e relutantes, ebulição
existencial, tentativas de contrastar à realidade às teorias, descrições e manipulações da
realidade: um caldeirão de idéias prestes a eclodir.
Em meados do século XX , cria-se a Comissão Econômica para a América Latina
(CEPAL), sendo um passo marcante para a elaboração do pensamento latino-americano,
e o conceito de “desenvolvimento” se torna extremamente discutido pelos pensadores
latinos. Deves Valdés (2003, p. 21) analisa a importância da construção de um conceito
próprio de desenvolvimento na América Latina:
Tal tema, envolve os pensadores em várias áreas de abrangência, por isso, inicia-se
um processo de discussão da via exportadora, em que encontrava-se a maioria das
economias latino-americanas, e o grande fosso social constituído por séculos de
desigualdade de distribuição de renda. A preocupação com o tema, resultou em ensaios
de caráter econômico, sociológico e político, adquirindo diversos matizes.
Há que ressaltar a diferenciação feita entre desenvolvimento econômico e
crescimento econômico nos debates dos cepalinos6. O desenvolvimento econômico
agrega elementos que produzem efeitos benéficos na qualidade de vida da sociedade,
englobando as multiplicidades sociais, políticas, culturais e econômicas, naturalmente,
convergindo no desenvolvimento sustentável. Tais idéias ascendem devido a grande
depressão de 29, à propagação das idéias nacionalistas dos franceses, italianos, alemães,
e após o final da Segunda Grande Guerra Mundial, os cepalinos se organizam e
começam a elaborar novos paradigmas que iriam prevalecer após os anos 50 na América
Latina, permitindo assim, modificar a cultura passiva antiimperialista.
Sérgio Buarque de Holanda, O Labirinto da Solidão de Octavio Paz, A Pátria Crioula de Severo Martínez
Peláez, Caliban (Notas sobre a Cultura de Nossa América) de Roberto Fernández Retamar, O País de
Quatro Andares de José Luís González, O Século das Luzes de Alejo Carpentier, Eu O Supremo de
Augusto Roa Bastos, Canto Geral de Pablo Neruda “.
6
CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), foi criada em 1948, com o objetivo de elaborar
estudos e alternativas para o desenvolvimento da América Latina.
Raúl Prebisch destaca-se como o precursor da teoria da substituição das
importações e da economia latino-americana fundamentada em atividades cíclicas.
Segundo Felipe Pazos (1983 apud Devés Valdés,1999, p. 23), “sólo cuando la ciencia
extranjera no nos suministra los instrumentos intelectuales adecuados para nuestros
propósitos” é que se pode alcançar um real desenvolvimento. Nos anos seguintes, os
teóricos da Cepal trabalharam para construir os alicerces do pensamento latino-
americano calcado no fortalecimento das estruturas internas, visando estabelecer uma
política econômica própria, incentivando a indústria através de mecanismos de proteção
do mercado, aumentando os investimentos em capital básico e na programação do
desenvolvimento.
No Brasil, uma das vozes, que se tornou mais conhecida, que elaborou e estudou a
teoria do subdenvolvimento, foi Celso Furtado, insistindo no rompimento teórico com a
economia clássica ou neoclássica , buscando compreender os problemas específicos do
subdesenvolvimento econômico. Tais propostas, feitas pelos teóricos cepalinos,
resultaram em grandes mudanças e alcançaram resultados no que concerne ao
crescimento dos países. No entanto, estas propostas também apresentaram falhas e
fragilidades, e até mesmo Prebisch faz algumas considerações e críticas as postulações
feitas sobre desenvolvimento: “las fallas que pone en relieve con mayor fuerza se
refieren a los defectos en la industrialización, en la disparidad del ingreso y en la
inflación” (Devés Valdés, op. cit, p. 35). Nesse sentido, vê-se a necessidade de aliar os
programas econômicos com o processo político, de modo congruente, a dar conta das
necessidades sociais, “como Medina Echavarría destaca la acción del Estado, el
protagonismo de este en el desarrollo de los países latinoamericanos (ibid, p. 35)”.
O Estado aparece como fator exógeno no processo de industrialização e programas
de desenvolvimentos dos países latino-americanos, e não se pode falar em implantação
de tais programas sem referi-se ao Estado, e as políticas que os conduziam.
5. Considerações finais