4 HOLBROOK, F. (Ed.) - A Luz de Hebreus
4 HOLBROOK, F. (Ed.) - A Luz de Hebreus
4 HOLBROOK, F. (Ed.) - A Luz de Hebreus
HOLBROOfC EDITOR
1
A IT
V L .U Z J
Faculdade Adventista
SÉRIE
B ib lio te ca
) e P r o f e c ia s a p o c a l í p t ic a s
Centro Wtvte
47528
4
O
livro de Hebreus, em particular, teve uma função vital para os pio
neiros do adventismo no contexto do Desapontamento em 1844.
Seu estudo foi um fator decisivo nos anos de formação doutri
nária do adventismo, especialmente ao definir a crença bíblica, bifásica, do
ministério sacerdotal expiatório de Jesus no santuário celestial, com forte
ênfase na segunda vinda, fase iniciada no dia 22 de outubro de 1844.
A Comissão de Daniel e Apocalipse da A ssociação Geral dos Ad-
ventistas do Sétimo Dia apresentou na década de 1980 novas evidências
relacionadas-a questões sobre o livro de Hebreus, baseada, particularmente
em duas perguntas: (1) Hebreus ensina de form a explícita que o ministério
sacerdotal de Cristo tem duas fases? (2) Hebreus nega que o ministério
sacerdotal de Cristo tem duas fases?
________ E m b o ra a comissão co n cluísse com uma resposta negativa a am
bas as perguntas, os estudos selecionados confirm am persuasivamente a
veracidade bíblica do ministério sacerdotal expiatório pleno de Cristo no
santuário celestial.
N ovam ente, a U N A S P R E S S se faz presente com outro lançamen
to de vital importância p or suas evidências e afirmações específicas sobre
Hebreus, texto que provê fundamento bíblico doutrinai e identidade ecle-
sial para a visão e missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
R ob erto Pereyra, P h .D
D iretor de p ó s-g rad u ação
Facu ld ad e A dventista de Teologia (U n a sp -E C )
4 !uz de Hebreus
Faculdade Adventista
Biblioteca
Centro Whiit
ISBN 9 7 8 -8 5 -8 9 5 0 4 -1 3 -3
UNASPRESS
Centro Universitário Adventista
de São Paulo
Campus Engenheiro Coelho 9 ?88589"504133
A existência de um santuário celes
tial, onde Jesus Cristo desenvolve
desde a ascensão um sacerdócio de
natureza exclusiva e fundamental em
favor dos seres humanos, constitui
uma das doutrinas capitais e distin
tivas do movimento adventista do
sétimo dia. É impossível desvincu
lar as origens desse movimento das
descobertas que seus pioneiros fize
ram sobre o assunto ao pesquisar as
- Sagradas-Escnturas. ..
A
JL ~ \ .
m 7 n r
JL j V / A ' 1j
rN T T , IT T V fr
ÍU> I
)J
I— ^
'J i!
Ü ILILj ILJK ^jlLj \ J -L j
2 a EDIÇÃO
2009
A LUZ DE H E B R E U S
Intercessão, Expiação e Juizo no Santuário Celestial
U N A SP R E SS , 2 0 0 9
Engenheiro C oelh o , SP
1. santuário; 2 .tipologia; 3. intercessão; 4. expiação; 5. H ebreus
2a edição
1 .000 exemplares
2009
Impresso no Brasil
Pnnted in Brasil
•«a l n E - BIB^UÇTECa
In ° 4 7
! Ano iZ C t/V *
Salvo outra indicação, as citações escriturístiqis ao longo deste
volume são extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada,
2* edição, 1993, da Sociedade Bíblica do Brasil.
CO N TEÚ D O
Abreviatura................................................................................................................... VII
Transliteração do alfabeto grego.......................................................................... VIII
Ao leitor.-------------------------------— .......................................................................IX
9. Teologia do santuário............................................................................................193
Alwyn P. Salom
Apêndice A
Ta Hagia na epístola aos Hebreus............................. >.......................... 213
Alwyn P. Salom
Apêndice B
Hebreus 6:19 - Análise de algumas suposições
sobre katapetasma...........................................................................................223
George E. Rice
Index................................................................................................................................231
A b r e v ia t u r a s
AB Anchor Bible
ACF Almeida Corrigida e Fie!
ANET Ancient Near Eastern Texts, Pritchard, ed.
Ant. Antiquities o f chi Jeivs, Josephus
ARA Almeida Revista e Atualizada
ASV American Standard Version
— AT Antigo Testamento
AUSS Andrews University Seminary Scudies
BA Biblical Archaeologist
BDB F. Brown, S. R. Driver e C. A. Briggs, A Hebrew and English
Léxicon o f lhe Old Testamen: (Oxford, 1952)
~BZ B iblis’cke~Zei cschrift
C CI Comentário Critico Internacional
c; t Candiar. Journal o f Theology
ERV English Revised Version
EvQ Evangelical Quarterly
ExpTim Expository Times
HA L Hebráisches und aramàisches Lexikon zum AUen Testament
HTh R H anard Theological Review
IB Interpretará Bible
IC C International Criticai Commenrary
JB L Journal o f Biblical Literatura
JTS Joumtd o f Theological Studies
KJV King James Version
Leg. Alleg. Legum Allegorie (Allegorical Interpretaüon)
LXX Septuaginta
NASB New American Standard Bible '
NEB New English Bible
N ICN T New International Commenrary on rhe New Testamenr
NIV New International Version
NovT Novum Testamentum
NT Novo Testamento
NTS New Testament Studies
RB Revue Biblique
RàtQ Reiue de Qumran
R SV Revised Standard Version
SB L Society o f Biblical Literature
SBT Stud ies in Biblical Theology
SJT Scottish Journal o f Theology
TDNT Theological Dictionary o f che New Testament, Kirtel e
Friedrich, eds.
TD O T Tkeological Dizcionary o f che Old-Tescament, Botterwerck e
Ringgren, eds.
TM Textos Massoréticos
TNTC Tyndale New Testament Commentary
TO T C Tyndale Old Testament Commentary
VT Vecus Testamentum
ZAW Zeitsch. fiir die alttes. Wiss.
ZNW Zeitsch. für die neutes. Wiss.
VIII
\=\
II
T)
Ç=z
a
9 ~ph
n ii =m p=r
*l r~
Z = ch
0 =th v =n a =s
V =ps
i =i s= x t =t
w =õ
M
0 =0 u =u
II
Sí
‘ =h
A O L E IT O R
R elatório da C omissão de
D aniel e A pocalipse
C ontexto histórico
E vidência interna
O propósito da epístola
Ê evidente, portanto, que a epístola aos Hebreus está escrita sob a perspectiva
de uma profunda preocupação pastoral por esses cristãos que - em um período crucial da
história judaica - estavam em sério perigo de fazer naufragar sua fé. Seu propósito
era revitalizar sua experiência vacilante ( 10:23), focalizando a fé e atenção mais uma
vez em seu Senhor que ascendeu aos céus, “o autor e consumador” de sua fé (12:2).
Tentava direcionar sua atenção dos rituais inadequados que envolviam o sangue de
animais para o verdadeiro sacrifício de Cristo pelo pecado e o seu ministério no
verdadeiro santuário celestial. A ênfase estava nas boas novas - o evangelho - ao
alcance de todos por intermédio de um sumo sacerdote transcendente que sempre
ministrava a favor deles na presença de Deus.
Os pontos importantes da mensagem pastoral podem ser resumidos a seguir:
1. Deus, que estabeleceu o sacerdócio levitico com seu sistema típico do sanni-
ário, pretendia, em determinado momento, substitui-lo pelo verdadeiro sacerdócio
de Jesus Cristo (prefigurado pelo primeiro - 8:4, 5) que agora ministra como um
sacerdote-rei no santuário celestial segundo a ordem de Melquisedeque (5:5, 6;
7:11, 12, 18, 19; 8:1, 2).
A LUZ DE HEBREUS
A comissão observou que vários problemas podem ser solucionados á luz do con
texto histórico e do propósito da epístola. Seguem abaixo algumas questões propostas:
L inguagem
-H ebreus 9 :8 —
uma função viável como um tipo {até a primeira vinda de Cristo), o ministério
sacerdotal do nosso Senhor no santuário celestial não teria começado.
Por essa expressão, deveria ser entend ido que Jesus entrou no lugar san
tíssimo em sua ascensão? Se for assim, isso invalida o sacerdócio de Jesus em
dois com partim entos ou duas fases no santuário celeste, com o é ensinado
pela igreja?
R e l a tó r io da Co m is s ã o d e D a n ie l e a p o c a lip s e
Alguns estudiosos observam que todo o santuário era visto por Israel como a ha
bitação de Deus (Ex 25:8), e que o autor estava ciente do fato de que um véu separava
cada compartimento (Hb 9:2,3). Portanto, eles sugerem que a frase “além do véu" seja
uma alusão ao primeiro véu, e que significa simplesmente que Cristo teria entrado
“no santuário celeste na presença de Deus”. Por outro lado, há eruditos que acredi
tam que o autor de Hebretis tinha as cenas do “dia da expiação” em mente (cf. 9:7;
Lv 16:3), e que ele estava pensando na entrada de Cristo no lugar santíssimo do san-
mário. Assim, eles sugerem que a frase “além do véu’’ refere-se ao segundo véti e que a
ahtsão intensifica o foco do argumento do autor de que o transcendente sumo sacer
dote dos crentes havia aberto um caminho novo e vivo ao próprio coração Deus.
A comissão concorda que o autor está com parando o lim itado acesso a
Deus_que Israel tinha n o sacerdócio- levítico (Hb 9 :6 ,7 ) com o acesso direto
que todos os crentes têm agora em Jesus Cristo, que m inistra com o sum o sacer
dote na presença do próprio Deus em prol deles (v. 24). Q ualquer crente pode
achegar-se “confiadamente junto ao trono da graça” (4:16) “pelo novo e vivo
cam inho" (10:20) —em virtude da mediação do Salvador. Ellen W h ite usou a
metafr>Fa-do véu do-eapítulo-ó: 19, 20-para-ambos- os com p artim en tos.2-------------
Pode-se admitir que se o autor está usando uma metáfora do dia da expia
ção no .capitulo 6:19, 20 (um ponto de vista-apoiado pela m aioria dos estudio
sos), isso de fato torna mais precisa a mensagem que ele desejava transm itir aos
leitores de que pela virtude da morte e sacerdócio de C risto eles agora tinham
acesso direto a Deus. Por meio do ministério de seu eterno sumo sacerdócio,
eles poderiam chegar-se a Deus "em plena certeza de fé” (7:25; 10:19-22). Seu
sangue eficaz interviria por eles na própria presença da Divindade (9:14, 24).
A-Comissão concluiu que se o autorde'H ebreus tinha-em mente a metáfora
do dia da expiação (no capítulo 6:19, 20), sua utilização não esgota o significado do
ritual do dia da expiação nem nega o ministério sacerdotal de Cristo em dois com
partimentos no santuário celestial. Considerando o evidente propósito do autor,
a metáfora do dia da expiação simplesmente enfatizaria o fato de que Cristo havia
aberto o caminho para a presença direta de Deus, e que toda barreira existente en
tre eles e Deus havia sido removida. A fé em Cristo, seu sumo sacerdote eterno na
presença de Deus, poderia ser-lhes “âncora da alma, segura e firme” (v. 19).
O livro de Hebreus ensina que o tipo do dia da expiação alcançou seu cumprimento
no Calvário? Hebreus 9 :11-14, com suas referências a “touros" e “bodes”, indica isso?
A comissão notou que o autor de Hebreus m enciona uma série de rituais
no santuário e não apenas um. Por exemplo, ele faz referência ao sacrifício
diário (7:26, 27; 10:11, 12) assim como ao sacrifício anual (o dia da expiação -
A LUZ DE HEBREUS
9 :2 5 ; 10:3). Ele se refere à água espargida para purificação feita das cinzas de
uma novilha vermelha (9:13; Nm 19) e à administração do sangue de animal
na confirm ação da aliança no Sinai (Hb 9:18-21). C om uma ampla referência
ele inclui todos os diferentes sacrifícios do ritual do santuário: “quase todas as
coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue,
não há remissão" (v. 22).
E verdade que um touro e um bode eram sacrificados no dia da expiação, mas
esses eram oferecidos também em muitas outras ocasiões (ver Nm 28, 29). A expressão
"bodes e touros” em Hebreus 9:13 significa o mesmo que “bodes e bezerros” no versí
culo 12. Mas é evidente que a expressão semelhante (“bezerros e bodes”) no versículo
19 é uma referência aos sacrifícios realizados na confirmação da aliança e não àqueles
— feitos no dia da expiação. Há um reconhecimento por parte dos acadêmicos de que
“touros e bodes” se tomou uma expressão estereotipada para se referir a sacrifícios em
geral (SI 50:9-13; 66:15). Conseqüentemente, a fraseologia não carrega necessariamente
a metáfora do dia da expiação.
Seja como for, é importante ter em mente que a cruz é a verdadeira consumadora
dètôdos os sacrificios típicas/Portanto, pode-se dizer corretamente que a cruz (aniiti-
po) de fato cumpriu o aspecto do sacrifício (a oferenda do bode do Senhor) do dia
da expiação (tipo).
No entanto, a comissão está convencida de que as alusões ao dia da expiação,
bem como aos ritos diários, irão tencionavam fornecer uma interpretação completa
do seu significado antitipico. Em vez disso, o propósito do autor é enfatizar por meio
do contraste a repetitiva e ineficiente natureza de sacrifícios de animais para salvar do pe
cado, sendo eles diários ou anuais (10:4). Por meio do contraste, ele apresenta o sangue
superior do sacrifício supremo de Cristo, oferecido e uma vez por todas (9:25-28).
Apenas os méritos de seu sangue podem purificar a consciência (v. 11-14) e propiciar
redenção genuína da transgressão, seja sob a primeira ou segunda aliança.
P urificando o santuário
1. Versículos 12, 13
a. Sangue de bezerro./bodes/touros (= sacrifício)
b. “Santificação para a purificação da carne” (= aplicação/mediação)
2. Versículo 14
a. “Sangue de Cristo" - “ofereceu-se a si mesmo" (= sacrifício)
b. “Purifica sua consciência” (= aplicação/mediação)
3. Versículos 18-21
a. Sangue de bezerros/bodes - Aliança no Sinai (= sacrifício)
b. “Aspergiu” o livro e sobre o povo (= aplicação/ mediação)
4. Versículo 22*5
__________a. “Derramamento de sangue" (= sacrificio) _
b. “Purificação", “Remissão” (= aplicação/ mediação)
5. Versículo 23
a. Santuário Terrestre (“figura das coisas que se acham nos céus”)
(1) “tais" (sacrifícios de animais)
----------- (Z)-Purificação" (_ aplicação/mediação a qtialquer honrque lorcliamado)—
b. Santuário Celestial (“as próprias coisas celestiais”)
(1) “Sacrifícios superiores” (■* sacrifício de Cristo no Calvário)
(2) “necessário que se purificassem” ([entendido] = aplicação/mediação)
E evidente que existe somente um sacrifício expiatório para o pecado, o sacri
fício da morte de Cristo. Se esse evento tivesse “purificado” o santuário celestial,
não haveria motivo para o Salvador atuar ali como sacerdote. Mas um sacrifício
nunca se separou das aplicações dos seus méritos. Conseqüentemente, entende-se
que há muitas aplicações dos méritos do sacrifício ocorrido na cru*.
Toda a “obra” no Céu é realizada com base no Calvário e é uma aplicação de
seu significado. Hebreus 9:23 (no contexto) mostra tanto as idéias da morte eficaz
de Cristo quanto a aplicação de seus méritos - sejam eles aplicados na justificação
do pecador que aceita a salvação de Deus ou no dia do julgamento final a fim de
reafirmar o crente verdadeiro e justificar a autoridade e soberania de Deus perante
o universo. O sacrifício da cruz não purificou o santuário celestial no momento da
morte do Salvador, porém proveu o fundamento sob o qual Cristo, como sumo
sacerdote dos homens, pudesse mediar seus méritos e prover a reconciliação do
universo (E f 1:10; Cl 1:20), e com isso restaurar o santuário celestial e o governo de
Deus ao seu “estado de direito” (Dn 8:14).
do João 12:31, um julgamento aconteceu na cruz, isso não seria a realização do tipo
do dia da expiação? Não é verdade também que uma pessoa é julgada quando lhe-
é pregada a palavra de Deus e ela a rejeita (3:18)?
Fica claro, ao consideramos essas passagens, que o termo “julgamento” está
sendo usado num sentido diferente. Satanás foi de fato desmascarado e condenado
diante do universo leal na cruz, porém ele continua a reinar. O pecador que rejeita
o convite do evangelho tem sobre ele a condenação (v. 36), mas ele poderá se arre
pender novamente quando o Espirito Santo o tocar.
O fato é que nenhuma dessas declarações trata do julgamento final. O ritual
do dia da expiação removia completamente todos os pecados que haviam sidos
transferidos ao santuário. Em consequência disso, o santuário, as pessoas e o acam-
-panientneram considerados purificados.
O ritual do dia da expiação é, portanto, análogo ao julgamento final em suas três
fases (pré-advento, milenial, executivo), pois somente o julgamento final acaba com-
pletamente com o pecado e seus efeitos no universo. As Escrituras deixam claro que o
julgamento final envolverá roda a humanidade, até mesmo os protéssos seguidores de
Deus (At 17:31fRra44sl042t 2C o 5:10; Mr 22:9-14; Ec 12: M-, etc.).-Assim, o tipo do dia
da expiação - com relação ao julgamento final - não tem seu correspondente na cruz.
O VALOR DO LIVRO DE H E B R E U S
Notas
11
\
C apítulo 2
inopse editorial. A Igreja Adventista do Sétimo Dia aceita a unidade das Es
S crituras como um principio apoiado biblicamente porque o Espirito Santo é o
principal autor desses documentos. Portanto, é lógico sintetizar os ensinamentos da
doutrina biblicade.todo o corpus das Escrituras (ver o-método-dejesus, Lucas 24:27,
44). Por outro lado, reconhecemos que cada livro e epístola da Bíblia tem sua própria
posição, sua própria linha de raciocínio que deve ser respeitada. Passagens isoladas
devem primeiramente ser entendidas dentro da estrutura do propósito e perspectiva
do documento. Assim, o escritor deste capítulo dá o primeiro passo em direção à
compreensão dos ensinamentos de Hebreus, introduzindo o propósito, a estrutura e
a natureza da obra - destacando sua importância para os cristãos de hoje.
Hebreus é mais um sermão cuidadosamente elaborado e bem argumentado
que propriamente uma epístola. Uma “palavra de exortação” (13:22) é a descrição
que o próprio autor apostólico dá a essa obra. O livro faz um apelo aos cristãos
judeus do primeiro século (d.C.), cujas energias espirituais estavam enfraquecidas e
que questionavam o valor de sua fé. em vista da religião judaica outrora praticada,
para a qual pareciam estar sendo arraidos a voltarem.
O “sermão” alterna quatro exposições doutrinárias e quatro exortações que
surgem em conexão com as exposições. As exposições focam a superioridade da
morte expiatória de Cristo e o seu ministério sumo sacerdotal no santuário celestial
comparado à ministração limitada, repetitiva e ineficaz do santuário e sacerdócio
ievitico. As quatro exortações advertem contra a negligência e franca apostasia da
grande salvação que lhes é oferecida por meio de Cristo. Sugere-se que essas duas
linhas de pensamento estão naturalmente relacionadas sob o tema “peregrinação”.
Os cristãos a quem se dirige são vistos como uma comunidade religiosa - separada
de seu passado e agora povo de Deus - em peregrinação para a cidade celestial em
uma “pátria superior” (11:16).
Pa n o r a m a g er a l d e H e b r e u s
E sboço do capítulo
1. Introdução
2. O propósito de Hebreus
3. A estrutura de Hebreus
4. A natureza do documento
5. A importância de Hebreus hoje
I ntrodução
do livro, os quais afirmam que Hebrcus não é uma epístola, Paulo não a escreveu, e
ela não foi dirigida a leitores que não tinham origem judaica.
Essas questões iniciais entrelaçam-se. A resposta que damos a uma afeta as
outras. Por exemplo, a questão que trata da identidade dos leitores afeta nosso
entendimento quanto ao propósito do documento assim como, com menos inten
sidade, a questão sobre a data em que foi escrito.
O propósito deste capitulo não é coletar opiniões e argumentos com relação
a essas questões iniciais. De fato, conforme demonstrado várias vezes nas pesquisas
dos estudiosos, onde há pouca informação, proliferam teorias. E para algumas das
questões sobre Hebreus, especialmente sobre a autoria do livro, as evidências são
insuficientes.1 Em vez disso, procuramos desvendar os temas que mais interessam aos
_____ pensativos estu d iosos do livro de Hebreus, que são: o propósito do livro, a estrutura
da argumentação, a natureza do documento e sua importância para nós. Felizmente
não precisamos depender de teorias extensas e complexas para adentrar esses tópicos,
uma vez que o próprio livro de Hebreus fomecc os dados c as respostas.
O propósito de H ebreus
D estinatários: os “ hebreus”
caso, o autor de Hebreus escreveu aos cristãos da Itália (talvez de Roma, novamente)
de um pais tora da Itália. Possivelmente, ficaremos com o último, com base na cons
trução do grego.9
A questão da idenridade de Hebreus é interessante, mas não é o assunto
principal. Não precisamos ter certeza se eles eram cristãos judeus ou gentios para
compreendermos o documento. Mais importante é o perfil espiritual deles, que
emerge rapidamente à medida que vemos as instruções que lhes são dadas.
O PROBLEMA ABORDADO
Exposição 1:1-14
Exortação 2:1-4
Exposição 2 :5 - 3 :6 J
Exortação 3 :6 b -4 :16
Exposição 5 : 1-10
Exortação 5:11 -6 :2 0
Exposição 7:1-10:18
Exortação 10:19-25:25
um lugar entre a maioria que não confessa a Jesus como Senhor e salvador. Ambas
as conseqüências são igualmente terríveis.
Solução
A ESTRU TU RA DE H E B R E U S
E xposição
Não é correto sugerir que Hebreus justapõe teologia e exortação, uma vez que as
passagens que contêm exortações também são ricas em conteúdo teológico.’ ’ Ao mes
mo tempo, porém, um estudo das passagens que classificamos como “exposição" revela
uma concentração na teologia e um desenvolvimento da argumentação teológica que
juntos conferem a essas seções de Hebreus características distintas. Além disso, o pró
prio autor costumeiramente nos dá um sinal das suas intenções de mudar da exposição
Pa n o r a m a g e r a l d e H e b r e u s
para a aplicação ao escrever “Por esra razão..., pois...” (2:1; 10:19) e ao trocar da terceira
pessoa do plural para a primeira.
E ntão, com o que se preocupa a “exposição”? Podemos observar quatro
características:
1. Cristologia do sumo sacerdócio. Hebreus é singular entre os escritos
do N T devido à apresentação desse tema. Em qualquer outro lugar encontra
mos no máximo sugestões como em Romanos 8 :3 4 ou 1 João 2 :2 , ou imagens
alusivas com o em Apocalipse, capítulos 1, 4 e 5. Entretanto, em Hebreus, Jesus
com o sumo sacerdote é a idéia dom inante, e o livro a desenvolve por meio de
grandes detalhes.
Embora a expressão “sumo sacerdote” apareça primeiramente no capitulo
-2,-versículol7-, toda aargum entação-foi- construída -na introdução.-Pelo fato de
C risto ser totalmente Deus (1:5-14) e totalmente homem (2:5-16), Ele pode se
tom ar nosso sumo sacerdote. ’4 Passagens subsequentes apresentam as duas carac
terísticas do sumo sacerdócio especificadas em 2:17; sua fidelidade (em 3 :l-6 a ) e
sua misericórdia (em 5:1-10). O capítulo 7 mostra como Jesus, um descendente
da-tribo-de^Judárpodia ser sumo sacerdote =~na vmhtdeTÜte é trnrsacertlore d e —
ordem superior.
Assim, alcançamos o auge d c .sumo-.sacerdócio .no capitulo 8:1, 2 - “Ora, c
essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote, que se as
sentou ã destra d c -trono-da Majestade tios céus, como ministro do santuário e do
verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem.”
2. Terminologia de culto. O livro de Hebreus, particularmente nas passagens
que descrevemos como “exposição”, está repleto de referências a tabemáculos, sacrifí
cios, sacerdotes, sangue e oblações. De tato, a própria argumentação teológica baseia-
se numa estrutura de culto que não pode ser compreendida separadamente.
Com o apresentarei no capitulo 5 deste livro15, na “exposição” o “problema”
humano e sua “soluçãol são bem diferentes sob o ponto de vista das exortações,
onde chama-se a atenção para contaminação no lugar de infidelidade. A missão de
Cristo é prover purificação em ver de fornecer um modelo, um ensinamento de
esforço incansável.
3. U m a apresentação sistemática da argumentação teológica. O escritor pla
nejou toda a obra antes de escrever a primeira palavra, introduzindo cada idéia em
seu devido lugar, e ‘sõ enrão desenvolveu e concluiu seu pensamento. Cada tema
se mistura ao raciocínio geral a fim de produzir um texto com grande propriedade
lógica. Além de sua influência espiritual, este documento é uma obra de arte do
pensamento ordenado.
Por exemplo, observamos as seguintes idéias:
a) Purificação: introduzida em 1:3; desenvolvida em 9 : 1 ao 10:18.
A LU 7 DE HEBREUS
E xortações
Seqüência
Um esboço de H ebreus 38
A. O prefácio, 1:14
B. Cristo superior aos anjos, 1:5-14
C. Primeira exortação, 2 :1 4
D. inferioridade temporária de Cristo para com os anjos - a necessidade
da encarnação, 2:5-18
E. Cristo superior a Moisés, 3: l-6a
F. Segunda exortação - “Descanso em Cristo”, 3 :6 b -4 :16
1. Lições aprendidas com Israel, 3:6b-19
2. Aplicação aos cristãos, 4:1-16
A LUZ DE HEBREUS
Podem estes dois esquemas ser reunidos sob apenas um principio? Sim. O
conceito de pere£rinação40produz o holismo teológico de Hebreus.
Os cristãos de Hebreus são vistos como uma comunidade religiosa em movimen-
to. Cada uma das partes dessa descrição é importante: uma comunidade religiosa
ou cultuai e a peregrinação em direção ao lugar sagrado.
E devido ao fato de Hebreus considerar os cristãos como uma comunidade
religiosa que a idéia de “separação” é muito forte no documento. Os cristãos são
“consagrados”, “santificados”, “perfeitos”, “purificados”41 - todos termos culmais.
Eles são o povo de Deus, mesmo agora. E a partir dessa visão particular que as terrí
veis advertências contidas em 6:4-6; 10: 26-31; e 12:15-17 se tornam compreensíveis.
Pelo fato de serem uma comunidade religiosa, eles agora estão “limpos”, agora podem
se achegar a Deus, agora suas consciências estão purificadas, agora possuem um sumo
sacerdote, Jesus Cristo. O contexto é o passado e o presente. A obra de Cristo no
Calvário (passado) os colocou em plena comunhão com Deus (presente).
Entretanto, eles estão também em marcha. A comunidade peregrina (cada
grupo peregrino) não está apenas satisfeita em deixar seus lares, mas parte em uma
jom ada-com um objetivo definido. A p esarde^já consagrada e SéparadãV ela busca
o centro do universo, a própria presença de Deus. Assim, o povo de Deus em He
breus está em marcha.
Esta alternância teológica entre culto e exortação em Hebreus não é bem
compreendida .pelos estudiosos da-obra, visto que o culto ibi, de forma geral, ne
gligenciado e/ou considerado superficialmente. Contudo, a visão de Hebreus com
respeito às metáforas do culto e da peregrinação pode explicar essas alternâncias na
linha de pensamento.
O Conceito de contaminação‘e puTificação retembra sua separação do mundo
no passado e destaca sua situação atual perante Deus como cristãos. O “quadro"
de descrença e fidelidade aponta pata o futuro, atentando para a consciência dos
perigos no presente, os quais podem arruinar o objetivo final. Há perigo não de
apenas falhar em alcançar o prometido “descanso”; mas também de se separar da
comunidade do povo de Deus.
Semelhantemente, podemos ver com mais clareza como Cristo é ao mesmo
tempo “sumo sacerdote” (archiereus) e “pioneiro/lider” (archêgos), e o motivo pelo
qual a argumentação cultuai aponta para o “já ” e “agora”, enquanto que as exor
tações chamam atenção para o “ainda não" do cristianismo. Assim, reconhecer o
tema da peregrinação em Hebreus fornece uma visão holistica do documento.42
A NATUREZA DO DOCUMENTO
Em vários aspectos, as cartas do Novo Testamento seguem um padrão pareci
do com as nossas. Quar io Paulo, por exemplo, escreve para os cristãos da Galácia,
\ LU 7 r>F IlE B IlE U S
cie Cristo: o resplendor de sua pessoa como filho de Deus - eterno feixe da divina
glória e imagem da essência divina, e com a grandeza de sua obra - criador, mante
nedor, purificador de pecados, eterno rei.
Hebreus é rico em superlativos, sua palavra-chave é “superior”.45 Sem de
turpar o desenvolvimento do livro, podemos delim itar seu padrão usando os
tópicos que se seguem:
Nosso estudo sobre Hebreus nos revelou quão valioso este sermão pode
ser para todos os cristãos que estão vivendo no final do segundo m ilênio da era
cristã. Nossas condições, necessidades, pregações - Hebreus irradia luz sobre
tudo isso.
A descrição dos destinatários de Hebreus se assemelha,em muito aos cris
tãos de hoje. Se o passar dos anos afligiu os primeiros cristãos - o aparente
movimento inexorável do tempo, ininterrupto por intervenções divinas - quan
to mais hoje. É triste o fato de que uma grande quantidade de cristãos tenha
abandonado a esperança da segunda vinda de C risto há um bom tempo.
As teorias modernas - a evolução das raças, os processos regulares de mu
dança, decadência, e nova vida, o inevitável avanço do progresso - têm moldado
o pensamento do século 20. De fato, em nossa era, o cientista tem se tornado
sumo sacerdote, e os remédios dos psicólogos e socialistas um bálsamo (aparente)
para toda e qualquer enfermidade.' Quando o homem tiver sido analisado, dis
secado e esquadrinhado, quando parecer adaptado e conformado com a ordem
natural, que espaço sobrará para uma dimensão especificamente religiosa?
Enfrentamos uma continua pressão de um estilo de pensamento e vida secula
res. O cristianismo, se alguma vez já existiu, desmoronou com o inicio da primeira
guerra mundial. Entramos em uma nova Idade Média para a igreja cristã, com gran
des ameaças a um verdadeiro caminho cristão no mundo, com suas tentações sutis
A LUZ DE HEBREUS
N o tas
19Ibid., p. 619.
20 Ibid., p. 403 (12:3).
21 Ibid., p. 242 (12:3,5).
-Ib id ., p. 138(12:16).
13Ibid., p. 621-622(12:19,25).
24 Ibid., p. 721 (2:1).
25 Ibid., p. 423-24 (3:6, 14; 10:23).
26 Ibid., p. 449-50 (4:14, 6:1Ç)
27 Ibid., p. 771(6:11:4:11).
28 Ibid., p. 416 (3:1).
29 Ibid., p. 622-23 (3:13; 10:25; 13:19,22).
50 Ibid., p. 57 (10:32)
_____ JLIbid.*_p. 854 (10:36; 12:1).
52 Ibid., p. 549 (6:12)
33 Exemplos: fé, apostasia, peregrinação (falaremos disso logo mais, neste capitulo).
34 Isto é, Jesus é único; Ele é o único sumo sacerdote verdadeiro na história. A argu
mentação final de Hebreus 5:1-10 tem este teor.
35 Discuti amplamente este tema em minha tese de doutorado, Defilement and Purga-
tion in the Book o f Hebmvs (Vanderbilt University, 1973).
3oA advertência, 10:26-31; imitação dos antigos heróis da fé, capitulo 11; o convite
para se achegarem a Deus, 12:18-29.
37 Referente aos rituais do santuário, 11:28; 13:11; referente ao sangue de Cristo,
.1.0:19, 29; 12:24; 13:12, 20.
38A estrutura aqui sugerida tem semelhanças e diferenças daquela apresentada por A.
Vanhole em La Structun litteraire de 1’Épitre aux Hébreux (Paris, 1963). Em minha opinião, o
conteúdo de Hebreus de modo geral não tem correlação com as formas literárias conside
radas, por ele nesse documento.
39A maneira como exposição e exortação estão integradas é um problema antigo na tentariva
de se determinar a estrutura teológica de Hebreus: veja Grãsser, “Der Hebrãerbrief 1938-1963”.
40 Discuti esta idéia até certo nivel em “The Pilgrimage Motif in the Book of He-
brews", JB L, vo!. 97, N" 2 (1978), p. 239-51. O conceito de peregrinação tcmou-se cada
vez mais remoto para o homem ocidental; o tema em si mesmo não é exato. Na tentativa
de dar maior precisão ao tema, tentei usar o modelo de peregrinação desenvolvido por H.
B. Partin, The Muslim pilgrimage: Jouney to the Center (tese de doutorado, Universidade de
Chicago, 1967). Partin encontra quatro propósitos fundamentais parava peregrinação: (1)
separação, deixar o lar; (2) uma jornada a um lugar sagrado; (3) um propósito fixo e (4) difi
culdade. Comparei os dados de Hebreus referentes à peregrinação com o modelo de Partin
e encontrei grande similaridade.
41 Hebreus 3:1; 13:24; 2:11; 9:13; 10:10; 14,29; 13:12; 5:14; 7:19; 9:9; 10:1,14; 11:40;
12:23; 7:11; 12:2; 1:3; 9:14, 22, 23, 10:2.
42 Essa interpretação de Hebreus com relação a metáforas hannonizadas de culto e peregrina
ção fundamenta o trabalho de outros esmdiosos do documento. Ela reforça as idéias Kàsemann,
cuja cristologia de aithegos (“pioneiro/lider”) archiereus não conferiu o devido valor ao tema archie-
Pa n o r a m a g er a l d e H e b r e u s
rus (“sumo sacerdote”) e considerou principalmente vis exposições para a compreensão de hamartia
(“pecado"). Veja Das wandemde Gottesvolk, 1938, p. 19-27. O artigo de C. K.Barret, “The Eschato-
logy ot tire Epistle to dre Hebrews", em The Background of tlie New 7èstament and Its Eschazology, eds.
\V. D. Daube (Cambridge, 1956), procurou relacionar o “agora" com o “ainda não”. Tenho rne
esforçado para mostrar como o conceito de uma comunidade cúltica que está em direção a um
objetivo se relaciona a essas idéias.
43Rm 1:1,7;IC o 1:1 -3;2, G1 1:1-5; Ef 1:1-2; F1 1:1-1; Jd 1. Observe também o fecha
mento, assim como em Rm 16:1-27; IC o 16:5-24; G1 6:11-18; F1 4:14-23; Cl 4:7-18; 2Tm
4:9-22; T t 3:12-15; Fm 23-25.
44Edmund Gosse, em uma magnífica passagem de Father and Son (Pai e Filho), capturou o
poder da linguagem e as idéias de Hebreus. “A extraordinária beleza da linguagem - por exemplo,
o incomparável ritmo poético e imagens do primeiro capitulo - impressionaram a minha imagi
nação, e foi (eu acho) meu primeiro contato com a magia da literatura. Fiquei incapaz de definir o
que senti, mas fiquei com um nó na garganta, o qual foi em sua essência uma emoção pura, quan
do meu pai leu com sua voz pura, grossa e sonante tais passagens “Os céus são obras de tuas mãos.
Eles perecerão; tu, porém, permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual veste; também, qual
manto os enrolarás, e, como vestes, serão igtmlmente mudados; tu, porém, és o mesmo, e os teus
anos jantais terão fim.” Porém, as partes dialéticas rne confundiam. Tais idéias metafísicas como
“lançando, de novo, a basedo arrependimento de obras mortas c da fé em Deus” e “de novo, estão
crucificando para si mesmos o Filho de Deus" não estavam exatamente no meu entendimento...
A linguagem melodiosa, a intrepidez retórica 'divina, a suntuesidade-dos-argumentos que fazem
da epístola de Hebreus tal milagre, estavam muito além de minha compreensão e eles apenas me
confimdiam” .(citado, em James .Moffarr. A critica/ and Essgecir ai Commentarv on the £pistle to the
Hebnavs [Edingburgh, 1924]).
45Encontramos um nome superior em (1:4), uma esperança maior em (7:19), uma aliança
superior em (7:22), promessas melhores em (8:6), sacrifícios superiores em (9:23), uma pátria supe
rior em (11:16), uma ressurreição superior em (11:35) e sangue superior em (12:24).
46Compare essa observação de Ellen G. White, Conselhos aos Professares, Pais e Estudantes
(Tatui, SP, 2000), p. 361: “A operação do Espirito de Deus não afasta de nós a necessidade de
exercitar nossas faculdades e talentos, mas nos ensina a empregar toda capacidade para glória
de Deus. As faculdades humanas, quando sob a orientação especial da graça divina, são sus
ceptíveis de ser empregadas para os melhores desígnios na Terra. A ignorância não aumenta
a humildade nem a espiritualidade de qualquer professo seguidor de Cristo. As verdades da
divina Palavra podem ser melhor apreciadas pelo cristão intelectual. Cristo pode ser glorifica-
do melhor por aqueles que o servem com inteligência."
47Veja meu ensaio “O Santuário Celeste - Figurativo ou Real?”, capitulo 3 deste volume.
48Veja meu ensaio “Alusões ao.Di? da Expiação", capitulo 6 deste volume.
C apítulo 3
Reimpressão de 'T h e Heavenly Cultus in tire Book ot Hebrews - Figura tive or Real?" in
Amold V. Walienkampl e W. Richard Lesher, eds. Tne Sanctuary and the Aconement, Washington,
DC: Instituto de Pesquisa Bíblica, 1981, p. 362-79
O SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?
E sboço do capítulo
1. Introdução
2. A interpretação metafórica
________________________3. Crítica.à interpreraçãcunetafòtica-— -------------------------
4. A interpretação realística (literal)
E evidente, até mesmo numa leitura superficial, que o livro de Hebreus está
impregnado com a linguagem do santuário, sacerdote e sacrifício. Com o apre
sentado em outra parte1, as expressões - as quais devemos designar linguagem
cultuai do documento - estendem-se além da argumentação teológica formal. A
medida que o texto original é pesquisado, as referências cultuais permeiam todo
o trabalho, envolvendo-se tanto nas exortações quanto na teologia. Por exemplo,
o verboproserchom ai (“penetrar, entrar”), usado nas exortações de Hebreus 4 : 14-
16 e 10:19-22, é uma palavra cultuai que significa a entrada do sumo sacerdote
na presença de Deus.:
O estudo contemporâneo de Hebreus não tem tratado de maneira adequada
sua linguagem cultuai.3 Os protestantes em geral, talvez por não se agradarem de
rituais, tendem a negligenciar os temas de Hebreus que focalizam Jesus como sumo
sacerdote. Incontestavelmente, isto é uma falha crucial, pois, desse modo, a parte
reconhecidamente essencial (kephalaion, Hb 8:1-2) do livro de Hebreus é descon
siderada. Por outro lado, estudiosos católicos manifestaram durante todo o século
passado um grande interesse no culto de Hebreus. Muitas vezes, suas obras refletem
interesses dogmáticos, como quando os escritores procuram alusões ao sacramento
da eucaristia em Hebreus.4 Assim, a questão da interpretação da linguagem cultuai
de Hebreus não tem sido considerada importante, antes, permanece oculta.5
O assunto é ainda mais complicado. Junto com a negligência geral, por parte
dos protestantes, dos interesses cultuais de Hebreus, tem havido muitas vezes uma
A LUZ DE 11EBR.EUS
interpretação implícita da linguagem cultuai que destrói de modo eficaz sua força.
Sustenta-se que os temas sobre sacerdotes, templos e sacrifícios são apenas uma
metáfora para explicar a obra de Cristo.0 Em outras palavras, o livro de Hebreus
estabelece um código e, por assim dizer, deveriamos decifrar o código para ver a in
tenção do escrito. Demorar-se apenas nos termos sacerdote, santuário e sacrifício é
perder o propósito do livro. A menção de um santuário celestial, por exemplo, não
se refere a um lugar no Céu, mas deve ser compreendida ao longo do pensamento
filônico.7 Tampouco devemos visualizar uma obra ministerial feita por Cristo, ou
seu sangue como um sacrifício celestial. Esses termos não são mais do que uma
ilustração consistente, ou modelo, da obra transcendente de Cristo.8
Essa questão é muito importante para a Igreja Adventista do Sétimo Dia quan-
—dalem bramos o que o santuário e ministério celestiais significam em nossa herança.
Nossos pioneiros e Ellen W hite muito tempo atrás consideraram o livro de Hebreus
como um apoio poderoso à idéia de um santuário celeste real, e uma obra celestial feita
por Jesus, nosso verdadeiro sumo sacerdote. Se dissolvermos essas realidades em discurso
metafórico, com certeza, deveremos mudar toda-a doutrina adventista do sérimo dia.
—Isso fará-com que tenhames-de reorganizar nossa compreensão da realidade celestial
—e nosso lugar ao longo dos acontecimentos divinos, com uma implicação importante
nos eventos de 1844.
Citarei algumas referências ao livro de Hebreus nos escritos de Ellen W hite
que apresentam uma interpretação real da linguagem cultuai.
O serviço sacrifical que apontara a Cristo passou, mas os olhos dos homens vol
taram-se para o sacrifício verdadeiro pelos pecados do mundo. O sacerdócio terrestre
terminou; mas nós olhamos a Jesus, o minisrro do novo concerto, e “ao sangue da
aspersão, que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel”. “® caminho do San
to Lugar não se manifestou, enquanto o primeiro tabemáculo continua erguido, ...
■quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o
maior e mais perfeito tabemáculo, não feito por mãos, ... mas pelo seu próprio san
gue, entrou no santo dos santos uma vez por rodas, tendo obtido eterna redenção”
(Hb 12:24; 9:8-12).9
Io, erigido por Deus e não pelo homem. A sombra típica do tabernãculo judaico
não tem mais nenhuma virtude. Não há mais necessidade de se fazer expiação
diária ou anual, entretanto, o sacrifício expiatório por meio de um mediador é es
sencial devido à prática constate do pecado. Jesus está intercedendo na presença
de Deus, oferecendo seu sangue vertido, como o de um cordeiro sacrificado. Jesus
apresenta a oblação por cada ofensa e cada fraqueza do pecador.10
Tal era o serviço efetuado como “exemplar e sombra das coisas celestiais". E o
que se fazia tipicamente no ministério do santuário terresrre, é feito na realidade no
______ministério do santuário celestial. Depois de sua ascensão, começou nosso Salvador a
obra como nosso sumo sacerdote. Diz Paulo: “Cristo não entrou em santuário feito
por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por
nós diante de Deus” (Hb 9:24).
Para ali a fé dos discípulos acompanhou a Cristo, quando, diante de seus olhos,
Ele ascendeu. Ali se centralizara sua esperança, e esta esperança, diz Paulo, “remos por
âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, onde Jesus, como precur
sor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre”. “Não por meio
de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos
Santos, uma vez por todas, rendo obtido eterna redenção” (Hb 6:19 e 20; 9:12).
celeste”é uma metáfora para “o universo” (2) Não existe um sacerdócio celestial
de Cristo - a linguagem é interpretada de uma forma subjetiva e significa a expe
riência cristã de salvação (até mesmo alguns intérpretes conservadores chegam
a essa conclusão)13; (3) Não há “purificação” - do santuário celeste; portanto,
não há a possibilidade de se ter em 1844 uma indicação de um evento celestial
objetivo que marca uma nova fase de um ministério celeste objetivo realizado
por Cristo.
É possível que alguns estudiosos adventistas de Hebreus tenham sido in
fluenciados pela escosla metafórica de interpretação. Alguns, claro, podem afir
mar que tal ponto de vista não necessariamente demonstre um sinal de aban
dono de nossa histórica doutrina do santuário - eles podem apelar para Daniel
-rApocalipse para sustentar essa afirmação. No entanto, ao que tudo indica, se
Hebreus fosse interpretado metaforicamente, essa doutrina pode ser seriamente
enfraquecida; evidentemente é Hebreus que, em face disso, apresenta as decla
rações mais poderosas da Bíblia que apoiam a existência real de um santuário e
ministério celestes.
Neste capitulo, abordaremos a questão mais essencial no que tange à compre
ensão de Hebreus: Pode ser a linguagem cultuai de Hebreus interpretada de forma
mecafórica (espiritual) ou realistica (literalmente):14 Desenvolveremos este capitulo
em três etapas: (1) a interpretação metafórica, (2) uma critica do ponto de vista
metafórico, e (3) interpretação realistica.
A INTERPRETAÇÃO METAFÓRICA
A INTERPRETAÇÃO CONCEITUAL v
ornamento de estrelas, por seus sacerdotes, os anjos, os quais são servidores do seu
poder, almas desencarnadas, não constituídas de natureza racional e irracional.16
Um anjo é uma alma intelectual, ou melhor, por completo mente e espirito, feito
(para ser) um ministro de Deus. 0 anjo é possuidor de certos poderes e está a serviço
da raça dos mortais, a qual não estava apta a receber as bênçãos e benefícios concedi
dos por Deus, pois sua natureza é corrupta... (por esta razão) a necessidade do Logos
[o Verbo) ser designado como juiz e mediador, o qual é chamado de “anjo".
Afirma-se que Hebreus com partilha deste mundo conceituai. Para apoiar
essa idéia, pode-se destacar que os term os usados em Hebreus para descrever
a relação entre o santuário terrestre e o celestial - sk ia (“som bra”), eikon
(“imagem”), e hupodeigm a (“exemplo”, “cóp ia”) - possuem origens platônicas
e são usados por Filo no mesmo co n tex to .19 Hebreus com partilha com Filo
o dualismo cosmológico platônico pelo qual o invisível é o real - o visível é
passageiro. Hebreus 8:2 com enta sobre o alêthin os - o verdadeiro, ou rea! - ao
passo que em todo o capítulo 11 o contraste é delim itado entre o terrestre,
o qual é temporário e irreal, embora seja visto, e o celeste, o qual é divino e
real, em bora invisível.20
Estudar Filo para fornecer o fundamento conceituai para Hebreus é de forte tra
dição entre comentaristas. Moffat, no IC C 21, é provavelmente o mais influenciador. En
tretanto, mesmo onde a relação com Filo não é diretamente reconhecida, os exegetas de
Hebretis muitas vezes se mantêm parcialmente fiéis a esta interpretação.
Uma dissertação ..recente de Harvard, T he Intermediary World and Patterns
o f Perfeccion in Philo and Hebreuis11, [O M undo Interm ediário e Padrões de Per
feição em Filo e Hebreus), de L. K. K. Dey, argumenta de modo amplo a favor
do mundo filônico de Hebreus. Prosseguindo além dos antigos argumentos
baseados nos capítulos 8, 9 e 11, os capítulos 1 -7 racionalizam que a discussão
sobre anjos, Moisés, “perfeição”, Arão e M elquisedeque tem origem nas cate
gorias de Filo.2’
A LUZ DE HEBREUS
Se, então, o livro cie Hebreus usa a linguagem do santuário e liturgia celestes
como Filo a emprega (apesar de fazer de uma maneira cristã para dar a Cristo um
lugar de honra), seria um grande mal-entendido do documento considerar reais o
templo e seus serviços.
A INTERPRETAÇÃO EXEGÉTICA
em sua existência como “templo celestial”, trouxe o santuário celestiai para a Terra
durante sua vida. Assim, seu serviço sacerdotal na cruz é realizado em seu próprio
corpo como um templo; na vida e morte de Jesus, o Céu e a Terra se encontram.30
5. “Pelo véu, isto é, pela sua carne” (10:19-20). A interpretação metafórica tem
nestes versículos seu grande apoio. Considerando que as referências anteriores exigiam
um raciocínio cuidadoso, aqui afirma-se que temos evidência de uma intenção espiritu
al - o véu do santuáTio celeste é identificado com o acame-fou corpo) de Cristo.11
Assim como a cortina é o limite do acesso ou não a Deus no templo judai
co, a existência de Cristo é o marco divisor entre o céu e a Terra.32 Entretanto,
uma cortina tanto encobre como dá acesso, desse modo, apenas pela morte de
Cristo o véu foi removido e seu verdadeiro papel sacerdotal revelado. Se o véu do
santuário celeste é a sua carne, podemos entender toda a descrição do santuário
e não mais ver um santuário e liturgia celestes reais. Dessa forma, é evidente que
há uma razão importante para se fazer uma interpretação espiritualizada da lin
guagem do santuário de Hebreus. Embora a maioria das evidências individuais
seja pequena, pesa o efeito cumulativo. Portanto, abordaremos agora essa nnter-
CONCEITUAL
“entrou uma vez”; 9:24, “Cristo entrou... no mesmo céu”; 10:12, “assentou-se á
destra de Deus.”
Esta preocupação com o lugar vai de encontro à idéia filônica. Apenas o in
telecto pode vislumbrar o real. Falar de uma entrada real num lugar, como parece
falar Hebreus, seria absurdo.M
2. A ênfase temporal de Hebreus põe abaixo a interpretação filônica, e, em
meu parecer, incontestavelmenre. Hebreus não apenas comenta sobre “o genuíno”,
como oposto ao visto, mas também evidencia que “o genuino” diz respeito a um
determinado tempo. Notamos em 10:1 que “a lei tem apenas uma sombra dos bens
vindouros”. Pelo modelo filônico, o verdadeiro sempre se justapõe ao transitório,
que é skia (“sombra”); mas aqui o verdadeiro é vindouro. Não é isto que impulsiona
toda-a argumentação contida nas passagens 1:5-10:18 de Hebreus? É-nos mostrada
a nossa necessidade da divindade e da humanidade do Filho, “para ser misericor
dioso e fiel sumo sacerdote” (2:17). A designação divina (5:5-6; cf. 7:20-21) faz parte
deste modelo. Do mesmo modo em Hebreus 8:3, “por isso, era necessário que
também esse sumo sacerdote tivesse o que oferecer”.*3
ATirteirçãu des^rrarrocTnio é mostrar que jesus sè tom oü nosso sumo sa
cerdote celestial. As afirmações “de uma vez por todas” 35 apontam para o seu
sacrifício auto-suficiente no .Calvário. Por causa.desta oferta, todas as barreiras fu
ram destruídas entre Deus e homem, eliminando a necessidade de sacrifícios de
animais. Por isso, Hebreus enfoca o aspecto temporal: primeiro a transformação do
Filho em homem (a encarnação); e, segundo, o seu sacrifício no Calvário. Ambas as
realizações capacitaram Cristo a exercer seu ministério sacerdotal no Céu.
Com isso, a linguagem cultuai de Hebreus diverge nitidamente do modelo
filônico. Não podemos mais sustentar uma ordem cclestrahetema, imutável e inal
terável, afastada e intocada pelos acontecimentos desta Terra.30
3. O terceiro ponto é ainda mais drástico. "Era necessário, portanto, que as
figuras das coisas que se acham nos céus se purificassem com tais sacrifícios, mas
as próprias coisas celestiais com sacrifícios a eles superiores.” (Hb 9:23). A idéia
de que haveria a necessidade de modificar as coisas celestiais faz com que a mente
esmoreça, e até mesmo confunde completamente alguns estudiosos!37 O modelo
platônico é claramente considerado inadequado aqui. v
Parece que Hebreus, apesar de empregar terminologia e alguns conceitos
paralelos de uso filônico, tem seu próprio significado distinto, portanto, deve
ser estudado em seus próprios termos, sem considerar as idéias de Filo. Alguns
intérpretes modernos de Hebreus reexaminaram a suposta relação filônica e che
garam a um veredicto negativo. Tal foi a conclusão de Ronald Williamson em sua
dissertação Philo an d the Epistle o f the Hebrews (Filo e a Epístola dos Hebreus),38
que aborda este tema. A. McNicol, em T he Relationship o f the Image o f the Highest
O SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?
Angel to the High Priest Concept in Hebrews (A Relação da Imagem do A njo Mais
Elevado e o Conceito de Smuo Sacerdote em Hebreus)39, também argumenta
contra os princípios filônicos.
Agora, estudaremos o mateTial exegético. Tendo concluído que a estrutura
conceituai de Hebreus diverge da filônica, devemos ainda examinar a linguagem
cultuai para ver se está sendo utilizada de uma forma espiritualizada, tomando
as passagens anteriormente observadas nas quais se afirma haver evidencias de
tal intenção.
E xegese
1. O Itagíon kosm ikon (9:1). O modo mais simples de entender este texto é
considerar Kosmikon como lím uso substantivado do adjetivo. Então, hagion kos
mikon é apenas uma referência ao tabemáculo da aliança judaica, nada mais. O
contexto certamente aponta para esta direção.
No capitulo 8, a discussão gira em torno das duas alianças, com a citação de
Jeremias profetizando a nova diathêke (“aliança”). Na passagem 9:1 lemos que “a
primeira [aliança] também tinha preceitos de serviço sagrado e o seu santuário
terrestre [ou terreno]”, e os próximos nove versículos expandem essa declaração.
Os versículos 1-5 esboçam de forma breve esse santuário, e os versículos 6-10
descrevem resumidamente as suas cerimônias, as quais são apresentadas como
limitadas no tocante ao acesso à presença de Deus. Assim, kosmikon em 9:1 con
trasta com epouranios (“celestial”).40 A passagem 9:1-10 prepara o terreno para a
descrição do ministério celestial de Cristo, que será mais detalhado em 9:11-10:18.
Assim como a primeira diathêke tem seu santuário (o kosmikon ou o “terrestre”),
a nova diathêke, inaugurada pelo sangue de Cristo (9:15-18), tem um santuário
(o celestial - 9:24-26). Portanto, levantar questões sobre o cosmos em 9:1 está
totalmente fora do contexto.
2. O sk ên ê h ê p r o tê (9:2). O termo no contexto está claramente ligado ao pro
pósito de fazer uma distinção entre o primeiro compartimento e o segundo com
partimento do sanmário terrestre. A breve descrição da mobília de cada um aponta
isto. A questão é se atribuir um significado alegórico a esses dois compartimentos,
de forma que eles tenham referentes separados - h êp ro te skên ê significando o pri
meiro santuário/era/pacto, e hê deutera (“segundo”) skênê significando o santuário
celestial/nova era/novo pacto. Se este é o objetivo dessa passagem, ele certamente
foi bem camuflado. Observemos:
a) Como a discussão dos dois compartimentos termina repentinamente com
peri hõn ouk estin nnn legein kata meros: “das quais coisas não falaremos agora par
ticularmente”. Ou seja, somos desencorajados a investigar os detalhes desses dois
compartimentos para buscar significados escondidos.
A LUZ DE 1IEBREUS
Versículo 19 Versículo 20
“para entrar n o” “Pelo novo e vivo cam inho”
{eis tên eisodon) (hodon prosphaton kai zõsan)
"santo dos santos” pelo veu
(tõn hagiõn) (dia tou katapetasmatos)
“pelo sangue de Jesus” “isto é, pela sua carne”
(em lõ haimati têsou) (tout'estin tês sarkos autou)
A LUZ DE HEBREUS
Portanto, ao analisar caáa uma das passagens de Hebreus tidas como exem
plos a favor da interpretação metafórica dos rituais celestes, vemos que elas não
fornecem o embasamento que é frequentemente reivindicado.
Praticamente não temos nada a adicionar aos nossos comentários acima. Vi
mos anteriormente neste capitulo como a linguagem cultuai permeia o livro de He
breus. Este fator é tão facilmente percebido em todo o livro que somos autorizados
a declarar que a menos que se nos dêem indicações convincentes de que esta linguagem não
deve ser considerada ao pé da letra, somos obrigados a considerá-la seriamente. Somente se a
-argumentação cúltica devesse ser considerada sem sentido por si própria justificar-
se-ia descartarmos a interpretação literal em Hebreus.
Mas, uma interpretação realística não é de forma alguma sem sentido!
Mostrei em outra parte49 com o o “problema” do homem, a transgressão, está
•expresso em Hebreus da forma mais básica, provando que sua necessidade reli-
-giosa-é-a-purificação.-Essas-idéias são a própria essência de-Hebreus, e elas são
termos cúlticos.
Podemos acrescentar resumidamente dois pontos. Primeiro, a interpretação
realística está completamente de acordo com o propósito homilético de Hebreus.
Esse propósito, como mostrado no estudo das exortaçõesso, é consolidar a con
fiança na obra de Cristo, mostrar a superioridade da religião cristã, advertir con
tra uma negligência gradual ou uma franca rejeição, e encorajar a perseverança
até o fim. Dessa forma, o documento apresenta uma série de fundamentos para
a confiança cristã. Divindade real, humanidade real,. sacerdote real, aliança real,
sacrifício real, purificação real, acesso real, e, por conseguinte ministério real e
santuário celeste real.
Segundo, não deveriamos supor que todos os judeus do primeiro século
tivessem uma visão metafórica do culto celestial. Na verdade, é cada vez mais
evidente que muitos grupos de judeus criam numa liturgia e num santuário celes
tiais literais. Os escritos apocalípticos do judaísmo indicam tal concepção, como
por exemplo, “e nele [o tabernáculo celestial] estão os anjos da jmesença do Se
nhor que ministram e fazem propiciação para o Senhor por todos os pecados
•da ignorância do justo e oferecem ao Senhor uma oferta de cheiro suave, sem
sangue, racional.”31 "E que o Senhor conceda-lhes...... servirem em seu santuário
como os anjos de sua presença e os santos.”52 Aproxime-se de Deus e do anjo que
intercede por você, pois ele é um mediador entre Deus e o homem.”53
Ao mostrar esses paralelos, não desejamos sugerir que Hebreus é dependente
de tais fontes não-biblicas. De fato, a apresentação de Hebreus é unicamente cristã
e cristocêntrica. No lugar de ministros angélicos, há um único sumo sacerdote -
0 SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?
Jesus Cristo. Em vez de exaltar Melquisedeque, mostra que ele apenas tipificava
Cristo.’4 No entanto, estar ciente dessas outras idéias relacionadas ao culto celes
tial, concorrentes com a cristandade do primeiro século, serve de auxílio em pelo
menos duas formas: (1) Estamos mais aptos a entender a linguagem ciiltica de
Hebreus; ao mesmo tempo que ela compartilha as concepções encontradas nos
apocalípticos bem como em Filo, não pode ser considerada “filônica" sem uma
séria qualificação. (2) Podemos entender a preocupação de Hebreus em falar da
função dos anjos e da função de Melquisedeque.55
Finalmente, como parece claro, requer-se uina interpretação realistica literal da
linguagem cúltica de Hebreus pela evidência do texto. Quão literal deverá ser? Por
exemplo, quando lemos o "sangue” de Cristo56, devemos entender seu sangue real
sendo oferecido no santuário celestial? Portanto-, somos direcionados a ver possíveis —
maneiras de se interpretar Hebreus: (1) metafórica ou espiritual, a qual é deficiente,
conforme tentamos mostrar neste capítulo; (2) literalista, segundo a qual cada termo
possui real significado - para o santuário celestial, o terrestre seria uma miniatura em
todos os aspectos; e (3) literal, segundo a qual a realidade do sanniário e ministério
N otas
1William G. Johnsson, Defilement and Purganon in the Book o f Hebrews (tese de doutora
do, 1973), capitulo 1.
: Leia também Hebreus 7:25; 10:1; 11:6; 12:18,22.
3Johnsson, Defilement and Pmgation in the Book of Hebrews, capitulo 2; Veja também Id., “Tire
Cultus of Hebrews in Twenneth-Century Scholarship”, Exp Tim 89/4 (Janeiro, 1978): 104-8.
4 Leia William G. Johnsson, “Issues in the Interpretation of Hebrews” AliSS 15/2
(1977), N° 67-71, para uma bibliografia das obras católicas recentes sobre Hebreus.
A IU Z DE HEBREUS
5 Ibid., p. 169-87.
6 Para Jerome Smith, A Priestfor Ever, London, 1969, coda a argumentação de Hebreus
é uma metáfora ampliada.
7 Os estudiosos mais proeminentes que adotaram este ponto de vista são: James
Moffatt (A Criticai and Exegetical CommenCary on tire Epistle to tke H ebrew [Nova Iorque,
1924]); E. Kâsemann (Das Wandernde Gottesvolk IGõttingen, 1939]); F.J.Schierse (Verkeú-
sung und Heilsvollendung: Zur Theologischen Grundfrage des Hebrãerbriefes [Munich, 1995]);
E. Grãsser (Der Glaube im Hebrãerbrie/IMarbug, 1965]); G.Theissen (Untersuckungen zum
Hebrãerbrief [Gücerslob, 1959]); C. Spicq (L’Épitre anx Hébreux, 2 vols., [Paris, 1952]); e
J. Héring (The Epsitle to tke Hebreu/s [Londres, 1970]).
8 Cf. Moffatt, p. xxxi: “O autor escreve de sua própria filosofia religiosa, ou seja, de
sua própria dentre os escritores do Novo Testamento. O elemento filosófico na sua visão do
— mundo e de Deus é fundamentalmente platônico.”
9 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatui, SP, 2000), p. 165-66
10 Francis D. Nichol, ed., Tke SDA Bible Commentary , vol. 6 (Washington, DC,
1980), p. 1077.
11 Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatui, SP, 2001), p.417.
________ 12Ibid., p. 420421
13Observe, por exemplo, como F. F. Bruce em seu comentário sobre Hebreus (The Epis
tle to tke Hebrews [London, 1971]) parece favorecer um santuário celestial real em Hebreus
8:1-5, mas em Hebreus 10:19-22, alegoria o véu como sendo o corpo de Cristo.
19 Obs.: Este capitulo não considera as afirmações de Ellen G. W hite relacionadas a
-Hebreus. Essas afirmações, que. em si geram certas discussões, todavia, se mantêm fiéis ao
santuário celeste real. As questões levantadas por essas declarações serão tratadas em outros
capítulos em The Sanctuary and tke Atonement, Eds. A.V. Wallenkampf e W.R. Lesher (Wa
shington, DC, 1981).
15As datas de Filo são incertas: 20 a.C. a 50 d.C.
16De specialibus legibus, Lxxii. 66 cm LCL, Philo, VIL 137,139.
17De Vita Mosis, ll.xv.74 em LCL, Philo, VL485.487
18Quoestiones et Solutiones in Exodum, II.3, in LCL, Philo, Supp. 11:48,51
19Veja Moffatt, xxxi-xxxiv, p. 104-6, 135; e também W. F. Hosvard, Tke Founh. Gospel
in Recent Cristicism and Interpretation (Londres, 1955), p. 115.
20 Leia esp. Hb 11:1, 2, 6, 7, 10, 13-16, 26-27, 3 9 4 0
21Veja nota 7.
: : Série Teses 25 SBL (Missoula, MT1, 1975). v
23 É significativo que Dey não tentou abranger Hebreus 8-10 em sua tese.
24A. P. Saiam (“Ta liagia na Epístola de Hebreus”, AUSS 5 [Janeiro, 1967]: 60) afirma
que dos 172 usos de liagion, 142 se referem ao santuário em geral. Veja apêndice A.
25 Ant. III. 6:4, 111,7:7.
26Moffat, p. 113.
27So Schierse, p. 29-33.
28 Veja Também U. Luk, “Himmlisches e Irdisches Geschehen im Hebrârieí”, NovT
(1963), p. 211.
O SANTUÁRIO CELESTE - FIGURATIVO OU REAL?
39 Hebreus 9:11-12 forma uma sentença continua; por isso, se deduz que dia deveria
ser usado de maneira constante do começo ao fim.
30 Luk, p. 209-10
31 É interessante notar como G. W. Buchanan (To the Hebrews, AB [New York, 1972])
lida com esta passagem. Seu comentário se opõe fortemente á visão metafórica, defendendo
uma interpretação literal. Aqui, porém, sugere que a frase “isto é, sua carne" é algo engano
so - com certeza uma resposta sem lógica.
33 N. Dahl, “A New and Living Way" [Um Caminho Novo e Vivo), ínt., 5:401-12
33 Pertence, de fato, ao antigo pensamento oriental.
34 R. Williamson, “Platonism and Hebrews" (Platonismo e Hebreus), SJT 16 (1963):419
35 Hebreus 6:4, 9:7, 26-28; 10:2; 12:26-27 (hapax)\ Hebreus 7:27; 9:12; 10:10 (ephapax).
36 Cf. Buchanan, p. 134
37 Observe, e.g., a resposta de Spicq a tal pensamento: “absurdo" (11:267)
38 Leiden, 1970
39Tese de doutorado, Universidade de Vanderbilt, 1974
w Hebreus 8:5; 9:23 (veja também 3:1; 6:4; 11:16; 12:22).
41 Fiz a exegese de 9:1-10:18 em De/ilement and Purgation, cap. 4 de minha tese. Veja
-uma diseussão maissucinta no capitulo 5 deste livro.___________________________________
43 Hebreus 4:14-16; 6:19-20; 9:6-12; 24-25; 10:19-22; 12:18-24.
43 Hebreus 2:17; 7:27; 8:3; 9:13-14; 15-34; 26-28; 10:4; 11-14.
44 Hebreus 9:9-10; 10:1-4; 15-18.
45 Hebreus 9:6-10; 13-14, 18-23; 10:14.
“ Á -mesma tonclusão é tirada por McNiool,--p. 153-58, e O . Hofius, “D a sE iste
und das zweite Zelt - ein Beitrag zur Auslegung Von Hb 9:1-10”, Zeischrift für die neu-
testamentliche Wissenschaft und die Kunde dês Urchristentums 61, N° 3-4 (1970): 274-75.
47O. Hofius “Inkamation und Opfertod Jesu nach Hebr 10, 19t.”, Der Ruf Jesu und die An-
twort der Gemeinde, ed. E. Lohse, C. BurchaTd, and B. Schaller (Gõttingen, 1970), p. 13241.
l5J. Jeremias, “Hebrãer 10:20 - tout estin tés sarkos autou." ZNW 62 (1971): 131. Este
artigo apóia a conclusão a que chegou O. Hofius previamente (n. 46).
49Johnsson, De/ilement and Purgation.
50Hebreus 2 :1 4 ; 3:74:16; 5:11-6:18; 10:32-39; 12:1-13:21.
51 Test. o f Levi 3:5-7.
S5Jubilees 31:14.
53 Test. ofD an 6:2.
54 Há forte evidência da exaltação de Melquisedeque entre a seita Qumran.
55 Um dos rolos do Mar Morto refere-se a uma função intercessória de Melquisedeque
no santuário celestial.
59 Hebreus 9:12, 14; 10:19, 29; 12:24; 13:12, 20.
57 Hebreus 8:1-5.
C a p ít u l o 4
H e r b e r t K ie s l e r
E sboço do capítulo
1. Introdução
2. Hebreus 8:1-6
3. 9:1-8
4. 9:11-14
5. 9=23-2476
6. 10:19-22
7. 6:13-31
Introdução
Para os adventistas do sétimo dia, o ministério celestial de Jesus Cristo é de
vital importância. Ao comparar os ensinamentos de Hebreus, Levítico e as declara
ções proféticas de Daniel 7-9, os adventistas alcançaram uma compreensão única
do papel e função de Cristo no santuário celeste.
Neste estudo, não faremos uma apresentação da doutrina do santuário. An
tes, tentaremos determinar o papel e a função de Jesus como nosso sumo sacerdo
te a partir das informações fornecidas pelo autor de Hebreus. As^im, lemos para
entender a mensagem que Hebreus transmitiu aos seus ouvintes da época. Nossa
apreciação dá situação histórica nos ajudará a entender a concepção cristológica do
autor sobre Jesus como nosso sumo sacerdote.
O principal objetivo de Hebreus foi trazer encorajamento aos leitores.1Vez
após vez, o autor os exorta a resistir à tentação de se afastarem de seu compromisso
cristão e os insta a continuar sua peregrinação em direção ao seu objetivo escato-
lógico. Se eles apostatarem, podem novamente estar sujeitos ao regime da antiga
aliança, a qual foi inerentemente imperfeita e limitada. Assim, em sua argumen-
U m a e x e g es e d e p a ssa g en s s e l e c io n a d a s
tação, o autor tenta estabelecer a verdadeira imagem de Cristo nas mentes de seus
leitores. Alguns comentaristas sustentam que isso era necessário porque Jesus, com
sua aparência terrena e sua morre vergonhosa na cruz, tornou-se uma pedra de
tropeço para eles.2
A fim de opor-se a esses sentimentos negativos, o autor desenvolveu uma
cristologia única do sumo sacerdócio de Jesus. Com base nas concepções do AT
sobre o sitmo sacerdote, ele‘ trarz à tona as características não familiares de Jesus
com o o grande sumo sacerdote. Jesus é descrito como um compassivo mediador
entre Deus e o homem e seu sumo sacerdócio está intimamente ligado à sua mor
te expiatória pelo pecado. Finalmente, a superioridade de seu sacerdócio sobre
o sistema levitico é claramente demonstrada; Jesus pode assegurar-lhes o dom da
- divina salvação. Num sentido negativo, a s concepções cristológicas do sacerdócio
de Jesus indicam que foi descartada a possibilidade de as concepções judaicas
significarem uma tentação ou ameaça aos leitores.
------- H.EBREUS-8:1-6
V ersículo 1
V ersículo 2
A frase “ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo” {tõn hagiõn lei-
tourgos kai tês skènês tês alêthinês) expressa a idéia fundamental de toda a epístola.9
Os termos ta hagia (literalmente “os santos") e skênê ("tenda/tabernáculo") têm
ocasionado uma variação considerável de conceitos entre comentaristas. De seu
estudo de ta hagia (à luz da Septuaginta [LXX]), Salom conclui que a expressão
refere-se ao santuário em geral.10 isso significa que esta palavra não é um termo
técnico para lugar santíssimo.
Na opinião de Salom, esse significado básico de ta hagia como o “santuário”
deve estar em primeiro lugar na mente do tradutor. No entanto, ele observa que
um exame contextual permitiría aos especialistas serem mais precisos do que tra-
----- dtrtores em determinar que parte especifica do santuário o autor tinha em mente.11
No contexto de Hebreus 8:2, Salom entende a expressão como uma referência
generalizada ao santuário celestial.
Michel vê a frase “ministro do santuário" (ton hagion leitourgos) como uma
construção helenística fixa. Ele não tem dúvidas de que o autor tinha em mente
todo o santuário celestial. Ele racionaliza que a existência^Te um sumo sacerdote
celestial requer ações cúlticas e também um santuário celestial.12
Alguns exegetas, no entanto, estão convencidos de que a expressão ta h a-
gia refere-se ao lugar santíssimo celestial. Hughes, por exemplo, argumenta que
é citado o santo dos santos celestial n e presente contexto.13 E m stia opinião,
entende-se aqui (8:2) que Jesus entrou com o nosso sumo sacerdote no santo
dos santos. Por outro lado, a palavra paralela “tenda” {skênê), que é usada para
explicar o ta hagia, denota claramente o tabernáculo inteiro ou santuário e não
_ uma parte dele (8:2).
Esse santuário celestial é considerado como o “verdadeiro tabernáculo” esta
belecido pelo próprio Senhor e não por algum agente humano. O adjetivo “verda
deiro” {alêthinês) significa “autêntico”, “reai", no sentido de realidade tida somente
pelo antítipo e não por suas cópias.14 O verdadeiro sanmário celestial é contrastado
com o material na Terra.
Salom tem nos acautelado a não tomarmos muito detalhadamente o ter
restre para entender a natureza e formação do santuário celestial.15 Entretanto,
não se pode negar que o entendim ento do autor quanto ao papel e á função do
santuário celestial estava enraizado no tabernáculo terrestre. Isto se evidencia
pela declaração de que o santuário terrestre foi uma “cópia" {hupodeigma), uma
“som bra” {skia), e um “tipo” (tupos; “m odelo”) do santuário celestial (8:5). Ele
extraiu o termo “tipo” {tupos) da tradução da Septuaginta para o hebraico tabnit
nas instruções de Deus a Moisés (Êxodo 2 5 :4 0 , LXX). Essas expressões dão um
U m a e x e g ese d e p a ssa g en s s e lec io n a d a s
forte apoio à visão de que o escritor do livro de Hebreus tinha o A T com o fonte
de entendim ento das correspondências do santuário terrestre-celestial.
V ersículo 3
Uma vez que é dito que Cristo tem uma função no santuário celeste, surge a
questão: Qual é a natureza de seu ministério? Em Hebreus 5:1 o autor mostra que
todo sumo sacerdote é escolhido dentre os homens e “é constituído (kathistêmi) a
favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifí
cios pelos pecados". Assim, é necessário também que Cristo como sumo sacerdote
tenha alguma coisa para oferecer (cf. 8:3).16
Qual é a natureza de sua oferenda? Deve-se observar que a oferenda é limi
tada a um único sacrifíciotm dícadõ pela expressãõ no singular “alguma coisa”,"
ACF ou “ o que”, ARA).17 O autor evidentemente está preocupado em enfatizar
a suficiência do sacrifício único (consumador) de Jesus Cristo em contraste aos
sacrifícios contínuos do sistema levitico. Isto fica claro na lingua original pelos
tempos verbais que o autor emprega no versículo 3: “Pois todo sumo sacerdo
te é constituído para oferecer [prospherein, presente infinitivo] tanto dons como
sacrifícios; por isso, era necessário que tam bém esse sumo sacerdote tivesse o
que oferecer [prosenegkê, subjuníivo passado]”. O primeiro “oferecer” no tempo
presente denota o contínuo, repetitivo sacrifício dos sumo sacerdotes terrestres.
O segundo “oferecer” no tempo passado indica a natureza do sacrifício de Cristo
na cruz, que foi uma vez para sempre.18
V ersículo 4
V ersículo 5
V ersículo 6
A frase introdutória “Agora, com efeito ...” (mtni de) dá continuidade à idéia
do “ministério/serviço” superior de Cristo (leitourgia). Segundo Huges, esta frase
introdutória enfatiza o contraste fundamental entre o ministério de Cristo e o
ministério da antiga lei.28 O ministério de Cristo é superior porque ele é mediador
(mesitês) de um pacto superior. A palavra mesitês (“mediador”) tem sua base na
linguagem jurídica grega. Ela,pode significar juiz, pacificador, testemunha, fiador.
C omo mediador (mesitês) C risto está em posição de estabelecer um acordo entre
duas partes.
M ichel salienta que os dois conceitos, “mediador” (mesitês) e “aliança”
{diathêke), não têm significado nem helenístico nem jurídico no contexto de He-
breus, mas se relaciona com as concepções bíblica e judaica. Cristo com o o me
diador (mesitês) é superior a Moisés (a frase “mediador da aliança” traz à mente
o paralelo com Moisés). E Cristo quem dá início à nova aliança e é Ele quem nos
garante que esta será levada a cabo.29
O. verbo “obteve” (tugchanõ) indica realização, sucesso e vitória, que, toda
via, nao é o resultado de esforço própno. Portanto, deduz-se que Jesus recebeu
autoridade de seu Pai para servir como sumo sacerdote no santuário celeste. O
ministério de Cristo, como afirma o autor do livro de Hebreus, é muito superior
a qualquer ministério terrestre, porque a aliança mediada por ele é melhor.
A aliança “superior” ou nova é representada por promessas melhores. Jere
mias 31 faz menção dessas promessas. Elas são melhores promessas porque foram
cumpridas ao termos nossa consciência purificada da culpa e do pecado e termos
restaurado a comunhão intima com nosso Criador.50
O anúncio .de uma nova aliança implica que a antiga era inadequada. De
certa forma, os ensinamentos dos profetas apoiam a visão de que a nova aliança
é muitíssimo superior à antiga. O autor parece esclarecer a questão de que haverá
uma transformação de coração e mente resultante da obediência aos mandamen
tos de Deus.
O conceito da nova aliança ganhou significado particular na comunidade
de Q um ran.51 Entretanto, há uma diferença fundamental entre esses sectários e
A LU7 DF 11FBR.EIJS
H ebreus 9:1-8
No capitulo 8, o autor mostra as imperfeições da antiga aliança e seu ministé
rio sacerdotal. No capítulo 9, versículo 1, ele faz uma descrição das partes e funções
do santuário terrestre.
Versículo 1
“Ora, a primeira aliança também tinha preceitos dc serviço sagrado e o seu santu
ário terrestre.” (v. 1). Alguns exegetas.acreditam que “a primeira” (hêprõté) neste vetsicu-
------le-se-refere ao “primeiro-tabemáculo”, ou seja, o tabemáculo-mosaiesj-e-não à primeira
aliança.12 Todavia, não há apoio para esta posição. Está claro no versículo 1 que a pri
meira aliança tinha suas próprias ordenanças de culto e um santuário terrestre.
Alguns exegetas, inclusive Martinho Lutero, têm a tendência de considerar
latreias (“serviço/culto sagrado”) como um acusativo plural.1’ Nesse caso leriamos:
“A primeira aliança também tinha preceitos de serviços sagrados e o seu santuário
terrestre". Outros, como Moffatt, Riggenbach e Hughes acreditam que seria mais
natural tratar o termo como um genitivo singular, definindo a palavra “preceitos”
(dik&iõmatc).™ Assim, leriamos, “preceitos de/para o serviço sagrado”.
O uso do substantivo neutro singular to hagion (“o santuário") no mesmo ver
sículo transmite o significado de “santuário”. Isso não se encontra em nenhum ou
tro lugar do Novo Testamento.14 No entanto, na LXX, o termo aparece em Levitico
16:2, 3, 16, 17, 20, 23, 27 como o santíssimo. Mas, aqui em Hebreus 9:1, o termo
denota o santuário todo.15 Por outro lado, há uma confusão considerável entre os
tradutores quanto à tradução correta da forma plural deste substantivo no livro de
Hebreus (to hagia, literalmente, “os santos”). O correto significado da palavra deve
ser determinado pelo contexto.
V ersículos 2-7
Apenas no versículo 2 é usado hagia, uma forma plural sem um artigo (literal
mente “santos”). Sem diivida, ele se refere ao primeiro compartimento, o “primeiro
tabemáculo” ou “tabemáculo externo” (prõte skênê). O autor nomeia as mobílias
que havia nesse tabemáculo.
U m a exeg ese d e p a ssa g en s se le c io n a d a s
V ersículo 8
V ersículos 9-10
H ebreus 9:11-14
“Mas, quando veio Cristo como um sumo sacerdote dos bens vindouros, Ele entrou
por meio de \dia\ um maior e mais perfeito tabemáculo, não feito por mãos, isto é,
---------não-desta criação^nem por- meio de [<feí]-sangue-de-bodes-e“bezerros7-mas-por-meio—
de [dia] seu próprio sangue, Ele entrou [eiselthen] no santo lugar [ta hagia], uma vez
por TODAS, HAVENDO OBTIDO ETERNA REDENÇÃO.” (TRA DU ÇÃ O DA N A SB DE
H ebreus 9:11-12).
V ersículo 11
Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote,
que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus, como ministro do santuário,
e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem (não feito por mãos).
(8:1-2, ARA).
U m a e x eg ese d e pa ssa g en s se le c io n a d a s
As expressões “feito por mãos" e “não feiro por m ãos” (expressas ou en
tendidas) se relacionam às passagens de 8:1-2; 9:11-12 e 9 :2 4 ■E evidente que o
autor de Hebreus está comparando o santuário terrestre e o celestial. Portanto,
podemos seguramente dizer que nesta passagem (11-12) o autor de Hebreus
mostra a superioridade do sumo sacerdócio de C risto ao descrever sua entrada
no “verdadeiro rabernáculo”, o santuário celestial, para estar diante de Deus
por nós.
Uma vez que este parece ser o sentido correto do contexto, sugerimos que a
preposição dia (“por”) neste exemplo (v. 11) tem a nuança de “n o”. As outras duas
ocorrências teriam uma função instrumental. A passagem, então, seria:
Mas, quando veio Cristo como um sumo sacerdote dos bens vindouros, [Ele
entrou) no maior e mais perfeito tabernáculo, não feiro por mãos, isto é, não
desta criação, nem por meio de sangue de bodes e bezerros, mas por meio de seu
próprio sangue, Ele entrou no santo lugar uma -vez por todas, havendo obtido
eterna redenção.
V ersIculos 12-14
de Cristo pode purificar a consciência que o pecado corrompeu (v. 14). Além disso,
ele também enfatiza que Cristo, como nosso sumo sacerdote, entrou uma vez por
todas no santuário celestial - na presença do próprio Deus pela virtude de seu
próprio sangue - obtendo nossa redenção.
No versículo 12, o autor de Hebreus declara a eterna validade do sacrifí
cio de Cristo e a redenção consumada. Esse fato contrasta nitidam ente com a
natureza temporária dos sacrifícios de animais que podería prover em si pró
prios somente um ritual: “purificação da carne” (v. 13). W estcott aponta quatro
características pelas quais podemos notar que o sacrifício de C risto é, de fato,
superior aos sacrifícios de animais: foi voluntário, racional, espontâneo e mo
ral.61 Acima de tudo, a eficácia da m orte expiatória do Salvador tem com o base
sua natureza eterna.
H ebreus 9 :2 3 , 2 4
Nos versículbs anteriores a esta passagem (v. 15-22), o autor mantém a neces-
sidadé~da morre sscrificahdtrjesus. Nesta primeira linha d e ra cio cin io fv : 15-17)-
ele faz uma interpretação da palavra grega diathêkê, a qual pode significar tanto
“aliança” como “testamento”. Ele aplica ambos os significados aqui. Primeiro ele
repete que Cristo é o mediador da nova aliança (v. 15; 8:6). Por meio da aliança,
•o Senhor nos atrai a um relacionamento especial com Ele. .Mas, observa o autor,
a aliança é também como um testamento e somente se concretiza na morte do
testador. Então, neste sentido, a morte de Cristo estabeleceu a aliança; seu sangue
vertido validou o plano da redenção.
Em sua segunda linha de pensamento, o-autor continua com o tema do sa
crifício ao declarar que mesmo a confirmação da aliança do Sinai e a inauguração
do tabemáculo requeriam sacrifício de sangue (v. 18-21). Isso o leva a sua síntese:
“Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue: e, sem
derramamento de sangue, não há remissão” (v. 22). Este é o contexto da passagem
sob análise, a qual segue abaixo:
Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que se acham nos céus se purifi
cassem com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais, com sacrifícios a eles su
periores. Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro,
porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus (v. 23-24).
H ebreus 10:19-22
Uma ambigüidade na versão Grega do versículo 20 afeta a interpretação dessa
passagem em certo nível. A parte da frase “isto é, pela sua carne,” pode ser enten
dida de duas maneiras. Gramaticalmente (no grego) é possível para a expressão
“sua carne” defender uma posição para ambos “véu/cortina” ou “cam inho”. Duas
traduções podem-ser citadas como exemplo:
Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e
vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, p ela su a carne (Almeida Corrigida Fiel).
Por esse motivo, irmãos, temos ampla confiança de poder entrar no santuário
eterno, em virtude do sangue de Jesus, p elo c a m in h o novo e v iv o que nos abriu através
do véu, isto é, o caminho d e seu próprio co rp o (Biblia Ave Maria).
Sua carne
W estcott aponta que as palavras “sua carne” (tês sarkos cintou) são co n side-
radas poT alguns como gramaticalmente dependentes de “o véu/cortina” (tou
katapetasm atos) em duas construções possíveis.69 Em ambos os casos o corpo de
Cristo é entendido como o véu, algo que Ele teve que transpor, uma cortina
que por algum tempo proibiu qualquer acesso a Deus.
Westcott, entretanto, é contrário à correspondência véu = corpo. Em sua opi
nião, ninguém poderia conceber o corpo de Cristo “como um véu, um obstáculo,
para a visão de Deus onde a ênfase é dada na Sua humanidade”. Além disso, ele ar
gumenta que deve-se esperar que seja preservado um completo paralelismo “entre a
descrição da aproximação de Cristo a Deus e a aproximação do crente a Deus”.
Bruce assume uma direção contrária, afirmando que a expressão “sua car
n e” explica o significado do "véu”. Essa visão é interessante porque a ordem da
palavra é mais natural do que a construção que une “sua carne” a “o novo e vivo
cam inho”.70 Além disso, ele argumenta que a objeção de W estscott à correspon
dência véu = corpo não tem peso, uma vez que o autor usa outras metáforas
além de “carne", como “o corpo de Jesus” ou "o sangue de Jesus" (v. 10 e 19).
O corpo de Jesus Cristo, então, seria uma referência a sua vida humana a
qual Ele ofereceu como sacrifício a Deus.71 Isso pode denotar que a encarnação de
Cristo e sua morte expiatória tornaram possível nosso acesso a Deus. A luz desse
contexto a visão de que o véu é o corpo de Jesus parece ser a mais razoável.72
O VÉU
H ebreus 6 : 1 3 - 2 0
Apelando para a experiência de Abraão, o autor busca trazer encorajamento
para seus leitores. Desse modo, ele aponta para “duas coisas imutáveis” que ele
considera a base de sua esperança: (1) a promessa de Deus, e (2) o juram ento pelo
qual sua promessa está confirmada. A particular promessa a que se referiu nesse
contexto é a que Deus fez a Abraão depois da sua experiência com Isaque no monte
------ M oriá (Gn 22:46-18). ---------------------------
Essa promessa, evidentemente, é para ser vista como uma elaboração das primei
ras promessas de Deus para Abraão, as quais deviam se cumprir no nascimento de um
filho, o começo de uma grande posteridade, e a vinda do redentor do mundo por meio
de sua descendência (Gn 12:1-3; 15:3-6; 17:15-25). O autor observa que depois da dis-
:, Detis repetiu snapromessaTra-confirmou-eom—
um juramento, tomando-a, dessa maneira, duplamente certa (v. 16-17).
Portanto,-nessa-passagem, é assegurado ,aas leitores de que a promessa de
Deus para eles é igualmente certa. Ele sustenta que nossa esperança, tendo seu
fundam ente na-imutável promessa de Deus, ,é absolutamenre segura. A lém disso, é
com o âncora da alma, segura e firme, e que penetra “além do véu” (eis to esõteron
tou katapetasmatos).
Os pontos em discussão aqui são as frases “além do véu/cortina” (eis to eso-
leron tou katapetasmatos '[6:19]) e “pelo véu/cortina” -(áicfiou katapetasrnatos [\Q: 19-
20]), as quais já observamos anteriormente. O termo empregado para véu/cortina
é katapetasm a. N o N T essa palavra aparece em Mateus 27:51, Marcos 15:38 e Lucas
23:45. Nessas passagens, o partir do véu é recordado como um dos sinais que acom
panham a morte de Jesus na cruz.
De acordo com Schneider, como já observamos antes, os evangelistas tinham
a cortina interior em mente, já que a exterior não tinha grande significado. Ele
também atribui um significado teológico as três referências em Hebreus (Hb 6:19;
9:3-, 10:20). Para ele não há dúvida de que essas seis citações do N T se referem ao
véu interior (to esoteron kaiapetasm atos[ Lv 16:2, 12]) ou “o segundo véu" (to deute-
ron katapetasm a [Hb 9:3]).
Schneider está convencido de que katapetasma em Hebreus 6:19 refere-se ao
véu que separa o lugar santo do lugar santíssimo, mas como já mencionamos antes,
não há consenso entre os estudiosos quanto a se o termo refere-se ao véu interior
ou ao exterior.76
A LUZ DE HEBREUS
R esumo e conclusão
N o tas
35Westcott, p. 244.
38Ibid.
37 Ibid., p. 252.
’8N. H. Young, “The Gospel according to Hebrews 9", NTSC 27 (1981): 198-210.
j9J. Héring, T h e E p isle to the H ebrew s (London), p. 74.
30 Hughes, p. 321.
41 Michel, p. 307.
4: H. Windisch, D er H e b r à e r b r ie f ( H N T 14) citado por Michel, n. 4, p. 307.
4j Michel, p. 307.
44 Bruce, n. 60, p. 195.
45 Young, p. 201íf.
46Westcott, p. 255; Bruce, p. 199; W. G.Johnsson, “Defilementand Purgation in the
Book of Hebrews” (Tese de doutorado na Vanderbilt University), 1973, p. 290.
47 Héring, p. 76.
48 P. Andriessen, “Das grõssere und vollkommenere Zelt (Hb 9:11)" B Z 15
(1971): 76-92.
— »IU J^pJ77f£----------------------------- -- -----------------------------------------------------------
50 M. L. Andreasen, T h e Book o f H eb rew s (Washington, DC, 1948), p. 335ff.
51J. Swemam, “The Grearer and More PerfectTent: A Conrriburion to the Discussion
of Hebrews 9:11”, B ib 45 (1966), p. 91-106.
5: Young, p. 201ff.
53Andriessen, p. 82.
54 G. F. Hasel, “Some Observations on Hebrews 9 in view of Dr. Ford’s Interpreta-
tion”, manuscrito não-publicado, Andrews University.
55 Bruce, p. 199.
58 Hughes, p. 354; Moncefiore, p. 154.
57 Michel, p. 313.
58S. H. Horn, SD A B ib le D ietion a-n (Washington, DC, 1979), p. 917.
59 Michel, p. 313.
60 Hasel, “Some Observations on Hebrews 9..."
01Westcott, p. 260.
o: Michel, p. 323-24.
83 Ibid., n. 2, p. 324.
64 Hughes, p- 380.
85 Bruce, p. 219.
86 Hughes, p. 381.
67 Wescort, p. 270.
u8Wescott, P. 270.
89 Ibid., p. 319.
7t1Bruce, p. 247.
A LUZ D E H EBREtlS
7! Ibid., p. 248.
7_ Para um debate sobre vêu=caminho, veja W. G. Johnsson, p. 44 deste livro.
'Veja George Rice, “Hebrews 6:19: Analysis ofSome Assertions Concerning K a ta p e -
la s m a , AUSS. 25 (1987): 65-71. Veja o Apêndice B neste livro.
74 C. Schneider, “K a lc ip e lu s m a ", T Ü N T (Grand Rapids, 1965), p. 631.
,s Hasel, “Some Observations on Hebrews 9...”
76Schneider, p. 631-32.
C a p ít u l o 5
CONTAMINAÇÃO/PURIFICAÇÃO E
H ebreu s 9 :2 3
W lL L lA M G. JOHNSSON
inopse editorial. Os advenristas creem - com base nos tipos do santuário ieviti
S co e nas profecias de Daniel - que Cristo iniciou em 1844 a fase do ministério
sacerdotal celeste no segundo compartimento. Na fraseologia bíblica, esse ministé
rio é mencionado como “a purificação do santuário” (D n 8:14). No NT, Hebreus
9:23 ajuda a entender melhor a mensagem de Daniel 8:14.
“Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que se acham nos céus [o
santuário israelita) se purificassem com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celes
tiais [o santuário celestial] com sacrifícios a eles superiores” (Hb 9:23).
Hoje em dia tem-se argumentado que essa passagem de Hebreus pode nos
levar a concluir que o trabalho de Cristo de purificar - ou limpar - o santuário ce
lestial foi completado na cruz. Tal interpretação do versículo, se correta, invalidaria
imediatamente a crença adventista como resumida acima. No entanto, Jonhsson
demonstra que essa interpretação baseia-se numa exegese incorreta, porque falha
ao considerar a argumentação teológica central do livro. A exegese de passagens
isoladas pode não levar a uma interpretação razoável, a menos que as passagens
sejam vistas de acordo com a perspectiva teológica global do documento.
A preocupação teológica essencial em Hebreus gira em torno da problemática
da contaminação e purificação. Isso é evidente tanto na escolfta do vocabulário
por parte do autor apostólico, quanto na sua progressão de pensamento a partir da
abertura concisa da obra de Cristo na Terra: “depois de ter feito a purificação dos
pecados (1:3). A terminologia contaminação/sangue/purificação forma o cerne
teológico de conceitos por meio dos quais o escritor apostólico descreve o dilema
da humanidade e o cam inho para sua salvação.
Seu modelo não deve ser extinto ou destruído pela mistura ou confusão
com outros modelos. A impureza aponta para a mácula, a mancha, a corrupção
CONTAMINAÇÀO/PURIFICAÇÃO E HEBR.EUS 9:23
E sboço do capítulo
1. Introdução;
2. Vocabulário de contaminação e purificação
3. Ênfase teológica em Hebreus
4. Aspectos de interesse para os adventistas
5. Conclusão
Introdução
A rgumentação central
V ocabulário de contaminação
10:29 “de quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno
aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou [koinos] o
sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Es
pirito da graça?"
Por si mesmas essas quatro ocorrências de termos que apontam para contami
nação podem parecer pouco significativas. Contudo, começamos a compreender
sua força quando percebemos que é dada forte ênfase ao oposto do conceito que
transmitem: purificação.
V ocabulário de purificação
9:23 “Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que se ach
am nos céus se purificadas [katharizõ] com tais sacrifícios, mas as
próprias coisas celestiais, com sacrifícios a eles superiores”.
V ocabulário relacionado
Sangue. O substantivo mais importante para consideração aqui é haima (“san
gue”). Haima é o termo intermediário, por assim dizer, entre a contaminação e a
purificação. Assim como a contaminação é o problema e a purificação, a solução, o
sangue é o meio para alcançar este último.
H aima ocorre não menos que 21 vezes em Hebreus, sendo que 14 delas estão
nos capítulos 9 e 10.13 Citaremos aqueles que mostram mais claramente o sangue
como meio de purificação.
9:7 “mas, no segundo, o sumo sacerdote, ele sozinho, uma vez por
ano, não sem sangue, que oferece por si mesmo e pelos pecados de
ignorância do povo.”
9:12 “não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio
sangue, entrou no santo dos santos, uma vez por todas, tendo
obtido eterna redenção.”
CoN TAM !NAÇÃO/PURI FICAÇÃO E HEBR.EUS 9:23
9:22 “Com efeito, quase rodas as coisas, segundo a lei, se purificam com
sangue; e sem derramamento de sangue, não há remissão...”
10:19 “Tendo pois, irmãos, intrepidez para entrar no santo dos santos,
pelo sangue de Jesus,..."
10:29 “de quanto mais severo castigo julgais vós será considerado
digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o
sangue da aliança, com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito
da graça?”
13:12 “Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu
próprio sangue, sofreu fora da porta.”
9:28 “assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre
para tirar [anapherein] os pecados de muitos, aparecerá segunda
vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.”
A LU7. DE HEBREUS
10:11 “Ora, todo sacerdote se apresenta dia após dia, a exercer o serviço
sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nun
ca jamais podem remover pecados[periairein]."
nome mais excelente (cap. 1), um líder superior (cap. 3), um sacerdote superior (cap.
5), um sumo sacerdote superior (cap. 7), um santuário e uma aliança superiores (cap.
8), então aqui sua apresentação gira em torno do "sangue superior”.
b. A argumentação, que à primeira vista muda de sangue no capitulo 9 para sacrifí
cio no capitulo 10,13retoma o tema sobre o sangue em sua síntese (10:19, 29).
c. As três afirmações "não sem sangue” (9:7, 18, 22) salientam a função do
sangue no pensamento do autor.
d. A estrutura lógica é a seguinte:
(1) 9:22 - A “regra do sangue”. O axioma subjacente a todos os sacrifícios,
seja no AT ou no NT.
A ÊNFASE TEOLÓGICA
Os dados em Hebreus com respeito à contaminação e purificação sugerem
quatro observações:
O CONTEXTO DO SANTUÁRIO
A pergunta inevitavelmente nos confronta: Por que Hebreus? Por que nele,
de todos os I ívtos no NT, deveria a obra de Cristo ser retratada dessa maneira?
E verdade que Hebreus é o único livro no N T onde a argum entação teo
lógica é construída sob o padrão contam inação/sangue/purificação. Enquan
to outros livros fazem referências ocasionais ao m odelo (por exemplo, l j o 1:9;
T t 2:14), em nenhum outro é discutido extensam ente à m aneira sistem ática
de Hebreus.
Também, nenhum outro livro do N T discute o tema do santuário como
o faz Hebreus. Em várias partes, encontramos indícios da intercessão de Cristo
n o Céu (por exemplo, Rm 8:34; ljo 2rl), e Apocalipse emprega imagens do —
santuário e coloca as visões no ambiente do santuário celestial. Mas somente em
Hebreus, Jesus é explicitamente chamado de sumo sacerdote, e somente nele a
existência do santuário celestial é explicitamente argumentada/1
Inevitavelmente, somos levados de volta ao con texto do santuário do
' AT.MrreviTavelmente^sumos- lêvadüs~á'refletir sobre o convite à santidãdt,
mencionado repetidamente em Levitico. Inevitavelm ente som os lembrados
da grande quantidade de regras dadas para proteger a pureza do povo anda
rilho de Deus - as leis da contam inação e purificação. O convite à santidade
para o povo de Deus acampado ao redor d e santu ário era um convite à prote
ção da contam inação, um convite à purificação. E o cam inho para lidar com
o pecado, para remover a contam inação, era o cam inho do sangue, por meio
do sacrifício de animais.
O santuário! - aqui está a chave. “‘E me farão um santuário, para que eu
possa habitar no meio deles”, disse Deus (Êx 25:8). E esta foi sua promessa, a
palavra do Deus da aliança: “Andarei entre vós e serei o vosso Deus, e vós sereis
o meu povo” (Lv 26:42). Com essa palavra, todavia, veio esta também: “Porque
tu és povo santo ao Senhor, teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, para que
lhe fosses seres o seu povo próprio, todos os povos que há sobre a terra” (D t 7:6).
Então, em Levitico, o livro do santuário, o Deus que habita entre seu povo diz:
Eu sou o Senhor vosso Deus; portanto, vós vos consagreis e sereis santos, porque eu
sou santo; e não vos contaminareis por nenhum enxame de criaturas que se arrastam
sobre a terra. Eu sou o Senhor, que vos faço subir da terra do Egito, para que eu seja
vosso Deus; portanto, vós sereis santos, porque eu sou santo (Lv 11:44-45).
dos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Sen h or” (Hb 12:14). É por isso
que a apresentação da obra de Cristo é descrita em Hebreus nos termos que
observamos: o modelo é o santuário, não a lei moral ou qualquer outra.
que por um sacrifício providenciou a purificação de uma vez por todas e aca
bou com a necessidade de sacrifício de animais.
C om o observamos na primeira seção do estudo, tanto na freqüência dos
termos-chave como na estrutura da argumentação, a ênfase do autor recai sobre
o sangue. Seu argumento é cristocêntrico, enfatizando o feito de Jesus em nos
so favor em vez de enfatizar o dilema humano. Assim, o foco da apresentação
teológica de Hebreus 9-10 é o Calvário. A argumentação relembra os meios de
purificação por excelência.
A SINGULARIDADE DO CRISTIANISMO
Causas da contaminação
argumentação quanto ao sumo sacerdote. M enciono esses temas num outro estudo
preparado para este volume.26
Na seção final deste capítulo discutiremos aspectos relevantes para os advem
tistas do sétimo dia.
A s p e c t o s d e in t e r e s s e p a r a o s a d v e n t is t a s
A INTERPRETAÇÃO DE HEBREUS 9 : 2 3
Interpretar “coisas que se acham nos céus” em 9:23 como a suneidêsis (“co
nhecimento/consciência”) é contrário a toda estrutura conceituai do livro. Além
disso, põe abaixo a terminologia usada pelo autor de um modo não justificado
pelo contexto. Sustentamos que o vocabulário de Hebreus mostra uma precisão
de escolha e uso que nos proibe estabelecer tal equivalência. A purificação do
conhecimento ou consciência (suneidêsis) é um benefício para os crentes que
provém da obra de Cristo - e não é a obra em si.
O contexto também é claramente contrário a esta interpretação. Hebreus
9:23 é uma transição entre o debate dos rituais do AT (versos 18-22) e dos novos,
no santuário celestial (versos 24-28). Leva o leitor das "figuras” para “coisas que
se acham nos céus” e para um melhor sacrifício, a morte expiatória de Cristo.
Seu ponto é, como nos capítulos 9-10, o_“sangue superior” de C risto . Então, o- —
versículo 23 começa com “Era necessário, portanto (oun)...” e o versículo 24 segue
com “Pois Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro,
porém no mesmo céu...” Interpretar “coisas que se acham nos céus” em 9:23 como
conhecimento/consciência (suneidêsis) humana, distorce o contexto em vista dos
versículos que se seguem.
2. Outra tentativa de explicar a purificação das coisas celestiais em 9 :23 é
sugerir que o coríceito transmite o sentido de “consagração”. Este entendim ento
tem conquistado credibilidade em alguns círculos adventistas.29 Seu principal
apoio é tirado der contexto. O versículo 18 fala da consagração da primeira alian
ça, e os versos 19-21 descrevem-na. Assim, argumenta-se que o versículo 23 pode
ser visto como um paralelo do versículo 18: “Por isso também o primeiro não foi
consagrado sem sangue.”
Porém, devemos rejeitar essa interpretação por três razões:
mais por meio de contraste do que por comparação. Em especial, ele compara
os repetitivos e inadequados sacrifícios do culto do A T com o sacrifício único e
suficiente de Cristo.
Com relação aos adoradores, essa comparação é também benéfica, expressa
pelo acesso a Deus e pela extensão da purificação. Acesso: os cristãos têm acesso,
pela fé, ao santuário "real”, onde o verdadeiro sumo sacerdote ministra (10:19-22;
12:18-24). Extensão: Enquanto o culto do AT provia-purificação cerimonial (sm-x
- a “carne”), o novo culto em Cristo provê purificação da suneidêsis (“consciên
cia”- v e r 9:9, 13-14; 10:14).
Em outras palavras, a argumentação com respeito à purificação é moldada
em termos da relativa eficácia de sacrifícios - os muitos e inadequados sacrifícios
____ e_o sacrifício único e auto-suficiente que provê os meios de purificar a contam i
nação humana.32
Mas existencialmente, essa apresentação não sugere que os cristãos não enfren
tem mais nenhum perigo do pecado. Embora agora- eles sejam um povo santo (“san
tificado”!), continuam sendo peregrinos e confrontando os perigos da. negligência,
--------- até mesmo-rejeição, da fé, como mostramos em-outro-lugar.— CristQ^tendo-feito-.a-
purificação dos pecados, proveu os meios para sua remoção, agora e etemamente
- não que o pecado tenha sido completamente removido.
^ Nem 9:23 necessariamente implica que “as coisas que se acham nos céus”
foram purificadas no Calvário. Como notamos, a idéia não é desenvolvida em He-
breus. O tempo no versículo é obscuro, temos apenas a observação da necessidade
de purificação das coisas celestiais.
De fato, o raciocínio do autor com relação ao ministério celestial de Cristo
não aponta em direção a uma obra completada.no .Calvário.34 Ao. passo, que dá
poucos detalhes relativos à natureza da função do sumo sacerdote, ele claramente
sustenta que um ministério está sendo tealizado agora.
Ele nos fala que Cristo vive para interceder sempre por eles (7:25); que Ele é
“ministro do santuário, e do verdadeiro tabemáculo” (8:2); que Ele é o “Mediador da
nova aliança” (9:15); que Ele comparece por nós diante de Deus (9:24); que este “com-
parecimento” envolve o aniquilamento do pecado pelo sacrifício de si mesmo (9:26).
É manifesto que a purificação dos pecados na cruz de modo algum nega a continuação
da atividade divina para o cumprimento do plano de redenção.
Assim, 9-23 é um importante versículo para-a compreensão.adventistas do sétimo
dia da doutrina do santuário. Tendo em mente que a argumentação de Hebreus recor
da o Calvário, em vez de olhar para o futuro, não podemos usar este único versículo de
modo inadequado, podemos, contudo, recorrer a ele para fundamentar a idéia essen
cial da necessidade da purificação das coisas celestiais.
Além disso, compreendendo que a completa argumentação teológica de He
breus prossegue com referência ao sacrifício - todos os sacrifícios do A T e o sacrifí-
A LU Z DE HEBREUS
cio único de Cristo não deveriamos permitir que o livro seja forçado a referir-se
a temas alheios a seu propósito. Para ser preciso: Hebreus ensina que o grande
sacrifício, Jesus, proveu o que todos os animais não puderam- a solução para o
problema do pecado, um sacrifício que é capaz de purificar decisivamente. Não
menciona quando o santuário celestial deve ser purificado.
Temos visto neste capítulo que “sangue” é o tema central da argumentação teológica
de 9:1-10:18.0 sangue superior de Cristo, mais eficaz que todos os sacrifícios, capaz de nos
purificar do pecado e prover o acesso à presença de Deus, esta é a êníáse do autor.
E importante discernir o papel essencial do sangue no raciocínio, para que não
—se enfatize demais o dia da expiação. Há três referências evidentes ao dia da expiaçâo
nestes capítulos (9:7, 25; 10:3),35 mas elas fazem parte da argumentação maior relativa
ao sacrifício. Assim, também encontramos menções aos sacrifícios diários (9:9-10), o
sacrifício da novilha (9:13), os sacrifícios na consagração da aliança com Israel (9:18-20),
e o demais “sacrifício e ofertas, e holocaustos e oblações pelo pecado” (10:8-11).36
Enfatizámos: a intenção do autor não é mostrar que o Calvário é o antítipo do
dia da expiação do AT, mas que o Calvário é o antítipo de rodos os sacrifícios do
AT. Não devemos confundir função {do sacrifício) com-tempo.
Este assunto é importante em debates atuais entre adventistas, visto que alguns
têm buscado injetar (em nossa opinião iniusrificadamente) aspectos temporais na
interpretação de Hebreus. Em Hebreus, o tempo entra na argumentação somente
a este respeito: que no Calvário Deus proveu a única, auto-suficiente resposta para
o pecado. Mas Hebreus não trata do tempo da purificação do santuário celestial e
do julgamento (Hb 9:2 3 ).37
“P e r f e iç ã o ” n o l iv r o d e H ebreu s
5:9 “E, tendo sido aperfeiçoado (tendo sido feito perfeito [teleioim]
tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obe
decem,”
7 :19 “(pois a lei nunca aperfeiçoou [teleioun] coisa alguma), e, por outro
lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a
Deus.”
' 9 :9 “...e segundo esta, se oferecem tanto dons como sacrifícios, em-
------------------------- bora-estesnro tocante à consciência, sejam ineficazes para aper
feiçoar [teleioun] aquele que presta culto.”
10:1 “Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a ima
gem real das coisas, nunca, jamais pode tornar perfeito [teleioun]
os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano,
perpetuamente, eles oferecem .”
10:14 “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou [teleioun] para sempre
quantos estão sendo santificados.
C onclusão
- M artinho Lutero
“Hino de Epifania
A LUZ DE HEBREUS
N otas
1William G. Johnsson, “The Cultus of Hebrews in Twentieth-Century Scholarship”,
ExpT, vol. 89, N° 4 (1978), p. 104-108.
2 Além dos temas discutidos neste livro, oferecidos durante anos nas faculdades e
universidades adventistas do sétimo dia, considere-se, por exemplo, The Book o f Hebrews de
M. L. Andreasen (Washington, DC, 1984).
J Albion Foss Balleger, Cast Out for The Cross o f Christ (Tropico, CA, s.d.).
4 Desmond Ford, Daniel 8:14-The Day o f Atonement, and the Investigative Judge-
ment, um documento preparado pela Comissão de Estudos do Santuário (Glacier
View, CO, 1980).
5 Listei os livros e artigos sobre Hebreus de autores católicos romanos em William
— Sr^ohnsson,-“Issues in the Interpretation of Hebrews”, AUSS, vol. 15, N° 2 (1977),
p. 169-187.
6 Um exemplo admirável disso é mostrado por D. Bernhard Weiss, Der Hebra-
er brief in teits gerchichtlicher Beleuchtung (Leupzig, 1910). Weiss dedica 32 páginas
para Hebreus 22:12, 13, 25, nuas só L2 páginas para toda a argumentação cúltica de
— 8: 6-10081_____________________________________ _________
caustos e oblações” (v. 5-6), “Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações” (v. 8), “sacrifícios”
(v. 11), “sacrifício” (v. 12), “oblação” (v. 14), “oblação" (v. 18).
19 Observe principalmente Proceedings o f the X lth International Congress o f the In
ternational Awociation for the History o f Religioru, vol. II: Guiít or Pollution and Rites o f
Purification (Leiden, 1968). Reuni outras informações em Defilement and Purification in
the Book o f Hebrews.
20 Paul Ricoeur, The Simbolism o f Evil, tr. Emerson Buchanan (Boston, 1969).
21 Na minha opinião, a tentativa de ver a linguagem do santuário de Hebreus como
metafórica ou ilustrativa é falha á luz de seu uso no livro. Veja William G. Jonhsson, “O
Santuário Celeste - Figurativo ou Real?”, cap. 3 deste livro.
” Ao passo que há breves menções ou pistas da singular doutrina adventista em
muitos livros da Bíblia, quatro em particular a fundamentam: Levitico, Hebreus, Da
niel e Apocalipse.
23 Observe Hebreus 1:1-2: o mesmo Deus falou tanto por meio do AT como por meio
de Cristo!
24 Observe C. A. Pierce, Consciente in The Neui Testament (Chicago, 1955).
25 O termo é de A. C. B o u q u e t _________________________ ___________
2u Panorama Geral de Hebreus, cap. 2.
27 C. Spicq, L'Épitre aux He'breux, 2 vols. (Paris, 1952).
28 Veja n. 21.
29 Alguns comentaristas não-adventistas também sugeriram esta interpretação.
30 Amdt e Gingrich, p. 124.
31 Hebreus 2:2-3; 3:12, 17-19; 4:1, 11-13; 6:7-8; 10:26-31; 12:25-29; 13:17.
32 Veja Hebreus 10:14, mas compare 2:11.
33 Veja William G. Johnsson, “The Pilgrimage Motif in the Book o f Hebrews”, JBL,
vol. 97, N- 2 (1978), p. 239-51.
)4 A semântica é importante em discussões acerca deste tema. Ao afirmarmos a eterna
obra de Cristo como sumo sacerdote celestial, ressaltamos o sacrifício todo-suficiente no
Calvário. Esse sacrifício provê a base para sua obra sacerdotal.
35 Alguns comentaristas vêem muitas outras alusões ao dia da expiação no livro de
Hebreus, mas suas evidências são conrestáveis.
36 Além dos capítulos 9 e 10, encontramos outras referências a sacrifício: 5:1-3,
“dons e sacrifícios pelos pecados”, 7:27, sacrifícios diários pelo pecado; 10:29, “o sangue
da aliança”; 11:4, o sacrifício de Abel; 11:28, o sangue da Páscoa; e 12:24, o sangue da
nova aliança.
37 Aqui temos um resumo. Para uma discussão mais detalhada, veja “Alusões ao dia
da expiação”, no cap. 6 deste volume.
’8 Veja meu artigo neste volume “Panorama Geral de Hebreus”, cap. 2.
39 Esta compreensão da obra sumo sacerdotal de Jesus é apoiada de forma especial por
Hebreus 2:17, o qual por sua vez deve ser entendido como estando apoiado nas argumen-
A LUZ DE HEBREUS
tações dos capítulos 1 e 2. Algumas vezes, estudiosos das Escrituras têm argumentado, em
outras circunstâncias, que Jesus já era sumo sacerdote durante o periodo da encarnação; no
entanto, o livro de Hebreus se opõe a esta idéia.
* O vocabulário de “perfeição" na carta aos Hebreus tem atraido a atenção de estu
diosos. Dentre as muitas contribuições à discussão que podem ser mencionadas, notamos
apenas duas: P. J. Du Plessis, Teleios: The Idea o f Perfection in tKe New Testament (Kampen,
1959); e Allen Wikgren, “Patterns of Perfection in the Epistle to the Hebrews”, NTS 6
(1959-1960): 159-60.
99
V
CAPITULO 6
W lL L IA M G. JO H N SSO N
Reimpressão de “The Significance of the Day o f Atonement Allusions in the Episde to che
Hebrews" (O Significado das Alusões ao Dia da Expiação na Epístola aos Hebreus), In: Amold V.
Wallenkatnpf e W . Richard Lesher, eds., The Sanctiiary and the Atonement (Instituto de Pesquisas Bíbli
cas: Washington, DC, 1981), p. 380-93.
ALUSÕES AO DIA DA EXPIAÇÃO
Por que, então, o livro de Hebreus tem levado alguns adventistas a abando
narem a igreja por causa da doutrina do santuário, quando idéias do mesmo livro
permitiram aos nossos pioneiros explicar o Desapontamento? A resposta parece
estar, pelo menos em parte, na falha de entender a argumentação principal da e-
pistola. Albion F. Ballenger (1861-1921), um ministro que abandonou a igreja em
1905 por causa da doutrina do santuário, pode ser tomado como exemplo. Seu
principal argumento de que Hebreus vê a cruz como o antitipo do dia da expiação
foi a expressão “além do véu” (Hb 6 :19-20). Ele inferiu desta expressão que em sua
ascensão, Cristo começou seu ministério no “além do véu”, isto é, no lugar santís
simo do santuário celestial.
O autor deste capitulo concorda que os dados lingüísticos (AT hebraico,
e â tradução grega da Septuaginta do AT) parecem, em geral, apoiar a visão de
Ballenger de que a frase: “além do véu" refere-se ao lugar santíssim o. Entre
tanto, ele argumenta que a exegese isolada de Ballenger da passagem 6:19-20
fez com que ele distorcesse a mensagem real e tirasse conclusões erradas. Diz o
escritor: “Ele fracassou ao estudar o livro de H ebreus por si só. O prim eiro prin
cipio da exegese requer que o estudante considere o con texto .” Tal exame dõ
contexto poderia tê-lo conduzido a considerar o objetivo pelo qual as alusões
ao dia da expiação foram empregadas. O propósito do autor em empregar tais
alusões é essencial para uma compreensão correta de sua mensagem.
No livro de Hebreus'há três passagens claras que contrapõem a obra de Cristo
no Calvário e a metáfora dos serviços do dia da expiação (Hb 9:6-7, 24-25; 10:14).
Não é certo que haja oito outras passagens que sugerem tal alusão, mas se conce
bermos que o autor faz referência ao dia da expiação, a questão importante é deter
minar como as alusões devem ser entendidas. Talvez dever-se-ia afirmar neste ponto
o que é obviamente incontestável: todos os rituais de sacrifícios, sejam diários ou
anuais, públicos ou privados, apontavam para a cruz e cumpriam seus aspectos sa
crificais na morte de Cristo. Todavia, outros aspectos dos sacrifícios podiam ter seu
total cumprimento somente em conexão com o ministério sacerdotal de Cristo
depois do Calvário.
E evidente que as alusões ao dia da expiação não são importantes para o
debate em Hebreus. A argumentação sacrifical (8 :1 -1 0 :1 8 ) não é a do dia da
expiação, mas a do sangue superior de Cristo. Sangue animal, quer na forma de um
sacrifício diário, pessoal ou anual, não poderia verdadeiramente tirar o pecado
(10:4). Mesmo no seu ponto mais importante - o ritual do dia da expiação - os rituais
levíticos eram inadequados.
A boa noticia, diz o autor de Hebreus, é que tudo em que falhou o sistema
antigo - incluindo o dia da expiação - devido à sua insuficiência inerente, foi agora
cumprido por Cristo no Calvário. No lugar de sacrifícios repetitivos, Ele fez um, de
A LUZ DE HEBREUS
uma vez por todas. E assim, por esse ato único, todas as barreiras entre a Divindade
e o homem foram abolidas, de modo que nós agora pudéssemos nos achegar con-
fiadamente à presença de Deus.
“Portanto, as referências de Hebreus ao dia da expiação não são designadas para
mostrar que o antitipico dia da expiação começou na ascensão (contrariamente à
visão de Ballenger), nem para sugerir a entrada ao lugar santíssimo para sua consa
gração (contrariamente à visão de Andross), nem o cumprimento do ponto mais alto
do AT, o cumprimento completo com início em 1844 (não abordado em Hebreus).
Antes, a argumentação insiste no valor do sacrifício, contrastando o auge do culto do
AT com o supremo sacrifício de Jesus Cristo no Calvário.” A comparação e o con
traste focalizam a eficácia do sacrifício de Cristo e o acesso direto à presença de Deus
proporcionada por ele.
Assim, o emprego das imagens do dia da expiação pelo autor destaca o fato
de que a morte de Cristo realizou a purificação permanente dos pecados e propor
cionou o acesso a Deus - cumprimentos que mesmo o ritual, em seu ponto mais
intenso, não realizou. Portanto, não era intenção do autor prover uma exposição
detalhada do significado dos rituais diários e anuais. Tais questões possuem uma
importância muito grande para nós, mas elas não fazem parte da preocupação do
autor de Hebreus.
E s b o ç o d o c a p ít u l o
1. Introdução
2. A abordagem de Ballenger da expressão “além do véu”
3. Alusões ao dia da expiação em Hebreus
4. Interpretação das alusões ao dia da expiação
Antes, os adventistas do sétimo dia tinham o livro de Hebreus como uma fon
te de nossa compreensão única do santuário e ministério celestiais. Conform e ar
gumentei num capitulo anterior, a interpretação da linguagem cúltica de Hebreus
é carregada de pesadas conseqüências para a teologia adventista d ç sétimo dia. Se
assumirmos a posição de que o templo, o sacrifício e o ministério celestiais têm
significados meramente figurativos, nosso ensinamento sobre o santuário precisará
ser reorganizado.1
Este capítulo pressupõe os resultados da apresentação anterior, ou seja,
afirm am os que a linguagem cúltica de Hebreus corresponde ao m odelo do
judaísm o apocalíptico, e não ao m odelo de Filo, e aponta para um tem plo ce
lestial real e um m inistério celestial de C risto tam bém real. Mas, desse modo,
surge uma nova questão sobre com o entenderem os as alusões ao dia da ex-
ALUSÕES AO DIA DA EXPIAÇÃO
A qual temos por âncora da alma, segura e firme, e que penetra além do véu, onde
Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tomado sumo sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedeque.
Em cada caso o termo hebraico pãrõket aplica-se à segunda cortina, a que se
para o santo do santíssimo. Por contraste, em todo o AT, a primeira é chamada de
"porta do tabernáculo”.14 Ballenger cita 23 referências ao pãrõket como apoio (Êx
26:31, 33, 35; 27:21; 30:6; 35:12; 36:35; 38:27; 39:34; 40:3, 21-22, 26; Lv 4:6, 17,
16:2, 12, 15, 21:23, 24:3; Nm 4:5; 18:7; 20-3 :1 4 ).
Quando examinamos essas passagens, encontramos em quase todos os casos que a
referência é claramente ao segundo véu. Em dois lugares, entretanto, o significado está
aberto à pergunta: (1) “Porém, até ao véu não entrará, nem se chegará ao altar, porque
tem defeito, para que não profane os meus santuários; porque eu sou o Senhor que os
santifico” (Lv 21:23); e (2) “Mas tu e teus filhos contigo atendereis ao vosso sacerdócio em
tudo concernente ao altar, e ao que estiver para dentro do véu, isto é o vosso serviço; eu
vos tenho entregue o vosso sacerdócio por oficio como dádiva; porém, o estranho que se
aproximar morrerá” (Nm 18:7).
Além disso, devemos observar que o segundo véu não é sçmpre designado
simplesmente como “o véu", isto é, por p ãrõk et sem uma amplificação: “tora do
véu, que está diante do testemunho” (Êx 27:21), “o véu que está diante da arca do
testem unho” (Ex 30:6), “o véu do reposteiro” (Êx 35:12), “o véu do reposteiro”
(Êx 39:34), “o véu do reposteiro” (Êx 40:21), “véu do santuário” (Lv 4:6), “véu
do testem unho” (Lv 24:3), e “o véu do reposteiro" (Nm 4:5). Assim, embora os
dados do A T sustentem o ponto de vista de Ballenger aqui, ele exagerou ao argu
m entar que
ALUSÕES AO DIA DA EXP1AÇÃO
o Senhor invariavelmente aplica o termo [véu] à cortina que separa o lugar santo áo
lugar santíssimo. Ele nunca chamou a primeira cortina de “o véu” nas Escrituras
hebraicas. O Senhor era cuidadoso ao nomear as duas cortinas, para dar à primeira
o nome de “porta do tabemáculo" e à segunda”o véu”.15
Na Septuaginta nunca [sic], a primeira cortina é chamada de véu, com exceção nas
diretrizes para a construção e movimentação do tabemáculo, e então somente quando
é mostrado claramente a que cortina está se referindo.16
mento".*9 Ele então examina as passagens onde aparecem “fora do véu" ou “diante
do véu” (Êx 26:35; 27:20-21; 40:22, 26; Lv 4:6, 17; 24=1-3), e conclui que ambas as
expressões “referiam-se invariavelmente ao lugar santo, ou primeiro com partim ento" .20
O argumento, embora seja de peso, carrega um certo exagero. Já indicamos que a
menção em Números 18:7 é ambígua, mas que o termo “véu” está amplificado em
Êxodo 27:21; 40:21; e Levítico 4:6; 24:3.
Não está claro nesta seção se Ballenger está baseando seu raciocínio a partir
dos TM ou da LXX. Ele poderia ter fortalecido seu exemplo apelando para a LXX
na frase to esõteron tou katapetasm atos (“além do véu”). Essa expressão, que é encon
trada em Hebreus 6:19, ocorre na LXX somente em Êxodo 26:33 e Levitico 16:2,
12, 15; e em cada caso, refere-se ao véu interior. É interessante notar em Números
_ _18il7 que a LXX tem endothen tou katapetasm atos.
O apelo final de Ballenger é ao próprio Novo Testamento.21 Ele cita os três re
latos sinópticos do rasgar do véu no dia da morte de Jesus (Mt 27:50-52; Mc 15:37-
38; Lc 23:44-45). E claro que em cada uma dessas referências encontramos “o véu
do santuário”, ao invés de, simplesmente, “o véu”. As passagens provavelmente se
reterem ao segundo véu; entretanto, esta parte não promove o argumento de forma
significativa. As três referências finais ao katapetasm a no N T vêm do próprio livro
de Hebreus (6:19-20; 9:3; 19:20).
U m a s ín t e s e d a p o s iç ã o d e B a llen g er
A l u s õ e s a o dla d a e x p u ç ã o e m H e b r e u s
P o s s í v e i s a l u s õ e s a o d la d a e x p i a ç ã o
o regresso de seu Senhor do Santo dos Santos, onde adentrou em sua ascensão.
Contudo, é evidente que essa idéia não é o objetivo primordial da passagem, mas
um acréscimo questionável.
8. Hebreus 13:10-11. No dia da expiação as carcaças do novilho e do bode
da expiação eram queimadas fora do arraial (Lv 16:27). Mas a questão não está
bem definida porque esse procedimento também era seguido por algumas ofertas
de pecados, em outros momentos que não no dia da expiação (Êx 29:14; Lv 4:12;
8:17; 9:11).
Portanto, ao pesquisarmos encontramos pelo menos três passagens em He
breus onde o sofrimento de Cristo no Calvário é contrastado com os serviços do
dia da expiação do AT. Não é certeza de que outras passagens sugeridas como alu
sões ao dia da expiação devam ser interpretadas assim.
Agora consideraremos o significado das alusões inquestionáveis de Hebreus
ao dia da expiação.
— I n t e r p r e t a ç ã o d a s a l u s õ e s a o d ia t d a e x p i a ç ã o
Deve-se levantar a questão quanto a se estas afirmações não são uma nova for
ma dos ensinamentos de Ballenger. Deve-se lembrar que Ellen G. White escreveu a
respeito do ponto de vista dele:
As provas do pastor Ballenger não são confiáveis. Uma vez aceitas, destruirão a fé
do povo de Deus na verdade que nos tornou o que somos. Não devemos hesitar com
relação a este assunto; pois o que ele está tentando provar por meio das Escrituras não
é razoável.;s
A EFICÁCIA DO SACRIFÍCIO
tante nas três passagens que já observamos, não é a única ênfase. Antes, é parte de
um complexo de referências ao culto: 5:1-3 “dons e sacrifícios pelos pecados”, 7:27, o
sumo sacerdote oferecia sacrifícios diários pelos seus próprios pecados e pelos pecados
do povo; 9:9-10, "dons e sacrifícios ...comidas...bebidas...várias abluções”; 9:12, “o
sangue de bodes e bezerros”, 9:13, "o sangue de touros e bodes...as cinzas de uma no
vilha”; 9:18-21, ratificação da primeira aliança pelo sangue de bodes e bezerros; 10:8,
sacrifícios, ofertas, holocaustos, oblações pelo pecado; 10:11, os serviços diários do
antigo santuário; 10:29, “o sangue da aliança”; 11:4, o sacrifício oferecido por Abel;
11:28, o sangue da Páscoa; e 12:24, o sangue da nova aliança.
O tema do dia da expiação em Hebreus deve ser colocado dentro de seu
contexto cúltico mais amplo. A meu ver, a primeira interpretação confere a
este tema uma. im portância indevida. C onform e argumentei em minha tese,”—
o tema central da argumentação de Hebreus (8:1-10:18) é o sangue superior em
vez de o dia da expiação. Com o o apóstolo apresentou anteriorm ente, o Filho
superior aos anjos, o sacerdócio superior, m elhor aliança, o sumo sacerdote su
p erior e o mais perfeito tabernáculo, então aqui ele fala do sangue superior. É o
tema de .haim a.(sàngue) que-Liga-as várias-r-e-ferências aos-saerificios diários:-no-—
vilha, inauguração da aliança e Yom Kippur. N otam os isso nas três declarações
enfáticas: “não sem sangue” (9:7, 18. 22). na lógica de 9:13-14 (se o sangue dos
touros e bodes ...muito mais o sangue de C risto), e no axioma fundam ental da
passagem, a “regra do sangue" de 9:2 2 - sem haim atekchu sia (“derramamento
de sangue”), sem aphesis (“perdão”). Este tema central do sangue não deve ser
substituído - ele reúne todo o discurso sobre sacrifício, oferta e Dia da Expia
ção; apenas ele pode trazer a purificação do problema hum ano da contam ina
ção apresentado no livro de Hebreus.
2. A função das alusões ao dia da expiação. Por que, então, o dia da expiaçã
esrá presente no discurso? Porque era o ponto alto do antigo culto. Era o dia em
que o homem (embora apenas um) entrava no santíssimo; era o dia da remoção dos
pecados de Israel. A argumentação de 8 :1 -1 0 :1 8 é desenvolvida a fim de enfatizar
a superioridade do sangue de Cristo; nela ressalta-se o fato de que a despeito de
todo o valor que os sacrifícios do AT possam ter tido, não podiam em si mesmos
exterminar o pecado: “Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes re
mova pecados” (10:4). Então, a argumentação é a de que os serviços do AT, mesmo
os mais importantes, eram inadequados, pois proviam um acesso limitado a Deus
(apenas um homem) e sua própria natureza repetitiva demonstrava seu fracasso:
"Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos?” (10:2). Assim, mesmo o dia
da expiação anual expunha a necessidade de Israel, pois demonstrava acesso limita
do e insuficiência em exterminar pecados.
Assim, finalmente, todo o culto deve ser posto de lado no plano divino ("até ao
tempo oportuno de reforma”, 9:10). Se o sistema de sacrifícios prova ser insuficiente,
toda a estrutura deve ser considerada inadequada. Mas, diz Hebreus, as boas novas
A LUZ DE HEBREUS
são o sangue superior1. Tudo aquilo em que o antigo sistema talhou devido a sua ine
rente insuficiência, tudo o que os dias de expiação não puderam cumprir, agora foi
alcançado pelo Calvário. No lugar de muitos e repetitivos sacrifícios, há um sacrifício
eterno. Por este ato único, todas as barreiras entre Deus e o homem foram abolidas
a fim de que possamos nos achegar à presença de Deus. Finalmente foi feito um
sacrifício capaz de trazer a eterna purificação do pecado. As referências ao dia da ex
piação em Hebreus, portanto, não tinham a intenção de mostrar que o antitipico dia
da expiação teve inicio na ascensão (como diz Ballenger), nem a intenção de sugerir
a entrada ao lugar santíssimo para sua consagração (conforme Andross), tampouco
para mostrar o primeiro cumprimento do ápice do AT, o completo cumprimento que
se iniciou no ano de 1844 (e não mencionado por Hebreus).
~ Antes, a argumentação oscila entre o valor do sacrifício, em oposição ao ápice
do culto do A T com o grandioso feito de Jesus Cristo no Calvário. A meu ver, o
elemento temporal não está sendo considerado aqui (Hb 9:1-5 já deveria nos ter
desviado da tentativa de racionalizar de tipo a antítipo nesta parte). A comparação
e o contraste, conforme claramente demonstrado em Hebreus 9:13-14, enfoca a
eficácia do sacrifício. Com o notamos de acordo com a primeira interpretação das
alusões ao dia da expiação, Ellen G. W hite algumas vezes emprega a linguagem de
Hebreus do “novo e vivo cam inho” e do “véu”. Quando ela faz isso,-compartilhe
os conceitos de Hebreus - um sacrifício que forneceu total purificação do pecado
e ilimitado acesso a Deus.
C o n c lu sã o
Balleger, err. seu esforço para compreender o livro de Hebreus, falhou ao desconsi
derar o contexto mais amplo - o retrocesso e a continuidade da argumentação. Tem-se
impressão de que a frase “além do véu” ocupou um lugar muito grande em seu pensa
mento, a ponto de impedi-lo de perceber o desenvolvimento do raciocínio deste docu
mento cuidadosamente elaborado. Do mesmo modo, ele procurou introduzir questões
de tipologia e eventos que não fazem parte das considerações do apóstolo.
O raciocínio de Hebreus 8:1-10:18 teria solucionado seu dilema se ele tives
se se demorado o tempo suficiente nessas passagens. Ele deveria <er visto que a
argumentação total sobre o culto, com suas referências aos sacrifícios, santuários,
e o dia dc expiação, é descrita para m ostrara magnificência do cristianismo - Je
sus Cristo, nosso sumo sacerdote, com um sacrifício suficiente e único. Assim, a
expressão “além do véu” teria sido vista de forma panorâmica - mostrando o que
Cristo realizou para destruir todas as barreiras entre Deus e o homem.
ALUSÕES AO DIA DA EXP1AÇÃO
N otas
1 William G. Johnsson, "O Santuário Celeste - Figurativo ou Real?”, cap. 3 deste livro.
2 Ao escrever este parágrafo, pesquisei o material de Norman Young num artigo não
publicado intintlado “The Checkered History of the Phrase ‘W ithin the Veil'”.
3 Publicado pelo autor, Tropico, CA, s.d.
4 O. R. L Crosier, “The Law .of Moses”, The Day Star (7 de Fevereiro de 1846), p. 41.
s U riah Sm ith, The Sanctuary and the TwenCy-three Hundred Days o f Daniel VIII (Battle
Creek, MI, 1877): 221 ff.
6 Dudley M. Canright, Seventh-day Adventism Renounced (Nova Iorque, 1899), p. 122.
7 The Reasons for My Faith, (Sidney, 1932), p. 11
8 Mountain View, CA, 1912.
9 Reply to Canright (Washington, DC, 1934), p. 181-91.
10 The Atoning Work of Christ (Washington, D.C., 1934), p. 181-91.
11 “The Meaning of the Veil”, The Ministry 13/11 (1940): 13ff.
12 Para um estudo mais detalhado, veja Arnold V. Wallenkampf, “A Brief Review of
Some of the Internai and Externai Chalengers to the Seventh-Day Adventist Teachings
on thíTSanctuary and the Atonement”, The Sanctuary and the Atonement, eds., Arnold V.
Wllenkampf e W. Richard Lesher (Washington, DC, 1981), p. 582-603; reimpresso em
Frank B. Holbrook, ed., Q octrineof lhe Sanccuary: A Histórica! Survey (Washington, DC,
1988), Apêndice B.
13 Ballenger, p. 20-21.
14 Ibid., p. 21-27.
15 Ibid-, p. 27.
16 Ibidem
17 Ibid., p. 27-28. Estou em divida com o aluno de doutorado da Andrews University,
Lloyd A. Willis por levantar esta questão.
18 Veja Êxodo 38:18; 39:40; Números 3 :2 6 ; 4 :3 2 ; veja também o Apêndice B
deste volume.
19 Ballenger, p. 29.
20 Ibid., p. 30 (grifo nosso).
21 Ibid., p. 30-34.
2' Veja F. F. Bruce, The Epistle to the Hebrews (Grand Rapids, 1971), p.203-4.
23 Os escritores do NT comparam a esperança da parousia e cumprimento final do
plano de redenção com-.o -que foforealizado nu inaugurado pelo primeiro advento e pela
cruz, por exemplo, o tema “reino”.
24 Veja Ellen G. W hite, Primeiros Escritos (Tatui, SP, 1999), p. 244, 251-54; Idem,
O Grande Conflito, p. 352, 400, 421-22, 433, 480, etc.
25 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatui, SP, 2000), p.757.
26 Francis D. Nichol, ed., The SDA Bible Commentary , vol. 5 (Washington, DC,
1980), p. 1109.
A LU Z DE HEBREUS
27 Ibidem.
28 Carta N° 329, 1905.
29 Ellen G.W hite fez sérias advertências contra os ensinamentos de A. F. Ballenger,
mas não indica que áreas especificamente tinham falhas. As seguintes declarações são sig
nificativas: “Não há verdade na explicação que o pastor Ballenger e seus associados estão
apresentando das Escrituras. As palavras estão certas, mas mal empregadas para vindicar o
erro. Não devemos aprovar seu raciocínio. Ele não é guiado por Deus... ‘Sou instruída a di
zer ao Pastor B. que suas teorias, as quais carecem de muita explicação, não são verdadeiras
e não devem ser trazidas ao rebanho de Deus.’” - MS Release 737 (20 de maio de 1905).
“Se as teorias que o irmão B. apresenta fossem recebidas, levariam muitos a se apartarem
da fé. Iriam opor-se às verdades sobre as quais o povo de Deus têm se mantido nos últimos
cinqüenta anos. Sou instruída a dizer em nome do Senhor que o Pastor B. está seguindo
I anu falsa luz. Não é o Senhor quem está lhe dando a mensagem concernente ao serviço
do santuário.” - MS 62, 1905 (24 de maio de 1905). “O pastor B. pensa que tem nova luz,
e que é sua responsabilidade transmiti-la ao povo; mas o Senhor tem me instruído que ele
~ tem feito mal uso de textos das Escrituras e dado a elas uma aplicação errada. ‘Arrependa-
•se da inclinação de distinguir-se a si mesmo .como um homem que .possui grande luz. Sua
-— suposta-luz me_é_mQSJrada_cojno_grande escuridão, a qual lhe conduzitá_a_um caminho
-__estranho.'” MS 145, 1905. “Então, vejam, é impossível para nós concordar com as posições
assumidas pelo irmão A. F. Ballenger; pois nenhuma mentira provém da verdade. Suas pro
vas não são de onde ele as coloca, e embora ele possa levaT mentes a acreditar em sua teoria
com relação ao santuário, não há evidência de que sua teoria seja verdadeira.” - Carta 50
(30 de janeiro de 1906).
30 Ballenger, p. 45.
31 Ibid., p. 56
32 Ibid., p. 83
__ 33 Ibid., pp. 45-46
34 Ibid., p. 56.
35 Ibid., p. 40-41.
36 Andross, p. 53.
37 William G. Johnsson, De/iiement and Purgation in the Book o f Hebrews (tese não-publi-
cada, Vanderbilt University, 1973), cap. 4.
r
C a p ít u l o 7
E sbo ç o da seç à o
1. Introdução
2. Novo interesse
3. Estruturas da tipologia
A lU Z DE IlEBREUS
In trodução
N O V O INTERESSE
P r in c ip a is t e n d ê n c ia s
“Tradicional” “Pós-Crítica”
1. Baseada em realidades históricas 1. A história não é essencial
(a história é essencial)
2. Prefigurações divinamente 2. Analogias/correspondências
designadas nos modos semelhantes de
atuação divina
3. Prospectiva/Profética 3. Retrospectiva (pouco ou
nenhum elemento profético)
M étodos de a b o r d a g em
E s t r u t u r a s d a t ip o l o g ia
uma vez (IC o 10:11). Nessa parte, limitaremos nossa pesquisa a passagens (e seus
contextos imediatos) que se encontram fora de Hebreus.
Cinco estruturas tipológicas comumente emergem de uma minuciosa análise
das passagens que não estão no livro de Hebreus (Rm 5:12-21; IC o 10:1-13; lPe
3:18-22). O primeiro elemento conceituai pode ser denominado estrutura histórica.
Os quatros remanescentes são teológicos: estrutura escatológica, estrutura cristológica-
soteriológica, estrutura eclesiológica e estrutura profética.
1. A estrutura histórica. A presença deste elemento conceituai destaca o fato
de que a tipologia tem suas raizes na história, o que se opõe ã alegoria. O interesse
primordial da alegoria não é o sentido histórico literal, mas sim o “caroço” figura
tivo ou espiritual escondido sob a “casca” da história.
Na tipologia, a estrutura histórica envolve três aspectos cruciais. Primeiro, —
pressupõe-se que o “tipo” do A T é uma rea lid a d e histórica. Por exemplo, as rea
lidades históricas podem ser: pessoas (Adão, Rm 5), acontecim entos (o Êxodo,
IC o 10), ou instituições (o santuário, Hb 8, 9 - veja a próxima seção). A histo-
ricidade dessas realidades é um pressuposto. De fato, os argumentos tipológi- *5
cõs~erírRomanôS 5, 1 C orintios- 10 e 1 PedroT~dependem dadirsroricidade de—
Adão, do Êxodo e do dilúvio e cairiam por terra se sua realidade histórica não
fosse aceita.
O segundo aspecto é o da correspondência histórica entre o “tipo” do A T e o
antitipo do NT. Assim, Adão é *um “tipo" (tapas) de Cristo (R m 5); o Êxodo é um
tipo (tupoi ) que corresponde à experiência da igreja cristã (IC o 10); e o dilúvio cor
responde ao seu “antitipo” (antitupos ), o batismo cristão (1 Pe 3).
O conteúdo das correspondências estende-se até mesmo a detalhes relacio
nados ao “tipo”. Aparentemente, porém, os elos são'aqueles detalhes já investidos
de significado redentor no AT. A correspondência pode envolver aspectos tanto
de antítese como de comparação, por exemplo, entre Adão e Cristo em Romanos
5. Mas mesmo quando há apenas uma comparação de semelhanças, um terceiro
aspecto da estrutura histórica está presente, o da intensificação. O “tipo” e o “an-
títipo” nunca estão no mesmo nível. A constância do antitipo do N T envolve uma
ampliação ou intensificação absoluta do “tipo" do AT. Por exemplo, a comida e a
bebida do povo de Israel no deserto são ampliadas no “antitipo” como os alimentos
que se devem ou não comer (IC o 10). Novamente, a libertação fisica pelo dilúvio é
intensificada na libertação espiritual antitipica pelas águas do batismo (lP e 3). Um
exemplo fora de nossas passagens hermenêuticas com tupos está em Jesus como o
antitipo: “aqui está quem é maior que o templo" (Mt 12:6); "eis aqui quem é m aior do
que Jonas” (M t 12:41); “e eis que está quem é m aior do que Salomão” (Mt 12:42).
2. E stru tu ra escatológica. Este elemento esclarece a natureza da correspon
dência histórica e intensificação descrita acima. Os tupoi do A T não estão rela-
A LUZ DE HEÜREUS
I m p l ic a ç õ e s para o debate a tu a l
Até aqui, tratam os das estruturas tipológicas das Escrituras não perten
centes ao livro de Hebreus. Agora, nos direcionarem os à segunda área princi
pal esboçada na introdução, ou seja, a natureza da tipologia na Epístola aos
H ebreus. A que ponto as estruturas tipológicas de Hebreus - à medida que
se tornam evidentes na tipologia de culto envolvendo as passagens co n ten
do tupos de Hebreus 8:5 e 9:2 4 - coincidem com as estruturas tipológicas
inerentes em outras passagens do N T que con têm tuposl Esta pergunta nos
conduz à próxima seção.
A TIPOLO G IA EM H E B R E U S
E s b o ç o d o c a p ít u l o
1. Introdução
2. Passagens tupos contextualizadas
3. Estruturas tipológicas horizontais
4. Estruturas tipológicas verticais
5. Tupos/Antitupos como termos hermenêuticos
6. Resumo
In trodução
C o n s id e r a ç õ e s p r e l im in a r e s
C o n s id e r a ç õ e s f il o s ó f ic o - h e r m e n ê u t ic a s
P a s s a g e n s t u p o s c o n t e x t u a l iz a d a s
E s t r u t u r a s t ip o l ó g ic a s h o r iz o n t a is
Os tipos bíblicos podem ser classificados de acordo com sua orientação dire
cional, ou seja, horizontal ou vertical. Enquanto os tipos horizontais prefiguram
antítipos futuros no decorrer do tempo histórico, os verticais têm a ver com um
alinhamento terrestre/celestial.
Nas passagens que contém tupos, que estão agora sob consideração, encon
tramos estruturas tipológicas horizontais cruzando-se com as verticais. Por isso, a
fim de esclarecer essas estruturas, examinaremos as dimensões vertical e horizontal
separadamente. Em seguida, tentaremos determinar a relação entre as duas. Em
primeiro lugar, veremos as estruturas horizontais.
Es t r u t u r a h is t ó r ic a v
E struturas t e o l ó g ic a s
todo-suficiente de C risto no passado, 10:10), passa pelo hoje (Cristo reina, 1:3;
2:9; mas a vitória ainda não está completa, 2:8; 10:13), e estende-se ao futuro
(a esperança futura, centrada na segunda vinda, 9 :2 8 ; 10:25 e 37; envolvendo a
eternidade, 13:8). B ertold Klappert descreve as estruturas do “já " e do “ainda
não”.43 Jerom e Sm ith fala a respeito da “escatologia dom inante na estrutura do
pensam ento em H ebreus”. 46 O trabalho de Floyd Filson reconhece uma estru
tura escatológica tem poral.47
Essa seqüência de tempo escatológica tem sido destacada principalmente
em partes do livro não-relacionadas a cultos. Por exemplo, Johnsson ilustra num
esquema com o o tema da peregrinação tem três estágios paralelos ao padrão es-
catológico do livro:48
E s t r u t u r a s t ip o l ó g ic a s v e r t ic a is
Estr u tu r a h is t ó r ic a ______
Assume-se que o santuário terrestre e seus serviços são uma realidade histórica.
Além disso, na descrição do santuário celestial e da sua liturgia, o autor de He
breus “apóia-se na realidade deles".62 A correspondência entre os santuários celestial
e terrestre envolve uma absoluta intensificação ou ampliação do “exemplo e sombra”
(8:50) para o “verdadeiro” (9:24).
E struturas t e o l ó g ic a s
T u p o s / a n t it u p o s c o m o t e r m o s h e r m e n ê u t ic o s
Na terceira parte deste capítulo conclui-se que tupos (LXX)/tabnit (MT) nessa
passagem se refere tanto ao próprio santuário celestial (como um modelo em mi
niatura, intermediário), quanto a uma representação em miniatura (tridimensio
nal) do santuário celestial.
.Se nossa análise de Exodo 25:40 estiver correta, então está.justificado o fato de
_o_autor de Hebreus empregar esta passagem do AT comQ-prova_da_existência de_iLm
santuário celestial, do qual o terrestre eTa uma cópia e uma sombra. Mas, assim como
Exodo 20:40 pode se referir ao santuário celestial ou ao seu modelo em miniatura,
então Hebreus 8:5 está equivocado neste ponto. O autor afirma a correspondência
do santuário terrestre/celestial com base em Exodo 25:40, mas ele não declara expli
citamente que o tupos é o santuário celestial.
É possível que ele interprete tupos como modelo em miniatura do santuário
celestial, mas não originalmente o próprio santuário celestial.75 Esta possibilidade
encontra mais apoio se tupos (junto com hupodeigm.a e skicà ío r visto como parte
do vocabulário filônico empregado pelo autor, como é freqüentemente sugerido.
É verdade que Filo compreendia tupos em Êxodo 25:4 0 , simultaneamente, como
uma cópia do arquétipo celestial e um modelo para o santuário terrestre.76 Se o
autor de Hebreus utiliza o filonismos aqui, não obstante a terminologia esteja
repleta de um novo conteúdo apocalíptico, ainda considera-se presentes as mes
mas dinâmicas verticais.
Contudo, não podemos determinar que o autor de Hebreus empregue tupos
com as mesmas dinâmicas verticais que Filo. Ele não introduz os termos filônicos
característicos (archetupcs ç.winiãmá) descrever o arquétipo e a cópia terrestre,
respectivamente. Além disso, parece que o interesse fundamental desta passagem
seja o de estabelecer a correspondência entre o santuário celestial e o terrestre, e
não tratar de um modelo em miniatura.
Devemos concluir, portanto, que qualquer das três opções que colocamos
com respeito ao tupos em Exodo 25:40 (LXX) são possíveis nessa passagem: (1) Tu
p os pode se aplicar ao modelo em miniatura do santuário celestial, projetado com
A LUZ DE HE BREUS
R esu m o
D esco bertas
I m p l ic a ç õ e s
______ A partir desta análise das estruturas tipológicas nas passagens com tupos cm
Hebreus, surgem certas implicações significativas:
1. Primeiramente, nosso estudo indicou que a tipologia em Hebreus é consti
tuída das mesmas estruturas conceituais encontradas na tipologia do restante das
Escrituras. Nas passagens com tupos a correspondência é ampliada para incluir a
instituição santuário, bem como pessoas e acontecimentos. Além disso, uma cor
respondência vertical (terrestre/celestial) está presente junto com o alinhamento
horizontal (histórico) comum. Contudo, as estruturas básicas da tipologia perma
necem inalteradas.
A inclusão do santuário simplesmente serve para expandir o escopo das
realidades tipológicas para abarcar três categorias: pessoas, acontecim entos e
instituições. Igualm ente, a introdução da dim ensão vertical, na verdade, serve
para reforçar o eiem ento de ampliação ou intensificação que forma parte da
estrutura histórica.
2. A referência à dimensão vertical nos direciona a uma segunda implicação
importante. Com base em nossa análise de Hebreus 8:5 e 9:24 nos seus contextos
de culto, é inapropriado considerar a tipologia vertical como um vestígio do antigo
pensamento mítico oriental ou um componente do dualismo platônico-filônico.
Tais perspectivas são estranhas à dimensão histórico-escatológica do pensamento
judaico-cristão.
Em oposição a esse conceito, descobrim os que a correspondência vertical
(terrestre/celestial) do santuário já é com um no A T (compare Êxodo 2 5 :4 0 e
muitas outras passagens). Na Epístola aos H ebreus, a correspondência verti
cal do santu ário se harm oniza com as estruturas horizontais. Portanto, tanto
TIPOLOGIA NO LIVRO DE HEBREUS
A b a s e d o A n t ig o T e s t a m e n t o p a r a a t ip o l o g ia d o
SANTUÁRIO EM H E B R E U S
E sbo ç o da seç ã o
1. Introdução
2. Significado de taknit
3. Estruturas de tabnit/tupos
4. Resumo e implicações
I n tro dução
Em Hebreus 8:5, o escritor apostólico cita Êxodo 25:40 da Septuaginta grega (LXX)
para provar que o santuário terrestre era uma cópia e sombra do santuário celestial.
...como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque
foi dito: “Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado
no monte (Hb 8:5).
A palavra hebraica, traduzida pela palavra grega íupos nessa passagem, é tabnU.
Tabnít também aparece duas vezes nas declarações do versículo 9, as quais se harmo
nizam bom a deélãfãçãoTeitÃnesseAersícuTcrque cítãmos. Portanto, é importante
examinar o termo hebraico (tabriit) para determinar se ele pressupõe uma corres
pondência vertical (terra e Céu).83
Êxodo 25 inicia a seção do livro que trata da construção do santuário. Primeiro, Deus
lista os materiais que o povo deve trazer (v. 1-7). Em seguida expressa o propósito divino: “E
me farão um santuário, para que eu possa habitar no meio deles...” (v. 8).
Moisés, é, então, admoestado a fazer o santuário de acordo com o que lhe foi
mostrado, ou seja, de acordo com o modelo (tabriit) do tabernáculo e sua mobília.
Após detalhar as especificações para a arca (v. 10-22). a mesa (v. 23-30), e o candelabro
(v. 31-39), Deus repete sua admoestação a Moisés: “Vê, pois, que tudo faças segundo
o modelo que te foi mostrado no monte” (versículo 40).
O SIGNIFICADO DE T á BNÍT
Essa parte das Escrituras se refere ao santuário celestial, como declara Hebreus
8:5? A resposta para essa pergunta depende muito do significado do termo hebrai
co tabriit no contexto desse versículo.84Essa palavra hebraica é usada três vezes nos
versículos 9 e 40 (de Exodo 25), e é traduzida por muitas das versões em inglês
como “pattern” (padrão). Na ARA é traduzida como modelo. Devemos examinar
essa palavra lexicográfica e contextualmente a fim de determinar sua abrangência
semântica nas Escrituras.
Tabnít é um substantivo derivado do verbo bãnãh, “construir”.85 O verbo
bãnãh aparece no AT pelo menos 370 vezes,86 e o substantivo tabnit aparece 20 ve-
A LUZ DE HEBREUS
Em pelo menos 12 dos 20 usos, existe uma referência explicita para tabnit como
cópia do original. Encontramos cópias de um altar (Js 22:28), de animais ( Dt 4:16-18; SI
106:20; Ez 8:10), de homens (Is 44:13), ou de mãos humanas (Ez 8:3; 10:8).
O termo tabnit possui o mesmo significado de modelo/padrão para pelo menos
oito vezes.91 Encontramos modelos/padrões para o santuário e seus utensílios (Ex
25:9, 40), o templo de Salomão e suas mobíüas ( lC r 28:11-12, 19), e o ouro do
carro dos querubins ( lC r 28:18).
Em pelo menos uma das 20 referências, tabnit significa um modelo/padrão e
uma cópia simultaneamente (2Rs 16:10-11). Está registrado que o rei Acaz viu um
altar em Damasco e enviou uma cópia deste (tabnit), a qual se tornou um modelo/
padrão para outro altar construído por Urias, o sacerdote. Está explicitamente de
clarado aqui que tabnit quer dizer tanto cópia do original quanto m odelo/padrão_z
para a construção de outro objeto. Tal sentido duplo para tabnit pode estar suben
tendido em Exodo 25:9, 40, se for possível determinar que ele foi formado a partir
do tabernáculo celestial, o original.
Assim, temos no termo tabnit uma ampla diversidade semântica que focaliza
três significados-básicosjz-iiLcluLnuanças-variadas.-----------------------------------------------------
E str u tu r a s t a b n ít / t u p o s
T
Santuário terrestre
Santuário terrestre
Santuário terrestre
A LU Z DE HEBREUS
Santuário celestial
Planta = tabnít
Santuário terrestre
Santuário terrestre
Santuário terrestre
Uma vez que há pessoas que apóiam cada uma dessas sugestões, como decidir
qual é a correta? W illiam G. Moorehead responde enfaticamente, “Não podemos
dizer.”98 Reconhecemos que há certa ambigüidade com relação ao termo tabnít,
mas várias considerações apontam na direção de conclusões plausíveis.
Geralmente, concorda-se que os prefixos preposicionais kf (“segundo”) antes
de “tudo” {kol em Êxodo 25:9) e b 1 (“por/conforme”)99 antes de “modelo” (tabnít
em Êxodo 25:40) indicam que tabnít é (ao menos) um modelo/padrão para o san
tuário terrestre. Mas, qual é a natureza desse tabnít]. É um modelo em miniatura
(n°s 1 e 3 acima) ou uma planta arquitetônica (n°s 2 ou 4), o próprio santuário
celestial (n° 5), ou simplesmente ponderações sobre uma subjetiva “inspiração
divina” (n° 6)?
A posição n° 6 pode ser rejeitada, pois ela conflita com Éxo^o 25:9, onde
é afirmado que o modelo foi mostrado a Moisés (Hiphil particípio de rã'ãh).
O texto indica que uma realidade visivel foi mostrada a Moisés. Números 8:4
usa a palavra mostrar, ver, visão (mar ’eh) para descrever o mesmo acontecimento.
Outras passagens análogas apóiam a conclusão de que Moisés contemplou uma
realidade visível.100
Tabnít envolve uma construção sólida ou uma planta arquitetônica? Em doze
dos vinte usos de tabnít no AT, há referência explicita a uma estrutura sólida. Dei
xando de lado Êxodo 25, vimos como Koehler e Baumgartner categorizaram vinte
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s
C o r r e s p o n d ê n c ia v e r t i c a l t e r r e s t r e / c e l e s t ia l d o s a n t u á r i o
Parece mais provável que Moisés tenha primeiramente recebido uma visão
do santuário celestial e, então, foi-lhe dado um modelo em miniatura do mesmo,
pelo qual deveria construir o terrestre.128 Se foi isso o que aconteceu, ainda existem
várias possibilidades com relação à abrangência de tabnit em Êxodo 25:9, 40.
O term o tabnit pode referir-se, em principio, ao modelo em miniatura do
santuário celestial (embora não exclua uma orientação básica para o próprio
santuário celestial).129 Essa hipótese está em harmonia com a maioria das utiliza
ções do termo em que tabnit se refere a um significado diferente de “original”.
Isso corresponde particularm ente ao alcance semântico de tabnit, explícito em
2 Reis 16:10. Aqui o termo se refere a uma cópia do original que é empregado
com o um modelo para outra cópia. De acordo com essa hipótese, tabnit (em
Êxodo 25:9, 40) se referiría a um modelo em miniatura de um santuário celes
tial original, o qual Deus instruiu Moisés a utilizar como um modelo/padrão
para o santuário terrestre.
Por outro lado, em Êxodo 25 tabnit pode apontar primeiramente para o pró
prio santuário celestial (embora não exclua a necessidade de uma representação
em miniáturã~para Moisés seguir)!™ Isso está em harmonia com o uso de tabnit em
Salmos 144:12. Neste caso, tabnit significaria o original que serve como um modelo
para a cópia terrestre.
Uma terceira possibilidade é que tanto o santuário celestial como o modelo
em -miniatura estão n a visão. O tabnit envolvería, portanto, tudo o que foi mostra
do para Moisés na montanha - o santuário celestial original e o modelo em minia
tura - que deveria servir como um padrão para o santuário terrestre.131
Não parece possível decidir com exatidão, a partir da evidência disponível, se
a primeira referência de tabnit é um modelo em miniatura do santuário celestial,
se é o próprio santuário celestial (com um modelo em miniatura), ou ambos. Mas,
qualquer que esteja na visão, tanto o santuário celestial (o original) quanto o mo-
uciu em liiIuícilUlci \v.OuiO uind v_cpia e modelo padrao), parece estar intimamente
ligado ao termo.
Comparando as linhas de argumentação e de evidência da natureza de tabnit
em Êxodo 25:9, 40, podemos nos posicionar a favor de uma estrutura vertical
(terra/Céu) nesta passagem. O tabnit provavelmente significa, no^ versículos 9 e
40, um modelo em miniatura do santuário celestial e/ou o próprio santuário ce
lestial (com um modelo em miniatura, intermediário. Este tabnit funciona como
um modelo/padrão para a construção do santuário terrestre.
O que concluím os a respeito do termo tabnit em Êxodo 25:9, 40 (TM)
parece também estar inerente na tradução da LXX dessa passagem. As palavras
p arad eigm a e tupos, que são usadas na tradução de tabnit em Êxodo 25:9, 40,
respectivamente, ocorrem no pensamento de Platão, Aristóteles e no pensa-
T ip o lo g ia n o l iv r o d e h e b r e u s
mento grego do segundo e terceiro séculos a.C . para indicar uma correspon
dência terrestre/celestial.132
A palavra grega lupos (da mesma forma que a hebraica tabnit) pode denotar
simultaneamente tanto cópia de como m odelo/padrão para; portanto substitui tabnit
de forma muito apropriada. Como o termo original hebraico, tupos pode sugerir
que Moisés viu uma cópia (isto é, um modelo em miniaRira) do santuário celestial
(ou, talvez, o original, o próprio santuário celestial) que serviu como um modelo/
padrão para o santuário terrestre.133
R esu m o e c o n c l u sõ e s
---------- O termo hebraico lahnit parece envolver dinâm icas sem elhantes às da -
palavra grega tupos. Ele pode denotar uma cópia de, ou modelo/ padrão para,
ou ambos sim ultaneam ente. Em Êxodo 2 5 :9 , 4 0 parece provável que tabnit,
e tupos no versículo 4 0 (LXX), refere-se a uma cópia de um original (ou o
próprio original) que serve como um m odelo/padrão para outra cópia. Ele
ten rem vista o ‘‘padrão” 'fraruosanraárioreiesrtThqtre^éTrim uttârrearneTite"
um modelo em miniatura do próprio san tu ário celestial. Tal significado é
sugerido pelo uso de tabnit em outros lugares n o A T e apoiado pelo co n tex to
imediato e pelos paralelos extrabíblicos, parabiblicos e b íblicos. Pode-se, por
tanto, considerar presente em 'Êxodo 2 5 :9 , -40 uma correspondência vertical
(tenra/Céu) do santuário.
Se, de fato, Êxodo 25:9, 40 implica uma correspondência vertical entre os
santuários celestial e terrestre, então podemos concluir que o autor de Hebreus
(Hb 8:5) citou apropriadamente Êxodo 2 5 :4 0 para comprovar a existência de uma
tipologia vertical do santuário.
inopse editorial. Os adventistas do sétimo dia defendem que existe uma conti
S nuidade básica entre o tipo santuário terrestre e o antítipo santuário celestial.
Assim, o ministério sacerdotal no santuário terrestre esclarece a natureza do minis
tério sacerdotal de Cristo no santuário celestial.
Esta posição fundamental está sendo desafiada atualm ente. Argumenta-
se, em oposição à visão adventista, que o autor de Hebreus faz uma brusca
interrupção entre tipo e antitipo e repetidamente desvia-se do tipo do AT, alte
rando-o para ajustar-se ao cumprimento no NT. Conseqüentem ente, conclui-se
que o tipo nunca deve ser usado para explicar o antitipo, em bora o antítipo
possa ser utilizado para esclarecer o tipo. Além disso, alega-se que é impróprio
empregar a tipologia para estabelecer uma doutrina. Finalm ente, sustenta-se
A LUZ DE HEBREUS
do ritual do AT, mas essa mudança do tipo já havia sido expressa no Salmo 40. A
nova aliança contém promessas melhores que a antiga, mas isso já estava apontado
em Jeremias 31. O sanmário celestial é o “maior e mais perfeito tabernáculo”, mas
isso também já estava indicado em Êxodo 25:40.
O autor de Hebreus não quebra a harmonia entre tipo e antitipo. Pelo contrá
rio, ele a preza tanto que onde quer que o antitipo do N T esteja direcionado para
uma modificação real do tipo do AT, ele é compelido a mostrar que essa alteração
já estava indicada no AT.
5. O nde não são citados textos de controle do AT, o autor de Hebreus geral
mente considera correspondências tipológicas entre tipo e antitipo.
6. O autor de Hebreus não sugere que apenas ele tem uma interpretação
inspirada do ritual do santuário. Uma vez que há uma continuidade essencial - —
entre o tipo no A T e o antitipo no NT, e o tipo é visto como uma ilustração do
evangelho (Hb 4= 1-2), é evidente que todo o testem unho das Escrituras deve ser
empregado para explicar a tipologia do santuário. Sua interpretação não está
limitada a Hebreus 9.
E sbo ç o d a seç ã o
1. Pesquisa de temas
2. Análise e explicações
3. Conclusões
P e s q u is a d e t e m a s
Várias passagens de Hebreus são citadas para ilustrar a acusação dos “repeti
dos desvios” do tipo para o antitipo.lj7 Mas o maior destaque é dado ao tema do
dia da expiação em Hebreus 9. Aqui argumenta-se que o autor conscientemente se
esforça para modificar o tipo a fim de ajustá-lo ao antitipo.138 Várias outras decla
rações seguem esta convicção fundamental de uma forte desconrinuidade entre o
tipo e o antitipo em Hebreus.
Primeiro, mantém-se uma pressuposição: uma vez que há uma disparidade entre
o tipo e o antitipo, é inapropriado usar a tipologia para se estabelecer uma doutrina. A
tipologia deve ser usada unicamente para ilustrar o que é ensinado em outras partes das
Escriniras, numa linguagem clara e didática (não simbólica e não tipológica).139
Um segundo ponto, intimamente relacionado, é que não se pode legitima
mente traçar argumentos do tipo para o antitipo, mas somente o contrário.140 O
antitipo celestial esclarece o tipo terrestre, mas o santuário terrestre não pode ser
útil na compreensão do original celestial, como apoio a este segundo ponto, ge
ralmente sugere-se que Êxodo 25:9, 40 não implica uma correspondência vertical
entre os santuários terrestre e celestial.141 ___
Terceiro, uma vez que existe a idéia de que o autor altera frequentemente
o tipo para ajustá-lo ao cum prim ento no NT, conclui-se que ele tinha pouco
interesse nos detalhes do tipo do AT. Este ponto é enfatizado ao se identificar o
que é considerando erro histórico ou descuido. Por exemplo, o autor é acusado
de localizar de forma incorreta o altar de incenso no santíssimo (9 :3 4 ) .I4:
Finalmente, argumenta-se que a única norma definitiva para se interpretar
os tipos do santuário do A T é o livro de Hebreus, particularmente o capitulo 9.
Defende-se que “somente em Hebreus 9 encontramos a interpretação do Novo
Testamento do ministério no primeiro compartimento, do dia da expiação, da na
tureza e do tempo da purificação do santuário”143 Novamente, “Hebreus 9 é a Pa
lavra divina sobre o significado do ritual do santuário, e qualquer coisa que entre
em conflito com tal explicação não pode ser imposta sobre os outros como uma
doutrina a ser ensinada e na qual se deve crer”.144 Declarar que somente Hebreus
9 serve de base para a interpretação, limita severamente a discussão do significado
do ritual do santuário. *
Tais declarações desafiam a opinião adventista sobre a relação entre tipo e
antitipo em Hebreus, e faz com que examinemos mais profundamente a epístola
para averiguar se tais alegações podem ser mantidas.
A n á l is e e e x p l ic a ç õ e s
Nesta seção final atentaremos para as questões hermenêuticas que têm sido
levantadas a respeito da relação entre tipo e antitipo em Hebretis. O limite de tama-
T ip o lo g ia no l iv r o d e h e b r e u s
nho do capítulo não permite um completo estudo exegético das passagens cruciais,
mas é possível traçar um resumo geral do pensamento do autor deste capitulo e
apontar o caminho para estudos posteriores.
T i p o l o g ia e d o u t r i n a
O TIP O DO A T E O A N TÍTIPO DO N T
A referência acima de Hebreus 9:23 nos direciona a uma outra questão. Nes
sa passagem, o autor de Hebreus está comprometido com aquilo que alguns têm
considerado ilegítimo: argumentar a partir do tipo do A T para o antitipo do NT.
Nesse exemplo, o argumento vai da purificação da cópia terrestre para a necessidade
da purificação da realidade celestial.
Outro exemplo desta mesma abordagem é encontrado no capitulo 8:1-5.
Aqui, o autor desenvolve sua argumentação a partir dos sacrifícios oferecidos pelos
sacerdotes terrestres do AT para a necessidade do sacrifício oferecido pelo sumo
sacerdote celestial do NT.
Na verdade, as correspondências entre tipo e antitipo funcionam como uma
via de mão dupla. Isto é particularmente verdade quanto à relação entre os santu
ários terrestre e celestial. Enquanto a realidade celestial, de fato, esclarece a ilustra
ção terrestre, a ilustração terrestre provê, da mesma forma, especificações sobre a
função da realidade celestial.
Temos usado a frase “argumentar a partir do tipo do A T para o antitipo do
N T ”. Para ser mais preciso, no livro de Hebreus o santuário terrestre do AT é de
signado o “antitipo” (antitupos) e a realidade celestial o “tipo” (tupos).14’ Portanto,
para aqueles que insistem que não se deve argumentar do tipo para o antitipo,
A LUZ DE HEBREUS
mas som ente do antitipo para o tipo, deve-se destacar que isso é precisamente
o que o autor faz quando ele argumenta a partir do terrestre (antitipo) para o
celestial (tipo)!
A C O N T IN U ID A D E ENTRE OS SANTUÁRIOS DO A T E N T
E claro que a fundamentação desta tese envolve mais do que mera questão
semântica. Devemos encarar a pergunta crucial: em que o autor fundamenta sua
argumentação detalhada do santuário do A T para a realidade do NT? É somente
porque ele é um homem inspirado e, portanto, pode distinguir os pontos válidos
de correspondência entre antitipo e tipo? Ou é também porque ele assume uma
___continuidade fundamental entre os dois? O autor deste capitulo está convencido
de que a última é a resposta correta.
Fica evidente pelas citações de Êxodo 2 5 :4 0 (Hb 8:5) e pelo uso da ter
minologia em Hebreus 8:5 e 9:24 (cópia/sombra) que o escritor de Hebreus
• concebe,um a continuidade entre os contornos básicos dos santuários terrestre
------e celestial. -Como-já vim os-antes,!—o uso de tabnit {tupos, LXX) em Exodo 2 5 :4 0
indica uma correspondência vertical entre o santuário terrestre e o santuário
celestial (um modelo em miniatura). O autor de Hebreus permanece fiel a essa
prática na sua epístola.
Além disso, vimos que no N T o uso de tupos como um termo hermenêutico
abrange a dinâmica linear de seu significado original de “molde côncavo/vazio”.
Com um molde côncavo, o antitupos se harmoniza ao contorno básico de tupos.
Assim, na tipologia bíblica, o “antitipo” corresponde em seus contornos essen
ciais ao “tipo”.
O que está claro com respeito à tipoiogia horizontal ( iC o Í0; Rrn 5; iPe 3), na
qual o “tipo” é a realidade do AT e o “antitipo” é o cumprimento no NT, é ainda
mais evidente na tipologia vertical (Hb 8 e 9), na qual o santuário terrestre é o “an
titipo” correspondente ao pré-existente “tipo”, o santuário celeste (e/ou seu modelo
em miniatura). Na tipologia horizontal, a pessoa/evento do AT somente brefigura
uma realidade escatológica que ainda se concretizará no futuro. Mas na tipologia
vertical (do santuário), o santuário terrestre do AT não somente apqpnz para uma
realidade celestial futura operante, de certo modo, no presente, mas, na realidade,
deriva .do original celestial já existente.
É óbvio que o autor de Hebreus está ciente de que o santuário terrestre não
é uma cópia exata do original celestial. Na tipologia horizontal, há uma intensifi
cação escatológica absoluta do tipo no cumprimento no NT. Na tipologia vertical
(do santuário), o terrestre é descrito como uma “cópia" (hupodeigm a) e “som bra”
iskia) do santuário celestial (Hb 8:5). Devemos, portanto, esperar uma intensi
ficação entre a cópia/sombra terrestre e o original/verdadeiro celestial. No en-
T ip o l o g ia n o u v r o d e h e b r e u s
tanto, ao mesmo tempo, esses pares de palavras indicam uma continuidade dos
contornos básicos. Um a “cópia” corresponde ao seu “original” e uma "som bra”
revela os contornos básicos de sua “substância”. Aqueles que argumentam contra
uma continuidade básica, algumas vezes apontam para as várias diferenças entre
o tabernáculo mosaico e o templo salomônico (e podem, ainda, somar a visão de
Ezequiel de um novo templo, Ezequiel 4 0 -4 8 ), os quais foram construídos (ou
deveríam ser construídos) de acordo com o padrão divinamente fornecido.1+7 Tal
argumento, porém, pode estar completamente errado.
As próprias diferenças nos santuários proveem uma indicação do A T do que
constituem os contornos essenciais, aqueles que permanecem constantes todo
o tempo. Embora possam variar em tamanho, material e número de artigos, a
" estrutura básica dos santuários T a mesfnaf Há dois compartimentos (santo e
santíssimo), as mesmas proporções dimensionais e os mesmos artigos de mobília.
É esta estrutura básica que é descrita em Hebreus 9:1-5.
S o l u c io n a n d o o c o n f l i t o d a c o n t i n u i d a d e / d t s p a r id a d e _____________________
T ip o do A T A ntitipo do N T
H ebreus 9
N OTAS DA TRADUTORA:
1 Aqui, este termo foi trac!u:ido tio inglês conforme está no material original. Entretanto, a
ARA traduz o mesmo termo echousa, no versículo 2, por “onde".
b Aqui, este tenno foi traduzido do inglês conforme está no material original. Entretanto, a
ARA traduz o mesmo termo, en hê no versículo 4, por “pertencia".
A IU Z DE HEBREUS
mente a localização do altar de incenso. Ele simplesmente foi além deste aspecto
para o funcional, a fim de mostrar a perspectiva do A T de que o altar de incenso
“pertence ao” santíssimo.
A questão da exatidão do relato não é, contudo, o principal assunto em jogo
sobre a interpretação de Hebreus 9. Alguns comentaristas modernos insistem que
em Hebreus 9 o autor se afasta deliberadamente do tipo terrestre (santuário ter
restre) na sua descrição do santuário celestial.156 O foco está no versículo 8, onde
sugere-se que o autor tenha argumentado que o lugar santo terrestre tipifica toda
a ordem do A T e o santíssimo terrestre corresponde ao santuário celestial do NT.
Embora não seja o propósito deste capítulo fazer uma exegese detalhada de He
breus 9, é necessário apontar considerações exegéticas e contextuais relevantes que
tom am tal interpretação insustentável.
N enhum a alteração indicada por citação do AT. É importante observar, an
tes de tudo, que Hebreus 9 (diferentemente dos capítulos 7, 8 e 10) não apresenta
nenhuma citação do A T para apoiar o desvio do tipo para o antitipo. Não deveria
mos forçar indevidamente o argumento da coerência, contudo, isso podería preca-
—ver-nos eontra-presumirmos-muito-facilmente desvios radicais entre os santuários
terrestre e celestial quando a passagem não cita nenhuma evidência do A T para
indicar tais mudanças.
Q u ia s m o e m H ebreu s 9 :1 -8
Ta liagia. A essa altura, o autor de Hebreus também faz uma transição para a
exposição do santuário celestial ao introduzir o termo ta hagia. Com o demostrou A.
S. Salom, “ta hagia em Hebreus (não considerando 9:2-3) deve ser entendido como
referência ao santuário como um todo”,1’9 e não simplesmente ao santíssimo.
Talvez o estudo mais forte que apóie os pontos linguísticos, estruturais e con-
textLraisTiieTíctonatlos sejaTrrrattrrezandaTrrpologiadTibttca: :------------------------
Diferença entre tipo e símbolo. Aqueles que defendem uma disparidade entre
tipo e antitipo nessa^passagem, •geralmente consideram a palavra p arab olê em Hebreus
9:9 como sinônimo de tupos, referindo-se à tipologia.160 Eles acreditam em uma relação
tipológica entre o lugar santo terrestre e toda a -antiga ordem mosaica do AT, entre o
santíssimo terrestre e o ministério de Cristo no santuário celestial. Mas considerando
as estruturas tipológicas que estudamos (resumidas nas primeiras duas partes deste ca
pitulo), devemos concluir que p arab olê não se refere a uma relação tipológica.
Neste ponto, 0 autor e Hebreus escolheu cuidadosamente a palavra p a ra b o lê
no lugar de tupos ou antitupos. O termo prõtê skênê (a despeito de denotar o pri
meiro [anterior] santuário ou o primeiro compartimento deste santuário) somente
simboliza ou significa, mas não aponta para ou prefigma a “era presente” da qual faz
parte. Portanto, não há nenhuma estrutura profética neste versículo, tampouco
uma estrutura escatológica. A “era presente” não é o cumprimento escatológico
prefigurado pelo santuário terrestre.
Por causa da falta dessas estruturas tipológicas mais importantes, não se pode as
sumir uma correspondência tipológica entre o santuário terrestre (nem como um todo
ou uma parte) e a antiga ordem que ela representa. Esta primeira correspondência não
é tipológica, mas simbólica. Colocar essa correspondência simbólica em paralelo direto
com a clara correspondência tipológica entre o santuário terrestre e o celestial, que se
apresentam no contexto mais amplo desta passagem, não é uma exegese razoável.
Consequentemente, não se pode dizer que o lugar santo do santuário ter
restre é um símbolo da era presente, mas que o santíssimo do mesmo santuário é
A LUZ DE HESR.EUS
um tipo que aponta para o santuário celestial do NT. São duas coisas totaímente
diferentes. A única maneira de ser coerente tanto para com a simbologia como para
com a tipologia da passagem é reconhecer que: (1) o santuário terrestre como um
todo simboliza ou significa a ordem antiga na qual servia, e: (2) que o santuário
terrestre com o um todo (e a ordem da antiga aliança que ele representa) aponta ti-
pologicamente além de si mesmo para o cumprimento no NT no santuário celestial
(e a ordem da nova aliança na qual ele serve).
N ão se deve concluir, a partir de nossa consideração, que o autor de He-
breus está tentando provar a existência de um santuário celestial de dois compar
timentos que corresponda ao seu equivalente terrestre. O que estamos dizendo é
que em sua argumentação, ele permanece fiel à coerência entre tipo e antítipo.
— Seria justo dizer que, em harmonia com a idéia de correspondência (contornos
básicos) entre tipo e antítipo, como expresso pelos termos tupos e antitupos, o
autor defende que o santuário original tinha duas partes, bem como sua cópia.
Contudo, isso não está explicitamente declarado e não é o ponto em pauta em
sua argumentação.
------------ Ponto de tra n siç ã o rô rju e podemos esperar que o autor indique, à medida
que compara os santuários da antiga e da nova aliança, é alguma referência ao
ponto de transição entre a antiga e nova alianças, ao .início do ministério da .nova
aliança e da consagração do santuário da nova aliança. E exatamente isso que fica
explicito na principal parte de Hebreus 10:19, 20, .onde o verbo eg k ain to (“consa
grar”) é empregado para descrever a entrada de Cristo no santuário celestial. Da
mesma forma que o santuário do AT foi inaugurado ou consagrado antes que seus
serviços começassem oficialmente (Êx 40; Lv 8), o santuário celestial é consagrado
quando Jesus começa seu ministério sacerdotal ali. Gecrge Rice mostrou que He
breus 10:19, 20 faz parte de um quiasmo (que abrange 6:19-10:39) e que Hebreus
10:19 em diante (a segunda parte do quiasmo) é o desenvolvimento explicativo do
paralelo da primeira parte do quiasmo, Hebreus 6:19.161 Portanto, considerando a
clara referência da inauguração do santuário celestial no capitulo 10:19, 20, parece
possível concluir que o mesmo acontecimento se dá na descrição da entrada de
Jesus no santuário celestial em 6:19, 20. A despeito de que véu(s) o autor tem em
mente nestas passagens,162 a continuidade entre tipo e antítipo é maVitida, visto que
todo o santuário foi inaugurado no inicio de seus serviços.
E possível afirmar que há referência das cenas da inauguração, e não do dia da
expiação principalmente, em Hebreus 9 : 12-21.163 O “sangue de bodes e de bezerros”
(v. 12) parece fazer referência não aos serviços do dia da expiação, mas ao início/
inauguração do sumo sacerdócio arônico e ao começo dos serviços no santuário.
Naquela época tais ofertas eram sacrificadas (Lv 9:8, 15, 22; cf. Hb 9:19). Assim, o
autor de Hebreus permanece fiel aos contornos básicos do tipo do AT. Podemos
T ip o l o g ia n o l iv r o d e h e b r e u s
deduzir que quando ele faz referência especifica à entrada de Jesus no santuário
celestial depois de sua ascensão, o evento em foco é a inauguração antítipica do
santuário celestial.
O autor de Hebreus descreve a obra contínua de Cristo depois da inaugura
ção em harmonia com o ministério sacerdotal do primeiro compartimento do san
tuário terrestre. Por exemplo, ao dizer que Cristo “vive sempre para interceder por
eles” (7:25) reflete o ministério do sacerdote terrestre que oferecia “incenso conti
nuo perante o Senhor” (Éx 30:8) todos os dias no lugar santo. Outras passagens
concernentes ao ministério sacerdotal de Cristo no Céu, e que são correspondentes
ao ministério diário (lugar santo) no santuário terrestre, são as seguintes: Hebreus
2:17, 18; 8:2, 6; 9:15, 24; 10:21; 12:24; 13:15.1<HAo mesmo tempo, em harmonia
com a passagem de controle do AT, o Salmo 110, Cristo é descrito com base na sua
posição de rei, bem como na sua função sacerdotal; Ele se assenta à destra do Pai
para aguardar até que seus inimigos sejam postos como escabelo para seus pés (SI
110:1; Hb 1:3, 13; 10:12, 13).165
O sangue superior. No entanto, nem a inauguração, nem a obra celestial de
Cristo como sacerdote/rei é o principal foco da epístola e o argumento ciiltico da
seção central. William Johnsson sustenta fortemente que a principal preocupação é
com “o importante valor do sacrifício”.16” Aos cristãos hebreus, tentados a retomar ao
judaísmo, o autor da epístola assegura que somente em Jesus eles podem encontrar o
“sangue superior", ó único sacrifício eficaz e suficiente que pode purificar a consciên
cia do crente (9:13-14; cf. 10:4). Se eles se afastarem dele, para onde irão?
O autor destaca, a partir do Salmo 4 0 (10:5-10), que todos os sacrifícios do
A T se concretizam.num grande sacrifício, na pessoa de Jesus. Pelo fato de todos
os tipos sacrificais do A T convergirem para Jesus, o atitor de Hebreus evoca as
várias cenas sacrificais do ritual do AT. Ele faz alusão tanto ao sacrifício anual
(dia da expiação) como ao sacrifício diário e aos outros rituais de sangue impor
tantes (7:27; 10:11; 9:13, 18-22, 25). O argumento é simples: mesmo no seu ápice
(tal com o o dia da expiação), o sangue sacrifical do A T não é capaz de purificar
a consciência, como evidenciado pelo fato de que ele deve ser repetido continua
mente nos rituais (10:3-4). Mas o sangue de Cristo é muito superior. Seu sacrifí
cio todo-suficiente foi feito uma vez por todas (7:27; 9 :2 6 , 28; 10:10, 14).
Portanto, nas alusões ao dia-da expiação na epístola, o ponto em questão é a
eficácia do sacrifício, e não o tempo. Obviamente, todos os rituais de sangue (diários e
anuais) cumpriram sen aspecto sacrifical na cmz. Mas, todos os outros aspectos encontram
seus respectivos cumprimentos no desenvolver do ministério sacerdotal de Cristo.
Embora o tempo dos serviços antítipicos do dia da expiação não seja o
ponto em questão, o autor fornece indícios disso ao se referir à purificação do
santuário (9:23), seguida de uma referência a um julgamento futuro (v. 27) e
A LU Z DE HEBREUS
a segunda vinda de Cristo (v. 28). Outras cinco passagens se referem a um jul
gamento futuro (2:2-4; 4:1-3; 6:7-12; 10:28-30; 12:26-29). Elas se referem a um
julgam ento investigativo (4:12; 6:10; 10:28-30) e também a um julgamento exe
cutivo envolvendo o professo povo de Deus. Esses indícios a respeito do tempo
estão de acordo com o tipo do AT.
Fontes para interpretação. Ao completarmos esse estudo, precisamos dar
a ten ção ’a um a questão final. Aqueles que alegam uma disparidade entre tipo e
antitipo do sanmário em Hebreus afirmam que somente Hebreus (e especialmente
Hebreus 9) provê “a Palavra divina sobre o significado do ritual do santuário”.167
Mas, se existe uma continuidade entre o tipo do A T e o antitipo do NT, como
temos defendido neste capitulo, então não há mais a necessidade de uma norma
— suprema no NT. De fato, a epístola de Hebreus não alega, em parte alguma, repre
sentar a única interpretação inspirada do ritual do santuário.
A fim de colocar a tipologia de Hebreus sob uma perspectiva adequada, desemos
ressaltar que a interpretação do sistema levítico dado em Hebreus é apenas uma parte
do rico mosaico tipológico quepermeia toda a Bíblia. Juntamente com Hebreus, outros
------livros da Bíblia, em particularDaniel e Apocalipse, devem ser consultados para uma
noção completa da natureza e tempo do cumprimento da tipologia do santuário.
R e s u m o e i m p l ic a ç õ e s
C o n clu sõ es
N otas
6 E. Earle Ellis, P rophecy a n d H erm en eu tic in E arly C h ristia n ity (Tübingen, 1978), p. 165,
citado em Werner G.Krümmel “Schriftauslegung”, Religion in G esch ich te und G eg en w art, 3*
ed., vol. 5, p. 1519.
' Geoffrey W. H. Lampe, “The Reasonableness ofTipology”, em Geoffrey W. H. Lampe
e Kennerh J. Woollcombe, “Essays on Typology", S B T , N° 22 (Naperville, 1L, 1957), p. 16.
8 Esta trase é cunhada por Gilbert F. Cope, S y m b o l ism in th e B ible a n d th e C h u rch (Nova
Iorque, 1959), p. 20.
9 Para uma pesquisa dos principais participantes, visões e questões nesta exposição,
veja minha tese, T ypology in Scripture: A Study o f H e r m e n e u tic a l Typos a n d Structures, Universi
dade Andrews. Série de Teses Doutorais (Berrien Springs, MI, 1981): 15-114.
10 Para uma consideração das duas principais visões, veja principalmente Ibid., p. 46-75.
11 Pode-se distinguir três principais métodos “tradicionais”: o método Cocceian (re
cebe este nome por Johannes Cocceius - veja Ibid., p. 33-36, 46 para consideração) opera
com pequenos ou nenhum controle hermenêutico e tende a indicar correspondências tipo-
lógicas onde há mesmo a mais leve semelhança entre as realidades do AT e do NT. No outro
extremo, o método Marshian (recebe este nome pelo Bispo Herbert Marsh - veja Ibid.,
p. 36-37, 46-48, para consideração) sustenta que os únicos tipos verdadeiros são aqueles
confirmados de- forma explicita' ncrNT. Uma posição intermediária, representada na obra
clássica do século 19 de Patrick Fairbaim (veja Ibid., p. 38-42, para consideração), adota
uma tipologia controlada por princípios hermenêuticos cuidadosamente delineados.
12 Para um panorama dos principais defensores da visão “pós-critica” da tipologia, veja
Ibid., p. 51-88.
,J Pode-se distinguir duas principais correntes dentro desta neodpologia pós-critica. Uma
tradição inglesa representada por G. W. H. Lampe e K. J. Woollcombe, priorizam o “ritmo
repetitivo “da atividade redentora divina, ao passo que uma corrente alemã, representada por
Gerhard Von Rad, concebe um número ilimitado de “analogias estruturais dentro da história
tradicional”. Para um debate dessas duas ênfases, veia Ibid.. p. 59-65, 68-69.
14Para uma descrição detalhada e defesa deste método, veja Ibid., p. 4-14.
15 Veja Ibid., p. 115-336.
:i Por conveniência, podemos chamar esses três aspectos do cumprimento de cristoió-
gico, eclesiológico e apocalíptico. Para mais detalhes, veja Ibid., p. 388-97.
*' Ibid., p. 115-90.
18 Jerome Smith, A Priest Forever: A study o f Typology a n d E schatology in H eb rews (Londres,
1969), p. 10; cf. p. 30: “Todos os comentaristas concordam que há tipos."
19 Veja, e.g., Goppelt, T D N T , 8:256-59-, Frederick F. Bruce, The Epistíe to thc H ebrew s,
N1CNT (Grand Rapids, 1964), p. 1-11, 116, 220; George W. Buchanan, T o T h e Keérews,
AB (Garden City, NY, 1972), p. xxiv-xxv, 153-54, 250-51; Andrew B. Davidson, T h e Epistíe
to th e H eb rew s, Handbooks for Bible Classes (Edinburgh, 1882), p. 158-59, 186; Delitzsch,
H ebreuis, 2:126-27; Thomas Hewitt, T h e Epistíe to th e H eb rew s: An In trodu cü on and Commen-
tary, T N T C (Grand Rapids, 1960), p 144; Philip E. Hughes, A Commentary on th e E p istíe to
the H ebreu is (Grand Rapids, 1977), p. 382; Richard C. H. Lenski, T h e In terp retation o f the
E pistíe to th e H eb rew s (Columbs, OH, 1946), p. 315; Floyd V. Filson, “‘Yesterday’: A study of
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s
Hebrews in the Light of Chapter 13” SBT, 2o ser., N° 4 (Naperville, IL, 1967), p. 83; Aeired
Cody, H ea v en ly S an ctu ary a n d Liturgy in the E p istle to th e H ebrew s (St. Meinrad, IN, 1960), p.
46; Sidney G. Sowers, T h e H erm en eutics o f P h ilo a n d H ebrew s: A C o m p a r is o n o f the O ld Testa-
m en t in Philo Ju d a en s a n d T h e Epistle to th e H eb rew s; Basel, Studies o f T h eo lo g y , N° 1 (Richard:
John Knox, 1965), p. 89-97.
20 Veja Davidson, Typology in Structure, p. 336-67.
21 William G.Johnsson, “Defilment and Purgation in The Book of Hebrews" (tese,
Universidade Vanderbilt, 1973), p. 23. Para maiores informações, consultaras introduções
do NT padrão.
22 Uma determinação mais clara quanto a data e o autor da epístola, naturalmente,
seria de grande auxilio; sobretudo, pela proposta de situar Hebreus 8:5 e 9:24 numa seqü-
ència histórica apropriada com outras passagens hermenêuticas tupos pelo próprio autor
ou autores diferentes; de forma que mudanças ou desenvolvimentos possíveis pudessem
ficar evidentes. Certas evidências parecem favorecer uma data no período anterior à crise
iminente da destruição de Jerusalém em 70 d.C. (veja R.K. Harrison, In tr o d u c tio n to the O ld
T esta m en t (Grand Rapids, 1969J, p. 380). A visão tradicional que atribui a Paulo a autoria
do livro (com talvez uma transcrição literária feita por alguém que.coloriu o final) não pare-
ce ser tão insustentável quanto tem-se geralmente defendido nas lireramras modernas (cf..
Ftancis D. Nichol, ed., T h e S D A B ib le C o m m e n ra r y [Washington, DC, 1953-1957] 7:387-89).
Mas a despeito da data e autor dessa epístola, uma vez que estamos considerando Hebreus
8:5 e 9:24 sob um subtítulo separado (por causa da estrutura tu p o s tanto vertical quanto ho
rizontal), a ordem do estudo das passagens hermenêuticas de tu p o s permanece inalterada.
23 Para as primeiras defesas da influência platônica e riloniana em Hebreus, veja
bibliografia em Bruce, H e b r e w s , p. Ivii. O defensor moderno mais vigoroso de influ
ência direta é Ceslaus Spicq, “Le philonisme de L’Épirre aux H ébreux”, R B 5 6 (1949):
542-72; 57 (1950): 212-42. Esse mesmo material também é encontrado em Spicq’s
L ‘Ê p itr e a iix Hebreus, 2 vols. (Paris, 1952-53), 1:39-91-, cf. Bultmann, “Ursprung und
Sinn", p. 210; James Moffatt, “A Criticai and Exegerical Commenrary on the Epistle
to the Hebrews”, IC C (Edinburgh, 1924), p. xxxi-xxxiv, 106-7, W ilbert F. Howard,
T h e F o u r th G o s p e l in R e c e n t C r itic is m a n d I n t e r p r e t a t io n , 3* ed. (Londres, 1945), p. 115;
W illiam Manson, T h e E p is tle to th e H e b r e w s (Londres, 1951), p. 124-26; Jean Héring,
“Eschatologie biblíque et idéalisme platonicien”, em T h e B a c k g r o u n d o f t h e N e w T es
t a m e n t a n d h s Eschatology, ed. W. D. Davies e Daube (Cambridge, 1956), p. 444-63;
id., T h e E p is tle to th e H e b r e w s , tr. A. W. Heathcote e P. J. Allcock (Londres, 1970), p.
66; Goppelt, T u p o s, p. 62; C .F.D . Moule, “Sanctuary and Sacrifice in the Church of
the New Testament”, J T S 1 (1950):37. Diversos graus de dependência são percebidos;
para uma pesquisa ác posições e citações dos defensores mais representativos até
1970, veja Ronald W illiam son, Philo a n d t h e E p is t le to th e H e b r e w s (Leiden, 1970),
p. 1-10. Para mais defensores modernos de um modelo platõnico-filoniano veja os
seguintes nomes; Theodore G. Stylianopouloss “Shadow and Reality: Reflecrions in
Hebrews 10:1-18", G r e e k O r t h o d o x T h e o lo g ic a l R e v ie w 17 (Holy Cross O rthodox School
o f Theology, 1972):217; James W. Thompson, “That W hich Abides: Some Metha-
physical Assumptions in the Epistle to the Hebrews” (tese de Ph.D ., Universidade
A LUZ DE HEBREUS
ligada ao platonismo; mas, quando observamos mais atentamente suas passagens, é evidence
que ele se refere primariamente às instruções de Moisés em Êxodo xxv. 40... [citado] - e ele
desenvolve sua idéia muito semelhantemente aos escritos apocalípticos, incluindo os autores
apocalípticos do NT, que não soiferam a influência de Platão." Mais recentemente, Nasch, p.
105-115, mostrou que a natureza de Cristo e seu ministério mediador em Hebreus é totalmente
diferente das concepções mediadoras cristológicas/celestiais de Filo. Em Hebreus, em oposição
a Filo, não há (1) abstração metafísica, mas uma pessoa histórica, (2) dualismo platônico, mas
encarnação, (3) depreciação de emoções, mas expressão de emoção e (4) a disposição de Cristo
para o sofrimento, para ser tentado e para a morte, com o que Filo jamais concordaria.
i4 Williamson, Philo and H e b r e u s , p. 579.
55 Charles T. Fritsch, “ To A n tity p on " , in S tu d ia B ib lic a et S e m itic a (Wageningen, 1966),
p. 103. É dizer, a correspondência do santuário terTestre/celestial já estava bem situada no
AT e não precisava ser confrontada com concepções platônico-filonianas. O que certamen
te não elimina a possibilidade de que o a u c to r a d H eb r a eo s reconheça a dinâmica vertical de
tu p o s no AT (ta b n lt ), como é feito indubitavelmente por Filo, ainda que sejam suas idéias
transcendentais que estejam em perspectiva, não realidades celestiais consistentes (como
em Êxodo 25:40 e o paralelo das passagens do AT).
strr.ctu red T ra n sla tio r . to the Epistle to th e H e b r e u s , tr., James Swetnam (Roma, 1964).
37 Johnsson, “The Cultus of Hebrews", p. 104; cf. Vanhoye, La structure, p. 137-71; id.,
A Structured Transladou, p. 17-25.
38 Veja Michel Gourgues, “Remarques sur La ‘structure centrale’ de 1'épitre aux Hébreux.
A 1’occassion d’une réédition", RB 84 1997):31-32, onde no capítulo 8, na estruturação de üour-
gues, exprime-se o ponto principal com relação a Cristo como sumo sacerdote (v. 1-5) e media
dor do novo concerto (v. 6-13), e o capitulo 9 forma o primeiro desenvolvimento desse principal
ponto. Da mesma forma com Vanhoye (La structure, p. 137-71; “A Structured Transladou", p. 17-
25), em qüe o os versos 8:1-9:10 são vistos como indicadores da antiga adoração inadequada, e
o os versos de 9:11-28 mostram a eficiência do sacrifício de Cristo.
39 William G. Johnsson, em Absolute Confidence: The Book o f Hebrews Speaks to Our Day
(Nashville, 1979), p. 91, grifo do autor.
30 Barret, “Eschatology of Hebrews”, p. 366; cf. Hans Windisch, “Der Hebrãerbrief,”
Handbuch zum Neuen Testament, 2* edição (Tübingen, 1931), p. 86; Otto Michel, “Der
Brief an die Hebrãer”, Kritisch-Exegetischer Kommentar (Gõttingen, 1966), p. 17; J. Smith,
p. 172.
41 Barrett, “Eschatology of Hebrews”, p. 391.
4: Ibid.
41 Ibid., p. 364.
44 Brady, p. 330; gf. p. 329-39.
45 Bertold Klappert, Die Eschatologie des Hebrãerbriefs (Munique, 1969), p. 54-58.
44 J. Smith, p. 172.
47 Filson, “Yesterday”.
48 William G. Johnsson, “The Pilgrimage Motif in the Book of Hebrews", JBL 97
A LUZ DE HEBREUS
(1978): 246; cf. o estudo sobre o tema da peregrinação, Ernst Kãsemann, D as w an d ern d e
G o tte sv o lk : E in e Untersiicliung ;um H eb rà erb rief, 4.“ ed. Gôttingen, 1961.
49 Barrett, “Eschatology o f Hebrews”, p. 391.
50 Para uma exposição detalhada da cristologia em Hebreus, veja, e.g., Erich Grãs-
ser, Der G la u b e im H e b r à e r b r ie f, Marburger theologische Studien 2 (Marburg, 1965): 214-23;
Anthony Snell, N ew a n d L ivin g W ay: An E x p la n a tio n o f th e E pistle to lh e H eb reu s (Londres,
1959), p. 40-45; para soteriologia, veja Stephen S. Smalley, "Atonement in the Epistle to the
Hebrews", E v Q 33 (1961): 36-43.
51 Johnsson, “Defilement and Purgation”, p. 39.
52 Ibid., p. 27-96; cf. sua sintese e atualização em “The Cultus of Hebrews”, p. 104-8.
53 Johnsson, “Defilement and Purgation”, p. 206-379.
54Ver seu resumo das conclusões no cap. 6 de “Defilement and Purgation”, p. 429-35.
35 Johnsson, A b s o lu te C o n fid e n c e , p. 152.
56 Ibid., veja sua análise das p. 152-60, cf. id., “Pilgrim Motif”, p. 239-51; id. “Defile
ment and Purgation”, p. 380-424.
57 George G. Caird, “The Exegetical Method o f the Epistle to the Hebrews”, C/T 5
(1959): 47.
58 Ibid.
59 Caird argumenta que em cada exemplo, o uso das passagens do AT (SI 8, 95, 110, Jr
31) pelo autor de Hebreus é “um trabalho perfeito de exegese" (p. 47; cf. p. 47-49).
6PJohnsson, “The Pilgrimage Motif in the Book of Hebrews”, p. 247.
61 Para mais considerações, veja as p. 140-151.
62 Johnsson, A b s o lu te C o n fid e n c e , p. 91.
63 Isso parece já estar inferido em Hebreus 8:1-5. Assim como os sacerdotes do san
tuário terrestre ofereciam sacrifícios, Jesus, o sumo sacerdote do santuário celestial deve
também oferecer um sacrifício. Isso Ele fez oferecendo a Si mesmo (Hb 7:27; 9:14; 10:12;
etc.), mas era na Terra que o sacrifício antitipo foi morto. A Terra corresponde ao pátio do
santuário levitico - o lugar onde os sacerdotes matavam suas vitimas cujo sangue devería ser
levado ao santo ou santíssimo. Hebreus 13.10 parece tornar claro que o atector a d H eb ra eo s
considera a cruz do Calvário o altar antitipico (no pátio do santuário celestial). Para uma
consideração mais detalhada, veja i.e., Edwin W. Reiner, T h e A ton em en t (Nashville, 1971),
p. 88-92, T h e S D A B ib le C o m m e n ta r y , 7:492.
64 Moffat, H eb rew s, p. liv, xxxii, xxxiv. v
1,5 J. Cambier, “Eschatologie ou hellénisme dans l’Épitre aux Hébreux: Une étude sur
menein ET 1’exhortation finale de 1' Epitre”, Salesianum 11 (1949):62-69.
“ Klappert, p. 50, 59.
67 Goppelt, TDNT, 8:259.
65 Ibid., p. 258.
09Veja p. 127-128.
70 Veja p. 140-151.
71 Barret, “Eschatology of Hebrews", p. 385.
tip o lo g ia n o l iv r o d e H ebr eu s
9" 92 Cody, p. 16; R. Alan Cole, E xodu s: An In tro d u c tio n a n d C o m m e n ta r y , TOTC (Do-
wners Grove, IL, 1973), p. 190'
,J Johannes H. A. Ebrard, B ib lic a l C o m m e n ta r y on th e E p istle to th e H ebreiv s, tr. John Ful-
ton, Clark's Foreingn Theological Library, 32 (Edinburgh,1853), p. 248-50; Joseph M ’Caul,
T h e E p istle to th e H ebrew s (Londres, 1871), p. 98.
94 Bruce, H eb rew s, p. 165-66; John H. Davies, A L e tte r to H eb r ew s , Cambridge Bible
Comentary (Cambridge, 1967), p. 201.
95 Henry Alford, T h e G r e e k T esta m e n t: W ith a C r itic a lly R ev ised Text, a D igest o f V arious
R eadin gs, M a r g in a l R eferen ces to V erb al a n d Id io m a tic U sag e, P ro le g a o m en a , a n d a C r itic a i a n d
E x eg etical C o m m e n ta r y , vol. 4 (Londres, 1864-1868), 4:150; cf. primeiros comentaristas (Fa-
ber Srapulensis, Bleek, Schlichting e Srort) mencionados e/ou cirados por Alford (Idem),
propondo uma apresentação similar. Cf. também uma discussão desses comentaristas (plus
R ivet) por Ebrard, p. 249-50. n. 1.
90 Umberto Cassuto, A Commentary on T h e B o o k o f E x od u s, tr. Israel Abrahams (Jeru
salém, 1967), p. 322. Goppelr, T D N T , 8:256; David N, Freedman, “Early Israelite History
In The Light of Early Israel Poerry”, em L/nity and D iversity. Ed. H. Goendicke e J.M.M.
Roberts (Balrimare e Londres, 1975), p. 26.
-------- 33 Gearge A : GhsdwickrThe' B ookv f Exodus ( Nova York, 1908), p. 25.
98 William G. Moorehead, Studies in th e M o s a ic Jnsíitittions: T h e T a b e m a c le , th e Pries-
tknod, t h e S a crifices, T h e F easts o / A n c ie n t Israel (Davron, OH, 1896), p. 16.
99 BDB, p. 90 (III, 8).
100 Veja Êxodo 26:30; 27:8.
101 Veja p. 143.
102 Além das referências listadas acima, veja a bibliografia em R. G. Hamerton-Kelly,
“The Ternple and the Origns of Jewish Apocalyptic”, V T 20 (1970):6, n. 1.
103 Freedman, p. 26.
1U1 Conforme argumenta Cody, p. 17, 20, e está satisfeito em deixar isso assim. Ele
encontra em Provérbios 9:8 a referência explicita que ele acredita ser a fonte principal de
Hebreus 8:5.
105 Veja C. F. Keil, B ib lic a l C o m m e n ta r y on E xodu s, trad. inglês de James Martin (Grand
Rapids, 1952), p. 165.
106 Veja Wagner, T D O T , 2:179.
107 Bruce, H eb rew s, argumenta, com efeito, que uma vez que a idéia do rabernáculo
terrestre como um lugar de habitação de Deus é enfatizada em Êxodo 25:8, 9, 40 “estaría
mos mantendo completamente a prática atual de que tal lugar de habitação terrestre deve
ser uma réplica do lugar de habitação celestial de Deus”. Esse argumento combina os indi
cadores contextuais que acabamos de considerar com os atuais paralelos do antigo Oriente
Médio, os quais discutiremos no próximo tópico.
108 Vários estudiosos têm percebido a ênfase da correspondência terra/Céu (vertical)
dentre a literatura do antigo Oriente Médio, particularmente com referência a um santu
ário/templo celestial como o original divino do terrestre. Hans Bietenhard, D ie h im m lische
W elt in U rschristen tu m u n d S p à tju d e n tu m , Wissenschatliche Untersuchungen zum Neucn
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s
(10:5-10) a dramática justaposição entre os obsoletos sacrifícios de animais e o Messias que ha
vería de vir para cumprir o que os sacrifícios nunca poderíam. Veja o estudo não publicado de
Jacques Doukhan para considerações adicionais sobre esse importante Salmo.
151 Veja nota 142 acima para citações ilustrativas deste assunto. Como outro exemplo,
veja também Horner A. Kentjr., T h e E p istle to th e H eb rew s (Grand Rapids, 1972), p. 84: “Ele
(o autor de Hebreus) pensou que o incensário de ouro estava após o véu.”
152 Veja Brooke Foss Wescott, T h e Epistle to the Hebreus (Grand Rapids, 1950), p. 247, para
uma pesquisa sobre o uso deste termo e uma lista dos defensores da interpretação “incensário”.
151 Ibidem.
154 Ibidem.
155 Veja Êxodo 30:6; 40:5; cf. Levitico 4:7; 16:12, 18. Para maiores discussões sobre a
função do altar de incenso no santíssimo, veja M. L. Andreasen, T h e B o o k o f H eb rew s (Wa-
— shigton, D C, 1948), p. 321-322.
156 Veja em Ford, apêndices 6 e 8, declarações de vários comentaristas que apoiam
esse ponto de vista.
1,7 Veja especialmente F. F. Bruce, Commentary on th e E p istle to th e H eb rew s (St. Mein-
rad, IN , 1960), p. 147-148; Jean Héring, T h e E p istle to the H ebrew s (London, 1970), p. 70-75;
Spicqr^F 2537254; e om atem i fiâõ~pubircádò de Gerhard Hasei, "Some Observations on
— Flebrews 9 in view of Dr. Fords Interpretation”, p. 6-8. Cf. William Lindsay, L ectu res on th e
E p istle t o th e H eb r ew s , 2 vols. (Philadelphia, 1868), 2:22-23; Ronald Williamson, T h e E p istle
to th e H eb r ew s ( London, 1964), p. 84.
158 Assim diz Bruce, p. 194-195: “Precisamos notar ainda que, considerando que até
agora nosso autor tem usado ‘o primeiro tabemáculo’ do compartimento exterior do santuá
rio, aqui (em 9:8) ele o utilizou como o santuário da ‘primeira aliança’ (9:1), incluindo o lugar
santo e o santíssimo”. Mais uma vez, Cody, p. 147-148 afirma que “o primeiro santuário (de
9:8) se toma o santuário terrestre, antigo na sua inteireza, incluindo o santo e o santíssimo, e
... o ‘maior e mais perfeito tabernáculo’ do verso 11, se torna o santuário celestial"’; William
son, H ebrew s, p. 84: "O verso 9:8 não é uma referência ao santíssimo, mas representa o sistema
judaico que foi descrito.” Lindsay, 2:22-34 faz semelhante afirmação: “no primeiro tabemá
culo, nesse verso (9:8), não devemos entender, como nos versos 2 e 6, a divisão externa do
antigo tabernáculo como distinta da interna, mas sim o tabemáculo judaico como diferente
do tabemáculo cristão... Não teria nenhum propósito definir um período de continuidade do
compartimento exterior particularmente, uma vez que o interno existiu no mesmo tempo...
Entende-se claramente o tabernáculo judaico como um todo, o qual é contrastado com o
maior e mais perfeito tabemáculo mencionado no verso 11”. A NVI conseguiu dar o sentido
correto para p r o t ê s k ê n ê com a expressão “earlier tent” (tabemáculo anterior). Devemos obser
var que Josefo (Contra Apion 11.12) usa p r o t ê s k ê n ê no mesmo sentido de “tabernáculo antigo”
(i.e., o santuário terrestre precedendo o templo salomônico).
159 A. P. Salom, “Ta liagia in the Espisrle to the Hebrews”, AUSS (1967):64-65; veja p.
59-70 para uma completa exposição desse tema. Juntamente com a evidência comparativa
da LXX citada por Salom, observe também como os outros escritores gregos usam o plural
ta liagia para denotar o santuário como um todo; Filo (Fuga 93) e Josefo (Jcwish Wars 2341)
também o aplicam ao santuário terrestre como um todo, enquanto Sibyline Oracles, 3: 308,
T ip o l o g ia n o l iv r o d e H e b r e u s
o aplica para o santuário celestial como um todo. Para considerações adicionais sobre as
possíveis aplicações do plural, veja Hasel, “Observations on Hebrews 9 ”, p. 3-5; veja tam
bém no Apêndice A deste volume uma reedição do estudo de Saloin.
Io° Veja Kent, p. 168; J. H. Davies, A Letter to cke Hebrews, Cambridge Bible Commentary,
ed. P. R. Ackroyd, A. R. C. Leaney, e J. W. Packer (Cambridge, 1967), p. 86.
161 George Rice, “The Chiastic Structure o f the Central Section o f the Epistle to the
Hebrews", AUSS 19 (1081):243-246.
162 Para uma consideração do assunto “véu” em Hebreus 6 e 10, e o problema do aces
so à presença de Deus, veja especialmente Hasel, “Observations on Hebrews 9", p. 14-19.
Em várias considerações filológicas torna-se evidente que as referências à entrada para além
do interioT do véu em 6:19 e 10:20 poder incluir algo mais abrangente que somente o véu
diante do santíssimo; ao mesmo tempo, é visto que a presença de Deus não é limitada ao
“santíssimo. Levando em conta o fato de que o autor de Hebreus em 9:3 usa “segundo véu”
ao se referir especificamente ao véu diante do santíssimo, é muito provável que em 6:19,
20 a referência seja ao véu diante do lugar santo, ou talvez num sentido geral para ambos
o(s) véu(s) diante dos lugares santo e santíssimo. Mas, mesmo que o autor de Hebreus esteja
sendo coerente com o uso da LXX em 6:19, e tiver em mente o véu diante do santíssimo
-exc-lusivamentth-isso-ainda ficaria correlacionado-com a tipologia-da-inauguração, que_no_
“tipo" do AT incluía a entrada no santíssimo bem como no lugar santo.
163 Isso vai contra Ford, que argumenta que “os versículos 13-22 de Hebreus 9 não se
desviam do dia da expiação” (p. 146). Veja Hasel, “Observations on Hebrews 9”, p. 9-12,
para mais discussões sobre este assunto. Para argumentos contra o ponto de vista da inau
guração, veja Johnsson, p. 86-87 neste volume.
164 Veja também Hebreus 7:27 e 10:11, onde os serviços diários do santuário terrestre
(em particular os sacrifícios diários) são comparados com a obra de Cristo.
165 Para o tema do reinado, veja também Hebreus 1:5, 8, 9; 2:7; 8:1; 12:2. As refe
rências a “sentar-se à destra” do Pai servem para indicar, não tanto a posição física real de
Cristo, mas sua autoridade (cf. SI 45:9; 109:31; 110:1, 5; Mt 20:21, 23; 26:64; Mc 16:19; At
2:34; Cl 3:1; 1Pe 3:22).
166 William Johnsson, “Day of Atoncment Allusions”, cap. 6 deste volume.
167 Veja a citação completa na p. 168.
168 Em Ellen G. White, Primeiros Escritos (Tatui, SP, 1999), p. 252: “Foi-me também
mostrado um santuário sobre a Terra, contendo dois compartimentos. Parecia-se com o do
Céu, e foi-me dito que era uma figura do celestial.”
169 Ibid., p. 253: “E na sabedoria de Deus os pormenores desta obra nos foram dados
para que pudéssemos, volvendo um olhar para-as mesmos, compreender a obra de Jesus no
santuário celeste.”
C a p ít u l o 8
T ip o l o g ia a n t it é t ic a
OU DE CORRESPONDÊNCIA?
A lberto R. T r e iy e r
inopse editorial. Mesmo o leitor desatento de Hebreus percebe que seu autor
S apostólico está comparando e contrastando o sistema levítico (primeira aliança;
santuário terrestre; sacrifícios de animais; sacerdócio humano) com o novo sistema
de adoração inaugurado por Cristo (nova aliança; santuário celestial; a própria
morte expiatória de Cristo e seu sacerdócio).
Eruditos que consid eram que a epístola sofreu in flu ên cia do pensa
m ento grego interpretam -na com o um ataque ao sistema levítico e vêem-na
com o um exem plo ú n ico de tipologia an titética. A ruptura entre o sistema
do san tu ário levítico e o m inistério celestial de C risto é considerado mui
to profundo para p erm itir qualquer correspond ên cia significativa entre os
dois. Pela lógica, tal posição rejeitaria um m inistério sacerdotal de C risto
em duas fases.
O autor deste capítulo demonstra com o a posição da tipologia antitética
é errônea e defende uma tipologia de correspondência. Embora os contrastes
entre os dois siscemas salientem a aliança “superior” e o santuário “superior”,
o sacrifício “superior” e o sacerdócio “superior” da era cristã, “superior” não
significa “em oposição a”, mas simplesmente indica algo mais “elevado”, algo
mais "definitivo”.
O apóstolo Paulo retrata o sistema cristão como “mais glorioso ’ ao compará-
lo com o sistema levítico, o qual descreve com o “glorioso” (2Co 3:6-18). Ambos
são “gloriosos” porque ambos revelam a luz do evangelho. O sistema levítico não
ergueu uma barreira para impedir Israel de se aproximar de Deus; pelo contrário,
Deus pediu a seu povo que lhe construísse um santuário a fim de que Ele pudesse
habitar entre eles (Èx 25:8), e para que os pecadores tivessem acesso a Ele por
meio de um sacerdócio legítimo. Mesmo hoje, na nova dispensação - assim como
na antiga - nenhum crente pode entrar corporalmente na presença de Deus. Em
T ip o lo g ia a n t it é t ic a o u d e c o r r e s p o n d ê n c ia ?
E sbo ç o d o c a p ít u l o
1. Introdução
2. Correspondência em contrastes
3. Limitações na tipologia
4. Sacrifício: contraste e correspondência
5. Santuário levítico: uma barreira à aprcodmação de Deus?
6. Limitações fundamentais do sistema antigo
7. Conclusões
I n tro du ção
Não se pode negar que o autor de Hebreus, de fato, contrasta o novo sistema
com o antigo. Por exemplo:
1. Os sumos sacerdotes do A T “são feitos sacerdotes em maior número, porque
são impedidos pela morte de continuar.” Em contraste, Cristo que “continua para
sempre, tem o seu sacerdócio imutável” (Hb 7:23-24).
2. Os sumo sacerdotes do A T tinham “de oferecer todos os dias sacrifícios
- primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo”. Já Cristo não teve
necessidade de oferecer sacrifício por si mesmo, e fez apenas um sacrifício, ao
oferecer-se a si mesmo (Hb 7:27).
3. Os sumo sacerdotes do A T eram “fracos”. Cristo, como sacerdote designado
por Deus, foi “perfeito para sempre” (Hb 7:28).
4. Os sumo sacerdotes do A T não podiam remover o pecado; dai a repetição
dos sacrifícios ano após ano (Hb 10:1-4). Cristo se ofereceu para sempre com o um
único sacrifício para remover o pecado (Hb 10:10-12, 14).
5. Os sumo sacerdotes do A T serviram “figura e sombra das coisas celestes”
(Hb 8:5) e dos “bens-vindouros” (Hb 10.T). Cristo ministra no próprio santuário
— ceies t ia 1re-verd ade ire-{H b-8r2, - 5 ) —
Mas, por que o apóstolo faz esses contrastes? Resposta: Esses contrastes fazem
com que o leitor veja que o ministério .de Cristo é superior e mais pleno que o dos ,
sacerdotes terrestres. Seu propósito não é negar a correspondência tipológica entre
os dois sistemas.
Há agora uma “superior aliança”, “com base em superiores prom essas”
que perm item um “m inistério tanto mais excelente” (Hb 7 :2 2 ; 8:6 ), e tem
“sacrifícios superiores” (9:23). A idéia de coisas superiores não significa ne
cessariam ente oposição,' mas sim -algo superior,- de -maior valor, algo mais
am plo e d efinitivo.
C o r r e s p o n d ê n c ia e m c o n t r a s t e s
Isso demonstra que o autor de Hebreus não teve nenhuma intenção de violar a
tradição bíblica. Pelo contrário, cada vez que aparece um contraste entre ambos os siste
mas, ele fundamenta seu argumento no AT para mostrar que embora alguns detalhes
do sistema levitico não possam se adequar perfeitamente ao ministério de Cristo, eles
foram previstos e esclarecidos anteriormente nas mensagens proféticas.6
O esquema tipológico é então retomado. O antigo é projetado para o novo.
Há correspondência entre ambos. Tanto Meiquisedeque com o Davi são tipos ou
figuras de uma dimensão no futuro ministério do Messias que o sacerdócio arõnico
ou levitico não poderia representar adequadamente.
L im it a ç õ e s n a t ip o l o g ia
estava no futuro. É por isso que os evangelhos afirmam que Jesus era o “Filho de
Davi”,H e Paulo afirma mais tarde que Jesus é o Filho de Davi “segundo a carne".15
Mesmo depois de sua ressurreição e ascensão, João continua identificando Jesus
com Davi.16
Apesar dessas correspondências, o ministério de Jesus é muito superior ao
de Davi. Em correspondência com Davi, mas numa maior e mais majestosa pro
porção, Jesus “regerá" as nações “com vara de ferro” em sua segunda vinda.17 Isso
demonstra que apesar das limitações do reino de Davi para representar a Cristo, o
ministério real de Cristo no Céu e na terra renovada corresponde com o de Davi e
não é contrário a ele.18 Davi reinou em Israel e subjugou todas as nações inimigas;
Jesus reina hoje em sua igreja - o Israel espiritual19 - e subjugará as nações por
ocasião de sua vinda.20
Qual é, então, o problema que o escritor apostólico enfrenta em Hebreus? Ele
tem de quebrar todas as ligações com a “figura”, “tipo”, “modelo, e “parábola” do
sistema levitico? Não. Em vez disso ele mostra que apesar de Jesus não pertencer
à tribo de Levi, Ele pode e cumpre os tipos do modelo levitico porque Ele é, ao
mésmcTtempo, rei e sacerdote.
C om o tipologia, o sacerdócio de Melquisedeque teve também limitações
quecontrastaram com-a-realidade do sacerdócio de Cristo. Vimos a ausência de
ofertas de pecado. Notamos outro exemplo: os escritores da Bíblia, especialmente
Mateus e Lucas, registram a genealogia d e Jesus. Mas nada é dito sobre a de Mel
quisedeque.21 Devemos então considerar que Melquisedeque é superior a Cristo?
De forma alguma.
A mudança da lei levítica com relação ao sacerdócio (ou seja, sua abolição, Hb
7:11-19), provocada pela instituição da ordem de Melquisedeque, tinha a ver com
seu aspecto hereditário. Somente um sacerdote da linhagem de Arão poderia atuar
legitimamente. Para estabelecer a legitimidade desta mudança no sacerdócio e, ao
mesmo tempo, preservar a correspondência tipológica entre o sacerdócio de Cristo e
o sacerdócio arônico, o apóstolo apresenta três linhas fundamentais de evidência.
1. Embora Cristo pertença à tribo de Judá, Ele pode cumprir os tipos repre
sentados pelo sacerdócio levitico, porque - como Arão - o próprio Deus chamou-o
para ser sumo sacerdote (Hb 5:4-6).
2. A mudança na ordem do sacerdócio foi predita por Deus na mensagem
profética de Davi (SI 110:1, 4).
3. Assim como Melquisedeque, que supostamente não tinha “princípio de
dias nem fim de existência” (Hb 7:3), Jesus pode oficiar como sumo sacerdote com
base em sua “vida indissolúvel” (Hb 7 :16).
Este último aspecto do ministério de Jesus (uma vida eterna) não poderia
ser cumprido pelo sacerdócio levitico (Hb 7:23), nem segundo o reino davidico
t ip o l o g ia a n t i t é t ic a o u d e c o r r e s p o n d ê n c ia ?
(Atos 2:29); nem por Melquisedeque, mas só em tipo. É por isso que uma vez que
Melquisedeque aparece no registro bíblico sem genealogia, é dito que ele foi “[feito
semelhante] ao Filho de Deus” (Hb 7:3). Isso prova que Jesus é considerado pelos
Hebreus não somente superior a Levi e a Davi, mas também a Melquisedeque.
S a c r i f í c i o *, c o n t r a s t e e c o r r e s p o n d ê n c i a
S a n t u á r io l e v ít ic o : u m a b a r r e ir a à a p r o x im a ç ã o d e D e u s ?
gue substitutivo que Ele apresenta em favor áeles diante de D eus.'7 Essa entrada na
realidade divina em nome do povo de Deus tem dois momentos: o presente, que é
espiritual e realizada mediante a fé, e o futuro, que é físico e se dará no retorno de
Cristo (Ap 3:12, 21).
É por isso que o israelita não precisava entrar no interior do santuário terrestre
para se aproximar de Deus.73 O simples ato de vir ao pátio do santuário colocava-o na
presença de Deus.29 As expressões “diante de Deus” ou “na presença de Deus” (lignê
Yahweh) são usadas com relação ao santo dos santos30, ao lugar santo31, ao pátio32, e
nos exemplos excepcionais, além do véu.33
Além disso, o serviço do próprio santuário funcionava em favor dos pecado
res penitentes. Embora o santuário tivesse épocas determinadas para certos ritos,
seu serviço não estava limitado pelo tempo. Por exemplo, o principal ofício do
sacerdote no lugar santo envolvia a intercessão pelo povo por meio do ritual do
incenso.34 O ritual diário foi descrito como tãmíd (“continuo”),35 isso porque o
incenso, como também o fogo das lâmpadas e o pão da proposição,36 permaneciam
contínuamente diante de Deus.
O incenso que queimava continuam ente no altar perm itia que o mlnisté-
rio intercessório do sacerdote fosse realizado continuam ente (de maneira sim
bólica), em bora ele próprio não permanecesse fisicam ente no interior o dia
todo. Algo sem elhante acontecia com o tãm íd (“co n tin u o ”) altar do holocausto.
•Gs méritos do sacrifício sempre estavam disponíveis dia e noite porque o fogo
nunca se apagava.37
Dessa maneira, o sistema antigo resolveu o problema da limitação huma
na do sacerdócio, e até providenciou uma forma para que aqueles que eram
impedidos de virem ao templo para invocar este ministério se apresentassem de
um modo espiritual diante de Deus (lR s 8:44-52). Foi por isso que Salomão pe
diu em sua oração, na inauguração do templo, que os olhos de Deus estivessem
“noite e dia” sobre aquela casa, ouvindo as súplicas do povo, e concedendo-lhes
perdão (lR s 8:29-30). E foi isso o que o apóstolo em Hebreus também percebeu
quando interpretou brevemente o antigo serviço de adoração, dizendo que os
sacerdotes “entram continuam ente” no lugar santo para realizar os rituais de
adoração em favor do povo.
Isto significa, então, que o apóstolo entendeu mal a mensagem do sistema
antigo ao o contrastá-lo com o novo inaugurado por Jesus Cristo? Ele realmente
disse que os israelitas não poderíam ter acesso a Deus em nenhum momento?
Sua mensagem poderia ter sido aceita num ambiente judeu contendo um erro
tão evidente a respeito do conteúdo e propósito da adoração antiga?
Pode-se dizer o seguinte sobre a adoração levitica com respeito a tirar os peca
dos: a “parábola” terrestre mostrou que por meio desse ministério os pecados eram
T ip o l o g ia a n t i t ê t ic a o u d e c o r r e s p o n d ê n c ia ?
L im it e s b á s ic o s d o s is t e m a a n t ig o
Não há dúvida de que a epístola esboça aqui o limite básico do culto an
tigo. Essa adoração era só uma parábola, uma sombra e figura que ilustra
vam as verdades vindouras; mas nunca poderíam ser a própria realidade, a
qual é sempre superior.39 Até que essa realidade representada chegasse, os
—mesmos sacrifícios seriam -inftnitamente repetidos e gerações de sacerdo
tes iriam e viriam; pois, com o eram sujeitos à morte, não poderíam continuar.
No final das contas, esta é a razão de sua inutilidade (Hb 7:18) e da neces
sidade de uma reforma ( 9 :10). Quando o sacrifício pelos pecados deixaria de ser
oferecido?40 É evidente que se buscamos uma redenção total e definitiva, o sistema
~~ figu rati vo~de saerifiuiosAena-q ue~ter mi nar -algu m d ia (Hb 10r24^Isto-aconteeeria-
quando o pecado fosse tirado na realidade - e não figurativamente - por um mi
nistério superior.41
O sacrifício e ministério sacerdotal superiores chegaram com o primeiro
advento de Cristo. O fato de Jesus ter oferecido sacrifício “uma vez" (7:27), o
que nunca será repetido, prova que “agora,” na nova dispensação, o pecado foi
completamente expiado (Hb 10:1-14). Além disso, seu sacerdócio não terá que
ser substituído por outro, porque Ele “continua para sempre" (Hb 7:24). Jesus
não precisa sair ou entrar no santuário para oficiar pelo povo. Em virtude de seu
próprio sacrifício, que não será repetido, Ele “vive sempre para interceder por
eles”42 “até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por
boca dos seus santos profetas desde a antiguidade” (At 3:21).
Isso não significa que na nova ordem, em contraste com a antiga, o crente
não precise realizar nenhum tipo de purificação. Hoje, também, é necessário
aproximar-se do santuário para limpar o coração “de má consciência”, lavar o
corpo “com água pura",43 e oferecer continuam ente a Deus “um sacrifício de
louvor” (Hb 13:15-16).
Mas, no lugar de se aproximar de um santuário terrestre simbólico do qual
Deus já se retirou,44 o crente deve se aproximar diretamente do santuário celestial.45
Lá, é realizado um serviço que, por natureza, pode aniquilar para sempre o pecado.
Em suma, pode-se dizer que, em contraste com a necessidade de se repetir
interminavelmente os mesmos sacrifícios no antigo sistema, Jesus iniciou um mi
nistério único capaz de exterminar o problema do pecado para sempre com um
único sacrifício e ministério. .Assim, fica claro que Jesus cumpriu todo o objetivo
A IU Z DE HEBREUS
C o n c lu sã o
É verdade que a adoração levitica tinha certos limites que não lhe permitiram
realizar uma libertação definitiva do pecado e ter uma aproximação total de Deus.
Mas, esses mesmos limites que deveríam refletir toda a realidade divina também
foram compartilhados por todas as instituições tipolõgicas de Israel, incluindo a do
sacerdócio de Melquisedeque. Todavia, as correspondências entre o sistema levítico
e o de Cristo não são negadas. Até mesmo nesses exemplos, onde aparecem certas
incongruências, previsões dc A T esclareceram cs ajustes para manter as correspon
dências gerais entre os dois sistemas.
Portanto, é incorreto referir-se à tipologia de Hebreus como antitética ou ti
pologia de oposição e negar a correspondência que o livro faz entre a instituição
levitica e o sacerdócio de Jesus. Também é incorTeto atribuir essa s\iposta antítese a
uma influência platônica sofrida pelo autor. A idéia de coisas superiores não envol
ve necessariamente a idéia de oposição entre os sistemas celestial e terrestre.
Embora a instituição davidica tivesse limitações, ninguém nega sua correspon
dência típica ao reinado de Cristo. Igualmente, o sistema arônico tinha limitações,
mas o autor de Hebreus reconheceu claramente suas correspondências fundamen
tais com o sacerdócio de Cristo. Apesar do passado histórico de Israel, tão caracte
rizado pela debilidade humana, Cristo foi coroado rei como Davi e ordenado sumo
T ip o lo g ia a n t it é t ic a o u d e c o r r e s p o n d ê n c ia ?
N otas
16 Hb 13:14. G. E. Ladd, A Theology o/the hlexv Testament, (Grand Rapids, 1974), p. 576.
27 Hebreus 5:1-3; 4:14-16; 8:3; 10:19.
78 Com respeito à natureza spiritual desse acesso, veja Romanos 5:2; Efésios 2:18;
3:12, etc.
29 Levitico 1:3; Juizes 21:2.
,0 Levitico 16:13.
11 Levitico 4:6-7; Êxodo 28:29, 35.
’2 Levitico 4:4,15; 16:7, 12.
3) Juizes 21:2; 2 Samuel 21:9.
34 Êxodo 30:7-8; cf. Lucas 1:9-11, 21.
35 Êxodo 30:8; 28:29-30, 38, etc.
36 CL Êxodo 25:30; Números 4:7; Levitico 24: 2 4 .
37 Êxodo 2 9 :3 8 4 2 ; Levitico 6:9, 12-13.
38 Levitico 16:20-22; veja Alberto Treiyer, Le Jour dês Expiatiuns, et la Purification Du
Sanctuaire (tese doutorai, Strasbourg, 1982), p. 157-62, etc.
39 Cf. Hebreus 10:1.
----- ^ C f H e b r e u s 4 0 :1 8 .--------------
41 Hebreus 9:26.
42 Hebreus7_25.
43 Hebreus 10:21-22; cf. 9:10, 14.
44 Cf. Mateus 23:38; 27:51.
45 Hebreus 10:19-22; 12:22-24; 7:25; 4:16.
40 2 Corintios 3:7-11; cf. Hebreus 12:18-21.
C a p ít u l o 9
T eologia do santuário
A lw yn P. S a l o m
produto genuíno da mensagem original e estar de acordo com ela. Escritos inspira
dos têm um nível de importância maior para as gerações seguintes, entretanto, essa
importância está atrelada à intenção original do escrito.
A epístola aos Hebreus parece dirigir-se aos judeus cristãos que estavam sendo
confrontados com a enorme brecha existente entre o judaísmo e o cristianismo,
perseguições contínuas, necessidades econômicas, e com o que consideravam ser
uma demora da volta do Senhor. A tentação de abandonar a fé cristã e retom ar ao
judaísmo e a seu templo era forte.
Em resposta, o autor de Hebreus sente uma preocupação pastoral de restau
rar a abalada fé de seus irmãos no Cristo vivo que agora ministra em favor deles
como sumo sacerdote na presença de Deus no santuário celestial. São enfatizados
-dois pontos essenciais: (1) A Importância do Calvário para a salvação. Apenas
o “sangue superior” do sacrifício único e eficaz de Cristo é capaz de purificar o
crente dos seus pecados; (2) O acesso livre e direto a Deus por meio do sumo
sacerdócio de Cristo. Essas nobres verdades são demonstradas por meio da com
paração que o autor faz delas com os sacrifícios repetitivos e ineficazes oferecidos
no sistema dtrcultcrisfaelitay e‘com seu limitado acesso a Deus.
Hebreus ressalta a realidade do santuário celestial e o ministério de Cristo
na presença de Deus, verdades válidas para os cristãos de hoje, assim com o para
os do primeiro século. O autor parece usar as cenas do dia da expiação para dei
xar claro o fato de que a morte e o sacerdócio de Cristo abriram “um cam inho
novo e vivo” que leva à presença de Deus; todas as barreiras entre o Céu e o
crente foram removidas.
Contudo, a cerimônia do dia da expiação não constitui um tema relevante
na epístola. Há alusões ao rito diário, bem como ao anual e referências a outros
elementos do sistema. Não há tentativa alguma de se desenvolver considerações
sobre qualquer aspecto dos serviços. Pelo contrário, o claro objetivo do autor
é demonstrar aos seus ouvintes a total inadequação do sistem a tip icc. Até mes
mo em suas funções mais solenes (como o dia da expiação), o sistema típico é
simplesmente incapaz de solucionar o problema do pecado.
O único elemento temporal que aparece na epístola destaca o caráter tempo
rário do santuário israelita, o qual deveria funcionar apenas até a vinda de Cristo
e sua morte expiatória, e inicio de seu ministério sacerdotal com o rei-sacerdote no
santuário celestial. É em Cristo que a fé dos leitores deve se apoiar enquanto con
tinuam a corrida espiritual.
Uma vez que este é o ponto central da epístola, naturalmente o resultado é que
embora Hebreus nos forneça valiosas idéias da doutrina do santuário, ele não fala dire
tamente sobre as duas fases do ministério sacerdotal de Cristo ou sobre o tempo profé
tico do início do julgamento final. Mas, tampouco invalida essas verdades encontradas
A LUZ DE HEBREUS
em outras partes das Escrituras. Hebreus forneceu outra seção no todo da verdade
bíblica, mas não é o todo. Outras verdades têm suas seções dispostas em ordem a fim de
formarem um todo harmonioso. Hebreus eleva a fé cristã rumo ao Céu para evidenciar
o nosso sumo sacerdote vivo - uma verdade que precisa ser ouvida continuamente.
E s b o ç o d o c a p ít u l o
1. Introdução
2. Interpretação de Hebreus hoje
3. O santuário celestial em Hebreus
4. O ministério celestial de Cristo em Hebreus
5. “A destra de Deus”
6. “Livre acesso”
7. Alusão ao “dia da expiação"
8. O ministério de duas fases e os acontecimentos no tempo
9. Conclusões
Introdução
I n t e r p r e t a ç ã o d e H e b r e u s h o je
Sig n if ic a d o p a r a o s p r im e ir o s l e it o r e s e a p l ic a ç õ e s p o s t e r io r e s
Este principio, com as limitações que contém, deve ser aplicado às passagens
de Hebreus que possam referir-se aos pontos teológicos adventistas; isto é, ao se
chegar a uma interpretação destas passagens, é importante assegurar que a aplica-
A LUZ DE HEBREUS
O CONTEXTO EXTERNO
O CONTEXTO INTERNO
Dois temas (entre outros) têm uma importância especial para a compreensão
dos destinatários: a centralidade e a singularidade do Calvário e o “acesso direto”
do crente a Deus por meio de Cristo.10 O Calvário é importante pelo que ele é em
si; mas ele também é importante pelo que ele significa como precursor do ministé
rio celestial de Jesus.11 O acesso a Deus é enfatizado por repetidos contrastes entre
o ministério celestial de Cristo e o sistema levitico.12
Essas,1então, são as peTguntas que devemos ter em m ente ao abordarmos as
passagens de Hebreus que tenham especial importância para a teologia adventista
do "santuário”. O que o escritor estava dizendo para os primeiros destinatários? O
que isso significa para nós hoje à luz da “dimensão do sentido e da importância”?
Nossa interpretação de Hebreus está em harmonia com a mensagem original da
passagem em questão? O que Hebreus diz direta ou indiretamente que seja impor
tante para a teologia adventista? Hebreus não diz nada a respeito ou nega a teologia
adventista em todos os aspectos? Vamos aos pontos.
“Embora ele não faça uma descrição do santuário celestial e da liturgia, sua linguagem
parece sugerir várias conclusões. Primeiro, ele confirma suas realidades. Sua preocu
pação ao longo do sermão é fundamentar a convicção cristã em fatos objetivos, como
vimos. A deidade real, a humanidade real, o sacerdócio real - podendo-se acrescentar,
um ministério real em um santuário real.”13
Função e m d e t r im e n t o d a f o r m a
O M INISTÉRIO CELESTIAL DE C R IS T O EM H E B R E U S
sobre a atual obra de nosso grande sumo sacerdote. Nos capítulos 8-10, em par
ticular, e em vários versículos nos capítulos 4, 6, 7 e 13, o autor descreve a obra
celestial de Cristo.
“ À DESTRA DE D E U S ”
Em cinco lugares de Hebreus (1:3, 13; 8:1; 10:12; 12:2), o nosso autor fala de
Cristo sentado “à destra de Deus” após a sua ascensão. Esta afirmação faz parte de
um tema maior do N T que inclui um total de 19 passagens.33 O contexto de três
passagens (Mc 16:19; E f 1:20 e lPe 3:22) claramente indica que Cristo assumiu essa
posição em sua ascensão. E também importante observar que os vários contextos
~õnde aparece a expressão “à destra de Dèus” são cúlticos por natureza,34 o que
sugere que a expressão se refere a algo além da inauguração, dedicação e exaltação
de Cristo no santuário celestial, mas pode algumas vezes incluir também uma refe
rência à sua obra continua como sumo sacerdote.35
A repetição deste tema em Hebreus teve, sem dúvida, o objetivo de conven
cer seus leitores da importância do ministério celestial de Cristo. Alguns estavam
vacilantes em sua determinação de se manter firmes na nova fé. O escritor lhes
assegura que aquele a quem aceitaram como salvador é o mesmo que ministra em
favor deles na presença de Deus.
Também é freqüente em Hebreus a implicação de que se seu sumo sacerdote
está na presença de Deus, há acesso total e livre à presença divina.36 Tal garantia é
fornecida por esses versículos que afirmam ainda que nosso Senhor e Salvador não
está de modo algum separado do Pai - Ele está em sua presença.
O tema “à destra de Deus” declara que Cristo tem ministrado na presença de
Deus desde sua ascensão. Isto não nega a possibilidade de um ministério celestial
de duas fases, entretanto, negaria qualquer visão literalista do santuário celestial
que limitasse Cristo a um compartimento separado de Deus. Este tema foca tanto
o lugar como a natureza do ministério de Cristo.
Sa n t u á r i o t e r r e s t r e : acesso l im it a d o a D eus
Sa n t u á r io c e l e s t ia l : l i v r e a c e s s o a D eus
28; 10:l-4)41
A l u s õ e s a o d ia d a e x p ia ç ã o
Em concordância com esta visão pode-se dizer que mesmo as “coisas que estão nos
céus", até onde incorporaram as condições da vida humana, contraíram pela Queda
algo que requeria purificação.48
As alusões ao dia da expiação em Hebreus, portanto, não são para mostrar que o an-
titipico dia da expiação começou na ascensão... Antes, a argumentação oscila no valor
relativo do sacrifício, contrastando o ápice do ritual do AT com o sacrifício excelente de
______ lesus Cristo no Calvário.sâ______________________________________________________
Sem identificá-la como tal, Hebreus fala claramente da primeira fase do minis
tério celestial de Cristo. Hebreus 7:25 discute o ministério intercessório de Cristo
de forma um tanto explicita. Além disso, 4:14-16 implica fortemente em sua inter-
cessão para aqueles que se aproximam do trono de graça em busca de “misericór-
dia e graça .
Sa n t u á r i o s - c o n tr a s te d e eras?
Hebreus não aborda diretamente a questão das duas fases do ministério ce
lestial de Cristo. Esta não é sua preocupação. Johnsson coloca a questão dessa
forma: “Podemos dizer que Hebreus dá uma abertura para a obra de duas fases de
Cristo, mas não a discute. O autor faz alusão a um julgamento futuro [9:27; 10:30,
31; 12:25-271, mas não vai além - seu interesse está no que Cristo já fez e em seu
presente ministério celestial.”65
TEOLOGIA DO SANTUÁRIO
Esta visão é apoiada pelo The SDA Bible Commentary quando, ao discutir as
duas fases do ministério celestial de Cristo, diz: “Dificilm ente encontrarem os no
livro de Hebreus uma apresentação definitiva sobre o assunto.”64 O utra declara
ção adventista recente tem posição semelhante: “Há também um consenso geral
de que nem Daniel nem um ministério de duas fases são abordados na epístola
aos H ebreus."65
Novamente, Hebreus não aborda a questão de tempo futuro. Além de refe
rências ao segundo advento e alusões gerais ao julgamento futuro, ele não trata do
futuro. Hebreus está mais preocupado em olhar para trás, para o que foi realiza
do no Calvário e fazer seu apelo aos primeiros leitores com base nisso. “Ele está
certo da realidade do ministério sumo sacerdotal de Cristo no santuário celestial,
mis"sua argumentação volta-se basicamente para trás, para o que já aconteceu no
Calvário.”66 Hebreus não dá dicas sobre acontecimentos escatológicos no tempo.
"D e fato, Hebreus não está preocupado com a questão do tempo; mas concentra-se
na toda-suficiência do Calvário.”67
C o n clu sõ es
N otas
22 Ibidem.
23 Ibidem. Também “não devemos pensar literalmente em um tabemáculo no Céu,
erigido por Deus” - T h e D S A B ib le C o m m en tary , 7:444
24 Johnsson, “O Santuário Celestial,” p. 46, neste livro.
25 Francis D. Nichol, ed., T he SDA Bible C om m en tary (Washington, DC, 1980), 7:468.
20 Johnsson, “O Santuário Celestial”, p. 46, neste livro.
Idem, In A b so lu te C tm fid en c e, p.91. Isto não deve negar que a ilustração da sombra
nos apresenta importantes aspectos sobre o ministério de Cristo, tais como as duas fases de
seu ministério que correspondem à ministração nos dois compartimentos. -Ed.
28 Merrill C. Tenney, New T estam en t Survey, rev. ed. (Londres, 1961), p. 362.
29 Brooke Foss Westcott, T h e E pistle to th e H ebrew s: T h e G r e e k T ext W ith N otes a n d Es-
says, 2* ed. (Londres, 1892), p. 257.
30 Ibid., p. 229.
31 George Wesley Buchanan, To the H ebrew s, AB (Garden City, NY, 1972), p. 162.
32 Ibid.
33 Veja também Marcos 16:19; Efésios 1:20; Colossences 3:1. Apocalipse 3:21 diz o
mesmo, com uma pequena variação. As seguintes passagens dizem que Cristo está à destra
de Deus sem usar o verbo “sentar-se”: Mateus 22:44 (e paralelas - Marcos 12:36; Lucas
20:42); Atos 2:33-34; 5:31; Romanos 8:34; 1 Pedro 3:22; Atos 7:55, 56.
34 Veja A. P. Salom, “Exegesis of Selected Passages in Hebrews 8 and 9" (trabalho não
publicado, Glacier View, 1980), p. 22-23.
35 Para uma visão um pouco diferente, veja o relarório da Comissão de Daniel e Apo
calipse neste livro, p. 4.
36 Veja Hebreus 4:14, 16; 7:19, 25; 10:22.
37 Veja também Hebreus 10:19-20.
38 Veja Salom, p. 17-19; e Norman H. Young, “The Checkered History o f the Phrase
W ithin the Veil’" (trabalho não publicado, Avondale College, 1974), p. 1-13. Veja também
Erwn R. Gane, “Within the Veil: where did Christ go?” Ministry, dezembro 1983, p. 4-7.
39 “’No interior do véu’ refere-se à imagem simbólica da presença de Deus numa apli
cação do dia da expiação em vez do cumprimenro antitipico do tipo do AT. Esse modo de
dizer de forma nenhuma exclui nosso entendimento quanto ao ministério intercessório de
duas fases de Cristo no santuário celestial..." Declaração no documento de Desmond Ford
(Glacier View, CO), Adventist Revieu/, 4 de setembro de 1980, p. 9.
40 Ibid., p. 8 (grifo nosso).
41 Comissão do Santuário, “Christ in the Heavenly Sanctuary”, Adventist Review, 4 de
setembro de 1980, p. 14 (grifo nosso).
42 Veja Norman H. Young, “The Impact f the Jewish Day of Atonement upon the
Thought of the New Testament” (Tese de doutorado, Manchester University, 1973); "The
Gospel According to Hebrews 9", NTS 27 (1981): 198-210; Johnsson, “Day of Atonement
Allusions", p. 110-115.
43 Johnsson, “Day of Atonement Allusions", p. 113-114.
A LUZ DE HEBREUS
44 Hebreus 9:7 deveria estar relacionado com o versículo 8 e 9:11, 12 com o versículo 13.
45 Young, “The Gospel”, p. 199.
46 Johnsson, “Day of Atonement Allusions”, p. 119; cf. T h e D SA B ible Commentary, 7:455.
47 Ibid., p. 113.
48 Westcott, p. 270. Buchanan (p. 162) acrescenta: “Também parece um pouco estra
nho pensar no céu como um lugar onde há pecado e contaminação que requer purificação.
No entanto, o auror de Hebreus lidou bem com essa idéia.”
49 Johnsson, “D ay o f Atonement A llu sio n s”, p. 110-115.
50 Veja Hebreus 5:1-3; 7:27; 9:9-10, 12-13, 18-21; 10:8, 11, 29; 11:4, 28; 12:24.
31 William G. Johnsson, “Contaminação e Purificação no Livro de Hebreus” (Tese de
doutorado, Universidade de Vanderbilt, 1973), p. 102-361.
52 Johnsson, “Day of Atonement Allusions", p. 110-115.
53 Ibid., p. 118.
54 “Declaração”, p. 8 (grifo nosso).
55 Ibidem.
56 Johnsson, “Day of Atonement Allusions”, p. 110-115.
___ 57 Veia A. P. Salom. “Ta Hagia m the Epistle to the Hebrews”, AU5S-5(4967):59-65,68.
Veja o Apêndice A.
58 Esta é uma opção de Francis D. Nichol, ed., T h e S D A B ib le C o m m e n ta r y (Washing
ton, D C, 1980), 7:451. Para outros comentários, veja Johnsson, p. 44-45, 109; Kiesler, p.60-
62; Davidson, p. 159-160, neste volume.
50 Veja Desmond Ford, “Daniel 8:14, the Day of Atonement, and The Investigative
Judgment” (trabalho não publicado, Glacier View, 1980), p. 183-864.
60 Westcott, p. 252.
61 Johnsson, “Day of Atonement Allusions", p. 114; também: “Assim, todo o santuário
terrestre, não apenas seu primeiro compartimento era uma analogia da era antiga, no momento
então apresentado...” (Id., “The Heavenly Sanctuary”, p. 47; T h e D S A B ible C om m en tary, 7:451).
62 Embora os resultados finais sejam os mesmos, a Comissão de Daniel e Apocalipse
adotou uma exposição diferente de Hebreus 9:8. Veja o relatório, p. 4-5.
63 William G. Johnsson, “Hebrews, Adventist Storm Centre”, T rim estral d a E scola
S a b a t in a , 30 de setembro, 1981, p. 16.
64 Francis D. Nichol, ed., T h e S D A B ible Commentary (Washington, DC, 1980), 7: 468.
63 “Declaração”, p. 8; e também p. 9: “Esse modo de dizer de forma nenhuma exclui
nosso entendimento quanto ao ministério intercessório de duas fases de Cristo no santuá
rio celestial, o qual a carta aos hebreus nem ensina nem nega.”
66 Johnsson, “Hebrews, Adventist Storm Centre", p. 16. “O apóstolo aqui defini
tivamente não trata da obra de Cristo no santuário celestial a partir de uma perspectiva
temporal" U ohn sson , I n A b s o lu le C o n fid e n c e , p. 116).
67 “Christ in the Heavenly Sanctuary", p.13.
68 Johnsson, ln A b so lu te C o n fid e n c e , p. 116.
A pêndice A
T a ayLa (e suas variantes) aparece num total de dez vezes no NT, sendo todas
na epístola aos Hebreus.1Um exame superficial das traduções e comentários deixa
claro que há uma notável confusão de termos (se não de idéias) entre os traduto
res e os comentaristas ao tratarem esta palavra. A tabela 1 ilustra tais diferenças
de tradução que vão desde a versão King James até a Phillips. Tentou-se escolher
um grupo representativo, incluindo o comitê de tradução, a tradução do discurso
— moderno e a paráfrase. Das dez traduções escolhidas, só há consenso em Um ponto
(9:1). Em seis dos versículos em questão (9:2, 8, 25; 10:19; 13:11) há divergência
quanto a.se .rà ã y i a refere-se ao santuário como um todo ou a. uma ..parte especifica
dele. Das 100 traduções representadas na tabela 1, 65-69 são sobre o santuário em
geral, 11-13 referem-se ao compartimento externo do santuário e 20-22 tratam do
compartimento interno.2
A mesma diferença de opinião surgiu entre os comentaristas,3 sendo necessá
rio explicar que “Lugar santo", em alguns casos, não se refere ao lugar santo, mas
ao santo dos santos!
Tendo em vista que o auctor ad Hebraeos baseou-se tão fortemente na LXX,5
parece o lugar mais óbvio para encontrar provas do significado quanto ao uso de
r à 'áyia. U m estudo da LXX revela os resultados que foram resumidos na tabela 2.
Dos 170 usos diferentes desta palavra, com referência ao tabernáculo ou templo,5
a maioria esmagadora (142) referia-se ao santuário em geral. Quando usada desta
forma, rà à y ia parecia surgir indiscriminadamente no singular ou plural, embora
tenha aparecido com mais freqüência no plural.0 Ao mesmo tempb, deve-se notar
que seu uso foi mais comum no singular ao referir-se ao compartimento interno ou
externo. Em somente quatro exceções, seu uso foi com artigo. Este mesmo padrão
geral parece ter sido seguido (em escala bem menor) em Hebreus.7
"O
au
Rcfercnci;
Phillips
M offat
-G
W uest
Grego
Knox
C CQ
ERV
A SV
R SV
KJV
O UJ
O Z
08:02 ' -TÜ)V CrytüJV ib 1 1 1 i 1 1 1 10 1
09:01 To t e aytov i 1 1 1 1 1 1 1 1 1
09:02 Ayia i 1 2 2 2 2 1 2 2 2A
09:03 Ayia Ayuuv IA IA 3 4 4 4 5 4 4 4
09:08 xcov ayuuv 1 1 1 9 9 1 5 6 7 4
09:12 xa ayta 1 1 1 9 9 2 9 2 4 4
09:24 ayia 1 1 1 9 9 1 10 9 10 10
09:25 xa ayia 1 1 1 9 9 2 9 9 10 4
10:19 xcov ayuuv 1 1 1 9 9 1 1 ”8 4 4
i v : 1-1------ i i 1 9 1“ 9 1 1 2 T 1
E interessante que dos 98 lugares onde esta expressão da LXX é uma tradução
do hebraico, 36 traduzem miqdãs, que designa um santuário em geral.8 Tudo isso
sugere que esta palavra tinha a idéia do santuário como um todo para seu significa
do básico em Hebreus, assim como na LXX.
A LU Z DE HEBREUS
Tabela 2: O uso de xa a y ia na L X X a
Compartimento Compartimento
Santuário externo interno
Número total de usos 142 19 9
Singular 45 13 8
Plural 97 6 1
Com artigo 138 19 9
Sem artigo 4 — ____
1 A exatidão dessa representação, é claro, está sujeita a fatores como leituras diferentes, usos
dúbios e o fator humano.
tíyux, parece que o principal significado aqui é o santuário como um todo, não o
compartimento interno (base do argumento de Koester e Hewitt). Moffatt defende
fortemente esta conclusão.25
No contexto mais amplo da argumentação do autor, a ênfase aqui está na
existência do santuário celestial. Assim com o Israel tinha seu lugar de adoração
e seu sumo sacerdote, então (diz o autor) o cristianismo, em maior escala, tam
bém tem. Nas palavras de M oule, “santuário e sacrifício são nossos”.26 Agora é
certo que a referência no contexto é com relação à função sumo sacerdotal (8:1,
3), e que a especial função do sumo sacerdote estava relacionada com o com
partim ento interno do santuário. Assim, ao passo em que “santuário” deveria
ser a tradução correta de xcovayicov, em um nível secundário, ao menos, pode-se
considerar que o autor tenha tido em vista uma parte especifica do santuário.
9:1. Apresentando-se no inicio da descrição detalhada das partes e funções do
santuário celestial, xo ayiov koouikov obviamente é uma referência ao santuário em
geral, e deveria ser traduzido adequadamente. Assim como destaca Bruce, o autor
baseia sua descrição no “rabernáculo no deserto descrito no livro de Êxodo... o
santuário da antiga nhança”.~Wesn:otr enfatiza que eia dá naturahneute “a noção
geral do santuário sem levar em conta o seu uso em diierentes partes do texto”.25 A
forma singular xo ãyiov não é encontrada em lugar algum em Hebreus; entretanto,
encontra-se com bastante freqüência na LXX.29
,9:2. Considerando correta a leitura "A yia (tà a y t a B.sa), este uso é único. A
importância disso já foi discutido.30 Montefiore lembra que a forma anarthrous é
única em Hebreus, mas falha em não ver significado algum nela.31 De forma inex
plicável (a menos que tenha havia um erro de impressão, ou que ele esteja seguindo
o Textus Recepcus), ele identifica a palavra como a y ta e, então, discute sobre o fato
de ela ser plural neutro ou feminino singular. Ele opta pelo feminino e leva em con
ta que ela é usada como adjetivo que qualifica okijvt). Entretanto, parece estar na
forma neutra e usada como substantivo para referir-se ao compartimento externo
(//xpcoxri mojvrj) do santuário. A descrição dada no versículo quanto ao interior da
sala apóia esta visão.
9:3. Este é o uso mais direto de và á y ta em Hebreus. A forma "Ayta 'Ayícov
(ambas neutro plural) é equivalente ao superlativo hebraico qôcks cfdãsim (san
tíssimo) e, portanto, refere-se ao com partim ento interno do santuário.32 Como
em 9 :2 , a expressão neste versículo é an<srtlirot<s,53 e como em 9:2, refere-se a
uma parte específica do santuário. Isso, é claro, é confirmado pelo contexto
(9:4) que descreve o conteúdo deste com partim ento.
Em 9:8 novamente, o significado básico de ~cc a y ta deve prevalecer na tradução,
de modo que “santuário”, conforme traduzido na Goodspeed, Knox, RSV e NEB, está
correto. O significado abrangente que inclui tanto o compartimento interno e extemo
T a H a c ia n a e p ís t o l a aos H e b r e u s
do santuário explica o uso de f] xpcov] oicrpn) cnajvrj.^ O santuário aqui descrito é o san
tuário celestial do qual o compartimento interno do santuário terrestre é simbólico.35
O meio de acesso ao santuário celestial não estava historicamente acessível,
contanto que o compartimento externo estivesse em pé ou tivesse ainda impor
tância.36 Este compartimento externo representa o limite de acesso a Deus na
experiência de Israel. O comentário de W esrcott é pertinente: “O santuário exte
rior [ou seja; compartimento] era o simbólo representativo de todo o tabem áculo
como um lugar de serviço sagrado.”37 Q uando o santuário terrestre cumpriu seu
propósito na morte de Cristo, o meio de acesso foi historicamente fornecido no
santuário celestial.
9:12. As traduções de KJV, ERV e A SV (“o lugar santo”) e a de M offatt (o
— Lugar santo) e a RSV (“o Lugar Santo”) estão definitivamente erradas. O serviço
característico do dia da expiação referido aqui (compare v. 7) era realizado no com
partimento interno do santuário celestial. Entretanto, posto que o sumo sacerdote
tivesse que atravessar o compartimento externo, poderia-se dizer que ele “empre
gou" (compare v. 11, ôia ri)ç /ueíÇovoç >cai reXeicnkpaç mapin)) todo o santuário neste
serviço. “EnquantcrArãoeseus sucessores adentravanrcrsantissimo terrestre n o d ia
da expiação... Cristo entrou no santuário celestial.”38 Sugere-se, então, que vcc ay ia
seja novamente traduzido como “santuário”, referindo-se ao santuário celestial.
9 :2 4 . Se em 9:12 rà uyux deve ser traduzida com o “santuário”, é eviden
te que deveria ser da mesma forma em 9 :2 4 , pois é descrito o mesmo Local.
O que está na m ente do autor não é uma parte específica do santuário celes
tial, com o se evidencia por sua frase adversativa à V .' e í ç aÒTÓv ròv oúpavòv.
Com entaristas são quase unânimes em consid erar este uso de áy ia com o uma
referência áo santuário celestial com o'um to d o .39
9:25. Com o em 9:12, a tradução “Lugar San to ” (e suas variantes) está errada.
A referência no contexto do serviço do dia da expiação do sumo sacerdote terres
tre não é ao compartimento externo do santuário. Seus sacrifícios característicos
daquele dia eram realizados no compartimento interno. No entanto, mais uma
vez, pelo fato de todo o santuário estar envolvido nesses serviços, “santuário” é a
palavra mais adequada como tradução, enfatizando assim o significado básico da
expressão. Isso deixa aos comentaristas a tarefa de mostrar que o compartimento
interno era o lugar mais importante daquele dia.40
10:19. Inquestionavelmente, o contexto (v. 20) indica que aqui o autor está
se referindo ao privilégio do cristão de livre acesso à presença do próprio Deus,
acesso que foi negado tanto ao adorador quanto ao sacerdote comum no santuário
terrestre. Novamente recomenda-se a tradução de teüv 'ayicov como “santuário”,
permitindo ao leitor ou comentarista, com base no contexto literário e teológico,
tirar suas conclusões quanto a que parte do santuário o autor tinha em mente.
A LUZ DE HEBREUS
13:11. Embora W estcott admita que este versículo possa ser aplicado a outro
ritual que não seja o ritual do dia da expiação,41 é especialmente no capítulo 9 que
vemos a probabilidade de o autor ter este dia em mente. A partir de Levitico 16:27
(conforme verso 2) é possível descobrir que no dia da expiação o sangue do animal
sacrificado era transportado para dentro do compartimento interno do santuário.
Por isso, essa parte do santuário estava na mente do autor. Mas, o uso de ra ayicc
na LXX e a maneira como foi usada em Hebreus nos levaria a traduzi-la mais uma
vez no sentido neutro, “santuário”.
N otas
1 Hebreus 8:2; 9:1, 2, 3, 8, 12, 24, 25; 10:19, 13:11.
: A variação ocorre porque em certas partes a intenção do tradutor não está clara. Pára
evitar a confusão com termos como “Lugar Santo”, “Lugar santo”, “lugar Santo”, “lugar santo",
“lugares santos”, etc., a seguinte terminologia é usada daqui em diante sempre que possível: “san-
, tuário” refere-se ao tabemáculo ou ao templo em geral; “compartimento externo” e “comparti
mento interno” são. usados ernjceferênda ao lugar santo e santo dos santos, tesnecrivaroenfe. A
síntese apresentada acima no texto pode ser dividida da seguinte forma: 8:2 santuário 10 x; 9:1
santuário lOx; 9:2 santuário 3x (?), compartimento externo 7 x; 9:3 compartimento interno 10
x; 9:8 santuário 6 x, compartimento interno 4 x; 9:12 santuário 5 x, compartimento externo 3 x,
compartimento interno 2 x; 9:24 santuário 10 x; 9:25 santuário 7 x, compartimento externo 2
x; compartimento interno 1 x; 10:19 santuário 6 x, compartimento interno 4 x; 13:11 santuário
8 x, compartimento externo 1 x, compartimento interno 1 x.
3 Ver infra, p. 66 em diante.
4 Para uma discussão mais atualizada do uso da LXX em Hebreus, veja Kenneth
J.Thomas, “The Old Testament Citanons in Hebrews”, NTS 11 (1965), 303-25. Veja tam
bém B. F. Westcott, The Epistle to the Hebrews (Londres, 1903), p. 469-80; J. van der Ploeg,
“L’ exégèse de L' Ancien Testament dans 1'Épitre aux Hébreux”, RB 54 (1947), 187 em
diante.; R. A. Stewart, The Old Testament Usage in Philo, Rabbinic Writings, and Hebrews (não-
publicado M. Litt. Tese, Universidade de Cambridge, 1947); C. Spicq, LÉpitre aux Hébreux
(Paris, 1952), 1, p. 330 em diante.; F. C. Syunge, Hebrews and the Scriptures (Londres, 1959);
M. Barth, “The Old Testament in Hebrews”, Current Issues in NT Interpretation, ed. W. Klas-
sen and G. F. Snyder (Nova Iorque, 1962), p. 53 em diante.
5Além disso, havia outros 16 usos que foram construídos com tonos, e 13 nas quais to
'ayiovxüv 'ayiajv (e suas variações) ocorreram. Essas foram tratadas separadamente.
6 As possíveis razões por que a forma no plural foi tão comumente usada não
foram analisadas neste estudo. Ver F. Blass e A. Debrunner, A Greek Grammar o f the
New Testament and Ot/ier Early Christian Literature (trad. e rev. por Robert W. Funk,
Cambridge, 1961), p. 78; Nigel Turner em James Hope Moulton, A Grammar o f New
Testament Greek (Edinburgh, 1963), III, 25-28; J. Wackernagel, Vorlesungen iiber Syntax
mit besonderer Berücksichtigung von Griechisch, Lateinisch und Deutsch (Basel, 1926), I, p.
97 em diante.
T a H a c ia n a e p ís t o l a ao s H e b r e u s
H ebreu s 6:19
A n á l is e d e a l g u m a s s u p o s iç õ e s s o b r e k a t a p e t a s m a
G eorge E. R ic e
K atapetasm a
O tto M ichel reflete o pensamento dos com entaristas ejn geral sobre s no
livro de Hebreus ao declarar que “quando Hebreus fala de ‘véu’... refere-se ao
véu diante do santíssim o,,em harm onia com um uso mais amplo da língua”.1
O s com entaristas apoiam essa posição apelando a Filo e/ou à LXX, conform e
em Levitico 16:2.:
Reimpresso sob a permissão da Andrews University Studies, Spring 1897, vol. 5, N° 1, p. 65-
71, com correções, do autor.
HEBREUS 6:19...
Filo (De Vit. Mes. 3.5), diz Marcus Dods, faz uma disrinção entre os dois véus
do santuário, identificando o primeiro véu com o termo kalumma e reservando ka-
tapetasma para o véu do interior. Dods, então, sugere que é assim que kalapetasm a
deve ser entendido no NT.3
Entretanto, B. F. Westcott aponta que Filo usa esses termos “para uma inter
pretação espiritual”.4 Filo tem liberdade para fazer esta clara distinção do uso de ka
lumma e kalapetasm a em sua alegoria, mas será que sua alegoria reflete a realidade?
Pergunta-se, com base em Flebreus 9:3, onde o véu interno do santuário terrestre
é chamado deuteron kalapetasm a, “segundo véu”? Se o adjetivo numérico deuteron
identifica este véu, é possível que a palavra kuiapetasma não se referisse ao véu inter
no como Filo e Dods sugerem?
Com relação à LXX de Levitico 16:2, sua forma de expressar eis to hagion
esõteron tou katapetasmatos, e a de Hebreus 6 : 19, eis to esõteron tou katapetasmatos,
são de fato bem próximas. Isto levou James M offatt a concluir que Hebreus “usa a
linguagem do ritual de Levitico 162f”, indicando assim que o véu de Hebreus 6:19 *16
é o véu do interior.5 _______________ ____ ______________________________________
Porém, o contexto das duas passagens são completamente diferentes. Levitico
16 apresenta o dia da expiação - um dia de julgamento e acerto de contas. Hebreus
6:13-20 trata da aliança de Abraão e a dispensação de suas promessas aos seus
herdeiros. Devemos impor o contexto do dia da expiação de Levitico a Hebreus 6
na tentativa de identificar o véu de Hebreus 6:19? O fato de que o sumo sacerdote
terrestre atravessou o véu interno durante o ritual do dia da expiação é razão sufi
ciente para entender o termo kalapetasm a em Hebreus 6:19 como o véu interno?
Ou deveriamos permitir que eis to esõteron tou katapetasm atos permaneça dentro do
seu próprio contexto, 'livre da influência de Levitico 16?
Considerando em Filo a distinção entre o véu interno (kalapetasm a) e o
externo (kalumma) do santuário, Westcott admite que esta “distinção entre os
dois não está estTitamente preservada na LXX”.6 O problema na observação de
W estcott é que ele deixa de informar aos leitores até que ponto esta distinção não
é preservada na LXX.
Outros comentaristas reconhecem haver uma discrepância entre o uso de ka-
tapetasma na LXX e a tese geralmente aceita de que quando esta palavra é lida,
devemos entendê-la como o véu interno. Hebert -Braun, por exemplo, usa o ter
mo “meist" neste sentido quando comenta sobre o tou katapetasm atos em Hebreus
6:19: Na LXX, ele diz, este termo é usado “principalmente [meist] para o véu entre
o santo e o santo dos santos”.7Se com “meist” Braun quis dizer que kalapetasm a é
a palavra que é quase sempre escolhida para o véu interno em oposição a qualquer
outra palavra, não há objeção quanto sua afirmação. Mas se ele pretende dizer que
kalapetasma é usada para o véu interno e quase nunca para o véu do pátio, nem para
A LUZ DE HEBREUS
o primeiro véu do santuário, então sua afirmação deve ser seriamente questionada.
Infelizmente, Braun não esclarece o que quer dizer com “meist”.
R. C. H Lenski, por outro lado, não deixa alternativa ao declarar: “O
Kazanexaapa zov vaiov é a cortina interna ou véu que se encontra entre o santo e
o santo dos santos, como os leitores, sendo hebreus, bem sabiam... Mas o termo
normalmente usado para cortina externa era Kod.oppa e apenas ocasionalmente usa
va-se o outro termo.”6
Devido ao fato de que o tabem áculo no deserto forma a base para a discus
são do santuário no livro de Hebreus, uma análise de kalapesmct e kalumma na
LXX se mostrará interessante. Vendo as referências a essas duas palavras em Ha-
tch e Redpath, tem-se uma grande surpresa. Das seis referências ao véu do pátio,
katapetasm a é usada cinco vezes5 e kalumma, uma vez.10Em todas as 11 referências
ao primeiro véu do santuário, katapetasm a é usada seis vezes,11kalumma katapetas
ma, uma vez,12 katakalumma, duas,13 kalumma, uma,we epipastron, uma vez.15 Das
25 referências ao véu interno, katapetasm a é usada 23 vezes,16to katakalumma tou
katapetasm atos, uma vez17 e katakalumma, uma vez.18
Certamente, katapetasm a é usada quase que exclusivamente para o véu interno
(23 das 25 vezes). Mas, o mesmo pode ser dito com relação ao véu do pátio (cinco
de seisvezes)! Katapetasm a é também a escolha da maioria para o primeiro véu do
santuário (seis das onze vezes).
•Em outras palavras, das 42 referências na LXX aos três véus do santuário no
deserto, katapetasm a é usada 34 vezes. Colocando de outra forma: em apenas oito
vezes entre as 42 referências aos véus do santuário katapetasma não é usada sozinha.
Além do mais, em dois outros casos katapetasma é combinada com kalumma, restan
do apenas seis casos de 42 onde a palavra não aparece.
Assim, sem dúvida alguma, katapetasm a é a favorita, não só para véu interno,
mas para o primeiro véu e também para o véu do pátio. E, em vista deste uso de
katapetasm a na LXX, somos forçados a concluir que suposições como a de Lenski
devem ser examinadas. Certamente, os leitores hebreus da LXX estavam cientes de
que katapetasm a era usado predominantemente para todos os três véus, e é indubi
tavelmente por esta mesma razão que Hebreus 9:3 identifica a que katapetasm a está
se referindo por meio do uso do adjetivo numérico deuteron.
To E s õ t e r o n
Como analisaremos a seguir a suposição de que uma analogia com Levitico
16:2 to esõteron em Hebreus 6:19 deve referir-se ao santuário interno, é importante
notar que a omissão de to hagion da frase contida em Hebreus cria uma diferente
sintaxe do que é encontrado em Levitico 16:2. Em eis to esõteron tou katapetasmatos
em Levitico 16:2, to hagion é um substantivo adjetivo e objeto da preposição eis. A
HEBREUS 6:19...
palavra esõteron parece ser uma preposição imprópria seguida por um genitivo de
lugar, como é também verdade em Levitico 16:12,15. Em eis to esõteron tou kata-
petasm atos em Hebreus 6:19, entretanto, to esõteron torna-se um substantivo19, e,
assim, o objeto da preposição eis; e a frase tou katapetasm atos é, novamente, um
genitivo de lugar.
Paul Ellingworth e Eugene A. Nida dizem que “relicário” ou “santuário” deve
ser entendido com o substantivo esõteron, tendo então “santuário interno” ou “san
tíssimo”.20 Porém, isto é válido somente se consideramos que katapetasm a identifi
ca o segundo véu. Entretanto, vimos que katapetasm a é usada predominantemente
para todos os três véus. Então, o esõteron por trás do véu poderia, da mesma forma,
ser tanto o primeiro compartimento do santuário como o “santuário interno”,
-visto que não há nada no contexto de Hebreus 6 que identifique diretamente qual
véu está sendo citado.
A forma comparativa de esõteron em Hebreus 6:19 também não deveria ser en
tendida como indicadora do “santuário interno". As formas comparativas no grego,
nessa época, não eram amplamente entendidas. Isso pode ser visto em Levitico em
16:2, onde o contettü'parada ~fra.se eis fírhagiõn esõrerontõxrkaiapeiasmátos identifica
to hagion como a sala onde se encontrava a arca da aliança, com tou katapetasmatos
sendo, então, o segundo véu localizado antes da arca. Esõteron aqui é entendido
como o simples eso e é traduzida como “interior.” O contexto proíbe qualquer outra
interpretação da palavra esoteron. Da mesma forma, em Hebreus 6:19, esõteron pode
ser entendida como simplesmente “interior”. A forma comparativa não deveria ser
usada de forma abusiva na tentativa de identificar que compartimento encontrava-se
atrás do véu.21
O CONTEXTO DE H EBREU S 6 : 1 9
A LXX tem to hagion esõteron, “o lugar Santíssimo’’. O autor [de Hebreus) ou usou
um texto diferente ou preferiu omitir esta palavra, mas o contexto requer que o lugar
seja entendido como o santo dos santos. A passagem da LXX refere-se à condura de
Arão no dia da expiação. A razão de o autor citar esta passagem é dar continuidade
à sua discussão anterior. A esperança pela qual outras gerações tinham aguardado o
cumprimento, uma .vez.que a promessa foi feira primeiramente a Abraão, poderia ser
cumprida para a geração do autor.22
é a base para nosso entendimento de Hebreus 6:19. Mas, Hebreus 6:19 tem seu
próprio contexto, e devemos permitir que o termo “véu” seja interpretado dentro
desse contexto específico.
Em Levitico 16:2, o contexto identifica katapetasm a como o segundo véu e
to hagion como o “santuário interno”. Também, em Hebreus 9:3 o contexto geral
e o uso do adjetivo numérico deuteron identifica katapetasm a com o o segundo
véu. Mas o contexto de Levitico 16 e Hebreus 9 não existe em Hebreus 6. O fato
de o termo katapetasm a aparecer em Hebreus 6:19 não nos permite presumir que
signifique o segundo véu, pois vimos que esta palavra é usada livremente para os
três véus do santuário.
Então, o contexto de 6:19 nos ajuda de alguma forma a identificar a pala
vra katap etasm a? Hebreus 6:13-20 trata das dispensações das bênçãos da aliança
feita com A braão e seus filhos: (1) Deus jurou por si mesmo que cum priría as
suas promessas (v. 13-16). (2) Para convencer os herdeiros da aliança que Ele
cumpriría sua palavra, Deus fez um juram ento (v. 17). (3) Então, por estas
duas coisas imutáveis somos fortem ente encorajados a reter a esperança (cum-
- prim entcrdas promessas-de Deus) posta diante de nós (v: 18).-(4) A esperança
entra “além do véu”, onde Jesus entrou por nós como sumo sacerdote segundo
a ordem de M elquisedeque (v. 19-20).
Este contexto não trata do santuário em si - ou seja, seus compartimentos,
utensílios, sacrifícios, etc. - nem contém qualquer referência ao dia da expiação,
como no contexto de Levitico 16:2 e Hebreus 9:3. Em 6.-19, katapetasma é simples
mente inserido numa argumentação em tom o da aliança feita com Abraão e as dis
pensações das bênçãos daquela aliança. Não há nada aqui que identificaria o véu
envquestão, mas katapetasma é introduzido simplesmente para dizer onde Jesus está
ministrando - o lugar onde a esperança do povo da aliança está centrado e o lugar
de onde as bênçãos da aliança são dispensadas. Dentro de um contexto mais amplo
da argumentação de todo o livro de Hebreus, poderia parecer que katapetasm a está
sendo usada aqui metaforicamente para o santuário, de onde as bênçãos da aliança
abraâmica são dispensadas.
C o n clu sã o
do segundo véu, com o em Levitico 16:2 e Hebreus 9:3; (4) katapetasm a, dentro do
contexto de Hebreus 6:19 e do contexto mais amplo de todo o livro de Hebreus,
pode ser entendido metaforicamente como o santuário no Céu, ao qual Jesus
adentrou com o nosso precursor, onde a nossa esperança tem acesso, e de onde
Jesus dispensa as bênçãos da aliança abraâmica.
Finalmente, pelo fato de a validade das suposições com relação a katapetasma e
esõteron poder ser scriamente contestada, as suposições sobre Deus e a presença do Pai
no interior do santuário e o significado de ta hagia também devem ser contestadas.
N otas
B
Ballenger, Albion F., argumento “além do véu”, 104-107
D
Descrença/infidelidade, um tema, 17-19
“Destra de Deus, à", 4, 52-53, 202
Expiação, dia da, alusões, debate sobre o, 62-64, 101-115, 194, 204-206
controvérsia sobre o, 104
cumprimento na cruz, 6-9, 93, 101-103 \
duplo cumprimento, 110-111
cenas do, 6
interpretação do, 101-103,110-113
passagens questionáveis, 109-110
Exegese de algumas passagens, 49-73
Hebreus 6:13-20, 6 ,4 4 ,6 8 - 6 9
8:1-6, 52-57
9:1-8, 4-8, 4 2 4 3 , 50, 57-59, 108, 109, 206-207
ÍNDEX
9:11-14, 4 3 4 4 ,6 0 -6 4
9:23-24, 64-65, 89-93, 108
10:14, 108-109
10:19-22, 4 4 4 5 ,6 6 -6 7
iJL
Interpretação, questão da, 33-37
metafórica, argumentação para, 3740
crítica da, 4045
realistica (literal), 4 5 4 6 , 132
J
Julgamento, na cruz, debate sobre o, 9
futuro. 207-208
investigativo, 76,91
K
Katapetasm a (“véu”), 4445
declarações concernetes á sua interpretação, 223-229
Ballengen sua argumentação com respeito a, 102, 104-107
A LU Z DE HEBREUS
T
Tahnit (padrão/ modelo), 55, 132, 145-154
Tempo, da obra purificadora de Cristo, 76, 91-93, 207-208
Tupos (“tipo”), 55-56, 123, 127-128, 132-133, 139-154
Dois mil e trezentos dias/anos, profecia dos, 49
Tipologia, antitética ou de correspondência, em Hebreus, 154-168
bíblica, natureza da, 117-128
em Hebreus, 128-145
I n d ex