Lexi C. Foss - Reivindicação
Lexi C. Foss - Reivindicação
Lexi C. Foss - Reivindicação
Sinopse
Sobre a autora
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Reivindicação
Lexi C. Foss
Copyright de Claim Me © Lexi C. Foss.
Copyright da tradução © 2023 por Andreia Barboza.
Revisão: Luizyana Poletto
Capa Design: Manuela Serra
Capa Photography: Wander Aguiar
Capa Models: Megan, Camden, Forest, Griffin
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são
produtos da imaginação do autor ou foram usados de forma fictícia e não devem
ser interpretados como reais. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou
mortas, eventos reais, localidades ou organizações é inteiramente coincidência.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610 de 19/02/1998. Exceto
para o uso de pequenos trechos em resenhas, é proibida a reprodução ou
utilização deste livro, no todo ou em parte, de qualquer forma, sem a permissão
prévia por escrito do detentor dos direitos autorais deste livro.
Published by: Ninja Newt Publishing, LLC
eBook ISBN: 978-1-68530-274-0
Paperback ISBN: 978-1-68530-275-7
À Matt, Laura, Vicki e Amy, por tornarem este livro possível...
E para o Baby Luka, por favor, nunca leia os livros da mamãe <3
Sou uma prisioneira. Uma escrava. Um ser de poder supremo na
coleira.
Por quê?
Porque meu companheiro arranjado “pegou emprestado” meu poder
e quase matou o Rei da Casa de Ouro e Granada.
Ah, ele sabia que eu era inocente. Tal como o seu sucessor – o Rei
Kaspian – também sabe. Mas isso não diminuiu a minha sentença.
Só tornou minha cela um pouco mais confortável.
Pena que tudo que eu quero é fugir, caso contrário, poderia ser
tentada pelo bufê de sensualidade espalhado diante de mim.
As Casas
Casa de Ouro e Granada
Casa de Sangue e Água-Marinha
Casa do Ar e Ametista
Casa da Terra e Esmeralda
Casa do Espírito e Safira
Casa da Morte e Diamante
Casa do Fogo e Fluorita
Casa do Mar e Serpentina
Terra de Ninguém
Circo de Ninguém - Portland, Oregon
Sindicatos Sobrenaturais
Cidade de Nova York
Manhattan – Os Guardas - Metamorfos
Brooklyn - As Rosas - Faes
Ilha de Staten - O Clã dos Excluídos - Bruxas
Queens - O Divino - Anjos e Demônios
Bronx - Clã Tepes – Vampiros
Quatro anos antes
Dias atuais
Fallon...
A voz de Issy é um sussurro que lembra um sonho. Anseio por
responder, e meu coração se parte ao pensar em nosso vínculo
rompido.
Tudo por causa dele.
Meu inimigo.
Meu companheiro.
Aquele que destruiu tudo.
Ele me envolveu em um feitiço, prendendo meu livre arbítrio
enquanto roubava minha magia.
Cada mordida o fortalece ainda mais, dá a ele acesso aos meus
encantamentos mortais.
Ele me faz ensiná-lo a exercer meu poder, e seu feitiço de
obediência força as palavras a saírem da minha boca.
Eu o odeio.
Odeio isso.
Fallon...
Quase ofego com aquela voz familiar, drogando meus
pensamentos, me puxando para o passado. Estou com saudades de
você, quero dizer para Issy. Sinto sua falta mais do que posso dizer.
Acorde, Fallon, ela me diz em resposta.
Quase sorrio. Sua voz mental é tão severa, tão real, que quase
obedeço.
Mas não quero acordar. Este pesadelo nunca acaba, mesmo
quando abro os olhos.
Às vezes, é pior.
Como quando Klas me enterra viva. Me afoga no solo. Garante
que eu não possa ver o sol novamente por dias enquanto brinca
com meu poder.
Ah, deuses, e se eu acordar debaixo da terra novamente?
Vou arranhar o solo por impulso, incapaz de escapar, não
importa o quanto eu tente.
Uma punição.
Mas pelo quê? Não consigo me lembrar.
Um encanto, minha mente sussurra. Um encanto místico que me
traz de volta, que me permite anular o seu feitiço.
Franzo a testa enquanto uma memória incomoda meus
pensamentos. De uma deusa. Poder. Cheio de estrelas.
Ela quebrou o encantamento de obediência.
Posso imaginá-la perfeitamente com todo aquele cabelo longo e
escuro, pele dourada e olhos brilhantes.
Tanto poder.
Um sonho ou realidade? Eu me esforço para lembrar.
Fallon. A voz de Issy está cheia de impaciência. Preciso que
você acorde.
Franzo a testa. Por que isso parece tão real?
Porque é, ela retruca. Agora, abra os olhos.
Quase obedeço. Mas não quero me entregar a esse truque.
Provavelmente é Klas, brincando com minha mente de novo, me
atraindo à consciência para que ele possa me fazer desmaiar
novamente.
Ele me assombra a qualquer hora do dia e da noite, possuindo
minha alma, me destruindo a cada instante.
Ele está na masmorra, Fallon, Issy diz. Ele tentou e não
conseguiu matar o Rei de Ouro e Granada. Ele foi pego. Não está
mais no controle. Você o eviscerou várias vezes. Lembra?
Minha carranca se aprofunda enquanto visões de Klas
sangrando muito flui em minhas lembranças. Uma fantasia ou
realidade?
Ele vai receber sua sentença hoje, ela continua. É por isso que
preciso que você acorde. Se o matarem...
Isso pode me matar, termino a frase dela.
Estamos unidos por um feitiço ilegal. Não há como saber o que
acontecerá quando ele morrer.
Mas isso realmente importa?
Eu o quero morto. Removido. Fora da minha vida.
Ele usou meus poderes para tentar criar o caos no território de
Ouro e Granada. Tudo porque estava frustrado com a falta de
promoção nas fileiras mercenárias.
— Estou cansado de ser esquecido. É hora de eles verem o
quanto eu realmente sou poderoso. Além disso, agora é um grande
momento, com toda a dissidência gerada pelo mais recente
escândalo político. Será fácil recrutar ajuda. Não que eu precise de
muita.
Seu discurso passa pela minha cabeça, me fazendo lembrar da
resposta mental que dei. Só que é o meu poder que você está
usando. Não o seu.
Na verdade, ele tinha meu poder sob controle, então suponho
que isso o tornava realmente poderoso.
Mas ele não me tem mais na coleira, percebo, abrindo os olhos.
Porque não estou mais nesse pesadelo. Estou em um novo.
Um pesadelo envolto em falsos luxos.
Me sento na cama de dossel, observando o ambiente familiar, já
que passei os últimos treze meses morando neste espaço.
Não é a pior cela de prisão imaginável. Tem uma varanda que se
abre para um pátio, não que eu tenha permissão para explorá-la.
Mas, pelo menos, posso sair para tomar ar fresco. Isso está alguns
passos acima de ser enterrada viva por dias ou semanas a fio.
Esfrego a mão no rosto e tento me forçar a acordar. Issy?
Finalmente, ela murmura de volta para mim. Estou tentando te
acordar há mais de uma hora.
Humm, murmuro de volta para ela, nem um pouco surpresa com
seu comentário. Os últimos anos pareceram um longo pesadelo, só
que o cenário não para de mudar.
Vou até a mesa de cabeceira para pegar água, algo que coloquei
ali na noite anterior, porque sabia que precisaria dela agora, e bebo
o copo inteiro em grandes goles.
A maioria dos meus sonhos ultimamente tem sido acordar em
uma cova e inalar sujeira por horas... ou dias.
Essa era apenas uma das maneiras que Klas escolhia para me
punir, mas algo nela tornou a cena mais memorável. E eu sempre
acordava desses sonhos com a garganta seca, como se estivesse
no subsolo a noite toda.
Me afasto dos lençóis de seda e vou até o banheiro da suíte para
reabastecer a água.
Fallon, minha irmã sussurra.
Já estou acordada, respondo.
Eu sei. Mas... mas hoje... Ela para e sua incerteza passa pela
minha mente enquanto me observo no espelho enorme.
Meus olhos verdes não brilham mais. Meu cabelo loiro parece
mais escuro agora, sem o brilho anterior. E minha pele parece mais
pálida de alguma forma. Como a morte.
Apropriado, dadas as minhas habilidades. Ou talvez seja um
aviso do que está por vir.
Eles vão executá-lo, digo a Issy. Hoje é apenas uma formalidade.
Mas sei que esse é o plano deles.
Um dos espectros te contou?, ela pergunta, se referindo aos
guardas da minha prisão.
Eles não precisaram me dizer nada. É o que precisa ser feito.
Klas tentou matar um monarca. Não importa que a pessoa em
questão já não esteja no comando. Seu sucessor não pode permitir
que o culpado viva.
Uma imagem do referido sucessor preenche minha mente, seus
cabelos e olhos escuros tão parecidos com os de Klas. E, ainda
assim, os dois homens não se parecem em nada.
Klas é todo ângulos cruéis e arestas vivas.
Enquanto o rei Kaspian é... comovente. Profundo. Inegavelmente
bonito. E incrivelmente fora dos limites.
Ele apenas passou pela superfície dos meus poderes. Se
permitir que ele se aproxime, descobrirá coisas sobre mim que me
farão compartilhar uma sentença de morte com Klas.
É por isso que preciso que o hoje aconteça.
Quanto mais cedo Klas for condenado e executado, mais cedo
vou poder partir. A menos que eu morra em consequência da morte
dele, é claro.
Suponho que estarei livre de qualquer maneira. Talvez.
O rei Kaspian e seus guardas me monitoram há treze longos
meses. Eles me questionaram repetidamente sobre o que posso
fazer, solicitaram breves demonstrações e me perguntaram sobre
meu passado.
Eu contei a verdade onde pude e menti onde precisei.
— Sou órfã — disse a eles. — Não sei muito sobre a história da
minha família. — Foi a história que Klas contou depois de acasalar
comigo, dizendo que me encontrou em uma de suas missões
mercenárias.
Felizmente, ele não falou a verdade sobre nossas origens
enquanto estávamos em cativeiro.
Provavelmente porque está se protegendo.
Se Klas trair o Clã O’Neely de alguma forma, será punido por
muito tempo na vida após a morte.
Os corpos podem morrer, mas as almas são eternas.
E as almas podem ser torturadas, especialmente quando se tem
acesso à magia da morte. O que meu clã tem e, graças ao nosso
acasalamento arranjado, o Clã Doyle e o Clã O’Neely estão
alinhados novamente.
Bebo o terceiro copo de água e suspiro. Ayla encontrou alguma
coisa que possa me ajudar a conter o feitiço de acasalamento?,
pergunto a Issy.
Já sei a resposta, mas não consigo deixar de perguntar. É a
única coisa que tentamos descobrir desde a prisão de Klas.
Se eu conseguir quebrar o feitiço, estarei livre. Pelo menos dele.
O resto... bem, essa é uma situação completamente diferente, já
que não tenho ideia do que preciso fazer para convencer o rei
Kaspian a me libertar de seus guardas vigilantes.
Eu poderia tentar correr.
Mas ele é dono de uma casa de mercenários. Portanto, minhas
chances não são grandes. Especialmente quando um desses
mercenários é Nolan, um arcanjo rastreador com mira mortal.
Esfrego o ombro, franzindo a testa enquanto Issy diz: Não. Os
testes recentes de Terra e Esmeralda também exigiram muito dela.
Ela não está muito bem ultimamente.
Concordo com a cabeça, entendendo esse sentimento. Estou
feliz que ela possa te visitar, isso vai ajudar.
Só quando nosso pai permite, Issy resmunga. Às vezes, ele se
esquece de que ela é nossa prima.
Ele não esquece. Ele só gosta de controle. E controlar com
quem Issy pode interagir é uma de suas atividades favoritas.
Ela não pode falar com Ayla como fala comigo, sendo nosso
vínculo gêmeo a razão pela qual podemos nos comunicar
telepaticamente. Mas Ayla conhece a linguagem de sinais, o que a
torna capaz de compreender Issy.
Me alivia saber que Issy ainda tem alguém... caso eu não
sobreviva aos próximos dias.
Já estivemos separadas por três longos anos, e foi quando Ayla
e Issy se aproximaram. Isso significa que Issy vai continuar sem
mim e Ayla assumirá a proteção dela.
Você pode não estar falando comigo, mas posso sentir a direção
de seus pensamentos, Fallon Doyle, e não aprovo, Issy retruca. Em
primeiro lugar, posso me proteger com algumas palavras bem
escolhidas. Em segundo lugar, é você quem precisa de proteção
agora. Terceiro lugar...
Eu espero, com a sobrancelha arqueada. Terceiro lugar...?,
pergunto, achando graça de seu discurso retórico.
Papai está aqui, ela sussurra de volta, provocando um arrepio na
minha coluna. Ele raramente visita Issy e nunca é para nada de
bom.
Sinto sua apreensão através do nosso vínculo e seu medo me
faz tremer na frente do espelho.
Não me atrevo a interrompê-la, ciente de que ela precisa de
todas as suas faculdades mentais para lidar com nosso genitor.
Fecho as mãos enquanto espero, sentindo o ódio me consumir.
Os pais devem cuidar e proteger seus filhos. Mas o nosso nunca fez
isso. Eles nos trataram como propriedade a ser negociada e
descartada.
Ou essa foi a minha percepção, de qualquer maneira.
Issy é diferente. Ela é o fardo da família aos olhos deles, uma
princesa destruída, indigna de seu sobrenome.
Sinto seu desejo de lutar, sua necessidade de lembrar ao nosso
pai seu verdadeiro poder. Mas ela não o faz. Ela tem muito medo do
que acontecerá após a explosão.
Não há para onde ela ir. Ele é o único que garante a
sobrevivência dela neste mundo cruel.
Minha irmã gêmea fica em silêncio, e suas emoções parecem
desaparecer. Tenho que me impedir de chamar seu nome, sabendo
que ela voltará a falar quando nosso pai terminar de fazer o que
quer que esteja fazendo.
Issy está bem, digo a mim mesma. Eu sentiria se ela não
estivesse.
Eu me olho no espelho novamente, minhas bochechas pálidas
de repente ficam vermelhas.
Um dia, vou matá-lo.
A menos que eu esteja morta. Então vou assombrá-lo até que
ele morra.
Me preocupar com meu pai e Issy é inútil. Não há nada que eu
possa fazer daqui.
Caramba, não há nada que eu possa fazer há muito tempo.
Mas isso pode mudar dependendo do veredicto de hoje. A morte
de Klas é iminente. É apenas uma questão de quando.
Engulo em seco, vou para o chuveiro e tento me distrair ao me
preparar para o dia. Não há nada que eu possa fazer para impedir o
que está prestes a acontecer. Minha alma vai se quebrar. E minha
magia... bem, não sei o que vai acontecer.
Ficarei fora de controle? Levantarei os mortos? Mostrarei a
verdadeira extensão dos meus poderes?
Espero que não. O rei Kaspian já teme as habilidades que
conhece, e elas mal chegam à superfície do meu potencial.
Consegui esconder a maior parte dos meus talentos de Klas ao
longo dos anos, o feitiço de obediência só me forçava a falar a
verdade quando ele fazia as perguntas certas.
Ele nunca se preocupou em perguntar sobre outros feitiços que
eu poderia conjurar. Klas simplesmente fez muitas suposições com
base no conhecimento que adquiriu ao beber meu sangue. E nunca
tentei esclarecer.
Termino o banho, saio do box de vidro e pego uma toalha no
suporte aquecido ao lado dele.
No que diz respeito às prisões, esta certamente tem suas
vantagens.
Me enrolo no algodão fino e pego outra para o cabelo.
Minha aparência no espelho não mudou muito, minhas
bochechas e olhos ainda não têm brilho natural. Duvido que algum
dia eu o reencontre. Klas matou parte da minha alma quando me
vinculou a ele, contaminando meu ser.
E estar aqui, presa neste palácio sob observação frequente, não
ajuda muito a melhorar a situação.
Pelo menos, tenho uma máquina de café expresso, penso, indo
em direção a ela na sala de estar. Como a maioria das coisas neste
mundo, ela é carregada magicamente, tornando mais fácil pedir
exatamente o que quero com apenas alguns cliques de um botão.
O cheiro de grãos de café finamente moídos imediatamente
alcança meu nariz, provocando um suspiro sonhador. Esta é
provavelmente a única coisa boa do meu cativeiro.
Bem. Os bonitões também não são ruins.
Bane.
Nox.
Rei Kaspian.
Até o Arcanjo Nolan é incrivelmente bonito. Embora eu queira
atirar no ombro dele como ele fez comigo quando nos conhecemos.
Claro, ele pensou que era eu quem estava tentando matar seu
líder na época, mas isso não impediu que a bala queimasse pra
caramba.
Mordo o lábio enquanto o mocha começa a se formar na xícara,
minha mente vagando para os guardas sensuais que frequentam
meu quarto.
Bane e Nox são espectros, um novo gripo de sobrenaturais que
anunciou sua presença há pouco mais de um ano. Eles são
essencialmente fantasmas que podem assumir formas corpóreas.
E que belas formas corporais eles têm, penso. Não que eu tenha
visto muito deles, mas o corte de suas roupas me diz que são
impressionantes...
Um choque de dor passa pela minha mente, a fonte vindo da
minha irmã gêmea. Seguro a cabeça com um suspiro e seu nome
sai da minha boca enquanto minhas pernas cedem embaixo de
mim.
Issy!, grito, e meu corpo cai com força no chão, tirando um
gemido da minha garganta. Ou talvez seja um som provocado pela
agonia que ecoa em meu espírito. Issy!
Ela não responde, mas sua angústia me atravessa como uma
centena de punhais, cada uma atingindo meu peito e me deixando
sem fôlego no chão.
Posso ouvi-la gritar.
Não, espere, sou eu, penso grogue, e minha visão escurece sob
as ondas de tormento vindas de minha irmã gêmea. O que está
acontecendo? O que ele está fazendo com você?
Alguém diz meu nome, mas é a voz errada.
Não é de Issy.
É... é... não importa. Apenas minha irmã gêmea importa.
Me diga o que está acontecendo, eu tento novamente. Fale
comigo!
Outra voz responde, uma que não quero ouvir, por isso não ouço
nem discirno as palavras.
Issy!
Eu me enrolo em uma bola, com lágrimas escorrendo dos meus
olhos. Não consigo ver. Mal consigo respirar. Tudo que sinto é a dor
da minha irmã.
Não vou! Eu a ouço gritar, e a fúria nessas duas palavras se
arrasta pela minha psique como garras afiadas. Não vou dar essa
ordem a ela!
Quem? O que você está falando? pergunto a ela, perplexa e
perdida. Issy...
Não! A Fallon não pode morrer! ela grita, e suas palavras não
fazem sentido. Os crimes de Klas são dele, não dela. Que se dane
suas ordens!
Suspiro quando outra lança atravessa meu peito, a sensação me
lembra choques, abalando meu espírito e exigindo submissão.
Vários outros se seguem, roubando minha capacidade de fazer
qualquer coisa além de me deitar no chão como uma bola
complacente.
Algo quente toca meus ombros. Essa voz está perto do meu
ouvido. Mas estou concentrado demais em Issy, consumida demais
pela sua exaustão mental, para considerar qualquer outra coisa.
Ela está chorando.
Gritando.
Tremendo.
Morrendo.
Algo a está sufocando.
Poder.
Tento alcançar através de nosso vínculo, empurrar cada grama
de minha força para ela, mas sinto o momento em que seu espírito
se despedaça sob uma explosão de energia intensa. Ela suspira em
minha mente, sua voz soa rouca enquanto diz: O Clã dos Excluídos
falou.
Franzo a testa para seu tom neutro, as palavras são diferentes
de tudo que ela já disse.
Se Nikolas O’Neely está sujeito à morte, Fallon Doyle também
está, ela continua. Fallon Doyle honrará o Clã dos Excluídos,
aderindo ao nosso antigo compromisso: companheiros leais morrem
com seus amados. Ou esses companheiros serão punidos com
destinos piores que a morte.
CHAPTER DOIS
NOX
Esta é a décima primeira vez que acordo com Nox em meu quarto.
Quando aconteceu pela primeira vez, gritei e tentei acertá-lo com
uma bola de fogo enfeitiçada. Ele se abaixou, fazendo com que a
chama atingisse as cortinas que emolduravam a varanda atrás dele,
e isso... não acabou bem.
Felizmente, eu também conhecia um feitiço que poderia reduzir o
dano, mas as cortinas ficaram irrecuperáveis.
Nox me ajudou a substituí-las sem muitos comentários, se
desculpando por me assustar depois do episódio... é assim que ele
e Bane chamam meus pesadelos.
Imagino que não estejam errados.
Às vezes, os episódios também acontecem quando estou
acordada. Vejo algo que desperta uma memória e de repente me
perco no tempo. Então geralmente acordo em uma posição precária
com um deles por perto no quarto.
Uma consequência de ter um companheiro predestinado abusivo
nos últimos quatro anos, acho.
Bane me perguntou mais de uma vez se eu queria falar com
alguém. A resposta é sempre não. Mas Nox nunca se intromete,
optando por me oferecer conforto como pode, sem me sufocar com
perguntas ou preocupações.
Tal como agora.
Acordei há alguns minutos e me encontrei aconchegada na
cama ao lado dele, seu foco na tela e não em mim. Em vez de
reagir, observei-o por um instante, admirando seu queixo quadrado
e os pelos castanhos ali.
Ele não se barbeou hoje, foi meu primeiro pensamento.
Seguido por: como acabei na cama?
O que levou a: e por que estou nua?
Então as lembranças das palavras de Issy e de sua agonia me
invadiram, quase me deixando inconsciente novamente.
Até que ouvi a voz de Kaspian.
— Membros e familiares de Ouro e Granada, sejam bem-vindos
e obrigado por me ouvirem esta manhã.
A frieza se infiltrou em minhas veias, me deixando muda
enquanto o ouvia falar, seu sotaque inglês familiar depois de meses
suportando seus interrogatórios.
Só quando ele mencionou o Mercenário Klas e seu feitiço mortal
é que reagi externamente, deixando minha frustração escapar da
minha boca em um bufo suave.
— Você se refere ao seu companheiro predestinado? — Nox
pergunta, respondendo ao meu comentário sobre não ser um dia tão
bom, já que vou ouvir sobre meu destino.
— Sim — minto. Então penso melhor e digo: — Na verdade, não.
Quero dizer, meu destino, já que está diretamente ligado ao dele. —
Ou, pelo menos, é assim que traduzo as palavras da minha irmã.
Se Nikolas O’Neely está sujeito à morte, Fallon Doyle também
está.
Na verdade, não eram palavras dela, mas sim do Clã dos
Excluídos. Mas alguém, provavelmente nosso pai, a forçou a dizê-
las para mim.
Não tento alcançá-la novamente, ciente de que ela não está
mais consciente. É algo que posso sentir através do nosso vínculo
gêmeo, nossa magia e energia ligadas de maneiras que não podem
ser explicadas.
Ela lutou contra quem tentou controlar sua mente.
E falhou.
O que sugeria que poderia ser mais do que o nosso pai quem a
persuadiu a transmitir essa mensagem.
Ou talvez fosse apenas ele.
Nosso pai é poderoso, reverenciado e temido por muitos. Em
parte é por isso que nunca o enfrentamos. Mas ele também é o
único que mantém Issy viva e segura.
Embora segura seja um termo subjetivo.
Issy está realmente segura, ficando trancada o tempo todo?
Estou segura aqui, nesta glorificada cela de prisão a que o Rei
Ouro e Granada se refere como suíte de hóspedes?
Não, não estou, digo a mim mesma enquanto Kaspian continua
seu discurso na tela, detalhando os acontecimentos do dia em que
Klas foi capturado e as conclusões do conselho.
Quase espero que Kaspian me mencione, a bruxa com o poder
mortal que Klas usou, mas ele não o faz. Ele mantém o foco no
Mercenário Klas e seus muitos erros contra Ouro e Granada.
Enquanto isso, Nox parece estar totalmente focado em mim. Ele
não disse nada, está apenas me estudando daquele jeito quieto
dele. Ele faz isso muitas vezes depois que acordo de um episódio, e
sua presença é estranhamente reconfortante, em vez de sufocante.
Gosto que ele não me pressione.
Ele simplesmente me avisa que está aqui.
Embora eu suponha que esse seja o seu trabalho como um dos
meus guardas.
Ele não está aqui para me proteger, mas para garantir que eu
não faça nada para machucar outras pessoas. O que imagino ser
seu propósito agora também. Kaspian o enviou para assistir ao
anúncio comigo e avaliar minha reação.
Bem, não vou dar uma, penso, de olho na transmissão.
Não há nada para eu reagir. Sei o que está por vir. E estou mais
preocupado com o que minha irmã me contou.
Fallon Doyle honrará o Clã dos Excluídos aderindo ao nosso
antigo compromisso: companheiros leais morrem com seus amados.
Ou esses companheiros serão punidos com destinos piores que a
morte.
Tremo enquanto sua voz ecoa em minha cabeça.
O Clã dos Excluídos espera que eu tire a minha própria vida e
morra com Klas.
Posso pensar em vários destinos que podem me aguardar se eu
decidir não obedecer. A maioria deles não me assusta, não depois
de sobreviver quatro anos com meu companheiro forçada.
O problema é que eles têm Issy.
E, conhecendo meu pai, ele vai usar essa vantagem a seu favor
para garantir que eu me comporte, assim como fez no meu
acasalamento arranjado com Klas.
Tenho que encontrar uma maneira de ajudar Issy a escapar,
penso, enquanto Kaspian continua a se dirigir à sua liderança e aos
seus constituintes. Mas para onde ela irá? Ela não pode entrar na
Terra de Ninguém. Nenhuma casa a aceitará. Nem mesmo esta...
Porque Kaspian e os outros pensam que sou órfã e sem família.
Mesmo que eu conte a verdade, sei que não permitirão que
alguém tão poderoso como Issy venha para cá. Sem mencionar
todas as questões que se seguirão em relação aos meus próprios
poderes, ao meu nascimento e ao meu lar.
Eles nem sabem o sobrenome de Klas.
Ele alegou não ter um e não corrigi a mentira.
Mas se descobrirem sua identidade como O’Neely, saberão
imediatamente que ele veio do Clã dos Excluídos, e não acho que
Kaspian ficaria satisfeito com essa revelação.
Contar não é uma opção. Como afirmava o aviso de Issy,
existem destinos piores que a morte.
— Agora, vamos à sentença — Kaspian diz, chamando minha
atenção para suas belas feições. — O conselho e eu deliberamos
incessantemente sobre como proceder, pois há certos fatores que
precisamos levar em consideração.
Eu, traduzo. Ou presumo que sou uma dessas considerações,
de qualquer maneira.
— Mas finalmente chegamos à conclusão de que não há
sentença aceitável para o Mercenário Klas além da morte.
Pisco, a declaração parecendo flutuar no ar e se dissipar ao meu
redor.
Não é uma surpresa. É exatamente o que eu esperava.
Mas agora é acompanhada pela minha própria sentença, uma
que me foi concedida pelo mesmo clã que governou toda a minha
existência.
Fiz tudo o que sempre exigiram de mim, mesmo às custas da
minha própria sanidade e saúde.
Sobrevivi ao inferno por eles.
Ajudei Klas mesmo quando não queria.
Porque eles tiraram minha escolha. Me amarraram a ele contra a
minha vontade, me forçando a ser uma boa companheira bruxa e a
aceitar tudo o que ele me deu.
Morrendo repetidamente.
Apenas para voltar à vida todas as vezes, graças a um feitiço de
imortalidade, um que Klas lançou sobre mim usando minha própria
magia.
Esse foi o meu castigo quando tentei lutar com ele no ano
passado. Descobri uma magia estranha que me ajudou a focar
minha mente, a ser eu mesma, e a solução de Klas foi me enterrar
no subsolo, me fazendo sufocar na terra repetidamente.
Sobrevivi a toda aquela loucura.
E para quê?
Ouvir que tenho que tirar minha própria vida e morrer com o
mesmo monstro que destruiu meu espírito nos últimos anos.
De jeito nenhum.
Tem que haver outra maneira. Algum caminho que não explorei.
Uma fuga que não contemplei.
Mesmo assim, passei a vida inteira procurando uma saída, mas
nunca encontrei.
Porque não posso deixar Issy para trás.
— Fallon? — Nox me chama e seu sotaque escocês parece
acariciar gentilmente meu nome. O dele não é muito pronunciado,
mas às vezes fica quando ele fala em tom mais baixo.
— Estou bem — eu digo enquanto Kaspian informa a todos que
a sentença será executada em três dias.
— Não será uma execução pública — acrescenta. — A
decapitação será privada. No entanto, seus restos mortais serão
queimados na praça central, a mesma que ele atacou no ano
passado.
A lembrança daquele dia ameaça meus pensamentos e meu
coração gela com os atos que se seguiram.
Essa foi a primeira vez que lutei contra o domínio de Klas sobre
mim.
E eu perdi. Severamente.
Nox fecha a tela enquanto Kaspian desaparece, seus
penetrantes olhos azuis em mim.
— Estou começando a me sentir como um experimento científico
— murmuro. — Cada vez que você entra aqui, fica olhando para
mim com expectativa, como se achasse que eu poderia fazer algo
interessante.
— Bem, desta vez encontrei você nua na sala de estar — ele
responde, curvando os lábios para um lado. — Portanto, pode-se
argumentar que você costuma fazer coisas interessantes.
Reviro os olhos. Ele não está errado. Ele me encontrou de
maneiras bizarras: gritando no chuveiro, porque pensei que a água
estava gelada, arranhando o chão como se fosse terra e não azulejo
frio, e encolhida em um canto enquanto implorava perdão a Klas por
tudo que me vinha à mente... e essa não é a primeira vez que ele
me vê nua.
Então não estou realmente envergonhada.
Apenas destruída.
Talvez seja por isso que não tenho problemas em aceitar o
anúncio de Kaspian.
— Não vou surtar — digo a Nox. — O Klas merece morrer. Só
não estou ansiosa para sentir a dor com ele.
Pelo menos, ele me preparou para sensações semelhantes às
da morte, acrescento mentalmente e quase bufo. Veja só, Klas fez
algo de bom, para variar.
Suspirando, me sento na cama enquanto mantenho os lençóis e
a toalha pressionados contra o peito.
— Pode informar ao Kaspian que não lancei nenhum feitiço
mortal em resposta à sua transmissão.
Já deveria estar bastante óbvio que não vou ajudar Klas. Mas
ninguém aqui confia em mim. Assim como não confio neles.
Existem apenas duas pessoas em quem posso confiar neste
mundo: em mim mesma e em Issy.
E, às vezes, Ayla, decido. Quando ela não está ocupada sendo
usada pelo Clã dos Excluídos para outras coisas, como o
julgamento do Chanceler de Terra e Esmeralda.
— Quem ou o que é Issy? — Nox pergunta, me surpreendendo
não apenas com a pergunta, mas também com a mudança abrupta
na conversa.
— O quê?
— Você estava gritando Issy, quando entrei aqui como espectro,
e eu estava me perguntando o que isso significa — ele diz.
— Ah. — Merda. Não posso responder a isso sem mentir.
Embora... — É só alguém do meu passado — me esquivo,
esperando que isso seja o suficiente. — Não quero falar desse
assunto.
Ele me considera por um longo momento, depois dá de ombros.
— Tudo bem.
Sempre o espectro tranquilo.
É Bane quem geralmente tenta fazer com que me abra. Não
diretamente ou de forma arrogante, mas com perguntas sutis
destinadas a me convencer a falar. Às vezes, eu falo, só porque é
bom ter alguém ouvindo, para variar.
No entanto, não digo muito a ele.
Normalmente, apenas o suficiente sobre o que Klas fez para
explicar meus episódios e nada mais.
Só que este incidente não tem nada a ver com Klas e tudo a ver
com minha gêmea, que ainda está inconsciente através do nosso
vínculo.
Posso sentir que ela está bem e se recuperando, mas não muito
mais.
Isso me dá uma apreciação renovada de como ela se sentiu
durante nossa separação mental de três anos. Tão sozinha...
Embora eu também tenha experimentado essa solidão, Klas me
mantinha distraída.
— Quer café da manhã? — Nox oferece, seus olhos azuis ainda
me encarando. É um pouco enervante o quanto ele me observa.
Não porque isso me deixe desconfortável, mas porque às vezes
parece que ele consegue ver através de mim. Como se pudesse ler
minha mente.
Mas os espectros não deveriam ter esse talento. Eles podem
desaparecer em suas formas etéreas à vontade, tornando-os bons
em espionar aqueles que não podem vê-los fora de seus estados
corpóreos. No entanto, isso parece diferente.
Talvez porque não estou acostumada a ter alguém prestando
tanta atenção em mim.
— Acho que sim — digo a ele, engolindo em seco.
Ele concorda.
— O de sempre?
— Sim. — Não gosto de comidas pesadas pela manhã, sendo
iogurte com fruta a minha preferência.
— Vou pedir um café novo para você também — ele fala,
olhando para a sala de estar.
Certo. Meu expresso.
Não tive a chance de aproveitar por causa da mensagem de
sentença de morte que chegou através do vínculo gêmeo. Mesmo
se eu pudesse beber, não o faria. Tudo parecia contaminado.
Mortal. Errado.
— Sem café, por favor. — Uma frase estranha para eu
pronunciar, mas pensar nisso faz meu estômago azedar. — Apenas
um pouco de iogurte e frutas, ou talvez um smoothie de frutas.
Se eu o surpreendo, ele não demonstra. Em vez disso, ele abre
uma tela no relógio e começa a digitar um pedido.
— Vou pedir os dois. Tudo o que você não comer, eu como. —
Então ele olha para mim. — Algum outro pedido especial, vaga-
lume?
— Liberdade? — sugiro.
Ele sorri.
— Podemos comer na varanda.
— Ah, que bom — digo sem expressão. — Posso olhar para o
céu noturno e fingir que não sou uma prisioneira em uma jaula
chique.
— Existem acomodações piores — ele me lembra ao terminar de
fazer o pedido.
— Estou ciente. — E não estou falando da cela de Klas na
masmorra.
— Seus guardas também são incríveis — Nox acrescenta.
— Claro, se você considera voyeurs incríveis.
Ele ri.
— Na verdade, sim. — Com uma piscadinha, ele sai da cama. —
Mas vou lhe dar um pouco de privacidade enquanto você encontra
suas roupas. — Ele vai em direção à sala de estar e segue para as
portas da varanda, em vez da saída, e suas palavras chegam até
mim por cima do ombro. — Te espero lá fora, vaga-lume.
Admiro a maneira como o jeans cobre sua bunda firme, depois
desvio o olhar.
Não importa o quanto ele flerte ou o quanto ele seja legal
comigo, sei o seu verdadeiro propósito aqui. Parte de mim quer
odiá-lo pelo que ele representa, um guarda de prisão, mas ele torna
muito difícil não gostar dele.
O mínimo que ele poderia fazer seria atirar em meu ombro como
Nolan fez. Pelo menos, assim eu poderia guardar rancor.
Mas Nox é gentil e cuida de mim à sua maneira.
Bane também.
É uma pena que não posso ficar aqui e me entregar a eles um
pouco mais. Mas o tempo está se esgotando.
Três dias, para ser exata.
Três dias até Klas morrer.
Três dias até que eu cumpra a ordem de suicídio do Clã dos
Excluídos ou enfrente as consequências.
Três dias para descobrir como escapar desta prisão chique,
salvar minha irmã... e espero que a mim também.
Sem pressão, penso. Sem pressão alguma.
CHAPTER QUATRO
KASPIAN
Chegou a hora, digo a Issy enquanto sigo Kaspian até uma sala
mal iluminada.
A masmorra de Ouro e Granada está ligada ao palácio do rei por
meio de um dos muitos túneis da cidade que foram construídos
quando Ouro e Granada reformou Reykjavik como sede de sua
Casa. Mas era uma caminhada de vinte minutos, o que me diz que
estamos a pelo menos uma um quilometro e meio de distância da
casa de Kaspian. Talvez ainda mais longe, já que mantivemos um
passo rápido durante todo o caminho.
Nox e Bane entram atrás de mim, a presenças deles longe de
ser tão reconfortante quanto no café da manhã. Imagino que devo
agradecer a Nolan e Kaspian por isso. Eles me lembraram que não
posso confiar em nenhum deles, especialmente não em Bane ou
Nox.
Porque eles foram designados a mim como uma obrigação para
descobrir todos os meus segredos. Eles não ficavam comigo porque
gostavam de mim, eles ficavam comigo para me interrogar.
Ouvir Nox falar sobre como ele e Bane usaram a gentileza como
uma maneira de me fazer falar serviu como um despertar frio que eu
precisava.
Esses homens não são meus amigos. São meus guardas.
E agora eles estão parados ao meu lado, assumindo seus
lugares enquanto Kaspian assume o centro da sala.
Há um bloco de pedra no meio, coberto de correntes. Uma
espada com o cabo enfeitado de ouro e granada repousa nas
proximidades, assim como um machado com marcas semelhantes
ao longo do cabo de madeira.
Qual ferramenta eles vão usar?, me pergunto, ciente de que
precisarão separar a cabeça de Klas do corpo. Ele é um híbrido de
vampiro-bruxo; portanto, existem apenas algumas maneiras de
realmente matá-lo. A decapitação é uma delas. O fogo que se
seguirá garantirá que o trabalho seja concluído.
O braço de Bane roça o meu. Sua altura de mais de um metro e
oitenta supera meus um metro e cinquenta e cinco. Não importa que
eu tenha calçado um par de botas de salto de sete centímetros
antes de sairmos. Ainda sou quase trinta centímetros mais baixa
que todos os homens na sala.
Incluindo Klas, penso enquanto Nolan o arrasta pela soleira da
porta.
— Irmã? — eu repito.
— Minha irmã gêmea — Fallon esclarece. — Sim.
— O que está acontecendo com a sua irmã gêmea? — pergunto.
— Como podemos ajudá-la?
Os cílios loiros de Fallon tremulam quando ela pisca, e a
surpresa parece colorir seu rosto.
— Ajudá-la?
— Sim, linda. Nos diga quem está com ela para que possamos
ajudar a libertá-la. — Não tenho certeza do que aconteceu ou como,
mas a dor de Fallon era visceral quando falava sobre a irmã.
Ela não parava de dizer o nome da outra moça e implorando aos
patriarcas que parassem com o que estavam fazendo.
Preciso libertá-la.
Tenho que protegê-la.
Nox e Bane ficaram perdidos quando Fallon começou a soluçar,
as expressões abatidas combinando com a dela.
Foi quando assumi o controle e a puxei para o meu colo. Ela
precisava de alguém para firmá-la, para mantê-la um pouco lúcida e
trazê-la de volta.
Assim como a fizemos respirar de novo.
— Eu... — Fallon se cala, e a surpresa se dissipa lentamente de
sua expressão. — Foi um pesadelo. Minha irmã gêmea está morta.
Eu franzo a testa para ela.
— Um pesadelo?
Ela assente, o movimento brusco demais para que eu acredite.
— Às vezes, eu tenho episódios durante o dia. Acho que tive um
sobre uma lembrança antiga.
— De algum tipo de patriarca machucando sua irmã? —
questiono de forma direta, não comprando a mentira dela por um
segundo.
Suas bochechas ficaram um pouco pálidas quando mencionei
esse termo, patriarca, confirmando que é importante notá-lo.
— Sim. Há muito tempo. Antes de conhecer Klas.
Semicerro os olhos.
— Você não espera que eu acredite nessa merda, certo? — Esta
deve ser a afirmação mais direta que já fiz a ela. Mas estou cansado
desse jogo. — Por que você não tenta me dar a verdade agora,
Fallon? Sem mais mentiras.
— Não estou mentindo — ela responde, e sua forma curvilínea
começa a se contorcer em meu colo.
Em qualquer outro momento, eu poderia ter aproveitado esses
movimentos. Mas agora, tudo o que quero fazer é virá-la e dar um
tapa em sua bunda desobediente.
— Você está mentindo — digo a ela. — Isso não foi um
pesadelo. Você parecia morta quando entramos e tivemos que
forçá-la a respirar. Depois, você gritou e começou a implorar aos
patriarcas para pararem de machucar sua irmã.
Fallon se encolhe novamente com esse termo. Definitivamente, é
importante.
— Ele está certo — Bane diz, sua voz muito mais suave que a
minha. — Isso não foi um pesadelo, Fallon.
— Você estava gelada até te aquecermos — Nox acrescenta.
Fallon faz uma careta e tenta se desvencilhar das minhas
pernas. Penso em prendê-la, mas acho melhor não fazê-lo.
Ela tropeça para ficar de pé, sua postura instável, o que faz com
que Bane e Nox imediatamente se levantem.
Não tenho tanto interesse em acalentá-la, então me junto a eles
e observo enquanto Fallon começa a andar de um lado para o outro.
Ela está tentando inventar uma nova mentira, o que me irrita,
mas fico em silêncio e espero sua próxima tentativa.
— Eu... eu fui para o plano da morte — ela finalmente diz, seus
ombros estão ficando rígidos. — É de lá que tiro a maior parte do
meu poder, então estou familiarizada com ele. Mas nunca o visitei
assim antes. Pelo menos, não até ontem... depois, bem, depois da
execução.
Eu me apoio na parede, com os braços cruzados.
— Tudo bem. — No que diz respeito a histórias, esta é bem
criativa. Talvez até seja verdade. Mas não me diz nada sobre sua
irmã ou os patriarcas.
— Não é um plano corpóreo, mas um ligado ao pós vida. Então é
minha alma que vai, o que suponho que faz meu corpo ficar frio.
Esse é outra detalhe que torna essa história um tanto plausível.
E faz sentido com suas habilidades de magia da morte. Mas...
— Nunca ouvi falar de um plano da morte antes. — Olho para os
espectros. — Algum de vocês já ouviu?
Eles balançam a cabeça.
— Nosso cruzamento para ser espectro é único, para dizer o
mínimo — Bane murmura. — Está tudo ligado a rituais na Escócia,
não a um plano da morte.
— Não é comum, nem é uma fonte de magia que muitas
pessoas podem acessar. Quer dizer, a maioria das bruxas nem sabe
que existe. Caramba, nem mesmo muitos faes da morte sabem
sobre isso. Mas está ligado aos ritos da minha família e à nossa
ligação específica com a magia da morte.
Isso também parece bastante verdadeiro. No entanto, não tenho
certeza para onde ela está indo.
— Então você visitou o plano da morte ontem e de novo hoje.
Por quê?
— Não sei muito bem — ela diz. — Ontem pareceu ter sido
desencadeado pela morte de Klas. E hoje... eu só meio que voltei
por razões desconhecidas.
Semicerro os olhos conforme o pulso dela acelera. Uma mentira,
percebo. Isso sugere que algumas das coisas que ela disse sobre o
plano da morte podem realmente ser verdade, mas o resto é uma
invenção... particularmente, sua explicação sobre porque ela visitou
o plano da morte hoje.
— E eu vi minha irmã lá — ela continua, com pressa, com os
batimentos cardíacos cantando alto em uma melodia que soa como
mentira, mentira, mentira para os meus sentidos. — O que deve ter
me levado a um pesadelo quando você me trouxe de volta. — Ela
dá de ombros, como se quisesse dizer que é isso.
Meu maxilar tensiona. Por que essa mulher tem que ser tão
irritante?
Apenas minutos atrás, eu estava disposto a mover céus e terras
para ajudar a irmã dela, tudo porque os gritos de Fallon se
assemelhavam a flechas mortais para o meu coração.
E agora, tudo o que quero fazer é estrangulá-la.
Se há algo que odeio na vida, é mentira. Fallon Doyle não
exatamente mentiu para mim até hoje. Ela omitiu algumas verdades
ou se recusou a me contar coisas. Mas isso? Essa história? É uma
mentira flagrante. E não gosto disso. Não depois de tudo o que
ofereci a ela ao longo do último ano.
Abrigo.
Comida.
Segurança.
O feitiço mortal de Fallon no ano passado derrubou uma cidade
inteira. Embora minha Casa saiba a verdade sobre aquele dia, há
muitos constituintes que permanecem inquietos com os dons de
Fallon. Foi por isso que designei Bane e Nox para protegê-la. Eu
queria garantir sua segurança no caso de alguém decidir vir atrás
dela em uma tentativa equivocada de retaliação.
Nunca foi sobre proteger minha Casa, mas sim protegê-la
daqueles que possam se sentir prejudicados por ela.
E ela me agradece mentindo?
Inaceitável.
— Vou te dar mais uma chance de me contar a verdade, srta.
Doyle — digo, me afastando da parede e indo em direção a ela. —
Recomendo que leve essa chance a sério.
— Kaspian. — Bane tenta entrar no meu caminho, mas eu o
contorno. Ser um mestre vampiro vem com muitos benefícios,
incluindo força e velocidade aumentadas.
Os olhos verdes de Fallon se arregalam enquanto eu a
encurralo, seus pés retrocedem rapidamente em direção às portas
de vidro da sacada. Elas estão fechadas, o que a impede de fugir
quando suas costas encontram o vidro.
Envolvo a palma em sua garganta, a outra mão vai para seu
quadril.
— Vamos começar do começo. Onde está sua irmã?
Sua mandíbula se contrai visivelmente, e as íris esmeralda giram
com chamas mal contidas.
— Por que você se importa?
— Porque quero a verdade — grunho para ela.
— Por quê? — ela exige. — Por que você se sente no direito de
ter acesso aos meus segredos, Kaspian? Por que teme meus
poderes? Você está preocupado que eu possa usá-los para
prejudicar seu povo? E você assume que saber mais sobre meu
passado, sobre minha irmã, de alguma forma aliviará esses medos?
— Não tenho medo de você, Fallon — digo entre os dentes. —
Mas sim, seus poderes são intensos e avassaladores demais para
serem aceitos. E saber que você está me escondendo coisas torna
ainda mais difícil confiar em você com suas habilidades.
— Então você está preocupado que eu possa me incendiar e
colocar a cidade para dormir novamente — ela diz com ironia. — E
como está preocupado, tenho que provar a mim mesma, entregando
meus segredos. Mesmo aqueles que não têm consequências para
nossa situação.
— Você acabou de visitar um plano da morte do qual não sei
nada e, essencialmente, morreu no processo. Eu argumentaria que
isso é relevante para a nossa situação atual — digo, apertando a
mão em volta de sua garganta. — Então pare de brincar comigo e
seja direta, pelo menos uma vez.
— Direta — ela repete, uma risada sem humor a seguindo. —
Tudo bem. Minha irmã está morta. É uma história terrível que eu não
sinto vontade de reviver agora. Fim.
Semicerro os olhos.
— Mais mentiras. — E desta vez não posso apenas ouvi-la em
sua pulsação. Posso senti-la contra o meu polegar.
— Como você pode saber? — ela exige. — Você não conhece
as minhas verdades. Então não me diga o que é mentira e o que
não é.
— Não preciso conhecer as suas verdades para saber quando
você está mentindo, Fallon. Sua pulsação me diz tudo o que preciso
saber.
Suas narinas dilatam.
— Exceto os meus segredos.
— Exceto isso — eu concordo, furioso com ela.
— Eles não são para você saber — ela diz com os dentes
cerrados. — Não me importa que você se sinta no direito em relação
a mim e à minha vida. Isso não significa que eu tenha que
compartilhar nada com você. Escolho por mim mesma. Eu decido o
que compartilho e o que não compartilho. E não há nada que você
possa fazer a respeito.
Eu a encaro com raiva.
— É assim que você se sente? Que tudo é sobre direito?
— Não ouvi nenhuma outra razão para você se sentir tão
compelido a saber todos os detalhes sobre a minha vida. Então,
sim. Parece um direito para mim.
— Eu sou o Rei de Ouro e Granada. É meu trabalho proteger
todos nesta Casa. O que significa conhecer todos os detalhes de
qualquer ameaça potencial para que eu possa tomar decisões
difíceis que protejam meu povo. Isso é um direito, Fallon?
Sua mandíbula se contrai novamente, aqueles belos olhos
queimam com chamas renovadas.
— Minha história não é uma ameaça.
— O tremor em seu pulso diz o contrário — respondo, fazendo
seus olhos se abrirem. — Então, essa já é a terceira vez em trinta
minutos que você mentiu para mim, srta. Doyle. Isso é inaceitável.
— Inaceitável é a forma como você está me tratando neste
momento, sr. Antonik.
— Rei Kaspian — eu a corrijo. — É assim que você deve se
dirigir a mim o tempo todo, srta. Doyle, mas tenho sido
condescendente com você. Até demais, na verdade. A ponto de eu
garantir seu conforto a cada passo, mesmo quando você não o
mereceu. Isso muda agora.
Seus olhos se abrem ligeiramente.
— Oh? É agora que você me joga na cela de Klas? Tudo por que
você acha que estou mentindo sobre minha irmã?
— Eu sei que você está mentindo sobre sua irmã e, até descobrir
o porquê, não tenho muita escolha. Você me desrespeitou e
desrespeitou minha hospitalidade repetidamente. Talvez uma noite
de isolamento a faça perceber como você teve sorte aqui.
— Kaspian — Nox interrompe.
Mas eu o ignoro.
Estou com muita raiva para debater essa decisão.
Eu odeio mentiras. Ele sabe disso. Bane também. Os dois
testemunharam em primeira mão como lidei com mentirosos no
passado. Fallon deveria estar grata por uma noite de isolamento ser
a única ameaça que estou fazendo a ela.
— Uau. O destino realmente achou que nós dois seríamos
compatíveis? — Fallon resmunga com uma risada sem humor. —
Se eu precisava de prova, a tenho agora.
— Prova de quê? — exijo, ignorando o comentário dela sobre o
destino. Principalmente porque me atingiu no peito, o lembrete do
que somos um para o outro me deixa inquieto.
Companheiros.
E eu acabei de ameaçar minha companheira com o isolamento.
Porque ela não me acha digno da verdade.
Um rosnado surge em minha garganta, mas não o liberto. Em
vez disso, intensifico meu aperto, mais furioso com ela do que
nunca.
Estávamos tão perto de finalmente sermos sinceros um com o
outro, mas ela escolheu a mentira em vez de confiar em mim.
Ela nunca vai confiar em mim. Ela nunca vai entender o quanto
valorizo a confiança – de ambas as partes – em um relacionamento.
Porque ela é impossível.
No entanto, ela está certa sobre uma coisa: o destino errou
nessa.
Não estamos destinados a ser companheiros.
— Isso não importa — ela resmunga. — Esse comentário foi
para mim, não para você.
Franzo a testa enquanto tento me lembrar do que estávamos
falando.
Prova, lembro. Algo sobre prova e destino.
Que seja. Não preciso saber o que ela quis dizer. Porque ela não
quer que eu saiba. Ela não me quer de jeito nenhum. E não vou ficar
parado implorando para que ela me aceite.
— Sabe de uma coisa, Fallon? — digo, enfraquecendo o aperto
em sua garganta. — Pode guardar seus segredos. Estou cansado
de tentar te entender. Cansado de tentar ajudá-la. Cansado de
protegê-la.
As pupilas dela se dilatam quando me olha, seu olhar
procurando algo.
Mas ela não diz nada.
Não que eu espere que ela diga. Ela deixou muito claro que não
importa o que eu faça ou diga, ela não vai confiar em mim.
E, como resultado, nunca vou confiar nela.
É por isso que não tenho escolha aqui.
— Não posso continuar preso pelo destino a alguém que
claramente não me entende e nem compreende minhas motivações.
O acasalamento tem a ver com respeito mútuo e confiança,
nenhuma das quais existe entre nós. E você deixou claro que essas
duas coisas são impossíveis de alcançarmos.
Fallon arregala os olhos.
— Kaspian, espere...
— Fallon Doyle, eu re...
Em um minuto, estou pronunciando uma das frases mais difíceis
que já tive que dizer em toda a minha longa vida.
E no próximo instante, sou silenciado pelos lábios carnudos de
Fallon.
Pisco várias vezes, surpreendido pela sua repentina proximidade
e pela forma como ela está se agarrando aos meus ombros.
O que acabou de acontecer?
Sua boca não está se movendo contra a minha. Ela está apenas
ali, me silenciando e me impedindo de terminar a frase que romperia
meu vínculo com ela.
Quando tento me afastar, ela aperta a pegada e crava as unhas
na minha camisa.
Em resposta, aperto sua garganta, lembrando-a de que ainda a
mantenho cativa. Tentar me arranhar não vai ajudar. Sou muito mais
alto e mais forte.
Caramba, fico surpreso que ela pôde alcançar minha boca
quando sua cabeça mal chega ao meu queixo. Ela deve estar na
ponta dos pés, daí a necessidade de agarrar meus ombros para
equilíbrio...
Seus lábios se mexem, chamando minha atenção. É um leve
tremor, que misteriosamente se parece com um convite.
Ela está me provocando. Porque não há como realmente querer
que eu a beije.
Mas depois de tudo o que acabamos de dizer um ao outro?
Estou inclinado a fazer exatamente isso e ensinar uma lição que ela
nunca vai se esquecer.
Movo minha mão da garganta dela para a parte de trás de seu
pescoço e passo o polegar pelo seu queixo para posicionar sua
cabeça do jeito que quero.
Ela treme, afundando ainda mais as pequenas unhas afiadas em
minha camisa.
Sorrio contra sua boca, provocando-a, brincando com o
momento duradouro, fazendo-a esperar.
E justamente quando percebo que sua impaciência está prestes
a vencê-la, eu ataco.
Fallon queria me provocar para um beijo? Então eu vou beijá-la.
Mais do que isso, eu a dominarei.
Ela dá um suspiro quando minha língua entreabre seus lábios,
seu choque me encoraja a fazer mais, a dominá-la, a fazê-la se
arrepender por ter tentado brincar comigo.
Aperto minha pegada em sua nuca e me pressiono contra ela, a
prendendo firmemente entre mim e o vidro atrás dela. Então
aprofundo nosso beijo, minha língua explorando a sua, banhando-a
com minha experiência e a cobrindo com minhas preferências
dominantes.
Ela responde na mesma moeda, sua própria língua combinando
com a minha, carícia por carícia enquanto seus braços envolvem
meu pescoço.
Caramba, ela tem um gosto bom. Como um vinho delicioso.
Envelhecido com perfeição. E reservado só para mim.
Seus seios amplos estão apoiados em meu peito, me lembrando
de suas curvas deliciosas. Minha mão arde em seu quadril e meu
desejo de explorá-la faz com que meus dedos flexionem de forma
involuntária.
Mas isso não foi feito para ser apreciado. Era para ser uma lição.
Um aviso. Uma... alguma coisa.
A cada roçar de sua língua, me envolvo um pouco mais, minha
mente fica nublada com uma fome diferente de qualquer outra.
Seu sangue canta para mim em suas veias, seduzindo minha
fera interior.
Eu quero mordê-la. Reivindicá-la. Prová-la.
Quem é essa mulher apaixonada? penso enquanto nosso beijo
se torna violento por natureza. Esta não pode ser Fallon. É
impossível. Ela é muito... muito irresistível.
Seus dentes roçam minha língua, a sugestão de perigo me leva
adiante enquanto tomo sua boca como refém, minha língua domina
cada centímetro dela e garante que ela possa sentir minha
reivindicação tácita.
Minha.
Minha companheira.
Minha Fallon.
Exceto...
Não. Não tem “exceto”. Só isso.
Minha mente gira com pensamentos, minha fome aumenta a
cada segundo. Parece que não provo uma mulher há anos, minhas
preferências ultimamente têm sido mais masculinas do que
femininas.
Mas Fallon... ela me lembra de tudo que estava perdendo.
Aquele delicado toque feminino. A pele macia. Essas curvas
viciantes...
Quero arrancar suas roupas e penetrar em seu calor sedutor.
Posso sentir o cheiro dela, aquele perfume lindo que deixa toda
mulher excitada.
Qual será o sabor dela? eu me pergunto. Doce? Apimentado?
Uma mistura dos dois?
Lambo seu lábio inferior, sentindo minhas presas ansiosas para
afundar na textura carnuda e roubar uma prévia do que está por vir.
Mas sua língua me distrai mais uma vez, seguida por um gemido
baixo que faz meu pau pulsar de necessidade.
Puta merda, isso é intenso, penso, perdido para Fallon e os sons
doces que saem de sua boca. Como eu poderia rejeitar...?
Franzo a testa. O pensamento bate na minha mente e me faz
arrancar a boca da feiticeira em meus braços.
Que merda é essa?
Eu estava prestes a rejeitá-la, mas então... então ela me beijou.
Como uma sedutora.
Só que era mais do que isso.
Porque eu a retribuí o beijo.
Completamente.
Era para ser uma lição. Uma maneira perversa de dizer adeus de
uma vez por todas. Uma punição.
E olhando para seus lábios inchados, parece que consegui. Só
que agora... agora não consigo falar as palavras que preciso dizer.
Ela me enfeitiçou.
A presença dela. Sua beleza. Seu espírito agressivo.
Eu a solto e dou vários passos para trás, com a mente perdida
em uma névoa que é toda Fallon.
Preciso de um tempo. Um pouco de espaço. Alguma coisa.
Balanço a cabeça, me viro e encontro dois espectros me olhando
com interesse.
Bem, um parece interessado. O outro parece profundamente
excitado, provavelmente porque tem sido meu parceiro de cama
preferido nos últimos tempos.
Limpo a garganta, sem saber o que quero dizer. Nada disso saiu
conforme o planejado. Na verdade, tudo foi muito oposto ao
planejado.
E agora não tenho ideia de como proceder.
Ameacei colocá-la na solitária, me lembro, com uma estranha
dor que irradia em meu coração.
Perdi a paciência, algo que raramente acontece. Mas Fallon
parece trazer à tona o que há de pior em mim.
Principalmente porque odeio que ela não confie em mim. Ela
está constantemente com uma expressão cautelosa, como se
esperasse o pior a qualquer momento.
E foi exatamente isso que dei a ela hoje.
Ela passou por algo traumático e, em vez de tentar convencê-la
a se abrir, exigi suas verdades.
Então ela me colocou no meu lugar, dizendo que não me devia
nada.
Estou tentando proteger minha casa e a ela. Mas agora que me
acalmei um pouco, posso ver por que ela se sente assim.
Em vez de melhorar, tornei tudo muito pior.
Quase a rejeitei também.
Puta merda.
Coloco a palma da mão na parte de trás do pescoço e solto um
suspiro. Nada disso está dando certo. Tentamos a mesma coisa por
mais de um ano e não chegamos a lugar nenhum.
— Tudo bem — digo, tomando uma decisão imediata. — Vamos
tentar do seu jeito.
Nox sorri.
— Sim?
— Mas precisa estar vazio — continuo, ignorando sua excitação.
— Só vocês três. Vou fazer algumas ligações para combinar tudo.
Não fico por aqui para elaborar.
Bane e Nox podem cuidar de Fallon durante a tarde.
Enquanto isso, ligarei para Nolan com uma atualização. Talvez
ele consiga encontrar essa Issy sobre a qual Fallon insiste em
mentir.
E talvez ele saiba sobre esses patriarcas infames. Porque só
ouvi esse termo com um certo Sindicato Sobrenatural e realmente
espero que esse sindicato não seja parente de Fallon ou de sua
irmã.
CHAPTER DEZESSEIS
FALLON
Eu beijei Kaspian.
Não foi intencional. Apenas reagi. Ele estava prestes a rejeitar
nosso vínculo de acasalamento, e eu sabia que se ele o fizesse, a
magia que nos conectava seria óbvia. E a última coisa que eu queria
era mais perguntas.
Mais acusações.
Mais discussão.
Não quando eu ainda não sabia o que fazer ou como responder
à primeira rodada da inquisição.
Mesmo agora, não tenho certeza do que fazer. Finalmente estou
livre dos terrenos do palácio, em um local remoto onde eu poderia
tentar escapar, e estou...
Bem, estou em um banheiro, vestindo biquini em vez de tentar
correr.
Eu me olho no espelho, em conflito sobre como proceder.
Bane e Nox estão me esperando do lado de fora e são os únicos
aqui. Seria bastante fácil pular a extremidade oposta desta área e
tentar desaparecer.
Mas não tenho ideia de para onde correria e acabaria com uma
Casa inteira de mercenários me perseguindo.
Gostaria que você estivesse comigo, penso para Issy. Você
saberia o que fazer.
Ela provavelmente me daria um feitiço para criar uma rota de
fuga adequada. Mas ela está em silêncio desde que os patriarcas
abusaram da nossa conexão mental.
O que está acontecendo com sua gêmea? Como podemos
ajudá-la?
As palavras de Kaspian passam pela minha mente pela milésima
vez.
O que teria acontecido se eu tivesse contado a verdade? Ele
realmente a ajudaria? eu me pergunto. Ou ele estava apenas
tentando descobrir meu segredo mais sagrado?
Faço uma careta para o meu reflexo.
A confiança é uma via de mão dupla, penso. Como ele espera
que eu confie nele quando ele não confia em mim?
Posso ter levado nossa discussão um pouco longe demais, mas
nosso relacionamento parece desigual. Ele é a figura de autoridade,
o responsável, o rei que pode ditar meu destino com algumas
palavras rápidas.
E ele espera que eu conte tudo a ele.
Parte de mim entende o porquê, ele está tentando proteger sua
Casa, exatamente como disse, mas outra parte está decidida a se
rebelar. Eu não deveria ter que contar nada a ninguém porque não
fiz nada de errado.
Klas abusou de mim.
Ele me usou.
Mesmo assim, estou sendo punida porque aquele idiota pegou
meus poderes e os usou como se fossem seus. Então agora sou
fonte de desconfiança, simplesmente porque sabem o que posso
fazer.
Suponho que seja o que sinto por Kaspian: sei o que ele pode
fazer, por isso também não confio nele.
Semicerro os olhos e balanço a cabeça. Eu poderia andar em
círculos por horas. Mas o que preciso fazer é enfrentar o presente.
Nox e Bane conseguiram me libertar para um mergulho à tarde.
É a primeira vez que realmente saio de casa – além da minha
varanda, pelo menos – em mais de um ano. Posso ficar aqui
chafurdando na indecisão ou sair e me divertir.
Pego uma toalha na prateleira, calço um par de chinelos e vou
em direção à porta para encarar meus dois espectros.
Nenhum deles disse muito sobre o que aconteceu antes. Em vez
disso, decidiram bancar os guias turísticos na viagem de quarenta e
cinco minutos de Reykjavik até a piscina termal. Tudo o que eles
fizeram foi me mostrar as instalações e me entregar um maiô, um
que Nox comprou para mim antes de partirmos.
Sou grata a eles por não tentarem bisbilhotar. Mas tenho certeza
de que o assunto voltará à tona em algum momento. Talvez até lá
eu já tenha decidido o que dizer.
Um assobio soa da minha esquerda quando saio do vestiário, a
fonte é Nox. Ele já está na água, mas ainda dentro do prédio.
Olho ao redor, notando que há um bar à minha direita, o que
parece ser uma área de toalhas na minha frente, e a entrada interna
da lagoa à minha esquerda, que é onde Nox está esperando.
— Onde está o Bane? — pergunto.
— Ele está no bar externo — Nox responde. — Já que Kaspian
mandou todos para casa enquanto estamos aqui, e Bane não quer
que você morra de fome.
Contraio os lábios.
— Ele diz que sua linguagem de amor é a comida, mas acho que
ele é obcecado por comer.
— Ele com certeza está obcecado por alguma coisa — Nox
concorda. — Agora, você vai ficar aí a tarde toda ou vai se juntar a
mim na água morna?
Olho para a rampa de entrada e vou até lá para colocar a toalha
no balcão à minha frente antes de tirar os chinelos dos pés.
Está um pouco frio aqui, mas não muito. Pelo menos não em
comparação com o exterior.
— O sol vai se pôr em breve — observo enquanto me viro para
Nox. — Haverá luzes na água?
Ele concorda.
— Se acenderão em breve. É automatizado.
Meus dedos dos pés encontram a beira da água, o que provoca
uma onda de excitação pelos meus membros.
— Está muito quente.
— Como deveria ser — Nox murmura. — A atividade vulcânica
na Islândia é intensa. Normalmente, prefiro os SPAs termais
menores. Mas para seu primeiro passeio, este pareceu mais
apropriado.
— Primeiro passeio? — repito enquanto continuo a descer a
rampa em direção a ele.
— Aham — ele murmura. — Primeiro de muitos, se eu
conseguir.
— Você acha que o Kaspian vai permitir isso de novo? —
pergunto, esperançoso.
— Se você se comportar, imagino que ele vai permitir isso o
tempo todo — ele responde, com os olhos azuis brilhando.
— Defina o que é me comportar.
Ele estende a mão para mim quando me aproximo, sua mão
encontra facilmente a parte inferior das minhas costas e me
impulsiona para sua forma dura e musculosa. Minhas mãos pousam
em seu peito forte, e uma suave lufada de ar me escapa de
surpresa.
— Não fugir foi um bom começo — ele murmura. — Embora eu
tenha me perguntado se teria que persegui-la. Você estava
hesitando lá.
Arqueio uma sobrancelha.
— Você estava agindo como voyeur de novo?
Ele sorri e começa a me levar de costas em direção a um par de
portas na água.
— Acho que é seguro presumir que daqui para frente serei um
voyeur constante em sua vida, vaga-lume.
Suas mãos me giram para ficar de frente para a saída de vidro, e
seu peito nu encontra minhas costas.
— Empurre para sair — ele diz em meu ouvido, sua proximidade
e toque me fazem estremecer.
Nox sempre foi paquerador, mas nunca foi tão ousado comigo
antes. Não me importo com a mudança, mesmo que seja um feitiço
que nos une.
Embora ele possa se importar quando descobrir, penso,
franzindo a testa.
Mas quando eu conseguir quebrar o feitiço, ele estará livre.
Eu... só preciso descobrir como lidar com isso.
Detalhes, murmuro para mim mesmo enquanto pressiono o
vidro.
O ar frio imediatamente toca minha pele, me fazendo querer
mergulhar na água morna. Nox se aproxima. Sua pele quente é uma
sensação bem-vinda contra a minha enquanto atravessamos a
barreira de vidro.
O sol poente lança um brilho dourado sobre a água azul-celeste,
pintando uma cena de tirar o fôlego que paro para admirar.
Nox não me empurra para frente, apenas mantém as mãos em
meus quadris enquanto absorvo tudo.
Tive um vislumbre da vista quando chegamos, mas estar na
lagoa em si é uma experiência totalmente nova. Existem rochas de
cor obsidiana emoldurando o exterior, fazendo com que a água
pareça ainda mais azul. É uma cor única, que parece muito mais
fresca do que as cores escuras em que cresci na cidade de Nova
York.
— É lindo — murmuro, afundando um pouco mais no calor
delicioso.
— Sim — Nox concorda, seus lábios ainda estão perto da minha
orelha.
Ficamos assim por um longo momento, sua paciência é uma
presença calmante que me faz recostar nele em nosso silêncio
confortável.
— Estou surpresa que você não esteja tentando me fazer falar
— admito, mais relaxada do que me sentia há meses. — Agora
seria um bom momento para a continuação da inquisição.
Ele murmura um pouco, seus braços envolvem minha cintura em
um abraço por trás.
— Talvez. Mas sei que você ainda não está pronta para confiar
em nós. Então não vou te pressionar. Vamos apenas dar um bom
mergulho e aproveitar a noite.
— Tentando me seduzir com gentileza — penso.
— Humm, não é assim que eu te seduziria — ele responde,
passando os dedos por meu abdômen, logo acima da parte de baixo
da roupa de banho. — Minhas preferências no quarto não são
gentis. Adoradoras, talvez. Dominante também. Mas definitivamente
não gentil.
Ele me vira e começa a nos mover em direção a uma área mais
profunda da lagoa, algo que só noto porque a água sobe a cada
passo. Seus penetrantes olhos azuis prendem os meus ao longo do
caminho, suas íris cativam e irradiam uma infinidade de emoções.
Adoração.
Respeito.
Luxúria.
— Você não está chateado comigo? — pergunto, procurando em
seu olhar qualquer indício de que ele esteja brincando com minhas
emoções.
— Estou desapontado por você estar sofrendo e não nos deixar
te ajudar — ele admite. — Mas não, não estou chateado com você,
vaga-lume. Estou frustrado por não conseguir resolver o que está te
incomodando.
Engulo em seco.
— Mesmo que você soubesse, não seria capaz de resolver. —
As palavras me escapam antes que eu tenha a chance de
considerar a implicação por trás delas. Basicamente, dizem a ele:
tenho um problema, que nem eu sei como resolver. Que é mais do
que estive disposta a admitir durante todo o tempo que o conheço.
— Minha desenvoltura poderia te surpreender — ele rebate.
— Talvez. — Continuo estudando-o enquanto nos movemos pela
água, meu foco nele e não no que nos rodeia. Ele poderia estar me
levando para me afogar, e eu nem perceberia até que fosse tarde
demais. Mas confio nele para não me machucar.
Porque ele sempre cuidou de mim.
Ele sempre foi bom para mim.
— Você está carrancudo — ele diz, franzindo a testa. — Por
quê?
Tento suavizar minhas feições, sem querer mostrar as emoções
no rosto. No entanto, eu... estou em conflito novamente.
Passei todo esse tempo guardando meus segredos, com medo
de confiar em qualquer um dos meus supostos captores, apenas
para perceber de repente que não tenho medo de Nox. E mais do
que isso, confio nele para cuidar de mim.
Então por que estou me escondendo? Porque tenho medo de
que ele compartilhe meus segredos com Kaspian?
Não, sei que ele vai dividir tudo com Kaspian porque esse é o
trabalho dele.
Mesmo assim, sinto vontade de falar com Nox mais do que com
qualquer outra pessoa. Talvez até com Bane também.
— O que há de errado, vaga-lume? — Nox pergunta baixinho,
parando seus passos pela lagoa. — O que foi que eu disse?
— Você não disse nada. — Na verdade, ele nunca me
pressionou a falar ou exigiu nada de mim. Ele só pediu para deixá-lo
me ajudar ou me confortar quando eu mais precisava.
Nolan o acusou de me seduzir para obter respostas.
Mas Nox simplesmente disse que me trata como uma pessoa,
não como prisioneira. O que é verdade: ele me trata como se eu
significasse mais para ele do que quaisquer segredos que guardo.
Mesmo agora, a maneira como ele me segura com cuidado
enquanto avalia minha expressão com seu olhar preocupado mostra
que ele se importa.
Só não entendo o porquê.
Eu culparia o vínculo de companheiros forçados, mas eles não
existiam até ontem. E ele sempre me olhou assim. A única diferença
agora é que ele também está me tocando livremente.
— Você e o Bane aceitaram os vínculos do destino
imediatamente. — Pronuncio as palavras com calma, enquanto
minha mente processa o que isso significa. — Você nem hesitou.
— Claro que não. — Seus lábios se curvam um pouco. — Nós
dois queríamos você desde o início. Achei que tínhamos deixado
isso claro.
Eles deixaram. Mais ou menos. É mais porque meu cérebro não
aceitou as declarações de antes, talvez porque pareciam boas
demais para ser verdade.
— Você era um desejo proibido que nós dois compartilhamos por
mais de um ano — acrescenta. — Mas não poderíamos agir. Você
não apenas era nossa pupila para proteger, mas também estava
acasalada com outro homem. — Ele dá de ombros. — Agora, um
obstáculo desapareceu, enquanto o outro tem muito mais significado
para nós.
Franzo a testa.
— Ficar de olho em mim tem mais significado?
— Te proteger você tem mais significado — ele corrige. —
Kaspian nos designou para protegê-la, Fallon. Ele estava
preocupado que alguns membros da Casa pudessem tentar se
vingar de você, já que foram seus poderes que Klas usou para
subjugar a cidade. Ele queria você protegida.
Abro os lábios e depois os fecho, enquanto minhas palavras se
misturam na minha língua.
— Isso... — Não foi assim que entendi nada disso. — Ele não
confia em meus poderes.
— Ele não entende seus poderes — Nox murmura, passando o
polegar pela parte inferior da minha coluna enquanto me segura na
água. — E ele está usando isso como principal motivo para querer
que você se abra. Mas percebi que há mais que isso.
— Porque eu disse que há mais coisas envolvidas. — A voz de
Bane flutua até nós no vento, chamando minha atenção para onde
ele está se movendo na água com uma bebida na mão.
Olho entre os dois.
— O que você quer dizer?
Bane chega ao nosso lado e segura a bebida mais perto de mim,
o canudo pronto para meus lábios.
— Experimente e me diga se é bom.
Isso não é uma resposta à minha pergunta, mas faço o que ele
pede porque praticamente tudo que Bane faz tem um sabor incrível.
E esta bebida não é diferente.
É uma deliciosa mistura de frutas com um toque sutil de álcool.
— Humm, o que é?
Ele dá de ombros.
— Uma mistura de morangos amassados, suco de abacaxi e
algumas bebidas alcoólicas mais doces.
Tomo outro gole enquanto ele fala, e um gemido vibra em meu
peito.
— Tããão bom — digo a ele.
Os braços de Nox flexionam ao meu redor em resposta, e seu
corpo parece enrijecer.
— Puta merda, se você fala assim quando desfruta de uma
bebida, mal posso esperar para ouvir como você soa quando goza.
Quase me engasgo com o líquido em minha boca, suas palavras
são inesperadas e muito bem-vindas.
Bane ri e tira o canudo dos meus lábios, apenas para pressioná-
lo na boca de Nox.
— De volta ao Kaspian — ele diz enquanto Nox experimenta a
bebida. — Ele quer seus segredos porque quer te conhecer. A
confiança é importante para ele, mas é muito mais profundo.
— Aham — Nox concorda. — E isso é muito bom.
— Eu sei — Bane responde, seus olhos escuros brilham com
aprovação antes de encontrar meu olhar novamente. — Fallon,
todos nós estamos apaixonados por você de uma forma ou de outra
desde que te conhecemos. Kaspian não é uma exceção. Ele apenas
demonstra seu fascínio de uma maneira diferente.
— Exigindo respostas — Nox murmura. — Hoje, você o assustou
ao morrer de novo. Aí você voltou chateada, e ele quis resolver. Mas
você não permite, e isso o enfurece.
Bane assente.
— Ele é controlador. No entanto, ele não consegue controlar um
problema que não entende. E ele quer controlar... por você.
— Não, ele quer proteger sua Casa de mim — eu o corrijo. —
Esse é o seu objetivo principal.
— Isso é o que ele diz a si mesmo, mas é apenas um dos muitos
motivos. — Bane dá de ombros. — Algum dia, vocês dois verão
isso. Mas esse vínculo entre todos nós faz sentido. Isso explica
tudo.
Curvo os lábios para o lado.
— Explica mesmo? Quer dizer, tudo pode ser... não sei, um erro.
Um acaso. Quatro companheiros predestinados? Provavelmente é
algo temporário causado pela minha visita ao plano da morte.
Magia, até. — É o mais próximo que consigo dizer a verdade: que
tudo isso se deve a um feitiço rebote.
Mas estou desesperada para que seja mentira.
Para que isso seja real.
Para que esses homens sejam verdadeiramente meus.
— Você não acha que nossos vínculos de companheiros
predestinados são reais? — Bane pergunta, um pouco do brilho
deixando seu olhar.
— Eu... — paro, tentando descobrir como responder a isso sem
dizer por que estou questionando os títulos. — É bom demais para
ser verdade, não é?
Ele me considera por um instante e assente.
— Posso entender por que você pensa isso depois de tudo que
passou com o Klas. Então vamos fingir que foi um acaso, como
você sugeriu, só por um segundo. Como você se sentia em relação
a nós antes?
Pisco, assustada com sua pergunta. Não era assim que eu
esperava que ele abordasse a possibilidade de tudo isso ser falso.
— Eu... hum... — Engulo em seco, franzindo a testa.
— Certo, que tal eu responder a essa pergunta primeiro? — ele
sugere enquanto coloca o canudo entre meus lábios novamente. —
Eu me sinto atraído por você há meses, e foi isso que tornou
proteger você uma segunda natureza para mim. Os vínculos do
destino são apenas uma formalidade, na minha opinião. Ou uma
proverbial luz verde, se preferir. Porque significa que agora posso
prosseguir com o meu interesse.
Nox assente.
— Isso. Eu concordo com tudo. É apenas uma desculpa para
finalmente poder te tocar do jeito que eu queria desde o começo. —
Ele franze a testa então, suas íris azuis cintilam. — A menos que
você não queira que eu te toque. — Ele abaixa os braços. — Você
está duvidando dos vínculos, então não sente o mesmo?
Agarro seus ombros e tiro o canudo da boca.
— Não, não, não é isso que quero dizer. Eu só... estou
perguntando... não sei o que estou perguntando. Estou confusa e
me perguntando o que estaria acontecendo se não estivéssemos
unidos.
Estou estragando tudo ao pensar demais, decido.
Mas também não quero enganá-los.
Argh. Por que isso tem que ser tão complicado?
Porque Daithi O’Neely mexeu com minha alma a pedido de
Patrick O’Neely.
Quase faço uma careta.
Merda de patriarca.
Mesmo agora, eles são meus donos. Me controlam. Vinculam
meu espírito à vontade deles a milhares de quilômetros de distância.
Eu os odeio. Todos eles. Porque não se trata apenas de Patrick
O’Neely e meu pai. Se trata dos sete patriarcas e a propensão deles
para comandar todas as situações.
Um dia desses, farei com que paguem, prometo. Não tenho ideia
de como, mas farei.
— Esse é um olhar intenso — Nox murmura, trazendo meu foco
de volta para ele e Bane. — Espero que não seja para nós.
— Não é — prometo. — Eu... comecei a pensar em algo não
relacionado. — Mais ou menos. Balanço a cabeça. — Eu só... —
Curvo os lábios para o lado. — Na verdade, quer saber? Não quero
mais pensar. — É exaustivo e superestimado, e estou cansada
desses círculos mentais.
— Podemos ajudar com isso — Nox oferece, seus olhos cintilam
ao redor da lagoa. — Podemos nadar para onde você quiser. Basta
apontar e nos aventuraremos por ali.
— Não quero nadar — digo a ele. — Eu... eu quero vocês.
É uma declaração ousada, que eu nunca teria feito poucos dias
atrás. Mas vem de um lugar profundo dentro de mim que precisa
sentir algo diferente de confusão. Algo apaixonado. Algo quente.
— Quero vocês dois — sussurro, encorajada pelos brilhos
famintos nos olhos de Bane e Nox. Os dois me olham como se eu
fosse o centro do universo deles, seu sol pessoal.
Talvez esteja tudo na minha mente.
Talvez eu tenha perdido a cabeça.
Mas não me importo.
Eu preciso disso. Preciso deles.
— Por favor — acrescento, engolindo em seco. — Eu...
Nox pressiona os lábios nos meus, silenciando meu apelo. É
suave, terno e muito diferente da violência que experimentei com
Kaspian. Mas é perfeito. E é exatamente isso que estou desejando.
Ele me faz sentir adorada. Compreendida. Viva.
— Você nos quer aqui ou em um cômodo privado? — Nox
pergunta depois de um instante, as palavras acariciando minha
boca. — Na água ou na cama?
— Eu... — Não sei. Parte de mim quer ficar aqui para que minha
confiança permaneça intacta. Mas ter nossa primeira experiência na
água pode ser demais. Embora seja romântico e acolhedor, as
bordas da lagoa são cercadas por rochas irregulares. Aonde
vamos...?
— Que tal começarmos por aqui — Bane sugere baixinho,
passando os nós dos dedos pelo meu braço. — Depois iremos para
um cômodo se as coisas progredirem nessa direção.
Ele provavelmente presume que minha hesitação está
relacionada às minhas experiências anteriores com Klas, mas não o
corrijo. Em vez disso, assinto.
Porque não quero tomar mais decisões. Isso requer pensar, e
não quero pensar.
Eu só quero sentir.
Me saciar.
Estar com esses dois homens que deixaram claras suas
intenções e desejos.
Apenas existir. Estar viva. Me sentir querida.
Nox pressiona os lábios nos meus novamente.
— Tudo bem — ele murmura. — Vamos começar com isso...
CHAPTER DEZESSETE
NOLAN
Meu pau pulsa na minha mão enquanto penso nos gritos de Fallon.
Nox e Bane foram meticulosos, transando com ela noite adentro.
Parte de mim quer lembrar a Nox que ele me deve uma visita, mas
não quero afastá-lo de nossa companheira.
Seu prazer é viciante. Mal posso esperar para experimentar por
mim mesmo. Prová-la. Penetrá-la. Fazê-la minha.
Eu a imagino de joelhos para mim agora, com todo aquele
cabelo loiro caindo pelo colchão de sua cabeça enquanto eu a
inclino sobre a cama e a pego por trás.
Aquela bunda curvilínea empurraria minha virilha com cada
estocada, me proporcionando uma fricção deliciosa.
E ela estaria tão molhada. Tão apertada. Tão pronta para que eu
a comesse forte e rápido.
Solto um gemido, e seu nome deixa meus lábios enquanto me
acaricio com mais força, sua visão nítida e real em minha mente.
Seus seios balançando enquanto eu estoco nela. Aqueles gemidos
baixos e deliciosos escapariam de seus lábios carnudos.
Humm, eu entrelaçaria os dedos naquele cabelo e puxaria sua
cabeça para trás para expor seu pescoço esbelto. Isso provocaria
minhas presas, me faria desejá-la ainda mais.
Então seu pulso acelerado me levaria ao limite, me forçando a
mordê-la. Prová-la. Reivindicá-la.
Puta merda, quase posso sentir o gosto dela agora. Seu
batimento cardíaco é um ritmo constante em minha mente, mesmo
enquanto ela dorme.
Solto meu pau para evitar explodir, meu corpo inteiro tenso de
necessidade.
Mas quero esperar.
Quero saborear o tormento e deixar meu desejo crescer.
É viciante. Me consome. Delicioso.
Venho fazendo isso há horas, me deleitando com as atividades
no quarto ao lado enquanto me torturo. Estava guardando tudo para
Nox, mas parte de mim quer dar para Fallon.
Esse desejo por ela é imenso, o vínculo do destino domina meus
pensamentos. No entanto, para ser honesto comigo mesmo, sempre
me senti atraído por Fallon. Especialmente por sua boca
desobediente.
Ela me enfrenta quando outros normalmente não o fariam. Isso
me irrita e ao mesmo tempo me deixa duro. Ela é uma pirralha que
desejo domesticar.
E, ainda assim, eu não a queria de outra maneira.
Fecho a calça novamente e me levanto para andar pelo quarto
de hóspedes, ocupando a pequena área em apenas alguns passos.
O que preciso fazer é sair, mas não posso. Embora eu saiba que
esta área é segura, sinto um desejo intrínseco de proteger os
espectros e minha companheira. Quase como se todos fossem
meus para proteger.
Passo os dedos pelo cabelo, continuo me movendo e quase
suspiro de alívio quando meu telefone toca. Recebi algumas
ligações esta noite por motivos de trabalho, mas a que mais esperei
ainda não aconteceu.
Mas o nome de Nolan aparece agora.
Aceito a chamada imediatamente.
— Você foi voando para Nova York? — pergunto sem dizer olá.
— Esperava uma chamada há horas.
— Usei uma poção de portal que me levou até lá dez minutos
depois de desligarmos — ele responde enquanto seu rosto aparece
em uma tela diante de mim.
Franzo a testa para ele.
— Por que você não me ligou quando chegou? — Foi isso que
combinamos.
Claro, eu não teria nenhuma atualização dele. Mas já se
passaram quase doze horas desde a última vez que nos falamos.
— Porque a prima da Fallon me emboscou na chegada — ele
brinca.
Alguém bufa ao fundo e ele inclina a câmera para que eu possa
ver a mulher de cabelos escuros sentada à sua frente.
— Prima? — repito.
— Prima adotiva — ele esclarece. — Seus pais biológicos
desapareceram no portal Arcádia e a tia da Fallon a adotou.
— Entendo. — Eu encaro a mulher. — E você conseguiu
emboscar meu melhor assassino?
— Ele estava encharcado pela aura da Fallon. Eu o senti chegar
e pensei que fosse ela, então rastreei o fio da alma e descobri... —
Ela acena para ele. — Um arcanjo com roupa de couro.
Agora é Nolan quem bufa ao fundo.
— Você tem um nome? — questiono, arqueando uma
sobrancelha.
— Tenho. — Ela não dá mais detalhes.
— Ayla — Nolan responde por ela enquanto vira a câmera
novamente. — Ela tem sido muito informativa.
— Bom. Me conte tudo.
Nolan suspira e acena com a cabeça.
— Você vai querer se sentar para isso.
Uma hora depois, ando pelo quarto por motivos muito diferentes dos
anteriores.
Nolan e eu desligamos há cinco minutos, e suas palavras finais
foram:
— Vou fazer um reconhecimento por Staten Island no início da
manhã com Ayla como minha guia.
Ele planeja documentar onde vivem os sete patriarcas e tomar
nota da segurança deles.
Porque Ouro e Granada está prestes a declarar guerra ao Clã
dos Excluídos.
Eles enviaram um emissário ao meu território. Um emissário que
atacou o nosso antigo rei. E deram uma bruxa a ele para emprestar
poderes mortais.
Através de um feitiço de acasalamento forçado.
Que se despedaçou após sua morte.
E se recuperou juntando a alma daquela bruxa com outras
quatro almas.
— Puta merda — murmuro, passando a mão no rosto. — Puta
merda.
Nox e Bane estão no quarto ao lado agora, completamente
inconscientes de que estão sob um feitiço de acasalamento.
Enquanto Fallon...
Fallon está plenamente consciente e não disse uma palavra a
respeito.
Essa é a parte que mais me irrita. A mulher sabia que seu feitiço
de acasalamento se recuperou e não disse nada. Em vez disso,
seguiu adiante.
— Porque ela está protegendo a irmã — Nolan disse, com a voz
tensa. — Não gosto de saber que ela não tenha nos contado nada
disso, mas depois de tudo que Ayla compartilhou, entendo por que
escolheu ficar em silêncio.
Não sou tão compreensivo quanto Nolan. Embora Fallon
certamente não tenha tido uma vida fácil, longe disso, ela está no
território Ouro e Granada. E levamos muito a sério a lealdade à
nossa Casa.
Quando eu disse isso a Nolan, ele respondeu:
— Um argumento justo, mas Fallon alguma vez jurou fidelidade a
Ouro e Granada?
Fecho as mãos em punhos enquanto ando, e suas palavras
ecoam repetidamente na minha cabeça.
Como isso pode ter chegado a este ponto? me pergunto, furioso
com todos esses desenvolvimentos. Como acabei enfeitiçado por
uma bruxa do Clã dos Excluídos?
Posso ouvir a bruxa gemer no quarto ao lado, me dizendo que os
espectros decidiram começar outra rodada. E eu odeio que meu
corpo reaja a isso. Odeio que meu corpo reaja a ela.
Porque não é real.
Ela não é realmente minha.
E também não é deles.
Algo que ela sabe, mas optou por não admitir.
É tão errado dizer que ela não é nem de longe tão inocente
quanto finge ser.
— Ela estava protegendo a irmã — Nolan argumentou a certa
altura. — E provavelmente está muito ciente de como a maioria dos
líderes das Casas se sente em relação aos sindicatos. Por que ela
confiaria que nós a ajudaríamos?
Por que ela fingiu que o destino nos acasalou?, penso agora.
Porém, durante a conversa, permaneci em silêncio, principalmente
para não dizer algo que não deveria.
Mas talvez eu deva dizer alguma coisa.
Talvez devesse gritar.
Outro gemido chega aos meus ouvidos, me fazendo grunhir.
Paciência e pensamento estratégico sempre foram dois dos
meus pontos fortes. No entanto, não consigo recorrer a nenhuma
dessas habilidades agora.
Meu coração e minha alma estão muito envolvidos no
conhecimento de que fui enganado por magia sombria.
E ela sabe disso. Ela sabe.
Essa é a parte que não posso perdoar. Ela nos envolveu nessa
confusão e não nos considerou dignos de saber a verdade.
Caramba, ela está até transando com dois de seus
companheiros falsos agora.
— O feitiço pode ser quebrado — Nolan confirmou trinta minutos
atrás. — A Ayla forneceu instruções sobre como fazer isso. Vou te
mandar uma mensagem. É a Fallon quem tem que realizá-lo.
— E se ela se recusar? — perguntei. — Outra bruxa pode
quebrar o feitiço?
— Sim — Ayla disse. — Mas eu conheço a Fallon. Ela vai querer
fazer isso por conta própria.
Bufo de novo, assim como fiz antes, sem acreditar na ideia de
que Fallon seguirá em frente. Ela é a mulher que escondeu todos
esses detalhes de nós para começar e concordou conscientemente
com a afirmação de Nox e Bane.
— O sexo não o tornará permanente como o faria em um vínculo
com um companheiro predestinado — Ayla também me disse. — E,
ao contrário de um vínculo predestinado, você não pode rejeitar a
conexão. A única saída é quebrar o feitiço. Ou quando um
companheiro morre.
— Ou vai se recuperar — murmurei.
— Isso não é normal, mas a Fallon é uma bruxa forte — Ayla
respondeu. — Os O’Neely precisaram lançar feitiços sobre ela para
torná-la complacente.
Complacente, repito para mim mesmo. Certo.
Não há nada de complacente em Fallon Doyle. Ela é uma
rebeldezinha impetuosa cujos gemidos fazem minhas bolas doerem.
— Droga — digo, indo em direção à porta. — Preciso que isso
pare. Agora.
Chega de transa.
Chega de pensar.
Não há tempo para estratégia.
Os espectros estão começando a fazê-la gritar, e ela não merece
isso. Ela não merece nenhum de nós. Não depois de tudo que nos
escondeu.
Um falso feitiço de companheiro predestinado.
Rosno baixo, lívido com a existência da magia sombria. Zangado
com Fallon por nos esconder a verdade.
E furioso por não ser real.
Vivi tanto tempo sem vínculo com ninguém. O que está bem.
Não estou ansioso para encontrar uma companheira. Mas para
finalmente experimentar esse vínculo apenas para que seja devido a
um feitiço...
Puta merda.
Levo a mão ao peito, minha respiração fica ofegante.
Puta. Merda.
Fallon Doyle vai me libertar dessa insanidade.
Depois vou visitar o clã dela e deixar aqueles patriarcas saberem
que eles mexeram com o Rei errado.
Magia ou não, tenho um exército inteiro de mercenários à minha
disposição.
Staten Island vai queimar.
E Fallon Doyle…
Bem, veremos, penso, com a mão na maçaneta. Tudo bem,
companheirinha. Vamos ver se você consegue mentir bem agora...
CHAPTER VINTE E QUATRO
FALLON
Estou voando.
Voando pelo céu.
Perdida em algum lugar em uma nuvem eufórica de
masculinidade e graça.
Línguas. Mãos. Dedos.
Nox e Bane estão por toda parte, possuindo meu corpo,
reivindicando meu espírito e me enchendo de uma esperança
diferente de tudo que já encontrei.
Porque tudo parece incrível.
Tão encantador.
Nunca experimentei a vida desta forma, tão quente, vibrante e
vivaz.
Eu poderia viver aqui para sempre, neste momento, e morrer
como a mulher mais feliz do mundo. Tudo por causa de...
Um estalo atravessa o ar, fazendo com que nós três
paralisemos. Então Nox e Bane se levantam no momento seguinte,
o movimento repentino me deixa com frio e exposta na cama.
— Que merda é essa? — Nox exige enquanto uma forma
familiar entra na sala.
Arregalo os olhos e imediatamente agarro os lençóis para puxá-
los sobre meu corpo nu, a necessidade de me esconder faz com
que eu me encolha.
Porque Kaspian parece... chateado. O que não deveria ser
novidade para mim, uma vez que pareço enfurecê-lo
constantemente. Mas há algo diferente agora. Ele parece irritado.
Lívido. Perigoso.
Engulo em seco enquanto ele continua em frente. Movo as
pernas para ajudar a me impulsionar para cima da cama até que
minhas costas batam na cabeceira.
— Kaspian. — Nox se coloca entre nós, bloqueando
momentaneamente minha visão do vampiro furioso. — Que merda
você está fazendo?
— Deixem-nos. — O tom exigente de Kaspian faz com que os
músculos de Nox se contraiam e seus ombros ficam rígidos.
— O quê?
— Deixem-nos. — Kaspian soa exatamente como o Rei de Ouro
e Granada, e nada como o homem com quem costumo falar.
Isso me faz querer desaparecer de vista. O que aconteceu?. me
pergunto, sentindo meu coração na garganta. Por que ele está
falando assim?
Ele está irradiando fúria a tal ponto que quase posso sentir o
calor na minha pele.
Tento me esconder um pouco mais nos cobertores, esperando
ingenuamente que isso sirva de barreira.
Mas não acontece.
Posso não ser capaz de ver Kaspian perto de Nox, mas sua ira
queima tanto que o quarto está cheio dela.
— Não. — A resposta de Nox me choca profundamente. Assim
como sua postura protetora. — Não, eu não vou fazer isso. Não
quando você está tão perto de cair em uma fúria sangrenta.
— O quê? — Kaspian parece ainda mais irritado. — Eu sou o
seu rei. Você fará o que eu disser, quando eu disser.
— Quase sempre — Nox admite. — Mas não quando você está
se comportando dessa maneira perto da nossa companheira.
Kaspian dá uma risada sem humor.
— Ela não é nossa companheira — ele diz, suas palavras me
encharcam em um balde de água gelada. — É a porra de um feitiço.
Meus lábios se entreabrem. Ah, não...
— Não é verdade, srta. Doyle? — Kaspian pergunta em um tom
suave que arrepia meus braços. Ele olha para Nox, os olhos
escuros cintilam com intenção selvagem. — Se importa de contar
para eles, ou eu devo?
Um gemido baixo sai da minha boca e as palavras me falham.
C-como?
Como ele sabe?
O que ele vai fazer?
O que...? O que Bane e Nox...? Olho para meus espectros, os
dois homens que passaram as últimas horas me fazendo sentir tão
especial, tão querida, e meu coração bate forte. Isso é? Não é...
Eles não são...
Mas parecia tão real.
Tudo foi tão intenso. Tão bonito. Tão... tão parecido com um
sonho.
Kaspian emite um som incrivelmente ridículo.
Um som que eu mereço, penso com um estremecimento.
— Eu... eu não...
Ele zomba novamente.
— Não o quê? Não pretendia nos enganar com esse
estratagema?
— Do que você está falando, Kaspian? — Bane pergunta com
cuidado, seu comportamento tão calmo como sempre. E, de alguma
forma, isso parece partir meu coração ainda mais.
Ele sempre foi tão gentil comigo. Tão compreensivo. Mas depois
disso... depois que Kaspian contar a verdade...
— Os patriarcas do Clã dos Excluídos amarraram a alma de
Fallon à alma de Klas... espere, não, Nikolas O’Neely, usando magia
sombria. Quando o executamos, o feitiço se rompeu e a alma de
Fallon se uniu a quatro novos companheiros.
O resumo de Kaspian lança gelo em minhas veias.
Como ele sabe de tudo isso?
Nox lentamente se vira para olhar para mim, avaliando meus
olhos azuis.
— Isso é verdade, Fallon?
Meu coração se parte um pouco mais com a forma como ele me
me faz a pergunta, como se fosse confiar na minha resposta mais
do que nas palavras de seu próprio rei.
Mas é a preocupação em sua expressão que me mata. A
preocupação de que Kaspian possa estar certo. Bane tem um olhar
parecido enquanto olha para mim. Os dois espectros esperam que
eu confirme as afirmações do rei deles.
Engulo em seco e minha visão fica embaçada enquanto meu
tumulto interno ameaça se libertar.
Como passei de aproveitar a melhor noite da minha vida para
vivenciar o pior momento da minha existência?
Porque isto dói mais do que a cerimônia que me uniu a Klas. Dói
mais do que todas as torturas que ele me infligiu. Dói mais do que o
veredicto de suicídio e minhas visitas inesperadas ao plano da
morte.
Isso... estou no inferno.
Tive minha esperança destruída em segundos.
Percebi que todo esse prazer vai durar pouco.
Porque esses homens não são verdadeiramente meus. Não
importa o quanto eles se sintam conectados à minha alma. Tudo foi
resultado de um feitiço.
E agora eles sabem.
Agora eles vão me odiar para sempre.
Vão me deixar com a agonia de uma linda lembrança, destruída
pela minha realidade, que é um pesadelo.
Engulo em seco novamente e tento limpar a garganta. Os três
homens estão olhando para mim. Bane com preocupação. Nox com
suspeitas crescentes. Kaspian com puro ódio.
Eu os machuquei por não dizer a verdade. Mas... mas...
— Eu esperava que fosse real — admito em um sussurro. —
Eu... — Não é uma desculpa. Não é boa, de qualquer maneira. —
Foi diferente com vocês. Com todos vocês. — Até com Kaspian, na
verdade. — Eu nunca quis Klas, mesmo com... a magia. Sempre foi
forçado. — Olho para baixo. — Mas não com vocês.
Curvo os ombros e de repente me sinto mais derrotada que
nunca.
Admitir como me sinto, o quanto estou desesperada para que
isso esteja realmente ligado ao destino, só me faz sentir mais
inferior. Fraca. Porque eu sei a verdade. Sei que o destino nunca
seria tão gentil comigo.
No entanto, uma parte ingênua e esperançosa de mim queria
muito que isso fosse real.
Mas não é.
É um feitiço.
E quando o quebrarmos, estes homens nunca mais vão querer
olhar para mim. Nunca mais vão querer falar comigo. Me tocar. Ficar
comigo.
Fecho os olhos enquanto tento conter as lágrimas.
Preciso ser forte. Preciso enfrentar isso. Enfrentá-los. É o que eu
mereço. Eu deveria ter contado a verdade.
Mas eu... eu precisava proteger... faço uma careta. Issy.
Eu me forço a encarar o olhar cruel de Kaspian.
— Como...? — Como você sabe de tudo isso? Você sabe a
verdade sobre Issy? Não consigo perguntar, meu coração está
ainda mais partido.
Porque se ele souber sobre o Clã dos Excluídos, tudo estará
acabado de qualquer maneira. Ele vai me mandar de volta. Ou
talvez ele simplesmente me mate.
— Vou quebrar o feitiço... quando descobrir como. — As
palavras são um sussurro. Fecho os olhos novamente enquanto a
dor arrepia meu interior.
Por que nunca foi assim com Klas? Por que ele era mau? Por
que eu o odiava?
Talvez essa dor venha por saber o que eu poderia ter nesta vida.
Bane e Nox estavam...
— Eu sei como quebrá-lo — Kaspian diz. — A Ayla me contou.
— A-Ayla? — Forço meu olhar de volta para o dele, e a frieza em
seus olhos escuros me faz tremer. — Você conversou com a Ayla?
— Quem é Ayla? — Bane pergunta, sua voz ainda exalando
calma.
— A prima adotiva da Fallon. — Kaspian cruza os braços
enquanto Nox se move para o seu lado, e os dois homens olham
para mim com expressões conflitantes. Kaspian parece pronto para
me matar enquanto Nox... Nox parece... contemplativo. Talvez ele
também esteja pensando em me matar, mas de formas mais
criativas.
— Entendo. — Bane não se junta a eles. Ele escolhe se sentar
ao meu lado na cama. — E ela afirma que tudo isso é um feitiço,
que ela te disse como quebrar.
Kaspian olha para ele.
— Sim. Então a Fallon vai quebrá-lo. — Ele se concentra
novamente em mim, a expressão severa me mantém cativa. —
Agora.
Meu lábio inferior ameaça tremer, a ideia de romper os vínculos
com esses homens me faz sentir frio. Mas assinto, ciente de que
não tenho escolha neste assunto.
Eles não são meus. Mesmo que eu os queira.
— Nunca tive a intenção de machucar ninguém — digo, com um
leve tremor subjacente às minhas palavras. — Eu... eu...
— Você só queria proteger sua irmã — Kaspian responde entre
dentes. — Às custas de todos ao seu redor.
Enrolo os dedos nos cobertores.
— Eu ia encontrar uma maneira de quebrá-lo, de libertar todos
vocês.
— Claro — Kaspian diz. — Vou acreditar nisso depois de todas
as outras mentiras que você contou.
Estremeço, suas palavras são um golpe direto em mim.
Por que ele acreditaria em qualquer coisa que eu tenho a dizer?
Não confiei nele antes. E não tenho intenção de confiar agora. Não
é como se ele fosse me ajudar depois de tudo isso. Então, qual
seria o objetivo?
Ele vai me fazer quebrar os vínculos forçados e me condenar
publicamente pelo feitiço ou me mandar de volta para o Clã dos
Excluídos.
De qualquer forma, meu momento de felicidade acabou.
A realidade voltou.
— Me diga o que a Ayla disse. — Minhas palavras são baixas,
mas firmes. Não vou lutar com ele. Nem vou prolongar isso por mais
tempo. — Como faço para quebrar o feitiço?
— Espere um minuto — Bane diz, apoiando a mão em meu
joelho, seu toque me queimando mesmo através dos cobertores. —
E se eu não quiser que ela quebre o feitiço?
Kaspian arqueia uma sobrancelha para ele.
— O quê?
— Não tenho certeza se acredito que seja um feitiço — Bane
continua. — A Fallon é minha companheira. Posso sentir em minha
alma. Pode ser o resultado de magia relacionada ao destino, mas
certamente não é forçado.
— Eu concordo — Nox interrompe antes que Kaspian possa
falar. — Também não parece forçado para mim.
— Porque vocês estão encantados com a magia dela. —
Kaspian me olha. — Todos nós estamos.
Bane balança a cabeça.
— Não. A própria Fallon disse que é diferente conosco. Mas com
o Klas, parecia forçado. Ela o odiava, mas o obedecia por causa
daquele encantamento de obediência. Assim que Nyx o quebrou,
ela foi capaz de lutar contra ele.
— Não quero lutar contra isso — Nox acrescenta. — Mesmo
ouvindo o que você acabou de dizer, eu... não me sinto zangado ou
traído. Apenas confuso. Porque tudo parece certo demais para ser
um feitiço. Muito natural.
— Como o destino — Bane diz.
Nox assente.
— Como o destino.
Kaspian solta um suspiro.
— Vocês dois passaram várias horas transando com ela. Claro
que se sentem conectados. Assim que o feitiço for quebrado, verão
o que eu vejo: um encantamento obscuro e manipulador que está
nos unindo de maneira ilegal. E ela... — ele aponta para mim — não
nos contou sobre isso.
Não há nada que eu possa dizer a respeito, então fico quieta.
Ele não vai se importar que eu queira proteger minha irmã.
Também não vai se importar que o feitiço não tenha sido criado por
mim. Tudo o que ele vê é o uso de magia sombria para criar um
vínculo fabricado.
Não importa que eu desejasse que fosse real ou que tudo
parecesse bom por um minuto.
Ele está certo em me odiar. E assim que o feitiço for quebrado,
meus dois espectros se juntarão a ele nesse ódio.
— Apenas me diga como quebrá-lo, Majestade — peço,
encerrando a conversa. Não há mais nada a dizer aqui. Seguirei as
instruções que Ayla te deu e depois aguardarei seu julgamento. Não
pode ser pior do que o que o Clã dos Excluídos fará comigo.
Também não pode ser pior do que me sinto agora, decido,
sentindo meu peito doer com o conhecimento de que estou prestes
a destruir a única felicidade que realmente conheci.
Mas é a única maneira.
Os espectros não eram meus de verdade. Sei disso desde o
momento em que percebi que estávamos ligados.
Nada nesta vida pode ser verdadeiramente prazeroso. Não para
mim, de qualquer maneira.
Sou um ser da morte.
Destinada a ficar sozinha.
Eternamente.
CHAPTER VINTE E CINCO
KASPIAN
Ayla abre um portal que nos leva a outro telhado, este no coração
de Staten Island.
Faço uma pausa depois de passar por ele, e meus instintos
exigem que eu examine a cena.
Claro, avalio depois de observar o que me rodeia. Assim como
os últimos três telhados.
Parece que é isso que Ayla gosta de fazer: viajar por portais em
telhados.
— Esse é um truque útil — digo a ela, apontando para a porta
com o queixo. — Nunca vi nada parecido. A que distância você
pode ir?
— Só posso criar uma porta para lugares onde estive — ela
responde. — E antes que você pergunte, não, não pode ser
replicado com magia. É um talento que está ligado ao meu espírito,
semelhante à minha habilidade de rastrear a aura.
Assinto, entendendo isso ainda mais agora que passamos a
maior parte do dia juntos.
Ayla explicou que as bruxas do Clã dos Excluídos são diferentes
de outras de sua espécie por causa de seus laços únicos com o
plano da morte.
— A maioria das bruxas vem do mundo das bruxas.
Tecnicamente, nós também, mas nossa magia se manifestou de
uma maneira diferente. Fez um caminho mais sombrio. Acho que
você poderia dizer que a magia da morte infectou nosso clã e
mudou a forma como realizamos feitiços.
— Mas como? — perguntei antes. — O plano da morte não é
outro mundo. — Se fosse, eu saberia disso. Ou, pelo menos,
existiria um portal que permitiria que outros o visitassem.
— Não. Está ligado ao núcleo do nosso clã, nossas almas. —
Ela dá de ombros. — Os membros do meu clã possuem magia
mortal. É raro e temido, e é em parte por isso que somos todos
excluídos.
Isso eu sabia.
— Necromantes — traduzi. — Ou esse é o boato sobre o seu
clã, de qualquer maneira. Vocês são todas necromantes.
— A necromancia sugere que todos nós podemos controlar os
mortos. — Seus olhos negros encontraram os meus. — Eu não
posso. Mas meus poderes estão enraizados nas almas, o que é
uma forma de morte.
— E a Fallon pode imitar o sono mortal — acrescentei. — Além
de perturbar os mortos. — Esses são os feitiços que
testemunhamos no ano passado, quando Klas se aproveitou dos
poderes de sua companheira forçada.
— A Fallon pode fazer muito mais que isso — Ayla me disse. —
E a Ishara também. Elas só precisam se libertar das coleiras dos
patriarcas.
Perguntei a ela como fazer isso e ela balançou a cabeça.
— Se eu soubesse, não estaria aqui.
Ela anda de um lado para o outro agora, com movimentos felinos
enquanto ronda a beira do telhado.
A maioria dos seres sem asas temeria a queda de cinco andares
até o chão. Mas não Ayla. Ela caminhou assim pela beira de todos
os telhados em que estivemos. Incluindo o de Manhattan, que tinha
mais de cinquenta andares.
— Aquela casa ali — ela diz, apontando para sudoeste. — É a
casa da família de Patrick O’Neely.
Ando ao lado dela para ver a casa da família do suposto líder do
Clã dos Excluídos.
Pelo que Ayla disse, existem sete patriarcas. Mas Patrick
O’Neely é considerado o mestre.
Foi ele também quem forçou Fallon a criar um vínculo de
companheiro com Klas.
E provavelmente foi quem enviou Klas para se infiltrar nas fileiras
de Ouro e Granada.
O que o torna o alvo número um, com o pai de Fallon em
segundo lugar.
Estou prestes a pedir a ela que aponte as armadilhas de
segurança mágicas invisíveis que cercam a casa, algo que ela fez
em nossos dois últimos locais, quando meu telefone começa a tocar.
— Ainda bem que a Ayla me emprestou um pouco de magia
para carregar minha bateria — digo em jeito de saudação. — Depois
da nossa última ligação, você quase esgotou...
— Ela não quer acordar — Kaspian me interrompe, com uma
nota de pânico incomum na voz.
— O quê?
— A Fallon — ele elabora, seu rosto aparecendo na tela. — Ela
não quer acordar.
Me afasto da borda com Ayla ao meu lado, nós dois focados na
tela que preenche o espaço à minha frente.
Kaspian se vira para mostrar Fallon inconsciente, sua pele
branca contrastando fortemente com o chão de mármore obsidiano
abaixo dela.
Esse não é o quarto dela, penso, reconhecendo a propensão de
Kaspian para cores escuras.
Ela está nua, é minha próxima dedução inútil.
Seus lábios estão azuis, é o pensamento que finalmente me traz
de volta à relevância desta ligação.
— Você tentou reanimá-la como da última vez?
— Sim. Nos últimos vinte minutos. — A voz de Nox tem o
mesmo tom de pânico que a de Kaspian.
Bane está no chão ao lado dela, com a calça preta desabotoada
e o cabelo uma bagunça de ondas escuras. Ele está verificando o
pulso dela. O que quer que ele tenha encontrado, provavelmente a
falta de batimentos cardíacos, o faz se inclinar para soprar na boca
de Fallon enquanto Nox assume as compressões torácicas.
Estremeço enquanto observo, meu coração começando a bater
forte contra minhas costelas.
Se ela estivesse realmente morta, eu sentiria alguma coisa,
certo? Um vínculo quebrado? Sua alma partida?
— Os patriarcas devem estar fazendo algo para evitar que você
a acorde desta vez. — Há uma clara nota de desconforto na voz de
Ayla. — Não acho que nenhum de nós queira saber o que isso
implica.
— Eu quero — Kaspian retruca, o tom de raiva tão incomum
quanto seu pânico. Ele permaneceu calmo durante nossa ligação
anterior, de forma quase assustadora. Esta demonstração de
emoção é... nova.
— Se soubermos o que eles estão fazendo, podemos acordá-la
— Nox diz, se concentrando em comprimir o esterno de Fallon. —
Ela está muito fria.
— Porque eles arrastaram a alma dela para o plano da morte —
Ayla murmura. — Ela não está morta de verdade, mas seu corpo...
— Ela torce os lábios para o lado. — Não pare de tentar reanimá-la.
Ela precisa que o sangue circule, ou isso pode causar danos
permanentes.
Meu queixo treme.
— Danos permanentes?
— Danos cerebrais, entre outras coisas. — Ela olha para a casa
do Patriarca O’Neely. — Os patriarcas poderiam estar lá, realizando
este feitiço. Mas duvido. Eles têm espaços cerimoniais secretos
para suas reuniões que ainda não encontrei.
— Você não consegue rastrear suas almas?
Ela balança a cabeça.
— Não sem que eles percebam. — Ela cruza os braços. — Você
sentiu minha abordagem porque minha magia tocou sua aura. Faria
o mesmo com eles se eu tentasse caçá-los.
— Então você está dizendo que só pode rastrear aqueles que
não se importam de ser rastreados? — Esse é certamente um limite
para o que de outra forma seria um grande talento.
— Ou alguém que não esteja muito consciente do que está ao
seu redor — ela responde. — Felizmente, a maioria das pessoas
não presta atenção aos seus instintos. Infelizmente, os patriarcas
são idiotas paranoicos e, portanto, não como a maioria das pessoas.
Decido não perguntar se sou classificado como um “idiota
paranoico”, já que notei que ela me seguiu mais cedo e, em vez
disso, me concentro no que importa.
— Há alguém que você possa rastrear que possa estar perto do
local da reunião agora? Como talvez a Issy?
Se os patriarcas estão com Fallon, então talvez também estejam
com ela.
— O que foi que aconteceu? — Kaspian questiona, atraindo meu
olhar para a tela, onde Bane e Nox estão pairando sobre um chão
vazio. — Para onde é que ela foi?
Ayla caminha em direção à tela, com os olhos arregalados e
combinando com a minha expressão. Então ela se vira, com os
lábios entreabertos enquanto olha para o norte.
Kaspian, Nox e Bane começam a falar ao mesmo tempo, mas
Ayla é quem chama minha atenção.
Porque ela ficou completamente imóvel ao meu lado.
— O que você está sentindo? — pergunto a ela.
— Fallon — ela murmura e suas íris negras estão tremeluzindo
com chamas perigosas enquanto ela direciona sua atenção para
mim. — É a Fallon.
— O que tem ela? — Kaspian questiona através da tela antes
que eu possa dizer uma palavra. — Onde ela está?
Ayla não olha para ele, seu foco ainda está em mim.
— Ela está de volta. — Ela pisca. — A Fallon está de volta.
— Como isso é possível? — pergunto.
— Não sei, mas eu a sinto. — Ela engole em seco, olhando para
o norte novamente. — E se ela está onde acho que está, vamos
precisar de ajuda.
CHAPTER VINTE E OITO
FALLON
Meu destino.
É isso que os patriarcas querem discutir.
O que lhes dá o direito de ditar meu destino? Quero exigir, meu
instinto de expressar a pergunta é um desejo avassalador que
quase faz minha boca se mover.
Por mais de duas décadas, fiz tudo o que esses homens me
disseram para fazer. Eu os obedeci. Me curvei diante deles.
Acasalei por eles.
E para quê? Para que eles continuem a controlar todos os
aspectos da minha vida? Exigir que eu morra porque Klas falhou
com eles?
Há anos que Issy me diz para enfrentar os patriarcas, para não
permitir que eles a usem como motivo para a minha obediência.
Não ouvi porque ela era mais importante do que tudo no mundo.
Ela era minha única conexão na vida. Minha única razão para
sobreviver.
Mas tudo mudou agora.
Tenho um propósito renovado, que posso sentir me firmar em
outro plano de existência.
Meus companheiros.
A importância deles não substitui a de Issy nem menospreza
minha conexão com minha irmã gêmea. A presença deles, de
alguma forma, fortalece meu vínculo com minha irmã. Talvez porque
meus companheiros estejam me dando ainda mais motivos para
sobreviver.
Eles vão me ajudar a salvá-la. Não é algo que discutimos. Mas,
de alguma forma, sei que posso confiar neles. Eles nos darão um
novo lar. Um lugar para sermos livres.
Saber disso desperta confiança em mim agora.
É por isso que levanto a cabeça da pedra da morte para olhar
para os homens encapuzados ao meu redor.
Vocês querem discutir meu destino? Tudo bem. Podemos
discutir meu destino.
Eles não podem me ouvir, mas isso não importa. Demonstro
meus sentimentos com os olhos, digo a eles com um olhar que não
desejo mais obedecer.
Estou farta.
Estamos fartos.
— Talvez seja preciso começar esta sentença com uma
atualização sobre sua irmã gêmea — o Patriarca O’Neely diz com
uma pontada de ameaça em seu tom majestoso. — Tenho certeza
de que você notou sua incapacidade de se comunicar com ela.
Talvez isso te lembre de uma experiência anterior?
Meu queixo treme, e eu semicerro meus olhos. O feitiço de
obediência. Isso me afastou de Issy, fazendo com que eu me
concentrasse apenas em Klas e em seus desejos.
Issy? Sussurro para ela, percebendo que já faz muito tempo
desde a última vez que a senti em minha cabeça.
Não desde que a usaram para me interrogar depois da última
vez que deixei o plano da morte.
Ah, Issy, o que eles têm feito com você?
Juro que vejo um dos patriarcas sorrir. Ou talvez eu apenas sinta
mais do que veja, porque seus capuzes estão envoltos em sombras.
Não consigo nem identificar quem é quem.
E quando um deles fala, as palavras ecoam ao meu redor.
Só reconheço o dono da voz, não o capuz de onde ela se
origina.
— Sua irmã foi recentemente acasalada — o Patriarca O’Neely
continua. — Infelizmente, seus poderes dificultaram a realização de
uma cerimônia adequada, então improvisações tiveram que ser
feitas. E, bem, ela está bastante indisposta no momento.
Algumas risadas seguem suas palavras enquanto meu coração
congela.
Acasalada? Indisposta?
Puta merda.
Issy!
Ela não responde. E não consigo senti-la.
Isso é inaceitável. Fiz tudo que esses idiotas exigiram de mim.
Exceto o suicídio, percebo. Eles ameaçaram me punir. Mas...
mas é Issy quem está pagando pela minha desobediência.
Claro.
Idiotas. Fecho meus dedos em punho. Vocês são todos um
bando de idiotas.
E eles ainda estão rindo. Se deleitando com meu tormento.
Não, não apenas o meu tormento, mas o de Issy também.
Minha irmã inocente que foi amaldiçoada com uma voz mortal.
Que viveu grande parte da sua vida em um quarto sem janelas. Cuja
própria existência foi ridicularizada e odiada pelo nosso clã.
No entanto, eles a acasalaram com alguém.
Com quem?, quero exigir.
Porque seja quem for, vou incapacitá-lo. Talvez até matá-lo, já
que aparentemente Ayla sabe como quebrar os laços do
acasalamento forçado.
Teria sido útil saber disso há alguns anos, mas algo me diz que
só recentemente ela aprendeu como fazer isso. Caso contrário, teria
compartilhado esses detalhes com Issy.
Ela aprendeu durante os testes? Talvez logo depois? Não tenho
certeza. Mas vou descobrir. Então usarei esse conhecimento para
libertar minha irmã.
Porque esses idiotas encapuzados não vão mais controlar a mim
ou a minha irmã.
Chega.
A pedra da morte esquenta, me lembrando da última visita a este
plano. Meus companheiros? me pergunto, sentindo a presença
deles ao meu redor. Eles estão me trazendo de volta?
— Fallon Doyle — dizem os patriarcas, suas vozes ecoando ao
meu redor e garantindo meu foco. — Você falhou conosco. Exigimos
recompensa.
— A recompensa será tirada de Ishara Doyle — um dos
patriarcas diz.
Patriarca McCarthy? imagino, apenas vagamente familiarizada
com seu tom grave.
— Sim — os patriarcas confirmam novamente como um
aglomerado de vozes. — Ishara Doyle sofrerá pelos fracassos de
Fallon Doyle.
— A menos que você queira um destino alternativo — Patriarca
O’Neely oferece, aquele tom cheio de intenções sinistras. — Você
poderia poupar um pouco de dor para sua irmã, Fallon. Mas isso
exigirá sua total devoção à nossa causa.
Semicerro os olhos. Essa retórica fica cada vez mais cansativa.
Me dediquei à causa deles durante toda a minha vida, e onde
isso me levou?
Acasalada com um monstro.
Fundamentada por um feitiço de obediência.
Abusada sexualmente.
Enterrada viva em inúmeras ocasiões.
Usada e abusada.
Dissociada da minha própria magia.
Separada da minha irmã gêmeo, tanto mental quanto
fisicamente.
De novo. E de novo. E de novo.
A pedra da morte aquece ainda mais abaixo de mim, parecendo
ficar mais quente com a minha ira crescente.
Porque tudo isso é mentira.
Fiz tudo por essas criaturas sem alma, para ser derrubada a
cada passo.
E agora eles tiraram minha irmã de mim de novo? Ameaçam
fazê-la sofrer pelos meus supostos fracassos?
Que. Se. Dane.
— Klas falhou, não eu — digo a eles, surpresa com minha
capacidade de falar com tanta fluidez. Talvez eles estejam me
permitindo falar. Isso explicaria minha capacidade de me mover
também. Eles não devem ter achado necessário me acorrentar
desta vez.
Me afasto da pedra da morte, não sentindo mais o peso em
meus ombros... o poder que originalmente me forçou a me curvar.
Estou livre.
É uma constatação que provo ao me levantar. Isso é bom.
Poderoso. Certo.
A magia mortal ao meu redor pulsa, os fios arrepiantes giram no
ar e flutuam mais perto para beijar minha pele.
— Fallon Doyle — as vozes ecoam bruscamente. — Você vai
obedecer.
— Eu obedeci — digo a eles. — Obedeci a vocês durante toda a
minha vida. Desisti de tudo. Tudo pela segurança da Issy. Mas
vocês começaram esta discussão com uma atualização sobre o
destino dela.
Dou um passo à frente enquanto mais garras geladas giram ao
meu redor, cada uma parecendo derreter no momento em que toca
minha forma superaquecida.
Não machuca. Na verdade, é muito bom. Revitalizante, até. Uma
sensação estranha para um plano mortal, mas não penso duas
vezes sobre isso. Eu a abraço.
— Acasalei com Nikolas O’Neely e o obedeci por quatro anos.
Ele escolheu atacar o Rei de Ouro e Granada. Ele falhou. E vocês
queriam recompensá-lo por esse fracasso com minha alma na vida
após a morte.
Dou mais um passo em direção aos patriarcas encapuzados.
— Não tive a chance de obedecer. — Não que eu pretendesse,
mas esses idiotas não precisam saber disso. — O plano da morte
me sugou e me devolveu a novos companheiros. E a resposta de
vocês foi acasalar minha irmã?
Essas últimas quatro palavras reverberam pelo ar, semelhante
ao som dos patriarcas.
— Vocês me separaram dela. De novo. Infligiram um feitiço de
obediência a ela. Subjugaram-na. E pensam em me provocar com
esse conhecimento para me convencer a escolher um destino
alternativo?
Minhas palavras começam a ecoar e minha voz vibra de uma
forma que nunca experimentei.
Os patriarcas tentam repetir meu nome, e uma onda de poder
parece pulsar ao redor deles.
Mas não me toca.
Estou muito envolvida em todos os fios gelados que continuam
se derretendo contra a minha pele. É como se eu tivesse formado
um tipo estranho de escudo. Ou talvez eu tenha acabado de
absorver um. Não tenho certeza, mas me sinto segura. Capacitada.
Encorajada.
— Que improvisações foram feitas? — exijo. — Como a minha
irmã está sendo subjugada? Onde ela está?!
Essas últimas três palavras me deixam rugindo enquanto um
vento mortal gira ao meu redor.
— Me digam com quem vocês a acasalaram. Me digam quem
está com a minha irmã!
O vento se transforma em um ciclone de energia e avança em
direção aos patriarcas, arrancando os capuzes de seus rostos
assustados.
Eles parecem fantasmas aqui, as almas estão tremendo com a
força da minha rajada gelada.
É estranho que eles sejam de natureza etérea, mas me sinto
corpórea. Uma olhada em minhas mãos confirma meu estado
sólido.
Não sou apenas uma alma aqui. Sou eu.
Porque este lugar é a fonte do meu poder.
Eu o invoco agora, dizendo-lhe para me dar forças. Porque
preciso canalizá-la para minha irmã gêmea. Para ajudá-la a acordá-
la do feitiço de obediência. Salvá-la de sua dor.
Os patriarcas começam a gritar, mas eu os ignoro, concentrada
demais na energia crescente ao meu redor.
Drene através de mim e encontre Issy, digo a magia mortal.
Liberte-a de seus limites. Acorde-a de seu sono. Devolva a voz dela!
Fecho os olhos e ordeno que o plano da morte cumpra minhas
ordens, a manipulação do poder me lembra dos feitiços que
conheço que podem ressuscitar os mortos.
Mas não estou brincando com almas ou cadáveres agora. Estou
simplesmente invocando o coração dos meus dons. Este plano é
movido por espíritos, e sua energia coletiva cria uma pulsação que
alimenta minha existência.
Requer respeito. Reverência. Entendimento. Caso contrário,
seria fácil me perder no vazio do poder.
Felizmente, tenho várias âncoras que facilitam meu foco. Me
ajudam a lutar para sobreviver.
Meus companheiros.
Meus verdadeiros companheiros.
Sinto a vitalidade deles me puxar de volta ao mundo real, a
presença me estabiliza enquanto continuo a absorver mais magia.
Minha alma está faminta por isso.
Mais. Mais. Mais.
Vá para Issy.
Acorde-a.
Faça-a inteira novamente.
Já não ouço nem sinto os patriarcas. Eles são uma memória
distante em minha mente.
Este plano nunca foi verdadeiramente deles, penso, a voz mental
soa como a minha. Exceto que não tenho certeza de como conheço
essa informação... é um conceito estranho.
Mas... parece que minha magia sussurrou isso em minha mente.
Como isso é possível? Penso, abrindo os olhos. Como qualquer
coisa disso...?
Meu pensamento desaparece quando percebo que meu cenário
mudou mais uma vez.
Mas não estou de volta à Islândia com meus companheiros.
Estou em um quarto escuro. Muito frio.
Um freezer, percebo enquanto arrepios sobem e descem em
meus braços expostos. Estou nua em um freezer.
Está escuro como breu, tornando impossível ver.
No entanto, sei que não estou sozinha aqui.
Porque posso ouvir outra pessoa respirar.
É superficial e acompanhado por um bipe estranho.
O que é isso? Tateio ao redor, procurando por uma parede, porta
ou qualquer coisa que eu possa usar para ver.
Bip. Bip. Bip.
Me aproximo do som.
Bip. Bip. Bip.
A respiração está mais alta do que deveria, quase como se
estivesse sendo amplificada por alguma coisa.
Bip. Bip. Bip.
Que merda está acontecendo? Ainda posso sentir os vestígios
do plano da morte girando ao meu redor, o poder beijando meu
espírito e despertando o calor por dentro.
Bip. Bip. Bip.
Me aproximo enquanto procuro em minha mente um feitiço que
permita a luz. Talvez até fogo.
Porque, caramba, está frio aqui.
Bip. Bip. Bip.
Murmuro uma frase na língua antiga, uma que Issy me ensinou
há muito tempo.
Isso desperta um brilho de luz, que flutua ao redor do pequeno
espaço diante de mim.
Bip. Bip. Bip.
É uma máquina, confirmo, a lâmpada brilhante gira em torno
dela para revelar um instrumento semelhante a uma bomba que
empurra o ar para dentro...
Arregalo os olhos com a visão horrível que se desenrola diante
de mim. A máquina serve para ajudar alguém a respirar.
E esse alguém é...
— Issy.
CHAPTER VINTE E NOVE
KASPIAN
Meu coração bate forte quando Fallon morde meu lábio inferior.
Sua energia ardente aquece minha pele. Ela parece estar tentando
me ensinar algum tipo de lição.
Não tenho certeza de qual é, mas estou gostando.
É por isso que não assumo imediatamente o controle do nosso
beijo. Eu a deixo brincar. Morder. Beijar. Lamber.
Quando ela começa a se afastar, eu a agarro.
— Minha vez — digo a ela, segurando um punhado de seu
cabelo e puxando-a de volta para mim.
Fallon arregala os olhos, mas ela começou este jogo.
Ela queria provar algum tipo de ponto. Então vou retribuir o favor.
E o que quero dizer é bem simples: se quiser jogar, jogaremos.
Mas esteja preparada, pequeno canário. Eu jogo para ganhar.
Ela estremece contra mim enquanto minha língua desliza em sua
boca. Deixei que ela ditasse o ritmo antes porque queria dar a ela
uma chance de explorar. No entanto, agora ela precisa aprender
minhas preferências. Meu ritmo. Meus desejos.
Um deles é definir seus limites.
Dominar seu prazer.
Prolongar a experiência até que ela estoure por dentro e me
implore para deixá-la gozar.
Cada um tem seus desejos. Mas esses são meus.
Adoro jogos de paixão. Quero levar Fallon às estrelas. Fazê-la
gritar por horas.
E digo tudo isso a ela com a minha boca. Minha língua. Meus
dentes.
Ela não é a única que consegue transmitir mensagens aqui
através do toque.
Quando termino minha parte da aula, ela está ofegante, e os
olhos esmeralda vidrados de prazer. Ela umedece os lábios, com o
foco em minha boca antes de olhar para os outros.
Kaspian está sentado na cama, sem paletó e colete. Seus olhos
escuros estão colados em nós dois. Nunca transei em grupo. Ele
sabe disso. Mas por ela... eu faço. É por isso que a beijei tão
abertamente na frente dos outros.
Bane e Nox estão parados por perto, com o botão de cima da
calça jeans desabotoados.
Quase sorrio com a demonstração de desconforto.
Se eles acham que beijar Fallon é sexy, deveriam ver o que mais
posso fazer com ela.
Mas primeiro, quero que ela fique nervosa. Que se sinta
provocada. Preparada.
— Humm, acho que seus espectros querem brincar, Fallon —
digo a ela. — Assim como nosso rei vampiro.
Kaspian arqueia uma sobrancelha para mim, plenamente
consciente de que não costumo fazer isso. Nós nos conhecemos há
muito tempo e, embora tenha havido algumas experiências entre
nós, já faz um tempo desde a última vez que compartilhamos uma
mulher.
Nós dois competimos pelo domínio no quarto.
O que pode ser bom.
E também ruim.
Mas por Fallon, acho que podemos fazer isso muito bem.
— O que acha, Kas? — pergunto, com o olhar em Fallon. —
Deveríamos deixar os espectros pegá-la primeiro? Aquecê-la para
nós?
Suas íris da cor da meia-noite brilham de tentação. Ele sabe o
que estou oferecendo.
— Sim. Mas imagino que você tenha alguns requisitos?
— Tenho. — Olho para Bane e Nox. — Ela não tem permissão
para gozar até que eu diga que pode. Tirando isso, façam o que
quiser.
Fallon abre os lábios.
— O quê?
Eu a beijo novamente e aperto seu cabelo com mais força.
— Confie em mim, doce canário. Vou te fazer cantar de uma
maneira que você nunca experimentou antes. — Falo as palavras
bem contra sua boca, depois dou uma mordida. — Agora, seja uma
boa menina e deixe os espectros te comerem.
Ela me olha boquiaberta.
Vou me sentar ao lado de Kaspian na cama, com o olhar nos
espectros, enquanto eles rondam em direção a Fallon, que ainda
está assustada. Ela pula quando Nox beija seu pescoço, e seus
olhos verdes encontram os meus. Parece que ela quer dizer alguma
coisa, talvez uma refutação sobre minha regra, mas é silenciada por
Bane, que assume o controle de sua boca com a dele.
Nunca assisti os espectros transarem, mas aprendo descubro
por que Kaspian é tão encantando por eles. Eles se movem juntos
como um só, suas mãos se espelhando enquanto removem as
roupas de Fallon, acariciando e beijando cada centímetro dela.
— Você gosta de anal, Fallon? — pergunto, curioso para saber
se ela já recebeu um homem dessa maneira.
Tenho minha resposta antes que ela fale. Seus olhos
arregalados me dizem que isso não é algo que ela tenha
experimentado antes.
— Eu... eu não sei.
— Gostaria de descobrir? — Kaspian pergunta, seu sotaque
inglês se aprofunda com as palavras. — Porque o Nox é um
especialista na arte de comer por trás.
O espectro sorri contra o pescoço de Fallon, o peito nas costas
dela.
— É verdade — ele diz no ouvido dela. — E estou morrendo de
vontade de estocar sua bunda curvilínea, vaga-lume.
Ela estremece em resposta, os mamilos rosados brilham com
claro interesse. Bane se inclina para tomar um na boca e a faz
gemer alto em aprovação.
Esses dois mal começaram e já posso ver seu corpo se contrair
de necessidade.
Quando ela gozar, será intenso.
E mal posso esperar para vê-la explodir.
— Fale, pequena chama — Bane diz contra seu peito cheio. —
Nos diga o que você quer e te daremos.
Exceto por um orgasmo, penso. Isso você não pode dar agora.
Felizmente, ela parece saber que não deve pedir. Em vez disso,
ela olha de mim para Kaspian antes de dizer:
— Gostaria de tentar.
— Tentar o quê? — Nox pergunta em seu ouvido. — Você sabe
como nos sentimos em relação a detalhes.
Ela engole em seco e seus cílios tremulam um pouco.
— Quero tentar anal.
— Humm — Nox murmura. — Só anal? Ou quer que o Bane e
eu transemos com você ao mesmo tempo?
O corpo de Fallon estremece em resposta à sua pergunta, me
dizendo que nossa garota gosta de sacanagem.
Anotado, penso enquanto ajusto meu jeans. A calça está
começando a ficar um pouco justa, graças à exibição erótica na
minha frente.
— Quero que vocês me comam ao mesmo tempo — ela
murmura.
Puta merda. Essas palavras sensuais saindo de sua boca
deliciosa me deixam ainda mais duro para ela.
Kaspian deve sentir o mesmo, porque começa a desabotoar a
camisa.
— Vamos precisar deixar você bem molhada, então — Nox
informa a ela. — Bane?
O outro espectro sorri contra o peito dela e se ajoelha.
Fallon inspira profundamente quando ele começa a lamber sua
boceta brilhante. Tiro a jaqueta de couro enquanto observo, meu
olhar viajando entre sua boceta e seus seios, observando sua pele
corar com necessidade crescente.
Mas toda vez que ela se aproxima do pico, Bane se afasta, me
agradando imensamente.
Parece que os espectros sabem respeitar as regras. Isso será
útil em nossa nova dinâmica.
Kaspian dobra a camisa e a coloca em um banco ao pé da
cama. Então ele pega minha jaqueta descartada e acrescenta à
pilha. Sigo em frente, tiro a camiseta também e entrego a ele.
Nox segue o exemplo, mas ele tira tudo, não apenas a blusa, e
passa um braço em volta de Fallon para lhe dar algum apoio
enquanto os dois permanecem de pé. Ele beija seu pescoço,
levantando a palma da mão para agarrar seu seio.
— Como você se sente, vaga-lume? — ele pergunta a ela. — O
Bane está te dando prazer?
Ela estremece, e aquele rubor sobe em direção ao seu pescoço.
— Sim — ela diz, arqueando o rosto de Bane enquanto ele
afasta a boca do clitóris. Um som de protesto escapa dela em
resposta, e seus membros começam a tremer.
Bom, penso, satisfeito com sua excitação crescente. Continue.
Bane penetra dois dedos dentro dela, e meu ponto de vista da
cama me permite ver o quanto ela está molhada enquanto ele os
desliza dentro e fora dela com facilidade. Ele acrescenta um terceiro
depois de alguns minutos, depois retorna a língua ao clitóris. Seus
movimentos provocam mais do que agradam.
Fallon geme e leva a mão a cabeça de Bane, tentando segurá-lo
contra si. Ele sorri, divertido, e lentamente desliza os dedos para
trás, para a outra entrada dela. Ela abre os olhos quando ele insere
um e suas pupilas se arregalam.
Nox segura seu queixo e a guia em direção a ele para um beijo,
movimento que ele usa para distrai-la enquanto Bane continua seus
esforços abaixo.
É uma dança linda, com um timing excelente.
— Entendo por que você é tão obcecado por eles — digo a
Kaspian.
Seus lábios se curvam.
— Este é apenas o começo. Espere até que eles coloquem a
boca em você.
Olho de lado para ele.
— Isso não é algo que eu goste.
— Eles poderiam facilmente fazer você gostar — Kaspian
responde.
Mas eu balanço minha cabeça.
— A única boca que quero em mim é a da Fallon. — Porque
aqueles lábios dela foram feitos para serem comidos, não só pela
minha boca, mas também pelo meu pau.
Ela solta outro som delicioso enquanto Bane aumenta a pressão
em suas costas, preparando-a para pegar o pau de Nox.
Eu adoro um pouco de dor, mas parece que o espectro prefere
um tipo diferente do meu. Na verdade, estou bastante
impressionado. E aposto que o padrão desse piercing dá muito
prazer a Fallon.
— Ela está pronta — Bane murmura depois de mais um minuto
preparando-a, com o olhar em seu rosto.
Observo o rubor que cobre sua pele, o modo como suas pernas
tremem quase com violência e a umidade que cobre os lábios de
Bane.
— Ela está — concordo.
Kaspian se levanta para tirar a calça e os sapatos, depois se
acomoda na cama perto da cabeceira.
Decido fazer o mesmo, o colchão é enorme e deixa bastante
espaço para Fallon se juntar a nós com seus dois espectros.
Nox a leva para a cama, sua boca está unida a dela a cada
passo do caminho. Bane segue atrás deles enquanto se despe, com
a expressão excitada pela visão diante de si.
— Bane vai se sentar no centro da cama e você vai montá-lo —
Nox diz a Fallon. — Quando você estiver confortável com ele dentro
de si, eu vou te penetrar. — Ele afasta o cabelo dela do ombro e
beija sua pele exposta. — Vamos devagar, vaga-lume. E vamos
parar se parecer que é demais. Certo?
Ela engole em seco e assente.
— Certo.
Ele a beija mais uma vez enquanto Bane se acomoda a poucos
centímetros de mim. Então a levanta com facilidade e a coloca na
cama.
Fallon faz uma pausa quando se vira para Bane, seu olhar indo
do espectro para mim e depois para Kaspian.
É a primeira vez que ela me vê sem roupa, e a expressão em
seus olhos me diz que ela aprova o que encontra.
O sentimento é muito mútuo, linda, digo a ela com meus olhos
enquanto admiro sua forma sedutora.
Meu olhar parece encorajá-la porque ela fica de joelhos e
começa a rastejar em direção a Bane. Seus olhos estão em mim
enquanto ela se move, e seus seios balançam enquanto ela avança.
É uma visão deslumbrante.
Uma que quase me faz exigir tomar o lugar de Bane.
No entanto, não estou apenas atrasando o prazer dela, mas o
meu também.
— Nos mostre o quanto você aceita bem o Bane, amor —
Kaspian diz. — Quero ver o quanto você pode deixá-lo molhado.
Fallon estremece visivelmente. Suas narinas estão dilatadas.
— Sim, meu rei.
Os lábios de Kaspian se curvam para cima, mas ele não diz
nada em resposta à atrevimento dela. Ele apenas observa com um
olhar aquecido enquanto ela obedece ao seu pedido, montando em
Bane e inclinando o pau dele em direção ao seu calor.
E afunda.
Levando-o ao máximo sem vacilar.
— Puta merda — murmuro, e minhas veias inflamam com uma
necessidade feroz que faz minhas bolas pulsaram entre as pernas.
Nunca imaginei que assistir outro homem transar com Fallon
pudesse ser tão excitante.
E eles nem começaram ainda.
— Ela não é linda? — Nox pergunta enquanto se junta a todos
nós na cama. — Ela nos leva com uma habilidade natural, provando
que fomos feitos um para o outro. — Ele beija a nuca dela. — Não é
mesmo, vaga-lume?
— Sim — ela concorda, e seu doce corpo se arqueia em direção
a Bane enquanto ela vira a cabeça para beijar Nox mais uma vez.
O espectro a toma, sua boca domina a dela enquanto ele se
posiciona por trás. Ele envolve a palma da mão no pescoço dela
para mantê-la no lugar enquanto a palma oposta vai para a virilha.
— Você vai sentir um pouco de pressão — Bane a avisa,
assumindo o treinamento anterior de Nox. — Tente relaxar, Fallon.
Confie em nós para fazer você se sentir bem.
Ela enrijece um pouco quando Nox começa a penetrar, mas os
movimentos dele são graduais, em vez de apressados, e o toque
dele é reverente, apesar da posição da mão na garganta dela.
Ele a se segura no lugar para protegê-la, para garantir que ele
possa sentir suas reações, sentir a maneira como ela está
engolindo, inspirando e expirando. É uma demonstração de muito
cuidado, que só me faz respeitá-lo mais.
Esses homens são dignos de nossa companheira.
Agora só preciso provar que também sou.
— Puta merda, você é linda — Kaspian murmura, com o olhar
em Fallon. — Você está maravilhosa, recebendo o pau deles, amor.
Boa demais. — Ele alcança seu pau para se acariciar, algo que
anseio fazer no meu. Mas não faço.
Isto é sobre Fallon.
Seu prazer.
E nossa gratificação mútua atrasada.
Em breve, digo a mim mesmo. Ela será minha em breve.
Nox afasta a boca da dela, soltando um suspiro forte.
— Você é incrível, Fallon — ele diz a ela. — Incrível demais.
— Você é — Bane ecoa, enquanto move os quadris. — Posso
sentir o Nox dentro de você também. Como você se sente, doce
chama?
Ela aperta os dedos nos ombros de Bane.
— Preenchida. Eu... eu me sinto preenchida.
— Isso é bom, vaga-lume. Queremos que você se sinta
preenchida. Ele muda de posição, passa os dedos pelos cabelos
dela para assumir o controle de sua cabeça. Mas em vez de puxá-la
para outro beijo, ele a guia em direção a Bane.
Ela geme contra a boca de Bane, seu corpo vibra entre os dois
fantasmas enquanto eles começam a entrar e sair dela.
Nox é mais gentil. Seus movimentos garantem que ela esteja
realmente pronta antes que ele realmente comece a penetrar.
Mas logo os três estão transando de verdade, o êxtase deles é
um afrodisíaco que faz minhas bolas apertarem em antecipação.
A excitação de Fallon se intensifica, suas bochechas ficam um
tom de rosa mais escuro e seus lábios carnudos ofegam contra os
de Bane. Seu peito sobe e desce com o esforço.
Infelizmente, não é suficiente. Posso ver isso na maneira como
ela move os quadris, em busca da fricção adicional de que precisa.
Bane poderia dar isso a ela com facilidade apenas se movendo
ligeiramente. Ou um dos espectros poderia estender a mão entre
eles para acariciar o clitóris necessitado.
Eles não fazem nenhuma dessas coisas.
Simplesmente continuam a estocá-la, suas ações lhe dão prazer
sem permitir que ela chegue ao limite. É perfeito. Exatamente o que
eu quero. E levará a um orgasmo diferente de tudo que Fallon já
experimentou antes.
Ela geme um pouco, seus lábios se movem contra os de Bane
enquanto ela choraminga:
— Mais.
Ele empurra para cima, arrancando um grito dela que ele engole
enquanto Nox aumenta o ritmo por trás.
Eles não vão durar muito mais tempo. Não que eu possa culpá-
los. Fallon é uma deusa entre eles, assumindo seus movimentos
com a graça de uma rainha sensual.
Nossa rainha, eu penso. Nossa companheira.
Nox apoia a cabeça em seu ombro, e um xingamento escapa de
sua boca.
— Sua bunda é ainda melhor do que eu imaginava — ele diz. —
Suas curvas... contra minha virilha... Puta merda, vaga-lume, eu vou
gozar...
Bane grunhe abaixo deles, o som quase animalesco.
Fallon reage visivelmente ao som primitivo enquanto arrepios
percorrem sua pele.
Noto essa preferência também, me perguntando quais outras
atividades selvagens ela desfrutará no quarto.
Seu corpo inteiro parece estremecer quando Nox irrompe atrás
dela, seu gemido fazendo com que ela se arqueie entre eles
enquanto outro daqueles deliciosos gemidos sai de seus lábios.
Tão carente e molhada, penso, admirando suas coxas lisas. Vou
desfrutar disso em alguns minutos.
Ou agora, me corrijo enquanto Bane segue Nox até o ápice, e os
dois gozam dentro de Fallon enquanto a deixam preparada e não
exatamente no limite.
Ela treme entre eles, seus gemidos se transformando em miados
que chamam minha alma. Eu me afasto da cabeceira para segurar
sua nuca, puxando-a para mim para um beijo.
— Você se saiu tão bem, Fallon — digo a ela. — Bem pra
caramba.
Agora ela precisa de uma recompensa. Algo que vai definir o tom
para o nosso futuro. Solidificar quem somos juntos e quem serei
para ela.
CHAPTER TRINTA E CINCO
NOLAN
Solto Fallon por tempo suficiente para que Bane saia de dentro
dela. Ele dá um beijo no canto de sua boca.
— Aproveite, doce chama. Mostre a Nolan o quanto você pode
arder.
Fallon murmura algo ininteligível em resposta, sua mente está
claramente nublada pela necessidade.
É uma necessidade que sinto pulsar em minhas veias.
Uma necessidade que quero alimentar um pouco mais, prolongar
um pouco mais...
Eu me acomodo debaixo dela na cama, sem me importar que ela
esteja encharcada de sua gratificação e da de seus outros
companheiros. Não importa. Isso não a torna menos minha.
— Você está pronta para mim? — pergunto a ela, passando os
dedos em seu cabelo para segurá-la de uma forma semelhante
como Nox fez momentos atrás. — Você me quer dentro de si? — É
uma pergunta com múltiplos significados.
Você quer que eu te coma?
Quer que eu acasale com você?
Depois que eu fizer isso, pertenceremos um ao outro para
sempre.
Seus lindos olhos verdes se fixam nos meus e sua expressão é
feroz.
— Sim. — Não há sinal de hesitação em sua voz ou rosto, sua
resposta é resoluta.
— Bom. — Empurro para cima, unindo nossos corpos e nossas
almas, amando o jeito que ela grita meu nome em resposta.
Sou mais grosso que Bane. Mais longo também. Rivalizo com
Kaspian em tamanho.
O que tornará esta experiência algo verdadeiramente especial
para ela.
Algo que o vampiro enfatiza ao pressionar o peito nas costas
dela.
— Se concentre no Nolan por mim, amor — ele diz em seu
ouvido. — Deixe-o fazer você ter prazer.
Eu traduzo isso como: Deixe o Nolan distraí-la do que estou
prestes a fazer.
Fallon não precisa de distração. Ela está mais do que pronta
para nos levar.
Mas isso não me impede de monopolizar a atenção dela. Queria
essa mulher há meses. Pensei nela muitas vezes, em tantas
posições diferentes.
A sensação dela, no entanto, não faz justiça às minhas fantasias.
Suas coxas são incríveis contra minhas pernas, sua boceta é o
paraíso enquanto pulsa ao redor do meu pau.
E os peitos dela... puta merda, eu amo os peitos dela. Tão
cheios. Tão firmes. Tão deliciosos.
Quero pegar os mamilos entre os dentes e mordiscá-los.
Mas, em vez disso, tomo sua boca, precisando de mais da sua
língua contra a minha, desejando iniciar outra conversa íntima.
Seus dentes roçam meu lábio, e a ação me lembra de como ela
reagiu quando mal beijei as pontas dos dedos depois que ela
aceitou minha promessa de fidelidade.
Sorrio, traduzindo sua ação como um aviso.
— Precisa de algo, Fallon?
— Você sabe do que eu preciso — ela responde, a rouquidão em
sua voz é exatamente o que eu desejo ouvir. — Por favor, me deixe
gozar, Nolan.
— Hum. — Eu me aproximo dela ao mesmo tempo em que
Kaspian a penetra por trás.
Ela paralisa, com os lábios entreabertos em um ruído silencioso.
— Demais? — Kaspian pergunta em seu ouvido, sua voz não
demonstra preocupação verdadeira.
— Não — respondo por ela. — Ela aguenta.
Kaspian assente.
— Ela aguenta, sim. — Ele pontua essa afirmação com outro
impulso.
Fallon ofega, mas não é um som de dor, mas de surpresa. Então
ela flexiona os quadris para frente e para trás, seu corpo
acomodando facilmente nós dois.
É uma jogada ousada, que me faz sorrir contra sua boca.
— Humm, eu te sinto, safada — digo a ela. — Faça isso
novamente.
Em vez disso, ela me aperta, depois agarra meus ombros e se
mexe mais uma vez.
Eu gemo, amando a sensação da sua boceta em torno do meu
comprimento grosso.
— Tão bom — eu a elogio.
O destino fez essa mulher para nós. Porque ela é perfeita. De
tirar o fôlego.
Eu a beijo, desta vez com um novo propósito em mente. Quero
adorá-la. Agradecer a ela. Mostrar o quanto ela significa para mim.
O quanto sou grata a ela por me aceitar, por me permitir apreciá-la.
Kaspian segura seus quadris, o domínio aparece enquanto ele a
guia em um ritmo entre nós. É algo que atende às minhas
necessidades também, algo que ele sem dúvida conhece. Sua
memória é boa. E há algumas coisas que nunca mudam.
Mas meus sentimentos por Fallon são novos. Nenhuma mulher –
ou homem – jamais me fez sentir tanto. Parte disso pode ser o
vínculo do destino, mas suspeito que a maior parte seja apenas
porque é Fallon.
Esta mulher me atingiu desde o momento em que apontei uma
arma para ela.
E agora ela é minha, penso, beijando-a com mais força.
Mantenho a mão em seu cabelo enquanto deslizo outra entre
nós, acariciando seu clitóris inchado. Ela imediatamente estremece
e seu sexo supersensível se contrai ao meu redor.
Os espectros a provocaram de propósito, apenas para deixar
esta parte dela sem toque enquanto transavam com ela.
Isso a impediu de chegar ao limite.
Mas agora apenas algumas carícias a deixam ofegante.
Ela está exatamente onde preciso que esteja, desesperada e
pronta para explodir. Eu a acaricio até que ela começa a tremer, seu
orgasmo bem ali, mas o afasto ao remover meu toque.
A negação do orgasmo é uma dança delicada. É tudo uma
questão de encontrar o ponto ideal. Não posso forçar muito, senão
vai doer. Tenho que ter certeza de que está certo.
Seus dentes afundam em meu lábio quando afasto o polegar
pela terceira vez, sua frustração é adorável.
— Nolan.
— Sim, Fallon? — digo contra sua boca, fazendo Kaspian rir
atrás dela.
— Ele está te torturando, amor? — ele pergunta. — Mantendo
você no limite enquanto transamos com você?
— Sim — ela sussurra.
Assumo o controle de sua boca antes que ela possa dizer
qualquer outra coisa, minha língua duela com a sua enquanto a levo
ao limite mais uma vez. Quando me afasto, ela grita, me dizendo
que finalmente chegamos ao ponto que preciso que ela esteja.
Kaspian também deve sentir isso, porque ele leva a boca ao
pescoço dela enquanto Fallon crava as unhas em meus ombros.
No entanto, ele não a morde.
Ele só pressiona beijos na base de seu pescoço.
Suspeito que isso seja significativo de alguma forma, uma forma
de estabelecer confiança, porque a ação faz Fallon apertar meu
pau.
Ou talvez ela apenas goste da sensação.
De qualquer forma, transformo nosso beijo em algo mais quente.
Mais intenso. E faço isso deixando-a sentir minhas emoções,
enquanto minha língua diminui o ritmo enquanto libero todos os
meus segredos em sua boca.
Conto a ela como fiquei preocupado com a possibilidade de ela
não me aceitar. Como, no fundo, acho que não a mereço. Como
passarei nossa existência garantindo que nunca a decepcionarei.
Como serei eternamente grato pelo destino ter me dado uma
companheira tão perfeita.
Como vou apreciá-la.
Sempre a respeitá-la.
Protegê-la.
Amá-la.
Meu polegar retorna para sua carne inchada enquanto penso
todas aquelas palavras para ela, jurando cada uma delas e
solidificando tudo com esse beijo.
É uma experiência intensa, que me deixa um pouco sem fôlego
enquanto meus quadris se movem com ela e Kaspian.
Seu corpo fica tenso em resposta a todas as sensações, todas
as declarações não ditas, todo o atrito. Começo a contagem
regressiva, consciente de que ela está se aproximando do clímax.
Eu poderia parar com isso.
Afastar minha mão.
Fazê-la ela gritar.
Mas seria demais.
Chegamos ao limite dela e não vou pressioná-la além disso. Não
essa noite. Ela merece muito prazer, muita felicidade, e adoro ser
aquele que irá lhe conceder isso.
Kaspian aperta seu pulso, seus olhos encontram os meus em
compreensão mútua. Ele também pode senti-la se aproximar do
limite.
Nós dois aumentamos o ritmo ao mesmo tempo, arrancando um
gemido baixo de Fallon enquanto garantimos que ela sinta cada
centímetro nosso entrando nela.
Cinco, penso. Quatro...
Ela está muito perto.
Três.
Tão gostoso.
Dois.
Bem aí...
Um.
Ela paralisa.
Cada parte sua foi dominada pelo inferno que queimava dentro
dela.
E então...
Ela explode.
Kaspian e eu nos agarramos a ela, estocando enquanto ela grita.
Seu corpo se curva, tremendo em ondas de imenso êxtase.
Tão imenso que ela cai em um segundo orgasmo logo após o
primeiro.
E era essa a minha intenção.
Algum dia, chegaremos a três.
Mas esta noite, ela está tendo duas experiências muito
poderosas.
E estou prestes a me juntar a ela nessa diversão.
Só mais um pouco...
Ela me aperta com tanta força que me encontro preso dentro
dela, incapaz de me mover. Tudo o que posso sentir são seus
músculos tensos e Kaspian estocando-a por trás.
Eu gemo, minha boca ainda contra a sua.
— Fallon.
Ela precisa deixar eu me mover.
Puta merda.
Seus dentes afundam em meu lábio inferior, seu olhar selvagem
é enquanto ela me encara.
Então ela avança, me apertando ao máximo e me forçando a
segui-la até o ápice. É tão erótico que nem tento lutar contra isso.
Meu canário acabou de assumir o controle, penso, amando o
jeito que ela exigia meu prazer.
Kaspian logo me segue, seu grunhido faz Fallon estremecer de
alegria entre nós.
Então ele assume o controle de sua boca, beijando-a enquanto
tento controlar meus pensamentos, meu corpo e alma. Cada parte
de mim parece completa. Feliz. Totalmente em paz.
Apoio a cabeça no ombro de Fallon, e minha respiração fica
ofegante.
Então sorrio quando ela encosta a cabeça na minha e passa os
dedos em meu cabelo enquanto me abraça.
Kaspian dá um beijo em seu pescoço do lado oposto, depois se
afasta, dizendo algo sobre pegar uma toalha.
Estou muito envolvido em abraçá-la para me mover ainda, minha
alma se regozija por ter encontrado sua outra metade.
— Acho que foi bom você ter errado aquele dia — ela diz
baixinho, roçando a corrente em volta do meu pescoço. — Mas você
deveria trabalhar mais em seu objetivo.
Uma risada me escapa com suas palavras provocantes.
— O único com melhor pontaria que eu é Kaspian.
— Não deixe a Cara ou o Larus te ouvir dizer isso — Kaspian diz
ao retornar. — Eles vão exigir um tiroteio.
Dou de ombros.
— Desde que a Fallon não seja o alvo, por mim, tudo bem.
Fallon faz um som de descontentamento que me faz rir
novamente.
— É você quem está insultando minha pontaria, canário — digo
a ela.
— Porque você atirou em mim.
Eu suspiro.
— Você nunca vai me deixar esquecer isso, não é?
— Não, por pelo menos cem anos — ela admite.
— Hum. — Eu me afasto para estudar seu lindo rosto. — Apenas
cem anos?
— Talvez mil.
— Isso parece mais preciso. — Eu sorrio. — Mas eu mereço.
— Merece — ela concorda. — E sabe o que eu mereço?
Arqueio uma sobrancelha.
— O quê?
— Outro orgasmo.
Kaspian ri atrás dela.
Mas eu, não. Em vez disso, estudo minha companheira e aceno.
— Merece — concordo. — Como você quer?
Suas sobrancelhas se erguem em surpresa.
— Mesmo?
— Sim. — Toco os lábios contra os dela. — Eu te darei o que
você quiser, Fallon. Todos nós daremos. Diga o que quer e será seu.
— Especialmente orgasmos — Nox diz de sua posição na cama.
Ele e Bane assumiram o lugar que eu dividia com Kaspian antes.
— Definitivamente orgasmos — Bane ecoa.
Fallon se contorce um pouco, suas paredes internas apertam
meu pau ainda duro.
— Sabe, a Issy estava certa.
Arqueio a sobrancelha.
— Sobre orgasmos?
— Não. Sobre o futuro.
— O que tem isso, amor? — Kaspian pergunta enquanto passa
uma toalha em suas costas, limpando-a.
— Ela disse que chafurdar no passado só nos impediria de
aproveitar o futuro. E que a única maneira de realmente seguir em
frente era abraçar o destino. — Ela faz uma pausa por um momento,
olhando para a bala em volta do meu pescoço. — Acho que há
alguns eventos passados que nos definem. Mas ela está certa sobre
a necessidade de abraçar o destino.
Kaspian puxa a toalha e a joga sobre algumas das roupas
descartadas.
— Eu concordo em abraçar o destino.
— Eu também — Nox diz.
— Digo o mesmo — Bane concorda.
Eu concordo.
— O destino nos uniu por um motivo. — Acaricio a bochecha de
Fallon. — Para abraçar você.
— Para cuidar de você. — Nox fala, ficando de joelhos ao lado
de Fallon.
— Para te proteger — Kaspian acrescenta, antes de dar um beijo
suave em seu ombro.
— Para te amar — Bane termina enquanto se acomoda do lado
oposto dela, em frente a Nox.
Fallon olha para cada um de nós, para o círculo que formamos
ao seu redor, e sorri.
— Não acredito que esta é a minha vida.
— É real — Kaspian diz a ela, com um brilho no olhar.
— Com certeza é real — concordo e meu pau se contorce dentro
dela.
O sorriso de Fallon cresce.
— Sou a mulher mais sortuda do mundo.
— E somos os companheiros mais sortudos do mundo — Bane
responde.
— Acho que deveríamos mostrar a ela como temos sorte — Nox
sugere.
— Ela pediu mais orgasmos — Bane murmura.
— Pediu — Nox ecoa. — Entre nós quatro, tenho certeza de que
podemos conseguir isso.
— Talvez fazê-la implorar para pararmos? — Kaspian sugere.
— Ah, esse é um plano que eu gosto — admito, voltando meu
foco para Fallon. — Você tem sido tão boa para nós, lindo canário.
Que tal vermos quanto tempo você consegue cantar?
— Uma noite inteira de orgasmos — Nox reflete. — Apenas o
prazer dela.
— Apenas o prazer dela — Kaspian concorda. — Tire-a do seu
colo, Nolan. Vou começar lambendo-a até ficar limpa.
Faço o que ele pede, posicionando Fallon assustada no meio da
cama.
— Considere esta nossa verdadeira promessa de fidelidade,
minha rainha...
Algumas semanas depois
Nyx.
Deusa da Noite.
Minha mais nova obsessão.
A fêmea ousada matou um dos meus homens.
O que tornou meu trabalho como Rei da Casa de Ouro e Granada
fazê-la pagar.
Ah, havia tantas coisas que eu queria fazer com aquela sua
boquinha desobediente. Mas ela era muito mais forte do que nos
levava a acreditar.
Agora, estou com um desejo que não consigo saciar.
Porque uma mordida não foi suficiente.
Você pode ser a Deusa da Noite, mas ainda sou seu rei.
Você vai se ajoelhar.
Vai implorar.
E o mais importante, vai sangrar.
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Ilha Carnage
Uma mestiça.
Rejeitada.
Uma loba sem companheiro.
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Lexi C. Foss é uma escritora perdida no mundo do TI. Ela mora em Chapel Hill, na
North Carolina, com o marido e seus filhos de pelos. Quando não está
escrevendo, está ocupada riscando itens da sua lista de viagem. Muitos dos
lugares que visitou podem ser vistos em seus textos, incluindo o mundo mítico de
Hydria, que é baseado em Hydra nas ilhas gregas. Ela é peculiar, consome café
demais e adora nadar.
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