Salins - Gomes GČ
Salins - Gomes GČ
Salins - Gomes GČ
Gomes Gč
“Para meus irmãos, que ouviram cada pensamento escrito e por terem
discutido e opinado ideias até terminar esta obra incrível”
Sumário
Nota do autor
Prefácio
Parte Um
10
11
12
13
14
15
16
17
Parte Dois
Grito de Guerra
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
Agradecimentos
Pequenos conselhos
Nota do autor
No momento certo.
….;! …!
?!….
“• Vocês são milagres que nunca têm fim, em minha vida.°•”
A minha história, nunca foi um conto de fadas…
Parte Um
Gotas de chuva pingavam contra o vidro, que refletia seu rosto, pálido,
com lágrimas no canto de cada olho. E ali estava ela. Layla Miller.
Quero que saiba que não importa o que as pessoas vão dizer…
Oi filha!
É a mamãe…
O trem começou a reduzir a velocidade, e a garota guardava os papéis
de sua mãe na mochila. Enquanto ela fechava de volta, cogitava, como seria
a sua nova escola? Uma escola no fim do mundo, naquela cidade, Vênus,
com a maior escola do ensino Médio do mundo, não tão acolhedora quanto
Estocolmo, mas ela se acostumaria. Ou tentaria, pelo menos. Seria ela outra
vez uma garota estranha? Esquisita, para os novos colegas? Uma garota nova
que não se encaixava no padrão da sociedade? O ideal com certeza seria não
dar atenção para ninguém. Evitar que alguém se aproximasse, que alguém
criasse laços, porque no final esses laços seriam quebrados. Como sempre.
Como nunca os teve, desde seu nascimento .
Ela desceu logo que o trem parou, a garota não percebera a presença
de outros passageiros ali com ela até a desembarcada, ela passou por entre as
pessoas apertadas na porta de saída, e alguns segundos depois, com alguns
empurrões e apertos ela estava do lado de fora do trem. As pessoas
continuavam a desembarcar, e Layla percebera que a noite escura e fria
começara a desaparecer e um leve tom claro a substituía a cada fuga da
noite. Um lugar pra morar, ela pensou.
– Posso ajudá-la.
– Ah, não se preocupe com isso, nós aqui somos muito hospitaleiros, e
de lembrar que temos…
Ela tinha de admitir, seu corpo era uma obra de arte que se não
existisse, com certeza o próprio Zeus teria esculpido só para ficar olhando.
Suas costas estavam dormentes e ela estava sozinha em seu quarto logo
depois de sair do banho, não haveria necessidade de esconde-las, com um
movimento os ossos de seu dorso se estalaram, a coluna vertebral se alinhava
um pouco mais para cima, para direita, depois para baixo. Tão rápido
quanto um raio suas asas apareceram e começavam a dar leves batidas –
Gostaria que tivesse tido mais tempo… – algumas folhas de papel
esvoaçavam pelo quarto enquanto as asas se moviam como um maestro na
mais requintada ópera .
Mas não tinha muito com o que se preocupar porque muito antes de
sair da Suécia ela teria feito, mandado uma carta pedindo aprovação à
transferência para a escola do ensino médio de Vênus. Como esperado, seu
pedido tinha sido aceite e poderia chegar a escola no início das aulas, seus
dados já estariam a aquela altura no sistema da escola. Geologia não era um
curso mau!
…Oi,, filha!
2
Amigos
Dim morava do outro lado da estrada, na mesma rua que ele, onde era
possível vê-lo varrendo a estrada todas as manhãs.
– Esqueceu que temos que ir à escola hoje? – ele podia ouvir o amigo
gargalhar com ironia do outro lado – as férias se foram.
Edward puxava ele para se soltar da janela – Ainda são cinco e as aulas
começam às oito, que maluco iria a estas horas na escola ?
Dim riu-se e pulou para a cama que fez o travesseiro voar para o outro
lado.
– Nossa nova empregada, que meus pais insistem que eu a tenha como
babá – ele fez cara feia para aquilo – aposto que quando voltarmos ela já terá
feito o lanche para nós.
A rua ainda estava silenciosa, a maioria das pessoas ainda não havia
acordado. Apenas as pessoas que trabalhavam em locais distantes e
precisavam sair mais cedo. O garoto atravessou a rua ainda silenciosa e ficou
petrificado quando ouviu um farfalhar do beco a cinco passos à sua direita.
Ele parou, pensando se voltava, isto, se ao menos conseguisse se mexer,
pois o medo e curiosidade que pulsava em suas veias o paralisavam
completamente. Não havia outro som por toda a rua. O pavor se apoderava
dele quando notou que o animal, pessoa, seja lá o que fosse estava vindo. O
som de passos pesados ficava cada vez mais alto…
Cintura estava com um chapéu cinzento que por ele passava uma faixa
avermelhada e expressava uma cara muito cansada, parecendo ter estado
toda a noite acordado.
Edward notou que Sr. Nicolau estava carregando uma pasta preta.
– Ah, sim, claro – Como Edward poderia ter esquecido aquilo? Com
certeza naquele exacto momento Sr. Nicolau estava achando que ele o estava
distraindo. Entretanto, com um breve movimento o senhor disparou
andando às pressas, olhando de um lado e do outro, vendo se aparecia um
táxi.
¢
O dia estava ficando cada vez mais claro, o sol já estava nascendo. Já se
passavam das cinco. Eram seis e meia da manhã e havia se passado uma
hora que ele e o amigo estavam rondando a rua, correndo.
– Só responde!
Edward franziu a testa por alguns segundos sem dizer nada e depois
olhou para a sua casa, vendo que Sara do outro lado da janela levando
tabuleiros para a sala.
¢
– Nem, sequer, ouse! – Edward ouviu a voz de Sara bem atrás – nem
mais um passo, garoto. Primeiro vá expurgar este cheiro infernal, só depois
poderás tocar nessa banana.
– Bem na hora certa – disse Sara endireitando uma das cortinas que
estava presa na janela – você deve ser o tal Dim não?
– Claro!
– Claro que eu não gosto. Eu amo a cor preta. Só acho que é muita sorte
a minha o curso de Geologia ter ficado desta vez com as pretas – ele piscava
para Edward, colocando a capa com o emblema da escola que era um
círculo prateado com asas e figurinhas de livros amontoados no centro.
– O que disse?
– Ali em cima.
– Aquilo com certeza não era um pássaro – Dim franziu a testa. Sua
expressão tinha mudado completamente. Por um momento o amigo
extrovertido tinha sumido e em seu lugar surgido alguém completamente
diferente. Seus olhos verdes – Esmeralda, iguais aos de Edward pareciam
curiosos, no entanto, calculistas.
– Então tá! – disse, baixinho, dando uma inspirada e com a garganta seca
de tanto nervosismo, olhou para o lado direito, para a sala antes da curva do
corredor, Elisa entrando nela, com certeza era a outra sala a que se referia.
Dim se apressou em entrar e ele, logo em seguida.
Não havia ninguém novo na sala. Todos conheciam uns aos outros. Os
mesmos rostos de sempre.
– Hei, Eddy – Dim se ajeitava bem do seu lado – ainda bem que
ocupou o lugar para mim, assim não tenho que sentar na fila da frente
parecendo um nerd – ele abria a mochila, por alguns segundos permanecer
imóvel, depois olhar para Edward – me passa uma esferográfica.
– Sério isso?
Mas o “Click” da porta sendo aberta roubara sua atenção.
– Muito bem, crianças! Espero que estejam bem dispostos para mais
um ano lectivo.
Era um senhor alto – Todo mundo parecia ser mais alto que Edward –
de barriga grande e um bigode, com a cabeça quase sem cabelo, vestido de
uma camisa cinzenta e velha, uma calça preta muito bem passada a ferro e
sapatos castanho-amarelados.
– Mano!! É aquele senhor do carro vermelho, eu disse, deveria ser um
professor de Geologia – Dim cochichava em seu ouvido.
Por mais estranho que aquilo pudesse parecer, ele precisava concordar
com Dim. Sim. Concordar com Dim!
– É, estranhamente, todos eles têm o mesmo estilo de se vestir.
Ambos gargalhavam baixinho um para o outro. Mas o professor
continuou.
– Meu nome é Gregório Dexter, seu novo professor de Geologia 2º
grau – o professor suspirava levemente, olhando com desprezo para a turma
inteira – entretanto, este ano tereis um novo colega.
A turma subitamente entrava aos cochichos.
– Silêncio! – Gregório Dexter batia um montão de papéis sobre a mesa
– Deveriam se considerar sortudos. Ao menos alguém com traços
verdadeiros de um ser humano fará parte desta turma – o Senhor olhava
para Edward parecendo vomitar – imunda.
Vários murmúrios ainda ecoavam por toda sala. A voz do professor
soava bastante grave que Edward não sabia como era possível ouvi-la mesmo
do último lugar da sala, mas ele percebeu que o senhor a forçava. Para
parecer mais intimidador. O pior é que estava realmente dando certo!
Uma sala muito grande. Com certeza ele tivera a vida inteira para
aprender as artes de um bom professor. Ao que parecia, Dim pensava o
mesmo.
– Senhoras e Senhores– o bigode dançava a cada palavra – conheçam
sua nova colega, Senhorita Layla Miller.
– Esta aula não poderia ficar mais interessante – Dim parecia
desmoronar com o olhar penetrante da garota de cabelos castanho-escuros e
encaracolados que olhava desinteressada para todos os seus novos colegas,
balançando levemente seu livro azul em uma das mãos.
Gregório Dexter continuou:
– Ela veio transferida de Étom. Qualquer infortúnio, senhorita Miller –
o professor olhava para a bela jovem – me avise, imediatamente.
Layla Miller apenas confirmava com um aceno de cabeça, parecendo
envergonhada, talvez por ser o primeiro dia a vê-los. Mas aquilo era a fingir.
E Edward sabia. Ela seria o tipo de garota intimidante quando quisesse.
Os alunos davam as boas-vindas a Layla Miller e ela se sentou ao lado
esquerdo da sala, duas fileiras à frente da carteira de Edward.
– Eddy, se lembra dela? É a garota com o livro, no jardim.
– Acho que percebi isso, obrigado! Com certeza foi mais fácil de
entender que o mal gosto que este professor tem de se vestir.
Droga! Por quê ela calhara logo na mesma sala que ele?
Por quê, Universo?
Layla teria a mesma idade que ele, aparentemente, talvez um pouco
mais nova..
– Eddy! – falou Dim dando estalos no rosto do rapaz. Parecia que o
amigo estava fazendo aquilo há alguns minutos.
– O que foi?
– Nossa, mano! O que foi? Parece que estavas alguns segundos fora do
ar – Dim se aproximou mais dele – ah não! Gostou dela, realmente?
– Não diga besteiras!
Na verdade ele nunca olhara com tanto… interesse, para alguém
daquela forma – Eu mal conheço ela.
– Ainda não percebeu? – Dim fez questão de sublinhar as palavras
seguintes – é o destino!
– Para com isso…
– Prestem bem atenção! – disse o professor Dexter agarrando
novamente os papéis sobre sua secretária – Aqui está a lista de coisas que
precisarão comprar, obrigatoriamente, até o fim da semana.
Com aquele semblante, de certeza que aluno algum se atrevia a
questiona-lo.
O professor passava de carteira em carteira, distribuindo a lista. Ele
chegava em Edward o observando desagradavelmente. Ambos com certeza
não iam com a cara um do outro, pois ele retribuía o mesmo olhar.
O que foi? Eram as palavras não ditas naquela troca de olhares. Você
me irrita. Não me diga, professor!
Virando o olhar para outro lado, o professor colocava um dos papéis
sobre sua carteira.
– Como estava dizendo – Gregório Dexter continuava, voltando para o
quadro comprido – exijo que tragam tais materiais, pelo menos, quatro
deles. Serão essenciais para as nossas, não tão agradáveis, aulas.
Entrementes, um bom Geólogo deve…
– Apreciar o que uma simples pedra tem a nos oferecer – interrompeu,
Edward. Toda turma subitamente ficava em silêncio!
– Receio que o senhor tenha “formigas” na língua, não? Como ousa me
interromper?
O professor parecia aumentar de tamanho.
– Apenas quis dar meu contrib…
– Como se chama “ senhor contributo”?
– Edward, senhor – ele gaguejava, vendo Dim ao lado prender uma
risada provocativa – Edward Everton.
O resto da sala olhava de Edward para o professor a cada troca de
palavras.
– Senhor “ Everton” – o professor fazia questão de frasear por sílabas ao
pronunciar – deveria eu chamá-lo de “ Evi”?
A turma soltava gargalhadas estrondosas, e Dim fingia não achar graça,
talvez para que ele se sentisse amparado. E a garota nova, Layla, estava
novamente de olhos no seu livro apoiado sobre sua carteira.
– Talvez, o chamando de “Duplo E” me reduza o esforço.
– Duplo “E” – Dim, não conseguia mais segurar, pois dava risada, junto
o resto dos colegas. – Desculpa, parça, não deu para segurar essa… de
verdade…
Edward nem se importou, decidira ficar quieto. Pelos vistos, as coisas
não andariam bem com o professor novo.
Seus olhos se arregalavam, ao observar para o tanto de coisas caras
naquele papel, intrigado, pensando se o dinheiro deixado pelo pai, chegaria
para coisas tão caríssimas, ou se lhe sobraria algum, caso chegasse.
A cada cinco minutos, olhava à sua esquerda um pouco à frente e a
garota nova parecia tão descansada, não se importando tanto com a aula.
Então a sineta para o intervalo ressoava, causando tumulto. Edward parou
de pensar na lista quando se dava por conta de que Layla Miller havia
desaparecido de vista.
Ele apressou-se em enfiar os cadernos na pasta a fim de se aproximar da
garota. Talvez se aproximar dela deixasse os amigos satisfeitos.
Apenas amizade! E nada mais!
– Viu a garota nova?
– Ah a sua namoradinha? Deve ter ido à biblioteca Com certeza está
procurando um sítio sossegado – Dim olhava para os lados, encostado na
parede – diferente deste corredor, para ler o seu livro. Vamos dar uma
voltinha ver se a encontramos. Mas, vou já avisando que o maldito livro deve
ser umas mil vezes mais importante que você.
A escola era um dos sítios mais lindos que Edward conhecia e gostava
de ficar; As paredes pintadas de cinza e marrom, ao lado esquerdo logo a
entrada para a directoria, havia uma estante cheia de taças e medalhas da
escola, o jardim era um paraíso de se ver, com flores lindas e o relvado
verde vivo e metodicamente aparado. Às vezes aquela escola parecia um
castelo!
Os dois garotos passavam pelo refeitório e nada de Layla Miller!
Entretanto alguém batia contra seu ombro magricela, no corredor repleto de
estudantes de capas diversas. Era seu rival do torneio passado, tão alto que
precisava se abaixar ao passar pelas portas da escola inteira.
Dim, alguns centímetros mais alto que ele, passava o braço em seus
ombros.
– Maldito Louis Pérez! – o amigo gritou – Não liga para isso, mano. Dá
próxima você ganha de certeza. Aquele… descendente de réptil teve sorte de
principiante…
– Devia parar com estes insultos. É sorte ele não tê-lo escutado.
¢
Um letreiro acima da porta do lado direito era esculpido. E alguns
professores, incluindo o Gregório Dexter, conversavam, tomando seus bules
de chá.
Um minuto de silêncio.!
– Uuaauu!
Edward olhava, confuso, para o amigo.
– Nunca vi uma garota tão cruel quanto ela.
– Isto foi… ehr, como posso expressar isso..? Hmmm – Dim mordia o
lábio inferior, arqueando as sobrancelhas cheias, mas Edward terminou o
raciocínio.
– Humilhante?
Um estalo.
– Isso!
Edward por um momento abria a boca para falar, mas fechava logo em
seguida.
¢
Após a apresentação de outros professores, surpreendentemente muito
mais agradáveis que o “Todo Poderoso Gregório Dexter” e então, aquele dia
cansativo e desagradável teria chegado ao fim.
Com a mente exausta pensando no que teria para comer em casa suas
mãos estavam trémulas só de pensar naquilo.
Ele e Dim saíram junto o resto da turma e se deparam com os outros
dois amigos, que pareciam mortos-vivos de tão igualmente exaustos que
estavam.
– Crianças ! – cantarolava doloridamente Adam, com os olhos meio
fechados, os lábios secos – não entendo como estou tão esfomeado, não
sabia que as aulas do segundo ano eram tão exaustivas, parece até que não
comi ao sair de casa.
– Não me admira que estejamos tão cansados – desta vez foi Scott, o
amigo forte e mais alto – representar à frente dos colegas Simas Ponfrei, o
fundador da cidade, e Brendor Levotche! O homem deveria ser russo ou
algo assim. Como uma pessoa super sã, colocaria no seu filho o nome
“Levotche”?
– Talvez seja de família ou algo assim – Edward respondeu Com uma
risada.
Scott olhava para a vasta quantidade de apontamentos que havia feito –
Era mesmo necessário termos feito tudo aquilo logo no primeiro dia de
aulas?
Os quatro foram andando, esticando o passo e se contando como tinha
corrido o primeiro dia que ao parecer de todos, fora uma desgraça.
– Acreditam que Edward seja menos importante que um maldito livro
de capa azul?
– Não entendi.
– Dim, para!
4
Morte! Memória! Vida!
Após dezoito exames nos últimos três dias seguidos, Edward e Dim
estavam chegando em sua rua, do lado, uma placa da altura da cintura
exibia: rua Rosa da Cruz. Uma outra seta indicava para a rua que descia à
esquerda: rua do Cisne. As letras completamente desgastadas, quase que
invisíveis, onde Scott e Adam se separavam deles.
No entanto Dim também desviava logo que chegavam à rua.
– Então, Eddy, vejo você amanhã – Edward o viu atravessar a estrada e
acenando com a mão para ele – Vê se aparece na minha casa quando tiver
tempo.
De longe, Edward não pôde ouvir tão bem o que o amigo dizia, apenas
ouviu a parte da prisão no final da cidade, na parte Oeste. Ele reparou que o
amigo agia de forma estranha, mas deixou passar achando que fosse só sua
intuição.
Então, com um leve suspiro, abanando a cabeça e abrindo a porta de
casa ele reparou em algo estranho que fez seu coração tropeçar. A casa
estava completamente escura e silenciosa. Subitamente, medo tomava conta
dele. Onde Sara teria ido, ao meio-dia?
Ele acendeu a lâmpada e em seguida, com os olhos frenéticos, a boca
seca, fez cair a mochila quando olhou para a mesa de jantar parecendo um
banquete real. Os pratos estavam tampados com os talheres ao lado e havia
sucos de diversos sabores que jamais vira, um monte de comida que jamais
imaginara comer em um único dia e do outro lado da mesa estava, cheio de
pratos, alguns com peixe assado, outros com batatas fritas e assadas e não
poderia faltar é claro a galinha assada ao forno, ladeada de tomates
esverdeados e morangos cortados em rodelas, cebolas…
Edward reparava no outro canto da sala que estava ainda escuro e foi
surpreendido e inesperadamente a luz se acendia e iluminava o resto do sítio
escuro e os seus amigos mais chegados, todos eles, estavam ali incluindo
Dim, o que deixou a cabeça de Edward confusa, como o amigo havia
chegado ali tão depressa ?
– SURPRESA!
– SURPRESA!
Gritaram, em uníssono.
Dim vinha sorrindo ao encontro do amigo quando ele entendeu.
Era quatro de Outubro, seu aniversário e ele se esquecera totalmente,
mas o resto do pessoal não.
– Muitos parabéns Eddy, se esqueceu do seu próprio aniversário – o
amigo o abraçava tão forte que algo parecendo ossos estalando ressoava.
– AH! Senhor Everton, os meus parabéns! – o Senhor com o chapéu
cinza carregava um presente em suas mãos.
– O senhor veio – Sr. Nicolau, o vizinho que saia sempre cedo para ir
ao trabalho e que se deparava, às vezes com ele, sorria gentilmente – o Sr.
Parece mais saudável e menos cansado que da última vez que o vi.
Edward recebera o presente de Sr. Nicolau, e depois outro e outro…
Dos seus presentes ele ganhou um par de sapatos novos, uma caixa de
Som, uma camiseta branca, e uma bússola que parecia mais um relógio, o
presente de Sr. Nicolau, no entanto um único presente chamara sua atenção.
Um livro com o título: Como perder a timidez?
O rapaz procurava entre as pessoas ali, e bem atrás de Carla e Elisa,
encostada a uma parede, encontrou o olhar da garota de jaqueta de couro
preto que piscava sutilmente para ele. Como Dim conseguira convencê-la a
aparecer ali, Edward não queria saber, mas ali estava ela, tendo dado o
“melhor presente do mundo”.
O Presente de Sr. Nicolau, no entanto, não era lá “grande coisa” mas,
sua atitude e presença ali com certeza era o mais importante. Enquanto
música era tocada, enchendo todo o espaço, ele olhava com mais atenção
para o objecto e via que a bússola possuía quatro ponteiros, o mais curto
notava-se que era, aparentemente o que mostrava onde a pessoa se dirigia.
Norte.
Porém ele não sabia para que serviam os outros três. A bússola
também possuía botõezinhos igualmente dourados, cerca de dois de cada
lado. Aquilo definitivamente era um relógio!
Debaixo da bússola, algo estava escrito com letras antigas. Ele chegou
mais perto com os olhos e leu:
– Bom… Tive a ajuda de Sara, ela e eu fomos aliados dessa vez – disse
Dim com os olhos verdes, semelhantes aos dele, brilhando – ela se
responsabilizou pela comida junto mamãe e eu me encarreguei de trazer
todo Mundo, e pessoas “inesperadas” que você já deve ter notado e garantir,
é claro, que fosse uma surpresa, que foi na realidade uma grande surpresa .
– Então a conversa com Adam e Scott, da escola para cá foi tudo uma
distração para que terminassem com todos os preparativos? – Dim fazia que
sim com a cabeça – por isso eles se soltaram de nós muito cedo e
apressados.
– Garoto inteligente – uma voz suave. Sara. Ela estava com um avental,
o rosto suado.
A festa fora uma maravilha, Edward teria ficado ainda mais espantado
quando viu Sara e a mãe de Dim trazendo o bolo, com duas velas em
formato de 17, o bolo era de duas camadas, uma de chocolate e a outra de
leite como Edward adorava. Nada muito exagerado!. As pessoas contaram e
ele apagava as velas e em seguida, cortar em pedacinhos dando uma metade
pra cada pessoa que se encontrava ali, o que na sua cultura dava boa sorte
para os outros. As dez e meia da noite a festa acabara, ficando apenas Dim,
Scott, Adam e Sara que limpavam toda a sujeira. Layla Miller também já
havia ido embora. Ele agradeceria por sua presença numa outra
oportunidade.
Morte.
Memória.
Vida.
¢
– Por favor – disse o jovem ferreiro angustiado, acorrentado em um
pilar de pedras, de cabeça para baixo – por favor – implorou de novo – eu
não vou contar nada disso aqui a ninguém.
O rapaz urrava de dor. Sua voz áspera enchia toda a caverna sombria.
– Você se portou muito bem – a voz do Homem era de outro mundo,
de outro tempo, não de um homem comum, de outra…coisa. Ele ergueu o
queixo da bela jovem de pele parda com cabelos que arrastavam o chão
parecendo um rio de escuridão, os olhos sombriamente lindos olhavam para
seu mestre, seu protetor – você se portou muito, muito bem.
O ferreiro ainda urrava.
– O que vamos fazer com ele – a voz fria da jovem parecia névoa e
cinzas, ao olhar para o homem aos choros. Seu mestre, companheiro, se
aproximava do ferreiro.
– Eu não vou contar nada, eu juro – o ferreiro ainda chorava aos
soluços – eu juro.
Seus berros pararam logo depois de uma mão gélida e sombria cobrir
seu pescoço. E fazer chover sangue por todo o lado.
– Eu sei!
E ele estava morto.
As correntes que pendiam nos pulsos da jovem tilintaram com um
movimento.
– Não era ele – ela olhava do lugar onde jazia o corpo sem cabeça do
ferreiro para o homem, seu companheiro – o que fazemos, agora?
O homem de vestes escuras olhava para o nada, batendo com os dedos
na rocha pálida, escura.
– Continuamos procurando.
– E quanto a Nero?
O jovem sombrio segurava seu queixo novamente com os dedos,
sorrindo maliciosamente e dizer em um sussurro:
– Iremos até ele!
¢
O dia amanheceu e como todos os outros, estava lindo. Pássaros piavam
nas árvores que se encontravam na rua. Da varanda Edward avistava Sr.
Nicolau, como sempre, indo às pressas ao serviço, ele tentava chamá-lo a fim
de cumprimenta-lo ou perguntar sobre as palavras cravadas na bússola, mas
achou melhor deixar o coitado ir e não ser motivo do seu atraso, de novo.
Entrementes, Sara como a trabalhadora dedicada que era, já se encontrava
preparava o café da manhã.
– Edward, querido, vai se atrasar se ficar o dia todo ai parado, vá já se
preparar e venha se alimentar.
Está bem – cantarolou o garoto, fazendo uma careta – Mandona como
sempre!
Ele se arrumou rapidamente enquanto Sara terminava a mesa e num
piscar de olhos, já vinha, endireitando as calças sob a capa preta e puxando
a camisa branca para baixo.
O garoto se sentou à mesa e se serviu um pouco do café fumegante,
pegou em um pão na cesta e começava a comer.
– Ainda não consigo acreditar que hoje é meu primeiro dia com
dezassete anos, ainda nem vi o dia lá fora, mas já estou vendo um dia
maravilhoso a minha espera – disse, tirando o quinto pão na cesta. Como
sempre, é claro! – Já sinto até o sol sorrindo para mim.
– Espere! – Sara colocava a vassoura no chão de mosaico branco,
fixando os olhos no rosto do rapaz – você tem uma…coisinha no queixo…
deve…ser uma sujeira.
Ela puxou e o garoto soltou um grunhido.
– Ai !.
– Ah! – uma estalo de língua – era um fio de barba – disse Sara em tom
de pena – Por que não me avisou, antes, querido?.
Edward agitava.
– O q-o q-quê? NÃO! – O garoto levantou-se rapidamente, fazendo um
pão cair da mesa – NÃO! Você não fez isso, Sara, não se atreveria!
O garoto tirou o espelho que estava sob uma cadeira ao lado e
preocupantemente, procurava por ele no seu rosto. E com um brilho de
lágrima no canto do olho disse:
– Era-Er-Era meu primeiro fio de barba… Meu precioso, primeiro, fio
de barba, e você o arrancou – um olhar incrédulo para a empregada – que
tipo de monstro é a senhora?
– Ai! Quanto drama, menino. Foi sem querer – Sara em seguida pegou
novamente na vassoura e como um raio, desapareceu de vista.
Edward terminava, dramaticamente abatido, o seu café, pegando em
seguida na mochila, e com a bússola que ele ganhara de presente no bolso
esquerdo das calças ele foi para a escola.
A caminho da escola ele se encontrava com Dim igualmente de
bicicleta.
– Hei Dim.
– Hei Eddy….
– Porque não veio me pegar?
– Ah! É que acabo de notar que o meu relógio está desacertado e achei
que estivesse me atrasando, por isso…
– Falando em relógio – interrompeu Edward – Olha o que eu ganhei de
presente, ontem.
Ele retirava a bússola dourada do bolso e entregava-a para o amigo que
procurava uma expressão no rosto, seus olhos brilhavam com a luz do sol
nascente refletida sobre ela.
– Nossa! – Falou Dim – é uma bússola e tanto. Mas o que vai fazer com
ela?
– Ainda não notou?
– Bom – Dim ainda parecia confuso – é dourada e…
– Não me refiro a isso. Olhe para estas palavras – então o amigo
obedeceu – ainda preciso perguntar ao Sr. Nicolau o que significa.
Mas havia algo de estranho com aquela garota. Edward ainda não sabia
dizer, mas ele descobriria. Ela escondia algo, não como um segredo
qualquer como as demais pessoas, mas… alguma coisa que com certeza valia
a pena descobrir. E ele o faria.
Quem diria!
Ele começou a seguir a direcção do ponteiro, saindo da biblioteca,
passar pela sala dos professores e em um segundo ver a garota que estava
pálida totalmente sã e sentada respondendo perguntas de vários professores.
Em seguida, descia às escadas até ao jardim, notou que a bússola apontava
para fora da escola.
Edward chegou ao ponto de achar que a bússola estava avariada, talvez não
passava de uma mera bússola qualquer, tirando o facto de que era
admiravelmente dourada brilhante, embora velha. Talvez, Sr. Nicolau
quisesse se livrar do objecto e se viu na oportunidade ideal, dando-a de
presente ao garoto. Mas, de qualquer forma, não estaria ali por coincidência,
sentia aquilo, alguma coisa lhe dizia que estaria ali por um motivo especial.
Ele poderia jurar que a bússola sussurrava.
Vamos cá ver…
Ele se envergonhava dele próprio por não ter pensado logo no óbvio!
A bússola ficara agitada não pela tragédia na escola em si, mas, pela
vasta quantidade de livros que havia no local, talvez um dos ponteiros,
parados, estivesse destinado a se mover para indicar a localização de um,
certo, “livro”. Por isso, o havia guiado até ali, na livraria Santa Teresinha,
não admirava que fosse um prédio velho. Provavelmente aquela livraria
existia em Vênus há séculos.
A livraria era enorme. Então, ele passava pela vigésima quarta estante,
quando um livro meio volumoso saltou da estante como se a bússola o
tivesse atraído.
Merlim
¢
Em sua casa, com o livro sobre a mesa, encarando-o, pensando se abria
com a presença de seus amigos, em particular Dim, ou abria na hora…
O garoto levantava e sentava-se novamente na cadeira ao pé da mesa
de jantar, parte de si dizendo para abrir logo o livro, outra dizia para
esperar, ou talvez ir ter com eles. Talvez ainda estivessem na escola,
ajudando o pessoal, Pensou. Ansiedade a flor da pele. Talvez já tivessem
resolvido o ocorrido, e seria uma total perda de tempo ir até lá.
As questões eram tantas, e Eddy não fazia ideia do que fazer… quando
de repente um baque na porta de entrada à sua trás, e ele pôde logo
reconhecer a voz irritante do amigo.
Para além dos três amigos, havia mais três garotas, Carla, Elisa, e uma
outra rapariga pela qual Edward nunca a tinha visto antes.
– Não é para se sentar sobre a… deixa para lá. – falou Eddy segurando
com os dedos a parte do meio entre ambos os olhos.
Alívio!
– S-sim, é verdade, sim, mas – O garoto tateava com as mãos – é claro
que se ainda assim quiser me chamar assim – por céus ele tremia bastante –
abro u-uma excepção. Pode me chamar de Eddy à vontade, n-não me
importo.
Edward permitiu que outra pessoa o chame por Eddy, além de mim.
Era aquela conversa que passava nos olhares dos dois. Mas Edward não
se importou.
– Acho que estou vendo coisas – falou Dim, esfregando os olhos para
confirmar – Adam e Scott se beliscaram…
Sara!
– Nem queira saber, Dim – a empregada batia pé, seus cabelos curtos e
pretos pareciam pular da cabeça por conta própria – nem queira saber. E
Scott – ela poderia muito bem engolir o garoto apenas com os olhos
assassinos, sua voz era uma ordem, um comando, os olhos cinza pareciam
derreter Scott só com a força do pensamento – a mesa não é para se sentar,
o que é que te deu, seu projectinho de avestruz?
Ela deveria ter notado que realmente exagerava. Ela gesticulava para os
amigos.
– O quê? Não, é…
– Então é um ex-namorado!
Scott estava com Elisa em seu colo, roendo as unhas. Edward fez uma
careta àquilo. Pelo menos o casal se entendia, e se aceitava daquele jeito,
pensou.
– Sim – Elisa também concordou – mas eu não sou lá muito boa com
panelas.
– Não se preocupe, docinho – Sara sorria sarcasticamente para ela – só
precisa ser boa com o que estiver dentro dela.
Edward sabia que aquele era o tipo de amizade entre as duas, e elas se
entendiam, também.
– Está bem, não precisa brigar. É para isso que estou aqui. Vocês sabiam
que por vezes dou…
– OK, mas isso não vem ao caso. Peguem nestes sacos e levem por mim
para a despensa, fica logo depois da porta a esquerda – indicou Sara.
– Me certificando de que seu corpo seja resistente o suficiente para sobreviver, quando
for ao lugar de fogo e enxofre e eterno sofrimento. Que é para onde vai toda mulher que
não saiba cozinhar.
– Que fique bem claro que vou demorar o dia inteiro para terminar aqui
– falou tão baixo que nem mesmo Dim ao lado ouviu.
– Vou ao banheiro.
A pasta com o livro estranho estava aberta. Rapidamente , a levava para seu
quarto e ao chegar lá, o livro novamente caiu.
Daquela vez, abrindo-se.
6
Sensação de morte
Ele estava se sentindo como se não tivesse mais um corpo, sentia uma
leveza que nunca sentira antes, estava tão silencioso e ele não sabia o por
quê, sendo que ainda seus olhos permaneciam fechados, lutava para
escancara-los mas era inútil, seu cérebro não conseguia dar ordens ao
corpo. Passaram-se três minutos aparentemente, Edward sentia os pulmões
ficarem sem ar. O nervosismo começava a invadi-lo, talvez aquela pressão
lhe desse um pouco mais de controle e por fim começava abrindo os olhos
pouco a pouco, ele via a silhueta de um objeto a quinze centímetros de sua
face, a visão estava embaçada, e quando voltava a sua forma original,
arregalou melhor seus olhos e viu que era apenas sua mão. Aquilo Não seria
surpresa alguma porque ele não tinha total controle de seu corpo, ainda
conseguia mover apenas a parte de cima do tronco – Mas – Sussurrava o
rapaz, com um esforço para falar alguma coisa – q-que lugar… é esse?
Então apagou.
¢
Sua consciência voltava aos poucos, sentia o ar fresco e aflorado,
ouvia, ao que parecia o som de pássaros piando. Ele notou que estava
deitado, no chão e decidiu levantar, com total controle de seu corpo.
– Então, já acordou!?
– Hei! Hei! Relaxa aí! Calma, você está assustado… é falta de educação
tentar agredir, com um ramo, alguém que salvou você, não acha? Eu…
– Não se aproxima!
– Tudo bem, tudo bem! Não precisa ser tão agressivo, afinal, o inimigo
aqui não sou eu. Olha, deixe me apresentar primeiro, eu sou Ocásis e – um
movimento atrás do estranho. Não. Atrás dele. Atrás de Edward. Outra
pessoa. Havia outra pessoa ali – ah essa é – e surgiu uma outra pessoa entre
as árvores, ela estava com um arco que pelo aspecto, era bastante valioso de
tão lindo que era, na mão e flechas muito fora do comum às suas costas,
uma, armada no arco. Seus cabelos cor de sangue eram tão longos que
chegavam até os joelhos mesmo presos em um rabo-de-cavalo e eram
elevados para trás pelo vento que saia do Leste, aparentemente. Edward
notou que a estranha tinha três marcas, parecendo símbolos de alguma
língua estranha, em seu belo e pardo-rosado rosto, que era o mais lindo que
ele já vira em toda sua vida, uma em cada lado e a outra, mais circular no
queixo. Ele poderia jurar por todos os seres divinos, que era a jovem mais,
incrivelmente, perfeita que já existiu na face da terra. Por céus! Layla Miller
era um sopro, em comparação!
Edward ficou surpreso por ainda estar em pés. A voz da jovem com
certeza faria homens, milhares deles, se renderem a ela. Seus olhos…aqueles
olhos…como poderia existir alguém com tais olhos? Eram olhos de outro
mundo, literalmente, pelos vistos. Aquela garota com aparentemente dezoito
anos era uma deusa, pensou ele. Seus olhos eram diamantes vivos, seus tons
esmeralda embebidos em cinza e rosa que contrastavam com os cabelos
vermelhos pareciam estremecer o mundo a cada pestanejar, um anel
dourado como o fogo circulava suas pupilas que pareciam pequenos buracos
negros que sugavam a autoestima de qualquer um, outro anel de fogo
ladeava as margens de sua iris preenchida por alguns pontinhos luminosos.
Edward pensou: seus olhos não eravam verdes! Os olhos de Dim, não eram
verdes. Aqueles olhos, aqueles olhos eram verdes. Eles e o resto dos olhos
verdes, turquesa e outros por diante, não passavam de meras cópias, diante
daquele glorioso olhar.
O Jovem alto, muito mais alto que Edward trocava o peso do corpo
entre os pés, indicava para a companheira com os olhos divertidos:
– está vendo este rostinho de anjo que ela tem? – ele gesticulava para a
jovem bela – não se engane. Ela é um monstro esfomeado que nunca está
satisfeito. Nem sei como ela nunca engorda.
A jovem bela, Anúbis, era como a chamara, apontou uma flecha para o
outro, que Edward nem mesmo percebeu em que momento ela fizera
aquilo.
Outro movimento.
– Eu não quero mais ouvir tolices como estas… eu vou piscar daqui, eu
estou me lixando para quem vocês dois são e o que é esse lugar!! – Edward
berrava em fúria e agarrava em sua pasta que estava sem o maldito livro, e
atou a andar para o lado oposto dos dois.
¢
A floresta ficava cada vez mais escura, à medida que ele descia, as
árvores normais eram substituídas por outras, mais estreitas, os troncos
ondulados e pretos, e aparentemente secas pareciam ranger a cada passo que
dava, e uma névoa emanava de todos os lados, e além, não se enxergava
mais nada, nem de perto, o ar gélido parecia sussurrar em seu ouvido, ele
sentia de novo a morte à espreita. Um vulto passou entre as árvores escuras a
sua esquerda, com a névoa era e o silêncio vivo, era fácil ouvir qualquer
som, talvez fosse esse o motivo, pois ele sentia que alguma coisa estava o
observando, olhava de um lado e de outro e lá, a poucos metros de
distância, dois olhos carmesim cintilavam na escuridão causada pelas copas
que fechavam todo o céu acima. Edward parou drasticamente, mesmo antes
do corpo receber essa ordem, os olhos se aproximavam e o restante do
corpo escuro se formava.
Estava vindo!
Um animal! Não!! aquilo com certeza era outra coisa muito pior.
Parecia humana, porém, esguia, e sua cabeça, seja lá o que aquilo fosse,
raspava as copas de árvores e galhos caíam a cada passo, não eram
propriamente passos que rompiam aquela névoa, pois, a besta sequer
levantava as longas pernas, porém se movia facilmente, e começava a
acelerar os movimentos.
Ocásis!
Como ele sabia seu nome, isso seria uma conversa para depois, caso
saíssem dali vivos. Então, Edward simplesmente observou.
Ele tirou as mãos dos bolsos, com um pé arrastado para trás arqueou
levemente o corpo para frente e arremessou a fera para onde tinha saído
logo antes, não com um soco, aquele com certeza seria o pontapé do século.
Os cabelos pretos de Edward esvoaçaram pelo ar que fora agitado ao redor
depois do impacto, e a besta, o monstro foi arremessado para mais longe
ainda de onde estivera antes, muito mais longe e onde ela passava as
cambalhotas árvores partiam formando uma passagem pela floresta. Ocásis
ria daquilo. Sim. Aquilo, definitivamente era uma diversão para ele.
– Mas, e o Ocásis?
Vilkas não era seu lar, ele não se sentia em casa, não achava o que
procurava.
Deprimente! Deprimente!
– Me parece muito novo para consumir álcool, meu jovem...
Quando o homem saiu aos tropeços dali, o jovem nem se importou. Porém
percebeu olhos curiosos sobre ele vindo de homens em outras mesas atrás
de si. Os homens barbudos sorriam com zombaria para ele.
– Por quê vocês sempre me obrigam a fazer essas coisas? – o jovem alto,
falou para si mesmo e se virou, andando para a saída.
– Não seja burro. Salve sua vida. Considere um presente, pelas bebidas.
Como uma ordem, os dois seres saíam das sombras, literalmente, o sol já
saía e no final do beco uma luz dourada insidia sobre as paredes pálidas e
mofadas.
Nero cogitou por um minuto, e seu rosto parecia curioso e sério. Então
o Jovem continuou.
– Não é comigo que você precisa lutar, não sou quem precisa vencer,
até porque em termos de força, você é o mais poderoso aqui.
– E quem é ele?
Ele ainda via o Homem de cabelos prateados, mas podia ouvir o jovem
sombrio falando, as mãos da jovem ainda em seu rosto. Ele ficou ainda mais
maravilhado quando O jovem sombrio disse:
– Ocásis!
¢
Havia fumaça por tudo quanto é lado. Edward ficou impressionado
com a imensa concentração de fumaça em uma zona que a pouco era
banhada por um verde puro – O que… foi iss..
– Vocês estão bem? – Uma voz saiu por traz dele e, para surpresa de
Edward embora se questionando como… Ocásis se achava ali.
O garoto não achava uma pergunta lógica para fazer, olhando para
Ocásis e novamente para o núcleo da explosão – você estava ali, em baixo,
como você…
Mas ele tinha sobrevivido, era a prova contrária daquela teoria maluca.
Daquele mundo maluco. Ocásis também percebeu isso em seu olhar.
– Sim, sim eu sei que você sobreviveu. Mas, por pouco, se eu não tirasse
você de lá.
– Sim!
– Foi isso que achei, por longos anos – interrompeu o jovem dragão,
olhando para a bela jovem do lado – até estudar mais sobre isso – uma leve
pausa – e conhecer ela.
Edward por um momento achou que seria julgado por algum crime
quando Ocásis apontou para ele – Eu tirei você de lá pouco antes de
começar a virar “gelo” literalmente.
– Bom, você pode achar que passou lá uma eternidade mas, na verdade
só ficou lá cerca de meio minuto – corrigiu Ocásis que se sentava no chão
agora, enquanto Edward reclamava sem saber como seria possível algo
assim.
Ocásis continuou:
Ocásis parecia olhar para o nada nada, o semblante mais sério – quando
a conheci, em Terra desbravante – continuou – ela parecia tão…frágil, com
medo do mundo, tão solitária, as pessoas olhavam para ela com a alma nas
gargantas diante da sua beleza, e por Arsêmis! como ela estava linda, embora
suja e com frio, ela ainda era perfeitamente estonteante.
Edward tentava ignorar aquele facto. Se ele não visse o que vira naquela
floresta, não acreditaria em nada daquilo. No entanto, ainda pensava em
Vênus, em sua casa, no… livro! O que teria acontecido com o livro e se Sara
o achasse? Ou pior, os amigos?
– O mal está por ai, Edward, existem outros como nós, não sei ao certo
quais sejam seus planos, mas sei que procuram por algo – Edward começara
a sentir pavor ao ouvir aquilo, e as palavras seguintes – e eu sinto que, em
breve acontecerá algo terrível, um monte de coisas terríveis. Chego a ter
medo com isso.
– O livro de Merlim?
– Já ouviu falar?
– O que disse?
– Não sei, quase nada. Logo que o livro escorregou até ao chão ele se
abriu e um portal me sugou para dentro dele. E não sei o que aconteceu
depois disso…
– Não, porquê?
– Por Arsêmis! – Ocásis parecia prestes a explodir – você estava com o
livro de Merlim, você já o tinha em suas mãos?
Edward olhou mais de perto e notou que a árvore possuía uma abertura
circular do tamanho de um coco, a princípio parecia ser a casota de um
esquilo. Ocásis colocou a mão esquerda dentro e fazia caretas. Houve uma
pausa silenciosa à medida que Ocásis tentava tirar sabia lá o que, de dentro
da árvore.
– Anda logo com isso – Anúbis reclamou pondo o arco nas costas,
olhando para longe, além, entre as árvores – essa floresta sempre me dá
calafrios.
– Consegui!
Ocásis tirou a mão da árvore mas ela estava vazia, Edward percebeu que
ele não estivera tirando algo de lá mas sim tentando abrir – embora
impossível de se acreditar – a árvore.
– Ela… ela fala – Edward estremeceu de novo com a voz fraca – ela, ela
fala mesmo, ok, isso é muito… acolhedor, de certeza – sua garganta secava –
dá para ficar pior que isso?
– Claro que ela fala – Anúbis chegava mais perto da árvore, e tocou nela
– E não é “ela”. Ele se chama Sr. Douglas.
– “Douglas” !!?
Edward fitou os olhos para o rosto que aparecera na árvore – ele tem o
mesmo nome com o meu director.
A árvore moveu um galho para a frente e sua voz saiu meio distorcida,
embora grossa.
– Eu entendo.
– Ele ficou assim depois da marca – Anúbis apontava para o lado direito
do tronco da árvore e havia uma borboleta negra, com uma corrente entre as
duas asas.
– Há coisas que você vai entender logo, filho – a Árvore dizia – coisas
que vão mudar você, a sua vida, como você vê o mundo, tudo muda, o
branco se torna sangue, a lua do eclipse de sangue aparece e você não é mais
o mesmo.
– eu não entendo.
– Você vai entender logo – Ocásis falou, em tom baixo e ficou mais
próximo da árvore – mas agora nós temos que ir. Não podemos fazer nada
por ele.
– Por que você não cura ele? – Anúbis estremeceu ao ouvir – você me
curou, por quê não faz o mesmo com ele?
– Não posso – aquilo era verdade e ela se odiava por aquela verdade –
não consigo. É como se essa magia – ela olhava para a marca – essa “ coisa”
fosse criada exatamente para o meu poder. Não posso ajudá-lo. Já tentei,
antes.
– Senha! Por favor – A árvore moveu outra vez um dos seus ramos.
E desapareceu em seguida.
– Você é um garoto de coração puro e isto, vê-se de cara. Você terá que
recitar algo poético para mim. Faz um tempão que não ouço nada parecido
– a árvore falava em um tom agora mais baixo – estou com saudades do
mundo de fora, da minha escola, da minha…filhinha, minha querida Elisa
deve estar com saudades.
– Fico feliz por isso, de verdade. Eu não desejo isso a ninguém. Se – sua
voz soluçava – se ao menos eu tivesse a oportunidade de vê-la novamente, se
ao menos eu pudesse me desculpar… eu daria tudo para ver minha filha
novamente, para ver minha Elisa uma última vez. Nem que por um minuto.
Seu corpo estremecia, seu cérebro congelava, o portal era frio demais,
parecia que suas células sairiam uma após outra, abandonariam seus postos
no corpo para se salvarem do frio colossal.
Uma cidade que jamais vira, sequer poderia imaginar na mais criativa
de suas fantasias. Como algo assim poderia existir? As casas e prédios eram
organizados em linhas e do ponto alto em que estava, observou que possuía
o formato de uma borboleta, isso porque o sol estava do outro lado da
cidade e dando um tom dourado fazendo a cidade-Borboleta brilhar, as
casas vistas dali pareciam pequenos montes de ouro. Por todos os seres
celestiais, Dim pagaria metade da vida para estar ali, isso, se acreditasse em
uma palavra sequer do que o amigo diria. Sim. Ele contaria todas aquela
loucura ao amigo, assim que tivesse a chance. Depois.
– Estamos em casa – Ele viu Ocásis sorrir com os olhos ao dizer – essa
é sua casa, Edward.
Nossa casa!
Nosso lar!
9
Recruta!
Ela sabia que o mal, atrás do livro, atrás da pessoa com o livro, era
como ela. Mas ela não sabia dizer se gostaria encontrá-lo. Que a encontrasse.
O garoto tímido, sumido, Edward, era como ela? Entretanto, como ela
não notara das vezes que ele e o outro irritante, que não aparecera mais na
escola desde o sumiço do amigo, vinham ter com ela? Poderia ele ocultar
assim tão bem sua magia? E se fosse, quais seriam seus planos? Ele sabia,
então, sentira de alguma forma que ela possuía magia, também?
Se tudo aquilo fosse verdade, então, onde ele estaria naquele momento?
Mas aquilo tudo não fazia sentido, de todo modo. Pois, mesmo Sara, a
pesar de tê-lo observado por um tempo, nunca mencionara sobre nada
anormal para ele, como fizera com ela, pois ela já manifestava suas asas
desde seu nascimento, porém, o garoto tímido, Edward, nunca tinha
manifestado nada, segundo a babá. O livro, no entanto, era inútil, no
momento, pois não reagia a nada do que ela fazia, suas páginas amareladas e
velhas estavam coladas, seladas, entre si por algum tipo de magia, um
encantamento, supôs, à exceção da primeira página, que conseguia ver, a
imagem de uma espécie de floresta, como uma gravura, porém, ela poderia
jurar que as copas das árvores enormes se moviam, aquilo lhe passou
arrepios por toda a extensão do corpo, as enormes asas reagiram também.
Mas ela precisava achar um jeito de abrir o restante das páginas, de saber o
que o livro era. Precisava da ajuda alguém. E conhecia exatamente a pessoa
certa para aquilo.
¢
A cidade de perto era ainda mais encantadora, quando passavam entre a
multidão. Uma senhora gritava de um lado e de outro em sua barraca –
capacete de viking novinho a sair, apressem-se não tenho o tempo todo
minha gente, mas que belo rosto você tem – falou ela e Edward corou ao se
aproximar e perceber que não era uma senhora, a pesar das roupas dizerem
o contrário, e o mesmo capacete na cabeça era de Ferro igual ao que possuía
nas mãos e tinha cornos pontiagudos de bronze.
As pessoas passavam e falavam por todo o lado. Aquele lugar era o céu
na terra. Era inacreditável. Uma menininha de cabelos como o fogo e
cheios chegou a bancada olhando em volta, ao dizer:
– Vou querer um perfumador, senhora Sila – a menina apontava para a
tigelinha de metal banhado a ouro com pegas curvadas e um cristal sobre a
tampa.
– Olá, para você também, Sannie – Anúbis franziu a testa – por que
você precisa de um perfumador?
Anúbis passou na frente dos dois, e seu rosto sobre aquela luz da tarde,
estava tão brilhante que faria cegos olharem.
– O que Ocásis está querendo dizer – disse – é que seus olhos estão se
adaptando a esta realidade. É uma bênção dos deuses você não ter visto o
céu de verde. Quando cheguei aqui da primeira vez, acredite, achei que o
céu fosse um milharal – Edward de uma leve gargalhada ao imaginar aquela
cena. Mas ele perguntou, sua dúvida fazendo seu corpo arrepiar, quando
entravam em uma casa de pedra e madeira, igual as demais da cidade:
– Desde que saímos por aquele portal, andamos horas até chegar aqui.
Desde a praça até aqui, já se passaram cerca de trinta minuto. E o sol, ainda,
está exatamente naquela mesma posição. Não se moveu um centímetro
sequer.
Os outros dois garotos trocavam olhares e davam rizadas. Mas foi outra
voz que respondeu.
Era a menina dos cabelos de fogo da praça, Sannie – não contaram isso
para ele?
– Por acaso, por que acha que o nome da cidade é Borboleta Dourada?
– Ótimo! – disse, por fim, fazendo um gesto para que ela se sentasse na
cadeira a frente da escrivaninha. Ela o fez.
– Claro – sua voz grave, porém, serena, mostrava que ela poderia confiar
de verdade no homem.
– Você trouxe?
– Sim – ela pensou por um momento, mas cedeu e tirou da bolsa preta
que trazia consigo naquele dia a escola. Os olhos do Professor Gregório
Dexter maravilharam-se diante do objeto.
Ela pensou por um momento em revelar que ela era uma prova viva de
tais criaturas…
– O quê?
– Isto, é um portal.
– Um portal ?
Layla concordou.
O professor procurava algo em sua pasta velha, que estava ao lado de sua
poltrona.
– O que estou tentando dizer – ela ouvia as coisas ali dentro, canetas,
chaves e um monte de outras tralhas sendo reviradas na pasta – é que o livro
reage a objetos poderosos, mágicos – o professor retirou da enorme pasta
um caderno, igualmente velho – e seu antigo portador, seu criador na maior
das hipóteses, deveria ser doptado de grande magia – ele olhou para a jovem
– e neste mundo, Senhorita Miller, o único traço existente de magia – o
olhar da jovem se prendeu no caderno, nas mãos do homem – são as nossas
emoções.
O professor deu um enorme suspiro que fez seu corpo arquear – Este
caderno é meu bem mais precioso, nele estão minhas pesquisas que, até
então, eram meras ilusões, fantasias malucas em minha mente.
Layla sentiu uma dor em seu peito ao receber o livro das mãos do
professor, quando ela falou, por fim:
– Eu sou um Salim.
Ele sabia, então. O professor continuou, e ela sentiu seu belo e moreno
rosto corar diante daquilo. Ela estava tentando ser cautelosa, mesmo depois
de o homem ter se mostrado confiável desde o início. E ela se odiava ainda
mais por aquilo.
O professor deu um leve sorriso, as leves rugas nos cantos dos olhos
contraíram. Mas seus olhos voltaram a ter aquele brilho de antes, então
disse: – Isso muda tudo.
Quem diria!
– É bem provável que o garoto tenha aberto esta página – ele pegou de
volta o livro das mão da jovem – não apenas por ele ter utilizado algo
fortemente poderoso, mas – ele olhava para a garota – talvez porque ele
tinha de alguma forma uma conexão com o livro. Por Merlim – exclamou –
e se o garoto não desapareceu por acaso? E se ele foi transportado pelo
próprio livro e através dele?
– Exacto!
Não era apenas a mesa que tremia, mas toda a sala estava vibrando. Ela
percebeu o pavor nos olhos do professor, que olhava para a página
amarelada aberta do livro, uma nova página se abrira, percebeu
imediatamente a jovem acompanhando olhar do professor. A página
totalmente vazia começou a ganhar rabiscos pretos.
– Quem está vindo? – a jovem perguntava para o livro com uma voz
baixa – Quem está vindo? Anda! Me diga!
O MAL ESTÁ A CAMINHO VOCÊ PRECISA AGIR LOGO ENCONTRE
ELE ENCONTRE OS OUTROS…
ENCONTRE OS OUTROS… ME
LEVE…
ME LEVE PARA EDWARD!
Layla sentia literalmente a comida se revirar no estômago, seu sangue
fervia, e ela enjoava diante do medo que emergia de seu interior. Ela
perguntou de novo, a voz trémula: – Me diga! Por favor! Quem está vindo?
Anda! Me diga!
¢
Era questão de tempo, semanas, dias talvez, até que o mal descobrisse
Orgema e achasse uma forma de entrar nela. O que acontecera com
Douglas Osmar era prova o suficiente de que estariam tentando entrar de
alguma forma. E o garoto, Edward, ele não sabia qual era sua magia,
precisava despertar o quanto antes, apesar de não saber, Ocásis conseguia
sentir que era um poder único, imprescindível na batalha contra o mal que
se aproximava. No entanto, quantos seriam? De toda forma, o livro de
Merlim já estaria nas mãos do mal. Seria imprudente ir atrás, sem nenhum
plano mapeado. Embora Ocásis sendo incrivelmente poderoso, não poderia
subestimar o inimigo desconhecido, e o fato de ele ser o mais poderoso, o
impedia de agir, ele precisava proteger seus companheiros, precisava
proteger Orgema. Mas, dependendo do número dos Salins inimigos e o
tamanho, o tipo de seus poderes, ele não conseguiria detê-los somente com
a ajuda de Anúbis, fora o fato de que ela não possuía poder de fogo, além
das flechas de Anila e a comunicação com os animais e outras criaturas, seu
forte era cura, e não na ofensiva. Embora sem magia, Edward precisava de
algum tipo de defesa. E ele precisava encontrar mais algum Salim naquele
vasto Universo, mas onde poderia ele ou ela estar? Quando passava pelos
céus do mundo de Edward, ele sentira magia algures, naquele aglomerado
de pessoas, e podia jurar que alguém o olhava de lá. Seria lá então onde ele
ou ela estaria? Mas no momento não seria possível procurar por ela, sua
última reserva de magia para passar para outro mundo tinha se esgotado
quando tirara Edward da zona espaço-tempo. Precisava de tempo para
recarregar. Quando passavam pela praça, Sila o notificara sobre informações
do mundo de fora, pelos vistos Vilkas fora deixada sob os gritos de
moradores e visitantes, Nero, dissera ela, e mais duas entidades teriam
destruído metade da cidade por meros caprichos. Então até onde sabia, Os
Salins inimigos seriam três, aproximadamente, e seriam assombrosamente
fortes. Aquela marca negra parecendo a borboleta de Orgema, acorrentada,
que transformara Douglas Osmar em uma árvore...Entre eles haveria alguém
com habilidades tão assombrosas assim? Quais seriam suas demais
habilidades, que magias demoníacas eles possuíam?
O garoto vestia algumas de suas roupas antigas que já não lhe cabiam.
Calças pretas que contrastavam com seus cabelos, por Arcas, o garoto tinha
um cabelo horrivelmente desajeitado, sua camisa cinza virgem.
¢
– Você já deve ter percebido também que em Orgema só existe jovens –
disse a menina Sannie a Edward, enquanto passavam entre as últimas
pessoas, saindo da cidade passando pelas casas de cristal verdes e avistando
uma paisagem igualmente dourada, mas foi para a direita, depois de algumas
árvores que os dois adentraram.
– Ainda não percebeu, né? – Sannie inclinou o rosto para ele – Você já
está sendo treinado, querido.
Por mim.
¢
Anúbis olhava para os Minarins, aquelas grandiosas e lindas criaturas
que voavam ao Sul de Orgema, sentada, do ponto mais alto da cidade.
Sempre pedia para que Ocásis a levasse àquele lugar sagrado, por cima da
cabeça com uma milha de diâmetro da estátua colossal do criador daquele
mundo incrivelmente perfeito, a estátua de Merlim, o primeiro Salim. O
Salim original. Construída pelos primeiros siquinianos sob a iluminação dos
céus, séculos atrás. Ocásis a carregava sempre que pedia, com suas asas de
dragões há muito esquecidos, pelo menos tais criaturas esplendorosas eram
lembradas no Continente Norte, sua terra, ela ainda nunca havia ido naquele
lugar, mas pelas histórias lidas por sua mãe, a Rainha-elfo, no castelo branco
– “graças a Anila” que ela não herdara as orelhas pontiagudas da mãe – os
enormes crânios das bestas descansavam em Vale dos Ossos, uma região
assombrosa que fazia até mesmo as Senhoras do encanto serem meras
fantasias para amedrontar crianças, mas Vale dos Ossos era um mistério
total, as diversas raças e reinos evitavam a todo custo passar naquela área do
continente Norte. Com certeza pelas histórias e criaturas que aquele lugar
possuía, qualquer um em sã consciência rezaria para a deusa da perfeição
que a livrasse do destino de lá um dia chegar.
– Sabe o que Sannie deve estar dizendo neste exato momento para
Edward?
Uma pausa.
– Piadas sem graça de Orgema, é, eu sei – uma pausa – mas não deu
para segurar, desculpe. É tão hilário!
Ocásis a fazia sorrir sempre que ela parecia abatida, e aquela era a outra
das tantas coisas que ela admirava nele. Ele a faria sorrir mesmo no mais
escuro dos mundos.
– Mas faz sentido eu dizer para você – Anúbis sentia o sangue correndo
por cada compartimento de seu corpo, o peito formigava, os pelos dos
braços macios e pequenos ficavam em pés. Mas sorriu ao dizer:
¢
Suas palavras eram sinceras, o rosto pardo angelical de Anúbis parecia
ser feito de luz e fogo e estrelas, milhares delas concentradas em um único
lugar, ele não se cansava de apreciar aqueles olhos imponentes, ninguém se
cansava. Os cabelos vermelhos como rubi incrivelmente compridos, mais
compridos do antes, pois ela os soltara do rabo-de-cavalo, engoliam ela
inteira e mais um pouco e duas tranças circulavam a cabeça parecendo uma
coroa de sangue vivo. Ocásis adorava ouvi-la rir, cantar, por todos deuses!
Tudo naquela garota era perfeito. Este pensamento soava irônico, pois era
exatamente daquela forma que as demais pessoas o olhavam, também.
Ambos observavam a minúscula cidade que aparecia por baixo, do ponto
mais alto do mundo, pois a estátua de Merlim seria tão alta que levaria
semanas, talvez meses, para homens chegarem ao cume, escalando. Era uma
tarefa praticamente impossível e isso fazia daquele lugar, único, só do jovem
amaldiçoado da tribo dos caçadores e a princesa foragida de reino do
primor. Entretanto, mesmo de tão longe Ocásis conseguia enxergar toda a
complexidade da cidade dourada, desde os telhados amarronzados que
eram mais notáveis no centro, as casas de cristal azul como o mar e verde
brilhantes dos senhores mais ricos nas periferias da cidade que preenchiam
todos os contornos da mesma em alas gigantescas de verde e azul seguindo
aquele mesmo padrão, os prédios brancos de mármore pareciam neve
cobrindo a região sudeste, o antigo grupo de adolescentes rebeldes que
agora usavam vestimentas azuis como símbolo de força e revolução, os
imensos jardins com as mais belas flores que possuíam uma única cor para
cada ponto da cidade e que davam aquele aroma único de Orgema e
absorviam toda a poluição da fumaça por vezes causada pelos moradores, os
pequenos rios cristalinos que serpenteavam inúmeras áreas como uma teia
pareciam finos espelhos reflectindo a luz serena que saía do enorme astro
imortal ao Sul, de frente a estátua colossal de seu criador. Com o passar das
décadas, várias alamedas de árvores vermelhas cobriam grande parte do
gigante livro de pedra que flutuava por magia ancestral dada aos antigos
homens, um pouco mais abaixo que pareciam banha-lo de sangue. Mas sua
atenção fora roubada pelo som metálico que vinha da jovem. Ele reparou no
objecto de prata que era percorrido por minúsculas joias com uma maior,
uma Ametista, no centro.
– Para você ! – ela disse, a voz meiga, sua pele como o mel parecia se
casar com a luz dourada do Sol em frente.
Era um colar.
– Porque está me dando? – Deveria ser uma joia da família real, ele
percebeu aquilo pela forma como ela olhava para o colar brilhando sobre a
luz dourada.
– Feliz aniversário!
Então ela se lembrara. Mesmo com o possível confronto que viria uma
hora ou outra. Ela se lembrara como sempre fizera, nos últimos dois anos.
– Tem algo escrito por trás – ela ainda sorria para ele – mas – Anúbis
avisou – vai ler apenas no momento certo.
Por quê faz estas coisas para mim? Era a pergunta oculta. No entanto
ele estampou igualmente um sorriso para ela.
– Sabe que sou por ai uns duzentos anos mais velho que você, não? –
Mas a linda jovem apenas voltava a olhar para a cidade abaixo.
– Receio que sim – Ocásis deu um suspiro – o rei do reino sem nome
está morto, junto seus lordes, inclusive o da tribo dos caçadores – uma
pausa – há relatos de que todo o povo tenha sido possuído, escravizado.
– Um exército?
– Possivelmente.
– Aí que está o problema. Não foi uma tribo. Foi uma só pessoa, uma
jovem de cabelos negros e…
Anúbis interrompeu.
Não! Aquilo não era um animal, aquele não era um lugar bom, não
havia nada no horizonte, não havia sequer horizonte. Subitamente ecoavam
vozes por todo o lado, gargalhadas sinistras, choros bizarros, ele precisava
sair daquele lugar o quanto antes. As vozes, pareciam ser de pessoas,
centenas de pessoas gritando e sussurrando como um eco e mais um som,
que ele não sabia do que era. Foi ali que ele viu. Em um dos montes
brancos, rochosos, alguns metros a esquerda, uma criatura alada e peluda
apareceu, tão escura que parecia engolir o branco da rocha, e seus olhos,
não possuía olhos, mas a criatura virou o rosto para ele, e estava vindo em
sua direção, suas asas enormes de morcego ressoaram pelo ar ácido e outra
criatura apareceu, mais assombrosa que a anterior. A besta completamente
feita de ossos negros tinha a forma humanoide e muito esticada do tamanho
de um navio e passava pelos céus, voando, no entanto, sem asas. Foi ali que
em meio ao medo sufocante e o corpo imóvel ele percebeu de onde o som
das ondas vinham. O mar estava por cima, nos céus, não, não havia céu
naquele lugar, o mar de ondas gigantescas que se jogavam de um lado para o
outro em meio a suas águas pretas cobriam todo o espaço. O vento
carregava cinzas de coisas queimadas, de carne e osso queimados.
A besta alada que outrora estava na enorme rocha branca chegou tão
perto que ele conseguiu sentir o cheiro e o calor do bafo do inferno.
Quando suas enormes e esguias garras negras o tocaram…
O garoto abriu os olhos, meio tonto, a luz que atravessava as copas das
gigantescas árvores faziam suas pálpebras reagirem inconscientemente.
Quando seus olhos se adaptaram a luz e o mundo parou de girar e a viu. A
menina de cabelos vermelhos e sardas no rosto que pelos vistos já tentara o
acordar de diversas formas. Ele estava todo ensopado.
– O quê?
– Você estava suando desmaiado – Sannie fazia caretas – mas que garoto
mais fraco.
– E-Eu desmaiei?
– Quanto tempo?!
– “Acreditares que um dia possas ser tão alto e lindo quanto Ocásis” Isso
sim, é impossível. Mas é a verdade, meu caro – ela dava tapinhas no ombro
do garoto – ser um Salim tem suas vantagens. Caso o contrário você teria –
Sannie elevou o polegar para a garganta parecendo corta-la e fazendo um
grunhido – batido as botas e passado dessa para melhor.
– Você não faz ideia do quanto – Uma resposta sincera para uma
pergunta sincera.
Edward não queria mais falar sobre aquilo. Ele sentia que o fazia sentir-
se frágil. Pelo olhar estampado no rosto da menina, a adaga prateada na
coluna do garoto, o metal frio tocando sua pele, aquilo era um teste, um
maldito teste. Tudo ali era um teste.
– Não consegui ver muita coisa, o lugar inteiro estava coberto de poeira.
– Observe – a menina parecia ser feita de borracha pela forma como era
flexível ao elevar a perna para cima. Ela segurava uma pedra do tamanho de
um coco e atirou ao ar, Edward teve que abaixar quando a pedra passou
como uma bala atravessando as copas das árvores com o chute da menina.
– Foi exatamente esse o movimento que Ocásis fez quando aquela coisa
na floresta escura me atacou.
Aquilo era verdade, certa vez ele tinha sido arremessado por um touro
em Vênus e simplesmente nada tinha se quebrado. Ele via aquilo como um
milagre na época. Sannie continuou:
– Em uma luta corpo a corpo você deve estar cem por cento conectado
com todo o seu corpo. Braços, pernas, joelhos, cotovelos, cintura, dedos,
olhos, nariz, tudo inteiramente conectado por uma linha invisível de poder,
de força e inteligência – Edward nem mesmo a viu desaparecer, em seguida
ser puxado para trás passando pelas costas da menina e ser atirado contra
uma árvore fazendo galhos caírem.
Então chovia naquela cidade? Com certeza aquilo era uma coisa que
Edward gostaria tanto de ver. Mas poderia ser uma mentira, um truque para
que ele se esforçasse mais nos treinos. Mas sentia na voz da menina a
sinceridade. Então poderia arriscar confiar. E a história que ela contaria…
¢
A enorme gruta completamente mórbida e escura não era realmente o
tipo de covil Super do mal que Nero esperava. O jovem de cabelos
vermelhos e escuros como o sangue odiava a ideia de receber ordens de
outra pessoa ao invés de partir para a pancadaria com o primeiro fracote que
pudesse aparecer, mas de alguma forma, a história que Daren contara para
ele, seus planos, seus objetivos, o fizeram ceder. Além disso ele percebera a
forma como os tratava, ele e a outra garota lindamente esquisita e
igualmente sombria. Seus companheiros. Era assim que Daren os
considerava, seus companheiros. Nas últimas semanas enquanto derrubavam
reis e lordes de algumas regiões do continente Sul, Nero percebia o quanto
ele se preocupava com o bem-estar de ambos. Aquele ato era digno de um
rei, um mestre, um deus, um amigo. Tal palavra era como lama em sua
boca, mas ele agora possuía um grupo, amigos, uma família. Mesmo
Anurim não sendo a melhor companhia e falasse pouco, ele sentia, sabia
que a garota também os via da mesma forma. Os três protegeriam um ao
outro quando precisassem. E a pesar de Nero ser insanamente forte, ele
gostava daquele sentimento.
– Olha – ele falou por fim, depois de longas horas de tensão, era incrível
como aqueles dois não se importavam sequer em manter uma conversa
fluída – eu estou começando a achar que a companhia dos caras do bar em
Vilkas era mais agradável – ele ainda fazia questão de sorrir diante daquele
infinito tédio – quando vamos invadir essa tal de Orgema Siquim?
– Olhe bem para aqui – ela indicava com as unhas escuras e violetas para
a parte direita do mapa – o que você vê?
Ele olhou e não havia nada que ele já não tivesse visto antes. Tribo dos
caçadores, Terra congelada…
– Olhe bem, Nero, a floresta dos galhos cantantes, a tribo dos caçadores
e os montes espinhos. Qual é mesmo o formato da cidade de Orgema, pelo
que as histórias dizem?
– Relaxa, Nero…
Faça amigos…
Oi, filha, é a mamãe….
A noite estava fugindo e ela precisava ir a escola naquele dia, além do
fato de que o professor Dexter tinha pedido que o encontrasse na sala do
diretor, também desaparecido fazendo-o se encarregar da escola inteira
secretamente. O professor teria algumas ideias caso os Salins do mal viessem
atrás do livro, até que conseguissem achar uma forma de obrigar o livro a
transporta-la para aquele lugar, aquela bizarra floresta. Ela precisava voltar
para a livraria Santa Teresa. Levantando-se com um movimento sedutor as
poderosas asas agitando, olhou para baixo, para a enorme queda escura, e
saltou. Vento fazia seus cabelos encaracolados esvoaçarem enquanto caía e
caía como um corvo sob a luz gloriosa da lua cheia acima dela fazendo-a
parecer a sombra de um anjo da morte que caçava a escuridão abaixo, e ela
sorria diante do prazer ao esticar suas longas asas e sentir o ar frio em cada
pena, em cada extremidade de seu corpo, suas poderosas asas eram parte de
si, aprendera a aceitá-las como membros, como companheiras naquele
mundo infernal e impuro, como suas irmãs. Sim. Ela poderia jurar que
sentia as asas sorrindo para ela enquanto a enroscavam como se fossem uma
armadura a protegendo, pouco antes de se abrirem novamente e tão
rapidamente e voltarem a subir os céus ao roçar na superfície das águas
calmas do lago dormente. Enquanto passava sobre as casas e ruas e parques,
o som de asas batendo era o único que ela ouvia, como se fosse música feita
unicamente para seus ouvidos. Pois aquilo era liberdade.
¢
– Aqueles dois – falou Sannie, enquanto jogava a adaga prateada com a
esmeralda brilhante no cabo, dando voltas no ar – nem o próprio destino
saberia dizer quais são seus destinos.
O treinamento estava cada vez melhor. Talvez porque graças aos céus
Edward vencera a menina duas de trinta e uma lutas. Uma vitória
considerável. Seus movimentos estavam mais rápidos, seu corpo
acompanhava, embora não tão rápido quanto esperava, a dança ágil da
menina. Mas, segundo ela, uma breve fofoca também seria uma boa forma
de aproveitar as pausas para descansar. E obviamente que o assunto do
século seria nada mais que o caso Ocásis – Anúbis. As perguntas eram tantas
na mente do garoto: Por quê não ficam juntos? O que há entre eles? Eles
estão fingindo enquanto constroem um relacionamento para a vida no
sigilo? Mas não havia sigilo para Sannie, pois ela sabia de tudo, como ela
sabia, Edward não fazia ideia. Mas aquela menina…
Ela continuou:
– Por quê?
– Reino do primor?
– Porquê?
– E quanto a você?
– Me fale sobre você – era incrível como ele conseguia dizer aquelas
palavras tão calmamente, pois em Vênus estaria tremendo como uma pena,
pelos vistos o convívio com a menina o deixara familiarizado com ela, então
continuou – eu falei para você sobre meus amigos, Layla, minha escola, a
garota que Dim me apresentou pouco antes de o maldito livro me sugar para
esta loucura toda. Eu contei tudo para você, seria justo falar um pouco sobre
você mesma, não acha?
Sannie gargalhava como se tudo o que o garoto dissera fosse uma peça
teatral.
– Então, aqui está o concelho de sua mentora: Não fique com alguém
que saiba fazer várias coisa. Assim não corres o risco de ser o inútil da
relação.
O vento vindo dos espaços entre algumas árvores faziam os cabelos de
ambos esvoaçarem.
– Você sabe que já podemos sair deste lugar, não? – foi mais uma
afirmação do que pergunta, quando Sannie por fim quebrou o pensamento
distante do garoto.
– Mas antes – Edward soltou um enorme bocejo fazendo o peito
magricela debaixo das roupas emprestadas por Ocásis esticar, estalando a
clavícula – você me prometeu algo, caso me saísse bem nos treinos, lembra?
– Você tem razão. Mas, precisa me prometer que não conta para
ninguém, nem para Ocásis, pois, só eu sei desta história – o garoto mordeu
o indicador antes de dizer:
– Prometo. Mas antes, você tem que me prometer que dirá única e
exclusivamente a verdade, e só a verdade.
Edward estava tão atento na história que parecia estar dentro dela.
– Apenas parte dela. Para que sua existência continuasse neste mundo
mesmo quando a morte o reivindicasse – a menina estalou a língua e sorria
levemente ao dizer – você já deveria saber que livros são parte de nós que
continuarão com nossa existência mesmo depois de abandonarmos este
mundo, sussurrando nossos pensamentos nas mentes das pessoas, geração
após geração, após geração. Por toda eternidade.
– Por favor!
– Está sentindo isso? – Sannie parecia ser toda feita de fogo e luz e
glória sob a luz do sol eterno e acolhedor a direita – está ouvindo isso?
E como um corpo sem vida ela saltou, ainda olhando para Ocásis, que
a acompanhou naquela queda em direcção as águas caindo.
¢
Eles caíam de cabeça para baixo, os rostos virados um para o outro,
seus cabelos eram puxados para cima. A medida que caíam mais e mais
naquela queda de minutos, ela sorria para ele e ele para ela, e seus olhos
desenhados pelos próprios deuses se enchiam de lágrimas, ou de felicidade
ou pelo vento, Ocásis não sabia dizer, mas ela estava mais linda do que
nunca, ela era perfeita. Quando passavam entre as mãos de Merlim e o livro
sua queda diminuíra consideravelmente adequando-se a gravidade daquela
área que fazia as milhares de gotinhas d'água caírem tão lentamente, e Ocásis
poderia jurar que o mundo ao redor passava em câmara-lenta e todo o
espaço ao redor era preenchido por cores dos mais diversos tons que o
espectro visual pudesse observar. Uma atmosfera totalmente colorida. A
chuva já tinha parado e aquele era o momento que o povo siquiniano mais
adorava. A névoa das mil cores. Enquanto caíam ainda lentamente, a
princesa foragida com seus compridos cabelos voando se aproximou dele,
seus lábios de veludo rosado eram uma obra de arte, ela entrelaçou os dedos
de sua mão aos dele, um segundo depois colocou um pé contra ele usando
seu corpo como superfície impulsionando-se para as costas do gigante
Minarim que a carregou tão rápido, Ocásis rapidamente com um clarão fez
emergir suas imponentes asas, equilibrando-se no ar com um movimento
giratório e partir atrás da princesa.
¢
– E então, recruta, está gostando da visão?
– Parece até que foi ontem que o encontramos em floresta dos galhos
cantantes – Anúbis estava nas costas da fera que fazia sons guturais – e olha
para você – o anjo arqueou uma sobrancelha – estou impressionada.
Arriscaria dizer que você aumentou alguns centímetros.
Ocásis ainda batia suas asas no céu parecendo o anjo da justiça, com o
sol o iluminando por trás o jovem era realmente o deus do submundo, seus
cabelos brancos e curtos eram abanados por todos os lados.
– Layla Miller.
16
O jovem sombrio
Vênus despertava. Eram cinco da manhã, o sol ainda não tinha raiado
mas a noite já não governava as ruas e parques de diversões e prédios e casas
menores por onde Layla passava com as calças castanhas e escuras dentro
das botas pretas que chegavam quase até os joelhos. Fazia semanas que não
surgia mais nenhuma daquelas gigantescas penas negras e vermelhas que
deixavam destruição por onde caíam. Por alguns dias ela estava de certa
forma livre, renovada, durante as conversas com o professor. Era incrível
como o senhor de meia idade a entendia como ninguém jamais o fizera
naquela cidade ou em Étom, Suécia.
– O que o senhor faria numa situação como a minha? – sua voz parecia
gelo vivo – digo, sem amigos, sem pais, sem um lar e com sérios problemas
de socialismo? Embora eu não me importe, ver aqueles olhares de nojo e
rejeição, como se eu fosse uma aberração psicótica me deixa completamente
frustrada e, ai eu penso, que talvez lá no fundo, eu me importe com isso. E
chego a não sabendo o que fazer, como me proceder.
Naquele instante, mesmo com os olhos na lareira que não ardia, ela
conseguia senti-lo olhar para ela quando disse:
– Tudo bem – Duas palavras tão simples mas que disseram muito,
tudo, para ela naquela conversa – as pessoas odeiam o teu jeito de ser e por
vezes te sentes mal por nunca conseguir se enquadrar, pois elas não gostam.
Neste momento o professor chegava mais perto, os antebraços
apoiados sobre a escrivaninha, mas ele continuou. - Então eu pergunto: e
como ficam as pessoas que gostam?
– Não entendi – ela teria olhado, confusa, para o senhor que estampava
um doce e acolhedor sorriso.
– Devo matá-la? – a garota que poderia muito bem ser da mesma idade
que Layla, talvez um ano a mais, exibia um sorriso diabolicamente frio e
venenoso. Mas o que fez Layla quase cair de pavor e horror e confusão fora
a voz assustadoramente familiar do homem. Embora fria.
– Não pode ser – ela conseguiu falar, a voz completamente trémula. Ela
conhecia aquela pessoa. Aquilo simplesmente não poderia ser verdade –
Isso é impossível – a jovem de camiseta escura levemente azulada que
deixava o abdômen à vista, olhava divertidamente para Layla sem dizer uma
única palavra. O jovem-sombrio disse para a companheira:
Tempo!
DAREN, ESTÁ VINDO…
– Não brinca!
¢
Após se separar de Ocásis e Sannie e terem deixado Orgema através de
um dos quatro portais, Anúbis caminhava sobre uma pantera branca entre
os meados da mata que dava início ao território da tribo da Árquia.
– Por que fugiu? – ele disse, quebrando o gelo da situação. Então Sannie
tinha contado para ele.
Aquela menina…
No entanto, ela contou à medida que caminhavam sobre seus lindos
felinos.
– Eu ainda acho que não dá fugir do nosso destino. Anúbis fez uma
expressão de confusão, mas Edward apenas sorriu. De repente as folhas
começavam a mudar de verde para preto e cinza. Algo estava errado, a
atmosfera mudara completamente no céu nublado corvos, dezenas deles,
passavam às pressas, como se fugindo de algo. Ela nem mesmo percebeu o
homem que fazia jogo visual com Edward que estava pálido como mármore.
Por Anila. Aquele jovem de vestes pretas retirava o capuz e seus cabelos
castanhos e escuros dançavam sob o vento forte, seus olhos eram tão verdes
quanto os de Edward, eles pareciam o reflexo um do outro.
– Olá, Eddy!
– Dim!
¢
O vento batia forte à medida que passava sobre floresta dos galhos
cantantes, voando à velocidade da luz. Pois só assim com a magia de
passagem para a zona de espaço-tempo chegaria ao mundo do garoto.
Edward. Ele apertava os punhos só de lembrar na vantagem completamente
absurda que teria dado ao inimigo. A bússola do deus Arsêmis, deixando-a
perdida sobre as terras de Continente Sul após a grande batalha. Como teria
chegado à Vênus, às mãos do homem que a dera de presente, ainda
precisava daquelas respostas. Ocásis nem mesmo piscou ao ser arremessado
com a rocha do tamanho de dez elefantes. Olhando para baixo, mais para
dentro das árvores secas e retorcidas que margeavam a floresta ao lado do
pântano, e lá estavam eles, centenas daquelas criaturas horrendas e ossudas e
ressecadas, todos com aqueles imensos olhos carmesim. Monstros do
pântano.
Algo dera errado. Aquilo não era uma surpresa, aquela teria sido
realmente a decisão certa? Era uma armadilha e ainda assim ele havia
decidido continuar com o plano. Porém a que custo? Se as coisas realmente
dessem errado, Ocásis se odiaria da mesma forma que odiava sua tribo
maldita. Aquelas bestas, algumas aladas, igualmente escuras e outras mais
baixas, das que atacaram Edward, que possuíam os membros inferiores e
esguios ligados ao solo o atrasariam. Precisaria ser rápido. E rezar bastante
para que o resto da equipe estivesse a salvo.
Então as bestas vinham voando furiosamente ao seu encontro.
17
Tem que valer a pena
O ataque da garota gótica quase a acertara, se não fosse pelo salto que
Layla dera para longe, por trás do escorrega estragado do parque de
diversões abandonado. Por céus, aquelas agonizantes correntes esticavam e
encolhiam. Aquilo seria um problema. Ela ainda não conseguia acreditar.
Daren… era Dim, na verdade e Dim era Daren. Não era Edward que sabia
ocultar sua magia das vezes que os dois a irritavam e perturbavam seu
sossego na biblioteca, foi sempre ele, foi sempre o maldito amigo ao lado,
como sua sombra, como um bode-expiatório. Era ele que sabia que ela
possuía magia logo que teria chegado, no primeiro dia de aulas. Isso
explicava por que tinha sumido após o desaparecimento do amigo, com a
habilidade de manipulação espacial ele poderia muito bem executar seus
planos ardilosos como Daren e viver uma vida aparentemente normal com
Dim.
– Disse tão confiante que protegeria o livro que achei até que você ao
menos lutasse contra mim. Mas, ao invés disso, você foge? – um estalo de
língua – interessante, Layla – tão rápida e silenciosa, ela estava atrás de Layla
seu hálito raspando o dorso do pescoço da jovem – muito interessante –
suas correntes se enroscaram em uma perna e Layla sentiu o corpo ser
arremessado no outro lado do parque, rompendo casas, parede por parede.
Instintivamente suas compridas asas a enroscavam mesmo antes de ser
atirada, tossindo pela poeira por todo lado ela reparou : nada havia
quebrado, e o livro na pasta…ela precisava ganhar tempo… Tempo… Uma
luta corpo a corpo estava fora de questão e aquilo era uma hermética
desvantagem. Anurim, no entanto, já estava em seu encalço, seus longos
cabelos pretos ondulavam sobre pedra e tijolo aos destroços.
– Não quer lutar? – entre montanhas além, as nuvens recebiam o
crepúsculo, lentamente – diria que é algo inteligente a se fazer. Entretanto,
isso a tornaria uma covarde, não? Anda, me diga , estamos só nós duas aqui
– Anurim sibilou graciosamente – você tem medo. Eu me pergunto do quê.
Eu estou começando a achar que isso não é só pelo livro. Consigo sentir o
cheiro do medo da morte saindo de você.
– Você perdeu alguém – pelo seu tom, era mais uma afirmação do que
pergunta – você sente falta de alguém do seu passado, não é? Perdeu essa
pessoa e tem medo de enfrentar alguém que conscientemente saiba ser
mortal para você. Tem medo de ter o mesmo fim que ela, não é?
Maldição! Ela já estava entrando em sua mente sem que se desse por
conta. Você é mais forte do que isso! Você é mais forte do que isso!
– Vejo que ainda resiste a mim. Interessante. Muito bem então – tão
rápidas, aquelas correntes vinham de novo em sua direcção, Layla desviou e
o chão rasgou, estremecendo. Anurim fez um som de negação – se fosse
você, não faria isso – ela percebeu que Layla tentava levantar as correntes e
puxa-la, no entanto, sem resultado nenhum. As poderosas correntes sequer
se mexiam de onde estavam – Nem mesmo Nero conseguiria levantar essas
correntes. Acredite em mim, estou fazendo um enorme esforço para não
mata-la. Você é fraca demais, quase tão fraca quanto minha querida
irmãzinha. Então, por que não facilita as coisas para nós duas e me dá o
livro? Eu até gostei desse seu estilo – ela reparava na jaqueta preta de couro
da jovem – não me obrigue a fazer isso da pior forma.
Ainda com as mãos naquelas pesadas correntes, o corpo arqueado, o
rosto e os cabelos ondulados sujos, ela pensava. Aquilo realmente tinha que
valer apena. Ninguém viria a seu socorro, mas tinha que valer apena de
alguma forma. As chances estavam contra ela naquele confronto, e a jovem
linda e sombria teria total razão, ela não era páreo. Anurim a esmagaria só
com um único pensamento, aquilo era um ato de misericórdia. Fraca.
Covarde. Inútil. Era assim que ela se sentia naquele momento. Com um
estrondo ela bateu as asas tão forte que Anurim elevou as mãos ao rosto. E
no segundo seguinte, tão rápida, Layla estava nos céus indo mais em cima.
Sem olhar para baixo ela conseguiu ouvir a jovem dizer:
– Escolheu mal.
OI filha! É a mamãe.
Se você está lendo isso, provavelmente já está crescida… quinze anos
talvez…
Finalmente ela conseguia ouvir a voz da mãe naquela carta, que já lera
dezenas de vezes.
Estou escrevendo esta carta porque não sei mais quanto tempo vou
sobreviver. Desde que eu estive concebida de você, começaram a acontecer
coisas estranhas, não sei explicar, mas, você não era uma gravidez normal –
ela caía – eu me sentia estranha todas as noites, e na sua maioria, sonhos
estranhos invadiam minhas noites, visões se assim posso dizer – ela caía – de
um ponto rochoso do topo da terra, tão alto que as nuvens eram vistas por
baixo, e era quase possível tocar a lua. Eu via um velho de vestes e barbas
brancas como a luz da lua cheia, rodeado por sete crianças, talvez oito
crianças aparentemente entre os dois a três anos. Você agora tem um mês de
vida e eu ficava aterrorizada com o que via, meu cérebro congelava meu
corpo padecia ao ver dentre aquelas crianças uma garotinha com suas
características. Ela tinha os cabelos e olhos iguais aos seus, uma projeção
plena do meu eu mais nova – Layla chorava em meio a dor da coluna e
cinco costelas quebradas e não sabia se estava caindo muito lento ou aquelas
palavras em sua mente eram como um uma alucinação ligeira. A voz
continuava – O senhor de vestes brancas parecia cantar para você e as
outras crianças, ele se divertia com vocês e vocês com ele. Estranhamente os
chamava de “filhos” que vocês nasceriam com um propósito. Crianças
especiais. “Salins” era esse o nome.
Filha eu nunca entendi toda vez que sonhava com aquilo, e não entendo
como você tem esses “poderes” você nasceu com asinhas, seu pai e eu
apelidamos você de anjinho, o nosso precioso querubim. Seu pai foi
assassinado há alguns dias e eu nem pude ir ao enterro.
A dor insuportável por todo o corpo aumentou quando sentiu o solo.
Um som tão alto quanto uma explosão ressoou por Vênus, inteira. E Layla
havia se espatifado no chão, criando uma cratera enorme.
Filha! Aconteça o que acontecer. Não caia – mãe – será, sim, difícil viver
sem mim, sem o papai por perto, mas saiba – ela tentava e tentava mesmo
sem o corpo reagir – que eu e papai amamos muito você, não machuque
ninguém, seja boa com todo o mundo e ajude quem precisar de ajuda, pois
é para isso que pessoas diferentes nascem: para fazerem a diferença, então,
faça, filha, faça.
E onde “ajudar os outros” a havia levado? Mesmo depois de ter se
esforçado tanto, buscado tanto por eles, pelos Salins iguais a ela…
…Com o poder que você ganhou. Isso não é uma maldição – Fraca! – é um
dom que você ganhou. Ser boa com os outros não fará de ti menos
humana.
Outro tremor de terrar. Deveria ser o homem que a arremessara das
nuvens até o chão. As correntes insuportáveis tilintavam mais e mais perto.
– Deveria olhar mais para onde voa – o jovem alto de cabelos de sangue
sacudia a pasta fazendo tudo ali dentro, lapiseiras, cadernos, o livro marrom,
os papéis de sua querida mãe, tudo caindo – você pode ser atropelada por
um daqueles seus pássaros mecânicos.
– Por f-favor – Layla ainda chorava, a voz tropeçando, o braço esticado
para o nada – p-por f-favor, n-não!
Mas o jovem alto vinha até ela, entregando o livro em Anurim que ainda
possuía aquele mesmo olhar frio e sem emoção. Ela viu os preciosos papéis
serem pisoteados entrando mais fundo no chão. Sua visão ficava embaçada à
media que era pisoteada e empurrada até que ficasse de bruços, seu rosto
tocava o chão, sua respiração fazia areia ser levantada.
Por céus, a dor ficara ainda pior que antes, muito pior. Seu sangue se
agitava, seus pulmões apertavam, pavor, total pavor se apoderara dela
naquele momento, ela sentia o pé do jovem pressionar mais fundo suas
costas – Por favor não faça isso, por favor – ela tentava gritar, porém todas as
forças haviam se esvaído de seu quebrado corpo – Por favor, por favor, por
favor – segundos depois suas imponentes asas eram atiradas de um lado e de
outro. Sangue. Ela sentia o corpo todo banhado por seu próprio sangue.
Tem que valer a pena!…Tem que valer a pena!…
Faça amigos, se possível tente encontrar as outras crianças como você,
assim será mais fácil você conseguir sobreviver, pois amizade é uma magia
que nenhum mal consegue destruir – Layla ouvia a voz da mãe, segurando
com a pouca força que lhe restava os joelhos até ao peito, ficando ali
chorando e lamentando, naquela posição fetal – Eu sei, eu sinto que você
não é a única neste mundo. Eu e seu papai estaremos sempre aqui do seu
lado, acompanhando seus passos. E lembre-se, sempre, que você é a luz que
nunca se apagará…
… Gostaria que tivesse tido mais tempo…
Carinhosamente, da sua mamãe#
Cuide-se…
…filha!
Como eu já disse… minha história… nunca foi um conto de
fadas!
!?
!!!...
Parte Dois
Grito de guerra
18
Laços cortados
– Não!
Ocásis impulsionou suas asas e tão rápido como o dragão que era
aterrissou com um movimento perfeitamente coordenado bem ao lado dos
dois mais ao centro do buraco. O sol estava quase ao meio-dia, embora
pouco visível em meio as nuvens . O senhor que estava com o rosto sobre a
garota respirando dificilmente olhou para ele, seus olhos estavam vermelhos
e inchados, quando disse:
Aquilo era uma bênção dos céus. Ele odiava pensar naquilo, naquele
momento diante da situação mortal da garota de pele trigueira. Mas um
alívio surgia no peito do jovem. Ainda haveria esperança para Orgema,
então, e para outros reinos e mundos. Graças a garota completamente
quebrada diante de si. Ele reparou em cima, o céu ainda nublado.
¢
– É bom nos revermos novamente, amigo – Edward ouvia a voz de Dim
por todos os lados, como um eco, sua voz estava em todo o lugar. Não. Dim
estava em todo o lugar – na verdade, é nosso segundo reencontro – mesmo
com o corpo totalmente sem forças, a mente vagueando por incontáveis
abismos, ele se virava para onde Dim aparecera, atrás de si, girando o
objecto dourado na mão – você deve se lembrar, não?
Então tinha sido tudo real. Aquilo, tinha sido real! Embora tivesse
explicado exactamente o que acontecera, embora confuso até para ele
próprio, para Ocásis, ele não entendia como a bússola tinha sumido de seu
bolso. E aí, ele lembrara que pouco antes de acordar do pesadelo, naquele
lugar, o demônio escuro e sem olhos e asas gigantes de morcego tinha
tocado realmente nele e de alguma forma… Tirado a bússola.
– Desapareça!
Então fora tudo uma farsa, uma ilusão, durante anos de amizade. Tudo
uma maldita ilusão. Edward sentia os olhos esquentarem, em seguida em
suas bochechas amarelas escorriam pequenos rios de lágrimas.
– Age como se tivesse razão em, Eddy? Acha mesmo que sou o ser mais
maligno do mundo por isso? – Dim ria mais alto desta vez – abra os olhos,
criança – por um momento sua voz parecia ser de outra pessoa, seria aquele
nos olhos do amigo o verdadeiro Daren, falando daquele inferno? – o
mundo está cheio de amizades falsas.
– Nunca houve isso daí entre nós. Nunca houve sequer um “nós”.
Era tudo uma estratégia, Edward pensou, e pelos vistos Dim vencera
sem mesmo partir para a briga. Ele sentia o coração doer, Anúbis
igualmente destruída.
– Mas esta não é a melhor parte, Eddy – ele continuou, depois de olhar
por alguns segundos os corvos que gritavam e passavam aos miliares nos
céus tempestuosos e agitados – acha mesmo que vim até aqui para contar
uma historinha? – um estalo de língua – não, não, Eddy, deveria ver o que
fiz com seus queridos pais – uma pausa – e Sara.
– O que fez? O que, você, fez?
– Calma ai, amigo, não matei eles… ainda!. Mas agora, eles fazem parte
de algo maior, estão bem aqui, do meu lado, consigo sentir e ouvi-los chorar.
Meus amiguinhos alados estão se deliciando de seus medos e choros. E para
meu plano, só preciso de mais uma coisinha.
– Nos veremos logo, Eddy – era tarde demais, Dim já estava ali, o ar
quente roçando seu pescoço – mas terei que ficar com isto.
Layla estava tão quente que até mesmo para o jovem-dragão seria
mortal. Seu pequeno e delicado corpo estremecia bruscamente, como se
aqueles fossem seus últimos suspiros, ainda inconsciente. Layla não acordara
desde Vênus. Por céus! Anúbis precisava vir o quanto antes, pelo menos
algo naquele miserável plano teria que dar certo.
¢
Senhorita Miller estava à beira da morte. E ele só poderia ficar olhando,
apesar de Orgema ser o mundo fantástico que tanto sonhava conhecer. Seu
coração sofria ao olhar para a jovem acamada naquele quarto à luz das velas
na casa dos Salins, sua casa por direito também.
– São os deuses. Marcas e poemas cravados nas pedras deste lugar pelo
próprio Merlim há milénios. Estão por toda casa – ele indicou para as
paredes pálidas sobre a luz das velas – Arcas, o deus dos oceanos, Anila,
deusa da perfeição e justiça, Arsêmis, deus da luz e o perdão, alguns dizem
que o veem no próprio sol eterno da cidade – ele concluiu – e Aphênys,
deus das chamas, da punição e sofrimento.
– Sim. Mas, para os sete, foi apenas metade do poder. Metade da imensa
magia de Merlim se repartiu para os sete Salins conhecidos.
¢
Meia hora depois, graças aos céus, um dos emissários de confiança de
Sila teria chegado no quarto onde estavam. Anúbis e Edward teriam chegado
e estavam na sala do chão de pedra lisa, mais abaixo na casa.
Rápida e cuidadosamente descia as escadas com Layla, sua pele
amarela começando a ficar levemente cinza. Por Arsêmis! Ela estava
morrendo. O professor, logo atrás, parecia com medo, medo de sequer
pensar no pior. Anúbis precisava cura-la. Precisava…
¢
As coisas iam de mal a pior. Tudo estava dando errado para eles, Ocásis
estava com a jovem que deveria ser Layla Miller, e as coisas tinham corrido
mal para ele também, pelos vistos. Se não fosse por Sannie e Sila que teriam
aparecido em seu socorro, ela não sabia se conseguiria ao menos estancar o
sangue no braço que faltava em Edward, que piscava levemente os olhos
semiabertos e completamente mórbidos. Ele estava abatido igual a ela, uma
coisa que lamentavelmente seu poder não poderia curar. Minutos depois, se
esforçando para puxar sua magia trancafiada pela culpa do que sua atitude
egoísta fizera a irmã. A Anurim. Anúbis se aproximou do corpo da jovem
disposto sobre a mesa de madeira histórica, e estendendo sobre ela suas
macias e delicadas mãos começou: o processo demoraria algum tempo,
mesmo com os olhos fechados ela sentia todo mundo atento àquilo, a
situação era bastante complicada, havia bastante coisa quebrada, costelas,
vértebras, uma série de nervos danificados, vasos cortados e milhões de
células mortas, que por cortesia da irmã, não estavam se regenerando, até
para um Salim. No entanto, aos poucos ela consertava, ligava e renovava
cada tecido, cada órgão, mesmo que levasse uma eternidade ela o faria. O
livro que estava nas mãos do senhor de meia idade, ela devia aquilo a Layla,
todos deviam. O que Daren dissera ainda passava como marteladas em sua
mente: Anurim era também um Salim, por Anila, durante todos aqueles
anos ocultando sua magia, enquanto a realeza se atrapalhava com ela, a
princesa mais linda que a irmã mais velha, por consequência herdando o
direito da irmã mais velha como futura rainha de reino do primor e senhora
da nação mais poderosa de todos os mundos como seria e fora por miliares
de anos. Então ela contou tudo para eles enquanto via Layla recobrar
levemente os sentidos e Edward sentado em uma poltrona ao lado. Então
todos ouviram. Desde o dia que fugira das suas responsabilidades como
princesa e atirara toda a responsabilidade a irmã mais velha fazendo-a cativa
das tradições familiares, e que a irmã seria obrigada a casar-se com alguém
que não amasse – o motivo por ela ter fugido – e sua vida estaria para
sempre condenada ao desgosto e amor forçado, pois em Reino do primor
um matrimónio seria eterno nem mesmo a morte os separaria. O último que
traíra sua senhora tivera sua vida retirada pela própria Anila, a deusa da
perfeição e da justiça, pois atos como traição, separação e poligamia eram
considerados pela divindade como IMPERFEITO, e mesmo após a morte
de seu cônjuge, a viúva aparentemente abatida se se casasse novamente,
igualmente sua vida seria recolhida do mundo dos vivos, pois para a deusa
aquilo seria JUSTIÇA. Talvez por motivos como aqueles, Anúbis
presumira, que a irmã viesse atrás dela. Para matá-la. Como sempre fazia em
seus pesadelos com o agonizante som das correntes.
¢
– Daren deve usar a bússola como um objecto poderoso para criar uma
forma de invadir Orgema.
– E o que tem lá? – a garota sem suas asas ousou perguntar e Ocásis e
Anúbis e o resto e o emissário também presente naquela reunião pareciam
congelar com aquela pergunta. Mas Sila respondeu:
– Que não era seu corpo verdadeiro e que ouvia meus pais gritarem e
serem torturados...
– Isso também explica por quê não os matou ou sequer gastou magia –
Ocásis proferiu. No entanto, o professor desgraçado não perdeu a
oportunidade.
– A verdade é que ele não estava mais com magia o suficiente naquela
hora, a não ser para poder voltar só ele mesmo, sua piedade foi um blefe.
Tudo isto porque ele precisa do corpo verdadeiro, do próprio Daren em
carne e osso, para poder usar a magia completa de manipulação espacial –
ele parecia falar mais para a jovem discípula que qualquer outra pessoa
naquele círculo, não, ele estava ensinando. Seria aquilo a magia de um
professor, a habilidade de ensinar, independentemente das circunstâncias –
Creio que seja isto que esteja fazendo neste exacto momento com o amuleto,
a família e o sangue de Edward, tudo está relacionado.
– Está despertando.
20
Sentimentos guardados
– Acho que foi – Ele fingia pensar seriamente – quando o professor saiu
daquele carro vermelho com os papéis por dar – Layla alegremente sorriu.
– Não precisa de magia para fazer algo de bom no mundo – Ele falou,
sentindo a respiração da garota em seu peito minúsculo – O que você
perdeu?
– As asas, e você?
– O braço!
– Entendo!
– Hamm!
¢
– Acha que Anúbis pode resolver este problema para nós? – Layla
perguntou, brincando com a manga cinza larga do braço magro – único
braço agora – do garoto tímido, que divertidamente cogitava.
– Acho que o que ela fez por nós é o máximo. Suponho que fazer
crescer membros a alguém seja o mesmo que revivê-lo, o que é
completamente impossível, até para ela.
– Por que essa deusa encarnada não aparece e nos ajuda nesta loucura
toda? – ela falava com a voz tênue, percebendo que o garoto também olhava
para os desenhos dos deuses cravados ali – Alika, não é? Se as histórias a
superestimam tanto assim e ela pode entrar e sair de qualquer lugar no
mundo, por quê simplesmente ela não se manifesta? Ela também é um
Salim e obviamente deve saber o que o mundo está passando – Edward
levou um tempo para responder:
Embora não querendo aceitar aquele facto, Edward tinha razão. Seria
apenas eles naquele pesadelo.
– Então, acho que eu e você somos uns completos inúteis nesta batalha.
– Vênus agradece.
– O quê?
¢
Ocásis olhava para aqueles lindos olhos com anéis de fogo. Ela estava
bem, todos naquela sala estavam bem. Ele estava feliz por Anúbis ter
finalmente confessado aos demais o motivo de sua fuga, de certa forma um
peso havia saído de seus ombros também, embora a parte da irmã mais
velha ser um Salim também ter sido uma completa novidade para ele. Então
não havia mais segredos. Todo mundo ali soubera pelo menos das
informações mais relevantes para aquela guerra. Mas Ocásis precisava
confessar para ela, a princesa foragida diante dele, olhando para o lado,
precisava dizer para ela, o tempo não estava a seu favor, ele não poderia
saber o que aconteceria quando o mal viesse a eles. Amo você, princesa!
Amo você, princesa! Ele precisava dizer naquele momento. Anda, diga! Diga
para ela! Mas não conseguia. Não podia. Não com o custo a ser pago, tudo
graças a maldita tribo. Ele não podia. Diga! Anda! Diz para ela!
¢
O jovem diante dela parecia uma muralha de marrom e preto de tão
alto que era que precisava curvar lamentavelmente o pescoço para trás, mas
ela gostava daquilo, da sensação de olhar para cima sempre que Ocásis dizia
alguma coisa para ela com aquela voz desconcertante e aqueles olhos que
pareciam dois minúsculos astros dourados e eternos. De alguma forma
sentia que o jovem dragão quisera falar algo para ela, estava bastante óbvio
em seus lindos olhos. Por favor fale! Ela implorava com o olhar Por favor
fale! É o que mais quero ouvir neste momento! É o que sempre quis ouvir!
Mas ele não dizia. Por que não diz logo, maldito narcisista? Ele não diria.
Talvez tivesse sido um completo sentimento egoísta e ilusório da parte dela
durante aqueles dois anos de convivência. Talvez a sensação de acolhimento
e liberdade que Ocásis tenha proporcionado a ela fosse apenas o amor de
irmã que sentia por ela. E aquele era seu maior medo. Pensar que Ocásis a
via simplesmente como a irmã que nunca teve, talvez fosse por isso que a
protegia tanto e ameaçava de morte qualquer homem que ousasse se
aproximar. Então diga você mesma! Sua mente cochichava para ela diga
você mesma que o ama! talvez isso mude toda a situação.
No entanto, ela não conseguia dizer.
¢
Senhorita Miller estava viva. Sem as asas, mas, Viva! E aquilo seria mais
do que ele imploraria aos céus. No canto da enorme sala, com o garoto
sabe-tudo, ela parecia realmente feliz. Mas não era momento para
sentimentalismo. Eles precisavam agir logo. Com um aceno, Senhorita
Miller e Edward estavam novamente no círculo, os outros igualmente se
sentaram.
– Então – ele começou – todos sabemos muito bem o que o livro quer
– um olhar para o garoto – ou quem. É a única vantagen que temos contra
Daren. O livro e Edward. Sabemos que ele precisava do livro para retirar a
manipulação temporal de Edward, face a isso, nós conseguimos impedir.
Pelo menos por agora. Sabemos também que possivelmente ele venha até
nós com um exército de soldados e civis todos eles controlados pela marca
negra da borboleta acorrentada – o professor viu Anúbis encolher do lado,
mas foi para Sila que ele olhou – Orgema possui defesas?
– Borboleta dourada nunca antes foi invadida, mas não somos ingênuos
o suficiente para estarmos totalmente desprotegidos ou a mercê dos Salins.
Temos tropas de infantaria altamente treinados, um arsenal de armamento
com as melhores espadas, lanças de guerra, catapultas, arcos e flechas e a
própria magia de Orgema, devo continuar? – Sila parecia se exibir, com os
braços cruzados. A jovem de cabelos pretos deveria ser, então, a responsável
pelo exército.
– Mas você acaba com o espírito de cada um dos pobres soldados com
aqueles treinamentos árduos – Sannie retrucava.
¢
Os contos não eram mentira. A cidade, o mundo oculto do resto do
continente Sul realmente existia. Com certeza, depois que a invasão
terminasse e Daren realizasse seu plano que, por todos os deuses! Seria
glorioso de se ver, ele faria daquela cidade um lugar de laser, faria da cidade
sua própria Vilkas com todos os seus moradores como súditos e escravas,
apenas as mais lindas viveriam em seu império, enfim sua vida não se
resumiria mais a dias solitários nos bares de Vilkas com aquelas cervejas sem
gosto algum, pois era aquilo que Daren o prometera. E ele faria aquilo com
honra. E no processo, matar Ocásis e os outros malditos Salins.
¢
Anurim olhava majestosamente para trás onde centenas de seus
escravos caminhavam em fileiras à medida que saíam mais e mais como
formigas, cães obedientes, no portal aberto por Daren. Ela sentia e ouvia o
pranto e sofrimento das almas de cada um deles, mas não se importaria com
aquilo. Anúbis estava algures naquela cidade à frente. Enfim sua preciosa
irmãzinha perfeitinha demais pagaria por aquele destino terrível que dera a
ela.
Por sua causa Daren os punira pelo livro falso. Mas ela já estaria morta
mesmo, neste caso seu ódio pela irmã só aumentava ainda mais. Anúbis
pagaria. Pagaria...
¢
– Precisam de mim – Layla esbravejava, enquanto todos olhavam para
ela, do lado de fora da casa gigante de diferente de todas ali, dos Salins, a
cidade ainda em alvoroço.
– É mais seguro para você se ficar aqui, esperando, caso Edward retorne
– Ocásis falava, sua camisa marrom dobrada nas mangas, enquanto
implorava para ela. Não sabiam onde Edward poderia estar naquele
momento, não sabiam sequer se retornaria, professor Gregório dissera o
mesmo após várias tentativas de fazer o livro falar, escrever qualquer coisa,
no entanto, o mesmo não reagia, como se se isolasse instantaneamente após
absorver o garoto. Entretanto, ali estavam eles, com a cidade possivelmente
invadida por Daren, e pedindo para que ela permanecesse. Ela odiava
aquele olhar das pessoas, o sentimento de pena, de preocupação, ela odiava
aquilo, odiava que sentissem pena dela.
– Deixe ela ir – Sila disse por fim, os braços cruzados – ela iria de
qualquer jeito mesmo. Anda – ela se aproximava da garota – teve asas, então
deve saber bem como os céus funcionam. Irá com a companhia aérea junto
Anúbis.
– Aquilo, em Vênus – ela disse ao jovem a sua frente – não foi culpa
sua.
– Chega de conversa melancólica, crianças – Sila indicava para a cidade –
é com eles que devemos nos preocupar agora. Um de meus emissários
informou dizendo que as tropas alinhadas na planície, além da cidade,
avistaram um exército inimigo saindo do portal Sul, cerca de quatrocentos
metros atrás do monumento de Merlim, que Arsêmis o tenha! Todos eles
controlados pela marca da borboleta acorrentada, Sannie confirmou e
Anúbis deve estar planando sobre eles neste exacto momento, enquanto
vocês discutem sobre quem luta ou não.
Layla percebia que Ocásis olhava para aquele mesmo lado, como se
sentisse a presença do inimigo ali. Por céus! Estavam entrando por todos os
lados de Orgema.
– Pelo que pude descobrir sobre ele e comparando à sua magia, meu
jovem – o professor interrompeu trocando o livro entre as mãos, a voz
controlada – poderia dizer que há uma grande possibilidade de ambos
possuírem a mesma variação mágica.
– Quero que permaneça aqui. Esta batalha não é para o senhor, não sei
o que faria caso acontecesse algo – ela pensava na foto entre os papéis do
caderno velho na sala de encontros na escola – deve permanecer aqui, pelo
menos até isto tudo acabar.
Ela olhava para o professor, o rosto cansado. Ele deveria estar realmente
cansado com tudo aquilo e bem no fundo ela se sentia culpada por aquilo.
Se não levasse o livro para ele…
¢
Então o Salim com o poder da lança de ataque estaria atrás dele, neste
caso poderia apenas presumir uma coisa, ele seria seu alvo naquela guerra.
Minutos após ter avistado Sila, a amiga de longa data que Ocásis nem
mesmo notara o quanto seus cabelos estavam curtos, cortados por ela
mesma para a batalha que tanto ansiava, nas linhas da frente do exército de
Orgema que se estendia na planície, do lado Oeste da cidade em numerosas
fileiras. A amiga vendedora da zona comercial da cidade e general daquele
imponente exército a baixo com certeza seria a pessoa mais destemida que
Ocásis já conhecera em seus longos anos. Ela então defenderia aquela parte
da cidade caso Daren, que aparentemente não se manifestara em nenhum
local da cidade, pudesse aparecer ali. Mas foi para o Leste que Ocásis voava
rapidamente em direcção ao Salim tão forte quanto ele, teoricamente,
enquanto observava a garota ao lado, seus cabelos castanhos ondulados
sendo atirados agressivamente para trás, com a armadura de prata e ouro, a
estrela eterna estampada em seu peito que subia e descia nervosamente à
medida que se agarrava com toda força com uma mão, a outra empunhando
a espada dada por ele próprio, a grande sela presa sobre o enorme
Minarim, que rugia para o Sul, onde seus companheiros alados, Anúbis,
estariam lutando contra Anurim. Ocásis apenas rezava para que derrotasse o
mais rápido possível o inimigo que em segundos o encontrariam. Mas se
realmente Nero fosse assim tão forte, ele adoraria lutar contra ele. Afinal de
contas, nunca, ninguém forte o suficiente o havia ferido antes. Então Ocásis
sorria para aquilo. Para o potencial confronto que talvez o fizesse transpirar
e para o que Nero pagaria pelo que fizera com Layla. Ele pagaria.
¢
Seus olhos lacrimejavam diante do vento cortante, enquanto tentava
acompanhá-lo, inaceitavelmente rápido com suas asas de dragão. Layla tinha
que admitir. Voar por conta própria era muito mais fácil que se manter
sobre aquele gigantesco pássaro que suas enormes penas a faziam lembrar
dos ataques em Vênus, mas aquilo viria depois, caso conseguissem travar
Nero, apenas segundos de distância os separando. Então ela precisou
guardar a enorme espada de um tipo de aço que ela desconhecia na bainha à
sua cintura, o peso no lugar onde em algum momento saíam asas fora
compensado com o escudo em suas costas que ligeiramente a equilibrava,
com a falta das imponentes irmãs penadas. O gigantesco animal dava voltas
em espirais acompanhando os movimentos de Ocásis à frente, da primeira
vez que fizera aquilo, por pouco ela não caíra da sela do animal.
Nero!
O rapaz alto de cabelos vermelhos como sangue estampava um sorriso
que mesmo ao longe, Layla conseguia ver, conseguia sentir, a enorme aura
maligna e destrutiva que saía do jovem. Suas narinas dilatavam, seus olhos
ardiam. Ódio. Raiva. Uma grande quantidade de sentimentos dentro dela.
Mas precisava se controlar. Precisavam seguir o plano.
– Sempre!
¢
¶ Minha irmãzinha está a caminho. Apenas continue com o plano.
∆ Pode deixar. Tente se cuidar do seu lado sem mim.
¢
Havia duas espécies daquelas bestas do pântano que ela junto o
poderoso Minarim esmagavam mais e mais. Segundo informações obtidas
por um dos emissários baixinhos de Sila que Layla não entendia como eles
conseguiam aquilo, Nero estaria liderando um batalhão de bestas terrestres
que segundo Ocásis, uma delas atacara Edward após o acharem, e possuíam
habilidades de enraizar seus membros inferiores e ossudos no solo podendo
movimentar-se com mais rapidez e facilidade. Daren esperava que grande
parte do exército de Orgema fosse travar Nero e o restante, atacado pelo Sul
invadindo a cidade por trás, por Anurim e assim criar um desequilíbrio total
para as forças de Orgema – Não daremos esse prazer a ele – dissera Ocásis.
Então Sila teria sugerido que, embora arriscado, Ocásis partisse para a
ofensiva directa contra Nero e a legião das bestas terrestres, enquanto o resto
do exército se focasse nas defesas de outros portais de entrada – Conseguirá
acabar com eles sozinho – Sila ordenara a Ocásis. E assim ele o faria. E ela
ajudaria, e se Ocásis fosse realmente o alvo do jovem que ainda sorria entre
as bestas que urravam abaixo, eles usariam aquilo a seu favor, de algum jeito.
– Ocásis – ela ouvia o jovem gritar e gargalhar sinistramente fazendo o
gigante Minarim parar no ar– venha me enfrentar, Ocásis.
– Não permitirei que fira meu povo – Ocásis olhava para ela e Layla
entendeu as palavras ali não ditas.
Espere!
– Sua amiguinha disse algo parecido, em nosso último encontro –
Nero também olhou, os olhos divertidamente curiosos para ela – me
surpreende que ainda esteja viva.
Névoa azul emanava por todo lugar impedindo-o de ver seus pés, nem
sequer os sentia. Ele tentou se mover naquele mar de fumaça que se
estendia infinitamente por todos lados, e nada. Ele caminhava e não
conseguia ouvir o som de seus passos, nem mesmo saberia dizer se seria
mesmo um chão sobre aquela névoa.
– Quem está aí? – Ele gritava olhando de um lado e do outro, por trás e
à frente, mas não havia, nada, não havia ninguém ali. Apenas silêncio.
– O que é este lugar? – ele nem precisava altear a voz – Quem é você?
– Cuidado!
A voz saía atrás dela, e enquanto se virava, Anurim colocara suas mãos
com unhas incrivelmente escuras e roxas sobre as penas dorsais do animal,
subitamente o Minarim começava a balançar como se para se soltar daquelas
mãos sobre si, ela reparou e os olhos do tamanho de vinte homens ficavam
completamente lilases iguais aos da irmã. Ele estava possuído, fazendo dois
dos montadores ao redor caírem de suas criaturas sem tempo de os
agarrarem e caindo horrivelmente no confronto tumultuoso e sangrento que
se estendia abaixo, Soldados siquinianos matando e sendo mortos por
cidadãos do Reino sem nome, que tentavam resistir ao poder da irmã,
mesmo sem sucesso. Anúbis elevava a mão para outra flecha às costas, no
entanto, lenta demais, com outro movimento das mãos da irmã, ela fora
atirada para o chão que por sorte o animal passava perto o suficiente da
grama ensopada de sangue fazendo-a rolar, ainda com o arco em mãos.
– Está fazendo isso porque fugi – ela gritava, a garganta seca e dormente,
para a irmã que aterrissava com um movimento assassino e incrivelmente
silencioso que nem uma pedra sequer se incomodara em mover-se enquanto
aquelas correntes em seus pulsos encolhiam do alto – por você ter ficado
com a responsabilidade do reino inteiro em seus ombros…
– Eu entendo o que…
– Entende?
¢
Ficar ali enquanto esperava por qualquer reacção do livro não ajudaria
em nada na guerra que se desencadeava fora daquelas paredes marcadas
pelo próprio Merlim. Ele precisava ajudar com alguma coisa, mesmo sem
treinamento, mesmo sem qualquer experiência com guerras e demônios e
bestas e toda aquela loucura, ele precisava ajudar, senhorita Miller estava no
campo de batalha, e tendo em conta o poder do inimigo…
¢
Edward sentia comichão em suas costas e peito, eram pêlos crescendo,
seus poros se abrindo, por céus, seus pés, embora invisíveis sob o mar
infinito de névoa, pareciam mais distantes, seu único braço, amarelo como
trigo, estava mais alongado e magro e peludo também. Quanto tempo se
passara, desde que teria chegado naquele lugar? E aquela voz sinuosa que ia
e voltava, como um eco, uma sombra, um fantasma. Com certeza o que se
formava a sua frente, após ter caminhado sem parar, a coisa que se projetava
ganhando a forma humanoide feita de fumaça azul e escura poderia muito
bem ser um fantasma. Era Layla, seu rostinho meigo e moreno, seus cabelos
ondulados, era ela.
– Porque está fazendo isso comigo? – ele igualmente falava com a voz
baixa, olhando para o novo ser que se formava em sua frente, fazendo seu
corpo estremecer. Era ele próprio, embora mais baixo e com os braços
completos, mais alegre – O que é você?
– Não compreendo.
– Fazem dois anos que está aqui, Edward, seus amigos precisam de sua
ajuda. No entanto – o fantasma se sentava no chão espelhado – receio que
permaneça neste lugar até que esteja realmente preparado. Isso, se eles não
morrerem até lá.
Layla se movia e cortava as pernas esguias que engoliam toda sua altura
e a criatura caía, imóvel. Alívio surgia em seu interior. O portal por onde ela
passara levemente inconsciente com o jovem-dragão e o professor, por onde
a cidade era vista por baixo, linda e gloriosa, estava seguro. Mas seu coração
balançou quando o emissário atirando uma flecha em uma besta continuou.
– No entanto, ela enfrenta bestas iguais a estas, com asas e mais rápidas,
mais agressivas que saem do portal Oeste. Nossa Senhora defende o lado
Oeste por terra, por isso tais criaturas passam voando algumas sendo
abatidas por catapultas.
¢
Ele era bastante rápido, e aquela luta…
Ocásis sentia a garganta seca, a respiração galopante, enquanto olhava
para Nero, igualmente ofegante, por Arsêmis, ele estava suando. Ocásis,
estava, suando!
Era como se estivesse lutando contra seu próprio reflexo, só que mais
agressivo, mais feroz, sem qualquer pessoa para que protegesse, para que
hesitasse.
– Se quer saber – Nero disse, quebrando um dos monstros que sobrara
ao meio, atirado por Ocásis – Eu e meus amigos nos importamos e
protegemos um ao outro.
Ele deveria ter lido aquela inquietação em seus olhos. Após regenerar-
se milhares de vezes pelos golpes de Nero que tinham quebrado um de suas
asas três vezes seguidas, seus dois antebraços quando protegera o rosto de
um soco tão rápido, Ocásis pensava, pensava e lutava, pois seu oponente o
obrigava a faze-lo. Pensar antes de agir, com medo que desse um passo
inserto. Por cerca de três horas a luta era feita de forma igual, socos, chutes,
chaves, mortais e arremessos um no outro, todos os movimentos
sincronizados, em algum momento parecia que venceria qual dos dois
resistisse mais tempo, qual dos dois se cansaria primeiro, entretanto, nas
duas horas seguintes algo mudara. A forma de luta, a manipulação de sua
força bruta, seu comportamento, a forma como Nero se equilibrava e girava
no ar mudara completamente, parecia até outra pessoa, ou aquilo seria outra
habilidade do Salim de cabelos vermelhos. Suas mudanças repentinas de
técnicas de luta faziam com que ele não conseguisse achar o padrão a tempo.
Com outro impulso de suas asas e tão rápido quanto uma bala ele se
atirou para Nero que se esquivou dele fazendo-o passar por cima. O jovem
dragão se virava novamente mas ele já não estava mais ali.
– Deve entender – atrás, Ocásis se virou novamente ao observar Nero
correr tão rápido, por céus ele era bastante rápido, tão rápido quanto uma
bala, talvez mais – que não importa de qual lado esteja – Ocásis partiu em
sua direcção, voando mais rápido do que já fizera antes, Nero estava indo
para a cidade, gargalhando como um lobo psicopata – seus companheiros
precisarão sempre você. E é exactamente o que estou fazendo.
– Por quê ajudar Daren e Anurim nisso tudo? – Ocásis estava quase a
alcança-lo – por que fazer isso tudo, sabendo que é algo mau?
– Por que são os amigos que esta vida deprimente me deu, Ocásis –
pela primeira vez naquele confronto, ele parecia levemente sério – e não
importa o que eles façam, bom ou mau, eu vou ajudar com isso – Nero
voltava a olhar para frente – sempre!
Uma escolha errada. Nero tinha feito uma escolha errada, embora não
o conhecesse, aquela escolha, aqueles amigos, como ele os considerava, era
uma escolha errada. Ocásis percebeu rapidamente, orientando suas asas:
Nero não estava indo directamente para a cidade, ele mudara de trajetória,
para o Sul, para Anúbis, que o fizera se distrair por alguns segundos quando
teria vistos a luz das flechas de Anila que ela carregava se projectar de lá.
Ocásis nem mesmo conseguiu impedi-lo quando novamente mudava de
trajetória, só que daquela vez para um outro lugar, para cima. Nero
impulsionou-se tão rápido para cima e a terra sobre ele se quebrou
completamente. Por todos os deuses, aquele salto… nem mesmo ele
conseguiria fazer aquilo, Nero parecia voar à medida que subia mais e mais
brilhando sob a luz do Sol a frente do outro lado da cidade e indo cada vez
mais alto em direcção ao monumento colossal que flutuava sobre parte de
Orgema…
¢
Gregório Dexter precisava chegar a tempo, para avisá-los. Algo estava
errado naquela batalha, e pelas barbas de Merlim, se não os avisasse, seria o
fim de tudo aquilo. Com o que o emissário da jovem-guerreira informara
sobre as lutas em cada ponto…
Enquanto voava rapidamente em direcção a eles, segurando firme atrás
do montador, o professor reparava no corpo luminoso que subia para os
céus.
¢
Sila, com a armadura ficando cada vez mais pesada a garganta dormente
pelos comando dados a cada minuto, parava ligeiramente, descansando a
espada ao lado da perna e olhando para cima, para onde todos os soldados
olhavam e até mesmo o inimigo invisível parara de atacar, talvez para que
todos ali vissem o que estaria prestes a acontecer…
¢
Os soldados e cidadãos possuídos do Reino sem nome abruptamente
paravam de se mover ao comando de sua mestra.
– Seu querido Ocásis deve ter mexido com ele – Anurim exibia um
sorriso serpentino enquanto olhava igualmente para onde Anúbis se virava,
para o homem de cabelos vermelhos que pareciam alaranjados de tão
brilhantes que estavam do alto enquanto subia e subia.
– Por Anila – ela exclamou, a voz saindo fraca e cansada – o que ele está
fazendo?
¢
Por Arsêmis, ele precisava evitar aquilo, precisava salvar aquelas pessoas
que gritavam e choravam e pediam com seus corações, com suas almas, por
ajuda. Anda! Ocásis implorava para suas asas Vamos! Por favor! Por favor!
Ele conseguia ouvir ao longe: uma criança presa sobre os destroços, um
jovem com suas duas filhas abraçadas a ele, dois meninos do grupo de vestes
azuis ajudando um casal com um dos membros de cada em falta. Por todos
os deuses, todos eles morreriam, todos eles…
Por favor!
Por favor!
Então, rapidamente, aquela extensão de pedra colossal cobria todo seu
campo de visão, criando uma sombra sobre ele. Instintivamente, Ocásis
segurou o enorme livro, empurrando para cima, batendo suas poderosas
asas tão forte que poderia sentir o fogo se estendendo por todo seu corpo,
então, ele abriu os olhos empurrando mais e mais o livro para cima e seu
corpo… seu corpo inteiro estava banhado de chamas e poderia jurar que
seus olhos estavam completamente amarelos-brilhantes, seu corpo inteiro
vibrava, cada célula ardia, cada músculo rugia, e então ele inspirou, sugou a
maior quantidade de ar que seus pulmões pudessem sustentar, em seguida,
fogo se estendia por toda aquela porção rochosa, transformando-a em brasa
viva e gigantesca e com outro movimento ele socou aquela brasa rochosa
transformando-a em milhares de pedrinhas minúsculas do tamanho de grãos
de areia, e então seu corpo esfriava voltando a forma anterior. No entanto
ele olhava para o outro lado.
– Não!
Por todos os deuses, havia outra metade do livro, caindo, muito maior
que a outra e Ocásis não percebera. Rápido. Ele precisava ser rápido, ainda
havia magia correndo em suas veias e não desistiria da vida daquelas pessoas
indefesas. Se aquela outra parte caísse, ainda milhares morreriam. Então
novamente ele se impulsionou para impedir, mas alguém surgira bem atrás.
Ele sentiu Nero o puxar para baixo e colocar suas pernas sobre seu
tronco em uma chave, impedindo suas asas de se moverem. No segundo
seguinte, ambos caíam e giravam no céu à medida que parte de Orgema era
destruída e esmagada, poeira do tamanho de tempestade se erguer em meio
aos gritos.
24
Mude o rumo desta guerra,
professor!
– É você o responsável, então – seu fantasma, mais novo, sorria para ele
igualmente sentado sobre o chão de cristal espelhado e infinito.
– É – ele sussurrava.
– Com o que o ensinei a respeito de sua magia e este lugar, pode sair
quando bem quiser – uma pausa, Edward cobria levemente o queixo e a
boca com o antebraço esquerdo apoiado em seu joelho, olhando para o
nada enquanto milhares de informações passavam em sua mente, tanta coisa
aprendida, tanta coisa vista naqueles espelhos que flutuavam sobre ele, vidas
passadas, destinos imutáveis, sonhos, pesadelos e desejos por realizar de
milhões e milhões de vidas de todos os tempos no passado e presente, e
dimensões – Então me pergunto: Por quê não vai embora, Edward?
Ele poderia muito bem ter permanecido uma hora calado, até
responder, o tempo naquele lugar não importava mesmo.
– Morte. Memória. Vida.
Morte!
Memória!
Vida!
¢
Tudo ficara completamente escuro e silencioso por alguns segundos,
ou horas, Ocásis não saberia dizer. Perdera a consciência e Nero já não
estava mais à vista. Onde aqueles desgraçado teria ido?
¢
Poderia muito bem ter se passado dez minuto após a queda do
monumento de pedra, entretanto, a guerra retomara em seguida, como se
Anurim soltasse um gatilho mental, todas aquelas pessoas e soldados
possuídos lutavam e cortavam e estripavam soldados de Orgema. Ela
reparava ao redor, seu Minarim outrora possuído pela irmã jazia morto com
soldados inimigos esmagados sob ele. Sobravam ainda cerca de quarenta
criaturas, lutando e planando sobre o exército inimigo com seus montadores
que atiravam saraivadas de flechas alcançando seus alvos sem interrupção
daquelas correntes infernais, pois a irmã desaparecera subitamente daquele
lugar.
Ela odiava ser chamada daquela forma, pois a lembrava de sua casa, seu
continente ao Norte, no entanto ela fez um gesto para que ele continuasse.
O emissário parecia mortalmente abatido ao dizer:
¢
O exército ainda guerreava contra o jovem-sombrio maldito que
matava mais e mais seus soldados, mas ainda lutavam – Lutem até que o Sol
desta terra se ponha – ela gritava para os ventos em meio ao caos – Lutem
até não conseguirem mais se mover.
¢
Havia algo de errado naquela batalha, o inimigo possuía uma carta na
manga, seus movimentos eram devidamente coordenados como se
estivessem de alguma forma ... Ligados um no outro.
– Com isto, sua irmã está servindo de olhos em suas nucas e informante
psíquico e Daren troca suas consciências em segundos fazendo com que os
três estejam em todos os lugares ao mesmo tempo, lutando com todos ao
mesmo tempo , utilizando as habilidades um do outro. Por Merlim, isto
é…esplêndido – Gregório Dexter reparava nos olhares de indignação para
ele, então com um leve movimento de sua mão continuou – mas é claro
que…isso é algo assustador…
– Hei!
– Não entendi.
– Se eles são mais fortes que vocês – um olhar para Senhorita Miller – só
sejam mais espertos que eles.
– Onde está? – o jovem que dele emanava completa escuridão das botas
aos cabelos questionava, e eles sabiam de quem se referia. Mas foi Ocásis
que interrompeu, com um sorriso irônico no rosto iluminado pelo sol atrás
do inimigo.
– É mesmo?
– Ah, Merda!
¢
Ele estava vindo! Layla o via cair tão rápido e não sabia dizer o que era
aquele sentimento em seu peito, talvez fosse de alívio e conforto por ele ter,
em fim, aparecido, para que os ajudasse naquela última batalha ou talvez
fosse medo se acumulando dentro dela pelo que Daren mais buscava vindo
de bandeja para ele. Segundos depois, o jovem aterrissava tão rápido e tão
brutal que uma rajada de vento fazia todos naquele lugar cobrirem os rostos
evitando poeira e metal, ela sentia seus cabelos esvoaçarem em meio a tanta
força ao observar Ocásis que cobria com seu corpo alado a princesa
foragida.
Layla, assim como o resto ali, poderia jurar que o jovem forte o acertara
bem no rosto, mas em um piscar de olhos, Nero se desequilibrava, atrás dele
que parecia nem ter notado o ataque, enquanto se aproximava com passos
de um fantasma. Os cabelos arrastando no chão incrivelmente começavam
a… encolher…
Instinto Cronológico
– O que é…isto?
Então ele estivera realmente com ele. Layla olhou por alguns segundos na
esfera que brilhava e vibrava em sua palma, aquilo era magia divina, ela
conseguia ouvi-las, suas irmãs, ela teria suas irmãs de volta, por todos os
céus, ela poderia sentir seus olhos arderem e se encherem de lágrimas, mas
eram lágrimas de felicidade. Ela teria suas irmãs de volta, e um novo poder…
sim. Ela sentia uma nova forma de sua magia naquela esfera. Então Layla
apertou tão forte fazendo seu corpo absorver aquela magia celestial. Seu
corpo esquentava como jamais estivera antes, seu coração batia mais forte, e
ela sentiu aquele poder se assentar em seu interior.
Edward se virava para trás, olhando para o jovem de vestes negras, com um
olhar de ironia que o fazia até parecer-se com Ocásis.
– Bela capa, Dim – ele estalava o pescoço – Deve gostar muito do uniforme
escolar.
Aquilo era uma provocação. Pois o jovem sombrio parecia arder em fúria,
ao dizer com aquela voz maligna.
Silêncio!!
– Ocásis!
O jovem-dragão nem mesmo teve tempo para ver sua reacção, pois
Nero já estava no ar, em ofensiva, então, igualmente se atirou contra ele sob
o impulso de suas asas que reclamavam de tão dormentes que estavam. Só
precisavam aguentar mais um pouco.
¢
Cerca de quarenta metros à direita, Ocásis e Nero lutavam com aquela
força insana e Layla, corria em direcção aos dois, completamente
desprotegida, sem qualquer arma ou escudo, Anúbis não conseguia entender
qual era sua estratégia, mas a jovem parecia confiante em si mesma enquanto
corria tão rápido quanto uma pantera. Um pouco mais à direita, Daren
desaparecia e aparecia tentando acertar o jovem manipulador do tempo que
o acompanhava e previa tão agilmente seus ataques. Ela poderia apreciar
aquele confronto de lendas, se não fosse pela irmã que tentava a acertar com
suas mãos, com aquelas marcas em cada palma. Mas Anúbis conseguia se
esquivar com movimentos calculados. As correntes se esticando de vez em
quando não passavam dos dois metros. Então Anurim também estava
ficando sem magia, com certeza controlar um reino inteiro e lutar contra um
outro exército e servir de conector mental do trio exigia muito dela. Graças
a deusa, ela conseguira atrair a irmã o mais longe possível de Gregório
Dexter.
Era aquilo que ela estava esperando. Conversa. Talvez aquele plano
realmente funcionasse. Então, com a respiração dormente, a garganta seca
ela disse.
Então ela com um mortal para trás se virava para ele, sorrindo.
– Hora da revanche!
¢
^ Anda!
Troque com Anurim, é uma ordem!
∆ Não me atrapalhe, Daren. Eu quero matá-los. Eu vou matar esses dois…
¢
Por favor! Ela implorava para eles. Por favor! Venham até mim!
Venham até sua amiga e a ajudem nesta guerra…
– Durante estes dois anos – Anúbis falava para a irmã. Em sua aljava,
apenas uma flecha sobrava. Por Anila, aquilo tinha que dar certo, estavam
arriscando rudo por aquele plano e se não resultasse…se não caíssem… –
conheci pessoas incríveis e aprendi imenso com elas. Pessoas que eu jamais
imaginei conhecer e que jamais conheceria, caso não fizesse o que
lamentavelmente fiz – Anurim caminhava com aqueles passos que faziam até
mesmo o som fugir deles – vou repetir quantas vezes forem necessárias: Não
quis que fosse dessa forma. Eu não me acho uma pessoa “boazinha” – ela
sentia o coração apertar ao pensar naquilo e estampar inconscientemente
um sorriso – mas as pessoas que estão lutando nesta guerra, que
aparentemente vocês causaram, são pessoas de coração puro e defensoras de
sua terra, protetoras e cuidadoras umas das outras e isso, Anurim, isso é
bondade. São amigos que jamais tive naquela prisão de castelo,
companheiros que me fazem sentir realmente em casa, em uma família.
Pode ser um pensamento egocêntrico mas – um breve olhar para a irmã –
eu não me acho uma pessoa boa, mana…eu tenho a certeza absoluta de que
sou.
¢
Dim estava completamente diferente, igualmente alto que poderia
parecer seu irmão-gêmeo se não fosse pela cor branca e pálida de sua pele,
com seu recente despertar, a manifestação de seu verdadeiro corpo, o
castanho de seus cabelos havia se perdido completamente sobrando apenas
um preto mais escuro que a noite, mais escuros que seus cabelos encurtados
sob ordens de sua magia temporal e os olhos igualmente verdes, embora
cheios de raiva e destruição.
– Desta parte eu já sei – ele exibia um sorriso maníaco, agora – mas tem
algo que você não sabe sobre este lugar.
¢
Ele ainda não conseguia acreditar no que via.
¢
Em um segundo ela estava lutando contra Anurim que tentava
amaldiçoa-la com aquela marca, no outro segundo, tudo mudara. Não era
mais Anurim que estava diante dela mas…ela mesma.
Então tinha resultado. Tinha realmente dado certo. Ela estava no corpo
de Anurim, por todos os deuses! Aquilo era estranho, em outra situação ela
vomitaria. Era como se acordasse de um sonho profundo, como se o corpo
da irmã fosse seu verdadeiro corpo. Então ela podia sentir. O poder
correndo em suas veias, a magia pulsando em cada célula de seu novo
corpo.
– Não! Não! – A irmã em seu corpo berrava – espere! O que está
fazendo? Daren, troque! Daren!
– Ele não vai ouvi-la durante um tempo – Anúbis sorria para a irmã que
parecia desmoronar e batia com o indicador na lateral da cabeça – estou
cortando sua comunicação. Já não está mais em seu corpo, lembra?
Rápido!
Uma última vez – embora primeira para ela – Anúbis concentrava uma
grande quantidade de magia naquelas correntes que subitamente se erguiam
para o alto em espirais. Anurim, agora completamente desprotegida cobria
rapidamente o rosto com os antebraços contra o ataque. Mas não era para
ela que as correntes eram disparadas – em nenhum lugar do Universo ela
machucaria seu próprio corpo – mas para cima. As enormes e pesadas
correntes se esticavam cada vez mais para o alto e ela só poderia rezar para
que chegassem lá a tempo.
– Pare!
– Pare!
¢
Anurim não estava respondendo a seus comandos.
O que ela estava fazendo, subindo com a irmã inútil no topo daquela
estátua de pedra?
Daren não fazia ideia do que ele se referia. Mas de alguma forma
Edward antecipava seus movimentos, não importasse seus ataques-surpresa,
golpes que fariam milhares cair. NADA!
– Aqui!
Do lado direito. Rápido. Daren atacou rapidamente, acertando em cheio
com um soco que faria a cabeça dele sair do corpo. No entanto, como se
tivesse sido feito com uma espécie de fumaça azul Edward desaparecia
novamente. Então ele sentiu algo pesado em seus ombros e com um
“Click”, o som de fio metálico se quebrando passou em seu ouvido. Edward
estava sobre ele, com os pés descalços em chave em seu pescoço. Enquanto
tentava se soltar dele, Edward sussurrava.
Então, Edward pressionou mais fundo e Daren sentia sua magia sendo
drenada, pouco antes de luz azul e escura cobrir Edward inteiro e com o
amuleto, desaparecer.
¢
A sensação era quase a mesma como passar em um portal de Orgema,
só que mais prazeroso. Sim. Aquilo era estranhamente prazeroso. Então era
assim que Dim – Daren – se sentia toda vez que usava aquele poder. Como
num piscar de olhos, Edward rapidamente sentia novamente aquela
sensação de medo e tristeza no ar que queimava seus pulmões. O mar de
águas negras cobria os céus e o vento que saía daquelas montanhas brancas
como mármore e no além coberto de um cinza bizarro vinha acompanhado
novamente com o cheiro de carne e ossos sendo queimados. Então ele
estava novamente naquele mundo sombrio, naquele pesadelo, só que com
seu corpo de verdade, a areia preta e cinza entrando em seus dedos…
– Estão todos bem? – Ele olhava rapidamente para os pais, depois para
Sara igualmente pálida, seus cabelos pretos e curtos agora cobriam
levemente os ombros ao confirmar que estavam bem. Pelo menos
fisicamente. Apesar de suas forças, suas almas estarem abatidas e cansadas.
Com certeza o que teriam visto naquele lugar ficaria marcado para sempre
em suas retinas. Mas Edward olhava em volta, procurando…
– Ele não está aqui – Sara, como se tivesse lido seus pensamentos
respondeu, a voz surrada e abatida – algo o levou. Não sabemos para onde.
… Darei um jeito.
¢
O plano estava dando certo. Anúbis faria sua parte, O jovem-dragão e
Senhorita Miller travariam o Salim com a magia de lança de ataque e
Edward libertaria seus pais do mundo dos demônios que, ao longe, um
pouco mais à frente, eram estraçalhados pelas criaturas divinas daquela terra.
Se corresse tudo como ele calculara, então ainda haveria esperança para
aquele mundo e para todos os restantes mundos.
Edward!
E esperar…
¢
– Mamãe, estou com medo.
O menino de oito anos chorava, abraçado a sua mãe que tentava não
mostrar o pavor que corria por seu todo seu corpo, pois ela sabia. Aqueles
demônios em breve viriam até eles, parte da cidade fora completamente
destruída, milhares de pessoas haviam morrido e ainda morriam, seu marido
fora uma das vítimas estripadas bem na frente dela, cobrindo os olhos do
garoto lhe poupando daquela visão horrenda que a acompanharia até a
sepultura.
– Está tudo bem, filho – ela mentia para o filho, beijando seus cabelos e
abraçando-o o mais forte que poderia, pois sabia, a morte viria até eles em
breve...
Povo de Orgema Siquim!
Ela ouvia a voz doce de um anjo em sua mente.
Sei que estão com medo e que acham que esta guerra acabará com todos
nós…
– Mãe – seu filho olhava com os olhos inchados para o redor, para as
pessoas igualmente assustadas.
– Está ouvindo isso? – dizia uma pessoa para outra e outra, que também
pareciam ouvir aquela voz cantando em suas mentes…
¢
– O que ela está fazendo?
Layla de asas brancas perguntava para Ocásis que ouvia igualmente a voz
da princesa foragida em sua mente. Então, o jovem-dragão simplesmente
sorriu para o alto, para a estátua colossal ao Sul.
Esperança!
¢
Enquanto guerreavam contra o exército possuído, a companhia aérea
voava e girava nos céus sobre eles. E ela, com seus cabelos curtos ensopados
de sangue, o corpo mal se aguentando em pés, a espada parecia pesar o
equivalente a um Minarim. Então ela ouvia a voz dela..
¢
Por Merlim! Ela sentia seu coração se reconfortar ao ouvir a voz do anjo
em sua mente. Então ela abraçava e sorria para o filho igualmente
esperançoso, as pessoas ao redor, em toda Orgema sentiam o mesmo.
Lutem comigo nesta guerra que se deflagra, lutem, lutem pelo que vocês
mais apreciam e amam, provem a vocês mesmos que ninguém, ninguém
vem para Orgema como se fosse um reino qualquer por ai sem nome e se
apodera dele.
Então as pessoas ao redor se levantavam, uma a uma, homens,
mulheres, crianças, jovens, todos entoando, olhando para o Sudoeste, para o
Sol de milhares de anos que brilhava mais intenso para eles.
Mostremos ao mal…
¢
O que estava acontecendo?
Daren! Daren!
Merda, nenhum dos dois respondia. O que Anurim estava fazendo? E
como aquela Salim conseguia utilizar o poder da irmã? Que merda estava
acontecendo?
– O que é isso?
Aquele som, aquela maldita música ardia em seus ouvidos, mas ele
precisava se concentrar, precisava matá-los.
¢
Ocásis!
Ele ouvia a princesa foragida dizer seu nome com a voz de uma deusa.
Algo mudara. Ele poderia jurar que era só ele que ouvia.
Querido!
Eu fui uma tola covarde durante estes dois anos ao seu lado…
– Anúbis! – Ocásis gritava seu nome, mas ele sabia, ela não conseguia o
ouvir.
… Quando isto terminar, ficarei ao seu lado, como sempre fiz, por que é
meu lar, Ocásis – Uma pausa – você é meu lar!
¢
Anúbis, ainda de olhos fechados, sentia a irmã enroscada com uma das
correntes, berrando para ela, o vento estava mais forte do topo do mundo,
uma parte daquele plano já estava feita, o povo estava fervoroso, ela ouvia
mesmo do alto, a cidade cantando, cantando e cantando como sempre fizera
em cada chuva. No entanto, apesar de que a magia estivesse reclamando, seu
nariz sangrando, sua cabeça explodindo de dor ela precisava ainda
continuar, precisava fazer uma última coisa. O corpo da irmã começava a
rejeitá-la, mas ela se afundava mais uma vez naquele lugar escuro da magia
da irmã e viu.
Mas não havia mais tempo, pois, novamente o mundo voltada a ficar
embaçado e escuro e segundos depois, sentir seu corpo apertado, correntes
a enroscando como serpentes. Ela estava de volta em seu corpo.
Então ela sentiu seu corpo ser puxado tão forte, e sem poder fazer
absolutamente nada ser atirada para a cidade abaixo.
E Anúbis caiu.
¢
Algo estava errado. A força de Nero parecia ter aumentado
bruscamente, ou fosse apenas instinto assassino vindo dele. Mas algo estava
errado, ele não sabia o que era, mas seu coração batia e doía como se o
avisasse de algo.
– Ocásis!
Layla de asas brancas o avisava, mas, tarde demais. Nero o acertara bem
do lado esquerdo, dor o atingindo.
Então, com um mortal para trás, regenerando-se forçadamente e se
distanciando consideravelmente de Nero que era rapidamente atacado pelas
três… Ocásis olhou para o Sul… e sua alma saiu do lugar ao vê-la cair.
¢
Era incrível poder estar em três lugares ao mesmo tempo, simplesmente
algo que ela não conseguia explicar, a sensação de poder sentir seu corpo de
diferentes formas, em diferentes ângulos, diferentes perspectivas, à medida
que atacava e atacava Nero.
Mas ela não poderia fazer nada, a não ser parar Nero de uma vez por
todas. Rapidamente ela se aturava contra o jovem de cabelos vermelhos,
agarrando seu braço, batendo forte suas asas brancas, depois agarrar o outro
braço, batendo forte as asas de sangue em suas costas. Ela se vingaria, por
fim. Por suas asas retiradas, pela dor causada a ela, pelos papéis destruídos e
pisoteados em Vênus, a única recordação que tivera da mãe.
Nero rugia e tentava se soltar dela, mas ela segurava com toda sua força,
batendo tão forte suas asas, pois o jovem era tão alto que seus braços
estavam tão distantes do chão. Rapidamente, Layla, com suas asas escuras e
compridas se impulsionava para as costas dele, pressionando com toda sua
força as bostas no dorso de Nero ao dizer, friamente em seu ouvido: – Deve
adorar bastante seus braços.
Então ela puxava de cada lado com tanta força, ao continuar: – Mas lhe
farei um favor.
Nero resistia. Por céus! Aquele Salim era uma aberração de força
infinita. Mas ela faria, mesmo que durasse uma eternidade.
¢
Enquanto caía, ouvia os choros dos milhar de animais que corriam e
voavam em sua direcção, Ocásis, seu amado jovem-invencível tentaria
alcança-la, mas ela sabia, não daria tempo, ela caía tão rápido. Ela se
declarara para ele, finalmente dissera aquelas palavras, aquele sentimento
que a corroía por dentro, para ele, para Ocásis. Então, Anúbis olhava para
aquela cidade destruída mas que se reergueria, aquelas pessoas salvas, seu
coração estava em paz diante daquilo, e ela morreria sabendo que lutara por
algo, por seus amigos, por sua nova casa, por sua nova família, pois todos
naquela cidade eram sua família e ela, Ocásis, Layla, Edward, Sila, Sannie,
Gregório Dexter e os emissários a protegeram até o último nervo, então,
com os olhos lacrimejando e brilhando, ela olhou para o sol eterno uma
última vez, que parecia sorrir para ela, que parecia... se despedir da pequena
Salim, e ela não tinha nenhum arrependimento pelo que fizera.
Querida irmã – ela sabia que Anurim poderia a ouvir e ver de lá onde
estava – não se preocupe com isso, lembra o que mamãe sempre nos dizia?
A morte é apenas uma amiga que nos recebe de braços abertos. Teve sua
vingança, e eu não a culpo por isso, do contrário, eu a perdoou, afinal de
contas, é minha única irmã.
¢
Ocásis voava e voava para ela, chorando, gritando e urrando e clamando
seu nome como jamais o fizera, apesar de suas asas estarem imensamente
fracas e não conseguirem subir mais alto que poucos metros a mais dos
animais que corriam logo atrás, que rugiam e corriam, outros, alados e mil
vezes maiores que ele, mais a cima, tentando chegar a tempo a sua senhora,
ele ainda assim batia em meio a dor que passava por todo seu corpo, por
toda sua alma por seu coração que implorava para os seres divinos que o
ajudassem a alcança-la. Por todos os malditos deuses, ela era a única coisa
que lhe importava naquele inferno de mundo, sua inspiração, sua
companheira, sua alma imperfeita e ele não dissera aquelas palavras a ela,
ainda não dissera para ela. Ele também a amava, desgraça! ele a amava como
nunca amara alguém antes. Em poucos segundos ela chegaria ao solo e ele
ainda estava tão longe dela, tão distante da pessoa que sempre o apreciava
mais do que qualquer um, que sempre se lembrava de seu aniversário, que o
fazia se sentir protetor, que sorria para ele mesmo em meio a tristeza, que o
tornara uma pessoa melhor para aquele mundo. No entanto era tarde
demais. O som de algo batendo na terra ressoou.
– Não!
NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO!
Mas ele conseguia ouvir o coração manso e puro da jovem mais linda que já
existiu na face da terra parar em seus braços, se despedindo.
– Não!
¢
O mundo do jovem-dragão mudava drasticamente de cabeça para baixo.
Ele mal respirava direito, nem mesmo olhara para a criatura de olhos
azuis o corpo humanoide coberto de pelos brancos e com o dobro de seu
tamanho recebendo a princesa – morta – de seus braços, pois apenas uma
coisa passava por sua mente naquele instante. Ele se virou para trás, os
animais abrindo espaço, em seguida, uma última vez esticar e açoitar as asas
cansadas sobre o vento. Poeira se elevava obrigando os animais igualmente
tristonhos se afastarem, então ele faria aquilo, ele o visualizava ao longe
tentando se soltar das três jovens aladas. Com os olhos completamente
vermelhos, fosse por tristeza ou raiva como jamais sentira ele não saberia
dizer, em seguida, ele se atirou contra o vento voando tão próximo da grama
que poderia sentir as pontas ossudas de suas asas raspando-a. Ele sabia que
Anúbis não aprovaria aquilo, aquele pensamento assassino vindo do jovem-
dragão, mas ele não se importava mais com merda nenhuma.
¢
Layla ainda puxava os braços fortes de Nero e pressionava brutalmente
as costas do Salim Sombrio, mas não resultava em nada, ela sentia seu corpo
e os das “irmãs” ficarem dormentes, esgotando o último poço de magia
restante, e ela sabia , sabia que quando o soltassem, seria o fim, pois ele
exibia um sorriso diabólico e psicopata que só poderia significar uma coisa:
Morte certa!
O que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz?
Anurim gritava, apavorada, em sua mente.
O que foi, Anurim? Nero a chamava, sem resposta. Onde você está,
droga? Onde raios você está? Tem algo estranho acontecendo aqui…
Mas ela continuava.
– Me-d-da-m-mejd…
Que coisa macabra era aquela? Talvez fosse um dos demônios vencidos
pelas criaturas invocadas estranhamente no momento em que ele achara que
o terror supremo cairia sobre Orgema Siquim.
¢
Daren não conseguia mais se teleportar, graças ao ferimento em sua
clavícula que manchava de sangue suas roupas da noite e ardia como o fogo
do quinto dos infernos, deixando gotas de sangue por onde passava.
Enquanto caminhava entre as ruas vazias e empoeiradas daquela cidade, o
sol batendo suas costas, alguém veio bem atrás dele.
Era Nero.
– Aqueles malditos…
Então ele teria fugido daqueles dois. Nero teria sido vencido por aqueles
dois Salins miseráveis e corrido com o rabo entre as pernas.
Mas outra pessoa, estava ali, com eles, apenas sua sombra se
projectando em meio a poeira. Daren indicava para o outro lado com o
rosto.
– O que disse?
Algo estava errado, aquilo não tinha como ser verdade. Anurim tinha a
matado, a jogado do topo do monumento de pedra, ele mesmo vira ela cair
de lá.
¢
– O que está fazendo?
Que merda tinha acontecido com os braços dele? Como aqueles dois
fracotes teriam o vencido?
Poderia muito bem ter se passado uma hora, desde que Nero fora atrás
de Daren, que rugia, enfurecido, em sua mente – Mas que merda foi aquela,
Anurim? – no entanto, mesmo se esforçando, Daren não conseguia a ouvir,
algo estava interferindo na sua magia de comunicação, mas não era como o
que a irmã, inútil, morta, tivera feito, antes, em seu corpo. Aquilo,
estranhamente, parecia vir do próprio ambiente em si. Suas correntes
balançavam levemente parecendo pedir para que as usassem, mas ela usaria
aquela última gota de magia e força para um eventual ataque-surpresa. Nero
precisava achar urgentemente Daren para que fugissem dali. Sim. Ela sabia,
as cartas na mesa teriam virado contra eles. Recuar seria a estratégia mais
eficaz, embora Daren e Nero se recusassem quanto àquele plano. Mas ela os
convenceria. À direita, o jovem alto com os braços faltando vinha apressado
e estranhamente confuso. Pelos vistos, Nero não o achara.
Merda!
– O quê?
¢
Ele se lembrava daquilo.
O que foi que eu fiz?... O que foi que eu fiz… O que foi que eu
fiz…
E apesar da estranha lembrança de ter encontrado Daren, ainda não
deixava de pensar naquilo. Como Anúbis estaria viva?
Ele pensou em perguntar aquilo para a companheira, que olhava para o
homem alto e de cabelos brancos que subitamente aparecera ali, bem em
frente, todo surrado.
Maldito! Maldito!
Pelos vistos, sua vingança pelos braços retirados chegara bem mais cedo
do que teria planejado. Mas Anurim, à sua frente, levantava um dedo para
ele.
– Pare de agir como um garoto mimado – ela avançava mais para frente
– já apanhou o bastante, Nero. Eu trato dele – Anurim olhava rapidamente
do ombro para ele, ao dizer, friamente – se diz, realmente, ter achado
Daren, então volte. Refaça seu caminho e me encontrem.
Maldito!
Maldito!
¢
Mesmo após tê-la explicado sobre o que acontecera, na parte Oeste, o
Salim tão alto quanto Nero ainda permanecia em pés. Suas asas de dragão
não estavam à mostra. Óptimo! Ele estava quase caindo. E pelo repentino
olhar de confusão em seu semblante, não restavam dúvidas. Fosse lá por quê
ele viera até eles, talvez para que terminasse com o que começara com Nero,
mas Ocásis já estava aos pedaços. Aquela luta não demoraria.
Mas era como se ele sequer tivesse visto Nero ali, segundos atrás.
Por Anila! Então ele já teria a encontrando, algures, após tê-la atirado. Só
não esperava que viesse logo atrás dela, por vingança!
Patético!
Ocásis se afastava agilmente para trás, no entanto ela não o daria tempo
de sequer pensar, ele mal se mantinha em pés. Aquilo terminaria em
segundos.
¢
Nero aterrissava sorrateiramente sobre o telhado de uma das casas
destruídas. A cidade parecia abandonada de tão silenciosa que estava.
Como se todas as pessoas, estranhamente tivessem desaparecido.
Entretanto, Ali. Em um beco, onde a luz do maldito Sol não tocava, alguém
o acertara por pouco com uma rajada de destroços. Aquilo chamara
rapidamente sua atenção e com um salto e aquele aquela gargalhada
psicopata, Nero desviava do ataque e se atirava para aquele lugar. Ele
descarregaria a raiva por Ocásis em quem quer que estivesse naquele beco.
Ele não precisava de braços para esmagá-lo. No entanto, não havia ninguém.
O desgraçado teria fugido, então. Mas outra coisa estava ali, se debatendo e
soltando sons guturais e abomináveis. Merda! O que era aquela coisa?
– Me-d-da-mejd...
Ali!
Atrás dele.
Foi então que Nero reparou. Ele estava novamente no beco inicial. Só
que a criatura horrenda de pele preta não estava mais ali.
Que merda!
Alguém estava ali. No beco a esquerda. Graças aos céus! Talvez fosse
ela, talvez fosse Daren. Mas não era nenhum dos dois. Era…
Me ajuda!
Mas ele simplesmente olhou para ele uma última vez… pouco antes de
partir para o outro beco a direita, seguindo a maldita trilha de sangue…
E o deixando ali…
¢
A assombração da jovem de cabelos vermelhos e longos era uma
máquina imparável de ataques simultâneos e bem calculados. Daren não
conseguia pensar em alguma coisa, algum plano para que saísse daquela
situação, apenas defendia e defendia, esquivava e defendia novamente.
Onde, infernos, Nero e Anurim estariam? Mas ele daria um jeito. Precisava
continuar. Aquela garotinha fracote não o venceria em lugar algum no
Universo. E Edward… ah, aquele desgraçado…
Ela já estava atrás dele. E a próxima coisa que Daren sentiu foi correntes
perfurarem seu peito, fazendo sangue sair de sua boca. Forçando
doloridamente o rosto ao se virar para a jovem à sua trás. Ele exibia uma
expressão de confusão e dor ao olhar para Anurim.
¢
Ela perfurara brutalmente o tronco do jovem lindo que olhava para ela
com uma expressão abatida e pesarosa, sangue escorrendo dos dois buracos
em seu peito fazendo o marrom de sua camisa escurecer levemente. Então
algo estranho aconteceu. O marrom era substituído por um preto tão
marcante quanto a noite mais escura, então, Anurim, lentamente, olhava em
volta, tudo mudara, drasticamente, e o som metálico de uma placa
empoeirada e avermelhada ao lado caindo da parede de um edifício ao
escombros, nela escrito: Cabeça raspada, o melhor joalheiro da cidade.
Então, com as mão trémulas, ouvindo a voz única e inconfundível dele, ela
olhava para o homem deitado em uma possa de sangue, ainda olhando para
ela.
Não! Não!
– Não! – Anurim rapidamente se ajoelhava para ele o segurando em
seus braços, as correntes se encolhendo e se enroscando em seus antebraços
– Daren! – Não! – Daren, querido – ela gagueja, subitamente sentindo seus
olhos esquentarem e se encherem de lágrimas – Daren! – por Anila! O que
estava acontecendo? Que merda estava acontecendo ali? Ela se lembrava –
Não, por favor! Por favor! – o garoto que ela amaldiçoara era na verdade,
Nero. Como aquilo era possível? – Por favor, Daren! – o jovem sombrio
colocava a mão trêmula em seu rosto, acariciando levemente sua pele suada
e suja, então ele sorria para ela. Sorria como da primeira vez que a tinha
visto, em reino do Primor, sorria como das vezes que ela precisava adoptar o
maldito papel de Eunice na frente dos garotos de Vênus.
– Anurim…
– Estou aqui, com você – ela chorava e falava em meio ao medo –
estou aqui com você – medo de o perder, medo de voltar novamente para o
esposo imundo e arranjado, em Reino do primor e nunca mais conseguir
fugir daquele maldito destino – estou aqui com você…
Então ele morreu, em sua mãos, sobre aquela possa de sangue que os
engolia.
¢
Gregório Dexter ainda olhava para ele, sentado, com os olhos fechados
e aquelas palavras estranhas começando a apagar o seu brilho. Já teria se
passado uma hora que eles estavam ali. Então Edward abria os olhos, sua
expressão severa, triste. Ele se levantava e olhava para o professor, os olhos
verdes brilhando, parecendo prestes a lacrimejarem. E após alguns segundos
de silêncio o jovem manipulador do tempo apenas disse:
– Já acabou!
∆.
“ Q.
Q.
°•
‘;”:”-‘”’*;”’”;
– Está acordando!
– Hei! Hei! Calma, garoto – Era Sila contra seu pescoço, tentando o
acalmar. Então, com os olhos agitados e o corpo dormente, observou os
outros dois. Layla e o professor, com roupas diferentes às que usavam na
guerra. Aquilo o fez pensar, quanto tempo estaria acamado, inconsciente?
– O quê?
– Nero foi levado, para Árquia, após ser encontrado em uma das ruas de
venda, poucos metros a Oeste dos edifícios brancos, deformado, com uma
aparência tenebrosa, completamente inofensivo. Pelos vistos, foi
amaldiçoado pela própria companheira que conseguiu fugir com o corpo do
outro – pelo olhar do professor, era evidente – morto por ela mesma.
O alívio que poderia ter surgido em seu peito, dolorido, teria sumido
novamente ao pensar nela…
– E Anúbis?
Ele se recusava a pensar nela como alguém que já não estava mais entre
eles. Layla respondeu, enquanto Sila o soltava cuidadosamente.
‘;”:”-‘”’*;”’”;
– Por que nunca disse para ela – Outra pausa – que a amava?
Era a primeira vez que ele viu o jovem dragão completamente sem um
plano, sem aquele espírito de liderança, de protecção. Mas ele respondeu.
– Entendo!
– É bem provável que até minha magia retornar, ela já terá sido
enterrada. E receio que possa demorar bastante tempo até meu corpo voltar
ao normal. Ainda assim – ele acariciava com o polegar no colar com uma
ametista, em seu pescoço – Partirei para lá em algum momento, para visitá-
la.
– Sinto muito!
Ocásis olhou para ele, colocando uma mão na dele em seu ombro.
‘;”:”-‘”’*;”’”;
– Receio que a senhorita não precise mais voltar para aquele quarto
mofado da livraria.
– As duas pessoas que viu naquela foto, minha esposa e meu filho – o
senhor levou um momento para continuar – morreram, faz dois anos,
assassinados e jogados no lago da cidade.
Ela não poderia acreditar nas palavras seguintes: – Seria uma honra,
senhorita Miller, chama-la de filha! O que me diz?
… Pai!
‘;”:”-‘”’*;”’”;
– Então, porquê não voltou no tempo e evitou que tudo aquilo
acontecesse, ou – Layla questionava – Porquê não viu o futuro?
– Porque um – Edward mostrava um dedo para ela – não sou uma
máquina do tempo e dois – outro dedo – eu apenas influencio o tempo de
certas coisas, pessoas e lugares até certo ponto, ainda tenho muito a
percorrer. Sou um manipulador temporal, não um vidente.
Ele ignorou.
– Sinceramente, não sei como seu novo “pai” conseguiu nos fazer passar
de ano. Os colegas devem estar umas feras.
– São onze e não, dez. E tem sido muito divertido ver a expressão de
confusão no rosto de Gregório Dexter ao me ver conversar com três de mim
mesma em idiomas aleatórios – Um suspiro aliviado – À propósito – a
jovem de cabelos ondulados amarrados para trás com uma fita azul, duas
mechas finas caindo de cada lado do rosto, olhava através do óculos
redondos e rosa-arroxados, os lindos lábios passados em um batom
castanho-escuro, para o uniforme perfeitamente ajustado – por que,
infernos, nosso uniforme é outra vez o preto?
– Carla! – Elisa berrava para a amiga – eu já disse que não sou tão mal
assim…
Por incrível que pudesse parecer, ele sentia falta daquele lugar dos
sonhos. De Orgema Siquim.
– Enfim, chegou.
– O que quer de mim? – Ela sabia, não tinha chances contra ela – Não
estou em meus melhores dias – ela estava exausta. Mas a deusa encarnada
simplesmente estalava a língua.
– Não quero lhe causar mal algum, até porque se eu quisesse, já estaria
morta, princesa!
Anurim repetiu:
E ela sentia.
Antes de qualquer coisa, quero que imagine seu Bairro ou cidade sem
energia, durante um mês, aproximadamente, em fase de Champions
League, CAN ou Copa do Mundo, e depois de tanta espera, às 18h a
energia reestabelece e lembra o grito que as pessoas dão neste
momento?
Exacto!
Aos meus amigos que me fazem perceber o quanto eu sou sortudo por
tê-los em minha vida. Vocês milagres que nunca têm fim, em minha
curta vida.
Ao Aylton Luís que leu o “piloto” dessa história, que mais tarde dei
conta que não tinha nada a ver kkkk, mas que inconscientemente me
motivou a continuar a escrever e mudar várias e várias vezes. Muito
Obrigado, wy!
Sobre mim:
E-mail:gomesjustino79@gmail.com
Deus te abençoe!
Pequenos conselhos
Edward: Faça amigos que valham a pena lutar por. Você pode ser um
merda inútil para a sociedade…Um dia isso vai mudar.
Layla: A vida reservou algo especial para cada um de nós… para você,
apenas continue procurando.