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Atividade Final - África 2, Giovanna Veras (Manhã)

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Universidade Federal Fluminense — UFF

Instituto de História — 2021.1


Professor Marcelo Bittencourt — História da África II (A1 — manhã)
Discente: Giovanna Alves Veras Rodrigues

ATIVIDADE FINAL:
1. A história da África, quando analisada por profissionais ocidentais, pode sofrer equívocos
interpretativos que impedem um entendimento completo do dinamismo colonial, o
estabelecimento das nações africanas ao longo do século XX e os impactos de
antagonismos internos na atual localização da economia africana, como um todo, no
cenário globalizado. Com base nos textos “Daomé e o mundo atlântico”, de Elisée
Soumonni, “Um continente diverso”, de Fernanda Thomaz e “The African Crisis: World
Systemic and Regional Aspects” de Giovanni Arrighi, como é possível compreender a
ponte entre as relações coloniais e a África hoje?

Quando se fala em continente africano, é comum que pensemos em uma unidade


territorial, política e cultural do território que comporta 54 nações. Seja devido ao
desconhecimento das particularidades da região ou da regular narrativa da indústria cultural
de representações abstratas que tentam abranger toda a África como uma só, a história da
colonização também passa por explicações anacrônicas que enxergam identidades como
conceitos intrínsecos aos colonizados e colonizadores. Pode-se citar, como principal
exemplificação, a leitura racial que gera questionamentos em ambientes fora do dinamismo
historiográfico. Essa é uma ocidentalização errônea do que é necessário para compreender as
complexidades dos povos, reinos, cidades e lideranças por todo o continente.
Um fator de destaque para entender tal dinâmica é apresentada por Elisée Soumonni
em suas reflexões acerca dos impactos do tráfico de escravizados no reino do Daomé, que é
atravessado por inúmeros antagonismos internos entre os povos iorubá, também localizados
na região da atual Nigéria. Soumonni salienta que alguns aspectos da historiografia clássica
liberal possuem uma leitura ingênua ao afirmarem que líderes locais africanos empobreceram
durante essa relação econômica. Estabelece-se uma ponderação rasa que nos apresenta uma
incapacidade de perceber a importância desenvolvida, na economia integrada aos países
europeus naquele momento, para mudar as relações sociais. O autor explicita que, por
exemplo, sal e açúcar eram produtos de poder social, o que garantia poder aos líderes.
É importante evidenciar que as lideranças europeias se integram às, previamente
estabelecidas, lideranças locais. Nesse contexto, Fernanda Thomaz — autora que bebe da
historiografia sobre resistência dos anos 80 — enfatiza a dinâmica do direito colonial no
assentamento do colonialismo dos XIX e XX. O conjunto de leis coloniais foi associado à
instalação da ordem. Contudo, tal elemento não é um perfeito espelho das relações entre
colonizados e colonizadores. Incluindo, vale destacar que as noções de colonizador e
colonizado, assim como concepções de unidade com base em raça ou nacionalidade, não são
pré datadas.
No norte de Moçambique, recorte geográfico de Thomaz, a participação dos africanos
no aparelho português de justiça tornou-se substancialmente impreterível. Em exemplo, o
intérprete é responsável pelo rompimento da barreira idiomática e se faz presente na ligação
entre o operador da justiça colonial e as partes julgadas. Já no âmbito da segurança pública,
os policiais são os próprios moçambicanos, o que gera incômodo em uma análise rasa.
Todavia, é imprescindível assimilar a tentativa de sobrevivência local que impede o
julgamento precipitado em dizer que os agentes de segurança são “traidores” pela
colaboração com o sistema colonial. Essa é uma armadilha comum, causada pela imprudência
de interpretações. Aqui, é possível associar Primo Levi e seu conceito de “zona cinzenta” —
utilizado para designar a complexa rede relacional dentro de campos nazistas germânicos —
para compreender a multiplicidade de razões que as condições do colonialismo impunham
aos moçambicanos na justiça colonial portuguesa.
Por fim, Giovanni Arrighi procura entender a crise africana do século XX. É ilusório
não estabelecer um caminho lógico entre o passado colonial do continente africano, com
ênfase na região subsaariana, e a locomoção sórdida das economias africanas no mundo
globalizado do capital especulativo no século XXI. Enquanto instituições financeiras
internacionais compreendem a crise sob fatores internos da má gestão política das nações
africanas, Arrighi enfatiza que é uma tese inconsistente devido à generalidade desse
fundamento. O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial procuram, na verdade,
clarificar a condução do decrescimento, não a causa.
O autor enuncia que a questão nacional, como as relações monetárias internas com o
dólar, explica a concretização das elites. Para total entendimento desse cenário, é
indispensável destacar que a capilaridade econômica africana no contexto colonial não é
dinâmica, com economias desconexas de outras partes do continente. Assim, a concentração
de riquezas aconteceu, majoritariamente, na metrópole. A especialização da produção, por
sua vez, faz com que os produtos vendidos pelos países africanos permaneçam iguais desde o
início do século XIX. Com poucas exceções, como a Angola que, no contexto colonial,
produz algodão, café e diamante. No pós guerra, passa a produzir petróleo. Isto posto, é
desonesto desvincular a realidade atual do continente africano e suas heterogeneidades do
passado colonial — muitas vezes, interpretado de uma perspectiva ocidentalizante — e das
dinâmicas sociais, econômicas e culturais confeccionadas pelo colonialismo.

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