005 Historico Da Orientacao Vocacional
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Delba Teixeira Rodrigues Barros
Frank Parsons tem particular importância na história que aqui traçamos. Americano da
cidade de Boston, Parsons trabalhou como engenheiro civil, professor de matemática, história
e francês. Posteriormente graduou-se também em direito, e além da função de advogado
exerceu ainda as de escritor e político. A partir de 1892 (Rosas, 2000) passou atuar como
professor da Boston University.
A instabilidade de sua própria trajetória profissional levou-o a refletir sobre as
dificuldades de muitos jovens em se definir profissionalmente. Dessas reflexões nasceu o livro
Choosing a Vocation, publicado em 1909, ano seguinte ao seu falecimento. Nessa obra
considerada por muitos a primeira obra escrita especificamente sobre orientação profissional,
Parsons definia três passos fundamentais na ajuda à seleção de uma ocupação adequada: “1)
analisando o homem, isto é, a pessoa lucrando ao se compreender e seu orientador lucrando
ao compreendê-la; 2) estudando as ocupações, isto é, compreendendo as exigências e as
vantagens de uma ocupação; e 3) orientando o homem sobre a ocupação, isto é, relacionando
os requisitos da ocupação às características da pessoa” (Super e Bohn Júnior, 1975). Esse
tripé da Orientação Profissional esboçado por Parsons ainda pode ser considerado
fundamental no trabalho dos orientadores profissionais, embora requeira maior reflexão em
relação aos pressupostos subjacentes a cada um de seus sustentáculos.
Em 1907 Frank Parsons organizou o Vocational Bureau of Boston, cujas atividades
marcam a criação formal do movimento de orientação vocacional: o Vocational Guidance.
Embora iniciado nos EUA, o alcance desse movimento logo ultrapassou as fronteiras
americanas.
A visão de Parsons contribuiu para uma vinculação estreita entre orientação profissional
e educação, que posteriormente mais desenvolvida e difundida, passou a ser conhecida como
orientação educacional, e a fazer parte dos currículos escolares.
Na visão de Carvalho (1995) a partir de 1909 a orientação profissional foi se
desenvolvendo em duas modalidades: uma vinculada à psicologia do trabalho e a outra, à
orientação educacional. Embora houvesse diferença de objetivos nessas duas modalidades, os
métodos empregados eram os mesmos: técnicas psicométricas e informação ocupacional.
O grande desenvolvimento dos testes de inteligência, aptidão, habilidades, interesse e
personalidade que se observou durante a primeira e a segunda guerras mundiais, influenciou
fortemente a prática da orientação profissional (Sparta, 2003). Esse período, que compreende
as décadas de 20 e 30, caracteriza-se por uma orientação profissional como um processo
fortemente diretivo, em que o orientador fazia diagnósticos e prognósticos do orientando, com
base nos quais indicava-lhe as profissões adequadas.
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extensa lista de clientes, constam nomes de destaque no cenário mineiro e nacional. Sua
importância no desenvolvimento da educação em Minas Gerais foi acentuada quando serviu de
berço aos dois primeiros cursos de psicologia do estado (Barros, 1999).
Dessa história da OP, também faz parte o estado da Bahia, com a criação do IDOV,
Instituto de Orientação Vocacional, na Universidade da Bahia durante a gestão de Isaías Alves
(Rapold, 2003).
Até a década de 60 o modelo psicométrico, internacionalmente predominante, foi o
ponto comum em todas as iniciativas de trabalho de orientação profissional no Brasil.
A criação dos cursos de graduação em psicologia no Brasil, com a promulgação da Lei
4.119 de 27 de agosto de 1962, exerceu importante influência nos trabalhos de OP que eram
desenvolvidos no país, particularmente por sua vinculação à Psicologia Clínica e por sua
transferência para consultórios particulares.
Reforçando essa tendência de vinculação com a Psicologia Clínica, em fevereiro de
1975, o Instituto de Psicologia da USP, trouxe na categoria de professor convidado, o argentino
Rodolfo Bohoslavsky. Psicólogo de marcada influência da psicanálise kleiniana, havia
publicado em 1971, a obra Orientação Vocacional. A Estratégia Clínica, em que apresenta uma
fundamentação teórica sólida e consistente para a nova proposta de OP que defendia.
A obra de Bohoslavsky, tragicamente interrompida por sua morte precoce em 1977, é
considerada divisor de águas na Orientação Profissional. A modalidade clínica desenvolvida
em oposição ao que ele chamava de modalidade estatística encontrou eco especialmente no
trabalho que vinha sendo realizado por Maria Margarida de Carvalho na USP. Embora o
trabalho por ela realizado fosse feito em grupo, o casamento de suas idéias teóricas com a
prática desenvolvida na USP levou ao convite para que Bohoslavsky passasse a lecionar no
Brasil. Lamentavelmente, o problema cardíaco que o levou à morte transformou-se em
impedimento para sua contratação.
Há um segundo livro organizado por Bohoslavsky, Orientação Vocacional: Teoria,
Técnica e Ideologia, no qual as questões sociais, políticas e econômicas, que também
sobredeterminam a escolha, são o tema central. Essa obra teve uma única edição no Brasil,
em 1983, e infelizmente não foi mais reeditada. Dessa forma sua mais conhecida e importante
obra, a Estratégia Clínica, tornou-se leitura obrigatória para todos os que se dedicam ao
trabalho em OP. A entrevista clínica passa a ser o principal instrumento do processo de OP, e
apesar de aceitar a utilização de testes, a modalidade clínica insiste em seu papel instrumental,
e adverte que os mesmos nunca poderão substituir a função do psicólogo.
Assistimos assim a uma mudança radical na forma como a OP passa a ser concebida e
trabalhada no Brasil: do modelo psicométrico para o modelo clínico. Evidentemente nem todos
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os profissionais aderiram ao novo modelo, mas o impacto que este causou na prática da
grande maioria é inegável.
A produção da década de 80 em temas relacionados a OP foi particularmente pouco
significativa no país (Carvalho, 1995; Soares, 1999). Tal fato não significa que não houvesse
trabalhos expressivos na área, mas a grande maioria era desenvolvida sem compromisso com
a publicação, e conseqüentemente sem o desenvolvimento de um modelo, ou modelos, de OP
próprios ao Brasil. Celso Ferretti e Selma Pimenta constituem exceção nesse período, embora
os trabalhos de ambos se circunscrevam no âmbito da educação e se constituam em críticas
às teorias psicológicas de escolha profissional (Sparta, 2003).
Melo-Silva (2001) argumenta que a desproporção dos títulos de publicações da área de
OP em relação a outras áreas da psicologia pode ser compreendida como uma desvalorização
da área.
A realização em novembro de 1993 do I Simpósio Brasileiro de Orientação
Vocacional/Ocupacional em Porto Alegre marcou a mudança no rumo tímido que a OP vinha
tomando no país. Nesse evento foi fundada a Associação Brasileira de Orientadores
Profissionais, a ABOP, no intuito de congregar vários profissionais de diferentes lugares que
experimentavam o mesmo sentimento de solidão em relação à orientação profissional.
Firmada no compromisso de desenvolver, integrar e valorizar a OP no Brasil, a ABOP
vem se empenhando nessa causa promovendo simpósios bienais e publicando a Revista da
ABOP, cujo número mais recente foi lançado no VI Simpósio da ABOP, em Florianópolis, em
setembro do corrente ano, agora sob a denominação de Revista Brasileira de Orientação
Profissional.
Reconhecendo que a prática da OP no Brasil tem se dado em um contexto
multidisciplinar, a ABOP tem como uma de suas finalidades “gerar e consolidar a discussão e a
prática de Orientação num âmbito inter disciplinar, respeitando as identidades inter
disciplinares e sustentando a mais ampla liberdade de pensamento e expressão, desde que
dentro de paradigmas ideológicos que garantam o engrandecimento individual e social.” (Melo-
Silva et al, 2003).
De forma coerente com o exposto acima, podem associar-se à ABOP todos os
profissionais, de formação universitária, cujo exercício profissional esteja ligado a OP. Lisboa
(2002) em recente levantamento afirma que, apesar de seu caráter inter-disciplinar, a grande
maioria dos afiliados a ABOP é de psicólogos, seguida por pedagogos. Ainda assim
economistas, sociólogos e administradores de empresa têm participado dos vários eventos que
a ABOP vem realizando em todo o país. Esse fato demonstra que o refletir e pesquisar sobre o
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trabalho, seu significado e sua interação com o homem, tem sido tema pertinente a várias e
diferentes áreas do conhecimento.
Frente à demanda pelos serviços de Orientação Profissional no Brasil, as iniciativas
existentes são modestas. A falta de uma política pública de OP no país, como as existentes na
França, Alemanha e Canadá, deixa a área à mercê de iniciativas isoladas, e torna a formação
de profissionais competentes, limitada. Há um movimento no sentido de transformar a OP em
área de especialização, em nível de pós-graduação, para garantir uma formação teórica e
prática mais sólida àqueles que se enveredam por seus caminhos. Nesse sentido há alguns
cursos de Pós-Graduação acontecendo no país, alguns deles vinculados às universidades e
outros a instituições particulares. Ainda assim , o exercício da Orientação Profissional não é
“fiscalizado” por nenhum órgão específico.
No intuito de fortalecer seu papel na sociedade brasileira, e de participar das discussões
das questões relativas à Orientação Vocacional/Profissional que acontecem em todo o mundo,
a ABOP participa da IAEVG – Internacional Association for Educational and Vocational
Guidance. Essa associação, fundada em 1951, é mais conhecida no Brasil por sua
nomenclatura francesa, AIOSP – Association Internationale d’Orientation Scolaire et
Professionnelle.
A AIOSP representa indivíduos e associações nacionais e regionais preocupados com a
orientação educacional e vocacional/profissional em todos os continentes. Seus objetivos são
definidos na Declaração de Missão da AIOSP, aprovada por Assembléia Geral, realizada na
Suécia, em 1995, como sendo:
• auxiliar estudantes e adultos a compreender e apreciar a si mesmos;
• auxiliar estudantes e adultos a relacionar-se efetivamente com outras pessoas;
• auxiliar estudantes e adultos a desenvolver planos de formação apropriados em
orientação educacional e vocacional;
• auxiliar estudantes e adultos a explorar alternativas de carreira e
• auxiliar pessoas de todas as idades a lidar e interagir com sucesso na sociedade
e no mercado de trabalho.
Sua missão inclui:
• defender que todos os cidadãos que necessitam e querem orientação e
aconselhamento educacional e vocacional têm o direito a receber esse
aconselhamento de um profissional competente e credenciado, e
• requerer que governos intensifiquem, facilitem ou fundem agências, instituições
ou escritórios com responsabilidade de desenvolvimento e manutenção de
políticas norteadoras da provisão da orientação educacional e vocacional e da
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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