Antropólogos Classicos
Antropólogos Classicos
Antropólogos Classicos
DA RELIGIÃO
Antropólogos
clássicos
Mayara Dionizio
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A antropologia clássica, desde seu ensejo inicial, no século XIX, se defrontou
com grandes problemáticas em torno da relação entre natureza e meio social.
Nesse contexto, a corrente evolucionista se tornou predominante, uma vez que
a história e a antropologia, de uma só vez, podiam ser pensadas de forma linear.
Considerava-se que quanto mais conhecimento uma sociedade, uma comunidade
ou uma tribo tinha, mais evoluída ela era. Mais tarde, Franz Boas e sua seguidora,
Ruth Benedict, estabeleceram, a partir de estudos etnográficos, a relação entre
determinismo mental e determinismo do meio, para pensar a anormalidade como
resultado de uma sociedade.
Já no século XX, com Claude Lévi-Strauss, surgiu uma perspectiva multicul-
turalista. O antropólogo francês revolucionou a forma como a antropologia era
pensada até então quando uniu o determinismo natural ao social e cultural, sob
a alegação de que o sujeito é constituído de modo múltiplo. Posteriormente, após
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o conceito que se tem dessa ciência, de seu objeto e de seus métodos [...]”.
Nesse contexto, convém ressaltar por quais vias a antropologia straussiana
marcou fortemente o pensamento antropológico:
[...] à etnografia, assistida pela história e pela tecnologia, o estudo da base material
das sociedades; à antropologia estrutural, o estudo das ideologias — e uma teoria
do conhecimento decididamente monista, visto que ela considera o espírito dando
sentido ao mundo como parte e produto desse mesmo mundo.
[...] uma espécie de cópia autêntica dos objetos apreendidos, mas consistem em
propriedades distintivas, abstraídas do real por mecanismos de codificação e de
decodificação inscritos no sistema nervoso e que funcionam por meio de oposições
binárias: contraste entre movimento e imobilidade, presença ou ausência de cor,
diferenças de contorno dos objetos (LÉVI-STRAUSS, 1976 apud DESCOLA, 2011, p. 39).
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que compra, daquela relação de compra. Por fim, Sahlins (1976) concluiu
que a produção capitalista só se realiza a partir dos objetos produzidos por
meio de uma mediação simbólica — trata-se, antes de tudo, de um projeto
cultural determinante.
e os efeitos que ela causou na antropologia, uma vez que, agora, a disciplina
necessitava mais do que nunca entender os processos culturais de perto.
Foi aí que a antropologia, que até então tinha seu foco estritamente no
estudo das sociedades primitivas, voltou-se às sociedades mais complexas
e às nações-Estado. Isso resultou em inovações no texto etnográfico e na
forma como a diversidade cultural passou a ser pensada e tratada. Assim,
as mudanças consideradas contemporâneas na etnografia consistem em
aplicar uma metodologia que seja capaz de ter uma função estratégica nesse
contexto; detalhadamente, elas abrangem repensar a figura do antropólogo/
autor, a produção de conhecimento textual, o objeto, o leitor, a legibilidade
e a legitimidade do texto. Isso ocorre principalmente por se considerar
o processo de autocrítica antropológica (atual na disciplina), assim como
outros aspectos da prática metodológica, o que recentemente vem sendo
questionado e descontruído das mais diversas formas.
Conclui-se que a mudança gradual no campo metodológico da antropo-
logia acabou, na contemporaneidade, por colocar paralelamente o nativo e
os cidadãos, ao passo que os nativos revelam a diversidade irredutível entre
ambos. Por outro lado, ao contrário da antropologia moderna, que recons-
truía o todo para dar sentido à heterogeneidade cultural, a antropologia
contemporânea coloca para si a tarefa de considerar o ponto de vista dos
nativos e as suas experiências, a fim de o antropólogo poder representá-los.
É nesse ponto que os modos de vida trocam influências, encontram suas
semelhanças e também as criam, lutam por superioridade, por dominação,
traduzem-se e subvertem-se.
Referências
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br/artigos/1968-no-mundo-alem-da-lenda/. Acesso em: 28 out. 2020.
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14 Antropólogos clássicos
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LÉVI-STRAUSS, C. Introdução à obra de Marcel Mauss. São Paulo: Edusp, 1975. v. 2.
LÉVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. Campinas: Papirus, 1989.
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Leituras recomendadas
BOAS, F. Antropologia cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
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