Psicologia em Contexto Escolar
Psicologia em Contexto Escolar
Psicologia em Contexto Escolar
PARA A
INTERVENÇÃO
DOS
PSICÓLOGOS
EM CONTEXTO
ESCOLAR
— 2024
REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
FICHA TÉCNICA
Título
Referencial para a Intervenção dos Psicólogos em Contexto Escolar
Autores
Graça Breia (Direção-Geral da Educação)
Isabel Morgado Henriques (Direção-Geral da Educação)
João Pedro Ribeiro (Direção-Geral da Educação)
Luís Tavares (Ordem dos Psicólogos Portugueses)
Sofia Mendes (Ordem dos Psicólogos Portugueses)
Tiago Barreto (Direção-Geral da Educação)
Coordenação
Filomena Pereira (Direção-Geral da Educação)
Maria João Horta (Direção-Geral da Educação)
Sofia Ramalho (Ordem dos Psicólogos Portugueses)
Agradecimentos
Um agradecimento ao grupo de trabalho que preparou os documentos Referencial Técnico para os Psicólogos
Escolares, em consulta pública em 2016, e Orientações para o trabalho em Psicologia Educativa nas Escolas, publicado
em 2018, coordenado por Filomena Pereira (DGE) e Sofia Ramalho (OPP).
Design Gráfico
Inês Souto Félix
Editor
Ministério da Educação/Direção-Geral da Educação
Av. 24 de Julho, n.º 140 – 1399-025 Lisboa
Tel: 213934500
http://www.dge.mec.pt
Email: dge@dge.mec.pt
Data
2024
ISBN
978-972-742-550-1
Este Referencial para a Intervenção dos Psicólogos em Contexto Escolar foi aprovado por S. Exa. o Ministro da
Educação, Dr. João Costa, por despacho de 15 de março de 2024.
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Por uma questão de facilidade na leitura, os termos utilizados, embora no masculino, referem-se indistintamente ao
género feminino e masculino.
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ÍNDICE
NOTA DE ABERTURA 05
INTRODUÇÃO 06
1. PRESSUPOSTOS E FINALIDADES 07
3. PRINCÍPIOS 10
4. MODELOS DE INTERVENÇÃO 12
5. DOMÍNIOS DE INTERVENÇÃO 14
5.1. Apoio e Aconselhamento Psicológico 15
5.2. Desenvolvimento do Sistema de Relações da Comunidade Educativa 16
5.3. Desenvolvimento Vocacional 19
6. PRÁTICAS E ESTRATÉGIAS 24
7. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO 29
8. MODALIDADES DE INTERVENÇÃO 31
9. OS PROFISSIONAIS 32
NOTAS FINAIS 33
BIBLIOGRAFIA 34
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NOTA DE ABERTURA
No centro da missão educativa reside a convicção de que cada aluno, independentemente das
suas circunstâncias individuais, merece a oportunidade de alcançar o seu potencial máximo.
Todos os alunos, independentemente das suas origens socioeconómicas, de género, de etnia ou
capacidades, têm direito a iguais oportunidades educativas, a serem valorizados e apoiados no
seu percurso educativo. Ao enfatizarmos a importância da educação inclusiva, reconhecemos que
cada aluno é único e tem de ser tratado com máxima dignidade e respeito.
Que todos os profissionais, não apenas os psicólogos, mas todos os membros da comunidade
educativa, se sintam convidados a abraçar este Referencial e a contribuir ativamente num trabalho
de rede para a construção de escolas mais inclusivas que garantam que cada aluno seja apoiado,
desafiado e inspirado na construção do seu projeto de vida com vista a alcançar o seu potencial
pleno.
Pedro Cunha
Diretor-Geral da Educação
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INTRODUÇÃO
Coerente com um modelo de escola voltado para o desenvolvimento integral das pessoas, a
relevância dos Serviços de Psicologia é inquestionável. Estes serviços são fundamentais no apoio
à definição de medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão, na prevenção de comportamentos
de risco e da violência escolar, na promoção das competências socioemocionais, da saúde e
do bem-estar em meio escolar. Sublinha-se ainda o seu papel crucial ao nível da prevenção e
intervenção precoce em saúde mental.
Perante a multiplicidade de papéis e funções atribuídos aos psicólogos que desenvolvem a sua
atividade em contexto escolar, a diversidade de desafios e as elevadas expectativas por parte da
comunidade educativa no que concerne à atuação destes profissionais, observa-se a necessidade
de enquadrar e clarificar a sua intervenção.
O presente referencial visa clarificar, junto dos órgãos de gestão, docentes, encarregados de
educação e outros técnicos especializados, a atuação dos psicólogos no contexto escolar.
Nomeadamente, este documento serve de apoio na tomada de decisão e na definição de estratégias
pedagógicas e psicológicas, para que todos os alunos alcancem as competências previstas no
Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e se desenvolvam de forma integral nas suas
diferentes dimensões: cognitiva, comportamental, socioemocional e vocacional, com vista ao seu
bem-estar e saúde física e mental, desenvolvimento pessoal e profissional.
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1. PRESSUPOSTOS E FINALIDADES
EDUCAÇÃO
• Promover uma educação inclusiva que responda às potencialidades, expectativas e
necessidades de todos e de cada um dos alunos, no âmbito de um projeto educativo comum e
plural, que promova a participação e o sentido de pertença;
• Apoiar no desenho, implementação e avaliação de medidas para promoção do sucesso escolar
e prevenção do abandono escolar;
• Promover o desenvolvimento global e harmonioso dos alunos, capacitando-os para o
exercício pleno da cidadania, tendo como referência o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade
Obrigatória;
• Apoiar a transição entre níveis e modalidades de educação e formação;
• Acompanhar os alunos no seu percurso educativo e formativo, promovendo a aquisição de
estratégias para uma aprendizagem ativa e ao longo da vida.
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SAÚDE E BEM-ESTAR
• Promover o bem-estar e a saúde física e mental dos alunos e reduzir o impacto dos problemas
comportamentais, sociais e emocionais;
• Favorecer condições para a satisfação profissional e incentivar o desenvolvimento de
competências de liderança ancoradas na empatia;
• Incentivar atitudes, valores e comportamentos que contribuam para um ambiente organizacional
saudável e seguro para todos os agentes da comunidade educativa;
• Capacitar e sensibilizar os diversos agentes educativos para o autocuidado e o desenvolvimento
de competências socioemocionais.
INCLUSÃO E EQUIDADE
• Advogar pela igualdade de oportunidades e educação voltada para os valores do pluralismo;
• Impulsionar ações de combate à pobreza e exclusão social;
• Reconhecer e valorizar as pessoas pelas suas aptidões e talentos diferenciados, incentivando
a sua participação ativa na sociedade;
• Colaborar na mobilização de respostas para as necessidades de grupos vulneráveis e menos
qualificados;
• Promover uma educação inclusiva que respeite as potencialidades, expectativas e necessidades
individuais de todos e de cada um dos alunos.
VIDA PÓS-ESCOLAR
• Promover o desenvolvimento flexível de carreira, o empreendedorismo e a proatividade;
• Desenvolver competências que permitam aos jovens tomar decisões livres e fundamentadas,
e participar civicamente de forma ativa, consciente e responsável;
• Contribuir para a melhoria das qualificações e competências dos jovens, preparando-os para
responder aos desafios do mercado de trabalho/vida ativa.
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
Em Portugal, os psicólogos que atuam em contexto escolar baseiam e orientam as suas intervenções
com base na sua formação específica, em documentos legislativos e em orientações técnicas
e científicas. A sua formação é regularmente atualizada não só através da formação contínua,
mas também por práticas de desenvolvimento profissional, como a intervisão e supervisão
[Recomendações para a Prática de Intervisão em Psicologia (2020a), Recomendações para a
Prática da Supervisão em Psicologia (2020b)].
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3. PRINCÍPIOS
Para garantir uma intervenção eficaz e alinhada com os desafios contemporâneos, é imperativo que
os Serviços de Psicologia sejam guiados por princípios sólidos e fundamentados. Estes princípios
não apenas orientam a atuação dos profissionais, mas também refletem o compromisso ético e
humano da psicologia para com a sociedade.
Apresentam-se, a seguir, alguns dos princípios mais relevantes que pautam e dão sentido à ação
dos Serviços de Psicologia nas escolas:
• Abordagem sistémica e ecológica: compreensão da pessoa como parte integrante de
múltiplos sistemas em permanente interação e com influência recíproca;
• Base humanista: propósito de capacitar crianças e jovens com conhecimentos e valores para
a construção de uma sociedade mais justa, centrada na pessoa, na dignidade humana e na
ação coletiva para o bem comum;
• Serviços compreensivos/holísticos: prestação de serviços que incluem intervenções diretas
e indiretas e diferentes níveis de prevenção/intervenção;
• Colaboração: valorização de uma atuação integrada, promovendo a comunicação, cooperação
e coordenação entre os vários intervenientes educativos e comunitários;
• Equidade e inclusão: defesa do direito a uma inclusão plena e a uma educação de qualidade
para todos, bem como a promoção da igualdade no acesso à saúde, ao bem-estar e ao trabalho;
• Respeito pela dignidade e direitos da pessoa: respeito pela autonomia e autodeterminação
das pessoas com quem estabelecem relações profissionais, a par do cumprimento das normas
relativas ao consentimento informado, privacidade e confidencialidade;
• Respeito pelos direitos das crianças: defesa dos direitos fundamentais das crianças,
enfatizando o direito de serem ouvidas, de participarem nos processos educativos e de primazia
do seu superior interesse;
• Interferência mínima: a intervenção técnica e educativa deve ser desenvolvida exclusivamente
pelas entidades e instituições cuja ação se revele necessária à efetiva promoção do
desenvolvimento pessoal e educativo e no respeito pela vida privada e familiar;
• Acessibilidade: desenvolvimento de serviços disponíveis e acessíveis a todos;
• Individualização: atuação com respeito pelas características e necessidades idiossincráticas
de crianças, jovens, famílias, escolas e comunidades;
• Transparência: clareza na exposição dos objetivos de intervenção e nas informações
facultadas;
• Não-discriminação: reconhecimento de que a diversidade humana existe e faz parte da
riqueza dos indivíduos, grupos e comunidades, considerando-se a diversidade individual e
cultural resultante de diferentes condições (e.g., sexo e género, orientação sexual e identidade
de género, pertença comunitária, origem migratória, nacionalidade, língua, religião, classe
social, entre outras);
• Autonomia profissional: exercício da sua atividade de acordo com o princípio da independência
e autonomia técnica e científica em relação a outros profissionais, equipas e autoridades
superiores, organizando-se em estruturas próprias denominadas de Serviço de Psicologia e
Orientação, mesmo que, adicionalmente, possam integrar ou colaborar com outras estruturas
existentes da escola;
• Evidência científica: uso de práticas fundamentadas em conhecimento científico válido, com
atualização contínua na seleção e aplicação de modelos, metodologias, instrumentos, técnicas
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
e intervenções;
• Avaliação: avaliação e monitorização com vista à promoção e à melhoria contínua da eficiência
e eficácia dos serviços prestados;
• Desenvolvimento profissional: valorização da especialização, reconhecendo a sua importância
para a qualidade profissional, e investimento contínuo no desenvolvimento e melhoria das
competências pessoais e profissionais.
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4. MODELOS DE INTERVENÇÃO
Estes sistemas regem-se por princípios como um ensino de elevada qualidade, uma atuação
proativa e preventiva, a aplicação de práticas baseadas em evidências, decisões informadas por
dados atualizados e uma intervenção diferenciada que atende à diversidade das necessidades
individuais. Adicionalmente, os Sistemas Multinível de Suporte estruturam-se com base em:
• múltiplos níveis de apoio, organizados num contínuo crescente de intensidade;
• sistemas abrangentes de avaliação, que incluem procedimentos de despiste universal,
monitorização do progresso dos alunos e avaliação da qualidade das intervenções;
• e uma abordagem sistemática de resolução de problemas.
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crianças e jovens que possam vir a enfrentar problemas graves e persistentes no futuro, tal como
a necessidade de intervenções mais intensivas.
A estrutura do Sistema Multinível de Suporte requer uma organização e alocação dos recursos
de Psicologia que espelhem a sua natureza estratificada por níveis. Esta estratificação pode
ser vislumbrada como uma pirâmide, com as intervenções universais na base, seguindo-se as
intervenções seletivas e, no vértice, as intervenções indicadas. A eficiência do Sistema Multinível
implica recursos suficientes para apoiar despistes e intervenções universais, especialmente
nas áreas de competência específicas da Psicologia. Simultaneamente, é essencial assegurar
a disponibilidade de profissionais especializados para os níveis seletivo e indicado, que são
destinados a alunos que requerem apoio mais intensivo.
A colaboração entre escolas e comunidades é assim crucial para fortalecer a abordagem multinível
e a prestação de serviços integrados, permitindo a formação de uma rede de recursos e serviços
especializados adicionais, fundamentais para assegurar os diferentes níveis de intervenção. Esta
sinergia facilita o acesso a apoios que, frequentemente, não estão diretamente disponíveis nas
escolas e contribui para uma resposta apropriada ao nível indicado, que requer uma intervenção
mais personalizada.
O planeamento das intervenções dos Serviços de Psicologia é concretizado num Plano Anual de
Atividades onde são definidos os objetivos, organização por níveis de intervenção, programação
das atividades, intervenientes e recursos necessários, com base no Projeto Educativo e em dados
atualizados a nível de escola (e.g., indicadores académicos, socioemocionais, comportamentais,
bem-estar e saúde mental, entre outros). Este é um documento flexível, podendo ser revisto
ao longo do ano letivo para incorporar novas iniciativas que se revelem pertinentes, desde que
superiormente aprovadas.
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5. DOMÍNIOS DE INTERVENÇÃO
Deste modo, enquanto recursos humanos da escola, os psicólogos atuam em três domínios
distintos, mas complementares:
- O apoio e aconselhamento psicológico;
- O desenvolvimento do sistema de relações da comunidade educativa;
- O desenvolvimento vocacional.
Em cada um destes domínios, as ações a desenvolver devem ser planeadas levando em conta o
contexto, os recursos disponíveis e as prioridades estabelecidas nos instrumentos orientadores
dos Agrupamentos de Escolas/Escolas não Agrupadas.
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Este domínio de intervenção visa criar condições propícias para que os alunos alcancem as
aprendizagens essenciais. A sua abordagem é delineada com base nas competências, habilidades,
valores e atitudes que os alunos devem desenvolver no final da escolaridade obrigatória,
considerando ainda as suas características individuais, contextos e circunstâncias de vida.
Para maximizar o seu impacto, a intervenção neste domínio deve iniciar-se tão cedo quanto
possível, priorizando a criação de ambientes propícios à aprendizagem e ao desenvolvimento.
A estratégia a privilegiar é de natureza indireta e preventiva, recorrendo-se à intervenção direta e
remediativa apenas em situações excecionais e por períodos limitados.
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Neste domínio de intervenção, através de uma parceria contínua entre os agentes educativos e a
comunidade, procura-se criar ambientes de aprendizagem mais positivos, seguros e saudáveis.
Desta forma, procura-se não só promover o bem-estar de toda a comunidade escolar, como
também intensificar o envolvimento das famílias na promoção do sucesso educativo dos alunos.
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LIDERANÇAS ESCOLARES
• Colaborar na elaboração do Projeto Educativo e outros documentos estratégicos;
• Apoiar planos de melhoria e sistemas de autoavaliação da escola;
• Recolher e analisar um vasto leque de indicadores que permitam orientar a seleção,
implementação e avaliação de ações específicas;
• Apoiar a seleção de políticas e práticas baseadas em evidência para, numa perspetiva
multinível, abordar questões como abandono, absentismo e insucesso escolar; disciplina e
gestão de comportamentos; prevenção do bullying, violência e discriminação; envolvimento
familiar; prevenção e resposta face a crises; redução dos riscos psicossociais, nomeadamente,
do burnout e stresse laboral, etc.;
• Participar na conceção e avaliação da oferta pedagógica e formativa;
• Coadjuvar a organização e composição de turmas;
• Colaborar na comunicação eficaz de informações e conteúdos para diferentes audiências
(e.g., alunos, famílias, docentes, não docentes, etc.);
• Emitir pareceres e envolver-se em decisões relativas a colaborações com entidades e
profissionais externos à escola, particularmente no campo da Psicologia.
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• Desenvolver ações que reforcem competências parentais e que apoiem a compreensão das
necessidades de desenvolvimento, aprendizagem, bem-estar e saúde mental dos educandos;
• Facilitar a ligação entre as famílias e os serviços da comunidade quando necessário;
• Organizar e participar em reuniões com famílias e encarregados de educação.
CENTROS QUALIFICA
• Participar em ações e eventos no âmbito da oferta educativa e formativa e da transição para o
mercado de trabalho/vida ativa;
• Colaborar com os técnicos dos Centros Qualifica nos processos de transição entre o percurso
educativo e formativo.
ENSINO SUPERIOR
• Colaborar na organização de atividades de apoio à transição para o ensino superior;
• Apoiar iniciativas de investigação-ação e promover a disseminação de boas práticas;
• Mobilizar recursos para a formação contínua e atualização dos profissionais de educação.
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Pretende-se, assim, capacitar os alunos para a construção e gestão equilibrada dos seus projetos
de vida e de carreira, através do desenvolvimento das seguintes competências:
• Autoconhecimento: adotar atitudes e comportamentos que traduzam uma perceção adequada
de si próprios, das suas aptidões e interesses;
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• Interação eficaz: relacionar-se com pessoas com diferentes características, mantendo uma
atitude facilitadora da comunicação ou da interação, gerindo dificuldades e eventuais conflitos
de modo a atingir objetivos;
• Gestão da informação: utilizar estratégias adequadas para localizar, recolher e validar
informação e envolver-se continuamente na pesquisa e na gestão da informação relevante para
a carreira;
• Gestão da mudança: ajustar-se a novos desafios e empenhar-se de forma permanente no
seu desenvolvimento e atualização, dominar estratégias que facilitam transições em diferentes
contextos de vida, e reconhecer-se como um agente de mudança;
• Decisão: analisar e avaliar as diferentes alternativas existentes, ponderando as consequências
das opções no imediato e a longo prazo, com vista à tomada de decisões informadas;
• Auto-advocacia (self-advocacy): dominar competências e estratégias que permitam, em
momentos de recrutamento ou de trabalho, advogar por direitos, funções ou condições laborais
adequadas às suas características e necessidades – algo especialmente importante para jovens
com deficiência ou neurodivergentes;
• Acesso ao mercado de trabalho: desenvolver estratégias de integração e de manutenção no
mercado de trabalho.
Deste modo, propõem-se três níveis de intervenção para o desenho de ações em Desenvolvimento
Vocacional. É importante salientar que as questões e atividades descritas nestes níveis não
constituem um programa fixo de intervenção. Em vez disso, são apresentadas como exemplos
flexíveis, ajustáveis ao nível etário de cada grupo de alunos.
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
NÍVEIS DE INTERVENÇÃO
1.º Nível: neste nível, a intervenção centra-se na gestão da informação. Pretende-se capacitar
os alunos para gerir de forma autónoma informação: pesquisar, validar, verificar a credibilidade
das fontes e selecionar o que é relevante. Num mundo globalizado e face à diversidade de fontes
de informação disponíveis, é crucial que os alunos aprendam a gerir de forma eficiente e eficaz
o enorme volume de informação ao seu alcance. Devem ainda ser incentivados a explorar por
iniciativa própria, com uma perspetiva ampla da oferta educativa e formativa, considerando opções
locais, nacionais e internacionais.
FORMATO Grupal
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
2.º Nível: com um grau de aprofundamento maior e de maior complexidade, o objetivo deste
nível de intervenção é apoiar os alunos no desenvolvimento e na adoção de estratégias. Estas
estratégias devem permitir que os alunos se relacionem consigo mesmos, com suas características
pessoais, com a diversidade de suas experiências e com as exigências das atividades profissionais
e dos currículos dos cursos. Assim, pretende-se contribuir para a formação de uma identidade de
carreira mais definida e para a estabelecimento de objetivos educativos e de carreira congruentes.
• Quem sou
• O que gosto
• O que valorizo
• Em que quero investir
QUESTÕES • Quais são os meus talentos
• O que preciso melhorar
• O que preciso para tirar partido das minhas capacidades
• Como posso ultrapassar ou diminuir barreiras
• Quais os meus direitos
FORMATO Grupal
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• Grupal
FORMATO
• Individual
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
6. PRÁTICAS E ESTRATÉGIAS
As ações dos psicólogos são delineadas através de práticas e procedimentos específicos, com
uma ênfase clara em abordagens preventivas e promocionais. Considerando as especificidades
do contexto escolar, é imperativo que os psicólogos procedam a uma avaliação criteriosa das
potencialidades e limitações inerentes às suas ações profissionais. Esta avaliação, sustentada em
pressupostos teóricos, científicos, éticos e no princípio da competência, deve sempre preservar a
autonomia técnico-científica dos profissionais, conforme estabelecido no Código Deontológico da
Ordem dos Psicólogos Portugueses.
CONSULTORIA COLABORATIVA
A consultoria distingue-se de outras modalidades de intervenção dos psicólogos devido à sua
natureza triádica ou tripartida, isto é, pressupõe o estabelecimento de uma relação entre três
partes: consultor, consulente e cliente. Define-se como um processo de resolução de problemas,
cujo objetivo é apoiar o consulente no desenvolvimento de competências que lhe permitam atuar
de forma mais eficaz junto a um ou mais clientes.
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
ou em grupo, envolvendo, neste último cenário, o trabalho simultâneo com múltiplos consulentes,
como grupos de docentes ou encarregados de educação.
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
SOCIOCULTURALMENTE São adaptados à cultura dos participantes e fazem o esforço para incluir o grupo-
RELEVANTES alvo no planeamento e implementação do programa.
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
FORMAÇÃO
A formação emerge como uma estratégia de intervenção chave para os psicólogos, oferecendo-
lhes a oportunidade não apenas de partilhar o conhecimento da Psicologia com diversos agentes
educativos, como também de ampliar a sua capacidade interventiva. Neste contexto, os psicólogos
nas escolas não apenas promovem ações formativas, educativas e de sensibilização destinadas
a profissionais de educação, famílias e encarregados de educação; eles também apoiam a
identificação de necessidades de formação contínua. A sua atuação pode ainda estender-se à
conceção, implementação, monitorização e avaliação de programas de desenvolvimento pessoal
e profissional, consolidando, assim, a formação como um pilar central da sua intervenção.
Adicionalmente, a formação revela-se estratégica na sustentabilidade de programas e projetos
de intervenção em meio escolar, assegurando que as práticas sejam continuamente atualizadas e
alinhadas com as necessidades emergentes.
O quadro abaixo propõe um conjunto de questões que poderão auxiliar os psicólogos a avaliar a
pertinência e exequibilidade da prestação deste tipo de serviços. É importante salientar que, no
contexto escolar, as modalidades de apoio e aconselhamento em grupo devem ser priorizadas,
pois permitem alcançar e beneficiar um maior número de alunos.
Em que medida estes serviços irão contribuir positivamente para o funcionamento global da escola?
Quais os principais atores e contextos a serem envolvidos (aluno, docente, família ou pessoal não docente)?
Qual a capacidade do Serviço de Psicologia para implementar estas atividades, sem prejuízo das atividades
de prevenção e promoção?
Em que medida se espera alcançar sucesso através destes serviços?
Qual a duração prevista para o ciclo de aconselhamento e apoio psicológico?
Quais as possíveis consequências caso o aconselhamento/apoio psicológico não ocorra?
Em que medida poderão conduzir a mudanças significativas e permanentes no/a aluno/a?
Em que medida existem serviços para encaminhamento na comunidade?
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
A avaliação psicológica configura-se como um processo abrangente e multifacetado, que engloba
áreas relacionadas com o motivo da avaliação e/ou problema identificado. Neste processo, os
psicólogos recorrem a diferentes interlocutores (e.g., docentes, encarregados/as de educação),
técnicas (e.g., observação, entrevistas) e instrumentos de avaliação (e.g., testes psicológicos,
instrumentos de despiste universal e monitorização de progressos), integrando múltiplas fontes
de informação e resultados.
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
7. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
A intervenção psicológica nas escolas cada vez mais assume um carácter holístico. Em tais
circunstâncias, é imperativo que os psicólogos tenham uma base sólida de conhecimento
especializado, bem como capacidade de integração das informações disponíveis ou a recolher.
Para atingir tais objetivos, os psicólogos recorrem a uma variedade de instrumentos de avaliação
que apoiam a sua ação, seja ela de caráter preventivo, ou mais direcionada para a resolução de
problemas. Assim, identificar e selecionar adequadamente esses instrumentos é fundamental para
garantir a eficácia da sua intervenção.
INSTRUMENTOS
Os instrumentos de despiste universal, a observação, a entrevista psicológica, os testes e provas
psicológicas estão entre a variedade de técnicas e instrumentos que os psicólogos dispõem para
efetivar a sua prática profissional. A opção pela sua utilização de forma isolada ou complementar
é uma decisão profissional e que depende dos objetivos a atingir.
DESPISTE UNIVERSAL
O processo sistemático de despiste implica a avaliação de todos os alunos numa determinada
turma, ano letivo, edifício ou agrupamento de escolas, centrando-se em indicadores académicos,
comportamentais e socioemocionais previamente definidos e consensualizados como fundamentais
para a compreensão do desenvolvimento e bem-estar dos alunos. Este procedimento tem como
objetivo fornecer uma visão geral, não só do desempenho académico e do estado socioemocional
do coletivo de alunos, mas também das necessidades individuais, facilitando, assim, a identificação
precoce de eventuais dificuldades e permitindo a implementação de intervenções universais e
seletivas que apoiam o sucesso e o bem-estar de cada aluno no contexto educativo.
OBSERVAÇÃO
A observação é, por excelência, um dos métodos mais recorrentes para recolher dados sobre
o comportamento e funcionamento de crianças e jovens, assim como sobre a sua interação em
diferentes contextos e atividades de rotina. Este método pode centrar-se no aluno individual, em
grupos de alunos, na turma como um todo ou até mesmo na dinâmica da sala de aula (organização
do espaço, recursos, práticas pedagógicas, interações, etc.). De igual modo, pode variar em termos
do seu grau de estruturação, incluindo observações casuais, em que o observador determina os
eventos, a frequência do registo e a riqueza do detalhe da informação que regista, observações por
amostragem de tempo de comportamentos, registos de acontecimentos e subsequente análise
funcional e, ainda, observações que se apoiam no uso de checklists ou escalas de avaliação.
ENTREVISTA PSICOLÓGICA
A entrevista psicológica é um método de recolha de dados que permite obter informação sobre
o funcionamento cognitivo, social, emocional e comportamental de um cliente. No contexto
educativo, ela assume um papel preponderante na avaliação psicológica, permitindo uma análise
detalhada sobre a história pessoal, a trajetória escolar, as dinâmicas familiares, entre outras áreas
pertinentes do cliente. A entrevista permite ainda a avaliação de motivações, interesses, aptidões e
expetativas. Dependendo dos objetivos e do contexto específico, a entrevista pode ser estruturada,
semiestruturada ou não estruturada. Independentemente da sua estrutura, o principal objetivo da
entrevista psicológica é obter uma compreensão abrangente da pessoa, de modo a orientar o
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
As provas e testes psicológicos são utilizados por psicólogos qualificados, com base em
formação atualizada, experiência e treino específico. Os psicólogos apenas utilizam instrumentos
de avaliação que passaram por investigação científica rigorosa. Esses instrumentos incluem
estudos psicométricos referentes à sua fiabilidade/precisão e validade com populações similares
àquelas que estão a ser avaliadas, considerando variáveis como idade, escolaridade, diversidades
funcionais e pertença a grupos socialmente minoritários.
A aplicação de provas e testes psicológicos não se limita à sua mera administração, cotação e
interpretação; os seus resultados são integrados num contexto mais amplo, visando atender a
objetivos específicos.
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
8. MODALIDADES DE INTERVENÇÃO
No contexto escolar, estas ferramentas têm o potencial de permitir aos psicólogos estabelecer
conexões mais dinâmicas, flexíveis e acessíveis com alunos, pais e profissionais de educação.
Por exemplo, simplificam a realização de reuniões e ações de consultoria com famílias e
docentes, minimizando constrangimentos de horário e distância geográfica. Esta adaptabilidade,
proporcionada pelas tecnologias, é essencial para garantir intervenções atempadas, adequadas
e eficazes, que atendam às necessidades de cada aluno e da comunidade escolar como um
todo. Tanto a avaliação quanto a intervenção psicológica à distância são sempre orientadas
por princípios e normas específicas do Código Deontológico dos Psicólogos Portugueses, cuja
consulta é recomendada.
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
9. OS PROFISSIONAIS
O conteúdo funcional dos psicólogos engloba o conteúdo transversal da carreira geral de técnico
superior, o qual consta do anexo à LTFP aprovada pela Lei n.º 35/2014, de 20 de junho, na redação
vigente, complementado com o conteúdo funcional associado às atribuições, competências ou
atividades que o mesmo vai desempenhar no respetivo posto de trabalho (cf. o disposto nos n.ºs
1 e 2 do artigo 29.º e n.º 2 do artigo 88.º da LTFP).
De forma a garantir a qualidade dos serviços prestados pelos/as psicólogos nas escolas, existe
um conjunto de condições que devem ser salvaguardadas:
• Espaço de trabalho com condições que garantam os princípios de qualidade, privacidade e
confidencialidade das intervenções;
• Condições técnicas/instrumentais necessárias para a avaliação e intervenção psicológica
incluindo testes, programas de intervenção, e outros materiais e ferramentas, nomeadamente
tecnológicas, como computador, acesso a internet e impressora;
• Facilitação do acesso a oportunidades de formação, desenvolvimento pessoal, profissional e
autocuidado, incluindo intervisão e supervisão profissional;
• Observância por parte dos órgãos de direção e gestão escolar dos limites da atuação dos
psicólogos, designadamente no que diz respeito ao seu conteúdo funcional e ao código
deontológico destes profissionais e respetivas implicações em termos de prática em contexto
escolar;
• Participação dos psicólogos nas estruturas da escola, tomando conhecimento das informações
e atividades desenvolvidas e participando ativamente na análise, reflexão e tomada de decisões
a nível organizacional;
• Reconhecimento e inclusão dos Serviços de Psicologia (ou serviços análogos), enquanto
estruturas autónomas, nos documentos estruturantes do estabelecimento de ensino;
• Favorecimento da continuidade das intervenções e das relações com a comunidade educativa;
• Definição no horário de trabalho do Serviço de Psicologia de tempos para o planeamento e
preparação de atividades, participação em reuniões e outras ações de suporte à intervenção
dos profissionais.
• Elaboração de Regimento Interno do Serviço de Psicologia e Orientação, a integrar no
Regulamento interno de acordo com a b) do art. 9º do dl Decreto-Lei n.º 75/2008 de 22 de
abril, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 224/2009, de 11 de setembro, e pelo
Decreto-Lei n.º 137/2012, de 2 de julho, onde fiquem as normas, regras e condições necessárias
para prover à sua organização interna de forma clara, concisa e objetiva e adequadas a cada
contexto específico de trabalho.
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
NOTAS FINAIS
O Referencial para a Intervenção dos Psicólogos da Educação constitui um documento enquadrador
da atividade dos psicólogos em contexto escolar e deve ser entendido como um conjunto de
orientações técnico-metodológicas de apoio à sua intervenção. Este documento será alvo de
reapreciação periódica de 3 em 3 anos, para análise e adequação da sua validade e propósitos.
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REFERENCIAL PARA A INTERVENÇÃO DOS PSICÓLOGOS EM CONTEXTO ESCOLAR
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