As Gêmeas Que Escondi Do Magnata - Marcelle Olive

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Capa: @libertydesigner_goldoficial
Recomendado para maiores de 18 anos.
AGE GAP + SECOND CHANCE + GRAVIDEZ INESPERADA + FOUND FAMILY +
REIJEITADA + BEBÊS FOFINHAS
Eros Dirksen
O momento mais triste de toda a minha vida foi quando o meu pai me abandonou aos
dezesseis anos de idade, para fugir com a sua amante, enquanto eu testemunhava a minha mãe
definhar até o seu último suspiro.
Descrente de romances e de qualquer sentimento que despertasse frio na barriga ou
acelerasse o meu coração, decidi me afundar na minha empresa de advocacia, fazendo do trabalho a
minha melhor companhia, até que um dia, Margarida, a minha governanta de longa data, precisou se
afastar por uma semana, me deixando à mercê de uma substituta, que decidiu estremecer com a
minha inabalável e solitária rotina.
Theresa Butler, vinte e um anos, e o seu sorriso infernalmente atraente, tiveram a audácia
de sequestrar a minha sanidade. Logo depois, ela desapareceu, e eu só a reencontrei dois anos mais
tarde, na praia, acompanhada por duas adoráveis bebês, que ela afirmava serem filhas de sua amiga.
Theresa Butler ainda não havia conhecido o meu lado mais amargo, para jogar
comigo daquela maneira infame. Ela iria me pagar por toda a sua mentira.

Theresa Butler
As coisas nunca foram fáceis para mim. Desesperada por um emprego e diante da
fragilidade da saúde de meu pai, acabei aceitando o posto de governanta na mansão de Eros Dirksen,
um advogado conhecido por sua estupidez e arrogância, além de sua reputação por defender
celebridades.
Estranhamente, ele me tratou feito uma princesa e eu acabei entregando àquele deus-grego, a
sua coroa de louros: a minha virgindade. Semanas depois, para o meu completo desespero, eu
descobri que estava grávida e, ainda, que Eros era noivo de uma morena que poderia muito bem
estampar capas de revista, o oposto da menina humilde e sem perspectivas que havia batido à sua
porta.
Dali para frente, tudo pareceu desmoronar, eu cheguei a cogitar desaparecer completamente
desse mundo, mas eu só não o fiz, pelo amor incondicional que eu nutria por Honey e Chloe.
Eros era um homem incapaz de perdoar, mas eu estava disposta a lutar bravamente pelo
apoio do pai de minhas filhas.
Mordi os nós dos dedos, tentando me concentrar na demanda que
parecia não ter fim. Li e reli os e-mails, verifiquei o celular e bebi um bom
gole de chá gelado, sentindo o meu dente trincar com a temperatura da
bebida.
Retirei a camisa, para depois deixá-la casualmente sobre a mesa de
trabalho. A sensação de frescor no meu corpo foi um breve alívio, mas não
o suficiente para dissipar toda a tensão terrível que eu sentia naquele
momento.
Ajustei o ar-condicionado para uma temperatura ainda mais baixa,
mas meu gesto foi interrompido, quando percebi a presença estática de
Margarida à porta do escritório.
Joguei o controle do ar sobre a mesa, cruzando os braços, para,
com apenas um olhar, inquirir a minha governanta. Ela estava com uma
mala na mão e aquilo prontamente me intrigou.
— Está de saída? Ainda são oito da noite. — a rispidez em minha
voz retirou um olhar surpreso de Margarida.
Eu costumava descontar injustamente na governanta, todo o
estresse acumulado do trabalho, mas, ao mesmo tempo, eu me sentia
aliviado por ela ser uma pessoa paciente, que relevava, na maioria das
vezes, todo o meu mau-humor.
A mulher então pigarreou desconcertada, antes de me responder:
— Dr. Dirksen, preciso ficar fora por três dias, para auxiliar o meu
pai no pós-cirúr...
— Sim, sim. É claro. Eu me lembrei agora. — murmurei,
retomando a minha posição na cadeira. — E obviamente já tem outra
governanta para vir no seu lugar.
Os meus olhos permaneceram fixos na tela do computador,
enquanto a voz cansada de Margarida alcançava meus ouvidos.
— Theresa Butler chegará ainda hoje. Ela é uma menina de ouro.
— Não me importa o nome dela agora, eu só preciso que ela
cumpra com o serviço corretamente e não traga mais problemas para a
minha vida. — voltei o meu olhar para a governanta. — Agora pode ir.
Tenho muito o que trabalhar esta noite.
Margarida amassou os lábios e girou em seus calcanhares, depois
bateu a porta, deixando apenas o seu perfume barato flutuando no ar.
Nas últimas semanas, nada estava sendo fácil para mim. As
demandas na minha empresa de advocacia cresciam como uma bola de neve
e, por mais que tentasse relaxar, os problemas sempre surgiam para me
perturbar.
Casos delicados de serem resolvidos, como auxiliar nas disputas de
guarda de crianças ou proteger a reputação de artistas famosos que não
queriam ter a imagem manchada na mídia, eram apenas um dos desafios
enfrentados.
Por isso, torcia para que a governanta substituta cumprisse com
maestria as suas responsabilidades, aliviando meu fardo, já que as milhares
de preocupações jamais dariam trégua.
Relaxei o corpo na cadeira, me perdendo nas demandas por horas a
fio. Estava sozinho e precisava usufruir dessa condição da melhor maneira
possível.
Aliás, a solidão sempre fez parte da minha vida. O meu pai havia
se divorciado da minha mãe quando eu tinha apenas dezesseis anos de
idade. A minha mãe, por sua vez, sempre apaixonada pelo homem que
nunca a valorizou, se afundou no álcool e, depressiva, acabou definhando
até seu último suspiro.
Obviamente, eu sentia rancor e aversão ao meu pai. Eu o culpava
pela morte de minha mãe. Desde quando ele deixou essa casa, naquela tarde
ensolarada de Verão, eu jurei a mim mesmo que nunca mais o procuraria.
Coube a mim, consolar a minha mãe, pois, naquele momento, ela tinha
apenas a mim e eu, a ela, e quando Sra. Vanessa Dirksen se foi, o trabalho
acabou se tornando prioridade na minha vida.
Passava das onze da noite, e o sono não chegava. Resolvi parar por
um instante e acender um charuto para clarear a mente.
A fumaça ondulava enquanto eu observava o jardim noturno
através da janela, o sabor amargo na boca me ajudava a relaxar junto ao
vento que soprava as folhas secas de uma árvore centenária, quando,
inesperadamente, a campainha ressoou, para interromper a minha paz.
— Merda, quem pode ser a essas horas? — resmunguei comigo
mesmo, abaixando intuitivamente a tela do notebook.
Ainda curioso, fiquei de pé, depois de repousar o charuto sobre o
cinzeiro, e caminhei até a porta.
Uma chuva fina começava a despencar do céu de São Francisco. O
que me restou foi puxar um pouco mais a cortina branca e olhar através da
janela, quando os meus olhos se encontraram com os de uma moça loira,
segurando uma bolsa na mão.
Uma visão fascinante para tão tarde da noite.
Sem compreender as intenções daquela bela moça, eu abri a porta,
curioso para descobrir o que aquela garota, vestida de maneira humilde,
queria comigo.
Ao abrir a porta, me deparei com a figura de uma moça muito
jovem e visivelmente frágil, cujos olhos azuis contrastavam com o breu
daquela noite chuvosa.
O sorriso tímido e sutilmente inocente me causava arrepios
inesperados pelo corpo.
— Boa noite, Dr. Dirksen. Sou Theresa Butler, a nova governanta.
— a loira me cumprimentou, desviando o olhar por um instante, antes de
encontrar novamente os meus olhos.
Eu jamais imaginei que ela viria tão tarde, se arriscando a essas
horas pelas ruas de São Francisco e, claro, o que mais me surpreendeu foi o
quanto aquela moça era bonita.
Raramente encontrava por aí uma beleza tão natural, sem
intervenções cirúrgicas ou artifícios. Theresa não usava sequer brincos ou
batom, mas ela era uma mulher que dificilmente passava despercebida.
Inclusive a presença dela trazia leveza àquela noite estressante.
Ainda mantendo a minha postura firme, estendi a mão para
cumprimentá-la.
— Boa noite, Theresa. Entre, por favor. — com um gesto, dei
passagem a ela. — Não precisava vir hoje, tão tarde. Sorte a sua que eu
estava em casa e não na empresa.
Observei a moça loira adentrar a casa e, por um breve momento,
me esqueci das pressões do trabalho e das preocupações.
Eu estava me sentindo tão sozinho, a ponto da presença de uma
simples e bela governanta já ser o suficiente para dissipar parte do meu
vazio.
Então, ao fechar a porta, Theresa se justificou:
— Peço desculpas por chegar a essas horas, senhor. — ela sorriu e
belos dentes se desenharam diante dos meus olhos. — A Margarida me
disse que deixaria o trabalho antes do horário e então eu fiquei preocupada,
se caso o senhor precisasse de alguma coisa, a quem iria recorrer, mas
também não imaginava que o ônibus fosse quebrar e eu chegaria tão tarde!
Espero não ter te acordado.
Percebi a sinceridade nas palavras de Theresa e neguei com a
cabeça à sua pergunta.
— Fique tranquila. Eu costumo dormir de madrugada, ou nem isso.
— ela arregalou os olhos, demonstrando preocupação. — E espero que
esteja pronta para assumir as responsabilidades que Margarida deixou. Você
realmente me parece uma menina de ouro.
A jovem assentiu com seriedade, mas sem disfarçar o rubor de suas
bochechas.
— Pode confiar em mim, Dr. Dirksen. — ela sorriu mais contida
dessa vez. Os cabelos levemente úmidos e o olhar seguro me perturbavam.
Desci os olhos para o colo alvo e percebi que mamilos túrgidos marcavam o
tecido leve do vestido. Mordi o lábio inferior, sem perceber. — Farei o meu
melhor para manter a ordem e a eficiência na sua casa. Eu já trabalhei, por
um tempo, na casa da família Parker, na rede de hotéis Ruiz e depois eu...
O brilho do cabelo loiro de Theresa sob a luz da sala, a maneira
como os olhos dela se iluminavam ao falar de suas experiências anteriores e
a leveza em seus movimentos enquanto ajustava a alça da mala no ombro,
tudo isso me fascinava.
Percebi que, por trás da minha postura firme, eu estava
genuinamente intrigado com a presença de Theresa.
Parecia que eu a conhecia de algum lugar, mas talvez a carência e
os momentos solitários que passava nessa casa me faziam imaginar coisas
sem sentido.
Ainda estávamos plantados no meio da sala. A bela moça falava
pelos cotovelos, enquanto eu desejava calar a sua boca com um beijo, que a
deixasse ainda mais úmida do que realmente estava.
— A Margarida é de minha confiança, — comuniquei, desviando
para o aparador. Então me servi de uísque, ao mesmo tempo em que falava.
— eu sabia que ela iria encontrar alguém à altura de minhas exigências.
Você me parece bastante competente.
Intrigada, ela me observou bebendo o destilado.
— Depois de eu me acomodar, eu posso servir alguma refeição, um
lanche ou o que preferir.
— Não se preocupe. O meu fígado é amigo íntimo de Johnnie
Walker.
Curiosamente os olhos de Theresa dançaram pelo meu corpo. As
suas pupilas intrusas se demoraram pelos meus músculos.
Senti o pau latejar, quando me dei conta de que estava, até agora,
seminu na frente de uma completa estranha... pois é, talvez fosse a força do
hábito.
— Eu estou à vontade, mas é a maneira que costumo ficar em casa.
— me justifiquei dando alguns passos em direção a ela, com a boca grudada
ao copo.
Me aproximei a ponto de sentir a respiração da garota tocar o meu
corpo.
— Não reparei.
Ela mentiu e eu sorri.
Os seus lábios vermelhos pareciam deliciosos e quentes, os olhos
azuis tão claros e levemente puxados eram infernalmente hipnotizantes.
— Bem, eu vou te mostrar o seu quarto. — depositei o copo vazio
sobre a mesa de centro e Theresa logo se incumbiu de recolhê-lo. — Espero
que encontre tudo do seu agrado. Se precisar de alguma coisa, estarei no
meu escritório.
Segurei no copo, querendo retirá-lo das mãos delicadas de Theresa.
Não era hora para isso. Agora, ela precisava tomar um banho e descansar,
mas a garota decidiu segurá-lo com ainda mais força.
Margarida me mataria se caso soubesse de minha empatia
exacerbada com a nova governanta.
— Eu só quero cumprir com as minhas obrigações, Dr. Dirksen. —
ela sorriu e soltou finalmente o copo e, desconcertada, ajeitou o decote do
vestido lilás, então percebi a maneira sensual como aquela peça desenhava
o corpo curvilíneo, talvez intocado, de Theresa. — E não se preocupe com
o horário, eu posso fazer panquecas, sanduíche ou uma salada de frutas.
Não é recomendável ficar bebendo álcool de estômago vazio.
Theresa concluiu com uma piscadela e, mais uma vez, ela me
retirou do eixo.
A sua inocência e simpatia me desestabilizavam. Ela não era como
as mulheres com as quais eu costumava me relacionar. Theresa não
precisava forçar nenhuma situação, a sua essência já era suficiente para eu
implorar por um beijo dela, e fazer muito mais que o corpo dela
reivindicasse.
— Eu estava pensando em te pedir uma ceia de Ação de Graças,
mas não vou fazer isso com você a essas horas. Parece exausta.
Theresa ergueu uma sobrancelha jocosa.
— Eu posso te surpreender, mesmo cansada.
Inferno! Eu me odiei quando decidi interpretar a fala da garota,
com segundas, terceiras e quartas intensões.
— Eu estava brincando. — cruzei os braços e ela baixou os olhos
para me observar. Ela voltou a traçar, com as pupilas, cada gomo de
músculos que conquistei arduamente na academia, até pausar no volume
talvez protuberante da calça de moletom. Aquele silêncio era perturbador
demais, pois, inevitavelmente, eu ouvia à sua respiração afetada. — Pode ir
para o seu quarto, relaxar um pouco. Margarida já deixou em ordem tudo o
que precisa.
Theresa, com um sorriso trêmulo, apertou a mala contra o corpo e
se dirigiu na direção da cozinha.
— Com licença.
— Theresa!
Ela pausou e depois virou na minha direção.
— Pois, não?
— O seu quarto fica à esquerda, no final daquele corredor. —
informei, apontando na direção do cômodo.
Ela concordou com as bochechas vermelhas e fez menção de se
afastar.
— Theresa.
— Sim, senhor. — ela se virou para mim outra vez, os cabelos
loiros pairando no ar.
— Você... você tem família, irmão, namorado? — questionei,
coçando a nuca.
Era estranho, pois eu tinha sensação de que a conhecia. Aqueles
belos olhos azuis eram extremamente familiares.
— Eu vivo apenas com o meu pai, do outro lado da cidade. — os
seus olhos brilharam mais do que o esperado. — A minha mãe me deixou
quando eu tinha apenas quatro anos de idade.
— Então não faz muito tempo. — brinquei, para atenuar a tensão,
pois logo percebi o constrangimento na voz de Thereza, o quanto aquele
assunto delicado poderia incomodá-la.
Para o meu alívio, ela voltou a sorrir.
— Eu tenho vinte anos, e uma vida sofrida nas costas.
Caralho. Ela era doze anos mais nova do que eu. Uma menina!
Mas por que eu me incomodava com isso agora? Eu tinha o
processo da família Clarck para resolver, as demandas dos Durant Chaput,
as merdas que a modelo Marry Beaufay havia cometido no seu casamento
falido...
Ao observar Theresa se retirar, me senti inevitavelmente dividido,
entre a seriedade que a minha função de empregador exigia e a inegável
atração que aquela governanta misteriosa despertava em mim.
Theresa Butler havia chegado à minha casa e, com ela, sensações
que eu ainda não conseguia decifrar.
Abri a porta de casa, me equilibrando com as pastas de processos,
e corri para jogá-las sobre a mesa do escritório.
Estranhamente não vi sequer rastros de Theresa por ali e imaginei
que ela pudesse estar descansando.
Sem querer perder tempo, logo me dirigi para o andar de cima, em
busca de um banho relaxante, já que muito trabalho me esperava, quando
entrei no quarto e acendi as luzes, encontrando a minha toalha dobrada
sobre a cama, num formato de cisne e meus óculos escuros estavam
encaixados nela, como se fossem acessórios daquele bicho.
Sorri, admirado.
— Eu aprendi a fazer essas esculturas de toalha quando trabalhei
no hotel Ruiz.
Sobressaltei com aquela voz doce adentrando o quarto.
Theresa estava recostada ao batente da porta, com os braços
cruzados, lindamente vestida no seu uniforme de governanta.
Umedeci os lábios, fascinado pela beleza daquela mulher e por
toda a inocência que me atraía como um maldito imã.
— Você me surpreende todos os dias. — confessei, acolhido por
aquele gesto e busquei outra toalha no armário, quando ela passou por mim.
— Não vou me importar se você desfizer a dobradura.
Prontamente, Theresa me entregou os óculos escuros e, em apenas
um gesto, desfez o cisne, para me oferecer a toalha.
Sorri da espontaneidade da garota.
— Você é sempre assim? Prática?
Theresa se aproximou ainda mais e fiquei hipnotizado com seus
lábios carnudos e bem-desenhados.
Os olhos azuis eram seguros demais para uma garota tão jovem
como ela.
Enquanto os meus olhos percorriam o rosto de Theresa, eu não
conseguia deixar de admirar como as sardas ressaltavam a sua expressão,
adicionando um charme único a cada traço
Então peguei a toalha de sua mão, enquanto ela falava.
— Sempre tentei ser prática. A vida me ensinou a ser assim. Não
há tempo para complicações quando se tem boletos a pagar. A praticidade
se torna uma necessidade, não apenas uma escolha.
Observei o corpo de Theresa e fatalmente me vi pensando em
outras maneiras dela me agradar.
— O que vai fazer depois que acabar o seu prazo como a minha
governanta? — perguntei, desfazendo o nó da gravata.
Estranhamente saber que Theresa não ficaria de maneira definitiva
em minha casa, me incomodava.
E curioso que eu já estava me acostumando com o jeito autêntico
dela que, muitas das vezes, aliviava as minhas tensões.
No entanto, eu sentia, ao mesmo tempo, urgência em afastá-la, pois
era um tremendo sacrifício represar todo o tesão que eu sentia por aquela
simples garota.
— Eu vou procurar o que fazer, quando deixar a sua casa. — ela
baixou os olhos, pensativa. — Trabalho não falta e, modéstia à parte, com a
minha dedicação, eu acredito que sou capaz de enfrentar qualquer desafio.
— afirmou com resiliência e obviamente eu tive que concordar.
— Realmente, você é uma excelente profissional. Inclusive,
quando eu tiver qualquer oportunidade, eu vou te indicar para os meus
amigos.
Theresa abriu um largo sorriso.
— Uau, isso é maravilhoso. Obrigada, Dr. Dirksen. — ela me
abraçou tão espontaneamente, que aquele gesto me desconcertou. Eu apenas
senti os seus belos seios tocando o meu corpo. — Agora, eu vou tomar um
banho. A sua sopa já está pronta. Quando quiser, é só me chamar.
A governanta se afastou, enquanto eu fiquei paralisado,
desnorteado.
Por que merdas ela me fascinava tanto?
— Obrigado, Theresa.
Ouvi os passos da garota deixando o corredor e descendo as
escadas.
Então larguei a toalha sobre a cama e me sentei sobre o colchão,
mordendo os nós dos dedos, aflito.
O que Theresa estava fazendo comigo? Eu poderia ter a mulher
que quisesse aos meus pés, mas por que, infernos, eu teria que me ver
abalado diante de uma menina de vinte anos, sem nenhuma perspectiva de
vida?
Felizmente eu tinha todas as respostas, Theresa era frágil, mas ao
mesmo tempo decidida e resiliente. Eu sentia vontade de protegê-la e
também de me inspirar no seu jeito único.
A beleza dela gritava diante de meus olhos e me deixava abismado.
Ela era gentil, doce e carinhosa, e não estava agindo dessa maneira comigo
só porque eu era o seu patrão, ela era assim de maneira genuína.
— Por que estou pensando nisso? Devo estar muito carente! —
resmunguei comigo mesmo e fiquei de pé.
Depois retirei o paletó do terno e desabotoei a camisa, e quando
estava prestes a retirar o cinto, me lembrei que Theresa já deveria estar no
banho.
A minha boca ressecou.
Desci até o andar de baixo, decidido a pegar um copo de água,
mas, involuntariamente, os meus passos me guiaram para o quarto de
Theresa.
Atravessei desconfiado o corredor, até encontrar a luz que
perpassava a porta entreaberta, marcando o carpete do corredor semi-
iluminado.
E foi por aquela fresta que resolvi intrometer os meus olhos, como
um adolescente irresponsável e imaturo.
Eu sabia que estava errado, a minha atitude não combinava com a
postura íntegra de um dos mais renomados advogados de toda a América,
mas os meus instintos me traíam e me tentavam, como se fosse vital
cometer aquele deslize.
Toquei levemente a superfície de madeira com a ponta dos dedos,
quando o meu coração disparou, prestes a sair pela boca.
Theresa estava enxugando o corpo e os cabelos, certamente havia
acabado de sair do banho, então perdi o ar quando a vi deslizar a toalha
pelos seios protuberantes.
— Ela é a minha governanta. Ela é a minha governanta. — repetia,
em sussurro, como um maldito mantra, como se fosse possível frear os
meus instintos.
E me dei conta que estava em maus lençóis, quando Theresa
colocou uma das pernas sobre a cama e, completamente pelada, pegou o
hidratante sobre o edredom, deslizando as mãos pela pele alva, as coxas e a
barriga chapada, e o cheiro de lavanda imediatamente penetrou as minhas
narinas, me fazendo suspirar inebriado.
O meu pau já estava melado, lambuzando toda a calça, quando a
garota passou as mãos de hidratante pelos seios delicados, demorando-se
em apertar os seus mamilos e, acalentada, fechou os olhos.
Caralho!
Subi os olhos pela bunda redondinha, a cintura fina, os cabelos de
boneca que plainavam pelas costas brancas e certamente perfumadas.
Agora, ela pegava um uniforme limpo no armário, e no momento
em que o jogou sobre a cama, eu pude ver novamente os seios deliciosos e
rosados, firmes, prontos para serem chupados.
Instintivamente o meu pau latejou, já o senti enrijecido dentro da
calça prestes a furá-la, tamanho desejo.
Mordi o lábio inferior, enquanto tentava me segurar por de trás
daquela porta, para não abordar Theresa peladinha e comê-la,
deliciosamente.
Massageei o pau, observando Theresa caminhar até a frente do
espelho e, pelo reflexo, vi os lábios vermelhos entreabertos, apetitosos, os
quais deveriam ser deliciosos de lamber.
Suspirei descendo os olhos para a boceta depiladinha, parecia uma
joia rara, intocada, deliciosa... engoli as salivas da minha boca e segurei no
pau ereto, pronto para Theresa.
De repente, ela se moveu até a cama e se sentou em frente ao
espelho, com uma calcinha pequena na mão.
Os meus olhos não acreditaram quando flagraram Theresa abrindo
as pernas, deixando toda a bocetinha à mostra.
Suspirei, insaciado, assim que ela subiu delicadamente a lingerie
pelas pernas, mordendo de maneira charmosa os lábios.
Enxuguei o suor de minha testa com o dorso, tamanho tesão que
me absorvia as células.
Então ela vestiu a calcinha pequena e ficou por segundos se
olhando no espelho, ajustando a renda branca no meio da bunda farta.
Estoquei o pau na mão, uma, duas, três vezes, enquanto eu me
deliciava com a cena de Theresa, apenas de calcinha, desfilando pelo seu
quarto.
Os seios duros e empinados sobrepunham a barriga chapada que
exibia o umbigo pequeno, sem falar nas coxas grossas e torneadas.
— Gostosa pra caralho. — sussurrei, rendido.
Depois ela pegou o pente sobre a cômoda e penteou o volume de
cabelos loiros, a cada movimento, a sua bunda gostosa se movia, e isso me
enlouquecia.
A cinturinha fina, as nádegas empinadas, e eu já estava pronto para
meter o pau duro naquela delícia.
Eu não podia acreditar, no quanto Theresa era perfeita nua. Eu juro
que nunca havia visto mulher tão natural e bela nas suas curvas.
De repente, ela desfilou até a janela, para apreciar a paisagem, a
bunda gostosa no fio-dental se destacava.
Imediatamente coloquei o pau duro para fora e segurei na cabeça,
experimentando toda a ereção que a governanta me provocava.
Subi e desci a pele num movimento gostoso, sentindo que estava
prestes a gozar.
Então vi Theresa deitar de bruços sobre a cama, com o celular nas
mãos. Os pezinhos delicados para cima, e a sua bunda preenchia todo o meu
campo de visão. Redonda, apetitosa, porra, uma delícia. Masturbei o pau
mais um pouco, me dando conta que nunca estive tão excitado!
O relevo do corpo dela era perfeito, as curvas bem desenhadas me
convidavam a encaixar a minha estrutura sobre a dela, socando o pau até
que lhe faltasse ar.
A minha vontade no momento era de abrir a porta e possuir aquela
mulher, até que ela implorasse para eu parar de rasgar a sua boceta.
Eu iria fodê-la com tanta gana que Theresa iria enterrar as unhas
nas minhas costas até sangrar a minha pele.
Eu iria massagear o seu clitóris intocado com meu pau, apenas para
vê-la epilética sob o domínio do meu corpo.
Projetei o caralho na mão mais um pouco, sentindo os meus dedos
exageradamente melados.
Theresa girou sobre a cama e os seios fitaram o teto, ela flexionou
as pernas, ainda entretida com o celular.
Eu me vi dentro das coxas dela, chupando cada lábio de sua
boceta, depois subindo para os mamilos túrgidos para acariciá-los e
mordiscá-los até ela gemer de dor.
As coxas grossas abertas eram um convite, então pulsei mais um
pouco o pau, sentindo as veias marcando a minha ereção.
Estoquei uma, duas, três vezes sem desviar dos seios deliciosos e
do sorriso ingênuo que se desenhava na boca carnuda...
Theresa tinha a mim nas mãos. Estava completamente louco por
aquela mulher. O que ela estava fazendo comigo? Que menina gostosa! O
meu corpo clamava por Theresa, cada célula do meu corpo só inflamava em
função dela.
Estava pateticamente rendido.
Joguei as costas contra a parede, fechei os olhos e terminei a minha
empreitada.
O gozo feio fácil, pulsei o pau e o esperma jorrou sobre o chão
acarpetado, rompendo todo os desejos na minha mão.
— Theresa, Theresa... — sussurrei, enlouquecido e fechei o zíper,
saindo na direção da cozinha, tentando, inutilmente, acalmar os meus
ânimos.
A minha mão alcançou imediatamente a geladeira. Peguei o suco
de maçã e bebi litros na própria jarra de cristal.
Aquela mulher estava a fim de me incendiar, me deixar caído aos
seus pés!
Louco, um irresponsável, isso o que eu havia me tornado, por
causa de Theresa Butler!
Cheguei esbaforido no quarto e adentrei imediatamente o banheiro,
me surpreendendo com o meu pijama dobrado na borda da banheira e as
espumas me convidando a relaxar lá dentro.
Caralho, fazia anos que eu não relaxava na banheira. Sempre
esquecia de pedir à Margarida para que a preparasse, focado apenas na pilha
interminável de demandas, nem me lembrava que eu poderia me render a
certos luxos.
Agora, não poderia ser mais perfeito, Theresa havia pensado em
tudo.
Havia chegado exausto do trabalho e merecia aquele descanso,
sobretudo, agora, quando eu sentia uma tensão sexual absurda, absorver
dolorosamente todas as células do meu corpo.
— Theresa... minha deliciosa Theresa... — murmurei, fechando os
olhos, já submergido naquela camada efêmera.
Em seguida, acendi um charuto, imaginando se seria possível, um
dia, ter uma garota feito Theresa nos meus braços.
No entanto, ela merecia alguém muito mais digno do que eu.
Eros Dirksen. Esse nome pulsava na minha mente e no meu
coração, todas as vezes que eu fechava os olhos para dormir.
Não era apenas o nome daquele lindo advogado que me
desestabilizava, mas também a voz grave, o olhar pungente que me
queimava inteira, o corpo esbelto e constantemente perfumado, toda a
gentileza e atenção que ele tinha comigo.
Isso só me levava à conclusão de que eu estava irremediavelmente
encantada por um homem que nunca poderia ser meu.
Infelizmente, hoje seria o meu último dia na mansão de Dirksen.
Margarida estaria de volta em breve e eu, mais uma vez desempregada,
apenas sobrevivendo dos trabalhos eventuais em festas ou faxinas.
As coisas nunca foram fáceis para mim.
O meu pai trabalhava, há anos, como repositor de alimentos em um
supermercado, inclusive já tentou algumas vezes uma vaga lá, para mim,
mas nunca tive sorte de conseguir, por ser nova demais e sem qualquer
experiência na área, nunca cogitaram me contratar.
Dobrei a última peça de roupa de Eros e deixei numa das
prateleiras do closet.
O perfume daquele homem me invadia as narinas de uma maneira
avassaladora, parecia uma espécie de elixir que me enfeitiçava.
O bom gosto de Eros Dirksen, também chamava a minha atenção,
os tons de sua roupa que se restringiam em sua maioria ao preto, branco e
cinza, os sapatos sempre bonitos e sem marcas de uso, porque, obviamente,
ele tinha milhares deles; as gravatas de grife cheias de nuances, charmosas e
perfumadas.
Abri a gaveta de cuecas e segurei numa delas, confesso que estava
tentada a levar uma comigo, apenas como lembrança do pedaço-de-mau-
caminho que era aquele advogado, da química louca que compartilhávamos
juntos, mas eu não seria tão ousada a esse ponto.
Admito, ainda, que era tão surreal seduzir alguém influente como o
poderoso advogado Eros Dirksen!
— Theresa, se coloque no seu lugar. — aconselhei a mim mesma,
mas o meu coração não me deu ouvidos.
A peça íntima ainda pendia entre meus dedos, e quando me dei
conta, já inspirava o perfume amadeirado do tecido de algodão. Inclusive,
era o mais perto que eu havia chegado da intimidade dele.
Suspirei e o meu coração disparou.
Eros era tão gentil comigo, completamente diferente do que
Margarida havia me descrito.
Ele nunca havia me desrespeitado ou sido ríspido, sempre
atencioso, queria o meu melhor nesta casa.
— Theresa.
Dei um pulo no meio do closet, a ponto de jogar a cueca na gaveta
e fechá-la junto aos meus dedos.
— Droga!
Esfregava a mão, a dor insuportável se acumulando na ponta das
unhas, quando senti um toque reconfortante em meus ombros.
— Você se machucou? — a voz deliciosamente grave penetrou os
meus ouvidos.
Umedeci os lábios, controlando os arrepios pelo corpo.
— Quase quebrei os meus dedos. Por um instante pensei que
fossem de borracha. — murmurei, volvendo o meu corpo na direção de
Eros Dirksen.
Ele havia acabado de chegar da empresa e, naquele terno preto
elegante, ele se confundia facilmente com um galã de cinema ou modelo de
grife famosa.
Suspirei sem me dar conta.
— A culpa foi toda minha. Eu te assustei.
Estávamos muitos próximos, as mãos dele ainda em meus ombros,
os meus dedos ainda ardiam nas suas pontas.
— Naquele dia que eu cheguei no seu quarto, para deixar um
sanduíche, você também se assustou e correu para se envolver em um
lençol. Parece que me deu o troco agora.
Eros sorriu lindamente. O semblante sério de um advogado de
respeito se desmanchava diante das besteiras que eu costumava dizer.
— Eu estava pelado. — os meus pensamentos voaram. — Eu
nunca te desrespeitaria, Theresa. Você é tão inocente, pura, uma menina
virgem...
— Virgem?
Sorri, envergonhada, e me afastei, voltando a dobrar as peças de
roupa.
— Não deveria estar falando de assunto tão íntimo com você. —
ele se recriminou, constrangido. — Desculpa por ser tão invasivo e babaca.
— Sim, eu sou virgem, Dr. Dirksen. — confessei, sentindo o
coração na boca, e depois me virei para ele. Eros estava boquiaberto como
se realmente estivesse surpreso. — E admito que nunca me senti tão à
vontade na presença de nenhum homem. Você me acolheu tão bem na sua
casa. — caminhei lentamente na direção dele, enquanto ele me dirigia um
olhar cheio de fascínio. Talvez eu estivesse imaginando coisas. — Esperava
encontrar um patrão prepotente, que me humilhasse e me tratasse como se
eu fosse invisível, mas, no lugar disso, me deparei com um homem gentil e
muito atencioso. Nunca vou me esquecer de quando eu me queimei com o
chá...
— Maldito chá.
— E você me trouxe diretamente para o seu quarto e passou
pomada na minha mão, e exigiu que eu ficasse descansando o dia inteiro. —
os meus olhos brilhavam, eu estava realmente emocionada, pois nunca
havia sido valorizada por ninguém. — Eu nunca esperaria isso de um
homem poderoso feito você. A sua humildade me constrangeu naquele dia.
De repente, Eros segurou nas minhas mãos e aquele gesto me
pegou de surpresa.
As mãos brutas e quentes, que exibiam charmosos anéis prateados,
me tocavam como se quisessem romper qualquer tipo de barreira que
pudesse impedir a nossa intimidade.
— Mas quando eu voltei do trabalho, você estava fazendo aquelas
panquecas deliciosas com geleia de frutas vermelhas que eu adoro. A
sensação que eu tenho, é que eu comi a sua geleia, a minha infância inteira!
Curioso como me despertou uma memória afetiva inexplicável.
Sorri, envaidecida.
— Eu prometo que vou passar a receita à Margarida.
De repente, as mãos de Eros desviaram para o meu rosto. Senti as
pernas bambas ao perceber o olhar dele dentro do meu, a respiração que
acariciava a minha pele.
— Como eu vou conseguir viver sem os seus cuidados no final da
tarde, a sua preocupação comigo, Theresa? O seu jeito leve que sempre
dissipou todo tipo de tensão que eu trago do trabalho.
Era impossível ouvir palavras tão fortes e não me derreter.
O corpo de Eros pendia contra o meu, a minha boca entreaberta
salivava em busca da dele, o meu coração descompassava a ponto do
sangue não chegar nas minhas extremidades.
— Eu também vou sentir tanto a sua falta, Eros. — confessei,
trêmula.
— Você me chamou de Eros?
Os olhos dele surpresos também me inquiriram.
— Desculpa, senhor. — desviei, completamente desconcertada,
antes que eu pudesse estragar tudo! — Eu preciso terminar de organizar as
suas roupas, para depois partir.
— Theresa. — ele segurou no meu braço e me puxou. Trombei
contra a sua estrutura, repousando as mãos no peitoral rígido, a gravata
pendendo entre meus dedos. — Você não imagina o quanto me machuca
saber que você vai embora. Uma mulher tão atraente, cuidando de mim sem
interesses, acabou me despertando coisas que não consigo expressar.
Ele me deu as costas, passando a mão pelos cabelos, a respiração
ofegante marcava o seu corpo.
Inevitavelmente, eu entendia tudo o que Eros dizia, pois acontecia
o mesmo comigo.
— Dr. Dirksen...
— Melhor você arrumar a sua mala, Theresa. Eu estou
confundindo tudo. Você foi contratada para trabalhar na minha casa e eu
não posso me iludir que você esteja aqui para cuidar de mim ou trazer o
conforto de ter uma companhia. Eu sempre fui sozinho e preciso me
acostumar com essa condição. — despejou para mim, olhando através da
janela do quarto, com as mãos nos bolsos. Visivelmente, ele não tinha
coragem de me encarar. — E pode deixar que eu termino de arrumar as
roupas no closet.
Engoli em seco, sem saber o que se passava agora no coração de
Eros Dirksen.
Talvez ele quisesse passar por cima da atração avassaladora que
roubava irreversivelmente nosso discernimento, porque, oras, ele jamais
cederia aos seus instintos para beijar uma garota feito eu.
— Eu vou cumprir com as minhas obrigações antes de ir embora,
Dr. Dirksen. Não quero deixar nenhuma ponta solta. — então ele se virou
para mim, penteando o cabelo com os dedos. — Do que está rindo? —
perguntei.
Ele caminhou e se sentou sobre a cama, debruçando em seus
joelhos.
— Deixa pra lá. Existem pendências que nunca poderão ser
resolvidas. — concluiu, com o olhar fixo no meu.
Eu fiquei ainda mais confusa com a falta de clareza na fala de
Eros, então logo me aproximei, quando ele segurou imediatamente nas
minhas mãos.
— Eu posso ajudar de alguma maneira? — perguntei. — Se estiver
no meu alcance, eu prometo fazer de tudo para resolver qualquer pendência.
Sem que eu pudesse imaginar, ele me puxou de maneira abrupta
contra o seu corpo.
Instintivamente segurei nos seus ombros, sentindo as mãos quentes
repousadas sobre meus quadris.
Estava tensa por não saber o que poderia acontecer.
— Não, você não pode me ajudar agora, Theresa. Você jamais
beijaria um cara feito eu. Mulherengo, arrogante, solitário e cheio de
manias.
Revirei os olhos, sorrindo.
— E que não sabe cozinhar.
Eros ficou de pé, exibindo toda a sua estrutura imponente.
A sua mão entrelaçou nos cabelos de minha nuca. Senti um arrepio
tão forte tomar conta do meu corpo, que a minha pressão oscilou.
— Eu realmente não mereço te beijar. — ele me falou, com
sensualidade e um pouco de carência. — Você não pode ser tratada como
mais uma. Você é tão autêntica, tão única.
Depois roçou o nariz reto no meu, contornando a minha boca sem
tocá-la. O meu coração insistia em travar a garganta.
— Você me deixou sem palavras quando eu te vi pela primeira vez,
— confessei, partindo as sílabas. — parecia que você havia roubado todo o
oxigênio dos meus pulmões, Dr. Dirksen. E se você soubesse cozinhar,
certamente mereceria ser detido, por reunir tantos predicados e não deixar
nenhum homem chegar aos seus pés.
Ele sorriu na minha boca e, inevitavelmente, senti o seu membro
crescer bem próximo ao meu corpo.
As minhas mãos suaram.
— Eu prometo que vou aprender a cozinhar.
— Antes disso, me beija então? — pedi, entendendo que não
poderia fazer diferente.
Era tentador demais estar ali, naquela condição, sem beijar Eros
Dirksen.
Então senti as mãos brutas envolvendo deliciosamente o meu
pescoço, ele me olhou intensamente nos olhos e lábios, parecendo que
estava tomando fôlego para me dar o beijo que prometia.
Quando fechei os olhos, senti nossas bocas se unindo de uma
maneira rude e ao mesmo tempo suave, as nossas línguas se colidiam e se
acariciavam como numa disputa louca de prazer.
As mordidas imorais nos meus lábios e a mão que descia para a
minha cintura num afago intenso, fazia o meu corpo levitar.
Eu estava vivendo o sonho que sempre tive todas as noites.
Os meus quadris queimaram quando Eros os amassou sob o
uniforme de governanta, enquanto eu descia as unhas pelo paletó de seu
terno preto, inspirando o perfume que me impulsionava ainda mais a
possuí-lo.
Estava completamente entregue e temia estar exageradamente
vulnerável, presa àquela estrutura musculosa que poderia me levar a
momentos nunca antes visitados.
Suspirei, quando Eros afagou as minhas costas, para me guiar no
meio de seus braços, na direção de sua cama King, quando de repente ele
pausou, interrompendo os beijos, para me olhar profundamente nos olhos.
— Quer continuar?
Recuperei rapidamente o fôlego, para conseguir falar.
— Eu morreria de arrependimento se não continuasse.
Mesmo temendo ser mais uma na cama de Eros, escrava daquele
corpo gostoso, eu me questionava, como poderia interromper momento tão
único, algo com que mais sonhei?
Seria cruel demais comigo, que já estava acostumada a receber
apenas migalhas da vida.
Eu não tinha dúvidas do que eu queria. Viver aquela experiência
com Eros Dirksen era como se eu estivesse imersa em um mundo paralelo.
Eros abaixou as suas calças e retirou o paletó, para depois
desabotoar a camisa. Umedeci os lábios, ansiosa, em chamas, desfazendo o
coque de governanta.
Nesse ínterim já estava deitada sobre a cama, observando o corpo
esculpido e banhado pelo sol, debruçar lentamente sobre o meu.
Ofeguei diversas vezes ao contemplar beleza tão única, os lábios
inchados dos meus beijos, os desejos gritando em seus olhos, o leve brilho
do suor de sua pele, deixando Eros ainda mais digno de seu posto de deus-
grego.
Abri instintivamente as pernas e ele sorriu torto com aquele
convite, para depois deslizar as unhas curtas por minhas coxas.
E ao segurar nas laterais de minha calcinha vermelha e pequena,
ele a abaixou, para depois inspirar o meu perfume cru no tecido, antes de se
livrar de minha peça íntima, guardando-a no bolso.
Dei um breve gemido, quando ele me segurou pela cintura e, em
apenas um gesto, me virou de bruços. Logo senti o zíper do uniforme se
abrindo.
Os meus dedos se misturavam ao lençol egípcio ao sentir beijos
molhados por minhas costas, conforme eu ficava nua para ele.
— Está com os seios livres?
— Eu odeio sutiã.
Então a voz dele se aproximou do meu ouvido.
— Você vai me odiar se eu te disser, que percebi isso desde o
primeiro dia?
Sorri, completamente excitada.
As mãos de Eros massageavam as minhas costas, arranhavam com
delicadeza cada ponto de minha pele, me causando arrepios inéditos por
todo o corpo.
Ele me relaxava e me provocava, como se me preparasse com
cuidado, para um dos momentos mais especiais de toda a minha vida.
Depois ele desceu as carícias até a minha bunda, apertando,
espaçando-a, conforme eu sentia a minha intimidade ainda mais melada.
Revirei os olhos, anestesiada. Eu não estava sonhando e precisava
pelo menos respirar.
As mãos brutas amassavam as minhas carnes, enquanto eu ouvia à
respiração ofegante de meu deus-grego.
— Gostosa, quero enterrar em você, Theresa. — o seu pênis
brincou no início de minha cavidade, a ponto de eu sentir o quanto ele
estava molhado. — E colocar para fora tudo o que represei nesses dias. —
ele confessou, rebolando por cima de mim.
Amassei os travesseiros, ansiosa, lambendo praticamente a fronha.
— Eros... por favor... não se esqueça de que sou virgem.
O belo homem então me virou sob o seu corpo.
Quando me dei conta, a imagem extremamente perfeita de Eros
Dirksen estava sobre mim.
Era uma espécie de miragem.
Ele era a personificação da beleza e sensualidade. Nem sei como
eu ainda conseguia manter a consciência intacta...
— Está com medo?
— Claro que estou, eu faço ideia do que você é capaz. — deslizei a
unha pelos gomos do V que sobrepunha o membro delicioso. — É
competente em tudo o que faz, sem falar em toda a sua experiência.
Eros então traçou uma linha com a língua em seus lábios, como se
estivesse se sentindo desafiado.
O pênis extra G pendia à minha frente, a glande levemente úmida
pelo pré-gozo, estranhamente, me fez salivar.
Uma mancha, que parecia de nascença, cobria a lateral de sua
costela, deixando aquele corpo ainda mais charmoso.
Apesar de sempre imaginar como ele deveria ser delicioso
naquelas condições, eu não fazia ideia do quanto eu desejava aquele
homem.
Ele era tudo o que sempre sonhei.
Eros avançou sobre o meu corpo e sugou o bico rosado de meu
seio, os meus braços arrepiaram, as minhas unhas cravadas nos seus
cabelos, enquanto ele já encontrava a minha fenda molhada.
Ele afastou os lábios e numa destreza impecável, tocou o clitóris,
dedilhando-o de cima para baixo, em círculos, esfregando, esfregando...
Resfoleguei, em meio a gemidos, e dei um gritinho breve, com a
masturbação deliciosa no ponto mais sensível de meu corpo.
— Isso é... tão bom... — gemi, me contorcendo de tesão.
Ele sorriu com a boca em minha auréola e depois desceu os beijos
pela minha barriga, até deixar uma chupada imoral na minha coxa, sem
parar um minuto sequer de me estimular.
Busquei ar, apertando os olhos.
Eu precisava de muito mais, meu corpo clamava por mais, mas eu
nem sabia ao certo o que os meus instintos reivindicavam!
Eu estava nas mãos de Eros Dirksen e disposta a qualquer loucura
que ele propusesse.
Os seus lábios então desceram para o meu sexo e ele encaixou as
minhas pernas ao redor do seu pescoço.
— Você já gozou alguma vez na vida? — foi a pergunta que ele me
fez, naquela posição sugestiva.
— A vida que costuma gozar da minha cara de vez em quando.
Ele sorriu e jogou os meus braços para trás, unindo as nossas mãos
e, relaxada, senti o toque suave de seus beijos no meu sexo.
Eros era perfeito em tudo o que fazia.
Cravei os dentes no lábio, prestes a sangrá-lo, quando ele levou a
língua à minha cavidade e chupou a minha excitação.
Tentava fechar as pernas, mas ele as abria com brutalidade
A sensação era tão boa que o meu corpo agia sem que eu
permitisse.
— Apertada.
Gemi mais alto do que calculei, principalmente quando ele subiu
com beijos pelos lábios, até encontrar o clitóris e chupar mais uma vez o
meu nervinho enrijecido.
— Eros, não! — vociferei, pendendo a cabeça para trás, me
afundando nos travesseiros, ao mesmo tempo em que puxava os cabelos de
Dr. Dirksen no meio de minhas pernas.
— Esse seu sabor, Theresa...
O seu polegar deslizava suavemente pelo meu clitóris. Arqueei o
corpo, implorando por mais.
— Por favor, Dr. Dirksen, não para...
— Você gostou, né?
Me deliciava com a língua desferindo golpes em meu sexo, era
uma sensação tão surreal que ficava difícil expor em palavras. Apenas
retribuía Eros com gemidos e reboladas aleatórias.
Projetava minha pélvis contra sua boca, e o tesão incendiava
gradativamente cada célula de meu corpo, cada vez mais... e mais...
Aonde isso tudo ia parar?
Em segundos, uma eletricidade insana atingiu os meus nervos.
Chicoteei o corpo contra Eros, buscando desesperadamente por ar, pois a
ebulição de gemidos e prazer sufocava a minha garganta.
Não tinha mais controle de meu corpo, tudo que eu sentia era uma
carga descomunal de sensações a ponto de meus olhos formigarem.
Eros sorria vitorioso, envolvendo o meu rosto em suas mãos,
observando o orgasmo que me consumia.
— Quer respirar? — ele me perguntou, observando meu rosto
afetado, certamente vermelho.
— Não, eu não quero parar. — confessei na sua boca.
Eros me avaliou com intensidade, da mesma maneira quando me
viu pela primeira vez, e depois depositou as mãos nas minhas costas,
elevando o meu corpo na sua direção.
— Fica de quatro para mim, enquanto coloco a camisinha?
Gemi e, obediente, me ajeitei na posição que ele havia sugerido e,
de quatro, observava as costas largas, musculosas e suadas de meu deus-
grego enquanto ele plastificava o seu pau.
— Espero que esteja pronta. Eu já estou querendo isso, desde
quando cruzou a minha porta. — ele me confessou com a voz rouca e
sensual, a ponto de meus sentidos falharem.
Estava extremamente ansiosa por aquele momento.
— Eros, estou pronta para você.
Ele sorriu e desferiu um tapa na minha bunda, a ponto de uma
ardência deliciosa cobrir gradativamente a minha pele.
Choraminguei, quando ele segurou com certa brutalidade nos meus
quadris e, em segundos, o pau extra G se enterrava em mim, retirando um
forte gemido pelo intervalo de meus lábios.
A ardência deliciosa do hímen rompido se confundia com dor e
prazer.
As mãos experientes amassavam meus mamilos, enquanto um
beijo molhado e aconchegante cobria as minhas costas suadas.
Os golpes atingiam uma cadência perfeita e nossos corpos se
complementavam, embalados pelo ritmo louco ditado pelos nossos desejos.
— Ai, meu Deus! — gritei, quando ele atingiu o ponto exato do
meu prazer.
— Fala que quer mais, garotinha! — rosnou e mordeu o meu
ombro.
— Eu quero mais, Doutor Eros Dirksen.
O homem segurou nos meus cabelos e me invadiu, ainda mais,
com golpes perturbadores.
Ele estocou uma, duas, milhares de vezes, num ritmo
extremamente acelerado.
Os meus seios balançavam naquele vai-e-vem elétrico, a mão de
Eros deslizava de minha cintura para o meu clitóris, enquanto a outra
amassava o meu seio. E, assim, ele me preencheu completamente.
Dr. Dirksen me dominava com aqueles golpes, rompendo qualquer
fio de virgindade que ainda poderia existir em mim.
Ali, ele entrava definitivamente para a história da minha vida.
— Eros, Eros... Não...
Tremores me atingiram a alma, rasguei uma das fronhas com as
unhas, enquanto o orgasmo se transformava em um gemido oscilante. Os
suspiros me ajudavam a não desfalecer.
Eros também atingia o ápice, deixando palavrões escaparem por
sua boca.
— Caralho, Theresa. Que foda. Caralho.
Em seguida, ele caiu sobre a cama, e me chamou para o seu corpo
perfumado e levemente suado.
Satisfeita e claramente exausta, eu me aninhei àqueles músculos,
inspirando o perfume característico daquele corpo bronzeado. Fechei os
olhos, e minha mente custou sintonizar com a realidade.
— Não sei se foi o que você imaginava. — ele me despertou com
essa afirmativa um tanto quanto modesta.
Sorri, encontrando os seus olhos negros.
— Foi o momento mais maravilhoso de toda a minha vida.
Eros me avaliou por segundos e depois ajeitou uma mecha atrás de
minha orelha.
— Você não merecia menos que isso, Theresa. Mas espero que
compreenda que...
— Sim, eu já sei o que vai dizer. Não quer compromissos e que
não preciso sonhar com um.
Ele sorriu, fazendo um cafuné no alto de minha cabeça.
— Você é sempre direta assim?
— Só quando eu preciso ser. — então me sentei sobre a cama,
puxando o lençol na direção do meu corpo. — Não precisa ficar grilado, eu
já vou terminar o trabalho e ir embora.
Fiz menção de sair da cama, mas ele logo me impediu, ao segurar
de maneira incisiva no meu braço.
— Eu te levo em casa.
O rosto de Eros ainda estava afetado pela carga de desejos que nos
consumiu. Despenteado, ele era ainda mais lindo.
— Não precisa se preocupar comigo, eu prefiro ir embora sozinha,
relembrando e revivendo cada segundo nosso aqui nesse quarto.
Ele beliscou o meu queixo.
— Eu nunca vou te esquecer.
— Para, Dr. Dirksen. — sorri encabulada, e logo fiquei de pé para
catar a minha calcinha no bolso do cafajeste e, também, o meu uniforme.
— Eu nunca fui tão sincero em toda a minha vida. — pausei, de
costas para cama, enquanto ouvia atentamente à voz de Eros. — Por favor,
entenda, Theresa, não foi um momento especial apenas para você. Ainda é
cedo para fazer qualquer previsão, mas não queria que fosse a nossa última
vez.
Suspirei, com um nó horroroso na garganta.
Eu sabia que Eros queria ser gentil comigo, continuar cultivando o
respeito que conquistamos nesses dias, e seria ridículo de minha parte, se eu
me iludisse com a alguma possibilidade de compromisso.
Ao mesmo tempo não queria frequentar aquela cama, apenas para
suprir a carência de Eros.
Eu já havia me realizado e ultrapassado todas as barreiras do
discernimento ao perder a virgindade com aquele advogado, agora caberia a
mim, seguir a minha vida e guardar esse lindo momento intacto na minha
memória.
Não queria me agarrar em esperanças infundadas ou me iludir com
um futuro namoro, afinal de contas nossos mundos traçavam órbitas
totalmente diferentes.
O que Eros Dirksen poderia querer com uma simples garota, sem
quaisquer perspectivas? Eu mal sabia se conseguiria pagar as contas no
final do mês, ou se seria necessário abrir a mão de mais um eletrodoméstico
para isso.
Entendia que eu não tinha nada de extraordinário que pudesse
reverter as convicções de Eros, a ponto de fazê-lo romper com suas
inseguranças amorosas para assumir algo sério comigo.
Eros então passou por mim, deixando um beijo demorado na minha
boca.
— Me espera, Theresa.
Entrou no banheiro e se trancou.
Ainda coberta por um dos lençóis, eu caí na cama, experimentando
mais um pouco daquele mundo que não me pertencia.
Os travesseiros macios, as roupas de cama com um toque
extremamente suave, o perfume refinado espalhado por cada canto daquele
ambiente bem decorado, a linda vista das árvores pela janela, tudo isso seria
impresso nas minhas lembranças para sempre.
Depois de relaxar um pouco e de colocar as emoções no lugar, eu
corri com as roupas nos braços, até o meu quarto, me troquei, fechei o zíper
da mala e me dirigi ao jardim do casarão.
— Theresa! Espera!
Ouvi Eros gritando do alto de sua janela.
Acenei, com lágrimas nos olhos, entendendo que nunca mais
colocaria os meus pés na mansão de Dirksen.
Percebi ali, que o meu conto-de-fadas estava chegando ao fim de
uma forma que eu já previa.
O cheiro do óleo invadia as minhas narinas, contorcendo o meu
estômago, como se o meu órgão estivesse numa maldita centrífuga.
Winter fritava batatas ao meu lado, e eu apenas tentava controlar as
náuseas.
Passava as páginas de uma revista velha, tentando me distrair para
não passar mal ali mesmo, na cozinha de minha melhor amiga, que havia
conhecido na temporada que passei no hotel Ruiz.
Curiosamente, de uns meses para cá, eu estava me sentindo muito
estranha.
Os seios doíam e os meus mamilos estavam sensíveis, tinha
tonturas de vez em quando e o meu ciclo estava atrasado.
Poderia até estar grávida, porém as chances eram praticamente
nulas, pois eu havia me prevenido na única vez que transei com Eros
Dirksen!
Além disso, meu ciclo costumava atrasar nos momentos em que
me sentia abalada emocionalmente.
No final das contas, deveria ser algum mal-estar, e nada mais além
disso.
Estava postergando para procurar um clínico-geral, pois o meu
foco, desde quando deixei a mansão daquele belo advogado, era conseguir
um emprego.
Aliás, nunca pensei que seria tão difícil me afastar de Eros. Os dias
que vivi ao lado dele foram tão intensos, repletos de gentilezas, carinho e
palavras afetuosas que eu tinha certeza de que jamais esqueceria.
Eros Dirksen era muito especial, apenas precisava se encontrar e
não colocar o trabalho acima de sua vida amorosa e de sua saúde.
Ele fumava charutos constantemente e bebia uísque como quem
bebia água.
Um homem incrivelmente atraente e bem-sucedido, mas que,
aparentemente, via o dinheiro como o combustível da sua própria
existência.
Infelizmente, nunca mais nos vimos ou nos falamos, foi apenas um
conto-de-fadas que vivi, o qual levarei para sempre na memória.
— Está quase pronto, Tetê. Imagino que já esteja morta de fome.
— Winter cogitou ao fitar meu rosto pálido.
Fechei a revista e os meus olhos embaralharam.
— E se eu te falar que não estou suportando o enjoo.
Debrucei o rosto sobre as mãos, na mesa da cozinha, e quando me
dei conta, a minha amiga já estava ao meu lado, com a escumadeira na mão.
— Outra vez enjoo? — me perguntou com rugas de preocupação
estampando a sua testa. — Se você não fosse virgem, eu desconfiaria que
você estivesse grávida.
Ainda com as mãos no rosto, eu resmunguei.
— Caramba, eu nem te contei...
Winter prontamente puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado.
Os seus cachos chicotearam o meu rosto, no momento em que ela
se acomodou.
— O que está acontecendo, Theresa? Estou ficando preocupada
com você.
Fechei os olhos, recuperando as memórias.
— Eu errei, amiga. Eu me entreguei ao homem errado.
Winter então arregalou os olhos na minha direção, quase deixando-
os escapulir de suas órbitas.
— Você está me torturando com tanto mistério. O que aconteceu,
no final das contas? — a sua voz, apesar de doce, já estava carregada por
impaciência.
— Lembra daquela semana que passei na casa de Eros Dirksen? —
perguntei com a voz alterada pela náusea.
— O advogado dos famosos? — então Winter sorriu, com os olhos
brilhantes, como se um filme passasse na sua cabeça. — Aquele deus-grego
milionário, cujo belo físico e sorriso de piano estão exibidos em toda a
imprensa?
Busquei pelas mãos de minha amiga sobre a mesa e as segurei com
força.
— É muito surreal dizer que eu perdi a minha virgindade com ele?
Winter prontamente ficou de pé, a ponto de seus cachos castanhos
voarem.
— Theresa Butler, você está grávida de Eros Dirksen? — a minha
amiga vociferou essas poucas palavras e levou as mãos à boca.
Prontamente fiz uma negativa incessante com a cabeça.
— Impossível, Winter. Nós usamos camisinha. Inclusive eu tenho
certeza que ela não furou, pois eu acompanhei cada processo de perto.
Então a minha amiga exibiu um olhar confuso e voltou a se sentar
ao meu lado, como se medisse a temperatura de meu rosto com a mão.
— Será que você está doente? Pode ser uma virose. Qual foi a
última vez que fez um check-up?
Sorri, envergonhada.
— Eu nem me lembro se já fui alguma vez ao médico. — respondi
num fio de voz, me dando conta do quanto a minha vida era corrida e, como
Dirksen, eu também não priorizava a minha saúde.
Winter me avaliou com reprovação e, depois de alguns segundos
pensativa, ela aproximou o seu rosto redondo do meu.
— Já que vocês usaram preservativo, em algum momento, ele te
tocou sem a camisinha?
Umedeci os lábios, intrigada.
Aonde Winter pretendia chegar com esses questionamentos tão
desconfortáveis?
— Melhor deixarmos isso para lá.
Winter segurou abruptamente na minha mão, quando fiz menção
de me levantar.
— Tetê, não fique tímida com esses assuntos. É tão natural. E sou
eu que estou aqui, a sua amiga, e só quero te ajudar.
Relaxei os ombros, sentindo o mal-estar travar a garganta.
— Felizmente ou não, eu me lembro de cada momento. Não sei
quantas vezes eu já revivi cada detalhe daquela tarde, na minha memória.
Tudo se desenha tão claramente diante dos meus olhos, que consigo até
mesmo sentir o perfume de Eros e relembrar do sabor dele. — Winter
estava tão atenta ao que eu dizia, a ponto dos seus lábios se entreabrirem.
— Assim que ele me virou de bruços, ele me tocou sem camisinha.
A minha amiga prontamente ficou de pé, caminhando
aleatoriamente pela cozinha de seu apartamento, quando de repente parou
ao meu lado, como se quisesse me dar um ultimato.
— Você engravidou, Tetê. Eu tenho certeza.
Sorri, sem querer acreditar em tamanho absurdo.
— Não teve penetração, esperma e nem nada nesse sentido,
Winter! — mesmo envergonhada, ainda tentei argumentar, sentindo o meu
coração apertado do tamanho de uma azeitona.
As minhas mãos suavam, quando Winter se aproximou me
cravando os seus olhos claros.
— Não precisa acontecer a penetração para engravidar, o líquido
pré-ejaculatório pode sim, conter espermatozoides. — levei as mãos
lentamente à boca, olhando perplexamente através da janela. O enjoo veio
forte, mas eu segurei o fôlego e depois liberei todo ar pela boca. — Quer
uma água, Theresa? Deus do céu, você está pálida!
— Eu estou bem, eu só preciso ir embora. — sussurrei,
experimentando a visão turva. — Deus do céu, eu preciso tomar um ar.
Queria chorar, vomitar, sumir...
Então fiz menção de me levantar, mas não consegui. As minhas
pernas bambearam.
O meu coração batia tão aceleradamente que sufocava a minha
respiração, sem falar na pressão que sentia na nuca, como se uma força
invisível fosse projetada contra a minha cabeça.
Para a minha sorte, Winter me amparou e me levou até o sofá de
suede de sua sala.
— Você vai ficar aqui comigo, até se sentir melhor. — ela me
impôs, acariciando o meu rosto. — Não está feliz com a possibilidade de
estar grávida de um homem feito Eros Dirksen?
Neguei veemente.
— Claro que não, Winter. — uma lágrima escapuliu de meus
olhos. — Meu pai e eu enfrentamos tantas dificuldades que seria impossível
sustentar um bebê sozinhos! Além disso, a meu ver, seria constrangedor
comunicar uma notícia dessas a Eros. Ele vive imerso no trabalho e
certamente se esquivará das consequências de um encontro casual, com a
sua governanta substituta.
Winter me avaliava com pesar. A minha amiga costumava ser
otimista demais para entender os meus receios.
— Tudo o que me disse pode ser resolvido se Eros decidir te dar
apoio, afinal você pode estar grávida de um milionário! — Winter notou o
desânimo em meus olhos e acrescentou: — Pelo menos ele foi gentil com
você, carinhoso?
Relaxei nas almofadas, recuperando as lembranças.
Pensar na maneira que Dr. Dirksen havia me tratado, felizmente
aquecia o meu coração.
— Eros foi o homem mais encantador que eu já conheci na vida.
Ele me tratou feito uma princesa no tempo em que dividimos aquela casa,
mas não hesitou em deixar claro que não quer se envolver em
compromissos. — então levei as mãos ao ventre. — E se caso eu estiver
realmente grávida, o que acho pouco provável, uma vez que nos
prevenimos, Eros jamais me pedirá em namoro por conta disso. Ele é
averso a romances! Pagará a pensão ao bebê e nossas vidas seguirão
separadamente o seu curso.
Winter sentou sobre uma das pernas e segurou uma almofada.
— Você é tão pessimista. Quem sabe ele pode ver em você e no
bebê a oportunidade de construir uma família?
Sorri, desacreditada.
— Eu não sou boba, Winter, eu não vou me iludir com romances
cor-de-rosa, eles não existem. — rebati, frustrada. — Os meus pais sempre
tiveram um casamento infeliz, inclusive eu não tenho exemplos de
relacionamentos bem-sucedidos. Tenho tios solteiros e canalhas, tias que já
foram traídas, você que já terminou mais de cem vezes com o Roullien.
Winter me avaliou com censura.
— Eu não sou exemplo para ninguém, aliás, — ela projetou o
indicador em meu peito. — você não deve usar a vida dos outros como
parâmetro, precisa se arriscar e escrever a sua própria história.
— Eu me arrisquei com Eros e veja agora o meu desespero. —
fechei os olhos, respirei profundamente, tentando aliviar o enjoo, mas foi
em vão. — Eu preciso ir ao banheiro!
Winter logo ficou de pé, para buscar a sua bolsa no quarto.
— Eu vou à farmácia!
— Eu não estou doente, Winter...
Ela rolou os olhos com impaciência.
— Eu vou comprar o teste de gravidez, para hoje mesmo sabermos
se você carrega um herdeiro em seu ventre ou não.
Levei as mãos aos cabelos, completamente desesperada.
— O meu pai vai morrer de desgosto. — declarei com a voz
embargada. — Não quero ser motivo de decepção para ele. Ele não merece
mais essa tristeza na sua vida.
Winter logo deixou um tapinha brincalhão em meu ombro.
— Ele vai ter um neto Dirksen! Vai morrer é de alegria, acredite!
— Espero sinceramente que...
Sem calcular meus gestos, empurrei a minha amiga e saí correndo
na direção do banheiro.
Segundos depois, estava debruçada sobre o vaso, tentando me
aliviar daquele mal-estar terrível.
A possibilidade de estar grávida junto à necessidade de comunicar
a Eros sobre um possível filho, me aterrorizava a ponto de eu querer virar
fumaça e sumir irreversivelmente.
Deus do céu, o que o futuro me reservava?
Intrometi os pés no meio das almofadas, prostrada sobre o sofá de
Winter, enquanto cheirava limões, como uma tentativa de aliviar a náusea.
Acabei não almoçando o frango com batata frita, já que o meu
estômago estava revoltado demais, para aceitar qualquer coisa que eu o
oferecesse.
Enquanto a minha amiga não retornava da farmácia, eu apenas
mentalizava que poderia estar com o fígado ruim e que a possibilidade de
um bebê crescer em meu ventre não passava de um equívoco.
Apesar da minha resiliência, desta vez, eu não conseguia
vislumbrar uma solução para esses possíveis desafios.
Assim que a porta da pequena sala do apartamento de Winter se
abriu, a minha amiga morena de olhos grandes caminhou ansiosamente na
minha direção, já me esticando a sacolinha da farmácia.
— Eu trouxe dois testes, para podermos confirmar o resultado.
Deixei os limões sobre a mesa de centro e estiquei os dedos
trêmulos, alcançando a sacola, enquanto sorria com a voz fraca.
— Eu nem sei como te agradecer. Estou tonta com essa
possibilidade de estar grávida.
Winter se jogou ao meu lado, a ponto do meu corpo quicar.
— Me leve para tomar banhos de piscina na mansão de Eros?
Quem sabe eu também não conheça um magnata?
Sorri, sem saber se deveria. Aquele momento era delicado demais
para eu me esquecer de toda a sua gravidade.
— Pare de besteiras, você nem sabe nadar.
Winter revirou os olhos, jocosa, e depois me ofereceu o seu braço.
— Quer ajuda para ir até o banheiro?
— Obrigada, Winter, mas acho que consigo ir sozinha. — dei um
pequeno impulso e, para o meu alívio, consegui ficar de pé. Estava me
sentindo extremamente fraca. — Enquanto me espera, se concentre no seu
crucifixo de parede e faça orações para que eu não tenha engravidado de Dr.
Dirksen.
— Eu vou fazer o contrário.
— O que disse?
— Vá logo, Tetê. Estou curiosa.
Acenei para a minha amiga, e assim que cheguei ao banheiro,
fiquei parada por segundos em frente ao espelho.
Estava me sentindo meio perdida, tonta, fraca, desanimada.
Fechei a porta com cuidado, sentindo a ansiedade formar um nó
apertado no meu estômago.
Após realizar o exame de gravidez, ele descansava sobre a pia,
enquanto eu tentava conter a respiração, observando as linhas ganhando
forma.
As minhas mãos ainda tremiam quando peguei o teste, e meus
olhos fixaram-se nas duas linhas distintas, confirmando o que eu já temia.
— Grávida! — escorreguei as costas pela parede e me sentei no
chão. — Meu Deus, o que será de mim agora?
Estava grávida de Eros Dirksen, o homem encantador que me
tratou como uma princesa, mas que deixou claro que compromissos sérios
não estavam nos seus planos!
A frustração se misturou com o desespero quando percebi a
complexidade daquela situação.
Eu estava desempregada, Eros evitava compromissos e eu não
sabia como enfrentar tantos desafios ao lado de meu pai.
Com lágrimas cortantes em minha face, saí do banheiro, após
confirmar com o segundo teste o que já sabíamos, e logo me deparei com a
minha amiga Winter, que percebeu imediatamente a tormenta em meus
olhos.
Sem que eu precisasse dizer uma palavra, ela me abraçou,
oferecendo o conforto que eu tanto precisava naquele momento difícil.
— Estamos juntas nisso, Tetê. Vamos encontrar uma maneira de
resolver tudo da melhor maneira possível. — ela me disse, solidária,
enquanto eu me permitia desabar em lágrimas, colocando para fora, por
meio daquele gesto, todos os meus medos e incertezas.
— Como eu vou contar isso a Eros, a meu pai?
Ela me afastou, para segurar nas minhas mãos.
— Fique tranquila, Theresa. Eles vão te acolher. O seu pai não é
um monstro, muito menos Eros, pelo que você me contou sobre ele até
agora.
Sentei sobre o sofá, olhando perdida para uma planta murcha que
estava sobre a mesa de centro.
— Eu estou desempregada, e não é nessas condições, grávida, que
eu vou conseguir um emprego.
Winter se sentou ao meu lado e me puxou para o seu ombro.
— Eu sei que agora você está tomada por emoção, que é um
momento muito difícil, que te impede de pensar com mais racionalidade,
mas entenda de uma vez por todas, que você terá o apoio do Eros Dirksen,
afinal ele é pai de seu filho!
Chorei, a ponto de ter soluços.
— Eu não sei o que vai ser de mim se tiver que sustentar essa
criança sozinha, apenas contando com a ajuda do meu pai. Nós temos a
hipoteca da casa para pagar e essa sempre foi a nossa prioridade. — cravei
os olhos molhados na minha amiga. — Eu estou perdida, Winter, de mãos
atadas. Não sei a quem recorrer.
Então ela virou o meu corpo na sua direção e enxugou as minhas
lágrimas com a manga do seu casaco.
— Eu vou estar com você, para o que precisar, mas ainda confio
que Eros não vai te decepcionar.
Estranhamente, eu não conseguia ser tão positiva quanto Winter.
E se Eros tivesse sido gentil comigo durante aqueles dias, apenas
para me levar para cama?
E se fosse apenas um personagem que ele tivesse assumido, para
poder satisfazer os seus desejos?
Afinal de contas, sete dias não eram suficientes para conhecer a
índole de ninguém.
Com muito medo, eu chorei mais um pouco no ombro de Winter,
imaginando como proporcionar felicidade ao meu futuro filho ou filha,
tentando afastar, mesmo que por um instante, o choque de realidade que me
atormentava desde o momento que soube da gravidez.
Enquanto eu tentava processar aquela notícia bombástica, Winter
sugeriu que chamássemos por meu pai, para que ele me desse o suporte que
eu tanto precisava naquele momento, que estava me sentindo mais frágil
que uma borboleta.
Com o coração pesado, concordei que ele me buscasse, pois
claramente eu não teria condições de sequer atravessar a cidade.
O fato de papai ter acabado de sair do supermercado, também
ajudava, pois o estabelecimento ficava localizado a apenas quatro quadras
do apartamento de Winter, então, ele chegaria bem rápido para me
encontrar.
Pouco tempo depois, a campainha tocou, anunciando a chegada
dele. A minha amiga correu para atendê-lo, enquanto eu terminava o chá
gelado que ela havia me dado.
Assim que vi à porta o rosto familiar e reconfortante daquele
jovem senhor, que sempre deu a vida por mim, eu corri ao seu encontro.
Estático, na entrada do apartamento, papai me observou com
preocupação, ao notar os meus olhos inchados e o meu rosto mais
transparente que um véu, mas, apesar disso, percebi que a ternura, sempre
presente em seus olhos, ainda estava lá.
Claramente o meu pai não me julgaria por meus erros.
Assim que ele se aproximou, eu logo soube que eu não precisaria
dizer nada, papai já entendia a intensidade da situação, tanto que o seu
abraço caloroso logo me abrigou.
Era tudo o que eu mais precisava naquele momento incerto.
Winter, gentil como sempre, nos deu privacidade, e o meu pai me
conduziu até o sofá, se sentando com urgência ao meu lado.
Ele segurou na minha mão com firmeza, transmitindo segurança
em seu gesto.
— Tessa, minha filha, o que está acontecendo? — indagou, com
um olhar que expressava mais compreensão do que julgamento.
Respirei fundo antes de contar a notícia que mudaria muita coisa
nas nossas vidas.
— Espero que o senhor me compreenda. — sentindo as lágrimas
atravessarem o meu rosto, eu me preparei para contar a notícia da gravidez,
sem esconder as incertezas sobre o nosso futuro. — Eu passei uma semana
na casa de Eros Dirksen e não sei explicar a maneira como construímos
uma conexão muito forte, foi tudo tão repentino.
— Eros Dirksen? — o meu pai me interrompeu, com os olhos
arregalados.
Aquilo prontamente me intrigou.
— O senhor o conhece?
O meu pai desviou o olhar de mim e coçou o queixo como num
tique nervoso.
— Não... eu... eu sei que ele é um homem muito rico e famoso na
mídia. — então ele pausou com uma expressão de ódio. — E também sei
que o pai de Eros Dirksen é um ser humano da pior espécie!
Pisquei os olhos diversas vezes, tentando entender os motivos de
meu pai. Até agora, eu nem fazia ideia que eles se conheciam!
Eu estava realmente muito surpresa com aquela revelação.
— Eros me disse que o pai dele está morando no exterior e me
parece que a relação deles não é das melhores. O senhor sabe de mais
alguma coisa sobre isso? Por que sente tanto ódio desse homem?
O meu pai segurou novamente nas minhas mãos, fazendo uma
negativa com a cabeça.
— Eu não sei de mais nada, minha filha. — passou a mão nos
cabelos grisalhos e inexplicavelmente eu cogitei que ele pudesse estar
mentindo. — Você me disse que iria trabalhar na casa de um advogado, mas
não me detalhou que seria na casa do filho de Naibra Dirksen. Se eu
soubesse, não a deixaria ir.
Ajeitei o corpo no sofá, tentando entender as inseguranças do meu
pai. Claramente ele sabia muito mais do que me falava.
— Alguma coisa muito séria deve ter acontecido entre o senhor e
Naibra Dirksen, a ponto de cogitar me impedir de trabalhar na casa daquela
família. — cruzei os braços, intrigada. — Por que não me conta de uma vez
por todas o que sabe sobre o pai de Eros?
Sr. Alfred Butler costumava ser misterioso, mas nunca passou pela
minha cabeça que ele pudesse estar escondendo algo tão sério de mim, a
ponto de não querer compartilhar comigo o seu passado.
Em resposta, papai apenas estalou os ossos dos dedos e, com
aquele gesto, eu percebi o quanto ele poderia estar nervoso.
— Melhor deixarmos esse assunto para um outro momento. Você
precisa me contar agora o que esse homem te fez.
Rendida, eu decidi aguardar pelo momento oportuno em que papai
me revelaria seus mistérios.
Mais para frente, estava disposta a cobrá-lo sobre cada revelação a
respeito do avô de meu filho!
— Eros é uma pessoa maravilhosa, pai. — ele, com uma
serenidade que sempre admirei, me ouvia atentamente, segurando de
maneira carinhosa nas minhas mãos. — Ele foi muito gentil comigo,
compreensivo, atencioso e me cobriu de elogios. Eu nunca imaginei que um
homem tão poderoso como ele poderia me tratar de maneira tão humana.
O meu pai sorriu e depois me desferiu o seu olhar mais
complacente.
— Tessa, você é uma menina inocente, e está tão claro que Eros se
aproveitou do seu lado ingênuo e bondoso, apenas para te seduzir. É visível
o seu encantamento por ele. — ele afirmou, sem rodeios, a ponto de minhas
bochechas ficaram escarlates como as almofadas de Winter. — Não precisa
me dizer mais nada. Vocês tiveram um caso?
Afirmei, tentando conter o choro nos lábios.
— E eu engravidei.
O meu pai suspirou com pesar, olhando com pavor nos meus olhos.
Eu sei que muitas questões passavam pela cabeça de papai naquele
momento, mas, em vez dele apontar os meus defeitos e julgar as minhas
fraquezas, ele abriu os braços na minha direção.
Sem pensar em mais nada, eu me joguei naquele lugar onde eu
considerava o meu refúgio.
— Eros se aproveitou da minha inocência? — refletia, aos prantos.
— Ele me tratou como uma mulher à sua altura, apenas com o intuito de
termos um momento juntos? — olhei nos olhos do meu pai, sentindo a
decepção me cortar a alma. — Eu não me arrependi de nada do que fiz, até
agora, pai, mas pensando por esse lado e sabendo que eu engravidei...
— Minha querida, estamos aqui para enfrentar isso juntos. — ele
tomou o meu rosto nas suas mãos. — Você não está sozinha e, mesmo
desempregada, nós vamos conseguir criar esse bebê. Eu te amo
incondicionalmente, independente do que você tenha feito, Tessa.
Infelizmente você foi usada por aquele advogado sem escrúpulos. — o meu
pai deixou um sorriso fraco escapar por sua boca, enquanto cruzava os
braços, reflexivo. — Engraçado como essa atitude de Eros Dirksen, diante
de todo histórico do pai dele, não me surpreende. Que lástima, mais uma
vez a família Dirksen atravessando a minha vida!
Arregalei os olhos, perplexa.
— Pai, pelo amor de Deus, qual é a sua relação com a família
Dirksen?
Ele me observou como se implorasse por minha compreensão.
— Esse neto é fruto de ambas famílias, e quem sabe uma chance
divina de eu perdoá-los por tudo o que me fizeram? Vamos pensar nesse
bebê, olhando para o futuro, e deixar o passado para trás, capítulos que já
foram enterrados não têm o poder de mudar mais nada nas nossas vidas.
O que me coube foi assentir. O meu pai já havia sido tão
compreensivo comigo, o que me restava era fazer o mesmo por ele.
— Eros parecia ser uma boa pessoa, mas diante de todas as
suposições e o passado o qual desconheço, eu não sei mais no que pensar.
Baixei o rosto e meu pai segurou no meu queixo, nivelando
novamente os nossos olhares.
— Só vamos ter certeza da índole do advogado, quando você
contar a ele sobre a gravidez. — concordei, insegura, amassando os lábios.
— A maneira que Eros Dirksen reagirá, dirá muito sobre ele e nos revelará
a sua verdadeira face.
O medo de ser rejeitada me apavorou.
Sem falar o quanto eu sentia dó de meu pai, quase um idoso,
trabalhando arduamente num supermercado, para sustentar nós dois e ainda
quitar a hipoteca de nossa casa, agora teria mais uma responsabilidade nas
suas costas.
— E se por ventura não recebermos o apoio de Eros? — perguntei,
sentindo as lágrimas fazendo curvas no meu queixo.
— Um neto ou neta é sempre uma vitória, Tessa. — o meu pai
retirou um lenço marrom de seu bolso para conter as lágrimas no meu rosto.
— E nós seremos uma família forte e unida para acolher esse novo
membro, com a ajuda dos Dirksen ou sem ela. Quanto ao trabalho,
encontraremos uma solução. O mais importante agora é cuidar de você e do
bebê que está a caminho. Vamos procurar por um médico, o quanto antes.
— declarou, com um sorriso que dissipou parte das minhas preocupações,
com palavras que foram um bálsamo para a minha alma aflita.
A paz inundou o meu coração ao perceber que meu pai estava ao
meu lado, pronto para enfrentar o maior desafio de nossas vidas com amor e
também compreensão.
Mesmo que ele expressasse preocupação pelo fato de eu estar
desempregada, não houve julgamento em seus olhos.
Ele escolheu ser o pilar de apoio que eu tanto necessitava e isso me
deixou mais tranquila.
— Eu vou me despedir da Winter, para irmos para casa. — fiquei
de pé, enquanto meu pai concordava, sem desviar o olhar de minha barriga.
Nesse ínterim, ouvi a voz de Winter vindo do quarto.
— Tetê, estou aqui.
Pisquei para o meu pai e adentrei o corredor, até chegar ao quarto
de minha amiga.
Ela estava de costas para as gavetas do armário, fechando uma
delas.
Assim que me viu, logo me entregou um envelope.
— Esse é o meu presente para o bebê. — declarou, emocionada.
Apenas sorri, me dando conta, finalmente, de que eu seria mãe.
A ficha caía aos poucos, eu ainda precisava de tempo para me
acostumar com essa condição.
Levei meus olhos a Winter e ao envelope na minha mão. A minha
amiga me incentivou a abri-lo.
Curiosa, fiz o que ela me pediu, quando os meus olhos
arregalaram, gradativamente.
— Mil dólares? Eu não posso aceitar.
Winter então envolveu as minhas mãos, fechando o dinheiro dentro
delas.
— Você deve aceitar, sim, menina. Não é de bom tom fazer
desfeitas nos presentes dos amigos. — sorri da espiritualidade de Winter. —
E outra coisa, eu vou estar com Eros Dirksen neste final de semana, no
hotel Ruiz. Será aniversário de Eoth Roosevelt, banqueiro famoso e melhor
amigo do advogado. Eu vou fazer parte da recepção e, obviamente, você
será a minha convidada.
Levei as mãos contra o peito e caminhei pensativa pelo quarto, até
me sentar na poltrona de canto.
— Você acha mesmo que eu devo ir? Falar sobre assunto tão
delicado numa festa? — ponderei, hesitante.
Winter então pausou ao meu lado, exibindo um olhar decidido.
— Não devemos desperdiçar as oportunidades e, a meu ver, essa
será uma chance de ouro. Dr. Dirksen sempre foi tão humano e carinhoso, e
eu tenho certeza que ele vai te acolher.
Prontamente fiquei de pé, tirando forças não sei de onde.
— Tudo bem, eu estarei lá, e Eros saberá que eu carrego um filho
dele em meu ventre. — afirmei, convicta e cheia de esperanças no meu
coração.
Winter comemorou com palminhas e depois me abraçou.
— Vai dar tudo certo, amiga. Eu vou estar lá para te apoiar no que
for preciso.
— O que seria de mim sem você e meu pai? — confessei,
emocionada, guardando o presente em meu bolso. — Jamais esquecerei de
tanto carinho.
Winter levou as mãos à minha barriga e deixou um beijinho
carinhoso sobre ela.
— Cuide bem do meu afilhado. — ela afirmou e nós sorrimos,
entusiasmadas com aquele momento inédito em nossas vidas.
Curiosamente o meu coração ficou mais tranquilo, diante de todo o
apoio que estava recebendo daqueles que eu amava.
No fim das contas, consegui encontrar felicidade na possibilidade
de ser mãe, torcendo, ao mesmo tempo, para que as possíveis decisões de
Eros Dirksen não apagassem o meu brilho, e eu me decepcionasse com ele.
Assim que coloquei os pés em frente ao hotel Ruiz, um sentimento
nostálgico me envolveu, já que eu havia trabalhado naquele lugar por uns
três anos consecutivos, mas, iludida pela promessa de uma vaga como
governanta na casa da família Parker, acabei pedindo demissão da função
de camareira.
Cinco meses depois, fui dispensada pelos Parker, com a
justificativa de contenção de despesas e, por isso, até hoje, eu me culpo por
ter perdido emprego tão valioso no hotel, onde recebia todos os direitos,
uma renda estável e fazia um horário tranquilo, apenas para me aventurar na
mansão daquela família poderosa de empresários.
Às vezes, me dava conta de que correr riscos não era a melhor
opção.
Ainda fascinada por aquela festa magnífica, eu adentrei empolgada
o saguão do hotel, procurando por Winter.
Via pessoas elegantes por todos os lados, rostos sorridentes e
visuais modernos, mas, infelizmente, eu não via a minha amiga.
Estava deslumbrada, a ponto de não perceber alguém segurando no
meu braço, no mesmo instante que cheguei à entrada do salão de festas.
Olhei desconcertada para trás, quando me dei conta de que era um
segurança bastante mal-encarado, exibindo um olhar desconfiado do alto de
seus dois metros de altura.
— Não é bem assim, mocinha. Eu preciso que me mostre o seu
convite. — a voz dele era grossa e intimidadora.
No mesmo instante, senti o sangue se concentrar inteiramente no
meu rosto.
Tentei falar alguma coisa, mas não consegui.
— É... eu, eu vou procurar na minha bolsa. — respondi no meu
tom mais agudo.
O meu coração acelerava enquanto eu me afastava do burburinho
da festa em direção ao banheiro.
Ansiosa, deslizei o zíper da pequena clutch, que combinava
perfeitamente com o meu vestido amarelo-ovo, ambos presentes de Sophia
Parker, para pegar o smarthphone e ligar para Winter, mas, para a minha
falta de sorte, o celular dela tocou até cansar.
A minha amiga não atendia!
Aproveitei o ensejo para usar o sanitário, quando, de repente, ouvi
a saltos altos adentrando o banheiro.
Enquanto apertava a descarga, ouvi sorrisos abafados e,
involuntariamente, me vi imersa em uma conversa que não me
desrespeitava.
— Não vá me dizer que não conhece o lago Tahoe? Foi lá que
sonhei em dizer “sim” a Eros Dirksen, e ele não teve escolha. —
gargalhadas. — A gente se conhece desde a adolescência e ele já está mais
que acostumado com o meu jeito incisivo.
O que estava acontecendo? Quem era aquela pessoa que falava
sobre Eros com tanta intimidade?
Senti as minhas extremidades congelarem e decidi não respirar,
para ouvir ainda mais atentamente sobre aquele assunto delicado.
— Polly, eu sinto tanta pena de Eros, por ele sempre ter se
sujeitado às suas vontades, e ainda acho que...
— Não é qualquer evento, é um casamento! O lago Tahoe e todas
as suas nuances de turquesa, combinariam perfeitamente com o terno azul
que escolhi a dedo para Eros. Uma orquestra de violinos embalaria o nosso
momento e uma chuva de petúnias enfeitaria o nosso caminho até a
limusine branca de meu pai.
A voz feminina, que agora reconhecia como sendo da suposta
noiva de Eros, ecoava pelas paredes do banheiro.
Estava petrificada e tomada por pavor, a ponto de não conseguir
dar um passo à frente.
— E Naibra Dirksen viria da Itália especialmente para o
casamento do filho?
— É claro! Ele me ama! A família Dirksen me conhece desde os
meus doze anos de idade.
— Sorte deles… ou não?
Mais gargalhadas, até as vozes desaparecerem.
Em choque, saí da cabine e logo encontrei o meu rosto pálido no
reflexo do espelho.
Depositei as mãos geladas e trêmulas sobre a pia do banheiro,
sentindo o chão sumir lentamente sob os meus pés.
Eros Dirksen estar noivo era uma novidade para mim.
Um choque gélido me paralisou por um momento, enquanto as
palavras da mulher ainda reverberavam nos meus pensamentos,
confirmando o que eu não queria acreditar.
Agora, a frieza do azulejo contra as minhas costas se confundia
com o gelo que se formava em meu peito.
A esperança que eu sustentava dentro de mim, mesmo diante de
todos os obstáculos, havia desmoronado cruelmente.
O homem que me fez acreditar em contos-de-fada estava
comprometido com outra pessoa?
Como poderia ter sido tão tola a ponto de aceitar ser apenas mais
um capítulo temporário na vida de Eros?
As minhas mãos tremiam quando peguei o celular para ligar para
Winter, precisava desesperadamente de um ombro-amigo para suportar a
dor de toda a aflição.
Decepcionada e confusa, eu tentava falar com a minha amiga, mas,
droga, ela não me atendia!
Agora, eu seria incapaz de encarar o homem que, até então, era a
luz no fim do túnel, porque, definitivamente, eu não queria ser a “outra”.
Ser exatamente como a minha mãe. Uma mulher sem escrúpulos
que só trouxe sofrimento para a minha vida e de meu pai. Que nos deu as
costas na primeira oportunidade de viver ao lado de seu amante.
Eu me lembro claramente do dia em que ela nos deixou. Era o meu
aniversário de cinco anos e a minha mãe nem ao menos se lembrou desse
“detalhe”.
O meu pai retornava da padaria com um bolo nas mãos e ela o
questionou o que ele faria com aquela sobremesa, insistindo para que ele
parasse de gastar dinheiro com "besteiras".
O meu pai não perdeu tempo em respondê-la, apenas me entregou
o bolo, enquanto eu estava sentada em frente à televisão, entretida com a
magia dos desenhos animados.
No entanto, a minha alegria não durou muito tempo.
A minha mãe ficou paralisada diante daquela cena, mas saber de
meu aniversário não foi o suficiente para que ela desse um basta nos seus
planos sórdidos, ela simplesmente pegou a sua mala, deu as costas para
mim e declarou ao meu pai:
— Eu nunca mais vou passar necessidades. Eu escolhi um homem
que me dará uma vida de rainha. Chegou o dia, Alfred, de você se ver livre
do seu estorvo. Eu mesma assinei a minha carta de alforria.
— Não, mamãe! Volta aqui!
Aquelas palavras me marcaram para sempre, junto ao momento em
que a minha mãe, impulsionada por suas próprias ambições e desejos
egoístas, optou por me abandonar pequena junto a meu pai.
O peso das promessas de uma vida luxuosa, sobrepôs qualquer laço
familiar.
A decisão de minha mãe não deixou apenas um vazio emocional
em mim, mas também criou cicatrizes profundas que reverberariam até os
dias de hoje, uma lembrança amarga de uma escolha que afetou não apenas
a nossa pequena família, mas certamente outra família também era
sacrificada naquele momento.
Eu não queria ser a Georgina Adams na vida de ninguém.
Desolada, deixei o banheiro, decidida a ir embora, quando percebi
que o meu celular apitou.
A minha visão estava levemente turva quando vi uma mensagem
de Winter:
Amiga, me espere. Fui remanejada para organizar a entrada da banda.
Estou indo embora, querida Winter. Prefiro conversar com Eros em outro
momento, já que o segurança não me deixou entrar.
Me perdoe por isso?
Você não tem culpa de nada. Vamos conversar com mais calma depois, eu
não quero te atrapalhar.
Caminhei sem forças, na direção da calçada, me preparando para ir
até o ponto de ônibus mais próximo, uma vez que os planos de dormir na
casa de Winter haviam descido ralo a baixo.
Sem perceber, lágrimas cortantes começaram a escorrer por meus
olhos.
Recostei em um poste, sentindo uma forte náusea, quando, de
repente, eu vi um carro preto bastante familiar.
Desconfiada, evitei olhar naquela direção, mas a minha curiosidade
me venceu, virei o rosto novamente e vi Eros saindo do veículo.
Um nó apertado se formou em meu peito. Fazia tanto tempo que
não nos víamos. Senti ainda mais tristeza e uma dor que parecia derreter
todos os meus sentidos.
Ele ajustou os cabelos e o paletó do smoking, antes de sorrir para
os fotógrafos.
— Deus do céu, que homem lindo. — murmurei, atônita, ferida.
Eros desfilou até o saguão do hotel, o seu porte elegante se
destacava, a ponto de todos se voltarem para a presença imponente daquele
homem poderoso e bem-sucedido, foi então que uma mulher, incrivelmente
atraente e curvilínea, provavelmente a sua noiva, se jogou nos seus braços,
deixando um beijo escandaloso na sua boca.
— Uma bela maneira da cachorra marcar território.
Abalada, desviei o olhar, não querendo mais participar daquela
tortura.
Aos prantos, corri pelas calçadas, retirando as sandálias e, com as
mãos sobre o ventre, era como se eu protegesse uma joia muito rara dentro
de mim.
Eu estava disposta a enfrentar qualquer desafio na criação de meu
bebê, e a ausência de Eros não seria empecilho para garantir dignidade a
meu pequeno.
— O que merdas está fazendo, Pollyana? — rosnei e segurei no
braço da moça, desviando dos fotógrafos, para um lugar mais reservado.
Limpava a boca com o dorso, como se tirasse veneno de meus
lábios.
Agora, estávamos no jardim, na parte de trás do hotel, onde
ninguém mais poderia nos ver.
— Não estava com saudades de mim, Eros Dirksen? — a morena
exibida, me perguntou, acertando o contorno do batom.
— Você enlouqueceu? — segurei nos braços dela com gana. —
Ainda não entendeu que não temos mais nada juntos? Você não tem o
direito de me beijar, e ainda mais em público!
— Eros, a gente ia se casar...
Larguei Pollyana Fletcher, para morder os nós dos dedos.
Eu a odiava.
— Se você não me traísse com o merda do Laurence, sim, nós nos
casaríamos, mas agora eu até agradeço a ele, por ter me livrado de um
compromisso tão sério com você.
Pollyana avançou sobre mim, segurando no meu rosto.
Os seus olhos marejavam, como a perfeita dissimulada que era.
— Me dá uma chance? Eu mudei, Eros. Percebi o quanto você me
fazia feliz. E olha... eu prometo ser mais flexível no nosso relacionamento,
não será mais apenas à minha maneira.
Segurei nos punhos da morena, desviando a sua boca da minha,
quando vi algo que me enervou ainda mais.
— Por que caralhos ainda usa essa aliança?
Senti tanto ódio daquela afronta, que logo fiz questão de retirar o
anel do dedo de Pollyana, sem dar a ela oportunidade de relutar.
— Eros, que atitude mesquinha! Se você me deu a aliança, ela é
minha!
Peguei o anel de compromisso e guardei imediatamente em meu
bolso.
— A aliança não faz mais sentido nenhum, não posso mais
permitir que você fique usando esse anel de compromisso por aí, como se
fosse uma simples joia, e certamente induzindo os outros a acreditarem que
ainda estamos noivos.
Pollyana então se aproximou segurando na minha gravata
borboleta.
— Lembra dos tempos da escola, quando você decidiu me
conquistar, me fazendo uma surpresa no seu carro? Nós fomos ao cinema ao
ar livre, assistir Náufrago...
— E nem me dei conta de que eu estava realmente naufragando. —
ironizei, impiedosamente, retirando um olhar assustado da mulher.
— Eros, que horror.
Afastei-me mais uma vez de Pollyana, e caminhei para perto de um
canteiro de bromélias e de um pequeno lago de tilápias.
Tudo indicava que Pollyana Fletcher estava tentando me persuadir
com memórias antigas, com intuito que eu a devolvesse o anel, mas eu não
cairia novamente nas armadilhas de uma mulher tão interesseira.
De uma distância segura de minha ex-noiva, decidi falar, tentando
colocar um ponto final naquele encontro indigesto.
— Entenda de uma vez por todas, Pollyana. Nós não temos mais
nenhum compromisso juntos. Foram anos e anos convivendo com você e a
sua família esnobe que certamente te orientou a se aproximar de mim,
apenas por interesse, pois, na primeira oportunidade, você me traiu. Agiu
como se os meus sentimentos não valessem porra nenhuma.
Pollyana se aproximou mais uma vez. O seu perfume me causava
náusea.
— Eu estou arrependida, já te pedi mil perdões. Eu estava bêbada,
Eros. Inclusive os meus pais sempre torceram muito por nós dois. Não os
julgue tão cruelmente.
— Você foi burra, me traiu duas semanas antes do casamento, e
logo com o assessor de seu pai! Como se eu não pudesse descobrir! —
sorri, sarcasticamente, me lembrando do flagra que dei nos dois, no meu
próprio iate, naquele fatídico Réveillon. — Poderia ter esperado consumar o
compromisso, para se aventurar com Laurence, por que quem sabe você
levaria uma boa fatia do meu patrimônio?
Pollyana bufou. Cheguei a cogitar que sairiam labaredas por suas
narinas.
— Eu nunca pensei num absurdo desse. Deve estar me
confundindo com as governantas que frequentam a sua casa.
Arregalei os olhos com aquela declaração que me surpreendeu.
— A Margarida é uma mulher de respeito. Não ouse denegrir a
imagem dela.
Pollyana cruzou os braços como se retirasse um trunfo de sua
manga.
— E a moça loira de olhos azuis? Theresa?
Sorri, incrédulo.
— Quem te falou sobre Theresa?
Pollyana sorriu triunfante ao ver preocupação estampando o meu
rosto.
Então ela se aproximou lentamente, fazendo um drama tosco e
desnecessário.
— O meu pai esteve na sua casa, em uma tarde, para pedir ajudar
em um caso jurídico, e foi essa linda mocinha que atendeu a sua porta.
Linda demais para não passar despercebida por um mulherengo feito você!
Revirei os olhos, entediado.
O pai de Theresa, Lucca Fletcher, era um dos advogados mais
canalhas que eu conhecia. Ele usurpava as pessoas que tinham poucos
recursos e dava golpes nos milionários, e exatamente por isso que eu não
queria ter o meu nome atrelado ao dele, inclusive ele costumava surgir do
nada em minha casa, após eu negar a sua entrada na minha empresa.
— O seu pai ainda não se deu conta que não quero estreitar laços
com ele? E que se caso precise de mim deve ir até a empresa? E quer saber?
Eu transei com a Theresa sim. — Pollyana levou as mãos à boca. — Ela é
uma menina encantadora, inteligente, especial pra caralho. Você não chega
aos pés dela.
A mulher estava consternada.
Finalmente eu havia ferido o seu maldito ego.
— Por que não a pediu em namoro então?
— Talvez eu tenha traumatizado Theresa, com toda a minha sede.
— gargalhei. — Ela fez comigo o que nunca mulher conseguiu nos últimos
tempos!
— Canalha!
Pollyana fez menção de esbofetear o meu rosto, mas eu segurei na
sua mão a tempo.
— Theresa foi embora e não me procurou mais. — falei, segurando
a raiva nos lábios cerrados. — Confesso que tenho pensado muito nela, mas
preciso entender de uma vez por todas, que não posso fazer aquela garota
fodasticamente feliz. Ela não me merece.
Larguei Pollyana de qualquer maneira, e ela deu alguns passos para
trás, ao receber o impacto no corpo.
— Realmente ela não merece um asno feito você.
Suspirei, exausto.
— Quer que eu repita as mesmas palavras de três anos atrás
quando eu descobri que você me traiu?
— Não perca o seu tempo, e me devolva o meu anel, agora! —
Pollyana exigiu, estendendo a mão para mim.
Peguei a joia, contemplando-a com desdém, antes jogá-la nas
águas serenas do lago artificial à minha frente.
Sorri, quando a aliança afundou.
— Não quero nenhum tipo de vínculo com você! — anunciei,
ignorando o olhar surpreso de Pollyana. — Esqueça que eu existo, porra!
— Você enlouqueceu?
Ela, apavorada com a minha atitude impulsiva, correu
apressadamente na direção do lago, se inclinando na borda com seu vestido
bufante vermelho, ansiosa para resgatar a joia avaliada em cinquenta mil
dólares.
Não pude deixar de gargalhar diante da cena patética que se
passava diante dos meus olhos.
— Quer uma vara de pescar?
Em seguida, virei as costas para aquela situação constrangedora e,
finalmente, retornei à festa.
Precisava, de alguma forma, acalmar os ânimos e me afastar
daquele episódio desagradável, mantendo a aparência inabalável diante dos
convidados.
Roosevelt me entregou mais um copo de uísque, enquanto a
música alta da boate reverberava nos meus ouvidos.
— Vá com calma, meu irmão. Estou sem motorista, hoje.
O meu melhor amigo sorriu, certamente me achando um fracote.
— Não minta, seu descarado. Você não quer beber porque a
ressaca pode atrapalhar o seu árduo trabalho na empresa. — debochou, mas
eu o revidei.
— Em vez de se preocupar com o meu trabalho, deveria se
preocupar com a sua ereção, depois de beber sete garrafas de vinho.
Eoth gargalhou, a ponto de fechar os olhos, e depois me mostrou a
taça praticamente vazia, conferindo em seguida o volume em sua calça.
Passei a mão livre pela barba, observando uma loira que dançava
ao meu lado.
— Você não está sabendo aproveitar a sua vida, como antes! — ele
afagou o meu ombro, como se quisesse me dar conforto. — Depois que
Pollyana te chifrou, parece que você parou no tempo. Não te vejo mais
interessado em assumir mulher nenhuma, e olha que é só você estalar os
dedos para que elas já abram as...
— Melhor você não concluir essa sua frase escrota.
Bebi mais um bom gole do uísque, observando as mulheres
animadas, exibindo os seus vestidos curtos e apertados ao meu lado.
O perfume delas atravessava as minhas narinas, mas, infelizmente,
não era o de lavanda de Theresa.
— Agora me lembrei que, mais cedo, você beijou Pollyana. Não
está tão morto como eu imaginava.
Implicante como sempre, o ruivo me trouxe lembranças indigestas,
fazendo com que eu engolisse todo o uísque, que desceu feito uma lâmina
por minha garganta.
— Inferno, que mulher insuportável! — fiz menção de arremessar
o copo vazio no chão, mas me esqueci que não estava em casa. — Não
aceita o término do caralho do noivado, a ponto de ainda desfilar por aí com
a aliança de compromisso. Ela não tem escrúpulos! — sorri, sem vontade
alguma. — Como pude ser tão ingênuo a ponto de me envolver com alguém
feito Pollyana Fletcher? Eu, um advogado de renome no país, cair na lábia
de uma vigarista feito ela! — desabafei, revoltado, agradecendo em silêncio
por não ter cruzado mais o caminho daquela mulher, esta noite.
— Você estava cego, apaixonado. — Roosevelt resumiu
perfeitamente a minha condição daquela época. — Você não tinha malícia e
ela soube manipular situações para te conquistar. Eu me lembro muito bem
que você se tornou advogado, porque o pai dela te inspirou. Claramente,
você não queria ser empresário do ramo alimentício de processados, como o
seu pai! Aliás, “processados” são a única coisa que a profissão de vocês tem
em comum! — o meu amigo gargalhou e eu revirei os olhos.
Apesar de bêbado, Roosevelt estava com a memória intacta quanto
ao nosso tempo de escola.
Éramos muito jovens e, de maneira muito espontânea, Pollyana e
eu nos tornamos muito unidos.
Nossa conexão se desenvolveu tão naturalmente, que os dias
pareciam mais leves quando estávamos juntos, compartilhando risadas e
sonhos.
A cumplicidade nos proporcionou momentos que se tornaram a
base de uma relação que, na época, parecia indestrutível.
Juntos, enfrentamos desafios, celebramos conquistas e nos
envolvemos em emoções intensas que moldaram uma história que, naquele
momento, eu pensava ser promissora e eterna.
— Eu era completamente apaixonado por Pollyana Fletcher, mas
ela me humilhou de uma maneira que eu não sei explicar. Ela me quebrou
inteiro, arruinando qualquer fio de respeito que eu ainda poderia sentir por
ela. — suspirei, deixando o copo vazio sobre uma bandeja. — A paixão é
muito mais perigosa do que o amor, cara. Ela nos escraviza e nos blinda
para qualquer imperfeição que a outra pessoa possa ter.
Roosevelt cambaleou até se apoiar no meu ombro.
— Por isso que não quero me envolver com ninguém, muito menos
em compromissos. — o meu amigo reafirmou o que eu já estava cansado de
saber. — Ainda sou muito novo para me amarrar em alguém.
— Novo? Tem trinta e cinco, mas aparenta um cinquentão
tranquilamente.
Roosevelt desferiu um soco no meu peito.
— Filho da puta. Não estrague a minha noite, — gargalhei. —
estou satisfeito pra caralho com a comemoração de meus trinta e cinco
anos, não posso negar que é um marco da realização da maioria dos meus
sonhos...
Eoth Roosevelt era um banqueiro famoso, que vivia rodeado por
mulheres deslumbrantes, esbanjando dinheiro com as bebidas mais caras e
desfrutando de todos os luxos que uma vida próspera poderia oferecer, o
que fazia com que eu me orgulhasse também de sua trajetória.
Nos conhecemos no colegial e, desde lá, eu vi o meu amigo
ascendendo profissionalmente, sem precisar da ajuda de ninguém.
Ele era foda em tudo o que fazia.
E ao ver Roosevelt cochichando no ouvido de uma morena, me
dava conta que ele ainda não havia conhecido a pessoa ideal.
Mas se caso esse dia chegasse, certamente o ruivo mulherengo não
iria medir esforços para se entregar de corpo e alma a um romance.
Reflexivo, conferi o relógio de pulso, me dando conta que a festa
nem tão cedo terminaria.
Prontamente levei a mão ao ombro de Eoth.
— São três da manhã e já aproveitei o suficiente. Beijei algumas
bocas, amassei algumas bundas, e agora eu vou para casa.
Roosevelt me avaliou com censura, exibindo marcas de batom por
seu pescoço e colarinho.
— Não vai levar ninguém para te acompanhar nessa madrugada
tão gostosa? — o meu amigo perguntou com a voz um tanto quanto
alterada, desferindo um olhar assanhado para a morena ao seu lado.
— O perfume de Theresa ainda está no meu quarto. Ainda consigo
vê-la pela casa. Que merda. Eu queria repetir aquela tarde, esta noite.
Acabava demonstrando um tanto quanto de fragilidade ao me abrir
dessa maneira para meu amigo, mas Roosevelt era um dos poucos em que
eu confiava.
— Se ela é tão especial como me disse, está esperando o que para
agir? — ele me questionou, um pouco indignado.
Passei a mão pelos cabelos, pensativo, escolhendo as palavras.
— Eu estou com traumas de romance e a minha empresa exige a
minha dedicação integral. — resumi, da melhor maneira possível. — E
acredito que seja apenas fogo de palha, daqui a pouco o encantamento passa
e a minha cama volta a ser revisitada por corpos deliciosos e ardentes...,
mas nada se compara ao intocado de Theresa — suspirei, saudoso. —
Naquela fatídica tarde, ela me pertencia, e cada sensação que provoquei no
corpo dela, fui eu que a apresentei.
Roosevelt estava perplexo me observando.
— Ter uma virgem nos braços é raridade, talvez por isso que esteja
tão rendido.
— Não, cara. Não é só isso. — afirmei, pensativo. — A Theresa é
muito autêntica, inocente, pura, sem falar em todo o carinho e a atenção que
ela sempre teve comigo... caralho, ela é especial demais. — cocei o alto da
cabeça, angustiado. — Infelizmente, ela foi cruzar o meu caminho num
momento muito errado.
— Desapega da Theresa e siga com a sua vida. Há uma barreira
social imensa que separa vocês dois.
Revirei os olhos para o conselho preconceituoso de Roosevelt.
— Não diga besteiras. Eu não me importo com isso. O problema,
na verdade, está em mim.
O meu amigo sorriu debochado, como o filho da puta que era.
— Você não é problema, meu caro, você é solução. É o que as
mulheres dizem.
Gargalhei, foi inevitável, quando uma música bastante agitada
começou a tocar, e Roosevelt desviou para o meio da pista com a morena.
— Vou partir! — disse, acenando para Eoth.
— Obrigado pela companhia. Te vejo antes de viajar para Boston,
certo? — Roosevelt vociferou, dançando, agora, no meio de uma roda de
mulheres.
— É claro. Será uma temporada longa, mas muito proveitosa para
a minha carreira.
Duas mulheres apalpavam o corpo suado de Eoth, enquanto ele
gargalhava.
— Cuidado com Pollyana Fletcher. Vai que ela surge do nada,
outra vez!
Acenei mais uma vez para ele, pretendendo encerrar o assunto.
— Pelo amor de Deus. Não deseje o meu mal.
Saí de perto de meu amigo, na direção da saída, olhando para os
lados, receoso que Pollyana realmente voltasse a me perturbar.
Eu precisava descansar, não estava mais disposto a lidar com
estresses.
Amanhã seria dia de focar numa audiência importantíssima, cuja
causa era de extrema relevância para a minha carreira.
Eu estava envolvido em casos de abusos corporativos que afetavam
comunidades vulneráveis, e a dedicação a causas sociais poderia adicionar
uma dimensão significativa à minha carreira, atraindo clientes e casos que
refletissem o meu compromisso com o bem comum, por isso precisava
tranquilizar a mente, para me dedicar inteiramente ao trabalho, ao qual iria
dar continuidade em Boston.
Desviei de algumas pessoas, cumprimentei outras e recusei várias
bebidas do garçom, quando, finalmente, estava na recepção do hotel.
E quando fiz menção de me dirigir à saída, senti mãos envolvendo
os meus ombros.
Senti náusea ao cogitar que poderia ser Pollyana.
— Já está indo embora, Dr. Dirksen? Quer companhia? — uma
voz doce penetrou os meus ouvidos.
Maneei o rosto para o lado, e vi que uma bela ruiva me observava,
enrolando uma mecha de cabelo no dedo.
— Eu te conheço de onde mesmo? — questionei curioso,
esquadrinhando o corpo da mulher com os olhos.
Ela estava enfiada num tubinho preto, parecendo que havia sido
embalada a vácuo.
— A gente pode se conhecer melhor agora?
Os lábios dela eram extremamente vermelhos e grossos.
— Qual é o seu nome?
— Mia Madison. — continuei interrogativo. — Nunca ouviu falar?
Sou praticamente uma celebridade. — a mulher afirmou indignada,
enquanto eu segurava o riso.
— Se você é celebridade, eu sou o Papa.
O que me restou foi bufar, entediado, e me afastar, deixando a
mulher plantada no meio do hall.
Eu não estava mais com paciência para certas futilidades. A
simplicidade era o que me atraía agora.
No momento, as minhas prioridades eram outras!
Já havia saído do hotel e observava algumas pessoas que
conversavam do lado de fora, outras que apenas fumavam numa roda de
amigos, e casais que se beijavam debaixo das árvores.
Segui para a garagem e, após dar alguns passos, virando uma
esquina, pausei, consternado.
O ar me faltou ao contemplar o meu carro completamente
vandalizado!
— Santo Deus. — levei as mãos à cabeça, sem querer acreditar
naquela tragédia.
O vidro estilhaçado se espelhava como areia sobre os assentos.
Conforme eu caminhava ao redor do veículo, observava as portas
amassadas, os retrovisores destruídos, então um nó doloroso se formou no
meu peito, quando cogitei que Pollyana Fletcher, após o episódio em que
atirei a maldita aliança no lago, era a principal suspeita.
Cautelosamente, me aproximei ainda mais do carro, o chão
salpicado com cacos de vidro brilhava sob as luzes da garagem e fazia os
meus passos estalarem.
A minha respiração se tornou ainda mais profunda quando
vasculhei ao redor, em busca de qualquer prova, que pudesse confirmar as
minhas suspeitas, mas, frustrado, não havia encontrado nada que
incriminasse a minha ex-noiva.
Foi então que os meus olhos encontraram uma pequena câmera, na
esquina de uma das pilastras.
Determinado a esclarecer a situação, me dirigi ao local de
segurança do hotel, para requisitar as imagens.
Caminhava com os passos pesados, roendo o canto das unhas de
nervoso.
Estava furioso com aquela afronta! Tudo indicava que era mais
uma peripécia de Pollyana Fletcher!
Ela achava que poderia se vingar de mim, destruindo um bem
material meu, sendo que, lá atrás, nos últimos anos que passei ao seu lado,
ela havia sido muito mais cruel e devastadora com toda a sua toxicidade?
Espalmei a mão na porta da segurança, quando um homem calvo
veio me abordar.
— O senhor não pode entrar aqui dessa maneira.
Cocei irritantemente o queixo, sentindo a boca seca e o rosto
corado de ódio.
— A porra do meu carro acabou de ser vandalizado. Há estilhaços
do para-brisa para todos os lados. Eu preciso da imagem das câmeras agora.
— exigi, sentindo o sangue ferver em minhas veias.
O homem me observou, ainda desconfiado.
O que ele achava? Que eu era um homem-bomba disposto a
comprometer a segurança do hotel?
— Pode se apresentar, por favor?
Ainda confuso, mostrei a ele a minha identidade.
— Eros Dirksen.
O segurança ficou estatelado.
— Me desculpe, Dr. Dirksen. Pode ficar à vontade, vamos fazer o
que for preciso para ajudá-lo.
Continuei o encarando com impaciência, conforme adentrava a
sala.
Então nos sentamos de frente para diversos monitores e então eu
expliquei com mais detalhes sobre o ocorrido.
Conforme o homem buscava a imagem nas telas, os meus olhos se
concentraram em uma imagem específica, do momento em que a festa
havia começado, para certificar se o beijo que Pollyana havia me dado,
tinha sido flagrado pelos fotógrafos, e quando ele adiantou mais um pouco
as imagens, distingui um ponto amarelo bastante familiar no meio da
multidão.
Arrastei a cadeira, ficando imediatamente de pé.
— Pare essa imagem, agora!
— Da garagem?
— Não. Esta imagem especificamente, do saguão do hotel! — os
meus olhos arregalaram, conforme eu apontava para a tela. — Aproxime
mais um pouco.
O oxigênio foi arrancado de meus pulmões, quando eu vi Theresa.
Sem calcular meus gestos, praticamente retirei o mouse da mão do
segurança, para dar mais um pouco de zoom.
— Espere só mais um pouco. — murmurei, atônito.
Os meus olhos embaçaram, como se um véu de surpresa os
encobrisse momentaneamente.
Theresa estava na festa?! Será que ela teria vindo à minha
procura?
— A imagem está mostrando essa moça de vestido vermelho
atirando um paralelepípedo contra o carro do senhor. — o segurança já
estava concentrado nas imagens da garagem, mas eu ainda estava
embasbacado, observando Theresa desfilando pelo saguão do hotel Ruiz. —
Ela deve ter feito isso, enquanto eu estava fazendo a segurança da banda!
Porque se eu tivesse flagrado esse vandalismo, eu teria a impedido. — o
calvo tentava se justificar, enquanto eu imaginava o quanto a segurança do
hotel era falha.
Ouvia tudo com os olhos petrificados.
— Preciso dessas imagens no meu escritório, amanhã. Pollyana
Fletcher terá uma bela surpresa. — comuniquei, ainda focado em Theresa.
— Não pretendo prejudicar o hotel, quero concentrar a minha energia
inteiramente na minha ex-noiva.
O segurança respirava aliviado, ao mesmo tempo em que me
observava sem entender a perplexidade que estampava meu rosto.
— Também precisa das imagens do hall?
— Não, obrigado. É só isso mesmo.
Ainda trêmulo, saí da sala de imagens, olhando para os lados,
como se ainda pudesse encontrar Theresa ali.
Imaginava, ao mesmo tempo, o que ela poderia querer comigo!
Seriam saudades? Apenas repetir a noite deliciosa que vivemos
juntos?
Estatelado no jardim do hotel, decidi ligar imediatamente para
Margarida.
— Pois não, Dr. Dirksen? — a mulher pronunciou, completamente
sonolenta.
— Peça ao Jhonny que venha me buscar no hotel Ruiz. E, outra
coisa, me passa o telefone de Theresa.
— Theresa, a governanta?
— Sim, Margarida.
— Eu não tenho o contato de Theresa, ela veio por meio de uma
agência e infelizmente...
— Inferno!
Mordi os nós dos dedos, frustrado por não ter ao menos cogitado,
lá atrás, pegar o contato da governanta.
Enquanto isso Margarida ainda falava nos meus ouvidos.
— O que disse? Ela fez alguma coisa? Deixou alguma pendência
para trás?
— Pode voltar a dormir. Não se preocupe com isso.
Sentei em um dos bancos do jardim do hotel, enquanto esperava
por meu motorista. Estava me sentindo completamente perdido, curioso,
fascinado.
Theresa estava linda naquele vestido. E se ela me encontrasse, o
que pretendia me dizer?
Ansioso, decidi buscar no meu Iphone por Theresa Butler, fucei as
redes sociais e os sites de busca, mas, infelizmente, não encontrei
simplesmente nenhum vestígio dela.
Olhei para as estrelas e me odiei naquele momento por ter me
perdido de Theresa.
O que será que essa noite poderia me reservar, se caso não nos
desencontrássemos?
Estava reflexivo, aéreo, quando fui interrompido por uma
chamada. Torcia para que fosse Margarida com os contatos de Theresa,
mas, infelizmente, era apenas o meu amigo.
— Fala, cara. Chegou em casa?
— Você, por um acaso, conhece Theresa Butler, a governanta?
— Enlouqueceu? Está como um viciado, em abstinência por essa
mulher!
— É uma longa história. — suspirei, sentindo o ódio ainda recente
em minhas veias. — A Pollyana vadia vandalizou o meu carro, inclusive
estou agora no jardim, esperando pelo motorista. Antes disso, fui me
certificar com a segurança do hotel, quem havia cometido tal estupidez e vi
Theresa chegando à festa por volta das oito horas.
— Claramente, ela veio atrás de você. — Roosevelt gargalhou. —
Eu nunca ouvi falar nessa mulher, antes de você me falar sobre ela, é claro.
E não fui eu que a convidei, e por isso que ela deve ter ido embora, não
tinha o convite! Eu fui categórico para que nenhum penetra entrasse na
festa.
— Não sei onde posso encontrar Theresa. O que será que ela
queria comigo?
— Mais uma noite na sua cama, cara de sorte. Relaxa, ela vai
voltar a te procurar. Me beija, Eoth, me beija...
A ligação caiu e o que me restou foi sorrir daquela cena hilária e
corriqueira no roteiro de Eoth Roosevelt.
Realmente o meu amigo estava se divertindo e, curiosamente, era
uma vida que não me atraía mais.
Apesar de ter aproveitado essa noite, beijando mulheres atraentes,
algo me indicava que era hora de quebrar esse ciclo e tentar encontrar
alguém para compartilhar a vida.
Estranhamente Theresa reverberava nos meus pensamentos, mas
eu não sabia se eu poderia fazê-la feliz. Se ela queria assumir compromissos
com um cara feito eu.
Muitos obstáculos ainda me impediam de dar passos diferentes dos
quais eu sempre dei, então eu preferia esperar por Theresa.
Ela sabia onde eu morava, tinha o meu número de telefone, mas
torcia para que ela não se demorasse, pois já estava tudo pronto para eu
passar uma temporada em Boston, onde eu iria me dedicar inteiramente às
causas sociais.
Se ela me procurasse, eu estaria disposto a dar uma chance à
conexão tão promissora que conquistamos naquela semana, caso contrário
seria um sinal para que continuasse solitário e me dedicando apenas à
empresa, pois, fatalmente, um workaholic, com um passado quebrado,
jamais seria digno de uma pessoa feito Theresa Butler.
Dois anos depois…
Bianca se sentou ao meu lado, me entregando um copo de uísque,
enquanto estava a bordo do meu iate de luxo.
O som das risadas contaminava os meus ouvidos e o brilho do sol
refletia no mar cristalino, criando o cenário perfeito para um fim de tarde
memorável.
Curiosamente, naquele momento em que estava junto à Bianca, eu
reconhecia a minha própria falha ao tentar me afastar da vida desregrada
com mulheres.
Lá atrás, eu havia prometido a mim mesmo que daria um tempo
nesses padrões, mas agora me via a bordo do iate na companhia da garota
sugerida por meu amigo Roosevelt.
Eu me sentia impotente diante de minha própria incapacidade de
resistir aos antigos hábitos, e a presença de Bianca era um lembrete
delicioso de minhas fraquezas, uma situação que não estava nos meus
planos, uma lembrança de que todos os meus esforços para mudar de vida
haviam sido em vão, mas perder o total contato com Theresa foi um
agravante para que isso acontecesse.
— Que início de férias incrível, amigos! — Roosevelt exclamou,
levantando a sua taça de champanhe. — Sem horários, sem demandas e
nada para perturbar a minha paz!
— Concordo com você, amor. Um dia perfeito, ao lado do homem
perfeito. — Charllen, a garota que acompanhava Roosevelt esta tarde,
brindou animadamente com ele, enquanto o meu amigo piscava para mim,
como se eu pudesse ler em seus pensamentos, o quanto ele a considerava
iludida diante de todos os falsos elogios.
— Que inveja, cara. — afirmei, preocupado com os casos que eu
teria que dar conta nos próximos dias. — Para mim é só um final de tarde.
Amanhã já retorno ao trabalho.
— O tempo passa e você não muda! Que cara chato!
Todos gargalharam, enquanto eu bebia o uísque, tentando
aproveitar o máximo daquela tarde, ao lado de meu melhor amigo e de
lindas mulheres.
Enquanto conduzia o iate suavemente pelas águas, senti Bianca se
aproximando, para beijar o meu ombro, as unhas dela deslizavam
assanhadas pelas minhas costas, quando me perguntou com um sorriso
sugestivo:
— Que tal a gente parar em uma das praias para aproveitarmos
ainda mais o nosso dia?
Senti um formigamento percorrer o meu corpo, recuperando os
momentos íntimos que dividimos, mais cedo, num dos compartimentos do
iate, então logo resolvi me dirigir aos demais:
— Pessoal, Bianca está sugerindo atracarmos em uma praia, para
encerrar a nossa tarde com chave de ouro!
Todos concordaram empolgados.
— Ótima ideia, Dirksen! Adoro a sensação de areia nos pés e água
salgada. Uma paradinha na praia é a cereja do bolo para esse dia
maravilhoso. — Charllen proferiu, sorrindo, enquanto Roosevelt hidratava
a bunda da morena com protetor solar.
— Adoraria dar um mergulho. — o meu amigo afirmou, olhando
fixamente para o centro da bunda de sua acompanhante, e não pude evitar
gargalhar ao me dar conta que ele não se referia ao fundo do mar.
— Bianca sempre tem as melhores ideias. Estou ansioso para
assistir ao pôr-do-sol. — confessei e, em seguida, cochichei no ouvido da
mulher. — E tocar na concha mais valiosa da minha sereia.
Bianca deu uma risadinha assanhada.
— Ui, Dirksen...
— Então, está decidido! Rumo à praia! — anunciei, empolgado,
enquanto manobrava o iate na direção da costa.
Aquela embarcação era puro luxo e ostentação. O convés adornado
com almofadas elegantes, ajudava a compor o ambiente aconchegante para
os convidados.
O mobiliário impecável e os detalhes náuticos conferiam um toque
refinado ao espaço.
Bandejas de petiscos gourmet e diversos tipos de bebidas eram
dispostas em mesas de design exclusivo. O brilho do sol refletia nas
superfícies polidas do iate, o que deixava tudo ainda mais bonito.
Ao me aproximar da praia e diminuir a velocidade, retirei meus
óculos escuros, pronto para ancorar e desfrutar da vista deslumbrante.
A tarde estava convidativa e o pôr-do-sol era iminente, porém as
minhas intenções eram mais do que contemplar aquele espetáculo da
natureza.
Assim que atracamos, as meninas mergulharam do iate e fizeram
festa dentro da água, enquanto meu amigo aumentava o volume da música.
— Estamos numa das praias mais agitadas de São Francisco, —
Roosevelt gritava para mim. — teremos que fugir para um lugar mais
retirado, se quisermos desfrutar de nossas sereias.
— Não conhece aquela enseada de pedras? — apontei — Lá,
ninguém pode nos ver.
— Foi Pollyana Fletcher que te ensinou esses macetes? —
Roosevelt me perguntou entre risadas, enquanto as lembranças da vadia me
causavam um forte desconforto no estômago.
— Não me fale no nome dessa mulher. — bufei, observando as
garotas na água. — Depois de eu tê-la processado por ter vandalizado o
meu carro, ela simplesmente tem batido à minha porta, todo o santo dia,
para eu perdoá-la e reatarmos.
Roosevelt me encarou com perplexidade, enquanto eu pensava em
mil maneiras de me livrar de minha ex-noiva.
— Que fixação! Parece que ela enlouqueceu!
Concordei com meu amigo, que debruçou sobre o guarda-corpo do
convés, jogando beijos para Charllen.
— Pois é, meu caro Roosevelt. Mesmo depois de eu ter tirado uns
bons milhares de dólares dela, a sua obsessão por mim continua.
— Pollyana tem síndrome de Estocolmo?
Gargalhei, terminando o uísque.
— Tudo indica que sim.
— Venham, rapazes! — Bianca nos interrompeu, jogando água
para cima. — O mar está uma delícia!
— Estão esperando o que para continuarmos com a nossa festinha
particular? — Bianca completou, enquanto as duas gargalhavam, já
exibindo o topless.
Prontamente trocamos olhares conspiratórios, tentados a fazer
parte daquela cena, então armamos um mergulho e entramos de cabeça na
água e, ali mesmo, já agarramos as sereias, beijando-as como adolescentes
prestes a saciarem a sede.
De vez em quando, Roosevelt me incentivava a embarcar nessas
loucuras, mesmo que eu estivesse mais tranquilo em relação a mulheres nos
últimos anos.
— Vista seu biquíni, sereia. Vamos dar um passeio pela praia. —
orientei Bianca, me deliciando com a bunda farta nas minhas mãos.
A garota assentiu, subindo com o sutiã para os seios protuberantes.
— Charllen e eu vamos aguardar o pôr-do-sol nas pedras. —
Roosevelt não precisava dizer mais nada, conforme eles nadavam na
direção da enseada, eu já presumia as travessuras que estavam prestes a
cometer ali.
No entanto, ao olhar para a praia, contemplando a linda vista que
tínhamos do mar, o meu coração de repente deu um salto.
— Caralho. Não pode ser. — sussurrei para mim mesmo,
completamente incrédulo, enquanto me mantinha flutuando nas águas.
Retirei os óculos escuros e permaneci petrificado, apenas
experimentando beijos de Bianca por meu pescoço.
Estava tomado pelo choque, ao reconhecer Theresa, minha ex-
governanta, acompanhada por uma mulher e duas adoráveis bebês de
aparentemente dois anos. Após tanto tempo, ela aparecia inesperadamente
no meu campo de visão.
Os meus sentimentos se misturaram entre surpresa, incredulidade e
uma estranha sensação de saudades.
Como poderia reagir ao reencontrar com a mulher que, de alguma
forma, ainda ocupava um lugar especial nos meus pensamentos?
— Suba para o iate. Eu já vou lá te encontrar. — impus à Bianca
que prontamente me obedeceu.
— Não demore, amor. — miou, antes de me beijar rapidamente a
boca.
Dei as costas para a morena e nadei incansavelmente, até que meus
pés encontrassem a textura da areia.
Caminhava pelas ondas, como se desbravasse o mar, tamanha
ansiedade para estar com Theresa.
Ela estava de pé, contemplando o oceano, vestida num atraente
maiô pink, enquanto a amiga e as crianças interagiam na construção de um
castelo de areia.
Finalmente, alcancei a praia, quando vi Theresa retirando seus
óculos escuros.
Os seus olhos instantaneamente se arregalaram quando ela os
colocou em mim. Naquele instante, surpresa, emoção, perplexidade
transpareceram no seu semblante.
E, comigo não era diferente, o meu coração, indeciso, não
conseguia encontrar o ritmo certo. Toda a vontade de abraçá-la, de
descobrir se ela havia finalmente encontrado um emprego e entender o que
ela precisava quando me procurou na festa, consumia as minhas forças.
Nos últimos dois anos, essas questões me visitavam de tempos em
tempos, e agora, diante dela, pareciam mais urgentes do que nunca.
— Theresa! — gritei e acenei.
A loira continuou paralisada me observando, com as mãos sobre a
boca, como se tivesse acabado de ver um fantasma.
— Eros Dirksen... — ela sussurrou, assim que me aproximei.
As ondas quebravam nos nossos pés, eu não sabia nem o que dizer,
embasbacado pela beleza daquela mulher que exercia sobre mim um
encanto indescritível.
Olhei nos olhos de Theresa, fascinado pela beleza que o tempo não
havia apagado. Naquele momento eu me deparava com um passado que
nunca havia sido completamente esclarecido.
Mal me dei conta quando ela fez um sinal para a amiga se afastar
com as crianças, claramente querendo privacidade.
— Quanto tempo, Theresa. — o meu olhar percorreu cada detalhe
dela. — Estive em Boston por dois anos e nunca mais nos encontramos.
Os lábios úmidos, bem desenhados, ressaltavam sua beleza
genuína, os cabelos elegantemente penteados em uma trança, e as leves
sardas que salpicavam suas bochechas, apenas acrescentavam ainda mais
charme ao rosto delicado.
— Então quer dizer que o senhor ainda se lembra de mim? —
Theresa indagou, seu semblante carregado de ressentimento.
— Deus, como eu poderia apagar você da minha memória? Você
fez toda diferença na minha casa, naqueles dias. — tentava manter a
conversa amigável, pois sentia que Theresa me cobria com um olhar
diferente daquele que me desferia pelos corredores da mansão.
— Uma empregada que te serviu em todos os aspectos? — Theresa
soltou, me provocando de uma maneira tão ácida.
Ergui as sobrancelhas, sem entender a aspereza em suas atitudes,
então cruzei os braços, tentado a abraçá-la.
— Não diga essas coisas. Você sempre será digna do meu respeito.
Não sei se você se recorda, mas aquele momento incrível que tivemos
juntos, foi muito significativo para mim também.
Senti a urgência de suavizar a tensão, ao mesmo tempo em que
contemplava o colo bronzeado de Theresa, onde ósculos escuros estavam
deliciosamente encaixados, a elegância dos seios pequenos e empinados, e
as gotas que cintilavam perfeitamente sobre sua pele perfumada me fizeram
suspirar.
Será que outro homem teve a audácia de possuí-la, nesses últimos
dois anos?
— Deve falar isso quando quer levar alguém para cama. — a ironia
na voz de Theresa me atingiu em cheio, me deixando intrigado.
Olhei atordoado para os lados, coçando o queixo, a palpitação forte
em meu peito.
— O que aconteceu? Por que está tão reativa? Seu marido está por
perto? Quem são aquelas meninas? — questionei, tentando entender o
contexto.
A maneira como Theresa me encarava nos olhos me
desconcertava.
— São filhas de Winter, a minha amiga. E eu não estou casada, ao
contrário do senhor.
Sorri, completamente confuso.
— De onde tirou isso? Eu sempre fui solteiro! — respondi
rapidamente, me sentindo obrigado a deixar claro o meu estado civil. —
Você acha mesmo que eu poderia ter algo com você, comprometido?
Theresa olhou para mim, por cima dos meus ombros, observando
Bianca tomando sol na proa do iate.
Pigarrei, embaraçado.
— Não tenho nenhum compromisso com ela, aliás... — comecei a
explicar, mas fui interrompido.
— Eu não quero ser como a minha mãe, a válvula de escape dos
homens, a quem recorrem para satisfazer seus desejos. Sou muito mais do
que isso, Dr. Dirksen. — Theresa declarou com firmeza, enquanto eu
imaginava que, por ela ter me visto com Bianca, inevitavelmente, tirava
conclusões absurdas.
— Sim, você é muito mais do que uma mulher atraente que eu
desejava ter nos braços! Você tem tanto valor, que eu mal consegui parar de
pensar em você, garota. — falava, implorando para ser compreendido,
enquanto Theresa me olhava desconfiada. — Todas as vezes que eu visitava
os cômodos da minha casa, onde você costumava ficar, eu me perguntava se
você já havia conseguido um emprego, sobre os motivos que te levaram até
a festa de Roosevelt e, infelizmente, eu não consegui o seu contato para
esclarecer tudo isso. — Theresa entreabriu os lábios, visivelmente
constrangida. — Eu não conheço a sua mãe, mas imagino que ela não tenha
sido exemplo para você, mas, ao mesmo tempo, admiro a criação que
recebeu do seu pai, a sua índole, os seus princípios, isso tudo é muito
valioso e nobre.
Dei dois passos, diminuindo os centímetros que nos separavam.
Theresa suspirou, seu colo subindo e descendo diante dos meus
olhos.
Então ela contornou meu tórax, pausando na marca de nascença em
minha costela, depois elevou as pupilas atrevidas até a minha boca,
retirando os óculos do decote tentador para colocar em seu rosto.
— Eros, as suas palavras são gentis, mas não podemos ignorar a
bela morena no seu iate. — sorri, em negação. — Apesar de eu valorizar as
lembranças da minha estadia na sua casa, as circunstâncias mudaram. Eu
não busco ser apenas "uma mulher atraente" em sua vida, eu preciso manter
a minha dignidade. Você precisa respeitar aquela moça e parar com essas
palavras vazias de conquistas. — abri a boca, mas Theresa me interrompeu.
— Quanto à minha mãe, é um assunto delicado, e prefiro não discutir sobre
ela agora. — ela relaxou os ombros e eu percebi que ela me odiava. — Eu
preciso ir embora. Tem uma moça linda te esperando.
Ela me deu as costas, seus cabelos criando um espiral perfeito no
ar.
— Não vai me dizer o que queria comigo no dia da festa de Eoth
Roosevelt?
Thereza girou seus delicados calcanhares sobre a areia, deixando
um círculo desenhado na textura fina.
— Eu nem me lembro do que comi ontem no almoço. Com
licença.
Segurei na mão de Theresa.
— Nós precisamos conversar, querida. Esclarecer o que for preciso
para que você pare de me tratar com tanta indiferença e ressentimentos.
Aquela garota é apenas uma amiga. — declarei, sentindo urgência em
resolver os mal-entendidos. — Sei que você é uma mulher de valor, com
uma história admirável. Estou verdadeiramente interessado em saber se há
algo que eu possa fazer para que a gente possa voltar a se entender.
Theresa cruzou os braços, amassando os seios gostosos, depois
arqueou os lábios num sorriso bonito.
— Você não está acostumado a ser esnobado por uma mulher como
eu, não é mesmo? — ela provocou, antes de se afastar definitivamente, me
deixando completamente confuso.
— Não. Ninguém é igual a você. — respondi, mas claramente ela
não me ouviu.
Perplexo com aquele encontro inesperado e as emoções que
Theresa ainda despertava em mim, eu suspirei sentindo um nó firme em
meu peito.
Paralisado, vi que, mais à frente, ela se encontrou com a sua amiga
e as crianças, que estavam sentadas sob a sombra de uma barraca.
Fiquei entretido ao ver as filhas de sua amiga correndo ao encontro
de Theresa, abraçando as suas pernas com alegria.
A loira pegou uma delas no colo, enquanto a outra pequenina
segurava na sua mão em busca de proteção.
Cocei o queixo, intrigado e fascinado com aquela cena que
revelava um lado maternal em Theresa que, até então, eu desconhecia.
— Theresa, — gritei, e ela me olhou. — Eu te espero na minha
casa! Você sempre será bem-vinda! — ainda tive tempo de dizer, enquanto
ela se afastava com olhares inseguros na minha direção.
Retornei ao iate, nadando na direção do pôr-do-sol, tendo certeza
que todo o clima sexual entre mim e Bianca havia se dissipado,
irreversivelmente.
Claramente Eros estava mentindo. Estava tão evidente que, mais
uma vez, ele só desejava me levar para sua cama!
O aroma forte de álcool encobria o perfume sofisticado e, apesar
de estar mais maduro, a lábia de cafajeste ainda persistia imune ao tempo.
Foi um momento completamente aleatório, enquanto eu observava
tranquilamente o mar, uma figura de um homem belo e com músculos
definidos surgiu no meio das ondas, como se Poseidon emergisse do seu
próprio reino.
A surpresa fez o meu coração acelerar descontroladamente,
enquanto uma avalanche de lembranças me afogava.
As ondas trouxeram para mim, não apenas as pequenas conchas
que eu catava para as meninas, mas também uma enxurrada de emoções
com as quais eu lutava para manter adormecidas, inclusive eu acreditava
que já as havia superado.
No entanto, a voz grave e autoritária, o corpo esguio, agora ainda
mais irresistível, os lábios hipnotizantes que despertavam sensações únicas,
os cabelos molhados pela água do mar, e o olhar penetrante que parecia
queimar a minha pele, me deixaram completamente imobilizada.
Era como se o tempo não tivesse passado, e o meu coração insistia
no seu descompasso quando eu estava diante da presença do advogado
delicioso Eros Dirksen.
E as minhas emoções foram completamente abaladas, quando me
dei conta que ele estava acompanhado por uma mulher. A sua esposa.
Um desconforto intenso se apoderou do meu peito, me lembrando
de que, apesar da gentileza de Eros e toda a sua reafirmação de respeitar a
minha pessoa, ele não tinha a menor ideia de que eu estava ciente de toda a
verdade sobre o seu estado civil.
Tudo indicava que ele fazia questão de ocultar essa condição,
apenas para mais uma noite de desejos.
Mesmo após tanto tempo, confesso que ele continuava a exercer
um certo fascínio sobre mim.
Apesar de todos os meus esforços para seguir em frente, Eros ainda
tinha o poder de mexer com as minhas emoções de maneira imprevisível,
trazendo de volta questionamentos e sentimentos os quais eu preferiria
deixar para trás, inclusive a necessidade de eu contar a ele sobre Honey e
Chloe.
— Tessa, pelo amor de Deus, deveria ter contado a verdade a Eros!
— o meu pai esbravejava, me despertando dos devaneios, enquanto eu
servia legumes com carne às meninas. Elas estavam sentadas uma ao lado
da outra num lindo cadeirão cor-de-rosa. — Não acho justo Honey e Chloe
estarem com dois anos e não conhecerem o pai, inclusive um milionário que
poderia nos ajudar em todos os aspectos.
Desferi um olhar de censura para papai, enquanto Winter preparava
o suco de toranja para as afilhadas.
— Como eu poderia confessar algo tão delicado, na praia, pai? —
pausei a colher no ar, mas Chloe, gulosa como sempre, puxou a minha mão,
com seus dedos gorduchinhos, até a sua boca. — Ele estava acompanhado
de uma morena sensual, que certamente escapou de alguma capa de revista,
inclusive eu acredito que ela seja a sua noiva na época e, agora, a sua
esposa. São tão parecidas! E como contar algo tão sério, para um homem
supostamente casado, como se fosse um simples “boa tarde”?
Winter entregou os copos coloridos com tampa e canudo às
meninas, parando ao meu lado apenas para me fuzilar com o seu olhar de
repreensão.
— Quando vai ter oportunidade de encontrar Eros novamente, para
contar a ele a verdade, Tetê? Eu ainda acho que você desperdiçou uma
oportunidade única.
Relaxei nas almofadas, enquanto as minhas bebezinhas sugavam o
suco pelo canudo.
— Eu não tenho vontade alguma de partilhar as meninas com ele.
Eros é casado. Não quero seguir os mesmos passos da minha mãe.
O meu pai bufava, ao meu lado, ainda indignado por eu ter
desperdiçado a chance de revelar toda a verdade a Eros.
— Você não teve culpa alguma por ter se relacionado com ele,
Tessa, pois nem sabia que ele estava comprometido.
E Winter, sempre compreensiva, também tentava aliviar a minha
culpa.
— Eros é quem deve assumir as suas próprias responsabilidades,
esteja ele casado ou não, e como a esposa dele vai reagir à traição, isso não
é da sua conta.
— Não faço questão de contar nada a ele agora. — Winter revirou
os olhos, recolhendo os copos de suco. Voltei a tratar das bebês, enquanto
sentia os pezinhos de Honey batendo nos meus joelhos. — De uma forma
ou de outra, eu tenho um emprego estável na sorveteria, o que me permite
levar a vida e cuidar das meninas dentro das nossas possibilidades.
O meu pai então se ajeitou na poltrona, para se aproximar de mim.
O olhar marejado oscilando no meu e nas gêmeas à minha frente.
— Eu sei o quanto você lutou para conseguir esse emprego, Tessa,
mas, infelizmente, não podemos ignorar a realidade financeira. — então ele
baixou o tom de voz, quando a minha amiga recolheu o prato vazio da
minha mão. — Não queria falar sobre isso na frente de Winter, mas estou
preocupado com a parcela da hipoteca de nossa casa.
— Não se intimidem com a minha presença. Não estou ouvindo
nada, apenas curtindo as minhas bonequinhas. — Winter declarou, já
levando as meninas pela mão até o banheiro.
Enquanto isso, um forte aperto esmagou o meu coração. A questão
da hipoteca trouxe à tona desafios financeiros, as quais eu até então
desconhecia.
O que o meu pai estava escondendo de mim?
— Pai, mas não estamos em dia com a hipoteca? — perguntei,
angustiada.
Ele fez uma negativa com a cabeça, o que logo me desesperou.
— O tratamento dos dentes é muito caro, Tessa. — ele envolveu as
nossas mãos. — Infelizmente tive que remanejar as despesas para poder
pagar o dentista.
Sorri, compreensivelmente, afagando os dedos magros.
— Não se culpe por isso, pai. O senhor estava sentindo muita dor e
com uma inflamação absurda, precisava desse tratamento com urgência.
Ele umedeceu os lábios, antes de me desferir um olhar de
desespero.
— Estou com muito medo de perder a nossa casa. Parece que tudo
está fugindo do meu controle, agora. — confessou com a voz entrecortada,
enquanto uma espécie de lâmina atingiu em cheio o meu peito.
— Isso não vai acontecer. — declarei, otimista. — Eu vou ao
banco conversar com o gerente, quem sabe eu não consigo fazer algum
acordo?
— Espero de coração que dê tudo certo, menina. — ele ficou de
pé, caminhando pela pequena sala de nossa casa. — Nem tão cedo eu vou
conseguir arcar com as despesas da hipoteca.
Uma lágrima escapuliu dos meus olhos, quando fitei Winter
brincando com as gêmeas, criando laços tão genuínos que me faziam hesitar
envolver Eros nessa situação.
O temor de seguir os mesmos passos da minha mãe me impedia de
tomar qualquer atitude. Por hora, eu estava fazendo a coisa certa.
— Apesar de todas as dificuldades, as meninas trouxeram tanto
amor para as nossas vidas. — confessei, entendendo que não havia sido um
erro do destino, gerá-las naquela tarde.
O meu pai se abaixou ao lado de Honey e entregou a ela uma
boneca, Chloe se aproximou e retirou o brinquedo da mão da irmã. Depois
elas se sentaram com Winter sobre o tapete.
— Elas só trouxeram amor, alegrias e leveza. A nossa vida já é
sofrida demais, minha filha. — o meu pai declarou, levemente emocionado,
antes de me fazer um pedido. — Converse com o Eros sobre as gêmeas,
sobre as nossas batalhas. Ele é o pai.
Winter me observava com expectativa, esperando que eu cedesse
de uma vez por todas ao apelo de meu pai.
— Eu não quero ser a “outra”. — debrucei sobre os meus joelhos,
levando as mãos ao rosto. — É tão triste saber que essa será para sempre a
minha condição, quando na realidade eu mereço muito mais que esse
maldito fardo. Parece que foi a herança que a minha mãe deixou para mim,
ser a amante, a segunda opção, a que...
— Esqueça a sua mãe, Tessa. — o meu pai segurou nas minhas
mãos, retirando elas de meu rosto. — Você é uma menina de caráter, os seus
valores jamais deixariam você cometer esse erro infame, você foi ludibriada
por um homem sem escrúpulos. Por favor, não se compare a Georgina,
afinal a única coisa que vocês têm em comum é a aparência.
A minha mãe também era loira de olhos azuis, enquanto meu pai
tinha cabelos castanhos, agora tingidos pelo tempo, olhos escuros e uma
cicatriz sobre o supercílio, da qual eu não sabia a origem.
— Eu fiquei tão decepcionada quando eu fui dar a notícia da
gravidez à mamãe, e ela simplesmente me ignorou, nem ao menos abriu a
fresta da porta, para saber do que eu precisava.
Lamentei, recuperando as lembranças do dia em que decidi
procurar a minha mãe, na semana em que soube do noivado de Dr. Dirksen.
O meu objetivo era desabafar com ela e aliviar a carga de culpa
que sentia, por estar ameaçando uma família.
Pretendia ouvir da boca dela, conselhos e palavras de
arrependimento, no entanto, a sua atitude me deixou muito mais frustrada
do que eu já estava me sentindo.
— Você esteve lá na melhor das intenções, e a sua mãe te deu o
que ela carrega no coração. — o meu pai voltou a se sentar ao meu lado,
enquanto Chloe penteava o cabelo de Winter e Honey passava batom no
rosto de sua madrinha. — Uma mulher amarga e que renegou a nós dois,
não poderia agir diferente.
Suspirei, a ponto de sentir o meu coração arder.
— Ela não mudou nada. Fria e indiferente, uma verdadeira vilã.
O meu pai, então, arqueou os lábios num sorriso irônico.
— Está mais rica agora.
Prontamente fiz uma negativa incessante com a cabeça.
— Eu não quero ser como ela! Deus do céu, que maldito pesadelo!
Meu pai sorriu, afastando com carinho uma lágrima teimosa que
escorria pelo meu queixo.
— Eu te admiro muito, minha filha. Que orgulho eu sinto de você.
Ele me tomou em seus braços, enquanto eu sentia alívio percorrer
meu corpo.
Apesar de todos os dramas, eu estava me sentindo acolhida, com as
forças renovadas para oferecer o melhor para as minhas meninas.
Enquanto estava abraçada ao meu pai, senti mãozinhas minúsculas
tocando nos meus cabelos, maneei o rosto e percebi que eram Honey e
Chloe.
Sorrimos, envolvendo as bebês nos braços, enquanto Winter
fechava a porta lentamente, como se não quisesse atrapalhar o momento em
família que compartilhávamos ali.
— Te amo, papai.
— Você é a minha vida, minha pequena Tessa.
Deixei a sorveteria mais cedo naquele dia, determinada a resolver
no banco, a questão delicada do pagamento da hipoteca da casa.
Confesso que nas noites anteriores, mal consegui dormir,
atormentada pelas palavras do meu pai sobre revelar a verdade a Eros, tanto
sobre as meninas quanto sobre nossa situação financeira, que poderia afetar
o bem-estar delas e também o nosso.
Apesar disso, me sentia confiante de que poderia adiar o
pagamento da hipoteca por alguns meses, apenas para que meu pai pudesse
colocar em dia as suas parcelas com o dentista.
Assim, teríamos tempo suficiente para resolver nossos problemas
financeiros.
Coloquei os pés no banco e, inexplicavelmente, me senti confiante
que teria um desfecho positivo àquela situação que nos afligia, ao mesmo
tempo em que recriminava mentalmente o meu pai, por ele ter adiado me
falar a verdade sobre nossa realidade econômica, já que ser pega de
surpresa me deixou ainda mais angustiada.
Assim que me dirigi à moça que estava de pé ao lado da porta
giratória, fazendo a triagem dos atendimentos, expliquei a ela sobre a
situação complexa que gostaria de resolver com o gerente.
— Eu vou te levar até o Sr. Eoth Roosevelt, ele saberá como te
ajudar. — me disse com um sorriso reconfortante, enquanto eu sentia as
minhas pernas bambas nas escadas até a sala do gerente, afinal de contas
aquele nome soava bastante familiar.
Só poderia ser o banqueiro famoso, melhor amigo de Eros
Dirksen!
Assim que atravessamos um corredor acarpetado, prontamente a
moça abriu uma das portas e me anunciou ao gerente.
Fiz um sinal da cruz disfarçado, buscando um alento, antes de
adentrar a sala elegante e me sentar em uma das cadeiras de couro.
O homem surgiu do outro lado da sala, com uma xícara de café nas
mãos, exibindo também os seus cabelos ruivos como fogo que contrastavam
com o terno marrom.
— Bom dia! — Eoth me cumprimentou, esticando a mão na minha
direção. — No que posso ajudar, Sra. Butler?
Retribuí o aperto de mão, temendo ele sentir a minha palma gelada.
Ironicamente, as minhas seguranças haviam ficado pelo caminho,
quando me dei conta que estaria frente a frente com o melhor amigo de
Eros Dirksen.
E se Eoth se lembrasse de mim? E se ele contasse a Eros Dirksen
sobre as minhas dificuldades financeiras ou sobre as meninas?
Não, eu não poderia me abrir com ele sobre as gêmeas!
Então me ajeitei na cadeira, tentando parecer confiante, para
explicar a situação de forma mais neutra possível, enquanto ele soprava o
café, olhando de maneira interrogativa em meus olhos.
— Sr. Eoth, eu estou aqui por um motivo bastante delicado.
Quando meu pai e eu compramos nossa casa, decidimos pagar uma quantia
inicial e financiar o restante com o banco. Assim, assumimos um
compromisso de trinta anos com a hipoteca. — ele assentiu, depositando a
xícara de café sobre o pires, para depois cruzar os braços à minha frente.
Umedeci os lábios, buscando as palavras certas. — No momento, estamos
enfrentando algumas dificuldades financeiras. O meu pai está passando por
um tratamento caríssimo nos dentes e precisamos realocar algumas
despesas para cobrir os custos. Por isso, se possível, gostaria de ver com o
senhor a possibilidade de adiamento das parcelas da hipoteca por um
tempo.
Ele franziu o cenho, claramente surpreso com a minha proposta.
— Eu entendo a sua situação, Sra. Butler, pois lido com casos
semelhantes diariamente, mas, infelizmente, não há qualquer possibilidade
de adiar as parcelas. O banco tem regras rígidas, e não posso fazer
exceções. — Eoth foi direto, e enquanto ele me avaliava com seriedade,
sentia o meu coração se partindo em mil pedaços.
Talvez eu tivesse solicitando algo muito absurdo, porém o
desespero em resolver as coisas afetava o meu bom-senso.
Suspirei, sentindo o peso da decepção.
— Por favor, Sr. Roosevelt, é uma situação temporária. — debrucei
sobre a mesa, sentindo os meus olhos marejados. — O meu pai precisa
desse tratamento com urgência, e estamos fazendo o possível para ajustar
nossas finanças. — implorei, sentindo um bolo doloroso atravessando a
garganta.
Eoth permaneceu sério, coçou o alto da cabeça e depois bebeu um
pouco mais do café.
— Compreendo, senhora, mas as políticas do banco são bastante
rígidas quanto a isso. Não podemos abrir exceções sem uma justificativa
muito forte.
— Mas a saúde do meu pai...
No entanto, antes que eu pudesse argumentar, a ponto de cogitar
ficar de joelhos à frente do banqueiro, o telefone tocou e Eoth o atendeu
imediatamente, indicando com um gesto de mãos que nossa conversa havia
chegado ao fim.
Claramente, ele não poderia fazer mais nada por mim.
Naquele momento, com a sensação de que o mundo desabava ao
meu redor, tomei a decisão de sair dali, pois tudo indicava que eu não
conseguiria mais argumentos para tentar solucionar os meus terríveis
problemas financeiros.
Desci as escadas do banco, sentindo um véu de lágrimas cobrir
meus olhos. Estava profundamente decepcionada.
Uma forte sensação de fracasso me angustiava, enquanto pensava
em como encarar meu pai e comunicar a ele que não havia conseguido adiar
as parcelas.
Vi a porta giratória à minha frente e estava prestes a atravessá-la,
quando, de repente, um homem alto, esbelto e de olhar infernalmente
penetrante bloqueou o meu caminho.
— Theresa? Que coincidência deliciosa te encontrar por aqui.
Para a minha surpresa, deparei-me com Eros Dirksen, parado
próximo à entrada do banco.
Busquei ar, mas foi em vão. O susto ainda tão recente em meu
peito.
Estava completamente sem reação, pois não esperava encontrá-lo
ali agora.
Mal percebi e Eros se aproximou, claramente percebendo a tensão
desenhada no meu rosto.
Desconfortável com aquele flagra, e eu me vi tentando disfarçar a
frustração que tive há pouco na sala de Eoth Roosevelt.
Não poderia permitir que Eros soubesse sobre as minhas
dificuldades financeiras. Eu jamais pediria ajuda a um homem
comprometido, ainda que ele fosse o pai de minhas filhas.
— Você está pálida. Quer ajuda?
Os olhos preocupados de Eros me envolviam, a minha boca
entreaberta, tentada a contar toda a verdade a ele, balbuciava palavras sem
sentido, e tudo o que consegui fazer, foi segurar firmemente na minha bolsa
e seguir na direção da saída.
Confusa, atravessei a porta giratória, mas, para a minha falta de
sorte, a minha pressão oscilou.
Pausei por um instante, para recuperar o fôlego, quando senti a
porta trombar imediatamente nas minhas costas.
Cambaleei pela calçada, no meio das pessoas, o rosto ardendo de
vergonha, quando braços fortes me ampararam.
— Você está bem? — assenti, entendendo que não adiantava
mentir para Eros, sobre o meu estado emocional. — O que o destino quer
de nós, Theresa? Mais uma vez nos encontrando, depois de tanto tempo. —
ele me falou, com os olhos negros dentro dos meus, o perfume delicioso
que me envolvia, as mãos pesadas firmando a minha estrutura.
Dificilmente eu me recuperaria do mal súbito.
— O destino não pode exigir nada. Sou eu que mando nele. —
respondi, tentando soar mais forte do que realmente me sentia.
— Você está tão reativa, Theresa. — ele me ajeitou nos braços e o
meu corpo instantaneamente se abrigou ao dele. As minhas mãos na rigidez
de seus braços, as nossas bocas separadas por milímetros. — Eu peço
desculpas se te fiz alguma coisa, se eu ultrapassei todos os limites com
você.
Ele olhava para mim com uma preocupação sincera e, por um
momento, me senti tocada por todo o seu acolhimento.
— Não tem como mais voltar no passado para desfazer o que
vivemos, eu só preciso que você me abrace agora, Eros. — as palavras
escaparam dos meus lábios antes que eu pudesse detê-las, e ele prontamente
me envolveu em seus braços, oferecendo todo conforto que eu precisava.
Ali, eu me senti tão acolhida, a ponto de conseguir liberar toda a
carga emocional que estava represando até o momento.
— Por que está chorando? Como eu posso te ajudar? — a sua voz
era gentil, carregada de preocupação genuína.
— Tudo está desmoronando. — murmurei, lutando contra as
lágrimas que não paravam de cair. — Estou enfrentando um dos momentos
mais difíceis de toda a minha vida.
A minha vontade era de confessar tudo a Eros, mas eu precisava
pensar com mais racionalidade e não acreditar que todo o carinho que
estava recebendo agora, seria capaz de apagar toda a decepção que ele me
causou naquela época.
— O meu carro está logo ali. — ele apontou para o veículo
estacionado à beira da calçada. — Eu posso te levar para um lugar mais
tranquilo.
Enxuguei o rosto com as mãos.
— Eros, eu preciso voltar para a sorveteria. O meu chefe me
liberou apenas por uma hora. — a minha voz estava embargada, repleta de
incertezas, quando eu me soltei daqueles braços fortes.
O calor do corpo dele ainda fresco na minha pele.
— É o seu novo emprego? — ele perguntou, sua expressão séria e
atenta.
— Sim, já estou trabalhando lá há mais ou menos um ano. Não é o
emprego dos sonhos, mas pelo menos eu consigo ajudar o meu pai com as
despesas. — expliquei, sentindo um peso nos ombros ao mencionar nossas
dificuldades.
Nada seria fácil daqui para frente.
— Não precisa ficar com vergonha de pedir ajuda. O que eu posso
fazer por você, Theresa? É difícil te ver tão triste e não poder fazer nada. —
as suas palavras eram gentis, mas eu me sentia extremamente
desconfortável para confessar todos os meus dramas ao homem que eu não
confiava.
— Obrigada pela generosidade, Eros, mas o seu apoio já foi o
suficiente. — respondi, grata por toda a sua preocupação, mas determinada
a resolver os meus problemas por conta própria, pois, desde muito pequena,
quando a minha mãe partiu, sempre senti uma força interior me
impulsionando a seguir em frente de forma independente.
Inclusive a minha autoconfiança poderia ser perfeitamente
confundida com orgulho.
— Eu estou aqui para te ajudar no que for preciso, — ele uniu as
nossas mãos e uma carga elétrica desceu por meu corpo. — mas se ainda
não se sentir segura para isso, eu te respeito. — a compreensão de Eros me
reconfortou, mesmo que eu ainda estivesse lutando para aceitar a sua ajuda.
— Eu só preciso que vá até o carro. Não posso deixá-la aqui sozinha e
vulnerável desse jeito, na calçada. Mesmo que prefira ficar em silêncio e
não se abrir comigo, eu não posso me omitir em ajudá-la.
Prontamente ele me guiou para o veículo de luxo, abriu a porta e,
sem que eu me desse conta, joguei o corpo no carona, completamente refém
das minhas emoções.
— Para onde estamos indo? — balbuciei, apreensiva.
Depois passei as mãos pelo rosto, imaginando que deveria estar
retornando à sorveteria e não me rendendo aos encantos daquele maldito
deus-grego que, além de tudo, era comprometido.
— Não vai ficar chateada se eu te disser que estou te sequestrando
para a minha casa? — a pergunta de Eros foi acompanhada por um sorriso
irônico, e eu não pude deixar de sorrir também, apesar da turbulência de
emoções que eu estava enfrentando.
Depois inspirei profundamente o perfume de Eros que envolvia
todo o carro, torcendo para não me arrepender das minhas atitudes
impulsivas.
Em seguida, ele afivelou o cinto, colocou os charmosos óculos
escuros no rosto e partimos em direção à mansão onde eu havia vivido um
dos momentos mais especiais de toda a minha vida.
— Sinto saudades dos dias que passei lá com você, das nossas
conversas e, claro... de cuidar de você, e eu entendo que a sua esposa não
vai gostar nada, quando eu chegar, te acompanhando. Eu não tenho
intenções de causar mal-estares e, por isso, é melhor eu retornar ao meu
trabalho imediatamente. — falei, me sentindo vulnerável ao revelar os meus
sentimentos e insegura por estar prestes a estar num lugar onde eu não seria
bem-vinda.
— A minha esposa? De onde tirou tamanho absurdo? Eu já te
expliquei, Theresa. Eu sou solteiro. — Eros pareceu confuso por um
instante, antes de eu esclarecer.
Se ele, mais uma vez, pretendesse me enganar, eu juro que nunca
mais olharia nos seus olhos cínicos.
— Eu ouvi tudo, Eros. — as lembranças daquela noite ainda
frescas na minha memória, enquanto eu encarava a paisagem de São
Francisco através da janela do carro. — Naquele dia, em que fui à festa de
aniversário do banqueiro, no hotel Ruiz, para te encontrar, as coisas
acabaram não saindo como o planejado. A minha amiga ficaria de
recepcionista e facilitaria a minha entrada, mas houve um imprevisto e
acabei sendo intimidada pelo segurança da festa, então fui até o banheiro,
onde pude ouvir uma conversa de sua noiva sobre o casamento de vocês,
mencionando um lago de águas azuis turquesas e chuva de pétalas de
petúnia.
Eros negou impacientemente com o dedo, e eu franzi o cenho
desconcertada.
— Pollyana Fletcher não é mais a minha noiva. — declarou de
maneira ríspida, a sua expressão séria enquanto ele se concentrava na
estrada.
— Desculpe, mas eu vi aquela morena te beijando na festa e depois
ela estava no seu iate.
— Calma, Theresa. — Eros respirou fundo, visivelmente tenso. —
Você está equivocada. Pollyana e Bianca são pessoas distintas. Eu
realmente estive noivo da Pollyana Fletcher por dois anos. Nosso
relacionamento começou na adolescência, mas terminamos de uma forma
muito dolorosa. Até hoje ela não aceita a separação e, embora ela tenha me
roubado aquele maldito beijo na festa, eu não consigo nem ao menos
encará-la.
— Então você não é casado? — a minha surpresa era evidente, o
meu corpo enfraquecendo aos poucos.
Eros negou com a cabeça.
— Eu nunca me casei com ninguém. Foi um tremendo mal-
entendido. — a voz dele ressoou como uma trombeta. Seu tom carregado de
sinceridade fez o meu coração apertar. — Agora tudo faz sentido, não é
mesmo, Theresa? Porque tem me evitado e agido de maneira tão diferente
daquela que eu conheci há dois anos.
Ele estava realmente indignado com as minhas acusações
infundadas.
Ainda perplexa, fiquei olhando para as árvores que contornavam o
caminho que nos levava até a mansão de Eros Dirksen. Se a minha pressão
estava baixa, agora, então, parecia ter despencado.
Refletia sobre a maneira que julguei Eros, acreditando que ele
fosse a pior das criaturas, um mau-caráter que havia traído a sua noiva, um
cafajeste que teria me engravidado e me enfeitiçado com a sua lábia, mas
agora tudo mudava de figura.
Será que aquele era o momento certo para eu falar sobre as
meninas?
Quando me dei conta, Eros abriu a porta do carro para que eu
saísse. Vi a sua mão de anéis prateados repousando à minha frente, como se
fosse um porto-seguro, ao qual eu deveria me agarrar.
Segurei firmemente na sua mão e me coloquei de pé, ajeitando o
vestido verde-claro no corpo, o uniforme da sorveteria.
— A Margarida está de folga. Agora é nossa chance de ter um
pouco de privacidade para colocar tudo em ordem e consertar os equívocos.
Pausei ao lado dele, sentindo a maciez do gramado sob meus saltos
bloco.
— Eu te julguei, Eros. Eu te odiei por todos esses meses, pensando
que você tivesse traído a sua noiva, apenas como maneira de me iludir e me
levar para a sua cama.
Ele acariciou o meu rosto, enquanto as nossas respirações
intercalavam.
— Eu não condeno os seus sentimentos, Theresa. Eu também me
odiaria se estivesse no seu lugar. Eu repudio qualquer tipo de traição, os
laços que são rompidos de maneira tão baixa e cruel, deixam feridas que
parecem eternas. O meu pai traiu amargamente a minha mãe. Pollyana
Fletcher também me traiu.
Naquele momento, eu pude ver a dor estampada no rosto de Eros.
Os seus olhos estavam de um preto muito intenso.
A minha vontade era de voltar no tempo e evitar que todas essas
confusões abalassem a conexão tão profunda que estávamos construindo
juntos.
— Sinto muito… agora eu entendo toda a sua aversão a
relacionamentos. É uma dor irreparável ter a traição como motim de nossas
decepções. É como uma flecha lançada, é algo que não dá para ser desfeito.
O perdão pode ser reparador, mas as lembranças são muito teimosas para
permitir que as coisas voltem a ser como antes.
O coração dele estava quebrado, como o meu também estava. As
nossas vidas se coincidiam nesse aspecto doloroso.
Assim como eu, Eros também foi marcado pela decepção de seus
pais. Enquanto ele sofria com as falhas de seu pai, eu carregava o peso da
desilusão causada por minha mãe.
Essas coincidências nos uniam profundamente, nos tornando
semelhantes nos nossos sentimentos.
— Eu sempre tentei colocar o trabalho à frente de tudo, para me
esquecer dessas feridas e, claro, me envolver rapidamente com mulheres,
antes que pudesse criar qualquer vínculo com elas. — ele me falava,
enquanto me guiava à entrada da mansão. — Por vezes, cheguei a duvidar
se possuía o suficiente para provocar o amor e o respeito em alguém.
Fechei lentamente os olhos e uma lágrima escapuliu. Eros não
chegou a me ver emocionada diante de suas palavras tão sinceras e
manchadas de dor, pois, naquele instante, ele me conduzia para o interior de
sua sala.
A dor que ele carregava, era a mesma que me feriu durante todo
esse tempo.
— A minha mãe também traiu o meu pai. — Eros me ouvia
atentamente, enquanto me trazia um copo com água saborizada que estava
sobre o aparador. — Ela me deixou no dia do meu aniversário para se
aventurar em um outro relacionamento. — bebi um pouco da água cítrica,
enquanto ele me observava atentamente. — Naquele dia eu me senti tão
rejeitada, como se uma parte de mim tivesse ido embora. Eu tinha apenas
cinco anos de idade, mas o sofrimento não poupou a minha inocência, me
arrancando lágrimas durante semanas. Tudo o que eu não quero para a
minha vida é ser aquela que pode desfazer os pilares de uma família.
Bebi toda a água e respirei profundamente.
Era estranho, mas eu me sentia mais tranquila ao falar sobre tudo o
que sempre esteve no mais oculto do meu coração.
— Sobrevivemos ao pior dia de nossas vidas, e estamos aqui, ainda
lutando contra os ressentimentos, mas maduros e determinados a não
destruir a vida de ninguém. — Eros me convidou para me sentar e então nos
aconchegamos um ao lado do outro, no sofá. — Infelizmente a minha vida
acabou se tornando algo mecânico, dividida entre trabalho, lucros e
madrugadas de insônia. Quando buscava consolo nos braços de outras
mulheres, era apenas uma fuga, uma tentativa de escapar desse vazio. Elas
também se tornavam vítimas do meu ciclo vicioso, mas com você foi
diferente, Theresa. — ele retirou o copo da minha mão e me puxou para os
seus braços. Os seus olhos dentro dos meus, a minha respiração afetada. —
Você trouxe uma luz para minha casa, uma energia que eu não sei explicar.
O que vivemos juntos naquela tarde, não foi apenas consequência das
minhas frustrações, mas sim um reflexo da admiração profunda que sinto
por você, e não é só isso que eu sinto, Theresa.
A sua boca buscava pela minha, nossos corações batendo juntos,
na mesma frequência.
Aquelas palavras tão belas, profundas e sinceras, me envolveram
como uma embriaguez irresistível.
Ele deslizou o nariz reto por minha têmpora, inspirando o perfume
do meu rosto, enquanto as minhas mãos tateavam as costas largas sob o
paletó do terno italiano.
Eros me aconchegou ainda mais contra o seu corpo e eu me dei
conta do quanto ele estava inflamado e pronto para mim.
Um gemido ridículo escapou por meus lábios, ao mesmo tempo em
que eu desejava me entregar inteiramente ao pai das minhas filhas, porém
aquela constatação refreou os meus desejos.
— Eros, eu preciso ir embora. — desviei, buscando pela bolsa que,
ironicamente, já estava no meu braço. — Obrigada pela água e, também,
por todo apoio. Foi importante esclarecer os mal-entendidos.
Girei nas minhas sandálias, determinada a abrir a porta, no entanto,
quando fiz menção de segurar a maçaneta, ele segurou firmemente na
minha mão.
— Fica, Theresa... — sussurrou na minha nuca e eu me arrepiei
inteira. — Você sempre esteve tão presente nesta casa. Nos meus
pensamentos. É incrível como cada parte do meu corpo reivindica pelo
seu... Nada mudou, desde quando eu te vi pela primeira vez.
— Eros, eu não posso. — sussurrei de costas para ele, o seu corpo
se encaixando ainda mais à minha estrutura. — Me perdoe, mas tenho a
impressão que você usa esse mesmo repertório com todas elas.
Eros segurou brutalmente nos meus braços e me virou na sua
direção.
— Impossível. Nenhuma delas foi inesquecível como você. Eu te
toquei pela primeira vez, porque você me confiou o que tinha de mais
precioso, e eu sei te dar o devido valor.
— Eros...
Os olhos dele indóceis dentro dos meus.
— Estamos unidos pelos nossos sofrimentos, mas também por
aquele momento em que você me entregou a sua virgindade.
Ele beijou delicadamente a minha boca, esperando por meu
consentimento, enquanto as suas mãos se afogavam na minha cintura.
— Eu vou me odiar tanto se eu sair daqui…
— Então fica aqui comigo.
O homem afagou a minha coxa nua, por baixo do vestido e,
quando percebi, ele havia retirado a minha calcinha, rasgando a peça íntima
pela lateral.
Sorri, surpresa, quando ele jogou a lingerie sobre um vaso enorme
de folhagens.
Confesso que esfreguei as pernas uma na outra, umedecendo
ansiosamente os lábios, completamente inebriada de desejo, principalmente
quando Eros retirou a roupa, sem deixar de me olhar nos olhos por um
segundo sequer.
Ele realmente sabia como me ter aos seus pés.
Em seguida, as mãos experientes subiram com destreza para o
zíper lateral do vestido, para retirá-lo, bem como o meu sutiã, que desceu
vagarosamente pelos meus braços.
Já completamente pelada, senti o peso daquele homem gostoso
sobre mim, me inclinando lentamente sobre as almofadas do sofá...
Experimentava cada pedaço do meu corpo arrepiar, enquanto os
lábios de Eros roçavam de maneira intensa por meu pescoço e colo.
Eros então suspirou excitado, ao deslizar as mãos pelo desenho dos
meus quadris. Ele mordeu o meu queixo, deslizando o dedo pela minha
boceta melada, estava completamente encharcada.
Aquele homem detinha o poder de me enlouquecer apenas com a
sua presença, e tê-lo assim, de maneira tão vigorosa, me fazia derreter
inteira de prazer.
— Está molhada para mim, garota, que delícia... — ele balbuciou,
explorando ainda mais o meu sexo.
Os dedos intrometidos afastaram os lábios e encontraram sem
dificuldades o clitóris. Perdi o ar ao experimentar tanto tesão, apertando os
olhos com cada carinho desferido no meu pontinho enrijecido.
— Alguém te tocou, Theresa? Ou eu ainda sou o seu único?
Senti os lábios macios e quentes me sugarem de maneira rude,
enquanto a barba rala de Eros roçava na minha pele fazendo confusão nos
meus desejos.
— Você é o único. — declarei, partindo as sílabas.
Ele sorriu, triunfante, e eu gemi na sua boca gostosa,
experimentando os seus dedos entrando por meu canal, deslizando cheios
de intenção para dentro do meu corpo.
As minhas palmas imediatamente marcaram as costas largas e
levemente suadas, ofeguei ao sentir seu dedo entrando e saindo de dentro de
mim, a ponto de eu revirar os olhos, me deliciando com aquela gana
exagerada de prazer.
Enlaçava as minhas pernas nas costas largas, notando o meu sexo
latejar, desejosa para que Eros penetrasse o seu membro em mim, sem
demoras.
Eu queria aquele homem gostoso enterrado em mim, como se fosse
algo necessário para eu viver.
— Preciso de você... — implorei, sedenta.
— Está muito apressada, menina. Ainda não te torturei o
suficiente.
Desci a minha mão até o membro duro, sentindo-o em chamas
entre os meus dedos.
Ansiosa, experimentei um pouco da textura quente e lubrificada na
mão.
Fui aos céus, apenas por imaginar, que aquela delícia inteira estava
pronta para mim. Masturbei lentamente Eros, enquanto ele enfiava dedos,
alcançando pontos estratégicos na minha boceta.
— Ah...
— Caralho, tenha calma com a sua mão, estou prestes a gozar. —
ele me falou, apertando os olhos, visivelmente concentrado para não
ultrapassar as etapas.
Concordei, segurando o seu lindo rosto vermelho, alterado pelo
tesão tão intenso que nos conduzia a libidinosidades deliciosas.
— Quero te chupar, outra vez... — ele sussurrou ao pé do meu
ouvido, assim que massageei a sua bunda durinha com os meus calcanhares.
Simplesmente arrepiei, curiosa com o que ele teria para me
apresentar dessa vez, do que a sua língua indecente poderia ser capaz de
fazer.
Sem esperar, Eros levantou o meu quadril, com brutalidade,
arrancando de mim um forte gemido. Senti a pele queimar devido ao seu
gesto afobado, e inevitavelmente isso me excitou ainda mais.
Eros abriu completamente as minhas pernas, mirando os seus olhos
exatamente no centro do meu corpo.
— Boceta lisinha... — ele me acariciou lentamente, fazendo com
que eu mordesse os lábios, quase fazendo-os sangrar.
Que tortura gostosa.
Gemi, sem sentir as minhas extremidades, que adormeciam a cada
toque lascivo no meu clitóris.
Eros se abaixou entre as minhas pernas, enquanto eu entrelaçava os
meus dedos nos seus cabelos.
A língua quente e úmida tocou lentamente o meu pontinho rosado,
para intensificar os movimentos, cada vez em que eu mexia os quadris na
sua boca.
Ele me lambia deliciosamente, cravando as unhas curtas nas
minhas coxas.
O belo homem então desceu com a língua na direção do meu canal,
projetando-a para dentro da minha cavidade, me fazendo enlouquecer com
tamanha ousadia.
Gemi acalentada com o toque de seus lábios entre as minhas
pernas.
— Não consigo mais esperar, eu vou comer a sua boceta. — ele me
avisou, enquanto brincava com o meu clitóris. — Quero ver você de quatro
agora, ainda mais gostosa para mim. — ordenou e eu prontamente obedeci.
Estava em chamas e, ficar naquela posição para Eros,
potencializava o tesão por meu corpo.
Quando percebi, Eros estava de costas para o aparador, pegando
uma camisinha na gaveta. E os meus olhos se encantavam com aquele belo
deus-grego virado para mim, a bunda durinha e musculosa e as costas largas
e desenhadas por minhas unhas eram colírio naquele breve instante.
Suspirei quando ele girou na minha direção, exibindo o peitoral
amontoado de músculos dourados, o V perfeito sobre a virilha, a charmosa
marca de nascença na sua costela e, conforme ele caminhava até mim,
plastificava delicadamente o membro extra G.
Senti a minha boca se encher d’água quando ele se ajoelhou sobre
o sofá e voltou a colar cada centímetro de seu corpo esculpido sobre o meu.
Mordi os lábios louca, excitada, e depois fechei os olhos, temendo
estar sonhando, afinal de contas era tudo o que mais desejei nas minhas
noites insones...
Inevitavelmente a paixão criava ainda mais forças dentro do meu
coração, especialmente quando Eros começou a se movimentar sobre mim,
lentamente, fazendo com que eu sentisse o volume protuberante atingir o
meio das pernas, sem que ele me penetrasse.
O meu coração estava na boca, quando a cabeça rígida se
intrometeu por minha boceta.
— Apertada! — ele gritou e me desferiu um tapa na bunda, antes
de enlaçar meus cabelos em seus punhos.
Estava completamente dominada...
Gemi, umedecendo os lábios, experimentando as suas investidas
lentas... e eu o agradecia mentalmente por isso. Aquela delícia tão imensa
poderia me rasgar se fosse apenas de uma vez.
Abri ainda mais as pernas, empinando a bunda, facilitando as suas
estocadas.
Revirei os olhos quando Eros apertou os meus mamilos excitados,
entre grunhidos, intensificando os seus movimentos na boceta.
Amassei as almofadas com as mãos, sentindo o calor intenso de
prazer me consumir inteira.
— Theresa, você é gostosa! — ele vociferou, enquanto desferia o
pau duro em mim.
— Eros... — gemi, sentindo uma sensação de arrepio por todo o
corpo, um tesão indescritível.
Entre uma estocada e outra, eu sentia que estava prestes a gozar. O
pau duro entrava e saía insaciavelmente, a masturbação intensa no clitóris, a
barba roçando nas minhas costas, o que restava era lamber os lábios e
apertar os olhos, sentindo as batidas constantes das bolas e... uau... ele
estava inteiro dentro de mim!
Eros pressionava o meu clitóris, levando-o de um lado para o
outro, quando ele decidiu, em apenas um gesto, levar as mãos aos meus
ombros e me colocar de joelhos, de costas para ele, depois me girou, para
encaixar a boca nos meus seios, mordiscando e sugando os mamilos, sem
me dar chance alguma de respirar.
Ofeguei de prazer.
Eros me conduziu para o seu colo, fazendo com que eu me sentasse
à sua frente. Instintivamente, abri bastante as pernas lhe privilegiando com
a imagem da minha boceta.
Ele explorava os lábios inchados com os dedos, os seus olhos
brilhantes, seu semblante encantado, para depois me segurar pela cintura e
me encaixar, num forte golpe, o pau duro...
— Ah... — choraminguei, enquanto ele me olhava nos olhos com
um sorriso torto.
Instintivamente depositei as mãos sobre os seus ombros, e quiquei
sobre o seu colo.
— Senta, gostosa. — ele grunhiu, amassando os meus seios,
beijando insaciavelmente a minha boca.
Dei um forte gemido, deleitando-me com a cabeça avantajada
dentro de mim.
Ele projetava o seu quadril para o interior do meu canal, em
movimentos excitantes, lambendo os meus seios, ora puxando os meus
cabelos.
Estava alucinada de tanto prazer, beijando-o, sugando os seus
lábios, lambendo o seu sabor, dando um fim a todas as saudades que senti...
O tesão conduzia todos meus gestos, prontamente cravei os dentes
no ombro de Eros, experimentando o sabor salgado da sua pele, enquanto o
pau atingia um ponto estratégico e muito sensível por dentro.
Praticamente perdi todos os sentidos e apenas contorci-me sobre o
corpo do moreno, sentindo espasmos arrebatadores, um curto circuito forte
e indomável, que me fazia gemer, contrair os membros e surtar.
— Aah...
O belo rapaz sorriu na minha boca, ainda dentro de mim,
ejaculando prazer pelas bordas da minha boceta.
Abraçamo-nos, com a respiração afetada. Os corpos quentes e
suados que se completavam...
— Por que demorou tanto para revivermos isso? — Eros me
perguntou, conforme retirava a camisinha e amarrava-a para jogá-la de lado.
Exausta, decidi me aconchegar nas almofadas, recebendo o belo
deus-grego ao meu lado.
— Deu tudo errado, Eros, mas quero acreditar que ainda teremos
muito tempo pela frente.
Ele concordou, retirando uma mecha de cabelo do meu rosto, para
depois me beijar lentamente a boca, deslizando as unhas curtas por meus
quadris numa cócega deliciosa.
— Para você eu tenho todo o tempo do mundo, Theresa. Que foda,
hein.
Acariciei a barba rala, olhando exclusivamente nos olhos negros
dele.
— Não tenho experiência, não sei se atendi às suas expectativas.
Ele girou imediatamente sobre o meu corpo, quando senti que seu
pau estava duro outra vez, pronto para mim.
— Você quase me matou com a sua sentada, garota.
Gargalhamos, em meio a beijos, quando, de repente, a campainha
ressoou.
Eros olhou atordoado para trás.
— Quem será que os imbecis dos seguranças permitiram entrar?
Nem deu tempo de Eros encontrar uma resposta! Sem que
percebêssemos, ouvimos a murros na porta e de repente o rosto de uma
morena muito bonita surgiu na janela.
— Eros, seu cafajeste!
O homem caminhou indócil até a janela, para puxar as cortinas.
— Cai fora, Pollyana! Dá um tempo, porra!
Assustada, catei as minhas roupas pela sala e a minha calcinha
rasgada no vaso de plantas e me vesti, improvisando um nó na lingerie,
ainda ouvindo os gritos da ex-noiva de Eros, do lado de fora.
— Quem está aí com você? Abre a porta agora, canalha!
Eros estava completamente zonzo e, em meio a uma bufada de
ódio, ele pegou o celular sobre a mesa de centro.
— Não deixem mais a Pollyana Fletcher entrar nesta casa, seus
incompetentes. Retirem essa mulher daqui, agora. — ele gritou e se sentou,
ainda pelado, sobre o sofá.
Então decidi entregar a ele as suas roupas.
— Melhor se vestir. Não sabemos as intenções de sua ex-noiva.
Eros ainda calado, concordou, vestindo a cueca e a calça do terno
em seguida.
— Desculpa, Theresa. — ele ficou de pé, envolvendo o meu rosto
nas suas mãos, enquanto ouvíamos Pollyana xingar até a última geração dos
seguranças, seus gritos ecoando até se dissiparem. — Ela não aceita o nosso
término. Não sei mais o que fazer para me livrar desse estorvo. Depois que
retornei de Boston, parece que toda a perseguição aumentou.
O olhar de Eros na direção da janela denunciava o quanto ele
estava aflito diante das atitudes de sua ex-noiva.
— E da outra vez que os seguranças deixaram Pollyana entrar,
você também a escorraçou? — perguntei, erguendo uma sobrancelha
curiosa.
Ele desviou, para se servir de uísque.
— Margarida costuma receber Pollyana Fletcher, quando eu não
estou aqui, e elas têm o hábito de tomar chá juntas, afinal se conhecem há
mais de vinte anos. — ele explicou, acrescentando gelos à bebida e bebendo
três goles de uma só vez. — Mas se quiser saber se eu tive algo com ela, a
resposta é não. Nunca mais tivemos nada desde que terminamos. Pode ficar
tranquila, Theresa. Você continua sendo muito especial para mim.
Estranhamente, o meu coração estava apertado.
Naquele momento eu não confiei em Eros, entendia que ele ainda
não seria digno de saber das minhas meninas, pois a presença constante de
Pollyana em sua casa, me obrigava a pensar que a pior versão dele, ainda
sobrevivia.
— Eu preciso ir embora. — disse, sorrindo contida, acariciando a
barba por fazer. — Já perdi o meu dia de trabalho, mas eu não me arrependo
por isso.
Girei em meus calcanhares, na direção da porta, percebendo
aliviada que os seguranças haviam dado um fim nos escândalos.
— Merda! Pollyana atrapalhou tudo! — Eros vociferou, deixando
o copo de maneira brusca sobre a mesa de centro.
— Por que não corta os laços com ela, de uma vez por todas? —
questionei, pretendendo entender os motivos de Eros ainda dar tanta
abertura para que Pollyana se aproximasse, uma mulher completamente
desequilibrada e movida a ciúmes.
— Eu não consigo dar conta das loucuras daquela vadia. — ele me
disse com a voz firme. A raiva embalando seus sentimentos. — Ainda
acredito que ela seja capaz de subornar os meus seguranças, para vir atrás
de mim.
Engoli em seco, preocupada.
— Sinto muito, Eros. Agora, eu realmente preciso ir.
Decidida a não incluir as gêmeas nas loucuras de Eros e Pollyana,
eu me despedi dele com um beijo no rosto, sentindo ao mesmo tempo uma
faca afiada cravada em meu peito.
— Theresa, durma aqui esta noite. Estou sozinho. — ele segurou
no meu punho, os seus olhos inquisidores dentro dos meus.
— Por favor, me deixe ir embora. — ele me soltou, para buscar
pelo controle do carro. — Não se preocupe, eu vou de ônibus. —
determinei e depois saí pela porta, correndo pelo jardim.
— Theresa, me espera, porra.
Não dei ouvido a Eros e, reflexiva, desci o caminho arborizado da
mansão, imaginando como Pollyana, com toda a sua obsessão pelo
advogado, poderia reagir, depois que soubesse que Eros era pai de gêmeas!
Seria a minha responsabilidade decidir se envolveria as minhas
filhas nesse turbilhão ou não.
Desolada, tomei o ônibus, ainda sentindo o perfume cru de Eros
Dirksen por meu corpo.
Desliguei o ar-condicionado do carro e abri lentamente o vidro,
quando me deparei com uma cena que me deixou completamente
paralisado.
Hoje, acabei saindo mais cedo de uma das audiências, no centro de
São Francisco, e decidi ir até a sorveteria onde Theresa trabalhava.
Queria fazer uma surpresa e reviver os momentos deliciosos que
compartilhamos ontem, em minha casa, sem que a louca da Pollyana
Fletcher não nos atrapalhasse, dessa vez!
Estranhamente, nunca me senti tão envolvido. Parecia que Theresa
trazia algo familiar às minhas lembranças, talvez a forma de falar, os olhos
azuis ou a maneira de andar descalça.
Apesar de meus devaneios completamente infundados, eu decidi
assumir para mim mesmo, o quanto eu estava enfeitiçado pela inocência e o
jeito destemido daquela mulher.
Eu precisava compartilhar mais momentos ao lado de Theresa.
Agora, eu estava observando a garota em frente à sorveteria, na
companhia da mesma amiga que estava naquele dia na praia, uma morena
alta, de cabelos cacheados, que deixava duas lindas crianças na companhia
de Theresa.
Embora o sol estivesse forte, decidi retirar os óculos escuros e me
concentrar melhor naquele momento em que Theresa recebia as garotas nos
braços, beijando-as em meio a risadas, diante das falas embaralhadas típicas
de bebês de dois anos.
Curioso, eu ainda observava Theresa interagindo com as duas na
calçada, ela parecia à vontade, com um sorriso bonito que iluminava o seu
rosto enquanto brincava.
As crianças gargalhavam quando ela fazia cócegas em seus corpos
e distribuía beijos por seus rostos, a ponto de suas risadas chegarem até
mim.
Theresa estava totalmente imersa naquele momento, sem suspeitar
da minha presença ali.
Engraçado que ela nunca havia me falado nada a respeito dessas
crianças, o quanto ela era presente na criação das filhas de sua amiga.
Decidi então sair do carro, para abordá-la junto às gêmeas.
Fiquei de braços cruzados, há apenas poucos metros delas três.
Theresa estava abaixada ainda conversando com as meninas, segurando na
mão de cada uma delas, quando ela notou apenas os meus sapatos.
Os seus olhos subiram gradativamente até chegarem no meu rosto.
Theresa parecia assustada. Instantaneamente eu sorri contido, quando uma
das meninas falou, apontando o dedo para mim:
— Olha o moço, mamã.
— Chloe. — Theresa vociferou, desconcertada, como se
recriminasse a menininha.
Os olhos azuis das três me analisavam, enquanto eu entortava as
sobrancelhas, extremamente confuso, ao ouvir a pequena garota chamando
Theresa de “mamã”.
— Ela te chamou de mamãe? — cruzei os braços, ainda digerindo
aquela bela novidade.
Eu estava ansioso, sem saber ao certo o que pensar, angustiado
com a possibilidade de Theresa estar escondendo algo muito grave de mim!
A loira então se colocou de pé, as duas pequenas se entrelaçando
nas pernas dela, enquanto ela mal me encarava nos olhos.
— Eros Dirksen, nós temos muito o que conversar. — senti as
palavras doces de Theresa me trazerem uma agonia fora do comum.
Numa fração de segundos, diversas perguntas me abordaram.
Theresa teria engravidado de algum cara?
Por que ela não me falou sobre algo tão delicado, mas preferiu
inventar que eram filhas de sua amiga?
Outro homem havia lhe tocado? Então, ela mentiu para mim!
No entanto, a única certeza que eu tinha era que ela estava lutando
contra o mundo, para criar essas duas meninas.
E ao perceber Theresa nervosa, eu afaguei o seu ombro, me dando
conta que já estava na hora dela deixar a sorveteria.
— Pedi à Margarida que preparasse uma tarde na piscina para nós
dois. Agora, para nós quatro.
Theresa se aproximou, segurando na minha lapela.
— Por favor, Eros, não me pergunte nada, até chegarmos à sua
casa. É um assunto extremamente delicado.
Sorri, sem saber no que pensar.
— Não vai nem ao menos me dizer o nome delas? Pelo menos
disso, eu preciso saber.
As bochechas de Theresa estavam coradas.
Um bolo doloroso se formava em minha garganta, ao mesmo
tempo em que eu pensava que a garota não deveria confiar em mim, a ponto
de ter me escondido segredo tão delicado!
— Essa de vestido de morangos é a Chloe, e a de vestido de
ursinhos, a Honey.
— São lindas. — sorri, acariciando a cabecinha delas. — E como
se parecem com você! — fiquei calado, observando cada detalhe de
Theresa, imaginando o que ela havia enfrentado para criar aquelas duas
crianças, porém o peso de não saber daquele segredo, ainda me
atormentava. — Estou frustrado pra caralho por você não ter me falado
nada sobre ser a mãe delas.
Engoli em seco, extremamente decepcionado.
As minhas mãos suavam.
Theresa Butler não era quem eu pensava!
— Eros, — ela me olhou com recriminação. — vamos deixar esse
assunto para depois, o sol está muito quente e prefiro que seja na sua casa, e
não aqui, em frente ao meu trabalho.
O que me restou foi respeitar o momento de Theresa, seguindo
pensativo para o carro.
Lá, ela se aconchegou com as meninas no banco de trás, o que me
deixou preocupado, temendo ser penalizado pelo fato de elas não estarem
utilizando as cadeirinhas infantis.
Assim que acelerei o carro, me senti completamente perdido com
as confusões recentes. Eu não sabia o que pensar. Muitas coisas passavam
pela minha cabeça, inclusive a possibilidade de eu ser pai daquelas
crianças!
Santo Deus!
Seria possível, mesmo a gente tendo transado apenas uma única
vez e nos prevenido?
Mas, ao mesmo tempo, por conhecer a índole de Theresa e os seus
valores, eu esperava que ela jamais escondesse algo tão sério de mim.
Durante esses últimos anos que estive em Boston, ela não havia me
procurado, estado na minha empresa ou em minha casa em São Francisco,
pois Margarida, ou até mesmo Pollyana, teria me falado a respeito.
Infelizmente, nesses últimos dois anos, não tive mais contato com
Theresa, por isso não pude acompanhar de perto se ela estava grávida,
prestes a parir suas lindas filhas.
Sentia, inclusive, tristeza por não estar presente para apoiá-la
durante esse momento tão importante, pois, como tudo indicava, ela era
mãe solo.
Assim que parei em um sinal de trânsito, olhei rapidamente pelo
reflexo do retrovisor e vi Theresa abraçada às duas pequenas, como se as
protegesse.
As meninas falavam sobre coisas aleatórias, apontando para a
janela do carro.
Será que algum homem a iludiu com promessas vazias, e ela havia
engravidado dele? O que merdas estava acontecendo?
O fato era que Theresa não tinha um compromisso sério com o
suposto pai das meninas, pois ela jamais se envolveria nessa condição.
Assim que cheguei à minha casa, ainda reflexivo, saí do carro.
Theresa pegou uma das crianças e fez um sinal com a cabeça para que eu
pegasse a outra no colo e, naquele momento, eu tentei decorar que a de
vestido de morangos era a Chloe.
Assim que segurei Chloe nos braços, ela levou imediatamente as
mãozinhas no meu rosto, entrelaçando os pequenos dedos nos fios curtos da
minha barba.
Olhei no fundo dos olhos azuis dela e sorri. Era estranho, mas o
meu coração tinha um ritmo diferente no momento em que eu segurava
aquela criança no colo.
Fazia tanto tempo que eu não vivia uma experiência daquele tipo.
Theresa, então, parou ao meu lado abraçada a Honey.
— Podemos seguir?
— Eu preciso saber de toda a verdade, Theresa. Por favor, não me
esconda nada, nenhum detalhe. — ela abaixou os olhos e eu entendi que
muitas situações a afligiam. — Seja sincera comigo. Não tenha medo de
nada. Eu estou aqui para te apoiar no que for preciso.
Theresa me desferiu um olhar desanimado.
— Eros, onde é a piscina? Eu preciso me sentar. O sol está muito
quente.
Levei a minha mão às costas de Theresa e, com a bebê em meu
colo e Theresa com Honey, nós seguimos juntos na direção da piscina.
Chegando lá, eu logo me deparei com a mesa que exibia uma
deliciosa refeição.
Margarida havia preparado tudo, a piscina estava limpa, a água
azul cristalina era convidativa, havia almofadas sob as árvores e um bistrô
com bebidas.
Eu não havia detalhado à governanta, quem seria a minha
convidada nesta tarde e, claramente, ela teria uma enorme surpresa, no
momento em que visse Theresa.
Assim que nos aproximamos da mesa, eu logo perguntei a ela:
— Esse terno está me sufocando, principalmente depois de saber
sobre você e suas filhas. — ela me avaliou, constrangida. — Você se
incomoda de eu colocar uma roupa de banho?
Theresa fez que não com a cabeça, contornando aquele olhar que
me acendia o corpo inteiro.
Então, eu logo me afastei e, de longe, eu fiquei observando
Theresa aconchegando as meninas sobre o gramado, oferecendo a elas,
bonecas.
Elas brincavam, retirando pedaços de grama para alimentar as suas
novas amigas. Theresa, apesar de tensa, conseguia sorrir, fazendo muitas
perguntas, enquanto elas tagarelavam a maneira delas.
Fiquei parado ainda por um tempo, observando aquela linda cena.
Meu Deus, será que eu era pai? Será que eu tinha gerado duas
filhas?
Algo tão sério acontecia de maneira tão repentina?
Que rumos a minha vida poderia tomar, agora? O meu ciclo
vicioso de trabalho e noites insones haveria chegado ao fim? Um amor tão
puro e repleto faria parte dos meus dias?
Em meio a essas questões pouco prováveis, eu segui atordoado
para o quarto.
Uma dor pungente na nuca me incomodava, enquanto um aperto
sufocante no peito não me deixava relaxar.
Eu poderia ser pai?
Essa constatação era mais preocupante que a causa mais séria que
eu já havia defendido!
No trajeto, eu encontrei Margarida, atravessando o corredor,
levando uma bandeja de copos nas mãos.
— Obrigado pela refeição. A mesa está muito apetitosa.
A mulher sorriu com o meu elogio, o que não era muito comum de
minha parte.
— Eu fiz salmão com alcaparras, espero que o senhor goste. Se eu
soubesse que viriam duas bebês, eu teria feito uma comida mais apropriada
para elas.
Angustiado, desfiz o nó da gravata, imaginando que corria risco
daquelas crianças estarem para sempre na minha vida.
— Não se preocupe, é só esquentar uma sopa para elas.
Então, Margarida assentiu e, sem entender muito bem, ela seguiu
pelo corredor, quando de repente pausou, virando na minha direção.
— Aquela é a Theresa? — perguntou com as sobrancelhas unidas
em interrogação.
— Sim, é a Theresa. — respondi, sentindo um certo conforto em
meu peito. — Depois de tanto tempo eu a reencontrei, ela e suas duas filhas.
Margarida sorriu.
— Vocês são amigos agora?
Coloquei as mãos nos bolsos, pensando no que falar.
— Não sei dizer, Margarida. — suspirei. — É exatamente isso que
tenho me perguntado nos últimos dias, se somos apenas amigos.
Margarida fez uma expressão confusa, antes de se dirigir à cozinha
para preparar a sopa das bebês.
Então logo me afastei na direção do quarto, coloquei um short e,
apenas com ele, segui para o jardim.
Assim que reencontrei Theresa, ela entreabriu os lábios,
observando a minha figura, parecendo que ela havia ficado muito tempo
sem me ver, mas, ironicamente, havia se passado só alguns minutos.
O seu olhar extremamente envolvente não negava o quanto a nossa
química era intensa.
Assim que caminhei na direção da piscina, para me sentar ao lado
de Theresa, para esclarecer, de uma vez por todas, os fatos, uma das
meninas correu ao meu encontro, segurando nas minhas pernas, com
ternura.
Era Chloe, a de vestido de morangos.
— Oi princesa, você quer ver a paisagem daqui de cima?
Ela sorriu para mim, poucos dentinhos dentro de sua boca.
Segurava a bebê no colo, mostrando a ela as árvores e algumas borboletas,
quando ela esticou a mão, segurando em uma das folhas.
Theresa ficou por segundos nos observando, paralisada, atônita,
certamente comovida por não imaginar que eu poderia ter um lado
sentimental e carinhoso com crianças.
— Um advogado como você, tão sensível e íntimo de bebês? — foi
o que ela me perguntou, num tom jocoso.
Eu sorri, ajeitando o cabelo, antes de deixar um beijo na bochecha
rosada de Chloe.
— Você precisa conhecer muito mais a meu respeito, Theresa. Eu
não sou apenas um homem de negócios ou aquele que sabe fazer gostoso.
Ela sorriu, colocando a mão sobre a boca, certamente recuperando
as nossas memórias.
Eu adorava deixar Theresa desconcertada, as sardas sumindo
gradativamente no rubor de seu rosto.
Então, eu me sentei à mesa, ajeitando Chloe numa cadeira. Honey
já estava acomodada ao lado da mãe.
Ironicamente, eu olhei para o lado, entendendo que parecíamos
uma família.
Que loucura! Uma família perfeitamente estampada diante dos
meus olhos, sendo que, hoje, mais cedo, havia saído dessa casa, enfrentando
a porra do vazio e da solidão tão comuns à minha rotina, e agora eu me via
num belo comercial de margarina.
— Theresa, me fala logo. De quem elas são filhas? — despejei,
ansioso para saber se eu era o pai, se aquele momento seria transitório ou
não.
As minhas mãos tremiam quando segurei o copo, ligeiramente
ansioso pela resposta que estava por vir.
Engasguei com a água quando Theresa começou a falar, os seus
olhos repletos de lágrimas.
— Eros, eu engravidei de você no nosso primeiro momento juntos.
O coração acelerado ecoava em meus ouvidos, enquanto as
palavras de Theresa me atingiam como uma forte apunhalada.
Era uma confirmação que mudava a minha vida para sempre e,
consequentemente, as minhas percepções sobre Theresa.
Naquele instante, senti como se o sangue esvaziasse a minha
corrente sanguínea, um breu se formou diante dos meus olhos, balancei a
cabeça por um momento, querendo entender se aquilo era real ou não,
quando a minha voz acabou saindo mais ríspida do que eu calculava.
— O que caralhos você está me dizendo? — vociferei, ficando
bruscamente de pé. — Você me escondeu as gêmeas durante todo esse
tempo? Que lamentável! Isso é tão baixo! E muito grave, Theresa! São duas
filhas, que durante dois anos eu não soube da existência!
Theresa me olhou com os olhos banhados, o arrependimento
estampando seu rosto.
— Eros, — ela fez menção de segurar na minha mão, mas eu
recuei, extremamente irritado. — Por favor, me perdoe. Eu pensei que você
estivesse noivo, prestes a se casar. Eu vou ser repetitiva, eu confesso, mas
eu não queria destruir a sua suposta família. Você iria se casar, lembra?
Com a Pollyana Fletcher. Foi o que eu entendi naquele dia da festa.
Inclusive, eu estava no aniversário de Roosevelt para te falar sobre isso,
sobre as meninas, mas nada saiu conforme o esperado. — arregalei os
olhos, com surpresa. — As confissões que eu ouvi no banheiro e aquele
beijo na tal morena foram a gota d'água para que todas as minhas intenções
desmoronassem naquela noite. Eu fiquei sem chão, inclusive eu passei esse
tempo inteiro, pensando que você fosse um mal caráter que havia me
ludibriado, que as suas intenções comigo fossem as piores possíveis! Como
poderia confessar algo tão sério para alguém em quem não confiava? —
Theresa enxugou as lágrimas com o dorso, a sua voz era doce ainda que
decidida. — Eu sempre fui muito independente, batalhei, enfrentando todos
os problemas de frente, por isso eu não me intimidei em seguir sozinha ao
lado de meu pai, e de Winter, a minha amiga. Foram eles que me deram
todo o apoio e me ajudaram a criar as meninas.
Fixei meus olhos nos de Theresa, e ela certamente percebeu a raiva
dentro de mim, a baita decepção que desenhava o meu semblante, ainda que
estivesse timidamente comovido com as suas batalhas.
— Você deveria ter esclarecido tudo comigo, garota. — sentia os
lábios trêmulos a cada palavra proferida, a frustração me corroendo as
células como uma maldita praga. — Você deveria ter voltado outro dia para
falar comigo na empresa, aqui em casa, seja lá onde fosse, mas você não
poderia ter tirado as suas próprias conclusões a meu respeito e escolhido
pela opção mais cruel, esconder essas meninas de mim durante dois anos!
— pausei por um instante, quando uma curiosidade se manifestou. — Aliás,
elas são realmente as minhas filhas?
Theresa ficou chocada com o impacto das minhas palavras, a ponto
de levar as mãos à cabeça.
Inevitavelmente, as dúvidas começaram a me atormentar, me
fazendo pensar o pior a respeito daquela que eu costumava julgar especial.
— Eros, não repita um absurdo desses. — ela se aproximou das
meninas, descendo as duas das cadeiras. As suas mãos tremiam. — Poderia
sugerir um exame de DNA, mas não será necessário. — Theresa se abaixou
ao lado das bebês, que agora já estavam entretidas com a toalha da mesa,
encaixando os dedos nos bordados, enquanto eu estava perdido diante das
pretensões de Theresa. — Veja você mesmo a quem pertence essa mancha
de nascença!
Suspirei, buscando forças, no momento em que ela levantou o
vestido das bebês para me mostrar o tronco delas.
Lá estava a mancha que sempre me acompanhou desde quando eu
havia nascido, uma espécie de desenho oval que descia pela costela das
duas.
— Santo Deus, que genética. — sussurrei, atordoado com a
revelação.
Ao fixar os meus olhos na pequena mancha de nascença das
gêmeas, fiquei perplexo diante da revelação que abalou todas as minhas
seguranças, inclusive cheguei a ficar sem fala por um instante.
A dor aguda ao perceber que Theresa havia guardado aquele
segredo de mim, me privando do conhecimento de que eu era pai, fez com
que eu me sentisse traído, decepcionado, a ponto de uma forte angústia se
apoderar de mim diante da descoberta tardia.
Foi totalmente desumano, Theresa me privar da oportunidade de
acompanhar o crescimento de Honey e Chloe, desde o início.
Sem falar que a culpa também se fazia presente em mim, me
fazendo questionar se poderia ter feito algo diferente para descobrir a
verdade mais cedo.
Mas, mesmo no meio de toda aquela confusão de sentimentos,
surgia, aos poucos, um amor genuíno por aquelas crianças, que agora eu
sabia serem parte de mim.
— Não há mais argumentos que possam mudar as circunstâncias.
Chloe e Honey são as suas filhas. — Theresa confirmou, enquanto a
realidade se desdobrava de maneira muito cruel diante dos meus olhos.
— Por que você fez isso comigo, Theresa? Não tem desculpa. —
segurei nos braços dela, as meninas agora brincavam com o sal e os talheres
sobre a mesa, totalmente alheias à nossa tempestade. — Mesmo você
imaginando que eu fosse casado, você deveria ter vindo até a mim, para
esclarecer o que fosse preciso. Você não tinha o direito de me roubar
momentos, os quais jamais retornarão. — sorri, sem forças. — Uma mulher
sempre tão sensata, que resolveu agir de maneira tão imatura.
— Eu posso ter sido imatura, sim, Eros, mas as minhas ações
foram guiadas por sentimentos muito genuínos e verdadeiros. — Theresa se
soltou das minhas mãos, para segurar no meu rosto. — Os traumas,
decepções e frustrações que carrego por causa da minha mãe me fizeram
agir dessa maneira infame. Temia ser como ela, eu já te disse! E agora, eu
estou dolorosamente arrependida.
— Não sei se arrependimento vai ser o suficiente para eu te
perdoar por isso, Theresa, mas entenda uma coisa. — abaixei as mãos dela,
retirando-as de meu rosto. Eu lutava para manter a calma, mas a dor da
decepção me consumia. — Eu vou te ajudar no que for preciso. Eu vou
assumir essas crianças e pagar a pensão para elas, e o principal, eu quero
participar da criação e do dia-a-dia de Chloe e Honey, as minhas meninas, e
você nunca mais vai poder afastá-las de mim, mas isso não significa que eu
vou te perdoar tão facilmente.
Theresa olhou para mim e, nervosa, ela bebeu três goles seguidos
de suco.
Em seguida, mastigou uma boa parte do salmão e limpou a boca,
deixando o guardanapo de linho sobre a mesa.
Engraçado que, naquele momento, eu me lembrei do meu pai, pois,
quando ele estava irritado, ele fazia exatamente o mesmo. Bebia o que
estivesse ao seu alcance, mastigava a comida de qualquer maneira, e depois
jogava o guardanapo de linha sobre a mesa.
— Eros, eu sei que vai ser muito importante ter você na criação das
meninas, mas, acima de tudo, eu preciso que você me perdoe. — ela
segurou nas minhas mãos, mas eu me esquivei mais uma vez, sentindo
antipatia de Theresa e de todas as suas decisões incoerentes e perversas. —
Como eu vou conviver com você, sabendo que ainda existem mágoas entre
nós, esses ressentimentos que podem atrapalhar a nossa relação? As
meninas merecem o melhor de nós dois. E a gente tem que estar bem para
dar o melhor para elas.
Bufei, passando a mão pelo cabelo.
— Eu vou pensar com calma, eu ainda estou muito atordoado. Eu
não acredito que eu fiquei esse tempo inteiro sem saber da existência delas,
que eu sofri sozinho, nessa casa, sabendo que existiam dois corações que
poderiam estar me completando, naquele momento.
Theresa levou as mãos trêmulas ao rosto e chorou.
— Não me culpe por isso, Eros, não me culpe. — ela segurou nos
meus ombros com firmeza, o seu rosto tão perto do meu que podia sentir a
sua respiração alterada. — Você falou que também se odiaria se estivesse na
minha condição, por eu ter visto tudo o que vi naquela festa, ter ouvido
aqueles fatos sobre o casamento. — a sua voz tremia, carregada de remorso,
mas não o suficiente para me fazer perdoá-la.
— É verdade, mas eu nunca imaginei que você poderia ser a mãe
das minhas duas filhas. Se eu estivesse na sua posição, eu teria agido de
forma diferente. A realidade é que você não confiou em mim.
Ela apertou os meus ombros, balançando o meu corpo.
— Não, eu não confiei. Uma semana não foi tempo suficiente para
eu entender quem você era e, infelizmente, o seu histórico turbulento com
mulheres pesou muito nas minhas decisões.
Ela se afastou na direção da piscina e, ali, ficou de costas.
— Em algum momento se arrependeu, por eu ser o pai de suas
filhas? — perguntei, tomado por frustração, me sentindo ainda mais
enganado.
Theresa se virou num rompante.
— Eros, eu pensei que você tivesse vivido aquilo tudo comigo,
comprometido. — os seus olhos refletiam a angústia de suas palavras.
Era inevitável, eu também me sentia injustiçado, a ponto de morder
os nós dos dedos com gana.
— Inferno! Se eu te passasse algum tipo de respeito, jamais
imaginaria uma atrocidade dessas sobre mim! — esbravejei, me sentindo
um verdadeiro merda.
Odiando a minha fama de cafajeste!
— Você quer que eu vá embora? — a voz de Theresa soou fraca,
ainda que aguda, os olhos suplicantes de quem estava desesperada por
perdão, então um silêncio tenso nos invadiu, até que, finalmente, eu
respondi:
— Não, eu não quero que você vá embora. As meninas precisam
ficar aqui comigo. Eu ainda preciso digerir isso tudo. Eu quero a companhia
delas.
Prontamente peguei Chloe no meu colo e fiz um gesto pedindo
para que Theresa me entregasse Honey.
Abracei as duas, beijando seus cabelos ralos, inspirando o perfume
de lavanda, o mesmo que Theresa usava, tentando entender que elas eram
as minhas filhas.
— Minhas meninas. — falei, emocionado, sentindo o peso da
responsabilidade sobre meus ombros, o choque me despertando para a
realidade.
O carinho tão forte que emanava de meu peito refletia nos meus
gestos, aconchegando o meu coração, que sempre foi blindado para o amor.
— Qual é o seu nome? — Honey me perguntou, com um dos dedos
na boca.
Sorri, sem perceber.
— Eros.
— Elos? — Chloe afirmou sorrindo.
— Elos! — Honey repetiu. — Elos, Elos.
E elas começaram a sorrir, me chamando de “Elos”.
Talvez elas fossem o elo que eu precisava construir com Theresa,
para formarmos uma família e construirmos uma vida juntos, para, dessa
forma, oferecermos algum tipo de acolhimento e dignidade às meninas,
algo que nunca tivemos daqueles que nos deixaram.
Admito que o projeto de formar uma família nunca foi prioridade
na minha vida, mas, agora, se revelava algo de suma importância para o
bem-estar das meninas.
Theresa, por sua vez, nos avaliava com ternura nos olhos, como se
aquele momento entre nós três afastasse todas as tempestades que haviam
varrido a nossa paz nos últimos minutos.
— Elas gostam de você, Eros. — Theresa me falou mais tranquila.
Embalei as duas nos meus braços e elas olhavam dentro do meu
rosto com curiosidade.
— Elas sentem que eu sou o pai delas.
De repente, fomos interrompidos por minha governanta que se
aproximou com os pratos de sopa.
— Obrigada pela gentileza, Margarida. — Theresa expressou a sua
gratidão, tentando disfarçar a ansiedade que borbulhava dentro dela.
Margarida observou Theresa com atenção, antes de seguir para a
cozinha.
— Você está bem? — ela perguntou com um interesse genuíno.
Theresa hesitou por um momento e, no final, optou por uma
resposta mais contida.
— Apesar de tudo, estou bem sim. — respondeu com um sorriso
forçado, tentando transmitir uma sensação de normalidade. — Muita coisa
mudou na minha vida, desde a última vez que estive nessa casa. Olha, as
meninas no colo de Eros, são as nossas… as minhas filhas.
— Misericórdia. Que lindinhas.
A governanta sorriu entusiasmada para as bebês.
— Agora, precisamos ficar sozinhos. — informei, temendo pela
governanta se intrometer num assunto que não importava a ela.
Margarida então assentiu compreensivamente, percebendo que
talvez houvesse mais por trás de minhas palavras do que eu estava
realmente disposto a revelar naquele momento.
— Se precisarem de mim, eu estou na cozinha. — a governanta
ofereceu sua disponibilidade, enquanto eu torcia para que ela fosse embora
o quanto antes.
— Obrigado, Margarida. — eu disse, observando a mulher se
afastar.
Prontamente, nos sentamos calados à mesa, sentindo um clima tão
pesado no ar, a ponto de ser possível cortá-lo com uma faca.
Minutos depois, Theresa servia Chloe e eu tratava de Honey. As
gotas de sopa escorrendo pelo queixo bem feito.
Eu limpava a bebê com guardanapo, me dando conta que era um
completo analfabeto nesse quesito e, ainda assim, Honey logo abria a boca
pedindo mais.
— Quero mais. Muito gostoso.
Sorri, esquecendo dos problemas, esquecendo que Theresa havia
sido tão cruel comigo e agido de maneira tão superficial e rasa diante de um
assunto tão delicado.
Ao mesmo tempo, eu via aquelas meninas saudáveis, bem
arrumadas, perfumadas, e imaginava que Theresa era realmente uma mulher
muito forte, batalhadora, decidida, capaz de sustentar duas crianças apenas
com o salário da sorveteria e a ajuda de seu pai e amiga, a sua pequena rede
apoio.
Era estranho, mas eu sentia ainda mais admiração por ela, no
momento em que raiva e frustração se misturavam dentro de mim, diante de
atitude tão impulsiva e não pensada.
E, naquela tarde, ficamos juntos ainda por longas horas, entretidos
com as meninas, me deliciando com a minha nova função de pai.
Parecia tão mágico, acalentador, uma força inexplicável crescia
junto à vontade de cuidar e educar aqueles serezinhos.
Depois que tratei das meninas, eu decidi dar um mergulho na
piscina, para esfriar os ânimos, afinal eu mal conseguia encarar Theresa nos
olhos.
Estava calado, introspectivo, apenas desfrutando de um momento,
o qual já poderia ter vivido há mais tempo!
Prontamente, mergulhei na piscina, atravessando a braçadas, para
depois emergir na água, olhando no fundo dos olhos de Teresa.
Ela suspirou profundamente assim que me viu, então apoiei os
braços na borda e impulsionei o meu corpo para fora.
A água escorreu como uma cortina por meu corpo. Balancei o
cabelo, eliminando o excesso de água dos fios, quando Theresa se
aproximou, tocando no meu tórax, intrometendo as unhas por cada curva de
meus músculos.
Inevitavelmente, eu me arrepiei inteiro, respondendo à química
insana que nos prendia um ao outro.
Suspirei quando ela resolveu se aproximar muito mais do que
imaginei, e quando estava prestes a beijar a minha boca, eu me esquivei,
ainda digerindo toda a audácia que ela teve de me esconder as minhas
filhas.
Caminhei na direção do bistrô e me servi de uma boa dose de
uísque, observando Honey e Chloe sob a sombra das árvores, brincando
com as bonecas que Theresa havia trazido para elas.
E no momento em que me distraía com a interação tão pura das
meninas, senti Theresa alcançando a minha mão.
— Eros, me perdoe. — ela parecia genuinamente arrependida,
porém a mágoa ainda se fazia muito presente no meu peito. — Confie em
mim. Eu não queria destruir a sua suposta família, foi por isso que eu decidi
não te contar sobre a existência das gêmeas.
Bebi mais um pouco do uísque, observando o meu prato intocado
sobre a mesa.
— Chega, não quero mais tocar nesse assunto, vamos olhar para o
futuro, agora. É impossível retomar ao passado, para viver o que me foi
roubado. — respondi, tentando encontrar alguma solução para a confusão
que agora dominava nossas vidas. — Eu só preciso registrar essas meninas
no meu nome e assumi-las como um homem de honra, diferentemente do
que meu pai me fez, completamente diferente do que a sua mãe te fez. Eu
vou reescrever uma nova história na minha vida. Eu vou honrar a
paternidade com todas as minhas forças. — a minha voz saiu entrecortada.
— O meu pai simplesmente me abandonou. Agora ele vive sozinho na
Itália. Eu não sei se ele está bem de saúde, se ele está com alguma mulher
ou se ainda está com a sua amante. Eu não tenho laços com ele e eu não
posso fazer o mesmo com as meninas. Eu tenho que ser muito mais para
elas, muito mais do que o meu pai foi para mim. Elas merecem o melhor.
— Obrigada, Eros. — Theresa me abraçou de repente, a ponto da
bebida dançar em meu copo. — Eu me sinto tão aliviada. Finalmente vou
poder dormir mais tranquila. — então ela me cravou seus grandes olhos
azuis suplicantes. — Nesses últimos dois anos, eu só pensava em como eu
iria te contar sobre isso. Na verdade, se um dia eu poderia te contar, com
medo de estragar tudo, acabar com a sua família. Eu me sinto tão mais
aliviada agora. Que paz eu sinto.
Theresa me abraçou outra vez. O meu corpo umedecendo o vestido
sexy da sorveteria e, talvez, outras coisas mais.
As meninas estavam relaxando, dormindo embaixo de uma árvore.
Poderia ser uma tarde perfeita? Poderia, se caso eu estivesse pronto
para um compromisso sério com Theresa.
No entanto, ainda era cedo demais para dar esse passo tão
significativo na minha vida.
Estava profundamente decepcionado com as atitudes da mulher,
que eu pensava ser a mais especial de todas.
Terminei a trança nos cabelos de Honey, quando Chloe chegou até
mim, trazendo uma pequena flor do jardim do hotel Ruiz.
— Peguei essa florzinha pra você, mamã! — disse, me estendendo
com ternura a flor amarela.
— Oh, Chloe, que gentileza! Obrigada, meu amor. Esta flor é
linda, assim como vocês duas. — recebi a flor e a coloquei delicadamente
atrás da orelha, feliz com aquele carinho.
O amor que sentia pelas meninas me tornava mais forte para
enfrentar qualquer tempestade.
Sem sombra de dúvidas, a maternidade era repleta de desafios,
mas, também, de gratidão.
Desde o momento em que soube que seria mãe, senti emoções
intensas. Havia a alegria e o amor profundo por minhas filhas, que
inundavam o meu coração a cada sorriso e abraço delas, e também muita
responsabilidade, uma sensação de estar sempre tentando equilibrar as
demandas da vida com o cuidado e a atenção que minhas filhas mereciam.
Estava determinada a oferecê-las o melhor que podia, sendo um
exemplo de força e resiliência, mesmo nos momentos difíceis em que me
sentia sobrecarregada ou insegura.
Enquanto eu esperava por Winter, verifiquei o relógio de pulso e
me dei conta que já passava das quatro da tarde.
Havíamos combinado de ela me acompanhar até a Praça Alamo,
onde encontraria Eros, para ter um momento a sós com as nossas filhas.
Uau, nossas filhas! Havia sonhado tanto com esse dia!
Confesso que sentia mil borboletas no estômago, ao aguardar por
encontro tão especial.
Estava angustiada, precisava saber se Eros havia finalmente me
perdoado!
Ontem, ele estava tão calado e indiferente após a revelação sobre
as gêmeas, a ponto de eu me sentir profundamente ferida.
E ao observar as meninas brincando tão espertas e saudáveis, me
sentia feliz por ter superado os meus medos e dado o melhor a elas.
A gratidão eterna por meu pai e Winter preenchia o meu coração,
pois não mediram esforços para me ajudar nessa batalha.
E receber o apoio de Eros agora, seria fundamental, nesse
momento em que estávamos correndo o risco de perder a nossa casa. O meu
pai poderia fazer o tratamento de dentes, com mais tranquilidade, e eu não
precisaria mais perder o meu sono, preocupada em contar ao pai de minhas
filhas, sobre a existência delas.
— E vocês, minhas pequenas flores, estão se divertindo muito no
jardim? — decidi perguntar, no momento em que via as duas correndo em
zigue-zague pelo gramado.
— Sim, mamãe! Legal blincar aqui! — Honey respondeu,
desfilando as suas tranças pelo gramado do hotel. — E dinda Winter?
Sorri, segurando nas mãozinhas de minha filha, depois de verificar
mais uma vez o relógio de pulso.
— Ela vai chegar em cinco minutos. Dá até tempo de fazer um
penteado especial no cabelo de Chloe. — puxei a menininha para o meio de
minhas pernas, cobrindo-a de beijos.
Chloe costumava ser mais resistente a penteados.
— Vou ficar bonita? — perguntou, com os olhinhos brilhantes.
— Claro que sim, amor. Vamos começar?
Ela assentiu, balançando o rostinho.
— Quero uma trança igual à princesa do filme!
Sorri, entusiasmada.
— Que menina esperta! Vai ficar mais bonita que a princesa.
Aposto.
No momento em que terminava de arrumar o cabelo de minha
outra boneca, senti mãos repousando em meus ombros.
Olhei para trás, quando encontrei os olhos castanhos de minha
amiga Winter, me filmando dos pés à cabeça.
— Não acredito que você vai encontrar o gostoso do Eros, com
esse uniforme cor de capim. — ela constatou, sem poupar a sinceridade, o
que retirou um sorriso genuíno dos meus lábios.
— Não deu tempo de me arrumar, apenas peguei as meninas com o
meu pai e vim te encontrar. Estava com saudades, amiga querida. — nos
beijamos com carinho e então seguimos a pé em direção à praça, depois de
Winter cobrir as gêmeas de beijos e abraços apertados.
— Como assim? O seu pai está em casa? — a minha amiga ficou
surpresa, uma vez que a rotina de meu pai no supermercado era bastante
intensa.
Antes de respondê-la, senti o meu coração sendo esmagado por
uma dor profunda.
— Ele não tem se sentindo bem por causa dos dentes, parece que a
arcada superior está completamente inflamada. — respondi, contendo as
lágrimas em meus olhos.
Eu me sentia muito triste ao conviver com tanto sofrimento de meu
pai. Um homem bondoso e batalhador, que não merecia tanta tristeza no fim
de sua vida.
Prontamente paramos em um sinal de trânsito, tomando conta das
bebês. Winter levava Honey pela mãozinha e eu, a Chloe.
— Ah, pobre Sr. Alfred! Espero que, agora, com a ajuda que as
meninas vão receber de Eros, ele consiga realizar todo o tratamento
necessário, e se recuperar o quanto antes.
Concordei, igualmente esperançosa, antes de decidir me abrir com
Winter, sobre os meus sentimentos.
— Eros está me odiando, amiga. — suspirei, em meio ao desabafo.
— Eu nunca imaginei ver aquele homem tão furioso, e é vergonhoso ter
julgado ele tão mal, escondendo algo sério como a paternidade. Inclusive,
eu não sabia onde me enfiar quando ele me chamou de imatura. Eu não tiro
a razão dele, eu realmente agi sem considerar as consequências.
Winter arregalou os olhos diante de minhas confissões.
— É sério que ele te recriminou? Meu Deus, Tetê, ele não deveria
ter te culpado por ter escolhido agir com sensatez. Você estava apenas
esperando pelo momento oportuno, talvez até demais para o meu gosto. —
ela me enfiou uma cotovelada jocosa na costela. — Mas a verdade é que
vocês não tinham nenhum tipo de compromisso, e aos seus olhos, ele era
casado e também um tremendo cafajeste. Como você poderia se arriscar e
colocar as meninas no meio dessa confusão toda?
Atravessamos a faixa de pedestres, já há poucos metros da praça.
— Apesar de tudo, estou me sentindo muito arrependida, ele é o
pai e tinha todo o direito de saber sobre as meninas, o quanto antes. Eu
deveria ter passado por cima da discrição e de minhas inseguranças, para
agir.
— Você não teve culpa alguma, Theresa. — Winter me avaliou
com compreensão. — Como você me disse, ele viajou para Boston, ficou lá
por dois anos e vocês perderam contato. Aliás, você poderia ter pelo menos
inventado que chegou a procurar por ele, mas não o encontrou. — Winter
sorriu, e eu neguei com a cabeça.
— Não! Eros me odiaria ainda mais quando descobrisse que eu
estaria inventando mentiras para me favorecer. O fato é que eu errei e que
preciso do perdão dele o mais rápido possível. As minhas meninas merecem
que nós dois estejamos bem.
Acariciei a cabecinha das duas, enquanto recebia o olhar de apoio
de Winter.
— O seu pai deve estar radiante com a notícia de que Eros Dirksen
acolheu as gêmeas. — ela me disse, visivelmente feliz, ao cogitar um
desfecho tranquilo para as minhas turbulências.
A minha amiga sabia que era um tremendo alívio para nós
recebermos o apoio de Eros nesse momento.
— Não muito, Winter. Papai ficou aliviado, mas ainda percebo que
ele está extremamente preocupado. — ela me encarou desconfiada,
enquanto caminhávamos lado a lado. — O meu pai sabe de algo muito
grave a respeito de Eros Dirksen, mas o teimoso insiste em não se abrir
comigo!
— O que Sr. Alfred sabe sobre o advogado? — Winter questionou,
parando bruscamente na calçada. — Será que ele é um miliciano ou algo do
tipo?
Gargalhei, foi inevitável.
— Pare de assistir filmes, eles estão entrando na sua mente.
Sorrimos, e de braços dados, junto às crianças, seguimos para a
linda praça que era cartão postal de São Francisco, decidindo dar um basta
nas fofocas, para aproveitarmos aquele lugar.
Conforme caminhávamos pela praça, observando as lindas casas
que compunham aquele cenário, e o imenso gramado onde pessoas e
cachorros repousavam tranquilamente naquela tarde, Winter nos
fotografava com o seu celular.
As gêmeas acolhidas nos meus braços e depois brincando de pega-
pega, deixava tudo ainda mais leve, me trazendo tranquilidade antes do tão
esperado encontro com Eros Dirksen.
Ainda fazíamos pose para a câmera do celular de Winter, quando
ela mudou a sua expressão, de repente.
O sorriso sumindo gradativamente de seu rosto.
— Theresa do céu.
— O que foi, garota?
Segurei nas mãos das gêmeas, olhando para trás, quando eu vi algo
que me deixou extremamente intrigada.
— O Eros está discutindo com uma mulher!
— Meu Deus, parece a Pollyana Fletcher. — completei, com uma
sensação angustiante em meu peito.
Pollyana estava completamente alterada, ela segurava nos braços
de Eros, argumentando sobre algum assunto muito sério.
Quando, por instante, Eros desviou o rosto e acabou nos vendo.
— Eles estão vindo na nossa direção. O que vai fazer? — Winter
me perguntou, ansiosa.
— Não há o que fazer. Eles já nos viram. — umedeci os lábios,
olhando preocupada nos olhos de minha amiga.
E, em apenas um gesto, puxei as meninas, que caminhavam de
mãos dadas à nossa frente, para mais perto de mim e de Winter.
As gêmeas resmungaram sem entender muito bem a minha atitude
impulsiva.
— Honey e Chloe, venham bem pertinho da mamãe agora. —
orientei, procurando acolhê-las em meus braços.
Eu tremia ao pensar no que Pollyana Fletcher poderia fazer quando
descobrisse toda a verdade sobre a paternidade das meninas.
Depois das últimas atitudes dela e de tudo o que Eros havia me
contado, eu estava determinada a proteger as minhas filhas a qualquer
custo.
Eros, por sua vez, exibia uma expressão tensa e surpresa ao nos ver
e, acompanhado por sua ex, ele ainda ouvia os desaforos que eram
despejados impiedosamente nos seus ouvidos.
— Pelo jeito, Eros não contava com o nosso flagra. — Winter
constatou e eu concordei com ela.
Observei melhor e vi que Pollyana usava uma roupa de academia,
enquanto Eros estava lindamente vestido num conjunto casual de calça e
bermuda off-white.
— Espero que não estejam fazendo nada demais. Eu não confio em
Eros e muito menos em Pollyana. — confessei, sentindo estranhamente
ciúmes por dentro.
Assim que os dois se aproximaram, Pollyana caminhou ao meu
encontro, cravando seus olhos em mim, como se faíscas saíssem de suas
pupilas.
Ela me conhecia?
Eros então se adiantou e me cumprimentou, deixando um beijo
casto no meu rosto.
— Oi, Theresa. Estava te esperando
Fiquei desconcertada com o olhar que Pollyana ainda me desferia.
— Ah, então você é a Theresa? Eu já ouvi falar muito sobre você.
— ela sorriu, fingindo simpatia, enquanto eu observava Winter vigiando as
meninas, que corriam pelo gramado, próximas a nós.
— Eu também já ouvi falar muito sobre você, Pollyana Fletcher.
Você está bem? — tentei ser educada, ainda que um clima extremamente
tenso estivesse no ar.
— Eu estou ótima. Só estava tentando convencer o Eros a ligar
para o pai dele. Senhor Naibra entrou em contato comigo e me pediu para
convencer esse orgulhoso a atender às suas ligações.
Mordi os lábios, intrigada, quando Eros interveio.
— Não dê ouvidos a ela, Theresa. A Pollyana está exagerando. É
evidente que o meu pai não tem nada de importante para falar comigo, ele
está apenas tentando manipular situações para nos aproximar, na esperança
de reconstruir nosso relacionamento de pai e filho, algo tão improvável
quanto eu parar de beber.
Cruzei os braços, fitando Eros e Pollyana Fletcher, a angústia que
os dois apresentavam.
— Eu não entendi nada até agora, por favor, se vocês puderem me
explicar.
— Eu explico, Eros! — Pollyana parecia impaciente, enquanto o
advogado a encarava com uma expressão de censura. — Dr. Naibra está
morando na Itália e, infelizmente, está muito doente. Ele quer falar com o
filho, pois talvez esta seja a última oportunidade de se acertarem. No
entanto, estou tendo dificuldades para convencer Eros disso. Naquele dia
em que os flagrei na casa de Dirksen, era exatamente para passar esse
recado de Sr. Naibra. Já estive lá diversas vezes com esse intuito, mas Eros
simplesmente não me ouve. Espero que ele pelo menos te escute, Theresa.
Peça a ele para entrar em contato com o pai.
Pollyana estava visivelmente preocupada e envolvida com a
situação.
Eu observava Winter sentada com as meninas sobre a grama,
abraçadas aos seus pequenos bichos de pelúcia, enquanto tentava considerar
também as frustrações de Eros.
Mesmo diante da doença do pai, nada seria capaz de trazer perdão
ao coração daquele que teve a sua mãe cruelmente arrancada de sua vida.
No entanto, acreditava firmemente que, se Eros conseguisse
perdoar o seu pai, encontraria uma paz há muito esperada em seus dias.
— Você acha que eu sou criança, Pollyana? Pare de encher a porra
do meu saco! — Eros passou as mãos pelos cabelos, visivelmente alterado.
— Conheço muito bem as atrocidades do meu pai, o quanto ele me fez
sofrer quando perdi a minha mãe, exclusivamente por culpa dele e de sua
péssima índole. Foi tudo muito difícil de aceitar, por isso eu sei muito bem
o que estou fazendo ao me afastar dele, e essa sempre será a melhor opção!
— afirmou convicto, ainda que revolta e tristeza dessem ritmo a sua voz.
— Eros, a Pollyana não teria razão? — ponderei, lhe tirando um
olhar surpreso. — Por que você não entra em contato com o seu pai? Pelo
jeito ele está muito doente e quer partir em paz, sem ressentimentos entre
vocês.
— Eu não vou fazer isso, Theresa, não adianta me pedir. — Eros
umedeceu os lábios, enquanto eu torcia para que chegássemos, o quanto
antes, a um consenso. — Se o meu pai tiver que morrer longe de mim, que
morra. Ele já me fez sofrer demais. Eu já implorei pela presença dele em
momentos em que me senti extremamente sozinho, ferido, quando a minha
mãe estava definhando às custas dele, mas ele estava lá com a sua amante,
pouco se importando com o caralho das minhas dores. E por minha família
ser de Londres, eu já passei vários momentos na mais repleta solidão, e ele
não se importou com isso, por que agora eu deveria ter algum tipo de
consideração por ele?
Pollyana bufou ao meu lado, desdenhando dos argumentos de Eros.
— Fracamente…
— Eu conheço muito bem o seu coração. — segurei nas mãos
trêmulas do advogado. — Sei que você está quebrado, ressentido e cheio de
mágoas, mas não acha melhor tentar superar mais esse desafio, para que
não sinta mais rancor por seu pai?
Eros bufou, impaciente.
— Eu preciso de tempo. Estou me sentindo sufocado com a
insistência de vocês duas.
Naquele momento, Eros resolveu pegar Chloe no colo, beijar a
bochecha da menina e olhar para ela com ternura. Em seguida, fez o mesmo
com Honey, que sorriu, chamando-o de “Elos”.
Pollyana cruzou os braços e estranhou aquela interação, a
intimidade tão bonita entre o advogado sisudo e as crianças.
— Eros Dirksen, quem são essas meninas? — a morena perguntou
em meio a um sorrisinho de nervoso.
Apenas olhei para Winter, Winter me olhou e eu olhei para Eros.
Não sabíamos o que dizer.
Valeria a pena revelar a verdade, falar sobre nossas vidas a
Pollyana, uma mulher desequilibrada, na qual Eros não confiava?
— Bem, Pollyana, mais cedo ou mais tarde, você iria saber disso.
— Eros suspirou, antes de concluir, enquanto eu olhava para as meninas,
com intenção de protegê-las. — Honey e Chloe são as minhas filhas com
Theresa.
Pollyana levou as mãos à boca, dando alguns passos para trás. Os
olhos ficaram petrificados como rocha, o rosto completamente pálido.
— Você é o PAI, delas? — foi o que ela conseguiu perguntar,
completamente boquiaberta, inclusive não se ouvia mais a sua respiração
Imediatamente Eros olhou para mim, antes de responder:
— Sim, elas são as nossas filhas. — percebi Eros visivelmente
emocionado. Winter acolhia as gêmeas, enquanto ele não conseguia desviar
a atenção das bebês por nenhum segundo sequer. — Há dois anos, Theresa
e eu nos relacionamos, ela engravidou, e eu fui para Boston. Surgiram
alguns mal-entendidos e a gente acabou se afastando, mas te confesso uma
coisa, Pollyana, não poderia haver surpresa mais feliz nos últimos tempos.
Impressionante como Eros havia sintetizado a nossa história em tão
poucas palavras, e saber que ele estava feliz por ter gerado as meninas, me
deixava mais tranquila e esperançosa para receber o seu perdão.
Pollyana, por sua vez, respirava com dificuldades, como se tivesse
acabado de receber uma forte apunhalada no peito.
— Você já fez o exame de DNA? — ela gritou, segurando nos
punhos de Eros. — Essa mulher é uma golpista! Você não percebeu? Um
advogado tão inteligente como você, caindo no golpe da barriga! É
indispensável que você faça o exame de DNA, o quanto antes! — ela
concluiu e eu arregalei os olhos, consternada, segurando todo o ar nos meus
pulmões.
Dessa vez, Winter estava mais afastada, sendo poupada de ouvir
tamanha asneira.
— Você não me conhece para me julgar com palavras tão sórdidas.
— esbravejei, sentindo o calor da raiva se misturar com a angústia dentro
de mim, enquanto eu era contida por Eros.
— Não, Pollyana, não será necessário realizar o exame de DNA.
— ele afirmou, indócil. — As meninas carregam a minha mancha de
nascença.
Pollyana levou imediatamente as mãos à cabeça, os seus olhos
praticamente saltando de suas órbitas.
— A mesma mancha de nascença da sua mãe? — ela perguntou,
visivelmente chocada, a voz carregada por perplexidade.
— Sim, a mesma mancha de nascença. — Eros respondeu com
firmeza, embora a sua voz estivesse tensa. — Diante disso, eu não preciso
de exame de DNA, porra nenhuma! Já está impresso que elas são as minhas
filhas e, apesar de tudo, eu confio em Theresa. — ele afirmou, enquanto eu
sentia um peso enorme sendo retirado de meus ombros.
Ouvir Eros falando de maneira tão genuína sobre confiar em mim,
era um alívio imenso.
Apesar de seu semblante frio e de seu olhar indiferente, ainda
existia uma ponta de esperança de que ele poderia eventualmente me
perdoar.
Então o belo homem chamou por Honey e Chloe, que correram ao
encontro dele.
Um abraço caloroso os uniu, e ele beijou os rostinhos delas,
incessantemente, como se quisesse provar à Pollyana o quanto a presença
das duas era significativa na sua vida.
O que me restou foi enxugar uma lágrima intrusa, enquanto eu
trocava olhares com Winter.
Eros ser um pai maravilhoso para Honey e Chloe, sempre foi o
meu maior sonho.
Pollyana continuou petrificada, sem conseguir falar nenhuma
palavra sequer. Os seus olhos exalavam ódio na direção de minhas filhas.
Ela estava revoltada, como se eu tivesse cometido um grande crime contra
ela.
Completamente sem paciência e querendo dar logo um basta na
presença irritante daquela que havia me traído, eu me afastei das gêmeas,
para pegar o celular em meu bolso.
— Quanto você quer, Pollyana? Me fala agora a quantia, que eu te
faço uma transferência! — esbravejei, assustando a minha ex e também
Theresa. — É o valor do anel que você quer de volta? Ou a quantia
referente à indenização por ter quebrado a porra do meu carro? Me fala
logo, quantos dólares você precisa para sumir de uma vez por todas da
minha vida e me deixar em paz, caralho! A maneira estúpida que você está
olhando para as minhas meninas está me dando nos nervos! Eu preciso de
você longe de mim e eu exijo que não me persiga nunca mais!
Fiz um sinal para que Theresa se afastasse. Ela se negou, mas
prontamente Winter veio ampará-la, para levá-la até as gêmeas.
— Eu não quero o seu dinheiro, Eros! Você pensa que eu sou
quem? — Pollyana me contornou o olhar cheio de ressentimentos. — Eu só
queria me aproximar de você, porque eu te amo, e o seu pai precisa
compartilhar algo extremamente sério com você, essa é a minha única
intenção, fazer com que vocês se perdoem e voltem a ser uma família.
— Ah Pollyana, me poupe. — cruzei os braços, angustiado. —
Você acha que eu sou um otário, alguém que não tenha memória ou
sentimentos! Você quer que o meu pai volte a me humilhar? Quer que eu
coloque dentro da minha casa, um ser monstruoso como aquele homem, que
acabou tirando a vida da minha própria mãe?
Pollyana fez uma negativa irritante com a cabeça.
— Não seja exagerado, Eros, a sua mãe morreu de depressão.
— Não seja burra, Pollyana, ela morreu de depressão porque o meu
pai a deixou!
— Meu Deus, que baixaria.
Irritado, segurei nos braços da mulher.
— Quanto você quer, me fala agora, que eu te passo a merda do
dinheiro!
Sem que eu percebesse, Theresa veio até mim, tocando no meu
ombro.
— Calma, Eros. Melhor vocês conversarem quando estiverem mais
calmos. As suas filhas...
— Eu já entendi tudo, você e Theresa estão juntos. Fala, Theresa,
você está namorando o Eros? — Pollyana inquiriu, ao mesmo tempo em
que se soltava de minhas mãos.
Mordi os nós dos dedos, completamente irritado com a indiscrição
de Pollyana.
— Não estamos juntos. — Theresa falava com os olhos fixos nos
meus. — Eros descobriu há pouco tempo sobre as meninas e ainda não
sabemos como vai ficar a nossa situação. Está tudo muito recente ainda.
Pollyana deu dois passos na direção de Theresa e, instintivamente,
eu a afastei com o braço, antes que ela pudesse agredir a mãe de minhas
filhas.
— Pare de mentir, você é muito dissimulada, Theresa. — então
Pollyana resolveu se dirigir a mim, me desferindo um olhar colérico. —
Inclusive, eu não consigo acreditar que você engravidou uma empregada!
As pessoas na praça nos avaliavam, comentando sobre todo aquele
escândalo, e eu jurava a mim mesmo que Pollyana Fletcher ainda iria me
pagar por isso.
Estava prestes a respondê-la à altura, quando Theresa decidiu
intervir.
— Talvez Eros tenha visto em mim algo que não viu em você.
Pollyana revirou os olhos.
— Por exemplo?
— Eu sou honesta.
— Tão honesta que decidiu engravidar de um milionário. —
Pollyana deu o troco e eu odiei a sua ironia de quinta categoria.
Prontamente fiz um gesto para que Theresa a ignorasse.
Então a minha ex-noiva se virou para mim, colocando um dedo
impositivo no meu peito.
— Só não se esqueça, Eros, que você precisa falar com o seu pai. E
fique tranquilo que eu não vou mais te procurar. Vou seguir o meu caminho,
afinal de contas tem crianças envolvidas na história, e apenas por isso que
eu não pretendo prejudicar o convívio de vocês. Não sou tão ruim como
você pensa.
Sorri, incrédulo, enquanto Theresa me avaliava claramente
desconfiada das palavras de Pollyana.
— Tudo bem, eu vou fingir que acredito que você vai parar de me
perseguir. — proferi, entredentes. — Seria realmente um sonho te ver a
quilômetros de distância.
Pollyana então se virou e finalmente nos deixou com um olhar
áspero e completamente raivoso.
Enquanto estávamos em meio ao burburinho da praça Álamo,
percebi Theresa olhando para mim com uma expressão preocupada.
— Pollyana está realmente triste por encerrar esse ciclo com você.
— ela me disse, tentando decifrar as intenções da vadia, enquanto eu
refletia sobre a insistência de minha ex em me fazer confrontar o meu
passado.
— Sinceramente, espero que Pollyana esteja finalmente encerrando
essa história, uma porra de narrativa que parece não ter fim. Desculpe pelo
desabafo, Theresa, mas Pollyana não tem parado de me pressionar para
falar com o meu pai, alegando que ele está à beira da morte. Nem mesmo o
nosso encontro inesperado no parque escapou desse assunto que só traz
lembranças péssimas. Estou simplesmente exausto disso tudo.
— Acho que nesse ponto a Pollyana está certa. — Theresa então
ponderou sobre a situação. — Você tinha que procurar o seu pai, ele está no
leito de morte, pelo que eu entendi. Pode ser uma oportunidade única para
você se reconciliar com ele e seguir em frente com mais leveza. Ouça o que
ele tem a dizer.
Respirei fundo, balançando a cabeça em desacordo.
— Não farei isso! Inclusive eu não vou permitir que esse assunto
indigesto estrague ainda mais o nosso momento. Quero apenas ficar aqui
com as meninas, contemplar o pôr-do-sol e compartilhar um lanche com
vocês. É tudo o que preciso agora. Me ajude a deixar os fantasmas do
passado para trás.
— Tudo bem, Eros. Eu respeito a sua decisão. — Theresa assentiu,
segurando calorosamente na minha mão.
Depois de todo o estresse, eu pude observar melhor aquela garota
que sempre me desconcertou.
O quanto ela era linda e perfeita nos seus detalhes. Os lábios
úmidos e charmosos eram uma tentação à parte, as sardas davam um ar
ingênuo ao rosto de Theresa, sem falar no corpo sexy que era desenhado
pelo uniforme curto e provocante da sorveteria.
— Agora que os ânimos se acalmaram, eu vou embora. — Winter
nos abordou de repente, exibindo os seus olhos cansados.
Theresa prontamente a abraçou enquanto eu recebia Chloe e Honey
perto de mim.
— Obrigada pelo seu apoio com as meninas, Winter. — Theresa
disse e, prontamente, decidi intervir, deixando um breve afago no ombro da
madrinha de minhas filhas.
— Quero te agradecer por tudo que fez pelas gêmeas e por
Theresa, nesses últimos dois anos. Ela sempre me fala sobre a importância
da amizade de vocês, e eu serei eternamente grato a você por isso.
A moça sorriu, envaidecida.
— Há coisas que não precisam agradecer, Dr. Dirksen. Eu fiz
porque amo a Theresa e as meninas, foi totalmente natural e afetuoso.
Theresa abraçou mais uma vez a amiga e convidou as meninas para
beijarem a madrinha. Depois Winter se afastou, deixando um aceno para
mim.
Prontamente nos sentamos no gramado, contemplando a paisagem.
Chloe e Honey corriam em círculos, ao nosso redor, cada uma segurando
uma pelúcia.
Sentia que Theresa me encarava, enquanto dividia a atenção com
as meninas.
— Está mais calmo, agora? — ela indagou, os seus olhos refletindo
uma compaixão genuína.
— Ainda estou sentindo a porra de um aperto insuportável no
peito. — os meus pensamentos estavam todos em desordem, enquanto
lutava para manter a compostura.
Theresa então afagou delicadamente o meu joelho e
inevitavelmente senti um arrepio contaminar o meu corpo.
— Está preocupado com o seu pai?
— Estou preocupado com as atitudes de minha ex. Ela é totalmente
desequilibrada, por isso pretendo zelar ainda mais pelas meninas. — as
minhas palavras transpareciam a tensão que dominava os meus
pensamentos.
Observava as gêmeas sentadas à nossa frente, conversando com os
ursos, e a ingenuidade e fragilidade delas me obrigava a ser um homem
diferente, alguém que pudesse viver especialmente pela felicidade delas.
— Pollyana me pareceu bastante decidida a seguir em frente.
Sorri, com pessimismo.
— É uma dissimulada. Não posso confiar em Pollyana, ela é mais
traiçoeira que uma serpente.
Theresa suspirou, fazendo carícias em meu joelho.
Ela não imaginava o quanto poderia me inflamar com aquele
simples gesto. Eu não conseguia controlar a atração insana que sentia por
ela. Desconfiava, inclusive, que Theresa exercia algum feitiço sobre mim.
— Eros, eu não quero falar mais sobre Pollyana, quero focar em
nós dois neste momento. — Theresa tentava mudar o foco da conversa,
buscando uma conexão mais íntima.
— Não tenho o que falar. — volvi os meus olhos na direção dos
azuis de Theresa. — Ainda estou decepcionado com você, uma dor
pungente se acumula aqui dentro de mim, em meio a tantas outras feridas.
— os meus sentimentos de mágoa e desapontamento transbordavam em
minhas palavras.
Theresa então segurou delicadamente nas minhas mãos.
— Eu vou esperar pelo seu perdão, só espero que não me coloque
de molho como fez com o seu pai.
Sorri em negação.
E, naquele momento, retirei as minhas mãos da dela, para recusar
uma ligação de meu pai, sem que Theresa percebesse.
— Não brinque com os meus sentimentos, Theresa. Não se
compare ao meu pai. Apesar da minha decepção, a revelação que você
trouxe foi algo maravilhoso. — sorri, observando as meninas brincando
felizes. — Eu amo as minhas filhas, sou capaz de qualquer coisa pelo bem-
estar delas.
Theresa sorriu, com os olhos levemente marejados.
— Elas me preenchem de uma forma, que não sei explicar, e tenho
certeza que elas são a peça-chave que faltava no seu dia-a-dia, afinal
trabalho, álcool e charutos em excesso não fazem bem a ninguém.
Concordei, admirado com o carinho que Theresa sentia por mim.
— Você está coberta de razão.
Estiquei as mãos, na direção das gêmeas, pedindo um abraço, mas
elas saíram correndo de mim, sorrindo.
Cada movimento delas me preenchia de amor.
— Elas são lindas. — comentei, envolvido. — Que tal a gente
comer alguma coisa agora? — buscava um momento de tranquilidade, na
companhia de Theresa e das meninas.
A loira assentiu e, sem querer pensar em mais nada, peguei as
gêmeas em meu colo, uma em cada braço, e segui para a cafeteria mais
próxima.
No percurso, Chloe e Honey tagarelavam nos meus ouvidos,
falando sobre personagens de desenhos animados, os quais eu nunca tinha
ouvido falar.
— Está com pressa?
Distraído com as meninas, nem havia me dado conta que havia
deixado Theresa para trás. Prontamente pausei os passos, esperando ela se
aproximar.
— Eu quero retornar a tempo do pôr-do-sol. — falei, animado.
— O pôr-do-sol mais lindo que vi, foi em Hamptons, em Nova
York.
Theresa suspirou, saudosa, enquanto eu estranhei por ela ter
frequentado aquele lugar onde apenas celebridades e magnatas tinham as
suas casas. Inclusive, era onde ficava a casa de praia da minha família.
Aquela informação prontamente me encucou.
— Não me diga que conhece Hamptons?
Ela concordou, sorridente.
— Uma das praias mais lindas que já conheci na vida, foi em
Hamptons. — então ela foi interrompida pelo celular que vibrava na sua
bolsa com o despertador. — Eros, infelizmente eu não posso demorar. O
meu pai precisa de mim. Ele está com sérios problemas de saúde, precisa
dos remédios e não pode ficar sozinho por muito tempo. — Theresa
confessou, tristemente. — Queria muito ter aproveitado melhor a tarde com
você.
Preocupado, engoli em seco, tentando buscar soluções quanto à
saúde de Sr. Butler.
— Claro, podemos ir embora, sim. E saiba que estou disposto a te
ajudar quanto à saúde de seu pai, no que for preciso. Não fique
constrangida, pode contar comigo. — umedeci os lábios, para fazer um
breve desabafo. — Eu não queria ter perdido tanto tempo com Pollyana.
Mais uma vez, ela atrapalhou tudo. — irritado, desejava também que toda a
obsessão de minha ex, tivesse logo um fim, como ela mesma havia me
prometido.
Theresa se calou por um instante, olhando bem no fundo dos meus
olhos. Faltavam apenas poucos metros para chegarmos à cafeteria.
— Por um acaso, você conhece o meu pai? Alfred Butler?
— Vovô! — Chloe exclamou para Honey.
— Meu vovô. — Honey rebateu ciumenta, o que tirou um sorriso
de nós dois.
— Nunca ouvi falar nele, Theresa. Por que está me perguntando
isso agora? — ajeitei as meninas nos braços, sem saber o que ela pretendia
com aquela pergunta.
— Tem certeza, Eros? Não me esconda nada.
Neguei, veemente, sem entender a insistência de Theresa.
— Eu tenho certeza. Eu nunca conheci ninguém com esse
sobrenome.
Theresa continuava me observando com desconfiança.
— Eu sinto que o meu pai te conhece, mas certamente é porque
você é um advogado muito famoso e renomado. — ela confessou com um
olhar perdido.
— Creio que sim. Depois, eu quero conhecê-lo, saber quem é esse
homem de fibra que criou uma mulher linda e determinada como você.
Theresa abaixou os olhos, ajeitando os cabelos por trás das orelhas.
— Não é a primeira vez que você me deixa constrangida. E espero
que já tenha me perdoado.
Theresa sorriu calorosamente e eu me perdi nos lábios deliciosos
dela.
Os dentes brancos, charmosos, incrementavam ainda mais aquele
sorriso. A boca dela se encaixava perfeitamente à minha, o nosso beijo era o
ápice de toda a porra dos meus desejos.
Salivei com os meus pensamentos imorais, quando fomos
interrompidos por Honey, estendendo os braços, ansiosa pelo colo da mãe.
Chloe, por sua vez, se enroscou ainda mais no meu pescoço, o que
nos fez sorrir juntos, então decidimos seguir, finalmente, para a cafeteria,
buscando um momento a sós.
E, conforme eu passava o tempo na companhia das gêmeas e de
Theresa, começava a compreender que aquela era a família perfeita que a
minha mãe sempre sonhou para mim.
Theresa me contava sobre as peraltices das meninas, e eu me via
imerso nos pensamentos, lutando contra a frustração por ela ter me privado
daquelas experiências tão significativas.
O que me restava agora era tentar superar os ressentimentos e,
finalmente, perdoar Theresa, por ela ter me omitido a existência daquelas
crianças adoráveis, as quais eu já amava tanto.
— A Loren?! Você não cansa de ser otário mesmo! — proferi,
indócil, fitando a cara de imbecil de meu amigo Eoth Roosevelt.
Após o nosso almoço juntos, concordamos em dar uma volta antes
de retornarmos ao trabalho.
Roosevelt, ao ouvir os meus sinceros elogios, logo me encarou
com censura, antes de deixar um breve tapa nas minhas costas.
— A Loren é gostosa para um caralho. Juro que não me importo
por ela ter me trancado no meu apartamento, para terminar a noite com o
meu vizinho.
Revirei os olhos, entendendo que Roosevelt tinha uma atração
desmedida por aventuras, não importavam com quem, curiosamente os seus
instintos falavam mais alto que o seu próprio brio.
— Vou fingir que não ouvi e, sinceramente, eu sinto vergonha
alheia só de me lembrar desse dia. Isso não te incomoda?
Ele balançou a cabeça em negação.
— A Loren é tão livre quanto eu. Não tenho domínio algum sobre
os fetiches dela.
Sorri, desistindo de colocar algum tipo de juízo na cabeça de meu
amigo e depois verifiquei o relógio, atento ao horário do almoço.
— Preciso retornar ao escritório em dez minutos.
Eoth então parou na calçada, em frente a um lugar específico.
— Antes disso, vamos entrar nesse mercado. Quero renovar o meu
estoque de uísque. A Loren ama brindar destilado comigo na banheira.
Prometo ser rápido.
Apesar de discordar, eu aceitei fazer compras de destilados ao lado
de meu amigo, aproveitando o ensejo para adiantar as demandas pelo
celular.
Em segundos, Roosevelt já seguia entre as prateleiras, buscando
pelas bebidas.
— Você não vai aceitar o convite da Bianca? — ele me perguntou,
analisando uma garrafa de uísque Glenkinchie 12 Anos. — Ela me disse que
está com saudades. Inclusive eu acho que essa é a melhor maneira de você
se esquecer de Theresa. — então ele me desferiu o seu olhar mais tolo. —
Assumir as gêmeas já está de bom tamanho, não acha?
Parei de responder ao meu assessor pelo celular, para cravar os
meus olhos incrédulos em Eoth Roosevelt.
— Não complique as coisas, cara. Tudo o que eu preciso agora é
perdoar Theresa, para quem sabe, lá na frente, dar uma chance a nós dois.
— Roosevelt discordou com um rolar de cabeça. — Eu sou louco por ela,
mas ainda é difícil lidar com o fato de que ela me privou de viver momentos
muito importantes da vida das gêmeas, como quando elas aprenderam a
andar, a falar, o primeiro brinquedo, enfim.
— Eros Dirksen?
Sobressaltei com um funcionário do mercado, me chamando.
Ele carregava algumas mercadorias em um carrinho, ao meu lado.
Depois que ele parou bem próximo, eu o avaliei com surpresa,
parecia que ele me conhecia de algum lugar, mas isso não era novidade, já
que eu costumava estampar os principais tabloides de todo o país,
diariamente.
— Pois não, senhor. Atrapalho em alguma coisa?
Roosevelt continuava entretido com as bebidas, quando o jovem
senhor cruzou os braços, me inspecionando com uma certa afronta no olhar.
— Você atrapalhou a vida da minha filha, a trajetória tão bonita
que ela poderia trilhar, se não fosse a gravidez inesperada!
Fiquei sem palavras.
Ajeitei o terno ao corpo, num movimento aleatório, sem querer
acreditar naquela bendita coincidência.
Eu estava frente-a-frente com o pai de Theresa Butler?
E naquela fração de segundos, tentava encontrar nele, algum traço
da garota, mas, estranhamente, aquele senhor não se parecia em
simplesmente nada com a filha, além disso, uma cicatriz sobre o seu
supercílio chamava bastante a minha atenção.
— Esse operário é o avô das suas gêmeas? Não brinca! —
Roosevelt despejou as suas asneiras, segurando uma garrafa em cada mão.
Em resposta, o homem ergueu os olhos, estreitando-os com
desconfiança na direção de meu amigo.
O meu rosto ardia enquanto represava a vontade de quebrar uma
das garrafas na cabeça de Eoth.
— Melhor você me esperar no meu escritório. — sugeri,
sutilmente, na esperança de que Roosevelt se desse conta que eu precisava
ficar a sós com aquele senhor.
O meu amigo apenas sorriu, ignorando completamente a minha
indireta.
— Uísque Chivas Regal 18 anos e Loren Clooney, 24 anos. A
combinação perfeita. — ele exclamou, beijando a garrafa, enquanto eu
esperava ter conseguido contornar o constrangimento que ele me fez passar
com o pai de Theresa.
— Ótimo. Agora dá um fora. — impus, entredentes, retirando uma
gargalhada infame de Eoth.
— Tudo bem. Eu vou respeitar o seu momento em família.
Finalmente, o meu amigo se despediu e, à medida que se afastava
pelo corredor, eu percebia que ele estava prestes a se arrepender de seu
encontro com Loren Clooney.
Na verdade, o tolo merecia sim uma mulher como ela.
E quando Roosevelt nos deixou, por completo, eu me virei na
direção do pai de Theresa.
— Pelo jeito, o senhor é Alfred Butler.
Ele se aproximou, olhando para os lados, claramente receoso que
alguém o visse conversando no horário de trabalho.
— Quais são as suas intenções com a minha menina? — o homem
perguntou com uma expressão séria.
Respirei fundo, tentando manter a calma enquanto respondia.
— As melhores possíveis. Eu desejo o bem de Theresa, quero que
ela tenha todo o respaldo que precisa, afinal ela é a mãe de minhas filhas.
O homem não pareceu convencido diante de meus argumentos e
logo rebateu.
— A minha filha me falou que você não quer perdoá-la, mas, na
verdade, é você quem deveria pedir perdão a ela. E de joelhos. — alterado,
Alfred me apontou um dedo incisivo. — A minha filha estava na sua casa
porque precisava de um emprego, mas você se aproveitou da ingenuidade
dela, para levá-la para cama, como se fosse uma prostituta! Não se
arrepende nem um pouco dessa monstruosidade?
Senti um nó apertado no peito ao ouvir aquelas palavras rancorosas
e ácidas.
Eu havia cometido erros com Theresa? Sim, é verdade, mas o que
importava era que eu a respeitava, e não havia feito nada o que ela não
quisesse.
Sem falar que eu já amava as minhas gêmeas mais que a própria
vida.
— Por mais que o senhor veja a Theresa como uma menina, ela, na
verdade, já é uma mulher, capaz de tomar decisões, que sabe o que é melhor
para ela, e que também gosta de se sentir desejada. — Alfred cerrou os
punhos e eu pensei que ele fosse me socar. — Eu respeito muito a sua filha
e quero o seu bem. Infelizmente, nos afastamos e eu não pude participar da
gravidez, mas sempre estarei disposto a ajudá-la em tudo o que for preciso.
Eu pretendo ser um pai exemplar para Honey e Chloe.
O homem parecia ponderar por um momento sobre o que eu havia
dito.
Torcia para que eu tivesse o convencido de minhas verdadeiras
intenções com Theresa e as meninas.
— Espero que você não seja como Naibra Dirksen.
Arqueei as sobrancelhas, surpreso, pela menção ao meu pai.
Eu não esperava que nossa conversa pudesse tomar aquele rumo!
— Como assim? O senhor conhece o meu pai? — questionei,
completamente perplexo.
O homem balançou a cabeça com desgosto.
— Lamentavelmente, eu conheço aquele traste. — engoli em seco,
ainda atordoado. — Estou pedindo a Deus para que Naibra nunca cruze os
caminhos de minha filha. Infelizmente, eu não pude impedir a minha Tessa
de te conhecer, de se relacionar com um Dirksen.
Tessa? Aquele apelido me soava familiar.
Além de tudo, as palavras de Alfred mexiam comigo. Eu não fazia
ideia do que dizer, mas antes que pudesse processar totalmente aquelas
informações, tinha algo que eu precisava saber.
— Eu tenho noção que o meu pai é um canalha e eu também quero
distância dele, talvez não compartilhar mais esse planeta com ele, é um dos
meus maiores desejos. E se eu tiver algum interesse em apresentá-lo a
Theresa, por favor, pode me internar. — Alfred coçou desconfiado o alto da
cabeça, antes de eu continuar. — Estou curioso pra caralho. O que o senhor
sabe a respeito do meu pai?
Senti um nó profundo na garganta.
Eu precisava de respostas.
Saber que o meu caminho se coincidia com o de Theresa, em
algum momento de nossas vidas, me intrigava absurdamente.
— Não vem ao caso, doutor. Se Tessa souber das coisas que ele me
fez, ela nunca mais olharia na sua cara. E eu imagino que você não queira
isso.
Aquelas palavras me atingiram em cheio.
Que porra de mistério Alfred estava fazendo? Com quais intenções
ele me escondia sobre a sua relação com o meu pai?
Confesso que me senti frustrado por não obter as informações que
me interessavam e principalmente saber que eu poderia perder horas de
sono preocupado com essa bela novidade.
Aflito, eu tinha certeza que não conseguiria arrancar a verdade da
boca de Alfred Butler.
— Inferno. Seja mais direto.
Ele me encarou com firmeza.
— Não me obrigue a nada. Eu não sou seu empregado. Eu só te
peço para cuidar bem de minhas netas e de minha filha. Elas precisam
muito do seu apoio. Até agora, nada caiu do céu em nossas vidas.
O que me restou foi assentir, compreendendo a preocupação do pai
de Theresa, percebendo também o quanto ele estava decidido a manter os
seus segredos enterrados, mas eu não estava disposto a desistir tão
facilmente de saber quais eram os laços que uniam Alfred e Naibra.
Arrisquei ainda esticar a minha mão para aquele senhor e, para o
meu alívio, ele me retribuiu o gesto.
— Pode contar comigo, senhor Butler. Eu sempre vou estar na
contramão dos ensinamentos do meu pai. — de repente, o celular tocou em
meu bolso. — Falando nele, está me ligando agora.
Ignorei a ligação, enquanto Alfred me falava:
— Agora eu preciso trabalhar. Tenho náusea apenas por saber que
estou mais perto de Naibra do que eu realmente deveria estar.
O homem bufou e se afastou, claramente irritado.
Mordi os nós dos dedos, me sentindo tenso com aquele encontro,
pensando em mil situações, me perdendo nas reflexões sobre o que tinha
acabado de acontecer.
O que Alfred Butler sabia a respeito de meu pai, por que o odiava
tanto?
Aquela breve interação deixou claro que havia uma história
profunda e obscura entre os dois, uma situação que eu desconhecia por
completo.
E já caminhando pelas ruas movimentadas da cidade, senti uma
forte determinação crescer dentro de mim.
Prometi a mim mesmo que não descansaria até descobrir a verdade
por trás do ódio ardente que Alfred nutria por meu pai.
Jurava a mim mesmo que não deixaria pedra sobre pedra até que
cada detalhe fosse revelado, iria descobrir cada vírgula! Nada permaneceria
oculto!
Temia, inclusive, que as revelações pudessem mudar a minha
percepção sobre o meu próprio passado, influenciando, inevitavelmente, no
meu relacionamento com Theresa.
Sorria dos rabiscos coloridos espalhados sobre a mesa do meu
escritório, misturados a processos importantes que esperavam por um
desfecho.
Depois que Honey e Chloe invadiram a minha vida, tudo ficou
mais leve.
Eu me via paralisado, dando um tempo nas demandas, com um
sorriso genuíno no rosto, imaginando o que elas ainda poderiam me
proporcionar.
Theresa estava constantemente na empresa, me surpreendendo com
a presença das meninas e, claramente, esse era um grande alívio para todos
os meus fardos.
Admito que eu sentia saudades da garota, de tê-la completamente
entregue e epiléptica nos meus braços, mas eu ainda precisava perdoá-la.
Fatalmente, quanto mais eu convivia com Honey e Chloe, mágoas
se reacendiam dentro de mim, por ter sido poupado de ser pai há mais
tempo.
Depois de tomar minha injeção de ânimo, relembrando que tinha
filhas adoráveis, decidi trabalhar em mais um processo.
Rolei os olhos pelas páginas, absorvendo cada detalhe
meticulosamente. Não lia apenas o documento, eu o estudava, antecipando
possíveis desdobramentos, quando, sem esperar, Kate, a minha nova
secretária, adentrou a sala.
— Doutor Dirksen, a senhora que costuma visitar frequentemente
o escritório, está pedindo para entrar. — informou à porta, a mulher de
cabelos curtos e cacheados.
Fechei imediatamente o processo, sentindo o coração pressionar a
garganta.
Todas as vezes que Kate me anunciava Theresa, eu tinha
formigamento pelo corpo, por simplesmente represar todo o tesão que ela
me despertava.
Desejava ter uns bons momentos com a loira no escritório, porém
precisava evitar me relacionar com ela puramente por instinto.
Theresa merecia muito mais que meus hormônios.
— Diga a ela que pode entrar! Na verdade, nem precisava anunciá-
la. E onde estão as crianças?
Kate exibiu uma expressão confusa e correu para atender ao meu
pedido.
Cocei o alto da cabeça, ponderando a falta de tato de Kate para
lidar com certas situações, afinal de contas ela era novata e ainda se sentia
um pouco perdida diante de minhas exigências.
Prontamente peguei alguns chocolates dentro da gaveta, deixando-
os estrategicamente sobre a mesa.
Chloe e Honey adoravam aquelas guloseimas e já corriam para
pegá-las entre os documentos, assim que chegavam à sala.
Tão logo a porta se abriu e eu me ajeitei na cadeira, aguardando
ansiosamente pela chegada do trio que sempre me trazia conforto.
No entanto, para a minha surpresa, foi Pollyana Fletcher quem
apareceu, com o rosto contorcido pelo choro, o que me deixou
extremamente perplexo.
Soquei a mesa, sem ao menos perceber.
— Não tenho tempo para você.
— Eros, senhor Naibra acabou de falecer.
No instante em que as palavras de Pollyana atingiram meus
ouvidos, um breve silêncio se estabeleceu por todo o escritório.
— Ele morreu? — sussurrei, organizando aleatoriamente os
documentos sobre a mesa, tentando disfarçar o impacto daquelas malditas
palavras.
Naquele momento, emoções contraditórias varriam o meu interior.
A minha natureza fria e calculista tentava manter a compostura, como
sempre fazia diante das adversidades.
No entanto, por mais que eu tentasse reprimir qualquer resquício
de sentimento, uma sensação de desconforto se instalou no meu peito,
desafiando toda a minha indiferença.
Inevitavelmente, aquela notícia trouxe à tona lembranças de minha
relação com meu pai, uma figura distante e sórdida que nunca soube
expressar afeto.
Apesar de nossas diferenças, o seu falecimento despertou em mim
a porra do remorso e do arrependimento, algo que eu sempre preferi manter
distância.
Por um breve instante, as lembranças fragmentadas de momentos
compartilhados com meu pai ressurgiram, junto ao ressentimento, à
nostalgia e até mesmo pesar por eu não ter lhe perdoado, mas, para o meu
alívio, foi algo totalmente fugaz. Aquela notícia não havia me causado o
impacto que prometia.
— A governanta acabou de me ligar de Roma, me dizendo que
senhor Naibra te deixou documentos importantes. — ela me disse com a
voz rouca.
Volvi os meus olhos para Pollyana, no momento em que ela me
contou aquela novidade.
— Ela não falou do que se trata?
Pollyana puxou a cadeira à minha frente e se sentou.
— Não, afinal os documentos dizem respeito apenas a você.
Inclusive, nós podemos buscá-los se quiser, e depois esticar a viagem até a
Toscana. — Pollyana fungou, em meio a um sorriso fraco. — Lembra que
era lá onde iríamos passar a nossa lua-de-mel?
Irritado, caminhei na direção daquela mulher, segurando nos
braços da cadeira onde ela se encontrava.
— Você quer que eu surte? Pare de me atormentar com essas
besteiras! Esqueça de uma vez por todas que já fomos noivos! — resolvi me
afastar, antes que eu perdesse todas as estribeiras. — O que importa agora é
que eu preciso ter acesso a esses documentos e, apesar de desconfiar que
seja o inventário, eu sinto que o meu pai me escondia muitos segredos. —
sob o olhar desconfiado de Pollyana, expressava a minha angústia, sem
conseguir deixar de pensar no quanto a conversa que tive com Alfred
Butler, ainda estava presa aos meus pensamentos.
Claramente, ele sabia de muitas coisas sobre Naibra Dirksen,
informações que ele nunca compartilharia, especialmente agora, com a
chegada de duas crianças em nossas vidas, e isso estava me enlouquecendo!
E por mais que eu não quisesse reviver memórias de meu pai, eu
estava completamente determinado a viajar para Roma, para ter o quanto
antes os malditos documentos nas mãos.
Quem sabe, lá, eu pudesse me aprofundar sobre a vida reclusa que
meu pai levava na Itália?
— Obrigado por ter me dado a notícia. Agora, você já pode ir. Eu
preciso focar na minha viagem para Roma. — prontamente, peguei o
telefone sobre a mesa. Pollyana, ainda soluçando de maneira um tanto
quanto exagerada, me observava. — Kate, por gentileza, solicite ao Joseph
que prepare o meu jato particular. Daqui a dois dias, estarei decolando para
a Itália.
Assim que desliguei o telefone, senti Pollyana se aproximando.
— Tem certeza que não quer a minha companhia?
Incrédulo, maneei o rosto na direção dela.
— Por que eu mereceria tamanho castigo?
Ela me observou com repúdio, não esperava por minha resposta
impulsiva.
— Você foi capaz de colocar uma servente no meu lugar. — a
mulher afirmou com os lábios trêmulas, as lágrimas cortando a maquiagem
pesada em seu rosto. — Eros, pelo amor de Deus, uma mulher sem
perspectiva alguma, que jamais se adaptará ao seu mundo. Me diga, o que
falta para você me perdoar?
A conversa com Pollyana estava me deixando exausto.
Por mais que as suas palavras me atingissem, eu tinha que me
manter firme, e não dar qualquer tipo de esperança à minha ex, pois, além
de eu odiá-la, finalmente eu tinha clareza sobre meus sentimentos por
Theresa e as minhas filhas, e nada poderia interferir no meu relacionamento
com elas.
— Pollyana, não seja tão dramática. — sorri, irritado. — Mas não
se preocupe, não foi exatamente por uma servente que eu te troquei, foi por
alguém que tem integridade. Quanto ao perdão... bem, eu acho que ele está
em um lugar muito distante da sua compreensão, porque esse assunto já se
esgotou e você continua insistindo nessa merda.
Pollyana prontamente avançou sobre meu rosto.
— A Theresa é tão íntegra que te escondeu as gêmeas por dois
anos. — ela rebateu, com os punhos cerrados e o olhar destilando
ressentimento.
Respirei fundo, tentando encontrar a serenidade que precisava para
responder.
— E eu serei capaz de perdoar Theresa, por isso. Eu finalmente
compreendi os motivos dela, por mais que a ausência na criação das minhas
filhas tenha me ferido profundamente, Honey e Chloe precisam que
estejamos unidos e em paz. — Pollyana umedeceu os lábios, segurando a
raiva dentro deles. — Com a partida de Naibra Dirksen, eu entendo que nós
dois não teremos mais vínculos. E agora que eu reconheço o meu papel de
pai, eu estou disposto a me entregar por completo a Theresa e às nossas
filhas. — bufei, exasperado. — Por isso, pelo amor de Deus, Pollyana, é
hora de encerrarmos a nossa história de uma vez por todas.
Ela parecia absorver as minhas palavras, mesmo que relutante,
porém eu não poderia me iludir com mulher tão traiçoeira.
— Me devolva a quantia referente à aliança e ao carro, então. —
ela exigiu, com a amargura exalando em cada palavra. Arregalei os olhos,
entendendo que não deveria estar surpreso com aquela afronta. — É a
minha indenização por ter acreditado, durante tanto tempo, que a gente
poderia se entender.
Sorri, desferindo palmas lentas na direção de Pollyana, que me
encarou com ainda mais ódio.
— Que belo teatro você fez na praça Alamo, hein! Poderia ter
poupado todo aquele estresse e aceitado a porra do dinheiro, sem foder com
a minha paz! — peguei o celular rapidamente sobre a mesa, pronto para
encerrar definitivamente a minha relação com Pollyana. — Está feito. O
dinheiro já foi transferido para a sua conta, mercenária. Finalmente,
comprei a minha liberdade! — declarei, sentindo um peso enorme sendo
retirado de meus ombros.
A frustração na expressão de Pollyana era impagável.
Certamente ela achava que eu fosse beijar os seus pés, implorando
para que ela ficasse.
— Insensível! Arrogante! — ela disparou, visivelmente magoada.
— Por mais que eu tenha muito carinho por Naibra Dirksen, é inevitável
afirmar que você é exatamente como o seu pai.
Claramente as suas palavras eram uma última tentativa de me
atingir.
— Queria que eu estivesse chorando pela sua partida? — respondi,
com sarcasmo. — Eu não derramei lágrimas nem pelo meu próprio pai, o
que dirá por você! A única vez que chorei verdadeiramente foi quando a
minha mãe se foi, enquanto eu desejava secretamente pelo dia em que o
meu pai também morresse e, finalmente, esse dia chegou. — confessei,
encarando-a com firmeza.
Agora, apenas centímetros nos separavam.
Pollyana respirou fundo, como se buscasse uma última cartada.
— Um homem ferido como você, jamais poderá fazer Theresa
feliz. É isso o que me conforta. — ela rebateu, tentando me atingir onde
mais doía. — Pretendo passar uma temporada em Nova York, para me
esquecer da sua existência e não testemunhar a união patética entre o
advogado e a servente. — ela declarou, tentando parecer indiferente, mas,
eu tinha certeza que, por dentro, Pollyana sentia o seu coração falhar a cada
batida.
Pouco me lixando para as palavras da golpista, eu não pude evitar
um leve sorriso irônico no rosto.
— O meu dinheiro veio a calhar, então divirta-se em Nova York.
— devolvi, me dirigindo à mesa de trabalho. — Aproveita e pula da ponte
do Brooklyn.
— Não vai me dar um beijo de despedida? — ela provocou.
Volvi os meus olhos na direção de Pollyana, analisando a sua
expressão sofrida e, inevitavelmente, eu me lembrei de todas as merdas que
ela havia me feito.
— Prefiro beijar os ratos do esgoto ou quem sabe um alligator. —
finalizei de maneira fria e cortante, antes de virar as costas e sair daquela
sala, deixando para trás todo o peso e toxicidade daquela relação.
Prontamente, me encaminhei na direção da mesa de Kate,
espalmando as mãos sobre as inúmeras pastas que ali se acumulavam.
— Você está despedida. — anunciei, convicto.
A mulher parou de digitar, para ficar de pé, completamente
atordoada.
— Eu estou despedida? — a sua voz vacilou, chorosa. — O que eu
fiz de errado, Dr. Dirksen?
Cravei os meus olhos nos dela, sem evitar o escândalo na frente
dos demais funcionários.
— Eu estou falando de falhas! De trabalho acumulado e de todas
essas merdas! Chega! Deixar Pollyana Fletcher entrar na minha sala foi de
uma incompetência sem tamanho!
Nesse momento, a minha ex passou por nós, lançando um olhar
apático na nossa direção.
Ela tinha mil maneiras de me falar sobre o falecimento de meu pai,
mas optou pela que mais me irritou, desfilando a sua presença irritante no
meu ambiente de trabalho, lugar onde eu costumava prezar pela a minha
imagem.
Kate então se aproximou com os olhos banhados, a frieza de meu
rosto indiferente a desestabilizava.
— Eu pensei que fosse a mãe das meninas. — disse, já aos prantos.
— Ela estava chorando e…
— Blossom, leve a Kate agora, ao RH. — ordenei a assessora e
segui para a sala, cravando o dedo nos cabelos.
Pelas próximas horas, eu iria me afundar nas demandas, para poder
voar para a Europa com mais tranquilidade.
Estava ansioso para saber as novidades que me esperavam naquele
lugar, e isso era tudo o que importava no momento.
Jhonny, o motorista, abriu a porta do carro para mim, no momento
em que estacionou em frente à mansão de Eros Dirksen.
As meninas estavam aconchegadas no banco de trás, em suas
cadeirinhas, que já faziam parte do carro do pai delas.
Deixei o veículo, já avistando Eros lindamente vestido em um
smoking, fumando um charuto, à porta da mansão, e sem ao menos
perceber, fiquei estatelada, sentindo o meu coração dar vários saltos, como
num picadeiro.
Aquele homem só poderia ter saído de algum sonho.
O porte altivo era de deixar qualquer uma sem oxigênio. O
smoking realçava a sua beleza natural, destacando os traços marcantes e a
postura impecável.
Os olhos escuros brilhavam com uma intensidade magnética, sendo
capazes de atingir o mais fundo da minha alma.
Era impossível não admirar como Eros era charmoso, gentil e
íntegro e, por causa disso, eu não conseguia deixar de me sentir
profundamente atraída por ele, nem quando estávamos afastados.
Ajeitei a trança lateral sobre o ombro e o vestido verde-musgo ao
corpo, quando Eros se aproximou, e com um sorriso verdadeiramente feliz
em seu rosto, ele logo me puxou pela cintura, deixando um beijo caloroso
na minha boca.
Um breve gemido ultrapassou o limite de meus lábios, no
momento em que a boca deliciosa preencheu a minha.
Fiquei sem palavras, ao me deliciar com cada desferida de sua
língua atrevida por cada esquina de minha boca.
Naquele instante, entendia que aquele beijo era uma maneira de ele
me dizer que já havia me perdoado, e essa constatação fez o meu coração
acelerar.
— Já estou com saudades. — ele murmurou, e depois chupou o
meu lábio inferior.
Buscava ar, por ter sido pega de surpresa com aquele gesto, já que
nunca mais havíamos trocado qualquer tipo de carícia.
— O que houve? Vai para Boston, novamente? — perguntei,
observando-o retirar as meninas do carro.
Os meus lábios febris, ainda reivindicavam pelos dele.
— Infelizmente ou não, o meu pai faleceu. — levei as mãos à
boca, completamente impactada com aquela notícia. — Faz dois dias do
ocorrido e, amanhã, bem cedo, pretendo voar até Milão, ver o que o cretino
deixou para mim. Falo sobre documentos, pois não tenho interesse algum
em seus bens.
Eros carregava as meninas no colo, sorrindo, ao receber o carinho
das mãozinhas que apalpavam o seu rosto quadrado.
— Eros, não seja tão cruel com a memória de seu pai. Em algum
momento ele deve ter pensado em você, talvez quando fechou os olhos pela
última vez. — argumentei, tentando encontrar um pouco de vulnerabilidade
naquele coração de pedra.
No entanto, o homem me desferiu um olhar opaco, no momento
em que atravessávamos juntos o jardim.
— Tenho certeza de que ele se preocupou apenas com qual amante
vai ficar toda a sua maldita fortuna. — ele despejou e continuou seguindo
com as meninas na direção da mansão.
Eu continuava pensativa ao lado de Eros, tentando ponderar as suas
questões e não ser injusta com os seus sentimentos.
Enquanto isso, Honey e Chloe, nos seus vestidinhos de estrelas, se
divertiam chamando-o de “Elos”, arrancando gargalhadas daquele que
havia acabado de enterrar o seu pai.
— Não sei o que dizer. — proferi, cuidadosamente. — Queria te
acolher e desejar meus mais sinceros sentimentos, mas parece que você está
bem resolvido com isso.
O belo homem volveu os olhos negros na minha direção, o
semblante indecifrável.
— Parece que eu me sinto aliviado por ele ter morrido. — arregalei
os olhos, chocada com a indiferença de Eros. — Sempre foi muito doloroso
pensar que ele estava por aí feliz e cheio de vitalidade, enquanto a minha
mãe descansava a sete palmos do chão.
Eros me entregou Honey e, no momento em que segurou na
maçaneta, eu o interrompi, envolvendo a sua mão na minha.
— Tem certeza que vai ficar tudo bem, quando chegar à Itália?
Não se sente aflito, por não saber o que pode encontrar por lá?
Eros negou veemente, parecendo convicto.
— Como eu havia te falado, o Alfred contribuiu para que eu
ficasse ainda mais curioso sobre a vida que Naibra levava, sobre qual tipo
de vínculo os dois sustentavam juntos. São questões muito confusas, talvez
eu possa descobri-las em Milão, ou não, afinal tudo indica que o meu pai
pode ter levado muitos segredos com ele. — ele concluiu, beijando a
mãozinha de Chloe.
— Estou ansiosa para descobrir quais vínculos o meu pai pode ter
com Sr. Naibra. Por que papai sente tanto ódio daquele homem? — me
perguntei, entendendo o quanto seria importante Eros tentar conversar
também com o meu pai, para tentar desvendar o quanto antes todo mistério.
— Realmente eu não sei o que papai pode estar escondendo de mim. Nós
sempre fomos tão unidos.
Eros abriu a porta, mas antes de entrarmos, ele me disse:
— Em breve, teremos todas as respostas, Theresa. Nem que eu
precise colocar o seu pai contra a parede. Não fique aflita com algo que está
prestes a ter um fim.
Concordei, me sentindo mais confiante e, assim que adentramos a
sala de estar, Eros colocou Chloe no chão e eu fiz o mesmo com Honey.
Imediatamente, as meninas correram na direção de seus
brinquedos, que ficavam guardados num baú enorme no canto da sala, ao
lado da lareira.
Eros então segurou na minha mão, deixando um breve beijo sobre
o meu dorso, o suficiente para o meu corpo arrepiar.
— Theresa, por que, caralhos, é tão linda?
Sorri, sentindo as bochechas coradas, não podendo evitar de
perguntá-lo:
— Você finalmente me perdoou por eu ter te omitido as meninas?
Ele assentiu com os olhos brilhantes, claramente cheios de perdão,
enquanto as mãos brutas se entrelaçavam na minha cintura.
— Sim, Theresa. Em algum momento, eu te perdoei. Admito que
foi difícil, pois pensar que eu já poderia estar vivendo isso tudo com vocês,
há mais tempo, me deixa frustrado, mas eu sei que não adianta nada viver
com esse ressentimento. Preciso reconhecer que devo ser um companheiro e
pai exemplares nessa missão tão nobre e desafiadora ao mesmo tempo. E
seria ridículo ignorar o que eu estou sentindo agora por vocês. O que eu
mais preciso é ter vocês três na minha vida.
O meu coração acelerou a ponto de dar um pulo, diante daquelas
palavras tão emanadas de sentimentos.
Mordisquei os lábios, completamente emocionada.
— O que você quer dizer com isso, sobre ficar comigo e com as
meninas?
Eros beliscou delicadamente o meu queixo, enquanto estávamos
plantados no meio da sala.
— Nessas últimas semanas em que estamos convivendo, eu
percebi o quanto vocês são importantes para mim. Você é uma garota única,
especial pra caralho, a sua presença me traz tanto bem-estar, inclusive eu
reconheço todo o seu valor. Definitivamente, você não é como as outras. —
ele suspirou, enquanto eu não sabia mais como respirar. — Embora eu saiba
que é cedo demais para um compromisso, gostaria que você considerasse
com carinho a minha proposta. Prometo respeitar o seu tempo e as suas
decisões, Theresa.
Sentei sobre o sofá, sentindo o meu corpo amolecer
gradativamente.
Olhei para os lados, ainda anestesiada, quando surgiu, de repente,
uma taça de vinho à minha frente.
— Você quer dizer então que quer um compromisso comigo? Eu
nunca imaginei…
— Theresa, eu sou um outro homem agora. Eu tenho duas filhas e
isso me faz encarar a realidade com outros olhos. — ele se sentou ao meu
lado, observando as meninas bagunçarem os brinquedos sobre o tapete,
enquanto bebericava a sua taça de vinho. — Por muito tempo, a minha vida
foi dominada pelo trabalho, pelos remorsos, pelas tristezas. Com a partida
de meu pai, parece que uma porta se fechou, mas na verdade outra enorme
se abriu, me incentivando a encarar o futuro com positividade, deixando
para trás o rancor e as mágoas, que também alimentei por muito tempo por
Naibra Dirksen. Eu estou determinado a ser uma pessoa melhor, a cada dia,
Theresa.
Eros me olhava daquele jeito de cachorro perdido que era difícil de
resistir.
— Eu vou te dar essa oportunidade, sim. — confessei, umedecendo
os lábios alcoólicos, unindo as nossas mãos. — Decidi confiar em você,
pois percebi o seu bom coração e como está sendo um pai incrível para as
minhas meninas. Uau, e elas já te amam tanto! — sorri, levemente
emocionada. — Desde o primeiro momento, quando pisei nesta casa, senti
algo muito especial por você, Eros. A sua gentileza, o jeito como me tratou,
o seu cavalheirismo, tudo isso me conquistou. Inclusive, eu percebi a sua
alegria genuína ao conviver comigo nesta casa. E é claro que eu quero
seguir em frente, ao seu lado, porque, além de tudo, você é o pai das minhas
filhas!
Eros sorriu e brindou comigo, depois bebeu a taça de vinho
olhando profundamente nos meus olhos.
Gemi ridiculamente, quando a mão dele alcançou a minha cintura e
ele me puxou atrevidamente contra o seu corpo.
— Theresa, você não imagina o quanto estou feliz por ouvir isso,
parece que eu tirei um peso enorme das minhas costas, e aquela nuvem
negra que sempre habitou sobre os meus pensamentos e os meus dias,
finalmente se dissipou. — um sorriso bonito contaminou os meus lábios. —
Acredite, o azul do céu, eu vejo ele agora dentro dos seus olhos.
Tentei retribuir todo aquele carinho com palavras, mas,
rapidamente, Eros me beijou, me calando pelos próximos segundos.
A sua língua insana insistindo em me arrancar suspiros. Os nossos
corações vibrando numa cadência perfeita, enquanto as minhas unhas
deslizavam pela textura do smoking.
Finalmente, o meu conto-de-fadas havia se tornado realidade.
A alegria que eu sentia transbordava da mesma maneira que a taça
de Eros sobre o tapete.
Ter recebido o perdão de alguém sempre tão orgulhoso como Eros
Dirksen, era a maior prova de que os sentimentos dele por mim, eram
realmente verdadeiros. Eu estava plenamente rendida àquele homem e a
tudo o que ele significava para mim.
E enquanto estávamos nos beijando, sentimos mãos minúsculas
nos tocando e abraçando as nossas pernas.
— Mamã, Elos, olha a nossa casinha.
Quando olhamos surpresos para trás, Chloe nos mostrou que ela
havia enchido a lareira de brinquedos e Honey estava lá dentro, brincando
com uma guitarra cor-de-rosa, organizando os ursos e os acessórios das
bonecas ao lado.
— Olha só onde a sua filha se meteu. — comentei em meio a
sorrisos.
— Deixa ela brincar, não tem problema, a lareira está apagada. —
Eros me disse, jocoso, e eu pisquei para ele.
Depois, deixei a taça vazia sobre o aparador, para correr na direção
de Honey, retirando a menininha da lareira.
Eros já estava com Chloe em seu colo, quando afagou o meu
ombro.
— Vamos jantar? A Margarida organizou um buffet foda para essa
noite incrível.
Concordei, animada, e seguimos juntos para a sala de jantar.
As meninas tagarelavam nos nossos ouvidos, comentando sobre os
brinquedos que elas tinham no baú, conforme atravessávamos o corredor
muito bem decorado.
— Mamã, eu quero levar aquele urso comigo. — Chloe resmungou
no colo de Eros, enquanto nos entreolhávamos, curiosos com o diálogo das
duas garotinhas.
— Aquele urso é feio. Tem um nariz grande. — Honey retrucou,
retirando uma careta da irmã.
Eros e eu nos enchíamos de orgulho de nossas crianças quando
ouvíamos a seus diálogos tão criativos.
— Você fica com o duende. — Chloe deu seu ultimato, dando de
ombros.
— Eu não quero duende. Eu quero plíncipe Elos.
Soltei uma forte gargalhada, diante de toda a espiritualidade de
Honey.
Por aquela resposta, ninguém esperava.
— Papai Eros. — ele despejou de repente, me pegando de
surpresa, e depois pausou os passos no corredor.
Engoli em seco, atordoada. Eu realmente não esperava que Eros
fosse falar sobre assunto tão delicado, agora, e tão de repente.
As meninas, apesar de dois anos de idade, começaram a indagar:
— Quem é meu pai?
— Eu tenho pai?
Ficamos por breves segundos nos encarando, quando Eros me fez
entender, em apenas um aceno, que eu deveria reiterar as suas palavras.
— Sim, minhas flores, o Eros é o pai de vocês. — assim o fiz.
Honey então se contorceu, querendo sair do meu colo e logo que a
coloquei no chão, ela esticou as mãozinhas na direção daquele belíssimo
homem de smoking.
Eros, visivelmente emocionado, tomou as duas em seus braços,
beijando-as com carinho.
— Vocês são as filhinhas do papai? — ele perguntou, embalando-
as em seus braços fortes.
— Sim, papai Elos. — responderam em uníssono e uma forte
emoção travou a minha garganta.
— E plíncipe Elos. — Chloe murmurou, olhando de soslaio para
Eros, de um jeito sapeca.
Obviamente, sorrimos da garotinha tão esperta.
Eros então volveu os olhos negros na minha direção, os seus lábios
tremiam.
— Hoje é o dia mais feliz de toda a minha vida, Theresa. — ele me
confessou e eu acariciei o seu rosto, deixando, em seguida, beijos nos
cabelinhos perfumados de nossas meninas.
Ainda estávamos parados no corredor, envolvidos por aquele
momento que jamais seria apagado de nossas memórias.
Naquela ocasião tão especial, o meu coração transbordava de
felicidade ao ver as minhas filhas chamando Eros de pai pela primeira vez.
Lágrimas de alegria preenchiam os nossos olhos, enquanto um
calor reconfortante se espalhava por todo o meu corpo.
Era um momento mágico, repleto de amor.
Observar Eros, com seus olhos encharcados de emoção, segurando
nossas filhas com tanto carinho era como testemunhar um sonho se
tornando realidade.
Ele estava tão radiante, como se o seu sorriso iluminasse todo o
corredor. As gêmeas estavam igualmente animadas, rindo e balbuciando a
palavra "pai" repetidamente, empolgadas com a novidade, parecendo
entender instintivamente a importância daquele belo momento.
Sem sombra de dúvidas, eu tinha a família com que sempre sonhei.

***

Sem perceber, já estávamos na sala de jantar. E os meus olhos logo


arregalaram maravilhados diante daquele buffet, que brindava um dos
momentos mais emocionantes de toda a minha vida.
Margarida estava de pé, ao lado da mesa, com os braços cruzados,
sorrindo para nós, então, imediatamente, corri para beijá-la.
— Obrigada por essa noite, Margarida, está tudo impecável.
— Ah, esse buffet é realmente maravilhoso. — ela me disse,
enquanto Eros concordava ao lado da mesa. — Eu sempre contrato os
serviços da Gallery & Food para eventos importantes. E, pelo jeito, hoje
teremos uma noite excepcional.
Eros puxou a cadeira para mim, enquanto falava:
— Sim, essa noite é realmente muito importante, Margarida.
Theresa finalmente vai fazer parte da minha vida. Ela resolveu me aceitar.
Cruzei os braços, sorrindo em negação, enquanto Margarida
esboçava alegria em seu rosto.
— Que notícia maravilhosa. A Theresa é uma menina de ouro,
volto a repetir. — então a governanta se aproximou da mesa e apertou as
minhas mãos. — Seja muito bem-vinda, senhora Butler.
Sorri para Margarida, revirando os olhos.
— Não faça isso, nada de formalidades, por favor. — recriminei
Margarida em tom de brincadeira e ela logo pediu licença, para adentrar,
sorridente, a cozinha.
Pelo jeito, ela havia ficado feliz com o desfecho de nossa história.
Eros então afagou a minha mão e eu voltei o meu olhar para o dele,
observando ao mesmo tempo as meninas já acomodadas à mesa.
Chloe ocupava o lugar ao meu lado, enquanto Honey ficava ao
lado de Eros, que estava na cabeceira.
— Vamos comemorar, Theresa. Essa noite é toda nossa. — ele me
disse com alegria, preenchendo as nossas taças com vinho.
Depois, ele brindou comigo, exibindo um brilho de satisfação que
contaminava os seus olhos, enquanto seus dedos tocavam levemente os
meus.
Senti um calor percorrer todo meu corpo, satisfeita por estar me
sentindo realizada.
— Esta noite, eu estou vivendo tudo o que sempre sonhei. —
respondi, deixando escapar um suspiro de alívio. — Eu senti tanta a sua
falta, Eros. Por mais que eu estivesse perto de você, eu me sentia distante.
— confessei, deixando os meus sentimentos escaparem por meus lábios.
Era como se todas as preocupações e mágoas desaparecessem, ao
me dar conta que eu havia finalmente assumido um compromisso com o pai
de minhas filhas.
Eros então voltou a olhar nos meus olhos, tocando delicadamente
na minha mão por baixo da mesa, transmitindo todo o carinho que sentia
por mim.
— Pollyana Fletcher não me atormentou mais, o meu pai teve o
seu fim, portanto não existem mais barreiras que possam me impedir de me
entregar de corpo e alma a você. — ele concluiu, demonstrando todos os
sentimentos e vulnerabilidades.
Claramente aquelas palavras me preencheram de alívio, mas, ainda
assim, eu precisava de uma resposta.
— Nem as barreiras sociais serão empecilho? — perguntei,
buscando esclarecimentos, pretendendo confirmar as minhas esperanças.
Eros me fitou intensamente, a sua expressão séria revelando toda a
sua sinceridade.
— Theresa, não repita isso. — respondeu com firmeza, os seus
dedos entrelaçados aos meus. — Não há mais barreiras, nem sociais, nem
sentimentais, nem mesmo de ressentimento ou mágoa. Nossos caminhos
estão completamente livres para seguirmos juntos, lado a lado. — Eros
afirmou e eu senti as últimas dúvidas finalmente se dissipando.
Ele estava verdadeiramente comprometido comigo e com as
gêmeas, e eu estava pronta para abraçar esse novo capítulo em minha vida.
Eros então me serviu o pernil e me ajudou com as meninas,
colocando legumes com carne na boquinha delas, enquanto ele improvisava
uma história sobre aventura na floresta, para incentivá-las a comer.
O jantar transcorria maravilhosamente bem, quando Eros pediu que
Margarida levasse as meninas para a sala de televisão.
Elas já estavam satisfeitas e com as bocas lambuzadas de sorvete
de chocolate, no momento em que deixaram a sala de jantar, após nos
beijarem com carinho.
Assim que Chloe e Honey se afastaram junto à governanta, Eros
largou o guardanapo de linho sobre a mesa e ficou de pé, para massagear
deliciosamente os meus ombros.
— Theresa, vem comigo. Preciso te mostrar uma coisa. —
declarou, no meu ouvido, e os pelos de meus braços automaticamente
eriçaram.
Depois, ele me ofereceu a sua mão.
De maneira instintiva, entrelacei os nossos dedos, cedendo àquele
convite sugestivo.
Tão logo subimos as escadas e já adentrávamos o quarto de Eros
Dirksen.
Estava na expectativa de reviver momentos maravilhosos ao lado
dele, pois não suportava mais as saudades que apertavam absurdamente o
meu coração.
— O que pretende me mostrar nesse lugar? — Theresa me
perguntou, com um olhar conspiratório, o rosto levemente ruborizado
disfarçando as sardas delicadas.
Estávamos no meio do quarto, a luz fraca complementando o clima
de romance que nos envolvia.
— Foi aqui que tudo começou, lembra? — disse me aproximando
de Theresa, diminuindo o espaço que nos separava.
Loucamente excitado, abracei a curva do seu corpo, observando a
garota inclinar a cabeça lentamente para trás, para receber beijos suaves no
pescoço.
— Como poderia me esquecer do dia que perdi a minha virgindade
com o advogado mais gostoso de toda a Califórnia?
Gargalhei, segurando na bunda de Theresa, apertando as suas
carnes com tesão.
Ela ofegava a ponto de seu hálito fresco e doce tocar a minha face.
Cheio de saudades, eu deixava beijos alternados com chupadas
deliciosas, no pescoço alvo e de aparência casta, descendo, ao mesmo
tempo, as mãos pela silhueta de Theresa, enquanto ela continuava imóvel,
como se tivesse perdido a habilidade de mexer as pernas.
Inevitavelmente, o meu sangue se concentrou ainda mais no pau,
quando experimentei a sensação dos mamilos túrgidos, os dois pontinhos
ultrapassando a camada leve do tecido verde-musgo, tocando o meu corpo.
— Você é minha, confessa. — sussurrei, incisivamente, e suas
pupilas praticamente dilataram a ponto do negro quase substituir por
completo o azul.
Vi a garganta dela se movendo, certamente encontrando
dificuldades para me responder.
Observava também os lábios carnudos vermelhos, dilatados,
reivindicando que eu os devorasse.
— Eu sempre fui sua, Eros Dirksen. — ela finalmente confessou e
eu sorri satisfeito, entrelaçando os dedos nos cabelos loiros, a ponto da
trança se desfazer.
Theresa roçava as suas pernas nas minhas e eu nem precisava tocá-
la para saber o quanto ela estava úmida para mim.
— Eu sempre fui louco por você, garota. — confessei, traçando o
desenho de sua boca com o indicador, desejando saborear o seu gosto doce,
e quando a língua dela tocou instintivamente a ponta de meu dedo, eu quase
gozei, ao senti-la umedecendo meu dedo da mesma maneira que estivesse
lambendo o meu pau.
Excitado, eu preenchi ainda mais a minha mão com os seus cabelos
loiros e grudei a minha boca à dela. Os pequenos seios se aconchegando ao
meu tórax, os mamilos duros me deixando louco.
Beijei insaciadamente a boca de Theresa, grudando a garota contra
a parede, para erguê-la até as suas pernas se enlaçarem à minha estrutura.
Já em ponto de bala, eu amassei a bunda durinha, esfregando o pau
duro na boceta cálida.
Ela gemeu forte, enquanto eu inspirava o perfume de lavanda do
seu pescoço, o cheiro feminino e sensual, que sempre marcou presença em
minha casa, durante os últimos anos, agora estava fresco em minhas
narinas.
Enlouquecidamente, abri as pernas de Theresa com as minhas e
enterrei a minha pélvis à dela, amassando o corpo gostoso contra o meu, me
perdendo na língua inexperiente que protagonizava loucuras na minha boca.
As minhas mãos assanhadas não cansavam de explorar o corpo
gostoso de Theresa, massageando desde os seios até as coxas macias.
Beijava a garota ainda mais ferozmente, engolindo os seus
gemidos e gritos de prazer.
As suas unhas arranhavam o meu corpo, conforme ela se livrava de
minha roupa, visivelmente desesperada para que eu me enterrasse dentro
dela.
Então as minhas mãos, num gesto urgente, levantaram o vestido
verde, encontrando as laterais da calcinha branca, imediatamente puxei a
renda, rasgando a peça íntima ao meio.
O foda era que eu não queria me afastar de Theresa, afinal
estávamos tão anatomicamente encaixados, a ponto dos nossos desejos não
permitirem que pausássemos naquele momento, mas, inferno, era preciso
colocar a camisinha.
— Só um minuto, Theresa. — murmurei, sem saber como havia
conseguido formular aquela frase, afinal eu só conseguia ofegar sem cessar.
Em segundos, plastifiquei o pau, sob o olhar atrevido de minha
garota.
Ao contemplar o seu corpo grudado à parede, avancei
insaciavelmente sobre Theresa, erguendo-a em meu colo, levantando o
vestido, para projetar inteiramente o pau dentro dela, até o talo.
Ela gritou, ao mesmo tempo em que o suor escorria por minhas
costas, as coxas dela ardendo pelo esforço de nos segurar, as unhas dela
machucando a minha nuca, as suas paredes íntimas praticamente virgens
abraçando o meu caralho.
Eu precisava fodê-la com muita intensidade, ela precisa entender
que era minha.
— Eros! — ela pendeu a cabeça para trás, sem conter a rebolada
no meu pau.
Depois estoquei de uma maneira que meu caralho perpassava o
clitóris inchado, amassando-o, melando-o, a ponto de Theresa puxar os
cabelos de minha nuca e gritar.
Coloquei apenas a cabeça e depois afundei até as bolas,
arregaçando a boceta de Theresa com os meus movimentos, que eram
guiados pelo tesão que dominava cada fibra do meu ser.
Em resposta, ela mordeu os meus lábios a ponto de sangrá-los,
certamente naquele momento eu havia tocado no seu ponto G.
— Eu não sabia se eu estava vivendo ou pensando em comer a sua
boceta. Ela é viciante pra caralho. — rosnei, entregue, e ainda insaciado, eu
intrometi a mão no colo de Theresa, e rasguei o tecido fino do vestido.
— Eros, não!
Levantei o sutiã, que logo me apresentou os seios pequenos e
durinhos, os mamilos contornados pela auréola escarlate, completamente
suculentos.
Sem demoras, projetei a minha boca contra um deles, sugando o
pontinho entre os dentes.
— Por favor! — Theresa implorava, enquanto sentia o mamilo
quase tocar a minha garganta.
Ainda estocava no meio das coxas grossas, me preocupando se
Theresa estava dolorida com as minhas investidas, mas o brilho no olhar
dela e o seu rosto desfigurado pelo tesão, me davam permissão de eu
continuar, sem medir esforços.
Então, sem pensar em mais nada, arrematei mais uma vez, numa
cadência frenética, experimentando os quadris fartos remexendo no meu
pau.
— Eu não sei viver sem você, Theresa. — confessei, abocanhando
o mamilo, mordiscando o seio duro, espaçando a bunda deliciosa nas mãos.
— Estou viciado na sua boceta.
— Meu Eros… — ela gemeu, partindo as sílabas.
Prontamente segurei nos quadris de Theresa e, agarrado à mulher,
eu me sentei sobre a cama.
Ajeitei a garota sobre o meu colo, segurando o corpo delicado pela
cintura, obrigando-a a quicar no meu caralho.
Ela sorriu, afagando os meus ombros, lambendo os meus lábios
sem beijá-los e, daquele jeito, ela me deixava ainda mais embriagado.
Inclusive, não demoraria muito tempo para que eu tivesse o corpo
epilético de Theresa se movendo sobre o meu.
Conforme ela se enterrava no meu pau, o suco de sua boceta me
encharcava, o canal começava a me apertar, anunciando que Theresa estava
prestes a gozar.
Amassei os seios nas mãos e mordisquei o queixo dela, com gana,
enquanto dedilhava o clitóris durinho, melado, afastando as camadas da
boceta e estimulando-o em círculos.
Em segundos, ela gemeu, apertando as pálpebras, cravando as
unhas na minha barba, projetando os quadris fartos ainda mais sobre o meu
caralho, me deixando cada vez mais louco por sua performance
apocalíptica.
— Goza mais, libera tudo, garotinha.
— Eros, eu te amo tanto!
Juro que queria ficar mais tempo contemplando a minha garota
chicoteando em meus braços, os seios pulsando no mesmo ritmo de seu
corpo possuído, os rugidos de prazer atingindo calorosamente os meus
ouvidos, mas, depois daquela confissão tão genuína, eu transbordei uma
enxurrada dentro dela.
— Você é minha, Theresa! — esbravejei, puxando os seus cabelos,
colando as nossas testas.
Ela estava completamente vesga e sem ar.
Tonto, retirei o pau semiereto de dentro da boceta, desconfiando
que, se Theresa me estimulasse mais um pouco, em segundos, eu estaria
pronto para ela outra vez.
Os meus desejos por ela eram furiosamente infinitos.
Theresa prontamente ajeitou o vestido ao corpo, que agora se
parecia mais com um trapo. Estava inteiramente amassado, rasgado à frente
e desfiado de minhas unhas.
Sorri, me dando conta que éramos como fogo e gasolina.
Então, exausto, deitei completamente pelado sobre a cama, fazendo
um gesto para que Theresa se aconchegasse no meu braço.
Ela alargou os lábios num sorriso bonito e caminhou até mim,
subindo de joelhos sobre o colchão, até unir o meu corpo ao dela, como se
fôssemos uma concha.
— Por que merdas meu pai foi morrer tão longe? — cobri os
nossos corpos com o lençol. — Eu não queria passar esses dias longe de
você.
Ela se virou para mim e sorriu sem forças, visivelmente impactada
por minhas palavras gélidas, mas que ao mesmo tempo exalavam
sentimentos.
— Poderia estar preocupada com o que você vai encontrar em
Milão, mas a sua frieza me dá segurança de que você vai ficar bem. — ela
me disse, os seus olhos transmitiam uma tranquilidade que, de alguma
forma, acalmavam as minhas inquietações.
Enquanto as nossas mãos se entrelaçavam sobre o lençol, eu não
podia deixar de sorrir com as palavras dela.
— Não vejo a hora de estar de volta, para aproveitar ainda mais a
sua companhia e das meninas. — murmurei suavemente, e um calor
reconfortante invadiu o meu peito.
Aquelas palavras eram um lembrete de que, apesar da distância
iminente, o vínculo que compartilhávamos juntos só se fortalecia com o
tempo.
Então afaguei os cabelos loiros perfumados, enquanto ela se
aninhava ainda mais perto de mim.
— Eu estava com saudades desse calor que abastece o meu corpo.
Eu amei a nossa despedida, Eros Dirksen. — ela sussurrou, e eu pude sentir
o sorriso triste em suas palavras.
O tom leve de sua voz era como música para os meus ouvidos, mas
eu me esforcei para não deixar transparecer o aperto em meu peito ao
pensar na separação que se aproximava.
— Não é despedida, Theresa, é apenas uma pausa. — eu respondi,
tentando dissipar qualquer sombra de tristeza em sua expressão, enquanto
acariciava a sua mão delicadamente. — Fica difícil de imaginar agora, a
minha vida sem vocês três. — admiti, com sinceridade.
Os nossos olhares se encontravam, e eu podia experimentar a
intensidade do sentimento que compartilhávamos juntos.
— Quero que saiba que aquelas três palavras que eu te confessei
em meio ao ápice de nossa transa, foram totalmente verdadeiras. — Theresa
declarou, e seu olhar era tão penetrante que parecia atravessar todas as
minhas defesas.
— Eu sou louco por você, minha garota. Completamente louco. Eu
te adoro tanto. — foi o que consegui dizer, me entregando sem reservas à
mulher que havia me colocado no eixo.
Enquanto Theresa repousava tranquilamente ao meu lado, as
palavras dela reverberavam nos meus pensamentos.
O genuíno “Eu te amo” significava que ela tinha uma confiança
absurda de que poderíamos dar certo.
E mesmo diante da imprevisibilidade do futuro, havia uma certeza
irrevogável, eu nunca estaria verdadeiramente distante de Theresa, pois
sentimentos muito fortes nos uniam, mesmo que eu ainda não conseguisse
entender se eu já a amava.
Apesar de me sentir vivo apenas ao lado dela, de me sentir seguro
e acolhido quando estava com ela, eu não sabia se era amor o que eu sentia.
Escolhi uma camiseta de seda pink, para combinar com a calça de
alfaiataria preta, belos presentes que Sophia Parker havia me doado na
época em que trabalhava em sua casa.
Terminava de colocar a minha sandália envernizada, quando o meu
pai abriu a porta do quarto, após sinalizar com um toque e eu permitir a sua
entrada.
— Tessa, você está de saída? — ele cruzou os braços, me
inquerindo com desconfiança.
Já passava das dez da noite e as bebês dormiam tranquilamente em
seus berços.
— Sim, pai, hoje é o dia em que o Eros chegará da Itália.
Margarida e eu preparamos uma surpresa para ele. — sorri, entusiasmada.
— O senhor pode ficar com as gêmeas? Prometo não demorar muito. Eu
estou tão curiosa para saber as notícias que ele vai trazer de Milão.
O meu pai enrugou a testa a ponto de eu ver uma linha profunda se
formando nela, depois afivelei a última sandália e fiquei de pé, ajeitando a
calça de alfaiataria ao corpo.
— Pode ir tranquilamente, que eu olho as meninas. Mas você acha
que o Eros conseguiu descobrir alguma coisa? Sei lá, algo sobre a vida que
o crápula do Naibra levava em Milão ou aqui mesmo, na Califórnia? — o
meu pai me perguntou, com a ansiedade perceptível em sua voz.
Suspirei, olhando para o chão, antes de responder.
— Eu não sei. — relaxei os ombros, pensativa. — Lá no fundo, eu
espero que Eros não tenha descoberto nada. Que sejam documentos
atrelados à herança e apenas isso. Esse pai já fez o filho sofrer tanto que,
mesmo após a sua morte, seria possível maltratar ainda mais o rapaz?
Pensativo, o meu pai se sentou sobre a minha cama, analisando as
minhas palavras.
— Por que o Eros quer ter acesso à vida de seu pai, agora? O
passado precisa ficar no passado. Eu já falei que isso não vai fazer bem a
vocês. — o meu pai expressou a sua preocupação e eu senti um nó apertado
se formar na garganta, mas me mantive firme no que eu acreditava.
— Pai, Eros e eu estamos unidos num compromisso sério. — olhei
para ele, esperando que ele acreditasse nas minhas palavras. — A gente
quer construir uma vida juntos, então não há nada que possa nos separar.
Ele pode trazer qualquer novidade da Itália, descobrir qualquer coisa a
respeito da vida do pai dele, que isso não vai interferir nos nossos planos,
acredite. — expliquei mais determinada do que imaginava, tentando ao
mesmo tempo convencer o teimoso do Alfred a me contar o que ele sabia a
respeito de Naibra.
Intrigado, o meu pai se aproximou, envolvendo as minhas mãos
nas dele.
— Espero que sim, minha filha. Espero que nada seja suficiente
para abalar o relacionamento de vocês. Eu torço muito para que vocês
fiquem juntos, por causa das meninas, principalmente. E confesso a minha
admiração por Eros, por ele estar agindo como um homem de valor e não
ter renegado as meninas como um boçal faria. — então o meu pai afagou o
meu rosto e, acalentada, eu fechei os olhos. — Eros está te fazendo feliz e
espero que ele continue sendo assim.
Eu me senti reconfortada com as palavras de meu pai, fortalecida
pelo apoio fraternal dele.
— Pai, o Eros não vai nos decepcionar. — então retirei a mão dele
de meu rosto e segurei nos seus dedos, e sentindo a urgência de obter
respostas sobre o passado, desviei a conversa para um assunto mais
delicado. — O que o senhor sabe a respeito de Naibra Dirksen? Diga de
uma vez por todas e acabe logo com esse mistério, por favor. — impus, com
o desespero dando ritmo à minha voz.
O meu pai pareceu relutante em falar sobre o assunto, visivelmente
preocupado com as consequências de suas palavras.
— Eu não quero ser o responsável pelo possível rompimento de
vocês. — arregalei os olhos, quase expulsando-os de suas órbitas. —
Inclusive eu acredito que águas passadas não movem moinhos. Não há mais
nada que o passado possa fazer por vocês.
Senti uma frustração imensa diante da hesitação de meu pai, mas
eu não poderia forçá-lo a revelar o que ele preferia manter em segredo.
Infelizmente, eu precisava aceitar a situação como estava.
— Não adianta implorar nada ao senhor. Estou cansada. — o meu
pai saiu do quarto, me deixando falar sozinha. Consegui alcançá-lo na sala,
tocando no seu ombro. — Me perdoe pela insistência, mas…
— Chega, Tessa. Eu vou morrer e essa revelação será enterrada
comigo. Esqueça do passado. Você tem um futuro lindo pela frente, ao lado
da sua nova família e é nisso que deve depositar todas as suas energias.
Amassei os lábios, sem saber se ficava feliz ou não, diante dos
conselhos do meu pai.
— Tudo bem. Esse assunto já se esgotou. — deixei um beijo
rápido em seu rosto. — Agora eu preciso ir, o carro de aplicativo já chegou.
Ele volveu os olhos empáticos nos meus.
— Espero que a sua alegria permaneça quando retornar do antro
dos Dirksen.
Sorri, preocupada.
— Amém, que assim seja.
Imediatamente, peguei a bolsa sobre o sofá e enfiei a alça em meu
ombro, beijei o rosto enrugado de meu pai e olhei para Honey e Chloe pela
última vez em seus berços.
Ansiosa, abri a porta de casa, descendo em seguida na direção da
rua, para esperar pelo carro na calçada.
Cumprimentei o motorista desejando-lhe “boa noite”, e me
acomodei na poltrona.
Durante o trajeto até a mansão de Eros Dirksen, minha mente
vagava entre especulações sobre o que ele poderia ter descoberto a respeito
do senhor Naibra e qual seria o segredo que tanto afligia o meu pai!
Não conseguia relaxar nem com os Beatles que tocavam
lindamente naquele carro.

***

Assim que cheguei àquela belíssima mansão, que já havia se


tornado um ambiente familiar na minha rotina, as minhas mãos suaram de
nervosismo, o meu coração bateu tão forte, o suficiente para ecoar nos meus
ouvidos.
Estava nervosa para descobrir se Eros retornaria da Itália com
alegria ou ressentimentos, com alguma revelação importante sobre seu pai
ou apenas com a notícia que havia recebido uma herança milionária.
Assim que a porta se abriu, logo me deparei com o rosto acolhedor
de Margarida.
— Theresa, que bom que você chegou. O doutor Dirksen já me
disse que saiu do aeroporto.
A notícia de que Eros já estava a caminho me deixou ainda mais
agitada, apesar das saudades que sufocavam o meu peito.
— Uau, que notícia boa. Estou tão ansiosa. — desabafei com
Margarida, enquanto me sentava no sofá elegante branco. — Ficar essa
semana longe de Eros foi tão difícil, eu já me acostumei a conviver com ele,
principalmente as meninas que vivem me perguntando pelo papai “Elos”.
Margarida sorriu e, percebendo toda a minha tensão, logo tentou
me tranquilizar, afagando gentilmente o meu ombro.
— Logo, logo vocês vão poder matar as saudades. — então ela
suspirou profundamente, antes de me dizer com o olhar perdido: — Eu rogo
a Deus para que fique tudo bem.
A resposta de Margarida logo me deixou confusa, a ponto de eu
ficar de pé, cravando os meus olhos confusos nos dela.
— Ficar tudo bem? Por que está me dizendo isso?
Margarida, tentou disfarçar seu embaraço, respondendo
rapidamente:
— Espero que fique tudo bem… é… para que Dr. Dirksen
descanse… para que vocês consigam saciar as saudades o quanto antes. —
ela me disse em meio a um sorriso de nervoso. — Dr. Dirksen, com toda a
certeza, está aflito para rever você e as meninas. Ele não fala em outra
coisa.
Cocei o queixo, desconfiada.
— Estranho que ele não atendeu aos meus últimos telefonemas,
mas parece que manteve contato com a senhora, não é mesmo? — concluí,
erguendo uma sobrancelha curiosa.
E ao perceber os meus ciúmes, Margarida logo fez uma breve
negativa com a cabeça.
— Sossegue esse coração, menina. Dr. Dirksen está apenas
envolvido com as questões que encontrou na Itália. Acredite, apenas vocês
três que importam na vida dele, agora. — ela me disse, tentando me
encorajar, então umedeci os lábios, sentindo uma baita aflição por dentro,
pois Margarida, por mais que se esforçasse, não estava me convencendo.
Em seguida, a governanta pediu licença para entrar na cozinha,
como se estivesse fugindo de mim.
Encucada, fiquei ali na sala, observando os porta-retratos, que só
me apresentavam Eros acompanhado de sua solidão.
Peguei um porta-retrato dourado, imaginando que a vida reclusa
sempre fez parte da vida daquele advogado bem-sucedido.
Depois que os seus pais se divorciaram e a sua mãe se foi, ele
nunca mais se importou em ter alguém para dividir a sua rotina, uma vez
que o trabalho era o que ocupava a maioria de seu tempo, sendo a sua maior
distração.
Contudo, agora, tudo ganhava uma nova forma, pois havia um
porta-retrato enorme das meninas em cima de uma das mesas redondas de
canto, além dos brinquedos guardados dentro do baú, as cadeirinhas de
segurança que faziam parte do carro dele, os laços coloridos, as pipocas e os
chocolates misturados aos uísques sobre o aparador.
Aos poucos, ele se tornava um homem de família, um pai, alguém
que enxergava além dos lucros e da carreira.
Eros havia se entregado ao amor das gêmeas e se tornado uma
pessoa mais leve e menos ferida.
No momento em que observava um dos porta-retratos que me
mostrava Eros cavalgando em um cavalo preto, vestido numa charmosa
roupa de polo, eu ouvi o carro dele chegando.
Corri imediatamente para janela, afastei o vual branco e vi que
Jhonny o trazia do aeroporto.
O coração parou na boca, quando corri para a porta e puxei a
maçaneta, esperando Eros descer do carro, porém, o que eu vi, não foi nada
agradável, ele pisou no jardim, com o rosto fechado, os punhos cerrados e
ele logo bufou, assim que me viu.
Decepcionada, eu esperava por um sorriso, pelos olhos marejados
que sempre me fitaram envolvidos, mas, infelizmente, não foi o que eu
encontrei.
— Está tudo bem? — vociferei antes mesmo que ele alcançasse a
varanda.
O belo homem, trajado em um sobretudo cinza, subiu as escadas
até a porta e retirou as luvas de couro, sem nem ao menos me olhar nos
olhos.
As minhas pernas tremeram.
— O que caralhos você está fazendo aqui? — foi o que ele me
perguntou, as palavras me atingindo como um forte soco no estômago.
— Eu só vim te fazer uma surpresa. — expliquei com a voz
entrecortada. — Pelo jeito, você não está com saudades, muito menos feliz
em me ver, mas eu entendo, a viagem deve ter sido muito longa e,
certamente, o que você encontrou na Itália, não te fez nada bem.
Sem me olhar, o homem passou por mim, para adentrar a casa.
Jhonny retirava as malas do carro, quando decidi também entrar.
— Theresa, eu preciso que você vá embora agora, — ele
esbravejou e apontou para a porta aberta, a brisa da noite balançando os
meus fios. — deixe essa casa e a minha vida, imediatamente.
Sorri, sem forças, e logo me aproximei daquele homem cujo rosto
exibia decepção e revolta.
O que eu havia feito?
— O que aconteceu? O que você descobriu na Itália? — perguntei,
confusa e, ao mesmo tempo, magoada. — Você chega, fala essas palavras
sem sentido e me expulsa de sua casa, como se eu fosse um estorvo, e
espera que eu aceite isso sem maiores explicações? — a minha voz tremia,
enquanto esperava por uma resposta coerente de Eros.
Inclusive, eu não poderia evitar de me lembrar do comentário de
meu pai, sobre ele não querer ser responsável pelo nosso rompimento.
Havia muitas revelações por trás do comportamento infame de
Eros Dirksen.
— Vá embora, Theresa, não me peça explicações agora. — ele
segurou fortemente nos meus punhos, a sua expressão endurecida pela
raiva. — Eu não quero mais te ver na minha frente, ter qualquer contato
com você ou com as meninas. Dá um fora, porra! — a voz cortante me
deixou atordoada diante daquela súbita mudança de atitude.
Os meus olhos represavam as lágrimas, enquanto o meu estômago
se contorcia de desespero.
— O que está acontecendo, Dr. Dirksen? — Margarida correu ao
nosso encontro, apavorada com a cena que se desenrolava diante de seus
olhos.
O homem, ainda me segurando brutalmente pelos pulsos, se virou
na direção da governanta.
— Margarida, você não tinha que ter feito nada pelas minhas
costas. Retire essa mulher da minha casa agora. Chame pelos seguranças.
— Eros esbravejou, finalmente me largando.
A marca de seus dedos recente em minha pele, ardia.
— O que aconteceu? — a governanta perguntou, ao mesmo tempo
em que me amparava, segurando carinhosamente nas minhas mãos.
— Margarida, se não quiser ser demitida imediatamente, chame
um Uber e coloque essa mulher para fora. Exijo, inclusive, que Theresa não
volte a colocar os seus pés nesta casa.
Indócil, eu avancei sobre Eros, cravando os meus olhos cheios de
angústia nos revoltados dele.
— Pelo jeito, você descobriu algo muito grave. Papai estava certo
quando decidiu não me contar sobre o vínculo que tinha com senhor Naibra,
temia que nos separássemos e eu, tola, disse que não, que os nossos
sentimentos eram inabaláveis. — suspirei, com pesar. — Eu não me
importo de sair da sua vida, por mais que eu te ame, mas eu não quero que
as minhas filhas cresçam longe do pai. — Eros abaixou o rosto. — Eu exijo
que me fale agora o que está acontecendo.
— Esse assunto está me dando náusea.
Segurei nos músculos do braço de Eros, recuperando a sua atenção
para mim.
Margarida, por sua vez, estava atenta a tudo, como maneira de me
proteger, testemunhando a ruptura iminente entre nós.
A angústia dançando em meu peito enquanto nossos olhares se
cruzavam, carregados de dor e ressentimento.
— Você está sendo extremamente cruel e injusto comigo. Não seja
covarde e me diga logo porque está me odiando tanto. — implorei, as
minhas palavras saíram tremidas.
Estava desesperada por uma explicação que parecia cada vez mais
distante.
Eros, por sua vez, permanecia imóvel, com uma expressão sombria
no rosto.
— Aconteceu uma tragédia, Theresa, e, por causa disso, eu te
abomino. — a sua voz soou gelada, cortante como uma lâmina afiada e
cheia de repulsa.
As minhas mãos tremiam enquanto buscava desesperadamente por
respostas que ele se recusava a me fornecer.
— Você nunca foi tão estúpido comigo, tão indiferente. Por favor,
me diga pelo menos um motivo. — tentei conter as lágrimas, mas a dor era
avassaladora. — Você não vai me dar a oportunidade de eu me justificar,
caso eu tenha feito algo?
Eros suspirou, parecendo ainda mais distante.
— Theresa, eu te dei todas as chances, mas o destino resolveu ser
cruel comigo. Não consigo mais encará-la, nem mesmo tocá-la. Seria um
crime fazer isso. Por favor, saia da minha vida agora!
Os seus gestos rígidos e a sua voz embriagada de desprezo me
endureceram ainda mais, enquanto o meu coração implorava por
compreensão.
— Você não mudou nada, Eros! — gritei, cravando as unhas nos
braços musculosos. — Você me vê como um objeto descartável! Um
brinquedo nessas suas mãos podres! Eu me entreguei completamente a
você, pensando que você tivesse amadurecido, mas, pelo jeito, eu me
enganei. — engoli o choro, ao mesmo tempo em que o olhar opaco me
cobria. — Por mais que eu tenha cometido erros, de esconder as meninas,
agora eu não me arrependo mais disso. Na verdade, eu deveria ter
continuado omitindo elas de você, porque você é uma decepção, um
cafajeste assumido. Elas não merecem um pai merda, que se esconde atrás
de desculpas e as rejeita como se fossem um animal sarnento.
Eu nunca imaginei que nosso relacionamento chegaria a esse
ponto.
Onde estava o homem gentil e amoroso que eu conheci?
— Você não sabe o que está falando.
Soltei os braços dele, caminhando até a janela para tomar um ar.
Margarida já havia desaparecido.
Estava extremamente confusa e magoada com a forma que Eros
me tratava.
Os seus olhos, que costumavam me transmitir segurança e amor,
agora estavam cheios de uma altivez infame.
— Claro, você não me conta o que está acontecendo. — falei,
olhando para ele. — Por que você não se abre comigo, tenha uma conversa
adulta e não aja como um adolescente? — a frustração transbordava em
minhas palavras, enquanto eu buscava desesperadamente por algum sinal de
compreensão em seus olhos.
— Garota, é muito grave. Eu não consigo repetir o que eu descobri
na Itália. Eu só preciso que você suma da minha vida com essas meninas de
uma vez por todas. — a sua voz soou ainda mais fria, como se estivesse
proferindo uma sentença.
As suas palavras eram uma confissão de rejeição que dilacerava o
meu ser.
O meu coração apertou ainda mais diante da sua apatia.
Caminhei lentamente na direção de Eros e, irritada, cruzei os
braços.
— Volto a repetir, eu até entendo se você quiser me renegar, mas
você expulsar as bebês da sua vida, isso é de uma crueldade! Você já
colocou amor no coração delas. Por que você está nos rejeitando dessa
maneira tão ridícula? — insisti, enquanto eu lutava contra as lágrimas que
ameaçavam cair.
— Que inferno, pare de me fazer perguntas. — cada grito de Eros
era como uma faca, perfurando a minha pele e expondo as minhas feridas
mais profundas. — Você não vai tirar nada de mim, talvez o seu pai te conte
a verdade. — o seu olhar, antes caloroso, agora era cheio de desdém. — Eu
precisei viajar até Itália para saber de tudo, quando o seu pai já poderia ter
me falado sobre a sua origem, e eu teria evitado de você entrar ainda mais
na minha vida. — a sua voz era um sussurro rouco, mágoa e
arrependimento se confundiam em sua fala.
Cada palavra era como um golpe, perfurando a minha alma e
desmoronando as minhas expectativas.
— Você quer culpar o meu pai, por suas loucuras, pelas merdas que
o seu pai cometeu? Você está falando sobre as minhas origens? Eu me
lembro muito bem quando você me disse que não existiam as barreiras
sociais, mas, pelo que posso entender, você se arrependeu de se envolver
com uma reles menina sem perspectivas, para se aventurar com alguma
italiana. — tentava adivinhar de onde vinha todo o ódio de Eros por mim,
enquanto lutava para manter a compostura, travando o choro nos lábios.
Ao mesmo tempo que uma parte de mim ansiava por respostas,
outra tremia diante da possibilidade do que Eros poderia me revelar.
— Não me julgue, Theresa, não julgue os meus sentimentos. Eu já
te amei muito, agora só sinto asco por você, inclusive eu descobri que amo
a Pollyana. — sorri, desconcertada. — Por favor, vá embora antes que eu
cometa um crime.
Queria argumentar, expressar a minha confusão e angústia, mas as
suas palavras ásperas esmagavam as minhas esperanças.
— Você está me ameaçando, Eros? Você é uma tremenda
decepção! Amar a Pollyana? Então você atuou durante todo esse tempo? O
seu pai deve ter deixado alguma herança, com a condição de que você se
casasse com a Pollyana. Confesse.
Eros apenas confirmou as minhas suspeitas com uma resposta
lacônica.
— Parabéns. Você descobriu.
Aquelas palavras foram como um golpe final.
Eu me senti traída e enganada, um lixo imundo que havia me
iludido com um cafajeste, mercenário, que, claramente, não poderia agir
diferente.
— Eu nunca mais quero olhar na sua cara. — falei, com a voz
inexpressiva. — Agora sou eu que não quero saber de você. Eu vou criar as
minhas filhas com toda dignidade. Darei a elas tudo o que merecem.
Sempre pude sustentá-las com o pouco que tinha, então logicamente eu não
preciso de você para simplesmente nada. Inclusive, eu não quero um
homem amargo, ganancioso e materialista, um homem sem escrúpulos na
minha vida. Beira a loucura, esse seu jeito sórdido, o seu comportamento é
repulsivo. Até mais, Eros.
Pelo jeito, aquela maldita discussão acalorada havia chegado ao
fim.
Margarida, a governanta, agora nos observava, claramente
preocupada.
Eu me sentia desamparada, magoada e confusa diante das palavras
cortantes de Eros, mas, acima de tudo, sentia uma sensação de libertação.
Era hora de seguir em frente, sem olhar para trás.
— Dá um fora, Theresa Adams Butler.
A última coisa que ouvi foi a sua voz indiferente, que ecoou pelas
paredes da sala, selando nosso destino com uma crueldade final.
Era o fim de um capítulo e o começo de uma nova vida para mim e
as minhas filhas.
Era hora de partir, deixando para trás um amor que se transformou
em dor e um homem que se revelou um estranho amargo e sem escrúpulos.
Eu me afastava lentamente, sentindo o meu coração despedaçado.
Não havia mais espaço para o perdão, nem para a reconciliação. Eu
sabia que precisava seguir em frente, proteger as minhas filhas e encontrar a
paz que tanto almejava.
Eu não sabia de onde tiraria forças para prosseguir.
Desolada, saí correndo pelo jardim, sentindo as lágrimas vencerem
os meus olhos.
Havia algo muito mais grave por trás de tudo que Eros havia me
dito, mais grave do que ele dizer que amava Pollyana, mas, agora, diante de
toda a humilhação que havia passado, não me interessava mais saber se
Eros ainda queria me revelar a verdade ou se eu iria descobrir o que
aconteceu por meu pai
A angústia de não ter respostas era insuportável.
O meu pai mantinha um silêncio sepulcral sobre o assunto, e eu me
perguntava até quando suportaria esse tormento, essa agonia de não saber o
que estava de fato acontecendo.
Em minutos, já estava em casa. O meu pai ressonava no sofá com a
televisão ligada, quando toquei delicadamente no seu ombro, concentrando
os meus olhos borrados pelo choro, nos inchados de sono dele.
— Está chorando? O que aquele canalha te fez? — ele me
perguntou com a voz rouca de sono, ao mesmo tempo em que se erguia no
sofá encardido.
Prontamente eu me sentei ao seu lado, unindo as nossas mãos.
— Pai, o Eros me rejeitou, ele me falou absurdos! — engasguei
com o choro que veio como um golpe na minha garganta. — Por favor, me
diga se o senhor sabe o que aconteceu, ele não quis se abrir comigo. Parece
que precisa voltar com a ex-noiva para conseguir a herança. Tudo tão
confuso.
O meu pai pegou o lenço azul no bolso de sua calça jeans, e
enxugou com cuidado as minhas lágrimas.
— Filha, infelizmente há algo muito maior que talvez os impeça de
ficarem juntos. Melhor você não saber da verdade, pois há vínculos muito
fortes entre vocês, as nossas gêmeas, e elas precisam ser poupadas do
passado. Eros está de cabeça quente, e eu tenho certeza que ele vai reavaliar
as suas atitudes e te perdoar, se realmente for preciso.
Coloquei as mãos no rosto, aos prantos, cogitando que Naibra
Dirksen poderia ter sido o amante da minha mãe, talvez tenha sido ele o
motivo pelo qual ela nos abandonou.
A ideia de que Naibra deixou Eros e foi responsável pela morte da
ex-mulher, para construir uma vida com a minha própria mãe, me
atormentava a ponto do meu coração sangrar.
No entanto, era muito grave dizer isso a meu pai, uma acusação tão
séria que poderia machucá-lo, e isso me constrangia.
Parecia tão improvável as minhas suspeitas, que eu preferia mantê-
las só para mim, em vez de impor uma verdade que poderia não existir.
— Se você e nem Eros quiserem me contar a verdade, eu vou
descobrir sozinha. O Eros inclusive renegou Chloe e Honey. — falei,
sentindo uma tristeza profunda anular todos os meus sentidos.
A frustração e a confusão me dominavam, parecia que não havia
mais saída.
O meu pai, por sua vez, parecia surpreso com aquela revelação.
Via preocupação em seus olhos, mas também percebia que ele estava
tentando manter a calma para me tranquilizar.
— Eros Dirksen rejeitou as meninas? Por que o canalha fez isso?
Não há motivos! — papai parecia tão perplexo quanto eu, e a sua
preocupação me tocou.
Instintivamente, eu me aproximei ainda mais dele.
— Pai, eu só quero entender o que está acontecendo. Por que Eros
agiu desse jeito? O que Naibra Dirksen tem a ver com isso tudo? —
perguntei, buscando desesperadamente por respostas que pareciam escapar
o tempo inteiro.
E ao mencionar o nome de Naibra Dirksen, senti um arrepio
percorrer a espinha, sem falar na rejeição de Eros às minhas filhas que só
aumentava ainda mais a minha angústia.
Em resposta, o meu pai relaxou o corpo magro sobre o sofá,
olhando fixamente para uma mariposa que se debatia contra a pequena
janela da sala.
— Filha, às vezes é melhor esperar pelo tempo certo. Eros é quem
deve te contar os motivos dele estar agindo assim, te expulsando da vida
dele junto com as meninas. Estranhamente essa atitude infantil por parte
dele, não me surpreende em nada! — então o meu pai resolveu me olhar. —
Mas você já parou para pensar que talvez Eros tenha sido sincero quando te
falou sobre a ex-noiva? Talvez ele tenha encontrado uma maneira mais fácil
de se afastar de vocês, ainda que seja algo extremamente cruel e baixo. — o
meu pai tentava me acalmar, mas as suas palavras só aumentavam a minha
ansiedade.
Será que Eros estava falando a verdade sobre Pollyana?
Será que eu fui ingênua em acreditar que Eros me amava, mesmo
ele nunca tendo me confessado o seu amor por mim?
— Mas por que ele faria isso, pai? Eu não entendo. — aflita, eu
bati as mãos sobre os joelhos. — Não posso simplesmente ignorar isso tudo
e fingir que está tudo bem. Eu me sinto perdida, sem saber o que fazer. Eros
sempre foi tão presente, tão atencioso. E as meninas... como elas vão
entender esse afastamento repentino do pai? — desabafei, tentando conter a
angústia que crescia dentro do meu coração.
As minhas mãos tremiam e a minha voz falhava enquanto eu lutava
para conter as lágrimas.
Eu me sentia desamparada e incapaz de encontrar uma solução
para essa situação tão complicada.
— Às vezes, as pessoas têm seus próprios demônios, Tessa. Talvez
Eros esteja lutando contra algo que nem mesmo ele compreenda
completamente. Quanto às meninas, nós vamos encontrar uma maneira de
explicar para elas, de garantir que elas saibam que são amadas e cuidadas,
independentemente do que aconteça entre você e Eros. Sei que não é fácil
lidar com isso tudo, mas precisamos ser pacientes. Talvez Eros esteja
passando por alguma situação complicada e não saiba lidar com isso da
melhor forma. E, sobre a ex-noiva, é uma possibilidade a considerar. No
entanto, só o tempo dirá a verdade completa. — o meu pai tentava me
confortar, mas as suas palavras só aumentavam a minha angústia, ainda
sentia uma grande incerteza em relação ao futuro.
Como iria lidar com essa situação e proteger as minhas filhas?
— Eu só queria que as coisas voltassem a ser como antes, pai. Eu
me sinto tão perdida. Não que o seu apoio e de Winter não sejam valiosos,
mas tudo desmoronou num piscar de olhos. Eu não tive tempo de assimilar
que voltaria a me distanciar do homem que eu amo. — murmurei, sem
forças, cheia de tristeza e saudades.
Tudo o que eu desejava era que as coisas voltassem ao normal e
que eu pudesse encontrar uma solução para aquele emaranhado de
problemas que havia se tornado a minha vida.
Então o meu pai ergueu o meu rosto na sua direção.
— Eu entendo perfeitamente as suas angústias, mas confie no
tempo. As respostas virão, mesmo que agora pareça que estejamos no
escuro. Eros não vai sobreviver muito tempo longe daqueles tesouros que
são Chloe e Honey. — o meu pai me abraçou com ternura, e eu me agarrei a
ele em busca de conforto em meio a toda aquela confusão. — Lembre-se,
eu estou aqui por você, sempre.
As palavras reconfortantes do meu pai me fizeram sentir um pouco
de esperança, mesmo que o caminho à frente fosse difícil, sabia que não
estava sozinha.
— Por favor, eu quero uma bola de morango e a outra de mirtilo.
Sobressaltei no momento em que respondia a uma mensagem de
Winter ao celular, quando uma senhora muito bem-apessoada me
interrompeu.
Prontamente fiz o que ela me pediu, forçando simpatia.
— Aqui está, senhora. Esses sabores são os melhores da casa.
A mulher não me deu confiança e lambeu o sorvete.
— São de iogurte. E eu detesto esse gosto azedo!
Arregalei os olhos, surpresa.
— Me perdoe por isso. Eu vou trocar. — disse, esticando a mão
para pegar o sorvete, mas, por um descuido, esbarrei em uma das bolas que
voou imediatamente para o scarpin vermelho da mulher.
— Agora eu já me sujei, incompetente. — ela rosnou e se afastou
enervada, na direção da porta.
Desolada, conferi o relógio e vi que já estava na hora de ir embora,
o que me deixou extremamente aliviada, pois as coisas não estavam sendo
fáceis nos últimos dias.
Eros havia nos abandonado, como ele havia prometido.
As meninas perguntavam constantemente quando iriam à empresa,
ao prédio marrom, como elas costumavam chamar, para ganhar chocolate
de papai Elos e ouvir histórias divertidas sobre princesas e monstros, e
aquilo me quebrava em mil pedacinhos.
O meu pai não havia largado a minha mão, muito menos Winter,
porém o vazio deixado por Eros era extremamente doloroso e insano.
Assim que pisei na calçada, avistei a minha melhor amiga
encostada ao muro, verificando o celular.
Ela logo me viu e se apressou na minha direção, me abraçando
com carinho, a ponto de eu inspirar o perfume dos seus cachos.
— O que aconteceu? Parece que você foi atropelado por um
caminhão e a sua cara foi amassada como uma lata de refrigerante.
Dei um sorriso fraco, sentindo o desânimo pressionar o meu
coração.
— Ser atropelada não seria nada perto da tristeza que estou
sentindo. Tudo tem sido muito difícil para mim, amiga. Eros não me
recebeu na empresa, inclusive pediu aos seguranças para que não me
deixassem mais entrar no prédio.
A minha amiga me observava com empatia, antes de envolver os
meus ombros e seguir comigo pela calçada.
Hoje, havíamos combinado de jantarmos juntas, em minha casa.
— Homem estúpido. — Winter desabafou. — Parece que ele te
usou enquanto era novidade e depois abriu mão das meninas e da mulher
maravilhosa que você é, por nada. Tenho certeza que ele fez tudo isso por
dinheiro, e não duvido que ele tenha perdoado Pollyana e aceitado aquela
mulher de volta, apenas como maneira de receber a tal herança.
Umedeci os lábios, me sentindo impotente diante de tantos
percalços, dúvidas e segredos.
— Eu odeio o Eros com todas as minhas forças. — apertei os
olhos, esmagando-os. — Eu caí na sua lábia cretina e acreditei que ele havia
mudado.
Winter pausou os passos debaixo de uma árvore frondosa que
soltava folhas secas.
— Vamos esquecer de Eros, agora, por favor. Já estou irritada. —
Winter proferiu, em meio a suspiros. — Me conta, como está o senhor
Alfred?
Os meus olhos marejaram, assim que eu concentrei nos castanhos
de minha amiga.
— O meu pai já está há um mês em casa, depois que descobriu o
tumor na boca. Graças a Deus tem conseguido se virar sozinho. Com as
meninas na escolinha, meio período, já me ajuda bastante. Eu trabalho
apenas à tarde e de manhã eu cuido dos três. Papai tem tomado muitos
remédios caros e fortes e, agora sem a pensão de Eros, tudo fica mais
difícil.
Winter levou as mãos à boca. O espanto desenhado em seu
semblante.
— Não vá me dizer que Eros não está mais pagando a pensão das
meninas? Ele enlouqueceu? Ele não é o pai?
Sorri de lado, enlaçando o meu braço ao dela, para seguirmos
juntas pela calçada.
— Eros é o pai e o advogado mais bem-conceituado de toda a
América, ou seja, eu não tenho armas para lutar contra ele.
Mesmo que relutante, Winter acabou concordando comigo.
— Um crápula! — ela revirou os olhos, angustiada. — Mas não se
abale, Tetê, mesmo não tendo o que fazer, para reivindicar os seus direitos,
eu tenho certeza que Eros ainda terá tudo o que merece.
Levei os olhos aos céus, com fé.
— Espero, pelo menos, que a justiça divina seja feita.
— Não vai atender o celular?
— Meu Deus, nem ouvi tocar. — pausamos em frente à uma casa
marfim, e ali deslizei o zíper da bolsa para futucar as quinquilharias, até
encontrar o aparelho, quando fiquei surpresa ao me deparar com aquele
número. — O banco está me ligando!
Estranhei a ligação, mas, mesmo assim, eu atendi, não havia outra
saída!
Com as mãos trêmulas e o coração arritmado em meu peito eu
disse um fraco:
— Boa tarde. Aqui é Theresa Butler. — então me concentrei no
olhar interrogativo de Winter.
— Sinto muito, senhora Butler, mas não houve pagamento da
hipoteca deste mês. Estamos com um atraso significativo em seu
financiamento e, infelizmente, isso pode resultar na perda da casa.
O meu coração parou por um breve instante, enquanto as palavras
da gerente preenchiam os meus ouvidos.
Winter me observava intrigada e curiosa, ao mesmo tempo.
— Não é possível. Isso não pode estar acontecendo. — passeei os
dedos entre os cabelos. — Nós sempre pagamos em dia, mesmo com todas
as dificuldades. Por favor, há alguma maneira de resolvermos isso?
— O que houve, Tetê?
Pedi calma à minha amiga.
— Sinto muito, senhora Butler, mas verificamos nossos registros e
não consta nenhum pagamento recente. Já passou bastante o prazo,
inclusive. — levei a mão gelada à boca e assim permaneci. — O banco não
pode fazer exceções. Vocês terão que desocupar o imóvel dentro de trinta
dias, se não for quitada a dívida de cinquenta mil dólares.
Senti o chão se abrir lentamente sob os meus pés, o desespero
contaminando os meus sentidos.
— Por favor, tem que haver algo que eu possa fazer. As minhas
filhas… — engasguei, sendo amparada por Winter. — elas não podem
perder o único lar que conhecem. Eu sempre fiz o pagamento em dia. Deve
haver algum engano.
— Eu entendo, senhora Butler, mas as políticas do banco são
claras. Recomendo que vocês comecem a procurar um novo lugar para
morar o mais rápido possível, pois, infelizmente, nossos registros não
mentem. Houve atraso no pagamento.
— Mas isso é impossível! — falei mais alto do que previ. — Eu
tenho certeza de que fiz o pagamento. Por favor, verifique novamente.
Fechei os olhos por um instante, tentando conter as lágrimas que
ameaçavam transbordar.
Respirei fundo, lutando para manter a compostura, enquanto
Winter já desconfiava do ocorrido.
— Eu entendo a sua preocupação, senhora Butler, mas
infelizmente, se o pagamento não foi recebido, precisaremos seguir os
procedimentos padrão. A hipoteca está realmente em atraso e, se não for
quitada, dentro de um prazo de trinta dias, seremos forçados a iniciar o
processo de retomada da propriedade. Eu sugiro que você verifique seus
registros de pagamento e, se houver algum erro, entre em contato conosco
imediatamente. Também podemos discutir opções de pagamento para
ajudá-la a resolver essa situação. Por favor, não hesite em nos contatar se
precisar de mais alguma assistência, senhora Butler. Estamos aqui para
ajudá-la a resolver esse problema da melhor forma possível.
— Está bem, obrigada. — murmurei em completo estado de
choque.
Com um nó apertado na garganta, desliguei o telefone, me sentindo
completamente perdida e desamparada diante da perspectiva de perder a
nossa casa.

***

Assim que Winter percebeu o meu desespero, ela me guiou


imediatamente para o gramado que contornava a calçada, antes mesmo que
eu pudesse desmaiar.
Ali, nos sentamos, e ela prontamente afagou as minhas mãos, como
maneira de me fortalecer com aquele gesto de carinho.
— Me diga, Tetê. É isso mesmo o que estou pensando? — o rosto
dela estava pálido, estava tão preocupada quanto eu.
— Certamente é bem pior do que você está pensando, querida
Winter. Só pode ter sido o meu pai com a compra dos remédios e os
exames. A hipoteca não foi paga e agora eles estão ameaçando retirar a
nossa casa.
Liberei toda a carga de emoção que me absorvia, chorando todas as
mágoas que sufocavam o meu peito.
Sentada ali, com Winter, me senti tomada pelo desespero, como se
estivesse presenciando, em poucos dias, o desabamento de tudo o que eu
tinha, amava e valorizava.
A perda de Eros já tinha sido um golpe duro do destino e, agora, a
iminência de perder a casa parecia adicionar ainda mais tristezas à minha
existência já tão sofrida.
O que mais eu poderia suportar? O que mais poderia ser
arrancado de mim?
Winter então passou a mão pelo meu rosto, visivelmente empática
com a minha situação.
— Você precisa procurar o Eros, imediatamente! Apenas o ricaço
poderá te ajudar! — ela decretou, e eu ponderei, cogitando engolir o
orgulho. — Obviamente, Eros não vai querer que as filhas fiquem no olho
da rua. Por mais que tenha renegado as meninas, ele precisa entender que é
o bem-estar delas, é o seu bem-estar. Será que não sobrou nenhum tipo de
empatia naquele coração tão rígido e talvez inabalável?
Suspirei, segurando uma folha bonita entre os dedos.
— São tantas perguntas sem respostas, Winter. Eu queria muito
procurar o Eros e pedir ajuda a ele, afinal não podemos perder a nossa casa
de jeito nenhum. No momento, não temos onde morar! Não temos dinheiro
para pagar a hipoteca, o que dirá para o aluguel! Mas Eros pode se
aproveitar da situação para me humilhar. Ele renegou as filhas, por isso eu
entendo que ele possa ser capaz de tudo!
Voltei a chorar, quando Winter segurou delicadamente em meu
queixo e virou o meu rosto na direção dela.
As lágrimas fazendo curvas em meu queixo.
— Vá até a empresa. Arrume um jeito. Espere ele sair de carro, sei
lá, faça alguma coisa, mas não fique parada!
Ao ouvir as palavras de Winter, determinação e nervosismo
tomaram conta de mim.
Eu precisava agir, ela tinha razão, eu não poderia ficar esperando
que as coisas acontecessem.
Suspirei, relaxando os ombros, avaliando o que a minha amiga
havia me proposto.
Eu tentava manter a calma, mas a preocupação com a situação da
casa era mais forte que tudo e pesava o meu coração.
— Que horas são, Winter?
Desconfiada, ela verificou o celular.
— Dez para quatro. Por quê?
— Daqui a pouco, é o horário de Eros deixar a empresa. Acho que
vou tentar cercar o carro dele de alguma maneira.
Por mais que eu pudesse estar me colocando numa situação
humilhante, eu estava à beira de perder o meu lar, então eu deveria usar de
todas as armas para não permitir que isso acontecesse.
— Isso mesmo, Tetê. Excelente ideia. — Winter sorriu, me
encorajando. — Pode deixar que eu vou para a sua casa, ajudar o seu pai
com as meninas. Fique tranquila para colocar o seu plano em prática. —
Winter piscou para mim, me oferecendo apoio, mas eu ainda sentia um
pouco de aflição do que poderia encontrar na empresa de Dirksen.
— Obrigada, amiga. — uni a minha mão a dela. — Aproveita o
ensejo e adianta para o meu pai sobre a situação da hipoteca, e deixe claro
para ele que estamos prestes a perder a casa, porque a pior coisa é ser pego
de surpresa.
Ela assentiu, ficando de pé.
Imediatamente eu me ergui ao lado dela, colocando a folha atrás da
orelha.
— Sim, eu vou fazer tudo o que for preciso, para colocar o seu pai
a par da situação. Se eu pudesse, eu te daria esse dinheiro para pagar o
débito da hipoteca, mas, infelizmente, eu não tenho isso tudo na conta.
As palavras tão sinceras de Winter me emocionaram, eu tinha
ciência de seu bom coração e a amava muito.
— Cinquenta mil dólares, Winter. Exatamente o valor que o meu
pai precisava para o tratamento de saúde, mas ele havia deixado claro que
pegaria um empréstimo, e que não mexeria no dinheiro reservado às nossas
despesas! — me calei, pensativa. — O meu pai quer me poupar de seus
problemas e acaba me omitindo situações muito sérias.
Winter concordou com pesar, e depois afagou delicadamente o meu
ombro, tentando me tranquilizar.
— O Eros vai te dar esse dinheiro, confie.
Suspirei, desacreditada.
— Antes, eu preciso confiar nos argumentos que eu vou apresentar
a ele, afinal Eros não é mais o mesmo. Não sei como posso convencê-lo a
me ajudar. Eu, as meninas, não temos mais valor algum para ele.
Prontamente deixei um beijo no rosto de minha amiga, me
despedindo dela, para fazer sinal para um táxi que, coincidentemente,
passava naquele momento.
— Boa sorte, Tetê. — ela me desejou na janela do carro e eu sorri,
aflita.
Em minutos, o taxista já estacionava em frente à empresa Dirksen.
Era hora de agir, de encontrar uma solução para todos os
problemas financeiros e, ao mesmo tempo, confrontar Eros sobre as suas
responsabilidades.
Será que o pai de minhas filhas realmente me ajudaria nesse
momento de necessidade?
Assim que cheguei em frente à empresa, senti um frio tenebroso na
barriga, mas, ainda assim, eu estava disposta a resolver tudo o que fosse
preciso.
Esfregando as minhas mãos, eu olhava ansiosamente para os lados,
determinada a dialogar com Eros.
Tinha em mente que deveria arriscar todas as minhas fichas e pedir
a ajuda ao magnata, não importasse o humor dele, ou eu perderia a minha
casa.
Assim que chegou o horário de Eros sair, eu fiquei atenta ao portão
da garagem, sem desviar os meus olhos daquele lugar, por nenhum segundo
sequer.
E, para a minha surpresa, o carro embicou na rampa, antes mesmo
do esperado.
Confesso que a minha respiração foi roubada e uma espécie de
pressão latejou em meu peito, mas, mesmo assim, eu precisava reunir forças
para falar com Eros Dirksen, mesmo esperando pelo pior.
Corri ao encontro do carro, e no momento que o veículo estava
prestes a seguir para o asfalto, eu me coloquei à frente dele, depositando as
mãos sobre o capô e gritei:
— Eros, eu preciso falar urgentemente com você! Por favor, me dê
uma chance!
A porta se abriu, lentamente e, para a minha decepção, quem saiu
do carro foi Jhonny, o motorista.
— Senhora Theresa Butler, eu posso te ajudar em alguma coisa?
Naquele instante, uma ideia se acendeu em minha mente, e se eu
entrasse no carro de luxo, e Jhonny me levasse para casa de Eros, sem que
o magnata soubesse?
Seria a única maneira de ter acesso ao homem que havia me
rejeitado.
Sem medir as consequências, eu dei alguns passos na direção
daquele jovem senhor.
— Jhonny, por favor, me dê uma carona até a casa de Eros? Pelo
jeito ele não está com você. — arrisquei, intrometendo os olhos para o
interior do veículo.
O motorista alargou o bigode em um sorriso gentil e correu para
abrir a porta de trás para mim.
Sorri, extremamente aliviada.
— Claro, senhora Theresa, fique à vontade. É visível o quanto está
nervosa. Aconteceu algo que eu possa ajudar?
Prontamente me acomodei, na poltrona de couro, me dando conta
que as cadeirinhas de segurança de Honey e Chloe já não estavam mais ali.
O meu coração apertou.
Aos poucos, Eros também se desfazia das nossas lembranças.
— Que homem ridículo. — murmurei, o suficiente para Jhonny
ouvir.
— O que disse, senhora Butler?
Pigarrei, desconcertada.
— Não, apenas o seu patrão vai poder me ajudar. Obrigada pela
gentileza, Jhonny. — respondi ao motorista, afivelando o cinto ao corpo.
Pelo jeito, ele não sabia o que havia acontecido entre mim e Eros,
pois, se caso soubesse, o motorista ficaria estritamente proibido de me levar
naquele veículo de luxo e aconselhado a me atropelar, caso eu fechasse o
seu caminho.
Então me aconcheguei ainda mais no carro confortável e Jhonny
aumentou o ar-condicionado. Agradeci mentalmente a ele por isso, pois os
meus nervos estavam todos à flor da pele, a ponto de um calor insano
inflamar as minhas células.
Um silêncio se instaurou até o momento de subirmos uma ladeira,
na direção da mansão de Eros Dirksen.
Enquanto isso, eu rezava todas as orações que sabia, para que Eros
pudesse me ajudar e, assim, não perder a casa, quando Jhonny
instintivamente percebeu a minha aflição.
— Já estamos chegando, espero que tudo se resolva. Aconteceu
alguma coisa com as meninas?
Umedeci os lábios, escolhendo as palavras certas.
— Acaba sendo uma situação com as meninas sim, mas eu acredito
que o Eros vai poder me ajudar.
Jhonny então encontrou o meu olhar, através do reflexo do espelho,
quando vi que estava com a folha ainda na orelha, logo me livrei dela.
— O Dr. Dirksen tem muitos sentimentos pela senhora e as
crianças. — ele sorriu, iludido. — E tenho certeza que a senhora sairá daqui
bem mais tranquila, do que chegou. Pode ficar despreocupada quanto a isso.
Pobre Jhonny, ele mal sabia do fim da nossa história, de todas as
tempestades que me assolavam, mas, mesmo assim, eu ainda tentei absorver
um pouco daquele otimismo.
E assim que o motorista parou em frente ao portão da mansão, eu
me abaixei, fingindo que meu celular havia caído no chão do carro.
Os seguranças não poderiam me ver.
Jhonny mal percebeu que eu havia me escondido, e avançou com o
carro pelo portão. Esperei um pouco até me erguer novamente e, até enfim,
adentramos o jardim do casarão.
— Jhonny, o Eros está em casa? — resolvi perguntar, para me
assegurar, pois estava tão nervosa, que havia esquecido desse detalhe
precioso.
O homem assentiu, estacionando o carro, próximo à piscina.
— Sim, Dr. Dirksen está em casa, desde cedo. Ele apenas me pediu
para eu pegar uns documentos importantes para ele na empresa, mas a
senhora pode ficar à vontade, que a Margarida vai te receber.
Saí do carro, sentindo as minhas pernas tremerem.
Eu estava completamente desesperada, não queria ser enxotada
feito Pollyana!
Será que Eros Dirksen seria capaz de me atender? Será que ele me
receberia?
Eu tinha que arriscar tudo. Eu não poderia brincar com uma
situação tão séria como essa e muito menos me intimidar diante dos
obstáculos.
Subi as escadarias da varanda, sentindo o meu coração arder a cada
passada, imaginando que Eros poderia me deixar de mãos atadas, se caso
resolvesse me escorraçar para fora de sua casa, ou pior ainda, se fosse por
intermédio de seus seguranças!
Seria uma humilhação tão grande! Por isso, eu precisava fazer de
tudo para que ele me escutasse.
Fiz menção de bater à porta, mas o meu gesto ficou pairando no ar,
quando ela se abriu lentamente, me apresentando o belo magnata, o moreno
de olhos negros soturnos, com um metro e noventa e sete de altura e de ego
infinito.
Eros estava apenas de calça de moletom, da mesma maneira que eu
o havia conhecido e, claramente, ele roubou o meu oxigênio da mesma
maneira que fez da primeira vez.
Os seus músculos eram dourados, perfumados e apetitosos, as
linhas que desenhavam o abdômen trincado eram irretocáveis de tão
perfeitas, sem falar no umbigo másculo e a protuberância no alto da calça
cinza.
Tornei a olhar no rosto apático, antes mesmo que eu pudesse
suspirar feito uma idiota.
Eros então desferiu um olhar inquisidor na minha direção, como se
não estivesse surpreso por me ver ali.
— Theresa Adams Butler, você é ousada. Pelo que me lembro, eu
exigi que você nunca mais pisasse nesta casa. — a voz grave incomodou os
meus tímpanos, mas não mais que aquelas palavras duras
Em resposta, amassei os lábios e olhei fixamente nos olhos pretos
de Eros, estranhando que ele havia citado o sobrenome de minha mãe.
Então decidi ser direta, ainda que a minha vontade fosse a de fugir.
— Eu preciso conversar com você sobre um assunto muito sério, a
hipoteca da casa onde as nossas filhas moram. Eu preciso que você me
ajude com cinquenta mil dólares, senão eu vou perder, num prazo de trinta
dias, o único lar que tenho.
Eros sorriu torto, fazendo uma negativa irritante com a cabeça.
Apreensiva, ainda estava estática à porta, cercada por aquele muro,
imaginando se havia a possibilidade de ele me deixar entrar.
— As mulheres são realmente todas iguais! Me confundem com o
fundo monetário internacional, só pode ser isso! Inclusive eu me lembro
quando você me falou, que não precisaria mais de mim, para simplesmente
nada! — arregalei os olhos, coagida por aquelas palavras sarcásticas e
pontiagudas. — Theresa, não. Eu não vou poder te ajudar. Eu não tenho
mais nada com você, muito menos com as suas filhas, para desembolsar
cinquenta mil dólares sem mais nem menos… Quem garante que é verdade
o que está me dizendo?
Ele fez menção de fechar a porta, mas prontamente eu o impedi,
puxando a maçaneta dourada na minha direção.
— Minhas filhas? Elas são as nossas filhas! Você quer o exame de
DNA? A mancha de nascença, pelo visto, não foi o suficiente? Por mais que
você nos renegue e não nos queira mais na sua vida, você precisa entender
que Honey e Chloe foram vidas geradas também por você, e eu não vou
enfrentar essa agonia sozinha.
Eros cruzou os braços, me fuzilando com o seu olhar apático.
— Theresa, você não vai acreditar no que eu descobri na Itália.
Sorri, de maneira impaciente, com esperanças de que ele
finalmente se abrisse comigo.
— Fale de uma vez por todas! — gritei, prendendo o choro em
meus lábios. — Esse assunto mal resolvido está fritando o meu cérebro. Eu
sou capaz de dar a vida, para saber de toda a verdade. Se Pollyana
realmente tiver envolvimento com isso tudo, me fale agora.
— Você não desconfia de nada? — ele me perguntou com a voz
mais calma e cínica que poderia improvisar.
Bufei, exasperada.
— Tem a ver com a herança e com a Pollyana, disso eu sei. —
afirmei, propositalmente, para ver até onde Eros poderia jogar comigo.
Ele arqueou os lábios num sorriso sarcástico, como se
estivéssemos tendo uma conversa amigável, mas, pelo jeito, estávamos bem
longe disso.
— Isso foi um blefe. Eu não tenho nada com a Pollyana e não
pretendo ter nunca mais. Sinto um ódio profundo por aquela mulher. — ao
perceber o meu olhar interrogativo, Eros continuou: — Eu inventei aquela
história, apenas com o intuito de me livrar de você, mas, pelo jeito, foi em
vão. — então ele diminuiu o espaço que nos separava, dando poucos passos
na minha direção. — Na verdade, eu queria te poupar de assunto tão
indigesto deixado em uma carta por meu pai, mas já que você persuadiu o
meu motorista para estar aqui à minha porta, eu vou fazer questão de te
contar cada detalhe, e você que surte com as consequências.
Entreabri os lábios, angustiada.
Por mais cruel que fosse, eu precisava saber dos motivos de Eros
ter nos renegado, ainda que eu desconfiasse de um.
— Então, só pode ser sobre as decisões erradas que a minha mãe e
o seu pai, certamente juntos, tomaram no passado. — arrisquei, mas
convicta.
Eros cruzou os braços, entortando as sobrancelhas, com
perplexidade.
— Caralho. Você já sabia de tudo isso? E não me contou? — ele
perguntou, em meio a um rosnado, antes de desferir um forte soco na
parede.
Dei alguns passos para trás, impactada com aquele gesto
impulsivo.
— Calma, Eros. Eu juntei as peças, são apenas suposições até o
momento. O meu pai, mais uma vez, se negou a se abrir comigo. A única
esperança de saber de toda a verdade, é por meio de sua boca.
Sem que eu esperasse, Eros abriu a porta de maneira impaciente e
esticou o braço me convocando a entrar.
Naquele momento, tirei um peso enorme dos meus ombros, pois,
pelo visto, Eros estava disposto a me ouvir.
Assim que entrei no casarão, Jhonny se aproximou, deixando os
documentos com Eros, que agradeceu entredentes ao motorista.
Esperava que ele não prejudicasse Jhonny por minha culpa, mas,
depois que o advogado deixou um tapinha camarada nas costas do
motorista, fiquei mais aliviada, entendendo que tudo havia ficado bem entre
eles.
Seguimos calados pelo corredor, o mesmo onde Chloe e Honey
haviam chamado Eros de pai pela primeira vez, e aquelas lembranças
angustiantes me atingiram.
Apertei os olhos, disposta a esquecê-las, já que todas as atitudes de
Eros me diziam que ele não voltaria mais a nos amar.
Se um dia ele nos amou…
Então o magnata apontou para o escritório. Desolada, adentrei
aquele lugar elegante, todo decorado em tons de marfim, para me
aconchegar em uma das cadeiras de couro.
Eros se sentou à minha frente e debruçou sobre a mesa, depois de
jogar ali as pastas deixadas pelo motorista.
— Eu preciso ser direto. Tenho muito trabalho pela frente. —
concordei, entendendo que Eros havia voltado à sua rotina reclusa de
trabalho. — A amante de Naibra era a senhora Georgina Adams, a
governanta da casa de praia, a sua mãe.
Levei as mãos à boca e soltei um suspiro profundo, olhando
atordoada ao redor, incapaz de processar o que estava acontecendo.
Ao confirmar a triste realidade, entendia que a minha mãe e o pai
de Eros realmente haviam vivido um romance sórdido e, de maneira
inevitável, as lembranças do dia em que mamãe partiu ressurgiram, me
fazendo reviver a dor de sempre ter sido rejeitada por quem eu amava.
Além disso, constatar que aquela traição grotesca destruiu, não
apenas a minha pequena família, mas também os laços que eu tinha com
Eros, era como uma ferida que continuava a sangrar, mesmo depois de anos
do ocorrido.
— A minha mãe realmente trabalhou em Hamptons, Nova York!
— afirmei, anestesiada e, ao mesmo tempo em que recuperava as
lembranças, Eros revirava um envelope, visivelmente em busca de mais
informações.
— Quando soube, não acreditei na falta de escrúpulos de meu pai e
de sua mãe. Eu nem ao menos desconfiei de porra alguma! Georgina era
amiga íntima de minha mãe, inclusive. — Eros sorriu com revolta. —
Admito ainda que fiquei surpreso, naquele dia no parque, quando você me
falou que conhecia Hamptons, lugar que costuma ser frequentado
exclusivamente por milionários. Não querendo diminuir a sua condição,
Theresa, mas sempre imaginei que não seria o tipo de ambiente que
frequentaria, então eu logo deveria desconfiar da história trágica que nos
unia. Que você era a pequena Tessa que corria pelos cantos de nossa casa.
— Eros falava enquanto caminhava pelo escritório, o envelope pardo nos
dedos e as suas palavras que transbordavam decepção.
Girei na cadeira, para fitá-lo. Não tinha qualquer possibilidade de
ficar de pé, temia as minhas pernas não corresponderem.
— Eu entendo. — assenti, sem forças também para falar. — Não se
intimide em dizer sobre o quanto as barreiras sociais sempre foram uma
realidade nas nossas vidas, mas, na verdade, foram elas que acabaram nos
unindo.
Inevitavelmente, eu me lembrei de um menino mais velho, com um
sorriso gentil e olhos curiosos que pareciam me observar constantemente.
No entanto, essas lembranças estavam completamente borradas e
incompletas, como se fossem apenas flashes de um passado distante, da
época em que eu tinha três, quatro anos de idade.
A ideia de que os meus caminhos e de Eros se cruzaram tão cedo,
antes mesmo de entendermos o significado desse encontro, era tão
perturbador.
Aos quatro anos, eu não compreendia a profundidade dos nossos
vínculos, mas, agora, olhando para trás, entendia perfeitamente o que se
passava nos bastidores do nosso dia-a-dia em Hamptons.
Eros ficou calado com um envelope pardo nas mãos, quando decidi
observar o homem mais detalhadamente, tentando fazer uma conexão com
o Eros de dezesseis anos.
E sem que eu planejasse, recordações do som das ondas
quebrando, do cheiro do mar salgado, de um menino mais velho brincando
na areia fina que se afundava entre os dedos dos meus pés, enquanto eu
corria pela praia ao lado dele, surpreendentemente surgiram, aquecendo o
meu coração.
Essas lembranças, antes obscuras, agora ganhavam um novo
significado, uma sensação de familiaridade ao pensar na figura de Eros
Dirksen.
É como se ele fosse parte integrante da minha história, porém
muitas perguntas e um desejo profundo de desvendar os mistérios do
passado, para entender melhor o que nos unia desde tão cedo, ainda me
intrigavam.
Eros depois colocou a mão por dentro do envelope, retirando de lá
um papel que logo me intrigou.
— Veja essa foto, onde estão Halley, Erika, Jordan, você e eu. — o
meu coração deu um tranque, os meus olhos se arregalaram ao reconhecer a
cena, um nó se formando lentamente em minha garganta. — Você era bem
pequena e certamente não se lembra desse dia. — concordei, me
observando com quatro anos, junto ao pré-adolescente Eros Dirksen, do
qual eu tinha fracas lembranças. Calada, eu observava cada detalhe da
imagem. — Uma das poucas memórias que tenho da sua mãe era que ela
sempre foi uma pessoa excepcional para mim e os meus primos britânicos.
A memória afetiva da geleia de frutas vermelhas que ela fazia! Como eu
não pude perceber que foi a mesma que você fez para mim, quando passou
aqueles dias nesta casa?
Emocionada, relembrei da época que a minha mãe costumava ser
carinhosa comigo.
— A geleia de frutas vermelhas que o meu pai ensinou para a
minha mãe. — completei as palavras de Eros, um sorriso triste brincando
em meus lábios, as lembranças do passado estranhamente se embaralhavam.
Numa visão mais rasa, havia sido momentos felizes, em Hamptons,
mas, na verdade, éramos figurantes de um teatro prestes a desabar.
As peças do quebra-cabeça se encaixando timidamente, enquanto
eu sentia que Eros tinha muito mais a dizer.
Então decidi reunir forças para ficar de pé, quando ele se
aproximou de mim.
— Você tem irmãos, Theresa? — aquela pergunta me pegou de
surpresa, me senti momentaneamente desconcertada diante da mudança
abrupta de assunto.
Dei dois passos na direção dele, ao mesmo tempo em que falava:
— Aonde pretende chegar com essa pergunta, Eros Dirksen? Eu
não tenho irmãos. — respondi, a minha voz soando mais aguda do que o
normal, tentava manter uma expressão neutra em meu rosto, ainda que
começasse a desconfiar das consequências da união de nossos pais.
— Leia você mesma a carta que o meu pai deixou, nesse mesmo
envelope onde encontrei a fotografia.
Segurei o papel nos dedos.
Os meus olhos correram rapidamente para o timbrado com o nome
da família Dirksen, antes de começar a narrar as palavras do falecido pai de
Eros.
Meu amado filho Eros,
Escrevo esta carta carregando o peso de uma vida de erros e
arrependimentos, na esperança de que possa trazer algum alívio para o
fardo que coloquei sobre os seus ombros.
Com o coração pesado, cheio de arrependimento e tristeza por
todo o mal que causei, admito que não há palavras que possam expressar
adequadamente a dor que sinto pelo que fiz, pelo dano que causei à sua
mãe, a você e à nossa família.
Desde o momento em que descobri que meu tempo nesta terra está
chegando ao fim, uma angústia profunda me acompanha, uma culpa que
não posso mais carregar em silêncio. Chegou a hora de eu me redimir, de
buscar o seu perdão por todos os meus erros.
Quando conheci Georgina Adams, jamais poderia imaginar que
nosso encontro desencadearia numa sucessão de eventos que mudariam o
curso de nossas vidas para sempre.
O que começou como uma amizade inocente, rapidamente se
transformou em uma paixão que cegou meus sentidos e me levou a trair a
confiança de sua mãe, se transformando em algo mais profundo, algo que
não pude resistir.
Juntos, em Hamptons, foi onde nossa conexão se fortaleceu e
floresceu em meio às dificuldades e às alegrias da vida cotidiana.
Construímos uma vida à margem dos olhares alheios, e foi lá que
Georgina engravidou, meu filho. Uma notícia que deveria ter nos enchido
de felicidade, mas que, em vez disso, trouxe à tona uma série de desafios e
incertezas.
Georgina deu à luz a uma menina, Eros. Uma pequena vida que,
mesmo antes de nascer, já mudou tudo ao nosso redor. No entanto, após
rompermos e, apesar de todos os meus esforços, eu não consegui mais
encontrá-las e, desde então, tenho vivido o peso da incerteza sobre o
paradeiro de nossa filha.
A falta delas deixou um vazio em minha vida, um remorso
constante que me acompanhou até o fim dos meus dias, junto ao sofrimento
de ter me afastado de você e de sua mãe.
Reconheço agora, mais do que nunca, o quanto magoei vocês e
nossa família, o quanto fui desumano com o marido dela, Alfred Butler.
Peço do fundo do meu coração, que me perdoe por toda a dor que causei.
Eu sei que as minhas palavras não podem ser suficientes para
reparar o que foi quebrado, mas é tudo o que tenho a oferecer neste
momento.
Agora, diante da minha iminente partida deste mundo, reconheço
o impacto dos meus erros e peço perdão, meu filho. Perdão por ter traído a
sua mãe, por ter falhado como pai e como marido. Perdão por não ter sido
o pai que você merecia ter.
Saiba que você tem uma irmãzinha que precisa do amor e do
amparo de sua família. Prometo que farei tudo o que estiver ao meu
alcance para que ela seja cuidada e amada como merece, por isso parte da
fortuna que deixo, deverá ser redirecionada à minha querida filha.
A minha única esperança é que, apesar de tudo, você consiga
encontrar em seu coração a capacidade de me perdoar.
A minha filha, sua irmã, precisa de você. Ela merece amor,
cuidado, uma família.
Que esta carta seja um testamento do meu arrependimento e do
meu amor por você, meu filho. Que você possa encontrar a paz e a cura
para as feridas que causei.
Saiba que estarei sempre ao seu lado, mesmo que não esteja mais
neste mundo.
Com todo o meu amor e remorso,
Seu pai, Naibra Dirksen
Apavorada, joguei a carta no chão, sentindo um forte choro travar a
minha garganta, enquanto depositava o meu olhar de pavor nos olhos
repletos de mágoas de Eros Dirksen.
Naquele momento, eu me vi consumida por asco e, também, por
uma aflição extrema.
Um emaranhado de sentimentos ruins, que só existiam nos
momentos mais terríveis de nossas vidas, esmagava, naquele breve instante,
todos os meus sentidos.
Estava completamente desacreditada que aquelas palavras
manuscritas, num simples papel timbrado, fossem realmente verdade.
Claramente, Eros deveria ter montado todo aquele teatro para me
afastar irreversivelmente da sua vida!
Uma tristeza profunda tomava conta de mim, as palavras de meu
possível pai biológico reverberando nos meus pensamentos, a ponto de eu
cair prostrada de joelhos diante da carta, as lágrimas queimando os meus
olhos, me sufocando com a dura realidade da revelação.
O meu cérebro fritava, tentando processar o significado daquelas
confidências tenebrosas.
Eu, Theresa Butler, mãe das gêmeas de Eros, filha de Naibra
Dirksen?
Agora, eu era confrontada com a devastadora verdade de que Eros,
o homem que amei e com quem compartilhei momentos importantes de
minha vida, era também o meu meio-irmão!
Náusea e angústia se espalharam por todo o meu ser, fazendo o
meu corpo tremer involuntariamente.
Como poderia aceitar que a mesma pessoa com quem planejei um
futuro feliz e criei uma família era, de alguma forma, ligada a mim por
laços sanguíneos tão complexos?
As lágrimas corriam livremente por meu rosto, testemunhando a
dor que o meu coração dilacerado sentia.
O meu peito se apertou, principalmente, quando me questionei,
como poderia seguir em frente a partir de agora?
Como enfrentaria as nossas filhas com essa verdade tão dolorosa?
Cada pensamento era embalado por confusão, me deixando perdida
diante de tantas incertezas e uma dor imensurável.
Naquele momento, tudo o que eu podia fazer era chorar
amargamente pelo destino cruel que nos uniu de maneira tão impensada.
As palavras de Naibra Dirksen eram pesadas como chumbo e,
inutilmente, eu lutava para processar aquela revelação absurda.
Eu me levantei do chão, tentando encontrar firmeza nas minhas
pernas, pois a verdade tão cruel ainda desabava dolorosamente sobre mim.
— Você é o meu… irmão? — as palavras saíram da minha boca
com horror, aquela revelação havia abalado as estruturas do meu mundo.
Eros apenas virou de costas para a janela, a sua figura escura
contrastando com a luz que entrava pelo vidro, como se ele estivesse
tentando esconder o peso das palavras de seu pai.
— Eu queria ter te poupado dessa merda toda. Por que você veio
atrás de mim, outra vez? — ele vociferou, e quando se virou para mim,
parecia mais abatido do que nunca, os seus olhos estavam marejados de
tristeza.
Eu me sentei de volta na cadeira, sentindo um calor insano se
concentrar no meu rosto, enquanto eu tentava assimilar a verdade terrível
que tinha acabado de descobrir.
— Eu estou prestes a morar no olho da rua. Precisava da sua ajuda!
E também queria descobrir os motivos que te levaram a dar as costas para
mim e para as nossas… meninas... — não consegui chamar Chloe e Honey
de nossas filhas, estava muito difícil de aceitar as circunstâncias.
Enquanto eu lutava para conter a avalanche de emoções que
ameaçava me engolir, Eros permanecia ali, calado, como uma presença
sombria no escritório, o seu olhar ainda pesado.
Ele estava sem reação alguma, visivelmente tentando conter a
revolta que inflamava o seu peito.
— Parece que, agora, você tem todas as respostas! — ironizou,
indócil. — Então dá um fora da minha casa, Theresa Adams Butler!
Intimidada pelo olhar constrangedor daquele homem, pelas
palavras ácidas que reverberavam como espinhos, e sem mais o que fazer
naquela casa, eu decidi ir embora, para tentar seguir em frente, mas, quando
eu me ergui da cadeira, uma forte tontura se apoderou de todo o meu corpo.
As minhas pernas vacilaram, uma vertigem aguda tomou conta dos
meus sentidos, enquanto as palavras de Naibra Dirksen, meu pai,
martelavam nos meus pensamentos como um maldito mantra.
O chão pareceu desaparecer momentaneamente sob meus pés, e
meu coração martelou descompassado no peito, como se quisesse escapar
daquela realidade insuportável.
E então, naquele instante em que me sentia numa completa
exaustão emocional, eu ainda tentei manter a compostura, mas, de repente,
tudo ficou escuro e os meus joelhos cederam, me fazendo desmaiar no chão
frio do escritório.
O último pensamento que me ocorreu, antes de perder a
consciência, foi a cruel realidade de que Eros e eu éramos irmãos, e eu
nunca mais poderia contar com a sua presença na minha vida e de minhas
meninas.
***

— Theresa? Acorda, Theresa!


Abri lentamente os olhos, ouvindo a voz grave como um ruído
distante.
Aos poucos, eu recuperava a consciência, quando me dei conta que
estava aninhada contra o corpo de Eros Dirksen.
— Não, eu não quero que você me ampare. Estou com um nojo
tremendo de você. — declarei para Eros, sentindo o asco queimar em meu
peito.
Ele se afastou, obedecendo ao meu apelo e, sozinha, finalmente
consegui ficar de pé, me sentindo incapaz de suportar a sua presença por
mais um segundo sequer.
As minhas mãos cerradas em punhos eram a manifestação física de
todas as minhas angústias.
— Se você não aceitar a minha ajuda, pode vir a se estatelar outra
vez no chão. A Margarida está de folga e não terá ninguém para te ajudar.
— Eros falou, visivelmente preocupado, ainda que os seus olhos revelassem
uma antipatia profunda.
Eu estava tomada por revolta, a ponto de preferir quebrar o crânio
na próxima esquina a receber ajuda do irmão que havia gerado duas vidas
comigo.
— Se não fossem as minhas filhas, eu iria buscar a morte. — gritei
para Eros, sentindo uma lágrima cortante descer por meu rosto. Ele me
avaliava com os lábios cerrados em uma linha. — Eu me relacionei com o
meu próprio irmão, isso é tão asqueroso. Estou tão perturbada que não
consigo encontrar saídas. — fora de mim, eu comecei a desferir socos pelo
tórax de Eros. — Por que você não procurou o seu pai? Por que não
descobriu esse absurdo, antes mesmo de nos relacionarmos? — a minha voz
estava embargada, preenchida por ressentimentos.
Eros ouvia tudo em silêncio, com uma expressão sombria que
refletia a dor e o arrependimento que eu também carregava.
Então ele segurou em meus punhos, deixando que a sua presença
imponente dominasse o espaço entre nós e cessasse o meu ataque de fúria.
Visivelmente, Eros lutava para encontrar palavras que pudessem
amenizar a nossa situação tão terrível.
— Como você quer que eu tente consertar algo que não tem mais
jeito, Theresa? — recebia um tranque no corpo, a cada palavra desferida. —
Aceite a nossa condição e siga com a sua vida, cuidando daquelas crianças,
as quais eu nem consigo mais olhar. É monstruoso pensar que eu fui capaz
de gerá-las. — as palavras de Eros soavam como um golpe, confessando da
maneira mais amarga possível a nossa trágica situação.
Sem saída, eu me encolhi diante da brutalidade das palavras e dos
gestos de Eros, a dor de sua fala cortando profundamente a minha alma.
— Alfred Butler não é o meu pai. Meu querido pai. — constatei,
chorando copiosamente.
A angústia crescia dentro de mim, se transformando em uma dor
insuportável, a ponto das batidas de meu coração me sufocarem.
Eros então se aproximou ainda mais, os seus olhos fixos nos meus,
repletos de uma intensidade que eu mal podia suportar.
— Pai é quem cria, Theresa. Não pense que vocês não possuem
mais vínculos depois dessa revelação, afinal de contas laços familiares não
se definem apenas pelo sangue, mas também pelas experiências
compartilhadas e pelo amor dedicado ao longo do tempo. — Eros tentava
me confortar, mas as suas palavras apenas agravavam a minha dor,
especialmente por me fazerem questionar, se era uma sugestão velada do
magnata, para que eu encontrasse outra figura paterna para as minhas filhas.
Inconsolada, eu me afastei dele, retirando os meus punhos ardidos
de suas mãos brutas.
— O meu pai vai definhar ainda mais, depois que souber de toda
essa lástima. — o peso da verdade me oprimia, um fardo insuportável que
eu não tinha ideia de como carregar. — Naibra Dirksen roubou a vida da
sua mãe e agora está prestes a arruinar também a vida do meu pai.
Eros permaneceu em silêncio, depois caminhou até a mesa do
escritório, pegou o celular e dedilhou na tela por alguns segundos.
Em seguida, abriu a porta para me apontar o corredor.
— Preciso ficar sozinho. Já transferi cento e cinquenta mil dólares
para a sua conta, pague a hipoteca e cuide da saúde de Alfred. — a atitude
supostamente nobre de Eros Dirksen só aumentou ainda mais o meu asco
por ele.
— Comprou a sua paz? Isso parece tão simples para você! — o
ressentimento transbordava em cada palavra que eu proferia. — Os dólares
resolverão sim os meus problemas financeiros e contribuirão no tratamento
de meu pai, isso é inegável, mas nenhum dinheiro será capaz de me
amparar, diante da dor de criar sozinha as filhas que gerei com meu próprio
irmão, e nem me oferecerá o suporte afetivo e psicológico que tanto
preciso.
Eros bateu a porta do escritório num forte estrondo, fechando-a
novamente, para depois avançar sobre mim.
— Não inferiorize as minhas dores, Theresa. Eu sinto náuseas e
tenho acessos incontroláveis de vômito, quando me lembro que me envolvi
romanticamente com a minha própria irmã, com a qual compartilhei a
criação de minhas filhas, e me apaixonei, admirando cada aspecto dela,
desejando como mulher. — aquelas palavras acabaram com o último fio de
sanidade que ainda restava em mim. Eros revelava as suas dores que
acabavam sendo reflexo das minhas próprias agonias. — Por que você acha
que estou há duas semanas em casa, sem conseguir ir para a empresa? A
solidão insiste em ser a melhor companhia. Agora, pasme, eu também estou
desamparado, ainda que tenha milhões de dólares transbordando em minha
conta.
Caminhei aleatoriamente pelo escritório e me sentei na poltrona de
suede ao lado da estante de livros, me dando conta que, aquele assunto
sobre dinheiro, acabava me despertando ainda mais gatilhos.
— Eu não quero a herança do seu pai. — a minha voz rouca
protestou contra as intenções de Naibra Dirksen.
Eros me fuzilou com o seu olhar.
— Aceite, Theresa. O meu pai também é o seu pai. — a verdade
crua e indigesta perfurando o meu coração.
Levei as mãos ao rosto, nervosa.
— Isso é tão absurdo. Eu preciso vencer o orgulho e os traumas, e
conversar o quanto antes com a minha mãe sobre esse filme de terror. — as
palavras saíram trêmulas dos meus lábios, recheadas de uma angústia
insuportável. — Posso ser ingênua, mas tenho esperanças de que apenas a
minha mãe nos trará tranquilidade diante desse maldito pesadelo.
Com os olhos fechados, transbordando de lágrimas, apenas senti o
perfume importado se adiantando, os sapatos italianos do magnata se
aproximando ainda mais de mim.
— Você sabe onde a sua mãe mora? — a curiosidade de Eros era
clara.
Volvi lentamente os meus olhos vermelhos e inchados na direção
dos soturnos dele.
— Sim, eu sei onde Georgina mora. Eu já recorri àquela mulher
diversas vezes, mas ela simplesmente me ignorou, fechando a porta na
minha cara, como se eu tivesse cometido algum crime contra ela. —
expliquei, engasgada por meus traumas, enquanto Eros se esforçava para
não sentir compaixão por mim. — Eu me lembro perfeitamente do dia em
que ela fugiu com o seu pai, maldito Naibra, no dia do meu aniversário.
Tudo indica que antes ela me criava junto a você e seus primos, numa
normalidade enganosa, como se eu fosse apenas a filha da empregada, no
entanto ela já sabia que eu era a filha de seu patrão. — as memórias
surgiam como fantasmas do passado, me assombrando sem dó nem piedade.
Eros colocou as mãos nos bolsos e começou a vagar com passos
lentos pelo escritório, como se estivesse buscando mais fragmentos para a
nossa pilha de desilusões.
— Georgina Adams convivia com a minha mãe, como se fossem
melhores amigas, mas ela já estava se relacionando às escondidas com o
meu pai, gerando uma vida com ele, e trazendo o fruto dessa traição para o
nosso convívio. — as palavras dele eram como punhais, perfurando a
armadura frágil que eu havia construído para vencer as minhas batalhas. —
Depois, resolveram viver juntos e assumir esse romance patético. — ele
sorriu, com ódio, quando eu resolvi desabafar sobre os questionamentos que
me perturbavam.
— E eu tenho tantas perguntas sem respostas! Por que Georgina e
Naibra resolveram assumir o romance, e a minha mãe fugiu para viver com
ele, me deixando para trás? — interrompi Eros, angustiada para saber de
todos os detalhes. — Por que o seu pai disse na carta que queria me
encontrar, se a minha própria mãe me abandonou? O que Georgina poderia
ter dito a Naibra, quando me deixou com o meu pai, Alfred?
Eros então virou de costas para a janela, parecendo buscar
respostas no horizonte além do vidro.
— O seu pai Alfred pode ter impedido a sua mãe de te levar com
ela, já que, aos olhos dele, você é a filha legítima dele. — Eros tentava
encontrar uma explicação para o abandono que havia trazido mágoas
infinitas para a minha vida.
Logo fiquei de pé, e senti o chão de carvalho flutuar sob os meus
pés, então me adiantei para me apoiar no encosto de uma cadeira, antes que
eu voltasse a cair feito uma fruta madura.
— Georgina e Naibra fugiram já sabendo da minha existência e,
depois que romperam, o seu pai deve ter se arrependido, e tentado todos os
meios para me buscar. — refletia, tentando juntar os fragmentos de um
passado distorcido, buscando compreender as motivações por trás das ações
de Georgina e Naibra, porém parecia que todo o esforço era em vão.
Eros então se aproximou de mim e, ao olhá-lo mais atentamente,
eu vi a dor do passado sobre os seus ombros, eu tive pena dele,
inevitavelmente eu experimentava sentimentos pelo magnata, os quais eu
desconhecia até então.
— Se você tem contato com a sua mãe, melhor tirar todas as
dúvidas com ela, Theresa. — Eros sugeriu uma solução que eu relutava em
aceitar, mas que parecia inevitável.
Em seguida, ele pegou um charuto sobre a mesa, acendendo-o com
gestos automáticos, talvez buscando alguma forma de conforto no tabaco.
Fiquei por segundos fitando a carta no chão, a fotografia da
infância tão feliz, que agora soava como um prenúncio de um pesadelo,
jogada sobre a mesa.
O sorriso inocente e despreocupado naquela imagem contrastava
cruelmente com a terrível revelação contida na carta deixada por Naibra
Dirksen.
Ainda hesitava diante da proposta de reencontrar a minha mãe.
Eros permanecia tragando o seu charuto, esperando que eu cedesse para nos
aprofundarmos ainda mais naquela espécie de “caixa de Pandora”.
Fiquei por minutos reflexiva, ponderando toda a situação cruel que
nos envolvia, quando resolvi me posicionar, finalmente.
— Eu preciso ir embora, eu vou em busca do passado. Realmente,
é o melhor a ser feito. — a urgência tomava conta de mim, a necessidade de
confrontar a minha mãe e conseguir as respostas me obrigavam a sair dali.
As minhas mãos tremiam enquanto dobrava a carta, depositando-a
com cuidado sobre a mesa.
— Decidiu então ir à casa de sua mãe? Eu te levo até lá. — Eros se
ofereceu para me acompanhar, em meio ao caos que se abatia sobre nós.
Ele pegou a chave de um dos seus carros, na primeira gaveta da
escrivaninha, e apagou o charuto no cinzeiro de prata.
— Melhor mesmo que você me acompanhe, afinal de contas está
nessa tempestade comigo, Eros Dirksen. — aceitei a oferta do magnata,
entendendo que eu precisava do seu apoio físico, e não apenas do
financeiro, já que cada passo em direção à verdade me deixava
completamente assustada.
— Fique à vontade, Theresa. Eu vou colocar uma roupa decente.
Assenti, me jogando na poltrona, observando o meu meio-irmão
sair do escritório, apenas de calça de moletom.
Depois que Eros retornou, impecavelmente vestido em um terno
preto, saímos juntos da mansão.
Ali, eu entendia que a nossa história estava entrelaçada de uma
maneira que jamais poderíamos imaginar.
Era completamente surreal estar diante de desafios que
aparentemente não tinham solução, apenas a tendência de exterminar cada
vez mais a paz de nossas vidas.
Eros, apesar de sua habitual postura firme, mostrava sinais de
fragilidade, enquanto dirigia. Os seus olhos pretos carregados de uma dor
que refletia no meu próprio peito.
Sabíamos que o reencontro com Georgina seria difícil, mas eu
estava determinada a enfrentá-la, em busca de respostas ou, talvez, até
mesmo de algum suporte para conviver com a dor absurda que eu sentia.
Juntos, seguimos no carro, em direção a mais aquele doloroso
encontro, que poderia mexer ainda mais com as nossas vidas.
Eros, ao meu lado, infelizmente parecia um completo estranho.
Naquele momento em que atravessávamos a cidade, já era noite, e
eu tentava anular todos os sentimentos que sempre senti por ele.
Mágoa e repúdio se transformavam em um abismo imenso, que me
afastava instantaneamente de Eros Dirksen, sem falar na grande tristeza por
sustentarmos laços familiares tão íntimos.
Perceber que não apenas mantive um relacionamento com meu
próprio irmão, mas também gerei duas filhas com ele, sem sequer suspeitar
da verdade, me deixava angustiada, me obrigando a depositar todas as
esperanças apenas na versão que a minha mãe nos contaria.
Cada memória feliz que compartilhamos, cada momento de amor e
intimidade, agora eram tingidos por puro arrependimento.
A sensação de ter vivido uma mentira, não apenas pela descoberta
do relacionamento proibido, mas principalmente por termos gerado duas
lindas meninas, fazia com que uma terrível culpa me sufocasse, pois eu não
poderia deixar de reconhecer que eu também havia contribuído para que
essa tragédia acontecesse.
Naquele momento, eu me culpava, pensando que deveria ter
insistido mais com meu pai Alfred, para que ele me revelasse toda a
verdade, ter sido mais incisiva e persistente, e não ter descansado até que
ele me contasse todos os segredos do passado.
Agora, era como se o meu mundo tivesse desabado ao meu redor,
me deixando à mercê de uma dor insuportável e de um futuro
completamente obscuro.
Suspirei, imersa nos pensamentos que me visitavam, observando o
anoitecer pela janela.
Aquela estrada de pedras não me trazia boas lembranças. Todas as
vezes que eu atravessava aquele caminho estreito, eu tinha certeza que não
encontraria coisas boas pela frente.
Sempre a indiferença, o rancor e a rejeição vinham me atormentar,
quando eu decidia reencontrar a minha mãe e, agora, ao lado de Eros
Dirksen, o meu meio-irmão, eu gostaria de saber até onde poderia ir a
prepotência dela.
Eu precisava que Georgina Adams me confessasse toda a sua
história imunda, que violou com tantos sonhos e vidas, trouxe
desesperanças e um trauma horrendo o qual eu levaria pelo resto da vida, ao
refletir sobre a origem de minhas filhas.
No fundo de meu íntimo, eu torcia para ser acordada daquele
pesadelo insuportável, e me desse conta de que tudo não havia passado de
um ledo engano.
— Chegamos muito mais rápido do que imaginei. — disse, para
Eros, no momento em que avistei a casa branca de dois andares.
O homem prontamente estacionou próximo à calçada e, ansiosa, eu
aproveitei para desafivelar o cinto, quando ele tocou na minha mão,
impedindo que eu também saísse do carro.
— O que pretende fazer? — perguntei, curiosa.
Eros então me dirigiu um olhar decidido, que entregava que ele já
havia arquitetado cada detalhe na sua mente.
— Caso a sua mãe te veja, é provável que se recuse a abrir a porta,
por isso eu acho mais prudente que fique no carro, aguardando até que eu
consiga falar com ela.
Concordei, observando Eros se afastando aos poucos.
No momento em que ele caminhava lentamente na direção daquela
casa, que mais se parecia com um mausoléu, um mal-estar consumiu todos
os meus sentidos.
Atordoada, eu cruzei os dedos, emanando todo tipo de energia
positiva para que Eros conseguisse a atenção de minha mãe.
Através do vidro fumê do carro, eu fiquei observando o homem
estático à porta.
Já havia se passado alguns minutos, desde o momento em que
chegamos, e quando as minhas esperanças pareciam ter evaporado, eu vi,
finalmente, a porta se abrindo, me apresentando a imagem sórdida de
Georgina Adams.
Ansiosa, eu deixei o veículo e corri a tempo de ouvir ela dizendo:
— Eros Dirksen?
— Não vá me dizer que me reconheceu? — Eros respondeu,
surpreso, enquanto eu observava a troca fria de olhares entre os dois.
— Eu vejo o rosto de Vanessa Dirksen no seu rosto. Vocês dois não
carregam apenas a mesma mancha de nascença. — a voz dela soou calma,
mas havia algo nos seus olhos que eu não conseguia decifrar.
E Eros, ao ouvir a minha mãe tocando no nome de Vanessa, cerrou
os punhos, visivelmente afetado por toda aquela audácia.
Logo em seguida, a mulher levou os olhos aturdidos aos meus,
claramente em choque por não ter conseguido evitar a minha presença,
daquela vez.
— Tessa?
— Só assim para a senhora abrir a porta para mim, por intermédio
do filho de seu amante. — a minha voz saiu carregada por mágoa, enquanto
a minha mãe me encarava com um olhar altivo.
Apenas senti a mão reconfortante de Eros em meu ombro, como se
ele me pedisse por calma.
— Vocês resolveram resgatar a infância e reviver os momentos da
época de Hamptons? Uau, que nostálgico! — Georgina proferiu com ironia,
a sua expressão impassível como sempre.
E, inevitavelmente, a acidez na sua voz me irritou ainda mais, as
minhas mãos tremeram de nervosismo, porém eu precisava controlar os
ânimos e seguir em frente, tentando encontrar as palavras certas.
Muita coisa estava em jogo e, naquele momento, eu não poderia
falhar.
— Eu só estou aqui com o Eros, porque preciso compartilhar uma
notícia bombástica com você.
Georgina apenas sorriu, ajeitando o xale preto nos ombros,
desdenhando da aflição que escapulia por meus gestos.
— Se for para me dizer sobre a morte de Naibra Dirksen, podem ir
embora, eu já soube de tudo pelos sites de fofoca. — a frieza em suas
palavras nos atingiu em cheio, a ponto de Eros bufar, prestes a respondê-la à
altura, mas eu decidi não recuar.
Com o dedo em riste, eu a enfrentei.
— Como assim, podem ir embora? Você nunca quer me ouvir!
Nem ao menos se incomodou em abrir a porta uma única vez para mim!
Não te interessa saber por que eu te procuro? O que foi que eu te fiz, para
merecer tamanho desprezo? — a dor da rejeição e da indiferença
transbordava em cada sílaba que eu proferia, eu tentava desesperadamente
entender as razões de minha mãe, mas era praticamente impossível.
Então ela, com o mesmo olhar apático que me desferia desde o
primeiro momento, ousou dizer:
— Eu falhei como mãe, e isso é algo que nunca poderei desfazer,
menina. Desde o momento em que nasceu, você foi apenas mais um fardo
para mim, uma responsabilidade que eu nunca quis assumir, porque eu
nunca amei o seu pai, Alfred. — inspirei lentamente, arrasada com aquele
banho de realidade, ainda que ela tenha afirmado que o meu pai era Alfred e
não, Naibra. — Eu não pedi por você, não desejei ser mãe, e a sua presença
sempre foi um lembrete constante do meu fracasso e das minhas próprias
limitações.
O meu coração doeu diante da brutalidade das palavras de
Georgina, mas eu sabia que precisava me manter firme.
Então Eros prontamente cochichou algo no meu ouvido, que eu
não consegui ouvir, mas tudo indicava que ele me pedia para irmos embora,
porém os sentimentos amargos de minha mãe não seriam suficientes para
que eu recuasse.
— Não existe amor algum entre nós, e nunca existirá. Também te
considero apenas uma lembrança incômoda de um passado distante, que eu
prefiro apenas esquecer. — respondi à altura, sentindo a minha voz
carregada de anos de ressentimentos acumulados, porém não foi o
suficiente para intimidar Georgina.
Ela sorriu e deu de ombros, tudo para diminuir a minha dor.
— Então siga em frente, Tessa, porque eu já segui. — a mulher nos
deu as costas, prestes a adentrar a casa, mas Eros puxou no seu ombro,
retirando um olhar furioso dos olhos azuis que eram simplesmente idênticos
aos meus. — O que foi? O que vocês querem comigo? Eros veio me culpar
pela morte de seu pai, como você sempre fez, pela morte de Vanessa?
Eros não conseguiu conter a fúria, quando decidiu responder
àquela afronta.
— Eu não admito que fale o nome da minha mãe! Se você nunca
foi capaz de respeitá-la em vida, pelo menos respeite a memória dela! É tão
difícil assim, ter um pouco de empatia ou mostrar o mínimo de caráter? — a
voz dele tremia de raiva, os olhos faiscando de indignação.
A minha mãe então desviou o olhar, visivelmente inabalada diante
de qualquer coisa que a gente dissesse.
— Doutor Eros Dirksen, a minha amizade com a sua mãe, sempre
foi muito sincera. Eu me apaixonei pelo seu pai, porque nunca tive nenhum
domínio sobre os meus sentimentos. Naibra foi o homem mais nobre e
determinado que já conheci em toda a minha vida.
Inevitavelmente, eu pensei no meu pai, no pobre Alfred, tão
bondoso e resiliente!
A falta de respeito e consideração que a minha mãe sempre
demonstrou por ele me incomodou profundamente, a ponto de eu explodir
em um forte grito:
— Você é podre! O meu pai, apesar de ser um homem simples e
sem muitas perspectivas, com toda a certeza tem muito mais valores que
Naibra Dirksen! Alfred Butler é nobre e rico, e eu não estou falando sobre
dinheiro! — a minha voz saiu firme, embora por dentro eu estivesse em
frangalhos.
Eros nos observava com pavor, claramente assustado com toda a
aspereza e amargura de minha mãe, que não hesitava em usar palavras
cortantes para me humilhar.
— Alfred, francamente, nunca demonstrou caráter, inclusive mal
soube educá-la, Tessa. — um sorriso sarcástico e maldoso brincou nos seus
lábios. — Uma menina arrogante e limitada, que não reconhece o seu lugar.
Levei as mãos ao rosto, angustiada com aquela enxurrada de
palavras dolorosas.
Eros, ao perceber toda a carga insana de ressentimentos que me
atingia, logo interveio:
— Nós viemos até aqui, não porque sentimos algum tipo de
consideração por você ou porque estamos pretendendo resgatar vínculos,
mas porque eu descobri, por meio de uma carta que o meu pai deixou,
minutos antes de morrer, que Theresa e eu somos irmãos.
A revelação de Eros logo nos envolveu em um silêncio pesado.
A minha mãe levou a mão contra o peito, dando dois passos para
frente, finalmente fechando a porta nas suas costas.
— Irmãos? — ela parecia atordoada, incapaz de processar a
magnitude da revelação.
Então, calada, ela desviou o olhar, visivelmente perdida nas suas
lembranças, ao passo que Eros e eu nos entreolhávamos ansiosos por
respostas.
— Precisamos saber de detalhes sobre essa história patética entre
você e Naibra, por mais que isso possa ferir os meus sentimentos e também
os meus ouvidos. — despejei, indócil.
A mulher então relaxou os ombros, o seu olhar se perdendo no céu
estrelado. Finalmente, parecia afetada pela situação.
— Naibra sempre me fez entender que ele me admirava além da
minha profissão. Ele era um homem firme e doce ao mesmo tempo. Ele era
justo, me elogiava, me presenteava em segredo e me ajudava sempre com
valores além do meu salário. — as palavras de minha mãe eram como uma
tentativa desesperada de justificar os seus erros, mas eu não estava disposta
a aceitar as suas desculpas.
Eros, ao meu lado, não conteve a sua revolta:
— Naibra é um canalha imundo e a senhora não é diferente disso.
— ele murmurou entredentes, a sua raiva transbordando em cada sílaba.
Georgina prontamente arregalou os olhos, impactada com as
palavras do filho de seu amante.
— Não me odeie, menino. A sua mãe sempre me amou tanto,
afinal de contas eu sempre cuidei de você e dos pestinhas dos seus primos
com muito zelo e paciência. — ela tentou apelar para a compaixão de Eros,
mas era tarde demais para isso.
Aproveitei a oportunidade para tocar nas feridas do passado que se
abriam espontaneamente no meu coração.
— Mas a mim, você abandonou! — afirmei, com ódio, sem evitar
a dor em minha voz trêmula. — Foi capaz de me deixar, no dia do meu
aniversário!
A minha mãe suspirou, como se tudo fosse óbvio:
— Claro que sim, Tessa, eu te abandonei. Alfred já estava
desesperado com a minha partida, e eu precisei ponderar se te levaria
comigo ou não. — as palavras de minha mãe me cortaram como facas
afiadas, revelando a crueldade de suas escolhas.
Baixei os olhos, me sentindo um verdadeiro lixo, ao mesmo tempo
em que sentia o afago de Eros em meu ombro.
— E quando foi que você e Naibra começaram com esse
relacionamento imundo? — Eros despejou, visivelmente ansioso para que
aquela interação tão indigesta tivesse logo um fim.
A minha mãe pausou, reflexiva, remexendo nas memórias,
buscando por respostas.
— Eu realmente não me lembro. Foi tudo tão natural. Talvez no dia
que Vanessa viajou com as amigas para Paris, e o seu pai sofreu um
acidente e eu cuidei dele? — a indiferença na voz de Georgina era
assustadora e infame, uma confirmação de que ela não sentia remorsos por
ter ultrapassado todos os limites do caráter.
— O maldito quebrou o pé numa manobra arriscada no jet-ski e
trombou num banco de areia. — Eros recordou amargamente.
Georgina então concordou, ajeitando os cabelos loiros por trás da
orelha.
— Foi exatamente nessa época que Naibra percebeu que os meus
cuidados eram mais valiosos que os de Vanessa. — ela confessou,
demonstrando coragem para falar algo ainda mais venenoso.
Com toda a certeza, a mulher tinha o intuito de ferir Eros da
mesma maneira que agia comigo.
Ao presenciar tanta amargura destilada nas palavras de minha mãe,
entendia que era exatamente como o meu pai me dizia, que Georgina
apenas oferecia o que ela carregava no seu coração.
Senti o meu cérebro latejar, a minha cabeça estava prestes a
explodir diante de tantas revelações que estavam obscuras, até então.
— Eu já era nascida nessa época? — decidi me fazer de
desentendida para especular a respeito de minhas origens.
Georgina, por sua vez, logo me olhou com desdém.
— Lógico que não, tolinha. Naibra e eu começamos a nos
relacionar antes mesmo de você nascer, mas infelizmente eu já havia dito
“sim” para o homem errado.
Eros bufou ao meu lado, intrometendo os dedos nos cabelos,
certamente compartilhando dos mesmos pensamentos que eu.
Era uma possibilidade real que a história de sermos irmãos
estivesse prestes a se confirmar.
— E depois que você fugiu com Naibra, se deu conta que estava
fazendo a escolha certa? — aproveitei para perguntar sobre o que eu sempre
tive curiosidade.
Com um sorriso disfarçado, a mulher umedeceu os lábios,
ensaiando as palavras, mas logo foi interrompida por Eros
— Eu duvido! Se não estariam juntos até hoje! — ele interveio
com a sua típica assertividade, sem evitar a ironia transparecendo em cada
sílaba.
Georgina revirou os olhos, fazendo um pequeno nó no xale.
— O amor que nasceu entre mim e Naibra foi algo extremamente
avassalador, a ponto de nos deixar cegos, sedentos por uma vida aberta,
onde ninguém nos julgasse. Mas pelo jeito Vanessa e Alfred não suportaram
essa realidade. Depois que eu parti para viver ao lado de Naibra, em
Hamptons, Nova York, eu pensei que finalmente viveria em paz, mas
Alfred me perseguiu até conseguir que o pior acontecesse.
Eros e eu trocamos olhares confusos, estávamos preocupados com
o desenrolar daquela história que envolvia amargamente as nossas vidas.
— Quer dizer então que o meu pai foi atrás de vocês? — indaguei,
curiosa, tentando assimilar as surpreendentes revelações que a minha mãe
nos fazia.
— Alfred foi até Hamptons e arruinou tudo. — finalmente, eu senti
tristeza na voz de minha mãe. — Eu dei à luz a uma menina e precisei fugir
com ela, pois o seu pai ameaçou tirá-la de mim e de Naibra, alegando que
eu jamais poderia formar outra família. Houve um confronto entre Alfred e
Naibra, e o seu pai acabou sendo ferido no rosto com um canivete, Tessa.
— as palavras dela caíram sobre mim como uma avalanche, cada uma mais
pesada que a outra, a dor da verdade cortando profundamente o meu
coração.
Volvi os meus olhos banhados nos olhos negros de Eros e ele
estava visivelmente perplexo.
As nossas esperanças se desfaziam junto às malditas confissões.
— A cicatriz no supercílio de meu pai. — concluí, olhando
atordoada para Georgina, cobrando respostas dela. — E essa menina era eu?
O meu pai, Alfred, fez tudo isso para me criar longe de vocês dois? — os
meus pensamentos voavam, tentando assimilar toda a informação chocante
que estava recebendo.
Eros, com um olhar preocupado, nem sequer piscava os olhos
diante de nosso acerto de contas.
— Não era você, tolinha. Naibra e eu geramos Angelica, mas
Alfred tomou a bebê de nossos braços, mas ele não imaginava que Angelica
tinha uma doença degenerativa e veio a falecer, com cento e trinta e seis
dias de vida, sob os cuidados dele. — ela concluiu, com a voz entrecortada.
— Angelica morreu por culpa do egoísmo de seu maldito pai! Ele não fez
simplesmente nada para salvá-la!
Fiquei boquiaberta, sentindo o chão afundar devagar sob os meus
pés.
O que a minha mãe me contava fazia com que tudo mudasse de
figura.
Estávamos tão vulneráveis, buscando soluções, e ainda com
esperança de que nossos sonhos não fossem interrompidos por aquela
grande desgraça, que facilmente acreditávamos em tudo o que ela nos dizia.
Logo me assustei, quando Eros deixou um forte soco na parede da
casa.
— Santo Deus, não somos irmãos! — a voz dele refletindo o nosso
próprio alívio. — Esse Inferno acabou!
Georgina sorriu, me avaliando com desprezo.
— O sangue dos Dirksen não corre nas suas veias, Tessa. Se você
pretendia tirar algum proveito disso, sinto muito te decepcionar. —
Georgina nos encarava com frieza, porém ela não sabia que não ser uma
Dirksen, era sinônimo de alívio e cura para todos os nossos problemas.
Eros então segurou na minha mão e deixou um beijo rápido sobre
ela, como se estivesse comemorando que não tínhamos quaisquer laços
sanguíneos, ainda que não tivéssemos o que comemorar, diante de
revelações tão tristes.
— E por fim o meu pai nunca mais soube do paradeiro dessa bebê?
Caralho, nós pensamos que ela fosse a Theresa. — Eros confessou
visivelmente angustiado.
Georgina fez uma negativa com a cabeça, negando o que mais
tínhamos medo.
— Naibra Dirksen sempre foi muito generoso, mesmo depois de eu
ter me afastado dele e, após Alfred ter nos levado a bebê, o seu pai fez
questão de me pagar uma pensão vitalícia. — Georgina revelou mais um
pedaço do quebra-cabeça, as suas palavras tinham a intenção de clarear o
passado, mas acabaram tornando tudo ainda mais turvo.
— E você comprou esse mausoléu. — acrescentei, completamente
amarga, cheia de ressentimentos pelo desperdício de recursos em uma vida
de luxo vazia, enquanto o meu pai e eu definhávamos dia após dia, em
busca de qualquer tipo de dignidade.
Então, a mulher me encarou com asco, mas não havia nada de
novo nas suas atitudes comigo.
— Estranhamente, Naibra não chamou a polícia para buscar pelo
paradeiro da criança, deixou por isso mesmo? — Eros decidiu perguntar,
retirando imediatamente um olhar de desconforto de Georgina.
— Naibra não teria coragem de tirá-la de mim. Ele não sabia que
Angelica estava com Alfred, pensou que estivesse comigo. — Eros
concordou, fingindo entender o que ela dizia. — Por longos anos, eu
precisei morar no México, sozinha e em silêncio. Eu fugi da ira de Alfred e,
por isso, Naibra nunca mais soube do meu paradeiro. Quando tudo se
acalmou, eu retornei para a Califórnia, onde sempre morei, e então eu
descobri, por Alfred, que a bebê havia nos deixado.
Eros olhava para a minha mãe com extrema reprovação, quando,
estranhamente, eu não conseguia me lembrar de forma alguma de meu pai
com essa bebê.
— Naibra nunca soube da doença de Angelica. — a mulher
continuou, enquanto eu estava me sentindo terrivelmente destruída diante
daquelas confidências. — Ela desenvolveu a gravíssima doença
degenerativa depois que fugimos juntas, sob a ameaça de Alfred. Eu sempre
senti muito medo do seu pai, Tessa, por isso eu decidi inclusive não me
reaproximar de você e passar longos quinze anos na Cidade do México.
Arregalei os olhos, impactada com aquela afronta.
Apesar de confissões tão tristes, eu deveria defender o meu pai.
— Falsa! — vociferei, ignorando as tristezas que vivia naquele
momento. — Eu conheço a índole de meu pai, ele jamais faria qualquer
atrocidade para te prejudicar, a ponto de te impedir de se aproximar de mim.
Se você me renegou, a culpa e as intenções foram exclusivamente suas. Não
ouse manchar a honra do homem que me criou com tanto amor, carinho e
respeito, com as suas próprias desgraças.
Fiquei aliviada, depois de jogar aquelas verdades na cara cínica de
minha mãe, que me encarava com um sorriso sarcástico nos lábios.
Ainda assim, o meu coração estava pesado, diante de toda aquela
enxurrada de informações, principalmente ao saber que existiu outra
menina além de mim.
Quando me dei conta, lágrimas cortantes desceram por meus olhos.
A carga emocional extremamente pesada esmagava qualquer fio de
sobriedade.
— Melhor irmos embora. Não temos mais nada para fazer aqui. —
Eros me disse e, ao perceber o quanto eu estava arrasada, ele tocou nas
minhas costas, para me guiar na direção do carro.
Deixei um último olhar de rancor nos olhos de minha mãe e,
conforme atravessávamos o terreno, apenas ouvimos a porta batendo num
forte estrondo.
— Apesar de ser uma das histórias mais toscas, e ao mesmo tempo
tristes, que já ouvi, pelo menos eu me sinto aliviado por ter existido outra
menina. — Eros me abraçou, colando cada centímetro de seu corpo ao meu.
— Eu te peço perdão por tudo o que te falei, a maneira como eu escolhi me
afastar de você, Theresa. Infelizmente a única solução que eu enxerguei foi
a de substituir todo o amor por repulsa. Eu estava desesperado, apenas por
imaginar que você era a minha irmã e o quanto eu te amava. Eu me senti
completamente louco, perdido, me odiando. Nunca soube ao certo se eu já
te amava ou era apenas paixão, mas bastou a impossibilidade de te tocar,
para compreender a profundidade desse sentimento, no qual eu já estava
inteiramente imerso.
O céu nos brindava com uma lua nova e a sua imensidão de
estrelas e, ainda hesitante, eu segurei no rosto quadrado daquele homem,
para afastá-lo um pouco e assim nivelarmos ainda mais os nossos olhares.
— Eu te perdoo, sim, Eros Dirksen, afinal eu te amo tanto! —
confessei, emocionada, ainda que eu não estivesse plenamente segura com
o desfecho de nossa história. — Você me perdoou por algo bem pior, não é
mesmo? Quem sou eu para fazer charme a essas alturas? E, na verdade,
você rejeitou a ideia de sermos irmãos, e não exatamente a mim e as
meninas, pois eu me lembro muito bem da maneira amorosa que acolheu as
nossas gêmeas, quando soube que era pai. — Eros assentiu, aliviado,
contornando o meu rosto com o polegar. — Eu só preciso conversar com o
meu pai, para seguir em frente, sem quaisquer pendências. Definitivamente,
eu não confio em Georgina. Ela me odeia, afinal ela não tem mais a filha
Dirksen, como sempre sonhou, mas a Butler, filha de seu pior desafeto. É
bem possível que ela tenha inventado essa história mirabolante para deixar
bem claro que não somos irmãos, e eu não me beneficiar com a herança. —
ponderei, buscando compreensão nos olhos negros de Eros. — Além de
tudo, ela não sabe nada sobre o relacionamento que tivemos e sobre nossas
filhas gêmeas, se não pensaria em nos prejudicar de alguma maneira.
— É lógico. Você tem razão. — ele concordou, aflito, mordendo os
nós dos dedos. — E se ainda restarem dúvidas sobre as nossas origens, após
conversarmos com o seu pai, podemos realizar um exame de DNA.
Neguei, veemente.
— Apesar do meu pai ter me escondido tantas situações, inclusive
a morte de nossa irmã, eu entendo que foi para me proteger. Eu tenho
certeza que ele vai nos contar a verdade, até porque eu não acreditei em
muitas coisas que Georgina nos disse, mas preferi economizar as energias e
não travar mais um embate com ela.
Eu vi a aflição escapulir por cada gesto de Eros. Por mais que
quiséssemos nos livrar o quanto antes daquele labirinto de informações
desencontradas, parecia que a nossa paz estava cada vez mais distante de
ser alcançada.
— Santo Deus. Claramente, ela só falou o que convinha. — Eros
acrescentou, e eu me senti ainda mais enojada com a personalidade de
minha mãe. — Eu prometo confiar em Alfred, da mesma maneira que você
confia nele.
Dei um sorriso fraco de alívio e depois seguimos finalmente para o
carro, entendendo que a versão que o meu pai nos contaria seria o último
obstáculo que ultrapassaríamos para, finalmente, ficarmos juntos como uma
família.
Meu Deus, como eu sonhava com um final feliz!
Estava na padaria ao lado de meu amigo Roosevelt, comprando
pão, cookies, suco de laranja e um bolo inglês, quando ele afagou
amigavelmente o meu ombro.
— Então você está decidido a conversar com Alfred, hoje mesmo?
Levei as compras na direção do caixa, me dando conta que estava
com a roupa da academia e nem daria tempo de passar em casa, para trocá-
la, afinal eu não tinha tempo a perder e precisava resolver o quanto antes,
todos os malditos imbróglios.
— Foi exatamente o que a Theresa me sugeriu. — falava enquanto
a atendente passava as compras no leitor de código de barras. — Eu
realmente acho mais prudente que a gente ouça a versão do Alfred e não
acredite inteiramente nas palavras de Georgina. Ela é uma mulher
maquiavélica, sórdida e não há garantias de que ela possa estar
manipulando situações para alegar que Theresa não é a filha de meu pai.
A atendente me informou o valor da compra, e eu peguei o cartão
para pagá-la.
— Que merda, cara. Você corre o risco de ser irmão da Theresa e
pai de duas meninas com ela? Isso me parece uma novela mexicana de
muito mau gosto!
Olhei aturdido para os lados, fazendo um sinal para que Eoth
controlasse a porra do volume de sua voz
— Isso é crime, Roosevelt. Imagina a minha honra e a minha
imagem sendo destruídas como um maldito castelo de cartas, por causa de
um absurdo desses, do qual eu não tive culpa alguma? Infelizmente, isso
seria um prato cheio para a imprensa e os concorrentes.
Observei por cima dos ombros de Eoth, temendo que algum
jornalista infiltrado na padaria nos ouvisse e acabasse conseguindo algum
furo de reportagem.
A minha reputação estaria por um fio, caso descobrissem que eu
teria engravidado a minha irmã, mas apesar de todas as turbulências e de
Georgina não ser uma pessoa confiável, eu ainda lutava para manter a
esperança de que ela estivesse dizendo a verdade, sonhando com a
possibilidade de que Theresa e eu não tínhamos qualquer laço sanguíneo,
para que pudéssemos seguir em frente como uma família normal.
— Você quer que eu te acompanhe até a casa de Theresa? Você não
está nada bem. — Eoth me falou, assim que atravessei a porta da padaria,
sem as bolsas de compras nas mãos.
A minha cabeça estava uma verdadeira bagunça.
Imediatamente, o meu amigo me mostrou as sacolas e eu as peguei
com ele.
— Estou planejando uma surpresa para Theresa, Alfred e as
gêmeas. Com esse café da manhã, espero conseguir suavizar o clima e ter
uma conversa amigável com Alfred. Sei que ele não é muito fã do meu pai,
e isso acaba refletindo em mim também. Se quiser me acompanhar, acredito
que não terá nenhum problema.
Roosevelt então concordou e entramos no carro, para seguirmos
juntos para a casa onde Theresa morava.
— Melhor mesmo eu te acompanhar, estou verdadeiramente
surpreso com a sua falta de vaidade. Nunca te vi com roupa de malhar, fora
da academia.
Sorri, observando a camiseta e o short curto.
— São as obrigações, meu caro. Muita coisa importante está em
jogo. Não tenho tempo a perder.
Eoth colocou os óculos escuros e assentiu, visivelmente comovido
com os meus problemas.
— Estou torcendo para que tudo se resolva da melhor maneira
possível. E vai se resolver. Você ainda será feliz para um caralho.
As palavras de meu amigo me deram forças, ao mesmo tempo em
que eu pensava que, depois de tanto tempo, eu veria Honey e Chloe.
Eu não sabia se poderia continuar amando aquelas crianças, sem
precisar me lembrar que elas eram fruto de uma aberração.
Essa situação era a que mais me afligia, ignorar sentimentos de
seres tão inocentes e frágeis, que jamais entenderiam o que aconteceu de
fato.

***

No momento em que estacionamos em frente à casa humilde de


Theresa, Roosevelt começou a analisar a fachada da construção.
Depois de retirar os óculos escuros verde-musgo do rosto, como se
fosse um corretor de imóveis, ele observou cada detalhe minuciosamente.
— Caralho, é aqui que as gêmeas moram? Essa casa merece uma
pintura urgente, o jardim parece um pasto e as janelas precisam ser
trocadas!
Desafivelei o cinto, pronto para encontrar Sr. Alfred e resolver
todos os assuntos pendentes.
— Esta é a casa que Theresa e seu pai conseguiram comprar depois
de receberem uma indenização do supermercado. Aparentemente, Alfred
sofreu um acidente de trabalho e ganhou um bom dinheiro, mas, apesar
disso, agora os dois estão atolados em dívidas da hipoteca.
Eoth me encarou com um ar de deboche, enquanto abria a porta do
carro.
— Duas herdeiras Dirksen morando numa espécie de caixa de
ovo? Isso é preocupante, cara.
Deixei o veículo, reflexivo com as palavras tortas, porém sinceras
de meu amigo.
— Bem, eu admito que acabei agindo impulsivamente e não dei
todo o suporte que elas mereciam. Cortei a pensão, cortei os vínculos com
as meninas, cortei os laços com Theresa. Chegou a um ponto que a minha
vontade era simplesmente fugir deste país, e deixar para trás todas as
lembranças. — Eoth me observava com os olhos preenchidos por pesar. —
Tudo o que consegui fazer foi tentar seguir em frente, buscar um novo rumo
para a minha vida. Feri Theresa, porque também estava ferido. Mas agora
eu vejo o quanto as meninas estão desamparadas, e Theresa ainda está
cuidando do pai doente, que luta contra um tumor sério na boca, além das
despesas da hipoteca da casa que eles têm que arcar. Estou extremamente
preocupado com a situação deles, embora já tenha oferecido uma ajuda
financeira que deve cobrir as despesas pelos próximos meses.
Olhei para o relógio de pulso e vi que era umas sete horas da
manhã. Havia chegado bem cedo, o horário ideal para encontrar Theresa,
antes que ela saísse para a sorveteria.
— Você não poderia ter agido de outra forma. Foi movido pelo
desespero e pelos ressentimentos. Não consigo nem imaginar o que eu faria
se estivesse no seu lugar. Não julgo os seus atos, pois eu piraria.
Afaguei o ombro de meu amigo, tentando transmitir gratidão
diante de sua empatia por minhas atitudes contestáveis.
— Espero ter a chance de seguir em frente ao lado de Theresa e
das meninas, como planejamos. Agora chegou a hora de amolecer o coração
daquele homem ranzinza e descobrir a sua versão dos fatos.
Então, entramos no terreno da casa, seguindo pelo gramado e
desviando do mato alto.
— Alfred está em casa? Ele não trabalha no supermercado?
Revirei os olhos, me dando conta que Eoth às vezes não me dava
ouvidos.
— Roosevelt, você já esqueceu que ele está com um sério tumor na
boca? Ontem, Theresa me falou que o pai não está trabalhando há meses e
ela também me disse que a amiga dela, Winter, está de férias, dando suporte
a Alfred e às gêmeas. Winter é uma irmã para Theresa, sempre ajudando a
garota de todas as maneiras, sem medir esforços.
Eoth coçou o alto da cabeça, visivelmente desconfiado.
— Winter? Gostei desse nome! E que garota foda, hein. Sem
sombra de dúvidas ela tem um coração enorme. E se for bonita, então... —
olhei intrigado para Eoth, quando ele, sem graça, desviou o assunto. — E
Alfred vai querer te atender, nessas condições, meu caro? Sentindo dor,
dopado por remédios, sem falar no ranço que ele já sente por você.
Bufei, incomodado com aquelas possibilidades.
— Há outra saída? Não há! Estou preparado para enfrentar o
problema de frente, mesmo que seja expulso a pontapés da casa de Theresa,
pelo menos quero ter a minha consciência tranquila de que tentei.
Terminamos de atravessar o pequeno jardim e logo bati a mão na
porta. Para o meu alívio, nem ficamos ali por dez segundos, a porta se abriu
rapidamente, me apresentando a amiga de Theresa, Winter.
— Pois não, doutor, o que faz aqui tão cedo? A Theresa ainda está
dormindo. Ela teve um encontro muito difícil com a mãe ontem à noite, e
chegou tarde em casa. — a garota pausou por um momento, percebendo o
que ela havia acabado de me dizer. — Acho que o senhor já sabe sobre
todos esses detalhes. Agora me lembrei que estavam juntos.
Cruzei os braços, repousando em uma pilastra.
— Claro, Winter, eu estava com a Theresa. Eu também sei que as
gêmeas e o pai dela têm dado muito trabalho e que ela precisa descansar,
mas estamos vivendo uma situação bastante delicada. Eu só preciso
conversar com o senhor Alfred. Eu não consegui dormir essa noite e fiquei
pensando o tempo inteiro nesse encontro. Eu estou disposto a fazer o que
for preciso para esclarecer todas essas questões o quanto antes.
Winter assentiu compreensivamente, parecendo notar a minha
impaciência.
— Claro, claro. Podem entrar. — ela nos disse, abrindo a porta,
quando me dei conta que não havia apresentando Eoth.
Ele já estava acenando para Winter com um sorriso bobo, enquanto
a moça já acolhia o seu gesto com gentileza.
— Ah, desculpa. Esse aqui é o meu amigo, Eoth Roosevelt. E ela é
a amiga de Theresa, Winter.
Os dois se entreolharam, apertando as mãos, em meio a sorrisos.
Então, eu me dei conta que o meu amigo não valia realmente nada. Ele
estava olhando para o decote da Winter, antes de inspecionar cada traço da
garota, claramente com segundas intenções.
Então os dois se beijaram e eu percebi que Winter estava
correspondendo ao olhar de Eoth.
Curioso com a interação dos dois, eu logo passei por eles e me
sentei em uma das poltronas, ansioso para que as gêmeas e Theresa
chegassem logo para me receberem.
E assim que Winter passou ao meu lado, eu falei com ela:
— Eu trouxe o café da manhã. Não sei se gostam de cookie e bolo
inglês.
Winter caminhou animada ao meu encontro, pegando as sacolas da
minha mão.
— Ah, muito obrigada, doutor Dirksen. Que delícia. —
curiosamente, ela disse isso, olhando para Eoth, que já estava sentado ao
meu lado, com os olhos literalmente caídos por Winter. — É… eu vou
chamar a Theresa.
— Peça desculpas por eu precisar acordá-la tão cedo, mas você
entende. Eu preciso desfazer o quanto antes esse maldito nó que está me
sufocando.
Winter parecia não prestar atenção em porra nenhuma do que eu
dizia, com um olhar perdido que devorava Eoth Roosevelt.
— Sim, claro, o senhor é um homem de compromisso e está
acostumado a resolver as coisas no seu tempo. Eu entendo muito bem.
Prontamente fiquei de pé, quando Winter finalmente me encarou.
— O Alfred está melhor? Ele está dormindo?
A garota concordou, amassando os lábios.
— Ele tem tomado os medicamentos, e com a ajuda que você
resolveu dar à Theresa, eu tenho certeza que ele vai melhorar,
principalmente depois que realizar todos os exames necessários.
O meu coração pulsou extremamente aliviado. Fitei o teto, como se
agradecesse a Deus.
— Que bom, eu fico satisfeito com isso.
No momento em que me calei, Winter me deu as costas, para
adentrar a cozinha americana.
Ansioso, sentei sobre o sofá, quando burburinhos delicados
dominaram os meus ouvidos, então, para o meu alívio, eu finalmente vi as
meninas engatinhando pelo corredor.
Winter, num gesto rápido, largou o lanche sobre a mesa e logo
correu para ampará-las.
— Ah, essas meninas não dormem, elas já estão acordadas desde
às cinco da manhã. Ainda bem que eu fiquei aqui, esta noite, para dar uma
mão a Theresa, pois ela não estava nada bem, sem ânimo algum para cuidar
dessas sapecas.
No momento em que vi as gêmeas, os meus olhos marejaram, as
saudades dominando os meus sentidos, gradativamente.
O amor ainda vivo em meu peito descompassava os meus
batimentos. Eu fiquei admirado por vê-las, ali, engatinhando pelo chão,
depois de tanto tempo.
Eoth sorria, observando as meninas lindas e espertas que Theresa e
eu havíamos gerado.
— Que garotinhas fofas! E como se parecem!
Revirei os olhos.
— Deve ser porque são gêmeas.
Eoth sorriu abertamente para Winter, que o encarava umedecendo
os lábios.
E no momento em que Honey e Chloe me viram, já de pé, elas
soltaram das mãos de Winter, para correrem ao meu encontro e me
abraçaram calorosamente.
Imediatamente abaixei a frente delas, sentindo os pequenos corpos
perfumados se chocando contra o meu. Elas disputavam o máximo de meu
carinho, uma com a outra.
— Papai Elos. Papai Elos. — exclamavam extremamente felizes.
O meu coração deu um nó, as lágrimas ameaçavam cair, mas eu
ainda não poderia me entregar tão facilmente à alegria de ser o pai delas,
ainda que eu as amasse mais que a própria vida, havia uma barreira imensa
a ser ultrapassada.
Acordei com Winter me chamando carinhosamente. A voz dela
reverberava tão distante, parecia que eu ainda estava sonhando.
— Tetê, acorda, meu bem. — ela desferia carinhos nos meus
cabelos, enquanto eu lutava para conseguir abrir os olhos.
— O que foi, Winter? Todo esse pesadelo já acabou? Fala que foi
só um sonho ruim! — desejei em meio a uma espreguiçada potente no
corpo.
Depois abri a boca, num longo bocejo, no momento em que ela se
sentava ao meu lado.
— Não, Tetê, foi tudo realidade. — ela segurou na minha mão
como num gesto de conforto e, sonolenta, eu pisquei os olhos lentamente,
tentando entender o que ela estava me falando. — Você foi conversar com a
sua mãe, e ela colocou todas as cartas na mesa e te disse que o Eros não é o
seu irmão, mas ela depositou ainda mais grilos na sua cabeça, quando
confessou sobre o nascimento de uma irmãzinha doente. E falando em Eros,
ele está aqui, te esperando.
As palavras de Winter foram mais eficientes que um despertador.
Instantaneamente me sentei sobre a cama, abraçando um dos travesseiros.
— Como assim, o Eros está aqui?
A ideia de me encontrar com Eros tão repentinamente me fez
questionar se eu estava preparada para lidar com todas as emoções que essa
conversa poderia trazer.
— Ele está aqui embaixo, na companhia daquele banqueiro ruivo
delicioso. — Winter me disse, cortando as sílabas, lambendo a boca, como
uma faminta.
Sorri, completamente incrédula.
Banqueiro ruivo? Essa descrição só poderia ser de Roosevelt!
— O quê? Eros e Eoth Roosevelt estão aqui na minha casa?
Pensar que Eros estava prestes a me encontrar, e eu nem havia me
arrumado ainda, fazia com que as minhas mãos tremessem, enquanto eu
pensava em algo para vestir.
— Sim, Tetê, o Eros pretende resolver as pendências com o seu
pai. Não se esqueça que não pode se atrasar para a sorveteria. Vá logo
colocar uma roupa para atendê-lo. — Winter determinou, no momento em
que se encaminhava na direção das cortinas, para puxá-las.
Apesar do nervosismo, uma parte de mim concordava. Era melhor
resolver tudo logo, por mais difícil que fosse.
— Como o Eros pode ser tão ansioso? Não poderia ter esperado
mais tarde? Parece que um rolo compressor passou por cima de mim, a
noite inteira, e eu ainda preciso trabalhar na sorveteria!
Winter soltou uma risada leve, demonstrando claramente que
entendia o meu desconforto, quando se reaproximou.
— Eros sente um amor imenso por você e pelas gêmeas. Ele quer
resolver essa situação o quanto antes, para ter logo um desfecho. Você não
acha que ele está certo?
No fundo, eu sabia que sim. Eros estava agindo por amor, por nós
três.
— Sim, ele está certo, mas a questão é que estou com muito medo
de conversar com o meu pai. Ele não pode se estressar, você sabe, ele ainda
está muito fraco por causa dos tratamentos que são extremamente
agressivos. — a minha voz falhou um pouco ao mencionar o estado de
saúde do meu pai.
A preocupação pesava em meu peito como uma bigorna, o que me
deixava um pouco hesitante, diante da decisão que eu precisava tomar de
colocar os dois frente a frente.
— Fique calma, Tetê. — ela me esticou as suas mãos e eu
correspondi ao seu gesto. — Vocês precisam resolver essa situação. Não há
outra saída. Eu tenho certeza que o senhor Alfred vai entender e estará
disposto a ouvir o Eros e contribuir com o que for preciso.
— Tudo bem, minha amiga. Você tem razão.
Ela sorriu aliviada e beijou a minha testa.
Com os olhos inchados de sono, eu saí da cama enquanto Winter
fechava a porta lentamente.
Tomei um banho demorado, vesti um vestido florido e confortável,
penteei os cabelos e passei um batom rosa para iluminar os meus lábios.
Antes de descer para encontrar com Eros e o seu amigo banqueiro,
que já havia me negado um acordo da dívida da hipoteca, eu passei no
quarto de meu pai.
Prontamente intrometi os olhos pela fresta e vi que ele estava
acordado, assistindo à televisão enquanto bebia um copo de chá gelado.
Deixei um beijo carinhoso nos seus cabelos grisalhos.
— Bom dia, papai! A Winter já te falou que o Eros Dirksen está
aqui, para conversar com nós dois?
— Que pesadelo esse homem na minha casa. — ele bebeu todo o
conteúdo do copo, como se, com aquele gesto, engolisse a presença de
Eros. — Eu não quero falar com ele. Aliás, você não me contou nada sobre
essa conversa que vocês tiveram ontem com a sua mãe. O que está me
escondendo, Tessa?
Na verdade, eu tinha escondido do meu pai sobre a carta de Naibra
Dirksen, onde ele mencionava a possibilidade de existir uma irmãzinha,
fruto do relacionamento com Georgina, que, no caso, poderia ser eu mesma.
Não queria preocupá-lo ainda mais com isso, dada sua saúde
fragilizada e as dores que sentia.
No entanto, seria tão necessário ouvir à sua versão sobre o passado,
obviamente sem que ele soubesse da possibilidade de Eros e eu sermos
irmãos, como Eros havia inclusive me orientado, para que não interferisse
na veracidade das suas confissões.
— Pai, não acha melhor o Eros vir até o quarto? O senhor não
precisa descer, ele se senta, nessa cadeira, e vocês podem conversar com
mais tranquilidade.
Ele respirou fundo, pensativo. Os seus olhos cansados refletiam
resignação.
— Não vejo alternativa. Se eu não fizer isso, você não vai me
deixar descansar. — amassei os lábios, envergonhada, porém o meu pai
conhecia a gravidade da situação, sem falar que já havia passado da hora
dele se abrir comigo sobre os seus mistérios. — Vou ouvir o que o filho de
Naibra Dirksen tem a dizer sobre a sua viagem à Itália. Na verdade, tudo o
que eu realmente quero, é que Eros continue pagando a pensão das gêmeas.
Não espero que ele assuma nenhum compromisso com você, apesar de ter
tido esperanças de que ele tivesse mudado e desejado que ele formasse uma
família. O que importa agora é que ele assuma a responsabilidade pelas
filhas e cuide delas como um homem de caráter.
Senti um nó se formar em minha garganta. Por um momento, temi
pelo desfecho daquela conversa.
Era difícil de ver meu pai lidando com toda aquela situação, tão
frágil e, ao mesmo tempo, tão firme nas suas convicções.
— Vai dar tudo certo, pai, fique tranquilo. — uni as minhas mãos
como num apelo. — Pelo menos Eros foi generoso e já nos deu o dinheiro
da hipoteca, garantindo o lar de nossas filhas e os seus tratamentos.
O meu pai concordou, e pude notar um leve relaxamento em sua
expressão, um sorriso de gratidão surgindo em seu rosto cansado, como se
um peso tivesse sido temporariamente aliviado de seus ombros.
— Sim, é verdade, e eu preciso agradecê-lo por isso.
— Ótimo! Eu já volto! — disse e pisquei animada para ele.
No momento em que desci as escadas, para chamar por Eros, eu vi
que Winter conversava com o banqueiro, os dois estavam sentados lado a
lado e ela mostrava algo no seu celular para ele.
Era uma amizade muito instantânea, na minha opinião, mas eu
fiquei feliz por ver os dois interagindo com certa intimidade, diga-se de
passagem.
Quem sabe Winter não havia encontrado a metade da sua laranja,
literalmente?
Sorri comigo mesma, e eu logo me dei conta que Honey e Chloe
estavam aconchegadas no colo de seu pai.
Eros Dirksen estava com uma roupa justa de academia e,
fatalmente, eu me culpava por estar reparando nos seus músculos, no
volume proeminente no short curto.
Inspirei, incomodada, observando, agora, as meninas que
relaxavam nos braços de seu pai, e os três mantinham as suas mãos unidas,
como se não quisessem se afastar nunca mais um do outro.
Instantaneamente, as lembranças de um passado nem tão distante
vieram me visitar. A nostalgia boa de quando pensávamos ser uma família.
Era como se eu tivesse voltado no tempo, para aqueles momentos
em que ainda compartilhávamos os mesmos objetivos, apesar de todos os
percalços.
O olhar de Eros sobre as gêmeas, repleto de cuidado, despertou em
mim uma baita esperança, como se, mesmo diante de todas as dificuldades,
ainda houvesse espaço, para desejar a reconstrução dos laços familiares,
que um dia desejamos tanto.
O que me restou foi acenar, emocionada, para Eros, pedindo para
que ele subisse as escadas, após cumprimentar Eoth Roosevelt com um
aperto de mãos.
No momento em que coloquei os olhos em Theresa, eu vi o quanto
ela estava nervosa por me ver ali.
Eu estava sentado com uma menina em cada perna e as bebês, após
despertarem de um breve cochilo, passavam a mão por minha barba e
tagarelavam novidades sobre os sabores de sorvete que Theresa havia dado
para elas experimentarem.
Então, prontamente fiquei de pé, segurando as meninas no meu
colo, na esperança de que eu pudesse assumi-las para o mundo e, assim,
poder viver em paz ao lado delas e de Theresa, a mulher pela qual eu ainda
era loucamente apaixonado.
Nos últimos dias, foi extremamente desafiador aceitar que ela era a
minha irmã, compreender que nossa ligação tinha que se dissipar.
Eu me esforcei ao máximo para reprimir os meus sentimentos, para
convencer a mim mesmo de que não poderíamos mais estar juntos.
Foi sacrificante tentar arrancar algo tão intenso de meu peito, o que
também significou abrir mão das duas meninas pelas quais eu já nutria tanto
amor, e humilhar Theresa, para que ela se afastasse de mim.
No entanto, havia uma última esperança, uma última saída para
esse pesadelo, apenas Alfred poderia nos libertar desse dilema.
Então, Theresa veio ao meu encontro, com os olhos brilhantes, que
ela exibia sempre quando me via.
Ela também costumava sorrir, mas, desta vez, a sua expressão era
séria, quando me estendeu a mão, e me cumprimentou com um fraco "bom
dia".
As meninas prontamente esticaram os braços na direção da mãe,
chamando Theresa de “mamã”.
— Quelo colo, mamã. — Chloe se jogou nos braços de Theresa,
que logo a acolheu com todo o amor do mundo.
Honey, por sua vez, se aninhou ainda mais ao meu corpo.
Beijei os seus cabelos perfumados, correspondendo às saudades
que estiveram sempre presentes em meu peito.
— Quero bolo! Papai Elos trouxe bolo! — Chloe reivindicou,
apontando para a mesa.
— A dinda Winter vai dar bolo para vocês. — Theresa disse,
embalando Chloe em seu colo. — Winter? Winter!
Logo percebi que Theresa havia chamado Winter duas vezes, mas
ela não se deu conta, pois estava envolvida numa conversa animada com
Roosevelt sobre a sua viagem pela Espanha.
Enquanto isso, Winter compartilhava com ele as suas raízes
hispânicas, mencionando a sua avó de Salamanca e como ela costumava
tocar castanholas.
Eles trocavam histórias sobre isso, Winter relembrava das danças
de sua avó, e Roosevelt mencionava um show de castanholas que ele havia
assistido, embora tenha omitido sutilmente a parte em que se envolveu com
algumas daquelas dançarinas.
Então Winter finalmente olhou para Theresa, despertando daquele
momento ao lado de Eoth.
— Amiga, as meninas já comeram as suas frutinhas, mas, claro, eu
vou servir o lanche que Eros trouxe para elas. — Winter disse solícita,
ficando de pé, enquanto o meu amigo cobria a garota com um olhar felino.
Theresa então entregou Chloe para Winter, deixando um beijo de
gratidão no rosto de sua amiga.
— Você pode ficar aqui com as meninas e com o Roosevelt, só um
pouquinho, enquanto eu subo com o Eros? O meu pai prefere ficar no
quarto, e acho que é mais prudente conversarmos por lá mesmo, por causa
do bem-estar dele.
Winter assentiu, sorridente, quando resolvi me aproximar com
Honey ainda em meu colo, para murmurar no ouvido de Theresa, ao mesmo
tempo em que observava pelo canto dos olhos, Eoth ajudando Winter a
colocar a Chloe na cadeira de refeição.
— Desculpa por trazer o Roosevelt comigo, é porque estávamos
juntos na academia e decidimos fazer um lanche, então eu sugeri que ele me
acompanhasse. Eoth sabe que eu estou passando por um momento muito
difícil.
Theresa concordou compreensiva, visivelmente empolgada com o
prenúncio do romance de nossos amigos, depois de ter flagrado as
intimidades que os dois trocavam no sofá.
— Não precisa se desculpar por isso, Eros. O Roosevelt, pelo jeito,
está adorando a companhia da minha amiga, você percebeu alguma coisa?
Sorri, abertamente, observando agora Eoth ajudando Winter com a
mesa de café da manhã. Honey, em meu colo, oscilava os olhos de sono.
— E a sua amiga está adorando a companhia dele. Será que temos
um novo romance no ar?
Theresa me avaliou com um olhar conspiratório, quando ela
resolveu pegar Honey de meu colo, para entregar a criança a Winter.
— Espero de verdade que sim. A minha amiga merece se envolver
em um romance, é algo que realmente faz bem à alma. E parece que eles
têm muitas afinidades juntos.
Concordei, percebendo que agora eu tinha propriedade para falar
sobre paixões e romances, e o quanto era vital cultivar esse tipo de
relacionamento e sentimentos.
Curiosamente, os fardos pareciam mais leves e o tempo parecia
passar mais devagar.
No entanto, só conseguia me imaginar assim ao lado de Theresa.
Por isso, ansiava desesperadamente pela confirmação de Alfred de que não
éramos irmãos.
Após as meninas já estarem comendo o bolo, em suas cadeiras cor-
de-rosa, Winter e Eoth sorrindo como se fossem amigos de longa data,
prontamente subi as escadas ao lado de Theresa, quando ela abriu a porta de
um pequeno quarto para mim.
Senti as mãos geladas, quando encontrei Alfred repousando sobre a
cama, inteiramente atento à televisão.
Havia chegado o momento que tanto temíamos, e também o
desfecho que precisávamos enfrentar.
Assim que Alfred Butler me viu, e me cravou os seus olhos
cansados, percebi logo a cicatriz que gritava em seu rosto, e que agora me
confessava muitas coisas sobre o seu passado.
Naibra havia imprimido a sua raiva naquele pobre homem.
Então Alfred me desejou um “bom dia” entredentes, e pediu para
que eu me sentasse ao seu lado.
Theresa se acomodou ao pé da cama, enquanto massageava os pés
do seu pai, com carinho.
— Senhor Alfred, é um prazer revê-lo. Espero que esteja se
sentindo melhor hoje.
Olhei para Alfred, tentando ler as suas emoções por trás da
expressão cansada. Ao vê-lo tão frágil, senti compaixão por aquele homem
de vida sofrida.
— Pois não, doutor, diga a que veio, sou todo ouvidos!
Primeiramente, meus sentimentos pela partida de Naibra.
Senti um leve desconforto ao ouvir Alfred mencionar Naibra. Era
difícil ter empatia por alguém como ele.
— Sem formalidades, por favor. Eu tenho certeza que o senhor não
tem sentimento algum por esse homem.
Alfred sorriu, ajeitando a camisa de botões ao corpo.
— Ainda bem que você sabe, doutor Dirksen, é difícil para mim
tentar ser educado em certas situações, mas me diga o que te trouxe até
aqui. Hoje, especialmente, eu estou com muita dor. O chá gelado está
ajudando a dar uma anestesiada na minha gengiva. — ele confessou,
esticando a mão para se servir de mais chá, sobre a cabeceira.
Prontamente, tomei à frente e servi um copo duplo para ele,
entregando-o em seguida.
— Pai, você está bem para essa conversa? — Theresa prontamente
interveio, preocupada com o estado do pai, a sua saúde frágil.
A expressão cansada de Theresa me partia o coração, ela
enfrentava inúmeros desafios, todos os dias.
— Estou bem, filha. Precisamos resolver isso de uma vez por
todas. Chegou a hora do passado reviver neste quarto.
Alfred depositou o copo vazio sobre a cabeceira e cruzou os
braços, indicando que estava pronto para ouvir o que tínhamos a dizer.
Esperava que Theresa não percebesse o nervosismo que me
consumia por dentro, gostaria de passar segurança a ela, mas,
involuntariamente, eu balançava uma das pernas.
— Fique tranquilo, eu vou ser breve. O importante agora é
acertarmos tudo. — senti um bolo em minha garganta, mas forcei um
sorriso para tentar acalmar Theresa. — Bem, ontem, nós fomos encontrar a
Georgina, como eu imagino que o senhor já saiba.
O homem concordou, enquanto eu refletia.
Ontem mesmo, quando eu trazia Theresa de volta à sua casa, nós
conversamos muito no carro, inclusive eu havia sugerido de não falarmos
nada sobre a suspeita de sermos irmãos, para Alfred, como maneira de não
interferirmos no seu depoimento.
Então, eu me preocupei em tomar todo o cuidado para saber
exclusivamente da versão de Sr. Alfred, sem me aprofundar no que
sabíamos.
— O encontro com Georgina foi extremamente indigesto. — dei
continuidade ao que eu dizia, observando Theresa concordar comigo do
outro lado da cama. — E ela nos falou que chegou a engravidar do meu pai.
Theresa e eu tínhamos uma irmã em comum. O que o senhor sabe sobre
essa história?
Instantaneamente Alfred arregalou os olhos, quase permitindo que
eles escapulissem de suas órbitas, o seu rosto ficou vermelho e, então, ele
soltou um forte suspiro.
— A pequena Angelica! Meu Deus, a pequena Angelica! — ele
exclamou com a voz chorosa, enquanto Theresa e eu nos encarávamos
aflitos. — Foi tudo tão triste. O meu sonho era trazer Georgina para perto
de mim outra vez. Eu sempre fui apaixonado, louco por aquela mulher, mas
eu falhei amargamente, usando de todas as armas, jogando baixo,
prejudicando a vida daquela criança.
Theresa estava com as mãos sobre a boca.
Apenas engoli em seco, determinado a ouvir mais sobre o passado
sofrido de Alfred, quando Theresa interveio.
— Pai, por favor, fique calmo, por mais que as lembranças te
afetem negativamente, entenda que elas ficaram num passado distante. Não
se envolva dessa maneira. Cuidado com a sua pressão. — Theresa
aconselhou o pai, inclusive mudando de lugar na cama, para se sentar ao
lado dele, e segurar nas suas mãos enrugadas.
O jovem senhor me dirigiu um olhar vazio, triste. Os seus
pensamentos estavam em todos os lugares, exceto naquele cômodo.
— Eu entrei numa briga física com o Naibra. Eu não queria que
Georgina formasse uma família com aquele canalha, eu queria que ela fosse
exclusivamente a mãe de Theresa.
Suspirei, imaginando o embate dos dois.
Eu me lembrava nitidamente do quanto o meu pai costumava ser
violento.
— Então, o que o senhor resolveu fazer? — perguntei, com calma.
Alfred apertou os olhos e depois resolveu continuar, nitidamente a
tristeza dando ritmo à sua voz.
— Quando eu viajei para Nova Iorque, com as economias que eu
tinha da venda do meu carro velho, para confrontar Naibra e questionar
Georgina sobre o seu retorno ao meu convívio, passei um dia inteiro em
Hamptons. No dia seguinte, Georgina, exausta de minha insistência, veio
até o pequeno quarto que eu havia alugado aos fundos de um restaurante,
para me dizer que decidiu fugir comigo, levando a bebê e ainda afirmou que
havia colocado um ponto final na história sórdida com Naibra e que seria
melhor se afastarem. — Alfred contou sorrindo, como se experimentasse a
mesma alegria que viveu naquele momento em que Georgina havia
resolvido reatar com ele.
Theresa então me olhou nos olhos, como se me pedisse permissão
para fazer uma pergunta.
Assenti, num aceno de cabeça.
— Então vocês retornaram com a bebê, para a Califórnia? — ela
questionou ao pai, que ainda continuava com um sorriso arqueando seus
lábios murchos.
— Sim, feliz e iludido feito um trouxa, eu retornei para a
Califórnia, com Georgina e Angelica, aparentemente perfeita e com apenas
dois meses de vida, ao meu lado. Georgina estava nessa constante ponte-
aérea com os Dirksen e, naquele momento, ela colocava um ponto final
naquela rotina.
Theresa estalou os dedos, como se uma lembrança a atingisse
naquele mesmo instante.
— Disso eu me lembro bem, de já ter voado no jatinho dos Dirksen
até Hamptons, nas férias e Verões!
Sorri, observando a ingenuidade de Theresa, me lembrando dela
bem pequena, a famosa Tessa, aos três, quatro anos, agarrada nas pernas de
sua mãe, temerosa se o avião iria cair ou não.
— Mas, assim que chegamos a São Francisco, Georgina me
informou que não viveria comigo na Califórnia, optou por fugir para o
México com Angelica, o que me deixou completamente destruído. Mais
uma vez, ela renegava a mim e a Tessa. — Theresa e eu nos olhamos,
entendendo que Alfred, na verdade, não havia ficado com a bebê, que ela
havia seguido para o México com a mãe, diferentemente da versão que
Georgina havia nos contado. — Georgina me explicou que encerrou o
relacionamento de forma amigável com Naibra e que ele concordou em
pagar uma pensão informal para ela. Naibra preferiu não assumir a
paternidade da criança, pois não queria prejudicar a sua imagem,
considerando que Georgina não era sua única amante.
Alfred torceu o nariz para aquele fato, ao mesmo tempo que uma
dor aguda me atingia a alma, por refletir sobre todo o sofrimento que a
minha mãe havia passado, com a vida desregrada que o meu pai sempre
levou.
— O senhor não criou a Angelica? — reiterei, precisando que
ficasse ainda mais claro.
Alfred, por sua vez, fez uma negativa com a cabeça. Eu via
sinceridade nos olhos dele.
— Georgina fugiu com a menina para o México, com o intuito de
cortar qualquer laço com Naibra, porém, infelizmente, a criança sofria de
uma doença degenerativa grave, que Naibra desconhecia e,
lamentavelmente, a menina acabou falecendo. — Alfred ficou com a voz
embargada, mas decidiu continuar, após o incentivo de Theresa. — Quinze
anos depois, quando Georgina retornou para a Califórnia, ela me confessou
que, se a criança tivesse permanecido com Naibra, ele poderia ter buscado
um tratamento para curá-la.
Sorri, sem querer acreditar naquele maldito argumento.
Theresa levou uma das mãos à boca, sem conseguir parar de me
encarar. E agora eu poderia pensar tranquilamente no quanto os olhos azuis
dela eram deliciosamente hipnotizantes.
— Por que a minha mãe não queria que Angelica fosse medicada,
curada e futuramente recebesse um transplante do próprio pai?
Alfred umedeceu os lábios, cruzando os braços, recuperando as
memórias que pesavam nos seus sentimentos, feito chumbo.
— Mais tarde, descobri em uma conversa com Georgina que
Angelica não era filha de Naibra, mas sim a minha filha.
— Santo Deus. — murmurei, enquanto Theresa ficou de pé,
impactada com aquela revelação.
— A Angelica era a minha filha. — Alfred declarava com fervor.
— A minha querida filha. A Georgina engravidou de mim antes de partir
para Hamptons. Se ela tivesse permanecido com Naibra, ele eventualmente
teria descoberto que a criança não era dele, pois, devido à doença
degenerativa, certamente ele ia querer ajudá-la com a medula óssea e,
assim, todos os planos de Georgina iriam descer por água abaixo, quando
Naibra se certificasse que não era o pai, que havia sido enganado.
Fiquei sem voz, sem conseguir medir a maldade no coração
daquela mulher.
Ela era bem mais venenosa do que eu poderia imaginar.
Theresa então voltou a se sentar ao lado do pai, cravando nele o
seu olhar indócil.
— Então, a minha mãe realmente arquitetou tudo pensando
exclusivamente em dinheiro?
Alfred assentiu, visivelmente indignado. O ódio escapava por cada
sílaba proferida.
— Georgina alegou para Naibra que criava a filha deles, e o ricaço
continuou a pagar uma pensão informalmente até os dias de hoje, sem
demonstrar interesse algum no bem-estar de Angelica. Para ele, a vida de
mais uma criança não importava, era apenas mais uma que ele abandonava,
mantendo apenas a obrigação de pagar a pensão. — baixei os olhos,
sentindo o peso das palavras de Alfred que me incomodavam
demasiadamente.
Eu também era vítima da falta de escrúpulos de Naibra.
Passei as mãos pelos cabelos, completamente anestesiado,
refletindo sobre as crueldades de meu pai:
— Então Angelica faleceu sem que Naibra soubesse, e ele só se
arrependeu de seu descaso e buscou por seus filhos “perdidos” no leito de
morte, quando se deu conta de toda as merdas que havia cometido ao longo
da vida. E quem sabe não há outros Dirksen perdidos por aí? Ou outras
Georginas se aproveitando das pensões dele?
— Outros Alfreds perdendo a sua família para o dinheiro. — o
jovem senhor concluiu com remorso.
Olhei para Theresa, e ela chorava em silêncio.
Fiquei constrangido por pensar que, por muito tempo, eu também
sempre fui refém do dinheiro, dos lucros e do poder, porém, agora, eu
entendia que o amor de uma família era, sem sombra de dúvidas, algo muito
mais valioso.
Observei o pai de Theresa abraçado a ela, entendendo que Alfred
era realmente um homem muito nobre.
Ele havia corrido atrás de sua família, lutado por ela, não medindo
esforços para atravessar o país em busca de sua mulher e a filha que
pensava não ser sua, enquanto Naibra Dirksen havia feito o caminho
totalmente inverso.
Eu admirava Alfred Butler com todas as minhas forças e era nele
que eu queria me inspirar para criar Honey e Chloe.
— A Angelica então era a sua filha, pai? — Theresa lamentava
envolvendo as suas mãos nas magras de Alfred. — Que dor perder uma
filha que nem teve a oportunidade de conviver!
O homem deixou escapulir algumas lágrimas que se intrometiam
nos vincos de sua pele ressecada.
— Foi uma dor muito grande, Tessa. Muito grande. Eu me sinto
culpado, porque se Angelica estivesse sob os cuidados de Naibra, ela teria
sobrevivido. Talvez ele pagasse pelo tratamento mais caro para salvá-la,
mas eu atrapalhei tudo, com aquela insistência tosca e romântica de trazer
Georgina de volta para a minha vida.
Theresa enxugou o rosto de seu pai com o lençol, enquanto se
aninhava ainda mais ao corpo magro.
— Não, pai, o senhor não pode se culpar por isso. Era o destino de
Angelica, ela não sobreviveria. A minha mãe nos deixou claro que ela já
havia nascido com essa terrível doença. Além disso, Georgina é a
verdadeira culpada, ela não se moveu para buscar a cura da filha, escondeu
de você a doença degenerativa, escondeu de Naibra. Ela se omitiu diante
dos fatos, pensando apenas no maldito dinheiro.
Concordei com Theresa, alcançando o olhar de Alfred para mim.
— Sim, Sr. Alfred, não seja tão duro consigo mesmo. O único que
não cometeu erros nesta história foi o senhor. Buscou sua família, tentou
salvar seu casamento. Pode ter sido um pouco impulsivo, é verdade, mas
estava pensando no bem-estar de Theresa e no seu próprio bem-estar.
Entenda, os erros foram cometidos por meu pai e por Georgina, e não pelo
senhor.
Alfred ficou pensativo, e quando eu vi mais meia dúzia de lágrimas
escapando de seus olhos, eu senti dó daquele homem tão castigado, que
acabou carregando um fardo muito pesado, suportando a dor de perder uma
criança, a qual não teve oportunidade de salvar.
Georgina, por sua vez, com medo de ser descoberta por suas
merdas, preferiu colocar a culpa da morte de Angelica, em Alfred, como ela
mesma havia nos contado.
E pensar que Alfred tinha todas as armas nas mãos para prejudicar
Georgina, mas por uma paixão que ele mesmo deveria desconhecer, deve
ter se calado quando soube de toda podridão cometida pela sua ex-mulher.
Então, eu logo olhei para Theresa e ela tinha um certo alívio
disfarçado em seus olhos, pois, definitivamente, não éramos irmãos.
— Alfred, a Theresa é sua filha, certo? Ela não é filha do Naibra.
— decidi perguntar, como se precisasse de mais aquele acalento.
Theresa me olhou assustada com a minha audácia.
Logo me arrependi de tocar no assunto, porém era tarde demais
para voltar atrás.
— Que absurdo, por que está me perguntando uma coisa dessas?
Você não tem vergonha de falar isso? O que você está achando? Que você
engravidou a sua própria irmã? Você está maluco, só pode ser isso, cara!
Theresa me avaliou com censura e logo amparou Alfred que
ofegava, além do normal.
Cravei os dedos nos cabelos, arrependido para caralho.
— Calma pai, calma. Infelizmente, nós suspeitamos disso, quando
lemos o apelo de Naibra numa carta. Ele pedia que Eros fosse em busca da
irmã dele, filha de Georgina, e eu por ser filha única, logo nos levou a unir
os fatos.
— Me perdoe por isso, Sr. Alfred. — afaguei a mão dele e ele me
tocou de volta, como se já houvesse me perdoado. — Eu não deveria ter
falado sobre algo tão grave e absurdo, sabendo que já está tudo esclarecido.
— Esqueça disso, Eros. A Tessa é a minha filhinha, a minha amada
Tessa, fui eu que gerei. — ela assentiu emocionada. — Naibra sempre quis
passar a perna nas pessoas, mas acabou falecendo com muito remorso,
acreditando que Angelica era a sua filha e estava viva em algum lugar, e
Georgina apenas se preocupou em perpetuar essa grande mentira para
continuar recebendo todos os benefícios financeiros. Foi isso o que
aconteceu.
O meu cérebro latejava.
Estava me sentindo completamente imergido num emaranhado de
mentiras, interesses e falta de escrúpulos.
Neste momento, entendia que Honey e Chloe nos davam a
oportunidade de escrevermos um capítulo mais decente, na história de vida
dos Adams e Dirksen.
— Georgina é uma mulher sórdida, maquiavélica, usou a memória
de uma criança, da sua própria filha, para receber dinheiro. — desabafei,
esgotado. — Naibra é outro crápula. Não me arrependo de não ter
derramado uma lágrima sequer com a sua morte.
Theresa me esticou a sua mão em apoio, enquanto, calados,
refletíamos sobre atitudes tão vergonhosas que jamais gostaríamos de voltar
a presenciar.
— Vamos mudar de assunto? — Alfred sugeriu, ao perceber o
clima tenso que nos envolvia, segurando na minha mão e na de Theresa. —
Eu quero ouvir de vocês dois, se vão parar com essas brigas, esses
desentendimentos por coisas insignificantes que só trazem sofrimento? Até
quando vão viver assim? As minhas netas merecem a felicidade de ter pais
unidos, de ter um lar repleto de amor. Quando eu partir, quero descansar
tranquilamente sabendo que elas estarão cercadas por sentimentos fraternos,
algo que Georgina nunca pode proporcionar a Theresa, algo que você, Eros,
nunca teve ao lado do seu pai. É hora de deixar o orgulho de lado e viver a
vida de vocês sem qualquer envolvimento com o triste passado de Georgina
e Naibra.
Theresa abraçou sorridente o seu pai, impactada pelas palavras de
esperança que ele nos dizia.
— Estamos de acordo, Sr. Alfred. — ela disse e eu concordei.
Então, resolvi abraçar os dois, feliz com aquele desfecho, como se
tivesse encontrado uma nova força para enfrentar os desafios que ainda
estavam por vir.
Permanecia sentado ao lado de Alfred, enquanto Theresa estava
aconchegada ao lado dele. Finalmente, estávamos aliviados, livres do
passado que tanto havia nos atormentado. Com um sorriso irresistível na
boca, Theresa acariciava o rosto envelhecido de seu pai, mostrando todo o
carinho e afeto que sentia por ele.
Eu estava verdadeiramente feliz que as palavras de Alfred
eliminaram os nossos medos e inseguranças, nos lembrando do que
realmente importava, o amor e a união da nossa família.
E ao ver Theresa tão entregue e feliz ao lado de Alfred, eu
imaginava que ela seria capaz de dar a sua vida por ele, da mesma maneira
que eu dediquei a minha vida à minha mãe, até o seu último suspiro.
Eu admirava Theresa, e sentia tanto orgulho por ela ser a mãe de
minhas meninas, que eu seria capaz de tudo para fazê-la a mulher mais feliz
da face da Terra.
— Theresa, eu sinto tanta admiração por você, tanto amor, que eu
não sei explicar. — confessei, sem ao menos perceber, retirando,
instantaneamente, um olhar assustado de Alfred, que não esperava por
minha genuína declaração de amor.
As minhas palavras também haviam retirado um sorriso enorme
dos lábios carnudos de Theresa, que agora segurava na minha mão com
força, enquanto eu sentia um alívio imenso inundando o meu peito.
— Finalmente, Eros Dirksen, sabemos que não somos irmãos, que
podemos seguir em frente juntos, construindo os nossos próprios caminhos,
meu amor. — ela me disse, deixando um beijo úmido sobre o meu dorso, a
minha mão passando por cima do corpo magro de Alfred, para tocá-la,
enquanto aquele gesto de Theresa arrepiava até o último fio de cabelo de
meu corpo.
Quando estava prestes a respondê-la, fomos interrompidos com a
porta se abrindo, de repente.
Winter entrou, nos apresentando um sorriso empolgado.
— Eu preciso de um momento a sós com Eoth. Eu acho que vocês
já perceberam que a gente combinou em muitas coisas. — ela nos disse,
com uma grande satisfação, levantando os ombros de alegria. — Eu retorno
em uma hora, Tetê. As meninas podem entrar?
Theresa concordou, é claro. Jamais poderia negar nada àquela que
era praticamente a sua irmã.
— Claro que sim, amiga! Já conseguimos colocar a nossa vida em
ordem. Vá aproveitar as suas férias! E Eoth, é claro...
Winter adentrou o quarto, radiante com a notícia, despedindo de
Theresa e Alfred com um beijo, e de mim com um aperto de mão.
— Que alegria saber que se acertaram! Torci tanto por este
momento! — Winter exclamou feliz, quando Theresa fez um sinal para ela,
indicando que o batom dela estava borrado.
Ela contornou os lábios com os dedos, sem evitar o sorriso
espevitado no rosto.
Assim que Winter deixou o quarto, para buscar as gêmeas, Theresa
e eu nos entreolhamos desconfiados e ao mesmo tempo satisfeitos, nos
dando conta do quanto era reconfortante saber que tínhamos amigos que
agora estavam na iminência de viverem um belo romance juntos.
— Parece que a Winter será capaz de trazer Eoth de volta à vida
adulta. — analisei, friamente, e também feliz que estava acontecendo
daquela forma.
Theresa gargalhou, enquanto o seu pai estava entretido com uma
notícia na televisão.
— Da mesma maneira que eu fiz com você?
Concordei, lisonjeado, quando, de repente, as meninas, ao nos
verem, correram e pularam sobre a cama, abraçando Alfred com carinho e
me envolvendo em seus abraços calorosos.
— Festa! Pula! Pula! — Honey exclamava, já despenteada.
Alfred sorria no meio das duas. Era perceptível o amor dele pelas
netas.
— Festa na cama do vovô! — Chloe disse, esticando as mãos para
a irmã.
Elas pulavam de um lado para o outro, em meio a risadas,
dissipando as dores físicas e emocionais de todos nós ali, que nos
divertíamos apaixonados por aquele momento.
— Muito bem, garotinhas. Chega de farra por hoje. A mamãe
precisa trabalhar daqui a pouco e vocês também precisam ir para a
escolinha. — Theresa interrompeu aquele momento mágico, conferindo o
relógio de pulso, enquanto Honey e Chloe, cansadas da tal festa, caíram
exaustas no colo do avô.
Theresa ficou de pé, pedindo às meninas, com um gesto, para que
se levantassem, quando eu resolvi interromper os planos dela.
— O único lugar para onde você deve ir agora é a nossa casa.
Ela olhou para mim, desacreditada que eu estava realmente falando
sério.
Os seus olhos falavam por ela, brilhando de felicidade, eu sabia
que estávamos prontos para começarmos essa nova etapa juntos, só
precisava do “sim” de Theresa.
Não tínhamos mais tempo a perder.
— Eu quelo ir com vocês. — Chloe me disse, se jogando no meu
colo.
Sorri, entusiasmado.
— Eu vou levar vocês duas comigo. E vocês nunca mais vão
deixar a minha casa, vão viver lá para sempre.
Honey despenteou os meus cabelos e, depois, uniu os nossos
narizes.
— A bruxa malvada falou a mesma coisa com a princesa.
Sorri, beijando as bochechas rosadas de Honey, fascinado pela
esperteza das gêmeas. Quando me dei conta, vi que a menininha havia
herdado as sardas da mãe.
— Theresa, quem fez essas meninas tão perfeitas?
Ela concordou, maravilhada, observando nós três abraçados e,
naquele momento, eu sentia um forte amor contaminar os meus sentidos.
Honey então se soltou do meu braço para implicar com a irmã.
— O baú de brinquedos é meu. — ela determinou ajoelhada sobre
a cama, enquanto Alfred, Theresa e eu observávamos com um sorriso no
rosto, a interação das garotinhas, naquele quarto.
— A piscina é minha.
— A tia Margarida é minha.
— As ávoles são minhas.
— Chega, chega. — Theresa interveio, dando um basta na disputa
das meninas, a qual eu estava adorando presenciar. — Vamos nos despedir
do vovô, para brincar na sala. Ele precisa descansar, agora.
Ainda estava intrigado, sem saber se Theresa aceitaria ou não o
meu convite. Eu queria muito, o quanto antes, ter a resposta da mãe de
minhas filhas, já que a companhia delas era algo vital para mim, sobretudo,
agora, após ter retirado um piano imenso de minhas costas e resolvido todos
os malditos imbróglios.
Então, prontamente nos despedimos de Alfred com um abraço
emocionado.
— Obrigado por tudo que fez por nós. — falei para ele, afagando
fraternalmente o seu ombro.
Ele sorriu e acenou com a cabeça.
— Eu te amo, papai. Obrigada por ter sido forte o suficiente para
nos contar algo tão doloroso. — Theresa disse, recebendo de seu pai, um
afago carinhoso no rosto.
— Ah, vocês merecem ser felizes, por essas duas joias,
principalmente. — ele respondeu, acariciando os cabelos das meninas.
— Até daqui a pouco, Sr. Alfred. — envolvi a minha mão na dele.
— Eu prometo que o senhor vai ficar curado. Não medirei esforços para
isso.
O senhor sorriu com gratidão, as lágrimas cintilando em seus
olhos.
— Não meça esforços pela família linda que também está
construindo. — ele me respondeu com sabedoria, e eu uni ainda mais a
minha mão a dele, selando, assim, o nosso compromisso.
Prontamente, saímos do quarto, nós quatro de mãos dadas, prontos
para enfrentarmos o futuro juntos, com amor e muita esperança no coração.
Enquanto descíamos as escadas, sentia emoções muito fortes
fluindo dentro de mim.
Olhei para Honey e Chloe, cantarolando ao meu lado, o sorriso
genuíno de Theresa, e pude perceber nos olhos dela a vontade de construir
uma vida junto comigo. Eu só precisava do seu “sim”.
Era como se um novo capítulo estivesse prestes a começar, cheio
de oportunidades para nós dois.
Caminhamos em direção à sala, as gêmeas pareciam capturar toda
a energia positiva ao nosso redor, irradiando alegria enquanto seguravam
firmemente em nossas mãos.
Era como se elas também soubessem que algo especial estava
prestes a acontecer em nossas vidas.
Assim que chegamos à sala, Theresa se aproximou e me abraçou
ternamente.
— Eros…
— Eu te amo, Theresa Butler. — falei para ela, apaixonado pelos
olhos azuis inocentes.
Ela umedeceu os lábios, visivelmente emocionada.
As gêmeas estavam entretidas com um castelo enorme de fadas
que estava montado na sala, nos dando a liberdade de liberarmos os nossos
sentimentos.
— Eu quero seguir ao seu lado, você é o amor da minha vida, Eros
Dirksen.
— Santo Deus, que notícia incrível. — sorri, emocionado. — Eu
nunca mais vou te decepcionar, Theresa. A minha meta agora não é mais
resolver causas, mas sim viver para te fazer feliz.
Avancei sobre a boca de Theresa, experimentando todo o tesão que
contaminava as minhas células.
A língua saborosa alcançando todas as esquinas de meu sorriso.
Deixei um afago na bunda deliciosa, saudoso de nossos momentos íntimos.
— Eu prometo que iremos formar uma família repleta de apoio e
respeito mútuo, e se quiser multiplicá-la, por mim tudo bem. — sussurrei,
olhando no fundo dos olhos azuis, deslizando as mãos pelo vestido de
tecido fino.
— Não tenha dúvidas sobre isso, meu deus-grego. Eu confio em
você e estou ansiosa para viver todas as suas promessas. — ela me
respondeu com os lábios vermelhos.
Felizes, sorrimos em meio a beijos. Certamente os nossos corações
pulsavam no mesmo ritmo.
Era tão reconfortante sentir o calor do corpo de Theresa e o amor
sincero nos envolvendo, enquanto nos preparávamos para enfrentar os
desafios que estavam por vir.
— Traga o seu pai e os seus pertences. Por favor, venham morar
comigo. — implorei, envolvendo o rosto bonito nas minhas mãos.
Theresa me avaliou incrédula, os seus lábios oscilando para me
fazerem mil perguntas.
— Está falando sério, Eros? — ela me perguntou desconfiada, e
um sorriso faceiro desenhava a boca carnuda. — Tem certeza que é essa
família que você quer pelo resto dos seus dias?
O hálito doce e fresco atingindo as minhas narinas, a voz
emocionada de quem estava a um passo de me entregar os seus sonhos.
— É isso mesmo, meu amor. — me aproximei ainda mais. —
Venham morar comigo, dar um basta na solidão que eu tanto repudio. Eu
preciso de vocês quatro na minha vida, agora.
Theresa balançou a cabeça, em afirmação.
Nunca vi aquela garota tão radiante.
— Eu vou preparar tudo para partimos. É rápido. Não temos
muitas coisas, afinal.
Ela subiu as escadas correndo, extremamente animada com a
novidade, deixando o perfume de lavanda absorver os meus sentidos.
Sentei sobre o sofá, segurando as meninas, fazendo cócegas e
prometendo pizza para hoje mais tarde.
Em minutos, com passos firmes e corações cheios de esperança,
Theresa, amparando o seu pai, Chloe e Honey, as pequenas luzes que
iluminavam as nossas vidas, seguravam nas minhas mãos com firmeza,
como se entendessem intuitivamente a importância daquele momento.
Animados, avançamos em direção ao meu carro, sabendo que,
juntos, éramos mais fortes e capazes de superar qualquer obstáculo que
surgisse em nosso caminho.
— Eu estou de mudança, pelas gêmeas. — Alfred resmungava,
tentando disfarçar a alegria de fazer parte das nossas vidas, enquanto
entrava no carro, recebendo as meninas ao seu lado.
E, antes de entrar no veículo, Theresa apertou a minha mão com
carinho, transmitindo silenciosamente a sua gratidão por estarmos todos
juntos, prontos para partirmos.
— Eros, eu nem sei dizer quantas vezes eu sonhei com este dia!
Retribuí o gesto com um olhar amoroso.
— Eu reafirmo o meu compromisso de estar sempre com vocês,
não importa o que aconteça.
E, a cada palavra trocada e a cada gesto de apoio, fortalecíamos
ainda mais os laços que nos uniam, preparados para enfrentar o
desconhecido com coragem.
O nosso amor era o elo forte que nos mantinha conectados, prontos
para escrevermos juntos uma nova história, repleta de felicidade,
compreensão e cumplicidade.
Puxei a cortina da janela do quarto, quando Eros se espreguiçou
sobre a cama, enrolado no lençol que cobria apenas o V perturbador em seu
abdômen.

As luzes do sol incomodaram a sua retina, no momento em que o


belo corpo de meu deus-grego foi iluminado por aqueles raios solares.

Ele sorria, lindamente, tentando desviar da claridade, quando


decidi subir na cama de joelhos, deslizando vagarosamente as mãos pelas
coxas torneadas.

Eros sorriu e agarrou nos meus pulsos, me puxando sobre ele.

Cai estatelada sobre o corpo rígido e perfumado, me deliciando


com aquela maravilhosa manhã de nossas férias.

— Theresa, você não me deixou dormir durante a noite toda e


agora quer me acordar a essas horas? — os lábios dele roçavam nos meus,
ao mesmo tempo em que reclamava.
Eros aproveitava para afagar a minha bunda por debaixo da
camisola, o meu sexo junto ao dele.

— São quase onze da manhã e uma praia linda está nos esperando,
sem falar que precisamos acertar com Joseph os últimos detalhes de nossa
viagem para Paris.

O meu marido beliscou carinhosamente o meu queixo,


visivelmente satisfeito com os nossos planos.

— Não acredito que já vamos completar doze anos juntos! Tanta


coisa aconteceu durante esse tempo. Você se tornou uma exímia advogada,
que só me traz orgulho, as nossas meninas são pré-adolescentes lindas e
estudiosas, sem falar que você só sabe se dedicar, dia após dia, ao nosso
amor e à nossa família.

Beijei lentamente a boca de Eros, grata por toda a sua


consideração, ainda sentindo as suas mãos cravadas em minha pele.

— Nada disso seria possível sem você, meu amor. — os olhos


soturnos brilhavam de uma maneira muito intensa, no instante que eu
falava. — Desde o momento em que decidi me mudar para a sua casa, na
companhia de Chloe e Honey, ainda tão pequenas, e de meu falecido pai,
tudo isso foi um incentivo para que eu acreditasse num futuro maravilhoso
ao seu lado. Nunca pensei em ser advogada, até me inspirar em você e,
obviamente, na sede de justiça em dar à minha mãe o que ela merecia.

Georgina Adams foi condenada à prisão, após eu ter lutado


arduamente, para que ela sofresse as consequências legais por sua conduta
fraudulenta, no passado.

Apesar de receber a pensão de Naibra Dirksen de maneira


informal, o que por si só já levantava suspeitas, descobri que a minha mãe
foi ainda mais longe nos seus esquemas.

No México, ela adotou uma identidade falsa, garantindo que seu


paradeiro nunca fosse rastreado por Naibra ou qualquer outra pessoa que
pudesse questionar as suas ações.
Sob essa nova identidade, ela viveu por longos quinze anos, se
mantendo fora do radar da justiça e de quaisquer tentativas de investigação,
para usufruir da pensão, sem ser incomodada, um dinheiro que alimentou
por muitas décadas o seu estilo de vida.

Além disso, ao omitir a morte de Angelica para todos, ela


perpetuou aquela farsa, mantendo o fato oculto daqueles que tinham o
direito de saber, como o meu pai, que também era pai biológico dela.

Georgina Adams estava pagando por toda as transgressões que


cometeu. Ela havia sido processada por fraude, falsificação de documentos
e outros crimes relacionados à sua conduta desonesta.

Por tabela, eu também vingava os sofrimentos que eu e meu


falecido pai havíamos passado por conta de toda a sua falta de caráter e
indiferença.

No final das contas, eu havia me tornado advogada com o


propósito de fazer justiça com as minhas próprias mãos, e mostrar à minha
mãe, de uma vez por todas, que eu não era tão incompetente e limitada
como ela costumava me julgar.

— Eu sinto um orgulho tremendo de você, Theresa. E acho,


inclusive, que merecemos esticar a nossa viagem até a Grécia! O que acha?
— Eros me sugeriu, de repente, me despertando dos devaneios, enquanto
beijava delicadamente o meu queixo, exibindo o seu olhar de cachorro
perdido, o qual eu simplesmente amava.
— Não sei se Winter e Roosevelt ficariam felizes em ter os seus
amigos na sua lua-de-mel. — ponderei, intrometendo os dedos na barba por
fazer.
Eros preencheu as suas mãos com os meus cabelos, ajeitando os
quadris sob os meus.
— Eoth e Winter devem estar aproveitando ao máximo essa turnê
pela Europa, aliás devem estar aprontando todas. Confesso que adoraria
estar me divertindo com eles. E falando em se divertir…
Eros agarrou brutalmente na minha cintura e girou o meu corpo por
baixo do dele.
Desabei sobre a cama, quando um gemido ridículo atravessou os
meus lábios, e me dei conta que ele estava completamente pelado, e ereto
para mim.
Arfei, ao receber beijos molhados por toda a extensão de meu
pescoço, a rebolada insana desferida sobre os meus quadris, que me deixava
úmida e pronta para receber o meu deus-grego enterrado no meio de minhas
pernas.
Os dedos desceram para a minha boceta, esfregando o nervinho
rígido em círculos, descendo até o suco que eu liberava, para melar toda a
extensão de meus lábios.
Quicava na mão de Eros, mordendo o seu ombro forte e, no
momento em que senti a sua boca cálida tocar os meus mamilos, sugando-
os e mordiscando os meus seios, Eros pausou de repente.
— Estou ouvindo a passos nas escadas. — nervoso, ele ficou de pé,
para catar o pijama que estava jogado pelo tapete.
Suspirei, tentando equilibrar os batimentos cardíacos.
— São as meninas. — concluí quando recuperei a respiração, me
obrigando a sair da cama e a restabelecer os ânimos.
Em segundos, enquanto nos recompunha daquele breve incêndio,
ouvimos a três toques na porta.
— Pai, mãe, estão acordados?
— Podem entrar, meninas. — pegava um pouco de água sobre o
aparador, observando Eros já vestido no seu pijama curto.
No caso, eu havia apenas me preocupado em abaixar a camisola.
Honey e Chloe, agora no auge de seus quatorze anos de idade,
entraram sorridentes o quarto, vestidas como pequenas peruas.
A quem elas haviam se inspirado? Eu costumava ser tão básica!
— Pai, mãe, vocês não vão acreditar! O Pierce Fletcher vai fazer
uma festa na casa dele! Todos os nossos amigos estarão lá! — Chloe
exclamou, seus olhos brilhando empolgados, no momento em que elas nos
davam um beijo de “bom dia”.
Chloe simplesmente amava estar com os amigos, era muito
sociável e popular. Era ela, inclusive, que costumava animar a Honey, para
acompanhá-la nos eventos.
— Fletcher? — Eros repetiu aquele sobrenome que, até então,
havia passado despercebido para mim, e ele logo me desferiu um olhar
aflito.
Nesse mesmo instante, Honey se aproximou da cama, se sentando
sobre ela.
— Sim, o Pierce Fletcher vai fazer uma pool party na sua casa, e
todos os nossos amigos de Hamptons foram convidados! Inclusive a Olivia,
a Emma, o Henry e a Charlotte. — informou, visivelmente ansiosa para
aquele evento.
Bebi toda a água, sem conseguir desviar o olhar de Eros. Ele estava
tão preocupado a ponto de rugas se formarem na sua testa.
Então ele se ajeitou na cama, dobrando um dos travesseiros sob a
cabeça.
— Vocês, por um acaso, conhecem os pais de Pierce Fletcher?
As duas fizeram uma negativa com a cabeça, ainda sem entender
as pretensões do pai. Eu também não entendia muito bem aonde Eros
pretendia chegar com aquele interrogatório.
Apesar de ser um pai protetor e carinhoso, ele não costumava
exagerar daquela maneira.
— Não conhecemos os pais dele. Por que está tão preocupado? —
Chloe perguntou, aflita, já cogitando perder a festa com os amigos.
— Pierce não é uma boa companhia? — Honey questionou,
desanimada.
Eros então se ajeitou sobre a cama, segurando nas mãos das
meninas.
— Por acaso a mãe dele é Pollyana Fletcher? — Eros disse de
repente, e a minha expressão se transformou em choque.
Pollyana Fletcher! A ex-noiva desiquilibrada de meu marido!
O meu coração se apertava ao me dar conta que Pollyana poderia
estar de volta ao nosso convívio, depois de tanto tempo!
— Ah sim, uma morena muito simpática. — Honey respondeu,
olhando para a irmã.
— Eu acho que ela foi buscar o Pierce, naquele dia em que fomos à
praia, à noite, no pequeno luau. — Chloe recuperou as lembranças, quando
a irmã concordou.
— Sim, ela foi buscar o Pierce e ainda ofereceu carona para nós
duas, mas por morarmos perto, não aceitamos.
Eros ficou visivelmente aliviado que as meninas não haviam tido
um contato mais íntimo com a sua ex-noiva, ao passo que o meu coração
também palpitava mais leve.
— E onde fica a casa da família Fletcher? — Eros perguntou,
quando Honey o entregou o celular.
— O endereço está no convite.
Os olhos dele correram ágeis pela tela, quando o seu rosto ficou
ainda mais transparente. Logo me aproximei de Eros, afagando o seu
joelho, como se pedisse por calma.
— Santo Deus. — Eros sussurrou, extremamente pálido, ao mesmo
tempo em que eu já desconfiava que a mansão de Pollyana e sua família,
era a mesma da família Dirksen, a herança que certamente Naibra Dirksen
havia deixado para a ex de seu filho, na época de sua morte.
Chloe e Honey trocaram um olhar confuso antes de Chloe
comentar, ansiosa:
— O que houve, pai? Você conhece a mansão?
Eros e eu trocamos olhares angustiados.
— Aquela mansão, aquela casa... era a nossa casa de praia, a
mesma que costumava ser nossa há muito tempo atrás e, agora, pertence a
Pollyana, a minha ex-noiva.
O simples pensamento de nossas filhas frequentando aquele lugar
nos enchia de inseguranças. Eros e eu nos entreolhamos mais uma vez,
compartilhando o mesmo pensamento de apreensão.
Aquela propriedade trazia lembranças dolorosas de um passado
que preferíamos deixar para trás, mas antes que pudéssemos responder, as
meninas continuaram falando, alheias aos nossos traumas.
— É só uma festa. — explicou Chloe, parecendo confusa com a
nossa angústia.
— E se já conhecem a casa, podem ficar tranquilos, não é mesmo?
— Honey ponderou, claramente com o intuito de nos tranquilizar.
— Então a Pollyana ficou com a mansão! — Eros concluiu, como
se a ficha caísse aos poucos. Engoli em seco, tentando assimilar aquelas
informações. — Depois de tantos anos, uma reviravolta tão inesperada
como essa! O meu pai deixou a mansão de Hamptons para Pollyana, então
isso justifica toda aquela preocupação de minha ex, para me colocar frente a
frente com o meu pai. Era tudo um jogo de interesses! Depois ela se
despediu de mim, para passar uma temporada em Nova York, tudo
perfeitamente arquitetado. Eu não consigo deixar de me sentir
desconfortável com a ideia de reviver lembranças dolorosas naquele lugar,
por isso eu me recuso a passar nem ao menos na frente da mansão de
Pollyana!
Enquanto as meninas continuavam a discutir animadamente os
detalhes da festa, sem se preocupar com as reflexões de seu pai, que me
atingiam com sentimentos tão ruins de relembrar, eu me peguei perdida em
pensamentos sobre a nossa vida na Califórnia.
Lá, tudo parecia tão perfeito, era uma rotina que nos trazia
felicidade, e eu me perguntava se deveríamos mesmo nos aventurar no
passado, como reatar os vínculos já perdidos com Pollyana.
Mas, ao mesmo tempo, olhando para o rosto radiante das nossas
filhas e vendo a expectativa em seus olhos, eu sabia que não poderíamos
negá-las a oportunidade de se divertir com os seus amigos.
Respirei fundo, fazendo uma promessa silenciosa, protegeria as
nossas filhas, onde quer que fossem, e faria o possível para que se sentissem
seguras e amadas, mesmo diante das lembranças dolorosas que Pollyana
poderia trazer para nós.
— Todos os nossos amigos vão estar lá, vai ser incrível! — Honey
tentava convencer o seu pai, da mesma maneira que Chloe fazia:
— A mansão é enorme, vocês sabem. Vai ter DJ, brinquedos
infláveis, a piscina vai estar cheia de boias divertidas, sem falar nas
comidinhas! Mal podemos esperar!
E ao perceber a aflição no rosto de Eros, eu logo chamei a atenção
das gêmeas.
— Esperem um momento. O pai de vocês que vai decidir se podem
ir ou não à festa de Pierce. — intervi, tentando manter a calma.
Enquanto Eros estava pensativo, coloquei a mão no seu braço,
transmitindo conforto.
— Muito bem. — ele finalmente respondeu, tentando manter a
serenidade — Vocês podem ir à festa sim, mas com uma condição, fiquem
longe de Pollyana Fletcher. Entenderam?
As meninas concordaram, parecendo um tanto confusas com nossa
preocupação infundada, mas, obviamente, aceitaram a condição, pulando
em nossos pescoços para nos beijar e agradecer.
Em seguida, Honey e Chloe saíram serelepes do quarto,
conversando sobre o look que usariam na festa de amanhã.
Eros bufou, ao meu lado, assim que a porta bateu, como se toda
aquela tensão ainda estivesse apertando o seu peito.
Imediatamente eu abracei o meu marido, olhando bem no fundo de
seus olhos soturnos.
— Embora ainda existam preocupações em relação ao passado e ao
contato com Pollyana, eu estou muito feliz com a sua decisão, Eros.
Obrigada por ter considerado o desejo das meninas.
Era reconfortante ver que ele valorizava a felicidade de nossas
filhas, mesmo diante das complicações do passado.
Então penteei os seus cabelos levemente grisalhos com os dedos,
enquanto ele me falava.
— Precisamos nos preparar para enfrentarmos essa nova etapa
agora, as nossas filhas daqui a pouco serão adolescentes e maiores de idade.
Muitos desafios ainda vão surgir, mas com você ao meu lado, Theresa, eu
sei que tudo será mais fácil. — Eros me falou, com um olhar sereno,
aquecendo o meu coração com as suas palavras carinhosas.
— Apesar das incertezas, eu sei que estamos no caminho certo.
Eros me abraçou, compartilhando silenciosamente a sua confiança
e apoio mútuos diante do que estava por vir.
— Eu te amo tanto, Theresa. — os olhos dele também me
confessavam os seus sentimentos.
Perdi o ar, pois sempre era emocionante ouvir aquela declaração de
amor, mesmo após doze anos juntos.
— Você é o amor da minha vida, Eros Dirksen.
Unimos as nossas bocas, em um beijo cálido, os olhos de Eros, tão
cheios de compreensão e carinho, encontraram os meus, e um sorriso se
formou em minha boca, enquanto ele me envolvia em seus braços
protetores.
O seu toque por meu corpo era tão aconchegante, que me
despertava rapidamente todos os desejos e, agora, em seus braços, eu me
sentia segura, amada e completa.
Enquanto nos abraçávamos, o mundo lá fora parecia desaparecer,
deixando apenas nós dois em nossa própria bolha de intimidade.
Os seus dedos traçavam suavemente as minhas costas, como se
quisessem me assegurar que tudo ficaria bem. E naquele momento,
envolvida naqueles beijos deliciosos, eu sabia que não importava o que o
futuro nos reservava, enquanto estivéssemos juntos, poderíamos enfrentar
tudo um ao lado do outro.
Incentive os escritores nacionais e independentes, avaliando os seus livros. :)
Visite o perfil da escritora Marcelle Oliveira, no Instagram, e fique por dentro dos próximos
lançamentos:
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