Aprendizagem e Comportamento Fossilizado
Aprendizagem e Comportamento Fossilizado
Aprendizagem e Comportamento Fossilizado
Mestrado
APRENDIZAGEM EDissertação apresentada ao Mestrado em
COMPORTAMENTO
FOSSILIZADO: A Psicologia da UniversidadeDA
COMPREENSÃO Católica de Brasília,
como requisito NA
CONSTITUIÇÃO DE CONCEITOS para obtenção do título de mestre.
DEFICIÊNCIA
INTELECTUAL.
Orientador:
2
Brasília
2009
3
________________________________________________________________
Orientadora: Profª. Drª.Tânia Maria De Freitas Rossi
Universidade Católica de Brasília
________________________________________________________________
Co-orientadora: Profª. Drª. Sandra Francesca Conte de Almeida
Universidade Católica de Brasília
________________________________________________________________
Profª. Drª. Ana da Costa Polônia
Universidade de Brasília
________________________________________________________________
Profª. Drª. Divaneide Lira Lima Paixão
Universidade de Brasília
________________________________________________________________
Profª. Drª. Nara Liana Pereira Silva
IESB
Brasília
2009
4
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Ao meu pai, por ter me ensinado-me a persistir diante das dificuldades da vida, sempre com
muita humildade e perseverança, fazendo-me acreditar que tudo posso quando tenho coragem
de lutar pelos meus objetivos.
À minha mãe, por ter ensinado-me a valorizar a vida e aprender a respeitar as diferenças das
pessoas, acreditando em suas potencialidade, e principalmente, que com fé em Deus, qualquer
barreira é transposta.
Ao meu querido marido, e fiel amigo, pelo carinho, compreensão, amor, por sempre me
apoiar em meus ideais, e por acreditar em mim, em momentos que nem eu mesmo acreditava.
Ao meu anjo que Deus trouxe para iluminar minha vida e torná-la mais colorida, Flavinho,
ensinando-me a cada dia e viver e ser feliz hoje, o amanhã pode ser tarde para demonstrar
amor.
Aos meus três irmãos que tanto admiro pela personalidade forte, carinhoso e bondoso com os
outros, independentes de quem sejam.
À Iêdes, amiga, que espalha humor, felicidade, ensinou-me a olhar para coisas com esperança
e de esperar o melhor e não o pior.
“Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que
queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?”
Fernando Pessoa
6
RESUMO
Desfossilização.
7
ABSTRACT
8
SUMÁRIO
1 - Introdução
2 – Objetivos da pesquisa
3 – Referencial teórico
3.1 - Compreensão da Deficiência Intelectual
3.2 - Um Olhar Histórico-Cultural para a Deficiência Intelectual
3.3 - Internalização das Funções Psicológicas Superiores
3.4 - Mediação semiótica
3.5 - Constituição de conceitos científicos
3.6 - Conceito espontâneo e conceito científico
3.7 - A Zona de desenvolvimento proximal de Vigotski e seus desdobramentos
pedagógicos
3.8 - A tentativa de compreender o comportamento fossilizado
4 – Delineamento metodológico
4.1 - Considerações sobre o método de estudo
4.2 - Participantes
4.3 - Local
4.4 - Instrumentos
4.5 - Procedimentos
5 - Apresentação e Discussão dos Resultados
5.1 – Primeiro momento: aplicação do quarto excluídos para conceitos cotidianos
5.2 – Segundo momento: Observação participante
5.3 – Terceiro momento: aplicação do quarto excluídos para conceitos científico
6 – Considerações finais
7 - Bibliografia
8 – Anexos
8.1 - Versões das Prachas para Analisar os Conceitos Cotidianos e os Conceitos Científicos
8.2 Roteiro de registro da atividade do quarto excluído e do método de definição – pranchas
tipo A
8.3 - Roteiro de registro da atividade do quarto excluído e do método de definição – pranchas
tipo B
9
8.4 - Mapa Conceitual referente à classificação dos seres vivos a serem trabalhados durante a
fase de coleta de dados.
10
1 INTRODUÇÃO
Sólo es posible el desarrollo de las funciones psíquicas superiores por las vias de su
desarrollo cultural, siendo indiferente que este desarrollo siga el curso del dominio
de los medios exteriores de la cultura (lenguaje, escritura, aritmética) o la línea del
perfeccionamiento interior de las propias funciones psíquicas (elaboración de la
atención voluntaria, de la memoria lógica, del pesamiento abstracto, de la formación
de conceptos, del libre albedrio, etc). Pero este desarrollo no depende de la
insuficiencia orgánica. (VIGOTSKI, 1997, p.187).
12
distintivos essenciais de todas as funções superiores, encontram espaço fértil para sua
constituição. É na escola que o desenvolvimento psicológico da criança pode alcançar níveis
de aperfeiçoamento de determinadas funções e estabelecer mudanças dos vínculos e das
relações interfuncionais preconizadas por Luria (1985).
Depreende-se que a presença de um defeito não impede o desenvolvimento do sujeito
pois, com a inserção na cultura, surgem processos de compensação ou substituições de
funções que ajudarão na constituição das funções psicológicas superiores. Para Vigotski
(1997), o indivíduo que traz em si um desenvolvimento complicado por um defeito busca
novas formas de se apropriar da cultura, singularizando o seu desenvolvimento. O defeito
representa uma limitação, mas não uma incapacidade. Dessa forma, o estudo do
funcionamento do deficiente intelectual permite pensar em intervenções pedagógicas que
possibilitem o desenvolvimento das crianças com deficiência.
consolidas; funções essas que, pelo dinamismo, voltar-se-ão para o nível de desenvolvimento
real do sujeito.
Na constituição do ser humano, em geral, o desenvolvimento natural e o cultural
coincidem e se fundem; na criança com deficiência intelectual, não se observa esse tipo de
fusão (Vigotski, 1995), já que o próprio defeito desencadeia a divergência. As atividades de
uma cultura são construídas para um biótipo comum. Ao nascer, a criança com deficiência
intelectual não encontra em seu meio condutas culturais de atividades que são adequadas à
sua atuação, o que dificultará o seu desenvolvimento histórico-cultural. Conseqüentemente,
seu desenvolvimento cultural transcorre numa direção distinta da direção do desenvolvimento
da criança normal, à semelhança da plasticidade de sua inteligência, ainda que sejam
prevalecentes as mesmas leis gerais do processo de internalização. Em função disso, o ritmo
da aprendizagem e do desenvolvimento apresenta características de um processo incompleto.
A evolução intelectual na deficiência mental configura-se analogamente a uma construção
inacabada a demandar investigações acerca desse funcionamento psíquico peculiar. O
conceito de fossilização, apenas delineado por Vigotski (1997), pode constituir-se em um
operador lógico no entendimento desse funcionamento.
Durante os estudos relacionados à análise dos processos psicológicos superiores,
Vigotski (1997) deparou-se com situações onde os processos psicológicos, com o decorrer do
tempo, tornaram-se rígidos e mecanizados. Fazendo uma analogia com a paleontologia, esse
conjunto de característica foi denominado de fossilização, ou seja, sua aparência externa não
teve modificação no transcorrer dos anos, mas sua aparência interna foi modificada e
esmaecida. Conseqüentemente, os principais aspectos do comportamento fossilizado referem-
se ao automatismo e comportamento mecanizados. Portanto, para estudar o comportamento
fossilizado é necessário realizar uma análise genotípica, afinal o interesse é verificar os
motivos que levaram o comportamento a ficarem mecanizados.
Segundo Vigotski (2003, p.85),
259), ao tratar do funcionamento do deficiente intelectual, afirma que “na presença de uma
diferenciação insuficiente da personalidade, o mundo das percepções e vivências resulta ser
na criança retardada, também muito mais uniforme, inerte e fossilizado”.
Na deficiência intelectual, há dois problemas centrais: o primeiro diz respeito a
internalização de um dado conteúdo a ponto de tornar-se fossilizado; o segundo refere-se ao
processo de desfossilização, que assegura a continuidade do processo de desenvolvimento.
Cabe, então, perguntar: como crianças com deficiência intelectual realizam o processo de
fossilização? Elas apresentam peculiaridades quanto ao reverso, ou seja, a desfossilização?
É sabido que tanto para a criança considerada “normal” quanto para a criança com
deficiência intelectual, as características das funções psicológicas superiores são alteradas
significativamente com a formação de conceitos, pois o conceito, em termos psicológicos, em
qualquer nível do seu desenvolvimento, é um ato de generalização. O desenvolvimento dos
conceitos coincide com o desenvolvimento dos significados das palavras e requer atenção
arbitrária, memória lógica, abstração, comparação e discriminação dos próprios processos
intelectuais que lhe servem de base, além de incluir reflexões mais complexas entre a
aprendizagem e a atividade da criança (Vigotsky, 2001). Durante a dinâmica de constituição
de conceito, é possível estudar, portanto, o processo de fossilização.
Nesse sentido, o objetivo deste projeto é investigar o modo de funcionamento
psicológico de crianças com deficiência intelectual ao longo da constituição de conceitos
científicos em sala de aula, para analisar como se realizam os processos de fossilização e
desfossilização nessa dinâmica.
20
2 OBJETIVOS
1 Objetivo geral
2 Objetivos específicos
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Montreal (o Brasil foi um dos países que participaram) o simpósio que culminou com a
construção de um documento, chamado “Declaração de Montreal sobre a Deficiência
Intelectual”.
O evento teve a participação de especialistas das mais diversas áreas, representantes
dos Estados, de famílias de pessoas com funcionamento intelectual prejudicado. A
conferência de Montreal declarou que:
Área de Apoio
Resultados Pessoais
- Independência
- Relacionamentos
- Cooperação;
- Participação escolar e comunitária
- Bem-estar pessoal Avaliação dos
apoios
Necessário
Fig. 1. Modelo de sistema de apoio para pessoa com deficiência intelectual (AAMR, 2006, p.143).
Cabe, portanto, aos profissionais identificar os tipos de apoios que são necessários, a
intensidade e o papel das pessoas que são responsáveis em possibilitar o apoio em cada uma
das nove áreas de apoio propostas pela AAMR (2006, p. 223): “desenvolvimento humano,
ensino e educação, vida doméstica, vida em comunidade, emprego, saúde e segurança,
comportamental, social, proteção e defesa”.
O atual conceito dos apoios está em consonância com o conceito de ZDP proposto por
Vigotski, que o define como a distância entre os níveis de resolução de problemas de maneira
independente e assistida. Assim, o desempenho da pessoa com deficiência intelectual pode
melhorar quando ela possui ajuda do outro mais capaz que a auxilie a resolver suas atividades,
para que, em outro momento, ela possa internalizar a aprendizagem para o desempenho das
atividades com independência.
Percebe-se, nas concepções da AAMR, uma preocupação em demarcar não apenas a
incapacidade da deficiência intelectual mas, primordialmente, os avanços que o sujeito
apresenta como dependentes do contexto onde no qual convive. Essa interpretação vai ao
encontro da concepção de deficiência intelectual apresentada pela abordagem histórico-
cultural, que tem como um dos seus principais representantes Vigotski. Nessa perspectiva, a
presença de um defeito não impede o desenvolvimento do sujeito, já que o indivíduo que traz
em si um desenvolvimento complicado por esse defeito busca novas formas de se apropriar da
cultura, singularizando o seu desenvolvimento. Portanto, o defeito representa uma limitação, e
não uma incapacidade.
30
por Góes, 2000, p. 119), “nos tornamos nós mesmos através dos outros” e que “sou uma
relação social comigo mesmo”. O desenvolvimento do sujeito é uma história de relações com
as pessoas mediadas pela linguagem e de constantes modificações no funcionamento
psicológico construídas pelas trocas sociais, que ocorrem tanto face a face quanto no plano
macro social – no de políticas públicas, por exemplo.
Mesmo vivendo em cultura, cada ser humano apresenta suas particularidades como
fruto de sua história de vida. A singularidade de cada pessoa resulta da multiplicidade de
influência que recaem sobre o sujeito no curso de sua história. Assim como a sociedade
desempenha um papel de modificação no sujeito, o mesmo também desempenha uma função
de organismo ativo, também tendo força para modificar o meio no qual está inserido, de
acordo com suas necessidades. Pessoas vivenciam emoções, sentimentos, confrontos de
situações de maneiras bastante particulares e específicas e, dessa forma, o desenvolvimento
ocorre em campos de conflitos e crises ou, conforme pontua Vigotski, irregularidades, que são
aspectos constituintes no processo do desenvolvimento.
Percebe-se que Vigotski, ao propor essa análise do estudo do desenvolvimento
humano, buscou superar as psicologias idealistas e as correntes materialistas e mecanicistas,
ancorando seu trabalho na filosofia marxista para estudar, de forma objetiva, as reações
humanas e suas características biológicas e sociais, mas evitando tanto o reducionismo do
psíquico ao social quanto o reducionismo do psíquico ao biológico.
A partir das colaborações de Vigotski, outros pesquisadores analisaram as concepções
de uma unidade de análise entre sujeito e cultura, compreendidos em constante
desenvolvimento dentro de uma dinâmica de interdependência entre o indivíduo e suas
relações sociais, sendo uma delas a abordagem sócio-cultural de Valsiner (1987). O
pesquisador tentou compreender o processo de desenvolvimento da criança em seus diferentes
contextos e em mudanças. Por sua vez, Wertsch (1998) buscou compreender a relação entre
funcionamento mental e seu vínculo com o contexto cultural e histórico.
A abordagem histórico-cultural caracteriza o desenvolvimento humano como fruto
das complexas dinâmicas que se estabelecem entre o contexto social e o sujeito. A
interdependência entre o sujeito e seu contexto, que favorece o desenvolvimento, se estrutura
a partir das internalizações dos conhecimentos que são compartilhados e expostos em sua
comunidade. Assim o desenvolvimento é
interação do sujeito com sua comunidade, que pode possibilitar a pessoa compensar a
insuficiência orgânica.
Segundo Adler (citado por Vigotski, 1997, p. 36), se a causa da diminuição
morfológica ou funcional de algum órgão não pode cumprir plenamente suas tarefas, o
sistema nervoso central e o aparato psíquico do homem assumem a tarefa de compensar o
funcionamento difícil desse órgão, onde “o defeito se converte sendo a força motriz do
desenvolvimento psíquico”. Assim, o primeiro ponto de toda a educação é a luta do
sentimento de inferioridade. Tal sentimento não é ocasionado pelo defeito orgânico e sim
devido a sua base da degradação da posição social. Logo, o desenvolvimento de uma criança
deficiente é condicionado de maneira socialmente dupla: o sentimento de inferioridade, que é
um aspecto do condicionamento social do desenvolvimento, pois a incapacidade coloca a
pessoa em uma condição menos vantajosa em relação às outras; e a orientação social da
compensação e sua adaptação às condições do meio. O grau do defeito e sua normalidade
dependem do resultado da compensação social.
Para Vigotski (1997), a supercompensação pode ser compreendida como uma reação
defensiva do organismo, em proporção maior do que o necessário para neutralizar o risco a
que esse se encontra submetido. Portanto, a supercompensação é o processo na qual o
organismo compensa o dano e elabora uma defesa.
Por exemplo, um cego usa o tato como um analisador. Esse analisador leva um
estímulo ao cérebro. Psiquicamente, ocorre outro modo de funcionamento e institui-se uma
subestrutura psíquica. O analisador permite a compensação psíquica. Conseqüentemente,
muda a forma de como trabalhar com as crianças que tenham deficiência. Assim, a
dificuldade em realizar uma função gera um estímulo para sua superação (Vigotski, 2004).
Segundo Vigotski (1997), a educação de crianças com diferentes deficiências deve
basear-se na simultaneidade entre defeito e possibilidade compensatórias, orientando o
processo educativo seguindo as tendências naturais à supercompensação.
Assim, Vigotski (2004, p.381) acredita que o princípio da educação de crianças com
deficiência intelectual consiste na tentativa de em que o professor “ensine o deficiente a
trabalhar, o mundo a falar, o cego a ler”, ou seja, que os profissionais trabalhem para que
através da compensação social o sujeito possa superar suas limitações. “A educação
estabelece vínculos condicionados, vence as deficiências naturais e cria possibilidade de
convívio social e, conseqüentemente, do próprio desenvolvimento”. (Vigotski, 2004, p.388).
Na educação da criança deficiente intelectual, o importante não é conhecer a
insuficiência, o defeito em si, mas como a criança se desenvolve, como sua personalidade
34
Durante todo o trajeto teórico que Vigotski percorreu, a questão da natureza social das
funções psicológicas superiores estave presente. Pino (1999) discute a respeito do termo
“função” que Vigotski faz uso no decorrer de seus escritos. Nos trabalhos de Vigotski, não
está presente o motivo pela escolha do termo “função”, mas é certo que o seu caráter
semântico é bem diferente das teorias funcionalistas. Quando Vigotski (2003) refere-se à
gênese das funções mentais superiores, o autor utiliza diferentes termos para designar a
mesma coisa: formas superiores de conduta, formas mentais, processos mentais superiores e
funções mentais superiores. Independente da utilização indistinta do termo, ao entender o
psiquismo como constitutivo de um conjunto de funções de natureza social e não de ordem
biológica, Vigotski rompe com as perspectivas funcionalistas e estruturalistas e também com
as visões biologizantes e mecanicistas da concepção sobre desenvolvimento humano.
algo que nos faz pensar na criação ininterrupta do velho no novo, do significado
dado na flutuação do sentido. Entendido assim, o termo função permite ver as
“funções mentais” de que fala Vigotski como um acontecer permanente.
Conservando um certo grau de consistência e de continuidade, apresentam-se
sempre sob o signo do novo. É claro que a capacidade de pensar, de falar, de
registrar em memória etc, são funções permanentes da pessoa, mas sujeitas às leis
35
históricas das condições da sua produção: produção da fala, das idéias, das
lembranças etc. Essas funções são portanto função dessas condições de produção, as
quais não permanecem sempre necessariamente as mesmas. O que nós pensamos, o
que nós dizemos, o que nós rememoramos depende das condições concretas em que
isso ocorre. Se isso não impede que idéias, discursos ou lembranças possam ser
reproduzidas no tempo com uma certa persistência, elas têm de ser cada vez
(re)pensadas, (re)ditas ou (re)memoradas.
social, diz ele, devemos perguntar como o meio social age na criança para criar nela as
funções superiores de origem e natureza sociais”. (Vygotsky 1989, p.15).
El niño normal responde al conflicto de modo mucho más moderado, más elástico,
por médio de transiciones más graduales y conectadas entre si. Encuentra la forma
de dar uma solución de compromiso al conflicto, lo cual le permite no interrumpir e
inmediato el trabajo iniciado. La conducta de los niños mentalmente retrasados
tiene, em esta situación, um caráter mucho más incoherente y se subordina a la ley
de –uma cosa o la outra-. Una de las diferencias fundamentales de los niños
37
Portanto, Coll (1982), embasado pela abordagem de Vigostki (2003), postula algumas
idéias centrais para que se possa compreender o processo de internalização:
De acordo com Peirce (1991, citado por Rossi 2006, p.4), pode-se considerar que
“signo tudo aquilo que está no lugar de alguma coisa, para alguém”.
Quando um objeto novo é apresentado a uma pessoa, uma flor rara, por exemplo,
conquanto ela tenha existência real, para a pessoa que a vê pela primeira vez, a flor
carece de significado. O sujeito não conhece a flor por si mesmo, como se possuísse
em seu espírito todas as condições dadas a priori para conhecer esse objeto.
Tampouco a flor se dá a conhecer ao sujeito por si mesma, pois ela não encarna
todas as propriedades que imprimem determinados reflexos no sujeito e o faz
conhecê-la. O sujeito age sobre a flor, que, por sua vez, age sobre o sujeito. Ainda
assim, falta um elemento imprescindível entre o sujeito e objeto que permitirá
conhecer a flor como uma flor rara. Uma outra pessoa, um outro social, intercepta a
relação sujeito-objeto e atribui significados à flor. Esses significados emitidos são a
expressão do pensamento e da linguagem do outro; são signos que representam
aquilo que é a flor. (ROSSI, 2006, p.4)
A internalização dos instrumentos e dos signos pelo sujeito ocorre na interação com o
outro. Dessa forma, Vigotski (2003) afirmou que o caminho do objeto até a criança e desta até
o objeto passa através de uma outra pessoa; logo, as explicações acerca do funcionamento
psicológico do homem devem ser analisadas considerando sua participação no mundo das
interações sociais. É nesse plano que o sujeito tem acesso aos instrumentos e aos signos que
possibilitam o desenvolvimento das funções psicológicas superiores e permitem estruturar o
pensamento.
O processo de desenvolvimento do signo marcado pela relação entre sujeito-objeto é
denominado por Vigotski (2003) como mediação semiótica. O conhecimento adquirido
acontece através da representação que o próprio sujeito faz. Só ocorreu apropriação dos fatos
porque foi significativo para o indivíduo. Dessa maneira, o conhecer tem um caráter social e
não uma perspectiva individual dada pela história da filogênese. Os objetos são internalizados
inicialmente como imagens sensoriais que permanecem coladas à singularidade do objeto. É
necessário descolar o objeto do reflexo da realidade representando a imagem sensorial por um
signo, promovendo sua abstração e generalização. Entretanto, distintos dos animais, os
homens são constituídos de sinais que apresentam seus significados sociais e culturais. Desde
muito cedo, a criança já percebe o “objeto semiótico, ou seja, a imagem com sua significação”
(Rossi, 2006, p.4) pelo uso da palavra. Ora, a palavra é uma ação de generalização, um
significado que tem um conceito que se desenvolve no plano da ontogênese. (Rossi, 2006)
Os instrumentos de mediação semiótica promovem o desenvolvimento e organizam o
funcionamento psicológico. A criança, no decorrer dos anos, apropria-se paulatinamente de
novos instrumentos psicológicos, ao passo que vai conhecendo e ampliando suas formas de
41
da pessoa, apenas na adolescência, de acordo com Vigotski (2001), o sujeito terá condições de
realizar processos de abstrações “que suplantam significados ligados à suas práticas
imediatas”. (ROSSI, 2006, p.5).
Ao realizar o experimento acerca da ontogênese do desenvolvimento dos conceitos,
utilizando blocos de madeira de diversos tamanhos, cores e formas geométricas e que tinham
denominações especificas de acordo com suas propriedades, Vigotski (2001) formulou três
momentos diferentes afeitos ao desenvolvimento da estrutura de generalização: o pensamento
sincrético, pensamento por complexo e o pensamento conceitual. Os diferentes níveis de
generalização encontram-se imbricados as fases do desenvolvimento de conceitos.
A primeira fase, denominada como amontoados sincréticos, é uma forma de
pensamento que manifesta-se na criança bem cedo e caracteriza-se pela tentativa da criança
em realizar os primeiros agrupamentos de maneira não organizada, utilizando o signo como
um conjunto de informações vagas e sincréticas de objetos isolados. Essa fase é a mais
rudimentar na formação do conceito e tem baixo nível de abstração e generalização. (Rossi,
2006). As crianças, ao discriminarem os objetos, encadeiam pensamentos que se encontram
em sua percepção um pouco concatenados, mas a criança utiliza critérios subjetivos e não
estabelece relações com as palavras, afinal não apresenta um fator de organização para ação.
De acordo com Simões (2008), essa situação ocorre porque a criança apresenta incapacidade
em operar com o pensamento lógico objetivo, substituindo-o por conexões subjetivas. Por sua
vez, essa fase divide-se em três estágios: a) formação da imagem sincrética ou amontoados de
objetos – as crianças escolhem os objetos ao acaso, sem critérios; b) disposição espacial –
forma-se com base nos encontros espaciais e temporais de determinados elementos que
surgem no processo de percepção imediata. A criança utiliza critérios diante da posição
espaço-temporal que os objetos se encontram em “contigüidade em relação a outros objetos”.
(Rossi, 1993, p.90); c) imagem sincrética – forma-se em uma base mais complexa e se apóia
na atribuição de um único significado aos representantes dos diferentes grupos, de acordo
com a percepção da criança. Esse último estágio é considerado superior e finda o
desenvolvimento e a passagem para o segundo estágio na constituição dos conceitos.
A segunda fase da formação de conceitos é denominada pensamento por complexos e
é baseada no funcionamento do pensamento verbal, no qual as relações entre os objetos
factuais se estabelecem na mente da criança em decorrência de suas experiência concreta. O
sujeito estabelece relações de critérios entre os objetos, ligadas em um agrupamento real
reunidos em fatos factuais (Rossi, 2006). Segundo Shoroeder (1990-, p. 15 ), “o pensamento
ainda se encontra no plano real-concreto e não no lógico-abstrato”. Assim, Rossi (2006)
43
assevera que o signo se constitui a partir das relações reais e imediatas através das
experiências da pessoa e com um nível de abstração e generalização mais avançado em
relação à fase anterior. As generalizações elaboradas por intermédio do pensamento
representam enlaces de objetos específicos e concretos, não mais ligados a critérios subjetivos
estabelecidos pela percepção da criança, mas de vínculos de objetos factuais em que
realmente existem relações entre os objetos. Segundo Simões (2008), o pensamento por
complexo caracteriza-se pela situação em que uma mesma palavra pode apresentar, em
situações diferentes, significados diferentes, mas que apresenta o mesmo sentido funcional
desde que haja ligações associativas entre eles.
A pedra angula do pensamento por complexo é a compreensão da relação concreta e
factual entre os aspectos específicos que constituem sua composição e que se mostram na
experiência imediata; assim, possibilitam a unificação concreta com o grupo de objetos
agrupada pela sua semelhança física. Dessa forma, no pensamento por complexo, a criança
utiliza o processo psicológico de generalização para unir objetos que são heterogêneos e
concretos. Segundo Vigotski (2001, p. 180), o aspecto essencial ao construir um complexo “é
o fato de ele ter em sua base não um vínculo abstrato e lógico, mas, um vínculo concreto e
fatual entre elementos particulares que integram a sua composição”. Enquanto o conceito se
fundamenta em vínculos da mesma propriedade e idênticos, o complexo se baseia em
vínculos fatuais de generalizações dos mais diversos. Portanto, no conceito, os vínculos são
generalizados a partir de fato idênticos; já o complexo, por traço fatual, ou seja, “cada objeto
particular, abrangido por um conceito generalizado, insere-se nessa generalização na mesma
base de identidade com todos os outros objetos”. (Vigotsky, 2001, p.181).
Vigotski (2001), em um estudo experimental, identificou cinco estágios que embasam
as generalizações presentes na fase do pensamento por complexo.
O primeiro estágio do complexo é o complexo do tipo associativo. Caracteriza-se por
diferentes vínculos associativos com qualquer aspecto percebido pela criança, por diferentes
relações concretas de conhecimento que a criança descobre e diversas relações associativas
entre o fenômeno e o objeto do complexo. Essas características são o suficiente para que a
criança engendre a inclusão de determinados objetos ao grupo e designe o nome comum para
o conjunto. Assim, as palavras deixam de ser utilizadas como significados isolados e tornam-
se nomes de um grupo.
O segundo estágio do pensamento por complexo é denominado de complexo-coleção.
As crianças relacionam objetos e percepções concretas dos fatos em grupos específicos, que
representam coleções. Esse estágio é consideravelmente longo e persiste no processo de
44
de pensamento com o qual a criança percebe e toma conhecimento da realidade que a cerca”.
(Vigotsky, 2001, p.228).
Para Vigotski (2004), o conceito não surge sem a palavra, assim como o pensamento
conceitual não aparece sem o pensamento verbal. A capacidade de formação de conceitos é
uma das funções psicológicas superiores constituída através da relação entre análise e síntese,
na qual a abstração e generalização são mediadas pelo pensamento e materializadas pela
palavra. É na adolescência que o sujeito apresenta capacidade de utilizar o significado da
palavra para representar um conceito.
A adolescência é uma fase caracterizada, principalmente, pelo amadurecimento do
pensamento que transpõe as características do pensamento sincrético e do pensamento por
complexo para alcançar a formação dos conceitos propriamente ditos. Segundo Vigotski
(2001), as forças que impulsionam os processos psicológicos de abstração e generalização,
essenciais para a formação do conceito, não são derivadas de fatores internos, mas sim de
aspectos externos ao sujeito. Os determinantes sociais impulsionam o desenvolvimento
intelectual do adolescente, haja vista os seus objetivos para o futuro, tais como suas decisões
profissionais. Dessa forma, Shoroeder (1990-p.10) afirma que “o desenvolvimento do
adolescente precisa ter o seu vetor voltado ao crescimento e domínio da consciência sobre si
mesmo, sobre a natureza e sobre a cultura”. Rossi (1993, p.93) ainda assevera que
Nesse sentido, a escola tem como função reestruturar as funções mentais para
possibilitar que os estudantes tenham capacidade de utilizar operações mentais complexas
para resolução de situações problemas. De acordo com Vigotski (2004), o processo de
aprendizagem que ocorre na escola permite aos investigadores que analisam a formação do
conceito observar dois aspectos valiosos no estudo do processo do pensamento. O primeiro
refere-se à evolução do próprio conceito, ou como apontado pelo próprio Vigotski, estudar o
desenvolvimento e a mudança da estrutura do significado da palavra, resultado de um
funcionamento psicológico com significados diversos. O segundo aspecto compreende que o
significado da palavra constitui uma unidade do pensamento, já que pesquisa o pensamento
discursivo, em que pensamento e discurso formam uma unidade de análise.
47
Todo significado de uma palavra é, de certo modo, um discurso que representará uma
ação mental de generalização do significado da palavra pois, ao contrário, seria apenas como
Vigotski (2004, p. 521) afirmou: “as palavras desprovidas de significados são simplesmente
um som vazio”.
As mudanças no desenvolvimento dos significados das palavras permitem que novas
aprendizagens ocorram. Dessa forma, percebe-se que a gênese que Gallimore e Tharp (2002)
propõem a respeito da capacidade do indivíduo de fossilizar, interiorizar um conceito, para
posterior desfossilizar, contribua para e evolução da formação de conceito e a possibilidade
do sujeito operar com nível de pensamento categorial, ocorrendo assim a generalização.
Assim, Vigotski (2004, p.522) afirma que deve-se “estudar as mudanças celulares
internas, as mudanças da estrutura do próprio significado da palavra e estudar as funções, os
modos de movimento das palavras que podem realizar-se no pensamento discursivo”.
Verifica-se que o sujeito elabora o pensamento discursivo antes de sua entrada na
escola. Por outro lado, o ingresso da pessoa na escola promove o desenvolvimento dos
significados das palavras porque o ambiente favorece a aquisição de diversos conceitos mais
formais, tais como os investigados e trabalhados pelas ciências naturais e sociais e pelos
códigos e linguagens.
Dessa maneira, verifica-se a existência de dois tipos distintos de conceitos: conceitos
espontâneos e conceitos científicos. Segundo Vigotski (2004), esses conceitos aparecem e se
desenvolvem de formas diferentes.
construído no decorrer de sua história de vida através das experiências sociais que servem
para entender e analisar a realidade. Essas estruturas de conhecimentos facilitam o
amadurecimento de vários processos psicológicos necessários para a formação de conceitos
científicos. Por sua vez, Daniels (2003) reforça que estruturas de conhecimento ajudam os
sujeitos a elaborarem julgamentos e interpretações de fenômenos que direcionam suas ações
na cultura.
Os educadores não dão a devida importância aos conceitos espontâneos,
desenvolvendo uma prática voltada para transmissão de conhecimentos desprovida de
significado. Os conceitos espontâneos são construídos nas relações familiares, grupos de
amizades e demais grupos significativos para o sujeito. A partir dessa troca de experiência,
juntam-se os conhecimentos adquiridos nos grupos, compostos por seus valores morais
étnicos e afetivos, que resultam em um conjunto de representações com um universo
simbólico peculiar, constituindo os sistemas de interpretações da realidade, ou seja, pontos de
vistas diante do fenômeno.
Em suas pesquisas da influência da interação social, da linguagem e da cultura sobre a
aprendizagem, Vigotski (2004) se debruça na investigação da relação entre conceitos
científicos e conceitos espontâneos. Defende a idéia da interação dinâmica entre os dois tipos
de conceitos. Schoroeder (1990-, p. 7) corrobora com Vigotski e assinala que “os conceitos
científicos não são assimilados em sua forma já pronta, mas sim por um processo de
desenvolvimento relacionado a uma capacidade geral de formar conceitos, existentes no
sujeito”. Por sua vez, está associado à constituição dos conceitos espontâneos. Os conceitos
espontâneos que o individuo vai acumulando durante sua história de vida favorece a
transformação qualitativa e quantitativa dos tipos de pensamento científico.
O conceito científico aparece no momento em que o sujeito começa a trabalhar com a
definição verbal juntamente com operações mentais articuladas com o conceito internalizado.
De acordo com Vigotski (2001, p. 244), a definição verbal primária que nas condições de um
“sistema organizado, descende ao concreto, ao fenômeno, ao passo que a tendência do
desenvolvimento dos conceitos espontâneos se verifica fora do sistema ascendendo para as
generalizações”. O caminho do desenvolvimento do conceito científico germina quando: (1) a
criança relaciona um determinado conceito com alguma outra experiência, esses objetos são
mais conhecidos pelos adultos, mas ainda não são objetos reais; (2) ao passar do tempo a
criança começa a conseguir definir o conceito, apresenta capacidade de discriminação e de
operar com relações lógicas que se estabelecem entre eles. Mas essas relações lógicas ainda
estão vinculadas a suas experiências.
49
pedológica levadas a cabo no período em que a criança entra na escola” (Vigotski, 1933, p.37,
citado por Veer & Valsiner, 1996, p.364).
Segundo Vigotski (2003), para estudar o desenvolvimento mental do sujeito é
necessário considerar os seus dois níveis: o nível de desenvolvimento real e a zona de
desenvolvimento proximal.
Dessa forma, o nível de desenvolvimento real refere-se às funções mentais dos sujeitos
que se findaram como resultado de uma aprendizagem já completada, formulada, em que o
sujeito já soluciona com independência as situações problemas. A crítica de Vigotski refere-se
às medidas de testes de inteligência, já que essas técnicas avaliam apenas o nível de
desenvolvimento real. O nível de desenvolvimento proximal apresenta as funções mentais que
os sujeitos adquirem em momentos de atividades sob a supervisão e instruções de um adulto
ou de outrem mais capazes, sendo determinada por soluções-problema que dependem da
ajuda de outros para a resolução da atividade.
A ZDP “define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em
processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado
embrionário” (Vigotski, 2003, p.113). Cabe ao educador instruir a criança em situações de
aprendizagens, contribuindo para o desenvolvimento das funções que se encontram em estado
embrionário, favorecendo o seu amadurecimento. Portanto, “o nível de desenvolvimento real
caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a ZDP caracteriza o
desenvolvimento mental prospectivamente” (Vigotsky, 2003, p.113). Assim, o
desenvolvimento encontra-se em processo para vir a se consolidar através de atividades
compartilhadas.
Em algumas situações, deparamo-nos com ações educativas que não promovem a
aprendizagem das crianças. O professor tem dificuldade em lidar com a falta de conhecimento
do aluno e não consegue criar estratégias que possam contribuir para aprendizagem da
criança. Ele precisa contribuir para a aprendizagem do aluno considerando a sua ZDP,
atuando, assim, para a modificação de estruturas cognitivas.
Portanto, o conceito de ZDP reitera a idéia de que o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores dependerá das condições do ambiente, onde o educador precisa
avaliar seu aluno considerando também a idade real e a ideal mental do mesmo.
55
Vigotski (2004) afirmava que a vinculação entre a idade mental ideal de determinada
série e a idade mental real das crianças dessa classe deveria ter uma medida compreensiva por
parte dos profissionais, pois a diferença entre o ideal e o real não poderia diferir demais: “uma
criança não alfabetizada que fosse parte de uma classe alfabetizada” ou vice-versa, os
benefícios da escolaridade para essas crianças seriam poucos.
Entretanto, “como seria estabelecida a distância apropriada entre a idade mental real e
a ideal e quais são as condições adequadas para o desenvolvimento intelectual”? (Veer &
Valsiner, 1996, p.366). Pesquisas realizadas pelos colaboradores de Vigotski apresentaram a
diferença da relação da idade mental ideal e o nível de idade mental real associada com a
ZDP:
Após algumas leituras críticas dos diversos autores contemporâneos que exploram o
conceito de ZDP, esta pesquisa tomará como ponto de partida, sobretudo, as contribuições de
Rogoff, Wertch, Valsiner, Van der Veer, Gallmore e Tharp.
Segundo Valsiner & Van der Veer (1991), diversos autores tentaram compreender a
história da utilização do conceito de ZDP; em especial um deles, L. Winegar, que analisou
que, quando exposta diante de uma determinada atividade que envolve uma solução
problema, a criança recebe pistas verbais para chegar a um resultado. Posteriormente,
observa-se a capacidade da criança para generalizar as estratégias utilizadas anteriormente a
situações parecidas. Portanto, para Winegar, a noção de ZDP é compreendida como se a
criança tivesse uma prontidão inerente.
O outro direcionamento de investigação do uso do conceito de ZDP enfoca a
aprendizagem como um aspecto interativo, com atividades compartilhadas. Nessa perspectiva,
o sujeito cria suas estruturas cognitivas através de “andaimes” com a ajuda de outros
companheiros mais capazes.
De acordo com Valsiner & Van der Veer (1991), a metáfora do andaime é superficial
para a compreensão da ZDP, pois o professor não trabalha para construir funções mentais
inovadoras nas crianças. Dessa forma, se a tarefa dada pode ser alcançada pela seqüência de
ação x-y-z, e a habilidade para a realização de y ainda não está madura, o tutor ajuda a criança
a alcançar y, tornando possível para ela a solução da tarefa. Uma vez que a habilidade para y
amadurece, o tutor “retira” o suporte para y e a criança pode, então, alcançar a tarefa
individualmente. Desse modo, o ensino-aprendizagem não se adianta ao desenvolvimento
(como explicitado por Vigotsky), mas encaixa-se ao programa maturacional de habilidades já
estabelecidas.
Já Bruner 1985, citado por Coll (2004), aponta aspectos de similaridades entre as
noções de andaime e ZDP:
O outro enfoque, apontado por Valsiner & Van der Veer (199), enfatiza à insuficiência
de aspectos teóricos da noção de ZDP na linha de pesquisa da psicologia do desenvolvimento.
57
outrem mais capaz em atividades que ocorrem a partir de processos de participação. Nesse
evento interativo, ambos os envolvidos direcionam os seus esforços para o mesmo objetivo
pois, por meio das experiências vivenciadas e das interações com o outro, o desenvolvimento
emerge também a partir de uma circunstância social.
De acordo com Rogoff (2005), a ZDP é um espaço propício para as aquisições de
conhecimentos a partir de experiências em ambientes onde os sujeitos envolvidos possuem
papéis definidos. O principal papel do adulto nessa relação é proporcionar um auxílio para
que a criança consiga construir seus degraus rumo ao alcance de seu objetivo.
Segundo Rogoff (2005 p.231), a zona de desenvolvimento proximal é
a idéia de que as crianças aprendem por meio de sua interação com adultos e pares
mais experientes, que as ajudam a desenvolver pensamentos que estejam além da
zona de desenvolvimento próxima, na qual elas conseguiriam desempenhar sem
ajuda. Dessa forma as crianças aprendem a usar os instrumentos intelectuais de sua
comunidade, entre eles, a alfabetização, sistemas numéricos, o idioma e
instrumentos para memorização e planejamento.
As crianças são inseridas nas atividades diárias de seu grupo social envolvidas com os
padrões culturais por intermédio dos valores e ações culturais. Cada comunidade apresenta
seus costumes que influenciam o desenvolvimento humano, afinal sistemas de organização
das culturas procuram de alguma forma conduzir a conduta de indivíduos. “As oportunidades
para observar e participar, permitem que as crianças aprendam por meio de atenção apurada e
atividades em andamento”. (Rogoff, 2005, p. 249). O conhecimento tem, na sua arquitetura
inicial, bases sociais que de alguma forma irão modificar as estruturas individuais que
possibilitam a construção da aprendizagem.
A zona de desenvolvimento proximal pode ser percebida quando duas pessoas
trabalham em um problema que, sozinha, uma delas não resolveria com independência. Isso
pode ocorrer nas interações de sala de aula, em ambientes de aprendizagens, na relação entre
mãe e filho, com crianças brincando ou quando duas ou mais pessoas em níveis de
conhecimento diferentes se juntam para resolver uma tarefa para uma mudança cognitiva.
As pessoas vêm para as interações sociais com diferentes perspectivas, diferentes
interpretações, diferentes entendimentos sobre um conceito ou tarefa. Para se desenvolver, os
indivíduos precisam assumir papéis ativos no compartilhar dos conhecimentos. A construção
conjunta do conhecimento ocorre quando cada membro assume algo do conhecimento do
outro.
A ZDP precisa envolver a intersubjetividade entre os participantes, na qual os
indivíduos compartilham um propósito, um objetivo. A atenção conjunta e a troca de solução
de problema são necessárias para criar um processo de cognição social e de troca emocional.
O trabalho construtivo na ZDP ocorre, em grande parte, na interação com o adulto e com a
criança, como nos processos internos da criança. Adultos aprendizes e ferramentas culturais
podem auxiliar a criança durante a mudança cognitiva, mas a construção conjunta deve existir
para que a mudança aconteça na interdependência da atividade social. Hausfather apresentou,
em seu texto “Vigotsky and Schooling: Creating a social context for learning”, um estudo
etnográfico da transmissão de conhecimentos e habilidades em 35 lares espanhóis, nos quais
encontraram a ZDP que era constantemente gerada pela atividade produtiva dos membros das
famílias. A sabedoria não era imposta pelos adultos, mas obtida pelas crianças dentro de
relacionamentos sociais recíprocos. Era essa reciprocidade social dos trabalhos que permitiam
as crianças, conjuntamente com os adultos, a construir a sabedoria, conhecimento dentro de
um contexto social. Nessa perspectiva, Vigotski argumentou que o desenvolvimento do
sujeito não pode ser entendido estudando apenas a criança. È necessário uma análise do
cenário social na qual a criança desenvolveu-se.
60
Capacidade RETORNO
inicial
Capacidade desenvolvida
ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL
----------------------------------------------------------------
-
Assistência prestada por
indivíduos mais capacitados:
Auto-assistência
Interiorização Desautomatização
Pais colegas
Professores
Automatização Retorno aos
Especialistas
Figura 1: Gênese de uma capacidade de desempenho: avanços para além da zona de desenvolvimento proximal.
Para criar uma zona de desenvolvimento proximal, isto é, para engendrar uma série de
processos de desenvolvimento interior, precisamos dos processos corretamente construídos de
aprendizagem escolar (Vigotski, 1933, p.134, citado por Veer & Valsiner, 1996, p.358).
Toda pesquisa científica investiga o seu fenômeno a partir de uma abordagem teórica e
constrói o seu método de análise coerente com a literatura escolhida. Durante a história da
psicologia, diversas correntes teóricas surgiram e, conseqüentemente, vários métodos de
análise também. Mesmo existindo variados procedimentos para investigar os problemas
científicos, a maioria utilizava o método experimental nos moldes de estímulos e respostas.
O modelo experimental de estímulo-resposta foi estudado pela primeira vez por
Pavlov. Durante o experimento, percebeu que a boca do animal encontrava-se com saliva
tanto quando via ou sentia o cheiro do alimento quando percebia a presença de outros
estímulos associados a ele, como o barulho de passos, fora da sala, na hora da refeição. Dessa
forma, o autor relacionava os alimentos a outros estímulos, originalmente neutros quanto à
capacidade de provocar a salivação, como a luz de uma lâmpada ou o som de uma campainha.
Caso a comida fosse, repetidas vezes, precedida desses estímulos, o cachorro passaria a
salivar também na sua presença. Esse comportamento foi denominado de reflexo
condicionado.
Percebe-se nesse método uma posição ativa do experimentador em controlar situações
com estímulos que garantem uma resposta já esperada do sujeito. Vigotski construiu seu
método de análise partindo de uma visão crítica do método de estímulo-resposta, pois ele não
comungou com a idéia de passividade do sujeito diante das circunstâncias, considerando o
sujeito ativo de seu comportamento.
63
eventos do passado; entretanto, essa visão é inadequada, pois a análise histórica significa
estudar o processo psicológico em mudança, característica importante do método dialético.
Portanto, os princípios de análise para estudar as funções psicológicas superiores
foram expostos por Vigotski (2003) com os seguintes objetivos:
1. Realizar uma análise do processo, focando-se na compreensão do processo que
resultou o comportamento fossilizado e não apenas preocupando-se em realizar uma pesquisa
experimental com condições estáveis;
2. Apresentar a análise das relações dinâmicas-causais para investigar o
comportamento fossilizado através de observações e análises dos contextos das relações e
suas possíveis influências no fenômeno estudado. Sendo assim, a pesquisa focalizará os dados
explicativos e não os dados descritivos;
3. Analisar a origem do fenômeno. Existem alguns tipos de pensamento que no
decorrer do desenvolvimento tornaram-se mecanizados e automatizados, ou seja, fossilizados.
A metodologia era o ponto central para Vigotski (2007). A busca pelo método se torna um
dos problemas mais importantes para o entendimento das atividades psicológicas unicamente
humanas. Nesse caso, o método é simultaneamente pré-requisito e produto, a ferramenta e o
resultado do estudo. Mais relevantes do que testes de condutas, experimentos ou observações
que trouxeram à luz os produtos fossilizados de um processo que já tinha sido completado, ele
sentia que os pesquisadores deveriam criar formas de pesquisa que tornassem visíveis os
começos e os pontos de mudança da experiência e seus efeitos sobre o desenvolvimento das
funções mentais de uma pessoa. Ele queria uma metodologia que pudesse estudar a
criatividade e o desenvolvimento em movimento – ambas dentro do processo. Dessa forma, o
pesquisador poderia determinar não apenas como a mente funciona, mas também como seu
sistema interconectado e seu ambiente desenvolveram e influenciaram as outras mentes.
Para estudar o comportamento fossilizado, Vigotski traçou considerações tanto
orientadas para o passado quanto para o futuro, como a base de um método experimental novo
em psicologia no qual estabeleceu a estimulação dupla (Valsiner, 1989). Ele criou esse
método para alterar características automatizadas, mecanizadas, fossilizadas, das formas mais
superiores do comportamento e torná-las novamente em sua fonte ou, conforme Galllmore e
Tharp afirmam, torná-las desenvolvimento real.
O conceito de fossilização não é tão explorado pela comunidade científica mas, a
partir de um exame bibliográfico, foi possível encontrar dados que favoreçam avanços
teóricos e metodológicos acerca do tema. As pesquisas encontradas tiveram pressupostos nas
idéias, apresentadas anteriormente, a respeito do método de análise para estudar as funções
66
Figura 2 - unfossilized
4 DELINEAMENTO METODOLÓGICO
2 Participantes
3 Local
4 Instrumentos
Na fase preliminar, foi realizado o contato com os responsáveis pelo colégio de ensino
especial, com o objetivo de verificar a possibilidade de realização da pesquisa nessa
instituição. Solicitada, nessa ocasião, a autorização formal da direção do colégio para
viabilização da coleta de dados, através da assinatura do termo de consentimento livre,
concedido pelo professor (anexo 5) e pais (anexo 6) das crianças investigadas.
Em seguida ocorreu a inserção da pesquisadora no ambiente da sala de aula, após ser
combinado previamente com a professora o conceito científico a ser trabalhado, de acordo
com as atividades curriculares desenvolvidas, neste caso, os conceitos de seres vivos e não-
vivos; animais invertebrados e vertebrados; e a classificação vertebrados em mamífero, ave e
peixe. Em seguida, foram verificados os conceitos cotidianos já desenvolvidos pelas crianças
por meio do método de classificação do quarto excluído e do método de definição de
conceitos com auxílio de gravuras.
Foram, então, realizadas processos mediacionais visando à formação dos conceitos em
foco, em sala de aula, registrando igualmente em diário de campo e em áudio e vídeo. Dessa
forma, primeiro foi ensinado a classificação de seres vivos e não-vivos e, a seguir, a
73
dois - sem acertos; difuso, dezesseis - com 50% de acertos; cadeia dois - sem acertos.
Observou-se, por meio de conceitos verdadeiros, doze episódios, sendo oito acertos e quatro
erros. Já os conceitos potenciais apareceram em quatro episódios, com três acertos e um erro.
Ao todo, Amanda totalizou dezenove respostas corretas e dezoito erradas, conforme o quadro
1 que se segue:
QUADRO 1 Prancha 19 A
Amanda Papagaio – cisne – águia – macaco
(ave e não ave)
De acordo com Vigotski (2001, p.189) “toda a diferença consiste em que esses
vínculos se baseiam em traços incorretos, indefinidos e flutuantes, na medida em que o
complexo combina objetos que estão fora do conceito prático”. Esses conceitos podem ser
verificados no quadro dois, na prancha aplicada em Amanda.
QUADRO 2 PRANCHA 8 A:
Amanda FORMIGA – LEÃO – ELEFANTE – CACHORRO
(ANIMAIS VERTEBRADOS E ANIMAIS INVERTEBRADOS)
QUADRO 6
Pesquisadora: Vamos ver o quê eu tenho aqui dentro? Vocês podem pegar o quê vocês quiserem.
Pesquisadora: Um celular? Esse celular serve pra quê?
Danilo: Para brincar
Pesquisadora: Ahhh! E pra que serve esse celular de verdade? O quê a gente faz com esse celular?
Amanda: Liga, tira foto... Manda mensagem
Pesquisadora: Celular come?
(Danilo e Amanda balançam a cabeça, negando)
Pesquisadora: Celular dá filhinho?
Danilo: Não
Amanda: Não (Responde sorrindo e balançando a cabeça, negando)
Pesquisadora: Não? (Puxa a caixa) Pega aqui pra mim então, um que come e dá filhinho.
Ana pega um porco
Danilo pega um leão
Pesquisadora: Um porco e um leão. Fale sobre o leão, Danilo.
(Danilo encosta a cabeça na mesa. Olha para o leão)
Pesquisadora: Onde o leão vive? Você sabe?
Danilo: Na selva
Pesquisadora: Na selva... O quê será que ele come?
Danilo: Mato
Pesquisadora: Mato... Ele é bravo?
Danilo: Não
(Amanda balança a cabeça, afirmando)
Pesquisadora: Não é não? E você acha que o leão é bravo, Amanda?
Amanda: Sim, ele é agressivo.
Pesquisadora: Quando ele fica agressivo, o quê ele faz com os outros animais?
Amanda: Não sei
Pesquisadora: Porque ele é agressivo? Você falou que ele é agressivo, o quê é ser agressivo?
Amanda: Não sei
Pesquisadora: Você sabe Danilo?
Danilo: Não sei
Pesquisadora: O leão é agressivo porque ele come os outros bichos?
Danilo: Come
(Amanda balança a cabeça, afirmando)
Pesquisadora: Ele dá filhote?
(Amanda e Danilo balançam a cabeça, afirmando)
Pesquisadora: E um dia, o leão morre?
Danilo: Não
(Amanda olha para pesquisadora discordando de Danilo)
Pesquisadora: O leão morre ou ele vai viver para sempre, ele nunca vai morrer?
Pesquisadora: Ele morre? Ou ele vive pra sempre?
(Amanda balança a cabeça, afirmando)
Amanda: Ele morre
Amanda selecionou o celular e pontuou as funções que o aparelho tem, tais como:
realiza ligações, tira foto e manda mensagem. Ela se refere ao objeto considerando seus
atributos criteriais, pois, efetivamente, os novos modelos de celulares suplantam a mera
função de comunicação telefônica, instituindo-se como câmara fotográfica e mini computador
que envia mensagem. Embora sejam dados advindos de suas experiências, não são dados
meramente factuais do aparelho.
Ao analisar se os participantes conseguiram identificar as características do ciclo vital,
observou-se, que tanto Amanda quanto Danilo, apontaram que o celular não apresenta ciclo
84
vital. Então, foi pedido que escolhessem algo capaz de reprodução. Amanda escolheu o porco
e Danilo, o leão. Durante o inquérito para esclarecer a lógica de escolha dos animais, os
participantes demonstraram conhecimento das características do ciclo vital. Ainda, que as
crianças não pudessem conceituar o que seja ciclo vital, já demonstraram um repertório de
conhecimentos sobre o mesmo, tais como: que o leão nasce, cresce, pode reproduzir e um dia
morre, diferente do celular. Esses conceitos cotidianos adquiridos na relação do sujeito com
sua rede social são a base para a constituição dos conceitos científicos, desenvolvidos durante
o processo de escolarização através da sistematização dos conhecimentos. E já apresenta um
nível de abstração interessante e importante. Em síntese, no que concerne à categoria seres
vivos e não vivos, Amanda já apresenta um nível de classificação compatível com conceito
propriamente dito, ainda que, não possam, neste momento, enunciar verbalmente e definir o
conceito.
Danilo mostra-se em uma fase diferente, na qual, ainda busca sistematizar os critérios
de ser vivo para abstraí-los em uma categoria geral.
A exploração do conhecimento prévio das crianças foi utilizada como inter texto para
a enunciação das perguntas críticas que resultaram durante o processo de ensino, na
apresentação dos conceitos em pauta.
QUADRO 6
Pesquisadora: Olha só, vocês já ouviram falar o quê é um ser vivo e o quê é ser não vivo?
(Amanda balança a cabeça afirmando e Danilo observa o cavalo)
Pesquisadora: Já? Já ouviu Amanda?
Amanda: Aham
Pesquisadora: O quê é um ser vivo?
Amanda: É uma pessoa que “ tá”a viva
Pesquisadora: É uma pessoa que “tá” viva... Muito bem, Amanda!
(Pesquisadora olha para Danilo)
Pesquisadora: E aí, o quê é um ser vivo? Você sabe?
Danilo: Não
Pesquisadora: Olha só, ser vivo, é qualquer animal que nasce, cresce, reproduz////dá filhotinho e
morre.
Pesquisadora: Vamos ver o cavalo. Ele nasce?
Danilo: Não
Pesquisadora: O cavalinho nasce de algum lugar, não nasce da mamãezinha dele?
Danilo: Aham
Pesquisadora: Não nasce Danilo, dentro da barriga da mamãe dele?
(Danilo balança a cabeça afirmando)
Pesquisadora: Depois ele cresce
(Danilo balança a cabeça afirmando)
Pesquisadora: Ele vai dar filhotinho?
Danilo: (Balança a cabeça afirmando) Vai
Pesquisadora: Vai Amanda?
(Amanda balança a cabeça afirmando)
Pesquisadora: E ele vai morrer também?
(Danilo e Amanda balançam a cabeça afirmando)
Pesquisadora: Então... ele é o quê?
Danilo: Ser vivo.
QUADRO 7
Pesquisadora: Vamos pegar a caneta... Quem vai brincar com a gente agora é a tia Roberta. Tá bom?
Olhem para a Roberta. A Roberta é um ser vivo ou é um ser não-vivo?
Danilo: Ser vivo
Amanda: Ser vivo
Pesquisadora: Ser vivo! Muito bem! Vocês são espertos, heim?!. Porque que a Roberta é um ser vivo?
Danilo: Porque ela tem mãe
Pesquisadora: Porque ela tem mãe. Quê mais?... Tá certinho!
Danilo: Porque ela cresce.
Pesquisadora: Ela cresce... Quê mais?
Danilo: Depois pode ter filho
Pesquisadora: É... Pode ter filho! E a caneta? E essa caneta aqui é um ser vivo ou não vivo?
Danilo: É um vivo
Pesquisadora: Eu vou perguntar de novo. Você pensa aí,”ta” bom? A caneta, é um ser vivo ou não
vivo?
Danilo: Não-vivo.
Pesquisadora: Ah... Por quê?
Danilo: Porque é morto.
Pesquisadora: Por que Amanda?
(Amanda fica tímida, sorri)
Pesquisadora: Porque é um ser não vivo?
(Danilo de cabeça baixa e Amanda tímida pensando)
Pesquisadora: Porque ela não nasce... (espera as crianças completarem)
(As crianças não completam)
Pesquisadora: Não cresce, não reproduz e não morre. Entendeu? Não é porque ela é morta não.
(Amanda fala “não cresce, não reproduz e não morre” apenas movendo os lábios e balança a cabeça
afirmando que entendeu)
(Danilo balança a cabeça afirmando)
QUADRO 8
De acordo com o quadro 8, Danilo identificou o cavalo e a galinha como seres vivos e
Amanda classificou a mesa e o tênis como seres não-vivos e a vaca como ser vivo.
Entretanto, para analisar o curso do desenvolvimento da construção do conceito
científico, não basta apenas proporcionar atividades que exijam a identificação e classificação
de categorias, sem avaliar quais foram os critérios utilizados como subordinação de vários
atributos para formar uma categoria. Já se sabe que as crianças alcançaram um nível de
abstração, alto e um pensamento bastante elaborado. Contudo, isso não é suficiente para
apreender o modo de funcionamento psicológico. Assim, a atividade em que as crianças
teriam que construir um mural dos seres vivos e não-vivos e, posteriormente, explicar sua
resposta permitiu à pesquisadora apreender o funcionamento mental dos participantes e
analisar as características do pensamento fossilizado, demonstrado no quadro a seguir.
QUADRO 9
Na construção do mural, perguntou-se a Amanda o que era ser vivo, ela verbalizou os
atributos criteriais do ciclo vital. Em relação à categoria dos seres não-vivos apresentou
raciocínio transdutivo, ao selecionar o movimento ou sua ausência como atributo criterial do
conceito de ser não-vivo. Trata-se de um raciocínio que transita do particular para o
particular, tudo que se movimenta teria vida, uma generalização ampla e que não foi
relacionada a outras características que lhe dão sentido. Nesse ponto, atuar na ZDP da criança
para fossilizar o conceito de seres vivos, implica se envolver com o termo de sua
negatividade, sua contradição que é o conceito de ser não-vivo.
Ao término da aula as crianças criaram um conjunto de atributos dos (seres vivos) e os
generalizaram, a partir de atributos comuns. Embora as crianças alcançassem o pensamento
lógico-abstrato, apresentarem capacidade de automatizar a diferença de seres vivos e não-
vivos, apresentaram certa rigidez na desfossilização por não conseguirem flexibilizar o
raciocínio para enunciar o conceito de seres não-vivos, a princípio, a característica que logo
foi superada, conforme se verá, a seguir.
De acordo com Gallimore e Tharp (2002), uma vez que ocorre a fossilização da
aprendizagem, o sujeito precisa flexibilizar o pensamento para oportunizar uma nova
aprendizagem, portanto, desfossilizar. A desfossilização é alvo de ação pedagógica trabalhada
quando o professor introduz um novo conceito que é supra-ordenado ao anterior. Entretanto,
concebe-se, diferentemente dos outros autores, tais processos, como dialeticamente
imbricados, possíveis de serem constituídos simultaneamente. Ao ser apresentado o conceito
de ser vivo em oposição ao não-vivo, ao mesmo tempo em que a criança realiza a
fossilização, também opera com a desfossilização. Assim, o modo de funcionamento pode ser
flexibilizado, solicitando a criança mais plasticidade, quando se conceituam algo numa
relação de diferença e contradição com seu oposto, conforme o quadro 10.
QUADRO 10
Pesquisadora: Vamos pegar a caneta... Quem vai brincar com a gente agora é a tia Roberta. Tá bom?
Olhem para a Roberta. A Roberta é um ser vivo ou um ser não-vivo?
Danilo: Ser vivo
Amanda: Ser vivo
Pesquisadora: Ser vivo! Muito bem! Vocês são espertos heim. Porque que a Roberta é um ser vivo?
Danilo: Porque ela tem mãe
Pesquisadora: Porque ela tem mãe. Quê mais? Tá certinho!
90
Foram apresentadas às crianças uma caneta e uma pessoa, para identificarem suas
respectivas classificações. Observou-se que os participantes apontaram a “Roberta” como ser
vivo e apresentaram alguns atributos criteriais, tais como: cresce e poder ter filho, ou seja,
apresenta capacidade de reprodução, reiterando que o conceito já estava fossilizado. Já na
internalização do conceito de seres não-vivos, as crianças apresentaram mais dificuldade
necessitando de auxílio. Ao pedir que conceituassem o ser não-vivo, relacionaram o conceito
a algo que não se movimenta. Foi necessário modificar o pensamento de Danilo, com um
contra exemplo, de modo a ressaltar que o movimento é um atributo não criterial de ser vivo e
que pode, portanto, estar presente em seres não vivos. Após essa intervenção foi perguntando
para as crianças porque o celular era não-vivo e Amanda conseguiu identificar os atributos da
categoria. Assim, desfossilizam o conceito de seres vivos para apreender seres não-vivos, e ao
flexibilizarem o pensamento estavam prontos, para constituir os conceitos subordenados: a
categoria de animais vertebrados e invertebrados.
Ao começar a aula primeiramente realizou-se uma revisão junto aos alunos dos
conceitos já aprendidos na aula anterior. Foram apresentadas figuras de seres vivos e não-
vivos, para que eles pudessem nomear, classificar e justificar a sua resposta. As crianças
comprovaram que podiam classificá-los em oposição, sem dificuldade
91
QUADRO 11
Pesquisadora: Vocês sabem por que a gente fica em pé?
Participantes: ficam calados
Pesquisadora: Fiquem de pé
Participantes: Todos se levantam
Pesquisadora: Nas nossas costas tem esses ossinhos, um debaixo do outro. “Ta” sentindo Amanda?
Vai baixando a sua mão, como estou fazendo com você, pegando em todos os ossos de Danilo. Vocês
sabem como se chama essa parte do nosso corpo?
Participantes: continuam calados, prestando atenção na atividade
Pesquisadora: Coluna vertebral, ela serve para nos ajudar a ficar de pé. Vamos fazer um círculo?
Em círculo a pesquisadora explica – temos diversos ossos espalhados por todo nosso corpo. Vamos
sentir?
A pesquisadora apalpa a mão de Amanda e ela faz os mesmos movimentos com Danilo.
Pesquisadora: Olhem o tanto de osso que temos na mão, nos dedos.
Pesquisadora: Agora, Danilo pega no ombro de Amanda ....Isso aqui também é osso.
Pesquisadora; Vamos pegar também no queixo,no cotovelo...
Pesquisadora: Essas partes do corpo podem quebrar?
Participantes: sim.
A pesquisadora apresenta através de imagens o esqueleto de animais vertebrados.
Pesquisadora: Olhem este esqueleto.É uma foto dos nossos ossos, observem o queixo, coluna vertebral,
o osso (foi apontando as partes para as crianças).
Participantes: ficam atentos às imagens que foram lhe apresentadas.
Pesquisadora: Todo animal, inclusive o homem, quando tem coluna vertebral e osso é chamado de
animal vertebrado.
Pesquisadora; Olha o pombo (aponta para imagem). Amanda, cadê a coluna vertebral desse animal?
Amanda: aponta com precisão para o lugar que foi demandado.
Pesquisadora: Cadê a coluna vertebral do Gato Danilo?
Danilo: aponta com precisão para o lugar que foi demandado.
O mesmo acontece com o Cavalo.
Pesquisadora: Quando um animal tem osso e coluna vertebral ele é chamado de que?
Danilo: vertebrado
Pesquisadora: Todo animal anda?
Participantes: não
Pesquisadora: A borboleta anda?
Participantes: não
Danilo: voa
Pesquisadora: a aranha tem osso?
Danilo: não
Pesquisadora: qual o outro animal que não tem osso?
Danilo: barata
Pesquisadora:Muito bem! Parabéns! Quando o animal não tem osso e coluna vertebral é chamado de
invertebrado. Dentre os seres vivos nós temos animais vertebrados – a pesquisadora apresenta as
imagens de: elefante, gato, peixe, sapo, galinha, jacaré. E os invertebrados.
Pesquisadora: Por que são invertebrados mesmo?
Danilo: porque não tem osso.
Pesquisadora: quê mais? O que nos ajuda a ficar em pé?
Amanda: coluna vertebral
Pesquisadora: As pessoas são animais vertebrados ou invertebrados?
Danilo: invertebrados.
Pesquisadora: Ué! Mas você não tem osso e coluna vertebral? Então você é um animal....
Danilo: vertebrado.
Pesquisadora: Parabéns, de novo!
QUADRO 13
QUADRO 14
Pesquisadora: Vocês vão escolher dois animais vertebrados e dois animais invertebrados
Conforme o comando os participantes escolhem as figuras
Pesquisadora: Agora colem os animais vertebrados de um lado e invertebrados do outro.
Pesquisadora: Danilo, porque esses animais são invertebrados?
Danilo: porque não tem osso e coluna vertebral
Pesquisadora: Então ela uma animal vertebrado ou invertebrado?
Danilo: Vertebrado
Pesquisadora: E a vaca?
Danilo:Não sei (fica pensativo, e logo depois)
Tem coluna vertebral e osso
Pesquisadora: Amanda a Lagarta é o que ?
Amanda::não sei
Danilo: invertebrado
Pesquisadora: o que é um animal invertebrado?
Danilo:não tem osso e coluna vertebral
Segundo Luria
prévio acerca das características dos animais para, posteriormente sistematizar, de modo
formal, as informações expressas através dos conhecimentos cotidianos. Como mostra o
quadro a seguir:
QUADRO 15
Pesquisadora: Esse periquito foi doado para uma amiga minha. O seu dono anterior cortou um
pedaços de sua asa, maltratava o animal, daí foi denunciado e levado para uma outra casa.
Danilo ficou atento escutando e tentando passar o mão no periquito.
Danilo o cachorro tem bico?
Danilo: não
Pesquisadora: O periquito tem pêlo ou penas?
Danilo: penas
Pesquisadora: e o cachorro?
Amanda: penas
Pesquisadora: o cachorro voa?
Danilo: não
Pesquisadora: por quê?
Danilo: ele não tem asas
Pesquisadora: O cachorro pode ter filhotes?
Participantes: tem
Pesquisadora: Quando filhotes eles mamam?
Danilo: sim
Pesquisadora: Quantas patas têm o cachorro e o periquito?
Danilo: quatro
Pesquisadora: e o periquito?
Danilo: quatro
A pesquisadora apresenta figuras do cavalo, gato e pintinho
Pesquisadora: Você sabe por onde que o cavalo e o gato e o cachorro respiram?
Danilo: não
Pesquisadora: o cavalo e o gato têm penas ou pêlo
Danilo: pêlos
Pesquisadora: o pintinho nasce pela barriga ou do ovo?
Danilo: ovo
QUADRO 16
Pesquisadora: Danilo, você falou que o cachorro tem quatro patas, tem o corpo coberto de pêlos,
quando a fêmea está grávida seu filhote fica dentro da barriga; quando nascem mamam quando
filhotes. Qual outro animal que também tem essas características?
Danilo: gato
Pesquisadora: Então, Danilo todo animal que tem essas características é chamado de mamífero.
Existem outros animais, como o pintinho, que tem dois pés, tem o corpo coberto de
penas, tem asas, voa, nasce pelo ovo, tem bico, são chamados de ave.
Pesquisadora:O cachorro é uma ave ou mamífero?
Danilo: mamífero
Pesquisadora:Por quê?
Danilo: porque tem quatro patas
Pesquisadora: que mais?
Danilo: tem rabo, orelha, unha, boca
Pesquisadora: ele tem penas ou pêlos?
Participantes:pêlos
Pesquisadora: Quando filhotes eles mamam?
Danilo: sim
Pesquisadora: então são chamados de quê?
Danilo: mamífero
Pesquisadora: e o pato?
Danilo: mamífero
Pesquisadora: Ué, observa o pato, ele tem bico? Penas?asas? duas pés? Então ele é o que?
Danilo: ave
Pesquisadora: muito bem!
98
Pesquisadora: e o gato?
Danilo: mamífero
Pesquisadora: Por quê?
Danilo: Porque tem orelha, quatro patas, rabo, unha, boca
Pesquisadora:e o leão?
Danilo: mamífero
Pesquisadora: Por quê ?
Danilo: quatro patas, orelha
Pesquisadora:ele tem pêlos ou penas?
Danilo: Penas
Pesquisadora: Danilo, o cachorro, o gato, e o leão têm quatro patas, tem o corpo coberto de pêlos,
quando a fêmea está grávida seu filhote fica dentro da barriga; quando nascem mamam quando
filhotes; respiram pelos pulmões iguais a nós. Então todos esses animais são mamífero ou ave?
Danilo: mamífero.
Danilo apresentava ter conhecimentos dos principais atributos criteriais dos conceitos
em pauta, o que, mais a diante, lhe auxiliaria a compreender a diferenciação de forma mais
aprofundada entre mamíferos e aves, de modo a exigir um alto nível de abstração. De fato, ele
conseguiu identificar que o gato, cachorro e o leão são mamíferos, contudo, ao justificar sua
resposta apresentou um modo de funcionamento psicológico considerando elementos factuais
dos animais, tais como: orelha, rabo, unha e boca. Suas respostas representavam um
pensamento por complexo, pois, primeiramente utilizou os elementos factuais do animal
cachorro, e, para responder ao novo animal que lhe foi apresentado, o gato, utilizou os
mesmos critérios do animal anterior. Segundo Rossi (2008), nesse tipo de complexo, há a
combinação dinâmica e temporal de determinados elos da atividade anterior com a atual, em
uma cadeia única, atribuindo e transmitindo o significado de um elo a outro, como se fossem
os elos interligados de uma corrente.
Danilo gradativamente ampliou a capacidade de abstração, uma vez que passou a
identificar os atributos criteriais. Mesmo assim, ao explicar as categorias, apresentava
dificuldade. Foi necessário promover mediações que contribuíssem para a internalização dos
conceitos em seu movimento ascendente e descendente, de modo a tornar o conceito
científico mais factual e aquele cotidiano, já internalizado, mais abstrato.
QUADRO 17
QUADRO 18
Mais uma vez, Danilo conseguiu abstrair os atributos criteriais de ave, a ponto de
abstraí-los para subordiná-los a uma categoria geral, portanto, a de seres vivos. Mas, isso já
não ocorreu com a classificação de mamífero, mesmo após a mediação ele mostrou estar em
processo de transição, pois se baseou em elementos factuais do animal, encetando outros
criteriais. Pode ocorrer que o conceito seja fossilizado desde uma outra perspectiva:
automatizado não os atributos criteriais distintos da categoria, mas outros enlaces reais-
imediatos e persistir nesse funcionamento. Nesse sentido, o pensamento torna-se rígido.
A depender do nível de rigidez, do funcionamento mental poderá haver prejuízo da
aprendizagem da criança, pois não permitirá que ocorra uma flexibilização do funcionamento
para engendrar novas aprendizagens. Nessa aula foram observadas algumas questões
importantes investigadas em curso:
a) A criança alcançou o processo de fossilização no sentido de conseguir realizar com
autonomia a identificação de mamífero e ave;
101
Uma vez que Danilo não desfossilizou os elementos factuais que estava utilizando
para classificar os animais em mamífero, ou seja, não automatizou os atributos criteriais da
categoria, foi necessário dar continuidade ao ensino da classificação de mamífero juntamente
da nova categoria, peixe.
QUADRO 19
Pesquisadora: Vocês montaram três quebra cabeças. Danilo você montou um cachorro. Me fale sobre
as características de um cachorro.
Fica em silêncio.
Pesquisadora: Ele tem quantas patas?
Danilo: quatro
Pesquisadora: Ele tem pêlos ou penas?
Amanda: pêlos
Pesquisadora:os cachorros mamam quando filhotes?
Participantes: sim
Pesquisadora: Eles respiram por meio do quê?
102
Danilo: pulmões
Pesquisadora:Agora vamos ver essa outra imagem, a galinha. O corpo dela é coberto de quê?
Danilo: penas
Pesquisadora: A galinha tem boca ou bico?
Amanda: bico
Pesquisadora:Os pintinhos nascem da barriga?
Amanda, o pintinho, o pássaro, a galinha, nascem pelo ovo, diferente do cachorro que
nasce pela barriga. Amanda, a galinha voa?
Pesquisadora: Por que você acha que ela voa?
Amanda: não sei
Danilo: porque tem asas
Pesquisadora: Olha temos um quebra-cabeça de peixe. Vocês já viram um peixe? Onde o peixe vive?
Danilo: na água
Pesquisadora:Vocês sabem por onde o peixe respira?
Os participantes ficam calados.
Eles respiram pelas brânquias e Guelras
O peixe, nada, rasteja ou anda?
Amanda: nada
Pesquisadora:Isso mesmo, o rabo dele ajuda ele nadar. O corpo do peixe é coberto de quê?
Amanda: escamas
QUADRO 20
Pesquisadora: Existem outros animais que têm pêlos, quatro patas, mamam quando filhotes, respiram
por meio dos pulmões, igual o cachorro?
Danilo: a zebra, girafa, cavalo
Amanda: porco
Pesquisadora:Esse animais que têm todas essas características são chamados de quê Danilo?
Fica em silêncio
Mamífero ou ave?
Danilo: mamífero
Pesquisadora: então mamífero é todo animal que tem o corpo coberto pêlos, quatro patas, mamam
quando filhotes, respiram por meio dos pulmões, nascem da barriga.
Pesquisadora: Esses animais que tem o corpo coberto de penas, duas patas, põe ovo,e voa, além do
pintinho, existem outros?
Amanda: pombo, passarinho.
Pesquisadora: Esses animais são chamados de quê Danilo?
Danilo: ave
Pesquisadora: Viu Amanda, o que Danilo falou. Que os animais que são chamados de ave é porque
corpo coberto de penas, duas patas, põe ovo,e voa.
Pesquisadora: Com as fichas na mão a pesquisadora foi apresentando os animais aos participantes. O
pato é mamífero, ave ou peixe?
Danilo: Ave
Pesquisadora: Amanda, o peixe, é mamífero, ave ou peixe?
Amanda: peixe
Pesquisadora:O peixe são animais que têm o corpo coberto de escamas, respiram por meio de
Brânquias, vivem na água.
Pesquisadora: E o avestruz?
Danilo: ave
Pesquisadora: e a vaca?
Danilo: não sei
Amanda: mamífero
Pesquisadora: e o ser humano?
Amanda: mamífero.
Pesquisadora: Grande parte dos mamíferos são chamados de terrestres porque vivem na terra. Eu trouxe
para vocês animais que são mamíferos, e que vivem na água: o golfinho, a baleia, o peixe-boi, a foca. E
também existe um animal que voa, mas não é ave, e sim mamífero, o morcego.
Ao perguntar quais animais que apresentam o corpo coberto pêlos, quatro patas,
mamam quando filhotes e respiram por meio dos pulmões, Danilo apontou a zebra, a girafa e
o cavalo, Amanda, o porco. Ao questionar a Danilo qual a classificação dos animais que
apresentam essas características, ele apenas respondeu após serem apresentadas as alternativas
(é mamífero ou ave?). O mesmo ocorreu com as categorias aves e peixes. Primeiramente era
apresentados os atributos criteriais da categoria, associados a exemplos de animais, e
posteriormente sistematizado o ensino da categoria. Dessa maneira, foi, gradativamente
demandado dos participantes um nível elevado de abstração para que pudessem abstrais os
atributos criteriais para subordiná-los a uma categoria geral. Assim, conceito científico se
desenvolvia e elevava o nível de abstração do conceito cotidiano.
Durante o processo de internalização há conceitos cuja abstração, é considerada mais
fácil, enquanto, outros demandam maior investimento, devido ao seu grau de complexidade e
104
das seleções nele envolvidos. A criança é instigada a criar novos modos de funcionamento
através de andaimes, internalizar signos externo e convertê-los em um instrumento para
controle da consciência (Brunner 1985, citado por Coll 2004), com a ajuda de um outro social
mais capaz.
QUADRO 21
Ao serem questionadas sobre os animais (vaca, leão, peixe, arraia, baleia, golfinho,
gato, girafa, pato, galinha, passarinho), as crianças conseguiram enunciar os atributos
criteriais da classificação de animais mamífero, ave e peixe ainda, e apresentaram os
principais atributos da categoria. Conforme o quadro a seguir:
QUADRO 22
Pesquisadora: O golfinho é ?
Danilo: mamífero
Pesquisadora: o que é mamífero?
Amanda: porque mamam, tem pêlos
Danilo: porque tem quatro patas, boca e nariz.
Pesquisadora: e tem o corpo coberto de quê?
Danilo: pêlos
Pesquisadora:respiram por meio...
Danilo: pulmões
Pesquisadora: então, o que é mamífero mesmo Danilo?
Danilo: tem pêlos, quatro patas, boca, orelha
Pesquisadora: Esses animais são aves. O que é ave?
Danilo: tem penas e põe ovo
Pesquisadora: Esses animais são o quê (aponta para os peixes)?
Amanda: peixe
Pesquisadora: o que é peixe ?
106
Ficam calados.
Danilo: tem escamas
Pesquisadora:O pato é mamífero?
Amanda: não, ave
Pesquisadora: e o leão?
Amanda: mamífero.
Pesquisadora: peguem os animais que são mamíferos.
Danilo: coelho
Amanda: homem e cavalo.
que, na aplicação do quarto excluído para conceitos cotidianos operou de forma predominante
por pensamento em complexo em (22 episódios); e por conceitos em 9 ocorrências. Somando
onze respostas corretas e vinte respostas erradas. Ao término da aplicação do quarto excluído
para conceitos científicos essas mudanças se evidenciaram, ocorrendo quinze episódios com
pensamento por complexo, dezoito por conceito, totalizando vinte respostas corretas e doze
erradas.
A mudança mais substancial que ocorreu no modo de funcionamento de Amanda foi o
aumento do nível de abstração, pois utilizou vinte episódios o conceito propriamente dito com
100% de acertos. Afinal, ela conseguiu internalizar os atributos criteriais de uma determinada
categoria, a ponto de abstraí-los para subordiná-los a categoria referente. Conforme o quadro.
QUADRO 25 Prancha 31 B
Amanda Arraia – gato – peixe – peixe
(mamífero e peixe)
QUADRO 26 Prancha 4 B
Amanda Bola – carro – pássaro - anel
(seres vivos e seres não vivos)
Pesquisadora: O quê é isso?
Danilo: Bola- carro – pássaro - anel
Pesquisadora: Qual desses não combina?
Danilo: Esse daqui (apontando para o passarinho)
Pesquisadora: Passarinho? Porque?
Danilo: Porque ele é ser vivo.
Pesquisadora: O quê é um ser vivo?
Danilo: Quando nasce, cresce, dá filhotinho...
Pesquisadora: É Danilo, mas você é esperto heim, o menino que é esperto!
Almejava-se que Danilo reconhecesse os atributos criteriais dos objetos: bola, carro e
anel, a ponto de abstraí-los para subordiná-los a uma categoria geral, ser não-vivo, para
excluir a outra categoria. De fato, ele conseguiu identificar e enunciar o que era um ser vivo,
situação essa que não ocorreu durante a aula dessas categorias.
Diante da atividade da aplicação do quarto excluído e do método de definição de
conceito, as crianças demonstraram ter alcançado o processo de fossilização tal qual proposto
por Gallimore e Tharp (2002).
111
CONSIDERAÇÕES FINAIS
prejuízos para a aprendizagem das crianças, pois não permitirá que ocorra uma flexibilização
para engendrar novas aprendizagens.
Referência bibliográfica
PADILHA, A.M.L. A constituição do sujeito simbólico: para além dos limites impostos a
deficiência mental. (2000). Tese (doutorado). Universidade de França – UNIFRAN, França
2000.
SMOLKA, A. L.B. et al. A constituição do sujeito: uma questão recorrente? In: Werstch,
J. V. Et al. Estudos socioculturais da mente. Porto Alegre: Artmed, 1998
SIRGADO, A. P. The social and the cultural in Vigotski's work. Educação &
Sociedade,2000,vol.21,n.71,ISSN0101-7330.
VALSINER, J. Culture and the development of children’s action. John Wiley & Sons:
New York.NY, 1987.
VALSINER, J. Human developmentand culture the social nature of personality and it’s
study . Massachusetes and Toronto: Lexington book. 1989. (pp.61- 71) internet
VALSINER, J; Veer, V de D. The encoding of distance: The concept of the „zone of proximal
development‟ and its interpretations. In: R.Cocking e K.A. Renninger (orgs.). The
development and meaning of psychological distance. Hillsdale: Erlbaum, 1991.
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente, 6ª Edição, São Paulo: Martins Fontes, 2003.
WERTSCH, J. V. Vygotsky and the social formation of mind. Cambridge: Harvard Univ
Press, 1985.
ANEXOS
117
ANEXO 1
Prancha 6 A Prancha 6 B
Minhoca – cavalo – gato – coelho Joaninha - peixe – barata – mosca
(animais vertebrados e animais (animais vertebrados e animais
invertebrados) invertebrados)
Prancha 7 A Prancha 7 B
Macaco – pato – joaninha - vaca Gato – leão – pássaro – mosquito
(animais vertebrados e animais (animais vertebrados e animais
invertebrados) invertebrados)
Prancha 8 A Prancha 8 B
Formiga – leão – elefante – cachorro Aranha – elefante – tigre – cachorro
(animais vertebrados e animais (animais vertebrados e animais
invertebrados) invertebrados)
Prancha 9 A Prancha 9 B
Aranha – vaca - borboleta – joaninha Formiga – aranha - tatu – mosquito
(animais vertebrados e animais (animais vertebrados e animais
invertebrados) invertebrados)
Prancha 10 A Prancha 10 B
Barata – borboleta – peixe - mosquito Coelho – vaca – galinha – borboleta
(animais vertebrados e animais (animais vertebrados e animais
invertebrados) invertebrados)
118
Classificação de mamífero
Prancha 11 A Prancha 11 B
Leão - galinha – onça – coelho vaca – leão – macaco – galinha
(mamífero e não mamífero) (mamífero e não mamífero)
Prancha 12 A Prancha 12 B
Elefante – coelho – formiga – macaco Leão - peixe - girafa – veado
(mamífero e não mamífero) (mamífero e não mamífero)
Prancha 13 A Prancha 13 B
Jacaré – macaco – cachorro – cachorro Baleia – cobra – mosquito – pato
(mamífero e não mamífero) (mamífero e não mamífero)
Prancha 15 A Prancha 14 B
Onça – tartaruga - baleia – vaca Borboleta – pato – morcego - barata
(mamífero e não mamífero) (mamífero e não mamífero)
Prancha 15 B
Elefante – coelho – macaco – jacaré
(mamífero e não mamífero)
Classificação de ave
Prancha 16 A Prancha 16 B
Macaco – vaca – gato – pássaro Pato – galinha – cachorro - arara
(ave e não ave) (ave e não ave)
Prancha 17 A Prancha 17 B
Pato – cachorro – galinha – pássaro Urubu – pássaro pintinho – macaco
(ave e não ave) (ave e não ave)
Prancha 18 A Prancha 18 B
Peru – ganso - leão – pássaro Pássaro – gato – cachorro – elefante
(ave e não ave) (ave e não ave)
Prancha 19 A Prancha 19 B
Pássaro – ganso – águia – macaco Morcego – girafa – pássaro – pássaro
(ave e não ave) (ave e não ave)
Prancha 20 A Prancha 20 B
Tucano – coelho – tatu – elefante Vaca – leão – pássaro – onça
(ave e não ave) (ave e não ave)
Classificação de peixe
Prancha 21 A Prancha 21 B
Peixe – peixe - gato – peixe Peixe – peixe – peixe - gato
(peixe e não peixe) (peixe e não peixe)
Prancha 23 A Prancha 22 B
Pintinho – peixe - urubu – pato Elefante – peixe – peixe – peixe
(peixe e não peixe) (peixe e não peixe)
Prancha 24 A Prancha 23 B
Peixe – peixe – peixe - onça Pássaro – peixe - urubu – galinha
(peixe e não peixe) (peixe e não peixe)
Prancha 25 A Prancha 24 B
Pássaro – peixe – peixe – peixe Onça – tigre – peixe - vaca
(peixe e não peixe) (peixe e não peixe)
Prancha 25 B
Cavalo – peixe – peixe – peixe
119
Prancha 26 A Prancha 26 B
Leão – galinha – pato – pássaro Macaco – pintinho – menino – onça
(ave e mamífero) (mamífero e ave)
Prancha 31 A Prancha 31 B
Peixe – vaca – peixe – peixe Arraia – gato – peixe – peixe
(mamífero e peixe) (mamífero e peixe)
Prancha 36 A Prancha 36 B
Peixe – peixe - pardal – peixe Peixe – galinha – pássaro – arara
(peixe e ave) (peixe e ave)
Prancha 27 A Prancha 27 B
Macaco – pintinho – cachorro – onça Veado – burro – baleia – pato
(mamífero e ave) (mamífero e ave)
Prancha 32 A Prancha 32 B
Coelho – cachorro – peixe - gato Cachorro – gato - peixe – vaca
(mamífero e peixe) (mamífero e peixe)
Prancha 37 A Prancha 37 B
Urubu - peixe – gavião – cisne Pássaro – beija-flor - peixe – águia
(peixe e ave) (peixe e ave)
Prancha 28 A Prancha 28 B
Veado – burro – pato - baleia Morcego – beija-flor – galinha – cisne
(mamífero e ave) (mamífero e ave)
Prancha 33 A Prancha 33 B
Arraia – golfinho – peixe – peixe Coelho – elefante – cavalo - peixe
(mamífero e peixe) (mamífero e peixe)
Prancha 38 A Prancha 38 B
Peixe – arraia – águia - peixe Peixe – peixe – peixe – pássaro
(peixe e ave) (peixe e ave)
Prancha 29 A Prancha 29 B
Vaca – beija-flor – galinha – pato Pintinho – pato – pássaro – cavalo
(mamífero e ave) (mamífero e ave)
Prancha 34 A Prancha 34 B
Macaco – cavalo – gato – peixe Golfinho – peixe – peixe – peixe
(mamífero e peixe) (mamífero e peixe)
Prancha 39 A Prancha 39 B
Pássaro – pardal – pássaro – peixe Peixe– pardal – peixe – peixe
(peixe e ave) (peixe e ave)
Prancha 30A Prancha 30 B
Urubu – pato – cisne – cavalo Pássaro – ganso – elefante - urubu
(mamífero e ave) (mamífero e ave)
Prancha 35 A Prancha 35 B
Leão – coelho - peixe – elefante Onça - golfinho - peixe – leão
(mamífero e peixe) (mamífero e peixe)
Prancha 40 A Prancha 40 B
Arraia – pássaro – pássaro – pássaro Arraia – urubu – gavião – cisne
(peixe e ave) (peixe e ave)
120
ANEXO 2
PRANCHA 1
Resposta à classificação:
______________________________________________________________________
Adequada ( ) Inadequada ( )
Justificativa da resposta
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________
PRANCHA 2
Resposta à classificação:
______________________________________________________________________
Adequada ( ) Inadequada ( )
Justificativa da resposta
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________
ANEXO 3
PRANCHA 1
Resposta à classificação:
______________________________________________________________________
Adequada ( ) Inadequada ( )
Justificativa da resposta
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________
PRANCHA 2
Resposta à classificação:
______________________________________________________________________
Adequada ( ) Inadequada ( )
Justificativa da resposta
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________
ANEXO 4
ANIMAIS PLANTAS
VERTEBRADOS INVERTEBRADOS
ANFÍBIOS
ANEXO 5
Prezado Professor,
_________________________________________
Assinatura do Professor
Data: ___________
ANEXO 6
124
Prezados pais,
_________________________________________
_________________________________________
Assinatura dos pais ou responsáveis
Data: ________________
125
ANEXO 7
ESTÁGIOS CARACTERÍSTICAS
1 - O desempenho é assistido por indivíduos Antes que as crianças possam funcionar como
mais capazes atores independentes, elas dependem dos adultos
ou de colegas mais capazes para assegurarem uma
regulação externa ao desempenho de suas tarefas.
A criança não realiza atividade sozinha
2 - O desempenho é auto-assistido Se prestarmos cuidadosamente atenção às
afirmações da criança durante este período de
transição, veremos que os padrões de atividade que
permitiram a criança participar do trabalho de
resolução de problemas no plano intermental agora
permitirão a execução de tarefas no plano
intramental. A criança realiza atividade com
auxílio
3 - O desempenho é desenvolvido, Uma vez desvanecida toda aparência, ou
automatizado e fossilizado exteriorização, da auto regulação, a criança emerge
da zona de desenvolvimento proximal. A execução
de tarefas torna-se amena e integrada: ela foi
interiorizada e automatizada. Não há mais
necessidade de assistência do adulto , ou de auto-
assistência. A criança realiza atividade sozinha