Final v9 Monografia Bibiano Cesep
Final v9 Monografia Bibiano Cesep
Final v9 Monografia Bibiano Cesep
_________________________________________
Maria Helena Murta Vale - Dra.
Supervisora
_________________________________________
Silvério Visacro Filho - Dr.
Coordenador do CESEP
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, exemplos de esforço, força de vontade, determinação e, acima de tudo, o
incentivo para a realização deste trabalho.
Aos meus familiares pelo apoio e pela compreensão nos momentos de ausência.
This study is especially dedicated to determine the best way to operate equipment
used related to power system voltage control, among them the transformers with tap
changer and shunt capacitor banks. The Electric Power System, in order to fulfill its purpose
of ensuring energy supply with quality and reliability, requires implementation of a broad
and complex number of activities. The activities, which encompass tasks of expansion and
operations, are contextualized, and include from elaboration of plans that aim to guarantee
the future operation of the system, to real-time activities, performed in control centers. The
purpose of this monograph is presented through guidelines for voltage control in electric
power distribution systems. The methodology consists of applying the proposals for control
in a systems’ real case, using the power flow program. The elaboration of the present study
leads to a set of relevant findings and achievements. The proposed guidelines seek a better
form of operation of the system equipment, providing a quality service to the final consumer,
favoring the reduction of losses in the system and preservation of the own equipment
involved.
Key words: Electric Power System; Voltage Control; Real-Time Operation.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................8
1.1 RELEVÂNCIA E CONTEXTO DA INVESTIGAÇÃO .......................................................................................................... 8
1.2 OBJETIVO E METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO ................................................................................................. 9
1.3 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO ................................................................................................................................. 10
2 SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA E CONTROLE DE TENSÃO ....... 11
2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................................................................. 11
2.2 SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ................................................................................................. 12
2.3 PLANEJAMENTO DA OPERAÇÃO DO SISTEMA ELÉTRICO ........................................................................................... 14
2.4 CENTRO DE OPERAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO ............................................................................................................ 15
2.5 LEGISLAÇÃO – PRODIST MÓDULO 8 ................................................................................................................... 16
2.6 CONTROLE DE TENSÃO EM SISTEMAS DE POTÊNCIA ................................................................................................ 18
2.6.1 CAPACITOR SHUNT....................................................................................................................................... 19
2.6.2 REATOR SHUNT ........................................................................................................................................... 21
2.6.3 COMPENSADOR SÍNCRONO ............................................................................................................................ 21
2.6.4 COMPENSADOR ESTÁTICO ............................................................................................................................. 21
2.6.5 TRANSFORMADORES COM COMUTADOR DE TAP ................................................................................................ 22
2.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................... 24
3 PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA O CONTROLE DE TENSÃO ......................................... 26
3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................................................................. 26
3.2 DIRETRIZES OPERATIVAS – DISCUSSÃO ................................................................................................................ 26
3.2.1 CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA A SER ESTUDADO ................................................................................................ 27
3.2.2 COMPOSIÇÃO DO REQUISITO DE CARGA ........................................................................................................... 28
3.2.3 PERÍODOS DE CARGA – HORÁRIOS ................................................................................................................... 29
3.2.4 FAIXAS DE TENSÃO – BARRAMENTOS DE CONTROLE ............................................................................................ 31
3.2.5 PADRÕES DE ATENDIMENTO .......................................................................................................................... 32
3.2.6 RELAÇÃO DE TRANSFORMAÇÕES PROPOSTAS ..................................................................................................... 32
3.2.7 REGIME DE FUNCIONAMENTO DE BANCOS DE CAPACITORES ................................................................................. 34
3.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................... 36
4 APLICAÇÃO DA PROPOSTA.................................................................................................... 38
4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................................................................. 38
4.2 SISTEMA ELÉTRICO SELECIONADO – CASO BASE ..................................................................................................... 38
4.2.1 CARACTERISTICAS DO SISTEMA A SER ESTUDADO ............................................................................................... 39
4.2.2 COMPOSIÇÃO DO REQUISITO DE CARGA ........................................................................................................... 41
4.2.3 PERÍODOS DE CARGA – HORÁRIOS / REQUISITO.................................................................................................. 41
4.2.3.1 CARREGAR CASOS BASE COM VALORES DE CARGA ............................................................................................ 42
4.2.4 FAIXAS DE TENSÃO - BARRAMENTOS DE CONTROLE ............................................................................................. 42
4.2.5 PADRÕES DE ATENDIMENTO .......................................................................................................................... 43
4.2.6 RELAÇÃO DE TRANSFORMAÇÕES PROPOSTAS ..................................................................................................... 43
4.2.7 COMPENSAÇÃO REATIVA - MODOS DE OPERAÇÃO .............................................................................................. 45
4.3 RESULTADO E ANÁLISES DAS SIMULAÇÕES ............................................................................................................ 46
4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................... 47
5 CONCLUSÕES E PROPOSTAS DE CONTINUIDADE ............................................................. 48
5.1 CONCLUSÕES ................................................................................................................................................. 48
5.2 PROPOSTAS DE CONTINUIDADE ......................................................................................................................... 49
ÍNDICE DE FIGURAS
FIGURA 3.1 - DIAGRAMA UNIFILAR RESUMIDO – MALHA OESTE DE MINAS GERAIS. FONTE: [CEMIG D, 28
2014]
FIGURA 3.3 - REQUISITO DA REGIÃO RADIAL ATENDIDA PELO DISJUNTOR 15K4. FONTE: [XOMNI - 30
CEMIG D, 2014]
TABELA 2.2 - PONTOS DE CONEXÃO EM TENSÃO NOMINAL IGUAL OU SUPERIOR A 1KV E INFERIOR A 18
69KV
TABELA 4.6 - POSIÇÃO DOS TAPS MÍNIMOS E MÁXIMOS APÓS SIMULAÇÃO NO ANAREDE 42
Esta monografia aborda o tema controle de tensão, com foco nos sistemas de distribuição.
Para intervir sobre o controle de tensão dos barramentos, assim como no de outras
grandezas, estudos pré-operacionais devem ser realizados. Tais estudos visam ao
atendimento das restrições impostas ao SEP. Procuram, dentre outros objetivos, garantir
que o perfil de tensão se mantenha dentro das faixas operativas, que os equipamentos
responsáveis pelo controle sejam melhor aproveitados, que haja redução do fluxo de
reativo indevido no sistema, e que seja realizada uma entrega de energia de qualidade.
Este trabalho está relacionado à área de operação e, de forma mais específica, à etapa de
estudos de planejamento da operação dos sistemas de distribuição.
Qualidade, confiabilidade, segurança e economia exigem uma utilização mais eficiente dos
recursos de controle de tensão existentes no sistema elétrico de potência. Por isso, é
necessária a operação dos equipamentos de controle de tensão dentro de limites
previamente determinados. O limite de fluxo de potência em linhas de distribuição e
Capítulo 1 – Introdução 9
transformadores deve ser monitorado a fim de assegurar que o módulo da tensão nos
barramentos permaneça dentro dos limites mínimos e máximos definidos.
Adicionalmente, ressalta-se que os sistemas elétricos têm operando cada vez mais
próximos a seus limites devido a diversos fatores, tais como as crescentes restrições
econômicas, técnicas e ecológicas. O uso mais intenso das redes de distribuição tem
elevado o consumo de potência reativa indutiva, dificultando o controle de tensão.
Do exposto, percebe-se que o controle de tensão não constitui tarefa simples. O processo
de decisão envolve a seleção dos controladores, considerando sua localização (posição na
rede) e o momento de atuação (quando acionar).
Os benefícios que podem ser obtidos com as propostas apresentadas neste trabalho são
significativos, resultando ganhos para todo o setor, incluindo empresas e consumidores. A
possibilidade de contribuir para a área de operação dos sistemas elétricos constitui a maior
justificativa para a escolha e desenvolvimento do tema do trabalho.
Várias atividades são realizadas para que o SEP funcione de forma adequada para cumprir
seu objetivo básico de gerar, transportar, distribuir e entregar energia elétrica aos
consumidores, atendendo às diversas restrições a ele impostas (ambientais, sociais,
econômicas, qualidade, segurança, dentre outras).
Assim como ocorre com o sistema de transmissão, a distribuição é composta por fios
condutores, transformadores e equipamentos diversos de medição, controle e proteção das
redes elétricas. Todavia, de forma bastante distinta do sistema de transmissão, o sistema
de distribuição é muito mais extenso e ramificado.
Além das linhas de distribuição com tensão elétrica igual ou superior a 34,5 kV e menor
que 230 kV, as distribuidoras operam redes de Média Tensão (MT) e de Baixa Tensão
(BT), também chamadas de redes primárias e secundárias, respectivamente. As linhas de
MT são aquelas com tensão elétrica entre 1,0 kV e 23,1 kV, frequentemente compostas por
três fios condutores aéreos sustentados por cruzetas de madeira em postes de concreto.
Sendo assim, podem ser vistas em ruas e avenidas das grandes cidades.
As redes de BT, com tensão elétrica que pode variar entre 110 e 440 V, são afixadas nos
mesmos postes que sustentam as redes de MT e se localizam normalmente a uma altura
inferior a estas. As redes de BT levam energia elétrica até residências e pequenos
comércios/indústrias por meio dos chamados ramais de ligação. Os supermercados,
comércios e indústrias de médio porte adquirem energia elétrica diretamente das redes de
média tensão, devendo transformá-la internamente para níveis de tensão menores, sob
sua responsabilidade.
A figura 2.1, retirada de [EPE, 2014], ilustra de forma concisa o processo do fluxo de
energia elétrica sob esta perspectiva mais atual. No Brasil, em 2013, havia mais de 72
milhões de Unidades Consumidoras (UC), conforme dados da Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL). Segundo esta agência, as UC são conceituadas como sendo o
“conjunto de instalações/equipamentos elétricos caracterizados pelo recebimento de
energia elétrica em um só ponto de entrega, com medição individualizada e
correspondente a um único consumidor”. Vale mencionar que, do total de UC brasileiras,
85% são da classe residencial.
Pode-se dizer, ainda, que o setor de distribuição é um dos mais regulados e fiscalizados do
setor elétrico. Além de prestar serviço público sob contrato com o órgão regulador do setor,
a ANEEL edita Resoluções, Portarias e outras Normas para o funcionamento adequado do
setor de distribuição, sendo muito rigorosa com as fiscalizações. Um exemplo são os
Procedimentos de Distribuição (PRODIST), os quais dispõem disciplinas, condições,
responsabilidades e penalidades relativas a conexão, planejamento da expansão,
operação e medição da energia elétrica. Adicionalmente o PRODIST estabelece critérios e
indicadores de qualidade para consumidores, produtores, distribuidores e agentes
importadores e exportadores de energia.
Quanto ao planejamento da operação, é nesta etapa que são elaboradas as diretrizes para
o controle de tensão nos barramentos e o carregamento das linhas do sistema. Tais
diretrizes irão auxiliar o trabalho da equipe em tempo real e colaborar para que o
desempenho do sistema esteja dentro das exigências dos órgãos reguladores.
A preparação das diretrizes constitui tarefa não trivial, pois envolve conhecimentos
multidisciplinares relacionados à análise de redes elétricas, incluindo aqueles associados
aos equipamentos e à legislação pertinente.
Para ampliar o entendimento, o centro de operação fornece meios para que seu operador
possa controlar as instalações elétricas (usinas, subestações, equipamentos e regiões de
controle), mantendo a economicidade e segurança, garantindo dessa forma a continuidade
no fornecimento de energia elétrica. Esses meios são organizados de forma hierárquica e
classificados de acordo com sua abrangência de operação. Os centros de menor
abrangência recebem o nome de Centro de Operação da Instalação (COI) ou Centro de
Operação Local (COL), e se reportam aos centros de maior abrangência, tais como os
Centros da Transmissão (COT), Geração (COG) ou Distribuição (COD). Estes, por sua vez,
reportam-se aos Centros Regionais (COR) e Centro de Operação do Sistema (COS).
Esta monografia tem por objetivo específico tratar do controle de tensão. Sendo assim,
torna-se necessário abordar o tema qualidade do produto entregue aos clientes do sistema
de distribuição de energia elétrica. Para esse atendimento, o módulo 8 do PRODIST
Capítulo 2 – Sistemas de distribuição de energia elétrica e controle de tensão 17
Destaca-se que a conformidade dos níveis de tensão deve ser avaliada nos pontos de
conexão à RD, nos pontos de conexão entre distribuidoras, e nos pontos de conexão com
as unidades consumidoras.
Com relação à regulação das Tensões de Atendimento (TA), a tabela 2.1 (para tensão
igual ou superior a 69 kV e inferior a 230 kV) e a tabela 2.2 (para tensão igual ou superior a
1 kV e inferior a 69 kV) apresentam as suas respectivas Faixas de Variação de Tensão de
Leitura (TL).
Tabela 2.1 - Pontos de conexão em tensão nominal igual ou superior a 69 kV e inferior a 230 kV
Percebe-se que o controle de tensão dos barramentos do SEP não constitui tarefa simples.
Antes de apresentar a proposta desta monografia, é importante relembrar conceitos
básicos relacionados a esse estudo, tema do próximo item.
Embora tais questões sejam integradas, conforme discutido em [CESEP, 2013], essas são
tratadas com base em seus principais focos:
(ii) Perfil de tensão: visa garantir, para as diferentes situações do sistema, valores
de tensão dentro de limites estabelecidos; a grandeza de destaque é o módulo
da tensão.
Referências que abordam esse tema de forma bem detalhada, incluindo equacionamentos
e aplicações práticas, são as dissertações [JVALADARES, 2001] e [CHAVES, 2007]. A
preocupação com a Estabilidade de Tensão do sistema vem sendo introduzida nas
análises da operação [CESEP, 2013], porém não constitui foco desta monografia.
Cabe citar que, conforme [MILLER, 1982], um sistema de potência ideal deveria operar
com tensão e frequência constantes, livre de harmônicos e com um fator de potência
unitário em todos os seus pontos, independente das características e dimensões de suas
cargas. Ao descrever tais condições, MILLER não se preocupou com a viabilidade técnica
e econômica no sistema.
Neste trabalho, que tem como premissa determinar a melhor forma de controle de
tensão/potência reativa, tais equipamentos são tratados a seguir. Para simplificar, neste
texto o termo Controle de Tensão é utilizado para designar a atuação dos controladores
tanto no que diz respeito à compensação reativa quanto ao perfil de tensão.
(2.1)
Capítulo 2 – Sistemas de distribuição de energia elétrica e controle de tensão 20
Algumas empresas do sistema brasileiro têm utilizado no 345 kV capacitor shunt da ordem
de 200 Mvar em um único módulo manobrável, sendo esse ligado na hora de ponta do
sistema. Exemplo desse caso é o banco de 200 Mvar instalado na barra 345 kV da
Subestação Neves 1 da concessionária CEMIG D.
Para a correção do fator de potência das cargas e para manter a reserva de potência
reativa dos geradores, os dispositivos de compensação de reativos mais utilizados são os
capacitores shunt, que possuem vantagens, como o baixo custo de aquisição, a facilidade
de especificação, o tempo de montagem, a reposição de unidades danificadas, a
simplicidade e o baixo custo de manutenção.
(2.2)
A potência gerada ou absorvida pode ser controlada dentro de uma determinada faixa de
valores, permitindo um ajuste fino da tensão terminal. A CEMIG D possui instalado na SE
Barreiro 1 e SE Neves 1 síncrono com capacidade de geração/absorção de potência
reativa entre -60 a +100 Mvar cada. Em alguns sistemas de transmissão, existem
síncronos bem maiores, da ordem de -150 a +300 Mvar.
circuito ao qual está ligado. A potência gerada ou absorvida pode ser controlada dentro de
uma determinada faixa de valores, ou seja, permite um ajuste mais fino que o
compensador e reator shunt.
FACTS é uma sigla em inglês para Flexible AC Transmission Systems, que engloba
equipamentos conectados nas linhas ou nas barras do SEP. São baseados em
componentes semicondutores de alta potência, podendo controlar grandezas elétricas
como impedâncias, tensão, corrente e ângulos de fase.
A troca de taps pode ser feita com o transformador desligado ou quando está conectado ao
SEP. Nesse caso, diz-se que o transformador tem "comutação sob carga". Esses taps,
conhecidos como fixos, normalmente podem elevar ou abaixar a tensão em (+/-) 5%
conforme necessidade operativa. Em transformadores reguladores, além dos taps fixos, há
também a troca de tap de forma automática, quando dotado de relé regulador de tensão.
Nesses casos, a mudança de tap automática é feita normalmente para manter um valor de
referência nos barramentos controlados.
Assim, quando se supre potência a partir de uma rede de alta tensão para uma rede de
distribuição de tensão mais baixa, a posição dos taps dos transformadores pode ser
alterada de modo a controlar a tensão no lado de baixa. Esse tipo de controle de tensão é
frequentemente necessário à medida que ocorrem mudanças na carga.
Capítulo 2 – Sistemas de distribuição de energia elétrica e controle de tensão 23
Embora, na maioria dos casos, os taps dos transformadores sejam utilizados para controlar
o valor da tensão no lado de baixa, esses também podem ser utilizados no controle do
valor de tensão do lado de alta.
O relé regulador de tensão (AVR) fabricado pela empresa TREETECH e outros, por
exemplo, o modelo oM-2667 da empresa Beckwith Electric é um dispositivo responsável
por controlar as comutações de tap sob carga. Além de manterem a tensão na carga
dentro dos limites estabelecidos, têm inúmeras outras funcionalidades, tais como:
Medição da
tensão
Tensão acima
Sim
da faixa?
LTC
Assim, estudos operacionais são elaborados para auxiliar nesse processo. Além disso,
com a evolução dos centros de operação, tornou-se possível, por meio de programas
Capítulo 2 – Sistemas de distribuição de energia elétrica e controle de tensão 25
Vários são os recursos que existem para auxiliar a operação de modo geral, mas, para que
seja feita essa programação, estudos de engenharia devem ser realizados de forma
detalhada.
Visando a uma melhor compreensão da proposta, cada etapa é ilustrada por meio de um
exemplo utilizando sistema elétrico real. Foi selecionada a rede que correspondente a parte
de um sistema de distribuição da malha Oeste de Minas Gerais, onde encontra-se o
barramento São Gonçalo do Pará. Esta escolha decorre das características desta área, as
quais permitem melhor análise da proposta.
A influência desses barramentos sobre uma determinada região pode ser considerada
como premissa para a definição das áreas de estudos e para a definição das diretrizes da
operação de um sistema elétrico.
A figura 3.1 ilustra parte do sistema de distribuição da malha Oeste de Minas Gerais, onde
o barramento de São Gonçalo do Pará, fronteira com a rede básica, possui controle no seu
barramento de 138 kV. Esse barramento é denominado barramento de controle, pois
exerce influência nas subestações próximas.
Capítulo 3 – Proposta de diretrizes para o controle de tensão 28
Figura 3.1 – Diagrama unifilar resumido – malha oeste de Minas Gerais. Fonte: [CEMIG D, 2014]
Proposta: Propõe-se, nessa etapa, que a definição do sistema ou parte deste seja
separada por regiões ou malhas, considerando sempre barramentos que tenham
influência nas demais SE´s, facilitando a análise. O sistema a ser estudado pode ser
radial ou fechado em anel.
A composição do requisito de carga da região a ser estudada é importante, pois é por meio
dele que serão definidos os patamares de cargas leve, média e pesada, bem como os
horários do dia em que cada um desses patamares de carga está inserido.
A figura 3.2 mostra a tela do sistema de supervisão e controle xOMNI, utilizado pela
CEMIG D, em que se destaca a SE São Gonçalo do Pará. Os disjuntores 14K4 e 15K4
atendem de forma radial duas regiões, sendo o requisito de carga destas obtido através de
medições nesses disjuntores.
Capítulo 3 – Proposta de diretrizes para o controle de tensão 29
Figura 3.2 – SE São Gonçalo do Pará – sistema de supervisão e controle do SEP – xOMNI. Fonte:
[XOMNI - CEMIG D, 2014]
Nessa curva, o requisito foi elaborado em um sistema radial, mas em um estudo completo
de um sistema com fechamento em anel, o requisito será o somatório da contribuição de
cada barra de fronteira que atende àquela região. É importante ressaltar que a curva de
carga citada é real e apresenta um comportamento diferente do tradicional no qual,
normalmente, a carga cresce ao longo do dia e possui um período de carga pesada
pequeno, na maioria das vezes, entre 17 e 20 horas. Nesse sistema, escolhido
propositalmente, observa-se que, em dias úteis, a curva apresenta características
diferentes dos finais de semana, principalmente aos domingos, onde se verifica uma curva
tradicional da carga.
Com base no requisito, foram definidos os períodos de carga leve, média ou pesada da
região em estudo durante as 24 horas do dia, conforme registrado na tabela 3.1.
Capítulo 3 – Proposta de diretrizes para o controle de tensão 31
Ressalta-se que os horários e dias citados servem apenas como referência. Deve-se
considerar ainda que, durante o período no qual vigora o “horário de verão”, ocorre atraso
de 1 hora nas faixas horárias.
Proposta: Propõe-se definir, para o sistema em estudo, quais são os horários de carga
leve, média e pesada ao longo das 24 horas do dia, com os seus respectivos
requisitos.
É recomendável que, dentro de uma mesma condição de carga, esses barramentos sejam
operados da seguinte forma:
A figura 3.4 mostra a placa de um transformador com seus respectivos taps fixos existentes
e disponíveis para o uso.
Capítulo 3 – Proposta de diretrizes para o controle de tensão 33
Figura 3.4 – Foto da placa de um transformador regulador da WEG - Equip. elétricos S/A
1. Implantação de nova SE
Em uma nova subestação, para a definição do tap, poderá ser necessário estimar as cargas
para os diversos períodos de carga leve, média e pesada, além de se considerar a conexão
destas no sistema. O uso de um programa computacional para o cálculo do fluxo de potência
é recomendável.
Nessa condição, o estudo torna-se mais fácil devido ao conhecimento da carga existente, bem
como do perfil desta. Além disso, poderá ser obtido o histórico das medições das comutações
Capítulo 3 – Proposta de diretrizes para o controle de tensão 34
dos taps, as quais indicarão a posição do tap máximo para elevar e máximo para abaixar a
tensão. A partir disso, o melhor a definir seria o tap central entre os valores obtidos.
Neste estudo, propõe-se que a definição dos taps a serem utilizados seja realizada por meio
de simulações executadas por programas de fluxo de potência dos casos bases definidos para
cada período de carga leve, média e pesada.
O manual do fabricante solicita que, para o correto funcionamento do relé 90 [IMS, 2014],
controlador de entrada e saída dos bancos, sejam determinados os valores de tensão para
a entrada e saída desses elementos do sistema.
– (3.1)
Sendo,
Δ𝑉
𝐼
𝑉 1𝑝𝑢 𝑍𝑐𝑐 𝜙 B
𝑍𝐵
V: Tensão da fonte
I: Corrente do circuito
∆V: Degrau de tensão provocado no sistema pela entrada ou saída do banco de
capacitores shunt
(3.2)
) (3.3)
(3.4)
(3.5)
1 (3.6)
1 (3.7)
(3.8)
As diretrizes propostas, neste estudo, têm como objetivo manter os níveis de tensão do
sistema nas faixas adequadas de atendimento e gerenciar a circulação de potência reativa
indevida no sistema, evitando sobrecargas.
4 Aplicação da
Proposta
Parte-se de uma condição inicial em que o caso ilustrado nas figuras 4.1 e 4.2 é inserido no
programa ANAREDE, considerando os parâmetros reais dos equipamentos instalados em
campo. O sistema em estudo possui 12 barramentos, incluindo o barramento de controle
de São Gonçalo do Pará (SGPARA) que, além de controle, é também barramento de
fronteira com o sistema de transmissão 500 kV.
Em uma primeira etapa, todos os controles do sistema em estudo estão nas condições
iniciais, ou seja, tap de transformadores no ponto neutro, bancos de capacitores shunt
desligados e o barramento de fronteira com tensão em 1 pu.
A tabela 4.1 apresenta os dados das linhas em estudo. Os dados informados se referem ao
sistema de distribuição conectado a partir da barra de SGPARA. As demais informações do
caso base se referem ao Sistema Interligado Nacional (SIN) fornecido pelo [ONS, 2014].
Nome DE - kV Barra PARA Nome PARA- kV Resistência (%) Reatância (%) Susceptância (%) Capac.(MVA)
LFERREIRA-69 10331 PITANGUI—69 33,7 24,2 0,272 18
PAPAGAIO-138 10330 PITANGUI-138 5,04 8,63 1,962 94
NSERRANA-138 10330 PITANGUI-138 2,39 6,21 1,515 125
SGPARA---138 10130 ITAUNA2—138 2,09 5,49 1,301 150
SGPARA---138 10150 PMINAS1—138 4,05 10,75 2,572 125
SGPARA---138 10180 ITAUNA3 -138 2,923 66,556 16,446 180
SGPARA---138 10210 DIVINOP2-138 12,102 31,865 0,755 95
SGPARA---138 10220 DIVINOP1-138 1,29 3,23 0,844 125
SGPARA---138 10230 GAFANHOT-138 0,34 0,87 0,224 125
SGPARA---138 10310 NSERRANA-138 4,06 10,23 2,511 125
SGPARA---138 10410 BDESPACH-138 96,576 19,15 43,769 125
SGPARA---138 10710 CLAUDIO2-138 44,705 11,564 28,439 125
Barra DE Nome DE Barra PARA Reatância (%) tap tap Mínimo tap Máximo Capacidade (MVA) Steps
11333 PITANG-R13.8 10331 200,0 1,0 4
10343 LFERREI-13.8 11343 0,5 0,986 0,9 1,1 3 32
10341 LFERREIRA-69 10343 288,4 1,0 3
10330 PITANGUI-138 11333 78,73 0,9156 0,9 1,1 25 32
10320 PAPAGAIO-138 11323 79,0 0,9174 0,9 1,1 15 32
10310 NSERRANA-138 11314 78.7 0,9269 0,9 1,1 25 32
10310 NSERRANA-138 11313 65.9 0,9271 0,9 1,1 35 32
A tabela 4.3 apresenta os dados dos bancos de capacitores shunt em estudo. Os dados
informados se referem ao sistema conectado a partir do barramento SGPARA. As demais
informações do caso base se referem ao sistema interligado nacional fornecido pelo [ONS,
2014].
13,8 BC = 3,0
13,8 BC = 4,8
13,8 BC = 3,6
Pitangui 2
13,8 BC = 3,6
horas da manhã, esses horários deverão ser os mesmos para as outras SE’s envolvidas na
análise. A tabela 4.4 mostra os valores de carga retirados de medições do programa
xOMNI, os quais são utilizados para as análises a seguir.
Para definir quais serão as faixas de tensão mínima e máxima para os barramentos de
controle, é necessário executar seis casos, sendo dois (um com a carga mínima e outro
com a máxima verificada) para cada período de carga leve, média e pesada.
Condição de Carga
Barramento Controle
Pesada Média Leve
Após carregar os casos bases com as cargas definidas e as tensões nos barramentos e
calculado o fluxo de potência, são obtidos os resultados mostrados na tabela 4.6. Essa
tabela possibilita definir qual a melhor posição para o tap fixo a ser instalado.
Tabela 4.6 – Posição dos tap mínimos e máximos após simulação no ANAREDE
A partir dos taps mínimo e máximo e fazendo a média entre os extremos, encontra-se o
valor de tap ideal para ser implementado no transformador. A tabela 4.7 ilustra a escolha
da posição do tap.
A tabela 4.8 mostra os taps possíveis para cada transformador e a seta indica qual foi a
escolha da melhor posição do tap a ser utilizado. Espera-se, com essa escolha, obter o
Capítulo 4 – Aplicação da proposta 44
Disponível
Proposto
Subestação Equip. Secundário
Atual
(MVA) kV Primário kV
kV
1 72,45
2 70,725
5 65,55
1 144,9
2 141,45
5 131,1
Nova Serrana 1
1 144,9
2 141,45
5 131,1
1 144,9
2 141,45
5 131,1
1 144,9
2 141,45
1 73,4
(*) LTC no 500 kV (com variação em torno de 10%) sem tap fixo.
Capítulo 4 – Aplicação da proposta 45
Considerando que os casos bases já estão ajustados, pode ser determinado o degrau de
tensão (∆V) e, a partir desse, fazer o cálculo das tensões de entrada e saída dos bancos. A
tabela 4.9 mostra os bancos de capacitores (BC) do sistema em estudo com as tensões de
entrada e saída calculadas conforme proposto no capítulo 3.
Corrente de Degrau de
N.º Potência CC Tensão Potência TENSÃO DE TENSÃO DE
SUBESTAÇÃO CC trifásica tensão ΔV
BC. Trifásica kVA (kV) kVAr ENTRADA (kV) SAÍDA (kV)
(A) (kV)
5.1 Conclusões
Visando organizar o tema e facilitar o estudo daqueles que se iniciam na área, o presente
trabalho inclui uma revisão das definições pertinentes das características dos
equipamentos envolvidos no controle de tensão, bem como os modos de operação desses.
Espera-se que esta monografia possa contribuir para a área de operação em tempo real,
não apenas com respeito às propostas apresentadas, mas também como uma referência
básica para seu trabalho.
Capítulo 5 – Conclusões e Propostas de Continuidade 49
Espera-se que este trabalho contribua para o controle de tensão dos barramentos da rede
elétrica, trazendo todos os ganhos inerentes a uma operação mais adequada dos sistemas
de distribuição.
Referências Bibliográficas
[ABRADEE, 2014] ABRADEE - Associação brasileira de distribuidores de energia
elétrica - Disponível em: http://www.abradee.com.br/setor-de-
distribuicao/a-distribuicao-de-energia
[ANEEL, 2014] PRODIST - Procedimentos de distribuição de energia elétrica
no sistema elétrico nacional módulo 8 – Qualidade da energia
elétrica – Disponível em:
http://www.aneel.gov.br/arquivos/PDF/Módulo8_Revisão_4.pdf
[CESEP, 2013] Notas de Aula, Curso de especialização em sistemas elétricos
de potência. LRC/UFMG: Belo Horizonte, 2013.
[CEMIG D, 2014] CEMIG D – Cemig distribuição S/A – Diagrama unifilar das
malhas regionais.
[CHAVES, 2007] CHAVES, Fabrício Silveira. Avaliação Técnica do desempenho
da compensação reativa shunt capacitiva aplicada à
expansão de sistemas elétricos. Tese de Doutorado em
Engenharia Elétrica, PPGEE/UFMG, 2007.
[EPE, 2014] Empresa de pesquisa energética, disponível em:
http://www.epe.gov.br
[IMS, 2014] Relé Power Cap 485 - Controlador automático de bancos de
capacitores para média tensão - Disponível em:
http://www.ims.ind.br
[JVALADARES, 2001] VALADARES, José Roberto. Proposta de políticas, critérios e
procedimentos para compensação reativa e controle de
tensão em SEP. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas
Gerais, 2001.
[MILLER, 1982] MILLER, Timothy J. E. Reactive power control in eletric systems;
New York: John Wiley & Sons, 1982. 381p.
[ONS, 2009] ONS, Submódulo 3.6: Requisitos técnicos mínimos para a
conexão à rede básica. Aprovado em 17/06/2009 pelo ONS e
regulamentado pela ANEEL em 05/08/2009 através da resolução
normativa nº 372/09, disponível no site http://www.ons.org.br.
[ONS, 2014] Casos bases de referência – regime permanente – junho/2014,
Disponível em:
http://www.ons.org.br/avaliacao_condicao/c_referencia_permanent
e_anual.aspx#
[QUEIROZ, 2010] QUEIROZ, Roberto Jeferson Nunes. Implantação de um centro
de operação em tempo real de um agente de transmissão do
sistema interligado nacional. Rio de Janeiro: Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 2010. p. 134.
[TREETECH, 2005] TREETECH. Manual técnico, relé regulador de tensão – AVR,
2005.
[XOMNI - CEMIG D, 2014] xOMNI – Sistema de supervisão e controle do sistema de
distribuição da Cemig distribuição.