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Experiencia Materna Nos Casos Gemelares

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Dividida em dois?

A experiência materna nos casos gemelares


Shared in twice? The maternal experience in twins cases

Fernanda Schmitt Ribeiro


Mestre em psicologia do desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS) e doutoranda em psicologia clínica pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
E-mail: fernandapsi_84@hotmail.com

Resumo: Este trabalho tem por objetivo trazer uma reflexão acerca da experiência da
maternidade exercida com mais de um bebê ao mesmo tempo, ou seja, nos casos gemelares.
Fundamentados na teoria winnicottiana, buscaremos compreender como o estado de
preocupação materna primária é vivenciado pelas mães de gêmeos, tendo em vista as
peculiaridades do processo de subjetivação desses bebês. Se o fato de ser possível para a mãe
responder às necessidades iniciais das crianças através da construção de um olhar
singularizado para cada filho, evitando-se, assim, o risco de tomá-los em seu psiquismo de
forma indiferenciada, configura-se um espaço propício à subjetivação. Trata-se de um espaço
intersubjetivo que se configura a partir de um estado de abertura à afetação pelo outro, o que o
conceito de experiência de Walter Benjamin aborda com maestria.
Palavras-chaves: maternidade; gêmeos; preocupação materna primária; singularidade.

Abstract: This work aims to bring a reflection on the experience of motherhood exercised
with more than one baby at the same time, that is in twin cases. Based on Winnicott’s theory,
we will seek to understand how the state of primary maternal preoccupation is experienced by
mothers of twins, considering the peculiarities of the subjective process of these babies. If
initial needs of children, which requires full maternal dedication, it is possible for the mother to
respond by building a singled look at each child, avoiding the risk of taking them into your
psyche an undifferentiated way, configures itself a favorable space to subjectivity. This is an
inter-subjective space that is configured from a state of openness to the other affectation,
which the concept of experience described by Walter Benjamin covers masterfully.
Keywords: maternity; twins; primary maternal preoccupation; singularity.

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1) Introdução

A psicanálise vem se dedicando há décadas aos estudos do desenvolvimento


emocional primitivo e, consequentemente, à relação mãe-bebê. Um dos psicanalistas
que mais contribuiu para o desenvolvimento desse campo teórico foi Donald
Winnicott. Em sua teorização e em consonância com as ideias de Freud sobre a
prematuração biológica do ser humano ao nascer, Winnicott afirma que a dependência
do outro marca os primórdios da vida psíquica com a necessidade de ser acolhido e
cuidado. Incapaz de encontrar, por meios próprios, a satisfação de suas demandas
físicas e emocionais, o bebê não existe sozinho, mas apenas na presença de alguém que
cuide dele (Winnicott, 1958n/1993).
A dependência absoluta do recém-nascido exige que a mãe funcione para ele
como uma espécie de prótese fundamental ou ego auxiliar, de forma a identificar-se
profundamente com ele e assim poder compreender seus estados anímicos e prestar,
então, as ações de cuidado necessárias para que sua continuidade de ser não seja
interrompida. A função materna, nesse sentido, configura o contexto ambiental no qual
a subjetividade nascente do bebê poderá se desenvolver, de acordo com a qualidade
dessa relação primordial.
Para alcançar esse nível de identificação, é necessário que a mulher se entregue
a um estado muito peculiar de empatia, que foi percebido e nomeado por Winnicott
(1958n/1993) como preocupação materna primária. O autor definiu esse conceito
como um estado de sensibilidade aumentada que se desenvolve na mãe já no final da
gestação e tende a seguir presente durante os primeiros meses de vida de seu filho.
Após esse período, é esperado que a mãe saudável se recupere desse estado, talvez nem
se recordando mais dele. Essa condição proporciona ao bebê um ambiente
suficientemente bom, fornecendo as condições para o desenvolvimento de suas
tendências inatas. Esse conceito é definido pelo autor da seguinte forma:

Esta condição gradualmente se desenvolve e se torna um estado de


sensibilidade aumentada durante, e especialmente, no final da
gravidez. Continua por algumas semanas depois do nascimento da
criança. Não é facilmente recordada, uma vez tendo a mãe se
recuperado dela. Eu iria mais além e diria que a recordação que a

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mãe tem deste estado tende a ser reprimida. (Winnicott, 1958n/1993,
p. 493)

Dessa forma, durante a preocupação materna primária, a mulher vive em um


estado muito peculiar que, conforme Winnicott, se não fosse no contexto da
maternidade, seria algo próximo a uma psicose. A loucura materna consiste numa
espécie de fuga ou dissociação, isto é, num deslocamento subjetivo em que os
interesses pessoais e, até certo ponto, a própria subjetividade materna é silenciada, em
prol da total devoção e dedicação ao pequeno bebê. A partir de um estado de profunda
identificação às necessidades físicas e afetivas da criança – sentindo-as, em alguns
momentos, como se fossem necessidades próprias –, a mãe torna-se uma cuidadora
muito especializada naquele ser humano em particular.
A importância do ambiente facilitador que, sensível ao bebê, prepara as
condições para que este viva a experiência de onipotência reside na constituição
primária do ser que acontece a partir da realidade dos objetos subjetivamente
concebidos. Tal questão supõe que a mãe se relacione de modo especializado e seja
devotada e totalmente identificada àquele sujeito, à decifração de seus movimentos
singulares e de seus ritmos, alcançando, assim, um grau de previsibilidade tal dos
estados de ser do bebê que é possível ela realizar para ele a fascinante tarefa de estar
no lugar esperado no momento esperado. A criança vive uma experiência mágica, mas
a mãe, da mesma forma, precisa vivê-lo, de modo a ser capaz de mergulhar
inteiramente no bebê com todo o seu ser e, assim, conhecê-lo.
Esse movimento de profundo mergulho da mãe na relação com o bebê
aproxima-se muito do que o filósofo Walter Benjamin (1987) aborda com o conceito
de experiência. Para ele, experiência é, em primeiro lugar, algo extremamente pessoal
e subjetivo. Próximo à vivência, pode-se dizer que a experiência precisa ser vivida,
sentida e processada internamente. É o mergulho em seu próprio ser que possibilita
sentir e, de fato, experimentar sua experiência, entregando-se a um campo de afetação
para de lá extrair a si mesmo, tal como num primeiro encontro verdadeiro, um encontro
com sua própria verdade, pois, para estar disponível para a comunicação sensitiva com
o outro, é necessário, antes, estar em contato consigo mesmo.
Benjamin (1987) propõe uma epistemologia que se sustenta sobre a
compreensão de que, a partir da experiência, torna-se possível alcançar um saber
pessoal, extrassensível e intuitivo, tal como ocorre na preocupação materna primária.

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Experimentar, portanto, é um modo de produção de saber sobre a condição humana
desvinculado do saber mental (Safra, 2006). Como nos primeiros tempos a criança
ainda não tem um estatuto puramente objetivo para a mãe, ainda sendo, em grande
medida, um objeto narcísico e subjetivo para ela, o mergulho materno é, ao mesmo
tempo, em seu ser e no ser incipiente da criança. Assim, lançar-se nesse movimento em
direção ao outro é, paradoxalmente e ao mesmo tempo, apoiar-se numa profunda
ancoragem em si mesma, nesse mergulho interior que faz a mãe entrar em contato com
o seu lado infantil, com a criança que ainda vive nela.
Para se entregar, então, à busca por um conhecimento que emerge de sua
experiência na relação com o bebê – uma experiência mimética (Benjamin, 1987) –, a
mãe precisa, em sua experiência de si, deixar-se levar por um movimento centrífugo
em direção a seu bebê, o que implica um apagamento de si enquanto sujeito à medida
que, de certo modo, ela se descentra de sua própria subjetividade. Esse silêncio da
dimensão subjetiva da mãe é requerido para que ela possa sintonizar-se finamente com
o bebê, sentindo com e a partir de um campo intersubjetivo e transicional no qual os
dois se misturam, tal como o menino Benjamin ao caçar borboletas durante sua
infância em Berlim. No artigo “A arte de caçar borboletas”, Castro (2009) procura
traduzir poeticamente a experiência sensorial de uma criança que ansiava dissolver-se
em luz e ar, como parece-lhe fazer a borboleta, para assim aproximar-se dela sem ser
percebido. Viver a essência da borboleta era o objetivo almejado a partir de
comportamentos miméticos nos quais o sujeito abre-se ao seu objeto de forma que nele
possa penetrar o espírito da borboleta. Trata-se de um

[...] movimento de evasão, de entrega total às minúcias da realidade


concreta, onde a intenção subjetiva se apaga no objeto e no
pensamento, agarrado à coisa, transforma-se em um tatear, em um
cheirar e saborear, numa espécie de “empirismo delicado”, como
sonhou um dia Goethe. (Castro, 2009, p. 208)

Nesse movimento de mimese não é possível operar uma reprodução exata da


realidade dada, da borboleta em si mesma, mas uma verdadeira atividade de
intercâmbio entre os dois seres, de forma não a encontrar, mas a produzir semelhanças
extrassensíveis – conceito trabalhado por Benjamin (1987) no ensaio “A doutrina das
semelhanças”, de 1932 –, de natureza imaterial ou espiritual. A faculdade mimética,

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assim, absolutamente pautada na sensorialidade, é produtora de um conhecimento
extrassensível que é, por isso mesmo, profundamente pessoal e essencialmente
verdadeiro, na medida em que se ancora no campo da experiência. O filósofo traz aqui
a ideia de uma interioridade paradoxal: é o apagamento do sujeito, sua retração,
regressão ou involução que permite a mistura entre o de dentro e o de fora, em seu
“devir-borboleta”. O conceito deleuziano de devir, nesse sentido, é bastante útil como
representação de um “espaço liso” que permite as passagens de um a outro, tal como as
ondas do mar que vêm e vão.
O espaço onde se dá a experiência é intenso e não extenso. É um espaço de
intensidades e de afetação, comportando a dimensão temporal do instante e do agora,
em que a semelhança pode ser experimentada. Esse processo traz como exigência um
sujeito elástico o suficiente para elevar-se ao cume do tempo, ao tempo suspenso, livre
da linearidade, da causalidade e da cronologia: o tempo da criação (Castro, 2009). A
ideia de infância em Benjamin, opondo-se à de sujeito formado ou de interioridade
subjetiva constituída, retrata essa característica de abertura e elasticidade que
possibilita a troca viva entre o interior e o exterior, entre envolvido e envolvente. Essa
disposição subjetiva da criança que, “com seu olhar inconsciente e curioso” (Castro,
2009, pp. 214-215), assume a essência da borboleta e, ao mesmo tempo, nela se
reconhece, é o protótipo de uma subjetividade aberta à experiência, ao campo
intersubjetivo em que as fronteiras são tênues. Despojar-se de cristalizações que
impeçam a expressão do potencial criativo, tonando-se, para Benjamin, uma criança, é
o pré-requisito para embarcar nessa experiência transcendental do espaço, do tempo e
da linguagem. É esse o percurso da mãe ao entrar em preocupação materna primária,
impulsionada pelo contato com seu bebê.
A mimese, nesse sentido, é precisamente uma maneira de se comunicar com o
objeto no registro do sentir, da afetação, do sensível, do não verbal. Deixar-se tomar
pelo arrebatamento, pela convocação de conhecer o outro, é condição para a
experiência mimética, que advém da capacidade inata do homem de conhecer o mundo
buscando produzir (mais do que encontrar) semelhanças a partir da aventura de lançar-
se ao encontro do outro, despojando-se de toda bagagem prévia, para assim permitir
uma experiência de mistura, de fusão criativa. Trata-se, desse modo, de uma busca
extrassensível em que, conectado com a experiência do próprio espírito, abre-se à
afetação pelo espírito do outro que se apresenta nesse encontro, de onde brota ou

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irrompe algo absolutamente novo e autêntico, que não é nem de um, nem do outro, mas
sim proveniente do campo intersubjetivo que se criou nessa experiência compartilhada.
A mãe devotada, na relação com seu bebê, perde-se nele, como Benjamin
menino perdeu-se na borboleta, entregando-se a um balé sensorial em que se torna
possível conformar-se ao movimento do outro, ou seja, produzir em si mesmo a
mesma forma, sempre, no entanto, originando o novo. Assim, apropriando-nos das
contribuições da filosofia ao estudo do estado de preocupação materna primária,
podemos dizer que, pela via da mimese, a mãe entra em contato com a experiência
sensível de seu bebê, tomando conhecimento, a partir do que sente em si mesma, das
intensidades que atuam no bebê e, então, nesse espelhamento, produz semelhanças que
aproximam os dois seres num nível muito profundo de comunicação, de afeto e de
identificação.
Embora, obviamente, de acordo com Ogden (2010), essa tarefa não seja
executada senão com algum (ou com grande) custo psíquico para a mãe em
preocupação materna primária, há muito prazer em dedicar-se integralmente à sua
criança, uma vez que ela ainda não possui propriamente um estatuto de objeto externo,
completamente separado. Mais do que uma alteridade, a criança é reconhecida nos
primeiros tempos de vida como parte da mãe, carregando, até certo ponto, o estatuto de
objeto interno (Missonier, 2004), nutrindo a mãe narcisicamente.
Desse modo, é somente o conhecimento profundo que brota do espírito da mãe
a partir de sua experiência com a criança que tem o potencial de ser exato e preciso
para aquela dupla em particular, pois leva em conta as disposições mais profundas da
mãe, toda sua história, todo seu ser e sua bagagem espiritual, nos termos de Benjamin,
que se atualizam no tempo do agora. É necessariamente a partir dessa profunda
experiência de si no encontro com seu bebê que uma mãe poderá se relacionar
genuinamente com ele. Desse modo, identificamos no processo de se tornar mãe uma
oportunidade ou, mais precisamente, uma convocação para a experiência, para essa
busca de si mesmo, fundamental para que se desperte o saber materno intuitivo de
Winnicott ou o conhecimento extrassensível de seu bebê, conforme Benjamin.
Tendo em vista essas considerações, que demonstram a relevância da entrega
materna para o desenvolvimento psíquico do bebê, este trabalho pretende discorrer
acerca da seguinte indagação: como a experiência da maternidade ocorre em casos de
gêmeos, nos quais a entrega materna deverá acontecer em relação a dois ou mais bebês

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simultaneamente? Apresentaremos, desse modo, algumas reflexões respaldadas na
teoria winnicottiana, a fim de compreender as peculiaridades relativas a esses casos.

2) Maternidade e as necessidades básicas do lactente: a necessidade básica de


singularização

O processo de tornar-se mãe implica uma exigência de trabalho psíquico


intenso por parte da mulher, no qual fatores remotos e contemporâneos de sua história
interagem ininterruptamente, operando diversas transformações que possibilitam, no
psiquismo, a construção do lugar e da função de mãe. A gestação, o parto e o puerpério
comportam experiências corporais e emocionais intensas que demandam elaboração e
assim configuram o processo de tornar-se mãe. Com a experiência biopsíquica da
gestação, aos poucos a mulher saudável tende a se voltar para o interior e para o filho
que vai nascer, dando início ao processo de vinculação entre os dois.
A mãe capaz de entrar em estado de preocupação materna primária comporta
uma “sensibilidade especial para olhar e valorizar aquilo que, desde o nascimento, cada
ser humano tem de próprio, singular, inalienavelmente seu” (Naffah Neto, 2005, p.
439). Essa marca singular de cada bebê “indica o eixo principal que definirá a
singularidade daquele ser humano durante toda a sua vida e, no melhor dos casos, o
núcleo de onde ele se desenvolverá rumo à maturidade” (Naffah Neto, 2005, p. 437). A
dinâmica da experiência que se dá nesse campo intersubjetivo acompanha as mudanças
nas capacidades e necessidades da criança ao longo do tempo, relacionando-se à
oscilação paradoxal, gradual e sensível – para ser suficientemente boa – entre
experiências de fusão e separação, onipotência e angústia. É nessa alternância entre os
estados de fusão e de separação que o sujeito vai se constituindo, pois, aos poucos, vai
se fortalecendo o sentimento de ser e a objetividade do mundo vai sendo
experimentada e assimilada pelo self em constituição, de forma a não violá-lo.
O bebê que recebe cuidados maternos suficientemente bons começa a formar a
base de sua personalidade e individualidade imediatamente após o nascimento, bem
como a descobrir sua importância própria. Conforme descreve Winnicott (1965j/1983)
a partir da experiência de ilusão, para que o bebê possa iniciar o desenvolvimento do
self, ele precisa ser acolhido em seus gestos espontâneos e, assim, vivenciar o
sentimento de continuidade de ser. Nesse empreendimento, o outro tem papel
essencial, apresentando-se à criança no momento mesmo em que ela o solicita,

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permitindo a ela a experiência de onipotência, na qual a criança tem a ilusão de criar o
objeto encontrado conforme sua vontade. Essa experiência tem o valor de ser e é a base
para a confiança no ambiente.
Em seu trabalho A capacidade de estar só (Winnicott, 1958g/1983), Winnicott
trata de como o encontro do bebê com sua mãe propicia que ele possa, na realidade,
ficar só consigo mesmo, pois será através dessa atmosfera de segurança que o bebê
conseguirá relaxar e entrar em contato com seu self verdadeiro. Essa conquista do
desenvolvimento demonstra, mais uma vez, a importância fundamental dessa relação
primordial para a constituição psíquica do bebê: será na presença da mãe que o bebê
conseguirá atingir a capacidade de estar só. Na passagem seguinte, Winnicott descreve
a importância desses momentos para a criança:

A criança tem a capacidade de se tornar não-integrada, de devanear,


de estar num estado em que não há orientação, de ser capaz de existir
por um momento sem ser nem alguém que reage às contingências
externas, nem uma pessoa ativa com uma direção de interesse ou
movimento [...]. Nesse estado a sensação ou o impulso será sentido
como real e será verdadeiramente uma experiência pessoal.
(Winnicott, 1958g/1983, pp. 35-36)

A respeito dessa dedicação que a criança pequena exige de sua mãe, Winnicott
(1957s/1945) afirma que se trata de um egoísmo primário absolutamente essencial para
a consolidação do sentimento de ser. Essa experiência de ter uma mãe completamente
devotada a atender a suas necessidades, que são urgentes e implacáveis sem a ajuda de
um cuidador sensível e disponível, é condição para que, no futuro, o bebê possa
naturalmente prescindir dessa dedicação exclusiva, compreendendo e permitindo que a
mãe tenha outros interesses e investimentos.

De qualquer modo, esse egoísmo primário nada mais é senão a


experiência de uma boa assistência materna da criança, uma boa mãe
disposta, no princípio, a adaptar-se tanto quanto possível aos desejos
do seu bebê, a deixar que os impulsos dele dominem a situação e
contente-se em esperar que no bebê se configure a capacidade de
anuir ao ponto de vista da outra pessoa com o decorrer do tempo. No
princípio, a mãe deve estar apta a propiciar ao seu bebê o sentido de

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posse e a sensação de que exerce controle sobre ela, de que a mãe foi
criada para a ocasião. Sua própria vida privada não é inicialmente
imposta ao bebê. Com a experiência do egoísmo primário
impregnada até os ossos, o bebê está capacitado a ser mais tarde
desinteressado e desprendido sem demasiado ressentimento.
(Winnicott, 1957s/1945, pp. 155-156)

Para o autor, a capacidade de desprendimento e de tolerância ao ponto de vista


alheio tem necessariamente em sua base uma firme experiência de egoísmo primário.
Quanto mais intensa essa experiência inicial de dedicação exclusiva do outro, mais
fácil é abster-se dela posteriormente, dando lugar ao desejo do outro sem grandes
ressentimentos. No texto Da dependência à independência no desenvolvimento do
indivíduo (Winnicott, 1965r/1983), Winnicott atualiza o termo “egoísmo primário” ao
descrever o estágio de dependência absoluta do bebê. Nele, explica como as
necessidades básicas do bebê estão relacionadas à continuidade do ser, e demonstra a
importância de a mãe estar conectada ao bebê nesse momento:

Há um conjunto inteiro de desenvolvimentos do ego do lactente que


tem suas próprias necessidades [...]. É surpreendente como as mães
podem satisfazer bem as necessidades do ego de seus próprios nenês,
mesmo mães que não são boas em dar de mamar, mas que
rapidamente substituem a mamadeira e a fórmula [...]. Descreverei
agora as necessidades do ego, uma vez que são múltiplas. O melhor
exemplo seria a questão de segurar ao colo. Ninguém pode segurar
um bebê a menos que seja capaz de se identificar com ele [...]. Ainda
estou falando da dependência absoluta. É toda uma questão de
incômodos, irritações ou a falta desses, na vida da criança. Todos os
processos de uma criatura viva constituem um vir-a-ser, uma espécie
de plano da existência. A mãe que é capaz de se devotar, por um
período, a essa tarefa natural, é capaz de proteger o vir-a-ser do seu
nenê. Qualquer irritação, ou falha de adaptação, causa uma reação no
lactente, e essa reação quebra esse vir-a-ser. (Winnicott 1965r/1983,
p. 82)

É preciso, então, permitir ao bebê levar o tempo que precisar para reconhecer o
direito da mãe a outros interesses. Ora, no caso de irmãos gêmeos, esse estado de

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coisas não é possível, pois desde sempre há um outro que também chora e solicita a
mãe ao mesmo tempo. Tendo em vista essa constatação, abordaremos a seguir como
seria, para a mãe de gêmeos, a experiência de fazer dois mergulhos intersubjetivos
dessa natureza simultaneamente, entrando em preocupação materna primária em
relação a dois ou mais bebês ao mesmo tempo. Seria isso possível?

3) Maternidades exercidas simultaneamente

Embora o nascimento de gêmeos seja um fenômeno perfeitamente natural, ele


carrega em si peculiaridades que merecem ser observadas a fim de melhor lidar com as
dificuldades que essa condição naturalmente impõe, posto que é impossível satisfazer
as necessidades imediatas de dois bebês ao mesmo tempo, assim como ser
absolutamente imparcial. Seria, então, possível para uma mãe viver o estado de
preocupação materna primária simultaneamente com dois bebês? Para Winnicott
(1957s/1945), a mãe de gêmeos tem uma tarefa extra, acima de todas as outras, que é
dar-se a dois bebês ao mesmo tempo. Para Winnicott, a rigor, seria impossível para
uma mãe satisfazer e atender dois bebês ao mesmo tempo sendo ela uma só. Assim, até
certo ponto, ela deve fracassar e contentar-se em fazer o melhor possível.
É preciso considerar que, na grande maioria dos casos, as mulheres não estão
esperando lidar com a maternidade gemelar. Winnicott (1957s/1945) havia dito que
quase todas as mães de gêmeos afirmam que não teriam escolhido a maternidade
gemelar se pudessem ter tomado essa decisão. Da mesma forma, os gêmeos
usualmente confessam que prefeririam ter nascido cada um de sua vez, embora deva
ser agradável para a criança ter companhia – o que possivelmente desenvolve um
sentimento ambivalente nos irmãos também.
Considerando-se essas reflexões winnicottianas acerca da maternidade gemelar,
pode-se pensar que a realidade de uma mãe que concebe três ou ainda mais bebês em
uma gravidez múltipla pode ser ainda mais desafiadora. Garel, Salobir e Blondel
(1997) realizaram um estudo com onze mães que haviam tido trigêmeos quando as
crianças estavam com quatro anos de idade. Nos seus resultados, as autoras indicaram
que muitas mães demonstraram arrependimentos quanto a terem tido três filhos. Outro
achado intrigante se refere ao fato de as autoras terem percebido que essas mães
isolavam um dos bebês de forma a considerá-lo diferente dos outros dois. Klock
(2004), ao se deparar com esse achado, atribuiu a ele o significado de que as mães

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formavam um par de crianças e deixavam a terceira sobrando, como se fosse uma
extra.
Refletindo acerca dessas considerações, Ribeiro (2014) levantou a hipótese de
que poderia haver um limite subjetivo em relação ao número de bebês que as mães
conseguem dar conta simultaneamente, hipótese essa embasada pela constatação do
estudo de Garel, Salobir e Blondel (1997) de que o terceiro bebê era percebido como
excluído pelas mães. No referido trabalho, a eminente dificuldade de elaboração de
uma gestação gemelar foi percebida como um estado de com fusão, no qual apareceu
uma dificuldade eminente das mulheres grávidas de gêmeos de abrirem espaço
psíquico para receber seus dois bebês. Essa percepção surgiu a partir da observação da
pesquisadora de fatos tais como uma mãe comprar dois armários e dois bercinhos para
seus filhos, mas ocupar apenas um; de outra mãe colocar seus bebês para dormirem
juntos no mesmo berço; assim como a presença de atos falhos, como “nós dois, nós
três, né”, quando uma mãe se referia a ela e a seus dois bebês. Esses dados foram
compreendidos como uma dificuldade de assimilação inconsciente da chegada de seus
dois bebês, de forma que essas mães os uniam em apenas um, como apareceu nessas
atitudes e falas.
Contudo, o fato é que as mães de gêmeos conseguem dar conta dessa situação,
afinal, não há registros de que filhos gêmeos apresentem maiores problemas psíquicos
ou interpessoais. De alguma forma, parece que as mães conseguem se entregar a esse
processo de preocupação materna primária simultaneamente com dois bebês. Pode-se
levantar a hipótese de que um dos grandes segredos para que essa entrega se torne
possível seja a construção de relações distintas com cada um dos sujeitos, percebidos
como singulares e reconhecidos em suas individualidades, despertando, assim, na mãe,
expectativas e projeções diferenciadas.
A construção da relação da mãe com seu filho, como sujeito singular, é um
processo gradual em que a mãe inicialmente percebe seu filho como parte dela mesma,
como explica a psicanalista Monique Bydlowski, referindo-se ao objeto interior da
mãe, que diz respeito ao bebê que ela foi outrora e que lhe dá bases para fantasiar o seu
bebê (Bydlowski, 2002). Após o nascimento de seu filho, Bydlowski acredita que a
mãe se relacionará com esse bebê que está então do lado de fora através de traços
mnemônicos ativados pelo bebê que a mãe fora no passado, ainda relacionado à sua
própria vivência. Só mais tarde a mãe poderá investir seu bebê como um verdadeiro
objeto externo, e não apenas como um representante de um objeto interno.

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A psicanalista Regina Aragão (2007), partindo dessa teorização de Bydlowski,
propõe que a gestação seria o tempo em que se dá esse trabalho de preparação da
relação objetal por parte da mãe. A autora explica que o que está em questão é a
capacidade materna de erotizar uma parte ainda interna de si mesma. O bebê
inicialmente é um outro dentro do corpo da mãe e pode ser percebido por ela como um
invasor. Dessa forma, para que a mãe seja capaz, em um segundo momento, de
perceber seu bebê objetivamente, é necessário que haja no período gestacional um
deslizamento da percepção de seu feto como uma parte integrante de seu próprio
corpo. Posteriormente, então, chegaria o momento em que o bebê vem a se constituir
como um outro para a mãe e, assim, se configurar como um objeto alvo de suas
projeções e de seu decorrente investimento. Assim, ao longo da gestação, espera-se
que o bebê possa se tornar cada vez mais familiar através das projeções e idealizações
maternas que estarão ancoradas na sua própria história infantil, ao mesmo tempo em
que o bebê passa a ser reconhecido em sua dimensão de alteridade.
Tendo em vista essa concepção de que a percepção objetiva do bebê por parte
da mãe é uma construção, pode-se inferir que esse processo será mais custoso
psiquicamente para a mãe de gêmeos, que passará por tudo isso com dois bebês.
Contudo, conforme vai se construindo a percepção objetiva de cada bebê, a mãe
poderá mergulhar na relação total com cada um deles, tornando-se também, dessa
forma, uma mãe distinta para cada um deles.
Alguns achados do estudo de Tavares (2007) podem nos auxiliar a
compreender as reflexões aqui propostas. A autora buscou compreender as relações
triangulares em gêmeos. Para tanto, ela acompanhou cinco pares de gêmeos durante o
primeiro ano de suas vidas. Entre seus relatos e discussões, Tavares trouxe uma
constatação curiosa: os gêmeos permaneciam quietos enquanto a mãe fazia a higiene
do irmão ou o alimentava. No entanto, se, após finalizar a tarefa, a mãe seguisse sua
interação com o irmão, o outro gêmeo começava a reclamar. Perante essas
observações, a autora levantou a hipótese de que os gêmeos parecem ser capazes de
compreender as necessidades de cuidados dos seus irmãos e, por isso, conseguiam
aguardar alguns minutos para receber a atenção materna.
Tavares (2007) também chamou a atenção para os revezamentos entre os
irmãos de ciclos sono-vigia, visto que muitas vezes eles eram tão sincronizados que
chegavam a parecer que eram combinados pelos gêmeos. A pesquisadora relatou que,
após serem cuidados, os bebês muitas vezes adormeciam e permitiam que a mãe

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cuidasse do irmão. Contudo, quando esses revezamentos não ocorriam, Tavares
percebeu que as mães estavam quase sempre envolvidas em situações triádicas
cuidando dos dois filhos ao mesmo tempo, visto que a presença dos pais nos casos
observados era rara. A partir desse relato, a autora refletiu a respeito da
impossibilidade de o bebê gêmeo estar a sós com sua mãe, pois, mesmo na ausência
física do irmão, quando este adormecia, por exemplo, ele permaneceria presente na
mente materna.
Dentre os achados de Tavares (2007), surge o paradoxo de haver momentos em
que os gêmeos aceitavam aguardar o irmão ser atendido e outros em que esta espera
não era facilmente tolerada, normalmente em situações nas quais a mãe já havia
terminado o cuidado com o irmão, mas seguia interagindo ludicamente com ele.
Nesses momentos, os bebês chamavam a atenção das mães muitas vezes através de
expressões faciais que demonstravam desagrado, as quais eram frequentemente
serenadas com olhares, sorrisos e palavras maternas. Pode-se inferir que, nessas
ocasiões, não é a questão da previsibilidade ou de sua falta que está em questão, mas o
desejo do bebê de que a mãe interaja ludicamente apenas com ele, pois, como vimos
anteriormente, existe uma necessidade de o bebê entender que tem poder sobre sua
mãe e de que possui controle sobre ela, algo que Winnicott chamou de egoísmo
primário (Winnicott, 1957s/1945).
Nesse sentido, Winnicott havia proposto que as mães de gêmeos verificariam
que sua finalidade não é tratar cada filho de maneira idêntica, mas justamente “tratá-lo
como se fosse um único” (Winnicott, 1957s/1945, p. 157), e que, assim, a mãe tentará
descobrir as diferenças de cada bebê. A mãe poderá desenvolver com cada um uma
relação total e irá compreender que seus filhos vivenciam experiências paralelas e
possuem diferentes temperamentos, principalmente nos casos em que há uma extrema
semelhança física entre eles. Nesses casos, a identificação das diferenças e o
reconhecimento do sujeito que existe em cada um dos filhos se torna ainda mais
primordial.
Winnicott (1957s/1945) inferiu que uma grande parte das dificuldades
vivenciadas pelos gêmeos decorre do fato de eles nem sempre serem reconhecidos
como diferentes um do outro, mesmo naquilo em que são realmente diferentes. Esse
seria um desafio para os gêmeos, pois, para Winnicott, seria muito mais fácil tornar-se
uma pessoa integral estando sozinho do que na companhia do próprio irmão gêmeo.
Assim, a relevância da mãe em reconhecer a individualidade de cada filho estaria

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presente pelo fato de, a partir desse reconhecimento, ela poder se relacionar
distintamente com cada um de seus filhos e, também, possibilitar que eles, por sua vez,
possam se reconhecer como indivíduos distintos.
Há de se considerar, no entanto, outro fator mencionado anteriormente: a
dedicação redobrada às tarefas que as mães de gêmeos precisam cumprir, o que,
segundo Winnicott (1957s/1945), exigiria um esforço ainda maior da mãe no contexto
de gemelaridade. Nesse sentido, torna-se relevante ressaltar que, além do apoio
ambiental que dá suporte à mãe – função paterna –, é preciso haver da parte das mães
uma aposta na capacidade de espera de seus bebês, o que só poderá surgir a partir da
possibilidade de previsibilidade do que irá acontecer em seu ambiente. Conforme o
tempo passa e a mãe estabelece determinados ritmos que perpassam suas reações e
atividades com os bebês, constrói-se uma trama de continência que capacita cada um
dos irmãos a antecipar os movimentos do ambiente e vivenciar, assim, uma experiência
de continuidade, conforme exposição do psicanalista Alberto Ciccone (2015). Por
exemplo, se o bebê compreender que sempre que a mãe se afastar com o irmão e ele
escutar um barulho (o do banho sendo preparado), depois de alguns instantes ela
retornará para buscá-lo, com o tempo ele irá cada vez mais permanecer tranquilo na
ausência da mãe, pois pode prever seu retorno. Desse modo, percebe-se que é
estabelecido um vínculo de confiança em que o bebê compreende as ausências
maternas e a mãe, por sua vez, compreende que seu bebê poderá lhe esperar, o que
possibilitará que ela se dedique totalmente ao filho que está com ela naquele momento,
oferecendo-se, portanto, integralmente a cada um deles.
Contudo, ainda que possamos inferir que a dedicação integral materna a cada
gêmeo aconteça, é preciso reconhecer que essa dedicação será intermitente, visto que
os cuidados ocorrerão de forma alternada para cada bebê. Os gêmeos parecem
sustentar o tempo de espera da mãe a partir das possibilidades de previsibilidade e
antecipação descritas acima, construindo dessa forma vivências de continuidade. A
experiência materna, porém, caracteriza-se, certamente, por uma maior exigência
psíquica da mulher convocada a construir em cada relação filial uma riqueza simbólica
e afetiva que demanda seu total envolvimento pessoal.

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4) Considerações finais

Como vimos, segundo a teoria winnicottiana, a maternidade gemelar traz uma


tarefa extra para as mães, convocadas a identificarem-se profundamente a dois bebês
ao mesmo tempo através do estado de preocupação materna primária, imprescindível
para o desencadear do processo de subjetivação das crianças. Acreditamos que esse
mergulho profundo em cada uma das relações é possível, embora represente uma
exigência psíquica adicional à mulher, justamente porque implicará uma entrega total,
no âmbito do self, a dois objetos distintos que, por sua vez, evocam nela questões
subjetivas distintas.
Nesse sentido, os casos gemelares fazem da preocupação materna primária, que
é em si um estado muito intenso, um fenômeno ainda mais complexo. Conforme
discutido no presente artigo, pode-se inferir que na maternidade de gêmeos
presenciamos o seguinte fenômeno: a mulher se desdobra em duas, vivenciado dois
processos de construção da maternidade paralelamente, o que permite que ela se
constitua como uma mãe diferente para cada uma de suas crianças. Dessa forma,
ocorrem duas maternidades distintas simultaneamente na mesma mulher.
No entanto, como apresentado, ainda que essas mulheres tenham consciência
da gestação de gêmeos, não sendo, portanto, psicóticas, elas inicialmente costumam
apresentar uma resistência psíquica de assimilar seus dois, ou mais, bebês – o que é,
até certo ponto, natural e esperado, uma vez que a tarefa materna nesses casos é
redobrada. Ressaltamos, contudo, uma especificidade das maternidades gemelares:
embora a mãe seja capaz de se entregar a esse processo singularmente com cada bebê,
ela estará sempre, de certa forma, experienciando o outro mergulho em paralelo. Aqui
reside o risco típico da condição gemelar: a aglutinação na psique materna de seus dois
ou mais bebês. Desse modo, faz-se necessário um longo trabalho psíquico no sentido
de elaborar a maternidade gemelar, possibilitando, gradualmente, o processo de
percepção objetiva de cada um dos filhos, para que então a mãe seja capaz de
reconhecer a individualidade e singularidade deles.
Como o processo de subjetivação do bebê se fundamenta na qualidade da
relação estabelecida com a mãe quando ela apresentar-se de modo confiável,
permitindo ao bebê constituir uma experiência de continuidade como base do self, na
situação gemelar, cada um dos bebês torna-se capaz de desenvolver certa capacidade
de espera alicerçada na previsibilidade de que, embora por vezes a mãe se ausente para

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ocupar-se do irmão, ela voltará em breve. Dessa forma, a mãe também, por sua vez,
poderá confiar na capacidade de espera de seu filho para, então, poder se entregar ao
irmão gêmeo, estando inteira nesse mesmo processo. Assim, o balé dessas duas díades
encontra sua coreografia sincronizada.

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