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Aula

SANEAMENTO BÁSICO E HIGIENE


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LUCIENE BARBOSA

META
Entender os principais conceitos de saneamento básico, higiene pessoal e higiene coletiva e
estabelecer a conexão dos mesmos com as doenças infecciosas e parasitárias.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
Estudar o que é saneamento básico. Compreender as etapas do tratamento da água, do esgoto
sanitário e de seus efluentes. Entender o que é higiene. Correlacionar higiene pessoal e higiene
coletiva.
Introdução à Saúde Pública

INTRODUÇÃO

Saneamento e higiene são fatores complementares em busca de objeti-


vos comuns, como a melhoria da qualidade de vida da população e a preven-
ção de doenças. Juntos, são responsáveis por uma redução significativa da
incidência de doenças infecciosas e parasitárias, do número de internações
hospitalares e do número de insetos vetores de doenças. A higiene envolve
um conjunto de conhecimentos e técnicas para evitar doenças infecciosas
utilizando a desinfecção, a esterilização e outros métodos de limpeza com
o objetivo de conservar e fortificar a saúde. Consiste na prática do uso
constante de elementos ou atos que causem benefícios para os seres humanos.

Saneamento, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é o


controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou
podem exercer efeitos nocivos sobre o bem estar físico, mental e social.
O conceito de saneamento engloba:
- abastecimento de água;
- coleta, disposição e tratamento de esgotos sanitários, industriais e agrícolas;
- coleta, disposição e tratamento de resíduos sólidos;
- coleta de águas pluviais e controle de inundações;
- controle de vetores de doenças transmissíveis;
- saneamento dos alimentos;
- saneamentos dos meios de transporte;
- saneamento e planejamento territorial;
- saneamento da habitação, dos locais de trabalho, de educação, de recreação
e dos hospitais;
- controle da poluição ambiental: água, ar, solo, acústica e visual.

Neste texto nos restringiremos ao saneamento básico, que segundo a


definição legal brasileira constante da lei 11.445/2007, denominada Lei do
Saneamento Básico, considera-se saneamento básico o conjunto de serviços,
infra-estruturas e instalações operacionais de:
a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infra-estrutu-
ras e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde
a captação até as ligações prediais e respectivos instrumentos de medição;
b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades, infra-estruturas e
instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição
final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu
lançamento final no meio ambiente;
c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades,
infra-estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento
e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza
de logradouros e vias públicas;

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Saneamento Básico e Higiene
Aula

d) drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: conjunto de atividades,


infra-estruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas
pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de
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vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas
nas áreas urbanas;

O conceito legal estabelece assim os quatro marcos cuja universaliza-


ção deve ser garantida, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da
população e a qualidade do meio ambiente, além de ser um dos mais eficazes
instrumentos de controle e prevenção de doenças infecciosas. A Lei do
Saneamento Básico tem como objetivo inserir efetivamente o saneamento
na agenda das políticas públicas do país, promovendo o aumento das linhas
de recursos disponíveis para investimento nesta área.

I. SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL


Apesar da importância para saúde e meio ambiente, o saneamento
básico no Brasil está longe de ser adequado. Mais da metade da população
não conta, sequer, com redes para coleta de esgotos e 80% dos resíduos
gerados são lançados diretamente nos rios, sem nenhum tipo de tratamento.
O descaso e a ausência de investimentos no setor de saneamento em
nosso País, em especial nas áreas urbanas, compromete a qualidade de
vida da população e do meio ambiente. Enchentes, lixo, contaminação dos
mananciais, água sem tratamento e doenças apresentam uma estreita relação,
resultando em milhares de mortes anuais.
Em 2000, 60% da população brasileira não tinha acesso à rede coletora
de esgotos e apenas 20% do esgoto gerado no País recebia algum tipo de
tratamento. Nesse mesmo ano, quase um quarto da população não tinha
acesso à rede de abastecimento de água. Este quadro foi apresentado em
2004, no Atlas de Saneamento do IBGE, que teve como base os dados
da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), divulgada em 2002,
combinado com informações do Censo 2000 e de instituições do governo
e universidades.
A avaliação da abrangência dos serviços de saneamento no País feita
pelo IBGE considerou a existência ou não de serviços de saneamento
nos municípios, independentemente de sua extensão, eficiência e quanti-
dade de domicílios atendidos. O resultado é que a maioria dos municípios
brasileiros, aproximadamente 97,7%, conta com rede de abastecimento de
água e apenas metade deles possui rede de esgoto. Ainda segundo o IBGE,
mais de 77,8% dos domicílios brasileiros tinham acesso à água potável em
2000, enquanto apenas 47,2% das casas eram servidas pela rede de esgoto.
De acordo com essa pesquisa, entre os 5.507 municípios do País, mais
de 1,3 mil enfrentam problemas com enchentes. A coleta de lixo é ampla-

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mente difundida, porém a grande maioria dos municípios (63,3%) deposita


seus resíduos em lixões a céu aberto e sem nenhum tratamento. Os aterros
sanitários estão presentes em apenas 13,8% dos municípios brasileiros, e
apenas 8% deles afirmam ter coleta seletiva.
A ausência de investimentos em itens tão fundamentais como os ser-
viços de saneamento tem impactos sobre a saúde da população e o meio
ambiente. O estudo do IBGE mostra que, em 2000, foram registrados mais
de 800 mil casos de dengue, hepatite A, leptospirose, tifo e febre amarela,
doenças diretamente ligadas à má qualidade da água, às enchentes, à falta
de tratamento adequado do esgoto e do lixo. Naquele ano, mais de 3 mil
crianças com menos de cinco anos morreram de diarréia.
A pesquisa do IBGE demonstra grande desigualdade na distribuição dos
serviços pelas grandes regiões do País. A região Sudeste se destaca como a
área com os melhores serviços de saneamento. Por outro lado, as regiões
Nordeste e Norte são as que apresentam os piores índices. No Nordeste,
mais da metade dos municípios não conta com rede de abastecimento de
água e de esgotos.

1. Abastecimento de água potável

A água própria para o consumo humano chama-se água potável. Para ser
considerada como tal ela deve obedecer a padrões de potabilidade. Se ela tem
substâncias que modificam estes padrões, é considerada poluída. As substâncias
que indicam poluição por matéria orgânica são os compostos nitrogenados,
o oxigênio consumido e os cloretos. Para o abastecimento de água, a melhor
saída é a solução coletiva, excetuando-se comunidades rurais muito afastadas.

Tratamento da água

A solução para a distribuição de água potável à população tem início


com o sistema de tratamento de água, que tem como objetivo tornar a
água potável. O tratamento é realizado nas denominadas ETAs, estações
de tratamento de água.

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Saneamento Básico e Higiene
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Figura1. Unidades de um sistema de tratamento de água.

O tratamento de água é iniciado nas barragens, através de um serviço de


proteção aos mananciais que tem como objetivo principal evitar a poluição
da água por detritos, impurezas e outros lançamentos de origem doméstica,
agrícola ou industrial. Um serviço de hidrobiologia controla o crescimento
excessivo de algas e outros microrganismos através de análises de rotina,
quando o mesmo atinge um número superior a 1.000 microrganismos/cm3.
É feito, nesses casos, uma desinfecção do manancial com sulfato de cobre
ou hipoclorito de sódio, dependendo da sensibilidade das algas a este ou
aquele algicida. Após ser captada nos mananciais e chegar à estação de trata-
mento (Figura 2), a água recebe tratamentos diversos enumerados a seguir:
1. Floculação: processo no qual a água recebe substâncias químicas, que
pode ser o sulfato de alumínio, sulfato ferroso, entre outras. Este produto
faz com que as impurezas da água reajam com a substância química, for-
mando compostos mais pesados, flocos, para serem facilmente removidos
no processo seguinte.
2. Decantação ou sedimentação: nessa fase, os flocos do coagulante que já
clarificaram a água pelos processos ocorridos no floculador serão removidos
da água por sedimentação.
2. Filtração: a grande maioria das partículas ficam retidas no decantador,
porém, uma parte ainda persiste em suspensão; desta forma, com o objetivo
de retirar essas impurezas menores, o líquido ultrapassa várias camadas

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Introdução à Saúde Pública

filtrantes, constituída por um leito arenoso, de granulometria variada, su-


portada por uma camada de cascalho.
Após estes três processos, em conjunto denominados de clarificação, a
água está límpida, mas ainda faltam alguns processos para torná-la própria
ao consumo.

Figura 2. Esquema de uma estação de tratamento de água.

Processos secundários

Dependendo da forma como a água é coletada, a perda de oxigêncio na


mesma pode ser intensa e há necessidade de repor esse oxigênio, visando
a melhorar seu gosto. Isso é feito no processo de aeração, fazendo a água
circular em cascatas ou em tanques com tubos arejadores, através dos quais
é injetado ar na água.
Alguns minerais como cálcio e magnésio podem estar presentes na
água, tornando-a desagradável ao paladar e capazes de formar depósitos
minerais em tanques e aquecedores. O processo de remoção desses minerais
denomina-se correção da dureza da água.
A remoção do ferro também é importante no processo de tratamento
para reduzir a presença desse mineral na água, melhorando o sabor e re-
duzindo a possibilidade de provocar ferrugem nas tubulações e roupas.
Outros processos secundários são a correção da acidez, através da
adição de cal ou carbonatos e a remoção de odor e sabor desagradáveis.

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Saneamento Básico e Higiene
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Desinfecção ou cloração

Desinfectar uma água significa eliminar os microrganismos patogênicos


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presentes na mesma. Tecnicamente, aplica-se a simples desinfecção como
meio de tratamento para águas que apresentem boas características físicas
e químicas, a fim de garantir seu aspecto bacteriológico.
Em épocas de surtos epidêmicos, a água de abastecimento público
deve ter a dosagem de desinfectante aumentada. Em casos de emergên-
cias deve-se garantir, por todos os meios, a água de bebida, sendo que a
desinfecção, em alguns casos, é mais prática que a fervura. A desinfecção é
também aplicada à água após seu tratamento, para eliminar microrganismos
patogênicos porventura presentes.
São utilizados como métodos químicos de desinfecção:
- Ozona: é um desinfectante poderoso. Não deixa cheiro na água, mas sim
um sabor especial, ainda que não desagradável. Apresenta o inconveniente de
ser uma operação difícil, e, o que é mais importante, não tem ação residual;
- Iodo: desinfecta bem a água após um tempo de contato de meia hora. É,
entretanto, muito mais caro para ser empregado em sistemas públicos de
abastecimento de água;
- Prata: é bastante eficiente; sob a forma coloidal ou iônica não deixa sabor
nem cheiro na água e tem uma ação residual satisfatória. Porém, para águas
que contenham certos tipos de substâncias, tais como cloretos, sua eficiência
diminui consideravelmente;
- Cloro: constitui o mais importante entre todos os elementos utilizados
na desinfecção da água. O cloro é utilizado para desinfecção, para reduzir
gosto, odor e coloração da água, e é considerado indispensável para a po-
tabilização da mesma.

Distribuição da água tratada

Tratada a água, ela é armazenada em reservatórios protegidos de onde


será distribuída para consumo. Para tanto, são utilizadas as adutoras, que são
um conjunto de peças, estações de bombeamento e tubulações responsáveis
por levar a água tratadas das ETAs para as unidades consumidoras.

ATIVIDADES
O que é e o que caracteriza a água potável? Quais as etapas do processo
de tratamento da água?

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Introdução à Saúde Pública

2. Esgoto sanitário

Os dejetos humanos podem ser veículos de agentes patogênicos de


várias doenças. Por isso, torna-se indispensável afastar as possibilidades de
seu contato com o homem, fontes de água, vetores de doenças e alimentos.
Observa-se que, em virtude da falta de medidas práticas de saneamento
e de educação sanitária, grande parte da população tende a lançar os de-
jetos diretamente sobre o solo, criando, desse modo, situações favoráveis
à transmissão de doenças. A solução recomendada é a construção de
privadas com veiculação hídrica, ligadas a um sistema público de esgotos,
com adequado destino final. Essa solução é, contudo, impraticável no meio
rural e às vezes difícil, por razões principalmente econômicas, em muitas
comunidades urbanas e suburbanas. Nesses casos são indicadas soluções
individuais para cada domicílio.
Sempre que a densidade populacional ou as condições socioeconômi-
cas não viabilizarem a instalação de rede de esgoto sanitário e estações de
coleta e tratamento de esgoto, deve-se optar por soluções individuais de
baixo custo e manutenção e que eliminem o risco causado pela disposição
do esgoto ao ar livre e sem controle. São exemplos de soluções:
- privada de fossa seca: a privada de fossa seca abrange a casinha e a fossa
seca escavada no solo, destinada a receber somente os excrementos, ou
seja, não dispõe de veiculação hídrica. As fezes retidas em seu interior se
decompõem ao longo do tempo pelo processo de digestão anaeróbia;
- privada com fossa estanque: consta de um tanque destinado a receber os
dejetos, diretamente, sem descarga de água, em condições idênticas a privada
de fossa seca. Essa solução é aplicável em terrenos onde há dificuldade em
escavar o solo ou quando há lençol freático muito raso;
- fossa séptica: é um dispositivo de tratamento de esgotos destinado a rece-
ber a contribuição de um ou mais domicílios e com capacidade de dar aos
esgotos um grau de tratamento compatível com a sua simplicidade e custo.
À medida que as comunidades e a concentração humana tornam-se
maiores, as soluções individuais para remoção e destino do esgoto doméstico
devem ceder lugar à soluções de caráter coletivo denominadas “sistema
de esgotos”. Este sistema é composto pelo esgoto doméstico, esgotos
industriais, águas pluviais e águas de infiltração, estas últimas sendo águas
do subsolo que se infiltram e atingem o sistema de esgotos.
Ainda que apenas 0,1% do esgoto de origem doméstica seja constituído
de impurezas de natureza física, química e biológica (o restante é composto
por água), o contato com esses efluentes e a sua ingestão é responsável por
cerca de 80% das doenças e 65% das internações hospitalares. Atualmente,
apenas 10% do esgoto produzido recebe algum tipo de tratamento, os
outros 90% são despejados in natura nos solos, rios, córregos e nascentes,
constituindo-se na maior fonte de degradação do meio ambiente e de pro-
liferação de doenças.

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Saneamento Básico e Higiene
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O esgotamento sanitário requer não só a implantação de uma rede de


coleta, mas também um adequado sistema de tratamento e disposição final.
Há várias opções atualmente disponíveis para o tratamento do esgotamento
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sanitário que devem ser avaliadas segundo critérios de viabilidade técnica e
econômica, além de adequação às características topográficas e ambientais
da região. Dependendo das necessidades locais, o tratamento pode se re-
sumir aos estágios preliminar, primário e secundário. No entanto, quando
o lançamento dos efluentes tratados se der em corpos d’água importantes
para a população, seja porque deles se capta a água para o consumo, seja
porque são espaços de lazer, recomenda-se também o tratamento terciário
seguido de desinfecção, via cloração das águas residuais.
O tratamento preliminar se dá por meio de grades e caixas de areia, visando
à retenção dos sólidos em suspensão que devem ser, posteriormente, conduzi-
dos para aterros sanitários. O tratamento primário é a decantação simples por
meio da ação da força da gravidade ou por precipitação química, o que requer
o uso de equipamentos. Nesse estágio é gerado o lodo primário que deve ser
manuseado com cuidado e tratado por processos de secagem ou incineração
antes da sua disposição no solo. No tratamento secundário são removidos os
sólidos finos suspensos que não decantam, e são digeridos por bactérias.
Investir no saneamento do município melhora a qualidade de vida da
população, bem como a proteção ao meio ambiente urbano. Combinado
com políticas de saúde e habitação, o saneamento ambiental diminui a in-
cidência de doenças e internações hospitalares. Por evitar comprometer os
recursos hídricos disponíveis na região, o saneamento ambiental garante o
abastecimento e a qualidade da água. Além disso, melhorando a qualidade
ambiental, o município torna-se atrativo para investimentos externos, po-
dendo inclusive desenvolver sua vocação turística.

ATIVIDADES
Cite e explique dois exemplos de soluções individuais de despejo de
esgotos sanitários.

3. Tratamento de Efluentes

O tratamento de efluentes provenientes de esgotos sanitários é realizado


nas denominadas Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs). O tratamento
é composto de uma fase líquida e de uma fase sólida (Figura 3).

Fase Líquida

1. Tratamento preliminar: o esgoto bruto atravessa grades de diversos ta-


manhos, que retêm os materiais presentes, como latas, papelão, estopas e

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trapos. Na sequência, uma caixa faz a remoção da areia contida no esgoto.


2. Tratamento primário: o esgoto líquido passa por um processo de decanta-
ção, em que são separados sedimentos, gorduras e óleos. O líquido resultante
do decantador primário passa pelo tanque de aeração. Combinando-se a
agitação do esgoto com a injeção de ar, desenvolve-se uma massa de mi-
crorganismos chamada "lodo ativado". Os microrganismos ali presentes
alimentam-se da matéria orgânica e se proliferam. Em um novo processo
de decantação (secundário) é retirado o lodo ativado e o líquido é devolvido
ao meio ambiente livre da sujeira.

Fase Sólida

O lodo passa por um condicionamento químico para melhorar suas


condições de desidratação. A última etapa do tratamento acontece em um
filtro-prensa, onde é retirada mais umidade do lodo, que depois é encaminhado
a aterros sanitários ou para utilização como fertilizante na agricultura. A utiliza-
ção do lodo na agricultura ainda é muito questionável devido a sua frequente
contaminação com metais pesados.

Etapas do tratamento:

- grade grosseira: retenção dos materiais de grandes dimensões, como latas,


madeiras, papelão, etc.

- elevatória de esgoto bruto: recalque dos esgotos para o canal das grades médias.

- grade média: remoção de materiais, como trapos, estopas, papéis.

- caixa de areia: remoção da areia contida no esgoto, que, depois de sedi-


mentada, vai para o classificador de areia.

- decantador primário: remoção do resíduo sedimentável dos esgotos, gor-


duras e óleos flutuantes. Estes materiais, após serem recolhidos por pontes
raspadoras, são bombeados para os digestores.

- tanque de aeração: o efluente do decantador primário passa para o tanque de


aeração. Combinando-se a agitação do esgoto com a injeção de ar, desenvolve-se,
no tanque de aeração, uma massa líquida de microorganismos denominada "lodos
ativados". Estes microorganismos alimentam-se de matéria orgânica, contidos
no efluente do decantador primário, e se proliferam na presença do oxigênio.

- decantador secundário: remoção dos sólidos (flocos de lodo ativado),


que, ao sedimentarem no fundo do tanque são raspados para um poço
central, retornando para o tanque de aeração. A parte líquida vertente do
decantador é destinada ao Rio.
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Saneamento Básico e Higiene
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- elevatória de retorno de lodo: o lodo ativado, recolhido no decantador secundário


por pontes removedoras de lodo, é encaminhado a bombas, retornando aos
tanques de aeração e o excesso do lodo ao decantador primário .
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- elevatória de lodo primário: recalque do lodo gradeado para o interior dos
adensadores de gravidade e digestores.

- retirada do sobrenadante: os adensadores e digestores são equipados com


válvulas para a retirada do sobrenadante (líquido que se separa do lodo
digerido), que retorna ao início do processo.

- adensadores de gravidade: equipado com um removedor mecanizado


de lodo e escuma, de tração central. O efluente é coletado em um canal
periférico e enviado para um sistema de coleta de efluentes da fase sólida.

- digestores: o lodo removido durante o processo de tratamento é enviado


aos digestores. São grandes tanques de concreto hermeticamente fecha-
dos, onde, através do processo de fermentação, na ausência de oxigênio
(processo anaeróbico), se processará a transformação de lodo em matéria
altamente mineralizada, com carga orgânica reduzida e diminuição de bac-
térias patogênicas.

- secador térmico: retira a água do lodo proveniente dos digestores, elevando


seu teor de sólidos até o mínimo de 33%, seguindo para os silos e com
destino para agricultura ou aterro sanitário.

Figura 3. Esquema de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE).

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Introdução à Saúde Pública

4. Resíduos sólidos

Os resíduos sólidos são materiais heterogêneos (inertes, minerais e


orgânicos) resultantes da atividade humana e da natureza, os quais podem
ser parcialmente utilizados. Os resíduos sólidos constituem um problema
sanitário de importância quando não recebem os cuidados convenientes.
As medidas tomadas para a solução adequada do problema dos resíduos
sólidos têm, sob o aspecto sanitário, objetivo comum a outras medidas de
saneamento: de prevenir e controlar doenças a eles relacionadas.
Nos municípios brasileiros, a prática da coleta regular unificada é utilizada
para os resíduos domiciliares e comerciais. Coletados os resíduos e separados
os materiais destinados às reciclagem, o restante será descartado de acordo
com o método escolhido em cada comunidade. Antes, é possível que os
resíduos tenham passado pelos processos de compostagem e de incineração.
A compostagem é um processo biológico, aeróbico e controlado, no
qual a matéria orgânica é convertida pela ação de microrganismos em com-
posto orgânico, que pode ser usado para melhoria da qualidade do solo.
A incineração é a queima dos residuos em altas temperaturas e por poucos
segundos visando à eliminação dos microrganismos e reduzir o volume e o
peso dos resíduos. Toda a matéria restante será então descartada em aterros,
de modo a evitar a proliferação de vetores e roedores e outros riscos à saúde.

II. HIGIENE

As mudanças dos hábitos de higiene durante o processo evolutivo


da humanidade são um dos fatores mais significativos para que o homem
atual tenha uma maior longevidade. Com essas mudanças, ele adquiriu
conhecimentos com relação aos padrões nutritivos de sua alimentação e
a cuidar melhor da higiene de seu próprio corpo. Por isso, várias doenças
causadas pela ingestão de alimentos e a falta de higiene pessoal diminuíram
sensivelmente, levando-o a melhorar a sua qualidade de vida.
Os cuidados com a higiene, além de aspecto individual com limpeza e
aparência, têm repercussão coletiva. Como é um ser social, o homem vive
em coletividade e a prática de higiene deve ser aplicada não só às pessoas,
mas aos locais onde vivem.
Alguns hábitos são atualmente tão comuns e fundamentais no cotidiano
que mal nos damos conta de que os executamos frequentemente. Tarefas
primárias como tomar banho, escovar os dentes e utilizar o vaso sanitário
são tão simples e vitais que nem é possível imaginar como seria não realizá-
las diariamente. Mas, até se tornar um hábito, a higiene pessoal percorreu
um longo caminho, superando antigos hábitos e crenças religiosas que
impediam que fosse disseminada. Mas a persistência de alguns, mostrando
a real influência do asseio como benefício na promoção da saúde, conseguiu
disseminar tal hábito entre as comunidades.

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Saneamento Básico e Higiene
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Até meados do século XIX, o banho era um hábito pouco difundido.


Os excrementos eram recolhidos em vasilhas ou pequenos poços e depois
jogados ao ar livre. O extremo mau cheiro era minimizado com perfumes
3
ou abanadores. A expectativa média de vida pouco passava dos 40 anos e a
mortalidade infantil era muito elevada. Apenas a prática de se lavar as mãos
logo após examinar ou operar um doente produziu um resultado difícil de
medir, porém facilmente imaginável, já que a prática antiga representava
simplesmente passar todos os agentes infecciosos de um doente ou defunto
para o próximo a ser atendido, sem contar que o próprio médico corria
enorme risco de sofrer dos mesmos males.
O surgimento do microscópio promoveu uma mudança radical em
relação às práticas de higiene. Com seu uso foi possível mostrar às pessoas
os micróbios e, com isso, explicar que lavar as mãos e alimentos eliminava
grande parte deles.
O aumento da densidade populacional e de uma classe dominante
mais numerosa mostrou que os odores corporais tinham de ser eliminados
de outra forma que não apenas com o uso abundante de perfumes. Em
relação ao hálito, a convivência social impunha uma solução para o mau
cheiro proveniente da boca. O uso de escovas, de fibras vegetais ou animais
e o bochecho com ervas aromáticas minimizava o problema, até que foi
desenvolvida a escova com cerdas de nylon, em meados do século XX.
Enfim, muitas são as histórias que mostram a evolução dos hábitos de
higiene entre diferentes épocas, povos e religiões. Houve fases de progresso
e de retrocesso, de acordo com o pensamento dominante de cada época e
local. Mas, felizmente, chegamos a uma época em que as noções básicas de
higiene são praticamente universais, embora certos hábitos ainda tenham de
ser incorporados a algumas comunidades, visando a eliminar a propagação
de doenças, como algumas parasitoses.

Higiene individual

Banho

A pele humana possui milhões de glândulas que produzem suor e


substâncias parecidas com sebo. Sem a devida limpeza da pele, surge um
acúmulo gradativo dessas substâncias, que se somam a sujeiras exteriores.
O banho faz bem para a saúde de quem toma e também para pessoas que
convivem com ela. É importante que a pessoa tome banho diariamente.
A falta do banho pode gerar assaduras, mau cheiro, micoses, corrimentos
vaginais, sarna, piolho e infecções urinárias.

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Introdução à Saúde Pública

Limpeza das mãos

Sempre que se toca em alguma pessoa, superfície ou objetos ao longo


do dia, as mãos ficam impregnadas com agentes infecciosos e partículas cujo
consumo prejudica o organismo. É importante lavá-las com água e sabonete
líquido ou com álcool. Sempre que a mão entra em contato com os olhos, nariz
ou boca os germes ali encontrados infectam o nosso organismo, podendo
originar doenças. Deve-se lavar as mãos antes de manusear alimentos, tratar
feridas, ministrar medicamentos, tocar em pessoas doentes ou feridas e manusear
lentes de contato; também deve-se lavar as mãos após ir ao banheiro, tocar em
animais ou brinquedos, segurar objetos que possam estar contaminados, mexer
em lixo, tossir ou espirrar. Não lavar as mãos pode resultar em contaminação e
desenvolvimento de doenças virais, bacterianas, parasitárias e fúngicas.

Unhas

As unhas devem estar sempre limpas. A sujeira fica armazenada na


parte debaixo da unha, sendo assim quando a pessoa coloca a mão na boca
é infectada com as bactérias ali localizadas. A unha faz com que mulheres
se sintam ainda mais poderosas e bonitas, supervalorizam as mãos e caso
estejam bem cuidadas fazem com que os outros pensem que a mulher é
limpa e saudável. É bom que homens cortem suas unhas frequentemente
para que também pareçam limpas. A falta de cuidado com as unhas pode
gerar verminoses e doenças intestinais.

Roupas

Saber que o corpo regula a temperatura de acordo com sua exposição é


importante para sabermos qual roupa utilizar. As roupas devem ser confor-
táveis e folgadas. Não devemos utilizar roupas intimas repetidamente sem
lavá-las antes. O uso inadequado de vestuário e sua não correta higienização
podem causar corrimentos vaginais, infecções urinarias e mau cheiro.

Sapatos

Muitas pessoas não sabem, mas escolher o sapato certo também faz
toda diferença para o cheiro dos pés. Sapatos fechados que não deixam o
suor sair fazem com que o mau cheiro fique impregnado nos pés, dando
origem ao popular chulé. Prefira sapatos mais abertos e não use o mesmo
sapato vários dias seguidos. Quando utilizar tênis, devemos escolher meias
de algodão e, se necessário, passar talco apropriado antes de colocar as
meias. Em locais sujeitos à contaminação, evitar andar descalço para evitar
o contágio por Larva migrans e ancilostomídeos.

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Saneamento Básico e Higiene
Aula

Dentes e boca

Os dentes devem ser escovados sempre que for ingerido algum ali-
3
mento ou pelo menos três vezes ao dia, de preferência depois do café da
manhã, do almoço e quando for dormir. Os dentes devem ser limpos do
lado externo e interno, com escova e fio dental. A língua, local onde ficam
alojadas muitas bactérias, também deve ser lavada. A escova dental deve
ser trocada a cada três meses ou quando estiver desgastada. A saúde bucal
é importante também para a estética das pessoas e para o convívio social,
devido ao hálito. A ausência desses cuidados provoca mau hálito (halitose),
cáries, tártaro, placas, problemas nas gengivas, sensibilidade, reumatismo
infeccioso e gengivite.

Figura 4. A higiene pessoal é um conjunto de regras que nos mantém de boa saúde e com bom
aspecto, é importante para todas as pessoas e deve ser ensinado às crianças o mais cedo possível.

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Introdução à Saúde Pública

Cabelos

Os cabelos devem ser lavados pelo menos duas vezes por semana,
para que, além da impressão de limpeza, fiquem mais macios e não gerem
desconforto como coceira e suor. A limpeza inadequada pode provocar o
surgimento de crostas e caspa. Falta de bons tratos com os cabelos causa
caspa, piolho, mau cheiro, oleosidade e queda de cabelo.

Higiene coletiva

Como vivemos em sociedade, devemos cuidar para que a higiene


também esteja difundida entre todos. Entretanto, é preciso mais do que a
soma de todos os indivíduos higienizados para garantir a higiene coletiva.
É necessário cuidar para que os locais freqüentados pela coletividade es-
tejam adequadamente limpos e os alimentos corretamente manipulados e
conservados para que os mesmos agentes que afetam a casa, o corpo e os
alimentos de cada um não se propaguem nesses locais.
Cabe não apenas ao poder governamental, como responsável por es-
paços coletivos públicos, mas também aos particulares, como proprietários
de colégios, hospitais, comércio, espaços de lazer, transporte coletivo, etc,
manter a atitude de praticar e difundir hábitos de higiene.
Os locais devem estar limpos e livres de entulhos, bueiros e tubulações
devem estar desentupidos, deve-se permitir uma boa circulação de ar, uso
de materiais adequados de higiene e limpeza, especialmente desinfetantes.
Atenção especial com escolas e hospitais, como locais de alta concentração
de agentes infecciosos.
Alimentos preparados e comercializados por indústrias, restaurantes,
lanchonetes e padarias devem ser corretamente manipulados e limpos, visto
que serão oferecidos às pessoas em uma relação de confiança na forma
em que foram preparados e colocados à venda. Cabe à vigilância sanitária
acompanhar de perto esses locais, bem como hospitais e farmácias, para
fiscalizar o cumprimento das normas e práticas de higiene.
Papel fundamental é também exercido pela educação sanitária, que tem
como objetivo promover e difundir as boas práticas de higiene entre toda
a população, com especial atenção às comunidades com menor acesso à
educação e saneamento.

ATIVIDADES
Quais as diferenças entre higiene individual e higiene coletiva?

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Saneamento Básico e Higiene
Aula

CONCLUSÃO
Como afirmado na introdução desse capítulo, saneamento e higiene são
3
fatores complementares. Juntos permitem controle adequado de inúmeras
doenças que poderiam estar até erradicadas se os preceitos devidos fossem
adequadamente cumpridos. Muito já se evoluiu em ambas as áreas, mas
muito há que se fazer.
A universalização do saneamento, mais que uma promessa, é hoje um
preceito legal e deve ser buscado pelos governos. Fontes de financiamento para
implementação dessas estruturas devem ser disponibilizadas para que o sanea-
mento básico esteja disponível para um número cada vez maior de habitantes.
Os hábitos de higiene devem ser difundidos entre todas as comunidades,
para que a carência de recursos não permaneça também como carência de
educação e as pessoas tenham um mínimo de cuidado consigo no seu trato
diário. Coletivamente, entidades públicas e privadas devem trabalhar para a
efetividade das práticas e a fiscalização de sua implementação.

RESUMO
Saneamento, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é o
controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou
podem exercer efeitos nocivos sobre o bem estar físico, mental e social.
Neste capítulo abordaremos o uso e tratamento da água, coleta e tratamento
de esgoto sanitário e coleta e deposição de resíduos sólidos.
O tratamento de água realizado nas estações de tratamento de água
envolve coleta dos mananciais, floculação, decantação, filtração, cloração,
fluoretação e distribuição da água potável.
Os esgotos sanitários são veículo de diversos agentes patogênicos e,
portanto, devem ter tratamento específico. Em comunidades com menor
número de habitantes podem ser usadas alternativas simples e viáveis,
desde que seguidas as regras básicas de construção e aplicação. São elas as
privadas de fossa seca e de fossa estanque e a fossa séptica. Havendo um
maior número de habitantes, redes de coleta de esgoto devem ser imple-
mentadas, incluindo-se, ainda, processos de tratamento nas estações de
tratamento de efluentes.
Os resíduos sólidos que são o que não se considera como esgoto, devem
ser coletados e destinados apropriadamente, por processos de reciclagem,
incineração e deposição em aterros sanitários.
A higiene envolve hábitos e comportamentos individuais e coletivos
com vistas a promoção da saúde, tais como o banho, lavagem das mãos,
cuidados com dentes e cabelos, manipulação adequada de alimentos, lim-
peza dos ambientes.

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Introdução à Saúde Pública

PRÓXIMA AULA
Estudaremos, na próxima aula, o funcionamento do sistema imune e as
principais funções desempenhadas pelos órgãos e células que o constituem.

AUTOAVALIAÇÃO
Caro aluno, ao terminar esse capítulo você deve ter em mente o con-
ceito de saneamento básico, além de compreender as etapas do tratamento
da água, do esgoto sanitário e de seus efluentes, bem como dos resíduos
sólidos. Deve também ter entendido o que é higiene e correlacionar higiene
pessoal e higiene coletiva.

REFERÊNCIAS
Scliar, M.; Pamplona, M. A.; Rios, M. A. T.; Souza, M. H. S. 2002. Saúde
Pública: Histórias, Políticas e Revolta. São Paulo: Ed.Scipione
Werner, D. 1984 . Onde não há médico. São Paulo: Ed. Paulinas.
Werner, D. 1984. Aprendendo e ensinando a cuidar da saúde: manual de
métodos, ferramentas e idéias para um trabalho comunitário. São Paulo:
Ed. Paulinas.
Mendonça, R. 2002. Como Cuidar do Seu Meio Ambiente. 2ª. ed. São
Paulo: BEI Editora.
FUNASA. 2006. Engenharia de Saúde Pública. Manual de Saneamento e
Orientações Técnicas. Brasília: Ministério da Saúde.

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