A EDUCACAO COMO POLITICA PUBLICA BY AZEVEDO Janete Maria
A EDUCACAO COMO POLITICA PUBLICA BY AZEVEDO Janete Maria
A EDUCACAO COMO POLITICA PUBLICA BY AZEVEDO Janete Maria
A Educação como
Política Pública. 3. ed. Campinas: Autores
Associados, 2008. 79 p.
Luciana Maria de Jesus Baptista GOMES1
conflitos infiltrados por todo tecido social; no plano mais concreto, discutem-se
os recursos de poder que operam na própria definição de políticas públicas e que
têm nas instituições do Estado seu principal referente.
A segunda dimensão analítica são as políticas públicas que guardam estreita
relação com as representações sociais que cada sociedade desenvolve de si mesma
e a terceira dimensão é o aprofundamento da intervenção do Estado na sociedade,
que tem sido alvo de questionamentos teóricos e práticos; por meio de uma
contextualização histórica, a autora procura mostrar como o Estado se comporta
com graus diferentes de intervenção ao longo do tempo, mediante as crises sociais,
econômicas e ambientais que vêm ocorrendo e que influenciam as formas de
organização sociopolítica do século XX. Assim, as políticas públicas configuram os
modos de articulação entre o Estado e a sociedade, apresentando-se plural por causa
das diferentes abordagens teórico-metodológicas que lhe servem de suporte.
No primeiro capítulo, é discutida a abordagem neoliberal, contextualizando
as raízes do neoliberalismo a partir do liberalismo. Citando Adam Smith e as
formulações de Jeremy Bentham e James Hill, a essa concepção utilitarista agrega-
se o mercado, sendo compreendido como aquele que pode produzir o bem-
estar social. Com a crise econômica da década de 1970, surge o neoliberalismo,
apoiado em Hayek e Milton Friedman. Aqui, o Estado é responsável apenas
por normas gerais e o mercado é capaz de promover a regulação do capital e
do trabalho; menos Estado e mais mercado é a máxima. Na esfera da política
educacional, o neoliberalismo apregoa que o Estado pode ser responsável por esse
setor; a ampliação das oportunidades educacionais é considerada um dos fatores
importantes para a redução das desigualdades; quanto ao nível básico de ensino,
os poderes públicos devem transferir ou dividir suas responsabilidades com o
setor privado, com um meio de estimular a competição e o aquecimento do
mercado, enfraquecendo o monopólio estatal, diminuindo o corpo burocrático, a
máquina administrativa e, por conseguinte, os gastos públicos. Quanto ao ensino
profissionalizante – por ser um meio de valorização do capital humano – deve ser
totalmente privatizado. Para os indivíduos sem recursos, mas talentosos, ocorre o
financiamento mediante empréstimos públicos ou privados, com os beneficiários
pagando suas dívidas depois de suas entradas no mercado de trabalho.
Para os neoliberais, os problemas causadores da crise do sistema educacional são
integrantes da própria forma de regulação assumida pelo Estado do século XX. A política
educacional será bem-sucedida com a orientação principal dos ditames que regem os
mercados. Ocorre, portanto, a adoção do paradigma da qualidade total, que é adotado
pelas empresas e agora adotado pelos sistemas de ensino público e privado.
O segundo capítulo apresenta os pressupostos da teoria liberal moderna da
cidadania. Constitui uma contraposição à noção de liberdade e os postulados do
Concluindo seu texto, a autora reforça que as políticas são fruto da ação
humana e, por conseguinte, dependem do próprio sistema de representações
sociais. São os diferentes atores sociais que embatem com os fazedores de política,
com suas perspectivas e apoio a algum tipo de definição do social da realidade.
Constitui-se, dessa forma, em uma relação intrínseca entre como os interesses
sociais se articulam e os padrões que dão o aspecto a uma política.
O livro se delineia por meio do pensamento de uma política educacional que,
como toda política pública, reflete o status quo estabelecido pelo Estado, mercado
e sociedade, proporcionando ao leitor a oportunidade de conhecer as abordagens
sociais e suas intersecções que corroboram para o direcionamento da Educação.
Paulatinamente, como acompanhado em nosso país e também em outros,
observa-se uma lista de objetivos implantados por meio de decretos, leis e outros
artifícios legais: o cumprimento de metas, a otimização de salas e de escolas, com
a realocação dos profissionais da educação para a redução de custos para o Estado,
além de avaliações externas que estabelecem bonificações para escolas consideradas
bem-sucedidas. É a macropolítica transnacional que foi instituída, que se adapta
a cada sociedade, mas que ainda assim consegue cumprir seu objetivo em defesa
da coerência mercadológica neoliberal; a própria autora reconhece a vitória do
neoliberalismo nos campos cultural e ideológico, ao convencer a sociedade de que
não há alternativas para a organização e as práticas sociais.
A autora se apoia em referencial teórico que permite o aprofundamento do que foi
transcorrido, possibilitando uma busca mais refinada para os leitores. O livro objetiva
proporcionar conhecimento sobre como a educação pode ser apresentada em diferentes
vertentes, a fim de cumprir também diferentes objetivos, mantendo ou questionando a
política vigente; este livro não se encerra por si só, é um convite para conhecer mais sobre
as tendências políticas que influenciam a educação enquanto política pública.
Ao encerrar esta resenha, destaco a importância da obra para os pesquisadores,
educadores e estudantes que estão interessados em conhecer e/ou sedimentar
conhecimentos sobre o campo das pesquisas das políticas educacionais.
Como indicações de leitura, cito Investigação sobre Políticas Educacionais: terreno de
contestação, de Jennyfer Ozga, Porto: Editora Porto, 2000 e Políticas Educacionais: questões e
dilemas, São Paulo: Cortez, 2011, organizado por Stephen J. Ball e Jefferson Mainardes. No
primeiro livro, a autora reflete sobre a Educação como um terreno dinâmico de embate de
diversos atores sociais e no segundo livro há uma compilação de artigos que estimulam a
reflexão sobre a necessidade deste campo de pesquisa, no Brasil, de ampliação em termos
de fundamentação teórica, com olhar também para a produção internacional da área.