09 - Reciclagem e Reutilização de Residuos de Materiais

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RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO
DE RESÍDUOS DE MATERIAIS
Bruno Pizol Invernizzi

Reciclagem e reutilização
de resíduos de materiais

1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2019

2
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Invernizzi, Bruno Pizol


I62r Reciclagem e reutilização de resíduos de materiais/
Bruno Pizol Invernizzi, – Londrina: Editora e Distribuidora
Educacional S.A. 2019.
137 p.

ISBN 978-85-522-1647-6

1. Química verde. 2. Materiais biodegradáveis. I.


Invernizzi, Bruno Pizol. Título.
CDD 620

Thamiris Mantovani CRB: 8/9491

2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

 3
RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE MATERIAIS

SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 5

Química verde e o meio ambiente 6

Tipos de resíduos e classificação dos resíduos,


legislação e destinação final 25

Normas da série ISO 14001 45

Prevenção de subprodutos, economia de átomos,


sínteses de compostos de menor toxicidade, desenvolvimento
de compostos seguros, diminuição de solventes e auxiliares 68

Sustentabilidade em materiais, economia circular e seu impacto 87

Reciclagem de resíduos de materiais


poliméricos, metálicos e cerâmicos 110

Métodos de incorporação de resíduos 131

4
Apresentação da disciplina

Desde os primórdios, o ser humano se organiza em grupos sociais, os quais


produzem resíduos, que se resumem a restos de alimentos e excrementos.
Com o desenvolvimento da civilização, outras formas de resíduos surgiram,
como as embalagens plásticas e os resíduos industriais que poluem o
ambiente terrestre e aquático, bem como o ar que respiramos.

Quando falamos em resíduos logo nos vêm à mente os que


descartamos nas residências, entre os quais temos os restos de
alimentos, embalagens descartáveis, excrementos, entre outros. Porém,
resíduo é todo o subproduto resultante da atividade humana e, por
isso, devemos incluir aos resíduos gerados pelas residências os que são
gerados pela indústria, pelos hospitais, pelo comércio, pela agricultura,
pelos serviços de varrição, entre muitos outros.

As normas e leis brasileiras que seguem conceitos e definições


internacionais, como os estabelecidos pela norma ISO 14001, tratam os
resíduos mencionados através do conceito de “resíduo sólido”, o que
inclui em sua definição todos os resíduos sólidos e semissólidos, que
incluem os líquidos e os gases armazenados nesta classificação.

A presente disciplina trata os resíduos de materiais com base nos


conceitos da química verde, também chamada de química sustentável,
os quais visam à eliminação ou, ao menos, a redução no uso de
solventes e reagentes que resultam em produtos ou subprodutos
que agridam o ser humano ou o meio ambiente. Dentre os conceitos
da química verde podem ser destacados os seus 12 princípios e o 3R
(reduzir, reutilizar e reciclar).

Portanto, a química verde atua no setor produtivo, onde a busca por


processos e materiais de menor impacto ambiental é uma preocupação
crescente que deve impulsionar novas oportunidades de negócio e de
desenvolvimento social e econômico das nações que têm este como
uma prioridade.

 5
Química verde e o meio ambiente
Autor: Bruno Pizol Invernizzi

Objetivos

• Entender os conceitos envolvidos na química verde.

• Comparar a química verde com a química ambiental.

• Conhecer os doze princípios da química verde.

6
1. O meio ambiente

O meio-ambiente consiste na junção do biótico com o abiótico, podendo


este ser dividido em quatro diferentes esferas: a água (hidrosfera), o ar
(atmosfera), a terra (litosfera) e a vida (biosfera).

O meio biótico é constituído por todos os seres vivos, tais como os


animais, os vegetais, as bactérias, os fungos, as algas, entre outros;
enquanto o meio abiótico é constituído por tudo o que não tem vida,
porém permite que a vida ocorra, tais como a água, o ar, os minerais,
entre outros.

Além das 4 esferas, Manahan (2005) sugere uma quinta esfera, que seria
a antroposfera, que é constituída pelas ações do homem, tais como as
cidades, os pesticidas, a poluição, as represas, as estradas, entre todas
as outras modificações que o ser humano gera no meio-ambiente, seja
para o seu conforto ou para a sua sobrevivência.

Todas as 5 esferas estão interligadas de alguma forma através da


troca de massa e energia, como no caso da hidrosfera, que fornece
nutrientes para a biosfera ao mesmo tempo que alimenta a atmosfera
e a litosfera com a umidade, por exemplo, servindo ainda para o ser
humano em questões como a construção de barragens, as quais
são utilizadas para o abastecimento de água das cidades e das
hidroelétricas (geração de energia elétrica). As interações das cinco
esferas são ilustradas pela Figura 1.

 7
Figura 1 – Ilustração das cinco esferas do meio-ambiente

Fonte: adaptada de Manahan (2005, p. 4).

Devido à ação do homem, o meio-ambiente vem se tornando alvo


de estudos, no sentido de buscar formas de preservação, de modo
que a ação do homem seja a menos degradante possível, por meio,
por exemplo, da utilização de recursos renováveis e do aumento
da eficiência energética. Nesse contexto, temos a ação da chamada
química verde.

2. Química verde

Sempre que um termo é empregado em conjunto com a palavra


verde, como, por exemplo, “embalagem verde”, logo nos vem à mente
as questões ambientais, uma vez que a palavra verde nos remete à
natureza. Com a química verde não é diferente, este conceito é aplicável
à indústria e tem como principal objetivo a preservação da natureza,
porém essa não deve ser confundida com a química ambiental, pois
essas modalidades de química possuem aplicações distintas.

O conceito de química ambiental pode ser definido como “o estudo das


fontes, reações, transportes, efeitos e destino das espécies químicas

8
na água, no solo, no ar, e o meio ambiente e os efeitos da tecnologia
sobre este” (MANAHAN1, 2004, apud MANAHAN, 2005, p. 5). Portanto,
a química ambiental estuda todos os processos químicos que ocorrem
na natureza, independentemente se esses processos são resultantes da
ação do homem ou não. Um exemplo desses processos químicos e das
suas interações é apresentado pela Figura 2.

Figura 2 – Ilustração da definição de química ambiental com


contaminantes comuns do meio-ambiente

Fonte: adaptada de Manahan (2005, p. 6).

A Figura 2 ilustra a definição dada por MANAHAN (2005), onde


se observa os produtos resultantes das reações de combustão,
dos motores automotivos, tais como óxidos de nitrogênio e
hidrocarbonetos, sendo transportados pelo próprio ar atmosférico,
resultando em novas reações devido à ação dos raios solares que
convertem os poluentes primários em ozônio e materiais orgânicos
nocivos, tendo como efeito a formação da fumaça de poluentes,
também conhecida como smog. Por fim, ocorre a deposição das
partículas presentes no smog sob a vegetação.

1
Manahan, Stanley E., Environmental Chemistry, 8th ed., CRC Press/Lewis Publishers, Boca Raton, FL, 2004.

 9
O conceito de química verde, por sua vez, pode ser definido como
“a prática da ciência química e da manufatura de modo que esses
sejam sustentáveis, seguros e não-poluentes, e que consumam o
mínimo de materiais e energia enquanto produzem pouco ou nenhum
desperdício de materiais” (MANAHAN, 2005, p. 10). Portanto, a
química verde se restringe ao uso do meio ambiente por parte do ser
humano, onde este engloba o setor produtivo, no sentido de reduzir
não somente os subprodutos tóxicos, mas também o consumo de
materiais e energia tendo seu foco na redução de desperdícios.

Existem outras definições que podem ser dadas para química


verde, como: “Química verde pode ser definida como o desenho,
desenvolvimento e implementação de produtos químicos e processos
para reduzir ou eliminar o uso ou geração de substâncias nocivas à
saúde humana e ao ambiente” (LENARDÃO et al., 2003, p. 124). Neste
caso, está explícito que a química verde não se inicia na manufatura
propriamente dita, mas ainda no projeto do produto, onde esse deve
ser pensado desde a sua concepção para atender às características
sugeridas pela química verde.

A química verde pode ser dividida em três categorias: i) o uso de fontes


renováveis ou reciclagem de matéria-prima; ii) aumento da eficiência
de energia, ou a utilização de menos energia para produzir a mesma ou
maior quantidade de produto; iii) evitar o uso de substâncias persistentes,
bioacumulativas e tóxicas. (LENARDÃO et al., 2003, p. 124)

Existe uma forte relação entre a química verde e a sustentabilidade,


tanto que esta por vezes é chamada de química sustentável. Tal
relação pode ser vista em questões como a reciclagem, a eficiência
energética e o uso de fontes renováveis, que são preceitos básicos da
sustentabilidade.

A química verde, quando praticada de forma correta, pode contribuir


na redução dos custos produtivos, uma vez que leva a consumos
menores de material e energia através da aplicação de conceitos

10
10
presentes nos 12 princípios da química verde (a ser explicado no
próximo item), sem contar as questões ambientais, onde não somente
a sociedade tem o seu ganho, mas também a empresa, pois esta deixa
de sofrer com possíveis multas decorrentes de desastres ambientais,
por exemplo, além do fato de ter um impacto positivo sobre a visão
dos consumidores, os quais estão cada vez mais preocupados com
questões ambientais.

Segundo reportagem feita pelo jornal O Globo (2017), os brasileiros


têm perspectivas de aumento com a preocupação das pessoas em
relação ao meio ambiente, além disso, mais de 80% dos brasileiros
entrevistados consideram muito relevante a presença de selos nas
embalagens, relativos ao meio-ambiente, como o selo FSC® (Forest
Stewardship Council), que se trata de uma certificação florestal
internacionalmente reconhecida.

PARA SABER MAIS


A ISO2 14020:2002, que trata dos princípios gerais
para a rótulos e declarações ambientais, estabelece a
rotulagem ambiental. Além dessa norma, a ISO estabelece
outras três normas que tratam de três diferentes tipos
de rótulos ambientais, são elas a ISO 14024:2004, que
trata da rotulagem tipo I, a ISO 14021:2017, que trata
da rotulagem tipo II, e a ISO 14025:2015, que trata da
rotulagem do tipo III. A rotulagem do tipo I tem como
base alguns critérios aplicados na avaliação do ciclo
de vida do produto. A rotulagem do tipo II trata de
autodeclarações ambientais, emitidas pelo próprio
fabricante. A rotulagem do tipo III é voluntária e tem por
base a completa avaliação do ciclo de vida do produto.

2
International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização).

 11
2.1 Os doze princípios da química verde
Com o intuito de guiar os profissionais do setor químico no desenvolvimento
de produtos e processos que atendam aos preceitos da química verde,
Anastas e Warner3 (1998 apud CHANSHETTI, 2014, p. 112) desenvolveram o
que ficou conhecido como os doze princípios da química verde.

1. Prevenção: nem todos os resíduos produzidos pelas indústrias


são tóxicos, mas todos os resíduos tóxicos são um problema
maior. Os resíduos tóxicos sempre são um problema para a
empresa que os produz, para a sociedade e também para o meio
ambiente, portanto esses devem ser evitados ao máximo, para
dessa forma reduzir possíveis custos da empresa com questões
como o tratamento de efluentes.

ASSIMILE
Efluente é um adjetivo do verbo efluir, que significa
emanar. Portanto, efluente pode ser definido como
um dado material (independentemente do seu estado
físico, sólido, líquido ou gasoso) que emana de um
determinado processo, ou seja, que advém de um
dado processo. Perceba que este não leva em conta
a questão de poluição, sendo assim, uma água que
foi utilizada por uma indústria e previamente tratada
para ser despejada em um rio é denominada também
por efluente, neste caso podemos notar que ela foi
tratada e se encontra dentro dos padrões de qualidade
pré-estabelecidos, mas mesmo assim é chamada de
efluente, pois emanou de um determinado processo.

2. Economia de átomos: para produtos sintetizados, deve-se buscar


reagentes que tenham o maior aproveitamento possível, gerando
dessa forma a menor quantidade possível de subprodutos.
3
Anastas, P.; Warner, J. C. Green chemistry: theory and practice. Oxford Science Publications, Oxford, 1998.

12
12
3. Síntese de produtos menos perigosos: deve-se evitar o uso e a
produção de substâncias tóxicas sempre que possível.

4. Desenho de produtos seguros: a aplicação de produtos atóxicos


deve ser prevista já na fase de projeto.

5. Solventes e auxiliares mais seguros: devem ser evitados ao


máximo e quando necessário deve-se utilizar produtos que
sejam inócuos. Auxiliares são produtos utilizados em conjunto
com solventes para aumentar a solubilização, porém quando
sozinhos não possuem a capacidade de solubilizar os compostos.
Segundo Silva, Lacerda e Jones Júnior (2005 apud LIMA, 2012,
p. 5), a utilização de solventes orgânicos é um dos pricipais
problemas da indústria química, desde a sua produção até o seu
descarte, englobando questões como o seu transporte, manuseio
e uso. Esses produtos podem ser voláteis ou não, porém ambos
apresentam problemas pela sua toxidade. Contudo, segundo Lima
(2012), solventes alternativos aos solventes orgânicos podem ser
utilizados, tais como o solvente aquoso, o polietilenoglicol, os
flúidos supercríticos e os líquidos iônicos (sais fundidos).

6. Projeto voltado para a eficiência de energia: sempre que


possível, as substâncias auxiliares, tais como os solventes, devem
ser evitadas.

7. Uso de fontes de matérias-primas renováveis: conforme


Lenardão et al. (2003), as matérias-primas renováveis devem
ser priorizadas sempre que estas forem tecnicamente e
economicamente viáveis.

8. Evitar a formação de derivados: a derivatização desnecessária


deve ser minimizada ou, se possível, evitada, porque estas etapas
requerem reagentes adicionais e podem gerar resíduos.

9. Catálise: sempre que possível, deve-se aplicar os catalizadores,


pois conforme Lenardão et al. (2003), esses são mais eficientes do
que os reagentes estequiométricos.

 13
10. Desenho para a degradação: o projeto deve prever que os
produtos após a sua utilização se fragmentam em produtos de
degradação inócuos.

11. Análise em tempo real para a prevenção da poluição: a


prevenção da formação de substâncias tóxicas, futuramente,
deverá ser executada por meio do controle e monitoramento
do processo em tempo real, para que a possibilidade de
formação dessas substâncias seja detectada antes que a sua
formação ocorra.

12. Química intrinsicamente segura para a prevenção de acidentes:


as substâncias a serem utilizadas como reagentes, produtos e
subprodutos devem ser escolhidas de modo a minimizar riscos
de acidentes, tais como vazamentos, incêndios e explosões.
Substâncias corrosivas, por exemplo, podem acarretar vazametos,
uma vez que irão corroer o material das tubulações, então esse tipo
de sustância, juntamente com as inflamáveis, deve ser evitada.

Esses doze princípios contribuem para a preservação do meio ambiente,


a segurança dos colaboradores da organização e podem resultar em
redução de custos com o processo produtivo. Portanto, uma empresa que
faça o emprego correto desses será extremamente competitiva, pois além
dos pontos mencionados, ainda existe a questão do mercado consumidor,
que conforme visto no item 2, tem sido mais crítico em relação ao meio-
ambiente no momento da aquisição de um dado produto.

3. Relação entre meio-ambiente, consumo


e resíduos

O ser humano se apropria do meio-ambiente para se alimentar e produzir


os seus itens de consumo, tais como as vestimentas, os eletrônicos e as
construções. Todos esses produtos possuem um ciclo de vida, que inicia
com o produto na sua forma natural e termina no seu descarte.

14
14
Como exemplo, podemos citar o alumínio, que inicialmente é extraído
na forma do mineral bauxita. A bauxita é constituída em grande
parte pela alumina, que é um óxido de alumínio, devendo esta ser
processada para obtenção do metal desejado. O alumínio obtido a
partir da bauxita é processado, resultando em um dado produto, por
exemplo, uma latinha de refrigerante. Essa latinha de refrigerante
será enviada para uma empresa, que irá injetar o refrigerante dentro
dela e posteriormente lacrá-la. O refrigente contido no interior dessa
latinha será consumido e a latinha será posteriormente descartada
no lixo. O lixo será recolhido e a latinha de alumínio será separada
dos demais materiais por catadores e recicladores, para que
posteriormente seja fundida juntamente com outras latinhas. Como
resultado desse processo, teremos novas latinhas, portanto ocorreu
uma reciclagem do alumínio.

A latinha após o consumo do refrigerente é um resíduo sólido, devendo


esse receber um tratamento adequado, que poderia ser a reutilização
ou a reciclagem, por exemplo. No exemplo citado no parágrafo anterior,
a latinha foi reciclada.

Outro exemplo de ciclo de vida é o da cana-de-açúcar, que é utilizada


na produção de itens como a cachaça e o etanol utilizado na indústria
automobilística. Parte desse ciclo de vida é ilustrado pela Figura 3.
O bagaço da cana de açúcar já foi tratado como um resíduo sólido
que tinha como destino os aterros, porém na atualidade este vem
sendo utilizado, por exemplo, para geração de energia em usinas
de biomassa. Conforme citado por Paoliello4 (2006 apud BONASSA
et al., 2015, p. 147), outras possíveis aplicações são a fabricação de
chapas de fibra para construções, produção de celulose, fabricação de
matéria plástica, além das aplicações como solvente e ração animal.

4
PAOLIELLO, J. M. M. Aspectos ambientais e potencial energético no aproveitamento de resíduos da indústria
sucroalcooleira. 2006. 180f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenha-
ria, Bauru, 2006.

 15
Figura 3 – Ciclo de vida da cana-de-açúcar
a) Plantação (canavial); b) Industrialização;
c) Bagaço da cana-de-açúcar (resíduos).

Fonte: a) JoséMoraes/iStock.com. b) Mailson Pignata/iStock.com.


c) Atiwat Studio/iStock.com.

Resíduo sólido, conforme definido na Lei Federal nº 12.305, de 2 de


agosto de 2010, e na norma ABNT NBR 10004:2004, é uma definição
que inclui tanto os resíduos sólidos quanto os resíduos semissólidos
e líquidos, porém a Lei, diferentemente da norma, trata também
do estado gasoso, onde o armazenamento de gases em recipientes
também é considerado resíduo sólido, conforme definições a seguir:

Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado


resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se
procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados
sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública
de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. (Lei
Federal nº12.305, 2 de agosto de 2010, item XVI art. 3)

Resíduos sólidos: Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam


de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial,
agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os
lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados
em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como
determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu
lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam

16
16
para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor
tecnologia disponível. (ABNT NBR 10004:2004, item 3.1, p.1)

Os resíduos sólidos não podem ser confundidos com rejeito, uma vez
que o rejeito é um resíduo sólido que já não pode mais ser reutilizado
ou reciclado, seja por razões técnicas ou econômicas, ou seja pelo
fato de não existir uma tecnologia capaz de permitir, por exemplo,
a reciclagem desse resíduo, ou pelo fato de essa tecnologia existir,
porém ser muito cara. Contudo, o destino do rejeito é a disposição
final ecologicamente adequada para o tipo de resíduo, como, por
exemplo, os aterros sanitários.

Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades


de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e
economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não
a disposição final ambientalmente adequada. (Lei Federal nº12.305, 2 de
agosto de 2010, item XV art.3)

O consumo é um ato que segue o ciclo da natureza mantendo o seu


balanço, porém quando temos um consumo exacerbado dos recursos
naturais, o balanço natural é afetado, podendo até mesmo se tornar
irreversível, como a extinção de uma dada espécie. Essa questão do
consumo de recursos naturais é somada à geração de resíduos, que
também pode ter um impacto negativo, afetando o balanço natural,
resultando, por exemplo, na poluição dos rios e da atmosfera por meio
da emissão de efluentes líquidos e gasosos.

Além do consumismo, o aumento da população também apresenta


efeito sobre o consumo humano em relação ao meio ambiente, por
fim ainda se deve considerar os efeitos da globalização. Imaginando
uma grande população, unindo este aspecto ao consumismo e à
globalização, tem-se um grande potencial de degradação do meio
ambiente, já que para saciar a demanda por produtos dos mais variados
tipos, tem-se um grande uso dos recursos naturais, o que por fim
resulta em grande geração de resíduos sólidos.

 17
Conforme dados citados por Hails et al. (2008), o consumo dos recursos
naturais pelos seres humanos, no ano de 2008, excedia em 30% a
capacidade de regeneração do mundo, deste modo o relatório conclui
que se a humanidade continuar neste ritmo até meados de 2030 serão
necessários 2 mundos para suprir as suas necessidades. Nesse ponto,
o relatório menciona somente as questões de consumo, não levando
em consideração a geração de resíduos, o que acentuaria ainda mais a
degradação do planeta.

4. Importância dos 3R

A Lei Federal nº12.305, de 2 de agosto de 2010, estabelece uma ordem


de prioridade para a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos,
sendo que dentro dessa ordem nós encontramos os 3R (reduzir, reusar
e reciclar). Essa ordem de prioridade é estabelecida no sentido de criar
uma cultura sustentável, onde se deve evitar ou reduzir ao máximo
a geração de resíduos, sendo que quando essas ações não forem
possíveis, o resíduo gerado deve ter uma disposição final correta, de
modo a evitar ou reduzir ao máximo os impactos ambientais.

Conforme definido pela referida lei, a redução da geração de resíduos


sólidos deve ter precedência sobre a reutilização, sendo que esta última
deve ter precedência sobre a reciclagem. Embora conceitualmente
esta questão seja simples, a humanidade somente passou a praticá-
la nas últimas décadas, sendo que até os dias atuais ainda não temos
uma preocupação cultural que seja bem disseminada, como exemplo
podemos citar que em muitas cidades brasileiras a coleta seletiva ainda
não é realizada, conforme divulgado pelo CEMPRE5 (2016), somente 18%
dos municípios brasileiros possuem um sistema de coleta seletiva, o que
abrange somente 15% da população brasileira.

A redução é a primeira etapa dos 3R, sendo que esta consiste na


diminuição da geração de resíduos por meios de reduções no

5
CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem)

18
18
desperdício. Dessa forma, tem-se uma redução nos custos envolvidos no
gerenciamento e no tratamento de resíduos. Como exemplos podemos
citar a utilização de embalagens comestíveis, no lugar das tradicionais
embalagens plásticas ou de papel, e a redução de matéria prima
utilizada em algumas embalagens PET (politereftalato de etileno), onde
são adotadas espessuras menores, reduzindo assim o uso de recursos
naturais e a quantidade de resíduos gerados em peso, já que o volume
ocupado continua sendo praticamente o mesmo.

A segunda etapa é a reutilização, que seria a aplicação direta do


material para a mesma atividade ou para qualquer outra. Um exemplo
desse tipo pode ser visto para as garrafas de cerveja e refrigernete, que
após o consumo do seu conteúdo seguem a proposta de reutilização
e reciclagem. Elas podem ser reutilizadas após passar por um rigoroso
processo de lavagem, sendo possível reutilizá-las por até 25 vezes,
desde que isso ocorra em um período próximo de um ano. Após este
período, independentemente da quantidade de lavagens, desde que
não ultrapasse as 25 vezes, as garrafas são recicladas para a fabricação
de novas garrafas.

Dessa forma, a garrafa não chega a fase de reciclagem, onde essa é


somente lavada e reutilizada. Outro exemplo de reutilização é muito
aplicado por artistas plásticos, onde este utiliza um material como pneu
ou garrafas já utilizadas na construção de artesanatos como cadeiras,
mesas e até mesmo casas.

A terceira etapa é a reciclagem, a qual deve ser aplicada somente após


as outras duas possibilidades terem sido esgotadas. Sendo assim, tem-
se o retorno do resíduo para o processo produtivo, devendo este ser
utilizado como matéria-prima em um novo processo. Um exemplo é o
aço, onde os resíduos sólidos, como, por exemplo, as sobras das chapas
de aço de uma estamparia são refundidas para serem utilizadas na
fabricação de novas peças.

O principal ponto da política dos 3R é conscientizar a população e


a organização da importância na redução dos rejeitos. Portanto,

 19
como vimos ao longo deste tema, todos os materiais resultam em
algum tipo de resíduo, que por vezes pode ser reutilizado pelo ser
humano na forma como este se encontra. Caso a sua reutilização
não seja possível, este pode ser reciclado. Apesar de a reutilização
e a reciclagem serem ambientalmente corretas, o ideal é reduzir o
consumo, de modo a preservar ao máximo o nosso meio ambiente,
uma vez que a reciclagem, por exemplo, resulta em um novo processo
de industrialização, necessitando de utilização de energia elétrica e
insumos. Apesar de ser ecologicamente melhor do que um destino em
aterros, ainda assim gera consumo de recursos naturais.

TEORIA EM PRÁTICA
Você atua para uma empresa que produz peças em aço
estampado. Como engenheiro de produto, você deve
definir qual destino será dado para os resíduos sólidos
gerados em cada processo. A empresa está planejando a
produção de um novo produto: uma arruela, com diâmetro
externo de 25 mm e diâmetro interno de 15 mm. Para este
processo, utiliza-se como material de partida um disco com
25 mm de diâmetro, que tem o seu interior puncionado
para remoção de um disco menor com 15 mm. Portanto,
como resultado temos o produto, que é a arruela, e um
subproduto, que é o disco com diâmetro de 15 mm.
Utilizando a visão dos 3Rs, quais propostas podem ser
feitas visando à redução da degradação do meio-ambiente?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Analise a definição de resíduos sólidos apresentada pela
Lei Federal nº12.305, 2 de agosto de 2010:

20
20
Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem
descartado resultante de atividades humanas em sociedade,
a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se
está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido,
bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para
isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face
da melhor tecnologia disponível. (Lei Federal nº12.305, 2 de
agosto de 2010, item XVI art. 3)

Assinale a alternativa que traz somente atividades que


não geram resíduos sólidos:

a. Produção de energia elétrica por meio da queima de


combustíveis fósseis.

b. Consumo de alimentos em geral.

c. Produção automotiva em geral.

d. Produção de energia elétrica por meio de usinas


eólicas e hidrelétricas.

e. Consumo de combustível nas indústrias para


produção de bens de consumo, em geral.

2. Analise a sentença abaixo e assinale a


alternativa correta:
No processo de obtenção do etanol, temos um cenário
composto por três fases. Na fase A, tem-se o plantio
da cana-de-açúcar, a qual será utilizada como matéria-
prima. A fase B é composta pela industrialização da
cana-de-açúcar, convertendo sua sacarose em etanol.

 21
Já na fase C temos como resultado do processo, além do
produto, a obtenção do bagaço da cana-de-açúcar.

a. A fase C retrata os rejeitos.

b. A fase C retrata os resíduos sólidos.

c. A fase B retrata os resíduos sólidos.

d. A fase B retrata os rejeitos.

e. A fase A retrata os resíduos sólidos.

3. A Lei Federal nº 12.305/2010 estabelece uma ordem


de prioridade para a gestão e o gerenciamento de
resíduos sólidos, sendo que dentro dessa ordem nós
encontramos os 3R, sendo esse um dos conceitos sobre
o qual a química verde se apoia. Qual é a ordem correta
de p para aplicação dos 3R.

a. Reduzir/Reusar/Reciclar.

b. Reciclar/Reusar/Reduzir.

c. Reduzir/Reciclar/Reusar.

d. Reciclar/Reduzir/Reusar.

e. Reusar/Reduzir/Reciclar.

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sustainability. 2. ed. Columbia, Missouri EUA: Chemchar Research, Inc., 2005. 377 p.

 23
Gabarito

Questão 1 – Resposta: D
Resolução: Tanto a queima de combustíveis, para geração de
energia elétrica, quanto pela indústria, para produção de bens
de consumo, tem-se como resultado o tratamento dos gases
emitidos através da remoção de resíduos sólidos dos gases.
Para os alimentos, podemos citar os embutidos, os quais vêm
embalados em plástico, onde este plástico será removido e
descartado pelo consumidor, sendo um resíduo sólido. Na linha
de produção automotiva são gerados resíduos sólidos em diversas
fases de industrialização, como, por exemplo, as sobras de material
durante o processo de estampagem. Por fim, a produção de
energia por meio de usinas eólicas e hidrelétricas não resultam em
subprodutos, uma vez que esses utilizam ar e água para cumprir
com sua função.
Questão 2 – Resposta: B
Resolução: Resíduos sólidos são resíduos nos estados sólido e
semissólido, que resultam de atividades de origem industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
Como o “bagaço da cana-de-açúcar” se encontra no estado sólido
e é resultado da atividade industrial, este se encontra dentro da
classificação de resíduo sólido, não podendo ser rejeito, já que na
atualidade este item vem sendo empregado, por exemplo, para a
produção de energia elétrica.
Questão 3 – Resposta: A
Resolução: A ordem correta para aplicação dos 3R é reduzir/
reusar/reciclar.

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Tipos de resíduos e classificação
dos resíduos, legislação e
destinação final
Autor: Bruno Pizol Invernizzi

Objetivos

• Conhecer os tipos de resíduos que existem.

• Entender a forma de classificação dos resíduos.

• Compreender as diferenças entre as


classificações de acordo com as normas
técnicas e na legislação brasileira.

 25
1. Os resíduos sólidos

Os resíduos acompanham a humanidade desde o seu primórdio, onde


inicialmente esses resíduos eram limitados a restos de alimentos, tais
como a carcaça de animais mortos deixados expostos ao ambiente
pelos homens primatas, bem como os seus excrementos. Com o
desenvolvimento da sociedade, novos tipos de resíduos foram surgindo,
tais como os resultantes de processos industriais e até mesmo aqueles
presentes no lixo doméstico, onde podemos citar o lixo eletrônico.

Com a evolução das formas de resíduos, a sua definição também teve


de ser aperfeiçoada de forma que as normas e leis vigentes pudessem
enxergar esses diversos tipos, classificar e tratar cada um deles de forma
específica e correta. Para tal, utilizamos o termo “resíduo sólido”, que
possui uma definição muito mais abrangente do que a empregada no
cotidiano da maioria das pessoas.

A correta definição desse termo, para que este seja aplicável à legislação
brasileira é dada pela Lei nº 12.305 que institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS).
Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado
resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se
procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados
sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública
de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou
economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. (Lei
Federal nº 12.305, 2010, art. XVI)

Já para efeitos normativos, a correta definição para resíduos sólidos é


dada pela norma NBR ISO 10004 (ABNT, 2004a, item 3.1).
Resíduos sólidos: resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de
atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de
serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes

26
26
de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos
e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública
de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e
economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.

O primeiro ponto a ser observado é que ambas definições não possuem


barreira para o estado físico dos resíduos, uma vez que esse pode se
encontrar tanto no estado líquido quanto sólido, semissólido ou gasoso.
Outro ponto de congruência entre a norma e a legislação vem do fato de
ambos assumirem que somente pode ser tratado como resíduo aquilo
que for proveniente da atividade humana, portanto não podemos dizer
que os restos de alimento deixados por um dado animal selvagem, como
uma onça que se alimenta na mata, seja um resíduo sólido. Contudo, não
consideramos que os processos naturais se enquadrem nessa definição.

Além disso, para que um líquido se enquadre na definição de resíduo


sólido, esse deve ser considerado imprórpio para ser lançado
diretamente na rede pública de esgoto ou em corpos de água, que
são rios, mares, lagos, entre outros. Portanto, para definir se um dado
efluente líquido é ou não um resíduo sólido, deve-se seguir a legislação
local, que estabelece limites para cada substância presente neste,
determinando se é próprio ou não para ser lançado diretamente em
corpos de água ou na rede pública de esgoto.

Devemos nos lembrar que efluente é tudo aquilo que sai de um dado
processo, portanto esse pode estar em qualquer estado físico, seja
sólido, líquido ou gasoso, muito embora tenhamos o costume de
utilizar esse termo para discriminar os líquidos que saem de um dado
processo e que devem receber um tratamento de efluente anterior ao
seu despejo na rede pública. Devemos desmistificar essa ideia, pois
esse efluente líquido pode não ser tratado antes de ser lançado na rede
pública e, mesmo assim, a empresa não cometerá nenhum crime, uma
vez que o efluente gerado por ela atende às normas vigentes para tal,

 27
não se tratando de um resíduo sólido. Um exemplo é a água utilizada
nos sanitários que são lançadas diretamente na rede pública de coleta,
porém essa não pode ser lançada em corpos d’água.

Referente aos gases emitidos pelas chaminés de uma fábrica, podemos


dizer que esses são resíduos sólidos também, correto? A resposta é
não, pois esses são lançados na atmosfera e, conforme a legislação,
para que esse seja considerado um resíduo sólido, deve estar contido
em um recipiente.

Devemos nos atentar para uma questão em particular, assumir que um


gás não é um resíduo sólido não é o mesmo que assumir que este não
possui partículas que são consideradas como resíduos sólidos, uma vez
que as partículas retidas em um filtro presente em chaminés industriais
são classificadas como resíduo sólido. Portanto, para efeitos de norma,
os gases emitidos não são resíduos sólidos, porém eles podem conter
partículas de resíduos sólidos que devem ser removidas antes do gás
ser lançado para a atmosfera, onde esse deve estar dentro dos níveis
aceitáveis previstos em normas e leis vigentes para o setor em questão.

Neste ponto, existe uma questão: em qual situação um gás poderia


estar contido em um recipiente? Entre outras respostas corretas, o
principal ponto para tal vem das questões referentes aos créditos de
carbono, onde é possível executar o armazenamento de monóxido
de carbono para que esses créditos sejam concedidos, porém se deve
salientar que existem outras formas de obtenção desses créditos, sendo
esse apenas um exemplo.

ASSIMILE
Créditos de carbono são certificados emitidos quando
ocorre uma redução, comprovada, na emissão de gases do
efeito estufa. Tais certificados possuem valor monetário
atribuído, que podem ser comercializados entre países,

28
28
possibilitando ao país comprador a maior emissão de
gases, sem que este seja penalizado. Tal crédito foi criado
para permitir que países desenvolvidos, que dependam de
grandes emissões de carbono, possam continuar a fazê-
la sem ferir o acordo estabelecido no Protocolo de Kyoto,
que estabelece uma meta de 5,2% de redução na emissão
de gases de efeito estufa pelos países desenvolvidos.
Quando um país adiquire os créditos de carbono, pode
ficar abaixo da meta, porém levando em consideração a
quantidade de créditos adiquiridos.

Além das definições de resíduos sólidos dadas pela norma e pela lei,
existe a definição de rejeito, que é de extrema importância, pois pode
resultar em confusão com o termo resíduo sólido.
Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades
de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e
economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a
disposição final ambientalmente adequada. (Lei Federal nº 12.305, 2010, art. XV)

PARA SABER MAIS


O rejeito de minério de ferro vem ganhando destaque na
mídia brasileira, desde o rompimento da barragem na
cidade de Mariana (novembro de 2015) e posteriormente
na cidade de Brumadinho (janeiro de 2019), ambas
localizadas no estado de Minas Gerais, as quais eram
responsáveis pela contenção desses rejeitos.

Conforme a definição de rejeito, não podemos dizer que um resíduo


sólido é o resto de um dado processo que será descartado nos lixões e
aterros, uma vez que esses exemplos de disposição final caberiam ao
que definimos como sendo um rejeito.

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Portanto, para efeitos de engenharia, pensando em um processo de
produção, podemos dizer que qualquer subproduto é um resíduo sólido,
porém a este ainda é possível a aplicação do 3R, onde esse resíduo
sólido gerado pode ser reutilizado ou reciclado dentro da própria
empresa ou fornecido para que uma outra empresa possa utilizá-lo
como matéria-prima para um novo produto. Caso nenhuma dessas
atitudes por parte da empresa seja possível, por inviabilidade econômica
ou técnica, então teremos o chamado rejeito.

Um exemplo de rejeito que vem sendo muito comentado nos últimos


anos é o rejeito proveniente do tratamento de minérios, o quail deve ser
mantido enclausurado por meio da instalação de barregens, uma vez
que na atualidade não existe um processo economicamente viável que
permita a reutilização ou a recuperação desse material para uso.

Com relação a disposição final ambientalmente adequada aplicável aos


rejeitos, essa atividade não pode ser confundida com a destinação final
ambientalmente adequada.

Destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que


inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o
aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos
competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição
final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar
danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos
ambientais adversos. (Lei Federal nº 12.305, 2010, art. VII)

Disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de


rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo
a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os
impactos ambientais adversos. (Lei Federal nº 12.305, 2010, art. VIII)

A diferença entre esses dois termos consiste na aplicação em relação


a resíduo sólido e a rejeito, onde destinação final ambientalmente
adequada é aplicável a ambos, uma vez que a destinação final pode ser
um tratamento adequado para que um dado resíduo sólido retorne de

30
30
alguma forma à cadeia produtiva. A disposição final ambientalmente
correta é dada somente para rejeitos, uma vez que se assume que estes
não podem mais ser processados de forma alguma, devendo então ser
dispostos de modo que resultem no mínimo impacto ambiental possível.

2. A classificação dos resíduos sólidos

A classificação dos resíduos sólidos, assim como a sua definição,


também é realizada, no Brasil, por meio da Lei nº 12.305 e por meio da
ABNT NBR 10.004, as quais divergem na forma de classificação.

A Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010) classifica os resíduos sólidos de acordo


com a sua origem e a sua periculosidade, enquanto a norma NBR
ISO 10004 (ABNT, 2004a) os classifica somente conforme a sua
periculosidade.

Conforme a Lei nº 12.305/2010 (BRASIL, 2010), a classificação conforme a


origem do resíduo sólido quanto à origem é a seguinte:

• Resíduos domiciliares são aqueles gerados nas residências,


independentemente de essas estarem localizadas em meio
urbano ou rural.

• Resíduos de limpeza urbana são aqueles gerados pelos serviços


de varrição, pela limpeza de estabelecimentos, terrenos, casas,
entre outros, limpeza das vias públicas e quaisquer outros locais
públicos que possam se enquadrar como limpeza urbana.

• Resíduos sólidos urbanos são os resíduos domiciliares e os


resíduos de limpeza urbana.

• Resíduos de estabelecimentos comerciais e de prestadores de


serviço são aqueles gerados por essas atividades, porém não
são considerados os resíduos sólidos mencionados em outras
classificações presentes na Lei 12.305 (BRASIL, 2010).

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• Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico são
aqueles gerados por essas atividades, porém não se deve
considerar para tal aqueles que são classificados como sendo
resíduos sólidos urbanos.

• Resíduos sólidos industriais são aqueles que resultam de


processos produtivos e das instalações industriais.

• Resíduos de serviço de saúde são aqueles gerados pelos


serviços de saúde, conforme definido pelo SISNAMA (Sistema
Nacional do Meio-Ambiente) e pelo SNVS (Sistema Nacional de
Vigilância Sanitária).

• Resíduos da construção civil são aqueles gerados pela


construção civil, provenientes de reformas, reparos e
demolições, o que inclui a preparação e a escavação de terrenos
visando que serão utilizados.

• Resíduos agrassilvopastoris são aqueles resultantes das atividades


agropecuárias e silviculturais, o que inclui todos os resíduos
relacionados a insumos utilizados por essas atividades.

• Resíduos de serviços de transporte são aqueles origanados


em portos, aeroportos e terminais rodoviários, alfandegários e
ferroviários e passagens de fronteira.

• Resíduos de mineração são todos os resíduos resultantes das


atividades de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios.

Essas são as 11 fontes geradoras de resíduos, porém, para cada uma


dessas fontes, deve-se avaliar a periculosidade dos resíduos sólidos,
a qual, conforme a Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010), pode ser dividida em
resíduos sólidos perigosos e não perigosos, onde os produtos perigosos
possuem uma definição própria, enquanto os produtos não perigosos
são todos aqueles que não se enquadram nessa definição.

32
32
Resíduos perigosos: aqueles que, em razão de suas características de
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade,
carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam
significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo
com lei, regulamento ou norma técnica. (BRASIL, 2010)

A norma NBR 10004 (ABNT, 2004a) classifica os resíduos em duas classes


distintas: a classe I, que trata dos resíduos perigosos, e a classe II que
trata dos resíduos não perigosos. Esta última é subdividida em duas
outras classes: a classe IIA, utilizada para os resíduos não inertes, e a
classe IIB, utilizada para resíduos inertes.

Os produtos pertencentes à classe I são aqueles que possuem


características como inflamabilidade, corrosividade, reatividade,
toxicidade e patogenicidade, onde cada uma dessas características
recebe um código diferente para facilitar a sua identificação e
segregação, além de facilitar durante a tomada de providências
quanto a sua aplicação, transporte, armazenagem e destinação final
ambientalmente adequada (ABNT, 2004a).

Os produtos inflamáveis recebem o código D001, devendo este receber


tal classificação após a sua avaliação, que deverá ser executada através
da aplicação de normas técnicas específicas quanto ao seu ponto de
fulgor, quando sólido, em dadas condições de pressão e temperatura,
entre outras detalhadas por norma, este deve ser capaz de produzir
fogo. Ainda existem outros dois pontos que a norma avalia, onde o
resíduo será considerado inflamável se atender a qualquer uma dessas
características, ou até mesmo mais de uma delas (ABNT, 2004a).

Caso o produto seja considerado corrosivo, de acordo com ensaios


químicos específicos para determinação de características como pH
e corrosividade, onde seja constatada a sua corrosividade, então o
material recebe o código D002 (ABNT, 2004a).

Para o caso de materiais considerados reativos, o código de identificação


será o D003, devendo esse material ser avaliado conforme normas

 33
aplicáveis, onde seja possível constatar questões como reações violentas
com a água, podendo inclusive resultar em explosões, ou ainda se essa
reação resultar na produção de gases, vapores ou fumos tóxicos, que
possam vir a agredir a saúde humana ou o meio ambiente. Existem
outras situações para teste que não envolvem água, mas onde seja
constatado um comportamento explosivo. Caso o material atenda a um
ou mais desses requisitos, esse será considerado reativo (ABNT, 2004a).

O resíduo deverá ser considerado patogênico, recebendo o código


D004, quando:
Contiver ou se houver suspeita de conter, microorganismos atogênicos,
proteínas virais, ácido desoxiribonucléico (ADN) ou ácido ribonucléico
(ARN) recombinantes, organismos geneticamente modificados, plasmídios,
cloroplastos, mitocôndrias ou toxinas capazes de produzir doenças em
homens, animais ou vegetais. (ABNT, 2004a)

Por fim, os resíduos poderão receber ainda as identificações de D005 a


D052 quando forem considerados tóxicos, o que deve ser realizado através
da análise por meio do ensaio de lixiviação, a ser executado conforme a
norma ABNT NBR 10005:2004 (ABNT, 2004b), devendo ser identificada a
presença de substâncias presentes no anexo F da norma, onde é dada
uma porcentagem máxima aceitável para cada uma das susbtâncias, de
modo que acima dessa porcentagem o resíduo será considerado tóxico.

Além do anexo F mencionado para determinação de resíduos tóxicos,


existem outros anexos presentes nessa norma que variam de A a H,
onde o anexo B traz alguns materiais perigosos obtidos por fontes
específicas, relatando onde exatamente esse pode ser encontrado e a
sua característica de periculosidade. O anexo A, por sua vez, traz alguns
materiais perigosos obtidos por fontes não específicas.

Os anexos C, D e E consistem em listas de substâncias que conferem


periculosidade aos resíduos, onde os anexos D e E são focados nas
substâncias tóxicas.

O anexo H contém uma lista com alguns resíduos classificados como


não sendo perigosos. Já o anexo G é utilizado na determinação dos

34
34
resíduos não perigosos, para que esses possam ser classificados como
inertes ou não inertes.

Para os resíduos que não se enquadram na classificação de perigosos,


deve-se realizar testes conforme a norma ABNT NBR 10006 (ABNT,
2004c), onde esses são colocados em contato dinâmico e estático com a
água destilada ou deionizada. Nesse teste, deve-se avaliar se o resíduo
em análise é solubilizado pela água. Caso ocorra a solubilização, para
que o resíduo seja considerado inerte, os valores referentes a cada
substância solubilizada deverão ser inferiores aos valores presentes na
tabela G, caso contrário esse será considerado como um resíduo não
perigoso, porém não inerte.

Conforme descrito na norma ABNT NBR 10004 (ABNT, 2004a), os


resíduos classe IIA não perigosos e não inertes possuem algumas
propriedades que podem ser requeridas para alguns produtos, tais
como a biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.

Visando um melhor entendimento sobre o método a ser seguido


para classificação de um resíduo, a norma ABNT NBR 10004 (ABNT,
2004a) traz um fluxograma contendo a sequência das etapas a serem
empregadas para a classificação.

Figura 1 – Caracterização e classificação de resíduos,


conforme a norma ABNT NBR 10.004

Fonte: adaptada de ABNT NBR 10004 (ABNT, 2004a).

 35
3. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi instituída pela


Lei Federal nº 12.305 (BRASIL, 2010), que tem por objetivo o
gerenciamento dos resíduos sólidos, bem como a responsabilidade
dos setores públicos e privados sobre tal questão. Portanto, a
lei nº 12.305 vai além da classificação dos resíduos sólidos, não
sendo aplicável somente aos resíduos radioativos, uma vez que a
responsabilidade sobre esses é da Comissão Nacional de Energia
Nuclear (CNEN), possuindo legislação específica.

Dentre os princípios da PNRS, podem ser destacados a prevenção e a


precaução, o princípio do poluidor-pagador e do protetor-recebedor, a
ecoeficiência e a responsabilidadecompartilhada pelo ciclo de vida do
produto. Por meio desses princípios, é possível notar que a preservação
do meio ambiente é realizada pela interação entre os diversos setores,
onde a PNRS cita limites e responsabilidades, por exemplo, para os
municípios, para os estados e para as empresas do setor privado,
estabelecendo a ideia de quem polui mais deve também pagar mais.

Dentre os objetivos, podem ser destacados a preservação da saúde


pública e do meio ambiente,por meio da sustentabilidade e do
desenvolvimento de novas tecnologias que busquem a redução
do consumo de recursos naturais, criando cadeias produtivas mais
sustentáveis.

Dos instrumentos utilizados pela PNRS podem ser citados a pesquisa


científica e tecnologia, a educação ambientala coleta seletiva, os
incentivos fiscais, financeiros e creditícios fornecidos pelo governo
e a criação do sistema nacional de informações sobre a gestão de
resíduos (SINIR).

Sistema de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos – SINIR: tem


como objetivo armazenar, tratar e fornecer informações que apoiem as
funções ou processos de uma organização. Essencialmente é composto

36
36
de um sub-sistema formado por pessoas, processos, informações e
documentos, e um outro composto por equipamentos e seus meios de
comunicação. (MMA, [201-])

O ciclo de vida do produto que tem por objetivo mapear todas as etapas
que envolvem o desenvolvimento do produto, desde a obtenção da
matéria prima até a disposição final, também é incentivado pela PNRS.

Além do PNRS, a lei nº 12.305 (BRASIL, 2010) prevê que os estados e


municípios também devem fazer os seus planos de resíduos sólidos, bem
como as empresas privadas que atendam aos requisitos presentes na
seção V presente no capítulo II dessa lei, onde dá-se ênfase aos geradores
de resíduos perigosos e empresas de construção civil, entre outros.

No artigo 33, presente na seção II do capítulo III da lei nº 12.305 (BRASIL,


2010), é colocada a obrigatoriedade de estruturação e implementação
de um sistema de logística reversa por parte das organizações privadas,
isentando os estados, municípios e a federação da coleta de alguns
produtos específicos, tais como pilhas, pneus, óleos lubrificantes,
agrotóxicos, entre outros.

Por fim, o capítulo IV presente na lei nº12.305 (BRASIL, 2010) trata, nos
artigos de 37 a 41, dos resíduos perigosos, onde é descrita, por exemplo,
a necessidade de autorização ou licenciamento de empreendimentos
que gerem ou operem resíduos perigosos, devendo esses serem
avaliados por autoridades competentes, além da necessidade da criação
de um plano de gerenciamento de resíduos perigosos.

4. Outras leis aplicáveis

Além da lei nº12.305 (BRASIL, 2010), existem outras leis, decretos,


portarias e resoluções que são aplicáveis aos resíduos sólidos, onde se
pode destacar os seguintes documentos:

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• Resolução CONAMA nº 481 (BRASIL, 2017), que estabelece
critérios e procedimentos para garantir o controle e a qualidade
ambiental do processo de compostagem de resíduos orgânicos,
e dá outras providencias.

• Resolução CONAMA nº 450 (BRASIL, 2012), que dispõe sobre


recolhimento, coleta e destinação final de óleo lubrificante usado
ou contaminado.

• Resolução CONAMA nº 404 (BRASIL, 2008), que estabelece critérios


e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de
pequeno porte de resíduos sólidos urbanos.

• Resolução CONAMA nº 375 (BRASIL, 2006), que define critérios e


procedimentos para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados
em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos
derivados, e dá outras providências.

• Resolução CONAMA nº 358 (BRASIL, 2005), que dispõe sobre


o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de
saúde e dá outras providências.

• Resolução CONAMA nº 307 (BRASIL, 2002), que estabelece


diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos
da construção civil.

• Resoluão CONAMA nº 23 (BRASIL, 1996), que dispõe sobre as


definições e o tratamento a ser dado aos resíduos perigosos,
conforme as normas adotadas pela Convenção da Basiléia
sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos
Perigosos e seu Depósito.

• Resolução CONAMA nº 5 (BRASIL, 1993), que dispõe sobre


o gerenciamento de resíduos sólidos gerados nos portos,
aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários.

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38
TEORIA EM PRÁTICA

Você é o engenheiro responsável pela destinação


final em uma empresa de demolição que atua
prestando serviços para o setor público. Essa empresa
foi contratada para a demolição de uma instalação
hospitalar, porém durante essa demolição surgiu uma
dúvida: “Qual a correta classificação e tratativa para
os materiais presentes neste estabelecimento, uma
vez que entre esses materiais existem alguns que
foram utilizados para a construção das instalações de
radiologia”. Avalie essa questão, cite qual documento
deve ser aplicado nessa avaliação e qual a correta
classificação e destinação final para esses produtos.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. A lei nº12.305 (BRASIL, 2010) define diversos termos


comumente aplicados aos resíduos sólidos. A questão
da definição é de suma importância, uma vez que
setores diferentes de uma mesma organização, por
exemplo, podem ter diferentes entendimentos sobre
um determinado termo. Contudo, avalie as alternativas
abaixo e assinale aquela que traz a correta definição
para o termo rejeito

a. Resíduos sólidos que não apresentem outra


possibilidade que não a disposição final
ambientalmente adequada.

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b. Efluentes sólidos, líquidos ou gasosos que não podem
ser lançados diretamente na rede pública de esgoto,
sem passar por um tratamento prévio

c. Resíduos sólidos que ainda podem ser reaproveitados


para reciclagem e reutilização.

d. Resíduos que após passarem por processos, seguindo


a sequência lógica do 3R, podem ser reaproveitados

e. Resíduos sólidos que apresentam significativo risco à


saúde pública ou à qualidade ambiental

2. Assinale a alternativa que corresponde ao termo que


pode ser definido por: “aplicável especificamente
aos resíduos sólidos, tem como objetivo armazenar,
tratar e fornecer informações que apoiem as funções
ou processos de uma organização. Essencialmente é
composto de um sub-sistema formado por pessoas,
processos, informações e documentos, e um outro
composto por equipamentos e seus meios de
comunicação” (Lei n°12.305/2010).

a. CONAMA.

b. SISEMA.

c. SINISA.

d. SINIR.

e. SINIMA.

3. Analise a figura abaixo e responda:

40
40
a. Os resíduos perigosos são divididos em inerte e
não-inerte.

b. Caso o material possua constituintes que são


solubilizados em concentrações superiores ao anexo
G, esse deverá ser classificado como pertencente à
classe IIA.

c. Caso o material conste no anexo A, não se pode


concluir nada a respeito da sua periculosidade.

d. Para que a análise seja realizada de forma correta,


deve ser iniciada pela avaliação de inércia química
onde o material será definido como perigoso ou
não perigoso.

e. Caso o material seja inflamável, esse deverá ser


considerado como pertencente à classe II.

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Referências bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 10004: resíduos
sólidos – classificação. 2. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. 71 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 10005: procedimento
para obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos. 1. ed. Rio de Janeiro: ABNT,
2004b. 16 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 10006: procedimento
para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos. 2. ed. Rio de Janeiro:
ABNT, 2004c. 71 p.BRASIL. Constituição (2010). Lei nº 12305, de 2 de agosto de
2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. 3. ed. Brasília, DF, 2 ago. 2010.
BRASIL. Resolução CONAMA n° 5, de 5 de agosto de 1993. Gerenciamento
de resíduos sólidos gerados nos portos, aeroportos, terminais ferroviários e
rodoviários. Publicado no D.O.U. nº 166, de 31 agosto 1993.
BRASIL. Resolução CONAMA n° 23, de 7 de dezembro de 1994. Institui
procedimentos específicos para o licenciamento de atividades relacionadas à
exploração e lavra de jazidas de combustíveis líquidos e gás natural. Publicado no
D.O.U. nº 248, de 30 dezembro 1994.
BRASIL, Resolução CONAMA n° 307, de 5 de julho de 2002. Estabelece diretrizes,
critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Publicado
no D.O.U. nº 136, de 17 julho 2002.
BRASIL. Resolução CONAMA n° 358, de 29 de abril de 2005. Tratamento e a
disposição fi nal dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências.
Publicado no D.O.U. nº 84, de 4 maio 2005.
BRASIL. Resolução CONAMA n° 375, de 29 de agosto de 2006. Define critérios e
procedimentos, para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de
tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados, e dá outras providências.
Publicado no D.O.U., de 30 agosto 2006.
BRASIL. Resolução CONAMA n° 404, de 11 de novembro de 2008. Estabelece
critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de
pequeno porte de resíduos sólidos urbanos. Publicado no D.O.U. nº 220, de 12
novembro 2008.
BRASIL. Resolução CONAMA n° 450, de 6 de março de 2012. Altera os arts. 9º, 16, 19,
20, 21 e 22, e acrescenta o art. 24-A à Resolução nº 362, de 23 de junho de 2005, do
Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, que dispõe sobre recolhimento,
coleta e destinação final de óleo lubrificante usado ou contaminado. Publicado no
D.O.U., de 7 março 2012.
BRASIL. Resolução CONAMA n°481, de 3 de outubro de 2017. Estabelece critérios
e procedimentos para garantir o controle e a qualidade ambiental do processo
de compostagem de resíduos orgânicos, e dá outras providências. Publicado no
D.O.U., de 04 outubro 2017.

42
42
JURAS, Ilidia da Ascenção Garrido Martins. Legislação sobre resíduos sólidos:
Comparação da Lei 12.305/2010 com a Legislação de Países Desenvolvidos. Brasília:
Câmara dos Deputados, 2012. 55 p. Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados.
Disponível em: http://www2.camara.leg.br/a-camara/documentos-e-pesquisa/estudos-
e-notas-tecnicas/areas-da-conle/tema14/2012_1658.pdf. Acesso em: 12 ago. 2019.
MMA. Ministério do Meio Ambiente. Manejo de resíduos sólidos urbanos – destaques
da Polítca Nacional de Resíduos Sólidos. [201-]. Disponível em: https://www.mma.gov.
br/estruturas/srhu_urbano/_arquivos/folder_pnrs_125.pdf. Acesso em: 25 nov. 2019.
PUPIN, Patrícia Lopes Freire; BORGES, Ana Claudia Giannini. Acertos e
Contradições na Interpretação da Lei 12.305/10 nos Planos Municipais de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos da Microrregião de Jaboticabal/SP. Revista
Nacional de Gerenciamento de Cidades, [s.l.], v. 3, n. 15, p.158-175, 1 set.
2015. ANAP - Associacao Amigos de Natureza de Alta Paulista. http://dx.doi.
org/10.17271/231884723152015.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: A
Resolução: Todo rejeito é um resíduo sólido que não pode ser
recuperado para retornar ao processo por meios que sejam
economicamente ou tecnicamnente viáveis, devendo esses serem
encaminhados para a disposição final ambientalmente adequada,
portanto a alternativa (a) é a correta. As alternativas (b) (c) e (d) se
enquadram na definição de resíduos sólidos, e não na definição de
rejeito. A alternativa (e) é a correta definição de resíduos perigosos,
que não necessariamente são rejeitos.
Questão 2 – Resposta: D
Resolução: O termo cuja definição dada se aplica é o Sistema
Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos
(Sinir). CONAMA é a sigla para Conselho Nacional do Meio
Ambiente, não se tratando de um sistema, conforme indicado pela
definição. SISEMA é o sistema estadual do meio ambiente, aplicável
para Minas Gerais. SINISA é o sistema nacional de informações em
saneamento básico. SINIMA é o sistema nacional de informação
sobre o meio ambiente

 43
Questão 3 – Resposta: B
Resolução: Os resíduos não-perigosos são divididos em inerte
e não-inerte, enquanto os resíduos classificados como sendo
perigosos não possuem subdivisão, portanto a alternativa (a)
está errada. Caso os materiais constem no anexo A ou no anexo
B, esse será considerado perigoso, portanto a alternativa (c) está
errada. A análise para classificação dos resíduos sólidos deve ser
iniciada pela periculosidade, e não pela inercia química, portanto, a
alternativa (d) está errada. Os materiais inflamáveis são perigosos,
portanto pertencem à classe I, contudo a alternativa (e) está errada.

44
44
Normas da série ISO 14001
Autor: Bruno Pizol Invernizzi

Objetivos

• Entender processo de criação das normas.

• Conhecer a norma ABNT NBR ISO 14001.

• Entender o processo de auditoria das normas


de um sistema de gestão.

• Conhecer outras normas da série ISO 14000.

 45
1. ISO, ABNT e suas normas

Imagine que durante a colocação do estepe você perdeu uma das porcas
que prende o pneu do seu carro à roda. Como você procederia para
comprar uma nova porca?

A resposta é muito simples, basta você ir até uma loja e dizer qual a
serventia da porca, qual é o modelo e ano do seu carro. De uma forma
muito simples, é possível levantar a especificação dessas porcas em uma
loja especializada em peças para automóveis ou até mesmo pela internet.

Porém, isso somente é possível devido às especificações técnicas que


garantem a uniformidade da porca que está sendo adquirida, de modo a
garantir que ela servirá no seu carro da mesma forma que a anterior servia.

Perceba que sem a especificação, você teria que testar cada um


dos modelos de porcas disponíveis na loja, portanto, as normas e
especificações técnicas servem exatamente para garantir a uniformidade
de produtos e, em alguns casos, processos, visando à segurança e
satisfação dos clientes, de modo que este possa comprar um mesmo
produto em qualquer lugar do mundo.

Logicamente que tudo seria mais fácil se todos utilizassem as mesmas


normas, o que não ocorre, uma vez que cada país possui as suas
próprias normas, podendo estas divergirem em aspectos técnicos, como
dimensões e limites de resistência.

Para sanar, ou ao menos reduzir tais problemas, existe a ISO


(International Organization for Standardization – Organização
Internacional para Padronização), que é responsável por escrever
normas técnicas que sejam de interesse internacional, garantindo que
um dado produto seja fornecido da mesma forma em todos os países
que utilizam essas normas como base.

Cada país possui as suas normas e entidades próprias, que podem


se basear nas normas da ISO, visando ao atendimento de demandas

46
46
globais. Então, pensando dessa forma, a engenharia não apresenta
diferenças ao redor do mundo?

Não é bem assim, uma vez que existem normas específicas de cada
país que podem não estar alinhadas com as normas da ISO, uma vez
que cada país possui interesses próprios. Um exemplo típico seria olhar
para as normas dos EUA, as quais utilizam basicamente o sistema de
medição em polegadas (sistema inglês), enquanto a norma ISO utiliza
o sistema métrico, que possui medidas com base em milímetros.
Portanto, temos um impasse neste ponto, o que pode resultar em
problemas de ordem prática.

Quando falamos nas normas de Sistemas de Gestão, tais como as


normas ISO 9001 (Sistema de Gestão da Qualidade), ISO 14001 (Sistema
de Gestão Ambiental) e ISO 45001 (Sistema de Gestão da Segurança e
Saúde no Trabalho), isso não acontece, uma vez que os países membros
da ISO adotaram essas normas em seus sistemas produtivos para
garantir a intercambialidade desses sistemas entre países.

A ISO é constituída por 164 países membros, dentre os quais inclui-se o


Brasil, que participam da produção das normas técnicas publicadas por
essa instituição. A participação de cada país é realizada por meio das
instituições responsáveis pelo estabelecimento de padrões e normas em
tais países, os quais são tidos como membros da ISO.

No caso do Brasil, a instituição responsável é a ABNT (Associação


Brasileira de Normas Técnicas), que foi fundada no ano de 1940,
tendo sido reconhecida pelo Governo Federal como Foro Nacional de
Normalização, que é responsável pelas normas técnicas, através da Lei
nº 4.150 de 1962. Embora a ABNT seja reconhecida como a entidade
responsável pelas normas técnicas, é uma instituição não-governamental,
tratando-se de uma entidade privada sem fins lucrativos.

Para a elaboração das normas técnicas da ABNT, que recebem o nome


de ABNT NBR, são utilizados diferentes órgãos internos, que são os

 47
Comitês Brasileiros (ABNT/CB), os Organismos de Normalização Setorial
(ABNT/ONS) e as Comissões de Estudos Especiais (ABNT/CEE).

Os comitês brasileiros são responsáveis por coordenar, planejar


e executar as atividades normativas da instituição, enquanto os
organismos de normalização setorial são comitês brasileiros que tratam
de assuntos setoriais específicos. As comissões de estudo, que fazem
parte dos comitês brasileiros, são criadas com o intuito de elaborar e
revisar as normas técnicas da ABNT.

Para elaboração de uma nova norma técnica, o processo é iniciado


por meio de uma demanda, podendo ter como origem a solicitação
de uma pessoa física, uma organização governamental ou não, uma
entidade ou um organismo regulador, como, por exemplo, o IBAMA
(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis), para o caso das normas ambientais. Para tal, o tema a ser
abordado deve ser levado à ABNT, para que esta possa analisar se é
pertinente ou não a criação de uma norma para este assunto. Caso a
solicitação seja validada, é aberta uma consulta nacional, sendo essa
divulgada pela ABNT para que todas as partes interessadas no assunto
possam se manifestar sobre.

Dessa forma, a normalização é realizada de forma democrática, onde


qualquer parte envolvida pode solicitar a criação de uma norma, porém
para que essa seja aprovada, todas as partes envolvidas podem opinar
sobre o assunto em questão, inclusive pessoas físicas. Logicamente que,
após a conclusão da consulta nacional, os resultados são analisados
pelo comitê técnico responsável, que irá avaliar se a norma pode ser
validada como está ou não, garantindo assim que possua validade
técnica e seja relevante para a instituição, o país e as partes envolvidas.

O mesmo processo pode ser seguido para a ISO, onde caso um dado
país queira, este pode sugerir a criação de uma norma internacional,
tendo por base uma norma criada pela sua entidade normalizadora.

48
48
PARA SABER MAIS
Como vimos, a entidade normalizadora no Brasil é a
ABNT, mas e em outros países, quais entidades são
responsáveis pela normalização? Nos EUA, por exemplo,
a ASTM (American Society for Testing and Materials), a
ASME (American Society of Mechanical Engineers) e a
SAE (Society of Automotive Engineers) são algumas das
entidades responsáveis pela normalização, onde cada
uma é responsável por um dado segmento. Na França, a
entidade normalizadora é a AFNOR (Association Françoise de
Normalisation), na Alemanha é a DIN (Deutsches Institut für
Normung), no Japão é a JIS (Japonese Industrial Standards) e
na Inglaterra é a BSI (British Standards Institution).

2. ABNT NBR ISO 14001:2015

O Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental (ABNT/CB-038) e pela


Comissão de Estudo de Sistema de Gestão Ambiental (CE-038.001.001).
A elaboração da norma ABNT NBR ISO 14001:2015 seguiu de perto a ISO
14001:2015, considerando os aspectos técnicos, estrutura e redação.

ASSIMILE
Devemos ter cuidado com a nomenclatura das normas
NBR (Normas Brasileiras), uma vez que existem as normas
brasileiras, produzidas com numeração de forma seriada
pela ABNT, as quais tratam de temas relevantes às
instituições brasileiras, porém também existe as normas
ABNT que são baseadas em normas ISO, que seguem uma

 49
numeração internacional. Como exemplo, podemos citar
a norma ABNT NBR 14006, que é aplicável para móveis
escolares, não sendo pertencente à mesma série da norma
ABNT NBR ISO 14001. Porém, existe a norma ABNT
NBR ISO 14006 que trata de diretrizes para incorporar
o ecodesign, sendo uma norma do sistema de gestão
ambiental. Portanto, deve-se cuidar em relação à presença
da nomenclatura ISO nas normas ABNT baseadas em
normas ISO, pois a numeração dessas pode ser a mesma,
porém tratando de assuntos distintos.

A ABNT NBR ISO 14001 traz, como sendo objetivos de um sistema


de gestão ambiental, a provisão de uma estrutura que seja capaz
de condizer as empresas à proteção ambiental e à sustentabilidade.
Segundo a norma ABNT NBR ISO 14001 (ABNT, 2015), essa norma
auxilia as empresas nos desenvolvimentos dos seguintes meios, que são
utilizados para atingir esses objetivos:

• A empresa deve possuir meios de prevenir ou mitigar os impactos


ambientais adversos.

• A empresa deve possuir meios para mitigar efeitos adversos do


meio ambiente na organização.

• A empresa deve ser capaz de atender a requisitos legais e outros


requisitos que impactem na sustentabilidade do meio-ambiente e
da própria empresa.

• A empresa deve possuir meios de implementar e controlar o


aumento do seu desempenho ambiental.

• A empresa deve possuir meios de controlar ou influenciar os


seus produtos e serviços desde o seu projeto até o seu descarte,
prevendo e prevenindo possíveis impactos ambientais no ciclo de
vida do produto.

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50
• A empresa deve ser capaz de alcançar benefícios financeiros e
operacionais que resultem na sustentabilidade dos seus processos.

• A empresa deve possuir meios que permitam o conhecimento de


todas as informações, pertinentes as questões ambientais, pelas
partes interessadas.

O sistema de gestão ambiental, assim como todos os demais sistemas


de gestão baseados nas normas ISO, como é o caso da norma ISO 9001
(Sistema de Gestão da Qualidade), deve buscar a melhoria contínua por
meio da aplicação do ciclo PDCA (Planejar – Fazer – Checar – Agir).

A norma em questão permite que a empresa realize autoavaliações


do seu sistema de gestão ambiental, buscando confirmações da sua
conformidade por meio da geração de evidências, de modo que as
partes interessadas possam ser asseguradas sobre essas conformidades.
Também é parte dessa norma a certificação para que a empresa possa
comprovar junto à sociedade a eficiência e eficácia dos seus processos,
assegurando que esta segue na busca da sustentabilidade.

O escopo da norma ABNT NBR ISO 14001 (ABNT, 2015) traz a


abrangência dessa norma, o qual possui seu foco voltado para a
sustentabilidade, resultando não somente em ganhos para o meio-
ambiente e a sociedade, mas também em ganhos para os acionistas
e colaboradores, cobrindo dessa forma todas as partes interessadas
através do aumento do desempenho ambiental, do atendimento a
todos os requisitos legais e outros requisitos julgados como necessários,
seja por partes internas ou externas, e através do alcance de objetivos
ambientais traçados pela empresa, os quais devem ser acompanhados
por meio de indicadores.
Esta Norma especifica os requisitos para um sistema de gestão ambiental
que uma organização pode usar para aumentar seu desempenho
ambiental. Esta Norma é destinada ao uso por uma organização que busca
gerenciar suas responsabilidades ambientais de uma forma sistemática,
que contribua para o pilar ambiental da sustentabilidade. (ABNT, 2015)

 51
A norma ABNT NBR ISO 14001:2015 é uma norma facultativa, não
sendo obrigatória. Porém, conforme descrito em seu escopo, essa pode
ser implementada por empresas que buscam um aumento real de
desempenho ambiental, o qual resultará em ganhos, por exemplo, por
meio da redução de desperdícios e do aumento do desempenho dos
materiais e processos aplicados. Além disso, uma empresa que possui
um sistema de gestão ambiental eficaz terá mais dados para comprovar
as partes interessadas, tais como o cliente e os órgãos governamentais,
o atendimento a requisitos legais. Pelo escopo da norma, esta é aplicável
a todo e qualquer tipo de empresa, sendo governamental ou não, com
ou sem fins lucrativos e independente do seu porte.

Como a norma não traz critérios específicos em relação ao desempenho


ambiental a ser atingido pela organização, esta deve se encarregar de
avaliar quais critérios deverão ser utilizados, tendo por base a legislação,
os requisitos de clientes pretendidos e requisitos que a própria
organização julgue estratégico e necessário.

Contudo, como existem critérios que podem ser definidos pela empresa,
esses podem a qualquer momento deixar de ser relevantes por algum
motivo, podendo ser redefinidos ou até mesmo removidos do escopo da
empresa, caso essa julgue desnecessário. Logicamente que os critérios
legais devem ser mantidos, devendo esses serem atendidos à risca,
onde, por motivos internos, a empresa pode optar por restringir ainda
mais esses critérios, deixando-os mais apertados, porém não pode em
hipótese alguma alargar esses critérios além das faixas presentes na
legislação pertinente.

Dentre as definições presentes na norma, podem-se destacar algumas


como a definição aplicável a riscos e oportunidades, que são definidos
como sendo qualquer efeito potencial adverso ou benéfico, ou seja,
quando falamos em riscos e oportunidades não nos referimos somente
a questões que podem afetar de maneira negativa o nosso processo,
mas temos que avaliar cada questão de modo a enxergarmos as

52
52
oportunidades que essas adversidades nos trazem, tendo uma visão
mais holística, buscando a previsão e mitigação de riscos.

Outro ponto muito pertinente à norma e tratado de forma contínua por


essa é a questão do ciclo de vida do produto ou serviço, que engloba
desde a aquisição da matéria-prima até o seu descarte e disposição final.
Esse ciclo deve ser avaliado de forma constante, de modo que todos os
riscos e oportunidades sejam previstos e mitigados ou aproveitados ao
máximo, por meio da aplicação do ciclo PDCA.

A organização deve ser entendida e contextualizada através da


determinação das suas questões internas e externas, de modo que
todos os seus pontos fortes e fracos estejam bem delimitados visando
à busca pelo atendimento aos objetivos ambientais traçados pela
organização. Todos esses pontos, inclusive a avaliação, que pode ser
realizada, por exemplo, por meio de uma análise aplicando a matriz
SWOT (Strength, Weakness, Opportunities e Threats), sendo traduzida como
matriz FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças), devem
constar no escopo da organização juntamente com outras questões,
como as atividades, produtos e serviços ofertados por essa.

Para o atendimento aos requisitos da norma, a organização deverá


também, conforme descrito no item 4.4 da norma ABNT NBR ISO 14001,
“estabelecer, implementar, manter e melhorar continuamente um
sistema de gestão ambiental” (ABNT, 2015). Portanto, para a empresa
que pretende ser certificada ISO 14001, deve não somente apresentar
um plano sobre o que será executado, mas deve inclusive comprovar
que este já foi implementado e melhorado, de modo que o auditor
possa comprovar que o sistema é atuante, eficiente e eficaz.

Para a norma ABNT NBR ISO 14001, seguindo os preceitos das


outras normas aplicáveis aos sistemas de gestão, como a norma ISO
9001 (Sistemas de Gestão da Qualidade), a liderança da organização
possui papel fundamental e central, onde não é possível delegar

 53
todas as funções da alta direção em relação aos assuntos pertinentes
à alta direção para um funcionário em específico, que antes era
denominado por Representante da Direção (RD). Porém, a norma
permite que sejam delegadas funções como o acompanhamento
do desempenho e a liderança em relação aos assuntos pertinentes
à norma. Em versões anteriores, o RD isentava por completo a
responsabilidade da direção, que não precisava ter conhecimento
sobre o desempenho do sistema de gestão ambiental. Na revisão
de 2015, a norma permite que seja delegado o acompanhamento,
porém os resultados devem ser relatados à alta direção, que deve
acompanhar o desempenho do sistema de gestão ambiental.

Além disso, “a alta direção deve estabelecer, implementar e manter


uma política de gestão ambiental” (ABNT, 2015), que deve estar
alinhada aos objetivos e estratégias da organização, levando em
consideração o contexto no qual esta está inserida. A política de gestão
ambiental deve ser mantida documentada e ser divulgada a todos os
colaboradores e partes interessadas, devendo esta ser uma forma de
comprometimento da organização com a sustentabilidade do meio
ambiente e dos seus processos, que devem atender a requisitos legais
e específicos, além de serem melhorados de forma contínua, visando
ao desempenho ambiental.

Para auxiliar a alta direção nas suas funções, esta pode atribuir
autoridade, por exemplo, aos gestores de área, para que esses
possam assegurar o atendimento aos requisitos normativos, bem
como relatar o desempenho deste para a alta direção, porém essa
delegação não pode extrair da alta direção a responsabilidade pelo
sistema de gestão ambiental.

O planejamento do sistema de gestão ambiental deve levar em


consideração os riscos e oportunidades envolvidos nos negócios da
organização, estando esses em acordo com os itens abordados no
escopo do sistema de gestão ambiental da organização, bem como

54
54
com a política de gestão ambiental e os seus objetivos, de modo a
buscar a melhoria contínua aplicável para a mitigação desses riscos e
oportunidades identificados.

Os aspectos ambientais envolvidos nos processos, produtos e serviços


da organização, assim como os riscos e oportunidades, devem ser
identificados, controlados e monitorados, onde cada mudança que venha
a ocorrer deve ser devidamente planejada e analisada criteriosamente.
Sobre esses aspectos, a organização deve manter informações
documentadas, bem como os critérios utilizados para a sua identificação.

A norma ABNT NBR ISO 14001 cita que a empresa deve conhecer
os requisitos legais, bem como outros requisitos que possam estar
envolvidos com a suas atividades, bem como os seus impactos sobre
a organização, levando esses em consideração durante as fases de
estabelecimento, implantação, manutenção e melhoria contínua do
sistema de gestão ambiental.

A organização deve não somente identificar os aspectos ambientais,


requisitos, riscos e oportunidades envolvidos em sua operação, mas
também deve planejar as ações a serem tomadas sobre esses, bem
como a integração dessas ações com o sistema de gestão ambiental.
Qualquer ação que seja tomada visando à melhoria do sistema de
gestão ambiental deve ter a sua eficácia avaliada para, somente então,
tal ação ser dada como eficaz.

Segundo a norma ABNT NBR ISO 14001, os objetivos da organização


devem estar em consonância com a política ambiental, devendo
esses serem mensuráveis, monitorados, comunicados e atualizados
periodicamente. Além disso, todas as ações que possam ser aplicáveis
devem ser planejadas de modo a garantir o atendimento aos objetivos
ambientais da organização.

Segundo a norma ABNT NBR 14001:2015, dentre os recursos que a


empresa deve prover para o apoio ao sistema de gestão ambiental, a

 55
norma exige que as pessoas envolvidas sejam devidamente treinadas,
exercendo a sua função de forma competente e aplicando a sua
experiência e vivência na solução de problemas. A organização deve
conscientizar os colaboradores em relação aos impactos da sua função,
e também das atividades da organização, sobre o meio ambiente, bem
como mantê-los informados sobre a política ambiental da empresa e
os benefícios envolvidos na correta aplicação dos seus conceitos, bem
como a contribuição que cada colaborador traz para a eficácia das
ações tomadas pela organização.

A norma também traz requisitos específicos sobre comunicação,


abordando esta tanto internamente a empresa quanto externamente
a esta, uma vez que a comunicação, na atualidade, é tratada como um
ponto estratégico para a organização.

Além disso, a comunicação é um ponto de destaque dentro das


organizações, devendo garantir o bom desempenho dos trabalhos
executados.

A comunicação é um processo dinâmico e contínuo. É o processo


que permite aos membros da organização trabalhar juntos, cooperar
e interpretar as necessidades e as atividades sempre mutantes da
organização [...]. A vida da organização proporciona um sistema de
mensagens especialmente rico e variado. Os membros da organização
devem ser capazes de reconhecer e interpretar a grande variedade de
mensagens disponíveis, para que lhes permitam responder de maneira
apropriada a distintas pessoas e situações. (KEEPS, 1995, p. 28)

Contudo, para as comunicações que são correlatas ao sistema de gestão


ambiental, os requisitos da norma pedem que neste processo sejam no
mínimo atendidos os seguintes pontos:

• Deve-se esclarecer sobre o que deve ser comunicado.

• Quando uma dada comunicação deve ocorrer.

56
56
• Quais são as pessoas que devem ser comunicadas.

• Como essa comunicação irá ocorrer.

Enfim, deve existir um planejamento sobre comunicação, onde a


organização deve garantir que essa seja realizada de forma clara e
chegue aos receptores corretos para que os processos do sistema de
gestão ambiental possam seguir seu fluxo, de forma correta.

As informações documentadas constituem uma fonte importante


de informação, tanto para a comunicação interna e externa quanto
para o atendimento de requisitos da norma. Portanto, a organização
deve ter meios para gerar e arquivar as suas informações, tais
como requisitos de produto, não-conformidades, eficácia de ações
tomadas, entre outros. Embora muitas vezes esses documentos sejam
preservados somente para apresentação em processos de auditoria,
esses constituem uma fonte de informação valiosa para empresa,
como, por exemplo, a análise de uma não-conformidade que pode ser
recorrente, ou uma avaliação que permita ao gestor de um dado setor
chegar à conclusão da eficácia ou não de uma dada ação, entre outros,
constituindo esse uma fonte de conhecimento para organização.

Portanto, todas as informações documentadas devem ser


constantemente atualizadas, quando necessário, e mantidas em meios
e locais adequados, como, por exemplo, não podemos manter essas
informações em documentos impressos dentro de caixas de papelão em
uma sala com problemas de infiltração e umidade elevada, que podem
vir a danificar esses documentos.

Sobre as questões operacionais do sistema de gestão ambiental, a


norma ABNT NBR ISO 14001 traz requisitos sobre o planejamento
e operação, onde destacam-se questões como o estabelecimento
de critérios, a aplicação de requisitos presentes em normas e leis, a
determinação de aspectos ambientais para aquisição de produtos
e serviços, a comunicação sobre questões referentes aos requisitos
ambientais, entre outros.

 57
A análise de riscos ambientais também se faz necessária, uma vez que
a organização deve apresentar respostas de emergência aplicáveis para
cada risco potencial previsto e para possíveis riscos não previstos, de
forma a mitigar todos esses riscos e seus impactos.

A norma ABNT NBR ISO 14001 possui requisitos específicos sobre


questões envolvidas na avaliação de desempenho, tais como o
monitoramento, as medições, análise e avaliações, bem como auditorias
internas e a análise crítica pela direção. Todos esses pontos são
utilizados para avaliar o desempenho ambiental da organização, de
modo que esses auxiliem na identificação de novos riscos potenciais e
comprovem a eficácia das ações tomadas para a sua mitigação.

O último item presente na norma ABNT NBR ISO 14001 trata das ações
de melhoria, as quais podem ser divididas em ações corretivas e ações
de melhoria contínua, onde a primeira se refere às ações decorrentes
de não conformidades detectadas, enquanto a segunda se refere às
ações tomadas após a identificação de oportunidades de melhoria.
Ambas devem ser tratadas como sendo informação documentada para
possibilitar a análise do aprendizado por parte da organização.

A norma ainda traz os anexos A e B, os quais trazem questões de


orientação para o uso da norma e a correspondência dos itens
presentes nesta em relação a itens presentes em revisões anteriores.
Portanto, esses anexos são aplicados para facilitar o estabelecimento e a
implementação da norma na sua última revisão.

3. Auditoria dos sistemas de gestão


A auditoria é um método para avaliar a conformidade de um dado
sistema de gestão com os requisitos pré-estabelecidos por normas e
leis aplicáveis, não dependendo exclusivamente da norma específica
aplicável ao sistema em análise, como a norma ABNT NBR ISO
14001:2015. Independente da norma de gestão aplicável, a condução
da auditoria deve utilizar por base a norma ABNT NBR ISO 19011.

58
58
Esta condição é aplicável a qualquer tipo de auditoria, seja esta de
primeira, segunda ou terceira parte.

Conforme descrito na norma ABNT NBR ISO 19011:2018, a auditoria de


primeira parte é realizada pela própria organização, sendo uma auditoria
interna, a qual visa à avaliação do funcionamento do sistema de gestão
da empresa. A auditoria de segunda parte é externa, podendo ser
realizada por qualquer parte interessada, como o cliente, o fornecedor,
órgãos governamentais, entre outros. A auditoria de terceira parte é
executada por organizações terceiras, as quais não estão envolvidas
no cotidiano da empresa auditada, para evitar qualquer conflito de
interesse, sendo que tal auditoria visa à certificação da organização.

A norma ABNT NBR ISO 19011 não estabelece qualquer requisito, sendo
seu escopo baseado no fornecimento de orientações para a execução da
auditoria em sistemas de gestão. Também são dadas orientações sobre
a competência dos envolvidos no processo de auditoria, incluindo os
auditores, o gestor do programa de auditoria e a equipe de auditoria.

Essa norma é aplicada para garantir que, independentemente do


auditor que está executando a auditoria, esta seja realizada de modo a
atender os requisitos, pois diante de um dado fato, diferentes auditores
devem, em tese, chegar a conclusões similares, evitando assim que as
auditorias conduzidas por diferentes auditores apresentem resultados
distintos para situações particularmente similares.

Todos esses princípios, quando aplicados de forma conjunta, garantem


não só uma conclusão similar entre os auditores, mas também um
julgamento justo em relação à empresa, independente da conclusão
final ser a favor ou contra a certificação desta. Durante a auditoria o
auditor nada mais é do que um juiz, que irá julgar se a sistemática da
empresa é válida ou não.

Além disso, o principal papel de um auditor não é buscar não


conformidades no sistema de gestão, mas este deve buscar a
conformidade, sendo que o oposto virá como uma consequência e não

 59
como uma situação forçada. Por isso, a independência é de extrema
importância para que o julgamento não seja a favor ou contra a parte
auditada. Durante uma auditoria interna, um profissional não pode auditar
o seu próprio setor, pois existe um claro conflito de interesse neste caso.

Todas as auditorias, independentemente do tipo, devem ser planejadas


com antecedência, de modo que a organização e o setor a ser auditado
tenham ciência do momento no qual as auditorias ocorrerão, de modo
que todos os recursos requisitados estejam aptos para uso no momento
em que acontecerem. Os critérios para a auditoria também devem ser
claros e de conhecimento de todos os envolvidos, para que dessa forma
sejam evitados discussões e conflitos durante a sua execução.

O processo de auditoria é composto pelas seguintes atividades: reunião


de abertura, condução da auditoria, revisão da auditoria, reunião de
fechamento e acompanhamento, quando for necessário.

A reunião de abertura é utilizada principalmente para esclarecimentos


sobre o fluxo e critérios. A condução da auditoria é o momento onde o
auditor vai a campo, devendo este utilizar de técnicas para realização
de perguntas extraindo informações dos colaboradores, buscando
evidências de que o sistema de gestão aplicado de fato funciona e é
entendido por todos os colaboradores da organização.

A condução da auditoria também é o momento onde ocorre a emissão


das SAC’s (solicitação de ação corretiva). A revisão da auditoria é o
momento onde os auditores se reúnem para realizar o fechamento
do relatório, incluindo todas as conformidades e não conformidades
apresentadas pelo sistema de gestão em questão.

A reunião de fechamento é utilizada para apresentação do relatório


final, contendo os resultados e as conclusões, devendo serem discutidos
até que o auditado entenda e aceite todos os pontos contidos no
relatório, incluindo as não conformidades. O acompanhamento deverá

60
60
ser realizado sempre que houver a necessidade de ações corretivas, as
quais se fazem necessárias quando existirem não conformidades no
sistema de gestão.

4. Normas ABNT correlatas à ABNT NBR ISO 14001


Existem algumas normas correlatas à norma ABNT NBR ISO 14001 que
auxiliam na implementação e no funcionamento do sistema de gestão
ambiental, sendo as normas correlatas apresentadas pela Tabela 1,
onde as normas apresentadas pertencem à ISO e nem todas elas foram
traduzidas para a língua portuguesa por meio da ABNT.

Tabela 1 – Normas da série ISO 14000


NORMA
GRUPO
Série ISO 14000
ISO 14001:2015
ISO 14004:2018
Sistemas de Gestão ISO 14005:2012
Ambiental ISO 14063:2009
ISO 14064:2007
Organização ISO 14050:2012
Avaliação de Desempenho
ISO 14031:2015
Ambiental
ISO 19011:2018
Auditoria Ambiental
ISO 14015:2003
Comunicação Ambiental ISO 14063:2009
ISO 14020:2002
Rotulagem Ambiental ISO 14021:2013
ISO 14024:2004
Produto e Processo ISO 14040:2009
Avaliação do Ciclo de Vida
ISO 14044:2009
Aspectos ambientais na ISO/TR 14062:2004
padronização de produtos ISO GUIA 64:2010
Fonte: adaptada de Moraes, Pugliesi e Queiroz1 (2014 apud Moraes, 2017, p. 1).

1
MORAES, C. S. B; PUGLIESI, E.; QUEIROZ, O. T. M. M. Gestão e certificação ambiental nas organizações e as
normas da série 14000. In: MORAES, Clauciana S. B.; PUGLIESI, Érica. Auditoria e Certificação Ambiental.
Curitiba: Editora Intersaberes, 2014.

 61
Além dessas normas, muitas organizações utilizam o sistema de
gestão integrado (SGI), o qual é constituído, em geral, por esta e pelas
normas ABNT NBR ISO 9001 e ABNT NBR ISO 45001, as quais tratam de
sistemas de gestão da qualidade e de segurança e saúde no trabalho,
respectivamente. O SGI pode ser constituído por outras normas além
dessas, ou até mesmo em substituição a essas, dependendo do ramo de
atuação da organização e das pretensões desta em relação ao seu SGI.

TEORIA EM PRÁTICA
Durante uma reunião com a alta direção, você, como
gestor da área industrial, apresentou dados alarmantes
para a alta direção, onde constatou-se que a empresa deve
fazer investimentos pesados para melhoria do controle
de emissões de poluentes, os quais se encontram acima
do requerido na Resolução CONAMA nº382/2006, que
estabelece os limites máximos de emissão de poluentes
atmosféricos para fontes fixas. Um dos diretores deu a ideia
de encerrar o processo de monitoramento dessa fonte,
pois a empresa já se apoia na norma ABNT NBR ISO 14001,
como esse requisito não pertence especificamente a essa
norma, logo não precisa ser seguido. Você, como gerente
de área e um dos responsáveis pelo acompanhamento
das ações pertinentes ao sistema de gestão ambiental,
deve explicar ao diretor o porquê o pensamento dele está
errado. Quais argumentos você utilizaria?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. “A BNT NBR ISO 14001 foi elaborada no Comitê Brasileiro
de Gestão Ambiental (ABNT/CB-038) pela Comissão de
Estudo de Sistema de Gestão Ambiental (CE-038.001.001).

62
62
Esta norma é uma adoção idêntica em conteúdo técnico,
estrutura e redação à ISO 14001:2015, que foi elaborada
pelo Technical Committee Environmental Management (ISO/
TC 207), Subcommittee Enviromental Management Systems
(SC 1), conforme ISO/IEC Guide 21-1:2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT.


NBR 14001: Sistemas de gestão ambiental: Requisitos
com orientações para uso. 3. ed. Rio de Janeiro: ABNT,
2015. 41 p.

Sobre essa norma, é correto afirmar que:

a. Tem como um de seus principais objetivos a


obtenção de produtos e serviços que atendam
requisitos de qualidade.

b. Aborda a melhoria contínua de forma diferente das


demais normas, uma vez que se trata de requisitos
para o meio ambiente.

c. Essa norma trata dos requisitos com orientações


para uso dos sistemas de gestão ambiental.

d. Visa à segurança no trabalho, sendo esse um dos


seus principais objetivos.

e. Trata da gestão energética, visando à redução de


gastos pelo gerenciamento da energia.

2. Assinale a alternativa que traz um dos meios


utilizados pela norma ABNT NBR ISO 14001 para
atingir os seus objetivos.

 63
a. A empresa deve possuir meios de prevenir ou mitigar
os impactos na qualidade do produto.

b. A empresa deve possuir meios de implementar


e controlar o aumento do desempenho dos
seus produtos.

c. A empresa deve ser capaz de alcançar benefícios


financeiros e operacionais, que resultem na segurança
e saúde dos seus funcionários.

d. A empresa deve possuir meios que permitam o


conhecimento de todas as informações pertinentes às
questões da qualidade, pelas partes interessadas

e. A empresa deve possuir meios para mitigar efeitos


adversos do meio ambiente na organização

3. A auditoria é um método para avaliar a conformidade


de um dado sistema de gestão com os requisitos
pré-estabelecidos por normas e leis aplicáveis. Para
a condução da auditoria, deve-se utilizar por base a
norma ABNT NBR ISO 19011. Sobre os processos de
auditoria é correto afirmar que:

a. A auditoria de primeira parte é aquela executada pela


própria empresa, visando à certificação conforme a
norma pertinente.

b. A auditoria de terceira parte é executada por


organizações terceiras, para evitar qualquer conflito
de interesse.

c. A auditoria de terceira parte deve ser realizada


por um fornecedor.

64
64
d. A auditoria de segunda parte é aquela executada pelo
órgão certificador.

e. A auditoria de primeira parte é aquela executada por


um órgão governamental.

Referências bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 14001: Sistemas de
gestão ambiental: Requisitos com orientações para uso. 3. ed. Rio de Janeiro: ABNT,
2015. 41 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT. NBR 19011: Diretrizes para
auditoria de sistemas de gestão. 3. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2018. 53 p.
BRASIL. Lei nº 4150, de 21 de novembro de 1962. Institui O Regime Obrigatório de
Preparo e Observância das Normas Técnicas nos Contratos de Obras e Compras do
Serviço Público de Execução Direta, Concedida, Autárquica ou de Economia Mista,
Através da Associação Brasileira de Normas Técnicas e dá Outras Providências.
Brasília, DF, 21 nov. 1962.
ISO. ABOUT US. 2019. Disponível em: https://www.iso.org/about-us.html. Acesso em:
20 ago. 2019.
KREEPS, Gary L. La comunicación en las organizaciones. 2.. ed. Buenos Aires:
AddisonWesley Iberoamericana, 1995.
MMA. Ministério do Meio Ambiente. Resolução nº 382, de 26 de dezembro de 2006
– Estabelece os limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos para fontes
fixas. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res06/res38206.
pdf. Acesso em: 26 nov. 2019.
MORAES, Clauciana Schmidt Bueno de et al. A Norma ISO 14005 como instrumento
de implementação de sistemas de gestão ambiental em pequenas e médias
empresas. Revista Espacios, Caracas, Venezuela, v. 38, n. 16, p. 1-16, 2017. Anual.
Disponível em: https://www.revistaespacios.com/a17v38n16/17381606.html.
Acesso em: 18 out. 2019.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: C
Resolução: A ABNT NBR ISO 14001 foi elaborada no Comitê Brasileiro
de Gestão Ambiental (ABNT/CB-038) pela Comissão de Estudo

 65
de Sistema de Gestão Ambiental (CE-038.001.001). Esta norma é
uma adoção idêntica em conteúdo técnico, estrutura e redação
à ISO 14001:2015, que foi elaborada pelo Technical Committee
Environmental Management (ISO/TC 207), Subcommittee Enviromental
Management Systems (SC 1), conforme ISO/IEC Guide 21-1:2015.
O sistema de gestão ambiental, assim como todos os demais
sistemas de gestão baseados nas normas ISO, deve buscar a
melhoria contínua por meio da aplicação do ciclo PDCA (Planejar
– Fazer – Checar – Agir). A norma ABNT NBR ISO 45001 trata das
questões pertinentes à segurança e saúde ocupacional, enquanto a
norma ABNT NBR ISO 50001 trata da gestão energética.
Questão 2 – Resposta: E
Resolução: A norma trata de questões como meio ambiente e
sustentabilidade, onde, segundo a norma ABNT NBR ISO 14001,
esta norma auxilia as empresas nos desenvolvimentos dos
seguintes meios, que são utilizados para atingir esses objetivos:
• A empresa deve possuir meios de prevenir ou mitigar os
impactos ambientais adversos.
• A empresa deve possuir meios para mitigar efeitos adversos do
meio ambiente na organização.
• A empresa deve ser capaz de atender a requisitos legais e
outros requisitos que impactem na sustentabilidade do meio
ambiente e da própria empresa.
• A empresa deve possuir meios de implementar e controlar o
aumento do seu desempenho ambiental.
• A empresa deve possuir meios de controlar ou influenciar os
seus produtos e serviços desde o seu projeto até o seu descarte,
prevendo e prevenindo possíveis impactos ambientais no ciclo
de vida do produto.
• A empresa deve ser capaz de alcançar benefícios financeiros e
operacionais que resultem na sustentabilidade dos seus processos.

66
66
• A empresa deve possuir meios que permitam o conhecimento
de todas as informações pertinentes às questões ambientais
pelas partes interessadas.
Questão 3 – Resposta: B
Resolução: Quanto ao executor da auditoria, existem três formas
de uma organização ser auditada, auditoria de primeira parte,
auditoria de segunda parte e auditoria de terceira parte. A auditoria
de primeira parte é realizada pela própria organização, sendo
uma auditoria interna, a qual visa à avaliação do funcionamento
do sistema de gestão da empresa. A auditoria de segunda parte
é externa, podendo ser realizada por qualquer parte interessada,
como o cliente, o fornecedor, órgãos governamentais, entre
outros. A auditoria de terceira parte é executada por organizações
terceiras, as quais não estão envolvidas no cotidiano da empresa
auditada para evitar qualquer conflito de interesse, sendo que tal
auditoria visa à certificação da organização.

 67
Prevenção de subprodutos,
economia de átomos, sínteses
de compostos de menor
toxicidade, desenvolvimento de
compostos seguros, diminuição
de solventes e auxiliares
Autor: Bruno Pizol Invernizzi

Objetivos

• Conhecer exemplos aplicados na prevenção


de subprodutos.

• Entender o conceito de economia de átomos.

• Compreender como o uso de solventes e


auxiliares podem ser reduzidos.

68
68
1. Subprodutos
Segundo Leite (2003), podemos definir subproduto como sendo
produtos resultantes do processo de produção, porém possuem baixo
ou nenhum valor agregado. Portanto, comumente são tratados como
rejeito, sendo passíveis de disposição final.

Contudo, esta definição nos remete a todos os materiais e substâncias


que, independentemente do seu estado físico, resultam de um
processamento para obtenção de um dado produto, porém esses não
costumam ser de interesse dos clientes, tendo um valor agregado muito
baixo para serem negociados nos canais logísticos diretos. Portanto, são
materiais que quando a apresentam alguma utilidade são integrados
aos canais de logística reversa, servindo, comumente, de matéria-prima
para algum outro processo produtivo, atendendo aos requisitos do que
se classifica como resíduo sólido.

Como exemplos podemos citar as sementes e as cascas que são


extraídas das frutas durante os processos de extração do suco, bagaço
da cana-de-açúcar, ossos, couro e pele de animais utilizados para o
consumo humano, cavacos de metais resultantes de processos de
usinagem, entre inúmeros outros que poderiam ser citados aqui.

Todos os processos produtivos, de alguma forma, acabam por


resultar em subprodutos, porém esses não necessariamente serão
tratados como rejeito dentro das organizações onde a disposição final
ambientalmente adequada é a última opção para esses subprodutos.

Desse modo, deve-se buscar a eliminação desses o máximo possível por


meio da redução na sua geração. Após essa redução atingir o seu ponto
máximo possível, para os recursos e tecnologias disponíveis, deve-se
buscar a reutilização desses materiais, devendo ser reaproveitados
diretamente em outros processos. Quando esse reaproveitamento
direto não for possível, deve-se então buscar meios para reciclar esse
material, permitindo a sua aplicação em outros processos produtivos,
eliminando ao máximo a produção de rejeitos.

 69
Como exemplos de reaproveitamento de materiais, pode ser citado o
trabalho apresentado por Nogueira e Garcia (2014), onde foi realizada
uma pesquisa exploratória sobre os subprodutos da cana-de-açúcar,
que são o bagaço e a palha, a vinhaça, também conhecida como vinhoto,
as cinzas, a torta de filtro, entre outros que podem resultar do processo,
incluindo setores administrativos.

Para este caso da cana-de-açúcar, a vinhaça é o maior vilão ambiental,


tratando-se de um resíduo ácido, com pH entre 4,0 e 4,8. Segundo
Nogueira e Garcia, para cada 1 litro de etanol produzido são gerados de
10 a 18 litros de vinhaça. Esse subproduto vem sendo utilizado como
fertilizante para o solo, trazendo diversos benefícios, como a elevação
do pH, aumento da retenção de água, melhoria da estrutura física do
solo, entre outros.

O bagaço e a palha, por sua vez, têm sido empregados na geração de


energia elétrica, sendo responsável, segundo dados apresentados por
Nogueira e Garcia, por 80% da bioeletricidade gerada no Brasil.

A torta de filtro é subproduto da filtragem do lodo, que é resultante do


processo de decantação do caldo de cana, sendo empregado na lavoura
e na compostagem, uma vez que esse subproduto é rico em cálcio,
fósforo e micronutrientes.

Por fim, dos mais importantes, faltou falar das cinzas, que são oriundas
da queima do bagaço na caldeira durante o processo de recuperação
para geração de bioeletricidade. Como destinação final ambientalmente
adequada, esse subproduto é aplicado no solo para adubação.

ASSIMILE
Bioeletricidade é a conversão da energia de ligação dos
átomos, presentes no material, em energia elétrica, que
é realizada em uma usina similar às usinas termelétricas,

70
70
porém no lugar de gás e carvão se utiliza um subproduto
orgânico, como é o caso do bagaço e da palha da cana.
A energia gerada na queima desse material é utilizada
para ferver a água presente em uma caldeira. O vapor
dessa água é o responsável por girar a turbina da usina
termelétrica, onde o prolongamento do eixo dessa turbina
fica dentro de uma bobina, resultando na geração de
energia elétrica.

Conforme Santos et al.1 (2003 apud SILVA JÚNIOR, 2015, p. 18), outro
exemplo de aplicação dada a subprodutos é comumente utilizado pelo
setor de alimentos, onde a fabricação dos embutidos utiliza partes de
suínos, como as vísceras, miúdos e o sangue para elaboração de diversos
alimentos. Também são utilizadas partes cartilaginosas, tais como a
orelha, em conjunto com outros órgãos, como a pele e as tripas, para a
fabricação do chamado queijo suíno, que pode ser visto na Figura 1.

Figura 1 – Corte de queijo suíno (headcheese)

Fonte: ALLEKO/iStock.com.

Em estudo realizado por Ferrari, Colussi e Ayub (2004), utilizando a


semente de maracujá para avaliação de possíveis aplicações para
este subproduto, chegaram à conclusão que essa semente possui
valores proteicos e ácidos graxos insaturados excelentes, tanto para o
1
SANTOS, E. M. et al. Physicochemical and sensory characterization of “morcilla de Burgos”, a tradicional Spa-
nish blood sausage. Meat Science, 65, 893-898, 2003.

 71
consumo humano quanto animal, além de poderem ser empregados
em cosméticos, dando para essas sementes outro destino final
ambientalmente correto, que não o plantio.

Saindo um pouco da indústria alimentícia, existem exemplos em outras


indústrias, como o caso apresentado na dissertação escrita por Kern
(1999), que realizou um estudo de viabilidade para utilizar um resíduo
sólido da indústria de calçados, denominado por contraforte, na
fabricação de gesso para construção civil.

“O contraforte é um componente à base de polímeros, utilizado nas


regiões do calcanhar do calçado, com a finalidade de armar, reforçar, dar
forma, beleza e segurança, buscando a perfeita reprodução da forma do
sapato, evitando o acalcanhamento” (KERN, 1999).

Como conclusão no seu trabalho, Kern (1999) julgou ser possível


a utilização de contrafortes na matriz de gesso, onde uma simples
moagem e mistura deste componente pode ser realizada por meio de
um moinho ou de uma betoneira, em uma proporção de até 25%. O que
tornou viável a utilização do contraforte seriam as suas propriedades,
onde se destacam as elevadas resistências mecânica e química, as quais
são interessantes para este tipo de aplicação na construção civil.

2. Economia de átomos

Seguindo os 12 princípios da química verde propostos por Anastas e


Warner2 (2001 apud ORTIZ, 2007, p. 6), temos que o segundo princípio é
a economia de átomos:
Deve-se projetar metodologias que possam maximizar a incorporação de
todos os compostos de partida no produto final, reduzindo a produção de
subprodutos. As reações de adição, por exemplo, seguem este princípio,
o que não acontece com as reações de eliminação. (ANASTAS e WARNER2,
2001 apud ORTIZ, 2007, p. 6)

2
Anastas, P. T.; Kirchhoff, M. M.; Williamson, T. C. Applied Catálises A: General 2001,

72
72
Esse princípio estabelece, portanto, a redução da geração de
subprodutos, onde deve-se utilizar um balanço entre átomos de
entrada (matéria-prima) e átomos de saída (produto), visando ao
melhor aproveitamento possível dos átomos de entrada, de modo
que, se possível, todos os átomos de entrada devem formar o produto,
evitando assim que o processo resulte em subprodutos. Logicamente
que nem sempre é possível a obtenção de um balanço perfeito entre
a entrada e a saída de modo a não gerar subprodutos, porém essa
geração pode ser ao menos reduzida.

Conforme citado por Ortiz (2007), embora Anastas e Werner tenham


publicado os 12 princípios da química verde, quem difundiu o conceito
de economia de átomos foi Trost3 (2002). Comumente para o cálculo do
rendimento em porcentagem (%R) aplica-se a equação 1.

Eq. 1

Porém, conforme observado por Ortiz (2007), tal equação não traz a
relação entre os produtos e os subprodutos formados, sendo focada
somente nos rendimentos reais e teóricos do produto.

Como a ideia do segundo princípio se baseia na eliminação dos


subprodutos, deve-se aplicar uma fórmula que ilustre melhor a relação
entre o produto e o subproduto, para tal a fórmula a ser aplicada para
considerar a economia atômica expressa em porcentagem (%A) é dada
pela equação 2.

Eq. 2

Porém, como por vezes a obtenção da massa molecular (M.M.) dos


subprodutos é difícil de ser calculada, pode aplicar a Lei de Conservação
das Massas, que traz uma formula similar, porém ao invés de considerar
as substâncias produzidas, considera a massa molecular dos reagentes,
3
Trost, B. M. Acc. Chem. Res. 2002, 35, 695.

 73
sendo expressa conforme a equação 3, que traz o percentual de
economia de átomos (% e.a.).

Eq. 3

Portanto, quanto maiores forem os percentuais apresentados pelas


equações 2 e 3, menor será a quantidade de subprodutos gerados,
resultando em uma maior economia de átomos.

Além do conceito introduzido por Trost, outro conceito que se difundiu


visando avaliar a eficiência de um processo foi o de fator E, que vem
de Environmental Factor (fato ambiental), difundido por Sheldon4 (1997).
O fator E é dado pela equação 4 (calculada com as unidades em kg), que
também visa avaliar o desempenho considerando a geração de resíduos:

Eq. 4

Como o fator E foca nos subprodutos e não no produto, quanto


maior for o valor obtido para essa equação, maior será a quantidade
de subprodutos, portanto menos ambientalmente correto será
este processo. A Tabela 1 possui o fator E para algumas indústrias
químicas, onde é possível realizar a comparação dessas em relação aos
subprodutos gerados.

Tabela 1 – Dados de fator E para os diferentes tipos de indústria química

Tipo de Indústria Produção (Ton/ano) fator E


Refinarias de Petróleo de 1 a 100 milhões cerca de 0,1

Química Pesada de 10 mil a 1 milhão de menos de 1 a 5

Química Fina de 10 a 100 mil de 5 a 50

Química Farmacêutica de 10 mil a milhares de 25 a mais de 100

Fonte: adaptada de Ortiz, 2007, p. 25.

4
Sheldon, R. A. Chemistry & Industry, 1997, 3, 354.

74
74
3. Sínteses de compostos de menor toxicidade

Para que uma organização possa produzir compostos de menor


toxicidade, essa deve entender o conceito de toxicidade para avaliar se
o seu processo resulta em produtos, subprodutos, resíduos ou rejeitos
que sejam enquadrados neste conceito.

Agente tóxico: qualquer substância ou mistura cuja inalação, ingestão


ou absorção cutânea tenha sido cientificamente comprovada como
tendo efeito adverso (tóxico, carcinogênico, mutagênico, teratogênico ou
ecotoxicológico). (ABNT, 2004)

Toxicidade: propriedade potencial que o agente tóxico possui de


provocar, em maior ou menor grau, um efeito adverso em consequência
de sua interação com o organismo. (ABNT, 2004)

Toxicidade aguda: propriedade potencial que o agente tóxico possui de


provocar um efeito adverso grave, ou mesmo morte, em consequência de
sua interação com o organismo, após exposição a uma única dose elevada
ou a repetidas doses em curto espaço de tempo. (ABNT, 2004)

Contudo, caso o processo da empresa resulte em compostos que


atendam às definições dadas acima, essa deve tomar providências para
eliminar, ou ao menos reduzir, a toxidade desses compostos, sempre
que possível.

A empresa deve também avaliar se os reagentes e matérias-primas


utilizados no seu processo produtivo apresentam tais características,
devendo traçar estratégias para eliminar ou ao menos reduzir a
aplicação desses, sempre que possível.

Para auxiliar as organizações na avalição da toxicidade de compostos


resultantes no seu processo produtivo, a norma ABNT NBR 10004 possui
anexos contendo resíduos sólidos, substâncias tóxicas e substâncias
agudamente tóxicas, podendo esses compostos ser analisados de
acordo com esses anexos.

 75
Quando as substâncias e compostos empregados e produzidos pela
organização não estiverem presentes nos anexos citados anteriormente,
a norma ABNT NBR 10004 descreve quais outros critérios devem ser
adotados, tendo por base a norma ABNT NBR 10007.

A identificação e mitigação da toxicidade de compostos são


procedimentos aplicados para garantir o atendimento ao terceiro
princípio da química verde que diz que “sempre que possível, as
metodologias de síntese devem ser concebidas para a utilização e
geração de substâncias que possuem pouca ou nenhuma toxicidade
para a saúde humana e para o meio ambiente” (WARNER; CANNON e
DYE5, 2004 apud Silveira, 2015, p. 7).

Segundo Silveira (2015), um exemplo da aplicação desse princípio é


a produção do inseticida CONFIRMTM6, que foi classificado pela EPA
(Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos da América) como
um produto de baixo risco, pelo fato de este causar prejuízos somente à
forma de vida para o qual é destinado.

Portanto, mesmo produtos que necessitam da toxicidade para cumprir


com a sua função primária podem ter a sua composição otimizada de
modo a reduzir os seus efeitos toxicológicos nos demais organismos vivos.

PARA SABER MAIS


Para avaliar se um dado composto é tóxico, são
utilizados ratos e coelhos de laboratório, sendo
estipulada uma dada dose máxima a ser aplicada, via
oral, aérea ou em contato com a pele do animal. Caso a
dose máxima apresente reação, por qualquer dos meios,
então o composto é tido como tóxico. Por exemplo,
conforme a norma ABNT NBR 10004 (ABNT, 2004), se o

5
Warner, J. C.; Cannon, A. S.; Dye, K. M. Environ. Impact Assess. Rev. 2004, 24.
6
Marca comercial de inseticida registrada pela ROHN & HAAS Company, que é uma empresa subsidiária da
Dow Chemical Company

76
76
estudo de um dado resíduo demonstrar uma DL50 (dose
letal para 50% dos animais testados) oral para ratos
menor que 50 mg/kg, este resíduo é considerado tóxico.
Portanto, se os ratos precisarem de uma dose superior a
essa para que 50% dos animais testados venham a óbito,
esse resíduo não seria considerado como sendo tóxico.

4. Desenvolvimento de compostos seguros


Conforme a norma ABNT NBR 10004 (ABNT, 2004), a periculosidade
de um resíduo pode ser definida como uma característica desse, com
base nas suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas
que resultem em riscos à saúde pública ou ao meio ambiente,
podendo ainda afetar ambos. As características que levam um resíduo
a ser classificado como perigoso são: inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxicidade e patogenicidade.
Embora a norma ABNT NBR 10004 seja aplicável aos resíduos sólidos,
pode-se estender o seu entendimento e aplicação a outros elementos,
tais como reagentes, matérias-primas e compostos resultantes de
processos químicos dentro de uma organização.
Segundo Silveira (2015), um exemplo do desenvolvimento de
substâncias seguras é a substituição do OTBE (óxido de tributilestanho)
pelo DCOI (4,5-dicloro-2-n-octil-4-isotiazolina-3-ona), que são utilizados
em navios para a prevenção da corrosão e outros danos resultantes
da presença de limo. O OTBE é uma substância patogênica que possui
características mutagênicas.
O desenvolvimento de compostos seguros é descrito pelo quarto
princípio da química verde, o qual estabelece que “os produtos químicos
devem ser projetados para preservar a eficácia da função, reduzindo a
toxicidade” (WARNER; CANNON e DYE7, 2004 apud SILVEIRA, 2015, p. 7).

7
Warner, J. C.; Cannon, A. S.; Dye, K. M. Environ. Impact Assess. Rev. 2004, 24.

 77
5. Diminuição de solventes e auxiliares

Segundo Silveira (2015), os solventes e auxiliares apresentam riscos,


como a toxicidade, devido ao fato de geralmente serem aplicados
solventes que contêm compostos orgânicos, necessitando cuidados
especiais tanto para a sua manipulação quanto no seu armazenamento
e transporte, além do fato de possuírem uma destinação final
ambientalmente correta difícil, uma vez que a recuperação e reutilização
desses é limitada. A disposição final ambientalmente correta desses
produtos também constitui um problema, uma vez que, em geral, esses
apresentam riscos ao meio ambiente.

Complementando o pensamento anterior, Lenardão et al. (2003) diz


que na indústria química tem-se grande aplicações dos solventes
orgânicos, que possuem processos de reutilização inviáveis devido ao
seu alto custo. Devido a essa questão, a disposição final desse material
acaba por ser realizada de forma ambientalmente incorreta, sendo
lançado em corpos d’água, no solo e no ar, resultando na contaminação
do meio-ambiente.

Lenardão et al. (2003) cita ainda que existem algumas alternativas à


utilização desses solventes que são mais ambientalmente corretas, onde
esses solventes alternativos são denominados solventes verdes, como os
fluidos supercríticos, onde comumente utiliza-se o CO2, líquidos iônicos
à temperatura ambiente, hidrocarbonetos perfluorados e até mesmo a
água. Também é citada a questão de alguns casos onde os solventes são
totalmente eliminados, o que seria o melhor caso possível, uma vez que
esses processos sem solvente resultam na redução de resíduos.

Reações sem solvente podem ser realizadas com condições experimentais


simples, por moagem, agitação, irradiação de micro-ondas ou
aquecimento convencional. Este tipo de processo possui um menor
tempo de reação e suas metodologias e procedimentos de purificação são
simples. (SILVEIRA, 2015, p. 10)

78
78
Portanto, de acordo com Silveira (2015), é possível realizar processos
químicos sem a necessidade de utilizar solventes e auxiliares, uma
vez que para o caso de substâncias líquidas, pode-se obter resultados
similares através da modificação de parâmetros de processo,
como a questão do aquecimento, ou por outros meios que seriam
ambientalmente mais corretos do que a utilização de solventes, como a
irradiação por micro-ondas. A moagem é aplicada aos reagentes em fase
sólida, sendo, para estes casos, o processamento mais aplicado.

Segundo Silveira (2015), as reações de moagem resultam em


aumento de temperatura devido à trituração de cristais dos
reagentes e substratos, consistindo em um processo de baixo custo e
ambientalmente mais correto do que a aplicação de solventes.

Apesar dos pontos fortes mencionados por Silveira (2015), não


podemos esquecer que a moagem pode resultar na contaminação do
produto pelo material utilizado nos elementos de moagem (esferas
de moagem, por exemplo), portanto esses devem ser escolhidos com
cuidado para evitar danos ao produto, além do fato de o tempo de
moagem influenciar diretamente na contaminação, sendo diretamente
proporcional a essa ocorrência.

Quando o uso de solvente é indispensável, então deve-se recorrer aos


demais solventes sugeridos por Lenardão (2003), que também são
citados por Silveira (2015). Destes, podemos destacar a utilização da
água como solvente, uma vez que esse seria o mais ambientalmente
correto, uma vez que o seu descarte é fácil, porém deve-se atentar
para possíveis subprodutos que sejam formados, já que esses podem
contaminar a água, necessitando algum tratamento prévio para seu
despejo na rede pública de esgoto ou em corpos d’água (mananciais,
rios, lençóis freáticos, entre outros).

Como desvantagem à aplicação da água como solvente, Silveira


(2015) cita fatos como a baixa solubilidade para diversos compostos
orgânicos, além do fato de essa ser incompatível com reagentes e

 79
catalizadores presentes na reação, podendo ainda promover a hidrólise
desses reagentes, processo que competiria com a formação do
produto desejado.

Outra possibilidade citada tanto por Lenardão (2003) quanto por Silveira
(2015) é a aplicação de fluidos supercríticos e líquidos iônicos, os quais,
de acordo com Silveira (2015), também podem ser considerados como
solventes verdes.

“Um solvente supercrítico é aquele que, a certa temperatura e pressão,


existe como um fluido num estado intermediário entre líquido e gás”
(SILVEIRA, 2015, p. 12). O diagrama de fases apresentado na Figura 2
ilustra o ponto supercrítico. Silveira (2015) traz o exemplo do dióxido de
carbono supercrítico, que para se encontrar nessa condição é aplicado
como solvente à temperatura de 31 °C e pressão de 73 atm.

Figura 2 – Diagrama de fases de uma substância pura

Fonte: adaptada de Silveira (2015, p. 12).

Conforme Silveira (2015), os líquidos iônicos são assim chamados


por serem constituídos por íons, cátions e ânions, e possuem grande
interesse para aplicações de químicos orgânicos e analíticos.
As características desses solventes são baixa pressão de vapor, não-
volatilidade e estabilidade térmica, além de serem considerados solventes
universais, devido à sua capacidade de dissolver um grande número de
compostos orgânicos e gases e não se complexarem com complexos
metálicos. (SILVEIRA, 2015, p. 13).

80
80
Além dos pontos mencionados, Silveira (2015) também cita que
esses solventes são recuperáveis e recicláveis, sendo, portanto,
ambientalmente mais corretos do que os solventes convencionais que
dificilmente podem ser recuperados e reciclados.

Portanto, nota-se que existem alternativas dentro da indústria química


para tornar a sua prática mais ambientalmente correta, desmistificando
a ideia clássica de que química é algo ruim e só resulta em degradação
do meio ambiente.

TEORIA EM PRÁTICA
Em uma indústria química são utilizados como solvente a
água e o benzeno. Devido à onda verde, que resultou em
leis mais rígidas, a alta direção da indústria química em
questão decidiu eliminar o benzeno das suas operações.
Para tal, chamaram você, que é o gerente de produção,
para dar possíveis soluções para o caso. Contudo, o
primeiro ponto é explicar para a alta direção por que a
água não pode ser utilizada como solvente no lugar do
benzeno, já que essa é um solvente universal. O segundo
ponto é propor o que pode ser feito para eliminar o
benzeno do processo produtivo.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. A definição de subproduto nos remete a todos os


materiais e substâncias que, independentemente do
seu estado físico, resultam de um processamento para
obtenção de um dado produto, porém esses não

 81
costumam ser de interesse dos clientes, tendo um valor
agregado muito baixo para serem negociados nos canais
logísticos diretos. Sobre os subprodutos, assinale a
alternativa que traz somente exemplos que podem ser
considerados dentro da sua definição.

a. Poupa de fruta, vinhaça e miúdos suíno.

b. Sementes, etanol e miúdos suínos.

c. Sementes, vinhaça e costela suína.

d. Poupa de fruta, etanol e costela suína.

e. Sementes, vinhaça e miúdos suínos.

2. O segundo princípio da química verde prega a redução


da geração de subprodutos, onde se deve utilizar um
balanço entre átomos de entrada (matéria-prima)
e átomos de saída (produto), visando ao melhor
aproveitamento possível dos átomos de entrada,
de modo que, se possível, todos os átomos de
entrada devem formar o produto, evitando assim
que o processo resulte em subprodutos. Sobre esse
princípio, assinale a alternativa correta.

a. O cálculo da economia atômica (%A) é executado com


base no rendimento teórico dos produtos.

b. O fator E foca nos subprodutos e não no produto.

c. O cálculo do rendimento em porcentagem (%R)


é realizado com base na massa molecular dos
subprodutos.

82
82
d. O percentual de economia de átomos (% e.a.)
é realizado com base na massa molecular dos
subprodutos.

e. O fator E não é calculado com base nos subprodutos.

3. Com o intuito de guiar os profissionais do setor químico


no desenvolvimento de produtos e processos que
atendam aos preceitos da química verde, Anastas
e Warner8 (1998 apud CHANSHETTI, 2014, p. 112)
desenvolveram o que ficou conhecido como sendo os
doze princípios da química verde.
Pensando nos 12 princípios da química verde, assinale a
alternativa correta.

a. A organização deve eliminar os seus subprodutos para


atender aos princípios da química verde.

b. A água é o solvente universal, portanto todos os


solventes devem ser substituídos pela água.

c. A periculosidade de um resíduo pode ser definida


como uma característica deste, com base nas suas
propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas
que resultem em riscos à saúde pública ou ao meio-
ambiente, podendo ainda afetar ambos

d. As características dos solventes iônicos são alta


pressão de vapor, volatilidade e instabilidade térmica.

e. Embora os solventes sejam estritamente perigosos, a


sua disposição final ambientalmente adequada é fácil
de ser realizada.

8
P. Anastas and J. C. Warner, Green Chemistry: Theory and Practice; Oxford Science Publications, Oxford, 1998.

 83
Referências bibliográficas
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Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal/SP, v. 26, n. 1, p. 101-102, abr. 2004. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/rbf/v26n1/a27v26n1.pdf. Acesso em: 28 ago. 2019.
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portal2-repositorio/File/coqui/TCC/Monografia-TCC-Ana_Debora_P_Silveira-20152.
pdf. Acesso em: 30 ago. 2019.

84
84
VALENTE, Joana Miguel Leite Duarte. Subprodutos alimentares: novas alternativas
e possíveis aplicações farmacêuticas. 2015. 78 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de
Mestrado em Ciências Farmacêuticas, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade
Fernando Pessoa, Porto, Portugal, 2015. Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/
bitstream/10284/5312/1/PPG_23519.pdf . Acesso em: 28 ago. 2019.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: E
Resolução: Conforme descrito no texto, poupa de fruta é utilizada
como produto na industrialização de sucos de caixinha, por
exemplo, enquanto as sementes são tratadas como subprodutos.
A vinhaça é um subproduto obtido na produção do etanol.
A costela suína é uma carne comumente comercializada em
açougues tendo alto valor agregado, enquanto os miúdos,
juntamente com outras partes menos valorizadas dos suínos,
acabam por ser tratados como subprodutos.
Questão 2 – Resposta: B
Resolução: O cálculo do rendimento em porcentagem (%R) leva
em consideração o rendimento do produto obtido e o rendimento
teórico do produto. O cálculo da economia atômica expressa em
porcentagem (%A) leva em consideração a massa molecular do
produto desejado e a massa molecular de todas as substâncias
produzidas. O cálculo do percentual de economia de átomos (%
e.a.) leva em consideração a massa molecular do produto desejado
e a massa molecular dos reagentes. O cálculo do fator E, por sua
vez, foca nos subprodutos e não no produto.
Questão 3 – Resposta: C
Resolução: A eliminação dos subprodutos é desejável, porém
a química verde reconhece que, na maioria dos casos, com as
tecnologias atuais, a eliminação é inviável, portanto, prega a
redução desses. Como desvantagem à aplicação da água como

 85
solvente, Silveira (2015) cita fatos como a baixa solubilidade
para diversos compostos orgânicos, além do fato de essa ser
incompatível com reagentes e catalizadores presentes na reação,
podendo ainda promover a hidrólise desses reagentes, processo
que competiria com a formação do produto desejado, contudo, na
prática, a substituição de todos os solventes por água é inviável.
Conforme a norma ABNT NBR 10004, a periculosidade de um
resíduo pode ser definida como uma característica deste, com base
nas suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas que
resultem em riscos à saúde pública ou ao meio-ambiente, podendo
ainda afetar ambos. As características que levam um resíduo a ser
classificado como perigoso são: inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxicidade e patogenicidade. Sobre a aplicação
dos líquidos iônicos “As características desses solventes são
baixa pressão de vapor, não-volatilidade e estabilidade térmica”
(SILVEIRA, 2015, p. 13). Segundo Silveira (2015), os solventes e
auxiliares apresentam riscos, como a toxicidade, devido ao fato
de geralmente serem aplicados solventes que contêm compostos
orgânicos, necessitando cuidados especiais tanto para a sua
manipulação quanto no seu armazenamento e transporte, além do
fato de possuírem uma destinação final ambientalmente correta
difícil, uma vez que a recuperação e reutilização desses é limitada.
A disposição final ambientalmente correta desses produtos
também constitui um problema, uma vez que, em geral, esses
apresentam riscos ao meio ambiente.

86
86
Sustentabilidade em materiais,
economia circular e seu impacto
Autor: Bruno Pizol Invernizzi

Objetivos

• Conhecer os conceitos envolvidos na


sustentabilidade.

• Correlacionar sustentabilidade e as aplicações


dos materiais.

• Compreender o que vem a ser a economia circular.

• Entender as consequências da economia circular.

 87
1. Sustentabilidade

Segundo Mikhailova (2004), o termo sustentabilidade, que vem sendo


amplamente empregado na atualidade, tem diversas interpretações
que resultaram em uma ampliação muito grande do seu significado.
Entre tantas interpretações possíveis, a autora cita que todas possuem
um ponto em comum: a sustentabilidade deve ser tratada como
transdisciplinar, uma vez que os conceitos ambientais são extensos,
passando por diversas áreas do conhecimento.

Mikhailova (2004) cita que, embora a sociedade humana tenha passado


a dar um maior enfoque ao meio ambiente após a década de 1970, antes
disso já havia uma preocupação do homem em relação a isto, embora
de forma mais discreta, citando como exemplo que a escola econômica
clássica prega que uma economia saudável possui três fatores que
atuam em conjunto: a terra, o capital e o trabalho. Neste conceito,
a terra representa o meio ambiente e não somente a propriedade.

Na década de 1970 ocorreu um ponto que fez com que a


sustentabilidade entrasse de vez na agenda dos governantes mundiais,
que ficou conhecido como a Conferência de Estocolmo. Tal conferência
foi organizada e realizada pelas Nações Unidas e o tema tratado foi
justamente o meio ambiente, onde foram apresentados estudos que
comprovavam o efeito da atividade humana sobre o meio ambiente,
tendo sido a primeira atitude mundial no sentido de conscientizar os
governantes sobre a importância da sua preservação.

Embora essa conferência tenha sido responsável por despertar a


preocupação em relação ao meio ambiente, tal preocupação já vinha
sendo cultivada desde o início da década de 1960 com o lançamento
do livro Primavera Silenciosa, escrito por Rachel Carson, que retratava
principalmente a ação de pesticidas sobre o meio-ambiente, tendo sido
um marco no início dos movimentos ambientais ao redor do mundo.
Esse livro, juntamente com outras publicações da época, impulsionou a
onda verde que resultou na Conferência de Estocolmo.

88
88
Desde então, as discussões sobre o meio ambiente vieram se
tornando cada vez mais comuns, onde podemos citar outros eventos
mundiais de importância similar ao ocorrido em Estocolmo, tais
como a “II Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento”, que ficou conhecida como “Rio-92”, o Protocolo de
Kyoto, o COP 21 (21ª Conferência das Partes) e, mais atualmente, o
COP25 (25ª Conferência das Partes). Embora a conferência de Estocolmo
tenha sido a primeira, o protocolo de Kyoto foi o primeiro documento
assinado onde os países desenvolvidos assumiram o compromisso de
adotar medidas no sentido de combater a poluição atmosférica.

ASSIMILE
O COP 21 foi realizado em Paris no ano de 2015 envolvendo
195 países, onde ficou estabelecido pela primeira vez que
todos os países presentes deveriam reduzir a emissão
de poluentes, de modo a limitar o aquecimento global a
1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais. Além das questões
ambientais, a conferência tratou também de questões
ligadas à erradicação da pobreza no mundo, de modo a
preparar o terreno para que essa possa ser facilitada.

O conceito de sustentabilidade vem sendo aperfeiçoado ao longo do


tempo englobando cada vez mais esferas, as quais não tinham sido
pensadas anteriormente. De acordo com Mikhailova (2004), a principal
forma de descrever o que vem a ser a sustentabilidade é a justiça
para com as gerações futuras, uma vez que este visa à preservação do
meio ambiente.

Como esse termo possui um conceito complexo e abrangente para fins


da engenharia de materiais, podemos defini-lo como sendo a renovação
onde o ser humano utilizaria somente recursos naturais renováveis na
produção de bens, além do fato de muitos desses serem recicláveis,

 89
de modo a evitar, ou ao menos reduzir, a extração de matérias-primas
naturais, priorizando a reutilização e reciclagem daquelas que já foram
extraídas anteriormente.

Porém, precisamos ter consciência de que ser sustentável não nos


remete a ser ambientalmente corretos na totalidade, uma vez que, de
forma geral, as atividades humanas resultam em algum tipo de prejuízo
à natureza, mesmo quando reutilizamos materiais, ainda assim estamos
gerando alguma degradação ao meio ambiente.

Para entender melhor, pense na seguinte situação, após o consumo


de um dado produto, o usuário fez o descarte correto de um produto
que será reaproveitado pela indústria. Para que esse material retorne à
indústria, esta precisa de um serviço de logística, denominado logística
reversa, que utiliza caminhões, que são movidos à combustão interna
e que, portanto, poluem o meio ambiente. Nesse ponto o aluno deve
estar se perguntando, “mas e se o caminhão tiver motor elétrico e não
de combustão interna”, neste caso podemos pensar em como a energia
elétrica é obtida, onde se considerarmos a matriz energética brasileira,
temos as termelétricas, hidrelétricas e parques eólicos.

As termelétricas, assim como os motores de combustão interna, poluem


o meio ambiente através da emissão de CO2, podendo ainda emitir NOx
e SOx, que agravam ainda mais a poluição atmosférica.

Para o caso das hidrelétricas, embora essas sejam consideradas


ambientalmente corretas, para que seja possível a movimentação das
turbinas e posterior geração de energia elétrica, deve-se construir
grandes represas, que resultam em mudança no curso de rios,
inundação de regiões habitadas pela fauna e pela flora, geração de
microclimas, devido a mudança da umidade local, entre outros.

Para o caso dos parques eólicos, pode-se mencionar a mudança nas


correntes de vento, resultando na geração de microclimas, terreno
improdutivo, uma vez que esse está sendo ocupado pelas torres eólicas,
entre outros.

90
90
Para encerarmos a questão da sustentabilidade, Mikhailova (2004) cita
que, no ano de 1987, foi elaborado pela ONU (Organização das Nações
Unidas) o seguinte conceito: “Desenvolvimento sustentável é aquele que
busca as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de atender as suas próprias necessidades”.

1.1 Sustentabilidade aplicável aos materiais

Os materiais são basicamente divididos em três classes distintas,


polímeros, metálicos e cerâmicos. Temos ainda uma quarta classe
que, na verdade, é a união entre as demais, a qual é denominada por
materiais compósitos.

Dentre as três classes principais, pode-se dizer que, de modo geral, os


materiais metálicos podem ser mais facilmente reutilizados e reciclados,
permitindo assim que esses sejam amplamente empregados em todos
os setores. Mesmo na construção civil, onde a predominância é do
cimento Portland, que se enquadra como material cerâmico, os materiais
metálicos apresentam papel fundamental e fazem grande sucesso.
Como exemplo, pode-se citar estruturas de pontes estaiadas, galpões
industriais e até mesmo casas em construções modernas, que, por
vezes, empregam somente vigas em aço e vidro, sem citar ainda alguns
marcos de extrema importância como a torre Eiffel. Esses materiais são
empregados ainda na própria estrutura dos edifícios, onde emprega-se
os vergalhões, e na confecção de portas, janelas, entre outros.

Os materiais metálicos são reciclados por meio da fusão da sucata


e componentes que já não possuem mais serventia para uso, sendo
transformado em metal líquido e depois seguindo os processos
convencionais, que podem ser desde uma usina para produção de
chapas, barras, perfis e vergalhões, até processos de fundição e
forjamento, entre outras possibilidades. Dessa forma, os principais
pontos que afetam o meio ambiente são a extração da matéria-
prima, que resulta em desmatamento e rejeitos de difícil tratamento e

 91
disposição final, gastos energéticos, que ocorrem ao longo do processo
produtivo, e gases de efeito estufa emitidos durante o processamento e
o transporte.

Os materiais poliméricos, por sua vez, vieram crescendo em aplicação


ao longo dos anos, porém a sua reciclagem ainda hoje constitui um
problema. Já existem processos que permitem a reciclagem inclusive
para materiais termofixos e elastômeros, que possuem as ligações
cruzadas de enxofre, dificultando o seu processamento mecânico e
amolecimento, como é o caso dos pneus. Ao longo dos anos, esses
processos vêm ganhando mais variações e possibilidades, o que
resulta também na redução do seu custo, tornando esses mais viáveis
tecnicamente e economicamente.

Segundo Santos (2017), no ano de 2013 o Brasil produziu mais de 68


milhões de unidade de pneus, sendo o descarte anual brasileiro da
ordem de 20 milhões de pneus, o que é um problema não somente no
país, mas no mundo todo.

“Face aos impactos ambientais gerados pelo descarte inadequado


de pneus inservíveis, há que se buscar o seu gerenciamento
ambientalmente adequado, desde o acondicionamento até a destinação
final” (CIMINO e ZANTA, 2005, p. 300 apud SANTOS, 2017, p. 14).

Para evitar o descarte ambientalmente inadequado de pneus,


conforme mencionado por Cimino e Zanta1 (2005, apud SANTOS, 2017),
alternativas tecnicamente e economicamente viáveis para utilização
dos pneus vieram sendo apresentadas e aplicadas, sendo tratadas por
Santos (2017) com dois focos diferentes, a reutilização e a reciclagem.

Conforme explicado por Santos (2017), para a reutilização três diferentes


métodos são apresentados, sendo a recapagem, a recauchutagem e
a remoldagem. Desses três processos, a recapagem é o mais simples,

1
CIMINO, Marly Alvarez; ZANTA, Viviana Maria. Gerenciamento de pneumáticos inservíveis (GPI): análise crítica
de ações institucionais e tecnologias para minimização. Engenharia Sanitária e Ambiental, [s.l.], v. 10, n. 4,
p.299-306, dez. 2005. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1413-41522005000400006.

92
92
que consiste somente na substituição da banda de rodagem, que é a
região útil do pneu, onde ficam localizados os sulcos. A recauchutagem
é similar a recapagem, porém é realizada a substituição dos chamados
ombros do pneu, além da banda de rodagem. Os ombros correspondem
às duas regiões de transição entre a banda de rodagem e os flancos do
pneu. Por fim, a remoldagem, que é o processo dos chamados pneus
remoldes, consiste no mesmo processo da recauchutagem, porém
incluindo os flancos do pneu. Por esse motivo, ao olhar para um pneu
remolde, todas as inserções referentes ao pneu original são apagadas,
devendo ser refeitas pela organização que efetuou o processo.

O processo de reciclagem é um pouco mais complexo, “os materiais


contidos nos pneus são extraídos por um processo mecânico, realizado
em temperatura ambiente, onde as partículas de borracha vulcanizada
são separadas de outros componentes (como metais e tecidos,
por exemplo), e passam por várias etapas de trituração, reduzindo
gradativamente de tamanho. O aço contido é retirado por eletroímãs,
e as fibras da lona são retiradas através de um peneiramento”
(KAMIMURA2 2002 apud SANTOS, 2017).

Segundo Santos (2017), após o processo de separação da borracha, esta


é triturada e convertida em grânulos, que são utilizados para diversas
aplicações, como aplicação em pisos de quadras poliesportivas, tapetes
para carros, saltos e solas de sapato, colas e adesivos, câmaras de
ar, entre outros. Uma aplicação que vem sendo muito utilizada é na
confecção de asfalto ecológico.

Os materiais cerâmicos, embora sejam utilizados em condições similares


àquelas encontradas na natureza, ou seja, em geral são aplicados como
óxidos, sulfetos, nitretos, carbetos, entre outros, são difíceis de serem
reciclados, onde nem sempre permitem tal processo, resultando em
acúmulo de entulhos, como por exemplo os resíduos da construção civil,

2
KAMIMURA, E. Potencial dos resíduos de borracha de pneus pela indústria da construção civil. Disser-
tação de Mestrado em Engenharia Civil. Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Civil, Florianópolis, 2004.

 93
lembrando que esses resíduos não são os únicos que se enquadram
como materiais cerâmicos recicláveis. Lembrando que esse impacto
afeta as duas pontas do ciclo, ou seja, afeta a disposição final, mas
também afeta a extração de recursos naturais, uma vez que quando
não é possível realizar a sua reciclagem, tendemos a extrair mais da
natureza, portanto ocorre um dano duplo.

Conforme Dagnino (2018), que apresenta dados divulgados pela


ABRECON (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos
da Construção Civil e Demolição), o Brasil gerou em 2018
aproximadamente 105 milhões de toneladas de entulho, dos quais
somente 0,6% são reaproveitados.

Somando ao fato do baixo índice de reciclagem, segundo Carreiras


(2015), as obras de construção civil consomem cerca de 75% dos
recursos naturais extraídos da natura. Durante a fase de estudo e
concepção de um projeto de construção civil, deve-se considerar
esse dado na escolha de materiais de modo a minimizar os impactos.
O problema ambiental representado pelos materiais de construção é
definido, segundo Carreiras (2015), como:

O problema ambiental associado aos materiais de construção, prende-


se, não com a possibilidade de esgotamento das matérias-primas não
renováveis, mas sim, com os impactos ambientais provocados pela sua
extração. Por conseguinte, a preocupação coloca-se ao nível da destruição
da biodiversidade dos locais de extração, e não menos importante, a
preocupação pela quantidade de resíduos que são gerados durante as
atividades de mineração, assim como, os potenciais e efetivos acidentes
ambientais que esses resíduos representam. (CARREIRAS, 2015, p. 38)

Contudo, vemos que de fato o impacto duplo ocorre, pois se tivéssemos


maiores índices de reciclagem, teríamos menos impactos ambientais,
como a extração de matérias-primas não renováveis, bem como os
impactos causados por essa atividade no meio ambiente, tais como a
destruição da biodiversidade nas regiões onde a extração ocorre.

94
94
Carreiras (2015) sugere também que o projeto de construção civil
deve privilegiar materiais não tóxicos, com baixa energia incorporada,
recicláveis, que permitam o reaproveitamento de resíduos de outras
indústrias, provenientes de fontes renováveis que estejam associados a
baixas emissões de gases de efeito estufa e com alta durabilidade.

Os impactos ambientais “são avaliados através de um método que avalia


o impacto ambiental de bens e serviços, designado por Avaliação do
Ciclo de Vida – ACV (Life Cycle Assessment – LCA)” (CARREIRAS, 2015, p.
40), devendo essa análise ser realizada de forma sistemática, visando
quantificar os fluxos de energia e materiais ao longo do ciclo de vida do
produto, conforme o diagrama apresentado pela Figura 1.

Figura 1 – Quadro contendo alguns dos itens


a serem quantificados para o ciclo de vida das edificações

Fonte: adaptada de Carreiras (2015, p. 40).

Portanto, vimos que para a construção civil, o índice de reciclagem


ainda é muito baixo, porém existem outros fatores que impactam o
meio ambiente, os quais devem ser considerados pela avaliação do
ciclo de vida.

É importante mencionar que existem casos particulares, como os


materiais radioativos, os quais possuem uma tratativa extremamente
complexa e que envolve diversos riscos, tanto durante o seu
uso, quanto durante a sua extração, processamento, transporte,
armazenamento e destinação final ambientalmente correta, a qual não
é tratada como sendo um ponto final, uma vez que esses materiais
continuam a emitir radiação, portanto não existe hoje uma tratativa

 95
denominada disposição final ambientalmente correta, uma vez que
esses devem continuar sob vigilância, constituindo um problema único
e que não será abordado com profundidade. A correta tratativa para
esses materiais é dada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN), seguindo regras próprias e específicas.

O principal ponto dos materiais é entender que existe duas


possibilidades para esses, a reinserção na cadeia produtiva, por meio da
reutilização e reciclagem, e a disposição final ambientalmente correta,
o que faz com que esses devam ser pensados para uma dessas duas
situações, evitando assim o seu acúmulo, que resulta em danos ao
meio ambiente.

Por fim, além dos resíduos exemplificados neste item, outros resíduos
comumente reciclados no Brasil, conforme Cardoso (2013), são:

• Blocos, chapas, embalagens, perfis, latas e panelas, todos feitos


com alumínio.

• Metais ferrosos em geral.

• Produtos que possuem antimônio na sua composição.

• Produtos em cobre e suas ligas (bronze e latão).

• Diversos tipos de papeis, como jornal, embalagens, papéis de


escritório, panfletos, revistas, caixas de papelão, entre outros.

• Plásticos dos mais diversos tipos:

• Politereftalato de etila (PET): amplamente empregado em


embalagens de refrigerante, água, suco, cosméticos, entre outros.

• Polietileno de alta densidade (PEAD): empregado na confecção de


engradados de bebidas, baldes, sacolas plásticas, entre outros.

• Policloreto de vinila (PVC): possuem grande emprego para a


produção de tubos e conexões para transporte de água e esgoto
em residências.

96
96
• Polietileno de baixa densidade (PEBD): altamente empregado
na produção de embalagens de alimentos como arroz, feijão,
açúcar, sal, entre outros.

• Polipropileno (PP): muito empregado na fabricação de


embalagens de salgadinhos, biscoitos, potes, tampas de
embalagens, entre outros.

• Poliestireno (PS): aplicado na produção de copos descartáveis,


carcaças de aparelhos eletrônicos, isopor, entre outros.

• Vidros.

• Eletrônicos, tais como computadores, televisão, rádio, celulares,


impressoras, entre outros.

• Baterias para carro.

• Pilhas e baterias para equipamentos eletrônicos.

• Motores elétricos.

• Entre outros.

2. Economia circular e os seus impactos

Segundo Azevedo (2015), a economia circular nasceu na década de


1970, tendo sido concebida em contrapartida ao modelo tradicional
de economia, que é a economia linear onde as ações da sociedade se
restringem a extrair, transformar, consumir e descartar.

Portanto, a economia circular sugere a quebra desse padrão linear,


evitando a ação de descartar ao máximo possível através da reutilização
e da reciclagem, onde o produto não deve ter a sua disposição final
decretada, mas esse deve retornar à cadeia produtiva para que possa
ser aproveitado ao máximo.

 97
Se o aluno for atento, deve ter notado que a economia circular não age
somente no ponta final da economia linear (descarte), mas age também
na ponta inicial (extração), de modo que com a reutilização e reciclagem
de materiais e produtos, evita-se que a extração de matérias-primas
ocorra, uma vez que o material que já foi extraído e se encontra
em uso na economia retornará à fase produtiva de transformação,
ficando preso entre as duas fases centrais da economia linear, a
transformações e o consumo.

Complementando as ideias expostas anteriormente, Araújo e Queiroz


(2017) citam Stahel3 (2016) ao fazerem a analogia de uma economia
linear com um rio, onde este flui em sentido único, assim como a
logística direta. Já a economia circular é descrita por eles como um
lago, onde o material pode fluir para qualquer lado, sem ficar preso a
um sentido único, onde esse resulta no “reprocessamento de bens e
materiais gera empregos e economiza energia, reduzindo o consumo
e o desperdício de recursos” (STAHEL1, 2016 apud ARAÚJO e QUEIROZ,
2017, p. 5). A analogia pode ser melhor entendida por meio da Figura 2.

Para que esse produto fique preso entre essas duas fases, deve-se
adicionar outras fases que tornam a economia circular possível, que
são, por exemplo, o desmanche de produtos, visando à reutilização das
peças que ainda têm condições de uso, e a reciclagem, que será aplicada
àqueles produtos que já não podem ser reutilizados. Além disso, não
podemos esquecer que, para que tais operações de desmanche para
a reutilização e reciclagem ocorram, precisamos que os produtos e
materiais retornem ao setor produtivo, o que é realizado por meio da
chamada logística reversa, que é a responsável pelo comportamento
demonstrado para a economia circular na Figura 2, sendo que a logística
reversa permite que o material retorne ao processo partindo de
qualquer fase do fluxo direto.

3
STAHEL, W. R. Circular economy. Nature, v. 531, p. 435-438, 2016.

98
98
Figura 2 – Esquema comparativo entre
economia linear e economia circular

Fonte: Sauvé, Bernard e Sloan4 (2016) apud Araújo e Queiroz (2017, p. 5).

A logística reversa é o oposto da logística direta, que é uma sequência


de eventos que leva o produto no sentido da extração da matéria-
prima até o consumidor e a posterior destinação final ambientalmente
correta, onde esta pode ser a disposição final ambientalmente correta,
porém pode ser também a reutilização e a reciclagem, bem como outros
processos como a regeneração e a incineração do material ou produto.

Enquanto a logística direta se encarrega de levar a matéria-prima até


o setor produtivo e o produto até as prateleiras das lojas para que
esses possam ser posteriormente consumidos, a logística reversa se
encarrega de fazer o caminho inverso, cuidando para que os bens
de pós-vendas e pós-consumo tenham a correta destinação final
ambientalmente adequada, uma vez que nem todos esses bens poderão
ser reaproveitados pelo setor industrial.

Devemos ter em mente, que nem todos os materiais podem ser


reutilizados ou reciclados, o que pode ocorrer por inviabilidade técnica,
quando ainda não existe uma tecnologia capaz de executar tal tarefa,
ou por inviabilidade econômica, quando a tecnologia já está disponível,
porém o seu custo ainda é muito alto.

4
SAUVÉ, S.; BERNARD, S.; SLOAN, P. Environmental sciences, sustainable development and circular economy:
Alternative concepts for trans-disciplinary research. Environmental Development. v. 17, p. 48-56, 2016.

 99
Portanto, a economia circular entende que a disposição final
ambientalmente adequada também pode ocorrer, sendo assim
podemos dizer que “a economia circular divide dois grupos de materiais,
os biológicos, que são desenhados para reinserção na natureza
e os técnicos, que exigem investimento em inovação para serem
desmontados e recuperados” (AZEVEDO, 2015, p. 2).

Contudo, aqueles materiais que terão a sua disposição final decretada,


deverão ser projetados para que não resultem em danos ambientais,
sendo esse biodegradáveis, por exemplo, de modo que possam dessa
forma ser reinseridos na natureza.
Economia Circular é um modelo sustentável de desenvolvimento e,
seu objetivo, através da Logística Reversa, é agregar, por meio de ciclos
produtivos, novos valores aos descartados e, através da sua reutilização,
recuperação, reparação e reciclagem, colaborando com a sustentabilidade
e humanidade. (SANTOS, 2017, p. 8)

Podemos dizer que a economia circular é uma das formas de a


sociedade ser sustentável, tendo a logística reversa como o seu calço
que torna todo o ciclo possível. Uma vez que é responsável por garantir
o retorno dos bens de pós-consumo e pós-venda ao processo produtivo.
Logística reversa é a área da logística empresarial que planeja, opera e
controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, de retorno
dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao
ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-
lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de
imagem corporativa, entre outros. (LEITE5, 2003 apud SANTOS, 2017, p. 8)

Segundo descrito por Leite (2003), a logística reversa não atua


somente em questões ambientais, mas sim em todos os vértices da
sustentabilidade, que são a economia, a sociedade e o meio ambiente,
de modo que tal prática resulta em oportunidades de negócio para o
setor industrial e também para o próprio setor de logística, resultando
na geração de novos negócios e empregos.
5
LEITE, P.R. Logística reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2003.

100
100
Segundo descrito por Ellen Macarthur Foundation (2015),
a economia circular apresenta diversos impactos na sociedade,
na economia e no meio ambiente, onde temos como exemplos a
redução do custo líquido em materiais, que chegam a US$ 630 bilhões
anuais na União Europeia, geração de emprego, aumento do PIB
do país, instiga a inovação de produtos e processos, redução na
emissão de dióxido de carbono, redução do consumo de materiais
primários, por meio da redução, reutilização e reciclagem, entre
diversas outras possibilidades.

Contudo, nota-se que esse setor tem grande potencial para novos
negócios e geração de emprego, ajudando na resolução de problemas
de ordem social e econômica, atuando no tripé da sustentabilidade,
uma vez que os ganhos com o meio ambiente também são uma
consequência da economia circular.

PARA SABER MAIS


O Globo (2019) cita que, de acordo com a CNI
(Confederação Nacional da Indústria), mais de 76% das
empresas brasileiras desenvolve algum tipo de iniciativa
voltada à economia circular, mesmo que somente 30% dos
entrevistados pela reportagem tenham ouvido falar nos
conceitos ligados a essa prática.

É fundamental para o engenheiro de materiais compreender a ligação


que existe entre os materiais utilizados, a sustentabilidade e a economia
circular, uma vez que esse profissional atua na escolha e no projeto
de novos materiais, além de estar inserido no contexto da cadeia
produtiva, podendo atuar desde as fases de projeto, passando por
desenvolvimento e produção, chegando inclusive ao setor de
pós-vendas, como na assistência técnica, por exemplo.

 101
TEORIA EM PRÁTICA
A empresa Polímeros S.A. está tentando promover políticas
ambientais internas. Para tal, o diretor industrial convidou
você, que é o gerente de produção, para um debate sobre
formas de reutilização e reciclagem de materiais. Sabendo
que na atualidade a empresa não possui nenhum programa
nesse sentido, sendo que todos os resíduos sólidos gerados
têm a sua disposição final decretada pela empresa, sendo
100% deles considerados como rejeito, quais ações você
poderia sugerir para serem implementadas?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Segundo Mikhailova (2004), o termo sustentabilidade,


que vem sendo amplamente empregado na atualidade,
tem diversas interpretações que resultaram em uma
ampliação muito grande do seu significado. Entre
tantas interpretações possíveis, a autora cita que todas
possuem um ponto em comum: a sustentabilidade
deve ser tratada como transdisciplinar, uma vez que
os conceitos ambientais são extensos, passando por
diversas áreas do conhecimento.
Sobre a sustentabilidade, assinale a alternativa correta:

a. O ser humano somente passou a se preocupar com o


meio ambiente após a Conferência de Estocolmo.

b. O Protocolo de Kyoto visou à redução da emissão


dos gases de efeito estufa por parte dos países
desenvolvidos.

102
102
c. O conceito de sustentabilidade é imutável, não
dependendo de novas experiências humanas.

d. A sustentabilidade reconhece somente ações


de cunho ambiental, não importando as
questões financeiras.

e. Sustentabilidade é um termo empregado quando


indica que nenhum tipo de dano ao meio ambiente
está sendo praticado.

2. O conceito de sustentabilidade vem sendo aperfeiçoado


ao longo do tempo englobando cada vez mais esferas,
as quais não tinham sido pensadas anteriormente.
De acordo com Mikhailova (2004), a principal forma
de descrever o que vem a ser a sustentabilidade é a
justiça para com as gerações futuras, uma vez que visa
à preservação do meio-ambiente.
Sobre a sustentabilidade aplicada aos materiais,
assinale a alternativa correta.

a. A reciclagem dos materiais poliméricos constitui um


problema, uma vez que a tecnologia nesse campo
tem se desenvolvido pouco, não apresentando
grandes avanços tecnológicos.

b. A reciclagem dos materiais poliméricos constitui um


problema, uma vez que a tecnologia nesse campo
tem se desenvolvido pouco, não apresentando
grandes avanços tecnológicos.

c. Os materiais cerâmicos são os mais fáceis de serem


reciclados, uma vez que esses se encontram em
condições similares àquelas encontradas na natureza.

 103
d. O projeto de construção civil deve privilegiar
materiais não tóxicos com baixa energia incorporada,
recicláveis, que permitam o reaproveitamento de
resíduos de outras indústrias, provenientes de fontes
renováveis, que estejam associados a baixas emissões
de gases de efeito estufa e com alta durabilidade.

e. Os materiais radioativos, embora apresentem diversos


riscos, são facilmente reaproveitados por meio da
reutilização e reciclagem.

3.

Analise a figura acima e assinale a alternativa correta:

a. A figura A representa um fluxo contínuo, típico de


uma economia cíclica.

b. A figura A representa somente o fluxo da logística


reversa, a qual é ambientalmente correta, não tendo
rastros da logística direta, sendo essa uma ilustração
típica de uma economia cíclica.

c. A figura B representa um fluxo contínuo, típico de


uma economia cíclica.

104
104
d. A figura B representa somente o fluxo da logística
reversa, a qual é ambientalmente correta, não tendo
rastros da logística direta, sendo essa uma ilustração
típica de uma economia cíclica.

e. As figuras A e B apresentam o fluxo direto, com a


diferença que a figura B representa também o fluxo
reverso, sendo essa última uma ilustração típica de
uma economia cíclica.

Referências bibliográficas
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DAGNINO, Giovanna Bueno. Brasil recicla apenas 0,6% de entulho. Diário
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 105
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sites/default/files/T12_0518_2899.pdf. Acesso em: 3 set. 2019.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: B
Resolução: Mikhailova (2004) cita que, embora a sociedade
humana tenha passado a dar um maior enfoque ao meio

106
106
ambiente após a década de 1970, antes disso já havia uma
preocupação do homem em relação a isto, embora de forma
mais discreta, citando como exemplo que a escola econômica
clássica prega que uma economia saudável possui três fatores
que atuam em conjunto: a terra, o capital e o trabalho. Neste
conceito, a terra representa o meio ambiente e não somente
a propriedade, portanto a alternativa (a) está errada. Embora
a conferência de Estocolmo tenha sido a primeira, o protocolo
de Kyoto foi o primeiro documento assinado, onde os países
desenvolvidos assumiram o compromisso de adotar medidas no
sentido de combater a poluição atmosférica através da redução
dos gases que agravam o efeito estufa, portanto a alternativa
(b) está correta. O conceito de sustentabilidade vem sendo
aperfeiçoado ao longo do tempo, englobando cada vez mais
esferas, as quais não tinham sido pensadas anteriormente. De
acordo com Mikhailova (2004), a principal forma de descrever
o que vem a ser a sustentabilidade é a justiça para com as
gerações futuras, uma vez que visa à preservação do meio
ambiente, portanto a alternativa (c) está errada. Os vértices da
sustentabilidade são: a economia, a sociedade e o meio ambiente,
portanto a alternativa (d) está errada. Ser sustentável não nos
remete a ser ambientalmente corretos na totalidade, uma vez
que toda e qualquer atividade humana resulta em algum tipo de
prejuízo à natureza, mesmo quando reutilizamos materiais, ainda
assim estamos gerando alguma degradação ao meio ambiente,
portanto a alternativa (e) está errada.
Questão 2 – Resposta: D
Resolução: Os materiais poliméricos, por sua vez, vieram
crescendo em aplicação ao longo dos anos, porém a sua
reciclagem ainda hoje constitui um problema. Já existem
processos que permitem a reciclagem inclusive para materiais
termofixos vulcanizados, que possuem as ligações cruzadas
de enxofre, dificultando o seu processamento mecânico e

 107
amolecimento, como é o caso dos pneus. Ao longo dos anos,
esses processos vêm ganhando mais variações e possibilidades,
o que resulta também na redução do seu custo, tornando
esses mais viáveis tecnicamente e economicamente, portanto
a alternativa (a) é falsa. Para evitar o descarte ambientalmente
inadequado de pneus, conforme mencionado por Cimino e
Zanta1 (2005), alternativas, tecnicamente e economicamente
viáveis para utilização dos pneus vieram sendo apresentadas
e aplicadas, sendo tratado por Santos (2017) com dois focos
diferentes, a reutilização e a reciclagem, portanto a alternativa
(b) é falsa. Os materiais cerâmicos, embora sejam utilizados
em condições similares àquela encontrada na natureza, ou
seja, em geral são aplicados como óxidos, sulfetos, nitretos,
carbetos, entre outros, são difíceis de serem reciclados, pois
nem sempre permitem tal processo, resultando em acúmulo
de entulhos, como os resíduos da construção civil, portanto a
alternativa (c) está errada. Carreiras (2015) sugere também que o
projeto de construção civil deve privilegiar materiais não tóxicos,
com baixa energia incorporada, recicláveis, que permitam o
reaproveitamento de resíduos de outras indústrias, provenientes
de fontes renováveis, que estejam associados a baixas emissões
de gases de efeito estufa e com alta durabilidade, portanto a
alternativa (d) está correta. Os materiais radioativos, os quais
possuem uma tratativa extremamente complexa e que envolvem
diversos riscos, tanto durante o seu uso quanto durante a
sua extração, processamento, transporte, armazenamento e
destinação final ambientalmente correta, a qual não é tratada
como sendo um ponto final, uma vez que esses materiais
continuam a emitir radiação, portanto não existe hoje uma
tratativa denominada disposição final ambientalmente correta,
uma vez que esses devem continuar sob vigilância, constituindo
um problema único e que não será abordado com profundidade,
portanto a alternativa (e) está errada.

108
108
Questão 3 – Resposta: E
Resolução:

Fonte: Sauvé, Bernard e Sloan6 (2016) apud Araújo e Queiroz, 2017, p. 5.

A Figura 2 ilustra um comparativo entre as economias linear


e circular, onde se nota a diferença no fluxo de materiais
através dessas duas economias. Na linear temos um fluxo
único e contínuo, enquanto na circular este fluxo é mais
complexo, podendo o material retornar ao início do processo
independentemente da fase em que esse se encontra.

6
SAUVÉ, S.; BERNARD, S.; SLOAN, P. Environmental sciences, sustainable development and circular economy:
Alternative concepts for trans-disciplinary research. Environmental Development. v. 17, p. 48-56, 2016.

 109
Reciclagem de resíduos
de materiais poliméricos,
metálicos e cerâmicos
Autor: Bruno Pizol Invernizzi

Objetivos

• Conhecer os métodos para reciclagem de materiais.

• Comparar as possíveis soluções apresentadas


para reciclagem.

• Conhecer possíveis aplicações para os


materiais reciclados.

110
110
1. Reciclagem

Com a evolução da sociedade, o ser humano passou a consumir cada


vez mais. Esse consumo resulta, entre outros fatores ambientais, na
geração de resíduos sólidos, que deverão ter a melhor destinação final
ambientalmente correta, ação esta que deve estar apoiada nas leis e
normas vigentes.

Essas leis e normas preveem diversas ações que podem ser tomadas
a fim de evitar que esses resíduos tenham como destino a disposição
final, seja esta ambientalmente correta ou não, porém quando não
for possível dar outra tratativa diferente, que seja realizada de forma
ambientalmente correta para evitar a contaminação do solo, da
água e do ar que respiramos, entre outros danos ambientais que
possam ocorrer.

Dentro das possibilidades apresentadas pelas normas e leis, com


o intuito de evitar a disposição final, temos a reciclagem, que pode
ser definida como “um conjunto de técnicas de reaproveitamento
de materiais descartados, reintroduzindo-os no ciclo produtivo”
(MMA, [201-]).

A reciclagem consiste em um conjunto de ações que são iniciadas na


fonte geradora atingindo as diversas etapas do fluxo direto, englobando
etapas como a catação ou coleta e a separação dos resíduos sólidos,
que é realizada em diferentes categorias, e a reciclagem para retorno à
indústria de bens de consumo. Para um melhor entendimento, a Figura
1 ilustra esse fluxo, reconhecido pela ANCAT (Associação Nacional dos
Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis).

 111
Figura 1 – Fluxo logístico da reciclagem

Fonte: LCA consultores e pragma soluções sustentáveis apud Ancat (2019, p. 9).

Existe também uma outra possibilidade que não consta nessa ilustração,
onde o próprio fabricante pode executar a logística reversa a fim de
reutilizar ou reciclar os produtos de pós-consumo, para que esses
possam ser novamente empregados pela organização em seu processo
produtivo ou até mesmo, em casos onde essas ações não sejam
possíveis, executar a disposição final ambientalmente correta, uma vez
que a legislação brasileira prevê que as organizações são responsáveis
por tal ação em casos específicos.

Segundo Ancat (2019), os principais efeitos econômicos e ambientais da


reciclagem são:

• Minimizar a exploração de recursos naturais: essa minimização


vem do fato de tal exploração ocorrer para extração das matérias-
primas, que são substituídas pela matéria-prima reciclada,
reduzindo a necessidade da extração, consequentemente
reduzindo a explotação de recursos naturais.

112
112
• Reduzir a poluição do solo, água e ar: “tanto devido à redução
da produção dos materiais quanto à diminuição do descarte
inadequado dos resíduos. Ademais, reduz a necessidade de
expansão de aterros, e, consequentemente, o gasto público
relacionado a esse investimento” (ANCAT, 2019, p. 10).

• Mitigação das emissões de gases do efeito estufa: ocorre pela


redução da produção de matérias-primas virgens, uma vez
que, conforme mencionado, essas necessitam de mais energia
para serem obtidas e transformadas. Essa energia utilizada,
por vezes, é obtida por meio de processos de combustão,
que resultam na emissão de gases de efeito estufa. Além
disso, deve-se considerar os cases emitidos como produto da
decomposição dos materiais não reciclados, bem como outras
emissões que podem ocorrer devido ao processamento da
matéria-prima virgem.

• Redução dos custos de produção: como a matéria-prima reciclada


necessita de menos energia e etapas de processamento, logo
essa resulta em menores custos associados, sendo esses custos
influenciados também por outros fatores, como questões
logísticas e de preservação do meio ambiente, uma vez que
quem desmata deve de alguma forma retribuir o meio ambiente,
resultando em custos ambientais para a organização.

• Geração de emprego e renda: desde o processo de catação


até a obtenção da matéria-prima reciclada, também chamada
de secundária, tem-se a inclusão de pessoas, em geral, de
baixa renda, resultando na geração de empregos e renda,
principalmente para a população mais carente que atua nas
etapas iniciais do processo (catação e separação).

Conforme descrito pela ANCAT (2019), os produtos coletados no Brasil


podem ser agregados em 6 categorias diferentes, que são: papéis,

 113
plásticos, alumínio, outros metais, vidros e outros materiais. Tal
agregação é ilustrada pela Figura 2. Essas categorias podem ainda ser
subdivididas, como é observado na categoria de papeis, por exemplo,
que é segmentada em jornal, papelão, papel branco e outros papéis.

Figura 2 – Materiais coletados e comercializados pelas organizações

Fonte: LCA consultores apud Ancat (2019, p. 24).

Os materiais de maior volume coletado e maior valor faturado são


os classificados como papéis, conforme ilustrado pelas Figuras 3 e 4,
respectivamente, devido às diferenças entre elas, nota-se que o alumínio
possui alto valor agregado para a venda, uma vez que em relação ao
volume coletado esse representa somente 0,6% a 0,7%, enquanto o
valor faturado corresponde a algo em torno de 5%.

Figura 3 – Participação de cada material no volume coletado,


2017 e 2018

Fonte: LCA consultores apud Ancat, 2019, p. 25.

114
114
Figura 4 – Distribuição do faturamento das cooperativas e associações
acompanhadas pela Ancat, 2017 e 2018

Fonte: LCA consultores apud Ancat, 2019, p. 26.

ASSIMILE
No gerenciamento de resíduos, a PNRS (Política
Nacional de Resíduos Sólidos), instituída pela Lei
nº 12.305/2010, estabelece uma sequência de
prioridades para o gerenciamento de resíduos, onde
a melhor solução é a não-geração, seguida pelo 3R
(redução, reuso e reciclagem), posteriormente temos o
tratamento e, por fim, o menos indicado e que resulta
em maiores danos ao meio ambiente, a disposição
final. Portanto, existem ações que são preferidas em
relação à reciclagem, porém essas se fazem presentes
principalmente nas fases de projeto e produção, onde
é possível evitar e reduzir as quantidades de resíduos
gerados. No pós-consumo, pode recorrer ainda a
reutilização, mas a reciclagem se faz muito presente
nesse momento, sendo de extrema importância.

 115
2. Reciclagem dos materiais metálicos

Os materiais metálicos, usualmente, são divididos em ferrosos e não


ferrosos, embora, para efeitos de reciclagem, a ANCAT (2019) divida em
alumínio e demais metais, devido principalmente ao grande volume e
alto valor agregado do alumínio.

“Os metais são considerados materiais de alta durabilidade, resistência


mecânica e facilidade de conformação” (AGUIAR, 2010, p. 34), podendo
esses serem produzidos a partir da sucata ou da redução de minérios.
Este segundo método é aplicado aos metais mais utilizados, como
o ferro, o alumínio e cobre, entre outros, porém existem exceções,
como é o caso do ouro, que pode ser obtido na sua forma pura, não
necessitando passar por processos de redução.

Quando o material é produzido a partir de minérios, chamamos esse


processo de primário, já quando esse é obtido de sucatas, chamamos
esse processo de secundário. Para os aços, por exemplo, a sucata
é misturada ao ferro gusa, que é o produto resultante da redução
dos minérios de ferro, de modo que o produto final possa ter a sua
composição química balanceada, visando atingir as propriedades
requeridas com o menor custo possível, uma vez que a sucata já
possui elementos de liga, como o silício, o cromo, o níquel, o vanádio,
o nióbio, entre outros.

PARA SABER MAIS


Segundo informado pelo G1 Minas (2019), o acidente do
rompimento da barragem de rejeitos de minério, ocorrido
no ano de 2019 na cidade de Brumadinho/MG, teve 249
mortes registradas até o dia 31 de agosto daquele ano,
tendo ainda 21 pessoas desaparecidas. A barragem
rompida era operada pela empresa Vale, sendo do tipo

116
116
mais comum no país. Esse rompimento foi, juntamente com
o rompimento da barragem em Mariana, o maior desastre
ecológico do país já ocorrido no setor de mineração.

Para materiais produzidos sem o emprego de sucata, deve-se adicionar


os elementos de liga, que podem ter custos muito elevados, como
é o caso do nióbio que custa em torno de 400 vezes mais do que o
minério de ferro. Além disso, os materiais metálicos que precisam
passar pelo processo de redução necessitam de altos investimentos
na compra e manutenção dos equipamentos, investimentos estes que
devem ser somados aos altos custos com energia e aos possíveis danos
ambientais, uma vez que a atividade de mineração utiliza produtos de
alta periculosidade, como ácidos, produzindo os chamados rejeitos, que
precisam ser armazenados em barragens, uma vez que a reutilização
desses é técnica e economicamente inviável na atualidade. Dessa
forma, a sucata pode reduzir o custo final dos produtos metálicos
comercializados, sendo uma solução extremamente viável.

Segundo Vasques (2009), a sucata de aço, por exemplo, pode ser


basicamente dividida em três tipos: sucata interna (gerada pela
própria usina siderúrgica), sucata industrial (gerada pelas metalúrgicas,
fundições e plantas industriais em geral) e sucata de obsolescência
(produto de pós-consumo, proveniente de catadores e coletas).

Ao desembarcar nas usinas siderúrgicas, comumente as sucatas são


encaminhadas para o pátio de sucatas, onde essas são separadas de
acordo com a sua composição química, necessidades de industrialização
e formato.

Conforme descrito por Vasques (2009), as sucatas são industrializadas


antes de serem aproveitadas, com o objetivo de aumentar a densidade
(corte, prensagem, fragmentação ou trituração), reduzir as impurezas
(plástico, madeira, vidro, borracha, entre outros) e adequar os
contaminantes (elementos de liga).

 117
Esses processos são comumente realizados por equipamentos como
o Triturador de Sucatas Shredder, que funciona conforme a seguinte
explicação:

O sistema é composto de alimentação, trituração, área de transferência,


transferência por separador magnético, catação, pesagem, empilhamento,
sistema de despoeiramento, sistema de injeção eletrônico de água,
separação de não ferrosos, sistemas hidráulicos e tubulações em geral.
(VASQUES, 2009, p. 37)

Outro processo de reciclagem amplamente empregado no Brasil,


além do processo aplicável aos materiais ferrosos descrito acima, é
o processo para reciclagem das latas de alumínio, que segue o fluxo
ilustrado na Figura 5.

Figura 5 – Fluxograma de operações em reciclagem de alumínio

Fonte: ABAL apud Vasques (2009, p. 53).

Na separação magnética, como o nome já sugere, é realizada a


separação do alumínio e de outros metais não magnéticos daqueles
que são magnéticos, em geral constituídos por ferro. Os processos de
cominuição e peneiramento atuam em conjunto, visando à obtenção
de tamanhos menores e com uma distribuição mais homogênea de
sucata. O forno para eliminação de vernizes e tintas opera com uma

118
118
temperatura mais baixa, na qual o alumínio não é fundido, visando
somente à eliminação dos produtos orgânicos. A prensa é uma etapa
de compactação, reduzindo o volume e densificando a carga. O forno
rotativo é utilizado para fundir e homogeneizar a carga da sucata, para
que esta possa ser posteriormente enviada aos fabricantes de latinhas.

3. Reciclagem dos materiais cerâmicos

Segundo a classificação presente em Ancat (2019), os materiais


cerâmicos estão divididos entre vidros e outros materiais, sendo que
esse último inclui os resíduos sólidos da construção civil.

Segundo Vilhena (2002), os vidros podem ser 100% reciclados por meio
da fusão em um processo sem perdas, sendo este material misturado
à carga de matéria-prima na forma de cacos, reduzindo tanto os custos
com matéria-prima, que não são tão representativos, e os custos com
energia, que se reduzem em torno de 2,5% quando utilizados 10% de
material reciclado na carga. Além disso, esse material pode ser reciclado
diversas vezes, bem como os materiais metálicos, não possuindo um
limite de uso para tal aplicação.

Os cacos de vidro utilizados possuem duas procedências distintas, a


interna, que é gerada pelo próprio fabricante (refugo), e a externa, que
possui diversas procedências distintas.

Segundo Vilhena (2002), o vidro recebido como sucata deve passar


por etapas de separação magnética, visando à remoção de materiais
magnéticos como o ferro e o aço, catação, visando separar o vidro
de outros materiais incluindo os cerâmicos não vítreos, trituração,
para obtenção de um tamanho homogêneo, detector de metais, para
remoção dos metais não ferrosos que por ventura tenham sobrado em
meio aos cacos. Esse material já é apropriado para uso, portanto pode
servir para carregar os fornos de fusão.

 119
Existem outras aplicações para os cacos de vidro, as quais são citadas
por Vilhena (2002), tais como: material de enchimento, material abrasivo,
matéria-prima para fritas cerâmicas, fabricação de tijolo de vidro,
fabricação de lã de vidro, entre outras aplicações possíveis.

Já os resíduos da construção civil, também chamados de entulho,


podem ser definidos como:
Provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras
de construção civil. Incluem também os resultantes da preparação e da
escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em
geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados,
forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos,
tubulações e fiação elétrica, entre outros, comumente chamados de entulhos
de obras, caliça ou metralha. (BRASIL1, 2002 apud VILHENA, 2002, p. 171)

Segundo Vilhena (2002), o entulho pode ser coletado pelos municípios


ou pelas empreiteiras responsáveis pela construção, normalmente de
prédios. A importância de definir a procedência desse entulho vem
do fato de que, quando este é obtido por meio da coleta municipal,
costuma conter muitas contaminações, como solo, matéria orgânica,
plástico, entre outras. Já os materiais coletados pelas empreiteiras
podem conter outros tipos de contaminantes, tais como fragmentos de
blocos cerâmicos, concreto, argamassa, entre outros.

Esses resíduos sólidos da construção civil, antes de serem reciclados,


devem primeiramente ser separados, utilizando quatro classes distintas
definidas por resoluções CONAMA, mais especificamente a Resolução
CONAMA 307:

• CLASSE A – são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como


agregados. São exemplo dessa classe o concreto, os tijolos,
a argamassa, os revestimentos, o solo proveniente da
terraplanagem, entre outros.
1
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. 2002. Resolução
nº 307, de 5 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da
construção civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília. n. 136, 17/7/02, seção I, p. 95-96.

120
120
• CLASSE B – são os resíduos recicláveis que não se enquadram na
classe anterior, ou seja, podem ser reciclados, porém não entram
no “agregado”. Citam-se como exemplos: os plásticos, metais,
papeis, papelões, vidros, madeiras, gesso e as embalagens vazias
de tintas imobiliárias.

• CLASSE C – são os resíduos que não possuem um processo de


reciclagem desenvolvido, seja por questões tecnológicas ou
econômicas; seus produtos comumente não são reciclados ou
recuperados, como exemplo tem-se o gesso.

• CLASSE D – são os resíduos perigosos oriundos do processo de


construção. São exemplos dessa classe: as tintas, os solventes, os
óleos, entre outros, incluindo os resíduos que estão contaminados
ou são prejudiciais à saúde, oriundos de demolições, reformas e
reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais, bem como
telhas e demais objetos que contenham amianto.

Portanto, os resíduos sólidos da construção civil possuem diversas


restrições. Os resíduos de interesse nesse caso correspondem aos
resíduos Classe B, que são basicamente polímeros e metais, sendo estes
abordados em outros tópicos, e os materiais que atendem à Classe A,
os quais compõem o agregado, porém para tal necessitam passar por
um processo de trituração seguido de peneiramento para obtenção de
tamanhos homogeneamente distribuídos.

Após a trituração e o peneiramento, o material já pode ser aplicado


como agregado, sendo adequado para aplicações não estruturais,
tais como:

Blocos de concreto de vedação; obras de pavimentação; guias e sarjetas;


regularização e cascalhamento de ruas de terra; obras de drenagem;
execução de contrapisos; contrapiso; contenção de encostas com sacaria
de entulho-cimento; calçada; pavimentação para tráfego leve; Recuperação
do sistema viário com aterro de entulho reciclado. (VILHENA, 2002, p. 181)

 121
4. Reciclagem dos materiais poliméricos

Segundo Vilhena et al.2 (2002, apud JORGE, 2015, p. 31), os


polímeros podem ser divididos em duas classes, os termofixos e os
termoplásticos, sendo que o primeiro, devido às ligações cruzadas
resultantes de processos de vulcanização, só podem ser moldados
uma única vez, enquanto o segundo tipo pode ser reprocessado
diversas vezes. Um exemplo típico do primeiro caso é a borracha
utilizada nos pneus dos carros, enquanto para o segundo caso
temos as garrafas PET.

Conforme explicado por Vilhena et al.1 (2002 apud JORGE, 2015,


p. 31), os termofixos correspondem a aproximadamente 20% dos
polímeros, enquanto os termoplásticos podem ser subdivididos
em seis diferentes tipos, de acordo com a resina que utilizam,
que correspondem a 90% do sua aplicação, sendo esses os PEBD
(Polietileno de baixa densidade), PEAD (Polietileno de alta densidade),
PP (Polipropileno), PS (Poliestireno), PVC (Poli -cloreto de vinila) e
PET (Poli - tereftalato de etileno). Tal separação pelo tipo de resina
aplicado é realizada para evitar produtos de baixa qualidade, que
seriam inerentes às misturas.

A sequência para reciclagem inclui, portanto, etapas como a triagem,


podendo o material seguir para processamentos mecânicos ou
químicos, conforme ilustrado pela Figura 6.

2
VILHENA, André; D’ALMEIDA, Maria Luiza O. Bio consciência: lixo municipal – manual de gerenciamento
integrado. 2. ed. rev. Brasília: CEMPRE, 2002.

122
122
Figura 6 – Opções de gestão dos resíduos plásticos
em termos do ciclo de vida dos produtos poliméricos

Fonte: Jorge (2015, p. 9) (adaptada de Villaplana & Karlsson3, 2008).

Segundo Jorge (2015), na etapa de triagem, além de levar em


consideração o tipo de resina do plástico, também são levadas em
consideração questões como a cor e o tipo de processo de fabricação
do resíduo que será reciclado (sopro, injeção, extrusão, entre outros).
No Brasil, o processo de reciclagem mais empregado é o processo
mecânico, que de um modo geral segue a sequência ilustrada na Figura 7.

Figura 7 – Fluxograma simplificado do processo de reciclagem mecânica

Fonte: adaptada de Jorge (2015, p. 26).


3
VILAPLANA, F.; KARLSSON, S. Quality Concepts for the Improved Use of Recycled Polymeric Materials: A Re-
view. Macromolecular Materials and Engineering, 293, p.274–297, 2008.

 123
Para o caso dos plásticos rígidos, segundo Jorge (2015), após a separação
é realizada a moagem, que é realizada em um moinho de facas rotativo.
O equipamento de moagem possui na sua parte inferior uma peneira,
que condiz um formato próximo ao de “pellets” ao produto da moagem.
Posteriormente, o material é lavado usando uma solução contendo
detergente aquecido, passando ainda por uma etapa de lavagem para
remoção do detergente. Após a lavagem o material passa por um
processo de secagem que é realizado por meio de centrifugação, ou por
corrente de ar, ou em estufa.

Conforme descrito por Jorge (2015), para o caso dos filmes sujos, estes,
após passarem pelas mesmas etapas descritas para os plásticos rígidos,
seguem para a aglutinação, que consiste na compactação do material
para a redução de volume e aumento da sua densidade. Já os filmes
limpos são enviados diretamente para essa etapa de aglutinação.

Os produtos são então enviados para a etapa de extrusão, que possui


como principal função a homogeneização do material, além de permitir
a inclusão de pigmentos, aditivos e cargas, que visam permitir ao
material o atendimento aos requisitos da encomenda. A etapa de
extrusão é responsável por produzir os grânulos de polímeros, que
podem ser vistos na Figura 8 e serão utilizados para transformação do
plástico em produto final.

Figura 8 – Grânulos pigmentados de polímeros

Fonte: Irina Vodneva/iStock.com.

124
124
Contudo, nota-se que existem diversas possibilidades para a
reciclagem dos materiais, existindo alguns casos onde a tecnologia
atual não permite tal operação, porém, com o avanço tecnológico e o
aprimoramento de técnicas já existentes, a tendência é de que mais
materiais possam ser reciclados no futuro, uma vez que diversos casos,
como os pneus e os entulhos, já foram tratados como sendo sem
solução, porém na atualidade esses são reciclados e reutilizados, por
exemplo como materiais de preenchimento em construções.

TEORIA EM PRÁTICA
Você atua para uma empresa do ramo de construção
civil, que pretende se tornar uma referência ambiental no
setor. Para tal, a alta direção decide utilizar os resíduos
sólidos na construção de novos empreendimentos.
Dentre as opções de aplicação desses resíduos, que
serão retirados de um empreendimento da empresa
que se encontra em construção, encontra-se uma coluna
estrutural. Seu dever, como engenheiro responsável por
materiais dentro da organização, é estabelecer o como
deverá ser realizada a tratativa e avaliar a possibilidade
de aplicação do material reciclado para a construção
da coluna estrutural. Contudo, você deve dizer como o
material deverá ser separado e preparado para aplicação,
além do fato de explicar o porquê esse pode ou não ser
aplicado na construção da coluna estrutural.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Com a evolução da sociedade, o ser humano passou a


consumir cada vez mais. Esse consumo resulta, entre

 125
outros fatores ambientais, na geração de resíduos
sólidos, que deverão ter a melhor destinação final
ambientalmente correta, ação essa que deve estar
apoiada nas leis e normas vigentes.
Sobre a destinação final, assinale a alternativa correta

a. A reciclagem não constitui uma forma de destinação


final, mas sim de reaproveitamento de materiais.

b. Disposição final e destinação final são a mesma coisa.

c. A destinação final é realizada sempre pela


logística direta.

d. Todos os resíduos sólidos devem passar por uma


disposição final que não necessariamente seja uma
destinação final.

e. Disposição final é uma possível destinação final para


um resíduo sólido.

2. “Os metais são considerados materiais de alta


durabilidade, resistência mecânica e facilidade de
conformação” (AGUIAR, 2010, p. 34), podendo esses
serem produzidos a partir da sucata ou da redução de
minérios. Este segundo método é aplicado aos metais
mais utilizados, como o ferro, o alumínio e cobre,
entre outros, porém existem exceções, como é o caso
do ouro, que pode ser obtido na sua forma pura, não
necessitando passar por processos de redução.
Sobre a reciclagem dos materiais metálicos, assinale a
alternativa correta:

126
126
a. Os materiais metálicos produzidos a partir de
minérios são chamados de materiais secundários,
uma vez que o material primário é o produto da
extração, ou seja, o minério concentrado.

b. Para a Ancat, os materiais ferrosos possuem uma


classe específica, separada dos demais metais.

c. Ferro gusa é obtido a partir da redução dos


minérios de ferro.

d. A industrialização da sucata dos materiais metálicos


é feita exclusivamente para o aumento da sua
densidade.

e. O processo de reciclagem dos aços, embora tenha


maior custo, resulta em menor tempo de produção.

3. Segundo a classificação presente em Ancat (2019), os


materiais cerâmicos estão divididos entre vidros e outros
materiais, sendo que esse último inclui os resíduos
sólidos da construção civil.
Sobre a reciclagem dos materiais cerâmicos, assinale a
alternativa correta:

a. Os vidros podem ser 100% reaproveitados na


reciclagem por conformação mecânica.

b. O vidro pode ser reciclado diversas vezes, bem como


os materiais metálicos, não possuindo um limite de
uso para tal aplicação.

c. Os cacos de vidro utilizados possuem procedência


externa, não sendo geradas perdas durante o
processo produtivo.

 127
d. Os resíduos da construção civil podem ser divididos
em duas classes distintas, A e B, sendo a primeira
reciclável.

e. A reciclagem dos resíduos da construção civil em


agregados resulta em um produto de alta qualidade,
podendo inclusive ter aplicações estruturais.

Referências bibliográficas
AGUIAR, Geisyanne. Gerenciamento dos resíduos sólidos recicláveis: um estudo
de caso na associação dos recicladores de Formiga-MG. 2010. 58 f. Trabalho
de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia de Produção) – Centro
Universitário de Formiga, Formiga, 2010. Disponível em: https://bibliotecadigital.
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reciclagem: um estudo de caso no Centro Mineiro de Referência em Resíduos
(CMRR). Revista Pensar Gestão e Administração, Belo Horizonte, v. 3, n. 2, p. 1-20,
jan. 2015. Semestral. Disponível em: http://revistapensar.com.br/administracao/
pasta_upload/artigos/a104.pdf. Acesso em: 5 set. 2019.
MMA, Ministério do Meio Ambiente. Reciclagem. [201-]. Disponível em: https://
www.mma.gov.br/informma/item/7656-reciclagem. Acesso em: 5 set. 2019.

128
128
VASQUES, Antonio Cruz (Ed.). Relatório Técnico 83: Reciclagem de Metais no País.
Belo Horizonte: J. Mendo Consultoria, 2009. 168 p.
VILHENA, André; D’ALMEIDA, Maria Luiza O. Bio consciência: lixo municipal –
manual de gerenciamento integrado. 2. ed. rev. Brasília: CEMPRE, 2002.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: E
Resolução: A grande questão em torno das alternativas propostas
é a confusão entre destinação final e disposição final. A destinação
final é aplicada a todo material que sai do fluxo direto, ou seja,
a todos os resíduos sólidos. Contudo, essa pode ser dada como
sendo a reutilização desses resíduos, a sua reciclagem, a sua
recuperação, ou ainda, caso esse seja um rejeito, poderá ser dada
a sua disposição final. A destinação final pode ser executada
por meio da logística direta, no caso de termos uma disposição
final, ou da logística reversa, no caso de termos uma reutilização,
reciclagem ou recuperação.
Questão 2 – Resposta: C
Resolução: Quando o material é produzido a partir de minérios,
chamamos esse processo de primário, já quando esse é obtido
de sucatas, chamamos esse processo de secundário, contudo a
alternativa (a) está errada. Segundo descrito pela Ancat (2019),
os produtos coletados no Brasil podem ser classificados em seis
categorias diferentes, que são: papeis, plásticos, alumínio, outros
metais, vidros e outros materiais, portanto a alternativa (b) está
errada. Para os aços, a sucata é misturada ao ferro gusa, que é o
produto resultante da redução dos minérios de ferro, de modo que
o produto final possa ter a sua composição química balanceada,
visando atingir as propriedades requeridas com o menor custo
possível, portanto a alternativa (c) está correta. Conforme descrito
por Vasques (2009), as sucatas são industrializadas antes de serem

 129
aproveitadas com o objetivo de aumentar a densidade (corte,
prensagem, fragmentação ou trituração), reduzir as impurezas
(plástico, madeira, vidro, borracha, entre outros) e adequar os
contaminantes (elementos de liga), portanto a alternativa (d) está
errada. Para materiais produzidos sem o emprego de sucata, deve-
se adicionar os elementos de liga, que podem ter custos muito
elevados, portanto a alternativa (e) está errada.
Questão 3 – Resposta: B
Resolução: Segundo Vilhena (2002), os vidros podem ser 100%
reciclados por meio da fusão em um processo sem perdas, sendo
esse material misturado à carga de matéria-prima na forma de
cacos, reduzindo tanto os custos com matéria-prima, que não são
tão representativos, e os custos com energia, que se reduzem
em torno de 2,5% quando utilizados 10% de material reciclado
na carga. Além disso, esse material pode ser reciclado diversas
vezes, bem como os materiais metálicos, não possuindo um
limite de uso para tal aplicação. Portanto, a alternativa (a) está
errada e a alternativa (b) está correta. Os cacos de vidro utilizados
possuem duas procedências distintas, a interna, que é gerada
pelo próprio fabricante (refugo), e a externa, que possui diversas
procedências distintas, portanto a alternativa (c) está errada.
Os resíduos sólidos da construção civil, antes de serem reciclados,
devem primeiramente ser separados, utilizando quatro
classes distintas definidas por resoluções CONAMA, portanto a
alternativa (e) está errada. Os materiais que atendem à Classe
A, os quais compõem o agregado, porém para tal necessitam
passar por um processo de trituração seguido de peneiramento
para obtenção de tamanhos homogeneamente distribuídos. Após
a trituração e o peneiramento, o material já pode ser aplicado
como agregado, sendo adequado para aplicações não estruturais,
portanto a alternativa (e) está errada.

130
130
Métodos de incorporação
de resíduos
Autor: Bruno Pizol Invernizzi

Objetivos

• Entender como os rejeitos podem afetar


o meio ambiente.

• Conhecer o processo de incorporação


de resíduos sólidos.

• Comparar algumas aplicações práticas para


a incorporação dos resíduos sólidos.

 131
1. O problema dos rejeitos

Desde os primórdios, o ser humano é responsável pela geração de


resíduos sólidos, que inicialmente se resumiam em sobras de carcaças
de animais e vegetais, resultantes da alimentação humana, bem como
os excrementos deixados por esses.

Com a evolução do ser humano e da sociedade a qual esse pertence, os


resíduos sólidos passaram a se modificar, sendo constituídos por novos
elementos, tais como madeira, lascas de pedra, metais, entre outros.

Na atualidade, devido à constante evolução da sociedade, que é somada


ao consumismo exacerbado, a geração de resíduos sólidos acabou por
se tornar um problema, tanto pela quantidade gerada quanto pela sua
periculosidade, uma vez que essa pode conter elementos pesados e até
mesmo nucleares.

O fator quantidade leva a uma questão de espaço, onde é necessário,


por exemplo, desmatar para poder dispor os resíduos gerados.
Enquanto o fator periculosidade resulta em fatores como queimadas
(devido à inflamabilidade), contaminação do solo e da água (devido
à toxicidade), transmissão de doenças aos animais e seres humanos
(devido à patogenicidade), entre outros.

Contudo, esses resíduos sólidos apresentam um risco, tanto ao meio


ambiente quanto à sociedade e aos seres humanos que nela convivem.
Desta forma, ao perceber os danos que vinham sendo causados pelos
resíduos sólidos, a sociedade moderna vem concentrando esforços
na proteção do meio ambiente, encontrando formas de reutilizar
e reciclar esses resíduos sólidos que anteriormente eram tratados
como rejeito, tendo a sua disposição final decretada, uma vez que não
existiam meios para evitá-la.

132
132
Devemos lembrar que o consumismo é um combustível altamente
inflamável para a geração de resíduos, os quais podem ser resultantes
das atividades domésticas, hospitalares ou ainda industriais e
extrativistas, entre outras, uma vez que se deve aquecer o setor
produtivo para que o consumismo seja possível, onde esse setor
depende da extração de alimentos, minerais e outras matérias-primas,
que serão processadas e convertidas nos bens de consumo.

Desde a extração dos alimentos e minerais até o consumo dos


produtos e serviços pelas pessoas, ocorre a geração de resíduos
sólidos, que devem ser tratados de forma correta para evitarmos os
efeitos adversos citados anteriormente.

Na atividade de extração dos minérios, por exemplo, temos a geração


dos rejeitos de mineração. Segundo Bezerra (2017), para cada tonelada
de minério de ferro concentrado são produzidas aproximadamente
1,5 toneladas de rejeitos, sendo que, no início desse milênio, somente
a China produzia em torno de 180 milhões de toneladas de rejeitos de
minério de ferro ao ano, que vinha aumentando a uma taxa próxima de
7% ao ano.

O total de resíduos sólidos inventariados no estado de Minas Gerais,


oriundos de grandes empresas de mineração, em 2016 (ano base 2015),
foi de aproximadamente 606 milhões de toneladas. Este total foi subdivido
em rejeitos, estéreis e resíduos. (BEZERRA, 2017)

Conforme definido por Bezerra (2017), os resíduos mencionados


correspondem à parte que pode ser reciclada ou reutilizada. Os estéreis
correspondem aos materiais escavados e movimentados durante a
extração dos minérios. Já os rejeitos correspondem a misturas de sólidos
e água, denominados em geral como sendo uma lama, que não possuem
outro destino que não os reservatórios ou barragens de contenção.

 133
Muitas vezes, o despejo de resíduos requer monitoramento constante
para a estabilidade geotécnica e podem conter elementos químicos
nocivos, que podem ser libertados para o ambiente, significando um sério
problema do ponto de vista ambiental. (SILVA1, 2007; YELLISHETTY2
et al., 2008 apud BEZERRA, 2017)

Portanto, os rejeitos compõem a parte de maior preocupação devido


às questões supracitadas. Segundo Bezerra (2017), alternativas vêm
sendo requeridas para o emprego desses rejeitos de modo a minimizá-
los, sendo que já existem alguns processos que utilizam pequenas
partes destes, de modo a evitar a sua disposição final. A Figura 1
mostra o crescimento da geração de rejeitos de minério de ferro ao
longo dos anos.

Figura 1 – Evolução da taxa de produção de rejeitos no mundo

Fonte: Guedes e Schneider (2017, p. 13).

Seguindo no processo produtivo, saindo da mineração e entrando no


setor industrial, também temos grandes problemas, uma vez que a
atividade industrial vem crescendo desde o início da industrialização e
sempre com tendência de crescer cada vez mais. Porém, tal atividade

1
SILVA, J. P. Impactos ambientais causados por mineração. Revista Espaço da Sofhia, v. 8, 1–13, 2007.
2
YELLISHETTY, M., KARPE, V., REDDY, E. H., SUBHASH, K. N., e RANJITH, P. G. Reuse of iron ore mineral wastes
in civil engineering constructions: A case study. Resources, Conservation and Recycling, 52(11), 1283–1289,
2008.

134
134
gera diversos resíduos diferentes, desde resíduos metálicos até os
resíduos resultantes do tratamento de efluentes líquidos e gasosos, tais
como o lodo resultante do tratamento de óleos e da água utilizada na
indústria, bem como os resíduos sólidos retidos nos filtros aplicados
para o controle da emissão de poluentes nas chaminés industriais.

Segundo Lucas e Benatti (2008), os resíduos industriais devem ser


separados em classes, seguindo as classificações presentes na norma
ABNT NBR 10.004 (ABNT, 2004), que prevê a sua classificação em
perigosos (Classe I) e não perigosos (Classe II), além de os não perigosos
serem classificados como inertes (Classe IIB) ou não inertes (Classe IIA).
Quando a sua disposição final for inevitável, esses materiais devem ser
isolados e tratados de forma correta.

Os resíduos industriais devem ser tratados isolando o componente que


apresente uma das características acima descritas, e quanto à disposição
final, devem ser isolados com segurança do ambiente, em aterros
específicos para esse tipo de resíduo, ou encaminhados para reuso ou
reciclagem. Outras formas de tratamento e destinação final de resíduos
industriais incluem o coprocessamento, a incineração, a estabilização e
solidificação e, no caso de resíduos não perigosos, a fertilização. (LUCAS e
BENATTI, 2008, p. 409)

Analisando essa questão, vemos que tanto a atividade de mineração


quanto a atividade industrial resultam em resíduos sólidos, os quais,
por vezes, podem não ter um processo de reutilização ou reciclagem
pré-estabelecido que evite a disposição final.

Após o consumo, também se tem a geração de problemas, tais


como os pneus utilizados em meios de transporte, que também são
resíduos sólidos potenciais, uma vez que após a sua vida útil esses são
descartados, porém já existem formas de reutilização e reciclagem que
foram criadas para evitar a sua disposição final.

Os pneus possuem uma composição complexa, já que esses são


compostos por borracha, cintas de aço e por uma carcaça de poliéster,

 135
conforme ilustrado pela Figura 2. As borrachas são constituídas
por ligações cruzadas que impedem que esse seja reprocessado
da mesma forma que os materiais termoplásticos, que necessitam
somente ser reaquecidos para uma nova conformação. As ligações
cruzadas impedem que a conformação mecânica ocorra, tanto
à temperatura ambiente quanto a altas temperaturas, uma vez
que o aquecimento dos pneus resulta na sua degradação e não
no seu amolecimento para conformação, já que as temperaturas
necessárias para romper as ligações cruzadas são tão altas quanto as
temperaturas necessárias para romper as ligações entre o carbono e o
hidrogênio, resultando assim na sua degradação.

Figura 2 – Partes constituintes dos pneus de automóveis

Fonte: adaptada de Faria (2015, p. 25).

ASSIMILE
Segundo descrito por Callister Jr. e Rethwisch (2016),
os polímeros são constituídos basicamente por cadeias
lineares, ou ramificadas, de hidrocarbonetos, que possuem
ligações primárias predominantemente covalentes
entre os átomos que constituem tal cadeia. Entre essas
cadeias, as ligações são secundárias, as quais permitem
a movimentação entre elas, resultando em grandes

136
136
deformações plásticas. Existem também os polímeros
denominados termofixos, que possuem átomos, tais como
o enxofre, que promovem a ligação entre as cadeias, sendo
essas chamadas de ligações cruzadas, evitando que ocorra
a deformação plástica, permitindo somente a deformação
elástica. Existe ainda um terceiro tipo, denominado
elastômero, os quais se assemelham aos termofixos
pelo fato de possuírem ligações cruzadas, porém essas
ligações são dispostas de modo a permitir que o material
experimente deformações elásticas de grandes proporções.

Outra forma de resíduos sólido que pode ser incluída nessa lista é o
esgoto e o lixo gerado pelas residências, indústria e comércio, entre
outros. Segundo Marciano (1999, p. 1), “a maior parte do nosso esgoto
é lançado in natura nos cursos d’água e o lixo urbano depositado a
céu aberto ou, em alguns casos, em aterros sanitários”, do esgoto,
por exemplo, resulta na remoção dos resíduos sólidos presentes na
água, permitindo que essa possa ser utilizada, porém os resíduos
sólidos removidos também devem ser tratados, sendo incumbência da
sociedade dar uma destinação final ambientalmente adequada para esse.

PARA SABER MAIS


Segundo reportagem escrita por Velasco (2018), embora
mais de 83% da população seja abastecida com água
potável, o esgoto gerado ainda é um grande problema,
uma vez que 55% do esgoto gerado no Brasil é despejado
diretamente na natureza. O estudo foi realizado com
base nos dados do Sistema Nacional de Informações
sobre saneamento (SNIS). Ainda segundo a reportagem,
esse problema é decorrente da falta de prioridade nas

 137
políticas públicas, maior custo de investimento e de
dificuldade nas obras, entre outros motivos, resultando
em uma prioridade para o abastecimento de água em
detrimento do tratamento de esgoto.

2. Incorporação de resíduos

Segundo FEPAM (2010, p. 2), a incorporação de resíduos sólidos pode


ser definida como “processo industrial no qual um resíduo é utilizado,
como matéria prima ou carga, na composição de um novo produto
comercializável”, contudo, podemos dizer que a incorporação de
resíduos sólidos nada mais é do que a aplicação desses resíduos,
seja pela reutilização ou pela reciclagem, para a confecção de um
dado produto.

Tal incorporação pode ser realizada de diversas maneiras, porém, de


modo geral, nota-se grande aplicação principalmente em materiais
cerâmicos, principalmente em materiais aplicados na construção civil,
devido ao seu grande volume, seja para compor a carga com o intuito de
reduzir custos com materiais de alto valor agregado, onde os materiais
incorporados possuem apenas uma função de preenchimento, seja por
questões específicas, como propriedades físicas ou químicas desses.

2.1 Aplicação da incorporação utilizando rejeitos de minérios

Devido ao aumento crescente da preocupação com o meio ambiente,


diversos estudos vêm sendo realizados no sentido de dar novas
aplicações aos resíduos sólidos. Muitos dos materiais em estudo já
possuem aplicações, porém esses estudos buscam novas práticas
que resultem não somente na redução dos impactos ambientais, mas
também em maior viabilidade econômica, uma vez que devemos nos
lembrar que ambos aspectos fazem parte do tripé da sustentabilidade.

138
138
Bezerra (2017) promoveu estudos utilizando os rejeitos de minério
para aplicação como filler em cimentos Portland. O filler é um tipo
de agregado extremamente fino utilizado para enchimento, sendo
considerado um material inerte. A sua aplicação resulta em melhorias
de algumas propriedades do cimento, tendo seu conteúdo limitado
em 10%, além do fato da necessidade de ter no mínimo 85% de
calcário (CaCO3), tendo suas especificações embasadas na norma
ABNT NBR 11578, conforme mencionado por Zerbino, Giaccio e
Isaia3 (2011 apud BEZERRA, 2017, p. 33). Outra característica do filler,
citada por Bardini4 (2008 apud BEZERRA, 2017, p. 33) é a distribuição
granulométrica, que deve ter 65% dos finos retidos na peneira com
abertura de 0,075 mm.

Em suas conclusões sobre a possibilidade de aplicar os rejeitos da


minério de ferro como filler, Bezerra (2017) concluiu após análise que
a distribuição granulométrica do rejeito utilizado era inferior à do
filler, sendo próxima à do cimento, em torno de 12 mm. Além disso, o
cimento apresentou redução na sua resistência à compressão (próximo
de 15%), enquanto o módulo de elasticidade não apresentou grandes
variações (próximo de 7%), porém resultou em uma hidratação mais
rápida do aluminato, além de uma maior massa específica. Ao final do
trabalho, Bezerra (2017) concluiu que o material é promissor e propôs
novos estudos para avaliar a durabilidade e os efeitos dos rejeitos em
argamassas e concretos.

2.2 Aplicação da incorporação utilizando resíduos industriais

Os resíduos industriais foram analisados por Ribeiro (2008), que


identificou resíduos do setor industrial, galvânico e automotivo, tendo
se focado na escória ferrosa, na areia verde de fundição, nos pós de

3
ZERBINO, R., GIACCIO, G., e ISAIA, G. C. Concrete incorporating rice-husk ash without processing. Construc-
tion and Building Materials, 25(1), 371–378. 2011.
4
BARDINI, V. S. D. S., Estudo de viabilidade técnica da utilização de cinzas da queima da casca de Pinus
em obras de pavimentação asfáltica. (Dissertação de M.Sc.) – Escola de Engenharia de São Carlos da Univer-
sidade de São Paulo, São Carlos, 2008.

 139
exaustão, em micro esferas de vidro para jateamento e em sais de
inertização de ácidos de baterias automotivas, todos com a incorporação
em materiais cerâmicos.

• A escória ferrosa é um subproduto do processo de fundição,


sendo basicamente composta por óxidos metálicos que têm a
função de proteger o banho da oxidação pelo ar atmosférico,
além de ajudar na remoção das impurezas do banho metálico e a
manter o calor na carga durante o processamento.

• A areia verde de fundição é aplicada na fabricação dos moldes


que serão utilizados para dar forma ao metal líquido a ser vazado
nesses moldes, sendo classificada como um resíduo inerte pela
norma ABNT NBR 10004 (ABNT, 2004), pertencendo à classe IIB.

• Os pós de exaustão da fundição são finos resultantes do processo


de moldagem, constituídos por bentonita, carvão vegetal e areia
silicosa, contendo altas porcentagens de materiais orgânicos.
Conforme mencionado por Ribeiro (2008), esses pós são retirados
do molde por meio de esteiras vibratórias.

• As microesferas de vidro para jateamento são aplicadas na


limpeza mecânica das peças, sendo arremessadas contra o
material em alta velocidade visando executar a sua limpeza,
removendo a areia do molde que tenha aderido às paredes
do material. Durante o processo, as microesferas se partem a
cada uso. Após uma dada quantidade de ciclos aplicados, as
esferas partidas perdem as suas propriedades necessárias para a
aplicação no jateamento, resultando em um resíduo classificado
como pertencente à classe IIB.

• Os sais de inertização de ácidos de baterias automotivas são


provenientes da neutralização do ácido presente na bateria
automotiva, sendo comumente utilizado como agente para
neutralização o hidróxido de sódio (Na(OH)2) devido ao fato deste

140
140
ter alto potencial alcalino. Como subproduto da reação entre o
ácido e o hidróxido de sódio, tem-se a formação dos chamados
sais de inertização, cuja disposição final resulta em problemas
devido às questões ambientais.

Para cada um dos produtos mencionados, Ribeiro (2008) fez um


levantamento de possibilidades:

• Para a escória ferrosa são possíveis algumas aplicações, como,


por exemplo, a obtenção de placas vitro-cerâmicas, para aplicação
como revestimento, ou a mistura com cimento, que possibilita o
aumento da resistência à compressão do mesmo.

• Para a areia verde de fundição, pode-se aplicar em massas


asfálticas betuminosas, além de poder ser incorporado à argila
vermelha para a confecção de peças.

• Para o pó resultante do processo de jateamento com as


microesferas de vidro, Ribeiro (2008) cita a possibilidade de aplicar
como fundente para a confecção de porcelana, resultando em
economia de energia, devido à temperatura de fusão mais baixa.
Notou-se também o aumento de resistência mecânica em estudos
em diferentes materiais cerâmicos.

Em estudo realizado por Ribeiro (2008), este concluiu que os pós de


exaustão e os sais de inertização podem ser aplicados na confecção de
produtos a partir da cerâmica vermelha, tais como os tijolos, as telhas,
pisos, entre outros.

2.3 Aplicação da incorporação utilizando resíduos de pneus

Pinto e Akazaki (2016) promoveram testes para avaliar a incorporação de


resíduos da borracha de pneus em massas de gesso, concluindo que o
material compósito obtido possuía boa resistência mecânica e excelente
isolamento acústico, porém a aderência à massa somente é possível
empregando gesso de granulometria fina em torno de 0,075 mm.

 141
Faria (2015) realizou estudos com a incorporação da borracha de
pneus para a fabricação de cerâmica vermelha, concluindo que tal
incorporação reduziu a plasticidade da massa cerâmica para as
concentrações por ela estudadas, porém o produto apresentou
resistência mecânica satisfatória em relação às normas vigentes.

Além da proposta apresentada por Pinto e Akazaki (2016), Faria (2015)


cita outras aplicações como carga em asfaltos, concreto, argamassa
e tijolos.

2.4 Aplicação da incorporação para produção de materiais da


construção civil

Lucas e Benatti (2008) promoveram levantamentos de estudos com


resíduos industriais para obtenção de materiais cimentícios e argilosos
aplicados na construção civil.

A indústria cerâmica é uma das que mais se destacam na reciclagem de


resíduos industriais e urbanos, em virtude de possuir elevado volume
de produção, o que possibilita o consumo de grandes quantidades de
rejeitos. Esse volume de consumo, aliado às características físico-químicas
das matérias-primas cerâmicas e às particularidades do processamento
cerâmico, faz da indústria cerâmica uma das grandes opções para a
reciclagem de resíduos sólidos. (MENEZES; NEVES; FERREIRA5, 2002 apud
LUCAS e BENATTI, 2008, p. 410)

Em um dos estudos avaliados, Balaton, Gonçalves e Ferrer6 (2002 apud


LUCAS e BENATTI, 2008, p. 410) utilizaram lama galvânica incorporada
em massa cerâmica vermelha, onde foi notado que para até 2% em
peso não houve qualquer modificação nas propriedades da massa,
sendo que para porcentagens superiores a essa ocorreu a formação de

5
MENEZES, R. R.; NEVES, G. A.; FERREIRA, H. C. O estado da arte sobre o uso de resíduos como matérias-primas
cerâmicas alternativas. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 6, n. 2, p. 303-313, 2002.
6
BALATON, V. T.; GONÇALVES, P. S.; FERRER, L. M. Incorporação de Resíduos Sólidos Galvânicos em Massas de
Cerâmica Vermelha. Cerâmica Industrial, v. 7, n. 6, nov./dez. 2002.

142
142
eflorescência na superfície do material. Contudo, os autores concluíram
que para a aplicação estudada, pode-se eliminar os rejeitos através da
aplicação da incorporação utilizando até 2% em peso.

Basegio e colaboradores7 (2002 apud LUCAS e BENATTI, 2008, p. 410)


realizaram um estudo também com a incorporação em tijolos, porém
aplicando lodo de curtume, onde para até 10% em peso as propriedades
obtidas foram satisfatórias. Portanto, esta aplicação é até mais
interessante do que a anterior, uma vez que permite maiores pesos de
lama, lembrando que as lamas utilizadas eram de fontes diferentes,
portanto possuem composição e propriedades diferentes.

Nuvolari e Coraucci Filho8 (2003 apud LUCAS e BENATTI, 2008, p. 410-


411) também estudaram a incorporação de lamas em tijolos, porém a
lama aplicada foi a gerada em estações de tratamento de esgoto, onde
se concluiu que aplicações até 10% em peso são possíveis, sem gerar
alterações significativas nas principais propriedades do tijolo.

TEORIA EM PRÁTICA
Você atua como gerente industrial para uma empresa
fabricante de materiais refratários, que são utilizados na
aciaria (unidade em usina siderúrgica onde o ferro-gusa
é convertido em aço) para conversão do ferro gusa e de
sucata em aço. Devido à alta concorrência com produtos
importados, o proprietário da empresa decidiu reduzir
os custos de produção e está analisando a possibilidade
de empregar rejeitos de mineração do ferro. Para tal, ele
pediu que você faça tal avaliação. Explique para ele quais
pontos deverão ser levados em consideração, lembrando

7
BASEGIO, T. et al. Environmental and technical aspects of the utilization of tannery sludge as a raw material for
clay products. Journal of the European Ceramic Society, v. 22, p. 2251-2259, 2002.
8
NUVOLARI, A.; CORAUCCI FILHO, B. Utilização de Lodos de Esgoto Sanitário em Tijolos Cerâmicos Maciços:
Aspectos Tecnológicos e Ambientais, In: FÓRUM DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS PAULISTAS – CIÊNCIA E TEC-
NOLOGIA EM RESÍDUOS, 1, 2003, São Pedro – S. P. Anais [...]. São Pedro: ICTR, 18-20 maio 2003. p. 729-743.

 143
que você não sabe ao certo se esta ideia dará certo ou
não, uma vez que não existem muitos estudos sobre este
tema. No entanto, espera-se que você proponha uma
metodologia para avaliar a possibilidade.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Devido à constante evolução da sociedade que é


somada ao consumismo exacerbado, a geração de
resíduos sólidos acabou por se tornar um problema,
tanto pela quantidade gerada quanto pela sua
periculosidade, uma vez que essa pode conter
elementos pesados e até mesmo nucleares.
Sobre as possíveis destinações finais aplicáveis a um
resíduo sólido, assinale a alternativa que apresenta a
melhor situação possível.

a. Redução.

b. Reutilização.

c. Reciclagem.

d. Incineração.

e. Disposição final.

2. Desde a extração dos alimentos e minerais até o


consumo dos produtos e serviços pelas pessoas, ocorre
a geração de resíduos sólidos, que devem ser tratados
de forma correta para evitarmos os efeitos adversos
citados anteriormente.

144
144
Sobre as atividades humanas, em relação à produção de
bens, assinale a alternativa correta.

a. Os rejeitos gerados em todas as atividades industriais


devem ser dispostos em barragens de contenção

b. Os resíduos industriais são classificados em acordo


com as regras da Ancat, devendo ser separados
em seis diferentes classes: papéis, plástico, vidros,
alumínio, outros metais, outros materiais.

c. A escória ferrosa é um subproduto do processo de


fundição, sendo composta exclusivamente por óxidos
metálicos.

d. Os polímeros são facilmente reciclados, pois


necessitam somente ser aquecidos para serem
conformados mecanicamente.

e. O tratamento e a destinação final de resíduos


industriais incluem o coprocessamento, a incineração,
a estabilização e solidificação e, no caso de resíduos
não perigosos, a fertilização.

3. Devido ao aumento crescente da preocupação com o


meio-ambiente, diversos estudos vêm sendo realizados
no sentido de dar novas aplicações aos resíduos sólidos.
Muitos dos materiais em estudo já possuem aplicações,
porém esses buscam novas práticas que resultem não
somente na redução dos impactos ambientais, mas
também em maior viabilidade econômica, uma vez que
devemos nos lembrar que ambos aspectos fazem parte
do tripé da sustentabilidade.

 145
Sobre a incorporação de resíduos, assinale a
alternativa correta:

a. A incorporação de resíduos é uma parte pertencente


ao processo de incineração

b. A incorporação de resíduos diz respeito à disposição


final desses no meio ambiente

c. A incorporação de resíduos pode ser definhada


como sendo um processo industrial no qual um
resíduo é utilizado, como matéria prima ou carga, na
composição de um novo produto comercializável

d. A incorporação de resíduos se refere a um processo


logístico, para o qual o material retorna à cadeira de
suprimentos, utilizando a logística reversa.

e. A incorporação de resíduos não é muito estudada,


pois esta não possui grandes aplicações práticas,
embora seja uma prática ambientalmente correta.

Referências bibliográficas
BEZERRA, Carolina Goulart. Caracterização do rejeito de minério de ferro (iot)
e avaliação da sua influência no comportamento físico-químico e mecânico
de pastas de cimento. 2017. 140 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
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Gabarito

Questão 1 – Resposta: B
Resolução: Embora a melhor solução de todas seja a redução, se
possível a eliminação, tal solução não é uma disposição final, já
que se trata de uma questão de projeto ou processo, ou seja, essa
pode ser realizada somente antes da geração do resíduo sólido.
A destinação final ocorre quando o resíduo já foi gerado, sendo
necessário dizer o que deverá ser feito com este. Sendo assim, a
reutilização é o melhor caminho, pois tanto a reciclagem quanto a
incineração resultam em gastos maiores de energia, além disso, de
modo geral, resultam em maiores emissões de poluente, uma vez
que envolvem processos além da logística. Já a disposição final é a
pior situação possível, que somente deve ser dada quando não for
possível realizar nenhuma das outras alternativas

Questão 2 – Resposta: E
Resolução: Somente os rejeitos gerados na mineração devem
ser dispostos em barragens de contenção. Para as demais áreas

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industriais, os resíduos industriais são classificados em acordo
com a ABNT NBR 10004, podendo ser perigosos (Classe I) ou não
perigosos (Classe II), sendo esta última classe classificada em inerte
(Classe IIB) e não inerte (Classe IIA). Contudo, as alternativas A e
B estão erradas. A escória ferrosa é um subproduto do processo
de fundição, sendo basicamente composta por óxidos metálicos,
podendo conter outros elementos como sulfetos, por exemplo,
portanto a alternativa C está errada. Os polímeros termoplásticos
são facilmente reciclados, pois podem ser aquecidos para
serem deformados plasticamente, porém existem os polímeros
termofixos, por exemplo, que possuem ligações cruzadas que
impedem tal operação, portanto a alternativa D está errada.
Quanto à disposição final, devem ser isolados com segurança
do ambiente, em aterros específicos para esse tipo de resíduo,
ou encaminhados para reúso ou reciclagem. Outras formas de
tratamento e destinação final de resíduos industriais incluem o co-
processamento, a incineração, a estabilização e solidificação e, no
caso de resíduos não perigosos, a fertilização. (LUCAS e BENATTI,
2008, p. 409)
Portanto, a alternativa E está correta.

Questão 3 – Resposta: C
Resolução: Segundo FEPAM (2010, p. 2), a incorporação de resíduos
sólidos pode ser definhada como “processo industrial no qual um
resíduo é utilizado, como matéria-prima ou carga, na composição
de um novo produto comercializável.”
Seguindo tal definição, podemos dizer que a incorporação de
resíduos sólidos nada mais é do que a aplicação desses resíduos,
seja pela reutilização ou pela reciclagem, para a confecção de um
dado produto.
Portanto, a alternativa C está correta, enquanto as demais
estão erradas.

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