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2 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 3


AGRICULTURA
FAMILIAR
BANRISUL

4 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


O BANRISUL
FINANCIA O SONHO
DE MILHARES
DE FAMÍLIAS.

Através do PRONAF, o Banrisul


financia projetos de custeio e
investimento para produção,
armazenamento e transporte.

São diversas linhas de crédito que


atendem as necessidades dos
agricultores familiares.

Conte com o Banrisul para plantar e


colher ótimos resultados.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 5


EDITORIAL

É com prazer que a Editora Bota Amarela apresenta a


segunda edição do Anúario Brasileiro da Agricultura Fa-
Sumário
miliar, referente ao ano de 2013, cumprindo, assim, o ob- 8 AGRICULTURA FAMILIAR
jetivo de levar ao conhecimento de nossos leitores esta
obra de referência sobre a realidade deste importante se-
tor da economia brasileira, com informações resultantes
18 CENSO AGROPECUÁRIO
de levantamentos, estudos e pesquisas realizados pelo
IBGE e outras instituições dedicadas ao conhecimento 26 PRESIDENTE DILMA
sistemático do País.
Esta edição traz os resultados advindos de diversas
32 ESTADOS
pesquisas realizadas pelo IBGE, como por exemplo do
último Censo Agropecuário, que revela que a agricultura
familiar responde por cerca de 38% (ou R$ 54,4 bilhões) 42 EMBRAPA
do valor total produzido pela agropecuária brasileira. A
produção vegetal gerou 72% do valor da produção da 84 MINISTÉRIOS
agricultura familiar, especialmente com as lavouras tem-
porárias (42% do valor da produção) e permanentes
(19%). Em segundo lugar vinha a atividade animal (25%),
100 MAIS ALIMENTOS
especialmente com animais de grande porte (14%). As
informações do Censo possibilitam, ainda, aquilatar a 140 PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS
importância da agricultura familiar na absorção de mão
de obra. Segundo essa fonte, há cerca de 12,3 milhões 166 TROCA-TROCA
de pessoas trabalhando na agricultura familiar, o que
corresponde a 74,4% do pessoal ocupado no total dos
estabelecimentos agropecuários. 178 POLÍTICA HABITACIONAL PARA O CAMPO
No que se refere à produção agrícola, extração vege-
tal, silvicultura, efetivos da pecuária e avícola, e produ- 186 REFORMA AGRÁRIA
ção animal, são apresentados dados das mais recentes
pesquisas agropecuárias e o trabalho desenvolvido por
importantes instituições para o desenvolvimento deste
194 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
setor, como a Embrapa, em seus diversos segmentos.
São divulgados, também, os investimentos feitos através 206 COOPERATIVAS
dos diversos programas dos governos federal, estaduais
e municipais para o fortalecimento, modernização e de- 232 LUZ PARA TODOS
senvolvimento da agricultura familiar.
Desejamos a todos uma boa leitura.
238 TURISMO RURAL

Expediente: Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar Assecom MS, Agência Brasil, Terezinha Wilk - Emater/RS,
Editora Bota Amarela Ltda. Editor: Edson Castro Câmara dos Deputados, Agência AL
CNPJ: 07.361.916/0001-16 Textos: Edson Castro, Paola Seibt e Karine Heller Artes Comercial Jornal Bom Dia: Fábio Pichler
Diretor Presidente: Hélio Rubem Corrêa da Silva Marketing: Rosmari Gryzbowski, Érica Farias e Evandro Impressão: Edelbra
Diretora Administrativa: Solange Leal da Silva Centenaro Janeiro 2013
Avenida Santo Dal Bosco, 97 Projeto Gráfico e Diagramação: Mariah Carraro Não é permitida a reprodução, cópia, transcrição,
Centro – Erechim – RS Smaniotto - Copydesk Jornalismo & Marketing Ltda. transcrita ou transmitida por meios eletrônicos ou
CEP 99700-000 Capa: Equipe Jornal Bom Dia gravações sem a referida citação da fonte.
Fone/Fax: 54 3520-8500 Foto da capa: Edson Castro
Fotografias: Arquivo Jornal Bom Dia, Edson Castro,
Emater, Assecom MDA, Assecom Embrapa, Assecom MG,

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Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 7
Gestão e trabalho das
famílias no campo
A agricultura familiar é uma forma de produção onde
predomina a interação entre gestão e trabalho. São os
agricultores familiares que dirigem o processo produtivo,
dando ênfase na diversificação utilizando o trabalho familiar,
eventualmente complementado pelo trabalho assalariado

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MDA / Divulgação

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 9


E
ntende-se por agricultura familiar o cultivo da História da agricultura familiar
terra realizado por pequenos proprietários ru- De acordo com estudos, a agricultura familiar não é
rais, tendo como mão de obra essencialmente uma categoria social recente, nem a ela corresponde uma
o núcleo familiar. No Brasil, a agricultura familiar foi categoria analítica nova na sociologia rural. No entanto, sua
assim definida na Lei 11.326, de 24 de julho de 2006 e, utilização, com o significado e abrangência que lhe tem sido
em dezembro de 2011, a Assembleia Geral das Nações atribuído nos últimos anos no Brasil, assume ares de novi-
Unidas declarou 2014 o Ano Internacional da Agricul- dade e renovação.
tura Familiar, reconhecendo o papel fundamental desse Muitas terminologias foram empregadas histori-
setor para a segurança alimentar no mundo. camente para se referir ao mesmo sujeito: camponês,
Olhando o futuro da agricultura familiar percebem- pequeno produtor, lavrador, agricultor de subsistência,
se dois aspectos. Um otimista e outro desafiante. Oti- agricultor familiar. A substituição de termos obedece, em
mista em verificar que há vários modelos de sucesso no parte, a própria evolução do contexto social e as transfor-
esforço de desenvolvimento, quando os obstáculos são mações sofridas por esta categoria, mas é resultado tam-
eliminados. Mais que isto, é verificar que as experiências bém de novas percepções sobre o mesmo sujeito social.
de sucesso têm pressupostos comuns como a organiza- A partir dos anos 90 vem se observando um crescente
ção de produtores, qualificação, crédito, produtos com interesse pela agricultura familiar no Brasil. Este interesse
valor agregado e emprego de tecnologias adequadas de- se materializou em políticas públicas, como o Programa
senvolvidas pela pesquisa agropecuária. Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pro-
O aspecto desafiante é fazer tudo isto em uma velo- naf) e na criação do Ministério do Desenvolvimento Agrá-
cidade compatível com o processo de transformação que rio (MDA), além do revigoramento da Reforma Agrária.
ocorre no Brasil e no mundo caracterizado por um mer- A formulação das políticas favoráveis à agricultura
cado globalizado, aberto e competitivo. A agricultura fa- familiar e à Reforma Agrária obedeceu, em boa medida,
miliar tem pressa e atender a demanda dessa importante às reivindicações das organizações de trabalhadores ru-
parcela da população brasileira é um desafio fundamen- rais e à pressão dos movimentos sociais organizados, mas
tal para uma sociedade mais justa e harmoniosa. também está fundamentada em formulações conceituais

Ubirajara Machado/Embrapa

10 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


desenvolvidas pela comunidade acadêmica nacional e de unidades produtivas, sendo que a metade delas está
apoiada em modelos de interpretação de agências mul- na Região Nordeste.
tilaterais, como a Organização das Nações Unidas para a Foram identificados exatamente 4,367 milhões de
Alimentação e a Agricultura, o Instituto Interamericano estabelecimentos da agricultura familiar, o que repre-
de Cooperação para a Agricultura e o Banco Mundial. senta 84,4% dos estabelecimentos brasileiros. Esse nu-
meroso contingente de agricultores familiares ocupava
A estrutura produtiva da agricultura fa- uma área de 80,25 milhões de hectares, o que corres-
miliar ponde a 24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos
Segundo dados do Censo Agropecuário do Institu- agropecuários brasileiros.
to Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de
85% do total de propriedades rurais do país pertencem
a grupos familiares. São aproximadamente 4,4 milhões Percentual de estabelecimentos caracterizados como agricultura familiar em relação ao total de
estabelecimentos
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 11


Esses resultados mostram uma estrutura agrária ainda
concentrada no Brasil. Os estabelecimentos não familia-

John Deere / Divulgação


res, apesar de representarem 15,6% do total, ocupavam
75,7% da área ocupada. A área média dos estabelecimen-
tos familiares era de 18,37 hectares e a dos não familia-
res de 309,18 hectares. Conforme o último censo, a agri-
cultura familiar responde por 37,8% do Valor Bruto da
Produção Agropecuária e, de acordo com a Secretaria de
Agricultura Familiar, aproximadamente 13,8 milhões de
pessoas trabalham em estabelecimentos familiares, o que
corresponde a 77% da população ocupada na agricultura.
Entre os estados brasileiros, a agricultura familiar
tem especial destaque no Paraná. Das 374 mil proprie-
dades rurais no estado, 320 mil pertencem a agricultores
familiares, sendo que quase 90% dos trabalhadores estão
vinculados à agricultura familiar. O Paraná tem uma ex-
pectativa de safra de 30 milhões de toneladas de grãos,
e mais de 50% do valor bruto da produção vem da agri-
cultura familiar. Além disso, 1/3 das terras do estado são miliares. Os números do Censo Agropecuário do IBGE
agricultáveis, e a maior parte está em propriedades com apresentam a participação da agricultura familiar em
menos de 50 hectares. algumas culturas de produção vegetal e pecuária.
Os agricultores familiares, de acordo com o levanta-
Uso da terra e produção mento do IBGE, produzem 87% da produção nacional
A utilização das terras dos estabelecimentos, segun- de mandioca e 70% da produção de feijão, sendo 77% do
do a classificação das agriculturas, demonstra que dos feijão preto, 84% do feijão fradinho, caupi de corda ou
80,25 milhões de hectares da agricultura familiar, 45% macáçar e 54% do feijão de cor.
eram destinados a pastagens, enquanto a área com ma- Já a produção de milho pelos agricultores familiares,
tas, florestas ou sistemas agroflorestais ocupavam 28% representa 46% da produção nacional. O café ocupa 38%,
das áreas. Por fim as lavouras, com ocupação de 22%. sendo esta parcela constituída por 55% do tipo robusto
A agricultura não familiar também seguia esta ordem, ou conilon e 34% do arábico. O arroz fica com 34%, trigo
mas a participação de pastagens e matas e/ou florestas era 21% e a cultura com menor participação da agricultura
um pouco maior, 49% e 28%, respectivamente, enquanto familiar foi a da soja com 16%.
a área de lavouras era menor, representando 17%. No que se refere à pecuária, as famílias de agricul-
Destaca-se a participação da área das matas destina- tores produzem 58% do leite, composta por 58% do lei-
das à preservação permanente ou reserva legal de 10% em te de vaca e 67% do leite de cabra. O plantel de suínos
média nos estabelecimentos familiares, e de outros 13% de representa 59%, o de aves 50% e o de bovinos 30% da
áreas utilizadas com matas e/ou florestas naturais. produção nacional.
Apesar de cultivar uma área menor com lavouras e
pastagens, 17,7 e 36,4 milhões de hectares, respectiva- Agricultura Familiar – números da produção no Brasil
mente, a agricultura familiar é responsável por garantir 87% da produção nacional de mandioca
boa parte da segurança alimentar do Brasil, como impor- 70% da produção de feijão
tante fornecedora de alimentos para o mercado interno.
59% de suínos
58% do leite
Importância econômica
Cerca de 60% dos alimentos consumidos pela po- 50% das aves
pulação brasileira são produzidos por agricultores fa- 46% do milho

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Agricultura Total de esta- Área total (ha) Utilização das terras nos estabelecimentos
familiar belecimentos Lavouras
Permanentes Temporárias Área plantada com forrageiras
para corte
Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha)
mentos mentos mentos
Total 5 175 489 329 941 393 1 480 243 11 612 227 3 127 255 44 019 726 3 313 322 4 114 557
Agricultura 4 367 902 80 250 453 1 233 614 4 290 241 2 719 571 12 012 792 2 851 616 1 338 027
familiar - Lei nº
11.326

Não familiar 807 587 249 690 940 246 629 7 321 986 407 684 32 006 933 461 706 2 776 530

Agricultura Utilização das terras nos estabelecimentos Receitas obtidas pelos estabelecimentos no ano, por tipo
familiar Lavouras Venda Pastagens
Área para cultivo de flores (inclusive Naturais Pastagens plantadas Pastagens plantadas
hidroponia e plasticultura), viveiros degradadas em boas condições
de mudas, estufas de plantas casas
de vegetação
Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha)
mentos mentos mentos mentos
Total 11 075 100 109 1 672 328 57 316 457 313 141 9 842 925 1 510 734 91 594 484
Agricultura 7 119 18 378 1 361 035 14 575 542 248 086 2 762 803 1 171 043 19 052 869
familiar - Lei nº
11.326
Não familiar 3 956 81 730 311 293 42 740 915 65 055 7 080 122 339 691 72 541 615

Agricultura Utilização das terras nos estabelecimentos


familiar Matas e/ou florestas Sistemas agroflorestais
Matas e/ou florestas naturais desti- Matas e/ou florestas naturais Florestas plantadas com essências Área cultivada com espécies
nadas à preservação permanente ou (exclusive área de preservação florestais florestais também usada para
reserva legal permanente e as em sistemas lavouras e pastejo de animais
agroflorestais)
Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha)
mentos mentos mentos mentos
Total 1 097 574 50 163 102 975 307 35 621 638 188 951 4 497 324 305 826 8 197 564
Agricultura 795 670 8 119 041 794 732 10 618 764 148 076 592 998 250 252 2 898 493
familiar - Lei nº
11.326
Não familiar 301 904 42 044 061 180 575 25 002 874 40 875 3 904 326 55 574 5 299 071

Agricultura Utilização das terras nos estabelecimentos


familiar Tanques, lagos, açudes e/ou área de Construções, benfeitorias ou caminhos Terras degradadas (erodidas, Terras inaproveitáveis para
águas públicas para exploração da desertificadas, salinizadas, etc.) agricultura ou pecuária (pântanos,
aquicultura areais, pedreiras, etc.)
Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha)
mentos mentos mentos mentos
Total 1 876 17 291 10 651 49 284 669 5 468 3 077 50 032
Agricultura 1 434 5 469 9 242 24 873 554 3 156 2 705 20 441
familiar - Lei nº
11.326
Não familiar 442 11 822 1 409 24 411 115 2 312 372 29 590
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.

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Agricultura Familiar – números da produção no Brasil A declaração é considerada uma vitória das 350 or-
38% do café ganizações de 60 países ligadas à agricultura familiar que
34% do arroz apoiaram uma campanha iniciada em fevereiro de 2008
30% bovinos em favor dessa decisão, na qual o Ministério do Desenvol-
21% do trigo vimento Agrário (MDA) teve papel importante. É conside-
16% de soja rada também êxito da atuação da Coordenação de Produ-
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário
tores da Agricultura Familiar do Mercosul (Coprofam) da
qual participa a Confederação Nacional dos Trabalhadores
da Agricultura (Contag), ambas com atuação na Reunião
ONU declara 2014 Ano Internacional da Especializada sobre Agricultura Familiar do Mercosul
Agricultura Familiar (Reaf).
Com esta decisão, entidade reconhece a importância O documento final da Conferência Mundial de Agri-
estratégica da agricultura familiar para a inclusão pro- cultura Familiar, realizada em outubro de 2011, intitulado
dutiva e para a segurança alimentar em todo o mundo. “Alimentar o mundo, cuidar do planeta”, dá conta de que
A agricultura familiar foi eleita tema do ano pelos atualmente há 1,5 milhão de agricultores familiares traba-
193 países membros da Organização das Nações Unidas lhando em 404 milhões de unidades rurais de menos de
(ONU). Durante reunião realizada em dezembro, a As- dois hectares; 410 milhões cultivando em colheitas ocultas
sembléia Geral da ONU declarou 2014 o Ano Internacio- nos bosques e savanas; entre 100 e 200 milhões dedicados
nal da Agricultura Familiar. ao pastoreio; 100 milhões de pescadores artesanais; 370
A declaração inédita para o setor é resultado do re- milhões pertencem a comunidades indígenas. Além de
conhecimento do papel fundamental que esse sistema mais 800 milhões de pessoas que cultivam hortas urba-
agropecuário sustentável desempenha para o alcance da nas. No Brasil, segundo o Censo Agropecuário, são 13,7
segurança alimentar no planeta. milhões de pessoas ocupadas na agricultura familiar. ◆

Edson Castro

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16 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 17
CENSO AGROPECUÁRIO

Condição do produtor familiar


D
os 4,3 milhões de estabelecimentos de agri- modalidade arrendatários (196 mil produtores), parcei-
cultores familiares, 3,2 milhões de produto- ros (126 mil produtores) ou ocupantes (368 mil produ-
res tinham no último Censo Agropecuário, tores). Os menores estabelecimentos são os de parceiros,
acesso às terras na condição de proprietários, o que re- que contabilizam uma área média de 5,59 hectares.
presenta 74,7% dos estabelecimentos familiares e abran- O Censo Agropecuário apresentou uma novidade: em
ge 87,7% das suas áreas. dezembro daquele ano foram identificados 255 mil produ-
Outros 170 mil produtores declararam na pesquisa tores sem área, sendo que 95% destes (242 mil produtores)
acessar as terras na condição de assentado sem titulação eram de agricultores familiares. Integravam este contingen-
definitiva. Entretanto, outros 691 mil produtores disse- te os extrativistas, produtores de mel ou produtores que já
ram ter acesso temporário ou precário às terras, seja na tinham encerrado sua produção em áreas temporárias.

Agricultura Condição do produtor em relação às terras


familiar Proprietário Assentado sem Arrendatário Parceiro Ocupante Produtor
titulação definitiva sem área
Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha) Estabeleci- Área (ha) Estabeleci-
mentos mentos mentos mentos mentos mentos
Total 3946 276 306 847 605 189 191 5 750283 230110 9005203 142531 1985085 412357 6353218 255024
Agricultura 3 263 868 70 346 453 170 391 4 065596 196111 2093567 126795 708852 368668 3035985 242069
familiar - Lei
nº 11.326
Não familiar 682 408 236 501 152 188 00 1 684687 33999 6911635 15736 1276234 43689 3317233 12955
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.

18 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Mão de obra
A
inda de acordo com os dados do Censo Agro- Outro dado interessante revelado pela pesquisa mos-
pecuário, a maioria das pessoas que condu- tra que pouco mais de 600 mil estabelecimentos familiares
zem a atividade produtiva da agricultura fa- (13,7%) eram dirigidos por mulheres, enquanto na agri-
miliar tem 10 anos ou mais de experiência, o que soma cultura não familiar esta participação não chegava a 7%.
62%. Assim, os estabelecimentos dirigidos por pessoas
com menos de 5 anos de experiência chegam a 20%.

Agricultura familiar Produtor na direção dos trabalhos do estabelecimento, por sexo e grupos de anos de direção
Homens Mulheres
Menos de De 1 a menos De 5 a menos De 10 anos e Menos de De 1 a menos De 5 a menos De 10 anos
1 ano na de 5 anos na de 10 anos a mais na direção 1 ano na de 5 anos na de 10 anos a e mais na
direção dos direção dos direção dos dos trabalhos direção dos direção dos direção dos direção dos
trabalhos trabalhos trabalhos trabalhos trabalhos trabalhos trabalhos

Total 132 730 817 681 832 868 2 735 982 16 248 103 745 109 290 426 945
Agricultura familiar - 100 878 654 887 686 234 2 325 341 14 764 93 573 98 580 393 645
Lei nº 11.326

Não familiar 31 852 162 794 146 634 410 641 1 484 10 172 10 710 33 300
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.

O censo registrou ainda 12,3 milhões de pessoas Mulheres x homens


vinculadas à agricultura familiar (74,4% do pessoal ocu- Entre as pessoas da agricultura familiar, a maioria
pado) em 31.12.2006, com uma média de 2,6 pessoas, são homens (dois terços), mas o número de mulheres
de 14 anos ou mais, ocupadas. Os estabelecimentos não ocupadas também é expressivo: 4,1 milhões de mulheres
familiares ocupavam 4,2 milhões de pessoas, o que cor- (um terço dos ocupados). Em média, um estabelecimen-
responde a 25,6% da mão de obra ocupada. to familiar possui 1,75 homem e 0,86 mulher ocupados
de 14 anos ou mais.
Agricultura familiar Pessoal ocupado no estabelecimento em 31.12 (1) Outro dado in-
Total Sexo teressante revelado
Homens Mulheres
é de que dos 909
mil estabelecimen-
Total De 14 anos Total De 14 anos Total De 14 anos
e mais e mais e mais
tos ocupados da
agricultura familiar
Total 16 567 544 15 505 243 11 515 194 10 919 257 5 052 350 4 585 986
possuíam menos de
Agricultura familiar - 12 322 225 11 412 590 8 174 002 7 666 373 4 148 223 3 746 217 14 anos, sendo 507
Lei nº 11.326
mil homens e 402
mil mulheres.
Não familiar 4 245 319 4 092 653 3 341 192 3 252 884 904 127 839 769
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.
(1) Inclusive produtor.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 19


CENSO AGROPECUÁRIO

Laços de parentesco com o produtor


E
ntre as 12,3 milhões de pessoas ocupadas na milhões, ou seja, a maioria sabe ler e escrever (63%). Mas
agricultura familiar, 11 milhões das pessoas, por outro lado, existem pouco mais de quatro milhões de
ou seja, 90%, tinham laços de parentesco com pessoas que declararam não saber ler nem escrever, prin-
o produtor. A união dos esforços em torno de um empre- cipalmente de pessoas de 14 anos ou mais, totalizando
endimento comum é uma característica importante da 3,6 milhões de agricultores.
agricultura familiar. É baixo o número de pessoas que declarou possuir
Dos 11 milhões de pessoas ocupadas na agricultu- qualificação profissional: apenas 170 mil pessoas na agri-
ra familiar e com laços de parentesco com o produtor, 8,9 cultura familiar e 116 mil na não familiar. O número de
milhões residiam no próprio estabelecimento (81,0%), en- pessoas ocupadas em atividades não agropecuárias no
quanto outros 2,1 milhões de pessoas se ocupavam no esta- interior do estabelecimento é reduzido: apenas 169 mil
belecimento, mas residiam fora. pessoas na agricultura familiar e 53 mil pessoas nos es-
tabelecimentos não familiares.
Educação e qualificação profissional
Entre as 11 milhões de pessoas da agricultura fami-
liar e com laços de parentesco com o produtor, quase sete

Agricultura familiar Pessoal ocupado no estabelecimento em 31.12 com laço de parentesco com o produtor (1)
Total Principais características em relação ao total do pessoal oupado
Residiam no estabelecimeto Sabiam ler e escrever
Total De 14 anos e mais Total De 14 anos e mais Total De 14 anos e mais
Total 12 801 179 11 792 283 10 122 098 9 196 863 8 236 795 7 718 971
Agricultura familiar - Lei nº 11 036 701 10 135 724 8 933 708 8 105 709 6 984 632 6 524 084
11.326

Não familiar 1 764 478 1 656 559 1 188 390 1 091 154 1 252 163 1 194 887

Agricultura familiar Pessoal ocupado no estabelecimento em 31.12 com laço de parentesco com o produtor (1)
Principais características em relação ao total do pessoal ocupado
Recebiam salário Tinham qualificação profissional Trabalhavam somente em atividade não
agropecuária
Total De 14 anos e mais Total De 14 anos e mais Total De 14 anos e mais

Total 537 964 533 420 286 729 285 634 223 671 211 747
Agricultura familiar - Lei nº 341 015 337 475 170 089 169 333 169 910 159 937
11.326
Não familiar 196 949 195 945 116 640 116 301 53 761 51 810
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.
(1) Inclusive produtor.

20 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


D
os estabelecimentos familiares 26,0% não ti- como não agropecuárias. A ocupação dos produtores em
nham seu produtor com dedicação exclusiva, atividades fora do seu estabelecimento é comum nos países
porque dedicavam parte do seu tempo em ati- desenvolvidos, e estes resultados apontam para sua impor-
vidades fora do seu estabelecimento, tanto agropecuárias tância entre os estabelecimentos da agricultura familiar.

Agricultura familiar Estabelecimentos em que o produtor declarou ter atividade fora do estabelecimento
Tipo de atividade
Estabelecimentos Agropecuária Não agropecuária Agropecuária e não agropecuária
Total 1 479 362 686 659 745 594 47 109
Agricultura familiar - Lei nº 11.326 1 113 992 557 155 524 855 31 982
Não familiar 365 370 129 504 220 739 15 127
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.

Receitas e valor
da produção
A
agricultura familiar responde por um terço
das receitas dos estabelecimentos agrope-
cuários brasileiros. Esta participação menor
nas receitas, em parte, é explicada porque apenas três
milhões (69,0%) dos produtores familiares declararam
ter obtido alguma receita no seu estabelecimento duran-
te o ano de 2006, ou seja, quase um terço da agricultura
familiar declarou não ter obtido receita naquele ano.
Os três milhões de agricultores familiares, que decla-
raram ter obtido alguma receita de vendas dos produtos
dos estabelecimentos, tinham uma receita média de R$
13,6 mil, especialmente com a venda de produtos vege-
tais que representavam mais de 67,5% das receitas obti-
das. A segunda principal fonte de receita da agricultura
familiar, segundo os dados, eram a venda de animais e
seus produtos, que representam mais de 21,0% das re-
ceitas obtidas nos estabelecimentos. Entre as demais re-
ceitas se destacavam a prestação de serviço para empresa
integradora e de produtos da agroindústria familiar.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 21


CENSO AGROPECUÁRIO
Agricultura Receitas obtidas pelos estabelecimentos no ano, por tipo
familiar Venda
Estabeleci- Valor Produtos vegetais Animais e seus produtos Animais criados em cativeiros
mentos (1 000 R$) (jacaré, escargô, capivara e outros)
Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor
mentos (1 000 R$) mentos (1 000 R$) mentos (1 000 R$)
Total 3 620 670 121 833 136 2 306 576 91 165 433 2 096 110 20 058 611 12 611 461 926
Agricultura 3 031 170 41 322 443 1 970 265 27 883 780 1 729 341 8 693 506 9 802 121 293
familiar - Lei nº
11.326
Não familiar 589 500 80 510 693 336 311 63 281 653 366 769 11 365 105 2 809 340 633

Agricultura Receitas obtidas pelos estabelecimentos no ano, por tipo


familiar Venda
Húmus Esterco Atividades de turismo rural no Exploração mineral
estabelecimento
Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor
mentos (1 000 R$) mentos (1 000 R$) mentos (1 000 R$) mentos (1 000 R$)
Total 1 195 10 500 33 901 128 672 3 551 53 102 121 468 121 468
Agricultura 878 6 716 25 124 34 266 2 188 13 546 4 411 28 653
familiar - Lei nº
11.326
Não familiar 317 3 784 8 777 94 406 1 363 39 556 1 401 92 815

Agricultura Receitas obtidas pelos estabelecimentos no ano, por tipo


familiar Produtos da agroindústria Prestação de serviço Prestação de serviços para em- Outras atividades não agrícolas
de beneficiamento e/ou transformação presa integradora realizadas no estabelecimento
de produtos agropecuários por terceiros (artesanato, tecelagem, etc.)
Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor
mentos (1 000 R$) mentos (1 000 R$) mentos (1 000 R$) mentos (1 000 R$)
Total 314 298 3 034 861 44 300 570 304 49 295 6 109 143 33 227 119 116
Agricultura 279 443 1 474 487 37 101 130 610 38 342 2 867 954 28 797 67 632
familiar - Lei nº
11.326
Não familiar 34 855 1 560 374 7 199 439 694 10 953 3 241 189 4 430 51 485
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.

22 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


M
ais de 1,7 milhão de produtores familiares 475,27. Mais de R$ 5,5 bilhões chegaram aos produtores
declararam ter outra receita além daquela familiares por meio de aposentadorias, pensões e pro-
obtida no estabelecimento, especialmente gramas especiais dos governos em 2006. É importante
as advindas de aposentadorias ou pensões (65%) e salá- observar que estes resultados são referentes às rendas
rios com atividade fora do estabelecimento (24,0%). O declaradas pelo produtor, e não consideram os demais
valor médio anual destas receitas foi de R$ 4,5 mil para a integrantes da família, o que explica o reduzido número
agricultura familiar, fortemente influenciado pelas apo- de produtores familiares (644 mil) que declararam re-
sentadorias e pensões, com valor médio mensal de R$ ceber receitas de programas especiais dos governos, tal
como o Bolsa Família.

Agricultura Receitas obtidas pelos estabelecimentos no ano, por tipo


familiar Estabeleci- Valor Recursos de aposentadorias ou Salários obtidos pelo produtor Doações ou ajudas voluntárias de
mentos (1 000 R$) pensões com atividades fora do estabe- parentes ou amigos
lecimento
Estabeleci- Valor Estabeleci- Valor Estabelecimen- Valor
mentos (1 000 R$) mentos (1 000 R$) tos (1 000 R$)
Total 2 044 976 12 707 879 976 146 5 797 186 647 518 5 664 421 44 597 87 055
Agricultura 1 710 751 7 763 150 887 912 5 063 925 388 418 1 878 093 37 995 59 478
familiar - Lei nº
11.326
Não familiar 334 225 4 944 729 88 234 733 262 259 100 3 786 327 6 602 27 577
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 23


CENSO AGROPECUÁRIO

Q
uando são considerados os valores de toda a destas, a agricultura familiar era majoritária, exprimin-
produção, e não somente as receitas de ven- do 56% do valor da produção de animais de grande por-
das, foram contados em 3,9 milhões o núme- te, por 57% do valor agregado na agroindústria, por 63%
ro de estabelecimentos familiares que declarou algum da horticultura e 80% da extração vegetal no País.
valor de produção. A agricultura familiar foi responsá-
vel por 38,0% do valor total da produção dos estabele- Financiamento da produção
cimentos. A exemplo das receitas, a produção vegetal Conforme a tabela os números referentes à obtenção
era a principal produção (72,0% do valor da produção de financiamento no ano de 2006: 781 mil estabeleci-
da agricultura familiar), especialmente com as lavouras mentos familiares praticaram a captação de recursos,
temporárias (42% do valor da produção) e permanentes sendo o custeio a principal finalidade (405 mil estabe-
(19%). Em segundo lugar no valor da produção, o desta- lecimentos), seguido da finalidade de investimento (344
que ficou com a atividade animal (25%), especialmente mil estabelecimentos), além da comercialização (8 mil
com animais de grande porte (14,0%). estabelecimentos) e manutenção do estabelecimento (74
O valor médio da produção anual da agricultura fa- mil estabelecimentos).
miliar foi de R$ 13,99 mil, tendo a criação de aves o me- Por outro lado, o Censo Agropecuário registrou
nor valor médio (R$ 1,56 mil), e a floricultura o maior mais de 3,5 milhões de estabelecimentos da agricultura
valor médio (R$ 17,56 mil). familiar que não obtiveram financiamento, especial-
A agricultura não familiar apresentou maior valor de mente porque não precisaram ou por medo de contrair
produção na maioria das atividades, mas em algumas dívidas

Agricultura familiar Estabelecimentos que obtiveram financiamento


Por finalidade
Investimento Custeio Comercialização Manutenção do estabelecimento
Total 395 425 492 628 10 554 86 218
Agricultura familiar - Lei nº 11.326 343 981 405 874 8 285 73 818
Não familiar 51 444 86 754 2 269 12 400
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.

Agricultura Estabelecimentos que não obtiveram financiamento


familiar Total Motivo da não obtenção
Falta de Não sabe Burocracia Falta de pagamento Medo de Outro Não preci-
garantia como do empréstimo contrair motivo sou
pessoal conseguir anterior dívidas
Total 4 254 808 77 984 61 733 355 751 133 419 878 623 538 368 2 208 930
Agricultura familiar - 3 586 365 68 923 56 205 301 242 116 861 783 741 462 701 1 796 692
Lei nº 11.326

Não familiar 668 443 9 061 5 528 54 509 16 558 94 882 75 667 412 238
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.

24 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 25
Agricultura
familiar:
papel estratégico para
o crescimento do país
Presidente Dilma Rousseff aponta a importância da
agricultura familiar para o desenvolvimento econômico,
sustentável e social do Brasil, que vive um momento de
crescimento em todos os setores

26 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Roberto Stuckert Filho/PR
dos os brasileiros e brasileiras. Para isso, nós vamos mobi-
lizar todos os instrumentos à nossa disposição, mas, é im-
portante dizer, valorizaremos sempre a força, a tradição,
pioneirismo, capacidade de inovação da nossa agricultura,
da nossa indústria e de nossos prestadores de serviço.
Se, de fato, o nosso objetivo é construir uma nação de-
senvolvida, uma nação em que homens e mulheres sejam
trabalhadores, sejam pequenos agricultores, pequenos
empresários, médios agricultores empresários e agriculto-
res e grandes empresários construam um país, uma na-
ção desenvolvida é fundamental olhar para a agricultura
familiar como um dos elementos estratégicos para que o
Brasil seja, de fato, essa nação desenvolvida, essa nação
sustentável e, sobretudo, para que nós tenhamos um te-
cido social, de fato, de classe média. Um tecido social de
agricultores familiares que tenham acesso à riqueza, que
sejam agricultores familiares, não agricultores pobres,
mas agricultores em condições de constituir no Brasil não
só um grande mercado interno, não só um núcleo funda-
mental de fornecimento de alimentos, mas, sobretudo, um
conjunto de cidadãos que, como consumidores e agentes
produtivos sejam forças essenciais para o nosso país”.

Realidades auspiciosas garantem um país em


desenvolvimento
“Eu considero que este país complexo tem realidades
diversas. Muitas delas são extremamente auspiciosas, mos-
tram um país crescendo, mostram um país pujante, um país
com uma capacidade, de fato, de se transformar numa das
maiores economias do mundo a cada dia que passa”.

Democratizar o acesso a terra é garantia de


reforma agrária com padrão de qualidade

N
“Por isso, eu quero dizer que essa condição de garan-
os relatos a seguir, a presidente do Brasil, Dilma tir uma agricultura familiar pujante é condição também
Rousseff, destaca ações com o compromisso de para um padrão de qualidade da reforma agrária. Sem
ampliar e de fortalecer as políticas públicas lu- sombra de dúvida, este país precisa se democratizar, e
tando pela erradicação da miséria, estímulo ao empre- nós continuaremos nessa trajetória, democratizar o aces-
endedorismo e melhoria na qualidade de vida. Os textos so à terra para milhões de trabalhadores ou camponeses
foram editados através de pronunciamentos oficiais em pobres deste país, que têm, às vezes, um pedaço insufi-
diversos eventos relacionados à agricultura familiar. ciente de terra para viver ou nenhum.
Mas, ao mesmo tempo, nós queremos que a reforma
Crescimento com geração de oportunidades é agrária no Brasil contribua para esse caminho de suces-
o caminho para o desenvolvimento so, que é o caminho de um setor de agricultores familia-
“Meu objetivo maior é garantir que o Brasil continue res, de pequenos agricultores pujante, e que seja aquele
crescendo e gerando cada vez mais oportunidades para to- que possa viver com orgulho da renda do seu trabalho”.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 27


Governo integrado pela defesa da democracia Programa Nacional de Educação no Campo in-
“Eu queria dizer que o meu governo é apoiado e inte- centiva jovens a permanecerem nas terras com ca-
grado por um amplo conjunto de partidos, que estão uni- pacitação e qualidade
dos por visões comuns quanto às tarefas estratégicas que O Programa Nacional de Educação no Campo (Prona-
a nossa geração deve responder ao presente, mas também, campo) tem o objetivo de formar professores, educar jo-
ao futuro do país. E que nos dedicaremos enquanto esti- vens e adultos e garantir práticas pedagógicas para reduzir
vermos no governo, porque nos une a defesa da democra- as distorções no cenário educacional do campo brasileiro.
cia e do aperfeiçoamento das instituições, o rigoroso res- Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), no cam-
peito aos direitos humanos sociais e econômicos do povo po, 23,18% da população com mais de 15 anos é analfabeta
brasileiro, a determinação de construir um país mais justo, e 50,95% não concluiu o ensino fundamental. O governo
menos desigual social e regionalmente e livre da miséria, o quer permitir acesso de 1,9 milhão de estudantes a bibliote-
contínuo compromisso da sustentabilidade do crescimen- cas escolares, implantar ensino integral em mais de 10 mil
to econômico, a distribuição de renda, a geração de em- escolas, promover formação continuada para mais de 10 mil
prego, a ampliação dos salários e a ascensão social do povo professores, oferecer 120 mil bolsas de formação profissio-
brasileiro, a obsessão por garantir, aos nossos cidadãos e nal no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
cidadãs, oportunidades, de oferecer aos brasileiros e às Emprego (Pronatec), disponibilizar recursos para a cons-
brasileiras, saúde pública de qualidade e educação de alto trução de 3 mil escolas e aquisição de 8 mil ônibus escola-
nível e, sem dúvida, a firme defesa da soberania nacional, res. O Programa Nacional do Livro Didático também deve
do desenvolvimento nacional autônomo e do multilatera-
lismo nas relações internacionais”. Plano Safra é o maior na história do país

Proteger a renda é fundamental para condições Lançado em julho de 2012, o Plano Safra
sustentáveis na agricultura familiar 2012/2013 tem como objetivo fortalecer a agri-
“Para nós, proteger a renda dos agricultores, garantir cultura familiar, responsável pela produção de
que ele e sua família tenham condições sustentáveis na sua 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros.
pequena propriedade é, eu diria assim, é o cerne do Pro- Neste Plano Safra, o governo também apresenta o
grama de Agricultura Familiar que desde o governo do pre- Programa de Aquisição de Alimentos desburocra-
sidente Lula nós viemos construindo, cada ano colocando tizado para facilitar o acesso de famílias e muni-
mais um tijolo, cada ano colocando mais um avanço através cípios mais pobres. O Plano Safra da Agricultura
de um diálogo sistemático com os movimentos. Esse diá- Familiar será de cerca de R$ 18 bilhões em crédi-
logo sistemático tem encontro marcado como o governo. tos do Programa Nacional de Fortalecimento da
O encontro marcado, em que nós abrimos o processo de Agricultura Familiar.
discussão com todos os movimentos sociais, escutamos, “Nós ouvimos as demandas dos movimentos
atendemos sempre, mas uma coisa: atendemos e escutamos do campo, não só as demandas, mas também as
muito as sugestões, porque sabemos que elas contribuem sugestões e propostas. Identificamos os aprimo-
para cada vez melhores tijolos. ramentos necessários e chegamos hoje ao anún-
Vocês podem ter certeza que a agricultura familiar e cio de ações que nos permitirão aumentar a pro-
a agricultura comercial também vão dar sua contribuição, dução sustentável de alimentos de qualidade e
não só plantando, produzindo, mas investindo, compran- fortalecer ainda mais a nossa agricultura familiar.
do máquinas, comprando equipamento e melhorando Quando olhamos para os últimos Planos Sa-
cada dia mais a qualidade da produção no campo brasilei- fra, vemos o quanto avançamos nessa questão do
ro. Nós queremos pequenos agricultores capazes de pro- fortalecimento da agricultura familiar no Brasil.
duzir com a última tecnologia. Nós queremos pequenos Acredito que essa seja uma das políticas mais im-
agricultores capazes de ter acesso ao mercado e de garantir portantes quando a gente considera seu aspecto
seu acesso através de organizações próprias”. social e seu aspecto econômico”.

28 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


garantir a distribuição de material sobre a realidade rural seguinte: ‘Eu quero que meu filho se forme e se transforme
para mais de 3 milhões de estudantes. num grande incentivador para eu cada vez melhorar mais
“Nós temos, de fato, e não há porque criar uma se- essa terra. Eu quero que ele seja um agricultor universitá-
paração, dois grandes desafios nesse país. Um deles é rio’. Um agricultor universitário era o que ele queria para o
desenvolver a agricultura, de forma a garantir que nós filho dele. E eu acho que nós queremos que essa ambição,
tenhamos cada vez mais um mercado interno que seja expressa por um pai, ela tenha garantias dadas pelo Estado
abastecido por pequenos agricultores, por agricultores brasileiro. Se essa agricultura familiar se expandir, se essa
familiares, por médios agricultores, por grandes agricul- agricultura familiar tiver a sustentação de técnicos e, como
tores. E que tenhamos, também, a capacidade de num disse o meu amigo agricultor, de agricultores universitá-
mundo em que a questão alimentar e a questão energé- rios, nós vamos, de fato, mudar a feição do Brasil.
tica é tão estratégico de termos a maior capacidade de Dentro da nossa política de desenvolvimento com in-
produção de tecnologia agrícola do mundo. Não só o sol, clusão social, eu diria que o Pronacampo, escolas técnicas
a terra e a água que temos, mas sobretudo, a capacidade ligadas ao Pronatec, todo esse esforço de escolaridade,
do homem de transformar tudo isso numa forma susten- ele tem um papel. Esse papel é assegurar oportunidades.
tável de produção é o que nos interessa. Nós estamos com esse programa não apostando só no
Há que garantir para quem tem acesso a terra as con- dia de amanhã. Estamos apostando no dia de amanhã,
dições de sobrevivência na terra. Garantir que não fosse sim. Mas, nós estamos, sobretudo, apostando que uma
uma penalidade ser agricultor, mas que fosse uma gran- outra geração vai também se beneficiar com tudo isso
de oportunidade ser agricultor nesse país. Não algo que que fazemos nessa, mudando a feição do campo brasilei-
implicasse em perda de oportunidade para as famílias, ro e garantindo que ele será um lugar digno de qualidade
para as crianças e para os jovens. para se morar e se criar os filhos”.
Eu, durante a campanha, estive numa pequena pro-
priedade aqui perto inclusive de Brasília e era importante Plano Agrícola e Pecuário comprova a prio-
ver que, através de muito esforço, eles tinham conseguido ridade da questão agrícola
colocar nessa pequena propriedade familiar uma produ- “O governo brasileiro tem tido um grande empenho
ção agrícola de alta qualidade. E todos queriam que seus em colocar como prioridade a questão agrícola no Brasil.
filhos – foi a fala mais emocionante para mim, que era do E nós não vemos nenhuma contradição entre o agrone-
proprietário dessa pequena unidade agrícola - ele dizia o gócio e a política para a agricultura familiar para os mé-

Raquel Aviani /Ascom Ministério Agricultura

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 29


dios e pequenos proprietários. Pelo contrário, achamos mentos. E nisso, o papel do Brasil tem de consolidar cada
que elas são complementares. Eu queria dizer aos senho- vez mais como um papel excepcional. Por isso, este Plano
res que o Brasil se orgulha muito do lugar que ocupa no Agrícola, ele, de fato, é um plano que pretende ampliar
cenário agrícola internacional. Nós, sem sombra de dúvi- cada vez mais o espaço da agricultura brasileira dentro
da, somos uma potência agropecuária porque soubemos e fora do país.
agregar as condições naturais à eficiência do trabalho, da Nós estamos nessa safra oferecendo mais recursos
ciência e da tecnologia, e temos um imenso orgulho dos com taxas de juros menores. A redução da taxa de ju-
homens e das mulheres do nosso agronegócio. ros, que é um movimento que estamos vendo ocorrer em
A nossa agricultura, a nossa pecuária, o nosso setor toda a economia, é uma marca desse Plano também. A
de agroenergia são frutos do empenho de nosso país em agricultura também está sendo beneficiada por essa re-
gerar conhecimento e aplicá-lo à atividade produtiva. dução. Isso é o reconhecimento que nós também damos
São expressões da dedicação de nossos produtores e são ao fato de que a agricultura exerce um papel essencial,
também partes de escolhas estratégicas e de políticas pú- nesse momento, também no enfrentamento da crise in-
blicas que têm apoiado de forma efetiva esses produtores. ternacional. Porque o nosso agronegócio tem um poten-
Eu considero que é obrigação do país ter consciência cial de gerar renda, emprego e de mostrar que o Brasil
da importância e tomar as medidas cabíveis para expandir consegue, é um dos poucos países que consegue, criar
cada vez mais o caráter avançado da nossa agricultura. O uma relativa proteção, em relação aos efeitos perversos
que tem de mais moderno que é, para nós, estratégico. De dessa crise de dívida soberana e de dívida bancária que
fato, eu concordo que a agricultura no Brasil conquistou um afeta o mundo.
estágio que o seu nível de competitividade é capaz de supe- Essa nova edição oferece, de fato, mais recursos com
rar as crises. juros mais baixos, porque queremos que o produtor rural
Nós sabemos que o mundo, por mais tecnológico que concentre sua energia na terra, na semente, na colheita e
se transforme, jamais prescindirá de energia e de ali- não no banco e na hipoteca. Queremos que o produtor

Agência Brasil

30 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Desenvolvimento e Sustentabilidade

“Queremos que a palavra ‘desenvolvimento’ apa- regional equilibrado da renda, que corrija os de-
reça, de agora em diante, sempre associada à expres- sequilíbrios entre as regiões do país, que corrija a
são ‘sustentável’. Ao lado dos objetivos de desenvolvi- condenação de uma parte deste país ao baixo de-
mento do milênio, é necessário estabelecer também senvolvimento, como foi o caso do Norte e do Nor-
os objetivos do desenvolvimento sustentável. Esses deste; criação de um amplo mercado de bens de
objetivos, que abrangem compromissos e metas para consumo de massas, que passe a dar sustentação
todos os países do mundo, têm, no seu centro, o com- interna ao nosso desenvolvimento; significa tam-
bate à pobreza e à desigualdade e a sustentabilidade bém que o Brasil está se transformando, e nós o
ambiental. Assumimos aqui, como sempre assumi- faremos se transformar, cada dia mais, do ponto
mos, ao longo do governo Lula e do meu governo, de vista socioeconômico, em um país de classes
que é possível crescer e incluir, proteger e conservar. médias; significa desenvolvimento que tenha na
No meu governo, quando falamos de desen- sustentabilidade ambiental uma condição impres-
volvimento sustentável, eu quero dizer aqui, de cindível.
forma clara, no que estamos falando: para nós, Nossas escolhas, em matéria de energia, de segu-
desenvolvimento sustentável significa cresci- rança alimentar, de infraestrutura logística, de ino-
mento acelerado de nossa economia para poder vação tecnológica, levam em conta o uso sustentável
distribuir riqueza; significa criação de empregos de nossos recursos ambientais. Além disso, o desen-
formais e expansão da renda dos trabalhadores; volvimento sustentável significa aprofundamento dos
significa distribuição de renda para pôr fim à mi- mecanismos de participação social e o fortalecimento
séria e reduzir a pobreza, com políticas públicas da nossa democracia; significa incentivo e defesa dos
que provoquem melhoria da educação, da saúde, nossos valores, da nossa cultura, da nossa diversidade
da segurança pública e de todos os serviços públi- cultural; finalmente, significa uma inserção soberana e
cos fornecidos pelo Estado brasileiro; crescimento competitiva no mundo”.

rural seja capaz de adotar as melhores práticas e possa nhos, e dos muitos produtos da agricultura, da agricul-
estar livre para produzir e prosperar”. tura familiar, da agroindústria, das muitas empresas que
produzem máquinas agrícolas, que produzem ônibus.
Serra Gaúcha é considerada uma das regiões Enfim, das muitas empresas aqui da região que como eu
mais prósperas do Brasil disse tem dimensão internacional.
“Caxias do Sul tem um significado especial e é sem- A região da Serra Gaúcha está próxima das melhores
pre muito importante valorizar o que aqui foi construí- condições geoclimáticas para produzir os melhores vi-
do e conquistado ao longo dos anos. As suas raízes, aos nhos do mundo. Os viticultores são verdadeiros heróis,
seus fundadores, homens e mulheres corajosos, que obstinados, enfrentam os percalços da natureza, extraem
vieram fazer a vida nesse novo mundo que nós, hoje, da terra o que de melhor ela pode entregar aos seres hu-
temos responsabilidade de construir. E aqui na Serra manos. Investem com trabalho árduo, mas também com
Gaúcha enfrentaram o paredão dessa serra e foram ca- tecnologia. Investem e a cada dia melhoram a qualidade
pazes de, dando o máximo de si, construir com suas dos nossos vinhos.
famílias, seus filhos uma das regiões mais prósperas no Eu quero aqui, então, neste dia, reafirmar o compro-
nosso país. misso do governo federal com os viticultores da Serra
Como cidadã brasileira e como Presidente da Repú- Gaúcha. Vocês têm, podem ter certeza uma parceira,
blica, eu me orgulho muito de Caxias do Sul, me orgulho Presidenta, da produção agrícola e da produção indus-
da qualidade das uvas, me orgulho da qualidade dos vi- trial dessa região”. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 31


32 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
Case / Divulgação

Mato Grosso do Sul:


Destaque na agricultura familiar
Os valores de financiamento através do Pronaf
chegam a R$ 120 milhões
Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 33
O
diretor-presidente da Agência de Desenvolvi-
mento Agrário e Extensão Rural do Governo

Agraer/Divulgação
de Mato Grosso do Sul (Agraer), José Antônio
Roldão, ressalta que a agricultura familiar é o segmento
social e produtivo de grande importância para o Estado,
pois representa 63% dos estabelecimentos rurais, detém
somente 4% da área dos estabelecimentos rurais, mas ocu-
pa 46% do pessoal e atinge 14% do valor da produção.
“Esses agricultores familiares são os grandes responsá-
veis pela produção dos produtos da cesta de produtos bá-
sicos dos sul-mato-grossenses. Estes são responsáveis por
quase totalidade dos produtos hortícolas, 52% da produção
de feijão, 77% da produção de mandioca, 68% da produção
do café, 56 % da produção leiteira e 45% da produção de
aves. Os valores de financiamento da agricultura familiar no
Estado através do Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (Pronaf) atinge valores de R$ 120 mi-
lhões”, afirmar o diretor-presidente da Agraer.
Diretor da Agraer de Mato Grosso do Sul, José Roldão

Projetos que fortalecem a agricultura familiar carreta agrícola) e ainda 64 motoniveladoras, benefician-
De acordo com a Agraer, são inúmeros os projetos do diretamente mais de 25.000 agricultores familiares.
desenvolvidos no Mato Grosso do Sul que visam o cres-
cimento e fortalecimento do setor. Programa Nacional de Crédito Fundiário
“Destacamos as principais ações e o que elas represen- A Agraer é a responsável pela Unidade Técnica Estadual
tam, tanto para o desenvolvimento socioeconômico, quanto de implantação do programa, tendo executado no Estado:
para projeções na agricultura familiar”, pontua Roldão. — 73 assentamentos implantados
— 2.280 famílias assentadas
Capacitação profissional — 15.940 ha adquiridos
Atualmente são 7.228 agricultores familiares em 378 — 99,7 milhões de recursos financiados
cursos e 561 técnicos Extensionista/administrativos em
103 cursos de formação. Showtec
Projeto Balde Cheio Mostra da Agricultura Familiar
Aumento de 70% na produção de leite das proprieda- Comparecimento de mais de 10 mil agricultores fa-
des assistidas, 2.650 produtores assistidos e 332 técnicos miliares na Mostra da Agricultura Familiar no municí-
da Agraer capacitados. pio de Maracaju/MS com o objetivo de conhecer técnicas
inovadoras, informações sobre gestão e as novas tecnolo-
Projeto de Resfriadores de Leite Comunitários gias adequadas aos agricultores familiares.
Fornecimento de 242 tanques resfriadores, atenden-
do a 4.800 famílias de agricultores familiares e garan- Caravana Mais Alimentos
tindo o armazenamento apropriado de 300 mil litros de Evento nos municípios de Dourados, Ivinhema,
leite por dia. Campo Grande, Itaquiraí, Terenos e Coxim para mostra
aos produtores das novidades em máquinas, equipamen-
Programa de Patrulhas Mecanizadas tos e tratores.
Visando o melhoramento das estradas e o aumento Participação de 6 mil produtores.
da produção e produtividade, a Agraer distribuiu 232 Financiamento de R$ 25,1 milhões em tratores, ca-
Patrulhas Mecanizadas (trator agrícola, grade aradora e minhões, equipamentos agrícolas, resfriadores de leite.

34 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Programa Especial do Mato Grosso do Sul Aquisição de competência - Formação de agentes de ex-
Programa Aldeia Produtiva tensão. Capacitação, formação e treinamento dos agriculto-
Investidos R$ 9 milhões de recursos próprios do Go- res familiares e aumentar a profissionalização dos mesmos.
verno do Estado com o objetivo de fortalecer a produção Produção em bases agroecológicas - Privilegiar o
sustentável das aldeias indígenas em Mato Grosso do Sul: potencial endógeno das comunidades e implantação do
—— 68 patrulhas mecanizadas Centro de Pesquisa em Agroecologia.
—— 6.850 sacas de sementes Ampliar os recursos financeiros para a Assistência
—— 6.000 pomares familiares (mudas, calcário e adubo) Técnica de Extensão Rural (Ater)
hortas familiares Governo Federal;
—— 255 agricultores indígenas capacitados Governo Estadual;
Governos Municipais.
Permanência no campo Ampliar atendimento com qualidade - Técnico exten-
De acordo com Rodão, a Agraer tem dentre os seus sionistas capacitados e qualificados para atender os policul-
desafios, atuar no sentido de tornar e promover a agri- tivos e criações diversas e a toda família. Sistemas produti-
cultura familiar seguindo os seguintes eixos: vos familiares cada vez mais pluriativos e multifuncionais.
Protaganismo da agricultura familiar para a produ- Rejuvenescer a capacidade produtiva dos solos - Mi-
ção agropecuária - Garantir a produção dos produtos da crobacias Hidrográficas e planejamento conservacionis-
mesa do brasileiro. ta da unidade produtiva.
Extensão para a família - A extensão não é só volta- Ampliar a aplicação de crédito - Aumentar a capaci-
da para o produtor rural, mas também para sua esposa e dade de absorção de crédito de investimentos e custeio
filhos, porquanto todos exercem funções importantes no pelos AF de forma responsável para melhoria dos seus
trabalho cotidiano de uma unidade de produção familiar. processos de gestão e aumento da produtividade, em es-
Ater presente - Garantia de ações continuadas pela pecial nos projetos de assentamentos.
Agraer, a exemplo das ações da educação e saúde. Articular de forma objetiva e consistente as políticas
Implantação de políticas públicas duradouras e públicas voltadas ao meio rural.
abrangentes - Mais alimentos, Pronaf, Balde Cheio, Al- Ampliar as receitas não agropecuárias nas unidades
deia Produtiva, Crédito Investimento (FCO), Pesquisa produtivas - Lazer, Gastronomia, Turismo, Artesanato. ◆
Agropecuária Estadual.

Cristiane Sandim

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 35


Bahia
concentra a maior população rural do Brasil
No estado mais de 80% dos alimentos que chegam à mesa dos
consumidores são provenientes da agricultura familiar

E
m entrevista, o superintendente da Agricul- ranking nacional na produção de diversas fruteiras tro-
tura Familiar da Secretaria da Agricultura, Ir- picais e a agricultura familiar tem sido responsável pela
rigação e Reforma Agrária da Bahia (Seagri), ampla diversidade de produtos que consumimos e co-
Wilson Dias (foto), destaca que enquanto no Brasil, 70% mercializamos no Estado”.
dos alimentos que chegam à mesa dos consumidores são
provenientes da agricultura familiar, na Bahia, este per- Projetos
centual chega a 80%. Segundo Wilson, a Bahia procura em primeiro lugar
“No nosso estado, 7% do Produto Interno Bruto (PIB) fortalecer e dar operacionalidade e velocidade às polí-
advêm da agricultura familiar, mas também é neste setor ticas públicas federais. “No caso do Programa Nacional
que está concentrado a maior parte da nossa população de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o
em situação de extrema pobreza (renda per capta mensal governo assume os juros e as taxas são zeradas para as
inferior a R$ 70,00), já que temos 2,8 milhões de pessoas
nesta situação das 16 milhões do Brasil. É também neste
Seagri/Divulgação
segmento que temos a maior taxa de analfabetismo e o
menor acesso a água potável e a energia elétrica do País”,
aponta o superintendente.

Números da agricultura familiar na Bahia


De acordo com Wilson, a Bahia concentra 15% de
todos os agricultores familiares do Brasil com 665 mil
famílias, representando a maior população rural de to-
das as unidades federadas. Com esta concentração po-
pulacional, 75% das propriedades tem menos de cinco
hectares e 76% das famílias estão nos 267 municípios do
semiárido com condições edafoclimáticas bastante limi-
tadas para a produção agropecuária.
“Ainda assim, temos o maior rebanho caprino do
Brasil e o segundo maior rebanho ovino; lideramos o Superintendente da Seagri, Wilson Dias

36 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MDA/Divulgação
linhas de crédito Mais Alimentos, Pronaf Jovens, Pronaf Incentivos
Mulher e Pronaf Semiárido; atuamos na ampliação e
qualificação do zoneamento agrícola para os bancos fi- Para incentivar a permanência no campo do
nanciarem mais recursos; estimulamos as cooperativas agricultor familiar, o superintendente é enfático
de crédito; assumimos 50% do valor do Seguro Garantia ao afirmar que antes de tudo é preciso oferecer
Safra que é devido aos municípios e aos agricultores, in- dignidade. “Não dá para pedir ao jovem agricultor
centivando a adesão; criamos uma Lei Estadual de As- para ficar no campo se a escola é ruim, se não tem
sistência Técnica (Ater), outra de Economia Solidária, energia e se não tem água para beber. É assim que
outra de apoio ao Cooperativismo e outra de legislação os Programas universalizantes como o Luz para
sanitária para agroindústrias familiares, todas inéditas Todos, Água para Todos e Todos pela Educação
no nível estadual; já contratamos serviços de mais de 50 tem levado de forma expressiva estes investimen-
Organizações Não Governamentais para atender a mais tos. Junto, vai a semente e as mudas para plantar
de 50 mil famílias; lançamos editais de chamada pública do nosso Programa Semeando, os animais me-
de valor superior a R$ 100 milhões para mais de 400 pro- lhorados, a assistência técnica, o crédito rural do
jetos de desenvolvimento de cadeias produtivas; fizemos Pronaf e os programas de comercialização, tudo
convênio com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e procurando chegar de forma articulada e integra-
Pequenas Empresas (Sebrae) para dar atendimento téc- da no mesmo espaço territorial, gerando as siner-
nico em gestão para 375 agroindústrias familiares; im- gia a partir do protagonismo da população local.
plantamos o Selo de Identificação de Origem; realizamos Tudo isto, só pode resultar em mais renda e mais
feiras e centenas de eventos promocionais dos produtos segurança alimentar para as famílias”, conclui.
da agricultura familiar”, destaca. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 37


Minas Gerais
Incentiva a agricultura
familiar como forma de
manter o homem no campo
A capacidade para absorver mão de obra e gerar renda
transforma a agricultura familiar numa alternativa para
atacar grande parte dos problemas urbanos derivados do
desemprego rural

A
agricultura familiar não é mais um processo dades, têm-se revelado pouco efetivas e onerosas para a
em consolidação, mas sim um importante sociedade, além de cuidarem dos efeitos e não das causas
segmento agropecuário do estado de Minas deste fenômeno. Investir na agricultura familiar significa
Gerais. O seu fortalecimento e valorização dependem de atacar, na origem, as causas da migração campo-cidade e
um conjunto de fatores econômicos, sociais, políticos e os problemas que ela causa.
culturais que necessitam ser implementados de maneira
articulada por uma diversidade de atores e instrumentos. Característica dos agricultores familiares
Tradicionalmente, e de uma forma geral, a agricultura de MG
familiar tem o seu funcionamento econômico não funda- Uma das principais características da agricultura
mentado na maximização da rentabilidade do capital e familiar, também percebida em Minas Gerais, é o pre-
na geração do lucro em curto prazo, estando muito mais domínio de atividades que se apoiam na combinação
orientada para o atendimento das necessidades da família. entre a produção de alimentos voltada para o consumo
Por sua própria vocação de unidade de produção e consu- da família e/ou para o mercado, e a execução de ativi-
mo, valoriza a diversidade por meio da prática do policul- dades não-agrícolas, tais como o turismo rural, o lazer,
tivo e criações de diversos animais e revela a capacidade de o artesanato, os serviços profissionais especializados,
valorizar as potencialidades dos recursos naturais, por não entre outros.
poder gastar muito com insumos industrializados. Para o secretário de Agricultura, Pecuária e Abas-
A grande capacidade para absorver mão de obra e tecimento de Minas Gerais, Elmiro Nascimento, “essa
gerar renda transforma a agricultura familiar numa al- pluralidade de atividades está sendo praticada em algu-
ternativa, social e política, adequada para atacar grande mas regiões do Estado, e vem crescendo nas unidades
parte dos problemas urbanos derivados do desemprego produtivas familiares, oferecendo complementação de
rural e da migração descontrolada na direção campo-ci- renda e sendo estratégica à sobrevivência, à manutenção
dade, uma vez que outras tentativas de solução para os da propriedade e, em determinados casos, ao seu desen-
problemas provocados pelo êxodo rural, nas grandes ci- volvimento e modernização.”

38 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Elmiro Nascimento ressalta ainda a diversidade de ca de Minas Gerais. Sua representatividade na produção
grupos de agricultores familiares em Minas Gerais, pecuária também é destacada, já que detém aproxima-
que conta com diversos povos e comunidades tradi- damente um terço do plantel bovino, suíno e alevino e é
cionais como indígenas, quilombolas, geraizeiros, ca- responsável por 48% da produção leiteira de Minas Gerais.
atingueiros, vazanteiros e veredeiros.
16 mil agroindústrias familiares
Reconhecimento Em diagnóstico realizado pela Emater-MG em 2009,
A importância da agricultura familiar de Minas Ge- Minas Gerais possui aproximadamente 16 mil agroin-
rais foi reconhecida oficialmente pelo poder público com dústrias familiares, sendo a maior parte para processa-
a criação da Subsecretaria de Agricultura Familiar, pela mento de lácteos.
Lei Delegada 180/2011, com duas Superintendências – Neste segmento, se destaca a produção do Queijo
Superintendência de Abastecimento Alimentar e Comer- Minas Artesanal, produto típico de Minas Gerais, onde
cialização e a Superintendência de Agricultura Familiar. mais de 9 mil agricultores participam diretamente desta
Também vinculada à sua estrutura está a Secretaria Exe- cadeia produtiva. Outro produto de destaque é a cachaça
cutiva do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural artesanal e o Estado conta com quase 7 mil alambiques,
Sustentável – CEDRAF-MG. de acordo com a Associação Mineira de Produtores de
Aguardente de Qualidade (AMPAQ).
Agricultura familiar representa 79% dos es- Minas Gerais é o maior produtor de café e batata do
tabelecimentos rurais país, segundo maior produtor de feijão, cana-de-açúcar,
De acordo com o Censo Agropecuário, realizado pelo tomate e amendoim, terceiro maior produtor de mamo-
IBGE, a agricultura familiar mineira representa 79% de na e quarto maior produtor de milho, sendo grande parte
todos os estabelecimentos rurais do Estado, totalizando desta produção advinda da agricultura familiar.
437.415 propriedades que produzem 32% da produção de
café e feijão, 44% da produção mineira de arroz, 47% da Projetos da SEAPA para fortalecer o setor
produção de milho e 83% de toda a produção de mandio- 1. Projeto de Fortalecimento da Agricultura Fami-
liar para o Abastecimento Alimentar
Fortalecer a agricultura familiar, qualificando e tor-
nando os agricultores familiares e os estabelecimentos
Assecom/MG

agroindustriais rurais de pequeno porte aptos para o for-


necimento de alimentos para os mercados institucionais,
prioritariamente para o abastecimento da rede pública
estadual de ensino em atendimento ao Programa Nacio-
nal de Alimentação Escolar (PNAE).
2. Programa Minas Leite
O Minas Leite tem por objetivo diminuir o custo da
produção e, consequentemente, aumentar a renda do
produtor. O Programa adapta a realidade de cada região
e de cada produtor. A principal ação do Minas Leite é o
investimento na qualificação gerencial e técnica dos pro-
dutores, principalmente os agricultores familiares.
3. Programa Minas Sem Fome
Projeto Associado do Governo de Minas Gerais co-
ordenado pela Emater-MG, tem por objetivo garantir a
segurança alimentar e nutricional da população do Es-
tado, contribuindo para a inclusão produtiva e a redução
Secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Elmiro Nascimento da pobreza. Entre as principais ações do programa estão

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 39


a aquisição de insumos para plantio de hortas, pomares e custeio. No total, foram aplicados R$ 1.735 milhões nas
lavouras de grãos, o fornecimento de equipamentos para diversas modalidades do Programa.
unidades coletivas de processamento de alimentos, a ca- Com a criação da Subsecretaria de Agricultura Fami-
pacitação de agricultores familiares e a implantação de liar, no âmbito da Secretaria de Agricultura, Pecuária e
projetos de abastecimento de água. Abastecimento de Minas Gerais, em 2011, foi elaborado
4. Programa de Apoio à Comercialização de Produ- um Mapa Estratégico para o planejamento dos programas,
tos da Agricultura Familiar projetos e ações de apoio ao fortalecimento da agricultura
O programa se estabelece por meio de ações e ativi- familiar no Estado.
dades de apoio ao escoamento da produção da agricultu- Várias frentes de trabalho foram criadas, sendo algu-
ra familiar, com o intuito de fortalecer os circuitos locais mas delas focadas na promoção de ações de incentivo e
de comercialização e garantir o abastecimento regular e apoio à permanência do agricultor familiar no campo,
contínuo de produtos saudáveis à população mineira. com ocupação e renda capaz de garantir uma vida digna
Fazem parte deste programa o Projeto de Apoio às para sua família.
Feiras Livres Municipais, o Projeto de Apoio à Comer- Como principais ações, o secretário menciona a cria-
cialização Descentralizada de Produtos da Agricultura ção da Superintendência de Abastecimento Alimentar e
Familiar (PROCAF/Barracão do Produtor), o Projeto Comercialização, com o objetivo de criar programas que
de Apoio ao Acesso aos Mercados Institucionais (PAA/ contribuam para a inserção e manutenção do agricultor
PNAE) e a Supervisão dos Mercados Livres dos Produ- familiar nos diversos mercados existentes. Também, a
tores (MLP), que são plataformas de comercialização lo- criação das Coordenadorias de Apoio às Organizações
calizadas no interior das Centrais de Abastecimento do Familiares Rurais e de Agregação de Valor e Geração de
Estado (Ceasaminas). Renda, com o intuito de organizar os agricultores e sua
5. Programa de Apoio à Produção Sustentável da produção e apoiar a habilitação sanitária dos empreendi-
Agricultura Familiar mentos agroindustriais rurais de pequeno porte. ◆
Este programa tem por finalidade empreender ações
no âmbito da produção orgânica e agroecológica, com Agroindústrias
o Projeto de Apoio à Agroecologia. Dada a importância
dos povos e comunidades tradicionais existentes em Mi- No caso da agroindústria, foi criada, no órgão
nas Gerais, este programa também se propõe a apoiar, de defesa sanitária do Estado o Instituto Mineiro
por meio de ações de fomento, a atividade produtiva des- de Agropecuária (IMA), uma gerência de edu-
tes grupos e sua inserção no mercado. cação sanitária e apoio à agroindústria familiar,
promovendo ações de educação e orientação para
Incentivo formalização destes empreendimentos.
Além dos projetos e programas desenvolvidos pela Se- Ainda, foram desenvolvidas ações para deso-
cretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Mi- nerar a produção advinda da agricultura familiar,
nas Gerais (SEAPA), que possuem como resultado a cria- com a redução total de ICMS para os produtos “in
ção e ampliação de oportunidades de ocupação da mão de natura” e processados que são comercializados
obra e geração de renda no campo, existe ainda o PRONAF nos mercados institucionais.
(Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fa- Nascimento destaca ainda como incentivo
miliar) que financia projetos individuais ou coletivos, que a aprovação da Lei Estadual 19.476 e o Decreto
geram renda aos agricultores familiares e assentados da Estadual 45.821/2011, que dispõe sobre a habili-
reforma agrária. O programa possui as mais baixas taxas tação sanitária do agricultor familiar e do estabe-
de juros dos financiamentos rurais, além das menores ta- lecimento agroindustrial rural de pequeno porte.
xas de inadimplência entre os sistemas de crédito do país. “Esta legislação permite que os empreendimentos
Em Minas Gerais, o PRONAF abrange todas as regi- saiam da informalidade, ampliando o mercado
ões do Estado e, no ano de 2011, os recursos financeiros para suas produções,” explica.
aplicados para investimento superaram os recursos de

40 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Piauí
Agricultura familiar representa
mais de 70% da produção agrícola
O
Piauí tem mais maior destaque nas cadeias produtivas de grãos, espe-
Assecom/Piauí

de 230 mil fa- cialmente milho e feijão, mandiocultura, cajucultura,


mílias de agri- apicultura, ovinocaprinocultura e, em menor escala, mas
cultores familiares, distri- já marcando presença crescente na piscicultura.
buídos nos 224 municípios Os incentivos dados pela Secretaria de Desenvolvimen-
do Estado, segundo dados to Rural do Piauí, conforme o secretário Rubem Martins,
do IBGE. A agricultura fa- são: assistência técnica, através da Emater e chamadas pú-
miliar responde por mais blicas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário; apoio à
de 70% da produção agrí- comercialização, através do Programa de Aquisição de Ali-
Secretário de Desenvolvimento Rural do Piauí,
Rubem Martins
cola e pecuária no Estado. mentos (PAA); crédito bancário (BNB/BB); e atuação efeti-
Este grupo atua em todas va do crédito fundiário –Linha de Consolidação da Agricul-
as áreas produtivas, com tura Familiar (CAF). ◆

Fecoagro

Fecoagro/Divulgação
Cooperativismo
contribui para que jovem
permaneça no campo
Presidente da Federação das Cooperativas
Agropecuárias do Rio Grande do Sul
(Fecoagro), Rui Polidoro Pinto

O
presidente da Federação das Cooperativas interior, as tecnologias para cultivo do solo, além da ne-
Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoa- cessidade do associativismo.
gro), que conta com 62 cooperativas filiadas “O maior desafio hoje é manter o jovem no campo, e o
e representa mais de 200 mil associados, Rui Polidoro cooperativismo é o melhor instrumento para isso, pois atua
Pinto, avalia que a agricultura familiar hoje tem maior com a educação, tecnologia, escola e possui as condições de
rentabilidade e melhor resultado para as famílias que incentivar mudanças,” explica.
atuam na agricultura ou na agroindústria. Os cenários das nossas cooperativas são 76% de agri-
No entanto, acrescenta, existem problemas conjun- cultura familiar, portanto o poder político está na mão
turais e estruturais a serem vencidos, como: a sucessão dos produtores familiares e a prioridade do planejamen-
familiar, a estrutura escolar, o lazer e a comunicação no to deve atender a esta demanda. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 41


Mandioca e
42 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
MDA/Divulgação
O Centro Nacional de
Pesquisa de Mandioca e
Fruticultura é uma Unidade
Descentralizada da Empresa
Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa),
na categoria de Centro de
Referência de Produtos

fruticultura
Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 43
O
Centro Nacional de Pesquisa de Mandioca da produção mundial. De fácil adaptação, é cultivada em
e Fruticultura foi criado com o objetivo de todos os estados brasileiros, situando-se entre os nove
executar e coordenar pesquisas que aumen- primeiros produtos agrícolas do Brasil, em termos de
tem a produção e a produtividade, melhorar a qualidade área cultivada, e o sexto em valor de produção.
dos produtos, reduzir os custos de produção e viabilizar A cultura, basicamente plantada por agricultores fa-
o aproveitamento de áreas para mandioca, citros, bana- miliares – 87% dos agricultores familiares do país plan-
na, abacaxi, manga, mamão, maracujá e acerola. tam mandioca, em todos os estados da Federação –, é
um dos principais meios de sobrevivência da população
Mandioca - líder na produção rural, não só por ser uma planta resistente e adaptável
De acordo com a Embrapa Mandioca e Fruticultura, a diversos ecossistemas, mas pelos seus múltiplos usos.
localizada em Cruz das Almas na Bahia, a mandioca tem
grande representatividade neste cenário por, principal-
mente, ser cultivada em todos os estados brasileiros. Produção brasileira de mandioca por
Originária da América do Sul, a mandioca constitui região fisiográfica em 2010
um dos principais alimentos energéticos para cerca de
500 milhões de pessoas, sobretudo nos países em desen-
volvimento, onde é cultivada em pequenas áreas com
baixo nível tecnológico. Mais de 80 países produzem 5,67%
mandioca, sendo que o Brasil participa com mais de 15%
23,88%
27,77%
Terezinha Wilk / Emater RS

9,83%

32,85%

Centro-Oeste Norte
Nordeste Sudeste Sul
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2010. Consultado em 27/10/2011.

PRODUÇÃO BRASILEIRA DE MANDIOCA EM 2010


Região fisiográfica Área colhida (ha) Quantidade produzida (t) Rendimento médio (t/ha) Participação na produção (%)
Norte 468.250 6.810.636 14,54 27,77
Nordeste 815.940 8.055.084 9,87 32,85
Sudeste 135.405 2.410.832 17,80 9,83
Sul 283.745 5.857.229 20,64 23,88
Centro-Oeste 84.127 1.390.537 16,53 5,67
BRASIL 1.787.467 24.524.318 13,72 100,00
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2010. Consultado em 27/10/2011.

44 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Citricultura – líder mundial na produção camente todas as regiões produtoras, sendo exceções
e geração de empregos os estados do Rio Grande do Sul, onde o porta enxerto
Líder mundial, a citricultura brasileira desta- principal é a espécie Poncirus trifoliata e de Sergipe,
ca-se por seu expressivo valor de produção e con- onde o limoeiro Rugoso divide com o Cravo a prima-
siderável geração de empregos diretos e indiretos, zia na maioria dos pomares.
da ordem de 400 mil colocações de trabalho. Seus O limoeiro Cravo, ainda possui diversas caracte-
pomares somam cerca de 270 milhões de plantas, rísticas agronômicas que o qualificam como excelente
distribuídas por todo o Brasil, em área superior a porta enxerto, dentre as quais se destacam a tolerância
900 mil hectares. à seca, facilidade de obtenção de sementes, compati-
A pujança da citricultura brasileira tem no li- bilidade com todas as variedades de copa, indução, às
moeiro ‘Cravo’ sua base de sustentação, graças à sua copas nele enxertadas, de produção precoce e alta pro-
adaptação, atestada por sua predominância em prati- dutividade de frutos.

PRODUÇÃO BRASILEIRA DE TANGERINA EM 2010


Região fisiográfica Área colhida (ha) Quantidade produzida (t) Rendimento médio (t/ha) Participação na produção (%)
Norte 487 4.444 9,13 0,40
Nordeste 3.815 41.267 10,82 3,68
Sudeste 27.923 624.824 22,38 55,65
Sul 24.168 435.123 18,00 38,76
Centro-Oeste 1.178 17.072 14,49 1,52
BRASIL 57.571 1.122.730 19,50 100,00
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2010. Consultado em 27/10/2011.

Ubirajara Machado/MDA

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 45


Produção brasileira de tangerina por Produção brasileira de laranja por
região fisiográfica em 2010 região fisiográfica em 2010
0,40%
1,42%
1,52% 3,68% 0,85%

5,83% 10,37%

38,76% 55,65%

81,53%

Centro-Oeste Norte ◆ Centro-Oeste Norte


Nordeste Sudeste Sul Nordeste Sudeste Sul
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2010. Consultado em 27/10/2011. Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2010. Consultado em 27/10/2011.

Citros e agricultura familiar no RS A região do Alto Uruguai é a maior produtora de la-


De acordo com o Censo Agropecuário do Instituto ranja do RS e a segunda maior de bergamota. A produ-
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a citricul- ção está concentrada nos municípios que fazem divisa
tura ocupa mais de 42 mil hectares no Rio Grande do com SC, localizados na beira do Rio Uruguai.
Sul, sendo 65% dedicados à laranja, 31% à bergamota A região tem a possibilidade de produzir a melhor
ou tangerina e 4% ao limão. Dessas propriedades, mais fruta do Brasil, tanto pelo ponto de vista da coloração
de 90% estão enquadradas na agricultura familiar. que é mais viva e chama mais a atenção do consumidor,
quanto pela acidez. No processo de industrialização da
Alto Uruguai Gaúcho – destaque na produção de fruta, a acidez é importante, pois atua num processo na-
laranja tural de durabilidade do produto. Na última década, a
O Brasil é o maior exportador de suco de laranja área plantada com citros no Norte do RS cresceu de 1,5
concentrado do mundo e o segundo maior produtor. mil para 9,3 mil hectares.
O RS aparece neste cenário como um dos cinco maio-
res produtores do Brasil. A produção no Estado por Melhoramento genético dos citros
hectare chega a 12 mil quilos. No entanto, a região do O melhoramento genético dos citros possui particu-
Alto Uruguai tem uma produção que chega a 18 mil laridades que o distinguem da maioria daqueles outros
quilos por hectare. dirigidos a espécies cultivadas. Programas sistemáticos de

46 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


PRODUÇÃO BRASILEIRA DE LARANJA EM 2010
Região fisiográfica Área colhida (ha) Quantidade produzida (t) Rendimento médio (t/ha) Participação na produção (%)
Norte 16.944 256.354 15,13 1,42
Nordeste 125.491 1.877.653 14,96 10,37
Sudeste 570.523 14.759.005 25,87 81,53
Sul 54.911 1.054.980 19,21 5,83
Centro-Oeste 8.012 153.716 19,19 0,85
BRASIL 775.881 18.101.708 23,33 100,00
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2010. Consultado em 27/10/2011.

melhoramento genético de citros têm sido conduzidos por ria das variedades cítricas em uso comercial, copas e porta
um restrito número de instituições, em nível mundial. enxertos, provém de mutações ou de hibridações naturais.
No tocante a variedades criadas intencionalmente, os
exemplos também são restritos, dentre os quais se pode citar A cultura dos citros
‘Page’ e ‘Nova’, híbridos de tangerineira. Esta situação con- O clima exerce grande influência sobre o vigor e
firma as dificuldades expostas, relativamente à criação de longevidade das plantas cítricas, qualidade e quantida-
variedades híbridas de citros, haja vista que a imensa maio- de de frutos desenvolvendo-se melhor os citros em re-

Edson Castro

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 47


giões de clima mais ameno, solos adequados e cerca de As plantas cítricas, apesar de terem determina-
1.200 mm anuais de regime pluvial bem distribuídos. das exigências em relação aos solos, adaptam-se
Os frutos produzidos nos climas frios têm melhor co- tanto a solos arenosos como argilosos, ajudando-as
loração da casca e da polpa, teores mais altos de açúcares e nessa adaptação o uso de diferentes porta enxertos.
ácidos. Nos climas quentes os frutos são menos coloridos, Os mais indicados para o cultivo comercial são os
porém de frutos mais doces, mas de paladar mais pobre. areno-argilosos. Os citros não toleram solos imper-
Climas quentes são propícios ao cultivo dos pomelos e la- meáveis. Devem ser evitados solos rasos ou que en-
ranjas, limas doces e ácidas e limões verdadeiros. charcam com facilidade.

PRODUÇÃO BRASILEIRA DE LIMÃO EM 2010


Região fisiográfica Área colhida (ha) Quantidade produzida (t) Rendimento médio (t/ha) Participação na produção (%)
Norte 2.042 25.315 12,40 2,48
Nordeste 6.099 83.859 13,75 8,22
Sudeste 31.308 866.733 27,68 84,95
Sul 2.343 30.412 12,98 2,98
Centro-Oeste 969 14.026 14,47 1,37
BRASIL 42.761 1.020.345 23,86 100,00
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2010. Consultado em 27/10/2011.

Produção brasileira de limão por


região fisiográfica em 2010

Edson Castro
2,98% 1,37% 2,48%

8,22%

84,95%

Centro-Oeste Norte
Nordeste Sudeste Sul
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2010. Consultado em 27/10/2011.

48 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Plasmatte
garante ambiente ideal
para criação de aves
A
produção de frangos é uma atividade funda- um dos itens
mental para o desenvolvimento econômico que tem
do Brasil e das regiões onde está inserida, destaque é
por ser um dos animais com maior eficiência nutricio- o exaustor
nal e de rápido desenvolvimento (ganho de peso). Ele Munters.
possibilita á indústria avícola um notável potencial para Com finali-
garantir aos consumidores, uma fonte proteica saudável dade de me-
e ao um custo mais baixo. A criação de frangos de corte lhorar a manei-
continua apresentando desafios á medida que a atividade ra de controlar o
atinge novos e mais altos patamares produtivos. Dentre ar em sua área, seja
estes desafios existe o fator ambiental de altas temperatu- por exaustão ou por circu-
ras dentro do galpão que influenciam na produtividade. lação; essa é a melhor alternativa em conjunto com a placa
Com o objetivo de controlar a temperatura interna dos evaporativa (Light Trap). Com sua grande qualidade e so-
ambientes, promover a troca de ar e saída dos gases dos gal- fisticada engenharia, ele garante um ambiente ideal para
pões, a Plasmatte apresenta, além de sua linha de produtos criação de aves. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 49


Suinocultura e avicultura
registram período de
resultados satisfatórios
Dos laboratórios da Embrapa surgiram conhecimentos
que mudaram a trajetória das duas atividades

A
Embrapa Suínos e Aves, localizada em Con- dade dos produtores e o apoio do poder público são alguns
córdia no Estado de Santa Catarina, é uma deles. Há ainda a participação imprescindível da pesquisa
unidade descentralizada da Empresa Brasi- agropecuária. Dos laboratórios da Embrapa surgiram co-
leira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao nhecimentos que mudaram a trajetória das duas atividades.
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e
tem como missão viabilizar soluções de pesquisa, desen- Controle de doenças
volvimento e inovação para a sustentabilidade da suino- A Unidade teve papel fundamental no controle de do-
cultura e avicultura em benefício da sociedade brasileira. enças, aperfeiçoamento de rações, melhoria da qualidade
Vários fatores explicam o sucesso das cadeias produtivas genética dos animais, preservação do meio ambiente e de-
de suínos e aves. A excelência das agroindústrias, a capaci- senvolvimento de equipamentos para a suinocultura e avi-

50 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Divulgação
troduzidas na metodologia dos custos de produção. A
partir de 2005, a Embrapa Suínos e Aves passou a contar
com a parceria da Companhia Nacional de Abastecimen-
to (Conab) para dar suporte no levantamento de preços
e na divulgação de resultados, viabilizando o cálculo dos
custos de produção de suínos e frango.
A avicultura e a suinocultura precisaram enfrentar
algumas ameaças, mas felizmente, elas acabaram com-
pensadas por outros fatores. Desta maneira, as duas ati-
vidades fecharam 2011 com resultados satisfatórios.
A suinocultura operou com preços em queda e custos
em alta, o que comprometeu a recuperação da rentabili-
dade. O mercado externo teve sua participação reduzida,
mas propiciou preços altos às exportações. Dentro deste
cenário, o mercado interno acabou sendo o dinamizador
da cadeia produtiva. Ele caracterizou- se por preços está-
veis, mas em patamares elevados.
O aumento do preço do milho foi o fator que mais
influenciou de forma negativa a rentabilidade da cadeia
produtiva da carne suína. A forte alta acompanha a ten-
dência mundial e vem ocorrendo desde o segundo se-
mestre de 2010, sendo que o ano de 2011 apresentou pre-
ços mais estáveis, mas em níveis elevados. Por sua vez,
o farelo de soja iniciou o ano em queda, compensando
parte do aumento no custo da ração.
A avicultura também conviveu com o aumento no
custo de produção, vinculado ao comportamento do fa-
relo de soja e milho. Só que diferentemente da suinocul-
tura, a atividade conseguiu ampliar a presença no mer-
cado externo, registrando alta de 1,5% em comparação a
2010 (4,05 milhões de toneladas exportadas).
O Brasil continua sendo o maior exportador mundial
de carne de frango, uma das condições que justifica o in-
cremento de 7,34% na produção registrada em 2011.

Produção de suínos na agricultura familiar


cultura. Fez ainda um trabalho imprescindível em conjunto Uma tecnologia estudada pela Embrapa Suínos e Aves
com outros órgãos do governo, da indústria e dos produto- refere-se a produção de suínos em família como um novo
res para superar as restrições às exportações de carne suína jeito de se criar suínos, em que os leitões permanecem jun-
e de frango. tos desde o nascimento até o abate.
A produção de suínos em família é indicada especial-
Suinocultura e avicultura registram perío- mente para o agricultor familiar, que possui um núme-
do de resultados satisfatórios ro reduzido de matrizes, em comparação com o sistema
A Embrapa Suínos e Aves desenvolve levantamentos convencional.
e estudos de custos de produção desde o final dos anos Por ficarem juntos do nascimento até o abate, os su-
1980. Desde então, melhorias e revisões vêm sendo in- ínos criados em família sofrem menos estresse, o que

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 51


Desempenho de Produção – 2011

13,04 3,40 30,39 305


milhões milhões bilhões mil
O Brasil produziu 13,04 milhões A produção nacional atingiu 3,40 O Brasil produziu 30,39 bilhões A produção brasileira foi de 305
de toneladas de carne de frango milhões de toneladas de carne de unidade de ovos e manteve-se mil toneladas, a terceira maior
em 2011, terceira maior produ- suína em 2011, quarta maior do como a sétima maior produção do em termos mundiais. A expor-
ção do mundo, As exportações mundo. As exportações foram de mundo. O consumo per capita no tação de carne de peru atingiu
chegaram a 4,05 milhões de 436,2 mil toneladas também a país foi de 156 unidades, aumen- 141,2 mil toneladas mantendo
toneladas a maior do mundo. A quarta maior do mundo, enquanto to de 3,5% em comparação com o Brasil na segunda posição
produção nacional ficou em tor- a exportação encolheu 2,5% o 2010. A produção apresentou no mercado internacional. A
no de 6% maior em comparação consumo per capita interno subiu incremento de 3,04% em relação produção, na comparação com o
com os números de 2010. 10,3% (14,5 kg) por habitante ano. ao ano anterior. ano de 2010, caiu 9,50%.
Fonte Embrapa

contribui para uma melhor sanidade e bem-estar ani- instalações adequadas, ração balanceada, tornando a ati-
mal, reduzindo perdas na produção. vidade sustentável.
O sistema é mais econômico para o pequeno produ- Visando contribuir para a inserção e manutenção sus-
tor porque evita a compra de remédios usados em tra- tentável de grupos organizados de produtores familiares
tamentos preventivos para os suínos. Os tratamentos nas cadeias produtivas do agronegócio, pesquisadores
preventivos são muito comuns na suinocultura intensiva da Embrapa Suínos e Aves instalaram e conduziram uni-
convencional, que requer uma maior quantidade de ani- dades demonstrativas de frangos coloniais, em parceria
mais em espaços reduzidos, o que geralmente pode de- com o escritório regional da Emater/RS da cidade de
sencadear doenças. A Embrapa explica que a produção Erechim no Rio Grande do Sul. Um dos fatores observa-
de suínos em família é perfeitamente viável para os pe- dos é a crescente procura por produtos livres de resíduos
quenos produtores como alternativa para agregar valor, de agrotóxicos ou orgânicos, com qualidade diferenciada
ofertando ao mercado um produto diferenciado. na textura e no sabor e baseado em modelos de produ-
ção sustentáveis, sob o ponto de vista ambiental, social
Produção de frangos na agricultura familiar e econômico. Hoje, já existe um movimento ecológico,
Em sistema de agricultura familiar, a produção em formado por ONGs e associações de produtores ecoló-
pequena escala contribui para desenvolvimento de siste- gicos, cujo trabalho possibilita a aquisição de produtos
mas de criação com suportes sustentáveis, onde se preco- orgânicos e contribui para ampliar esse crescente nicho
niza o bem estar dos animais e menor impacto ambien- de mercado.
tal da produção. No contexto da avicultura alternativa, a A pesquisa contribuiu de forma efetiva para a inser-
agricultura familiar consolida os objetivos preconizados ção e manutenção sustentável de grupos organizados de
devido à exigência de pouca mão de obra e retorno fi- produtores familiares nas cadeias produtivas do agrone-
nanceiro relativamente rápido. Aliado a estes fatores, o gócio, através da capacitação de técnicos e produtores,
processo alternativo de criação e preocupações com o com vistas à adoção de tecnologias que possibilitam a
bem-estar animal agregam valor ao produto final. Em se produção profissional de frangos de corte em sistemas al-
tratando de criação de aves para postura, a qualidade de ternativos de criação. Os resultados mostram que é pos-
ovos férteis produzidos e incubados depende exclusiva- sível alcançar desempenho compatível aos obtidos pela
mente do manejo correto destas matrizes, abrangendo pesquisa na produção de frangos coloniais em pequenas

52 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


propriedades. A produção profissional e organizada de Os principais foram a obtenção de genótipos de mi-
frango diferenciado se insere bem nas pequenas proprie- lhares de marcadores, a estruturação de um Banco de
dades podendo ser uma alternativa para a geração de DNA e de uma base de dados, além de resultados pre-
renda familiar e manutenção do homem no campo. liminares realizados por simulação. Assinada em 2010,
a parceria une os estudos em genômica realizados nos
Custos e investimentos últimos anos pela Embrapa com o Programa de Melho-
A Unidade conseguiu avanços importantes na gestão ramento Genético da BRF. Na prática, o projeto viabili-
em 2011. Uma das principais novidades foi o surgimento zará a incorporação de dados genotípicos dos animais à
dos grupos de pesquisa, em substituição aos núcleos de seleção genética tradicional, oferecendo à suinocultura
pesquisa. nacional suínos com qualidade ainda maior.
O orçamento também apresentou melhorias signifi- No final de 2010 ficou definido que o trabalho se es-
cativas em 2011. O custeio passou de R$ 4,22 milhões tenderia às linhas macho, com financiamento do CNPq.
para R$ 4,59 milhões. O investimento saltou de R$ 3,02 Esse trabalho iniciou em 2011.
milhões para R$ 4,81 milhões.
Em termos percentuais, o orçamento cresceu quase Poedeira aumenta presença no mercado
30%, em comparação a 2010. O apoio de parlamentares A poedeira colonial 051 da Embrapa Suínos e Aves
também auxiliou no reforço do orçamento. O aporte de ganhou um grande espaço no mercado nacional voltado
recursos financeiros se traduziu na viabilização de várias à avicultura alternativa em 2011. A parceria com a Gra-
obras e compras de equipamentos para os laboratórios. mado Avicultura permitiu que fossem comercializadas
Um dos reflexos mais evidentes dessas melhorias é a 45 mil poedeiras por mês em 2011, o que equivale a cerca
aprovação de novos projetos. Em 2011, a Embrapa Suínos de 2% das poedeiras de ovos vermelhos vendidas no país.
e Aves conseguiu que 11 novas propostas de pesquisa fos- O resultado mostra a qualidade do material genético
sem aprovadas dentro dos macroprogramas da Embrapa, da Embrapa, disponibilizado em 2010, quando o acordo
ficando em 45 o número total de projetos da Unidade. com a Gramado Avicultura foi firmado. Além de repas-
sar a ave para mais de 2 mil lojas agropecuárias em nove
Melhoramento genético de suínos estados do país, a Gramado Avicultura também comer-
O projeto na área de melhoramento genético de suínos cializa matrizes para empresas que atendem o Nordeste.
realizado em parceria entre a Embrapa e a Brasil Foods Para 2012, a previsão era de serem vendidas 60 mil poe-
(BRF) apresentou em 2011 seus primeiros resultados. deiras por mês.

Evolução de custeio Evolução do investimento


em milhões de R$ em milhões de R$
5 5

4 4

3 3

2 2

1 1
3,58 4,22 4,59 2,17 3,02 4,81
0 0
2009 2010 2011 2009 2010 2011
Fonte Embrapa Fonte Embrapa

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 53


Obras - 2011 Em R$
Abatedouro experimental para Aves 681.039,99
Estação Compacta de Tratamento de Efluentes – ETE e Rede Coletora 616.147,91
Compostagem de Dejetos e empacotamento de Biofertilizantes 375.000,00
Portaria da Unidade 121.050,00
Refeitório para Setor de Laboratório de sanidade e Genética Animal 149.890,00
Sistema Aquecimento para Aviário 24.832,15
Adequação do Auditório 205.900,00
Rampas e Garagens para Veículos 136.954,65
Salas para Pesquisadores e Laboratório de Sanidade – complemento 201.420,72
Outros 109.109,19
TOTAL 2.621.344,61

Equipamentos por setor - 2011 Em R$


Laboratórios de Sanidade e Genética Animal 864.541,67
Laboratórios de análises Físico-Químicas 758.024,85
Grupos de Pesquisa em Meio Ambiente 142.376,52
Grupos de Pesquisa em Produção de Aves 70.477,36
Grupos de Pesquisa em Produção de Suínos 69.080,34
Núcleo de Tecnologia da Informação 234.529,52
Edifício da Administração 95.359,95
Outros 45.342,46
TOTAL 2.279.732,67

Cama de aviário Outra metodologia finalizada foi o Modelo multicritérios


A Embrapa Suínos e Aves disponibilizou no ano pas- para avaliar o potencial de negócios tecnológicos de pro-
sado um método alternativo para a medição de pH e dutos e serviços gerados pela pesquisa agropecuária. ◆
temperatura da cama de aviários, sem a necessidade de
coleta de amostras e envio para laboratório. A partir da
adaptação de um pHmetro de martelo (Testo 205), origi-
nalmente voltado para a medição do pH em carnes, foi Novidades no setor
possível chegar a valores confiáveis, medidos em tempo
real e de maneira prática. O método da Embrapa é mais Entre as 12 metodologias científicas finaliza-
rápido e tem menor custo. das em 2011 pela Embrapa Suínos e Aves, nove
são relacionadas com o diagnóstico das principais
Água e modelo multicritérios doenças que afetam a suinocultura nacional. Des-
A Embrapa Suínos e Aves também finalizou uma me- taque para os avanços conquistados na detecção
todologia para avaliar a presença e integridade do circo- do vírus da influenza A e do vírus da influenza
vírus suíno tipo 2 (PCV2) e adenovírus suíno (PAdV) na suína, que contribuíram principalmente para ofe-
água reutilizada dentro da produção de suínos. A metodo- recer à cadeia produtiva a possibilidade de um
logia utilizada pela Embrapa permite a seleção e posterior diagnóstico mais rápido.
detecção de DNA originário de partículas de PCV2 viáveis.

54 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Lucas Cardoso - Embrapa.

9
As 45 mil poedeiras vendidas
mensalmente em 2011 chegaram a
pequenos produtores de ovos do Rio
Grande do sul, Santa Catarina, Paraná,
São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
estados Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e
Rondônia.

Fonte Embrapa

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 55


Divulgação
Suinocultura
é destaque em Santa Catarina
A evolução da suinocultura no Brasil atinge a cadeia produtiva como
um todo, da genética à gestão de negócios, passando pela nutrição,
instalação, sanidade, manejo e práticas ambientalmente corretas.
Envolve, indistintamente, criadores, indústrias, distribuidores e
consumidores. Até meados do século passado os criadores eram
independentes, com rebanho de pequenos portes, pouco afeitos a
parcerias, sendo raros os vínculos legais entre criadores e indústrias
56 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
C
om o surgimento da Associação Brasileira mesmo com os avanços que já ocorreram, a participação
dos Criadores de Suínos (ABCS), em 1955, dos produtores deve ser mais efetiva, para que estas pos-
na cidade de Estrela – RS essa realidade co- sam representar de fato o setor de produção.
meçou a mudar. Sua principal função seria a busca pelo É fundamental que os produtores também sejam or-
melhoramento genético do rebanho nacional, por meio ganizados, criando condições para acontecer um maior
de incentivo a introdução de raças puras que garanti- diálogo entre o setor de produção e o setor industrial,
ram a produção de menos gordura e mais carne. varejista, e outros interessados no desenvolvimento da
Com o aperfeiçoamento das raças passam a ser verifi- suinocultura. A produção de suínos em Santa Catarina
cados melhoras significativas nos indicadores de produ- está organizada nos sistemas integrados das Agroin-
tividade. No decorrer do aperfeiçoamento genético sur- dústrias, Cooperativas, nas Integrações e Condomínios
gem as Associações Estaduais que vão contribuir para o Particulares.
controle do avanço. Nos sistemas integrados são produzidos aproximada-
Em 1959 é fundada a Associação Catarinense de Cria- mente 90% do abate das indústrias e 80% da produção
dores de Suínos (ACCS), como uma entidade de classe, total de Santa Catarina. As integrações são sistemas or-
sem fins lucrativos com objetivo, também, de defender ganizados de produção.
e apoiar os suinocultores do Estado de Santa Catarina. Há necessidade, no entanto, de os produtores des-
De acordo com o último relatório da Associação Ca- tes sistemas também participarem de uma organização
tarinense de Criadores de Suínos, Santa Catarina tem um maior, que lute pela defesa do setor de produção como
território de 95.318,3 km², representando apenas 1,13% de um todo.
todo território nacional. Com uma população de 5.866.586 A ACCS procura a organização do suinocultor, visan-
habitantes, descendentes principalmente da Europa, en- do alcançar também maior controle do produtor sobre a
volvendo diversas origens, predominando os portugueses, produção. É um trabalho permanente de conscientização
italianos e alemães, trazendo culturas e implantando no para vencer, com o menor trauma possível, os momentos
Estado a forma de trabalho desbravador, prevalecendo às difíceis do setor de produção. ◆
pequenas propriedades de agricultura familiar. Santa Ca-
tarina tem como principais características na economia, a
diversificação de produtos com alta qualidade, a atualiza- Números da suinocultura em Santa Catarina de acordo com a ACCS
ção tecnológica e a modernidade gerencial. Possui cerca de 12 mil suinocultores
Tem um rebanho permanente de 6,2 milhões de cabeças
Organização da produção É responsável por 25% da produção nacional, que é de 2,7 milhões de
O setor industrial tem sua organização, em nível es- toneladas/ano
tadual, na Associação das Indústrias de Carnes e Deri- Produz 0,7% da produção mundial
vados de Santa Catarina (Aincadesc) e no Sindicato da Participa com 28% das exportações brasileiras
Indústria de carnes de Santa Catarina (Sindicarne), e Mercado de suínos nacional está concentrado em cinco grandes empre-
em nível nacional, na Associação Brasileira da Indústria sas, todas com matriz em Santa Catarina
Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
Essas empresas detêm 60% dos abates e 70% dos negócios suinícolas
O mesmo ocorre no setor varejista, onde as grandes do país
redes de supermercados têm decisiva influência no mer-
Dos abates totais, 82% originam-se nos Sistemas Integrados
cado de Carne Suína e seus Derivados. Este setor possui
Dos abates inspecionados, 90% dos suínos são dos Sistemas Integrados
a sua organização na Associação Catarinense de Super-
mercados (Acats) e na Associação Brasileira de Super- No Estado, na Região Oeste, concentram-se 70% do rebanho, 7,8% no
Sul e 13,2% nas demais regiões
mercados (Abras).
Através destas organizações, o setor industrial e varejista No PIB Estadual, a suinocultura é a primeira principal atividade, partici-
pando com 21,43 % do total
define claramente os seus interlocutores. Os suinocultores
também possuem as suas entidades, como a Associação A atividade emprega diretamente em torno de 65 mil e, indiretamente,
Catarinense e Brasileira de Criadores de Suínos. Porém, mais de 140 mil pessoas

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 57


Produção de m
A produção da cultura no país, juntamente com a de soja,
contribui com cerca de 80% da produção de grãos no país

58 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


New Holland / Divulgação
logia, Fitopatologia, Análise de Sementes, Microbio-
logia e Agrometeorologia.
A produção de milho no Brasil, juntamente com a de
soja, contribui com cerca de 80% da produção de grãos
no Brasil. A diferença entre as duas culturas está no fato
de que a soja tem liquidez imediata, dadas as suas ca-
racterísticas de commodity no mercado internacional,
enquanto o milho tem sua produção voltada para o abas-
tecimento interno, embora recentemente a exportação
do milho venha sendo realizada em quantidades expres-
sivas e contribuindo para maior sustentação dos preços
internos. Apesar disto, o milho tem evoluído como cul-
tura comercial apresentando, nas últimas décadas, taxas
de crescimento da produção de 3,0% ao ano e da área
cultivada de 0,4% ao ano.
O mapa apresenta a média de quatro anos, 2007 a
2010, da produção brasileira de milho por estado. Obser-
va-se que o Estado do Paraná, com mais de 13 milhões de
toneladas, é o maior produtor de milho do país.
Nas faixas de 1 a 5 milhões de toneladas e de 5 a 10
milhões de toneladas, com exceção do Rio de Janeiro e
Espírito Santo, está a grande parte dos estados do Cen-
tro Sul do Brasil. Bahia, Ceará, Sergipe, Maranhão e Pará
têm se constituído em nova fronteira para a produção de

milho
milho em escala comercial, aonde essa cultura vem sen-
do impulsionada pela expansão da soja.
No Ceará, a expansão do cultivo de milho se deve ao
aumento da demanda por este produto, que foi impul-
sionada pelo crescimento da produção de aves no Estado
e no vizinho Pernambuco. Nos outros estados, a produ-
ção de milho é caracterizada por cultivos familiares para

no Brasil
consumo no estabelecimento.

Produtividade média por Estado


Os níveis de produtividade média por estados são
melhores na região Centro Sul do Brasil. Os estados da

O
região Centro Oeste merecem destaque, pois obtiveram
Centro Nacional de Pesquisa de Milho, produtividades médias altas, no patamar dos estados da
vinculado a Empresa Brasileira de Pes- região Sul, mesmo com a predominância da safra de in-
quisa Agropecuária (Embrapa), está loca- verno na produção.
lizado no km 65 da Rodovia MG 424, que liga Belo Estes estados têm se caracterizado por produzir mi-
Horizonte a Sete Lagoas. A Unidade mantém, ainda, lho em áreas grandes, com o uso de tecnologias moder-
o Campo Experimental do Gorutuba, em Porteirinha, nas e sementes de alta qualidade e potencialidade, o que
Minas Gerais e dispõe de modernos laboratórios nas favorece ao crescimento da produtividade. Outro fator
áreas de Solos e Nutrição de Plantas, Fisiologia Vege- que tem impulsionado o crescimento de milho na re-
tal, Biologia Molecular, Cultura de Tecidos, Entomo- gião Centro Oeste, e em especial no Estado de Goiás, é a

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 59


ao consumo humano; segundo, à oferta do produto no
mercado consumidor, onde se tem fluxos de comercia-
lização direcionados para fábricas de rações, indústrias
químicas, mercado de consumo in natura e exportações,
quando é o caso.
Segundo dados do Censo Agropecuário do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 24,93% da
produção de milho é consumida na propriedade, sendo
que 60,54% dos estabelecimentos realizam esta prática.
Ainda são estocados nos estabelecimentos 6,32% da pro-
dução em 6,63% dos estabelecimentos que produzem
este grão.
Não se pode afirmar que a produção estocada na
propriedade é toda consumida internamente, nem que
é toda comercializada, mas pode-se dizer que este mi-
lho estocado participa dos dois tipos de destino da pro-
dução. Por outro lado, 68,75% da produção de milho é
comercializada, com fluxos direcionados às vendas para
ampliação do parque industrial, que utiliza milho como cooperativas, indústrias, intermediários e diretamente
insumo. Por outro lado, o uso da cultura de milho no sis- aos consumidores. Apenas 32,83% dos estabelecimentos
tema de cultivo de plantio direto também tem favorecido comercializam sua produção
os níveis de produção e produtividade nesta região
Destino da Produção de Milho em Grãos
.Destino da produção
Destino da Produção Produ- Número de Produtivi-
A produção brasileira de milho em grãos tem dois
ção Estabeleci- dade
destinos. Primeiro, o consumo no estabelecimento rural,
mentos
que refere-se àquela parcela do milho que é produzida
% % Kg/ha
e consumida no próprio estabelecimento, destinando-
Consumo no Estabelecimento 24,93 60,54 1.660
se ao consumo animal em sua maior parte e também
Estocada no Estabelecimento 6,32 6,63 2.166
Comercializada 68,75 32,13 2.914
Cooperativa 20,04 3,40 3.480
Indústria 13,41 0,71 3.817
Intermediário 31,50 24,80 2.469
Direto ao Consumidor 3,80 3,72 2.427
Fonte: Censo Agropecuário do IBGE

Milho - a energia da agricultura familiar


O milho é considerado um dos produtos mais impor-
tantes da agricultura brasileira, importância que se reflete
no aumento dos investimentos feitos pelo Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) nos últimos anos.
A cultura é a que mais recebe custeio do Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(Pronaf), capitaneado pelo MDA, ultrapassando a mar-
ca de R$1,3 bilhão em investimentos em 2011. O milho

60 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


também fica com a maior parte do valor destinado ao apenas para arroz, feijão e mandioca. Segundo o Censo
Seguro da Agricultura Familiar (Seaf) - dos 92 mil pedi- Agropecuário, foram mais de 42 mil toneladas de milho -
dos de cobertura recebidos na safra 2011/2012, mais de o equivalente a mais de 48% da produção brasileira.
45 mil são de milho. O grão também é recomendado para processos de
Mais de 153 mil agricultores receberam o pagamen- sucessão de culturas – quando a mesma área é utilizada
to do seguro Garantia-Safra, referente à safra 2010/2011 para cultivares que dão em épocas diferentes do ano – e
- estima-se que todos têm o milho como uma de suas para rotação de culturas, em geral revezando seu plantio
principais culturas. com o de uma leguminosa, promovendo assim a nitroge-
Seja cozido, na pamonha, como pipoca, no bolinho, o nação do solo.
ingrediente faz parte do cardápio dos brasileiros de nor- Em termos tecnológicos, o milho é a cultura que mais
te a sul. Além do sabor, o milho é uma grande fonte de evoluiu no Brasil nos últimos anos, favorecendo princi-
energia, com alto nível de carboidratos, vitaminas B1 e palmente os agricultores familiares, a partir do momento
sais minerais. Além disso, tem grande importância para que passa a apresentar maior produtividade sem deman-
a alimentação animal, sendo o principal componente dar grandes espaços para plantio. O resultado disso é que
da maioria das rações. O cultivar está em quarto lugar a maior parte do milho verde que abastece os municípios
na lista de produtos da agricultura familiar, perdendo brasileiros é produzido pela agricultura familiar. ◆

Valtra / Divulgação

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 61


Produção de t

O
Centro Nacional de Pesquisa de Trigo da Cerca de 90% da produção de trigo está no Sul
Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope- do Brasil. O cereal vem sendo introduzido paulatina-
cuária (Embrapa) foi a primeira unidade mente na região do cerrado, sob irrigação ou sequeiro.

Paulo Kurtz/Embrapa
descentralizada estabelecida pela Embrapa. Com
sede em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, tem a Cultivares de trigo
missão de gerar, adaptar e difundir tecnologias A Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e
para a cultura de trigo. Triticale (CBPTT) realiza, anualmente, o Ensaio
Hoje, os cenários político, social e econômico Estadual de Cultivares de Trigo (EECT), visando
tomam novas formas e sinalizam novas concep- subsidiar as indicações de cultivares.
ções institucionais, acompanhando as novas ten- O EECT é realizado em vários locais, represen-
dências mundiais. A Embrapa Trigo, atenta a es- tativos das Regiões Homogêneas de Adaptação de
sas modificações, adapta-se com a mesma rapidez Cultivares de Trigo do Estado, sendo organizado
às necessidades que surgem no cenário onde atua. pela Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuá-
O trigo é uma planta de ciclo anual, cultivada ria (Fepagro). A Fepagro tem o compromisso de
durante o inverno e a primavera. O grão é con- distribuir as sementes às Instituições/Empresas
sumido na forma de pão, massa alimentícia, bolo responsáveis pela condução dos experimentos,
e biscoito. É usado também como ração animal, bem como de reunir e analisar os dados obtidos,
quando não atinge a qualidade exigida para con- em parceria com a Embrapa Trigo.
sumo humano. O Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo, em
É cultivado nas regiões Sul (RS, SC e PR), Su- 2010, obedeceu a programação estabelecida duran-
deste (MG e SP) e Centro-oeste (MS, GO e DF). O te a III Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa
consumo anual no país tem se mantido em torno de Trigo e Triticale, realizada em 2009, no municí-
de 10 milhões de toneladas. pio de Veranópolis/RS. O Ensaio foi composto por

62 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Paulo Kurtz/ Embrapa
e trigo A cultura ocupa o primeiro
lugar em volume de produção
mundial. No Brasil, a
produção anual oscila entre
5 e 6 milhões de toneladas

dezoito experimentos, abrangendo dezesseis locais ou por ataque de roedores, e que não foram
de avaliação e as duas regiões de adaptação para danificados na secagem;
trigo no Rio Grande do Sul, além de três experi- —— limpeza: grão livre de resíduo, palha, pedra,
mentos em Santa Catarina e um no Paraná. pó, fragmentos vegetais, sementes de plantas
daninhas ou de outras espécies cultivadas, ex-
Qualidade tecnológica do trigo crementos de roedores e insetos; e
Em condições ambientais favoráveis à ativida- —— qualidade de moagem: trigo com bom rendi-
de metabólica do grão (alta umidade e alta tem- mento de moagem e farinha com qualidade
peratura), o fenômeno da respiração é o principal tecnológica adequada ao produto desejado.
responsável pela rápida deterioração de grãos ar-
mazenados. Os principais fatores que devem ser Classificação comercial de trigo
considerados na conservação do grão durante o A classificação comercial de trigo e a tipifica-
armazenamento, pois influenciam a taxa de de- ção de trigo estão baseadas na Instrução Norma-
terioração e a respiração do grão são: umidade, tiva nº 38, de 30 de novembro de 2010, do Minis-
temperatura, aeração e integridade do grão. tério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Para a qualidade tecnológica de trigo são im- publicada no Diário Oficial da União de 1º de
portantes requisitos: dezembro de 2010.
—— aparência: grãos de coloração normal, com A classificação comercial estima a aptidão tec-
brilho, sem defeitos, livres de doenças causa- nológica de trigo. Também, são apresentados va-
das por fungos e bactérias, não germinados e lores sugeridos para características de qualidade
sem odor de mofo; por produto à base de trigo, em função da força
—— sanidade: grãos sem danos mecânicos, causa- de glúten (W), da relação tenacidade/ extensibili-
dos pela colhedora, por infestação de insetos dade (P/L) e do número de queda (NQ).

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 63


Classificação do trigo do Grupo II, destinado à moagem e outras finalida- Produção tradicional e familiar em Goiás
des, segundo a Instrução Normativa nº 38, de 30 de novembro de 2010, Uma variedade de trigo originário de regiões monta-
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. nhosas do sudoeste da Ásia (Irã, Iraque e Turquia) voltou
a ser cultivado no Brasil em 2012. Com a ajuda da Em-
Classe Força do glúten (va- Estabilidade Nº de queda
presa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
lor mínimo expresso (tempo (valor mínimo
que há 40 anos monta a sexta maior coleção genética
em 10-4J) expresso em expresso em
minutos) segundos) do mundo, produtores do interior do Goiás resgataram
a plantação do trigo veadeiro. A triticultura na Chapa-
Melhorador 300 14 250
da dos Veadeiros foi interrompida no início do século
Pão 220 10 220
20 com a introdução de variedades, mais baratas e mais
Doméstico 160 6 220 produtivas, apesar de não terem sido bem aceitas.
Básico 100 3 200 No Brasil, o cultivo do trigo aconteceu em 1534, na
Outros usos Qualquer Qualquer Qualquer antiga Capitania de São Vicente, com grãos trazidos da

Tipificação do trigo do Grupo II, destinado à moagem e outras finalidades, segundo a Instrução Normativa nº 38, de 30 de novembro de 2010, do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Tipo Peso do hectolitro Matérias estranhas Defeitos (% máximo) Total de defeitos


(valor mínimo) e impurezas (% Danificados por Pelo calor, mofados Chochos, triguilhos e (% máximo)
máximo) insetos e ardidos quebrados
1 78 1,00 0,50 0,50 1,50 2,00
2 75 1,50 1,00 1,00 2,50 3,50
3 72 2,00 2,00 2,00 5,00 7,00
Fora de tipo < 72 > 2,00 > 2,00 10,00 > 5,00 > 7,00
Fonte Embrapa

Indicações de características de qualidade por produto à base de trigo.

Aplicação W (10-4J) P (mm) P/L AA (%) EST NQ (s) L* b* PROT %


(min) (b.s.)
Panificação artesanal min 280 - 1,2-2,0 min 58 min 15 min 250 min 92 - min 12
Panificação industrial* min 250 - 0,8 - 1,5 min 58 min 12 min 250 min 92 - min 12
Farinha doméstica min 180 - 0,8 - 1,5 - min 8 min 250 Min 92,5 - min 10
Massas - - - - - min 250 - min 12 min 14
Biscoitos fermentados 170-220 70-100 0,8-1,5 56-60 - min 250 min 90 - ‘9-12
Biscoitos moldados doces 90-160 40-60 0,4-1,0 máx 60 - min 200 min 91 - ‘8-9
Biscoitos laminados doces 110-180 60-100 0,5-1,2 56-60 - min 200 min 91 - ‘8-9
Waffers/Bolos - - - máx 56 - min 200 min 91/ - 7-8/
min 92 máx 8
Massas frescas/instantâneas min 180 - - - - min 250 Min 93,5 - min 12
W = força de glúten; P = tenacidade; P/L = relação tenacidade/extensibilidade (parâmetros da alveografia); AA = absorção de água; EST = estabilidade (parâmetros
da farinografia); NQ = número de queda ou falling number; L* = luminosidade Minolta (L = 100, branco total, L = 0, preto total) e b* = tendência para a cor amarela
(sistema CIEL *a*b* = determinada em colorímetro Minolta); PROT = proteínas.

Fonte Embrapa

64 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Regiões Homogêneas de Adaptação de Cultivares de Trigo
Europa. A partir de 1940, a cultura se expandiu pelo Rio
Grande do Sul. De acordo com a Embrapa, a variedade
de trigo veadeiro, historicamente plantada na região
de Alto Paraíso (Goiás), possivelmente chegou ao centro
do Brasil pelas mãos de uma família egípcia.
Uma das características desse grão é a de ser uma
variedade tradicional ou crioula, que, ao contrário da
maioria das variedades comerciais do trigo, é cultivada
de forma tradicional. Não demanda aporte de insumos
químicos para que seja produzida no sistema de cultivo
familiar e com condições ambientais apropriadas, como
as de Alto Paraíso.
O trigo voltou a ser plantado na Chapada dos Veadeiros
como incentivo da Embrapa para a agricultura familiar. ◆

Fonte Embrapa

Nilson Konrad/Massey Fergusson

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 65


Canola
a soja de inverno
O cultivo no Brasil iniciou em 1974, no Rio
Grande do Sul. Na Embrapa Trigo, as pesquisas
com canola começaram no início da década de
1980, a partir da avaliação de espécies para
composição de sistemas de rotação

A
s pesquisas e o cultivo de canola no Fonte renovável de energia
Brasil foram iniciadas pela Cooperativa Atualmente, as fontes renováveis de energia
Agropecuária & Industrial de Ijuí (Co- têm sido a solução adotada por diversos países
trijuí), em 1974, no noroeste do Rio Grande do Sul para minimizar problemas ambientais e também
com a cultura da colza. O cultivo alcançou o Paraná para aumentar a segurança no suprimento de ener-
já no início dos anos 80. No entanto, na década de gia, uma vez que elas podem substituir as fontes
90, observou-se uma retração do cultivo da oleagi- convencionais de energia fóssil. De acordo com a
nosa. A partir do ano de 2001, houve uma retomada Embrapa, o Brasil possui condições agronômicas
na expansão da área de cultivo comercial de canola, favoráveis ao cultivo de plantas oleaginosas para
sobretudo nos estados do Rio Grande do Sul e do Pa- produção de biodiesel, entretanto ainda são escas-
raná, chegando ao sudoeste de Goiás em 2003. Em- sas as informações sobre a sustentabilidade da pro-
bora ainda pouco semeada no Brasil, apenas 35.131 dução de oleaginosas para biodiesel, evidenciando
hectares em 2009, mundialmente, é a terceira planta assim a necessidade de se avaliar os possíveis im-
oleaginosa mais produzida e seu maior consumo pactos das cadeias de matérias-primas.
ocorre em países mais desenvolvidos. Na Embrapa O Programa Nacional de Produção e Uso de
Trigo, as pesquisas começaram no início dos anos 80, Biodiesel (PNPB) é uma iniciativa interministerial
sendo que as ações têm focado a avaliação de genó- do Governo Federal que objetiva a implementação
tipos adaptados à Região Sul e o desenvolvimento de de forma sustentável, tanto técnica como econômi-
tecnologias de manejo da cultura e da colheita. ca, da produção e uso do biodiesel, com enfoque

66 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Embrapa
na inclusão social e no desenvolvimento regional, tanto pela elevada disputa pelo produto no mercado
via geração de emprego e renda, tendo como prin- brasileiro e europeu como por ser uma ótima opção
cipais diretrizes: implantar um programa susten- econômica para o agricultor brasileiro. Se seguir o
tável, promovendo inclusão social; garantir preços exemplo de pesquisa e desenvolvimento e a capa-
competitivos, qualidade e suprimento; produzir o cidade empreendedora observada com o cultivo de
biodiesel a partir de diferentes fontes oleaginosas e soja no Brasil, o país poderá se transformar em im-
em regiões diversas (Brasil, 2010). portante produtor e exportador de canola.
Para atender às metas de volume de biodiesel Cotada pelo mesmo valor da soja no mercado,
estimadas pelo governo federal, há necessidade de a oleaginosa é a principal fonte de matéria-pri-
disponibilização de matérias primas fornecedoras ma para o biodiesel na Europa, onde 70% de sua
de óleo, o que nos remete à grande relevância de produção destinam-se a essa finalidade e onde
fomento ao cultivo de oleaginosas em diferentes também não há mais muitas áreas para expansão
partes do país. No Brasil, as alternativas para a pro- das lavouras. Além disso, o óleo de canola é um
dução de óleos vegetais são diversas, pois somos dos melhores e mais saudáveis para a alimenta-
privilegiados com um clima tropical na grande ção humana por diminuir os riscos de problemas
parte do país, e na região sul temos um clima sub- cardíacos e ajudar a reduzir o colesterol. Some-se
tropical que possibilita grande variedade de cultu- a isso o crescimento da preocupação com a qua-
ras para produção de biodiesel. Dentre as princi- lidade alimentar da população e o fato de o poder
pais culturas utilizadas para produção de biodiesel aquisitivo do brasileiro estar aumentando. Ou
temos a soja, o amendoim, o girassol, o dendê, a seja, dentro e fora do país, há mercado consumi-
mamona, o algodão, o pinhão manso e a canola. dor constituído e a rentabilidade é alta.
O óleo extraído da canola tem inúmeras aplica- Conforme pesquisadores da Embrapa Trigo,
ções, como para produção de biodiesel e consumo a canola como opção de safrinha ou safra de in-
alimentar, pois é considerado um produto saudá- verno tem mostrado benefícios diretos e indiretos
vel por apresentar elevada quantidade de ômega3, para as culturas subsequentes. Por ser uma planta
vitamina E, gorduras monoinsaturadas e o menor das famílias das brassicaceae - como o repolho e
teor de gordura saturada de todos os óleos vegetais. a mostarda -, plantada em sucessão ajuda a dimi-
Atualmente a grande demanda pelo óleo de canola nuir a pressão de doenças em gramíneas como
está vinculada à produção de biodiesel, para ser usa- o milho plantado na safra de verão ou o trigo na
do puro ou adicionado ao óleo diesel produzido de safra de inverno do ano seguinte. Produtores de
petróleo, do qual o Brasil é importador. A canola no soja que utilizam a canola como safrinha têm re-
Brasil constitui uma excelente opção de cultivo com gistrado aumento de 400 a 500 quilos de soja a
a destinação à alimentação humana bem como para mais por hectare no verão, um resultado obtido
fins agroenergéticos, especialmente, para a exporta- também pelo resíduo do fertilizante aplicado no
ção à Europa e outros países com invernos rigorosos. cultivo da canola, que não sendo totalmente utili-
zado pela cultura fica para lavoura seguinte. ◆
Rotação de cultivos
Outra vantagem interessante que se apresenta ao
agricultor brasileiro é a possibilidade de rotação de
Embrapa

cultivos, com semeadura da canola no outono-inver-


no (semeadura entre 15 de abril a 30 de junho no RS)
ou na safrinha (semeadura em fevereiro a março) na
região Centro-Oeste. Com estas características posi-
tivas, o cultivo da canola tende a aumentar no Brasil,

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 67


Brasil: o maior
produtor e exportador
de carne bovina

Adoção das boas práticas agropecuárias


contribui para que o incremento da produção
de carne bovina ocorra de maneira cada
vez mais sustentável, econômica, social e
ambientalmente correta
68 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
MDA/Divulgação
E
m 1975, 2 anos após a criação da Em-
brapa, uma equipe de profissionais fi-
cou responsável pela implantação do
Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte,
em Campo Grande no Mato Grosso do Sul.
Na época da criação da Unidade, a produtivi-
dade da bovinocultura de corte brasileira, além de
baixa, não apresentava crescimento e não atendia
aos mercados interno e externo. Para mudar o qua-
dro da época foi necessário investir em pesquisa e
promover o desenvolvimento da produção nacional.
Tecnologias foram lançadas e contribuíram para in-
crementar o crescimento do rebanho e aumentar a
produção de carne por animal e por hectare.
A Embrapa, que estuda sistemas de produção,
já pesquisou e lançou uma série de variedades de
forrageiras, realiza pesquisas nas áreas de sani-
dade e nutrição do rebanho, melhoramento, re-
produção e manejo animal e é responsável pelo
crescimento do setor em âmbito nacional.

Boas práticas
O Brasil é hoje o maior produtor e exportador
de carne bovina. Este sucesso da pecuária de corte
se deve, dentre outros fatores, à qualidade do sis-
tema produtivo nacional e à confiança crescente
no conceito de alimento saudável, especialmente
pela produção de carne de qualidade.
Apesar das inúmeras tecnologias disponíveis,
o sistema produtivo da pecuária bovina não se
mantém sustentável sem a gestão ambiental da
propriedade, sem a correta formação e manejos
das pastagens, sanitário, zootécnico e reproduti-
vo, sem instalações adequadas e, muito menos,
sem a gestão econômica, financeira e social do
empreendimento rural.
A adoção das boas práticas agropecuárias con-
tribui para que o incremento da produção de carne
bovina ocorra de maneira cada vez mais sustentá-
vel, econômica, social e ambientalmente correta.
Obedecendo ao manual Boas Práticas Agro-
pecuárias – Bovinos de Corte, organizado pela
Embrapa, o Brasil se insere no seleto mercado de

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 69


produtor de alimento saudável e de qualidade superior, aftosa que resultaram na melhoria da percepção de qua-
livre de restrições não-tarifárias e outras imposições do lidade do produto pelos países importadores.
comércio mundial. Com esses princípios em prática será Outra característica adicional de valorização foi a
possível atender aos diferentes e exigentes mercados na- constatação da produção de alimento seguro, uma vez
cional e externo. que a maior parte do rebanho brasileiro é alimentada
em pasto. Outros fatores, como solo, clima e recursos
Mato Grosso do Sul, maior produtor humanos, passaram a constituir vantagens comparati-
A bovinocultura de corte vem assumindo forte lide- vas que, somadas à extensão territorial, têm permitido
rança na economia nacional e também no mercado mun- ao País oferecer, aos mercados nacional e externo, carne
dial de carnes. O estado do Mato Grosso do Sul é o que bovina de alta qualidade, em volumes crescentes e a pre-
possui o maior rebanho bovino do País com cerca de 24,5 ços competitivos. Além desses fatores, as iniciativas de
milhões de cabeças. rastreamento da carne bovina destinadas à exportação,
O Brasil possui hoje o maior rebanho comercial do especificamente para a União Européia, têm contribuído
mundo; é o segundo maior produtor mundial de carne de maneira significativa para o atendimento das expec-
bovina, com cerca de oito milhões de toneladas, e a par- tativas dos consumidores internacionais, quanto à segu-
tir de 2003 passou a ser o primeiro exportador mundial, rança dos alimentos.
com destaque tanto no comércio de carnes frescas como Para assegurar a qualidade e a segurança dos alimentos,
no de industrializadas. grupos de consumidores, organizações não governamentais
Diversos fatores foram determinantes para a con- (ONGs) e redes de supermercados, ligadas ao comércio na-
quista da liderança brasileira no comércio internacional cional e internacional de carnes, têm exigido dos seus forne-
da carne bovina. Em primeiro lugar, podem-se destacar cedores a implantação de processos de controle de qualida-
as ações desenvolvidas em prol da erradicação da febre de, certificando que os produtos ofertados estão de acordo

Embrapa / Divulgação

70 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


com as normas e exigências do mercado. Destes, se destaca turamento nos primeiros dez meses também aumentou.
o sistema Análise de Perigos e Pontos Críticos de Contro- Até outubro, as embarcações renderam US$ 4,24 bilhões,
le (APPCC), conhecido internacionalmente como HACCP. aumento de 6,5% frente os US$ 3,98 bilhões faturados no
Os princípios desse Sistema, além de garantir a produção mesmo período do ano passado.
de alimentos seguros à saúde do consumidor, são também O preço médio pago pela tonelada do produto este
utilizados nos processos de melhoria da qualidade do pro- ano ficou em US$ 3.433,40, valor 4,8% menor que os US$
duto final, em vários países. Ele tem como pré-requisito a 3.608,10 pagos na média do mesmo período no ano passa-
implantação das Boas Práticas no campo, como também do. Diante dos dados, é possível verificar que é o aumento
na indústria e nos demais elos da cadeia produtiva da carne no volume embarcado que tem garantido o crescimento no
bovina. Outra exigência de mercado, além da qualidade do faturamento do setor.
produto, se refere à sustentabilidade dos sistemas produti-
vos, ou seja, aqueles que respeitam as leis ambientais são so- Emater RS
cialmente justos, economicamente viáveis e proporcionam Segundo o IBGE, o efetivo da pecuária para a bovino-
bons tratos para com os animais. cultura de corte no Rio Grande do Sul é de 14.469.307 de
cabeças, ou seja, 7% dos 209.541.109 de cabeças do Brasil.
Exportação crescente Os pecuaristas familiares estão presentes em todas as
O aumento no volume exportado garantiu faturamento regiões do Estado, principalmente na Metade Sul e nos
maior nos primeiros dez meses do ano, mesmo com preços Campos de Cima da Serra. São mais de 40 mil famílias
mais baixos. O preço médio pago pela tonelada de carne bo- que são proprietárias de aproximadamente 3 milhões de
vina em 2012 ficou 4,8% menor que no ano passado. cabeças.
No acumulado de janeiro a outubro de 2012, o Brasil Os pecuaristas familiares têm nas suas características
exportou 1,24 milhão de toneladas equivalente carcaça um modo de vida e não um sistema de produção, ob-
(tec) de carne bovina, considerando industrializada e in servando-se uma relação de coprodução com a natureza,
natura, segundo dados do Ministério do Desenvolvimen- buscando a autogestão com base autônoma nos recursos
to, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). próprios. Há um projeto de sobrevivência e reprodução,
O volume é 12% maior que o exportado no mesmo em uma relação diferenciada com mercados diversifica-
período de 2011, que somou 1,10 milhão de toneladas, dos, destacando-se ações de pluriatividade com fortes
de acordo com levantamento da Scot Consultoria. O fa- relações de reciprocidade. ◆

Embrapa / Divulgação

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 71


72 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
Karine Heller
Produção
de leite

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 73


A
Embrapa Gado de Leite é uma das unidades dados apontam o Brasil como promissor para continuar
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope- crescendo em tecnologia e produção de leite.
cuária (Embrapa), com sede em Juiz de Fora
em Minas Gerais. A Unidade tem por missão viabilizar Produção de leite
soluções por meio de pesquisa, desenvolvimento e ino- De acordo com os últimos dados do Instituto Brasilei-
vação para a sustentabilidade da cadeia produtiva do lei- ro de Estatística (IBGE), nos últimos oito anos, a produ-
te em benefício da sociedade brasileira. ção de leite aumentou 37%, passando de 23,5 bilhões de
A empresa tem se consolidado como referência mun- litros produzidos em 2004 para 32,1 bilhões de litros em
dial em pesquisas para pecuária leiteira de clima tropical, 2011. Isso equivale a um aumento anual médio de 4,7%.
sendo que isso é resultado dos conhecimentos e tecnolo- Este aumento no volume de produção de leite mantém o
gias inovadoras para o setor produtivo. Os aspectos socio- Brasil entre os cinco países com maior produção de leite
econômicos da produção de leite e o desenvolvimento de no mundo.
métodos para quantificar, monitorar, zonear e analisar os
dados da produção de leite compõe as ações deste Núcleo. Crescimento da produção
Em 2010 a produção mundial de leite foi de 695,7 bi- No país, a maior produção de leite continua ocorren-
lhões de litros, dos quais o Brasil contribuiu com 4,42% do em Minas Gerais, que representa 27,3% da produ-
ou 30,7 bilhões de litros. Entre 2000 e 2010 a produção ção nacional. Em segundo lugar, aparece o Rio Grande
cresceu em média 4,4% ao ano, a segunda maior taxa do Sul, com 12,1% da oferta de leite no Brasil, seguido
anual de crescimento do mundo. pelo Paraná (11,9%) e por Goiás (10,9%). No entanto, as
Entre os maiores produtores mundiais é o primeiro variações percentuais na produção de leite entre 2010 e
em crescimento na quantidade de vacas por fazenda, 2011 foram bem discrepantes entre os estados do Brasil.
com 5,3% por ano e o primeiro em crescimento relati- As maiores taxas de crescimento da produção de leite
vo da produção por estabelecimento. Em produção por de vaca ocorreram em Goiás (9,0%), Rio Grande do Sul
vaca é o quarto com maior crescimento indicando que (6,8%), Paraná (6,2%) e Minas Gerais (4,4%).
a tecnologia de produção vem evoluindo rapidamente, Em termos de volume de leite produzido a mais
sobretudo na questão da genética, nutrição e manejo. Os em 2011, os destaques foram: Minas Gerais, Goiás, Rio

Evolução da produção de leite no Brasil e previsão da produção para 2012


35

30
Bilhões de litros de leite

25

20

15

10

5 23,5 24,6 25,4 26,1 27,6 29,1 30,7 32,1 33,5


0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Fonte: Adaptado de IBGE

74 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Crescimento da produção de leite em estados brasileiros, no período de
2010 a 2011.
15,0%

10,0%

5,0%

TO RO BA
0,0%
SE CE ES MA SP MT PE SC GO RS PR MG
-5,0%

-10,0%

-15,0%
Fonte: Adaptado de IBGE

Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, que juntos in- Na Região Sudeste são aproximadamente 44% das
troduziram R$ 1,3 bilhões de litros no mercado, ou seja, propriedades que trabalham com leite e nas regiões Nor-
92,7% do aumento da produção brasileira em 2011. te e Nordeste esse valor é menor, quando comparado
Com isso, os estados que tiveram a maior geração de com outras regiões brasileiras, cerca de 24%.
renda com o leite em 2011 foram, nesta ordem: Minas Minas Gerais é o estado que mais produz leite no Bra-
Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás, Santa Catarina sil. A Zona da Mata se caracteriza por apresentar peque-
e São Paulo. Em Minas Gerais, o valor bruto da produção nas propriedades. Segundo o IBGE, 78% dos estabeleci-
de leite em 2011 foi de R$ 6,9 bilhões, o que representa mentos rurais têm menos de 100 hectares.
quase o dobro do valor gerado no Centro Oeste, mais do Um em cada três estabelecimentos classificados como
que o dobro do valor da produção no Nordeste e mais de sendo da agricultura familiar, produz alguma quantida-
seis vezes a renda produzida pelo leite no Norte. de de leite no Brasil, o que demonstra sua importância
para esse segmento dos produtores. A produção de leite é
O leite na agricultura familiar fortemente disseminada na agricultura familiar brasilei-
Entre os agricultores familiares, a pecuária de leite ra e isso se justifica por uma série de razões dentre estas
é uma das principais atividades desenvolvidas, estan- o fato de não haver praticamente barreiras à entrada, de
do presente em 36% dos estabelecimentos classificados ser um produto tanto para consumo interno como para
como de economia familiar, além de responderem por comercialização ou processamento.
52% do Valor Bruto da Produção total, oriundos do leite.
As propriedades de agricultura familiar da Região Rebanho leiteiro no Brasil
Sul e do Centro Oeste são as que mais trabalham com a Além da produção de leite, o tamanho do rebanho
pecuária leiteira, pois o leite está presente em 61% dos também é uma variável que merece ser acompanhada.
estabelecimentos das duas regiões. De 2010 a 2011, o rebanho leiteiro no Brasil aumentou

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 75


1,3%, chegando à marca de 23,2 milhões de cabeças ais de produtividade ocorreram no Tocantins (22,7%), em
de gado. Entre as regiões, apenas a Região Norte dimi- Goiás (4,6%) e no Rio Grande do Sul (4,4%). Os maiores
nuiu seu efetivo. A região onde o número de vacas au- rebanhos leiteiros encontram-se em Minas Gerais, Goiás,
mentou mais em 2011 foi a Centro Oeste (4,2%). Ainda, Bahia, São Paulo e nos estados do Sul do país.
a região com o maior rebanho é a Sudeste, com aproxi- A pecuária de leite é uma atividade produtiva de
madamente 34% do rebanho brasileiro. grande importância social e econômica em várias regi-
Na maioria dos estados pode-se observar o aumento ões do Brasil. No Norte e Nordeste ela é praticada, prin-
no número de vacas ordenhadas. Os maiores incremen- cipalmente, por pequenos e médios produtores rurais
tos percentuais ocorreram nos estados Amapá, Roraima e a maioria dos sistemas de produção de leite emprega
e Paraíba, de 30,4%, 18,8% e 8,3%. O estado responsável apenas a mão de obra familiar. As tecnologias, desenvol-
pelo maior rebanho leiteiro ainda é Minas Gerais com vidas e/ou adaptadas pela Embrapa estão ajudando os
aproximadamente 24% do rebanho nacional. produtores a elevar a capacidade produtiva, a rentabili-
dade e a qualidade do leite produzido.
Rebanho leiteiro do Brasil em cabeças As inovações adotadas pelos produtores de algumas
2009 2010 2011 Var. 2011/
regiões envolvem um conjunto de tecnologias que vem
2010 contribuindo para resolver problemas como a superlota-
ção do pasto, o baixo padrão genético do rebanho e a de-
Norte 2.660.488 2.582.959 2.442.355 -5,4%
gradação das pastagens, principais fatores que impedem
Nordeste 4.803.198 4.926.568 4.925.593 0,0%
o desenvolvimento da pecuária de leite.
Centro-Oeste 3.583.642 3.645.965 3.799.356 4,2%
Como orientação aos produtores, a Embrapa destaca
Sudeste 7.513.583 7.744.339 7.919.660 2,3% oito tecnologias no manejo do bovino de leite. O pastejo
Sul 3.879.605 4.025.083 4.140.257 2,9% rotacionado, uso de cerca elétrica, suplementação com
Brasil 22.440.516 22.924.914 23.227.221 1,3% cana e uréia, arborização de pastagens, consorciação de
Fonte: IBGE (Pesquisa Pecuária Municipal). pastagens com amendoim forrageiro, inseminação arti-
ficial, controle zootécnico e financeiro da propriedade e
Produtividade do rebanho as boas práticas na ordenha – que têm contribuído para
A produtividade do rebanho leiteiro do Brasil cres- garantir retorno financeiro e ganhos ambientais.
ceu 3,1% entre 2010 e 2011, chegando a 1.382 litros por A realização do controle zootécnico e financeiro nas
vaca ao ano. Dentre as regiões, todas aumentaram sua propriedades demonstrativas permitiu uma avaliação do
produtividade nesse período, sendo as mais expressivas impacto da adoção das tecnologias na eficiência técnica
a Região Sul e a Região Centro Oeste com variações de e econômica dos sistemas de produção utilizados, com-
3,5% e 3%, respectivamente. provando sua sustentabilidade.
O Sul do Brasil ainda é a região que apresenta a melhor O melhoramento genético do rebanho é outro fator
produtividade, cerca de 2,5 mil litros/vaca em 2011 Entre da maior relevância e que produtores estão adotando.
os estados da federação, os maiores aumentos percentu- Eles aprenderam com técnicos da Embrapa as facilida-
des e vantagens da inseminação artificial e passaram a
Produtividade (litros/vaca/ano) utilizar sêmen de touros provados de raças leiteiras em
2009 2010 2011 Var. 2011/ 2010
cruzamentos. Em algumas propriedades, a produção de
leite por lactação aumentou de 662 kg/vaca para 1.329
Norte 629 673 686 2,0%
kg/vaca e a produção anual aumentou de 14.312 kg de
Nordeste 794 811 833 2,6%
leite para 20.518.
Centro-Oeste 1.178 1.220 1.257 3,0%
Sudeste 1.387 1.410 1.428 1,3% Melhoramento genético animal
Sul 2.314 2.388 2.471 3,5% O melhoramento genético do gado de leite pode ser
Brasil 1.297 1.340 1.382 3,1% realizado pela seleção dos melhores animais, que serão
Fonte: IBGE (Pesquisa Pecuária Municipal). mantidos no rebanho para pais da próxima geração e

76 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


pelos cruzamentos entre animais de uma ou mais raças. criação e climáticas prevalecentes no Brasil. O menor
Qualquer que seja o procedimento usado é importante potencial produtivo se deve, principalmente, porque as
que animais de genética superior sejam identificados. raças zebuínas no passado não foram selecionadas para
No Brasil, um país com ampla variação de clima e de produzir leite.
manejo nos rebanhos, é um desafio para os produtores Nos últimos anos, no entanto, vêm sendo conduzidos
de leite o estabelecimento de seus sistemas de produção. programas de melhoramento das raças zebuínas para
As raças especializadas para produção de leite, tais produção de leite e os resultados desse trabalho têm sido
como a Holandesa, a Jersey ou a Suíça Parda, adaptadas animadores. É cada vez maior o número de vacas dessas
a países de clima temperado, são capazes de expressar raças, como a Gir e Guzerá, que atingem altas produções
seu potencial de produção nesses lugares. No entanto, no de leite por lactação.
Brasil, as condições climáticas podem tornar a atividade É crescente o número de criadores que trabalham
economicamente inviável, por causa de altos custos de com zebuínos para produção de leite, tanto como raça
produção não compensados pelo aumento de produtivi- pura, como em cruzamentos. A procura por touros se-
dade, isso faz com que a grande maioria dos produtores lecionados também aumentou e a comercialização de
opte por animais menos produtivos, mas melhor adapta- sêmen de touros das raças Gir e Guzerá encontra-se
dos ou mais rústicos. em ascensão.
As raças zebuínas, embora de potencial produtivo Além do potencial genético, é necessário se ater às
menor, são mais adaptadas à maioria das condições de condições de manejo e alimentação do rebanho, se essas

Embrapa / Divulgação

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 77


MDA/Divulgação
não forem adequadas, o animal não expressará todo o produtividade e de rentabilidade para o produtor e para
seu potencial genético, ou seja, para que o animal sele- a indústria, mas também pelos ganhos com a garantia da
cionado seja produtivo, deverá ser bem manejado para qualidade e segurança dos alimentos e principalmente,
que as condições de criação não interfiram de forma ne- com a saúde dos consumidores.
gativa na sua produtividade. Sem genética, não há boa Como o consumo de leite e derivados está ligado a
produção e sem melhorias nas condições de manejo, não princípios de nutrição e saúde, garantir a segurança e a
há resposta ao melhoramento genético. qualidade da fabricação desses produtos é essencial para
Por meio de programas de melhoramento genético, a indústria. Só que a qualidade do leite deve ser garan-
os produtores podem melhorar a produtividade do seu tida desde o momento em que ele é ordenhado: não há
rebanho, agregando valor a sua produção e melhorando como melhorar a qualidade do leite depois que ele sai da
o retorno econômico na atividade leiteira. propriedade. Por isso, todo o foco tem sido direcionado
para o produtor de leite, pois ele é o responsável pelo iní-
Qualidade do leite cio do processo da qualidade.
Produzir leite de qualidade é hoje um objetivo co- Para impulsionar ainda mais os programas de incen-
mum a toda a cadeia produtiva do leite no Brasil e no tivo à melhoria da qualidade do leite brasileiro, está em
mundo. Leite de qualidade é definido por ser seguro para vigor no país desde julho de 2005 a Instrução Normativa
quem o consome. 51, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
A busca pela qualidade se deve não somente pelos ga- mento (BRASIL, 2002), que tem como objetivo estabele-
nhos econômicos para toda a cadeia do leite, ganhos de cer padrões de qualidade do leite cru refrigerado. ◆

78 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Marcio Steiner
Políticas públicas
para manter o jovem no campo
A agricultura familiar responde por 38% da renda
agropecuária e ocupa quase 75% da mão de obra do campo

A
agricultura familiar é um segmento estraté- As políticas públicas podem auxiliar no crescimento
gico para o desenvolvimento do País. Além desse setor garantindo crédito, subsídio, assistência téc-
de ser responsável por produzir 70% dos nica, programas de auxílio, programas de aquisição de
alimentos consumidos pelos brasileiros todos os dias, alimento, financiamento e proteção da produção agríco-
responde por 38% da renda agropecuária e ocupa quase la, programas de geração de renda e agregação de valor.
75% da mão de obra do campo. Segundo o deputado federal Pedro Uczai (PT/SC),
o que pode ser feito para manter os jovens no campo
são políticas públicas que integrem e consolidem a
Alexandra Martins / Câmara dos Deputados

agricultura, especialmente por meio de ações e progra-


mas que garantam assistência técnica e extensão rural
e de renda. Além disso, pode ser somado o acesso ao
crédito e apoio à comercialização, valorizando a oferta
de alimentos produzidos pela agricultura familiar; as
políticas e programas habitacionais; a ampliação do
número de unidades familiares de produção que ado-
tem práticas, insumos e princípios de manejo ecológico
que contribuam para a construção de agriculturas sus-
tentáveis; políticas para fortalecer modelos produtivos
que possam promover a cooperação e a concorrência,
buscando viabilizar as economias dos pequenos e mé-
dios empreendimentos rurais e programas de acesso ao
Deputado F ederal Pedro Uczai
estudo, lazer e à cultura. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 79


Embrapa Irri g
Tecnologia é essencial em todas as r
Um bom projeto inicia no seu dimensionamento agronômico e
hidráulico. Estudos apontam que 90% dos agricultores fazem
irrigação de maneira inadequada

O investimento inicial no sistema de irrigação é relativamente


caro para os padrões econômicos da maioria dos agricultores
familiares do Brasil.

80 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MDA/ Divulgação
MDA/Divulgação
i gação O
Brasil possui diversas condições climá-
ticas como regiões úmidas (Sul/Norte/
Centro-Oeste) e região mais seca como
o Nordeste. A irrigação é essencial em todas estas
regiões, pois há variações na distribuição espacial e
temporal das precipitações, que podem não garan-

s regiões do País tir uma produção econômica, e os riscos de per-


das se tornam crescente do sul até o nordeste. De
acordo com o pesquisador da Embrapa Hortaliças,
de Anápolis/DF, Marcos Brandão Braga, “este im-
pacto é maior para os pequenos produtores, uma
vez que as perdas de produção podem inviabilizar
ou impossibilitar a permanência na atividade agrí-
cola. Portanto, uma das necessidades urgentes dos
pequenos produtores é o ganho de escala na pro-
dução de seus alimentos e, para tanto, necessitam
garantir às culturas água, no tempo e quantidade
adequada que pode ser conseguida pela irrigação.”
O investimento em irrigação é essencial para a
sobrevivência de uma propriedade agrícola, prin-
cipalmente, de pequenos produtores de regiões em
que a disponibilidade natural de chuvas é escassa
ou variável durante o ano. A irrigação permite ao
agricultor diversificar os cultivos, maximizar o uso
da terra e implementos, diminuir os riscos de per-
das na produção, ganho de produtividade, além de
permitir a produção de alimentos fora de época, o
que possibilita maiores ganhos econômicos.

Formas de irrigação
Existem diversas técnicas de captação de água de
chuva, desde plantio em curva em nível do terreno
até barreiros para acumulação de água para serem
usados em irrigação da área, em períodos críticos,
normalmente chamado de irrigação de salvação.
A escolha do tipo de irrigação pelo produtor
rural depende das condições edafoclimáticas, so-
ciais e ambientais do local.
O processo de irrigação exige um volume de
água relativamente grande para garantir a pro-
dução. O pesquisador mostra um exemplo: caso
uma demanda de evapotranspiração da cultu-
ra do tomateiro irrigado por aspersão for de 6,0

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 81


mm/dia, necessitará de 60m3/ha.dia (60 mil litros), Irrigação x investimentos
considerando uma eficiência do sistema de irrigação de O investimento inicial no sistema de irrigação é relati-
100% o que não seria real, ou seja, o número calculado vamente caro para os padrões econômicos da maioria dos
(60m3/ha) deve ser aumentado, a depender da eficiência agricultores familiares do Brasil. O investimento depende da
do sistema de irrigação usado pelo produtor. “Portan- situação e de fatores como: distância da fonte de água, topo-
to, as captações de água de chuva para uso na irrigação grafia e fonte de energia. As alternativas podem ser diversas,
exigem, na maioria das vezes, uma área de captação e porém em na sua maioria com baixa eficiência de aplicação
armazenamento relativamente grandes, o que pode in- de água e durabilidade. O pesquisador ressalta que a desone-
viabilizar um investimento em pequenas propriedades, ração de impostos de kits de sistemas de irrigação adquiridos
pois o custo de construção e manutenção pode ser bas- por agricultores familiares poderia ser uma alternativa que
tante elevado a depender da condição de cada local de possibilitaria a aquisição de bons equipamentos de irrigação e
implantação,” explica. Para o pesquisador Marcos Braga, refletiria na produção de alimentos por parte destas famílias.
outro detalhe é que a construção de captadores de água
de chuva não garante segurança hídrica aos agricultores, Incentivos
uma vez que a variabilidade temporal e espacial das chu- Além dos programas contínuos de financiamento
vas é uma realidade em todo território brasileiro. agrícola dos bancos oficiais que podem contemplar um

82 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Maercelino Ribeiro/Embrapa

Paula Rodrigues
Pesquisador da Embrapa Hortaliças, Marcos Brandão Braga

Modelo de irrigação por gotejamento

projeto de irrigação, existem linhas de financiamento federal e pelo Ministério da Integração Nacional o pro-
exclusivas para agricultura familiar: o Pronaf. Dentre es- grama Mais Irrigação, que contempla também a agricul-
tes, o Pronaf investimento que é voltado para o financia- tura familiar. Vale ressaltar, que a compra de um bom
mento de implantação, ampliação ou modernização da sistema de irrigação, por si só, não garante a produção de
infraestrutura de produção e serviços agropecuários ou alimentos, pois ele deve ser acompanhado de assistência
não agropecuários, no estabelecimento rural ou em áre- técnica de qualidade.
as comunitárias rurais próximas. Também, em especial,
há o Pronaf Semiárido: linha para o financiamento de Qualidade do projeto
investimentos em projetos de convivência com o semiá- Um bom projeto de irrigação inicia no seu dimen-
rido, focados na sustentabilidade dos agroecossistemas, sionamento agronômico e hidráulico. Pela experiência
priorizando infraestrutura hídrica e implantação, am- e dados de estudos realizados no mundo, estima-se que
pliação, recuperação ou modernização das demais infra- cerca de 90% dos agricultores que utilizam a irrigação fa-
estruturas, inclusive aquelas relacionadas com projetos zem de maneira inadequada, principalmente, no manejo
de produção e serviços agropecuários e não agropecuá- da água, onde cerca de mais de 80% faz a irrigação em
rios de acordo com a realidade das famílias agricultoras excesso. Existem, porém, bons e raros exemplos localiza-
da região semiárida. Foi também lançado pelo governo dos em diversos estados do Brasil. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 83


O
ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Programas de alimentos oriundos da agri-
Vargas, destaca que as ações e programas cultura
do Ministério do Desenvolvimento Agrário “Nesse sentido, temos o Programa de Aquisição de
(MDA) se baseiam em três pilares: acesso ao crédito, Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação
apoio à comercialização e assistência técnica. “É impor- Escolar (Pnae). O PAA, que já garantia a comercializa-
tante dizer que neste Plano Safra estamos disponibili- ção para a formação de estoques estratégicos para se-
zando um volume de R$ 18 bilhões para a agricultura rem acessados por pessoas em situação de insegurança
familiar através do Programa Nacional de Fortalecimen- alimentar, a partir deste ano também pode viabilizar a
to da Agricultura Familiar (Pronaf). O nosso desafio é venda dos produtos de forma direta, com dispensa de
contratar todo esse montante”, destaca Pepe Vargas que licitação, para todos os órgãos federais, estaduais e mu-
ressalta que depois de acessar o crédito, o agricultor pre- nicipais”.
cisa de garantias de que os seus produtos terão colocação De acordo com o ministro, o Pnae, onde o agricultor
nos mercados. fornece os seus produtos para a merenda escolar, ofe-

As políticas públicas possibilitam que o agricultor aumente


a sua produtividade, a renda da família e, consequentemente,
a qualidade de vida
Ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas

Acesso ao crédito, apoio


à comercialização e
Andréa Farias/MDA

assistência técnica
84 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
rece uma boa alternativa de comercialização, já que os Políticas Públicas
municípios que recebem recursos do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) podem comprar Para Pepe Vargas as políticas públicas possibilitam
30% do volume total de forma direta, sem burocracia. que o agricultor aumente a sua produtividade, a
renda da família e, consequentemente, a qualidade
Assistência e extensão rural de vida. “Através do crédito, seja para investimento
Quanto à assistência técnica e extensão rural, Pepe ou para custeio, ele tem acesso a recursos para esse
Vargas pontua que será disponibilizado R$ 540 milhões aumento na produtividade podendo investir em
para atendimento dos agricultores familiares. “Outra im- maquinário, em insumos e na compra de animais.
portante atuação do MDA é o apoio ao Programa de Na- As políticas de apoio à comercialização, como o
cional de Produção e Uso do Biodiesel. A participação da PAA e Pnae, além da política de garantia de preços,
agricultura familiar é incentivada pelo Selo Combustível dão segurança para o agricultor”.
Social, identificação concedida pelo Governo Federal às “Nesse sentido também cabe lembrar que
usinas produtoras de biodiesel que compram a produção sempre que um agricultor acessa uma linha de
da agricultura familiar e também asseguram assistência crédito e custeio, automaticamente ele acessa
técnica a essas famílias. Atualmente, 41 usinas produto- também o Seguro da Agricultura Familiar (Seaf).
ras de biodiesel possuem a concessão de uso do Selo e Se houver alguma adversidade climática que o faz
adquirem R$ 1,5 bi em matérias-primas da agricultura perder a safra, o seguro cobre o financiamento
familiar”, afirma. bancário que ele fez e também tem uma cober-
Conforme dados do ministério, através do Pronaf, o tura que garante uma renda para esse agricultor
MDA está presente em mais de 5,3 mil municípios (95% fazer frente a alguma dificuldade”.
do total) com crédito rural. “O Pronaf Mais Alimentos
tem sido destaque, por ser uma linha de investimentos
que possibilita a modernização das unidades familiares. e cito como um dos desafios a universalização da Ater
Nesta linha, o agricultor tem um prazo de até dez anos para os agricultores familiares, incluindo os assentados
para pagar, com três anos de carência e taxas de juros de da reforma agrária”.
2% ao ano. O Mais Alimentos já financiou a compra de “Outro desafio que podemos citar é quanto à regula-
mais de 48 mil tratores, mais de dez mil ordenhadeiras, rização fundiária. Temos muitos agricultores que não po-
4,3 mil caminhões e de mais de 500 colheitadeiras”, des- dem acessar o crédito, por exemplo, por não ter a titulação
taca o Pepe Vargas. da sua propriedade. Tem ainda as melhorias nas políticas
Ainda, nas ações de Assistência Técnica e Extensão para juventude que precisam ser aperfeiçoadas, como o
Rural (Ater), em 2012 já foram beneficiados mais de 400 Pronaf Jovem. Também cito como um desafio que temos
mil famílias. “Sabemos que este número ainda é baixo que encarar o que nós chamamos de Reforma Agrária Ge-

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 85


racional. Vamos reservar lotes vagos em assentamentos já
existentes para filhos de assentados ou filhos de agriculto-
res familiares”, pontua o ministro.

Jovens no campo
O fortalecimento da autonomia e a emancipação do
jovem agricultor familiar são imprescindíveis para a sua
permanência no campo. Para o MDA o Pronaf Jovem pos-
sibilita acesso ao crédito para agricultores familiares de 16
a 29 anos. “Neste Plano Safra anunciamos a ampliação do
limite de financiamento de R$12 mil para R$ 15 mil, com
carência de três anos e até dez anos para pagar. A taxa de
juros é de 1% ao ano. A partir de novembro de 2012 esta projetos de assentamento de reforma a agrária, distribu-
linha de crédito está sendo operacionalizada pelo Banco ídos em 2.090 municípios brasileiros numa área total de
do Brasil, que deve ampliar significativamente o número 87,9 milhões de hectares. Isso significa a presença do Ins-
de jovens que se beneficiarão”. tituto em mais de 10% de todo o território nacional, onde
936,5 mil famílias encontram-se assentadas. “Essa é a
Acesso a terra Reforma Agrária que já foi feita no país. O nosso objetivo
Segundo o ministro, outra preocupação do gover- é qualificar esses assentamentos, levando infraestrutura
no é quanto ao acesso a terra. “Nós temos o Selo Nossa e criando condições para que, gradualmente, as famílias
Primeira Terra, dentro do Programa Nacional de Crédi- assentadas possam produzir excedentes comercializáveis.”
to Fundiário (PNCF). Esse programa tem sido bastante Reconhecendo que os assentamentos guardam diferen-
efetivo, com mais de 31 mil beneficiados. Também é im- ças entre si, o ministro explica que foram adotadas estraté-
portante citar o Programa Nacional de Acesso ao Ensino gias de atuação em rotas diferenciadas de desenvolvimento.
Técnico e Emprego (Pronatec) Campo onde, através de A primeira é de integração ao Plano Brasil Sem Miséria,
parceria com o Ministério da Educação (MEC), estamos para todos os assentamentos novos e recentes, que ainda
disponibilizando cerca de 30 mil vagas, até 2013, em cur- estejam em condições situação de pobreza. Outra rota é a de
sos como Agente de Desenvolvimento Cooperativista, combate, prevenção e construção de alternativas ao desma-
Agricultor Familiar e Orgânico, entre outros”. tamento ilegal, para assentamentos situados na Amazônia
Ainda com relação à educação no campo, Pepe Var- Legal e em outros territórios ambientalmente relevantes.
gas destaca o reconhecimento das Escolas Famílias Ru- Por fim, o enfoque à rota da produção e da integração à di-
rais (ou Casas Famílias Rurais) pelo governo, que passa nâmica territorial da agricultura familiar, para assentamen-
a repassar verbas para estas instituições. Além deste re- tos em fase de estruturação e consolidação.
conhecimento, a partir do lançamento do Programa Na- “Temos que ter consciência de que a política de re-
cional de Educação do Campo (Pronacampo) o governo forma agrária vai muito além do acesso a terra. Estamos
também passa a oferecer livros didáticos específicos para cada vez mais qualificando as iniciativas que transfor-
a realidade do meio rural. mem os assentamentos em comunidades rurais boas de
se viver e produzir. Cabe lembrar que dos cerca de 16 mi-
Reforma agrária lhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, metade está
Em relação à reforma agrária, Pepe Vargas declara que no meio rural. Isso mostra que uma política efetiva de
a preocupação do MDA está voltada para tornar os assenta- diminuição da pobreza, com inclusão produtiva no meio
mentos produtivos. “Temos assentamentos que são mode- rural, é fundamental para o grande objetivo do governo
los quanto à produtividade e qualidade de vida das famílias, da presidenta Dilma que é a erradicação da pobreza ex-
mas também assentamentos que não se desenvolveram”. trema. A qualificação dos assentamentos está inserida no
Conforme dados, o Instituto Nacional de Colonização contexto de fortalecimento da agricultura familiar como
e Reforma Agrária (Incra) implantou e reconheceu 8.945 um todo”, conclui Pepe Vargas. ◆

86 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 87
SAF/MDA
Políticas públicas fortalecem
a agricultura familiar
Programas do governo federal incentivam o crescimento e a
geração de trabalho e renda no campo

A
agricultura familiar no Brasil contribui para a Característica
segurança alimentar e nutricional da popula- O Brasil tem um universo muito grande de estabeleci-
ção. Hoje o País oferece políticas públicas para mentos rurais caracterizados como agricultores familia-
que a agricultura consiga cumprir com esse papel - interna- res com aproximadamente 4,5 milhões de propriedades.
mente, de gerar renda, promover a inclusão produtiva e a Estes agricultores podem ser caracterizados de acor-
ocupação sustentável do território – e, por outro lado con- do com alguns aspectos, como os biomas e as caracterís-
tribuir para a produção de alimentos. O País tem um com- ticas da agricultura praticada.
promisso no cenário mundial de ampliar, cada vez mais, De acordo com a renda, são cerca de 1 milhão de agri-
a sua oferta de alimentos para as exportações, e nisso a cultores enquadrados na agricultura dinâmica, aquela in-
agricultura familiar tem um peso. Além disso, cumpre com tegrada no mercado, na agroindústria e que tem um bom
sua vocação natural, que é garantir a oferta de alimentos no nível de renda, com presença de políticas públicas, de as-
Brasil - seja nos mercados ou nas pequenas feiras. sistência técnica e extensão rural. Outro grupo, de aproxi-
A agricultura hoje é mais valorizada e isso se deve ao madamente 1,5 milhão de agricultores estão na chamada
seu fortalecimento nos últimos dez anos, especialmente agricultura de transição, que não tem renda ao nível de
estimulado por políticas públicas adequadas. O secretá- capitalização, que ainda precisa do esforço da presença do
rio nacional da Agricultura Familiar (SAF/MDA), Valter estado, com assistência técnica e com políticas públicas
Bianchini, explica que tivemos o incremento do Programa que incentivem essa agricultura, com programas de com-
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pro- pra, para que possam ter renda para a capitalização, e se
naf), com aplicações crescentes no crédito. Hoje são R$ insiram na classe média do campo. Há um esforço muito
18 bilhões (valor disponibilizado para a safra 2012-2013) grande para essa agricultura em transição melhorar o seu
para os financiamentos, mais de R$ 3 bilhões para as com- sistema de produção, ter mais produtividade, acessar o
pras institucionais, além dos recursos crescentes para a mercado e as políticas, como o crédito.
assistência técnica, seguros (como o Garantia-Safra, o Se- Na base da pirâmide, temos aproximadamente 2 milhões
guro da Agricultura Familiar, o PGPAF, a PGPM-AF). “Há de agricultores que estão com renda abaixo da linha de pobre-
um universo grande de políticas que foram estruturadas za. Entre estes, pelo menos um milhão no nível da chamada
nesses últimos dez anos para fortalecer a agricultura fami- pobreza extrema. Melhorar a qualidade de vida deste grupo
liar no Brasil nas mais diferentes regiões”, justifica. é uma meta do governo federal e do Ministério do Desenvol-
Os avanços verificados a partir destas políticas públi- vimento Agrário (MDA) - com o Plano Brasil Sem Miséria.
cas e da valorização da agricultura são a redução da con- Com relação à área onde vivem e trabalham, temos
centração de terra e do êxodo rural, que chegam também agricultores com áreas muito pequenas, os chamados
com outros programas do governo federal como o Luz minifúndios, outros têm áreas no limite da agricultura
para Todos e o Minha Casa, Minha Vida. familiar (até 4 módulos fiscais).

88 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


recursos podem ser acessados para financiamentos de
custeio e/ou investimento.

Divulgação SAF/MDA
Há linhas de crédito para custeio, investimento, co-
mercialização, cotas-partes de cooperativas de produção,
microcrédito produtivo rural, assentados da Reforma
Agrária e do Crédito Fundiário, e, ainda, há linhas espe-
ciais: Mais Alimentos, Mulher Jovem, Eco, Agroecologia,
Floresta, Semiárido, Agroindústria, Custeio e Comercia-
lização de Agroindústrias Familiares.
Para acessar o crédito o agricultor familiar deve pro-
curar a empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
(ATER) ou o Sindicato Rural no estado para a obtenção
da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Em seguida
o agricultor deve procurar a empresa de ATER do muni-
cípio para elaborar o Projeto Técnico de Financiamento.
O projeto deve ser encaminhado para análise de crédito
Secretário Nacional da Agricultura e aprovação do agente financeiro.
Familiar (SAF/MDA), Valter Bianchini

Incentivo ao jovem do campo


Gerenciar, recriar e adequar o grande universo de
“No Brasil ocorre uma agricultura familiar bastante políticas públicas para manter o jovem no campo são as
diversificada e que precisa de políticas diferenciadas de medidas adotadas pela Secretaria da Agricultura Fami-
acordo com a sua tipologia. E esse é o esforço do Ministé- liar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/
rio do Desenvolvimento Agrário, por meio da Secretaria MDA). “Precisamos garantir uma sucessão da agricultu-
da Agricultura Familiar, o de adequar as políticas para ra familiar. Para isso, é importante que o jovem tenha
o desenvolvimento de toda nossa agricultura familiar,” como alternativa permanecer no campo e ter uma vida
reforça o secretário Bianchini. digna. Então, temos um conjunto de programas volta-
do para a juventude rural - para que ela possa não só se
Fortalecimento da agricultura familiar no preparar com alternativas intensivas na propriedade - já
Brasil que recebeu melhor ensino que seu pai ou seu avô e está
As principais ações desenvolvidas para a agricultura melhor preparada para novas alternativas de renda com
familiar são o Programa Nacional de Fortalecimento da o saber no campo -, garantir crédito, garantir que tenha
Agricultura Familiar (Pronaf), com suas linhas de cré- acesso à terra para que tenhamos renovação da agricul-
dito de custeio e investimento, além dos seguros, como tura familiar,” explicou Valter Bianchini.
o Seguro da Agricultura Familiar, o Garantia-Safra, o Como forma de incentivo está disponível a linha de
PGPAF e o Pronaf B. crédito especial, que é o Pronaf Jovem e o crédito fundi-
As políticas públicas do governo federal para a agri- ário para a juventude rural.
cultura familiar são desenvolvidas pelo Ministério do De-
senvolvimento Agrário (MDA), por meio da Secretaria da Seguros para a agricultura familiar
Agricultura Familiar (SAF), que coordena o Pronaf. A SAF/MDA também coordena as políticas públicas
O Pronaf é um sistema de crédito que financia pro- de seguros para os agricultores familiares. Dentre estas
jetos individuais ou coletivos que geram renda aos agri- políticas está o Garantia-Safra (GS), uma ação do Pronaf
cultores familiares. Possui as mais baixas taxas de juros voltada para os agricultores familiares localizados na re-
dos financiamentos rurais, além das menores taxas de gião Nordeste do país, na área norte do Estado de Minas
inadimplência entre os sistemas de crédito do País. As Gerais, Vale do Mucuri, Vale do Jequitinhonha e na área
taxas de juros do Pronaf vão de 0,5% até 4,5% ao ano. Os norte do Estado do Espírito Santo — área de atuação da

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 89


Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SU- O PAA compra a produção da agricultura familiar a
DENE), majoritariamente Semiárida — que sofrem per- preços justos, compatíveis com os praticados nos mer-
da de safra por motivo de seca ou excesso de chuvas, com cados regionais e com isenção de licitação. Mais de 330
renda até 1,5 salário mínimo, que cultivam arroz, feijão, produtos da agricultura familiar são vendidos através
algodão, mandioca e/ou milho, em áreas de 0,6 a 10 hec- do Programa: leites e derivados, grãos e cereais, frutas
tares. Na safra 2011-2012, o Garantia-Safra beneficiou (inclui polpas e sucos), hortaliças, raízes e tubérculos,
769.036 agricultores. A previsão é de atingir 1 milhão de carnes e ovos, farináceos, mel, panificados e massas, do-
agricultores familiares na safra 2012-2013. ces, pescado, oleaginosas, além de castanhas, açúcares,
O Seguro da Agricultura Familiar (SEAF) é válido condimentos e temperos, sementes, entre outros.
para todo o País. O SEAF cobre perdas provocadas por A implementação da Lei 11.947/09, que regulamenta
seca, chuva excessiva, geada, granizo, variação excessi- o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE),
va de temperatura, ventos fortes, ventos frios, doença determina a utilização de, no mínimo, 30% dos recursos
fúngica ou praga sem método de controle técnico ou repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da
economicamente viável. Para acessar o seguro, o agricul- Educação (FNDE) na compra de produtos da agricultura
tor precisa observar os cuidados básicos com a lavoura, familiar e do empreendedor familiar rural para a alimen-
como adubação, controle de praga, doenças e plantas da- tação escolar.
ninhas, assim como se comprometer a utilizar a tecnolo- O FNDE disponibiliza por ano cerca de R$1 bilhão
gia adequada para a cultura e ter cuidados com o manejo para atender aos 47 milhões de alunos matriculados
e o meio ambiente. nas 166 mil escolas da rede pública de ensino de todo
Na safra 2011-2012, o número de agricultores benefi- o Brasil. Segundo o FNDE, em 2010, 51% dos municí-
ciados pelo SEAF foi de quase 100 mil. O valor que o go- pios compraram produtos da agricultura familiar para
verno federal está aportando, por meio do MDA e do Mi- atender à alimentação escolar. Para atender a exigência
nistério da Fazenda, para o pagamento das indenizações é mínima em todo Brasil, estima-se que seja necessário
da ordem de R$ 700 milhões. envolvimento de mais de 98,6 mil agricultores familia-
Já o Programa de Garantia de Preços para a Agricul- res, em todo o país.
tura Familiar (PGPAF) garante às famílias agricultoras A lei passou a garantir ao agricultor familiar o be-
que acessam o Pronaf Custeio ou o Pronaf Investimento, nefício de fornecer sua produção também à alimentação
em caso de baixa de preços no mercado, um desconto no escolar. Para o agricultor familiar, a iniciativa gera alter-
pagamento do financiamento, correspondente à diferença nativas de comercialização, diversificação e geração de
entre o preço de mercado e o preço de garantia do produto. renda. Para os alunos das redes públicas de ensino, traz a
garantia de alimentos mais saudáveis, da época e das cul-
Políticas de comercialização turas regionais, gerando a apropriação e a manutenção
O MDA trabalha para aperfeiçoar e fortalecer as po- de hábitos alimentares saudáveis. Para o município, gera
líticas públicas de apoio à comercialização dos produtos o fortalecimento da cadeia da produção à comercializa-
da agricultura familiar, que garantem e geram renda ção, fortalecendo a economia local de forma sustentável.
para o setor. As principais políticas de apoio à comercia- Desde a safra 2011-2012, os agricultores dispõem da
lização executadas pelo MDA e parceiros são o Programa Política de Garantia de Preços Mínimos para a Agricul-
de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional tura Familiar (PGPM-AF), que permite ao governo fede-
de Alimentação Escolar (PNAE). ral a compra de produtos da agricultura familiar a preços
Instituído pela lei nº 10.696/2003 e atualizado pela justos. Esses produtos poderão, inclusive, ser destinados
Lei nº 12.512/2011, o PAA foi criado para garantir às po- aos estoques governamentais. A PGPM-AF garante que o
pulações em situação de insegurança alimentar o acesso produtor receba o preço mínimo do produto.
a alimentos saudáveis, com alto valor nutritivo. Além
disso, o objetivo do programa é promover a inclusão so- Assistência Técnica e Extensão Rural
cial e econômica no campo por meio do fortalecimento Todas essas políticas públicas são aperfeiçoadas
da agricultura familiar. pelos serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural

90 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 91
(ATER). O principal objetivo dos serviços de ATER é me- ceria da Emater, das ONGs, dos estados e do Sistema Bra-
lhorar a renda e a qualidade de vida das famílias rurais, sileiro Descentralizado de Assistência Técnica e Extensão
por meio do aperfeiçoamento dos sistemas de produção, (SIBRATER) levam alguma forma de serviço de assistência
de mecanismo de acesso a recursos, serviços e renda, de técnica pelo a menos 2 milhões de agricultores atualmente.
forma sustentável.
Em 2010, foi criada a Lei 12.188/10, a Lei de ATER, Programa de Biodiesel
que instituiu a Política Nacional de Assistência Técni- Criado pelo governo federal em janeiro de 2005, por
ca e Extensão Rural para Agricultura Familiar (Pnater) meio da Lei 11.097, o Programa Nacional de Produção
e criou o Programa Nacional de Assistência Técnica e e Uso de Biodiesel (PNPB) surgiu com a finalidade de
Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma estimular a produção e uso do biodiesel de forma susten-
Agrária (Pronater). Com a nova Lei de Ater, a contrata- tável, com enfoque na inclusão social e no desenvolvi-
ção para a prestação dos serviços de assistência técnica e mento regional, via geração de emprego e renda. O PNPB
extensão rural passou a ser feito por meio de chamadas prevê, entre outras vantagens, a redução de tributos fe-
públicas. A mudança surgiu para reforçar ainda mais as derais sobre a produção de biodiesel, desde que as em-
cadeias produtivas da agricultura familiar, atendendo à presas produtoras incluam, em seus projetos, a agricul-
realidade local dos agricultores. Ainda será possível a tura familiar, obtendo, assim, o Selo Combustível Social,
contratação com critérios exclusivamente técnicos e a um instrumento de incentivo ao setor produtivo e que
participação dos estados no credenciamento prévio das tem contribuído para o desenvolvimento do programa.
instituições que irão atender os agricultores. O resultado, após seis anos, é que, praticamente, todos
O Departamento de Assistência Técnica e Extensão Ru- os projetos no mercado contam com a participação dos
ral (DATER), com orçamento de R$ 250 milhões e com par- agricultores familiares. ◆

Maria Lúcia Smaniotto

92 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 93
ENTREVISTA

Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura
Familiar
Além do trabalho, das inovações e da ação gerencial das
pessoas nas unidades familiares de produção, o programa é
um elemento fundamental para o desenvolvimento rural

E
m entrevista, o diretor do Programa Nacional bém facilita o custeio da produção e a comercialização de
de Fortalecimento da Agricultura Familiar produtos agropecuários de forma oportuna e adequada.
(Pronaf), João Luiz Guadagnin, destaca que O crédito, segundo ele, ainda incentiva a introdução
o programa financia projetos que gerem renda aos agri- de métodos racionais no sistema de produção, visando ao
cultores familiares e assentados da reforma agrária. “O aumento da produtividade, à melhoria do padrão de vida
crédito rural do Pronaf, além do trabalho, das inovações das pessoas das unidades familiares e à adequada defesa
e da ação gerencial das pessoas das unidades familiares dos recursos naturais. Favorece o desenvolvimento das
de produção, é um elemento fundamental do desenvolvi- atividades florestais, a pesca e a aquicultura. Estimula a
mento rural. Ainda, permite que os agricultores familia- geração de renda e o melhor uso da mão-de-obra fami-
res façam melhorias no processo de produção, estrutu- liar, por meio do financiamento de atividades e serviços
rem as suas unidades familiares, preservem os recursos rurais agropecuários. “O acesso ao Pronaf começa na
naturais, especialmente o solo e a água, ampliem a escala discussão da família sobre a necessidade do crédito, seja
de produção, implementem novas atividades produtivas ele para o custeio da safra ou atividade agroindustrial,
que geram renda, inovem”. seja para o investimento em máquinas, equipamentos ou
De acordo com o diretor o Pronaf permite que o po- infraestrutura de produção e serviços agropecuários ou
der de compra dos agricultores familiares seja ampliado, não agropecuários”, pontua.
o que facilita a mudança de modelos de produção, a di-
versificação das atividades e o melhor uso dos fatores de Linhas de crédito
produção, especialmente a terra e o trabalho. Além disso, No que se refere ás linhas de crédito do programa,
o crédito rural do Pronaf contribui para a melhoria de pro- Guadagnin explica que há linhas de crédito para custeio,
dutividade, o aumento da oferta de alimentos e de fibras. investimento, comercialização, cotas-partes de coope-
“O aumento da oferta de alimentos e de outros produtos rativas de produção, microcrédito produtivo rural, as-
contribui para a estabilidade da inflação, a manutenção do sentados da Reforma Agrária e do Crédito Fundiário, e,
preço da cesta básica e evita a oscilações das taxas de juros. ainda: Mais Alimentos, Mulher, Jovem, Eco, Eco Dendê,
Todos ganham com isso”, ressalta Guadagnin. Agroecologia, Floresta, Semiárido, Agroindústria, Cus-
Para o diretor, o crédito rural do Pronaf estimula os teio e Comercialização de Agroindústrias Familiares.
investimentos para produção, armazenamento, beneficia- Segundo o diretor do Pronaf, para que o agricultor
mento e industrialização de produtos agropecuários. Tam- familiar acesse as linhas de crédito do programa, primei-

94 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


ENTREVISTA

ramente deve obter a Declaração de Aptidão ao Pronaf


(DAP), em seguida, procurar a empresa de Assistência

David Alves Asvcom/ MDA


Técnica e Extensão Rural (Ater) para elaborar um pro-
jeto técnico para sua produção e, então, procurar um
agente financeiro.
“É importante lembrar que a Lei nº 11.326, de 24 de
julho de 2006, considera agricultor familiar e empreende-
dor familiar rural aquele que pratica atividades no meio
rural, atendendo aos seguintes requisitos: não detenha
área maior do que quatro módulos fiscais; utilize pre-
dominantemente mão de obra da própria família; tenha
renda familiar predominantemente originada do próprio
estabelecimento ou empreendimento e dirija seu estabe-
lecimento ou empreendimento com sua família. Também
são considerados agricultoras familiares: silvicultores,
aquicultores, extrativistas, pescadores, comunidades indí-
genas, quilombolas e assentados”, pontua Guadagnin.
Diretor do Pronaf, João Luiz Guadagnin

Microcrédito Produtivo Rural – Pronaf


Grupo ‘B’ aplicação dos recursos, bem como no crescimento e susten-
Em relação ao Microcrédito Produtivo Rural - Pro- tabilidade das atividades produtivas geradoras de renda”.
naf Grupo ‘B’, o diretor destaque que vem para facilitar Segundo o diretor, o valor e as condições do crédito
e ampliar o acesso ao crédito entre os agricultores fami- são definidos após a avaliação da atividade e da capaci-
liares de menor renda, contribuindo para o aumento da dade de endividamento do agricultor, em estreita inter-
produtividade e para a geração de renda. Ajuda a manter locução com este e seus familiares.
e/ou gerar ocupações produtivas no campo. Proporciona
a inclusão bancária, associando o crédito a outros servi- Mais Alimentos
ços bancários para os agricultores de menor renda. “O Na safra 2011-2012, encerrada em junho, o Mais
Pronaf Grupo “B” contribui para a interiorização do de- Alimentos financiou 65 mil contratos, que juntos corres-
senvolvimento, onde são realizadas mais de 480.000 ope- pondem ao valor de R$ 3,1 bilhões em todo o Brasil. “No
rações de financiamento para agricultores com até R$ 10 ano-safra 2011/12, o número de contratos aumentou de
mil de renda bruta anual familiar”. 54 mil para 65 mil, o que significa um salto de 20,4%
Quanto á gestão e monitoramento, Guadagnin pon- no programa. Desde a criação desta ação estruturante do
tua que é usada metodologia baseada no relacionamento MDA, em 2008, até a safra 2011-2012, o Mais Alimen-
direto do técnico com as pessoas da unidade familiar de tos teve mais de 195 mil contratos no país. O valor total
produção no local onde é executada a atividade geradora financiado no período é de R$ 9,2 bilhões”, declara o di-
de renda, em geral, na propriedade do agricultor. retor do Pronaf.
“O atendimento ao mutuário é feito por pessoas prepa- O Mais Alimentos financia projetos individuais de até
radas para dialogar, fazer o levantamento socioeconômico, R$ 130 mil e coletivos de R$ 500 mil, com juros de 1% ao
prestar orientação educativa sobre o planejamento e execu- ano para investimentos de até R$ 10 mil e de 2% ao ano
ção das atividades produtivas que geram renda, para a de- para valores acima de R$ 10 mil. O prazo de pagamento
finição das necessidades de crédito e de gestão e desenvol- é de até dez anos.
vimento da unidade familiar de produção. O contato com De acordo com Guadagnin, o programa contempla
os agricultores familiares que tomam os financiamentos é projetos associados a todas as culturas e atividades agro-
mantido durante o período do contrato, para acompanha- pecuárias dos agricultores familiares. “A meta é permitir
mento e orientação na busca do melhor aproveitamento e ao agricultor familiar investir na modernização da pro-

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 95


ENTREVISTA

dução, por meio da aquisição de máquinas, implementos nal. Hoje a inadimplência média é de cerca de 2,9%. Isso
e de novos equipamentos, para correção e recuperação significa que, atualmente, há cerca de 120 mil contratos
de solos, resfriadores de leite, melhoria genética, irriga- inadimplentes (do universo de 3,7 milhões de contra-
ção, implantação de pomares e estufas, armazenagem, tos em andamento, há 2,8% com atraso de uma ou mais
entre 3,6 mil itens financiados”. prestações ou operações superior a 90 dias).
Segundo o diretor, pode ser concedido crédito rural Para o diretor, a eficiência e eficácia na aplicação dos
do Pronaf Mais Alimentos a quem se dedique à explo- recursos do crédito rural do Pronaf é acompanhada e
ração da pesca e da aquicultura, com fins comerciais. A fiscalizada pelos agentes financeiros que, por sua vez,
atividade pesqueira compreende todos os processos de recebem a fiscalização e o acompanhamento do Banco
pesca, explotação e exploração, cultivo, conservação, Central e dos órgãos de controle. Mais de 97,1% dos agri-
processamento, transporte, comercialização e pesquisa cultores que tomam financiamentos do Pronaf pagam
dos recursos pesqueiros. em dia seus contratos.
“Os agricultores familiares têm pouca terra, poucos
Investimentos bens. O principal patrimônio que eles detêm é o ‘nome
Na safra 2011/2012 foram realizados mais de 1,34 limpo na praça’. Isso contribui muito para que a inadim-
milhão de contratos com o empréstimo de mais de R$ 15 plência média seja a mais baixa de todos os sistemas de
bilhões. O volume de recursos que são demandados pelo crédito. Alem disso, o Governo Federal, desde 2004, imple-
agricultores familiares cresce numa média de 8,5% ao mentou um amplo programa de seguro multirrisco para
ano. “No ano safra 2012/2013 deveremos financiar mais os agricultores familiares, o Seguro da Agricultura Fami-
de 1,5 milhões de unidades familiares de produção, com liar (Seaf). O Seaf tem baixo custo e facilidade de adesão,
a utilização de mais de R$ 16,5 bilhões”, declara. cobre até 100% do valor financiado e mais até R$ 7.000,00
da receita líquida esperada. Cobre renda, portanto”.
Menores taxas de inadimplência Para as variações negativas de preço dos produtos há
O índice de inadimplência no crédito rural do Pronaf o Programa de Garantia de Preços da Agricultura Fami-
é um dos menores de todo o sistema financeiro nacio- liar (Pgpaf). O Pgpaf concede um bônus no momento do

Estabelecimentos que obtiveram financiamento por finalidade, segundo a agricultura familiar - Brasil
Agricultura familiar Estabelecimentos que obtiveram financiamento
Por finalidade
Investimento Custeio Comercialização Manutenção do estabelecimento
Total 395 425 492 628 10 554 86 218
Agricultura familiar - Lei nº 11.326 343 981 405 874 8 285 73 818
Não familiar 51 444 86 754 2 269 12 400
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.

Estabelecimentos que não obtiveram financiamento, por motivo da não obtenção, segundo a agricultura familiar - Brasil
Agricultura familiar Estabelecimentos que não obtiveram financiamento
Total Motivo da não obtenção
Falta de Não sabe Burocracia Falta de paga- Medo de Outro Não
garantia como mento do emprés- contrair motivo precisou
pessoal conseguir timo anterior dívidas
Total 4 254 808 77 984 61 733 355 751 133 419 878 623 538 368 2 208 930
Agricultura familiar - Lei nº 11.326 3 586 365 68 923 56 205 301 242 116 861 783 741 462 701 1 796 692
Não familiar 668 443 9 061 5 528 54 509 16 558 94 882 75 667 412 238
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.

96 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


ENTREVISTA

pagamento dos financiamentos do Pronaf sempre que os dos com o solo e a água, paga pontualmente seus compro-
preços dos produtos dos agricultores familiares estive- missos com o Pronaf e com outros sistemas de crédito e
rem abaixo do custo de produção. O tamanho do bônus isso tudo faz com que a produtividade e a renda cresçam.
será igual à diferença dos preços de mercado e o custo de Ainda, de acordo com o Censo Agropecuário, uma
produção, em percentual. particularidade em relação aos estabelecimentos que
não obtiveram financiamento, mostra que a grande
Municípios maioria não realizou por medo de contrair dívidas e por
O crédito do Pronaf está em mais de 5.413 municípios burocracia.
do país. Na safra 2011/2012 foram realizados mais de 1,34 “Crédito é para quem tem necessidade, gera renda
milhão de contratos com o empréstimo de mais de R$ 15 de forma sustentada, faz um bom uso dos recursos na-
bilhões. O volume de recursos que são demandados pelo turais, conhece e usa a melhor tecnologia de produção,
agricultores familiares cresce numa média de 8,5% ao ano. troca informação, tem boa relação com as cooperativas
de crédito ou com uma outra instituição financeira e
Censo Agropecuário tem capacidade de pagamento. Para ampliar o acesso aos
De acordo com o IBGE, os números do último Cen- financiamentos do Pronaf fazemos, como agora nessa
so Agropecuário demonstram que a agricultura familiar publicação deste Anuário Brasileiro da Agricultura Fa-
destaca-se significativamente na obtenção de investi- miliar, ampla informação e divulgação. Ainda, buscamos
mentos e linhas de crédito em comparação com a não ampliar a assistência técnica e extensão rural, temos me-
familiar. O diretor do Pronaf avalia que isso se deve ao canismos de garantia de compra da produção, de seguro
crescimento do setor familiar. multirrisco, de garantia de preços e estreitamos a parce-
“A agricultura familiar tem avançado no uso de tecno- ria com os movimentos sociais, com quem dialogamos
logias adequadas, na diversificação produtiva, nos cuida- diariamente”, conclui. ◆

Edson Castro

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 97


A sociedade reconhece a
importância da agricultura
familiar, garante secretário
executivo do MDA
Laudemir Müller acredita que é possível ampliar a produção,
gerar mais renda e qualidade de vida no meio rural

A
consolidação da agricultura familiar de secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento
modo a promover o desenvolvimento sus- Agrário (MDA), Laudemir André Müller destaca as es-
tentável é cada vez mais imprescindível. O tratégias de governo federal e políticas públicas que fo-
ram implementadas para atingir esse objetivo. Para ele,
o Brasil é um dos países que mais avançou neste sentido.
Eduardo Aigner/MDA

“Temos hoje uma representação social e sindical bastan-


te forte na agricultura familiar. Temos a Lei que define
claramente o que é a agricultura familiar, temos um Mi-
nistério específico, políticas públicas voltadas ao setor,
reforma agrária, regularização fundiária. Além disso te-
mos a disposição uma carteira com R$ 32 bilhões para
crédito do Pronaf, seguro de preço, assistência técnica
rural, ações importantes de comercialização e geração
de renda para o agricultor familiar. Isto fez com que sua
renda aumentasse no último período em mais de 30%”,
salienta o secretário.
Laudemir acrescenta ainda que no último período, 5
milhões de pessoas saíram da pobreza e melhoraram de
vida, entrando para a classe média rural. “A agricultura fa-
miliar deu importante sustentação ao crescimento econô-
mico brasileiro, através do incremento de renda na socie-
dade como um todo, aumento da capacidade de consumo.
Na nossa avaliação, a agricultura familiar é fundamental,
não só para o meio rural, mas para o processo de desen-

Secretário Executivo do MDA, Laudemir Müller

98 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


volvimento do país, sendo um dos pilares do nosso plano familiar. Laudemir Müller salienta que estas questões vem
nacional de desenvolvimento”, frisa Laudemir. sendo tratadas pelo seguro agrícola para que as perdas
dos produtores sejam amenizadas. “Temos uma política
Produção e geração de renda bastante ampla no seguro agrícola. Todos nossos agri-
O Brasil é um dos poucos países que já consolidaram cultores podem acessá-lo. O nosso seguro protege contra
mecanismos para estimular e fortalecer as pequenas pro- perdas climáticas, mas também protege as oscilações de
priedades. Laudemir explica que, apesar disso, ainda é mercado e preços, há um programa de garantia de preços
preciso avançar, para que haja aumento da produção e da na agricultura. Neste momento o MDA está atendendo em
geração de renda. “O crédito é uma política de estimulo bas- torno de 1,6 milhões de famílias que enfrentam problemas
tante forte, entre outras. A assistência técnica, extensão ru- relacionados a seca. Além disso já alocamos de R$ 600 mi-
ral, hoje ainda temos uma capacidade grande de melhorar lhões para cobrir custos com seguro agrícola, especifico
a produção. Temos tecnologia, e precisamos que esta che- para a região Sul, onde vem se observando variação climá-
gue ao produtor familiar, que este tenha acesso. Precisamos tica que afeta o setor”, explica Laudemir.
ampliar o trabalho de assistência técnica e qualificar o pro- O secretário comenta que é preciso se encontrar no
dutor. Estamos convencidos que temos de melhorar a sus- Brasil praticas mais sustentáveis de produção, épocas de
tentabilidade da produção, incorporar práticas sustentáveis, plantios, sementes adequadas, resgatar o uso da semente
fazer com que se amplie a atuação na agricultura orgânica e crioula. “É importante atuarmos para fazer frente a estas
agroecológica. A agricultura familiar produz cerca de 70% mudanças climáticas, termos novas formas de produção
dos alimentos no Brasil, mas boa parte da renda da comer- orgânica, agroecológica, melhor manejo do solo, absor-
cialização não fica com os produtores”, enfatiza Laudemir. ver mais água, melhorar a oferta hídrica. Este e outros
Para ele, é preciso apostar mais no cooperativismo, conjuntos de instrumentos vão incentivar ainda mais a
fazer o produtor se associar em grupos, aproveitar as agricultura familiar”, ressalta o secretário.
oportunidades que foram criadas nos últimos anos pelos
programas de compras públicas, um processo importan- Desafios para o setor
te e que o Ministério vem apostando”, diz. Mas afinal, quais são os principais desafios e as pers-
pectivas das políticas do MDA para o setor da agricultura
Referência internacional familiar?. “Hoje temos uma agricultura familiar consoli-
Laudemir Müller acredita que o Brasil vem se tornan- dada no Brasil. A sociedade reconhece a importância deste
do numa referência internacional. Ele comenta ainda que setor para o País e o governo vê o agronegócio como um
hoje o principal organismo ligado ao setor no mundo, a dos pilares do projeto nacional de desenvolvimento. O de-
FAO, é dirigida por um brasileiro, José Grazian. “Isso já safio é dar sustentação a este processo de crescimento da
revela a importância que o Brasil tem mundialmente. No economia oferendo alimentos em quantidade e qualidade,
Mercosul temos a reunião especializada sobre agricultu- uma tarefa também da agricultura familiar que produz a
ra familiar, que é um órgão que trata especificamente do maior parte destes alimentos. O nosso desafio passa a ser
setor, das políticas convergentes, comuns na região, e a uma produção mais sustentável do ponto de vista ambien-
nossa sistemática sempre chama atenção. Temos política tal e social. Precisamos superar a pobreza no meio rural.
especifica para o setor, a nossa relação com as organiza- Melhorar a estrutura, garantir mais renda, melhorar a
ções sociais também é destaque, a forma como operamos produção e fazer com que os agricultores se organizem na
o crédito via sistema financeiro incorporado pelas coo- comercialização, de forma mais direta ao consumidor, isso
perativas de crédito, tudo isso chama a tenção de nossos vai gerar maior renda”, enfatiza Laudemir.
vizinhos e do mundo também”, comemora Laudemir. Ele garante que o Ministério vem trabalhando neste
eixo da agricultura familiar, na reforma agrária, não só para
Problemas climáticos aumentar o número de famílias assentadas, mas fazer com
Os fenômenos climáticos, como estiagens e excesso de que elas tenham condições de se adequar e desenvolver sua
chuva, são fatores que afetam diretamente ao agricultor produção, gerar mais renda”, encerra Laudemir Müller. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 99


MAIS ALIMENTOS

Mais Alimentos
O sucesso do MDA

100 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Mais Alimentos / Divulgação
MAIS ALIMENTOS

Mais de 54 mil operações



Mais de 54 mil operações de crédito re-
de crédito realizadas no alizadas no ano de 2012, totalizando
um investimento de R$ 2,6 bilhões. O
ano de 2012, totalizando programa Mais Alimentos é uma das políticas de
maior sucesso do Ministério do Desenvolvimen-
um investimento de R$ to Agrário (MDA), pois alia Assistência Técnica
e Extensão Rural (Ater) ao crédito do Programa
3,2 bilhões. O programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pro-
naf). O objetivo é levar tecnologia às proprieda-
Mais Alimentos é uma des rurais familiares. “O Mais Alimentos tem
viabilizado o acesso à mecanização no campo,
das políticas de maior aumentando a produtividade e a renda dos agri-
cultores familiares, além de torná-los mais com-
sucesso do Ministério petitivos no mercado”, avalia o ministro do De-
senvolvimento Agrário, Pepe Vargas.
do Desenvolvimento Desde o ano-safra 2008/2009, quando foi
lançado, o programa financiou mais de 48 mil
Agrário (MDA), pois alia tratores, 4,3 mil caminhões, 500 colheitadeiras,
10 mil ordenhadeiras, entre outras máquinas e
Assistência Técnica e implementos agrícolas. O investimento nestes
quatro anos foi de aproximadamente R$ 16 bi-
Extensão Rural (Ater) lhões, atendendo a mais de 400 mil agricultores
e agricultoras familiares de todas as regiões do
ao crédito do Programa Brasil. Com isso, o programa facilita a permanên-
cia do agricultor familiar no campo, produzindo
de Fortalecimento da alimentos e garantindo a segurança e soberania
alimentar brasileira. “Temos uma agricultura que
Agricultura Familiar produz alimentos de qualidade, que é fundamen-
tal para a segurança e soberania alimentar brasi-
(Pronaf). O objetivo é levar leira, além de ser um público muito importante
para a indústria de máquinas e implementos do
tecnologia às propriedades nosso país”, ressalta Pepe Vargas.
O coordenador do Mais Alimentos, Marco An-
rurais familiares tônio Viana Leite, afirma que além das vantagens
para a agricultura familiar, o programa é um dos
grandes incentivadores da indústria brasileira de
máquinas e implementos agrícolas, favorecendo
a inovação tecnológica e manutenção de postos
de trabalho. “O Brasil, a partir da criação do pro-
grama, retomou as pesquisas no setor industrial
para atender as demandas da agricultura familiar.
A venda de tratores e implementos, que estava
caindo ou estagnada, retomou o crescimento por
causa do Mais Alimentos”, assinala.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 101


MAIS ALIMENTOS

Como funciona Resultados na vida do agricultor


A partir de investimentos em infraestrutura das pro- Adelmo Escher, 57 anos, a esposa Maria Salete, 52, e os
priedades rurais – com a aquisição de máquinas e de novos filhos Luciano, 28, e Juliano, 25, sempre viveram do traba-
equipamentos, correção e recuperação de solos, resfriadores lho na terra. Mas houve períodos em que se sentiram de-
de leite, melhoria genética, irrigação, implantação de poma- sestimulados a continuar no meio rural. Como há 13 anos,
res e estufas e armazenagem – o programa cria condições quando tiveram de vender a propriedade que tinham na
para o aumento da produção da agricultura familiar, com a região Sudeste, herança de família, onde produziam fran-
vantagem de ter juros bem menores que o mercado. gos, suínos, leite e cereais. “As condições não eram favo-
O programa fornece crédito a juros de 2% ao ano, até ráveis à agricultura familiar na época. Então tivemos de
três anos de carência e até dez anos para pagar. São finan- vender e nos mudamos para Curitiba”, conta Luciano.
ciados projetos individuais de até R$ 200 mil, havendo um No Paraná, os Escher produziram por muito tempo em
limite de R$ 130 mil por ano-safra, e coletivos de até R$ espaços arrendados. Com trabalho duro e com ajuda das
500 mil. Concessão de crédito no valor de até R$ 10 mil políticas públicas de apoio ao produtor familiar, finalmen-
tem juros ainda menores, 1% ao ano. te conseguiram juntar o dinheiro necessário para comprar
Outro destaque do programa é o acordo com as indús- um pedaço de terra deles. O sítio dos Orgânicos Escher,
trias para oferecer os equipamentos a preços mais baixos. no município de Campo Largo, região metropolitana de
“Como para participar da venda para o Mais Alimentos as Curitiba, é uma conquista recente, tem cinco anos.
empresas devem assinar um termo com o MDA, podemos Há dois anos os Escher acessaram as linhas de crédito
garantir a qualidade de todos os equipamentos ofertados do Pronaf, entre elas o Mais Alimentos, para construção de
aos agricultores”, afirma Marco Antônio. uma agroindústria para processamento do leite e dos vege-
tais. Pelo Mais Alimentos eles financiaram R$ 87 mil para
compra de equipamentos como pasteurizador, iogurteira,
câmara fria e tanque de resfriamento. A partir de então as
melhorias na vida da família vieram de várias formas.
Júlio Soares

Hoje as atividades na propriedade de 20 hectares são va-


riadas, desde o cultivo de verduras olerícolas, leite até o pro-
cessamento para produção de queijos, iogurtes e manteiga,
além de geleias, doces e molhos de tomate – tudo orgânico.
Os novos equipamentos também diminuíram o esfor-
ço de mão de obra da família, aumentando a produtivi-
dade. “Fez com que a gente produzisse mais volume, nas
mesmas horas de trabalho”. Consequentemente puderam
aumentar a diversidade de produtos. Atualmente, o leite
e os derivados são vendidos em todo o estado do Paraná.
Com a qualificação da produção e o registro na vigilân-
cia sanitária, os produtos processados puderam ser inseri-
dos na alimentação escolar por meio do Programa Nacional
de Alimentação Escolar (Pnae), garantindo uma renda anu-
al de até R$ 20 mil reais por ano para a família. Desde 2009,
com a Lei nº 11.947, foi determinada a utilização de, no mí-
nimo, 30% dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) para alimentação
escolar, na compra de produtos da agricultura familiar.
Além do Pnae, a família Escher vende para o Programa
de Aquisição de Alimentos (PAA), que hoje tem três mo-
dalidades coordenadas pelo MDA: Compra Institucional,

102 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

Formação de Estoque e Compra Direta. Cada agricultor bilhão entre julho e outubro, um crescimento de 41% em
familiar pode vender até R$ 8 mil por ano para o PAA. relação ao mesmo período na safra 2011/2012.
“Com esses mercados garantidos tivemos um aumento
significativo na nossa renda, condições de mudar várias Assistência Técnica
coisas na nossa vida e adquirir bens”, afirma Luciano. Outro destaque do Mais Alimentos é a parceria com
Graças às mudanças que vivenciou a partir da con- a assistência técnica. O acesso ao programa é feito por
tratação do crédito do Mais Alimentos, Luciano é o pri- meio de projeto técnico elaborado por um agente de
meiro a apoiar a política. “É um programa excelente, que Ater municipal, que avalia a consistência do projeto e a
viabiliza que jovens agricultores como eu e meu irmão necessidade do equipamento de acordo com o perfil do
possam continuar na propriedade.” Tanto, que já está agricultor. Seguindo o planejamento feito pela entidade
com um novo projeto elaborado para a compra de um de Ater o produtor pode ter certeza de que está fazendo o
caminhão que servirá no transporte da mercadoria para melhor investimento para a propriedade e que terá con-
fora da propriedade, facilitando e ampliando ainda mais dições de pagar o financiamento.
a comercialização. “Agora queremos ampliar mais a pro-
dução, as vendas, e crescer cada vez mais.” Retrospectiva 2012
O ano de 2012 foi de grandes avanços para o Mais
Investimentos Alimentos. A primeira mudança, e uma das mais impor-
Segundo o último levantamento do Banco Central do tantes, foi o aumento do limite de enquadramento para
Brasil, de 2011, o Banco do Brasil é a instituição que res-
ponde por mais de 60% nos desembolsos de crédito rural
no país, e é responsável por 70% da concessão de crédito

Mais Alimentos/ Divulgação


para o Pronaf. Na atual safra, o banco já desembolsou R$ 5,7
bilhões pelo programa, entre as linhas de custeio e investi-
mento. Este valor é 27% maior que o financiado no mesmo
período na safra anterior. O principal fator neste aumento
é o Mais alimentos, pelo qual o banco desembolsou R$ 1,7
Andréia Farias / MDA

Marco Antônio Viana Leite, Coordenador do Mais Alimentos

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 103


MAIS ALIMENTOS

acesso ao Pronaf, que passou de R$ 110 mil para R$ 160 da feira representam aproximadamente um terço de todo
mil reais. Com isso, houve a ampliação do número de pro- o valor contratado na safra 2010/2011, em que foram fe-
dutores que se encaixam no perfil de agricultor familiar e chados 2.625 contratos, totalizando R$ 160 milhões de
podem ter acesso aos juros mais baixos do mercado. recursos do Mais Alimentos no estado de Rondônia.
Outra novidade é o aumento do limite individual de O estado de Minas Gerais tem o maior número de
crédito de R$ 130 mil para R$ 200 mil, respeitados os R$ operações no Mais Alimentos, mais de 11 mil, segui-
130 mil por ano-safra. Dentro deste valor o agricultor fa- do dos três estados da região Sul – Rio Grande do Sul
miliar pode acessar o crédito mais de uma vez, desde que (8.581), Santa Catarina (6.992) e Paraná (6.860).
aprovados os projetos técnicos pela instituição financeira,
garantindo as modernizações necessárias à propriedade. Produtos
A partir desta safra o Mais Alimentos deixa também A lista de referência de implementos agrícolas que
de ser um programa direcionado a algumas cadeias pro- podem ser adquiridos pelo programa começou apenas
dutivas e passa a englobar todas as transações de investi- com tratores e foi crescendo de acordo com a necessida-
mento. “Quando o programa foi criado, precisávamos ala- de e demanda dos produtores. Atualmente são mais de
vancar algumas cadeias produtivas, pois estávamos num cinco mil produtos cadastrados – todos produzidos no
momento de crise. Hoje não estamos mais neste momen- Brasil. E a lista continua a crescer, este ano foram incluí-
to. Nós entendemos que todo processo de investimento na das camionetes para transporte de cargas e logo deverão
agricultura é Mais Alimentos”, aponta Marco Antônio. entrar novos produtos como cabines de trator e equipa-
Em 2012, o programa Mais Alimentos teve espaço mentos para agroindústrias.
privilegiado em grandes eventos da agricultura fami- Os itens voltados para a bovinocultura leiteira ou cor-
liar, como Agrishow, Agrobrasília, Feira da Associação te vêm despontando nas contratações do Mais Alimen-
Paulista de Supermercados, Expointer e Rondônia Rural tos, chegando a quase 25 mil somente neste ano. Tratores
Show. Nesta última, em quatro dias de evento, a linha de continuam entre os mais procurados com mais de 7,5
crédito recebeu mais de mil propostas de financiamento, mil contratos, assim como as colheitadeiras, cerca de 300
correspondentes a cerca de R$ 50 milhões. Os números unidades. Os veículos de transporte de carga para o esco-

COMPOSIÇÃO ANUAL DOS ITENS FINANCIADOS PELO MAIS ALIMENTOS NO RS


80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%
12%
0,1%

0,0%

19%

23%

20%
10%
76%

10%
13%
59%

18%
41%

12%
11%
21%
36%

10%
6%

7%
8%

0%
2008/2009 2009/2010 2010/2011 2011/2012*
Bovinos Colheitadeiras Máquinas e Implementos Tratores Outros

104 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

amento da produção e comercialização também tiveram responsáveis por 76% dos contratos do Mais Alimentos no
grande procura, cerca de três mil. Rio Grande do Sul, por exemplo. Na última safra o equipa-
mento passou a representar 36% das contratações no estado.
Histórico Em compensação, a aquisição de máquinas e imple-
Quando o programa foi criado, o produto mais procura- mentos mais que dobrou no período. As colheitadeiras,
do pelos agricultores familiares eram os tratores, que eram incluídas na lista na safra 2010/2011 já são responsáveis
por 11% dos contratos. “O programa começou numa ló-
gica de tratores e caminha numa lógica de implementos e
O que é o MDA?
agroindústria”, ressalta o coordenador do Mais Alimentos.
A agricultura familiar brasileira, formada por aproximadamen- De lá para cá também houve ampliação do crédito.
te 4,3 milhões de famílias, produz a maioria dos alimentos que Em 2008 o agricultor familiar podia pegar R$ 30 mil,
chegam à mesa dos brasileiros e emprega mais de 74% da mão hoje esse limite é de R$ 200 mil. O aumento do limite
de obra no meio rural. O Ministério do Desenvolvimento Agrá- de credito também contribuiu para a diversificação dos
rio trabalha para o reconhecimento do produtor familiar como
força econômica fundamental para a segurança alimentar dos
itens financiados pelo programa, alcançando um nume-
brasileiros e para o desenvolvimento do País. ro maior de agricultores familiares beneficiado.
Para isso, o ministério promove políticas de inclusão social
e produtiva, como acesso a crédito, à assistência técnica de Perspectivas
qualidade, a direitos básicos de cidadania e apoio à comerciali- No início de 2013 o Mais Alimentos lança uma nova
zação. Outras informações no site www.mda.gov.br plataforma online. O sistema vai centralizar todas as in-
formações que os agentes financeiros e as empresas de

Os produtos mais financiados pelo Mais Alimentos DAP, a identidade do agricultor familiar
(Safra 2011/2012)
Para acessar quaisquer políticas do MDA, inclusive o Mais
*até junho de 2012 Alimentos, é necessário que o produtor rural tenha a Declara-
1º Bovinos leiteiros ção de Aptidão ao Pronaf (DAP), documento que o caracteriza
2º Bovinos de corte como agricultor familiar. O agricultor familiar é aquele que tem
propriedade de até quatro módulos fiscais, que reside no local ou
3º Tratores
bem próximo a ele, e tem até dois empregados permanentes. A
4º Máquinas e implementos definição abrange também silvicultores, quilombolas, aquiculto-
5º Caminhões res, extrativistas e pescadores.
6º Máquinas e implementos para exploração pecuária O documento é gratuito e emitido por diversos agentes, como
7º Veículos utilitários empresas estaduais de assistência técnica e extensão rural e
sindicatos. A DAP é renovável e sua renovação é obrigatória, a cada
8º Café
seis anos, ou sempre que algum dado dos requisitos exigidos para
9º Galpões enquadramento for alterado. O procedimento consiste na emissão
10º Irrigação de nova DAP, bastando, portanto, dirigir-se ao agente emissor.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 105


MAIS ALIMENTOS

O que é

Quem pode participar?

Valores e condições de pagamento

Categorias de produtos financiados

Como acessar?

Mais Alimentos/ Divulgação


John Deere / Divulgação

106 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 107


MAIS ALIMENTOS

NÚMERO DE CONTRATOS POR ESTADO/ANO Ater que trabalham com o programa precisam. Isso vai
facilitar o acesso à informação e, consequentemente, tor-
MG nar o programa ainda mais eficiente.
RS
Potencial de ampliação
SC O programa Mais Alimentos tem um grande poten-
PR cial de expansão nas regiões Norte e Nordeste, que ain-
da têm baixos índices de contratação do crédito. Com a
SP política de regularização fundiária – principalmente na
MT Amazônia Legal –, que dá ao agricultor familiar a posse
da terra, e saída de muitas famílias da extrema pobreza,
ES mais agricultores familiares destas regiões têm condi-
ções de acessar a linha de crédito.
GO
RO Mais Alimentos Internacional
O Mais Alimentos Internacional foi criado em 2010,
MA
a princípio como Mais Alimentos África, com o objetivo
TO de desenvolver a agricultura familiar nos países do con-
tinente. Posteriormente, o programa passou a negociar
BA
também com países da América Latina e Caribe. Atual-
MS mente, quatro países têm acordo firmado com o Brasil:
Zimbabue, Moçambique, Gana e Cuba.
PA
O objetivo do programa é estabelecer uma linha de
AC cooperação técnica que destaca a produção de alimentos
pela agricultura familiar como caminho para segurança
AL alimentar e nutricional dos países participantes. Aliado
RJ à cooperação técnica, a ação prevê o financiamento de
tecnologia adaptada às realidades socioambientais da
RR agricultura familiar local, como forma de ampliar a pro-
CE dução e a produtividade dos estabelecimentos rurais. A
ideia é que estes países possam produzir mais e melhor.
PI A partir do aumento da produtividade e, consequen-
RN temente, da renda, espera-se que estes países tornem-se
clientes regulares da tecnologia agrícola brasileira, in-
PB centivando ainda mais a produção da indústria nacional.
PE As condições do programa a nível internacional são
parecidas com as executadas no Mais Alimentos Brasil.
SE Os países têm até 15 anos para pagar os empréstimos,
DF com três anos de carência e juros de 2% ao ano. Com
apoio da Câmara de Comércio Exterior (Camex), do
AP Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
AM Exterior (MDIC), o Mais Alimentos Internacional teve
aprovada uma linha de crédito de US$ 640 milhões em
0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

dois anos – US$ 240 milhões em 2011 e US$ 400 milhões


em 2012 – por meio do Programa de Financiamento às
Safra 2008/2009 Safra 2009/2010 Safra 2010/2011 Safra 2011/2012
Exportações (Proex Financiamento). ◆

108 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 109


A agricultura familiar
e a New Holland
O
Programa Mais Alimentos faz parte
do Programa Nacional de Fortaleci-
mento da Agricultura Familiar (Pro-
naf), do Governo Federal, e destina recursos para
o agricultor familiar investir em sua propriedade
rural, financiando equipamentos agrícolas.
De acordo com a New Holland, a mecaniza-
ção ajuda a aumentar a produtividade e também
a renda dos agricultores familiares.
A primeira colheitadeira vendida pelo Pro-
grama Mais Alimentos foi uma TC5070 da New
Holland para produtores de Alegria, no noroeste
do Rio Grande do Sul. A máquina foi entregue em
4 de novembro de 2010, cabinada com transmis-
são hidrostática por R$ 290 mil, financiados em
10 anos com juros de 2% ao ano.
De acordo com a New Holland, a inclusão de co-
lheitadeiras no Mais Alimentos é uma oportunidade
para os pequenos produtores se unirem e adquiri-
rem equipamento novo. As vantagens são a garantia
de um equipamento com tecnologia que garanta boa
colheita e, consequentemente, o retorno esperado da
produção. Conforme dados, mais de 90% dos pro-
dutores que adquiriram colheitadeiras pelo Mais
Alimentos escolheram a linha New Holland.

Condições
Segundo informações da empresa, o agricul-
tor familiar poderá comprar seu produto New
Holland nas melhores condições de mercado:
—— Prazo de até 3 anos para começar a pagar;
—— Financiamento de até R$ 130 mil individualmente;
—— Financiamento de até R$ 500 mil em grupo;

110 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


New Holland / Divulgação
—— 10 anos para pagar a máquina New Holland; —— Faixa de 50cv – TT3840, TT3840F
—— Juros de 2% ao ano; —— Faixa de 65cv – TL60E
—— Financiamento de 100% da sua máquina New —— Faixa de 75cv – TT3880F e TL75E
Holland - sem entrada; Assim como os tratores, todas as colheitadei-
—— Primeira revisão grátis para os tratores New ras fabricadas no Brasil. A New Holland oferece
Holland. os seguintes modelos do segmento:
—— TC 5070 Hidrostática Cabinada
Produtores que podem comprar no —— TC 5070 Mecânica Cabinada
Mais Alimentos —— TC 5070 Mecânica Sem Cabine
Todos que possuem uma Declaração de Ap-
tidão (DAP) do Pronaf e estão enquadrados no Classificação contribuinte e não con-
programa, possuem um projeto pela rede de As- tribuinte
sistência Técnica e Extensão Rural (Ater) ou ór- De forma geral um agricultor contribuinte é
gãos homologados e estejam com seu cadastro aquele que possui inscrição de produtor rural ou
regularizado no agente financeiro. CNPJ rural, portanto contribuinte de ICMS no es-
tado. O não contribuinte é o que não possui esta
Culturas que fazem parte do Mais documentação. Essa diferenciação vale apenas
Alimentos para tratores. Em se tratando de colheitadeiras,
Os agricultores devem possuir pelo menos 70% todos os compradores são contribuintes do ICMS.
da sua renda futura proveniente dos seguintes seg-
mentos: açafrão, arroz, café, centeio, feijão, mandio- A análise financeira do produtor
ca, milho, sorgo, trigo ou erva-mate ou da apicultu- Os agentes financeiros farão uma análise no
ra, aquicultura, avicultura, bovinocultura de corte, mesmo critério de outros processos do Pronaf
bovinocultura de leite, caprinocultura, fruticultura, convencional. É importante destacar que qual-
olericultura, ovinocultura, pesca e suinocultura e quer restrição de crédito impossibilita o cliente
que residam na propriedade ou próximo dela. de obter o financiamento.

Condições para financiamento Aquisição de implementos


O agricultor terá um prazo de 10 anos para pagar O processo de aquisição de implementos segue
o financiamento, com taxa de juros de 2% ao ano e o mesmo fluxo do processo de máquinas, sendo
com até 3 anos de carência (juros e principal serão que as mesmas podem ser consultadas também no
pagos após vencer a carência). A renda do agricultor site www.mda.gov.br. Quanto a adicionar a propos-
não pode exceder R$110 mil ao ano e o limite de fi- ta de compra dos implementos junto com o pro-
nanciamento é de R$ 130 mil por agricultor. duto New Holland não há problema, sendo impor-
tante apenas ressaltar a capacidade de pagamento
Produtos New Holland que participam do agricultor, que pode ter seu limite ultrapassado.
do Mais Alimentos
Tratores e Colheitadeiras New Holland estão Kit de revisão para o Programa Mais
disponíveis no Programa. Alimentos
Todos os tratores fabricados no Brasil com um Para os tratores, a New Holland irá fornecer
mínimo de 50cv, 65cv e 75cv. gratuitamente o kit (composto de um filtro e óleo
lubrificante do motor) para a primeira revisão do
A New Holland possui uma oferta de cinco trator, que será utilizado com 50 horas conforme
modelos de tratores: descrição no manual do operador. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 111


MAIS ALIMENTOS

Fortalecimento,

Iveco/Divulgação
modernização e
desenvolvimento da
agricultura familiar
Para a Iveco, o programa proporciona ao agricultor aquisição
de caminhões com preços e condições especiais através do
Programa Mais Alimentos

A
Iveco Latin América é uma fabricante de Renovação da frota
veículos pesados, caminhões, ônibus e utili- Conforme o gerente de Marketing Operacional da
tários leves. Sua sede fica em Turim, Itália, Iveco Latin America, Ricardo Motta e Correa, o progra-
sendo uma subsidiária do Grupo Fiat. ma trouxe renovação de frota para que os agricultores
Em relação à importância do Programa Mais Alimen- familiares se equipassem.
tos para fomentar a venda de veículos e caminhões, a fa- “No caso da Iveco, conhecemos produtores que ain-
bricante destaca que é uma iniciativa do governo federal da não tinham caminhões, que trabalhavam com au-
e faz parte do Programa Nacional de Fortalecimento da tomóveis ou caminhonetes e devido ao crescimento de
Agricultura Familiar (Pronaf), criado para fortalecer, suas atividades optaram por substituir por caminhões
modernizar e desenvolver a agricultura familiar. Através modernos e robustos como o Iveco Daily Truck – 7 to-
dele, o agricultor familiar pode adquirir caminhões Ive- neladas, que é sucesso de vendas para os produtores”,
co com preços e condições especiais. destaca o gerente.
De acordo com a Iveco, o Mais Alimentos representa
o fortalecimento, a modernização e desenvolvimento da Expectativas e produtos
agricultura familiar através do programa de crédito para Para o setor da agricultura familiar, a Iveco tem au-
esses pequenos agricultores. mentado a cada ano sua participação no Programa Mais
Alimentos. “Em 2012, foram cerca de 250 unidades e
Crédito específico para 2013 prevemos um crescimento de 20% nas ven-
No que se refere ao crédito específico para a compra das”, destaca Ricardo.
de veículos e caminhões pelos agricultores familiares Em relação aos produtos da Iveco que fazem parte do
dentro do Programa Mais Alimentos e as facilidades de programa e aos modelos mais procurados, o gerente de
compra através do programa, na Iveco o crédito para ca- Marketing Operacional afirma que a empresa disponibi-
minhões é limitado à R$ 130 mil, com juros de 2% ao ano liza toda a linha Daily. Daily 45S17, Daily 55C17 e Daily
com até três anos de carência e 10 anos para pagar. Truck sete toneladas (com capacidade de 1,4 a 4,5 tone-
Os contratos do Pronaf Mais Alimentos Produção ladas de carga). “E em 2013 retorna o Iveco Vertis HD
Primária são vinculados ao Programa de Garantia de 90V18 para seis toneladas de carga”, conclui. ◆
Preços da Agricultura Familiar (PGPAF).

112 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 113
MAIS ALIMENTOS

Semeadoras de plantio direto


na agricultura familiar
Tecnologia transformou a forma de cultivar a terra e
beneficiou produtores

O
crescimento da agricultura familiar das últi- de mão e capinar na enxada. Agora com o plantio direto está
mas décadas possui uma forte ligação com completamente diferente, é muito fácil de plantar com essas
o advento do plantio direto. A técnica que semeadoras”, enfatiza Bolzan. O produtor destaca ainda que
no início era encarada com certa resistência por muitos o bom acompanhamento da revenda Casa das Ferramentas
produtores, hoje está consolidada. Com os resultados e da fábrica desde o início fez com que seguisse com a Vence
positivos, que não demoraram muito para aparecer, os Tudo. “Sempre que precisamos encontramos as peças aqui
agricultores aderiram a inovação e mudaram a forma de perto e fomos muito bem atendidos”.
cultivar a terra na grande maioria das propriedades. O plantio direto mudou o conceito da agricultura
Em meio a toda essa transformação que o plantio e com isso produtores de grandes, médias e pequenas
direto trouxe ao segmento, surgiu a necessidade de se- propriedades foram beneficiados. A Vence Tudo acom-
meadoras que atendessem com qualidade as novas exi- panhou todo esse processo e segue atendendo aos agri-
gências. Com isso a Indústria de Implementos Agrícolas cultores com produtos de alta tecnologia e eficiência no
Vence Tudo, de Ibirubá/RS, logo apresentou ao mercado aumento da produtividade. ◆
suas primeiras máquinas.
Devido suas raízes estarem ligadas à agricultura fa-
miliar, pois a fábrica surgiu em 1964 com a produção de
plantadeiras para pequenas propriedades, a Vence Tudo de-
senvolveu semeadoras com mecanismos exclusivos e paten-
teados, como, por exemplo, o sistema Pula Pedra (único no

Vence Tudo / Divulgação


mercado que permite o plantio em solos pedregosos). Com
as inovações, milhares de máquinas foram para o campo e
atenderam as necessidades dos produtores.
Hoje a indústria é destaque no Programa Mais Alimen-
tos, com mais de 6 mil unidades comercializadas no Brasil,
e exporta para mais 35 países. Dentre os milhares de pro-
dutores que utilizam a tecnologia das semeadoras Vence
Tudo está Delvino Bolzan, 45 anos. Na propriedade de 37
hectares localizada no município de Protásio Alves/RS, ele
trabalha junto com seus pais e irmãos. A família, que sem-
pre se dedicou à agricultura, há 18 anos decidiu iniciar com
o plantio direto e apostou na semeadora Vence Tudo. A
Vence Tudo / Divulgação

escolha deu certo e com o passar dos anos foi renovando


seus implementos, sendo que neste ano Bolzan adquiriu a
sua terceira plantadeira da marca. “Nos outros tempos era
ruim, lavramos de boi, tínhamos que plantar com máquinas

114 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

Mais Alimentos também traz


retorno para empresas
F
undada em 1999, em Treze Tílias/SC, a Orde- tos. “O programa facilitou a compra pelos produtores e
milk comercializa equipamentos para criação também traz retorno para as empresas que comerciali-
de gado de leite, atendendo todo o estado de zam através dele,” disse. ◆
Santa Catarina e parte do Rio Grande do Sul. Conta com
aproximadamente 80 funcionários divididos em oito lo-

Divulgação/ Odemilk
jas espalhadas pelo estado catarinense.
A Ordemilk comercializa seus produtos através do
Programa Mais Alimentos, lançado em 2008, que incre-
menta a produtividade da agricultura familiar através da
linha de crédito direcionada à modernização da infraes-
trutura de unidades familiares. Garantindo produção, tec-
nologia para os produtores, financiamento e, ao mesmo
tempo, assistência técnica.
Segundo o gerente, Rivael Pereira, cerca de 70% da
comercialização da empresa é através do Mais Alimen- Parte da equipe Ordemilk

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 115


MAIS ALIMENTOS

Fortalecimento

BK Propaganda/Divulgação
da agricultura
“Mais Alimentos traz oportunidade de equipar a
propriedade com prazos e taxas compatíveis com Diretor da Covena, Júlio Brondani

a produção e renda do produtor”

C
om esta afirmação o diretor da Covena, Júlio Renovação da frota
Cezar Brondani, demonstra a importância do No que se refere aos avanços que o programa trouxe
programa para o fortalecimento da agricultu- para a renovação de frota para que os produtores fami-
ra familiar bem como para fomentar o crescimento da liares se equipassem, o diretor da Covena explica que o
indústria automotiva fato de se colocar ao mercado linhas de crédito e produtos
“O Programa Mais Alimentos é muito importante customizados possibilitou a todos envolvidos uma grande
tanto para a indústria automotiva, quanto para a agri- oportunidade de negócio. “Desta maneira, a renovação e/
cultura familiar”, afirma o diretor da Covena Comercial ou ampliação de frota está ocorrendo de forma ordenada
de Veículo Ltda de Erechim/RS, Julio Cezar Brondani, e natural, atendendo as necessidades de acordo com cada
relacionando o programa com o fomento das vendas de intenção de compra”.
caminhões e utilitários para as propriedades rurais.
De acordo com o diretor, no caso da indústria e toda Novo mercado
sua cadeia produtiva, este mercado passa a ser interes- Sobre o crescimento nas vendas para este setor e expec-
sante pelo seu potencial e pela forma de financiamen- tativas para o próximo ano, Brondani destaca que o progra-
to. “Para os clientes enquadrados no programa, é uma ma criou, por suas características, um mercado novo, antes
oportunidade de equipar sua propriedade com bens de à margem de qualquer possibilidade de enquadramento nas
capital com prazos e taxas compatíveis à sua produção e linhas de crédito existentes. Para o próximo período, o dire-
renda”, destaca. tor aponta que as expectativas são boas, uma vez que as li-
nhas de crédito foram renovadas e os modelos de caminhões
Crédito específico atualizados para atender a legislação Euro V, onde todos os
Em relação ao crédito específico para a compra de ve- motores a diesel devem seguir à nova legislação de emissão
ículos pelos agricultores familiares dentro do Mais Ali- de poluentes. (O Programa de Controle de Poluição do Ar
mentos e as facilidades de compra através do programa, por Veículos Automotores (PROCONVE P-7), instituído pelo
Brondani ressalta que o cliente deve procurar um Agente Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), equivalen-
Financeiro credenciado, preencher os documentos ne- te ao Euro V tem como objetivo diminuir de maneira bem
cessários e ir até uma concessionária para buscar a Carta significativa as emissões dos poluentes dos veículos a diesel).
Proposta. “Aprovado o crédito, é emitida uma autoriza- Fazendo uma avaliação sobre os tipos mais procura-
ção de faturamento, e o veículo entregue. As facilidades dos pelos agricultores familiares, Brondani aponta dois
estão no acesso à linha de crédito, no custo financeiro modelos de veículos Volkswagen: “Os modelos mais pro-
da operação e na atratividade do valor especial para o curados no caso da nossa concessionária são o VW 8.160
programa”, afirma. e o VW 9.160”, conclui o diretor ◆

116 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAISMAIS ALIMENTOS
ALIMENTOS

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 117


MAIS ALIMENTOS

Programa Mais Alimentos


dá dignidade ao homem do campo
Mecanização da propriedade triplicou a produção da família
Finger, do interior de Concórdia/SC


Se não fosse o Mais Alimentos já teria deixado a Desde 2010 começaram a adquirir implementos
propriedade, há muito tempo.” Esta foi uma das agrícolas através do programa do governo federal Mais
mais impactantes frases proferidas pelo agricul- Alimentos. Assim, já compraram um trator, um dis-
tor familiar Robson André Finger, de Rancho Grande, in- tribuidor de esterco de 4 mil litros, uma concha, uma
terior de Concórdia/SC, e que mostra toda a força de um gaiota de seis toneladas, uma ensiladeira e uma sala
programa de incentivo aos agricultores. de ordenha automatizada. “Sem isso nós não estaría-
Na propriedade de 32 hectares, a família se divide nas mos mais aqui. Temos dificuldade em encontrar mão
atividades com a criação do gado de leite, parceria de su- de obra e somos em três (ele, a esposa Andréia e o pai)
ínos e plantio de milho. para tocar a propriedade.”

Jornal Bom Dia

Sala de ordenha automatizada ajuda na lida


com as 42 vacas de leite

118 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

A família possui 42 vacas em ordenha, que produ-


zem uma média de 19.800 litros de leite por mês. Além

Jornal Bom Dia


disso, têm 280 suínos alojados. “Tudo isso dá bastante
trabalho e a propriedade mecanizada facilita um monte
nosso trabalho. A nossa produção quase triplicou de-
pois disso. Tínhamos esterco e não podíamos puxar,
porque dependíamos dos equipamentos da associação,
para plantar o milho também demorava porque tinha
outros produtores na frente aguardando os equipamen-
tos. Agora estamos caminhando com nossas próprias
pernas,” relata contente. Robson mostra contente uma das aquisições através do Mais Alimentos
Na propriedade eles também acessam o programa
Troca-Troca de sementes, o que barateia, segundo ele,
em 40% os custos com o milho que é utilizado para ali-

Jornal Bom Dia


mentação dos animais.
Robson Finger, de 29 anos, tem uma história bonita,
bem diferente da que estamos acostumados a ouvir no
interior. Ao contrário de muitos jovens que deixam a pro-
priedade para trabalhar na cidade, Finger fez o caminho
inverso. Ele residiu até os 17 anos na cidade com a mãe
e, quando concluiu o curso de técnico agrícola foi morar
com o pai na propriedade onde construiu sua família. ◆ Família Finger: Robson, a esposa Andréia e o filho

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 119


MAIS ALIMENTOS

Barão de Cotegipe
Administração é exemplo no
incentivo à agricultura familiar
Programas de fomento e cursos de qualificação estão entre as ações

C
om quase 7 mil habitantes, o município de minação de bovinos com melhoria da qualidade genética
Barão de Cotegipe, localizado no norte do Rio do rebanho.
Grande do Sul, tem base econômica na agricul- Através da secretaria, também, foram promovidos
tura. Para incentivar o crescimento do setor, a secretaria cursos de aperfeiçoamento para melhorar a gestão na
de Agricultura, Meio Ambiente e Fomento Econômico propriedade, como o de administração rural, embutidos,
criou vários projetos e programas que vão desde a capaci- fruticultura, processamento de peixes, controle de for-
tação dos agricultores até a distribuição de insumos. migas, manejo do solo, produção de leite à base de pasto,
O secretário da pasta, Valdecir Francisco Balestrin, criação de peixes e reflorestamento de eucaliptos.
explica que dentre os programas de incentivo está o de Apesar de pequeno, o município conta com sete
pastagens que beneficiou 74 agricultores familiares. “O agroindústrias, e outras três estão em processo de insta-
projeto propõe dar condições aos jovens agricultores fa- lação. Estas agroindústrias familiares receberam recursos
miliares que já estão investindo e pretendem melhorar através da Consulta Popular, quando receberam equipa-
a atividade leiteira.” Cada agricultor recebeu cinco sacas mentos importantes para o processo de industrialização
de adubo e cinco de uréia, três toneladas de calcário e dos produtos. Além disso, as famílias contam ainda com
um eletrificador de cerca para serem aplicados em um um espaço importante para a comercialização dos produ-
hectare de pastagem. Outro programa de incentivo é o tos, através da Feira do Produtor, que funciona nas quar-
fortalecimento da pecuária, através do serviço de inse- tas-feiras e aos sábados.

Jornal Bom Dia

120 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 121


MAIS ALIMENTOS

Família dá exemplo de gestão na propriedade


Agroindustrialização do leite mantém os Fabian morando no interior com dignidade

M
anter a família no interior com dignidade é lagem e formulação de rações concentradas; criação das
um dos grandes desafios, que vem sendo ti- terneiras para reposição do plantel; produção do leite e
rado de letra pela família Fabian, que reside industrialização através da fabricação de queijos, iogur-
no interior de Barão de Cotegipe/RS. Em 2007, o casal tes e leite pasteurizado.
Edgar e Edinéia decidiu agroindustrializar a produção de Preocupada com a qualidade do produto a família
leite da propriedade, com o intuito de agregar renda e va- participa de cursos de gestão e qualificação – desenvol-
lorizar o trabalho. “Se nós industrializássemos o leite na vidos em parceria com a prefeitura e o Sebrae -, e ainda
propriedade, teríamos mais renda e não precisaríamos contratou consultoria de profissional da engenharia de
procurar trabalho na cidade,” explica Edinéia. alimentos. A propriedade é uma das tantas do município
Com 15 vacas de leite a produção gira em torno de que recebe incentivo da administração municipal, atra-
500 Kg de queijo, 3 mil litros de leite pasteurizado e 500 vés dos vários programas desenvolvidos pela secretaria
litros de bebida láctea. Para agregar ainda mais valor, a de Agricultura Meio Ambiente e Fomento Econômico,
família produz queijo tradicional e temperado com to- como o de pastagens e o de inseminação para melhorar o
mate seco e orégano, queijo para grelha com orégano e plantel. E, através da Consulta Popular receberam equi-
salame, além da bebida láctea nos sabores morango e pamentos que são importantes no processo de agroin-
coco. E, 90% do leite utilizado para a produção é provin- dustrialização.
da da propriedade. A ideia, segundo o casal, é expandir o empreendi-
A família ainda planta grãos como soja, milho e pas- mento e realizar todo o processo dentro da propriedade.
tagem que são utilizados para a alimentação do gado de
leite. A propriedade da família Fabian é um exemplo de

Jornal Bom Dia


gestão que desenvolve o ciclo completo: produção da ali-
mentação para o gado leiteiro, através de pastagem, si-
Jornal Bom Dia

Jornal Bom Dia

Família Fabian

122 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 123


MAIS ALIMENTOS

Produção de mel deve ser uma das


melhores dos últimos oito anos
A
família de Alvize Cadore, também do in- muito com isso, mas acho que não terei substituto,
terior de Barão de Cotegipe/RS, tem uma pois é uma atividade perigosa,” completa.
propriedade de 28 hectares. Dentre as vá-
rias atividades da propriedade, tem a extração do mel
como sua principal fonte de renda. Com o intuito de
agregar valor e renda, agroindustrializou a produção
que é comercializada na Feira do Produtor da cidade e

Jornal Bom Dia


através da venda direta.
Alvize Cadore conta com cerca de 600 colméias,
espalhadas em mais de 20 propriedades. Segundo ele,
este será um ano de ótima produção devido à flora-
ção e a seca no momento certo. A expectativa é reti-
rar mais de 7 mil quilos de mel.
Cadore também participa de cursos de gestão da
propriedade, como o oferecido em parceria com o
Sebrae, realizado no final do ano de 2012. Segundo
ele, o curso trouxe muitas vantagens e mostrou como
melhorar o rendimento. “Sempre procurei me atua-
lizar e aprender mais, pois qualificação é muito im-
Alvize Cadore conta com cerca de 600 colméias, espalhadas em mais de 20 propriedades
portante. Estou há 18 anos nessa atividade, já ganhei

Propriedade trabalha com diversidade de matéria prima

A
propriedade de 7 hectares de José Carlos Sla- Jornal Bom Dia
viero é bastante diversificada. Lá, a família
cultiva frutas como: amora, pêssego, figo,
uva, goiaba, morango e pêra, utilizadas para a produção
de geleias, chimias e compotas, além da venda in natura.
A média de fabricação é de 4 mil vidros de 750 g por
mês, produto comercializado nas feiras do produtor de
Barão de Cotegipe e Erechim, e através dos programas
para merenda escolar, mercados e venda direta.
Slaviero contou que recebeu grande incentivo da ad-
ministração municipal, e assim o espaço da agroindústria
quase que dobrou, ampliando o processo de produção.
Para o próximo ano, a expectativa é iniciar com a pro-
dução de frutas cristalizadas abrindo novos mercados e
ampliando a produção. ◆ Média de fabricação é de 4 mil vidros de geléias e compotas de 750 g por mês

124 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 125


Agroindústria Cantele
Agroindustrialização
gera emprego no interior
A
agroindústria Cantelle, localizada no inte- A agroindústria comercializa alimentos através dos
rior de Barão de Cotegipe/RS, iniciou suas programas Fome Zero e Merenda Escolar das prefeitu-
atividades de forma artesanal em 1992, ras de Barão de Cotegipe, São Paulo e Rio de Janeiro, e
com a participação em uma feira de alimentação na- vende ainda nas feiras do produtor e em mais de 100
quele município. A procura pelos produtos incentivou pontos comerciais em Erechim.
a família a investir no ramo. A produção gira em torno dos 11 mil quilos de pro-
Quatro anos mais tarde, eles se inscreveram no duto por mês, no ramo da panificação, confeitaria e
programa estadual da agroindústria familiar e o pro- massas com mais de 150 variedades.
cesso para liberação do empreendimento demorou 11 Hoje são 18 pessoas contratadas para trabalhar na
meses. Segundo um dos proprietários, Eleandro Can- agroindústria, além das cinco pessoas da família, e ou-
telle, “não tínhamos conhecimento de como montar tros três funcionários que cuidam da lavoura na pro-
uma agroindústria, já que fomos a primeira agroin- priedade de 25 hectares.
dústria de panificação do Alto Uruguai, pesquisamos Atuando há quase 20 anos no mercado, Cantelle ex-
projetos e com apoio da prefeitura conseguimos ela- plica que sempre participaram dos cursos de qualifica-
borar a planta.” ção promovidos pelo Sebrae, Emater ou pela prefeitura
No ano seguinte iniciou a construção do prédio que com o intuito de melhorar a qualidade dos produtos e a
já foi ampliado sete vezes para dar conta da demanda. gestão na propriedade.

126 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Jornal Bom Dia
MAIS ALIMENTOS

Jornal Bom Dia


Cursos de gestão na
propriedade favorecem o

Divulgação/BD
crescimento, a qualidade
do produto e a conquista
de novos mercados
A produção gira em torno dos 11 mil quilos por
mês, no ramo da panificação, confeitaria e massas
com mais de 150 variedades
A ideia é expandir mercado e continuar aten-
dendo os clientes com excelência e produzindo com
qualidade. ◆ Jornal Bom Dia
Jornal Bom Dia

Proprietário da agroindústria, Eleandro


Cantelle

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 127


MAIS ALIMENTOS

Embrapa atua no processo


de capacitação das
agroindústrias familiares
Agricultores experimentaram nova forma de agregar valor ao
trabalho rural com os produtos agroindustrializados que, em
muitos casos, se tornaram a principal fonte de renda da família

C
ada vez mais o campo vem se fortalecendo tos agroindustrializados tornando-se, muitas vezes, a
com a criação de novas agroindústrias, agre- principal fonte de renda da família. Em função da neces-
gando valor aos produtos dos agricultores sidade global de alimentos saudáveis, houve o surgimen-
familiares, fazendo, assim com que permaneçam no to de um arcabouço legal para a produção de alimentos
interior. As agroindústrias familiares podem ser empre- com qualidade e segurança para o consumidor, mais
endimentos coletivos (cooperativas e associações) ou in- precisamente nos últimos 15 anos, muito mais focado
dividuais - administrados por uma família, que utilizam no processo de produção do que no controle do produto
uma ou mais tecnologias de transformação das maté- final, demandando novas formas de monitoramento da
rias-primas agropecuárias. A agroindústria familiar tem agroindústria familiar rural por partes das autoridades
por objetivo agregar valor aos alimentos, observando os sanitárias. Esta nova visão resultou como grande desafio
padrões de identidade, qualidade e os requisitos das le- de unir o saber-fazer tradicional, em alguns casos secu-
gislações ambiental e sanitária. Isto resulta em produtos lares (como é o caso dos queijos artesanais produzidos
alimentícios com apelo artesanal, vida útil maior, con- com leite não pasteurizado), à infraestrutura, proces-
veniência, características sensoriais diferenciadas e com sos e controles necessários, como forma de possibilitar
qualidade e segurança garantidas. e evidenciar que estes alimentos são produzidos com a
qualidade e a segurança demandadas por um consumi-
Maioria atua na informalidade
O número de agroindústrias familiares no país é
Divulgação/Embrapa

grande. Mas, de acordo com o pesquisador da Embrapa


Agroindústria de Alimentos, localizada no Rio de Janei-
ro, Fénelon do Nascimento Neto, “é certo que a minoria é
formalizada. Isto ocorre porque o processo de agroindus-
trialização sempre existiu. Em um primeiro momento
era liderado pelas mulheres nas cozinhas domésticas de
suas propriedades, como forma de perpetuar os proces-
sos tradicionais passados de mãe para filha.” Com o pas-
sar do tempo, os agricultores experimentaram uma nova
forma de agregar valor ao trabalho rural com os produ- André Bonnet

128 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

dor cada vez mais exigente. Como forma de responder


a estes desafios, o processo de agregação de valor às

Divulgação/Embrapa
matérias-primas dos agricultores familiares vem sendo
estimulado pelo Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (PRONAF Agroindústria) e por
programas próprios de alguns estados que estimulam a
infraestrutura necessária e a assistência técnica aos pro-
dutores familiares no processo de agroindustrialização.

Mercado
Há bem pouco tempo um dos grandes gargalos para Fenelon
os agricultores familiares era o escoamento de sua pro-
dução agroindustrializada. Como forma de diminuir este de centros de ensino e das instituições de fiscalização, ins-
gargalo, legislações tributárias e fiscais específicas foram peção, vigilância sanitária federal, estadual e municipal, nas
ajustadas à realidade. Outra forma de estimular a agroin- Boas Práticas de Fabricação e na sua internalização junto a
dustrialização foi o surgimento de programas bem estru- algumas agroindústrias em um trabalho piloto.” Este traba-
turados de compra destes produtos pelos governos muni- lho já vem produzindo resultados, que podem ser percebi-
cipais como o Programa Nacional de Alimentação Escolar dos pelos padrões crescentes e qualidade dos produtos que
(PNAE), onde cada município é obrigado a comprar no os estados vêm apresentando durante as edições das Feiras
mínimo 30% dos alimentos destinados a merenda escolar Nacionais da Agricultura Familiar nestes últimos anos.
dos produtores familiares; e o Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA). Estes programas se tornaram uma gran- Tecnologia
de oportunidade de comercialização para os agricultores As tecnologias que vêm sendo utilizadas nas agroin-
familiares e a sustentabilidade da atividade produtiva. dústrias familiares já são conhecidas há muito tempo.
Entretanto, o maior desafio das agroindústrias familiares
Qualidade é o dimensionamento dos equipamentos disponíveis co-
A qualidade dos produtos agroindustriais depende basi- mercialmente e a melhor forma de dispô-los sequencial-
camente da qualidade da matéria-prima, dos insumos para mente na unidade produtiva de forma a otimizar o fluxo
as agroindústrias, da infraestrutura da edificação e seus cui- de processo e a setorização de áreas para o preparo da
dados, das pessoas, dos equipamentos, do armazenamen- matéria-prima a ser processada. Outros pontos observa-
to e da distribuição destes alimentos. Assim, a qualidade é dos são ajustes nos controles de cada etapa destes proces-
consequência dos controles em todas as etapas da cadeia sos que resultam em produtos padronizados.
agroindustrial, independente do porte das agroindústrias. A Embrapa Agroindústria de Alimentos desenvolveu
A avaliação da qualidade é sistêmica, ou seja, abrange todos um projeto contratado pela Eletrobrás para o Programa dos
os processos da cadeia. O pesquisador da Embrapa Agroin- Centros Comunitários de Produção. Segundo os pesquisa-
dústria de Alimentos, André Luis Bonnet Alvarenga, explica dores, o projeto resultou na confecção de perfis agroindus-
que no processo de legalização das agroindústrias, a abor- triais de 13 tecnologias de processamento. Os perfis agroin-
dagem é focada no controle do produto em cada etapa do dustriais são projetos de viabilidade técnica que envolvem a
processo produtivo. Ao final deste processo, os produtos ob- descrição das etapas da tecnologia de processamento apre-
tidos das agroindústrias legalizadas tendem a ter a sua qua- sentada de acordo com o produto, a descrição dos equipa-
lidade e segurança garantidas. “Neste sentido, para estimu- mentos, sugestão de leiautes, a disposição dos equipamen-
lar esta legalização, a Embrapa Agroindústria de Alimentos tos nas agroindústrias, as especificações de construção civil
vem trabalhando desde 2004, apoiada pelo Ministério do dos prédios e de instalações hidrossanitárias, requisitos de
Desenvolvimento Agrário, junto a diversos parceiros em utilização de água de processo, rotulagem e das Boas Práti-
quase todos os estados da federação na capacitação de téc- cas de Fabricação (BPF), finalizando com um protocolo de
nicos das empresas de assistência técnica e extensão rural, sanitização dos prédios e utensílios. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 129


MAIS ALIMENTOS

Plano Safra
da Agricultura Familiar 2012/2013
O
conjunto de políticas públicas do Plano Sa- lugar do meio rural no desenvolvimento nacional. Desta
fra da Agricultura Familiar 2012/2013 qua- forma o governo federal, por meio MDA segue fortale-
lifica e articula os instrumentos construídos cendo a agricultura familiar, este importante agente de
e conquistados nos últimos anos por esse importante desenvolvimento.
setor produtivo do país. As medidas foram elaboradas As medidas para esta safra da agricultura familiar
pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário com foco pretendem estimular o crescimento da economia do país
em dois grandes objetivos: a organização econômica e a com estabilidade, aumento da produção e sustentabili-
sustentabilidade. dade. O objetivo é aumentar a renda no campo, olhando
Para que a agricultura familiar avance ainda mais na para a agricultura familiar como modelo estratégico de
produção de alimentos, de forma sustentável, é preciso produção para o desenvolvimento do país.
enfrentar alguns desafios. Entre eles, estimular o uso Para isso, o Plano Safra 2012/2013 vai aperfeiçoar as
sustentável dos recursos naturais e a convivência com as políticas para melhorar a convivência com as adversida-
mudanças climáticas, promover alternativas para a redu- des climáticas e incentivar práticas sustentáveis. O plano
ção da pobreza, gerar e qualificar as ocupações produti- promove e valoriza a transição dos sistemas produtivos
vas no campo e interiorizar o desenvolvimento. por meio de boas práticas ambientais e estimula novas
A existência de um conjunto de políticas públicas si- cadeias produtivas com base em produtos sustentáveis
multâneas e permanentes contribui para a estabilidade e saudáveis, com foco nas oportunidades geradas pelos
econômica e social do país e permite definir um novo mercados interno e externo. ◆

Juliano Ribeiro Seagro

130 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

A Lavrale preparou grandes lançamentos


que vão melhorar ainda mais a agricultura
familiar em 2013
H
á mais de quatro décadas fabricando imple- cultura familiar, auxiliando aquele que é o grande moti-
mentos para pequenos e médios produtores, vo do sucesso e da constante busca pelo aperfeiçoamento
a Lavrale está sempre comprometida em dos seus produtos: o cliente. ◆
atender às necessidades dos seus clientes com muita com-
petência e grande experiência. Para tanto, possui pontos
de venda e de serviços em todo o Brasil e em diversos pa-
íses da América Latina e África, dispondo de uma com-
pleta linha de peças de reposição que asseguram o bom
funcionamento dos equipamentos comercializados.
As suas equipes de vendedores externos e profissio-
nais são altamente qualificadas e treinadas diretamente
na fábrica, estando pronta para suprir todas as deman-
das comerciais e técnicas das regiões onde atuam.
E, para 2013, a Lavrale preparou grandes lançamen-
tos que prometem melhorar e facilitar ainda mais a agri-

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 131


MAIS ALIMENTOS

A
Federação Nacional da Distribuição de Ve- velha e precisa ser modificada para alcançar maior pro-
ículos Automotores (Fenabrave) registrou dutividade. A produção de soja que foi favorável no Bra-
crescimento na venda de maquinário agrí- sil, também influenciou nisso. Outro motivador foram
cola em 2012, em relação ao ano de 2011. De janeiro a os juros na modalidade Finame BNDES, de 2,5% ao ano,
outubro de 2011 foram comercializados 48.025 mil uni- muito favorável para compra.”
dades no Brasil, entre tratores, máquinas agrícolas e co- A expectativa para 2013 é um incremento nas vendas
lheitadeiras. Entre janeiro a outubro de 2012 a comercia- que deve girar entre 5 a 7%, sobre 2012. “Se de fato esta
lização somou 51.419 mil unidades, o que corresponde a safra for boa e sem perdas significativas o crescimento
um aumento de 7,07% nas vendas. pode ser de 7 a 10%,” pontua Assumpção Jr.
Segundo o presidente executivo da Fenabrave, Ala- A renovação da frota reflete na diminuição dos custos
rico Assumpção Jr., “o crescimento nas vendas se deve, com manutenção e operação das máquinas e implemen-
entre outros fatores, à renovação da frota, que é bastante tos agrícolas.

Fenabrave
Comercialização de maquinário
agrícola apresenta crescimento

Em relação ao ano passado, 2012 apresentou aumento


de 7,07% nas vendas
132 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
MAIS ALIMENTOS

Crédito para compra de veículos Governo incentiva renovação


Os agricultores são beneficiados com o aumento do Entre julho e outubro deste ano, os empréstimos para
crédito e facilidades para aquisição de maquinário novo. aquisição de máquinas agrícolas, equipamentos de irrigação
Existem os bancos de fomentação que trabalham com a e estruturas de armazenagem somaram R$ 2,5 bilhões. As
questão agrícola para financiamento da aquisição de tra- contratações, feitas por meio do Programa de Sustentação
tores e maquinários. Através destes bancos há uma série do Investimento (PSI-BK), subiram 23% comparado a igual
de programas de financiamento independentes do banco período de 2011. O total financiado representa 42,6% dos R$
oficial. Além disso, o BNDES através do Financiamento 6 bilhões disponíveis entre julho deste ano e junho de 2013.
de Máquinas e Implementos (Finame), fomenta a aquisi- O bom momento que vive a agricultura brasileira e a
ção de maquinários agrícolas a um custo inferior. Outra redução da taxa de juros anuais – na maioria dos meses do
modalidade usada é a de consórcio por sorteio ou anteci- ano-safra 2011/12 foi de 6,5% – são os principais motivos
pação com lance e pagamento de determinada cota. para a elevação das contratações. ◆

Edson Castro

Fenabrave/Divulgação

Presidente Executivo da Fenabrave, Alarico Assumpção Jr.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 133


MAIS ALIMENTOS

Simers
Trator ainda é a máquina
mais procurada pelos
agricultores familiares
Linha de crédito oferecida pelo governo facilita a mecanização
das pequenas propriedades, garantindo produção e qualidade
dos produtos

A
agricultura familiar no Brasil é de extrema quinto ano de existência, o agricultor que já comprou o seu
importância para a segurança alimentar, já trator está se aparelhando com outros produtos para a sua
que a maioria dos produtos faz parte da ali- propriedade. Quem ainda não tem um trator está se prepa-
mentação básica do brasileiro. Para que a produção atenda rando para adquirir, pois esta máquina é a que introduz a
a demanda e tenha qualidade é importante o investimento mecanização na lavoura. Depois da compra do trator, o pro-
em políticas, para otimizar as forma de cultivo. Isso passa dutor começa a ver o aumento nos rendimentos e continua
pela mecanização da agricultura familiar, garantindo téc- comprando máquinas e implementos para a sua terra.
nicas adequadas de manejo e processamento, produção,
qualidade e diminuindo o esforço manual do agricultor. Incentivos
O incentivo à mecanização da agricultura familiar já
Trator vem ocorrendo através do Programa Mais Alimentos, do
O trator ainda é o objeto de maior desejo do agricultor Ministério do Desenvolvimento Agrário, que disponibi-
familiar. Com o Programa Mais Alimentos indo para o seu liza para o agricultor o acesso à tecnologia por um preço
inferior ao valor de mercado. A linha de crédito ofereci-
da pelo governo varia de R$ 130 mil a R$ 200 mil, com
prazo de até dez anos para pagar a juros de 2,5%, com até
Divulgação/Simers

três anos de carência.


O estado do Rio Grande do Sul é responsável por
mais de 60% da produção de equipamentos agrícolas no
País. E, a agricultura familiar representa cerca de 25% do
total das vendas de máquinas e implementos agrícolas
no Brasil. Esse número foi alcançado através do Mais Ali-
mentos, programa destinado exclusivamente para a agri-

Presidente do Sindicato das Indústrias de


Máquinas e Implementos Agrícolas no RS
(Simers), Cláudio Affonso Amoretti Bier

134 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

cultura familiar, que oferece condições de financiamento ser nosso foco e estamos atentos a outras formas de inse-
para o produtor rural. ri-los e integrá-los neste processo pulsante de tecnologi-
De acordo com o presidente do Sindicato das Indús- zação do campo. E isso se reverte em mais renda para o
trias de Máquinas e Implementos Agrícolas no RS (Si- agricultor, que consegue comprar mais colaborando para
mers), Cláudio Affonso Amoretti Bier, no ano de 2011, as o aumento da economia, e esse crescimento vai afetando
vendas ficaram em 10%, ou seja, houve um incremento várias cadeias econômicas.”
de 15% em relação a 2011 nos negócios da agricultura O Simers busca uma tecnologia atualizada e de exce-
familiar. Isso é muito significativo para a vida da família lência para as máquinas e implementos agrícolas, com o
do campo, que pelo Mais Alimentos conseguiu melhorar intuito de levar modernização até o agricultor familiar,
o manejo da sua lavoura através da aquisição de equipa- para que ele exerça com dignidade a atividade rural.
mentos de tecnologia atualizada. Dessa forma, consegue
maior produção, mais lucro e motivação para o trabalho.” Conquista
O Programa Mais Alimentos é a possibilidade de levar Depois de três anos de tentativas, as cabines agríco-
a tecnologia do grande produtor para o agricultor familiar. las foram incluídas no Programa. O seu uso proporcio-
Colheitadeiras, tratores, pulverizadores, equipamentos na mais conforto e segurança durante o trabalho, pois
para ordenha, cabines agrícolas são exemplos de dispositi- o produtor pode ficar mais horas na lavoura, já que está
vos que hoje estão ao acesso da agricultura familiar. protegido de fatores externos.
O presidente do Sindicato explica que o Simers busca Este investimento proporciona ainda outras vanta-
inovar. “Estamos atentos aos novos mercados, às novas gens como a possibilidade de instalação de ventilador
tecnologias e à modernização de equipamentos voltados ou ar condicionado, oferecendo melhores condições de
para a produção agrícola. O agricultor familiar passou a trabalho por um período mais longo. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 135


MAIS ALIMENTOS

Agritech
Empresa líder em vendas com
o Programa Mais Alimentos
N
o ano de 2008 o então presidente Luís Iná- do Mais Alimentos”, destaca Nelson Watanabe, Gerente
cio Lula da Silva entregou ao produtor Fer- Nacional de Vendas Agritech.
nando Kubota, de Brazlândia Incra (DF), o A Agritech Lavrale – Divisão Agritech faz parte do
primeiro trator do Programa Mais Alimentos. Não por Grupo Francisco Stédile e surgiu com a cisão da Yanmar
acaso, o trator era um Agritech 1175, produzido em In- do Brasil. O Grupo Francisco Stédile, de Caxias do Sul
daiatuba, no interior de São Paulo, pela Agritech Lavrale, (RS), é um dos mais respeitados conglomerados indus-
empresa que planeja e controla todo o processo produti- triais do Brasil e engloba as empresas Agrale S.A., Ger-
vo de tratores e microtratores que levam os motores e a mani Alimentos, Fazenda Três Rios e a Fundituba Indús-
marca Yanmar para o País. tria Metalúrgica. ◆
A Agritech é a única empresa brasileira com a linha
de tratores, microtratores e implementos agrícolas volta-
da especialmente para a agricultura familiar, e que busca
levar tecnologia para o pequeno produtor, responsável
por grande parte da produção nacional. Os tratores e mi-
crotratores Yanmar Agritech foram feitos especialmen-
te para a utilização em pequenas áreas. São leves, não
compactam o solo, consomem pouco combustível e têm
baixo custo de manutenção. Todos os tratores e micro-
tratores da marca estão aptos para se movimentar com
o biodiesel B-5.
E por essas razões que a empresa se tornou
a recordista em vendas de tratores de até
59cv no Plano Mais Alimentos. “Os pro-
gramas governamentais de incentivo
à aquisição de máquinas são um
grande sucesso e têm possibi-
litado que agricultores intro-
duzam ou ampliem o uso
de tecnologia de mecani-
zação em suas atividades.
Atualmente cerca de 60%
da nossa produção é volta-
da para atender a demanda

136 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 137
Assessoria/CSIMA
Empreendimento
na cadeia de implementos e
máquinas agrícolas Presidente da CSMIA e Abimaq, Celso Casale

Estímulo a indústrias para oferecer produtos para o crescente


mercado de produtores rurais é o caminho para fornecimento
de equipamentos e implementos modernos que contribuam
com o aumento da produção

O
presidente da Câmara Setorial de Máquinas Agricultura familiar em expansão
e Implementos Agrícolas (CSMIA), da Asso- Como a agricultura familiar está em processo de ex-
ciação Brasileira da Indústria de Máquinas e pansão no país, a importância desse desenvolvimento
Implementos (Abimaq), Celso Casale, destaca a função para o setor de máquinas agrícolas está intrinsecamente
da CSMIA que reúne cerca de 200 fabricantes nacionais ligada. “Como atualmente são 4,3 milhões de proprieda-
de máquinas e implementos agrícolas. “De forma geral, des rurais caracterizadas como de agricultura familiar,
a função da Câmara é estimular a indústria a oferecer esse tipo de empreendimento acaba tendo papel decisivo
produtos para o crescente mercado de médios produto- nos negócios da cadeia de implementos e máquinas agrí-
res rurais por meio do fornecimento de equipamentos colas”, destaca Casale.
e implementos modernos que auxiliem na ampliação da Para o presidente da CSMIA, uma grande vantagem, do
produção e no aprimoramento dos sistemas produtivos ponto de vista comercial da demanda dos agricultores fami-
de pequenos e médios agricultores”, afirma. liares, é que ela é pulverizada e abrange uma gama bastante

138 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


MAIS ALIMENTOS

diversificada de culturas, o que resulta em compras de todo Perspectivas de mercado


tipo de máquina e em volume considerável, gerando mais
emprego e renda em praticamente todas as regiões do Brasil. Para Casale são boas as perspectivas do mer-
cado mantidos os atuais preços das commodities
Novos produtos agrícolas e a oferta de linhas de financiamento
Segundo Casale, a agricultura familiar também re- como o Mais Alimentos e o Finame PSI. Em re-
presenta uma ótima oportunidade para o setor desen- lação aos agricultores familiares, começam a ser
volver novos produtos, pois muitas vezes, a demanda do oferecidas máquinas mais modernas que têm um
pequeno produtor é por máquinas específicas, que preci- melhor desempenho e atendem um leque maior
sam ser desenhadas quase que exclusivamente para cada de culturas e de aplicações dos equipamentos.
caso. “Por todas essas razões, trata-se de um segmento “Mantido o atual apoio ao segmento familiar, a
de mercado de grande interesse por parte do industrial indústria brasileira, sempre muito próxima do
da área de máquinas agrícolas”, destaca. produtor rural, certamente estará desenvolvendo
novos produtos que irão aumentar a produtivida-
Mais Alimentos de do trabalho e a renda do produtor. Isso sem
Já em relação ao Programa Mais Alimentos, Celso contar a melhoria das condições de trabalho no
Casale ressalta que no último Seminário de Planejamen- campo com segurança, conforto, entre outros”.
to Estratégico, promovido em Ribeirão Preto no mês de
outubro, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe
Vargas, lembrou que o programa, voltado especialmente é enfático ao afirmar que a maioria das indústrias do se-
ao público da agricultura familiar, permitiu, desde 2008, tor de máquinas e implementos agrícolas já incorporou
a aquisição de 48 mil tratores. “Como todos sabem, esse técnicas voltadas ao uso racional de insumos como ener-
volume de equipamentos vendido gera muita demanda gia, água, gás, além da adoção de técnicas e processos
por implementos agrícolas, aquecendo nosso segmento. que possibilitem economia de matéria prima em geral.
O que tem atrapalhado um pouco é a burocracia e a de- “Sempre que possível, são utilizadas energias de fontes
mora na liberação de recursos para que o produtor possa renováveis nos processos produtivos. Outra contribuição
efetuar suas compras e modernizar sua estrutura. Como importante do segmento na área ambiental são os im-
lembrou, também no nosso seminário, o pesquisador plementos desenvolvidos pioneiramente no Brasil para
Eliseu Alves, da Embrapa, que o que limita o crescimen- práticas de Agricultura de Baixo Carbono como o plantio
to mais acentuado desse segmento não é o tamanho da direto e a integração Lavoura, Pecuária e Floresta”.
propriedade, mas o acesso à tecnologia, onde a mecani-
zação tem papel preponderante”, pontua. Expectativas
Para o segmento de produção de implementos e má-
Tecnologias de energia renovável quinas agrícolas, as expectativas de vendas para os empre-
No que se refere à utilização de tecnologias de energia sários da agricultura familiar são bastante animadoras. No
renovável, de modo a preservar o meio ambiente, Casale entanto, ainda não é possível mensurar numericamente o
total de máquinas e implementos agrícolas que os associa-
dos devem comercializar. “No momento, o Ministério do
Desenvolvimento Agrário está implementando um novo
sistema para fazer a gestão das vendas de equipamentos
inclusive com a cobertura do Banco do Brasil, que deverá,
periodicamente, informar os produtos comercializados.
Ao mesmo tempo, os industriais terão de fazer um reca-
dastramento de todos os seus produtos contemplados no
Programa Mais Alimentos para que seja possível a quanti-
ficação das vendas a partir de 2013”, conclui. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 139


Aquisição de Al i
140 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
Divulgação

Criado em 2003, o Programa


de Aquisição de Alimentos
(PAA) é uma ação do Governo
Federal para colaborar com
Programa de o enfrentamento da fome

l imentos
e da pobreza no Brasil e, ao
mesmo tempo, fortalecer a
agricultura familiar
Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 141
O
PAA utiliza mecanismos de comercialização que no momento mais propício, em mercados públicos ou
favorecem a aquisição direta de produtos de agri- privados, permitindo maior agregação de valor aos produ-
cultores familiares ou de suas organizações, esti- tos. A compra pode ser feita sem licitação. Cada agricultor
mulando os processos de agregação de valor à produção. pode acessar até um limite anual e os preços não devem
ultrapassar o valor dos preços praticados nos mercados
Como funciona locais.
Parte dos alimentos é adquirida pelo governo dire-
tamente dos agricultores familiares, assentados da re- Quem acessa
forma agrária, comunidades indígenas e demais povos e Agricultores familiares, assentados da reforma agrá-
comunidades tradicionais, para a formação de estoques ria, comunidades indígenas e demais povos e comunida-
estratégicos e distribuição à população em maior vulne- des tradicionais ou empreendimentos familiares rurais
rabilidade social. portadores de Declaração de Aptidão (DAP) ao Progra-
Os produtos destinados à doação são oferecidos para ma Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
entidades da rede socioassistencial, nos restaurantes popu- (Pronaf).
lares, bancos de alimentos e cozinhas comunitárias e ainda Quem executa: o PAA é executado com recursos
para cestas de alimentos distribuídas pelo Governo Federal. dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário (MDA) e
Outra parte dos alimentos é adquirida pelas próprias do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),
organizações da agricultura familiar, para formação de es- em parceria com estados, municípios e com a Compa-
toques próprios. Desta forma é possível comercializá-los nhia Nacional de Abastecimento (Conab).

PAA — Recursos aplicados MDA e MDS de 2003 a 2010 — todas as modalidades


Período Recursos aplicados em milhões Nº de agricultores familiares Nº de pessoas atendidas Quantidade de alimentos adquiridos
participantes em toneladas
2003 R$ 144,92 42.077 226.414 135.864
2004 R$ 180,00 68.576 4.261.462 339.925
2005 R$ 333,06 87.292 6.459.917 341.755
2006 R$ 492,09 147.488 10.700.997 466.337
2007 R$ 461,06 138.900 14,512.498 449.837
2008 R$ 509,47 168.548 15.407.859 403.155
2009 R$ 591,03 137.185 13.028.986 `509.955
2010 R$ 680,75 155.166 18.875.174 462.429
Total Geral R$ 3.392,37 - - 3,100.256
Média dos - 149.950 15.456.127 -
últimos 4 anos

Modalidade Fonte de Recurso Limites Executor Forma de Acesso


Compra Direta MDS/MDA R$ 8 mil CONAB Individual, cooperativa e associação
Formação de Estoque MDS/MDA R$ 8 mil CONAB Cooperativa e associação
Compra Direta com Doação MDS R$ 4,5 mil (indivi- CONAB, estados e Individual, cooperativa e associação
Simultânea dual) munícipios
R$ 4,5 mil (Coope-
rativa/associação)
Incentivo à Produção e ao MDS R$ 4 mil por Estado do Nordes- Individual, cooperativa e associação
Consumo do Leite semestre te e norte de MG

142 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Programa Total de Agr. Total de Total de Recursos Peso Total dos
Fornecedores Entidades Ben. Atendimento Fornecidos (R$) Produtos (kg)
PAA CONAB 55.193 5.824 9.690.061 R$ 233.901.996,42 135.264.497,22
PAA Estadual 10.018 6.616 3.335.216 R$ 21.127.650,93 10.851.542,85
PAA Municipal 12.949 3.125 1.637.964 R$ 38.574.485,01 18.538.510,14
PAA Leite 27.286 - 798.195 R$ 111.584.036,27 132.263.994,08
Total 105.446 15.565 15.461.436 R$ 405.188.168,63 296.918.544,28
Fonte Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação – Dados 2012

Modalidades do PAA Podem ser adquiridos arroz, castanha de caju, casta-


Desde 2006, o MDA passou a destinar recursos orça- nha-do-brasil, farinha de mandioca, feijão, milho, sorgo,
mentários próprios para operacionalização de duas modali- trigo, leite em pó integral e farinha de trigo. É operacio-
dades do PAA: Apoio à Formação de Estoques pela Agricul- nalizada pela Conab com recurso do MDA e do MDS.
tura Familiar e a Compra Direta da Agricultura Familiar. As
modalidades Compra com Doação Simultânea e Incentivo à Valor máximo de comercialização por agricultor fa-
Produção e ao Consumo do Leite são executadas pelo MDS. miliar, por ano civil:
Compra Direta da Agricultura Familiar - até R$ 8 mil
Compra direta da agricultura familiar Apoio à Formação de Estoques - até R$ 8 mil
Esta modalidade é voltada à aquisição da produção Compra Direta Doação Simultânea (individual) - até
da agricultura familiar, quando os preços de mercado es- R$ 4,5 mil
tão baixos ou quando há necessidade de atendimento de Compra Direta Doação Simultânea (cooperativas/as-
demandas por alimentos para populações em condição sociações) - até R$ 4,8 mil
de insegurança alimentar, ajustando a disponibilidade de Incentivo à Produção e ao Consumo do leite - até
produtos às necessidades de consumo. R$ 4 mil ◆

Maylena Clécia/ Embrapa

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 143


Programa Nacional de Alimentação Escolar

30% dos alimentos


devem ser adquiridos da
Agricultura Familiar

144 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Recomendada a compra de produtos do empreendedor familiar
rural, de assentamentos de reforma agrária, das comunidades
tradicionais indígenas e comunidades quilombolas

O
Jornal Bom Dia
Programa Nacional de Alimentação Esco-
lar - Pnae está regulamentado de acordo
com a Lei nº 11.947/2009 que determina a
utilização de, no mínimo, 30% dos recursos repassados
pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE) para alimentação escolar, na compra de produ-
tos da agricultura familiar e do empreendedor familiar
rural ou de suas organizações, priorizando os assenta-
mentos de reforma agrária, as comunidades tradicionais
indígenas e comunidades quilombolas.
A aquisição de gêneros alimentícios será realizada,
sempre que possível, no mesmo município das escolas.
As escolas poderão complementar a demanda entre agri-
cultores da região, território rural, estado e país, nesta
ordem de prioridade.
Para quem produz alimentos, a iniciativa contribui
para que a agricultura familiar se organize cada vez mais
e qualifique suas ações comerciais. Para quem adquire
esses produtos, o resultado desse avanço é mais quali-
dade da alimentação a ser servida, manutenção e apro-
priação de hábitos alimentares saudável, além de maior
desenvolvimento local de forma sustentável.

Quem vende
Agricultores familiares e empreendedores familiares
rurais, organizados em grupos formais e/ou informais.
Grupos Formais constituídos por agricultores fami-
liares e empreendedores familiares rurais constituídos
em cooperativas e associações.
Grupos Informais formados por grupos de agricultores
familiares organizados que deverão ser apresentados junto
à Entidade Executora por uma Entidade Articuladora.

Quem compra
Secretarias estaduais de educação, prefeituras ou es-
colas que recebem recursos diretamente do FNDE. São
responsáveis pela execução do Pnae, inclusive a utiliza-
ção e complementação de recursos financeiros.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 145


Fonte Pnae

Quem é atendido Para tanto, a Secretaria da Agricultura Familiar


Alunos matriculados na educação básica das redes pú- (SAF) vem desenvolvendo estratégias de assistência téc-
blicas federal, estadual e do Distrito Federal de educação nica para organizações de agricultores para que eles se
básica que corresponde a educação infantil (inclui creches), qualifiquem e possam alcançar este novo mercado. O
ensino fundamental, ensino médio; Educação de Jovens e destaque em vendas para o Pnae é a região Sul – de seus
Adultos (EJA), escolas comunitárias, entidades filantrópicas 1.128 municípios, 874, o equivalente a 77% – compra-
(inclusive as de educação especial, escolas localizadas em ram dos agricultores familiares locais.
áreas indígenas e remanescentes de quilombos). Erechim, no Rio Grande do Sul, é caso modelo para
o MDA, sendo o primeiro município brasileiro a utilizar
Mais qualidade para quem compra alimentos 100% dos recursos repassados pelo FNDE na compra de
Com a nova Lei, o Pnae, que é quem vai adquirir os ali- gêneros alimentícios da agricultura familiar para a ali-
mentos, poderá contar com um mercado crescente de pro- mentação escolar. Ao todo, são mais de seis mil alunos
dutos diversificados e saudáveis. O mínimo é 30%, mas pode atendidos, beneficiando cerca de 52 famílias de agricul-
ser comprado da agricultura familiar até 100% do recurso tores familiares da região. Isso garante às crianças uma
repassado para a alimentação escolar pelo FNDE. Esses merenda com produtos mais saudáveis e diversificados.
30%, em 2010, correspondem a cerca de 1 bilhão de reais. A iniciativa abriu para os agricultores familiares um
vasto espaço de comercialização que não existia. Em ní-
Mercado e qualificação vel nacional, o programa possibilita que seja gasto, no
Segundo dados oficiais do FNDE, responsável pelo mínimo, R$ 1 bilhão por ano para compra de produtos
repasse de verba para alimentação escolar, 51% dos mu- da agricultura familiar. Por favorecer o comércio regio-
nicípios brasileiros compraram alguma porcentagem da nal, o Pnae também é uma importante ferramenta para
agricultura familiar em 2010. O Ministério do Desenvol- o crescimento econômico local e o combate à pobreza.
vimento Agrário (MDA) trabalha tentando aumentar Para quem adquire esses produtos, o resultado é mais
este número, incentivando as prefeituras a adquirir pro- qualidade na alimentação. A expectativa do ministério
dutos da agricultura familiar, de forma que cada municí- é ampliar ainda mais esse mercado aumentando o limi-
pio cumpra a meta mínima de 30% de fornecimento para te de vendas anual por Declaração de Aptidão ao Pronaf
a alimentação escolar estipulada em lei. (DAP), que hoje é de R$ 9 mil. ◆

146 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 147
Agricultura familiar

Produz 70%
dos alimentos do País
148 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
A organização econômica do segmento só é possível com a
definição de políticas públicas e apoio firme do governo

A
agricultura familiar é responsável pela pro-
dução de 70% dos alimentos do País. Para o

Terezinha Wilk / Emater RS


deputado federal Marco Maia (PT/RS), além
da grandiosidade de sua produção, mantém em alta a
ocupação rural e combate o êxodo para as grandes ci-
dades. “Tradicionalmente, o produtor familiar também
se caracteriza pela inovação nas técnicas agrícolas e pela
adoção de práticas mais sustentáveis do que os grandes
produtores”, declara.

Políticas públicas
De acordo com o deputado, para que a produção fa-
miliar chegue à mesa dos brasileiros, precisa de linhas
de custeio, investimento e comercialização, que inclusive
garantam preços mínimos para produtos do setor. “A or-
ganização econômica do setor só é possível com a defini-
ção de políticas públicas estruturadas e o apoio firme do
governo”, pontua Marco Maia.

Permanência no campo
Para Marco Maia, o governo federal tem se pautado
por aumentar o crédito ao produtor rural – que cresceu
mais de 400% nos últimos dez anos. O Plano Safra da
Agricultura Familiar 2012/2013, deve aumentar a pro-
dução sustentável de alimentos com crédito de R$ 22,3
bilhões, seguro, assistência técnica e extensão rural, ga-
rantia de preços e comercialização.
Para o Rio Grande do Sul, segundo o deputado, o
montante previsto é de R$ 3,3 bilhões. A previsão do nú-
mero de contratos para o Estado é de 250 mil e o valor
estimado de contratação para operações de custeio é de
R$ 1,6 bilhão. Já a contratação para investimentos tem
projeção de R$ 1,7 bilhão.
Entre as novidades, Marco Maia aponta o Programa
de Aquisição de Alimentos (PAA) que permitirá a esta-
dos e municípios comprar da agricultura familiar com
seus próprios recursos. “O Programa Nacional de Ali-

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 149


mentação Escolar foi ampliado de R$ 9 mil a R$ 20 mil
ao ano por agricultor”, afirma.

Assessoria/Marco Maia
Jovem no campo
Para Marco Maia, deve-se destacar a iniciativa do go-
verno federal em expandir o ensino superior e técnico
voltado para o campo. Um exemplo, no Rio Grande do
Sul, é a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e a
Unipampa, que possuem cursos desenvolvidos especifi-
camente para a realidade rural.
“Fui o relator aqui na Câmara dos Deputados do
projeto de lei que criou a UFFS. Esse sonho só se tornou
realidade graças à luta de companheiros do estado e da
região, onde não existia uma universidade federal. Além
dessas universidades, o governo federal ampliou consi-
deravelmente o número de escolas técnicas com cursos
voltados para o agricultor”.

Incentivos para a mulher agricultora

Segundo o deputado, no Plano Safra da Agri-


cultura Familiar 2012/2013, o limite de crédito
para mulheres agricultoras aumentou de R$ 50
mil para R$ 130 mil. O governo ainda determinou
um mínimo de 5% do orçamento do Programa de
Aquisição de Alimentos para a compra de produ-
tos de organizações compostas por 100% de mu-
lheres ou organizações mistas com participação
Deputado Federal Marco Maia
feminina mínima de 70%.
“No Plano Nacional de Reforma Agrária, as
terras tituladas devem ter o nome da mulher. Em incentivar a ampliação da área irrigada e aumentar a
caso de separação, as mulheres têm direitos. Se produtividade agrícola. Entre os incentivos criados está
a terra ainda estiver em processo de titulação e a ampliação dos descontos nas tarifas de energia elétrica
houver separação, a terra ficará com a mulher, se cobradas em atividades de irrigação”.
ela tiver a guarda dos filhos”, ressalta. “Empenhei-me pessoalmente na aprovação da Políti-
ca Nacional de Irrigação, já que a estiagem é um proble-
ma constante que enfrentamos no nosso Rio Grande do
Sul. Em 2010, coordenei uma comissão externa da Câ-
Qualificação mara que aprovou relatório com mais de 30 sugestões de
Conforme o deputado, o governo ainda lançará um medidas permanentes de combate à seca no Rio Grande
órgão específico para assistência técnica e extensão rural do Sul. Entre elas, já constava a criação de um programa
e uma política nacional de armazenagem e irrigação. “Na federal de retenção de água, de um Fundo Nacional de
minha gestão como presidente da Câmara, aprovamos a Defesa Civil e de um programa regional de irrigação e
Política Nacional de Irrigação, que tem como objetivo correção do solo”, conclui Marco Maia. ◆

150 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Mapa
“A agricultura está em um dos melhores
momentos da história do País”
Afirmação é do ministro Mendes Ribeiro Filho

A
agricultura vive um dos melhores momentos, A agricultura é a grande responsável não apenas por
devido ao anúncio da maior safra de grãos da colocar comida na mesa dos brasileiros, mas por equi-
história do Brasil, que alcançou 165,9 milhões librar as contas e movimentar boa parte da economia
de toneladas. O Valor Bruto de Produção (VPB) das prin- nacional.
cipais lavouras em 2012, até setembro, registrou recorde Para o Produto Interno Bruto do País, é o setor que mais
de R$ 232,5 bilhões. As exportações do setor também es- cresce nos últimos dez anos, com média de alta de 3,89% ao
tão muito bem e a expectativa é de que girem em torno ano. Por isso as ações governamentais são tão contundentes
dos US$ 100 bilhões. Os avanços quanto a vacinação de de apoio ao produtor. A agricultura representa 40% nas ex-
animais contra a febre aftosa e pesquisas com a Embrapa portações brasileiras.
também impulsionam para o crescimento do setor. O Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária
(MAPA) atua com o intuito de fortalecer a agricultura, através
de políticas governamentais de apoio ao produtor, por meio
de linhas de crédito e ações emergenciais. O ministro Mendes
Ribeiro Filho explica que “para auxiliar ainda mais o produtor
MA / Divulgação

nesta nova safra, foi lançado o maior Plano Agrícola e Pecu-


ário de todos os tempos, que disponibiliza R$ 115,25 bilhões
entre julho de 2012 e junho de 2013, com taxas de juros redu-
zidas de 6,75% para 5,5% ao ano”.
Além dos programas previstos no Plano Agrícola e
Pecuário – entre os quais Moderinfra (irrigação, arma-
zenagem e aquisição de tela de proteção contra grani-
zo), Moderagro (pecuária leiteira, avicultura, etc), ABC
(práticas sustentáveis), Pronamp (apoio ao médio pro-
dutor rural) e Prodecoop e Procap - Agro (ambos para
cooperativas), o Ministério também trabalha com ações
imediatas para produtores que necessitem de auxílio
emergencial, como leilões de grãos, e renegociação de
dívidas, medida adotada em conjunto com o Ministério
da Fazenda e Conselho Monetário Nacional (CMN). ◆

Ministro da Agricultura Mendes Ribeiro Filho

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 151


Agricultura familiar
é responsável pela diversificação,
soberania alimentar e equilíbrio
ambiental do Brasil
Para o deputado estadual Altemir Tortelli, o setor é
responsável pelo equilíbrio da Balança Comercial

C
om quase 30 anos de militância, Altemir Tor- profissional do Brasil: programas Integrar-Integração
telli (PT), está em seu primeiro mandato de de- para trabalhadores e dirigentes sindicais urbanos e Terra
putado estadual pelo Estado Gaúcho e tem na Solidária para dirigentes sindicais e agricultores familia-
agricultura familiar o centro de atuação. Para ele, a agricul- res. Na ocasião debatemos e construímos um novo modo
tura familiar é o setor responsável pela soberania alimentar de fazer a luta da agricultura familiar”, destaca Tortelli.
nacional, pelo desenvolvimento descentralizado e compar- Para o deputado, essa experiência reflete num conheci-
tilhado, e pelo equilíbrio da Balança Comercial. Defensor mento profundo da agricultura familiar, desde as práticas
de políticas estratégicas para o setor, Tortelli aponta na en- cotidianas de organização, reivindicação e formulação de
trevista um pouco de sua luta e os principais desafios para políticas para fortalecer o setor, principalmente junto a go-
garantir a existência futura da agricultura familiar. vernos. “Desse modo, nosso trabalho atual como deputado
O deputado Altemir Tortelli relata como iniciou é a continuidade da nossa trajetória de quase 30 anos, na
sua trajetória na agricultura familiar e de que forma qual a agricultura familiar está incorporada. Isso permite
isso reflete no seu trabalho atualmente. “Sou agricultor ampliarmos as pautas e buscarmos diuturnamente a cons-
familiar. Nasci numa família de agricultores e vivi a in- trução de ações que beneficiem a vida no campo”.
fância e juventude trilhando os caminhos da roça, numa
comunidade religiosa, com escola e time de futebol. Na desenvolvimento econômico
década 80 iniciei a militância no grupo de jovens e par- Segundo Tortelli, a agricultura familiar é um ponto
ticipei da Pastoral da Juventude na Diocese de Erechim. de equilíbrio econômico, social e ambiental. Além de
Em seguida iniciamos o processo de oposição à direção produzir cerca de 70% dos alimentos presentes todos
do sindicato em Jacutinga, onde disputamos a eleição. os dias na mesa dos brasileiros, a agricultura familiar
Essa trajetória permitiu a ascensão para na década de garante a diversidade das culturas. Os agricultores fa-
1990 ser eleito coordenador do Departamento Estadual miliares povoam o meio rural, cuidam dos recursos
de Trabalhadores Rurais da (CUT/RS). Também fui Se- naturais, como água, solo e matas, são responsáveis
cretário Geral do Departamento Nacional dos Trabalha- pela soberania alimentar nacional e pelo equilíbrio
dores Rurais da CUT, Vice-Presidente Nacional e Secre- da balança comercial, já que a agricultura de grande
tário de Formação da mesma entidade, onde contribui porte tem olhos voltados quase que totalmente à ex-
na implementação dos maiores programas de formação portação.

152 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Marcelo Bertani/AL-RS
Deputado Estadual Altemir Tortelli

De acordo com o deputado, vale destacar que a agri- mílias, investimentos em infraestrutura, como estradas
cultura familiar é responsável por 27% do Produto In- de qualidade. É preciso também investimentos em for-
terno Bruto (PIB) no RS e produz 89% do leite, 74% do mação e capacitação por meio de tecnologias adequadas
milho, 58% da soja, 74% das aves, 71% dos suínos e 38% e voltadas à realidade da agricultura familiar. A educação
dos bovinos, por exemplo. Dos 441 mil estabelecimentos tem que ser identificada ao meio no qual os agricultores
rurais no Rio Grande do Sul, 378 mil são de agricultores vivem, com a oferta de internet de qualidade, novas tec-
familiares, ou seja, cerca de 85% do total. nologias e lazer. Também necessitamos ampliar investi-
“É preciso lembrar que a maioria dos municípios mentos na questão da saúde ofertadas aos agricultores”.
gaúchos é de pequeno porte e tem nesse modelo a prin-
cipal fonte econômica. Desse modo, o fim de agricultura Incentivos para a mulher agricultora
familiar pode representar o fim da soberania alimentar, Tortelli destaca que as ações citadas também con-
problemas econômicos sérios e o aumento de custos ao templam as agricultoras familiares, mas pode-se ir além.
consumidor, que ficará refém de grandes grupos econô- “Precisamos romper a barreira do preconceito e ampliar
micos”, pontua. a participação das mulheres na gestão da propriedade,
nos espaços de integração e também de convivência.
Permanência no campo Também temos que ampliar de quatro para seis meses
Conforme Tortelli, para que o homem permaneça no a Licença Maternidade para as agricultoras familiares”.
campo podem ser criados programas de conscientização Para o deputado, é preciso lembrar que a mulher do
sobre a importância da agricultura familiar e mostrar campo exerce função dupla e até tripla, cuidando dos afa-
que o meio rural é um lugar bom para se viver, com qua- zeres domésticos e trabalhando na roça, além de muitas
lidade.“Também precisamos da criação de políticas que terem envolvimento em movimentos sociais, sindicatos,
deem condições de ampliação de renda para os agricul- cooperativas. “Aumentar o tempo da Licença Maternidade
tores, além de um programa de fortalecimento da ener- é aumentar a proximidade entre a mãe e o bebê. Outra luta
gia elétrica no campo que atenda as necessidades das fa- é pela agilização nos processos de previdência social. Em

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 153


Políticas Públicas mentados em suas propriedades. Uma das alternativas
ao atual sistema é o modelo conhecido como ‘pedagogia
Para que as políticas públicas auxiliem no da alternância’. Nele os alunos passam por períodos de
crescimento do setor da agricultura familiar, formação nas escolas, alternados com períodos de traba-
Tortelli ressalta que isso acontece fomentando os lho na propriedade da família.
debates e construindo alternativas viáveis para “Mais de 80% dos alunos que passam por esse tipo de
o crescimento e fortalecimento do setor. Ainda, formação continuam no campo, evitando assim, o êxodo
subsidiando financeiramente a agricultura fami- rural e contribuindo com o futuro da agricultura familiar
liar através de programas de expansão e diversifi- e a produção de alimentos. Para isso protocolamos nosso
cação, com construção de cadeias produtivas. Projeto de Lei 297/2011, que prevê o incentivo à formação
“Nos últimos anos tivemos muitas conquis- de jovens através da Pedagogia da Alternância. Nela o pla-
tas, como aposentadoria rural, garantia de assis- no de estudos busca relacionar as áreas do conhecimento
tência técnica, seguro agrícola, Programa Nacio- de forma interdisciplinar. Alterna o processo de conheci-
nal de Fortalecimento da Agricultura Familiar mento de acordo com o calendário agrícola. Isso possibili-
(Pronaf), Programa de Aquisição de Alimentos ta que o aluno experimente em sua propriedade, de forma
(PAA), entre outras, que beneficiam a pequena prática, a teoria aprendida em sala de aula. Nesse processo
agricultura, garantem bons preços e ajudam a os estudantes são sujeitos ativos, protagonistas”.
manter as famílias no campo. Do mesmo modo, Segundo Tortelli, o jovem também precisa ter mais
também conquistamos políticas de habitação espaço no processo de gestão da propriedade e incenti-
com subsídios importantes. No entanto, preci- vos para desenvolver projetos inovadores de produção de
samos ampliar as políticas para que possamos alimentos. “Um desses incentivos é o Bolsa Jovem, uma
ajudar a agricultura familiar a gerar renda, em- pauta que trabalhamos nos tempos da Federação Nacio-
prego e produzir riquezas para o campo”. nal dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura
Familiar (Fetraf-Sul) e durante todo nosso primeiro ano
de mandato na Assembleia e discutimos com o Governo.
diversos casos, mulheres do campo são prejudicadas pela Felizmente o governador Tarso Genro compreendeu e
demora na busca do auxílio-doença. É necessária a criação atendeu essa necessidade. Trata-se de um recurso men-
de políticas específicas de capacitação das agricultoras e sal destinado aos jovens. Parte fica para o uso do estu-
possibilitem a autonomia financeira da mulher. Ainda pre- dante, e a outra parte ficará na poupança para que ele
cisamos agir no combate à violência no meio rural, que em possa aplicar em projeto na propriedade onde vive, por
muitos casos possui números superiores ao meio urbano”. meio de monitoramento técnico da escola”.

incentivo à permanência no campo Qualificação


“Quando falamos de políticas de incentivo à perma- De acordo com o deputado, a qualificação no campo
nência do agricultor no campo, falamos de ações para tem sido tratada de maneira fragmentada por meio de
jovens, homens e mulheres. Mas claro que a questão da diversos órgãos. “Por isso, precisamos que essa capaci-
juventude é uma grande preocupação, afinal, qual será tação seja ofertada de maneira articulada entre Estado,
nosso futuro que não houver mais jovens no interior? Por sindicatos, cooperativas e outros órgãos ligados à agri-
isso, uma das principais necessidades é o Estado ofertar cultura familiar. Precisamos, como destacado nas outras
uma educação voltada aos interesses do jovem do campo. respostas, ofertar uma educação específica e voltada à
É construirmos um pacto por uma nova educação no meio realidade dos agricultores familiares, uma educação que
rural. O conteúdo oferecido no interior não é condizente propicie o fortalecimento do setor, com geração de em-
com a realidade, com a cultura da agricultura familiar”. prego, renda e riqueza no campo. Precisamos de um pac-
Para o deputado é preciso que o educando se quali- to com formação continuada, que permeie a educação
fique em atividades rurais e adquira habilidades neces- infantil, fundamental e médio-técnico, de forma institu-
sárias para desenvolver projetos que possam ser imple- cional”, conclui Tortelli. ◆

154 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 155
Assessoria/ Edegar Pretto
Deputado Estadual Edegar Pretto

Qualidade de
vida no campo
Promover um desenvolvimento rural pautado nas demandas
dos pequenos agricultores e movimentos do campo não será
apenas vitória dos movimentos sociais organizados do campo e
agricultores familiares, mas da sociedade gaúcha como um todo
156 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
O
líder da Bancada do PT na Câmara e autor Permanência no campo
do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Para incentivar a permanência do agricultor familiar
Agroindustrial (Susaf), deputado estadual no campo, Edegar ressalta que sua proposta de trabalho
Edegar Pretto (foto), destaca que a agricultura familiar é baseada numa alternativa econômica para a permanên-
é a base produtiva responsável por 70% dos alimentos cia dos agricultores familiares no meio rural e construção
produzidos no Brasil. A produção é oriunda de pequenas de um novo modelo de desenvolvimento sustentável que
propriedades com até 100 hectares e deve ser fomentada passa pela geração de renda, condições para produção e a
e diversificada, com a observância de condutas que ga- inclusão social. “O Susaf-RS é pioneiro para sistematizar
rantam a sanidade e sustentabilidade. uma atividade que vem se consolidando e expandindo-se,
“Sabemos que os consumidores têm preferência es- no espaço rural, e que passa a ganhar atenção das políticas
pecial pelos produtos da agricultura familiar, pois são públicas pela capacidade de promover um desenvolvimen-
produtos com qualidade e sabor. Quando associada à to rural pautado nas demandas dos pequenos agricultores
tradição, à natureza e ao artesanal, a agricultura fami- e movimentos do campo. É necessário atender a sociedade
liar torna-se competitiva e estratégica. Desta forma, com uma alimentação de maior qualidade, gerando renda e
quando nos referimos a Agroindústria Familiar Ru- promovendo a cidadania, mas sem descuidar da sanidade e
ral, entendemos que o processo terá por prioridade o segurança alimentar. Com novas oportunidades, a sucessão
emprego da força de trabalho familiar para qualificar familiar renderá bons frutos. Estamos na luta para fortale-
a produção e abrir novos espaços no mercado. Mensu- cer e preparar o futuro do campo, e a agricultura familiar
rar a qualidade de vida no campo implica fortalecer as têm grande importância neste processo. O resultado do que
agroindústrias familiares”. plantarmos agora não será apenas vitória dos movimentos
sociais organizados do campo e agricultores familiares, mas
Políticas públicas da sociedade gaúcha como um todo”, conclui. ◆
Para o deputado as políticas públicas influem direta-
mente na transformação do espaço rural. “Baseado nesse
pensamento, apresentei na Assembleia Legislativa meu

Marcelo Curia/ MDA


primeiro Projeto de Lei para valorizar o trabalho dos
agricultores familiares e abrir um novo debate acerca da
importância da atividade das agroindústrias familiares
para a economia do estado”, destaca Edegar.
O projeto que institui o Sistema Unificado Estadu-
al de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de
Pequeno Porte (Susaf-RS), foi aprovado, sancionado e
regulamentado, atendendo apelo social de movimentos
sociais organizados do campo e da cidade. Pela relevân-
cia do assunto, o projeto foi considerado um dos mais
importantes apresentados e discutidos no parlamento
gaúcho nos últimos tempos.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE), existem mais de oito mil
agroindústrias familiares no Rio Grande do Sul, destas,
pouco mais de 500 possuem inspeção sanitária em dia.
É tarefa trabalharmos para viabilizar e facilitar a per-
manência das famílias no campo. Estamos nessa luta
em nome da consolidação da agricultura familiar e da
busca de políticas diferenciadas para quem investe na
produção de alimentos.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 157


Assessoria/Zé Silva
Prioridade
no debate
nacional Deputado Federal Zé Silva

Protagonismo dos agricultores familiares


Consolidar a agricultura familiar torna-se prioridade no
debate nacional através da Frente Parlamentar da Assistência
Técnica e Extensão Rural

O
presidente da Frente Parlamentar da Assis- Congresso Nacional para tratar dos temas da agricultura
tência Técnica e Extensão Rural, deputado familiar. Com isso, conseguimos colocar também no de-
federal Zé Silva (PDT), afirmou que seriam bate algumas das questões que mais afligem a agricultura
alargados os espaços democráticos para o protagonismo familiar, como o crédito rural, as dívidas rurais, a deman-
dos agricultores familiares. da de universalização da assistência técnica e extensão ru-
ral, a dinâmica e necessidade de mudanças em programas
Conquista importantes como o Programa de Aquisição de Alimen-
“A primeira conquista foi consolidar a agricultura fa- tos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar
miliar como um dos temas na pauta de prioridades do (Pnae), entre outros. Também conseguimos aprovar na
debate nacional. Outra conquista fundamental e histórica Política Nacional de Irrigação um artigo que coloca a agri-
é a criação da Subcomissão de Agricultura Familiar e Ex- cultura familiar como segmento prioritário para políticas
tensão Rural, uma vez que até então na vida democrática públicas de irrigação”, ressalta o deputado lembrando que
brasileira não tínhamos uma estrutura oficial dentro do esses são alguns dos avanços alcançados no Congresso.

158 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Políticas sociais debatido aqui no Congresso, aprovado por unanimida-
Para que o homem do campo conquiste todo o acesso de pela Comissão de Agricultura, será uma das nossas
a políticas sociais e atendimento aos seus direitos de cida- grandes contribuições para essas transformações so-
dania, Zé Silva ressalta que a causa defendida no Congres- ciais em nosso País, com o fortalecimento do campo e
so Nacional é que o campo tenha os mesmos direitos que da agricultura familiar”, destaca.
as cidades. “No modelo de desenvolvimento que orientou
nosso País, sobretudo em décadas passadas, fez com que o Agricultura familiar gerando empregos
campo estivesse sempre atrás, principalmente de políticas Para o deputado federal, a agricultura familiar é um
sociais. A melhor escola está na cidade, assim como espa- setor que gera sete em cada 10 empregos, produz 70%
ços para as pessoas praticarem esportes, acesso a energia dos alimentos que estão na mesa da população brasileira,
elétrica, a internet, entre outros”, pontua. e que também preserva as tradições e culturas do Brasil.
Segundo o deputado, a maior lacuna a ser preenchida “Nossa organização, no Congresso Nacional, tem o papel
é zerar o déficit de políticas sociais no meio rural. Para o fundamental de garantir que todos os segmentos ligados
presidente da Frente Parlamentar da Assistência Técnica à agricultura sejam ouvidos e, a partir daí, com a pro-
e Extensão Rural, o campo precisa dessas políticas e in- posição de leis e regulamentos, fazer as mudanças para
fraestruturas sociais, tanto quanto as cidades. “Para es- consolidar a agricultura familiar como principal setor de
sas demandas, tratando de tudo isso de forma abrangen- geração de emprego e renda e justiça social no campo”. ◆
te, propusemos e está em tramitação na Câmara nosso
Projeto de Lei PAC Rural, destinando recursos do Fundo Raízes no campo
Social do Pre-Sal para essas políticas e infraestruturas
sociais no campo”, afirma. Com suas raízes na agricultura familiar, Zé
Silva defende uma causa de transformação social
Direitos do agricultor familiar a partir do homem e das condições de trabalho
Para Zé Silva a Frente Parlamentar da Assistência no campo. “Temos convicção de que é o momento
Técnica e Extensão Rural e a Comissão da Agricultura da mais estratégico vivido pela agricultura familiar,
Câmara Federal podem contribuir para que esses direitos de reconhecimento da sociedade, de protagonis-
do agricultor familiar sejam alcançados. “Nós podemos e mo, de conquista de espaço na pauta do debate
estamos levando essas questões em todos os debates no nacional. Mas, ao mesmo tempo é o momento
Congresso Nacional, chamando a sociedade e as organiza- que nos traz muita responsabilidade, para nós
ções rurais para esse diálogo e a busca de soluções trans- do Legislativo, para os que estão no Poder Exe-
formadoras para esses desafios. Pensamos que a aprovação cutivo, em garantir que as conquistas sociais que
e implementação do PAC Rural é fundamental nesse pro- estão nas cidades possam chegar também ao
cesso de mudanças, será um novo paradigma para nosso campo. Esse é um dos caminhos para um Brasil
desenvolvimento, um sinal claro para uma nova história”, com mais segurança, com menos violência, um
declara o deputado. país mais justo e igualitário. Eu vejo um futuro
Segundo Zé Silva, também foi discutido e aprovado muito promissor, onde as gerações futuras terão
a criação de uma entidade nacional para coordenação oportunidades para viver no campo, com uma
das atividades de assistência técnica e extensão rural, juventude sem a necessidade de sair do meio ru-
uma ferramenta indispensável para o desenvolvimento ral para procurar um sonho e às vezes esse sonho
sustentável rural. “É de conhecimento que dos cerca de virar pesadelo. Eu vejo nesse momento como es-
quatro milhões de agricultores, apenas 1,6 milhão tem pecial, estratégico, de avanços e conquistas, espe-
assistência técnica e extensão rural. E não será possí- cialmente no espaço da agricultura familiar, cada
vel reduzir a pobreza, a fome, as desigualdades entre vez mais reconhecida como um setor estratégico
as regiões e as pessoas, se o conhecimento gerado pelas para a geração de emprego, renda e qualidade de
universidades e instituições de pesquisas não chegar vida”, conclui.
aos agricultores. A criação dessa entidade, um tema

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 159


O papel dos
imigrantes
na agricultura familiar
Para historiador, a agricultura familiar vem como grande estratégia
de negócio que irá refletir positivamente em todos os setores da
sociedade, descentralizando riqueza e renda, articulando todas as
cadeias produtivas na cidade, além da soberania na questão alimentar

N
ão há como dissociar a história da imigração História e conceito
no Brasil com da agricultura, especialmente Segundo o professor de História Agrária da Universi-
com a agricultura familiar. Pode-se conside- dade Federal da Fronteira Sul de Erechim (UFFS), Emer-
rar o início da imigração no Brasil a data de 1530, pois foi son Neves da Silva, o termo ‘agricultura familiar’ que
a partir deste momento que os portugueses vieram para se utiliza atualmente é relativamente novo e vem sendo
o país. Porém, a imigração intensificou-se a partir de usado nos últimos 30 anos, mas a atividade de agricultu-
1818, com a chegada dos primeiros imigrantes durante ra de subsistência é milenar e está registrada na história
a regência de D. João VI. Devido ao enorme tamanho do desde a formação das civilizações. “A idéia da agricul-
território brasileiro e ao desenvolvimento das plantações tura familiar hoje, tem sua base naquela agricultura de
de café, a imigração teve uma grande importância para o subsistência desse antepassado histórico, de não ter o
desenvolvimento do país, no século XIX. componente capitalista e ser voltada para a produção das
A colonização foi o objetivo inicial da imigração no famílias e dos grupos, basicamente de subsistência, feita
Brasil, visando ao povoamento e à exploração da terra em pequenas propriedades”, pontua.
por meio de atividades agrárias. A criação das colônias O conceito de agricultura familiar que se trabalha
estimulou o trabalho rural. Deve-se aos imigrantes a im- hoje, de acordo com o professor, surge para se diferenciar
plantação de novas e melhores técnicas agrícolas, como da agricultura em grande escala a partir da década de 70,
a rotação de culturas, assim como o hábito de consumir quando o Brasil passa pelo processo de modernização da
mais legumes e verduras. A influência cultural do imi- agricultura, baseado na industrialização de toda a cadeia
grante também é notável. produtiva. “Nesse sentido surgiam às produções em gran-

160 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Jornal Bom Dia
Produção Sustentável

Uma das principais discussões que se tem


no sistema agrário é fazer uma produção agrí-
cola levando em consideração a questão am-
biental utilizando um modelo produtivo que
preserve os recursos. “Isso é um dos grandes
diferenciais dos dois modelos de agricultura. A
familiar se destaca, além de tudo, por ter seu
modelo de gestão da propriedade baseado na
preservação ambiental, com iniciativas ligadas
com a relação do produtor com o meio onde
vive”, salienta Emerson, lembrando da identi-
ficação que o pequeno produtor mantém com
o seu meio.
“Trazendo sob a ótica da colonização tere-
mos uma agricultura familiar dentro desse his-
tórico, com o fator da colonização e preservação
da identidade regional que pode confluir para
uma prática de agricultura que tenha uma con-
cepção socioecológica, preocupada com a pre-
servação do meio ambiente e ligada às questões
da economia local diretamente, além da preocu-
pação com o bem estar da população da cidade
como do próprio campo”, ressalta.
Professor de História Agrária Emerson da Silva

de escala e os pequenos produtores, para se diferenciar, e econômico do Brasil. “Todo processo agrário do século
passam a integrar e formar o conceito de agricultura fami- XIX dos povos da Europa que vem justamente colonizar,
liar, produzindo para a subsistência da família e vendendo tem seu foco produtivo na agricultura familiar. Esses
o excedente para o mercado”, explica Emerson. imigrantes se inserem num processo de colonização e de
“Hoje podemos dizer que a agricultura familiar, além posse das terras, que de certa forma é uma espécie de re-
de produzir cerca de 70% dos alimentos que abastecem o forma agrária, não no sentido clássico do termo, mas um
país, é responsável pela melhoria na qualidade de vida da processo de territorialização, onde esses imigrantes vão
população urbana”, ressalta o professor que exemplifica o se constituir com uma produção baseada na subsistência
pós-guerra na Europa que utilizou-se da agricultura fa- e para venda em circuitos locais de comercialização. Isso
miliar, gerando renda, mantendo a população no campo possibilitou, em algumas décadas, o acumulo de capitais
e trazendo alimentos de custo acessível para a popula- gerando crescimento de todo setor da indústria, comér-
ção urbana, investindo no modelo da pequena produção cio, serviços, que surgiu a partir da geração de renda, re-
como estratégia para enfrentar a situação de crise. sultado da produção dessa agricultura que os imigrantes
protagonizaram”, pontua.
Importância da colonização “Na nossa região do Alto Uruguai isso é percebi-
Conforme o professor de História Agrária, em rela- do quando da chegada das famílias de imigrantes, que
ção à importância da colonização sempre se fala que a re- tomaram posse das terras, criando zonas de produção
forma agrária é uma saída para o desenvolvimento social formando o contorno da região com as várias etnias que

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 161


vieram, firmaram-se no local, dando origem às cidades, Políticas Públicas
à produção e todo entorno social que se tem hoje”, des-
taca o professor. Segundo o professor, para que o Brasil chegue
ao patamar da agricultura familiar é preciso que as
Papel dos imigrantes políticas públicas não sejam somente compensató-
Em relação ao papel que a imigração representa na evo- rias, é preciso que as políticas fomentem, articulem
lução histórica da agricultura, Emerson é enfático ao afir- e estimulem a agricultura familiar. A grande ques-
mar que é de extrema importância porque a agricultura é tão hoje, para o historiador, é como o agricultor
feita pelos trabalhadores, pelos colonos que tem sua descen- familiar irá avançar na produção, aumentar a ren-
dência nos imigrantes que vieram para o Brasil. A agricul- da e conseguir com que os filhos dos agricultores
tura, segundo ele, é uma atividade praticamente inerente a fiquem no campo. “Um dos principais dramas da
organização social, sendo que uma das primeiras atividades agricultura familiar é a questão da sucessão, é pre-
é a produção agrícola. “O que vai mudar com o passar dos ciso políticas pontuais que ataquem a fonte do pro-
anos é a cultura, território, mas a agricultura vai ser a recor- blema, qualificando o jovem e criando condições
rência na história da humanidade”, declara. para que a juventude perceba que é possível produ-
Um fato destacado por Emerson e que mudou sig- zir, com incentivo, aumento de renda, garantia de
nificativamente a questão da agricultura é o advento do dignidade e qualidade de vida no campo”, destaca.
capitalismo. “Enquanto o capitalismo se desenvolve, Estudos comprovam que para gerar emprego
de 1950 em diante, a utilização da agricultura familiar e renda, uma das estratégias é o investimento, por
vem como uma das estratégias para sair do pós-guerra parte dos governos, no incentivo à agricultura fa-
e superar a crise. Foi quando aconteceu a famosa Re- miliar, fixando o jovem no campo e trazendo de
volução Verde, onde todos os avanços tecnológicos nas volta para trabalhar na agricultura aquele produ-
indústrias vão ser empregados na produção agrícola”, tor que saiu de suas propriedades para viver no
afirma o professor. meio urbano. Conforme demonstrou em sua aná-
Para Emerson os avanços são destinados para a lise, Emerson confirma que a agricultura familiar
condição do lucro das agroindústrias e do aumento da é um grande negócio que irá refletir positivamen-
produção. “Nesse sentido, o pequeno e o médio agricul- te em todos os setores da sociedade, descentrali-
tor passam por um processo de proletariado, onde em zando riqueza e renda, articulando todas as ca-
algumas áreas houve o aumento da pobreza no campo, deias produtivas na cidade, além da soberania na
sendo que boa parte das políticas públicas estavam vol- questão alimentar.
tadas para a grande propriedade que estava em conso-
nância com a Revolução Verde”, enfatiza.
e demonstra que esse modelo de gestão rural dá certo e só
Legado da imigração tem a contribuir para o desenvolvimento socioeconômico.
O grande legado que os imigrantes deixaram para a Outra contribuição significativa dos imigrantes para a
agricultura familiar é a importância e o papel imprescin- agricultura familiar no país está relacionada ao coopera-
dível que a produção rural representa. A população que tivismo, que surgiu na Europa e que foi trazido pelos co-
veio para o Brasil trabalhava fortemente na questão da lonos para o Brasil. “O Rio Grande do Sul é o estado onde
agricultura, pois a sua grande maioria veio com experi- a experiência do cooperativismo trazida pelos imigrantes
ência no setor adquirida em seu país de origem. “Os imi- são pioneiras”, declara Emerson frisando que a região do
grantes possibilitaram, de certa forma, uma organização Alto Uruguai utilizou-se do modelo do cooperativismo,
econômica nas regiões. Não é coincidência que muitas criando relações de parceria para potencializar a agricul-
indústrias e empreendimentos de sucesso que surgiram, tura familiar. “A nossa região é um marco para a história
tiveram sua origem em experiências produtivas construí- da imigração. Aqui, as cidades, o meio rural e todo desen-
das pelos colonos”, frisa o historiador lembrando que a re- volvimento social, econômico, ambiental, prosperaram
gião do Alto Uruguai é vanguarda na agricultura familiar potencializando a força da agricultura familiar”, conclui. ◆

162 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Estabilidade macroeconômica
depende da agricultura familiar
Do ponto de vista macroeconômico, o
Brasil fez uma opção por um modelo de

Divulgação
desenvolvimento em que a agricultura familiar
tem lugar estratégico. Além disso, é um setor de
oportunidades de gerar emprego e renda
Deputado Federal Afonso Florence

P
ara o deputado federal Afonso Florence (PT/ ma de Aquisição de Alimentos (PAA). Também não
BA), - que ocupou o cargo de ministro do podemos deixar de lembrar o incentivo governamental
Desenvolvimento Agrário no governo Dilma ao cooperativismo solidário, que promove a organiza-
-, “quando a agricultura familiar é incentivada, o preço ção da produção com autonomia econômica e cria ou-
dos alimentos fica contido e, por consequência, con- tro modelo de produção e de distribuição da riqueza.
tem-se também a inflação. Percebemos que a estabili- Portanto, o conjunto de políticas públicas efetivas permi-
dade macroeconômica depende da agricultura familiar.” tiu a estimativa de que dos 28 milhões de homens e mu-
Além disso, estamos em um país que cresce, distribuin- lheres que saíram da faixa da pobreza e da pobreza extre-
do renda social, setorial e regionalmente. Os agricultores ma, 4,8 milhões vieram da zona rural. Diferentemente do
familiares compõem, no campo, parte importante do que muitos pensam, a distribuição de renda no país não
mercado consumidor brasileiro. São alguns milhões de é feita apenas pelo Bolsa Família. O incremento na renda
homens e mulheres que ascendem gradualmente para trabalho é muito importante. As pessoas do campo estão
classe média garantindo e aumentando, nas diferentes produzindo mais e vendendo mais.
regiões, a demanda por bens e serviços. “Acredito que a consolidação e ampliação das políticas
As políticas públicas já têm auxiliado através das ações de crédito e assistência técnica são o caminho a ser trilha-
do Ministério de Desenvolvimento Agrário, em particular, do. Assim como o crescimento do mercado institucional
com a disponibilização e ampliação de recursos que foram e a implantação do Sistema Único de Atenção à Sanidade
destinados ao crédito agrícola com subsídios através do Agropecuária (Suasa), que permite a legalização e imple-
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fa- mentação de novas agroindústrias, o que facilita a comer-
miliar (Pronaf), do Mais Alimentos e a reestruturação da cialização dos produtos industrializados localmente no
assistência técnica rural, que tinha sido extinta no Brasil. mercado formal em todo o território brasileiro,” explica. ◆
A partir do governo Lula, a assistência técnica pública e
gratuita aos agricultores familiares, aos assentados da re-
forma agrária tem permitido o acesso a procedimentos
que lhes permitem mais produção e mais produtividade.
Outra política que beneficiou o setor foi a implemen-
tação do mercado institucional com o Programa Na-
cional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Progra-

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 163


Desafios da agricultura familiar
Presidente da Contag declara que para um país crescer é
imprescindível proteger, cultivar e fortalecer um modelo de
desenvolvimento rural baseado no fortalecimento da sua
agricultura familiar

A
Confederação Nacional dos Trabalhadores mais de 15,7 milhões de homens e mulheres do campo e
na Agricultura (Contag) completará 50 anos da floresta, que são agricultores familiares, acampados e
de fundação em 22 de dezembro de 2013. assentados da reforma agrária, assalariados rurais, me-
Atualmente, as 27 Federações de Trabalhadores na Agri- eiros, comodatários, extrativistas, quilombolas, pescado-
cultura (FETAGs) e mais de quatro mil Sindicatos de res artesanais e ribeirinhos.
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTRs) filiados Para o presidente da Contag, Alberto Ercílio Broch, a
compõem o Movimento Sindical de Trabalhadores e Tra- agricultura familiar é responsável por garantir alimentos
balhadoras Rurais (MSTTR), que luta pelos direitos de saudáveis e de qualidade na mesa de brasileiras e brasi-

Presidente da Contag, Alberto Ercílio Broch

Agência Brasil

164 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


leiros, tanto que 70% da produção de alimentos consu-
midos provêm deste setor. “É por isso que a Agricultura
Familiar é reconhecida como promoção do desenvolvi-
mento local com sustentabilidade econômica, social e
cultural. Gera postos de trabalho em número bem maior
que a agricultura empresarial, se preocupa com a sus-
tentabilidade socioeconômica e ambiental e preserva as
tradições e os costumes locais”, declara.
De acordo com informações da Contag, os desafios
da agricultura familiar para atender a demanda por ali-
mentos saudáveis e em quantidade são muitos, a come-
çar pela renda. “Sem uma renda que garanta vida digna,
as famílias continuarão abandonando o meio rural. A
insuficiência de investimentos em infraestrutura pro- ção da Produção (Siscop), entendendo que o cooperati-
dutiva, de beneficiamento, armazenamento, transportes vismo e o associativismo são os meios mais apropriados
e preços remuneradores, bem como o acesso a políticas para se alcançar sustentabilidade social, econômica e
públicas de cunho social como saúde, educação, previ- ambiental. “Sem estar organizada a agricultura familiar
dência e transporte públicos, são fatores decisivos para terá muito mais dificuldades de se fortalecer e continuar
a permanência das pessoas no campo”, pontua Alberto. a existir”, afirma o presidente.
Por outro lado, o presidente da Confederação destaca Para o Movimento Sindical, a agricultura familiar é
que é necessário aprofundar conhecimentos sobre siste- a melhor forma de promover a inclusão e o desenvolvi-
mas de produção que proporcionem melhoria contínua mento com sustentabilidade do campo, garantindo pro-
das condições de vida de agricultores familiares garan- dução de alimentos com qualidade e em quantidade para
tindo renda e sustentabilidade ambiental, de modo que atendimento à demanda da população. Neste sentido a
todas as potencialidades do estabelecimento de produ- Secretaria de Política Agrícola da Contag atua fortemen-
ção possam ser aproveitadas sem prejuízos à natureza. te na elaboração, negociação e difusão de políticas púbi-
“Já está totalmente comprovado que a agricultura fa- cas e programas destinados à agricultura familiar.
miliar consegue conviver com a produção de alimentos e Conforme Alberto, a agricultura familiar é tema de
com a preservação do meio ambiente porque o agricultor um debate que precisa permear na sociedade. “Envolver
é o primeiro interessado de que a sua fonte de provento a todos é imprescindível para que possamos continuar
não seque. Posso dizer ainda que onde temos uma forte aperfeiçoando, discutindo e valorizando um desenvolvi-
inserção da agricultura familiar temos um desenvolvi- mento realmente sustentável do ponto de vista econômi-
mento local territorial muito mais pujante e equilibrado, co, social, ambiental e cultural ligado a um processo de
fazendo com que aconteça nesse território o que chama- soberania e segurança alimentar”.
mos muitas vezes de multifuncionalidade da agricultura. Segundo a Contag, ao longo desses anos foi con-
Ou seja, nós temos esse espaço territorial que, além da quistado um conjunto de políticas públicas, mas há ne-
produção de alimentos, temos o desenvolvimento das cessidade de ampliação, adequação e mudanças destas
nossas agroindústrias, da geração de empregos rurais políticas, visando atender as demandas e o protagonis-
não-agrícolas, das pessoas se envolvendo nos territórios, mo dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e sua pro-
nas comunidades e que vai muito mais além da produção jeção na sociedade.
de alimentos”, ressalta o presidente da Contag. Por fim, o presidente ressalta que a Confederação
Para a Confederação, estes resultados somente serão é referência no país na luta pela construção de uma
alcançados se as famílias estiverem organizadas estrate- sociedade mais justa, democrática e igualitária; e na
gicamente. Com essa finalidade, o Movimento Sindical defesa permanente dos interesses dos trabalhadores e
desenvolve a estratégia do Sistema Contag de Organiza- trabalhadoras rurais. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 165


O
Programa, considerado um dos que milhões de hectares), alcançando um valor bruto
mais tem beneficiado os agriculto- de produção estimado em R$ 705 milhões.
res do Estado é o Troca-Troca de Em 2011 e 2012, o valor disponibilizado pelo
Semente de Milho, coordenado pela Secretaria Estado para o Programa Troca-troca de Sementes
de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativis- de Milho, incluindo o subsídio e a anistia, foi de
mo (SDR) do Governo do Estado do Rio Grande R$ 38,9 milhões, em convênio com 638 prefeitu-
do Sul – Departamento de Agricultura Familiar ras e sindicatos, beneficiando 215 mil agricultores
(DAF), sendo executado por linha de crédito do familiares. A quantidade de sacas disponibiliza-
Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento das foi de 706.420.
dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper).
De acordo com o secretário de Desenvolvi- Público beneficiado
mento Rural, Pesca e Cooperativismo, Ivar Pavan, O Programa é destinado a agricultores fami-
o Troca-Troca facilita a aquisição de sementes liares com posse ou propriedade de até quatro
para a formação de lavouras em pequenas pro- módulos fiscais, quantificados segundo a legisla-
priedades rurais. O agricultor interessado no ção em vigor, na área dos Campos de Cima da Ser-
Programa deve procurar o sindicato, associação ra e na região da Metade Sul e atinge produtores
ou prefeitura correspondente para que a entidade com até 300 hectares. Além disso, os agricultores
realize o levantamento da demanda e a exponha deverão se enquadrar nas seguintes condições:
junto à SDR. “Trata-se de uma estratégia para —— Obter, no mínimo, 70% da renda familiar da
unir crescimento econômico e desenvolvimen- exploração agropecuária do estabelecimento;
to rural sustentável, já que facilita a diversidade —— O trabalho familiar deve ser predominante
de cultivos. Esta medida está incluída no Plano na exploração do estabelecimento, podendo
Safra-RS, anunciado no início de julho de 2012”, manter até dois empregados permanentes,
lembra o secretário. admitindo-se eventual utilização de mão de
obra de terceiros de acordo com a exigência
Culturas atendidas sazonal da atividade;
Entre todas as culturas atendidas pelo Progra- —— A renda bruta familiar deve alcançar até
ma, o milho responde por 1/3 da área plantada R$110 mil, incluída a renda proveniente de
do Estado (360 mil hectares, de um total de 1,09 atividades desenvolvidas no estabelecimento

Programa Troca-Troca
de Sementes de Milho
Rio Grande do Sul se destaca através do Programa que facilita
a aquisição de sementes para a formação de lavouras em
pequenas propriedades rurais
166 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
MAIS ALIMENTOS

e fora dele, por qualquer membro da família, De acordo com o secretário, o programa objetiva
excluído benefício e provento previdenciário possibilitar ao agricultor a aquisição de sementes de
decorrente de atividade rural; qualidade, com limite de até três sacas por agricul-
—— Será rebatida em 50% a renda bruta prove- tor, melhorando a qualidade e produtividade das la-
niente de: avicultura não integrada, pecuária vouras de milho e, conseqüentemente, o acréscimo
leiteira, piscicultura, olericultura e suinocul- na produção do estado do Rio Grande do Sul.
tura não integrada. A ação é desencadeada com a oferta pelas em-
presas fornecedoras da relação dos produtos (se-
Desde 1988, o Governo do Estado viabiliza, mentes), recomendadas ao plantio segundo o zone-
através do Feaper, a título de financiamento sub- amento agrícola. Na continuidade, por meio do site
sidiado, sementes recomendadas por portaria do Fepaer – www.feaper.rs.gov.br, as prefeituras, os sin-
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci- dicatos e as associações conveniadas, tem acesso aos
mento (Mapa). A portaria estabelece o zonea- produtos/sementes que estarão disponibilizadas.
mento agrícola para o Estado e, entre as sementes “É importante informar que a pesquisa de
indicadas, o agricultor leva em conta o clima, o campo e a consolidação das informações dos pe-
tipo de solo e a época de plantio para escolher a didos feitos pelas entidades eram de forma ma-
semente que melhor preenche o seu interesse. nual, demandando grande carga de trabalho à
Nesta ação de Governo, participam a Secreta- coordenação do Programa. A partir da edição de
ria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperati- 2009, o Troca-troca foi informatizado, significando
vismo (SDR), por meio da Coordenadoria do Fe- celeridade e qualidade no processo. Já na edição
aper, como executora, a Emater, responsável pela de 2012/2013, da Safra e Safrinha, a Secretaria de
assistência técnica aos produtores e as entidades Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo
representativas de classe, que são os sindicatos de (SDR) viabilizou orçamento para atender demanda
Trabalhadores Rurais, FETAG (Federação dos histórica das entidades. Com isso, cada agricultor
Trabalhadores na Agricultura), prefeituras, asso- pode acessar até três sacas”, ressalta o secretário.
ciações de produtores, Federação dos Trabalha- De acordo com Ivar Pavan, também foi mo-
dores na Agricultura Familiar (FETRAF/Sul) e dificada a relação documental entre o Estado e as
cooperativas, todos identificados como os parcei- entidades participantes. O Decreto Lei Nº 49.352,
ros do Programa. de 10.07.12, criou e regulamentou o “Termo de Co-
operação para Adesão ao Programa Troca-Troca de
A troca Sementes”, documento que tem validade de cinco
O agricultor familiar financia um quilo de anos e que dá rapidez a realização do programa.
semente e fica comprometido a devolver, na co- Após consulta aos agricultores, as instituições
lheita (prazo safra), onze quilos de milho comum, cadastram o pedido com as quantidades e varieda-
quando se tratar de semente de híbrido e oito qui- des que necessitam. Quanto aos cultivares/produ-
los, quando milho variedade. “Ele realiza a de- tos que serão financiados ressalta-se que quem os
volução transformando o seu débito em moeda escolhe é o próprio agricultor e os seleciona segun-
corrente, tendo como indexador o preço mínimo do a sua experiência pessoal, levando em conta o
do milho, estipulado pelo Governo Federal. Para clima, o tipo de solo e a época de plantio, receben-
a Safra e Safrinha 2012/2013, o valor do preço mí- do a orientação dos técnicos da Emater/RS, no que
nimo da saca de milho de indústria/consumo de se refere a zoneamento, ciclo, peneira e variedades.
60 kg será de R$17,46. Diante desse valor, o agri- “Os cultivares escolhidos pelos agricultores
cultor pagará por cada saca de semente o equiva- possuem fornecedores exclusivos, conforme de-
lente a R$64,02”, pontua Pavan. claração da Associação Brasileira dos Produtores

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 167


TROCA - TROCA DE SEMENTES

de Semente (Abrasem). Essa situação leva a configurar à


inexigibilidade do processo de licitação, ficando dessa

SDRPC / Divulgação
forma justificada as escolhas dos fornecedores”, afirma
Pavan.
Para execução do Programa Feaper/Troca -Troca de
Sementes de Milho, são utilizados recursos do Tesouro
do Estado, valor correspondente ao subsídio que, para
a Safra e Safrinha 2012/2013 corresponde a 28,86% do
custo total da semente. O restante são recursos do agri-
cultor que ficarão na ordem de 71,14% do custo total da
saca de sementes de 20 kg.
Cálculo Subsídio:
Troca-troca 11x1 – milho híbrido
Troca-troca 8x1 – milho variedade
Para cada 1 quilo de semente, o agricultor devolve 11 Secretário de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo do RS, Ivar Pavan
quilo de milho de consumo/indústria. Cada agricultor pode
ser beneficiado com até três sacas de 20 quilos de semente. gencial autorizou etapa extra na safrinha para o refazimento
Para fazer o pagamento, o agricultor deve fazer a conversão das lavouras perdidas em função do revés climático.
dos quilos de semente recebido em moeda corrente.
Para exemplificar o secretário Pavan explica que com o Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento
custo de compra da saca (20 quilos) de semente de milho dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper)
híbrido em R$ 90,00 (11x1) tem-se o seguinte cálculo da Feaper - Financiamentos
saca para o agricultor e o subsídio correspondente: milho A Lei Nº 13.695, publicada no Diário Oficial do Es-
indústria (sacas de 60 quilos) custo unitário de R$ 17,46 tado, em 25 de janeiro de 2011, autorizou extinguir por
(preço mínimo Companhia Nacional de Abastecimento meio de remissão total as dívidas originárias de opera-
- Conab), R$17,46/60 quilos = R$ 0,291x220 quilos=R$ ções de crédito do Fundo Estadual de Apoio ao Desen-
64,02, então, R$ 90,00-R$ 64,02=R$ 25,98, que correspon- volvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Fe-
de a 28,86% do total. “Ou seja, o Governo paga 28,86% do aper), efetivadas até 31 de dezembro de 2002. Com isso,
custo total e o restante 71,14% é o agricultor quem paga”. foram anistiadas, no âmbito do Feaper, cerca de 2.200
contratações, envolvendo recursos na ordem de R$ 37,5
Anistia milhões. Esta Lei foi tema do Projeto de Lei Nº 001, da
Conforme Pavan, é grande a importância e a represen- atual administração do Governo Estadual.
tatividade do Programa Troca-Troca na lavoura de milho.
“Na confrontação dos números se observa que a área plan- Feaper – Programa Troca-Troca de Sementes
tada no Estado beira a 1,1 milhão de hectares e o milho do Objetivo:
troca-troca responde por 1/3 dessa área. O programa tra- Baixar o custo de produção das lavouras de grãos
balha com expectativa de distribuição de 400 mil sacas de através do fornecimento de sementes para o plantio e
semente de milho por ano. A ação se desenvolve em duas cujo pagamento é realizado após colheita.
etapas, denominadas Safra - plantio no cedo, a contar de fim
de julho em diante - e a Safrinha que é o plantio do tarde – Ações
dezembro e janeiro. O público beneficiado está em torno de —— Criação do Termo de Cooperação para Adesão ao
210 mil agricultores familiares”. Programa Troca-Troca de Sementes, cujo benefício
No ano de 2012, em função da estiagem, o Governo anis- atinge 650 entidades/ano, desburocratizando e dan-
tiou os agricultores. Assim, além do custo do subsídio, arcou, do celeridade aos processos;
também, com o valor que o agricultor deveria pagar, o que —— Qualificação do sistema de controle e prestação de
atingiu cerca de R$ 32 milhões. Também como medida emer- contas do Programa;

168 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


TROCA - TROCA DE SEMENTES

—— Aumento da disponibilização de produtos/insumos sidiados pelo Estado, através do Feaper, e o restante,


aos agricultores no Troca-Troca; R$ 24 milhões, seriam pagos pelos agricultores. No
—— Facilitação da execução final dos aportes orçamentá- total, a anistia chegou perto dos R$ 22 milhões.
rios do PPC (Agroindústria, pesca, quilombolas, etc)
às demandas do campo. Safra 2012-2013
—— Elaboração da proposta de criação do Programa de A demanda levantada atingiu 319.960 sacas de semen-
Calcário no Troca-Troca , para ser desenvolvido e tes e contou com a participação de 596 entidades em 420
operacionalizado em 2013, com abrangência de até municípios, beneficiando 166.300 famílias de agricultores
120.000 hectares, familiares. Na ação estão investidos R$28,8 milhões.

Anistia do Troca-Troca de Sementes Safrinha 2012/2013


—— A aprovação da Lei Nº 13.971 significou anistia a A etapa Safrinha 2012/2013 do Troca-Troca de Se-
mais de 230 mil agricultores familiares (vinculados mentes de Milho recebeu uma demanda de 32 mil sacas
a sindicatos, associações cooperativas e prefeituras). de 20 quilos, beneficiando diretamente cerca de 16 mil
—— A Lei atingiu o Troca-Troca Safra, Safrinha e Safrinha agricultores familiares em 164 municípios do Estado.
Emergencial 2011/2012. Foram beneficiados, também, Esta ação leva reforço de ração em períodos mais críticos
agricultores de municípios em que não foi decretado de alimento, especialmente no suporte à pecuária leitei-
Estado de Emergência e cujas perdas de lavoura de ra. A ação envolve recursos na ordem R$ 2,9 milhões,
milho atingiram 30%, comprovadas por laudo técnico. com subsídio direto de 28,86% do custo total.
—— Disponibilização de 327 mil sacas de sementes na Sa-
fra 2011/2012, 35 mil na Safrinha e mais de 13 mil na Safrinha Emergencial 2012
Safrinha Emergencial. Esta etapa recebeu uma demanda 13.365 sacas em
—— O custo de todas as operações foi superior a R$ 33 mi- dois dias e contou com a participação de 140 municípios,
lhões, sendo que deste valor R$ 9 milhões foram sub- 170 entidades, beneficiando 9.307 agricultores familiares,

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 169


TROCA - TROCA DE SEMENTES

com R$ 1,2 milhão. Em função dos prejuízos da estiagem, parte do Estado permite a comercialização em preços
o Governo do Estado, além do subsídio normal do Pro- mais acessíveis, o que resultou, nesta safra de milho, o
grama (27,25%), concedeu uma anistia de 100% para os preço de R$ 90,00 por cada 20 quilos. Deste valor, o Go-
municípios que decretaram Estado de Emergência. verno subsidia 28,26%, de forma que o agricultor só paga
os R$ 64,02 restantes de cada saca, no dia 30 de abril de
Troca-Troca com mais de 300 Prefeituras 2013, na equação de 11 quilos de grãos de milho por
Em 19 de julho de 2012, prefeitos de 345 municípios quilo de semente adquirida. O cálculo de conversão dos
de todo o Rio Grande do Sul assinaram o termo de ade- grãos em moeda é feito de acordo com o preço mínimo
são ao Programa de Financiamento de Sementes Troca- do milho definido pela Companhia Nacional de Abaste-
Troca referente à safra de milho 2012/13. A solenidade, cimento”, declara.
que aconteceu no auditório da Emater, marcou o novo
formato de operação estabelecido pela Secretaria de Benefícios
Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo. Incluído entre os municípios beneficiados, Cruzeiro do
Para Ivar Pavan, a assinatura dos termos para a libe- Sul, situado na região do Vale do Taquari, apresentou a de-
ração das 319 mil sacas de sementes de milho garante a manda de 1.390 sacas. “Para um município que possui 1.800
segurança, transparência e legalidade do Troca-Troca. propriedades rurais, o Troca-Troca representa um auxílio
“O Programa perdura pela abrangência social que exer- para a subsistência familiar e da propriedade, além de man-
ce e representa cerca de 40% da safra de milho gaúcho”. ter o produtor no campo. Já para o município de Chapada,
Ainda, segundo o secretário, na aquisição das sacas que produz mais de 120 mil litros de leite ao dia, o Programa
desta safra, o Estado investiu mais de R$ 28,5 milhões, é importante, principalmente, para a alimentação do gado
sendo que deste valor R$ 8 milhões serão subsidiado aos leiteiro. O município assinou termo de adesão para cerca de
agricultores. “A aquisição de grande volume de sacas por mil sacas de sementes de milho”, conclui Pavan. ◆

170 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


TROCA - TROCA DE SEMENTES

Economia para pequenos agricultores


F
ernando Lise, morador do Rio Negro/ Povoado cooperativa local. “O preço do leite não está tão bom,
Coan, interior de Erechim, norte do RS, divi- então com lucro pequeno temos que apertar em todos
de a propriedade de 50 hectares com o pai. As os lados, e a economia com o Troca-Troca, já nos ajuda
duas famílias se revezam nas tarefas com a criação do bastante,” disse. ◆
gado de leite e no plantio e cultivo de cana-de-açúcar,
milho, feijão, reflorestamento e com uma grande diver-
sidade de frutas.
A família acessa o programa Troca-Troca e, nesta

Jornal Bom Dia


safra, retiraram quatro sacas de semente de milho que
utilizam para a alimentação do gado de leite. “Com as
quatro sacas economizamos cerca de R$ 1.200, pois um
saco custa em média R$ 350, e através do programa pa-
gamos R$ 70,00 a saca. Este é um bom incentivo pra nós,”
conclui Lise. Ele explicou que o milho plantado através
do programa rende cerca de 120 sacas por hectare, e que
serve para alimentar o gado o ano inteiro.
Com 10 vacas de leite a produção gira em torno dos
dois mil litros de leite por mês que são entregues para Fernando Lise divide propriedade de 50 hectares com o pai

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 171


TROCA - TROCA DE SEMENTES

Principal atividade econômica


em Cruzeiro do Sul
Com uma população de mais de 12 mil habitantes, o município
tem na agropecuária sua principal atividade econômica

O
prefeito de Cruzeiro do Sul/RS, Rudimar Mül-

Assecom PM Cruzeiro Sul


ler, destaca sobre o setor da agropecuária, res-
saltando sobre a produção de milho, mandio-
ca, arroz irrigado, fumo, erva-mate, trigo e avicultura de
corte e poedeiras, sendo a suinocultura e a criação de gado
leiteiro também relevantes no município.
Na indústria destaca-se a produção de alimentos
(chocolates, balas e bolachas), a indústria de calçados,
metalurgia, olarias e beneficiamento da erva-mate.
De acordo com Rudimar Müller, o Programa Troca-Troca
em Cruzeiro do Sul funciona através de uma parceria, Muni- Prefeito de Cruzeiro do Sul, Rudimar Müller
cípio com Estado do Rio Grande do Sul, através da Secretaria
de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR). Como garantia ao produtor, o prefeito destaca sobre a
anistia do pagamento das sementes, com reconhecimen-
Beneficiados to do Decreto de Emergência sobre a estiagem.
Em Cruzeiro do Sul, o programa beneficia em tor- Já o pagamento é feito, segundo dados da Prefeitura
no de 700 famílias. “A semente é destinada ao municí- de Cruzeiro do Sul, na proporção de 11X1, com prazo até
pio que após repassa aos agricultores”, pontua o prefeito abril do ano seguinte.
lembrando que para ter acesso é preciso possuir o talão Para o prefeito, a agricultura familiar preenche uma
de Notas Fiscais de Produtor. série de requisitos para produzir alimentos baratos e de
Segundo Rudimar os produtos incluídos são sementes boa qualidade para sociedade, influenciando de forma
híbridas de milho nas quantidades de 1.390 sacos por safra. significativa em todos os segmentos da sociedade. ◆

172 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


TROCA - TROCA DE SEMENTES

Embrapa / Divulgação
Alimentação dos animais é o
principal objetivo dos agricultores
que acessam o programa
O
suinocultor Irany José Rech tem propriedade A mulher e o filho de Rech também ajudam nas ati-
de 19,5 hectares no Povoado Coan, interior de vidades da propriedade que ainda se detém na criação de
Erechim/RS, possui 11 matrizes e criação de gado de leite e na fruticultura. ◆
suínos em ciclo completo. O milho através do sistema Tro-
ca-Troca é utilizado para a criação dos animais e, para isso, Suinocultor Irany José Rech diz que o incentivo através do Troca-Troca é muito bem vindo ao
agricultor familiar
planta cerca de 8 hectares de milho – quatro são através do
programa do governo do Estado.
Jornal Bom Dia

“No interior se não tivéssemos este incentivo seria


muito mais difícil. Com este milho do Troca-Troca temos
uma significativa economia. Agora a semente está muito
boa, no início não era assim. E, usando este milho com
menos tecnologia investimos menos uréia e adubo nela,
gerando menos custo para nós. Ano que vem, com certeza,
vou acessar este programa novamente e, se pudesse retira-
ria mais sacas,” explica.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 173


“Semente certificada é
garantia de maior produção
é melhor produto”
afirma presidente da Abrasem
Barison elogia
Troca-Troca
gaúcho e diz que
governo poderia
ampliar ações
neste sentido

N
o Rio Grande do Sul, o programa Segundo ele, atualmente se estima que mais
Troca-Troca de Sementes tem sido de 900 mil hectares no RS sejam cultivados atra-
um importante instrumento para vés deste sistema. “Isso é cerca de 40% da área
incentivar a produção agrícola no Estado. O pre- plantada no Estado. Acreditamos porém, que o
sidente da Associação Brasileira de Sementes governo poderia incentivar ainda mais, através de
(Abrasem), Narciso Barison Neto, destaca que sementes mais produtivas, precisaria ainda ou-
este sistema normalmente se baseia na cultura tros incentivos como para fertilizantes, calcário,
do milho, principal cultura de subsistência para maior assistência técnica”, aponta Barison.
outras cadeias importantes como a de aves, suí- Um ponto polêmico é o uso de sementes trans-
nos e produção leiteira. “O sistema Troca-Troca gênicas em programas como o Troca-Troca gaú-
garante ao produtor poder acessar variedades de cho, onde é proibido este tipo de semente. Porém,
sementes mais produtivas, de melhor qualidade”, fora do programa, o uso deste tipo de semente tem
enfatiza Barison. sido cada vez maior. “Acredito que isto é uma forma

174 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Embrapa / Divulgação
de impedir que o pequeno agricultor tenha acesso das que garantem maior rentabilidade ao produ-
a esta tecnologia, que melhorou muito a produti- tor e produto de melhor qualidade na mesa do
vidade, facilita a vida do produtor. Na soja, hoje consumidor. “Através das sementes certificadas
temos praticamente 100% das lavouras cultivadas temos menos produto químico na lavoura, ganho
com este novo tipo de semente. Seria importante de produção e também uma agricultura sustentá-
permitir a todos os produtores o acesso a esta tec- vel, em defesa do meio ambiente”.
nologia”, ressalta o presidente da Abrasem. Para Barison, atualmente há uma preocupa-
ção cada vez maior com o meio ambiente, que le-
O mercado brasileiro de sementes gado se deixará para as gerações futuras. “Temos
A utilização de sementes hibridas certificadas que buscar melhor qualidade de vida, respeitar
no Brasil tem aumentado muito com o passar das a natureza, evidente que queremos preservar o
safras. Barison explica que somente no RS, cerca meio ambiente, mas também precisamos produ-
de 90% das lavouras já utilizam sementes de milho zir mais, e temos que fazer isso na mesma área
certificadas. “É importante, porque do contrário, o ou sem avançar muito com derrubadas de flores-
produtor pode ter perdas que chegam até a 40%. E tas ou agressão ao meio ambiente. Por isso vem a
isto tem feito com, que o pequeno produtor busque importância do uso da tecnologia nas sementes.
a tecnologia hibrida, certificada, controlada”, diz. Para se ter uma noção do que estou falando, nós
Barison explica ainda que em 2004 a produção tivemos um acréscimo de 60 para 160 milhões
de soja no RS chegou praticamente ao “fundo do de toneladas de grãos colhidos e um incremento
poço”. “Isso porque não havia semente, a tecnolo- de pouco mais de 1 milhão de novos hectares..
gia de transgenia chegou via contrabando. A legis- Triplicamos a produção com aumento menor de
lação brasileira não permitia e o mercado não tinha área, e isso através da genética, biotecnologia,
fornecimento de semente legal. Saímos do zero em uma agricultura sustentável”, frisa o presidente
2004 para um patamar de 50% e avançamos grada- da Abrasem.
tivamente para 60% no país. Porém, na soja, ainda Barison frisa que lavouras que antigamen-
temos muito a avançar”, salienta Barison. te produziam 100 sacas de milho por hectare,
Segundo ele, os plantios de arroz chegam a ta- chegam a 300 nos dias atuais. “No RS, com ir-
xas de 50% de sementes certificadas. Ele lamenta rigação, chegamos a atingir cerca de 100 sacas
no entanto que no feijão, outra cultura importan- de soja em pleno período de estiagem. No arroz,
te, a taxa não chegue aos 15% de sementes certifi- mesma coisa e isso se deve a genética. Num fu-
cadas. “No trigo, onde temos 1 milhão de hectares turo, temos a possibilidade de alcançar 400 sacas
cultivados anualmente, a proporção chega a 65%. de milho por hectare, podemos vislumbrar 150
É importante entender o porque de usar a semente sacas de soja por hectare e isso tudo preservan-
certificada e porque ela é importante. Trata-se de do o meio ambiente. O aumento populacional é
uma semente controlada, com origem, há alguém grande e a área destinada a agricultura não se
responsável por ela, há pesquisa, é extremamente multiplica no mesmo ritmo. No Brasil ainda
importante para a segurança alimentar. Estamos temos uma condição privilegiada pois há cerca
trabalhando para avançar. Temos um patamar de 100 milhões de hectares de pastagens para
confortável no milho, mas outras culturas ainda bovinos onde ainda podemos melhorar. Temos
precisam melhorar”, diz Barison. condição de avançar na produção sem precisar
derrubar árvores. O Brasil é a bola da vez na pro-
Aumento da produtividade e genética dução e precisamos avançar, temos condições de
Narciso Barison Neto destaca que hoje há um fazer isso preservando o meio ambiente”, encer-
acréscimo de tecnologias nas sementes certifica- ra Barison. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 175


Programa Terra Boa de
Santa Catarina
O produtor tem a garantia de receber insumos de qualidade, a
preços pré-determinados, sem variação no período

O
Programa Terra Boa desenvolvido
pela Secretaria de Estado da Agricul-
tura e da Pesca do Governo de Santa
Catarina tem por objetivo fornecer insumos, no
caso sementes de milho, calcário e kit forrageiras
para produtores rurais catarinenses, visando au-
mento da produtividade do cereal, e de carne e
leite a pasto.
Em entrevista, o secretário da pasta, João Ro-
drigues, explica que no caso específico de semen-
tes de milho, as variedades disponibilizadas são
de média e alta tecnologia, ou seja, com grande
potencial de produção.
De acordo com o secretário da Agricultura e da
Pesca de Santa Catarina, o produtor rural interessa-
do deve procurar as cooperativas e agropecuárias
credenciadas, realizar seu pedido e retirar o produto. cário, a relação de troca é de dois sacos de milho
“Há limites por produtor, a saber: sementes de para cada tonelada de calcário. O pagamento do
milho - cinco sacas; calcário - 30 toneladas; Kit Kit Forrageira é feito em dois anos, à razão de
Forrageira para produção e manejo de pastagens: uma parcela anual.
uma unidade”, pontua o secretário ressaltando
que o produtor paga pelas sementes e calcário em Benefícios ao produtor
equivalente produto.” Para o secretário, os benefícios aos produtores
Para cada saca de semente de milho de mé- rurais se dão através do fornecimento de insumos
dia tecnologia o produtor devolve quatro sacos de alto padrão, a preços inferiores ao de merca-
de produto comercial, tendo como referência o do, e ainda tendo como referência de pagamento
preço mínimo estabelecido pelo Governo Federal. em sacos de milho comercial. “É uma linguagem
No caso de semente de alta tecnologia, a rela- comercial que o produtor entende de forma clara
ção de troca é de uma saca de semente de milho e inequívoca”, afirma Rodrigues ressaltando que
para nove sacos de produto comercial. Para o cal-

176 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


atualmente são mais de 65 mil famílias beneficia- lidade a preços acessíveis pode significar redução
das pelo Terra Boa em Santa Catarina. de custos, com aumento da renda”, destaca.
Ainda, de acordo com Rodrigues o produtor
Requisitos tem a garantia de receber insumos de qualidade, a
Para ter acesso ao programa, no caso do cal- preços pré determinados, sem variação no período.
cário, são aptos os agricultores enquadrados no
Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pro- Pagamentos e prazos
naf), outros produtores que estejam investindo No caso do calcário e da semente de milho, o
em melhoramento de pastagem e entidades sem pagamento é feito com base na equivalência em
fins lucrativos que tenham na agropecuária sua produto, tendo o milho comercial tipo II – saco
fonte de renda e de subsistência, desde que do- de 60 kg como referência de preço.
miciliados em Santa Catarina e que se encontram No caso da semente de milho, para cada saca de
sem débitos junto aos programas da Secretaria de 20 kg retirada, o produtor devolve 4 sacos de pro-
Estado da Agricultura e da Pesca. duto comercial, no valor unitário de R$ 17,46 (pre-
Em relação ao milho, agricultores enquadrá- ço mínimo estabelecido pelo governo federal) Se a
veis no Pronaf e entidades sem fins lucrativos que semente retirada for de alta tecnologia, a devolução
tenham na agropecuária sua fonte de subsistên- será de 9 sacos para cada saca de semente.
cia, domiciliados em Santa Catarina, e que não te- No caso de calcário, o pagamento será de 2
nham débitos junto aos programas da Secretaria sacos de milho para cada tonelada de calcário a
de Estado da Agricultura e da Pesca. granel retirada. Se o calcário for ensacado, a re-
Já no que se refere ao Kit Forrageira, os pro- lação passa a ser de 3,5 sacos de 60 kg para cada
dutores rurais que promovam em sua proprieda- tonelada retirada.
de o melhoramento de pastagem, domiciliados O Kit Forrageira é pago em duas parcela. Se o
em Santa Catarina, e que não tenham débitos pagamento da 2ª parcela for realizado na data es-
junto aos Programas da Secretaria de Estado da tipulada, o produtor tem subvenção sobre o valor
Agricultura e da Pesca. desta parcela de 60%. ◆

Terra Boa Santa Catarina


Produtos Quantidades Secretário da Agricultura, João Rodrigues
Calcário 270 mil toneladas
Sementes de milho 220 mil sacas de 20 quilos cada
Kit Forrageira 3 mil unidades
Assessoria Governo SC

Crescimento da agricultura familiar


De acordo com o secretário da Agricultura,
o incentivo ao crescimento da agricultura fami-
liar acontece através da utilização de insumos de
excelente qualidade, com aumento respectivo de
tecnologia e consequentemente da produtividade.
“Maior volume produzido na mesma unidade
de área significa maior volume de recursos dispo-
nibilizados. Via de regra, insumos de melhor qua-
Secretário de Agricultura e Pesca de SC, João Rodrigues

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 177


A
s melhorias alcançadas com o Pro- Grupos atendidos
grama Nacional de Habitação Rural O primeiro, de menor renda (até R$ 15.000,00)
(PNHR) foram a construção de novas recebe subsídios oriundos do Orçamento Geral
unidades habitacionais e, quando possível, a re- da União (OGU), já o Grupo 2 (de R$ 15.000,01 a
forma das existentes objetivando dotar a moradia R$ 30.000,00) e o Grupo 3 (de R$ 30.000,01 a R$
rural do agricultor familiar das condições de habi- 60.000,00) são atendidos com operações de finan-
tabilidade, de segurança e de salubridade. ciamento com recursos do Fundo de Garantia por
Segundo o ministro das Cidades, Aguinaldo Tempo de Serviço. “Já foram contratados, desde
Velloso Borges Ribeiro (foto), essa política habita- 2009 até setembro deste ano, mais de 30 mil opera-
cional para o campo vem se somar aos esforços do ções entre construções de unidades habitacionais
governo federal para atender essa parcela produtiva e reformas e o estado com maior número de con-
da sociedade brasileira, cujo papel é de grande im- tratações até o momento é o Rio Grande do Sul”,
portância para economia do país. ressalta Aguinaldo Ribeiro.
O PNHR, de acordo com o ministro, é um
exemplo de política habitacional para o agricul- Contratações futuras
tor familiar, pois atende os agricultores familiares Para o ano de 2013, o ministro afirma que está
segundo a faixa de renda bruta anual, definidos previsto o início das obras contratadas em 2012 e
como Grupos 1, 2 e 3. ainda não iniciadas bem como a contratação de

Ministro das Cidades, Aguinaldo Velloso Borges Ribeiro, destaca


soma de esforços para atendimento à agricultura familiar

Política habitacio n
178 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
Pazinato Di Resana
novas operações. “À medida que o Programa tor- dade, com segurança e com salubridade, mais
na-se conhecido a procura aumenta o que se reflete um braço da política habitacional que vem sendo
no número de contratações. Deste modo, as pri- construída pelo governo federal em prol das famí-
meiras contratações, em dezembro de 2009, soma- lias brasileiras”, conclui o ministro das Cidades. ◆
ram 101 operações. Em 2010 esse número saltou
para 7.257, em 2011 contratou-se 10.278 e, neste
ano, até o início de setembro tínhamos contrata-
do 9.624 operações. Isso nos dá um quantitativo
de 34.209 construções e reformas. Dessas já foram

Rodrigo Nunes/MinCidades
entregues 13.067”, pontua.

Compromisso
O Programa tem o compromisso com 60 mil
operações entre construções e reformas até 2014,
porém esse número poderá se ampliar dependen-
do da demanda e da disponibilidade de recursos.
“O benefício é o de dotar as famílias rurais das
condições necessárias para viverem com digni-
Ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro

o nal para o campo Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 179


Minha Casa, Minha Vida
já beneficiou 57.536 famílias
O
Programa Nacional de Habitação Rural, que A principal melhoria do fortalecimento da política de
integra o Minha Casa, Minha Vida foi cria- habitação rural é o acesso à moradia digna para as famí-
do em 2009 para atender trabalhadores ru- lias do campo. Também faz parte do programa o projeto
rais e agricultores familiares (incluindo também nessa social, com atuação em várias áreas, como cooperativis-
categoria pescadores artesanais, maricultores, comuni- mo, sindicalismo, educação patrimonial, sustentabilida-
dades quilombolas, comunidades indígena e demais co- de ambiental, participação da mulher na gestão da pro-
munidades tradicionais) com renda de até R$ 60.000,00 priedade, permanência do jovem no campo, melhoria da
ao ano, divididas em Grupo I (até R$15.000,00 ao ano), propriedade, entre outros. ◆
Grupo II, (renda de R$ 15.000,00 à R$ 30.000 ao ano)
e Grupo III, famílias (renda entre R$ 30.000,00 à R$
60.000,00 ao ano).
Para famílias com renda até R$ 15.000,00 ao ano os va-
lores são subsidiados em até 96% e a família receberá até R$

Minha Casa Minha Vida/ Divulgação


28.500,00 para construção e até R$ 17.200,00 para reforma
de sua casa. Na região norte os valores são de até 30.500,00
para construção e até R$ 18.400,00 para reforma.
Para ter acesso ao programa famílias com renda até R$
30.000,00 deverão procurar uma entidade organizadora,
que poderá ser o município, o estado ou uma entidade não
governamental sem fins lucrativos como sindicato, asso-
ciação e cooperativa.
Famílias com renda
entre R$ 30.000,00 a R$
60.000,00 poderão finan-
ciar diretamente na Caixa.
Em 2012 foram bene-
ficiadas 38.437 famílias,
com investimento em tor-
no de R$ 970 milhões. Até
o momento, 57.536 famí-
lias já foram beneficiadas
Minha Casa MInha Vida/ Divulgação

e o Rio Grande do Sul foi


o estado que mais contra-
tou. Em 2013, a perspecti-
va é de contratar mais 40
mil unidades distribuídas
em todo o país de acordo
com o déficit habitacional.

180 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 181
O
secretário de Desenvolvimento Agropecuá- às demandas mercadológicas e ambientais. Procuramos
rio e Cooperativismo, Caio Rocha, fala sobre trabalhar de forma que o produtor rural e suas entida-
os principais desafios e projetos da Secreta- des representativas sejam sempre ouvidos previamente à
ria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo nossa tomada de decisão”, destaca.
(SDC) para aproximar as relações com os produtores. Se- “Nesse contexto, diversas políticas estão em an-
gundo ele, a SDC tem como função principal o fomento damento, dentre as quais citamos: Produção Orgâni-
à produção agropecuária sustentável e organizada. “Em ca, Boas Práticas Agropecuárias (Produção Integrada
outras palavras, trabalhamos em conjunto com os pro- Agropecuária, Programa Alimentos Seguros e Bem-
dutores na organização da produção para atendimento -estar Animal), Cooperativismo, Apoio ao Pequeno e

Produção agropecuária
sustentável e organizada

O sistema cooperativo precisa estar preparado para


realizações de investimentos em infraestrutura e
produção, com objetivo de ganho de escala e redução
de custos, buscando sempre rentabilizar o associado, no
espírito e ação cooperativista sustentável
182 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
Médio Produtor Agropecuário, Indicação Geográfica e Desafios da agricultura familiar
Agricultura de Baixa Emissão de Carbono - Programa Para Caio Rocha o grande desafio é tornar todas essas
ABC, que visa o fomento à adoção de 6 tecnologias: a) iniciativas conhecidas no meio rural de forma a ampliar a
recuperação de pastagens degradadas; b) integração la- adesão dos produtores. Para que isso se concretize, estão
voura-pecuária-floresta; c) florestas plantadas; d) plan- programadas capacitações, seminários e eventos correla-
tio direto na palha; e) fixação biológica de nitrogênio; tos, bem como a implantação de unidades demonstrativas
e f) tratamento de dejetos na pecuária). Bem como, de tecnologias sustentáveis, sempre de maneira regiona-
Integração e pesquisa. Assistência Técnica e Extensão lizada para melhor atender às especificidades locais, bus-
Rural”, explica o secretário. cando a parceria dos estados e municípios.
De acordo com o secretário, a importância da adoção
de práticas sustentáveis na agropecuária pode ser avaliada
de três diferentes maneiras, todas elas passíveis de adoção
pelos agricultores familiares. “Sob a ótica mercadológica,
Maria Lúcia Smaniotto
é preciso ter em mente que os consumidores estão cada
vez mais atentos ao que ocorre no ambiente produtivo, o
que os torna mais exigentes quanto ao uso adequado dos
recursos naturais (solo e água), preservação da vegetação
nativa (reserva legal e APPs), uso consciente de agrotóxi-
cos e outros”, pontua Caio ressaltando que desta forma, a
certificação da produção em protocolos de sustentabilida-
de pode proporcionar uma diferenciação de mercado para
os produtores rurais.

Legislação ambiental
Do ponto de vista da adequação à legislação ambiental,
produtores que adotam práticas sustentáveis de produção
estão mais próximos da legalização de suas propriedades
do que aqueles que empregam métodos convencionais de
produção, onde não há preocupação com as questões liga-
das ao meio ambiente. “A SDC após o Código Florestal, está
preparando um plano de apoio ao Código, alicerçado em
educação e conhecimento, tecnologia e recursos”, ressalta.

Longevidade produtiva
Uma terceira visão a ser considerada é a do aumento
da longevidade produtiva das propriedades rurais quan-
do princípios de sustentabilidade são adotados. “O pro-
dutor rural deixa de trabalhar com base no esgotamento
dos recursos naturais de sua propriedade e passa a tra-
balhar pensando na manutenção da qualidade desses
recursos, para que possa transferir uma maior segurança
na produção agrícola às gerações futuras”, avalia Caio.

Fortalecimento do cooperativismo
Segundo Caio Rocha, a SDC, do Ministério da Agricul-
tura e Pecuária (Mapa), por meio do seu Departamento de

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 183


Cooperativismo e Associativismo (Denacoop), desenvol- Para o secretário, o sistema cooperativo precisa estar
ve uma série de programas com o objetivo de fortalecer e preparado para realizações de investimentos em infra-
apoiar o cooperativismo na agricultura brasileira em geral. estrutura e produção, com objetivo de ganho de escala e
Fato que inclui a agricultura familiar, cuja viabilidade no redução de custos, buscando sempre rentabilizar o asso-
processo produtivo passa inevitavelmente pela organiza- ciado, no espírito e ação cooperativista-sustentável.
ção dos produtores e pelo cooperativismo - o que também
reforça a necessidade de ação coordenada entre vários mi- Regionalização
nistérios visando o fortalecimento da agricultura familiar. O projeto piloto da Regionalização, lançado no final de
agosto de 2012, durante a Expointer, em Esteio, está em
Gestão e desenvolvimento execução no Rio Grande do Sul. De acordo com Caio, os
A SDC desenvolve programas que visam à capacitação produtores, em todos os tempos, sempre valorizaram os
em gestão, o desenvolvimento de processos gerenciais e espaços como base para seus processos de tomada de de-
tecnológicos sustentáveis, à inserção no mercado interno e cisões. Para eles, é fundamental, a combinação entre solo,
externo, além do apoio ao jovem e à equidade de gênero. clima, acesso à água, fertilidade natural, proximidade de
“Constituímos o Programa de Profissionalização da Gestão mercados, como instrumentos norteadores de decisões
de Cooperativas e Formação de Redes de Cooperação (Pisa- sobre suas vidas, seu futuro e seus negócios. Tudo isso
coopm), que já está em Chamada Pública, e visa o fomento permeia suas histórias, suas tradições, seus costumes,
de projetos para a capacitação e para a melhoria da gestão seus modos de aprender e de fazer. “A regionalização,
de cooperativas, inclusive das cooperativas de pequenos nesse sentido, está diretamente relacionada com a vida,
produtores e da agricultura familiar que acessam o Progra- ou mais precisamente, com as histórias de vida dos pro-
ma de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacio- dutores. Na lógica que preside a vida deles haverá sempre
nal de Alimentação Escolar (Pnae)”, esclarece Caio Rocha. particularizações e singularidades dos lugares onde estão.
Já o Programa de Produção Integrada de Sistemas A tudo isso se soma os contextos e estímulos exteriores
Agropecuários em Cooperativismo e Associativismo (Pi- para reconhecer as regiões como condição, meio e produto
sacoop) está na fase final de estruturação e visa a trans- da vida econômica e social dos produtores rurais. Esse é o
formação do processo produtivo para bases sustentáveis, grande desafio do Mapa que tem um histórico de atuação
inclusive sob o ponto de vista social. O programa beneficia e intervenção universalizados. É uma questão cultural que
aos agricultores, inclusive a agricultura familiar, porque avançará, certamente, em velocidades distintas em cada
procura inserir princípios de gestão e adequar o padrão região, segundo as convicções de lideranças e dos atores
tecnológico conforme a realidade e as condições da unida- econômicos e sociais locais. A determinação do Ministro
de de produção. Fato que respeita inclusive a capacidade Mendes Ribeiro de que se constituam políticas agrícolas
da unidade de produção familiar. diferenciadas, respeitando as diferenças regionais, e pre-
Outro programa destacado pelo secretário é o Progra- parando cada dia o Mapa para que o tempo de ação das
ma de Internacionalização das Cooperativas (Intercoop) medidas acionadas pelo Governo seja o mesmo do produ-
que visa facilitar o acesso das cooperativas, inclusive das tor rural”, conclui. ◆
cooperativas de agricultura familiar, no mercado externo.
“Destacamos ainda outros dois programas de forte cunho
social: o Programa de Estímulo e Promoção do Coopera-
Imprensa/MAPA

tivismo para a Juventude e o Programa de Gênero e Coo-


perativismo. Respectivamente esses programas tratam da
formação de novas lideranças e educação do jovem para o
cooperativismo e, da equidade entre gêneros nas organiza-
ções cooperativistas. Espera-se que ambos os programas
também atendam prontamente as demandas da agricultu-
ra familiar”, ressalta Caio Rocha.
Secretário de Desenvolvimento Agrário e Cooperativismo, Caio Rocha

184 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 185
R
eforma Agrária é o conjunto de medidas para —— O combate à fome e à miséria;
promover a melhor distribuição da terra, —— A diversificação do comércio e dos serviços no meio
mediante modificações no regime de posse rural;
e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social, —— A interiorização dos serviços públicos básicos;
desenvolvimento rural sustentável e aumento de produ- —— A redução da migração campo-cidade;
ção. A concepção é estabelecida pelo Estatuto da Terra —— A democratização das estruturas de poder;
de acordo com a Lei nº 4504/64. Na prática, a reforma —— A promoção da cidadania e da justiça social.
agrária proporciona:
—— A desconcentração e a democratização da estrutura De acordo com as diretrizes estabelecidas no II Pro-
fundiária; grama Nacional de Reforma Agrária, implantado em
—— A produção de alimentos básicos; 2003, a reforma agrária executada pelo Instituto Nacio-
—— A geração de ocupação e renda; nal de Colonização e Reforma Agrária (Incra) deve ser

Reforma Agrária
promovendo a distribuição da terra
Ela deve ser integrada a um projeto nacional de
desenvolvimento, massiva, de qualidade, geradora de
trabalho e produtora de alimentos
186 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
integrada a um projeto nacional de desenvolvimento, te envolvimento dos governos estaduais e prefeituras; a
massiva, de qualidade, geradora de trabalho e produtora garantia do reassentamento dos ocupantes não índios de
de alimentos. Deve, ainda, contribuir para dotar o Esta- áreas indígenas; a promoção da igualdade de gênero na
do dos instrumentos para gerir o território nacional. reforma agrária, além do direito à educação, à cultura e à
Conforme o Incra, o que se busca com a reforma seguridade social nas áreas reformadas.
agrária, atualmente desenvolvida no País, é a implanta- Conforme o presidente do Incra, Carlos Mário Guedes
ção de um novo modelo de assentamento, baseado na de Guedes, a agenda da reforma agrária no Brasil está sen-
viabilidade econômica, na sustentabilidade ambiental e do atualizada. Ela agora passa a ser associada ao projeto
no desenvolvimento territorial; a adoção de instrumen- nacional de desenvolvimento colocado em curso pelo go-
tos fundiários adequados a cada público e a cada região; verno da presidenta Dilma Rousseff. “Essa nova reforma
a adequação institucional e normativa a uma interven- agrária assume objetivos claros dentro de cada realidade
ção rápida e eficiente dos instrumentos agrários; o for- regional, pois leva em conta que as regiões possuem rea-
lidades socioeconômica e ambientais diferenciadas. Dessa
forma queremos contribuir com a superação da pobreza
extrema, o combate ao desmatamento ilegal na Amazônia
MDA/Divulgação

e aumento da produção de alimentos. Mais do que nunca,


as ações da reforma agrária estarão associadas à inclusão
social e produtiva, à qualidade de vida e à sustentabili-
dade. São pilares que permeiam as ações do Incra rumo
ao futuro desejado para o meio rural, que é converter os
assentamentos rurais em comunidades rurais autônomas
integradas ao território”, declara.

Agricultura familiar
Atualmente, a área destinada a projetos da reforma
agrária soma 87,5 milhões de hectares. Isso significa a
presença do Incra em mais de 10% de todo o território
nacional, em 2.081 municípios onde 931,6 mil famílias
estão assentadas.
Para o presidente do Incra, já se sabia dos benefícios
da reforma agrária para a melhoria das condições de vida
dessas pessoas, pois saíram de uma condição de pobreza
Incra/Divulgação

Presidente do Incra, Carlos Mário Guedes de Guedes

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 187


extrema e começaram a acessar políticas públicas. A no- da, além da ampliação das práticas de produção susten-
vidade foi apontada no último Censo Agropecuário, em tável e de conservação ambiental. A meta é a de atender
que se comprovou a contribuição econômica da reforma 300 mil famílias em 2013. Essas e outras ações é que vão
agrária, gerando ocupações e renda no campo. ajudar a desenhar o Brasil rural que queremos alcançar”.
“Só para se ter uma ideia, a reforma agrária brasilei-
ra já é maior que a área dos maiores imóveis rurais do PROJETOS E PROGRAMAS VOLTADOS À RE-
país – acima de 5 mil hectares (mais de 8 mil projetos, FORMA AGRÁRIA
que corresponde a mais de 87 milhões de hectares), que
equivale a 27% das terras agrícolas do Brasil”. Relação de Beneficiários do Programa Nacional de
“Somando-se aos estabelecimentos da agricultura fa- Reforma Agrária
miliar, são 130 milhões de hectares sob controle da agri- A primeira atividade do processo de assentamento é
cultura familiar e reforma agrária. Acrescenta-se mais a seleção, realizada simultaneamente à obtenção de ter-
200 milhões de hectares em terras indígenas, Unidades ras e aos levantamentos básicos para sua caracterização.
de Conservação federais, estaduais e municipais, qui- As normas de seleção, em vigor desde 1981, vêm pas-
lombolas, chegamos ao equivalente a 100% das terras de sando por mudanças e adequações. O resultado é a Rela-
uso agropecuário identificado no Censo Agropecuário”, ção de Beneficiários (RB) da entidade familiar assentada.
pontua Carlos. Foram incorporados, a partir de 2008, os cruzamen-
De acordo com o presidente, o valor da produção tos com os dados dos beneficiários e as bases governa-
mensal dos estabelecimentos agropecuários dentro de mentais para validar as informações declaradas pela en-
assentamentos atingiu a marca de 4,3 salários mínimos tidade familiar no momento da seleção. Esse cruzamento
mensais. Esses resultados comprovam a importância de objetiva averiguar a legitimidade e a aplicação fidedigna
se ter uma agricultura familiar forte, uma vez que ela é dos critérios estabelecidos na Lei nº 4.504/64 - Estatuto
responsável por 70% dos alimentos que chegam à mesa da Terra - e na Lei nº 8.629/93.
dos brasileiros. As fontes governamentais utilizadas são a base do
“Nosso desafio, agora, é propiciar que famílias pos- Tribunal Superior Eleitoral, o Sistema de Informações de
sam acessar a terra e um conjunto de políticas públicas Projetos de Reforma Agrária (Incra/Sipra), o Cadastro Na-
integradas, como moradia, assistência técnica, além da cional de Informações Sociais (CNIS). Este engloba quatro
regularização fundiária e ambiental. Nesse último aspec- principais bases de dados:
to, por exemplo, vale destacar a assistência técnica que o —— Cadastro de Trabalhadores;
Incra vai garantir aos assentados, que estará integrada às —— Cadastro de Empregadores;
estratégias de superação de pobreza extrema pela inclu- —— Cadastro de vínculos empregatícios / remunerações
são produtiva, garantia de acesso aos mercados e à ren- do trabalhador empregado e recolhimentos do con-
tribuinte individual;
Modalidades do Crédito Instalação e Valores —— Agregados de vínculos empregatícios / remunerações
Tipo Valor/família por estabelecimento empregador.
Apoio Inicial R$ 3,2 mil
A forma de cruzamento está de acordo com o Termo
Apoio Mulher R$ 2,4 mil
de Cooperação Técnica celebrado entre o Ministério da
Aquisição de Materiais de Construção R$ 15 mil
Previdência Social, o Instituto Nacional de Seguro Social
Fomento R$ 3,2 mil e o Incra, respeitados os princípios do contraditório e da
Adicional do Fomento R$ 3,2 mil ampla defesa, assegurado pelo artigo 5º LV da Constitui-
Semiárido Até R$ 2 mil ção Federal e artigo 2º da Lei nº 9.784/99.
Recuperação/Materiais de Construção Até R$ 8 mil
Reabilitação de Crédito de Produção Até R$ 6 mil Crédito Instalação
Crédito Ambiental R$ 2,4 mil O Crédito Instalação, concedido desde 1985, consis-
Fonte: www.incra.gov.br te no provimento de recursos financeiros, sob a forma

188 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


de concessão de crédito, aos beneficiários da reforma A aplicação dos recursos é realizada com a partici-
agrária, visando assegurar aos mesmos os meios ne- pação das associações ou representantes dos assentados,
cessários para instalação e desenvolvimento inicial e/ orientadas pela Assessoria Técnica na escolha e no re-
ou recuperação dos projetos do Programa Nacional de cebimento dos produtos. O pagamento das aquisições é
Reforma Agrária. feito diretamente ao fornecedor - mercados locais, lojas
Com o objetivo de suprir as necessidades básicas, de material de construção e de implementos agrícolas. O
fortalecer as atividades produtivas, desenvolver os pro- programa também faz parcerias com instituições finan-
jetos, auxiliar na construção de unidades habitacionais ceiras governamentais, como o Banco do Brasil e a Caixa
e atender necessidades hídricas das famílias dos projetos Econômica Federal.
de assentamento, o Crédito Instalação é concedido nas
seguintes modalidades: Apoio Inicial, Apoio Mulher, Infraestrutura
Aquisição de Materiais de Construção, Fomento, Adi- O Incra, por meio da Ação 8396 (implantação e recu-
cional Fomento, Semiárido, Recuperação/Materiais de peração de infraestrutura básica em projetos de assenta-
Construção e Crédito Ambiental. mento), concede a infraestrutura básica necessária nas
O Crédito Instalação é um importante instrumento áreas de reforma agrária.
na implantação dos projetos de assentamento. Seus va- As prioridades são a construção e/ou complementa-
lores e modalidades vêm sendo adequados ao longo dos ção de estradas vicinais e o saneamento básico – através
anos de modo a propiciar condições dignas de ocupação, da implantação de sistemas de abastecimento de água e
de produção e manutenção das famílias na parcela rural. esgotamento sanitário - além de construção de redes de
O Programa de Crédito Instalação atua com uma equi- eletrificação rural, visando proporcionar as condições
pe multidisciplinar de técnicos nas Superintendências Re- físicas necessárias para o desenvolvimento sustentável
gionais e Unidades Avançadas do Incra. dos assentamentos. Com isso, o Incra busca estender, de

MDA/Divulgação

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 189


forma mais abrangente possível, os benefícios sociais ao O Programa de Consolidação e Emancipação (Auto-
meio rural. Suficiência) de Assentamentos Resultantes da Reforma
Essas obras são fundamentais para a permanência Agrária (PAC), fruto de um acordo firmado entre o governo
dos assentados no campo e são executadas de forma di- brasileiro e o Banco Interamericano de Desenvolvimento
reta, por meio de licitações públicas ou convênios com (BID), é executado pelo Incra.
estados ou municípios. Elas ocorrem, ainda, por meio O PAC busca consolidar e desenvolver os assentamen-
de parcerias com outros órgãos governamentais da es- tos para que sejam independentes e integrados ao seg-
fera federal, como o Ministério de Minas e Energia (pelo mento da agricultura familiar. O programa acelera o pro-
Programa Luz para Todos), Ministério da Defesa (por cesso de emancipação dos projetos de reforma agrária a
meio do Batalhão de Engenharia das Forças Armadas), partir da elaboração de Planos de Consolidação de Assen-
Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Companhia de tamento (PCAs) que proporcionam investimentos em in-
Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Companhia de fraestrutura socioeconômica, assessoria técnica e treina-
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parna- mento, promovendo a sustentabilidade econômica, social
íba (Codevasf), entre outros. e ambiental, bem como a estabilidade social e a conquista
A execução da infraestrutura é muito demandada pe- da cidadania. Com isso, o Incra espera criar um modelo
los assentados e é uma resposta à necessidade premente de consolidação dos assentamentos descentralizado, ágil,
de cumprir o compromisso do Governo Federal, quan- organizado e eficiente, devidamente testado e aprovado.
do cria os assentamentos, de adotar, na sua jurisdição, Por meio do programa, desenvolvido via convênios es-
padrões de qualidade de vida. A realização dessas ações tabelecidos entre o Incra, prefeituras e associações de agri-
serve também de forte estímulo ao processo produtivo cultores assentados, estão sendo atendidas cerca de 12 mil
das comunidades que residem nos assentamentos e da famílias de 75 assentamentos distribuídos em oito estados:
população local do entorno. Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe.
Programa de Consolidação e Emancipação de
Assentamentos Resultantes da Reforma Agrária Programa de Apoio Científico e Tecnológi-
co aos Projetos de Assentamentos da Reforma
Linhas apoiadas pelo Terra Sol Agrária
Agroindustrialização, implantação e recuperação de agroindústrias Programa de Apoio Científico e Tecnológico aos Proje-
Aquisição de equipamentos para agroindústrias tos de Assentamento da Reforma Agrária (Pacto), parceria
Capacitação dos beneficiários para a atividade agroindustrial entre o Incra e o Conselho Nacional de Desenvolvimento
Comercialização, divulgação e venda dos produtos da reforma agrária
Científico e Tecnológico (CNPq), atua como suporte às ini-
ciativas dos projetos de assentamentos. O objetivo é ofere-
Capacitação dos beneficiários em gestão administrativa e comerciali-
cer alternativas econômicas sustentáveis, de modo a evitar
zação
o êxodo para as cidades. A ação consiste em repassar a
Restaurantes rurais
agricultores familiares e assentados da reforma agrária co-
Artesanato
nhecimentos de ciência e tecnologia sobre temas diversos
Fonte: www.incra.gov.br
como saúde, educação e produção.
O Pacto começou em meados do ano 2000 no Mato
Linha de apoio para agroecologia Grosso do Sul. O programa envolve parcerias com pre-
Fomentar estudos e projetos inseridos em uma estratégia de transição feituras, secretarias estaduais, universidades, movi-
agroecológica mentos sociais e órgãos de pesquisa. Cabe ao Incra a
Beneficiamento e comercialização de produtos agroecológicos tarefa de sugerir os assentamentos que serão contem-
Apoio à implementação, em caráter demonstrativo, de iniciativas com plados - conforme a necessidade de conhecimento e
bases agroecológicas que tenham resultados comprovados por estudos capacitação - e arcar com 50% das despesas de custeio.
realizados por instituições de ensino ou pesquisa Já o CNPq é responsável pela oferta de bolsas de estí-
Fonte: www.incra.gov.br
mulo científico e tecnológico para manter técnicos com

190 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


exclusividade de dedicação e completar o restante do assentados. Atua como instrumento de democratização
investimento no programa. do conhecimento no campo, ao propor e apoiar projetos
de educação que utilizam metodologias voltadas para o
Terra Sol desenvolvimento das áreas de reforma agrária.
O Terra Sol é um programa de fomento à agroindus- Os jovens e adultos de assentamentos participam de
trialização e à comercialização por meio da elaboração cursos de educação básica (alfabetização, ensinos fun-
de planos de negócios, pesquisa de mercado, consulto- damental e médio), técnicos profissionalizantes de nível
rias, capacitação em viabilidade econômica, além de médio e diferentes cursos superiores e de especialização.
gestão e implantação/recuperação/ampliação de agroin- O Pronera capacita educadores, para atuar nas escolas
dústrias. Atividades não agrícolas - como turismo rural, dos assentamentos, e coordenadores locais, que agem
artesanato e agroecologia - também são apoiadas. como multiplicadores e organizadores de atividades edu-
A ação foi criada em 2004 e faz parte do Plano Nacio- cativas comunitárias.
nal de Reforma Agrária (PNRA) e do Plano Plurianual
(PPA) que define os programas prioritários do Governo Comunidades quilombolas
Federal. Durante esse período, foram disponibilizados De acordo com o Incra, as comunidades quilombolas
R$ 44 milhões em recursos, que propiciaram a implanta- são grupos étnicos – predominantemente constituídos
ção de 102 projetos e beneficiaram 147 mil famílias em pela população negra rural ou urbana –, que se autode-
todo o Brasil. O desafio atual é avançar na implementa- finem a partir das relações com a terra, o parentesco, o
ção dessas ações nas regiões Norte e Nordeste. território, a ancestralidade, as tradições e práticas cultu-
O Terra Sol visa propiciar o aumento de renda dos as- rais próprias. Estima-se que em todo o País existam mais
sentamentos da reforma agrária por meio de atividades de três mil comunidades quilombolas. As comunidades
socioeconômicas sustentáveis, valorizando as caracte- remanescentes de Quilombos são organizações de peque-
rísticas regionais, experiências e potencialidades locais, nos agricultores rurais negros, inseridos em grupos que
com ênfase na agroecologia. participam de programas como os de agricultura familiar.
O Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, re-
Educação no campo gulamenta o procedimento para identificação, reconhe-
O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrá- cimento, delimitação, demarcação e titulação das ter-
ria (Pronera), do Incra, tem a missão de ampliar os ní- ras ocupadas por remanescentes das comunidades dos
veis de escolarização formal dos trabalhadores rurais quilombos de que trata o artigo 68, do Ato das Dispo-

MDA/Divulgação

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 191


sições Constitucionais Transitórias. A partir do Decreto venção 169, da Organização Internacional do Trabalho,
4883/03 ficou transferida do Ministério da Cultura para cujas determinações foram incorporadas à legislação
o Incra a competência para a delimitação das terras dos brasileira pelo Decreto Legislativo 143/2002 e Decreto
remanescentes das comunidades dos quilombos, bem Nº 5.051/2004.
como a determinação de suas demarcações e titulações. Cabe à Fundação Cultural Palmares emitir uma cer-
Conforme o artigo 2º, “consideram-se remanescentes tidão sobre essa autodefinição. O processo para essa cer-
das comunidades dos quilombos, para os fins deste De- tificação obedece norma específica desse órgão (Portaria
creto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de au- da Fundação Cultural Palmares nº 98, de 26/11/2007).
toatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de
relações territoriais específicas, com presunção de ances- Ação do Incra
tralidade negra relacionada com a resistência à opressão Por força do Decreto nº 4.887, de 2003, o Incra é o
histórica sofrida”. órgão competente, na esfera federal, pela titulação dos
territórios quilombolas. Os estados, o Distrito Federal e
Gestão Ambiental os municípios têm competência comum e concorrente
com o poder federal para promover e executar esses pro-
A inclusão da variável ambiental no âmbito cedimentos de regularização fundiária. Para cuidar dos
das ações de criação e promoção do desenvolvi- processos de titulação, o Incra criou, na sua Diretoria
mento sustentável dos assentamentos da reforma de Ordenamento da Estrutura Fundiária, a Coordena-
agrária indica mudança significativa na forma de ção Geral de Regularização de Territórios Quilombolas
atuação do Incra. Os elementos orientadores desta (DFQ) e nas Superintendências Regionais, os Serviços de
política são o respeito às diversidades ambientais, Regularização de Territórios Quilombolas.
a promoção da exploração racional e sustentável Com base na Instrução Normativa 57, do Incra, de 20
dos recursos naturais e a utilização do sistema de de outubro de 2009, cabe às comunidades interessadas
licenciamento como instrumento de gestão am- encaminhar à Superintendência Regional do Incra do seu
biental dos assentamentos. Os procedimentos Estado uma solicitação de abertura de procedimentos ad-
foram definidos pela Resolução nº 289/2001, do ministrativos visando à regularização de seus territórios.
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), Para que o Incra inicie os trabalhos em determinada
que estabelece diretrizes para o licenciamento comunidade, ela deve apresentar a Certidão de Registro no
ambiental de projetos de assentamento, visando Cadastro Geral de Remanescentes de Comunidades de Qui-
ao desenvolvimento sustentável e à melhoria con- lombos, emitida pela Fundação Cultural Palmares. A pri-
tínua na qualidade de vida dos assentados. meira parte dos trabalhos do Incra consiste na elaboração
de um estudo da área, destinado à confecção do Relatório
Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) do território.
Programa Brasil Quilombola Uma segunda etapa é a de recepção, análise e julgamento
Em 12 de março de 2004, o Governo Federal lançou de eventuais contestações. Aprovado em definitivo esse rela-
o Programa Brasil Quilombola (PBQ) como uma política tório, o Incra publica uma portaria de reconhecimento que
de Estado para as áreas remanescentes de quilombos. O declara os limites do território quilombola.
PBQ abrange um conjunto de ações inseridas nos diver- A fase seguinte do processo administrativo corres-
sos órgãos governamentais, com suas respectivas pre- ponde à regularização fundiária, com desintrusão de
visões de recursos, bem como as responsabilidades de ocupantes não quilombolas mediante desapropriação
cada órgão e prazos de execução. Dessas ações, a política e/ou pagamento de indenização e demarcação do terri-
de regularização é atribuição do Incra. tório. O processo culmina com a concessão do título de
propriedade à comunidade, que é coletivo, pró-indiviso e
Autodefinição em nome da associação dos moradores da área, registra-
É a própria comunidade que se autoreconhece “rema- do no cartório de imóveis, sem qualquer ônus financeiro
nescente de quilombo”. O amparo legal é dado pela Con- para a comunidade beneficiada. ◆

192 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Deputada Érika Kokay (PT/DF) acredita na
estruturação de um novo modelo para o
desenvolvimento da agricultura familiar
A
pesar de ocupar apenas ¼ da área, a agri- de suas terras: geram um Valor Bruto da Produção de R$
cultura familiar responde por 38% do valor 677/hectare, enquanto que a não familiar gera R$ 358/
da produção. E mesmo cultivando uma área hectare. Geram 15 postos de trabalho/100 ha, enquanto
menor, a agricultura familiar é responsável por garantir que a não familiar gera apenas 1,7 pessoas/100 ha.
a segurança alimentar do País, gerando os produtos da Mas, para que o setor cresça ainda mais há a neces-
cesta básica consumidos internamente. sidade da criação de um programa de incentivos para a
A agricultura familiar responde por 87% da produção organização de associações de agricultores familiares, ga-
de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, rantindo o acesso dos camponeses e suas famílias a um
38% do café, 34% do arroz, 58% do leite, 59% do plantel sistema público, com a participação dos movimentos so-
de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos, 21% do trigo ciais. A deputada federal Érika Jucá Kokay (PT/DF) diz
e, ainda, 16% da soja. Os dados do IBGE revelam também que, “para a viabilização desse novo modelo agrícola, é
como a agricultura familiar é mais eficiente na utilização preciso acelerar e qualificar a reforma agrária e o apoio
à agricultura familiar para além da obtenção da terra, do
mero assentamento e do acesso ao crédito. É preciso, so-
bretudo, romper progressivamente com o modelo atual,
hegemonizado pelo agronegócio, priorizando a agroecolo-
Gustavo Lima

gia e integrando a agricultura camponesa a um novo tipo


de desenvolvimento.”
Segundo a deputada, é preciso garantir não só infra-
estrutura de produção e comercialização, crédito e assis-
tência técnica. É necessário garantir equidade de acesso
aos serviços públicos de qualidade de educação, saúde,
cultura, esporte e lazer. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 193


Segurança alim e
preservação am b
As políticas públicas de incentivo e estratégia para a
agricultura familiar precisam assegurar condições favoráveis
de produção, mercado e renda a este setor

P
ara o deputado estadual Heitor Schuch reduzir o êxodo rural. “Os números confirmam a
(PSB), a agricultura familiar tem pa- importância desse setor, que representa 27% do
pel fundamental no desenvolvimento Produto Interno Bruto (PIB) no Estado e produz
econômico e social do país já que é responsável 89% do leite, 74% do milho, 58% da soja, 74% de
pela produção de mais de 70% dos alimentos que aves, 71% dos suínos, 38% dos bovinos de corte
chegam à mesa dos brasileiros, apesar de ocupar e 97% do fumo do Rio Grande do Sul”, declara o
menos de 30% das terras agricultáveis. parlamentar.

Segurança alimentar Políticas públicas


De acordo com Schuch, ainda tem forte influ- No que está relacionado a políticas públicas,
ência no que diz respeito à segurança alimentar o deputado é enfático ao afirmar que elas devem
do país e à preservação ambiental, sempre bus- estar voltadas para o incentivo e estratégia para a
cando um desenvolvimento sustentável. Além agricultura familiar. “As políticas públicas preci-
disso, é uma atividade com enorme capacidade sam assegurar condições favoráveis de produção,
de absorção de mão-de-obra e de geração de ren- mercado e renda a este setor, através da disponi-
da no campo, tornando-se um meio eficiente de bilidade de crédito oficial subsidiado, assistência

194 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Divulgação / BD
m entar e
m biental

Assessoria/Heitor Schuch
Deputado Estadual Heitor Schuch

técnica gratuita às pequenas propriedades e me- Permanência no campo


didas para manutenção de preços dos seus produ- O deputado afirma que para incentivar a
tos. Ou seja, as ações visando o fortalecimento e permanência do agricultor familiar no campo é
crescimento do setor devem se preocupar em au- preciso melhorar as condições de infraestrutura
mentar as ‘possibilidades’ (de infraestrutura, as- do meio rural, como estradas, energia, telefonia,
sistência técnica, crédito) dos agricultores fami- internet e informática, habitação e educação.
liares, para que esses possam atingir o seu modelo “Também é necessário a produção de tecnologia
ideal de funcionamento, levando em considera- adequada à agricultura familiar, programas de
ção a capacidade dos mesmos de gerar emprego e fomento à diversificação, políticas para garantia
renda e garantindo sua inserção competitiva nos de preço e renda mínima, avanço nos programas
mercados doméstico e global”. de irrigação, apoio e fomento ao desenvolvimen-
Para Schuch, nesse sentido, as políticas públi- to do cooperativismo e associativismo e racio-
cas devem fomentar a diversificação das proprie- nalidade na aplicação da legislação ambiental.
dades, com uma produção sustentável e a prote- Aliás, nesta área, é urgente a aprovação de legis-
ção de um seguro agrícola eficiente e garantia de lação garantindo o pagamento por serviços am-
renda mínima. bientais”, conclui. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 195


N
a linha do desenvolvimento rural sustentável, a mercados e aos instrumentos de comercialização e à
a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Môni- política de garantia de preços mínimos.
ca Vieira Teixeira, destaca que o Ministério do Para a ministra, o Plano Nacional para a Promoção
Meio Ambiente (MMA) desenvolve o programa de Apoio das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade promo-
à Conservação Ambiental Bolsa Verde, que concede, a ve a valorização de práticas e saberes, gerando renda e
cada trimestre, um beneficio de R$ 300 às famílias em si- promovendo a melhoria da qualidade de vida e do am-
tuação de extrema pobreza que vivem em áreas considera- biente de inúmeras comunidades tradicionais e agricul-
das prioritárias para conservação ambiental. Esse benefí- tores familiares.
cio faz parte do Programa Brasil Sem Miséria, é destinado “O governo brasileiro para promover o consumo e
a atividades de uso sustentável dos recursos naturais em ampliação da produção sustentável dos produtos da so-
Reservas Extrativistas, Florestas Nacionais, Reserva de ciobiodiversidade ampliou as compras governamentais,
Desenvolvimento Sustentável Federais e Assentamentos através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA),
Ambientalmente Diferenciados da Reforma Agrária. do Programa Nacional da Alimentação Escolar (Pnae) e
da Política de Garantia de Preços Mínimos, a PGPMBio.
Uso sustentável da biodiversidade Nos últimos 04 anos, através da PGPMBio, foram incluí-
Além do Bolsa Verde, Izabella aponta que há também dos 11 produtos, como o açaí, castanha-do-brasil, pequi
o Plano Nacional para a Promoção dos Produtos da So- entre outros, assim mais de 30 mil extrativistas recebe-
ciobiodiversidade (PNBSB) criado pelo Governo Federal ram a subvenção e os investimentos foram superiores a 7
para promover a conservação e o uso sustentável da bio- milhões de reais”, ressalta Izabella.
diversidade e garantir alternativas de geração de renda O Plano da Sociobiodiversidade apoia a organização
para as comunidades rurais, por meio do acesso às po- econômica local de comunidades extrativistas, a assistência
líticas de crédito, a assistência técnica e extensão rural, técnica e para garantir a sustentabilidade do agroextrati-

O fortalecimento da agricultura familiar significa mais


alimentos, geração de renda no campo, promoção da
qualidade de vida dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e
um impulso à economia do país
Ministra do Meio Ambiente, Izabella Mônica Vieira Teixeira

Jefferson Rudy/ MMA

Agricultura
sustentável
196 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
vismo, o desenvolvimento de boas práticas de manejo. De quantidade dos recursos hídricos e promovam a amplia-
acordo com o MMA, no início de 2013, 10 Manuais serão ção da produção de alimentos. Atuaremos conjuntamente
publicados contendo Diretrizes de Boas Práticas de Manejo com outros órgãos do governo federal na elaboração e im-
de 10 espécies do extrativismo brasileiro, que dão origem a plementação do Plano Nacional de Agroecologia e Produ-
produtos da sociobiodiversidade, onde serão incluídos, açaí, ção Orgânica que foi estabelecido pelo Decreto n. 7794 de
baçu, licuri, baru, pequi entre outros. “Nos estados, o Plano 2012, que estabeleceu a política”.
se configura através das instâncias de governança e 11 já fo-
ram instituídas. O MMA não está sozinho nessa agenda, e Fortalecimento da agricultura
faz isso em parceria com o MDA, MDS e a Conab”. Para a ministra o fortalecimento da agricultura fami-
liar significa mais alimentos, geração de renda no cam-
Formulação de políticas em parceria po, promoção da qualidade de vida dos trabalhadores e
Em declaração, a ministra afirma que o Ministério do trabalhadoras rurais e um impulso à economia do país.
Meio Ambiente está aberto ao diálogo para formular po- “Estes agricultores e agricultoras são 84% dos estabe-
líticas com outros parceiros. “Temos uma grande parceria lecimentos rurais no Brasil, produzem 38% do Valor Bru-
com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério to da Produção Agropecuária e ainda ocupam 74,4% das
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento entre outros ór- pessoas no meio rural (12,3 milhões de pessoas), tudo isto
gãos do Governo Federal. Nossos programas são desenvol- utilizando apenas 24,3% da área dos estabelecimentos.
vidos em conjunto e neste momento estamos trabalhando Estes dados demonstram que um projeto de desenvolvi-
na agenda pós-código florestal que contém dois compo- mento sustentável para o Brasil, envolve, necessariamente,
nentes básicos a regularização ambiental e a sustentabi- o fortalecimento da agricultura familiar e é neste sentido
lidade da produção agropecuária. Neste sentido, o CAR é que trabalhamos junto com o Programa Brasil Sem Mi-
um primeiro passo, pois garante a regularidade ambiental séria, com o desafio de fazer chegar a 7,6 milhões de pes-
e possibilita o planejamento econômico e ambiental do soas que vivem no campo que se encontram em situação
imóvel rural. O segundo, é incorporar tecnologias ambien- de extrema pobreza o apoio necessário, garantindo-lhes
talmente adequadas que reduzam o uso de agrotóxicos, condições para superarem esta situação por meio do uso
melhorem o manejo do solo, mantenham a qualidade e sustentável dos recursos naturais”, conclui Izabella. ◆

Código Florestal

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 197


UFFS
Agroecologia e alimentos sem
agrotóxicos proporcionam benefícios
aos agricultores e consumidores
Mais saúde, valorização dos produtos e renda agregada
impulsiona novos adeptos

O
s insumos são caracterizados como a com- No entanto, inúmeras pesquisas têm sido realizadas
binação de fatores de produção, diretos no sentido de buscar insumos de baixa ou sem toxicidade
matérias-primas, e indiretos - mão de obra, ao ambiente, tal como a aplicação reduzida de fertilizantes
energia, tributos -, que entram na elaboração de certa inorgânicos e também o manejo ecológico de pragas e de
quantidade de bens ou serviços. Os principais insumos doenças. Entre estes insumos estão os defensivos alterna-
utilizados na agricultura convencional são sementes, tivos, preparados a partir de substâncias não prejudiciais à
adubos, agrotóxicos, maquinário, combustível e mão de saúde humana e ao meio ambiente. São eficientes no com-
obra especializada. Dentre estes, os insumos que mais bate aos insetos e ácaros, fungos e bactérias, não favore-
agridem o ambiente são os fertilizantes e os agrotóxicos. cendo a ocorrência desses fitoparasitas. Estão incluídos na
De acordo com a professora da UFFS Campus Ere- categoria de biocontrole os diversos biofertilizantes líqui-
chim, doutora em bioquímica toxiclógica, Denise Carg- dos, as caldas (sulfocálcica, viçosa e bordalesa), os extratos
nelutti, “os fertilizantes inorgânicos trazem consigo de plantas, a homeopatia, entre outros.
quantidades razoáveis de metais pesados que, devido às Os biofertilizantes líquidos ao serem absorvidos pe-
aplicações repetidas e em quantidades demasiadas, levam las plantas funcionam com fonte suplementar de micro-
a uma acumulação destes produtos no ambiente no decor- nutrientes e de componentes inespecíficos. Acredita-se
rer dos anos. Os metais pesados são tóxicos para a biota do que eles possam influir positivamente na resistência das
solo e da água bem como para as plantas. Além disso, as plantas ao ataque de pragas e doenças, regulando e toni-
plantas podem acumular nos seus frutos e sementes con- ficando o seu metabolismo. Revelam significativo poten-
centrações altas de metais pesados, que podem ocasionar cial para efetuar o controle direto de alguns fitoparasitas
toxicidade e doenças em humanos e animais.” através de substâncias com ação fungicida, bactericida
Os agrotóxicos de diferentes formulações geralmente e inseticida presentes em sua composição. Um dos bio-
agem no organismo alvo, no sentido de inibir suas vias fertilizantes líquidos mais simples e muito conhecido é
metabólicas primordiais. No entanto, geralmente, os aquele produzido a partir da fermentação metanogênica
alvos de ação não são específicos, ou seja, as moléculas ou anaeróbica (sem a presença de oxigênio) de esterco
ativas dos agrotóxicos também interferem em rotas me- fresco de bovinos.
tabólicas de outros organismos vivos expostos aos com-
postos químicos. Assim, em função da via de exposição Consequências
(ocupacional, ambiental e alimentar), o agrotóxico terá Há no mercado atualmente mais de 2 mil produtos
um grande impacto na contaminação humana. Além considerados agrotóxicos, que podem causar sérios pro-
disso, a saúde dos ecossistemas como um todo também blemas de saúde ao ser humano, seja para os agriculto-
será afetada negativamente. res que os aplicam ou para quem consome os produtos

198 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


contendo seus resíduos. Os impactos na saúde humana

Marcionize Bavaresco
podem ser graves, desde cânceres de vários tipos, abor-
tos, morte prematura de recém-nascidos, até sintomas
mais amenos como dores de cabeça, dores musculares,
vômitos e diarréias.
O professor da UFFS – mestre em agroecossistemas,
Ulisses Pereira de Mello, considera que o benefício prin-
cipal para quem não utiliza agrotóxicos na lavoura e para
quem não os consome está relacionado justamente à
saúde humana. “Reduzir e eliminar os agrotóxicos pode
melhorar muito a vida de toda a população, no campo e
na cidade”. Professora da UFFS Campus Erechim, doutora em bioquímica toxiclógica, Denise Cargnelutti

Como saber se estou adquirindo um produto

Marcionize Bavaresco
livre de agrotóxico?
Talvez esse seja um dos principais temas de interesse
dos consumidores. Com a aprovação da lei no 10.831 de
2003, sua regulamentação a partir do decreto no 6.323 de
2007 e em vigor desde janeiro de 2011, o Brasil passou a
contar com uma legislação específica sobre os sistemas
orgânicos de produção agropecuária. Através do decreto
foi criado o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformi-
dade Orgânica, identificado por um selo único (Produto
Orgânico - Brasil) em todo o território nacional. Assim,
de acordo com a legislação vigente, somente poderão ser Professor da UFFS Erechim, Iloir Gaio
considerados produtos saudáveis, isentos de contaminan-
tes, aqueles que possuírem um selo que os certifique como

Marcionize Bavaresco
tais. Para a obtenção do selo é necessária uma certificação
do produto, que pode ser feita por entidades certificadoras
privadas ou através da certificação participativa, por gru-
pos - como a Rede EcoVida, atuante na Região Sul -, todas
devidamente credenciadas no Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Assim, a garantia para o consumidor de que o produto
está livre de agrotóxicos e de outros contaminantes está
atualmente vinculada ao selo de certificação, que materia-
liza a sua conformidade com a legislação em vigor.

Alimentos saudáveis Professor da UFFS Campus Erechim, mestre em agroecossistemas, Ulisses Pereira de Mello
A partir da regulamentação do mercado de produtos
orgânicos no Brasil, ocorrida em janeiro de 2011, várias alimentos orgânicos entre 2009 e 2014. Para o professor
pesquisas informam que há um aumento crescente na Ulisses Pereira de Mello estas previsões estão baseadas,
oferta de alimentos saudáveis, isentos de agrotóxicos. principalmente, no crescente interesse dos consumi-
Uma pesquisa recente sobre o mercado brasileiro de dores e numa melhor compreensão dos benefícios dos
produtos orgânicos, apoiada pelo Ministério da Ciência produtos orgânicos para a saúde humana e para o meio
e Tecnologia, estima um crescimento de 46% do setor de ambiente como um todo.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 199


Um modelo de organização é a agroecologia, que uti-
liza insumos que não impactam negativamente no meio
ambiente. “A agroecologia valoriza e incentiva o trabalho

Marcionize Bavaresco
da agricultura familiar, contribuindo para melhorar a
qualidade de vida dessas famílias e para reduzir o êxodo
rural. Há também o aumento dos postos de trabalho, com
crescimento da geração e distribuição de renda e o respeito
às normas sociais baseadas nos acordos internacionais de
trabalho,” disse Iloir Gaio.
Reunião do grupo de pesquisa em agricultura familiar e transição ecológica da UFFS Campus Erechim
Agroecologia
Com relação ao mercado mundial de produtos orgâni- A agroecologia é um modelo de agricultura que teve
cos, em 2009 houve um movimento em torno de US$ 25 suas bases iniciadas no começo do século XX, quando vá-
bilhões e há uma estimativa que em 2015 o faturamento rios grupos no mundo passaram a reagir contra o processo
ultrapassará os US$ 100 bilhões. Esses números sinalizam de modernização da agricultura, baseado nos fertilizantes
uma tendência clara de expansão na comercialização de de síntese química, nos agrotóxicos, na moto-mecaniza-
produtos orgânicos. ção pesada e nas sementes híbridas. Mas a agroecologia
como conhecemos atualmente, teve sua origem na década
Relação custo x benefício para o agricultor de 1970, quando vários projetos de desenvolvimento rural
Será que para o agricultor familiar vale à pena investir na América Latina fracassaram, principalmente por esta-
em insumos que não agridam o meio ambiente? Confor- rem apoiados na agricultura moderna ou convencional,
me o professor da UFFS Erechim, Iloir Gaio, mestre em altamente dependente de insumos externos. Assim surge
engenharia de alimentos, os agricultores familiares têm a agroecologia, como reação de vários grupos sociais, agri-
fácil acesso a este tipo de insumo que também podem ser cultores, ONGs e movimentos sociais do campo, que de-
feitos em casa. “Quando o agricultor familiar depende de fendiam uma agricultura economicamente viável, social-
fontes externas de insumos, provenientes de fora do seu mente justa e ecologicamente equilibrada em contraponto
sistema de produção, ele acaba tendo altos custos que se à agricultura convencional, de caráter predatório. Com o
tornam insustentáveis na pequena propriedade. Por outro passar dos anos outros setores da sociedade, inclusive as
lado, devemos levar em consideração os benefícios que os universidades, passaram a apoiar a agroecologia.
produtos sem adição de agroquímicos trazem à saúde dos Hoje, a agroecologia é compreendida como uma ciên-
consumidores. Eles agridem muito menos o meio ambien- cia multidisciplinar que visa estudar, analisar, dirigir, dese-
te, preservam a fertilidade do solo, a qualidade da água, a nhar e avaliar agroecossistemas, com o propósito de per-
vida silvestre, assim como os demais recursos naturais. A mitir a implantação de estilos de agricultura com maiores
saúde das plantas, o bem-estar animal e a biodiversidade níveis de sustentabilidade no curto, médio e longo prazos,
nas propriedades rurais também são valorizados,” explica. visando a construção de uma agricultura e de uma socie-
O professor completou ainda que, para que uma pe- dade sustentáveis.
quena propriedade seja produtiva, rentável e sustentável, Neste sentido a Universidade Federal da Fronteira Sul
o agricultor familiar deve identificar as fontes de insu- (UFFS) – Campus Erechim criou o grupo de pesquisa do
mos, dentro de sua própria unidade de produção. Quando curso de agronomia, em agricultura familiar e transição
o agricultor deixa de utilizar insumos agrícolas externos, ecológica, do qual fazem parte os professores Denise Carg-
como fertilizantes ou agrotóxicos, e passa a aproveitar me- nelutti, Iloir Gaio, Ulisses Pereira de Mello, Alfredo Casta-
lhor os recursos fornecidos pelo solo como os compostos mann, Fernando Skonieski e Tarita Deboni.
bioativos provenientes de extratos de plantas, os custos de De acordo com o professor Mello, existem vários enten-
produção diminuem. Desta forma, o agricultor percebe o dimentos sobre o que é agroecologia. “Ela é vista como uma
custo-benefício, pois a maior parte dos insumos é retirado matriz tecnológica que ajuda a impulsionar a agricultura e
de dentro do seu próprio sistema de produção. a sociedade num rumo que ultrapassa os marcos do modo

200 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


de produção capitalista. Essa perspectiva socialista é defen- tação de profissionais que apoiem os processos de transi-
dida principalmente pelos movimentos sociais populares ção agroecológica, construindo novos caminhos para uma
no Brasil, como a Via Campesina. Há, ainda, uma terceira agricultura do futuro, mais justa ambiental e socialmente.”
interpretação, onde a agroecologia é vista como um modo
de vida, um jeito de viver na agricultura. Assim, a agroe- Benefícios
cologia pode ser compreendida tanto como ciência quanto Além de não causar malefícios à saúde do agricultor, há
como movimento, ou mesmo como um modo de vida. Ou com o aumento crescente do consumo dos alimentos orgâ-
também como síntese destas três principais visões.” nicos, no Brasil e no mundo, um grande espaço de mercado
A agroecologia pode ser implantada nas unidades de se abrindo para os agricultores familiares. Quem estiver
produção a partir de um cultivo ou de uma criação em produzindo a partir de sistemas orgânicos certamente terá
especial, ou mesmo a partir do seu conjunto, onde todo o onde colocar sua produção, seja através de feiras de venda
sistema de produção é orientado pelo enfoque agroecoló- direta ao consumidor, de cestas entregues a domicílio, ven-
gico. Para tanto, é preciso muito investimento público em das para supermercados, para escolas, creches, hospitais,
assistência técnica, extensão rural, pesquisa, estimulando a asilos, lares ou penitenciárias, garantindo a remuneração
participação dos agricultores e propiciando espaços de tro- justa do seu trabalho. Para os agricultores um grande bene-
cas de experiências.Tudo isso requer, evidentemente, um fício que a agroecologia pode trazer é a valorização da sua
grande investimento da sociedade e dos governos. Neces- profissão. “Ao invés dos agricultores, constrangidos, ven-
sita recursos financeiros expressivos para apoiar a transi- derem produtos de qualidade questionável, associados aos
ção da agricultura convencional para a agroecologia. Para agrotóxicos e a outros contaminantes, estarão interagindo
o professor Mello, “nesse ambiente de mudança, então, tem com toda a sociedade oferecendo mais saúde, mais sabor,
grande importância os espaços de capacitação, onde, por mais proteção ambiental, com alimentos a preços acessí-
exemplo, a UFFS se insere, oferecendo o curso de agrono- veis. Ganha não só o agricultor, mas toda a população, do
mia com ênfase em agroecologia, contribuindo na capaci- campo e da cidade,” conclui o pesquisador Mello. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 201


JOSAPAR
Desenvolve fertilizante organo-mineral
que promove mais eficiência e menos
manejo agrícola
P
roduzido a partir da matéria orgânica Linhito, mais econômico financeiramente. Outra vantagem é que
carvão mineral extraído na cidade de Candio- o produto possui fórmula com menor concentração de
ta (RS), a Josapar desenvolveu o Organo-Mi- NPK (Nitrogênio, Fósforo e Potássio), quando associado
neral N°1, fertilizante que segue a linha da agricultura matéria orgânica, potencializa os efeitos dos nutrientes
moderna ao priorizar conceitos como sustentabilidade, minerais, que são disponibilizados às raízes das plantas.
respeito à natureza, sem deixar de lado a importância da O produto conquista, a cada dia, o mercado gaúcho
eficiência produtiva e nacional, que atualmente importa mais de 70% da ma-
No Brasil, são poucas as empresas que dedicam-se a téria-prima para produção agrícola. Com o investimen-
pesquisar o uso de fontes orgânicas e minerais para a nu- to em um produto nacional, eficiente e com diferenciais
trição de plantas. Disposta a desenvolver um produto com ecológicos, a expectativa da Josapar é contribuir para que
este foco e de forma pioneira, a Josapar, líder no mercado agricultores possam usufruir de tecnologias de fertiliza-
de grãos no país, lançou através da Divisão Insumos da ção mais eficientes e sustentáveis.
empresa o fertilizante Organo-Mineral NPK N°1 há mais Sobre a Josapar
de 30 anos no mercado gaúcho. A divisão de insumos, Produzindo qualidade desde 1922 e líder nacional
acreditando na proximidade como uma boa receita para do mercado de arroz, possui sede em Pelotas (RS) e uni-
satisfação dos seus clientes, vêm trabalhando junto a pro- dades industriais em Recife (PE), Itaqui (RS) e Campo
dutores, estando atenta as necessidades dos clientes e as Largo (PR). Além do tradicional Arroz Tio João, a Josa-
oportunidades que possam surgir no mercado. par está presente no mercado com o arroz e o feijão Meu
Produzido a partir do carvão mineral Linhito, que Biju, a linha de alimentos em pó à base de proteína isola-
é extraído na cidade de Candiota (RS), o fertilizante é da de soja - SupraSoy, entre outras marcas, como Beleza,
uma opção mais segura para o meio ambiente. Além de Exato, Tio Mingote e No Ponto. Visite o site www.josapar.
ser um produto sustentável, o fertilizante é considerado com.br e conheça mais sobre a empresa. ◆
Josapar / Divulgação

202 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


ARTIGO

A importância da agricultura familiar


N
a contramão da produção em larga escala social do campo e das cidades. Prioritária para muitos
de alimentos e da crescente urbanização municípios, a atividade, que pode ser agropecuária,
do país, o setor agropecuário familiar florestal, extrativista e de aquicultura, é realizada em
vem ganhando uma importância cada vez mais signi- empreendimentos rurais com área total de até quatro
ficativa para a economia brasileira. Responsáveis por módulos fiscais.
cerca de 80% dos alimentos que chegam diariamente Uma das formas mais eficazes de estimular o proces-
à mesa de mais de 190 milhões de brasileiros, segun- so de modernização e adequação dos integrantes deste
do dados da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) setor é por meio do crédito rural financiado por coope-
do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), rativas de crédito em todo Brasil. Terceira instituição
os agricultores familiares, que integram um universo com maior volume de recursos concedidos ao crédito
de 4,5 milhões de estabelecimentos ou propriedades, rural em 2011, com R$ 6,067 bilhões, o Sicredi afirma
vêm investindo constantemente na modernização de sua vocação natural para ajudar pequenos agricultores a
seus meios de produção. qualificarem técnica e tecnologicamente seus processos,
Se antes era associada mais ao autoconsumo e ao fortalecendo, assim, suas respectivas cadeias produtivas,
seu caráter social do que econômico, hoje a produção visando a melhoria de renda e condição de competitivi-
familiar já é vista como um poderoso gerador de rique- dade. O dado comprova a força das cooperativas de cré-
za para uma região, tanto para o próprio setor quanto dito no mercado financeiro como um sistema mais inclu-
para o país como um todo. Além disso, é essencial para sivo, participativo e justo, atuando como instrumento de
redução da pobreza extrema e pela sua nobre função organização econômica e fortalecendo a economia das
de manter o homem no campo, no sentido de estan- regiões onde atuam.
car e reverter o êxodo rural diminuindo a desigualdade Outra maneira de classificar a importância da agri-
cultura familiar é prestando a atenção às solicitações
deste tipo de crédito. Só no Sicredi, cerca de 44% das
operações de créditos são destinadas ao fim agrope-
cuário, seja para compra de maquinário, como tra-
tores, bem como animais ou para garantir a reforma
de uma sala de ordenha, por exemplo. Na safra atual
(desde julho 2012), mais de R$ 700 milhões já foram
emprestados para a agricultura familiar, superando em
30% o volume liberado para o mesmo período na Safra
2011/2012.
Assim como o cooperativismo de crédito, a agricul-
tura familiar é fundamental para a sociedade, pois pro-
move o desenvolvimento econômico e social das regiões
onde estão presentes. Ambos asseguram a manutenção
de empregos nas comunidades e a oferta de produtos e
serviços adequados às necessidades locais. Esta é a nossa
crença, gente que coopera cresce.

Ademar Schardong, Presidente Executivo do Sicredi

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 203


N
o momento em que o Banco Nacional do De- cadação, investimentos, educação da população rural.
senvolvimento (BNDES), o superintendente Seguindo a sequência de um círculo virtuoso”, pontua
da Área Agropecuária e de Inclusão Social, lembrando que em reconhecimento a importância des-
Marcelo Porteiro Cardoso, destaca que a aplicação con- se segmento, tanto no aspecto econômico quanto social,
sistente de recursos na agricultura familiar provoca efei- o BNDES participa do Programa Nacional de Fortaleci-
tos positivos sobre a produção alimentar, a geração de mento da Agricultura Familiar (Pronaf) desde o Ano-Sa-
emprego e renda, além de estabelecer elos importantes fra 1996/1997, sendo considerado um importante agente
entre a agricultura familiar e outros setores econômicos. impulsionador do Programa.

Agricultura consolidada Pronaf


De acordo com Marcelo, nas regiões de agricultura Segundo Marcelo, o Pronaf é uma alternativa concre-
mais consolidada, as modernas cooperativas passaram ta para os agricultores familiares de todo o país, tendo
a dominar o meio rural. “No Brasil inteiro, por onde se em vista a enorme expansão verificada nos últimos pe-
anda, se encontra uma nova geração de produtores ru- ríodos, quando o programa se fez presente em mais de
rais, mais jovens, mais informados e mais conscientes. 5.300 municípios brasileiros.
Isso, para os municípios, significa oferecer alternativa Para o superintendente, o programa é um marco na
para permanência dessa população no campo, arre- política agrícola brasileira, possibilitando a constituição

Superintendente do BNDES declara que uma agricultura familiar


sustentável deve estar lastreada em três pilares indissociáveis:
assistência técnica, meio ambiente e crédito

Aplicação consist e
na agricultura fa m
204 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
de instituições, normas e procedimentos, que de for- interações com a comunidade, levando em conta fatores
ma regular e em condições favoráveis disponibilizaram sociais, econômicos e ambientais, no âmbito das modali-
crédito para uma imensa quantidade de agricultores dades de crédito disponíveis”, conclui o superintendente.◆
familiares que estavam à margem do sistema bancário
e financeiro do país. “Além disso, o Banco Nacional de

Assessoria/OCB
Desenvolvimento apóia a inclusão socioprodutiva dos
agricultores familiares com recursos do Fundo Social do
BNDES, que é um fundo de caráter não reembolsável,
que apóia ações coletivas de forma a propiciar a geração
de trabalho e renda para essa população”, destaca.
“Uma agricultura familiar sustentável deve estar las-
treada em três pilares indissociáveis: assistência técnica,
meio ambiente e crédito. No caso do crédito, um apoio
sustentável tem por finalidade planejar, orientar, coor-
denar e monitorar a implantação dos financiamentos de
agricultores familiares, com enfoque sistêmico, ou seja, Superintendente do BNDES, Marcelo Porteiro Cardoso
permite observar a propriedade como um todo e suas

Investimento do Pronaf

Para aplicação pelo BNDES, os orçamentos


dos dois últimos anos-safra período compreendi-
do entre 1º de julho de um ano até 30 de junho do
anos seguinte) foram:
Safra 2011/2012 = R$ 1,5 bilhão, volume to-
talmente aplicado e correspondente a 29.168 ope-
rações;
Safra 2012/2013 = R$ 2,25 bilhões, sendo que
até o momento foram desembolsados R$ 600 mi-
lhões, correspondentes a 8.276 operações.

t ente de recursos
a miliar
Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 205
Organização e viab i
Cooperativismo tem um papel
econômico e social importante
nas regiões em que atua, por
isso, é necessário priorizar ações
práticas para o fortalecimento
das cooperativas e de sua
atuação junto aos associados

206 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Assessoria/COASA
b ilidade econômica
é o caminho das cooperativas de agricultores

U
m grande exemplo de organização
dos agricultores vem através da his-
tória da Cooperativa Agrícola Água
Santa - RS (Coasa) que teve sua origem a partir
da Associação de Agricultores da Comunidade
Rural. Para o gerente Comercial da Coasa, Orildo
Germano Belegante, na época a criação da Asso-
ciação foi à alternativa de organização e princi-
palmente de viabilidade econômica, que possibi-
litou o acesso ao crédito com juros mais baixos
e subsidiados de um programa do Governo do
Estado denominado “Condomínios Rurais”.
“No nosso caso tínhamos a necessidade de
construir uma estrutura que possibilitasse contri-
buir para que o agricultor familiar de Água Santa
pudesse diversificar suas atividades, ter acesso a
novas tecnologias e adquirir insumos sem interme-
diários. Com a aprovação do projeto de financia-
mento em 1994, no valor de R$ 103 mil definimos
pela organização de uma cooperativa, aumentando
o nosso quadro de associados para 159 associados.
Inicialmente na associação éramos 59 associados e
a organização da associação foi o meio para obter
recursos financeiros em condições que permitisse
iniciar as atividades da cooperativa realizando os
primeiros investimentos planejados”, destaca o ge-
rente lembrando que foi em 1º de abril de 1995 que
a cooperativa iniciou suas atividades comerciais.

Cooperativismo agropecuário
Em avaliação sobre o cooperativismo agrope-
cuário hoje, levando em consideração a conjuntura

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 207


econômica e as demandas para o setor, Orildo ressalta que timentos. A nossa expectativa para o futuro é consolidar-
um grande grupo de cooperativas, na atual conjuntura, mos cada vez mais a nossa atuação junto aos agricultores
necessita se reestruturar, pois estão perdendo competi- familiares da região em que atuamos”, ressalta.
tividade com o setor da iniciativa privada. Segundo ele,
as cooperativas têm um papel econômico e social muito Crescimento sustentável
importante nas regiões em que atuam, por isso, é neces- O crescimento sustentável faz parte da missão da Coa-
sário valorizar a discussão em torno de uma governança sa. Diante da importância da sustentabilidade, a coopera-
cooperativa, que vem sendo discutida no Rio Grande do tiva atua fortemente buscando condições de desenvolver
Sul, que priorize ações práticas para o fortalecimento das políticas que contribuam para que os associados possam
cooperativas e de sua atuação junto aos associados. melhorar as suas condições econômicas, sociais e culturais
nas comunidades onde os mesmos residem. “A coopera-
Expectativas tiva está integrada com a comunidade em geral e possui
Para o gerente da Coasa, a cooperativa mantém boas como foco principal contribuir para que os associados
expectativas para 2013, ano em que completa 18 anos de acessem novas tecnologias sustentáveis que possibilitem
atividade apresentando, nos 10 últimos exercícios um melhorar suas condições de trabalho”, conclui o gerente. ◆
crescimento médio de 20% ao ano em seu faturamento,
ampliando sua área de atuação e seu quadro social.
“Inicialmente atuávamos praticamente no município

Assessoria/COASA
de Água Santa, hoje atuamos de forma prioritária também
nos municípios de Gentil, Mato Castelhano, Ciríaco, Ca-
seiros e Santa Cecília do Sul, além de outros municípios vi-
zinhos. Contamos hoje com 1.775 associados, destes 75,14
% são agricultores familiares com Declaração de Aptidão
(DAP) ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agri-
cultura Familiar (Pronaf), possuímos uma equipe técnica
com 17 profissionais para fornecer assistência técnica aos
agricultores e na realização de projetos de custeio e inves-
Gerente Comercial da Coasa, Orildo Germano Belegante

Cooperativa é extensão da propriedade rural

Ainda, o gerente Comercial da Coasa afirma que as dução, por isso é indispensável o fortalecimento de
cooperativas são uma extensão das propriedades ru- organizações cooperativas identificadas com a agri-
rais, por isso elas podem contribuir muito com o forta- cultura familiar para estruturar e fortalecer as peque-
lecimento das atividades produtivas dos agricultores, nas propriedades. Caso os agricultores familiares não
permitindo acesso a melhores tecnologias através do vierem a acessar estas novas tecnologias mais com-
apoio técnico, acesso a novos mercados, valorizando petitivas e rentáveis em suas atividades, poderão, no
a produção e aumentando a renda e permitindo de futuro, estar perdendo competitividade, vendendo
forma planejada e organizada buscar alternativas para ou arrendando suas propriedades para agricultores
diversificação das atividades de produção, gerando mais eficientes no processo produtivo, o que seria
oportunidades de manter a família residindo no meio extremamente preocupante, por isso defendemos
rural com mais qualidade de vida. que os governos devem destinar políticas públicas às
“A agricultura familiar de forma individualizada cooperativas de agricultura familiar para que as mes-
não consegue ter acesso a novas tecnologias, crédito mas possam contribuir para manter o agricultor no
diferenciado e acesso a preços justos para sua pro- processo produtivo”, frisa Orildo.

208 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Cotrijal
conhecimento e tecnologia
para o pequeno produtor
No Brasil, o cooperativismo agropecuário tem participação ativa
na economia, sendo responsável por 5,39% do PIB do País

A
Cotrijal Cooperativa Agropecuária e Industrial, Para Mânica, as expectativas do setor cooperativista
localizada em Não-Me-Toque/RS, foi fundada são muito boas. “O governo sabe que o cooperativismo é
em 1957, é a organizadora da Expodireto Cotri- um sistema que movimenta a economia, diminui o êxo-
jal, uma das maiores feiras do setor agrícola no País. Foi fun- do rural e promove melhor distribuição de renda, e por
dada por 11 produtores rurais que deram origem ao coope- isso tem desenvolvido ações visando seu fortalecimento.”
rativismo de produção e comercialização agrícola no Brasil. A organização dos produtores rurais através de co-
O cooperativismo é um sistema que soma escalas in- operativa tem proporcionado a eles conhecimento do
dividuais e que oportuniza melhorias em organização, mercado, oportunidades de ganhos de escala, acesso a
gestão e incorporação de tecnologia. Os desafios globais, tecnologia e serviços, redução de custos da produção,
segundo o presidente da Cotrijal, Nei César Mânica, “são o melhor gestão dos manejos e dos fatores de produção,
enorme crescimento da demanda, áreas cultiváveis limita- além da gestão do negócio como um todo.
das; suprimento de água limitado; necessidade de aumen- As cooperativas agropecuárias ainda proporcionam
to da produtividade – até 2050 teremos de produzir 50% a aos seus associados que se aproximem das novas tecno-
mais do que produzimos hoje e com custos menores”. logias, por isso estão permanentemente focadas em ofe-
No Brasil, o cooperativismo agropecuário tem partici- recer alternativas e ferramentas que resultem em conhe-
pação ativa na economia. Dados consolidados pela Orga- cimento, eficiência e renda para as propriedades rurais,
nização das Cooperativas do Brasil (OCB) apontam que sendo, portanto, grandes aliadas dos produtores rurais,
esse segmento é responsável por 5,39% do Produto In- em especial dos pequenos, que de outra forma não te-
terno Bruto (PIB) do País. As mais de 1.548 cooperativas riam acesso a estas vantagens. Atualmente, as coopera-
existentes são responsáveis direta ou indiretamente, por tivas representam 37% do PIB do agronegócio no país. ◆
quase 50% da produção agrícola nacional, consideran-
do apenas trigo, soja, café, algodão, milho, arroz e feijão.
Dos quase um milhão de cooperados, 83% produzem em
Assessoria de Comunicação Cotrijal

extensões de área que não passam de 100 hectares. Pe-


quenos e médios produtores são responsáveis por 37%
do PIB agropecuário brasileiro e encontram no coopera-
tivismo a solução para terem acesso a linhas de crédito e
financiamentos. Além disso, a união entre eles aumenta
o poder de barganha tanto para a aquisição de insumos
quanto para a comercialização dos produtos agrícolas no
mercado de commodities.
Presidente da Cotrijal Nei César Mânica

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 209


Cooperativismo e
agricultura familiar
O Sistema OCB, na sua função de representação, trabalha para o
fortalecimento de todas as cooperativas, considerando os 13 ramos
de atividades econômicas nos quais atua o setor, entre estes o
agropecuário, um dos mais significativos

A
ONU declarou 2012 como o Ano Internacio- tores familiares - pronafianos. E destes, 72% estão ligados a
nal das Cooperativas. A iniciativa reconhece cooperativas que possuem DAP Jurídica, estendendo a eles a
o modelo cooperativo como fator importante participação nas políticas públicas do Ministério do Desen-
no desenvolvimento econômico e social de cada país. Em volvimento Agrário (MDA). Observando toda a base de da-
entrevista, o superintendente da Organização das Coopera- dos do ministério, concluímos que 68% do total de famílias
tivas Brasileiras, Renato Nobile, declara que iniciativa das de agricultores familiares são vinculadas ao Sistema OCB”.
Nações Unidas ratifica, na verdade, o trabalho desenvolvido Segundo Renato, é importante ressaltar ainda que o ta-
pelo movimento cooperativista - a sua contribuição efetiva manho da cooperativa não impede que ela seja de agricul-
na geração de trabalho, renda e na consequente redução das tura familiar, porque a unidade considerada é o produtor
desigualdades sociais. rural e sua propriedade. Existem cooperativas de agricultura
“Isso se reflete inclusive nos números do setor. Mun- familiar, por exemplo, com mais de 50 mil associados, forta-
dialmente, o cooperativismo reúne 1 bilhão de pessoas e lecendo suas atividades e a renda destas famílias.
gera mais de 100 milhões de empregos diretos. No Brasil, “Elas exercem um importante papel econômico e social
mesmo jovem, o movimento já mobiliza 33 milhões de nas regiões onde estão estabelecidas. Em muitas localidades,
pessoas. Ele se apresenta como uma alternativa econômi- representam uma das poucas possibilidades de agregação de
ca ao mercado convencional, sustentada na união de esfor- valor à produção rural, bem como da inserção de pequenos e
ços, no trabalho conjunto, e estende seus benefícios não só médios produtores em mercados concentrados. Isso eviden-
aos cooperados, mas também às comunidades onde está cia os diferenciais competitivos da prática cooperativista, de
presente”, pontua Renato. fortalecimento pela união”, ressalta.
Para a OCB, são diversos os benefícios das sociedades
Fortalecimento das cooperativas cooperativas, entre os quais se destaca a integração, que pro-
De acordo com o superintendente, e Sistema OCB, move redução dos custos, consequência de seu maior poder
na sua função de representação, trabalha para o forta- de negociação na aquisição e venda de produtos. “Natural-
lecimento de todas as cooperativas, considerando os 13 mente, as cooperativas geram ganhos de eficiência por sua
ramos de atividades econômicas nos quais atua o setor, capacidade coordenadora, por meio de economias de escala
entre estes o agropecuário, um dos mais significativos. e redução dos riscos em ações conjuntas, comuns a esse tipo
“O cooperativismo agropecuário, especificamente, tem de estrutura produtiva. Vale ressaltar, ainda, a assistência téc-
sua estrutura de associados formada, em 70%, por agricul- nica prestada aos produtores”.

210 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Desenvolvimento sustentável Alimentação Escolar (Pnae) e o do biocombustível, a fim
A OCB realiza suas atividades na lógica do sistema de manter os estados informados sobre tais questões e
cooperativista. Nessa estrutura, todos têm responsabili- aproveitar as melhores oportunidades de atuação. Os nú-
dades e participam dos processos. Os produtores rurais meros são os elencados anteriormente”, declara Renato.
associados, as cooperativas, as unidades estaduais e a
unidade nacional, cada um destes com papel determi- Paraná é destaque no cooperativismo agrícola
nante e compartilhado. Assim ocorre a identificação dos Segundo Renato, no último ano, as cooperativas pa-
desafios e das iniciativas que devem ser estruturadas e ranaenses exportaram cerca de US$ 2,2 bilhões, com
trabalhadas pela unidade nacional. crescimento médio anual de 17%. Em termos de im-
“Podemos citar a apresentação de propostas ao Plano postos, recolheram R$ 1,25 bilhão, registrando aumento
Safra da Agricultura Familiar, do Ministério do Desenvol- significativo - de 10% ao ano. E o resultado econômico
vimento Agrário (MDA), como o ápice desta atividade, do- (movimentação financeira) neste período atingiu R$
cumento no qual são relacionadas sugestões do setor para 32,1 bilhões (somente o ramo agropecuário - R$ 26,5 bi-
o ajuste de políticas públicas existentes e a apresentação de lhões). Comparativamente ao ano de 2002, o incremento
novas ações de governo que visem acentuar o desenvolvi- médio anual foi de 14%, saindo de R$ 9,5 bilhões.
mento das cooperativas. O sistema também está habilitado Segundo a gerência técnica da Organização das Coope-
a apresentar propostas para eventuais correções a essas po- rativas do Estado do Paraná (Ocepar), a previsão é fechar
líticas ou articular questões mais tempestivas. Os processos 2012 com R$ 1,32 bilhão em investimentos - 49% para o se-
de capacitações dos dirigentes, cooperados e funcionários tor da agroindústria, 36% em armazenagem e recebimento
das cooperativas, que são promovidos pelo Serviço Nacio- de grãos e 15% em setores estratégicos. Para 2015, a meta é
nal de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), tam- atingir 50% do faturamento com produtos de valor agregado.
bém contribuem diretamente para o desenvolvimento sus- “Corroborando com as informações listadas acima,
tentável da agricultura familiar”, pontua o superintendente. disponibilizamos a tabela, que descreve o ranking das
cooperativas agropecuárias, dentre as 400 maiores em-
Linhas de trabalho presas do agronegócio brasileiro. Somente no Estado do
Como entidade de representação, a atuação da OCB é Paraná existem 11 cooperativas agropecuárias que fatu-
diversa e percorre questões de natureza jurídica, legislati- ram acima de R$ 1 bilhão. Destacamos, ainda, que, das
va e técnica. “Continuamente, atuamos junto às unidades 100 maiores empresas com resultados acima de R$ 1 bi-
estaduais, provendo entendimentos sobre o ato coopera- lhão, 18 são cooperativas. A C.Vale é um bom exemplo.
tivo, identificando e avaliando as principais propostas de Seu quadro social é composto por 13,6 mil cooperados
legislação em ambiente federal. Paralelamente, acompa- – sendo 85% deles proprietários com áreas menores que
nhamos os programas de governo, como o Programa de 50 hectares”, conclui Renato. ◆
Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de
S uperintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras, Renato Nobile
Ranking Empresa Segmento Valor Vendas Cresci-
líquidas mento
7 Copersucar - SP Açúcar e alcool R$ 8,4 bilhões 16,2%
Assessoria/ OCB

11 Coamo - PR Grãos R$ 5,7 bilhões 17,6%


25 Aurora – SC Aves e suínos R$ 3,6 bilhões 17,4%
32 Cooxupé – MG Café R$ 2,9 bilhões 53,8%
35 C Vale – PR Aves e suínos R$ 2,7 bilhões 9%
42 Itambé – MG Leite e derivados R$ 1,9 bilhão -1,1%
47 Cocamar – PR Grãos R$ 1,86 bilhão 23,9%
48 Lar – PR Grãos R$ 1,85 bilhão 14%
55 Comigo – GO Grãos R$ 1,6 bilhão 32,5%
66 Integrada - PR Grãos R$ 1,3 bilhão 22,4%
Fonte: Organização das Cooperativas Brasileiras

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 211


Biocombustíveis
Percentual de mistura do biodiesel no óleo
deve passar para 10% até 2020
Agricultores familiares são estimulados a produzir matéria-prima

O
s biocombustíveis são combustíveis de fon- Fundação Getúlio Vargas (FGV) a poluição do ar é 57%
tes renováveis, obtidos a partir do beneficia- menor com o biodiesel em relação ao diesel, o que traz
mento de determinados vegetais. Essa fonte qualidade ambiental e bem-estar para as pessoas, dimi-
de energia é uma alternativa eficiente para amenizar nuindo o gasto público com saúde.
diversos problemas relacionados à emissão de gases e, Dados da FGV apontam ainda que de 2005 a 2010 a
automaticamente, combater o efeito estufa. geração de empregos no setor correspondeu a 1,3 milhão,
No Brasil, a Comissão Executiva Interministerial do desde a lavoura até os postos de abastecimento. Outro efei-
Biodiesel (CEIB), formada pelo governo desde o início to positivo é que, com adição de biodiesel, o Brasil deixou
do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel de importar 2,7 bilhões de litros de diesel em 2011, econo-
(PNPB), concluiu os estudos, após audiência dos diver- mizando o equivalente a 2 bilhões de dólares.
sos setores componentes da cadeia produtiva e sugeriu
mudança no marco regulatório com aumento de mistura
obrigatória para até 10%, que poderá ocorrer paulatina-
mente até 2020.
De acordo com o presidente da Câmara Setorial de

Divulgação
Oleaginosas e Biodiesel do Ministério da Agricultura,
Odacir Klein, ainda não houve a manifestação final
do governo. “Mas não há dúvidas de que quando ela
ocorrer será por determinação da presidente Dilma
Rousseff, que conhece bem a questão e como Ministra
de Minas e Energia e, posteriormente, da Casa Civil,
contribuiu decisivamente para a implantação do Pro-
grama,” pontua.
Hoje no País o percentual da mistura é de 5% de
biodiesel no óleo diesel consumido. Conforme Klein, “a
importância do aumento da mistura obrigatória decorre
de positivos reflexos ambientais, na saúde humana, na
geração de empregos, além do agronegócio e no desen-
volvimento da agricultura familiar”.
Um estudo da União Européia publicado em julho de
2012 conclui que biocombustíveis colocam o Brasil en-
tre os menores emissores de CO2 do mundo. Segundo a Presidente da Câmara Setorial de Oleaginosas e Biodiesel do Ministério da Agricultura, Odacir Klein

212 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


O Brasil está preparado para aumentar o percentu- aproximadamente 15% da matéria-prima, ou seja, 400
al de mistura de biodiesel no diesel, pois a capacidade milhões de quilos por ano.
industrial instalada corresponde a mais do que o dobro Outras matérias-primas estão sendo estimuladas e
da demanda hoje existente para a mistura obrigatória implantadas para uso no biodiesel, como canola, giras-
que é de 5%. sol, palma e algas. A Embrapa Agroenergia ainda reali-
O Programa Nacional de Produção e Uso de Bio- za um trabalho científico para oferecer novas opções de
diesel somente foi bem sucedido porque havia uma matéria-prima.
matéria-prima disponível: a soja, para a extração de O Programa, desde seu início, estimulou a agricultu-
óleo. Klein explicou que a oleaginosa oferecia seguran- ra familiar, obrigando as empresas, para participarem de
ça pelo fato de ter escala, cadeia estruturada, domínio 80% do volume dos leilões de biodiesel, a serem detentoras
tecnológico e, ao mesmo tempo, garantir produção de do Selo Combustível Social, somente deferido pelo Minis-
farelo transformável em ração e, consequentemente, tério do Desenvolvimento Agrário, após minucioso exame
em proteínas animais. A presença da soja garantindo o de um projeto de assistência aos agricultores familiares.
Programa já enseja o uso de gordura animal, que antes Em 2011, 104 mil famílias de agricultores foram be-
tinha limitada demanda e cujo consumo corresponde a neficiadas com o Programa. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 213


Produção de girassol no sudoeste de

quadruplica
Minas Gerais

em um ano

A
s plantações de girassol nos municípios Os resultados são fruto de mudanças na forma de
do sudoeste de Minas Gerais, flores que atuar da companhia, como explica o gerente de
geram matéria-prima para o programa Suprimento Agrícola de Montes Claros, Eliseu Cer-
de suprimento agrícola da Petrobras Biocombustí- queira. “O primeiro diferencial foi a assistência téc-
vel, cresceram e se multiplicaram. Os bons ventos nica agrícola. Nesta safra, três profissionais acom-
se mostram não só na beleza dos campos floridos, panharam de modo exclusivo e intensivamente os
mas nas expressivas cifras que transformaram a re- agricultores”, conta.
alidade local no curto período de um ano. Entre as Outro ponto importante foi o tipo de semente,
safras de 2010/2011 e 2011/2012, a produção qua- fator fundamental para o salto na colheita. “Graças
druplicou: passou de 1.138 para 5.038 toneladas, à orientação dos técnicos, os agricultores aposta-
o que corresponde a 83% da safra projetada pela ram na mudança e optaram por utilizar semente
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) híbrida, que têm a produtividade muito maior do
para o Estado. Isso trouxe melhorias significativas que a de uma semente comum”, explica Cerqueira.
para a vida de dezenas de agricultores familiares, O incentivo ao plantio do girassol no sudoeste mi-
parceiros da Petrobras Biocombustível no negócio. neiro é parte da atuação do escritório de Suprimen-

214 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Divulgação
A atuação da Petrobras
A garantia da compra de grãos, aliada à assistên-
Biocombustível estimulou cia técnica oferecida pela Petrobras Biocombustível,
tem se tornado um grande atrativo para os agri-
mudanças na agricultura cultores familiares da região. A parceria contribui
para manutenção do Selo Combustível Social, que
familiar que levaram a esse garante competitividade no mercado de biodiesel e
reafirma o compromisso da companhia com o de-
resultado senvolvimento associado à sustentabilidade.

Petrobrás Biocombustível
A Petrobras Biocombustível faz gestão de su-
primentos e produz biodiesel com a matéria-pri-
ma disponível e com melhor custo. Em paralelo,
trabalha em uma estratégia de diversificação de
matérias-primas, com transferência de tecnologia
e conhecimento aos agricultores familiares na re-
gião do semiárido nas quais estão localizadas suas
três usinas próprias, englobando oito estados:
Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambu-
co, Sergipe, Bahia, Ceará e Minas Gerais.
Para esses pequenos produtores — em sua
maioria de municípios do semiárido que apresen-
tam baixos Índices de Desenvolvimento Humano
(IDH) — a empresa oferece assistência técnica
agrícola aliada à garantia da compra de grãos. A
parceria contribui para manutenção do Selo Com-
bustível Social, o que garante competitividade no
mercado de biodiesel e reafirma o compromisso
da companhia com o desenvolvimento associado
to da Usina de Biodiesel de Montes Claros, que vem à sustentabilidade.
estruturando a cadeia de produção de oleaginosas Para a próxima safra, a meta é trabalhar com
no Estado, atuando desde o plantio até a comercia- 23 mil agricultores familiares em mais de 200
lização dos derivados, como óleos e tortas. municípios com atuação intensiva em 90 muni-
Cultivado na chamada safrinha (entressafra cípios localizados em pólos de produção, focando
do plantio de milho), o girassol é plantado em áreas aptas e com vocação para as culturas traba-
março e colhido do fim de junho até setembro. lhadas pela empresa no semiárido, especialmen-
O plantio é mecanizado. O girassol, além de ser te, mamona e girassol.
mais uma opção para o agricultor e mais uma No campo das pesquisas, a empresa segue
fonte de renda, traz benefícios para o solo, contri- avaliando as potencialidades de diferentes oleagi-
buindo para sua descompactação e favorecendo nosas. E, para isso, constitui redes de pesquisa e
os processos de irrigação. Assim, após a retirada investe em tecnologia para aumentar a produtivi-
do girassol, o solo, por estar em boas condições, dade por hectare de mamona e girassol e a produ-
permite o aumento da produtividade da cultura ção de novas oleaginosas, tais como o pinhão man-
plantada em seguida. so e a macaúba. ◆

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 215


Sebrae
Qualificação reflete na
organização da propriedade e
no aumento da renda
O Negócio Certo Rural é realizado em parceria com o Senar e
já capacitou mais de 15.500 produtores rurais. A previsão é
capacitar mais 31 mil pessoas até 2014

A
qualificação possibilita ao agricultor um me- Negócio Certo Rural
lhor uso dos recursos e fatores de produção - O curso destinado aos agricultores pelo Sebrae é o
terra, trabalho, capital e tecnologia - visando Negócio Certo Rural, capacitação de 46 horas, sendo 40
aumentar sua renda, manter seus filhos na propriedade horas em sala de aula e outras seis de consultoria práti-
e melhorar a qualidade de seus produtos, seja de origem ca na propriedade do participante, onde o atendimento
animal ou vegetal. Tudo sem esquecer a preservação am- é detalhado e personalizado. Conceitos básicos de ges-
biental, mantendo o foco nas relações de trabalho dignas tão, produção, custos, mercado e empreendedorismo são
e na qualidade de vida. passados aos agricultores.

Agência Minas / Divulgação

216 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


curso vão sendo aplicados outros questionários para ve-

Bernardo Rebello
rificar a evolução dos indicadores pactuados pelos pro-
dutores parceiros do projeto.
Normalmente esses projetos duram entre dois e quatro
anos. “Apesar de a estiagem castigar todo o semiárido, esta-
mos verificando que os produtores da região Nordeste que
participam dos projetos do Sebrae tiveram perdas muito
menores do que os não participantes. Uma coisa é o im-
pacto de uma palestra curta, outro é o de uma capacitação
mais longa e fortalecida por um trabalho de consultoria. No
caso do Negócio Certo Rural, além de uma ficha de avalia-
ção também se verifica a qualidade do Plano de Negócios,
documento que o participante vai elaborando, quase sem
perceber, no decorrer do curso,” explica Ênio Queijada.
Gerente da Unidade de Agronegócios do Sebrae, Enio Queijada
Programa Empreendedor Rural
O gerente da Unidade de Agronegócios do Sebrae, Outra capacitação importante desenvolvida pelo
Enio Queijada, destaca que geralmente participam do Sebrae, em parceria com o Senar, é o Programa Empre-
curso duas gerações da família, o pai e o filho. “Isso é endedor Rural (PER) destinado a técnicos e produtores
importante porque temos visto inúmeros casos de êxo- rurais com maior nível de escolaridade. Estes pertencem
do rural que poderiam ter sido evitados se o filho ou a à nova classe média rural, formada por produtores rurais
filha soubesse de todas as potencialidades que existem acima do Pronaf, porém ainda não totalmente tecnifica-
na propriedade da família, não apenas ligadas à produ- do e capitalizado como os grandes produtores de com-
ção primária em si, mas também em termos de turismo modities exportáveis.
rural, processamento de alimentos e bebidas e culinária É um segmento importante e que estão sendo con-
e gastronomia rural.” templados na política agrícola. São produtores com fa-
Os temas trabalhados durante as aulas são: gestão, turamento anual de até R$ 800 mil, com rebatimento em
compras governamentais, empreendedorismo, associati- muitos segmentos, podendo chegar a até R$ 1,44 milhão.
vismo, liderança e vendas. As capacitações podem ser através de cursos, con-
O Negócio Certo Rural é realizado em parceria com o sultorias, oficinas, palestras e kit educativo. Tudo de-
Senar e já capacitou mais de 15.500 produtores rurais. A pende da disponibilidade de tempo e do objetivo do
previsão é capacitar mais 31 mil pessoas até 2014. produtor rural. ◆

Negócio Certo na internet


O Negócio Certo Rural existe na modalidade à dis-
tância com uma meta de atender 50 mil participantes até
2014. O link para acesso é http://eadsenar.canaldoprodu-
tor.com.br.

Mensurando resultados
O Sebrae acompanha os resultados obtidos pelos
agricultores após a participação nos cursos. A mensura-
ção é realizada através dos projetos de apoio aos seto-
MDA / Divulgação

res e segmentos do agronegócio. E funciona da seguinte


forma: no início do curso é realizada uma pesquisa para
identificar a situação dos participantes e, no decorrer do

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 217


A Embrapa e
a agricultura
familiar
218 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
Gustavo Porpino/Embrapa
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa), foi criada em 1973 e tem como
missão viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento
e inovação para a sustentabilidade da agricultura, em
benefício da sociedade brasileira
Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 219
P
ara a Embrapa, a agricultura familiar tem um de assegurar constante organização e coordenação das
papel crucial na economia das pequenas cida- matrizes de instituições que atuam no setor, em tor-
des – cerca de 4,9 mil municípios tem menos no de programação sistematizada, visando eliminar
de 50 mil habitantes e destes, mais de 4 mil tem menos a dispersão de esforços, sobreposições e lacunas não
de 20 mil habitantes. desejáveis.
Estes produtores e seus familiares são responsáveis Ainda, favorece o desenvolvimento de um sistema
pelo crescimento da economia desses municípios e a nacional de planejamento para pesquisa, acompanha-
melhoria de renda deste segmento por meio de sua mento e avaliação e estabelece um sistema brasileiro de
maior inserção no mercado tem impacto importante informação agrícola, com formação de banco de dados
no interior do país e por consequência nas grandes para a pesquisa e desenvolvimento agropecuário, facili-
metrópoles. tando o acesso aos usuários e clientes da pesquisa agro-
Esta inserção no mercado ou no processo de desen- pecuária.
volvimento depende de tecnologia e condições políti- O SNPA também promove o apoio à organização e
co-institucionais, representadas por acesso a crédito, racionalização de meios, métodos e sistemas com de-
informações organizadas, canais de comercialização, senvolvimento em informatização das instituições e
transporte, energia, entre outros. proporciona a execução conjunta de projetos de pesqui-
sa de interesse comum, fomentando uma ação de parce-
Pesquisa agropecuária ria entre instituições, no desenvolvimento de ciência e
A Embrapa atua por intermédio de Unidades de Pes- tecnologia para a agropecuária.
quisa e de Serviços e de Unidades Administrativas, es-
tando presente em quase todos os Estados da Federação, Crescimento agropecuário
nos mais diferentes biomas brasileiros. Em todas as regiões do Brasil existem inúmeros
Está sob a sua coordenação o Sistema Nacional de exemplos do crescimento da agricultura familiar. No
Pesquisa Agropecuária (SNPA), constituído por insti- Norte destacam-se a exploração econômica do palmito
tuições públicas federais, estaduais, universidades, em- de pupunha e de frutas típicas da região. No Nordeste,
presas privadas e fundações, que, de forma cooperada, o controle da produção e comercialização por parte dos
executam pesquisas nas diferentes áreas geográficas e agricultores familiares, com a produção de algodão, au-
campos do conhecimento científico. mentou substancialmente a renda de famílias na Paraí-
O SNPA, em sua forma vigente, foi instituído em ba. Pequenas fábricas de processamento da castanha de
1992 pela Portaria nº 193 (7/8/1992) do Ministério da caju permitiram que os agricultores comercializassem
Agricultura, autorizado pela Lei Agrícola (Lei nº 8.171, sua produção até para o mercado externo.
de 17/1/1991). É constituído pela Embrapa e suas Uni- Em todos esses casos a pesquisa agropecuária es-
dades de Pesquisa e de Serviços, pelas Organizações teve presente fornecendo novas variedades e cultivos
Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas), por uni- mais produtivos e resistentes às doenças, disponibili-
versidades e institutos de pesquisa de âmbito federal ou zando novos processos de transformação agrícola, con-
estadual, bem como por outras organizações, públicas e tribuindo para a qualificação dos agricultores familia-
privadas, direta ou indiretamente vinculadas à ativida- res para o uso das novas tecnologias, além de debater
de de pesquisa agropecuária. com esses produtores quais os processos e serviços que
Tem como principais objetivos compatibilizar as a pesquisa agropecuária precisa desenvolver para que a
diretrizes e estratégias de pesquisa agropecuária com agricultura familiar continue em processo de expansão

as políticas de desenvolvimento, definidas para o país, e crescimento econômico.
como um todo, e para cada região, em particular além

220 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Nilson Konrad/Massey Fergusson
Gustavo Porpino/Embrapa

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 221


Agricultura familiar, segundo as variáveis selecionadas – Brasil

Variáveis selecionadas Agricultura familiar - Não familiar Variáveis selecionadas Agricultura familiar - Não familiar
Lei nº 11.326 Lei nº 11.326
PRODUÇÃO VEGETAL Área colhida (ha) 323 922 976 086
Arroz em casca Valor da produção (R$) 187 652 912 716 790 517
Estabelecimentos 354 677 41 951 Café arábica em grão (verde)
Quantidade produzida (kg) 3 199 460 329 6 247 796 383 Estabelecimentos 193 328 48 309
Área colhida (ha) 1 167 376 1 242 213 Quantidade produzida (kg) 645 340 928 1 244 377 597
Valor da produçãoc (R$) 1 414 740 013 2 615 404 728 Área colhida (ha) 513 681 778 611
Feijão-preto Valor da produção (R$) 2 231 728 778 5 124 878 374
Estabelecimentos 242 398 26 620 Café canephora (robusta, conilon) em grão (verde)
Quantidade produzida (kg) 531 637 055 160 899 824 Estabelecimentos 82 185 15 523
Área colhida (ha) 639 512 124 911 Quantidade produzida (kg) 259 180 331 211 857 088
Valor da produção (R$) 378 617 041 116 504 973 Área colhida (ha) 253 437 142 125
Feijão de cor Valor da produção (R$) 624 106 515 586 220 783
Estabelecimentos 411 963 50 417
PECUÁRIA
Quantidade produzida (kg) 697 231 567 597 074 955
Bovinos
Área colhida (ha) 1 015 718 409 130
Estabelecimentos 2 151 279 521 897
Valor da produção (R$) 557 814 212 508 988 359
Feijão-fradinho, caupi, de corda ou macáçar em grão Número de cabeças em 31.12 51 991 528 119 621 809

Estabelecimentos 706 323 75 711 Leite de vaca


Quantidade produzida (kg) 939 931 471 182 207 996 Estabelecimentos 1 089 413 259 913
Área colhida (ha) 1 855 299 283 126 Quantidade produzida (litros ) 11 721 356 256 8 436 325 272
Valor da produção (R$) 780 120 429 156 704 791 Valor da produção (R$) 4 975 619 521 3 841 916 092
Mandioca Leite de cabra
Estabelecimentos 753 524 78 665 Estabelecimentos 15 347 2 716
Quantidade produzida (kg) 13 952 605 062 2 141 336 546 Quantidade produzida (litros ) 23 987 360 11 752 828
Área colhida (ha) 2 418 155 283 947 Valor da produção (R$) 29 355 274 15 668 691
Valor da produção (R$) 3 254 035 260 432 596 260 Aves
Milho em grão Estabelecimentos 2 331 612 381 778
Estabelecimentos 1 795 248 234 874 Número de cabeças em 31.12 700 819 753 700 521 236
Quantidade produzida (kg) 19 424 085 538 22 857 714 137 Ovos de galinha (dz) 451 793 650 2 382 625 691
Área colhida (ha) 6 412 137 5 312 225 Valor da produção dos ovos (R$) 711 120 558 3 457 394 828
Valor da produção (R$) 5 344 665 578 6 017 976 565
Suínos
Soja
Estabelecimentos 1 276 037 220 070
Estabelecimentos 164 011 51 966
Número de cabeças em 31.12 18 414 366 12 774 973
Quantidade produzida (kg) 6 404 494 499 34 308 188 589
Valor da produção (R$) 1 540 662 677 1 482 098 204
Área colhida (ha) 2 707 649 12 939 342
Valor da produção (R$) 2 891 786 309 14 249 698 227 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário.
Trigo
Estabelecimentos 23 542 10 485
Quantidade produzida (kg) 479 272 647 1 778 325 050

222 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Agricultura familiar é vital para o Brasil
Não há nação desenvolvida sem agricultura familiar. Não se trata
de acreditar ou não, os resultados já estão aí para quem quiser ver

P
ara o deputado federal, Elvino Bohn Gass afirma com veemência que é preciso oferecer ao povo do
(PT), a importância da agricultura familiar campo, as mesmas oportunidades e serviços que se ofe-
para o desenvolvimento econômico do país recem no meio urbano.
é vital não só para o Brasil, como para qualquer país “Acesso à banda larga, por exemplo, é hoje uma exi-
que almeje o desenvolvimento. “Basta que se diga que a gência dos jovens para ficarem na terra. A chance de in-
agricultura familiar produz cerca de 70% da comida que gressar numa faculdade, boas estradas, bons hospitais.
alimenta o planeta e se verá que não há nação, quanto E, claro, praticar um preço justo de remuneração para o
mais nação desenvolvida, sem a agricultura familiar. O trabalho do campo que é penoso. Esta questão da penosi-
Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia dade, aliás, merece reflexão mais profunda. Como exigir
e Estatística (IBGE) foi além e nos fez saber que a agri- que as pessoas permaneçam no campo sem ter domingo,
cultura familiar emprega mais e produz mais do que a nem feriado (caso de quem produz leite, por exemplo),
agricultura patronal. E faz isso ocupando menos espaço nem férias, nem décimo terceiro e ainda não oferecer a
territorial. Ainda por cima provou que as cadeias ligadas elas uma remuneração compatível?”
á agricultura familiar são responsáveis por, aproxima- “Devemos reconhecer que a partir do Governo Lula
damente, 27% do Produto Interno Bruto (PIB) no Rio e agora com Dilma, conseguimos dar à agricultura fa-
Grande do Sul”, destaca. miliar a importância que ela tem. Ou seja, deixou de ser
De acordo com Bohn Gass, em qualquer lugar do vista como o patinho feio da lavoura, para se transformar
mundo – e isto inclui os chamados países desenvolvidos numa atividade essencial do país. Fizemos isto com po-
– o Estado está presente na agricultura. Com isso, as po- líticas públicas muito qualificadas e com um Orçamento
líticas públicas são fundamentais para o desenvolvimen- que saltou de R$ 2,3 bilhões em 2003 para R$ 18 bilhões
to da atividade. É preciso crédito público e assistência em 2012. Priorizamos, de fato, a agricultura familiar.
técnica e extensão rural públicas. É preciso atenção com Agora, estamos trabalhando para dar aos homens e mu-
as intempéries, seguro agrícola, políticas de estímulo à lheres e, especialmente aos jovens do campo, uma vida
continuidade (com foco específico nos jovens e no aces- de total dignidade”, conclui Bonh Gass. ◆
so a terra). E nos tempos atuais, é necessário, ainda, que
pensemos na multiatividade no campo”, pontua.

Permanência no campo
Assessoria/Elvino Bohn Gass

Para o deputado, quem fica no campo para produzir, deve


ter acesso a todo o tipo de serviço público de que o meio urba-
no dispõe. Isto inclui tecnologias, saúde e educação de quali-
dade e, também, a chance de combinar a produção rural com
atividades como turismo, agroindústria e outras mais.
No que diz respeito ao incentivo para a permanên-
cia do agricultor familiar no campo, o deputado federal

Deputado Federal Elvino Bohn Gass

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 223


Maria Lúcia Smaniotto
Desenvolvimento da agricultura
familiar é essencial a segurança
alimentar e nutricional do país

Presidente da Associação Brasileira das Entidades Estaduais


de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer), Júlio Zoé
de Brito, afirma que agricultura familiar tem maior grau de
importância pela sua capacidade de produzir alimentos e de
criar postos de trabalho, e, assim, absorver a mão de obra
egressa daquele segmento social, até então, excluído dos
benefícios das políticas públicas

224 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


J
úlio Zoé de Brito, formado em agronomia pela teve indiscutível responsabilidade no exôdo rural. Milhões
Universidade Federal Rural de Pernambuco, de agricultores deixaram o campo rumo às cidades. Sem
onde fez doutorado em botânica, é pesquisador qualificação profissional adequada para o meio urbano,
do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) desde essa massa de brasileiros foi relegada a uma vida na pe-
1979. Atualmente, preside o Instituto e também a Asso- riferia dos grandes centros, também alijada das políticas
ciação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência municipais e estaduais. Enfim, os pequenos agricultores
Técnica e Extensão Rural (Asbraer). que deixaram o campo inflaram as bordas das cidades e se
Para Júlio, se considerar que a agricultura familiar é res- transformaram em um grande problema social”.
ponsável por mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa O presidente a Asbraer destaca que garantir à agri-
de todos os brasileiros, sem qualquer distinção de classe so- cultura recursos para produção, meios de comercializa-
cial ou econômica, conclui-se que o desenvolvimento desse ção assistência técnica e extensão rural, assegurar saúde,
segmento é essencial a segurança alimentar e nutricional do educação em todos os níveis, lazer, energia, telefonia e
país. “Embora seja indiscutível a relevância desse aspecto, é tecnologias virtuais entre outros benefícios, significa
preciso trazer para o primeiro plano o principal programa criar as condições indispensáveis para o surgimento de
socioeconômico do governo da presidente Dilma Rousseff: uma classe média rural, que mudará o perfil socioeconô-
a erradicação da fome, que, no início da sua administração, mico do campo, com impacto positivo na qualidade de
atingia 16,2 milhões de brasileiros — o equivalente à popu- vida urbana. “Mais do que isso, esse conjunto de políticas
lação do estado do Rio de Janeiro —, dos quais 50% estão no é indispensável para que os jovens do meio rural ali per-
meio rural, e, desse percentual, mais de 40% vivem semiári- maneçam e deem continuidade à atividade produtiva”
dodo Nordeste”, declara.
De acordo com o presidente da Asbraer, ao lado dos O papel da Asbraer
programas sociais, o governo federal prevê a inserção A Asbraer congrega as entidades oficiais de assistên-
dessa parcela de brasileiros no setor produtivo, a fim de cia técnica e extensão rural dos estados e do Distrito Fe-
que ela possa ter condições de prover o próprio sustento deral, totalizando 27 instituições. Com sede em Brasília,
e de deixar, no passado, a vida de sofrimento e de impos- a associação é dirigida por um presidente e mais cinco
sibilidade do exercício da cidadania. diretores regionais, igualmente, dirigentes de entidades
estaduais. Todos são eleitos em assembleia-geral ordiná-
Importância da agricultura familiar ria, para um mandato de dois anos, com direito a uma
Diante disso, agricultura familiar tem maior grau de recondução ao cargo. Na prática, a Asbraer representa os
importância pela sua capacidade de produzir alimentos interesses de aproximadamente 25 mil extensionistas ru-
— essencial à eliminação da fome — e de criar postos de rais, funcionários das entidades estaduais, dos quais 16
trabalho, e, assim, absorver a mão de obra egressa da- milatuam no campo. A Asbraer tem uma atuação políti-
quele segmento social, até então, excluído dos benefícios ca nos diferentes fóruns e instâncias de poder.
das políticas públicas. Segundo Júlio, os estabelecimen- A entidade tem como missão representar e fortalecer
tos rurais familiares somam 4,36 milhões, ou 84% das suas associadas e influenciar na formulação das políticas
unidades produtivas, e ocupam 80,3 milhões de hectares públicas de assistência técnica e extensão rural. Ao mes-
(24% das terras agricultáveis). De acordo com o Censo mo tempo, busca ser reconhecida no Brasil e no exterior
Agropecuário, a agricultura familiar emprega 12,3 mi- como a representante e articuladora das organizações
lhões de pessoas, das quais 11 milhões com laços de pa- estatais de assistência técnica e extensão rural para pro-
rentesco com o produtor e 1,3 milhão sem qual relação moção do desenvolvimento sustentável do campo.
familiar. No entanto, estima-se que o número de postos “Em 2012, a Asbraer promoveu a Missão Técnica
de trabalhos oferecido pela agricultura familiar totalize Brasil/China, que permitiu aos integrantes da delegação
2,5 milhões, sendo boa parte sem vínculo formal. brasileira — a maioria dirigente das entidades estaduais
“Não somente por esses fatores a agricultura familiar associadas — conhecer o sistema agropecuário e agroin-
tem papel expressivo no cenário nacional. No passado, a dustrial daquele país, bem como a produção de equipa-
ausência de políticas sociais direcionadas ao meio rural mentos destinados à agricultura familiar. Esse contato

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 225


propiciou alguns acordos entre associadas e instituições portância para que todos tenham compreensão e acesso às
chinesas. Fortaleceu também o interesse da China em es- políticas governamentais a eles destinadas”, declara Júlio.
treitar relacionamento com as entidades brasileiras que
atuam no meio rural. Para este ano, a Asbraer prepara Políticas públicas
uma missão à Itália, com objetivos semelhantes”. Segundo o presidente, nos últimos dois anos, a As-
Além disso, de acordo com o presidente, a Asbraer tem braer, amparada pelas associadas, tem voltado esforços à
mediado a ida de extensionistas brasileiros a outros países. criação de um sistema e um órgão nacional de assistência
“Esse intercâmbio propicia uma troca incomum de expe- técnica e extensão rural. “Desde a extinção da Empresa
riências, que soma à formação dos extensionistas e per- Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Em-
mite difundir as nossas tecnologias aplicadas à agricultura brater), em 1990, as entidades sociais enfrentam dificul-
familiar, sem contar que se trata de uma colaboração dire- dades financeiras para suprir a demanda dos diferentes
ta dos nossos profissionais para o desenvolvimento rural segmentos agropecuários, especialmente da agricultura
de outras nações. Essa ação ocorre mais intensamente em familiar, pelos serviços de Ater. Essa limitação está asso-
países do Caribe, da América Latina e da África. Apesar ciada às restrições orçamentárias das estatais. Em con-
das dificuldades das entidades estaduais, o modelo brasi- trapartida, ao analisarmos o Orçamento Geral da União,
leiro de assistência técnica e extensão rural é singular em identificamos que há um volume expressivo de recursos
comparação com os dos demais países. Aqui, além dos voltados à assistência técnica e extensão rural pulveri-
aspectos técnicos, que estão relacionados diretamente à zado pelos mais diferentes setores da administração pú-
produção agropecuária, os serviços extensão rural cum- blica federal, como, entre outros,os ministérios do Meio
prem o papel de levar a educação não formal e continuada Ambiente, da Integração Nacional, do Desenvolvimento
aos homens e mulheres de campo, o que é de extrema im- Social e Combate à Fome, da Companhia de Desenvol-
vimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Co-
devasf), além do Ministério do Desenvolvimento Agrá-
rio, que abriga o Departamento de Assistência Técnica
e Extensão Rural (Dater), na Secretaria de Agricultura
Ascom Asbraer

Familiar. Dessa forma, cada órgão investe os recursos em


seus projetos prioritários, frutos das próprias políticas.
Resultado: não há uma política nacional de assistência
técnica e extensão rural, que oriente as ações destinadas
ao desenvolvimento rural, o que compromete a eficiência
e a eficácia dos serviços de Ater”, pontua.
O presidente ainda declara que essa dispersão de re-
cursos e esforços não soma para o avanço da agricultura
familiar. “Hoje, dos 4,36 milhões de estabelecimentos
rurais familiares, menos de 50% deles contam com os
serviços de Ater, que são fundamentais para levar ao
agricultor as políticas públicas destinadas ao crédito, à
comercialização, ao conhecimento de novas tecnologias
de produção, enfim, à melhoria da qualidade de vida da
família que vive no campo”, ressalta.
No lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar
2012/2013, a presidente Dilma Rousseff reafirmou a decisão
de criar um órgão nacional de Ater. A Asbraer, de acordo

Presidente da Asbraer, Júlio Zoé Brito

226 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


com Júlio, contribuiu firmemente para a formulação da a Asbraer, sendo o antecessor da atual gestão da entidade.
proposta que foi aprovada pelo Conselho Nacional de De- “Engajado na defesa dos interesses dos extensionistas ru-
senvolvimento Rural Sustentável (Condraf). “Essa proposta rais, ele abraçou a proposta de criação dor órgão nacional
tramita no governo federal, e esperamos que, neste ano, ela de Ater e, como extensionista rural, o parlamentar tem
seja aprovada pela presidente da República. A implantação dado grande contribuição ao esforço que vimos fazendo
do sistema e do órgão nacional de Ater — que defendemos para recolocar a extensão rural na pauta política do Con-
seja uma empresa pública de direito privado—permitirá a gresso Nacional. E conseguimos. Hoje, independentemen-
reestruturação da assistência técnica e extensão, que, com te do matiz ideológico dos parlamentares, há consenso de
mais recursos financeiros e humanos, terá capacidade de que é fundamental criar o órgão nacional de Ater e garan-
atender um número maior de estabelecimentos rurais com tir os recursos orçamentários à expansão e à melhoria dos
uma Ater pública, gratuita e de qualidade”. serviços de assistência técnica e extensão rural. No fim de
2011, a Comissão de Agricultura da Câmara acolheu e, por
Frente Parlamentar de Assistência Técnica unanimidade, aprovou um indicativo ao governo federal
e Extensão Rural? pela criação do o órgão nacional de Ater. Essa decisão
De acordo com o presidente da Asbraer, a Frente Parla- levou em conta os estudos elaborados pela Asbraer mos-
mentar de Ater da Câmara dos Deputados resultou de um trando a necessidade dessa medida, a fim de fortalecer a
amplo trabalho de articulação do deputado Zé Silva, que, extensão rural brasileira, indispensável ao desenvolvimen-
quando presidente da Emater de Minas Gerais, comandou to da agricultura familiar”, conclui. ◆

Edson Castro

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 227


Banco do Brasil
o maior parceiro financeiro da Agricultura Familiar
A cada período agrícola, instituição fortalece o seu papel
e consolida a sua liderança no apoio a esse segmento que
contribui fortemente para a fixação do produtor no campo
mediante a geração de emprego e renda

S
egundo o último Censo Agropecuário divulgado veis, melhoria na qualidade de vida familiar, valorização e
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti- profissionalização dos produtores rurais familiares.
ca (IBGE), a agricultura familiar responde pela O crescimento da produtividade ocorre mediante a
maior parte dos alimentos que chegam à mesa dos brasi- modernização dos empreendimentos rurais familiares,
leiros. Além disso, participa com cerca de 10% do Produto facilitando a apropriação de tecnologia e a geração de
Interno Bruto (PIB), comprovando a sua relevância socio- renda. Um exemplo disso é a linha de crédito para inves-
econômica para o desenvolvimento do País. timento Pronaf Mais Alimentos. O objetivo dessa linha
Por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da é promover o aumento da produção e da produtividade
Agricultura Familiar (Pronaf), criado pelo Governo Federal e a redução dos custos de produção, visando a elevação
em 1995, o BB financia atividades agropecuárias e não agro- da renda da família produtora rural. O prazo é de até 10
pecuárias, contribuindo para o crescimento da produtivida- anos, com até 3 anos de carência, com encargos de 1% a.a
de, para o fortalecimento do segmento em bases sustentá- ou 2% a.a, conforme o valor financiamento.
As linhas de crédito disponíveis atendem a todas as
necessidades de custeio e investimento, como o custeio
do beneficiamento e industrialização da produção própria
Agência Brasil

ou de terceiros, formação de estoques de matéria-prima,


de produto final e serviços de apoio à comercialização, ar-
mazenagem e conservação de produtos para venda futura,
turismo rural, artesanato, entre outros empreendimentos.
Além disso, existem linhas específicas para o auxílio
da produção sustentável, que objetivam financiar a im-
plantação de sistemas agroflorestais; exploração extrati-
vista ecologicamente sustentável, plano de manejo e ma-
nejo florestal; recomposição e manutenção de áreas de
preservação permanente e reserva legal e recuperação de
áreas degradadas; enriquecimento de áreas que já apre-

Vice-presidente de Agronegócio do Banco do Brasil, Osmar Dias

228 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


sentam cobertura florestal diversificada, com o plantio lizado por intermédio de entidades parceiras e ligadas aos
de uma ou mais espécies florestais nativas do bioma. agricultores familiares, tais como associações, sindicatos,
Em setembro de 2012, o BB possuía um saldo em car- cooperativas, e empresas de assistência técnica e extensão
teira do Pronaf de mais de R$ 22 bilhões, o que corres- rural, resultando em comodidade e agilidade ao produtor.
ponde ao atendimento de mais de 1 milhão de famílias Além da oferta do crédito, o BB disponibiliza solu-
produtoras rurais. Com esses números, o BB é o principal ções bancárias voltadas especialmente para o atendi-
agente financeiro do segmento, sendo responsável por cer- mento das necessidades dos produtores, tais como o BB
ca de 70% do total dos recursos destinados aos agriculto- Seguro de Vida da Agricultura Familiar, que proporciona
res familiares. Para a safra 2012/2013, dos R$ 18 bilhões tranquilidade e o cartão Pronaf, que gera segurança e fa-
orçados pelo Governo Federal, o Banco pretende aplicar cilidade na utilização dos recursos financiados.
R$ 10,5 bilhões. Esse volume representa um aumento de Também, cabe destacar dois programas que contri-
13,59% sobre o valor realizado na safra anterior. buem para a manutenção das atividades do agricultor fa-
Para tanto, existem mais de 4.100 agências operando miliar no campo. O Proagro Mais (Programa de Garantia
com crédito rural no País que atendem 5.433 municípios da Atividade Agropecuária para a Agricultura Familiar)
brasileiros. Além dessa extensa rede de atendimento à proporciona ao agricultor familiar, em eventuais perdas
disposição dos agricultores familiares, a atuação do BB da lavoura, além da indenização dos valores previstos no
se deve a inúmeras iniciativas de sucesso que garantem orçamento para a lavoura financiada, 65% da receita líqui-
agilidade, comodidade, simplificação e maior abrangên- da esperada pelo empreendimento ou R$ 7.000, o que for
cia na concessão do crédito. menor. Além disso, também ampara as parcelas previstas
Um exemplo é a possibilidade de que as linhas de cré- nas operações de Investimento, limitada a R$ 5.000 por
dito sejam ofertadas, disseminadas e o crédito disponibi- beneficiário e ano agrícola. Já o PGPAF (Programa de Ga-
rantia de Preços da Agricultura Familiar) possibilita, caso
o preço de mercado ou comercialização esteja abaixo do
preço de garantia estabelecido para o Programa, a conces-
são de desconto sobre o saldo devedor do financiamento.
Assessoria de Imprensa / Banco do Brasil

Por fim, visando principalmente a redução do déficit


habitacional rural e o incentivo à manutenção da famí-
lia no campo oferecendo-lhe moradia digna, foi lançado
pelo Governo Federal o Programa Nacional de Habitação
Rural (PNHR). Esse Programa, também operacionaliza-
do pelo BB, financia a construção ou reforma de imó-
veis rurais, sendo beneficiários os agricultores familiares
com Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) e demais
trabalhadores rurais com comprovação de renda. Em
função da renda familiar anual, os limites de financia-
mento variam de R$ 15 mil até R$ 60 mil. Por meio des-
se Programa, o BB estima contratar, até o final de 2014,
100.000 (cem mil unidades habitacionais).
Dessa forma, o Banco do Brasil se consolida como
o maior parceiro financeiro da agricultura familiar. De
grão em grão, de produtor em produtor, o BB contribui
para o fortalecimento da agricultura familiar e para o
desenvolvimento rural sustentável, elevando os níveis de
satisfação e bem-estar de milhares de agricultores fami-
liares existentes no País. ◆
Diretor de Agronegócios do BB, Clênio Teribele

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 229


ARTIGO

Agricultura familiar, a favor da vida, do meio


ambiente, da sustentabilidade

E
mbora a sociedade tenha, cada vez mais, A agricultura familiar é alicerçada em princípios que
tido claras evidências do papel estratégico estabelecem uma relação harmoniosa do homem com o
da agricultura familiar no combate à fome e meio ambiente, para que ele possa retirar o sustento da
à miséria, sua contribuição fundamental para garantir a terra sem que para isso, tenha que acabar com os recur-
soberania alimentar do país, e promover a implantação sos naturais. A sustentabilidade que essa forma de pro-
de um novo modelo de desenvolvimento, pautado pela duzir promove é o que irá garantir a continuidade das
sustentabilidade, nós, enquanto representantes de cerca próximas gerações. Incentivar e fortalecer a agricultura
de 11 milhões de pessoas da agricultura familiar, temos familiar é o que trará o desenvolvimento construído na
a obrigação de trazer para o debate e esclarecer aqueles base da responsabilidade social, ambiental e econômica.
que desconhecem, a diferença crucial entre o atual mo- Responsável por 70% da produção de alimentos do
delo de produção desenvolvido pelo agronegócio e a pro- país, a agricultura familiar busca empregar cada vez
dução familiar. mais práticas agroecológicas de produção, com a criação
Na atual conjuntura, em que a discussão no mundo de quintais agroflorestais, produtos orgânicos.
se dá acerca da necessidade de empreender a preserva- Para isso, os movimentos sociais representativos
ção ambiental para garantir a existência do planeta e dos trabalhadores na agricultura familiar, como a Fe-
consequentemente das futuras gerações; de adotar me- deração Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras
didas que minimizem o aquecimento global e os efeitos na Agricultura Familiar (Fetraf), lutam para que sejam
das mudanças climáticas; da importância da produção instituídas políticas públicas diferencias para o setor
de alimentos saudáveis sem o uso de agrotóxicos que, se que gera mais empregos por hectare nas propriedades,
utilizados, contribuem para o caos na saúde pública, a são 15 a cada 100 ha; e embora utiliza 24% de toda a
agricultura familiar prova ser a alternativa que deve re- terra no Brasil, dispõe apenas de 14% do crédito do go-
ceber investimentos e ser fortalecida para que esses obje- verno federal para fomento e fortalecimento da ativida-
tivos sejam atingidos. de que alimenta o país.
Nessa perspectiva, nosso trabalho consiste em con-
quistar e ampliar as conquistas já obtidas na tentativa
CUT/Divulgação

de melhorar a qualidade de vida e as oportunidades no


campo. O meio rural brasileiro precisa de políticas pú-
blicas de crédito, acesso à terra, saúde, educação. É para
que haja menos desigualdade no campo e a efetivação de
um modelo de desenvolvimento que não seja alicerçado
na concentração de terra, no crescimento dos mais ricos
em detrimento dos pobres, que nos engajamos em tornar
evidente a necessidade de uma política diferenciada para
a agricultura familiar.
Como exemplos, das conquistas do movimento so-
cial, destacamos o Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA), que possibilita a comercialização de produtos da
agricultura familiar e a destinação destes, à população
em situação de insegurança alimentar e/ou à criação de
Elisângela dos Santos Araújo estoque de alimentos.

230 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Conseguimos a inserção da agricultura familiar no tização do acesso e efetividade da reforma agrária, atua
Programa Nacional de Alimentação Escolar, onde com a como difusora do Programa Nacional de Crédito Fundi-
lei 11.947/09, os agricultores familiares dispõem de mais ário ao desenvolver o projeto de promoção e adesão ao
um meio de comercializar os produtos. As administra- crédito fundiário. Auxiliamos os agricultores para que
ções municipais são obrigadas a comprar no mínimo possam ter acesso ao crédito para, à partir da aquisição
30% dos produtos da agricultura familiar para a alimen- da propriedade, obter melhoria da qualidade de vida.
tação escolar e; o Programa Garantia de Preços Mínimos A nossa concepção de produção, a caracterização
para Agricultura Familiar (PGPM). da agricultura familiar é única, diferenciada, inclusiva
Isso significa que, junto ao governo federal, foi possível e sustentável. É a favor da vida, do meio ambiente, da
estabelecer um preço mínimo de compra para produtos da igualdade de gêneros e oportunidades para os trabalha-
agricultura familiar de forma que estes levassem em conta dores e moradores do campo.
a escala e os custos de produção. Essa medida proporcio-
nou aos produtores a possibilidade de disputar o mercado
com o agronegócio com condições mais justas. Elisângela dos Santos Araújo
No acesso à terra, a FETRAF além de proponente de Coordenadora Geral da Fetraf
modelo de desenvolvimento embasado na desburocra- Fonte: www.fetraf.org.br

Jornal Bom Dia

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 231


O
governo federal lançou em novembro de Mas durante a execução do Programa, novas famí-
2003 o desafio de acabar com a exclusão elé- lias sem energia elétrica em casa foram localizadas e, em
trica no país. É o Programa Luz para Todos, função do surgimento de um grande número de deman-
com a meta de levar o acesso à energia elétrica. das, o Luz para Todos foi prorrogado para ser concluído
O Programa é coordenado pelo Ministério de Minas no ano de 2011.
e Energia, operacionalizado pela Eletrobrás e executado Para o atendimento de toda essa população, o gover-
pelas concessionárias de energia elétrica e cooperativas de no federal destina recursos provenientes de fundos seto-
eletrificação rural em parceria com os governos estaduais. riais de energia - a Conta de Desenvolvimento Energético
O mapa da exclusão elétrica no país revela que as fa- (CDE) e a Reserva Global de Reversão (RGR). O restante
mílias sem acesso à energia estão majoritariamente nas do investimento é partilhado entre governos estaduais e
localidades de menor Índice de Desenvolvimento Huma- as empresas distribuidoras de energia elétrica.
no e nas famílias de baixa renda. Cerca de 90% delas têm Porém o Censo 2010, do IBGE, apontou a existência
renda inferior a três salários mínimos. de uma população ainda sem energia elétrica em suas
Para por fim a essa realidade o governo definiu como casas, localizada, principalmente, nas Regiões Norte e
objetivo que a energia seja um vetor de desenvolvimento so- Nordeste e nas áreas de extrema pobreza. Para atender
cial e econômico dessas comunidades, contribuindo para a a essas famílias, o Governo Federal, por meio do Decre-
redução da pobreza e aumento da renda familiar. A chegada to nº 7.520/2011, instituiu uma nova fase do Programa,
da energia elétrica facilita a integração dos programas so- agora para o período de 2011 a 2014, com foco aos cida-
ciais do governo federal, além do acesso a serviços de saúde, dãos contemplados no “Plano Brasil Sem Miséria” e no
educação, abastecimento de água e saneamento. “Programa Territórios da Cidadania”, ou estabelecidos

Programa Luz para Todos


leva energia ao meio rural
Mais de 14 milhões de pessoas já foram beneficiadas
232 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013
Edson Castro
em antigos quilombos, áreas indígenas, assentamentos pacto realizada no ano de 2009 mostrou que 79,3% dos
de reforma agrária, em regiões que sejam afetadas pela atendidos pelo Programa adquiriram televisores, 73,3%
construção de usinas hidrelétricas e localizados em área passaram a ter geladeiras em suas casas e 24,1% compra-
de elevado impacto tarifário. ram bombas d’água, entre outros.
Essa pesquisa mostrou ainda que 91,2% dos entre-
Resultados vistados afirmaram que a qualidade de vida melhorou
A meta inicial de atender a 10 milhões de pessoas foi e as condições de moradia e as atividades escolares me-
alcançada em maio de 2009 e até março de 2012, o Pro- lhoraram para 88,1% e 43%, respectivamente.
grama já chegou para cerca de 14,4 milhões de morado-
res rurais de todo o país. Gestão
Os investimentos chegam a R$ 20 bilhões, dos quais Para garantir que o Programa tenha uma gestão par-
R$ 14,5 bilhões são do governo federal. ticipativa, foi definida a seguinte estrutura:
Mas os benefícios da chegada da energia elétrica Comitê Gestor Nacional - CGN: formado pelo Mi-
vão além. Estima-se que as obras do Luz para Todos te- nistério de Minas e Energia, Eletrobrás e suas empresas
nham gerado cerca de 439 mil novos postos de trabalho controladas (Chesf, Eletronorte, Eletrosul e Furnas),
e utilizado 1 milhão de transformadores e mais de 7,3 Aneel e pelos Coordenadores Regionais do Programa.
milhões de postes, dos quais 13,3 mil foram desenvolvi- Sua função é coordenar, fiscalizar e acompanhar as ações
dos com nova tecnologia utilizando resina de poliéster do Programa em todo o país.
reforçada com fibra de vidro, que facilitou seu transporte Comitê Gestor Estadual - CGE: integrado pelo Minis-
pelas estradas e rios, já que por serem mais leves e por tério de Minas e Energia, agências reguladoras estaduais,
flutuarem, dispensam o uso de caminhões, muitas vezes distribuidoras de energia elétrica, governos estaduais,
intrafegáveis na Região Amazônica. prefeituras e representantes da sociedade civil. Este co-
Foram empregados também 1,4 milhão de km de mitê acompanha de perto o andamento do Programa e
cabos elétricos, parte deles subaquáticos para a traves- o cumprimento das metas estaduais de universalização.
sia de rios, vencendo distâncias que antes não pode- Eletrobras: operacionaliza o Programa e é respon-
riam ser alcançadas. Só no estado do Amazonas foram sável pelos contratos com as concessionárias de energia
utilizados 28 mil metros de cabos elétricos colocados elétrica e fiscalização das obras.
dentro dos rios. Agentes Executores: são as distribuidoras de energia
Além disso, a economia também se beneficia com a elétrica e as cooperativas de eletrificação rural e têm o
instalação da eletricidade no campo. A pesquisa de im- papel de executar as obras do Programa.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 233


Aquisição de bens dos atingidos pelo Melhorias atribuídas ao Programa Luz
Programa Luz para Todos em 2009 para Todos
Oportunidade de trabalho

34,2%
Renda Familiar

35,6%
79,3% 78,9% 39% 24,1% Atividades escolares no período diurno

TV Geladeira Liquidificador Bomba d’Água 43%


Fonte: Ministério de Minas e Energia
Condições de moradia
Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneel: tem a
responsabilidade de regulamentar o setor elétrico e fisca-
88,1%
lizar o cumprimento das metas do Programa. Oportunidade de trabalho

Acesso ao Programa 91,2%


O morador do meio rural que ainda não tem energia
elétrica em casa e não fez o pedido da luz, e desde que Fonte: Ministério de Minas e Energia
se enquadre nos critérios de atendimento do Programa,
devem se dirigir à distribuidora local para cadastramen-
to. A solicitação será incluída no programa de obras das —— Extensão de Rede
distribuidoras e atendida de acordo com as prioridades —— Sistemas de Geração Descentralizada com Redes Isoladas
estabelecidas no manual de operacionalização do Pro- —— Sistemas de Geração Individuais
grama e aprovadas pelo Comitê Gestor Estadual - CGE. —— Ações Integradas

Prioridades do Luz para Todos A chegada da energia elétrica facilita a integração


O Programa focará o atendimento a: das iniciativas públicas no meio rural, tanto no que diz
—— Famílias contempladas no “Plano Brasil Sem Misé- respeito aos programas sociais e ações de atendimento
ria” e “Programa Territórios da Cidadania”; de serviços básicos (educação, saúde, abastecimento de
—— Comunidades atingidas por barragens de usinas hi- água) quanto às políticas de incentivo à agricultura fa-
drelétricas; miliar, aos pequenos produtores e comerciantes locais,
—— Assentamentos rurais; contribuindo para o desenvolvimento econômico e so-
—— Escolas públicas, postos de saúde e poços d’água co- cial das áreas beneficiadas.
munitários;
—— Comunidades especiais, tais como minorias raciais, re- Sistemas Isolados
manescentes de quilombos, extrativistas, indígenas etc. Um dos grandes desafios do Programa é atender as
—— Pessoas domiciliadas em áreas de concessão e permissão comunidades isoladas, especialmente as localizadas na
cujo atendimento resulte em elevado impacto tarifário. Amazônia. Para isso, o Ministério de Minas e Energia
elaborou o Manual de Projetos Especiais justamente para
Formas de Atendimento atender as regiões remotas e de difícil acesso e estabele-
O Programa contempla o atendimento das demandas ce os critérios técnicos e financeiros que serão aplicados
no meio rural através de uma das três alternativas: neste tipo de atendimento, com o uso de fontes alternati-

234 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


vas de energia elétrica, tendo como principal atrativo, o
repasse de 85% dos recursos, a título de subvenção eco-

Governo Federal
nômica, por parte do governo federal.
Dentre as opções tecnológicas, são considerados os
sistemas de geração descentralizada a partir das mini
e micro centrais hidrelétricas; sistemas hidrocinéticos;
usinas térmicas a biocombustíveis ou gás natural; usi-
na solar fotovoltaica; aerogeradores e sistemas híbridos,
bem como a utilização de novas tecnologias, tais como
os postes confeccionados de resina de poliéster reforçada
com fibra de vidro e os cabos especiais subaquáticos para
serem utilizados nas travessias de rios.

Tarifa Social
A Tarifa Social de Energia Elétrica, reformulada pela
Lei nº 12.212/10 e regulamentada pelo Decreto nº 7.583,
estabelece que para ter acesso ao desconto na conta de
luz é necessário que a família esteja inscrita no Cadastro
Único para Programas Sociais e que possua renda fami-
liar per capita de até meio salário mínimo. O desconto
varia entre 10 e 65% de acordo com a faixa de consumo.
As famílias inscritas no Cadastro Único com renda
mensal de até três salários mínimos, mas que tenham

Governo Federal

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 235


entre seus membros pessoas em tratamento de saúde
que necessitam usar continuamente aparelhos com ele-

Governo Federal
vado consumo de energia, também recebem o desconto.
As famílias indígenas e quilombolas inscritas no Cadas-
tro Único e que tenham renda familiar per capita menor
ou igual a meio salário mínimo terão direito a desconto
de 100% até o limite de consumo de 50 kWh/mês. ◆
Índices da Tarifa Social para Consumidores Quilombolas e
Indígenas
Consumo kWh/mês Desconto
Até 50 100%
Fonte Ministério de Minas e Energia

Índices da Tarifa Social para Consumidores enquadrados na


Subclasse Baixa Renda
Consumo kWh/mês Desconto
Até 30 65%
De 31 a 100 40%
De 101 a 220 10%
Superior a 220 0%
Fonte: Ministério de Minas e Energia

236 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


Construção de nova Subestação
de Energia atende ao crescimento
do Alto Jacuí
A Coprel investiu mais de R$ 7 milhões para garantir oferta de
energia elétrica na região

O
intenso crescimento do meio rural e das ati- A Coprel
vidades industriais fomentam a expansão da A principal atividade Coprel Cooperativa de Energia é
demanda de energia elétrica. A Coprel, cujo a distribuição de energia elétrica, de forma cooperativa. Ela
crescimento é diretamente impulsionado pelo desenvol- participa da vida de mais de 47 mil famílias cooperantes, em
vimento da região, reconhece essas necessidades e proje- 72 municípios, em uma região de 21 mil km² das regiões da
ta seus investimentos para atendê-las. Prestes a comple- Produção, Alto Jacuí, Alto da Serra do Botucaraí, Nordeste,
tar 45 anos de atuação, a cooperativa comemora também Noroeste Colonial, Central, Rio da Várzea, Norte e Vale do
a conclusão de mais uma importante obra. Rio Pardo do estado do Rio Grande do Sul. Em 14 deles, a
A Subestação de Energia Ibirubá 2 é o principal inves- Coprel leva energia para a área rural e urbana e, em vários
timento da Coprel em 2012. Investindo R$ 6 milhões, a outros municípios atende as áreas industriais e loteamentos.
cooperativa coloca em funcionamento a nova subestação, Os 172.697 postes (mais de 82% de concreto), os 15.364
com potência de 20 MVA e tensão de 69/13,8kV. Também transformadores e os 17.646 quilômetros de rede ligam o
foram aplicados mais R$ 1.290 milhão na construção de homem do campo e da cidade ao desenvolvimento.
novos alimentadores a partir da nova subestação, para Os transformadores pintados da cor laranja ajudam a
conectá-la as redes de distribuição existentes. “Maior sinalizar a presença da cooperativa na região.
disponibilidade de carga, melhoria nos níveis de tensão e Hoje, a Coprel conta com 195 colaboradores e outras
aumento significativo da confiabilidade do sistema são os 180 pessoas prestam serviço terceirizado à cooperativa. ◆
principais benefícios da obra, que atende ao intenso cres-
cimento das atividades industriais e agrícolas da região”,
afirma o presidente da Coprel, Jânio Vital Stefanello. Seis
Coprel/Divulgação

municípios da região do Alto Jacuí serão diretamente be-


neficiados: Ibirubá, Quinze de Novembro, Fortaleza dos
Valos, Selbach, Colorado e Saldanha Marinho.
Ao entrar em operação, a subestação de energia Ibiru-
bá 2 – Coprel assegura a confiabilidade do sistema elétrico
que atende mais de 6 mil cooperantes dos municípios da
região. “A Coprel sente as necessidades das comunidades
e direciona seus investimentos para atender a seus coope-
rantes da melhor forma, seja nas propriedades rurais, cada
vez mais demandantes de energia, ou nas indústrias que
estão se instalando na promissora região do Alto Jacuí”,
finaliza o presidente Jânio Vital Stefanello. Presidente da Coprel, Jânio Vital Stefanello

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 237


Turismo Rural
agregando valor a produtos e serviços

Embora a visitação a propriedades rurais


seja uma prática antiga e comum no
Brasil, apenas há pouco mais de vinte
anos passou a ser considerada uma
atividade econômica

238 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


E
sse deslocamento para áreas rurais começou zões: a necessidade que o produtor rural tem de aumen-
a ser encarado com profissionalismo na déca- tar sua fonte de renda e de agregar valor aos seus produ-
da de 80, quando algumas propriedades em tos; e a vontade dos moradores urbanos de encontrar e
Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, devido às difi- reencontrar raízes, de conviver com a natureza, com os
culdades econômicas do setor agropecuário, resolveram modos de vida, tradições, costumes e com as formas de
diversificar suas atividades e passaram a receber turistas. produção das populações do interior.
Dacordo com o Ministério do Turismo, o Turismo Sendo assim, a conceituação de Turismo Rural fun-
Rural pode ser explicado, principalmente, por duas ra- damenta-se em aspectos que se referem ao turismo, ao
território, à base econômica, aos recursos naturais e cul-
turais, à sociedade, e ao campo afetivo. Com base nesses
aspectos, define-se que Turismo Rural é o conjunto de
atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, com-

Divulgação/Emater/MG
prometido com a produção agropecuária, agregando
valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o
patrimônio cultural e natural da comunidade

Rio Grande do Sul potencial de desenvolvi-


mento do Turismo Rural
O presidente da Emater/RS e superintendente da As-
car, Lino De David afirma que turismo rural é um dos
segmentos turísticos com maior potencial de desenvolvi-
mento no Rio Grande do Sul. De acordo com Lino isso se
deve ao Estado ter uma vocação natural para desenvolver
a atividade, tendo em vista o forte imaginário agropastoril,
grande participação da agricultura familiar na economia
do RS, além da forte presença da colonização europeia.

Diversidade geográfica
“O Estado possui enorme diversidade geográfica, to-
pográfica, climática e de vegetação natural, e de ativida-

Divulgação/Emater/RS

Presidente Emaer/ RS, Lino De David

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 239


Divulgação/Emater/RS
des econômicos, culturais e étnicas, que possibilitam o ção usada atribui à atividade o comprometimento com a
desenvolvimento do turismo rural. A imagem do RS está produção agropecuária, ou seja, exclui dessa categoria a
muito atrelada ao gaúcho, ao colono, ao Pampa, às tra- condição territorial (não basta estar no meio rural para
dições e essas características estão diretamente ligadas à ser turismo rural) e valoriza a condição produtiva.
ruralidade. Assim, a atividade representa uma importan- A Lei 12.845 de 26 de novembro de 2007 institui a Po-
te alternativa de renda às famílias rurais e um canal al- lítica Estadual de Fomento ao Turismo Rural no Estado
ternativo para promoção e comercialização dos produtos do Rio Grande do Sul.
da agricultura familiar”, declara Lino. “Turismo Rural, para fins desta Lei, é o conjunto de
atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, com-
Parcerias apostam no Turismo Rural prometido com a produção agropecuária, agregando va-
Segundo o presidente da Emater no Rio Grande do lor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o pa-
Sul, a instituição atua em aproximadamente 100 municí- trimônio cultural e natural da comunidade campesina”.
pios (distribuídos entre as 23 regiões turísticas do Esta-
do), assessorando mais de duas mil famílias na formata- Agregando valor
ção e qualificação de empreendimentos, rotas e roteiros Para agregar valor, o presidente da Emater/RS des-
de turismo. taca as características do turista que busca o meio ru-
Este trabalho se dá junto às parcerias locais, públi- ral, com ênfase para a valorização a produção artesanal
cas e privadas, que apostam na atividade como fonte e a gastronomia local; convivência familiar e um aten-
geradora de ocupação e renda para as famílias do meio dimento mais personalizado; valorização da história e
rural, e que acreditam no potencial impacto econômico do patrimônio local, além da busca pela reaproximação
que a atividade pode trazer às regiões. com a natureza.
“Além dos benefícios econômicos, essa atividade pode “Assim, neste segmento, a produção agropecuária, o
impactar também na autoestima dessas famílias, pois o artesanato, a gastronomia e o modo de vida das famílias
turista busca e valoriza aquilo que é próprio das locali- rurais são a essência do produto turístico”, pontua Lino.
dades: a cultura, os costumes, a gastronomia, a história.
Assim, a valorização da ruralidade pode proporcionar o Modelos bem sucedidos
retorno ou a permanência do jovem no meio rural”. Como exemplos de Turismo Rural no Estado, o presi-
dente da Emater/RS ressalta que são vários os roteiros de
Fomento ao Turismo Rural turismo rural existentes, com destaque para as rotas Sabo-
Segundo Lino, no Rio Grande do Sul, há uma lei es- res e Saberes do Vale do Caí, envolvendo 13 propriedades e
tadual de fomento ao Turismo Rural, na qual a defini- agroindústrias, tendo como base a agroecologia com atra-

240 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


tivos variados, dentro do turismo rural. Neste trabalho, es- Turismo Rural, que somados à vasta extensão territorial
tão envolvidos os municípios de Bom Princípio, Capela de do Estado e às diversidades regionais é evidente a perspec-
Santana, Harmonia, Montenegro e Tupandi. Em funcio- tiva de crescimento.
namento desde 2007, objetiva disponibilizar ao visitante “Observando a tradição cultural de ruralidade do Es-
o verdadeiro convívio com o meio rural, recheado com os tado de Minas Gerais, e analisando os dados de extensão
saberes de seu povo, seu artesanato cultural, belas paisa- territorial, 586.528 km² com uma estrutura fundiária de
gens, degustando sua gastronomia típica. 551.617 propriedades rurais das quais 78,93% são de agri-
Ainda, destaque para o Caminho das Topiarias, Flores e cultores familiares; é evidente a grande potencialidade às
Aromas, em Victor Graeff. O Caminho tem como objetivo
conscientizar sobre a preservação dos recursos naturais e

Divulgação/Emater/MG
promover a qualidade de vida e o aumento da autoestima
das famílias victorenses.
O roteiro turístico Caminho das Topiarias, Flores e Aro-
mas, que existe desde 2005, é composto por dez atrações: a
Praça Municipal Tancredo Neves, integrante do Patrimônio
Histórico e Cultural do Rio Grande do Sul e considerada a
praça mais bela do Estado; a Casa do Artesanato; e oito jar-
dins em propriedades do interior do município. Desde que
foi criado, o roteiro já recebeu mais de 3.500 visitantes.

Minas Gerais – perspectiva de crescimento no


Turismo Rural
Em entrevista, o presidente da Emater Minas Gerais,
Marcelo Lana Franco, declarou que este segmento ainda
pode se desenvolver muito em Minas Gerais, pois existem
inúmeras iniciativas principalmente em propriedades de Presidente Emater/ MG, Marcelo Lana Franco

Divulgação/Emater/MG
Divulgação/Emater/RS

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 241


Divulgação/Emater/MG
atividades pluriativas no ambiente rural e a perspectiva de Segundo Marcelo, o Turismo Rural para a agricultura
expansão dessa economia criativa capaz de gerar ocupa- familiar deve ser pautado pelos princípios da economia
ção e renda no campo”, aponta Marcelo ressaltando que se- solidária, de modo associativo, valorizando a cultura local,
gundo pesquisa da Secretaria de Estado de Turismo dentre e, principalmente, deve ser protagonizado pelos agriculto-
os turistas que buscam o destino Minas Gerais motivados res familiares e suas famílias em propriedades/comunida-
pelo lazer, 42,5% procuram por turismo ligado à natureza, des rurais, visando à apropriação dos benefícios advindos
aventura e ao ambiente rural. da atividade turística pelas famílias rurais.

Turismo Rural aliado ao crescimento da Comprometimento com a produção agrope-


agricultura familiar cuária
Para o presidente da Emater/MG, o agricultor fami- Para o Ministério do Turismo, o turismo rural é o
liar tem sua propriedade com uma produção em peque- conjunto das atividades turísticas desenvolvidas no meio
na escala através da disponibilização dos produtos in rural, comprometidas com a produção agropecuária,
natura para venda direta ao turista, e também através da agregando valor a produtos e serviços, resgatando e pro-
oferta de serviços como receber o turista na sua proprie- movendo o patrimônio cultural e natural da comunidade.
dade para atividades como passeios a cavalo e visitações. “Consideramos o comprometimento com a produção
“Enquanto o turismo convencional produz espaços agropecuária basicamente sob dois aspectos. O primeiro
segregados para o turista e para os moradores, o turis- diz respeito aos benefícios econômicos, pois as ativida-
mo rural da agricultura familiar disponibiliza espaços des agropecuárias tem maior valorização e consequente
de encontros e convivencialidade”, ressalta. reversão em renda alternativa; há de se preocupar com a

242 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013


distribuição do tempo para que as atividades agropecuá- Segundo o presidente, foram formatadas sete pos-
rias não fiquem prejudicadas. Já o segundo é quanto ao sibilidades de roteiros de caminhadas ou cavalgadas
uso adequado e de modo sustentável do ambiente e da integrando Cuiabá a outras comunidades vizinhas
produção. O ecossistema tão belo e sensível e no ambien- onde o visitante pode conhecer os diversos atrativos
te tem as pessoas (o agricultor e sua família),com uma naturais e culturais da região, com destaque para ca-
cultura local representada por hábitos simples e vulnerá- choeiras, pedras e trechos da antiga estrada da Maria
veis à interferências externas”, declara. Fumaça. Num desses roteiros o turista pode acompa-
Para Marcelo, é nesse ponto que entra a grande con- nhar o trabalho e colher a produção local de hortigran-
tribuição dos serviços de Assistência Técnica e Exten- jeiros. Os condutores são moradores da comunidade
são Rural (Ater), para com o planejamento, ordenação que também foram capacitados e ofertam esse serviço.
e organização no desenvolvimento do turismo rural na “Todo mês de maio acontece o ‘Festival de Comidas
Agricultura Familiar e é o que a Emater/MG vem desen- Típicas de Cuiabá’, evento muito prestigiado pelos tu-
volvendo junto às famílias no meio rural. ristas e que conta com o apoio da Emater/MG ao grupo
gestor do projeto, juntamente com outros parceiros na
Agregando valor sua organização e realização. O projeto tem como resul-
De acordo com o presidente da Emater/MG, os pro- tados a geração de ocupação o aumento da renda dos
dutos são processados (geleias, doces, queijos, licores, moradores locais”.
quitandas, cachaça, rapadura) e comercializados dire- Conforme o presidente, outro exemplo de Turismo
tamente ao turista. Além disso, a gastronomia típica, o Rural é a Vila Real, um projeto implantado em 2010
artesanato regional assim como as danças e cultura, his- na margem da Estrada Real, na Comunidade de Vau,
tórias e tradições da localidade também podem e devem no município de Diamantina, pela Secretaria de Esta-
ser disponibilizados com seu valor agregado. do de Turismo em parceria com a Prefeitura Municipal.
“A agregação vem a partir da interação do turista com as “A vila tem uma estrutura com receptivo para informa-
famílias rurais e o conhecimento dos processos produtivos. ções a turistas, acesso a internet, lanchonete, loja para
A partir daí é aguçada a sensibilidade para com os valores e comercializar os produtos locais, sala de vivências para
dificuldades. Enfim para com o modo de vida no ambiente que o visitante possa interagir melhor com os moradores
rural. Além de ter a garantia de como os produtos são trans- e conhecer o processo de produção de doces e comidas
formados e ofertados de modo natural conforme as origens típicas da comunidade, além de sala de administração
culturais”, declara. e dois banheiros. Desde 2008 a Emater/MG juntamen-
te com outros parceiros, assiste as famílias locais com
Modelos bem sucedidos destaque para a organização das participantes de grupo
De acordo com a Emater/MG, um exemplo é o Pro- Delícias Reais, na produção de quitandas, doces, geleias
jeto Turismo de Vilarejo desenvolvido na Comunidade e salgados comercializados na vila”.
Rural de Cuiabá, localizada a 9 Km da sede, no municí- Segundo Marcelo, a comunidade tem um planeja-
pio de Gouveia, vizinho a Diamantina, onde moram 32 mento construído de forma participativa, para desen-
famílias em sua maioria de agricultores familiares. volver o Turismo Rural de Base Comunitária e tem a
“Os moradores foram qualificados para receber tu- previsão de instalação de novos projetos complemen-
ristas em suas casas, oferecem o serviço de hospedagem tares para melhorar os serviços prestados e produtos
e alimentação em seus domicílios, produzem e comer- ofertados aos turistas. “Minas Gerais e os mineiros tem
cializam produtos da agricultura familiar cultivados muito que mostrar na diversidade de patrimônio histó-
em suas hortas e pomares, além de diversificar e agre- rico, cultural e humano, tradições e riquezas regionais
gar valor a esses produtos com a produção de doces. do meio rural, expressos pela prestação de serviços, ar-
Recentemente concluímos a qualificação de 16 jovens do tesanato, agroindústria, gastronomia, dança e músicas”,
Projeto Transformar na produção de artesanato em cabaça. conclui o presidente. ◆
As peças já estão sendo comercializadas”, aponta Marcelo.

Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013 | 243


244 | Anuário Brasileiro da Agricultura Familiar 2013

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