Caderno de Poesia Alfredo Atualizado
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Caderno de Poesia Alfredo Atualizado
POESI
A
Poemas (Amor)
Sumário
INTRODUÇÃO 4
Este livro fala de amor e das diversas formas de expressá-lo. Aqui, você caro(a)
leitor(a), irá se deparar com a imensidão da fonte que a ação de amar proporciona a
quem se permite corre o risco de sustentar, alimentar, nutrir e viver um amor. Espero
que sua experiência seja esplêndida assim como os diversos eixos que o amor nos
proporciona, sem mais delongas, deixe-se embriaga de amor.
Camões, O poema de Camões descreve o amor na sua forma mais profunda,
sutil e delicada. No trecho “Amor, que o gesto humano n’alma escreve/vivas faíscas me
mostrou um dia” remete a ideia de que o amor, separado por vírgula e com inicial
maiúscula, se refere a um amor específico, aquele amor que ultrapassa os gestos
humanos e atinge a profundidade da alma. Diante disso, o termo “n’alma escreve”
designa a ideia de que o amor profundo se caracteriza nas ações do eu lírico, a utilização
do verbo de ação “escrever” submete a ideia desse amor que foge do superficial, sendo
demonstrado nas ações de quem o remete. Diante disso, no fragmento “vivas faíscas me
mostrou um dia” remete a compreensão de que esse amor é forte, vivo e que se permitiu
ser demonstrado, o termo “faíscas” se refere ao fogo, que é vivo, forte, ardente.
Diante dessa acepção, “donde um puro cristal se derretia/por entre vivas rosas e
alva neve” permite o entendimento de que o amor forte, puro, profundo e sólido se
permitiu ser moldado, maleável, derretido, encontrado, vivido. Destarte, o trecho “por
entre vivas rosas e alva neve” evidencia a ideia da vida/existência desse amor, o termo
“rosas” remete a delicadeza, beleza, sutileza que se referem as características desse
amor específico de que o eu lírico descreve, além disso, o termo “alva neve” remete a
ideia de clareza, branquidão, transparência, justificando a conclusão do amor que se
permitiu ser encontrado, demonstrado, vivenciado.
Outrossim, no fragmento “A vista, que em si mesma não se atreve/por se
certificar do que ali via” refere-se a visão do amor, que por permitir ser acessado,
moldado, vivido, se torna algo surreal, que há uma necessidade de “certificar” sua
existência, o verbo também se refere a certeza do sentimento presenciado. Diante disso,
no fragmento “foi convertida em fonte, que fazia/a dor ao sofrimento doce e leve”
remete a ideia de mudança de estado do amor que outrora era forte, duro, concreto,
imutável, e que por ser vivenciado, se permitiu ser moldado, transformado, maleável,
derretido e que por não poder ser consumado trouxe a dor e o sofrimento, no entanto,
por se tratar de um amor profundo e mutável, possibilitou que suavizasse os sentimentos
de dor e sofrimento em doçura e leveza.
Consoante ao exposto, em seguida, no trecho “Jura Amor que brandura de
vontade/causa o primeiro efeito; o pensamento/endoudece, se cuida que é verdade”
remete a bondade e leveza do amor, consoante ao que o autor descreve anteriormente, e
que estabelece a vontade de consumá-lo, mas tudo isso causa um “efeito”, este termo
refere-se a consequência desse amor, que se caracteriza como a loucura, perda dos
sentidos e da razão quando se vive um amor profundo que se permite ser moldado,
transformado, visível.
Em subsequência, no último terceto “Olhai como Amor, gera num momento/de
lágrimas de honesta piedade/lágrimas de imortal contentamento” enfatiza a ideia do
sofrimento, da dor que o amor por não poder ser consumado proporciona, o termo
“honesta piedade” remete ao ato de se colocar no lugar do outro – alteridade –, diante
disso, o último verso “lágrimas de imortal contentamento” justifica a ideia de que o
amor que não pode ser consumado e que por essa razão trouxe consigo lágrimas, dores,
sofrimentos, por mais que sejam doces e leves não conseguiu sobreviver eternamente,
expressando a ideia de que esse amor impedido, não morre mas se transforma, no caso
do eu lírico, seu amor se transformou em dores de “imortal contentamento”.
O poema de Camões trouxe em sua composição, as esferas e camadas da ação
de amar. Nesse sentido, o autor descreve um amor específico, um amor que remete ao
romance cortês, na primeira estrofe pode-se perceber essa relação quando o autor
descreve “Amor, que o gesto humano n’alma escreve”, o verbo “escrever” além de
remeter a ação do ato de amar em si, também enfatiza a ideia do amor de cortesia,
fazendo menção às cartas de amor daquela época. Ao longo do poema pode-se observar
que esse amor há diversas camadas, o amor banal, carnal que conversa com a teoria de
Platão em relação ao amor de Afrodite Pandêmia, enfatizando que: “Ora pois, o Amor
de Afrodite Pandêmia é realmente popular e faz o que lhe ocorre; é a ele que os homens
vulgares amam. E amam tais pessoas, primeiramente não menos as mulheres que os
jovens, e depois o que neles amam é mais o corpo que a alma, e ainda dos mais
desprovidos de inteligência, tendo em mira apenas o efetuar o ato, sem se preocupar se é
decente-mente ou não; daí resulta então que eles fazem o que lhes ocorre, tanto o que é
bom como o seu contrário.”. Consoante a isso, pode-se identificar essa outra esfera do
amor e do ato de amar em si, que por ser algo raso e carnal se torta popular, no entanto,
o poema traz outra versão, a versão do amor puro, verdadeiro, profundo, maleável e
incapaz de morrer.
A respeito do amor, amo loucamente, como se pode amar aos vinte e dois
anos, com todo o ardor de um coração cheio de vida. Na minha idade o
amor é uma preocupação exclusiva, que se apodera do coração e da cabeça.
Experimentar outro sentimento, que não seja esse, pensar em outra coisa,
que não seja o objeto escolhido pelo coração, é impossível.
AMOR E SEU TEMPO – CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Do divino lugar
onde o bem da existência
é ser eternidade
e parecer ausência.
E, no fundo do mar,
a Estrela, sem violência,
cumpre a sua verdade,
alheia à transparência.
NUNCA NINGÉM VIU NINGUÉM - Cecília Meireles (Trecho
de "Canção")
Estou só, quer dizer, tenho ódio ao amor que terei pelo desconhecido
que está a caminho, um homem cujo rosto e cuja voz desconheço.
Li num autor (um pouco menos idiota do que os outros, quando falam
sobre nós) que o drama da mulher é ter de adaptar-se às teorias que
os homens criam sobre ela. Certo. Quando a mulher neurótica por
todos os poros acaba no divã do analista, aconteceu simplesmente o
seguinte: ela se perdeu e não soube como ser diante do homem; a
figura que deveria ter assumido se fez imprecisa.