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A Economia Comportamental É Boa Economia

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A Economia Comportamental é boa Economia?

Palavras-chave: Outras escolas de pensamento, visão geral da Economia Austríaca

Autor: Frank Shostak

Tradução: Pedro Micheletto Palhares

Publicação original: 17/11/2017

Recentemente, uma vertente relativamente nova da Economia, chamada


Economia Comportamental (Behavorial Economics – BE) começou a ganhar
popularidade. Seus praticantes, tais como Daniel Kahneman, Vernon Smith e
Richard Thaler foram laureados com o Prêmio Nobel de Economia por sua
contribuição neste campo.
O quadro analítico da BE (Economia Comportamental) emergiu devido à
insatisfação com a abordagem da teoria neoclássica acerca da escolha dos
consumidores. O maior problema com a teoria era que as pessoas apresentavam
uma escala de preferências programada em suas mentes. Independentemente
de qualquer coisa, essa escala permanece a mesma todo o tempo.
Os praticantes desta vertente econômica argumentam, com efeito, que é um
caso gravemente irrealista. Portanto, para tornar o quadro analítico ortodoxo
mais realista, eles sugerem a introdução da psicologia (behavorista) na
economia.
Se argumenta que o estado emocional das pessoas irá influenciar seu processo
de tomada de decisão. Desta forma, se os consumidores se tornam mais
otimistas em relação ao futuro, então irão transmitir uma importante mensagem
às firmas em relação às suas decisões de investimento futuras.
De acordo com os pesquisadores da BE, se os consumidores estão pacientes
ou impacientes, de forma geral, isto determinará sua inclinação ou não para
gastar ou poupar no tempo presente. Se estão mais pacientes e poupam mais,
podem gerar fundos para novos projetos de investimento dos empreendedores.
Os economistas dessa área enfatizam a importância da personalidade. Uma
pessoa empática é mais inclinada a tomar decisões altruístas. Pessoas
impulsivas são mais prováveis de serem impacientes e não tão boas em poupar
para a aposentadoria. Pessoas audaciosas tendem a tomar mais riscos – serão
mais inclinadas a apostar (ver o livro “Behavioural Economics. A Very Short
Introduction” de Michelle Baddeley).
Apesar do criticismo da Economia Comportamental em relação à ortodoxia ser
válida, surge a questão de se, de fato, ela resolve o problema das preferências
fixas dos consumidores e apresenta consumidores como pessoas reais e não
máquinas maximizadoras de funções dadas.
A chave reside na definição da essência dos seres humanos. De acordo com a
BE, pessoas não são racionais no sentido que utilizam a razão em várias
decisões. De acordo com seus praticantes, o principal motor das decisões são
as emoções. Por exemplo, o vencedor do Nobel Vernon Smith afirma que:
“Pessoas gostam de acreditar que a boa tomada de decisão é consequência do
uso da razão, e que qualquer influência das emoções é a antítese de boas
decisões. O que não é apreciado por Mises e outros que, similarmente, confiam
na primazia da razão na teoria da escolha é o papel construtivo que as emoções
possuem na ação humana1”
Obviamente, uma vez que a importância da razão é dispensada, o que resta é
tratar os seres humanos como objetos. De acordo com esta forma de
pensamento, a ação humana não é direcionada pela razão, mas por fatores
externos que agem sobre as pessoas. Por meio de estímulos dados, se pode
observar várias reações humanas e desenhar todo tipo de conclusões no âmbito
da ciência econômica.
De acordo com Mises, entretanto:
“É impossível descrever qualquer ação humana se não nos referirmos ao
significado que o agente vê no estímulo, tal como na finalidade à qual sua
resposta almeja a consecução2”
Ao rejeitar a importância da razão humana, economistas comportamentais e
experimentais (N.T: como Vernon Smith) tratam o ser humano como qualquer
outro animal. Na verdade, alguns economistas experimentais estão conduzindo
vários experimentos em pombos e ratos para verificar várias proposições da
economia ortodoxa3.

Porque a introdução de psicologia na economia não tornará a economia


mais realista.
A Psicologia é um elemento importante para a economia comportamental e
experimental, no quesito que a ação humana e a psicologia são disciplinas inter-
relacionadas. Todavia, existe uma diferença contrastante entre economia e
psicologia. A Psicologia lida com o que forma fins e valores e seu conteúdo. A
Economia, por outro lado, parte da premissa que as pessoas perseguem seus

1
Vernon L. Smith, “ Reflections on Human Action after 50 years,” Cato Journal 19, no.2 (Fall
1999): 200.
2
Ludwig Von Mises, O Fundamento Último da Ciência Econômica. Capítulo 2. (Tradução Livre
do trecho parafraseado)
3
Frances K. McSweeney and Samantha Swindell, “Behavioral Economics and Within-Session
Changes in Responding,” Journal of the Experimental Analysis of Behavior 72, no.3
(November,1999): 355–71.
propósitos em sua conduta. Ela não prescreve ou lida com o conteúdo particular
dos fins.
De acordo com Rothbard:
“Os fins humanos podem ser ‘egoístas’ ou ‘altruístas’, ‘refinados’ ou ‘vulgares’.
Eles podem enfatizar o aproveitamento de ‘bens materiais’ e conforto, ou a vida
ascética. À Economia, não concerne seu conteúdo, suas leis se aplicam
independentemente da natureza destes fins4.”
Enquanto:
“A Psicologia e a ética lidam com o conteúdo dos fins humanos; elas questionam
o porquê de uma pessoa escolher determinados fins, ou que fins devem
valorizar5”
Assim, a economia lida com qualquer fim dado e com as implicações formais do
fato de que seres humanos possuem fins e utilizam meios para a consecução
destes fins. Consequentemente, a Economia é uma disciplina separada da
psicologia.
Ao introduzir a psicologia na economia, se oblitera a generalidade da teoria. Isso
é precisamente o que o psicólogo Daniel Kahneman, Nobel em economia, e seus
seguidores estão fazendo.
Apesar dos vários testes que conduziu, Kahneman concluiu que as pessoas não
estão sempre se comportando racionalmente, ou seja, de acordo com as
premissas da economia ortodoxa. O que Kahneman descobriu, todavia, nada
tem a ver com a racionalidade ou irracionalidade das pessoas. Isto tem a ver
apenas com as premissas falhas da hipótese amplamente difundida da
microeconomia – isto é, que as preferências são constantes. Resumidamente, a
proposição que as pessoas são como máquinas que jamais mudam de opinião.
Ao contrário do raciocínio da economia ortodoxa, a Escola Austríaca sempre
considerou que as valorações não subsistem por si próprias, independentemente
do que é valorizado. Sobre isso, Rothbard escreve: “Não podem haver
valorações sem haver o quê ser valorizado6.”
Em outras palavras, a valoração é o resultado do processo mental de atribuir
importância às coisas. É uma relação entre a mente e as coisas.
Agora, se as preferências forem constantes, então é possível reduzi-las em uma
formulação matemática, isto é, pode-se mapear e descrever os desejos
humanos em uma fórmula, como é defendido (N.T: por economistas como Paul
Samuelson). O nome disso, na microeconomia convencional, é função utilidade.
Curiosamente, a hipótese de preferências fixas é rotulada como uma

4
Murray N. Rothbard, Man, Economy and State, p. 63.
5
Ibidem.
6
Murray N. Rothbard, Towards a Reconstruction of Utility and Welfare Economics.
característica importante de racionalidade pela vertente econômica mais
difundida na academia.
Obviamente, pessoas mudam de opinião, então não é surpresa alguma que
Kahneman “descobriu” que pessoas reais se comportam de forma
sistematicamente divergente da máquina humana da microeconomia ortodoxa7.
Ao invés de dispensar o pressuposto de preferências constantes, Kahneman
manteve esta suposição e apenas modificou a formulação matemática das
preferências dos consumidores, ou seja, a função utilidades, para trazer o
suposto realismo no modelo ortodoxo. Em um trabalho prestigiado, Kahneman
escreve:
“Portanto, a função derivada do valor (utilidade), de um indivíduo, nem sempre
reflete as atitudes ‘puras’ em relação ao dinheiro, visto que este pode ser afetado
por consequências adicionais, associadas com quantidades específicas. Tais
perturbações podem, prontamente, produzir regiões convexas na função de
valor para ganhos e côncavas para a função de valor para perdas. O segundo
caso pode ser mais comum, visto que grandes perdas, comumente, geram
mudanças no padrão de vida.8”

O quadro analítico Misesiano das escolhas dos consumidores.


Seguindo o quadro analítico de Mises, podemos verificar uma contrastante
característica e significado da ação humana. Por exemplo, pode-se observar que
as pessoas se engajam em uma variedade de atividades. Algumas delas são: o
desempenho de trabalhos manuais, dirigir automóveis, andar na rua ou jantar
em restaurantes. A característica, que distingue a natureza destas atividades de
outros tipos, é que todas são propositadas.
Além disso, podemos estabelecer o significado dessas atividades. Por conta
disso, o trabalho manual pode ser um meio para obter dinheiro, que possibilita
alguém atingir vários objetivos, como comprar alimento ou vestimentas. Jantar
em um restaurante pode ser um meio para estabelecer relações comerciais.
Dirigir um veículo pode ser um meio para chegar a um destino específico.
Em outras palavras, as pessoas operam em uma estrutura de meios e fins; usam
vários meios para a consecução de fins *. Podemos, também, postular das
premissas acima que as ações são, por definição, propositadas e deliberadas.
O conhecimento de que a ação humana é deliberada e propositada é certo e não
experimental. Qualquer um que objetar este fato se contradiz, precisamente por
engajar em um ato propositado e deliberado em argumentar o contrário.

7
Daniel Kahneman and Amos Tversky, “Prospect Theory: An analysis of decision under risk.”
Econometrica 47, no. 2 (March, 1979).
8
Ibid.
*
N.T: Ou, como Hayek descreve no artigo “Os Fatos das ciência sociais”, um fim pode servir a
diversos meios, mas, vale notar que o emprego de um meio para determinado fim exclui todos
os fins alternativos no momento em que é empregado.
Várias conclusões derivadas deste conhecimento do caráter propositado e
deliberado da ação são válidos da mesma forma, implicando que não é
necessário sujeita-las a testes de laboratório como é feito na economia
experimental. Para algo que é considerado um conhecimento certo, não é
requerido nenhum teste empírico.
Economistas experimentais e comportamentais como o Nobel Vernon Smith,
entretanto, rejeitam a visão de que a ação humana é conscientemente deliberada
e propositada. Smith escreve:
“Ele (Mises) reivindica que a ação humana é conscientemente propositada. Mas
não é uma condição necessária para seu sistema. Mercados desempenham sua
função quer o motor da ação humana envolva escolha deliberada ou não. Ele
subestima amplamente a operação de processos mentais subconscientes. A
maior parte do que conhecemos, não lembramos como aprendemos, nem o
processo de aprendizado é acessível à nossa experiência consciente – a mente.
(...) Até os problemas de escolha que enfrentamos são processados pelo cérebro
abaixo do que é acessível à nossa consciência9.”

Meios, Fins e Escolhas do Consumidor


A ação propositada implica que as pessoas avaliam vários meios à sua
disposição face a seus fins. Fins individuais definem o padrão para as avaliações
humana e, portanto, suas escolhas. Ao escolher um fim particular, um indivíduo
também define um padrão de avaliação de vários meios.
Exemplificando: se o meu objetivo é prover uma boa educação para meu filho,
eu vou explorar várias instituições educacionais e vou avalia-las relativamente à
minha informação sobre a qualidade do serviço de educação que elas fornecem.
Observe que meu padrão para compará-las é meu objetivo, que é prover meus
filhos de boa educação.
Ou, em outro caso, se minha intenção é comprar um carro, há vários tipos de
carro disponíveis no mercado, de forma que devo especificar meus fins
(objetivo/metas) que o carro me ajudará a realizar. Um exemplo de fator que
posso precisar considerar é se planejo dirigir longas distâncias ou uma distância
mais curta da minha casa à estação do trem que planejo pegar. Meu fim último
determinará como avaliarei os vários carros. Talvez eu deva concluir que, para
uma curta distância, um carro de segunda mão me servirá. Tende em vista que
os fins individuais determinam suas avaliações de meios e, consequentemente,
suas escolhas, se segue que o mesmo bem será avaliado de forma diferente
pelos indivíduos conforme seus fins mudam.
A qualquer momento, as pessoas possuem uma abundância de fins os quais
pretender realizar. O que limita a consecução de vários fins é a escassez dos
meios. Deste modo, uma vez que mais meios se tornam disponíveis, um maior

9
Vernon L. Smith, “Reflections on Human Action after 50 years,” Cato Journal 19, no. 2 (Fall
1999): 200.S
número de fins, objetivos ou metas, podem ser acomodados – e o padrão de
vida das pessoas melhora.
Outra limitação ao atingir vários objetivos é a disponibilidade de meios
adequados. Nestas condições, para saciar minha sede no deserto, preciso de
água. Diamantes em minha possessão serão de nenhuma ajuda nesse quesito.
Observe que o paradigma de meios e fins é a essência de qualquer ação
humana, quer a ação esteja de acordo com o que é convencionalmente chamado
de racional ou não.
Além do mais, uma vez que se aceita que as ações humanas são
conscientemente deliberadas e propositadas, não fará muito sentido extrair
preferências em um laboratório, ou através de questionários, uma vez que
apenas algo constante pode ser extraído. Desta forma, os vários resultados
obtidos via testes de laboratório, ou via questionários, não avançam nosso
entendimento da ação humana no que concerne à ciência econômica, mas, ao
contrário, nos previne de adquirir qualquer conhecimento significativo.

Conclusões
Ao lançar a dúvida sobre a noção de que a razão é a principal faculdade que
dirige a ação humana, a economia comportamental enfatiza a importância das
emoções como o principal motor da ação humana.
Pelos meios da análise psicológica, seus praticantes, supostamente,
demonstraram que a conduta das pessoas é irracional.
Consequentemente, estes economistas fundaram, de forma não intencional, os
alicerces para a introdução do controle governamental para “proteger” indivíduos
de seu próprio comportamento irracional.
Por exemplo, amplas flutuações nos mercados financeiros podem ser atribuídas
ao comportamento irracional, que pode causar dano à economia. Desta forma,
fará bastante sentido restringir esta irracionalidade com uma dose de regulações
restritivas.
Note que a econômica comportamental, enquanto critica a economia ortodoxa
por não ser realista ao abordar escolhas humanas, trata os seres humanos como
autômatos a serem programados.

Link do texto no idioma original: https://mises.org/wire/behavioral-economics-


good-economics

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