A Economia Comportamental É Boa Economia
A Economia Comportamental É Boa Economia
A Economia Comportamental É Boa Economia
1
Vernon L. Smith, “ Reflections on Human Action after 50 years,” Cato Journal 19, no.2 (Fall
1999): 200.
2
Ludwig Von Mises, O Fundamento Último da Ciência Econômica. Capítulo 2. (Tradução Livre
do trecho parafraseado)
3
Frances K. McSweeney and Samantha Swindell, “Behavioral Economics and Within-Session
Changes in Responding,” Journal of the Experimental Analysis of Behavior 72, no.3
(November,1999): 355–71.
propósitos em sua conduta. Ela não prescreve ou lida com o conteúdo particular
dos fins.
De acordo com Rothbard:
“Os fins humanos podem ser ‘egoístas’ ou ‘altruístas’, ‘refinados’ ou ‘vulgares’.
Eles podem enfatizar o aproveitamento de ‘bens materiais’ e conforto, ou a vida
ascética. À Economia, não concerne seu conteúdo, suas leis se aplicam
independentemente da natureza destes fins4.”
Enquanto:
“A Psicologia e a ética lidam com o conteúdo dos fins humanos; elas questionam
o porquê de uma pessoa escolher determinados fins, ou que fins devem
valorizar5”
Assim, a economia lida com qualquer fim dado e com as implicações formais do
fato de que seres humanos possuem fins e utilizam meios para a consecução
destes fins. Consequentemente, a Economia é uma disciplina separada da
psicologia.
Ao introduzir a psicologia na economia, se oblitera a generalidade da teoria. Isso
é precisamente o que o psicólogo Daniel Kahneman, Nobel em economia, e seus
seguidores estão fazendo.
Apesar dos vários testes que conduziu, Kahneman concluiu que as pessoas não
estão sempre se comportando racionalmente, ou seja, de acordo com as
premissas da economia ortodoxa. O que Kahneman descobriu, todavia, nada
tem a ver com a racionalidade ou irracionalidade das pessoas. Isto tem a ver
apenas com as premissas falhas da hipótese amplamente difundida da
microeconomia – isto é, que as preferências são constantes. Resumidamente, a
proposição que as pessoas são como máquinas que jamais mudam de opinião.
Ao contrário do raciocínio da economia ortodoxa, a Escola Austríaca sempre
considerou que as valorações não subsistem por si próprias, independentemente
do que é valorizado. Sobre isso, Rothbard escreve: “Não podem haver
valorações sem haver o quê ser valorizado6.”
Em outras palavras, a valoração é o resultado do processo mental de atribuir
importância às coisas. É uma relação entre a mente e as coisas.
Agora, se as preferências forem constantes, então é possível reduzi-las em uma
formulação matemática, isto é, pode-se mapear e descrever os desejos
humanos em uma fórmula, como é defendido (N.T: por economistas como Paul
Samuelson). O nome disso, na microeconomia convencional, é função utilidade.
Curiosamente, a hipótese de preferências fixas é rotulada como uma
4
Murray N. Rothbard, Man, Economy and State, p. 63.
5
Ibidem.
6
Murray N. Rothbard, Towards a Reconstruction of Utility and Welfare Economics.
característica importante de racionalidade pela vertente econômica mais
difundida na academia.
Obviamente, pessoas mudam de opinião, então não é surpresa alguma que
Kahneman “descobriu” que pessoas reais se comportam de forma
sistematicamente divergente da máquina humana da microeconomia ortodoxa7.
Ao invés de dispensar o pressuposto de preferências constantes, Kahneman
manteve esta suposição e apenas modificou a formulação matemática das
preferências dos consumidores, ou seja, a função utilidades, para trazer o
suposto realismo no modelo ortodoxo. Em um trabalho prestigiado, Kahneman
escreve:
“Portanto, a função derivada do valor (utilidade), de um indivíduo, nem sempre
reflete as atitudes ‘puras’ em relação ao dinheiro, visto que este pode ser afetado
por consequências adicionais, associadas com quantidades específicas. Tais
perturbações podem, prontamente, produzir regiões convexas na função de
valor para ganhos e côncavas para a função de valor para perdas. O segundo
caso pode ser mais comum, visto que grandes perdas, comumente, geram
mudanças no padrão de vida.8”
7
Daniel Kahneman and Amos Tversky, “Prospect Theory: An analysis of decision under risk.”
Econometrica 47, no. 2 (March, 1979).
8
Ibid.
*
N.T: Ou, como Hayek descreve no artigo “Os Fatos das ciência sociais”, um fim pode servir a
diversos meios, mas, vale notar que o emprego de um meio para determinado fim exclui todos
os fins alternativos no momento em que é empregado.
Várias conclusões derivadas deste conhecimento do caráter propositado e
deliberado da ação são válidos da mesma forma, implicando que não é
necessário sujeita-las a testes de laboratório como é feito na economia
experimental. Para algo que é considerado um conhecimento certo, não é
requerido nenhum teste empírico.
Economistas experimentais e comportamentais como o Nobel Vernon Smith,
entretanto, rejeitam a visão de que a ação humana é conscientemente deliberada
e propositada. Smith escreve:
“Ele (Mises) reivindica que a ação humana é conscientemente propositada. Mas
não é uma condição necessária para seu sistema. Mercados desempenham sua
função quer o motor da ação humana envolva escolha deliberada ou não. Ele
subestima amplamente a operação de processos mentais subconscientes. A
maior parte do que conhecemos, não lembramos como aprendemos, nem o
processo de aprendizado é acessível à nossa experiência consciente – a mente.
(...) Até os problemas de escolha que enfrentamos são processados pelo cérebro
abaixo do que é acessível à nossa consciência9.”
9
Vernon L. Smith, “Reflections on Human Action after 50 years,” Cato Journal 19, no. 2 (Fall
1999): 200.S
número de fins, objetivos ou metas, podem ser acomodados – e o padrão de
vida das pessoas melhora.
Outra limitação ao atingir vários objetivos é a disponibilidade de meios
adequados. Nestas condições, para saciar minha sede no deserto, preciso de
água. Diamantes em minha possessão serão de nenhuma ajuda nesse quesito.
Observe que o paradigma de meios e fins é a essência de qualquer ação
humana, quer a ação esteja de acordo com o que é convencionalmente chamado
de racional ou não.
Além do mais, uma vez que se aceita que as ações humanas são
conscientemente deliberadas e propositadas, não fará muito sentido extrair
preferências em um laboratório, ou através de questionários, uma vez que
apenas algo constante pode ser extraído. Desta forma, os vários resultados
obtidos via testes de laboratório, ou via questionários, não avançam nosso
entendimento da ação humana no que concerne à ciência econômica, mas, ao
contrário, nos previne de adquirir qualquer conhecimento significativo.
Conclusões
Ao lançar a dúvida sobre a noção de que a razão é a principal faculdade que
dirige a ação humana, a economia comportamental enfatiza a importância das
emoções como o principal motor da ação humana.
Pelos meios da análise psicológica, seus praticantes, supostamente,
demonstraram que a conduta das pessoas é irracional.
Consequentemente, estes economistas fundaram, de forma não intencional, os
alicerces para a introdução do controle governamental para “proteger” indivíduos
de seu próprio comportamento irracional.
Por exemplo, amplas flutuações nos mercados financeiros podem ser atribuídas
ao comportamento irracional, que pode causar dano à economia. Desta forma,
fará bastante sentido restringir esta irracionalidade com uma dose de regulações
restritivas.
Note que a econômica comportamental, enquanto critica a economia ortodoxa
por não ser realista ao abordar escolhas humanas, trata os seres humanos como
autômatos a serem programados.