Reforma Do Sistema de Educação em Moçambique

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UNIVERSIDADE ZAMBEZE

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANIDADES


CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CADEIRA: REFORMA DO SECTOR PÚBLICO

TEMA: REFORMA DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE.

Beira, Maio de 2024


UNIVERSIDADE ZAMBEZE
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANIDADE
CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CADEIRA: REFORMA DO SECTOR PÚBLICO
PÓS-LABORAL

TEMA: REFORMA DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE.

Discentes:
Diaselma Machone
Ester Fernando L. Mundai
Elsa João Nhamazi
Fernando Júlio
Inês Alfredo Malfez

Docente:
Msc. Pedro Chichone

Beira, Maio de 2024

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Índice

1. Introdução..............................................................................................................................3
1.1 Objetivos..........................................................................................................................4
1.2 Metodologia.....................................................................................................................4
2. Reforma do Sistema de Educação em Moçambique..............................................................5
2.1 Contextualização histórica...............................................................................................5
2.1.1 Reforma curricular no ensino básico......................................................................5
2.2 Conceitos gerais...............................................................................................................6
2.2.1 Reforma educativa..................................................................................................6
2.3 Evolução do Sistema de Educação em Moçambique......................................................6
2.3.1 A educação no período colonial.............................................................................7
2.3.1.1 As primeiras escolas em Moçambique.......................................................7
2.3.1.2 Ensino rudimentar.......................................................................................7
2.3.2 Ensino de adaptação/ missionário...........................................................................8
2.3.3 Ensino Oficial.........................................................................................................8
2.3.4 A Formação de Professores....................................................................................8
2.3.5 A educação em zonas libertadas no processo de luta armada de libertação (1964-
1974)................................................................................................................................9
2.3.6 A Educação no Período Pós-Independência, com particular atenção à Formação
do Sistema Nacional de Educação (SNE)......................................................................10
2.4. Finalidade da criação do Sistema Nacional da Educação em Moçambique.................11
2.5. Estruturação do Sistema Nacional de Educação Moçambique.....................................12
2.5.1. Ensino pré-escolar...............................................................................................12
2.5.2. Ensino escolar......................................................................................................12
2.5.2.1. O Ensino Geral........................................................................................12
2.5.2.2. Ensino Técnico-Profissional....................................................................13
2.5.2.3. Ensino superior........................................................................................14
2.5.3. Ensino extra-escolar.............................................................................................16
2.6. A importância da educação em vários contextos..........................................................16
2.7 Principais reformas no Sistema de Educação em Moçambique....................................18
2.8 Intercâmbio Moçambique-Brasil e uma visão mais ampla no setor de educação.........19
3. Conclusão.............................................................................................................................21
Referências bibliográficas........................................................................................................23

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1. Introdução

A educação é um processo que molda um individuo tanto como uma sociedade. Ela ocorre de
modo formal e informal.

Informalmente refere-se a educação que acontece no senso comum sem parâmetros


sistemáticos (cultura), ao passo que a educação formal acontece por padrões sistemáticos.

O presente trabalho tem como fundamentação teórica a Reforma do Sistema de Educação em


Moçambique. No seu desenvolvimento trazemos o historial da evolução do ensino no nosso
Pais, desde a época colonial, pós-independência até a actualidade. Descreveremos a estrutura
do Reforma Nacional de Educação e suas finalidades. Por fim, traremos dados que refletem a
importância da educação em vários contextos.

Sempre o ensino foi permeado por escolhas políticas para a elaboração dos programas de
ensino e dos currículos nacionais como a psicopedagogia recomenda, porque é sempre o
papel do estado definir que tipo de cidadãos formados quer para o futuro do mesmo estado.

Em Moçambique, os debates sobre a educação sempre culminam com a transição de um


modelo curricular e de ensino para outro modelo curricular e de ensino. Para o currículo, esse
debate envolve sempre um propósito, um processo e um contexto. Além disso, resulta da
confluência de diversas práticas exercidas por diferentes atores em diferentes momentos.

Moçambique como qualquer outro país passou por várias reformas curriculares e que no caso
específico, essas reformas foram consubstanciadas na lei 4/83; lei 6/92; e a lei 18/2018. Antes
da lei 4/83 sempre vigorou um modelo de ensino e curricular herdado do governo colonial
português até 1982. No entanto, essas reformas curriculares dos Subsistemas do ensino
moçambicano foram dando relevo a busca e o resgate dos aspectos da vida quotidiana, daí
que sejam um empreendimento de busca de relevância dos conteúdos e associadas as
estratégias de ensino e aprendizagem, modelos de ensino e paradigmas curriculares, que
depois passam a reger toda a organização do processo de ensino.

Apos a contextualização do tema iremos compreender quais reformas ocorreram na educação


antes e após a independência nacional e a sua importância para os dias atuais.

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1.1 Objetivos

Objectivo geral:

 Analisar o Processo de reforma do Sistema Nacional de Educação em Moçambique,


suas finalidades e importância da própria educação.

Objectivos específicos:

 Identificar os principais marcos da evolução e da reforma na educação em


Moçambique;
 Descrever a estrutura do sistema de educação em Moçambique;
 Explicar a importância da educação nos diferentes contextos.

1.2 Metodologia

Para este trabalho usou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica, que segundo Gil,
(1991) citado por Silva & Metnezes (2001:21) “quando elaborada a partir de material já
publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e actualmente com
material disponibilizado na Internet”.

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2. Reforma do Sistema de Educação em Moçambique

2.1 Contextualização histórica

Moçambique é um país cultural e linguisticamente heterogéneo. Com uma população


estimada em 24 milhões de habitantes, durante 500 anos estava colonizada pelo regime
fascista português. Em 25 de Junho de 1975, depois de 10 anos de luta de libertação nacional,
desencadeada pela Frente de Libertação de Moçambique, torna-se independente.

Historicamente, Moçambique independente existe a menos de 40 anos. Moçambique está


situado no sul do continente africano e é dividido por 11 províncias.

Em termos históricos, a educação moçambicana é analisada em três grandes períodos:


educação antes do período colonial (predominantemente uma educação tradicional/autotene),
educação no período colonial (caraterizada por ser excludente e exaltação dos conteúdos do
colonizador) e educação pós-independência (caraterizada pela exaltação da unidade nacional
e formação do homem novo). De salientar que as caraterísticas e formas de educação do
primeiro período, vão atravessando os restantes período.

2.1.1 Reforma curricular no ensino básico

Em 1983 foi introduzido no Moçambique independente o Sistema Nacional de Educação


(SNE) com a Lei 4/83 de 23 de Março. Depois de introduzido o SNE em 1983, a República
de Moçambique foi experimentando vários cenários, de entre eles há que destacar: declínio
do crescimento económico devido a destruição de infra-estruturas educacionais e sociais
motivadas pela guerra de desestabilização (1977-1992); a entrada de Moçambique na
economia de mercado (1986) entre vários cenários. Estes e outros factores fizeram com que
houvesse a revogação da Lei 4/83, de modo a adequar o sistema educativo moçambicano à
nova realidade social, política e económica.

Estruturalmente e nos termos da Lei 6/92, o Sistema Nacional de Educação moçambicano


compreende: o ensino pré-escolar (destinado a crianças até 6 anos), ensino escolar (primário,
secundário e universitário) e ensino extra – escolar (que se realiza fóra do sistema regular de
ensino).

Interessa nesta nossa abordagem, o Ensino Geral especificamente o nível primário, aqui
entendido como Ensino Básico.

O nível primário é considerado no SNE como sendo aquele que “prepara os alunos para o
acesso no ensino secundário e compreende as sete primeiras classes que são subdivididas em
2 graus”. (Lei 9/92, p. 9).
5
2.2 Conceitos gerais

2.2.1 Reforma educativa

Entende-se por reforma educativa a “uma transformação da política educativa de um país a


nível de estratégias, objectivos e estratégias, objectivos e prioridades”. Esta transformação
pode ser traduzida por conceitos como: inovação, renovação, mudança e melhoria tendo
como um elemento comum a introdução de algo novo. Nessa óptica, a reforma curricular vai
necessitar de uma estratégia planificada para a modificação de certos aspectos do sistema
educativo de um país de acordo com um conjunto de necessidades, resultados específicos,
meios e métodos adequados. PACHECO (2001, p.150)

Alguns autores usam de forma distinta os conceitos de reforma e de inovação. Considerando


de inovação as mudanças funcionais que se traduzem na prática educativa, enquanto as
reformas se traduzem em mudanças estruturais e organizacionais.

A ideia de reforma associa-se a ideia de progresso ou mudança que pressupõe a introdução de


novos programas, tecnologias e processos que gerem maiores eficiências, racionalidade e
controle dos resultados. MOREIRA (1999)

“Reformar denota remoção e isso dá certa notoriedade perante a opinião pública e perante os
docentes [….] cria-se a sensação de movimento, geram-se expectativas, o que parece
provocar, por si mesmo, as mudanças se propõem reformas”. MOREIRA (1999, p.31)

Nesta frase, pode-se considerar no âmbito desta análise um aspecto importante de que a
reforma curricular ou a reforma educativa denota uma remoção das práticas que
anteriormente eram vigentes e que esse processo cria no público-alvo um conjunto de
expectativas.

Estas reformas são necessárias para o desenvolvimento económico, político e social de um


determinado país, razão pela qual o Banco Mundial e o FMI entram nesses processos, não
apenas como financiadores mais também como delineadores de políticas educativas em nome
da qualidade de educação.

2.3 Evolução do Sistema de Educação em Moçambique

A instituição escola tem uma história no País: já nesse passado recente o ensino básico teve
sucessivas reformulações, as quais, apesar duma radical transformação inicial logo após a
independência, de certo modo, persiste, influenciando a dinâmica política, económica, e
cultural no quotidiano da sociedade moçambicana. Portanto, o recurso à história tem por
finalidade referir, resumidamente:
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 A Educação no Período Colonial, com ênfase na Formação de Professores;
 A Educação em zonas libertadas no Processo de Luta Armada de Libertação (1964-
1974); e
 A Educação no Período Pós-Independência, com particular atenção à Formação do
Sistema Nacional de Educação (SNE) e a actualidade.

2.3.1 A educação no período colonial

O sistema da educação colonial era organizado em dois sistemas de ensino distintos, o Ensino
Oficial que era destinado aos filhos dos colonos ou assimilados, que predominava nas vilas e
cidades; o Ensino Rudimentar que se destinava aos chamados “indígenas” os nativos, e este
desenvolvia-se nas zonas rurais (campo), em escolas das missões, controladas pela igreja.

2.3.1.1 As primeiras escolas em Moçambique

O Boletim Oficial de Moçambique n° 17, Lourenço Marques de 26 de Abril de 1930 regista


que só em 1799 foi criada a primeira escola primária, na Ilha de Moçambique. Pouco depois,
as escolas de formação profissional, escolas de artes e ofícios; a de Mossuril (localidade
próxima da Ilha de Moçambique) foi criada em 1889, de acordo com o mesmo boletim.

Para fazer face à dinâmica das mudanças nas relações sociais e comerciais emergentes, o
governo colonial passou a regulamentar o ensino para indígenas nas colónias. Com a
regulamentação de 30 de Novembro de 1869, a instrução primária passou a compreender o 1º
e o 2º graus, cada um com duas classes, 1ª e 2ª classes, e 3ª e 4ª classes, respectivamente.

2.3.1.2 Ensino rudimentar

Em Maio de 1930 pelo Diploma Legislativo número 238, o Estado Novo definiu duas
categorias de escolas: a primeira, das escolas das missões católicas romanas, para
ministrarem a instrução primária rudimentar aos africanos. Foi, então, instituído o ensino
normal indígena, com a finalidade de “habilitar professores indígenas para as escolas
rudimentares”. A primeira Escola de Preparação de Professores Primários Indígenas foi
inaugurada nesse ano de 1930, com 73 candidatos inscritos.

“Para o governo colonial o Ensino Primário Rudimentar destinava-se a civilizar os indígenas


da colónia, espalhando entre eles a língua e os costumes portugueses”.

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2.3.2 Ensino de adaptação/ missionário

Em 1941, todo o ensino rudimentar para africanos passou a ser da inteira responsabilidade
dos missionários. Esse sistema escolar passou a designar-se de ensino de adaptação, ou
ensino missionário, depois de 1956.

2.3.3 Ensino Oficial

A segunda categoria de escolas, compreendia as escolas primárias públicas oficiais para


europeus, asiáticos e assimilados. A partir de 1952, passaram a seguir um programa de cinco
classes, sendo a última obrigatória para admissão ao liceu, o qual compreendia o 1º ciclo
(dois anos), o 2º ciclo (três anos) e o 3º (dois anos), de preparação do ingresso no ensino
superior. O ensino dos ‘não-indígenas que tinha lugar em escolas públicas e também em
escolas privadas pretendia dar à criança os instrumentos fundamentais de todo o saber e as
bases de uma cultura geral, preparando-a para a vida social.

2.3.4 A Formação de Professores

Em 1945 começou a funcionar a escola missionária para a formação de professores


destinados às escolas rudimentares. Os candidatos aos cursos deviam ter o ensino primário
concluído, a 4ª classe.

A formação de professores foi-se estendendo a outros locais. De acordo com Boléo (1961:79)
apud Robate (2006), “a formação de professores para o ensino missionário tinha lugar em
Alvor, Magude, Homoíne, Dondo, Boroma, Quelimane, Alto-Molócuè, Marere, S. Pedro de
Chiúre e Vila Cabral”.

A partir de 1964, passou-se a contar com três tipos de professores: o monitor, com três meses
de formação pedagógica, após o ensino primário, para trabalhar nas escolas missionárias. Era
o professor com a mais baixa habilitação profissional; o professor do posto, formado na
Escola de Habilitação de Professores de Posto Escolar, para leccionar em escolas de ‘posto
escolar’, nas zonas rurais e periferias urbanas; e o professor formado pelo Magistério
Primário, com o ensino secundário geral completo, para ensinar às crianças europeias e às dos
assimilados, nas escolas primárias oficiais, e particulares.

A selectividade da escola colonial não se limitou apenas à excessiva carga de exames


(exames anuais e de admissão a outros ciclos), mas também se apoiou na diferenciação
estabelecida na formação de professores, com o fim de se cumprirem programas e objectivos
educacionais diferenciados em escolas com características igualmente diferentes:

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rudimentares, para uns; oficiais e particulares, para outros estas seguiam os mesmos
programas que os das escolas da metrópole.

No essencial, o ensino primário rudimentar e elementar consistia em conteúdos e objetivos


alienadores: os alunos, pelo incipiente conhecimento da língua portuguesa, deviam, na sua
iniciação na língua portuguesa, memorizar os conteúdos dos livros, sobre a cultura, história e
geografia das conquistas portuguesas, a moral e religião cristãs. E porque o aluno devia
mostrar que dominava os conteúdos, repetindo-os de cor, os métodos de ensino eram
autoritários, frequentemente apoiados no recurso ao castigo físico, como forma de se garantir
que o aluno adquirisse o comportamento desejado. O aluno era castigado por não demonstrar
domínio da(s) matéria(s) ensinada(s), por não observar alguma exigência relativa à pauta de
comportamento e funcionamento escolar, marcado pela obediência e pelo conformismo. O
professor era o centro do ensino. A repetição e memorização, para dar lugar à imitação, eram
as estratégias para o aluno aprender.

O sistema de formação de professores cumpria, assim, essencialmente, um determinado tipo


de objetivos importantes para o regime colonial: objectivos de natureza ideológica em
primeiro lugar, depois a informação científica.

2.3.5 A educação em zonas libertadas no processo de luta armada de libertação (1964-


1974)

O I Congresso da FRELIMO (Setembro de 1962) determinou a criação de escolas em zonas


onde fosse possível. Foram definidas funções específicas para a educação: a escola devia
satisfazer o conhecimento verdadeiro que se adquire através da descoberta da natureza, da
sociedade e das leis que as regem; e fornecer soluções para os problemas que surgem na vida
quotidiana da comunidade, aprendendo da comunidade, porque A escola que se fecha dentro
de si mesma, ao negar sair das paredes que a limitam ou ao julgar-se detentora de todo o
saber, mais cedo ou mais tarde será ultrapassada. É a natureza das relações que existem entre
a escola e a comunidade que nos fornecerá informações necessárias para sabermos que a
nossa educação está ou não a ser conduzida numa perspectiva revolucionária. (ROBATE,
2006)

Começa, assim, a gênese e o desenvolvimento de um movimento educativo de ruptura com o


sistema colonial: urgia vencer a alienação colonialista. Para promover cursos de formação de
curta duração (seis meses) e aperfeiçoamento de professores, foi criado o Departamento de
Educação e Cultura. Português, matemática, história, geografia, ciências naturais e
respectivas metodologias de ensino a pedagogia e psicologia eram as disciplinas dos cursos
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ministrados. Foram criadas ZIPs (Zonas de Influência Pedagógica), para permitir que
professores de diversas escolas e regiões tivessem seminários de aperfeiçoamento e encontros
para planificarem colectivamente as aulas e produzirem material didáctico.

Enquanto o sistema educativo colonial se empenhou em legitimar a opressão e manipular


ideologicamente os homens, para beneficiar da posse da terra e de seus recursos materiais e
humanos, a escola criada nas zonas libertadas durante a luta de libertação – entre 1966 e
1967, cem escolas em Cabo Delgado, com dez mil alunos; e no Niassa dez professores para
dois mil alunos – visavam romper com a ideologia opressora colonial. Nesse sentido, a escola
empenhou-se na formação do homem moçambicano, na sua libertação da opressão e
alienação coloniais, e buscou adequar a educação aos interesses sócio-culturais e económicos
do povo.

Tornou-se imperioso que os objectivos da educação visassem o combate ao analfabetismo, à


ignorância e, nessa sequência, também a superstição no seio das populações e dos diferentes
grupos sociais.

Os responsáveis pelo ensino das crianças e também dos jovens e adultos enfrentavam, não só
dificuldades várias, próprias do momento de luta, mas igualmente dificuldades particulares
em suas práticas de ‘sala de aula’, em relação ao que sabiam e o que estava em processo de
mudança, expresso nos programas de ensino vigentes. Essas dificuldades deviam-se ao baixo
nível de sua escolaridade e por não terem formação para a tarefa inesperada, mas inadiável.
Por isso, nesse leque de circunstâncias, as concepções sobre escola, ensino, língua e
linguagem adquiridas das escolas coloniais dificilmente teriam mudado, muito embora a
visão de si, como cidadão em constituição, e de mundo estivessem em movimento, em
processo de transformação política nesses jovens apostados em criar um novo homem numa
nação independente.

2.3.6 A Educação no Período Pós-Independência, com particular atenção à Formação


do Sistema Nacional de Educação (SNE)

Moçambique tornou-se país independente a 25 de Junho de 1975. No dia 24 de Julho do


mesmo ano, a educação e outras instituições sócio-económicas consideradas conquistas do
povo foram nacionalizadas. O Estado assumiu inteiramente a responsabilidade da
planificação e gestão da educação. O que o Estado herdou do sistema colonial foi uma
reduzida rede escolar, um sistema educacional com objectivos alienantes, enraizado em
práticas e métodos autoritários. Com a nacionalização, o ensino passou a ser laico em seus
objectivos e foi colocado ao serviço de interesses políticos, animados pela utopia de formar o
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‘homem novo’, um cidadão ideológico, científico, técnico e culturalmente preparado para
realizar as tarefas do desenvolvimento socialista do País. Por outro lado, muito poucos
professores, na maioria estrangeiros, decidiram permanecer em Moçambique. Em
consequência disso, a situação caracterizou-se por escolas abandonadas e falta quase total de
professores. Mas porque a educação do povo era condição imprescindível à implantação e
sustentação de uma nova ordem social e económica que urgia instaurar, o projecto de se
reconstruir o País ganhou forma, ainda que quase sem recursos, tanto humanos como
materiais.

De acordo com dados da UNESCO, na altura da independência, cerca de 90% da população


moçambicana, do total de cerca de onze milhões, era analfabeta: não sabia falar, ler e
escrever a Língua Portuguesa. Esta, com a proclamação da independência, passou a ser a
língua oficial, por razões históricas que anteriormente foram mencionadas. Os contactos dos
novos governantes com a população, tal como no tempo do domínio colonial, eram e ainda
são mediados por intérpretes ou tradutores.

Visando a reconstrução do ensino sobre o sistema educativo colonial, moçambicanos com


alguma formação escolar foram chamados para cumprirem o dever patriótico de ensinar em
escolas primárias e secundárias e alfabetizar adultos e jovens. Muitos dos que acorreram ao
apelo não tinham domínio satisfatório da língua portuguesa, única língua de ensino
oficialmente eleita. Mas, por que motivo essa convocação? Era imperioso eliminar o
analfabetismo, pela transmissão de conhecimentos técnico-científicos no seio do povo, como
condição para debelar os problemas quotidianos da fome, da miséria e injustiça social. Desde
cedo se acreditou que só com uma população alfabetizada, se podia projetar facilmente o
desenvolvimento do País e assim materializar o ideal revolucionário de criação de uma
sociedade justa e próspera na qual cada indivíduo participaria ativamente na vida política,
social e cultural.

Com a libertação do País era urgente seguir uma nova política educacional centralizada,
como nas zonas libertadas que legitimasse o poder popular, que assegurasse uma mentalidade
nova e autonomia do povo.

2.4. Finalidade da criação do Sistema Nacional da Educação em Moçambique

As finalidades na criação do sistema nacional da educação visam o seguinte:

 Erradicar o analfabetismo de modo a proporcional a todo o povo o acesso ao


conhecimento científico e o desenvolvimento pleno das suas capacidades;

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 Garantir o ensino básico a todos os cidadãos de acordo com o desenvolvimento do
país através da introdução progressiva da escolaridade obrigatória;
 Assegurar a todos os moçambicanos o acesso à formação profissional;
 Formar cidadãos com uma sólida preparação científica, técnica, cultural e física e uma
elevada educação moral cívica e patriótica;
 Formar o professor como educador e profissional consciente com profunda
preparação científica e pedagógica, capaz de educar os jovens e adultos;
 Formar cientistas e especialistas devidamente qualificados que permitam o
desenvolvimento da produção e da investigação científica;
 Desenvolver a sensibilidade estética e capacidade artística das crianças, jovens e
adultos, educando-os no amor pelas artes no gosto pelo belo.

2.5. Estruturação do Sistema Nacional de Educação Moçambique

O Sistema Educativo actual tem 3 subsistemas: ensino pré-escolar, ensino escolar e ensino
extra-escolar.

2.5.1. Ensino pré-escolar

O ensino pré-escolar é actualmente oferecido por creches e escolinhas do Ministério da


Mulher e Acção Social (MMAS), das organizações não-governamentais ou comunitárias e
pelo sector privado. Este subsistema, coordenado pelo MMAS, divide-se em dois níveis: o
nível das creches, que cobre as crianças dos 0 aos 2 anos, e o nível dos jardins-de-infância
que atende crianças entre os 2 e os 5 anos. A frequência é facultativa.

2.5.2. Ensino escolar

O ensino escolar compreende:

 O Ensino Geral;
 O Ensino Técnico-Profissional; e
 O Ensino Superior.

2.5.2.1. O Ensino Geral

O ensino geral é caracterizado por:

 Ser o eixo central do sistema nacional de educação e confere a formação integral e


politécnica;
 Os níveis e conteúdos deste ensino constituem ponto de referência para todo o sistema
de educação;
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 Compreende dois níveis: primário e secundário;
 E é frequentado em princípio, a partir do ano lectivo em que as crianças completam
seis anos.

a) Ensino Primário

O Ensino Primário público é gratuito e está dividido em dois graus: o Ensino Primário do 1º
grau (EP1, da 1ª à 5ª classe) e o Ensino Primário do 2º grau (EP2, 6ª e 7ª classes). Com a
introdução do novo currículo em 2004, este ensino foi estruturado em 3 ciclos de
aprendizagem numa perspectiva de oferecer um ensino básico de sete anos para todos: o 1º
ciclo (1ª e 2ª classes), o 2º ciclo (3ª à 5ª classe) e o 3º ciclo (6ª e 7ª classes). A idade oficial de
ingresso na 1ª classe é de seis anos, completados no ano de ingresso.

As escolas primárias funcionam normalmente em dois turnos de 6 tempos lectivos (45


minutos por tempo lectivo), um de manhã e outro à tarde. Para acomodar a expansão do
sistema, algumas escolas primárias, principalmente nas cidades, funcionam em três turnos de
5 tempos lectivos (40 minutos). Algumas escolas leccionam também o EP2 no turno
nocturno, mas esta situação tende a diminuir. Menos de 2% dos alunos frequentam o ensino
primário em escolas privadas ou comunitárias.

Depois de concluir o Ensino Primário, os alunos podem continuar os seus estudos no Ensino
Secundário Geral ou no Ensino Técnico-Profissional de nível básico.

b) O Ensino Secundário Geral

O Ensino Secundário Geral tem dois ciclos: o primeiro compreende a 8ª, 9ª e 10ª classe.
Depois de completar este nível de ensino, o aluno pode continuar os seus estudos no segundo
ciclo do ensino geral (11ª e 12ª classes) que antecede a entrada no Ensino Superior.

O Ensino Secundário Geral não é gratuito, havendo cobrança de propinas. Não há exames de
admissão. Para responder à grande procura de lugares no ensino secundário, este nível de
ensino opera com turnos nocturnos, principalmente para os alunos mais velhos (com mais de
15 anos). Além disso, estão a surgir muitas escolas privadas neste nível de ensino,
particularmente nas cidades. Em 2011, estas escolas privadas eram frequentadas por 10% do
total de alunos do ensino secundário. Recentemente, o MINED introduziu um programa de
Ensino Secundário Geral à distância cuja cobertura é ainda limitada.

13
2.5.2.2. Ensino Técnico-Profissional

O Ensino Técnico-Profissional estrutura-se neste momento em dois níveis: o nível básico e o


nível médio, ambos com a duração de três anos, e é organizado por ramos: comercial,
industrial e agrícola.

O critério mínimo de ingresso é a conclusão da 7ª classe para o nível básico, e, para o nível
médio, a conclusão da 10ª classe do Ensino Secundário Geral ou do 3º ano do nível básico do
Ensino Técnico-Profissional. Este nível de educação não é gratuito, havendo cobrança de
propinas.O Ensino Técnico-Profissional está numa fase de reforma, com enfoque na
introdução de um sistema educativo modular, seja ao nível básico, seja ao nível médio, que
vai resultar em diferentes tipos de certificados.

2.5.2.3. Ensino superior

De acordo com a LEI Nº 27/2009, DE 29 DE SETEMBRO:

a) O ensino superior é um subsistema do Sistema Nacional de Educação e compreende


os diferentes tipos e processos de ensino e aprendizagem proporcionados por
estabelecimentos de ensino pós-secundário, autorizados a constituírem-se como
instituições de ensino superior pelas autoridades competentes, cujo acesso está
condicionado ao preenchimento de requisitos específicos;
b) O subsistema de ensino superior estrutura-se por forma a permitir a mobilidade dos
discentes entre os vários cursos e instituições.

I. Definição e classificação

a) As instituições de ensino superior são pessoas colectivas de direito público ou


privado, com personalidade jurídica, que gozam de autonomia científica e
pedagógica, administrativa, disciplinar, financeira e patrimonial, e se classificam
consoante a sua missão ou tipo de propriedade e financiamento;
b) Para o efeito do disposto no número anterior, gozam de autonomia financeira as
instituições de ensino superior públicas nos termos da Lei do Sistema de
Administração Financeira do Estado;
c) As instituições de ensino superior públicas são aquelas cuja fonte principal de receita
é o Orçamento de Estado e são por este supervisionadas;
d) As instituições de ensino superior privadas são as instituições pertencentes a pessoas
colectivas privadas ou mistas, cujas fontes principais de receita são privadas,

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podendo-se classificar em lucrativas e não lucrativas e revestir a forma de associação,
fundação, sociedade comercial ou cooperativa.

II. Tipos de instituições

As instituições de ensino superior e suas unidades orgânicas classificam-se, consoante a sua


missão, em:

a) Universidades: instituições que dispõem de capacidade humana e material para o


ensino, investigação científica e extensão em vários domínios do conhecimento,
proporcionando uma formação teórica e académica, estando autorizadas a conferir
graus e diplomas académicos;
b) Institutos Superiores: instituições especializadas filiadas ou não a uma universidade,
que se dedicam à formação e investigação no domínio das ciências e da tecnologia ou
das profissões, bem como à extensão e que estão autorizadas a conferir graus e
diplomas académicos;
c) Escolas Superiores: instituições de ensino superior filiadas ou não a uma
universidade, a um instituto superior ou a uma academia, que se dedicam ao ensino
num determinado ramo do conhecimento e à extensão e que estão autorizadas a
conferir graus e diplomas académicos;
d) Institutos Superiores Politécnicos: instituições de ensino superior filiadas ou não a
uma universidade, que oferecem estudos gerais ou uma formação profissional e que
estão autorizadas a conferir certificados e todos os graus académicos, excluindo o de
Doutor, reservando-se a atribuição de graus de pós-graduação aos institutos
politécnicos filiados;
e) Academias: instituições de ensino superior que se dedicam ao ensino em áreas
específicas, nomeadamente, as artes, a literatura, habilidades técnicas tais como as
militares e policiais, a formação especializada e o comércio, estando autorizadas a
conferir graus e diplomas académicos;
f) Faculdades: unidades académicas primárias de uma universidade ou de um instituto
superior que se ocupam do ensino, investigação, extensão e aprendizagem num
determinado ramo do saber, envolvendo a interacção de vários departamentos
académicos e a provisão de ensino conducente à obtenção de um grau ou diploma.

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2.5.3. Ensino extra-escolar

Para além do Ensino geral, Ensino Técnico-Profissional e Ensino Superior, a Lei 6/92
considera o Ensino Especial, o Ensino Vocacional, o Ensino de Adultos, o Ensino à Distância
e a Formação dos Professores como modalidades especiais que, sendo parte integrante do
ensino escolar, regem-se por disposições especiais e podem envolver outros ministérios (por
exemplo o MMAS, no caso de Ensino Especial).

O ensino extra-escolar tem como objectivo permitir a cada indivíduo aumentar o seu
conhecimentos e desenvolver as suas potencialidades, em completo da formação escolar ou
em suprimento da sua carência.

O ensino integra-se numa perspectiva de ensino permanente e visa a globalidade e a


continuidade da acção educativa.

2.6. A importância da educação em vários contextos

A Educação possui impacto em todas as áreas de nossa vida. A Educação é um direito


fundamental que ajuda não só no desenvolvimento de um país, mas também de cada
indivíduo. Sua importância vai além do aumento da renda individual ou das chances de se
obter um emprego.

Por meio da Educação, garantimos nosso desenvolvimento social, econômico e cultural. Os


impactos da Educação são extensos e profundos. Veja o que mais uma Educação de
qualidade faz pelo indivíduo e pelo país:

a) Combate a pobreza

Quanto mais as pessoas estudarem, mais oportunidades terão no mercado de trabalho. Uma
pessoa que concluiu uma pós-graduação tem 422% mais chances de conseguir um emprego
do que quem não se alfabetizou. Quem estuda também ganha mais: o salário de um pós-
graduado é 544% maior do que aquele recebido pelos analfabetos.

Esse impacto é perceptível em todos os níveis de escolaridade. Se todos os estudantes em


países de renda baixa deixassem a escola sabendo ler, 71 milhões de pessoas poderiam sair da
pobreza, segundo o relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos de 2011. O
relatório também mostrou que cada ano extra de escolaridade aumenta a renda individual em
até 10%.

b) Faz a economia crescer

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Uma boa Educação melhora a economia de um país. Os países que priorizam o ensino de
qualidade nas últimas décadas, como Coreia do Sul e Irlanda, registram um crescimento
econômico acima da média. O relatório da UNESCO mostrou que cada ano adicional de
escolaridade aumenta a média anual do Produto Interno Bruto em 0,37%.

Com melhores empregos e maior renda, os indivíduos podem consumir mais e dependem
menos de políticas públicas contra a pobreza. O aumento da taxa de emprego e do consumo
também se traduzem em mais impostos coletados pelo governo, o que resulta, em tese, em
melhorias sociais.

c) Promove a Saúde

Uma mãe que teve acesso à Educação de qualidade tem mais condições de cuidar da saúde de
seus filhos, pois é mais sensível a importância da prevenção, da vacinação e de hábitos de
higiene, além de saber como procurar tratamento quando necessário. O relatório da UNESCO
Monitoramento Global de Educação para Todos mostrou que uma criança cuja mãe sabe ler
tem 50% mais chances de sobreviver depois dos cinco anos de idade.

Além de reduzir a mortalidade infantil e diminuir a taxa de fecundidade, a Educação também


está relacionada a hábitos mais saudáveis. Indivíduos com maior nível de escolaridade
também têm menos chances de serem obesos e de fumarem diariamente, essa relação
permanece evidente independente de sexo, idade e renda.

d) Diminui a violência

Mais do que a pobreza em termos absolutos, é a desigualdade social um dos factores


relacionados à violência. Se a Educação é capaz de impactar na diminuição desta
desigualdade, ela também contribui para uma sociedade menos violenta. Além disso, a
Educação ajuda a superar a intolerância. O representante da ONU Nassir Abdulaziz Al-
Nasser disse em entrevista ao portal Terra que "a Educação é fundamental para tratar da
ignorância e desconfiança que estão no cerne do conflito humano. A Educação ajuda a
superar estereótipos e intolerância, e a vencer a batalha contra a ignorância."

e) Garante o acesso a outros direitos

Está na Declaração Universal dos Direitos Humanos: é por meio do ensino e da educação que
se promove o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais.

A Educação permite que os indivíduos tenham consciência e conhecimento de que são


sujeitos de direitos, isto é, que possuem direitos garantidos por lei e podem exigir que eles se
cumpram.
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f) Ajuda a proteger o meio ambiente

Quando forma cidadãos mais conscientes dos impactos de nossas atividades sobre a natureza,
a Educação ajuda a preservar o meio ambiente, educando as pessoas para decisões
sustentáveis, que satisfazem as necessidades presentes sem prejudicar as gerações futuras.

g) Aumenta a felicidade

As pessoas que estudam mais também se dizem mais felizes do que aqueles que não
estudaram ou não puderam estudar. As pessoas que estudaram até o nível superior são maior
do que a satisfação das pessoas que pararam no Ensino Médio.

h) Fortalece a democracia e a cidadania

Além de formar cidadãos mais críticos e conscientes de seus direitos, a Educação também
colabora para que a sociedade cumpra seus deveres cívicos. Entre os jovens, o nível de
escolaridade também está relacionado à taxa da população que vota.

i) Ajuda a compreender o mundo

Uma boa Educação tem resultados abrangentes: contribui para o crescimento econômico do
país e para a promoção da igualdade social, mas seu impacto também é decisivo na vida de
cada um.

A Educação é muito mais que isso. A importância dos estudos é válida independente da
classe social. Em uma família de classe média, o acesso a cultura, a viagens e outros
elementos complementam aquilo que a escola oferece. Nas classes sociais mais baixas, que
geralmente possuem menos acesso a informações e oportunidades, a escola deve ser ainda
mais relevante.

2.7 Principais reformas no Sistema de Educação em Moçambique

Em termos estruturais, afirmamos que houve reforma em algo novo num determinado
processo. Para o currículo do Ensino Básico introduzido em 2004, constituíram reformas os
seguintes elementos:

 Ciclos de aprendizagem – que são unidades de aprendizagem com objetivo de


desenvolver habilidades e competências especificas. Assim o ensino básico, na base
da reforma curricular de 2004, compreende três ciclos: 1º ciclo (1ª a 2ª classes); 2º
ciclo (3ª a 5ª classes) e 3º ciclo (6ª a 7ª classe).

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 Ensino Básico integrado- constitui a articulação de conhecimentos em todas áreas de
conhecimento que compõem o currículo, conjugado com as atividades
extracurriculares;
 O Currículo Local;
 A distribuição de professores no 3º ciclo;
 A promoção semi-automática; e
 A introdução de novas disciplinas (Inglês, Educação Musical e Ofícios);
 Recentemente em 2024, houve a descentralização na Educação, onde as Direções
Provinciais de Educação e Desenvolvimento Humano, passando a designar-se por
Direções Provinciais de Educação.

A estrutura curricular do Ensino Básico está organizada de modo a garantir o


desenvolvimento integrado de habilidades, conhecimentos, valores e competências, assim
sendo, está estruturado em três áreas: área de comunicação e ciências sociais; área de
matemática e ciências sociais e área das actividades práticas e tecnológicas.

2.8 Intercâmbio Moçambique-Brasil e uma visão mais ampla no setor de educação

De acordo com a revista eletrónica do Banco Mundial (2023) recentemente, 12 representantes


do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano de Moçambique visitaram o estado
do Ceará, no Nordeste do Brasil. Eles queriam saber como um estado relativamente pobre se
tornou uma referência mundial para melhorar a qualidade do ensino nas classes iniciais.

Com 9 milhões de habitantes, o Ceará é um dos estados de menor nível de renda do Brasil.
Não muito tempo atrás, o Ceará também tinha um dos resultados educacionais mais fracos do
país, mas o estado implementou reformas e programas que possibilitaram melhorar a
qualidade de sua educação muito mais rapidamente do que o resto do Brasil, alcançando
níveis de qualidade de educação comparáveis aos dos países desenvolvidos.

O Programa Acelerador em Moçambique apoia a realização de actividades destinadas a


melhorar a aprendizagem fundacional a um ritmo mais rápido e tem fortes sinergias com um
projecto de educação do Banco Mundial: Melhorar a Aprendizagem e Empoderar as
Raparigas em Moçambique (MozLearning). O projecto promove melhorias na aprendizagem
nas primeiras classes do ensino primário, através de intervenções inovadoras baseadas em
evidências. Estes incluem materiais estruturados para a alfabetização, formação de
professores focada na prática pedagógica, uso efectivo de avaliações de aprendizagem,
programas de incentivos baseados em resultados para escolas e distritos, e expansão e

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melhoria do desenvolvimento da primeira infância. (LOUREIRO, NHAMPOSSA & EL-
KOGALI, 2023)

Perceberam também outros factores críticos que contribuíram para o desempenho do Ceará -
alguns dos quais já estão incluídos no Plano Estratégico de Educação de Moçambique e
apoiados por parceiros de cooperação em Moçambique, incluindo o Projeto MozLearning.
Estes incluem:

 Uso de planos de aula e outros materiais de aprendizagem estruturados focados na


práctica pedagógica na sala de aula para o ensino da leitura;
 Melhoria dos programas de formação inicial de professores, estendendo-os para três
anos, incluindo um ano de práctica pedagógica;
 Apoio regular aos professores, através da assistência à prática docente e
aconselhamento por parte do director pedagógico sobre as dinâmicas de ensino e
aprendizagem na sala de aula;
 Utilização eficaz das avaliações de aprendizagem;
 Programas de incentivos para escolas e distritos para melhorar os resultados
educacionais nas classes iniciais.

Estas actividades começaram a ser implementadas em todo o país, com o pacote de literacia
sido iniciado com um projecto-piloto financiado pela Finlândia.

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3. Conclusão

A pesquisa sobre a “Reforma do Sistema de Educação em Moçambique” proporcionou uma


visão abrangente sobre a evolução, estruturação e os objetivos do Sistema Nacional de
Educação (SNE) no país. A análise dos diferentes aspectos do sistema educativo
moçambicano permitiu compreender a sua trajetória, desafios e os esforços contínuos para
aprimorar a qualidade e acessibilidade da educação.

As reformas educacionais em Moçambique foram motivadas pela necessidade de adaptar o


sistema às demandas socioeconômicas do país e às mudanças globais. O foco tem sido a
expansão do acesso à educação, a melhoria da qualidade do ensino e a redução das
disparidades regionais e de gênero. As reformas buscam alinhar o sistema educativo às metas
de desenvolvimento sustentável, promovendo uma educação inclusiva e de qualidade para
todos.

Desde a independência em 1975, o sistema educativo de Moçambique passou por várias fases
de desenvolvimento. Inicialmente, houve um esforço significativo para erradicar o
analfabetismo e expandir o acesso à educação básica. Com o tempo, o foco se ampliou para
incluir a educação secundária e superior, bem como a formação técnica e profissional. As
reformas mais recentes enfatizam a qualidade do ensino, a formação contínua de professores
e a modernização dos currículos para atender às necessidades do mercado de trabalho.

No que refere a finalidade do Sistema Nacional de Educação, este foi criado com o objecto de
proporcionar uma educação que promova o desenvolvimento integral dos indivíduos e
contribua para o progresso socioeconômico do país. Além de garantir o acesso universal à
educação básica, o sistema visa formar cidadãos conscientes, críticos e capacitados para
participar ativamente no desenvolvimento nacional. A educação é vista como um meio
fundamental para combater a pobreza e promover a igualdade social.

Quanto a estrutura do SNE, o sistema é composta por diversos níveis, desde a educação pré-
escolar até o ensino superior. Inclui a educação geral, técnica e profissional, bem como a
formação de adultos. A organização do sistema visa facilitar a progressão dos alunos através
dos diferentes níveis de ensino, garantindo uma base sólida de conhecimentos e
competências. A descentralização administrativa e a participação comunitária são elementos
chave na gestão do sistema educativo.

A educação desempenha um papel crucial em diversos contextos, sendo essencial para o


desenvolvimento pessoal, social e econômico. Em Moçambique, a educação é um

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instrumento vital para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Ela contribui
para a redução da pobreza, promove a saúde e bem-estar, e facilita a participação ativa dos
cidadãos na vida política e econômica do país. A educação também é fundamental para a
preservação da cultura e dos valores nacionais.

As principais reformas no sistema educativo moçambicano incluem a introdução do ensino


básico gratuito e obrigatório, a revisão curricular para incluir competências práticas e
tecnológicas, e a melhoria das infraestruturas escolares. Houve também um esforço
significativo para aumentar a formação e capacitação dos professores, além de iniciativas
para promover a equidade de gênero e a inclusão de alunos com necessidades especiais. As
parcerias com organizações internacionais têm sido essenciais para apoiar estas reformas,
proporcionando recursos e expertise.

Assim, concluindo o presente trabalho, importa referir que a reforma do sistema de educação
em Moçambique é um processo contínuo e dinâmico, refletindo os desafios e as
oportunidades do contexto nacional e global. Apesar dos progressos significativos, ainda há
muito a ser feito para garantir que todos os moçambicanos tenham acesso a uma educação de
qualidade. A continuidade das reformas, a alocação adequada de recursos e a participação
ativa de todos os stakeholders são cruciais para o sucesso do sistema educativo. A educação
é, sem dúvida, um pilar fundamental para o desenvolvimento sustentável de Moçambique, e o
compromisso com sua melhoria deve ser uma prioridade constante.

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Referências bibliográficas

LOUREIRO, A., NHAMPOSSA, L. & EL-KOGALI, S. T. (2023) Poderá Moçambique


tornar-se num modelo para a melhoria da qualidade de educação? World Bank Blogs:
Banco Mundial.

MOREIRA, A. F. B. (1999). Currículo: Políticas e Práticas. 7ª Ed. São Paulo: Papiros


Campinas.

PACHECO, J. A. (2001). Currículo: Teoria e Práxis 22. Porto: Porto Editora.

ROBATE, A. S. (2006). Currículo de Formação de Professor Primários na Disciplina de


Língua Portuguesa em Moçambique: um repensar de seus fundamentos teóricos [online].
Disponível em: http://unimep.br/ - Acesso em 16 Maio 2024.

SILVA, L. E. & METNEZES, E. M. (2001). Metodologia da Pesquisa e Elaboração de


Dissertação.3a Ed. Revisada e Atualizada.

UNESCO (2008) Conferência Internacional sobre o Planeamento da Educação. Paris.

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