Teorico 5
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Farmacologia da Esquizofrenia
Revisão Textual:
Aline Gonçalves
Revisão Técnica:
Prof.ª M.ª Cássia Souza
Farmacologia da Esquizofrenia
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Conhecer os mecanismos neurológicos envolvidos nos quadros de esquizofrenia, a impor-
tância do tratamento farmacológico e sua integração com a psicoterapia.
UNIDADE Farmacologia da Esquizofrenia
Importante!
É uma patologia que não tem cura e o tratamento farmacoterapêutico vai acompanhar
esse paciente durante toda a vida.
Presença de pelo menos dois dos seguintes sintomas durante o período mínimo
de um mês:
• Alucinações persistentes de qualquer modalidade, quando acompanhadas por
delírios “superficiais” ou parciais, sem claro conteúdo afetivo, ou por ideias so-
brevaloradas persistentes ou quando ocorrem todos os dias durante semanas ou
meses continuamente;
Características essenciais • Intercepções ou interpolações no curso do pensamento resultando em discurso
(Segunda ordem) incoerente, ou neologismos;
• Comportamento catatônico, tal como excitação, postura inadequada ou flexibili-
dade cérea, negativismo, mutismo e estupor;
• Sintomas “negativos”, tais como apatia marcante, pobreza do discurso e embo-
tamento ou incongruência de respostas emocionais, geralmente resultado em
retraimento social e diminuição do desempenho social; deve ficar claro que esses
sintomas não são decorrentes de depressão ou medicação neuroléptica.
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A esquizofrenia é considerada um transtorno multifatorial, o que implica a ocorrência
de fatores biológicos e ambientais. Os principais fatores estão relacionados à transmis-
são genética, gestação e puerpério, ambiente e substâncias psicoativas. Quanto aos
fatores genéticos, estudos indicam que pessoas que têm um parente de primeiro grau
diagnosticado com Esquizofrenia tem de 10% a 13% de chance de desenvolver o mesmo
quadro (JANOUTOVÁ et al., 2016).
Você Sabia?
Existe um fator genético hereditário envolvido na etiologia da esquizofrenia, porém os
fatores ambientais são primordiais para que a doença se desenvolva.
Sobre gestação e puerpério, alguns fatores têm sido identificados como sendo de
risco maior para o desenvolvimento do transtorno, como idade paterna avançada, des-
nutrição e deficiência em folato, vitamina D durante a gestação, infecções virais no pe-
ríodo gestacional, como rubéola, herpes, influenza, bem como traumatismos durante o
parto (OPLER et al., 2013). Além disso, podem ser fatores de risco: nascer em cidades
grandes, nascer no inverno, o que pode favorecer maior risco de contaminações virais,
sofrer maus-tratos na infância, e usar substâncias psicoativas (GADELHA, et al., 2021).
É possível identificar uma elevada relação entre dependência de substâncias psicoati-
vas e a esquizofrenia, variando entre 20% e 45%, com fortes evidências de uso precoce
de Cannabis, principalmente entre jovens com idades entre 15 e 20 anos, como fator de
risco para o desenvolvimento da esquizofrenia (GADELHA, et al., 2021).
• Interrupção na escolaridade;
• Menor chance de boa qualificação profissional;
• Desemprego;
• Isolamento e exclusão social;
• Empobrecimento;
Custos indiretos • Dependência de familiares (out of pocket costs);
• Dependência do Estado (moradia, benefícios sociais);
• Aposentadoria precoce;
• Problemas judiciais (crimes, morte violenta, prisão, curatela);
• Mortalidade precoce.
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Psicóticos
• Alucinação;
• Delírio;
• Alterações da consciência da atividade do eu:
» Roubo do pensamento;
» Imposição do pensamento;
» Sensações corporais impostas;
» Sentimentos, impulsos ou comportamentos impostos ou
controlados.
• Alterações da consciência dos limites do eu:
» Apropriação;
Sintomas Positivos
» Transitismo;
» Publicação do pensamento.
De desorganização
• Desagregação do pensamento;
• Alterações da consciência da unidade do eu:
» Dupla orientação;
» Paratimia;
» Ambitimia;
» Ambitendência;
• Comportamentos bizarros ou inadequados.
• Embotamento afetivo;
• Anedonia;
• Hipobulia;
Sintomas Negativos • Pensamento empobrecido;
• Déficit de atenção;
• Isolamento social.
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• Despersonalização;
Outros sintomas • Bloqueio do pensamento;
• Sinais catatônicos.
Serotonina
Os estudos sobre a relação entre serotonina e esquizofrenia são originários da década
de 1950 e revelam que diversas substâncias alucinógenas, por exemplo, o LSD, atuam
elevando os níveis da serotonina e provocando sintomas como desrealização, desperso-
nalização e alucinações visuais (HALES et al., 2012). Os dados encontrados revelam que
a serotonina tem participação na esquizofrenia, mas não um papel central.
Glutamato
O glutamato é um neurotransmissor excitatório do SNC, que atua sobre receptores
AMPA (alfa-amino-3-hydroxi-5-methyl-4 lisoxazole propionic acid) e NMDA (N-metil-D-
-aspartato), que são receptores ionotrópicos. Outra classe de receptores são os metabo-
trópicos ou vinculados à proteína G, os quais modulam sinais elétricos de longa duração
(GOLAN e TASHJIAN, 2014).
Importante!
Além da dopamina, os níveis de GABA, serotonina e noradrenalina também parecem estar
elevados em esquizofrênicos, os níveis de glutamato, por sua vez, parecem estar diminuídos.
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Teoria da inflamação
De acordo com Gadelha et al. (2021), estudos post mortem realizados com pacientes
com esquizofrenia indicam sinais inflamatórios, como preexistência de doenças autoi-
munes e infecções pré e perinatais. No período do neurodesenvolvimento, a ativação
das células microgliais contribui para prejuízos no processo de diferenciação das células
neurais, o que provoca falhas na maturação de oligodendrócitos e astrócitos.
Esse processo está relacionado ao aumento dos marcadores MHC (Major Histocompatibility
Complex) em indivíduos com esquizofrenia, o que produzirá substâncias neurotóxicas, tais
como radicais livres e citocinas pró-inflamatórias, acarretando dano neural, disfunção cogni-
tiva e perda de volume cerebral, entre outros. Além disso, as alterações inflamatórias da mi-
cróglia também contribuem para altos níveis de glutamato e estão relacionadas ao aumento
da atividade dopaminérgica mesolímbica (GADELHA et al., 2021).
Teoria da Desconectividade
O cérebro apresenta uma organização funcional por meio da conectividade das re-
des neurais; problemas nessa circuitaria podem ser responsáveis pelo surgimento de
inúmeros transtornos mentais. Atualmente, estudos com técnicas de neuroimagem têm
revelado que a esquizofrenia provoca lacunas na capacidade sensorial do cérebro, o que
provoca falhas na atribuição de confiança quanto às evidências e experiências.
Tratamento Farmacológico
A esquizofrenia é uma doença crônica e, como tal, necessita que o tratamento seja
conduzido adequadamente a fim de promover o alívio dos sintomas e aumento da qua-
lidade de vida. O tratamento farmacológico surge como alternativa para essa demanda
com a descoberta dos medicamentos antipsicóticos.
Os fármacos antipsicóticos são bem absorvidos quando administrados por via oral e
penetram rapidamente no sistema nervoso central.
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Os antipsicóticos dividem-se em típicos e atípicos, e auxiliam tanto no tratamento da
esquizofrenia quanto de pacientes em quadros maníacos com sintomas psicóticos.
São medicamentos mais antigos e estão classificados de acordo com sua estrutura
química, são as fenotiazinas (cloporomazina, tioridazina e flufenazina), os tioxantenos
(tiotixeno) e as butirofenonas (haloperidol) (BRUM, 2018).
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Além disso, os APG, em casos mais graves, podem estar associados à síndrome neu-
roléptica maligna, uma reação idiossincrática e potencialmente fatal que pode ocorrer
nas primeiras semanas de tratamento e caracteriza-se por rigidez, hipertermia e instabi-
lidade autonômica. Além disso, podem atuar como antagonistas nos receptores H1 de
histamina, o que provoca sonolência e ganho de peso (GADELHA et al., 2021).
Por outro lado, a overdose com os APG deve ser observada com cuidado e aten-
ção, por causa dos efeitos de sedação, efeitos anticolinérgicos e hipotensão ortos-
tática. Além disso, a combinação desses fármacos com outros medicamentos pode
levar à morte, principalmente por depressão respiratória (BRUNTON, CHABNER e
KNOLLMANN, 2016).
Os Antipsicóticos de Segunda Geração (ASG), ou antipsicóticos atípicos, pos-
suem estrutura química variada e têm apresentado eficácia no tratamento da esquizofre-
nia: clozapina, asenapina, loxapina, olanzapina, paliperidona, risperidona, quetiapina,
sertindol, ziprasidona, zotepina e aripiprazol (BRUM, 2018).
Os ASG têm sido definidos como antagonistas de dopamina e serotonina, e, devido
a um antagonismo dopaminérgico seletivo na região do sistema límbico, esse fármacos
oferecem menor possibilidade de provocar SEP (GADELHA et al., 2021).
Apesar do perfil mais seguro, os ASG podem acarretar disfunções metabólicas, tais
como resistência à insulina e dislipidemia, além do aumento no risco cardiovascular.
Podem ser classificados como alto risco metabólico (clozapina e olanzapina), moderado
risco metabólico (quetiapina, risperidona, paliperidona) e baixo risco metabólico (aripi-
prazol, lurasidona, ziprasidona) (GADELHA et al., 2021).
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Você Sabia?
A clozapina foi um fármaco inovador por provocar a dissociação entre resposta clínica e
efeitos colaterais extrapiramidais e é considerado o antipsicótico mais efetivo nos casos
resistentes ao tratamento convencional.
Além das opções mais comuns, no caso de pacientes com dificuldade de adesão ao tra-
tamento medicamentoso, uma opção viável é o uso de Antipsicóticos Injetáveis de Longa
Ação (AILA). O uso dos fármacos injetáveis está associado a um melhor controle na regulari-
dade da medicação e maior estabilidade plasmática do fármaco. Além disso, os AILA revelam
um risco de hospitalização de 20% a 30% menor quando comparados às medicação orais.
Importante!
A aceitação da doença e o insight resultam em um prognóstico melhor quanto à evolu-
ção da doença.
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Leia o artigo “Psicoterapia de grupo na esquizofrenia: https://bit.ly/3miGDSH
Psicologia Positiva
Essa é uma abordagem que valoriza o desenvolvimento das Forças Pessoais e experi-
ências positivas para a promoção do bem-estar por meio da superação dos sentimentos
negativos com a construção de um otimismo aprendido. As intervenções propostas
pela psicologia positiva consideram que a recuperação em saúde mental é maior que o
simples alívio de sintomas e deve contemplar o desenvolvimento de emoções positivas,
satisfação e propósito de vida para o bem-estar (GADELHA et al., 2021).
Estudos recentes indicam que essa terapia tem se mostrado eficaz e segura para
indivíduos com esquizofrenia, gerando melhora nos sintomas negativos e impacto no
bem-estar e na qualidade de vida (JANSEN et al., 2020).
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Terapia Ocupacional
Busca o desenvolvimento de atividades que favoreçam a recuperação da autonomia,
resgatando atividades de vida diária, organização e desenvolvimento da criatividade,
além da consciência da capacidade de executar tarefas simples e complexas.
Orientação Familiar
O diagnóstico de esquizofrenia gera impacto tanto para o paciente quanto para sua
família, trazendo inúmeras mudanças na dinâmica das relações e atividades familiares.
O quadro complexo da esquizofrenia exige um acompanhamento próximo da família,
tornando essencial o contato com cuidadores, provendo explicações claras sobre a do-
ença, o prognóstico e o tratamento (CAQUEO-URÍZAR, 2017).
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• verificar se está havendo resposta ao tratamento e comunicar as mudanças que surgirem;
• psicoeducar sobre os sinais e os sintomas precoces de recaídas;
• encorajar o portador a tornar-se independente para suprir suas necessidades bási-
cas, como casa, comida e dinheiro;
• familiares muito exigentes devem ser orientados a serem menos exigentes;
• familiares ausentes devem ser orientados a serem mais participantes. (SHIRAKAWA,
2000).
Em Síntese
Em um quadro psicopatológico complexo como a esquizofrenia, pensar em tratamentos
combinados acessíveis à população pode ter impacto positivo sobre a qualidade de vida
do paciente e da sua família.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Esquizofrenia
https://youtu.be/VsX7MnFY8JE
Atualizações no tratamento da esquizofrenia
https://youtu.be/G5WU0esjpi8
Leitura
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde para tratamento da Esquizofrenia
https://bit.ly/3wqIzNv
Revisão: esquizofrenia e seus aspectos na adesão ao tratamento farmacológico
https://bit.ly/3dvSXLg
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Referências
ALVES, C. R. R.; SILVA, M. T. A. A esquizofrenia e seu tratamento farmacológico. Estud.
psicol. Campinas , v. 18, n. 1, p. 12-22, abr. 2001.
FORD, S. M. Farmacologia clínica. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.
OPLER, M. et al. Environmental risk factors and schizophrenia. Int J Ment Health,
n. 42, v. 1, p. 23-32, 2013.
RANG, H. P. et al. Rang & Dale farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
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