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Psicofarmacologia

Farmacologia da Esquizofrenia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Anna Carolina Cassiano Barbosa

Revisão Textual:
Aline Gonçalves

Revisão Técnica:
Prof.ª M.ª Cássia Souza
Farmacologia da Esquizofrenia

• Substratos Neurais da Esquizofrenia;


• Tratamento Farmacológico;
• Integração com a Psicoterapia.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Conhecer os mecanismos neurológicos envolvidos nos quadros de esquizofrenia, a impor-
tância do tratamento farmacológico e sua integração com a psicoterapia.
UNIDADE Farmacologia da Esquizofrenia

Substratos Neurais da Esquizofrenia


A esquizofrenia é considerada a principal forma de psicose tanto por sua frequência
na população quanto por sua importância clínica. A incidência desse quadro é de 15 a 42
por 100 mil habitantes por ano. Em estudo conduzido no Brasil, estimou-se um total de
12,9 milhões de pessoas afetadas por essa doença mental (DALGALARRONDO, 2019).

Importante!
É uma patologia que não tem cura e o tratamento farmacoterapêutico vai acompanhar
esse paciente durante toda a vida.

É importante considerar que a esquizofrenia apresenta um conjunto de sintomas iden-


tificados do quadro, do funcionamento e prognóstico do paciente, que são resumidos
nos seguintes critérios: deficiências significativas no teste de realidade e alterações no
comportamento, manifestadas em sintomas positivos, como alucinações persistentes,
pensamento, discur­so e comportamento desorganizados, e experiências de passividade
e controle; além de sintomas negativos, como afeto embotado ou avolição e distúrbios
psicomotores (GADELHA et al., 2021).

Quadro 1 – Diretrizes diagnósticas para esquizofrenia – CID 11

Presença de pelo menos um dos seguintes sintomas durante o período mínimo


de um mês:
• Eco do pensamento, inserção ou roubo do pensamento, irradiação do pensamento;
• Delírios de controle, influência ou passividade claramente referindo-se ao corpo
ou movimentos dos membros ou pensamentos específicos, ações ou sensações;
Características essenciais percepção delirante;
• Vozes alucinatórias comentando o comportamento do paciente ou discutindo en-
(primeira ordem)
tre elas sobre o paciente ou outros tipos de vozes alucinatórias vindo de alguma
parte do corpo;
• Delírios persistentes de outros tipos que são culturalmente inapropriados e com-
pletamente impossíveis, tais como identidade política ou religiosa ou poderes e
capacidades sobre-humanas (p. ex, ser capaz de controlar o tempo ou de se comu-
nicar com alienígenas de outro planeta).

Presença de pelo menos dois dos seguintes sintomas durante o período mínimo
de um mês:
• Alucinações persistentes de qualquer modalidade, quando acompanhadas por
delírios “superficiais” ou parciais, sem claro conteúdo afetivo, ou por ideias so-
brevaloradas persistentes ou quando ocorrem todos os dias durante semanas ou
meses continuamente;
Características essenciais • Intercepções ou interpolações no curso do pensamento resultando em discurso
(Segunda ordem) incoerente, ou neologismos;
• Comportamento catatônico, tal como excitação, postura inadequada ou flexibili-
dade cérea, negativismo, mutismo e estupor;
• Sintomas “negativos”, tais como apatia marcante, pobreza do discurso e embo-
tamento ou incongruência de respostas emocionais, geralmente resultado em
retraimento social e diminuição do desempenho social; deve ficar claro que esses
sintomas não são decorrentes de depressão ou medicação neuroléptica.

Fonte: Adaptada de GADELHA et al., 2021

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A esquizofrenia é considerada um transtorno multifatorial, o que implica a ocorrência
de fatores biológicos e ambientais. Os principais fatores estão relacionados à transmis-
são genética, gestação e puerpério, ambiente e substâncias psicoativas. Quanto aos
fatores genéticos, estudos indicam que pessoas que têm um parente de primeiro grau
diagnosticado com Esquizofrenia tem de 10% a 13% de chance de desenvolver o mesmo
quadro (JANOUTOVÁ et al., 2016).

Você Sabia?
Existe um fator genético hereditário envolvido na etiologia da esquizofrenia, porém os
fatores ambientais são primordiais para que a doença se desenvolva.

Sobre gestação e puerpério, alguns fatores têm sido identificados como sendo de
risco maior para o desenvolvimento do transtorno, como idade paterna avançada, des-
nutrição e deficiência em folato, vitamina D durante a gestação, infecções virais no pe-
ríodo gestacional, como rubéola, herpes, influenza, bem como traumatismos durante o
parto (OPLER et al., 2013). Além disso, podem ser fatores de risco: nascer em cidades
grandes, nascer no inverno, o que pode favorecer maior risco de contaminações virais,
sofrer maus-tratos na infância, e usar substâncias psicoativas (GADELHA, et al., 2021).
É possível identificar uma elevada relação entre dependência de substâncias psicoati-
vas e a esquizofrenia, variando entre 20% e 45%, com fortes evidências de uso precoce
de Cannabis, principalmente entre jovens com idades entre 15 e 20 anos, como fator de
risco para o desenvolvimento da esquizofrenia (GADELHA, et al., 2021).

Efeitos comportamentais, cognitivos e psicofisiológicos dos canabinoides: relevância para a


psicose e a esquizofrenia, disponível em: https://bit.ly/31FvKRs

Outro aspecto essencial sobre a esquizofrenia é pensar os custos e seu impacto


sobre o tratamento e a saúde do indivíduo com esquizofrenia que se constitui como
transtorno extremamente debilitante.
Quadro 2 – Impactos da esquizofrenia relacionados aos custos

• Interrupção na escolaridade;
• Menor chance de boa qualificação profissional;
• Desemprego;
• Isolamento e exclusão social;
• Empobrecimento;
Custos indiretos • Dependência de familiares (out of pocket costs);
• Dependência do Estado (moradia, benefícios sociais);
• Aposentadoria precoce;
• Problemas judiciais (crimes, morte violenta, prisão, curatela);
• Mortalidade precoce.

• Maior número de comorbidades com doenças físicas;


Custos diretos • Maior uso do sistema de saúde (público e privado);
• Maior uso de substâncias psicoativas.

Fonte: Adaptada de GADELHA et al., 2021

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UNIDADE Farmacologia da Esquizofrenia

Um aspecto essencial a ser considerado na compreensão da esquizofrenia é a confi-


guração neurobiológica nesse quadro psicopatológico. Os últimos anos trouxeram mui-
tos avanços nos estudos sobre a esquizofrenia.

Teorias dos Neurotransmissores


Dopamina
Identifica-se na esquizofrenia um desequilíbrio funcional do sistema dopaminérgico,
que provoca alterações nas funções cognitivas e emocionais. Essas alterações podem
ser divididas em dois subgrupos de sintomas: os positivos e os negativos. Os sintomas
positivos, como ilusões, alucinações, psicoses, paranoias, pensamentos desordenados e
fala desorganizada, acontecem em decorrência da hiperatividade dopaminérgica na área
mesolímbica (MENEGATTI et al., 2004).

Por sua vez, os sintomas negativos, como desmotivação, comportamento emocional


violento, isolamento social, deficiência cognitiva e fala lenta, são decorrentes da hipoa-
tividade dopaminérgica nas projeções do córtex pré-frontal (MENEGATTI et al., 2004).

Quadro 3 – Alterações psicopatológicas na esquizofrenia

Psicóticos
• Alucinação;
• Delírio;
• Alterações da consciência da atividade do eu:
» Roubo do pensamento;
» Imposição do pensamento;
» Sensações corporais impostas;
» Sentimentos, impulsos ou comportamentos impostos ou
controlados.
• Alterações da consciência dos limites do eu:
» Apropriação;
Sintomas Positivos
» Transitismo;
» Publicação do pensamento.

De desorganização
• Desagregação do pensamento;
• Alterações da consciência da unidade do eu:
» Dupla orientação;
» Paratimia;
» Ambitimia;
» Ambitendência;
• Comportamentos bizarros ou inadequados.

• Embotamento afetivo;
• Anedonia;
• Hipobulia;
Sintomas Negativos • Pensamento empobrecido;
• Déficit de atenção;
• Isolamento social.

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• Despersonalização;
Outros sintomas • Bloqueio do pensamento;
• Sinais catatônicos.

Fonte: Adaptada de GADELHA et al., 2021

A dopamina é um neurotransmissor que tem função estimulante do Sistema Nervoso


Central (SNC) da classe das catecolaminas, atuando, também, como um precursor para
a síntese de outros neurotransmissores catecolaminérgicos, como a norepinefrina e a
epinefrina (RANG et al., 2016). As teorias mais recentes que explicam o impacto da do-
pamina na esquizofrenia apontam que a desregulação na liberação da dopamina afetam
a capacidade de atribuir relevância à percepção do estímulo. Essa alteração justifica o
sinal de alerta originado na percepção fora de contexto (GADELHA et al., 2021).

Serotonina
Os estudos sobre a relação entre serotonina e esquizofrenia são originários da década
de 1950 e revelam que diversas substâncias alucinógenas, por exemplo, o LSD, atuam
elevando os níveis da serotonina e provocando sintomas como desrealização, desperso-
nalização e alucinações visuais (HALES et al., 2012). Os dados encontrados revelam que
a serotonina tem participação na esquizofrenia, mas não um papel central.

Despersonalização: é uma alteração da consciência da identidade que provoca uma estra-


nheza em relação a si mesmo, ou seja, o paciente percebe uma transformação no seu corpo
ou personalidade, não se reconhecendo mais como a mesma pessoa.

Glutamato
O glutamato é um neurotransmissor excitatório do SNC, que atua sobre receptores
AMPA (alfa-amino-3-hydroxi-5-methyl-4 lisoxazole propionic acid) e NMDA (N-metil-D-
-aspartato), que são receptores ionotrópicos. Outra classe de receptores são os metabo-
trópicos ou vinculados à proteína G, os quais modulam sinais elétricos de longa duração
(GOLAN e TASHJIAN, 2014).

A hipótese glutamatérgica relacionada com a esquizofrenia sugere que ocorra uma


hipoatividade, hiperatividade e neurotoxicidade induzidas pelo glutamato. Pessoas into-
xicadas com substâncias que agem nesse receptor, como a fenciclidina e a quetamina,
que são inibidores não competitivos do receptor NMDA, manifestam comportamento
que envolve comprometimento cognitivo e psicose similar à esquizofrenia (HALES et
al., 2012; SADOCK et al., 2007).

Importante!
Além da dopamina, os níveis de GABA, serotonina e noradrenalina também parecem estar
elevados em esquizofrênicos, os níveis de glutamato, por sua vez, parecem estar diminuídos.

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Teoria da inflamação
De acordo com Gadelha et al. (2021), estudos post mortem realizados com pacientes
com esquizofrenia indicam sinais inflamatórios, como preexistência de doenças autoi-
munes e infecções pré e perinatais. No período do neurodesenvolvimento, a ativação
das células microgliais contribui para prejuízos no processo de diferenciação das células
neurais, o que provoca falhas na maturação de oligodendrócitos e astrócitos.

Esse processo está relacionado ao aumento dos marcadores MHC (Major ­Histocompatibility
Complex) em indivíduos com esquizofrenia, o que produzirá substâncias neurotóxicas, tais
como radicais livres e citocinas pró-inflamatórias, acarretando dano neural, disfunção cogni-
tiva e perda de volume cerebral, entre outros. Além disso, as alterações inflamatórias da mi-
cróglia também contribuem para altos níveis de glutamato e estão relacionadas ao aumento
da atividade dopaminérgica mesolímbica (GADELHA et al., 2021).

Vários fatores parecem contribuir para a manifestação da esquizofrenia, nenhum


isoladamente parece capaz de produzir todos os sintomas, mas uma interação des-
ses fatores.

Teoria da Desconectividade
O cérebro apresenta uma organização funcional por meio da conectividade das re-
des neurais; problemas nessa circuitaria podem ser responsáveis pelo surgimento de
inúmeros transtornos mentais. Atualmente, estudos com técnicas de neuroimagem têm
revelado que a esquizofrenia provoca lacunas na capacidade sensorial do cérebro, o que
provoca falhas na atribuição de confiança quanto às evidências e experiências.

Esse fenômeno talvez explique fenômenos como os delírios e as alucinações presen-


tes na esquizofrenia, e a rigidez dos delírios poderia ser explicada pela baixa utilização
da capacidade de previsão e da alta utilização de nível superior no estabelecimento de
crenças e outros aspectos característicos dessa psicopatologia (GADELHA et al., 2021).

Tratamento Farmacológico
A esquizofrenia é uma doença crônica e, como tal, necessita que o tratamento seja
conduzido adequadamente a fim de promover o alívio dos sintomas e aumento da qua-
lidade de vida. O tratamento farmacológico surge como alternativa para essa demanda
com a descoberta dos medicamentos antipsicóticos.

Os fármacos antipsicóticos são bem absorvidos quando administrados por via oral e
penetram rapidamente no sistema nervoso central.

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Os antipsicóticos dividem-se em típicos e atípicos, e auxiliam tanto no tratamento da
esquizofrenia quanto de pacientes em quadros maníacos com sintomas psicóticos.

Os antipsicóticos ou neurolépticos típicos se caracterizam pelo bloqueio dos re-


ceptores dopaminérgicos. Estes são fármacos de primeira geração e subdividem-se em
potência baixa e potência alta, que se referem ao nível de afinidade pelo receptor dopa-
minérgico D², o que pode implicar o perfil de efeitos adversos (KATZUNG; TREVOR,
2017; WHALEN, FINKEL; PANAVELLI, 2016).

São medicamentos mais antigos e estão classificados de acordo com sua estrutura
química, são as fenotiazinas (cloporomazina, tioridazina e flufenazina), os tioxantenos
(tiotixeno) e as butirofenonas (haloperidol) (BRUM, 2018).

Tabela 1 – Antipsicóticos de primeira geração


Medicamento Nome comercial Apresentações Doses médias habituais
Comprimidos: 25 e 100mg
Clorpromazina Amplicitil® Gotas: 1 gota = 1mg 50-1.200mg
Ampolas: 5ml = 25mg
Comprimidos: 1 e 5mg
Haloperidol Haldol® Gotas: 2 mg/mL 5-15 mg
Ampolas: 1 mL/5mg
Comprimidos: 25 e 100 mg
Levomepromazina Neozine® Gotas: 2 mg/mL 400 -1000 mg
Ampolas: 1mL/5mg
Comprimidos: 10 mg
Gotas a 4%: 1 gota = 1 mg
Periciazina Neuleptil® 15-30 mg
Gotas a 1% (uso pediátrico):
1 gota = 0,25 mg
Sulpirida Equilid® Comprimidos: 50 e 200 mg 5-150 mg
Tioridazina Melleril® Comprimidos: 10,25,50 e 100 mg 300 -1200 mg
Trifluoperazina Stelazine® Comprimidos: 2 e 5 mg 5 - 30 mg
Comprimidos: 10 e 25 mg
Zuclopentixol Clopixol® 10-74 mg
Ampolas: 50 mg/ mL
Fonte: Adaptada de NOTO; BRESSAN, 2012

Os Antipsicóticos de Primeira Geração (APG) se mostram efetivos no manejo dos


sintomas positivos da esquizofrenia, mas estão relacionados a altas taxas de sintomas
extrapiramidais (SEP). Esses sintomas se caracterizam por rigidez muscular, tremores,
redução da expressão facial e lentidão de movimentos, acatisia (sentimentos de desas-
sossego, inquietação, ansiedade e agitação), discinesia tardia (movimentação repetitiva
e incontrolável na região da boca e lábios, às vezes em outra parte do corpo), distonia
aguda (espasmo muscular dos olhos, língua, pescoço e tronco) e "síndrome neuroléptica
aguda" (caracterizada por rigidez muscular, febre, sudorese excessiva e alterações do
batimento cardíaco e da pressão arterial) (ALVES e SILVA, 2001).

Sintomas positivos da esquizofrenia: alucinações, delírios, pensamentos desor-


denados e distúrbios do movimento.

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Além disso, os APG, em casos mais graves, podem estar associados à síndrome neu-
roléptica maligna, uma reação idiossincrática e potencialmente fatal que pode ocorrer
nas primeiras semanas de tratamento e caracteriza-se por rigidez, hipertermia e instabi-
lidade autonômica. Além disso, podem atuar como antagonistas nos receptores H1 de
histamina, o que provoca sonolência e ganho de peso (GADELHA et al., 2021).
Por outro lado, a overdose com os APG deve ser observada com cuidado e aten-
ção, por causa dos efeitos de sedação, efeitos anticolinérgicos e hipotensão ortos-
tática. Além disso, a combinação desses fármacos com outros medicamentos pode
levar à morte, principalmente por depressão respiratória (BRUNTON, CHABNER e
KNOLLMANN, 2016).
Os Antipsicóticos de Segunda Geração (ASG), ou antipsicóticos atípicos, pos-
suem estrutura química variada e têm apresentado eficácia no tratamento da esquizofre-
nia: clozapina, asenapina, loxapina, olanzapina, paliperidona, risperidona, quetiapina,
sertindol, ziprasidona, zotepina e aripiprazol (BRUM, 2018).
Os ASG têm sido definidos como antagonistas de dopamina e serotonina, e, devido
a um antagonismo dopaminérgico seletivo na região do sistema límbico, esse fármacos
oferecem menor possibilidade de provocar SEP (GADELHA et al., 2021).

Tabela 2 – Antipsicóticos de segunda geração


Medicamento Nome comercial Apresentações Doses médias habituais
Amissulprida Socian® Comprimidos: 50 e 200 mg 200-900 mg
Compromidos: 10,15,20 e 30 mg
Ariprazol Abilify® 10-30 mg
Gotas: 20 mg/mL
Brexpiprazol Rexutil® Comprimidos: 0,5, 1, 2, 3 e 4 mg 0,5-4 mg
Clozapina Leponex® Comprimidos: 25 e 100 mg 200-900 mg
Lurasidona Latuda® Comprimidos: 20, 40 e 80 mg 40-160 mg
Olanzapina Zyprexa® Comprimidos: 2,5, 5 e 10 mg 5-20 mg
Paliperidona Invega® Comprimidos: 3,6 e 9 mg 3-12 mg
Quetiapina Seroquel® Comprimidos: 25, 100 e 200 mg 300-800 mg
Comprimidos: 0,5, 1,2 e 3 mg
Risperidona Risperdal® 4-8 mg
Gotas: 1 mg/mL
Comprimidos: 40 e 80 mg
Ziprasidona Geodon® 80-160 mg
Ampolas: 20 mg/mL
Fonte: Adaptada de NOTO; BRESSAN, 2012

Apesar do perfil mais seguro, os ASG podem acarretar disfunções metabólicas, tais
como resistência à insulina e dislipidemia, além do aumento no risco cardiovascular.
Podem ser classificados como alto risco metabólico (clozapina e olanzapina), moderado
risco metabólico (quetiapina, risperidona, paliperidona) e baixo risco metabólico (aripi-
prazol, lurasidona, ziprasidona) (GADELHA et al., 2021).

Nos casos de uso da olanzapina, clozapina e quetiapina, aumentam-se as chances de


obesidade, dislipidemia, resistência à insulina e diabetes tipo 2. Além disso, a resistência à
insulina e a dislipidemia podem surgir mesmo sem ganho de peso evidente, o que sugere
possíveis mecanismos diretos nas vias metabólicas (WHALEN, FINKEL; PANAVELLI, 2016).

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Você Sabia?
A clozapina foi um fármaco inovador por provocar a dissociação entre resposta clínica e
efeitos colaterais extrapiramidais e é considerado o antipsicótico mais efetivo nos casos
resistentes ao tratamento convencional.

Além das opções mais comuns, no caso de pacientes com dificuldade de adesão ao tra-
tamento medicamentoso, uma opção viável é o uso de Antipsicóticos Injetáveis de Longa
Ação (AILA). O uso dos fármacos injetáveis está associado a um melhor controle na regulari-
dade da medicação e maior estabilidade plasmática do fármaco. Além disso, os AILA revelam
um risco de hospitalização de 20% a 30% menor quando comparados às medicação orais.

Tabela 3 – Antipsicóticos de longa ação


Medicamento Nome comercial Apresentações Doses médias habituais
Flufenazina Anatensol® Ampolas: 25 mg 12,5-50 mg a cada 14 dias
Haloperidol Haldol decanoato® Ampolas: 50 mg 50-200 mg a cada 28 dias
Invega Sustenna® Ampolas: 25, 50, 75, 100 e 150 mg 50-150 mg a cada 28 dias
Paliperidona
Invega Trinza® Ampolas: 175, 263, 350, e 525 mg 175-525 mg a cada 3 meses
Risperidona Risperdal Consta® Ampolas: 25 e 37,5 mg 25-50 mg a cada 14 dias
Zuclopentixol Clopixol depot® Ampolas: 200 mg 200-400 mg a cada 14 - 28 dias
Fonte: Adaptada de NOTO; BRESSAN, 2012

Integração com a Psicoterapia


A esquizofrenia é um quadro complexo e multifatorial, necessita, portanto, ser indi-
vidualizada e, sempre que possível, combinar as intervenções farmacológicas adequadas
com psicoterapia e intervenções psicossociais.
O tipo de tratamento estabelecido deve considerar, também, a fase da doença, por exem-
plo, fase aguda ou fase de estabilização. Na fase aguda, o paciente está no momento
mais intenso da crise, e comumente dará início ao tratamento farmacológico e o psiquiatra
tomará decisões sobre as melhores opções medicamentosas (SHIRAKAWA, 2000).
Já na fase de estabilização, torna-se possível a inserção de outras formas de trata-
mento associadas à farmacologia, como os tratamentos psicossociais que favorecerão
a recuperação das habilidades sociais perdidas, redução do isolamento, retomada das
atividades da vida diária (higiene, banho, alimentação, horas de sono, lazer) e a possível
promoção da volta ao trabalho (SHIRAKAWA, 2000).

Importante!
A aceitação da doença e o insight resultam em um prognóstico melhor quanto à evolu-
ção da doença.

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UNIDADE Farmacologia da Esquizofrenia

O tratamento conduzido deve considerar a existência de uma equipe multidisciplinar


que envolva psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, acompanhante terapêu-
tico e outros.

A psicoterapia, de modo geral, tem por objetivos oferecer contingência e suporte,


psicoeducar sobre a doença e formas de lidar com ela, restabelecer o contato com a re-
alidade, identificar fatores estressores e construir habilidades de enfrentamento quanto a
esses fatores, desenvolver a capacidade de reconhecimento e expressão dos afetos, dimi-
nuição do isolamento social e conquista de autonomia e independência (ZANINI, 2000).

Esses pacientes podem se beneficiar de diferentes formatos de psicoterapia, individu-


al ou grupo. Na psicoterapia individual, valoriza-se o acolhimento e apoio investigan-
do as necessidades específicas do paciente e a construção de recursos de resolução de
problemas e enfrentamento para melhora na qualidade de vida (SHIRAKAWA, 2000).

Figura 1 – Psicoterapia individual favorece o acolhimento ao paciente com esquizofrenia


Fonte: Pixabay

Na psicoterapia de grupo, prioriza-se a construção de um ambiente coeso e respei-


toso entre os participantes a fim de favorecer a conversação, a troca de experiências, o
suporte e a proteção, bem como o aprendizado interativo e social (SHIRAKAWA, 2000;
GADELHA et al., 2021).

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Leia o artigo “Psicoterapia de grupo na esquizofrenia: https://bit.ly/3miGDSH

Algumas abordagens psicológicas têm demonstrado boa eficácia no tratamento da


esquizofrenia, como Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), psicologia positiva, te-
rapia de aceitação e compromisso, bem como as terapias baseadas em atenção plena
para psicose.

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)


Propõe a compreensão da relação entre os pensamentos, comportamentos e as emo-
ções do paciente, favorecendo um processo reflexivo de suas percepções e crenças,
como maior consciência de seus sintomas e desenvolvimento de habilidades para redu-
ção de estresse, resolução de problemas e aumento na capacidade de resiliência.

Psicologia Positiva
Essa é uma abordagem que valoriza o desenvolvimento das Forças Pessoais e experi-
ências positivas para a promoção do bem-estar por meio da superação dos sentimentos
negativos com a construção de um otimismo aprendido. As intervenções propostas
pela psicologia positiva consideram que a recuperação em saúde mental é maior que o
simples alívio de sintomas e deve contemplar o desenvolvimento de emoções positivas,
satisfação e propósito de vida para o bem-estar (GADELHA et al., 2021).

Assista ao vídeo “Otimismo aprendido”. Disponível em: https://youtu.be/3BPBwc_UVdU

Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)


e Terapias baseadas em Atenção Plena
Tem por objetivo o desenvolvimento de habilidades metacognitivas, meditação e aten-
ção plena para promover uma postura alternativa quanto à percepção das experiências,
sem julgamento e sem luta, a fim de reduzir as experiências aversivas e os comporta-
mentos de esquiva do paciente.

Estudos recentes indicam que essa terapia tem se mostrado eficaz e segura para
indivíduos com esquizofrenia, gerando melhora nos sintomas negativos e impacto no
bem-estar e na qualidade de vida (JANSEN et al., 2020).

Sintomas negativos da esquizofrenia: isolar-se da família e dos amigos e evitar


atividades sociais, ter dificuldade em sentir ou expressar emoções, sentir falta de
energia e motivação, deixar de ter interesse nas atividades do dia a dia.

Além das abordagens psicoterapêuticas, outras terapias têm se mostrado úteis no


suporte aos pacientes com esquizofrenia.

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UNIDADE Farmacologia da Esquizofrenia

Terapia Ocupacional
Busca o desenvolvimento de atividades que favoreçam a recuperação da autonomia,
resgatando atividades de vida diária, organização e desenvolvimento da criatividade,
além da consciência da capacidade de executar tarefas simples e complexas.

Figura 2 – A terapia ocupacional pode ser um ótimo recurso para


resgate da criatividade e da capacidade de executar tarefas
Fonte: Pixabay

Acompanhante Terapêutico (AT)


O Acompanhante Terapêutico (AT) é o profissional que vai atuar para que o paciente
recupere habilidades perdidas ao longo do seu dia a dia; o AT participa das atividades
diárias do paciente, tais como ir às compras, ao banco, shopping, dirigir, realizar
atividades físicas, entre outras. Isso permite ao paciente circular por seu ambiente social,
ocupando os espaços necessários para voltar ao pleno exercício de suas atividades
(SHIRAKAWA, 2000).

Orientação Familiar
O diagnóstico de esquizofrenia gera impacto tanto para o paciente quanto para sua
família, trazendo inúmeras mudanças na dinâmica das relações e atividades familiares.
O quadro complexo da esquizofrenia exige um acompanhamento próximo da família,
tornando essencial o contato com cuidadores, provendo explicações claras sobre a do-
ença, o prognóstico e o tratamento (CAQUEO-URÍZAR, 2017).

As atividades conduzidas com a família consideram os seguintes objetivos:


• reduzir o custo da doença;
• orientar a família sobre o programa medicamentoso e de atividades da vida diária;
• ajudar o portador a colaborar com o tratamento e assumir responsabilidades;

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• verificar se está havendo resposta ao tratamento e comunicar as mudanças que surgirem;
• psicoeducar sobre os sinais e os sintomas precoces de recaídas;
• encorajar o portador a tornar-se independente para suprir suas necessidades bási-
cas, como casa, comida e dinheiro;
• familiares muito exigentes devem ser orientados a serem menos exigentes;
• familiares ausentes devem ser orientados a serem mais participantes. (SHIRAKAWA,
2000).

As intervenções podem ser conduzidas em quatro categorias:


• Individual: o terapeuta atende um familiar ou uma unidade familiar;
• Em grupo: os familiares participam de sessões juntos;
• Misto: uma combinação das duas opções anteriores;
• Outros tipos: qualquer formato diferente dos anteriores, incluindo intervenções
on-line, fóruns de discussão ou grupos vir tuais.

Para pacientes que residem em ambientes familiares muito estressantes e aversivos,


pode ser útil a realização de terapia familiar mais intensiva, com mais encontros e visitas
domiciliares (GADELHA et al., 2021).

Em Síntese
Em um quadro psicopatológico complexo como a esquizofrenia, pensar em tratamentos
combinados acessíveis à população pode ter impacto positivo sobre a qualidade de vida
do paciente e da sua família.

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UNIDADE Farmacologia da Esquizofrenia

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Esquizofrenia
https://youtu.be/VsX7MnFY8JE
Atualizações no tratamento da esquizofrenia
https://youtu.be/G5WU0esjpi8

Leitura
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde para tratamento da Esquizofrenia
https://bit.ly/3wqIzNv
Revisão: esquizofrenia e seus aspectos na adesão ao tratamento farmacológico
https://bit.ly/3dvSXLg

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Referências
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