Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
Revisores
Eduardo Ribeiro da Fonseca
Maria Fernanda Fernandes
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
Gerente Editorial
Junior Cunha
Editora Adjunta
Daniela Valentini
Produção Editorial
Amanda C. Schallenberger Schaurich
Mônica Chiodi
1. Filosofia.
Este livro foi editado pelo Instituto Quero Saber em parceria com a ANPOF.
O teor da publicação é de responsabilidade exclusiva de seus respectivos autores.
ANPOF – Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia
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Georgia Cristina Amitrano (UFU)
Cesar Candiotto (PUCPR)
Apresentação da Coleção do XIX Encontro
Nacional de Filosofia da ANPOF
Diretoria ANPOF
Sumário
Apresentação .................................................................................. 13
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Apresentação
E-mail: mariafer8277@gmail.com
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
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O corpo como lugar de memórias:
considerações sobre obras de Frida
Kahlo a partir de Heidegger e Freud
Caroline Vasconcelos Ribeiro 1 & José Isaac Costa Júnior 2
DOI: https://doi.org/10.58942/eqs.79.01
1 Introdução
diferença com Körper, vertendo este termo para corpo material. Entretanto, nós optamos neste
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sobre obras de Frida Kahlo a partir de Heidegger e Freud
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sobre obras de Frida Kahlo a partir de Heidegger e Freud
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sobre obras de Frida Kahlo a partir de Heidegger e Freud
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sobre obras de Frida Kahlo a partir de Heidegger e Freud
4 Carneiro Leão, tradutor de Carta sobre o Humanismo, traduz Leib apenas por corpo (cf.
Heidegger, 2009).
5 Dasein é o termo alemão utilizado por Heidegger para indicar o ser do ente que nós mesmos
somos, numa tentativa de distanciar-se dos sentidos tradicionalmente carregados por termos
como “ser humano”, “homem”, “pessoa”, etc. Esse termo é traduzido por vezes como “ser-aí”,
“ser-o-aí”, “presença”, entre outros, mas optamos por manter o termo em alemão. O filósofo
procura demarcar que não somos substâncias isoladas em si mesmas, sendo antes
caracterizados por um constante envolvimento com o nosso próprio ser e dos demais entes. O
Dasein é a cada vez tanto lançado no “aí”, no mundo enquanto horizonte de possibilidades,
como também é por sua vez o “aí” no qual o ser pode se mostrar e ser visto (Heidegger, 2009;
2015; cf. Inwood, 2002).
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Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
6Michel Haar faz uma discussão extensa sobre a leitura heideggeriana do conceito de homem
— herdado do humanismo grego — como animal racional, como ζωον λόγον έχον. Ancorado
na obra heideggeriana Carta sobre o humanismo, o filósofo francês vai mostrar a crítica ao
modo como se concebe nossa animalidade. Por isso, destaca que não obstante tenhamos uma
animalitas e esta seja atrelada aos nossos instintos e elementos corporais, há uma diferença
abismal entre o Leib humano e o organismo dos animais (cf. Haar, 1997).
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sobre obras de Frida Kahlo a partir de Heidegger e Freud
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sobre obras de Frida Kahlo a partir de Heidegger e Freud
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7 A obra Recuerdo (el corazón), por Frida Kahlo (1937) pode ser observada em:
https://www.kahlo.org/memory-the-heart/.
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sobre obras de Frida Kahlo a partir de Heidegger e Freud
porque sabia que se retratava em sua obra, que a matéria de suas telas era
a sua história real, a sua vida trágica, o seu existir. O que a filosofia de
Heidegger teria a contribuir para pensar o horizonte existencial
desvelado em obras de Kahlo? De que modo as formulações de teóricos
da enfermidade que se ancoram na abordagem heideggeriana do corpo
poderiam lançar luz sobre a trajetória existencial manifesta nas obras da
pintora? Seguindo a indicação de Nogueira (2008), acreditamos que a
filosofia heideggeriana e o exame de pesquisadores ligados a ela, na
medida em entende que todo adoecimento e toda manifestação corporal
humana está vinculada ao nosso existir, é muito frutífera para pensar o
horizonte existencial que a artista revela em suas telas.
Frida Kahlo expressou, de forma brava e impactante, suas
mazelas corporais e existenciais. Na biografia de Frida, Herrera (2011, p.
9) destaca “a bravura e indomável alegria em face do sofrimento físico”
como características de sua pessoa. Além de suportar sequelas da
poliomielite que teve na infância, Frida, aos 18 anos de idade, sofreu um
acidente com o ônibus que a transportava e foi “literalmente empalada
por uma barra de ferro; sua coluna foi fraturada, a pélvis foi esmagada e
ele teve um dos pés quebrados” (Herrera, 2011, p. 9-10). Desse dia até o
fim de sua vida, ela usou diversos coletes ortopédicos, fez várias cirurgias,
conviveu com dores, recidivas de doenças e a “fratura na pélvis resultou
numa sucessão de abortos espontâneos e pelo menos três abortos
cirúrgicos” (Herrera, 2011, p. 10). A sua coluna partida, os abortos, as
cirurgias, as infindáveis internações, a amputação do pé, mas também
sua força e sua esperança, podem ser reconhecidas nas telas e em muitas
páginas de seu diário íntimo (Kahlo, 2015).
Muitas pinturas de Frida e desenhos esboçados em seu diário
trazem, em nossa perspectiva, a perda da confiança e da memória
corporal típicas de quando, na cotidianidade do mundo circundante,
estamos familiarizados com nossas potencialidades, com nosso modo de
ser. Ao colocar o corpo no centro de telas em que ao fundo se vê o deserto,
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8Isso pode ser visto “A coluna partida” (1944); “Raízes” (1943); “Sem esperança” (1945); e “Árvore
da esperança” (1946). O sangue e o coração exposto aparecem em “As duas Fridas” (1939). Em
O diário de Frida Kahlo: um autorretrato íntimo (Kahlo, 2015), destacamos o esboço cujo título
é “yo soy la desintegracíon”, em que partes de seu corpo estão caindo, separadas do tronco.
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9Segundo Nogueira e Mello Neto (2016, p. 35-36), “neste episódio, Frida teve fraturas por todo
o corpo e, além disso, sua pélvis foi atingida por uma barra de ferro, componente de algum dos
veículos envolvidos no acidente, que lhe atravessou o corpo e saiu pela vagina. Depois do
acidente, passou por um longo período de recuperação”.
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sobre obras de Frida Kahlo a partir de Heidegger e Freud
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5 Considerações finais
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sobre obras de Frida Kahlo a partir de Heidegger e Freud
Referências
AHO, Kevin. Heidegger’s neglect of the body. Nova York: Sunypress, 2009.
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sobre obras de Frida Kahlo a partir de Heidegger e Freud
MORAIS, Frederico. Frida Khalo: tudo é auto retrato. In: KAHLO, F. O diário de
Frida Kahlo: um autorretrato íntimo. Trad. Mário Pontes. 3. ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 2015.
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Psicanálise, Entartung e Lasar Segall
Eduardo Ribeiro da Fonseca 1
DOI: https://doi.org/10.58942/eqs.79.02
1 Introdução
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Psicanálise, Entartung e Lasar Segall
2Esta expressão freudiana pode ser encontrada tanto em O mal-estar na civilização (1930),
como em O tabu da virgindade (1918). Se refere ao modo comunidades fronteiriças muito
próximas sob variados aspectos tendem a acentuar as mínimas diferenças existentes entre elas.
A hostilização daqueles que não estão ligados pelos laços comunitários de amor é tida por
Freud como um fator essencial para a preservação dos próprios laços afetivos.
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XIX, que dizem respeito não apenas a certa visão acerca da evolução, que
nos remete ao preconceito em geral ligado ao êxito da Humanidade em
produzir um tipo considerado fundamental, o do homem europeu
branco, e ao racismo em particular implícito a ele, mas também às
questões ligadas à sexualidade e ao comportamento em geral que se
cercam de grande atualidade, seja em terras brasileiras, seja em outras
partes do mundo. Interessa-nos saber, de um ponto de vista psicanalítico,
o que poderia ser dito sobre a razão, ou sobre as razões ligadas ao horror
e ao ódio produzidos pela presença de elementos considerados grotescos
ou excitantes nas obras de arte, e em que sentido seriam então
considerados como formas de decadência e degenerescência de um
ponto de vista cultural e artístico.
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Psicanálise, Entartung e Lasar Segall
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4 É uma crítica de arte que obedece a parâmetros patográficos e que mais tarde vai, de alguma
maneira, influenciar também o procedimento de psicanalistas, ainda que a análise dos artistas
e das obras passe a ser feita a partir de uma psicopatologia psicanalítica (Magritte foi um grande
crítico desse procedimento psicanalítico).
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Psicanálise, Entartung e Lasar Segall
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3 A pintura degenerada
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Psicanálise, Entartung e Lasar Segall
Referências
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Linguagem e pensamento na obra de
Sabina Spielrein1
Fátima Caropreso 2
DOI: https://doi.org/10.58942/eqs.79.03
1 Introdução
1Esse trabalho foi financiado pelo CNPq, sob a forma de Bolsa de Produtividade em Pesquisa.
2Graduada em Psicologia. Doutora em Filosofia. Professora do Departamento de Psicologia e
do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Bolsista
de Produtividade em Pesquisa do CNPq. E-mail: fatimacaropreso@uol.com.br
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Psychoanalysis.
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4 Alguns atores (Skea, 2006; Van Waning 1992) consideram que, com o conceito de “psique da
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5 Wharton (2005) afirma que, quando Spielrein fala da mãe que se adapta instintivamente aos
tipos de linguagem que a criança é capaz de produzir, não se pode deixar de pensar em um
contexto mais amplo da descrição do jogo da espátula, que Winnicott faz em seu texto de 1941,
intitulado The observation of infants in a set situation. A mesma autora considera que também
não se pode deixar de pensar no profundo significado de sua percepção do “gesto espontâneo
da criança” para o desenvolvimento da personalidade e da capacidade de se relacionar com os
outros, o que foi abordado pelo mesmo autor em Ego distortion in terms of true and false self,
de 1960.
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línguas, nas palavras usadas para designar papai, o som labial “p” é
substituído por outros sons labiais ou dentais geneticamente
relacionados. Ela exemplifica comentando que, no russo, o termo usado
é “papa”, mesma palavra do francês e do alemão. Contudo, em outras
línguas eslavas, os termos são “tate”, “tiatia”, em grego, “baba”, ou seja,
nesses casos, outros sons labiais ou dentais são empregados. A autora
ressalta que, em todos os casos em que aparecem palavras um pouco mais
complicadas essas não são as primeiras usadas pela criança. Ela aponta
que a palavra “mama” também permanece mais ou menos a mesma em
todas as línguas: “mama”, em russo; “maman”, em francês; “mama” em
alemão; “maty”, ou “mamo”, em ucrânio; “mama”, em grego. O som labial
“m” não parece mudar, no entanto, o que ocorre, em algumas línguas, é a
inversão da ordem dos sons. Por exemplo, em vez de “mama”, o termo
empregado pode ser “amam”.
Embora reconheça que o material sobre o assunto seja esparso,
Spielrein (1922) retoma algumas teorias fisiológicas que poderiam lançar
luz sobre a questão de se, de fato, as palavras “papai” e “mamãe” são as
primeiras usadas pela criança e sobre o porquê desse fato. Ela se posiciona
diante de tais teorias e acrescenta algumas hipóteses próprias, sobretudo,
sobre os aspectos psicológicos envolvidos no surgimento da linguagem.
A primeira teoria discutida é a “teoria do menor esforço físico”,
que, segundo a autora, poderia ser remontada a Pierre Maupertuis (1698-
1759). Entre outros autores que usaram tal teoria, ela menciona a hipótese
de George-Louis Leclerc (1707-1788), o qual aplicou a regra do menor
esforço físico à articulação e argumentou que, das vogais, o “a”, e, das
consoantes, o “p”, o “b” e o “m”, são as letras mais fáceis de se pronunciar.
Por esse motivo, as primeiras palavras da criança conteriam sons tais
como “baba”, “mama”, “papa”. Nesse mesmo sentido, discorre Spielrein
(1922), alguns pesquisadores argumentam que, na aquisição da
linguagem, as crianças iniciam usando sons que requerem menor esforço
físico e progridem gradualmente para palavras mais difíceis. A criança
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Linguagem e pensamento na obra de Sabina Spielrein
substitui o som que ela não pode ainda pronunciar por outro
intimamente relacionado a ele e que possa ser falado com menor esforço
físico. Essa mesma suposição é defendida por Hermann Gutzmann (1865-
1922), comenta a autora. Ela aponta que objeções muito bem
fundamentadas foram levantadas contra a hipótese do princípio de uma
sequência de acordo com o menor esforço físico. No entanto, diz
concordar com outra das suposições de Gutzmann: sua hipótese de que é
o ato de sugar que pavimenta o caminho para as primeiras palavras, papa,
mama, baba etc.
Em consonância com essa hipótese de Gutzmann, com a qual
Spielrein diz concordar, estaria a teoria defendida por Wilhelm Ament
(1876-1956). Esse autor substituiu a hipótese da sequência de acordo com
o menor esforço físico pela teoria da sequência de acordo com a
preferência física. De acordo com essa teoria, mesmo já sendo capaz de
pronunciar sons mais difíceis, a criança prefere substituí-los por sons
labiais ou dentais e tal preferência se deve ao fato de que, ao mamar, tais
sons foram especialmente cultivados. Spielrein (1922) aponta que, apesar
de sua relevância, a hipótese de Ament também é exclusivamente
fisiológica, uma vez que, em sua concepção, a preferência física
desempenha um grande papel na escolha dos sons das primeiras palavras
das crianças.
Após apresentar as teorias acima citadas, além de outras,
Spielrein (1922) conclui que é certo que os sons labiais e dentais são
preferidos nas primeiras palavras das crianças porque esses sons são
produzidos no ato de sugar. Contudo, diz ela, tais teorias não explicam
como, em crianças de todas as raças, os mesmos termos para papai e
mamãe, ou termos muito próximos, são encontrados, assim como não
explicam como esses se tornam as primeiras palavras das crianças. A
autora aponta que tais teorias não abordam os aspectos psicológicos do
surgimento da linguagem e que a contribuição que ela pode trazer diz
respeito a esse último aspecto. Assim, às hipóteses fisiológicas
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6Spielrein se refere ao curso Pensamento autístico, ministrado por Piaget entre 1921 e 1922, no
Laboratório Psicológico de Genebra. Como comentamos anteriormente, o artigo de Spielrein
A gênese das palavras infantis papai e mamãe toma como ponto de partida a conferência que
ela realizara, em 1920, no Congresso Psicanalítico Internacional de Haia. Vidal (2001) esclarece
que esta conferência ocorreu antes de Spielrein encontrar Piaget e antes desse começar a
publicar suas pesquisas sobre a linguagem e o raciocínio da criança. No entanto, o texto de
Spielrein só é publicado em 1922 e, enquanto isso, Spielrein assistiu ao curso de Piaget sobre o
pensamento autístico, no qual ele abordou as diferentes atitudes das crianças em relação à
realidade, como ela relata. Tendo isso em vista, Vidal (2001) considera que o trabalho de Piaget
deu suporte às hipóteses e observações de Spielrein.
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Como exemplo, Spielrein (1922) cita o fato de que, entre dois anos
e três anos e meio, diante de questões sobre “onde está um objeto”, sua
filha respondia “aqui”, sem se preocupar com a correspondência de sua
resposta com a realidade. Nessa fase, o mundo não seria para a criança
como ele é, mas como ele deve ser. Muitas vezes sentenças interrogativas
também são usadas pelas crianças como se fossem afirmativas. Por
exemplo, a pergunta “Você quer um biscoito?” pode ser usada para
expressar o desejo por um biscoito, não significando, portanto, realmente
uma interrogação, esclarece a autora.
Da mesma forma, quando surgem sentenças condicionais, essas
contêm para a criança um significado apropriado à sua fase de
desenvolvimento psíquico, explica Spielrein. Ela cita novamente uma fala
de sua filha como ilustração. Com dois anos e oito meses, ao brincar com
dois carros, Renata afirmara: “nós podemos dirigir ambos os carros agora,
se nós levarmos ambos os carros conosco”. Spielrein explica que a
segunda sentença, iniciada com “se”, na verdade, não é um condicional,
pois não é seguida por uma sentença adicional que dê suporte ao “se”. O
que a criança quer dizer é “agora quero dirigir ambos os carros” ou
simplesmente “agora ambos os carros estão indo”. A autora especula que,
possivelmente, o “se” signifique, nesse caso, “então” ou algo similar.
Para Spielrein (1922), a linguagem passaria a ser realmente
destinada a outros seres humanos no estágio social da linguagem, o qual
emergiria quando a distinção entre fantasia e realidade fosse consolidada
de maneira satisfatória e quando as palavras passassem a ter um
significado facultativo e não um significado imposto. Em suas palavras:
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8 Esse texto foi apresentado em janeiro de 1923 à Sociedade Psicanalítica de Zurich e, em março
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ser destinada aos outros. No entanto, diz ela: “de uma maneira ou de
outra, é sempre a linguagem que representa para nós o pensamento em
si; é de acordo com sua expressão em uma linguagem qualquer que nós
concluímos sobre os mecanismos do pensamento” (Spielrein, 1923b, p.
315).
Nesse texto, principalmente a partir da análise da linguagem
afásica, as características do pensamento primitivo e a relação existente
entre a linguagem e a inteligência são abordadas. Com isso, a autora
complementa a teoria apresentada em seus textos precedentes.
Apoiando-se nas hipóteses que Jung apresentara em
Metamorfoses e símbolos da libido, publicado em 1912, Spielrein defende
a existência de dois tipos de pensamentos: um direcionado e outro não
direcionado. O primeiro corresponderia ao nosso pensamento
consciente, que seria lógico, adaptado à realidade e no qual, portanto,
predominaria a linguagem verbal. O segundo seria um pensamento
subconsciente, simbólico, não adaptado à realidade. Spielrein argumenta
que o pensamento subconsciente é, principalmente, um pensamento
cinestésico-visual, orgânico, alucinatório. Dessa maneira, o pensamento
não direcionado, subconsciente, teria conservado características
primitivas, ou seja, as características do pensamento infantil. Nele, a
realidade seria transformada segundo os desejos9.
9 Kerr (1994) aponta que Freud tinha algumas objeções à hipótese de Jung sobre os
pensamentos direcionado e não direcionado. Ele não concordava com o contraste apresentado
entre os dois tipos de pensamento, o verbal e o simbólico, e escreveu seu próprio trabalho sobre
o tema, Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental, para propor uma visão
alternativa sobre os modos de funcionamento psíquico. Spielrein inclui, em sua teoria, as
hipóteses a esse respeito de ambos os autores. Como aponta Marchese (2015), após a ruptura
entre Freud e Jung, Spielrein manteve contato com ambos e até tentou reconciliá-los. Skea
(2006) argumenta que, diante da ruptura entre Freud e Jung, Sabina Spielrein se recusou a
tomar partido de qualquer um dos lados e continuou insistindo em sua admiração por ambos
e manifestando sua esperança em uma reconciliação. Segundo ele, isso fez com que ela fosse
vista como freudiana, pelos junguianos, e como junguiana, pelos freudianos, o que contribuiu
para que ela despertasse rejeição em ambos os grupos. Nas cartas que Spielrein escreve a Jung
entre os anos de 1917 e 1918, fica clara sua tentativa de conciliação da teoria dos dois autores.
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11 Não há inconsistência, para Jackson, em falar de centros como sendo, ao mesmo tempo, mais
complexos e menos organizados. Um centro constituído apenas por dois elementos sensoriais
e dois motores, no qual esses elementos estejam bem associados, de forma que a corrente
excitatória flua facilmente dos primeiros para os segundos, embora muito simples, é altamente
organizado. Por outro lado, um centro constituído por quatro elementos sensoriais e quatro
motores, no qual a articulação entre os elementos sensoriais e motores seja imperfeita e
dificulte a passagem da corrente nervosa, embora seja um centro mais complexo que o anterior,
não pode ser considerado mais organizado, explica Jackson.
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12 No texto Sobre a concepção das afasias (1891), Freud faz uma análise crítica das teorias
localizacionistas sobre as afasias e formula uma teoria sobre o funcionamento normal da
linguagem e sobre as afasias, apoiando-se nas hipóteses de Hughling Jackson. No entanto,
Spielrein não menciona, em seu texto, a publicação de Freud.
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5 Considerações finais
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Linguagem e pensamento na obra de Sabina Spielrein
Referências
FREUD, Sigmund. Zur Auffassung der Aphasien: Eine kritische Studie. Leipzig:
F. Deuticke, 1891.
FREUD, Sigmund. Totem and taboo. In: FREUD, Sigmund. Standard Edition, v.
13, 1913.
89
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
KERR, John. A most dangerous method: The story of Jung, Freud, and Sabina
Spielrein. New York: Alfred A. Knopf, 1993.
LAUNER, John. Sex versus survival: the life and ideas of Sabina Spielrein.
London: Overlook Press, 2014
MARCHESE, Frank J. Coming into Being: Sabina Spielrein, Jung, Freud, and
Psychoanalysis. Toronto: Frank J. Marchese, 2015.
SELLS, Angela M. Sabina Spielrein the Woman and the Myth. Albania: Sunny
Press, 2017.
SKEA, Brian R. Sabina Spielrein: out from the shadow of Jung and Freud. In:
Journal of Analytical Psychology, v. 51, n. 4, 2006.
SPIELREIN, Sabina. Die Destruktion als Ursache des Wedens. In: Jahrbuch für
psychoanalytische und psychopathologische Forschungen, v. 4, n. 1, 1912b.
90
Linguagem e pensamento na obra de Sabina Spielrein
SPIELREIN, Sabina (1922). The origin of child´s words Papa and Mama: some
observations on the different stages in language development. In:
CONVINGTON, C.; WHARTON, B. (Ed.). Sabina Spielrein Forgotten pioneer of
psychoanalysis. Trad. B. Wharton. New York: Brunner-Routlege, 2003.
VIDAL, Fernando. Sabina Spielrein, Jean Piaget – going their own ways. In:
Journal of Analytical Psychology, v. 46, n. 1, 2001.
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Da ontologia merleau-pontyana ao campo
psicanalítico: uma discussão sobre as
sínteses passivas na transferência
Josiane Cristina Bocchi 1 & Samuel Raymundo de Sousa 2
DOI: https://doi.org/10.58942/eqs.79.04
1 Introdução
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Da ontologia merleau-pontyana ao campo psicanalítico:
uma discussão sobre as sínteses passivas na transferência
2 As sínteses
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[...] aquilo que se chama de passividade não é a recepção por nós de uma
realidade estranha ou a ação causal do exterior sobre nós: é um
investimento, um ser em situação antes do qual nós não existimos, que
recomeçamos perpetuamente e que é constitutivo de nós mesmos
(Merleau-Ponty, 1942/2006, p. 572).
3 A transcrição dos cursos remete ao período de 1957 a 1960, reunidos, postumamente, sob o
título de A Natureza (Merleau-Ponty, 1995).
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Da ontologia merleau-pontyana ao campo psicanalítico:
uma discussão sobre as sínteses passivas na transferência
[Ela é percebida, pelo menos, num Spielraum] fora do qual ela nada é.
Mas ela surge por investimento na vida — por abertura de uma
profundidade, isto é, como não existente para o resto da vida, como um
outro-ser, um relativo não ser; o único não ser que cumpre considerar,
negatividade natural. Todas essas investigações são convergentes: é o ser
bruto, da percepção (Merleau-Ponty, 1995/2000, p. 366-367).
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Da ontologia merleau-pontyana ao campo psicanalítico:
uma discussão sobre as sínteses passivas na transferência
3 O tempo
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uma discussão sobre as sínteses passivas na transferência
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uma discussão sobre as sínteses passivas na transferência
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Da ontologia merleau-pontyana ao campo psicanalítico:
uma discussão sobre as sínteses passivas na transferência
105
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
O que é dado não é o eu e, por outro lado, outrem, meu presente e, por
outro lado, meu passado, a consciência sã com seu cogito e, por outro
lado, a consciência alucinada, somente a primeira sendo juiz da segunda
e estando reduzida, naquilo que concerne a esta, às suas conjecturas
internas — o que é dado é o médico com o doente, eu com outrem, meu
passado no horizonte de meu presente (Merleau-Ponty, 1945/2011, p.
452).
106
Da ontologia merleau-pontyana ao campo psicanalítico:
uma discussão sobre as sínteses passivas na transferência
107
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
108
Da ontologia merleau-pontyana ao campo psicanalítico:
uma discussão sobre as sínteses passivas na transferência
109
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
110
Da ontologia merleau-pontyana ao campo psicanalítico:
uma discussão sobre as sínteses passivas na transferência
5 Considerações finais
111
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
Referências
FREUD, Sigmund. O Inconsciente. In: FREUD, S. Obras Completas Vol. 16. São
Paulo: Companhia das Letras, 2010b. (Texto original publicado em 1915)
FREUD, S. O eu e o id. In: FREUD, S. Obras completas, volume 16. Trad. Paulo
César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011 (Texto original
publicado em 1923)
112
Da ontologia merleau-pontyana ao campo psicanalítico:
uma discussão sobre as sínteses passivas na transferência
113
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
114
O erotismo em Bataille: um diálogo entre a
pulsão de morte em Freud e o gozo em Lacan
Adriano da Silva Moreira 1
DOI: https://doi.org/10.58942/eqs.79.05
1 Introdução
História do olho (2015, p. 95) 2, até o último, Teoria da religião (2016), sua
obra se enlaça pelo tema do erotismo como problemática fundamental.
Bataille afirma que o erotismo coloca o ser em questão e é por isso
que sua sexualidade difere da do animal: por penetrar o caminho da
escolha, por permitir ao homem interrogar-se. O filósofo subdivide o
erotismo em três formas: erotismo dos corpos, erotismo dos corações e
erotismo sagrado 3, este último sendo fundamental para entender sua
teoria da religião, principalmente a partir do sacrifício e da festa 4. O
homem é culpado na medida em que se opõe a essa natureza erótica,
negando-a, o que o faz questionar o pecado 5. Só ao homem é reservada a
experiência erótica, embora lembre que “A atividade sexual dos homens
não é necessariamente erótica. Ela só o é quando deixa de ser rudimentar,
simplesmente animal” (Bataille, 2013, p. 54).
Para Bataille o erotismo só é possível se houver barreiras a
quebrar, isto é, ele somente se realiza na transgressão de um interdito.
Bataille nos diz que os interditos foram necessários para que o homem
pudesse adentrar no mundo do trabalho e, posteriormente, no mundo
da produção. As normas de condutas fundamentais tais quais o trabalho,
a consciência de morte e a sexualidade contida remontam, segundo os
estudos do filósofo, ao Paleolítico 6. O homem sai da animalidade
2 O primeiro livro escrito por Bataille, que trata das aventuras libertinas de dois adolescentes,
foi escrito por uma orientação de seu psicanalista para que Bataille pudesse dar vazão às suas
fantasias perversas. O filósofo chegou a admitir que só conseguiu escrever o livro porque estava
sendo psicanalisado (Roudinesco, 2008, p. 171). Na época Bataille passava por uma forte
depressão advinda de uma crise mística (Moraes, 2013, p. 70).
3 O sagrado é um termo caro a Bataille, que não só o conceitua como uma forma de erotismo,
como também vai estendê-lo à própria experiência coletiva (Goyatá, 2016, p. 85).
4 Ibidem, p. 44 e 49.
5 Idem, 2017, p. 93.
6 O trabalho no Paleolítico inferior, cerca de 3 milhões a 250 mil anos, e a consciência de morte
e sexualidade contida no Paleolítico médio, por volta de 250 mil a 40 mil anos. O homem como
encontrado nos desenhos das cavernas pintadas, advém do Paleolítico superior (Bataille, 2013,
p. 73). É o período de desenvolvimento da agricultura, da pecuária e onde ocorreu a divisão do
trabalho pelo sexo, cabendo ao homem a proteção e o sustento da família e à mulher a criação
dos filhos. Esse é um ponto fundamental onde o filósofo contradiz uma das mais famosas
116
O erotismo em Bataille: um diálogo entre a
pulsão de morte em Freud e o gozo em Lacan
teorias sobre o assunto, a de que o tabu do incesto seria o marco do nascimento da cultura,
como proposta pelo antropólogo e filósofo estruturalista francês Lévi-Strauss.
7 Tanto o sexo quanto o horror causado pelo cadáver em putrefação, que mostra ao homem
algo pior do que o medo da finitude, mas deixa o homem diante do horror de seu destino, são
violências que atrapalham o homem em seu mundo de produção.
117
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
8 Elizabeth Roudinesco chega a sustentar que Lacan teria inspiração não somente em Freud, a
partir do capítulo sete de A interpretação dos sonhos onde diz que a realidade é psíquica, como
também em Bataille com sua noção de parte maldita, para a construção de seu conceito de real
que compõe os três registros do psiquismo: real, simbólico e imaginário (Roudinesco; Plon,
2008, p. 645).
118
O erotismo em Bataille: um diálogo entre a
pulsão de morte em Freud e o gozo em Lacan
9E aqui Sade é quem melhor exemplifica a relação entre morte e excitação sexual, pois também
é quem melhor exemplifica a independência entre o erotismo e a reprodução como fim, já que
“não há melhor meio de familiarizar-se com a morte do que aliá-la a uma ideia libertina”
(Bataille, 2013, p. 36).
119
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
10 Na obra freudiana o termo pulsão foi traduzido por instinto, no entanto, estudiosos de Freud
concordam que a tradução foi infeliz pelo fato de o instinto em o reino animal ser algo da ordem
do necessário, enquanto que o reino humano é o reino da contingência, por permitir a escolha.
11 O termo perversão é polissêmico e ligado ao sexo, ao pecado e a decadência. Sob o ponto de
vista do sexo é o pervertido sexual e está ligado à ciência, do ponto de vista religioso é o herege
e para a filosofia é o decadente moral que a sociedade designou como libertino. Freud pensa a
perversão inerente à “normalidade” integrando teoricamente todos os fenômenos perversos
na constituição psíquica do sujeito. O caráter revolucionário desse texto se deve justamente
pela ruptura da sexualidade com a ideia de natureza mostrando que a pulsão sexual em seu
estado emergente não é nem unificada e nem dirigida a um objeto. A partir de então a
120
O erotismo em Bataille: um diálogo entre a
pulsão de morte em Freud e o gozo em Lacan
psicanálise rejeitaria todas as formas pelas quais a civilização espera fazer a sexualidade
funcionar, seja a educação, a normalização ou a programação. E para Freud ninguém melhor
do que os fetichistas para comprovarem essa assertiva (2016).
12 Energia psíquica cuja origem é sexual. Dizer que a fonte da libido é sexual é apontar para a
sua corporeidade, já que o tanto o prazer, enquanto sensação percebida pela consciência,
quanto a satisfação inconsciente, que pode ser percebida pela consciência como sofrimento,
tem origem nas sensações corporais pelas zonas erógenas e seus orifícios de satisfação.
13 A própria psicanálise, para Lacan, se trata de uma erótica (Lacan, 2008, p. 15), possível
somente pela via da transgressão da lei do Outro. Essa assertiva lacaniana é corroborada por
Allouch ao chamar a psicanálise de uma “erotologia de passagem” (Allouch, 2010, p. 134). Gozo,
núcleo de Eros, experiência transgressora, condição do erotismo e de uma psicanálise.
14 Uma observação merece ser feita, se para Bataille a experiência interior, que é a erótica, se
coloca na esfera da consciência reflexiva, para a psicanálise sabemos ser a escolha de ordem do
inconsciente, posto que um dos princípios fundamentais da psicanálise é que somos
determinados pelo inconsciente. Quando a psicanálise trata a escolha como da ordem do
inconsciente, não se trata aqui de qualquer escolha, mas das escolhas fundamentais que
norteiam a vida de um sujeito, já que se trata da escolha de um modo de gozo, um modo de
estar e orientar-se na relação com o Outro (Lacan, 1999, p. 271).
121
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
15A sexualidade, que para a psicanálise é uma busca de satisfação não somente consciente, mas
sobretudo inconsciente, se relaciona com esse incurável presentificado pela falta, ora em uma
tentativa de tampão pela via do amor, ora em uma relação de perpetuação pelo caminho do
desejo ou ora pelo insuportável, como no caso do gozo.
122
O erotismo em Bataille: um diálogo entre a
pulsão de morte em Freud e o gozo em Lacan
4 Considerações finais
16 Miller diz que: “O saber sobre o gozo talvez seja o único saber psicanalítico que temos sobre
a vida, sobre o que é ser vivo. [...] não sabemos o que é ser vivo, a não ser pelo seguinte: um
corpo, isso goza!” (Miller, 2001, p. 25).
123
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
(Lacan, 2008 p. 100), esse equivalente a dor, onde Lacan aborda o “além
do princípio do prazer” freudiano, a saber, a pulsão de morte, algo como
um ponto de fuga de toda a realidade possível. Esse gozo é o que não tem
juízo, como na música de Chico Buarque de Hollanda: “O que será?”
(Buarque, 2010 p. 34). Bataille aponta para uma interioridade, uma
experiência interior, que se realiza pela via do erotismo, uma experiência
que questiona o sujeito, experiência de não-saber, transgressora dos
interditos, a experiência filosófica por excelência. Um excesso, uma
perda, completamente improdutiva sob o ponto de vista do mundo da
produção e do trabalho. Lacan faz do gozo, algo também desconhecido
do sujeito, um mistério que sustenta o sofrimento, mas que também
orienta as relações do sujeito e seu modo de caminhar pela existência,
sendo assim, núcleo do erotismo, experiência transgressora por
excelência, por desafiar internamente a lei do Outro. Ambos, Bataille e
Lacan, um com o erotismo e o outro com o gozo, os dois dialogando com
a pulsão de morte de Freud: Bataille com seu erotismo que não exclui a
morte e a violência, Lacan com o seu gozo que quer compulsivamente.
Referências
ANTELO, Raúl. O espaço e a ferida. In: Georges Bataille, filósofo. Trad. Davi
Pessoa Carneiro. Florianópolis: UFSC, 2010.
BADIOU, Alain; CASSIN, Barbara. Não há relação sexual: duas lições sobre “O
aturdito” de Lacan. Trad. Claudia Berliner. Rio de Janeiro: Zahar, 2013
BATAILLE, Georges. História do olho. Trad. Eliane Robert Moraes. São Paulo:
Cosac Naify, 2015.
124
O erotismo em Bataille: um diálogo entre a
pulsão de morte em Freud e o gozo em Lacan
BUARQUE, Chico. Meus Caros Amigos. In: Coleção Chico Buarque. v. 3. São
Paulo: Abril, 2010.
LACAN, Jacques. Kant com Sade. In: Escritos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de
Janeiro: Zahar, 1998.
125
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
RELLA, Franco. Di fronte all’indicibile. In: Pathos: scritura del corpo, della
passione, del dolore. Bologna: Pendragon, 2000.
RELLA, Franco; MATI, Susanna. Georges Bataille, filósofo. Trad. Davi Pessoa
Carneiro. Florianópolis: UFSC, 2010.
SAFATLE, Vladimir. O ato para além da lei: Kant com Sade. In: Um limite
tenso: Lacan entre a filosofia e a psicanálise. São Paulo: UNESP, 2003.
126
Dos enunciados negativos “não há...” a uma
lógica não toda: as concepções de linguagem
no ensino de Jacques Lacan
Izabela Loner 1
DOI: https://doi.org/10.58942/eqs.79.06
1.
2.
128
Dos enunciados negativos “não há...” a uma lógica não toda:
as concepções de linguagem no ensino de Jacques Lacan
2Daqui em diante, as citações dos Escritos serão referenciadas com (E) e dos Outros Escritos
com (OE), acompanhadas da paginação da versão estabelecida no francês.
129
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
130
Dos enunciados negativos “não há...” a uma lógica não toda:
as concepções de linguagem no ensino de Jacques Lacan
3.
131
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
132
Dos enunciados negativos “não há...” a uma lógica não toda:
as concepções de linguagem no ensino de Jacques Lacan
3 Vale lembrar que a própria concepção de significante como diacrítico, tradução lacaniana do
signo saussuriano, exige o fechamento e a totalização da linguagem, dado que cada um é o que
todos os outros não são, comparando-se a todo um sistema no qual todos os demais
significantes têm de estar presentes, pelo menos virtualmente, para fins de comparação
opositiva sob um fundo de identidade do sistema total, “na medida em que ‘todos’ continuem
a remeter, tal como na origem saussuriana do princípio de opositividade intrasistêmica, a um
conjunto fechado (Silveira, 2007, p. 207).
133
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
134
Dos enunciados negativos “não há...” a uma lógica não toda:
as concepções de linguagem no ensino de Jacques Lacan
135
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
4.
136
Dos enunciados negativos “não há...” a uma lógica não toda:
as concepções de linguagem no ensino de Jacques Lacan
137
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
nisso, perde seu papel transcendental exigindo um outro Outro para dar-
lhe esteio e lei. Isso, ao infinito.
Tal paradoxo é abordado no Seminário IX, retomando um
episódio clássico da história da lógica moderna, matemática e simbólica,
a crise dos fundamentos entre Frege e Russell, mais especificamente os
paradoxos de auto referenciação. Aproximando sua noção significante da
de conjunto (cf. Rona, 2010), o Outro como o tesouro deste conjunto seria
o conjunto de todos os conjuntos, fechado e totalizado.
138
Dos enunciados negativos “não há...” a uma lógica não toda:
as concepções de linguagem no ensino de Jacques Lacan
139
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
140
Dos enunciados negativos “não há...” a uma lógica não toda:
as concepções de linguagem no ensino de Jacques Lacan
5.
5 Sobre a lógica e a formalização, o percurso que aqui é reconstruído é acompanhado por uma
141
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
impasses”, passo teórico que Lacan dá ao não só mudar o estatuto do real, mas da lógica e da
formalização em seu ensino, não mais simbolizadora, total e consistente, mas cônscia e aberta
aos impasses inerentes da linguagem determinada pelo real, da paradoxalidade e reflexividade
significante (cf. Iannini, 2013, p. 22).
6 Como bem ilustra Zupančič, o significante, como unidade elementar da linguagem, “cria seu
próprio espaço e seres que o povoam”, o que retoma e reafirma o caráter, digamos, ontológico
do simbólico, de tecido e material da realidade objetiva do sujeito. A este espaço simbólico,
porém, ao instaurar-se, “algo mais é adicionado a ele”, algo lhe é parasitário, “ou seja, [algo que]
não é produzido pelo gesto significante, mas junto e ‘em cima’ dele”. Em acordo com o que
colocou Lacan sobre o significante para além da referência linguística com o traço e a série dos
números naturais de Frege (ver Seminários IX e XIV, respectivamente), este parasita real “é
inseparável desse gesto [significante], mas, diferentemente de como falamos de criações/seres
discursivos, ele não é criado por ele. Não é nem uma entidade simbólica nem uma constituída
pelo simbólico; pelo contrário, é colateral ao simbólico. [...] A emergência do significante não
142
Dos enunciados negativos “não há...” a uma lógica não toda:
as concepções de linguagem no ensino de Jacques Lacan
é redutível ou exaurida pelo simbólico. O significante não apenas produz uma nova realidade
simbólica (incluindo sua própria materialidade, causalidade e leis) como também produz ou
abre espaço para a dimensão que Lacan chama de Real. Isto é o que irremediavelmente mancha
o simbólico, estraga sua suposta pureza e explica o fato de que o jogo simbólico da pura
diferença é sempre um jogo com dados carregados” (2019).
143
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
144
Dos enunciados negativos “não há...” a uma lógica não toda:
as concepções de linguagem no ensino de Jacques Lacan
6.
145
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
Referências
CHIESA, Lorenzo. The not-two: logic and God in Lacan. Cambridge: MIT Press,
2016.
LACAN, Jacques. O Seminário, livro 19: ...ou pior. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
146
Dos enunciados negativos “não há...” a uma lógica não toda:
as concepções de linguagem no ensino de Jacques Lacan
147
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
148
O gozo mudo e a violência: a clínica
e a política
Fernanda Silveira Corrêa 1
DOI: https://doi.org/10.58942/eqs.79.07
1 Introdução
2 Vida sexual
150
O gozo mudo e a violência: a clínica e a política
151
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
3 Processo de Cura
O/a analista intervém menos como ‘sujeito suposto saber’ [...] do que
como um conector [...] entre espaços de existência [...] separados pelo
recalcamento do gozo, [...] o gozo mudo [...]. O que é eficaz em uma cura
não é apenas, ou não em primeiro lugar, a suposição de um saber e a
queda progressiva dessa suposição, com a desidealização do Outro que
se segue; é principalmente, o fato de a transferência servir para inventar
objetos o mais próximos possível dos cenários de gozo.
152
O gozo mudo e a violência: a clínica e a política
Lacan afirma que quando o objeto ‘a’ é menos excluído pelo sujeito, ele
cai, ou seja, ele se representa. Mas o termo queda é ambíguo. É certo
que, quando o objeto pulsional, até aquele momento excluído, pode
figurar em um sonho, essa figuração indica que o sujeito está menos
preso a esse objeto. Nesse sentido, sua Darstellung, sua apresentação em
153
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
sonho, indica sua queda. Queda que remete ao que Freud chama de
suspensão do recalcamento.
O objeto “a” pode cair de outras formas que não como nada, como
dejeto, excremento, ele pode ser matéria de transformação do circuito
pulsional: “há na clínica outras formas de queda que não a do
excremento, [...] em uma análise, o objeto também é matéria de uma
transformação pulsional e subjetiva” (David-Ménard, 2022, p. 70). Trata-
se, portanto, não só de quebrar o apolínio, mas também de transformar
o mundo a sua volta. No exemplo do caso clínico apresentado por David-
Ménard, depois do sonho e de uma acentuação hipocondríaca em volta
de sua hemorroida, o paciente passa a ter uma postura muito mais ativa
em seu ambiente de trabalho, postura que surpreende ele mesmo.
Voltemos a metapsicologia. Afinal, o que é excluído, recalcado? é
o caráter ilusório do objeto, a ilusão de que ele é capaz de satisfazer o
excesso. Retomando Safatle, David-Ménard (2022, p. 204) escreve que:
154
O gozo mudo e a violência: a clínica e a política
155
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
156
O gozo mudo e a violência: a clínica e a política
157
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
4 A vida social
158
O gozo mudo e a violência: a clínica e a política
159
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
160
O gozo mudo e a violência: a clínica e a política
5 Política
161
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
162
O gozo mudo e a violência: a clínica e a política
163
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
164
O gozo mudo e a violência: a clínica e a política
6 Considerações finais
Referências
165
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
166
Política da falta: uma análise política
a partir de Lacan
Allysson Alves Anhaia 1
DOI: https://doi.org/10.58942/eqs.79.08
1 Introdução
2 Admitindo a derrota
168
Política da falta: uma análise política a partir de Lacan
3 Juntando os cacos
169
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
maneira que ela sempre se refere a diferença para com outra significação
e assim sucessivamente, nunca se direcionando para o mundo efetivo,
mas sempre para algo de anterior, de maneira que o significado desliza
metonimicamente na relação de diferença que constitui a cadeia do
significante. Dessa forma, o que existe na intersecção entre o sujeito e o
significado é nada mais que o real em seu sentido pleno, quer dizer, de
impossível por ser incapaz de simbolizar. Com isso se tem que a busca
por uma identidade no simbólico só faz solidificar ainda mais o sujeito
na falta, uma vez que o real que aparece como constitutivo do significado
é agora a identidade do sujeito. Em outras palavras, a relação entre
simbólico e real delimita a função que a ordem do simbólico exerce sobre
a identificação, de modo que o significado está para além do simbólico, o
que faz com que o jogo dos significantes aponte justamente para a
efetividade do real. Dessa maneira, a busca por uma identidade mais
consistente esbarra sempre na alienação no simbólico, feita pelo
significante, que determina uma identificação ilusória para o sujeito.
Desse modo, seja no imaginário 2 ou no simbólico, a totalidade e
completude do corpo real não é apreendida pelo sujeito, o que faz com
que a identidade, em Lacan, só seja possível como fracassada. Contudo,
para que o indivíduo consiga simbolizar, não somente sua subjetividade,
mas também a realidade a sua volta, ele sacrifica o encontro com o real,
que, em contrapartida, possibilita sua entrada no campo social, de forma
que é lícito o entendimento de que as estruturas do campo social são
simbólicas. Isso significa que o sujeito se constitui como sujeito da falta,
já que além de resistir ao imaginário e ao simbólico, a falta se torna
constituinte tanto da subjetividade quanto da realidade social do sujeito,
de forma que o jogo circular entre a falta e a identificação, e mais além,
2A alienação do imaginário é tratada por Lacan em seu texto Estádio do Espelho de 1949 e faz
referência ao sujeito reconhecer a sua identidade a partir do outro imaginário, uma vez que ele
apreender a completude de seu corpo efetivo a partir da imagem, o que o distância do registro
do real e da efetividade.
170
Política da falta: uma análise política a partir de Lacan
3 Em Lacan existe a distinção entre o outro com inicial em minúscula e o Outro com inicial em
maiúscula. O primeiro, com minúscula, é um duplo do sujeito, seu semelhante enquanto outro
sujeito que pode ser percebido como objeto do desejo. Já o segundo, com maiúscula, é o
intermediário da cadeia significante, isto é, um representante tanto da ordem do simbólico
quanto do desejo do próprio sujeito que se articula através dessa ordem, e por isso,
radicalmente diferente do sujeito.
171
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
172
Política da falta: uma análise política a partir de Lacan
4 Começando do zero
173
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
174
Política da falta: uma análise política a partir de Lacan
175
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
múltiplos são formados por múltiplos (Badiou, 1996, p. 45), até que se
chegue a um ponto de interrupção que está por trás de todo múltiplo, que
é o vazio.
O vazio é um dos alicerces da teoria de Badiou, já que ele se afasta
da positividade de uma ontologia da presença. Dentro dessa teoria, o
acontecimento (Badiou, 1996, p. 53) é um elemento do acaso, no qual o
vazio de uma situação é retroativamente detectável. Em outras palavras,
o acontecimento é o que que faz com que o sujeito apreenda aquilo de
indiscernível que constitui o seu ser, o vazio que fundamenta todo
múltiplo. A partir dessa articulação, podemos dizer que o acontecimento
em Badiou se aproxima mais uma vez do ato analítico em Lacan, já que
em ambos os casos se tem a aproximação de uma ordem indiscernível que
se estende por trás de outra ordem que se faz discernível. No caso de
Lacan é a aproximação com o real e com o não-ser a partir da
transferência, e no Caso de Badiou se aproxima do vazio e do múltiplo.
Contudo, o que permite que o acontecimento aponte para uma ruptura
da estrutura simbólica é a função do sítio eventual que é um múltiplo que
não tem nenhum de seus elementos apresentados na situação. Isso quer
dizer que os elementos, mesmo que apresentados ao sujeito, não
adquirem consistência por si mesmo, mas sim sempre ligados ao
múltiplo do qual fazem parte. Nenhum dos elementos é contado-por-
um, ou seja, apresentado como Um ao sujeito, mas sempre fazendo
referência ao múltiplo a que pertencem. Assim, o sítio é o mínimo que
pode ser concebido do efeito da estrutura da apresentação do mundo, o
que faz com que ele esteja na borda do vazio, é uma condição necessária
para a existência do acontecimento. Isso significa que o acontecimento é
sempre localizável, no sentido de ser local e não global, de estar
relacionado à história e não à afetividade do mundo, de forma que ele
está preso a sua própria definição, ao ponto que concentra em si toda a
história do mundo apresentado.
176
Política da falta: uma análise política a partir de Lacan
177
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
5 Considerações finais
Referências
178
Política da falta: uma análise política a partir de Lacan
179
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
180
Schreber como um caso paradigmático
em Freud
Eder Soares Santos 1
DOI: https://doi.org/10.58942/eqs.79.09
1 Introdução
182
Schreber como um caso paradigmático em Freud
183
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
184
Schreber como um caso paradigmático em Freud
2 Para uma discussão mais detalhada sobre este debate ver: Sanches; Bocchi, 2021
185
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
186
Schreber como um caso paradigmático em Freud
187
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
3 Para se compreender melhor os vários movimentos de idas e vindas teóricos nas obras de
188
Schreber como um caso paradigmático em Freud
189
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
4Em Santos (2017) podem ser encontrados outros desdobramentos sobre a discussão de um
paradigma em Freud.
190
Schreber como um caso paradigmático em Freud
191
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
pelos seres humanos em geral” (Freud, 2010, 82). Acontece que quando
se tem uma fixação no estágio do narcisismo há o perigo de um aumento
muito grande no fluxo de libido que não encontra saída para escoar em
forma de sublimação e esta libido represada se liga às pulsões sociais
criando uma espécie de sexualização a todos os eventos da vida. Desta
forma, Freud (2010, 83, grifos do autor) consegue rastrear que os
paranoicos
5 Freud está atendo à questão da paranoia desde muito cedo em seus escritos, sua primeira
menção já aparece no Rascunho H de 1895. Para um estudo mais detalhado, cf. Calazans;
Nogueira, 2014.
192
Schreber como um caso paradigmático em Freud
193
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
Referências
194
A miséria do eu e a consciência exteriorizada
Tiago Carvalho Lombardi Tosta 1
DOI: https://doi.org/10.58942/eqs.79.10
1 Introdução
2 “Na medida em que se depende de tais agências exteriores para a tomada de decisões morais,
pode-se dizer que a consciência está exteriorizada” (Adorno, 2019, p. 146). Aqui a “consciência”
se refere não ao sistema perceptivo-consciente da primeira tópica freudiana, mas à consciência
moral (Gewissen).
3 Segundo Kant (2016, p. 9), a menoridade seria uma condição individual marcada pela
196
A miséria do eu e a consciência exteriorizada
4 Todos os termos que se referem às instâncias psíquicas da segunda tópica (Es, Ich, Über-Ich),
197
Pluralismo em Filosofia e Psicanálise
5 “[...] se uma cultura não foi além do ponto em que a satisfação de uma parte de seus membros
tem como pressuposto a opressão de outra parte, talvez da maioria — e esse é o caso de todas
as culturas atuais —, então é compreensível que esses oprimidos desenvolvam forte hostilidade
em relação à cultura que viabilizam mediante seu trabalho, mas de cujos bens participam muito
pouco” (Freud, 1927/2014, p. 242-243, grifo nosso).
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4 O domínio do Supereu
6A relação do Supereu com o Eu “não se esgota na advertência: ‘Assim (como o pai) você deve
ser’; ela compreende também a proibição: ‘Assim (como o pai) você não pode ser, isto é, não
pode fazer tudo o que ele faz; há coisas que continuam reservadas a ele’” (Freud, 1923/2011a, p.
43, grifos do autor).
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“De que meio se vale a cultura para inibir, tornar inofensiva, talvez eliminar a
agressividade que a defronta? [...] A agressividade é introjetada, internalizada,
mas é propriamente mandada de volta para o lugar de onde veio, ou seja, é
dirigida contra o próprio Eu. Lá é acolhida por uma parte do Eu que se contrapõe
ao resto como Supereu, e que, como “consciência”, dispõe-se a exercer contra o
Eu a mesma severa agressividade que o Eu gostaria de satisfazer em outros
indivíduos. À tentação entre o rigoroso Supereu e o Eu a ele submetido
chamamos de consciência de culpa; ela se manifesta como necessidade de
punição. A civilização controla então o perigoso prazer em agredir que tem o
indivíduo, ao enfraquecê-lo, desarmá-lo e fazer com que seja vigiado por uma
instância no seu interior, como por uma guarnição numa cidade conquistada”
(Freud, 1930/2010b, p. 92).
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5 O substituto paterno
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esse lugar de principal agente de proteção que a mãe até então ocupava 8.
Desse modo, a criança, em sua situação de vulnerabilidade física e
psíquica, anseia pelo sentimento de segurança que o pai pode promover.
Posteriormente, nos casos em que o Supereu não se desenvolve
suficientemente, o desamparo da criança terá o seu prosseguimento no
desamparo do adulto; o anseio pelo pai que a criança sentia se
transformará, no adulto, em anseio por uma outra figura que substitua o
pai — e que, para isso, terá que representar a força e a autoridade que o
pai inspirava na criança.
Tratando das ideias religiosas e suas fontes psíquicas, Freud
(1927/2014, p. 258, grifo nosso) escreve o seguinte:
8 “[...] a mãe, que satisfaz a fome da criança torna-se o primeiro objeto de amor e, certamente,
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9 A partir disso podemos tentar compreender a função que as teorias religiosas, místicas, raciais
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6 Considerações finais
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Referências
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FREUD, S. O futuro de uma ilusão (1927). In: FREUD, S. Obras completas, vol.
17. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
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Psicanálise e Educação: relações com o
processo ensino-aprendizagem
Vanessa Ribeiro Morelo 1 & Fábio Santos Bispo 2
DOI: https://doi.org/10.58942/eqs.79.11
1 Introdução
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felicidade. Para o educador, deve ficar claro seu compromisso com a vida
dos alunos. Pelos direcionamentos e palavras é que a potência do
processo educativo se faz.
Por ser pulsional, o ser humano torna-se agressivo até mesmo no
espaço onde busca romper e lutar contra a violência. Um fator que leva a
esse comportamento, a esse rompimento da verdadeira missão da
Educação, é o choque de geração entre professor e aluno, mudança essa
que se intensifica e encontra pela frente resistência nas relações. Sabe-se
que o professor é um grande formador de opinião e influenciador de
ideias. A relação professor-aluno é um tema congruente, que traz
desdobramentos das mais variadas formas. O trabalho nesta relação é
direcionar estes desdobramentos com sinceridade e precisão. Dar conta
de lidar com a falta de respostas, com os limites do saber, é o segredo para
que uma Educação eficaz e equilibrada aconteça.
Refletir, portanto, sobre a Educação na contemporaneidade, é
tratar de todas as relações que fazem parte do meio social. O capitalismo
visa a formação de sujeitos capazes de se formarem para uma alta
performance e sucesso constante em múltiplos empreendimentos.
Vemos, portanto, que há um paradoxo entre o que norteia essa sociedade
e o que deveria estar na base do objetivo educacional: o desejo de saber,
lidando com o reconhecimento da própria impossibilidade de tudo saber.
É essencial que a psicanálise e a Educação estejam revendo seus métodos
com frequência, em função de seus objetivos.
Em torno da aplicação da Psicanalise à Educação, Freud já
sinalizava o perfil educativo a partir de atos psicanalíticos. O processo de
educar, situado por Freud como uma das tarefas impossíveis, necessita
de transferência por parte do aluno como uma suposição do saber
vislumbrada na figura do professor. A transferência é tida como condição
para que a aprendizagem aconteça, com a condição de que o professor
suporte lidar com a queda dessa suposição, permitindo que o aluno vá
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3 Considerações finais
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Referências
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Instituto Quero Saber
www.institutoquerosaber.org
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