Entrevista Psicanalista

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Centro Universitário Alfredo Nasser

Curso de Graduação em Psicologia


Clínica Psicanalítica

Dhully Ferreira
Gabriel Rodrigues
Johnathan Nunes
Ranyelly Souza

ENTREVISTA COM PSICANALISTA

APARECIDA DE GOIÂNIA-GO
2023
• INTRODUÇÃO

O profissional entrevistado pelo grupo se chama Wobeer Corrêa, ele atua como
psicanalista clínico, sendo pós-graduado em psicanálise clínica, pós-graduado em
psicologia social e antropologia, e também é Bacharel em comunicação social.
A entrevista foi realizada da forma que o profissional optou, sendo realizada de
forma virtual através do aplicativo de comunicação e troca de mensagens “Whatsapp”,
efetuada no dia 19 de Outubro de 2023. Meio este utilizado para o envio de um roteiro
redigido pelos integrantes do grupo, e composto por dez (10) perguntas voltadas para a
atuação do profissional em sua carreira como Psicanalista, às quais o mesmo respondeu
cada uma por meio de áudios, apresentando uma duração total de 15 minutos.

• ENTREVISTA

1. Pode nos contar um pouco sobre sua formação e experiência como psicanalista
clínico? Quais foram suas motivações para escolher a psicanálise como sua área de
atuação?

R= Então, respondendo a primeira pergunta, eu resolvi fazer uma pós-graduação em


psicanálise clínica desde que eu comecei fazer análise. A minha psicóloga também é
psicanalista e numa das sessões nós comentamos sobre isso, que era uma das minhas
vontades antes de fazer bacharel em comunicação social, era ter feito psicologia e ela
falou que eu poderia ser psicanalista e aí então isso vem maturando, até que eu resolvi
fazer essa especialização em psicanálise clínica. O que me motivou mesmo foi à vontade
de poder entender um pouco a mim mesmo e as outras pessoas e de alguma forma poder
ser útil para os meus pacientes, para quem me procura. É isso aí.

2. Como você descreveria sua abordagem terapêutica na psicanálise?

R= A minha abordagem terapêutica parte do princípio Freudiano, que a psicanálise seria


ou é a cura pela fala, então partindo deste princípio eu sempre tento fazer o mínimo
possível de intervenções, sabendo que elas são necessárias e são né? E fazem parte do
manejo, mas a minha abordagem é essa mais tradicional e com o passar das sessões,
automaticamente a transferência e a contratransferência vai ficando de uma maneira
mais leve e eu parto repetindo esse princípio, a psicanálise é a cura pela fala.

3. Como você estabelece e mantém uma relação terapêutica eficaz com seus pacientes?
E como você lida com possíveis resistências?

R= Estabelecer essa relação eficaz seria muito forte porque depende muito da
transferência e da contratransferência, então não tem uma receita pra isso, somos seres
únicos, os pacientes que entram no meu consultório são todos únicos, os problemas
deles podem até parecer com o problema de outro paciente, mas cada um tem seu peso,
cada um carrega a sua história, então não tem como você ter uma receita pra isso. A
eficiência, vamos dizer assim, seria você conquistar confiança do seu paciente e tentar o
máximo deixar ele à vontade, sabendo que a terapia psicanalítica é feita de fases,
primeiro vem o encanto e depois quando você começa a “bater de frente” vamos dizer
assim, com o paciente, ele vai ficar um pouco resistente e a resistência também é uma
linguagem terapêutica, e aí a gente tenta de alguma forma, com algumas perguntas,
manejar essa resistência de uma maneira bem produtiva e bem positiva, porque a
resistência também é um sintoma do paciente.

4. Como você realiza a avaliação inicial de um paciente? Quais informações são mais
importantes para você no primeiro contato?

R= A avaliação inicial de um paciente pra mim, quanto menos ele trazer diagnósticos de
outros profissionais é melhor, porque isso pode influenciar na maneira como a gente vai
ver esse paciente, então eu tento ver o paciente como uma folha em branco e que ele vá
se escrever para mim, ele vai se descrever e automaticamente vai estar se descrevendo
nessa folha em branco. As informações mais importantes no primeiro contato é o que ele
vai trazer na Associação Livre, o que ele vai me falando que alguma das vezes para ele
pode não parecer importante, mas para gente acaba sendo, é dessa forma com que você
vai conduzindo essa primeira entrevista. Então o de praxe no meio da conversa, quantos
anos você tem? Você já é casada ou casado? possui filhos e quais são as idades dos
seus filhos? E aí deixar a pessoa a partir dessas perguntas básicas se expor, porque eu
acredito que a transferência começa acontecer. Eu não tenho um questionário, não tenho
perguntas pré-estabelecidas á não ser nome e idade que eu introduzo no meio da
primeira entrevista.

5. Como você determina o diagnóstico psicanalítico, o plano de tratamento e quando


encerrá-lo?

R= Na verdade, na psicanálise o que a gente menos determina é diagnóstico, é óbvio


que a gente de frente com o paciente de acordo como as sessões vão acontecendo, vai
determinando se essa pessoa tem um tanto de neurose histérica, se tem um tanto de
neurose obsessiva, se ela esta ali perto de um borderline, talvez uma pessoa bipolar,
enfim, todas essas informações que a gente consegue captar do paciente serve para o
meu manejo. Como que eu vou lidar com ele, né? Repito, na psicanálise o que menos
importa pra gente é ter um diagnóstico, eu não passo um diagnóstico para o paciente,
até porque todos nós temos um pouquinho de cada coisa, né? Um pouquinho de cada
característica, com a nossa criação, com a nossa história de vida, com tudo a gente vai
recalcando, quando você começa ali conviver com seus coleguinhas na escola, quando
você sai do seio familiar, daquele grupo ali, você vai ser bombardeado por um monte de
informações e de comportamentos que vai formando você né? Então mesmo sendo
repetitivo, na psicanálise a gente não diagnostica, a gente pega essas informações,
entende que as características mais fortes do paciente são tais características, para gente
fazer um manejo da melhor forma possível.

6. Como você lida com questões de transferência e contratransferência durante as


sessões? Pode dar exemplos?

R= Eu tenho diversos casos aqui interessantíssimos, todos são interessantes, como a


filha que foi ameaçada pelo pai, o pai tem ciúme da filha com o namorado, um ciúme que
passa aquela margem de amor de pai, né? A coisa fica um pouco complicada. Então, a
maneira que eu penso ser a melhor pra gente lidar com a transferência e
contratransferência é você ser o mais neutro possível e não me vem com essa de que a
gente não pode transparecer emoções o mínimo possível, lógico, até para que a pessoa
não trave na hora que ela está conversando, na hora que ela está falando, né? Porque
se na hora da transferência, alguma reação minha como a minha fisionomia de causar
espanto, de causar repulsa, alguma coisa nesse sentido, se a pessoa entender que eu
estou com essas sensações eu vou travar, aí a livre associação não vai acontecer, a
transferência não vai acontecer e automaticamente vai prejudicar a
contracontratransferência. É isso, você tem aqui situações de que no final da sessão o
paciente pergunta, e aí eu largo do meu marido ou não largo? O que você me diz? A
gente não está aqui pra isso, estamos para ponderar e falar “olha, já aconteceu”, você
quer continuar sendo essa pessoa que você é hoje vivendo com o seu marido? se você
quiser é um direito seu, é sua escolha você não querer mais viver assim, você não querer
continuar sendo desse jeito é a sua escolha, então assim, não é ficar em cima do muro,
é demonstrar para o paciente que a decisão é dele, não é de ninguém de fora, não é de
filho, não é do marido, da esposa, não é da mãe, da sogra, do pai, do sogro, né? Então
a ideia é essa, é fazer esse manejo da melhor forma possível, demonstrando para a
pessoa, deixando claro, você quer continuar sendo triste? Não falando essa palavra.
Quero. Você quer mudar? Quero, você é quem decide, né? você quer continuar sendo
triste? Sendo essa pessoa que você me falou há poucos minutos atrás “o meu marido
me desligou, meu marido me apagou, eu não tenho aquela luz que eu tinha mais”, você
quer continuar sendo essa pessoa? É um direito seu, mas se você também não quiser
continuar sendo essa pessoa, não é sua obrigação, é um direito seu também de não ser
essa pessoa e a paciente levantou e decidiu separar do marido.

7. De que forma você aborda questões éticas, de confidencialidade e/ou tabus com seus
pacientes? Seria de uma maneira mais direta ou vai entrando no assunto aos poucos?

R= Não, na primeira entrevista eu vou direto. Passou da porta do consultório para dentro,
você está livre de todo e qualquer tipo de preconceito e julgamento. Aqui dentro eu não
tenho religião, eu não tenho sexo, eu não tenho pudor, eu não tenho nada disso, você
está livre pra falar o que você quiser, tudo que você disser aqui vai ficar aqui, com duas
exceções, isso eu já falo na primeira entrevista, se no decorrer das sessões eu sentir que
você tem uma tendência suicida, aí eu vou ter que falar com as pessoas, ou se você tem
a tendência de tirar a vida de outro, eu também vou ter que falar para algumas pessoas.
O que eu tento passar para o paciente é que aqui é um espaço totalmente neutro, ele
está livre pra falar o que quiser para expressar os sentimentos da maneira que quiser, eu
penso que essa é a melhor forma. Aí vocês podem pensar, ah, mas se você falar que
pode falar pra outra pessoa que o paciente está tentando tirar a vida dele, ele pode não
se abrir, ele pode não te falar as coisas com medo de que você passe isso pra frente. Só
que, o que acontece? No decorrer da transferência e da contratransferência acaba
quebrando isso. No meu caso eu faço isso pra deixar registrado, que aqui pode tudo, mas
a minha preocupação com a com o paciente é tão grande que a única coisa que pode
fazer com que eu passe pra fora o que acontece aqui dentro são nesses casos extremos.
E eu vou falar uma coisa pra vocês, até hoje noventa por cento dos pacientes que entram
aqui já cogitaram a possibilidade de suicídio. Não é aquela coisa de planejar e ir lá ao
supermercado ou na ferragista comprar uma corda e pensar em executar. Não, passou
pela cabeça num determinado momento da vida. Então eu não estou falando nada de
novo para pessoa, eles já falam na primeira sessão que uma vez eu pensei e passou
pela minha cabeça. Então, é a forma mais clara que eu gosto de ser e de agir é assim, já
na primeira entrevista falar de forma direta.

8. Como adapta sua abordagem para lidar com pacientes de diferentes idades, culturas
ou contextos?
R=É neutralidade, entrou aqui é uma pessoa, eu sempre penso nos meus pacientes como
pessoa, eu não penso como masculino, feminino, hétero, cis, trans, nada disso, a
neutralidade máxima, porque eu acredito que é dessa forma que eu conquisto a confiança
do paciente. É óbvio, eu ainda não atendi crianças e nem pré-adolescentes que a
abordagem seria diferente. Mas sempre eu penso e prezo pela neutralidade, as culturas,
eu vou colocar religião aí no meio, elas servem pra eu entender porque aquela pessoa
pensa daquela forma, mas eu jamais uso isso contra ela. Ah não, você está precisando
mudar de pastor. Você está precisando mudar de igreja, de congregação. Jamais, jamais!

9. Você poderia compartilhar um caso clínico desafiador que tenha enfrentado e como o
abordou?

R= É uma paciente, uma advogada, que começou a ser molestada aos quatro anos de
idade pelo padrasto e depois por um vizinho e aos doze anos ela já tinha uma vida sexual
ativa com namoradinhos, né? E isso me causou um impacto muito grande e foi um
desafio, a abordagem é de acolhimento e de principalmente demonstrar para a pessoa
de que ela não é culpada, a gente não está aqui pra apontar dedos, estamos aqui pra
acolher e guiar a pessoa dentro do inconsciente dela para que ali ela encontre o conforto
a ponto de olhar para as suas cicatrizes do passado e entender o que aconteceu, mas
sofrer cada vez menos com isso. É daí que vem a cura, né? A gente não vai conseguir
tirar cem por cento das dores, mas como você vai encarar o que aconteceu a gente
consegue entender e olhar pra trás e falar assim, beleza, aconteceu, mas eu estou firme,
eu estou bem e isso hoje não me machuca mais. E esse desafio ainda é constante, toda
semana a gente conversa, mesmo sendo atendimento remoto e trouxe bastantes
cicatrizes, trouxe bastantes traumas e é o maior desafio que eu estou tendo. É essa a
minha paciente.

10. Há algo sobre a clínica psicanalítica que você ache importante trazer para o
conhecimento acadêmico além do que foi perguntado? Uma experiência, uma dica, um
dado, um relato ou uma obra importante para a prática clínica?

R= O que eu posso dizer pra vocês é seguir o tripé psicanalítico, teoria, análise e
supervisão, sem isso você não consegue, você simplesmente não consegue, é
impossível, não é fácil você se desligar do que é dito dentro do consultório. Eu não sei se
é um dom, eu não sei se é um exercício diário, mas eu consigo, eu consigo sair em cinco
minutos e depois não pensar em nada e no dia seguinte eu volto para o consultório e eu
consigo captar tudo que foi dito no dia anterior, fazer um relatório detalhado do que
aconteceu e não sofrer com isso, porque aquela carga não é minha, eu estou ajudando
e tentando de alguma forma orientar o paciente á como carregar os seus pesos e quais
pesos deixar pelo caminho, só que não são meus, esses pesos não são meus, então eu
consigo deixar pro lado de fora da porta, e supervisão individual, entrar em grupos de
estudo é espetacular, supervisão em grupo também é legal, não exclui a supervisão
individual. Então não é fácil, é glamouroso, é bonito, é lindo e se alguém está tentando
entrar nessa com a intenção de dinheiro, de poder financeiro, tomara que se passe dessa
fase, é óbvio que a gente está nessa por dinheiro também, mas você ter a possibilidade
de entrar na cabeça de uma pessoa, porque ela deixou você entrar, isso é fundamental,
e uma coisa que vocês devem levar pra vida de vocês, não pense pelo outro, a gente não
tem o direito de pensar pelo outro, por isso que a gente faz as intervenções, a gente
pergunta, pondera e tenta entender. Foi um prazer participar desse trabalho com vocês.
Sucesso a todos!

• CONCLUSÃO

A psicanálise é um campo complexo, e suas ideias principais podem ser entendidas


da seguinte forma: Inconsciente que segundo Sigmund Freud, o fundador da psicanálise,
argumentou que grande parte do nosso comportamento é influenciado por desejos,
impulsos e pensamentos inconscientes. Concluímos que a mente segundo a psicanálise
dividiu a mente em três partes: Id, Ego e Superego, partes essas que são centrais dentro
de um processo de analise dentro do campo psicanalítico; Podemos dizer que a principal
função do Analista dentro do processo de analise é ajudar a superar traumas, medos e
dores emocionais a partir da análise do inconsciente.

Após a realização da entrevista, foi possível perceber que diversos conceitos,


ideias e modos de agir e se comportar durante uma atuação clínica profissional e diante
o paciente, não são de usos específicos da Clínica Psicanalítica, servindo para a diversa
gama de Psicologias Clínicas existentes, sendo importantes para todas as atuações
clínicas, não importando a abordagem seguida - claro que sempre adaptando os métodos
e/ou técnicas para o seu modo de atuação.

Pois o profissional entrevistado teve como um dos focos a importância do “Ser


Psicólogo”, não somente o “Ser Psicanalista” ou qualquer outro tipo de terapeuta clínico.
Portanto, trouxe como ideia principal que o aspecto mais importante não é o tipo de
terapêutica utilizada - mesmo esta tendo uma importância clínica e técnica para o
tratamento - mas sim o paciente que está sendo analisado e tratado.
TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu WOBEER CORRÊA, portador(a) do CPF nº 436.062.701-78 autorizo que os


alunos do 8º período do curso de Psicologia Centro Universitário Alfredo Nasser,
campus Aparecida de Goiânia, utilizem as informações colhidas em entrevista para a
disciplina de Clínica Psicanalítica, com orientação do professor Ms. Bruno Fiuza
Franco.

Por ser verdade, firmo.

Niquelândia, 6 de novembro de 2023

Wobeer Corrêa
Psicanalista Clínico

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