Entrevista Psicanalista
Entrevista Psicanalista
Entrevista Psicanalista
Dhully Ferreira
Gabriel Rodrigues
Johnathan Nunes
Ranyelly Souza
APARECIDA DE GOIÂNIA-GO
2023
• INTRODUÇÃO
O profissional entrevistado pelo grupo se chama Wobeer Corrêa, ele atua como
psicanalista clínico, sendo pós-graduado em psicanálise clínica, pós-graduado em
psicologia social e antropologia, e também é Bacharel em comunicação social.
A entrevista foi realizada da forma que o profissional optou, sendo realizada de
forma virtual através do aplicativo de comunicação e troca de mensagens “Whatsapp”,
efetuada no dia 19 de Outubro de 2023. Meio este utilizado para o envio de um roteiro
redigido pelos integrantes do grupo, e composto por dez (10) perguntas voltadas para a
atuação do profissional em sua carreira como Psicanalista, às quais o mesmo respondeu
cada uma por meio de áudios, apresentando uma duração total de 15 minutos.
• ENTREVISTA
1. Pode nos contar um pouco sobre sua formação e experiência como psicanalista
clínico? Quais foram suas motivações para escolher a psicanálise como sua área de
atuação?
3. Como você estabelece e mantém uma relação terapêutica eficaz com seus pacientes?
E como você lida com possíveis resistências?
R= Estabelecer essa relação eficaz seria muito forte porque depende muito da
transferência e da contratransferência, então não tem uma receita pra isso, somos seres
únicos, os pacientes que entram no meu consultório são todos únicos, os problemas
deles podem até parecer com o problema de outro paciente, mas cada um tem seu peso,
cada um carrega a sua história, então não tem como você ter uma receita pra isso. A
eficiência, vamos dizer assim, seria você conquistar confiança do seu paciente e tentar o
máximo deixar ele à vontade, sabendo que a terapia psicanalítica é feita de fases,
primeiro vem o encanto e depois quando você começa a “bater de frente” vamos dizer
assim, com o paciente, ele vai ficar um pouco resistente e a resistência também é uma
linguagem terapêutica, e aí a gente tenta de alguma forma, com algumas perguntas,
manejar essa resistência de uma maneira bem produtiva e bem positiva, porque a
resistência também é um sintoma do paciente.
4. Como você realiza a avaliação inicial de um paciente? Quais informações são mais
importantes para você no primeiro contato?
R= A avaliação inicial de um paciente pra mim, quanto menos ele trazer diagnósticos de
outros profissionais é melhor, porque isso pode influenciar na maneira como a gente vai
ver esse paciente, então eu tento ver o paciente como uma folha em branco e que ele vá
se escrever para mim, ele vai se descrever e automaticamente vai estar se descrevendo
nessa folha em branco. As informações mais importantes no primeiro contato é o que ele
vai trazer na Associação Livre, o que ele vai me falando que alguma das vezes para ele
pode não parecer importante, mas para gente acaba sendo, é dessa forma com que você
vai conduzindo essa primeira entrevista. Então o de praxe no meio da conversa, quantos
anos você tem? Você já é casada ou casado? possui filhos e quais são as idades dos
seus filhos? E aí deixar a pessoa a partir dessas perguntas básicas se expor, porque eu
acredito que a transferência começa acontecer. Eu não tenho um questionário, não tenho
perguntas pré-estabelecidas á não ser nome e idade que eu introduzo no meio da
primeira entrevista.
7. De que forma você aborda questões éticas, de confidencialidade e/ou tabus com seus
pacientes? Seria de uma maneira mais direta ou vai entrando no assunto aos poucos?
R= Não, na primeira entrevista eu vou direto. Passou da porta do consultório para dentro,
você está livre de todo e qualquer tipo de preconceito e julgamento. Aqui dentro eu não
tenho religião, eu não tenho sexo, eu não tenho pudor, eu não tenho nada disso, você
está livre pra falar o que você quiser, tudo que você disser aqui vai ficar aqui, com duas
exceções, isso eu já falo na primeira entrevista, se no decorrer das sessões eu sentir que
você tem uma tendência suicida, aí eu vou ter que falar com as pessoas, ou se você tem
a tendência de tirar a vida de outro, eu também vou ter que falar para algumas pessoas.
O que eu tento passar para o paciente é que aqui é um espaço totalmente neutro, ele
está livre pra falar o que quiser para expressar os sentimentos da maneira que quiser, eu
penso que essa é a melhor forma. Aí vocês podem pensar, ah, mas se você falar que
pode falar pra outra pessoa que o paciente está tentando tirar a vida dele, ele pode não
se abrir, ele pode não te falar as coisas com medo de que você passe isso pra frente. Só
que, o que acontece? No decorrer da transferência e da contratransferência acaba
quebrando isso. No meu caso eu faço isso pra deixar registrado, que aqui pode tudo, mas
a minha preocupação com a com o paciente é tão grande que a única coisa que pode
fazer com que eu passe pra fora o que acontece aqui dentro são nesses casos extremos.
E eu vou falar uma coisa pra vocês, até hoje noventa por cento dos pacientes que entram
aqui já cogitaram a possibilidade de suicídio. Não é aquela coisa de planejar e ir lá ao
supermercado ou na ferragista comprar uma corda e pensar em executar. Não, passou
pela cabeça num determinado momento da vida. Então eu não estou falando nada de
novo para pessoa, eles já falam na primeira sessão que uma vez eu pensei e passou
pela minha cabeça. Então, é a forma mais clara que eu gosto de ser e de agir é assim, já
na primeira entrevista falar de forma direta.
8. Como adapta sua abordagem para lidar com pacientes de diferentes idades, culturas
ou contextos?
R=É neutralidade, entrou aqui é uma pessoa, eu sempre penso nos meus pacientes como
pessoa, eu não penso como masculino, feminino, hétero, cis, trans, nada disso, a
neutralidade máxima, porque eu acredito que é dessa forma que eu conquisto a confiança
do paciente. É óbvio, eu ainda não atendi crianças e nem pré-adolescentes que a
abordagem seria diferente. Mas sempre eu penso e prezo pela neutralidade, as culturas,
eu vou colocar religião aí no meio, elas servem pra eu entender porque aquela pessoa
pensa daquela forma, mas eu jamais uso isso contra ela. Ah não, você está precisando
mudar de pastor. Você está precisando mudar de igreja, de congregação. Jamais, jamais!
9. Você poderia compartilhar um caso clínico desafiador que tenha enfrentado e como o
abordou?
R= É uma paciente, uma advogada, que começou a ser molestada aos quatro anos de
idade pelo padrasto e depois por um vizinho e aos doze anos ela já tinha uma vida sexual
ativa com namoradinhos, né? E isso me causou um impacto muito grande e foi um
desafio, a abordagem é de acolhimento e de principalmente demonstrar para a pessoa
de que ela não é culpada, a gente não está aqui pra apontar dedos, estamos aqui pra
acolher e guiar a pessoa dentro do inconsciente dela para que ali ela encontre o conforto
a ponto de olhar para as suas cicatrizes do passado e entender o que aconteceu, mas
sofrer cada vez menos com isso. É daí que vem a cura, né? A gente não vai conseguir
tirar cem por cento das dores, mas como você vai encarar o que aconteceu a gente
consegue entender e olhar pra trás e falar assim, beleza, aconteceu, mas eu estou firme,
eu estou bem e isso hoje não me machuca mais. E esse desafio ainda é constante, toda
semana a gente conversa, mesmo sendo atendimento remoto e trouxe bastantes
cicatrizes, trouxe bastantes traumas e é o maior desafio que eu estou tendo. É essa a
minha paciente.
10. Há algo sobre a clínica psicanalítica que você ache importante trazer para o
conhecimento acadêmico além do que foi perguntado? Uma experiência, uma dica, um
dado, um relato ou uma obra importante para a prática clínica?
R= O que eu posso dizer pra vocês é seguir o tripé psicanalítico, teoria, análise e
supervisão, sem isso você não consegue, você simplesmente não consegue, é
impossível, não é fácil você se desligar do que é dito dentro do consultório. Eu não sei se
é um dom, eu não sei se é um exercício diário, mas eu consigo, eu consigo sair em cinco
minutos e depois não pensar em nada e no dia seguinte eu volto para o consultório e eu
consigo captar tudo que foi dito no dia anterior, fazer um relatório detalhado do que
aconteceu e não sofrer com isso, porque aquela carga não é minha, eu estou ajudando
e tentando de alguma forma orientar o paciente á como carregar os seus pesos e quais
pesos deixar pelo caminho, só que não são meus, esses pesos não são meus, então eu
consigo deixar pro lado de fora da porta, e supervisão individual, entrar em grupos de
estudo é espetacular, supervisão em grupo também é legal, não exclui a supervisão
individual. Então não é fácil, é glamouroso, é bonito, é lindo e se alguém está tentando
entrar nessa com a intenção de dinheiro, de poder financeiro, tomara que se passe dessa
fase, é óbvio que a gente está nessa por dinheiro também, mas você ter a possibilidade
de entrar na cabeça de uma pessoa, porque ela deixou você entrar, isso é fundamental,
e uma coisa que vocês devem levar pra vida de vocês, não pense pelo outro, a gente não
tem o direito de pensar pelo outro, por isso que a gente faz as intervenções, a gente
pergunta, pondera e tenta entender. Foi um prazer participar desse trabalho com vocês.
Sucesso a todos!
• CONCLUSÃO
Wobeer Corrêa
Psicanalista Clínico